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Dimensões Da Precarização Do Trabalho
Dimensões Da Precarização Do Trabalho
Dimensões da Precarização
do Trabalho
Ensaios de Sociologia do Trabalho
Projeto Editorial Praxis
Dimensões da Precarização
do Trabalho
Ensaios de Sociologia do Trabalho
1ª edição 2013
Bauru, SP
Copyright do Autor, 2013
Conselho Editorial
Prof. Dr. Antonio Thomaz Júnior – UNESP
Prof. Dr. Ariovaldo de Oliveira Santos – UEL
Prof. Dr. Francisco Luis Corsi – UNESP
Prof. Dr. Jorge Luis Cammarano Gonzáles – UNISO
Prof. Dr. Jorge Machado – USP
Prof. Dr. José Meneleu Neto – UECE
ISBN 978-85-7917-223-6
CDD: 331.0981
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Capítulo 1
Maquinofatura: A nova forma social da produção do capital na era
do capitalismo manipulatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Capítulo 2
Crise de valorização e desmedida do capital: A natureza da crise
estrutural do capital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Capítulo 3
A condição de proletariedade
Por uma analítica existencial da classe do proletariado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Capítulo 4
O novo metabolismo social do trabalho e
a precarização do homem-que-trabalha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
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Capítulo 5
Produção do capital e a degradação da pessoa humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Capítulo 6
Precarização do trabalho e saúde do trabalhador no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
Capítulo 7
A precarização do trabalho no Brasil na década de 2000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
Capítulo 8
Trabalho docente e precarização do homem-que-trabalha . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
Capítulo 9
O enigma do precariado e a nova temporalidade histórica do capital . . . . . . . . . 197
Capítulo 10
Capitalismo global, proletariedade e os limites da indignação . . . . . . . . . . . . . . . 221
Capítulo 11
A Educação do precariado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
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"Os indivíduos universalmente desenvolvidos – cujas relações
sociais enquanto relações que lhes são próprias e comuns, são
igualmente submetidas ao seu próprio controle comum – não
são um produto da natureza, mas da História. O grau e a univer-
salidade do desenvolvimento das faculdades, que tornam possí-
vel esta individualidade, pressupõem precisamente a produção
baseada sobre os valores de troca, pois só ela produz a univer-
salidade da alienação do indivíduo para consigo mesmo e para
com os outros, mas igualmente a universalidade e a generalida-
de das suas relações e capacidades. Em épocas mais antigas do
desenvolvimento, o indivíduo singular revela-se mais completo
precisamente porque ainda não elaborou a plenitude de suas
relações e ainda não as contrapôs a si mesmo como potências
e relações sociais que são independentes dele. Se é ridículo crer
que se deva manter o homem neste completo esvaziamento. A
concepção burguesa não conseguiu jamais superar a mera antí-
tese àquela concepção romântica; por isto, esta a acompanhará
como legítima antítese até que chegue a sua hora."
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Mais do que nunca, torna-se necessário salientar essa nova forma de preca-
rização do trabalho, que perpassa as experiências vividas de trabalhadores e tra-
balhadoras na sua vida cotidiana e que diz respeito à estrutura da própria práxis
humana. A desefetivação do ser genérico do homem implica a corrosão da capaci-
dade humana de “negação da negação”. É a forma radical de dominação do capital
como sistema sociometabólico.
Este é um livro de ensaios críticos que provocam o leitor com um conjunto
de novos conceitos que criamos para expressar as novas condições da produção e
reprodução social do capital. Torna-se fundamental ir além dos autores, inclusive
do próprio Marx; ir além no sentido de “aufhebung”, isto é, superar/conservando,
criando e reinventando categorias capazes de dar visibilidade conceitual às múl-
tiplas determinações da forma concreta de ser do mundo do capital em sua etapa
hipertardia.
O marxismo fossiliza-se na medida em que adormecemos com os autores e ca-
ímos num sono dogmático. Mais do que nunca, os intelectuais radicais são intima-
dos a ter imaginação dialética rompendo com a mentalidade dogmática e sectária
que caracterizou o marxismo no século XX.
Neste livro de ensaios críticos apresentamos os conceitos de maquinofatura,
precarização do homem-que-trabalha, nova precariedade salarial, experiências
expectantes; crise do trabalho vivo como redução do trabalho vivo à força de tra-
balho e suas manifestações contingentes: crise da vida pessoal, crise de sociabi-
lidade e crise de autorreferência pessoal; dessubjetivação de classe, “captura” da
subjetividade do homem-que-trabalha, condição de proletariedade (categoria ex-
posta por nós, pela primeira vez, no livro homônimo publicado em 2009), trabalho
ideológico e a redefinição dos conceitos de crise estrutural de valorização e con-
ceito de precariado.
Enfim, apresentamos, a título ensaístico, um sistema categorial novo para tra-
tar do novo (e precário) mundo do trabalho no século XXI. Mas os novos con-
ceitos são elementos de provocação heurística, categorizações propositadamente
precárias no sentido de que exigem lapidações críticas necessárias e recorrentes;
os novos conceitos são recursos heurísticos que utilizamos para clarear novos pro-
blemas que emergem com a temporalidade histórica da crise estrutural do capital.
O próprio conceito de crise estrutural do capital é redefinido para que possamos
situar de modo radical a verdadeira tarefa epistemológica e política do século XXI:
o resgate integral do pensamento crítico e radical capaz de criar as condições so-
ciometabólicas para a “negação da negação”. Hic Rhodus, hic salta!
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Finalmente, é importante salientar que o problema da precarização do
homem-que-trabalha é o problema do estranhamento no capitalismo global,
isto é, o problema do completo esvaziamento dos indivíduos universalmente
desenvolvidos cujas relações sociais, enquanto relações que lhe são próprias
e comuns, se contrapõem a eles como potências independentes (o fetichismo
social). Na verdade, o capitalismo global explicita à exaustão hoje o problema
do estranhamento que contém em seu cerne a candente contradição entre a
universalidade da alienação dos indivíduos para consigo mesmo e para com
os outros (o fetichismo social) e a universalidade e a generalidade das suas
relações, capacidades e faculdades que tornam possível essa individualidade
(processo civilizatório). A solução necessária e urgente é o controle social da
sociedade pelos produtores organizados, isto é, a democratização radical da
sociedade.
Giovanni Alves
Marília, 22 de fevereiro de 2013
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