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POR DENTRO DO SISTEMA EDUCACIONAL FINLANDÊS: sultados das atividades desenvolvi-


das na capacitação na Finlândia e de
dês, Pasi Sahlberg, aponta que não
há uma única razão para o sucesso ou
ELEMENTOS PARA SE REPENSAR O ENSINO MÉDIO atividades de pesquisa aplicada nos insucesso de um sistema educacio-
INTEGRADO NO BRASIL Instituto Federais de Alagoas (cam- nal; pelo contrário, trata-se de uma
pus Marechal Deodoro), do Norte de rede interligada de diversos fatores
Minas Gerais (campus Januária), de – educacionais, políticos e culturais,
Iza Manuella Aires Cotrim-Guimarães1, Jamyle Rebouças Ouverney-King 2
Mato Grosso (campus Várzea Gran- que funcionam de forma diferente
1
Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - campus Januária
de), da Paraíba (campus Cabedelo e em diferentes situações. E o autor vai
2
Instituto Federal da Paraíba - campus Cabedelo
campus Cabedelo Centro) e de São além, relata que o sistema educacio-
E-mail: iza.cotrim@ifnmg.edu.br ou jamylle@ifpb.edu.br
Paulo (campus Sertãozinho) . nal finlandês importou muitas ideias,
Segundo, não se trata simples- inspirações e inovações pedagógicas
1. INTRODUÇÃO possam contribuir para a concretiza-
mente de utilizar o modelo finlandês de outros países, mas o compromis-
ção e implementação de um currícu-
como uma réplica para o sistema so com o “Sonho Finlandês” (Finnish
A Finlândia tem se destacado pe- lo integrado em escolas do Brasil.
educacional brasileiro. Até porque, Dream) – uma excelente escola pú-
los seus excelentes indicadores so-
Inicialmente, é importante infor- aspectos culturais, sociais, políticos e blica para toda criança – levou o país
ciais, que incluem posições notáveis
mar que as autoras desse trabalho econômicos podem ser determinan- a construir o seu próprio sistema
em rankings de maior estabilidade
foram selecionadas para a 3ª edição tes para os modelos educacionais educacional, conhecido como Fin-
econômica, maior inovação, me-
do Programa “Professores para o de cada país, ou como afirma Ramos nish Way (SAHLBERG, 2015).
nor corrupção, dentre outros, e um
Futuro” – Vocational Education and (2008, p.12): “cada realidade social, Segundo Sahlberg (2015), o Fin-
dos melhores resultados no mundo
Trainning (VET III), uma cooperação cada povo, tem a sua história e a sua nish Way preserva o que há de me-
quanto ao desempenho educacional
entre a Rede Federal de Educação necessidade. Portanto, o que vem lhor na tradição finlandesa (como
e menor desigualdade entre esco-
Profissional, Científica e Tecnológi- como reforma em nome da tendên- confiança – inclusive na política e nos
las (ITAMARATY, 2016). Este trabalho
ca (RFEPCT) e duas Universidades cia mundial requer muito cuidado”. serviços públicos, incremento da au-
tem como objetivo apresentar al-
Finlandesas (Tampere University of Nesse sentido, entendemos que o tonomia, tolerância à diversidade), e
guns aspectos do sistema educacio-
Applied Sciences – TAMK, e Häme Uni- modelo educacional finlandês serve combina essas boas práticas com as
nal finlandês, especialmente quanto
versity of Applied Sciences – HAMK), como elemento motivador para aná- inovações pedagógicas oriundas de
à organização pedagógica e curricu-
quando participaram de capacitação lises de necessidades que se expan- outras experiências internacionais.
lar do Ensino Médio (General Upper
in loco na cidade de Tampere – Fin- dem desde o nível nacional ao local Da mesma forma, o autor corrobora
Secondary School) e da Educação
lândia, no período de abril a junho e, para tanto, podem trazer aplica- com a afirmação de Ramos (2008),
Profissional Técnica de nível médio
de 2016. Além da literatura acadê- ções práticas para a realidade brasi- quando também orienta que ainda
(Vocational Upper Secondary School),
mica, esse trabalho considera os re- leira. que haja limites quanto à transferên-
de forma a identificar elementos que
Nesse ponto, é importante regis- cia do modelo finlandês para outros
1 Por meio da Chamada pública CNPq/SETEC/MEC nº 026/2015. trar que uma das maiores referências países, algumas lições básicas po-
2 Campi de origem das participantes do VET III, cujo trabalho final consistiu no relatório téc-
nico Rethinking the curriculum: calling teachers to discuss and propose new perspectives sobre o sistema educacional finlan- dem ser aplicadas a outros sistemas
for the curricular design.
educacionais: como o fortalecimen-

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to da profissão docente, a aprendi- 2.1. Foco no mercado de trabalho um projeto formativo para o Ensino A Finlândia sofreu mudanças
zagem assegurada por um ambiente X foco nos sujeitos Médio e Profissional no Brasil em di- importantes logo após a segunda
sem medo e descontraído e, assim, reção aos interesses do mercado, e Guerra Mundial, que impactaram na
um aumento gradual da confiança O Ensino Médio brasileiro possui não do interesse discente. Cenário sua estrutura política, social e eco-
nesses novos sistemas. uma vinculação histórica com o mer- este que se fortalece, atualmente, nômica. O país sofreu perdas consi-
Assim, entendemos que o conhe- cado de trabalho, seja pela possibili- pela “Reforma do Ensino Médio” (Lei deráveis durante sua participação
cimento do sistema educacional fin- dade de se conseguir um emprego 13.415/2017). na guerra e, por isso, o período pós-
landês nos permitirá analisar fatores logo após concluída essa etapa de Quanto à Finlândia, numa direção guerra foi marcado por instabilidade
e elementos que contribuem para ensino, ou pela finalidade de ingres- contrária, verifica-se que o país bus- política e transformação econômica.
torná-lo diferenciado, e ainda que so no Ensino Superior (com enfoque cou uma outra via para implementar Por outro lado, tal cenário fez emer-
vinculados à cultura, organização so- na preparação para vestibulares e sua reforma educacional, diferente girem novas ideias e políticas sociais,
cial e política da Finlândia, tal análise outros processos seletivos), em que de uma reforma ideologicamente dentre elas a defesa de uma educa-
pode contribuir para uma reflexão e a formação nesse nível está atrelada baseada no mercado, segundo Sahl- ção igualitária. Ou seja, desde então,
proposições quanto ao sistema edu- à inserção no mercado de trabalho berg (2015). O autor complementa a educação tornou-se o principal ve-
cacional Brasileiro, no caso deste tra- (RAMOS, 2008). Seja qual for a pos- que, ao contrário, a melhor maneira ículo de transformação social e eco-
balho, mais especificamente para o sibilidade, o que Ramos (2008, p. 5) para se resolverem problemas crôni- nômica no país (SAHLBERG, 2015).
Ensino Médio Integrado. Quem sabe chama atenção é que o projeto for- cos em muitos sistemas educacionais Na década de 70, pautada pelos va-
assim estamos caminhando para mativo no Ensino Médio nunca “este- não consiste em se livrar dos conse- lores de equidade e justiça social, a
a definição de um “jeito brasileiro” ve centrado no desenvolvimento do lhos escolares e recorrer a processos Finlândia implementou seu novo
(Brazilian Way), não no sentido pe- estudante como sujeito de necessi- como privatização. E ainda, o sistema Comprehensive School (equivalen-
jorativo em que tal expressão comu- dades, de desejos e de potencialida- educacional finlandês tem seu enfo- te ao nosso Ensino Fundamental), e
mente é usada, mas no sentido de des”. que na equidade e cooperação e não posteriormente o novo Upper Secon-
caminharmos em direção ao projeto na competição. dary School (equivalente ao nosso
Para além de uma ordem meto-
formativo de educação integrada de- nível médio) em meados da década
dológica ou técnica, Oliveira (2003) Então a primeira característica
fendido por grandes estudiosos no de 80. Um outro elemento importan-
reforça que os problemas da educa- que nos chama atenção no sistema
Brasil (a exemplo de Frigotto, Ciavat- te no cenário finlandês é a mudança
ção também sofrem interferências educacional finlandês refere-se à
ta e Ramos (2005), Pacheco (2012), identitária na metodologia de ensino
de elementos da estrutura socioe- universalização da educação pública,
Moura (2016), dentre outros autores que promoveu o deslocamento ide-
conômica brasileira. Acrescentamos gratuita e de qualidade para os cida-
e trabalhos). ológico no ensino que centrava-se
que não apenas os problemas, mas dãos finlandeses. Visando contextua- no professor para partir do aluno, o
as diretrizes, regulamentações e ou- lizar essa conquista, apresentamos a renomado student-centred approach.
2. ASPECTOS DO SISTEMA EDUCA- tras formas de intervenção, que no seguir um histórico breve da Finlân-
contexto do neoliberalismo – con- Verifica-se, portanto, que a Fin-
CIONAL FINLANDÊS: O QUE PODE- dia no pós-guerra, que apresenta o
MOS APRENDER?
juntura das definições das políticas cenário em que o Finnish Dream foi lândia não construiu um novo sis-
brasileiras, especialmente na déca- concebido. tema de ensino “de uma hora pra
da de 90 – reforçaram o enfoque de outra”. Sahlberg (2015) defende que

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reformas educacionais consistem Voltando à realidade brasileira, um lugar de destaque, pois “é aquele a formação profissional se opõe ao
num lento e complexo processo. Mas por toda essa diferença que trans- possível e necessário em uma reali- direcionamento restrito aos interes-
também há de se concordar que a re- cende a organização pedagógica e dade conjunturalmente desfavorável ses do mercado. Quanto à terceira
alidade cultural, política, histórica e curricular de um sistema educacio- (...), mas que potencialize mudanças dimensão, trata-se da organização
social do país contribuiu para a cons- nal, consideramos que a superação para, superando-se essa conjuntura, de um currículo interdisciplinar, que
trução de um projeto educacional desse enfoque nos interesses do constituir-se em uma educação que possibilite aos estudantes apreende-
diferenciado, e que provavelmente mercado, que imprime profundas contenha elementos de uma socie- rem o conhecimento na sua totali-
nosso contexto político seja nosso marcas na educação brasileira, espe- dade justa” (FRIGOTTO; CIAVATTA; dade e na sua relação com o mundo
principal enfrentamento, dentre ou- cialmente de nível médio, consiste RAMOS, 2005, p. 44). real, o que pode ser, por exemplo,
tras dimensões. no maior desafio a ser enfrentado. pela integração entre conteúdos e
A própria Finlândia também não O que aprendemos com a Finlândia, 2.2. Construindo “trilhas forma- disciplinas. Assim, como afirma Ra-
então? Aprendemos que reformas mos “o currículo integrado organi-
está isenta da influência do “recei- tivas”: uma possibilidade para o
tuário neoliberal” (como denomi- importantes podem nascer em mo- za o conhecimento e desenvolve o
mentos de crise; aprendemos que a currículo integrado processo de ensino-aprendizagem
na Oliveira, 2003). Moraes (2017,
p.418), fazendo referência a Nyyssö- educação, de fato, é uma importante A noção de currículo integrado, de forma que os conceitos sejam
nen (2008), aponta que apesar dos via para a transformação social; que segundo Ramos (2008), pode reme- apreendidos como sistema de rela-
avanços verificados na Finlândia, “a reformas dessa magnitude podem ter a três dimensões específicas, mas ções de uma totalidade concreta que
globalização acelerada e o aumen- levar tempo para serem concreti- complementares entre si. A primei- se pretende explicar/compreender”
to da competição econômica e da zadas; e que “todos os fatores que ra delas se refere à forma de oferta (RAMOS, 2005, p.116).
mudança tecnológica têm levado à estão por trás do sucesso finlandês de Educação Profissional Técnica de Voltando agora à realidade da
introdução de políticas neoliberais parecem ser o oposto do que toma Médio, sendo os cursos Técnicos In- Finlândia, um currículo integrado,
no país, ‘embora sob a retórica de lugar nos Estados Unidos e outros lu- tegrados ao Ensino Médio por meio nessa perspectiva, une três conceitos
manter e salvar o welfare state’”. A gares do mundo, onde competição, de matrícula e projeto pedagógico basilares na concepção finlandesa de
diferença é que, ainda que a compe- responsabilização depositada em únicos, o que não garante, necessa- educação: o saber (aqui fazendo re-
tição seja uma defesa por parte de testes, padronização e privatização riamente, que a segunda e a tercei- ferência ao conhecimento teórico); o
setores da elite econômica e alguns parecem dominar” (SAHLBERG, 2015, ra dimensão da integração sejam de fazer (o conhecimento prático e sua
funcionários do governo, pesquisas p.14). fato vislumbradas pela organização aplicabilidade); e o ser (concentran-
de opinião pública indicam que mais Por tudo isso, entendemos que pedagógica e curricular do curso. do-se essencialmente na perspecti-
de 80% dos finlandeses são contrá- a escola é um espaço de importante Isso porque a segunda dimensão se va que coloca o aluno no centro da
rios a essa posição, e o principal, sua contribuição para a transformação refere ao projeto de sociedade que aprendizagem e promove a união
aplicação depende da “legitimação social, numa relação dialética, já que buscamos construir por meio de entre teoria e prática).
a longo prazo e socialização concor- também está a serviço das classes um processo educativo que integre Apresentamos a seguir algumas
dante” (ANTIKAINEN, 2008, apud MO- dominantes e do capital (ASBAHR; ciência, trabalho e cultura nos pla- características do Ensino de nível
RAES, 2008, p. 419). SANCHES, 2006). Nesse enfrenta- nos de formação geral e profissional Médio no país que serve de inspira-
mento, o ensino integrado ocupa (RAMOS, 2005). Nessa perspectiva, ção para esta proposta.

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Ao concluir o equivalente ao nos- sino, conferindo excelente qualidade especialização precoce em determi- odo escolar de 6 a 7 semanas, depen-
so Ensino Fundamental, também aos cursos de Educação Profissional nadas áreas do conhecimento. Pelo dendo da escola). Então teremos His-
com duração de 09 (nove) anos, o (MORAES, 2017), dentre outros fa- contrário, o sistema educacional fin- tória I, História II, História III e História
estudante finlandês tem três opções: tores, como os apontados por Sahl- landês é regulamentado por diretri- IV. Esses módulos, obrigatórios para
cursar um 10º ano opcional, a fim de berg (2015): a Educação Profissional zes e outras normativas construídas os estudantes, devem ser cursados
reforçar alguns conteúdos ou mes- no país tem um currículo de orienta- coletivamente e por ampla represen- durante os três anos de curso, nos
mo definir melhor suas escolhas a ção geral (a formação propedêutica tação, que têm como foco a garantia períodos identificados em cada um
partir de então, sendo um momen- é integrada à formação profissional) da equidade e qualidade do ensino. deles, ou seja, cada estudante orga-
to em que muitas escolas oferecem e também pelas muitas oportunida- Assim, tanto o Ensino Médio regular niza sua “trilha formativa” (BARBOSA
ainda a oportunidade de 'testar' suas des para se continuar os estudos em quanto o Profissional possuem dire- et al, 2016) personalizada, seja no En-
habilidades ocupacionais, por meio nível Superior após a formação de ní- trizes pré-estabelecidas, que garan- sino Médio regular ou Profissional. E
da experiência de trabalho em três vel Médio. tem a todos estudantes o acesso ao mais, caso determinado aluno tenha
locais à escolha do estudante duran- Aos estudantes adultos, que in- conhecimento geral e profissional, se interesse em se especializar em His-
te o período letivo do 10º ano. A cada gressaram no mercado de trabalho for o caso; ao mesmo tempo em que tória, pode cumprir módulos extras
três meses, o estudante seleciona sem ter concluído seus estudos de respeita a autonomia das escolas e de especialização nessa área dentro
um local para 'trabalhar' e se integrar nível Médio, é possível ingressar na os professores na organização dos do percentual da carga horária des-
ao mundo do trabalho, essa oportu- Educação Profissional e nesse pro- seus espaços pedagógicos. tinado a esse fim e em acordo com a
nidade é chamada de Joppo Class; ou cesso se submeter à avaliação das O currículo é organizado em mó- sua disponibilidade de horário livre.
optar entre o Ensino Médio Regular competências desenvolvidas, con- dulos de curta duração (em torno de Em relação ao currículo da Voca-
ou ao equivalente ao nosso Ensino forme diretrizes e indicadores para 6 ou 7 semanas, sendo 5 períodos por tional Upper Secondary School, o es-
Médio integrado à Educação Profis- essa avaliação. Cursos de Educação ano), mas com carga horária semanal tudante deve cumprir unidades refe-
sional (Vocational Upper Secondary Profissional específicos para o pú- concentrada (de 6 aulas semanais rentes à formação profissional, outras
School), ambos com possibilidades blico adulto que deseja se qualificar para cada módulo, por exemplo), o referentes à formação propedêutica,
de ingresso no Ensino Superior, seja também são ofertados no país. que faz com que os estudantes te- unidades optativas complementa-
qual for a modalidade do curso. nham que gerenciar, a cada período res e eletivas (em outras instituições,
Especificamente sobre os cursos
Antes mesmo de detalhar cada regulares e profissionais de nível do ano letivo, em torno de cinco a por exemplo). Além disso, um des-
uma dessas opções, adiantamos Médio, uma característica marcan- sete módulos, conferindo maior de- taque nessa modalidade de ensino
que o percentual de estudante que te refere-se à autonomia conferida dicação e qualidade dos estudos de se refere à articulação com o setor
ingressa no Vocational Upper Se- aos alunos no planejamento do seu cada aluno e de sua relação com os produtivo, já que os estudantes po-
condary School foi considerável em percurso formativo. Ressaltamos que professores. dem cumprir parte do seu currículo
2012, com 41,5% das matrículas no tal característica, diferentemente Vamos ilustrar com um exemplo: diretamente nas empresas e/ou ser-
Vocational e 50% no Ensino Médio das previsões da Reforma do Ensino a disciplina de História pode ser divi- viços e ainda têm que cumprir pelo
regular (SAHLBERG, 2015). Isso se Médio no Brasil, não se refere à su- dida em 04 módulos (cada um com menos 06 meses de estágio, dentre
deve ao alto investimento de recur- pressão de conteúdos/disciplinas e início e duração dentro daquele perí- outras atividades que fortalecem o
sos público nessa modalidade de en- vínculo entre a formação acadêmica,

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o processo produtivo e o mundo do Essas questões nos fazem pensar havendo conexões interdisciplinares formados em 05 Institutos Federais
trabalho. sobre o Ensino Médio Integrado no de aplicação prática entre elas. (IFAL, IFNMG, IFMT, IFPB e IFSP), indi-
Então, o que podemos aprender Brasil. Primeiramente, em um pro- cam as possibilidades que veremos
Imaginemos quantos estudantes
com a Finlândia? O modelo finlandês blema enfrentado por muitas ins- adiante.
são reprovados em uma, duas, três,
apresenta importantes premissas tituições de ensino, que se refere à Organização do currículo em pe-
talvez até mais disciplinas, mas aca-
que vão ao encontro do projeto de considerável carga horária e quanti- ríodos de curta duração, ao invés de
bam repetindo toda a série escolar
formação inerente ao currículo in- dade de disciplinas semanais que os períodos anuais (por exemplo: 10 ou
porque a “grade” de disciplinas e ho-
tegrado. Duas delas merecem espe- alunos precisam gerenciar: imagine- 20 semanas). Os conteúdos seriam
rários é fechada e não permite que
cial atenção nessa discussão: menos mos a quantidade de trabalhos, exer- organizados em unidades curricula-
os estudantes adequem possíveis
classes centradas no ensino e no pro- cícios, provas, aulas diárias, que, mui- res e não em disciplinas, de acordo
dependências. E até mesmo a inser-
fessor e maior foco nas habilidades tas vezes, impossibilitam aos alunos com temas ou eixos geradores, que
ção de disciplinas de 'dependência'
sociais, empatia e liderança (SAHL- participar de outras atividades cul- podem ser desenvolvidos por mais
somente pode ser realizada em ano
BERG, 2015). O autor explica que na turais, sociais e acadêmicas, na pró- de um professor, se for o caso, pos-
posterior à reprovação do aluno, fato
Finlândia o ensino caminha em dire- pria instituição de ensino ou não. É sibilitando o ensino em equipe inter/
que por si só pode gerar inúmeras di-
ção contrária ao tradicional. Ele afir- importante ressaltar que a participa- multidisciplinar, estratégia que apre-
ficuldades como mudança de docen-
ma, ainda, que ensinar menos pode ção em atividades culturais, sociais senta múltiplas vantagens para to-
te - o que implica diferente estilo de
levar os estudantes a aprenderem e lúdicas representa um elemento dos os atores do processo de ensino
ensino, ausência do docente no ho-
mais. Parece contraditório, mas o que essencial na formação do cidadão e e aprendizagem. Por exemplo: uma
rário da 'dependência'’ - o que pode
o autor quer dizer é que outras possi- seu bem-estar; logo se o estudante unidade curricular poderia ser cha-
alongar ainda mais o processo de re-
bilidades de organização curricular e fica impossibilitado de atender a de- mada de “Tragédias Ambientais Bra-
cuperação do conhecimento, exces-
estratégias de ensino, centradas nos mandas individuais ou coletivas, sua sileiras”, em que conhecimentos de
so de disciplinas, ausência de horário
estudantes, podem contribuir para disposição física e mental pode ser diversas áreas se articulam na defi-
disponível do discente em virtude
uma melhor e diferenciada aprendi- comprometida. nição, pesquisa e análise das ativida-
de participação em estágio, só para
zagem. Sahlberg (2015) explica que, Imaginemos quantas disciplinas, enumerar algumas dificuldades. des, problemas ou projetos propos-
alocando menos tempo às discipli- nessa organização tradicional, pos- tos. Ou uma unidade de “Geometria
Essas reflexões são importantes
nas convencionais e mais tempo aos suem apenas 01 ou 02 aulas sema- Espacial”, ou quem sabe, “Fundamen-
para que algumas possibilidades,
temas integrados, projetos e outras nais, além do quê, quando coincidem tos de Genética aplicados à Zootec-
construídas a partir de elementos
atividades, considerando os interes- seu dia de aula com algum feriado, nia”. Uma orientação importante se
do sistema educacional finlandês,
ses e demandas das comunidades estudantes costumam passar 15 dias refere ao fato de que a construção
possam ser apresentadas a partir de
locais e planos individuais de apren- ou mais sem contato com a discipli- dos projetos pedagógicos é tarefa
agora. Barbosa et al. (2016), em do-
dizagem dos alunos, haveria tempo na e com o docente. Imaginemos de cada instituição, preferencialmen-
cumento que propõe diretrizes para
para que estes se engajassem em quantos conteúdos são trabalhados te de forma coletiva, envolvendo a
um currículo inovador para o Ensino
projetos, oficinas e outras atividades por docentes diferentes em discipli- comunidade escolar, comunidade
Médio Integrado, após um ciclo de
de significado pessoal. nas diferentes, sem nenhum diálogo, externa e partindo da análise do pro-
discussões com grupos de trabalho
articulação ou integração, mesmo cesso de produção e suas múltiplas

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dimensões (Físico-ambiental, econô- Assim como na Finlândia, cabe- os requisitos mínimos para aprova- nal para participar de atividades de
mico-produtiva, técnico-organiza- ria aos estudantes definir quais uni- ção na(s) unidade(s) curricular(es), seu interesse pessoal e profissional,
cional e sócio-histórica cultural (RA- dades curriculares seriam cursadas tenham maior tempo para estudos elementos já mencionados anterior-
MOS, 2008)). em cada período. Para tanto, o pro- de recuperação (inclusive antes do mente e que são imprescindíveis
Em cada período de curta dura- jeto pedagógico pode estabelecer final do ano, já que a progressão não para a manutenção do bem-estar fí-
ção, recomenda-se que as unidades alguns requisitos para essa escolha, estaria mais atrelada a um conjunto sico e mental discente, quiçá docen-
curriculares tenham uma carga ho- por exemplo, “Matemática Básica” de disciplinas), e mesmo que não te, do mesmo modo. Verifica-se que
rária semanal robusta, de forma a poderia ser pré-requisito para se cur- aprovados nas atividades de recupe- num curso de quatro anos esse “tem-
possibilitar maior qualidade, diversi- sar outras unidades com enfoque ração, caberá aos estudantes cursar po livre” é ainda maior, e mesmo que
ficação das atividades e um menor na Matemática. Deve-se ter cuidado apenas a(s) unidade(s) curricular(es) o tempo mínimo de integralização
número de unidades a serem cursa- para não fixar requisitos desneces- novamente, em algum momento do seja estipulado em três anos, caso o
das pelos estudantes em cada perío- sários, engessando as possibilidades seu percurso formativo, não sendo estudante tenha que cursar unida-
do, por exemplo: num período de 10 de escolha dos estudantes. mais necessário que estudantes re- des curriculares pendentes após esse
semanas - ou 50 dias letivos - as uni- Esse processo, que Barbosa et al pitam toda uma série escolar, o que período (ainda que não seja durante
dades poderiam ter uma carga horá- (2016) denominam de “Trilha For- poderá contribuir consideravelmen- todo um ano), não se trata de um
ria semanal de seis aulas semanais, o mativa” se apoia no fortalecimento te para diminuir os índices de reten- ano adicional por reprovação, mas
que corresponde a 60 horas/aulas. A da autonomia do aluno, bem como ção e evasão. do cumprimento de um percurso em
fim de integralizar a carga horária to- reconhece que cada estudante tem Por fim, o planejamento da “Tri- que o próprio estudante foi protago-
tal prevista para o curso, a exemplo suas individualidades, mesmo em lha Formativa” pode ser feito como nista na construção.
daquele cuja carga horária mínima um processo que preza pelo desen- previsão geral no início do curso, A seguir, algumas informações
no catálogo Nacional de Cursos Téc- volvimento de habilidades sociais, mas pode ser alterado sempre que importantes sobre a atuação do “pro-
nicos seja de 1220 horas, num Ensi- estas últimas podendo ser desen- houver necessidade e mudança dos fessor conselheiro” (career guidance
no Médio Integrado de 03 anos os volvidas e otimizadas por meio de interesses dos alunos. Na verdade, é and counseling) e sua conexão com a
estudantes deveriam cumprir de 05 projetos integradores previamen- essencial que o planejamento seja aprendizagem centrada no aluno.
a 07 unidades curriculares por perío- te elencados ou previstos no Plano revisado no início de cada período,
do. Já num curso de 04 anos, seriam de Curso ou Projeto Pedagógico de pois sabemos que ao tomar conhe- 2.3. Professor Conselheiro: figura
04 a 06 unidades por período. Nesse Curso (PPC). Além disso, as autoras cimento e experimentar outras disci-
central no modelo finlandês
formato, o mínimo de unidades cur- destacam a importância da figura plinas os alunos podem desenvolver
riculares para integralização seria de de um profissional conselheiro, que novos interesses e ajustar suas esco- Há uma pergunta que necessita-
64, sendo que o projeto pedagógico acompanhe o processo de escolha, lhas pessoais o que, eventualmente, mos fazer inicialmente: é permitido
poderia definir, desse montante, um planejamento da Trilha Formativa e poderá levar às escolhas profissio- aos estudantes de Ensino Médio re-
percentual de optativas, com a finali- outras questões relativas ao ensino e nais. Além disso, essa organização gular e integrado - e eles são enco-
dade de aprofundar conhecimentos aprendizagem dos alunos. por unidades permite que estudan- rajados a - tomar decisões sobre sua
nas áreas escolhidas pelos estudan- Tal organização permitiria que os tes tenham, na maioria dos períodos trajetória de aprendizagem? A gros-
tes. estudantes, quando não atingirem cursados, espaço no horário sema- so modo podemos inferir que nacio-

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nal e friamente analisando, a reali- dominação da abordagem centrada em termos de questões educacionais melhante por meio do Professor-Tu-
dade brasileira fomenta e estimula no professor, transferindo o centro como também as profissionais, como tor que é alocado para uma turma
um perfil de estudante dependente para o aluno. No sistema educacio- já foi mencionado, podendo ain- e, usualmente, auxilia essa turma ou
e sem possibilidade de decidir sobre nal finlandês, o Professor Conselhei- da indicar outros profissionais caso discente individualmente a resolver
seus próprios passos acadêmicos ro está presente desde o Ensino Bá- perceba necessidades de aconselha- questões relativas às habilidades de
no tocante à seleção de disciplina sico (SALHBERG, 2015) e prepara o mento pessoal. Para tanto, Barbosa aprendizagem, expectativas profis-
e quando deve ser estudada. Grifa- terreno para o Ensino Médio e para et al (2016) pesquisaram em seus ci- sionais, dificuldades - acadêmicas ou
mos o termo possibilidade, já que o mundo do trabalho, o que, conse- clos de discussão e concluíram que, não, ausências, assistência social e
essa realidade é modificada quando quentemente, contribui para a for- para se tornar um, o professor ou ser- financeira, momentos em que o Pro-
o estudante adentra o universo do mação de um cidadão autônomo. vidor público que trabalha na escola fessor-Tutor irá transferir o seu auxílio
Ensino Superior, que não é alvo des- Em essência, o Professor Conse- ou Instituição de ensino deve passar para os departamentos competentes
ta proposta. Então, como solucionar lheiro possibilita o exercício da fle- por um treinamento apropriado para (BARBOSA et al., 2016).
essa questão perene da Educação de xibilidade curricular no que tange o desenvolver habilidades de escuta A função, como já elencado ante-
nível Médio e Integrada brasileira? planejamento das atividades e uni- e orientação em conformidade com riormente, seria promover a reflexão
A autonomia do estudante anda dades curriculares que o discente as competências e necessidades dis- colaborativa e com base nas neces-
de mãos dadas com a sua motiva- deseja cursar, dentro do período e centes, apenas para elencar algumas sidades discentes sem apontar o
ção para executar as atividades, se- do espaço alocados por ele, em um características essenciais. caminho, mas deixando sempre a li-
jam pessoais ou profissionais, estas universo que combina escolas, aulas, Além disso, o servidor deve estar berdade de ação discente na tomada
últimas relacionadas ao ambiente professores, estudantes, escolhas, li- ciente do currículo com que traba- de decisão. O pontapé inicial seria o
de ensino e aprendizagem. Assim, é berdade e autonomia na promoção lha e ser empático com a comunida- desenho da “Trilha formativa” do dis-
necessário implementar um currícu- do desenvolvimento cognitivo dis- de escolar e a família. O treinamen- cente, auxiliando-o na escolha das
lo que esteja centrado no estudante. cente (SALHBERG, 2015). E s s e to deve ser organizado e oferecido unidades, dos horários, espaços de
O Professor Conselheiro figura como exercício de autonomia, é impor- pela instituição de ensino e aberto a estudo e de realização de tarefas de
uma dessas estratégias, já que para a tante reforçar, ocorre em um mo- qualquer servidor que desejar fazer casa, individuais e em grupo. Após a
realidade brasileira representa uma mento colaborativo entre discente parte. O perfil e os campos de atua- conclusão dessa fase, ficariam esta-
mudança ideológica e pedagógica e docente, durante encontros perió- ção do Professor Conselheiro devem belecidos encontros para avaliação
na Educação. dicos, que podem ser individuais ou fazer parte de uma construção cole- da “Trilha” selecionada, o que pode-
O Professor Conselheiro orbita em pequenos grupos de discussão, tiva com todos os atores que fazem ria incorrer em uma modificação ou
a lógica de um coach, libertando o momentos em que as dúvidas, aspi- parte do ambiente de ensino-apren- manutenção das escolhas realizadas.
indivíduo que leciona do 'papel' de rações e desejos são explorados de dizagem em cada localidade e con- Ao final do ano, mais um encontro te-
professor per se, daquele que domi- modo que o aluno seja o protagonis- siderando as necessidades nacionais, ria a “Trilha” como elemento de pau-
na todo o conteúdo e decisão, para ta da sua decisão. locais e suas idiossincrasias. ta para uma avaliação das escolhas
se tornar aquele que age como um Mas então quem pode exercer Alguns dos campi apontaram e já potencial seleção das próximas
guia, um facilitador na tomada de esse ofício? O Professor Conselheiro que já lançam mão de estratégia se- disciplinas ou elementos curriculares
decisão e que sabe quebrar o ciclo de irá assessorar o estudante não apenas para os anos seguintes.

66 Ensino Médio Integrado no Brasil: fundamentos, práticas e desafios 67


Além desses momentos essen- projeto educativo emancipatório, culo integrado no Brasil. Verifica-se, p. 57-76.
ciais para a definição do que será centrado no desenvolvimento do ainda, que a figura do Professor Con-
estudado, ao longo do ano letivo, estudante como sujeito de necessi- selheiro é central nesse processo. BARBOSA et al. Rethinking the cur-
professor e alunos se encontrariam dades, de desejos e potencialidades riculum: calling teachers to discuss
As orientações construídas coleti- and propose new perspectives for
ainda para refletir e deliberar sobre (RAMOS, 2008), entendemos que a vamente por profissionais dos cinco the curricular design. Tampere – FI:
questões relativas às aspirações pro- própria escola se constitui em um es- Institutos Federais e apresentadas Tamk, 2016. [Relatório técnico]
fissionais, pessoais e relações inter- paço privilegiado para assumir esse neste trabalho (BARBOSA et al., 2016)
pessoais no ambiente escolar e até desafio. Bastante enfatizado nesse confirmam essas possibilidades, ain- FRIGOTTO, G.; CIAVATTA; M..; RAMOS,
extraescolar. A atuação do Professor trabalho, verifica-se que o currículo da que não tenham sido aplicadas M. (Orgs). Ensino Médio Integrado:
Conselheiro, orientações quanto ao integrado demanda que os fenô- na prática, até o momento. O que se concepções e contradições. São Pau-
atendimento, número de alunos e menos e conhecimentos sejam pro- pretende dizer com essa afirmação lo: Cortez, 2005.
atividades seriam definidas em cada blematizados em suas mais variadas é que a construção de tais diretrizes
instituição de ensino, em consonân- perspectivas e dimensões, o que indica uma possibilidade de mudan- MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTE-
cia com o projeto educativo estabe- também requer uma abordagem ça, algo como um “ponto de partida” RIORES (ITAMARATY). O sistema de
lecido. metodológica coerente com esse di- para os enfrentamentos que virão. ensino finlandês: os pilares de uma
recionamento. Em síntese, é necessá- Isso porque não restam dúvidas sociedade baseada no conhecimen-
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS rio que o currículo seja, de fato, inte- quanto à existência de profissionais to. In: _______. Mundo Afora: Edu-
grado, no seu sentido mais profundo dispostos a refletir, discutir, propor cação Básica e Ensino Médio. Dispo-
A conclusão desse trabalho não e diante das necessidades relatadas
e implementar; e, nesse movimen- nível em: <http://www.dc.itamaraty.
poderia deixar de iniciar com a reto- nesta análise.
to, experiências como a da Finlândia gov.br/publicacoes/colecao-mundo
mada da pergunta: o que podemos
Para tanto, podemos buscar na podem nos indicar possibilidades de -afora/Mundo%20Afora%20n11%20
aprender com a Finlândia? Sem des- v11%20WEB%20single.pdf/> Acesso
Finlândia elementos do processo ações.
considerar os aspectos econômicos, em: 30 set. 2016.
educativo que contribuem para essa
sociais e culturais de cada país; sem
desconsiderar as comparações em
formação, como aprendizagem cen- REFERÊNCIAS MORAES, C.S.V. O Ensino Médio e as
trada no estudante, desenvolvimen-
relação à área e ao tamanho da po-
to de habilidades sociais, autonomia, ANTIKAINEN, A. A reestruturação do comparações internacionais: Brasil,
pulação da Finlândia e Brasil - muitas
cooperação e enfoque nos sujeitos Modelo Nórdico de Educação. Revis- Inglaterra e Finlândia. Educação e
vezes utilizadas como justificativas
com equidade. Além disso, o dese- ta Lusófona de Educação, Lisboa, Sociedade, Campinas, v.38, nº 139,
para não apropriação de alguns ele- v.11, p. 31-48, 2008. p. 405-429, abr.-jun., 2017.
nho curricular e sua implementação
mentos do primeiro - podemos afir-
apresentam possibilidades de apli-
mar que muitos são os enfrentamen- ASBAHR, S.F.S; SANCHES, Y.C.S. Trans- MOURA, D.H. (Org.). Educação Pro-
cação no sistema educacional brasi-
tos nos planos político, econômico e formação social: uma possibilidade fissional: desafios teórico-metodo-
leiro, com suas devidas adaptações,
social em nosso país. da educação escolar? In: PARO, V.H. lógicos e políticas públicas. Natal:
de forma a promover uma formação
Entretanto, considerando o currí- mais próxima daquela desejada e (Org.). A teoria do valor em Marx e IFRN, 2016.
culo integrado na sua dimensão de discutida pelas referências em currí- a educação. São Paulo: Cortez, 2006, OLIVEIRA, R.. A (des)qualificação da

68 Ensino Médio Integrado no Brasil: fundamentos, práticas e desafios 69


#4
educação Profissional Brasileira.
São Paulo: Cortez, 2003.
PROJETOS DE REFORMULAÇÃO DO ENSINO MÉDIO E
INTER-RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL:
PACHECO, E. (Org.). Perspectivas da
Educação Profissional Técnica de
(IM)POSSIBILIDADES DO ENSINO MÉDIO INTEGRADO
Nível Médio: Propostas de Diretri-
zes Curriculares. São Paulo: Moderna, Monica Ribeiro da Silva
2012. Universidade Federal do Paraná
E-mail: monicars@ufpr.br
RAMOS, M.. Concepção do Ensino
Médio Integrado. [2008] Disponível
em http://forumeja.org.br/go/sites/ 1. INTRODUÇÃO fossem as desigualdades de acesso à
forumeja.org.br.go/files/concepcao_ escola, os itinerários descontínuos e
do_ensino_medio_integrado5.pdf Neste texto, propomo-nos a as distorções no âmbito do sistema
Acesso em 23 jun 2017. discutir as relações que vão se en- educacional.
tretecendo entre projetos de refor-
_________. Ensino Médio Integra- O Ensino Médio brasileiro conta,
mulação do Ensino Médio (EM) e
do: Possibilidades e desafios. In: FRI- de acordo com o Censo da Educa-
propostas para a Educação Profissio-
GOTTO, G.; CIAVATTA; M.; RAMOS, M. ção Básica de 2016, com 8.076.150
nal Técnica de Nível Médio (EPTNM),
(Orgs). Ensino Médio Integrado: con- matrículas. Segundo a Pnad (2013),
considerando o marco legal da Lei
cepções e contradições. São Paulo: a população de 15 a 17 anos era de
de Diretrizes e Bases da Educação
Cortez, 2005, p.106-127. 10.424.700. Destes, 5.451.576 esta-
(LDB), Lei nº 9.394/1996. A intenção
vam matriculados no Ensino Médio,
é problematizar, em um cenário de
SAHLBERG, P. Finnish Lessons: What valor próximo, portanto, dos 50%. O
disputas em torno da última etapa
can the world learn from educational número de matriculados no Ensino
da Educação Básica, as (im)possibili-
change in Finland? 2 ed. New York Médio, modalidade EJA, nessa idade
dades de realização do Ensino Médio
(USA): Teachers College / Columbia era de 20.356 pessoas (0,2% da fai-
Integrado.
University, 2015. xa etária). Dessa faixa etária, estava
A LDB estabelece que o Ensino matriculado, em qualquer um dos
Médio faz parte da Educação Básica, níveis ou etapas de escolaridade, um
o que avança no reconhecimento total de 84,3% da população. Estava
do direito a ele, ainda que esta eta- sem estudar e não havia concluído o
pa não tenha se tornado obrigatória. Ensino Médio um total de 1.578.562
Recentemente, pela EC 59/2009, esta jovens entre 15 e 17 anos, o que cor-
etapa torna-se obrigatória para a fai- responde a 15,7% das pessoas dessa
xa etária dos 15 aos 17 anos, fase que idade.
corresponderia ao Ensino Médio, não

70 Ensino Médio Integrado no Brasil: fundamentos, práticas e desafios 71

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