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Redação

Competências e Estrutura

Prof.ª Meirylane Lopes Prof.ª Meirylane Lopes


o Texto dissertativo-argumentativo em prosa;
o Tema de ordem social, científica, cultural ou política;
o Defender uma tese, uma opinião a respeito do tema
proposto;
o Argumentos consistentes estruturados de forma
coerente e coesa, de modo a formar uma unidade
textual;
o Norma padrão da Língua Portuguesa;
o Proposta de intervenção social que respeite os direitos
humanos.
o Texto dissertativo-argumentativo em prosa;
o Texto dissertativo-argumentativo em prosa;
o Tema de ordem social, científica, cultural ou política;
o Defender uma tese, uma opinião a respeito do tema
proposto;
o Argumentos consistentes estruturados de forma
coerente e coesa, de modo a formar uma unidade
textual;
o Norma padrão da Língua Portuguesa;
o Proposta de intervenção social que respeite os direitos
humanos.
0 40 80 120 160 200

o Competência 1: Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita.


o Competência 2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos
das várias áreas de conhecimento, para desenvolver o tema dentro dos
limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.
o Competência 3: Selecionar, relacionar, organizer e interpreter
informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de
vista.
o Competência 4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos
necessários para a construção da argumentação.
o Competência 5: Elaborar proposta de intervenção para o problema
abordado, respeitando os direitos humanos.
Identificar as palavras-chave do tema
2021 - Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil
2020 - O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira
2019 - Democratização do acesso ao cinema no Brasil
2018 - Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet
2017 - Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil
2016 (2ª aplicação) - Caminhos para combater o racismo no Brasil
2016 (1ª aplicação) - Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil
2015 - A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira
2014 - Publicidade infantil em questão no Brasil
2013 - Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil
2012 - Movimento Imigratório para o Brasil no século XXI
2011 - Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado
Entendendo a Competência 3
TESE – É a ideia que você vai defender no seu texto. Ela deve
estar relacionada ao tema e apoiada em argumentos ao longo da
redação.

ARGUMENTOS – São as justificativas para convencer o leitor a


concordar com a tese defendida. Cada argumento deve responder à
pergunta “Por quê?” em relação à tese defendida.
ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS – São recursos utilizados para desenvolver os argumentos,
de modo a convencer o leitor, como: exemplos; dados estatísticos; pesquisas; fatos
comprováveis; citações ou depoimentos de pessoas especializadas no assunto; alusões
históricas; e comparações entre fatos, situações, épocas ou lugares distintos.

Argumento Concreto: esse tipo de argumento é uma prova cabal do que está sendo dito
pelo autor e trata-se de dados estatísticos oriundos de pesquisas confiáveis, fatos reais que
comprovam a tese do autor, textos legislativos (leis de todas as instâncias).

Argumento Lógico: já esse tipo de argumento é oriundo de um raciocínio


lógico que estabelece relações de sentido lógicas, como por exemplo,
comparações, causa e efeito, deduções, hipóteses, inferências etc.

Argumento Autoritário: esse tipo de argumento traz uma citação de uma


autoridade, de um especialista sobre o tema abordado pela proposta
de redação que pode ser um pesquisador, um professor, um
profissional formado na área ou imerso no tema etc.
Estrutura do texto

DESENVOLVIMENTO
INTRODUÇÃO (6 a 8 linhas cada parágrafo) CONCLUSÃO
(6 a 8 linhas)
(5 a 7 linhas)
• Argumento 1: afirmação
• Retomada da tese
• Apresentar o tema →explicação →
(opcional);
com contextualização; fundamentação →
consequência na • Soluções para o tema;
• Apresentar sua tese
sociedade. • Fechamento (pode
com base no tema; retomar a
• Apresentar o • Argumento 2: afirmação
contextualização da
argumento 1 e o →explicação → introdução. Nunca citar
argumento 2. fundamentação → informação nova).
consequência na
sociedade.
INTRODUÇÃO
Embora a Constituição Federal de 1988
assegure o acesso à cultura como direito
de todos os cidadãos, percebe-se que, na
atual realidade brasileira, não há o
cumprimento dessa garantia, 2019
principalmente no que diz respeito ao
cinema. Isso acontece devido à
concentração de salas de cinema nos
grandes centros urbanos e à concepção
cultural de que a arte direcionada aos
mais favorecidos economicamente.

Ana Clara Socha


“Black Mirror” é uma série americana que retrata
a influência da tecnologia no cotidiano de uma
sociedade futura. Em um de seus episódios, é
apresentado um dispositivo que atua como uma
babá eletrônica mais desenvolvida, capaz de
selecionar as imagens e os sons que os indivíduos
poderiam vivenciar. Não distante da ficção, nos 2018
dias atuais, existem algoritmos especializados em
filtrar informações de acordo com a atividade
“online” do cidadão. Por isso, torna-se necessário
o debate acerca da manipulação do
comportamento do usuário pelo controle de
dados na internet.

Clara de Jesus Ricaldi


Beatriz Albino Servilha

Durante o século XIX, a vinda da Família Real ao


Brasil trouxe consigo a modernização do país,
com a construção das escolas e universidades. 2017
Também, na época, foi inaugurada a primeira
escola voltada para a inclusão social de surdos.
Não se vê, entretanto, na sociedade atual, tal
valorização educacional relacionada à
comunidade surda, posto que os embates que
impedem sua evolução tornam-se cada vez mais
evidentes. Desse modo, os entraves para a
educação de deficientes auditivos denotam um
país desestruturado e uma sociedade
desinformada sobre sua composição bilíngue.
Isabella B. Castelo Branco

Na obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, o


realista Machado de Assis expõe, por meio da
repulsa do personagem principal em relação à 2017
deficiência física (ela era “coxa), a maneira como
a sociedade brasileira trata os deficientes.
Atualmente, mesmo após avanços nos direitos
desses cidadãos, a situação de exclusão e
preconceito permanece e se reflete na precária
condição da educação ofertada aos surdos no
País, a qual é responsável pela dificuldade de
inserção social desse grupo, especialmente no
ramo laboral.
DESENVOLVIMENTO
Repertório
sociocultural
Conceitos, conhecimentos de outros
campos, como: História, Filosofia,
Educação, Economia, Cultura etc. Esses
conhecimentos vão aparecer como
fundamentação das ideias, para
comprovar a colocação. Dão certa
cientificidade à produção textual.
É relevante abordar, primeiramente, que as cidades brasileiras foram construídas sobre um viés
elitista e segregacionista, de modo que os centros culturais estão, em sua maioria, restritos ao espaço
ocupado pelos detentores do poder econômico. Essa dinâmica não foi diferente com a chegada do
cinema, já que apenas 17% da população do país frequenta os centros culturais em questão. Nesse
sentido, observa-se que a segregação social - evidenciada como uma característica da sociedade
brasileira, por Sérgio Buarque de Holanda, no livro "Raízes do Brasil" - se faz presente até os dias atuais,
por privar a população das periferias do acesso à cultura e ao lazer que são proporcionados pelo cinema.

Paralelo a isso, vale também ressaltar que a concepção cultural de que a arte não abrange a
população de baixa renda é um fato limitante para que haja a democratização plena da cultura e,
portanto, do cinema. Isso é retratado no livro "Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus, o qual
ilustra o triste cotidiano que uma família em condição de miserabilidade vive, e, assim, mostra como o
acesso a centros culturais é uma perspectiva distante de sua realidade, não necessariamente pela
distância física, mas pela ideia de pertencimento a esses espaços.

(Democratização do acesso ao cinema no Brasil)


A princípio, a falta de profissionais qualificados dificulta o contato do portador de surdez com a base
educacional necessária para a inserção social. O Estado e a sociedade moderna têm negligenciado os direitos
da comunidade surda, pois a falta de intérpretes capacitados para a tradução educativa e a inexistência de
vagas em escolas inclusivas perpetuam a disparidade entre surdos e ouvintes, condenando os detentores da
surdez aos menores cargos da hierarquia social. Lê-se, pois, é paradoxal que, em um Estado Democrático,
ainda haja o ferimento de um direito previsto constitucionalmente: o direito à educação de qualidade.

Além disso, a ignorância social frente à conjuntura bilíngue do país é uma barreira para capacitação
pedagógica do surdo. Helen Keller – primeira mulher surdo-cega a se formar e tornar-se escritora – definia a
tolerância como maior presente de uma boa educação. O pensamento de Helen não tem se aplicado à sociedade
brasileira, haja vista que não se tem utilizado a educação para que se torne comum aos cidadãos a proximidade
com portadores de deficiência auditiva, como aulas de Libras, segunda língua oficial do Brasil. Dessa forma,
torna-se evidente o distanciamento causado pela inexperiência dos indivíduos em lidar com a mescla que forma
o corpo social a que possuem.

(Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil)


Convém ressaltar, a princípio, que a má formação socioeducacional do brasileiro é um fator
determinante para a permanência da precariedade da educação para deficientes auditivos no País, uma vez
que os governantes respondem aos anseios sociais e grande parte da população não exige uma educação
inclusiva por não necessitar dela. Isso, consoante ao pensamento de A. Schopenhauer de que os limites do
campo da visão de uma pessoa determinam seu entendimento a respeito do mundo que a cerca, ocorre
porque a educação básica é deficitária e pouco prepara cidadãos no que tange aos respeito às diferenças. Tal
fato se reflete nos ínfimos investimentos governamentais em capacitação profissional e em melhor estrutura
física, medidas que tornariam o ambiente escolar mais inclusivo para os surdos.

Em consequência disso, os deficientes auditivos encontram inúmeras dificuldades em variados


âmbitos de suas vidas. Um exemplo disso é a difícil inserção dos surdos no mercado de trabalho, devido à
precária educação recebida por eles e ao preconceito intrínseco à sociedade brasileira. Essa conjuntura, de
acordo com as ideias do contratrualista John Locke, configura-se uma violação do “contrato social”, já que o
Estado não cumpre sua função de garantir que tais cidadãos gozem de direitos imprescindíveis (como direito à
educação de qualidade) para a manutenção da igualdade entre os membros da sociedade, o que expõe os
surdos a uma condição de ainda maior exclusão e desrespeito.

(Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil)


É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema.
Conforme Aristóteles, a poética deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja
alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a perseguição religiosa
rompe essa harmonia; haja vista que, embora esteja previsto na Constituição o princípio da isonomia,
no qual todos devem ser tratados igualmente, muitos cidadãos se utilizam da inferioridade religiosa
para externar ofensas e excluir socialmente pessoas de religiões diferentes.

Segundo pesquisas, a religião afro-brasileira é a principal vítima de discriminação, destacando-se o


preconceito religioso como o principal impulsionador do problema. De acordo com Durkheim, o fato
social é a maneira coletiva de agir e de pensar. Ao seguir essa linha de pensamento, observa-se que a
preparação do preconceito religioso se encaixa na teoria do sociólogo, uma vez que se uma criança vive
em uma família com esse comportamento, tende a adotá-lo também por conta da vivência em grupo.
Assim, a continuação do pensamento da inferioridade religiosa, transmitido de geração a geração,
funciona como base forte dessa forma de preconceito, perpetuando o problema no Brasil.
(Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil)
Conclusão
V - Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos
humanos

AGENTE (quem vai fazer?) – Estado, Poder Legislativo/Judiciário, Mídia (Alguém, ninguém, alguns,
uns, uns e outros, você; Nós, nós (oculto), alguns de nós, todos nós, a gente – desde que não
especificados; Verbo no modo imperativo – desde que não haja vocativo.)
AÇÃO (o que vai ser feito?) – Promover a inserção/ o investimento; fiscalizar a aplicação; criar leis;
divulgar campanhas
MODO (como vai ser feito?) – Através de...., por meio de..., verbos no gerúndio (desenvolvendo
palestras nas escolas; inserindo a discussão como tema transdisciplinar)
EFEITO (com que finalidade? Quais os objetivos que serão alcançados? A fim de que...Com o
objetivo/com o escopo de...para que...)
DETALHAMENTO é o elemento que acrescenta informações à ação interventiva,
ao agente, ao modo/meio ou ao efeito. Ele tem papel fundamental para uma
formulação mais concreta e mais elaborada da proposta de intervenção. NOVIDADE: LOCAL
✓Quem executa? (agente)
✓O que deve ser feito? (ação)
✓Como se executa?/Por meio do quê?
Exemplo 1 (modo)
✓Para quê? (efeito)
✓Que outra informação sobre esses
elementos foi acrescentada pelo
participante? (detalhamento)

Impende, portanto, ao Estado, por meio do Ministério da Educação, criar um projeto


para ser desenvolvido nas escolas que promova palestras, apresentações artísticas e
atividades lúdicas a respeito do cotidiano e dos direitos dos surdos - uma vez que
ações culturais coletivas têm imenso poder transformador - a fim de que a comunidade
escolar e a sociedade no geral - por conseguinte – conscientizem-se.
Desse modo, poder-se-á promover uma sociedade mais inclusiva.
✓Quem executa? (agente)
✓O que deve ser feito? (ação)
✓Como se executa?/Por meio do quê?
Exemplo 2 (modo)
✓Para quê? (efeito)
✓Que outra informação sobre esses
elementos foi acrescentada pelo
participante? (detalhamento)

Diante disso, faz-se mister que instituições formadoras de opinião - como escolas,
universidades e famílias socialmente engajadas - promovam debates amplos e
constantes acerca da importância de garantir o respeito e a igualdade de
oportunidades a essa parcela social, a partir de diálogos nos lares, de seminários e de
feiras culturais em ambientes educacionais. Assim, reduzir-se-ão os
empecilhos existentes hoje em relação à educação de surdos na Nação.
✓Quem executa? (agente)
✓O que deve ser feito? (ação)
✓Como se executa?/Por meio do quê?
Exemplo 3 (modo)
✓Para quê? (efeito)
✓Que outra informação sobre esses
elementos foi acrescentada pelo
participante? (detalhamento)

Dessa forma, pode-se perceber que o debate acerca da democratização do cinema é imprescindível
para a construção de uma sociedade mais igualitária. Nessa lógica, é imperativo que o Ministério da
Economia destine verbas para a construção de salas de cinema, de baixo custo ou gratuitas, nas
periferias brasileiras por meio da inclusão desse objetivo na Lei de Diretrizes Orçamentárias, com o
intuito de descentralizar o acesso à arte. Além disso, cabe às instituições de ensino promover passeios
aos cinemas locais, desde o início da vida escolar das crianças, mediante autorização e contribuição
dos responsáveis, a fim de desconstruir a ideia de elitização da cultura, sobretudo em regiões
carentes. Feito isso, a sociedade brasileira poderá caminhar
para a completude da democracia no âmbito cultural."
Ação como elemento nulo

1. É/faz-se necessário (ter/tomar) consciência/ é importante se conscientizar/precisam pôr a mão


na consciência/precisa conscientizar as pessoas;
2. Temos que prestar atenção/é preciso ficar atento;
3. É preciso ter mais tolerância/não julgar;
4. Respeitar uns aos outros/nos respeitar como pessoas;
5. Precisam amar/respeitar o próximo/ se tornar pessoas melhores;
6. Deve-se viver em harmonia/adotar uma postura sem preconceitos;
7. Devem ter o direito à educação;
8. Dar o primeiro passo;
9. Medidas devem ser tomadas.
10. Devemos entender a situação dos...
→A redação receberá nota 0 (zero) se
apresentar uma das características a
seguir:

Quando ▪ Fuga total do tema;


▪ Não obediência à estrutura dissertativo-
posso zerar argumentativa;
▪ Texto com até 7 (sete) linhas;

a redação? ▪ Impropérios, desenhos ou outras formas


propositais de anulação;
▪ Desrespeito aos direitos humanos
(desconsideração da Competência 5).
Importante lembrar...
• O rascunho e as marcações assinaladas
nos Cadernos de Questões não são
considerados para fins de correção da
redação.
• Na redação corrigida, não há
necessidade de título. Caso o
participante inclua título, este não será
computado como linha efetivamente
escrita para o mínimo de 7 linhas.
• As rasuras devem ser evitadas. Caso
ocorram, basta passar um traço no
trecho inadequado e dar continuidade
ao texto.
• A proposta de redação apresenta textos
motivadores que não devem ser
copiados no texto produzido.
REDAÇÃO NOTA 1000 ENEM 2019

Em 2019, o tema foi “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”

"Aristóteles, grande pensador da Antiguidade, defendia a importância do conhecimento para a obtenção da


plenitude da essência humana. Para o filósofo, sem a cultura e a sabedoria, nada separa a espécie humana do
restante dos animais. Nesse contexto, destaca-se a importância do cinema, desde a sua criação, no século XIX, até
a atualidade, para a construção de uma sociedade mais culta. No entanto, há ainda diversos obstáculos que
impedem a democratização do acesso a esse recurso no Brasil, centrados na elitização do espaço público e
causadores da insuficiência intelectual presente na sociedade. Com isso, faz-se necessária uma intervenção que
busque garantir o acesso pleno ao cinema para todos os cidadãos brasileiros.
De início, tem-se a noção de que a Constituição Federal assegura a todos os cidadãos o acesso igualitário aos meios
de propagação do conhecimento, da cultura e do lazer. Porém, visto que os cinemas, materialização pública desses
conceitos, concentram-se predominantemente nos espaços reservados à elite socioeconômica, como os "shopping
centers", é inquestionável a existência de uma segregação das camadas mais pobres em relação ao acesso a esse
recurso. Essa segregação é identificada na elaboração da tese de "autocidadania", escrita pelo sociólogo Jessé
Souza, que denuncia a situação de vulnerabilidade social vivida pelos mais pobres, cujos direitos são negligenciados
tanto pela falta de ação do Estado quanto pela indiferença da sociedade em geral. Fica claro, então, que o acesso ao
cinema não é um recurso democraticamente pleno no Brasil.

Como consequência dessa elitização dos espaços públicos, que promove a exclusão das camadas mais periféricas, é
observado um bloqueio intelectual imposto a essa parte da população. Nesse sentido, assuntos pertinentes ao saber
coletivo, que, por vezes, não são ensinados nas instituições formais de ensino, mas são destacados pelos filmes
exibidos nos cinemas, não alcançam as mentes das minorias sociais, fato que impede a obtenção do conhecimento e,
por conseguinte, a plenitude da essência aristotélica. Essa situação relaciona-se com o conceito de "alienação",
descrito pelo alemão Karl Marx, que caracteriza o estado de insuficiência intelectual vivido pelos trabalhadores da
classe operária no contexto da Revolução Industrial, refletido na camada pobre brasileira atual.
Portanto, fica evidente a importância do cinema para a construção de uma sociedade mais culta e a
necessidade de democratização desse recurso. Nesse âmbito, cabe ao Ministério da Educação e da Cultura
promover um maior acesso ao conhecimento e ao lazer, por meio da instalação de cinemas públicos nas
áreas urbanas mais periféricas - que deverão possuir preços acessíveis à população local -, a fim de evitar
a situação de alienação e insuficiência intelectual presente nos membros das classes mais baixas. Desse
modo, o cidadão brasileiro poderá atingir a condição de plenitude da essência, prevista por Aristóteles,
destacando-se, logo, das outras espécies animais, através do conhecimento e da cultura”.

Augusto Scapini
REDAÇÃO NOTA 1000 ENEM 2018

Em 2018, o tema foi “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”

"Após o fim da Guerra Fria, em 1990, e o estabelecimento do capitalismo em praticamente todo o mundo, as
empresas utilizam-se cada vez mais dos meios midiáticos e da tecnologia para promoverem seus produtos de 16
maneira direcionada e flexibilizada aos consumidores. Com efeito, nota-se crescente número de pessoas
consumistas e endividadas, problema agravado na contemporaneidade. Assim, cabe a análise acerca de causas,
consequências e possível solução da problemática.
Mormente, é importante ressaltar os fatores que possibilitaram o aumento da influência midiática. Adorno
e Horkheimer, dois importantes filósofos da escola de Frankfurt, definiram como indústria cultural a padronização e
massificação dos produtos como forma de lucratividade. Tais métodos, aliados às facilidades que a tecnologia traz
em rastrear os sites de compras visitados pelo consumidor, permitem a manipulação das pessoas por meio de
propagandas direcionadas. Desse modo, como dito por Theodor Adorno, os cidadãos têm a liberdade de escolher
sempre a mesma coisa; algo grave, tendo em vista o ferimento do direito de escolha do indivíduo.

Vale também ressaltar os efeitos desse fenômeno. De acordo com uma pesquisa publicada no portal G1, os
brasileiros passam cerca de 4 horas diárias conectados à rede. Como grande parte do conteúdo na internet é
moldada ao usuário, é cada vez mais comum encontrar pessoas que passam horas assistindo, ouvindo ou lendo
coisas de interesse próprio, pois essas pessoas são bombardeadas diariamente com sugestões que atendem ao seu
perfil. Dessa maneira, os indivíduos têm sua opinião e comportamento moldados inconscientemente, podendo criar
padrões consumistas, algo que gera endividamento e desperdício e precisa mudar urgentemente.
Depreende-se, portanto, que o controle dos dados na internet pode ser muito prejudicial ao
cidadão e necessita de mais atenção. O governo federal, como instituição regulamentadora da internet e
propaganda, deve criar medidas que controlem e reduzam a publicidade direcionada, por meio da
fiscalização e criação de leis que exijam a transparência das empresas. Espera-se, com isso, que os
brasileiros possam ter a liberdade de escolha garantida e, assim, sejam menos manipulados pela mídia,
como Adorno e Horkheimer defendiam”.

Fabrício da Silva

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