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SISTEMÁTICA PARA AVALIAÇÃO E GERENCIAMENTO DE

INCERTEZA DO PROCESSO DE MEDIÇÃO NA INDÚSTRIA


Luiz Soares Júnior1, lsj@ufc.br
Jackson Henrique Braga da Silva2, jacksonhenrique05@hotmail.com
Francisco Robson Alencar Sales3, frs.ufc@gmail.com
1,2,3
UFC, Campus Universitáriodo Pici Bloco 714, Fortaleza - CE - Brasil Cep: 60455-970

Resumo:. A incerteza de medição deve ser considerada na avaliação da conformidade para que se possa aumentar a
confiança na aprovação ou reprovação de um produto ou processo. Apesar da necessidade e importância dessa
prática na fabricação de produtos, sua aplicação ainda é modesta e muitas vezes realizada de forma inadequada no
meio industrial. Dentre as causas da pouca disseminação na indústria, pode-se citar o conhecimento insuficiente de
metrologia na empresa, o rigor matemático e estatístico do guia para cálculo de incerteza - ISO GUM, e a forma
lacônica com que as normas de garantia da qualidade abordam o assunto. Este trabalho propõe uma sistemática para
avaliação da incerteza de medição baseada nos conceitos do ISO-GUM e na metodologia PUMA - “Procedure
Uncertainty Management”, abordado nas normas ISO 14253 partes 1e 2, desenvolvidas originalmente para aplicação
no campo da especificação geométrica de produtos. A metodologia consiste na definição de uma tarefa de medição e
uma incerteza alvo a partir de uma relação com a tolerância especificada ou erro máximo admissível. A avaliação
das fontes de incertezas do processo de medição é iterativo e finalizada quando a incerteza estimada for menor que a
incerteza alvo. A metodologia proposta foi aplicada na medição com máquina de medição por coordenadas do
diâmetro de uma carcaça de um medidor tipo turbina produzido por uma empresa do setor metalmecânico. Para
auxiliar no cálculo do gerenciamento das fontes de incertezas e na relação com a tolerância especificada foi
desenvolvido uma planilha em Excel (Microsoft Co). A metodologia mostrou-se prática e confiável visto que a
diferença dos seus resultados com a aplicação mais rigorosa pelo ISO-GUM foi pequena. Outras vantagens da
metodologia baseada no método PUMA são a formalização dos documentos no sistema da qualidade, o
desenvolvimento de procedimento de medição economicamente mais viável e a facilidade de compreensão da
metodologia por conta das simplificações, sugerindo que ela pode ser aplicada no meio industrial.

Palavras-chave: Incerteza de medição, PUMA, indústria, ISO-GUM.

1. INTRODUÇÃO

Diariamente decisões importantes são tomadas nas empresas tendo como base resultados de inspeção, medição e
ensaios. A qualidade desses resultados pode ser avaliada pelo nível de incerteza da medição. A existência da incerteza
de medição parte do pressuposto de que não há processo de medição isento de erros e, portanto, para um resultado de
medição, não existe apenas um único valor, mas infinitos valores possíveis dispersos em torno de um valor mais
provável para o mensurando. Formalmente, a incerteza de medição é definida como um parâmetro não negativo que
caracteriza a dispersão dos valores atribuídos a um mensurando, com base nas informações utilizadas VIM (2009).
As primeiras iniciativas para harmonização de uma metodologia para avaliação e expressão da incerteza de
medição surgiram em 1977 através do CIPM (Comitê Internacional de Pesos e Medidas). O estudo e proposição de uma
metodologia ficaram a cargo do BIPM (Bureau Internacional de Pesos e Medidas) que, com um grupo de trabalho
formado por representantes de onze laboratórios, produziu a recomendação INC-01: “Expressão de Incertezas
Experimentais”, em 1980, aprovada em 1981 e ratificada em 1986 pelo CIPM.
No ano de 1993, a ISO (International Organization for Standardization), juntamente com outras seis organizações
internacionais, publicou o “Guide to the Expression of Uncertainty in Measurement” ou “ISO GUM”, com critérios e
regras gerais para a expressão da incerteza de medição, com a proposta de ser aplicável da metrologia científica até a
industrial.
O ISO-GUM (1998) tornou-se um documento largamente aceito no meio técnico com aplicação mais difundida no
campo da normalização, metrologia científica e laboratórios de calibração. No entanto, pelo seu rigor matemático e
estatístico, seu caráter generalista e a diversidade de atividades que necessitam avaliar a incerteza de medições, outros
guias e documentos foram desenvolvidos, baseados no ISO-GUM, com o intuito de condensar e simplificar o texto.
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Dentre esses documentos podemos destacar os guias gerais NIST NT 1297, UKAS M 3003 e EA-4/02 (Calibração) e
guias específicos como o EURACHEN (Química), UNCERT (Ensaios mecânicos), ISO 5168 (Vazão) e ISO 14253-2
(Ambiente fabril).
Todo esse esforço e produção de documentos foram motivados pela necessidade e importância de se avaliar e
expressar a incerteza do resultado de uma medição de forma confiável, que possa ser reproduzida e comparada com
outros resultados.
A despeito da importância de se estimar a incerteza de medição para, por exemplo, avaliar a conformidade ou não
de um produto e a existência de uma gama de documentos reconhecidos internacionalmente que podem auxiliar na
fundamentação e formalização da avaliação da incerteza, pesquisas indicam a pouca disseminação no meio industrial
(Júnior, 1999; Wirandi, 2006 e Beckert, 2006).
Desse modo, esse trabalho propõe a aplicação de uma sistemática de gerenciamento dos componentes de incerteza
da medição baseado na norma ISO 14253-2 (2011), desenvolvida para área de especificação geométrica de produtos,
mas com possibilidade de aplicação em outros casos no contexto industrial, conforme trabalhos publicados (Júnior,
1999; Barp, 2000 e Coral, 2004).
A metodologia proposta é simplificada com respeito aos critérios e procedimentos do ISO-GUM (1998) e voltada
para um ambiente industrial, constituindo-se de processos iterativos para se avaliar os componentes de incerteza do
processo de medição. O rigor na aplicação do método depende do nível da incerteza requerido para o processo de
medição e sua relação com a tolerância especificada para o mensurando.

2. AVALIAÇÃO DE INCERTEZA DE MEDIÇÃO NA INDÚSTRIA

Apesar da norma de garantia da qualidade ABNT NBR ISO 9001(2008), no item 7.6 “Controle de equipamento de
monitoramento e medição”, ser lacônica com respeito à necessidade de avaliação da incerteza de medição, pelo menos
três requisitos do sistema de garantia da qualidade exigem a prática da avaliação da incerteza de medição. São eles:
calibração, rastreabilidade metrológica e avaliação da conformidade.
Segundo o vocabulário internacional de metrologia VIM (2009) a calibração é definida como “Operação que
estabelece, numa primeira etapa e sob condições especificadas, uma relação entre os valores e as incertezas de
medição fornecidas por padrões e as indicações correspondentes com as incertezas associadas; numa segunda etapa,
utiliza esta informação para estabelecer uma relação visando à obtenção de um resultado de medição a partir de uma
indicação.”
Para a rastreabilidade metrológica, o VIM (2009) define como “Propriedade de um resultado de medição pela qual
tal resultado pode ser relacionado a uma referência através de uma cadeia ininterrupta e documentada de calibrações,
cada uma contribuindo para a incerteza de medição.”
Como no ambiente industrial, a maior parte das atividades metrológicas se concentra na avaliação da conformidade,
Pérez (1999), ou seja, comprovar que o instrumento de medição ou um mensurando se encontra dentro ou fora do erro
máximo admissível ou da tolerância especificada, respectivamente, é necessário, portanto, medir e considerar a
incerteza, uma vez que não há medição sem erros.
Apesar da necessidade de se avaliar a incerteza de medição, uma pesquisa realizada por Júnior (1999) em quinze
(15) empresas de médio e grande porte, certificadas ISO 9001, pôde-se constatar a pouca disseminação do método do
ISO-GUM nos laboratórios de metrologia industrial e que nas medições de processo ou “chão de fábrica” não é
realizada.
Diversos fatores contribuem para a pouca disseminação do ISO-GUM (1998) no meio industrial. Entre eles pode-se
destacar (Junior, 1999 e Baldo, 2000):
 A forma lacônica com que as normas de garantia da qualidade abordam a questão metrológica;
 O rigor matemático e estatístico no texto do ISO-GUM que pode levar a uma falsa idéia que é aplicável apenas
para pesquisa científica e laboratório de calibração;
 Capacitação adequada em metrologia dos responsáveis pela gestão metrológica nas empresas.
Uma opção para avaliação da incerteza de medição para ambiente industrial foi proposta pelo comitê técnico 213 da
ISO, no domínio das especificações geométricas de produtos. A norma ISO 14253-1 (1998) apresenta regras para
avaliação da conformidade considerando a incerteza do processo de medição. A segunda norma, ISO 14253-2 (2011),
apresenta uma metodologia baseada no ISO-GUM para avaliação e expressão da incerteza de medição nas calibrações e
nas medições no processo produtivo.

3. METODOLOGIA DE GERENCIAMENTO DE INCERTEZA DE MEDIÇÃO

A metodologia proposta neste trabalho, método PUMA, é baseada nas normas ISO 14253 partes 1 e 2 com a
inclusão dos conceitos de erro máximo admissível (Emad) e erro máximo avaliado (Emav), sendo que este último não
consta no vocabulário intencional de metrologia VIM (2009) e será explicado mais adiante.
O método iterativo de gerenciamento da incerteza de medição baseado no método PUMA tem dois propósitos
básicos de aplicação: a avaliação de incerteza de medição para um processo definido e o desenvolvimento de processo
de medição a partir de especificações pré-definidas.
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Ressalta-se que a metodologia PUMA é direcionada para aplicação no meio industrial e foi desenvolvida com base
nos conceitos do ISO-GUM, mas com outra abordagem para o problema e se utiliza de algumas simplificações. As
principais características da metodologia proposta na ISO 14253-2 (2011) são resumidas nos tópicos seguintes:
 É um método conservador. Ele superestima os componentes de incertezas de medição para o "pior caso”;
 A metodologia para estabelecer um processo de medição e avaliar incertezas de medição é iterativa e
denominada de PUMA (Procedure for Uncertainty of Measurement Management);
 Não há o cálculo dos graus de liberdade efetivos, como no ISO-GUM (1998), de forma que a incerteza
expandida é determinada multiplicando a incerteza padrão combinada por um fator de abrangência (k) igual a 2
(dois);
 O método recomenda a avaliação Tipo B dos componentes de incertezas. Como a incerteza é superestimada e é
usado um k igual a 2(dois) o nível da confiança é aproximadamente 95%;
 Na dúvida se as grandezas não são correlacionadas, o método recomenda considerá-las todas correlacionadas,
usando o fator de correlação 1 ou -1;
 O método considera suficiente para avaliação de incertezas na indústria, os tipos de distribuições: normal,
retangular e tipo “U”.
A sistemática proposta nesse trabalho parte de um estudo inicial, (caixa1 na Fig. (1)) da atividade de medição, onde
com base nas necessidades da empresa (fabricação, projeto, metrologia, dentre outros) são identificados os mensurandos
significativos para medição. A relação entre a tolerância e a incerteza requerida do processo de medição pode ser
definida com base na política da empresa, mercado, regulamentos dentre outros fatores.
Na seqüência estuda-se o processo de medição (caixa 2 na Fig. (1)), que abrange aspectos teóricos e práticos dessa
atividade. Esse estudo pode ser realizado sobre um processo já existente ou em desenvolvimento. O objetivo principal é
identificar as fontes de incerteza para o processo de medição. Nesta fase procura-se incluir todas as possíveis fontes de
incerteza.
Depois de identificadas as fontes de incerteza, elas são quantificadas (caixa 3 na Fig.(1)), conforme as suposições
das distribuições de probabilidades assumidas. Na metodologia proposta utilizam-se as distribuições normal, retangular
e tipo “U”. As fontes de incertezas são combinadas quadraticamente e calculada uma incerteza do processo de medição
para um nível de confiança de aproximadamente 95%, com o fator de abrangência (k) igual a dois (2). Essa fase
representa a primeira iteração, onde se compara a incerteza estimada (UE) com a incerteza requerida (UR) definida no
estudo inicial. A condição desejada nessa metodologia é que a incerteza estimada seja menor ou igual à incerteza
requerida.
A primeira iteração pode ser realizada sem muito rigor, apenas para obter uma visão global do processo de
medição. Se a incerteza estimada for muito menor que a incerteza requerida, o processo de medição é tecnicamente
aceitável, entretanto, pode se inviável do ponto de vista econômico. Pode-se nesse caso, fazer mudança no método ou
no procedimento de medição de forma a reduzir custos. Se a incerteza estimada for maior que a incerteza requerida, isso
indica que o processo de medição nessas condições não é adequado tecnicamente e será necessária uma nova iteração,
com a reavaliação das fontes de incertezas, o método de medição e até mesmo as definições de tolerância e incerteza
requeridas.
Destaca-se que essa sistemática permite simular variações nas fontes específicas de incertezas, onde é possível
avaliar cada contribuição frente à incerteza total, ponderando-se com as limitações de recursos, política da empresa e
confiança das medições.
Outro aspecto importante na metodologia proposta é inclusão dos termos Erro máximo admissível (Emad) e Erro
máximo avaliado (Emav). O primeiro refere-se ao erro admissível especificado pelo fabricante ou uma norma dentro de
condições específicas. Esse erro é checado através da calibração, onde se obtém o Erro máximo avaliado (Emav)
calculado conforme Eq. (1).

Emav ( Tdmáx U'95% ) (1)

Onde:
Tdmáx é a tendência máxima do instrumento de medição
U'95% é a incerteza resultante da combinação da repetitividade do instrumento com os componentes de incerteza da
calibração.
A incerteza U'95% é determinada como se segue:

n 1
2
U '95% (s 2 ui ) 2
.k (2)
i 1

Onde:
s é a repetitividade (desvio padrão experimental) do instrumento de medição com nível da confiança de
aproximadamente 68%;
u²i é a somatória dos componentes de incertezas provenientes dos efeitos sistemáticos da calibração;
k é o fator de abrangência, que para calibração é tipicamente igual a 2.
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Desse modo se o Emav for menor ou igual ao Emad, o instrumento de medição está adequado para avaliar a
conformidade do produto ou processo. É o que está apresentando na caixa 5 da Fig. (1).
Como na indústria a maior parte das atividades metrológicas é voltada para a avaliação de conformidade de
produtos, é fundamental considerar a incerteza do processo de medição sob pena de se aprovar peças ruins ou reprovar
peças boas. Na caixa 6 da Fig. (1), tem-se a lógica da avaliação de conformidade com base nas diretrizes da ISO 14253-
1 (1998). Ressalta-se que parte da faixa de especificação para o produto é tomada pela incerteza da medição. Na faixa
reduzida pela incerteza (denominada de faixa de aceitação) se pode afirmar com confiança que o produto está conforme.
Na faixa de rejeição, pode-se afirmar com confiança que o produto não está conforme. Na faixa de duvida não se pode
afirma com confiança se o produto esta conforme ou não, por isso a importância de se conhecer e controlar a incerteza
da medição dentro de valores aceitáveis, pois quanto maior for a faixa de duvida/incerteza, menor será a faixa de
aceitação para o produto, ou seja, menor será a faixa onde se pode afirmar com confiança que o produto está conforme.
Na Fig. (1) consta de modo resumido a proposta deste trabalho.

Estudo inicial (1)


Política da empresa,
Identificação dos mensurandos significativos e suas tolerâncias
normas, documentos
Definição da relação: tolerância/incerteza alvo para o processo
operacionais etc.

Estudo do processo de medição (2)


Princípio de medição Procedimento de medição
Método de medição Condições operacionais

Estudo da incerteza de medição (3)

Avaliação das Suposições, Modelos


fontes de incerteza simplificações etc. matemáticos

Reavaliar fontes
Balanço de incerteza (4)
de incerteza
Instrumento de medição Emad A
Fonte de incerteza 2 u2
NÃO
Fonte de incerteza 3 u3
SIM Processo
U95% k=2 UE UE ≤ UR
adequado

Avaliação do instrumento de medição (5) Avaliação de conformidade de produto (6)


1
Avaliar instrumento calibração /
A de medição verificação 5

NÃO Instrumento
EMAV ≤ EMAD 4 2 3 2 4
inadequado
1 Faixa de especificação
SIM 2 Faixa de dúvidas/incerteza
3 Faixa de aceitação
Instrumento adequado para 4 Faixa de rejeição
avaliar conformidade 5 Aumento da incerteza

Emad Errro máximo admissível ui Incerteza do componente i


Emav Erro máximo avaliado UE Incerteza estimada
k Fator de abrangência UR Incerteza requerida
U95% Incerteza com 95% de confiança

Figura 1. Fluxograma de aplicação da metodologia


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4. ESTUDO DE CASO

4.1. Estudo Inicial

O estudo de caso consistiu na medição do diâmetro interno de uma turbina de polipropileno com cota no valor de
11,50 mm e tolerância especificada de ±0,05mm, conforme Fig. (2). As medições foram realizadas numa máquina de
medir por coordenadas cartesianas. O desenho da Fig. (2) está simplificado por questão de confidencialidade de
informações da empresa.

Figura 2. Desenho simplificado da peça estudada

Com base na política da empresa estabeleceu-se uma relação tolerância/incerteza requerida para o processo de
medição igual a 4 (quatro).

4.2. Estudo do Processo de Medição

Para o estudo utilizou-se o princípio de medição por contato com apalpador tipo TP-20 e cabeçote MH-20. A MMC
tem faixa nominal 700x1000x500 mm e utiliza o programa de medição GeopakWin versão 2.4 R8.
As medições foram realizadas no laboratório de metrologia da empresa dentro de condições controladas de
temperatura com variação de ± 2 C. O operador da MMC possui experiência na medição por coordenadas.
A máquina de medição é calibrada sistematicamente por laboratório acreditado pela CGCRE/Inmetro com incerteza
de medição declarada como função do comprimento medido conforme a equação: (2,5 + L/860) µm, com L em
milímetros para aproximadamente 95% de confiança e k = 2. A peça é fixada em dispositivo especial e apresenta boa
rigidez.
Cabe ressaltar que nas medições rotineiras, as cotas são medidas uma única vez. Neste caso, os dados de dispersão
da medição foram obtidos de um estudo à priori como recomendação dos autores para a empresa participante do estudo.

4.3. Estudo da Incerteza de Medição

Nesta etapa do processo as fontes de incerteza identificadas anteriormente são quantificadas atribuindo-se
distribuição de probabilidade normal para a contribuição da dispersão das medidas e a distribuição de probabilidade
retangular e tipo “U” para as demais fontes de incerteza.
As fontes significativas de incerteza consideradas para a estimativa da incerteza do processo de medição foram as
seguintes:
 Variação de forma do mensurando;
 Dispersão dos valores medidos (estudo à priori);
 Efeito da temperatura sobre o mensurando e MMC;
 Resolução limitada da MMC;
 Erro máximo admissível da MMC.
Para auxiliar no cálculo do gerenciamento das fontes de incertezas e na relação com a tolerância especificada foi
desenvolvido uma planilha em Excel® compostas de três módulos.
No primeiro módulo constam informações sobre os limites de tolerância da característica a ser medida, local de
medição e a razão mínima entre a tolerância e a incerteza requerida do processo de medição. Constam ainda
informações das fontes de incerteza e a origem da informação. Na Figura 3 está apresentado o primeiro módulo.
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Figura 3. Módulo de entrada de dados para o gerenciamento da incerteza de medição

O segundo módulo apresentado na Fig. (4) trata do balanço da incerteza de medição baseado nas recomendações da
norma ISO 14253-2. Essa planilha é gerada tantas vezes quantas iterações forem necessárias no estudo.

Figura 4. Módulo de cálculo de incerteza de medição

4.4. Avaliação da Conformidade

Esse módulo é baseado nas recomendações da norma ISO 14253-1 (1998) que trata da avaliação da conformidade
na presença da incerteza de medição. No estudo, a primeira iteração resultou numa incerteza de 30,2% e uma relação
entre a tolerância e a incerteza de 3,3. Desse modo não foi alcançada a relação definida inicialmente. A principal
contribuição foi a influência da variação da temperatura sobre o material da peça que tem um coeficiente de dilatação
linear elevado. A sala de medição tem uma variação de ±2 C.
As fontes de incertezas provenientes da repetitividade e da variação de forma foram analisadas, mas sua redução
trouxe pouco impacto na incerteza final. Desse modo, foi sugerida à empresa a redução da variação da temperatura da
sala para um intervalo de (20±1) C recomendado pela norma ISO 1 (2002) para medições lineares.
Foi, portanto realizado uma simulação para essa variação sugerida como forma de demonstrar a efetividade e
facilidade de uso didático da metodologia proposta com as planilhas. Com a nova variação, a relação entre tolerância e
incerteza passou para 4,6 superando a relação definida inicialmente. Nessa condição, a faixa de especificação foi
reduzida de aproximadamente 21,8%.
Verifica-se na Fig. (5) outra ferramenta gráfica de grande utilidade na investigação das fontes de incertezas
predominantes. A fonte de incerteza proveniente da repetitividade das medições contribui (após a segunda iteração
simulada) com aproximadamente 39% da incerteza total. Cabe ressaltar que as fontes provenientes da variação de forma
e repetitividade podem ser menores quando da medição real na temperatura de (20±1) C.
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Figura 5. Módulo de análise dos resultados

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalhou abordou a questão da avaliação da incerteza de medição para o meio industrial e propôs uma
metodologia baseada nas normas ISO 14253 partes 1 e 2 com simplificações com relação ao ISO-GUM (1998). Dentre
as simplificações, destacam-se a suposição de que somente distribuições de probabilidades normal, retangular e tipo U
estão presentes e que o fator de abrangência “k” é igual a dois (2). O uso de avaliação Tipo B das fontes de incertezas é
incentivado na proposta, uma vez que no meio industrial mede-se apenas uma vez a característica do produto. Quando
for necessário estudo mais detalhado, por exemplo, para a repetitividade das medições, deve-se fazer um estudo à parte.
Na metodologia proposta na Fig. (1) é ressaltada a importância das decisões baseadas na política da empresa e em
normas e documentos para a relação da tolerância com a incerteza de medição. Destaca-se ainda, a necessidade de
avaliação da incerteza do processo de medição e não apenas a incerteza da calibração do instrumento. Essa
consideração implica dizer que o instrumento de medição é apenas uma das fontes de incerteza na medição industrial e
pode ter uma contribuição pequena frente às outras fontes de incertezas. Neste trabalho, por exemplo, o Emad da MMC
representa apenas 18% da incerteza total.
A metodologia proposta foi aplicada em um caso real numa empresa do setor metal-mecânico para a medição do
diâmetro de uma característica em uma peça de relativa complexidade. O objetivo foi demonstrar a aplicabilidade do
método suportado por normas e guias reconhecidos internacionalmente. As seguintes considerações a respeito do
método aplicado são:
 Apesar das simplificações do método, a tarefa de identificação dos componentes de incerteza envolvidos no
processo de medição exige pessoal com conhecimentos em metrologia e do processo de produção;
 Os procedimentos de cálculo e os registros das informações são bastante facilitados pelo uso de programas
computacionais comercialmente disponíveis ou de planilhas de cálculo;
 A metodologia contribui para a padronização do procedimento de cálculo de incerteza, a comparação de
resultados e o uso de dados históricos para análise e melhoria do processo de medição;
 Para efeito de aceitação ou não do instrumento de medição calibrado, a comparação do resultado da calibração
deve ser feita com seu erro máximo admissível, que é um parâmetro próprio do instrumento de medição e que
pode caracterizar seu comportamento metrológico;
 O uso de normas como ISO 14253 partes 1 e 2 e do ISO-GUM (1998) reforçam a afirmação que é possível
desenvolver procedimentos de garantia da qualidade nas medições consistentes com os preceitos metrológicos;
 Apesar do estudo de caso ter sido realizado em uma empresa do setor metal-mecânica, a metodologia pode ser
aplicada em empresas de diferentes portes e ramos de atividade, que realizam medições e possuam tolerâncias
especificadas;
 O uso da metodologia de avaliação de incerteza no ambiente industrial, especialmente quando se faz uma única
medição, pressupõe que o processo de fabricação e de medição sejam estáveis.
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6. REFERÊNCIAS

ABNT NBR ISO 9001:2008, “Sistema de gestão da qualidade – Requisitos”, novembro de 2008.
Albertazzi, A., Souza, A. R., 2008, “Fundamentos de metrologia científica e industrial” – Barueri, SP: Manole, 2008.
Baldo, R. B., 2003, “A interação entre o controle de processos e a metrologia em indústrias de manufatura”, Dissertação
submetida à Universidade Federal de Santa Catarina para obtenção do grau de Mestre em Metrologia.
Beckert, S. F., Paladini, E. P., 2006, “A abrangência do gerenciamento metrológico nas empresas”, XXVI ENEGEP -
Fortaleza, CE, Brasil.
Bennich, P., 2003, “Geometrical measurements”, Metro Trade Workshop: Traceability and Measurement in Testing,
Berlin, janeiro de 2003.
Coral, R., 2004, “Diretrizes para estabelecimento de um método de avaliação da conformidade de equipamentos de
medição de grandezas elétricas”, Dissertação submetida à Universidade Federal de Santa Catarina para obtenção do
grau de Mestre em Metrologia, outubro de 2004.
Heping, P., Xiangqian, J., 2008, “Evaluation and management procedure of measurement uncertainty in new generation
geometrical product specification (GPS)”. Artigo Elsevier.
ISO-GUM, 1998, Guia para Expressão da Incerteza de Medição. Segunda Edição Brasileira do “Guide to the
Expression of Uncertainty in Measurement”, Rio de janeiro, 121 p, 1998.
ISO 14253-1, 1998, “Geometrical Product Specifications (GPS), Inspection by measurement of workpieces and
measuring equipment – Part 1: Decision rules for proving conformance or non-conformance with specifications”,
International Organization for Standardization, First Edition.
ISO 14253-2: 2011, Geometrical Product Specifications (GPS) – Inspection by measurement of workpieces and
measuring equipment – Part 2: Guidance for the estimation of uncertainty in GPS measurement, in calibration of
measuring equipment and in product verification, International Organization for Standardization, Second Edition.
ISO 1:2002, Geometrical Product Specifications (GPS) -- Standard reference temperature for geometrical product
specification and verification
Júnior, L. S., 1999, “Confiabilidade Metrológica no Contexto da Garantia da Qualidade Industrial: Sistematização de
Procedimentos e Estudo de Casos”, Dissertação submetida à Universidade Federal de Santa Catarina para a
obtenção do Grau de Mestre em Engenharia, Florianópolis, Abril de 1999.
Perez, A. M. S., 1999, “La metrología como suporte básico de los sistemas de calidad industriales”, VI Congreso
Nacional de Ingeniería Mecánica.
VIM, 2009, “Vocabulário Internacional de Metrologia - Conceitos Fundamentais e Gerais de Termos Associados”, Rio
de Janeiro, PP.77.
Wirandi, J.; Lauber,A., 2006, “Uncertainty and traceable calibration – how modern measurement concepts improve
product quality in process industry”, Measurement V.39, pp. 612–620.

7. DIREITOS AUTORAIS
Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo do material impresso incluído neste trabalho.
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SYSTEMATIC ASSESSMENT AND MANAGEMENT OF


UNCERTAINTYOF MEASUREMENT PROCESS IN INDUSTRY

Luiz Soares Júnior1, lsj@ufc.br


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Francisco Robson Alencar Sales3, frs.ufc@gmail.com
1,2,3
UFC, Campus Universitáriodo Pici Bloco 714, Fortaleza - CE - Brasil Cep: 60455-970

Abstract:. The uncertainty of measurement should be considered in the conformity assessment so that we can increase
confidence in the approval or disapproval of a product or process. Despite the need and importance of this practice in
manufacturing, its application is still modest and often performed inadequately in the industrial environment. Among
the causes of the low spread in the industry, can be cited insufficient knowledge of metrology in the company, the
mathematical rigor and statistical guide to the calculation of uncertainty - ISO GUM and laconic way with the
standards of quality assurance approach the subject . This paper proposes a systematic evaluation of measurement
uncertainty based on the ISO-GUM concepts and methodology PUMA - "Uncertainty Management Procedure",
addressed in ISO 14253 shares 1 and 2, originally developed for application in the field of geometrical product
specification. The methodology consists in defining a measuring task uncertainty and a target from a relationship with
a specified tolerance or the maximum permissible error. The evaluation of the sources of uncertainty in the
measurement process is iterative and ended when the estimated uncertainty is less than the target uncertainty. The
proposed methodology was applied to the measurement machine coordinate measuring the diameter of a casing of a
turbine meter produced by a company in the metal mechanic. To assist in the calculation of management and the
sources of uncertainty in relation to the specified tolerance has developed a spreadsheet in Excel (Microsoft Co). The
methodology proved practical and reliable as the difference of the results of the tightening by the ISO-GUM was
small. Other advantages of the methodology based on the method PUMA is the formalization of the quality system
documents, development of measurement procedure more economically viable and easy understanding of the
methodology because of the simplifications, suggesting that it can be applied in industry.

Keywords: Measurement uncertainty, PUMA, Industry,ISO-GUM.

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