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Rodolfo Miguel de Figueiredo

Reflexões
Astrológicas
2023
Pa r t e I
Rodolfo Miguel de Figueiredo

Astrólogo e Tarólogo. Dá
consultas de astrologia e tarot há
cerca vinte anos e faz
consultadoria astrológica para
empresas há mais de dez anos.
Estudou Filosofia na Universidade
Nova de Lisboa - Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas, mas é
como autodidacta que tem
estudado áreas como o Estudo
Comparado das Religiões, a
Cultura Clássica, a Filosofia Antiga
e o Esoterismo. Na astrologia, tem
-se dedicado a especialidades como
a Astrologia Antiga, a Astrologia
Hermética e a Astrologia
Mitológica, tendo orientado a sua
investigação para a tradução e
interpretação de textos
astrológicos gregos e latinos.
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Ref lexões Astrológicas
L IVROS
Rod olf o Mi gue l d e Figueired o
rodolfomigueldefigueiredo@gmail.com
https://rodolfomfigueiredo.wixsite.com/livros
https://rodolfomfigueiredo.wixsite.com/astrologia -e-tarot

Título : Reflexõe s As tr ol ó gic as 2023: Par te I


Autor : Rod o lfo Migue l d e Figue ir e d o

Capa: Ru bens , Abundância (Abu nd ant ia), c. 1630. Tóqui o: Museu


Nacional d e Arte Oc id e n tal.

Com po sição e pa ginaç ão : RMd F

© Rod o lfo Migue l d e Fig ue ir e d o, J ulho d e 2023

Os text os a prese n tad os ne ste livr o d igital f oram publicad o s n os


blo gues e red es soc iai s d o autor d ur ante o prim eiro seme stre d e
2023, sã o p ortan to d e ac e sso livr e e gratuit o. No enta nt o, o s
d ireitos d e aut or d e ve m s e r r e spe itad o s, log o nen h uma parte d es te
livro p od e ser re pr od uz id a se m o c o nse ntime nt o d o mesm o.
Rod olfo Mig uel d e Fig ue ired o

Ref lexões
Astrológicas

2023

Parte I

Lisboa
2023
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Índice

ÍNDICE 7

INTRODUÇÃO 9

REFLEXÕES ASTROLÓGICAS 2023: PARTE I 13

1 - Lua Nova: Aquário 17

2 - Lua Nova: Peixes 27

3 - Ingresso: Saturno em Peixes 37

4 - Lua Nova: Carneiro 47

5 - Eclipse Solar Híbrido: Lua Nova em Carneiro 57

6 - Eclipse Lunar Penumbral: Lua Cheia Escorpião-Touro 69

7 - Ingresso: Júpiter em Touro 79

8 - Lua Nova: Touro 87

9 - Lua Nova: Gémeos 95

CONSULTAS DE ASTROLOGIA E TAROT 105

LIVROS - RODOLFO MIGUEL DE FIGUEIREDO 109

MAGNA MATER - NOTEBOOKS 113


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Reflexões Astrológicas 2023 9

Introdução

Nas Reflexões Astrológicas, procura-se analisar anualmente


alguns eventos astrológicos. O objectivo é examinar e explorar, de
ano para ano, diferentes aspectos do sistema astrológico, de modo
a apresentar uma compilação interpretativa o mais ampla possível.
No ano de 2023, as Reflexões Astrológicas focam-se nos principais
fenómenos astrológicos: as Luas Novas, os Eclipses, Ingressos e
Retrogradações. Inclui-se também uma interpretação um pouco
mais extensa dos eclipses que ocorrem em 2023.

Uma vez que os textos aqui reunidos foram publicados nos


blogues do autor e nas redes sociais do autor, o livro electrónico é
de distribuição livre e gratuita. As Reflexões Astrológicas para 2023
serão disponibilizadas em duas partes, correspondendo cada uma
aos textos de um semestre. O livro impresso será comercializado a
preço reduzido, de modo a tornar estas reflexões acessíveis.

A mensagem que se pretende passar tem essencialmente o


intuito de demonstrar que a análise astrológica é plural como
universo e não deve estar depende de uma uniformidade
interpretativa que, por sinal, tende a ser redutora e conduz a um
esvaziamento dos conceitos. Os conceitos devem ser, desta forma,
aprofundados de um modo diverso e a profundidade não pode
sucumbir ao carácter líquido da linguagem actual.
10 Rodolfo Miguel de Figueiredo

Desta forma, a astrologia, que nestas reflexões se quer


expressar, nasce sobretudo de uma premissa de liberdade e
independência, ou seja, o seu autor não se pretende fixar em
correntes, não quer seguir mestres, e muito menos ser ele próprio
um, nem pretende papaguear um discurso astrológico vazio,
repetitivo, e que promove apenas a bajulação. Estas reflexões
valem por si e procuram apenas servir a beleza do pensar e a
vontade de dignificar a astrologia.

A interpretação astrológica que aqui se apresenta sustenta-se


nas vertentes que o autor elegeu como especialidades: a Astrologia
Antiga, a Astrologia Hermética e a Astrologia Mitológica.
Paralelamente, procura-se criar uma ponte entre a astrologia e a
filosofia, visando o desenvolvimento de uma Filosofia da
Astrologia e de uma Astrosofia, baseada na filosofia prática e nos
exercícios espirituais, cujos pressupostos permitem uma estrutura
conceptual de passagem entre estes e a leitura hermética da
astrologia.

Em suma, ao longo dos vários capítulos, pretende-se


conjugar a interpretação astrológica com uma leitura filosófica e
espiritual, mas não subordinada às modas espirituais das últimas
décadas. Dessa união, dessa exigência do pensar, pode nascer uma
nova astrologia, uma astrologia refundada.

Nota: os mapas astrológicos, apresentados em cada capítulo, foram gerados pelo software
Janus 5.5 (Astrology House, 2021) com um modelo que inclui os decanatos e os termos.
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Ref lexões Astrológicas
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2023

Par te I
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1

Lua Nova

Lisboa, 20h53min, 21/01/2022

Sol - Lua
Decanato: Vénus

T ermos : M er cúr io

M onomoir ia: J úpiter


18 Rodolfo Miguel de Figueiredo
Reflexões Astrológicas 2023 19

Lua Nova: Aquário

A Lua Nova de Janeiro, a primeira do ano civil de 2023,


ocorre no signo de Aquário, com Virgem a marcar a hora para o
tema de Lisboa e, deste modo, na VI, no Lugar do Má Fortuna
(κάκη τύχη), no decanato de Vénus, nos termos de Mercúrio e na
monomoiria de Júpiter. A sizígia dá-se assim abaixo do horizonte e
cerca de três horas e vinte minutos após o pôr-do-sol. A Lua
encontra-se favorecida por estar no seu próprio segmento, embora
abaixo do horizonte e num signo masculino, já o Sol encontra-se
desfavorecido por estar fora do seu próprio segmento de luz
(αἵρεσις) e abaixo do horizonte. A luz apresenta-se, deste modo,
submersa, oculta.
O encontro dos luminares em Aquário firma o seu carácter
primordial enquanto signo da humanidade. Ora esta designação
traduz um significado enraizado tanto na astrologia antiga como na
astrologia mitológica. Em primeiro lugar, dos signos que assumem
uma representação humana, Aquário é o único que parte de uma
matriz exclusivamente humana. O signo de Gémeos é
representado por dois irmãos, um de natureza humana, outro de
natureza divina, enquanto o que lhe é diametralmente oposto,
Sagitário, assume a forma de um ser parte humano, parte animal. Já
Virgem configura -se sob a imagem da deusa da justiça,
antropomorfizada, mas divina. Aquário é portanto o único que
20 Rodolfo Miguel de Figueiredo

começa como humano.


De uma perspectiva mitológica, Aquário é representado por
Ganimedes, o jovem “humano” por quem Zeus se enamorou, e
cujo amor é referido, por exemplo, por Platão (Fedro 255).
Etimologicamente, Ganimedes tem a sua raiz na forma verbal
γάνυμαι que designa o “alegrar-se” ou o “irradiar alegria”, mas
também no substantivo μήδων, ou seja, os “genitais”. O sentido é
aqui bastante óbvio, tornando o eixo Leão-Aquário, com esta
relação entre Zeus (Leão) e Ganimedes (Aquário), aquele que
melhor descreve a pederastia antiga e a homossexualidade
masculina. Zeus, sob a forma de águia, rapta Ganimedes, levando-o
para o Olimpo, fazendo dele o copeiro dos deuses, o que verte o
néctar (ou o sémen), e torna-o Himeros, o deus do desejo. Existe
pois uma passagem ulterior do humano ao divino.
Para a astrologia antiga, sobretudo sob a égide do modelo
conceptual do Thema Mundi, aquele que coloca Caranguejo como o
Ascendente do Mundo, Aquário assume-se como o oitavo signo,
estabelecendo-se, deste modo, no Lugar da Morte, aquele que
define a qualidade do morrer. Ora é o momento mori, o conhecimento
de que sabemos que vamos morrer que define a nossa humanidade,
ou seja, o conhecimento da morte revela o conhecimento da vida e
vice-versa, o que é particularmente significativo com o ingresso já
anunciado de Plutão em Aquário. A finitude da vida, marcada pelo
peso da morte, permite a procura do valor, do propósito,
transformando o humano em humanidade. Saturno, como regente
deste signo e daquele que é o Ocaso do Universo (Capricórnio),
Reflexões Astrológicas 2023 21

vem confirmar esta unidade conceptual entre o tempo e a morte.


Por fim, já para a significação da astrologia moderna, também
a regência de Úrano acentua o carácter primordial de Aquário
enquanto signo da humanidade, pois a castração do deus do céu é
feita por Cronos (Saturno), não apenas para tomar o poder de seu
pai, mas para libertar os outros deuses, as outras potencialidades,
aprisionadas no ventre de Gaia. Úrano, ao não se separar de Gaia,
impedia que estes nascessem, que chegassem à luz. Assim, a
castração de Úrano confere o dom do nascimento, uma
representação por excelência da nossa humanidade. O absoluto que
pertence à terra reside pois em encontrar na fertilidade de Gaia, nos
seus frutos, os dons do nascer e do morrer. Aquário vem colocar,
deste modo, o sentido da humanidade na observação desses dons.
No actual novilúnio, seguindo a ideia de que o ὀμφαλός, o
umbigo do mundo, é o lugar electivo do tema astrológico, neste
caso Lisboa, a via luminar afunda-se após o Ocaso. Em Aquário, a
sizígia segue na frente, acompanhados posteriormente por Vénus e
Saturno que, num sentido mais amplo e em consequência do
declínio helíaco, se tornam Estrelas da Tarde, adquirindo então um
carácter feminino e uma qualidade potencial. No entanto, se
estendermos o caminho da luz a toda a senda descendente,
encontramos um trilho celeste que se alonga deste Neptuno, a
descer junto do Ocaso, até Mercúrio, avançando rumo ao Ponto
Subterrâneo (IC).
A luz, nesta via de Eterno Retorno, agora caminhando até ao
abismo, seja de Neptuno em Peixes até Mercúrio em Capricórnio,
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da totalidade da imaginação ao poder da palavra, ou de Saturno e


Vénus ao Sol e à Lua em Aquário, da necessidade e do amor à luz
da humanidade, terá de enfrentar a sombra que, avançando à sua
frente, tenta extinguir a sua presença. Ora, no signo da humanidade,
a sombra é a ignorância. Para o humano, este é o maior dos males,
o seu verdadeiro abismo. No Corpus Hermeticum, Hermes diz-nos o
seguinte: “Olhai com os olhos do coração – se não todos, sejais capazes pelo
menos alguns entre vós. O mal da ignorância inunda toda a terra e corrompe a
alma, encerrada no corpo, impedindo-a de lançar a âncora no porto da
salvação.” (VII, 1: ἡ γὰρ τῆς ἀγωσίας κακία ἐπικλύζει πᾶσαν τὴν γῆν καὶ
συμφθείρει τὴν ἐν τῷ σώματι κατακεκλεισμένην ψυχήν, μὴ έῶσα
ἐνορμίζεσθαι τοῖς τῆς σωτηρίας λιμέσι. Texto grego de La Rivelazione Segreta di
Ermete Trismegisto, vol. I, a cura di Paolo Scapi. Turim, 2009: Fond Lorenzo
Valla / Arnoldo Mondadori Editore, 108-9. A tradução é da minha
responsabilidade).

Tudo se concilia nesta ideia da ignorância como maior dos


males. Marte em Gémeos, agora directo, é o astro mais alto e quase
alcança a culminação. Nesta posição, encontramos nomeadamente a
forma nefasta como a ignorância, como a sua força vil, corrompe a
palavra e a razão. No entanto, a palavra é magia e o que destrói
convive com o que cria. Marte em Gémeos vai cortar o laço entre o
humano e o divino, semeando a guerra em nosso redor, não aquela
que alguns forjam, entre países e movendo interesses, mas sim
aquela que se ergue dentro de nós, aquela que coloca uma pequena
chama diante de uma sombra imensa. Ora essa sombra é a
ignorância.
O facto de Marte estar no seu próprio segmento de luz e
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acima do horizonte não o torna o grande maléfico. Esse papel cabe


a Saturno que segue na retaguarda da luz subterrânea. Desta forma,
e por estar em trígono com a sizígia, com Vénus e Saturno, e em
sextil com Júpiter, Marte guarda, no meio da discórdia que é a
ignorância, a derradeira esperança que é a sabedoria. Esta não será,
porém, seguida por muitos. A quadratura da sizígia ao Dragão da
Lua aponta para a dificuldade de se encontrar o seu valor. A palavra
que nos leva à sabedoria é ceifada pela nossa própria rejeição e a
realidade divina torna-se cada vez mais distante. A quadratura de
Marte e Neptuno fundamenta essa adversidade.
Se Marte avança para o Ponto de Culminação, Mercúrio segue
para o Subterrâneo e é assim o astro que mais se afunda. A palavra
(Mercúrio) e a morte (Plutão) unem-se num único poder
(Capricórnio), adquirindo a revelação do abismo. São os timoneiros
da sizígia, da luz do novilúnio, aqueles que seguem na frente. A
razão está pois nas escarpas da existência e a palavra adquire a graça
da semente da abundância, oculta sob a terra. Esta proposta une-se
naturalmente à mensagem do Dragão da Lua (trígono à Caput e
sextil à Cauda), ao valor que traz o conhecimento da morte ao modo
de vida.
O sextil de Júpiter em Carneiro à sizígia e aos seus
companheiros (Vénus e Saturno), sob o peso, sob a gravidade das
nossas escolhas, coloca a acção do bem na luz que viaja pelo
abismo. A humanidade pode portanto colher a acção do bem como
uma chama que vence a escuridão. O bem, como sentido profundo
de Júpiter, tem o poder de transformar o humano e construir uma
24 Rodolfo Miguel de Figueiredo

nova humanidade. A acção que se efectiva no bem e na justiça, ou


seja, a proposta de Júpiter em Carneiro, assume esse potencial. No
entanto, no tema em análise, Júpiter encontra-se na VIII, no Lugar
da Morte, caminhando para a sua ocultação, o que faz sobressair o
significado da quadratura deste a Mercúrio e Plutão em Capricórnio.
Existe, desta forma, uma colisão entre a acção e o poder e a
palavra submersa, cristalizando a ignorância e a malícia, tenderá a
assombrar a missão do bem e da justiça. A humanidade está no fio
da navalha e terá inevitavelmente de escolher o seu lado. O sextil de
Mercúrio e Plutão em Capricórnio a Neptuno em Peixes pede ao
humano a sua refundação, elevando-se num discurso de
solidariedade e promovendo um verdadeiro amor ao próximo. A
empatia está no ocaso da humanidade e não será uma tarefa fácil
conservar a sua luz. O caminho entre o actual novilúnio e o
próximo sugere essa via árdua entre a humanidade e a totalidade.
Neste mês lunar entre a Lua Nova em Aquário e a Lua Nova
em Peixes, convém assinalar-se que Mercúrio avançará de
Capricórnio para Aquário, Vénus de Aquário para Peixes, Júpiter
manter-se-á em Carneiro e Saturno em Aquário. Já os
transaturninos vão permanecer também nos seus signos: Úrano em
Touro, Neptuno em Peixes e Plutão em Capricórnio. No actual
novilúnio, o único planeta retrógrado é Úrano e que, aquando do
próximo novilúnio, já estará directo. Da Lua Nova em Peixes até à
segunda Lua Nova em Carneiro (20/04/2023) nenhum planeta
estará retrógrado, activando-se assim todas as potências planetárias.
O encontro dos luminares, no signo de Aquário, encerra o
Reflexões Astrológicas 2023 25

sentido profundo da passagem do humano, daquele que se


encontrou a si mesmo, para a realidade agregadora que é a
humanidade. No entanto, a ignorância é a verdadeira ameaça, o
inimigo que nos espera. E, perante esse mal imenso, essa sombra
que se estende sobre nós, só existe uma luz. A sabedoria é a luz no
caminho.
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2

Lua Nova

Lisboa, 07h06min, 20/02/2022

Sol - Lua
Decanato: Satur no

T ermos : Vénus

M onomoir ia: M ar te
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Reflexões Astrológicas 2023 29

Lua Nova: Peixes

A Lua Nova de Fevereiro, a última do actual ano astrológico,


ocorre no signo de Peixes, com Aquário a marcar a hora para o tema
de Lisboa e, deste modo, na II, no Lugar do Viver (βίος), no
decanato de Saturno, nos termos de Vénus e na monomoiria de Marte.
A sizígia dá-se assim abaixo do horizonte e cerca de vinte minutos
antes do nascer-do-sol. A Lua encontra-se favorecida por estar no
seu próprio segmento e num signo feminino, embora abaixo do
horizonte, já o Sol encontra-se desfavorecido por estar fora do seu
próprio segmento de luz (αἵρεσις) e abaixo do horizonte. Desta
forma, a luz, à semelhança do anterior novilúnio, continua a
apresentar uma qualidade submersa, oculta, embora, nesse reino sob
a terra, na lua nova anterior descesse e no actual suba.
Se seguirmos a ordem vernal, Peixes é o último signo, daí que
o conceito de totalidade seja aquele que melhor o define. Esta
definição está também de acordo com a ordem do Thema Mundi que,
com Caranguejo a marcar a hora, o coloca na IX, no Lugar de Deus,
do deus Sol. Se pensarmos que, segundo o Thema Mundi, a III e a IX
têm uma natureza de templo do feminino e do masculino, do Sol e
da Lua, do divino, então torna-se compreensível como esta ideia de
totalidade se integra, fundando o seu sentido, no signo de Peixes.
Por outro lado, no que às dignidades concerne, Peixes é o único
signo em que o domicílio e a exaltação estão entregues aos benéficos
31 Rodolfo Miguel de Figueiredo

signo em que o domicílio e a exaltação estão entregues aos


benéficos (domicílio de Júpiter e exaltação de Vénus). A dádiva do
bem adquire assim a mesma ideia de totalidade. Júpiter estabiliza o
bem para que Vénus o eleve no amor divino.
Uma das grandes falácias da astrologia contemporânea é uma
colagem quase absurda dos signos às casas (ou lugares, na
terminologia antiga). Na Antiguidade, que é o período que me é
caro, essa tentativa de simplificação não existe. Os círculos
astrológicos de sentido são estruturas dinâmicas, daí que Peixes não
seja a XII, tal como Carneiro não é a I e assim sucessivamente. Esta
tentativa de unidade significativa resulta, a meu ver, do facto da
astrológica moderna tentar simplificar os conceitos face à astrologia
tradicional, considerada por muitos astrólogos como densa e com
muitos conceitos e variantes. Com esta unidade de sentido, surgem,
porém, interpretações bizarras e que alimentaram muitos livros e
cursos, como por exemplo “Sol em Carneiro ou na I quer dizer isto
ou aquilo” ou a “Lua em Touro ou na II quer dizer isto ou aquilo” e
assim por diante. Estas interpretações contrariam, por completo, o
sistema tópico de lugares ou casas, criado pela astrologia antiga de
matriz hermética, em Alexandria, por volta do século I AEC.
Ora este abuso interpretativo condicionou também o sentido
atribuído aos transaturninos e, por consequência, aos signos por
eles regidos, o que conduziu, directa ou indirectamente, a outra
bizarria, à análise pessoal de um planeta colectivo. O uso destes três
planetas numa interpretação mundana ou também naquela que
relacione o indivíduo à sua realidade social e geracional é aceitável e
Reflexões Astrológicas 2023 31

compreensível, mas torná-los simplisticamente planetas pessoais é


um erro grosseiro. Plutão, por exemplo, numa vida humana, não
avançará muito além dos seis ou sete signos, o que limita o seu
sentido pessoal.
No entanto, não digo que se rejeite a sua utilização, porque é
uma escolha, digo sim que os conceitos devem ser coerentes. Esta
simplificação não serve a astrologia, serve a mercantilização de
cursos que tornam o ensino de um saber milenar uma extensão de
um instituto de formação profissional, onde a astrologia, em
Portugal, não sequer é reconhecida como área de estudo. O esforço
que exige estudar a história, as referências e as variáveis de sentido é
substituído por uma cartilha de diapositivos repleta de lugares-
comuns. O ensino da astrologia, pela sua própria natureza, tem de
ser um caminho para a sabedoria, daí que a astrologia do hoje e do
amanhã precise desesperadamente das humanidades e das suas
metodologias. A história da astrologia tem recuperado, de forma
séria e académica, a dignidade da astrologia e refundado um
caminho para uma nova prática.
Este preâmbulo serve para reafirmar que o sentido dos signos
não pode, de um modo fixo e descontextualizado, estar vinculado
às casas. Desta forma, um novilúnio em Peixes, como o actual, vai-
nos trazer, exacerbando, essa harmonia de sentido entre o domicílio
de Júpiter e a exaltação Vénus, e não os sentidos atribuídos à
décima segunda casa. Na verdade, é a exaltação de Vénus, que
acontece nesta Lua Nova, embora não no grau exacto (27º), que
melhor descreve o signo Peixes. De um ponto de vista mitológico, a
32 Rodolfo Miguel de Figueiredo

constelação de Peixes representa primordialmente os


Ikhthyokentauroi, os dois peixes que trouxeram Afrodite para a costa
(cf. Rodolfo Miguel de Figueiredo, 2021, Fragmentos Astrológicos: 155-6). Este
mito recupera a Afrodite cipriota, uma Grande Deusa, e não a deusa
olímpica, limitada e reduzida a uma versão erótica e lúbrica.
Afrodite é uma deusa das origens, uma expressão do eterno
feminino. A exaltação de Vénus, no fim do Zodíaco, celebra um
tempo novo, a era do Espírito Santo, do Sagrado Feminino. A
pomba da deusa ergue-se no fim do tempo.
O novilúnio de Fevereiro traz, deste modo, essa ponte entre a
humanidade e a totalidade, entre Aquário e Peixes. No entanto, a
totalidade proposta surge sob a forma de contemplação, de
integração na luz. Manílio, na Astronomica:, diz-nos: “sacrificado é o
humano, para que deus nele possa existir” (IV, 407, Goold 1985: 94:
impendendus homo est, deus esse ut possit in ipso ). A humanidade só
alcançará essa proposta de totalidade se encontrar uma forma de
sacrifício, de despojamento e liberdade. Aquele que recebe, que se
entrega, cria, só assim o ciclo se renovará, renascendo do fim a
origem. É o desapego da totalidade, da imersão na luz, que permite
um novo ciclo, ou seja, a acção promovida por Carneiro nasce desta
totalidade contemplativa.
Na Hermetica de Estobeu, encontramos um sentido para a
dissolução do humano na totalidade. O texto afirma o seguinte: “A
decadência segue todo o nascimento, para que se possa nascer de novo. Isto
porque aquilo que nasce surge daquilo que é decadente. O que nasce deve decair,
para que o nascimento das entidades não pare. Para o nascimento dos seres, a
Reflexões Astrológicas 2023 33

decadência é o primeiro artesão.” (SH 2A16). E, logo a seguir, conserva


uma verdadeira pérola de sabedoria quando diz: “O humano é a
aparência da humanidade” (SH 2A1, Litwa, M. D., Hermetica II -The Excerpts
of Stobaeus, Papyrus, and Ancient Testimonies in an English Translation with
Notes and Introduction. Cambridge, 2018: Cambridge University Press, 34 ). A
aceitação da decadência é uma visão da totalidade e o modo como o
humano se sacrifica nessa totalidade define a própria humanidade.
Com o novilúnio a fixar-se na II, isto para o tema de Lisboa,
o valor do viver refunda-se na luz da totalidade. Trasilo diz que o
segundo lugar é um “indicador de esperanças”, ἐλπίδων σημαντικήν
(CCAG VIII/3: 101.20). A promessa do fim surge pois como uma
esperança de renascimento. Existe uma refundação do tempo
cíclico, de eterno retorno, na unidade do instante, na simplicidade
do agora. A união entre os luminares e Vénus e Neptuno potencia a
união da luz ao princípio do amor, do amor universal, aquele que
permeia o mundo e une, no divino, todas as criaturas. A luz da
solidariedade imite raios de esperança. A humanidade só se perderá
se se afastar desses raios, pois a empatia, o amor ao próximo tem a
capacidade extraordinária de transformar o humano.
Essa concentração do valor do amor na mensagem da sizígia
(luminares, Vénus e Neptuno) espalha-se benevolamente para a
Úrano em Touro e Plutão em Capricórnio, que dão a estrutura da
vontade a essa mensagem, mas também ao Dragão da Lua que
reúne, neste sentido, o valor axial da vida e da morte. O grande
obstáculo continua a ser a Marte em Gémeos que se une
quadrangularmente à sizígia. No tema, Marte é o planeta mais
34 Rodolfo Miguel de Figueiredo

ocidental e que escapa à identidade, ao leme do sentido proposto. O


planeta do deus da guerra é um aqui um outro, não um que se possa
conhecer, mas um estranho. Marte, face ao sentido da sizígia, fende
a realidade, cria separação e discórdia. No entanto, por se unir em
trígono a Mercúrio e a Saturno em Aquário e em sextil a Júpiter em
Carneiro, existem elos de possibilidade, ou seja, entre a desarmonia
e a dissonância podem ser criados elementos de concórdia,
sobretudo se não se perder o leme de sentido desta sizígia, a luz que
emana da totalidade, trazendo solidariedade ao mundo.
De um outro ponto de vista, o caminho da luz é, no interior
do signo de Peixes, uma via ascendente que se inicia em Vénus, uma
Estrela da Tarde, passa por Neptuno até alcançar, na dianteira, os
luminares. Este caminho, como já o referimos, contém em si a
esperança da luz, da sua transformação. Se considerarmos, todavia,
um caminho mais extenso, então esta via ascendente, embora
submersa, pode se iniciar tanto em Úrano em Touro como em
Júpiter em Carneiro e expandir-se até Saturno em Aquário, fazendo
deste o timoneiro desta barca luminar. Ora Saturno conserva aqui
um sentido profundo, pois até ao próximo novilúnio Saturno
transitará de Aquário para Peixes.
Com o senhor da Necessidade na dianteira, a sua mensagem
reafirma-se, até porque se encontra em conjunção a Mercúrio e em
sextil a Júpiter. A razão e a acção do destino, a força dos ditames da
Providência, colhem, com a foice da realidade, o sentido de
totalidade. É como diz Epicteto: “Pois isto é teu: interpretar belamente o
papel que te é dado – mas escolhê-lo, cabe a outro” (Encheiridion 17, trad. A.
Reflexões Astrológicas 2023 35

Dinucci & A. Julien, 2014: 46. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra ).

Somos actores no teatro do real e é o destino ou a necessidade o


verdadeiro autor do texto interpretado. Contudo, o poder da
palavra pode trazer consigo a luz ou a sombra, o bem ou mal (sextil
de Mercúrio e Júpiter). A qualidade da nossa representação depende
pois apenas de nós.
Convém também referir-se que Plutão é o astro mais alto,
revelando como o Senhor do Hades reina sobre a realidade,
impondo o poder da morte e a efemeridade da vida. A quadratura
entre Júpiter em Carneiro e Plutão em Capricórnio coloca em
tensão a acção do bem sobre o poder da morte. Algo que está
sintonia com a quadratura de Saturno em Aquário ao Dragão da
Lua no eixo Touro-Escorpião, ou seja, o destino da humanidade a
colidir com o valor da vida e da morte. O devastador sismo na
Turquia e na Síria, que estava infelizmente previsto no eclipse lunar
de 8 de Novembro, coloca na clepsidra do humano a escolha do
bem e será sobre a humanidade que se criará a solidariedade e a
compaixão, pois é essa a proposta de sentido do novilúnio de
Peixes
Entre a Lua Nova em Peixes e a Lua Nova em Carneiro,
Mercúrio avançará de Aquário para Carneiro, Vénus de Peixes para
Touro, Júpiter manter-se-á em Carneiro e Saturno chegará a Peixes.
Já os transaturninos vão permanecer também nos seus signos:
Úrano em Touro, Neptuno em Peixes e Plutão em Capricórnio. No
período que medeia as duas luas novas, não existirá nenhuma
retrogradação planetária, o que promove a acção dos planetas e os
36 Rodolfo Miguel de Figueiredo

seus efeitos.
Em suma, a actual Lua Nova exorta a totalidade e clama por
uma luz que reúne, no amor universal, a dádiva do Eterno
Feminino.
3

Ingresso de Saturno

Lisboa, 07h06min, 07/03/2022

Satur no
Decanato: Satur no

T ermos : Vénus

M onomoir ia: J úpiter


38 Rodolfo Miguel de Figueiredo
Reflexões Astrológicas 2023 39

Saturno em Peixes

O primeiro ingresso de Saturno em Peixes ocorre com


Caranguejo a marcar a hora, para o tema de Lisboa e, deste modo, na
IX, no Lugar de Deus, no Lugar do Deus Sol, no decanato de
Saturno, nos termos de Vénus e na monomoiria de Júpiter. O ingresso
dá-se assim acima do horizonte e cerca de seis horas após o nascer-
do-sol. Saturno encontra-se, deste modo, favorecido por estar no seu
próprio segmento (αἵρεσις) e no lugar do regente do segmento, o
Sol.
O estudo deste ingresso e do seu tema é essencial para a
compreensão dos tempos que se avizinham. A chegada de Saturno a
Peixes é o acontecimento astrológico mais importante de 2023,
seguido pelo ingresso de Júpiter em Touro em Maio, criando-se,
nesse momento, uma harmonia entre os planetas e os elementos
Água e Terra. No tempo (Saturno) e no espaço (Júpiter), o Eterno
Feminino tornar-se-á a dádiva da transformação.
Primeiramente é necessário situar, no tempo cronológico, este
ingresso de Saturno em Peixes que acontece em dois momentos. O
primeiro ingresso ocorre de 7 de Março de 2023 a 25 de Maio de
2025 e o segundo, mais curto, de 1 de Setembro de 2025 a 14 de
Fevereiro de 2026. Passará por três momentos em que estará
retrógrado: o primeiro, de 17 de Junho a 4 de Novembro de 2023; o
segundo, de 29 de Junho a 15 de Novembro de 2024; e o terceiro,
40 Rodolfo Miguel de Figueiredo

de 13 de Julho a 28 de Novembro de 2025 e que inclui, como é


perceptível pelos períodos anteriormente mencionados, o primeiro
ingresso de Saturno em Carneiro e o retorno a Peixes. Neste dois
períodos, convém também assinalar a passagem de Júpiter pelos
signos de Carneiro a Caranguejo e o ingresso de Neptuno em
Carneiro (primeiro de 30 de Fevereiro a 22 de Outubro de 2025 e
depois a partir de 26 de Janeiro de 2026), isto para não falar do
ingresso de Plutão em Aquário, a 23 de Março de 2023.
O ingresso de Saturno, do planeta do Tempo e da
Necessidade, em Peixes, no signo da totalidade, transporta consigo
um sentido natural de conclusão, de término ou fim de ciclo.
Segundo a ordem vernal, Peixes é o último signo e, assim sendo, a
chegada de Saturno a este signo tem necessariamente a significação
do fim, mas também a da repetição, da estruturação do mesmo, da
criação de uma unidade de sentido, resultante da assimilação da
totalidade em torno do propósito que a Necessidade estabelece.
Ora essa ideia de propósito une tanto a regência de um deus
do tempo como a de um deus agrícola. Esse é também o sentido do
aforismo de Novalis que diz que “o fragmento é semente”, ou seja, a
singularidade de um fragmento de tempo torna-se quer o potencial,
quer a finalidade da proposta que ele próprio apresenta. A
Necessidade é portanto uma totalidade que permeia toda e qualquer
parte.
Se a respeito de Peixes já discutimos o imperativo de refundar
a sua significação (v. 29-36), então, no que a Saturno concerne,
confirma-se o mesmo imperativo. A questão em torno da
Reflexões Astrológicas 2023 41

refundação do sentido não é exclusiva deste planeta, mas é neste


caso mais evidente. A significação planetária, e também zodiacal, tal
como a conhecemos, resulta, de um modo geral, de um modelo
categórico da física aristotélica ou do eclectismo ptolemaico. Porém,
existiam, na Antiguidade, outros modelos interpretativos,
nomeadamente o de Platão e o do platonismo. Segundo Plotino,
Saturno simbolizaria o Intelecto (Νοῦς) e Zeus, a Alma (Enéadas V, I,
4). Existia pois uma glorificação de Saturno por este não representar
os poderes terrenos, mas sim o poder mais puro do pensamento.
Klibansky, Panofsky e Saxl dizem-nos que “Saturno possuía a
dupla propriedade de ser o antepassado de todos os outros deuses planetários e de
ter o seu trono no céu superior. Essas duas qualidades, que devem ter estado
originalmente conectadas, garantiram-lhe uma supremacia, sem qualquer
contestação, no sistema neoplatónico, que se esforçou neste caso, como em outros,
por reconciliar as visões platónicas com as aristotélicas. A hierarquia dos
princípios metafísicos que remontava a Platão, segundo a qual o genitor tinha
precedência sobre o gerado, estava ligada ao princípio aristotélico do pensamento
"topológico", segundo o qual uma posição mais elevada no espaço significava
maior valor metafísico.” (Saturn and Melancholy, 1979: 152-3. Nendeln/
Liechtenstein: Kraus Reprint). Esta proeminência de Saturno, a par da
atribuição de Plotino, desperta uma outra questão, visto que
normalmente o Intelecto é o Sol.
Existiu uma tradição babilónica, sobretudo num período de
cerca de 750 a 612 AEC, que designava Saturno como “o Sol”,
Šamaš, em vez da nomenclatura astronómica mais comum (cf. van der
Sluijs, M. A. & P. James, 2013, “Saturn as the Sun of Night in Ancient Near
42 Rodolfo Miguel de Figueiredo

Eastern Tradition” in Aula Orientalis 31.2, 279-321). Esta designação torna


Saturno o “Sol da Noite”, em oposição ao próprio Sol, o “Sol do
Dia”, e pode ter a sua origem num dos elementos astrológicos
radicalmente babilónico: as exaltações planetárias (as outras são o
aspecto de trígono e as dodecatemoria). O lugar de exaltação do Sol,
Carneiro, opõe-se ao da exaltação de Saturno, Balança. Esse eixo
pode ser assim aquele que une o “Sol do Dia” e o “Sol da Noite” e
a tradição deste sentido de Saturno persiste, mesmo que de forma
discreta, na tradição greco-romana. Ptolomeu, por exemplo, diz que
os habitantes do território entre a Mesopotâmia e a Índia chamavam
à estrela de Vénus Ísis e à de Saturno Mitra Hélios (Apotelesmática II, 3).
Por outro lado, e seguindo também uma interpretação que é
quase oposta ao Saturno aristotélico, temos o Saturno feminino,
algo que já abordei por diversas vezes (Fragmentos Astrológicos, 2020: 167-72;
Reflexões Astrológicas 2021: Parte II, 2022: 30-1). Esta é a tradição cuja referência
mais antiga pertence a Doroteu de Sídon (Carmen Astrologicum, I, 10, 18-
19) e que pode ter ainda uma matriz de sentido na proeminência do
númen feminino no reinado de Saturno. A astrologia precisa pois de
uma metodologia interdisciplinar para melhor compreender os seus
conceitos. O estudo rigoroso da mitologia pode, desta forma,
contribuir para refundação desses mesmos conceitos.
No tempo de Cronos/Saturno, a sua mãe Gaia e a sua esposa
Reia eram duas deusas poderosas, que não se apresentavam com
uma submissão ao paradigma androcêntrico, como a que
encontramos nos deuses olímpicos. Ora esse factor está presente
em Manílio quando coloca a Mãe dos Deuses (Reia/Cíbele), a par
Reflexões Astrológicas 2023 43

de Júpiter, como regente divino do signo de Leão (Astronomica II, 447).


Se pensarmos que, do outro lado do eixo, está Saturno como
regente astrológico de Aquário, encontramos então um elo de
ligação com Saturno como o “Sol da Noite”.
Compreendemos, desta forma, que as significações não são
lineares e que, ao longo dos tempos, transmitem uma prevalência
interpretativa que não é, no entanto, exclusiva. Existem outros
sentidos que podem e devem ser recuperados. De um ponto de
vista mitológico ou astro-mitológico, encontramos ainda uma outra
tradição que nos concede um elemento de passagem entre o próprio
Saturno e o Saturno em Peixes. Para além do facto de Saturno ser o
regente da Idade de Ouro, ele é também o rei da Ilhas dos Bem-
Aventurados, ou Ilhas Abençoadas.
Neste mito (e.g. Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias 156 e ss.; Platão, Górgias
525a e ss.), após o seu destronamento e prisão no Tártaro, Cronos/
Saturno terá sido reabilitado e terá encontrado um novo trono nas
Ilhas dos Bem-Aventurados que, segundo alguns, incluiriam os
nossos Açores ou toda a Macaronésia. Nestas ilhas, onde se
encontram os Campos Elísios, viveriam aqueles que não têm de
perturbar a terra com o vigor das mãos e que vivem uma existência
sem lágrimas (Píndaro, Ode Olímpia 2.55 e ss.). Este mito indica, sem
grande esforço interpretativo, Saturno em Peixes, a Necessidade
sobre a Totalidade.
O tema do ingresso de Saturno em Peixes, para a hora de
Lisboa, tem uma particularidade deveras interessante, pois ao fixar a
hora em Caranguejo reproduz a disposição de lugares do Thema
44 Rodolfo Miguel de Figueiredo

Mundi. Ora, desta forma, Saturno vai cair no lugar de Peixes, a IX, o
Lugar de Deus. Esta posição torna mais significativa uma certa
diminuição da malignidade de Saturno, uma vez que em Peixes está
no domicílio de Júpiter, aquele mitologicamente ocupou o seu lugar,
e está também fora de seu segmento de luz e num signo feminino.
A condição de Saturno pode assim, se a humanidade permitir,
conceder à totalidade a Necessidade, ou seja, pode conferir a dádiva
da aceitação do destino, a sua interiorização. Se conhecermos o
propósito, a finalidade, o sentido do todo, o caminho adquire um
outro valor e transforma toda a acção.
Este tema, considerando-se os eixos de ascensão e
culminação, apresenta uma beleza singular e uma intensa expressão
do feminino que, tendo em conta os sentidos alternativos para
Saturno, alcança uma proposta significativa profunda. Primeiro
temos o eixo pós-plenilúnio que une a Lua em Virgem a Saturno,
Mercúrio, ao Sol e a Neptuno em Peixes, estendendo esta
concentração até ao Lugar da Deusa, a III, onde a Lua se encontra.
De seguida, temos os dois trígonos: o da Água que une o
ponto que marca a Hora em Caranguejo aos planetas em Peixes e à
Cauda Draconis em Escorpião, em que o Destino se torna a vida e a
fé, a sabedoria; e o de Terra que, por sua vez, une a Lua em Virgem
a Úrano e à Cauda Draconis em Touro e a Plutão em Capricórnio, a
caminho do poente, ou seja, um triângulo que faz da Deusa, do
Eterno Feminino, o espírito que se erguerá sobre as cinzas do velho
mundo e a aurora de uma Nova Era. Por fim, face a estes dois
trígonos, temos os seis sextis que resultam destas ligações, destas
Reflexões Astrológicas 2023 47

harmonias.
Existem, no entanto, dois elementos que divergem desta
unidade entre a Água e a Terra. Um diverge, convergindo, pois
afirma a acção do bem sobre esta proposta de sentido. Vénus e
Júpiter em Carneiro permitem que o bem, a beleza e justiça se
tornem actividade. Desde que a humanidade queira, a efectivação da
dádiva é uma possibilidade. Os benéficos são os astros mais altos,
raiando de esperança, de luz, mas colidindo com a morte sobre o
Ocaso (Plutão em Capricórnio), sobre o seu poder. A destruição é o
perigo de uma actividade movida pela desmedida. No entanto, uma
vez mais, será Marte em Gémeos a expressar uma pulsão de
divergência disruptiva, firmada pelos raios quadrangulares aos
planetas em Peixes e à Lua em Virgem.
A malignidade do pensamento dual que finge querer a
mudança, quando o que faz é ferir e separar, continua a ser uma
ameaça real. As teias de desinformação que alimentam o ódio, a
xenofobia, a misoginia, o racismo, a intolerância são o abismo do
humano. Porém, a acção do bem, dos actos que promovem a
igualdade, a liberdade e a fraternidade continuam a ser o outro lado
da barricada (sextil de Marte em Gémeos a Vénus e Júpiter em
Carneiro).
Saturno ingressa em Peixes no momento em que, neste
signo, se encontram o Sol, Mercúrio e Neptuno. Esta concentração
de luz, a partir do Lugar de Deus, apresenta-se como o fogo na
câmara interna, no Santo dos Santos. Desse santuário profundo, a
luz e a necessidade, a palavra e o amor universal podem alcançar a
48 Rodolfo Miguel de Figueiredo

humanidade, a totalidade. Se considerarmos Saturno como o


Intelecto, o que não diverge da ideia estóica de Destino ou a ideia
platónica de Necessidade, podemos observar então a sua acção
como parte deste princípio que permeia o mundo e que tece uma
harmonia, uma simpatia, entre o microcosmos e o macrocosmos.
Saturno em Peixes é, em suma, a Necessidade ou o Destino na
totalidade.
4

Lua Nova

Lisboa, 17h23min, 21/03/2022

Sol - Lua
Decanato: M ar te

T ermos : J úpiter

M onomoir ia: M ar te
48 Rodolfo Miguel de Figueiredo
Reflexões Astrológicas 2023 49

Lua Nova: Carneiro

A Lua Nova de Março, aquela que marca o início do ano


astrológico, ocorre naturalmente no signo de Carneiro, menos de um
dia após o equinócio, com Virgem a marcar a hora para o tema de
Lisboa e, deste modo, na VIII, no Lugar da Morte (θάνατος), da
qualidade da morte, no decanato de Marte, nos termos de Júpiter e
na monomoiria de Marte. A sizígia dá-se assim acima do horizonte e
cerca de uma hora e vinte minutos antes do pôr-do-sol. Convém
referir-se que, em 2023, vão assinalar-se duas luas novas no signo de
Carneiro: uma no primeiro grau e outra no último, sendo esta um
eclipse. No actual novilúnio, o encontro dos luminares ocorre a
caminho do Poente, estando a Lua desfavorecida por estar fora do
seu segmento de luz (αἵρεσις), num signo masculino, o da exaltação
do Sol.
Os temas do início do ano astrológico e da primeira Lua Nova
de Carneiro convergem numa unidade de sentido que se estende,
primordialmente, até ao segundo novilúnio, mas que marcará o ano
de 2023, sobretudo até ao ingresso de Júpiter em Touro. Existem
dois conceitos que marcam conceptualmente o signo de Carneiro. O
primeiro é o conceito de Unidade, aquele que indica e promove o
início do caminho vernal até Peixes, ou seja, da unidade à totalidade.
O segundo conceito é o de πρᾶξις, a acção, e que resulta
naturalmente do facto de, no Thema Mundi, Carneiro se encontrar no
50 Rodolfo Miguel de Figueiredo

lugar de Culminação, no Meio do Céu, impulsionando tudo aquilo


que se faz.
A via de Carneiro a Peixes ou de Peixes ao renovado Carneiro
introduz, deste modo, uma outra ponte de sentido, uma que é, com
frequência, difícil de conciliar, ou seja, aquela que une ou reúne a
acção e a contemplação. A acção nasce da unidade e a
contemplação procura a totalidade. São dois modos de ser e estar
que a humanidade tem dificuldade de conciliar. No entanto, de um
ponto de vista astrológico, a semente de um reside no outro. Um
das mais antigas técnicas astrológicas, as dodecatemoria, cuja origem
remonta à astrologia babilónica, embora naturalmente a um período
posterior à criação do Zodíaco (século V AEC), apresenta a razão
segundo a qual todas as propostas zodiacais criam uma harmonia de
sentido.
Na modelo do micro-zodíaco, mas também de uma outra
forma na distribuição da décima segunda parte (v. Fragmentos
Astrológicos, 2020: 173-92), ao dividir-se os trinta graus de um signo
em doze partes de dois graus e meio e ao atribuí-las a cada signo,
começando pelo próprio signo, existe uma integração das diversas
significações numa só unidade. Assim sendo, acção e contemplação
coexistem em todos os signos, embora no início ou no fim só em
Carneiro e Peixes, assinalando-se a estrutura conceptual cíclica.
Manílio, numa das suas descrições dos signos, diz-nos, no
entanto, acerca de Carneiro, que os seus desejos vão conduzi-lo ao
desastre ( Astronomica IV, 124-39 ). A acção sem finalidade, sem a
contemplação ou a vontade de totalidade, é esvaziada e conduz
Reflexões Astrológicas 2023 51

necessariamente à ruína. Xenofonte, nas Memoráveis, afirma que “Os


homens possuem, por natureza, tendências para a amizade, porque precisam
uns dos outros: sentem compaixão, ajudam-se trabalhando em conjunto e,
conscientes dessa situação, mostram-se agradecidos uns aos outros. Mas possuem
também tendências para a guerra porque, quando consideram que as mesmas
coisas são belas e agradáveis, lutam por causa delas e, como divergem nas
opiniões, opõem-se uns aos outros; a discórdia e a ira são também sentimentos
bélicos, a obsessão pelo lucro é hostil e a inveja conduz ao ódio.” (6.21-22, trad.
A. Elias Pinheiro. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009 ). A
lição de Xenofonte, de um ponto de astrológico, revela aqui o
quanto Carneiro precisa do sentido de Balança, mas também do de
Peixes, ou seja, na posição diametral e no fim do ciclo, encontra-se
a chave da sua própria acção.
Com a sizígia no Lugar da Morte, a acção que dá qualidade à
morte torna-se mais significativa, sobretudo se conjugarmos esse
sentido com o do Dragão da Lua. O eixo nodal passará, neste ano
astrológico, do actual eixo Escorpião-Touro para o de Balança-
Carneiro, ou seja, do eixo do valor (Morte e Vida) para o eixo da
identidade (Dualidade e Unidade). Se considerarmos que o Dragão
da Lua representa a interiorização do destino (Cauda Draconis) e da
necessidade (Caput Draconis), a acção firma agora o seu sentido no
peso, na gravidade do Destino e de como ele e o mundo são um e o
mesmo. Nos Pensamentos, Marco Aurélio diz-nos o seguinte: “Tudo se
harmoniza comigo o que contigo se harmoniza, ó mundo; nada me chega
demasiado cedo ou demasiado tarde daquilo que a horas a ti acontece. Tudo
quanto produzem as tuas estações, ó natureza, se volve para mim em recolhança
52 Rodolfo Miguel de Figueiredo

de frutos! Tudo vem de ti, em ti se confina, a ti retorna.” (IV, 23, trad. J. Maia.
Lisboa: Relógio D’Água, 1995). Desta forma, o mundo e a proposta de
astrológica de unidade e totalidade constroem-se sob um princípio
de concórdia, de simpatia universal.
A via de luz que ocupa, neste novilúnio, o quadrante superior
feminino estende-se de Úrano até Neptuno e, de certa forma, até
Saturno, embora já pós-poente. É portanto uma senda que
transporta a revolução da Mãe-Terra, da Grande Mãe, a partir do
Lugar de Deus, até à totalidade do amor universal e da necessidade,
no lugar onde a luz fenece e a morte solar se alonga. No entanto, se
concentrarmos o sentido da luz apenas no signo da sizígia,
podemos encontrar um caminho que começa em Júpiter, passa por
Mercúrio e termina no encontro dos luminares. Júpiter e Mercúrio
são, em sentido lato, Estrelas da Tarde, tendo portanto uma
visibilidade pós-poente que os torna, neste caso, expressões
femininas. No entanto, numa análise mais restrita, existe uma
diferença entre os dois planetas, pois Mercúrio encontra-se sob os
raios solares (15 graus). A força abrasiva do Sol enfraquece assim a
sua expressão.
Júpiter e Mercúrio, devida a esta posição helíaca, tornam-se
dependentes da força activa da sizígia. Porém, a união da razão e da
palavra e da justiça e do bem à acção da luz adquire aqui uma força
reforçada. Por outro lado, por estar fora do seu segmento e
consequentemente ser o grande maléfico, Marte ganha uma força
destrutiva suplementar. A essa qualidade acrescenta-se também o
facto de ser o astro mais alto e aquele que se encontra mais próximo
Reflexões Astrológicas 2023 53

da culminação.
Estes elementos posicionais concedem a Marte em Gémeos,
já no fim do seu caminho por este signo, uma malignidade que
contamina a acção humana. Ora, desta forma, o sextil entre Marte e
a sizígia, bem como a Júpiter e Mercúrio, transporta consigo o peso
da liberdade, ou seja, quando se escolhe o litígio, o confronto, as
expressões de ira ou inveja, sofre-se o retorno da desmedida. A
acção traz sempre consigo a reacção. A Necessidade não permite
que roda do destino pare.
A retribuição da acção promovida por Marte em Gémeos
expressa-se pelos raios quadrangulares entre este e Saturno e
Neptuno em Peixes. De um ponto de vista astro-político, este é
representa, como uma tensão, a dificuldade de se promover o
Estado Social, a sua função primordial de diminuir a desigualdade e
as assimetrias sociais. A conjunção de Saturno e Neptuno pedirá, ou
exigirá, a refundação do socialismo como ideologia, mas também
como sistema político e modelo socioeconómico.
Na verdade, quando Júpiter passar para Touro, unindo-se
hexagonalmente a estes planetas, o ecosocialismo reforçará a sua
expressão política. Se pensarmos que, quando Plutão ingressar em
Aquário, fará uma quadratura a Úrano em Touro, agravando as
consequências nefastas das alterações climáticas, percebemos então
que as transformações político-ideológicas se tornam necessárias. A
selvajaria do individualismo liberal e a incapacidade de mudança do
conservadorismo, a par da intolerância da extrema-direita, não vão
servir os tempos que se avizinham, nem as necessidades da
54 Rodolfo Miguel de Figueiredo

humanidade.
É também assinalável, pela força da despedida, a quadratura
de Plutão em Capricórnio à Lua, ao Sol, a Mercúrio e a Júpiter em
Carneiro. O poder da morte colide com a luz da acção. Existe uma
pulsão de transformação que não se efectiva. Não existe, no acto
criativo que cada um pode promover, uma integração da via do
abismo ao cume, daquela que, como diria Heraclito, faz com que o
caminho a subir e a descer seja um e o mesmo. A revelação que
ilumina esse trilho que se oculta na espuma dos dias encontra-se
parcialmente em Vénus.
Em Touro, a deusa do amor encontra-se no seu domicílio e
curiosamente encontra-se com aquele que, segundo o mito
patriarcal, lhe deu origem. Afrodite/Vénus terá nascido da castração
de Úrano. No entanto, neste signo feminino, existe uma
proeminência da deusa do amor sobre o deus do céu. Aqui Vénus
firma a sua expressão de amor universal, mas também de dádiva da
terra, de flor e fruto.
A relação de Vénus e de Úrano em Touro, a partir do Lugar
de Deus, com Saturno e Neptuno em Peixes (sextil), mas também
com Plutão em Capricórnio (trígono), agregando em si a mensagem
do Dragão da Lua, assinala a forma como o Sagrado Feminino
marca os nossos tempos. O amor e a necessidade assumem-se
como baluartes de uma nova era, um tempo em que a sabedoria se
erguerá sobre as cinzas da realidade. Na Era do Espírito Santo,
depois de séculos de exílio, o rosto feminino do divino revelar-se-á.
No tempo entre o actual novilúnio e a segunda Lua Nova de
Reflexões Astrológicas 2023 55

Carneiro, não encontraremos nenhum planeta retrógrado,


promovendo-se assim, uma vez mais, a ideia de actividade.
Mercúrio, Vénus e Marte avançarão para os signos seguintes:
Mercúrio de Carneiro para Touro; Vénus de Touro para Gémeos; e
Marte de Gémeos para Caranguejo. Já Júpiter e Saturno
permanecerão nos signos actuais, ou seja, Júpiter em Carneiro e
Saturno em Peixes. Nos planetas colectivos, Úrano continuará o seu
ingresso por Touro e Neptuno por Peixes, enquanto Plutão chegará
a Aquário.
A Lua Nova de Carneiro transporta consigo o sentido
profundo de conjugar a unidade na acção e de tornar a identidade
uma forma de actividade. No entanto, a acção precisa de propósito,
de finalidade. Esse é o desafio que se avizinha.
(Página deixada propositadamente em branco)
5

Eclipse Solar Híbrido

Lisboa, 05h16min, 20/04/2022

Sol - Lua
Decanato: Vénus

T ermos : Saturno

M onomoir ia: Sol


58 Rodolfo Miguel de Figueiredo
Reflexões Astrológicas 2023 59

Eclipse Solar Híbrido: Lua Nova em Carneiro

O Eclipse Solar Híbrido, ou seja, um fenómeno que combina


os eclipses anular e total, de 20 de Abril ocorre no signo de Carneiro,
com Peixes a marcar a hora, no Segmento de Luz (αἵρεσις) da Lua,
com os luminares abaixo do horizonte, na II, designada de lugar do
Viver ou Modo de Vida (βιός), e a cerca de uma hora e meia antes
do orto solar (hora de Lisboa), no decanato de Vénus, termos de
Saturno e na monomoiria do Sol. Ora, estando o Sol na sua exaltação e
a Lua desfavorecida, o segmento de luz dominante firma aqui o
carácter de sombra, de ocultação da luz, próprio de um eclipse. Por
outro lado, o facto de acontecer no último grau de Carneiro, com o
corpo do Dragão da Lua estendido já a partir do signo seguinte (eixo
Touro-Escorpião), determina também uma certa debilidade luminar
ou distensão de sentido. Sob o horizonte, a sombra fere a luz.
O centro do eclipse, onde a escuridão será maior, ocorre em
Timor-Leste e na Indonésia, todavia, a sombra alcança também a
Austrália, sobretudo o norte, a região à volta de Carnarvon, a Papua
Nova-Guiné e ligeiramente a Nova Zelândia. Toda esta área do
Pacífico e do Índico encontra-se assim sob um manto de escuridão.
Por a sizígia ocorrer num signo de fogo, em Carneiro, podemos
assistir, nomeadamente em Timor-Leste, a uma séria instabilidade
política, sobretudo a nível do poder executivo ou presidencial. De
um outro modo, e em consonância com o eclipse lunar que se segue,
60 Rodolfo Miguel de Figueiredo

a actividade vulcânica e sísmica pode agravar-se sobretudo nesta


área geográfica, o que, no caso da Indonésia, pode vir a ser
preocupante.
Em termos de regências geográficas, devemos também
considerar as que foram descritas na Antiguidade. Segundo Vétio
Valente (Antologia I, 2), as seguintes regiões pertencem a Carneiro: a
Babilónia, Elymais ou Elamais (Cuzistão, província do Irão), a
Pérsia, a Palestina e as regiões circundantes, a Arménia, a Trácia, a
Capadócia, Susã (cidade antiga, capital do Elão ou Susiana, hoje
sudoeste do Irão), o Mar Vermelho e o Mar Negro, o Egipto e o
Oceano Índico. Para Manílio, rege o Helesponto (Estreito de
Dardanelos), Propontis (Mar de Mármara), a Síria, a Pérsia e o
Egipto (Astronomica, IV, 744-817). Por a Caput Draconis se
encontrar em Touro, junto à sizígia do eclipse temos de observar as
regências deste signo. Segundo as lições de Valente (Antologia I, 2),
rege as regiões da Média (o actual noroeste do Irão, o Azerbaijão, o
Curdistão Iraniano e o Tabaristão ou Mazandarão), da Cítia (Irão,
mas também uma área que se estendeu da Bulgária às fronteiras da
Rússia, Mongólia e China), do Chipre, da Arábia, da Pérsia e das
montanhas do Cáucaso, da Samártia (junto à Média), de África, de
Elymais ou Elamais (Cuzistão, uma província do Irão), de Cartago,
da Arménia, da Índia e da Germânia.
As regências antigas continuam a servir ainda hoje para situar
muitos dos acontecimentos que a astrologia tão bem traduz. Os
eclipses são, para a astrologia mundana ou global, um fenómeno em
cujos sentidos da Providência electivamente se enraízam. O jogo
Reflexões Astrológicas 2023 61

primordial e radical de luz e sombra marca, com o gesto das Meras,


não só o momento do eclipse como todo um hiato temporal,
fundado num processo de significação que se agrega como uma
teia. Já quanto ao actual, a duração do eclipse e do período umbral
apontam para um período de influência que se estende de um ano
até quase três anos e meio. No entanto, face ao facto da área central
do eclipse ser um pouco circunscrita, a sua influência tenderá a ser
mais próxima de um ano do que dos três anos e meio.
Na análise astrológica de qualquer eclipse, este aforismo deve
servir toda e qualquer interpretação: o primeiro eclipse de uma série
Saros e o seu tema astrológico servem de matriz para toda a série, é
o seu tema genetlíaco. O eclipse de dia 20 pertence à série Saros 129
que se iniciou a 10 de Outubro de 1103. Este eclipse, no signo de
Balança, torna-se particularmente significativo para o nosso eclipse,
dado que a sizígia original se encontra em oposição à actual. No
eclipse de 1103, o Sol, a Lua, Mercúrio, Vénus e Júpiter
encontravam-se em Balança. Existia, nesse momento, uma clara
proposta de sentido que apontava, como se a dádiva do bem
indicasse o caminho, para a harmonia dos contrários, para a criação
de uma concórdia no seio da dualidade. Este sentido opõe-se, como
que olhando de frente com um semblante desafiador, ao eclipse de
dia 20.
Os maléficos, na análise comparada dos dois eclipses,
também se opõem. Saturno hoje em Peixes fita Marte outrora em
Virgem. Se pensarmos que muitos dos eclipses dos últimos anos
pertencem a séries Saros que começaram em eclipses coincidentes
62 Rodolfo Miguel de Figueiredo

com a época das Cruzadas, compreendemos então a actualidade


deste eixo dos maléficos. Os falsos ideais que se mascaram das mais
piedosas demandas atendem, na verdade, os vícios do poder.
Ontem ou hoje, a guerra só se serve a si própria. Por outro lado,
Plutão que agora se encontra em Aquário, aquando do início da
série Saros 129, encontrava-se em Carneiro, no lugar do actual
eclipse. O militarismo que domina hoje as narrativas internacionais,
tal como dominava no tempo das Cruzadas, protege os interesses
de alguns, mas não os da humanidade, mas, para nos opormos aos
perigos dessa narrativa comum, precisamos de espírito crítico.
Séneca diz-nos o seguinte: “Procuremos, pois, aquilo que é o melhor e não
o que é mais comum, aquilo que nos colocará na posse de uma felicidade eterna e
não o tem a aprovação do vulgar, que é o pior intérprete da verdade” (Da Vida
Feliz, 2; Carta sobre a Felicidade de Epicuro e Da Vida Feliz de Séneca, trad. J. Forte, 43.
Lisboa: Relógio D’Água, 1994). Essa é a lição dos tempos e de como
humano pode encarar a realidade.
No eclipse de 1103, Raimundo IV, conde de Toulouse, com
os cruzados, lançou uma ofensiva no vale de Beca (ou Beqaa),
capturando Tortosa (Tartans), e para fortalecer o cerco de Tripoli,
constrói o imponente castelo de Mons Peregrinus (em árabe,
Quala’at Sangil). Os esforços de Raimundo de Saint-Gilles foram
auxiliados pelo imperador Aleixo I Comneno, com o envio da frota
bizantina. Mais tarde, os cruzados, liderados por Boemundo I de
Antioquia e por Juscelino I de Edessa (e II de Courtenay), avançam
no território de Alepo e, com as suas ofensivas e conquistas, forçam
o sultão Fakr al-Mulk Radwan ao pagamento de um tributo. No ano
Reflexões Astrológicas 2023 63

seguinte, a 26 de Maio, o rei Balduíno I captura Acre. O porto havia


sido cercado pelas frotas de Génova e Pisa. Balduíno promete,
porém, conceder passagem a quem queira seguir para Ascalão, mas
os italianos pilham os migrantes muçulmanos ricos e matam muitos
deles. Por outro lado, os seljúcidas fixam-se em Damasco, na Síria.
Podemos facilmente observar a actualidade de todos estes
movimentos e, mesmo que se diga a história não se repete, o
humano repete-se sem sombra de dúvida.
Na série Saros 129, o último eclipse penumbral (26/041446) e
o primeiro eclipse anular (06/05/1464) ocorrem no signo de Touro.
Este elemento torna-se significativo se pensarmos que o eixo nodal
actual ainda se encontra neste signo e o próximo eclipse lunar
também aí ocorrerá. Cerca de dois meses após o eclipse, a 16 de
Julho de 1464, dá-se a batalha de Montlhéry, onde as forças de rei
Luís XI de França defrontam a Ligue du Bien Public, que reunia um
conjunto nobres que se opunha ao poder centralizado do rei. O
conflito termina com o regente a assinar três tratados de paz. Por
outro lado, dois dias depois, o rei deposto Henrique VI de
Inglaterra é capturado pelas forças de York e colocado na Torre de
Londres. A rainha Margarida de Anjou e o príncipe Eduardo fogem
para França. A Guerra das Rosas opôs as dinastias de York e de
Lancaster. O caso francês lembra-nos hoje a forma como o
presidente Macron tenta implementar, de forma contrária à vontade
popular, uma nova idade da reforma. No Reino Unido, vemos
claramente a queda de primeiros-ministros e o extremar de
posições, bem como alguma resistência republicana à coroação de
64 Rodolfo Miguel de Figueiredo

Carlos III.
O último eclipse anular da série ocorre no signo de Peixes, a
18 de Março de 1969. Lembremo-nos que a série Saros 129 termina
com um eclipse também em Peixes, a 21 de Fevereiro de 2528. É
muito curiosa uma série que se inicia em Balança e termina em
Peixes e cujos principais eclipses ocorrem em Carneiro e Touro.
Existe um choque notório entre individualismo e comunidade. A
proposta de início e fim colide com os acontecimentos que, sobre
esta linha de luz e sombra, se estendem. Ora, aquando do eclipse de
1969 e no período de sua influência, encontramos, por exemplo, os
sismos na China e no Peru e a forte tempestade tropical na Índia e
no Bangladesh. Por outro lado, temos os movimentos de
independência em África e a Guerra Colonial Portuguesa, bem
como a Guerra do Vietname, a crise do petróleo de 1973 e um
conjunto de intensas alterações políticas e ideológicas, e das
consequentes transformações sociais.
Ao eclipse de 1969, em Peixes, seguem-se três eclipses
híbridos em Carneiro, dos quais o actual é o terceiro. O primeiro
destes eclipses ocorreu a 29 de Março de 1987. Uns dias depois, a
13 de Abril, celebra-se o acordo entre Portugal e a China para a
entrega de Macau. No final do ano, dá-se a Primeira Intifada e o
agudizar do conflito israelo-palestino e, no dia 30 de Dezembro, o
Papa João Paulo II publica a encíclica Sollicitudo rei socialis, onde é
desenvolvida a doutrina social da igreja. O segundo eclipse dá-se a 8
de Abril de 2005 em pleno conclave, depois da morte de Papa João
Paulo II, a 2 de Abril. Bento XVI tornar-se-á papa a 19 de Abril. O
Reflexões Astrológicas 2023 65

eclipse de dia 20 de Abril será também determinante para os


destinos da igreja católica. Todos estes factos, desde o início da
série Saros, permitem que se observe uma visão de conjunto e se
alcance uma totalidade simbólica de sentido.
Cícero, acerca da velhice, diz-nos algo que é particularmente
importante para esta análise: “Nisto assemelham-se aos que acusam o
timoneiro de nada fazer durante a viagem, enquanto uns trepam pelos mastros,
outros correm por entre os bancos, e outros esvaziam a sentina, segurando,
porém, aquele o leme, sentado à popa tranquilamente. Não faz ele aquilo que os
mais jovens fazem, mas, o que faz fá-lo com maior exigência e melhor. Não se
realizam grandes feitos recorrendo à força, à agilidade ou destreza físicas, antes,
pelo conselho, pela autoridade, pelo prestígio, dos quais a velhice não só não se
encontra privada como ainda os engrandece.” (Catão-o-Velho ou Da Velhice, 6.17,
trad. C. H. Gomes, 23. Lisboa: Biblioteca Independente, 2009 ). A experiência
íntima do tempo histórico, que aliás é própria da representação
astrológica, faz do astrólogo um timoneiro da demanda do sentido,
da consciência plena de que tudo se une, segundo os ditames da
Providência, numa simpatia universal, numa harmonia dos opostos.
Sob o horizonte, na Porta do Hades (II), o Sol, a Lua e Júpiter
vêm a sua acção detida sob a sombra do eclipse. O manto de
escuridão conduz a acção da luz aos portões do submundo. Esta é
uma posição significativa, pois Plutão (Hades), o deus que rege o
submundo, é o astro mais alto e Saturno apresenta-se como lanceiro
da sizígia e como Estrela da Manhã, com uma visibilidade pós-
ascensão (sextil de Plutão em Aquário ao Sol, Lua e Júpiter em
Carneiro). A morte e a necessidade são a acção que culmina, aqueles
66 Rodolfo Miguel de Figueiredo

que ascende primeiramente até ao Meio do Céu. Plutão em Aquário


e Saturno Peixes marcam determinantemente os acontecimentos
actuais. A morte visita o humano e a justa retribuição será um sinal
do tempo. Porém, a empatia, a compaixão e a solidariedade
ressurgem como vias de ascensão. As lutas pelos direitos sociais e a
necessidade de um Estado Social reafirmam-se hoje,
lamentavelmente para um certo pensamento astrológico, mais por
Saturno e Neptuno em Peixes do que por Plutão em Aquário.
Lembremo-nos sempre da máxima de que é o planeta que faz o
lugar e não vice-versa. Essa ideia evitaria muitas simplificações.
Um outro aspecto que marca o tempo do eclipse e aquele que
rege a sua influência é o que liga o Sol, a Lua e Júpiter em Carneiro,
em sextil, a Vénus (e ao Ponto Subterrâneo) em Gémeos e, em
quadratura, a Marte em Caranguejo. Esta conjugação de aspectos,
potenciada pela própria posição de Marte, vai revelar o medo do
feminino e um aumento da misoginia, da violência contra as
mulheres e um retrocesso nos seus direitos. Veja-se, por exemplo, a
tentativa de um tribunal norte-americano proibir a pílula abortiva,
disponível e certificado pela FDA há cerca de vinte anos. De um
outro modo, a quadratura de Vénus em Gémeos a Saturno e
Neptuno em Peixes e o trígono de Vénus a Plutão em Aquário
transmite-nos a dificuldade de levar ao outro a mensagem do amor
do que move o sol e as estrelas, como diria Dante, aquele que
conduz o herói até à casa da Grande Mãe, da Deusa que é a vida na
morte e a morte na vida. Quando a morte visita o humano (Plutão
em Aquário), o rosto que surge é o de Perséfone, a rainha do
Reflexões Astrológicas 2023 67

submundo que é também a donzela da Primavera. As estruturas


vigentes e as ilusões de um patriarcalismo que teima em persistir
resistem a esta mensagem, mas a palavra do amor terá de ser a
acção do bem (sextil de Vénus a Júpiter).
A posição de Mercúrio, de Úrano e da Caput Draconis em
Touro é especialmente significativa: primeiro, porque Úrano
também se encontrava em Touro no tema do eclipse de 1103, o que
iniciou a série Saros 129; depois, devido à quadratura destes a
Plutão em Aquário e deste à Cauda Draconis em Escorpião. O eixo
do valor, ou seja, do viver ao morrer, onde se estende o Dragão da
Lua, a par destas ligações, é um notório sinal dos tempos. Aqui
encontramos o resultado da negação da mensagem que a Mãe Terra
nos transmitia, durante décadas, e que, por teimosia e indiferença,
preferimos rejeitar. O planeta está mudar, quer queiramos, quer
não. O deus da morte (Plutão) não vai espalhar a superficialidade de
uma espiritualidade líquida, aquela que nas últimas décadas do
século XX permitiu mudar mentalidades, mas que hoje é
insuficiente. A mensagem anuncia a iminência de uma nova
extinção: a extinção do humano. Ora a forma dessa extinção oculta-
se na Natureza e é sibilada pela Providência. Nós estamos assim
perante o enigma esfíngico de renovar o viver.
Os sextis de Mercúrio e Úrano em Touro a Marte em
Caranguejo e a Saturno e Neptuno em Peixes concedem a liberdade
de agir que pode, se assim o quisermos, ser tanto o leme da vida
como a dádiva da fortuna. Podemos, se encontrarmos o lugar da
Deusa, se acolhermos os dons da Terra, transformar a realidade e
68 Rodolfo Miguel de Figueiredo

aprender a viver conscientemente o planeta que é a nossa casa.


Contrariamente, Marte em Caranguejo une-se quadrangularmente a
Júpiter em Carneiro e triangularmente a Saturno em Peixes. O
medo do feminino contamina, ferindo e dilacerando, o espaço e o
tempo. A Era do Espírito Santo, do Sagrado Feminino, anuncia-se,
o tambor na noite marca a dança e o ritual, mas a maioria teima em
renegar esse tempo que se proclama. Existe uma resistência
persistente em aceitar a Deusa que se ergue no céu estrelado.
Neste eclipse solar, a sombra vai-se estender sobre a acção,
obrigando a redefinir o sentido e o valor. A luz e o bem terão assim
de se firmar e restabelecer a harmonia dos contrários. Com o eixo
nodal a avançar para o eixo Carneiro-Balança, a escuridão cairá
sobre a identidade, obrigando ao esforço de concórdia entre a
unidade e a dualidade. A luz e a sombra são enigma da morte sobre
o humano e, perante a inquietação radical de saber quem somos, é
preciso escolher e marcar o caminho.
6

Eclipse Lunar Penumbral

E-T

Lisboa, 18h23min, 05/05/2022

Lu a
Decanato: Sol

T ermos : M er cúr io

M onomoir ia: M ar te

Sol

Decanato: L ua

T ermos : J úpiter

M onomoir ia: Vénus


70 Rodolfo Miguel de Figueiredo
Reflexões Astrológicas 2023 71

Eclipse Lunar Penumbral: Lua Cheia Escorpião-Touro

O Eclipse Lunar Penumbral de dia 5 de Maio ocorre com a


Lua no signo de Escorpião e o Sol no de Touro, com Balança a
marcar a hora e a cerca de duas do pôr-do-sol (hora de Lisboa), logo
no Segmento de Luz (αἵρεσις) do Sol, estando este acima do
horizonte, na VIII, no lugar da Morte (θάνατος), já a Lua está
abaixo do horizonte, na II, no lugar do Viver (βιός). A Lua encontra
-se no decanato do Sol, nos termos de Mercúrio e monomoiria de
Marte, enquanto o Sol encontra-se no decanato da Lua, nos termos
de Júpiter e monomoiria de Vénus.
Se pensarmos que, da Lua até ao Ponto de Culminação, não
existe nenhum astro, concluímos então que é o caminho luminar em
que Sol se insere, e que é por si dominado, que se torna mais
significativo, pois de uma forma mais abrangente é aquele que vai de
Marte em Caranguejo a Júpiter em Carneiro ou, se preferirmos uma
maior simbólica cadente, dado que Marte está junto à Culminação,
será aquele que vai de Vénus em Gémeos a Júpiter em Carneiro.
Este é o caminho dos benéficos, ou do bem, rumo ao Poente, onde
o Sol se encontra obscurecido. Neste ocaso da realidade, a acção do
bem vive na sombra.
Existe uma clara aproximação de sentido entre este eclipse e o
anterior eclipse solar, visto que, por um lado, Balança marca a hora
no actual eclipse e este é um dos signos que integra o eixo para o
72 Rodolfo Miguel de Figueiredo

qual avançará o eixo nodal e marcará a próxima fase de eclipses,


iniciada com o eclipse de dia 20 de Abril, e, por outro lado, a Lua
recai nos dois eclipses na II, no Lugar do Viver (βιός), exacerbando
a sua significação tópica. É igualmente assinalável o facto de em
ambos os eclipses a Lua se encontrar sob o horizonte.
A ocultação luminar, seja pela sua visibilidade ou, neste caso,
também pela sombra do eclipse, adquire sempre um simbólica
radical, um valor que transmite uma representação profunda da
realidade. Ora a ocultação da Lua, da Deusa, do Espírito Santo ou
do Divino Feminino, num lugar que determina o valor do viver,
assume um carácter primordial de transformação, ou seja, diz-nos
que, na sombra, sob o manto da nossa ignorância, se encontra
aquilo que nos falta, a fonte da nossa angústia, da nossa
incompletude. Não provimos aquilo verdadeiramente nos sustem.
A área geográfica do actual eclipse é maior que a do eclipse
solar, embora semelhante. A zona principal incide sobre a Ásia e
sobre a Oceânia, expandindo a influência do eclipse de dia 20 de
Abril. A segunda zona alcança, já de forma parcial, África e a
Europa. No caso de Portugal, este manto chega sensivelmente até
ao Tejo, ou seja, cobre apenas metade do país. Se seguirmos,
porém, a tradição antiga, a Lua em Escorpião fornece-nos um
conjunto de informações adicionais. Valente diz-nos que Escorpião
rege a Metagonitis ou Numídia (Norte de África, Argélia e Tunísia),
a Mauritânia, a Getúlia (Norte de África, Argélia e Tunísia), a Síria,
Comagena (Ásia Menor), a Capadócia, Itália, Cartago, Líbia, Amom
(Jordânia), Sicília, Espanha e Roma. Já para Manílio Escorpião rege
Reflexões Astrológicas 2023 73

Cartago, a Líbia, o Egipto, Cirene, a Itália e a Sardenha ( Astronomica


IV, 777-82).

No entanto, devemos também considerar o Sol em Touro,


embora com uma menor expressão geográfica. Segundo Vétio
Valente (Antologia I, 2), vai reger as regiões da Média (o actual
noroeste do Irão, o Azerbaijão, o Curdistão Iraniano e o Tabaristão
ou Mazandarão), da Cítia (Irão, mas também uma área que se
estendeu da Bulgária às fronteiras da Rússia, Mongólia e China), do
Chipre, da Arábia, da Pérsia e das montanhas do Cáucaso, da
Samártia (junto à Média), de África, de Elymais ou Elamais
(Cuzistão, província do Irão), de Cartago, da Arménia, da Índia e da
Germânia. Para Manílio, Touro rege Cítia, a Ásia (por causa dos
Montes Tauro) e a Arábia. (Astronomica, IV, 744-817). No caso dos
eclipses lunares, a questão da influência geográfica é deveras
importante, já que, no seu período de influência, encontramos
frequentemente a existência de fenómenos naturais extremos, tais
como sismos, erupções vulcânicas ou tempestades.
Em termos temporais, a acção deste eclipse pode ser fixada
entre perto dos dois meses até aos seis ou sete meses. O período de
cerca de dois meses pode ser estabelecido a partir da ascensão recta,
enquanto a linha temporal mais extensa é alcançada pela extensão
temporal dos contactos umbrais. No entanto, podemos afirmar que
a sua influência será mais intensa nos dois meses que se seguem ao
eclipse. Existe, porém, um outro factor a ter em consideração
acerca desta influência, pois, segundo a série Saros em que está
inserido, este eclipse está intimamente ligado ao eclipse da mesma
74 Rodolfo Miguel de Figueiredo

série que acontecerá a 16 de Maio de 2041, também no eixo


Escorpião-Touro. Os sentidos propostos pelo actual eclipse criam
uma ponte significativa entre os dois eclipses, estendendo assim a
sua proposta de representação da realidade.
A série Saros 141 é uma série relativamente recente que se
iniciou a 27 de Agosto de 1608, com eclipse no eixo Peixes-Virgem,
e que terminará a 11 de Outubro de 2888, com um eclipse no eixo
Carneiro-Balança. O primeiro eclipse total só acontecerá em 2167
com um eclipse no eixo Aquário-Leão. Nesta série, dado o primeiro
e o último eclipse, existe uma união de sentido entre o fim e o
início, entre a significação dos dois eixos. Esta ideia matriz serve,
face ao actual eclipse, a consolidação, a integração na consciência
humana que a Natureza é um ser vivo, com alma, que nasce, morre
e renasce.
O eixo Escorpião-Touro está a oferecer-nos uma profunda
lição acerca do valor da Terra, da Mãe-Terra. Marco Aurélio diz-nos
o seguinte: “Contempla o curso dos astros como se levado foras nas suas
revoluções, e considera de contínuo como os elementos se transformam uns nos
outros. Tal contemplação purifica-nos das nódoas da terra.” (Pensamentos VII, 47,
trad. J. Maia. Lisboa: Relógio D’Água, 1995). Fomos nós que colocámos as
“nódoas da terra” e somos nós que as temos de tirar.
O início da série Saros 141 é marcado por alguns
acontecimentos em torno da fundação da colónia americana de
Jamestown. A 13 de Agosto de 1608 é submetida para publicação a
história dos primeiros dias da colónia de John Smith e, a 10 de
Outubro, este é eleito presidente do conselho colonial. A história de
Reflexões Astrológicas 2023 75

John Smith e de Pocahontas é um exemplo de aceitação do outro,


da diferença e de criar laços afectivos com alguém que a maioria
tende a rejeitar. Face à crise dos refugiados, da pobreza e das
desigualdades sociais, o simbolismo por detrás desta história torna-
se imperativo.
Podemos encontrar astrologicamente esse sentido no trígono
que, hoje, une os astros nos três signos de água. A sua significação
congrega a tensão e a possibilidade. Séneca afirma o seguinte: “Pensa
bem como esse homem que chamas teu escravo nasceu da mesma semente que tu,
goza do mesmo céu, respira, vive e morre como tu. Tanto direito tens tu a olhá-lo
como homem livre como ele a olhar-te como escravo” (Ep.47.10; Cartas a Lucílio, 2ª
ed,, trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2004: Fundação Calouste
Gulbenkian). Ora este é também o espírito da Saturnália e de Saturno
(e Neptuno) em Peixes.
A refundação da justiça social e das estruturas políticas,
económicas e sociais estará intimamente relacionada com o medo
de feminino que se apresenta com Marte em Caranguejo. A respeito
de Marte convém referir-se que é o astro mais alto, em conjunção
ao Ponto de Culminação. Este factor, aliado à posição de Plutão
retrógrado em Aquário, junto ao Ponto Subterrâneo, embora em
posição pós-polar e noutro signo, vai colocar sob pressão os
fenómenos naturais extremos. O trígono de Água apresenta, neste
eclipse, um sentido profundo.
O medo de feminino é um sinal dos tempos, mas a forma
abusiva como utilizamos os recursos do planeta também o é, e
sobre estes dois eixos de acção e reacção vive a morte, a retribuição
76 Rodolfo Miguel de Figueiredo

e a necessidade. A sombra do eclipse, com a Lua em Escorpião,


revela-nos que, face à gravidade da desmedida, será apenas sob a
terra queimada, sob as cinzas da história, que o renascimento
acontecerá. O tempo pede, novamente, que os escravos se ergam e
se tornem senhores. Essa é, como já observámos, a lição de Saturno
em Peixes e que agora se une à do eclipse lunar.
A quadratura de Plutão em Aquário aos luminares e ao
Dragão da Lua, a partir do lugar da Boa Fortuna, confirma a sua
mensagem fundamental de que a morte paira sobre o humano e de
que a semente do amanhã repousa ainda sob a terra, oculta no
ventre da Grande Mãe. Não existe criação sem destruição. Essa é a
ideia que nos deve servir de guia e que contribuirá para nos
redimensionarmos. Os complexos humanos de super-homem
deverão cair, pois a actividade humana tem sido exacerbada por um
narcisismo desenfreado que quer que esqueçamos a nossa finitude,
a nossa incompletude. É esvaziando-nos que nos tornámos plenos.
O trígono de Vénus em Gémeos, no lugar do Deus Sol, a
Plutão em Aquário indica a palavra do Amor que vence a dualidade,
a separação. Porém, é sempre mais fácil distinguir do que congregar.
Se por vaidade dizemos que reunimos, estamos a apenas a criar
mais separação. A quadratura de Vénus a Saturno e Neptuno
aponta para essa dificuldade. A teia que une a necessidade e a
compaixão, criando possibilidade e redenção, exige esforço. Temos
de primeiro nos perder, para depois nos encontrarmos, renovados e
renascidos.
Na casa da Grande Mãe, da Mãe Natureza, que é o signo de
Reflexões Astrológicas 2023 77

Touro, o Sol, Mercúrio, Úrano e a Caput Draconis expressam uma


mensagem que se firma no ocaso da realidade. Fundar um novo
modo de vida quando tudo o que se vê é morte é o desafio dos
nossos tempos. A qualidade da morte alia-se aqui à noção de
poente. O caminho de Júpiter em Carneiro avança para o seu fim, o
que, neste tema, assume literalmente esse término. A acção do bem
tornar-se-á a bondade da terra. Júpiter em Touro chegará com a
dádiva de Gaia.
Porém, a actual quadratura entre Júpiter em Carneiro e Marte
em Caranguejo revela esse mesma dificuldade de acolher os dons da
terra e do feminino. Neste eclipse lunar, este choque entre o grande
benéfico e o grande maléfico assume um carácter de definição e
prenúncio. A par do trígono de Água e do eixo do eclipse, este é um
símbolo do futuro que resume a mensagem da actual ocultação
luminar.
O eclipse lunar de dia 5 de Maio, como lhe é natural, mas aqui
um pouco mais acentuado, vai trazer consigo um conjunto de
sentidos subliminares, como se sibilados pela Senhora do Tempo e
da Necessidade. Nem tudo é literal, directo ou evidente, existem
pois sentidos que preenchem a trama de um tear. A união de Júpiter
em Touro e Saturno em Peixes, bem como a longa travessia de
Vénus em Leão, assinalam uma era do feminino e o actual eclipse é
a sombra que antecede a luz. Em suma, é sobre a sombra que se
guarda a luz e iluminado é aquele que guarda a centelha da
sabedoria.
(Página deixada propositadamente em branco)
7

Ingresso de Júpiter

Lisboa, 18h20min, 16/05/2023

Júpiter
Decanato: M er cúrio

T ermos : Vénus

M onomoir ia: Vénus


80 Rodolfo Miguel de Figueiredo
Reflexões Astrológicas 2023 81

Júpiter em Touro

O ingresso de Júpiter em Touro ocorre com Balança a marcar


a hora, para o tema de Lisboa e, deste modo, na VIII, no Lugar da
Morte (θάνατος), da qualidade da morte, no decanato de Mercúrio,
nos termos e na monomoiria de Vénus. O ingresso dá-se assim acima
do horizonte e a duas horas e vinte e cinco minutos do pôr-do-sol.
Júpiter encontra-se, deste modo, favorecido por estar no seu próprio
segmento (αἵρεσις) e acima do horizonte. O estudo deste ingresso e
do seu tema é essencial para a compreensão dos tempos que se
avizinham. A análise relativa dos ingressos de Júpiter e Saturno em
2023 atribuirá uma qualificação estrutural dos elementos
significativos que definem, consequentemente, o ano em curso.
No tempo (Saturno) e no espaço (Júpiter), o Eterno Feminino
tornar-se-á a dádiva da transformação. Esta é uma ideia que
explorámos quando Saturno ingressou em Peixes e que agora, com
entrada de Júpiter em Touro, é reafirmada. Partindo da premissa que
é o planeta que transmite as suas qualidades ao lugar (signo) e não o
contrário, podemos concluir que Júpiter chega à casa, ou ao templo,
da Grande Mãe. Touro é, por excelência, o lugar da Mãe-Terra, da
Mãe dos Deuses. A natureza criadora é particularmente activa neste
lugar e, nesse sentido, será aí que Júpiter expressará as suas
qualidades. A pergunta que se coloca é saber que Júpiter é que
encontraremos neste lugar. E não, não pensemos, baseados no
82 Rodolfo Miguel de Figueiredo

androcentrismo do pensamento astrológico comum, que vamos


encontrar aqui o senhor do Olimpo, sentado no seu trono. A
melhor imagem de Júpiter em Touro surge naturalmente da
mitologia e da sua tradição. Zeus em Creta firmar-se-á como
sentido profundo deste ingresso.
Em Creta, o mito do nascimento e da infância de Zeus são
elementos mitológicos que tornam o deus dependente, ou
subalternizado, face ao númen feminino. Reia é uma Grande Mãe,
frequentemente desvalorizada. Antonino Liberal afirma o seguinte:
“Conta-se que existe, em Creta, uma gruta sagrada cheia de abelhas. No seu
interior, conforme afirmam os narradores, Reia deu à luz Zeus. Trata-se de um
local sagrado de que ninguém deve aproximar-se, seja deus ou mortal. Numa
certa altura de cada ano, diz-se que uma grande labareda emana da gruta. Na
sequência da história, diz-se que isto acontece sempre que o sangue proveniente
do nascimento de Zeus começa a fervilhar. As abelhas sagradas que eram amas
de Zeus ocupam esta gruta.” (Metamorfoses, 19, ed. R. M. Troca Pereira. Coimbra,
2017: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017).

As abelhas, o parto e a nutrição são elementos que


estabelecem aqui uma hegemonia do Sagrado Feminino. Por outro
lado, não em Creta, mas sim na Arcádia, Pausânias conta-nos que o
Lymax, na Figália, um afluente do Neda, é um rio que teve a sua
origem na limpeza de Reia após o parto, depois do nascimento de
Zeus, pois a ninfas que a auxiliaram atiraram para o rio os restos da
dequitação (placenta e membranas), também nos diz ainda que,
perto da nascente do Alpheio, existia um templo sem telhado, com
dois leões de pedra, dedicado à Mãe dos Deuses ( Descrição da Grécia
Reflexões Astrológicas 2023 83

VIII.41.1 e VIII.44.5). Este é o poder do divino feminino.


Zeus/Júpiter nasce em Creta, quando Reia fugia de Cronos/
Saturno que queria devorar o seu filho, tal como fizera com os seus
irmãos. Reia dá à luz numa caverna, no Monte Dícti, e depois
entrega a criança aos cuidados das ninfas Adrasteia e Ida e dos
Curetes. O jovem Zeus será alimentado pela cabra Amalteia
(Capricórnio) e por abelhas, ou seja, com leite e mel. Os elementos
ou categorias ginocêntricas superiores a uma divindade masculina
são aqui determinantes. Às deusas minóicas com serpentes,
encontradas no Palácio de Cnosso, junta-se o culto do touro em
Gotina, representado, por exemplo, pelo rapto de Europa, quando
Zeus, sob a forma de touro, leva a filha do rei de Tiro, Agenor, para
Creta.
Por outro lado, temos, também de acordo com a tradição
mitológica, a história de Pasífae, do Touro e do Minotauro, mas
igualmente o trabalho de Hércules em que este terá de tomar o
Touro de Creta. A relação entre a Grande Mãe, Zeus/Júpiter e o
Touro são a matriz de sentido que define o ingresso de Júpiter em
Touro. Zeus é aqui “o Touro de sua Mãe”. De um poder matriarcal,
inaugura-se um poder matrilinear, tanto que Zeus/Júpiter só
conseguirá desafiar e destronar o seu pai, Cronos/Saturno, com o
auxílio de divindades femininas, nomeadamente a sua mãe (Reia) e a
sua avó (Gaia).
A viagem de Júpiter pela constelação de Touro inicia-se a 16
de Maio de 2023 e termina a 26 de Maio de 2024, tendo um período
de retrogradação de 4 de Setembro a 31 de Dezembro de 2023. É
84 Rodolfo Miguel de Figueiredo

portanto um trânsito consistente, sem saídas e reingressos como


aquele que observamos em Carneiro ou em Peixes. Essa afirmar-se
também como significação estrutural de Touro, um signo de Terra.
Existe, durante o período deste ingresso, uma relação íntima com a
retrogradação, em especial, com a de Vénus (23/07 a 04/09/2023)
que termina quando a de Júpiter começa, mas também com a
Saturno (17/06 a 04/11/2023), ou seja, a matriz primordial das
potencialidades planetárias pede uma renovada efectivação, o
processo inaugural de passagem de sentido entre a potência e o acto
traz até nós uma nova proposta criativa.
Paralela ao estado relativo de retrogradação planetária,
encontramos a relação elemental, aquela que une harmoniosamente
Júpiter (Touro/Terra), Saturno (Peixes/Água), Úrano (Touro/
Terra), Neptuno (Peixes/Água) e, por algum tempo, Plutão
(Capricórnio/Terra). Na verdade, só este último, ao encontrar-se
em Aquário (Ar), vai criar uma tensão elemental. A harmonia em
torno de elementos femininos (Terra e Água) reafirma tudo aquilo
que já foi mitologicamente referido.
A análise do tema de ingresso apresenta, para além da
assinalável concentração de luz no signo de Touro, a semelhança do
eixo de culminação com aquele que regeu o eclipse lunar. Marte e
Plutão continuam, respectivamente, no cume e no abismo,
estendendo, entre si e os pólos os que definem, uma promessa de
destruição que surge como aviso ou lembrança. Este marco na
estrada diz-nos que o criar e o destruir são duas faces de uma
mesma realidade.
Reflexões Astrológicas 2023 85

Se compararmos, no entanto, com o tema do eclipse lunar,


Marte afasta-se da culminação, encontrando-se no signo seguinte. A
ausência de planetas entre a ascensão e a culminação vem retirar
alguma firmeza ou aspereza a esta posição. O trígono entre os
maléficos (Marte em Caranguejo e Saturno em Peixes) diz-nos que
esta destruição não acontece por acidente, não é fruto do acaso, ela
surge porque faz parte do destino, resulta da necessidade, de uma
causalidade natural. Tudo está de acordo com a natureza.
A forma como a luz se reúne em Touro confirma a
superioridade do poder da natureza sobre a realidade humana. Gaia
impõe a sua vontade. A vingança de Gaia é hoje tão real como a
soberba humana. A natureza está recriar as suas estruturas, mesmo
que isso produza destruição. Em Touro, existe um caminho de luz
do Sol a Júpiter, passando por Úrano, Mercúrio e a Caput Draconis
e avançado até ao Poente, a seguir ao qual se encontra a Lua, em
Carneiro e já sob o horizonte.
Esta é uma posição onde a Lua se encontra enfraquecida e
subjugado ao poder masculino e que conduz, sobretudo se
considerarmos a posição de Marte em Caranguejo e consequente
quadratura à Lua, àquilo que anteriormente se referiu como o medo
do feminino. Este tende a gerar formas de violência contra as
mulheres e reservas na adopção espiritual do Sagrado Feminino. No
entanto, o facto de Vénus e Marte se encontrarem juntos, em
Caranguejo, mostra que o medo não esconde ou anula a atracção.
Com Vénus e Marte em Caranguejo, o herói quer obter o amor da
Grande Mãe, quer regressar a casa, à origem.
86 Rodolfo Miguel de Figueiredo

A posição relativa de Júpiter estabelece a qualidade do seu


ingresso. Se, por um lado, temos a conjunção em Touro que agrega
uma qualidade que confere luz, intelecto, razão, inovação e
necessidade à dádiva do bem, por outro lado, a forma como estes
raios se unem aos demais vai intensificar a sua qualidade. Primeiro,
não existe nenhuma outra relação com o elemento Terra. Com a
Água, temos os dois sextis: o primeiro com Vénus e Marte em
Caranguejo e o segundo com Saturno e Neptuno. Com o Fogo,
também não existe uma ligação, exceptuando a quadratura ao Ponto
de Culminação. E com o Ar, temos a quadratura com Plutão em
Aquário e com o Ponto Subterrâneo. Estas são ligações que se
estabelecem com Júpiter e com aqueles que estão co-presentes no
signo de Touro e que confirmam astrologicamente tudo aquilo que
já se explorou. Existe pois uma união entre o sentido mitológico e a
significação astrológica e esta aprofunda uma mensagem que
anuncia a aurora de uma Nova Era.
O ingresso de Júpiter em Touro reúne o sentido de dádiva,
que é próprio de qualquer benéfico, neste caso, a bênção do bem e
da justiça, com a Natureza e com a Grande Mãe. Esta é uma
significação que não devemos perder de vista e pode ser conciliada,
colocada em harmonia e concórdia, com qualquer outra que se
possa apresentar. A beleza do pensamento é a sua pluralidade e
astrologia deve ser plural como o universo.
8

Lua Nova

Lisboa, 16h53min, 19/05/2022

Sol - Lua
Decanato: Satur no

T ermos : M arte

M onomoir ia: Vénus


88 Rodolfo Miguel de Figueiredo
Reflexões Astrológicas 2023 89

Lua Nova: Touro

A Lua Nova de Maio ocorre no signo de Touro, com Balança


a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na VIII, no
Lugar da Morte (θάνατος), da qualidade da morte, no decanato de
Saturno, nos termos de Marte e na monomoiria de Vénus. A sizígia dá-
se assim acima do horizonte e cerca de quatro horas antes do pôr-do
-sol. No actual novilúnio, o encontro dos luminares ocorre a
caminho do Poente, estando a Lua desfavorecida por estar fora do
seu segmento de luz (αἵρεσις), mas num signo feminino, o da sua
própria exaltação.
A Lua Nova de Touro vem fechar um conjunto sucessivo de
fenómenos astrológicos nesta constelação: o eclipse lunar, o ingresso
de Júpiter em Touro e a actual sizígia. Estes colocaram em análise o
sentido profundo deste signo. Segundo Vétio Valente, Touro é
feminino, sólido, gera ordem, é terreno, rústico, está relacionado
com a agricultura, é semi-vocal ou mudo, nobre, invariável,
energético, inacabado e indicador de propriedade e posses ( Antologia I,
2). A significação antiga permanece no tempo e continua a permitir o
aprofundamento conceptual daquilo que foi estabelecido.
A ligação entre o signo de Touro e a Terra, a Grande Mãe,
encontra-se radical e estruturalmente enraizada. É a matriz do
crescimento e da abundância. Na reflexão acerca do ingresso de
Júpiter em Touro, já explorámos a relação entre Reia e Zeus/Júpiter,
90 Rodolfo Miguel de Figueiredo

o seu nascimento e infância em Creta, ou seja, o poder matriarcal na


dádiva do Júpiter astrológico. No entanto, para a análise da sizígia, o
rapto de Europa e a relação entre Pasífae e o Touro de Creta
possuem uma outra dinâmica, uma que, para além do consequente
encontro dos luminares, também se encontra indicado na conjunção
de Vénus e Marte em Caranguejo. O touro é o companheiro da
Deusa-Mãe, da Πότνια Θηρῶν, a Senhora dos Animais. Esta é
uma deusa das origens e da qual descendem muitas das divindades
femininas, tais como Reia, Cíbele, Hera, Ártemis, Deméter ou
Atena.
No meu livro Fragmentos Astrológicos, encontra-se a seguinte
descrição: “O rapto de Europa marca uma das fundações do mito do Touro
Cretense. Zeus enamorou-se de Europa e para a cativar transformou-se num
touro de resplandecente brancura e com os cornos em forma de lua. A jovem
sentou-se no dorso do touro que fugiu em direcção ao mar. Chegados a Creta, os
dois consumam a paixão junto de uma fonte, em Gortina, à sombra de
plátanos. Europa teve de Zeus três filhos: Minos, Sarpédon e Radamanto.
Numa segunda fase, o Touro é enviado, a partir do mar, por Posídon para a
costa de Creta, o reino de Minos. A rainha Pasífae enamora-se do animal e
pede a Dédalo que construa uma vaca de madeira, onde ela possa entrar e assim
unir-se ao animal. Dessa união nasce o Minotauro, um ser metade homem,
metade touro, que será colocado num labirinto e, mais tarde, derrotado por
Teseu com a ajuda de Ariadne, filha de Pasífae e Minos. Por fim, numa
terceira fase, Héracles é encarregue de apanhar o Touro. Este é depois libertado,
percorrendo a Grécia até chegar a Maratona, onde é morto por Teseu. O herói
vence sempre a fera, mas é o feminino que persiste.” (135-6. Lisboa, 2021:
Reflexões Astrológicas 2023 91

Livros – Rodolfo Miguel de Figueiredo). Existe pois uma continuidade de


sentido, um elemento mimético de passagem, que se estende ao
longo da narrativa do mito do Touro Creta. O feminino, sobretudo
se virmos para além do exacerbamento dos feitos masculinos, tem,
nesta enunciação mitológica, um enorme poder, uma potencialidade
criativa.
A união da mulher e do touro e a passagem do animal ao
humano, ou seja, a sua elevação, são elementos de transformação
profundos. No encontro venusiano com o animal, a luz do
feminino muda a realidade. Europa, Pasífae e Ariadne são
elementos de continuidade, mas não são elementos passivos, é a sua
acção que dá sentido à narrativa e que permite a possibilidade de
mudança e, mesmo no caso de Héracles, não nos esqueçamos que o
herói está ao serviço da deusa, de Hera, uma Deusa-Mãe. Ora o
grande encontro de luz no signo de Touro (Lua, Sol, Úrano,
Mercúrio e Júpiter) concede essa mesma mudança. Porém, esta não
é nem súbita, nem radical, é uma mudança paciente, estruturada,
que se funda e firma nas raízes da realidade, na demanda do valor,
do sentido do viver. No tema de Lisboa, esse encontro de luz dá-se
no lugar da morte. O signo da vida ocupa o espaço da morte. A
frase lapidar Et in Arcadia ego que nos diz que também a Morte vive na
Arcádia reafirma o seu sentido, a sua permanência conceptual e
simbólica.
Epicteto afirma o seguinte: “Humanos, aguardai Deus. Quando ele
enviar o sinal e vos libertar desse serviço, então vos liberteis para ele. Mas, por
ora, suportai, permanecendo neste mesmo lugar ao qual ele vos designou. Pouco é
92 Rodolfo Miguel de Figueiredo

o tempo para permanecer aqui, e fácil para os que estão desse modo dispostos.
Pois qual tirano ou qual ladrão, ou quais tribunais ainda serão temíveis para
os que tornaram comparáveis a nada o corpo e as posses deste? Esperai! Não
partais de modo irracional!” (Diatribes I.9, 16-17, trad. Dinucci, 88. Coimbra,
2020: IUC). A dádiva da luz é uma bênção do bem e da virtude e a
procura do valor, desse absoluto que pertence à terra, implica um
processo racional de elevação: do animal ao humano, do humano ao
divino. Não esqueçamos, porém, que o deus estóico não é um ser
distante que traz até nós a revelação. Para o estoicismo, e em
particular para Epicteto, nós somos um fragmento de Deus, somos
o próprio deus, logo a revelação não é externa, ela inicia-se única e
exclusivamente naquilo que somos, é um conhecimento de si.
O encontro de luz no signo de Touro, sobretudo se
pensarmos que se inicia na Lua e no Sol, passa por Úrano e
Mercúrio assexuais ou andróginos, embora neste caso, devido à
posição helíaca, masculinos, e termina em Júpiter, e também pela
conjunção destes à estrela Algol, encontramos um choque, uma
colisão, entre a necessidade de ressurgimento do númen feminino e
as estruturas patriarcais dominantes. Algol dá poder ao feminino,
mas alimenta a intensidade, não fosse ela a cabeça da Medusa, um
símbolo por excelência do feminino. Segundo Ovídio, Medusa era
uma bela donzela que terá sido violada por Posídon no templo de
Atena. Ora a deusa sem mãe castiga a donzela, transformando-a
num monstro, por esta ter conspurcado com o seu templo.
Encontramos aqui a simbologia desta união de luz, do encontro dos
planetas em Touro com a estrela Algol. No entanto, não se pode
Reflexões Astrológicas 2023 93

esquecer a tradição e, neste caso, a malignidade de Algol. Neste


sentido, o encontro desta estrela com a sizígia pode, de facto, trazer
violência e destruição, sobretudo desastres naturais resultantes das
alterações climáticas.
Por outro lado, o tema da sizígia encerra também uma outra
dinâmica que já se iniciara no eclipse lunar e que continuou no
ingresso de Júpiter de Touro. O facto de Marte e Plutão se
estenderem, opondo-se ou quase, ao longo do eixo de culminação, e
de Balança marcar a hora apresenta-se como uma dinâmica comum,
uma que funda também, sobre o caminho do abismo ao cume, uma
potência de destruição. Marte traz destruição, ou violência, ao lugar
da Lua e Plutão espalha quadrangularmente os raios da morte até à
sizígia e àqueles que a acompanham. Este novilúnio, embora firme a
matriz do signo de Touro, transporta consigo uma potencialidade
disruptiva que pode estender a sua influência para além do mês
lunar. A humanidade está sobre aviso e isso está cada vez mais
claro.
Séneca, referindo-se aos tempos áureos, diz-nos, na sua
Medeia, que “Os nossos pais viveram em tempos / magníficos dos quais o
embuste estava bem arredado. / Cada um ficava tranquilamente nos seus
litorais / e chegava à velhice nos campos ancestrais, / rico com pouco; não
conhecia senão / as riquezas que o solo pátrio produzia.” (329-334, trad. A. A.
Alves de Sousa. Coimbra, 2013: Imprensa da Universidade de Coimbra ). Se
tivermos em consideração que a Idade de Ouro fora regida por
Saturno, encontrarmos um indício da proposta de transformação.
O sextil da sizígia e daqueles que estão co-presentes a Saturno
94 Rodolfo Miguel de Figueiredo

e Neptuno em Peixes e os trígonos destes últimos a Vénus e Marte


em Caranguejo e à Cauda Draconis em Escorpião congregam uma
mensagem semelhante àquela que Séneca descreve. Está a ser-nos
pedido, senão mesmo exigido, que mudemos o modo de vida. Pede-
se um regresso à Idade de Ouro, em que a Terra esteja viva e em
que a sua abundância nos seja suficiente. As deslocações
desenfreadas, face ao facto de serem extremamente poluentes e nos
desviarem do essencial, e o nosso consumismo colocaram a
humanidade sobre o fio da navalha. Tornámo-nos a sombra da
nossa desmedida e isso traz até nós o peso, a gravidade, do destino.
Existe uma causalidade que encaminhou até nós as penas de
Némesis. E, perante o abismo, o que podemos fazer? Seguir a luz.
Essa é nossa única solução.
O novilúnio de Maio, com a sua intensa concentração de luz,
mas também de alguma sombra, no signo de Touro, encerra uma
proposta de abundância. Ora essa proposta, em particular no actual
ano astrológico, estará em evidência sobretudo nos movimentos
astrológicos pelos signos de Terra e de Água. A Era do Espírito
Santo, do Sagrado Feminino, está a anunciar-se tanto com a pomba
que cinge o céu como com a sacerdotisa que sibila e dança ao som
do tambor nocturno. Nesta Lua Nova, a Deusa-Mãe, a Terra,
concede-nos uma dádiva que precisamos de aceitar.
9

Lua Nova

Lisboa, 05h37min, 18/06/2022

Sol - Lua
Decanato: Sol

T ermos : Saturno

M onomoir ia: Sol


96 Rodolfo Miguel de Figueiredo
Reflexões Astrológicas 2023 97

Lua Nova: Gémeos

A Lua Nova de Junho ocorre no signo de Gémeos, estando


este a marcar a hora para o tema de Lisboa e, deste modo, na I, o
Leme (οἴαξ) do tema, no decanato de Sol, nos termos de Saturno e
na monomoiria de Sol. A sizígia dá-se ainda abaixo do horizonte e a
cerca de vinte e cinco minutos do nascer-do-sol. No actual
novilúnio, os luminares encontram-se sob o horizonte, ainda
ocultos, mas rumando, na barca da luz, o caminho de ascensão. A
Lua encontra-se pois desfavorecida por estar num signo masculino e,
considerando-se que apenas Mercúrio acompanha os luminares e
numa fase helíaca também ela masculina, a força do feminino assim
encontra-se debilitada.
A harmonia dos contrários depara-se, nesta qualidade
essencial, com o primeiro elemento disruptivo. Existe aqui um
sentido inicial para o actual desenraizamento da terra, do feminino.
A dualidade de Gémeos, expressa radicalmente no mito dos
Dióscoros (cf. Figueiredo, R. M. de, 2021, Fragmentos Astrológicos, 137-8. Lisboa:
Livros – Rodolfo Miguel de Figueiredo), indica o movimento de passagem
entre o humano e o divino, tal como o signo que lhe é oposto,
Sagitário, aponta para a passagem do animal ao humano. Na
verdade, esta é a senda sapiencial, da forma como se passa do
conhecimento à sabedoria. Ora essa é a proposta do eixo Gémeos-
Sagitário.
98 Rodolfo Miguel de Figueiredo

O impulso primordial que nos deve encaminhar para a


sabedoria é o mesmo que nos faz procurar o divino. No entanto, a
questão deste eixo é que ele não anula a dualidade. Esta permanece
activa, promovendo a alternância de sentido entre os elementos
duais. Neste eixo, não existe a integração do múltiplo no uno ou na
totalidade como aquela que é proposta no eixo Virgem-Peixes. A
relação entre os dois eixos torna-se aqui particularmente
significativa porque Saturno retrógrado em Peixes é, neste
novilúnio, aquele que alimenta a cisão da harmonia.
No mito dos Dióscoros, não existe uma união dos contrários.
Pólux conserva a sua natureza semidivina, já Castor morre por ser
humano, e mesmo a ascensão ao céu estrelado não representa uma
conciliação ou encontro, pois o dom do céu é concedido em dias
alternados. A desmedida e a retribuição não distinguem, contudo, a
natureza humana ou semidivina. Os dois pares de gémeos, Pólux e
Helena (divino) e Castor e Clitemnestra (humano), sofrem o peso, a
gravidade, da Necessidade. A tensão da sizígia em Gémeos a
Saturno em Peixes é, desta forma, indicadora desta condição
primordial.
Cícero adverte o leitor para a discórdia existencial entre a
força da Necessidade e a Virtude, dizendo o seguinte: “Tu não sabes,
insensato, não sabes de que força dispõe a virtude; limitas-te a usar o nome da
virtude, mas ignoras o seu efectivo valor. Ninguém que dependa exclusivamente
de si e considere que todo o seu bem está na qualidade do seu carácter poderá
não ser o mais feliz dos homens. Quem, pelo contrário, põe todas as suas
esperanças, cálculos e projectos na dependência da fortuna, esse nunca possuirá
Reflexões Astrológicas 2023 99

nada seguro, nada do que empreendeu estará certo de guardar como seu até ao
fim do dia. Se encontrares no teu caminho um homem destes ameaça-o com a
morte ou com o exílio, e vê-lo-ás ficar em pânico. Pela minha parte, nem tentarei
subtrair-me nem oferecerei qualquer resistência a nada do que me aconteça nesta
tão ingrata cidade.” (Paradoxa Stoicorum, Paradoxo II, 17-18 in Cícero, Textos
Filosóficos I, 2ª ed., trad. J. A. Segurado e Campos. Lisboa, 2018: Fundação
Calouste Gulbenkian, 12).

Viver sob a égide da Fortuna, dos ditames da Necessidade,


conduz-nos naturalmente a uma forma de servidão. Neste
novilúnio, depois de Marte reinar no cume do céu, Saturno em
Peixes é o astro mais alto, colocando assim a Necessidade e a
proposta de totalidade como elementos profundos de sentido.
Cícero lembra-nos que é a virtude que nos liberta do destino. Para
quem crê na metempsicose, só a excelência nos libertará da roda de
reencarnações, dos ditames da Necessidade. Esta não é, porém,
nem uma virtude catequista, empoeirada por pó e cinza, nem uma
aura de herói que assombra o humano com o divino. A virtude
estóica é um modo de vida.
Séneca, na continuidade desse sentido, diz-nos que “Para
formar juízos de valor sobre as grandes questões há que ter uma grande alma,
pois de outro modo atribuiremos às coisas um defeito que é apenas nosso, tal
como objectos perfeitamente direitos nos parecem tortos e partidos ao meio
quando os vemos metidos dentro de água. O que interessa não é o que vemos,
mas o modo como vemos; e no geral o espírito humano mostra-se cego para a
verdade!” (Ep.71.24-5; Cartas a Lucílio, 2ª ed,, trad. J. A. Segurado e Campos.
Lisboa, 2004: Fundação Calouste Gulbenkian). Ora a dualidade luminar da
100 Rodolfo Miguel de Figueiredo

sizígia em Gémeos em colisão com a necessidade como totalidade


indica-nos essa mesma cegueira da verdade. No fundo, e hoje mais
do nunca, a ignorância e o excesso de si tolda-nos os juízos e
impede-nos de ver a verdade. A palavra pode ser também aqui um
elemento disruptivo.
A relação entre liberdade e destino é um pilar de sentido na
filosofia astrológica, todavia, não deve ser entendida como é
comummente abordada, como se existisse um antagonismo radical
nos conceitos. A questão é que, da perspectiva que dominou uma
parte considerável do pensamento antigo, a liberdade está para além
da roda da necessidade e não no seu interior. A união de Saturno e
Neptuno em Peixes no cume do tema da Lua Nova representa essa
dificuldade e, do outro lado do sentido, encontra-se a dualidade de
luz entre o humano e o divino como leme da vida e da acção. A
sizígia em Gémeos, pela regência domiciliar de Mercúrio, vai pedir
uma reestruturação da palavra e da razão, ou seja, é exigida uma
renovada mediação. O elemento de passagem é essencial neste
signo dual. A integração da necessidade na vida pede portanto que
se encontre a harmonia nesta tensão radical.
Neste novilúnio, Plutão surge também como elemento
disruptivo, primeiro por seu o único astro do hemisfério ocidental e
depois devido à sua retrogradação e ao seu regresso a Capricórnio.
As estruturas afectadas por este trânsito vão voltar a sofrer as
influências plutonianas, nomeadamente os sistemas económicos e
financeiros, mas também as estruturas profundas da terra, como por
exemplo as erupções vulcânicas das últimas semanas, mas também
Reflexões Astrológicas 2023 101

as consequências das alterações climáticas, como os incêndios no


Canadá.
Nos meses em que Plutão estiver em Capricórnio, podemos
voltar a assistir a falências ou crises no sistema bancário, bem como
às consequências da inflação, da subida das taxas de juros e da
especulação imobiliária. No entanto, a relação benéfica de Plutão a
Júpiter e a Úrano em Touro (trígono) e a Saturno e Neptuno em
Peixes (sextil), bem como ao Dragão da Lua (trígono à Caput em
Touro e sextil à Cauda em Escorpião), conferem uma possibilidade
de transformação colectiva. A renovação do valor do viver, a
ligação à Terra e a necessidade de empatia e solidariedade são a luz
no caminho.
O último grande elemento disruptivo possui também ele uma
qualidade dual, ou seja, possui tanto um valor benéfico como um
potencial maléfico. A posição de Vénus e Marte em Leão junto ao
Ponto Subterrâneo enraíza, no tema do novilúnio, esta harmonia
dos contrários. De um ponto de vista colectivo, a nobreza da alma e
o narcisismo serão as duas faces da mesma realidade e, neste
sentido, esta dicotomia leonina será colocada entre o desejo e a
força, entre Vénus e Marte. Porém, esta pulsão ou paixão
primordial possui uma dimensão relativa e é esta que atribuirá ou
condicionará o seu valor.
O sextil de Vénus e Marte em Leão à sizígia e a Mercúrio em
Gémeos poderá, através da palavra e da razão ou do elemento de
passagem entre o humano e o divino, criar as condições para a
nobreza da alma, para um carácter transformação. No entanto, a
102 Rodolfo Miguel de Figueiredo

quadratura de Vénus e Marte a Júpiter e a Úrano em Touro, na XII,


no lugar do Mau Espírito (κακός δαίμων), bem como ao Dragão
da Lua, condicionará fortemente o potencial do aspecto anterior.
Existe assim uma resistência à dádiva e ao espírito
transformador. Os modos de ser e estar estão de tal forma
enraizados que, mesmo que exista a consciência da necessidade de
transformação, se tornarão extensões da identidade e da afirmação
social. Face à corrupção do planeta e da Mãe-Terra, o que
estaríamos dispostos a fazer? Deixaríamos, por exemplo, de utilizar
um veículo próprio? Consumiríamos menos e de forma mais
responsável? Alteraríamos o nosso estilo de vida? A grande questão
é saber se possuímos uma disponibilidade genuína de mudança.
A passagem anunciada do Dragão da Lua do eixo Touro-
Escorpião para Carneiro-Balança, ou seja, do eixo do valor para o
da identidade, aprofunda o sentido desta inquirição e o novilúnio de
Gémeos vem anunciá-la, representando a necessidade de mediação
e de construção de elementos de passagem, sejam eles pessoais ou
colectivos. A harmonia dos contrários nasce de uma dualidade
comprometida tanto com a identidade como com a necessidade de
relação. Essa é uma proposta para o presente e para o futuro.
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