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2008

Eduardo Manuel Silva Domingues


21170432 – DEM – ISEC

Resistência dos Materiais


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Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Introdução - Esforços comuns

Materiais sólidos tendem a deformar-se (ou eventualmente se romper) quando submetidos a


solicitações mecânicas. A Resistência dos Materiais é um ramo da Engenharia que tem como objectivo o
estudo do comportamento de elementos construtivos sujeitos a esforços, de forma que eles possam ser
adequadamente dimensionados para suportá-los nas condições previstas de utilização.

Figura 01

A Figura 01 dá formas gráficas aproximadas dos tipos de esforços mais comuns a que são submetidos os
elementos construtivos:

(a) Tracção é a força actuante tende a provocar um alongamento do elemento na direcção da mesma.

(b) Compressão é a força actuante tende a produzir uma redução do elemento na direcção da mesma.

(c) Flexão é a força actuante provoca uma deformação do eixo perpendicular à mesma.

(d) Torção são as forças que actuam num plano perpendicular ao eixo e cada secção transversal tende a
girar em relação às outras.

(e) Flecha é um esforço de compressão em uma barra de secção transversal pequena em relação ao
comprimento, que tende a produzir uma curvatura na barra.

(f) Corte são forças actuantes tendem a produzir um efeito de corte, isto é, um deslocamento linear
entre secções transversais.

Em muitas situações práticas ocorre uma combinação de dois ou mais tipos de esforços. Em alguns
casos há um tipo predominante e os demais podem ser desprezados, mas há outros casos em que eles
precisam ser considerados conjuntamente.

Tensão normal e tensão transversal

Seja, por exemplo, uma barra cilíndrica de secção transversal S submetida a uma força de tracção F. É
evidente que uma outra barra de secção transversal maior (por exemplo, 2 S), submetida à mesma força
F, trabalha em condições menos severas do que a primeira. Isso sugere a necessidade de definição de
uma grandeza que tenha relação com força e área, de forma que os esforços possam ser comparados e
caracterizados para os mais diversos materiais.

Tensão é a grandeza física definida pela força actuante em uma superfície e a área dessa superfície. Ou
Força
seja, tensão  . Por essa definição, a unidade de tensão tem dimensão de pressão mecânica e,
Área

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no Sistema Internacional (SI), a unidade básica é a mesma da pressão: pascal (Pa) ou newton por metro
quadrado (N/m2).

Figura 02

Na Figura 02 (a), uma barra de secção transversal S é


traccionada por uma força F. Supondo uma
distribuição uniforme de tensões no corte hipotético
exibido, onde a tensão σ transversal ao corte, é dada
por

F

S 1

Observação: No caso de barras lisas traccionadas, as tensões se distribuem de modo uniforme se os


pontos de aplicação das forças estão suficientemente distantes. Em outros casos, as
tensões podem não ser uniformes e o resultado dessa fórmula é um valor médio.

Tensões podem ter componentes de modo análogo às forças. Na Figura 02 (b), é considerada uma
secção hipotética, fazendo um ângulo α com a vertical, em uma barra traccionada por uma força F. E a
força actuante nessa secção pode ser considerada a soma vectorial da força normal (F.cosα) + força
transversal (F.senα). Portanto, a tensão nessa superfície é a soma das componentes:

Tensão normal: em geral simbolizada pela letra grega sigma σ minúscula.

Tensão transversal (ou de corte): em geral simbolizada pela letra grega tau τ minúscula.

Tracção e compressão - generalidades

Considera-se, conforme Figura 03 deste tópico, uma barra redonda de diâmetro D e comprimento L,
inicialmente na condição livre, isto é, sem aplicação de qualquer esforço.

Figura 03
Se aplicada uma força de tracção F, as seguintes
deformações são perceptíveis:

• O comprimento aumenta de L para L1 = L + ΔL.

• O diâmetro diminui de D para D1.

Alongamento (ou deformação longitudinal) ε da barra é definido


L
pela relação entre a variação de comprimento e o comprimento 
inicial. L  2
É uma grandeza adimensional e também pode L
ser dada em termos percentuais.  100  %
L  3

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Paralelamente ao aumento de comprimento, ocorre uma


redução do diâmetro, denominada contracção transversal, D  D1
que é dada por: t 
D  4
As grandezas anteriores são, portanto, variações relativas do
comprimento traccionado e da dimensão transversal a esse t

comprimento. O coeficiente de Poisson (em geral, simbolizado
  5
por ν ou μ) é a relação entre essas variações. Valores típicos de ν
para metais estão na faixa de 0,20 a 0,40.

Figura 04

Os ensaios de tracção determinam graficamente a


relação entre a tensão aplicada e o alongamento em
uma amostra (corpo de prova) de um determinado
material.

A Figura ao lado 04 (a) dá a curva aproximada para um


aço estrutural típico.

Existe um valor limite de tensão até o qual a tensão aplicada é


  E 
proporcional à deformação longitudinal ε  6

Essa igualdade é conhecida como lei de Hooke e indica, portanto, a região de proporcionalidade entre
tensão aplicada e deformação no mesmo sentido dessa tensão.

O coeficiente E é denominado módulo de elasticidade ou módulo de Young (homenagem ao cientista


inglês Thomas Young).

Desde que ε é uma grandeza adimensional, conclui-se que o módulo de elasticidade E tem a mesma
unidade da tensão (pascal, (Pa) no Sistema Internacional (S.I.)).

Observação: Para compressão, pode-se supor a mesma lei, considerando a tensão com sinal
contrário. Entretanto, alguns materiais exibem valores de E diferentes para tracção e
compressão. Nesses casos, podem-se usar as notações Et e Ec para a distinção entre eles.

A tabela abaixo informa valores típicos de E e ν para alguns metais.

Aços Alumínio Bronze Cobre Ferro fundido Latão


E (GPa) 206 68,6 98 118 98 64
ν 0,30 0,34 0,33 0,33 0,25 0,37

Voltando à Figura 04 (a), os pontos marcados têm as definições a seguir comentadas.

σp corresponde ao limite de proporcionalidade do material, isto é, tensão abaixo da qual o


material se comporta segundo a lei de Hooke.

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σe corresponde ao limite de escoamento (tensão a partir da qual as deformações são


permanentes. Indica o início da região plástica do material. A região elástica do material está,
portanto, à esquerda desse limite e abrange a região de proporcionalidade anterior).

σb corresponde a tensão máxima de ensaio do material.

σr corresponde a tensão de ruptura de ensaio do material.

Em materiais pouco dúcteis (frágeis) como ferro fundido, nem todos esses limites ocorrem e uma curva
típica é parecida com a Figura 04 (b).

No caso de aços, o teor de carbono exerce significativa influência nas tensões máximas. Abaixo alguns
valores típicos de tensões de escoamento e de ruptura para aços-carbono comerciais.

Teor C % 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50


σe (MPa) 177 206 255 284 343
σr (MPa) 324 382 470 520 618

Em geral, para fins de dimensionamento no caso de materiais dúcteis, considera-se tensão admissível
igual à tensão de escoamento dividida por um coeficiente de segurança. No caso de materiais frágeis,
conforme visto, a tensão de escoamento não é definida e normalmente é usada a de ruptura dividida
pelo coeficiente de segurança.

Energia da deformação elástica

Com a suposição de deformação elástica de acordo com a lei de Hooke, deseja-se saber a energia gasta
para deformar a barra da condição de repouso A (sem força aplicada) até B, onde uma força F mantém a
barra no comprimento L + ΔL (Figura 05 deste tópico).

Deve ser notado que essa energia não é o simples produto F .ΔL, uma vez que a força varia com o valor
da deformação.

Figura 05

Seja x uma deformação genérica entre A e B, isto é,


0 ≤ x ≤ ΔL.

De acordo com a lei de Hooke,

F  x E  x Onde F(x) é a força que produz uma deformação absoluta x.


  E   Portanto,
S L 7
• se x = 0, F(x) = 0 • se x = ΔL, F(x) = F

E  x S
De acordo com o conceito de trabalho, dW  F  x  dx . Conforme relação (7), F  x   .
L
 E  S  L
2
Substituindo e realizando a integração, W  0,L F  x  dx   L  2 .

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FL
Considerando que x = ΔL, então L  . Substituindo e simplificando, chega-se ao resultado final
ES
 FL
2

 
 ES  ES  E  S F 2  L2 1 F2  L
de W     2   W
 L  2 L E S 2 2 2E  S  8

Tensão devido à dilatação linear

Se, conforme Figura 06 (a), uma barra de comprimento L a uma determinada


temperatura t for submetida a uma variação (positiva neste caso) de
temperatura Δt, a variação do seu comprimento é dada por: L  L    t
10

Onde α é o coeficiente de dilatação linear do material da barra.

Uma simples análise dimensional da fórmula acima permite concluir que a unidade de α no Sistema
Internacional é K (Kelvin) ou °C (Centigrado), uma vez que variações unitárias de graus Kelvin e Celsius
são idênticas.

Figura 06
Se a barra for impedida de dilatar, conforme Figura 06
(b), ela será submetida a uma força e, por
consequência, tensão de compressão.
Considerando o trabalho na região elástica conforme
lei de Hooke, pode-se usar a sua formulação para
determinar a tensão (neste caso, é claro, o esforço é
de compressão e não de tracção).

E  L
  E   Substituindo ΔL pela equação (10) o resultado é   E    t
L 11

A tabela abaixo dá valores aproximados do coeficiente de dilatação linear para alguns metais ou ligas
comuns.

Aços Alumínio Bronze Cobre Ferro fundido Latão


-5
α 10 1/°C 1,2 2,3 1,9 1,7 1,2 1.9

Exercício:

Uma haste tem eixo recto e secção transversal constante, circular, com diâmetro d = 5,0 mm. O material
da haste tem módulo de elasticidade E = 2100,00 tf/cm2 e segue a lei de Hooke. Se a deformação axial
do material for ε = 0,001 qual a força normal actuante na haste?

(a) 0,412 tf (b) 0,041 tf (c) 4,123 tf (d) 41,230 tf

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Solução: Aplicando a fórmula   E   , tem-se σ = 2100 0,001 = 2,1 tf/cm2. Para diâmetro
D = 5,0 mm = 0,5 cm, a área é S = π 0,52 / 4 ≈ 0,196. Portanto, F = σ S = 2,1 0,196 ≈ 0,412
tf. Resposta é alínea (a).

Resiliência, tenacidade, ductilidade

Anteriormente foi visto que a energia da deformação de uma barra (comprimento


F2  L
L, secção transversal S e módulo de elasticidade do material E), da condição livre W
até a situação de equilíbrio com uma força F, é dada por: 2E  S  8

 F  SL
2

Multiplicando dividendo e divisor por S, W    . Considerando que:


 S  2E

F
  (tensão) e S  L  V (volume da barra), chega-se ao resultado:  2 V
W
S 2E 12

Resiliência (Ur) é a máxima energia de deformação que uma barra pode


absorver sem sofrer deformações permanentes. Assim, na fórmula anterior, ela  e2 V
Ur 
pode ser dada de forma aproximada com o uso da tensão de escoamento (σe): 2E 13

Figura 07
Módulo de resiliência ur de um material é a energia de
deformação por unidade de volume até o limite de
proporcionalidade.
Usando essa definição e a igualdade da equação (12) e
simplificando,
W p
2

Ur  
V 2E 14


Considerando a lei de Hooke,   E   , tem-se E  .

 p 
Ur 
Substituindo na anterior e simplificando, 2 15

No diagrama tensão/deformação segundo Figura 07 (a), Ur equivale à área abaixo da parte da curva até
o limite de proporcionalidade σp (tensão até a qual a lei de Hooke é válida).

A tabela abaixo dá valores aproximados do módulo de resiliência para alguns materiais.

Material Acrílico Aço alto C Aço médio C Borracha Cobre Duralumínio


E (GPa) 3,4 206 206 0,001 118 72
σp (MPa) 14 965 310 2 28 124
3
ur (MJ/m ) 0,029 2,26 0,23 2,1 0,0033 0,11

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Tenacidade é a capacidade de o material absorver energia devido à deformação até a ruptura. É uma
propriedade desejável para casos de peças sujeitas a choques e impactos, como engrenagens, correntes,
etc. Em geral, não é definida numericamente. Pode-se considerar, de forma similar ao módulo de
resiliência, a área total abaixo da curva (ut) conforme Figura 07 (b).

Algumas vezes são usadas as seguintes aproximações:

• Materiais dúcteis • Materiais frágeis

Onde σr é a tensão de ruptura e εr é o alongamento correspondente a essa tensão de ruptura.

Figura 08
A Figura 08 mostra diagramas típicos de tensão x deformação
para um aço de alto teor de carbono (para molas por
exemplo) e um de médio/baixo teor (para estruturas por
exemplo).

Nota-se que o aço para molas tem uma resiliência maior,


como seria esperado. Já o aço de médio carbono apresenta
uma área sob a curva maior, isto é, uma tenacidade mais alta.
Entretanto, essas comparações são aproximadas. O diagrama considera a tensão em relação à área
inicial e, na região plástica, não é a tensão real no material.
Outra propriedade bastante usada no estudo de materiais é a ductilidade. Em geral, é uma
característica não definida numericamente. Quanto mais dúctil é um material, maior a deformação de
ruptura (εr). Isso significa que um material dúctil pode ser, por exemplo, trefilado ou estirado com mais
facilidade. Alguns autores consideram um valor para o alongamento de ruptura (εr) → εr > 0,05 para
materiais dúcteis.

O contrário da ductilidade é a fragilidade. Voltando à Figura 08, pode-se notar que aços de elevado
carbono são mais frágeis (ou menos dúcteis) que os de médio carbono.

Tensão admissível e coeficiente de segurança

Os gráficos da Figura 09 deste tópico já foram vistos anteriormente. São curvas típicas aproximadas de
tensão x deformação para materiais dúcteis (a) e frágeis (b). A Figura 08 do tópico anterior também
mostra a diferença.

Os materiais frágeis não apresentam limite definido (σe) para as regiões de deformação elástica e
plástica. Assim, para efeito de dimensionamento, usa-se a tensão de ruptura (σr). Para os materiais
dúcteis, usa-se a tensão de escoamento (σe).

Coeficientes de segurança são empregados para prevenir incertezas quanto a propriedades dos
materiais, esforços aplicados, variações, etc.

No caso de peças traccionadas, é usual o conceito da tensão admissível (σadm), que é dada por:

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Figura 09

para materiais dúcteis.

para materiais frágeis.

Onde C é o coeficiente de segurança.

A escolha do coeficiente de segurança é uma tarefa de responsabilidade. Valores muito altos significam,
em geral, custos desnecessários e valores baixos podem provocar falhas de graves consequências. A
tabela abaixo dá alguns critérios genéricos para coeficientes de segurança.

Propriedades do
Coeficiente Carregamento Tensão no material Ambiente
material
Exactamente Exactamente Exactamente Totalmente sob
1,2 - 1,5
conhecido conhecida conhecidas controlo
Exactamente
1,5 - 2,0 Bem conhecido Bem conhecida conhecidas Estável

Propriedades do
Coeficiente Carregamento Tensão no material Ambiente
material
Razoavelmente
2,0 - 2,5 Bem conhecido Bem conhecida Normal
conhecidas
Razoavelmente Razoavelmente Ensaiadas
2,5 - 3,0 Normal
conhecido conhecida aleatoriamente
Razoavelmente Razoavelmente
3,0 - 4,0 Não ensaiadas Normal
conhecido conhecida
4,0 - 5,0 Pouco conhecido Pouco conhecida Não ensaiadas Variável

Observações:

• Cargas cíclicas devem ser dimensionadas pelo critério de fadiga (aqui não dado).

• Se houver possibilidade de choques, o menor coeficiente deve ser 2 multiplicado por um factor de
choque (em geral, de 1,5 a 2,0).

• Os dados da tabela são genéricos e muitas vezes subjectivos. Não devem ser usados em aplicações
críticas e/ou de elevada responsabilidade. Nesses casos, informações devem ser obtidas em literatura
ou fontes especializadas, normas técnicas, etc.

Considere a figura 10, que ilustra o esquema de um mecanismo biela/manivela usado para
bombeamento de água em uma mina. Considere que a barra cilíndrica de 100 m de comprimento que
acciona o êmbolo, em movimento alternado, sofre uma carga de 138 kN quando puxa o êmbolo para

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cima e de 13,8 kN quando o empurra para baixo. Nessa situação, sabendo que não existem problemas
de flecha, se a barra for feita de aço com peso específico de 80 kN/m3 (8×104 N/m3) e tensão admissível
de 100 MPa, para que o sistema opere correctamente, a secção transversal da barra não poderá ser
inferior a 1.500 mm2. Correcto ou Errado?

Figura 10
Solução:

Desde que não há flecha, não se considera a carga de


compressão (13,8 kN). Se já é dada a tensão admissível, σadm = 100
MPa (100x106 N/m2), ela supostamente inclui o coeficiente de
segurança. Se S é a área da secção transversal da barra,
F F
 adm  . Portanto, S  . Onde F é a força máxima
S 100 106
de tracção. Essa força deve ser a carga de tracção (138x103 N)
mais o peso próprio da barra, que é dado pelo peso específico
(80x103 N/m3) multiplicado pelo volume (100xS). Assim,
138 103  80 103 100  S
S  S  0,0015 m2  1500 mm2
100 106

A resposta está Correcta.

Reservatório cilíndrico de parede fina


r
Um reservatório cilíndrico de raio r e espessura t é considerado de parede fina se  10
t 16
Nessa condição, pode-se supor que as tensões se distribuem de maneira uniforme ao
longo da espessura do cilindro.

Figura 11
Supõem-se também que está sujeito a uma pressão
interna uniforme p, maior que a atmosférica e relativa
à mesma, isto é, pressão manométrica.
O quadrilátero pequeno da Figura 11 representa uma
porção elementar da parede do cilindro, que sofre
acção das tensões α1 ao longo da circunferência e α2
no sentido longitudinal.

Considera-se uma porção cilíndrica de largura Δx como em A da mesma figura. Se essa porção é cortada
diametralmente (B da figura), a tensão σ1 actua na direcção perpendicular às superfícies das
extremidades S1. Para o equilíbrio estático, a força devido a essas tensões deve ser igual à força devido à
pressão interna p. Assim, 21S1  21xt  p2r x .

Notar que a força devido à pressão é igual ao valor dela multiplicado pela área frontal às extremidades
das superfícies S1 (2r Δx) e não ao longo da circunferência.

Portanto, pr
1 
t 17 

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Figura 12
Para a tensão σ2, considera-se um corte transversal do
cilindro conforme Figura 12.
A tensão σ2 actua sobre uma coroa circular conforme
indicado no lado direito da figura. Como t é pequeno
em relação a r, pode-se supor sua área igual a 2 r  t .
E a força para equilibrar é igual à pressão interna
multiplicada pela área do círculo de raio r. Assim,

pr
 2 2 r  t  p r 2 . Portanto, 2 
2t 18

Por essa e pela igualdade da equação (17) pode-se concluir que a tensão determinante para
dimensionamento é σ1, ou seja, a tensão no sentido da circunferência do cilindro.

Outro aspecto importante é relativamente as junções (soldadas ou de outros tipos) paralelas ao eixo do
cilindro que sofrem tensões iguais ao dobro das tensões em junções ao longo da circunferência.

Reservatório esférico de parede fina

Seja um reservatório esférico de raio r e espessura t de parede. A parede é considerada r


 10
fina se (equação 16). De forma similar ao cilíndrico do tópico anterior. t 16

Figura 13
Se o reservatório é preenchido por um fluido sob
pressão p (relativa a atmosférica), a simetria sugere
que as tensões σ são as mesmas em quaisquer
direcções. Considerando-se uma semi-esfera conforme
o da Figura 13, a tensão σ actua perpendicularmente à
área cortada (aproximadamente igual a 2 r  t ).
E a força para manter a condição de equilíbrio estático
é igual à pressão interna multiplicada pela área do
círculo de raio r.

pr
Assim,  2 r  t  p r . Ou, 
2

2t 19

Observar que é igual à menor tensão calculada para o reservatório cilíndrico do tópico anterior. Por isso,
pode-se supor que o reservatório esférico é o que suporta maior pressão com a menor quantidade de
material.

Algumas considerações sobre reservatórios

Além das tensões superficiais, reservatórios submetidos a pressões internas estão sujeitos a tensões
radiais, que variam do valor da pressão na superfície interna até zero na superfície externa. Na
suposição de paredes finas conforme tópicos anteriores, essas tensões são em geral de 5 a 10 vezes
menores que as demais e podem ser desprezadas.

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As fórmulas dos dois tópicos anteriores valem para reservatórios sob pressão interna. No caso de
reservatórios submetidos a pressões externas (para vácuo por exemplo), falhas podem ocorrer antes da
ruptura devido à deformação das superfícies.

Essas fórmulas são as mais simples para reservatórios cilíndricos e esféricos. Existem várias outras
considerações a tomar no projecto dos mesmos (coeficientes de segurança, reforços em apoios e outros
locais como tampas e saídas de tubos, temperatura, corrosão, etc.). Consultar normas técnicas e outras
fontes sobre o assunto.

Deformação por corte

Se um material sofre um esforço de corte puro conforme Figura 14 (a), ele se deforma conforme (b) da
mesma figura.

Figura 14
Na região elástica, o ângulo de distorção γ e a tensão τ
são proporcionais   G 
 20
O coeficiente G é denominado módulo de elasticidade
transversal ou módulo de rigidez do material. A
relação com o módulo de elasticidade (simbolizado por
"E") e o módulo de Poisson (aqui simbolizado por "ν")
E
é dada por G
2 1   
 20

Figura 15
Para uma barra de secção transversal S constante,
submetida a uma força de corte F e sem considerar a
deformação por flexão, tem-se o ângulo γ
y
aproximadamente igual a para pequenas
L
deformações (Figura 15).

F Gy FL
Então    G   . Refeita a igualdade temos y
S L GS  21

Energia da deformação por corte

A equação (21) do tópico anterior pode ser reescrita para a força F em função do GS
deslocamento y.
F y
L
A energia ou trabalho de deformação é dada y
y GS G  S  y2  G  S  y2
pela integração do produto da força pelo W  ydy  
deslocamento. 0 L L  2  0 2L

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 FL
2
Para exibir o trabalho em função da força F,
substitui-se y pelo valor da igualdade da G S  
 GS  F2  L
equação (21) do mesmo tópico. W  W
2L 2G  S  22

Exemplo de corte → união soldada

Seja o exemplo da Figura 16 abaixo relativamente a uma chapa central que são soldadas duas laterais
totalizando 4 filetes de solda de secção triangular, de comprimento L e largura t.

Figura 16
O conjunto é traccionado por uma força F actuante
conforme figura. Nessa condição, os esforços nos
filetes de solda são basicamente de corte.
Considerando que a tracção aplicada se distribui
igualmente pelos 4 filetes, cada um suporta um
esforço de corte igual a F 4 .
O detalhe A da figura é uma ampliação do corte do
t 2
filete. A menor secção tem largura h  . E,
2
portanto, o máximo corte deve ocorrer nessa secção. A tensão de corte aplicada ao material da solda é
F F
F
dada por   4  4  .
Lh t 2 2L  t 2
L
2
Valores típicos de tensões admissíveis em soldas para aços estão na faixa de 75 MPa. Consultar dados
dos fabricantes.

Tensões admissíveis de corte - anteriormente foram dados alguns critérios para tensões admissíveis de
peças traccionadas. Alguns autores sugerem, para o corte, a tensão admissível de tracção multiplicada
por um factor que varia de 0,5 a 0,6.

Coeficiente de Poisson

Em página anterior foi dada a definição básica do coeficiente de Poisson,   transversal 


  
isto é, a razão entre a deformação transversal e a deformação 
longitudinal. Rigorosamente, deve ser definido com sinal.   longitudinal   23

Observação: símbolos usuais são "ν" ou "μ".

Num sistema de coordenadas ortogonais, como em (a) da Figura 17, seria a relação entre a deformação
ao longo do eixo y e a deformação ao longo do eixo x.

Se há deformação em ambas as direcções, é lógico supor que pode haver tensões associadas.
Considerando agora o caso genérico, isto é, as três dimensões, tem-se a forma generalizada da lei de
Hooke (demonstração omitida).

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Figura 17

x 
1
E

 x    y   z  
 y   y    x   z  
1
E


 z   z    y   x 
1
E

 24 

Onde ε é deformação, E é módulo de elasticidade, σ é


tensão e ν é módulo ou coeficiente de Poisson.
Naturalmente, essas relações são válidas para
materiais isotrópicos (propriedades idênticas em todas
as direcções).

Portanto, no caso de tensões no plano em


coordenadas ortogonais como em (a) da x 
1
E
 x     y  e  y   y     x 
1
E
Figura 17, a igualdade anterior fica reduzida a  25

1 1
Para coordenadas polares como em (b) da
mesma figura, ocorrem as relações
         e         
E E  26

Notar que o coeficiente de Poisson não pode ser maior que 0,5 porque, se fosse, um elemento
tensionado poderia atingir volume nulo ou negativo. Valores típicos para aços estão na faixa de 0,20 a
0,40. Borracha apresenta valor perto de 0,5 e cortiça, perto de 0 (essa é uma das razões para uso da
cortiça em rolhas de garrafas. Praticamente não há variação de comprimento ao ser pressionada pelos
lados).

Deformação plástica residual

No esquema da Figura 18, a barra é considerada de secção transversal S constante. São conhecidos
também os valores de:

L representa o comprimento inicial.

E representa o módulo de elasticidade do material.

σE representa a tensão de escoamento do material.

ΔLMax representa o aumento do comprimento devido à aplicação do esforço de tracção.

Com esses dados, deseja-se saber o aumento permanente ΔLperm, que ocorre depois de retirada a força
traccionante F. Supõe-se que o material se comporta conforme o gráfico na parte direita da referida
figura. Do início da deformação (0) até o escoamento (1), há uma relação linear entre tensão σ e
deformação ε. Iniciado o escoamento, a tensão permanece constante até a deformação máxima em (2).

14 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 15/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Figura 18
Na remoção do esforço (2) a (3), a relação tensão e
deformação volta a ser linear e, desde que o módulo
de elasticidade não varie, o retorno se dá em uma
recta paralela a 01, deslocada devido à deformação
residual da região plástica 12. É uma aproximação dos
ensaios reais de tracção.
Lmax
A deformação máxima (em 2) é dada por  2  .
L

A deformação máxima na região elástica (em 1) é dada


E
por 1  (lei de Hooke). A geometria do gráfico permite concluir que a deformação em (3) é igual à
E
Lmax  E
diferença entre as deformações em (3) e em (1). Assim,  3   2  1   .
L E

Lperm  L  
Mas  3  ou Lperm   3  L . Portanto, Lperm   max  E L
L  L E   27 

Acção da força centrífuga em barra com rotação

Conforme Figura 19 deste tópico, uma barra horizontal de secção transversal constante gira, em torno
de um eixo vertical que passa por uma extremidade, com velocidade angular constante. Deseja-se saber
a actuação da força centrífuga ao longo do comprimento da barra bem como sua deformação. São
conhecidos:

L corresponde ao comprimento da barra.

S corresponde a área da secção transversal.

ω corresponde a velocidade angular.

μ corresponde a massa específica do material da barra.

E corresponde ao módulo de elasticidade do material da barra.

Das relações da Dinâmica, pode ser visto que, para uma massa uniforme m que F  m 2R
gira com velocidade angular ω e raio r, a força centrífuga é dada por:  28

Figura 19
Essa igualdade vale para uma massa concentrada em
um ponto. No caso da barra em questão, ela é
distribuída. Mas pode ser tratada como uma massa
uniforme localizada no ponto de simetria (ponto
médio) da parte considerada. Seja um ponto P
genérico situado a um raio r do centro. A força
centrífuga actuante nesse ponto é equivalente à da
PA
massa da região PA concentrada no seu ponto médio, ou seja, distante r  do centro O.
2

EDRM20081016_01 15
Resistência dos Materiais 16/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Lr Lr
Mas PA  L  r . Portanto, o raio giratório dessa massa concentrada é r  . Simplificando,
2 2
.
A massa dessa parte é  PA  S    L  r  S . Substituindo para a força centrífuga na equação (28)
 Lr   L2  r 2 
F    L  r  S 2   . Simplificando, F  r    S 2 
 2  
 2   29 

F  0
Observar a notação F(r), que indica a dependência com o raio r.
 L2 
Na extremidade A (r = L) a força é nula, atingindo o valor máximo  max    2  
em O (r = 0). Portanto a tensão máxima é dada por S  2  30

A determinação da deformação não se faz pela simples divisão da tensão pelo módulo de elasticidade.
Desde que a força varia ao longo do comprimento (equação 29), a tensão também varia, o que torna
inválida a divisão mencionada. Considera-se um comprimento
2 L r 
2 2
infinitesimal dr distante r do centro O (isto é, dL está em P da figura).   r     
Dividindo a igualdade da equação (29) pela área S, obtém-se a tensão  2 
actuante nesse ponto.

Considerando dl a variação do
dl   L2  r 2   2 2 2
comprimento dr provocada pela    2   ou dl   L  r  dr
tensão σ, tem-se conforme a lei de dr E  2E  2E
Hooke.

A variação total do comprimento é dada pela integração


L
 2  2  r3   2  2 L3   2 2 L3  2 L3
 L  r  dr 
L L
l   dl   2 2

2
    
2 E  3  0  3  2 E
L r L L
0 0 2E 2E  3 3E

L
O primeiro termo entre colchetes é a tensão máxima dada pela equação (30). Assim, l  2 max .
3E
Isso é a variação total de comprimento. Portanto, a divisão por L dá a l 2 max
deformação total da barra  
L 3E  31

Dilatação linear com dois materiais

Figura 20
Problema de dilatação já foi visto anteriormente. Neste
caso, há duas barras de materiais diferentes, que sofrem
a mesma variação de temperatura Δt e são impedidas de
dilatar conforme (a) da Figura 20.
As secções transversais, consideradas circulares,
também são diferentes.
Além das dimensões geométricas (L e D) indicadas na
figura, supõe-se que são conhecidos os módulos de
elasticidade (E1 e E2) e os coeficientes de dilatação linear
(α1 e α2) de cada material.
A condição de equilíbrio estático permite concluir que as
reacções dos apoios são idênticas, sendo RA = RB = R. Portanto, ambas as partes estão sob o mesmo
esforço de compressão R.

16 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 17/87
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Considera-se agora a situação (b) da figura, isto é, o aquecimento livre.

Nessa condição e segundo fórmula já vista L  L    t , os comprimentos das partes seriam:


L1  L1  L11t e L2  L2  L2 2 t
32 33
E as variações
L1Dilat  L11t e L2 Dilat  L2 2 t
34 35

Com a aplicação das reacções dos apoios RA e RB, as barras sofrem uma deformação por compressão
elástica, de forma que a soma dos comprimentos finais L1F + L2F é igual à soma dos comprimentos iniciais
L1 + L2. Notar que os comprimentos finais L1F e L2F não são necessariamente iguais aos seus
comprimentos iniciais L1 e L2, como pode sugerir a figura. A igualdade está na soma de ambos.

As áreas das secções transversais de cada parte são:  D12  D22


S1  e S2 
4  36 4  37 

E as tensões em cada parte são: R 4R R 4R


1   e 2  
S1  D12 S2  D22
 38  39

Conforme lei de Hooke,


 1L1  2 L2
EL L L1Compr  e L2Compr 
  E   ou L  . Assim, E1 E2
L E  40  41

Para impedir a dilatação livre, a soma das reduções de comprimento devido à compressão deve ser igual
à soma dos aumentos devido à dilatação:
 1 L1  2 L2
L1Compr  L2Compr  L1Dilat  L2 Dilat    L1Dilat  L2 Dilat 
E1 E2
R  L1 R  L2 L  t  L2 2 t L1Dilat  L2 Dilat
   L11t  L2 2 t  R  1 1  R
S1 E1 S2 E2 L1 L 4 L1 4 L2
 2 
S1 E1 S2 E2  D1 E1  D22 E2
2
 42

Com essa igualdade a reacção R fica determinada em função de parâmetros supostamente conhecidos e
outros dados podem ser calculados em função da mesma. Considera-se agora o exemplo numérico para
Δt = 80ºC.

Seja alumínio o material da parte 1 e bronze da parte 2. E os valores:

L1 = 0,45 m | D1 = 0,05 m | E1 = 69 GPa | α1 = 2,3 10-5 /ºC.

L2 = 0,50 m | D2 = 0,045 m | E2 = 98 GPa | α2 = 1,9 10-5 /ºC.

Conforme as equações (34) e (35) L1Dilat  0, 45  2,3 105  80  0,828 103 m  0,828 mm
obtemos:
L2 Dilat  0,5 1,9 105  80  0, 76 103 m  0, 76 mm

Conforme a equação 0,828 103  0, 76 103


R  243206 N  237, 21 kN
(42) obtemos: 4  0, 45 4  0,5

  0, 052  69 109   0, 0452  98 109

EDRM20081016_01 17
Resistência dos Materiais 18/87
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Calculam-se agora as tensões de compressão conforme as equações (38) e (39) obtendo:

4  243206 4  243206
1   123,86 MPa 2   152,92 MPa
  0, 052   0, 0452

E as variações devido à compressão conforme as equações (40) e (41) obtendo:

123,86 106  0, 45
L1Compr   0,808 103 m  0,808 mm
69 10 9

152,92 106  0,5


L1Compr   0, 78 103 m  0, 78 mm
98 10 9

Desde que a dilatação aumenta o L1  L1Dilat  L1Compr  0,828  0,808  0, 02 mm


comprimento e a compressão diminui, a
variação líquida é igual à diferença das duas. L2  L2 Dilat  L2Compr  0, 76  0, 78  0, 02 mm

Os resultados positivo e negativo indicam que o alumínio é expandido e o bronze, comprimido. À


primeira vista, isso pode parecer estranho. É mais visível supor ambas as partes comprimidas. Mas os
diâmetros e comprimentos são diferentes, os materiais têm módulos de elasticidade e coeficientes de
dilatação distintos. A combinação desses valores pode fazer resultados desse tipo.

Torção de peças circulares

Seja, conforme Figura 21, uma barra cilíndrica fixa em uma extremidade e submetida a um esforço de
torção por um conjugado de forças de rotação T na outra extremidade.

Essa solicitação é uma torção uniforme, uma vez que o material da barra é considerado homogéneo.
Assim, todos os pontos de cada circunferência de qualquer secção transversal têm o mesmo
deslocamento.

Figura 21
Um plano que passa pelo eixo do cilindro sofre uma
deformação tal que o ângulo φ sobre uma
circunferência é função da distância x entre o círculo
dessa circunferência e a extremidade engastada.

A simples dedução ou observação prática revelam que


o ângulo φ aumenta com o aumento de x. Para
determinar a relação entre ambos, importante em
muitos casos práticos, é necessário em primeiro lugar
um estudo das tensões em cada plano de secção
transversal.

Na Figura 22 é considerada uma porção elementar da barra, de comprimento dx . O processo de torção


pode ser entendido como o corte de dois planos próximos, neste caso as extremidades dessa secção
elementar.

18 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 19/87
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Figura 22
A observação prática demonstra que o ângulo de
distorção γ de uma superfície elementar varia
linearmente com o raio, atingindo o valor máximo γmax
r
na borda. Assim,     max .
R
Se os ângulos são proporcionais aos raios, as tensões
de corte τ também o são, pois supõe-se que as
deformações ocorrem dentro da região elástica do
r
material. Assim,   max
R  43

A torção T pode ser dada pela integração do produto das forças elementares dF devido ao corte pela

distância até o centro O, isto é, pelo raio, sendo T  r dF . Mas dF   dA , onde dA são as áreas


elementares. Assim, T  r  dA . Substituindo τ conforme igualdade da equação (43):

r 
T   r   dA  max  r 2 dA . Mas r
2
dA é o momento polar de inércia (Jp) da superfície (círculo
R R
neste caso) em relação ao eixo de rotação O. E fica definida a relação entre torção e tensão máxima.

Figura 23
 Jp 
Para a torção. T   max  
 R  44

T R
Para a tensão máxima.  max 
Jp
 45

Voltando à proporcionalidade entre raio e tensão de corte na igualdade da equação (43), pode-se
concluir que, em qualquer direcção radial, a tensão varia de zero até τmax conforme (a) da Figura 23.

Para o caso de eixo vazado (ou tubo) conforme Figura 23 (b), pode-se facilmente verificar que a tensão
varia radialmente de um valor mínimo até τmax.

Figura 24
Outro aspecto a mencionar é o facto de as tensões de
corte ocorrerem sempre em pares perpendiculares.

Assim, em um corte hipotético de um eixo cilíndrico


conforme Figura 24, há tensões ao longo do eixo, de
mesmos valores das tensões na secção transversal.

Volta-se agora à Figura 21 e à questão inicial deste


tópico, isto é, o ângulo de torção da extremidade de
um eixo cilíndrico na qual é aplicado uma torção T,
supondo a outra extremidade fixa e comprimento L.

EDRM20081016_01 19
Resistência dos Materiais 20/87
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 max
Na Figura 22, pode-se observar que, para uma pequena porção, d  . Anteriormente, foi visto
R
 max
que a relação entre ângulo de corte e a respectiva tensão é   G   . Assim, d  .
GR
T
Substituindo τmax pelo valor dado na equação (45) d  . Portanto, o ângulo φ é dado pela
J pG
L T T L
integração   
0 J pG
dx . 
J pG
 46
É evidente que essa fórmula vale apenas para eixos de secção constante L T  x
e submetido à torção na extremidade. Para outros casos, ela pode ser  dx
generalizada com binário e momento polar de inércia em função de x.
0 J p  x G
 47 

Momento polar de resistência

O momento de resistência polar Wp é definido por Jp


Wp 
R  48

T
Assim, a fórmula da tensão máxima de torção da página anterior fica reduzida a  max 
Wp
 49

Tabela de momentos polares para algumas secções

Secção Nome Jp Wp Obs. (ref. torção)

Tensões máximas
em quaisquer
 D4 D4  D3 D3
Círculo cheio   pontos da
32 10 16 5 circunferência
periférica.

Tensões máximas
Círculo vazado  D  d
4 4
  D  d
4 4
 em quaisquer
pontos da
(tubo) 32 16 D circunferência
periférica.

Tensões máximas
em quaisquer
D3 D2
Tubo de parede fina e e pontos da
4 2 circunferência
periférica.

20 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 21/87
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τmax nas
extremidades do
Elipse cheia eixo menor. Nas
 a3b3  ab 2 extremidades do
16  a  b 
a
1 2 2
16 eixo maior
b
 max  b

a
τmax nas
3
a
    b 4  b14 
extremidades do
Tubo elíptico
 b  b1 
a 4 4 eixo menor. Nas
b 
a a1 extremidades do
 1   a 2  b
eixo maior
b b1 16     1 16b
 b    max  b
  
a

Tensões máximas
Triângulo a4 h4 a3 h3 nos centros dos
 ou  ou 
equilátero 46,19 26 20 13 lados. Nos vértices,
tensões nulas.

 0,1406a 4 Tensões máximas


ou 3 nos centros dos
Quadrado ≈ 0,208 a
a4 lados. Nos vértices,
 tensões nulas.
7,11

Tensões máximas nos


Rectângulo (a ≥ b) centros dos lados
 C1  maiores. Nulas nos
C1a  b3  ab
2
(*) ver tabela no vértices. Nos centros
 C2  dos lados menores
final deste tópico
vale  C3 max

Tensões máximas
Hexágono regular ≈ 1,847 a4 ≈ 1,511 a3 nos centros dos
lados.

Tensões máximas
Octógono regular ≈ 1,726 a4 ≈ 1,481 a3 nos centros dos
lados.

(*) Para rectângulos conforme tabela acima, os coeficientes são dados por:

EDRM20081016_01 21
Resistência dos Materiais 22/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

1 b  1  0, 65
5
b
C1  1  0, 63    0, 052    C2 
3  a  a   a
2

1  
b

A tabela abaixo dá os valores para algumas relações a/b.

a/b 1 1,5 2 3 4 6 8 10
c1 0,141 0,196 0,229 0,263 0,281 0,298 0,307 0,312
c2 0,675 0,852 0,928 0,977 0,990 0,997 0,999 1,000
c3 1,000 0,858 0,796 0,753 0,745 0,743 0,743 0,743

Energia da deformação por torção

Na Figura 25, uma barra cilíndrica de raio R e comprimento L com a extremidade A fixa está submetida a
um binário T na extremidade B, de forma que o ângulo de torção nessa extremidade em situação de
equilíbrio estático é φ.

Deseja-se saber a energia gasta para atingir tal situação a partir da condição livre, isto é, girar um ponto
na posição 1 até a posição 2 da figura, de forma que ele seja mantido nessa posição com um binário T
aplicado.

Figura 25
Anteriormente, foi dada a equação para o ângulo em
T L
função da torção aplicada   . Portanto,
J pG
J G J G
T   p    k   , onde k  p . O ângulo φ é,
 L  L
por definição, a razão entre segmento de
a
circunferência e o raio R,   . A torção T pode ser
R
considerada igual ao momento de uma força
tangencial F em relação ao eixo da barra, isto é,
k
T  F  R  k   , ou seja, F     .
R
O trabalho (ou energia da deformação) é dado pela integração do produto da força pelos deslocamentos

infinitesimais W  F da . Substituindo pelos valores de F e φ das igualdades anteriores,
2
k ka  k   k a ka
2
a T
W   F da      da     da    2  a da   2     . Mas  e  
R RR R   R  2 2 R R k
2
k k  T2  T2 J pG
conforme já visto. Logo, W   2   2   . Substituindo o valor de k  , obtém-se o
2 2 k  2k L
resultado
L T 2
W
2 J pG
 50 

22 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 23/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Potência transmitida, diagrama de momento e ângulo de torção

A potência mecânica transmitida por um eixo está relacionada com a torção P  T 


aplicado e a rotação de acordo com a seguinte fórmula  51

Figura 26
P corresponde a potência em watts.

T corresponde a torção em N m.

ω corresponde a rotação em radianos por segundo.

A Figura 26 dá o exemplo de uma barra cilíndrica com


aplicação de dois esforços de torção em locais
distintos. Pelo facto é normal que a barra esteja
engastada na extremidade C. Na parte inferior da
figura são dados diagramas aproximados dos esforços
de torção e ângulos de distorção ao longo do
comprimento da barra.

Exercício:

A tensão de corte máxima τ em uma barra cilíndrica de secção circular com comprimento L e diâmetro
D, submetida a um binário T, é dada pela seguinte expressão (G = módulo de elasticidade transversal; J =
momento de inércia polar; I = momento de inércia):

T L T D 32T T L
(a)   (b)   (c)   (d)  
G J 2J  D4 GI

Solução:

T R D
É a fórmula vista da tensão máxima de torção  max  , com a substituição de R por . Portanto,
Jp 2
a resposta é (b). Notar que a tensão máxima não depende do material e, portanto, as alternativas (a) e
(d), que incluem o módulo de elasticidade transversal G, podem ser descartadas de imediato. A
 D4
alternativa (c) sugere a substituição, na fórmula anterior, do valor de J p  , mas está incorrecta.
32

Comentários sobre dimensionamentos

Conforme referido anteriormente, a tensão máxima τmax num eixo submetido a um T


 max 
binário T é dada pela expressão. Wp
 52

EDRM20081016_01 23
Resistência dos Materiais 24/87
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Jp
Onde Wp é o momento de resistência polar, isto é, Wp 
R  53
Onde Jp é o momento de inércia polar e R é o raio. E o ângulo de torção de um eixo
T L
de comprimento L submetido a um binário T é   . Dividindo o valor por L,  T
J pG 
L J pG
resulta no ângulo de torção por unidade de comprimento  54


É comum o uso de ambos os critérios, τmax e , para dimensionamento de eixos. Para o ângulo de
L

torção por unidade de comprimento, , encontram-se exemplos em literatura do valor máximo de
L
0,25 graus por metro de comprimento, no caso de eixos de aço. Lembrar que as fórmulas dadas usam
ângulos em radianos e, portanto, esse limite corresponde a aproximadamente 0,004363 radianos por
metro de comprimento.

Exemplo:

Na Figura 27, uma barra cilíndrica encastrada nas extremidades estando sob acção de um binário T no
local da variação de diâmetro. Deseja-se saber o ângulo de torção em B e a distribuição do binário ao
longo da barra.

Figura 27
Para obedecer à condição de equilíbrio estático, um
lado da barra deve estar sob acção de uma torção T−T'
e o outro lado, de T'. Assim, a soma de ambos se iguala
a torção externa T.

O diagrama da torção da figura não corresponde


necessariamente ao real, pois os valores e sinais serão
dados pelos cálculos.

O ponto de partida para resolver este problema é


considerar a barra seccionada em B, ou seja, como se
fossem duas barras que, sob acção de T, apresentam o
mesmo ângulo de torção. Assim, as duas secções se
comportam como se fossem um corpo único.

E, desde que, as extremidades estejam fixas o ângulo é nulo.

Os ângulos de torção são os mesmos


φAB = φBC = φB. AB 
T  T ' LAB    T ' LBC  
BC B
J pABG J pBC G
 55
Portanto,
T ' LBC  T ' LAB  T  LAB LAB T ' LBC  J pABG 
. Dividindo tudo por , fica T '  T
J pBC G J pABG J pABG J pAB G J pBC G  LAB 

24 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 25/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

T
T'
LBC  J pAB 
1
Desde que por hipótese são conhecidos T, LAB, LBC e os momentos J pBC  LAB 
 56 
polares JpAB e JpBC (funções dos respectivos raios), o valor de T' fica
definido e o ângulo de giro φB pode ser calculado através da equação (55), sendo conhecido, é claro, o
valor do módulo de elasticidade transversal G, que depende do material da barra.

Esse é um exemplo de carregamento estaticamente indeterminado ou hiperestático de torção. As


equações fundamentais da estática,  
F  0 e M  0 , não são suficientes para definir todas as
variáveis. Além delas, é necessário considerar o deslocamento.

Tensões planas

Figura 28
Seja, por exemplo, um corpo em forma de disco
conforme Figura 28. A espessura (dimensão z) é
pequena em relação às demais dimensões. Nessa
condição, pode-se considerar que tensões normais e
transversais actuantes em quaisquer partes
elementares do corpo ocorrem somente no plano xy
conforme A da figura. Essa situação é dita tensões
planas ou estado duplo de tensões.

Figura 29
Considera-se agora uma porção rectangular do corpo
de pequenas dimensões Δx e Δy (Figura 29). A
espessura é supostamente Δz, que é a espessura
(pequena) do corpo. Portanto, as áreas dos lados dos
eixos x e y são respectivamente Δx Δz e Δy Δz. Na
situação de equilíbrio estático, a soma dos momentos
em relação a um ponto qualquer é nula. Seja o centro
O o ponto considerado. Assim, os momentos das
forças das tensões normais são nulos pois as linhas
passam pelo ponto. Sobram os momentos das forças das tensões transversais. Desde que as forças
correspondentes são as tensões multiplicadas pelas respectivas áreas de actuação, tem-se

yzx yzx xzy xzy


 xy   'xy   yx   ' yx  0 . A igualdade pode ser dividida pelo
2 2 2 2
xzy
factor comum , resultando em  xy   'xy   yx   ' yx  0 . Sejam  'xy   xy   xy e
2
   xy
 ' yx   yx   yx . Assim,  xy   xy   xy   yx   yx   yx  0 . Ou  xy   yx  yx . Numa
2
situação limite, o lado direito dessa equação tende para zero e pode-se escrever
 xy   yx
 57 

EDRM20081016_01 25
Resistência dos Materiais 26/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Para uma porção de secção triangular conforme Figura 30, usam-se as condições de equilíbrio estático
 F 0e M 0. 
Figura 30
Determinam-se então as tensões no lado BC
considerando conhecidas as tensões nos eixos x e y,
isto é, σx, σy e τxy (esta última e τyx são iguais conforme
resultado anterior). Chamando de S  BCz a área
do lado BC, a área do lado AC é S sin  e a do lado
AB é S cos  . Considera-se agora um sistema de
coordenadas x'y' tal que o eixo x' é perpendicular a BC.

F x'  0   S   x S sin  sin    y S cos  cos    xy S sin  cos   xy S cos sin  .

Isolando σ, ocorre    x sin 2    y cos2    xy 2sin  cos  . A expressão anterior pode ser
simplificada com as igualdades trigonométricas

1  cos 2 1  cos 2
sin 2  2sin  cos   sin 2    cos2  
2 2

Então

x  y

 y   x  cos 2
  xy sin 2
2 2  58

F y'  0   S   x S sin  cos    y S cos  sin    xy S sin  sin    xy S cos  cos 

Usando as igualdades trigonométricas anteriores, chega-se a 


 y   x  sin 2
  xy cos 2
2  59

Portanto, as equações (58) e (59) permitem determinar as tensões em uma direcção qualquer a partir
das tensões conhecidas em um par de eixos ortogonais x e y.

Tensões principais no plano

As equações (58) e (59) permitem, conforme dito, determinar as tensões normais e transversais em
qualquer plano, dadas as tensões normais e transversais em dois eixos ortogonais conhecidos x e y.
Entretanto, em muitos problemas de Engenharia, o que se deseja saber são as tensões máximas para
fins de dimensionamento do elemento.

Para se obter a direcção da tensão normal máxima, é preciso derivar a equação (58) em relação a φ e
d
igualar a zero    y   x  sin 2  2 xy cos 2  0 .
d
2 xy
tan 2 
Resolvendo a equação diferencial  y  x
 60 

26 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 27/87
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Essa igualdade, por sua vez, tem duas soluções, (2φ)1 e (2φ)2, que diferem 180° entre si. Portanto, φ1 e
φ2 diferem de 90° e a dualidade de soluções significa que há uma tensão máxima σ1 e uma tensão
mínima σ2.

As tensões, σ1 e σ2, são denominadas tensões principais e os eixos ou planos correspondentes (ângulos
φ1 e φ2) são denominados planos principais, que, conforme visto, são ortogonais entre si. Na Figura 31
 xy
estão representados os ângulos (2φ)1 e (2φ)2. A equação (60) pode ser reescrita para tan 2 
 y  x
2

Considera-se agora na mesma figura:

Figura 31
11'   xy  22 '   xy

 y  x  y  x
01'   02 '  
2 2

Por trigonometria simples, as seguintes relações são deduzidas da seguinte forma:

 y  x
 xy
sin  2 1   cos  2 1  2
  y  x    y  x 
2 2

   xy    xy
2 2
 
 2   2 
 y  x
 xy
sin  2 2    cos  2 2   2
  y  x    y  x 
2 2

   xy    xy
2 2
 
 2   2 

 y x
Substituindo esses valores na equação (58), 1
   x   4 xy 2
2
 1,2   y
2 2  61

Se os valores são substituídos na equação (59), 1,2  0


 62

O resultado significa que não há tensões transversais (ou de corte) nos planos principais.

Tensões (máxima e mínima) de corte no plano

De forma similar à anterior, as tensões transversais máxima e mínima podem ser obtidas pela derivação
da equação (59) em relação a φ.

EDRM20081016_01 27
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d 2  y   x  cos 2
 y  x
   2  xy sin 2 . Então tan  2 t  
d 2 2 xy
 63

Observações: A notação (2φ)t serve para não confundir com 2φ da tensão normal do tópico anterior.

Também de forma similar à anterior, há duas soluções (2φ)t1 e (2φ)t2 que diferem 180° entre si. Assim,
φt1 e φt1 têm diferença de 90°. Comparando a equação (63) com a equação (60), nota-se que o valor
absoluto de um é o inverso do outro. Assim, 2φ e (2φ)t têm diferença de 90° e, portanto, φ e φt são
separados de 45°. Ou seja, o par de eixos das tensões máximas e mínimas de corte está na bissectriz do
ângulo recto dos planos principais (tensões normais máxima e mínima). Formulando seno e co-seno
para (2φ)t1 e (2φ)t2 de de modo semelhante e substituindo na 1
 
2
equação (59), chega-se a:  1,2    y   x  4 xy 2
2  64
O resultado indica que as tensões transversais máximas e mínimas têm valores absolutos idênticos,
diferindo apenas no sinal.

Círculo de Mohr para tensões planas

São repetidas abaixo as igualdades para as tensões normais e transversais dadas anteriormente.


x  y

 y   x  cos 2
  xy sin 2 e  
 y   x  sin 2
  xy cos 2
2 2 2

As podem ser rearranjadas da seguinte forma

x  y    x    y  x 
  y  cos 2   xy sin 2 e     sin 2   xy cos 2
2  2   2 

 y  x
Fazendo d  e elevando ambas as equações ao quadrado e somando-as,
2

x  y 
2

     d cos 2   xy sin 2    d sin 2   xy cos 2  .
2 2
 
2

 2 

  y    y  x 
2 2

Portanto,    x     d   xy  
2 2 2
   xy
2

 2   2 
x  y
A tensão média é dada pela expressão m 
2  65

   x 
2

R  y    xy
2 2
Considera-se também
 2   66

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E a equação anterior fica resumida a.


   m    2  R2
2

 67 
Onde σm e R são dadas pelas equações (65) e (66).

A igualdade acima permite concluir que, num sistema de coordenadas ortogonais (σ τ), os valores das
tensões normais e transversais estão num círculo de raio R e centro em (σm, 0). É denominado círculo de
Mohr em homenagem ao engenheiro alemão Otto Mohr.

Figura 32
A Figura 32 dá exemplo de um círculo de Mohr traçado
a partir de um determinado conjunto de valores σx, σy
e τxy. O centro do círculo é determinado pela tensão
x  y
média. Assim, OC   m  . E o raio é
2
definido pela equação (66). Se OI é igual a σy, IE é igual
a τyx. O ponto diametralmente oposto (F) corresponde
a σx e τxy (que é igual em módulo a τyx, conforme
definido anteriormente). Observar a diferença de 180°
que corresponde a 2φ, isto é, o ângulo de 90° entre os
eixos x e y.

OA é a tensão mínima σ2 e OB a máxima σ1. Assim, CB e CA representam os planos principais.

Notar que a tensão de corte τ é nula em B e em A, conforme definido anteriormente. As direcções de


corte máximo e mínimo (CH e CG) estão deslocadas de 2φ = 90° ( ou φ = 45°) dos planos principais,
também conforme definido anteriormente.

O ângulo entre CB e CE (2φp) representa o ângulo φp entre o plano y e o principal 1.

Figura 33
Nas direcções de corte máximo e mínimo (CG e CH), as
tensões normais são idênticas e iguais a σm. Pela
simetria do círculo, pode-se notar que a soma σx + σy é
constante. Alguns casos particulares para o círculo de
Mohr são exibidos na Figura 33.
Tracção simples em (a), compressão simples em (b) e
corte simples em (c).

Círculo de Mohr - Resumo

Este tópico procura apresentar resumidamente os conceitos e igualdades anteriores na intenção de


facilitar o uso prático do círculo de Mohr.

Em (a) da Figura 33, há um elemento submetido a um estado plano de tensão. O círculo de Mohr
correspondente é traçado num sistema de coordenadas ortogonais τ σ (tensão de corte x tensão
normal) com os parâmetros:

EDRM20081016_01 29
Resistência dos Materiais 30/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Figura 34
1. Centro em (σm, 0), onde

x  y
m 
2  65

ou seja, σm é a tensão normal média.

2. Raio dado por


Figura 34
   x 
2

R  y    xy
2 2

 2   66

Portanto, o círculo de Mohr pode ser


traçado com as equações acima a
partir de um estado conhecido de
tensões σx, σy e τxy (lembrar que τxy = τyx).

As tensões principais, σ1 e σ2, são dadas pela intersecção do círculo com o eixo
1,2   m  R
horizontal, conforme pontos A e B da figura. Pode-se então escrever.  68

Em (b) da Figura 34, há indicação das tensões principais, que actuam ao longo dos respectivos eixos
principais xp e yp. Conforme visto anteriormente, são as tensões normais máximas e mínimas actuantes
no elemento (e não há corte nas direcções principais). φp é o deslocamento angular, em relação aos
eixos principais, do estado de tensão (a) considerado. O ponto C corresponde às tensões no eixo X do
elemento (a) da figura. Pode ser facilmente determinado a partir dos valores das tensões e do círculo
traçado. No círculo de Mohr, os deslocamentos angulares são o dobro dos deslocamentos físicos. Assim,
o eixo Y de (a) da Figura 34, que é deslocado de 90: de X, é deslocado de 180: no círculo, ou seja, é
representado pelo ponto D. E o ângulo do eixo principal φp corresponde a 2 φp no círculo.

Figura 35
Os pontos extremos na vertical (E e F)
indicam as tensões máximas e mínimas
de corte. Desde que, no círculo, estão
deslocadas de 90: em relação aos eixos
principais (A e B), conclui-se que
fisicamente estão a 45: dos eixos
principais, conforme deduzido em
página anterior.
Considera-se agora a Figura 35. Das
propriedades geométricas da
circunferência, deduz-se que, se o
ângulo AOC é 2 φp, o ângulo ABC é a
metade desse valor, isto é, φp. Então, a
direcção da tensão principal pode ser
graficamente determinada pela recta
que passa pelos pontos B e C.

30 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 31/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Convenções: No elemento (a) da Figura 34, ocorrem tensões normais (σx e σy) positivas (tracção). O
corte é também positivo com as direcções indicadas. Notar que o deslocamento angular
2φp no círculo de Mohr ocorre em direcção oposta ao deslocamento físico φp. Algumas
publicações usam convenção contrária para o corte e os deslocamentos angulares
passam a ter a mesma direcção.

Círculo de Mohr - exemplo

Figura 36
Seja o estado de tensão dado em (a) da
Figura 36. Determinar o círculo de
Mohr correspondente, bem como as
tensões principais, a sua direcção e o
corte máximo. Considerar valores em
kPa.
São conhecidos os dados conforme (a)
da figura: σx = 4000 kPa, σy = 3000 kPa
e τxy = 1000 kPa.
Os pontos do círculo, correspondentes
às tensões dos eixos X e Y, são:

C(σx, τxy) = C(4000, 1000).

D(σy, −τxy) = C(3000, −1000).

Conforme definido anteriormente, esses pontos são diametralmente opostos e, portanto, o centro O
fica definido pela intersecção de CD com o eixo horizontal e o círculo pode ser traçado.

O valor do raio pode ser obtido de forma mais precisa pela fórmula dada

  y  x 
2
 4000  3000 
2

R     xy     1000  1118 kPa


2 2 2

 2   2 

x  y 4000  3000
A tensão média é dada por  m    3500 kPa . Portanto, o centro tem as
2 2
coordenadas O(3500, 0). E as tensões principais são dadas pelo valor de σ em A e em B

1   m  R  3500  1118  4618 kPa e  2   m  R  3500  1118  2382 kPa

O corte máximo é dado pelo valor de τ em E, ou seja, τmax = 1118 kPa.

A direcção do eixo principal (φp) é indicada graficamente pela linha BC e o valor pode ser obtido por
trigonometria com o ângulo 2φp em AOC  xy
tan  2 p  
1000
  2   p  31, 7º
 x m 4000  3500

EDRM20081016_01 31
Resistência dos Materiais 32/87
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Círculo de Mohr - rotação de eixos

O círculo de Mohr pode ser usado para determinar o novo estado de tensões resultante de um
deslocamento angular de um estado conhecido de tensões.

Figura 37
O estado de tensões em (a) da Figura
37 é supostamente conhecido, isto é,
são definidos os eixos X e Y e os valores
das tensões σx, σy e τxy.
Em (b) da mesma figura, o sistema de
coordenadas original é girado do
ângulo φ, resultando em X'Y'. Deseja-
se saber o novo estado de tensão, isto
é, σ'x, σ'y e τ'xy.
Com o uso do círculo de Mohr, esses
valores podem ser obtidos de forma
bastante prática: em primeiro lugar,
determinam-se os pontos C e D,
correspondentes ao estado conhecido
(a). Com esses pontos, o círculo fica
definido e pode ser traçado.

Desde que, conforme já mencionado anteriormente, os deslocamentos angulares do círculo de Mohr


são o dobro dos reais, as tensões nas novas coordenadas (σ'x, σ'y e τ'xy) são dadas pela recta C'D', rodada
de 2 φ em relação a CD. Notar que há perfeita coerência com os conceitos já informados, se X'Y' são os
eixos principais, a recta C'D' coincide com AB e as tensões são as principais.

Observar também que os deslocamentos angulares no círculo são opostos aos reais porque, conforme já
visto, é usada a convenção de tensões σ e τ positivas no sentido de (a) da figura.

Tensões no espaço

Figura 38
Nas páginas anteriores foram dados os princípios
básicos da análise de tensões em um plano. Na prática,
os corpos são sempre tridimensionais, mas em vários
casos as tensões mais importantes actuam em
determinado plano (ou mesmo em determinado eixo)
e as demais podem ser desprezadas. Mas pode haver
situações em que as tensões nos três eixos são
relevantes e não devem ser desconsideradas.
Para a análise, considera-se um volume em forma de
paralelepípedo do corpo a estudar. Ver Figura 38 deste
tópico. Conforme pode ser deduzido do estudo
anteriormente efectuado, cada face é submetida a
uma tensão normal e a uma tensão transversal.

32 EDRM20081016_01
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Uma superfície genérica (não paralela a nenhum eixo) pode ser dada pelo plano ABC que divide o
paralelepípedo pela metade. Portanto, o objecto geométrico do estudo é o tetraedro OABC conforme
Figura 38 (não está na mesma proporção da figura anterior).

Em cada face perpendicular a um eixo actuam as tensões normais e transversais indicadas. No centro de
gravidade GABC do plano ABC actua uma tensão ρ (vector, usando por convenção em negrito) cujos
componentes são ρx , ρy e ρz conforme canto superior esquerdo da figura.

E pode-se escrever a soma vectorial   x   y  z


 69

Sejam ux, uy e uz os vectores unitários para os respectivos eixos de


   xux   y u y   z uz
coordenadas. Assim,  70

Seja uN um vector unitário normal à


superfície ABC. Em termos de uN  uNx  uNy  uNz  cos  xux  cos  yu y  cos  z uz
componentes.  71

Onde αx, αy, αz são os ângulos da normal com os eixos de coordenadas.

Vale também observar que a condição de equilíbrio  M  0 permite deduzir as igualdades em pares
das tensões transversais:

Figura 39
 xy   yx  xz   zx  yz   zy
 72  73  74

O equilíbrio estático permite concluir:

 x    xuNx   xy uNy   xz uNz 


 75

 y    yxuNx   y uNy   yz uNz 


 76

 z    zxuNx   zy uNy   z uNz 


 77 

Em termos escalares, considerando as equações (75), (76),  x  x  xy  xz   cos  x 


 
 y   yx  y  yz   cos  y 
(77) e (71), pode-se representar os componentes na forma
de produto de matrizes. Ver equação (78).
 z  zx  zy  z   cos  z 
 78

A segunda matriz (central) é denominada matriz de tensões ou tensor dos esforços no espaço.

E o módulo da tensão σ, normal à superfície ABC, é dado pelo produto escalar     uN


 79

Para o componente transversal τ, o módulo é dado por  2      2


80

EDRM20081016_01 33
Resistência dos Materiais 34/87
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Tensões principais

Anteriormente, foram vistas relações entre tensões em um plano qualquer e tensões em planos do
sistema de coordenadas. Mas isso não é tudo. Em geral, o que se deseja saber é algo similar à situação
de tensões planas, ou seja, os valores máximos que ocorrem. No caso de tensões no plano, há dois eixos
principais nos quais só actuam tensões normais.

Figura 40
Deduzindo para as tensões no espaço, é lógico supor (e
realmente ocorre) que existem três planos principais,
ortogonais entre si, sobre os quais só actuam tensões
normais. Ou seja, as tensões de corte são nulas nesses
planos. As tensões normais actuantes nesses planos
são ditas tensões principais e são designadas por σ1,
σ2 e σ3.

Uma das três tensões principais é a máxima que ocorre


e outra, a mínima. Para isso, é adoptada a convenção
1   2   3
81

Também de forma similar ao estado duplo, as tensões extremas de corte ocorrem nos planos
bissectores dos principais. São denominadas tensões principais de corte e são dadas por

2 3 1   3 1   2
1  2  3 
2 82 2 83 2 84

A determinação das tensões principais é matematicamente mais complexa do que a do estado duplo.
Envolve conceitos de auto-valores e auto-vectores. Aqui é apresentado apenas o resultado na forma de
soluções para a equação abaixo  3  A 2  B  C  0
85
Essa equação tem 3 soluções, correspondentes às tensões principais
mencionadas. Os coeficientes A, B e C são calculados por A  x  y z
86

B   x y   y z   x z   xy2   yz2   xz2


87 
C   x y z  2 xy yz xz         
2
x yz
2
y xz
2
z xy
88
Demonstra-se que os coeficientes A, B e C
são constantes em qualquer direcção para a mesma matriz de
tensões. Assim, as igualdades anteriores devem valer também para 1   2   3  A
as tensões principais, caso em que são nulas as de corte conforme  1 2   2 3   1 3  B
já dito. Portanto
 1 2 3  C
89 

Círculo de Mohr para tensões no espaço

Anteriormente foi demonstrado que o estado plano de tensões pode ser graficamente representado
pelo círculo de Mohr.

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Resistência dos Materiais 35/87
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Figura 41
Na Figura 41, supõe-se que as faces do volume
coincidem com os planos principais. Portanto, cada
uma está sujeita somente às tensões principais σ1, σ2 e
σ3.

Considera-se um eixo fixo que passa por σ3, em torno


do qual o cubo gira. Nessa situação, as tensões
actuantes nas faces de σ1 e σ2 se comportam como um
estado duplo e podem ser representadas pelo círculo
de Mohr de centro C3 (Figura 42).

Figura 42
A tensão σ3, perpendicular ao plano considerado, não
afecta o comportamento. Usando o mesmo raciocínio
para os demais eixos, chega-se ao conjunto de círculos
da Figura 42.

É possível demonstrar que, para rotações em torno de


outros eixos, os pontos de tensões se localizam na área
cinza da figura. As tensões máximas de corte indicadas
(τmax1, τmax2 e τmax3) são as máximas para rotações em
torno de cada eixo perpendicular a um plano principal
conforme já comentado.

As coordenadas dos centros são calculadas pelas expressões a seguir.

  3    3    2 


C1  2 ,0 C2  1 ,0 C3  1 ,0
 2   90
 2   91
 2   92

E os valores extremos são σmax = σ1, σmin = σ3 e τmax = τmax2.

Alguns casos particulares de tensões no espaço

Figura 43
A Figura 43 dá exemplos do círculo de Mohr
para tensões no espaço em alguns casos
particulares. Em (a), todas as tensões
principais têm o mesmo valor, isto é, σ1 = σ2 =
σ3, e as tensões de corte são nulas, isto é,
τ1 = τ2 = τ3 = 0. Essa situação só pode ocorrer
com um fluido submetido a uma determinada
pressão. Chamado, portanto, de condição
hidrostática.

Em (b) e em (c), duas das três tensões principais são iguais e ocorre uma condição semi-hidrostática.

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Em (d) e em (e), as duas tensões principais nulas, representando um estado simples de tensão (tracção
ou compressão). Em (f) tem-se σ2 = 0 e σ1 = − σ3, representando um estado de corte simples, similar à
condição vista para tensões planas.

Exemplo numérico para tensões no espaço

Figura 44
Seja um material sujeito às tensões nas direcções das
coordenadas de referência XYZ, com valores
numéricos dados pela Figura 44. Deseja-se saber as
tensões principais, normais e de corte.

Conforme convenções definida anteriormente, os


valores com sinais são:

σx = 120 MPa, σy = −20 MPa e σz = 70 MPa

τxy = τyx = −40 MPa, τyz = τzy = 50 MPa e τxz = τzx = 25 MPa

Segundo igualdade vista anteriormente, as tensões normais são as soluções da seguinte equação do
terceiro grau  3  A 2  B  C  0 . E as fórmulas para os coeficientes A, B e C são:

A   x   y   z  120   20  70  170 MPa

B   x y   y z   x z   xy2   yz2   xz2


B  120  20    20  70  120  70   40   502  252  125 MPa 2
2

C   x y z  2 xy yz xz   x yz2   y xz2   z xy2


C  120  20  70  2  40  50  25  120  502   20  252  70  40   478750 MPa 3
2

E a equação anterior fica  3  170 2  125  478750  0

Figura 45
As soluções para essa equação podem ser vistas
graficamente na Figura 45 ao lado. Em outras palavras,
são os valores de σ que fazem a função
F     3  170 2  125  478750 ter valor igual
a zero. Para determinar os valores numéricos, pode-se
empregar um método de aproximações sucessivas que
encontre uma das soluções. Aqui é usado o método da
bissecção (ou bissecção). É simples, embora a
convergência não seja tão rápida porque é um
processo linear. A Figura 46 abaixo dá o princípio para
uma função genérica F(x).

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Figura 46
Escolhem-se dois valores arbitrários x1 e x2 tais que
F(x1) F(x2) < 0. Assim, pelo menos uma solução, F(x) =
0, está entre x1 e x2.

Se o produto F(x1) F(xm) é positivo, o próximo valor de


x1 é xm e x2 permanece. Caso contrário, o próximo
valor de x2 é xm e x1 permanece. Continuando o
procedimento, os valores médios se aproximam da
solução conforme indicado na figura (xm, xm', etc).
Para determinar o valor exacto, precisar-se-ia da impossibilidade prática de infinitos passos. Num
procedimento real, pode-se estabelecer um intervalo mínimo delta = x2 − x1, executando as iterações
até esse valor. E um código em Visual Basic para o método com a equação dada para as tensões
principais seria:

Function func_x(x)
func_x = x ^ 3 - 170 * x ^ 2 - 125 * x + 478750
End Function

Sub bissec()
Dim x1, x2, xm, delta
delta = 0.0001
x1 = -100
x2 = 50
Do While (x2 - x1) > delta
xm = (x2 + x1) / 2
If ((func_x(x1) * func_x(xm)) > 0) Then
x1 = xm
Else
x2 = xm
End If
Loop
Worksheets("Plan1").Cells(1, 1).Value = xm
End Sub

Esse código é, na realidade, uma macro numa folha de Excel que considera delta = 0.0001, x1 = −100 e
x2 = 50. O resultado é dado na célula A1 da folha "Plan1": A1 ≈ −47,23 MPa. Supõe-se que esse é o
valor de σ3. Pode-se considerar σ1 ou σ2. Neste caso, precisa-se apenas permutar os valores finais de
forma que σ1 ≥ σ2 ≥ σ3, satisfazendo à convenção adoptada.

Conforme relações anteriormente definidas (substituindo o valor de σ3 e das constantes),

 1   2  47, 23  170   217, 23  


  1 2

 1 2   2  47, 23   1  47, 23  125    1  149,36   1  67,86
 
 1 2  47, 23  478750   2  67,86   2  149,36

Sabendo que 1   2   3 e dado que é uma equação comum do segundo grau e as duas soluções

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devem ser entendidas como σ1 e σ2. Resolvendo e considerando a solução σ3 anterior (≈ −47,2), chega-
se aos resultados σ1 ≈ 149,4 MPa, σ2 ≈ 67,9 MPa e σ3 ≈ −47,2 MPa.

Fundamentos da flexão

Flexão é um esforço comum, conforme mencionado inicialmente. É também um dos mais desfavoráveis,
mas não pode ser evitado em muitos casos. Elementos sujeitos à flexão podem ser vistos em
edificações, estruturas, máquinas e em muitos outros lugares.

Figura 47
Na Figura 47 (a), uma barra de secção transversal
rectangular sofre esforços de flexão por forças
actuantes em um plano que passa por um dos eixos
centrais de inércia da secção. Essa situação é
denominada flexão simples.

Se o plano não passa por um eixo central, como em (b)


da mesma figura, ocorre a flexão oblíqua.
A flexão simples acontece (ou assim pode ser considerada) em muitos casos práticos e, evidentemente,
é a de formulação mais fácil. Por isso, ela será o objecto principal desta página.

Figura 48
A Figura 48 (a) representa uma pequena parte da vista
lateral de uma barra de secção transversal genérica
conforme (b), submetida à flexão provocada por um
momento M. A geometria da deformação sugere (e
realmente acontece) que uma parte (a superior neste
caso) da secção transversal está sob esforços normais
de compressão e outra parte (inferior), de tracção. A
linha que divide essas duas partes é denominada linha
neutra (LN) porque, naturalmente, as tensões ao longo
da mesma são nulas.

Também pode ser constatado experimentalmente que as tensões em pontos de linhas paralelas à
neutra são iguais e variam linearmente com a distância vertical y. Assim, no gráfico da Figura 48 (c), as
tensões variam de um máximo de compressão σ1 na extremidade superior da secção transversal
(distância e1 da linha neutra) até um máximo de tracção σ2 na extremidade inferior (distância e2 da linha
neutra). Com a linearidade mencionada, a tensão σ em um ponto situado a uma
 
distância genérica y da linha neutra pode ser dada por   1y
 e1   93
Aplicando a primeira condição de equilíbrio estático F x  0 tem-se

 1   1 
 F    dS    e
x  y dS  0     y dS  0
1   e1 
1
O termo  y dS é o momento estático da superfície em relação a LN. Se há flexão,
e1
não é nulo e,

assim, o momento estático  y dS deve ser zero.

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Conclui-se então que a linha neutra passa pelo centro de gravidade da secção transversal.

Por enquanto, não será considerada a segunda condição de equilíbrio estático F y  0 , uma vez que
isso implica a existência de tensões de corte, que realmente ocorrem e serão vistas posteriormente.

Para a terceira condição de equilíbrio M i  0 deve-se ter a soma dos momentos internos igual ao
 1   1  2

momento M aplicado externamente M  y dS  y 
 e1 

 y dS     y dS .
 e1 
J
Mas o factor  y 2 dS é o momento de inércia J em relação à linha neutra. Portanto, 1  M .
e1
Dessa igualdade pode-se isolar o valor de σ1 e combinar com a equação (93). Usa-se procedimento
similar para σ2, resultando nas equações básicas da M  e1 M  e2
flexão simples 1  2 
J  94 J  95

Ou seja, as tensões máximas de tracção e compressão estão localizadas nas extremidades da secção
transversal e são dadas em função do momento de flexão aplicado, das distâncias dessas extremidades
em relação à linha neutra e do momento de inércia em relação à mesma linha.

Notar que, no caso da Figura 48, σ1 é compressão e σ2, tracção. Mas será o contrário se o momento
externo for invertido.

Considerando a definição de momento ou módulo de resistência W, as igualdades anteriores podem ser


escritas da forma M J M J
1   W1  2   W2 
W1 e1 W2 e2
 96  97 

O dimensionamento é feito pela comparação com as tensões admissíveis  1   1adm


 98

Onde σ1adm e σ2adm são as tensões admissíveis para tracção e compressão ou vice-  2   2 adm
 99 
versa conforme já comentado.

Se a secção transversal é simétrica em relação à linha neutra (LN), e1 = e2 = e. Por consequência,


W1 = W1 = W. E as equações (98) e (99), ficam reduzidas a uma M
  1   2 
W 100

Nesse caso, a tensão máxima de tracção é igual à máxima de compressão.

Das relações acima, conclui-se que o conhecimento do momento de inércia e/ou módulos de resistência
da secção transversal é fundamental no cálculo da flexão. Fórmulas para as geometrias mais comuns
serão dadas posteriormente.

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Resistência dos Materiais 40/87
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Forças e momentos internos em vigas

Vigas horizontais carregadas são elementos comuns na prática e o dimensionamento exige a


determinação das tensões internas em função da carga ou das cargas aplicadas.

Figura 49
Seja, conforme Figura 49 (a), uma viga horizontal com
um carregamento genérico F(x) ao longo do seu
comprimento. A simples dedução lógica permite
concluir que esta viga está internamente submetida a
esforços de corte e flexão.

Considerando um corte transversal hipotético em um


local qualquer A, é possível separar os esforços
distintos: corte conforme (b) da figura e momento de
flexão conforme (c) da mesma figura.

Algumas referências usam os termos esforço cortante para o corte e momento flector para o momento
de flexão. Também pode ser encontrada a expressão força transversal para o corte.

Em geral adoptam-se as convenções de sinais como em (b) e (c), isto é, corte positivo tende a girar cada
parte no sentido horário e momento positivo tende a traccionar a parte inferior e comprimir a parte
superior da viga (observação: os sinais de corte e momento da figura não têm relação com o
carregamento indicado).

Diagramas de esforços em vigas

Figura 50
A Figura 50 (a) dá exemplo de um dos carregamentos
mais simples, uma viga apoiada em dois apoios com
uma única carga vertical F1. Os apoios garantem que
não há momentos nas extremidades e que não há
forças longitudinais se o carregamento é vertical, pois
o apoio direito está sobre rolos.

Considerando a origem das coordenadas x = 0, um


problema típico consiste em determinar os esforços ao
longo da viga conhecidos os valores de F1, o seu ponto
de aplicação x1 e o comprimento da viga x2.

O esquema das forças actuantes na viga é dado em (b)


da figura. F0 e F2 são as reacções dos apoios. Notar que
é uma viga estaticamente determinada, isto é, todas
as forças podem ser calculadas pela aplicação das
condições de equilíbrio estático (soma das forças nulas
e também dos momentos).

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Resistência dos Materiais 41/87
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De F y  0 , ocorre F1 = − F0 − F2. De  M  0 (em relação ao ponto 0 por exemplo), F 1 x1 = − F2 x2.

A condição F x  0 não se aplica por não existir força nesse sentido.

F1 x1 Fx  x  x1 
Portanto, F2   . Então F0   F1  F2   F1  1 1  F0   F1  2 
x2 x2  x2 

Considera-se agora uma porção genérico de 0 a um ponto x, à esquerda de 1, conforme (c) da figura.

Aplicando a condição de equilíbrio F y  0 , em módulo, Fc = F0. E o corte interno é positivo conforme


critério definido anteriormente. Assim, do ponto 0 até 1, Fc = F0. É fácil deduzir que do ponto 1 ao ponto
2 vale Fc = F0 + F1 = − F2. Novamente se considera o ponto x à esquerda do ponto 1 conforme figura.
Aplicando a condição 
M  0 em relação a x, M = x F0 (positivo conforme critério definido
anteriormente). Entre os pontos 1 e 2, M  xF0   x  x1  F1 . Substituindo os valores de F0 e F1
conforme já calculado:
x x
Entre 0 e 1: M  F1  x2  x1  . Portanto, para x = 0, M = 0. Para x = x1, M  F1  x2  x1  1 .
x2 x2
Entre 1 e 2: M  xF0   x  x1  F1  x F0  F1   x1 F1 . Mas F0 − F1 = − F2.
 F1 x1   x
Assim, M   x    F1 x1  F1 x1 1   . Portanto, para x = x2, M = 0.
 x2   x2 
 x1   x2  x1 
Para x = x1, M  F1 x1 1    F1 x1   . Notar que é igual ao valor da porção anterior. E o
 x2   x2 
gráfico é conforme (e) da figura. E os valores máximos são dados por:
 x2  x1  F1 x1
 Fc_max = max (F0, F2) com F0  F1   e F2  .
 x2  x2
x1
 M max  F1  x2  x1 
x2

Tabela

Observações:

a) Os valores são dados em relação a um eixo de referência (x e/ou y) coincidente com a linha neutra da
secção. Naturalmente, nos casos de secções circulares, o valor não depende da orientação do eixo.

b) Em alguns casos o valor do momento de inércia é dado em função das distâncias acima ou abaixo da
linha neutra (e1, e2) e seus valores são dados no lugar do momento de resistência W. Mas este último
J
pode ser calculado pela simples relação W  .
e

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Resistência dos Materiais 42/87
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c) Os melhores cuidados foram procurados na elaboração desta tabela. Entretanto, não há quaisquer
garantias e/ou responsabilidades pelo seu uso. Dados para aplicações críticas devem sempre ser
verificados em mais do que uma fonte.

Secção Nome/aspecto J W

 D4 D4  D3 D3
Circular cheia J ou J  W ou W 
64 20 32 10

  D4  d 4    D4  d 4 
Tubo J W
64 32 D

  t 2  2J
J   tr 1    
3 W
  2r   2r  t
Tubo  
Onde r  D (raio médio)
de parede fina Onde r  D (raio médio) 2
2
ou W   tr
2
ou J   tr 3

b b
Elipse cheia J x   a3 Wx   a 2
4 4
b3 b2
Jy  a Wy   a
4 4

Tubo elíptico  a3b  a '3 b '  Wx 


Jx
Jx     a
 4 

Tubo elíptico t t
de parede fina J x   a 2  a  3b  Wx   a  a  3b 
4 4

Wx  0, 0238D3
Semicírculo J x  0,00686D 4
com

e  0, 2878D

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Rectângulo a3b ab3 a 2b ab 2


Jx  Jy  Wx  Wy 
12 12 6 6

Triângulo ah3 ah 2
Jx  Wx  com e 
2h
36 24 3

Wx  0, 625a 3
Hexágono J x  J y  0,5413a 4

regular
Wy  0,5413a 3

h 2  a 2  4ab  b 2 
Wx 
12  2a  b 
Trapézio h  a  4ab  b
3 2 2

Jx  com
36  a  b  h  2a  b 
e
3 a  b

aH 2  bd 2
e2 
Perfil T Be23  bh3  ae13 2  aH  bd 
aba horizontal Jx 
3 e1  H  e2

aH 2  bd 2
Be23  bh3  ae13 e2 
2  aH  bd 
Perfil L
Jx 
3 e1  H  e2

aH 2  bd 2
e2 
Perfil U Be  bh  ae
3 3 3
2  aH  bd 
Jx  2 1

3 e1  H  e2

Tubo BH 3  bh3 BH 3  bh3


rectangular Jx  Wx 
12 6H

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Perfil I BH 3  bh3 BH 3  bh3


Jx  Wx 
12 6H

Perfil C BH 3  bh3 BH 3  bh3


Jx  Wx 
12 6H

Perfil I H 3  h3 h3  g 3 H 3  h3 h3  g 3
perfurado Jx  B f Wx  B f
12 12 6H 6H

Perfil C H 3  h3 h3  g 3 H 3  h3 h3  g 3
perfurado Jx  B f Wx  B f
12 12 6H 6H

Perfil H BH 3  bh3 BH 3  bh3


Jx  Wx 
12 6H

Perfil em cruz BH 3  bh3 BH 3  bh3


Jx  Wx 
12 6H

Perfil T BH 3  bh3 BH 3  bh3


aba vertical Jx  Wx 
12 6H

aH 2  B1d 2  b1d1  2 H  d1 
e2 
Perfil I Be  B1h  be  b h 2  aH  B1d  b1d1 
3 3 3 3

abas desiguais Jx  2 1 1 1

3
em largura
e1  H  e2

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Viga apoiada com várias cargas concentradas

Anteriormente, foi visto exemplo do diagrama para viga apoiada com uma carga concentrada. Isso pode
ser considerado caso particular de uma situação mais genérica, ou seja, viga com mais de uma carga
concentrada.

Figura 51
A Figura 51 (a) é dado um exemplo para três forças F1,
F2 e F3, supostamente conhecidas, bem como os
respectivos pontos de aplicação (x1, x3 e x3) e o
comprimento total x4. As forças F0 e F4 são as reacções
dos apoios. Da condição de equilíbrio 
Fx  0 ,
ocorre F0 + F4 = F1 + F2 + F3. Da condição  M  0 (em
relação a 0 por exemplo), F4x4 = F1x1 + F2x2 + F3x3.
F1 x1  F2 x2  F3 x3
Portanto, F4  . F0 = F1 + F2 + F3 −
x4
F4. Ou seja, F0 e F4 são formulados em função de
parâmetros conhecidos. Na Figura 51 (b), uma parte da
viga, de comprimento menor que x1. Pela condição de
equilíbrio dada pela soma das forças verticais igual a
zero, o corte é igual à reacção do apoio esquerdo, isto
é, Fc = F0. Sendo F0 calculado conforme igualdade
anterior. Ver gráfico em (c).

Para uma porção entre 1 e 2, o corte sofre a contribuição de F1, actuante em sentido contrário. Assim, Fc
= F0 − F1. De forma análoga, pode-se verificar que entre 2 e 3 vale Fc = F0 − F1 − F2. E, para a porção entre
3 e 4, há a relação, Fc = F0 − F1 − F2 − F3. O sentido do corte começa positivo, de acordo com critérios já
definidos.

Para os momentos de flexão, entre 0 e 1, ocorre M = F0 x. E para a porção entre 1 e 2,

M = F0 x − F1 (x − x1) = (F0 − F1) x + F1x1.

Para a parte entre 2 e 3, M = F0 x − F1 (x − x1) − F2 (x − x2) = (F0 − F1 − F2) x + F1x1 + F2x2.

Para a porção 3-4, pode-se fazer a analogia directa, M = (F0 − F1 − F2 − F3) x + F1x1 + F2x2 + F3x3. E o gráfico
é algo parecido com a Figura 51 (d).

Para a última igualdade, se é feito x = x4, tem-se M = (F0 − F1 − F2 − F3) x4 + F1x1 + F2x2 + F3x3.

Mas (F0 − F1 − F2 − F3) = − F4 conforme já visto e F4x4 = F1x1 + F2x2 + F3x3. Ou M = −F4 x4 + F4 x4 = 0, que é
um resultado esperado, pois não pode haver momento em extremidades apoiadas neste tipo de apoios.

Este exemplo foi dado para 3 forças, mas pode-se notar que é facilmente adaptável para qualquer
número delas.

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Resistência dos Materiais 46/87
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Viga apoiada com carga uniformemente distribuída

Nos exemplos vistos até aqui, a função matemática das forças aplicadas em razão da posição F = f(x) é
uma função discreta, isto é, o seu valor só é diferente de zero em determinados pontos.

Uma carga é distribuída se as forças actuam em todos os pontos da porção considerada. Nesse caso, o
valor é especificado em termos de força por unidade de comprimento q (newton por metro N/m, por
exemplo). E a carga é dita uniformemente distribuída se o valor de q é constante na porção
considerada.

Figura 52
A carga aplicada, na Figura 52 (a), uniformemente
distribuída q, actua em toda a extensão da viga.
Exemplo comum para isso é o peso próprio da viga. A
força equivalente de uma carga uniformemente
distribuída é igual ao produto do seu valor q pelo
comprimento considerado, com actuação no ponto
médio do mesmo. Portanto, a força no total da viga é q
x1
x1, actuando em . A condição de equilíbrio
2
F y  0 e a simetria permitem deduzir as reacções
q x1
dos apoios F0  F1  . Numa parte genérica de
2
comprimento x conforme (b) da figura, a condição
 Fy  0 determina o corte Fc = F0 − q x.
q x1
Ou FC   q x . Portanto, uma recta com valor F0
2
para x=0 e −F0 para x = x1.
qxx q
Para os momentos, considerando  M  0 para o ponto x, tem-se M  F x  0
2
    x 2  F0 x .
2
Isso é a equação de uma parábola e pode ser visto que tem valores nulos nos extremos (x = 0 e x = x1). E
o gráfico tem a forma dada na Figura 52 (d). Notar que as formulações para o corte e para o momento
são contínuas porque a força aplicada tem actuação também contínua. A simplicidade do caso permite
deduzir que o momento máximo se encontra no ponto médio. Formalmente, pode ser encontrado com
a hipótese da derivada do momento em relação a x igual a zero e posterior solução da equação
dM q qx x
diferencial     2 x  F0  0 . Ou qx   1 . Portanto, x  1 .
dx 2 2 2

Viga encastrada com uma carga na extremidade

Este é um exemplo que pode ocorrer em várias situações práticas. Uma viga encastrada numa
extremidade suporta uma carga vertical na outra, conforme (a) da Figura 53. Também denominada viga
em balanço.

46 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 47/87
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Figura 53
Considera-se apoio ao encastre na coordenada x=0. De
 Fy  0 , ocorre F0 = F1 (em módulo). De 
M 0
(em relação a 0 por exemplo), tem-se M0 = F1 x1
(também em módulo). Notar que há necessariamente
um momento no apoio, pois não há outra força para
compensar a acção de F1. Analisando uma parte de
comprimento x conforme (b) da figura, para o corte
ocorre Fc = F0 = F1 = constante. E o sinal é positivo, de
acordo com critérios já definidos. Para o momento, M
= M0 − Fc x ou M = F1 x1 − F1 x = F1 (x1 − x). E deve ser
negativo de acordo com os critérios definidos.
Portanto M = − F1 (x1 − x). A equação do momento é
uma recta com valor absoluto máximo igual a F1 x1
para x = 0.

Viga encastrada com carga distribuída

Este problema é similar ao do exemplo anterior, diferindo no carregamento, que é distribuído. A sua

força equivalente é q x1. Assim, de Fy  0 , tem-se em módulo:

Figura 54
F0 = q x1. De M  0 (em relação a 0) e
x1
considerando que a força equivalente actua em ,
2
qx1 x1 q x12
também em módulo, M 0   . De acordo
2 2
com a porção genérica em (b) da figura, o corte é dado
por Fc = F0 − q x = q x1 − q x = q (x1 − x). É uma recta de
valor q x1 em x = 0 e 0 em x = x1.
De  M  0 , em (b) da figura e em relação a 0,
deduz-se a variação do momento
qxx qx12 qx 2
M  M0    . Mas deve ser negativo
2 2 2
conforme convenção adaptada.
2
2
qx 2
  x 2  x12  . Para x = 0, em módulo vale M  1 , que é o seu valor
qx qx q
Assim, M   1

2 2 2 2
máximo.

EDRM20081016_01 47
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Viga apoiada com momento concentrado

Um esforço de torção também pode ser visto como uma carga. Veja exemplo na Figura 55 (a). A posição
do apoio esquerdo foi invertida para proporcionar a correcta reacção.

Figura 55
De F y  0 , nota-se que as reacções em cada apoio
são iguais em módulo e de sinais invertidos
F0 + F2 = 0 ou F0 = − F2.
De  M  0 (em relação a 2) tem-se em módulo
M1
F0 x2 = M1 ou F0  .
x2
De acordo com a porção genérica em (b) da figura,
ocorre para o corte
M1
FC  F0   constante (em módulo).
x2
De acordo com as convenções estabelecidas, o corte
deve ser negativo conforme indicado no gráfico.

Considerando a mesma parte genérica (b), o momento de flexão entre os pontos 0 e 1 é:


M 
M  F0 x   1  x . E o sinal deve ser positivo conforme convenções. Entre os pontos 1 e 2 precisa-se
 x2 
M   1 x 
considerar a acção do momento externo M1 - M  M1   1  x  M 1   . E o sinal deve ser
 x2   x2 
negativo pois, nessa parte, as fibras inferiores da barra são traccionadas. O gráfico, conforme Figura 55
(b), mostra que os maiores momentos estão no ponto de aplicação do momento externo (x1). Portanto,
basta verificar, entre as duas igualdades anteriores, a de maior valor absoluto nesse ponto.

Aspectos teóricos sobre carregamentos de vigas

Figura 56
Anteriormente foram vistos alguns exemplos de
diagramas de esforços transversais e momentos de
flexão em vigas horizontais, com desenvolvimentos
específicos para cada caso. Neste tópico é apresentada
uma formulação genérica, que pode não ser
directamente aplicável no caso de cargas discrectas,
mas permite chegar a algumas conclusões
importantes. A Figura 56 mostra uma viga sob acção
de um carregamento distribuído genérico, isto é, não
uniforme, dado pela função q(x). As forças A e B são as
reacções dos apoios.

48 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 49/87
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Desde q(x) é a força por unidade de comprimento, pode-se concluir que, em uma área infinitesimal de
posição u e largura du , a força actuante é q  u  du , isto é, a área da porção de superfície da figura. Em
um determinado ponto x, o esforço de corte Fc é igual à soma das forças actuantes à esquerda do
mesmo (que, naturalmente, deve ser igual à soma das forças à
ux
direita para preservar o equilíbrio estático). Assim, pode-se Fc  x    q  u  du  A

u 0
escrever 101
dFc  x 
Notar que essa igualdade pode ser considerada decorrente da definição  q  x 
dx 102
E o valor A pode ser visto como a constante de integração.

E o momento de flexão para um local genérico x é igual à soma dos produtos das forças à esquerda
pelas distâncias a esse ponto (que, de forma análoga à anterior, deve ser igual à soma da direita para
ux
manter o equilíbrio estático). Portanto M  x      x  u  q u  du  Ax . Se deseja diferenciar M(x)
u 0
em relação a x, deve-se usar a regra geral para diferenciação de integrais

dM  x 
d
dx 
a
b 
  f  x, t   dt . Aplicando na equação anterior,
f  x, t  dt  
a x
b

dx
ux
   q  u  du  A .
u 0

Esse resultado é o esforço transversal dado na equação (101). Portanto, dM  x 


 Fc  x 
Essa igualdade estabelece uma relação matemática entre o momento de dx 103
flexão e o esforço de corte. Lembrar que, se a derivada de uma função é
nula, ela está num ponto de valor máximo ou mínimo. Isso pode ser claramente observado nos
diagramas das páginas anteriores, inclusive para alguns casos de forças discrectas de carregamento.

Distribuição de tensões transversais na flexão

As tensões de corte associadas à flexão não se distribuem de maneira uniforme pela secção transversal
da barra. Isso não invalida os cálculos de valores a partir dos diagramas, mas eles devem ser
considerados médios e, portanto, podem existir valores localizados significativamente acima da média.

Figura 57

A Figura 57 representa uma barra supostamente sob


acção de flexão no plano XZ.

Supõe-se agora um pequeno trecho de largura Δx


conforme indicado. Este último, por sua vez, é cortado
por um plano Pz, paralelo ao plano XY e situado a uma
altura z do eixo X.

A Figura 58 representa em (a) o corte do plano XZ e, em (b), o corte de um plano paralelo a YZ. O eixo Y
coincide com a linha neutra da secção transversal.

Conforme (a) da Figura 58, o lado esquerdo do trecho é nomeado 1 e o direito, 2. Considerando
somente a parte acima da linha neutra, as tensões normais σ1 e σ2 variam linearmente de zero até um

EDRM20081016_01 49
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M e
valor máximo na extremidade superior. Conforme visto anteriormente, o valor máximo é , onde J
J
é o momento de inércia da secção Syz em relação a Y. Portanto, para um
M u
valor qualquer de z = u 1  u  
J 104

Figura 58
Para a face direita, o momento é M + ΔM e, assim,

 2 u  
 M  M  u
J 105

Em (a) da Figura 58, σx é a tensão de corte na


superfície do plano Pz (Figura 57) entre as duas secções
separadas de Δx. Portanto, essa superfície tem
dimensões Δx e 2y, como pode ser visto em (a) e (b) da
Figura 58.

Para manter o equilíbrio estático, as forças correspondentes a τx, σ1(u) e σ2(u) devem anular-se
− τx Δx 2y − ∫ σ1 dS + ∫ σ2 dS = 0, ou − τx Δx 2y + ∫ (σ2 − σ1) dS = 0.

Mu  M 
Das equações (104) e (105)  2   1   . Assim,  x x 2 y     u dS . Reagrupando a
J  J 
 M  1 
igualdade,  x      u dS .
 x   2 yJ 

Desde que se considera a superfície Syz em (b) da Figura 58, essa integração vai de u = z até u = e. A
u e
expressão uz
u dS é o momento estático MY de Syz em relação ao eixo Y. Na situação limite,
M dM
 , que, conforme tópico anterior, deve ser igual à força de corte F. F  MY
x dx x 
E o valor final da tensão é 2 Jy
106

Desde que tensões de corte aparecem sempre aos pares, deve-se ter z x
107 

Demonstra-se também que tensões nas bordas são tangentes às mesmas. Como
x
exemplo, temos o ponto B de (b) da Figura 58. E são ainda maiores para um dado B 
z, valendo cos 
108

Onde φ é o ângulo que ela faz com o eixo Z.

Distribuição de tensões em secções rectangulares e circulares

O esquema da Figura 59 (a) é similar ao do tópico anterior Figura 58 (b) adaptado para uma barra de
secção transversal rectangular.

50 EDRM20081016_01
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Figura 59
O momento estático da área da parte superior (que
contém dS) em relação a Y (que coincide com a linha
neutra da secção) é dado por
h
b 2 h2
M Y   2 u  b du 
u 
z 2  z
b  h2 2 bh 2   2 z  
2

MY    z   1    
2 4  8   h  

bh3
O momento de inércia em relação a Y é J  , conforme propriedade da secção rectangular.
12

Pode-se calcular τx pela igualdade vista em página anterior, lembrando que o valor de y, neste caso, é
igual a
b
.  bh 2   2 z 2  
 1     
 8   h   
2
 MY  3F   2 z  
2

x  F   F    x  2bh 1   h  
 2 Jy   2  bh 3
  b     
   109
  12   2  

h h
A expressão acima indica uma parábola. Notar que nos pontos extremos z  e z   o valor da
2 2
tensão de corte é nulo. A Figura 59 (b) dá uma representação aproximada. Neste caso, não cabe a
verificação da tensão na borda conforme mencionado anteriormente porque a
3F
tangente é vertical (φ = 0 e cos φ = 1). O valor máximo ocorre para z = 0.  x max 
Portanto, 2bh 110

F
Desde que bh é a área da secção, é a tensão média de corte. Assim, pode-se
bh 3
dizer que, para a secção rectangular, vale  max   med
2 111
Figura 60
A Figura 60 dá o esquema para secção transversal
circular. Para determinar o momento estático da
superfície superior (que contém dS), deve-se lembrar
u r
que dS = 2r cos α du. Assim, M Y  uz
2r cos  u du
Considerando que u = r sen α e du = r cos α dα, os
valores em termos de α são (notar que para u = z,

α = φ e para u = r,   )
2


MY  2 r3  2
cos 2  sin  d
 

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 2 r3  3  D4  r4
MY    cos  . O momento de inércia em relação a Y é J  ou J  , conforme
 3  64 4
F  MY
propriedade da secção circular. Considerando a fórmula vista  x  e substituindo os valores
2 Jy
 4F  2
(lembrar que y = r cos φ),  x   2 
cos  . Lembrando que
 4F    z  
2
 3 r  x   1   
2 
z  3 r    r  
sin   e sen φ + cos φ = 1
2 2
112
r

A tensão na borda τB é dada pela fórmula também mencionada


 4F 
2
x z
B   2 
1  
anteriormente,  B   3 r  r
cos  113

A primeira curva (τx) é uma parábola e a segunda (τB), uma elipse.


 4F 
Representação na Figura 60 (b). Desde que z ≤ r, o valor máximo ocorre em  max   2 
z = 0 e é o mesmo para ambas as igualdades  3 r  114

F
Como π r2 é a área da secção, é a tensão média de corte. Portanto, para 4
 r2  max   med
a secção circular, vale a relação. 3 115

Figura 61
Distribuição para algumas outras secções (somente
resultados). Para tubos de parede fina, vale
2F
aproximadamente  max  .
S 116

Onde S é a área da secção transversal.

Para perfis comuns tipo Z, U, H. F


 max 
A curva do lado direito da Figura 61 dá ideia da distribuição aproximada. th 117 

Energia da deformação por flexão simples

Figura 62
Seja, conforme Figura 62 deste tópico, uma viga
submetida a um esforço de flexão simples, não
necessariamente uniforme, cujo momento é dado por
M(x). Considera-se um volume elementar, na posição
genérica x, de espessura dx , isto é, ou seu volume é
dado por dV  S dx , onde S é a área da secção
transversal.

52 EDRM20081016_01
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Seja uma área elementar dS na face transversal desse volume. A tensão normal em dS , segundo
M  x z
relação básica já vista para a flexão, é   . E a força normal é o seu produto pela área
Jy
M  x z
F   dS  dS . Considera-se agora a parte da barra de secção transversal dS e comprimento
Jy
dx . Ela pode ser vista como uma barra sujeita a uma força F, de tracção ou compressão, dependendo
do sentido do momento e da posição acima ou abaixo da linha neutra. Pode-se usar a fórmula dada
F 2L
anteriormente para a energia de deformação W  . Deve-se levar em conta que essa fórmula é
2E  S
válida para tracção e compressão. Observar também que o sinal da energia deve ser o mesmo em
qualquer caso, pois, tanto na tracção quanto na compressão, é fornecida energia para a deformação.

F 2 dx
Adaptando a fórmula para este caso ( W  dW , L  dx, S  dS ), ocorre dW  . Substituindo o
2 E dS
M 2  x  z 2 d 2 S dx M 2  x  z 2 dS dx
valor de F, dW   .
2 E dS J y2 2 E  J y2

M 2  x  dx
Fazendo a integração, W  x    S dW   S z 2 dS .
2E  J y 2

Mas a parte  S z 2 dS é o momento de inércia Jy em relação à linha M 2  x  dx


W  x 
neutra. Portanto, 2E  J y
118
2
Considerando o momento constante e integrando ao longo de um M L
W
comprimento x = L, o resultado é 2E  J y
119
Notar a semelhança com as fórmulas para outros esforços:

F 2L F 2L T 2L
Tracção ou compressão W  Corte W  Torção W 
2E  S 2G  S 2 J pG

Linha elástica de vigas flexionadas

Linha elástica é a curva formada pelo eixo da viga, inicialmente rectilíneo, deformado devido à aplicação
de momentos de flexão.

A Figura 63 é basicamente a mesma do tópico Fundamentos da flexão simples. A distância de dS até LN


(linha neutra) é agora simbolizada por u para não confundir com o eixo y.

A experiência demonstra que as secções transversais permanecem planas para pequenas flexões. Em (a)
da Figura 63 supôs-se que a secção na direcção do eixo Y se desviou de um comprimento dl e de um
ângulo d  .

EDRM20081016_01 53
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Figura 63
Desde que a variação do ângulo é pequena ( d  ), a
distância b é dada por b  u d  . Portanto, o
b d
alongamento ε em relação a dl é   u .
dl dl
d
Mas é a curvatura K da linha. Assim, ε = u K. Por
dl
definição o raio de curvatura r é o inverso da curvatura
1
r .
K

Segundo a lei de Hooke, σ = ε E, onde E é o módulo de elasticidade do material. Substituindo o valor de


ε anterior, σ = u K E. Da relação básica para a flexão, pode ser deduzido que
1 EJ
uM uM r 
 . Portanto, u  K  E  ou K M 120
J J

E, assim, o raio de curvatura da deformação é dado em função do material (módulo de elasticidade E),
da geometria da viga (momento de inércia da secção J) e do momento de flexão M aplicado.

Figura 64
A Figura 64 dá um exemplo de corte longitudinal de
uma viga deformada, sem maiores preocupações com
proporcionalidade visual dos elementos. O objectivo é
obter uma fórmula mais aplicável, isto é, para as
coordenadas (x,y) da curva e não para o seu raio de
curvatura.

1 d
Já visto que K .
r dl

dy  dy 
Da Figura 64 pode-se ver que tan   . Ou   arctan   . Das regras de diferenciação,
dx  dx 
du
d  arctan u   .
1 u2

 dy 
d 
 dx 
2
 dy   dy  d2y
d  1  
    d  dx  
d   d  arctan       2
dy dx d 2x

 dx  
2
  dy  dx dx  dy 
1   1  
 dx   dx 

d   d   dx 
Pode-se considerar    . Para a determinação do comprimento de uma curva, vale
dl  dx  dl 
2
dx  dy 
 1   .
dl  dx 

54 EDRM20081016_01
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d2y d2y
d d 2x d 2x
Portanto   .
dl   dy 2   dy 
2
  dy  2 3
1     1    1    
  dx    dx 
  dx  

2
 dy 
Para pequenas flexões, que é a situação considerada, o valor de    tan 2  é pequeno em
 dx 
d
2
 dy  M
relação a 1 e pode ser desprezado. Portanto,  K    de acordo com a equação
dl  dx  EJ
(120). O sinal negativo é posto para relacionar correctamente os sentidos
M  x
2
 dy 
das variações. E a linha elástica em coordenadas ortogonais é dada por   
 dx  EJ 121

Exemplo de cálculo da linha elástica

Figura 65

Anteriormente, foi determinada a variação do


momento de flexão para uma viga encastrada numa
extremidade e submetida a uma força na outra M = −
F1 (x1 − x). Adaptando a igualdade para a Figura 65
abaixo (F1 = F e x1 = L), M = − F (L − x).

F  L  x
2
 dy 
Substituindo esse valor na equação (121) do tópico anterior,    . A derivada de 1ª
 dx  EJ
dy F  L  x F  x2 
ordem é obtida pela integração  dx   Lx    A.
dx EJ EJ  2

Para continuar o processo, é preciso determinar a constante de integração A, o que se faz pela
dy
observação de condições em extremidades. Lembrar que é a tangente trigonométrica do ângulo β
dx
que a tangente geométrica à curva faz com a horizontal (eixo X). Pela geometria do arranjo, Figura 65
dy
(a), tan    0 para x = 0. Substituindo na igualdade anterior, A = 0. Uma segunda integração
dx
F  x2  F  Lx 2 x3 
resolve o problema y    Lx   dx     B.
EJ  2 EJ  2 6

A constante de integração B pode ser determinada pela condição da extremidade encastrada, de forma
similar à anterior. Neste caso, y = 0 para x = 0 e, portanto, B = 0. E a F  Lx 2 x3 
equação da linha elástica fica. y   
EJ  2 6
122

EDRM20081016_01 55
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Viga em balanço (outras considerações)

Desde que as deformações aqui tratadas pressupõem o trabalho apenas na região elástica do material,
vigas sujeitas ao efeito de flexão podem actuar como molas em alguns casos. Seja, por exemplo, a viga
em balanço do tópico anterior.

Figura 66

Para considerar apenas o deslocamento da força aplicada na extremidade, considera-se x = L na


F  LL2 L3  L3 F  3E  J 
equação (122) do tópico anterior y      ou F  y   y
EJ  2 6  3E  J  L
3
 123

Para uma mesma viga, os valores E, J e L são constantes.


3E  J
Assim, essa igualdade é a característica de uma mola, ou F  y   k  y, onde k 
seja, força proporcional ao deslocamento L3 124

Naturalmente, deve valer apenas para pequenos deslocamentos e o peso próprio da viga deve ser
desprezível.

Vigas de igual resistência à flexão - Introdução

Considere a Figura 65 como exemplo, isto é, a linha elástica e diagrama de momento de flexão para uma
viga em balanço carregada na extremidade. Notar que o momento de flexão é, em valores absolutos,
máximo na extremidade esquerda e decresce até zero na direita. Se a secção transversal da viga é
constante, ela deve ser dimensionada para o esforço máximo na extremidade esquerda e, no restante
da viga, ela irá trabalhar com folga, isto é, estará super dimensionada. Conforme relação básica, a
M
tensão devido à flexão é dada por   , onde M é o momento de flexão e W, o módulo de
W
J
resistência ( ). Supondo o trabalho com a tensão admissível do material e considerando que o
e
momento varia com a posição, usam-se os símbolos σadm e M(x) respectivamente. Se deseja maximizar o
aproveitamento de material, cada secção da viga deve suportar a tensão admissível e, portanto, o
M  x
módulo de resistência W deve variar com a posição, W(x), de forma que  adm   constante .
W  x
Nessa igualdade, em princípio, são conhecidos σadm (depende do material) e M(x) (depende do
carregamento). Desde que W(x) só depende das características geométricas da secção, é fácil concluir
que a área da mesma deve variar para manter a igualdade constante. A formulação matemática é
relativamente fácil e aqui não é dado exemplo. Basta escolher um formato do perfil e da viga e indicar
parâmetros fixos e variáveis (exemplo: rectângulo com largura fixa e altura variável, etc.). A tabela do
tópico seguinte dá os resultados para alguns arranjos comuns.

56 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 57/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Em muitos casos práticos, por questões de custo, facilidade de montagem, funcionalidade, etc., essa
alternativa não é usada. Afinal, os perfis precisam ser "fabricados" para cada carregamento. Mas pode
ser vantajosa em alguns casos específicos, em especial para vigas em balanço.

Alguns exemplos usuais

Observações:

a) Reafirmando condições definidas anteriormente, os melhores cuidados foram procurados na


elaboração desta tabela. Entretanto, não há quaisquer garantias e/ou responsabilidades pelo seu uso.
Dados para aplicações críticas devem sempre ser verificados em mais do que uma fonte.

b) fmax significa flecha máxima.

c) Os dados informados são teóricos, considerando somente o momento de flexão. Portanto, a secção
mínima da viga deve suportar o corte que existir conforme diagrama de esforços.

Formato Descrição Secção Função y Outros


maior

Rectângulos de
altura variável 6F  L 6F  x 8F  L 
3
h2  y2  
carga concentrada b adm b adm f max  
bE  h 

Rectângulos de
largura variável 6F  L 6F  L 6F  L 
3
b y f max 
carga concentrada h 2 adm h 2 adm  
bE  h 

Rectângulos de
altura variável em 6F  L 6F  x 8F  L 
3
h2  y2  
dois lados b adm b adm f max  
carga concentrada bE  h 

Rectângulos de
altura variável 3qL2 h x 3qL  L 
3
h2  y 
carga distribuída
b adm L f max  
bE  h 

Rectângulos de
largura variável 3qL2 h x 3qL  L 
3
b 2 y 
carga distribuída
h  adm L
f max  
bE  h 

EDRM20081016_01 57
Resistência dos Materiais 58/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Rectângulos de 3qL2 y2 x2 3qL  L 


3

altura variável h2   1  f max   


4b adm
2
h2 L 16bE  h 
carga distribuída e  
2
viga em dois apoios

Coluna de igual resistência

Figura 67
Na Figura 67, uma coluna sofre um esforço de compressão de
uma carga externa F. Considerando o peso próprio, é fácil
concluir que a secção transversal deve aumentar de cima para
baixo, deseja-se manter a tensão de compressão constante, ou
seja, uma resistência constante à compressão. Supõem-se que a
coluna seja feita de um material homogéneo de massa específica
μ. Considera-se o ponto de aplicação de F a origem da
coordenada y. Assim, a área da secção transversal é uma função
S(y), que deve ser encontrada para manter a tensão constante
na coluna. Para a secção de uma altura genérica y, o volume
elementar é dado por dV(y) = S(y) dy.

A força actuante na secção genérica é a soma do peso próprio acima da mesma com F e, dividida pela
 gV  y   F
área, deve ser igual à tensão (constante) na coluna    constante .
S  y
Ou μ g V(y) + F = σ S(y). Diferenciando ambos os lados, μ g dV(y) = σ dS(y). Mas dV(y) = S(y) dy,
  dS  y  
conforme já visto. Assim, μ g S(y) dy = σ dS(y) ou S  y     . A solução genérica para a
 g  dy 
 g 
dS  y   g 
 y   g    y
equação diferencial é S  y   ke  
. Ela pode ser confirmada com k  e 
.
dy   
  dS  y        g   
 g   g 
y  y
 

 ke  
 S  y  . A constante k pode ser determinada pela
 g  dy    g    
Ou k e

F
condição em que para y = 0, S = S0 e/ou k = S0. Mas em y = 0 só há a acção de F. Assim,   ou
S0
F
k . Substituindo na anterior e considerando a tensão  g 
 F    adm  y
 S  y   e
admissível do material   adm  125

Notar que essa fórmula fornece a área da secção e a variação das dimensões depende da geometria
escolhida. Se for rectangular com um lado fixo por exemplo, o outro varia com a função dividida pelo
valor do lado fixo. Mas se for circular, o raio varia com a raiz quadrada da função dividida por π.

58 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 59/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Vigas de secção constante - Alguns exemplos típicos

Este tópico contém apenas tabela com fórmulas dos principais parâmetros para cálculo de alguns
arranjos comuns de carregamentos em vigas de secção constante.

Observações:

• Reafirmando condições definidas anteriormente, os melhores cuidados foram procurados na


elaboração desta tabela. Entretanto, não há quaisquer garantias e/ou responsabilidades pelo seu uso.
Dados para aplicações críticas devem sempre ser verificados em mais de uma fonte.

• O valor da carga distribuída (q) deve ser dado em unidade de força por unidade de comprimento
(exemplo: newton por metro N/m).

Formato Descrição Mom max Flecha f Reacções


F
RA 
Duplo apoio, 2
carga FL F  L3 F
RB 
concentrada 4 48E  J 2
no meio MA  0
MB  0
F  L3  x   4  x  
2
L
y   1     para x
16 E  J  L   3  L   2
Fb
RA 
Duplo apoio, L
carga F  ab F  a 2b 2 Fa
concentrada RB 
L 3E  J  L L
em posição MA  0
genérica
MB  0

F  L3  a  b   x   L x2 
2

y       1   
6 E  J  L  L   L   b a  b 
F  L3  b  a   x '   L x '2 
2

y'       1   
6 E  J  L  L   L   a a  b 
Deve-se ter x ≤ a e x' ≤ b.
qL
RA 
Duplo apoio, 2
carga qL2 5qL4 qL
RB 
distribuída
8 384 E  J 2
uniforme MA  0
MB  0
5F  L3  x
2
 4  x  2

y 1  4    1 
384 E  J L  5  L 
  

EDRM20081016_01 59
Resistência dos Materiais 60/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

11F
RA 
Encastrada 16
com apoio, 3F  L 7 F  L3 5F
RB 
carga 16 16
concentrada 768E  J 3F  L
MA 
no meio 16
MB  0
5qL
RA 
Encastrada 8
com apoio, 3qL
qL2 qL4 RB 
carga 8
distribuída 8 185E  J
qL2
uniforme MA 
8
MB  0

Em balanço,
carga
F  L3 RA  F
concentrada FL MA  F L
na 3E  J
extremidade

Em balanço, qL2 qL4 RA  qL


carga
distribuída 2 8E  J MA 
qL2
uniforme 2

Tabelas de perfis comerciais - Introdução

As páginas seguintes contêm dados dimensionais de alguns tipos de perfis de aços comerciais, conforme
tabelas encontradas em literatura técnica e outras fontes, muitas vezes qualificadas como de "padrão
americano". Isso não significa que seja o padrão actualmente produzido e comercializado em Portugal.
Não foi verificado se estão de acordo com normas actualmente utilizadas. É preferencialmente
aconselhável a consulta das dos fabricantes ou as próprias normas vigentes, em caso de dúvida.

As propriedades simbolizadas por J, W e r, seguidas do eixo (x ou y) são, respectivamente, momento de


inércia, momento ou módulo de resistência e raio de giração (ou raio de inércia) em relação ao eixo
indicado.

Os melhores cuidados foram tidos em conta na elaboração das seguintes tabelas. Entretanto, não há
quaisquer garantias e/ou responsabilidades pelo seu uso. Dados para aplicações críticas devem sempre
ser verificados em mais do que uma fonte.

60 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 61/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Perfis I laminados

b - largura da mesa
h – altura
ta - espessura da alma
tm - espessura média da mesa
G - centro de gravidade da secção

Tam kg/m S ta h b tm Jx Jy Wx Wy rx ry
nom (cm2) (mm) (mm) (mm) (mm) (cm4) (cm4) (cm3) (cm3) (cm) (cm)
8,45 10,8 4,32 76,2 59,2 6,6 105,1 18,9 27,6 6,41 3,12 1,33
3" 9,68 12,3 6,38 76,2 61,2 6,6 113 21,3 29,6 6,95 3,02 1,31
11,2 14,2 8,86 76,2 63,7 6,6 122 24,4 32,0 7,67 2,93 1,31
11,4 14,5 4,83 101,6 67,6 7,4 252 31,7 49,7 9,37 4,17 1,48
4" 12,7 16,1 6,43 101,6 69,2 7,4 266 34,3 52,4 9,91 4,06 1,46
14,1 18,0 8,28 101,6 71,0 7,4 283 37,6 55,6 10,6 3,96 1,45
15,6 19,9 10,20 101,6 72,9 7,4 299 41,2 58,9 11,3 3,87 1,44
14,8 18,8 5,33 127,0 76,2 8,3 511 50,2 80,4 13,2 5,21 1,63
5" 18,2 23,2 8,81 127,0 79,7 8,3 570 58,6 89,8 14,7 4,95 1,59
22,0 28,0 12,55 127,0 83,4 8,3 634 69,1 99,8 16,6 4,76 1,57
18,5 23,6 5,84 152,4 84,6 9,1 919 75,7 120,6 17,9 6,24 1,79
6" 22,0 28,0 8,71 152,4 87,5 9,1 1003 84,9 131,7 19,4 5,99 1,74
25,7 32,7 11,80 152,4 90,6 9,1 1095 96,2 143,7 21,2 5,79 1,72
27,3 34,8 6,86 203,2 101,6 10,8 2400 155 236 30,5 8,30 2,11
8" 30,5 38,9 8,86 203,2 103,6 10,8 2540 166 250 32,0 8,08 2,07
34,3 43,7 11,20 203,2 105,9 10,8 2700 179 266 33,9 7,86 2,03
38,0 48,3 13,51 203,2 108,3 10,8 2860 194 282 35,8 7,69 2,00
37,7 48,1 7,9 254,0 118,4 12,5 5140 282 405 47,7 10,30 2,42
10" 44,7 56,9 11,4 254,0 121,8 12,5 5610 312 442 51,3 9,93 2,34
52,1 66,4 15,1 254,0 125,6 12,5 6120 348 482 55,4 9,60 2,29
59,6 75,9 18,8 254,0 129,3 12,5 6630 389 522 60,1 9,35 2,26
60,6 77,3 11,7 304,8 133,4 16,7 11330 563 743 84,5 12,1 2,70
12" 67,0 85,4 14,4 304,8 136,0 16,7 11960 603 785 88,7 11,8 2,66
74,4 94,8 17,4 304,8 139,1 16,7 12690 654 833 94,0 11,6 2,63
81,9 104,3 20,6 304,8 142,2 16,7 13430 709 881 99,7 11,3 2,61
Tam kg/m S ta h b tm Jx Jy Wx Wy rx ry
nom (cm2) (mm) (mm) (mm) (mm) (cm4) (cm4) (cm3) (cm3) (cm) (cm)

Perfis U laminados

b - largura da mesa
h – altura
ta - espessura da alma
tm - espessura média da mesa
G - centro de gravidade da secção

EDRM20081016_01 61
Resistência dos Materiais 62/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Tam kg/m S ta h b xG Jx Jy Wx Wy rx ry
nom (cm2) (mm) (mm) (mm) (cm) (cm4) (cm4) (cm3) (cm3) (cm) (cm)
6,11 7,78 4,32 76,2 35,8 1,11 68,9 8,2 18,1 3,32 2,98 1,03
3" 7,44 9,48 6,55 76,2 38,0 1,11 77,2 10,3 20,3 3,82 2,85 1,04
8,93 11,4 9,04 76,2 40,5 1,16 86,3 12,7 22,7 4,39 2,75 1,06
7,95 10,1 4,57 101,6 40,1 1,16 159,5 13,1 31,4 4,61 3,97 1,14
4" 9,30 11,9 6,27 101,6 41,8 1,15 174,4 15,5 34,3 5,10 3,84 1,14
10,8 13,7 8,13 101,6 43,7 1,17 190,6 18,0 37,5 5,61 3,73 1,15
12,2 15,5 5,08 152,4 48,8 1,30 546 28,8 71,7 8,06 5,94 1,36
6" 15,6 19,9 7,98 152,4 51,7 1,27 632 36,0 82,9 9,24 5,63 1,34
19,4 24,7 11,1 152,4 54,8 1,31 724 43,9 95,0 10,5 5,42 1,33
23,1 29,4 14,2 152,4 57,9 1,38 815 52,4 07,0 11,9 5,27 1,33
17,1 21,8 5,59 203,2 57,4 1,45 1356 54,9 133,4 12,8 7,89 1,59
20,5 26,1 7,70 203,2 59,5 1,41 1503 63,6 147,9 14,0 7,60 1,56
8" 24,2 30,8 10,0 203,2 61,8 1,40 1667 72,9 164,0 15,3 7,35 1,54
27,9 35,6 12,4 203,2 64,2 1,44 1830 82,5 180,1 16,6 7,17 1,52
31,6 40,3 14,7 203,2 66,5 1,49 1990 92,6 196,2 17,9 7,03 1,52
22,7 29,0 6,10 254,0 66,0 1,61 2800 95,1 221 19,0 9,84 1,81
29,8 37,9 9,63 254,0 69,6 1,54 3290 17,0 259 21,6 9,31 1,76
10" 37,2 47,4 13,4 254,0 73,3 1,57 3800 39,7 299 24,3 8,95 1,72
44,7 56,9 17,1 254,0 77,0 1,65 4310 64,2 339 27,1 8,70 1,70
52,1 66,4 20,8 254,0 80,8 1,76 4820 91,7 379 30,4 8,52 1,70
30,7 39,1 7,11 304,8 74,7 1,77 5370 161,1 352 28,3 11,7 2,03
37,2 47,4 9,83 304,8 77,4 1,71 6010 186,1 394 30,9 11,3 1,98
12" 44,7 56,9 13,0 304,8 80,5 1,71 6750 214,0 443 33,7 10,9 1,94
52,1 66,4 16,1 304,8 83,6 1,76 7480 242,0 491 36,7 10,6 1,91
59,6 75,9 19,2 304,8 86,7 1,83 8210 273,0 539 39,8 10,4 1,90
50,4 64,2 10,2 381,0 86,4 2,00 13100 338 688 51,0 14,3 2,30
52,1 66,4 10,7 381,0 86,9 1,99 13360 347 701 51,8 14,2 2,29
15" 59,5 75,8 13,2 381,0 89,4 1,98 14510 387 762 55,2 13,8 2,25
67,0 85,3 15,7 381,0 91,9 1,99 15650 421 822 58,5 13,5 2,22
74,4 94,8 18,2 381,0 94,4 2,03 16800 460 882 62,0 13,3 2,20
81,9 104,3 20,7 381,0 96,9 2,21 17950 498 942 66,5 13,1 2,18
Tam kg/m S ta h b xG Jx Jy Wx Wy rx ry
nom (cm2) (mm) (mm) (mm) (cm) (cm4) (cm4) (cm3) (cm3) (cm) (cm)

Perfil L (cantoneira) de abas iguais

Os eixos x e y não têm os maiores e menores momentos de inércia, mas


representam a dilecção do carregamento mais comum na prática. Os momentos
extremos (maior e menor) estão nos eixos x' e y' (eixos principais de inércia).

G - centro de gravidade da secção.

Devido à igualdade das abas, ocorrem Jy = Jx, Wy = Wx, ry = rx e yg = xg.

62 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 63/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Tam nom kg/m S (cm2) t (mm) h (mm) xg (cm) Jx (cm4) Wx (cm3) rx (cm)
5/8" 0,75 0,96 3,2 15,9 0,51 0,20 0,18 0,45
3/4" 0,90 1,16 3,2 19,1 0,58 0,37 0,28 0,58
7/8" 1,05 1,35 3,2 22,2 0,66 0,58 0,37 0,66
1,15 1,48 3,2 25,4 0,76 0,83 0,49 0,76
1" 1,73 2,19 4,8 25,4 0,81 1,24 0,65 0,76
2,21 2,83 6,4 25,4 0,86 1,66 0,98 0,73
1,50 1,93 3,2 31,8 0,91 1,66 0,81 0,96
1 1/4" 2,16 2,77 4,8 31,8 0,96 2,49 1,14 0,96
2,82 3,61 6,4 31,8 1,01 3,32 1,47 0,93
1,81 2,32 3,2 38,1 1,06 3,32 1,14 1,19
1 1/2" 2,67 3,42 4,8 38,1 1,11 4,57 1,63 1,16
3,47 4.45 6,4 38,1 1,19 5,82 2,13 1,14
4,23 5,42 7,9 38,1 1,24 6,65 4,53 1,11
2,11 2,70 3,2 44,5 1,21 5,41 1,63 1,39
3,11 3,99 4,8 44,5 1,29 7,49 2,29 1,37
1 3/4" 4,07 5,22 6,4 44,5 1,34 9,57 3,11 1,34
5,03 6,45 7,9 44,5 1,39 11,23 3,77 1,32
5,93 7,61 9,5 44,5 1,45 12,90 4,26 1,29
2,41 3,09 3,2 50,8 1,39 7,90 2,13 1,60
3,57 4,58 4,8 50,8 1,44 11,23 3,11 1,57
2" 4,73 6,06 6,4 50,8 1,49 14,56 4,09 1,54
5,78 7,41 7,9 50,8 1,54 17,48 4,91 1,52
6,84 8,77 9,5 50,8 1,62 19,97 5,73 1,49
Tam nom kg/m S (cm2) t (mm) h (mm) xg (cm) Jx (cm4) Wx (cm3) rx (cm)
5,98 7,67 6,4 63,5 1,83 29 6,4 1,96
2 1/2" 7,39 9,48 7,9 63,5 1,88 35 7,9 1,93
8,70 11,16 9,5 63,5 1,93 41 9,3 1,91
8,95 11,48 7,9 76,2 2,21 62 11,6 2,34
3" 10,62 13,61 9,5 76,2 2,26 75 13,6 2,31
13,85 17,74 12,7 76,2 2,36 91 18,0 2,29
14,4 18,45 9,5 101,6 2,90 183 24,6 3,12
4" 18,9 24,19 12,7 101,6 3,00 233 32,8 3,10
23,2 29,73 15,9 101,6 3,12 279 39,4 3,05
18,17 23,29 9,5 127,0 3,53 362 39,5 3,94
5" 23,90 30,64 12,7 127,0 3,63 470 52,5 3,91
29,48 37,80 15,9 127,0 3,76 566 64,0 3,86
34,91 44,76 19,1 127,0 3,86 653 73,8 3,81
21,93 28,12 9,5 152,4 4,17 641 57,4 4,78
28,86 37,00 12,7 152,4 4,27 828 75,4 4,72
6" 35,77 45,86 15,9 152,4 4,39 1007 93,5 4,67
42,46 54,44 19,1 152,4 4,52 1173 109,9 4,65
48,95 62,76 22,2 152,4 4,62 1327 124,0 4,60
38,99 49,99 12,7 203,2 5,56 2022 137,8 6,38
48,34 61,98 15,9 203,2 5,66 2471 168,9 6,32
8" 57,56 73,79 19,1 203,2 5,79 2899 200,1 6,27
66,56 85,33 22,2 203,2 5,89 3311 229,6 6,22
75,46 96,75 25,4 203,2 6,02 3702 259,1 6,20

EDRM20081016_01 63
Resistência dos Materiais 64/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Perfis H laminados

b - largura da mesa
h - altura
ta - espessura da alma
tm - espessura média da mesa
G - centro de gravidade da secção

Tam kg/m S ta h b tm Jx Jy Wx Wy rx ry
nom (cm2) (mm) (mm) (mm) (mm) (cm4) (cm4) (cm3) (cm3) (cm) (cm)
4" 20,5 26,1 7,95 101,6 101,6 - 449 146 88 29 4,15 2,38
5" 27,9 35,6 7,95 127,0 127,0 - 997 321 157 51 5,29 3,01
6" 37,1 47,3 7,95 152,4 150,8 - 1958 621 257 82 6,43 3,63
40,9 52,1 11,13 152,4 154,0 - 2050 664 269 87 6,27 3,57

Trilhos ferroviários

Com o uso, os trilhos se desgastam, reduzindo a altura h. Uma aproximação para o


módulo de resistência Wx de trilhos desgastados é:

Wx ≈ 0,06 h3 (h em cm e resultado em cm3)

Tam kg/m h (mm) b (mm) c1 (mm) c2 (mm) t (mm) e1 (mm) Jx (cm4) Wx


nom (cm4)
T 45 44,7 142,9 130,1 65,1 - 14,3 - 1610 206
T 57 56,9 168,3 139,7 69,1 - 15,9 - 2730 295
T 68 67,6 185,7 152,4 74,6 - 17,5 - 3949 391

Exemplo de torção simples

Figura 68
Na Figura 68, um eixo de secção circular de
comprimento L e diâmetro D transmite um binário T
para uma polia na outra extremidade. Apoios
(mancais) não são indicados porque não se consideram
os esforços de flexão, apenas os de torção.

Supondo o binário T equivalente à transmissão de uma


potência de 4 kW com uma rotação de 1200 rpm e
comprimento L de 1,2 m, determinar o diâmetro D, considerando o material aço com G = 78,5 GPa sob
os seguintes critérios

64 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 65/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

a) Tensão admissível de torção para o aço τadm = 70 MPa.

b) Ângulo de torção máximo φ = 0,25: por metro de comprimento.

Notar que, além da tensão admissível, é especificado o máximo ângulo de torção por unidade de
comprimento. Isso é comum no caso de eixos, pois uma deformação angular exagerada pode provocar
problemas como vibrações.

Convertendo a rotação (ou velocidade angular) para unidades SI, ω = 1200 rpm ≈ 125,7 rad/s. A relação
entre o binário, potência e velocidade angular é P = T ω.

4000 W   max J p
Assim, binário T   31,8  Nm  . Para a torção vale T  .
125, 7  rad/s  R

 D4
O momento polar de inércia Jp para secção circular é . Para dimensionamento, a tensão máxima
32
 D4
D 3
τmax deve ser a tensão admissível do material. Portanto, T   adm 32   adm .
D 16
2

32T 1631,8  Nm 
D   0, 013  m  . Portanto, deve-se ter D ≥ 1,3 cm.
 70000000  Pa 
3 3
 adm

T L T L 32T  L
Para torção, o ângulo de torção dado por     .
J pG   D 4
 D 4G
 G
 32 

32T  L 
D4  . Neste caso,  0, 25º /m  0, 00436 rad/m .
  L
G  
L

32 31,8  Nm 
Substituindo valores, D 4   D  0, 031  m  .
 78,5 10  Pa   0, 00436  rad/m 
9

Assim, deve-se ter D ≥ 3,1 cm. E esse critério define o dimensionamento, pois o valor é maior que o
calculado com base na tensão admissível.

Exemplo de flexão - Método da superposição

A Figura 69 (a) representa uma viga de uma plataforma. Na situação real, vigas de estruturas não são de
duplos apoios, mas sim encastradas. Mas a suposição pode ser válida e dá alguma margem de
segurança.

EDRM20081016_01 65
Resistência dos Materiais 66/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

A viga suporta uma carga distribuída uniforme q1 devido ao peso próprio, outra da mesma espécie q2
devido ao piso metálico da plataforma e uma carga concentrada F no centro devido à acção de um
equipamento sobre a plataforma. Consideram-se os seguintes dados:

• Comprimento L = 3,5 m.

• É usado perfil U laminado de aço, tamanho 6" x 12,2 kg/m. Assim, conforme tabelas anteriores,
Jx = 546 cm4 e Wx = 71,7 cm3. Segundo valor usual para aços, o módulo de elasticidade é E = 206 GPa.

• A carga F é igual a 6900 N, q2 é 1400 N/m e q1 deve ser a carga do perfil anterior, isto é,
q1 = 12,2 x 9,81 ≈ 120 N/m.

Verificar se o perfil está adequadamente dimensionado para a solicitação.

Figura 69
É claro que as cargas uniformemente distribuídas
podem ser somadas. Portanto, o carregamento da
Figura 69 (a) equivale ao (b), onde q = q1 + q2 = 1520
N/m. Para esse carregamento, poder-se-ia levantar
matematicamente as curvas de esforços transversais e
momentos conforme. Entretanto, a tarefa pode ser
mais simples. Anteriormente, foram vistas as relações
entre carregamentos q(x), esforços transversais Fc(x),
momentos de flexão M(x) e linha elástica y(x):

dFc  x 
 q  x 
dx
dM  x 
 Fc  x 
dx
d2y M  x

dx 2
EJ

São equações diferenciais lineares e, portanto, pode ser usado o método da superposição. Isso significa
que o carregamento (b) da figura pode ser considerado a soma de dois carregamentos mais simples: (c),
de uma carga distribuída uniforme e (d), de uma carga concentrada no meio. Neste exemplo, a análise é
ainda mais simples porque os pontos de máximo momento de flexão e máxima deformação são
coincidentes (meio da viga). Se isso não ocorre, as curvas dos carregamentos devem ser somadas para
obter os valores máximos.

Para os carregamentos (c) e (d), conforme fórmulas já dadas, os momentos máximos são:

qL2 1520  N/m    3,5


2
 m   2327,5
2

M (c)    Nm  .
8 8

F  L 6900  N   3,5  m 
M (d )    6037,5  Nm  .
4 4

Portanto, M = M(c) + M(d) = 8365 Nm.

66 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 67/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Desde que o perfil adoptado seja simétrico em relação ao eixo considerado (x), usa-se igualdade do
M 8365  Nm 
momento de resistência para a tensão de flexão     117  MPa  .
W 71, 7  102 m 3

As deformações máximas são obtidas por fórmulas já vistas:

5 1520  Nm    3,5 m 
4
5qL4
y( c )    0, 00264  m  .
384 E  J 384  206 109  Pa   546 102 m 4

6900  N    3,5 m 
3
F  L3
y( d )    0, 00548  m  .
48E  J 48  206 109  Pa   546 102 m 4

Portanto, y = y(c) + y(d) ≈ 0,00812 m.

Comentários:

Considerando um aço estrutural com limite de escoamento de 240 MPa, a tensão máxima de flexão
calculada (117 MPa) resulta em um coeficiente de segurança perto de 2. Pode ser insuficiente em casos
de choques, redução de secção devido à corrosão, existência de furos na viga, soldas e outros.

A deformação máxima representa 1/431 do comprimento total da viga. Para a aplicação, normas
indicam uma deformação máxima de 1/360. Portanto, dentro do limite. Consultar normas técnicas para
mais dados sobre segurança. Não verificado quanto às tensões de corte.

Problemas hiperestáticos: Introdução e exemplo

Carregamentos hiperestáticos ou estaticamente indeterminados ocorrem quando as equações


fundamentais da estática, 
F  0 (ou 
Fx  0 e Fy  0 ) e  
M  0 , não são suficientes para
determinar os esforços actuantes.

Figura 70
Um exemplo para compressão, é dado pela Figura 70
em que uma barra vertical de secção transversal
constante S, da qual se despreza o seu próprio peso,
encastrada em ambas as extremidades.

Se o encastre é feito sem qualquer deformação prévia,


não há naturalmente esforços actuantes, como em (a)
da figura. Se uma força vertical para baixo F é aplicada
num determinado ponto C conforme (b), é fácil
concluir que a parte superior estará sob tracção e a
inferior sob compressão. E os esforços actuantes serão
como em (c) da figura.

EDRM20081016_01 67
Resistência dos Materiais 68/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Se aplicadas as equações da estática, A + B = F (considerando apenas os módulos). Desde que somente F


é conhecido, não é possível determinar os esforços A e B com apenas uma equação. Notar que é inútil,
neste caso, aplicar a soma dos momentos, mesmo em relação a um ponto fora do alinhamento das
forças. O resultado será a mesma equação.

Para a solução - e isso sempre ocorre com problemas hiperestáticos - precisa-se considerar uma
condição externa de deslocamento de forma a obter uma segunda equação. A geometria do caso
mostra que o ponto de aplicação da força se desloca de uma distância d, conforme indicado na figura.
Se consideradas separadamente as partes traccionada e comprimida de acordo com (d) e (e) da figura,
conclui-se que elas irão sofrer a mesma deformação d.

F E L FL
De acordo com a lei de Hooke,   E   . Ou  . Isolando ΔL, L  . Neste caso,
S L ES
Bb Aa
L  d   ou a A = b B. Se substituídos na equação anterior, chega-se aos valores das
ES ES
reacções A e B em termos de parâmetros supostamente conhecidos Fb Fa
A e B
ab a  b 126

Viga horizontal com três apoios

Figura 71
A Figura 71 (a) ilustra uma viga horizontal de secção
transversal constante com três apoios e submetida às
forças externas conhecidas F e H em cada vão. As
reacções dos apoios são A, C e B. As distâncias
horizontais são todas conhecidas, valendo
naturalmente a + b = α + β = m + n = L.

Desde que só há forças verticais, de F y  0 tem-se


em módulo A + C + B = F + H.De  M  0 em relação
a A, por exemplo, tem-se em módulo mC + LB = aF +
αH.

Há portanto três valores desconhecidos (A, C, B) e duas


equações, caracterizando um carregamento
hiperestático. Pode-se resolver o problema
considerando o facto de ser nulo o valor da linha
elástica em C.

Usando o método da superposição, considera-se a situação (a) igual à soma dos carregamentos listados
a seguir.

(b) só com actuação da força F, que produz um deslocamento yF em C.

(c) só com actuação da força H, que produz um deslocamento yH em C.

(d) só com actuação da força de reacção C, que produz um deslocamento yC em C.

68 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 69/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Se em módulos yC = yF + yH, conclui-se que o deslocamento em C é nulo. Assim, a situação equivale ao


carregamento (a) e os valores de todas as reacções dos apoios podem ser determinados. Essas três
cargas simples são do mesmo tipo, isto é, viga duplamente apoiada com carga concentrada em posição
genérica. Assim,

 F  L3   b  a   n   L n 2 
2

(b) yF é a flecha para x = m. yF         1   .


 6 E  J   L  L   L   a a  b 

 H  L3        m   L m2 
2

(c) yH é a flecha para x = m. yH          1   .


 6 E  J   L  L   L       

Cm2 n 2
(d) yC é a flecha no ponto de aplicação da força. yC  .
3E  J  L

 C  L3   m  n 
2

Para obter um factor comum, multiplicam-se ambos os membros por 2L yC  2 3


 2  .
 6E  J   L 
Voltando à igualdade anterior, yC = yF + yH, faz-se a substituição

 C  L3   m  n   F  L3   b  a   n   L n 2   H  L3        m   L m2 
2 2 2

2  2           1   
         1   
 6 E  J   L   6 E  J   L  L   L   a a  b   6E  J   L  L   L       

Resultando após  F b  a 2  L n 2   H    2  L m2 
simplificação: C  2 
1   
  2 
1   
 2n  m  a a  b   2n  m       127 

Com essa fórmula, a reacção C é determinada e as demais (A e B) são obtidas das igualdades do início
deste tópico.

Flexão com corte

Conforme já comentado, na maioria dos casos práticos, os esforços são, na realidade, composições de
esforços simples. Entretanto, em muitos casos há predominância de um tipo e os outros podem ser
desconsiderados. Para vigas, conforme visto em páginas anteriores, os dimensionamentos foram
baseados nas tensões devido à flexão, apesar da presença de tensões devido ao corte, que sempre
aparecem com a flexão. Ocorre que vigas têm, em geral, comprimentos muito superiores às dimensões
das secções transversais. Portanto, é lógico supor que isso tem relação com as diferenças relativas das
tensões.

Seja uma viga de secção circular encastrada numa extremidade e submetida a uma carga concentrada
na outra conforme Figura 72 (observação: o uso de secção circular não é recomendado na prática para
este carregamento. Perfis tipo I ou U são mais eficientes. A suposição serve apenas para facilitar o
cálculo).

A tensão máxima de tracção ocorre na da figura (a máxima de compressão, no lado oposto) e, de acordo
com fórmula já vista, é dada por:

EDRM20081016_01 69
Resistência dos Materiais 70/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Figura 72
M
 max 
W 128
O módulo de resistência W para secção circular é

 D3
W
32 129

O momento máximo, localizado na extremidade


engastada, é M  F  L 130

Substituindo na equação (128), obtém-se a tensão máxima de flexão

O esforço de corte é F ao longo da viga e a tensão média é 4F


 med 
 D2 131

4
De acordo com a fórmula já vista para secção circular
 max    med
3 132

Substituindo, . Portanto, . Essa relação indica claramente a


predominância da flexão pois, no caso de vigas, os comprimentos são grandes em relação às dimensões
das secções transversais. Se a barra for curta em relação ao diâmetro, a participação do esforço de corte
será maior.

Torção com flexão

Seja, conforme Figura 73, uma barra de secção circular, fixa em uma extremidade e, na outra,
submetida a um binário T e uma força vertical F. É uma situação típica de um eixo. Num ponto A, na
parte superior e distante a da origem, deve haver de forma genérica, as tensões normais σx e σy e as
tensões transversais τxy = τyx. Conforme relações já vistas para o estado duplo de tensões, os valores
máximos (uma das tensões principais) são:

70 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 71/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Figura 73
Em A, ocorre tensão normal apenas ao longo
de X, devido â flexão da força F. E há apenas a
tensão transversal devido à torção. Assim,

σ = σx σy = 0 τ = τxy

Substituindo nas relações anteriores,

O módulo de resistência da secção circular é  D3


W
32 129

O momento flector no ponto A é M = F (L − a)

Portanto, .

O momento de resistência polar para a secção circular é  D3


Wp 
16 133

Portanto, .

Substituindo, obtemos e

Essas são as tensões principais máximas em um ponto genérico A na parte


superior conforme figura. O ângulo φ da tensão normal principal é dado
por

Substituindo os valores e simplificando,

Para o ponto lateral B da figura, não há acção da flexão porque ele está na linha neutra.
Assim, σx = σy = 0, significando 2φ = 90:. O eixo da tensão principal está inclinado de 45: em relação a X.

EDRM20081016_01 71
Resistência dos Materiais 72/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Flexão com tracção

Figura 74
A Figura 74 (a) dá um arranjo que combina os dois
esforços, uma barra vertical de secção rectangular
encastrada no topo tem uma chapa soldada na lateral
menor. Uma força F actua nessa placa na direcção
dada. Os pesos das respectivas peças podem ser
desprezados. Em (b) da figura, é representado um
corte no plano vertical de uma porção da barra
seccionada um pouco acima da chapa lateral. A análise
pode ser facilitada com a suposição da acção de um
par de forças opostas, −F e +F, de forma similar à do
tópico anterior (a resultante dessas forças é nula e,
portanto, não altera o resultado). Conclui-se então que
a barra está submetida a um momento de flexão do
conjugado −FF (valor F d) e a um esforço de tracção
dado por +F.

F
O esforço de tracção produz uma tensão normal, supostamente uniforme, dada por  trac  , onde S
S
é a área da secção transversal. Ver (c) da figura. Conforme fórmulas básicas, a tensão (tracção ou
M e
compressão) devido à flexão é dada por  flex  , onde M é o momento (Fd neste caso), e é a
J
distância do ponto considerado até a linha neutra (neste caso, coincide com o eixo de simetria devido à
simetria da secção) e J é o momento de inércia da secção em relação à linha neutra). Considerando b a
h h
largura do rectângulo da secção, pode-se dizer que e varia de  (lado da compressão) até  (lado
2 2
da tracção). Nesses pontos ocorrem os valores máximos de compressão e tracção, conforme (d) da
Figura 74. Desde que as tensões actuam no mesmo
F F d e
alinhamento, o valor total é a soma aritmética das duas  tot   trac   flex  
(substituindo o valor do momento por F d). S J 134

Notar que a variação da tensão ao longo da secção ainda é linear, mas o ponto de tensão nula deixa de
coincidir com a linha neutra. Ver (e) da figura.

Exercício:

Seja uma barra rectangular de aço, com secção 100 x 25 mm e uma chapa lateral de 10 mm de
espessura e largura 25 mm, conforme dados da Figura 74. Verificar as tensões máximas de tracção e
compressão para uma força F igual a 30 000 N.

Resolução:

Em primeiro lugar, listam-se os dados, convertendo-os para unidades principais do SI:

h = 100 mm = 1x10−1 m b = 25 mm = 2,5x10−2 m F = 30000 N

72 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 73/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

S = b x h = 2,5x10−3 m2.

bh 2,5 102 1103 50  10


3
J   2,1106 m4 . d  55 mm  5,5 102 m.
12 12 2

100 100
e1  tracção   mm  5 102 m . e2  compressão    mm  5 102 m .
2 2

Substituindo na equação (134), temos

30000 30000  5,5 102  5 102


 max_tracção    12  39  51 MPa .
2,5 103 2,1106

σMax_compr ≈ 12 − 39 ≈ −27 MPa.

Estes valores correspondem à barra. Para a chapa lateral temos só tracção

30000
  120 MPa.
2,5 102 1102

Flexão combinada com compressão

Figura 75
A Figura 75 (a) representa uma barra curta de secção
rectangular, encastrada na base e submetida a uma
força de compressão F deslocada d do centro de
gravidade da secção. O comprimento da barra é
supostamente pequeno porque, caso contrário, pode
haver deformação por flecha (perda de estabilidade de
barras estreitas quando sujeitas a compressão), cujo
estudo não faz parte deste tópico.
O procedimento de cálculo é basicamente o mesmo da situação dada anteriormente e, por isso, apenas
os resultados serão apresentados. Evidentemente, os sentidos das tensões serão invertidos em função
do esforço de compressão.
F F d e
O resultado é  tot   trac   flex  
S J 134
Exercício:

Sejam os seguintes valores.

F = −30000 N (valor negativo porque é compressão).

h = 100 mm (1x10−1 m) b = 25 mm (2,5x10−2 m) d = 30 mm (3x10−2 m)

EDRM20081016_01 73
Resistência dos Materiais 74/87
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Então, S = b h = 2,5x10−3 m2.

bh 2,5 102 1103


3
J   2,1106 m4
12 12

100 100
e1  tracção   mm  5 102 m . e2  compressão    mm  5 102 m .
2 2

30000 30000  3 102  5 102


 max_comp    12  21, 4  33, 4 MPa .
2,5 103 2,1106

σmax_trac = −12 + 21,4 = 9,4 MPa (usando a mesma fórmula anterior, mas com e = e2 = − 5x10−2 m).

Núcleo central de inércia

A equação (134) do tópico anterior permite concluir que, para uma mesma força de compressão F, a
tensão máxima de tracção diminui com a redução da distância d (do ponto de aplicação da força até o
centro de gravidade da secção).

Figura 76
A Figura 76 ao lado dá uma visão gráfica: (b) é a
mesma força de (a), mas com uma distância d menor
que de (a). Pode-se concluir que, à medida que a
distância d é reduzida, a tensão máxima de tracção
diminui, podendo chegar a zero e, reduzindo d ainda
mais, tornar-se negativa, ou seja, é compressão e a
barra não sofre esforço de tracção. Em pequena
escala, isso é mostrado na Figura 76 (b).

Notar que o mesmo processo ocorre de forma inversa para a flexão combinada com tracção do exemplo
anterior, mas o caso em estudo (flexão com compressão) é particularmente útil para alguns materiais de
construção, que pouco suportam a tracção e, por isso, não devem trabalhar com esse esforço. Também
é possível deduzir que, na secção transversal da barra, deve existir, para o ponto de aplicação da força,
uma região cuja borda representa a transição de um estado de compressão + tracção para um estado de
somente compressão. Essa região é denominada núcleo central de inércia.

Núcleos centrais de inércia para algumas secções

Por enquanto, não é dada aqui a formulação matemática para o núcleo central de inércia.

A tabela abaixo fornece os valores para algumas secções comuns.

74 EDRM20081016_01
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Anel circular
Quadrado Retângulo Círculo D  d  
2

Dn  1    
4   D  

Falha por Flecha - Introdução

Alguns tipos de esforços tendem a provocar instabilidades físicas nos elementos que os suportam. A
Figura 77 (a) deste tópico indica uma barra recta, sem esforços externos actuantes.

Figura 77
Na realidade, o "recto" geométrico não existe na
prática e pode-se considerar a barra ligeiramente
curva, conforme representação, de forma exagerada,
em (b) da mesma figura.

Se um esforço de tracção é aplicado como em (c) da


figura, a tendência é uma redução da curvatura, ou
seja, uma aproximação com a recta ideal e, com o
aumento da força, a falha ocorre devido ao
escoamento (plastificação) ou à ruptura do material.

Se a barra é comprimida como em (d) da figura, as forças actuantes tendem a aumentar a curvatura
original. Isso não significa que qualquer valor da força de compressão provoca esse aumento. A prática e
a teoria demonstram que existe um limite acima do qual ocorre essa falha, denominada flecha. Esse
limite depende do material e das características geométricas da barra. Em outras palavras, pode-se dizer
que a flecha de uma barra comprimida é a sua perda de estabilidade pela aplicação de um esforço de
compressão acima de um valor crítico. Essa instabilidade ocorre devido a pequenas curvaturas conforme
acima e também a outros desvios, como assimetrias, excentricidades, desalinhamentos, etc. É
facilmente perceptível que a flecha fica mais crítica com o aumento da “elegância” da barra, isto é, o
aumento do seu comprimento em relação à área da secção transversal. Em muitos casos as tensões que
provocam a flecha são inferiores às tensões máximas de compressão dos materiais. Assim, a sua análise
é importante no caso de elementos esbeltos de máquinas e de estruturas. Para estas últimas, colunas
são em geral as partes mais susceptíveis à flecha.

Equação básica da flecha elástica

Conforme Figura 78, uma barra de secção transversal constante está sob flecha provocada por um
esforço de compressão F. Supõe-se que as tensões estão dentro do limite de elasticidade do material.

EDRM20081016_01 75
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Se a barra é seccionada em um ponto genérico P(x,y), o momento actuante nesse ponto é M = F y.

Conforme visto anteriormente, a equação diferencial da linha elástica para uma barra sob acção de um
d2y M d 2 y a2 F
momento é  . Substituindo o valor de M,  , onde a
dx 2 EJ dx 2 y EJ 135

Figura 78
Aqui não é dado o desenvolvimento da solução dessa
equação diferencial. Apenas o resultado é informado.

y = A cos ax + B sen ax.

As constantes da solução (A e B, neste caso) devem ser


obtidas a partir de condições de contorno.
Para x = 0, tem-se y = 0. Assim, A = 0. Para x igual à corda OA = M, y = 0. Portanto, B sen (a M) = 0. Para
essa igualdade, conclui-se que B não pode ser nulo porque A já é nulo. Assim, deve-se ter sen (a M) = 0.
aM  M  aM 
Portanto, (a M) = π ou  . Para x  , y é a flecha máxima f. Ou y  f  Bsen  .
2 2 2  2 
aM 
Mas visto que  . Portanto, B = f e o resultado fica y = f sen ax, onde f F
2 2 a
é a flecha máxima e por isso temos que EJ 135

Mas a solução ainda está incompleta, pois a flecha f não é previamente conhecida. A dimensão
geométrica normalmente conhecida é o comprimento da barra L. Para pequenas deformações pode-se
L
usar a aproximação ≈ OB (ou AB). E, do triângulo rectângulo OBC
2
aM 
2 2 2
M  L M  F
f 2  O  B 2          . Já visto que  e a . Portanto,
 2  2  2  2 2 EJ
 M   EJ L2  2 E  J
22

   . Substituindo, f 2
  . Rearranjando a igualdade,
 2  4F 4 4F
f 1  2E  J f 1 K  2E  J
 1 . Essa pode ser reescrita para  1  , onde K 
L 2 F  L2 L 2 F L2 136

O factor K, que tem a dimensão de força, é denominado força de flecha de Euler. E pode-se comparar
com a forca aplicada F:

f
• se F ≤ K, é nulo ou imaginário, isto é, não há flecha.
L

f
• se F > K, é real, significando que a flecha ocorre.
L

Portanto, K representa o limite para a flecha elástica de uma barra comprimida.

76 EDRM20081016_01
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Comprimento de flecha

O desenvolvimento matemático do tópico anterior (Equação básica da flecha elástica) pressupõe que as
extremidades da barra são articuladas e só podem mover-se na direcção do seu eixo. Essa é a situação
padrão, indicada em (d) da Figura 79.

Figura 79
Observações: Na figura mencionada, as rectas
tracejadas verticais indicam a barra no estado inicial e
as curvas contínuas indicam aproximações das
deformações por flecha

Para outras fixações, como (a), (b), (c), (e) e (f) da


mesma figura, usam-se comprimentos de flecha
específicos.

A tabela abaixo dá os valores teóricos e práticos para


cada uma das situações mencionadas.

Desde que os cálculos sejam baseados na força de Euler conforme tópico anterior, outras fixações
devem ter seus comprimentos convertidos.

Tipo (a) (b) (c) (d) (e) (f)


Lfl teórico 0,5 L 0,7 L 1,0 L 1,0 L 2,0 L 2,0 L
Lfl prático 0,65 L 0,8 L 1,2 L 1,0 L 2,1 L 2,0 L

Exemplo: uma coluna de 3 metros de altura está fixada como em (f) da figura. Então, ela é equivalente a
uma coluna do tipo padrão (d), com comprimento 2,0 x 3 = 6 metros. É importante lembrar que, em
casos práticos (estruturas, máquinas), extremidades de colunas ou de barras comprimidas podem ter
liberdade de movimento em determinadas direcções e não ter em outras. Portanto, todas as hipóteses
devem ser analisadas, dimensionando-se pela mais desfavorável.

Coeficiente de esbeltez

Considerando-se o conceito de comprimento de flecha, pode-se reescrever a  2E  J


igualdade da força de flecha de Euler K, dado na equação (136) K
L fl 2
137 

Se deseja a tensão limite, os valores são divididos pela área da secção S

K  2E  J  2E
 fl   
S S  L fl 2 L fl 2
2
 J
 
 S

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L fl
O valor é denominado coeficiente de esbeltez da barra. É comum o uso da L fl
J 
J
S
S 138
letra grega lambda minúsculo para simbolizá-lo. Assim

Figura 80
J
A expressão é o raio de giração ou raio de inércia
S
(i) da secção. E, assim, o L
coeficiente de esbeltez pode ser   fl
dado por i 139

Desde que i depende do momento de inércia J e que


esse varia com a orientação do eixo de referência,
deve-se usar, em geral, o menor valor de J, isto é, J2
(eixo principal com menor valor).

 2E
E a fórmula anterior da tensão pode ser escrita  fl 
2 140

Essa fórmula mostra que a tensão de flecha depende apenas do módulo de elasticidade E (característica
do material) e do coeficiente de esbeltez λ (característica geométrica da barra). Para um mesmo
material, E é constante e pode-se ter a tensão em função de λ. Por exemplo, para um aço, E = 206 GPa.
 2 206 103
Assim,  fl  MPa   . Essa curva está representada na Figura 80. É denominada hipérbole
2
de Euler para o material (aço, no caso). Notar, entretanto, que a curva é limitada pela região de
proporcionalidade (elástica) do material (hipótese assumida no desenvolvimento da equação básica).
Nesse caso do aço, para a tensão limite de proporcionalidade, σp = 226 MPa, há o coeficiente de
esbeltez correspondente, λp ≈ 96. Esses valores estão indicados na figura. Para coeficientes de esbeltez
menores, a fórmula não é válida, pois não há mais proporcionalidade entre tensão e deformação e/ou
há deformações residuais decorrentes da plasticidade.

Exercícios:

1. Uma plataforma metálica usa colunas de perfil comercial de aço tipo I 6", 18,5 kg/m. A altura das
colunas é 3,30 m e a montagem é conforme (c) da Figura 79 do tópico Comprimento de flecha. Verifique
a carga máxima que cada coluna pode suportar sem arcar.

Resolução: Características do perfil I 6" 18,5 kg/m:

Área S = 23,6 cm2 e raio de giração r = 1,79 cm (mínimo).

Conforme tabela do mesmo tópico, a montagem (c) tem comprimento de flecha Lfl = 1,2 L = 1,2x3,30.
Portanto, Lfl = 3,96 m. E, de acordo com a equação (139) do tópico Coeficiente de esbeltez,

3,96
  221
1, 79 102

78 EDRM20081016_01
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A tensão de flecha é dada pela equação (140) do mesmo tópico (considerando-se E = 206000 MPa):

 2 206000
 fl  2
 42 MPa . Portanto F = σfl S = 42x103 kPa x 23,6x10−4 m2 ≈ 99 kN.
221

O cálculo dessa carga não inclui os coeficientes de segurança, que devem ser introduzidos de acordo
com as condições de utilização. Este é um cálculo simples, sem os critérios - em geral conservadores e a
favor da segurança - previstos em normas.

2. Uma coluna de madeira, de secção rectangular 5 x 10 cm, tem altura livre de 2,5 m. A madeira tem as
propriedades σe = 45 MPa e E = 13,1 GPa. A fixação das extremidades é conforme (d) da Figura 79 do
tópico Comprimento de flecha. Determine os parâmetros para a flecha elástica dessa coluna.

Resolução:

Para a secção rectangular, área S = a x b = 5x10 = 50x10−4 m2, onde a e b são os lados.

a  b3 J b2
O momento de inércia é J  . Visto que o raio de giração é r   . Desde que se deseja
12 S 12
saber a condição mais crítica, deve-se usar o menor raio de giração. Assim, o lado de 5 cm deve ser
25 104 2,5
considerado b. r   0, 0144 m . O coeficiente de esbeltez é    174 , segundo
12 0, 0144
equação (139) do tópico Coeficiente de esbeltez. A tensão de flecha conforme Euler é dada pela equação
 2 E  213,1 103
(140) do mesmo tópico  fl    4, 27 MPa . Notar que a tensão de flecha é apenas
2 1742
uma pequena fracção da tensão de escoamento considerada para o material.

Curva de flecha

Figura 81
No tópico anterior foi visto que o cálculo da tensão de
 2E
flecha segundo Euler  fl  vale para tensões até
2
o limite de proporcionalidade (elasticidade) do
material. Isso corresponde a um coeficiente de
esbeltez mínimo λp. Mas falhas por flecha ocorrem
com barras de coeficientes abaixo desse valor. Apenas
a hipérbole de Euler não é mais válida. A Figura 81 ao
lado dá o gráfico para um determinado tipo de aço.
Pode-se notar que, na faixa de barras curtas, a tensão
de flecha é praticamente a tensão de escoamento do
material. O maior problema está na região
intermediária (barras médias). O comportamento das curvas varia com os materiais e outros factores,
em especial com a ductilidade. Vários métodos empíricos foram desenvolvidos para o cálculo. Alguns
são descritos nos próximos tópicos.

EDRM20081016_01 79
Resistência dos Materiais 80/87
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Fórmulas de Tetmajer

São aproximações por rectas para alguns materiais conforme tabela abaixo. No caso de ferro fundido, é
usada uma parábola. Resultados em MPa.

 2E
Material E (MPa) λp σfl conforme Euler  fl  2 σfl para λ < λp

3
2033 103
Aço 0,1/0,2% C 206x10 112 304 − 1,118 λ
2
3
2129 103
Aço 0,3% C 216x10 105 328,5 − 0,608 λ
2
3
968 103
Ferro fundido 98x10 80 761 − 11,77 λ − 0,052 λ2
2
3
96,8 103
Madeira pinho 9,8x10 100 28,733 − 0,19 λ
2

Exercício:

Um pistão é colocado em movimento por uma haste de aço 0,2%C de comprimento 1,6 m e diâmetro 9
cm. A força máxima de compressão é 186 kN. Analise a estabilidade quanto à flecha.

Resolução:

Dados: E = 206 103 MPa (tabela anterior). L = 1,6 m. D = 0,09 m.

Assim, área da secção S ≈ 6,36x10−3 m2. Para secção circular, o momento de inércia em qualquer
 D4
D 4
J D
direcção é J  . Raio de giração r   642   0, 0225 m.
64 S D 4
4
L 1, 6
Coeficiente de esbeltez     71,1 . O valor, conforme tabela acima, está abaixo do limite
r 0, 0225
para fórmula de Euler. Aplicando a fórmula de Tetmajer, σfl = 304 − 1,118x71,1 ≈ 224,5 MPa.

Determinando a força correspondente, F = σfl S = 224,5x103 kPa x 6,36x10−3 m2 ≈ 1428 kN.

1428
Concluindo, o elemento está comprimido com um coeficiente de segurança de  7, 7 em relação
186
ao máximo permitido para flecha.

Método do coeficiente de flecha

Método usado para cálculo de estruturas metálicas e similares. Em geral os valores são definidos por
normas. Usa um factor de flecha w, dado, por exemplo, pela tabela abaixo.

80 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 81/87
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λ 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 160 180 200 220 240 250
Aço - - 1,04 1,08 1,14 1,21 1,30 1,41 1,55 1,71 1,90 2,11 2,43 2,85 3.31 4,32 5,47 6,75 8,17 9,73 10,55
0,2C
Aço - - 1,06 1,11 1,19 1,28 1,41 1,58 1,79 2,05 2,53 3,06 3,65 4,28 4,96 6,48 8,21 10,13 12,26 14,59 15,83
0,4C
Ferro 1,00 1,01 1,05 1,11 1,22 1,39 1,67 2,21 3,50 4,43 5,45 - - - - - - - - - -
fundido

 adm
O factor é definido por w  , ou seja, é a relação entre a tensão admissível do material e a
 fl _ adm
tensão admissível para a flecha.

Figura 82
Portanto, a força de compressão da coluna deve ser tal
S
que F   adm   , onde S é a área da secção
 w
transversal do elemento comprimido. O gráfico da
Figura 82 ao lado dá uma ideia aproximada da variação
dos parâmetros citados com o coeficiente de esbeltez.
Notar que, para fins de dimensionamento, não há um
resultado imediato, pois w depende do coeficiente λ,
que depende da área S. Mas é possível chegar a um
resultado com uma estimativa preliminar e posteriores
tentativas de aproximação.

Flecha devido à torção

Para eixos de secção circular, o menor momento que produz flecha por torção é dado por
2 E  J
M fl  . Se há acção simultânea de uma força de compressão F na direcção axial,
L
F  2E  J
M fl _ compr  M fl 1  . Onde K é a força de flecha de Euler, dada por K  . Desde que, na
K L2
prática, se deve ter F < K, pode-se concluir que a presença da compressão axial reduz o momento crítico
de flecha por torção, isto é, a estabilidade piora.

Critérios de falha - Introdução

Figura 83

De forma genérica, pode-se dizer que os


materiais estruturais são submetidos a uma
combinação espacial de esforços, ou melhor,
a um estado triaxial de tensões, graficamente
representado pelas tensões principais em (a)
da Figura 83.

EDRM20081016_01 81
Resistência dos Materiais 82/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

As teorias (ou critérios) de falha (ou resistência) procuram em geral estabelecer uma tensão equivalente
(ou tensão de comparação), como em (b) da mesma figura, de forma a possibilitar a comparação com os
resultados de esforços uniaxiais obtidos por ensaios comuns de tracção ou de compressão. Há uma
razoável variedade de critérios para a questão. Aqui são tratados apenas dos mais comuns. Os materiais
são supostamente isotrópicos, isto é, apresentam as mesmas propriedades em todas as direcções. O
tipo de critério a empregar depende em geral da natureza do material (frágil ou dúctil). Normalmente,
um critério é adequado para apenas um tipo, não para ambos. Os critérios se referem sempre a tensões
principais. Portanto, se uma direcção genérica for dada, ele deverá ser transformada em direcções
principais. Notar que esses critérios não são necessariamente os únicos a obedecer. Outros factores
como vibrações, fadiga, rigidez, etc., podem ser até mesmo predominantes.

Exemplo: Uma plataforma para trânsito de pessoas deve, em princípio, suportar a carga das
mesmas. Entretanto, se algum deslocamento ou deformação for sentido ou observado,
mesmo que dentro dos limites de segurança, ela será questionada e dificilmente será
aceite.

Critério da máxima tensão normal

Figura 84
Por esse critério, a falha ocorre quando a
maior tensão normal principal alcança a
tensão de ruptura de tracção σt ou de
compressão σc, ambas obtidas em ensaios de
resistência uniaxiais. Tem-se então a relação
no caso de tensões planas σc < (σ1, σ2) < σt.
Observar que σc deve ter sinal negativo por
ser tensão de compressão.
Graficamente, as tensões principais devem
estar dentro de um quadrado conforme
Figura 84 ao lado.
O critério só pode ser aplicado no caso de
materiais frágeis.

Exemplo: Sejam σc = − 300 MPa, σt = 300 MPa, σ1 = 60 MPa e σ2 = 30 MPa.

Os valores estão conforme a equação dada e, desde que só há tracção, os factores de segurança são
 t 300  300
 5 e t   10 . Naturalmente, é considerado o menor (5).
 1 60  2 30

Critério da máxima deformação

Considera-se agora material dúctil com tensões máximas de tracção σt e de compressão σc iguais, em
módulo, à tensão de escoamento σe obtida em ensaio simples de tracção, ou seja, | σt | = | σc | = σe.

82 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 83/87
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O critério consiste em estabelecer, para o material, deformações menores que as deformações


produzidas, em estado uniaxial, por essas tensões (σt e σc).

Segundo a forma generalizada da lei de Hooke, as deformações para as tensões principais são:

1 
1
E
1   2   3   2 
1
E
 2  1   3   3 
1
E
 3  1   2  
Onde E é módulo de elasticidade e ν é módulo de Poisson. Por simplicidade, consideram-se tensões no
plano (σ3 = 0). Assim, as igualdades acima ficam simplificadas:

1 1 
1  1  2  2   2 1  3   1   2 
E E E

Figura 85
Considerando que as tensões de limite são
σt = σe e σc = − σe (compressão), as respectivas
e e
deformações são e .
E E
Então os limites para as deformações anteriores
são:

e
1 
 1  2   e

E E E
e 1 e
   2  1  
E E E
e  e
  1   2  
E E E
Simplificando as desigualdades, os resultados são

− σe < ( σ1 − ν σ2 ) < σe − σe < ( σ2 − ν σ1 ) < σe − σe < ( − ν (σ1 + σ2) ) < σe

Dessas relações, pode-se deduzir que as tensões principais σ1 e σ2 devem estar no interior de um
quadrilátero conforme Figura 85 acima, com vértices dados por

               
A e , e  B e , e  C e , e  D e , e 
 1  1    1  1    1  1    1  1  

Onde, conforme já visto, σe é a tensão de escoamento do material e ν é o seu módulo de Poisson.

Critério da máxima tensão de corte

Também denominado critério de Guest ou de Tresca, é fundamentado no mecanismo aparente do


escoamento de materiais dúcteis, ou seja, ele ocorre devido ao deslizamento de planos ao longo de
superfícies com maiores tensões de corte.

EDRM20081016_01 83
Resistência dos Materiais 84/87
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Figura 86
Das relações básicas do círculo de Mohr e
considerando, por simplicidade, tensões no
plano, observa-se que a tensão de corte está
relacionada com a diferença das duas tensões
principais.

Adoptando a tensão de escoamento σe como


referência, o critério estabelece valores
absolutos das tensões principais menores que
σe, bem como a sua diferença

| σ1 | < σe | σ2 | < σe | σ1 − σ2 | < σe

Das relações acima, demonstra-se facilmente que as tensões principais devem estar dentro de um
hexágono irregular conforme Figura 86.

Critério da máxima energia de distorção

Figura 87
A teoria foi apresentada, pela primeira vez, por
James Clerk Maxwell (físico e matemático
escocês) em 1865, mas é usualmente atribuída
a Richard Edler von Mises (matemático
austríaco) em 1913.
O critério estabelece que a falha ocorre
quando a energia de distorção atinge o mesmo
valor da energia que provoca o escoamento na
deformação uniaxial.
A expressão matemática é dada por
1
2
 2 2 2

1   2    2   3    3  1    e 2

No caso de tensões planas (σ3 = 0), a relação é simplificada σ12 − σ1 σ2 + σ22 < σe2.

A relação anterior permite concluir que, no caso de tensões em um plano, o limite é dado por uma
elipse conforme Figura 87. A linha tracejada indica o polígono do critério anterior, mostrando que este
último é mais conservador.

Critério de Coulomb-Mohr

É um critério usualmente aplicado a materiais frágeis em estado plano de tensão.

Supõe-se que o material apresenta, segundo resultado de ensaio uniaxial, tensão máxima de tracção σt
e tensão máxima de compressão σc.

84 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 85/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Figura 88
Na Figura 88, o círculo de Mohr de centro Oc
representa compressão simples de valor σc. De
forma análoga, o círculo de centro Ot indica
tracção simples σt.

A teoria de Mohr sugere que a falha ocorre


quando o círculo de Mohr representativo do
estado de tensões ultrapassa os limites
definidos por esses dois círculos. Em outros
termos, o círculo de Mohr do estado plano deve
estar no interior do contorno ABCDEF (o círculo
tracejado indica um exemplo)

Figura 89
As seguintes relações podem ser deduzidas para
os casos possíveis de tensões principais:

1) σ1 tracção e σ2 tracção: σ1 < σt e σ2 < σt.

2) σ1 compressão e σ2 compressão:
σ1 > σc e σ2 > σc.

1  2
3) σ1 tração e σ2 compressão:   1.
t c

1  2
4) σ1 compressão e σ2 tração:   1.
c t

Notar que tensão de compressão é negativa.

Graficamente, os limites das tensões principais são dados pelo polígono de fundo cinza da Figura 88. As
linhas tracejadas formam o quadrado do critério da máxima tensão normal visto anteriormente,
indicando que o presente critério é mais conservador.

EDRM20081016_01 85
Resistência dos Materiais 86/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Índice

Esforços comuns - Introdução 2


Tensão normal e tensão transversal 2
Tracção e compressão – generalidades 3
Energia da deformação elástica 5
Tensão devido à dilatação linear 6
Resiliência, tenacidade, ductilidade 7
Tensão admissível e coeficiente de segurança 8
Reservatório cilíndrico de parede fina 10
Reservatório esférico de parede fina 11
Deformação por corte 12
Energia da deformação por corte 12
Coeficiente de Poisson 13
Deformação plástica residual 14
Acção da força centrífuga em barra com rotação 15
Dilatação linear com dois materiais 16
Torção de peças circulares 18
Momento polar de resistência 20
Energia da deformação por torção 22
Potência transmitida, diagrama de momento e ângulo de torção 23
Tensões planas 25
Tensões principais no plano 26
Tensões (máxima e mínima) de corte no plano 27
Círculo de Mohr para tensões planas 28
Tensões no espaço 32
Tensões principais 34
Círculo de Mohr para tensões no espaço 34
Fundamentos da flexão 38
Forças e momentos internos em vigas 40
Diagramas de esforços em vigas 40
Tabela 41
Viga apoiada com várias cargas concentradas 45
Viga apoiada com carga uniformemente distribuída 46
Viga encastrada com uma carga na extremidade 46
Viga encastrada com carga distribuída 47
Viga apoiada com momento concentrado 48
Aspectos teóricos sobre carregamentos de vigas 48
Distribuição de tensões transversais na flexão 49
Distribuição de tensões em secções rectangulares e circulares 50
Energia da deformação por flexão simples 52
Linha elástica de vigas flexionadas 53
Viga em balanço 56
Vigas de igual resistência à flexão – Introdução 56
Tabela 2 57
Coluna de igual resistência 58
Vigas de secção constante - Alguns exemplos típicos 59

86 EDRM20081016_01
Resistência dos Materiais 87/87
Eduardo Manuel Silva Domingues – 21170432 – DEM – ISEC

Tabelas de perfis comerciais – Introdução 60


Exemplo de torção simples 64
Exemplo de flexão - Método da superposição 65
Problemas hiperestáticos: Introdução e exemplo 67
Viga horizontal com três apoios 68
Flexão com corte 69
Torção com flexão 70
Flexão com tracção 72
Flexão combinada com compressão 73
Núcleo central de inércia 74
Núcleos centrais de inércia para algumas secções 74
Falha por Flecha – Introdução 75
Equação básica da flecha elástica 75
Comprimento de flecha 77
Coeficiente de esbeltez 77
Curva de flecha 79
Fórmulas de Tetmajer 80
Método do coeficiente de flecha 80
Flecha devido à torção 81
Critérios de falha – Introdução 81
Critério da máxima tensão normal 82
Critério da máxima deformação 82
Critério da máxima tensão de corte 83
Critério da máxima energia de distorção 84
Critério de Coulomb-Mohr 84

EDRM20081016_01 87

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