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04/11/2020 Revista Mundorama Por que a Política Nacional de Inteligência (PNI) é importante ?

, por Bernardo Wahl e Peterson Silva

Revista Mundorama 

POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

Por que a Política Nacional de Inteligência (PNI) é importante ?, por


Bernardo Wahl e Peterson Silva

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18/07/2016

Após dezesseis anos de espera, finalmente foi lançada, por meio do Decreto nº 8.793, de
29 de junho de 2016, a Política Nacional de Inteligência (PNI). Certamente, a maior
contribuição desse tão aguardado documento é a explicitação das principais ameaças
postas ao país e de diretrizes para a atividade de Inteligência.

A PNI já estava prevista na Lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999, a qual instituiu o


Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e criou a Agência Brasileira de Inteligência
(ABIN). O SISBIN é “responsável pelo processo de obtenção, análise e disseminação da
informação necessária ao processo decisório do Poder Executivo” e “pela salvaguarda da

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informação contra o acesso de pessoas ou órgãos não autorizados”. Já a ABIN foi criada
na posição de órgão central do SISBIN, tendo a seu cargo “planejar, executar,
supervisionar e controlar as atividades de inteligência do País”. Nesse arcabouço, previa-
se uma Política Nacional de Inteligência para definir os parâmetros e os limites de
atuação da atividade de Inteligência no país. Entretanto, tal política se arrastou, desde
1999, pelo âmbito governamental. Salienta-se que foi instituído, em 2009, um comitê
ministerial voltado para a elaboração da PNI, bem como para a reavaliação do SISBIN
(GONÇALVES, 2013, p. 181-183), cujo trabalho apenas agora foi concretizado.

A PNI surge em um contexto no mínimo complexo. Mergulhado em uma crise político-


econômica, com sucessivos casos de corrupção, destacando-se a Operação Lava Jato, e
com o afastamento da presidente Dilma Rousseff em maio, o Brasil sediará, em agosto,
os Jogos Olímpicos em meio a possíveis ataques terroristas (BRASIL, 2016a),
especialmente após episódios como, por exemplo, os atentados em Paris (em novembro
de 2015) e na Bélgica (em março de 2016), bem como o recente ataque no principal
aeroporto da Turquia. Ademais, a própria estrutura do SISBIN sofreu mudanças
importantes em questão de meses. Após uma “breve extinção”, em outubro de 2015, do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a ABIN voltou, em maio de 2016, a ser
subordinada a esse órgão da Presidência da República, o qual foi “recriado” sob a
presidência interina de Michel Temer (BRASIL, 2016b). Nesse curto interregno, o órgão
central do SISBIN passou a integrar a Secretaria de Governo, sendo a primeira vez, desde
sua criação, que a ABIN passava “a ser vinculada a um ministério de gestão civil”
(BRASIL, 2015). Atualmente, segundo a Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 (alterada em
maio de 2016), compete ao GSI:

Assistir direta e imediatamente ao Presidente da República no desempenho de


suas atribuições;
Prevenir a ocorrência e articular o gerenciamento de crises, em caso de grave
e iminente ameaça à estabilidade institucional;
Coordenar as atividades de inteligência federal;
Realizar o assessoramento pessoal em assuntos militares e de segurança;
Coordenar as atividades de segurança da informação e das comunicações; e
Zelar, assegurado o exercício do poder de polícia, pela segurança pessoal do
Presidente da República, do Vice-Presidente da República e respectivos
familiares, dos titulares dos órgãos essenciais da Presidência da República e
de outras autoridades ou personalidades, quando determinado pelo Presidente
da República, bem como pela segurança dos palácios presidenciais e das
residências do Presidente da República e do Vice-Presidente da República.

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No que se refere especificamente à PNI, certamente a maior contribuição é a listagem de


onze ameaças prioritárias e de dez diretrizes. Por principais ameaças entendem-se as
que apresentam “potencial capacidade de pôr em perigo a integridade da sociedade e do
Estado e a segurança nacional do Brasil”. Segundo esse documento, as principais
ameaças a serem enfrentadas são:

1. Espionagem;
2. Sabotagem;
3. Interferência externa;
4. Ações contrárias à Soberania Nacional (i.e. “ações que atentem contra a
autodeterminação, a não-ingerência nos assuntos internos e o respeito
incondicional à Constituição e às leis”);
5. Ataques cibernéticos;
6. Terrorismo;
7. Atividades ilegais envolvendo bens de uso dual e Tecnologias Sensíveis;
8. Armas de Destruição em Massa;
9. Criminalidade organizada;
10. Corrupção e
11. Ações contrárias ao Estado Democrático de Direito (i.e. “aquelas que atentam
contra o pacto federativo; os direitos e garantias fundamentais; a dignidade da
pessoa humana; o bem-estar e a saúde da população; o pluralismo político; o
meio ambiente e as infraestruturas críticas do País, além de outros atos ou
atividades que representem ou possam representar risco aos preceitos
constitucionais relacionados à integridade do Estado”).

Dado o rol amplo de ameaças apresentadas, é possível questionar se o SISBIN e,


especialmente, a ABIN terão estrutura e efetivo adequados para atuar em tantas
“frentes”, assim como em que medida as relações crescentemente interagências (ex.
Forças Armadas, Polícia Federal, polícias estaduais civis e militares) serão
operacionalizadas nesse contexto.  Certamente, tais questões deverão ser detalhadas no
Plano Nacional de Inteligência e na Doutrina Nacional de Inteligência, ambos previstos
na própria PNI.

No que se refere às diretrizes, o Decreto nº 8.793/2016 estabelece:

1. Prevenir ações de espionagem no país;


2. Ampliar a capacidade de detectar, acompanhar e informar sobre ações
adversas aos interesses do Estado no exterior;
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3. Prevenir ações de sabotagem;


4. Expandir a capacidade operacional da Inteligência no espaço cibernético;
5. Compartilhar dados e conhecimentos;
6. Ampliar a confiabilidade do Sistema Brasileiro de Inteligência;
7. Expandir a capacidade operacional da Inteligência;
8. Fortalecer a cultura de proteção de conhecimentos;
9. Cooperar na proteção das infraestruturas críticas nacionais e
10. Cooperar na identificação de oportunidades ou áreas de interesse para o
Estado brasileiro.

Entre essas diretrizes, torna-se importante ressaltar, em seu item sete, a indicação da
necessidade de se estudar a viabilidade de expansão da capacidade operacional da
Inteligência no que diz respeito à inserção, no ordenamento jurídico nacional, dos
instrumentos que amparem suas atividades. De fato, a falta de amparo legal para
determinadas interceptações de comunicações na esfera da atividade de Inteligência é
uma enorme limitação em tempos de acelerado desenvolvimento das Tecnologias de
Informação e Comunicações (TICs), por meio das quais ações de espionagem, sabotagem
e as associadas à corrupção e ao Crime Organizado Transnacional corroem a segurança
da sociedade e do Estado. Tal aspecto, na conjuntura atual, não pode deixar de ser
adequadamente analisado e debatido no Brasil.

Em suma, a PNI pode ser considerada um significativo avanço para a atividade de


Inteligência brasileira, considerando o lento desenvolvimento dessa área no país e o
relativo pouco envolvimento de setores chaves da sociedade no delineamento dessa
importante política pública.

Referências

BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Governo. Agência Brasileira de


Inteligência (ABIN). ABIN passa a integrar a Secretaria de Governo. Notícias, 03/12/2015.
Disponível em: < http://www.abin.gov.br/depois-de-15-anos-abin-fica-subordinada-a-
ministerio-civil/ >. Acesso em: 30 jun. 2016.

______. Ministério da Defesa. Rio 2016: Defesa realiza campanha educativa para
sensibilizar população sobre possíveis ameaças terroristas. 28/06/2016a. Disponível em: <
http://www.defesa.gov.br/noticias/22120-rio-2016-defesa-realiza-campanha-educativa-
para-sensibilizar-populacao-sobre-possiveis-ameacas-terroristas >. Acesso em: 30 jun.
2016.
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______. Presidência da República. Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Agência


Brasileira de Inteligência (ABIN). ABIN volta a ser subordinada ao GSI. Notícias,
16/05/2016b. Disponível em: < http://www.abin.gov.br/abin-volta-a-ser-subordinada-ao-
gsi/ >. Acesso em: 30 jun. 2016.

______. Lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/LEIS/L9883.htm >. Acesso em: 30 jun. 2016.

______. Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.683compilado.htm >. Acesso em: 30
jun. 2016.

______. Decreto nº 8.793, de 29 de junho de 2016. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Decreto/D8793.htm >. Acesso
em: 30 jun. 2016.

GONÇALVES, Joanisval Brito. Atividade de Inteligência e Legislação Correlata. Editora


Impetus, Série Inteligência, Segurança e Direito. Niterói-RJ, Ed. 3ª, 2013

Bernardo Wahl (bernardowahl@gmail.com), mestre e professor de Relações


Internacionais da FESPSP e da FMU. Peterson Silva (petersonfsilva@gmail.com),
doutor em Relações Internacionais e pesquisador do Centro de Estudos
Estratégicos do Exército Brasileiro, ministram o curso Atividade de Inteligência no
Brasil e a Segurança Internacional na FESPSP.

Cite this article as: Editoria, "Por que a Política Nacional de Inteligência (PNI) é
importante ?, por Bernardo Wahl e Peterson Silva," in Revista Mundorama,
18/07/2016, https://mundoramanet.wpcomstaging.com/?p=19478.

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