Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TWITCH.TV:
LEITURAS DE CÓDIGOS E SOCIOLETOS NA COMUNIDADE GAMER
1 INTRODUÇÃO
O presente resumo, recorte de uma pesquisa aprovada pelo Edital do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Federal de Goiás (PIVIC/
UFG), tem por objetivo analisar os códigos e socioletos criados na plataforma de streaming
Twitch.Tv, comumente chamada de Twitch e a que ponto a capacidade de decifrar tais
códigos pode se tornar segregativa e prejudicial à interação social dos jovens que fazem uso
lúdico da plataforma.
Para tanto, o texto será iniciado com a apresentação da plataforma, seu
funcionamento e como se dá a interação entre o público usuário. Em seguida, será
apresentado o conceito de socioletos e feita a contextualização da prática de seus usos no
ambiente digital em comparação com os fenômenos de caráter gírio (relativo ao argot, gíria)
presentes na vida real em comunidades de jovens da França com os “verlan”, no Peru com a
“jelinga” e no Brasil com o Internetês de gamers, todos socioletos amplamente utilizados por
adolescentes e jovens. O recorte, ao selecionar os dois países e a Twitch Brasil, visa mostrar
que tal fenômeno não tem sido algo presente apenas no universo digital, mas um
acontecimento global que tem se tornado cada dia mais objeto de discussão e estudo por
cientistas da área linguística, principalmente.
Logo após, trataremos de elencar alguns códigos criados pelos usuários e seus
significados, discorrendo sobre as formas de utilização dos mesmos. Dessa forma, visamos
reconhecer as táticas e a contextualização necessárias para decifrar os códigos presentes na
Twitch e consequentemente identificar níveis iniciais de segregação sofrida por aqueles que
não participam desta comunidade específica.
1
Autor do Texto e Estudante de Graduação 7°. Semestre do Curso de Publicidade e Propaganda da FIC-UFG,
e-mail: joaopedrobn23@gmail.com
2
Co-Autora do Texto e Pesquisadora e professora do PPGCom e do PPG de Performances Culturais da
Universidade Federal de Goiás, FIC-UFG, e-mail: satlerlara@gmail.com
1
Por fim, após a discussão sobre os códigos e da apresentação desses fenômenos e
de algumas variedades linguísticas presentes no mundo real e digital, será feita uma reflexão
questionando como tal processo opera nesse universo, da Twitch, amplamente acessado por
esses diversos jovens e adolescentes e como isso tem refletido no processo de interação dos
mesmos. Visando reconhecer a existência de um processo de segregação, gerado pela
ascensão desse socioleto, pergunta-se como as pessoas que não estão acostumadas ao mesmo
reagem ao desejar se incluir nesse universo que já possui sua própria linguagem e códigos
únicos bem estruturados e passíveis, constantemente, de modificação.
8
Doações enviadas pelo público ao jogador que transmite a live.
9
Reação positiva ou negativa do público ao emissor do que foi apresentado ou consumido.
francês, por exemplo) sofra variações nos três eixos, alguns códigos utilizados estão mais
ligados ao eixo social, sendo chamados de argot (gíria).
Para Gálvez (2002), o argot10 pode ser vista como uma língua especial de um
grupo social ou laboral diferenciado, usada por seus falantes somente enquanto membros
desse grupo social ao qual fazem parte, podendo ser uma extensão de uma língua falada por
milhões de pessoas mas que sofre modificações com a presença de código decifráveis
somente por membros de um grupo específico. Somando-se a isso, não pode ser visto como
uma linguagem independente, mas que vive dentro de outra língua pois suas características e
raízes pertencem ao mesmo plano lexical.
No recorte feito, iremos analisar como esse fenômeno ocorre na comunidade
jovem francesa, peruana e brasileira, sendo estas três analisadas no contexto da Twitch.Tv.
Sabe-se que a utilização dos socioletos pelos jovens franceses e peruanos podem ocorrer
também no espaço digital em plataformas de games com a Twitch, algo que necessitaria de
um estudo mais aprofundado articulando o fenômeno ao contexto cultural e histórico da
streaming transmitida. Este estudo não será o objeto de análise, pois essa questão é demasiado
complexa para ser tratada neste espaço. O intuito da comparação é somente reconhecer a
globalização do fenômeno estudado que vem tomando espaço nas plataformas digitais.
Em vista disso, os socioletos que serão analisados no três recortes serão os
“Verlan” ocorrido na França e países francófonos, os “Jerigas” ou “Jergal” ocorridos no
Peru e o “internetês” brasileiro passível de modificações no uso pela comunidade gamer em
função do contexto de inserção: a Twitch. Assim, para entender como o fenômeno ocorre nos
três recortes, foi-se feito quadros comparativos para ilustrar a lógica na construção desses
códigos.
O Verlan, fenômeno ocorrido no idioma francês, caracteriza-se pela inversão das
palavras da norma padrão francesa respeitando o léxico e estrutura morfológica. No quadro
abaixo vê-se uma estrutura demonstrativa que exemplifica a lógica na construção desse
socioleto com alguns dos verlan mais populares entre os jovens, lembrando-se que esta lista
poderia ser imensurável devido a constante criação de novos verlan por parte da comunidade
jovem francófona.
10
Gíria.
Figura 1 - Quadro demonstrativo na construção do Verlan
Exemplos:
Exemplos:
PT: A senhorita estava na multidão
ES: La señorita estaba en la multitud
JG: La ñori estaba en la mancha
11
Uma forma de comunicação paralinguística, não verbal.
desenvolvimento da Twitch, Josh DeSeno, conhecido como “Kappa”, é um dos emoticons
mais renomados que ao ser utilizado, significa sarcasmo e ironia perante algo que foi dito. No
quadro abaixo é possível ver os socioletos não verbais, emoticons, mais utilizados na
plataforma:
3 CONCLUSÃO
Diante do apresentado, nota-se que o fenômeno do socioleto presente nessas
comunidades e grupos goza de um caráter lúdico ou estratégico, podendo ser utilizado ao
visar aproximar e fortalecer laços dos próprios integrantes dessa comunidade, expressarem
sua opinião de forma pessoal utilizando um código próprio e assim dar sentido de
confiabilidade na linguagem utilizada frente ao que está sendo dito, além de omitir ou ocultar
mensagens e conteúdos de conversas perante aos que não estejam acostumados com a
linguagem.
Ao cumprir com essas funções, percebe-se que o uso dos socioletos e argots pela
comunidade jovem, seja esse uso em grupos virtuais ou não, contribui para a formação de um
ideal de pertencimento por parte dos membros da comunidade, uma vez que socioletos
fomentados na rede transportam-se para meio sociais, não virtuais, gerando comportamento
de expansão do universo outrora convergido apenas no chat na plataforma Twitch.TV.
Jovens usando camisas com estampas de emoticons da Twitch e encontros
presenciais entre jogadores e público têm se tornado cada dia mais comuns. Assim, indivíduos
que não possuírem contato com a plataforma não serão capazes de compreender ou
decodificar os códigos ali presentes nos primeiros contatos, necessitando, desse modo, de uma
exposição prolongada a esse socioleto em específico, seja essa exposição possível assistindo
as streamings e transmitindo conteúdo na própria plataforma, fazendo uso constante do chat
onde o fenômeno comumente ocorre.
Outra forma de compreender os códigos seria uma pesquisa antecipada antes de
adentrar nesse universo ao buscar significados em fóruns de discussão ou falando com amigos
que já conhecem a linguagem. Com isso, percebe-se que a exclusão dos não-iniciados pode
ser real e possível podendo acarretar diversas problemáticas como o cyberbullying, no
momento em que o indivíduo não compreende a linguagem, além de induzir a
comportamentos anti-sociais no momento em que o indivíduo não se sente pertencido a
nenhum desses grupos sociais, sejam eles no ambiente digital ou não.
REFERÊNCIAS
CALVET, Louis-Jean. Tradição oral e tradição escrita. São Paulo: Parábola, 2011.
COSERIU, Eugenio. Lições de linguística geral. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1980.
COSERIU, Eugénio. Teoria da linguagem e lingüística geral. São Paulo: USP, 1979.
BENDEZÚ, G. Argot limeño o jerga criolla del Perú. Lima: Universo, 1977.