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REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.

Editores científicos

Rene Ferreira Costa

Luciana Cardoso Nogueira Londe

SUMÁRIO

A PERCEPÇÃO DO SUJEITO FRENTE À NOTÍCIA DO PRÓPRIO DIAGNÓSTICO DE


CÂNCER .................................................................................................................................... 4

1) INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 5

2) METODOLOGIA .................................................................................................................................... 8

3) RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................................................. 9

Categoria I – A percepção do sujeito quanto ao comunicado do diagnóstico....................................... 9

Categoria II – Os impactos consequentes à notificação: ..................................................................... 10

Sub-Categoria A: Para o próprio sujeito........................................................................................... 10

Sub-Categoria B: Para os familiares ................................................................................................. 11

4) CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................... 12

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 13

A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER SOB A ÓTICA DOS ACADÊMICOS DA


PSICOLOGIA .......................................................................................................................... 16

1) INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 17

2) MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................................................... 20

3) RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................................ 21

4) CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................... 10

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 11
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APÊNDICE ................................................................................................................................................. 12

INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO COM


UM GRUPO DE IDOSAS ....................................................................................................... 15

1) INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 16

2) DESENVOLVIMENTO........................................................................................................................... 17

3) CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 21

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 22

O USO DE ÁLCOOL ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DE ENGENHARIA CIVIL


.................................................................................................................................................. 24

1) INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 25

2) METODOLOGIA .................................................................................................................................. 27

3) RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................................ 30

4) CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 34

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 35

MOTIVAÇÃO PARA PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL


NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ................................................................................. 37

1) INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 38

2) REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................................................... 41

2.1 Educação física e motivação intrínseca e extrínseca ..................................................................... 41

2.2 Aspectos motivacionais ................................................................................................................. 42

2.3 O professor de educação física diante da motivação de seus alunos ............................................ 44

2.4 Limitação do estudo....................................................................................................................... 46

3) CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 48

PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS EM RELAÇÃO À ASSISTÊNCIA PRESTADA EM UM CAPS


NO NORTE DE MINAS GERAIS ........................................................................................... 51

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1) INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 52

2) METODOLOGIA .................................................................................................................................. 55

3) RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................................ 56

3) CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 61

REDES SOCIAIS E SEUS IMPACTOS NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS .......................... 63

1) INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 64

2) METODOLOGIA .................................................................................................................................. 66

2.1 Participantes e Procedimentos ...................................................................................................... 66

2.2 Instrumentos.................................................................................................................................. 66

3) RESULTADOS....................................................................................................................................... 67

4) DISCUSSÃO ........................................................................................................................................... 4

5) CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................................... 5

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 6

TRANSTORNO MENTAL ENTRE MORADORES DE RUA: INTERSETORIALIDADE


ENTRE ASSISTÊNCIA SOCIAL E SAÚDE MENTAL ........................................................... 8

1) INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 9

2) METODOLOGIA .................................................................................................................................. 12

3) RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................................................... 13

4) CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................... 15

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 16

TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS VIAJANTES ............................... 19

1) INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 20

2) METODOLOGIA .................................................................................................................................. 24

3) RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................................ 25

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4) CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................... 32

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 33

NÍVEL DE ESTRESSE NO TRABALHO INFORMAL .............................................................. 36

1) INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 37

2) METODOLOGIA .................................................................................................................................. 41

3) RESULTADOS ...................................................................................................................................... 41

4) DISCUSSÃO ........................................................................................................................................ 46

5) CONCLUSÃO ...................................................................................................................................... 49

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 49

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A PERCEPÇÃO DO SUJEITO FRENTE À NOTÍCIA DO PRÓPRIO DIAGNÓSTICO


DE CÂNCER

Fernanda de Freitas Dias1


Laryssa Thuanny Cardoso Fonseca2
Leonardo Augusto Couto Finelli3

RESUMO

A comunicação do diagnóstico de câncer tem sido apontada como etapa importante na


experiência do sujeito acometido pela doença, pelo fato dela poder impactar a experiência do
mesmo. Mediante essa relevância o presente estudo se propôs a compreender a percepção que
o sujeito diagnosticado com câncer tem sobre a forma que o diagnóstico lhe foi transmitido e
vislumbrar formas mais adequadas de comunicá-lo. Os participantes da pesquisa foram dez
pacientes diagnosticados com câncer, com idades entre 22 a 86 anos, e que se encontravam em
tratamento no setor de oncologia de um hospital de Montes Claros – MG. Para a coleta de dados
foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturada e os resultados foram avaliados
qualitativamente através da análise do discurso. Os dados encontrados apontam a necessidade
do aperfeiçoamento da comunicação do médico frente à revelação do diagnóstico e o
fornecimento de esclarecimento e acolhimento também à família do paciente.

Palavras-chave: Comunicação de más notícias; Relação médico-paciente; Oncologia; Psico


oncologia; Cuidado com a família.

1
Psicóloga (FUNORTE). E-mail para contato: <fernandadiaspsico@yahoo.com.br>
2
Psicóloga (FUNORTE). E-mail para contato:<larafonseca1@live.com>
3
Doutor em Ciências da Educação (UEP), Mestre em Psicologia (USF), graduado em Psicologia (UFMG),
graduado em Pedagogia (FETAC), Professor adjunto das Faculdades Integradas do Norte de Minas – FUNORTE,
E-mail: <finellipsi@gmail.com>
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ABSTRACT

The communication of the diagnosis of cancer has been pointed out as an important stage in the
experience of the person affected by the disease, by the fact that it could impact the experience
of the same. Through this significance in the present study was to understand the perception
that the subject diagnosed with cancer has on the way that the diagnosis it was transmitted and
discern more appropriate ways of communicating it. The research participants were 10 patients
who had been diagnosed with cancer, with ages between 22 and 86 years, and that if they were
in treatment in the oncology of a hospital in Montes Claros, MG. The instrument used for data
collection was a roadmap of semi-structured interviews and the results were qualitatively
evaluated through discourse analysis. The data indicate the need for the improvement of the
communication of the doctor forward to revelation the diagnosis and the provision of
clarification and also host the family of the patient.

Keywords: Communication of bad news; Doctor-patient relationship; Oncology; Psycho


oncology; Family caregiver.

1) INTRODUÇÃO

Uma revelação do diagnóstico de câncer para o paciente tem sido apontada como uma
das responsabilidades mais difíceis desempenhadas pelos profissionais da saúde. Representa
um acontecimento que interfere diretamente na relação do paciente com o próprio diagnóstico
(SOUZA; SOUZA, 2012).
Ao receber a notícia o doente pode associá-la a uma sentença de morte, pois o câncer é,
ainda hoje, considerado uma doença carregada de negativismo. Por isso, faz-se necessário
desenvolver estratégias de comunicação mais humanizadas para que o paciente possa enfrentar
o seu problema de forma adaptativa (SILVA, 2006).
É importante que haja qualidade ao transmitir informação aos pacientes e familiares
com câncer. Isso porque essa é associada a um melhor enfrentamento e satisfação. Ajuda o
sujeito doente a se sentir acolhido como também proporciona aos familiares esclarecimentos
quanto a doença para que possam auxiliar o membro familiar. Assim O paciente se sente
acolhido em seu sofrimento e auxiliado no enfrentamento do medo da morte (SOUZA; SOUZA,
2012).

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O câncer é uma doença que vem acometendo o ser humano há mais de 3 mil anos antes
de Cristo, sendo já detectado em múmias egípcias. Caracteriza-se por crescimento desordenado
de células, que tendem a invadir tecidos e órgãos vizinhos. As causas são variadas podendo ser
externas ou internas ao organismo, que estão inter-relacionadas. As causas externas referem-se
ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes, próprios de uma sociedade. As causas internas
são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, e estão ligadas à capacidade do
organismo de se defender das agressões externas. O tratamento pode ser feito através de
cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou transplante de medula óssea. Em muitos casos, é
necessário combinar mais de uma dessas modalidades (MINISTÉRIO DA SAÚDE [MS];
INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER [INCA], 2011).
A literatura especializada nessa área oferece orientações gerais sobre como sistematizar
a transmissão de uma má notícia, tornando-a menos traumática pelo profissional de saúde e ao
mesmo tempo focalizando a atenção no paciente. Embora seja objeto de estudo internacional,
o tema tem sido pouco abordado no Brasil (LINO et al, 2011)
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) através dos seus projetos de qualificação para
profissionais de saúde tem desenvolvido trabalho mais humanizado para a melhoria do processo
de cuidado e atenção ao sofrimento inerente ao tratamento oncológico. Dentre as iniciativas
propostas, tem investido na capacitação para que transmissão de más notícias em relação ao
diagnóstico de câncer não o relacione diretamente ao de morte (MS; INCA; SOCIEDADE
BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN [SBIBAE], 2010).
Através dos projetos desenvolvidos pelo INCA, os profissionais são capacitados a
atuarem na melhoria do acolhimento, comunicação e vinculo terapêutico com pacientes
oncológicos. Tais projetos consideram as propostas: da Política Nacional de Humanização da
Atenção; da gestão do SUS; e a Política Nacional de Atenção Oncológica. A primeira defende
como “marcas” a serem atingidas um atendimento resolutivo e acolhedor, combatendo a
despersonalização a que são submetidos os usuários dos serviços. Essa visa garantir seus
direitos instituídos nos “códigos dos usuários”, além de garantir educação permanente aos
profissionais bem como a participação nos modos de gestão como estratégia de atenção à saúde.
Na qualidade de política de Estado, assume que é necessário que a humanização seja
implementada como uma política transversal, que atualiza um conjunto de princípios e
diretrizes por meio de ações e modos de agir nos diversos serviços, práticas de saúde e instâncias

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do sistema, caracterizando uma construção coletiva (GOULART; CHIARI, 2010; MS; INCA;
SBIBAE, 2010).
Internacionalmente, no âmbito da transmissão de más notícias destaca-se o protocolo
SPIKES. Esse instrumento é destinado ao médico que pretende transmitir esse tipo de notícia
ao seu paciente. O anagrama da palavra SPIKES corresponde a Setting up que se refere ao
ajuste, ou preparação, do médico e do espaço físico para o evento. Perception que significa a
verificação da percepção do paciente quanto á consciência de seu estado. Invitation que
corresponde o quanto o paciente deseja saber sobre sua doença. Knowledge que é atribuído á
transmissão da informação propriamente dita. Emotions que trata da empatia e acolhimento á
emoção demonstrada pelo paciente. E por último, Strategyand Summary que se refere à
possibilidade de diminui a ansiedade do paciente ao lhe revelar o plano terapêutico e o que pode
vir a acontecer (LINO et al., 2011).
Alguns profissionais que utilizam o protocolo o consideram um instrumento eficiente.
Por outro lado, alguns também o caracterizem como sendo sistematizado demais, necessitando
de alguns aperfeiçoamentos, pois não se atende satisfatoriamente às emoções expressas pelo
paciente. Assim, uma das tarefas mais difíceis apontadas é a falta de habilidade em reagir às
emoções dos pacientes. Muitas vezes, os médicos não são capazes de responder
apropriadamente aos sentimentos expressos ou até mesmo de identificá-los (LINO et al., 2011).
Os incômodos que se associam ao diagnóstico e ao tratamento do câncer acarretam
perdas importantes na qualidade de vida dos indivíduos. Tais necessitam de um ajustamento
psicossocial dos pacientes e seus familiares, além de demandarem intervenções
psicoterapêuticas especializadas (LOURENÇÃO; SANTOS JÚNIOR; LUIZ, 2010).
A família também vivencia variados estágios de adaptação ao sintoma. Sofre e encontra-
se impelida a gerenciar certas mudanças as quais pode não estar preparada para manejar. Muitos
dos membros podem a princípio, encontrar-se desacreditados da doença e a tratam como algo
exterior ao núcleo familiar e passageiro (VASCONCELOS; COSTA; BARBOSA, 2008).
O padecimento emocional pode levar a piora na evolução da doença, prejudicando a
adesão ao tratamento. Sabe-se que situações prolongadas de estresse, frequentemente resultam
em funcionamento desajustado do sistema imunológico. Nesse caso, este passa a ser menos
eficaz em sua ação de reconhecimento e eliminação de elementos estranhos ao organismo (VEI;
CARVALHO, 2010).

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Nos últimos dez anos, os psicólogos da saúde vêm integrando as equipes médicas como
facilitadores na detecção dos sentimentos de insegurança e das expectativas do paciente. Atuam
também facilitando a comunicação mais eficaz entre médico/paciente, além de contribuírem no
desenvolvimento de estratégias de prevenção e de intervenção com o paciente e seus cuidadores
(ALMEIDA; MALAGRIS, 2011; LOURENÇÃO; SANTOS JÚNIOR; LUIZ, 2010;
SEBASTIANI; MAIA, 2005).
A atribuição do psicólogo em oncologia oferece o apoio psicossocial e psicoterapêutico
diante do impacto do diagnóstico e de suas consequências. Assim salienta a possibilidade de
auxílio para melhor enfrentamento e incremento para qualidade de vida do doente e de seus
familiares (SCANNAVINO et al., 2013).
Atualmente, a troca entre os saberes de disciplinas vem se tornando cada vez mais
frequente e necessária para o bom resultado do tratamento de pacientes oncológicos. Uma vez
que a interdisciplinaridade contribui para o compartilhamento doa saberes melhora a prática,
ameniza as limitações de cada saber e acrescenta que nenhum campo sozinho é capaz de deter
particularidades. Propõe, além da soma dos conhecimentos e contribuições específicas dos
diferentes membros de uma equipe multiprofissional, a possibilidade de troca de experiências,
saberes e práticas em ato, com a transformação da forma de pensar e atuar de cada profissional
(MS; INCA, 2013).
A experiência de estar com câncer é própria do sujeito acometido pela doença. Assim
somente aquele que a vivencia seria capaz de atribuir-lhe significado (SIQUEIRA; BARBOSA;
BOEMER, 2007). Nesse sentido o presente estudo investigou a percepção do paciente que foi
diagnosticado com câncer quanto à forma que essa comunicação lhe foi transmitida. Investigou
também, quais impactos tal notificação lhe provocam, já que apesar dos avanços na detecção
do diagnóstico de câncer, transmitir essa notícia ao paciente, ainda não é uma tarefa tão fácil.

2) METODOLOGIA

A pesquisa assumiu caráter exploratório, qualitativo, com delineamento de estudo de


campo. A coleta de dados se deu no período de abril a maio de 2014, com entrevista a dez
pacientes (amostra definida por conveniência) diagnosticados com câncer (independentemente
do tipo), com idades entre 22 a 86 anos, que se encontravam em tratamento no setor de

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oncologia de um hospital de Montes Claros – MG. O contato com os sujeitos da pesquisa


aconteceu mediante autorização do Hospital e consentimento dos participantes através da
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, após aprovação pelo CEP (parecer
número 580.929 com relatoria executada em 15/03/2014).
As entrevistas foram realizadas na própria Instituição em horários e dias convenientes a
rotina do Hospital. Uma das pesquisadoras conduziu a entrevista que foi também gravada,
enquanto que a outra anotava integralmente o discurso. Após a transcrição das gravações os
registros de áudio foram destruídos e os digitalizados foram arquivados. O roteiro da entrevista
foi composto por perguntas para a identificação do sujeito e dez perguntas norteadoras abertas.
Essas foram direcionadas a averiguação da percepção sobre a forma de comunicação do
diagnóstico de câncer e a forma sugerida pelo sujeito entrevistado como a que menos lhe
causasse impactos em sua vida.
Para o tratamento dos dados foi utilizada a análise do discurso, que segundo Caregnato
& Mutti (2006) investiga os sentidos determinados em diversas formas de produção, que podem
ser verbais e não verbais. Tais autores entendem que a corporalidade do discurso cria sentidos
para sua interpretação, assim, assumem que esse pode ser entrecruzado com séries textuais
(orais ou escritas). A fim de garantir o anonimato dos entrevistados, os mesmos foram
identificados pelas pesquisadoras com siglas.

3) RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos resultados indicou duas categorias de resultados a fim de responder aos
objetivos propostos pela pesquisa: a percepção do sujeito quanto ao comunicado do diagnóstico
e os impactos que tal notificação lhes provocou.

Categoria I – A percepção do sujeito quanto ao comunicado do diagnóstico

O paciente oncológico, e sua família, têm a expectativa de que o profissional da saúde


que irá comunicar o diagnóstico diminua o seu sofrimento e angústia, além de facilitar o
acolhimento, a segurança, o consolo, não os culpando pela situação em que se encontram
(BAZON; CAMPANELLI; BLASCOVI-ASSIS, 2004). As condutas de acolhimento por parte

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dos profissionais da saúde deveriam incluir: proporcionar informações a respeito do tratamento


que o paciente vai fazer; tirar dúvidas e incertezas, e favorecer espaço de escuta e expressão,
tanto para o paciente quanto para seus familiares, como medidas de promoção de saúde que
podem beneficiar os pacientes de câncer. “O esclarecimento a respeito das possibilidades
terapêuticas deve também envolver diálogo aberto entre o médico e o paciente” (GOMES;
SILVA; MOTA, 2009).
Nos discursos dos pacientes revela-se que os sujeitos se importam com a forma que o
profissional de saúde tem transmitido o diagnóstico. Demonstram também insatisfação frente a
falta de cuidado ao falar sobre o diagnóstico. Por isso no momento da revelação do mesmo o
paciente espera que o profissional da saúde demonstre sensibilidade diante do seu estado de
doença. Eles esperavam ser tratados como singulares e que se encontravam em estado de
fragilidade e que ao mesmo tempo precisavam ser fortes para iniciar o tratamento.

“Eu achei que a forma que ele falou foi grosseira...” (FL09).
“Eu queria que ele chegasse e falasse comigo aos poucos e não
chegasse já falando que era câncer” (FL09).
“Tem que chegar e conversar com a pessoa primeiro, não chegar assim
abertamente, tem que preparar a pessoa pra ouvir aquilo. Com uma
maneira mais suave de falar” (FL09).
“(...). Não é mandar ler o resultado não... O médico tem que falar,
'infelizmente não é o que a gente espera, não queria dar pra você, mas
infelizmente dei o diagnóstico e esse tem tratamento, você começa a
tratar e tudo', mas esse negócio de ficar enrolando a pessoa ali, isso
não adianta não...” (FL04).
“O médico tem que ser positivo ao falar” (FL10).

Categoria II – Os impactos consequentes à notificação:


Sub-Categoria A: Para o próprio sujeito

O momento da revelação do diagnóstico é sempre significativo para o doente que espera


que sua condição clínica não seja grave e que tudo se resolva logo. As lembranças desse

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momento são fortes e propiciam o desenvolvimento de ímpeto para a luta contra a doença, ou
de resignação. As pessoas que recebem diagnóstico de câncer podem passar por vários níveis
de estresse e angústia emocional (FERREIRA; CHICO; HAYASHI, 2005).
Na pesquisa foi possível compreender que o sentimento de angústia é comum no
momento da revelação do diagnóstico. Ressaltam a necessidade do apoio de um acompanhante
para conseguirem assimilar o comunicado.

Foi difícil, nesse momento eu queria que um carro me pegasse na rua”


(FL09).
“Eu no meu caso eu queria que falasse para o acompanhante, porque
é horrível, angustiante” (FL07).

Sub-Categoria B: Para os familiares

A família do paciente diagnosticado com câncer não fica imune aos temores e as
preocupações referentes a esta experiência. Abrir espaço para a família faz se necessário, uma
vez que também demanda apoio e acolhimento do seu sofrimento e, além disso, os pacientes
precisam do suporte familiar para enfrentar a doença e seu tratamento (CARVALHO, 2008).
Nos discursos dos sujeitos aparece a preocupação da família diante do diagnóstico de
câncer. Esse comunicado afeta não somente o sujeito acometido pela doença, mas também seus
familiares, ainda mais se estes não possuem a informação e o esclarecimento necessários para
auxiliar o membro familiar doente. Os entrevistados ressaltam a importância do acolhimento
do profissional da saúde tanto para eles quanto para seus familiares.

“Mudou que a falta de informação da minha família fez com que minha
mãe tivesse medo da doença ser contagiosa, não queria que eu comesse
na mesma vasilha que ela” (FL08).
“Ficaram tudo afobado, né? Quem é que fica bom, né? Ninguém fica
bom com uma notícia de uma doença dessa” (FL06).
“(...) Tem sido preocupante tanto pra mim quanto pra eles” (FL09).

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4) CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência de ter recebido o diagnóstico de câncer é ressaltada como uma vivência


repleta de sentimentos angustiantes. A percepção desse comunicado coloca em destaque a
necessidade da interação médico-paciente fundamentada no acolhimento, através de diálogo
aberto, claro e sensível.
A partir dos discursos investigados compreende-se que num momento de fragilidade
como esse, os sujeitos desejam ser atendidos de forma humanizada pelo médico. Eles entendem
que esse profissional, mais do que saber manejar sua prática clínica com sabedoria, precisa ter
a sensibilidade na hora de falar. O diálogo é visto além da transmissão de um comunicado, mas
como uma interação capaz de amenizar qualquer dor ou incerteza gerada nesse momento.
Todos os profissionais da saúde deveriam ser fundamentalmente humanizados e
assumirem a responsabilidade de ser sábios na formulação de seus diagnósticos e no contato
com pacientes. Deveriam levar em conta não apenas os dados biológicos, mas também os
ambientais, culturais, sociológicos, familiares, psicológicos e espirituais de cada situação
clínica (SILVA, 2008).
O papel do acompanhante é avaliado como sendo fundamental e de grande valia, pois o
apoio que este pode oferecer nesse momento pode contribuir com o sentimento de segurança,
tão necessário, para o enfrentamento da doença. Quando se trouxe a investigação questões
quanto ao impacto na família os sujeitos deixaram transparecer que a relação médico-paciente
é tão importante quanto à relação paciente-família. Alguns chegaram a mencionar que o médico
deveria comunicar o diagnóstico para o acompanhante primeiro, porque este poderia amenizar
o impacto.
Eles também mencionaram a importância da fé como ferramenta capaz de amenizar o
sofrimento e gerar força para a superação da enfermidade. A fé e o sentido de vida são recursos
existenciais para amenizar o sofrimento, as perdas e para ressignificar a vida com as
transformações angustiantes que ela traz. Através da espiritualidade as perspectivas para o
futuro são ampliadas e os sentimentos de impotência podem ser superados (VALLE, 2004).
Percebe-se então, que, comunicar para o sujeito o diagnóstico de câncer não é
simplesmente um ato rotineiro do profissional da saúde. Para o paciente é visto como um
momento singular em suas vidas, que embora não gostariam de estar passando por ele, precisa

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ser pensado com humanidade. Pode-se constatar através do estudo que há a necessidade do
profissional de saúde de aperfeiçoar a sua forma de comunicação, tornando-a mais adequada ao
momento e à demanda do sujeito como também de fornecer apoio à família para que juntos
contribuam significativamente nesse processo.
Não obstante se ter alcançado os objetivos do estudo, faz-se mister considerar que, a
partir dos dados coletados, alguns dos sujeitos consideraram o comunicado de seu diagnóstico
como adequado. Esses concordam que a forma como o diagnóstico foi apresentada é aquela
que deveria se dar. Esses não geram expectativas prévias e não se sentem desamparados frente
à comunicação de um diagnóstico de acometimento clínico grave.
Nesse sentido, reconhece-se no escopo desse trabalho a limitação do estudo, em função
do número de entrevistados. Um plano amostral de amostragem definido por saturação poderia
determinar, sobremaneira, diferenças nas percepções dos sujeitos. Ainda assim, tais limitações
não descaracterizam as conclusões observadas a partir dos dados apresentados. A humanização
no processo de comunicação tende a ampliar as possibilidades do trabalho clínico ao acolher
demandas distintas de sujeitos também diferentes entre si.

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16

A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER SOB A ÓTICA DOS


ACADÊMICOS DA PSICOLOGIA

Letícia Martins Silva Silva1


Thais Brito de Souza1
Leila Lúcia Gusmão de Abreu2
Leonardo Augusto Couto Finelli3

RESUMO

Este artigo trata-se de uma investigação sobre os conhecimentos que os acadêmicos do


curso de Psicologia possuem acerca da violência doméstica contra a mulher, uma vez que
no futuro possivelmente irão atuar em diversas instituições com o fenômeno da violência
doméstica. É importante o conhecimento que a comunidade acadêmica tem a respeito do
fenômeno, e sua interferência direta e negativa na saúde da mulher e da comunidade, pois
este conhecimento possibilita intervenções na tentativa de minimizar o sofrimento a que as
mulheres das diversas categorias estão expostas. Para tanto realizou-se uma pesquisa de
estudo de campo, de base quali/quanti, através da aplicação de questionários fechados e
estruturados, composto por 31 itens, sendo 8 de identificação e 23 itens relativos ao
conhecimento sobre o fenômeno de modo a categorizar o grupo amostral e aferir suas
percepções e conhecimento sobre o tema. Os resultados indicam que os 300 acadêmicos
respondentes em sua maioria possuem entre 18 a 25 anos. Quanto ao conhecimento sobre o
fenômeno, 40,3% alegam conhecê-lo, no entanto, muitos ainda desconhecem questões
acerca dos Programas de Reabilitação para agressores no Brasil. Verificou-se também que
38,6% baseiam suas respostas a partir de conhecimento do senso comum. Tais resultados
indicam que os acadêmicos demonstram insegurança para atuação futura com a temática.

Palavras-chave: Violência; Mulheres; Violência doméstica; Violência de gênero.

1
Psicólogas. Email para contato: thaisb39@hotmail.com
2
Mestre em psicologia, graduada em Psicologia Psicologia (Centro Universitário Newton Paiva), Professora
Assistente do Departamento de Psicologia das Faculdades Integradas do Norte de Minas – FUNORTE, E-mail:
leilagusmao@hotmail.com
3
Doutor em Ciências da Educação (UEP), Mestre em Psicologia (USF), graduado em Psicologia (UFMG),
graduado em Pedagogia (FETAC), Professor adjunto das Faculdades Integradas do Norte de Minas –
FUNORTE, E-mail: finellipsi@gmail.com

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17

ABSTRACT

This article is about an investigation upon what the Psychology Students know about the
domestic violence against women, since in the future they will work in several institutions
where domestic violence occurs. The knowledge about this phenomenon in the academic
world is important as it reflects direct and negatively in women’s health. This knowledge
allows interventions in attempts to reduce women's pain. A field research was realized, with
a quantitative and qualitative method, using closed and structured questionnaires, formed
by 31 items, in which 8 questions are about identification and 23 are about the domestic
violence, in order to categorize the sample group and check their knowledge and
perceptions about the theme. The results indicate that the 300 students who answered the
questionnaire are mostly between 18 and 25 years. Regarding about the knowledge of
domestic violence, 40,3% claim they know the theme, however, mostly don’t know the
rehabilitation programs to women abusers in Brazil. It was also noticed that 38,6% of the
academics based their answers from common sense knowledge. The results indicate that the
Psychology Students demonstrates insecurity to work with domestic violence.

Keywords: Violence; Women; Domestic violence; Gender violence.

1) INTRODUÇÃO

Este texto tem como objetivo apresentar uma análise quanti-quali da pesquisa: “A
violência doméstica contra a mulher sob a ótica dos acadêmicos da Psicologia”. A pesquisa
investigou os conhecimentos que os acadêmicos que estudam psicologia, possuem a respeito
do fenômeno. Assim, caracterizou-se o público alvo, em termos de idade, escolaridade, estado
civil e etc., em uma Instituição de Ensino Superior, na cidade de Montes Claros, região Norte
de Minas Gerais.
Serão definidos a posteriori os conceitos do fenômeno violência estabelecendo uma
interlocução com os diversos campos do saber, como a Filosofia, o Direito, a Sociologia e a
Psicologia, e posteriormente a análise dos dados na perspectiva da Teoria Filosófica.
Uma das razões pela qual a pesquisa foi realizada, parte do princípio de que é importante
o conhecimento que a comunidade acadêmica deve ter a respeito do fenômeno violência
doméstica, e sua interferência direta e negativamente na saúde da mulher e da comunidade. Este
conhecimento possibilita intervenções na tentativa de minimizar o sofrimento em que as
mulheres das diversas categorias estão expostas. Nesse sentido, esta questão fez-se relevante
investigar os acadêmicos do curso de psicologia porque possivelmente no futuro irão atuar com
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18

questões que envolvem este fenômeno.


Contudo os resultados aqui mostrados podem contribuir possivelmente em reflexões e
discussões acerca do fenômeno e na estruturação de atividades dentro desta instituição de
ensino superior para ampla divulgação a esse respeito.
Para iniciar a discussão a respeito da violência doméstica, é preciso enfatizar que
existem diversas definições da violência doméstica, dentre estas algumas sob a ótica dos
autores da Sociologia, Direito, Filosofia e Psicologia. Para ampliar a discussão,
posteriormente serão expostos autores e conceitos mais recentes para a compreensão a
respeito deste fenômeno.
Segundo Romagnoli, Abreu & Silveira (2013), o conceito de violência doméstica é
complexo e varia de acordo com a cultura, época e tem componentes econômicos e políticos
que atravessam e interferem na sua compreensão. Debert & Gregori (2008) traz uma visão
para compreender o fenômeno da seguinte forma, como tudo aquilo que envolve ou denota
danos e atitudes que são decorrentes de uma cultura machista, com vestígios do patriarcado.
Segundo Pacheco (2010), a violência contra a mulher ocorre devido à cultura patriarcal
onde os homens tem uma relação de poder gerado pelo machismo reproduzido tanto na
igreja, família, escola, na mídia, no espaço jurídico e na própria produção artística. Na
contemporaneidade, algumas linguagens populares, comunicação midiática, letras
musicais, piadas dentre outros, são exemplos de elementos culturais que inferiorizam a
mulher e podem fomentar a violência contra a mulher.
Existe um eixo da Filosofia da teoria de Austin (1990), que utiliza uma linguagem
denominada ordinária, sendo esta a linguagem do senso comum, utilizada no cotidiano das
pessoas, numa tentativa de explicar este fenômeno. Linguagem esta, grosseira e banal que são
encontradas em algumas melodias dos diversos gêneros musicais, como, sertanejas, funks, axés
e outras, que os jovens reproduzem diariamente, banalizando a figura feminina, ou seja, a
mulher.
O uso da linguagem do senso comum reflete opiniões massificadas socialmente, no
caso da violência contra a mulher é aquele discurso que banaliza a violência e ratifica
a antiga visão machista de que o homem manda e a mulher obedece se não quiser
apanhar (SILVA, 2012, p. 10).

A esse respeito Silva (2012), ressalta que a teoria dos Atos da Fala, faz análise da
linguagem do senso comum no que se refere à violência doméstica praticada contra o gênero

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feminino. O autor ainda se refere ao assunto dizendo que existe uma diversidade de
generalizações e afirmações acerca do fenômeno, reproduzidas através da fala no cotidiano,
como os ditados populares que banalizam e inferiorizam a mulher. Sendo comum escutar no
dia-a-dia de homens e mulheres em nossa sociedade que, “mulher de cafajeste gosta de
apanhar”, dentre tantos outros de caráter pejorativos e discriminatórios.
Para aprofundar a compreensão sobre o fenômeno violência doméstica, a partir da
perspectiva da Teoria filosófica da linguagem ordinária, desenvolvida por Austin (1990) ele
propõe um caminho para analisar as situações corriqueiras que envolvem o uso da linguagem
do senso comum para explicar uma determinada realidade.
Segundo Romagnoli, Abreu & Silveira (2013), é importante marcar que as agressões
são nomeadas como violência doméstica em função do laço afetivo existente ou não entre o
casal. Com as transformações ocorridas nesta era moderna um instrumento legal importante é
a Lei 11.340 denominada Maria da Penha, que consiste em inibir os atos violentos perpetrados
à mulher.
Nesse sentido, Botelho (2013) nos ensina que é necessário compreender a quem esta lei
pode ser aplicada, portanto, são situações em que existe ou existiu uma relação afetiva com a
mulher.

De acordo com a recente Lei 11.340, nomeada Maria da Penha, a violência doméstica
é conceituada como: Qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.
Esta Lei amplia a discussão e define os espaços onde este fenômeno acontece, tais
como: I- no âmbito da unidade doméstica [...] II- no âmbito da família [...] III- em
qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva com a ofendida,
independente de coabitação. No que se refere à Lei Maria da Penha, alguns autores
nos ajudam a elaborar uma maior compreensão de sua empregabilidade e em quais
situações ela poderá ser aplicada. Nos casos em que exista conflitos conjugais,
independente do agressor viver ou não com a mulher (BRASIL, 2006).

Romagnoli, Abreu & Silveira (2013), pontuam que: “independente de apresentar ou não
laços sanguíneos e do local na qual ocorra, a violência doméstica possui estatísticas alarmantes
[...] efetuada por seu marido ou parceiro, desvelando dimensões de desigualdades e constituindo
sério problema de saúde pública”.
Romagnoli, Abreu & Silveira (2013), mostram que os números das agressões contra as
mulheres são relevantes no Brasil e no mundo, entretanto, algumas mulheres vítimas sentem-
se constrangidas em realizar a denúncia, ou seja, o número de subnotificações é muito maior

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do que os dados estatísticos revelam. Isso compromete os dados estatísticos. É possível perceber
que tanto na região de Montes Claros Norte de Minas Gerais, quanto em diversos outros lugares
do País, os números são alarmantes, apesar da existência da subnotificação.
Segundo os mesmos autores, dizem a respeito à dificuldade de uma mulher em fazer a
denúncia, que envolve a exposição ao revelar as intimidades da vida conjugal, o que causa
constrangimento e mal-estar à mulher, já que nesses casos especificamente, existe uma profusão
de sentimentos que a deixa insegura, e por tudo isso então, a subnotificação se faz presente.
Segundo Romagnoli, Abreu & Silveira (2013), em pesquisas realizadas no contexto
Norte Mineiro em Montes Claros, percebe-se que as regiões de maior prevalência da violência
contra a mulher se localiza nos bairros da periferia de Montes Claros. Apesar desses dados não
indicarem a fidedignidade dos fatos, uma vez que a violência atravessa todas as camadas
sociais, e independe da condição econômica, cultural e étnica. Entretanto, as prevalências
nesses estudos são das camadas sociais baixas onde este fenômeno é recorrente.
O Ministério da Saúde, Brasil (2002), apresenta dados estatísticos acerca deste
fenômeno, e mostram altos índices de notificação, revelando um elevado número de homicídios
e lesões causadas por essa modalidade de violência, mudando o perfil da mortalidade de
mulheres nas últimas décadas.
Diante desta apresentação é possível perceber que estes autores tentam explicar o
fenômeno da violência doméstica contra a mulher, entretanto, pela complexidade que o
envolve, não existe um único fator indissociável, o que compromete sua conceituação.

2) MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo realizou-se através de pesquisa de campo estudo populacional na


perspectiva quanti-qualitativa. A população foi composta por acadêmicos do curso de
Psicologia do 1° ao 11° período do turno matutino e noturno de uma Instituição de Ensino
Superior, na cidade de Montes Claros, região Norte de Minas Gerais. O grupo amostral
convidado foi de ordem censitária, considerando todos os 452 alunos matriculados.
A coleta de dados foi realizada através de um questionário adaptado de Brasil (2014),
disponível no Apêndice, aplicado em salas de aula, onde previamente foi abordado o tema da
pesquisa, e apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta se realizou no

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período de três semanas no mês de outubro de 2015. O questionário é composto por 31 itens,
sendo 8 de identificação e 23 itens relativos ao conhecimento sobre o fenômeno violência
doméstica, conforme a Tabela 1, que são apresentados para marcação dicotômica com as
possibilidades de resposta 1 – concordo, ou 2 – discordo.

Tabela 1 - Tipos de questões


TIPO NÚMERO DA QUESTÃO
Violência Moral 1, 2
Violência Patrimonial 3
Violência sexual 4, 5, 10
Violência física 11
Percepções do senso comum sobre a Violência Doméstica 6, 9, 11, 14, 17, 19, 23
Conhecimento geral sobre o fenômeno 7, 8, 12, 13, 15, 16, 18, 22
Questões de ordem subjetiva 20, 21
Critério de validação de respostas 7, 8, 12, 13, 20, 21

Fonte: Silva et al. (2020)

Para análise dos dados foi utilizada a Teoria dos Atos da Fala desenvolvida por Austin
(1990), e para a tabulação e apresentação dos dados estatísticos foi utilizado o Microsoft Excel.

3) RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando os 452 alunos matriculados no curso de psicologia no segundo semestre


de 2015, 300 destes acadêmicos consentiram em participar, respondendo ao instrumento desta
pesquisa. Esses dados estão sumarizados na Tabela 2, abaixo. Considerando a variável sexo,
82,6% são do sexo feminino, 17,0% são do gênero masculino, e 0,3% deixaram em branco.
De acordo com a tabela abaixo, houve uma predominância dos acadêmicos do sexo
feminino 82,6%, jovens com idades de até 25 anos 76,0%, com escolaridade ensino superior
incompleto 89,0% e o estado civil de maior abrangência é dos solteiros 82,6%.

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1

Tabela 2 – Identificação dos Participantes


Variáveis N° %
Sexo
Masculino 51 17,0
Feminino 248 82,6
Idade
Até 25 anos 229 76,0
26-35 40 13,0
36-45 16 5,3
46 anos acima 6 2,0
Estado Civil
Solteiro(a)s) 248 82,6
Casado(a)s 34 11,3
Divorciado(a)s 9 3,0
União Estável 9 3,0
Viúvo(a) 0 0,0
Escolaridade
Superior Incompleto 267 89,0
Superior Completo 25 8,3
Pós Graduação 1 0,3
Mestrado 1 0,3
Doutorado 0 0,0

Fonte: Silva et al. (2020)

Abaixo (Tabela 3) se observa os períodos do curso de psicologia e também os turnos


que participaram respondendo às questões desta pesquisa, bem como o número de acadêmicos
entrevistados relativo a cada um destes. A pretensão deste estudo era a de que sua abrangência
fosse ampliada no sentido de abarcar um número mais significativo de entrevistados, entretanto,
encontramos algumas resistências, tanto dos entrevistados quanto dos docentes. Estes não
cederam um período do tempo das aulas para que fossem aplicados os questionários. Neste
sentido constatou-se vários impasses, comprometendo os resultados.

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2

Tabela 3- Variáveis
Variáveis N° %
Períodos
1° 27 9,0
2° 48 16,0
3° 23 7,6
4° 27 9,0
5° 60 20,0
6° 23 7,6
7° 36 12,0
8° 11 3,6
9° 16 5,3
10° 22 7,3
11° 5 1,6
Não responderam 2 0,6
Turno
Matutino 116 38,6
Noturno 178 59,3
Não responderam 5 1,6

Fonte: Silva et al. (2020).

Os resultados evidenciaram que 56,0% dos acadêmicos não tiveram disciplinas ou


práticas relacionadas ao conteúdo e 40,3% tiveram disciplinas. Essas foram elencadas e
verificou-se a seguinte listagem: psicologia social, jurídica, comunitária, antropologia e
sociologia, gênero, ética, relações interpessoais e psicologia na assistência social.
Ao comparar os períodos iniciais e finais a respeito da compreensão destes sobre o
fenômeno da violência doméstica, pôde-se perceber que os acadêmicos dos períodos iniciais do
curso, possuem conhecimentos sobre este fenômeno tanto quanto os acadêmicos dos períodos
finais. No entanto, uma pequena parcela ainda se baseia em conhecimentos do senso comum,
talvez pelo fato de muitos apontarem que não tiveram disciplinas e/ou discussões teórico-
práticas relacionadas à temática na academia, o que se pode perceber nos gráficos a posteriori.
A questão abaixo de nº 01 se refere à violência moral. Conforme a Lei 11.340 (2006)
este tipo de violência é caracterizado como “qualquer conduta que configure calúnia, difamação
ou injúria”.
Os dados apresentados mostram que, 16,6% dos acadêmicos discordam que esta
afirmativa seja considerada violência e 81,6% dos acadêmicos concordam, o que demostra que
mais da metade dos acadêmicos entrevistados reconhecem que as calúnias fazem parte da
violência doméstica contra o gênero feminino.

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3

Questão 1
É violência sair inventando mentiras sobre…
0,816

0,166 0,0166

Concordo Discordo Branco

Figura 1 - gráfico da questão 1.


Fonte: Silva et al. (2020)

A questão de número 5 é uma afirmativa que se trata da violência sexual. Segundo a Lei
11.340 nomeada Maria da Penha (2006) “configura-se em qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, e que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade”.
Diante disso, percebe-se que 4,3% dos acadêmicos concordam que mulheres merecem
ser vitimas de agressores devido a suas vestimentas, colocando-a como a responsável pela
agressão sofrida. No entanto, 95,3% discordam com esta afirmativa.
Dizer que a mulher provocou o homem com roupas curtas, segundo Silva (2012), é um
discurso advindo do senso comum, nesse sentido no que se refere à violência doméstica pode-
se dizer que muitas opiniões do senso comum são oriundas na sociedade, e muitas pessoas
trocam informações e acabam divulgando opiniões que vão se tornando cristalizadas no
contexto social, o que apresenta um problema a ser discutido.

Questão 5
As mulheres que usam roupas curtas, e que
expõe o corpo merecem sim ser atacadas,…
0,9533
0,0433 0,0033

Concordo Discordo Brancos

Figura 2 – gráfico da questão 5.


Fonte: Silva et al. (2020)

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4

A questão de número 7 e 8 referem-se a programas de reeducação para agressores no


Brasil e deveriam apresentar respostas antagônicas. No entanto, 28,0% dos acadêmicos
marcaram como convergentes. O que possivelmente demonstra desconhecimento por parte
destes acadêmicos ou respostas produzidas aleatoriamente.
O fato de muitos demonstrarem desconhecimentos, pode ter ocorrido devido à maioria
dos estudos e programas serem voltados para as vítimas da agressão, e por porque pouco se tem
programas de prevenção e reabilitação no Brasil e também por não haverem discussões
frequentes sobre este público.
Cabe ressaltar que segundo Lima, Buchele & Clímaco (2008), no Brasil existem
programas de reabilitação para os agressores. E de acordo com o artigo 35 da Lei Maria da
Penha, a esfera municipal, estadual ou federal podem criar programas de reeducação para este
público, com o objetivo de responsabilizar o agressor pelo ato cometido, discutir as relações de
poder entre os gêneros na cultura Brasileira, diminuir e/ou erradicar a violência de homens
contra mulheres e etc.

Questão 7
No Brasil não existem Programas de…
0,793
0,573

0,03

Concordo Discordo Brancos

Figura 3 – gráfico com respostas da questão 7


Fonte: Silva et al. (2020)

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5

Questão 8
Existem Programas no Brasil para lidar com
agressores, tendo como um dos objetivos,…
0,62
0,346
0,0333

Concordo Discordo Brancos


Figura 4 – gráfico com respostas da questão 8.
Fonte: Silva et al. (2020)

Os itens de número 12 e 13 correspondem à violência doméstica contra a mulher nas


classes sociais, culturais e étnicas, sendo afirmativas antagônicas. Ao analisar estas questões
verificou-se que 115/300 acadêmicos, o que equivale a 38,3% dos participantes marcaram estas
questões como convergentes, o que possivelmente, indica falta de atenção ou respostas
aleatórias ao responder ao questionário.

Questão 12
A violência doméstica só acontece em…
0,98
0,0133 0,006

Concordo Discordo Brancos

Figura 5 – gráfico com respostas da questão 12


Fonte: Silva et al. (2020)

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6

Questão 13
A violência é o fenômeno mais democrático que existe, não fazendo
distinções de classe econômica, raça ou cultura.

0,586
0,366

0,016

Concordo Discordo Brancos

Figura 6 – gráfico com respostas da questão 13


Fonte: Silva et al. (2020)

Ao comparar as respostas dos gêneros nota-se, que 28,6% concordam com a afirmativa
de que “os homens não sabem controlar suas emoções”, dentre estes 23,0% são homens e 29,0%
mulheres. Fazendo-se esta afirmativa como uma das inúmeras justificativas da violência
doméstica contra a mulher, percebida principalmente em falas de acadêmicos tanto do sexo
masculino, quanto feminino, durante a realização da pesquisa em salas de aula.

Questão 14
Os homens não sabem controlar suas
emoções.
0,706
0,286
0,006

Concordo Discordo Branco

Figura 7 – gráfico com respostas da questão 14


Fonte: Fonte: Silva et al. (2020)

A questão 17 é baseada em frases do senso comum, isto é, reproduzidas no cotidiano.


Ao comparar as questões da pesquisa, fica evidente uma diferença de pensamentos entre
solteiros e casados. Dentre os 6,0% de 300 acadêmicos que responderam ao questionário, uma
parcela concorda que “mulher que não denuncia o marido/companheiro é por que no fundo

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gosta mesmo é de apanhar”, 14,0% destes são casados e 4,0% são solteiros. No entanto, a
afirmativa é falsa por diversas razões, como menciona Romagnoli, Abreu & Silveira (2013)
existem inúmeros fatores que fazem com que a mulher não realize a denúncia contra o marido,
entre eles estão à dependência emocional e financeira, uma diversidade de sentimentos como
medo, constrangimento ao expor a relação conjugal e etc.
Cabe ressaltar que para Austin (1990), o que perpetua a violência contra o gênero
feminino é justamente as falas advindas do senso comum, onde a violência é vista como algo
natural. São reproduzidas falas sem fundamentos e o senso comum, não se preocupa de onde
foi culminado o argumento, e sim com o conhecimento que foi difundido na sociedade, o que
é diferente na ciência.

Questão 17
Mulher que não denuncia o marido/companheiro é por que no fundo
gosta mesmo é de apanhar.
0,9366

0,06 0,0033

Concordo Discordo Brancos

Figura 8 – gráfico com respostas da questão 17


Fonte: Silva et al. (2020)

Na questão 18 notou-se que 64,0% dos acadêmicos concordam que “a mulher no


Brasil não é tratada com respeito, pois ainda há predomínio da cultura patriarcal e machista”,
entretanto, 35,0% discordam desta afirmativa.
Como se refere Dias (2012), a sociedade brasileira acabou naturalizando a violência
doméstica contra a mulher através de ditados populares, que banalizam o gênero feminino, por
trás de brincadeiras que escondem uma conveniência deste tipo de violência. Como: “mulher
gosta de apanhar”, “um tapinha não dói”, “ele pode não saber por que bate, mas ela sabe por
que apanha”, entre uma diversidade de ditados provenientes de uma cultura machista com
vestígios do patriarcado, tratando de uma ideia enganosa.

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8

Questão 18
A mulher no Brasil não é tratada com respeito, pois ainda há
predomínio da cultura patriarcal e machista.

0,64
0,35
0,01

Concordo Discordo Brancos

Figura 9 – gráfico com respostas da questão 18


Fonte: Silva et al. (2020)

Os itens de número 20 e 21 correspondem a questões que remetem aos conhecimentos


que estes acadêmicos possuem, com relação às suas atuações futuras enquanto profissionais e
em situações cotidianas que envolvem este fenômeno, ou seja, a violência doméstica.
A questão 20 mostra que 58,0% das pessoas discordam desta afirmativa, o que pode
demonstrar insegurança para atuar futuramente com vítimas da violência e agressores. Isso pode
se dar pelo fato de que 56,0% dos acadêmicos não tiverem disciplinas ou práticas relacionadas
ao conteúdo. Entretanto, 40,3% dos acadêmicos concordam que conhecem o fenômeno e saberá
desempenhar suas funções profissionais futuramente, isso equivale exatamente a 40,3%
daqueles que marcaram que tiveram disciplinas e estágios. O que pode indicar que aqueles que
obtiveram conhecimentos teórico-práticos sentem mais segurança para atuar com a temática.

Questão 20
Eu acho que eu conheço o suficiente sobre os
problemas relacionados à violência…
0,58
0,403

0,017

Concordo Discordo Brancos

Figura 10 – gráfico com resposta da questão 20


Fonte: Silva et al. (2020)

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9

Em algumas questões específicas, notou-se que os sujeitos apresentam baixo nível de


habilidades de leitura e/ou baixo nível de atenção, ou pouca dedicação ao responder o
questionário, uma vez que não compreenderam as perguntas e fizeram respostas convergentes.
Isso pode ter comprometido parte dos resultados da pesquisa, já que as respostas de alguns dos
questionários apresentavam dados incongruentes. Isso porque foi desenvolvido, pelos
pesquisadores, um critério de validação de respostas, os itens (7 e 8, assim como os itens 12 e
13, 20 e 21) que são antagônicos devem apresentar respostas diferentes. No entanto, muitos
questionários apresentavam um ou ambos os critérios de validação do protocolo, como
respostas convergentes, o que demonstra desconhecimento a respeito, falta de atenção ou
interesse do acadêmico, e/ou respostas produzidas aleatoriamente comprometendo os
resultados.
Diante a Teoria dos Atos da Fala de Austin (1990), foi possível descrever a realidade de
um determinado contexto, aqui no caso, a realidade de uma comunidade acadêmica. A pesquisa
mostra que apesar de muitos acadêmicos conhecerem o fenômeno, ainda há aqueles que têm
percepções pautadas no senso comum, como foi percebido em falas durante a realização da
pesquisa pelos pesquisadores e na porcentagem de concordo das afirmativas que foram
embasadas na linguagem do senso comum (Tabela 1), como os ditados populares que ratificam
a violência contra a mulher.
Os resultados mostram que, com relação aos ditados populares que foram colocados no
questionário da pesquisa, no geral 38,6% baseiam-se suas respostas a partir de conhecimento
do senso comum, sejam eles homens e mulheres, pessoas de diferentes idades e períodos,
solteiros ou casados, concordaram com afirmativas do tipo, o que remete que as percepções do
senso comum não foram especificas em apenas um público.
Nesse sentido Silva (2012) ressalta que ao fazer uma análise da linguagem do senso
comum no que se refere à violência doméstica contra o gênero feminino pode se encontrar uma
diversidade de generalizações e afirmações acerca do fenômeno, reproduzidas através da fala
sem fundamentos no cotidiano, como os ditados populares que banalizam e inferiorizam a
mulher, dentre tantos outros de caráter pejorativos e discriminatórios.
Ao realizar a análise qualitativa da pesquisa foram observados posicionamentos dos
acadêmicos, tanto do sexo masculino, quanto feminino, que foram surpreendentes. Alguns
destes acadêmicos mesmo tendo disciplinas que envolvem o fenômeno, demostraram

REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


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desconhecimentos sobre a temática no que envolve diversas questões especificas. Notou-se


também a visibilidade dos conhecimentos advindos do senso comum mencionados
anteriormente na própria análise quantitativa e pelas falas ditas durante a execução do
questionário.
Percebeu-se que uma parcela não considerou o olhar científico sobre a violência contra
a mulher, se embasando através dos conhecimentos e percepções das doutrinas religiosas em
que seguem. Foi possível observar durante a aplicação do questionário, discussões sobre a
temática e muitos demonstraram diante de algumas das afirmativas possuírem preconceitos no
que se referem às desigualdades entre as relações de gêneros na sociedade.

4) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Recorreremos à filosofia da linguagem ordinária, isto é, a teoria que analisa o uso da


linguagem do senso comum para descrever uma determinada realidade e a partir da finalização
dos questionários com os acadêmicos do curso de Psicologia, percebeu-se que o nível de
conhecimento sobre o fenômeno da violência doméstica contra a mulher de uma pequena parte
dos entrevistados se embasam no senso comum, o que pode indicar que o fato ocorreu devido
a 56,0% dos acadêmicos não ter cursado alguma disciplina ou ter discussões praticas sobre a
temática para tal conhecimento.
Notou-se também que os acadêmicos do curso apresentaram posicionamentos
surpreendes, tais como: desconhecimento sobre pontos específicos da temática, no que se diz
respeito a programas de agressores no Brasil, no que concernem as futuras atuações com as
vítimas de violência doméstica, agressores e familiares, preconceito percebido em algumas
falas diante das afirmativas do questionário e resistências no que se refere a dispêndio de tempo
para responder ao questionário e/ou falta de interesse.
Por se tratar de uma comunidade acadêmica, diante dos resultados apresentados
percebe-se a necessidade de promover discussões acerca do posicionamento destes acadêmicos
sobre a temática, uma vez que no futuro possivelmente irão atuar com este fenômeno.
É importante destacar também que a pesquisa alcançou parcialmente seus resultados, o
que abre espaço para novas pesquisas sobre a violência doméstica com este público. No entanto,
a pesquisa por si só promoveu reflexões nos acadêmicos da psicologia, o que gerou discussões

REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


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em salas de aula no momento da aplicação dos questionários, atingido um dos benefícios


propostos por esta pesquisa.
Desse modo, é importante criar estratégias para que os futuros profissionais psicólogos
sintam segurança teórico-prática para saber lidar com o fenômeno nas diversas instituições,
como os CRAS, CREAS, Delegacias Especializadas da Mulher, Defensorias Especializadas em
Atendimento à Mulher, dentre outras, já que o fenômeno é considerado um problema grave de
saúde social e pública, para que possam assim criar formas de enfrentamento da violência
doméstica contra a mulher.

REFERÊNCIAS

AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer: palavras e ações. Trad. de Danilo Marcondes de Souza
Filho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

BOTELHO, R. C. A Lei Maria da Penha: O discurso jurídico de responsabilização dos crimes


e a efetividade da norma legal. Brasília, 2013.

BRASIL. Ministério da Saúde Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar:


Orientações para a prática em serviço. Brasília/DF, 2002.

BRASIL. Lei Maria da Penha: Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

BRASIL. O Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS). Governo Federal - IPEA,


2014.

DEBERT, G. G.; GREGORI, M. F. Violência e Gênero Novas Propostas, Velhos Dilemas.


Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 23, n. 66, 2008.

DIAS, M. B. A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à


violência doméstica e familiar contra a mulher. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 3,
2012.
LIMA, D. C.; BUCHELE, F.; CLÍMACO, D. A. Homens, gênero e violência contra a mulher.
Saúde e Sociedade, v. 17, n. 2, abr./jun. 2008.

ROMAGNOLI, R. C.; ABREU, L. L. G; SILVEIRA, M. F. A violência contra a mulher em


Montes Claros: Análise estatística. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, v. 6, n.
2, jul/dez. 2013.

SILVA, H. M. C. D. O Discurso do senso comum sobre Violência Doméstica à luz da Filosofia


da Linguagem. Cadernos Imbondeiro, João Pessoa, v. 2, 2012.

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PACHECO; L. F. Violência doméstica contra a mulher. Universidade Regional Do Noroeste


Do Estado Do Rio Grande Do Sul (UNIJUÍ), Ijuí – RS, 2015.

APÊNDICE

QUESTIONÁRIO DA PESQUISA

INFORMAÇÕES GERAIS
Favor marcar com um X somente em uma única resposta que melhor se apresente para você.

1- Sexo: Feminino ( ) Masculino ( )

2- Faixa de Idade: Até 25 anos ( ) De 26 a 35 anos ( ) De 36 a 45 anos ( ) De 46 acima ( )

3-Estado Civil: Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) Divorciado(a) ( ) União Estável ( ) Viúva(o)


( )

4-Escolaridade: Ensino Superior Incompleto ( ) Ensino Superior ( ) Pós Graduação


( ) Mestrado ( )
Doutorado ( )

5-Período: 1° ( ) 2° ( ) 3° ( ) 4° ( ) 5° ( ) 6° ( ) 7° ( ) 8° ( ) 9° ( ) 10° ( ) 11° ( )

6-Turma:____________________
7-Turno: Matutino ( ) Noturno ( )

8- Você já teve alguma disciplina que se refere ao conteúdo desta pesquisa:


Sim ( ) Não ( )
8.1 Qual?________________________
8.2 Em qual período: ____________________________________

Favor responder a este questionário considerando sua percepção ou opinião quanto às


afirmativas, marcando um X ao número que corresponda ao seu grau de
concordância .
Concordo

Discordo

1 - É violência sair inventando mentiras sobre uma mulher para os outros! 1 2

2 - Um marido e / ou um namorado pode fazer calúnias e gritar com a sua esposa /


1 2
companheira / namorada.

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3 - Dá para entender que um homem quebre ou destrua as coisas da sua mulher se ficou
1 2
nervoso.

4 - Os estupros só acontecem por que as mulheres não sabem se comportar, pois se


1 2
soubessem, haveria menos estupros!

5 - As mulheres que usam roupas curtas, e que expõe o corpo merecem sim ser atacadas,
1 2
afinal estão pedindo para que ocorra isso!

6 - Os casos de violência dentro da própria casa devem ser discutidos somente entre os
1 2
membros da família, afinal, briga de marido e mulher ninguém mete a colher!

7 - No Brasil não existem Programas de reeducação para os agressores. 1 2

8 - Existem Programas no Brasil para lidar com agressores, tendo como um dos objetivos,
1 2
discutir as relações de poder e gênero em nossa sociedade.

9 - A questão da violência contra as mulheres recebe mais importância do que merece! 1 2

10 - Quando uma mulher não quer fazer sexo com seu marido, ele pode forçá-la, e fazer sem
o seu consentimento, e esta situação não pode ser caracterizada como um tipo de 1 2
violência, afinal a mulher é propriedade do marido.

11 - O homem pode bater em sua mulher se ela o traiu ou o desobedeceu! 1 2

12 - A violência doméstica só acontece em famílias de baixa renda. 1 2

13 - A violência é o fenômeno mais democrático que existe, não fazendo distinções de classe
1 2
econômica, raça ou cultura.

14 - Os homens não sabem controlar suas emoções. 1 2

15 - Em algum período da vida, qualquer mulher pode ser vítima da violência doméstica. 1 2

16 - Todos os casos de violência são denunciados. 1 2

17 - Mulher que não denuncia o marido/companheiro é por que no fundo gosta mesmo é de
1 2
apanhar!

18 - A mulher no Brasil não é tratada com respeito, pois ainda há predomínio da cultura
1 2
patriarcal e machista.

19 - A mulher para ser feliz no casamento deve ser submissa ao homem. 1 2

20 - Eu acho que eu conheço o suficiente sobre os problemas relacionados à violência


doméstica e no futuro saberei desempenhar meu papel ao lidar com as vitimas e 1 2
agressores.

21 - Eu acho que não tenho muito a oferecer aos pacientes vítimas da violência doméstica. 1 2

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22 - Vítimas de violência doméstica não podem ser ajudadas antes de sofrerem agressões
1 2
claras, ou seja, visíveis.

23 - A mulher que apanha em casa deve ficar quieta, pois se contar para os outros vai
1 2
prejudicar a sua família e os filhos.

Fonte: Adaptado de BRASIL (2014).

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INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE


ESTÁGIO COM UM GRUPO DE IDOSAS

Aline Ferreira da Silva 1


Leila Aparecida Silveira2
Woochiton Ramos Lopes Pereira3

RESUMO

A alfabetização de idosos não busca somente ensinar a "ler e a escrever”, mas criar
possibilidades para que o indivíduo ou o grupo possa exercer a leitura e a escrita de maneira
a se inserir de modo mais pleno e participativo na sociedade. A Psicologia permite uma
educação libertadora que desenvolve as competências necessárias ao enfrentamento dos
desafios do envelhecimento e fortalece a coragem de romper para compor o novo, apesar
das limitações psicológicas, físicas e neurológicas. O objetivo do estágio supervisionado
básico em Intervenções Psicossociais foi promover atividades que estimulassem a cognição,
interação, autoconhecimento e aprendizagem com um grupo de 28 idosas em processo de
alfabetização na associação de moradores do bairro Jardim Brasil em Montes Claros –
Minas Gerais foram realizados 10 encontros quinzenalmente no período de fevereiro a
junho de 2018, pelos acadêmicos do 7º período do curso de Psicologia das Faculdades
Integradas do Norte de Minas (Funorte). Foram usados como instrumentos técnicos-
metodológicos duas técnicas com trabalho de grupos: A oficina psicossocial de Lucia
Afonso e grupo operativo de Pichon-Rivière. O método consistiu técnicas que
proporcionaram a autorreflexão e o autoconhecimento para possibilitar a tomada de
consciência das mesmas. Como resultado, houve melhora nas habilidades cognitivas,
ajudando assim no processo de alfabetização, nas relações entre os membros do grupo,
conclui se que a velhice é mais uma etapa de crescimento pessoal, e que é fundamental
desfrutá-la com autonomia e dignidade.

Palavras-chave: Velhice; Educação; Psicologia.

1
Psicóloga (FUNORTE).
2
Mestre em Psicologia Social. Psicóloga e orientadora do estágio nas Faculdades Integradas do Norte de Minas -
FUNORTE, Montes Claros – MG
3
Diretor de Comunicação da Liga de Psicologia Social-LAPS. Membro das Comissões de Psicologia e Relações
étnico-raciais e Psicologia, Diversidade e Gênero Sexual - CRP. Psicólogo (FUNORTE). E-mail:
<contatowoochiton@gmail.com>
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ABSTRACT

Literacy to people of old age does not only seek to teach "reading and writing", but also to
create possibilities for the individual or group to exercise reading and writing in a more
fully and participatory way in society. Psychology allows a liberating education that
develops the skills needed to meet the challenges of aging and strengthens the courage to
break into the new despite psychological, physical and neurological limitations. The
purpose of the basic supervised internship in Psychosocial Interventions was to promote
activities that stimulate cognition. , interaction, self-knowledge and learning with a group
of 28 elderly women in literacy process at the Jardim Brasil neighborhood residents'
association in Montes Claros - Minas Gerais, Brazil. Ten meetings were held fortnightly
from February to June 2018, by the students of the 7th Psychology course of the Faculdades
Integradas do Norte de Minas (Funorte). Two technical group work techniques were used
as technical-methodological instruments: Lucia Afonso's psychosocial workshop and
Pichon-Rivière operative group. The method consisted of techniques that provided self-
reflection and self-knowledge to enable their awareness. As a result, there was an
improvement in cognitive skills, thus helping in the process of literacy, in the relations
between group members, it is concluded that old age is another stage of personal growth,
and that it is essential to enjoy it with autonomy and dignity.

Keywords: Old Age; Education; Psychology.

1) INTRODUÇÃO

A partir dos 65 anos se inicia a entrada tradicional para a terceira idade, a última fase
da vida. Entretanto, muitos indivíduos nessa faixa etária não se sentem e nem agem como
idosos. E com o fim da aposentadoria obrigatória, tampouco deixam de trabalhar. Muitos
idosos desfrutam de boa saúde física e mental. Embora algumas habilidades possam
diminuir, as pessoas física e intelectualmente ativas podem manter-se muito bem na maioria
dos aspectos e até mesmo melhorar sua competência. O funcionamento físico e cognitivo
tem efeitos psicossociais, muitas vezes determinando o estado emocional do idoso e a
capacidade de viver de maneira independente (PAPALAIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
Este trabalho é um relato de experiência do “Estágio Supervisionado Básico III –
Intervenções Psicossociais”, com um grupo de 28 idosas em processo de alfabetização na
associação de moradores do bairro Jardim Brasil em Montes Claros – Minas Gerais, foram
realizados 10 encontros quinzenalmente no período de fevereiro a junho de 2018, pelos

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acadêmicos do 7º período do curso de Psicologia das Faculdades Integradas do Norte de


Minas (Funorte) sob a supervisão da professora Leila Silveira. Foram realizadas
intervenções em relação às questões emocionais e psicológicas do grupo, visto que a partir
da identificação das demandas foi trabalhado em cada encontro temas com atividades
envolvendo memória e percepção das quais viabilizava a interação, o autoconhecimento, a
autoestima no intuito de contribuir no processo de alfabetização que era o objetivo do grupo.
A alfabetização de idosos não busca somente ensinar “a ler e a escrever”, mas criar
possibilidades para que o indivíduo ou o grupo possa exercer a leitura e a escrita de maneira
a se inserir de modo mais pleno e participativo na sociedade. Alfabetizar pessoas da terceira
idade significa devolver a oportunidade de um reencontro ou encontro dessa população com
os infinitos conhecimentos que o prazer do saber ler e escrever proporciona ao ser humano
(SOUZA, 1999).
A Psicologia permite uma educação libertadora que desenvolve as competências
necessárias ao enfrentamento dos desafios do envelhecimento e fortalece a coragem de
romper para compor o novo. Diante das limitações psicológicas, físicas e neurológicas pelas
quais passam a pessoa idosa, é importante uma melhor compreensão de seu ritmo,
habilidades cognitivas e fragilidades características deste estágio do desenvolvimento
humano, para que assim, possam ser realizadas intervenções diretivas, tornando a pessoa
idosa integrada dentro do processo de aprendizagem, não apenas no ambiente escolar, como
também em diferentes contextualizações socioculturais (RABELO, 2010).
Segundo Papalia (2010), as atividades que envolvem a percepção e memória na
terceira idade são necessárias, uma vez que nessa fase há um comprometimento intelectual.
Com isso o objetivo da intervenção foi promover atividades que estimulassem a cognição,
interação, autoconhecimento e aprendizagem do grupo.

2) DESENVOLVIMENTO

O primeiro passo foi pensar em que contexto se pretendia propor uma intervenção
com grupo de idosos. As demandas exigidas bem como as características de saúde física e
mental dos idosos que iríamos trabalhar. Segundo Cahioni & Neri (2004), os motivos dos
idosos para participarem de programas para a terceira idade incluem a busca de

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conhecimentos e de atualização cultural, a busca de oportunidades para o


autodesenvolvimento e autoconhecimento, a busca de contato social, a ocupação do tempo
livre e o compromisso com a geratividade.
Nessa perspectiva foi feita uma análise do contexto em que se encontrava o grupo
de idosos que iria ser acompanhado durante o estágio. Participaram do estágio
voluntariamente 28 idosas, com idades entre 60 a 80 anos. Foram realizados 10 encontros
que aconteceram quinzenalmente no período de fevereiro a junho de 2018, às segundas
feiras, no início da tarde, com duração de três horas no prédio da associação de moradores
do bairro Jardim Brasil, onde habitualmente o grupo realiza suas reuniões.
No primeiro encontro um grande círculo foi feito com as idosas, as facilitadoras e a
supervisora e orientadora do estágio, a fim de compreender o contexto do grupo e as
demandas iniciais, foi pedido para que todas se apresentassem e relatassem o motivo que
levou a criação do grupo e o motivo individual de estar participando dos encontros, a
professora relatou que o grupo foi criado através da procura das idosas para aprendem a ler
e escrever, ou seja, a alfabetização, mas que estava tendo problemas com o engajamento do
grupo devido ao baixo resultado nas atividades. Durante as apresentações e colocações foi
perceptível às dificuldades na interação do grupo que refletia de forma negativa no processo
de ensino aprendizagem. O grupo que foi realizado o estágio não apresentavam problemas
mentais mas tinham a mobilidade reduzida devido à idade, apresentaram como objetivo a
alfabetização e inserção social na sociedade.
Dessa forma como as demandas apresentados na análise do contexto grupal foram
o processo de alfabetização e a interação entre o grupo, foram utilizadas dinâmicas para
facilitar o processo de ensino aprendizagem e interações. A aprendizagem no ambiente
grupal se dá não apenas pelo desenvolvimento do raciocínio, mas também através da
emoção, vontade, intuição, pelo simbólico e pelo afeto. As dinâmicas de grupo reconhecem
a importância do lúdico e do prazer como parte do processo educativo, justificando o seu
frequente uso pela psicologia (GONÇALVES; PERPÉTUO, 2005).
No segundo encontro foi trabalhado o tema de carnaval, com o objetivo de
confeccionar cartazes e mascaras para ornamentar a sala onde elas realizavam os encontros.
Os materiais utilizados foram: cartolinas, colas, papel E.V.A., tesouras e tintas. Foi divido
dois grupos de 14 pessoas e cada um deveria confeccionar um cartaz criativo sobre o que o

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carnaval representava. Com essa atividade foi possível trabalhar a interação do grupo como
também as funções motoras fina e grossa. Todas realizaram a atividade sem apresentar
problemas.
No terceiro encontro foi trabalhado o tema “revendo os papéis” com o objetivo de
conhecer de modo mais aprofundado os integrantes e suas expectativas em relação ao grupo.
Cada participante deveria apresentar-se aos integrantes do grupo mencionando o que
considerava relevante. Foi feita uma dinâmica e os materiais utilizados foram: bexigas
coloridas e pinceis. As bexigas foram cheias de diferentes cores e colocadas à disposição
dos participantes. Foi solicitado a eles que escolhessem uma delas pelo critério da cor, então
cada um deveria explicar a escolha. Por fim foi pedido que cada um desenhasse na bexiga
um rosto expressando o que estavam sentindo naquele momento e que explicassem sua
representação associada à sua vida atualmente. Foi muito produtivo, pois eles
compartilharam experiências que contribuíram para a empatia do grupo.
No quarto encontro foi trabalho o tema “O dia Internacional da mulher”, pois
coincidiu na data comemorativa. O objetivo foi apresentar a importância do dia da mulher
e trabalhar a autoestima do grupo. A comemoração do Dia Internacional da Mulher, além
do caráter festivo, levanta questões sociais importantes. Foi um momento para discutir
pontos relevantes, como a importância da mulher na sociedade, conquista de espaço no
mercado de trabalho, bem como momentos marcantes da história que foram protagonizados
por figuras femininas. Os materiais utilizados foram cartolinas, revistas, tesouras e colas.
Foi solicitado que elas fizessem colagens e frases da importância da mulher e montassem
cartazes para serem apresentados. Elas confeccionaram e foi muito produtivo, pois muitas
relataram não saber o motivo da comemoração.
No quinto encontro foi trabalho o tema “A importância da matemática em nossas
vidas”, pois a professora apresentou a demanda que o grupo tinha uma dificuldade com as
aulas de matemática, dessa forma o tema trabalhado teve o objetivo de mostrar a
importância dos números com a utilização de atividades de resolução de problemas
matemáticos e jogos de fichas, os quais proporcionaram uma reflexão sobre a relevância da
utilização dos números no dia a dia.
No sexto encontro foi trabalhado tema “Alimentação e vida saudável” com o
objetivo de conscientizar o grupo sobre a importância de ter uma alimentação saudável bem

REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


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como esclarecer eventuais dúvidas. Foi convidada uma nutricionista para uma roda de
conversa. O grupo fez muitos questionamentos e tiraram muitas dúvidas.
No sétimo encontro foi trabalhado o tema “A importância da amizade” com o
objetivo de promover uma reflexão sobre o significado da amizade, e qual a sua
importância. Além disso, foi possível trabalhar a oralidade, a crítica e a sociabilidade do
grupo. Foi apresentado um filme sobre amizade chamado “Conduzindo miss Daisy” e logo
após foi feito uma roda de conversa onde foram feitos comentários e troca de experiências
sobre o tema.
No oitavo encontro foi trabalhado o tema “Família” com o objetivo de propiciar uma
reflexão da estrutura familiar e o conhecimento da estrutura de outras famílias, e o
relacionamento entre as pessoas da família, foi oportunizado uma atividade artística onde
cada um produziu um desenho que representasse a sua família. Os desenhos foram expostos
na sala e promoveu uma interação e reflexão sobre a importância da família
No nono encontro foi trabalho o tema “Teia do envolvimento” com o objetivo de
promover uma estimulação cognitiva, ao grupo foi solicitado que tentassem relembrar as
brincadeiras da infância e cantiga que gostavam, estimulando, portanto, a memória de longa
duração, que geralmente é preservada. Todos participaram e as brincadeiras e cantigas que
foram elencadas foram realizadas.
No décimo e último encontro foi feita uma confraternização onde teve um feedback
do grupo. Eles relataram uma melhoria na interação do grupo e que o processo de ensino
aprendizagem tinha ficado mais produtivo e prazeroso.
Foram utilizados como instrumentos técnicos-metodológicos duas técnicas com
trabalho de grupos: A oficina psicossocial e grupo operativo. Segundo Afonso (2006) a
oficina psicossocial é um trabalho estruturado com grupos, independentemente do número
de encontros, sendo focalizado em torno de uma questão central que o grupo se propõe a
elaborar, em um contexto social. A elaboração que se busca na oficina não se restringe a
uma reflexão racional, mas envolve os sujeitos de maneira integral, formas de pensar, sentir
e agir.
O grupo operativo criado por Pichon Rivière define-se por um conjunto de pessoas
com um objetivo comum de discussões e tarefas que são colocadas em funcionamento por
um coordenador, cuja finalidade é obter, dentro do grupo, uma comunicação que se

REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


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mantenha ativa, ou seja, criadora. Nessa perspectiva a aprendizagem é centrada nos


processos grupais e coloca em evidência a possibilidade de uma nova elaboração de
conhecimento, de integração e de questionamentos acerca de si e dos outros (BLEGER,
2007).
Os trabalhos foram realizados e preparados com muito cuidado e com muita
prudência, pois faz-se mister salientar que ao se trabalhar com grupo de idosos
primeiramente é necessário respeitar as características e ter cuidados para não agir de forma
em que eles se sintam infantilizados. Toda precaução em relação às palavras a serem
escolhidas foi fundamental para que gerasse empatia. Os temas foram escolhidos a partir de
três eixos, o primeiro a saúde na terceira idade (mente e corpo) com o objetivo de informar
sobre a importância do bem-estar não apenas físico, mas também mental para uma vida
saudável. O segundo o envelhecer como parte do desenvolvimento humano: desafios e
possibilidades com o intuito de desestigmatizar os estereótipos e preconceitos acerca do
envelhecer, elaborando melhores caminhos para o enfrentamento das dificuldades
decorrentes ao envelhecimento. O terceiro a educação não tem idade, nesse eixo entrou os
temas relacionados a importância da alfabetização.
É importante salientar que cada indivíduo vive o envelhecimento de uma maneira
singular, dessa forma os temas foram selecionados com o foco do processo que era a
alfabetização e interação do grupo, mas respeitando as limitações e especificidades de cada
um dos participantes. A prática possibilitou engajamento e reflexão das idosas sobre suas
questões subjetivas ligadas à autoestima e realização pessoal. Houve também a
oportunidade de trocas de experiências, elaboração de novos sentidos atribuídos às suas
histórias, aumento da autoestima, autoconsciência e aperfeiçoamento da autoimagem.

3) CONCLUSÃO

Diante da busca por qualidade de vida e inserção social, pode-se avaliar o trabalho
positivamente, pois as técnicas grupais, aliadas a escuta especializada de cuidado e
acolhimento, propiciaram às participantes a oportunidade de expor sentimentos e ampliar
suas possibilidades que consequentemente refletiram na melhoria no processo de ensino
aprendizagem. As estratégias adotadas foram bem aceitas pelo grupo e houve participação

REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


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ativa de todas as envolvidas, sendo corroboradas nas avaliações verbais realizadas


espontaneamente por todas as participantes.
O trabalho proporcionou a inserção das idosas nos diálogos, estimulando a
conversação em grupo, melhorando assim os relacionamentos interpessoais, a partir de
valores como a tolerância, a paciência, o respeito e a admiração das experiências
compartilhadas. Como resultado, houve melhora nas habilidades cognitivas, visto que teve
melhoria nos resultados das avaliações que a professora aplicou ao grupo, como também
nas relações entre os membros do grupo e na compreensão de que a velhice é mais uma
etapa de crescimento pessoal, e que é fundamental desfrutá-la com autonomia e dignidade.
É importante ressaltar que o trabalho realizado não esgota a necessidade de
intervenções permanentes no grupo das participantes. A psicologia contribui para a
superação dos impactos sociais advindos do envelhecimento natural do ser humano, em
questões ligadas a sentimento de abandono, inutilidade e o medo da morte na vida cotidiana
do idoso contemporâneo.

REFERÊNCIAS

AFONSO, M. L. M. Oficinas em Dinâmica de Grupo: um método de intervenção


psicossocial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.

BLEGER, J. Temas de psicologia: entrevistas e grupos. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

CACHIONI, M.; NERI, A. L. Educação e velhice bem-sucedida no contexto das universidades


da terceira idade. In: NERI, A. L.; YASSUDA, M. S.; CACHIONI, M. (orgs.). Velhice bem
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RABELO, A. A. Processos Grupais. In: COELHO JUNIOR, A. G.; RABELO, A. A. Psicologia


REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.
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SOUZA, M. M. C. O analfabetismo no Brasil sob enfoque demográfico. Cadernos de


Pesquisa, n. 107, p. 169-186, jul. 1999.

REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


24

O USO DE ÁLCOOL ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DE ENGENHARIA


CIVIL

Bárbara Andrade Martins1


Gleiciane Pereira da Silva2
Leonardo Augusto Couto Finelli3

RESUMO

O objetivo desse estudo foi analisar os padrões do consumo de álcool e a percepção quanto
ao suporte social reconhecido em acadêmicos do ensino superior de um curso de Engenharia
Civil em uma universidade privada do município de Montes Claros. Participaram do estudo
65 estudantes, de ambos os sexos, mediante a aplicação de questionários auto-preenchíveis,
sendo eles o AUDIT, ASSIST, IECPA e ESSS. Os dados foram analisados de forma
descritiva, com valores em porcentagem, o procedimento estatístico feito no SPSS
(Statistical Pachage for Social Sciences) 19.0 para Windows. Os resultados evidenciaram
que 70% dos estudantes responderam não ingerir bebidas alcoólicas; 19% responderam
consumir bebidas de duas a quatro vezes ao mês; 11% consomem mais de duas a três vezes
por semana; e 0% não consomem doses iguais ou maiores que quatro semanas. Com relação
às substâncias de outras drogas 100% relataram não fazer uso, enquanto 82% informaram
que o álcool não interfere após o consumo de duas ou três doses de bebidas, e 18% relatam
que há mudanças e seu comportamento. Nota-se ainda que 53 % dos estudantes estão
satisfeitos com sua forma de pensar a respeito da sua vida social, e nessa qualificação 47%
discorda totalmente. Conclui-se que a prevalência de uso de substâncias psicoativas pelos
acadêmicos do curso de Engenharia Civil da Faculdade estudada de Montes Claros difere
das encontradas em outros grupos de estudantes universitários, porque não houve resultado
significativo no que diz respeito à dependência do álcool, já que os acadêmicos não se
mostraram vulneráveis ao uso exagerado dessa substância. Por conseguinte, apresenta-se
extremamente relevante o incentivo a novos estudos sobre a temática, já que se trata de
futuros profissionais que poderão ter suas vidas pessoais e laborais prejudicadas.

Palavras-chave: Consumo; Álcool; Acadêmicos; Engenharia civil.

1
Psicóloga (FUNORTE). E-mail para contato:<barbaramartins88@hotmail.com>
2
Psicóloga (FUNORTE). E-mail para contato: <gleicianepereira43@yahoo.com.br>
3
Doutor em Ciências da Educação (UEP), Mestre em Psicologia (USF), graduado em Psicologia (UFMG),
graduado em Pedagogia (FETAC), Professor adjunto das Faculdades Integradas do Norte de Minas – FUNORTE,
E-mail: <finellipsi@gmail.com>
REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.
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ABSTRACT

The aim of this study was to analyze the patterns of alcohol consumption and the perception
of social support recognized in higher education students from a Civil Engineering course
at a private university in the municipality of Montes Claros. 65 students participated in the
study, of both sexes, through the application of self-filling questionnaires, being AUDIT,
ASSIST, IECPA and ESSS. The data were analyzed descriptively, with values In percentage,
the statistical procedure done in SPSS (Statistical Pachage for Social Sciences) 19.0 for
Windows. The results showed that 70% of the students answered not to drink alcoholic
beverages; 19% responded to consuming drinks two to four times a month; 11% consume
more than two to three times a week; and 0% do not consume doses equal to or greater than
four weeks. Regarding the substances of other drugs, 100% reported not using, while 82%
reported that alcohol does not interfere after consuming two or three drinks, and 18% report
that there are changes and their behavior. It is also noted that 53% of students are satisfied
with their way of thinking about their social life, and in this qualification 47% totally
disagree. It is concluded that the prevalence of use of psychoactive substances by students
of the Civil Engineering course at the Faculty studied in Montes Claros differs from those
found in other groups of university students, because there was no significant result with
regard to alcohol dependence, since academics were not vulnerable to overusing this
substance. Consequently, the incentive for new studies on the subject is extremely relevant,
since these are future professionals who may have their personal and work lives harmed.

Keywords: Consumption; Alcohol; Academics; Civil Engineering.

1) INTRODUÇÃO

O álcool é uma substância psicoativa que surgiu na antiguidade, sendo utilizado


pelos diferentes povos desde os séculos passados até os dias atuais. Ele é um tipo de droga
considerado lícita que causa alteração de humor, de percepção, de sensações, e na forma de
agir do usuário. Os padrões de consumo de bebidas alcoólicas variam conforme cultura,
país, gênero, faixa etária, normas sociais vigentes e subgrupo social (GALDURÓZ;
CAETANO, 2004). Além disso, o consumo de bebidas alcoólicas pode estar associado ao
consumo de tabaco e ao comportamento sexual de risco, os quais são alguns dos principais
fatores relacionados com o estado de saúde dos indivíduos e das populações (PEDROSA et
al., 2011).
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentam que dois bilhões de
pessoas ingerem bebidas alcoólicas. Seu uso indiscriminado é um dos principais motivos
que interferem na da saúde mundial, tornando o grande responsável por 3,2% de todas as
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mortes e por 4% de todos os anos perdidos de vida útil. Quando se analisa este índice
relacionando à América Latina, o álcool assume uma importância ainda maior. Cerca de
16% dos anos de vida útil perdidos neste continente estão relacionados ao uso indevido
dessa substância, índice quatro vezes maior do que a média mundial (BRASIL, 2007).
A Política Nacional sobre o Álcool, instituída no Brasil em âmbito nacional no ano
de 2007, afirma que a sociedade deve colaborar com a adoção de medidas que atenuem e
previnam os danos resultantes do consumo de álcool em situações específicas, tal como no
trânsito. Dá ênfase também que deve haver proteção dos segmentos populacionais
vulneráveis ao consumo prejudicial dessa substância. Dessa forma, essa mesma Política tem
como uma de suas diretrizes a inclusão de ações de prevenção ao uso de bebidas alcoólicas
nas instituições de ensino, em especial nos níveis fundamental e médio (BRASIL, 2007).
Dentre muitos prejuízos relacionados ao consumo exagerado do álcool estão às
mortes violentas causadas no trânsito devido à embriaguez, as relações sexuais
desprotegidas e o uso de outras drogas, a queda no desempenho escolar, os prejuízos no
desenvolvimento e na formação de habilidades cognitivo, habilidades comportamentais,
sistemas emocionais, os danos ao patrimônio público e várias formas de violência (PARK;
GRANT, 2005).
O consumo de álcool entre jovens é prática comum seja no ambiente domiciliar, em
festividades, ou mesmo em ambientes públicos. A sociedade como um todo adota atitudes
paradoxais frente ao tema: por um lado, condena o abuso de álcool pelos jovens, mas é
tipicamente permissiva ao estímulo do consumo por meio da mídia (PECHANSKYA;
SZOBOTA; SCIVOLETTO, 2004).
Com a mudança do colégio para a vida universitária, a maioria dos adolescentes
passa a morar distante das famílias, unir-se a novas amizades e estreia uma época de maior
autonomia que lhes desencadeia novas experiências. Dentre as causas que influência no
consumo de bebidas alcoólicas, cita-se o grupo de amigos ou colegas, a medida do consumo,
incluindo o tipo de álcool a ser consumido, a frequência, o horário, a associação com
alimentos e petiscos (BAUMGARTEN; GOMES; FONSECA, 2012).
Quando o uso e a compra do álcool são discutidos, a maioria dos indivíduos são
jovens. Há indícios de que o surgimento da embriaguez está relacionado à facilidade de
encontrar bebida alcoólica. O álcool é atrativo por ser uma droga permitida, causadora de

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reações prazerosas, além de ser aceita pela sociedade, com uma ampla disponibilidade,
variedade e por seu baixo valor (VIEIRA et al., 2008).
As expectativas relacionadas ao consumo de álcool possuem como impacto nos
universitários aumento da autoconfiança, desinibição social e atividades físicas/sexual.
Dessa maneira essas expectativas fazem com que os jovens percebam o álcool como algo
que seja beneficiador, sedutor e gratificante (LOPES, 2009).
Analisando em um contexto social, observa-se que os adolescentes são mais
vulneráveis ao uso de drogas e principalmente ao álcool, pois é na transição da adolescência
que surgem o conflito psicossocial, a interação com a sociedade, a busca por independência
a escolha de sua própria orientação sexual, além das suas emoções serem mais afloradas,
conflitantes e tempestuosas (LEITE et al., 2016).
Nesse contexto, esse estudo buscou analisar os padrões do consumo de álcool e a
percepção quanto ao suporte social reconhecido em acadêmicos do ensino superior de um
curso de Engenharia Civil em uma universidade privada do município de Montes Claros.

2) METODOLOGIA

Foram incluídos neste estudo 65 estudantes do primeiro ao quinto período noturno


de uma universidade privada de ensino superior do curso de Engenharia Civil da cidade de
Montes Claros – MG, considerando que os acadêmicos do segundo período não quiseram
participar. Trata-se de um estudo quantitativo, de caráter descritivo-exploratório sobre o uso
de álcool entre estudantes universitários e a percepção quanto ao suporte social reconhecido
pelos mesmos. A amostra foi censitária, considerando o desejo de participação do estudo.
Foram considerados como critérios de exclusão: recusar-se a responder ao instrumento de
coleta de dados estiver ausente das aulas durante a aplicação dos questionários ou não
responder adequadamente aos questionários.
Os dados foram coletados pelas pesquisadoras, capacitadas e treinados para
aplicação dos questionários, assim como para o esclarecimento de eventuais dúvidas dos
participantes e soluções quanto a possíveis intercorrências, coordenados pelo pesquisador
responsável pela pesquisa. Para a coleta de dados foi utilizado o questionário sócio

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demográfico com perguntas abertas e fechadas, contendo os seguintes itens: nome, idade,
sexo, estado civil, etnia, religião, escolaridade e situação socioeconômica.
Para a aferição do consumo de álcool foi utilizado o instrumento Audit (Alcohol Use
Disorders Identification Test), um questionário com dez perguntas desenvolvidas pela
OMS, como instrumento de rastreamento específico para identificar pessoas com consumo
nocivo do álcool, como também aquelas que apresentam dependência do álcool, nos últimos
12 meses. As três primeiras perguntas aferem a quantidade e a frequência do uso regular ou
ocasional do álcool; as três seguintes investigam os sintomas de dependência; e as quatro
últimas se referem a problemas recentes na vida do indivíduo relacionado ao consumo de
álcool (BABOR et al., 2001).
Seus itens são divididos em três dimensões: Consumo de risco de álcool, que se
refere às perguntas 1, 2 e 3; Sintomas de dependência, que envolvem as perguntas 4, 5 e 6;
e Consumo prejudicial de álcool, atribuído às perguntas 7, 8, 9 e 10. A especificidade e a
sensibilidade de cada um dos itens serão calculadas por múltiplos critérios como: consumo
diário médio de álcool, intoxicação recorrente, presença de pelo menos um sintoma de
dependência, diagnóstico de abuso ou dependência de álcool e auto percepção do problema
com a bebida. Cada questão possui cinco alternativas de resposta se para cada uma é
atribuído uma pontuação que varia de zero a quatro pontos. Ao final é somada a pontuação,
dessa forma são verificadas as “zonas de risco” em que se enquadram. Sendo elas: Zona I
(0 a 7 pontos): Abstinência ou consumo sem risco. Intervenção não necessária ou simples
informação sobre os riscos do consumo de álcool Zona II (8 a 15 pontos): Consumo de
risco. Aconselhamento necessário. Zona III (16 a 19 pontos): Consumo prejudicial ou
mesmo dependência. Tratamento pelo médico de família (intervenção breve e
acompanhamento) e Zona IV (20 a 40 pontos): Dependência. Tratamento especializado
aconselhado (se disponível).
Utilizou-se também o ASSIST (Teste de Triagem do Envolvimento com Álcool,
Cigarro e Outras Substâncias) que foi produzido pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) para detecção do uso de álcool, tabaco e outras substâncias psicoativas. O ASSIST
foi construído no intuito de complementar o já padronizado AUDIT (também em uso nesse
estudo) para detecção do uso abusivo ou dependência de outras substâncias além do álcool,
por considerar a abordagem simultânea de várias classes de substâncias, assim como a

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facilidade de interpretação e a possibilidade de ser utilizado por profissionais de saúde de


formações diversas. Será utilizado a versão validada para o Brasil por Henrique et al.
(2004). Essa que é composta por oito questões sobre o uso de nove classes de substâncias
psicoativas (tabaco, álcool, maconha, cocaína, estimulantes, sedativos, inalantes,
alucinógenos e opiáceos). As questões abordam a frequência de uso, na vida e nos últimos
três meses, problemas relacionados ao uso, preocupação a respeito do uso por parte de
pessoas próximas ao usuário, prejuízo na execução de tarefas esperadas, tentativas mal
sucedidas de cessar ou reduzir o uso, sentimento de compulsão e uso por via injetável.
A questão 1 considerou só na vida da classe de substância o que abre ou não para as
demais questões itens. Os itens de cada questão são elencados em função da classe de
substâncias consumidas ou não. As questões 2 a 5, relacionadas à frequência de uso ou
comprometimento são graduadas com peso de 0 a 4 pontos. As questões 6 e 8 são graduadas
em 0 a 2 pontos. Assim a soma total pode variar de 0 a 20. Considera-se a faixa de escore
de 0 a 3 como indicativa de uso ocasional; de 4 a 15 como indicativa de abuso; e 16 ou
mais, como sugestiva de dependência para aquele item (substância).
Foi utilizado ainda o IECPA (Inventário de Expectativas e Crenças Pessoais acerca
do álcool que busca conhecer o que as pessoas pensam sobre os efeitos do álcool), esse
questionário é adequado para auto aplicação. É um instrumento com 61 itens com cinco
alternativas de resposta tipo “likert” com escores de 1 a 5: 1–“não concordo”; 2–“concordo
pouco”; 3–“concordo moderadamente”; 4–“concordo muito” e 5 – “concordo muitíssimo”.
O escore final pode variar de 0 a 305 pontos. Cujos escores mais elevados caracterizam
sujeitos com expectativas positivas mais altas e, portanto, maior vulnerabilidade ao
alcoolismo (LOPES, 2009).
E por fim foi utilizado o ESSS - Escala de Satisfação com o Suporte Social para
avaliar um conjunto de medidas que expressam saúde, bem-estar ou mal estar ou que estão
intimamente ligadas a essas variáveis. O ESSS deriva da adaptação da escala portuguesa do
Self perception profile for college students (RIBEIRO, 1994). A proposta deste instrumento
é investigar a gravidade que o indivíduo atribui aos acontecimentos que mais afetou a sua
vida nos últimos anos. É constituído por 15 frases para autopreenchimento (RIBEIRO,
1999). O sujeito deve assinalar o grau em que concorda com a afirmação (se ela se aplica a
ele), numa escala de Likert com cinco posições, “concordo totalmente”, “concordo na maior

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parte”, “não concordo nem discordo”, “discordo a maior parte”, e “discordo totalmente”, à
nota final é dada pela soma de números de acontecimentos assinalados.
Inicialmente foi realizado contato via telefone com a direção da instituição de
ensino, para apresentação da proposta de pesquisa e solicitar autorização para aplicação dos
questionários em sala de aula. A partir da autorização foram explicados para os acadêmicos
os objetivos e a justificativa do estudo, assim como a importância da seriedade no
preenchimento do questionário. Todos os sujeitos aceitaram participar de forma voluntária
da pesquisa, assinou o termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e em seguida,
respondeu ao questionário.

3) RESULTADOS E DISCUSSÃO

O número de acadêmicos que efetivamente participaram nesta pesquisa foi de 65


indivíduos. A tabela 1 mostra os dados de caracterização da amostra tendo em conta os
seguintes aspectos: sexo, etnia e estado civil.

Tabela 1 – Caracterização do grupo amostral (n = 65)

VARIÁVEL N %
Sexo Masculino 22 14,3%
Feminino 43 27,95%
Etnia Asiático 0 0%
Branco 14 9,1%
Índio 1 0,65%
Negro 9 5,85%
Pardo 38 24,7%
Estado civil Solteiro 42 27,3%
Casado 11 7,15%
Separado 0 0%
Viúvo 0 0%
Namoro 11 7,15%

Fonte: dados da pesquisa.

Conforme análise da tabela 1 pôde-se verificar que a amostra é composta por


indivíduos do sexo feminino e masculino, sendo que 14,3 % e do sexo masculino e 27,95%

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do sexo feminino. Através da análise, pôde se observar que 0% se considera asiático, 9,1%
brancos, 0,65% índio, 5,85% negro e 24,7% pardo. De acordo com a tabela I a grande
maioria dos entrevistados é solteira correspondendo a 27,3%.

AUDIT
40%
35,1%
35%

30%

25%

20%

15%

10%
5,85%
5%
0,65% 0,65%
0%
Baixo Risco Risco Uso Nocivo Dependencia

Figura 1 – Gráfico I: Distribuição da amostra de acordo com análise de risco de consumo de


álcool.
Fonte: dados da pesquisa.

Os dados apresentados no gráfico I indicam que o AUDIT se distribui na amostra no


seguinte modo: baixo risco 35,1%; risco com 5,85%; uso nocivo com 0,65% da amostra;
dependência com 0,65% dos participantes. Observa-se entre os indicadores que a maioria
dos consumidores é de baixo risco, sendo aconselhado um trabalho de educação com esses
indivíduos, no caso dos de uso nocivo é aconselhável terapia e acompanhamento
continuado, já os que apresentaram características de dependentes, deveriam ser
encaminhados a uma avaliação especializada para confirmação diagnóstica e possibilidade
de tratamento específico.

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Tabela 2 – Análise dos resultados ASSIST

SUBSTÂNCIAS
Anfet Aluci
Maco
Tabac Álcoo Cocaí a Inalan Sedati nó Opioi
nh Outro
o l na mi te vo ge de
a
na no
Uso
35,75 42,25 42,25 42,25 42,25 42,25 42,25 42,25 42,25 42,25
ocasion
% % % % % % % % % %
al
Uso
6,5% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1,95%
abusivo
Dependênc
0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
ia

Fonte: dados da pesquisa.

A tabela 2 mostra que, quanto ao tabaco, 35,75% dos indivíduos entrevistados fazem
o uso ocasional, 6,5% o uso abusivo e 0% apresenta característica de dependência, já ao
consumo de álcool 42,25% dos indivíduos fazem uso ocasional, 0 % uso abusivo, e nenhum
indivíduo apresentou características de dependência de álcool, quanto ao uso da maconha,
42,25 % fazem uso ocasional e 0 % dos indivíduos possuem uso abusivo ou características
de dependência. Cocaína, 42,25 % fazem o uso abusivo dessa substância. Quanto às
substâncias anfetamina, inalantes, sedativo, alucinógeno e opióide 42,25 % fazem o uso
ocasional.

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IECPA
Baixa expectativa
12%

Alta expectativa
88%

Figura 2 – Gráfico 2: Distribuição da amostra de acordo com análise do IECPA


Fonte: dados da pesquisa.

O gráfico 2 mostra a probabilidade de os indivíduos serem, ou virem a se tornar,


dependentes de álcool. Observa-se que 12% dos indivíduos apresentam baixa
vulnerabilidade ao álcool por outro lado 88% apresentam alta vulnerabilidade ao álcool.

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Gráfico 3 - Distribuição da amostra de acordo com análise do suporte social

ESSS
Baixo suporte social
0%

Medio Suporte
Social
38%
Alto Suporte Social
62%

Figura 3 – Gráfico 3: Distribuição da amostra de acordo com análise do suporte social.


Fonte: dados da pesquisa.

De acordo com os dados levantados e apresentados no gráfico 3, nenhum dos


entrevistados apresentou baixo suporte social, já 62% apresentaram alto suporte social e
38% médio suporte social.

4) CONCLUSÃO

Os resultados permitem concluir que a prevalência de uso de substâncias psicoativas


pelos acadêmicos do curso de Engenharia Civil da Faculdade estudada de Montes Claros
difere das encontradas em outros grupos de estudantes universitários, porque não houve
resultado significativo no que diz respeito à dependência do álcool, já que os acadêmicos
não se mostraram vulneráveis ao uso exagerado dessa substância. Ressaltando que a
contribuição dos acadêmicos para realização da pesquisa foi consideravelmente baixa,
tendo em vista a quantidade que se propôs participar. Por conseguinte, apresenta-se
extremamente relevante o incentivo a novos estudos sobre a temática, já que se trata de
futuros profissionais que poderão ter suas vidas pessoais e laborais prejudicadas.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. Decreto nº 6.117, de 22 de maio de 2007. Aprova a Política Nacional sobre o Álcool,
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violência e criminalidade, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília. 23 de
maio de 2007.

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PECHANSKYA, F.; SZOBOTA, C. M.; SCIVOLETTO, S. Uso de álcool entre adolescentes:


conceitos, características epidemiológicas e fatores etiopatogênicos. Revista Brasileira de
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VIEIRA, P. C. et al. Uso de álcool, tabaco e outras drogas por adolescentes escolares em
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REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


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MOTIVAÇÃO PARA PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES DO ENSINO


FUNDAMENTAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Junia Gracielle Brito Souza1


Priscilla Duarte Soares Corrêa2
Raquel Schwenck de Mello Vianna Soares3
Fernando Bryan Duarte Soares4
Wellington Danilo Soares5

RESUMO

O estudo presente objetivou avaliar a motivação dos estudantes do ensino fundamental para
participação em aulas da disciplina Educação Física, e assim investigar as possíveis razões da
desmotivação dos alunos em participar das aulas, tal como atinar para quais conteúdos
despertam maior interesse dos estudantes e assim apontar soluções para maior participação dos
estudantes nas aulas. Foi produzida neste estudo uma revisão de literatura, baseada em fontes
do ano de 2012 a 2017 indexada nas bases eletrônicas de dados Scielo, Google academic e
Pubmed. Para escolha dos artigos foram empregues os descritores: Motivação, Desmotivação,
Educação Física, Ensino Fundamental. Professor. Foi possível verificar que a motivação é algo
pessoal e mutável, ela se torna mais eficaz quando ocorre intrinsecamente e deve o professor
traçar estratégias para que a mesma aflore em seus alunos. A aprendizagem e prazer dos alunos
dependem diretamente da motivação empregada às atividades propostas. A motivação é fator
primordial para o bom desempenho da disciplina, pois é o que incentiva a participação e prazer
ao realizar as atividades propostas tanto de docentes quanto de discentes, ao se fazer uso de
estratégias para motivação dos indivíduos o processo de ensino aprendizagem tende a ocorrer
com maior aproveitamento.

Palavras-chave: Motivação; Desmotivação; Educação Física; Ensino fundamental; Professor.

1
Acadêmica do curso de Educação Física da Unimontes – UAB. Montes Claros/MG
2
Mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. UNIRIO/RJ
3
Doutorado em Educação pela Universidade Católica de Santa Fé/Argentina
4
Graduado em História (UNIMONTES). Montes Claros/MG
5
Doutor em Ciências da Saúde (UNIMONTES). Docente do Departamento de Educação Física da Unimontes.
Montes Claros/MG. E-mail: <wdansoa@yahoo.com.br>
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ABSTRACT

This study aimed to evaluate the motivation of elementary school students to participate in
classes in Physical Education, thus investigate the possible reasons for students 'lack of
motivation to participate in classes, as well as to find out which contents arouse students' interest
and thus Solutions for greater student participation in class. A literature review, based on
sources from the year 2012 to 2017, indexed in the electronic databases Scielo, Schoolar Google
and Pubmed, was produced in this study. To choose the articles were used the descriptors:
Motivation, Demotivation, Physical Education, Elementary Education. Teacher. It was possible
to verify that the motivation is something personal and changeable, it becomes more effective
when it occurs intrinsically and the teacher must devise strategies for it to grow in its students.
The learning and pleasure of the students depends directly on the motivation employed for the
proposed activities. Motivation is a key factor for the good performance of the subject, since it
is what encourages participation and pleasure when carrying out the proposed activities of both
teachers and students, when making use of strategies to motivate individuals the process of
teaching learning tends to occur more successfully.

Keywords: Motivation; Demotivation; Physical Education; Elementary school; Teacher.

1) INTRODUÇÃO

Na área da Educação Física há três blocos de conhecimento definidos pelos Parâmetros


Curriculares Nacionais – PCN’s. São eles: Esportes, jogos, lutas e ginásticas seguidos de
Atividades rítmicas e expressivas e por fim; Conhecimentos sobre o corpo. O primeiro bloco,
é talvez aquele que mais se aplica à realidade das aulas da disciplina citada, seria ele o que
contempla os esportes individuais e coletivos, os jogos e ainda as lutas e as ginásticas. O
segundo bloco enquadra-se em atividades artísticas e de dança. O último bloco pode ser aquele
com menos vivência em ambiente escolar já que o mesmo vem discorrer sobre conhecimentos
anatômicos, fisiológicos e bioquímicos (RONDINELLI, 2015).
Lamentavelmente, independente da definição de conteúdo, poucos são ensinados em
aulas, os alunos apresentam certo comodismo, exibindo uma desmotivação muito grande, dessa
forma, muitos não participam das aulas impossibilitando assim que se alcance um dos objetivos
dos PCN’s: “conhecer e cuidar do corpo, valorizando hábitos saudáveis como um dos aspectos
básicos da qualidade de vida. Além de agir com responsabilidade no que diz respeito à sua
saúde e à saúde coletiva” (BRASIL, 1998, p. 5).

REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


39

Segundo Pinheiro et al. (2013) a Educação Física é eleita a disciplina com maior
aceitação pela maioria dos estudantes das mais variadas faixas etárias e gêneros. Sendo que as
modalidades esportivas, jogos e brincadeiras são os conteúdos mais utilizados nas aulas da
disciplina no ensino fundamental. No entanto, acontece uma contradição quanto ao fato de a
Educação Física ser uma das disciplinas preferidas dos alunos, este fato não implica que todos
os alunos a pratiquem de forma igualitária, já que no horário das aulas é grande a quantidade
de alunos que não participam ativamente. Percebe-se desmedida falta de interesse de uma
numerosa quantidade de alunados no que se refere à atuação nas aulas de Educação Física
Escolar.
Para Flores (2012) o professor de Educação Física tem grande influência sobre seus
alunos, seja por questões relacionadas à saúde e suas competências física ou ainda a questões
comportamentais que lhe permite moldar o caráter do alunado, podendo conhecê-lo a fundo e
proporcionar experiências agradáveis ou não, tendo em suas mãos, se desejar, uma importante
ferramenta metodológica: a motivação.
Mesmo com tal mérito do professor de Educação Física, seu trabalho não se torna mais
fácil, pois de acordo com Silva & Sampaio (2012) o aluno não muitas vezes não demonstra
interesse pela aprendizagem técnica, nem tão pouco pela participação em aulas teóricas. O que
de modo evidente dificulta seu trabalho, neste momento o professore necessita de artimanhas
pedagógicas que motivem estes jovens.
Conforme Pimentel (2017) motivação diz respeito ao ato de motivar alguém ou ainda
descreve elementos capazes de designar a conduta de um indivíduo. Assim motivação são atos
que estimulam a realização de determinada atividade. Leite et al. (2012) ressaltam que a
motivação assegura os indivíduos envolvidos assumam resultados superiores, pois aumentam
o rendimento e qualidade sobre a atividade exercida. Desta forma constata-se que para bom
desenvolvimento da ação é necessário estar minimamente motivado.
O mesmo autor ressalta que instituições que honram o peso da motivação estão muito
mais propensas a alcançar seus objetivos, consequentemente dando-se por satisfeitos ao termino
da atividade proposta (LEITE et al., 2012).
A Educação Física é uma potente ferramenta metodológica com vertentes educacionais
e relacionadas à saúde de crianças e adolescentes, sendo ela auxiliar neste processo de
aprendizagem almeja-se que empregue uma grande dose de motivação as aulas. Para Sampedro

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et al. (2012) a motivação pode ocorrer devido a vários fatores (intrínsecos e extrínsecos) no
entanto é necessário que a equipe pedagógica trace estratégias de ação para que o alunado
participe e permaneça constante diante das atividades propostas em aula; estimulando a
motivação pessoal e coletiva, buscando desvendar os motivos que os levam a participar de
forma voluntaria da aula.
São vários os fatores (des)motivacionais provenientes tanto de professores quanto de
alunos. Zambon & Rose (2012) explicam que a motivação é algo que se tem ou não, alegando
assim que por vezes um resultado negativo na aprendizagem do aluno se deve a falta dessa
motivação. Nessa perspectiva, para Monteiro et al. (2012) o professor tem a função de produzir
atividades que gerem interações sociais além de incutir nos alunos anseios que os mantenham
ativos durante o processo de interação.
É importante ressaltar que a motivação é algo pessoal, portanto cada indivíduo
demonstra seu próprio nível de motivação para cada atividade. Logo o professor deve manter-
se em constante atualização de métodos e procurar optar por conteúdos diversificados e
motivantes, o que fará com que os interesses das turmas sejam sanados e evitar que a imprecisão
trazida pela falta de motivação traga dúvidas sobre quão motivados seus alunos são/estão
(MACHADO et al., 2012).
Por conseguinte, falar sobre motivação implica em averiguar os motivos que
influenciam em um determinado comportamento, isto implica que todo comportamento é
motivado por algo ou alguém. Assim motivação é um termo que compreende qualquer
comportamento dirigido para um objetivo, provocando assim a efetivação da ação desejada
(JANUÁRIO et al., 2012).
Isto posto, de acordo com Zambon et al. (2012) a motivação sob um olhar pedagógico
propõe estimula o aluno a fazer algo ou aprender algo. Dessa forma motivação está diretamente
ligado ao aprender, o professor neste processo é importante ferramenta, no entanto para aquele
que ministra aulas de Educação Física a tarefa se torna ainda mais difícil, visto que para Ferreira
et al. (2014) a maioria dos alunos enxergava nas aulas algo desmotivante para o ensino do
esporte, descrito por uma série de motivos indo desde ausência de materiais, passando por
infraestrutura escolar e chegando ao menosprezo da disciplina. Assim sendo os conteúdos da
Educação Física demandam uma carga de motivação maior devido ao não interesse dos alunos
por atividades físicas.

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Nessa perspectiva essa pesquisa objetivou analisar a motivação dos estudantes do ensino
fundamental II para participação nas aulas de Educação Física, justificando-se pela falta de
estímulos/motivação dos alunados a realização e participação das aulas, ansiando por aulas de
Educação Física mais ativas e participativas.
Para esse fim, foi desenvolvida uma revisão de literatura, indexada nas consequentes
bases eletrônicas de dados Scielo, Google acadêmic e Pubmed. Para escolha dos artigos foram
utilizados os descritores a se seguir: Motivação, Desmotivação. Educação Física, Ensino
Fundamental. Professor.
Para critérios de inclusão foram selecionados estudos que relatavam experiências
vividas durante aulas da disciplina educação física que descreviam a participação e motivação
nas aulas, sendo estes artigos escritos no idioma português no período do ano de 2012 a 2017.
E excluídos artigos que antecedem ao ano de 2012 e ainda os que não contribuem para a
temática proposta.

2) REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Educação física e motivação intrínseca e extrínseca

A Educação Física permeia o cenário educacional há muito tempo, desde meados do


século XIX, quando ainda era conhecida como simplesmente ginástica, de lá para cá passou por
vários conflitos inclusive políticos, até chegar ao cenário que se encontra atualmente
(MONTEIRO, 2014).
Os PCN’s subdividem os conteúdos da Educação Física em três blocos, sendo eles o
Esporte, os Jogos e Ginástica, seguidos das Atividades Expressivas e Rítmicas e o
Conhecimento sobre o corpo, tais conteúdos dão direcionamento a disciplina (BRASIL, 1998).
Baseada nos conteúdos especificados a Educação Física se molda na escola,
oportunizando aos envolvidos o desenvolvimento de diversas capacidades como cognitivas,
motoras, intelectuais e ainda viabilizar a socialização entre os alunos, desde que os alunos se
entreguem a tal e não simplesmente pratique por praticar (QUADROS et al., 2014).
Diante do exposto, para que possamos desempenhar bem as atividades rotineiras, assim
como as atividades das aulas de Educação Física é com mínimo grau de êxito e satisfação é de

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extrema importância que nos mantenhamos motivados a executar tal ação, visto que a
motivação é causa incontestável no desenvolvimento das atividades, dessa maneira as aulas de
Educação Física necessitam desse fator para que a participação e permanência dos educandos
aconteçam de forma satisfatória (PANSERA et al., 2016).
A motivação em um âmbito educacional é de total relevância, pois permite ao aluno está
mais introduzido dentro do processo de ensino aprendizagem, para Lira & Silva (2015) a
motivação é aquilo que estimula alguém a executar determinada tarefa e garante a
aprendizagem mais eficaz.
Sabendo o que é motivação, devemos entender que ela se manifesta de duas formas:
Intrinsecamente e Extrinsecamente, pois para que o sujeito se motive e se mantenha motivado
são necessárias causas do meio interno e externo (PANSERA et al., 2016).
A principal propriedade da motivação intrínseca é que ela possui iniciativa e desejo
próprio, De acordo com Peres & Marcinkowski (2012) este tipo de motivação é oriunda do
querer que vem de dentro do indivíduo, ou seja, sua vontade pessoal, algo que ele goste de
fazer, um estimulo pessoal.
Já a motivação extrínseca se caracteriza por ser o oposto da descrita acima. Esta se
define como algo que necessita dos agentes externos para acontecer. De acordo com Pizani
(2016) a motivação extrínseca leva o indivíduo a realizar a atividade proposta com intenções
de beneficiar a si próprio, ou seja, a espera de alguma recompensa.
Do ponto de vista educacional a motivação em si é crucial para o processo de ensino
aprendizagem, no entanto a motivação intrínseca é mais produtiva visto que o a aluno que a tem
se compromete de fato com a aprendizagem, não visando qualquer outro tipo de privilegio, haja
vista que o aprazimento advindo da motivação extrínseca não é pela atividade em si, mas sim
pelas consequências ocasionadas devido a ela (LEAL et al., 2013).

2.2 Aspectos motivacionais

Para Ramos & Goeten (2015) no contexto escolar a motivação é algo que direciona os
alunos serem indivíduos determinados, capazes de tomar decisões e que galgam conhecimento.
Como já sabido a motivação está fortemente atrelada ao bom desempenho das aulas de
Educação Física, uma vez que a aprendizagem é por vezes mensurada a partir da mesma

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(PAULINO; SÁ; SILVA, 2016). No entanto são vários os fatores que auxiliam neste processo
de motivação, visto que para que nos sintamos motivados necessitemos de fatores que nos
induzam e conduzam a tal (LIRA; SILVA, 2015).
Dentre os aspectos que nos motivam estão diversas causas, podendo elas serem pessoais
ou coletivas, e de tantas outras origens, aqui serão retratadas alguns dos mais comuns atos e ou
fatos (des)motivacionais. O professor, os alunos e as habituais ocorrências vivenciadas em aula
são alguns aspectos que designam uma aula com bom desenvolvimento ou não (USTRA;
SANTOS; ARANTES, 2015).
Considerando que uma aula com bom desenvolvimento é aquela que conta com a
participação, permanência e aproveitamento do aluno, a desmotivação dos educandos é uma
condição que afeta diretamente as aulas de Educação Física. Ela vai além da não participação
nas aulas, influencia ainda na qualidade e desenvolvimento das mesmas (ARAUJO, 2015).
De acordo com Alves & Cardoso (2016) os estudantes diferem entre si no que diz
respeito à motivação, pois são vários os quesitos que contribuem para tal entre eles podemos
nos deparar com questões psicológicas, motoras e outras manifestações que estimulam os
estudantes a aprendizagem.
Ainda segundo os mesmos autores, entre as características que estimulam os estudantes
a pratica das aulas de Educação Física estão a autonomia dos mesmos, bem como a aptidão para
a prática do esporte, a interação afetiva e social no decorrer das aulas e questões estéticas que
começam a despontar com maior influência ao final do ensino fundamental (ALVES;
CARDOSO, 2016).
Ainda com relação aos alunos, as perspectivas que podem intervir em uma circunstância
de falta de interesse se multiplicam, podendo recorrer às experiências anteriores que não
obtiveram resultados positivos, ou ainda a influência da família e questões psicológicas e
físicas. Quanto ao que diz respeito ao professor as condições de trabalho é um fator degradante
a sua motivação, bem como quantidade de alunos muitas vezes excedente. Não menos
importante consta ainda a falta de materiais pedagógicos e esportivos e infraestrutura do
ambiente escolar (CARLINDO; OLIVEIRA, 2015).
Constantes estudos garantem que as maiores causas da desmotivação para a Educação
Física são direcionadas aos estudantes por serem os indivíduos que se beneficiam do feito.
Ambientes maçantes, adversidades entre alunos e professor, grade curricular, metodologia

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utilizada pelo docente são infortúnios que devem ser contornados para que se tenha o mínimo
de evolução referente às aulas. No entanto apesar de nos apoiarmos na literatura nada é mais
certeiro que ouvir abertamente a opinião dos próprios alunos sobre o assunto (RAMOS;
GOETEN, 2015).
De acordo com Carlindo & Oliveira (2015) entende-se que os fatores motivacionais
estabelecem uma conexão entre alunos e educadores o que garante a efetiva ação de ensino
aprendizagem. De tal modo é significativo conhecer a fundo as necessidades, limites e
elementos de agrado do aluno durante o processo de construção de aprendizagem.
Em estudo realizado com 22 alunos, do terceiro ao quinto ano do fundamental II de duas
instituições da rede pública localizadas na região interiorana do Rio Grande do Sul, foi apontado
que a Educação Física realmente auxilia o rendimento escolar dos alunados, no entanto é grande
a parcela de alunos que se sentem desmotivados para a pratica da disciplina, tal fato é
preocupante, deve o professor examinar detalhadamente cada caso e identificar suas
características desmotivantes com o propósito de melhorar seu desempenho escolar (NUNES
et al., 2014).
Por conseguinte, é de extrema importância reconhecer os agentes que despertam os
indivíduos a participar das aulas, pois isto garante a eles uma intervenção pedagógica de
qualidade e eficaz, dado que a motivação é decisiva para o desenvolvimento das atividades
propostas (ALVES et al., 2016).

2.3 O professor de educação física diante da motivação de seus alunos

Sabendo que a motivação é algo pessoal, a responsabilidade de estimular e motivar cada


criança de uma sala de aula se torna ainda maior. Tendo em vista que esta é a função do
professor, este deve traçar métodos e estratégias para que o alunado se desenvolva através delas,
consequentemente as aulas se darão mais participativas e producentes (PALUDO, 2015).
Para Rufini et al. (2012) o norteador da motivação dos alunos é o professor, diante de
tal fato o mesmo deve assumir uma postura de líder que se mantém comprometido com a
educação, cria estratégias de ação, incentiva a autonomia dos alunos, os tornam mais
determinados e competentes, além de manter a si próprio estimulado e fiel ao gosto pela
profissão docente. Pois, de acordo com Baracho et al. (2012) o professor é quem toma a frente

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de todas as situações criadas em aula, o mesmo ostenta o papel de figura mais motivadora neste
meio, ao menos se espera que seja, dado o fato de que cabe ao professor incutir em seus alunos
tais anseios e pensamentos relacionados a aprendizagem e desenvolvimento pessoal. Ele deve
perceber neste momento aqueles que se entregam à disciplina e aqueles que se dispersam,
muitas das vezes por se considerarem menos habilidosos que outros na parte prática da
disciplina ou questões de socialização e ainda aspectos físicos.
O professor muitas vezes é o personagem de mais contato com as crianças diariamente,
podendo observa-las e analisa-las nas mais distintas situações e relações, isso possibilita a ele
compreender melhor cada pensamento e atitude e assim traçar estratégias que motivem
coletivamente ou individualmente seus alunos, além de auxiliar a moldar o caráter do mesmo,
seu papel é fundamental para que as crianças se reconheçam seguras e motivadas enquanto
alunos (QUADROS et al., 2014).
Ainda de acordo com Quadros et al. (2014), o professor de Educação Física deve
planejar suas aulas para que elas aconteçam de forma dinâmica, prazerosa e produtiva,
oportunizando aos alunos se expressarem e darem sugestões, tomando decisões e assim estar
cada vez mais inseridos no contexto escolar, participativos e motivados.
Sabe-se que a Educação Física na escola está fortemente atrelada ao esporte, no entanto
é desagradável a título de aprendizagem que muitas das vezes esteja relacionada tão somente a
competição, fomentando o individualismo, dessa forma os alunos que possuem maior
habilidade motora e cognitiva são exaltados em comparação àqueles que não se relacionam tão
bem com o esporte. Nesse sentido o docente deve estar atento e priorizar o coletivo e não
objetivar a esportivização em suas aulas (QUADROS et al., 2014).
Diante do exposto Martins & Freire (2013) compartilham da ideia de que a tão falada
motivação dos alunos é de total responsabilidade dos professores e para que eles cumpram com
suas atribuições é necessário que toda a equipe pedagógica da escola se empenhe e crie
dinâmicas motivacionais de forma informal e com aspectos comuns ao dia a dia, as quais
deverão motivar os alunos a prática das atividades propostas, e não somente submeter ao
alunado poucas vivencias para que se preencha a carga horária estipulada.
Tenório (2014) realizou um estudo com 119 escolas públicas da cidade de Recife, sobre
motivação de professores e estudantes na disciplina de Educação Física, em seus relatos ficou
comprovado que o professor deve se manter motivado a fim de motivar seus alunos. Constatou-

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se que o grau de motivação dos estudantes aumentou gradativamente após a inserção de


estratégias motivantes por parte dos professores, em relação as aulas aplicadas antes do estudo.
Machado (2012) nos chama atenção a um ponto relevante: que haja um cuidado para
que o professor não se fixe tanto a ideia de motivar a ponto de controlar seus alunos, pois o ato
e interesse devem ser espontâneos, os educandos precisam compreender que as estratégias
utilizadas são para que o processo de ensino aprendizagem transcorra da forma mais satisfatória
possível. Assim sendo é importante que todos os envolvidos reconheçam as ações realizadas
para que sejam seres motivados para a Educação Física no contexto escolar.

2.4 Limitação do estudo

O maior obstáculo encontrado na realização deste estudo foi a escassez de estudos


relacionados à motivação e desmotivação de estudantes do ensino fundamental no período de
2012 a 2017. Tal fato pode se dar a individualidade e vastidão referente à motivação de cada
indivíduo.
Não obstante, as considerações relatadas neste estudo puderam transmitir a importância
de motivar a comunidade escolar para a prática da Educação Física, para melhores condições
de aprendizagem, físicas e de saúde. É importante ressaltar que o estudo não esgotou todas as
fontes de pesquisa, oportunizando futuras pesquisas na área.

3) CONSIDERAÇÕES FINAIS

A motivação é fator fundamental nas aulas de Educação Física, pois é aquilo que
impulsiona e garante a eficácia do rendimento das atividades realizadas.
Assim sendo, fica caracterizado que a motivação se dá de forma intrínseca e extrínseca,
quando os estímulos ocorrem propriamente do indivíduo e devido a fatores externos
respectivamente, no entanto conclui-se que quando o aluno aponta o desejo de realizar a
atividade no caso fazendo uso da motivação intrínseca este possui melhor aproveitamento de
aprendizagem.
Uma aula para ser considerada proveitosa (motivada) deve contar com a participação,
entendimento dos alunos e permanência dos mesmos, driblando aspectos que causam seu

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afastamento das aulas. Os principais e mais frequentes deles como visto nos estudos são as
inter-relações entre os alunos e o professor, questões relacionadas à sua imagem corporal, aulas
caracterizadas pela prática exacerbada do esporte de rendimento gerando a não adesão de algum
esporte principalmente o futsal, que é o mais praticado na Educação Física Escolar e a falta de
novos métodos de ensino.
O aluno ao participar de uma aula com o desenvolvimento dinâmico e diversificado se
sentirá muito mais estimulado a participação frequente, tal fato contribuiu para a socialização
dos alunos e permite o combate ao sedentarismo. As aulas neste contexto se tornam mais
agradáveis e instigam as hipóteses de que a Educação Física e seus professores são os favoritos
dos educandos.
No que tange o professor, este apesar dos seus aspectos desmotivantes como número de
alunos, remuneração, falta de materiais e espaço adequado para a prática da disciplina, deve
procurar manter-se sempre estimulado, pois ele é o principal fator para que seus alunos se
sintam motivados, deve partir dele traçar estratégias que aumentem o nível de interesse dos
alunos pelas aulas. Os professores devem despertar em seus alunos características como a
saúde, bem-estar físico, estética, autonomia, interação afetiva e social, que são os aspectos que
os alunos mais buscam encontrar nas aulas.
Através dos resultados estudados foi possível ainda inferir que a falta de motivação nas
aulas de Educação Física afeta diretamente as mesmas, sendo de responsabilidade dos
envolvidos (alunos e professores) buscar estratégias que conduzam ao bom desenvolvimento
delas afim de uma educação de qualidade e efetiva, visto que um aluno desmotivado não
conseguirá atingir 100% de suas capacidades intelectuais e físicas perante a Educação Física.
Todavia, almejo que professores e alunos possam cada vez mais estar motivados a teoria
e prática da Educação Física e encontrem neste estudo subsídios para tal. Ressalta-se ainda que
existem intermináveis fontes a serem estudas e conclusões a serem tomadas, de modo que está
pesquisa não se finda neste estudo, possibilitando novos estudos acerca do tema discutido para
benefício do meio acadêmico e cientifico, principalmente do ensino fundamental, aqui
discutido.

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51

PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS EM RELAÇÃO À ASSISTÊNCIA PRESTADA EM


UM CAPS NO NORTE DE MINAS GERAIS

Flávia Zizina de Freitas Mendonça1


Vilma Silva Lima2
Marco Antônio Ramos Canela3

RESUMO

A história da loucura no Brasil foi marcada por muitas lutas e desafios. Com o advento da
Reforma Psiquiátrica teve como sua maior conquista o Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS). O CAPS refere-se a um serviço aberto e comunitário de saúde do Sistema Único
de Saúde (SUS). Este modelo surge como necessidade de oferecer um tratamento digno e
humano, através de ações terapêuticas agindo em conjunto com um acompanhamento
multidisciplinar. A pesquisa se concretizou por meio de revisão bibliográfica, considerando
trabalhos acadêmicos publicados em meio digital, no período de 2014 a 2018, nas bases de
dados Scielo, Google Acadêmico e Lilacs. Conclui-se que apesar das transformações
ocorridas com a reforma psiquiátrica no Brasil, existem severas lacunas no exercício dos
direitos humanos pelas pessoas com transtornos mentais, portanto há muito o que dicutir no
meio social nas academias, e a partir deste, venhamos auxiliar nas formas de propor uma
política mais humanizada, e que as pessoas com transtornos mentais e seus familiares
conheçam seus direitos para poder exigi-los, tornando-se reais sujeitos de direitos e
cidadãos.

Palavras-chave: Percepções; Serviços da saúde; Saúde mental; CAPS.

1
Psicóloga (FASI). E-mail: <flaviazizina.psi@gmail.com>
2
Psicóloga (FASI). E-mail: <vilmarp2012@hotmail.com.br>
3
Mestre em Política Social (UFF). Cientista Social (UNIMONTES). Professor das Faculdades Integradas do Norte de
Minas - FUNORTE. E-mail: <marcocsmontes@yahoo.com.br>
REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.
52

ABSTRACT

The history of madness in Brazil was marked by many struggles and challenges. With the
advent of the Psychiatric Reform had as its greatest achievement the Center for
Psychosocial Attention (CAPS). The CAPS refers to an open and community health service
of the Unified Health System (SUS). This model emerges as a need to offer a dignified and
humane treatment, through therapeutic actions acting together with a multidisciplinary
follow-up. The research was carried out through a bibliographical review, considering
academic papers published in digital media, from 2014 to 2018, in the Scielo, Google
Academic and Lilacs databases. It is concluded that despite the transformations that
occurred with the psychiatric reform in Brazil, there are severe gaps in the exercise of
human rights by people with mental disorders, so it is a long question of what to say in the
social environment in the academies, and from this, let us help in the ways of proposing a
more humanized policy, and that people with mental disorders and their families know their
rights to be able to demand them, becoming real subjects of rights and citizens.

Keywords: Perceptions; Health services; Mental health; CAPS.

1) INTRODUÇÃO

O objetivo do presente trabalho é apresentar um projeto de trabalho de conclusão de


curso na área de Psicologia, que abordará sobre a humanização no atendimento na rede
CAPS. No entanto, para entendermos sobre os Centros de Atuação Psicossocial (CAPS) é
importante conhecer um pouco sobre a sua trajetória histórica, de como era o tratamento
aos usuários do serviço, tendo como propósito discutir a questão da percepção no
atendimento à essas pessoas, apontando os principais desafios no atendimento nas redes
CAPS II na cidade de Montes Claros-MG de modo a identificar itens que favoreçam o
serviço.

Na Idade Média, os loucos eram vistos como indivíduos, porém passaram a ser
vistos como pessoas pobres de espírito e doentes da alma (FOUCAULT, 2002). No final da
Idade Média se inicia uma nova visão de sujeito, a pessoa com transtorno mental começa,
pouco a pouco, a perder sua autonomia e seus direitos, e a sociedade passa a incorporar a
imagem que a igreja construiu, submetendo esse indivíduo a rituais religiosos de exorcismo.
Nesse contexto religioso o médico Johan Weyer já tentava desmitificar a crença de
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possessão sobrenatural como causa dos problemas mentais, e arriscou demonstrar que o
comportamento que caracterizava o louco era oriundo de uma doença (WAIDMAN, 1998).

Já na Idade Moderna, ocorreu uma grande mudança no conceito de loucura, e os que


não trabalhavam e não produziam riquezas, eram considerados marginais e improdutivos,
não podendo compartilhar o espaço nessa nova sociedade. A Revolução Francesa, ao
difundir novas ideias relativas à defesa do ser humano, permitiu a Philippe Pinel, médico
pioneiro no tratamento das pessoas com transtornos mentais, lançar as bases da moderna
assistência psiquiátrica (TUDIS; COSTA, 2000).

A história da saúde mental no Brasil, assim como a saúde em geral foi marcada por
muitas lutas e desafios. Com o advento da Reforma Psiquiátrica Brasileira evidenciada nos
anos 1970, pelo Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental com o lema “por uma
sociedade sem Manicômios”, surgem avanços e processos de intervenção depois de uma
era marcada por mitos, maus-tratos e muitas mortes (AMARANTE, 2008).

A Reforma Psiquiátrica no Brasil começou por meio dos anos 1970 teve como maior
conquista o surgimento do CAPS. O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), refere-se a
um serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa ocupação
se dá a um lugar que é marcado para tratamento de pacientes com sofrimento mental,
neuroses severas, psicoses e demais quadros. Portanto sua persistência justifica assim a sua
força no cuidado intenso a população promovendo qualidade de vida (FERREIRA, 2016
apud LABBATE, 2003, p. 73).

Contudo, a Reforma Psiquiátrica no Brasil tem como objetivo o paradigma da


desconstrução da loucura, por meio da cassação dos manicômios, mas também com o
propósito na defesa dos direitos humanos, assim como a construção de serviços
substitutivos, desfazendo a ideia de tratar o louco como enfermidade, e de encoraja-lo para
seus direitos e a assim desenvolver cidadania e subjetividades, garantindo assim a sua
autonomia na sociedade (SANTOS et al., 2017).

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A reforma psiquiátrica é um movimento histórico de caráter social econômico e


político, composto por instituições, forças de diferentes origens e que se aplica em
diversos territórios nacionais, governo federal, estadual e municipal, nas
universidades, serviços de saúde, conselhos profissionais, associação de pessoas com
transtornos mentais e seus familiares, nos movimentos sociais etc. Compreendida
como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais,
e no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que
o processo da Reforma psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos
e desafios. (BRASIL, 2005, p. 6).

O primeiro CAPS surgiu no Brasil por volta do ano de 1986 na cidade de São Paulo,
onde se localizava o ambulatório de instancia técnica de Saúde Mental da Secretaria
Estadual de Saúde. No presente local evitava-se internações, e assim oferecendo
acolhimento aos agressores dos hospitais psiquiátricos e sendo ofertado um bom
atendimento para usuários com sofrimento mental, oferecendo um tratamento mais digno e
humanizado através de ações terapêuticas, agindo em conjunto com acompanhamento
multidisciplinar (FERREIRA, 2016 apud BRASIL, 2004, p. 77).

Com o efeito da Reforma psiquiátrica o CAPS surge como política humanizada que
valoriza todo o contexto de mudança, a reinserção social, como suporte a família no
tratamento. Nesse contexto, o indivíduo apresentava dificuldades na inserção no mercado
de trabalho devido ao sofrimento psíquico (COSTA et al., 2016).

As diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil se dá ao cumprimento da


participação do cidadão na gestão dos serviços de saúde por meio de fortalecer a
reintegração sócia cultural com a atuação interdisciplinar dos indivíduos com sofrimento
mental. A participação tem sido considerada um fator relevante das políticas sociais e
fundamental para atingir o direito das pessoas. Contudo, a participação dos usuários na
assistência à saúde é um assunto importante quando se trata de saúde mental, já que a pouco
envolvimento desses usuários nas decisões sobre o tratamento (GONÇALVES; CAMPOS,
2017).

Destaca-se a Lei 8.080, 19 de setembro de 1990 instituiu o Sistema Único de Saúde


que ajudam a entender uma das suas essências (BRASIL, 1990).

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao

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acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e


recuperação.

Desde 1990, a saúde mental passa pelo processo de mudança, a partir deste ano
foram evocadas as ideias do movimento de reforma sanitária e Psiquiátrica como paradigma
na efetivação dos cuidados de saúde mental, em um processo de desenvolvimento de um
padrão que compreendesse e respeitasse estas pessoas como ser humano (SANTOS et al.,
2017).

Nesse sentido, humanizar se traduz, então, como a inclusão das diferenças nos
processos de gestão e de cuidado. Tais mudanças são construídas não por uma pessoa ou do
grupo isolado, mas de forma coletiva e compartilhada. Incluir para estimular a produção de
novos modos e novas formas de organizar o trabalho (BRASIL, 2013, p. 4).

Conforme Santos et al. (2017) nesse contexto de humanização, o tratamento em


geral, tem como elementos conhecer o protagonismo do sujeito envolvidos no processo de
saúde e doença, incluído tanto os usuários como trabalhadores. Como paradigma em
compartilhar coletivamente serviços prestados, afim de qualificar a oferta de operação dos
seus direitos.

2) METODOLOGIA

Para o presente estudo realizou-se uma revisão bibliográfica sistemática,


considerando trabalhos acadêmicos publicados em meio digital, no período de 2014 a 2018,
nas bases de dados do Scielo, Lilacs e do Google Acadêmico. Foram adotados critérios
específicos para a coleta dos dados como a consideração de artigos publicados em língua
portuguesa, no Brasil e que fossem vinculados às Instituições de Ensino Superior.

Foram descartados, por conveniência, estudos governamentais e de Instituições do


Terceiro Setor, uma vez que o objetivo do presente estudo é avaliar a discussão sobre a
temática exclusivamente no meio acadêmico.

Para a pesquisa, foram adotados os seguintes descritores, de forma isolada e

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combinada:

o Reforma Psiquiátrica
o CAPS
o Serviços de Saúde Mental
o Psicologia

3) RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quadro 1 - número de artigos encontrados.

TRABALHOS ENCONTRADOS
DESCRITOR TOTAL
Google Acadêmico Lilacs Scielo

Reforma Psiquiátrica 15 10 20 45

CAPS 9 15 15 39

Serviços de Saúde Mental 25 15 15 55

Psicologia 40 20 30 90

Total de trabalhos
229
encontrados

Fonte: Pesquisa realizada em maio de 2019.

Como se pode observar no Quadro 1, é muito pequena a produção acadêmica a


respeito da legislação em questão, sobretudo diante da relevância da temática. Feitas as
devidas combinações com os descritores eleitos para a presente pesquisa, foram
encontrados 229 trabalhos que se enquadram nos critérios de elegibilidade. Para efeito da
análise proposta, por conveniência foram sorteados eletronicamente 6 (seis) artigos
científicos, como mostra o Quadro 2 a seguir:

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Quadro 2 - trabalhos sorteados.

Trabalho Bases de Dados IES de Origem

1. Direitos humanos de pessoas com transtornos mentais: perspectiva UERJ- Rio de


de profissionais e clientes Google Acadêmico
Janeiro

2. O papel da atenção primária de saúde na constituição das redes de UFRJ- Rio de


cuidado em saúde mental Lilacs
Janeiro

3. Produção do cuidado em saúde mental: desafios para além dos João Pessoa-
muros institucionais Lilacs
Paraíba

4. Percepção fenomenológica dos profissionais do centro de atenção Lilacs UFF- Niterói – SP


psicossocial (CAPS): vivências e desafios da prática em saúde
mental
5. Qualidade do cuidado em dois centros de atenção psicossocial sob Scielo São Paulo – SP
o olhar de usuários
6. Avaliação da estrutura dos Centros de Atenção Psicossocial da
região médio Paraopeba, MG. Scielo Paraopeba – MG

Fonte: Pesquisa realizada em maio de 2019.

Artigo 01 - Verifica-se uma discussão acerca dos Direitos humanos de pessoas com
transtornos mentais: perspectiva de profissionais e clientes. Realizado com profissionais
de saúde e clientes de um Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS II) de um município do
interior do Estado de São Paulo. Os clientes descreveram experiências de desrespeito e
maus tratos vivenciados no contexto das relações sociais de forma geral, e a violação dos
direitos humanos. A partir deste cenário foi evidenciado clientes e profissionais argumentam
que a discriminação e o preconceito prejudicam a concretização dos direitos das pessoas
com transtornos mentais. Além disso, os participantes apontaram o respeito mútuo como
fator fundamental para a prestação de um bom atendimento e para a efetivação dos direitos
humanos. Vale ressaltar também a importância dos profissionais que aprimore seus
conhecimentos sobre os direitos dos clientes para, transmiti-los, e que estes profissionais
sejam facilitadores do envolvimento dos clientes e famílias é relevante para a consolidação
dos direitos.

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Artigo 02 - Discute os desafios de compreender experiências de usuários em dois


Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), localizados em Fortaleza, Ceará, no que concerne
à qualidade do cuidado conferido pelos profissionais. Na análise processamento e
interpretação do material discursivo evidenciaram três dimensões, categorizadas conforme
segue: a) aspectos formais da assistência; b) humanização e acolhimento; e c) integralidade
e clínica ampliada. A pesquisa desvelou a importância do acolhimento, a ambiência, a boa
interação entre profissionais e usuários, o monitoramento medicamentoso e a humanização
como os principais elementos que conferem o estatuto de atendimento de qualidade em
saúde mental. Nas considerações finais, os autores ressaltaram as relações intersubjetivas
estabelecidas entre profissionais e usuários que revelaram uma articulação necessária com
os aspectos formais em relação ao cuidado da saúde mental.

Artigo 03 - Trata se de práticas e estratégias de Cuidado à Saúde Mental


desenvolvida pelas equipes de atenção primária na área urbana de Pesqueira/PE. Foi obtido
os seguintes resultados: Os usuários com transtorno mental e/ou sofrimento psíquico são
atendidos, principalmente, nas unidades de saúde da família e unidades básicas de saúde,
sendo, então, referenciados para o CAPS. As estratégias e práticas de Cuidado em saúde
mental variam de acordo com a experiência de cada profissional e são centradas na consulta
médica, prescrição e controle da medicação. Devido à recente implantação do CAPS, a rede
de atenção psicossocial do município apresenta problemas de estruturação e coligação entre
os diferentes pontos de assistência, a exemplo da dificuldade de estabelecimento de fluxo
de referência e contra referência.

Artigo 04 - O artigo traz algumas problematizações sobre desafios da


desinstitucionalização no cuidado em saúde mental a partir de um Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) de João Pessoa- PB. A pesquisa foi realizada no ambiente de trabalho,
no qual os pesquisadores participavam das reuniões de equipe e acompanhavam a produção
do cuidado dentro e fora do CAPS. No processo de educação permanente junto à equipe do
CAPS, foi possível produzir visibilidade a três movimentos: a invisibilidade do território
vivo na produção das redes de cuidado; a necessidade do matriciamento como articulador
das ações do CAPS e a atenção básica; e os impasses para a desinstitucionalização da vida.
Contudo os autores apostam no movimento de abrir-se ao mundo vivo da cidade, que a

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saúde mental consiga produzir cuidados para além do sofrimento psíquico, se ocupando
com a produção de vida das pessoas.

Artigo 05 - A Reforma Psiquiátrica trouxe mudança de paradigmas na atenção


psicossocial com relação aos processos de reorganização do modelo assistencial e ás
praticas cotidianas em curso dos serviços substutivos. Considerando a interdisciplinaridade
como uma estratégia importante para a organização do trabalho no atendimento aos usuários
do CAPS torna-se relevante a dimensão das percepções no contexto das práticas da equipe
de saúde mental.

Nesse sentido, o estudo visa compreender a percepção dos profissionais de saúde


mental acerca da desinstitucionalização e suas experiências vivenciadas nas práticas
cotidianas do cuidado no contexto do CAPS. Através dos dados coletados pela pesquisa se
obteve seguintes resultados: Primeira categoria: Os sentidos da desinstitucionalização para
os profissionais do CAPS, que abrangeu duas subcategorias: A desinstitucionalização como
um Processo: Uma ponte na interação com a família e sociedade. – Segunda categoria: A
desistitucionalização da existência humana do paciente que abrangeu: Aprendendo a
conviver não mais enclausurados; fortalecimento de vínculos; o preconceito e o estigma do
paciente psiquiátrico. Terceira categoria: Desafios da prática do cuidado singular em saúde
mental. Pode-se concluir que o estudo mostra que a nova experiência do paciente
desintitucionalizado e inserido no novo modelo, precisa reaprender a viver em grupo, a
conviver, uma vez que a existência do sujeito ainda está institucionalizada, mostrando a
dimensão expressiva do corpo que ainda vive o modelo encarcerado.

Artigo 06 - O estudo teve como objetivo avaliar as instalações físicas, recursos


humanos e atividades desenvolvidas nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da região
do Médio Paraopeba, Minas Gerais, Brasil. Estudo de avaliação sobre aspectos das
dimensões de estrutura e processo propostos por Donabedian, baseado nas recomendações
do Ministério da Saúde e legislação vigente, por meio de formulários semiestruturados para
entrevista com gestores e observação direta nos CAPS. O estudo foi realizado em 12 CAPS
estudados, foram encontradas todas as estruturas físicas mínimas recomendadas, equipe de
profissionais completa e em número superior ao estipulado pela legislação; a utilização de
espaços comunitários, comunicação e troca de informações com os demais pontos da rede
REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.
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de atenção era deficiente em grande parte dos serviços. Embora houvesse adequação na
maioria dos aspectos, observaram-se deficiências; a definição de critérios e a atualização de
legislações são necessárias para melhoria dos serviços e atendimento da proposta de
trabalho em rede.

3) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos do estudo foram alcançados, com algumas limitações, como um


número reduzido de artigos, acredita-se que o estudo merecia mais tempo, que merecia uma
amostra maior de artigos. Por fim, conclui-se que o tema é relevante para a Academia
especialmente para a Psicologia, no tocante do usuário da saúde mental.

Com base nos conhecimentos teóricos, é fundamental o desenvolvimento de


intervenções que busquem facilitar a apropriação de direitos pelas pessoas com transtornos
mentais. É importante também que os profissionais de saúde aprofundem cada vez mais
seus conhecimentos sobre os direitos dos pacientes para, então, transmiti-los, e que as
pessoas com transtornos mentais e seus familiares conheçam seus direitos para poder exigi-
los, tornando-se reais sujeitos de direitos e cidadãos.

Apesar das transformações ocorridas com a reforma psiquiátrica no Brasil, existem


severas lacunas no exercício dos direitos humanos pelas pessoas com transtornos mentais.
Percebe-se que estamos longe de atender de forma como gostaríamos, faltam um
atendimento mais especializado, os dados mostram que ainda que indiretamente a muito
que fazer, precisa-se melhorar a discussão dentro da academia, existem demandas não
atendidas. Trata-se de um problema de ordem social com rebatimentos na saúde coletiva,
com impactos uma vez que tais demandas sempre chegarão nos CAPS e nos serviços de
setor Público.

É desejável que novos e mais aprofundados estudos sejam realizados com esta
temática para que possamos melhorar e aperfeiçoar o atendimento especializado em saúde
mental no setor público.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução n° 466, de 12 de Dezembro de 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Mental no SUS: os centros de atenção psicossocial.


Secretaria de Atenção á Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília:
Ministério da Saúde, 2004.

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profissionais e dos usuários de atenção psicossocial. Psicologia e saber social, v. 5, n. 1, p. 35-
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FERREIRA, J. T. et al. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): Uma Instituição de


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GONÇALVES, L. L. M.; CAMPOS, R. T. O. Narrativas de usuários de saúde mental em uma


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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. A saúde mental nos dias de hoje. Disponível em:
<https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/7824> Acesso em: 31 out. 2018.

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RAMMINGER, T.; BRITO, J. C. “Cada CAPS é um CAPS”: uma coanálise dos recursos, meios
e normas presentes nas atividades dos trabalhadores de saúde mental. Psicologia & Sociedade,
Rio de Janeiro, v. 23, p. 150-160, 2011.

SANTOS, A. B. et al. Saúde Mental, Humanização e Direitos Humanos. Cadernos Brasileiros


de Saúde Mental, v. 10, n. 25, p. 01-19, 2018.

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pacientes com os serviços de saúde mental: a percepção de mudanças como Preditora. J. bras.
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TUNDIS, S. A.; COSTA, N. R. (org.). Cidadania e loucura: políticas de saúde mental no


Brasil. 6. ed. Petrópolis: Vozes Abrasco, 2000.

WAIDMAN, M. A. P. Enfermeira e família compartilhando o processo de reinserção social


do doente mental. 1998. 109 p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1998.

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REDES SOCIAIS E SEUS IMPACTOS NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

Marco Antônio Ramos Canela1


Fernanda Sousa de Oliveira2
Lucas Silva Alencar3
Leonardo Augusto Couto Finelli4

RESUMO

Estudou-se a relação entre as Mídias Sociais e a Saúde Mental de um grupo de estudantes


universitários do curso de Odontologia da cidade de Montes Claros (MG). Trata-se de um
estudo de corte transversal de caráter descritivo com análise de dados quali-quantitativa. Nesse
estudo foram entrevistados por conveniência 12 (doze) acadêmicos, de ambos sexos, que
atendesse aos critérios de inclusão e exclusão da pesquisa. Como instrumento de coleta de dados
utilizou-se um questionário estruturado pelos próprios pesquisadores. Foi evidenciado que o
aparelho celular e as Redes Sociais exercem uma forte influência nas relações interpessoais.
Notou-se discursos congruentes entre entrevistados, aludindo que o uso exacerbado do celular
e mídias sociais promovem um distanciamento afetivo; além de ser elencado como um dos
principais motivadores para o surgimento de desconfiança e de conflitos nas relações.
Relacionado aos aspectos da saúde mental, uma parte expressiva dos entrevistados revelam
características ansiosas ao se verem privados do uso do celular. Percebeu-se uma estreita
relação entre o uso das redes sociais e as noções ilusórias transmitidas por estes, impactando
negativamente na autoestima dos usuários, e gerando sentimento de tristeza e melancolia. No
tocante aos aspectos cognitivos, foi relatada por cerca de 80% dos participantes uma diminuição
na capacidade de concentração, no qual estes reconhecem não conseguir se concentrar enquanto
realizam algum tipo de atividade, e também provocando a procrastinação de suas atividades.
Conclui-se que o uso exacerbado dos celulares e redes sociais, predispõe a aquisição de
transtornos ansiosos, e depressivos, como afeta negativamente as relações interpessoais.

Palavras-chave: Redes sociais; Relações interpessoais; Celulares; Internet; Mídias sociais.

1
Mestre em Política Social (UFF). Cientista Social (UNIMONTES). Professor das Faculdades Integradas do Norte
de Minas - FUNORTE. E-mail: <marcocsmontes@yahoo.com.br>
2
Psicóloga. E-mails: <fernandasousa888@gmail.com>
3
Psicólogo (FUNORTE). E-mail: <luccasalencarpsique@gmail.com>
4
Doutor em Ciências da Educação (UEP), Mestre em Psicologia (USF), graduado em Psicologia (UFMG),
graduado em Pedagogia (FETAC), Professor adjunto das Faculdades Integradas do Norte de Minas – FUNORTE,
E-mail: <finellipsi@gmail.com>
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ABSTRACT

The relationship between the Social Media and Mental Health of a group of university students
of the Dentistry course of the city of Montes Claros (MG) was studied. This is a descriptive
cross-sectional study with qualitative and quantitative data analysis. In this study, 12 (12)
academic students of both sexes were interviewed for convenience, which met the criteria of
inclusion and exclusion of the research. As a data collection instrument, a questionnaire
structured by the researchers was used. It was evidenced that the cellular apparatus and the
Social Networks exert a strong influence in the interpersonal relations. Congruent speeches
were noted among respondents, alluding that the exacerbated use of cell phones and social
media promoted an affective distance; besides being listed as one of the main motivators for
the emergence of mistrust and conflicts in relationships. Regarding aspects of mental health, an
expressive part of the interviewees reveal anxious characteristics when they are deprived of the
use of the cell phone. It was noticed a close relationship between the use of social networks and
the illusory notions transmitted by them, negatively impacting users' self-esteem, generating a
feeling of sadness and melancholy. Concerning cognitive aspects, about 80% of the participants
reported a decrease in their ability to concentrate, in which they recognize that they cannot
concentrate while performing some type of activity, and also causing their activities to be
procrastinated. It is concluded that the exacerbated use of cell phones and social networks,
predisposes to the acquisition of anxious, and depressive disorders, as it adversely affects
interpersonal relations.

Keywords: Social networks; Interpersonal relationships; Cell phones; Internet; Social media.

1) INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade é visível a presença do aparelho de telefonia celular nas mais


diversificadas realidades sociais, visto que, a sua inserção como bens de consumo, se deu
presente a partir da década de 1990. Anteriormente a essa época a sua função principal era
apenas para realização e recebimento de ligações, não havia grande variedade de modelos e seu
valor não era acessível a todos as classes sociais (DUTRA, 2016).
A criação da internet emergiu em decorrência de um projeto de governo dos Estados
Unidos, que, em primeiro momento, tinha como pretensão a comunicação entre os pontos
chaves de seu sistema de defesa em caso de ataque soviético, e tinha como principal objetivo,
a descentralização das comunicações (MIRA; BODONI, 2015).
Inicialmente o sistema foi chamado de ARPANET, e era o embrião da internet que
temos nos dias atuais. A ARPANET deixou de ser um sistema militar para interligar pessoas

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entre vários pontos, foi quando um protocolo de comunicação chamado BBC, passou a ser
utilizado por professores, alunos e pesquisadores na década de 1960 (MIRA; BODONI, 2015).
Diante do exposto é visto a versatilidade causadas pelos celulares, ainda mais com a
multiplicidade de redes sociais presentes na internet. Dificilmente encontra-se pessoas que não
tenham adesão a esses aplicativos, quando questionados a maioria dizem de uma “abstinência”
quando se veem interrompidos de fazerem o uso do aparelho (CANEZIN; ALMEIDA, 2015).
O termo Redes Sociais, faz referência direta com possibilidades de expressão e
sociabilização, onde há a interação de um ou mais atores. Os mesmos deixam através dessas
redes, a não ser mais somente passivos, ou seja, que só recebem informações, mais atores ativos,
que não apenas recebem, mais criam e difundem conteúdos (SILVA; ANTUNES, 2013).
A partir da necessidade de compreensão acerca dos impactos do uso dos celulares e das
redes sociais no campo da Saúde Mental, o Modelo Cognitivo comportamental demarca as
fortes influências desse uso desmedido. As influências nos pensamentos de um indivíduo, tem
como consequência o desenvolvimento de comportamentos desadaptativos (DAVIS, 2001;
KLINGLER et al., 2017).
Segundo Lucia (2014 apud Bueno & Lucena, 2016), a forma do uso excessivo de
smartphones, pode influenciar no processo saúde-doença de indivíduos tanto em âmbito
psicológico quanto social. É referenciado o termo Nomofobia, que faz alusão a um medo que o
indivíduo sente pelo simples fato de não estar na presença do aparelho celular, o que pode
desencadear uma série de transtornos.
Diz então, de uma dependência causada por esse eletrônico, porém todo esse fascínio
pode vim a proporcionar distúrbios. Os mesmos estão relacionados ao sono, estresse e
depressão, visto que jovens tem mais predisposição a desenvolver essas alterações (BUENO;
LUCENA, 2016).
Verifica-se através dos estudos de Silveira (2004), e Nicolaci-da-Costa (2005; 2006),
que a internet traz consigo impactos e influências na forma de subjetivação, para usuários das
salas de chats, telefonias móveis, onde é presentificada a sensação de proximidade, de fazer
parte da mesma turma eletrônica, no qual não há lugares nem tempo determinado para nada.
Tudo passa fluido e liso, como características da pós-modernidade (CASTANHO; ZORZIM,
2017).

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Nesse sentido o objetivo do presente estudo foi averiguar a relação entre as Mídias
Sociais e a Saúde Mental de um grupo de estudantes universitários da cidade de Montes Claros
(MG).

2) METODOLOGIA

2.1 Participantes e Procedimentos

O estudo adotou uma abordagem de trabalho de campo, de corte transversal de caráter


descritivo com análise de dados qualiquantitativo. O estudo foi realizado entre os acadêmicos
do curso de Odontologia, do turno integral, das Faculdades Integradas do Norte de Minas-
Funorte, localizada na cidade de Montes Claros - MG. A amostra foi composta por 12
acadêmicos do curso de Odontologia, localizada de ambos os sexos, sendo 4 (quatro) do 1°
período, 4 (quatro) do 2° período e 4 (quatro) do 3° período.
Os participantes foram selecionados por conveniência, de acordo com os critérios de
inclusão: acadêmicos devidamente matriculados no curso de Odontologia onde ocorreu o
estudo, os que estavam presentes em sala de aula no dia da seleção da amostra e coleta de dados,
e os que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Sendo como
critério de exclusão menores de 18 (dezoito) anos e os que tinham algum tipo de deficiência
mental e/ou visual.
Mediante a explicação da pesquisa proposta, os objetivos e aceitação de participação
dos acadêmicos, os mesmos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
e, por conseguinte, responderam o instrumento de pesquisa individualmente.
A pesquisa foi aprovada pelo CEP da Soebras recebendo o Parecer Consubstanciado Nº
3.101.380, estando, portanto, em conformidade com as normas éticas que envolvem pesquisas
com seres humanos (CNS, 2012; 2016).

2.2 Instrumentos

Foi utilizado como instrumento de coleta de dados, um questionário estruturado,


elaborado pelos próprios autores, contendo 23 perguntas, sendo 18 (dezoito) perguntas de

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múltipla escolha, e 5 (cinco) perguntas abertas. Em relação a temática desenvolvida, as


perguntas estavam direcionadas sobre os fenômenos que acometem o bem-estar físico e
psíquico desses indivíduos inseridos nessa pós modernidade.
Para aplicação do questionário, foi feito previamente um sorteio dos acadêmicos
matriculados em cada turma do curso de Odontologia, através das listas de matriculados
solicitada previamente na secretária do curso. Após o sorteio foi solicitado que respondessem
o questionário em outra sala para o sigilo e para garantir a confiabilidade da pesquisa.
Devidamente posicionados, os pesquisadores explicaram os objetivos da pesquisa e o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido. Em estudantes universitários da cidade de Montes
Claros (MG).
Com o término da aplicação do questionário, as informações foram coletadas,
armazenadas e trabalhadas em planilha no programa Microsoft Excel. A interpretação dos
resultados foi feita através de gráficos, tabelas e análise dos discursos e conteúdo que foi
apresentados de forma descritiva, para melhor compreensão dos dados.

3) RESULTADOS

Após ser realizada a tabulação e interpretação da coleta de dados, restaram evidenciados


resultados que corroboram com as hipóteses inicialmente levantadas com o presente estudo.
Ao questionar os entrevistados acerca dos sentimentos ao ser privado do uso do celular
58% das pessoas se percebem ansiosos (Figura 1). Com isso pode-se constatar a existência de
influências no repertório comportamental e até mesmo alteração no estado emocional desses
indivíduos, o que pode trazer consigo impactos e até mesmo comprometimento em diversas
áreas da vida desses sujeitos.

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68

12

10

8 58%
6

4
17% 17%
2 8%
0%
0
A- Não percebo B- Triste C- Ansioso (a) D- Impaciente E- Nervoso (a)
alterações

Figura 1 - Com o celular se tem acesso rápido e fácil às pessoas e às informações, quando
você se vê privado destas coisas, como você se sente?

Fonte: dados da pesquisa.

Conforme explicitado na Figura 2, nota-se que somado as pessoas que disseram


considerar fazer uso do celular e rede social como uma forma de fuga da realidade, mesmo que
parcialmente totaliza o número de 76% dos entrevistados. O que nos leva a pensar que a
recorrência a tal ferramenta se apresenta como uma forma de obtenção de prazer imediato e
como também uma forma de amenizar sofrimentos, angústias e faltas que são vivenciados na
vida real, sejam elas, objetivas e reais ou até mesmo a nível simbólico.

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1

12
10
8
6 42%
4 25%
17% 17%
2
0%
0
A- Sim, quando B- Não ,consigo C-Na maior D- Parcialmente, E- NDA
estou conectado separar muito parte do tempo apenas em
(a) consigo bem da sim alguns
esquecer dos realidade momentos
meus problemas

Figura 2 - Você vê o celular e as redes sociais como uma forma de fuga da realidade?
Fonte: dados da pesquisa.

Na Figura 3 pode-se notar uma maioria expressiva de 83% dos entrevistados que
reconhece não conseguir realizar uma atividade adequadamente enquanto faz o uso do celular,
como também dificultando a realização de atividades futuras. É notória a estreita relação entre
o uso exacerbado do celular a dificuldade de concentração, o que pode evoluir até mesmo para
um TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), devido a alta produção de
estímulos, a muitas telas e as multitarefas envolvidas no espaço virtual.

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2

12

10

8 58%
6

4 25%
17%
2
0% 0%
0
A- Sim, percebo B- Não, consigo C- Sim, não D- Não, consigo E- NDA
uma dificuldade me concentrar consigo realizar realizar duas
em me normalmente uma atividade coisas ou mais
concentrar em adequadamente ao mesmo
outras enquanto mexo tempo sem
atividades no celular prejudicar

Figura 3 - Você considera que o uso do celular prejudica sua capacidade de concentração?
Fonte: dados da pesquisa.

Evidenciou-se na Figura 4 que, 75% dos entrevistados atribuem a não durabilidade das
relações em decorrência da facilidade de comunicação das redes sociais. O que nos leva a crer
na existência de fatores sediados nas mídias sociais que provocam a quebra de valores morais
e que são prezados nas relações e vínculos afetivos, desta forma provocando a instabilidade e
até mesmo o rompimento dos mesmos.

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3

12

10

6
42%
33%
4
25%

0% 0%
0
A- Sim B- Não C- Parcialmente D- Não vejo E- NDA

Figura 4 - Você considera que a facilidade de se comunicar e o acesso fácil às novas pessoas
contribuem para a não durabilidade das relações de modo geral?
Fonte: dados da pesquisa.

Consideradas as respostas às questões abertas e considerações dos respondentes, notou-


se nos entrevistados 8 (oito) e 12 (doze) a congruência de discursos relacionados a baixa auto
estima que pode ser justificada através dos conteúdos compartilhados nas redes sociais,
produzem noções de felicidade que não correspondem à realidade de fato, como também
disseminam padrões de vida não tangíveis, e por conseguinte é evidenciado uma forte tendência
desses usuários se compararem e se sentirem inferiorizados pela não obtenção destes ideais.
Entr. 8. “Às vezes me sinto para baixo com meu corpo e estilo de vida".
Entr. 12. “Não lido bem, acabo me comparando".
Com o relato da entrevistada 4 (quatro) pode-se perceber a tendência ao egocentrismo e
individualismo provocado pela tecnologia presente em nossos tempos. Percebe-se a diminuição
de valores éticos e morais que eram norteadores da conduta humana, o que resulta na promoção
de crises existenciais e de identidade dos indivíduos, como também a fragilização dos vínculos
afetivos.
Entr. 4. “A falta de empatia, a frieza e um pouco de grosseria, podem ser efeitos
colaterais que em mim a rede social causou".

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O discurso da entrevistada 2 (dois) revela os efeitos provocados pela tecnologia nas


relações contemporâneas, onde o contato virtual assume o protagonismo ao invés do pessoal.
Com isso tem se sujeitos marcados pela ausência da presença, afeto e carinho, fazendo emergir
a solidão e a carência afetiva.
Entr. 2." Me causa ansiedade, vontade de acompanhar a pessoa e cobrá-la mais tempo
real do que virtual".
Com o relato da entrevistada 5 (cinco) nota-se a influência das redes sociais e do uso do
celular de modo geral, como sendo marcante no processo de subjetivação dos indivíduos, uma
vez que, as relações virtuais são desprovidas de aspectos que movem o corpo e o afeto. Tais
quais são cadenciadores do processo de construção da subjetividade, e estão estritamente
ligados a formação da personalidade dos indivíduos.
Entr. 7. “Me distancia de algumas pessoas, acabo ficando com vergonha de conversar
pessoalmente, me tornei insegura".

4) DISCUSSÃO

Alves, Bezerra & Sampaio (2015) constataram que, com o surgimento da ansiedade
nossa sociedade atual tem passado por diversas mudanças. Por ter um fluxo muito avançado de
informações os indivíduos têm desenvolvido mais doenças físicas e psicológicas, sendo que as
mesmas variam de acordo com o espaço onde estão inseridos. Sabendo de fato, selecionar o
que se faz pertinente, preserva não só a sua saúde física mais também a saúde mental.
Quinet (2014) alude à noção de que vivemos em uma sociedade que é presentificada
pelo consumo e abundância, criada pela multiplicação de objetos, no qual as pessoas não
buscam estabelecer o laço social, mais se cercam de objetos "celulares, carros, computadores".
As relações são norteadas pela aquisição, manipulação de bens materiais e mensagens, desse
modo, deixando o laço social em segunda instância.
A partir dos estudos dessa pesquisa é possível afirmar que os aparelhos celulares e as
mídias sociais têm assumido fortes influências nas relações interpessoais fazendo emergir crises
e conflitos nestes. Também é evidenciada uma tendência ao uso do celular como uma forma de
fuga da realidade, pelo fato deste proporcionar uma obtenção de prazer imediato em decorrência
de noções.

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5

5) CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos na pesquisa podemos alcançar os objetivos propostos


pelo atinente estudo. Com base na análise e interpretação da coleta de dados, pode se concluir
que o uso dos aparelhos celulares de ainda é concebido como uma boa ferramenta para o
entretenimento e facilitação da comunicação entre as pessoas, entretanto foi evidenciado no
referido estudo que este exerce uma forte influência nas relações interpessoais.
Notaram-se discursos congruentes entre entrevistados, no sentido de que as redes sociais
e o uso exacerbado do celular promovem um distanciamento afetivo; além de ser relatado como
sendo um dos principais motivadores para o surgimento de desconfiança e de conflitos nas
relações.
Relacionado aos aspectos da saúde mental, uma parte expressiva dos entrevistados
revelam características ansiosas ao se verem privados do uso do celular. Notou-se também a
estreita relação entre o uso das redes sociais e as noções ilusórias transmitidas por estes, tendo
influências negativas na autoestima dos usuários, também gerando sentimento de tristeza e
melancolia.
No tocante aos aspectos cognitivos, foi relatada por cerca de 80% dos participantes uma
diminuição na capacidade de concentração, no qual estes reconhecem não conseguir se
concentrar enquanto realizam algum tipo de atividade, e também provocando a procrastinação
de suas atividades.
Diante de tais fatos foi revelada uma maior predisposição aos transtornos ansiosos,
depressivos e relacionados ao déficit de atenção. Através dos resultados obtidos nesta pesquisa,
foi reconhecida a necessidade de um estudo mais aprofundado acerca da temática em questão,
pelo fato de se tratar de um grupo amostral diminuto, com estudo de corte transversal, dessa
forma não possibilitando a generalização do estudo. Pretende-se replicar futuramente esta
pesquisa com um caráter longitudinal, em uma tese de mestrado, desse modo apurando a
fidedignidade do estudo.
Com este estudo pôde se perceber a necessidade da criação de matrizes curriculares que
contemplem matérias relacionadas com a presente temática; como também a criação de espaços
de discussão (seja através de seminários, conferências ou semelhantes). Isso porque é papel da

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Psicologia se ater às constantes transformações nos modos de subjetivação dos indivíduos, e


também nas formas de se relacionar e aos fenômenos que causam o adoecimento psíquico.
Contando com a efetivação de tais políticas acrescidas na formação do Psicólogo, será
possibilitada uma formação generalista, contando com uma ampla compreensão acerca dos
fenômenos supracitados, e auxiliando estes profissionais em suas práticas cotidianas, assim
como no desenvolvimento de estratégias de intervenções e manejo quando deparados com
demandas relacionadas a este contexto.

REFERÊNCIAS

ALVES, E. N. P.; BEZERRA, S. F.; SAMPAIO, D. A. Ansiedade de informação e normose:


as síndromes da sociedade da informação. Biblionline, v. 11, n. 1, p. 103-139, 2015.

BUENO, G. R.; LUCENA, T. F. R. Geração cabeça-baixa: saúde e comportamento dos


jovens no uso das tecnologias móveis. In: SIMPÓSIO NACIONAL ABCiber. Anais..., PUC
São Paulo, 08/10 dez. 2016.

CANEZIM, P. F. M.; ALMEIDA, T. O. O Ciúme e as Redes Sociais: uma revisão


sistemática. Pensando Famílias, v. 19, n. 1, p. 142-155, 2015.

CASTANHO, M. I. S.; ZORZIM, T. J. I. Internet, cultura do consumo e subjetividade de


jovens. Pesquisas e Práticas Psicossociais, v. 12, n. 1, p. 36-53, 2017.

DUTRA, F. A história do telefone celular como distinção social no Brasil. Da elite


empresarial ao consumo da classe popular. Revista Brasileira de História da mídia, v. 5, n.
2, p. 102-116, jul./dez. 2016.

KLINGER, E. F.; SILVA, J. B. F.; MARINHO, V. L.; MIRANDA, K. W.; REIS, T. V.


Propensão à dependência da Internet: um estudo com acadêmicos. Revista Cereus, v. 9, n. 2,
p. 75-91, 2017.

MIRA, J. E.; BODONI, P. S. B. Os impactos das redes sociais virtuais nas relações de jovens
e adultos no ambiente acadêmico nacional. Revista de Educação, v. 14, n. 17, p. 103-115,
2011.

SILVA, C. M.; ANTUNES, M. J. Implicações profissionais da utilização de redes sociais


online. 2013. 150 p. Dissertação (Mestrado em Comunicação Multimédia) – Universidade de
Aveiro – Departamento de Comunicação e Arte, Aveiro, Portugal, 2013.

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7

SOARES, S. S. D.; CÂMERA, G. C. V. Tecnologia e Subjetividade: impactos do uso do


celular no cotidiano de adolescentes. Pretextos, v. 1, n. 2, p. 204-223, 2016.

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TRANSTORNO MENTAL ENTRE MORADORES DE RUA:


INTERSETORIALIDADE ENTRE ASSISTÊNCIA SOCIAL E SAÚDE MENTAL

Marco Antônio Ramos Canela1


Áurea de Queiroz Veloso2
Rivas Vieira de Queiroz3

RESUMO

O presente artigo aponta os aspectos subjetivos dos moradores de rua da cidade de Montes
Claros que são passíveis de intervenção por parte da saúde mental. Trata-se de um estudo
qualitativo com analise do discurso e corte transversal; sendo de caráter exploratório e
descritivo. Neste estudo foram entrevistados por conveniência, três moradores de rua que
atendesse aos critérios de inclusão e exclusão da pesquisa. Considerou-se como critério de
inclusão os sujeitos cadastrados no Centro POP (Centro de Referência Especializado à
População em Situação de Rua) bem como a participação livre e espontânea desses sujeitos;
podendo ser de ambos os sexos, alfabetizados ou não. Foram excluídos os sujeitos que se
encontraram alcoolizados, drogados e desestabilizados emocionalmente no momento da
pesquisa. Como instrumentos para coleta de dados foram utilizados o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido para a participação em pesquisa, Termo de
Concordância da Instituição, roteiro de entrevista que abrange os objetivos do tema em
questão. Os dados coletados foram tabulados e analisados por meio da técnica de Análise
do Discurso. Entre os resultados obtidos, a permanência ou volta às ruas, foram
mencionados pelos sujeitos pesquisados como falta de oportunidade na vida. Espera-se que
o estudo apresentado possa contribuir para melhoria dos serviços voltados aos moradores
de rua.

Palavras-chave: Morador de rua; Transtorno mental; Intersetorialidade; Saúde mental;


Assistência social.

1
Mestre em Política Social (UFF). Cientista Social (UNIMONTES). Professor das Faculdades Integradas do Norte
de Minas - FUNORTE. E-mail: <marcocsmontes@yahoo.com.br>
2
Psicóloga (FUNORTE). E-mail: <aureaqveloso@hotmail.com>
3
Psicólogo (FUNORTE). E-mail: <rivasqueiroz@gmail.com>
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ABSTRACT

This article points out the subjective aspects of the residents of the city of Montes Claros
that are susceptible of intervention by mental health. It is a qualitative study with discourse
analysis and cross-section; being exploratory and descriptive. In this study, three homeless
people were interviewed for convenience, who met the criteria of inclusion and exclusion
of the research. Inclusion criterion was considered the subjects registered in the POP Center
(Center of Specialized Reference to the Population in Street Situation) as well as the free
and spontaneous participation of these subjects; and can be of both sexes, literate or not.
Subjects who were alcoholically, drugged and emotionally destabilized at the time of the
research were excluded. As instruments for data collection, the Free and Informed Consent
Term was used for participation in research, Institution Agreement Term, interview script
that covers the objectives of the subject in question. The data collected were tabulated and
analyzed using the Speech Analysis technique. Among the results obtained, the permanence
or return to the streets were mentioned by the subjects surveyed as lack of opportunity in
life. It is hoped that the study presented could contribute to the improvement of services for
the homeless.

Keywords: Homeless; Mental disorder; Intersectoriality; Mental health; Social assistance.

1) INTRODUÇÃO

O presente artigo visa compreender os aspectos subjetivos de pessoas que vivem nas
ruas e encontram nesta a única forma de levar a vida em meio à discriminação e
desumanização. Considera-se necessário buscar entender o fato de pessoas escolherem a
rua como sua acolhida, bem como a repercussão que o morar na rua causa no psiquismo e
no emocional destes sujeitos vulneráveis a violência física e psicológica. Compreender esse
fenômeno ainda presente na atualidade pode contribuir para melhoria de políticas conjuntas
que atendam as reais demandas desse público de cidadãos excluídos.
Segundo Serafino & Luz (2015) o morar na rua é preconceituosamente considerado
como fragilidade e escolha individual. Nesse sentido falta uma visão mais ampla do
contexto de vida dos moradores de rua. A trajetória de ida para a rua deve ser considerada
como motivos particulares e não ser generalizada como fragilidade (VARANDA;
ADORNO, 2004). De acordo com Botti et al. (2010) o morar na rua ocorre por múltiplos
fatores, não podendo ser reduzida à causas específicas.
Segundo Alcantara, Abreu & Farias (2015) sendo a rua como a morada das pessoas
que romperam com seus laços anteriores e que agora dependem de instituições sociais para
REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.
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sobreviverem, a repercussão nas suas identidades é uma consequência. Diante disso a


pessoa se depara com uma realidade a ser enfrentada, tendo que buscar uma forma de se
adaptar ao seu novo contexto de vida.
A pessoa que usa a rua como sua morada, busca uma forma de adaptação em meio
as tantas vulnerabilidades existentes. De acordo com Botti et al. (2010) nesse contexto de
vulnerabilidade o uso de álcool media as relações sociais e afetivas. O que se percebe nessas
pessoas é a luta pela sobrevivência, procurando se adaptar a esse contexto com o uso de
drogas e álcool. De acordo com a teoria da Psicologia Histórico-Cultural de Leontiev, citada
por Viotto Filho, Ponce & Almeida (2009) o homem sempre age motivado por alguma
causa. Nesse sentido, pode ser entendido que o consumo de álcool está associado à causa
de depressão (GAVIN et al., 2015). E, de acordo com Botti et al. (2010), em pesquisa feita
em Belo Horizonte com pessoas em situação de rua, 56% destes apresentaram indícios de
depressão. Logo, o consumo de substâncias psicoativas entre moradores de rua pode estar
ligado à desajustes emocionais.
A situação desfavorável em que vivem os moradores de rua implica mais atenção
dos serviços voltados a esse seguimento, não somente de cunho assistencialista, mas,
sobretudo que considere todo o contexto de vida desses sujeitos. As desigualdades sociais
atingem diretamente as necessidades básicas de vida como (moradia, alimentação,
emprego), gerando um quadro de desesperança no sujeito e consequente estado depressivo,
sintomas presentes em moradores de rua (BOTTI et al., 2010). Ainda de acordo com Botti
et al. (2010) pessoas que vivem nas ruas com transtornos mentais já os tinham antes, mas
considera também que as más condições de sobrevida na rua são relevantes no
desencadeamento de transtornos psíquicos.
Montiel et al. (2015) evidenciam que a prevalência de transtornos de personalidade
entre moradores de rua, tanto pode ter surgido de suas histórias de vida, como pode ter sido
agravado ou desencadeado pela morada na rua, demando cuidado da Saúde Mental.
Para tanto, a intersetorialidade entre a Assistência Social e Saúde Mental seria a
medida de maior emergência no avanço de um trabalho significativo para esse público de
cidadãos excluídos. Pois de acordo com Junqueira (2004) a intersetorialidade aproxima os
setores para atender as reais necessidades dos usuários. Monnerat & Souza (2011) também
consideram que a intersetorialidade contribuiria na eficácia dos serviços sociais, mas há

REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


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muitas barreiras políticas e econômicas que dificulta esse processo. Borysow & Furtado
(2013) também afirma que existe dificuldade de acesso para os moradores de rua aos
serviços da Saúde Mental. Nesse sentindo, emerge-se uma ressignificação dos serviços
públicos intersetoriais em prol dos moradores de rua.
Os funcionários da assistência social reconhecem a necessidade do trabalho
conjunto com a saúde mental e entre outros programas da Secretaria de Saúde, considerando
os casos de transtorno mental grave entre os moradores de rua passivo desta intervenção
conjunta (VARANDA; ADORNO, 2004). Sendo a Assistência Social responsável pelos
serviços prestados à população de rua, reconhece a necessidade de serviços mais eficazes a
esse segmento.
Senra & Guzzo (2012) alerta que a política do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) garante a inserção do psicólogo na Assistência Social, mas que a contratação desse
profissional ainda apresenta burocracias e precariedades. Isso remete uma visão crítica na
busca de se fazer valer os direitos do exercício profissional do psicólogo nos Centros de
Referência de Assistência Social (CRAS) e nos Centros de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS) de forma ampla e mais interdisciplinar.
As questões precárias envolvendo os moradores de rua, apresentam demandas
amplas de cunho multidisciplinar e interdisciplinar, merecendo uma revisão nas estratégias
das políticas públicas brasileiras. Não se trata apenas de prestar assistencialismo a essas
pessoas, mas sim de recuperá-las e incluí-las na sociedade. Para tanto, trabalhar a resiliência
dos moradores de rua, seria uma estratégia psicológica eficaz. Pois de acordo com Benzoni
& Varga (2011) a resiliência permite ao sujeito simbolização e elaboração do trauma,
conscientizando-o das potencialidades inerentes ao seu desenvolvimento.
Outro fator que merece atenção ao se pensar em intervenções aos moradores de rua,
é considerar a repercussão causada na identidade dos mesmos devido aos estigmas sofridos.
Segundo Mattos & Ferreira (2004) a identidade de pessoas em situação de rua é construída
e materializada pejorativamente nas representações sociais. Nesse sentido em estudos feitos
por Felicissimo et al. (2013) foram encontradas relações significativas entre estigma
internalizado e consequente baixa autoestima, necessitando trabalhar a autoestima em prol
da redução de estigmas internalizados.

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Braden (2004 apud Felicissimo et al., 2013) afirma que a autoestima se refere ao
que o individuo pensa e sente em relação a si próprio e é responsável pela reação positiva e
ativa de reagir as oportunidades da vida. Evidencia-se nesse sentido, que o sujeito
acometido com baixa autoestima tende a considerar-se incapaz diante de situações novas
ou desafiadoras, permanecendo assim encrustado e não desenvolvendo suas potencialidades
inerentes. Para tanto, Guede, Leitner & Machado (2008) descrevem de acordo com a
psicoterapia Centrada na Pessoa, que o homem tem a capacidade de si desenvolver e de si
construir num processo de mudança para atingir suas metas. E alerta que esse processo de
desenvolvimento pode ser facilitado com ajuda psicoterápica.

2) METODOLOGIA

O presente estudo apresenta tipologia qualitativa com análise do discurso e corte


transversal, sendo de carácter exploratório e descritivo. Realizado com Moradores de rua
cadastrados no Centro POP (Centro de Referência Especializado à População em Situação
de Rua) da cidade Montes Claros (MG).
Por conveniência foi utilizado uma amostra de três (3) sujeitos moradores de rua
cadastrados no Centro POP que atendesse aos critérios de inclusão e exclusão da pesquisa.
Considerou-se como critério de inclusão a participação livre e espontânea desses sujeitos,
sendo de ambos os sexos, alfabetizados ou não. Foram excluídos os sujeitos que se
encontraram alcoolizados, drogados, desestabilizados emocionalmente no momento da
pesquisa e também os itinerantes.
A pesquisa foi aprovada pelo CEP da SOEBRAS recebendo Parecer
Consubstanciado nº 1.897.674, estando, portanto, em conformidade com as normas éticas
que envolvem pesquisas com seres humanos (Resoluções nos 466/12 e 510/16 do Conselho
Nacional de Saúde – CNS).
Como instrumentos para coleta de dados foram utilizados o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido para a participação da pesquisa, Termo de Concordância
da Instituição, roteiro de entrevista semiestrutura que abrange os objetivos do tema em
questão desenvolvido pelos autores da pesquisa. Sendo que os dados coletados foram
tabulados e analisados por meio da técnica de Análise do Discurso.

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3) RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste estudo foram entrevistados por conveniência, três moradores de rua de ambos
os sexos, sendo percebido uma predominância maior de pessoas do sexo masculino
morando na rua. A pesquisa focou-se na análise do discurso dos sujeitos, a fim de obter
resultados dos aspectos subjetivos que o morar na rua, repercute na vida dessas pessoas. Foi
possível perceber nas falas, nas comunicações corporais e nos suspiros (pausas para buscar
respostas para o sentimento de morar na rua), uma subjetividade vazia, triste, sentimento de
inutilidade e baixo autoestima.
De acordo com Graeff (2012) o desrespeito social sofrido pelo corpo precário,
exposto as condições do morar na rua, repercute no rebaixamento da estima social, quanto
da própria autoestima do sujeito. Esses fatores foram percebidos ao se convidar o (E01)
para participar da pesquisa; que logo respondeu: “Se eu souber responder, porque do jeito
que sou burro...”.
O mesmo durante a pesquisa afirmou: “Procuro andar sempre limpo, para não
parecer que sou morador de rua. ”. Ao agradecer o (E02) pelo tempo disponível à pesquisa,
este disse: “Ah, eu não tem nada pra fazer não, morador de rua tem o que pra fazer? ”
Logo, foi possível perceber nas falas dos entrevistados uma visão pejorativa de si
mesmo e negativa em relação às expectativas da sociedade.
Ao ser perguntado sobre o sentimento de morar na rua, 100% dos entrevistados
referiram-se ao sentimento de tristeza:
“Eu me sinto péssimo, felicidade só ao lado da família.” (E01).
“Morar na rua não presta não, o povo olha pra gente com olho torto,
eu acho que é triste. ” (E02).
“Tristeza, por ter perdido tantas oportunidades profissionais. ” (E03).
Outro aspecto que se considerou relevante nesta pesquisa, foi buscar entender os
motivos que levaram essas pessoas à morarem na rua. Todos os participantes (E01, E02,
E03) citaram o desentendimento familiar ou falta de apoio familiar como principal
antecedente à rua. Apenas o E01 citou o desemprego como outro fator contribuinte à sua

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ida para a rua. Já o E03 citou as drogas como o outro fator que contribuiu para sua saída de
casa.
Foi possível perceber nos participantes de forma geral, a importância do sentimento
de família; tanto no sentindo de querer voltar para a família, quanto também no sentimento
de revolta contra a família. O sentimento de revolta foi percebido nas falas do E02 que
descreveu a saída do seu seio familiar como definitiva:
“Eu fui embora de casa com catorze anos, eles eram ruim pra mim,
pensa numa véia ruim, ruim; era minha mãe. Meu irmão me batia, eu
fui embora porquê ele me bateu e aí eu bati nele também com um pau ...
e sabia que depois minha mãe ia me pegar... Depois fiquei sabendo que
a véia morreu, nem lá eu fui...eu?” (O E02, tem dezoito anos que mora
na rua).
Todos (E01, E02, E03) mencionaram saudades apenas de filhos ainda crianças, que
deixaram para trás. De acordo com Caravaca-Morera & Padilha (2015) a família como
agente de socialização primordial na vida do indivíduo, assume também o papel de fornecer
suporte emocional aos seus membros. Nesse sentindo, para os sujeitos pesquisados, esse
suporte parece ter faltado nas suas famílias de origem, pois mencionaram não poder contar
com seus parentes. Foi percebido uma dificuldade desses sujeitos em aproximar-se
novamente das suas famílias de origem, mas em contrapartida mencionaram o desejo de ver
os filhos crianças que tiveram antes de ir para a rua ou depois de estar morando na rua.
Quando perguntado se alguém na família possui problemas mentais, apenas o E03,
disse:
“Eu tenho problemas mentais, tomo Amytril e Carbamazeprina. E
minha filha de sete anos tem transtornos psicóticos. Na minha família
não tem ninguém doido não, é só eu mesmo que sou doido, por ter
saído por aí à fora.” (E03).
Embora o E02 se diz “doido” ao sair de casa com catorze anos de idade, demonstrou
medo de morar na rua e falta de confiança nas pessoas:
“Eu não gosto de ficar no meio de gente, durmo num lugar isolado,
tenho medo de colocar fogo em mim... Além disso, tudo que acontece
põe a culpa na gente... Chama a gente de ladrão. ” (E02).

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O E02 demonstra através de suas falas, uma “necessidade” de se isolar socialmente


e deixa evidenciado um sentimento de solidão. Segundo Ferreira et al. (2013) o isolamento
social pode também está associado ao sentimento de rejeição das outras pessoas. No caso
do E02, este relata um histórico de rejeição por parte da família.
Quando perguntado se desejam sair da rua, todos os entrevistados demonstraram
muita expectativa nesse sentindo:
“Oh, Se eu pudesse eu sairia hoje mesmo! ” (E01).
“Muito! ” (E02).
“Com certeza, esse ano. ” (E03).
Apesar dos entrevistados sentirem desejo de sair da rua, demonstraram dificuldades
em alcançar esse objetivo, citaram a falta de oportunidade como causa da permanência na
rua. Durante o discurso mencionaram que já tentaram reconstruir suas vidas, mas que deu
errado e então voltaram para a rua.
“Tentei refazer minha vida, conseguir um serviço e estava morando
com uma mulher, mas ela foi enviada pelo capeta... Descobrir que ela
era garota de programa...Tudo deu errado e eu voltei para a rua”
(E01).
“Há pouco tempo morei com uma menina, depois que meu dinheiro
acabou, ela começou a me xingar, queria que desse pra ela uma vida
que eu não podia dar... eu tive que voltar pra rua.” (E02).
Esse fenômeno de voltar às ruas pareceu a opção mais próxima da realidade dessas
pessoas, uma evidencia de não conseguirem se reerguer sozinhos, sem ajuda profissional.

4) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da escuta empática e análise do discurso dos sujeitos pesquisados, percebeu-


se uma subjetividade característica entre os moradores de rua (tristeza, medo, baixa
autoestima e dificuldades de estabelecer vínculos e reconstruírem a vida). O
desencorajamento para buscar ajuda nos serviços públicos oferecidos, parece se dar pelos
sentimentos arraigados pela perda de vínculo familiar, falta de planos para vida e
dificuldades de relacionamento (BORYSOW; FURTADO, 2013). Nesse sentido, mesmo

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ajudados pela Assistência Social, alguns moradores de rua não conseguem permanecer fora
das ruas, regridem diante de situações que lhes parecem desafiadoras.
O assistencialismo aos moradores de rua parece não contribuir para a mudança do
seu contexto de vida e sim contribuir com uma ajuda necessária, mas momentânea. Percebe-
se a necessidade de se trabalhar os aspectos psicológicos desses sujeitos, no sentido de
resgatar a autoestima e capacidade de superação.
De acordo com Sequeira (2009) a resiliência apresenta-se como processo de
reconstrução a partir das rupturas traumáticas sofridas. Durante a pesquisa ficou evidente
pouca capacidade nos moradores de rua de conseguirem de refazer novamente. Visto que
antes de morarem na rua eram pessoas com trabalho, lar e família. Percebe-se nesse sentido
que trabalhar a resiliência dessas pessoas possibilitaria o resgate de suas capacidades
psíquicas de reconstruírem socialmente.
Espera-se que o estudo apresentado possa contribuir para melhoria dos serviços
voltados aos moradores de rua. Principalmente melhoria dos serviços voltados às questões
psíquicas desses sujeitos, espera-se uma intersetorialização entre a Assistência Social e
Saúde mental. Ao considerar as limitações da pesquisa, deixam-se em pauta, estudos futuros
mais aprofundados.

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TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS VIAJANTES

Lorena Karem Alves Rodrigues1


Sandra Aparecida Quintal Mota2
Marco Antônio Ramos Canela3

RESUMO
O presente trabalho objetiva identificar se existem transtornos alimentares em estudantes
viajantes. Os transtornos alimentares são frequentes em universitários uma vez que esses
podem ser desenvolvidos por mudanças de estilo de vida, sejam elas por pressões
psicológicas ou pela indisponibilidade de tempo para alimentar-se adequadamente. Na
população adolescente além das pressões socioculturais, estudos têm demonstrado que as
características pessoais dos indivíduos como autoestima, perfeccionismo, humor e sintomas
depressivos, também podem estar associadas a comportamentos de risco que levam ao
transtorno alimentar. O estudo apresenta caráter descritivo, de corte transversal, com análise
quali-quantitativa. A pesquisa foi realizada nos campuses JK, Amazonas, São Norberto e
Fasi das Faculdades Integradas do Norte de Minas- Funorte de Montes Claros, o método de
construção foi através da metodologia snowball conhecida também como “bola de neve”.
O padrão alimentar desregular nos universitários viajantes está relacionado na maioria das
vezes pelos longos períodos que passam fora de suas casas, dessa maneira, sua rotina de
alimentação acaba sendo comprometida. Consequentemente os efeitos dessa forma
desequilibrada de se alimentar acaba refletindo no corpo e mais do que isso pode acarretar
complicações psicológicas, uma vez em que seu corpo está totalmente ligado a autoestima
e seu bem-estar.

Palavras-chave: Transtornos alimentares; Universitários; Bulimia nervosa; Anorexia


nervosa; Psicologia.

1
Psicóloga (FUNORTE). E-mail: <lorena.karen@yahoo.com.br>
2
Psicóloga (FUNORTE). E-mail: <sandramotta24@gmail.com>
3
Mestre em Política Social (UFF). Cientista Social (UNIMONTES). Professor das Faculdades Integradas do Norte
de Minas - FUNORTE. E-mail: <marcocsmontes@yahoo.com.br>
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ABSTRACT

The present study aims to identify if there are eating disorders in traveling students. Eating
disorders are frequent in college students, since they can be developed by lifestyle changes,
as well as psychological depressions and also by the unavailability of time to eat properly.
In the adolescent population, in addition to sociocultural pressures, it has been shown that
the personal characteristics of individuals such as self-esteem, perfectionism, mood and
depressive symptoms may also be associated with risky behaviors that lead to eating
disorders. The study presents descriptive, cross-sectional character with qualitative-
quantitative analysis. The research was carried out at JK Campus, Amazonas, São Norberto
and Fasi from the Faculdades Integradas of Norte of Minas- Funorte from Montes Claros,
the method of construction was through methodologies known as "snow ball". The
deregulating food pattern in traveling college students is most often related to the long
periods they spend outside their homes, so their eating routine ends up being compromised.
Consequently the effects of this unbalanced way of feeding reflected in the body and more
can lead to psychological complications, once your body is totally linked to self-esteem and
well-being.

Keywords: Eating disorders; Academics; Nervous bulimia; Nervous anorexia; Psychology.

1) INTRODUÇÃO

O presente trabalho é uma pesquisa na área de psicologia, que estudou os transtornos


alimentares em estudantes do ensino superior que viajam todos os dias para a cidade de
Montes Claros, para tanto iremos elucidar os resultados da mesma.

Os Transtornos Alimentares (TA) são doenças caracterizadas por graves alterações


do comportamento alimentar que podem ocasionar sérias agressões à saúde, principalmente
quando se trata de crianças e adolescentes. Existem vários tipos de TA dentre eles a anorexia
nervosa e a bulimia nervosa, esses são os mais comuns e, portanto o foco da pesquisa se dá
através desses. Tais transtornos diz respeito às pessoas que não estão satisfeitos com a
imagem corporal, quem sofre com esse tipo de transtorno passam a viver gradativamente
em função de dietas e jejuns com a finalidade de equilibrar seu peso corporal. Pesquisas
apontam que os transtornos alimentos são mais frequentes em mulheres, porém os homens
também o desenvolvem (FERNANDES et al., 2007).

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Os transtornos alimentares são frequentes em universitários uma vez que esses


podem ser desenvolvidos por mudanças de estilo de vida, sejam elas por pressões
psicológicas e também pela indisponibilidade de tempo para alimentar-se adequadamente
(MOREIRA et al., 2017).

Segundo Gonçalves et al. (2008) os TA é um assunto de grande importância nas


questões médicas-sociais, pois falar sobre eles envolve várias questões não apenas
relacionada à saúde física do indivíduo, mas também a fatores psicológicos, uma vez que
na nossa cultura muito se preza por um corpo magro e para que se possa perder peso as
pessoas passam longos períodos de jejum, usam inibidores de apetite e assim por diante. Os
transtornos alimentares são explicados a partir de fatores diversos são eles biológicos,
psicológicos e sociais, a partir de uma relação entre esses fatores aparece o transtorno
alimentar.

A anorexia nervosa é um desses transtornos, que se caracteriza por certa insatisfação


que a pessoa tem com seu corpo, é marcada pelo medo de engordar, o que pode levar a um
nível secundário da anorexia. Quando a doença vai se instalando a pessoa passa a viver em
função de uma dieta e se isola socialmente. O curso da doença é caracterizado por uma
perda de peso progressiva e continuado, esse padrão alimentar vai se tornando cada vez
mais secreto com características ritualizadas e bizarras. Essas pessoas começam a ter uma
prática excessiva em exercícios físicos, com objetivo de queimar calorias, deixando-a então
com um cansaço físico (NUNES; SANTOS; SOUZA, 2017).

Muitas complicações médicas podem surgir em decorrência da desnutrição e dos


comportamentos purgativos que significa remédios laxantes que são tomados após a
ingestão de alimentos com a finalidade de promover a evacuação aquosa dos mesmos
alimentos ingeridos anteriormente. Essas complicações médicas dizem respeito à anemia,
alterações endócrinas, osteoporose e alterações cardíacas, que podem levar a morte subida,
dentre outras (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000).

Segundo Nunes & Vasconcelos (2010), os TAs formam um conjunto de doenças que
afetam, principalmente, adolescentes e adultos jovens do sexo feminino, causando diversos
prejuízos biológicos, psicológicos e sociais, ocasionando o aumento das taxas de morbidade

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e mortalidade nesta população. Os principais TAs, anorexia nervosa e bulimia nervosa,


apresentam semelhanças em suas características, mais também possuem características
próprias que os distinguem. Porém, a forma que cada pessoa alimenta desenvolverá um
fenômeno singular. O tipo de comida, frequência de consumo, quantidade ingerida
apresentam um comportamento específico e individual.

Há uma relação entre a imagem corporal e a anorexia nervosa em mulheres, tento


em vista que a insatisfação com a imagem corporal é um sintoma para o desenvolvimento
de um transtorno alimentar. Mulheres jovens têm uma maior probabilidade de desenvolver
uma anorexia nervosa, pois o fator patológico na anorexia nervosa não é a desnutrição em
si, mas a distorção da imagem corporal associada a ela, portanto é evidente que
principalmente as mulheres na adolescência estão em busca de um corpo ideal, pois são
mais vulneráveis às pressões impostas pela sociedade, que impõe como padrão de beleza
um corpo extremamente magro, aquilo que pode ser designado com o termo midiático
“onda fitness” (SOUZA; VERRENGIA, 2012).

A exposição na mídia com imagens de mulheres magras e os diálogos com


pais/amigos sobre o peso e a imagem corporal são fatores de risco que podem dar origem a
comportamentos relacionados aos transtornos alimentares em adolescente do sexo
feminino. Na população adolescente além das pressões socioculturais, estudos têm
demonstrado que as características pessoais dos indivíduos como autoestima,
perfeccionismo, humor e sintomas depressivos, também podem estar associadas a
comportamentos de risco que levam ao transtorno alimentar. Diante disso, adolescentes com
baixa autoestima, estado de humor negativo, sintomas depressivos ou com sinais
perfeccionistas podem ter maior probabilidade para desencadear comportamentos de risco
para os transtornos alimentares (FORTES et al., 2006).

Segundo Costa et al. (2010) a auto percepção da imagem corporal e, principalmente,


a imagem corporal idealizada pelas mulheres, ajusta-se ao padrão determinado pelo
contexto sociocultural em que vivemos. Além do ambiente cultural em que estão inseridos,
os pensamentos e sentimentos negativos que as pessoas apontam sobre seu corpo e a
aparência, são fatores que influenciam no desenvolvimento de transtornos alimentares.

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As adolescentes logo assimilam a beleza, o sucesso e a felicidade a um corpo magro


e com isso tornam-se cada vez maior o número de pessoas que praticam dietas abusivas se
outras formas não saudáveis para o emagrecimento, gerando um aumento na incidência de
TA. Dessa forma, nas jovens que desenvolvem anorexia nervosa, observa-se, que o
julgamento de sua imagem corporal está destorcido, fazendo-a sentir-se que as formas do
seu corpo estão maiores do que são na realidade (VASCONCELOS, 2006).

Para Oliveira & Hutz, (2010) uma das hipóteses mais aceitas para a maior incidência
de anorexia nervosa e bulimia nervosa no sexo feminino é que os homens não sofrem tanta
pressão social para a magreza e aparência física e costumam aceitar com mais facilidade a
sua imagem corporal. A satisfação para eles é conquistada através de alternativas, como
amizades e esportes, e a beleza não ocupa um papel tão central, entretanto, para muitas
mulheres, o bem-estar subjetivo, a autoestima e a felicidade aparentam estar diretamente
relacionados ao corpo ideal.

Outro transtorno alimentar é a Bulimia nervosa, sua manifestação provavelmente


está ligada a fatores biopsicossociais, seu sintoma este ligado a compulsão alimentar. Inclui
um aspecto comportamental, no qual o sujeito ingere uma quantidade de comida
considerada exagerada comparado ao que uma pessoa em condições normais comeria, e um
aspecto subjetivo que é a sensação de total falta de controle sobre o seu próprio
comportamento. Ocorre uma preocupação excessiva com o peso e a imagem corporal que
faz com que o sujeito desenvolva comportamentos compensatórios inadequados para o
controle de peso. (ARAUJO et al., 2006).

O principal método compensatório utilizado é o vomito auto induzido, com o


objetivo de aliviar o desconforto físico secundário, à hiperalimentação, ou seja, diminuir a
saciedade, e principalmente a redução do medo de ganhar peso. No começo o indivíduo
necessita de instrumentos para induzir o vômito, como a introdução do dedo, de algum
objeto na garganta, porém conforme a frequência dessa manobra, a evolução do transtorno,
o vomitar começa então a ser constante sem introdução de objetos. Alguns fazem uso
inadequado de medicamentos, sem prescrição médica, como laxante, após uma ingestão
exagerada de alimentos (NUNES; SANTOS; SOUZA, 2017).

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24

Diante disso, entendemos que esses comportamentos podem gerar algumas


complicações clínicas que estão relacionadas ao desgaste dos dentes, alargamento das
parótidas, que é uma glândula salivar, esofagites, ou seja, refluxo estomacal caudado por
uma inflamação no esôfago, hipopotassemia, o mesmo que levar o sujeito à fraqueza, a
redução da força muscular, o mal-estar e alterações cardiovasculares, dentre outras. Assim
como a anorexia, os indivíduos com bulimia nervosa também apresentam uma ocorrência
aumentada de transtornos do humor e de transtornos de ansiedade, entretanto um grande
número de indivíduos com bulimia evidencia um transtorno depressivo (APPOLINÁRIO;
CLAUDINO, 2000).

2) METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada nos campi de uma instituição de ensino superior do Norte
de Minas, onde há uma área de concentração dos ônibus escolares que trazem os estudantes
para a instituição, foram abordados estudantes de cursos variados que residentes em cidades
vizinhas de Montes Claros e que viajam todos os dias de ônibus, o método de construção
foi através da metodologia snowball conhecida também como “bola de neve”, que consiste
em uma técnica de amostragem que se caracteriza por não ser de ordem probabilística,
utilizada para populações desconhecidas, trata-se de um processo no qual os participantes
iniciais indicam novos participantes, os quais indicam novos participantes, e assim
sucessivamente.

Objetiva-se alcançar o ponto de saturação, momento em que os novos entrevistados


relatam conteúdos já obtidos nas entrevistas anteriores, de forma que o teor apresentado não
acrescenta informações novas e relevantes à pesquisa (BALDIN; MUNHOZ, 2011).

O instrumento foi adaptado pelas pesquisadoras a partir de instrumentos já


disponíveis na literatura, porém foi adaptado de acordo a realidade local da pesquisa, o
instrumento continha cinco perguntas abertas para considerar o discurso do indivíduo em
sua subjetividade e dezoito fechadas com a escala de Likert.

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Verificou-se a viabilidade e a privacidade do local, bem como o momento ideal para


aplicação do questionário, foram apresentados os objetivos, a justificativa e a metodologia
proposta. Foi comunicado aos acadêmicos sobre os critérios de inclusão, acadêmicos do
Curso de Engenharia Civil, residentes em cidades vizinhas de Montes Claros, que viajam
todos os dias de ônibus e serão excluídos os acadêmicos menores de idade e com deficientes
visuais e/ou auditivos. Após a coleta de dados através do questionário aplicado, as respostas
foram submetidas à tabulação dos dados.

Foram seguidos todos os trâmites da resolução do Conselho Nacional de Saúde


466/12 que trata de pesquisas e testes com seres humanos e 510/16 que trata das
especificidades éticas das pesquisas nas ciências humanas e sociais e de outras que utilizam
metodologias próprias dessas áreas a partir daí obtemos uma aprovação do comitê de ética
em pesquisa da SOEBRAS pelo parecer consubstanciado número 2.845.445.

3) RESULTADOS E DISCUSSÃO

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da


Faculdade Integradas do Norte de Minas, trata-se de um estudo descritivo de corte
transversal. Os dados foram tabulados através de software Microsoft Excel onde gerou
tabelas e gráficos, que foram analisados a luz de conhecimentos já obtidos na literatura.

Entretanto vale ressaltar as hipóteses levantadas no início desse estudo: Existem


transtornos alimentares nesse grupo de estudantes que viajam todos os dias? Será que a sua
rotina acadêmica/exaustiva reflete na sua alimentação? As formas como eles se alimentam
refletem na sua autoimagem corporal? Diante disso foi possível obter os seguintes
resultados.

No gráfico 1 a pergunta foi referente ao controle em relação à maneira que o


indivíduo se alimenta, é evidente que nesse grupo de amostra ninguém tem controle em
relação à maneira que se alimenta.

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Você tem controle em relação a maneira


que se alimenta

Figura 1 – Gráfico 1

Fonte: dados da pesquisa.

A alimentação tem mudado o seu significado para o ser humano ao longo dos anos,
bem como tem orientado e demarcado cada etapa do processo civilizatório. O avanço da
industrialização trouxe também mudanças de hábitos alimentares com consumo de
alimentos enlatados, congelados, pré-cozidos ou prontos: como no caso desse grupo
submetidos a pesquisa no qual 95% das falas dos estudantes em o que eles ingerem com
mais frequência é o salgado, salgadinho, bebidas prontas (VITAL et al., 2017).

A redução do tempo dedicado à alimentação e a substituição de alimentos naturais


por industrializados são aspectos visíveis na sociedade contemporânea e toda essa
modificação na alimentação pode dar espaço aos transtornos alimentares, uma vez em que
a falta de tempo para te uma alimentação saudável faz com que aumente a ingestão de
alimentos prontos, consequentemente aumentando o risco de um transtorno alimentar
(VITAL et al., 2017).

Levando em consideração que cada estudante estruturou o seu estilo de vida de


acordo com a sua rotina acadêmica, Campos et al. (2016), vem dizer o estilo de vida passou
a ser considerado fundamental na promoção da saúde, como indicador de qualidade de vida.
Tendo em vista o ambiente universitário geralmente é o lugar onde os jovens têm pela
primeira vez sua total independência da supervisão dos seus pais, e é nesse período que os
acadêmicos podem mudar seu estilo de vida e passar a adotar condutas negativas ou

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positivas para a saúde. Considerando que grande parte dos acadêmicos desse grupo tem
uma vida exaustiva, e que consequentemente não tem controle da sua alimentação, fica
evidente que o estilo de vida dos mesmos não é o adequado e isso traz riscos à qualidade de
vida desses estudantes.

Esse desregular padrão alimentar nos universitários viajantes estão relacionados na


maioria das vezes pelos longos períodos que passam fora de suas casas, pois a maioria da
amostra da pesquisa trabalha durante o dia e quando chegam do serviço, vão direto para a
faculdade, dessa maneira, sua rotina de alimentação acaba sendo comprometida.

O gráfico 2 a seguir comprova o que foi dito anteriormente pelos autores, quando
perguntados se tinham um equilíbrio sobre a sua alimentação mais da metade dos estudantes
desse grupo diz não ter uma alimentação equilibrada.

Você acha que sua alimentação é


equilibrada

Figura 2 – Gráfico 2

Fonte: dados da pesquisa.

O resultado confirma que mesmo que as pessoas tenham ima preocupação com a
imagem corporal, nem todas se alimentam de maneira adequada, tal fato na maioria dos
submetidos à pesquisa e decorrente de uma vida corrida, onde a rotina acadêmica e o
trabalho quase se chocam, exigindo deles muita agilidade no que se refere ao fator tempo,
fazendo com que a forma de se alimentarem fique seriamente prejudicada, restando pouco
tempo o que lhes restam e procurar outras formas para se alimentarem, enquadrando em um
perfil de maus hábitos alimentares.

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Consequentemente os efeitos dessa forma desequilibrada de se alimentar acaba


refletindo no corpo e mais do que isso pode acarretar complicações psicológicas, nos
chamou muito a atenção uma submetida à pesquisa em que enfatizou a seguinte frase “Só
me sinto bem se meu corpo estiver de acordo com um padrão de beleza adequada”, fica
claro que para a submetida seu corpo está totalmente ligado a sua autoestima e seu bem-
estar.

A fala da submetida à pesquisa nos demonstra em que a saúde é produto de vários


fatores relacionados com a qualidade de vida, dentre eles um padrão adequado de
alimentação e nutrição; habitação e saneamento; boas condições de trabalho; oportunidades
de educação ao longo de toda a vida; ambiente físico limpo; apoio social para famílias e
indivíduos; estilo de vida responsável e um espectro adequado de cuidados de saúde
(CAMPOS et al., 2016).

Esse mesmo autor revela um dado muito importante em relação à saúde do


indivíduo, onde relata que não basta apenas estar com um corpo desejado, ou dentro dos
padrões de beleza impostas pela sociedade, vai muito, além disso, engloba amplos fatores,
afinal de contas não e apenas quem está acima do peso que muitas vezes se sente insatisfeito
com seu corpo, o contrário também e valido para essa insatisfação corporal.

Segundo Ludewig (2017) os adolescentes sofrem fortes influencias por tendências


sociais e culturais que promovem a busca pelo corpo ideal, e essa imposição pode fazer com
que o púbere adere a uma alimentação inadequada ou até mesmo a propensão de
desencadear transtornos alimentares. Devido ao fato de que o ideal de magreza e corpo
escultural proposto é uma impossibilidade biológica para boa parte das mulheres e dos
homens, a insatisfação corporal tem se tornado cada vez mais comum nesse grupo.

Os dados levantados revelam o quanto à alimentação dos acadêmicos é totalmente


desajustada, mais da metade da amostra não desfrutam de uma alimentação saudável,
consequentemente esses maus hábitos alimentares poderá desencadear prejuízos para os
mesmos, relatos dos submetidos apontam para uma preocupação com a imagem corporal e
mesmo assim gozam de um desequilíbrio alimentar, dessa forma e preocupante os efeitos

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que essa alimentação irregular pode causar em suas vidas, tanto nas esferas emocionais,
físicas e psicológicas.

A informação se confirma no gráfico a seguir quando perguntado se eles estavam


satisfeitos com o seu corpo, um número significante de estudantes disse que não ou que
mais ou menos, veja a seguir no gráfico 3 os dados obtidos nessa pesquisa.

Você está satisfeito com seu corpo

Figura 3 – Gráfico 3

Fonte: dados da pesquisa.

Segundo Moraes et al. (2016) nos últimos tempos os padrões de beleza corporal vêm
sofrendo mudanças com grande influência da sociedade moderna que também está em uma
constante evolução, dessa maneira para que se possa ter sucesso e reconhecimento social
em diversas ocasiões, uma das principais referências e o corpo humano, que está sendo
extremamente valorizado e explorado pela mídia.

A imagem corporal é um constructo complexo que se constitui em uma atitude e


percepção que cada indivíduo tem do seu próprio corpo e da capacidade de relacionamento
com outras pessoas. O fator cultural, os pensamentos e sentimentos negativos que o
indivíduo apresenta sobre seu corpo e sobre sua aparência são possíveis fatores que podem
desencadear o desenvolvimento de transtornos alimentares (COSTA et al., 2010).

Levando em consideração que dos 20 estudantes submetidos ao questionário 17


eram do sexo feminino, podemos concluir e concordar com a autora Rodrigues Alexandra,
REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.
30

onde em uma publicação no ano de 2008 em um jornal Brasileiro de Psiquiatria, diz que os
distúrbios alimentares ocorrem mais frequentemente no sexo feminino. Os homens também
são acometidos, mas em proporções menores. Confira a seguir no gráfico 4 o sexo e a
quantidade de estudantes entrevistados.

18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1 2

1)Feminino 2)Masculino

Figura 4 – Gráfico 4

Fonte: dados da pesquisa.

O sexo feminino, de maneira geral, e muito vulnerável aceitação das pressões


sociais, econômicas e culturais associadas aos padrões estéticos. O modelo de beleza
imposto pela sociedade atual diz respeito ao corpo magro, não levando em consideração os
aspectos relacionados com a saúde e as diferentes particularidades físicas da população.
Esse padrão distorcido de beleza provoca um número cada vez maior de mulheres que se
submetem a dietas para controle de peso, ao excesso de exercícios físicos e ao uso
indiscriminado de laxantes, diuréticos (SOUZA; VERRENGIA, 2012).

Segundo Rodrigues (2008), o ideal do corpo perfeito preconizado pela nossa


sociedade e veiculado pela mídia leva as mulheres à insatisfação crônica com seu corpo,
culpando-se, muitas vezes, por alguns quilos a mais, ou adotando dietas altamente restritivas
e exercícios físicos extenuantes como forma de compensar as calorias ingeridas em excesso,
na tentativa de corresponder ao modelo cultural vigente.

REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


31

Em geral, os homens estão mais satisfeitos com seu corpo e os percebem com menos
distorção. A maioria considera o corpo mais musculoso como representação da imagem
corporal masculina ideal. Ao contrário das mulheres, que estão mais preocupadas com o
peso, os homens relatam maior preocupação com a forma física e a massa corporal, e
buscam, especificamente, aumento da massa muscular, por isso fazem mais exercícios
físicos (RODRIGUES, 2008).

Segundo Vasconcelos (2006) em sua monografia diz que os adolescentes associarem


a beleza o sucesso e a felicidade a um corpo magro, tornando cada vez maior o número de
pessoas que estão insatisfeitos com seu corpo por não conseguir se alimentar bem devido a
sua rotina e por não seguir os padrões de beleza que a sociedade impõe isso afeta o
psicológico tornando as mulheres mais vulneráveis a desenvolver um padrão alimentar
rigoroso ou até mesmo algum transtorno psicológico.

Outro fator importante encontrado na pesquisa conforme demostra no gráfico 5 a


seguir foi quando indagados sobre as situações em que mais sentiam vontade de comer. Em
uma análise ao gráfico 5 evidencia que mais da metade dos entrevistados relataram sentir
vontade de comer quando se sentiam ansiosos ou nervosos, ou seja, é como se encontrassem
na comida uma forma de conter essas emoções.

Quais são as situações em que você sente mais vontade


Título do Gráfico
10 de comer
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1)ansiedade 2)nervosismo 3)ansiedade e 4)outros
nervosismo

Figura 5 – Gráfico 5

Fonte: dados da pesquisa.

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32

Segundo Penaforte (2016), os estudos apontam que o estresse altera o


comportamento alimentar, redirecionando as escolhas alimentares para alimentos com
maior probabilidade e valor energético, especialmente aqueles ricos em açúcar e gordura.
Segundo esse mesmo autor os efeitos do estresse no consumo alimentar podem ser
diferentes de acordo com características individuais do indivíduo.

Diante dos estudos percebe-se que o comportamento alimentar pode estar


fortemente influenciado pelos sentimentos e emoções do indivíduo e muitas vezes não e
pela necessidade de alimentação. Há um evidencia em que a rotina acadêmica altera nos
comportamentos alimentares, ocasionando alterações psicológicas, sociais, físicas e danos
à saúde do indivíduo.

4) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto conclui-se que os resultados obtidos no projeto revelaram o perfil


de como e a alimentação desses estudantes viajantes, a hipótese proposta por nós, foi a de
investigar se existiam pessoas com transtorno alimentar que viaja todos os dias para a cidade
de Montes Claros, hipótese essa que não se confirma porem os dados aqui obtidos evidencia
que existe um grande potencial para o desenvolvimento dos transtornos alimentares.

Essa afirmação se dá após uma ampla análise aos dados obtidos pela pesquisa, onde
os mesmos nos revelaram que o comportamento alimentar desses estudantes viajantes em
sua maioria é totalmente desajustado e fogem de um comportamento alimentar saudável,
podendo contribuir para o possível desenvolvimento de transtornos alimentares, que e muito
frequente uma vez que esses são envolvidos por mudanças no estilo de vida.

Mudanças essas que estão relacionadas à grande carga exaustiva que a amostra nos
revelou, onde os sujeitos em sua maioria trabalham durante o dia e acaba faltando-lhes
tempo para uma alimentação adequada, dessa forma percebemos o quão a saúde dessas
pessoas encontra-se ameaçada, podendo causar a esses prejuízos fisiológicos e emocionais.

Então essa vida corrida faz com que essas pessoas optam por uma praticidade que
acabam associando a rotina acadêmica, porem por trás de tamanha praticidade pode estar
REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.
33

presente uma grande ameaça ao equilíbrio físico e emocional dos indivíduos, uma vez que
na nossa cultura idealiza-se muito um corpo belo e a não confirmação de tal idealização
poderá causar frustrações para quem não está encaixado nesse padrão.

Percebe-se também o quanto os fatores emocionais interferem no descontrole


alimentar dessa amostra, podendo contribuir também para o desenvolvimento dos
transtornos alimentares ainda mais quando associado a essa rotina exaustiva, desse modo
percebe-se a grande importância de trabalhar esse assunto com esses universitários,
alertando-os sobre a situação em que se encontram para que minimize os efeitos negativo
que essa má alimentação pode causar a esses indivíduos. Diante disso, sugerem-se novas
pesquisas para aprofundamento do tema.

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NÍVEL DE ESTRESSE NO TRABALHO INFORMAL

Grace Kelly Pereira Lima1


Maria do Carmo da Cruz Santos2
Luciene Maria Lopes3
Fernanda Cardoso Rocha4
Bruna Roberta Meira Rios5
Leonardo Augusto Couto Finelli6
Álvaro Parrela Piris7

RESUMO

O objetivo desse estudo é analisar o nível de estresse dos trabalhadores informais que
trabalham nas imediações de uma praça de uma cidade em Minas Gerais. Os procedimentos
metodológicos basearam-se em uma revisão da literatura e pesquisa de campo. Essa
pesquisa se caracterizou como descritiva, qualitativa e de corte transversal. Os dados
utilizados foram obtidos pelo “Questionário Sócio Demográfico” (QSD); o questionário “Job
Stress Scale”, versão reduzida e adaptada para o português e o teste psicológico “Inventário de
Sintomas de Stress de Lipp” (ISSL). Nos quais, buscou-se verificar a relação entre os níveis de
desgastes e a demanda psicológica envolvida, a caracterização sócio-demográfica e o possível
nível de estresse do indivíduo.
Palavras chave: Trabalho; Stress; Saúde; Riscos Ocupacionais.

1
Psicóloga. Faculdade de Saúde Ibituruna - FASI. E-mail: kellyfroesmoc@bol.com.br
2
Psicóloga. Faculdade de Saúde Ibituruna-FASI. E-mail: carmen.santos07@hotmail.com
3
Graduada em Letras/Inglês. Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES. Especialização em
Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, com Ênfase em Interpretação- UNIMONTES. E-mail:
lulopes7758@gmail.com
4
Psicóloga. Faculdade de Saúde Ibituruna-FASI. Especialista em Saúde da Família pela Faculdades Unidas do
Norte- FUNORTE. MBA em Gestão de Recursos Humanos. Especialista em Metodologia e Didática do Ensino
Superior - UNIMONTES. Especialista em Psicologia Hospitalar e em Psico oncologia. Mestranda em Cuidados
Primários em Saúde – UNIMONTES. E-mail: nandac.rocha@hotmail.com
5
Enfermeira. Especialista em Enfermagem Cardiológica. Faculdade de Saúde Ibituruna – FASI. Docente do
curso de graduação em Enfermagem. Departamento de Enfermagem. E-mail: brunameirarios@gmail.com
6
Psicólogo e Pedagogo. Especialização em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Especialização em Metodologia Quantitativa em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Especialização em Desenvolvimento Humano pela Universidade Federal de Minas Gerais. Especialização em
Psicologia do Trânsito pelo CFP. Especialização em Educação a Distância pela Universidade Estadual de Montes
Claros. Especialização em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Estadual de Montes
Claros. Mestre em Psicologia com Ênfase em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco. Doutor
em Ciências da Educação pela Universidad Evangélica do Paraguay- Convalidado no Brasil pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. E-mail: finellipsi@gmail.com
7
Enfermeiro. Mestre em Tecnologia da Informação Aplicada à Biologia Computacional pelas Faculdades PROMOVE-
BH. Faculdade de Saúde Ibituruna-FASI. Av. Profa. Aida Mainartina Paraiso, 99 – Ibituruna. Docente do Curso
de Graduação em Enfermagem. Departamento de Enfermagem. Montes Claros - MG, 39408-007. E-mail:
alvaroparrela@yahoo.com.br

REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


37

ABSTRACT

Informal work exposes the individual to different everyday situations that cause stress at
different levels. In the increasingly competitive labor market the worker is subject to the
emotional influences that can cause stress. The objective of this study is to analyze the level of
stress of informal workers working in the vicinity of a city square in Minas Gerais. The
methodological procedures were based on a literature review and field research. This research
was characterized as descriptive, qualitative and cross - sectional. The data used were obtained
by the "Socio Demographic Questionnaire" (DSQ); the "Job Stress Scale" questionnaire,
reduced version and adapted to Portuguese and the psychological test "Stress Symptom of Lipp"
(ISSL). In order to verify the relationship between the levels of wear and the psychological
demand involved, the socio-demographic characterization and the possible level of stress of the
individual.

Keywords: Work; Stres; Health; Occupational Risks.

1) INTRODUÇÃO
No Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, Polito (2004) define a palavra
trabalho como o tipo de ação pelo qual o homem efetua, sobre uma matéria, com o intuito
de transformá-la.
Para Morin (2001) o trabalho é uma atividade que consome energia para produzi-lo
assim como, está ligado a um objetivo específico. Esse trabalho pode ter características
agradáveis ou não, estar associado às questões econômicas ou somar valores pessoais ou
coletivos. Segundo Borges-Andrade, Bastos & Zanelli (2004) o trabalho permite a
realização do ser humano e favorece a sobrevivência fazendo com que o indivíduo relacione
sua vida a um projeto. Nas relações de dependência e poder que o homem exerce sobre a
natureza ocorre à aplicação de conhecimento e habilidades envolvendo condições
econômicas, tecnológicas, sociais, culturais e políticas.
O mercado de trabalho para Giatti & Barreto (2006) comporta basicamente quatro
categorias independentes de acordo a condição de atividade economicamente ativa ou não,
sendo: o trabalho formal – o indivíduo tem a carteira assinada, contribui para a previdência
social segundo a legislação vigente; trabalho informal – o indivíduo não tem a carteira
assinada e raramente faz a contribuição previdenciária; desempregado – o trabalhador não
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exerce atividade remunerada e procura por trabalho; fora do mercado de trabalho – o


trabalhador não se interessa e nem procura por trabalho.
Segundo Kon (2012) os estudos são “as causas determinantes da formação e
crescimento do setor informal frequentemente estão na excessiva regulação do Estado,
baseada em impostos, regulamentações, proibições e outras obrigatoriedades sociais”. A
autora ressalta ainda alguns motivos para esse crescimento; dentre eles pode-se citar a falta
de emprego, oportunidade de trabalho em sociedade, complementar a renda familiar,
flexibilidade do horário, independência e continuidade do trabalho familiar. Em relação à
jornada de trabalho, os trabalhadores informais cumprem uma carga horária maior do que a
estabelecida para o trabalho formal.
O trabalho informal expõe o indivíduo a situações diversas no cotidiano que
provocam o estresse em diferentes níveis. Considera-se que trabalhador informal seja
aquele indivíduo que não paga impostos ao Estado, não tem sua carteira de trabalho assinada
bem como não exerce funções de patrão e empregado, porém, estão sujeitas as influências
de fatores estressantes tanto interna quanto externamente (GIATTI; BARRETO, 2006).
A psicologia do trabalho analisa a concepção do trabalho humano nos diversos
contextos para uma possível intervenção a fim de melhorar a saúde e o bem-estar do
trabalhador. O estresse é um dos males que o indivíduo da era moderna sofre. Ele pode ser
definido como uma reação desorganizada do organismo a algo que ameaça a sua
homeostase, ou seja, é uma tensão devido a falta de recursos internos mediante vivências
de difícil manejo, seja por contingências físicas, sociais, emocionais, econômicas ou
ocupacionais (WITTER; PASCHOAL, 2010).
No mercado de trabalho cada vez mais competitivo o trabalhador está sujeito a
possíveis influências emocionais tais como ódio, amor, raiva, tristeza, asco, medo,
ansiedade, surpresa, ciúme, inveja, culpa, estresse. Essas alterações podem ser imagens
criadas em sua cabeça ou mesmo reflexo do ambiente externo (ZANELLI; BORGES-
ANDRADE; BASTOS, 2014).
Conquanto, para Smeltzer & Bare (2005) é esperado que os mecanismos
fisiopsicológicos compensem a homeostase e tenha uma adaptação. Visto que o organismo
frente à ameaça, reage com aumento do córtex da supra-renal, enruga o timo, baço,
linfonodos e estruturas linfáticas numa busca de ordem, iniciando-se pela fase de alarme,

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na qual ativa o simpático e aumenta a produção de catecolaminas pelo hormônio ACTH –


cortical adrenal com função anti-inflamatória. No entanto essa defesa é limitante e se
aumenta muito o cortisol, eleva a ação endócrina, agride os sistemas circulatórios, digestivo
e imunológico.
Nessa proporção de defesa, por meio de mensagens químicas e elétricas intercedidas
pelo cérebro, cada sistema age diferente. O sistema nervoso simpático responde com vaso
constrição periférica, aumenta a pressão arterial e a glicose para reforço de energia.
Automaticamente as extremidades esfriam, produzem tensão muscular e palpitações;
consequentemente o sistema hipotalâmico-hipofisário armazena sódio e água alterando o
estado de humor (SMELTZER; BARE, 2005).
Sobretudo, a percepção dos estímulos enquanto estressores são subjetivos, podendo
ser de origem física, fisiológica e/ou psicossocial que envolva situações tais como,
frustrações, aglomerações de pessoas, ou algo inquietante para determinado indivíduo.
Ainda, a sensação de estímulo, a saber, calor, agentes químicos, dor, fadiga, irritação, medo,
angústia, e tristeza, são particulares. Por isso o estresse é uma reação, uma disfunção
mediante descontrole de um ou mais sistemas num enfrentamento a estressores internos ou
externos (SMELTZER; BARE, 2005).
Na abrangência da emersão do estresse encontram-se: a carga de trabalho
inadequada, falta de motivação, ambiente hostil, relacionamento conflituoso, ambiguidade
de funções, falta de controle, sobrecarga cognitiva, apoio inadequado dos supervisores e
familiares (BATTISTON; CRUZ; HOFFMANN, 2006). Lipp (2009) apresenta que os
sintomas de estresse profissional tende ao agravamento com o tempo e leva inclusive a
erros, acidentes de trânsitos, faltas e prejuízos na qualidade de vida. E nessa persistência de
sintomas chega à Síndrome de Burnout – (SB) que é a reposta emocional ao estresse
ocupacional.
A SB apresenta em três dimensões: a exaustão emocional, a despersonalização e a
falta de envolvimento no trabalho. Consequentemente, essa síndrome aumenta a sensação
de esgotamento de recursos psicológicos a ponto de sensação de incapacidade. A vivência
dos próprios problemas traz frustração, insensibilidade emocional e sentimento negativos.
O indivíduo perde o interesse, a satisfação por seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Nas manifestações da SB observa-se fadiga constante, dores musculares, distúrbio do sono

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e do apetite falta de atenção, ansiedade e alterações da memória, negligência no trabalho,


falta de concentração, irregularidade ao comprimento do horário, isolamento (FRANÇA,
2011; JODAS; HADDAD, 2009).
Pessoas estressadas normalmente podem sofrer uma sobrecarga emocional. O
excesso de afazeres, da mesma maneira que as responsabilidades de manter uma família
com todas as suas despesas, favorece o aparecimento de sintomas como fadiga, falta de
memória, cansaço exagerado, desânimo, irritabilidade entre outros (WITTER;
PASCHOAL, 2010).
A competitividade no mercado de trabalho cada vez mais exigente, a instabilidade da
economia, o baixo nível de escolaridade são alguns dos fatores que favorecem os indivíduos a
procurarem a informalidade para adquirir recursos para sua sobrevivência. Diante disso
percebe-se um número elevado de pessoas que partem para o trabalho informal atuando como
vendedores ambulantes nas regiões mais movimentadas nos grandes centros. O Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA analisou os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE e constatou que o nível médio de informalidade no Brasil ficou em 32,5%
no período de março de 2014 a fevereiro de 2015 (IPEA, 2015).
Nesta cidade onde ocorreu a pesquisa é perceptível a atuação de pessoas vendendo
produtos em bancas improvisadas nas ruas ou fazendo prestação de serviços como é o caso dos
mototaxistas. Assim, esse ambiente é favorável para delimitação do espaço para a pesquisa.
Ela, a cidade referida, atraiu migrantes e diversas indústrias em proporção aos investimentos da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE e dessa forma vem sofrendo
alterações econômicas e sociais. Consequentemente com a globalização, o crescimento e
competitividade influenciaram para o aumento da informalidade (IBGE, 2013).
Estudos demonstram que “o stress na sociedade preocupa devido às suas
consequências para a saúde, a qualidade de vida em nível pessoal e também devido às
implicações que tem para as empresas e para a sociedade” (LIPP, 2009, p. 115).
Desta forma este estudo buscou analisar o nível de estresse dos trabalhadores
informais que atuam nas imediações de uma praça central de uma cidade em Minas Gerais.
Investigar a sobrecarga de trabalho como fator estressor, além de descrever as condições do
ambiente de trabalho do profissional informal; mensurando nível de exigência psicológica

REVISTA CATRUMANA, v. 1, n.1. 2020.


41

do trabalho informal. Examinando o grau de satisfação do trabalhador em relação à função


desempenhada.

2) METODOLOGIA

Após a aprovação pelo Conselho de Ética e Pesquisa, seguindo os parâmetros


determinados na Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da
Saúde, foi aplicada, para este estudo, a pesquisa de campo caracterizada como descritiva e
qualitativa, de corte transversal. A saturação dos dados foi atingida ao término da 40ª
entrevista, mas para ter uma margem de segurança, os pesquisadores chegaram a um total
de 50 trabalhadores informais entrevistados atuantes nas imediações de uma praça central
de uma municipio de grande porte situado no interior de Minas Gerais. Os trabalhadores
foram abordados em seu local de trabalho no horário em que não estavam atendendo aos
clientes. Assim se dispuseram a participar da referida pesquisa. Para a coleta de dados foram
utilizados três instrumentos, já validados e reconhecidos na literatura, sendo estes, o Questionário
Sócio Demográfico – QSD; o Questionário “Job Stress Scale” versão reduzida e adaptado para
o português; e o Teste Psicológico Inventário de Sintomas de Stress de Lipp – ISSL (FINELLI,
2010; ALVES et al., 2004; LIPP, 2000). Estes foram aplicados após a assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido. A coleta dos dados foi realizada no mês de outubro de 2017.
Para o processo de análise foi construído um banco de dados, a partir dos resultados
obtidos da aplicação da pesquisa. No processamento, utilizou-se a planilha eletrônica Excel
e o programa Statistical Package for the Social Sciences – SPSS, versão 22.0.

3) RESULTADOS

Dentre os entrevistados pôde-se chegar aos seguintes resultados: 21 homens e 29


mulheres. A idade do grupo amostral variou de 17 a 69 anos (M = 39,5 anos, DP = 13,015
anos). Em virtude de fatores estressores derivarem de variadas causas como físicos,
demográficos e sociais dentre outros viu se necessário esses dados para correlações dessa
pesquisa (DA CONCEIÇÃO et al., 2013). Quanto aos demais dados sócio demográficos
tem-se a sumarização na tabela 1.

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Tabela 1 - Distribuição de frequências (N) e percentuais (%) dos dados sócio demográficos.

Variável Dados N %
Menor de 1 SM* 18 36,0
Renda
De 1 a 3 SM* 30 60,0
De 4 a 6 SM* 2 4,0

Etinia Branco 15 30,0


Negro 6 12,0
Pardo 29 58,0
Ens. Fundamental** 20 40,0

Escolaridade Ensino Médio** 28 56,0


Ensino Superior** 2 4,0
Pós-Graduação** 0 0,0

1 3 6,0
2 4 8,0
3 14 28,0
4 13 26,0
Pessoas que vivem no mesmo 5 10 20,0
lar que o respondente
6 3 6,0
7 1 2,0
8 0 0,0
9 1 2,0
10 1 2,0

Legenda: *SM: Salário Mínimo ** Completo ou incompleto.

Nesse estudo o estresse é apresentado em quase todos os estados exceto na viuvez.


Encontrando estresse em 10% de casado/amasiado, 2% de divorciado/ separado,
relacionamento estável/ namoro 2%, 8% de solteiros e nenhum viúvo, todos do sexo
masculino, e do sexo feminino, 10% de casadas/amasiadas, 0 de divorciada/separada, em
um relacionamento estável/namoro de 6%, já de solteiras, 16%, nenhuma viúva; os que
acusaram sem estresse foram 16% dos casados, 0,0% de separados/divorciados, 2% de
relacionamento estável/namoro, 4% de solteiros e 4% de viúvos, todos do sexo masculino,

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43

enquanto que 10% das mulheres estão casadas/amasiadas, 0,0% divorciadas/separadas, 2%


em uma relacionamento estável/namoro, 4% de solteiras e nenhuma viúva.
Os indivíduos mais velhos demonstraram não apresentar estresse. Tais dados podem
ser observados na tabela 2.

Tabela 2 - Resultados de Estresse por faixa etária e gênero (%)

Faixa etária Com estresse Sem estresse Total


*M *F M F Geral
17-26 6,0 8,0 4,0 6,0 24,0
27-36 10,0 4,0 2,0 4,0 20,0
37-46 4,0 16,0 2,0 4,0 26,0
47-56 2,0 10,0 6,0 4,0 22,0
57-66 0,0 0,0 4,0 2,0 6,0
67-76 0,0 0,0 2,0 0,0 2,0
Total geral 22,0 38,0 20,0 20,0 100,0

Legenda: *M: masculino; *F: feminino

Nota se que os entrevistados com menor grau educacional apresentaram menor nível
de estresse. Dentre os entrevistados que não apresentaram estresse, o resultado foi igual
para ambos os sexos, sendo que dos participantes da pesquisa do sexo masculino com
sintomas de estresse, 2% possuem ensino fundamental incompleto, 8% ensino fundamental
completo, 0,0% ensino médio incompleto, 12% com ensino médio completo e nenhum
(0,0%) com ensino superior completo, já sem estresse corresponde a 6% com ensino
fundamental incompleto, 6% com ensino fundamental completo, 4% com ensino médio
incompleto, 4% com ensino médio completo e nenhum com ensino superior incompleto; já
dentre as participantes do sexo feminino com níveis de estresse 4% possuem ensino
fundamental incompleto, 4% com ensino fundamental completo, também 4% com ensino
médio incompleto, 22% com ensino médio completo e novamente 4% com ensino superior
incompleto, já as sem sinais de estresse corresponde a 8%; 0,0%; 0,0%; 12% e 0,0%
respectivamente, conforme escolaridade citada a priori.
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Quanto ao stresse e seus sintomas variando conforme as fases que o sujeito se


encontrata percebe se alguns dados relacionadoa ao gênero, discriminados na tabela 3.

Tabela 3 - Predominância de fases de estresse e sintomas de estresse por gênero (%)

Fases Com estresse Sem estresse Total Geral


M F M F
Alerta 0,0 2,0 0,0 0,0 2,0
Resistência 20,0 30,0 0,0 0,0 50,0
Quase exaustão 2,0 4,0 0,0 0,0 6,0
Exaustão 0,0 2,0 0,0 0,0 2,0
Sem sintomas 0,0 0,0 20,0 20,0 40,0
Total geral 22,0 38,0 20,0 20,0 100
Sintomas Com estresse Sem estresse Total Geral
M F M F
Físicos 4,0 6,0 0,0 0,0 10,0
Psicológicos 2,0 20,0 0,0 0,0 22,0
Fisicos e Psicológicos 16,0 12,0 0,0 0,0 28,0
Sem predominância 0,0 0,0 20,0 20,0 40,00
de sintomas
Total geral 22,0 38,0 20,0 20,0 100.0

Legenda: M: Masculino; F: Feminino

Quanto às análises de distribuição da pontuação específica para cada fator e teste


como um todo, tem-se a tabela 4. Nessa, verifica-se que sempre há uma predominância de
níveis moderados ou altos de sintomas de estresse para cada um dos fatores e teste como
um todo.

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Tabela 4 - Distribuição de frequências (N) e percentuais (%) por fator e total do Job Stress
Scale.

Fator Produção N %

Demanda Psicológica Baixo 2 4,0

Moderado 19 38,0

Alto 29 58,0

Controle Baixo 6 12,0

Moderado 16 32,0

Alto 28 56,0

Apoio Social Baixo 17 34,0

Moderado 19 38,0

Alto 14 28,0

Total Baixo 6 12,0

Moderado 39 78,0

Alto 5 10,0

Considerando a relação entre os desempenhos em ambos os instrumentos, verificou-


se que não houve correlação entre os escores verificados no JSS e o ISSL. O escore aferido
de correlação (r = 0,

075; p = 0,603), além de não ser estatisticamente significativo, há indicativo de


ausência de relação entre as variáveis aferidas, mesmo que o fosse, indicaria correlação de
direta proporcionalidade muito baixa com magnitude nula, que por sua vez é indicativo de
relação espúria. Tal resultado pode ser considerado à luz dos referenciais teóricos dos
instrumentos, onde se verifica que, apesar de o construto geral que ambos consideram ser o
mesmo, a saber, o estresse, cada um o afere a partir de premissas distintas (levantamento de
sintomas para o ISSL x dimensionamento de vivências para o Job Stress Scale). Tal
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resultado é indicativo de que novas pesquisas que visem à relação desses instrumentos
sejam conduzidas de modo a confirmar tal hipótese proposta.

4) DISCUSSÃO
Para Lipp (2000) o estresse é classificado em quatro fases distintas, sendo elas alerta,
resistência, quase exaustão e exaustão. A fase de alerta é considerada positiva na qual o ser
humano se energiza e favorece a sobrevivência com sensação de plenitude. Na fase de
resistência, o indivíduo faz enfrentamento às situações para a manutenção e equilíbrio interno.
Mas o cortisol acrescenta e o organismo torna-se vulnerável a vírus e a bactérias. Na fase quase-
exaustão o indivíduo perde a resistência aos fatores estressores e favorece um adoecimento no
qual os órgãos mais sensíveis emergem sintomas degradativos, embora o indivíduo ainda tome
decisões, ria de piadas e trabalhem. Na fase da exaustão, caso não providencie um manejo
interno e/ou externo, podem aparecer doenças mais graves nos órgãos mais sensíveis tais como,
coração, estômago e pele; e/ou problemas psicológicos como a depressão.
No estresse positivo de alerta, há um aumento de adrenalina que favorece ânimo e a
criatividade; estado esse em que o indivíduo não se dá ao descanso. O estresse ideal é
quando o indivíduo entende algo sobre seu mecanismo e consegue uma alternância entre
alerta e o sair desta para restituição da dinâmica do sistema, de modo que, mesmo que volte
o alerta não tenha permanência nesta. O estresse negativo é aquele no qual a pessoa se perde
de seus limites de adaptação, sendo a causa do excesso de estresse estímulo muito forte ou
por maior espaço de tempo (LIPP, 2000).
Quando analisados os escores de produção no ISSL verifica-se a distribuição de
presença e nível de estresse. Conferindo para Lipp (2000), em termos de maior nível de
estresse na fase de resistência, o qual configura com os resultados da pesquisa na tabela 22
do Manual do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos chegando a resultados onde
1(2%) estão em nível de alerta, 25(50%) em nível de resistência, 3(6%) em nível de quase
exaustão, já 1(2%) em exaustão e 20(40%) não apresentaram sinais de estresse.
O teste ISSL permitiu mensurar alguns parâmetros relacionados entre gênero/estado
civil/estresse. Assim, no que se refere ao estresse ligado ao estado civil, os casados ou em

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relacionamento estável, são menos vulneráveis ao estresse (PEREIRA, 2002; ELVIRA;


CABRERA, 2004).
Observando o estresse por faixa etária, em todas foi detectado algum nível do
mesmo. Isto coincide com os estudos no qual descreve que para cada etapa vital há
estímulos, consequências e demandas diferentes (GOLDSTEIN, 1999). Por isso o tipo de
estressor é variável assim como o modo de enfrentamento também. Nesses resultados não
são diferentes as repostas da presença ou não do estresse depende do recurso psíquico de
cada um. Contrário à fala dos autores Da Conceição et al. (2013), que ao mencionar que
quanto maior a idade, mais propenso o trabalhador fica ao estresse.
Para Fisher (1994) as questões ligadas à escolaridade provocam estado de estresse
em pessoas que passam por transição de formações, ingresso em universidades, avaliações,
conclusão de curso, concursos. Ainda em pesquisa de Areias & Guimarães (2004),
correlacionando estresse com soldados homens e mulheres, indicaram que os sintomas de
estresse foram mais significativos para com as mulheres do que para os homens. A dupla
jornada pode ser a possível causa do sintoma maior de estresse nas mulheres. Por outro
lado, pesquisa de Tricoli (1997) sobre estresse em crianças mostra maior incidência de
estresse nas meninas indicando assim uma propensão desse estado para o sexo feminino.
Com relação aos objetivos propostos, em relação a fatores estressores no ambiente,
nota-se que mais da metade dos entrevistados confirmam alta demanda psicológica e que
executam suas tarefas com muita rapidez e intensamente, de forma a produzirem muito em
pouco tempo e consideram esse ambiente calmo por não apresentar violência. Quanto ao
controle das condições do ambiente de trabalho do profissional informal, considerou-se, em
especial, o item que indaga se o ambiente de trabalho é calmo e agradável. Frente a esse,
(28%) confirmam que o percebem como tal; (28%) afirmaram às vezes; (26%) raramente;
e (18%) nunca ou quase nunca. Tal dado indica que há diferença na sensação aos mesmos
estímulos. A esse respeito foi ainda buscado informações junto ao órgão responsável pelo
controle do trânsito da cidade sobre a contagem volumétrica de veículos e também à
secretaria adjunta de meio ambiente sobre os decibéis de ruídos sonoros aferidos no local
da pesquisa. Verificou-se que tais órgãos não possuem registros nesse sentido. O número de
entrevistados com e sem estresse levando-se em conta a fase de estresse e por gênero.

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Quanto ao grau de satisfação do trabalhador em relação à função, foi utilizado em


especial os itens P e Q do JSS, os quais questionam o relacionamento com chefes e do gosto
de trabalharem com seus colegas. A despeito do ambiente do trabalho, os entrevistados
consideraram calmo devido a não violência. Nesses (75%) confirmam-se satisfeitos; (13%)
às vezes; (3%) raramente; e (9%) nunca ou quase nunca. Nestas respostas consideraram
como chefes, os clientes; e como colegas os outros autônomos. O fato de a maioria ser
autônomo ou dono do próprio negócio provoca uma satisfação na função desempenhada.
Embora existam questões de alienações de identificação, é sabido que cada sujeito
é singular, por isso o caminho usado para investigar a vivência desses profissionais
informais com esse trabalho de campo proporcionou a captação de informações para o saber
científico; com a utilização de instrumentos. Embora questões ideológicas ligadas ao
capitalismo, valorização moral e desemprego gerem impactos nas dimensões social, física
e psicológica, reconhece-se o trabalho como motivação tanto à saúde quanto ao
adoecimento; isso depende de como o indivíduo maneja e dispõe sua energia psíquica e
física.
A fala dos participantes denota liberdades de escolhas, a saber, horário, produtos e
oferta do trabalho. Mesmo que executem tarefas com rapidez, com o alto controle no
trabalho favorece tanto aos que não demonstraram estresse quanto aos que se mantém em
fase de resistência.
Considerando alternativa ao estresse, para o controle de estresse, recomendam-se
prioridades na alimentação com alimentos ricos em vitaminas para produção de energia, e,
os com cálcio que ajudam no sono. Isso porque o relaxamento de qualquer variedade
elimina o excesso de adrenalina. Recomenda-se também o exercício físico por 30 minutos
ou mais, de modo a produzir a beta endorfina que favorece a sensação de tranquilidade. Ao
tocante à estabilidade emocional, é imprescindível reflexão no lado positivo de algo, de
modo que o indivíduo reconheça sensações associadas ao ser, ao existir, e se preocupe
menos com o fazer. Com relação à qualidade de vida, para Lipp (2000) o sujeito deve se
voltar ao processo de oferecer atenção para o que é bom nos diversos campos da vida (no
social, profissional, saúde) e evitar perder tempo com detalhes irrelevantes.
Outros autores como Paiva & Marques (1999) sugerem estratégias com atividades
extra-trabalho, como viagens, leituras, passeios, gerenciamento do tempo e se apoiar

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socialmente tanto com a família, e/ou conjugue, e amigos. Caso o mesmo considere
necessário fazer uso da atuação multidisciplinar para resgate das características afetivas
(BATISTA et al., 2013). Segundo Murta (2007), outros modelos teóricos sugerem formas
psicoeducativas de enfrentamento com técnicas cognitivas comportamentais para fins de
redução de tensão e pensamentos disfuncionais. A pessoa interessada pode fazer uso de
análise para autoconhecimento e ressignificação ou psicoterapias e vivências grupais.
Aos entrevistados, em devolutiva, serão oferecidas cartilhas sobre controle da
alimentação, exercícios físicos e panfleto com endereço e telefone da Clínica Escola de
Psicologia para eventual acompanhamento psicológico caso queiram.

5) CONCLUSÃO

Embora o estímulo ou evento seja o mesmo, ou parecido, cada indivíduo o percebe


à sua maneira. Reconhece-se que o ser humano está sobre influência biopsicossocial, pois
além da carga de trabalho, economia psíquica, e o ambiente no geral, inclusive familiar,
existem condições biológicas herdadas e propensão à mudança ou desencadeamento de
químicas que alteram o metabolismo do indivíduo. O trabalhador informal está sujeito às
influências de fatores estressantes tanto internas quanto externas. Assim, (60%) dos
entrevistados apontaram para um possível estresse no momento da investigação. O
questionário JSS favoreceu para que os objetivos específicos fossem atingidos,
reconhecendo as características do estresse com alta demanda psicológica e moderado apoio
social no trabalho. Essa é a situação laboral de profissionais informais que trabalham nos
arredores de uma praça central, de um grande município no interior de Minas Gerais.
Este estudo aponta para uma realidade que precisa ser minuciosamente estudada,
com intuito de evitar e/ou tratar o adoecimento mental, especialmente aos atrelados ao
trabalho sendo ele informal ou formal, que vem se tornando cada vez mais comum.

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