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PROJETO: OS SIGNIFICADOS DOS DESENHOS SHIPIBO-CONIBO E A RELAÇÃO COM A

CULTURA KAXINAWÁ DE ACRE-BRASIL


Orientado: ROBERTO SUÁREZ RENGIFO

RESUMO

A presente dissertação tem como finalidade compreender a importância dos desenhos


Kené Shipibo-Conibo, e a relacão com a cultura Kaxinawa, analisando seus sentidos e
significados por parte dos artistas de seus próprios mantos, ponderando sua composição
e geometria e como a antropologia lida com a arte indígena. Nesse sentido, iremos
conhecer sua origem e história, a cosmovisão e como estes desenhos estão ligados à vida e
aos aspectos sociais do sistema e da cultura do mundo Shipibo- Conibo e dos Kaxinawa.
Finalmente é feita uma leitura do simbolismo dos Kené bordados e pintados por os
artistas e que foram adquiridos entre os anos 2000 e 2015 em diferentes comunidades
Shipibo-Conibo e Kaxinawa da Amazônia Brasileira e Peruana.

Palavras-chaves: Shipibo-Conibo, Kaxinawa, Cosmovisão, Arte, Interpretação.

INTRODUÇÃO

Na graduação, no curso de Artes Visuais, tivemos uma profunda carência de me


encontrar como artista e a necessidade de encontrar minha própria linguagem plástica.
Após, a formação só visualizava a arte ocidental, porém, para a realização da minha
dissertação do mestrado pude me encontrar como artista, pois obtive ajuda dos dados
fornecido através das artistas e percebi a arte Shipibo-Conibo, e Kaxinawa no qual, as
iconografias e os Kené sempre estavam presentes em minha arte. Dessa forma, na
pesquisa na graduação realizei alguns questionamentos que me fizeram refletir sobre a
arte e os pigmentos naturais que os Shipibo-Conibo e Kaxinahua utilizaram para
decoração dos diferentes produtos culturais que eles produziam.
A produção artística indígena com seus objetos de poder está incorporada à vida.
Agora, a arte indígena na sociedade moderna está segregada, e muitas vezes inutilizada.
A arte indígena está ligada ao uso expressivo da linguagem como um processo de
comunicação que não pode existir sem um receptor. Neste sentido, a arte do povo
Shipibo-Conibo, e Kaxinawa, situada em um sistema indígena, demanda uma
decodificação. Toda obra de arte permite mais de uma leitura, e aqui radica sua riqueza,
seu valor educativo e comunicativo.
Sobre a arte indígena, Franz Boas (apud ERICKSON; MURPHY, 2015) diz que a
cultura de determinada sociedade se assume como algo ensinado e é transmitida de
forma a garantir, dessa maneira, a estrutura social existente desta sociedade. Não
obstante isso é o que observamos na cultura Shipibo-Conibo. Logo, pensar que a arte e
a interpretação dos desenhos Shipibo-Conibo e Kashinawa é imutável é um erro, pois
no mundo atual, os Shipibo-Conibo como os Kaxinawa conseguiu preservar seus
referencias culturais carregados de sentidos e significados através de suas produções
artísticas porque se adaptou ao mundo moderno podendo aperfeiçoar sua técnica em seus
desenhos geométricos plasmado de forma magnifica em seus bordados, cerâmicas e
pinturas. (GEERTZ, 2001, 2008; ERICKSON; MURPHY, 2015).
Neste sentido, observo que a verdadeira originalidade da arte amazônica se encontra
na arte indígena que resiste através do tempo, e é uma forma de arte que, embora admirada,
ainda é vista pelo público elitizado com condescendência, como uma arte primitiva.

JUSTIFICATIVA

Como os Shipibo-Conibo e Kaxinawá interpretam os desenhos kené nas diferentes


superfícies utilizadas, e como estas se relacionam entre sim. Sabe-se que o uso dos desenhos
em ambas culturas apresenta uma lógica visual caracterizada pelo uso de simetrias
complexas, ilusão de movimento e vibração, variabilidade infinita de elementos
geométricos limitados, horror vazio, atração hipnótica, entre outros. Cuja arte, hoje, é
utilizada em produtos têxtil, cerâmica, miçangas, pintura corporal e tecidos pintados.
Os povos indígenas representam a biodiversidade e a riqueza da cultura amazônica; e
seus saberes transcendem as inovações tecnológicas e se perpetuam nos tempos atuais.
Os Kaxinawá pertencem ao grupo linguístico Pano, que habita a floresta tropical no
leste peruano, do pé dos Andes até a fronteira com o Brasil, e o estado do Acre e do Sul do
Amazonas, que contêm respectivamente a área do Alto Juruá e Purus e o vale do Javari.
(Kensinger 1985:224-227)
Os grupos Pano chamados nawa formam um subgrupo desta família por terem línguas
e culturas muito próximas e por terem sido vizinhos por tanto tempo quanto existem fontes
históricas sobre a região. Cada um deles se autodenomina de huni kuin, homens
verdadeiros, ou seja, gente com costumes conhecidos. Uma das características que
distinguem os huni kuin e do resto dos homens é o sistema de transmissão de nomes
próprios, ligado à divisão em metades e à alternância de geração na transmissão de nomes.
Este sistema existe tanto entre os Kaxinawá quanto entre os Sharanawa, os Mastanawa, os
Yaminawa e outros nawa.
Os Shipibo-Conibo ou Shipibo-Konibo são um grupo étnico da Amazônia
peruana, e na Amazônia brasileira, que se distribui ao longo das margens do Ucayali,
Pachitea Aguaytía, Tamaya e do lago Yarinacocha, entre as regiões de Huánuco, Madre
de Dios, Loreto e Ucayali, no Peru. E toda a região de Acre no Brasil. (Valenzuela. 2000,
pp128)

Os Shipibo-Conibo-Shetebo, conhecidos por sua cerâmica, constituem, o grupo mais


numeroso e atípico dos povos Pano das margens do rio Ucayali. Seu sistema social proíbe
casamento entre parentes até a sétima geração ascendente. Apesar das diferenças entre os
grupos atualmente denominados Shipibo-Conibo, seus cinco dialetos são mutuamente
inteligíveis, assim como o seu xamanismo, que se assemelha também ao de outros povos
Pano, a exemplo dos Marubo. Shipibo (ou Shipibo-Conibo, Shipibo-Konibo) é uma
língua Panoana falada no Peru e no Brasil por cerca de 26 mil falantes da etnia Shipibo-
Conibo.

A cultura Shipibo-Conibo e Kaxinawá criarão um estilo de representação abstrata e


simétrica. A arte abstrata é essencialmente ambígua, ou seja, o observador não pode
atribuir um conteúdo exclusivo às representações. A arte Shipibo-Conibo e Kaxinawá que
tem seus inicios na cultura andina pré-inca explora jogos ópticos que enganam nossa
percepção; são configurações visuais nas quais “formas e esquemas puros tendem a se
transformar diante de nossos olhos. Parece quase que o olho conhece sentidos dos quais a
mente nada sabe. A justaposição de formas e cores nos faz cair nas armadilhas mais
inesperadas, conhecidas como "ilusões de ótica.

O domínio e a delicadeza de seus projetos dão conta da importância cultural atribuída


a essa atividade por seus criadores. No entanto, entendemos apenas parcialmente o que
está por trás desse esforço cultural marcado para explorar os caminhos da arte
abstrata e simétrica.
É importante, então, fazer um esforço para abordar esse conceito indígena de estética.
Por outro lado, propomos que a arte Kaxinawá não constitui uma conquista isolada no
contexto indígena sul-americano, mas faz parte de uma tradição cultural maior, de grande
profundidade temporal e da qual ainda existem povos indígenas que praticam e atualizam,
em diferentes regiões da Amazônia continental. Neste sentido proponho um exame
mais aprofundado dos vínculos culturais entre a cultura Kaxinawá Brasileira e a cultura
Shipibo-Conibo da Amazônia peruana, com base na identificação de características
comuns entre as suas iconografias.
Para isso, adotei um ponto de vista estrutural e simbólico que também considera o
contexto cultural dessas manifestações artísticas. Da mesma forma, examinarei
profundamente as iconografias da cultura Shipibo-Conibo, e a possível existência de um
ancestral comum entre essa cultura e a cultura Kaxinawá.

Para a visão de mundo Shipibo-Conibo, os desenhos feitos em um suporte material -


seja couro, cerâmica, tecido ou madeira - revelam os desenhos imateriais observados nas
visões nascidas da ingestão de ayahuasca e têm grande poder de cura.

Esse conceito complexo de arte fornece chaves para o desenvolvimento de


caminhos interpretativos da arte Kaxinawá; Da mesma forma, o entendimento e
sistematização anteriores da arte Kaxinawá, de uma perspectiva estrutural e
cronológica, nos deixa em uma posição melhor para estudar essa tradição da arte visual
em tempos etnográficos.

1. Ligações Entre a Arte Kaxinawá e a Arte Shipibo-Conibo

Os caracteres comuns entre a cultura Kaxinawá e a cultura Shipibo-Conibo. Distingue


aspectos externos que envolvem suas práticas sociais e crenças sobre a arte, típicas de
seu contexto cultural, por uma parte, e as características intrínsecas da arte visual comuns
aos dois povos, de um ponto de vista simbólico e estrutural, por outra.
Na iconografia Kaxinawá, a imagem da cobra é um símbolo que precede a chegada dos
incas ao seu território. E relata o sistema de crenças dessa população em períodos anteriores
à sua integração no Império Inca. Pode ser encontrado em redes e tecidos de uso diários,
destinadas ao uso de alucinógenos.
Acreditamos que é possível estabelecer uma relação entre imagens da cobra celestial e
práticas xamânicas ligadas ao consumo de psicoativos na cultura Kaxinawá.

Por outro lado, na cultura Shipibo-Conibo, a anaconda é o animal guardião essencial, que
está intimamente ligado à geração de sua complexa arte visual. Gehbart-Sayer (1985: 147)
refere-se ao culto da divindade guardiã Ronin (Grande boa), observando: “Este ser é o
doador mítico dos desenhos, esta cobra concentra todos os desenhos possíveis em sua pele.
Ronin rau também é a designação simbólica da terapia xamânica, na qual o xamã cura seu
paciente através da pele. Aplicação de desenhos visionários”. Ronin também é expresso em
um desenho abstrato.
"A terapia estética" (Gebhart-Sayer, 1982) dos Shipibo-Conibo mostra bem este
entrelaçamento da arte gráfica e musical com a cura xamânica. Num ritual de cura o xamã
vê o desenho invisível no corpo do paciente, tornado visível através da ayahuasca (bebida
alucinógena). Se a pessoa estiver mal, o desenho será opaco e apagado, o xamã restaura o
desenho através de seu canto: o beija-flor espiritual, seu espírito auxiliar, transforma sua
canção em desenho e a pessoa fica curada, com suas forças vitais renovadas. Entre os
Shipibo-Conibo, como entre muitos outros povos amazônicos (entre os quais os
Kaxinawá), o dono do desenho é a anaconda (sucuri) mística, que é ao mesmo tempo
o primeiro xamã entre os xamãs. Estes contextos culturais enfatizam a ligação da estética
do grupo com a cosmovisão.

Illius, por outro lado, fornece um fato interessante em relação à importância simbólica
da onça- pintada entre os Shipibo-Conibo: quando um xamã atinge o nível mais alto de
maestria, ele é chamado meraya, ou seja, “aquele que se torna uma onça-pintada” (Illius
1991-1992: 197).

O Inca também é uma figura mítica na mitologia Kaxinawá e na mitologia Shipibo-


Conibo. O nome Inka aparece com referência a dois fenômenos; refere-se, de um lado, a
um povo histórico com o qual os Kaxinawá parecem ter mantido contato em tempos muito
remotos, quando ainda moravam ao pé dos Andes: o centro do mundo onde nascem os
rios; de outro lado refere-se ao Rei-Deus, o Inka kuin, o verdadeiro Inká (pronúncia
Kaxinawá) que é huni kuin e vem buscar as almas dos mortos no caminho para o céu, para
viver com ele na sua aldeia celestial. Para os Shipibo-Conibo o Inca foi o que mandou os
desenhos na vestimenta de uma moça inca.

Por um lado, são comunidades sedentárias e agrícolas, ambas as aldeias são


caracterizadas por serem grandes ceramistas que lidam com uma iconografia elaborada
de natureza abstrata e simétrica. Em no caso da decoração em cerâmica, isso é feito
entre Kaxinawá e entre Shipibo-Conibo através de tinta policromada branca, preta e
vermelha. Coincidentemente, ambos excluem deliberadamente a decoração do setor de
base.

É interessante refletir um pouco sobre a última característica comum aos dois


estilos de decoração em cerâmica. Na cultura Shipibo-Conibo, isso ocorre porque os vasos
de cerâmica são organizados como um microcosmo (Illius 1991-1992: 28,30).
Illius baseia essa afirmação no testemunho do xamã Shipibo-Conibo Barin Ramá e
esclarece a correlação entre os padrões decorativos do vaso para conter a chicha (Chomo)
e a cosmologia xamânica Shipibo-Conibo. Da mesma forma, distingue no navio três zonas
claramente diferenciadas (Illius 1991-1992: 28-30). O primeiro, localizado no setor
superior do navio, corresponde ao mundo superior ou nete shama.

É a região mais alta do cosmos, decorada com os melhores desenhos, birish


mayá quene (desenhos finos e curvilíneos), complexamente entrelaçados entre si e
com muito bero multicolorido. O mundo superior do Nai é sustentado e limitado por uma
canoa imponente, uma palavra que significa tanto um certo tipo de desenho quanto
também "treliça" ou "andaime". Chegar a essa área do cosmos é o objetivo da jornada do
xamã. Na parte do meio da embarcação está o mundo intermediário mai (terra), a
"realidade diária", que possui desenhos de qualidade comum. Finalmente, o mundo
subterrâneo (jene), de natureza aquática, carece de desenhos (quené-oma) é distinguido
na parte inferior das cerâmicas.

Outros elementos culturais detectados em ambas as culturas são a simetria bilateral em


seus desenhos cerâmicos, uso de espirais escalonadas inseridas em retângulos, entre
outras.

2 Características intrínsecas da arte visual compartilhadas pela


cultura Kaxinawá e pela cultura Shipibo-Conibo

Os paralelos mais interessantes entre a arte visual Shipibo-Conibo e Kaxinawá são


observados quando se considera as características intrínsecas de sua arte visual, as
quais analisamos brevemente abaixo.

Simetria Complexa

Tanto a arte Shipibo-Conibo quanto a arte visual da cultura Kaxinawá são


caracterizadas por ter uma simetria complexa, que usa dois ou mais princípios juntos;
por exemplo, rotação e reflexão. Nos dois universos representacionais, há um tratamento
experiente dos princípios de simetria (tradução, reflexão espelhada, reflexão deslocada e
rotação).
Horror Vacui
Ambos universos representacionais são caracterizados pelo esforço do artesão de
preencher completamente todo o espaço disponível no campo do desenhos. Com
unidades abstratas mínimas e uma ordem simétrica pré-estabelecida, a unidade mínima é
repetida até que toda a superfície a ser decorada esteja completa.

Visão em Positive Negativo


Na arte Shipibo-Conibo e na arte Kaxinawá, encontramos numerosos desenhos que
permitem leitura dupla entre figura e fundo, a ponto de ser possível alternar a interpretação
do desenho entre um e outro. Na arte islâmica, encontramos grandes exemplos dessa
técnica: o artesão procura criar jogos ópticos que desafiam os limites de nossa percepção
visual.

Repetição Periódica

Consiste na elaboração de unidades mínimas e estruturas simétricas repetidas


periodicamente. Nestas séries de agrupamentos, há sempre uma sequência que é repetida.
Há uma periodicidade a partir de um ponto de referência.
Uma sequência medida é observada em série, como moldagem, uma espécie de
ladainha ou ritmo visual. Esses projetos têm certas unidades congruentes que são
combinadas em uma sequência recorrente e são governadas por certos princípios
simétricos.

Continuação sem fim


Refere-se à capacidade desses projetos de se estenderem além de seu campo, em virtude
da repetição rítmica de movimentos simétricos. Ele o artesão secciona à força e delimita
o desenho em um espaço definido do vaso decorado; no entanto, essas litanias visuais têm
a capacidade de se auto-gerar e se estender indefinidamente fora do campo decorado. Essa
propriedade foi definida por Heath (2002: 48) para a arte visual Shipibo-Conibo;
no entanto, é claramente também e aplicável à arte Kaxinawá. Refere-se à busca
incessante de variabilidade a partir de elementos delimitados, utilizando como mecanismo
de variabilidade a criação de pequenas alterações nas unidades mínimas, no padrão
cromático e na estrutura simétrica.
Os padrões decorativos e suas variantes e subvariantes são iguais em um aspecto e
diferentes em outro. Não há limite para o desenvolvimento exponencial da
variabilidade. Gombrich (1999) aponta, nesse sentido, que todo desenho simétrico é
sempre suscetível a variações subsequentes, criando novos elos entre seus elementos
constituintes. Estes são dispositivos para a exploração sistemática de possibilidades
visuais e funcionam como instrumentos para a expansão de invenções por meio de
permutações e combinações.

Complicação Gradua
Trata-se da geração gradual de uma rica rede de complicações progressivas. Segundo
Gombrich (1999: 80), é típico de toda periodicidade geométrica que pode ser usado
para gerar novas periodicidades, em um processo que define como "complicação gradual"
e que está presente na ornamentação das artes visuais e da música. Há uma grade que
enquadra e é preenchida por um conjunto de razões; Ambos constituiriam o ornamento.

A coerência dessa estrutura é dada pela ligação. O enquadramento ou grade define o


campo e o preenchimento organiza o espaço resultante. Na arte Kaxinawá podemos
observar esse processo de complicação gradual nas etapas sucessivas que são observadas
na construção de um desenho.
Primeiro, uma certa unidade mínima é escolhida; então, essa unidade é organizada
em uma determinada grade e elas são ligadas entre si pela ação de um ou mais princípios
simétricos.

A unidade mínima primeiro gira e se alinha obliquamente e depois é refletida


verticalmente, como um todo, formando um desenho triangular. Esse desenho se
move verticalmente e é refletido verticalmente até a banda ser concluída, formando uma
linha em ziguezague.

Na arte Shipibo-Conibo, a lógica visual usada na gênese dos projetos é muito


semelhante. Por exemplo, De Boer (1990: 90) explica que a cruz básica é projetada
primeiro. Esse elemento é então sujeito a um número crescente de operações complexas
que consideram concatenação, repetição e complexidade - primeiro em uma e depois em
duas dimensões - e, finalmente, passa por várias operações de partição e alterações na
orientação. "O significado desse padrão sequencial sugere que um poderoso programa de
maturação do tipo diagnosticado por Piaget (1970) está em operação" (1990: 90).
De Boer refere-se à ontogênese da arte Shipibo-Conibo, indicando que uma derivação
de motivos comuns é vista através da divisão, ao longo de um eixo de simetria, seguido
de novas reflexões. Ele afirma que "ambas as operações são baseadas em simetria bilateral,
chamada pelos Shipibo-Conibo como beibana quene, ou literalmente, desenhos 'face a
face'".(De Boer 1990: 88).
Como exemplo, examinaremos brevemente como o princípio da complicação gradual
opera em um belo tecido têxtil Shipibo-Conibo da artesã Nilsa Tamayo (comunidade de
Yarina Cocha). Este tecido é governado por uma dupla reflexão especular, ou seja, é um
desenho quadripartido.
A unidade mínima consiste em linhas curvas e pequenas figuras retilíneas,
representadas na Figura 1e 2. Este projeto passa por uma reflexão horizontal, dando
origem à figura 1y 2. A composição assim formada é refletida verticalmente,
resultando na Figura 1 y 2, que cobre metade do campo de desenho retangular.
Finalmente, esse design é refletido horizontalmente, como um todo. É assim que o design
ilustrado na figura 1 y 2 é composto e a decoração do campo de design é concluída. Dois
eixos perpendiculares de simetria (cruz) governam toda a composição.

Figura 1 Composição gradual Shipibo-Conibo Figura 2 Composição gradual


Kaxinawá de autoria Nilsa Tamayo.

Atração quase hipnótica


Essa propriedade refere-se à capacidade desses desenhos de favorecer uma
concentração profunda ou um estado alterado de consciência através da observação
prolongada de suas imagens, que geram uma série de efeitos ópticos que enganam nossa
percepção visual (fig. 3 y 4).
Ilusão de ótica de movimento e vibração

Semelhante ao estilo moderno da arte óptica, em muitos desenhos Kaxinawá de


origem e Shipibo-Conibo, o efeito óptico do movimento e / ou vibração pode ser visto
em desenhos planos, estáticos e bidimensionais.

O olho é enganado, de modo que o cérebro interpreta que há movimento ou vibração


quando realmente não existe. Este efeito é alcançado através do uso repetitivo de formas
geométricas simples, articuladas por movimentos simétricos complexos e um
acentuado contraste cromático.

Atração quase hipnótica Shipibo-Conibo Atração quase hipnótica Kashinahua

3. Objeto Geral

Geral: Contextualizar os significados dos desenhos Kené na arte dos Shipibo-Conibo e


dos Kaxinawá.

Objetivos Específicos

a) Compreender a importância e funções da arte nas comunidades Shipibo-Conibo e


Kaxinawá.
b) Analisar o sentido e significado dos desenhos kené identificados pelas mulheres
Shipibo- Conibo e Kaxinawá.
c) Relacionar os desenhos Kené nas narrativas indígenas Shipibo-Conibo e
Kaxinawá.
d) Descrever a circulação dos desenhos na comunidade indígena Kaxinawá da região do
rio Purus no município de Manoel Urbano no Acre e da comunidade indígena Shipibo-
Conibo em Yarinacocha Pucallpa – Peru.
4. Plano de trabalho e cronograma de sua execução

A pesquisa será desenvolvida ao longo de quatro anos (2021-2025); A dissertação


sobre a interpretacão dos desenhos kene Shipibo-Conibo e a relação com a cultura Kaxinawa
será desenvolvida durante a minha inserção no mundo indigena dos Shipibo-Conibo e
Kaxinahua, Os Sipibo-Conibo que habita a floresta tropical no leste peruano, (Cidade
de Pucallpa) do pé dos Andes até a fronteira com o Brasil, e os Kaxinawa que habita o estado
do Acre e do Sul do Amazonas, que contêm respectivamente a área do Alto Juruá e Purus e
o vale do Javari. Onde tere o apio de amigos artistas shipibos-Conibo e Kaxinahua.
No primeiro ano, o plano é cumprir com as disciplinas da pós graduação (doutorado),
fazendo também a revisão bibliográfica em referência ao tema de pesquisa, participando
de demais eventos académicos.
No segundo e tercer ano, será realizado o trabalho de campo será realizado o trabalho de
campo com a inserção no mundo indigena Shipibo-Conibo no Peru e Kaxinahua Brasil.
mediante conversas, realizações de oficinas de arte com os respectivos artistas das diferentes
conunidades indigenas.
No quarto ano me proponho continuar com a dissertação do trabalho etnográfico
reajustando e enriquecendo conteúdo, comparação artístico entre a cultura Shipibo-Conibo
e a cultura Kaxinawa, revisão final da dissertaçaõ e finalmente defenfê-la.

1 ano 2 ano 3 ano 4 ano


No.
da Atividades 1 2 3 4
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
Meta
Cumprir com as disciplinas da
1 X X X X
pós graduaçã doutorado.
Revisão bibliográfica em
2 X X X X
referência ao tema de pesquisa.
Participando dos eventos
3 X X X X
académicos.
Realização do trabalho de
4 X X X X X X X
campo
Sistematizando os dados e
5 X X X
analisá-los.
6 Qualificação da dissertação X
Continuar com a dissertação do
trabalho etnográfico X X
reajustando e enriquecendo
7
conteúdo; comparação artístico
entre a cultura Shipibo-Conibo
e a cultura Kaxinawa.
X X
8 Revisão final da dissertação.
9 Defenda da dissertação. X
Alguns Recursos
1. Levantamento bibliográfico sobre a arte Shipibo- Conibo e Kaxinawa.
2. Trabalho de campo sobre a importância do conhecimento dos desenhos kené dos shipibos.
3. Observação direta
4. Registros dos desenhos a traves das oficinas na comunidade Shipibo-Conibo e Kaxinawa.
5. Sistematização das informações para elaboração da dissertação.
6. Mapeamento da comunidade indigena do Município Manoel Urbano alto rio Purus no
acre e em Pucallpa-Yarinacocha Perú.
7. Identificação das sábias (que fazem leituras dos desenhos kené dos desenhos Shipibo-
Conibo e Kaxinawá)
8. Entrevista gravada em vídeos das narrativas
9. Elaboração de desenho a partir das narrativas identificando reconhecendo o uso,
importância e funções tradicionais.
10. Sistematização dos dados em geral.

5. Material e Métodos

A metodologia usada e interpretativa compativa, nesse trabalho se concentrou na


observação participante em conjunto com outros métodos de coleta de dados, como
entrevistas, consulta a arquivos e documentos históricos. Por tanto este projeto se justifica
na medida em que ele se propõe alcançar seus objetivos, esse projeto de pesquisa lançará
mão, primeiramente, da sistematização da bibliografia, uma pesquisa inicial será
realizada para levantar e conhecer o que existe na literatura publicada e na tradição oral
sobre o Kené Shipibo-Conibo e Kaxinawá. Em seguida, numa segunda fase, serão
realizados trabalhos de campo para saber mais sobre o significado do Kené de
ambas comunidades indígenas e suas múltiplas relações com música, com a saúde, com
a visão de mundo e sua estrutura (mundos sobrepostos) em diferentes tipos de objetos
culturais e a relação mítica com os desenhos do ronin, a serpente primordial. Levar-
se-á em conta os diferentes tipos de tramas (finas e grossas), as funções (concepção /
preenchimento), as relações dos desenhos com determinados motivos, como a Chacana,
por exemplo, e a estrutura ou a distribuição de diferentes tipos de desenho de bens
culturais, e outros traços que estão ligados, para o Kené de ambas etinias, com a visão de
mundo desses povos.
6. Forma de análise dos resultados
O precedimento de analisis de dados será consistidos na revisão detalhada da informação
onde se clasificou de acordo com os objetivos da pesquisa, mediante a realização de
oficinas de artes a serem desarolhados en as duas comunidades, utilizarei caderno de
campo, entrevistas gravadas e filmadas, comversas com os artistas Shipivo-Conibo e
Kashinawa.
7. REFERÊNCIAS

De Boer, W.,1984.The Last PotteryShow: Sistem and sense in ceramic studies.


Em The many dimensions of pottery: Ceramics in archaeology and anthropology, S.E. van
der Leeuw & A. C.Pritchard, Eds., pp. 529-571.Amsterdam: Universiteit van Amsterdam.

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Ucayali experience. Em The uses of style in Archaeology, M. Conkey & C.Hastorf, Eds.
pp. 82-104. Cambridge:Cambridge University Press.

Gehbart-Sayer, A., 1985. The geometric designs of the shipibo-conibo in ritual context.
Journal of Latin American Lore 11 (2):143-175.California:ucla Latin American
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entre los shipibo-conibo. América Indígena XLVI (1): 189-218.

Heath, C., 2002. Una ventana hacia el Infinito. El simbolismo delos diseños Shipibo-
onibo. Em Una ventana hacia el infinito. Arte shipibo-conibo, P. Alayza & F. Torres,
Eds.,p.45-50.Lima:Instituto Cultural Peruano Norteamericano.

Gombrich,E.H.,1999. El sentido del orden. Estudio sobre la psicología de las artes


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AmazoníaPeruana 24 (12):185-212.

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Lima: Universidad Nacional Mayor den San Marcos.

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Folkloristic and Ethnographic Research: Retrospect and Prospect. -South American Indian
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