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1 ISABELLA DE OLIVEIRA CARDOSO

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3 De modo ficcional, o filme “Cine Holiúdi” retrata o impacto positivo do cinema no
4 cotidiano das cidades, dada a sua capacidade de promover o lazer, socialização e
5 cultura. Entretanto, na realidade, tais benefícios não atingem toda a população
6 brasileira, haja vista a elitização dos meios cinematográficos e a falta de infraestrutura
7 adequada nos cinemas existentes. Sendo assim, urge a análise e a resolução desses
8 entraves para democratizar o acesso ao cinema no Brasil.
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10 A princípio, é lícito destacar que a elitização dos meios cinematográficos contribui
11 para que muitos brasileiros sejam impedidos de frequentar as salas de cinema. Isso
12 posto, segundo o filósofo inglês Nick Couldry em sua obra “Por que a voz importa?”, a
13 sociedade neoliberal hodierna tende a silenciar os grupos menos favorecidos,
14 privando-os dos meios de comunicação. A par disso, é indubitável que a localização
15 dos cinemas em áreas mais nobres e o alto valor dos ingressos configuram uma
16 tentativa de excluir e silenciar os grupos periféricos, tal como discute Nick Couldry.
17 Nesse viés, poucos são os indivíduos que desfrutam do direito ao lazer e à cultura
18 promovido pela cinematografia, o qual está previsto na Constituição e deve ser
19 garantido a todos pelo Estado.
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21 Ademais, vale postular que a falta de infraestrutura adequada para todos os
22 cidadãos também dificulta o acesso amplo aos cinemas do país. Conquanto a
23 acessibilidade seja um direito assegurado pela Carta Magna e os cinemas disponham
24 de lugares reservados para cadeirantes, não há intérpretes de LIBRAS nas telas e a
25 configuração das salas – pautada em escadas – não auxilia o deslocamento de idosos
26 e portadores de necessidades especiais. À luz dessa perspectiva, é fundamental que
27 haja maior investimento em infraestrutura para que todos os brasileiros sejam
28 incluídos nos ambientes cinematográficos.
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30 Por fim, diante dos desafios supramencionados, é necessária a ação conjunta do
31 Estado e da sociedade para mitigá-los. Nesse âmbito, cabe ao poder público, na figura
32 do Ministério Público, em parceria com a mídia nacional, desenvolver campanhas
33 educativas – por meio de cartilhas virtuais e curta-metragens a serem veiculadas nas
34 mídias sociais – a fim de orientar a população e as empresas de cinema a valorizar o
35 meio cinematográfico e ampliar a acessibilidade das salas. Por sua vez, as empresas
36 devem colaborar com a democratização do acesso ao cinema pela cobrança de valores
37 mais acessíveis e pela construção de salas adaptadas. Feito isso, o Brasil poderá
38 garantir os benefícios do cinema a todos, como relata o filme “Cine Holiúdi”.
39 Comentário:
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41 A participante demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal da
42 língua portuguesa, uma vez que a estrutura sintática é excelente e há presença de apenas
43 um desvio – “curta-metragens” – no último parágrafo de seu texto.
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45 Em relação aos princípios da estruturação do texto dissertativo-argumentativo,
46 percebe-se que a participante apresenta introdução em que expõe seu ponto de vista,
47 desenvolvimento de justificativas que comprovam esse ponto de vista e conclusão que
48 encerra a discussão, demonstrando excelente domínio do texto dissertativo-
49 argumentativo. Além disso, o tema é abordado de forma completa, o que revela uma
50 leitura cuidadosa da proposta de redação: logo no primeiro parágrafo, a participante já
51 apresenta o problema que será discutido no texto, reforçando sua importância para a
52 sociedade. Observa-se também o uso produtivo de repertório sociocultural pertinente à
53 discussão proposta pela participante em mais de um momento do texto: no primeiro
54 parágrafo, há a referência ao filme “Cine Holliúdy” para exemplificar a importância do
55 cinema como promotor de cultura em uma comunidade. No segundo parágrafo, a
56 participante utiliza a obra de Nick Couldry como argumento de autoridade para explicar os
57 fatores que geram exclusão de determinada camada da sociedade do acesso à cultura.
58 Ainda no segundo parágrafo e novamente no terceiro, ela se vale da Constituição Federal
59 para fundamentar a necessidade de promover a democratização do acesso ao cinema.
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61 Percebe-se, também, ao longo da redação, a presença de um projeto de texto
62 estratégico,com informações, fatos e opiniões relacionados ao tema proposto,
63 desenvolvidos de forma consistente e bem organizados em defesa do ponto de vista. Logo
64 no primeiro parágrafo, a participante destaca a importância do cinema e a
65 democratização deficiente do acesso a ele no Brasil, apontando dois fatores principais: a
66 elitização do cinema e a falta de infraestrutura adequada. Nos dois parágrafos seguintes,
67 esses fatores serão, cada um em um parágrafo, aprofundados. Em seu último parágrafo, a
68 participante reflete sobre esses fatores e propõe soluções muito bem articuladas a eles.
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70 Em relação à coesão, encontra-se, nessa redação, um repertório diversificado de
71 recursos coesivos, sem inadequações. Há articulação tanto entre os parágrafos
72 (“Ademais”, “Por fim”) quanto entre as ideias dentro de um mesmo parágrafo (1º
73 parágrafo: “Entretanto”, “tais benefícios”, “Sendo assim”; 2º parágrafo: “Isso posto”, “A
74 partir disso”, “o qual”; 3º parágrafo: “também”, “Conquanto”, “dessa perspectiva”; 4º
75 parágrafo: “Nesse âmbito”, “a fim de”, “Por sua vez”, entre outros).
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77 Por fim, a participante elabora proposta de intervenção muito boa: concreta,
78 articulada à discussão desenvolvida no texto, detalhada e que respeita os direitos
79 humanos. Ela propõe a criação de campanhas de valorização do cinema e a ampliação do
80 acesso a salas de cinema por meio da diminuição dos valores dos ingressos e da
81 adaptação de salas ao público de pessoas com deficiência.

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