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Universidade Federal Fluminense


Instituto de Geociências
Programa de Pós-Graduação em Geofísica

MAIRA DA COSTA DE OLIVEIRA LIMA

ESTIMATIVA DE POROSIDADE UTILIZANDO DIFERENTES TÉCNICAS


LABORATORIAIS EM ROCHAS RESERVATÓRIOS PETROLÍFERAS

Niterói
2016
2

Universidade Federal Fluminense


Instituto de Geociências
Programa de Pós-Graduação em Geofísica

MAIRA DA COSTA DE OLIVEIRA LIMA

ESTIMATIVA DE POROSIDADE UTILIZANDO DIFERENTES TÉCNICAS


LABORATORIAIS EM ROCHAS RESERVATÓRIOS PETROLÍFERAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Geofísica da Universidade Federal
Fluminense, como parte dos requisitos para a
obtenção do grau de mestre
Nível: Pós-Graduação
Área de concentração: Geofísica

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo de Vasconcellos Azeredo


Co-orientador: Dr. Claudio Rabe

Niterói
2016
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L732 Lima, Maira da Costa de Oliveira


Estimativa de porosidade utilizando diferentes
técnicas laboratoriais em rochas reservatórios
petrolíferas / Maira da Costa de Oliveira Lima. – Niterói :
[s.n.], 2016.
42 f.

Dissertação (Mestrado em Geologia e Geofísica


Marinha) – Universidade Federal Fluminense, 2016.

1.Porosidade. 2.Rocha carbonática. 3.Rocha arenítica. I.Título.

CDD 553.28
4

Universidade Federal Fluminense


Instituto de Geociências
Programa de Pós-Graduação em Geofísica

MAIRA DA COSTA DE OLIVEIRA LIMA

ESTIMATIVA DE POROSIDADE UTILIZANDO DIFERENTES TÉCNICAS


LABORATORIAIS EM ROCHAS RESERVATÓRIOS PETROLÍFERAS

BANCA EXAMINADORA

......................................................................
Prof. Dr. Rodrigo Bagueira de Vasconcellos Azeredo (Orientador)
Universidade Federal Fluminense

......................................................................
Prof. Dr. Claudio Rabe (Co-orientador)
Universidade Federal Fluminense

......................................................................
Prof. Dr. Giovane Stael
Observatório Nacional

......................................................................
Prof. Dr. Wagner Moreira Lupinacci
Universidade Federal Fluminense

......................................................................
Prof. Dr. Edmilson Rios
Universidade Federal Fluminense

Niterói
2016
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Obrigada à minha família pelo suporte, compreensão e dedicação:


Clara, Vlamir, Cheila e Jair. Eu não seria nada sem vocês!!!
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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, sempre, pela força e coragem para vencer


todos os obstáculos além de iluminar meus caminhos durante toda essa jornada!
À minha princesa Clara, meu marido Vlamir, e meus pais Cheila e Jair: minha
família perfeita! Obrigada por todo incentivo, apoio nas horas da fraqueza, pelo aluguel
de seus (santos) ouvidos, pela psicologia leiga usada nos momentos de desespero, e
por jamais me deixarem esquecer minha capacidade. Amo muito vocês!
Ao meu padrinho Chico: obrigado por me ajudar a estar aqui hoje. Você é um
dos grandes incentivadores em tudo na minha caminhada! Só tenho a te agradecer
por tudo!
Não poderia nunca deixar de agradecer as pessoas que indicaram os caminhos
certos e tiveram certeza da minha competência para conseguir subir mais esse degrau
na minha vida profissional: Alipio José Pereira e Claudio Rabe.
Professor Rodrigo Bagueira: obrigada pelo seu incentivo, ensinamento,
orientação durante essa etapa da minha vida! Você foi uma peça fundamental na
minha formação!
Um agradecimento muito especial a Prof. Jane Nobre: cheguei na UFRJ para
aprender sobre rochas carbonáticas e acabei, também, ganhando uma grande amiga!
Obrigada por muitas horas de microscópio e de ótimos papos!
Aos meus amigos do UFFLar, por nossas risadas, almoços e muitos cafés:
Karina, Glauce, Francisco, Bruno, Pedro, Jonatã, Maicon, Lívia, Michael, Giovana,
André e Edmilson. Deixo um agradecimento especial ao Afrânio, pelas ajudas,
explicações nas mais diversas áreas. Minha formação não teria sido tão completa
senão tivessem esses momentos juntos. Vocês são demais!!
Não poderia deixar de agradecer a duas pessoas que fizeram uma grande
diferença na minha formação: Gisele e Lizianne. Obrigada pela paciência e por todo
tempo dedicado ao meu aprendizado junto ao mundo da tomografia.
Agradeço ao UFFLar por prover a infraestrutura necessária para a realização
de grande parte das medidas experimentais dessa dissertação. A todos os
professores e funcionários do DOT – vocês sempre foram muito atenciosos.
Por fim, gostaria de agradecer a BG pelos recursos financeiros disponibilizados
para o desenvolvimento dessa dissertação.
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“O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo.


Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis. ” –
José de Alencar
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INTRODUÇÃO

A caracterização do espaço poroso é uma parte crucial da determinação de


reservatórios uma vez que funciona não só como espaço de armazenamento de
fluidos e também como uma via de produção. Com a aquisição de dados laboratoriais
e modelos numéricos robustos do espaço poroso, essa determinação se tornou mais
fácil e rápida além de precisa. O uso e a combinação dos métodos visuais, lâminas
petrográficas e tomografia de raio-X, e os métodos laboratoriais, como porosimetria a
gás, injeção de mercúrio por pressão capilar e ressonância magnética nuclear passou
a permitir a compreensão mais clara das características de armazenagens de fluídos.
Essa dissertação visa apresentar como essas técnicas utilizadas atualmente
ajudam na quantificação porosa das rochas, tanto areníticas como carbonáticas. O
trabalho foi dividido em cinco partes: introdução, onde são apresentados um pouco do
conhecimento sobre porosidade nas rochas estudadas; trabalhos correlatos, onde
uma revisão bibliográfica sobre as técnicas foi feita; metodologia, explicando tanto
sobre as rochas como sobre as técnicas, além dos locais onde foram desenvolvidas
as analises; resultados alcançados e, finalmente, as conclusões.
O trabalho apresentado a seguir está redigido em forma de artigo científico
intitulado “Estimativa de porosidade utilizando diferentes técnicas laboratoriais em
rochas reservatórios petrolíferas”, conforme as normas do Programa de Pós-
Graduação Dinâmica dos Oceanos e da Terra e está apresentado a partir da próxima
página. Este artigo se encontra em processo de tradução para língua inglesa, e será
submetido ao jornal indexado intitulado: “Revista Brasileira de Geofísica”.
9

SUMÁRIO

RESUMO 12
ABSTRACT 13
1 INTRODUÇÃO 14
2 TRABALHOS CORRELATOS 16
3 METODOLOGIA 18
3.1 Amostras estudadas ............................................................................... 18
3.2 Porosimetria a gás ................................................................................. 18
3.3 Ressonância Magnética Nuclear (RMN) ................................................ 19
3.4 Injeção de Mercúrio por Pressão Capilar (MICP) ................................... 19
3.5 Microtomografia por Raio-X .................................................................... 20
3.6 Lâminas Petrográficas ............................................................................ 22
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 23
4.1 Descrições Petrográficas ........................................................................ 23
4.2 Petrofísica Básica ................................................................................... 27
4.3 Injeção de Mercúrio por Pressão Capilar ............................................... 28
4.4 Ressonância Magnética Nuclear ............................................................ 30
4.5 Microtomografia por Raio-X .................................................................... 33
4.6 Lâminas Petrográficas ............................................................................ 36
5 CONCLUSÕES 37
6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 40
10

ÍNDICES

TABELAS
Tabela 1: Dados de petrofísica básica ...................................................................... 28
Tabela 2: Porosidade das amostras .......................................................................... 33
Tabela 3: Porosidade das amostras segmentadas ................................................... 36
Tabela 4: Vantagens e desvantagens das técnicas .................................................. 38

ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Imagem de lâmina petrográfica .................................................................. 22


Figura 2: Distribuição das gargantas de poros das amostras ................................... 29
Figura 3: Gráfico comparativo entre os dados de porosidade de rotina com MICP .. 30
Figura 4: Distribuições de T2 das amostras ............................................................... 31
Figura 5: Gráfico comparativo entre os dados de porosidade de rotina com RMN ... 32
Figura 6: Imagens gerados através de microtomografia ........................................... 34
Figura 7: Gráfico comparativo entre os dados de porosidade de rotina e MicroCT ... 35

QUADRO
Quadro 1: Descrição das lâminas petrográficas ........................................................ 23
11
12

RESUMO

Há décadas a avaliação do espaço poroso tem sido exaustivamente estudado, e com


o surgimento de novas técnicas cada vez mais sofisticadas e de alta resolução, o
entendimento da porosidade tornou-se mais acurada, rápida e acessível. Deste modo,
caracterizar os reservatórios carbonáticos e areníticos através de um estudo
combinado entre propriedades petrofísicas de rotina e especial faz-se compreender
com mais clareza as suas características de armazenagem de fluidos. Determinar a
porosidade total é uma parte fundamental no estudo de gestão de reservatórios
petrolíferos, pois ele funciona não só como espaço de armazenamento, como também
uma via para estimar a condutividade hidráulica e com isto, predizer a estimativa de
reservas e potencial de fluxo de óleo e gás. Sabe-se que as rochas carbonáticas são
relativamente simples na sua composição mineralógica, predominantemente
composta de calcita e dolomita, sendo desenvolvidas principalmente através de
atividade biológica ou por precipitação química, porém são afetadas fortemente pela
diagênese, o que dificulta sua caracterização petrofísica. Já as rochas areníticas
possuem uma variedade mineralógica maior, são mais fortemente caracterizadas por
sua textura original e muito resistentes aos efeitos da diagênese, fato que facilita a
analise petrofísica. Devido a essa variação de características petrográficas e
consequentemente, petrofísicas, o estudo através de várias técnicas potencializa os
resultados, além de favorecer a interpretação deles. Para a determinação da
porosidade, foram utilizados diferentes métodos, podendo ser divididos em métodos
laboratoriais, como porosimetria a gás, que apresentam resultados mais precisos,
injeção de mercúrio por pressão capilar e ressonância magnética nuclear, esse
também chamado de petrofísica especial, e, os métodos visuais, como análise de
lâmina petrográfica e estudo de imagens microtomográficas. Por ser uma propriedade
petrofísica complexo entendimento, esse trabalho tem como objetivo mostrar como
essas técnicas ajudam na quantificação dos volumes porosos, apresentando suas
limitações, além de propor um fluxo de trabalho onde essas técnicas podem ser
interligadas para melhorar a estimativa da porosidade. Como resultado, a técnica de
ressonância magnética nuclear apresentou os melhores resultados para ambas as
rochas quando comparados com os resultados da porosimetria a gás. Por outro lado,
as maiores diferenças foram encontradas na binarização das imagens
microtomografadas: as amostras areníticas apresentaram pequenas diferenças, já as
amostras carbonáticas, em sua maioria, apresentaram diferenças médias de 50%
quando comparadas com a porosimetria a gás. Foram correlacionadas as análises
das lâminas petrográficas com as respostas das distribuições dos tempos T 2 do RMN
e das gargantas de poros do MICP possibilitando interpretar seus gráficos definindo
suas distribuições de famílias de poros. Como nenhuma técnica de análise de poros
é totalmente satisfatória, para melhorar a compreensão, o
aconselhável é integrar resultados fornecidos pelos
diversos métodos para se ter um entendimento mais preciso dessa propriedade
petrofísica.

PALAVRAS CHAVES: POROSIDADE, ROCHA CARBONÁTICA, ROCHA


ARENÍTICAS.
13

ABSTRACT

For decades the evaluation of pore space has been thoroughly studied, and the
emergence of new techniques increasingly sophisticated and high resolution, provides
a better understands the porosity, making this process more accurate, fast and
affordable. Thus, characterize of sandstones and carbonates reservoirs through a
combination study routine between petrophysical properties and especially make more
clearly understand their fluid storage a flow characteristics. Determine the total porosity
is a key part in the study of petroleum reservoirs management, because it works not
only as a storage space, but also a way to estimate the hydraulic conductivity and thus,
predict the estimation of reserves and oil flow potential and gas. It is known that the
carbonate rocks are relatively simple in its mineralogical composition, composed of
calcite and dolomite predominantly, being developed primarily by biological activity or
by chemical precipitation, but are strongly affected by diagenesis, making it difficult to
perform the petrophysical characterization. Already the sandstone rocks have a
greater mineralogical variety, they are more strongly characterized by its unique
texture and very resistant to the effects of diagenesis, a fact which facilitates the
petrophysical analysis. Because of this variation of petrographic features and
consequently, petrophysical, the study through various techniques enhances the
results, besides favoring their interpretation. For the determination of porosity, different
methods are used, which can be divided in laboratory methods like gas porosimetry,
which have more accurate results, mercury injection capillary pressure and nuclear
magnetic resonance, this also called special petrophysical, and the visual methods
such as thin sections analysis and study microtomography images. For a betterAs a
petrophysical property complex understanding, this work aims to show how these
techniques help in quantifying the pore volumes, with its limitations, in addition to
proposing a workflow where these techniques can be interconnected to improve the
estimation of porosity. As a result, the nuclear magnetic resonance technique provided
the best results for both the rocks when compared with the results of gas porosimetry.
On the other hand, the major differences were found in the binarization
microtomography images: the sandstone samples showed minor differences, since the
carbonate samples mostly showed mean differences of 50% when compared to the
gas porosimetry. The analysis of thin sections were correlated with the responses of
the distribution of the NMR T2 times and MICP pore throats allowing interpret their
graphs defining their pores families of distributions. Since no pores analysis technique
is
fully satisfactory, to improve understanding.
It is advisable to integrate results provided by
various methods to have a more accurate understanding of this petrophysical property.

KEYWORDS: POROSITY, CARBONATIC ROCKS, SANDSTONES.


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1. INTRODUÇÃO

Há décadas a avaliação do espaço poroso tem sido exaustivamente estudado, e


com o surgimento de novas técnicas cada vez mais sofisticadas e de alta resolução,
a compreensão da porosidade ( tornou-se mais acurada, rápida e acessível. Deste
modo, caracterizar os reservatórios carbonáticos e areníticos de derivação terrígena,
através de um estudo combinado de petrofísica de rotina e especial, permite
compreender com mais clareza as suas características de armazenagem de fluidos.
A porosidade nas rochas é controlada pela sua formação, distribuição dos poros,
cimentação e história digenética (Lucia, 2007); a porosidade pode ser diminuída, em
geral, em função da idade geológica e profundidade de soterramento (Anovitz, 2015).
A determinação da porosidade total é uma parte fundamental no estudo de gestão
de reservatórios, pois além de responder pela capacidade de armazenamento, essa
propriedade está associada à condutividade hidráulica da formação (Rafatian, 2014).
A porosidade é calculada através da seguinte relação (Eq. 1):

𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑃𝑜𝑟𝑜𝑠𝑜
∅= Eq. (1)
𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙

na qual o volume total é representado pelo volume de poros mais o volume de grãos.
Essa determinação pode ser feita através de métodos visuais e medidas laboratoriais
(Lucia, 2007). Os métodos visuais consistem em análises de lâminas delgada e o
estudo de imagens tomográficas. As medidas laboratoriais mais utilizadas são:
método de expansão a gás (porosimetria a gás), método de injeção de mercúrio por
pressão capilar (MICP) e análise por ressonância magnética nuclear (RMN).
As rochas areníticas são compostas, predominantemente, de grãos detríticos de
quartzo, feldspato e micas, secundariamente. São fortemente caracterizadas por sua
textura deposicional, o que envolve granulometria, forma e composição dos grãos e
empacotamento, o que permite classifica-los. Via de regra são pouco afetados por
processos diagenéticos (Francesconi, 2009).
Já as rochas carbonáticas são formadas principalmente através da atividade
biológica ou biologicamente induzida e também por precipitação química inorgânica.
Sob a ação de elementos ambientais diversos como ondas, marés, tempestades, ação
de ventos, etc, os calcários são retrabalhados gerando grãos detríticos de granulações
diversas. Quanto à mineralogia, no registro geológico predominam calcita com baixo
15

teor de magnésio e dolomita por serem os mais estáveis. Diferentemente de rochas


terrígenas, carbonatos são fortemente afetados por processos diagenéticos tanto
precoces como tardios e nesse último caso, relacionados ao nível de soterramento
das rochas. Consequentemente, em rochas carbonáticas a porosidade principal é
sempre a secundária, diagenética.
De modo geral a porosidade de uma rocha pode ser dividida em primária e
secundária: a primária é aquela resultante da deposição original da rocha e
representadas por acumulações de sedimentos (Lucia, 1983). Já a porosidade
secundária pode ser criada em qualquer momento após a deposição especificamente
do calcário. O tempo envolvido na geração de porosidade secundária, em relação à
porosidade primária, pode ser enorme: nesse longo intervalo de tempo os carbonatos
vão sendo paulatinamente soterrados até atingir o soterramento profundo (Choquette
e Pray, 1970). Durante o soterramento, diversos processos diagenéticos podem
ocorrer, entre eles cimentação, dolomitização, compactação física e química,
dissolução e silicificação, entre outros, os quais vão paulatinamente modificando os
carbonatos e afetando a porosidade. Os carbonatos depois de soterrados podem ser
alçados à superfície quando eventualmente ocorre importante dissolução sob
influência de água doce, de superfície ou águas subterrâneas, resultando em
cavidades de dimensões diversas, desde minúsculos poros até gigantescas cavernas;
nesse caso também pode ocorrer cimentação, mas em menor escala.
A complexidade dos parâmetros petrofísicos das rochas é de tal ordem que
estimulou o desenvolvimento desse estudo, cujo intento principal é demonstrar a
utilização de técnicas de caracterização do espaço poroso, apresentando suas
principais vantagens e limitações em função das litologias estudadas.
Dessa forma, a seguir será apresentado uma seção de trabalhos correlatos
contendo uma síntese dos principais artigos que abordam esse tema. No tópico de
metodologia, além de apresentar as rochas selecionadas para esse estudo, serão
abordados os princípios básicos de cada técnica, bem como os equipamentos
utilizados. No tópico seguinte, serão apresentados e discutidos os resultados obtidos
nos experimentos, finalizando o artigo com as conclusões alcançadas.
16

2. TRABALHOS CORRELATOS

Bowers et al. (1993) abordaram a importância da técnica de RMN frente as análises


de lâminas delgadas para resolver a problemas com a microporosidade. Os autores
utilizaram trinta amostras para discutirem a validação das distribuições de porosidade
polimodais através dos dados de RMN indicando a existência de subpopulações de
poros e como eles se relacionam com as distribuições obtidas a partir da análise das
porosidades das imagens de lâminas delgadas. Como resultados do estudo, nas
medições feitas por RMN foi observado poros em escalas menores do que a
resoluções óptica. Estes dados, juntamente com os de MICP auxiliaram a
compreensão da relevância física de microporos para a determinação do fator de
formação e difusão.
No trabalho de Ausbrooks et al. (1999), amostras contendo porosidade vugular em
reservatórios de calcários dolomíticos e dolomitos fraturados foram analisados através
de imagens de perfil, RMN e MICP. Em laboratório, as medições MICP foram
utilizadas para determinar as distribuições de tamanho de poro na garganta, e estas
distribuições foram diretamente comparadas com distribuições de tamanho de poro
determinadas por RMN. Como resultados foram observados uma tendência nas
distribuições dos tamanhos de poros nas medidas de RMN que se assemelham com
as distribuições dos tamanhos observados no MICP e nas distribuições de poros
observados nas imagens de perfil. Concluído que a porosidades vugulares foram
observadas nas medidas de RMN, e com isso, uma técnica para ajudar a entender o
comportamento dessas porosidades nas medidas de RMN foi desenvolvido.
Hidajat et al. (2004) integraram várias técnicas para o estudo de porosidade e
permeabilidade através da análise de 6 amostras de rochas carbonáticas de
afloramento do oeste do Texas e realizadas medidas de tempo de relaxação T 2
utilizando RMN, porosidade por pressão capilar por injeção de mercúrio, imagens de
lâminas delgadas usando microscopia óptico e microscopia eletrônica de varredura
(MEV), tomografia computadorizada e medidas elétricas. Como resultado, foi
constatado que a permeabilidade das amostras foi controlada pelos canais que
conectam os vugs, confirmando assim, que essa porosidade tem grande influência no
fluxo de fluidos nos meios porosos. As respostas de pressão capilar e tempo T 2
mostram que as gargantas de poros e a distribuição dos tamanhos dos poros são
multimodais. Foi observado que o modelo de Chang et al. (1997), utilizando para
17

predizer a permeabilidade da rocha, é mais adequado para permeabilidades baixas,


já o modelo SDR (Schlumberger Doll Research), para rochas com permeabilidades
mais altas. Como o fator tortuosidade é um bom indicador para diferenciar as amostras
de alta e baixa permeabilidade, foi proposto a inclusão desse fator nas correlações de
RMN. Além disso, os autores propuseram que a tortuosidade pode ser estimada a
partir de distribuições dos tempos T2, permitindo assim uma predição de
permeabilidade a partir da distribuição desses tempos.
Entre os artigos pesquisados está o de Fleury et al. (2007) onde são descritas 13
amostras de rochas carbonáticas de diferentes afloramentos as quais cobrem a
variedade natural dos reservatórios de petróleo e que apresentam permeabilidades
variadas. Os autores efetuaram analises de MICP e RMN calibradas por medições de
BET (método de medição de área superficial específica) e então comparadas
qualitativa e quantitativamente, além de descrições do ponto de vista geológico de
laminas petrográficas, sendo complementas por MEV para caracterização da
microporosidade. Como resultados, a partir de medições MICP foi definido limites
entre micro, meso e macroporosidade, e com as medições T2, foi definido um corte de
cerca de 200 ms para descrever microporosidade. No entanto, os meso e macroporos
foram dificilmente separados e foi concluído que as medições de RMN pode ser
utilizada para as rochas propostas, porém com três limitações: no caso de uma
amostra que apresentou macroporos móldicos que só se conectavam através da
microporosidade e, outras duas amostras que apresentaram um acoplamento
difusional forte.
18

3. METODOLOGIA

3.1 Amostras Estudadas

Para a realização desse estudo foi utilizado um conjunto de 8 amostras (4 arenitos


e 4 carbonatos) de afloramentos provenientes de diferentes bacias intracratônicas dos
Estados Unidos, considerados pela indústria petrolífera padrões para ensaios
petrofísicos. As amostras foram adquiridas comercialmente através da empresa
Kocurek Industries sob a forma de plugues medindo 38,1mm x 50 m. O subconjunto
de amostras carbonáticas são constituídas por: Austin Chalk (AC), Edward Yellow
(EY), Silurian Dolomite (SD), Guelph Dolomite (GD). Os arenitos são constituídos
pelas amostras: Briarhill (BR), Crab Orchard (CO), Carbon Tan (CT), Boise Idaho
Brown (IB).

Os valores de porosidade, baixa, média e alta, e a distribuição do tempo de


relaxação transversal T2 foram utilizados como critério de escolha das amostras. Estes
aspectos foram levados em consideração para induzir uma maior diversidade nos
resultados e para demonstrar as limitações de cada técnica.

3.2 Porosimetria a Gás

O método da porosimetria por expansão de gás é a técnica mais precisa e


tradicional para medições de porosidade efetiva em rochas. A amostra seca com
volume aparente conhecido (Vbulk) em uma câmara de volume conhecido (Vb), que se
comunica a outra câmara com volume (Va). O gás hélio, ou nitrogênio, é introduzido
em Va com uma pressão (P1) definida com um valor arbitrário, normalmente da ordem
de 100 psi. Na sequência, o gás é liberado para Vb e deixado entrar em equilíbrio,
dessa maneira, o gás consegue penetrar nos poros da rocha. Durante este processo,
a pressão diminui para um novo nível de estabilidade (P2) (Anderson et al., 2013).
Usando a lei dos gases ideais, o volume dos poros é calculado através da Eq. (2):

𝑃2
𝑉𝑉 = 𝑉𝑏𝑢𝑙𝑘 − 𝑉𝑎 − 𝑉𝑏 (𝑃 ) Eq.(2)
2 − 𝑃1
19

De posso do valor do volume de vazios da rocha, a porosidade é calculada


utilizando a Eq. (1).
As medidas para esse trabalho foram feitas na Universidade Federal Fluminense
no Laboratório de Petrofísica, utilizando o equipamento ULTRAPORE 300 (CoreLab,
EUA).

3.3 Ressonância Magnética Nuclear (RMN)

Considerando que a rocha sedimentar é composta por um arranjo de poros de


diferentes tamanhos, o sinal de RMN M(tk) proveniente de um fluido ocupando o
espaço poroso dessa rocha, pode ser representado por uma combinação linear de
exponenciais, onde cada exponencial está associando a um tamanho de poro
característico:
𝑚 𝑡
− 𝑘
𝑇2,𝑗
𝑀(𝑡𝑘 ) = ∑ 𝑐 (𝑇2,𝑗 ) 𝑒 Eq. (3)
𝑖=1

na qual, k é o número de pontos do sinal RMN; m é o número de exponenciais; e c(T 2,j)


é o vetor dos coeficientes, conhecido como espectro de relaxação. Considerando que
é inviável interpretar diretamente o decaimento multiexponencial ruidoso do sinal de
RMN, na prática, utiliza-se o espectro de relaxação obtido através da transformada
inversa de Laplace do sinal. No regime de difusão rápida, a forma do espectro de
relaxação de amostras saturadas com solução salina espelha a distribuição de
tamanhos de poros.
Para essa análise, os plugues foram saturados em solução salina a 30k ppm (KCl),
e submetidas aos ensaios para medição dos tempos de relaxação transversal,
utilizando o analisador de rochas Maran Ultra 2MHz (Oxford Instruments, Reino
Unido). Os ensaios de RMN foram executados no Laboratório de Aplicação da
Ressonância Magnética Nuclear da Universidade Federal Fluminense (UFFLar).

3.4 Injeção de Mercúrio por Pressão Capilar (MICP)

A injeção de mercúrio é um método laboratorial padrão para caracterização de


espaços porosos que determina a curva de pressão capilar e a distribuição das
20

gargantas de poros nas rochas, particularmente as distribuições dos tamanhos de


gargantas de poro a partir da escala micrométrica (acima de 350 m) até a
nanométrica (abaixo de 1m até 3nm) (Eigmati et al., 2011). Essa técnica,
inicialmente utilizada por Washburn (1921) e desenvolvida por Purcell (1949), utiliza a
Eq. (4) para converter as pressões de injeção de mercúrio, no raio dos poros
assumindo um feixe de tubos capilares:

[𝜎𝐻𝑔 (− cos 𝜃)]


𝑎𝑟 Eq. (4)
𝑃𝐻𝑔 = 2
𝑟𝑝𝑜𝑟𝑜

na qual, PHg = pressão de mercúrio; 𝜎 = tensão de superfície do mercúrio; 𝜃 = ângulo


de contato entre mercúrio/quartzo/ar; r = raio da garganta de poro.
Nessa equação, a garganta de poro é equivalente ao raio do poro. A curva de
pressão de mercúrio em relação ao volume de mercúrio é chamada de pressão capilar
mercúrio-ar.
O mercúrio é injetado por aumento sucessivo de pressão, podendo chegar a 60.000
psi. As relações entre corpo de poro e garganta de poro podem ser obtidas a partir da
histerese medidas nas curvas de intrusão e extrusão (Ramkrishanan, 1998). As
gargantas de poro controlam as curvas de intrusão e o raio dos poros e a
conectividade controla a curva de extrusão. Este comportamento de histerese pode
ser atribuído a variações no processo de saturação ou alterações devido ao avanço e
recuo do ângulo de contato do mercúrio com o poro. Essas curvas são normalizadas
para a quantidade total de mercúrio na amostra no final da intrusão (Venkataramanan,
2014).
As medidas de MICP apresentadas neste estudo foram realizadas no laboratório
da Schlumberger Reservoir – Brazil Research and GeoEngineering Center.

3.5 Microtomografia por Raio-X

A aquisição da imagem por raio-X é realizada utilizando uma fonte que dispara
feixes de raios-X sequenciais em direção a amostra, estes penetram e são atenuados
dependendo da composição do material, da sua densidade e espessura ao longo da
direção do feixe (Dong, 2007). A redução da intensidade medida por um detector ao
atravessar o material é expressa pela Lei de Beer (Kak e Slaney, 2001) na Eq. (5):
21

𝐼 = 𝐼0 𝑒 −𝜇𝑥 Eq. (5)

Onde I é a intensidade medida sem o elemento atenuador, I0 é a intensidade medida


após o elemento atenuador, é o coeficiente de atenuação linear e x é a espessura
do objeto atenuador. Quando os raios X passam pela amostra, eles são atenuados
em intensidades distintas, dependendo das diferenças entre os coeficientes de
atenuação linear das fases contidas. A densidade e o número atômico efetivo dos
objetos são os principais fatores que determinam o grau de absorção dos raios X
(Neto, 2011).
Pela intensidade da energia transmitida em cada ponto da amostra é possível
construir uma imagem bidimensional e, por meio de algoritmos matemáticos, é
realizada a reconstrução da imagem 3D do material (Archilha, 2015). Para essa
reconstrução, foi utilizado o software Xrecon (Zeiss), onde as projeções sofrem o
processo de empilhamento, reconstruindo a amostra e gerando um volume
tridimensional. Após esse processo, a imagem 3D foi processada no software Avizo
Fire 8 (FEI), onde ferramentas de suavização são usadas para melhorar a imagem,
possibilitando uma melhor segmentação.
Com essas imagens microtomográficas foi possível visualizar e quantificar o volume
dos poros, a partir da frequência e ocorrência de pixels na mesma escala de cinza.
Os tons de cinza nos pixels estão diretamente associados à densidade do material,
sendo assim, quanto mais escuro o pixel menos denso o material (Nascimento, 2015).
Neste trabalho foi utilizada a resolução de 1m (pixel size), para isso houve a
necessidade de subamostrar os plugues nas dimensões de 0,5x1,5 cm, sendo
considerado como representativo para ambas as litologias, e, com isso, foram geradas
1006 projeções bidimensionais com extensão TIFF. Devido a presença de gargantas
e poros pequenos em algumas amostras se fez necessário a utilização de uma
resolução tão alta.
Para esse processamento e quantificação dos pixels, foi utilizado o software Avizo
Fire 8, onde as imagens microtomograficas foram tratadas, utilizando filtros de
suavização das imagens, e quantificação dos pixels referentes a porosidade, seguido
do cálculo de poros realizado utilizando a ferramenta “Material Statistics”.
22

Essas aquisições e tratamentos foram realizadas no Departamento de Engenharia


Civil da Universidade Federal Fluminense. Foi utilizado o Microtomógrafo modelo
VersaXRM – Versão 10.5, fabricado pela Zeiss.

3.6 Lâminas Petrográficas

O estudo das rochas a partir de imagens de lâminas petrográficas é muito usual


dentro das geociências, pois permite uma análise de poros da ordem de 1mm até
menores que 1m. Elas são finas seções de rochas que são impregnadas com resina
epóxi para colorir o espaço poroso na cor azul conforme mostrado na Figura 2(a). Já
a estimativa de porosidade através de visadas nas fotografias de laminas utilizando
software não é muito trivial e envolve várias técnicas de processamento. Para estimar
a porosidade foi uma usado o programa Avizo Fire 8, no qual utilizando a ferramenta
“Interactive Thresholding” os poros foram binarizados na cor preta possuindo valor "0"
e a matriz com a cor branca com valor "1" (Richa, 2002), conforme a Figura 1(b). Após
essa separação, com a ferramenta “Volume Fraction” a porosidade total é estimada.

a) b)

Figura 1 - a) Imagem colorida (RGB) da lâmina petrográfica da amostra AC. A cor azul
representa os poros. Bioc = bioclasto, Cm.C = cimento calcítico; b) Imagem binarizada
com os poros na cor preta.

As lâminas usadas nesse trabalho foram feitas no laboratório da Schlumberger


Reservoir – Brazil Research and GeoEngineering Center. Porém as descrições e
fotografias foram realizadas no Laboratório de Geologia Sedimentar da UFRJ
(Lagesed) utilizando o microscópio óptico Zeiss. Já as binarizações, foram realizadas
nas instalações do Departamento de Engenharia Civil (UFF).
23

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A seguir encontram-se os resultados comparativos das estimativas de porosidade


nas rochas analisadas utilizando as técnicas de injeção de mercúrio por pressão
capilar (MICP), ressonância magnética nuclear (RMN), microtomografia por raio-X
(MicroCT), lâminas petrográficas e suas discussões.

4.1 DESCRIÇÕES PETROGRÁFICAS

Durante a realização do trabalho, lâminas foram descritas para ajudar na


interpretação dos resultados petrofísicos. No Quadro 2 apresentamos suas
descrições.
Quadro 1: Descrição das lâminas petrográficas

CARBONATOS

Amostra AC - Calcarenito bioclástico a intraclastos de granulometria muito fina;


texturalmente um grainstone (Dunham, 1962). Composto predominantemente por
bioclastos tais como equinodermos (espinhas?), bivalves (moluscos?) e fragmentos
de coral. Os diferentes aloquímicos apresentam franja isópaca acicular,
provavelmente de aragonita originalmente, que sugere deposição em ambiente
marinho freático, possivelmente em shoreface. Presença de cimento calcítico.
Apresenta poros do tipo texturalmente seletivo e é representado por porosidade
intergranular e intercristalina e subordinadamente microporosidade intragranular em
oóides (Choquette & Pray, 1972). Possui porosidade vugular importante, porém
essa não é controlada pela textura (setas).
24

Amostra EY - Calcarenito bioclástico de granulometria areia fina a media;


texturalmente um packstone (Dunham, 1962). Composto dominantemente por
bioclastos tais como braquiópodes, crinoides e bivalves. Observada porosidade
intragranular e móldica (setas), porosidade texturalmente controlada.
Secundariamente vugular. (Choquette & Pray, 1972);

Amostra GD - Dolomito composto por mosaico de cristais de tamanho médio,


planar-s, neomorfisado ou recristalizado. É um dolomito de substituição tardia de
um calcário preexistente sem preservação da textura original do mesmo. O
neomorfismo ocorreu durante o soterramento e afetou parcialmente os estilólitos de
compactação. A lâmina pode ser classificada como um dolomito de substituição
tardia neomorfisada. A porosidade observada é do tipo intercristalina e vuggs
(Choquette & Pray, 1972) perfazendo cerca de 7% da lâmina. Os poros
intercristalinos (setas) são menores que os vugs e há ocorrência de microporos.
25

Amostra SD - Dolomito composto por mosaico de cristais de tamanho pequeno a


médio, subheudral a euhedral. É um dolomito de substituição de um calcário
preexistente sem preservação de textura original. A porosidade observada em
lâmina é do tipo intercristalina e vugular. Há ocorrência de microporosidade no
interior dos cristais. Presença de óleo morto em alguns poros.

ARENITOS

Amostra BR – Rocha homogênea, com má seleção dos grãos, variando de


subarredondados à subangulosos, com granulometria variando de média a grossa.
Possui esfericidade baixa, com contatos côncavo-convexo e pontuais, sendo clasto-
suportada, sem orientação preferencial. Possui cimentação do tipo silicosa
predominantemente sobrecrescente, mas também há cimentação argilosa formando
pseudomatriz, que por muitas vezes preenchem os poros. Possui porosidade bem
conectada, de origem secundária, sendo do tipo intergranular e intragranular em
feldspatos dissolvidos. Quanto a composição, ocorrência de quartzo monocristalino,
feldspatos moderadamente alterados para caulinita, sendo os cristais de plagioclásio
(albita), microclina e ortoclásio, perfazendo 10% do total dos feldspatos. Presença de
muscovita e biotita na matriz, com alguns grãos alterados para cloritóides, além de
minerais opacos. De acordo com a proporção relativa pelo método de visadas sugere
70% de quartzo, 16% de feldspatos, 0,5% de fragmentos líticos, 3% de micas, 10% de
argilominerais e 0,5% de minerais opacos. Segundo a Classificação de Folk (1968),
esse arenito é subarcósio e, segundo Pettijohn (1972) essa amostra é um arenito
feldspático.
26

AMOSTRA CO – Rocha heterogênea, com grãos apresentando seleção moderada,


variando de subarredondados à subangulosos, e granulometria variando de fina e
baixa esfericidade. Pode-se observar que a lâmina possui duas partes distintas: uma
com contatos côncavo-convexos, sendo clasto-suportada e orientação dos grãos,
empacotamento bastante fechado e matriz silicosa e ferruginosa. Porosidade sem
conexão, sendo de origem secundária do tipo intergranular. Já a segunda parte tem
poucos contatos côncavo-convexos, onde a matriz é do tipo pseudomatriz ferruginosa
e preenche quase todos os poros da amostra. Nessa parte, a rocha é matriz-suportada
e cimentação ferruginosa e os poros são intragranular. Quanto a composição, possui
quartzo monocristalinos. Presença de finos minerais opacos nos grãos de quartzo. Já
os feldspatos (plagioclásios) se apresentam alterados, chegando a ser corroídos ou
substituídos por caulinita, e representam 90% dos grãos de feldspatos. Já os outros
10% seriam de microclina bastante alteradas. Presença de muscovita e minerais
opacos finos na lâmina. De acordo com a proporção relativa pelo método de visada
sugere 85% de quartzo, 5% de feldspatos, 4,5% de muscovita, 5% de argilomineras
e 0,5% de minerais opacos. Segundo Classificação de Folk (1968), esse arenito é
subarcosio. E segundo Pettjohn (1972) essa amostra é um arenito feldspático.

AMOSTRA CT – Rocha homogênea, com grãos mal selecionados, variando de


subangulosos a subarredondados, com granulometria variando de fino a médio e baixa
esfericidade. Possui contatos côncavo-convexos, na maior parte da lâmina, porém há
presença de contatos suturados, clasto-suportada, sem orientação dos grãos e
empacotamento fechado. A matriz é do tipo pseudomatriz e cimentação silicosa e
ferruginosa predominantemente sobrecrescente. Porosidade pouco conectada, de
origem secundária do tipo intergranular, e em alguns feldspatos dissolvidos,
intragranular. Quanto a composição, possui quartzo monocristalino, em sua maioria,
com granulometria variando de fino a médio e subarredondados, com extinção reta e,
27

em alguns grãos, ondulante. Presença de quartzos autigênico. Os feldspatos também


fazem parte da composição da rocha, principalmente os plagioclásios, com
granulometria de fina a média e subarredondados, e, muitas vezes alterados para
caulinita. Presença de biotitas na lâmina, porém sem alterações e poucos minerais
opacos. A proporção relativa pelo método das visadas sugere 75% de quartzo, 15%
de feldspato, 2% de biotita, 1% de minerais opacos e 7% de matriz. Segundo a
Classificação de Folk (1968), esse arenito é subarcósio. Segundo a classificação de
Pettjohn (1972) essa amostra é um arenito feldspático.

AMOSTRA IB – Rocha homogênea, com grãos mal selecionados, variando de


angulosos a subarredondados, com granulometria variando de fina a média e baixa
esfericidade. Possui contatos pontuais, raros concavos-convexos, clasto-suportada,
sem orientação dos grãos e empacotamento aberto. A matriz é do tipo pseudomatriz,
com cimentação do tipo silicosa predominantemente sobrecrescente. Porosidade bem
conectada, de origem secundária do tipo intergranular e, no caso de grãos de
feldspatos e micas dissolvidos, intragranular. Quanto a composição, possui quartzo
monocristalinos, variando de fino a médio, de subarredondados à angulosos.
Presença de feldspatos pouco alterados, os que estão dão lugar a caulinita e
hydralsita, sendo proeminente os cristais de microclina (80%), com granulometria
média e subarredondados. A albita (plagioclásio) aparece me cerca de 20% dos
cristais feldspáticos, com granulometria variando de fina à media e subarredondados.
Quanto aos outros minerais que compõe a rocha: são biotitas (90%) e moscovitas
(10%) pouco alterados. A proporção relativa pelo método de visadas sugere 60% de
quartzo, 30% de feldspato, 0,5% de fragmentos líticos, 2% de micas, 7% de
argilominerais e 0,5% de minerais opacos. Segundo a Classificação de Folk (1968),
esse arenito é arcosio. Segundo Pettjohn (1972) essa amostra é um wacke feldspático.

4.2 - Petrofísica Básica

Inicialmente, as amostras foram limpas através do método soxhlet para


medição dos valores de porosidade, densidade dos grãos e permeabilidade,
apresentados na Tabela 1:
28

Tabela 1: Dados de petrofísica básica

Densidade dos Porosidade Permeabilidade


Amostra
Grãos (g/cm³) (%) (mD)
Carbonatos AC 2,70 23% 17,3

GD 2,84 6,7% 3,94

EY 2,61 22,9% 110

SD 2,86 18,3% 2,57


Arenitos BR 2,66 24,3% 1250

CO 2,67 6,5% 0,081

CT 2,66 17,1% 39,7

IB 2,59 27,5% 1780

Com os dados apresentados na tabela acima, pode-se observar as


características petrofísicas das amostras utilizadas nesse trabalho. Das amostras de
rochas carbonáticas, foram separadas três amostras com boa porosidade, AC, EY e
SD, já GD possui porosidade baixa. A densidade dos grãos das amostras, com valores
de 2,61g/cm³ a 2,86g/cm³, condiz com valores de densidade do mineral calcita. Em
relação às rochas areníticas, também foram separadas três amostras com boa
porosidade: BR, IB e CT, já a amostra CO possui baixa porosidade. Os valores de
densidade dos grãos, entre 2,59g/cm³ e 2,67g/cm³, condizem com o valor referente
ao quartzo, mineral mais abundante nas amostras analisadas.

4.3 - Injeção de Mercúrio por Pressão Capilar (MICP)

Abaixo estão apresentadas as distribuições de tamanhos de poros das amostras


estudadas utilizando a técnica de injeção de mercúrio por pressão capilar (MICP)
(Fig.2).
29

a) b)

Figura 2 - Distribuição das gargantas de poros das amostras areníticas; b) Distribuição


das gargantas de poros das amostras carbonáticas.

Em particular, os conceitos tradicionais de micro, meso e macroporos utilizados são


muito importantes e são as bases para a interpretação dos tamanhos de famílias de
poros. Nesse trabalho foi utilizado os valores de corte de 1m e 3m para essa
separação, porém foi encontrado diversos valores de corte na literatura para a
definição desses limites.
No caso dos arenitos utilizados nesse trabalho, a amostra CO apresentou os
menores tamanhos de poros, sendo sua maior concentração de garganta de poros
entre 0,1 e 1m, podendo ser classificado como microporos. Já as demais amostras
permaneceram acima de 3m, classificada como macroporos.
A distribuição derivada de MICP apenas apresenta o volume de mercúrio que
penetrou nos poros através de suas gargantas a uma dada pressão. Em caso de poros
e gargantas grandes (vuggs, no caso dos carbonatos) para que sejam acessadas, o
fluido percolaria por pequenos poros e gargantas, fazendo com que sua distribuição
não seja representativa (Fleury, 2007), não possuindo uma curva unimodal
preferencial, fenômeno observado nas amostras carbonáticas estudadas. Nota-se
uma distribuição heterogênea dos tamanhos dos poros para todas as amostras
analisadas. Sendo assim, para amostra GD há uma predominância de macroporos, a
amostra AC há uma predominância de micro e mesoporos, para amostra SD há
predominância de micro a macroporos, e, a amostra EY, que apesar de ter seu maior
pico na região dos macroporos, também possui micro e mesoporos.
Na Figura 4, as porosidades encontradas no MICP foram plotadas e confrontadas
com os dados de porosidade de rotina.
30

Figura 3 - Gráfico comparativo entre os dados de porosidade de rotina com MICP.

Nota-se a boa correlação entre os dados de rotina e MICP, tanto para as rochas
areníticas (R² = 0,9842) como para as rochas carbonáticas (R² = 0,9082).
Os resultados também indicam que para porosidades mais altas, os valores de
porosidades dos distintos tipos de rochas estimados pela técnica de rotina se
aproximam dos valores de porosidade estimados pela injeção de mercúrio por pressão
capilar (MICP).

4.4 - Ressonância Magnética Nuclear (RMN)

A técnica de RMN é capaz de medir a pseudo-distribuição de tamanho de poros


das rochas, em condições ideias, quando saturado com um único fluido, mesmo
possuindo inúmeras dificuldades de interpretação como no caso das rochas
carbonáticas. Muitos efeitos como acoplamento difusional, variação da relaxatividade
superficial tanto mineralógica como de temperatura e gradiente interno podem
contribuir para as incertezas na interpretação (Fleury, 2007). Os resultados das
amostras ensaiadas estão apresentados na Figura 4.
31

Figura 4 - a) Distribuições de T2 das amostras de arenitos com amplitudes


normalizadas; b) Distribuições de T2 das amostras de carbonatos com amplitudes
normalizadas.

Analisando a Figura 4, podemos observar que as amostras areníticas apresentam


distribuições de tempos T2, que são interpretadas como distribuição de tamanho de
poros, com um pico preferencial, identificando uma boa seleção granular em todas as
amostras. Quando esses resultados são confrontados com os dados de MICP, as
descrições petrográficas e as visualizações em 3D, pode-se dizer que a amostra BR
possui uma macroporosidade, bem conectada, sendo do tipo intergranular; a amostra
IB, de acordo com a descrição petrográfica, possui uma porosidade bem conectada
do tipo intergranular, interpretada, de acordo com as curvas de RMN e MICP como
macroporos, já os poros intragranulares, em decorrência da dissolução de partes dos
grãos de feldspato e mica, seriam mesoporos observados nas curvas; CO possui uma
porosidade do tipo intergranular bem observada nas lâminas, podendo ser classificada
como microporos de acordo com os dados de RMN e MICP; CT possui uma
porosidade pouco conectada, sendo do tipo intergranular, em sua maioria, sendo
esses interpretados como macroporos como visto nas curvas.
Em relação às amostras carbonáticas, observa-se que possuem mais de uma
família de poros, pois as distribuições de T2 são bimodais em todas as amostras.
Conforme a Fig. 4, os dados de MICP, petrografia e as visualizações 3D, a amostra
AC possui sua maioria porosa na região dos microporos, que correspondem aos poros
intercristalinos e intragranulares descritos nas lâminas. Já os mesoporos,
correspondem aos poros intergranulares, e os macroporos, seriam os vuggs e alguns
poros intergranulares também observados. EY possui um predomínio de poros
32

móldicos, que correspondem aos macroporos, além de vuggs, que correspondem aos
mesoporos. GD há um predomínio de macroporos, correspondentes aos vuggs, além
de microporos representados pela porosidade intercristalina. SD possui poros
intercristalinos, sendo esses distribuídos em todos os tamanhos de poros, micro, meso
e macroporos, já os vuggs correspondem aos meso e macroporos.
Com os dados de porosidade por RMN, um gráfico foi plotado a fim de comparar
essas respostas com as de rotina, conforme pode ser observado na Fig.5:

Figura 5 - Gráfico comparativo entre os dados de porosidade de rotina com RMN.

Como pode ser observado na Figura 5, para ambas os tipos de rochas, as


correlações entre os dados de porosidade são excelentes, sendo para as rochas
carbonáticas R² = 0,9552, e para as rochas areníticas R² = 0,9997. Sendo assim,
podemos concluir que a técnica responde de maneira eficaz para ambas as litologias.
Além disso, observa-se que com o aumento da porosidade das amostras
carbonáticas, aparentemente, existe uma tendência no aumento das diferenças entre
as porosidades estimadas pelas duas técnicas.
Observando essas curvas de RMN (Fig. 4) e comparando com as respostas
encontradas na MICP (Fig.2), pode-se concluir que mesmo considerando a
heterogeneidade das amostras carbonáticas, a técnica de RMN representou melhor a
distribuição de família de poros.
33

4.5 - Microtomografia Por Raios-X (MicroCT)

Segundo Boever et al. (2012), a distribuição dos tamanhos de poros (gargantas)


obtidos por injeção de mercúrio pode ser usado como indicador da resolução a ser
utilizado no microtomógrafo por raio-X. Sendo assim, nesse trabalho foi usado 1m
de resolução, e na Tabela 2 estão apresentados os valores de porosidade de rotina,
a porcentagem de poros maiores que 1m que foram preenchidos por mercúrio, e, a
porosidade por microCT.

Tabela 2: Porosidade das amostras

Amostra  MICP (%)  MicroCT


(%)
AC 9 11

GD 4 3

EY 19 13

SD 10 6

BR 22 22

CO - 8

CT 10 12

IB 25 27

Conforme pode ser observado na Tabela 2, houveram diferenças nas porosidades


encontradas nas binarizações das imagens de microCT. Em relação a amostra de BR
(Fig.6 – d) o valor encontrado na binarização honra a MICP; já CT e IB, considerando
que são aceitáveis pequenas variações, os valores também foram aceitáveis. A
amostra CO foi a única que apresentou valores divergentes: quando observado os
valores encontrados na rotina (Tabela 1), o valor determinado foi  = 6,5%.
Interpretando o gráfico de MICP (Fig.2), essa amostra apresenta gargantas de poros
muito pequenos (abaixo de 0,9m) e pouca conexão entre eles, porém foi bem
estimado quando comparado à porosidade de rotina. Nas amostras carbonáticas, AC
e GD (Fig.2 – b) os valores encontrados na MICP, mesmo com os valores um pouco
acima e, as amostras EY e SD apresentaram maiores diferenças quando comparadas
34

com os valores de MICP. Porém, em todas as amostras ensaiadas, os valores de


rotina encontradas são maiores, podendo dizer que apenas metade dos poros
conseguiram ser quantificados, sendo interpretado devido a grande heterogeneidade
das rochas, além do problema da resolução da tomografia, que mesmo com um pixel
size de 1m, há uma grande quantidade de microporos que não conseguem ser
imageados por estarem abaixo desse tamanho.

Figura 6 - Imagens geradas através de microtomografia. a) Cubo da amostra de GD,


onde tons mais escuros são poros e mais claros, grãos. b) Cubo binarizado de GD,
onde os poros estão em azul; c) Cubo da amostra de BR, onde os poros são escuros
e os claros, grãos; d) Cubo segmentado de BR, cujo os poros estão destacados em
azul.
35

Com os resultados de petrofísica de rotina e microCT, foi elaborado uma análise


comparativa apresentando as diferenças em porcentagens das porosidades
estimadas:

R² = 0,9096 R² = 0,8424

30
IB
25
BR
20
MicroCT (%)

Carbonatos
15
EY Arenitos
CT
10 CO AC

5 SD
GD

0
0 5 10 15 20 25 30
Rotina (%)

Figura 7 - Gráfico comparativo entre os dados de porosidade de rotina e MicroCT.

Como pode ser observado na Fig. 7, os arenitos apresentaram uma melhor

conformidade com as respostas de rotina, com R² = 0,9096. As amostras IB e BR

tiveram seus poros bem visualizados, com valores de porosidade 27% e 22%,

respectivamente. Já a amostra CT, observou-se uma diferença maior em relação as

porosidades. Esse fato pode ser explicado pela rocha ter uma quantidade maior de

meso e microporos (Fig.3a), com tamanhos abaixo da resolução empregada na

análise. A amostra CO foi a única que a segmentação dos poros foi superestimada,

com 8%. Como pode ser observado na Figura 3a, os poros dessa rocha possuem

tamanho menores que a resolução empregada na técnica de microCT. Dessa forma,

as respostas encontradas realmente não poderão ser aceitas, já que o ideal é que o

tamanho do pixel seja duas vezes menor que a resolução desejada (Neto, 2011).

Sendo assim, se faz necessário aumentar ainda mais a resolução.


36

Quanto aos carbonatos, a conformidade dos resultados foi de R² = 0,8424,

mostrado que é imprescindível aumentar a resolução das amostras para melhorar o

imageamento dos poros, visto que praticamente metade dos poros conseguiram ser

quantificados.

4.6 – Lâminas petrográficas

Na Tabela 3, apresentamos os valores encontrados na binarização das fotografias


das lâminas petrográficas.
Tabela 3: Porosidade das amostras segmentadas

Dif. de
Lâmina
Amostra  Rotina (%) porosidade
(%)
(%)
AC 23 16 30

GD 7,9 5 37

EY 22,9 30 +30

SD 18,3 15 18

BR 24,3 22 9

CO 6,5 5,6 14

CT 17,1 17 1

IB 27,5 26 5

Com os dados apresentados na Tabela 3, pode-se concluir que amostras


carbonáticas apresentam as maiores diferenças quando comparadas com as
porosidades encontradas durante a rotina. Esse fato pode ser explicado devido a
heterogeneidade e complexidade poral das amostras, levando-se em consideração
que esse tipo de rocha é quimicamente instável e passa por alterações substanciais,
tanto de dissolução mineral como dolomitização (substituição de carbonato de cálcio
por carbonato magnesiano), acarretando em formação de porosidades secundárias
de tamanhos diversos.
Quando se correlaciona esses resultados com as distribuições dos tempos T2 do
RMN e das gargantas de poros do MICP, observam-se nas amostras areníticas, dois
tipos de poros foram identificados nas lâminas: intergranulares, em sua maioria, e
37

secundariamente poros intragranulares. Nos gráficos de MICP (Fig. 2a), observa-se


uma família de poros predominantes, sendo esses intergranulares, e além de poros
em menores quantidades, sendo representado pelos intragranulares. Destacamos a
amostra CO, que apresentou uma distribuição de poros classificados com microporos,
variando entre 0,1 e 1 m, classificados como intergranulares. O mesmo acontece nos
gráficos de RMN (Fig.4a), onde também conseguimos identificar uma família de poros
predominantes, poros intergranulares, e uma pequena curva, que seriam poros
intragranulares.
Já nas amostras carbonáticas, a complexidade da rocha é bem marcada em todas
as análises feitas nesse trabalho. Nas descrições petrográficas das laminas, foram
identificados vários tipos de poros, não tendo sido observado uma predominância:
poros intragranulares, intercristalinos, móldicos e vugulares. Observando o gráfico de
MICP (Fig. 2b), nota-se uma distribuição de tamanho de poros bem heterogenia, não
apresentando, assim, uma predominância. A amostra EY se destacou por apresentar
um pico no range dos macroporos, que provavelmente seja resultado da porosidade
móldica que está presente em grande quantidade na rocha. Na amostra AC observa-
se uma predominância de micro a mesoporos que através do conhecimento das
laminas petrográficas sabemos que são poros intergranulares e intercristalinos. Nas
amostras de dolomitos, GD e SD, a maior parte dos poros, considerado macroporos
são consitituidos de vugs. Para finalizar, conseguimos estabelecer as famílias de
poros existentes em cada amostra, bem como suas distribuições através das técnicas
de MICP e RMN.

5. CONCLUSÕES

A partir das análises apresentadas anteriormente, pode-se concluir que: a


ressonância magnética nuclear foi a técnica que apresentou menores diferenças em
relação a petrofisica de rotina, com valores de R² = 0,9909 para rochas carbonáticas
e R² = 0, 9994 para as rochas areníticas. Por outro lado, as maiores diferenças foram
encontradas na binarização das imagens microtomografadas. Nessa técnica, as
amostras areníticas possuem pequenas diferenças em suas porosidades, quando
comparadas com amostras carbonáticas, que em sua maioria apresentaram
diferenças médias de 50%.
38

A técnica de microCT foi a que mais apresentou diferenças nas respostas quando
analisando as amostras carbonáticas. Mas, levando-se em consideração que essa
rocha é de alta complexidade devido as suas características de formação e
composição, os resultados encontrados foram aceitos, pois possibilita a
caracterização dos arcabouços porosos distintos, possibilitando a análise qualitativa
e quantitativa da forma, tamanho, volume, distribuição e conectividade dos poros.
Além disso, é uma excelente ferramenta que integra tridimensionalmente aspectos
petrofísicos à petrografia.
Com todas as técnicas utilizadas nesse trabalho, foram analisados os prós e
contras das técnicas, conforme a tabela abaixo:

Tabela 4: Vantagens e desvantagens das técnicas:

Técnica Vantagens Desvantagens


MICP - Pode-se atingir valores - Método destrutivo e tóxico;
altos de pressão capilar, - O sistema de fluídos é
invadindo os menores muito diferente dos
poros e atingindo sistemas encontrados no
saturações de ar reservatório;
irredutíveis muito baixas; - Pequena amostra se torna
- Utiliza pequeno volume de desvantagem em amostras
amostra; heterogêneas;
RMN - Boas respostas para - Ferramenta de alto custo;
porosidade independente - Poros grandes não tem
da litologia; boa representação na
- Ferramenta pode ser distribuição de tamanhos
utilizada no poço; de poros;
- Acoplamento difusivo;
Lâminas petrográficas - Mais acessível, baixo custo; - Modificações estruturais
- Consegue identificar e na rocha devido a
classificar sistemas laminação;
estruturais complexos das - Método destrutivo;
rochas, como por exemplo - Interpretação restrita em
mineralogia; imagem 2D;
Microtomografia por raio-X - Possibilita a caracterização - Utilização de subamostras
do arcabouço poroso em para o aumento da
3D; resolução;
- Simulações fluxos e outros - Demanda de capacidade
fenômenos que dependem computacional para
da microestrutura da rocha; processamento e
armazenamento.
39

Como nenhuma técnica de análise de poros é


totalmente satisfatória, para melhor compreensão, o
aconselhável é integrar resultados fornecidos pelos
diversos métodos para se ter um entendimento mais preciso dessa propriedade
petrofísica.
40

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1) ANDERSON, M.A, DUNCAN, B., MCLIN, R. Core truth in formation evaluation.


Oilfield Review Summer, n.2, pp. 16-25, 2013;
2) ARNS, C. BAUGET, F. LIMAYE, A. Pore-scale characterization of carbonates
using X-ray microtomography. Society of Petroleum Engineers, v.10, p. 26-29,
2005.
3) AKBAR, M, PETRICO, M, WATFA, M, BADRI, M, CHARARA, M, BOYD, A,
CASSEL, B, NURMI, R, DELHOMME, J, GRACE, M, KENYON, B,
ROESTENBURG, J. Classic Interpretation Problems: Evaluating Carbonates.
Oilfield Review, 1995;
4) ANAND, V., HIRASAKI, J. Diffusional Coupling between micro and
macroporosity for NMR relaxation in sandstones and grainstones. In: 46TH
ANNUAL LOGGING SYMPOSIUM. Resumo Expandido: Society of
Petrophysicists and Well Log Analysts, 2005;
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