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ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE FRANCISCANA

CURSO ONLINE DE FRANCISCANISMO


DISCIPLINA: INTRODUÇÃO GERAL AOS ESCRITOS DE FRANCISCO E CLARA
DE ASSIS
PROF. FREI ARNO FRELICH, OFM

4. Autoria de Francisco e Clara

Uma questão que envolve os estudiosos dos Escritos de São Francisco e de Santa Cla-
ra de Assis é o tema da autoria. Seriam eles realmente os autores de todos os textos que são
referidos a eles?
Para responder a esta questão é necessário falar da compreensão de autoria. Normal-
mente nos referimos ao autor, à autora, como aquela pessoa que redigiu diretamente, de pró-
prio punho, o texto a si referido. Com menos frequência dizemos que o autor é alguém que di-
tou o texto, apesar de haver vários textos assim redigidos (cartas oficiais, documentos empre-
sariais, testamentos pessoais…). É difícil vir em nossa mente outras formas de autoria.
No caso de Francisco de Assis, existe uma variedade de modalidades bem mais ampla,
as quais nos fazem reconhecê-lo como autor dos “seus” textos.
Há textos que ele escreveu diretamente, sendo obra direta de seu pensamento e de sua
vontade, sendo obra sua em pessoa. Tais textos são: o Bilhete a Frei Leão, a Carta a Frei Leão,
a Carta a Frei Antônio, as Cartas aos Clérigos (I e II), as Cartas aos Custódios (I e II), as Car-
tas aos Fiéis (I e II), a Carta a um Ministro, a Carta aos Governantes dos Povos.
Existem textos ditados. Textos de sua autoria, mas que algum “secretário” escreveu,
diretamente como o Santo desejava. É o caso do Cântico do Irmão Sol.
Há os escritos que alguém anotou o que São Francisco falava, mas não diretamente,
nem submetendo sempre à correção do Poverello, como é o caso das Admoestações (ditas em
ocasiões diferentes) e do Testamento de Sena (provavelmente, pela pressa, há fidelidade no
conteúdo sem a mesma fidelidade nos termos).
Já no caso das Regras, escreve-se o que foi debatido pela Fraternidade reunida. O que
ocorre é que esse “debate” é feito na presença de São Francisco, com sua influência, correção
e aprovação, com alguns conteúdos ditados diretamente por ele (é o caso dos capítulos 22 e 23
da Regra não Bulada). É o próprio Francisco que lembra dessa prática na Carta a um Ministro.
No caso do Testamento, pode se identificar a seguinte dinâmica: o Santo ditou o conte-
údo que quis, colocando a alguns confrades o texto para complemento e correção, que não se
constituía em assembleia, como é o caso dos textos legislativos, mas um pequeno grupo de ir-
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mãos que conheciam bem a vida dele e dos primeiros irmãos. Isso pode ser conferido na
Compilação Assisiense 57, 17.
Há ainda textos que não são de seu próprio punho, mas são textos bíblicos que ele
compila em forma de oração, revelando sua espiritualidade bíblica, sua memória dos escritos
sagrados e de sua interpretação. É o caso, por exemplo, do Ofício da Paixão.
E, por fim, é o caso da Regra Bulada, há texto que ele fez o primeiro esboço, depois
passou pelo capítulo dos frades e por mais uma revisão na cúria romana, sem retornar a ele
para sua aprovação.
Todas essas formas, escritas em italiano nascente, em latim vulgar, colocadas em latim
oficial, são formas diversas de sua autoria, pois trazem o seu pensamento, sua vontade, sua
mensagem.
No caso de Santa Clara, cujos escritos são em número menor, podemos perceber seme-
lhanças.
Há escritos diretos, ou seja, escritos de próprio punho por Santa Clara: as quatro Car-
tas a Inês, por exemplo.
A Regra deve ter seguido o mesmo padrão das regras franciscanas, com discussões co-
munitárias no Mosteiro de São Damião, ao longo dos anos, mesmo que tenha sido redigida
poucos dias antes de sua morte, para entregar ao Papa que estava em Perúgia.
Podemos intuir que algum escrito tenha sido ditado, pois a Santa passou algum tempo
acamada.
Concluímos tendo presente que os dois Santos de Assis usáram vários tipos de autoria
de textos.

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