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ANO: 2012
Av. Brigadeiro Faria Lima, 1993 – cj. 61 – São Paulo/SP– 01452-001 – fone: (11)3938-9400
www.abece.com.br – abece@abece.com.br
Comparação entre métodos simplificados e modelos não lineares de
elementos finitos para o cálculo de flecha imediata em vigas biapoiadas
de concreto armado.
Comparison of simplified methods and nonlinear FE models for short-term deflection
calculations of simply supported RC beams
(1) Doutoranda, Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina,
email: beth.junges@uol.com.br
(2) Professor Associado, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, email:
henriettelarovere@gmail.com
Resumo
Neste trabalho realiza-se um estudo comparativo entre as flechas de vigas biapoiadas de concreto armado
obtidas por métodos simplificados e por modelos refinados de elementos finitos (EF). Os métodos
simplificados estudados são o proposto por Branson, recomendado pela NBR 6118/2007, e o método
Bilinear indicado pelo CEB. São utilizados dois modelos de elementos finitos; no primeiro modelo a não
linearidade dos materiais é considerada a partir de relações constitutivas do aço e do concreto, incluindo-se
um modelo refinado de “tension-stiffening,” e no segundo modelo é considerada a partir de gráficos
momento-curvatura, obtidos pela equação de Branson. Inicialmente comparam-se os valores de flechas
obtidos pelos diversos métodos/modelos com valores obtidos de diversos ensaios experimentais. Em
seguida comparam-se os resultados obtidos pelos diferentes métodos simplificados e modelos de EF para
diversos exemplos de vigas biapoiadas de concreto armado em serviço, variando-se as características
geométricas das vigas, o tipo de carregamento, a resistência do concreto e a taxa de armadura. Ao final do
trabalho são extraídas algumas conclusões e recomendações quanto ao uso dos métodos e modelos
estudados.
Palavra-Chave: flechas, vigas biapoiadas, concreto armado, análise não linear.
Abstract
In this work, a comparative study between deflections in simply supported RC beams obtained by simplified
methods and by refined finite element (FE) models is performed. The simplified methods employed are the
one proposed by Branson, recommended by the Brazilian Code NBR 6118/2003, and the bilinear method
indicated by the European Code CEB. Two finite element models are utilized; in the first one the material
nonlinearities are considered by means of constitutive relationships for steel and concrete, in which a refined
tension-stiffening model is included, and in the second model the material nonlinearities are considered by
means of moment-curvature diagrams obtained using the Branson equation. A comparison between
deflections obtained numerically by the different methods and experimentally from several tests is initially
performed. Next the results obtained by the simplified methods and by the FE models are compared for
several examples of simply supported RC beams at service, by varying the beam geometry, the loading type,
the concrete strength and the reinforcing ratio. A few conclusions and recommendations regarding the use of
the different methods are drawn at the end of the work.
Keywords: deflections, simply supported beams, reinforced concrete, nonlinear analysis.
(Equação 1)
onde:
é o momento de inércia da seção bruta de concreto;
é o momento de inércia da seção fissurada de concreto no estádio II
é o módulo de elasticidade secante do concreto, que pode ser obtido a partir do
módulo tangente inicial Eci, sendo fck a resistência característica do concreto em MPa:
(Equação 2)
é o módulo de elasticidade do aço de armadura passiva que pode ser admitido igual a
210 GPa na falta de ensaios ou valores fornecidos pelo fabricante.
Adota-se para cálculo de EIeq quando se utiliza uma seção de referência para todo
o vão, para considerar o efeito “tension-stiffening” e também que parte do vão ainda se
encontra no estádio I. Adota-se para o cálculo de uma seção individual.
é o momento fletor na seção crítica do vão considerado;
é o momento de fissuração do elemento estrutural:
(Equação 3)
onde:
é a distância do centróide da seção à fibra mais tracionada;
é a resistência à tração direta do concreto, sendo que, na falta de ensaios para
determinação deste valor, pode ser adotada a seguinte equação para verificação de
estado limite de deformação excessiva:
ANAIS DO 53º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2011 – 53CBC 3
(Equação 4)
sendo a resistência média à tração do concreto ( e fck em MPa).
O coeficiente correlaciona de maneira aproximada a resistência à tração na flexão com
a resistência à tração direta, sendo igual a 1,5 para seções retangulares.
Para momento fletor atuante Ma menor que Mr, ou seja, seção no estádio I, adota-se a
rigidez da seção bruta .
Legenda:
Figura 2 – Gráficos carga aplicada versus flecha no meio do vão das vigas ensaiadas por Fernandes (1996)
Figura 4 - Gráfico carga aplicada versus flecha no meio do vão da viga V1B ensaiada por Araújo (2002)
4.1.3 Viga ensaiada por Machado (2004)
A viga VR foi ensaiada por Machado (2004) até a ruptura, e tem geometria e armação
conforme ilustra a Figura 5, sendo as propriedades mostradas na Tabela 3.
Figura 6 - Gráfico carga aplicada versus flecha no meio do vão da viga VR.
Da análise comparativa das diferentes vigas, e também a partir das avaliações feitas por
Stramandinoli (2007), que comparou resultados experimentais de diversas vigas
biapoiadas (não sendo reproduzidas aqui) com os obtidos pelo modelo de EF do Analest,
observou-se que os resultados do modelo do Analest foram muito próximos aos
resultados experimentais e, na maioria dos casos, mais próximos do que os obtidos pelos
outros métodos/modelos. Por este motivo, e também por ser o modelo mais completo, o
modelo do Analest foi tomado como referência na comparação das flechas obtidas pelos
diferentes métodos/modelos no estudo das vigas de projeto apresentado a seguir.
Figura 7 – Ilustração dos tipos de carregamento e especificação das variáveis referentes à geometria
ANAIS DO 53º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2011 – 53CBC 9
Tabela 4 – Dados do carregamento e armação longitudinal da seção central de cada viga
pCQP PCQP As A's (%) (%) MCQP>Mr
Viga
(kN/m) (kN) barras cm² barras cm² As As' (% vão)
VB-G111 4,30 28 1,00 0,22 0,03636 0,00
VB-G112 8,60 2 10 1,57 0,35 0,04682 32,00
VB-G113 12,90 3 10 2,36 0,52 0,06067 63,33
VB-G114 17,20 4 10 3,15 0,70 0,07377 74,00
VB-G115 21,50 4 12,5 4,92 1,09 0,10054 80,00
VB-G116 25,80 5 12,5 6,15 1,37 0,11713 83,67
VB-G117 30,10 5 12,5 6,15 2 6,3 0,63 1,37 0,14 0,11713 86,00
VB-G118 34,40 6 12,5 7,38 2 10 1,57 1,64 0,35 0,13219 87,67
VB-G121 1,13 9,53 2 10 1,57 0,35 0,04682 0,00
VB-G122 1,13 22,43 4 10 3,14 0,70 0,07361 53,67
VB-G123 1,13 35,33 4 12,5 4,92 1,09 0,10054 69,67
VB-G211 4,30 28 1,00 0,17 0,03164 0,00
VB-G212 8,60 3 10 2,36 0,39 0,05040 32,25
VB-G213 12,90 4 10 3,14 0,52 0,06058 63,25
VB-G214 17,20 6 10 4,71 0,79 0,07985 74,25
VB-G215 21,50 5 12,5 6,15 1,03 0,09613 79,75
VB-G216 25,80 6 12,5 7,38 1,23 0,10903 83,50
VB-G217 30,10 4 16 8,05 2 6,3 0,63 1,34 0,11 0,11568 86,50
VB-G218 34,40 5 16 10,05 2 10 1,57 1,68 0,26 0,13401 88,00
VB-G219 43,00 6 16 12,07 3 12,5 3,69 2,01 0,62 0,15034 90,25
VB-G221 1,50 11,20 2 10 1,57 0,26 0,03966 0,00
VB-G222 1,50 28,40 3 12,5 2,46 0,41 0,05173 53,25
VB-G223 1,50 45,60 5 12,5 6,15 1,03 0,09613 69,5
VB-G311 10,75 4 10 3,14 0,31 0,04398 21,00
VB-G312 17,20 4 12,5 4,92 0,49 0,05817 63,20
VB-G313 25,80 4 16 8,05 0,81 0,08126 77,60
VB-G321 2,50 19,75 4 10 3,14 0,31 0,04398 1,80
VB-G322 2,50 36,95 4 12,5 4,92 0,49 0,05817 44,20
VB-G323 2,50 58,45 4 16 8,05 0,81 0,08126 62,60
VB-G411 12,30 4 12,5 4,92 0,45 0,05159 39,00
VB-G412 20,50 4 16 8,05 0,73 0,07144 71,83
VB-G413 28,70 6 16 12,07 1,10 0,09461 81,17
VB-G421 2,75 27,37 4 12,5 4,92 0,45 0,05159 22,00
VB-G422 2,75 51,97 4 16 8,05 0,73 0,07144 54,83
VB-G423 2,75 76,57 6 16 12,07 1,10 0,09461 67,67
VB-G511 4,13 28 1,01 0,28 0,04395 23,43
VB-G512 8,25 3 10 2,36 0,66 0,07615 72,57
VB-G513 12,38 3 12,5 3,69 1,03 0,10386 82,86
VB-G521 0,90 5,48 28 1,01 0,28 0,04395 4,29
VB-G522 0,90 13,13 3 10 2,36 0,66 0,07615 56,29
VB-G523 0,90 20,78 3 12,5 3,69 1,03 0,10386 70,86
Para o cálculo pelo modelo do Analest, a seção transversal de todas as vigas foi dividida
em 20 camadas, assim sendo o efeito “tension-stiffening”, definido pelo parâmetro foi
considerado nas cinco camadas inferiores (h/4), (Stramandinoli, 2007). As flechas das
vigas de projeto são calculadas para a combinação quase permanente de serviço (CQP),
conforme recomendação da NBR 6118/2007. Na Tabela 4 estão os dados referentes ao
Os resultados obtidos por cada método/modelo, para cada viga, foram analisados por
meio de gráficos - carga aplicada versus flecha na seção central do vão, e também pela
comparação dos valores das flechas obtidas para a carga total de serviço. Na Figura 8
são mostrados os gráficos de algumas vigas do subgrupo VB-G11.
Pode-se verificar que, para as vigas com taxa de armadura e carregamento mais
elevados, as curvas carga-flecha dos modelos se aproximaram mais das retas do estádio
II para carga aplicada próxima à carga total, constatando-se assim, que a influência do
concreto fissurado e da extensão do vão que ainda se encontra no estádio I na rigidez da
seção diminui com o aumento do carregamento, taxa de armadura e extensão do vão
fissurado.
Dentre os modelos/métodos analisados, o método simplificado Bilinear apresentou os
menores resultados de flechas para o mesmo nível de carga aplicada no trecho após a
fissuração do concreto, com exceção da viga VB-G113. Percebe-se que isto ocorreu
devido à rigidez apresentada pelo método, representada pela inclinação da reta, ter sido
maior que dos demais modelos, mesmo que o valor da carga em que a seção analisada
entra no estádio II tenha sido um pouco menor que o valor da carga do modelo do
Analest, (o que também ocorreu para o método simplificado Branson-NBR). Nota-se a
partir dos gráficos mostrados que o método simplificado Branson-NBR e o modelo MEV-
Branson apresentaram resultados próximos aos do modelo do Analest, com exceção da
viga VB-G113 onde o MEV-Branson mostrou valores menores de flecha no trecho pós-
fissuração.
Figura 8 – Gráficos carga aplicada versus flecha no meio do vão das vigas do subgrupo VB-G11.
Na Figura 9 são mostrados os gráficos carga-flecha das vigas 2 e 3 dos subgrupos VB-
G31 e VB-G32. Podem-se observar diferenças entre os métodos similares às observadas
nos exemplos de vigas mostrados anteriormente. Para as vigas VB-G322 e VB-G323,
submetidas à carga concentrada, percebe-se que a diferença da carga que indica a
entrada da seção no estádio II entre os dois métodos simplificados e os dois modelos
refinados é maior que para as vigas com carga distribuída, levando assim a uma maior
diferença entre os valores de flecha final. Ainda sobre os gráficos das vigas VB-G322 e
VB-G323, ressalta-se que a pequena descontinuidade no primeiro trecho dos gráficos é
devida ao primeiro incremento de carga incluir, além de uma parcela da carga total P de
serviço, também o peso próprio da viga.
Os resultados das flechas finais de cada viga, para o carregamento total de serviço, estão
mostrados nos gráficos da Figura 10, separados por grupo, onde se pode visualizar a
variação das flechas de viga para viga e entre os diferentes métodos/modelos.
Pode-se observar que para a maioria das vigas os menores valores de flechas foram
obtidos pelo método Bilinear, principalmente nas vigas com carga distribuída, e os
maiores valores foram obtidos pelo método Branson-NBR, principalmente para as vigas
submetidas à carga concentrada. O modelo do Analest apresentou valores em geral
intermediários entre os métodos, sendo que o modelo MEV-Branson foi o que apresentou
resultados mais próximos aos do modelo do Analest.
Pela Média 1, o modelo MEV-Branson foi o modelo que mais se aproximou do modelo de
referência, o que já era esperado por se tratar de um modelo mais refinado. Isso se deve
ao fato do modelo, além de apresentar valor da carga de mudança do estádio I para o
estádio II na seção analisada similar ao valor do modelo do Analest, também ter
apresentado rigidez próxima à do modelo do Analest no trecho pós-fissuração, resultando
em curvas carga-flecha bem próximas para muitas vigas. Já o método Branson-NBR, que
adota um valor de rigidez equivalente para todo o vão, obteve diferença percentual média
de 9%, cerca de 2% maior à obtida pelo MEV-Branson; isto se explica pelo fato do valor
da carga de mudança do estádio I para o estádio II da seção ser menor, mas a rigidez no
trecho pós-fissuração é semelhante à do MEV-Branson e à do modelo do Analest,
levando assim a valores de deslocamentos maiores para um mesmo nível de carga
aplicada, para a maioria das vigas estudadas (80%).
O método simplificado Bilinear apresentou resultados das flechas finais com diferença
média (Média 1) de 9,2%, o que se explica pelo método apresentar valor de carga de
entrada no estádio II menor que do modelo do Analest, mas com rigidez maior no trecho
pós-fissuração, levando a resultados de flechas finais ora acima ora abaixo dos valores de
referência. No entanto, utilizando-se a Média 2, o método Bilinear apresentou a menor
diferença média, mas porém, com o maior desvio padrão.
Foi observado, também, que para vigas com baixa taxa de armadura e menor extensão
do vão fissurado os valores de flechas finais dos métodos apresentaram maiores
variações em relação às do modelo do Analest, principalmente para os dois modelos
simplificados. Já para taxas de armaduras mais elevadas essa diferença diminui, já que a
contribuição do concreto fissurado na rigidez também diminui.
Dividindo as vigas teóricas estudadas em dois grupos, o primeiro formado pelas vigas
submetidas à carga distribuída e o segundo pelas vigas submetidas à carga concentrada,
obteve-se separadamente as médias de diferença percentual das flechas finais em
relação às do modelo do Analest, conforme mostrado nas tabelas seguintes.
Tabela 8 – Médias das diferenças percentuais das flechas finais em relação às do modelo do Analest (%)
das vigas submetidas à carga distribuída
Desvio
Método Média (-) nº vigas Média (+) nº vigas Média 1 Média 2
Padrão
Branson-NBR -5,37 9 5,41 17 5,40 1,68 7,32
Bilinear -10,94 21 8,81 5 10,53 -7,14 9,68
MEV-Branson -10,50 17 1,96 9 7,54 -6,19 10,38
Por esta análise, percebeu-se que o método Branson-NBR apresentou diferença dos
resultados menor em relação ao modelo do Analest para as vigas com carga distribuída,
ao contrário do que ocorreu para o método Bilinear, que apresentou menor diferença para
as vigas com carga concentrada. Isto pode ser explicado pelo fato do Método Bilinear ter
sido desenvolvido para vigas biapoiadas submetidas à carga concentrada, para o caso
em que =1, o que pode ser constatado a partir das Equações 5 e 7, em que é feita uma
interpolação linear entre flechas no Estádio I e II, baseando-se em uma variação linear de
momentos fletores. Já a fórmula de Branson aparentemente foi formulada para vigas
submetidas à carga distribuída.
5 Conclusões
Este trabalho teve como objetivo avaliar alguns métodos simplificados e modelos
refinados de EF para o cálculo de flecha imediata de vigas biapoiadas de concreto
armado. Pelos estudos realizados com vigas ensaiadas experimentalmente, verificou-se
que o modelo de EF do Analest apresentou resultados muito próximos aos experimentais
para as vigas analisadas, confirmando as avaliações feitas em estudos anteriores por
Stramandinoli (2007). Adotando-se este modelo como referência para o estudo de vigas
de projeto, puderam-se avaliar dois métodos simplificados, o de Branson indicado pela
NBR 6118 e o Bilinear indicado pelo CEB, além de um modelo de EF de viga que utiliza a
fórmula de Branson para definição da relação momento-curvatura (MEV-Branson). Para
todos os métodos/modelos foram utilizadas as mesmas propriedades de material,
seguindo-se as recomendações da NBR 6118. O modelo MEV-Branson foi o que forneceu
resultados mais próximos aos do modelo de referência, tanto em termos de curva carga-
flecha como de valores de flecha final para carga total de serviço. Em relação apenas à
flecha final, os dois métodos simplificados apresentaram variação média em torno de 9%
em relação ao modelo de referência, sendo que, para vigas submetidas à carga
distribuída, a variação média foi de 5,4% para o método Branson-NBR, enquanto que,
para vigas submetidas à carga concentrada, a variação média foi de 6,8% para o método
Bilinear. Conclui-se assim que os métodos simplificados podem ser utilizados como
estimativas para o cálculo de flechas imediatas em vigas de concreto armado,
recomendando-se o método de Branson-NBR para o caso de carga distribuída e o
método Bilinear para o caso de carga concentrada. Para uma análise mais precisa
recomenda-se a utilização dos modelos refinados de EF, sendo que o modelo do Analest
é mais elaborado e preciso, mas o modelo de MEV-Branson é mais fácil de ser
implementado computacionalmente e apresentou bons resultados em relação ao modelo
do Analest e aos modelos experimentais na maioria dos exemplos analisados.