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(Deverá “clicar” nas referência bíblicas, para ter acesso aos textos)
Se tenciona ler o artigo sobre o vinho, peço-lhe que o leia até ao fim, antes de
tirar as suas conclusões. Este artigo poderá ser copiado livremente, mas com duas
condições: Em primeiro lugar, que seja feita uma divulgação da totalidade do artigo e
não somente a parte que mais se adapta às suas ideias, e em segundo lugar, que seja
mencionada a sua origem, a “Estudos bíblicos sem fronteiras teológicas”.
O vinho, na Bíblia
Introdução
Recebi há dias esta mensagem dum jovem irmão em Cristo, de Campinas, no
Estado de São Paulo – Brasil.
A Paz do Senhor,
Irmão Camilo, saudades, como vai! Já faz tempo que não nos falamos, aliás
estive fora da internet uns dias, resolvendo problemas, mas graças a Deus sempre
com Jesus no barco.
Gostaria que o irmão, mais uma vez me respondesse a questões voltadas à
Bíblia, e desta vez gostaria que o irmão me esclarecesse melhor, o que o apóstolo
Paulo estava querendo dizer a Timóteo quando implicou sobre que os diáconos
deveriam não ser dados a muito “vinho”, Várias passagens na Bíblia falam do vinho,
do suco da uva, segundo o dicionário, mas porque não ser dado a muito suco de uva,
ou qual a explicação à luz da Bíblia, pois, também o apostolo, fala para não nos
enchermos do “vinho”, em que há contenda, mas do Espírito de Deus!
Aguardo resposta,
A PAZ DO SENHOR - Everaldo - Campinas/Brasil
Qual terá sido o motivo que levou este jovem a fazer-me esta pergunta? Não é
caso isolado, pois alguns outros brasileiros, na maioria jovens, encontram a minha
página na internet e resolvem contactar-me, fazendo perguntas a que tento responder,
embora não seja pastor e não fale em nome de nenhuma igreja. É interessante, que
estando em Portugal, são em muito maior número os brasileiros que me contactam do
que os portugueses. Talvez em parte, seja pelo nome da minha página “Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas”, uma página que somente se preocupa com a
fidelidade aos textos bíblicos, sem se preocupar com as tradições, sejam elas
católicas, evangélicas ou ortodoxas.
Mas, será que faz sentido, um jovem diácono brasileiro, dirigir esta pergunta
para o outro lado do Atlântico?
Penso que sim, que esta troca de pensamentos e opiniões entre os dois lados do
Atlântico, do Brasil para Portugal, e de Portugal para o Brasil, é salutar e é uma
forma de testar as nossas convicções teológicas, uma forma de saber se uma
determinada afirmação ou opinião tem fundamento bíblico ou se será somente fruto
do nosso contexto cultural ou histórico. É que o genuíno Evangelho que Cristo nos
apresentou, é universal, é para todas as épocas e todas as culturas. Podemos testar a
veracidade das nossas convicções, até mesmo dentro do nosso espaço lusófono, pois
se determinada afirmação não for válida em Curitiba no sul do Brasil, em São Paulo,
no interior da Amazónia, em Lisboa, em Nampula no norte de Moçambique, na
Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, nas ilhas dos Açores, no meio do Atlântico ou na
Marinha Grande no centro de Portugal, onde me encontro, então é porque não se trata
duma genuína afirmação bíblica eterna e universal, mas somente um aspecto da nossa
cultura.
Diferenças culturais
Esta diferença de atitudes tem uma origem histórica, pois o Brasil foi
evangelizado principalmente por missionários americanos, cuja tradição os proibia de
beber vinho. Por um lado, temos de ser compreensivos para com a sua atitude, pois
vinham duma cultura sem tradição vinícola, enviados por igrejas que não sabiam
diferenciar o verdadeiro vinho, do whisky, cachaça ou outras bebidas destiladas com
elevado teor alcoólico e ao chegar ao Brasil, onde a igreja mãe nos USA esperava que
fundassem uma igreja que fosse uma cópia fiel da igreja mãe, encontraram um povo
em que o alcoolismo era um dos principais problemas. A sua reacção foi certamente a
continuidade da tradição americana, que tinham aprendido desde crianças, que o
crente não pode beber. O Evangelho divulgou-se em todo o Brasil principalmente
entre a classe mais humilde, que nunca questionou tais ensinos em face das
Escrituras.
As uvas eram pisadas e o suco da uva, para empregar a expressão mais utilizada
no Brasil, ou o sumo da uva, expressão mais vulgar em Portugal e nos países
africanos que falam a nossa língua, embora o termo mais correcto seja o mosto,
escorria para uma vasilha ou outro compartimento de menores dimensões. Penso que
este sistema se manteve praticamente inalterável há milénios, pois já era assim no
antigo Egipto, antes de Israel existir como nação. Só nos nossos dias é que está a ser
alterado, mas quanto a essa parte, o melhor é pedir a colaboração a quem sabe, que
não são os teólogos, mas os especialistas no assunto, como é o caso da jovem
engenheira de alimentação Ângela Faria, membro da Igreja Batista da Maceira –
Portugal, a quem vou pedir para nos falar do vinho dos nossos dias.
Tal como nos nossos dias, pois as leis da química e da biologia não mudaram, o
mosto sofria a fermentação alcoólica, dando origem ao vinho e este, após a
fermentação acética dava origem ao vinagre. A palavra grega “oxos”, ou a hebraica
“homes”, tanto podia designar vinho como vinagre.
A palavra “tirosh” que aparece em Números 18:12, Neemias 10:37, Joel 2:24 a
maior parte das nossas melhores versões da Bíblia traduziu por mosto ou vinho novo.
Na passagem de Joel, não há dúvida de que era mosto, pois se ainda estava a
transbordar no lagar, certamente que ainda não tinha fermentado. No entanto, nas
outras passagens é por vezes traduzida por vinho, ou vinho novo.
Outra palavra que aparece por exemplo em Actos 2:13 é a palavra “gleukos”,
que a maior parte das nossas versões traduz por mosto.
Lucas 5:39
Uma vez que a vindima está relacionada com a época do ano e se efectua só uma
vez por ano, o natural era terem o mosto só nessa época, nos dias em que as uvas
eram pisadas, uma vez que ainda não havia a cultura em estufas, para se obter uvas
fora da época, nem meios de congelação para conservação do mosto, técnicas que são
bem dos nossos dias.
Havia também bebidas alcoólicas fabricadas com outros frutos, que não eram
propriamente o verdadeiro vinho de uva, mas produtos da fermentação da cevada
(antepassado da cerveja?), da tâmara, da maçã e de outros frutos.
Utilidade do vinho
Lucas 10:34
1ª Timóteo 5:23
No Antigo Testamento, encontram-se passagens que determinavam as ofertas de
vinho dedicadas ao Senhor, em Êxodo 29:40, Levítico 23:13, Deuteronómio 14:26
onde aparece a mesma palavra “yayin” que serviu para embebedar a Noé em Génesis
9:20, palavra que aparece, quer isolada, quer associada a outras palavras.
Génesis 9:20
Êxodo 29:40
Levítico 23:13
Deuteronómio 14:26
Também Melquisedec, rei do Salém e sacerdote do Deus altíssimo, tantas vezes
citado como um exemplo digno de se seguir, quando se fala no dízimo, em Génesis
14:18 trouxe pão e vinho “yayin”.
Génesis 14:18
Como evangélicos, a Bíblia é para todos nós, a tal espada de dois gumes, que
tanto dá para cortar para um lado como para o outro.... já todos nós sabemos disso.
Mas dentro da própria Bíblia, temos como supremo exemplo a figura do nosso
Mestre, as suas ideias e o seu comportamento e é isso que nos interessa.
Muito dessa tradição, é bem parecido com o que se passa em quase todos os
países mediterrâneos, excepto o Norte de África, onde devido ao islamismo se perdeu
a tradição vinícola, mas ainda hoje, embora os hábitos estejam a mudar, é possível
ver em algumas antigas casas de campo em Portugal, Espanha, sul da França, Itália e
Grécia, o fabrico de vinho no lagar como se fazia no tempo de Jesus.
Mateus 11:19
Vemos que a palavra utilizada no grego é “oinos” e beberrão poderia ter sido
traduzido por bebedor de “oinos”. Claro que não podemos aceitar esta acusação. O
que deve ter acontecido, é os seguidores de João Batista imaginarem um Messias do
tipo de João Batista, e quando viram que Jesus, em vez de se isolar no deserto ou no
interior do Templo, procurou aproximar-se dos pobres, sem fazer distinção alguma,
ficaram escandalizados. E ainda mais escandalizados ficaram, ao ver Jesus a beber
com os pecadores e logo o acusaram de beberrão. Isto ainda acontece nos nossos dias
com esses “santarrões” que se afastam do homem pecador e também querem confinar
Jesus ao seu reduzido espaço litúrgico.
Embora não tenhas mencionado as passagens, certamente por não ser necessário,
de tal maneira elas são conhecidas de todos nós, não tenho dúvidas de que te referes a
1ª Timóteo 3:8 e Efésios 5:18.
Tens toda a razão nas dúvidas que levantas, e a tua atitude de questionar o que te
ensinaram, está perfeitamente de acordo com a mentalidade dos bereanos que Paulo
elogiou, apresentando-os como um exemplo de estudantes da Bíblia. Isso foi assim
no tempo de Paulo, embora essa mentalidade ficasse esquecida durante vários
séculos. Durante toda a idade média a Bíblia ficou esquecida, para se ensinar a
tradição da Igreja, produto da mente humana. No entanto, a mentalidade dos bereanos
voltou a reviver nos tempos da Reforma Protestante, quando a opinião das
“Autoridades Eclesiásticas” foi posta em dúvida pelo povo que depois de tantos
séculos, voltara a ter acesso às Santas Escrituras. Parece-me que nos nossos dias,
temos de reaprender que a Bíblia, e em particular os ensinos do nosso Mestre, são a
nossa única e insubstituível fonte de conhecimento de Deus e o nosso padrão de
comportamento, ou como dizia Lutero “Somente a Escritura”.
Penso que nós, os que não sabemos grego nem hebraico, não temos necessidade
de nos reduzirmos ao silêncio perante tais argumentos. O estudo das Escrituras é
demasiado importante para que possamos confiar em quem quer que seja, muito
menos nos teólogos, embora com todo o respeito que nos merecem, pois a história da
Igreja, tanto no passado como no presente, está cheia de exemplos de como a Bíblia
tem sido deturpada, por vezes até com boas intenções, por pessoas que pensaram
estar prestando um bom serviço à Igreja do Senhor. A melhor maneira de
salvaguardar esses desvios doutrinários, é a Bíblia ser interpretada por aqueles a
quem o Senhor a dirigiu, pelo próprio povo evangélico.
Qualquer um de nós, poderá comprar um Antigo Testamento em hebraico, ou
um Novo Testamento em grego, mesmo sem conhecer estas línguas, e com o
dicionário e uma pequena ajuda de quem conheça estas línguas, confirmar quais as
palavras que estão nos textos originais.
1ª Timóteo 3:8
Efésios 5:18
Meu querido e jovem irmão. Fico feliz por me dirigires esta pergunta, um tanto
polémica, mas o apelo que te faço é que não acredites em mim, nem em ninguém,
mas apega-te às Escrituras, em especial aos textos originais, que afinal concordam
com a nossa Bíblia em português.
Outro argumento utilizado para “provar” que na Ceia do Senhor não foi utilizado
vinho, mas somente o mosto, que teria de ser conservado desde a vindima do ano
anterior, pois esta se fazia em Agosto e Setembro e eles estavam na época da Páscoa
(14 de Abib) que corresponde aos meses de Abril ou Maio, é o facto do Êxodo
12:14/30 proibir que, nesses sete dias da festa pascal, houvesse fermento nas casas
dos judeus. Este argumento, não toma em consideração a época e a cultura, pois
fermentação do vinho, nunca na Bíblia foi considerada como fermento e o contexto
desses versículos mostram claramente que toda a ênfase é colocada nos pães asmos.
Quem comesse pão levedado na época da Páscoa, de acordo com o versículo 15, seria
“cortado” ou “eliminado” de Israel, uma forma de se referir à pena de morte. Mas ao
aceitar este argumento como válido, então teríamos principalmente de rejeitar a
utilização do vulgar pão, nos nossos cultos de Ceia do Senhor, para passar a utilizar a
hóstia, como fazem os católicos. É verdade que o Antigo Testamento por vezes fala
no fermento associando-o à impureza e ao pecado, mas Jesus não deu apoio a esta
velha ideia sobre o fermento, quando em Mateus 13:33 compara o próprio Reino de
Deus com um pouco de fermento. Penso que isso é um bom passatempo para os
“fariseus” dos nossos dias que ainda não compreenderam que a mensagem de Jesus
não está subordinada à mentalidade veterotestamentária, pois muitos critérios foram
anulados ou profundamente alterados, e a Ceia Senhor não é uma comemoração da
Páscoa judaica: Não se fala do cordeiro pascal e os elementos centrais são o pão e o
vinho. Mas há outra profunda diferença. É que a morte, o cadáver, que era o máximo
de impureza, em especial em Levítico, que tornava impuro quem nele tocasse, passa
a ser fonte de bênção e de vida, passa a ser o único caminho para Deus.
Bodas de Caná
Mesmo quem não souber grego, como é o meu caso, pode procurar as palavras
no texto em grego que junto a seguir, onde está assinalada a palavra “oinos”, para que
todos possam conferir esta informação.
João 2:1-12
O texto é bem claro. Neste milagre, Jesus transformou a água em vinho. A
palavra “oinos” não deixa margem para dúvidas. Devemos aceitar o verdadeiro Cristo
dos evangelhos, que se alegra com o seu povo, que compreende os seus que
reconhecem a sua voz, como as ovelhas ouvem a voz do seu pastor, embora haja
quem siga um outro “Jesus” da sua tradição. Para esses, que já decidiram não crer na
evidência das Escrituras, que colocam a sua tradição em primeiro lugar, não há nada
a fazer. Nem o próprio Cristo os poderá mudar. Mas vejamos alguns argumentos que
apresentam, para “provar” que não era verdadeiro vinho.
1) Dizem alguns, que após esgotado o vinho, foi servida água, em tom de piada
que foi bem aceite por todos.
Prefiro não comentar estes argumentos, mas não posso deixar de lamentar a
forma como torcem as Escrituras para as adaptar às suas tradições.
A primeira preocupação seria procurar uma talha com água para as purificações
rituais. Mas chega à primeira talha que encontra cheia de vinho e pensa... Não é aqui.
Deve ser aquela outra talha, mas na outra também só há vinho e é assim em todas as
seis talhas. Então, como cumprir a Lei de Moisés? Não ficou água para as lavagens
rituais, nem há água para se misturar no vinho. Então, a grande preocupação; agora o
que fazer? Abandonar a festa entristecendo os noivos ou aproximar-se dos outros
convidados sem as lavagens rituais?...
Estes problemas sem solução, podem acontecer nos nossos dias, se não
aceitarmos que o Mestre chegou, e está entre nós!!.... Tudo o mais está ultrapassado.
Ou nos juntamos e nos alegramos com os pecadores salvos por Jesus, ou então, temos
de nos juntar aos “fariseus do nosso tempo”, que colocam as suas tradições acima da
Boa Nova que Cristo nos anunciou.
Vinho – 2
Ângela Faria – Engenheira da Alimentação
Constituição da uva:
O cacho é constituído pelo engaço e os bagos (normalmente designados por
bagas ou uvas) que por sua vez são constituídos pela película (a pele da uva), pela
polpa (interior da uva) e a grainha (semente).
O engaço é:
.pobre em açucares,
A película contém:
.água (78 – 80%),
.matéria corante,
.substâncias do aroma,
.tanino (1 – 2%),
. vitaminas (vestígios).
A grainha contém:
.água (36 – 40%),
.taninos (5 – 8%),
Da vinha à garrafa:
1) Escolha de castas
2) Tratamentos fitossanitários
3) Controlo de maturação
4) Sumo de uva
5) Esmagamento
6) Esgotamento - Prensagem
7) Maceração - Defecação
8) Fermentação
9) Vinho - Armazenagem
12) Engarrafamento
Viticultura - Ponto 1) a 4)
Vinificação - Ponto 2) a 9)
. Acidez:
- acidez total: é através de titulação com soda que chegamos a este resultado
usando o azul de bromatimol como indicador, o resultado vem expresso em gramas
de ácido tartárico por litro,
Nota: Estas são apenas algumas das análises que podem ser efectuadas ao vinho.
Existe também muito mais legislação que está sempre a ser actualizada, embora a
maioria dos laboratórios utilize nas análises de rotina as por mim referidas.
Vinho – 3
Isaque dos Santos Pereira – Assistente de Clínica Geral (Médico)
- Bebidas fermentadas, tais como o vinho (de 8º a 13º), a cerveja (de 4º a 8º), a
água-pé e a cidra (da fermentação do sumo de maçã, raramente ultrapassa os 4 a 5º).
Se é adulto e saudável e aprecia “uma boa pinga”, beba com gozo e moderação
enquanto come, ou logo depois. Prefira vinhos tintos ou brancos, garantidamente
“honestos” e naturais. Guarde as outras bebidas alcoólicas para saborear
parcimoniosamente só em momentos especiais. Recorde-se que para “matar a sede”,
nada melhor do que água simples. Quanto mais forte a bebida e mais vazio o
estômago, maior e mais rápida é a absorção e a elevação do teor alcoólico no sangue
e mais provável é que esses teores ultrapassem a capacidade fisiológica de
desintoxicação.
As mulheres devem quedar-se por 70% das quantidades referidas, já que têm
uma capacidade de metabolizar o álcool, inferior à dos homens.
CONCLUSÃO
Coisa má é consumir bebidas alcoólicas sem critério e em abundância.
Outra coisa é beber com moderação e oportunidade. Mas coisa boa, talvez seja
beber com moderação e oportunidade vinho tinto de qualidade.
BIBLIOGRAFIA
MANUAL DE ALCOOLOGIA - Maria Lucília Mercês de Melo, Augusto
Pinheiro Pinto, Maria Henriqueta Frazão, José Pereira da Rocha - Coimbra 1988
Conclusão
Ao chegar ao fim deste estudo, é natural que alguns dos leitores da “Estudos
bíblicos sem fronteiras teológicas” me perguntem: “Mas então, se esta é uma página
evangélica na internet, não deveria ter mais consideração pelas nossas tradições
evangélicas?”
Claro que não podemos ignorar que esta página será visitada por muitos
evangélicos, católicos, ateus ou agnósticos, mas ao apresentar estes estudos sobre o
Evangelho, não tencionamos ser influenciados pelas tradições de evangélicos ou
católicos, pois como diz Paolo Ricca, Professor da Faculdade Valdense de Teologia,
“O pregador não deve ser cúmplice das ideias da comunidade ou de uma pessoa
individualmente.” Não é o facto de determinada ideia ser aceite pelas nossas igrejas
que nos deve pressionar a aceitá-la, pois os evangelhos e a palavra de Jesus, são o
nosso único e insubstituível ponto de referência.
Penso que este estudo sobre o vinho nas Escrituras, tem mais interesse para os
brasileiros e outros leitores de língua portuguesa do que para os portugueses, pois
estes últimos, têm uma antiga tradição vinícola e geralmente sabem o que podem e
quanto podem beber, mas penso que mesmo estes terão interesse nos esclarecimentos
do Dr. Isaque Pereira como médico e da Engenheira de alimentação Ângela Faria.
Dois mil anos nos separam do nosso Mestre, que todos ansiamos por conhecer
melhor. Temos algumas informações e damos graças a Deus, em primeiro lugar, pela
preservação dos textos bíblicos, em especial dos evangelhos, mas temos também a
tradição que nos apresentam as igrejas do nosso tempo e dou graças a Deus pela
acção de católicos, protestantes ou ortodoxos, pois nos dão alguma informação sobre
o nosso Mestre, mas por vezes temos a sensação de estar perante uma velha estátua,
que foi construída há dois mil anos, mas que presentemente já está suja pelo tempo e
pelos excrementos dos pássaros. Há muita tradição, produto da mente humana, que
foi acrescentada à mensagem das Escrituras, por vezes por motivos económicos,
como no caso das indulgências ou da obrigatoriedade do dízimo, mas geralmente
com boas intenções, por teólogos que pensaram “ajudar” o Senhor, acrescentando
suas convicções pessoais ao Evangelho, pensando ingenuamente que Deus
necessitava da sua ajuda para rectificar ou completar a sua revelação ao homem.
O desafio que o Senhor coloca perante todos nós, é de limpar a velha estátua,
para tentar chegar às origens, ao tempo em que Jesus apresentou o seu Evangelho.
Claro que haverá reacção dos que se habituaram a ver a velha estátua enegrecida pelo
tempo e pela sujidade e preferem que assim continue.
Parece-me, pelo que já foi dito, que podemos tirar as seguintes conclusões:
1) O vinho era bebida que geralmente fazia parte das refeições, no contexto
cultural em que Jesus viveu, e o nosso Mestre, integrado na sua cultura, tomava vinho
assim como todo o homem do seu tempo.
Mas há outro aspecto que não podemos ignorar. Embora para todos nós, que nos
entendemos em português, quer brasileiros, portugueses, angolanos, moçambicanos
etc a palavra vinho tenha o mesmo significado, a semântica desta palavra nem
sempre é a mesma, pois em Portugal, vinho é a bebida do pobre, assim como
acontecia no contexto cultural em que Jesus viveu, mas a realidade quer no Brasil,
quer noutros países lusófonos, é bem diferente.
Vejamos o que representa para o brasileiro da classe mais humilde, que receba o
seu vencimento mínimo, o custo duma garrafa de vinho brasileiro e fazer as mesmas
contas em relação ao vencimento mínimo em Portugal, no corrente ano de 2001. Vou
fazer as contas em reais, pois esta parte tem mais interesse para os leitores do Brasil,
já que em Portugal ninguém tem dúvidas de que vinho não é aguardente.
No Brasil, uma garrafa de 0.7 litros custa 4 reais, o que dá 4/0.7= 5.7 reais/litro.
Para o brasileiro mais humilde, que receba o vencimento mínimo de 180 reais, um
litro de vinho corresponde a 5.7/180=0.0317 ou seja 3% do seu vencimento.
Não posso dizer que a Bíblia proíbe a cachaça ou o whisky, pois em Números
28:7 a “bebida forte” faz parte das ofertas no Templo, e em Deuteronómio 14:26, o
judeu que oferecesse o holocausto, era convidado a comer da sua própria oferta,
incluindo “bebida forte”, no próprio Templo. Mas como já vimos, não é
recomendável o uso de “bebidas fortes” (aguardente, cachaça. whisky etc.), a não ser
com muita moderação, pelos motivos que a medicina nos apresenta. E no caso do
genuíno vinho de uva, há que ter em atenção os pormenores para que nos alertam os
dois especialistas no assunto, pois os efeitos benéficos para o nosso organismo, só
são válidos se soubermos beber tendo em atenção todos os pormenores já
apresentados.
Que o Senhor nos conceda o bom senso, para tomarmos a opção correcta quanto
às nossas bebidas.