Você está na página 1de 16

1

INFLUÊNCIAS DA LÍNGUA FRANCESA DE SINAIS NA CONSTITUIÇÃO DA


LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS E A FORMAÇÃO DO DOCENTE1

Carlos Eduardo Martins Bararuá2


Erika de Souza3
Luís Claudio Borges4
Monica Teixeira Borges5
Rosimeire santos dos Reis6

RESUMO
Objetivou-se com este estudo compreender a influência da Língua francesa de sinais na Língua
brasileira de sinais e na formação docente, ajudando no processo de ensino e aprendizagem do
aluno surdo. Assim se propôs realizar uma pesquisa para discutir acerca dessas influências
ativas contemporâneas e a evolução da língua brasileira de sinais em relação à influência desta.
No Método optou-se por uma pesquisa do tipo bibliográfica e abordagem qualitativa, um
quadro comparativo mostrando como alguns sinais emprestados que ainda são usados na Libras
desde 1960 e atualmente na qual terá por base a utilização de dados de artigos publicados em
periódicos, teses e dissertações que tratam acerca do assunto. Os Resultados apontam que a
libras é uma língua viva e em constante evolução, o que nos leva a pensar que a comunidade
surda merece ser mais assistida com profissionais capacitados na língua, na cultura surda e cada
vez mais especializada no âmbito da educação especial e inclusiva.

PALAVRAS-CHAVE: língua brasileira de sinais, língua francesa de sinais, influência.

ABSTRACT
The aim of this study was to understand the influence of the French Sign Language on the
Brazilian Sign Language and on teacher training, helping in the teaching and learning process
of the deaf student. Thus, it was proposed to conduct a research to discuss these contemporary
active influences and the evolution of the Brazilian sign language in relation to its influence. In
the Method, a bibliographic research and qualitative approach was chosen, a comparative table
showing with some borrowed signs that are still used in the sign language since 1960 and
currently based on the use of data from articles published in journals, theses and dissertations
about the subject. The Results show that sign language is a living and constantly evolving
language, which leads us to think that the deaf community deserves to be more assisted by
professionals trained in the language, in deaf culture and much more specialized in the scope of
special and inclusive education.

KEYWORDS: Brazilian sign language, French sign language, influence.

1
Artigo entregue O Programa de Pós-Graduação da Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ) como requisito
para obtenção do Título de Especialista em Docência no Ensino de Libras, sob orientação do Profº Dr. Rildo
Ferreira da Costa. E-mail: rildoremo@hotmail.com
2
Discente do curso de Especialização de Docência no ensino de Libras e Graduado em Licenciatura Plena em
Educação física pela Universidade do Norte do Paraná. E-mail: cadhu1981@gmail.com
3
Discente do curso de Especialização de Docência no ensino de Libras e Graduada em Licenciatura Plena pela
Universidade estadual do Maranhão. E-mail: erikasout@hotmaill.com
4
Discente do curso de Especialização de Docência no ensino de Libras e Graduado em Licenciatura e Bacharelado
em Geografia pela Universidade Federal do Pará. E-mail: rosasluis@yahoo.com.br
5
Discente do curso de Especialização de Docência no ensino de Libras e Graduada em Licenciatura Plena em
Educação Física pela Universidade do Estado do Pará. E-mail: mctb997@yahoo.com.br
6
Discente do curso de Especialização de Docência no ensino de Libras e Graduada em Licenciatura Plena em
Letras pela Universidade da Amazônia. E-mail: rosimeirereis@oul.com.br
2

INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa discorrer sobre a influência da Língua francesa de sinais e suas
implicações na constituição a língua de sinais francesa (LSF) ter sido a primeira língua a ser
registrada e estudada no mundo como datam os registros de Charles de L’Epée em 1776.
O trabalho pretende desvendar as implicações decorrentes da influência da LSF na
constituição da língua brasileira, identificando os léxicos oriundos dos empréstimos da língua
francesa de sinais, bem como mostrar um quadro comparativo do ponto de vista gramatical
entre as mesmas em virtude da relação intrínseca que norteou a estruturação da Libras enquanto
idioma oficial precípuo na comunicação de surdos.
De acordo com Capovilla (2001), a estruturação da língua brasileira de sinais se deu a
partir da segunda metade do século XIX com a construção do INES (Instituto Nacional de
Surdos) antigo Imperial Instituto de Surdos Mudos.
Com a criação do INES notou-se um avanço real no âmbito nacional no
desenvolvimento da língua brasileiras de sinais. Avanço este que sofreu um retrocesso não
somente no Brasil, mas em todo o mundo devido às tomadas de decisões ocorridas no
congresso de Milão em 1880, no qual foi deliberada a proibição do uso de sinais nas escolas de
surdos em favorecimento da oralização pura dos mesmos.
Este retrocesso só foi revestido a parti de 1896 quando o professor do INES A. J. de
Moura e Silva foi visitar o Instituto Francês de Surdos para avaliar se essa medida era
realmente a mais adequada, momento no qual concluiu que a oralização não era o método mais
eficiente para todos os surdos, que se fazia necessário levar em conta a identidade surda e o
melhor método a ser aplicado para cada indivíduo.
Em face dessas reflexões, levanta-se uma questão como fio condutor desta pesquisa:
Qual a influência da Língua francesa de sinais na constituição da Língua brasileira de
sinais e na formação do docente?
O objetivo geral deste estudo busca conhecer a influência da Língua francesa de sinais
na constituição da Língua brasileira de sinais e no trabalho docente no Brasil. Quanto aos
objetivos específicos: Identificar os léxicos oriundos dos empréstimos da língua francesa de
sinais; Mostrar um quadro comparativo do ponto de vista gramatical entre as línguas de sinais;
Destacar a influência da língua brasileira de sinais da na formação do docente.

Tal pesquisa tem relevância principalmente no que trabalho prático do docente, uma vez
que o professor lança mão dos gestos e sinais, pois foram emprestados da língua francesa de
sinais, tornando a compreensão de tal gestos também presente na libras com maior facilidade
para o aluno.
3

O presente artigo está dividido em quatro partes. A primeira é o método baseada em


pesquisa qualitativa; a seguir o referencial teórico, onde constitui uma reflexão acerca dos
conceitos e categorias presentes no método; na terceira parte apresentam os resultados e análise
da pesquisa e por fim as considerações finais.

2 MÉTODO

O presente estudo é baseado na metodologia da Pesquisa bibliográfica qualitativa, uma


vez que tem como temática uma análise sobre a influência e consequências sofridas pela
Língua Brasileira de Sinais a partir da Língua Francesa de Sinais, a qual se constitui numa
referência da língua de sinais. Nessa perspectiva, este trabalho pretende mostrar alguns sinais
da LÍBRAS que tem sua fundamentação na Língua Francesa de Sinais.
Esta pesquisa é de cunho Bibliográfico na qual se utilizou dados teóricos já trabalhados
por outros pesquisadores. Segundo Severino (2007) A pesquisa bibliográfica tem como base os
registros que se encontram disponíveis em livros, artigos, teses dentre outros, que são
considerados documentos, haja vista, que são resultados de pesquisas anteriores.
Nesse sentido, a pesquisa do Tipo Bibliográfica tem como finalidade analisar os teóricos
estudados de uma determinada área de conhecimento. Para Severino (2007, p. 124) “É toda
forma de registro e sistematização de dados, informações, colocando-os em condições de
análise por parte do pesquisador”. E, ainda Severino (2007) afirma que toda pesquisa requer
uma técnica que são procedimentos que mediam a prática para a realização da pesquisa.
Nesta pesquisa optou-se por uma abordagem qualitativa, embasada por meio de artigos
que proporcionará os resultados das informações diretamente dos autores pesquisados. Dessa
forma, a pesquisa bibliográfica não se baseia apenas na repetição do que já foi escrito, mas
sobre tudo possibilita a examinar um tema sob uma nova abordagem chegando a conclusões
inovadoras.
Nesta perspectiva, a pesquisa bibliográfica articula-se com a pesquisa qualitativa neste
artigo, pois através de sua fundamentação teórica favoreceu-se a compreensão do objeto de
nosso estudo e a elaboração e construção de um quadro comparativo com sinais oriundos da
Língua Francesa que influenciaram a construção de alguns dos sinais da Língua Brasileira, para
que pudéssemos estabelecer uma relevância a respeito do mesmo com relação ao processo
ensino aprendizagem, tanto na perspectiva do aluno surdo quanto do docente.
Dessa forma MYNAIO (2001), explica que:

Uma pesquisa qualitativa aborda temas que não podem ser quantificados em equações
estatísticas. Ao contrário, estudam se os símbolos, as crenças, os valores e as relações
humanas de determinado grupo social. A pesquisa qualitativa é uma abordagem de
4

pesquisa que estuda aspectos subjetivos de fenômenos sociais e do comportamento


humano (MYNAIO, 2001, p 122).

Assim sendo, esta pesquisa tem uma abordagem qualitativa, uma vez que parte de um
aspecto mais amplo para um contexto mais contemporâneo e especifico da comunidade surda,
levando em conta seus valores, características sociais e por se tratar de um estudo subjetivo
desta comunidade.
Os resultados obtidos pela pesquisa, através do quadro comparativo entre os sinais,
terão como objetivo desvendar a origem de alguns sinais da Libras, bem como mostrar a
importância da Língua Francesa de Sinais na constituição de sinais da Libras e também na
construção de sua estruturação linguística.

3 REFERENCIAL TEORICO

Levando-se em consideração a atual conjuntura histórica e social, bem como o


momento pujante que a Língua Brasileira de Sinais vem conquistando, torna-se fundamental a
discussão e uma análise aprofundada da grande luta que o surdo e os profissionais inseridos
neste contexto vêm travando pela inserção na escola bilíngue, assim como na escola regular de
ensino. Desta forma, este capítulo tem como proposição fazer uma análise de como a língua
francesa de sinais contribuiu para a criação da língua brasileira de sinais através do empréstimo
dos léxicos da língua francesa de sinais, mostrando um quadro comparativo gramatical entre as
línguas de sinais e por último, mostrar a imprescindível contribuição da Língua Brasileira de
Sinais para a formação dos docentes.

3.1 OS LÉXICOS ORIUNDOS DOS EMPRÉSTIMOS DA LÍNGUA FRANCESA DE


SINAIS
No decorrer da história da educação de surdos em nível mundial, a partir do século
XVII, houve muitas tentativas de publicar e explicar a língua de sinais, incluindo a sua
agregação a listas de palavras, dicionários, livros, manuais impressos, para isso foram criados
diversos materiais com esse objetivo. Porém, mesmo lançando mão de um bom material
instrucional, faz se necessário à presença e participação do mediador para conduzir a instrução
da língua de sinais, pois a mesma apresenta características bastante peculiares que serão
evidenciadas no decorrer deste trabalho.

Quando nos referimos à língua de sinais em território brasileiro, contamos com a obra
publicada por Flausino José da Costa Gama em 1875, intitulada: a Iconographia dos signaes
dos surdos-mudos, fato de suma importância por ter sido uma obra compilada e desenhada por
um surdo. Em termos linguísticos, esta obra propôs um dicionário para a Língua Brasileira de
5

Sinais, á luz de outra obra pré-existente, no caso o Léxico Francês e até hoje cerca de 10% dos
sinais listados no dicionário de Flausino da Gama são utilizados pela sociedade surda brasileira.

Durante este momento histórico, a obra de Flausino foi baseada na literatura francesa,
uma vez que segundo Rosimar Bartolini Poker, em seus estudos identificou que L’Epee havia
criado a educação sistemática para surdos, utilizando sinais metódicos, os quais
proporcionaram a estruturação da Língua Francesa de Sinais, bem como a sua implantação a
instrução gratuita a todos os surdos independente de sua situação socioeconômica.

Na constituição da Língua Brasileira de Sinais a partir dos léxicos emprestados da


Língua Francesa de Sinais, alguns sinais mantiveram-se inalterados, tanto na LSF quanto na
Libras como por exemplo: année (ano); chocolat (chocolate); viande (carne); voir (ver), bem
como outros sinais. O sinal de Libras tem a mesma constituição morfológica do sinal de LSF
(DUARTE, 2011). (figura 1 a 4).

figura 1 - ANO figura 2 - CHOCOLATE


fonte: https://super.abril.com.br/

Figura 3 - CARNE figura 4 - VER


fonte: https://super.abril.com.br/

Assim como é nítida a influência da Língua francesa de sinais na elaboração da


datilologia da Libras, esta comparação é perceptível a olho nu como mostra a comparação feita
abaixo entra as datilologias das línguas de sinais francesa e brasileira:
6

Alfabeto Manual Francês

fonte: http://www.brasilazur.com/

Alfabeto Manual Libras

fonte: http://www.brasilazur.com/
7

De acordo com Sofiato e Reily (2012), que desenvolveram um estudo analítico das
obras de Flausino da Gama, chegaram ao número de 38 sinais que se mantiveram inalterados na
Libras, dos 382 sinais da obra de Flausino, cerca de 10 por cento dos sinais, que constituem
marcas da influência da LSF, na origem da Libras. Pautando-nos pelo conceito do contato de
línguas em que há o distanciamento do território de origem da língua, ocorreu a transformação
linguística porque povo e território são outros, ou seja, alteraram-se os meios ambientes social,
mental e natural e ocorreu uma nova deriva: outra língua, apesar de se manterem elementos
herdados do contato inicial.

3.2 MOSTRAR UM QUADRO COMPARATIVO DO PONTO DE VISTA GRAMATICAL


ENTRE AS LÍNGUAS DE SINAIS

O significado da obra de Flausino (1875) esta imbrincada na história da educação dos


surdos no Brasil Império, pois neste período foi criado o primeiro colégio para surdos, foi
fundado por iniciativa do também francês Edward Huet, que apresentou á D. Pedro II um
relatório em língua francesa no qual reafirmava a necessidade de consolidar tal escola em
território nacional.

Entretanto, o reconhecimento linguístico da língua de sinais veio a partir dos estudos e


pesquisas do linguista americano William Stokoe (1960), quando este comprovou a
complexidade da língua de sinais na medida em que demonstrou que esta possui regras
gramaticais, permitindo a expressão de conceitos e a produção de uma quantidade infinita de
sentenças.

Segundo Souza,

Qualquer produto da atividade do discurso humano (..) deriva em forma e


significação, em todos os seus aspectos essenciais, não das experiências subjetivas dos
falantes, da situação social na qual o enunciado aparece. A língua suas formas são
produtos de uma prolongada comunicação social entre os membros de uma dada
comunidade discursiva”.(SOUZA, 2002, p. 25)

Sendo assim, a interação entre os sujeitos e o contexto histórico-social, em que ocorre o


enunciado, contribuem para a sua compreensão, da mesma forma como influenciam a evolução
das formas da língua, uma vez que todo o movimento de mudança da língua está
intrinsecamente relacionado ao da comunidade discursiva que dela se utiliza, compreendendo,
todos os aspectos da vida do indivíduo seja: social, cultural, político e religioso, fazendo com
que encontremos alterações léxicas e até mesmo a necessidade da criação de novos termos
técnicos científicos, pela própria vida que não cessa.
8

Embora cada língua possua sua peculiaridade, todas as línguas possuem algumas
semelhanças que as identificam como língua e não como linguagem. A semelhança entre todas
as línguas é que elas são estruturadas a partir de unidades mínimas que formam unidades mais
complexas, ou seja, todas possuem os seguintes níveis linguísticos: fonológico, morfológico,
sintático, e semântico.
Quando nos referimos as línguas de sinais como status de língua é porque ela também
apresenta tais características em relação as diferenças regionais, sócio culturais entre outras, e
em relação ás suas estruturas porque elas também são compostas pelos níveis descritos acima.
O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas, são denominadas de
sinais nas línguas de sinais.
Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um
determinado formato, podendo esse lugar ser uma parte do corpo ou do espaço em frente ao
corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e ás vezes aos
morfemas, são chamados de Parâmetros. Nas línguas de sinais, podem ser encontrados os
seguintes parâmetros: configuração das mãos (CM), ponto de articulação (PA), movimento
(M), orientação/direcionalidade (O) e expressão facial e/ou corporal (EF).
Este capitulo se reserva portanto a realizar uma comparação entre alguns dos sinais da
LFS e da Libras através de tais parâmetros.

primeiro sinal: professor


LSF 1960 LIBRAS ATUAL

fonte: https://super.abril.com.br/

Nas figuras acima o sinal PROFESSOR em LFS é realizado com a mão aberta, a qual
possui uma leve inclinação do polegar para baixo. Com a locação no espaço neutro, sem tocar
em nenhuma parte do corpo, com movimento de baixo par cima repetindo duas vezes.
Comparando com a Libras atua com a libras dos anos 60, percebemos que permaneceu
idêntico, com a mão em forma de “P” sendo baixada e levantada, movimentando se para a
direita. A partir daí podemos dizer que o sinal usado hoje na Libras se afastou em configuração
de mão e movimento, se confrontado com a LFS, e preservando somente o ponto de
articulação.
9

Segundo sinal: BICICLETA


LSF 1960 LIBRAS ATUAL

fonte: https://super.abril.com.br/

Observamos agora a formação do sinal BICICLETA. Na LSF, esse sinal é produzido


com as mãos que se iniciam fechadas na vertical e, ligeiramente, são distendidas para o lado
no espaço neutro. Essa forma é muito próxima da organização morfológica dos sinais
descritos pelo Oates e pelo Acesso Brasil. O sinal nesses dois dicionários é o mesmo,
mantendo a iconicidade muito forte, ou seja, faz lembrar o objeto, nos casos aqui descritos
para BICICLETA, a iconicidade parece ser mantida nos três sinais, sendo as mãos fechadas
em “A” na horizontal que se movem alternadamente em círculos, o que simula alguém
pedalando. Houve, portanto, alteração morfológica no sinal atual da Libras com
Configuração de Mão e Movimentos diferentes da LSF, preservando unicamente o espaço de
enunciação (Ponto de Articulação)

Terceiro sinal: FAZER


LSF 1960 LIBRAS ATUAL

fonte: https://super.abril.com.br/

O sinal FAZER em LSF, é realizado com as duas mãos na horizontal, com a esquerda
em “G” e a direita em “A”. Essa mão com um movimento simples, envolve a esquerda e
desliza para fora. Em em Libras no ano de 1960 era realiazdo com as mãos fechadas em “A”,
10

as unhas dos polegares são batidas uma contra a outra, fazendo um movimento repetido.
Estabelecendo uma comparação com a Libras atual nota-se apenas uma diferença no
parâmetro da Configuração de Mão, pois nele as mãos estão configuradas em “Y” com os
dedos mínimos levantados. Assim, partindo do sinal de origem, FAZER, na Libras atual,
distanciou-se em CM e M, mantendo apenas o PA na mãos.

Quarto sinal: ESTUDAR


LSF 1960 LIBRAS ATUAL

fonte: https://super.abril.com.br/

Nas figuras acima estabelecemos ma comparção do sinal ESTUDAR, que na LFS


mantém como o mesmo PA e se altera nos demais parâmetros para a Libras. Em Lingua
Fancesa de Sinais, o sinal ocorre com as duas mãos colocadas juntas e palmas voltadas para a
frente do rosto, movimentando se levemente de um ladao para outro. Já na Libras dos anos
60 e as da atualidade, na qual as palmas daas mãos estão voltas para cima na horizontal,
batendo se o dorso da mão direita aberta sobre a palma da mão esuerda duas vzes, notamos
assim que há um afastamento nos parâmetros de CM e de M com relação ao mesmo sinal em
LFS.

Quinto sinal: PODER


LSF 1960 LIBRAS ATUAL

fonte: https://super.abril.com.br/

Nesta última comparação observamos um sinal que ainda tem parâmetros muito
próximos entre as duas línguas: PODER. Na LSF este sinal se apresenta com as mãos
fechadas em “S” no espaço neutro e com um movimento de cima para baixo. Essa
11

configuração se mantém na descrição na Libras em 1960 e ATUALMENTE, ou seja, o sinal


preservou o PA, M e CM, portanto cognato. Apenas a orientação das mãos mudou, antes
eram dispostas horizontalmente na LSF, e, agora, na Libras, ficam na vertical.
Para sumarizar esta análise, percebemos que estes quadros acima apontam par as
alterações morfológicas de sinais de Libras do anos 60 que foram profundamente influenciados
pela LFS para os sinais Atuais, mas também é importante perceber a manutenção morfológica
de alguns sinais. Isto no entanto já não acontece com tanta frequência se compararmos a Libras
com a LFS, que parece manter apenas o PA como parâmetro mais forte quando estabelecemos
estas comparações, o que nos faz refletir se foi o tempo que levou á transformação entre essas
duas línguas pelo distanciamento icônico ou se talvez esses sinais não tenham a mesma raiz
como tronco familiar.

3.3 INFLUÊNCIA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS DA NA FORMAÇÃO DO


DOCENTE
No Brasil a chamada “Lei de Libras" foi sancionada em abril de 2002 com a Lei nº
10.436, mas apenas em 22 de dezembro de 2005 com o Decreto nº 5.626 ,foi que as pessoas
surdas passaram a serem consideradas como indivíduos com características próprias de
aprendizagem e por tanto a Libras passou a ser uma disciplina curricular obrigatória nos cursos
de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, entre
outros setores da educação e da saúde, inclusive no art 4º do Cap III da Constituição Federal,
que trata da formação do professor de libras e do interprete, ressalta que a formação do docente
para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, médio e superior, deve ser
realizada em nível superior no curso de graduação de licenciatura plena em letras: Libras/
língua portuguesa como segunda língua

No art 5º do mesmo capitulo, que trata da formação do docente para o ensino de Libras
na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental diz que: “deve ser realizada em curso
de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de
instrução, viabilizando a formação bilíngue”. (BRASIL, 2005)

Este respaldo legal ratifica o nosso entendimento a respeito de que a língua de sinais
não descende das línguas orais e que possuem sua própria constituição morfológica,
necessitando assim de um profissional com formação adequada para tal. Esta Lei também
discorre, em seu artigo 13, sobre o ensino da modalidade escrita da Língua portuguesa como
língua segunda para pessoas surdas, figurando como ação de docentes atuantes na educação
infantil, no ensino fundamental e no médio, sendo eles licenciados em Letras com habilitação
12

em língua portuguesa ou não (BRASIL, 2005). O que evidencia a importância da formação em


Libras pelos diversos professores para que ela ocorra de fato.

Em vista disso, as diversas instituições de ensino passaram a ter profissionais para o


ensino de Libras em seu quadro funcional. Tais profissionais tem como objetivo ensinar os
conceitos básicos a Libras, porém as ementas destas disciplinas não são unificadas, dando a
cada instituição de ensino superior o poder de exercer sua autonomia para criar suas ementas e
a cada professor a autonomia de também criar seus próprios planos de curso para essas
disciplina.

A partir de que os indivíduos surdos passam a ter seus direitos reconhecidos legalmente,
seu processo educacional é afetado diretamente, pois a educação é um dos pilares fundamentais
dos Direitos Humanos e que concede ao indivíduo sua dignidade e a possibilidade de exigir o
cumprimentos de todos os seus outros direitos.

Partindo do ponto de vista que o indivíduo surdo é um sujeito cultural e não deficiente,
ou seja, abandonando o discurso que o sujeito surdo para estar bem integrado a sociedade
deveria se adaptar a cultura ouvinte e ao invés disso passarmos a entender a ideia de que
devemos valorizar suas experiências e sua constituição enquanto sujeito, estaremos
corroborando verdadeiramente com o conceito de cultura surda sugerida por STOBEL(2008),
na qual afirma que:

Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modifica lo afim de


torna lo acessível e habitável ajustando os com as suas percepções visuais, que
contribuem para a definição das identidades dos surdos e das ‘almas’ das comunidades
surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e o hábitos
do povo surdo (STOBEL,2008, p 24)

Porém, incluir alunos surdos na escola regular acarreta vários desafios e obstáculos
relacionados não somente a educação mas também à comunicação, interação, conhecimento e
capacitação de professores que trazem suas próprias barreiras no processo de ensino e
aprendizagem. Assim, professores em formação ou capacitação em Libras, devem conhecer os
variados contextos da Língua de Sinais para desenvolver e ministrar aulas mais atrativas e
envolventes aos alunos surdos, pois não devemos deixar de mencionar que a capacitação do
docente para o ensino de Libras ao aluno surdo, não obriga o mesmo a aprende la, uma vez que
segundo a cultura e identidade surda o indivíduo deve aprender a se comunicar pelo meio que á
ele for mais confortável.
13

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

Este artigo por se tratar de uma revisitação bibliográfica de cunho qualitativo, nos
permitiu lançar mão de autores como Charles de L’Epée, Capovilla, Rosimar Poker, Flausino
da Gama, E. Huet, William Stokoe e outros para pautar nosso estudo e a partir deles responder
questões pertinentes aos nossos objetivos específicos, tai como:
Quais os léxicos oriundos dos empréstimos da língua francesa de sinais?
Par desvelar tal questionamento, realizamos a priori uma incurso ao longo da origem da
língua de sinais para conhecer seu processo de elaboração e estruturação e de que forma
adentrou em nosso território.
Graças aos relatos de Rosimar B. Poker a respeito doas estudos de C. L’Epee, criador da
educação sistemática para surdos e dos relatos históricos a respeito da implantação do INES,
com o objetivo de fornecer instrução aos indivíduos surdos no Brasil Império; e da relevante
contribuição de Flausino da gama que transcreveu a iconografia dos léxicos da LFS para a
Libras. Constatamos que alguns léxicos foram emprestados da cultura francesa, alguns sem
sofrer qualquer alteração, á exemplo dos sinais citados nesse artigo (ANO, CARNE,
CHOCOLATE E VER), assim como também os sinais de datilologia de ambas as línguas de
sinais, nos quais mais de 60% do alfabeto é praticamente igual. Comprovando assim, a
influência da Língua Francesa de Sinais na constituição da Libras, e que mesmo nos dias atuais
é possível verificar, ainda que em menor escala que existem resquícios dessa influência em
cerca de 10% dos léxicos da Libras, segundo afirmam os estudos de Sofiato e Reily, ambos do
ano de 2012. O que nos leva a próxima questão:
Como fazer um quadro comparativo do ponto de vista gramatical entre as línguas de
sinais?
O primeiro passo foi compreender com a ajuda dos estudos de William Stokoe (1960), a
complexidade da língua de sinais e conhecer as regras gramaticais que tornam possível a
estruturação dos sinais, com seus conceitos e expressões dentro de um contexto linguístico
possibilitando assim a produção de uma quantidade infinita de sentenças.
A partir de então, tomamos como base os cinco parâmetros que constituem a formação
dos léxicos: Configuração de Mão (CM) Ponto de Articulação (PA), Movimento (M),
Orientação/ direcionalidade (O) e Expressão Facial/ corporal, e estabelecemos um relação entre
os parâmetros presentes em um determinado sinal da LFS e compara-los ao mesmo sinal na
Libras, pra observar os parâmetros permaneceram constantes e os variáveis ao longo do tempo.
Por esse motivo, estabelecemos uma comparação entre o sinal em LFS, o mesmo sinal em
Libras nos anos 60 e nos dias Atuais, acompanhando assim sua evolução linguística.
14

Nos cinco exemplos por nós observados neste estudo, com base nos empréstimos dos
léxicos da LFS, podemos notar que houveram modificações significativas em pelo menos 3 dos
5 parâmetros que estabelecem a estrutura do sinal. Notamos em tal comparação que apenas o
PA (Ponto de Articulação) se mantém com mais frequência entre as duas línguas. O que nos fez
refletir a cerca deste distanciamento, se ele ocorre ao longo do tempo por razões icônicas
próprias da cultura linguística de cada povo ou se talvez pelo fato de não possuírem a mesma
raiz como trono familiar.
Por fim, nossa angústia enquanto educador nos levou a outro questionamento: Qual a
influência da Língua Brasileira de Sinais da na formação do docente?
Para tanto, buscamos embasamento nos estudos de Stobel (2008), para compreender o
indivíduo surdo, sua cultura e a importância da instrução através da educação e assim
compreender o papel da língua de sinais e necessidade de formar docentes capacitados e
habilitados a realizar tal instrução.
No Brasil, mesmo com a criação do INES no período imperial, com o intuito de
fornecer instrução para os surdos das diferentes classes sociais, apenas em 2002 através da “lei
de Libras” foi regulamentada sua legalidade e apenas em 2005 com o Decreto nº5.626 tornou
se obrigatória a capacitação dos docentes na formação superior, pra habilita-los a desenvolver
atividades educacionais voltadas ao público surdo em seus diversos níveis de ensino, do infantil
ao superior.
Entre tanto, mesmo com a regulamentação da Lei e de seus decretos estarem presentes
na Constituição Federal garantindo uma educação de qualidade para todos, sabemos enquanto
profissionais da educação que o processo de inclusão vai muito além disso.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve como objetivo geral investigar as influências da Língua


Francesa de Sinais na constituição da Libras e no trabalho do docente, para tanto, perpassamos
por pela origem da história das Línguas de Sinais para conhecer e compreender como elas se
estruturaram através de seus parâmetros e de posse destes, estabelecemos uma comparação
entre os sinais da LFS e da Libras. Durante esse processo, podemos observar que a influência
da Língua Francesa de Sinais sobre a origem da Libras foi muito forte, mas que ao longo do
tempo entre tanto, essa influência foi se distanciando por conta de inúmeros fatores.
Por fim, este estudo nos possibilitou com base no aprendizado científico até aqui
adquirido, conhecer a Constituição da Língua de Sinais e sua importância para a comunidade
surda, compreender que mesmo que a capacitação do docente esteja respaldada por Lei no
15

Brasil, depende de cada profissional da educação tornar se um agente participativo na inclusão


dos surdos no processo de ensino aprendizagem, não somente para a instrução educacional
desses indivíduos surdos, mas para sua formação integral, uma vez que mesmo que o indivíduo
surdo tenha suas questões sociais, culturais, políticas e econômicas próprias, eles também
possuem todos os diretos básicos que todos os seres humanos possuem de se envolverem no
mundo do trabalho, educação, saúde e bem-estar social.
Encerramos por hora essa discussão, mas lançamos como proposta para estudos futuros
uma reflexão acerca das razões do distanciamento entre a LFS e a Libras da Atualidade, uma
vez que nos causou outra indagação: O distanciamento o sinal na LFS e na Libras atual ocorre
porque a origem da raiz familiar do sinal não é a mesmas ou ele ocorre ao longo do tempo por
razões icônicas típicas de cada língua e suas características culturais?

Para que tal questionamento seja desvelado necessita de um estudo muito mais
aprofundado, nos levando a sugeri lo como atividade de pesquisa científica para mestrados e
até mesmo doutorados posteriormente, dada a sua possível relevância não somente para a
comunidade surda, como para toda a comunidade cientifica.
16

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Andrea S.; MENEZES, Aurelania M de C.; ARAÚJO, Aline C. S. A Educação de


Surdos: Formação de Professores na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Id on Line
Revista Multidisciplinar e de Psicologia, 2017, vol.11, n.38, p.199-211. ISSN: 1981-1179.

BRASIL. Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais -
Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, 25 abr. 2002. p.23.

BRASIL. Decreto no 5.626, de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei 10.436 que dispõe
sobre a Língua Brasileira de Sinais - libras. Diário Oficial da União, 23 dez. 2005. p.28.

GAMA, F.J. Iconographia dos signaes dos surdos-mudos. Rio de Janeiro: Tipografia
Universal de E & S. Laemmert, 1875.

PÉLISSIER, P. L. Enseignement primaire des sourds-muets mis a la portée de tout le


monde, avec une iconographie des signes. Paris: A la Librairie de Paul Dupont, 1856.

SUPER INTERESSANTE, Página inicial. disponível em: <https://super.abril.com.br/>. acesso


em: 20 de jan. de 2020.

L’ÉPÉE, C. M. A. L’institution des sourds et muets, par la voie des signes méthod iques.
Paris, France, 1776

CAPOVILLA, F. C. Filosofias educacionais em relação ao surdo: do oralismo à


comunicação total ao bilinguismo. Revista brasileira de educação especial. V. 6, nº 1, 2000, p.
99-116.

SFDICO, INJS (Institut National de Jeunes Sourds) de Metz: http://www.lsfdicoinjsmetz.fr/


Acesso em janeiro de 2020.

HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Livro Ilustrado de Língua Brasileira
de Sinais: Desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. Editora: Ciranda
Cultural. São Paulo, 2008. Disponível em:
http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/historiaDaEducacaoDe
Surdos/scos/cap10150/5.html. Acesso em: 03 março 2020.

SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 23ª ed., São Paulo: Cortez, 2007

MINAYO, M.C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São


Paulo-Rio de Janeiro, HUCITEC-ABRASCO, 2001.

POKER, Rosimar Bartolini; OLIVEIRA, Anna Augusta Sampaio de; MARTINS, Sandra Eli
Sartoreto de Oliveira. Plano de Desenvolvimento Individual: avaliação e ação pedagógica
na sala de recursos multifuncionais. Porto Alegre: Artmed, 1998.

SOFIATO, Cássia G. REILY, Lucia Do desenho à litografia: a origem da língua brasileira de


sinais. 2012 – Instituto de Artes, Universidade de Campinas, Campinas, 2012.

STOKOE, W. (1960) Sign and Culture: A Reader for Students of American Sign Language.
Listok Press, Silver Spring, MD.

STROBEL, Surdos: vestígios culturais não registrados na história. Dissertação de mestrado na


área de educação GES / UFSC, 2006.

Você também pode gostar