Curso de Sociologia e Psicologia do Trabalho – VIVIANE VIDIGAL- @viviane_vidigal
FORDISMO, TAYLORISMO, TOYOTISMO
O século XX foi demarcado pelo modelo taylorista-fordista na forma de
organização do trabalho e produção das mercadorias: otimização do controle do trabalho pelos estudos de tempo e movimento e produção em série (BRAVERMAN, 1987). Frederick Taylor em seu livro “Os Princípios da Administração Científica” datado de 1911, sustentou como a produtividade poderia ser “radicalmente aumentada através da decomposição de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organização de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento” (HARVEY, 2006, p. 121). Henry Ford observando as teorias tayloristas aplicou-as em suas fábricas de automóveis, com alguns acréscimos: a esteira de produção, que passou a ditar a velocidade da execução das tarefas, alienando o processo produtivo, pois o trabalhador não conseguia mais ter uma noção geral do processo porque foi especializado e fisicamente posicionado para executar apenas uma determinada função (HARVEY, 2006). Harvey (2006) afirma que o que havia de especial em Ford, distinguindo o fordismo do taylorismo, era a sua visão, seu reconhecimento explícito de que produção de massa significava consumo de massa. Portanto, mais do que um sistema de produção, Henry Ford instituiu um sistema de consumo (HARVEY, 2006). Acrescenta o autor que Ford criou um “novo sistema de reprodução da força de trabalho”, uma “nova política de controle e gerência”, uma “nova estética" e uma “nova psicologia”. Em resumo, “um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista” (HARVEY, 2006, p. 121). O modelo fordista só veio a se universalizar ao lado dos métodos de racionalização de Friederick Taylor e do Estado regulador de Keynes – Welfare State – após a II Guerra, quando a tendência de equilíbrio do mercado deu sinais evidentes de esgotamento e criou um novo momento para o capitalismo (BATISTA, 2008). O taylorismo-fordismo exprime, portanto, modos de vida baseados no assalariamento e na seguridade social (CASTRO, 2013). O Estado arrecadava os impostos e assegurava certos direitos trabalhistas, o patronato se comprometia com o pagamento dos altos salários inspirados no modelo produtivo de Ford e os trabalhadores suportavam as formas fordistas-tayloristas de exploração do trabalho. Nessa época foram ampliados diversos direitos sociais, o que suavizou temporariamente o conflito inerente à relação capital-trabalho até a crise de seu padrão de acumulação (BRAGA, 1995). Com o fim dos “anos dourados” (HOBSBAWM, 2014), correspondentes às três décadas de crescimento econômico do pós-guerra, iniciou-se um período de profunda reorganização das formas de produção em escala mundial. No período de 1965 – 1973 o fordismo e o keynesianismo se revelaram sistemas incapazes de conter as contradições Curso de Sociologia e Psicologia do Trabalho – VIVIANE VIDIGAL- @viviane_vidigal
inerentes ao sistema capitalista, por serem rígidos (HARVEY, 2006). Em 1973, a
recessão profunda agudizada pelo choque do petróleo pôs em curso uma gama de elementos que solaparam o processo de acumulação fordista. Em resposta à crise ganha força o regime da acumulação flexível que ao contrário da etapa taylorista-fordista, marcada por "(...) complexos e rígidos hábitos e normas de ordem, exatidão, precisão (...)" (GRAMSCI, 1978, p. 393), a acumulação flexível é marcada por uma flexibilidade geral que se estende dos processos de produção aos dos produtos de trabalho e padrões de consumo. Agora, a chamada flexibilidade dinâmica permite sistemas de produção personalizada reprogramável para atenderem "(...) as variações do mercado (flexibilidade do produto) e das transformações tecnológicas (flexibilidade do processo)" (CASTELLS, 1999, p. 176). A acumulação flexível nos processos de produção e do trabalho está intrinsicamente relacionada com a tecnologia. As transformações organizacionais foram determinadas por esta, mas sim, superintensificadas pela revolução tecnológica, a qual foi decisiva na troca do capitalismo industrial para uma concepção pós-industrial das relações econômicas. Em um contexto de globalização, a tecnologia é penetrante e invasora, rápida e miniaturizada. Gerou-se um novo movimento, chamado por Harvey (2006) de "compressão do espaço-tempo", segundo o qual, os horizontes temporais da tomada de decisão se estreitam, ao mesmo tempo em que a comunicação via satélite possibilita a difusão imediata dessas decisões num espaço amplo e variado, reforçando a administração descentralizadora (HARVEY, 2006). A forma que se sente que o mundo é menor e as distâncias mais curtas, os eventos em um determinado lugar têm um impacto imediato sobre pessoas e lugares situados a uma grande distância (HALL, 2005). Esta flexibilidade do tempo e do espaço, da produção e do trabalho, trazem profundas transformações que dizem respeito ao ritmo de trabalho, às relações sociais e humanas, ao princípio de autoridade e hierarquia, bem como às relações do cidadão com a burocracia de Estado. Consequentemente pedem a alteração dos regimes e contratos de trabalho, possibilitando o surgimento de uma grande diversidade de relações de trabalho. Assim, o capitalismo flexível se ampara na reorganização da forma estatal para adequar as novas formas de produção à regulação do trabalho, atrelada a uma mudança na forma de organização do trabalho, marcada por práticas toyotistas. Eiji Toyota e o engenheiro Taiichi Ohno, após esquadrinharem o modelo implementado na Ford Motors em 1950, instituíram, em 1970, um modelo de administração que coordenava a produção de acordo com a demanda específica de veículos variados. Dessa forma, originou-se o sistema toyota de produção. O toyotismo é caracterizado por ter sua produção vinculada à demanda, desenvolvimento de produtos diferenciados, adequados aos interesses e necessidades do adquirente, resultado de ação em equipe de técnicos com multifunções e especialidades. O importante, do ponto de vista das consequências para o trabalho, é que com o toyotismo há uma prevalência da heterogeneidade, desigualdades das condições de trabalho (POCHMANN, 2016). Curso de Sociologia e Psicologia do Trabalho – VIVIANE VIDIGAL- @viviane_vidigal
Uma das principais inovações do toyotismo, em relação ao fordismo e taylorismo,
foi a adoção do método de organização do trabalho que ficou conhecido como produção just in time e significa que cada processo, deve ser suprido com os itens certos, no momento certo, na quantidade certa e no local certo. O objetivo do Just in Time é identificar, localizar e eliminar as perdas, garantindo um fluxo contínuo de produção (GHINATO, 2000, p. 7). A justificativa de adoção desse sistema se dava, portanto, em uma organização da produção mais racional e que evitava desperdícios de tempo e custo na produção. “Não é um exagero afirmar que em um período de baixo crescimento tal desperdício institui um crime contra a sociedade mais do que uma perda para a empresa. A eliminação de desperdício precisa ser o objetivo primeiro da empresa.” (OHNO, 1997, p. 136).
(Trecho do livro “Capitalismo de Plataforma: as facetas e as falácias”, por Viviane