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VINHO - O crente pode beber?

(CC)
(Deverá “clicar” nas referência bíblicas, para ter acesso aos textos)

NOTA: Prezado visitante da “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”.

Se tenciona ler o artigo sobre o vinho, peço-lhe que o leia até ao fim, antes de
tirar as suas conclusões. Este artigo poderá ser copiado livremente, mas com duas
condições: Em primeiro lugar, que seja feita uma divulgação da totalidade do artigo e
não somente a parte que mais se adapta às suas ideias, e em segundo lugar, que seja
mencionada a sua origem, a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”.

Que o Senhor o oriente na leitura deste estudo.

Vinho – 1 (Camilo Coelho)

O vinho, na Bíblia
Introdução
Recebi há dias esta mensagem dum jovem irmão em Cristo, de Campinas, no
Estado de São Paulo – Brasil.

A Paz do Senhor,
Irmão Camilo, saudades, como vai! Já faz tempo que não nos falamos, aliás
estive fora da internet uns dias, resolvendo problemas, mas graças a Deus sempre
com Jesus no barco.
Gostaria que o irmão, mais uma vez me respondesse a questões voltadas à
Bíblia, e desta vez gostaria que o irmão me esclarecesse melhor, o que o apóstolo
Paulo estava querendo dizer a Timóteo quando implicou sobre que os diáconos
deveriam não ser dados a muito “vinho”, Várias passagens na Bíblia falam do vinho,
do suco da uva, segundo o dicionário, mas porque não ser dado a muito suco de uva,
ou qual a explicação à luz da Bíblia, pois, também o apostolo, fala para não nos
enchermos do “vinho”, em que há contenda, mas do Espírito de Deus!
Aguardo resposta,
A PAZ DO SENHOR - Everaldo - Campinas/Brasil

Qual terá sido o motivo que levou este jovem a fazer-me esta pergunta? Não é
caso isolado, pois alguns outros brasileiros, na maioria jovens, encontram a minha
página na internet e resolvem contactar-me, fazendo perguntas a que tento responder,
embora não seja pastor e não fale em nome de nenhuma igreja. É interessante, que
estando em Portugal, são em muito maior número os brasileiros que me contactam do
que os portugueses. Talvez em parte, seja pelo nome da minha página “Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas”, uma página que somente se preocupa com a
fidelidade aos textos bíblicos, sem se preocupar com as tradições, sejam elas
católicas, evangélicas ou ortodoxas.

Mas, será que faz sentido, um jovem diácono brasileiro, dirigir esta pergunta
para o outro lado do Atlântico?

Penso que sim, que esta troca de pensamentos e opiniões entre os dois lados do
Atlântico, do Brasil para Portugal, e de Portugal para o Brasil, é salutar e é uma
forma de testar as nossas convicções teológicas, uma forma de saber se uma
determinada afirmação ou opinião tem fundamento bíblico ou se será somente fruto
do nosso contexto cultural ou histórico. É que o genuíno Evangelho que Cristo nos
apresentou, é universal, é para todas as épocas e todas as culturas. Podemos testar a
veracidade das nossas convicções, até mesmo dentro do nosso espaço lusófono, pois
se determinada afirmação não for válida em Curitiba no sul do Brasil, em São Paulo,
no interior da Amazónia, em Lisboa, em Nampula no norte de Moçambique, na
Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, nas ilhas dos Açores, no meio do Atlântico ou na
Marinha Grande no centro de Portugal, onde me encontro, então é porque não se trata
duma genuína afirmação bíblica eterna e universal, mas somente um aspecto da nossa
cultura.

Os aspectos culturais podem e devem ser questionados, mas com precaução.


Pelo facto de determinada afirmação não ser bíblica, não significa que não seja útil a
sua preservação, enquanto se mantiver o contexto cultural que lhe deu origem. Mas
deverá ser apresentada como tal, como simples tradição e não como mensagem do
Senhor, pois a Bíblia não pode ser alterada.

Diferenças culturais

Quando um evangélico português vai ao Brasil, ou quando um brasileiro vem a


Portugal, um dos pormenores mais chocantes é o problema das bebidas alcoólicas e
do vinho em particular. No Brasil o crente não pode tocar num copo de vinho,
enquanto em Portugal o vinho é visto com naturalidade e está presente nas festas das
igrejas evangélicas, embora certamente que se condena o abuso do vinho assim como
se condena o abuso da comida.

Esta diferença de atitudes tem uma origem histórica, pois o Brasil foi
evangelizado principalmente por missionários americanos, cuja tradição os proibia de
beber vinho. Por um lado, temos de ser compreensivos para com a sua atitude, pois
vinham duma cultura sem tradição vinícola, enviados por igrejas que não sabiam
diferenciar o verdadeiro vinho, do whisky, cachaça ou outras bebidas destiladas com
elevado teor alcoólico e ao chegar ao Brasil, onde a igreja mãe nos USA esperava que
fundassem uma igreja que fosse uma cópia fiel da igreja mãe, encontraram um povo
em que o alcoolismo era um dos principais problemas. A sua reacção foi certamente a
continuidade da tradição americana, que tinham aprendido desde crianças, que o
crente não pode beber. O Evangelho divulgou-se em todo o Brasil principalmente
entre a classe mais humilde, que nunca questionou tais ensinos em face das
Escrituras.

No entanto, presentemente a situação está a mudar. Os evangélicos cresceram


em número em maturidade e já questionam as tradições que receberam. É disso um
bom exemplo a mensagem que recebi.

Nos países africanos que falam a nossa língua, em especial Moçambique,


Angola etc. a situação é semelhante ao que se passa no Brasil, por vezes reforçada
pela tradição islâmica (norte de Moçambique) e suponho que também na Guiné, visto
que o islão proíbe as bebidas alcoólicas.

O que era o vinho

Segundo informação que consegui obter na literatura consultada, com especial


referência para o Dicionário Bíblico de Davis, a “International Standard Bible
Encyclopaedia” e o Dicionário de Teologia Bíblica da Bauer, (Edições Loyola) quase
toda a bebida alcoólica que se fabricava em Israel era vinho genuíno, vinho de uvas,
que eram colhidas maduras e transportadas em cestos para o lagar escavado em
rocha, com cerca de 2 a 3 metros quadrados de superfície e 40 a 50cm de
profundidade. Pelas descrições que obtive, penso que não seriam muito diferentes dos
lagares que temos nesta zona do centro de Portugal, onde me encontro, embora a
maior parte desses antigos lagares, já não funcione devido a outros métodos mais
modernos e mais rentáveis que os tornaram obsoletos. Parece que a única diferença é
que estes antigos lagares que ainda temos em Portugal são de betão (concreto). É
possível que também haja lagares escavados em rocha, mas nunca os vi.

As uvas eram pisadas e o suco da uva, para empregar a expressão mais utilizada
no Brasil, ou o sumo da uva, expressão mais vulgar em Portugal e nos países
africanos que falam a nossa língua, embora o termo mais correcto seja o mosto,
escorria para uma vasilha ou outro compartimento de menores dimensões. Penso que
este sistema se manteve praticamente inalterável há milénios, pois já era assim no
antigo Egipto, antes de Israel existir como nação. Só nos nossos dias é que está a ser
alterado, mas quanto a essa parte, o melhor é pedir a colaboração a quem sabe, que
não são os teólogos, mas os especialistas no assunto, como é o caso da jovem
engenheira de alimentação Ângela Faria, membro da Igreja Batista da Maceira –
Portugal, a quem vou pedir para nos falar do vinho dos nossos dias.
Tal como nos nossos dias, pois as leis da química e da biologia não mudaram, o
mosto sofria a fermentação alcoólica, dando origem ao vinho e este, após a
fermentação acética dava origem ao vinagre. A palavra grega “oxos”, ou a hebraica
“homes”, tanto podia designar vinho como vinagre.

Devo afirmar em primeiro lugar, que não há na Bíblia, passagens didácticas


sobre o vinho, que definam com o rigor científico dos nossos dias o que é
propriamente o vinho, e as suas características químicas e bacteriológicas, mas vamos
fazer referência às várias palavras, quer no hebraico do Antigo Testamento, quer no
grego do Novo Testamento.

A expressão mais utilizada, que é traduzida por vinho, é a palavra hebraica


“yayin” equivalente à palavra grega “oinos” e à palavra latina “vinus” que deu vinho
na nossa língua. Essa palavra aparece em Génesis 9:21 e Génesis 19:32, onde pelos
seus efeitos, não há dúvida de que era mesmo vinho que foi consumido
descontroladamente.

A palavra “tirosh” que aparece em Números 18:12, Neemias 10:37, Joel 2:24 a
maior parte das nossas melhores versões da Bíblia traduziu por mosto ou vinho novo.
Na passagem de Joel, não há dúvida de que era mosto, pois se ainda estava a
transbordar no lagar, certamente que ainda não tinha fermentado. No entanto, nas
outras passagens é por vezes traduzida por vinho, ou vinho novo.

Outra palavra que aparece por exemplo em Actos 2:13 é a palavra “gleukos”,
que a maior parte das nossas versões traduz por mosto.

Penso que ao considerar estas palavras, não podemos ignorar o contexto


histórico destes textos. Presentemente, todas as garrafas de vinho em Portugal, têm a
indicação do teor alcoólico que é determinado pelo laboratório de análises da adega
cooperativa onde o vinho foi produzido, mas nessa época ainda não havia
equipamento para determinar a composição do vinho. Não é de estranhar que
apareçam casos intermédios, em que não está bem definido do que se trata. Assim,
como classificar o “vinho”, uma semana depois das uvas serem prensadas? Ainda
falta muito para ser vinho “oinos”, mas a fermentação alcoólica já se iniciou e já não
é o genuíno mosto “gleukos”. Neste caso, talvez a designação mais correcta fosse o
“tirosh”, que por vezes é traduzido por vinho novo. Um caso em que há certa
indefinição é a passagem que já mencionei em Actos 2:13, pois “gleukos” significa
mosto. Mas será que eles poderiam estar embriagados com mosto, o tal suco da uva?
Penso que mais correcta neste ponto será a Bíblia de Jerusalém que traduz por “vinho
doce” dando a ideia dum início de fermentação alcoólica. Mas não há dúvida de que
o vinho velho, já fermentado era o mais apreciado, segundo vemos no próprio
evangelho de Lucas 5:39 onde aparece a expressão grega mais utilizada “oinos”.
Actos 2:13

Lucas 5:39

Uma vez que a vindima está relacionada com a época do ano e se efectua só uma
vez por ano, o natural era terem o mosto só nessa época, nos dias em que as uvas
eram pisadas, uma vez que ainda não havia a cultura em estufas, para se obter uvas
fora da época, nem meios de congelação para conservação do mosto, técnicas que são
bem dos nossos dias.

Segundo alguns afirmam, era possível evitar a fermentação do mosto, se metido


em ânforas bem tapadas e mergulhadas em água fria, abaixo dos 10 graus
centígrados. Os romanos empregavam este método, mas é pouco provável que na
maior parte do território de Israel, onde a vinha era cultivada, se encontrasse água em
tal quantidade e a essa temperatura durante todo o ano. É verdade que há neves
eternas no monte Hermom, e mesmo em Jerusalém, devido à altitude, a temperatura
média em Agosto (o mês mais quente) é de 26º centígrados, mas trata-se dum micro-
clima, só no cimo do monte, pois na maior parte do vale do Jordão registam-se
grandes amplitudes térmicas com altas temperaturas no Verão. Segundo a
“International Standard Bible Encyclopaedia” (Volume V - página 3086) “É muito
difícil a conservação do mosto (portanto sem fermentação), sem o recurso a
modernos meios de desinfecção, pelo que a sua preservação num clima quente e com
deficiente higiene, não era possível.” Outro método de se evitar a fermentação
alcoólica, era ferver o mosto e transformá-lo numa espécie de doce de uva. Mas este
método, não conservava o mosto, como dizem, mas criava um subproduto do mosto,
uma espécie de “mel” de uva. Não é possível, que num clima quente e seco, tais
métodos de conservação do mosto, tivessem grande aplicação como alguns
defendem. Certamente que quase todo o mosto era para ser transformado em vinho e
somente uma pequena parte seria consumida, mas só nos dias em que as uvas eram
pisadas.

Havia também o “mesek” ou “mimsak” que aparece em Salmos 75:8, Provérbios


23:30, Isaías 55:1 que era o vinho misturado com especiarias.

Havia também bebidas alcoólicas fabricadas com outros frutos, que não eram
propriamente o verdadeiro vinho de uva, mas produtos da fermentação da cevada
(antepassado da cerveja?), da tâmara, da maçã e de outros frutos.

Utilidade do vinho

É evidente que a maior utilidade do vinho, o vulgar vinho do ano, o “yayin” do


Antigo Testamento, ou o “oinos” do Novo Testamento, tal como se passa nos países
de tradição vinícola, como Portugal, era para ser bebido às refeições. Era a bebida do
pobre, embora houvesse outros tipos de vinho a custos mais elevados, só acessíveis a
uma minoria.

Há no entanto, várias passagens em que o vinho era utilizado como


medicamento. É o caso de Lucas 10:34, na parábola do bom samaritano, em que este
deitou azeite e vinho nas feridas. Temos também em 1ª Timóteo 5:23 o caso de Paulo
a aconselhar Timóteo a beber um pouco de vinho por causa das suas enfermidades.

Lucas 10:34

1ª Timóteo 5:23
No Antigo Testamento, encontram-se passagens que determinavam as ofertas de
vinho dedicadas ao Senhor, em Êxodo 29:40, Levítico 23:13, Deuteronómio 14:26
onde aparece a mesma palavra “yayin” que serviu para embebedar a Noé em Génesis
9:20, palavra que aparece, quer isolada, quer associada a outras palavras.

Génesis 9:20

Êxodo 29:40

Levítico 23:13

Deuteronómio 14:26
Também Melquisedec, rei do Salém e sacerdote do Deus altíssimo, tantas vezes
citado como um exemplo digno de se seguir, quando se fala no dízimo, em Génesis
14:18 trouxe pão e vinho “yayin”.

Génesis 14:18

Em várias passagens encontram-se referências ao pão, vinho e azeite, as bases da


alimentação no Antigo Testamento.

Atitude de Jesus perante o vinho

Como evangélicos, a Bíblia é para todos nós, a tal espada de dois gumes, que
tanto dá para cortar para um lado como para o outro.... já todos nós sabemos disso.
Mas dentro da própria Bíblia, temos como supremo exemplo a figura do nosso
Mestre, as suas ideias e o seu comportamento e é isso que nos interessa.

Vejamos em primeiro lugar o que é possível conhecer sobre o vinho, no contexto


cultural em que Jesus viveu, em que havia uma secular tradição vinícola.

Muito dessa tradição, é bem parecido com o que se passa em quase todos os
países mediterrâneos, excepto o Norte de África, onde devido ao islamismo se perdeu
a tradição vinícola, mas ainda hoje, embora os hábitos estejam a mudar, é possível
ver em algumas antigas casas de campo em Portugal, Espanha, sul da França, Itália e
Grécia, o fabrico de vinho no lagar como se fazia no tempo de Jesus.

No Israel dessa época, havia os que exageravam no consumo do vinho e outras


bebidas de teor alcoólico muito mais elevado, e havia também os que se abstinham
do vinho, como era o caso dos recabitas, uma comunidade sectária que levava vida
nómada e não praticava a cultura da vinha nem qualquer tipo de agricultura, como
vemos em Jeremias 35:12/15. Havia também alguns casos em que se abstinham do
vinho e certas comidas, geralmente durante um certo período, para se dedicarem ao
Senhor, e temos também os que faziam o voto de nazireu, como era provavelmente o
caso de João Batista, mas estes nem bebiam vinho nem comiam uvas frescas nem
secas, portanto também não poderiam beber do mosto da uva, como vemos em
Números 6:3.

Lendo os evangelhos atentamente e sem preconceitos, temos de concluir que


Jesus bebia vinho normalmente, como bebiam todos no seu contexto cultural.

É verdade que em Mateus 11:19, Jesus é acusado de ser comilão e beberrão.

Mateus 11:19

Vemos que a palavra utilizada no grego é “oinos” e beberrão poderia ter sido
traduzido por bebedor de “oinos”. Claro que não podemos aceitar esta acusação. O
que deve ter acontecido, é os seguidores de João Batista imaginarem um Messias do
tipo de João Batista, e quando viram que Jesus, em vez de se isolar no deserto ou no
interior do Templo, procurou aproximar-se dos pobres, sem fazer distinção alguma,
ficaram escandalizados. E ainda mais escandalizados ficaram, ao ver Jesus a beber
com os pecadores e logo o acusaram de beberrão. Isto ainda acontece nos nossos dias
com esses “santarrões” que se afastam do homem pecador e também querem confinar
Jesus ao seu reduzido espaço litúrgico.

A Bíblia apresenta várias passagens em que se alerta para o abuso do vinho.


Encontramos esses avisos em 1ª Coríntios 5:11 e 1ª Coríntios 6:10, Gálatas 5:21,
Efésios 5:18 e 1ª Pedro 4:3.

Se ainda tivéssemos dúvidas sobre as acusações em Mateus 11:19, estas


passagens seriam suficientes para concluirmos:

1) Não há nenhuma passagem neotestamentária em que se proíba o vinho.

2) Encontramos passagens em que se alerta para o abuso do vinho, o que de


certa maneira vem demonstrar que o vinho “oinos” era utilizado pelos primitivos
cristãos.

Passagens mencionadas pelo jovem irmão Everaldo

Meu caro Everaldo.

Embora não tenhas mencionado as passagens, certamente por não ser necessário,
de tal maneira elas são conhecidas de todos nós, não tenho dúvidas de que te referes a
1ª Timóteo 3:8 e Efésios 5:18.

Tens toda a razão nas dúvidas que levantas, e a tua atitude de questionar o que te
ensinaram, está perfeitamente de acordo com a mentalidade dos bereanos que Paulo
elogiou, apresentando-os como um exemplo de estudantes da Bíblia. Isso foi assim
no tempo de Paulo, embora essa mentalidade ficasse esquecida durante vários
séculos. Durante toda a idade média a Bíblia ficou esquecida, para se ensinar a
tradição da Igreja, produto da mente humana. No entanto, a mentalidade dos bereanos
voltou a reviver nos tempos da Reforma Protestante, quando a opinião das
“Autoridades Eclesiásticas” foi posta em dúvida pelo povo que depois de tantos
séculos, voltara a ter acesso às Santas Escrituras. Parece-me que nos nossos dias,
temos de reaprender que a Bíblia, e em particular os ensinos do nosso Mestre, são a
nossa única e insubstituível fonte de conhecimento de Deus e o nosso padrão de
comportamento, ou como dizia Lutero “Somente a Escritura”.

Por vezes, quando se levantam questões um tanto incómodas para os nossos


“entendidos”, quando há falta de argumentos, é vulgar a afirmação: “A Bíblia em
português diz isto... (como se não conhecêssemos a nossa língua!!!). Mas nos textos
originais aparece outra coisa. O irmão sabe hebraico? Conhece o grego?.....” E assim
acaba a conversa.

Penso que nós, os que não sabemos grego nem hebraico, não temos necessidade
de nos reduzirmos ao silêncio perante tais argumentos. O estudo das Escrituras é
demasiado importante para que possamos confiar em quem quer que seja, muito
menos nos teólogos, embora com todo o respeito que nos merecem, pois a história da
Igreja, tanto no passado como no presente, está cheia de exemplos de como a Bíblia
tem sido deturpada, por vezes até com boas intenções, por pessoas que pensaram
estar prestando um bom serviço à Igreja do Senhor. A melhor maneira de
salvaguardar esses desvios doutrinários, é a Bíblia ser interpretada por aqueles a
quem o Senhor a dirigiu, pelo próprio povo evangélico.
Qualquer um de nós, poderá comprar um Antigo Testamento em hebraico, ou
um Novo Testamento em grego, mesmo sem conhecer estas línguas, e com o
dicionário e uma pequena ajuda de quem conheça estas línguas, confirmar quais as
palavras que estão nos textos originais.

Assim, mais importante do que a minha opinião ou a minha explicação para a


tua pergunta, é examinares pessoalmente os textos em grego dessas passagens, que
vou juntar a seguir. Se a palavra que encontrares for “gleukos”, como está em Actos
2:13, então é mosto, ou suco de uva, mas se encontrares “oinos”, escrito com letras
gregas, então é vinho, o tal vinho de uva já fermentado.

1ª Timóteo 3:8

Efésios 5:18

Meu querido e jovem irmão. Fico feliz por me dirigires esta pergunta, um tanto
polémica, mas o apelo que te faço é que não acredites em mim, nem em ninguém,
mas apega-te às Escrituras, em especial aos textos originais, que afinal concordam
com a nossa Bíblia em português.

Vinho na Ceia do Senhor

Há pastores evangélicos no Brasil que, desconhecendo o contexto cultural em


que Jesus viveu, dizem que Cristo não utilizou vinho “oinos” ao instituir a Santa
Ceia, por aparecer a expressão “fruto da vide”, que segundo eles, Jesus utilizou para
mostrar que não se tratava de vinho mas somente mosto. No entanto, trata-se dum
eufemismo muito vulgar nessa cultura. Esta expressão “fruto de ....” é típica da
cultura judaica e encontra-se em muitas outras ocasiões, mesmo sem ser uma
referência ao vinho. Podemos encontrar “fruto da árvore” em Génesis 3:3, “fruto da
terra” em Génesis 4:3, Números 13:20, Números 13:26, Deuteronómio 1:25,
Deuteronómio 7:13, “fruto da boca” em Provérbios 13:2 e Provérbios 18:20, “fruto
da mentira” em Oséias 10:13 e isto não significa que “fruto da árvore” não fosse uma
verdadeira fruta ou que “fruto da mentira” não se referisse a uma verdadeira mentira.

Verifica-se uma certa unanimidade em todas as boas traduções que consultei,


traduções efectuadas a partir das cópias dos manuscritos originais. Em Mateus
26:26/29, Marcos 14:22/25 e Lucas 22:17/20 tanto Ferreira de Almeida, como a
Jerusalém, e a TEB traduzem por fruto da vide, ou da videira e em 1ª Coríntios
11:23/26 referem-se a cálice. A TOB refere-se a “fruit de la vigne” e “cette coupe”
respectivamente, Reina Valera menciona “fruto de la vid” e “copa” e a Vulgata Latina
menciona “genimine vitis” e “calix”.

Essa passagem em Actos, é muito significativa, pois culturalmente está bem


próxima da nossa cultura. Em Portugal, quando se convida alguém a “tomar um
copo”, subentende-se que será um copo de vinho, pois se não for de vinho, será
necessário mencionar que é um copo de cerveja ou um copo de água... mas se nada se
disser sobre o conteúdo do copo, certamente que será de vinho. Parece ter sido esse o
critério seguido por Lucas, quando escreveu o livro de Actos mencionando o cálice
sem referir o seu conteúdo.

Outro argumento utilizado para “provar” que na Ceia do Senhor não foi utilizado
vinho, mas somente o mosto, que teria de ser conservado desde a vindima do ano
anterior, pois esta se fazia em Agosto e Setembro e eles estavam na época da Páscoa
(14 de Abib) que corresponde aos meses de Abril ou Maio, é o facto do Êxodo
12:14/30 proibir que, nesses sete dias da festa pascal, houvesse fermento nas casas
dos judeus. Este argumento, não toma em consideração a época e a cultura, pois
fermentação do vinho, nunca na Bíblia foi considerada como fermento e o contexto
desses versículos mostram claramente que toda a ênfase é colocada nos pães asmos.
Quem comesse pão levedado na época da Páscoa, de acordo com o versículo 15, seria
“cortado” ou “eliminado” de Israel, uma forma de se referir à pena de morte. Mas ao
aceitar este argumento como válido, então teríamos principalmente de rejeitar a
utilização do vulgar pão, nos nossos cultos de Ceia do Senhor, para passar a utilizar a
hóstia, como fazem os católicos. É verdade que o Antigo Testamento por vezes fala
no fermento associando-o à impureza e ao pecado, mas Jesus não deu apoio a esta
velha ideia sobre o fermento, quando em Mateus 13:33 compara o próprio Reino de
Deus com um pouco de fermento. Penso que isso é um bom passatempo para os
“fariseus” dos nossos dias que ainda não compreenderam que a mensagem de Jesus
não está subordinada à mentalidade veterotestamentária, pois muitos critérios foram
anulados ou profundamente alterados, e a Ceia Senhor não é uma comemoração da
Páscoa judaica: Não se fala do cordeiro pascal e os elementos centrais são o pão e o
vinho. Mas há outra profunda diferença. É que a morte, o cadáver, que era o máximo
de impureza, em especial em Levítico, que tornava impuro quem nele tocasse, passa
a ser fonte de bênção e de vida, passa a ser o único caminho para Deus.

Bodas de Caná

Um dos primeiros milagres de Jesus, pelo menos é o primeiro que ficou


registado, encontra-se em João 2:1/12.

Segundo os textos bíblicos, Jesus transformou a água em vinho. A palavra que


aparece nos versículos 3, 9 e 10, nas cópias dos manuscritos em grego, não é
“gleukos” nem “tirosh” que possam ser traduzidas por mosto, mas é a palavra
“oinos” que significa vinho, o verdadeiro vinho de uva, já fermentado.

Mesmo quem não souber grego, como é o meu caso, pode procurar as palavras
no texto em grego que junto a seguir, onde está assinalada a palavra “oinos”, para que
todos possam conferir esta informação.

João 2:1-12
O texto é bem claro. Neste milagre, Jesus transformou a água em vinho. A
palavra “oinos” não deixa margem para dúvidas. Devemos aceitar o verdadeiro Cristo
dos evangelhos, que se alegra com o seu povo, que compreende os seus que
reconhecem a sua voz, como as ovelhas ouvem a voz do seu pastor, embora haja
quem siga um outro “Jesus” da sua tradição. Para esses, que já decidiram não crer na
evidência das Escrituras, que colocam a sua tradição em primeiro lugar, não há nada
a fazer. Nem o próprio Cristo os poderá mudar. Mas vejamos alguns argumentos que
apresentam, para “provar” que não era verdadeiro vinho.

1) Dizem alguns, que após esgotado o vinho, foi servida água, em tom de piada
que foi bem aceite por todos.

2) Se o objectivo do milagre era manifestar a glória de Deus, não poderia ter


sido verdadeiro vinho, depois dos convidados já terem bebido muito.

Prefiro não comentar estes argumentos, mas não posso deixar de lamentar a
forma como torcem as Escrituras para as adaptar às suas tradições.

Podemos imaginar o que seria dum convidado que chegasse atrasado ao


casamento em Caná.

A primeira preocupação seria procurar uma talha com água para as purificações
rituais. Mas chega à primeira talha que encontra cheia de vinho e pensa... Não é aqui.
Deve ser aquela outra talha, mas na outra também só há vinho e é assim em todas as
seis talhas. Então, como cumprir a Lei de Moisés? Não ficou água para as lavagens
rituais, nem há água para se misturar no vinho. Então, a grande preocupação; agora o
que fazer? Abandonar a festa entristecendo os noivos ou aproximar-se dos outros
convidados sem as lavagens rituais?...

Estes problemas sem solução, podem acontecer nos nossos dias, se não
aceitarmos que o Mestre chegou, e está entre nós!!.... Tudo o mais está ultrapassado.
Ou nos juntamos e nos alegramos com os pecadores salvos por Jesus, ou então, temos
de nos juntar aos “fariseus do nosso tempo”, que colocam as suas tradições acima da
Boa Nova que Cristo nos anunciou.

Vinho – 2
Ângela Faria – Engenheira da Alimentação

O vinho nos nossos dias

Em Portugal, desde o início da Nacionalidade até aos nossos dias, o vinho


ocupou sempre um lugar de destaque na economia agrária, nomeadamente a partir do
século XIV, nas exportações portuguesas para o estrangeiro (estas eram
primeiramente de diversos vinhos com uma qualidade variada, mas desde o século
XVII salientou-se o comércio do vinho do Porto). Sendo um produto com uma longa
tradição que se estende até á mesa no momento da confraternização, ao saborear do
vinho, é uma herança que passa de geração em geração, feita de amor à terra e ao
clima ameno com que fomos abençoados.

Constituição da uva:
O cacho é constituído pelo engaço e os bagos (normalmente designados por
bagas ou uvas) que por sua vez são constituídos pela película (a pele da uva), pela
polpa (interior da uva) e a grainha (semente).

O engaço é:
.pobre em açucares,

.médio em ácidos salificados,

.rico em polifenóis (taninos) responsáveis por grande parte da adstringência


(sensação de “boca grossa”, acontece quando mastigamos algum fruto que não esteja
maduro ou ingerimos um vinho) dos vinhos e baixa acidez (pH >4).

A película contém:
.água (78 – 80%),

.matéria corante,

.substâncias do aroma,

.tanino (1 – 2%),

.matérias ácidas (1 – 1.5%),

.matérias minerais (1.5 –2%)

.matérias azotadas (1.5 – 2%).

É na pruína (camada cerosa aderente exteriormente à película) onde se


“agarram” as leveduras e bactérias disseminadas pelos ventos, chuvas e ainda por
insectos.

A polpa é constituída por:


.água (70 – 78%),

.açúcares (10 – 25%),

.ácidos orgânicos livres (0.2 – 0.5%) e combinados (0.5%),


.matérias minerais (0.2 –0.3%),

.matérias azotadas e pécticas (0.05 – 0.1%)

. vitaminas (vestígios).

A grainha contém:
.água (36 – 40%),

.óleos (10 – 12%),

.taninos (5 – 8%),

.matérias ácidas voláteis (1%),

.matérias azotadas (1 – 2%)

.matérias hidrocarbonadas (34 – 36%).

Da vinha à garrafa:

1) Escolha de castas

2) Tratamentos fitossanitários

3) Controlo de maturação

4) Sumo de uva

5) Esmagamento

6) Esgotamento - Prensagem

7) Maceração - Defecação

8) Fermentação

9) Vinho - Armazenagem

10) Colagem - Filtração

11) Tratamento pelo frio - Filtração

12) Engarrafamento
Viticultura - Ponto 1) a 4)

Vinificação - Ponto 2) a 9)

Enologia - Ponto 9) a 12)

Nota: Estas operações são algumas das necessárias para a transformação do


sumo de uva (suco de uva) em vinho. As técnicas variam quando se quer produzir um
vinho tinto ou um vinho branco, e ainda, por exemplo um vinho VQPRD (vinho de
qualidade produzido em região demarcada) ou um vinho corrente.

Comparação entre vinho (produto obtido através de uma fermentação) e outro


género de bebidas (produtos obtidos principalmente através de destilação)
Vinho: bebida alcoólica obtida por fermentação do mosto de uva, sendo
composto por água (componente maioritário), álcool etílico (7% a 17% de volume) e
por cerca de duzentos componentes diferentes dentro dos quais destaco os ácidos
orgânicos (málico, tartárico, cítrico, acético e carbónico), polifenóis (tanino e
corantes autociânicos), glicerina, glúcidos (glucose, frutose, pentose), substâncias
nitrogenadas (aminoácidos, proteínas, aminas), sais minerais (fosfatos, sulfatos,
cloretos, potássio, cálcio) e substâncias voláteis (aldeídos, acetonas, ésteres).

Aguardente: bebida resultante da destilação alcoólica do açúcar contido em


diversos cereais ou frutos. As aguardentes (bebidas espirituosas) têm um teor
alcoólico nunca inferior a 32%. Como exemplos de aguardentes, cujo sabor é
caracterizado de acordo com o produto fermentado, podem definir-se: vínica,
bagaceira, brandy, conhaque, de frutas, genebra, gin, vodka, whisky, tequilla e outros.

Whisky (uísque) : aguardente destilada na Escócia a partir de cevada (“scoth


whisky”) e na América a partir de milho (“bourbon whiskey”),com um teor alcoólico
entre os 43º e os 44º. A sua típica cor dourada e o ligeiro sabor a fumo devem-se ao
armazenamento, durante vários anos (nunca menos de cinco) em pipas de carvalho
previamente fumadas.

Cachaça: é a aguardente obtida da borra do melaço ou do próprio melaço da


cana-de-açúcar. A sua produção no Brasil teve início na segunda metade do século
XVI e destinava-se inicialmente aos animais domésticos e aos escravos. Em breve se
tornou a mais popular bebida brasileira. O seu teor alcoólico é de 40 a 50º.

Cerveja: bebida fermentada cuja preparação se efectua a partir de cereais


germinados (malte), sendo aromatizada com lúpulo. Contém 3-7% de álcool,
glicerina, anidrido carbónico, maltose, dextrina, compostos azotados, minerais,
pequenas quantidades de tanino, substâncias amargas, corantes e ácidos orgânicos.
Controlo de qualidade efectuado ao vinho
Seguidamente apresento algumas análises básicas e a legislação em que se
baseiam, para o controlo de qualidade do vinho e algumas bebidas destiladas:

. Massa volúmica e densidade: método oficial português (portaria 985/82 e NP


2142) – aerometria.

. Extracto seco: é calculada através do método indirecto utilizando a fórmula de


Tabarié-Girard:

d = 1 + D + D’ , e para conversão em gramas E = e * 10

. Dióxido de enxofre: é utilizado o método oficial português e que a CEE


descreveu como método usual no Reg. 1108/82, método iodométrico baseado no
método de Ripper,

- sulfuroso livre: baseia-se na titulação iodométrica directa em meio ácido, com


titulação correctiva sobre a mesma amostra mas em que a fracção livre de SO2 se
combinou com o excesso de etanal e propanal,

- sulfuroso combinado: titulação iodométrica em meio ácido após dupla hidrólise


alcalina na amostra cujo SO2 livre foi oxidado.

. Acidez:

- acidez total: é através de titulação com soda que chegamos a este resultado
usando o azul de bromatimol como indicador, o resultado vem expresso em gramas
de ácido tartárico por litro,

- acidez volátil: método de Mathieu, é efectuada primeiramente uma destilação,


seguida de uma titulação,

- acidez fixa: calculada através das seguintes fórmulas:

acidez volátil (g ácido acético/l) * 1,25 = acidez volátil (g ácido tartárico/l)

acidez total – acidez (g ácido tartárico/l) = acidez fixa (g ácido tartárico/l)

. Potencial de oxidação-redução: método electrométrico utilizando um eléctrodo


de membrana.

. Composição mineral: só é analisado a quantidade de ferro através do método


colorimétrico, baseado na reacção com sulfocianeto de potássio.
. Teor alcoólico: esta quantificação é feita através de ebulimetria.

. Cor: medição da absorção em U.V..

. Coloração artificial: método do O.I.V. e o oficial português (portaria 985 e pr


NP 2275) baseado nas pesquisas de Arata e Saenz Ruiz (1967) e Tercero (1970).

. Estabilidade: são feitos testes de quente e testes de frio.

Nota: Estas são apenas algumas das análises que podem ser efectuadas ao vinho.
Existe também muito mais legislação que está sempre a ser actualizada, embora a
maioria dos laboratórios utilize nas análises de rotina as por mim referidas.

Vinho – 3
Isaque dos Santos Pereira – Assistente de Clínica Geral (Médico)

ÁLCOOL E BEBIDAS ALCOÓLICAS


Bebidas alcoólicas são bebidas que, como o seu nome indica, contêm álcool. O
álcool etílico ou etanol, molécula de fórmula química CH3 CH2OH é o principal
álcool destas bebidas que o contém em diferentes concentrações.

O etanol é um líquido incolor, volátil, de cheiro agradável e característico, de


sabor queimoso e densidade 0,8. É miscível com a água, ferve a 78,5ºC e pode
separar-se da água por destilação.

A graduação alcoólica de uma bebida é definida pela percentagem volumétrica


de álcool puro nela contido. Assim, por exemplo, um vinho de 10º significa que
contém 10% de álcool, isto é, 100c.c. ou 80 gramas de álcool (100c.c. x 0,8
densidade = 80 gramas de álcool).

O álcool é um produto da fermentação de açúcares de numerosos produtos de


origem vegetal (frutos, mel, tubérculos, cereais) sob a influência de microrganismos
ou leveduras.

Quanto à sua origem, as bebidas alcoólicas podem ser:

- Bebidas fermentadas, tais como o vinho (de 8º a 13º), a cerveja (de 4º a 8º), a
água-pé e a cidra (da fermentação do sumo de maçã, raramente ultrapassa os 4 a 5º).

- Bebidas destiladas, tais como aguardentes (com graduação à volta de 45º) e os


“aperitivos”/licores (com graduações entre 15º a 20º).
Dado que as várias bebidas alcoólicas vulgarmente usadas, têm diferentes
graduações, obviamente que elas podem fornecer ao organismo idênticas quantidades
de álcool se ingeridas em volumes diferentes. Os copos habitualmente usados para as
diferentes bebidas, têm idêntica quantidade de álcool, isto é, 8 a 12 gramas de álcool
puro, aproximadamente (porque as bebidas mais graduadas se servem nos copos mais
pequenos, e as menos graduadas, nos maiores).

TIPOS DE PROBLEMAS LIGADOS AO ÁLCOOL


Refere a Organização Mundial de Saúde: “Há incapacidade ligada ao consumo
de álcool quando existem perturbações das actividades física, mental e social do
indivíduo e/ou da comunidade de tal modo que se possa logicamente deduzir que o
álcool faz parte das causas determinantes dessa incapacidade”.

Problemas ligados ao álcool, no indivíduo.

Efeitos episódicos agudos de um forte consumo de álcool (a vulgar "bebedeira"


ou embriaguez) com tudo o que de desagradável representa; consequências de um
consumo excessivo e prolongado de álcool com as conhecidas cirrose hepática,
polinevrites, encefalopatia, etc.; efeitos de um consumo de álcool em determinadas
circunstâncias, como por exemplo na gravidez e durante o aleitamento, com
consequências nefastas e por vezes irreparáveis para as crianças.

Problemas ligados ao álcool, na família do bebedor.

Perturbações do funcionamento normal da família, traduzidas por carências de


tipo afectivo, financeiro, maus tratos. Graves perturbações nos filhos dos alcoólicos.

Problemas ligados ao álcool, no trabalho.

Diminuição do rendimento laboral; elevado absentismo e acidentabilidade;


reformas prematuras.

Problemas ligados ao álcool, na comunidade.

Perturbações nas relações sociais e de ordem pública; delitos, actos violentos,


criminalidade, acidentes de viação; desemprego, vagabundagem.

FALSOS CONCEITOS LIGADOS AO ÁLCOOL


Em Portugal, as tradições, usos, costumes e "falsos conceitos" são exemplos de
factores socioculturais que facilitam, determinam e intensificam o uso de bebidas
alcoólicas nos mais variados momentos e circunstâncias da vida do indivíduo: “bebe-
se para aquecer” (ignorando-se que a sensação de calor sentida provém de uma
vasodilatação dos pequenos vasos da circulação superficial da face e membros, que,
por sua vez é causa de um arrefecimento geral do organismo); “bebe-se para ter mais
força” com base no efeito excitante e euforizante do álcool; “bebe-se para abrir o
apetite”; para “matar a sede”; etc. etc.

CONSUMO MODERADO DE ÁLCOOL


Não são as bebidas alcoólicas que fazem bêbados e bebedores excessivos.
Pessoas dependentes dos efeitos psico-comportamentais do álcool e pessoas
solicitadas pelo meio e desconhecedoras de quando, quanto e o que beber é que se
tornam bebedores regulares abusivos.

Se é adulto e saudável e aprecia “uma boa pinga”, beba com gozo e moderação
enquanto come, ou logo depois. Prefira vinhos tintos ou brancos, garantidamente
“honestos” e naturais. Guarde as outras bebidas alcoólicas para saborear
parcimoniosamente só em momentos especiais. Recorde-se que para “matar a sede”,
nada melhor do que água simples. Quanto mais forte a bebida e mais vazio o
estômago, maior e mais rápida é a absorção e a elevação do teor alcoólico no sangue
e mais provável é que esses teores ultrapassem a capacidade fisiológica de
desintoxicação.

Em média, um adulto saudável de 65 kg pode beber cerca de 2,5 dl de vinho


maduro a acompanhar um almoço ou um jantar bem estruturados. Essa porção
equivale aproximadamente a 3 dl de vinho verde, 6 dl de cerveja, 0,5 dl de
aguardente, uísque ou outra bebida destilada.

Com almoços e jantares ligeiros é aconselhável ficar por metade dessas


quantidades. E fora das refeições, nada!

As mulheres devem quedar-se por 70% das quantidades referidas, já que têm
uma capacidade de metabolizar o álcool, inferior à dos homens.

Defende-se que antes dos 17 - 18 anos não se devem consumir bebidas


alcoólicas, porque os sistemas desintoxicantes do organismo não são ainda
suficientemente eficazes. O contacto com o álcool antes de completada a maturação
causa subdesenvolvimento do organismo, prejudica a imunocompetência, afecta as
capacidades intelectivas, contribui para o insucesso escolar e dificulta a
aprendizagem profissional.

Os vinhos em geral, mas sobretudo os tintos, fornecem prociamidinas, histidina


e variadas substancias antioxidantes que actuam como protectoras contra a
aterosclerose, cancro e envelhecimento patológico. Tais substâncias protectoras
provêm de cascas, grainhas e engaço das uvas e são uma das explicações possíveis
para a longevidade de povos grandes comedores de uvas tintas, como os búlgaros.
Têm também sido relacionadas com a fraca incidência de aterosclerose em França,
apesar de os consumos de gordura nesses país semelharem os do Norte e Centro da
Europa e os dos Estados Unidos, onde se bebe muito pouco vinho e, pelo contrário,
se abusa de cerveja, bebidas destiladas e refrigerantes agressivos.

CONCLUSÃO
Coisa má é consumir bebidas alcoólicas sem critério e em abundância.

Outra coisa é beber com moderação e oportunidade. Mas coisa boa, talvez seja
beber com moderação e oportunidade vinho tinto de qualidade.

BIBLIOGRAFIA
MANUAL DE ALCOOLOGIA - Maria Lucília Mercês de Melo, Augusto
Pinheiro Pinto, Maria Henriqueta Frazão, José Pereira da Rocha - Coimbra 1988

BEM COMIDOS E BEM BEBIDOS - Emílio Peres - Coimbra 1997

Isaque dos Santos Pereira, Assistente Graduado de Clínica Geral, Leiria –


Portugal

Vinho – 4 (Camilo Coelho)

Conclusão

Ao chegar ao fim deste estudo, é natural que alguns dos leitores da “Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas” me perguntem: “Mas então, se esta é uma página
evangélica na internet, não deveria ter mais consideração pelas nossas tradições
evangélicas?”

Confirmo que a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas” é uma página


evangélica, mas empregamos o termo evangélica, querendo afirmar que está ao
serviço do Evangelho, o que não implica necessariamente, estar ao serviço das
tradições das igrejas evangélicas.

Claro que não podemos ignorar que esta página será visitada por muitos
evangélicos, católicos, ateus ou agnósticos, mas ao apresentar estes estudos sobre o
Evangelho, não tencionamos ser influenciados pelas tradições de evangélicos ou
católicos, pois como diz Paolo Ricca, Professor da Faculdade Valdense de Teologia,
“O pregador não deve ser cúmplice das ideias da comunidade ou de uma pessoa
individualmente.” Não é o facto de determinada ideia ser aceite pelas nossas igrejas
que nos deve pressionar a aceitá-la, pois os evangelhos e a palavra de Jesus, são o
nosso único e insubstituível ponto de referência.

Penso que este estudo sobre o vinho nas Escrituras, tem mais interesse para os
brasileiros e outros leitores de língua portuguesa do que para os portugueses, pois
estes últimos, têm uma antiga tradição vinícola e geralmente sabem o que podem e
quanto podem beber, mas penso que mesmo estes terão interesse nos esclarecimentos
do Dr. Isaque Pereira como médico e da Engenheira de alimentação Ângela Faria.

Dois mil anos nos separam do nosso Mestre, que todos ansiamos por conhecer
melhor. Temos algumas informações e damos graças a Deus, em primeiro lugar, pela
preservação dos textos bíblicos, em especial dos evangelhos, mas temos também a
tradição que nos apresentam as igrejas do nosso tempo e dou graças a Deus pela
acção de católicos, protestantes ou ortodoxos, pois nos dão alguma informação sobre
o nosso Mestre, mas por vezes temos a sensação de estar perante uma velha estátua,
que foi construída há dois mil anos, mas que presentemente já está suja pelo tempo e
pelos excrementos dos pássaros. Há muita tradição, produto da mente humana, que
foi acrescentada à mensagem das Escrituras, por vezes por motivos económicos,
como no caso das indulgências ou da obrigatoriedade do dízimo, mas geralmente
com boas intenções, por teólogos que pensaram “ajudar” o Senhor, acrescentando
suas convicções pessoais ao Evangelho, pensando ingenuamente que Deus
necessitava da sua ajuda para rectificar ou completar a sua revelação ao homem.

O desafio que o Senhor coloca perante todos nós, é de limpar a velha estátua,
para tentar chegar às origens, ao tempo em que Jesus apresentou o seu Evangelho.
Claro que haverá reacção dos que se habituaram a ver a velha estátua enegrecida pelo
tempo e pela sujidade e preferem que assim continue.

Que o Espírito do Senhor nos encaminhe para separar do verdadeiro Evangelho,


tudo que é tradição católica, por vezes medieval, ou tradição e erros do
protestantismo, com origem em contextos culturais que nada têm a ver com os nossos
e muito menos com esse Jesus, que não era português nem brasileiro, não era europeu
nem africano, não era católico, nem evangélico, nem ortodoxo, mas que é a
PALAVRA DE DEUS, que se manifestou há 2000 anos, num país pobre da Ásia
menor, chamado Israel.

Parece-me, pelo que já foi dito, que podemos tirar as seguintes conclusões:

1) O vinho era bebida que geralmente fazia parte das refeições, no contexto
cultural em que Jesus viveu, e o nosso Mestre, integrado na sua cultura, tomava vinho
assim como todo o homem do seu tempo.

2) Vinho ou “oinos” como aparece em grego, é produto da fermentação do


mosto da uva. Ninguém nessa cultura confundia vinho com aguardente portuguesa ou
cachaça brasileira, que era designada por bebida forte “síqueroh”. Esta diferença
entre vinho e bebida forte (produto de destilação), está bem nítida em Lucas 1:15,
onde as duas palavras aparecem no mesmo versículo. Afinal, quer a engenharia de
alimentação quer a medicina, como vimos, confirmam esta diferença.
Lucas 1:15

Mas há outro aspecto que não podemos ignorar. Embora para todos nós, que nos
entendemos em português, quer brasileiros, portugueses, angolanos, moçambicanos
etc a palavra vinho tenha o mesmo significado, a semântica desta palavra nem
sempre é a mesma, pois em Portugal, vinho é a bebida do pobre, assim como
acontecia no contexto cultural em que Jesus viveu, mas a realidade quer no Brasil,
quer noutros países lusófonos, é bem diferente.

Vejamos o que representa para o brasileiro da classe mais humilde, que receba o
seu vencimento mínimo, o custo duma garrafa de vinho brasileiro e fazer as mesmas
contas em relação ao vencimento mínimo em Portugal, no corrente ano de 2001. Vou
fazer as contas em reais, pois esta parte tem mais interesse para os leitores do Brasil,
já que em Portugal ninguém tem dúvidas de que vinho não é aguardente.

No Brasil, uma garrafa de 0.7 litros custa 4 reais, o que dá 4/0.7= 5.7 reais/litro.
Para o brasileiro mais humilde, que receba o vencimento mínimo de 180 reais, um
litro de vinho corresponde a 5.7/180=0.0317 ou seja 3% do seu vencimento.

Em Portugal, o pobre geralmente não compra vinho à garrafa, mas ao garrafão


que sai mais barato. Um garrafão de 5 litros custa entre 6 a 12 reais em moeda
brasileira. Considerando um valor médio de 10 reais, o que daria 2 reais/litro, para o
português mais humilde, que receba o vencimento mínimo de 670 reais, teremos de
concluir que um litro de vinho representa 2/670=0.003 ou seja 0.3% do seu
vencimento.

Julgo que ao falar em vinho, no Brasil e em Portugal, não podemos esquecer de


que embora em teoria seja a mesma coisa, estamos a utilizar a mesma palavra com
uma semântica bem diferente dos dois lados do Atlântico. Em Portugal, assim como
em Israel no tempo de Jesus, vinho é a bebida do pobre, mas no Brasil isso já não
funciona, pois o pobre no Brasil geralmente não tem acesso ao vinho e por vezes
acaba apor confundir vinho com cachaça, que pode comprar a 1,5 a 2 reais/litro.

Gostaria ainda de meditar no uso do vinho na Ceia do Senhor, mas devido ao


tamanho um tanto exagerado deste estudo, vou abrir outra página dedicada ao
assunto, pelo que convido o leitor a ler o artigo “Ceia do Senhor”.
Espero que quem tenha entrado neste artigo, o tenha lido até ao fim, ou que pelo
menos tenha lido esta conclusão, pois gostaria que ficasse bem claro que o vinho que
Jesus bebia, era o genuíno vinho de uva, não era cachaça nem whisky, cujo teor
alcoólico é muito mais elevado do que o do vinho natural, o suco de uva fermentado.

Não posso dizer que a Bíblia proíbe a cachaça ou o whisky, pois em Números
28:7 a “bebida forte” faz parte das ofertas no Templo, e em Deuteronómio 14:26, o
judeu que oferecesse o holocausto, era convidado a comer da sua própria oferta,
incluindo “bebida forte”, no próprio Templo. Mas como já vimos, não é
recomendável o uso de “bebidas fortes” (aguardente, cachaça. whisky etc.), a não ser
com muita moderação, pelos motivos que a medicina nos apresenta. E no caso do
genuíno vinho de uva, há que ter em atenção os pormenores para que nos alertam os
dois especialistas no assunto, pois os efeitos benéficos para o nosso organismo, só
são válidos se soubermos beber tendo em atenção todos os pormenores já
apresentados.

Colaboradores deste artigo


Termino com os meus agradecimentos à jovem Engenheira da Alimentação
Ângela Faria, membro da Igreja Batista da Maceira, pela sua colaboração neste
estudo. É a primeira vez que temos a sua colaboração na “Estudos bíblicos sem
fronteiras teológicas” e desejamos que seja a primeira de muitas outras vezes.

Tivemos também a valiosa colaboração do médico Dr. Isaque Pereira, também


membro da Igreja Batista da Maceira, a quem apresentamos os nossos
agradecimentos.

Quero ainda mencionar o Pastor e Professor de Psicologia Dr. Orlando Caetano


pela sua preciosa ajuda no Hebraico e no Grego. Este autor é já bem conhecido dos
leitores desta página da internet através dos seus artigos.

Que o Senhor nos conceda o bom senso, para tomarmos a opção correcta quanto
às nossas bebidas.

Camilo - Marinha Grande, Portugal


Dezembro de 2005

Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas

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