Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2. PREVENÇÃO _________________________________________________________________________21
2.1. Modelos Teóricos de Prevenção do Delito Modelo clássico ___________________________________ 22
2.2. Motivo neoclássico________________________________________________________________________ 22
2.3. Classificações ____________________________________________________________________________ 22
2.3.1. Dimensão clássica (prevenção primária, prevenção secundária e prevenção terciária) ______ 22
2.3.2. Dimensão política (modelo tradicional ou conservador, modelo liberal e modelo radical)______ 24
2.3.3. Dimensão pluridimensional (prevenção por meio do sistema de justiça penal, prevenção
situacional do delito, prevenção comunitária e prevenção evolutiva ou de desenvolvimento) _____ 25
2.4. Fatores Sociais da Criminalidade ___________________________________________________________ 25
1. Introdução
Terminologia
Latim crimen (crime) + grego logo (tratado).
Estudo do crime, se estendeu ao criminoso, vítima, controle social e culturais (atualmente).
Idealizador: Paul Topinard (1830 – 1911)
Difusor no cenário internacional: Raffaele Garofalo (1851 – 1934)
Marco científico
Corrente majoritária: O homem Delinquente de Cesare Lombroso (1876). Escola
positivista – científica.
Corrente minoritária: Dos delitos e das penas de Cesare Beccaria (1764). A obra de
Beccaria, apesar de escrita anteriormente, não é considerada marco porque o autor está
inserido na escola clássica, pré-científica.
A criminologia analisa quais são os fatores que culminaram no cenário atual. É a ciência que
possui as ferramentas e saberes para examinar o fenômeno criminológico que ocorre na sociedade.
Não incumbe à criminologia punir o transgressor (tarefa do Direito Penal), muito menos definir
qual é o procedimento de persecução penal durante a investigação ou o processo (missão do Direito
Processual Penal).
O Direito Penal é uma ciência dogmática e a criminologia é uma ciência zetética.
Tércio Sampaio Ferraz, em uma de suas obras, para ilustrar tal distinção, conta uma história.
Sócrates, sentado à porta de sua casa, vê um sujeito passar correndo com um soldado atrás dele
gritando: “pegue esse homem, ele é um ladrão”. Sócrates, então, pergunta ao soldado: “o que você
entende por ladrão?”. A anedota histórica mostra dois enfoques distintos: o do soldado, que parte da
premissa de que a definição do que seja um ladrão já está posta e, portanto, está preocupado com a
ação, e a de Sócrates, para quem a premissa é duvidosa e merece questionamento. A postura do
filósofo não está atrelada à norma, está no mundo do ser, no mundo concreto. O soldado corre atrás do
sujeito para poder cumprir a norma, o mundo do dever-ser.
Dogmática: Significa ensinar, doutrinar. Parte de um objeto de pesquisa com limites bem
definidos e renuncia à pesquisa independente, vinculando-se a questões finitas, como por exemplo, os
limites impostos pela lei. É a ciência do dever-ser, do mundo abstrato, ideal. Não é interdisciplinar
(não admite a interferência de outras ciências). Está ligada à tarefa de interpretação de normas e
princípios, especialmente preocupando-se com a aplicação destes.
Zetética: Significa indagar, investigar. Despreza qualquer premissa anterior. Cria teorias
(passíveis de refutação), e não dogmas (incontestáveis). Tem uma função de especulação infinita; o
objeto é questionado em todas as direções. É a ciência do ser, do mundo real, e que visa explicar a
realidade.
1.1. Conceito
Conceito: Dentre as diversas definições trazidas pela doutrina, destaco as lições de Antonio
García-Pablos de Molina que alcança, já na visão conceitual, aspectos do método, objeto e das
funções do saber criminológico: “ciência autônoma empírica (baseada na realidade) e
interdisciplinar (que congrega ensinamentos de sociologia, psicologia, filosofia, medicina e
direito) (métodos), que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do
controle social (objetos de estudo) do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma
informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime - contemplado
este como problema individual e como problema social -, assim como sobre programas de prevenção
eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos
modelos ou sistemas de resposta ao delito (funções)” (Tratado de Criminologia, 1999).
(DP-MA-CESPE) Afirmar que a criminologia é interdisciplinar e tem o empirismo como método
significa dizer que esse ramo da ciência utiliza um método analítico para desenvolver uma análise
indutiva.
Ciência lógica e não normativa, busca determinar o homem delinquente utilizando métodos
biológicos e sociológicos. Nota-se, a partir de então, uma diferenciação com o Direito, visto que o
Direito é eminentemente normativo, já a Criminologia visa determinar o homem delinquente por meio
dos métodos biológico e sociológico.
Características da criminologia moderna (trazidas por García-Pablos de Molina e Luiz
Flávio Gomes):
O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa.
Empresta destaque aos modelos de reação social ao delito como um dos objetos da
criminologia.
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - A criminologia é
classificada como multidisciplinar ou interdisciplinar? Por quê?
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Qual o conceito
de multidisciplinaridade e de interdisciplinaridade?
1.2. Métodos
MÉTODOS. Tema recorrente em concursos públicos. Quais são os métodos utilizados pela
Criminologia? Ao contrário do Direito Penal, que parte de uma regra geral (norma) para analisar um
comportamento individual (conduta humana), ou seja, de forma dedutiva, lógica e abstrata, a
Criminologia adota o método INDUTIVO, partindo da análise da realidade para dela extrair as
consequências, de maneira EMPÍRICA e INTERDISCIPLINAR (contribuição de diversas
disciplinas, como a Biologia, a Sociologia e a Psicologia). Assim, os métodos da Criminologia para
a doutrina são INDUTIVO, EMPÍRICO e INTERDISCIPLINAR. Um único cuidado aqui: para o
Professor Nestor Sampaio Penteado Filho, em sua obra Manual Esquemático de Criminologia, o
saber criminológico utiliza os métodos BIOLÓGICO e SOCIOLÓGICO, diante do caráter empírico e
experimental de tal ciência.
MÉTODOS
Empírico Indutivo Interdisciplinar
Análise e observação da realidade. O jurista É aquele que sai de uma Várias ciências vão
de direito penal avança em seus estudos situação particular para depois contribuir para a
lendo obras de direito penal (mestrado, estabelecer uma situação geral, criminologia. Ex: psicologia,
doutorado), o direito penal é uma ciência do ao final vai estabelecer geografia, sociologia
dever-ser, é normativo, jurídico, dogmático. O conclusões. O direito penal faz criminais.
criminólogo é o curioso, ele vai “in loco” – a linha inversa, adota o método
analisar e observar a realidade, ciência do dedutivo.
ser. Método empírico não é a mesma
coisa método experimental, nem sempre
será possível a experimentação.
Até meados do Séc. XX, com os ideais da Escola Positiva, a Criminologia possuía apenas dois
objetos de estudo: o DELITO e o DELINQUENTE. Com a evolução da própria ciência, no entanto,
dois outros pontos de interesse foram acrescentados: VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL. Desta forma,
temos quatro atuais objetos ou vertentes: DELITO, DELINQUENTE, VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL.
1.3.1. DELITO
O conceito de delito para a Criminologia não é o mesmo utilizado pelo Direito Penal, tão
conhecido por nós quando do estudo da Teoria do Crime. Para o saber criminológico, delito é toda
conduta com incidência massiva na sociedade, capaz de causar dor, aflição e angústia
(incidência aflitiva), com persistência espaço-temporal e que se tenha um inequívoco consenso a
respeito de suas causas e suas possíveis punições.
Vamos explicar melhor?
a) INCIDÊNCIA MASSIVA: a conduta tida como delituosa NÃO pode ser um fato ocorrido de
maneira isolada, ainda que socialmente reprovável, o fato não pode ser episódico, isolado. Ex.: a
introdução de um palito de sorvete no orifício de respiração de um cetáceo; foi criada legislação para
tanto, porém tratava-se de conduta episódica; vale destacar que, na exposição de motivos da lei, foi
alegado que o objetivo da Legislação era evitar a caça a baleia na costa brasileira;
b) INCIDÊNCIA AFLITIVA: para que haja legitimidade de punição, o ato tido como criminoso
deve causar prejuízo, dor ou angústia à vítima ou à sociedade. Ex.: criminalização da expressão
“couro sintético” ou “couro ecológico”; isso pode ser resolvido em outra esfera, não na penal;
c) PERSISTÊNCIA ESPAÇO-TEMPORAL: o fato deve ser durável no tempo e no espaço em
determinado local, não sendo possível criminalizar uma moda, algo passageiro. Ex.: brucutu, uma a
peça que esguicha água nos Fuscas; era moda a subtração da peça para usar como anel; seria
incabível a criminalização dessa conduta; outro ex.: a criminalização dos “rolezinhos” em centros
comerciais;
d) INEQUÍVOCO CONSENSO: não basta que a conduta tenha incidência massiva, aflitiva e
persistência espaço-temporal, sendo necessário um inequívoco consenso de que tal ato deva ser
considerado como crime. Ex: o uso do álcool. Há incidência massiva na população? Com
cervej..certeza, rs! Há incidência aflitiva? Sim, alguns estudos apontam que o álcool é tão prejudicial
quanto algumas drogas ilícitas. Há persistência espaço-temporal? Claro. Alguém, neste exato minuto,
está consumindo em algum lugar do mundo. Apesar de tudo isso, não há um inequívoco consenso
acerca de sua criminalização e da necessidade de punição.
“Para a criminologia o delito se apresenta como um problema social e comunitário, que exige
do investigador uma determinada atitude para se aproximar dele (...) Portanto, a criminologia entende
que delito é toda conduta desviada que viola normas jurídicas ou normas sociais.” (BISPO, 2009).
“Busca analisar a conduta antissocial, as causas que gerou o delito, a busca de um
tratamento eficaz ao delinquente, visando a sua não reincidência. Para a criminologia o “crime é um
fenômeno social, comunitário e que se mostra como um ‘problema’ maior, a exigir do pesquisador
empatia para se aproximar dele e entende-lo em suas múltiplas facetas. Destarte, a relatividade do
conceito de delito é patente na criminologia, que o observa como um problema social”. (PENTEADO,
2020)
“Para a criminologia, “crime é um fenômeno social, comunitário e que se demonstra como um
problema maior, exigindo assim dos estudiosos uma visão ampla que permita aproximar-se dele e
compreendê-lo em seus diversos enfoques.” (SUMARIVA)
1.3.1.1. Criminalização
(i) Primária: é o ato de legislar em matéria penal; somente é feita pelo Poder Legislativo;
Características: diz respeito a condutas abstratas e pessoas indefinidas.
(ii) Secundária: é a aplicação da lei penal. Quem exerce a criminalização secundária: polícia
federal, civil, militar; sistema de justiça; Exército; administração penitenciária etc. É o controle social
formal; Características: ao contrário da criminalização primária, a secundária diz respeito a condutas
concretas e pessoas específicas;
Obs: Cifra oculta (cifra negra): É a diferença entre os crimes que acontecem e aqueles que
chegam ao conhecimento do sistema de justiça. Outras cifras: Cifra verde: crimes contra o meio
ambiente; cifra amarela: crimes cometidos por agentes estatais; cifra rosa: crimes de homofobia; cifra
dourada: crimes de colarinho branco.
1.3.1.2. Prevenção
O critério adotado para essa divisão é temporal ou cronológico. A prevenção primária ocorre
muito antes do cometimento do crime, a secundária, logo após, e a terciária, muito tempo depois.
1.3.2. DELINQUENTE
MARXISMO: para Marx, de forma bem simplista, quem é culpável pelo crime é a própria
sociedade, já que o crime seria decorrente de certas estruturas econômicas.
(DPE-DF-CESPE) Na visão do marxismo, a responsabilidade pelo crime recai sobre a sociedade,
tornando o infrator vítima do determinismo social e econômico. (CERTO)
1.3.3. VÍTIMA
Por fim, entende-se por VITIMIZAÇÃO TERCIÁRIA a ausência de receptividade social, bem
como a omissão estatal no atendimento da vítima, que em diversos casos se vê compelida a
alterar sua rotina, os ambientes de convívio e círculos sociais em razão da estigmatização
causada pelo delito. Ex: vítima de crime sexual e segregação social. Vitimização indireta –
Sofrimento suportado por pessoas relacionadas intimamente à vítima do delito, que, embora não
diretamente lesionadas pela conduta criminosa, partilham de seu sofrimento.
VITIMIZAÇÃO QUATERNÁRIA: É o medo da vítima de se tornar vítima novamente. É
influenciada pela mídia, que cria esse medo coletivo.
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Que tipo de
vitimização e de prevenção estabelece a lei Maria da Penha?
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: CRIMINOLOGIA - Segundo
Mendelson, quem são as vítimas unicamente culpadas?
São as instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover a submissão dos
indivíduos aos modelos e normas comunitárias de modo orientador e fiscalizador. Com relação aos
seus destinatários, pode ser difuso (à coletividade) ou localizado (a determinados grupos). Subdivide-se
em CONTROLE SOCIAL FORMAL (realizado pelo Estado, caracterizado pelo Sistema de Justiça
Criminal – Polícias, Poder Judiciário, MP, Administração Prisional) e CONTROLE SOCIAL
INFORMAL (realizado pela sociedade civil – família, mídia, opinião pública, religião, ambiente de
trabalho etc.). Pode ser exercido de três principais formas: a) sanções formais (aplicadas pelo Estado,
podem ser cíveis, administrativas e/ou penais) e sanções informais (não têm força coercitiva); b) meios
positivos (prêmios e incentivos) e meios negativos (imposição de sanções); c) controle interno
(autocoerção) e controle externo (ação da sociedade ou do Estado, como multas e penas privativas de
liberdade). Quando as formas de controle social informal falham, aparecem as formas de controle
formal. A pena privativa de liberdade é a mais grave das sanções do controle social formal.
CONTROLE SOCIAL ALTERNATIVO: reação social frente à ineficiência e/ou injustiça das
instâncias de controle social formal.
CONTROLE SOCIAL CONTROLE SOCIAL FORMAL
INFORMAL
Família, escola, religião, clubes Polícia, Ministério Público, Poder
recreativos, opinião pública Judiciário, administração penitenciária.
AGENTES
etc.
Disciplina o indivíduo por Entra em funcionamento quando
meio de um largo e sutil processo as instâncias informais de controle
MOMENTO
de socialização, interiorizando falham.
ininterruptamente no
indivíduo as pautas e conduta.
Distintas estratégias (prevenção, Atua de modo coercitivo (violento)
repressão, ressocialização e impõe sanções mais estigmatizantes,
etc.) e diferentes modalidades que atribuem ao infrator da norma um
ESTRATÉGIAS de sanções (positivas, singular status (de desviado, perigoso ou
como recompensas, e negativas, delinquente).
como punições).
Costuma ser mais efetivo, A eficaz prevenção do crime não depende
porque é ininterrupto e onipresente, tanto da maior efetividade do controle
o que ajuda a explicar os níveis mais social formal, senão da melhor integração
baixos de criminalidade nas pequenas do controle social formal e informal.
cidades do interior, onde é mais forte. O controle razoável e eficaz da
EFETIVIDADE
O atual enfraquecimento dos laços criminalidade não pode depender
familiares e comunitários explica em boa exclusivamente da efetividade das
medida a escassa confiança depositada instâncias do controle social, pois a
na sua efetividade intervenção do sistema legal não incide
nas raízes do delito.
CONTROLE SOCIAL
É formado pelas instituições, que desde nossa infância regulam nossos comportamentos.
Ensinamentos, dicas, regras, que nos ensinam a viver em comunidade. A doutrina divide o controle
social em:
a) Informal: família, esposa/marido, escola, ambiente de trabalho, igreja, vizinhança, sogra.
b) Formal: polícia, MP, Judiciário, Forças Armadas, Sistema Prisional/Socioeducativo.
Os estudos de criminologia apontam que quanto mais forte o controle social informal, mais
pacífica a sociedade. Em cidades pequenas esse vínculo do controle social informal é maior e mais
forte e quando se tem esse ambiente mais coeso, é mais difícil das pessoas cometerem crimes.
Quanto mais forte o controle informal, menos precisaremos do controle formal.
Componentes fundamentais das instituições controle social: norma, processo e sanção.
Estão presentes no controle social formal e informal.
Sanções do controle social:
a) Sanções formais – aplicadas pelo Estado, podem ser cíveis, administrativas e/ou penais e
sanções informais – não tem força coercitiva;
b) Meios positivos – prêmios e incentivos e meios negativos – imposição de sanções
propriamente ditas;
c) Controle interno – autocoerção e controle externo – ação da sociedade ou Estado, como
multas e pena privativas de liberdade.
“Quando as formas de controle social informal falham, agem as formas de controle social
formal.”
Obs: labelling approach – teoria da reação social.
Pertencente as teorias de conflito. O controle social não é isento como parte da doutrina diz,
para o Labelling approach, o controle social é seletivo, discriminatório, gerador e constitutivo de
criminalidade e estigmatizante.
O Estado na sua reação social é tão desproporcional, desmedida, acaba sendo decisiva para
a ação secundária, que é a reincidência.
(DPE-DF) Para a teoria da conformidade diferencial, a comunidade produz estímulos e pressões que
impulsionam o indivíduo à conduta criminal, mas tais impulsos são impedidos por fatores internos —
como a personalidade forte — e externos — como a coação normativa exercida pela sociedade.
(ERRADO)
A Teoria da contenção, e não da conformidade diferencial, preceitua que a sociedade produz uma
série de estímulos e pressões que impulsionam o indivíduo para uma conduta criminal, mas impedido
por fatores internos, como a personalidade forte, e externo, como a coação normativa exercida pela
sociedade.
a. Teoria do enraizamento social – de Travis Hirschi (1935) em que todo indivíduo é um infrator
potencial e só o medo do dano irreparável em suas relações interpessoais funciona como freio.
c. Teoria da contenção – para esta teoria, propugnada por Reckless, a sociedade produz uma
série de estímulos, de pressões, que impelem o indivíduo para a conduta desviada (mecanismos de
pressão criminógena). Mas referidos impulsos são impedidos por certos mecanismos, internos ou
externos, de contenção que lhes isolam positivamente.
d. Teoria do controle interior – é sustentada por Reiss e tem inequívocas conexões com a
psicanálise e com a cibernética. Para o autor a delinquência é o resultado de uma relativa falta de
normas e regras internalizadas, do desmoronar de controles existentes com anterioridade e/ou de um
conflito entre regras e técnicas sociais. A desviação social é vista como a consequência funcional de
controles pessoais e sociais débeis (fundamentalmente pelo fracasso dos grupos primários).
e. Teoria da antecipação diferencial – para Glaser a decisão de cometer ou não um delito vem
determinada pelas consequências que o autor antecipa, pelas expectativas que derivam de sua
execução ou não-execução. O indivíduo se inclinaria pelo comportar delitivo quando de seu cometer
derivar mais vantagens do que desvantagens, de forma a considerar seus vínculos com a ordem social,
com outras pessoas ou suas experiências precedentes. E tais expectativas, por sua vez, dependeriam
do maior ou menor contato de cada indivíduo com os modelos delitivos, isto é, da aprendizagem ou
associação diferencial.
CRIMINOLOGIA
Etimologicamente, criminologia vem do latim crimino (crime) e do grego
logos (estudo, tratado), significando o “estudo do crime”.
A palavra “criminologia” foi pela primeira vez usada em 1883 por Paul
Topinard e aplicada internacionalmente por Raffaele Garófalo, em seu livro
CONCEITO Criminologia, no ano de 1885.
Pode-se conceituar criminologia como a ciência empírica (baseada na
observação e na experiência) e interdisciplinar que tem por objeto de
análise o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo, da
vítima e o controle social das condutas criminosas.
Processos de Vitimização
#SeLiga:
Vitimização Indireta: é a vitimização de pessoas próximas ou
diretamente ligadas à vítima, como seus familiares, parente e
amigos.
Heterovitimização: corresponde à “auto recriminação da
vítima” diante de um crime cometido, por meio da busca pelas
razões que a tornaram, de modo provável, responsável pela
prática delitiva.
- Controle Social Informal: É realizado pela sociedade civil
(família, escola, religião, profissão, clubes de serviço etc).
É nitidamente preventivo e educacional.
O controle social informal atua ao longo da formação do
indivíduo, transmitindo valores morais e éticos, sem a atuação
do Estado.
2. PREVENÇÃO
a. Medidas Diretas – atuam por meio da Legislação vigente, ou seja, medidas de ordem jurídica
com a finalidade clara de punir a pratica delitiva por meio da repressão. É a afirmação do próprio
Direito Penal através de sua força repressora e punitiva e a indireta visa proporcionar a sociedade
condições e qualidade de vida através de programas de cultura, lazer e outros.
b. Medidas Indiretas – visam as causas do crime, sem atingi-lo de imediato. O crime só seria
alcançado porque, cessada a causa, cessam os seus efeitos – cessa o crime – (sub lata causa tolitur
efectus). Trata-se de excelente ação profilática – preventiva –, que demanda um campo de atuação
intenso e extenso na busca de todas as causas possíveis da criminalidade, próximas ou remotas,
genéricas ou especificas. A ações indiretas devem focar no indivíduo e em seu meio social.
2.3. Classificações
Primária: Ataca a raiz do conflito (educação, emprego, moradia, segurança etc.); aqui desponta a
inelutável necessidade de o Estado, de forma célere, implantar os direitos sociais progressiva e
universalmente, atribuindo a fatores exógenos a etiologia delitiva; a prevenção primária liga-se à
garantia de educação, saúde, trabalho, segurança e qualidade de vida do povo, instrumentos
preventivos de médio e longo prazo.
Terciária: voltada ao recluso, visando sua recuperação e evitando a reincidência (sistema prisional);
realiza-se por meio de medidas socioeducativas, como a laborterapia, a liberdade assistida, a
prestação de serviços comunitários etc
(DP-SE-2018-CESPE) A alteração dos espaços físicos e urbanos, como, por exemplo, a elaboração de
novos desenhos arquitetônicos e o aumento da iluminação pública, pode ser considerada uma forma
de prevenção delituosa. (CERTO)
Prevenção terciária: Representa outra forma de prevenção indireta, agora voltada à pessoa do
delinquente, para prevenir a reincidência. É implementada por meio das medidas de punição e
ressocialização do processo de execução penal."
PROGRAMAS DE PREVENÇÃO
PRIMÁRIA SECUNDÁRIA TERCIÁRIA
Estratégias de prevenção de natureza
mais situacional que etiológica (não Prevenção especial do
CARACTERÍSTICA Combate as causas, a raiz do
combate a raiz do crime, mas o impede delito (ressocialização
PRINCIPAL crime – prevenção etiológica.
de se manifestar em determinadas do criminoso).
situações).
Não atua quando nem onde a vontade A mais distante das
Atua antes de o crime ser de praticar um crime se produz, senão raízes do crime.
MOMENTO
gerado. quando e onde se manifesta ou
exterioriza. Opera no âmbito
penitenciário.
Se orienta seletivamente aos grupos
O recluso (população
DESTINATÁRIO Todos os cidadãos. que ostentam maior risco de sofrer ou
encarcerada).
protagonizar um crime.
2.3.2. Dimensão política (modelo tradicional ou conservador, modelo liberal e modelo radical)
2.3.3. Dimensão pluridimensional (prevenção por meio do sistema de justiça penal, prevenção
situacional do delito, prevenção comunitária e prevenção evolutiva ou de desenvolvimento)
Como vimos, uma das funções da Criminologia é propor modelos de reação ao delito.
Segundo a doutrina, são três os atuais modelos.
I) MODELO CLÁSSICO, DISSUASÓRIO OU RETRIBUTIVO: O objetivo deste modelo é
representar verdadeira punição ao criminoso, como forma de castigo ao prejuízo/dano causado
por este. Participam dessa relação o Estado (quem pune) e o infrator (quem sofre a punição);
II) MODELO RESSOCIALIZADOR: Busca-se aqui a ressocialização do infrator, de forma a
prepará-lo ao retorno do convívio com outras pessoas. A participação da sociedade é fundamental para
atingir o objetivo;
III) MODELO RESTAURADOR, JUSTIÇA RESTAURATIVA OU INTEGRADOR: Adoção de
técnicas alternativas de solução de conflitos, como a conciliação e a reparação do dano à vítima,
que exerce papel fundamental. O objetivo é restaurar o “status” anterior ao cometimento do
delito, com especial atenção à vítima. Ex: Lei dos Juizados Especiais Criminais e projetos de
mediação.
IV) Modelo de SEGURANÇA CIDADÃ: Protagonistas = Estado, sociedade no exercício
fiscalizatório. ATENÇÃO: doutrina minoritária esse quarto modelo.
(DP-MA-2018-CESPE) A criminologia considera que o papel da vítima varia de acordo com o modelo
de reação da sociedade ao crime. No modelo restaurativo, o foco é a participação dos envolvidos
no conflito em atividades de reconciliação, nas quais a vítima tem um papel central. (CERTO)
Este modelo procura restaurar ostatus quo antes da prática do delito. Para tanto utiliza-se meios
alternativos de solução. A restauração do controle social abalado pela delito se dá pela via da
reparação do dano pelo delinquente à vítima. A ação conciliadora, com a participação dos envolvidos
no conflito, é fundamental para a solução do problema criminal. Exemplo no sistema brasileiro:
composição civil dos delitos nos Juizados Especiais Criminais.
ESCOLAS DA CRIMINOLOGIA
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
LUTA DE ESCOLAS:
Linha do Tempo:
Escola liberal Clássica: como “época dos pioneiros” = teorias sobre o crime, sobre o direito
penal e sobre a pena (sec. XVII e início do sec. XIX).
Autores: Feuerbach, Cesare Beccaria e Escola Clássica de direito penal na Itália.
Escola Positivista: como disciplina autônoma: teorias na Europa no final do sec. XIX e início do
Sec. XX.
Autores: Escola Sociológica Francesa (Gabriel Tarde), Escola Social na Alemanha (Franz Von
Liszt) e principalmente Positiva Italiana (Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo).
FRANCESCO CARRARA.
Contribuições para a moderna ciência do direito penal.
O delito não é um ente de fato, mas sim um ente jurídico, porque decorre da violação de um
direito – não é o direito positivado, mas sim o direito natural, a parte teórica.
O fim da pena não é a retribuição, mas a eliminação do perigo social que sobreviria em razão
da impunidade. Se não tiver pena, incentiva a criminalidade.
O homem viola a lei porque tem vontade – livre arbítrio.
Pena na lógica de HEGEL: O crime é a negação do direito, segundo Hegel.
Assim, Carrara diz que a pena é a negação da negação ao direito.
“A reeducação do condenado pode ser um resultado acessório e desejável, mas não a função
essencial da pena.”
A chamada Escola Clássica do Direito Penal tem como caracteres, dentre outros, os seguintes: o
Direito tem uma natureza transcendente, segue a ordem imutável da lei natural; o delinquente é, em
regra, um homem normal, que se sente livre para optar entre o bem e o mal, e preferiu o último; os
objetos de estudo do Direito Penal são o delito, a pena e o processo. Um importante autor dessa época
é Carrara.
# Escola clássica = humanização das penas. Ausência de unidade ideológica. Beccaria, Kant,
Carrara...
# Escola positiva = criminologia; multidisciplinar. Lombroso, Ferri e Garofalo.
# Escola Crítica / Terza Scuola = determinismo psicológico (reação aos motivos). Ideia de
imputabilidade.
# Escola Moderna Alemã = dogmática penal. Sistema duplo binário (pena / medida de segurança).
Função finalística da pena (prevenção geral / prevenção especial). Eliminação ou substituição das
penas de curta duração. Liszt.
# Escola Técnico Jurídica = direito como uma ciência normativa. Crime como um fenômeno jurídico.
Rocco.
# Escola Correcionalista = pena como cura do delinquente. Juiz como médico social.
# Escola da Defesa Social = defesa da sociedade; não punitivista; preventismo e individualização das
penas (reeducação).
(TJ-PR-CESPE) Com relação às escolas e tendências penais, julgue os itens seguintes.
I De acordo com a escola clássica, a responsabilidade penal é lastreada na imputabilidade moral
e no livre-arbítrio humano.
III A escola correcionalista fundamenta-se na proposta de imposição de pena, com caráter intimidativo,
para os delinquentes normais, e de medida de segurança para os perigosos. Para essa escola, o
direito penal é a insuperável barreira da política criminal. INCORRETA. (A Escola Correcionalista
almeja a correção ou emenda do delinquente, buscando a sua compreensão e proteção,
buscando-se a recuperação para o convívio em sociedade, em vez de intimidação).
(DPU-CESPE) A respeito do conceito e dos objetos da criminologia, julgue o item a seguir. Para a
escola clássica, o modelo ideal de prevenção do delito ou do desvio é o que se preocupa com a pena e
seu rigor, compreendendo-a como um mecanismo intimidatório; já para a escola neoclássica, mais
eficaz que o rigor das penas é o foco no correto funcionamento do sistema legal e em como esse
sistema é percebido pelo desviante ou delinquente. (CERTO)
Escola clássica: O crime: É um ente jurídico (decorre da violação de um direito), o criminoso: É ser
livre que pratica o delito por livre escolha, a pena: baseada no livre arbítrio (retribuição). Método:
Abstrato e dedutivo. Autores: Beccaria, Carrara e Fuerbach.
Escola positiva (neoclássica): O crime: é um fato humano; o criminoso: Não é dotado de livre
arbítrio, é um ser anormal sob a ótica biológica e psicológica, a pena: baseada no determinismo
(defesa do corpo social). Método: Empírico e indutivo. Autores: Lombroso, Ferri e Garofalo. (ideia
de criminoso nato – expressão dada por Ferri).
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Cite, além de
Lombroso, dois expoentes da escola positiva, mencionando cada fase.
Tido como pai da criminologia e criador também da antropologia criminal, o médico italiano
defendia o determinismo biológico no âmbito criminal (e, não, o livre-arbítrio esgrimido pela Escola
Clássica).
Com sua obra L’Uomo Delinquente (1876), desenvolveu, sob a influência da fisionomia e da
frenologia, a concepção de criminoso nato (termo utilizado primeiro por Enrico Ferri, na obra Os
criminosos na arte e na literatura, de 1881) a partir do estudo da anatomia dos criminosos e da
identificação de seus traços atávicos simiescos (reprodução de características do homem primitivo e de
animais), que explicariam o seu comportamento selvagem.
Nessa ordem de ideias, aponta como características físicas do homem delinquente a existência
de mandíbula grande, ossos do rosto pronunciados, sobrancelhas fartas, orelhas grandes e
deformadas, molares salientes etc. Também cita características anímicas do criminoso, como a
analgesia (sensibilidade à dor diminuída), a tendência a fazer tatuagens, a falta de senso moral, o
caráter impulsivo, a crueldade etc., indicando a epilepsia como fator relevante na origem da
criminalidade. Classifica os criminosos em: natos, loucos, passionais e ocasionais.
a) criminoso nato: a expressão, inicialmente concebida por Enrico Ferri e difundida por Cesare
Lombroso, diz respeito àquele que é geneticamente determinado à delinquência, podendo ser
identificado a partir de suas características físicas e fisiológicas (tamanho da mandíbula, estrutura óssea
etc.).
b) criminoso louco: é o alienado mental, “louco moral” (perverso), que deve ser internado em
manicômio, em vista da sua periculosidade;
c) criminoso de ocasião ou ocasional: embora tenha predisposição hereditária, realiza a
prática criminosa de maneira eventual, por influência de circunstâncias ambientais;
d) criminoso passional: age impetuosamente, de forma impulsiva, por uma questão
passional (paixão);
e) criminoso habitual: faz do crime o seu meio de vida.
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Qual a
classificação de criminosos formulada por Cesare Lombroso?
A distinção entre criminoso e não criminoso é feita, portanto, a partir de anomalias e estigmas.
Para o positivismo antropológico de Lombroso, o delito é um fenômeno biológico (e, não, um ente
jurídico, como na Escola Clássica), do que resulta que determinados indivíduos seriam mais propensos
a delinquir, de acordo com as suas características físicas e psíquicas. Frise-se, no entanto, que,
posteriormente, Lombroso acabou reconhecendo a influência de causas sociais para a criminalidade.
Apesar da grande crítica a muitas das concepções lombrosianas, é inegável sua grande
contribuição com o desenvolvimento do método empírico-indutivo (ou indutivo-experimental) utilizado
em suas pesquisas. É interessante notar, outrossim, a influência sobre a criminologia clínica e o
correlato desenvolvimento de estudos biotipológicos, endocrinológicos e psicopatológicos, merecendo
menção, ainda, a teoria da bioantropologia moderna, que promove estudos a partir do DNA dos
indivíduos.
Enrico Ferri (1856-1929)
Autor do livro Sociologia Criminale (1914), aponta como causas do delito os fatores
antropológicos, sociais e físicos ou telúricos (que derivam da natureza, como o clima, a temperatura, as
estações do ano etc.). Defende o determinismo social e a tese de negativa do livre-arbítrio,
recusando a ideia de que o crime seria fruto da liberdade de escolha do delinquente.
Atribui-se a Ferri a Lei da Saturação Criminal, segundo a qual há delitos que são cometidos em
determinadas condições sociais e, em circunstâncias excepcionais do meio social, pode haver um
aumento nas taxas de criminalidade (sobressaturação criminal).
A par disso, é de se notar que Ferri relaciona o determinismo ao crime e à periculosidade do seu
autor, de modo que a pena deve visar o delinquente, e, não, o delito (fato). Por isso, é necessária a
neutralização do criminoso, segregando-o do convício social como uma forma de defesa da sociedade.
A influência do pensamento de Ferri é perceptível na teoria dos substitutivos penais, segundo a
qual deve haver uma priorização dos meios preventivos no enfrentamento da criminalidade, com a
adoção de medidas de ordem econômica, política, científica, religiosa, educativa etc.
Assim como Lombroso, Ferri fala na figura do criminoso nato (a expressão, repise-se, é atribuída
primeiro a Ferri, na obra Os criminosos na arte e na literatura, de 1881). Distancia-se de Lombroso, no
entanto, porque foca no aspecto social (determinismo social), enquanto a concepção lombrosiana está
centrada no fator individual (antropologia criminológica). Note-se, porém, que Ferri, à semelhança de
Lombroso, classifica os criminosos em: natos, loucos, passionais, ocasionais e habituais.
(TJBA-CESPE) A explicação do crime como fenômeno coletivo cuja origem pode ser encontrada nas
mais variadas causas sociais, como a pobreza, a educação, a família e o ambiente moral, corresponde
à perspectiva criminológica denominada sociologia criminal.
CRIMINOLOGIA SOCIALISTA: No fim do século XIX surge, ainda, a criminologia socialista em sentido
amplo: Explica o crime a partir da natureza da sociedade capitalista. Sua crença baseia-se no
desaparecimento sistemático ou redução do crime depois de instaurado o socialismo
A Labeling Approach Theory, ou Teoria do Etiquetamento Social, é uma teoria criminológica marcada
pela ideia de que as noções de e são construídas socialmente a partir da definição legal e das ações
de instâncias oficiais de controle social a respeito do comportamento de determinados indivíduos.
Segundo esse entendimento, a criminalidade não é uma propriedade inerente a um sujeito, mas uma
“etiqueta” atribuída a certos indivíduos que a sociedade entende como delinquentes. Em outras
palavras, o é aquele rotulado como tal.
Ministro da Corte de Apelação de Nápoles e autor da obra Criminologia (1885), é tido como o
responsável pelo surgimento da palavra criminologia, que, na sua concepção, significava a ciência da
criminalidade, do delito e da pena.
Para Garofalo, o crime deriva da natureza degenerada do indivíduo, representando um sintoma
de uma anomalia moral ou psíquica. Enfatiza, pois, o elemento psicológico, criando o conceito de
temibilidade ou periculosidade e defendendo a medida de segurança como nova modalidade de
sanção penal, centrada na necessidade de tratamento do criminoso. No mais, reforça a ideia de
prevenção especial como finalidade da pena.
Também é atribuída a Garofalo a classificação do delito em duas espécies:
a) delitos legais: eles não ofendem o senso comum de moralidade, altruísmo ou piedade, de
sorte que a sua tipificação como crime pode variar de localidade para localidade. É dizer, a depender da
vontade política de um cada Estado, poderão, ou não, ser definidos como crime;
b) delitos naturais: eles ofendem o senso comum de moralidade, altruísmo ou piedade,
independentemente da época ou localidade.
Quanto à classificação dos criminosos, Garofalo fala em: assassinos, violentos (enérgicos),
ladrões (neurastênicos) e lascivos (cínicos).
a) criminoso assassino: é o criminoso típico, comportamento egoísta e mentalidade próxima
à de uma criança;
b) criminoso enérgico ou violento: falta-lhe compaixão, embora presente o “senso moral”;
c) ladrão ou neurastênico: não apresenta “senso moral”, é ímprobo.
(MP/GO-promotor-2019-reaplicação) Dentre outros, são caracteres da Escola Positiva: o
entendimento do Direito Penal como um produto social, obra humana; o delito é um fenômeno natural e
social (fatores individuais, físicos e sociais); a pena é um meio de defesa social, com função preventiva.
Podem ser citados como importantes expoentes da Escola Positiva Cesar Lombroso e Enrico Ferri.
Gabarito: certo.
Tendo como seu principal expoente Alexandre Lacassagne (1843-1924), a Escola de Lyon
defende que o delinquente apresenta uma predisposição pessoal para o crime, que permanece
LATENTE e AFLORA de acordo com sua interação com o meio social. Destarte, reconhece um
aspecto patológico da delinquência, mas enfatiza a importância do fator social para a
criminalidade. Daí a célebre frase de Lacassagne, para quem “as sociedades têm os criminosos que
merecem”; é interessante, ademais, a analogia que faz entre o crime e os micróbios, que permanecem
inócuos até o advento de condições (ambiente) que propiciem sua manifestação e desenvolvimento.
* Principais nomes da Escola de Lyon: Alexandre Lacassagne, Aubry, Martin y Locard, Bournet y
Chassinand, Coutagne, Massenet, Manouvrier, Letorneau e Topinard.
Remontando ao início do século XX, a Terza Scuola Italiana (“Terceira Escola Italiana”) busca
conciliar as ideias clássicas e positivistas e reconhece o crime como um fenômeno individual e
social, fundamentando a pena na responsabilidade moral do delinquente, mas com base no
DETERMINISMO. Ainda quanto à pena, atribui-lhe caráter aflitivo com a finalidade de defesa social;
para o controle da criminalidade, apregoa a necessidade de uma reforma social. No mais, é
característica dessa escola de pensamento a distinção entre imputáveis e inimputáveis.
* Principais nomes da Terza Scuola Italiana (“Terceira Escola Italiana”): Bernardino Alimena,
Giuseppe Impallomeni e Manuel Carnevale.
Surgida em 1905 como uma reação à Escola Positivista, compreende o crime como uma relação
jurídica, de conteúdo individual e social, e a pena como consequência e reação ao crime, com a
finalidade de prevenção geral e especial.
Defendeu a autonomia da ciência penal, apontando que o Direito Penal se deve limitar ao estudo
do direito positivo (exegese, dogmática e crítica).
* Principais nomes da Escola Técnico-Jurídica: Arturo Rocco, Manzini, Massari, Detiala, Cicala,
Vanini e Conti.
Também chamada de Escola de Política Criminal, Escola Moderna, Nova Escola ou Escola de
Marburgo, a Escola Sociológica Alemã foi capitaneada por Franz Von Lizst (1851-1919), célebre por
sua aula inaugural em Marburgo (daí falar-se em Programa de Marburgo), em 1882, intitulada “A ideia
de fim no Direito Penal”.
Liszt — que também se notabilizou pela tentativa de criar uma ciência global do Direito Penal,
em negativa ao determinismo positivista — propôs uma investigação sociológica do delito, sem
abandonar o seu estudo dogmático.
Refutou, pois, a existência de um tipo antropológico de criminoso, sustentando a preponderância
de fatores sociais.
Nesse sentido, falou em delito de ocasião ou momento (em que há prevalência do impulso
exterior) e em delito crônico ou por estado ou natureza (quando o deito é oriundo preponderantemente
da personalidade ou predisposição do criminoso, e, não, de impulso exterior).
Apregoando a necessidade de implementação de políticas sociais como principal fator no
combate à criminalidade, propõe, em substituição à pena retributiva da Escola Clássica, a ideia de uma
pena finalista, que seria justa quando for necessária a atingir o fim a que é dirigida, qual seja, a
manutenção da ordem jurídica e do Estado, afora a proteção coletiva. Focou na prevenção especial,
mediante a adaptação artificial (conversão do criminoso em membro útil à sociedade) ou a
inocuização (retirada do convívio social). E, a partir da finalidade preventiva da pena (com crítica a
penas de curta duração, por faltar-lhes qualquer finalidade), esgrimiu o seu cumprimento conforme três
tipos de delinquentes: (i) delinquente ocasional (pena como recordação para que não pratique novos
delitos), (ii) delinquente corrigível (pena visa à ressocialização do criminoso) e (iii) delinquente habitual
(pena visa à inocuização do criminoso, retirando-o do convívio social). Essa finalidade, vale notar, se
mostra presente tanto na cominação da pena (advertência ou intimidação) quanto no momento da sua
execução (confiança dos cidadãos e efeito intimidatório, afora um sentimento de justiça para o
ofendido).
(MP/SC-promotor-2019) Para Liszt, o fundamento da pena é orientado às finalidades de: a)
ressocialização dos delinquentes suscetíveis de socialização; b) intimidação dos que não têm
necessidade de socialização e; c) neutralização dos não suscetíveis de socialização. Gabarito: certo.
No mais, impende notar que a Escola Sociológica Alemã substitui a ideia de livre-arbítrio da
Escola Clássica pela ideia de normalidade, chancelando a distinção entre imputabilidade e
inimputabilidade e indicando a aplicação da pena às pessoas “normais” e da medida segurança às
pessoas “perigosas” (periculosidade).
(MP/GO-promotor-2019-reaplicação) Podem ser citados como caracteres da Escola Moderna Alemã:
a distinção entre o Direito Penal e as demais ciências criminais - criminologia; o delito como um
fenômeno humano-social e fato jurídico; a imputabilidade e a periculosidade; a pena com caráter
defensivo, orientada conforme a personalidade do delinquente. Gabarito: certo.
b) a distinção entre imputáveis e inimputáveis (pena para os normais e medida de segurança para os
perigosos);
Tendo origem alemã — com a obra Comentatio na poena malum esse debeat , publicada em
1839 por Cárlos Davis Augusto Röder, sob a influência da filosofia panteísta de Karl Christian Friedrich
Krause —, a Escola Correcionalista acabou encontrando maior aceitação na Espanha (notadamente
em vista da tradução da obra para o espanhol, por Francisco Giner de los Ríos). Idealiza o
desenvolvimento da piedade e do altruísmo, compreendendo a pena como forma de correção moral.
Seus três principais alicerces são:
a) o delinquente como portador de patologia de desvio social: os delinquentes, em vista das
“falhas pessoais” que o impedem de se comportar de acordo com as mais elementares regras de vida
em sociedade, necessitam de medidas assistenciais para sanar essa debilidade;
b) a pena como remédio social: se o crime é uma doença no corpo social, a pena é um
remédio para tratar o criminoso e curar a patologia do desvio social de que é portador. Por isso,
deve ser constantemente adaptada ao estágio do indivíduo e ter duração indeterminada, pelo tempo
necessário para “curá-lo” e permitir que aja conforme os ditames da sociedade;
c) o juiz como médico social: cabe ao magistrado aplicar o remédio social ao portador da
patologia de desvio social. Sua missão seria, pois, higienista e terapêutica, demandando conhecimento
interdisciplinar (sociologia, psicologia, antropologia etc.) e autorizando um agir sobre os males
presentes (saneamento social) ou sobre perigos que ameaçam a sociedade (profilaxia social). Em um
pensamento típico do Direito Penal do autor, as medidas curativas deveriam incidir sobre pessoas que
praticassem condutas que exteriorizem a patologia de desvio social, mesmo que elas não estejam
tipificadas como crime.
* Principais nomes da Escola Correcionalista: Giner de los Ríos, Pedro Dorado Montero,
Concepción Arenal, Romero Gíron, Alfredo Calderon, Luis Silvela, Félix de Aramburu y Zuloaga,
Rafael Salillas e Luis Jiménez de Asúa.
De resto, apontam-se como contribuições da Escola Correcionalista para o Direito Penal
brasileiro:
a) humanização das penas, com proscrição às penas de prisão perpétua ou de morte (salvo
em caso de guerra declarada), na forma do inciso XVII do art. 5º da CRFB;
b) a execução penal dirige-se a proporcionar condições para a harmônica integração
social do condenado e do internado (art. 1º da LEP);
c) institutos da liberdade condicional e da progressão de regime, de acordo com o
desenvolvimento do condenado;
d) responsabilização de adolescentes por atos infracionais.
Capitaneada pelo alemão Ralf Dahrendorf (1929-2009), o Movimento Lei e Ordem (também
chamado de Movimento da Lei e da Ordem) idealiza um direito penal máximo, com a expansão das
normas incriminadoras e a exasperação do rigor das sanções penais, a fim de combater eficazmente a
criminalidade. Tem a pena como um castigo; a crimes graves, penas severas. Fala em
estabelecimentos penais de segurança máxima (notadamente para crimes com violência) e salienta que
as pequenas infrações, quando toleradas, abrem espaço à prática de crimes mais graves. Nessa toada
mais severa, defende a ampliação do espectro de prisões provisórias, a fim de que represente uma
resposta penal diante da prática do delito.
(TJ/PA-juiz-2019-CEBRASPE) O movimento Tolerância Zero parte da ideia de que o Estado não deve
negligenciar fatos criminosos, por mais insignificantes que sejam, já que esses fatos contêm em si uma
fonte de irradiação da criminalidade. Gabarito: certo.
O Movimento Lei e Ordem teve grande aceitação nos Estados Unidos (em especial na década
de 70) e inspirou a política de tolerância zero, adotada em Nova Iorque (1991) pelo então prefeito
Rudolph Giuliani, a qual obteve importante redução dos índices de criminalidade. Entretanto, a crítica
que se faz a esse Movimento é a reificação (coisificação) do criminoso, tratado como um verdadeiro
inimigo do Estado (Direito Penal do Inimigo).
No Brasil, cita-se como reflexo desse movimento a Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº
8.072/1990), dentre vários outros Diplomas.
1. Introdução
As teorias do consenso partem do pressuposto em que existe um consenso com relação as regras
sociais a serem seguidas, o questionamento ou resistência a tais regras não são considerados como a
causa ou concausa da criminalidade. Tais teorias consideram que os objetivos da sociedade são
atingidos quando as instituições funcionam, não há necessidade de transformação da sociedade.
Nesse sentido, existe uma perspectiva conservadora nas teorias do consenso, diferentemente do ideal
progressista que está ligada à visão de progresso infinito das sociedade mediante transformações
econômica, política e social. Atualmente, a visão progressista está voltada para a luta por direitos civis
e individuais, bem como a movimentos sociais, como o feminismo, o ambientalismo, o secularismo, o
movimento LGBT e o movimento negro, entre outros. Portanto, as visões progressistas identificam-se
com as teorias do conflito.
Teorias do Conflito
Por sua vez, afirma que o entendimento social decorre da imposição de alguns valores e sujeição de
outros. São teorias de cunho revolucionário, que partem da ideia de que os membros do grupo não
compartilham dos mesmos interesses da sociedade, e com isso o conflito seria natural, às vezes até
mesmo desejado, para que, quando controlado, leve a sociedade ao progresso.
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Por que a cidade
de Chicago foi escolhida, especificamente, para ser objeto de estudo e desenvolvimento dessa
teoria?
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Os estudos
científicos da escola de Chicago foram patrocinados por algum setor específico?
Conceitos chave
O primeiro conceito chave é a influência de linguagens da biologia: cidades como organismo, habitat,
simbiose.
O segundo conceito chave é a desorganização social como chave analítica para se pensar no desvio,
para se pensar na figura do sujeito desviante, trabalhada por William Thomas. Esses fluxos migratórios
promoveram uma cidade que não é mais homogênea, mas sim uma heterogeneidade social, que
produz uma diminuição da influência de regras de conduta que controlam os indivíduos do grupo. É
impossível em um caldeirão cultural estabelecer padrões de comportamento coletivo. Temos uma
cidade com pessoas que não se entendem, porque não falam o mesmo idioma. Pessoas que vem de
uma região em que se casar com 4 pessoas pode ser tranquilo. Pessoas que comem certos animais,
ou que tem relações diversas com a propriedade privada. Pessoas de diversas regiões do mundo,
todas elas limitadas em um espaço urbano, obrigadas a conviver. Isso tudo causa uma desorganização
social. A confluência de valores faz com que não seja tão simples produzir padrões de comportamento.
O consenso coletivo acaba se fragmentando. É muito mais difícil controlar os sujeitos socialmente
(controle social).
Pensando na desorganização social, a Escola de Chicago chega em um resultado, que é pensar que
dentro dessa desorganização, há várias formas de exercício de controle das condutas sociais. Quando
se fala em formas de controle, a Escola de Chicago não está tratando apenas do Estado com seu
poder punitivo, mas sim, dos grupos secundários de ação, como o papel das igrejas e grupamento, em
atribuir os modelos aos indivíduos. Se não se pode imaginar os padrões de comportamento, também
não se pode adiantar o controle social. É a partir dessas chaves analíticas que a Escola de Chicago
começa a trabalha as figuras do crime e do criminoso.
Nesse sentido, a Escola de Chicago, por seu mentor Burguess, elaborou o mapa fundamental,
chamado também de zonas concêntricas de Chicago.
Burguess vai trabalhar com a ideia de mapeamento da cidade de Chicago. Chicago tinha um centro,
também chamado por esses sociólogos de “loop”. Perceberam que nesse loop, tinha uma cidade
industrial. O loop é uma região em que as pessoas não moram, concentra apenas as fábricas, isto é,
os meios de produção, configuração que produz vários danos ambientais, um local inóspito para se
morar.
Após o Loop (chamado de zona 1), Burguess começa a identificar mais quatro zonas (ao todo, são
cinco zonas). A cidade se expandia de modo radial, do Loop para fora. Em razão da precariedade das
indústrias, que estavam no centro, os espaços mais longínquos eram mais valorizados. Logo, nas
periferias norte-americanas, moram as pessoas mais ricas. Nesse zoneamento, quanto mais próximo
do Loop, piores eram as condições do espaço urbano, pois existia muita fumaça, pouca iluminação, ou
seja, bairros muito degradados socialmente. Quanto mais longe do centro comercial, melhorava as
condições do bairro, e consequentemente, das pessoas que moravam ali. Quanto mais próximo a zona
5, melhores as condições do espaço urbano.
Após o mapeamento, a Escola de Chicago passa a monitorar em quais zonas aconteciam mais crimes.
Os primeiros pensadores da Escola de Chicago fizeram o seguinte teste: se você colocar um carro
totalmente deteriorado, com as janelas quebradas, na zona 2, o que acontecia? E se você colocar o
mesmo carro, com as janelas quebradas, na zona 5, será que aconteceria o mesmo? Constatou-se que
nas zonas de transição, na zona 2, o carro aparecia muito mais degradado que a zona 5. Dentro da
perspectiva desses primeiros pensadores da Escola de Chicago, concluiu-se que na zona 2, habitada,
muito próximo ao Loop, existia um maior índice de crimes, e isso coincidia com as zonas fisicamente
degradadas. Zonas/áreas fisicamente mais degradadas tem maior ocorrência de crimes. Quanto mais
afastada do Loop, menos crimes são cometidos.
Concluindo, a Escola de Chicago constatou que a criminalidade é um resultado dessa desorganização
social promovida pelos fluxos migratórios, caldeirão cultural e pela perda das raízes, culminando com
uma sociedade heterogênea. Chicago estuda fatores externos, não se trabalha com quem são as
pessoas criminosas, nem com as distancias entre a testa e o nariz das pessoas que delinquem. A
Escola de Chicago estuda a cidade, isto é, estuda aspectos e circunstâncias externas.
As propostas trazidas pela Escola de Chicago para lidar com a criminalidade se referem à necessidade
de planejamento urbano, isto é, há uma necessidade de intervenções urbanas, quanto mais planejado
por o espaço urbano, haverá menos crimes.
Vamos trazer essa conclusão da Escola de Chicago para os dias atuais. Comprovadamente, em áreas
em que a iluminação pública seja precária, há um número maior de ocorrência de crimes sexuais. O
planejamento urbano controla o fenômeno da delinquência. Nota-se que é uma conclusão prática.
OBS. O conceito de criminalidade é muito criticado pelo aporte da criminologia crítica, porque remonta
a uma perspectiva muito etiológica, patológica do fenômeno, como se a delinquência e os atos em
conflitos com a lei fossem naturais. Portanto, deve-se destacar que o conceito “criminalidade” foi
utilizado aqui, pois foi como a Escola de Chicago tratou linguisticamente sobre o assunto.
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - De quem é tal
teoria?
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - O que significa
cifra dourada?
Tal teoria se destacou por oferecer profundas críticas à Escola de Chicago, uma vez que os
crimes não são cometidos somente por pessoas de classes economicamente inferiores. A Teoria da
Associação Diferencial tem contribuição fundamental para a própria definição dos chamados
Crimes de Colarinho Branco (White Collar). Para Edwin Sutherland, primeiro grande autor da teoria,
sob influência do pensamento de Jean-Gabriel Tarde (1843-1904), o crime de colarinho branco é um
crime cometido por uma pessoa respeitável, de alta posição (status) social de Estado, no exercício de
suas ocupações.
O HOMEM APRENDE A CONDUTA DESVIADA e associa-se com referência nela. Assim, o
comportamento criminoso é um processo de APRENDIZADO, mediante a interação com outras
pessoas. Segundo Shecaira, ao explicar a teoria, a parte decisiva do processo de aprendizagem ocorre
no seio das relações sociais mais íntimas do indivíduo com seus familiares ou pessoas de seu meio.
Uma pessoa converte-se em delinquente quando as definições favoráveis à violação superam as
desfavoráveis. Gabriel Tarde, outro importante estudioso para associação diferencial, afirma que o
delinquente era um tipo profissional que necessitava de um aprendizado, assim como todas as
profissões.
Compreende a criminalidade, portanto, a partir de uma perspectiva social, afirmando que
ninguém nasce criminoso (nega a influência de fatores biológicos hereditários), sendo a delinquência
fruto de um processo de socialização diferencial, que conduz à aprendizagem do comportamento
desviante (origem social do delito). Ou seja, o comportamento criminoso é aprendido, nunca herdado, e
a aprendizagem dos valores criminais pode ocorrer em qualquer cultura ou classe social.
Recorde-se que é de Jean-Gabriel Tarde a obra As leis da imitação (1890), em que sustenta a
transmissão dos sentimentos, da moral e dos costumes pela imitação, por meio de três “leis”:
a) primeira lei da imitação: a imitação é diretamente proporcional à intensidade do contato e
inversamente proporcional à distância;
b) segunda lei da imitação: classes inferiores imitam as superiores (ex.: filho imita o pai; aluno
imita o professor etc.);
c) terceira lei da imitação: no conflito de dois modelos comportamentais, o novo supera o antigo.
Embora inspirado nas ideias de Tarde, Sutherland apregoa que o aprendizado depende de um
processo de comunicação pessoal, ao passo que Tarde sustentava que o crime ocorre por imitação,
pela recepção passiva de impulsos.
II) Merton: para o autor, a anomia é proveniente do descompasso entre metas e objetivos
culturais (metas de uma sociedade como um todo, como sucesso pessoal, profissional,
patrimônio, etc.) e os meios disponíveis (desemprego, baixo salário e condições pessoais dos
cidadãos). Assim, se o indivíduo não atinge “o sonho do sucesso” (metas culturais) com os meios
disponíveis, ocorre a anomia. Segundo a doutrina, este desajuste propicia o surgimento de condutas
que vão desde a indiferença perante as metas culturais até a tentativa de chegar às metas mediante
meios diversos daqueles socialmente prescritos. Para Merton, há cinco tipos de adaptação individual:
CONFORMIDADE ou comportamento modal (conformidade entre os objetivos culturais e os meios
institucionalizados), RITUALISMO (renúncia aos objetivos valorados pela incapacidade de realizá-los,
mas continua a seguir as normas sociais e interagir com a sociedade), RETRAIMENTO ou evasão
(renuncia a ambos (objetivos e normas), como por exemplo os mendigos e viciados em drogas),
INOVAÇÃO (delinquência propriamente dita; meios ilegais para atingir os sonhos e objetivos) e
REBELIÃO (inconformismo e revolta; o indivíduo refuta os padrões vigentes, propondo novas metas e
institucionalização de novos meios para atingi-las).
CONFORMIDADE Em ambiente social estável, é o tipo mais comum, pois os indivíduos aceitam
OU os meios institucionalizados para alcançar as metas socioculturais. Existe
COMPORTAMENTO adesão total e não ocorre comportamento desviante desses aderentes.
MODAL
(CONFORMISTA)
No modo de inovação os indivíduos acatam as metas culturais, mas NÃO
ACEITAM OS MEIOS INSTITUCIONALIZADOS. Quando se apercebem de que
INOVAÇÃO nem todos os meios estão a sua disposição, eles rompem com o sistema e, pela
conduta desviante, tentam alçar as metas culturais. Nesse aspecto o
delinquente corta caminho para chegar às metas culturais.
Por meio do qual os indivíduos fogem das metas culturais, que, por uma razão
RITUALISMO ou outra, acreditam que jamais atingirão. Renunciam às metas culturais por
entender que são INCAPAZES DE ALCANÇÁ-LAS.
Os indivíduos RENUNCIAM tanto às metas culturais quanto aos meios
EVASÃO OU institucionalizados. Aqui se acham os bêbados, drogados, mendigos e, párias,
RETRAIMENTO que são derrotistas sociais.
III) Expressões que podem identificar a teoria na prova: anomia, consciência coletiva, crime
como fenômeno normal.
(DPE-CESPE) De acordo com a teoria da anomia, o crime se origina da impossibilidade social do
indivíduo de atingir suas metas pessoais, o que o faz negar a norma imposta e criar suas próprias
regras, conforme o seu próprio interesse. (CERTO)
Para esta teoria a sociedade impõe objetivos e metas inalcançáveis para a maioria dos indivíduos
(sucesso, poder, status), e como tais metas são inatingíveis, a dissociação entre os objetivos e os
instrumentos para seu alcance geraria a ANOMIA, que seria uma situação de renúncia às normas
sociais.
I - A teoria da associação diferencial sugere que o crime não pode ser definido simplesmente como
disfunção ou inadaptação de pessoas de classes menos favorecidas, não sendo ele exclusividade
destas. Essa teoria assenta-se na consideração de que o processo de Comunicação é determinante
para a prática delitiva. Para ela, o comportamento criminal é um comportamento aprendido.
II - Para a teoria da anomia, o crime é visto como um fenômeno normal da sociedade e não
necessariamente ruim. Isto porque o criminoso pode desenvolver um útil papel para a sociedade, seja
quando contribuiu para o progresso social, criando impulsos para a mudança das regras sociais, seja
quando os seus atos oferecem a ocasião de afirmar a validade destas regras, mobilizando a sociedade
em torno dos valores coletivos.
III - A subcultura delinquente pode ser definida como um comportamento de transgressão que é
determinado por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem
ou determinam formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas.
Palavras-chave:
b) Teoria da Anomia -
autores: Durkhein (principal nome); Merton (desenvolveu as ideias de Durkhein)
o crime é um fenômeno natural, normal, necessário e útil; dividida em estrutura cultural e estrutura
social;
b) Criminologia Crítica -
o capitalismo é a base da criminalidade; o direito penal é desigual por natureza; defende que o cárcere
é inútil pois não cumpre suas promessas; "Alessandro Baratta" é considerado um dos percussores no
Brasil;
3. TEORIAS DO CONFLITO:
Seletividade criminalizante
Seletividade vitimizante
Nos bairros mais pobres o Estado tradicionalmente se ausenta, dando margem para a instalação
de líderes locais, os quais substituem a segurança pública oficial. Isso provoca a população mais forte a
sentir-se mais vulnerável, passa a ser mais vitimizada pelos crimes e por consequência clama por maior
rigor punitivo.
Seletividade policizante.
Os policiais também são selecionados dentre a camada social mais pobre. Além disso, são mal
remunerados e incorporam um discurso rígido e autoritário. A pequena fração desses policiais que age
em desacordo com a lei (corrupção, violência, prevaricação, etc.) dá margem à criação do estereótipo
do policial desonesto, gerando a desconfiança da população na instituição.
Tem origem nos EUA e na Inglaterra nos anos 70. Escola de Berkeley (EUA) e National
Deviance Conference (Inglaterra). Também chamada de Criminologia Radical ou Nova
Criminologia. Neste momento, há severas críticas às posturas tradicionais da criminologia do
consenso. Base no pensamento marxista, sustentando ser o delito um fenômeno dependente do
modo de produção capitalista. O Direito não é ciência, e sim ideologia. O Direito Penal acaba por
reforçar as desigualdades sociais e a própria seletividade punitiva.
Citando os ensinamentos da professora Monica Gamboa (Criminologia, matéria básica): “Essa
teoria Consolidou-se ao criticar as posturas tradicionais da teoria do consenso, eis que,
ancorada no pensamento marxista, acredita ser o modelo econômico adotado em determinado
local o principal fator gerador da criminalidade.”
Segundo Jorge de Figueiredo Dias e Manuel da Costa Andrade: “A Criminologia radical é, em
grande parte, uma criminologia da Criminologia, principalmente a discussão e análise de dois temas: a
definição do objeto e do papel da investigação criminológica.” (Criminologia – O homem delinquente e a
sociedade criminológica).
A Criminologia Crítica serviu de base para o surgimento de outras teorias criminológicas
como o abolicionismo criminal, direito penal mínimo e o neorrealismo. Após dez anos de estudos,
segundo Shecaira, surgem basicamente três tendências da criminologia moderna:
a) O neo-realismo de esquerda (law and order): a ideia continua a ser socialista, mas realista.
Defendem uma nova relação entre a polícia e a sociedade, com a finalidade de contribuir para uma luta
comum contra o delito. Sugerem, de outra parte, uma linha reducionista na política criminal,
descriminalizando certos comportamentos e criminalizando outros. Os crimes graves merecem uma
resposta enfática da sociedade (sobretudo os cometidos pelas classes economicamente superiores).
Aceitam a ideia do cárcere, em situações extremas;
b) Direito penal mínimo: qualquer radical aplicação da pena pode produzir consequências mais
gravosas quanto aos benefícios que pode trazer. Deve-se pensar em uma criminalidade dos oprimidos
(racismo, crimes do colarinho-branco, etc.), e não de massa, de rua (ex: pequenos furtos). O direito
deve ser utilizado para a defesa do mais fraco perante uma eventual reação mais forte que a pena
institucional por parte do ofendido e em prevenção ao cometimento ou ameaça de novo delito.
Contração do sistema penal em certas áreas para expansão de outras. Caráter fragmentário do direito
penal, intervenção punitiva como última ratio e reafirmação da natureza acessória do direito penal;
c) O pensamento abolicionista: o sistema penal só tem servido para legitimar e reproduzir as
desigualdades e injustiças sociais. Para os abolicionistas, nós já vivemos sem Direito Penal (cifras
negras), o sistema é anômico (não cumpre as funções esperadas), seletivo, estigmatizante e burocrata.
Surgida em 1970 (Inglaterra, Itália e Estados Unidos), a também chamada criminologia crítica
compreende o delito, a partir de uma visão marxista, como um fenômeno que advém do sistema de
produção capitalista, que atende aos interesses da classe social dominante. Tem como origem mediata
o livro Punishment and Social Structure (1939), de George Rusche e Otto Kirchheimer, que relaciona o
nascimento das prisões ao surgimento do capitalismo mercantil e considera-as uma forma de punição
burguesa.
Na Inglaterra, apontam-se como defensores da criminologia crítica Ian Taylor, Paul Walton e Jok
Young; na criminologia crítica italiana, Alessandro Baratta e Franco Bricola; nos Estados Unidos, Paul
Takagi, Herman e Julia Schwendinger, Richard Quinney, William Chambliss e Tony Platt. Merece
destaque, também, a influência da criminologia crítica sobre a América Latina (Lola Aniyar, Rosa del
Omo, Zaffaroni).
É pertinente observar que a criminologia crítica nega o livre-arbítrio do indivíduo na prática
criminosa, por se encontrar sujeito a um sistema de produção excludente, patrocinado pela classe
dominante. Reputa a criminalidade como um problema insolúvel na sociedade capitalista, sustentando
uma mudança de paradigma da criminalização, com uma intervenção mínima em relação às infrações
das classes sociais menos favorecidas e ampliação da responsabilização das classes dominantes.
Afora isso, busca analisar a própria definição do objeto e do papel da investigação criminológica, sendo
considerada, em razão disso, uma criminologia da criminologia, que deu azo ao surgimento de três
tendências: o abolicionismo criminal, o minimalismo penal e o neorrealismo (que estudaremos mais à
frente).
4. TEORIAS DE CONTROLE
Desenvolvida pelo criminólogo americano Travis Hirschi, nos idos de 1935, defende que todo
indivíduo é um infrator potencial, e somente o medo de sofrer danos irreparáveis em suas
relações interpessoais funciona como freio a esse impulso. Alguns apontam que a teoria do
enraizamento social seria uma variação da teoria do controle social, atribuída ao mesmo estudioso,
segundo a qual os crimes vêm à baila em razão do rompimento ou afrouxamento de laços sociais.
(DPE-DF-CESPE) Acerca dos modelos teóricos da criminologia, julgue o item que se segue. Segundo
a teoria do enraizamento social de Hirschi, o delito, como um comportamento natural do ser
humano, é inibido pelo processo de assunção de normas sociais, pelo apego e afeto às pessoas
e pelo medo de dano irreparável a essas relações interpessoais. (CERTO)
Reckless, por meio da sua teoria da contenção, assevera que a sociedade provoca uma série
de estímulos que impelem o indivíduo para a conduta desviada (mecanismos de pressão
criminógena), os quais são refreados por mecanismos de contenção, internos (ex.: personalidade
forte) ou externos (ex.: coação estatal).
A teoria do controle interior, que revela conexões com a psicanálise, foi propugnada por Reiss,
para quem o delito é o resultado de uma relativa falta de normas e regras internalizadas, ou seja, é
consequência funcional de controles pessoais e sociais débeis.
Glaser sustenta, com a sua teoria da antecipação diferencial, que a decisão de cometer ou não
um delito decorre das consequências que o autor antecipa de sua execução ou não execução.
Se essa antecipação ditar que o cometimento do crime trará mais vantagens do que desvantagens, o
indivíduo se encaminhará para a sua prática.
1. Abolicionismo Penal
Defende que o mau ocasionado à sociedade pelo sistema penal é pior do que o dano
causado pelo fato que gera sua intervenção.
Alinhado com a teoria do etiquetamento ou labelling approach, sublinha o caráter excludente e
estigmatizante do Direito Penal, que, ao punir, além de afastar o desviante do convívio social, aplica-
lhe um rótulo e o impulsiona, desse modo, a uma vida criminosa. Diz que o crime é uma produção da
sociedade, sendo o criminoso “criado” pelo legislador; por isso prefere-se o termo evento criminalizável
em vez de crime, e, ao mesmo tempo, propõe a própria substituição dessa ideia simplesmente por
situação-problema, prestigiando os meios alternativos de solução de conflitos (conciliação,
mediação, compensação, medidas terapêuticas e pedagógicas etc.). Aliás, nessa linha, aponta o
elevado índice de cifra negra (zona obscura, dark number ou ciffre noir), a significar que apenas
pequena parcela da criminalidade “de rua” (ex.: crimes contra a pessoa, patrimônio, dignidade social) é
comunicada às autoridades policiais, acabando os demais conflitos sendo solucionados na
informalidade.
Ainda em tom de crítica ao Direito Penal, enfatiza-se o fato de o rigor penal recair
preferencialmente sobre as condutas imputadas às classes sociais mais baixas, sem que o mesmo rigor
seja aplicável às classes privilegiadas (ex.: crimes do colarinho branco). De fora parte esse caráter
seletivo e estigmatizante do sistema penal, também ocorre a marginalização da própria vítima,
relegando-a a uma posição secundária.
Em sua linha mais radical, considerando a deslegitimação do Direito Penal, propõe a sua
abolição, bem como o fim das prisões, que seriam irracionais e produziriam dor inutilmente.
A doutrina indica quatro vertentes do abolicionismo penal: Louk Hulsman, Thomas Mathiesen,
Nils Christie e Michel Foucault.
Louk Hulsman
Thomas Mathiesen
Sociólogo norueguês autor da obra The Politics of Abolition (1974), Thomas Mathiesen (1933-)
adota uma visão marxista do abolicionismo e defende que o sistema penal, atrelado ao sistema de
produção capitalista, é mais um instrumento de dominação de classe, por isso deve ser extinto. Sua
política abolicionista inspirou a Organização Norueguesa Anticarcerária (KROM), visando abolir as
prisões e negando até mesmo a possibilidade de penas alternativas.
Tido como o “estrategista do abolicionismo”, defende uma revolução permanente, gradual e
ilimitada, com reformas profundas no sistema penal, a curto prazo, enfatizando a adoção de políticas
sociais para redução de desemprego e da pobreza e a descriminalização das drogas, medidas que
reduziriam drasticamente a necessidade do sistema penal. Para um maior apoio às vítimas, fala em
compensação financeira pelo Estado (sistema de seguro simplificado), abrigos protetivos, centros de
apoio etc.
Nils Christie
Michel Foucault
Zaffaroni entende que, conquanto Foucault (1926-1984) não seja um abolicionista no mesmo
sentido dos demais autores acima, defendeu, sob uma perspectiva estruturalista, ideias que estão à
base do abolicionismo, em seu clássico Vigiar e Punir (1975), no qual problematizou o saber difundido
pelo discurso científico da criminologia tradicional e destacou a expropriação dos conflitos pelo poder
quando da formação dos Estados nacionais, negando o modelo de uma instância decisória superior ao
litigante.
2. Minimalismo Penal
3. Neorrealismo Penal
Sob um enfoque realista, tem como pano de fundo o socialismo e reconhece o reflexo da
pobreza na criminalidade, defendendo uma ampla política social para o controle das zonas de
delinquência. Por outro lado, assevera que os crimes mais graves devem receber uma punição
exemplar, com ampliação das medidas cautelares detentivas e o impedimento da flexibilização do
cumprimento da pena privativa de liberdade na fase da execução penal (redução do poder discricionário
do juiz).
4. Garantismo Penal
Luigi Ferrajoli, em seu clássico Direito e Razão (1989), defende, alinhado com as ideias
iluministas (que impuseram limitações ao antigo regime absolutista monárquico), um sistema penal
garantista, como limitação do poder punitivo estatal. Não propõe, portanto, a eliminação do Direito Penal
(abolicionismo), mas sua utilização como instrumento para a garantia do respeito aos direitos do
acusado. Fala em convencionalismo penal, por caber ao legislador, em respeito ao princípio da
legalidade estrita, definir, de modo taxativo, os tipos penais, livre de valorações subjetivas próprias a um
Direito Penal do autor.
a) modelo normativo de direito: sistema penal de estrita legalidade próprio do Estado de Direito,
manifestando-se em três planos: (i) plano epistemológico, caracterizado como um sistema cognitivo ou
de poder mínimo; (ii) plano político, caracterizado como um sistema que minimiza a violência e
maximiza a liberdade; (iii) plano jurídico, caracterizado como um sistema de vínculos (limites) impostos
à função punitiva estatal em garantia dos direitos individuais;
b) teoria jurídica da “validade” e da “efetividade” como categorias distintas não só entre si, mas
também pela “existência” ou “vigor” das normas: “Designa uma teoria jurídica que coloca validade e
efetividade como classes distintas entre si, bem como diversas da existência (vigência) das normas.
Neste enquadramento, a palavra ‘garantismo’ exprime uma elucubração teoria que mantém separados
o ‘ser’ e o ‘dever ser’ no direito, diferenciando o modelo normativo (materialmente garantista) da prática
operativa (virtualmente antigarantista) e atuando como fator legitimador/deslegitimador que limita e
vincula o poder” (SALIM, Alexandre; DE AZEVEDO; Marcelo André. Direito Penal, 10ª edição, p. 44);
c) filosofia política: “requer do direito e do Estado o ônus da justificação externa como base nos
bens e nos interesses dos quais a tutela ou a garantia constituem a finalidade. Em outras palavras:
trata-se de uma filosofia política laica que pressupõe a separação entre direito e moral, ou seja, uma
justificação entre validade e justiça” (op. cit., p. 45).
Proposto em 1985 pelo jurista alemão Günther Jakobs (1937-), parte da premissa de que a
função essencial do Direito Penal é a tutela da norma e do ordenamento jurídico e, apenas em um plano
secundário, a tutela dos bens jurídicos.
Nesse pensamento, os criminosos que se afastam permanentemente das normas de direito
representam grande perigo à sociedade, por isso devem ser considerados inimigos do Estado, devendo
receber um tratamento diferenciado, mais rigoroso (logicamente) do que aquele direcionado ao cidadão
de bem (Direito Penal do cidadão), com relativização ou supressão de direitos e garantias penais e
processuais.
A transição da qualidade de cidadão para inimigo opera-se com a reincidência, a habitualidade,
a delinquência profissional ou a integração a organizações criminosas, caracterizando um modo de vida
típico ao “abandono do direito”.
Características do Direito Penal do Inimigo:
a) o inimigo perde o status de cidadão (sujeito de direito), passando a objeto de coação;
b) a relativização ou supressão de direitos e garantias penais e processuais;
c) o princípio da legalidade é flexibilizado, com tipos penais vagos e imprecisos;
d) os princípios da ofensividade e da exteriorização são relevados, autorizando-se, também, a
punição de atos preparatórios (sem redução quantitativa da punição);
e) penas proporcionalmente elevadas;
f) o processo mais célere;
g) medidas cautelares com alcance maior e ampliação de técnicas investigativas (infiltração em
organizações criminosas, colaboração premiada etc.);
h) na fixação da pena, privilegia-se o juízo de periculosidade, em vez do juízo da culpabilidade;
i) penas assumem caráter de medida de segurança, com duração indeterminada (enquanto
persistir a situação de perigo; perspectiva prospectiva, e, não, retrospectiva);
j) endurecimento da execução penal.
Aponta-se como fundamentos filosóficos para a teoria de Jakobs:
a) Jean Jacques Rousseau: o indivíduo que viola o contrato social está em guerra contra o
Estado, deixando de ser seu membro;
b) Johann Gottlieb Fichte: o inimigo, ao abandonar a teoria do contrato cidadão, perde todos os
seus direitos;
c) Hobbes: a alta traição deve resultar em castigo como inimigo, e, não, como súdito;
d) Immanuel Kant: deve ser tratado como inimigo quem ameaça constantemente a sociedade e
o Estado, por não aceitar o “estado comunitário-legal”.
Logicamente, o Direito Penal do Inimigo sofre fortes críticas doutrinárias, por prestigiar o direito
penal do autor (e, não, o direito penal do fato) e se mostrar incompatível com os direitos e garantias
fundamentais.
7. Teoria do cenário da bomba relógio (the ticking time bomb scenario)
Surgida nos Estados Unidos, a teoria do cenário da bomba relógio aproxima-se do Direito Penal
do Inimigo e é marcada pela flexibilização das garantias penais e processuais penais a ponto de permitir
o emprego excepcional da tortura, como forma de reprimir condutas terroristas (ex.: justifica a adoção
da tortura de um terrorista para revelar a localização de uma bomba prestes a explodir, daí o nome da
teoria).
Zaffaroni define sistema penal como o conjunto de agências que operam a criminalização
primária e a criminalização secundária. A criminalização primária é a elaboração de leis penais, que
serão aplicadas pelas agências de criminalização secundária (polícia, Ministério Público, Judiciário e
agentes penitenciários).
Como o sistema penal formal do Estado não exerce todo o poder punitivo, outras agências
acabam apropriando-se desse espaço e exercem um poder punitivo paralelo ao Estado, formando
sistemas penais paralelos (ex.: trato de viciados em crack por instituições privadas). Por atuarem
paralelamente ao poder punitivo estatal, acabam, muitas vezes, desaguando em atuações ilícitas,
dando origem a sistemas penais subterrâneos (ex.: milícias).
Alguns apontam que o Direito Penal subterrâneo difere do Direito Penal paralelo pelo fato de a
conduta punitiva ser empregada por agências ou instituições que fazem parte do sistema punitivo
criminal formal e oficial.
CRIMINOLOGIA AMBIENTAL
I) Teoria das Atividades Rotineiras (da Atividade de Rotina): para que um CRIME ocorra
deve haver CONVERGÊNCIA de TEMPO E ESPAÇO em, pelo menos, três elementos: um provável
AGRESSOR, um ALVO adequado, na AUSÊNCIA DE UM GUARDIÃO capaz de impedir o crime”
(Clarke e Felson, 1998, p. 4; Farrell, Grahan e Pease, 2005, p. 3). Desta forma, um crime poderá ser
prevenido se o local e o alvo não oferecerem OPORTUNIDADES para que um delito específico ocorra.
Torna-se necessário controlar o infrator e criar um ambiento seguro (presença de guardião).