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Volume 7

Número 2
Jul/Dez 2017
Doc. 13-N1

Rev. Bras. de Casos de Ensino em Administração ISSN 2179-135X


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DOI: http://dx.doi.org/10.12660/gvcasosv7n2n13

FACA DE DOIS GUMES: DESAFIOS EM POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA


(Notas de Ensino)

JÚLIO CESAR ANDRADE DE ABREU – jandrade0@gmail.com


Universidade Federal Fluminense – Niterói, RJ, Brasil

VANESSA DA SILVA GAVA – vanessasgava@gmail.com


Universidade Federal Fluminense – Niterói, RJ, Brasil

VITTORIO RANGEL CREDIDIO ZAMPIERI – vrc.zampieri@hotmail.com


Universidade Federal Fluminense – Niterói, RJ, Brasil

Submissão: 06/05/2017 | Aprovação: 29/11/2017


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Resumo do caso
Este caso aborda os impasses vividos por um gestor da área de Segurança Pública do Rio de
Janeiro, que busca, a partir da sua função e da sua parceria com diversos atores da sociedade civil,
desenvolver melhorias na segurança pública. Tenta, a partir desses conflitos e impasses, demonstrar
o quanto os processos de cooperação e jogo de interesses influenciam integralmente a construção e
conclusão dos projetos sociais.

Objetivos de aprendizagem
O objetivo do caso é ilustrar uma situação delicada que precisa ser estudada, avaliada e
resolvida de maneira pacífica e sem interesses pessoais. Possibilita, ainda, demonstrar o jogo de
interesses e a dificuldade de se chegar a uma decisão, visto que a necessidade de todos é relevante,
independentemente da localidade.
Aplica-se para discussão sobre políticas públicas, políticas de segurança e desenvolvimento
regional em cursos do campo de Públicas e correlatos.

Apontamentos teóricos
Muitos autores divergem quanto à abordagem dos estudos sobre políticas públicas. Alguns
apontam para a variável estatista, enquanto outros defendem uma lógica multicêntrica (Secchi,
2011). O que temos em questão no presente caso de ensino toma como visão central uma abordagem
estatista, mas a discussão comporta perfeitamente uma provocação aos estudantes sobre a aplicação
de uma visão multicêntrica, inclusive com a participação de outros atores sociais. Até que ponto os
dilemas vividos pela personagem principal deste caso de ensino não poderiam ser distintos se atores
sociais pudessem compartilhar o processo decisório e de construção da política pública?
A abordagem multicêntrica, segundo Secchi (2011), é menos positivista, por ter uma visão
mais interpretativa, entendendo que o problema público surge no seio de atores políticos envolvidos
diretamente com o tema.
O caso comporta, ainda, a discussão do conceito de elaboração de políticas públicas, por
meio das diferentes abordagens existentes. O modelo de fluxos múltiplos, conforme figura a seguir, é
uma das diversas possibilidades de discussão:

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Júlio Cesar Andrade de Abreu, Vanessa da Silva Gava, Vittorio Rangel Credidio Zampieri

Figura 1. Síntese do Modelo de Fluxos Múltiplos de John W. Kingdon

Fonte: Nascimento, Simonian e Farias (2016).

Desde o debate sobre estabelecimento de agenda até a especificação de alternativas, o modelo


conceitual pode ser aplicado considerando os diferentes eventos envolvidos no caso de ensino.

Questões para discussão


1 – Responda às indagações feitas por Silva.
Direcionamento de resposta: As questões apresentadas por Silva apresentam grande
variedade de possibilidade de respostas. Servem como base adequada para fomento do debate interno
nos grupos, “quebrando o gelo” inicial e alinhando as discussões na sala de aula.

2 – Que jogo de interesse você percebe nesse ambiente? E por parte de quem?
Direcionamento de resposta: Se espera que os estudantes apontem alguns dos diversos grupos
de interesse possíveis: população vulnerável da Baixada Fluminense; Comitê Organizador do Jogos
Olímpicos; Governo Estadual, entre outros. As diferentes possibilidades podem aqui ser ligadas aos
conceitos sobre formação de agenda pública, ao identificar os diferentes grupos de interesse.

3 – Dada as promessas, a partir de que ponto é válido criar esses vínculos entre os indivíduos e até
que ponto isso pode trazer benefícios? Que tipos de benefícios são esses? As promessas são vindas a
partir do interesse de se conseguir algo?
Direcionamento de resposta: Nesta questão, se espera que surjam entre os estudantes
questionamentos no âmbito eleitoral, e ainda como este tema pode influenciar a elaboração de
agenda pública.

4 – O que você, como gestor, faria? Como conseguir suprir todas as necessidades/situações em que
ocorra uma imparcialidade por parte dos envolvidos?
Direcionamento de resposta: Espera-se que os estudantes problematizem a ideia de
imparcialidade e, ao mesmo tempo, a natureza eminentemente política da tomada de decisão pública.
Em tempos em que o debate sobre temas públicos está impregnado, equivocadamente, de uma ideia
de ojeriza à política, é importante e oportuno o resgate de que todo ser humano é um ser político, e

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as decisões públicas não podem vir transvestidas de uma artificial e falaciosa “imparcialidade
técnica”.

Sugestões para discussão


Este caso é indicado para os cursos de graduação e pós-graduação na área de Administração
Pública e do campo de Públicas de modo geral.
Aplica-se para discussão sobre disciplinas de políticas públicas, formação de agenda, tomada
de decisão pública, políticas de segurança e desenvolvimento regional em cursos do campo de
Públicas e correlatos.

Sugestão de dinâmica de grupo


O caso comporta vários formatos de dinâmica de grupo. Apresentamos abaixo dois roteiros
possíveis como sugestão para o docente da disciplina:

Roteiro A:
Organizar a discussão em grupos de 3 a 4 pessoas. Os grupos deverão apresentar o resultado
da discussão ao grande grupo. Após as apresentações, deverão entrar em um consenso e, se possível,
construir um relatório indicando soluções para tais impasses.
Recomenda-se que os estudantes tenham feito leitura prévia do caso. A discussão em grupo
pode ter uma duração entre 20 e 30 minutos. A etapa de discussão no grupo grande pode ter uma
duração de 40 a 50 minutos (é importante que todos os grupos tenham condições de manifestar sua
visão, confrontando-a com os demais grupos). Outros 30 minutos devem ser destinados à elaboração
do relatório indicativo de soluções, para encerramento da atividade. O tempo total de aplicação do
caso fica entre uma hora e meia e duas horas.

Roteiro B:
Distribuir entre os alunos matérias jornalísticas sobre o caso de esfaqueamento que ocorreu
na região da Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro, conforme exemplos abaixo:

Manchete Link de acesso


“Ciclista é esfaqueado na Lagoa, Rio” http://g1.globo.com/rio-de-
janeiro/noticia/2015/05/ciclista-e-esfaqueado-na-
lagoa-rio.html
“Homem é esfaqueado na Lagoa, no http://g1.globo.com/rio-de-
Rio, no mesmo dia que adolescente” janeiro/noticia/2015/04/homem-e-esfaqueado-na-
lagoa-no-rio-no-mesmo-dia-que-adolescente.html
“Adolescente é assaltado, leva facada e http://g1.globo.com/rio-de-
perde bicicleta na Lagoa, no Rio” janeiro/noticia/2015/04/adolescente-e-assaltado-
leva-facada-e-perde-bicicleta-na-lagoa-no-rio.html
“Número de assassinatos sobe 30% na http://g1.globo.com/rio-de-
Baixada Fluminense, aponta ISP” janeiro/noticia/2016/08/numero-de-assassinatos-
sobe-30-na-baixada-fluminense-aponta-isp.html
“Homem é morto a facadas em Nova https://oglobo.globo.com/rio/homem-morto-facadas-
Iguaçu, na Baixada Fluminense” em-nova-iguacu-na-baixada-fluminense-20095066
“Homem é morto a facadas em Nova https://extra.globo.com/casos-de-policia/homem-
Iguaçu, na Baixada Fluminense” morto-facadas-em-nova-iguacu-na-baixada-
fluminense-20095033.html

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Após discussão com toda a turma sobre as matérias jornalísticas, deve-se fazer a distribuição
do caso. Recomenda-se que esta etapa leve entre 30 e 40 minutos. Após a leitura do caso, fazer a
divisão de grupos de até cinco pessoas para análise do caso, dedicando até uma hora a essa etapa.
Finalmente, após a discussão em grupos menores, promover um debate em formato de
plenária em que as questões sobre políticas públicas e decisão pública podem emergir. Nesse
momento, indica-se até 30 minutos de debate, fazendo com que o tempo total da aula fique em torno
de duas horas.

Referências e indicações bibliográficas

Alves, J. C. S. (1998). Baixada Fluminense: A violência na construção do poder (Tese de Doutorado,


USP/FFLCH, São Paulo).
DataSUS (2002). Declarações de óbito. SUS/Ministério da Saúde. Brasília, DF. Recuperado de
http://datasus.saude.gov.br/ acesso em 01/03/2016
Galdo, R. (2014, Outubro 26). Baixada Fluminense: Os dilemas de uma população numerosa e
carente de serviços básicos. O Globo. Recuperado de http://oglobo.globo.com/brasil/baixada-
fluminense-os-dilemas-de-uma-populacao-numerosa-carente-de-servicos-basicos-13968398
Nascimento, V. L. Q., Simonian, L. T. L., & Farias, M. C., Filho. (2016, Abril). Os participantes da
política pública de turismo do Pará a partir do modelo de fluxos múltiplos – 2007-2011. Rev.
Bras. Pesq. Tur., 10(1), 129-151. Recuperado de
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-
61252016000100129&lng=en&nrm=iso
Secchi, L. (2011). Políticas públicas: Conceitos, esquemas de análise, casos práticos. São Paulo, SP:
Cengage Learning.
Secretaria de Segurança Pública. (2004). Registros de ocorrência da Polícia Civil. A incidência da
violência na Baixada Fluminense. LAV – UERJ.
Soares, L. E. et al. (1996). Violência e política no Rio de Janeiro. ISER. Relume-Dumará.

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