Você está na página 1de 14

Mecânica

dos Sólidos

DEFORMAÇÃO TRANSVERSAL
APRESENTAÇÃO

O lá aluno(a), bem-vindo(a). Conhecer o comportamento dos materiais é de suma


importância para a engenharia e um dos parâmetros importantes é saber como ele
se deforma transversalmente e qual o valor dessa deformação. Neste Módulo iremos
aprender a determinar a deformação transversal de uma barra submetida a carregamento
axial e ampliaremos os conceitos aprendidos para o estudo de deformações produzidas
por tensões normais aplicadas nas três direções. Vamos aos estudos?

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final deste módulo, você será capaz de:

• Calcular a deformação transversal que irá ocorrer na seção de uma barra carregada
com força axial;
• Analisar o comportamento de elementos estruturais tridimensionais submetidos a
tensões normais atuando nos seus três planos perpendiculares.

FUMEC VIRTUAL - SETOR DE Produção de Infra-Estrututura e Suporte


FICHA TÉCNICA

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Design Multimídia Coordenação


Coordenação Anderson Peixoto da Silva
Gestão Pedagógica
Rodrigo Tito M. Valadares
Coordenação
Design Multimídia AUTORIA
Gabrielle Nunes Paixão
Therus Santana
Transposição Pedagógica Prof. Eduardo Chahud
Joelma Andréa de Oliveira Adaptação: Prof. João
Bosco Alves Mello

BELO HORIZONTE - 2018


DEFORMAÇÃO TRANSVERSAL
Deformação transversal de barra
submetida a força axial
Em Engenharia na maioria das vezes trabalhamos no Sistema Cartesiano de Referência.

Ao representarmos uma barra coincidiremos o eixo x como o eixo da barra e os outros


dois eixos perpendiculares a este.

Uma barra homogênea submetida a uma força axial, atuante na direção x, apresenta a
tensão normal σx= Nx /A e a deformação específica εx = Δl/l0 e elas satisfazem a Lei de
Hooke: σx= E * εx.

Onde, E é o módulo de elasticidade do material e a Lei de Hooke tem validade se a tensão


de proporcionalidade do material não for atingida.

A Figura 1 mostra a atuação da Força externa P, produtora de esforço interno Nx.

A
z
P x
Figura 1 – Barra submetida a força P.

Ao analisarmos o elemento tridimensional apresentado na Figura 2, concluímos que as


tensões σy(tensão atuante no plano perpendicular ao eixo y) e σz(tensão atuante no plano
perpendicular ao eixo z), são iguais a zero.

σy =0

P
σz = 0 σx =
A
Figura 2 – Elemento tridimensional da barra submetida a força P.

Deformação Transversal
Deformação por Cisalhamento 37
ATENÇÃO
Se analisarmos somente as tensões atuantes nas direções y e z, podemos concluir,
erroneamente, que as deformações ε y e ε z são iguais a zero.

Considerando os materiais utilizados em engenharia toda deformação εx será acompanha-


da de uma contração nas direções perpendiculares. A Figura 3 mostra essa contração.

P’

Figura 3 – Contração da barra submetida a força P.

Os materiais em engenharia são considerados homogêneos e isótropos (suas proprieda-


des mecânicas são consideradas iguais em todas as direções, isso é, elas são indepen-
dentes da direção e da posição).

Com isso, definimos a deformação específica transversal que ocorre na direção de y e na


direção de z, εy e εz , e elas devem apresentar o mesmo valor.

εy=εz
Para determinarmos o valor da deformação específica transversal da barra em estudo,
precisamos do parâmetro do material chamado de coeficiente de Poisson.

Esse coeficiente é assim chamado em homenagem a Siméon Denis Poisson cientista fran-
cês que viveu de 1781 a 1840.

IMPORTANTE
O coeficiente de Poisson é definido como sendo a razão entre a deformação específica trans-
versal e a deformação específica longitudinal.

Como podemos ver, as deformações específicas transversais e longitudinais apresentam


sinais opostos.

Na nossa barra, submetida a uma força de tração, a deformação específica longitudinal


é positiva (produz um alongamento na direção x da barra) e as deformações específicas
transversais são negativas (produzem um encurtamento nas direções x e z da barra).

Com isso, devemos introduzir o sinal negativo na definição do coeficiente de Poisson.

Ou seja;

ν = –εy /εx = –εz /εx


onde:

• ν = coeficiente de Poisson
• εy = deformação específica transversal na direção do eixo y
• εz = deformação específica transversal na direção do eixo z

38 Deformação Transversal
Deformação por Cisalhamento
Com a definição do coeficiente de Poisson e da Lei de Hooke,

ν = –εy / εx
σx = E * εx

temos:

a. εx = σx / E

b. εy = –ν * εx
εy = –ν * (σx / E)

c. εz = –ν * εx
εz = –ν * (σx / E)

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
1. Uma barra, mostrada na Figura 4, está submetida a uma força de tração de 150 kN.
Ela tem comprimento de 300 mm, diâmetro de 25 mm, módulo de elasticidade igual
a 210 GPa e coeficiente de Poisson igual a 0,3. Determinar:
a. O alongamento da barra.
b. A variação do diâmetro.

150kN 150kN
25mm

300mm

Figura 4 – Barra tracionada

Vamos resolver o exercício, primeiramente padronizando as unidades dos parâmetros


envolvidos.

d = diâmetro da seção transversal = 25 mm = 0,025 m


lo = comprimento inicial = 300 mm = 0,3 m
E = módulo de elasticidade = 210 GPa = 210 * 106 kN/m2
A = área da seção transversal = (π * d2 )/4
A = (π * 252)/4 = 491 mm2 = 491* 10–6 m2
Calcularemos agora os parâmetros solicitados.

a. O alongamento da barra

Da Lei de Hooke:

σ=E*ε
Nx /A = E * (Δl/lo )

Deformação Transversal
Deformação por Cisalhamento 39
Δl = (Nx * lo ) / (E * A)
Δl = (150 * 0,3)/[(210 * 106) * (491*10–6)]
Δl = 0,000436 m = 0,436 mm
Portanto, a barra sofreu um alongamento de 0,436 milímetros

b. A variação do diâmetro

Da definição de deformação transversal, temos:

εy = εz = ν * εx

Onde:

εy = εz = deformação referente à direção do diâmetro = εd


εx = deformação referente ao comprimento da barra = ε
εd = –ν * ε
Δd /d = –ν * Δl/lo
Δd = –(ν * Δl * d)/lo
Δd = –(0,3 * 0,436 * 25)/300
Δd = –0,0109 mm

O diâmetro sofreu um encurtamento de 0,0109 milímetros.

2. Uma força de tração de 3 kN é aplicada em um corpo de prova de aço, mostrado na


Figura 5. O corpo de prova tem 1,588 mm de espessura, E = 210 GPa e coeficiente
de Poisson igual a 0,3. Determine:
a. A variação do comprimento de referência de 50,8 mm.
b. A variação da largura AB.
c. A variação da espessura correspondente a largura AB.

50,8mm
2.700N 2.700N
A B

12,7mm

Figura 9 – Corpo de prova de aço.

Vamos ao trabalho.

Adotaremos o mesmo procedimento do exercício anterior.

a. A variação do comprimento de referência de 50,8 mm


Nx = 3 kN
E = 210 GPa = 210 * 106 MPa
l0 = 50,8 mm = 0,0508 m

40 Deformação Transversal
Deformação por Cisalhamento
a = largura da seção = 12,7 mm
e = espessura da seção = 1,588 mm
A = 12,7 * 1,588 = 20,17 mm2 = 20,17 * 10–6 m2
Δl = (Nx* l0)/(E * A)
Δl = [3 * 0,0508]/[(210 * 106) * (20,17 * 10–6)]
Δl = 0,00003598 m = 0,03598 mm
Ocorreu um alongamento de 0,03598 milímetros no comprimento de 50,8 milímetros da barra.

b. A variação da largura AB.


εAB = –ν * ε
ΔlAB /a = –ν * Δl/l0
ΔlAB= –(ν * Δl * a)/l0
ΔlAB= –(0,3 * 0,03598 * 12,7)/50,8
ΔlAB= –0,00270 mm
Ocorreu um encurtamento de 0,00270 milímetros no lado AB da barra.

c. A variação da espessura correspondente a largura AB.


εe = –ν * ε
Δle/e = –ν * Δl/l0
Δle = –(ν * Δl * e)/l0
ΔlAB= –(0,3 * 0,03598 * 1,588)/50,8
ΔlAB= –0,000337 mm
Ocorreu um encurtamento de 0,000337 milímetros na espessura da barra.

Somente para termos noção da ordem de grandeza das deformações, vamos calcular:

d. A deformação específica correspondente ao comprimento de 50,8 mm


ε = Δl/lo
ε = 0,03598/50,8 = 0,000708 = 0,0708 % = 0,708%0

e. A deformação específica transversal correspondente ao lado AB


εAB = Δlab /a
ε = –0,00270/12,7 = 0,0002126 = 0,02126 % = 0,2126%0

f. A deformação específica transversal correspondente a espessura


εe = Δle /e
ε = –0,000337/1,588 = –0,0002122 = –0,02122 % = –0,2122%0

Deformação Transversal
Deformação por Cisalhamento 41
Vemos que as deformações específicas transversais εy e εz são iguais. A pequena diferen-
ça deve-se a aproximação de casas decimais adotadas.

3. Uma barra de um determinado material, com 120 mm de comprimento e diâmetro de


15 mm foi submetida a uma força de tração de 3,5 kN. Após a aplicação da força, a
barra sofreu um alongamento de 11 mm e o diâmetro um encurtamento de 0,62 mm.
Determinar as constantes do material.

Como estudamos nesse módulo, as constantes de um material são: o módulo de elastici-


dade longitudinal (E), e o coeficiente de Poisson (v).

Vamos aos cálculos:

Módulo de elasticidade longitudinal

Nx = 3,5 kN
d = 15 mm = 15 * 10–3 m
l0 = 120 mm = 0,12 m
Δl = 11 mm = 11 * 10–3 m
A = πd2/4 = (π * 152)/4 = 176,72 mm2 = 176,72 * 10–6 m2
σ = Nx /A = 3,5/(176,72 * 10–6) = 19805 kN/m2 = 19,81 MPa
ε = Δl/l0 = 11 * 10–3/0,12 = 0,09167
σ=E*ε
E = σ/ε = 19,81/0,09167 = 216 MPa

Coeficiente de Poisson

d = 15 mm
Δd = –0,62 mm
εd = Δd/d= –0,62/15 = –0,04133
εd = –μ * ε
v = –εd/ε
v = –(–0,04133)/0,09167 = 0,451

42 Deformação Transversal
Deformação por Cisalhamento
Deformações de corpos submetido
a tensões σx, σy, σz
Vamos analisar um elemento submetido ao estado de tensão mostrado na Figura 6.

σy
y

z
σz σx
x
Figura 6 – Elemento submetido a um estado triplo de tensão.

Esse estado de tensão apresentado é chamado de estado triplo de tensão e as tensões


atuantes são:

• σx : tensão normal atuante no plano perpendicular ao eixo x.


• σy : tensão normal atuante no plano perpendicular ao eixo y.
• σz : tensão normal atuante no plano perpendicular ao eixo z.

A forma inicial de cubo tenderá a apresentar a forma de um paralelepípedo após a aplica-


ção das três tensões.

É importante ressaltar que a cada uma das tensões mostradas na figura 6 teremos outra
igual e de sentido contrário atuando na face oculta correspondente, estando, portanto, o
elemento em equilíbrio.

Para analisarmos esse elemento, precisamos utilizar o Princípio da Superposição de


Efeitos.

RELEMBRE
O Princípio da Superposição de Efeitos define que o efeito de vários carregamentos atuantes
em uma estrutura pode ser obtido, calculando os efeitos de cada um dos carregamentos
separadamente e combinando os efeitos isolados.

Esse fato é possível, considerando-se que as seguintes hipóteses sejam satisfeitas:

a. A deformação resultante de uma determinada força é pequena e não influência na


aplicação de outra das forças atuantes.
b. O efeito a ser considerado tem variação linear com a força que o provoca.

Deformação Transversal
Deformação por Cisalhamento 43
Analisando-se as deformações estudadas em nosso estudo de barras, temos:

a. atuação da tensão σx:


εx = σx /E
εy = –(v * σx )/E
εz= –(v * (σx )/E

b. atuação da tensão σy:


εx = –(v * σy )/E
εy = σy /E
εz = –(v* σy )/E

c. atuação da tensão σz:


εx = –(v * σz )/E
εy = –(v * σz )/E
εz = σz /E

Quando da atuação das 3 tensões normais (σx , σy e σz ) simultaneamente, pelo Princípio


da Superposição dos Efeitos, temos;

εx = σx /E – (v * σy )/E –(v * σz )/E


εy = –(v * σx )/E + σy /E - (v * σz )/E
εz = –(v * (σx )/E – (v * σy )/E + σz /E

As expressões ligando as tensões normais às correspondentes deformações específicas


representam a Lei de Hooke Generalizada.

IMPORTANTE
A Lei de Hooke Generalizada é válida quando:

a. O material é homogêneo
b. O material é isótropo
c. As tensões não excedem a tensão correspondente ao limite de proporcionalidade
d. As deformações são de pequenos valores

44 Deformação Transversal
Deformação por Cisalhamento
Deformação Volumétrica
em Função de εx, εy, εz
Considerando que nosso elemento tenha dimensões dx, dy e dz seu volume inicial será:

V = dx.dy.dz
Após a aplicação das tensões normais as dimensões dx, dy e dz se alterarão para dx(1+
εx) dy (1+ εy) e dz(1+ εz) e o volume final será:
V +dV = dx(1+ εx). dy (1+ εy) . dz(1+ εz) = V .(1+ εx). (1+ εy) .(1+ εz)
Onde dV é a variação volumétrica sofrida pelo elemento.

Como as deformações são muito pequenas podemos desprezar os produtos de duas ou


mais deformações., ficando a expressão mais simplificada

V +dV = V .(1+ εx). (1+ εy) .(1+ εz) = V .(1+ εx+ εy+ εz)
Logo:

dV = V .(εx+ εy+ εz)


Podemos desta maneira calcular a deformação volumétrica εV

εV = V /dV = ( εx+ εy+ εz)

Aplicações da Lei de Hooke Generalizada


Vamos agora aplicar os conceitos estudados através da utilização do exemplo 4.

EXEMPLO DE APLICAÇÃO
4. Um cubo, mostrada na Figura 7, está comprimido em todas as faces por uma
mesma pressão p. Ele tem lado de 300 mm e o material de que é feito tem módulo
de elasticidade igual a 200 GPa e coeficiente de Poisson igual a 0,25.
O valor da pressão de compressão atuante nas faces do cubo é p = 1kN/cm2. Determinar:

a. As deformações específicas εx , εy e εz
b. A deformação volumétrica εV do cubo.

σ y = -p
y

z σ x = -p
σ z = -p
x
Figura 7 – Cubo submetido a um estado triplo de tensão uniforme .

Deformação Transversal
Deformação por Cisalhamento 45
Vamos aos cálculos.

As deformações específicas εx , εy e εz

εx = σx /E – (ν σy)/E –( ν σz )/E
εy = – (ν σx )/E + σy /E - (ν σz )/E
εz = – ( ν σx )/E – (ν σy )/E + σz /E

Como as tensões atuantes em todas as faces são iguais, ou seja:

σx = σy = σz = -p teremos εx = εy = εz
εx = -p (1- 2 ν)/E = -0,25x10-4
A deformação volumétrica εV do cubo

εV = ( εx+ εy+ εz) = 3 x -0,25x10-4 = = -0,75x10-4

TOME NOTA
No exemplo 4 as dimensões do elemento não interferem nos cálculos já que estamos traba-
lhando com deformações e não com variação de dimensões.

46 Deformação Transversal
Deformação por Cisalhamento
Síntese
Neste módulo você aprendeu a calcular as deformações transversais de uma barra subme-
tida a um carregamento longitudinal. Aprendeu também a analisar as deformações de um
estado triplo de tensão. Muito importante para o aprendizado é assimilar os conceitos
aprendidos com a realização de pesquisas e resolução dos mais diferentes tipos de exer-
cícios. Porque não começar agora? Estude o presente módulo, resolvendo os exercícios
propostos e buscando aprimorar todos os conceitos aqui aprendidos.

Não esqueça, prezado(a) aluno(a), o conhecimento da Mecânica dos Sólidos será funda-
mental para a sua formação profissional.

Referências
AMARAL, Otávio Campos do. Curso básico de resistência dos materiais. Belo Horizonte: O. Campos do Amaral,
2002, xiv, 519p. ISBN 8590264815.
BEER, Ferdinand Pierre; JOHNSTON, E. Russell. Resistência dos materiais. 3. ed., Rio de Janeiro: Makron Books:
McGraw-Hill, c1996. 1255p. ISBN 8534603448.
HIBBELER, R.C. Resistência dos materiais. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010, 641 p. ISBN:
978-85-7605-373-6.

47

Você também pode gostar