Você está na página 1de 69

CRIMINOLOGIA

Professor: Murilo Ribeiro + Henrique Hoffman + Emagis + Ciclos + Rafael Strano

Última atualização: 22/03/2021


Criminologia: Noções introdutórias __________________________________________________4
1. Introdução___________________________________________________________________________4
1.1. Conceito ________________________________________________________________________________ 6
1.2. Métodos ________________________________________________________________________________ 7
1.3. Objetos de estudo: ______________________________________________________________________ 8
1.3.1. DELITO_____________________________________________________________________________ 8
1.3.1.1. Criminalização _____________________________________________________________________ 9
1.3.1.2. Prevenção _________________________________________________________________________ 9
1.3.2. DELINQUENTE_____________________________________________________________________ 10
1.3.3. VÍTIMA ____________________________________________________________________________ 11
1.3.4. CONTROLE SOCIAL ________________________________________________________________ 15
1.4. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA ___________________________________________________________ 20

2. PREVENÇÃO _________________________________________________________________________21
2.1. Modelos Teóricos de Prevenção do Delito Modelo clássico ___________________________________ 22
2.2. Motivo neoclássico________________________________________________________________________ 22
2.3. Classificações ____________________________________________________________________________ 22
2.3.1. Dimensão clássica (prevenção primária, prevenção secundária e prevenção terciária) ______ 22
2.3.2. Dimensão política (modelo tradicional ou conservador, modelo liberal e modelo radical)______ 24
2.3.3. Dimensão pluridimensional (prevenção por meio do sistema de justiça penal, prevenção
situacional do delito, prevenção comunitária e prevenção evolutiva ou de desenvolvimento) _____ 25
2.4. Fatores Sociais da Criminalidade ___________________________________________________________ 25

3. MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME. ____________________________________________________26

ESCOLAS DA CRIMINOLOGIA ______________________________________________________26


1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA _____________________________________________________________ 26
1.1. ESCOLA CLÁSSICA: ____________________________________________________________________ 28
1.2. ESCOLA POSITIVA ou Positivista: __________________________________________________________ 31
1.3. Escola de Lyon (Escola Antropossocial ou Criminal-Sociológica) __________________________ 36
1.4. Terza Scuola Italiana (“Terceira Escola Italiana”) __________________________________________ 36
1.5. Escola Técnico-Jurídica ________________________________________________________________ 37
1.6. Escola Sociológica Alemã ou Política Criminal____________________________________________ 37
1.7. Escola Correcionalista __________________________________________________________________ 38
1.8. Escola da Nova Defesa Social ___________________________________________________________ 39
1.9. Movimento Psicossociológico ___________________________________________________________ 39
1.10. Movimento Lei e Ordem_______________________________________________________________ 40

GIRO SOCIOLÓGICO DA CRIMINOLOGIA ou Teorias Macrossociológicas (A Sociedade


Criminógena)______________________________________________________________________40
1. Introdução__________________________________________________________________________40
2. Teorias do Consenso, funcionalistas ou de integração_________________________________42
2.1. Escola de Chicago: (1920-1940) __________________________________________________________ 42
2.2. Teorias da Aprendizagem Social (Social Learning) ________________________________________ 47
2.3. Teoria da Associação Diferencial: (1883-1950) ____________________________________________ 48
2.4. Teoria da Anomia: ______________________________________________________________________ 50
2.5. Teoria da Subcultura Delinquente: (1918-2014)____________________________________________ 52

3. TEORIAS DO CONFLITO: ______________________________________________________________ 55


3.1. Teoria do Labelling Approach, Reação Social, Rotulação Social, Etiquetamento ou Interacionismo
Simbólico. ____________________________________________________________________________________ 55
3.1.1. Seletividade Penal_____________________________________________________________________ 56
3.2. Criminologia Crítica, Marxista ou Nova Criminologia: ________________________________________ 57

4. TEORIAS DE CONTROLE ____________________________________________________________ 58


4.1. Teoria do enraizamento social ___________________________________________________________ 58
4.2. Teoria da conformidade diferencial ______________________________________________________ 58
4.3. Teoria da contenção ____________________________________________________________________ 59
4.4. Teoria do controle interior_______________________________________________________________ 59
4.5. Teoria da antecipação diferencial ________________________________________________________ 59

Movimentos Atuais de Política Criminal _____________________________________________61


1. Abolicionismo Penal ________________________________________________________________ 61
2. Minimalismo Penal __________________________________________________________________63
3. Neorrealismo Penal _________________________________________________________________63
4. Garantismo Penal ___________________________________________________________________64
5. Tendências Securitária, Justicialista e Belicista _______________________________________65
6. Direito Penal do Inimigo _____________________________________________________________ 66
7. Teoria do cenário da bomba relógio (the ticking time bomb scenario) ___________________67
8. Direito Penal Paralelo e Direito Penal Subterrâneo _____________________________________67
9. Bullying, Assédio Moral e Stalking ___________________________________________________67

CRIMINOLOGIA AMBIENTAL _______________________________________________________68


Criminologia: Noções introdutórias

1. Introdução

Terminologia
Latim crimen (crime) + grego logo (tratado).
Estudo do crime, se estendeu ao criminoso, vítima, controle social e culturais (atualmente).
 Idealizador: Paul Topinard (1830 – 1911)
 Difusor no cenário internacional: Raffaele Garofalo (1851 – 1934)

 Marco científico
 Corrente majoritária: O homem Delinquente de Cesare Lombroso (1876). Escola
positivista – científica.
 Corrente minoritária: Dos delitos e das penas de Cesare Beccaria (1764). A obra de
Beccaria, apesar de escrita anteriormente, não é considerada marco porque o autor está
inserido na escola clássica, pré-científica.

A Criminologia, a Política Criminal e o Direito Penal são considerados os três pilares de


sustentação das chamadas Ciências Criminais. Enquanto o Direito Penal se preocupa em criar um
sistema abstrato de normas, prevendo comportamentos proibidos sob a ameaça de uma pena, a
Criminologia tem por objetivo realizar um verdadeiro diagnóstico do fenômeno criminal, buscando
prevenir o crime, definir as formas de intervenção no infrator e propor modelos de reação ao
comportamento criminoso. Já a Política Criminal funciona como uma verdadeira ponte eficaz entre
Direito Penal e a Criminologia, sugerindo medidas concretas na interação entre o saber experimental
(próprio da Criminologia) e sua eventual transformação em preceitos normativos (atuação do Direito
Penal). A política criminal é a disciplina que oferece aos poderes públicos as opções científicas para o
controle da criminalidade. A política criminal pode ser repressiva (Direito Penal) ou preventiva (ex.:
iluminação pública; revitalização urbana; campanhas de conscientização). Quem faz política
criminal? Todos os Poderes em todas as esferas federativas.
Para a doutrina majoritária, no entanto, a Política Criminal não tem autonomia de ciência, já
que não possui metodologia própria (Direito Penal e Criminologia, por sua vez, são ciências).
Atenção: não há qualquer subordinação entre o saber criminológico e o dogmático penal.
Zafaronni diz que há uma dificuldade em diferenciar a criminologia de política criminal
porque a criminologia não consegue ser externalizada sem o seu viés político.
(TJ-CE-CESPE) A respeito da política criminal, da criminologia, da aplicação da lei penal e das funções
da pena, julgue os itens subsequentes.
I Criminologia é a ciência que estuda o crime como fenômeno social e o criminoso como agente
do ato ilícito, não se restringindo à análise da norma penal e seus efeitos, mas observando
principalmente as causas que levam à delinquência, com o fim de possibilitar o
aperfeiçoamento dogmático do sistema penal.
II A política criminal constitui a sistematização de estratégias, táticas e meios de controle social da
criminalidade, com o propósito de sugerir e orientar reformas na legislação positivada.
Estão certos apenas os itens I e II
Importância da criminologia
apura a visão crítica e científica daquele que se fornece respostas mais pormenorizadas aos
propõe a analisar o problema da delinquência problemas criminais que assolam todas as
sociedades

A criminologia analisa quais são os fatores que culminaram no cenário atual. É a ciência que
possui as ferramentas e saberes para examinar o fenômeno criminológico que ocorre na sociedade.
Não incumbe à criminologia punir o transgressor (tarefa do Direito Penal), muito menos definir
qual é o procedimento de persecução penal durante a investigação ou o processo (missão do Direito
Processual Penal).
O Direito Penal é uma ciência dogmática e a criminologia é uma ciência zetética.
Tércio Sampaio Ferraz, em uma de suas obras, para ilustrar tal distinção, conta uma história.
Sócrates, sentado à porta de sua casa, vê um sujeito passar correndo com um soldado atrás dele
gritando: “pegue esse homem, ele é um ladrão”. Sócrates, então, pergunta ao soldado: “o que você
entende por ladrão?”. A anedota histórica mostra dois enfoques distintos: o do soldado, que parte da
premissa de que a definição do que seja um ladrão já está posta e, portanto, está preocupado com a
ação, e a de Sócrates, para quem a premissa é duvidosa e merece questionamento. A postura do
filósofo não está atrelada à norma, está no mundo do ser, no mundo concreto. O soldado corre atrás do
sujeito para poder cumprir a norma, o mundo do dever-ser.

Dogmática: Significa ensinar, doutrinar. Parte de um objeto de pesquisa com limites bem
definidos e renuncia à pesquisa independente, vinculando-se a questões finitas, como por exemplo, os
limites impostos pela lei. É a ciência do dever-ser, do mundo abstrato, ideal. Não é interdisciplinar
(não admite a interferência de outras ciências). Está ligada à tarefa de interpretação de normas e
princípios, especialmente preocupando-se com a aplicação destes.

Zetética: Significa indagar, investigar. Despreza qualquer premissa anterior. Cria teorias
(passíveis de refutação), e não dogmas (incontestáveis). Tem uma função de especulação infinita; o
objeto é questionado em todas as direções. É a ciência do ser, do mundo real, e que visa explicar a
realidade.
1.1. Conceito

Conceito: Dentre as diversas definições trazidas pela doutrina, destaco as lições de Antonio
García-Pablos de Molina que alcança, já na visão conceitual, aspectos do método, objeto e das
funções do saber criminológico: “ciência autônoma empírica (baseada na realidade) e
interdisciplinar (que congrega ensinamentos de sociologia, psicologia, filosofia, medicina e
direito) (métodos), que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do
controle social (objetos de estudo) do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma
informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime - contemplado
este como problema individual e como problema social -, assim como sobre programas de prevenção
eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos
modelos ou sistemas de resposta ao delito (funções)” (Tratado de Criminologia, 1999).
(DP-MA-CESPE) Afirmar que a criminologia é interdisciplinar e tem o empirismo como método
significa dizer que esse ramo da ciência utiliza um método analítico para desenvolver uma análise
indutiva.
Ciência lógica e não normativa, busca determinar o homem delinquente utilizando métodos
biológicos e sociológicos. Nota-se, a partir de então, uma diferenciação com o Direito, visto que o
Direito é eminentemente normativo, já a Criminologia visa determinar o homem delinquente por meio
dos métodos biológico e sociológico.
Características da criminologia moderna (trazidas por García-Pablos de Molina e Luiz
Flávio Gomes):

 O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa.

 Aumenta o espectro de ação da criminologia, para alcançar também a vítima e as


instâncias de controle social.

 Acentua a necessidade de prevenção, em contraposição à ideia de repressão dos


modelos tradicionais.
 Substitui o conceito de “tratamento” (conotação clínica e individual) por “intervenção”
(noção mais dinâmica, complexa, pluridimensional e próxima da realidade social).

 Empresta destaque aos modelos de reação social ao delito como um dos objetos da
criminologia.

 Não afasta a análise etiológica do delito (desvio primário).

Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - A criminologia é
classificada como multidisciplinar ou interdisciplinar? Por quê?

Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Qual o conceito
de multidisciplinaridade e de interdisciplinaridade?

1.2. Métodos

MÉTODOS. Tema recorrente em concursos públicos. Quais são os métodos utilizados pela
Criminologia? Ao contrário do Direito Penal, que parte de uma regra geral (norma) para analisar um
comportamento individual (conduta humana), ou seja, de forma dedutiva, lógica e abstrata, a
Criminologia adota o método INDUTIVO, partindo da análise da realidade para dela extrair as
consequências, de maneira EMPÍRICA e INTERDISCIPLINAR (contribuição de diversas
disciplinas, como a Biologia, a Sociologia e a Psicologia). Assim, os métodos da Criminologia para
a doutrina são INDUTIVO, EMPÍRICO e INTERDISCIPLINAR. Um único cuidado aqui: para o
Professor Nestor Sampaio Penteado Filho, em sua obra Manual Esquemático de Criminologia, o
saber criminológico utiliza os métodos BIOLÓGICO e SOCIOLÓGICO, diante do caráter empírico e
experimental de tal ciência.
MÉTODOS
Empírico Indutivo Interdisciplinar
Análise e observação da realidade. O jurista É aquele que sai de uma Várias ciências vão
de direito penal avança em seus estudos situação particular para depois contribuir para a
lendo obras de direito penal (mestrado, estabelecer uma situação geral, criminologia. Ex: psicologia,
doutorado), o direito penal é uma ciência do ao final vai estabelecer geografia, sociologia
dever-ser, é normativo, jurídico, dogmático. O conclusões. O direito penal faz criminais.
criminólogo é o curioso, ele vai “in loco” – a linha inversa, adota o método
analisar e observar a realidade, ciência do dedutivo.
ser. Método empírico não é a mesma
coisa método experimental, nem sempre
será possível a experimentação.

Métodos e técnicas de investigação:


 Quantitativas: numérico. Estatística, questionário.
 Qualitativas: levam em consideração outras variáveis. Entrevista e observação participante.
 Transversais: tomam uma única mediação da variável.
 Longitudinais: levam em consideração várias medições em diferentes momentos. Toda
uma vivência do indivíduo. Biografias criminais.
1.3. Objetos de estudo:

Até meados do Séc. XX, com os ideais da Escola Positiva, a Criminologia possuía apenas dois
objetos de estudo: o DELITO e o DELINQUENTE. Com a evolução da própria ciência, no entanto,
dois outros pontos de interesse foram acrescentados: VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL. Desta forma,
temos quatro atuais objetos ou vertentes: DELITO, DELINQUENTE, VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL.

1.3.1. DELITO

O conceito de delito para a Criminologia não é o mesmo utilizado pelo Direito Penal, tão
conhecido por nós quando do estudo da Teoria do Crime. Para o saber criminológico, delito é toda
conduta com incidência massiva na sociedade, capaz de causar dor, aflição e angústia
(incidência aflitiva), com persistência espaço-temporal e que se tenha um inequívoco consenso a
respeito de suas causas e suas possíveis punições.
Vamos explicar melhor?
a) INCIDÊNCIA MASSIVA: a conduta tida como delituosa NÃO pode ser um fato ocorrido de
maneira isolada, ainda que socialmente reprovável, o fato não pode ser episódico, isolado. Ex.: a
introdução de um palito de sorvete no orifício de respiração de um cetáceo; foi criada legislação para
tanto, porém tratava-se de conduta episódica; vale destacar que, na exposição de motivos da lei, foi
alegado que o objetivo da Legislação era evitar a caça a baleia na costa brasileira;
b) INCIDÊNCIA AFLITIVA: para que haja legitimidade de punição, o ato tido como criminoso
deve causar prejuízo, dor ou angústia à vítima ou à sociedade. Ex.: criminalização da expressão
“couro sintético” ou “couro ecológico”; isso pode ser resolvido em outra esfera, não na penal;
c) PERSISTÊNCIA ESPAÇO-TEMPORAL: o fato deve ser durável no tempo e no espaço em
determinado local, não sendo possível criminalizar uma moda, algo passageiro. Ex.: brucutu, uma a
peça que esguicha água nos Fuscas; era moda a subtração da peça para usar como anel; seria
incabível a criminalização dessa conduta; outro ex.: a criminalização dos “rolezinhos” em centros
comerciais;
d) INEQUÍVOCO CONSENSO: não basta que a conduta tenha incidência massiva, aflitiva e
persistência espaço-temporal, sendo necessário um inequívoco consenso de que tal ato deva ser
considerado como crime. Ex: o uso do álcool. Há incidência massiva na população? Com
cervej..certeza, rs! Há incidência aflitiva? Sim, alguns estudos apontam que o álcool é tão prejudicial
quanto algumas drogas ilícitas. Há persistência espaço-temporal? Claro. Alguém, neste exato minuto,
está consumindo em algum lugar do mundo. Apesar de tudo isso, não há um inequívoco consenso
acerca de sua criminalização e da necessidade de punição.

#OLHAOGANCHO: Justiça Restaurativa – É uma nova perspectiva, oposta à ideia de Justiça


Retributiva (retribuir o mal com outro mal), fundada basicamente na restauração do mal provocado pela
infração penal. Busca o restabelecimento do status quo ante dos protagonistas do conflito criminal,
com a composição de interesses entre as partes envolvidas e reparação do dano sofrido pela vítima,
por meio de acordo, consenso, transação, conciliação, mediação ou negociação, propiciando a
restauração do controle social abalado pela prática do delito, a assistência ao ofendido e a recuperação
do delinquente.
Crime sob a perspectiva da criminologia
Incidência massiva na Incidência aflitiva Persistência Consenso sobre sua
população espaço-temporal etiologia e técnicas de
intervenção
Do crime
Ente jurídico: Ente natural/manifestação Crime natural: Patologia Rotulação política:
Escola patológica/desvio de Garófalo; social: Escola labelling approach
Clássica; personalidade: Escola do correcionalista; e criminologia
positivismo criminológico; crítica.

“Para a criminologia o delito se apresenta como um problema social e comunitário, que exige
do investigador uma determinada atitude para se aproximar dele (...) Portanto, a criminologia entende
que delito é toda conduta desviada que viola normas jurídicas ou normas sociais.” (BISPO, 2009).
“Busca analisar a conduta antissocial, as causas que gerou o delito, a busca de um
tratamento eficaz ao delinquente, visando a sua não reincidência. Para a criminologia o “crime é um
fenômeno social, comunitário e que se mostra como um ‘problema’ maior, a exigir do pesquisador
empatia para se aproximar dele e entende-lo em suas múltiplas facetas. Destarte, a relatividade do
conceito de delito é patente na criminologia, que o observa como um problema social”. (PENTEADO,
2020)
“Para a criminologia, “crime é um fenômeno social, comunitário e que se demonstra como um
problema maior, exigindo assim dos estudiosos uma visão ampla que permita aproximar-se dele e
compreendê-lo em seus diversos enfoques.” (SUMARIVA)

1.3.1.1. Criminalização

(i) Primária: é o ato de legislar em matéria penal; somente é feita pelo Poder Legislativo;
Características: diz respeito a condutas abstratas e pessoas indefinidas.
(ii) Secundária: é a aplicação da lei penal. Quem exerce a criminalização secundária: polícia
federal, civil, militar; sistema de justiça; Exército; administração penitenciária etc. É o controle social
formal; Características: ao contrário da criminalização primária, a secundária diz respeito a condutas
concretas e pessoas específicas;

Obs: Cifra oculta (cifra negra): É a diferença entre os crimes que acontecem e aqueles que
chegam ao conhecimento do sistema de justiça. Outras cifras: Cifra verde: crimes contra o meio
ambiente; cifra amarela: crimes cometidos por agentes estatais; cifra rosa: crimes de homofobia; cifra
dourada: crimes de colarinho branco.

1.3.1.2. Prevenção
O critério adotado para essa divisão é temporal ou cronológico. A prevenção primária ocorre
muito antes do cometimento do crime, a secundária, logo após, e a terciária, muito tempo depois.

a) Primária: Confunde-se com as políticas públicas de educação, saúde, moradia e emprego, e


visa atingir as raízes do crime, operando a longo prazo;
b) Secundária: Relaciona-se com a repressão penal e com as funções da pena (prevenção
geral e especial);
c) Terciária: também conhecida como previsão tardia; visa evitar a reincidência criminal,
concretizando-se com as políticas de atenção ao egresso.

1.3.2. DELINQUENTE

Passemos ao estudo do segundo objeto da Criminologia: o próprio criminoso. Para isso, é


importante acompanhar a evolução do conceito nas diversas escolas da Criminologia (veremos com
maior profundidade em cada escola), utilizando como base a obra de Sérgio Salomão Shecaira. Vamos
lá?
ESCOLA CLÁSSICA: o delinquente era encarado como o pecador que optou pelo mal,
embora pudesse e devesse respeitar a lei. Herança do Contrato Social, de Rousseau. O
cometimento do crime era um rompimento ao pacto e a pena deveria ser proporcional ao mal causado;
ESCOLA POSITIVA: houve uma mudança do foco de estudo, concentrando as pesquisas na
pessoa do delinquente, que não raro era visto como “animal selvagem”. Para a Escola Positiva, o
infrator era um prisioneiro de sua própria patologia (determinismo biológico) ou de processos causais
alheios (determinismo social). Enquanto para os clássicos a pena deveria ser proporcional ao mal
causado, para os positivistas deveria ser utilizada uma medida de segurança com finalidade curativa,
por tempo indeterminado, enquanto persistisse a patologia.
ESCOLA CORRECIONALISTA: para Shecaira, a Escola Correcionalista não teve reflexos
significativos no Brasil. Defendia que o criminoso era um ser débil, inferior e que deveria receber do
Estado uma postura pedagógica e de proteção. O infrator é um ser inválido, incapaz de dirigir-se a si
mesmo. Isso justifica a adoção de um modelo paternalista em relação ao delinquente. Para os
correcionalistas, a pena era tratada como um direito de recuperação e adaptação, com caráter
eminentemente pedagógico. A pena, para os correcionalistas, não seria uma punição, e sim um
direito do criminoso de se adaptar à sociedade. Ex: tratamento dado ao adolescente infrator.
(DPE-DF-CESPE) De acordo com a teoria positivista, o criminoso é um ser inferior, incapaz de guiar
livremente a sua conduta por haver debilidade em sua vontade: a intervenção estatal se faz necessária
para correção da direção de sua vontade. (ERRADO)

A ESCOLA CORRECIONALISTA, e não a positivista, afirma que o criminoso é um ser inferior,


incapaz de guiar livremente a sua conduta, por haver debilidade em sua vontade, de modo a
merecer intervenção estatal para corrigi-la. Para a escola correcionalista, o criminoso não é um ser
forte e embrutecido, como diziam os positivistas, mas sim um débil, cujo ato precisa ser compreendido
e cuja vontade necessita ser direcionada.
A escola positivista afirma que o criminoso é um prisioneiro de sua própria patologia
(determinismo biológico) ou de processos causais alheios (determinismo social). Não aceitaram
a tese da Escola clássica do livre-arbítrio, mas sim a ideia do criminoso nato (determinismo biológico
de Lombroso) e do determinismo social de Ferri e Garófalo.
FONTE: CESPE

MARXISMO: para Marx, de forma bem simplista, quem é culpável pelo crime é a própria
sociedade, já que o crime seria decorrente de certas estruturas econômicas.
(DPE-DF-CESPE) Na visão do marxismo, a responsabilidade pelo crime recai sobre a sociedade,
tornando o infrator vítima do determinismo social e econômico. (CERTO)

Para a vertente marxista, a responsabilidade do crime é da sociedade; o delinquente, convertido


em vítima, é produto da estrutura econômica do Estado. Assim, o criminoso é considerado fruto da
exploração capitalista patrocinada pelas classes dominantes.

CONCEITO CONTEMPORÂNEO: nos dias atuais, com a perspectiva biopsicossocial,


delinquente é o indivíduo que está sujeito às leis, podendo ou não segui-las por razões multifatoriais e
nem sempre assimiladas por outras pessoas.

1.3.3. VÍTIMA

Historicamente, a figura da vítima observou três fases bem delineadas:


I) Protagonismo (na chamada “idade de ouro”, desde os primórdios da civilização até o fim da
Alta Idade Média). A vítima, neste período, detinha o poder de realizar a justiça pelas próprias
mãos, na chamada autotutela (justiça privada, pena de talião);
II) Neutralização (o Estado como o responsável pelo conflito social – Código Penal Francês e
ideais do liberalismo moderno). Estado monopoliza o poder punitivo e trata a pena como garantia
coletiva e não como ofensa à vítima;
III) Redescobrimento/revalorização (traz contornos mais humanos à postura estatal em
relação à vítima – sobretudo após a 2ª Guerra Mundial). Na segunda metade do Século XX, o estudo
sobre a vítima assumiu contornos marcados, sendo fundada uma nova disciplina (ou ciência, para parte
da doutrina), a VITIMOLOGIA, o estudo das relações da vítima com o infrator (chamada pela
doutrina de “dupla penal”) ou com o sistema. Com a definição dos contornos do Estado Democrático de
Direito, surgiu à necessidade da redefinição da vítima sob uma perspectiva mais humana. E quais são
os tipos de vitimização?
A VITIMIZAÇÃO PRIMÁRIA é o processo através do qual um indivíduo sofre direta ou
indiretamente os efeitos nocivos ocasionados pelo delito (em regra materiais ou psíquicos).
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: CRIMINOLOGIA - O que é
vitimização secundária? E vitimização terciária?
A VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA, revitimização ou sobrevitimização é entendida como o
sofrimento suportado pela vítima nas fases do inquérito e do processo, em que muitas vezes
deverá reviver o fato criminoso por meio de interrogatórios, declarações e exames de corpo de delito,
além de submeter-se a situações constrangedoras, como o reencontro com o delinquente.
No concurso para o cargo de Delegado PC-BA 2018 foi considerada correta a seguinte
assertiva: A chamada da vítima na fase processual da persecução penal para ser ouvida sobre o
crime, por inúmeras vezes, é denominada de vitimização secundária.
(DPE-DF-CESPE) A criminologia classifica como vitimização secundária a coisificação, pelas esferas
de controle formal do delito, da pessoa ofendida, ao tratá-la como mero objeto e com desdém
durante a persecução criminal. (CERTO)

Por fim, entende-se por VITIMIZAÇÃO TERCIÁRIA a ausência de receptividade social, bem
como a omissão estatal no atendimento da vítima, que em diversos casos se vê compelida a
alterar sua rotina, os ambientes de convívio e círculos sociais em razão da estigmatização
causada pelo delito. Ex: vítima de crime sexual e segregação social. Vitimização indireta –
Sofrimento suportado por pessoas relacionadas intimamente à vítima do delito, que, embora não
diretamente lesionadas pela conduta criminosa, partilham de seu sofrimento.
VITIMIZAÇÃO QUATERNÁRIA: É o medo da vítima de se tornar vítima novamente. É
influenciada pela mídia, que cria esse medo coletivo.
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Que tipo de
vitimização e de prevenção estabelece a lei Maria da Penha?

CLASSIFICAÇÃO DAS VÍTIMAS DE BENJAMIM MENDELSOHN

A classificação aqui estudada é a que cai em provas:


I) Vítima completamente inocente (vítima ideal):
Trata-se da vítima completamente estranha à ação do criminoso, que não provoca, não
incentiva, não colabora, com a prática criminosa. Não tem qualquer culpa para a realização do delito.
Ex: senhora que tem sua bolsa roubada na rua. Ela simplesmente sai na rua com sua bolsa é se torna
vítima.

II) Vítima de culpabilidade menor (vítima por ignorância):


Ocorre quando há um impulso não voluntário ao delito, mas de certa forma existe um grau de
culpa da vítima. A vítima não quer, mas acaba concorrendo para o delito. Ex: casal de namorados, que
invade varanda do vizinho para ter relação sexual, o vizinho pega e comete uma lesão corporal.

III) Vítima voluntária ou tão culpada:


Ambos podem ser criminosos ou vítimas. A própria vítima se coloca na situação de vítima. Ex:
roleta russa.

IV) Vítima mais culpada que o infrator:


Enquadram-se nessa hipótese as vítimas provocadoras, que incitam o autor do crime; as
vítimas por imprudência, que ocasionam o acidente por não se controlarem, ainda que haja uma
parcela de culpa do autor.

Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: CRIMINOLOGIA - Segundo
Mendelson, quem são as vítimas unicamente culpadas?

V) Vítima unicamente culpada:


a) Vítima infratora – é a pessoa que comete um delito e no fim se torna vítima, como ocorre no
caso de homicídio por legitima defesa;
b) Vítima simuladora: induz alguém a ser acusado por um delito e gera um erro judiciário.
Simula situação que não aconteceu;
c) Vítima imaginaria: pessoa portadora de grave transtorno mental que, em decorrência deste
distúrbio, leva o judiciário ao erro, podendo se passar por vítima de um crime ou acusando uma pessoa
de ser o autor.

Merece menção, outrossim, a classificação de Hans von Hentig:

a) 1º grupo: criminoso-vítima-criminoso, de forma sucessiva: criminoso que, em função das


agruras do sistema penitenciário e da repulsa social com que depara após a soltura, torna a incidir na
prática delitiva;
b) 2º grupo: criminoso-vítima-criminoso, de forma simultânea: caso do usuário de drogas
que se torna traficante;
c) 3º grupo: criminoso-vítima, de forma imprevisível: caso do linchamento do criminoso por
populares.

Ainda dentro dos estudos da vitimologia têm-se as síndromes no âmbito da vitimologia.

a) Síndrome da mulher de Potifar: trata-se de uma Figura criminológica a mulher que,


rejeitada afetivamente, imputa falsamente a quem a ignorou o delito de estupro ou outra conduta
ofensiva à dignidade sexual. Busca analisar a credibilidade, validade, e seriedade da palavra da
vítima, notadamente nos crimes sexuais, que na maioria das vezes são praticados às escondidas, sem
testemunhas, restando por fim apenas a palavra da vítima contra a palavra do acusado.
b) Síndrome de Estocolmo: é um fenômeno em que a vítima de um sequestro passa a ter
uma relação de afinidade com o criminoso, seu algoz. Primeiramente, como forma de defesa,
depois como verdadeiro sentimento de afeição.

c) Síndrome de Londres: é o contrário da Síndrome de Estocolmo. Ao invés de ter uma


relação de afinidade com o criminoso, a vítima, geralmente em posição de refém, passa a discordar
do seu algoz e a discutir com ele. Esse comportamento gera uma antipatia que pode colocar em risco
toda a negociação policial com os sequestradores, ou o que é pior: resultar em um evento fatal.

d) Síndrome de Otelo: é o fenômeno criminológico em que a pessoa sofre com delírio de


que a parceira é infiel, podendo levar à prática de atos graves como o homicídio. A síndrome de
Otelo é mais comum em homens do que em mulheres, por razões psicológicas e culturais. Em muitas
sociedades ainda é forte a ideia de poder e dominação dos homens sobre as mulheres. Como
resultado, alguns homens esperam que suas companheiras se submetam a suas regras e qualquer
conduta de autonomia é vista como suspeita.

e) Síndrome de Dom Casmurro: é o fenômeno criminológico em que a pessoa sofre com um


quadro mental paranoico, em que acredita naquilo que desconfia mesmo sem evidências, e
passa a procurar provas para confirmar sua suspeita descabida. Ocorre quando o magistrado
desenvolve a ideia fixa de que um alvo da persecução penal é autor do fato apurado e passa a
determinar de ofício produção de provas que confirmem seu raciocínio pré-concebido, bem como
decretar prisões sem requerimento algum.
Aqui faz-se um paralelo com o sistema acusatório do Processo Penal, na qual o juiz não pode
atuar sem qualquer provocação do MP ou da autoridade policial. O Pacote Anticrime surge para tornar
mais robusto esse sistema acusatório.
Criminologia e Sistema de Justiça Criminal
Sistema de Justiça Criminal e Controle Social
O sistema de justiça criminal se posiciona dentro do sistema formal de controle social. É formado pelo
Poder Judiciário, Ministério Público, Polícia e Administração Penitenciária.
Os órgãos públicos exercem um papel expressivo na condução do controle do fenômeno criminal. O
funcionamento dessas quatro instâncias (separadas e organizadas) é de fundamental importância para
a criminologia, pois são aplicadores natos do controle social formal.
Justiça Retributiva Justiça Restaurativa
O conceito de crime é estritamente O crime é conceituado em sentido
jurídico, e considera-se que a infração é amplo, considerando-o como ato que
ato contra a sociedade. O Estado detém o afeta autor, vítima e a sociedade. A
Valores monopólio da justiça criminal, primando justiça é participativa, e valoriza
pelo interesse público. Impera a também os interesses das pessoas
aplicação do direito positivo. envolvidas no fato. A aplicação do
direito positivo é alternativa.
Sua linguagem e rituais são impregnados Seus rituais são informais, e o
pelo formalismo e pela solenidade. As procedimento é regido pelo princípio
Procedimentos autoridades incumbidas da persecução da oportunidade. As pessoas
penal são os agentes que protagonizam envolvidas, como vítimas, infratores e a
todos os procedimentos. própria comunidade se envolvem no
processo decisório.
Penas aplicadas ao infrator com o Busca restaurar a relação entre as
objetivo de intimidar e punir (prevenção partes. Emprega a retratação,
geral e especial). Gera estigmatização e reparação, prestação de serviços
discriminação de infrator e vítima. As comunitários como formas de atenuar
Resultados penas privativas de liberdade aplicadas traumas e prejuízos; Evita a
são desproporcionais, e as penas estigmatização, e prima pela efetiva a
alternativas são ineficazes. A reintegração do infrator e da vítima à
ressocialização é relegada a plano sociedade. Procura concretizar a paz
secundário. Embora o objetivo seja a social com dignidade.
pacificação social, a tensão permanece.
Deixada em segundo plano, geralmente Tem participação ativa no processo,
não recebe qualquer apoio do Estado. e suas opiniões são levadas em
Efeitos para a Permanece frustrada e ressentida após o consideração para a resolução do
vítima processo. conflito. Recebe assistência e é
reparada por suas perdas materiais.
Tem pouca participação no processo, e Compreende as etapas e
raramente compreende suas etapas e procedimentos do processo,
procedimentos. Manifesta-se apenas por recebendo todas as informações
Efeitos para o meio de um advogado. Ao fim do necessárias. Participa de maneira ativa
infrator processo, não é efetivamente no processo, e sua capacidade de
responsabilizado pela prática delitiva, mas responsabilizar-se pelo fato é levada
apenas punido. em consideração. É incentivado a
dialogar com a vítima e com a
comunidade, a fim de melhor
compreender os impactos de sua
conduta. Tem a oportunidade de
desculpar-se e reparar o dano causado.

1.3.4. CONTROLE SOCIAL

São as instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover a submissão dos
indivíduos aos modelos e normas comunitárias de modo orientador e fiscalizador. Com relação aos
seus destinatários, pode ser difuso (à coletividade) ou localizado (a determinados grupos). Subdivide-se
em CONTROLE SOCIAL FORMAL (realizado pelo Estado, caracterizado pelo Sistema de Justiça
Criminal – Polícias, Poder Judiciário, MP, Administração Prisional) e CONTROLE SOCIAL
INFORMAL (realizado pela sociedade civil – família, mídia, opinião pública, religião, ambiente de
trabalho etc.). Pode ser exercido de três principais formas: a) sanções formais (aplicadas pelo Estado,
podem ser cíveis, administrativas e/ou penais) e sanções informais (não têm força coercitiva); b) meios
positivos (prêmios e incentivos) e meios negativos (imposição de sanções); c) controle interno
(autocoerção) e controle externo (ação da sociedade ou do Estado, como multas e penas privativas de
liberdade). Quando as formas de controle social informal falham, aparecem as formas de controle
formal. A pena privativa de liberdade é a mais grave das sanções do controle social formal.
CONTROLE SOCIAL ALTERNATIVO: reação social frente à ineficiência e/ou injustiça das
instâncias de controle social formal.
CONTROLE SOCIAL CONTROLE SOCIAL FORMAL
INFORMAL
Família, escola, religião, clubes Polícia, Ministério Público, Poder
recreativos, opinião pública Judiciário, administração penitenciária.
AGENTES
etc.
Disciplina o indivíduo por Entra em funcionamento quando
meio de um largo e sutil processo as instâncias informais de controle
MOMENTO
de socialização, interiorizando falham.
ininterruptamente no
indivíduo as pautas e conduta.
Distintas estratégias (prevenção, Atua de modo coercitivo (violento)
repressão, ressocialização e impõe sanções mais estigmatizantes,
etc.) e diferentes modalidades que atribuem ao infrator da norma um
ESTRATÉGIAS de sanções (positivas, singular status (de desviado, perigoso ou
como recompensas, e negativas, delinquente).
como punições).
Costuma ser mais efetivo, A eficaz prevenção do crime não depende
porque é ininterrupto e onipresente, tanto da maior efetividade do controle
o que ajuda a explicar os níveis mais social formal, senão da melhor integração
baixos de criminalidade nas pequenas do controle social formal e informal.
cidades do interior, onde é mais forte. O controle razoável e eficaz da
EFETIVIDADE
O atual enfraquecimento dos laços criminalidade não pode depender
familiares e comunitários explica em boa exclusivamente da efetividade das
medida a escassa confiança depositada instâncias do controle social, pois a
na sua efetividade intervenção do sistema legal não incide
nas raízes do delito.

CONTROLE SOCIAL
É formado pelas instituições, que desde nossa infância regulam nossos comportamentos.
Ensinamentos, dicas, regras, que nos ensinam a viver em comunidade. A doutrina divide o controle
social em:
a) Informal: família, esposa/marido, escola, ambiente de trabalho, igreja, vizinhança, sogra.
b) Formal: polícia, MP, Judiciário, Forças Armadas, Sistema Prisional/Socioeducativo.

Os estudos de criminologia apontam que quanto mais forte o controle social informal, mais
pacífica a sociedade. Em cidades pequenas esse vínculo do controle social informal é maior e mais
forte e quando se tem esse ambiente mais coeso, é mais difícil das pessoas cometerem crimes.
Quanto mais forte o controle informal, menos precisaremos do controle formal.
Componentes fundamentais das instituições controle social: norma, processo e sanção.
Estão presentes no controle social formal e informal.
Sanções do controle social:
a) Sanções formais – aplicadas pelo Estado, podem ser cíveis, administrativas e/ou penais e
sanções informais – não tem força coercitiva;
b) Meios positivos – prêmios e incentivos e meios negativos – imposição de sanções
propriamente ditas;
c) Controle interno – autocoerção e controle externo – ação da sociedade ou Estado, como
multas e pena privativas de liberdade.
“Quando as formas de controle social informal falham, agem as formas de controle social
formal.”
Obs: labelling approach – teoria da reação social.
Pertencente as teorias de conflito. O controle social não é isento como parte da doutrina diz,
para o Labelling approach, o controle social é seletivo, discriminatório, gerador e constitutivo de
criminalidade e estigmatizante.
O Estado na sua reação social é tão desproporcional, desmedida, acaba sendo decisiva para
a ação secundária, que é a reincidência.

(DPE-DF) Para a teoria da conformidade diferencial, a comunidade produz estímulos e pressões que
impulsionam o indivíduo à conduta criminal, mas tais impulsos são impedidos por fatores internos —
como a personalidade forte — e externos — como a coação normativa exercida pela sociedade.
(ERRADO)

A Teoria da contenção, e não da conformidade diferencial, preceitua que a sociedade produz uma
série de estímulos e pressões que impulsionam o indivíduo para uma conduta criminal, mas impedido
por fatores internos, como a personalidade forte, e externo, como a coação normativa exercida pela
sociedade.

A Teoria da conformidade diferencial, conforme Briar e Piliavin, defende a existência de um grau


variável de compromisso e aceitação dos valores convencionais que se estende desde o mero medo
do castigo até a representação das consequências do delito na própria imagem, nas relações
interpessoais, no status e nas atividades presentes e futuras. Isso significa que, em situações
equiparáveis, uma pessoa com elevado grau de compromisso ou conformidade com os valores
convencionais é menos provável que assuma comportamentos delitivos, em comparação com outra de
inferior nível de conformidade, e vice-versa.

1. Do controle social (control theorie):

a. Teoria do enraizamento social – de Travis Hirschi (1935) em que todo indivíduo é um infrator
potencial e só o medo do dano irreparável em suas relações interpessoais funciona como freio.

b. Teoria da conformidade diferencial – conforme Briar e Piliavin, existe um grau variável de


compromisso e aceitação dos valores convencionais que se estende desde o mero medo do castigo
até a representação das consequências do delito na própria imagem, nas relações interpessoais, no
status e nas atividades presentes e futuras. Isso significa que, em situações equiparáveis, uma pessoa
com elevado grau de compromisso ou conformidade com os valores convencionais é menos provável
que assuma comportamentos delitivos, em comparação com outra de inferior nível de conformidade. E
vice-versa.

c. Teoria da contenção – para esta teoria, propugnada por Reckless, a sociedade produz uma
série de estímulos, de pressões, que impelem o indivíduo para a conduta desviada (mecanismos de
pressão criminógena). Mas referidos impulsos são impedidos por certos mecanismos, internos ou
externos, de contenção que lhes isolam positivamente.

d. Teoria do controle interior – é sustentada por Reiss e tem inequívocas conexões com a
psicanálise e com a cibernética. Para o autor a delinquência é o resultado de uma relativa falta de
normas e regras internalizadas, do desmoronar de controles existentes com anterioridade e/ou de um
conflito entre regras e técnicas sociais. A desviação social é vista como a consequência funcional de
controles pessoais e sociais débeis (fundamentalmente pelo fracasso dos grupos primários).
e. Teoria da antecipação diferencial – para Glaser a decisão de cometer ou não um delito vem
determinada pelas consequências que o autor antecipa, pelas expectativas que derivam de sua
execução ou não-execução. O indivíduo se inclinaria pelo comportar delitivo quando de seu cometer
derivar mais vantagens do que desvantagens, de forma a considerar seus vínculos com a ordem social,
com outras pessoas ou suas experiências precedentes. E tais expectativas, por sua vez, dependeriam
do maior ou menor contato de cada indivíduo com os modelos delitivos, isto é, da aprendizagem ou
associação diferencial.

CRIMINOLOGIA
Etimologicamente, criminologia vem do latim crimino (crime) e do grego
logos (estudo, tratado), significando o “estudo do crime”.
A palavra “criminologia” foi pela primeira vez usada em 1883 por Paul
Topinard e aplicada internacionalmente por Raffaele Garófalo, em seu livro
CONCEITO Criminologia, no ano de 1885.
Pode-se conceituar criminologia como a ciência empírica (baseada na
observação e na experiência) e interdisciplinar que tem por objeto de
análise o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo, da
vítima e o controle social das condutas criminosas.

A criminologia é uma ciência do “ser”, empírica, na medida em que seu


objeto (crime, criminoso, vítima e controle social) é visível no mundo real e
não no mundo dos valores, como ocorre com o direito, que é uma ciência do
“dever-ser”, portanto normativa e valorativa.
A interdisciplinaridade da criminologia decorre de sua própria consolidação
MÉTODOS histórica como ciência dotada de autonomia, à vista da influência profunda de
diversas outras ciências, tais como a sociologia, a psicologia, o direito, a
medicina legal etc.
METODOLOGIA: empirismo - saber fundado na observação e na
experiência, remetendo, por isso, ao método INDUTIVO. Diferentemente do
direito, trata-se de um conhecimento “descritivo” (ligado ao “ser”) e não
“normativo” (“dever ser” - método DEDUTIVO).

Para a criminologia, o crime é um fenômeno social,


comunitário e que se mostra como um “problema” maior, a
exigir do pesquisador uma empatia para se aproximar dele e o
OBJETOS entender em suas múltiplas facetas.
Desde os primórdios A criminologia vê o crime como um problema social, um
até os dias de hoje a verdadeiro fenômeno comunitário, abrangendo quatro
criminologia sofreu elementos constitutivos, a saber:
mudanças importantes - incidência massiva na população (não se pode tipificar
em seu objeto de como crime um fato isolado);
estudo. Houve tempo Delito - incidência aflitiva do fato praticado (o crime deve causar
em que ela apenas se dor à vítima e à comunidade);
ocupava do estudo do - persistência espaço-temporal do fato delituoso (é preciso
crime (Beccaria), que o delito ocorra reiteradamente por um período significativo
passando pela de tempo no mesmo território) e
verificação do - consenso inequívoco acerca de sua etiologia e técnicas
delinquente (Escola de intervenção eficazes (a criminalização de condutas
Positiva). Após a depende de uma análise minuciosa desses elementos e sua
década de 1950, repercussão na sociedade).
alcançou projeção o A visão sobre o delinquente depende do enfoque dado por
estudo das vítimas e cada escola da criminologia:
também os
mecanismos de - Escola Clássica: criminoso era ser pecador que escolheu o
controle social, mal apesar de poder optar pelo bem;
havendo uma - Escola Positivista: criminoso era reflexo de sua deficiência
ampliação de seu Delinquente patológica (caráter biológico – hereditário ou não) ou formação
objeto, que assumiu, social (caráter social);
portanto, uma feição - Escola Correcionalista: criminoso era ser inferior e incapaz
pluridimensional e de se autodeterminar, a merecer do Estado resposta
interacionista. pedagógica e piedosa;
Atualmente, o objeto - Escola Marxista: criminoso era vítima da sociedade e das
da criminologia está estruturas econômicas (determinismo social e econômico);
dividido em quatro essa visão se desenvolveu por estudiosos de Marx, e seus
vertentes: delito, conceitos convergiram na chamada criminologia crítica;
delinquente, vítima e - Escola Atual: criminoso é homem real e normal que viola a
controle social. lei penal por razões diversas que merecem ser investigadas e
nem sempre são compreendidas.
Evolução Histórica

- Idade de Ouro ou Protagonismo da Vítima: É o período da


vingança privada, onde permitia-se a vingança como meio de
justiça. A vítima era o elemento mais importante do crime.

- Neutralização da Vítima: Ocorre com o fim da idade de


ouro, resultado do monopólio do Estado. Dá-se primazia às
ações públicas em detrimento das privadas. A vítima é
subtraída/extinta do sistema penal.

- Redescobrimento da Vítima: Pós segunda guerra mundial,


Vítima ressurge a importância da vítima, com base em duas
vertentes: 1ª político-social e 2ª acadêmica.

Processos de Vitimização

- Vitimização Primária: É aquela que se relaciona ao


indivíduo atingido diretamente pela conduta criminosa. Ou
seja, é o processo através do qual um indivíduo sofre direta
ou indiretamente os efeitos nocivos ocasionados pelo
delito.
Ex.: Lesões corporais, psicológicas etc.

- Vitimização Secundária, Revitimização, Sobrevitimização


ou Vitimização Processual: É uma consequência das
relações entre as vítimas primárias e o Estado, em face da
burocratização de seu aparelho repressivo (Polícia, Ministério
Público, Judiciário etc.). Ou seja, é entendida como o
sofrimento suportado pela vítima nas fases do inquérito e
do processo, pelas suas “instâncias formais de controle
social”, em que muitas vezes deverá reviver o fato criminoso
por meio de interrogatórios, declarações e exames de corpo de
delito, além de submeter-se a situações como presenciar a
argumentação dos defensores do autor sugerindo que a vítima
deu causa ao fato e o reencontro com o delinquente.
- Vitimização Terciária: É aquela decorrente de um excesso
de sofrimento, que extrapola os limites da lei do país, quando a
vítima é abandonada, em certos delitos, pelo Estado e
estigmatizada pela comunidade, incentivando as “cifras
negras” (crimes que não são levados ao conhecimento das
autoridades). Ou seja, é a ausência de receptividade social
em relação à vítima, que em diversos casos se vê compelida a
alterar sua rotina, os ambientes de convívio e círculos sociais
em razão da estigmatização causada pelo delito.
Ex.: a segregação social sentida pelas vítimas de crimes
sexuais e as consequências da divulgação não autorizada de
fotos ou vídeos íntimos nas redes sociais.

#SeLiga:
Vitimização Indireta: é a vitimização de pessoas próximas ou
diretamente ligadas à vítima, como seus familiares, parente e
amigos.
Heterovitimização: corresponde à “auto recriminação da
vítima” diante de um crime cometido, por meio da busca pelas
razões que a tornaram, de modo provável, responsável pela
prática delitiva.
- Controle Social Informal: É realizado pela sociedade civil
(família, escola, religião, profissão, clubes de serviço etc).
É nitidamente preventivo e educacional.
O controle social informal atua ao longo da formação do
indivíduo, transmitindo valores morais e éticos, sem a atuação
do Estado.

- Controle Social Formal: É realizado pelo Estado (Polícia,


Ministério Público, Forças Armadas, Justiça, Administração
Controle Penitenciária etc.).
Social É mais rigoroso/repressor e de conotação político-criminal.
O controle social formal entra em cena quando os controles
sociais informais se tornaram insuficientes, atuando de modo
coercitivo e impondo sanções distintas daquelas do controle
informal.

Pode ser exercido de três principais formas:


a) sanções formais (aplicadas pelo Estado, podem ser cíveis,
administrativas e/ou penais) e sanções informais (não têm
força coercitiva);
b) meios positivos (prêmios e incentivos) e meios negativos
(imposição de sanções);
c) controle interno (auto coerção e auto reprovação) e controle
externo (ação da sociedade ou do Estado, como multas e
penas privativas de liberdade).

1.4. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA


Quais são as funções da Criminologia? Para a doutrina, são três: I) Explicar e prevenir o crime;
II) Intervir na pessoa do infrator e III) Avaliar as diferentes formas de resposta ao crime.
Nestor Sampaio Penteado Filho, de uma forma bastante abrangente, afirma que a função da
Criminologia é desenhar um diagnóstico qualificado e conjuntural sobre o delito.
Primeiro, compreender cientificamente o fenômeno criminal. Segundo, intervir no
delinquente, para prevenir, bem como reprimir o crime com eficiência. Destaque-se que a palavra
delinquente não é pejorativa para a criminologia. Por fim, a terceira função da Criminologia é valorar os
diferentes modelos de respostas ao fenômeno criminal.
Portanto a Criminologia deve orientar a política criminal, para que possa realizar a prevenção
da delinquência por intermédio de políticas públicas. Constata-se, portanto, uma outra relação a política
criminal.
A Criminologia vai influenciar o Direito Penal, notadamente na repreensão das condutas
indesejadas. Muito embora a pena e a sanção penal têm um caráter preventivo, aqui está diante da
repreensão.
FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA
Compreender cientificamente o Intervir no delinquente (prevenir Valorar os diferentes modelos de
fenômeno criminal e reprimir o crime com resposta ao fenômeno criminal
eficiência)
Funções da Criminologia para Rafael Strano
Obtenção de um Resolução de Prevenir eficazmente a Intervir no criminoso e
núcleo de problemas e conflitos criminalidade; na vítima (evitar a
conhecimentos concretos; reincidência; estudar a
seguros; vitimização).

2. PREVENÇÃO

Prevenção criminal é o conjunto de medidas, públicas ou privadas, adotadas para evitar a


prática de delitos. Engloba tanto as políticas sociais para redução da delinquência quanto as
políticas criminais em torno das respostas penais adequadas. Em um Estado Democrático de Direito,
mais do que simplesmente aumentar o aparato estatal repressivo, é preciso enfrentar os fatores
criminógenos de risco com medidas de cunho não penal para o controle da criminalidade, conforme
ensina Eduardo Viana.
A doutrina fala em prevenção em três diferentes acepções:
a) prevenção como dissuasão: busca dissuadir (processo motivacional) o potencial infrator por
meio do efeito intimidatório da pena;
b) prevenção como intervenção seletiva no cenário do crime: também chamada de
dissuasão mediata ou indireta, dá-se por meio de instrumentos não penais que modificam o “cenário do
crime”, ou seja, alguns de seus fatores ou elementos (espaço físico, atitude da vítima etc.), a fim de
aumentar os riscos para o potencial infrator e diminuir os benefícios com a atividade criminosa;
c) prevenção como prevenção especial: tem como destinatário já não mais o potencial infrator,
mas o apenado, a fim de evitar sua reincidência.
Fala-se, também, em:
a) medidas prevencionistas diretas (profilaxia direta): dirigem-se à infração penal em formação
(in itinere);
b) medidas prevencionistas indiretas (profilaxia indireta): atuam de forma indireta sobre o
crime, visando a suas causas e tendo como alvo o indivíduo (leva em consideração a análise de sua
personalidade, caráter, temperamento etc.) e o meio em que habita (acesso ao emprego, à educação,
à saúde etc.).
(DP-SE-2018-Cespe) No que se refere à prevenção da infração penal no Estado democrático de
direito, julgue o próximo item. Medidas indiretas de prevenção delitiva visam atacar as causas do
crime: cessada a causa, cessam seus efeitos. (CERTO)

a. Medidas Diretas – atuam por meio da Legislação vigente, ou seja, medidas de ordem jurídica
com a finalidade clara de punir a pratica delitiva por meio da repressão. É a afirmação do próprio
Direito Penal através de sua força repressora e punitiva e a indireta visa proporcionar a sociedade
condições e qualidade de vida através de programas de cultura, lazer e outros.

b. Medidas Indiretas – visam as causas do crime, sem atingi-lo de imediato. O crime só seria
alcançado porque, cessada a causa, cessam os seus efeitos – cessa o crime – (sub lata causa tolitur
efectus). Trata-se de excelente ação profilática – preventiva –, que demanda um campo de atuação
intenso e extenso na busca de todas as causas possíveis da criminalidade, próximas ou remotas,
genéricas ou especificas. A ações indiretas devem focar no indivíduo e em seu meio social.

2.1. Modelos Teóricos de Prevenção do Delito Modelo clássico

Considera que o efeito intimidatório decorre do rigor e da severidade da pena abstratamente


prevista para o delito. Críticas: a capacidade preventiva não decorre da natureza penal ou não da
medida, mas, sim, dos resultados que alcança; elevados custos da intervenção penal; a pena é, em
realidade, reflexo do fracasso do Estado no enfretamento dos problemas sociais.

2.2. Motivo neoclássico

Centra-se no efetivo funcionamento do ordenamento jurídico e em sua percepção pelo


potencial infrator.
Críticas: a efetividade do sistema penal não enfrenta as causas reais da criminalidade; ignora
outras variáveis que têm relação com a criminalidade, a qual não decorre unicamente da efetividade, ou
não, do sistema penal.

2.3. Classificações

A doutrina propõe três modelos de classificação da prevenção criminal: dimensão clássica,


dimensão política e dimensão pluridimensional.

2.3.1. Dimensão clássica (prevenção primária, prevenção secundária e prevenção terciária)


Prevenção primária: medidas de médio e longo prazo que atingem a raiz do conflito
criminal. Investimentos em educação, trabalho, bem-estar social, etc;
Prevenção secundária: atua onde o crime se manifesta ou se exterioriza. As chamadas
“zonas quentes de criminalidade”. A prevenção secundária tem em suas principais manifestações a
atuação policial. Outros exemplos: programas de ordenação urbana e melhora do aspecto visual das
obras arquitetônicas;
Prevenção terciária: possui um destinatário específico, o recluso. Possui objetivo certo:
ressocialização do preso, evitando a reincidência.
(Delegado-SE-2018-Cespe) A prevenção terciária da infração penal consiste em medidas de longo
prazo, como a garantia de educação, a redução da desigualdade social e a melhoria das condições de
qualidade de vida, enquanto a prevenção primária é voltada à pessoa reclusa e visa à sua recuperação
e reintegração social. (ERRADO)

Primária: Ataca a raiz do conflito (educação, emprego, moradia, segurança etc.); aqui desponta a
inelutável necessidade de o Estado, de forma célere, implantar os direitos sociais progressiva e
universalmente, atribuindo a fatores exógenos a etiologia delitiva; a prevenção primária liga-se à
garantia de educação, saúde, trabalho, segurança e qualidade de vida do povo, instrumentos
preventivos de médio e longo prazo.

Terciária: voltada ao recluso, visando sua recuperação e evitando a reincidência (sistema prisional);
realiza-se por meio de medidas socioeducativas, como a laborterapia, a liberdade assistida, a
prestação de serviços comunitários etc
(DP-SE-2018-CESPE) A alteração dos espaços físicos e urbanos, como, por exemplo, a elaboração de
novos desenhos arquitetônicos e o aumento da iluminação pública, pode ser considerada uma forma
de prevenção delituosa. (CERTO)

(DP-MA-2018-CESPE) Dados publicados em dezembro de 2017 pelo Ministério da Justiça mostram


que o Brasil tem uma taxa de superlotação nos estabelecimentos prisionais na ordem de 197,4%.
Agência de Notícias, Empresa Brasil de Comunicação.

Sob o enfoque da prevenção da infração penal no Estado democrático de direito, a superlotação


carcerária aludida no fragmento de texto anterior é um problema que prejudica a prevenção terciária.

Prevenção terciária: Representa outra forma de prevenção indireta, agora voltada à pessoa do
delinquente, para prevenir a reincidência. É implementada por meio das medidas de punição e
ressocialização do processo de execução penal."
PROGRAMAS DE PREVENÇÃO
PRIMÁRIA SECUNDÁRIA TERCIÁRIA
Estratégias de prevenção de natureza
mais situacional que etiológica (não Prevenção especial do
CARACTERÍSTICA Combate as causas, a raiz do
combate a raiz do crime, mas o impede delito (ressocialização
PRINCIPAL crime – prevenção etiológica.
de se manifestar em determinadas do criminoso).
situações).
Não atua quando nem onde a vontade A mais distante das
Atua antes de o crime ser de praticar um crime se produz, senão raízes do crime.
MOMENTO
gerado. quando e onde se manifesta ou
exterioriza. Opera no âmbito
penitenciário.
Se orienta seletivamente aos grupos
O recluso (população
DESTINATÁRIO Todos os cidadãos. que ostentam maior risco de sofrer ou
encarcerada).
protagonizar um crime.

Política cultural, econômica e Política legislativa penal, ação


social (educação e policial.
socialização, casa, trabalho, Instrumentos não penais que alteram o Programas
INSTRUMENTOS bem-estar social, qualidade de cenário criminal modificando alguns dos reabilitadores,
UTILIZADOS vida). elementos do mesmo (espaço físico, ressocializações e de
Intervenção comunitária, e não desenho arquitetônico, urbanístico, inclusão.
mera dissuasão penal atitudes de vítimas, efetividade policial
(intimidação). etc.).

Efeito dissuasório indireto.


Pretende-se colocar obstáculos de todo
tipo ao criminoso no processo de
Neutralizar as causas da execução do plano criminal, mediante
FIM PERSEGUIDO Evitar a reincidência.
criminalidade. uma intervenção seletiva no cenário do
crime que encarece os custos deste para
o criminoso (ex.: incremento do risco,
diminuição dos benefícios etc.).

2.3.2. Dimensão política (modelo tradicional ou conservador, modelo liberal e modelo radical)

a) Modelo tradicional ou conservador: a prevenção deve visar à dissuasão geral e especial,


por meio do efeito intimidatório da pena de prisão.
b) Modelo liberal: a prevenção deve atuar tanto na esfera individual quanto na esfera social, por
ser o crime um problema social.
c) Modelo radical: o objetivo da prevenção deve ser a redução das desigualdades sociais, haja
vista ser o crime um produto dos grupos detentores do poder que se valem das desigualdades inerentes
às estruturas sociais vigentes.

2.3.3. Dimensão pluridimensional (prevenção por meio do sistema de justiça penal, prevenção
situacional do delito, prevenção comunitária e prevenção evolutiva ou de desenvolvimento)

a) Prevenção por meio do sistema de justiça penal: a prevenção envolve a ameaça de um


castigo (efeito intimidatório da pena), por meio de estratégias de dissuasão (consequências graves à
prática do delito), incapacitação ou inocuização (segregação do criminoso) e reabilitação
(ressocialização para permitir o retorno ao convívio social).
b) Prevenção situacional do delito: inspirada nas teorias criminológicas da eleição racional e
das atividades cotidianas, busca reduzir as oportunidades à prática do delito, modificando o “cenário do
crime”, aumentando os riscos ao potencial infrator e diminuindo suas expectativas de ganhos. Duas
modalidades: (i) prevenção situacional da recompensa, como é o caso da diminuição de caixas
eletrônicos, tinta antifurto lançada em cédulas deles subtraídas, substituição de dinheiro por cartões
magnéticos etc.; (ii) prevenção situacional do sentimento de culpa do infrator: campanhas
educativas que reforcem a reprobabilidade da conduta criminosa e influenciem a adoção do
comportamento esperado (ex.: “motorista da vez”).
c) Prevenção comunitária: enfrentamento de comportamentos antissociais por meio de
estratégias voltadas a alterar as condições sociais e instituições sociais (ex.: famílias, clubes etc.) que
neles repercutem.
d) Prevenção evolutiva ou de desenvolvimento: visa evitar o desenvolvimento do
comportamento criminoso individual, reduzindo os fatores de risco e ampliando os fatores de proteção.

2.4. Fatores Sociais da Criminalidade

Em uma perspectiva sociológica, o conhecimento dos fatores sociais criminógenos é


fundamental para guiar a implementação de políticas públicas de cunhos social, a fim de prevenir a
criminalidade. São exemplo:
a) sistema econômico: desigualdades sociais e precária situação econômica fruto de
determinada política salarial, fenômeno inflacionário, especulação financeira etc;
b) pobreza e miséria: normalmente associadas a crimes contra o patrimônio;
c) fome e desnutrição: causa de danos psicossomáticos ao indivíduo em formação;
d) habitação: precarização das condições de vida;
e) educação: tanto a formal (escolar) quanto a informal (familiar, social);
f) má vivência (conceito desenvolvido por Hilário Veiga de Carvalho): biológica, quando pode
ser étnica (ex.: ciganos), constitucional ou orgânica (ex.: andarilhos) ou de neuróticos (problemas
mentais); mesológica, nas hipóteses de infância abandonada, nomadismo (fluxo migratório),
desemprego etc.;
g) meios de comunicação: podem influenciar na criminalidade, de acordo com o conteúdo ou
forma de abordagem;
h) migração: dificuldade de adaptação e limitada absorção da mão de obra imigrante;
i) crescimento populacional desorganizado: normalmente associado à pobreza e à miséria;
j) preconceito: a discriminação é campo fértil para conflitos sociais;
k) política: grau de liberdade dos indivíduos repercute nos índices de criminalidade.

3. MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME.

Como vimos, uma das funções da Criminologia é propor modelos de reação ao delito.
Segundo a doutrina, são três os atuais modelos.
I) MODELO CLÁSSICO, DISSUASÓRIO OU RETRIBUTIVO: O objetivo deste modelo é
representar verdadeira punição ao criminoso, como forma de castigo ao prejuízo/dano causado
por este. Participam dessa relação o Estado (quem pune) e o infrator (quem sofre a punição);
II) MODELO RESSOCIALIZADOR: Busca-se aqui a ressocialização do infrator, de forma a
prepará-lo ao retorno do convívio com outras pessoas. A participação da sociedade é fundamental para
atingir o objetivo;
III) MODELO RESTAURADOR, JUSTIÇA RESTAURATIVA OU INTEGRADOR: Adoção de
técnicas alternativas de solução de conflitos, como a conciliação e a reparação do dano à vítima,
que exerce papel fundamental. O objetivo é restaurar o “status” anterior ao cometimento do
delito, com especial atenção à vítima. Ex: Lei dos Juizados Especiais Criminais e projetos de
mediação.
IV) Modelo de SEGURANÇA CIDADÃ: Protagonistas = Estado, sociedade no exercício
fiscalizatório. ATENÇÃO: doutrina minoritária esse quarto modelo.
(DP-MA-2018-CESPE) A criminologia considera que o papel da vítima varia de acordo com o modelo
de reação da sociedade ao crime. No modelo restaurativo, o foco é a participação dos envolvidos
no conflito em atividades de reconciliação, nas quais a vítima tem um papel central. (CERTO)

Modelo restaurador, integrador ou Justiça Restaurativa:

Este modelo procura restaurar ostatus quo antes da prática do delito. Para tanto utiliza-se meios
alternativos de solução. A restauração do controle social abalado pela delito se dá pela via da
reparação do dano pelo delinquente à vítima. A ação conciliadora, com a participação dos envolvidos
no conflito, é fundamental para a solução do problema criminal. Exemplo no sistema brasileiro:
composição civil dos delitos nos Juizados Especiais Criminais.

ESCOLAS DA CRIMINOLOGIA

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

ETAPA PRÉ–CIENTÍFICA e CIENTÍFICA


Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Qual o marco
divisório do período pré-científico e científico?
Etapa científica inicia com a obra do Homem delinquente que é a obra de Cesare Lombroso
de 1876. Para a maior parte da doutrina esse é o marco. A Escola clássica está aqui, na etapa pré-
científica. Os ideais iluministas influenciam essas Escolas – ler sobre o Iluminismo. Domínio da razão –
influencia demais a Escola Clássica.

LUTA DE ESCOLAS:

Linha do Tempo:

 Séc. XVIII – início do Sec. XIX: Escola Clássica


 Final do Séc. XIX e início do Séc. XX: Escola Positivista
 Séc. XX e em especial 1950: Teorias Sociológicas de Consenso
 1960: Labelling Aproach. Etiquetamento, Rotulação Social
 1970: Criminologia Crítica
 1980: Três tendências da criminologia crítica: Neorrealismo de esquerda, direito penal
mínimo e abolicionismo penal.
 1990: criminologia cultural

Na verdade, a luta foi de métodos.

Escola liberal Clássica: como “época dos pioneiros” = teorias sobre o crime, sobre o direito
penal e sobre a pena (sec. XVII e início do sec. XIX).
Autores: Feuerbach, Cesare Beccaria e Escola Clássica de direito penal na Itália.
Escola Positivista: como disciplina autônoma: teorias na Europa no final do sec. XIX e início do
Sec. XX.
Autores: Escola Sociológica Francesa (Gabriel Tarde), Escola Social na Alemanha (Franz Von
Liszt) e principalmente Positiva Italiana (Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo).

ESCOLAS DA CRIMINOLOGIA: No período pré-científico da Criminologia, tínhamos apenas


alguns estudos esparsos sobre um ou outro tema, não havendo interesse aqui para o nosso estudo. A
fase científica, segundo a doutrina, é inaugurada por duas escolas que travaram a chamada “guerra
entre escolas”: ESCOLA CLÁSSICA e ESCOLA POSITIVA (OU POSITIVISTA).

1.1. ESCOLA CLÁSSICA:

I) Obra inicial: Dos Delitos e das Penas, de Cesare Beccaria (1764).


II) Principais autores: Cesare Beccaria (período filosófico ou teórico) e Francesco Carrara
(período jurídico).
III) Ideia central: a Escola Clássica fundamentou seus ideais na racionalidade do homem.
Surgida no século XVIII, no contexto da filosofia iluminista, caracterizou-se pelo predomínio do método
dedutivo ou lógico-abstrato, focando no estudo do fenômeno criminoso e fundamentando a
responsabilidade penal segundo uma concepção contratualista (contrato social), em que o indivíduo,
dotado de livre-arbítrio (autodeterminação ou princípio do indeterminismo), ao descumprir a lei
de forma livre e consciente, submete-se à pena como resposta objetiva à prática delitiva e como
modo de restabelecimento da ordem jurídica violada. Noutras palavras, a pena — que deve ser certa,
previamente estabelecida em lei e proporcional ao crime cometido — assume um caráter
retribucionista e dissuasório. O crime seria um rompimento do pacto social. O criminoso era um
pecador que optou pelo mal. A pena era a reparação do dano causado pela violação de um contrato
e, portanto, deveria ser utilizada somente para a reparação de tal dano, por período certo e
determinado. Para Carrara, o delito não é um ente de fato, é um ENTE JURÍDICO, já que a sua
essência deve consistir necessariamente na VIOLAÇÃO DE UM DIREITO. O crime é a violação do
direito como EXIGÊNCIA RACIONAL e não como norma de direito positivo. O homem viola porque tem
VONTADE. Advém daí O LIVRE-ARBÍTRIO.
Cesare Beccaria é um grande expoente desse período. Em sua clássica obra Dos delitos e das
penas (1764), defendeu, de uma maneira geral, a humanização da pena e a limitação do poder
estatal, enfatizando: os princípios da legalidade e da anterioridade penal, com leis claras e simples;
a proporcionalidade da pena; a vedação da tortura; a finalidade preventiva da pena (utilidade),
visando evitar a reincidência (efeito dissuasório); o julgamento por autoridade judicial e o princípio da
presunção da inocência, com prisões preventivas revestidas de cautelaridade, e, não, como pena
antecipada; vedação da pena de morte, salvo em caso de instabilidade político-social e desde que seja
o único meio para dissuadir a prática do delito.
Francesco Carrara, também nesse período, concebe o delito como ente jurídico, não o
considerando como um simples fato, mas uma relação contraditória entre a conduta humana e a lei.
Nele, têm-se uma força física (movimento corpóreo de execução do crime e produção do resultado) e
uma força moral (vontade livre e consciente de delinquir).
* Nomes associados à Escola Clássica (ou Retribucionista): Cesare Beccaria, Francesco
Carrara, Jean Domenico Romagnosi, Jeremias Bentham, Franz Joseph Gall, Anselmo Von Feuerbach,
Giovanni Carmignani, Pelegrino Rossi, Emílio Brusa e Enrico Pessina.
IV) Termos que ajudam a identificar a escola na prova: racionalidade, livre-arbítrio, delito
como ente jurídico, pena para reparar o mal causado.

(MP/GO-promotor-2019-reaplicação) A chamada Escola Clássica do


Direito Penal tem como caracteres, dentre outros, os seguintes: o Direito
tem uma natureza transcendente, segue a ordem imutável da lei natural; o
delinquente é, em regra, um homem normal, que se sente livre para optar
entre o bem e o mal, e preferiu o último; os objetos de estudo do Direito
Penal são o delito, a pena e o processo. Um importante autor dessa época
é Carrara. Gabarito: certo.

Interessa notar que a doutrina aponta a exigibilidade de conduta diversa (pressuposto da


culpabilidade) como um reflexo do classicismo na dogmática jurídico-penal. Também são indicadas
duas teorias atuais que têm por base o pensamento clássico:
a) Teoria da Escolha Racional (Clark e Cornish): ela explica a conduta criminosa em uma
decisão racional dos criminosos, pela lógica da maximização dos ganhos e da redução dos custos, e,
não, a partir de tendências psicológicas ou sociais;
b) Teoria das Atividades Rotineiras (L. E. Cohen e Felson): ela também considera a prática
delitiva como produto de uma escolha racional entre custos e benefícios, mas, sob a influência da
Escola de Chicago, entende que a organização social pode facilitar a prática de determinados crimes.
ESCOLA CLÁSSICA
 Autores: Cesare Beccaria, GIandomenico Romagnosi e Francesco Carrara.
 Paradigma histórico: transformação iluminista.
Também chamada de Escola Liberal Clássica.
Filosofia do Direito penal a uma fundamentação filosófica da ciência do Direito Penal. Traz
uma contribuição muito maior ao direito penal, teoria da pena. Ideais do contrato social (Rosseau), da
divisão dos poderes (Montesquieu) e de uma teoria jurídica do delito e da pena.
 Obra Inaugural: Dos delitos e das penas (1764), de Beccaria.
Pressuposta a racionalidade do homem, haveria de se indagar, apenas, quanto a
racionalidade da lei.
Leis simples, conhecidas pelo povo e cidadãos. Para o autor, o dano social constitui elemento
fundamental da teoria do delito e a defesa social, constitui elemento fundamental da teoria da pena. A
base da justiça humana é a utilidade comum.
O crime é uma quebra do pacto, do contrato social. Serão legitimas todas as penas que
não revelem uma salvaguarda do contrato social.
O delito surge da livre vontade do indivíduo. Os clássicos acreditavam nessa vontade
racional
Critérios das penas: necessidade ou utilidade e princípio da legalidade Pena por prazo certo
e determinado, tem que ser proporcional, necessária, útil.
 GIANDOMENICO ROMAGNOSI
O princípio natural é a conservação da espécie humana, desta regra surgem relações jurídicas
que devem ser observadas. Assim, eu não posso atentar contra a vida de ninguém e ninguém deve
atentar contra minha vida.
A pena constitui um contraestimulo ao impulso criminoso.
“Se depois do primeiro delito, existisse uma certeza moral de que não ocorreria nenhum outro,
a sociedade não teria direito algum de punir o delinquente” (Giandomenico Romagnosi).

 FRANCESCO CARRARA.
Contribuições para a moderna ciência do direito penal.
O delito não é um ente de fato, mas sim um ente jurídico, porque decorre da violação de um
direito – não é o direito positivado, mas sim o direito natural, a parte teórica.
O fim da pena não é a retribuição, mas a eliminação do perigo social que sobreviria em razão
da impunidade. Se não tiver pena, incentiva a criminalidade.
O homem viola a lei porque tem vontade – livre arbítrio.
Pena na lógica de HEGEL: O crime é a negação do direito, segundo Hegel.
Assim, Carrara diz que a pena é a negação da negação ao direito.
“A reeducação do condenado pode ser um resultado acessório e desejável, mas não a função
essencial da pena.”

RESUMO - ESCOLA CLÁSSICA


- CRIME: não é um ente de fato, é um ente jurídico. Não é uma ação, é uma infração (violação ao
direito).
- LIVRE-ARBÍTRIO: homem é racional e livre em suas ações. Portanto, se escolheu cometer um
crime, é essa liberdade de escolha que permite aplicar a ele uma pena.
- PENA: retribuição jurídica, buscando um reestabelecimento da ordem violada.

A chamada Escola Clássica do Direito Penal tem como caracteres, dentre outros, os seguintes: o
Direito tem uma natureza transcendente, segue a ordem imutável da lei natural; o delinquente é, em
regra, um homem normal, que se sente livre para optar entre o bem e o mal, e preferiu o último; os
objetos de estudo do Direito Penal são o delito, a pena e o processo. Um importante autor dessa época
é Carrara.
# Escola clássica = humanização das penas. Ausência de unidade ideológica. Beccaria, Kant,
Carrara...
# Escola positiva = criminologia; multidisciplinar. Lombroso, Ferri e Garofalo.
# Escola Crítica / Terza Scuola = determinismo psicológico (reação aos motivos). Ideia de
imputabilidade.
# Escola Moderna Alemã = dogmática penal. Sistema duplo binário (pena / medida de segurança).
Função finalística da pena (prevenção geral / prevenção especial). Eliminação ou substituição das
penas de curta duração. Liszt.
# Escola Técnico Jurídica = direito como uma ciência normativa. Crime como um fenômeno jurídico.
Rocco.
# Escola Correcionalista = pena como cura do delinquente. Juiz como médico social.
# Escola da Defesa Social = defesa da sociedade; não punitivista; preventismo e individualização das
penas (reeducação).
(TJ-PR-CESPE) Com relação às escolas e tendências penais, julgue os itens seguintes.
I De acordo com a escola clássica, a responsabilidade penal é lastreada na imputabilidade moral
e no livre-arbítrio humano.

II A escola técnico-jurídica, que utiliza o método indutivo ou experimental, apresenta as fases


antropológica, sociológica e jurídica. INCORRETA. (A Escola Técnico-Jurídica teve Arturo Rocco
como seu nome principal, pregando que nenhuma ciência jurídica deveria intervir no Direito
Penal, que deve resumir-se ao que positivado. O Direito Penal não sofre intervenção da
Antropologia da sociologia. Tais intervenções são vistas na Escola Positiva (Lombroso, Ferri e
Garofalo), que possui as fases antropológica, sociológica e jurídica).

III A escola correcionalista fundamenta-se na proposta de imposição de pena, com caráter intimidativo,
para os delinquentes normais, e de medida de segurança para os perigosos. Para essa escola, o
direito penal é a insuperável barreira da política criminal. INCORRETA. (A Escola Correcionalista
almeja a correção ou emenda do delinquente, buscando a sua compreensão e proteção,
buscando-se a recuperação para o convívio em sociedade, em vez de intimidação).

IV O movimento de defesa social sustenta a ressocialização do delinquente, e não a sua


neutralização. Nesse movimento, o tratamento penal é visto como um instrumento preventivo. (O
movimento surge após a Segunda Guerra Mundial, liderado por Fillipo Gramatica e Marc Ancel.
O Direito Penal deve ser um instrumento preventivo, tendo como foco evitar que o criminoso
volte a delinquir, rejeitando-se o viés meramente retributivo)

Estão certos apenas os itens I e IV

(DPU-CESPE) A respeito do conceito e dos objetos da criminologia, julgue o item a seguir. Para a
escola clássica, o modelo ideal de prevenção do delito ou do desvio é o que se preocupa com a pena e
seu rigor, compreendendo-a como um mecanismo intimidatório; já para a escola neoclássica, mais
eficaz que o rigor das penas é o foco no correto funcionamento do sistema legal e em como esse
sistema é percebido pelo desviante ou delinquente. (CERTO)

Principais características das duas escolas:

Escola clássica: O crime: É um ente jurídico (decorre da violação de um direito), o criminoso: É ser
livre que pratica o delito por livre escolha, a pena: baseada no livre arbítrio (retribuição). Método:
Abstrato e dedutivo. Autores: Beccaria, Carrara e Fuerbach.

Escola positiva (neoclássica): O crime: é um fato humano; o criminoso: Não é dotado de livre
arbítrio, é um ser anormal sob a ótica biológica e psicológica, a pena: baseada no determinismo
(defesa do corpo social). Método: Empírico e indutivo. Autores: Lombroso, Ferri e Garofalo. (ideia
de criminoso nato – expressão dada por Ferri).

1.2. ESCOLA POSITIVA, Positivista ou Neoclássica:

I) Obra inicial: O Homem Delinquente, de Lombroso (1876).


II) Principais autores: Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo.
III) Resumo da escola: a) Lombroso: o crime é um fenômeno biológico e não um ente
jurídico (como sustentavam os clássicos), razão pela qual o método que deve ser utilizado para o
seu estudo havia de ser o experimental ou método empírico-indutivo (indutivo-experimental ou
indutivo-quantitativo). Lombroso conceituava o delinquente como um animal selvagem, um ser
atávico, já predisposto ao crime. A figura do criminoso torna-se o centro do estudo da criminologia, com
predomínio da crença no determinismo (negação do livre-arbítrio) e na necessidade de tratamento
do criminoso.
A principal contribuição deste autor foi a adoção do método empírico. b) Ferri: ao contrário de
Lombroso, Ferri evita reduzir a explicação da criminalidade em questões antropológicas, dando ênfase
nas ciências sociais. Assim, a criminalidade decorre de fatores antropológicos, físicos e sociais.
Segundo o autor, há cinco categorias de delinquentes: NATO, LOUCO, HABITUAL, OCASIONAL e
PASSIONAL; c) Garofalo: o crime sempre está no indivíduo. O autor faz uso da expressão
temibilidade (perversidade constante e ativa do delinquente e a quantidade do mal previsto que se
deve temer por parte deste delinquente). A temibilidade é fundamento para a medida de segurança
(meio de contenção). Garofalo também cria a expressão delito natural, assim conceituada: a violação
daquela parte do sentido moral que consiste nos sentimentos altruístas fundamentais de piedade e
probidade, segundo o padrão médio em que se encontram as raças humanas superiores, cuja medida é
necessária para a adaptação do indivíduo à sociedade.
IV) Pena: para os positivistas, a pena tem caráter curativo, de medida de segurança, e deve
durar por tempo indeterminado (até a cura).
Costuma-se dividir a Escola Positiva em três vertentes:
a) antropológica ou antropobiológica: explicando o fenômeno criminal a partir de fatores
biológicos e dados estatísticos, ela tem em Cesare Lombroso (1835-1909) o seu principal expoente;
b) sociológica: é capitaneada por Enrico Ferri (1856-1929) e sua obra Sociologia Criminale;
c) jurídica: é liderada por Rafaelle Garofalo (1852-1934) e sua obra Criminologia.
V) Termos que ajudam a identificação da escola na prova: animal selvagem (Lombroso), ser
atávico (Lombroso), temibilidade (Garofalo), delito natural (Garofalo) e pena como medida de
segurança (Escola Positiva como um todo).

Escola Clássica: Escola Positiva


Entendia o crime como um conceito meramente Destacou-se o método experimental, no qual o
jurídico, tendo como sustentáculo o direito crime e o criminoso deveriam ser estudados
natural. Para Francesco Carrara (um dos individualmente, inclusive com o auxílio de
principais representantes da Escola Clássica), outras ciências. Ganhou relevo o determinismo,
crime é "a infração da lei do Estado promulgada negando-se o livre-arbítrio, haja vista que a
para proteger a segurança dos cidadãos, responsabilidade penal se fundamentava na
resultante de um ato externo do homem, positivo responsabilidade social, no papel que cada ser
ou negativo, moralmente imputável e humano desempenhava na coletividade.
politicamente danoso". Predominava a concepção
do livre-arbítrio, isto é, o homem age segundo a Principais expoentes: Cesare Lombroso (fase
sua própria vontade, tem a liberdade de escolha antropológica), Enrico Ferri (fase sociológica) e
independentemente de motivos alheios Rafaelle Garofalo (fase jurídica).
(autodeterminação).
Cesare Lombroso (1835-1909)
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Qual a correlação
com o conceito de criminoso formulado por Lombroso?

Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Cite, além de
Lombroso, dois expoentes da escola positiva, mencionando cada fase.

Tido como pai da criminologia e criador também da antropologia criminal, o médico italiano
defendia o determinismo biológico no âmbito criminal (e, não, o livre-arbítrio esgrimido pela Escola
Clássica).
Com sua obra L’Uomo Delinquente (1876), desenvolveu, sob a influência da fisionomia e da
frenologia, a concepção de criminoso nato (termo utilizado primeiro por Enrico Ferri, na obra Os
criminosos na arte e na literatura, de 1881) a partir do estudo da anatomia dos criminosos e da
identificação de seus traços atávicos simiescos (reprodução de características do homem primitivo e de
animais), que explicariam o seu comportamento selvagem.
Nessa ordem de ideias, aponta como características físicas do homem delinquente a existência
de mandíbula grande, ossos do rosto pronunciados, sobrancelhas fartas, orelhas grandes e
deformadas, molares salientes etc. Também cita características anímicas do criminoso, como a
analgesia (sensibilidade à dor diminuída), a tendência a fazer tatuagens, a falta de senso moral, o
caráter impulsivo, a crueldade etc., indicando a epilepsia como fator relevante na origem da
criminalidade. Classifica os criminosos em: natos, loucos, passionais e ocasionais.
a) criminoso nato: a expressão, inicialmente concebida por Enrico Ferri e difundida por Cesare
Lombroso, diz respeito àquele que é geneticamente determinado à delinquência, podendo ser
identificado a partir de suas características físicas e fisiológicas (tamanho da mandíbula, estrutura óssea
etc.).
b) criminoso louco: é o alienado mental, “louco moral” (perverso), que deve ser internado em
manicômio, em vista da sua periculosidade;
c) criminoso de ocasião ou ocasional: embora tenha predisposição hereditária, realiza a
prática criminosa de maneira eventual, por influência de circunstâncias ambientais;
d) criminoso passional: age impetuosamente, de forma impulsiva, por uma questão
passional (paixão);
e) criminoso habitual: faz do crime o seu meio de vida.
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Qual a
classificação de criminosos formulada por Cesare Lombroso?

A distinção entre criminoso e não criminoso é feita, portanto, a partir de anomalias e estigmas.
Para o positivismo antropológico de Lombroso, o delito é um fenômeno biológico (e, não, um ente
jurídico, como na Escola Clássica), do que resulta que determinados indivíduos seriam mais propensos
a delinquir, de acordo com as suas características físicas e psíquicas. Frise-se, no entanto, que,
posteriormente, Lombroso acabou reconhecendo a influência de causas sociais para a criminalidade.
Apesar da grande crítica a muitas das concepções lombrosianas, é inegável sua grande
contribuição com o desenvolvimento do método empírico-indutivo (ou indutivo-experimental) utilizado
em suas pesquisas. É interessante notar, outrossim, a influência sobre a criminologia clínica e o
correlato desenvolvimento de estudos biotipológicos, endocrinológicos e psicopatológicos, merecendo
menção, ainda, a teoria da bioantropologia moderna, que promove estudos a partir do DNA dos
indivíduos.
Enrico Ferri (1856-1929)

Autor do livro Sociologia Criminale (1914), aponta como causas do delito os fatores
antropológicos, sociais e físicos ou telúricos (que derivam da natureza, como o clima, a temperatura, as
estações do ano etc.). Defende o determinismo social e a tese de negativa do livre-arbítrio,
recusando a ideia de que o crime seria fruto da liberdade de escolha do delinquente.
Atribui-se a Ferri a Lei da Saturação Criminal, segundo a qual há delitos que são cometidos em
determinadas condições sociais e, em circunstâncias excepcionais do meio social, pode haver um
aumento nas taxas de criminalidade (sobressaturação criminal).
A par disso, é de se notar que Ferri relaciona o determinismo ao crime e à periculosidade do seu
autor, de modo que a pena deve visar o delinquente, e, não, o delito (fato). Por isso, é necessária a
neutralização do criminoso, segregando-o do convício social como uma forma de defesa da sociedade.
A influência do pensamento de Ferri é perceptível na teoria dos substitutivos penais, segundo a
qual deve haver uma priorização dos meios preventivos no enfrentamento da criminalidade, com a
adoção de medidas de ordem econômica, política, científica, religiosa, educativa etc.
Assim como Lombroso, Ferri fala na figura do criminoso nato (a expressão, repise-se, é atribuída
primeiro a Ferri, na obra Os criminosos na arte e na literatura, de 1881). Distancia-se de Lombroso, no
entanto, porque foca no aspecto social (determinismo social), enquanto a concepção lombrosiana está
centrada no fator individual (antropologia criminológica). Note-se, porém, que Ferri, à semelhança de
Lombroso, classifica os criminosos em: natos, loucos, passionais, ocasionais e habituais.
(TJBA-CESPE) A explicação do crime como fenômeno coletivo cuja origem pode ser encontrada nas
mais variadas causas sociais, como a pobreza, a educação, a família e o ambiente moral, corresponde
à perspectiva criminológica denominada sociologia criminal.

CRIMINOLOGIA SOCIALISTA: No fim do século XIX surge, ainda, a criminologia socialista em sentido
amplo: Explica o crime a partir da natureza da sociedade capitalista. Sua crença baseia-se no
desaparecimento sistemático ou redução do crime depois de instaurado o socialismo

A Labeling Approach Theory, ou Teoria do Etiquetamento Social, é uma teoria criminológica marcada
pela ideia de que as noções de e são construídas socialmente a partir da definição legal e das ações
de instâncias oficiais de controle social a respeito do comportamento de determinados indivíduos.
Segundo esse entendimento, a criminalidade não é uma propriedade inerente a um sujeito, mas uma
“etiqueta” atribuída a certos indivíduos que a sociedade entende como delinquentes. Em outras
palavras, o é aquele rotulado como tal.

A Ecologia Criminal, expressão também utilizada para se referir ao pensamento da Escola de


Chicago, “é o próprio princípio ecológico que, aplicado aos problemas humanos e sociais, postula a sua
equacionação na perspectiva do equilíbrio duma comunidade humana com o seu ambiente concreto”
(DIAS;ANDRADE, 1997, p. 270). Explica Davi de Paiva Costa Tangerino (2011, p. 115): “ecologia é o
estudo dos seres vivos, não como indivíduos, mas como membros de uma complexa rede de
organismos conexos’, e pode ser dividida em vegetal, animal e, de acordo com os sociólogos de
Chicago, humana”. (...) Surge então uma das principais correntes teóricas oriundas da Escola de
Chicago, a Ecologia Criminal. Da ecologia os autores buscam os conceitos de simbiose e de invasão,
dominação e sucessão. Concluindo que o crime não depende unicamente do indivíduo, mas muito
mais do ambiente e grupos a que pertence.

Raffaele Garofalo (1851-1934)

Ministro da Corte de Apelação de Nápoles e autor da obra Criminologia (1885), é tido como o
responsável pelo surgimento da palavra criminologia, que, na sua concepção, significava a ciência da
criminalidade, do delito e da pena.
Para Garofalo, o crime deriva da natureza degenerada do indivíduo, representando um sintoma
de uma anomalia moral ou psíquica. Enfatiza, pois, o elemento psicológico, criando o conceito de
temibilidade ou periculosidade e defendendo a medida de segurança como nova modalidade de
sanção penal, centrada na necessidade de tratamento do criminoso. No mais, reforça a ideia de
prevenção especial como finalidade da pena.
Também é atribuída a Garofalo a classificação do delito em duas espécies:
a) delitos legais: eles não ofendem o senso comum de moralidade, altruísmo ou piedade, de
sorte que a sua tipificação como crime pode variar de localidade para localidade. É dizer, a depender da
vontade política de um cada Estado, poderão, ou não, ser definidos como crime;
b) delitos naturais: eles ofendem o senso comum de moralidade, altruísmo ou piedade,
independentemente da época ou localidade.
Quanto à classificação dos criminosos, Garofalo fala em: assassinos, violentos (enérgicos),
ladrões (neurastênicos) e lascivos (cínicos).
a) criminoso assassino: é o criminoso típico, comportamento egoísta e mentalidade próxima
à de uma criança;
b) criminoso enérgico ou violento: falta-lhe compaixão, embora presente o “senso moral”;
c) ladrão ou neurastênico: não apresenta “senso moral”, é ímprobo.
(MP/GO-promotor-2019-reaplicação) Dentre outros, são caracteres da Escola Positiva: o
entendimento do Direito Penal como um produto social, obra humana; o delito é um fenômeno natural e
social (fatores individuais, físicos e sociais); a pena é um meio de defesa social, com função preventiva.
Podem ser citados como importantes expoentes da Escola Positiva Cesar Lombroso e Enrico Ferri.
Gabarito: certo.

(DP/ES-delegado-2019-Instituto Acesso) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator


como uma realidade biopsicopatológica, considerando o determinismo biológico e social. Gabarito:
certo.
Refere-se à porcentagem de crimes não solucionados ou punidos, à
Cifra Negra existência de um significativo número de infrações penais desconhecidas
"oficialmente". É a “mãe” de todas as cifras.
Tratam-se dos crimes que chegam ao conhecimento da autoridade policial,
Cifra Cinza
entretanto não prosperam na fase processual.
Trata-se especificamente da criminalidade cometida pelas classes
Cifra Dourada
privilegiadas, referindo-se também a expressão “crimes de colarinho
branco”.
Como exemplo pode-se citar crimes como: sonegação fiscal, lavagem de
dinheiro, crimes eleitorais.
Dizem respeito aos crimes ambientais que não chegam ao conhecimento das
Cifra Verde
autoridades.
São os crimes cometidos por funcionários públicos, onde geralmente a vítima
Cifra Amarela deixa de denunciar o fato às autoridades competentes por medo de
represálias.
Cifra Rosa Tratam-se dos crimes com viés homofóbico.
Contrapõem-se aos chamados “crimes do colarinho branco”, dizem respeito
aos pequenos crimes comuns praticados por pessoas economicamente
Cifra Azul
desabastadas e se verifica como uma alusão aos macacões azuis utilizados
nas fábricas dos Estados Unidos.

a) o direito penal é obra humana;


b) a responsabilidade social decorre do determinismo social;
c) o delito é um fenômeno natural e social (fatores biológicos, físicos e sociais);
d) a pena é um instrumento de defesa social (prevenção geral);
e) método indutivo-experimental;
f) os objetos de estudo da ciência penal são o crime, o criminoso, a pena e o processo;
g) justifica-se a intervenção estatal em razão da periculosidade do indivíduo.
h) a medida decorrente de um crime não possui um prazo determinado, pois deve perdurar enquanto
não cessada a periculosidade;

1.3. Escola de Lyon (Escola Antropossocial ou Criminal-Sociológica)

Tendo como seu principal expoente Alexandre Lacassagne (1843-1924), a Escola de Lyon
defende que o delinquente apresenta uma predisposição pessoal para o crime, que permanece
LATENTE e AFLORA de acordo com sua interação com o meio social. Destarte, reconhece um
aspecto patológico da delinquência, mas enfatiza a importância do fator social para a
criminalidade. Daí a célebre frase de Lacassagne, para quem “as sociedades têm os criminosos que
merecem”; é interessante, ademais, a analogia que faz entre o crime e os micróbios, que permanecem
inócuos até o advento de condições (ambiente) que propiciem sua manifestação e desenvolvimento.
* Principais nomes da Escola de Lyon: Alexandre Lacassagne, Aubry, Martin y Locard, Bournet y
Chassinand, Coutagne, Massenet, Manouvrier, Letorneau e Topinard.

1.4. Terza Scuola Italiana (“Terceira Escola Italiana”)

Remontando ao início do século XX, a Terza Scuola Italiana (“Terceira Escola Italiana”) busca
conciliar as ideias clássicas e positivistas e reconhece o crime como um fenômeno individual e
social, fundamentando a pena na responsabilidade moral do delinquente, mas com base no
DETERMINISMO. Ainda quanto à pena, atribui-lhe caráter aflitivo com a finalidade de defesa social;
para o controle da criminalidade, apregoa a necessidade de uma reforma social. No mais, é
característica dessa escola de pensamento a distinção entre imputáveis e inimputáveis.
* Principais nomes da Terza Scuola Italiana (“Terceira Escola Italiana”): Bernardino Alimena,
Giuseppe Impallomeni e Manuel Carnevale.

1.5. Escola Técnico-Jurídica

Surgida em 1905 como uma reação à Escola Positivista, compreende o crime como uma relação
jurídica, de conteúdo individual e social, e a pena como consequência e reação ao crime, com a
finalidade de prevenção geral e especial.
Defendeu a autonomia da ciência penal, apontando que o Direito Penal se deve limitar ao estudo
do direito positivo (exegese, dogmática e crítica).
* Principais nomes da Escola Técnico-Jurídica: Arturo Rocco, Manzini, Massari, Detiala, Cicala,
Vanini e Conti.

1.6. Escola Sociológica Alemã ou Política Criminal

Também chamada de Escola de Política Criminal, Escola Moderna, Nova Escola ou Escola de
Marburgo, a Escola Sociológica Alemã foi capitaneada por Franz Von Lizst (1851-1919), célebre por
sua aula inaugural em Marburgo (daí falar-se em Programa de Marburgo), em 1882, intitulada “A ideia
de fim no Direito Penal”.
Liszt — que também se notabilizou pela tentativa de criar uma ciência global do Direito Penal,
em negativa ao determinismo positivista — propôs uma investigação sociológica do delito, sem
abandonar o seu estudo dogmático.
Refutou, pois, a existência de um tipo antropológico de criminoso, sustentando a preponderância
de fatores sociais.
Nesse sentido, falou em delito de ocasião ou momento (em que há prevalência do impulso
exterior) e em delito crônico ou por estado ou natureza (quando o deito é oriundo preponderantemente
da personalidade ou predisposição do criminoso, e, não, de impulso exterior).
Apregoando a necessidade de implementação de políticas sociais como principal fator no
combate à criminalidade, propõe, em substituição à pena retributiva da Escola Clássica, a ideia de uma
pena finalista, que seria justa quando for necessária a atingir o fim a que é dirigida, qual seja, a
manutenção da ordem jurídica e do Estado, afora a proteção coletiva. Focou na prevenção especial,
mediante a adaptação artificial (conversão do criminoso em membro útil à sociedade) ou a
inocuização (retirada do convívio social). E, a partir da finalidade preventiva da pena (com crítica a
penas de curta duração, por faltar-lhes qualquer finalidade), esgrimiu o seu cumprimento conforme três
tipos de delinquentes: (i) delinquente ocasional (pena como recordação para que não pratique novos
delitos), (ii) delinquente corrigível (pena visa à ressocialização do criminoso) e (iii) delinquente habitual
(pena visa à inocuização do criminoso, retirando-o do convívio social). Essa finalidade, vale notar, se
mostra presente tanto na cominação da pena (advertência ou intimidação) quanto no momento da sua
execução (confiança dos cidadãos e efeito intimidatório, afora um sentimento de justiça para o
ofendido).
(MP/SC-promotor-2019) Para Liszt, o fundamento da pena é orientado às finalidades de: a)
ressocialização dos delinquentes suscetíveis de socialização; b) intimidação dos que não têm
necessidade de socialização e; c) neutralização dos não suscetíveis de socialização. Gabarito: certo.

No mais, impende notar que a Escola Sociológica Alemã substitui a ideia de livre-arbítrio da
Escola Clássica pela ideia de normalidade, chancelando a distinção entre imputabilidade e
inimputabilidade e indicando a aplicação da pena às pessoas “normais” e da medida segurança às
pessoas “perigosas” (periculosidade).
(MP/GO-promotor-2019-reaplicação) Podem ser citados como caracteres da Escola Moderna Alemã:
a distinção entre o Direito Penal e as demais ciências criminais - criminologia; o delito como um
fenômeno humano-social e fato jurídico; a imputabilidade e a periculosidade; a pena com caráter
defensivo, orientada conforme a personalidade do delinquente. Gabarito: certo.

a) o método indutivo-experimental para a criminologia;

b) a distinção entre imputáveis e inimputáveis (pena para os normais e medida de segurança para os
perigosos);

c) o crime como fenômeno humano-social e como fato jurídico;

d) a função finalística da pena – prevenção especial;

e) a eliminação ou substituição das penas privativas de liberdade de curta duração.

1.7. Escola Correcionalista

Tendo origem alemã — com a obra Comentatio na poena malum esse debeat , publicada em
1839 por Cárlos Davis Augusto Röder, sob a influência da filosofia panteísta de Karl Christian Friedrich
Krause —, a Escola Correcionalista acabou encontrando maior aceitação na Espanha (notadamente
em vista da tradução da obra para o espanhol, por Francisco Giner de los Ríos). Idealiza o
desenvolvimento da piedade e do altruísmo, compreendendo a pena como forma de correção moral.
Seus três principais alicerces são:
a) o delinquente como portador de patologia de desvio social: os delinquentes, em vista das
“falhas pessoais” que o impedem de se comportar de acordo com as mais elementares regras de vida
em sociedade, necessitam de medidas assistenciais para sanar essa debilidade;
b) a pena como remédio social: se o crime é uma doença no corpo social, a pena é um
remédio para tratar o criminoso e curar a patologia do desvio social de que é portador. Por isso,
deve ser constantemente adaptada ao estágio do indivíduo e ter duração indeterminada, pelo tempo
necessário para “curá-lo” e permitir que aja conforme os ditames da sociedade;
c) o juiz como médico social: cabe ao magistrado aplicar o remédio social ao portador da
patologia de desvio social. Sua missão seria, pois, higienista e terapêutica, demandando conhecimento
interdisciplinar (sociologia, psicologia, antropologia etc.) e autorizando um agir sobre os males
presentes (saneamento social) ou sobre perigos que ameaçam a sociedade (profilaxia social). Em um
pensamento típico do Direito Penal do autor, as medidas curativas deveriam incidir sobre pessoas que
praticassem condutas que exteriorizem a patologia de desvio social, mesmo que elas não estejam
tipificadas como crime.
* Principais nomes da Escola Correcionalista: Giner de los Ríos, Pedro Dorado Montero,
Concepción Arenal, Romero Gíron, Alfredo Calderon, Luis Silvela, Félix de Aramburu y Zuloaga,
Rafael Salillas e Luis Jiménez de Asúa.
De resto, apontam-se como contribuições da Escola Correcionalista para o Direito Penal
brasileiro:
a) humanização das penas, com proscrição às penas de prisão perpétua ou de morte (salvo
em caso de guerra declarada), na forma do inciso XVII do art. 5º da CRFB;
b) a execução penal dirige-se a proporcionar condições para a harmônica integração
social do condenado e do internado (art. 1º da LEP);
c) institutos da liberdade condicional e da progressão de regime, de acordo com o
desenvolvimento do condenado;
d) responsabilização de adolescentes por atos infracionais.

1.8. Escola da Nova Defesa Social

Surge após a 2ª Guerra Mundial com o intento de modernização e humanização do Direito,


mormente quanto às medidas punitivas. Repele a ideia de um sistema penal repressivo e foca na
finalidade de proteção da sociedade contra as práticas criminosas, em vez da punição do delinquente.
Para isso, propõe um sistema preventivo e de intervenções (re)educativas, de forma individualizada e
humanitária, com o objetivo de fazer com que o delinquente assuma sua responsabilidade com a
sociedade (livre-arbítrio), integrando-o ao convívio social (pedagogia da responsabilidade). Portanto, a
Escola da Nova Defesa Social centra-se na prevenção do delito, na ressocialização do criminoso e na
garantia dos seus direitos individuais.
* Principais nomes da Escola da Nova Defesa Social: Adolphe Prins (1845-1919), Filippo
Gramatica (1901-1979) e Marc Ancelm (1902-1990).

1.9. Movimento Psicossociológico

Liderado pelo sociólogo francês Jean-Gabriel Tarde (1843-1904), opôs-se ao determinismo


biológico e social defendido pela Escola Positiva, apregoando a preponderância dos fatores sociais
sobre os fatores físicos e biológicos da criminalidade.
Em sua obra As leis da imitação (1890), Jean-Gabriel Tarde propugnou a lei da imitação (ou da
integração social), segundo a qual, assim como ocorre com todo comportamento social, o criminoso
imitaria, de modo consciente ou inconsciente, o comportamento criminoso já praticado. Daí a sua
célebre frase “todo mundo é culpável, exceto o criminoso” (criminoso como receptor passivo dos
impulsos delitivos).
Pertinente referir que o Movimento Psicossociológico influenciou a teoria da associação
diferencial, atribuída a Edwin Sutherland (1883-1950), que se diferencia das ideias de Tarde porque,
para Sutherland, haveria a necessidade de um processo de comunicação pessoal (falaremos sobre o
tema mais à frente).

1.10. Movimento Lei e Ordem

Capitaneada pelo alemão Ralf Dahrendorf (1929-2009), o Movimento Lei e Ordem (também
chamado de Movimento da Lei e da Ordem) idealiza um direito penal máximo, com a expansão das
normas incriminadoras e a exasperação do rigor das sanções penais, a fim de combater eficazmente a
criminalidade. Tem a pena como um castigo; a crimes graves, penas severas. Fala em
estabelecimentos penais de segurança máxima (notadamente para crimes com violência) e salienta que
as pequenas infrações, quando toleradas, abrem espaço à prática de crimes mais graves. Nessa toada
mais severa, defende a ampliação do espectro de prisões provisórias, a fim de que represente uma
resposta penal diante da prática do delito.
(TJ/PA-juiz-2019-CEBRASPE) O movimento Tolerância Zero parte da ideia de que o Estado não deve
negligenciar fatos criminosos, por mais insignificantes que sejam, já que esses fatos contêm em si uma
fonte de irradiação da criminalidade. Gabarito: certo.

O Movimento Lei e Ordem teve grande aceitação nos Estados Unidos (em especial na década
de 70) e inspirou a política de tolerância zero, adotada em Nova Iorque (1991) pelo então prefeito
Rudolph Giuliani, a qual obteve importante redução dos índices de criminalidade. Entretanto, a crítica
que se faz a esse Movimento é a reificação (coisificação) do criminoso, tratado como um verdadeiro
inimigo do Estado (Direito Penal do Inimigo).
No Brasil, cita-se como reflexo desse movimento a Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº
8.072/1990), dentre vários outros Diplomas.

GIRO SOCIOLÓGICO DA CRIMINOLOGIA ou Teorias


Macrossociológicas (A Sociedade Criminógena)

1. Introdução

Explicam a criminalidade como um fenômeno social, promovendo uma análise da sociedade


criminógena, nas perspectivas etiológicas (causas) ou interacionistas (reações sociais).
Com a evolução e o amadurecimento das pesquisas, temos o chamado giro sociológico da
Criminologia, ocasião em que os objetos de estudo foram ampliados a fim de alcançar também a vítima
e o controle social. Neste sentido, surgem dois grupos de teorias: as Teorias do Consenso e as
Teorias do Conflito. Quais são os ideais comuns das escolas que pertenceram a cada uma dessas
teorias? Teorias do Consenso: a premissa é de que a sociedade é formada pelo consenso entre
os indivíduos, pela livre vontade. Todo elemento na sociedade tem sua função determinada. São
quatro os principais estudos das Teorias do Consenso, funcionalistas ou de integração: Escola de
Chicago, Teoria da Associação Diferencial, Teoria da Anomia e Teoria da Subcultura
Delinquente. Teorias do Conflito: a premissa aqui diverge das teorias do consenso. A sociedade não
é formada pela livre vontade, e sim pela coerção, pela imposição de uns membros aos outros.
Destacamos duas teorias a serem estudadas da Teoria do Conflito: Teoria do Labelling Approach e
Teoria Crítica (Criminologia Crítica, Criminologia Radical ou Nova Criminologia).
Teorias Criminológicas Sociológicas ou Macrossociológicas: aquelas que surgiram pós período da
Lutas das Escolas, ou seja, posteriores à Escola Clássica e Positiva e, por isso, as chamam de teorias
modernas. De acordo com os doutrinadores, essas teorias se importam com o contexto social em
que o criminoso está inserido, sendo que, o delito ocorre por múltiplos fatores. Até porque, o foco é
o contexto social que envolve o criminoso. Os autores vão dizer que essas teorias de cunho sociológico
causam uma ruptura trazendo uma virada sociológica ou giro sociológico. Isso porque, elas
rompem com o mito da causalidade, discutido pelo modelo etiológico, aceitando que a explicação
criminológica NÃO se subordina à determinismos e previsibilidade, mas apenas ao da
probabilidade, por isso, ciência. Para os autores, estão inseridas neste modelo moderno, as:
Teorias do consenso: acredita-se que a Teorias do conflito: A sociedade não é formada
sociedade foi formada por um consenso entre por um consenso e sim pela coerção, imposição
indivíduos e, todo elemento, indivíduo, possui de membros dessa sociedade sobre os demais.
importância na estrutura social.
teorias do consenso, funcionalistas ou de teorias do conflito social: mais “progressistas”
integração: mais “conservadoras”, digamos e também ditas “teorias de cunho
assim, e de cunho funcionalista, trabalham um argumentativo”, sublinham as constantes
conceito de causa e efeito (matriz etiológica), mudanças a que está sujeita a sociedade, diante
enfatizando uma análise das consequências do da permanente luta pelo poder, em tensões que
delito. Partem da premissa de que a sociedade, demandam o controle social pela força e coerção
por meio do consenso, funciona em harmonia a fim de garantir a harmonização social, sem
(estrutura estável, perene). Noutras palavras, a maior ênfase na voluntariedade dos indivíduos.
finalidade da sociedade é atingida quando as Noutras palavras, não há, na sociedade, um
pessoas partilham objetivos comuns e aceitam as senso comum, mas uma imposição pela classe
normas vigentes na sociedade. dominante; a harmonia social é fruto da força
Ex.: Escola de Chicago, teoria da associação estatal, da coerção. Ex.: teoria crítica ou radical
diferencial, teoria da subcultura delinquente e e teoria do etiquetamento ou da rotulação
teoria da anomia; social (labelling approach).
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca:
PCSP - Disciplina: Criminologia - Em que
consiste a teoria do consenso?
(DP-SE-CESPE) As teorias sociológicas de consenso vinculam-se a orientações ideológicas e
políticas progressistas. Essas teorias consideram que os objetivos da sociedade são atingidos
quando as instituições funcionam e os indivíduos, que dividem os mesmos valores, concordam com as
regras de convívio. (ERRADO) – São teorias do conflito que possuem políticas progressistas!!

(DP-SE-CESPE) Relacionada a movimentos conservadores e a orientações políticas também


conservadoras, a teoria sociológica do conflito considera que a harmonia social advém da coerção e do
uso da força, pois as sociedades estão sujeitas a mudanças contínuas e são predispostas à
dissolução. (ERRADO)

As teorias do consenso partem do pressuposto em que existe um consenso com relação as regras
sociais a serem seguidas, o questionamento ou resistência a tais regras não são considerados como a
causa ou concausa da criminalidade. Tais teorias consideram que os objetivos da sociedade são
atingidos quando as instituições funcionam, não há necessidade de transformação da sociedade.
Nesse sentido, existe uma perspectiva conservadora nas teorias do consenso, diferentemente do ideal
progressista que está ligada à visão de progresso infinito das sociedade mediante transformações
econômica, política e social. Atualmente, a visão progressista está voltada para a luta por direitos civis
e individuais, bem como a movimentos sociais, como o feminismo, o ambientalismo, o secularismo, o
movimento LGBT e o movimento negro, entre outros. Portanto, as visões progressistas identificam-se
com as teorias do conflito.

Teorias do Conflito
Por sua vez, afirma que o entendimento social decorre da imposição de alguns valores e sujeição de
outros. São teorias de cunho revolucionário, que partem da ideia de que os membros do grupo não
compartilham dos mesmos interesses da sociedade, e com isso o conflito seria natural, às vezes até
mesmo desejado, para que, quando controlado, leve a sociedade ao progresso.

2. Teorias do Consenso, funcionalistas ou de integração

2.1. Escola de Chicago: (1920-1940)


Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Na teoria da
escola de Chicago, o que impulsiona a criminalidade?

Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Por que a cidade
de Chicago foi escolhida, especificamente, para ser objeto de estudo e desenvolvimento dessa
teoria?

Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Os estudos
científicos da escola de Chicago foram patrocinados por algum setor específico?

Também chamada de Teoria Ecológica ou Teoria da Ecologia Criminal, a Escola de Chicago


tem como objeto central a análise das cidades e a sua contribuição para o fenômeno da
criminalidade. Os principais autores da Escola de Chicago são: William Thomas, Robert Park, Ernest
Burguess, Clifford Shaw e Henry Mackay.
Surgiu nas décadas de 20 e 30 do século XX, notadamente dos estudos sobre a “sociologia
das grandes cidades” pelo Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, que cuidava da
influência do entorno urbano sobre a conduta humana.
Para William Thomas, o meio ambiente interferiria nas taxas de criminalidade – os camponeses
recém-chegados não encontrariam o “seu lugar” (choque cultural), descambando em problemas sociais
como o alcoolismo e suicídios.
As teorias ecológicas em geral se preocupam com o meio ambiente e sua influência sobre a
delinquência. Nesse sentido o meio ambiente físico, social e cultural teriam influência direta na
sociedade que seria um “superorganismo” (terminologias das ciências naturais para as ciências sociais
– típico do positivismo) que deveria viver em um “equilíbrio biótico”, com todas as suas partes bem
funcionando. Parte-se, aqui, do pressuposto do consenso, de que a sociedade não seria composta de
pessoas reais em conflito umas com as outras (luta de classes; questões de gênero, raça e origem),
mas que haveria, de forma ideal, um consenso geral da sociedade de alcançar o “bem comum” por
meio do reconhecimento de certos valores, normas sociais e bens que devam ser protegidos
juridicamente. As relações entre os membros da sociedade deveriam ser, portanto, simbióticas, ou seja,
ainda que existam interesses individuais diferentes, eles deveriam conviver de forma a convergir para
usufruir de benefícios mútuos (buscar pautas semelhantes).
Robert Park e Ernst Burgess desenvolveram a teoria das zonas concêntricas em que
sobretudo nas áreas centrais haveria muita heterogeneidade cultural, mobilidade e pobreza, onde
se haveria um “afrouxamento” nos valores e regras de conduta (desorganização social), levando a
maior possibilidade de problemas sociais, dentre eles divórcios, evasão escolar, uso de drogas e
também criminalidade e delinquência juvenil. Segundo eles, em um local onde ninguém quer
permanecer, fixar-se, aumenta-se o anonimato, diminui-se o grau de preocupação das pessoas com o
local, implicando-se em maior deterioração e controle social.
Com base em uma antropologia urbana e sob uma perspectiva transdisciplinar, usa do método
empírico (observação direta) e finalidade pragmática (diagnóstico dos urgentes problemas sociais da
realidade norte-americana à época) para estudar a influência do meio ambiente na conduta criminosa,
relacionando o aumento da criminalidade nas cidades com o crescimento populacional. Propôs a
priorização da prevenção em detrimento da repressão, buscando conhecer o índice real da
criminalidade por meio do que se chamou de inquéritos sociais (social surveys).
Duas são as grandes contribuições da Escola de Chicago para o desenvolvimento da
criminologia:
a) método de observação participante: o pesquisador deve ter contato direto com o objeto de
estudo;
b) conceito de ecologia humana: aponta a cidade como a causadora da criminalidade.
Para tal pesquisa, a cidade não é um mero aglomerado de construções e pessoas, mas sim um
estado de espírito. As cidades modernas, em razão do crescimento populacional e das necessidades de
mobilidade, rompem com vários mecanismos de controle social informal (vizinhança, família, etc), que
não conseguem conter o aumento do crime. Como sabemos, quando as instâncias de controle social
informal falham, o Estado age com o controle social formal (a exemplo da utilização da polícia e dos
demais órgãos de persecução penal).
O crescimento desordenado das cidades faz desaparecer o CONTROLE SOCIAL
INFORMAL; as pessoas vão se tornando anônimas, de modo que a família, a igreja, o trabalho,
os clubes de serviço social etc. não dão mais conta de impedir os atos antissociais (estas são as
instituições que compõe o controle social informal).
Duas expressões devem constar em nossa prova: DESORGANIZAÇÃO SOCIAL e ÁREAS DE
DELINQUÊNCIA. A ausência de planejamento urbano e a aglomeração de classes baixas em zonas
centrais, superpovoadas, ou seja, desorganizadas socialmente, potencializam a ocorrência do crime.
Segundo os estudos da Escola de Chicago, as cidades apresentam as chamadas áreas de
delinquência, zonas com altos índices de crimes, sempre ligadas à degradação física, à segregação
econômica, étnica, racial, etc.
(DPE-PE-CESPE) Com relação às escolas e às teorias jurídicas do direito penal, assinale a opção
correta. Na primeira metade do século passado, floresceu, na Universidade de Chicago, a chamada
teoria ecológica ou da desorganização social, que considerava o crime um fenômeno ligado a
áreas naturais.
A Escola de Chicago, também chamada de teoria ecológica criminal ou da desorganização social,
tem como expoentes Robert E. Park e Ernest Burgess, e atribui à sociedade e não ao indivíduo as
causas do fenômeno criminal. Seus estudos basearam-se na observância de uma grande metrópole
(método de observação participante), no caso, Chicago, e se constatou a influência do entorno
urbano sobre a conduta do homem. As grandes cidades são divididas em várias zonas, para o
trabalho, moradia, lazer, etc., sendo o nível de criminalidade variante entre elas. Por conta do
crescimento desorganizado dos modernos núcleos urbanos, os grupos familiares passaram a ser
deteriorados e as relações interpessoais tornaram-se superficiais (em grande parte causada pelo
crescente número de imigrantes), o que acabou por enfraquecer o controle social do crime. Ernest
Burgess, ao analisar o modelo de crescimento das cidades norte-americanas, criou a teoria das
zonas concêntricas.

Valendo-se dos conceitos de desorganização e contágio social (influências recíprocas entre


indivíduos) inerentes aos modernos núcleos urbanos, propugna que a debilidade do controle social
informal, a desordem e a falta de integração e sentimento de solidariedade entre seus membros
são a causa do aumento da criminalidade nas grandes cidades, tendo seus principais expoentes
em Robert Park e Ernest Burgess, o qual, nessa linha, desenvolveu a teoria das zonas concêntricas
como um modelo de crescimento das cidades norte-americanas estruturado em círculos concêntricos:
Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - O que é a teoria
das zonas concêntricas?

a) zona I (loop): é a parte central, com atividades burocráticas, financeiras e profissionais;


b) zona II (zona de transição): área contígua à zona central e de transição entre o distrito
comercial e os bairros residenciais, normalmente ocupada pelas pessoas mais pobres (por estar
próxima às fábricas, que absorviam essa mão de obra) e marcada por processo de desorganização
social, em que ocorriam os índices mais elevados de criminalidade, com guetos e gangues
(concentração geográfica da criminalidade);
c) zona III: limítrofe à anterior, contendo residenciais de trabalhadores que alcançaram uma
melhoria das condições de vida;
d) zonas IV (suburbia) e V (exurbia): bairros residenciais das classes média e alta,
normalmente com trabalhadores que vão de metrô para o trabalho (suburbia) ou que vivem fora dos
limites da cidade, em áreas suburbanas e cidades-satélites (exurbia). Note que, no Brasil (e América
Latina em geral), costuma ocorrer o oposto, ou seja, o subúrbio normalmente é uma área dominada
pela pobreza.
Soluções sugeridas pela Escola de Chicago: projetos ecológicos, melhorias no aspecto
visual das cidades e criação de programas comunitários. Críticas: para os críticos, a Escola de
Chicago não conseguiu explicar a criminalidade que ocorre fora das áreas de delinquência, bem como
trabalhava somente com dados oficiais (não atingindo as cifras negras).
Aprofundando
O método utilizado pela Escola de Chicago é o da pesquisa empírica. Recapitulando: na Escola
Clássica, o aporte era basicamente teórico, partia-se de pontos abstratos. Já na Escola de Chicago, a
pesquisa era feita no campo concreto, era feita na própria cidade de Chicago. Não eram sociólogos de
gabinete – não era uma criminologia de gabinete. Eram sociólogos que estavam na cidade e pensando
o que essas relações travadas no contexto fático contribuíam para o cometimento de um desvio e das
pessoas desviantes.
Não se está falando de uma pesquisa empírica quantitativa (e.g. mapear quantos crimes eram
praticados em cada zona de Chicago) – era um método qualitativo, isto é, era pensar no que estava por
trás dessas ocorrências.
Quanto à metodologia, pode-se afirmar que a Escola de Chicago pautava a desorganização social
como busca de causas da delinquência ou o chamado “gangsterismo”. Importante relembrar que a
principal Escola a tratar das causas do crime foram os Positivismos Criminológicos – nesse aspecto,
portanto, ainda existe uma pegada de permanência dos positivismos criminológicos; contudo, as
causas trabalhadas são outras. Se no positivismo criminológico, se observava as condições
biofisiologicas do sujeito criminoso ou do homem delinquente, na Escola de Chicago se pensa em
como a organização da cidade promove os desvios e produz homens desviantes.
O objeto de estudo é a cidade. Park frisa que as cidades são organismos vivos, isto é, não são apenas
dados. Deve-se pensar a cidade como uma metáfora do organismo dos seres vivos. Quando existe um
desequilíbrio, o nosso corpo tem reações para expelir aquilo que não é organismo, como na infecção.
O agente causador da infecção é expelido. As pessoas que não estavam se adaptando na cidade
podem se desequilibrar, ir para outra zona, e, por conseguinte, desequilibrar a cidade. A cidade,
portanto, é um organismo vivo. Para Park, a cidade não interessava como um todo, mas sim os guetos.
São nos guetos que as relações entre as comunidades existem de maneira mais interessante. São em
determinadas zonas da cidade, que a distribuição de zonas de trabalho, de residências e de serviços
vai chamar mais atenção.

Conceitos chave
O primeiro conceito chave é a influência de linguagens da biologia: cidades como organismo, habitat,
simbiose.
O segundo conceito chave é a desorganização social como chave analítica para se pensar no desvio,
para se pensar na figura do sujeito desviante, trabalhada por William Thomas. Esses fluxos migratórios
promoveram uma cidade que não é mais homogênea, mas sim uma heterogeneidade social, que
produz uma diminuição da influência de regras de conduta que controlam os indivíduos do grupo. É
impossível em um caldeirão cultural estabelecer padrões de comportamento coletivo. Temos uma
cidade com pessoas que não se entendem, porque não falam o mesmo idioma. Pessoas que vem de
uma região em que se casar com 4 pessoas pode ser tranquilo. Pessoas que comem certos animais,
ou que tem relações diversas com a propriedade privada. Pessoas de diversas regiões do mundo,
todas elas limitadas em um espaço urbano, obrigadas a conviver. Isso tudo causa uma desorganização
social. A confluência de valores faz com que não seja tão simples produzir padrões de comportamento.
O consenso coletivo acaba se fragmentando. É muito mais difícil controlar os sujeitos socialmente
(controle social).
Pensando na desorganização social, a Escola de Chicago chega em um resultado, que é pensar que
dentro dessa desorganização, há várias formas de exercício de controle das condutas sociais. Quando
se fala em formas de controle, a Escola de Chicago não está tratando apenas do Estado com seu
poder punitivo, mas sim, dos grupos secundários de ação, como o papel das igrejas e grupamento, em
atribuir os modelos aos indivíduos. Se não se pode imaginar os padrões de comportamento, também
não se pode adiantar o controle social. É a partir dessas chaves analíticas que a Escola de Chicago
começa a trabalha as figuras do crime e do criminoso.
Nesse sentido, a Escola de Chicago, por seu mentor Burguess, elaborou o mapa fundamental,
chamado também de zonas concêntricas de Chicago.
Burguess vai trabalhar com a ideia de mapeamento da cidade de Chicago. Chicago tinha um centro,
também chamado por esses sociólogos de “loop”. Perceberam que nesse loop, tinha uma cidade
industrial. O loop é uma região em que as pessoas não moram, concentra apenas as fábricas, isto é,
os meios de produção, configuração que produz vários danos ambientais, um local inóspito para se
morar.
Após o Loop (chamado de zona 1), Burguess começa a identificar mais quatro zonas (ao todo, são
cinco zonas). A cidade se expandia de modo radial, do Loop para fora. Em razão da precariedade das
indústrias, que estavam no centro, os espaços mais longínquos eram mais valorizados. Logo, nas
periferias norte-americanas, moram as pessoas mais ricas. Nesse zoneamento, quanto mais próximo
do Loop, piores eram as condições do espaço urbano, pois existia muita fumaça, pouca iluminação, ou
seja, bairros muito degradados socialmente. Quanto mais longe do centro comercial, melhorava as
condições do bairro, e consequentemente, das pessoas que moravam ali. Quanto mais próximo a zona
5, melhores as condições do espaço urbano.
Após o mapeamento, a Escola de Chicago passa a monitorar em quais zonas aconteciam mais crimes.
Os primeiros pensadores da Escola de Chicago fizeram o seguinte teste: se você colocar um carro
totalmente deteriorado, com as janelas quebradas, na zona 2, o que acontecia? E se você colocar o
mesmo carro, com as janelas quebradas, na zona 5, será que aconteceria o mesmo? Constatou-se que
nas zonas de transição, na zona 2, o carro aparecia muito mais degradado que a zona 5. Dentro da
perspectiva desses primeiros pensadores da Escola de Chicago, concluiu-se que na zona 2, habitada,
muito próximo ao Loop, existia um maior índice de crimes, e isso coincidia com as zonas fisicamente
degradadas. Zonas/áreas fisicamente mais degradadas tem maior ocorrência de crimes. Quanto mais
afastada do Loop, menos crimes são cometidos.
Concluindo, a Escola de Chicago constatou que a criminalidade é um resultado dessa desorganização
social promovida pelos fluxos migratórios, caldeirão cultural e pela perda das raízes, culminando com
uma sociedade heterogênea. Chicago estuda fatores externos, não se trabalha com quem são as
pessoas criminosas, nem com as distancias entre a testa e o nariz das pessoas que delinquem. A
Escola de Chicago estuda a cidade, isto é, estuda aspectos e circunstâncias externas.
As propostas trazidas pela Escola de Chicago para lidar com a criminalidade se referem à necessidade
de planejamento urbano, isto é, há uma necessidade de intervenções urbanas, quanto mais planejado
por o espaço urbano, haverá menos crimes.
Vamos trazer essa conclusão da Escola de Chicago para os dias atuais. Comprovadamente, em áreas
em que a iluminação pública seja precária, há um número maior de ocorrência de crimes sexuais. O
planejamento urbano controla o fenômeno da delinquência. Nota-se que é uma conclusão prática.
OBS. O conceito de criminalidade é muito criticado pelo aporte da criminologia crítica, porque remonta
a uma perspectiva muito etiológica, patológica do fenômeno, como se a delinquência e os atos em
conflitos com a lei fossem naturais. Portanto, deve-se destacar que o conceito “criminalidade” foi
utilizado aqui, pois foi como a Escola de Chicago tratou linguisticamente sobre o assunto.

ESCOLA DE CHICAGO OU ESCOLA ECOLÓGICA


• Relação entre criminalidade e crescimento desordenado das cidades.
• Divisão da cidade de Chicago em zonas, verificando-se maior criminalidade em
zonas mais próximas do centro, habitadas por imigrantes e indivíduos marginalizados
Aspectos
pela sociedade. Em regiões mais distantes do centro, pessoas com melhores
Principais
condições financeiras e menor criminalidade.
• Ausência de controle informal (realizado pela sociedade, por meio de suas
instituições, como vizinhança, família, igreja etc.).
• Propõe o aumento do controle informal, por meio de mecanismos que promovessem
maior integração da sociedade, em atividades comunitárias e recreativas. Ainda,
quanto aos imigrantes, projetos para o resgate de suas raízes culturais.
Abriu um novo campo para a criminologia, que até então se preocupava com a
pessoa do criminoso. Rompeu, portanto, com o positivismo criminológico. Até a
Pontos Escola de Chicago, a solução proposta para o combate da criminalidade era centrada
Positivos
na pena. Aqui, por outro lado, já se verificam ideias de planejamento urbano, com
políticas públicas de integração dos indivíduos marginalizados à sociedade.
• Não leva em consideração a criminalidade das classes abastadas da sociedade
(crimes de colarinho branco).
Críticas • Se por um lado rompe com o positivismo, por outro traz um forte determinismo na
análise da criminalidade com base em cada uma das zonas da cidade.

2.2. Teorias da Aprendizagem Social (Social Learning)

Negam a vinculação do crime à pobreza e aprofundam as investigações científicas em


torno da criminalidade das classes mais altas, sustentando que o comportamento delituoso se
aprende do mesmo modo que o indivíduo aprende também outras atividades lícitas em sua interação
com pessoas e grupos. Quatro vertentes: teoria da associação diferencial, teoria da identificação
diferencial, teoria do reforço diferencial, teoria do condicionamento operante e teoria da neutralização.
(DP/ES-delegado-2019-Instituto Acesso) As teorias de aprendizagem
social sustentam que o comportamento delituoso se aprende do mesmo
modo que o indivíduo aprende também outras atividades lícitas em sua
interação com pessoas e grupos. Gabarito: certo.

2.3. Teoria da Associação Diferencial: (1883-1950)


Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - A atividade
criminosa não é herdada, mas sim aprendida e aperfeiçoada consome as relações pessoais.
Essa afirmação caracteriza qual teoria?

Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - De quem é tal
teoria?

Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - O que significa
cifra dourada?

Tal teoria se destacou por oferecer profundas críticas à Escola de Chicago, uma vez que os
crimes não são cometidos somente por pessoas de classes economicamente inferiores. A Teoria da
Associação Diferencial tem contribuição fundamental para a própria definição dos chamados
Crimes de Colarinho Branco (White Collar). Para Edwin Sutherland, primeiro grande autor da teoria,
sob influência do pensamento de Jean-Gabriel Tarde (1843-1904), o crime de colarinho branco é um
crime cometido por uma pessoa respeitável, de alta posição (status) social de Estado, no exercício de
suas ocupações.
O HOMEM APRENDE A CONDUTA DESVIADA e associa-se com referência nela. Assim, o
comportamento criminoso é um processo de APRENDIZADO, mediante a interação com outras
pessoas. Segundo Shecaira, ao explicar a teoria, a parte decisiva do processo de aprendizagem ocorre
no seio das relações sociais mais íntimas do indivíduo com seus familiares ou pessoas de seu meio.
Uma pessoa converte-se em delinquente quando as definições favoráveis à violação superam as
desfavoráveis. Gabriel Tarde, outro importante estudioso para associação diferencial, afirma que o
delinquente era um tipo profissional que necessitava de um aprendizado, assim como todas as
profissões.
Compreende a criminalidade, portanto, a partir de uma perspectiva social, afirmando que
ninguém nasce criminoso (nega a influência de fatores biológicos hereditários), sendo a delinquência
fruto de um processo de socialização diferencial, que conduz à aprendizagem do comportamento
desviante (origem social do delito). Ou seja, o comportamento criminoso é aprendido, nunca herdado, e
a aprendizagem dos valores criminais pode ocorrer em qualquer cultura ou classe social.
Recorde-se que é de Jean-Gabriel Tarde a obra As leis da imitação (1890), em que sustenta a
transmissão dos sentimentos, da moral e dos costumes pela imitação, por meio de três “leis”:
a) primeira lei da imitação: a imitação é diretamente proporcional à intensidade do contato e
inversamente proporcional à distância;
b) segunda lei da imitação: classes inferiores imitam as superiores (ex.: filho imita o pai; aluno
imita o professor etc.);
c) terceira lei da imitação: no conflito de dois modelos comportamentais, o novo supera o antigo.
Embora inspirado nas ideias de Tarde, Sutherland apregoa que o aprendizado depende de um
processo de comunicação pessoal, ao passo que Tarde sustentava que o crime ocorre por imitação,
pela recepção passiva de impulsos.

(MP/GO-promotor-2019-reaplicação) A teoria da associação diferencial


sugere que o crime não pode ser definido simplesmente como disfunção
ou inadaptação de pessoas de classes menos favorecidas, não sendo ele
exclusividade destas. Essa teoria assenta-se na consideração de que o
processo de Comunicação é determinante para a prática delitiva. Para ela,
o comportamento criminal é um comportamento aprendido. CERTO

(DP/ES-delegado-2019-Instituto Acesso) (...) Com relação à criminalidade


denominada de colarinho branco, pode-se afirmar que a teoria da
associação diferencial sustenta que a aprendizagem dos valores criminais
pode acontecer em qualquer cultura ou classe social.

Expressões que podem identificar a teoria na prova: associação diferencial, aprendizagem,


colarinho branco.
Principais autores: Edwin Sutherland e Gabriel Tarde.
Pode-se concluir que o pensamento de Sutherland, sobre associação diferencial,
pode ser resumido em 7 ideias, a saber:

 A conduta criminosa pode ser aprendida como qualquer comportamento.


 A conduta criminosa é aprendida mediante um processo de comunicação com outras
pessoas, o que requer um comportamento ativo por parte do agente. Isso significa que o
simples fato de o indivíduo viver em um ambiente criminógeno não irá necessariamente
torna-lo num infrator.
 A parte decisiva da aprendizagem da conduta criminosa ocorre no seio familiar e no
círculo de amizade íntimas.
 Durante o processo de aprendizagem também são transmitidas as técnicas para a execução do
delito, e até as justificativas para a conduta delituosa.
 Os impulsos criminosos são aprendidos a partir de do ponto de vista que os contatos
diferenciais apresentam sobre a lei e o sistema de valores vigente.
 O indivíduo se torna um delinquente quando aprendeu com seus contatos diferenciais mais
sobre crimes que sobre leis.
 Os contatos diferenciais poder ter duração, intensidade influencia diferentes.

(DP-SE-CESPE) A teoria da associação diferencial, segundo a qual o indivíduo desenvolve


seu comportamento individual com base nos exemplos e nas influências que possui, explica,
de certa forma, o denominado crime de colarinho-branco. (CERTO)
TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL
• O crime, assim como os demais comportamentos sociais, pode ser
aprendido.
• O aprendizado do crime se dá por meio das associações diferenciais que
o indivíduo forma com os demais membros da sociedade.
Aspectos
Principais • Quanto mais íntima a associação, maior a intensidade do aprendizado.
• O delinquente surge quando as definições favoráveis à violação da norma
superam as desfavoráveis.
• A teoria tenta explicar a criminalidade do colarinho branco, já que nesses
casos ela não podia ser justificada por meio da miséria.
• Assim como a Escola de Chicago, a Teoria da Associação Diferencial
rompe com o positivismo criminológico, desconsiderando os aspectos
Pontos
Positivos biológicos do indivíduo como determinantes para a prática de delitos.
• Chamou a atenção para a existência de criminalidade fora dos setores
marginalizados da sociedade.
• Não questiona a seletividade do sistema penal.
• Desconsidera a autonomia dos indivíduos, que se tornariam criminosos
Críticas simplesmente em razão da convivência com determinadas pessoas. Deixa
de lado muitos outros fatores que contribuem para a criminalidade em uma
postura determinista.

2.4. Teoria da Anomia:

“Anomia”, literalmente, significa ausência de norma. É utilizada no contexto da teoria em foco


para indicar situação de ausência ou decomposição das normas sociais, ante o fracasso dos
mecanismos reguladores da vida em sociedade.
Temos aqui dois autores que contribuíram para a Teoria da Anomia: Émile Durkheim (1858-
1917) e Robert Merton (1910-2003) Ambos explicam o fenômeno criminoso a partir de uma
perspectiva sociológica. Vamos estudar a principal contribuição de cada um?
I) Durkheim: para o autor, a anomia é a ausência de normas sociais de referência, o que
acarreta fragilidade social (baixa coesão social). O crime, para Durkheim, é um fenômeno
NATURAL e NORMAL de toda estrutura social. Só é considerado preocupante quando ultrapassar
certos níveis. Uma sociedade sem crimes não é desenvolvida. Segundo o autor, o delito fere a
consciência coletiva. A pena, neste sentido, não é utilizada para punir, e sim para recuperar a
consciência coletiva ferida (a pena tem efeito nas pessoas honestas, não criminosas).
Diante da complexidade social, Durkheim vê o crime como algo normal, necessário e útil
para o equilíbrio e desenvolvimento sociocultural. “Despatologiza” o crime, compreendendo-o com
a noção da normalidade do desvio como fenômeno social. O criminoso, nesse cenário, pode
desenvolver um útil papel para a sociedade, seja quando contribuiu para o progresso social, criando
impulsos para a mudança das regras sociais, seja quando os seus atos oferecem a ocasião de afirmar a
validade dessas regras, mobilizando a sociedade em torno dos valores coletivos.
Sem embargo, embora constitua um fenômeno natural dentro da sociedade (todas o têm, e
sempre o terão), o incremento excessivo dos índices de criminalidade instalará a desordem social,
ante a descrença no sistema normativo de condutas, ensejando o estado de anomia. Essa criação
de “espaços anômicos” na sociedade, fruto da perda das referências normativas pelos indivíduos,
conduz ao enfraquecimento da solidariedade social e à multiplicação de comportamentos antissociais.
Nesse cenário, argumenta que a estrutura cultural estabelece os fins ou metas dos indivíduos
(ex.: sucesso, riqueza) e os meios institucionalizados considerados legítimos para alcançá-los (ex.:
trabalho), mas a estrutura social não fornece acesso igualitário a esses meios, induzindo a utilização de
meios ilegítimos (violação das regras sociais). A escassez dos meios institucionalizados e o
consequente abandono das regras sociais conduzem, assim, à chamada “anomia”.

II) Merton: para o autor, a anomia é proveniente do descompasso entre metas e objetivos
culturais (metas de uma sociedade como um todo, como sucesso pessoal, profissional,
patrimônio, etc.) e os meios disponíveis (desemprego, baixo salário e condições pessoais dos
cidadãos). Assim, se o indivíduo não atinge “o sonho do sucesso” (metas culturais) com os meios
disponíveis, ocorre a anomia. Segundo a doutrina, este desajuste propicia o surgimento de condutas
que vão desde a indiferença perante as metas culturais até a tentativa de chegar às metas mediante
meios diversos daqueles socialmente prescritos. Para Merton, há cinco tipos de adaptação individual:
CONFORMIDADE ou comportamento modal (conformidade entre os objetivos culturais e os meios
institucionalizados), RITUALISMO (renúncia aos objetivos valorados pela incapacidade de realizá-los,
mas continua a seguir as normas sociais e interagir com a sociedade), RETRAIMENTO ou evasão
(renuncia a ambos (objetivos e normas), como por exemplo os mendigos e viciados em drogas),
INOVAÇÃO (delinquência propriamente dita; meios ilegais para atingir os sonhos e objetivos) e
REBELIÃO (inconformismo e revolta; o indivíduo refuta os padrões vigentes, propondo novas metas e
institucionalização de novos meios para atingi-las).
CONFORMIDADE Em ambiente social estável, é o tipo mais comum, pois os indivíduos aceitam
OU os meios institucionalizados para alcançar as metas socioculturais. Existe
COMPORTAMENTO adesão total e não ocorre comportamento desviante desses aderentes.
MODAL
(CONFORMISTA)
No modo de inovação os indivíduos acatam as metas culturais, mas NÃO
ACEITAM OS MEIOS INSTITUCIONALIZADOS. Quando se apercebem de que
INOVAÇÃO nem todos os meios estão a sua disposição, eles rompem com o sistema e, pela
conduta desviante, tentam alçar as metas culturais. Nesse aspecto o
delinquente corta caminho para chegar às metas culturais.

Por meio do qual os indivíduos fogem das metas culturais, que, por uma razão
RITUALISMO ou outra, acreditam que jamais atingirão. Renunciam às metas culturais por
entender que são INCAPAZES DE ALCANÇÁ-LAS.
Os indivíduos RENUNCIAM tanto às metas culturais quanto aos meios
EVASÃO OU institucionalizados. Aqui se acham os bêbados, drogados, mendigos e, párias,
RETRAIMENTO que são derrotistas sociais.

Caracterizada pelo inconformismo e revolta, em que os indivíduos rejeitam as


REBELIÃO metas e meios, lutando pelo estabelecimento de novos paradigmas, de uma
nova ordem social. São individualmente os “rebeldes sem causa”, ou ainda,
coletivamente, as revoluções sociais.

III) Expressões que podem identificar a teoria na prova: anomia, consciência coletiva, crime
como fenômeno normal.
(DPE-CESPE) De acordo com a teoria da anomia, o crime se origina da impossibilidade social do
indivíduo de atingir suas metas pessoais, o que o faz negar a norma imposta e criar suas próprias
regras, conforme o seu próprio interesse. (CERTO)

Para esta teoria a sociedade impõe objetivos e metas inalcançáveis para a maioria dos indivíduos
(sucesso, poder, status), e como tais metas são inatingíveis, a dissociação entre os objetivos e os
instrumentos para seu alcance geraria a ANOMIA, que seria uma situação de renúncia às normas
sociais.

TEORIA ESTRUTURAL FUNCIONALISTA DA ANOMIA


• Considera o crime algo normal.
• A teoria falha ao explicar as razões para o cometimento de crimes não
Críticas patrimoniais, ou mesmo aqueles que apesar de não serem patrimoniais geram
lucro com a sua prática.
• A teoria não explica a criminalidade de colarinho branco, praticada por aqueles
que possuem os meios institucionais para atingir as metas culturais.
• Não há uma visão crítica da imposição de metas culturais por grupos
opressores das classes mais altas da sociedade.
• Na formulação, todos os indivíduos pertencentes aos estratos sociais inferiores
fatalmente praticariam crimes, eis que sujeitos à mesma pressão derivada da
estrutura social defeituosa.

2.5. Teoria da Subcultura Delinquente: (1918-2014)


Delegado de Polícia - PCSP - Ano: 2015 - Banca: PCSP - Disciplina: Criminologia - Em que consiste a
teoria da subcultura delinquente.

A teoria tem origem na obra Delinquent Boys, de Albert Cohen (1955).


I) Principal autor: Albert Cohen.
II) Período histórico: sociedade americana e o American Dream (1950).
III) Pontos principais: Shecaira, ao explicar a teoria, diz que a constituição das subculturas
criminais representa a reação necessária de algumas minorias altamente desfavorecidas diante da
exigência de sobreviver, de orientar-se dentro de uma estrutura social, apesar das limitadíssimas
possibilidades legítimas de atuar.
Argumenta a existência, paralelamente à cultura predominante na sociedade, de subculturas que
retratam os sentimentos e valores de determinado subgrupo social. Ou seja, existem várias “culturas”
(subculturas) dentro de uma mesma sociedade (cultura).
A falta de acesso de parcela da população aos valores da sociedade em geral (cultura) enseja o
surgimento de subculturas como reação das minorias menos favorecidas, que se associam e
desenvolvem o seu próprio sistema de normas e valores (subcultural), ensejando, muitas vezes, uma
subcultura delinquente, normalmente caracterizada pelo não utilitarismo da ação (ausência de
motivação racional), malícia da conduta (prazer em prejudicar outrem) e negativismo da conduta
(oposição aos padrões da sociedade). Ex.: skinheads, gangues de delinquência juvenil etc.
A subcultura delinquente pode ser resumida como um comportamento de transgressão que é
determinado por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou
determinam formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas. Para Cohen,
a subcultura delinquente caracteriza-se por três fatores: NÃO-UTILITARISMO DA AÇÃO (os crimes
são realizados sem um fim específico, apenas por puro prazer); MALÍCIA DA CONDUTA (as
condutas são realizadas para gerar desconforto alheio) e NEGATIVISMO (objetivo de mostrar o
rechaço deliberado dos valores da sociedade dominante).
IV) Dica importante: de forma diversa aos estudos da Escola de Chicago, as áreas de
delinquência não eram “desorganizadas socialmente”, mas sim espaços em que há domínio de normas
e valores distintos dos tradicionais, mas em estado de funcionalidade. Para Cohen, no entanto, as
subculturas delinquentes não ocorrem somente em classes pobres (ex: gangues de lutadores de jiu-jitsu
na década de 90).
V) Críticas: para os críticos, a teoria não consegue explicar a criminalidade de uma forma mais
abrangente, limitando sua análise a pequenos grupos.
Em sua obra "Criminologia" o insigne Professor Sérgio Salomão Shecaira discorre sobre duas visões
principais da macrossociologia que influenciaram o pensamento criminológico. À primeira delas, de
corte funcionalista, ele as denomina de teorias de consenso (escola de Chicago, teoria da associação
diferencial, teoria da anomia e teoria da subcultura delinquente). Por seu turno, a segunda visão,
argumentativa, foi conceituada como teorias do conflito (teorias do labelling approach e crítica). De
acordo com as lições do referido autor acerca das escolas sociológicas do crime, analise as
proposições abaixo e marque a alternativa correta:

I - A teoria da associação diferencial sugere que o crime não pode ser definido simplesmente como
disfunção ou inadaptação de pessoas de classes menos favorecidas, não sendo ele exclusividade
destas. Essa teoria assenta-se na consideração de que o processo de Comunicação é determinante
para a prática delitiva. Para ela, o comportamento criminal é um comportamento aprendido.

II - Para a teoria da anomia, o crime é visto como um fenômeno normal da sociedade e não
necessariamente ruim. Isto porque o criminoso pode desenvolver um útil papel para a sociedade, seja
quando contribuiu para o progresso social, criando impulsos para a mudança das regras sociais, seja
quando os seus atos oferecem a ocasião de afirmar a validade destas regras, mobilizando a sociedade
em torno dos valores coletivos.

III - A subcultura delinquente pode ser definida como um comportamento de transgressão que é
determinado por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem
ou determinam formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas.

IV - Para a teoria crítica, o fundamento imediato do ato desviado é a ocasião, a experiência ou o


desenvolvimento estrutural que fazem precipitar esse ato não em um sentido determinista, mas no
sentido de eleger, com plena consciência, o caminho da desviação como solução dos problemas
impostos pelo fato de viver em uma sociedade caracterizada por contradições.

todas as proposições são corretas.

Palavras-chave:

1) TEORIA DO CONSENSO (FUNCIONALISTAS OU DE INTEGRAÇÃO)


(é de perspectiva "conservadora")

a) Escola de Chicago (também chamada de "Ecologia Criminal" e de "Desorganização Social) -


espaço urbano, forças construtivas da sociedade, zonas concêntricas de Burgess e teoria ecológica de
Shaw

b) Teoria da Anomia -
autores: Durkhein (principal nome); Merton (desenvolveu as ideias de Durkhein)
o crime é um fenômeno natural, normal, necessário e útil; dividida em estrutura cultural e estrutura
social;

c) Escola da Associação Diferencial


autor: Sutherland
crime do colarinho branco (cifra dourada); o crime é aprendido de acordo com o contato intimo com
outras pessoas;

d) Subcultura Criminal (teoria Culturalista)


autor: Cohen
subgrupos que se contrapõe à cultura dominante; caracterizada por: a) não ser utilitária b) ser má c)
ser negativa

2) TEORIA DO CONFLITO (é de perspectiva "progressista")

a) Labeling Aproach (teoria da Reação Social ou Interacionismo Simbólico ou Etiquetamento)


a criminalidade é uma realidade social construída pelo sistema de justiça; o status atribuído pelo
sistema penal; a rotulação do indivíduo; as etiquetas identificam o sujeito como desviado; "o líquido
toma a forma da garrafa"

b) Criminologia Crítica -
o capitalismo é a base da criminalidade; o direito penal é desigual por natureza; defende que o cárcere
é inútil pois não cumpre suas promessas; "Alessandro Baratta" é considerado um dos percussores no
Brasil;

TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE


As minorias possuem subculturas que diferem e se chocam com as maiorias. Baseiam-se
principalmente no jovem delinquente, sob o ponto de vista da rebeldia contra os valores estabelecidos
pela classe média dominante, razão pela qual passam a professar outros valores e metas, ou
legitimando práticas ilegais para alcançar as metas gerais.
Cohen se propôs a tentar explicar porque os jovens das classes mais baixas e de determinados bairros
tendem à delinquência, afirmando que por causa da estruturação das classes sociais, é muito difícil
para os membros da classe baixa terem acesso aos valores professados pelas classes dominantes.
Disso deriva um estado de frustração que culmina com a delinquência.
• Não-utilitária: Não possui objetivos de ganhos.
• Maldosa: Tendo em vista derivar do desprezo da sociedade da qual estão
Características das despojados.
Subculturas • Negativista: Por possuir regras que, apesar de irem de encontro aos valores
Delinquentes da classe dominante, são legítimas conforme seus próprios padrões.
• Flexível: Não se especializa em determinado desvio.
• Short-run Hedonism: Prazer imediato, sem objetivos ou metas em longo
prazo.
• The College Boy: O jovem aceita as metas estabelecidas.
Modos de • Stable Corner-boy Response: Aceita seu caminho de vida, mas não rompe
Adaptação com a sociedade.
• Delinquent Response: Rejeita todos os padrões estabelecidos e segue sua
subcultura.
OBS: Subcultura não se confunde com contracultura. Esta tem seus valores em contradição aos
pregados pela sociedade tradicional, ao passo que a subcultura está inserida no contexto dos
valores dominantes, embora crie valores próprios diante da impossibilidade de atingimento dos
que lhes foram impostos.

3. TEORIAS DO CONFLITO:

Para as Teorias do Conflito, a ordem na sociedade é fundada na força e na coerção, ou seja, na


dominação por alguns e obediência de outros. Dá embaso para teorias mais críticas e radicais.
Segundo essa teoria, inexiste acordos em torno de valores.

3.1. Teoria do Labelling Approach, Reação Social, Rotulação Social, Etiquetamento ou


Interacionismo Simbólico.

As teorias do conflito dão especial enfoque ao sistema de controle social, sobretudo o


formal, bem como a importância da vítima no estudo do fenômeno delitivo. Vamos debater os pontos
principais da Teoria do Labelling Approach?
I) Contexto histórico: 1960 e movimentos estudantis, políticos, raciais, feministas. Esses
movimentos foram considerados fermentos de ruptura. Surge nos EUA.
II) Principais autores: Erving Goffmann e Howard Becker.
III) Sinônimos: também chamada de Teoria da Rotulação Social, da Etiquetagem, da
Reação Social ou Interacionista.
IV) Tópicos principais: a teoria do Labelling Approach tem como foco a desviação secundária
(reincidência) e a reação social ao delito. Uma vez considerado criminoso, o indivíduo recebe do Estado
e da sociedade um RÓTULO, uma ETIQUETA e pra sempre será considerado infrator. A reação
social dada à desviação primária (primeiro crime cometido) é fundamental para que ocorra a desviação
secundária (reincidência).
Concentra seus estudos nos processos de criminalização e sustenta que a criminalidade resulta
de um processo social de interação, seletivo e discriminatório, que, no interesse de um sistema social,
considera determinado comportamento como criminoso e etiqueta seu autor como delinquente. Desse
modo, a etiqueta ou rótulo social de delinquente, fruto da criminalização primária (primeira prática
criminosa), enseja um processo de estigmatização que conduz à marginalização do indivíduo,
gerando a expectativa da sociedade de que a conduta criminosa se repita e conduzindo o próprio
indivíduo assim rotulado a se conceber como tal, o que conduzirá à criminalização secundária
(reiteração delitiva ou reincidência). Daí falar-se em caráter criminógeno do cárcere (função
reprodutora da prisão), promovendo uma tendência garantista de não prisionização, de prestígio às
penas alternativas, de descriminalização de condutas etc.
O Estado faz uso de CERIMÔNIAS DEGRADANTES aos presos: corta o cabelo, impõe um
uniforme, regras rígidas e a identidade passa a ser um número, e não mais um nome. A criminalização
primária produz rotulação, que produz criminalizações secundárias (reincidência). O preso, na verdade,
não será ressocializado para a vida livre e sim será socializado para viver na prisão. O próprio
preconceito da sociedade com o “ex-presidiário” reflete na reincidência.
V) Dica importante: a Teoria do Labelling Approach não busca explicar as causas primeiras da
criminalidade, e sim de que forma a reação do Estado e da sociedade ao criminoso refletem na
desviação secundária (reincidência).
VI) Influência da teoria no Brasil: progressão de regime, adoção de penas alternativas à prisão,
Lei nº 9.099/95 e benefícios despenalizadores, etc.

3.1.1. Seletividade Penal

Seletividade criminalizante

A seleção criminalizante geralmente se dá para aqueles que se enquadram no estereótipo de


criminoso (cometeu crime tosco e é de uma classe social menos privilegiada). Caso não se enquadre no
estereótipo, a seletividade ocorrerá na hipótese no cometimento de crime tosco. Exemplo: cidadão de
classe média que cometeu homicídio. Na última hipótese a seletividade se operará sobre o sujeito que
não se enquadra no estereótipo e tampouco cometeu crime tosco, mas perdeu uma disputa de poder
(Marcos Valério).

Seletividade vitimizante

Nos bairros mais pobres o Estado tradicionalmente se ausenta, dando margem para a instalação
de líderes locais, os quais substituem a segurança pública oficial. Isso provoca a população mais forte a
sentir-se mais vulnerável, passa a ser mais vitimizada pelos crimes e por consequência clama por maior
rigor punitivo.

Seletividade policizante.
Os policiais também são selecionados dentre a camada social mais pobre. Além disso, são mal
remunerados e incorporam um discurso rígido e autoritário. A pequena fração desses policiais que age
em desacordo com a lei (corrupção, violência, prevaricação, etc.) dá margem à criação do estereótipo
do policial desonesto, gerando a desconfiança da população na instituição.

3.2. Criminologia Crítica, Marxista ou Nova Criminologia:

Tem origem nos EUA e na Inglaterra nos anos 70. Escola de Berkeley (EUA) e National
Deviance Conference (Inglaterra). Também chamada de Criminologia Radical ou Nova
Criminologia. Neste momento, há severas críticas às posturas tradicionais da criminologia do
consenso. Base no pensamento marxista, sustentando ser o delito um fenômeno dependente do
modo de produção capitalista. O Direito não é ciência, e sim ideologia. O Direito Penal acaba por
reforçar as desigualdades sociais e a própria seletividade punitiva.
Citando os ensinamentos da professora Monica Gamboa (Criminologia, matéria básica): “Essa
teoria Consolidou-se ao criticar as posturas tradicionais da teoria do consenso, eis que,
ancorada no pensamento marxista, acredita ser o modelo econômico adotado em determinado
local o principal fator gerador da criminalidade.”
Segundo Jorge de Figueiredo Dias e Manuel da Costa Andrade: “A Criminologia radical é, em
grande parte, uma criminologia da Criminologia, principalmente a discussão e análise de dois temas: a
definição do objeto e do papel da investigação criminológica.” (Criminologia – O homem delinquente e a
sociedade criminológica).
A Criminologia Crítica serviu de base para o surgimento de outras teorias criminológicas
como o abolicionismo criminal, direito penal mínimo e o neorrealismo. Após dez anos de estudos,
segundo Shecaira, surgem basicamente três tendências da criminologia moderna:
a) O neo-realismo de esquerda (law and order): a ideia continua a ser socialista, mas realista.
Defendem uma nova relação entre a polícia e a sociedade, com a finalidade de contribuir para uma luta
comum contra o delito. Sugerem, de outra parte, uma linha reducionista na política criminal,
descriminalizando certos comportamentos e criminalizando outros. Os crimes graves merecem uma
resposta enfática da sociedade (sobretudo os cometidos pelas classes economicamente superiores).
Aceitam a ideia do cárcere, em situações extremas;
b) Direito penal mínimo: qualquer radical aplicação da pena pode produzir consequências mais
gravosas quanto aos benefícios que pode trazer. Deve-se pensar em uma criminalidade dos oprimidos
(racismo, crimes do colarinho-branco, etc.), e não de massa, de rua (ex: pequenos furtos). O direito
deve ser utilizado para a defesa do mais fraco perante uma eventual reação mais forte que a pena
institucional por parte do ofendido e em prevenção ao cometimento ou ameaça de novo delito.
Contração do sistema penal em certas áreas para expansão de outras. Caráter fragmentário do direito
penal, intervenção punitiva como última ratio e reafirmação da natureza acessória do direito penal;
c) O pensamento abolicionista: o sistema penal só tem servido para legitimar e reproduzir as
desigualdades e injustiças sociais. Para os abolicionistas, nós já vivemos sem Direito Penal (cifras
negras), o sistema é anômico (não cumpre as funções esperadas), seletivo, estigmatizante e burocrata.
Surgida em 1970 (Inglaterra, Itália e Estados Unidos), a também chamada criminologia crítica
compreende o delito, a partir de uma visão marxista, como um fenômeno que advém do sistema de
produção capitalista, que atende aos interesses da classe social dominante. Tem como origem mediata
o livro Punishment and Social Structure (1939), de George Rusche e Otto Kirchheimer, que relaciona o
nascimento das prisões ao surgimento do capitalismo mercantil e considera-as uma forma de punição
burguesa.
Na Inglaterra, apontam-se como defensores da criminologia crítica Ian Taylor, Paul Walton e Jok
Young; na criminologia crítica italiana, Alessandro Baratta e Franco Bricola; nos Estados Unidos, Paul
Takagi, Herman e Julia Schwendinger, Richard Quinney, William Chambliss e Tony Platt. Merece
destaque, também, a influência da criminologia crítica sobre a América Latina (Lola Aniyar, Rosa del
Omo, Zaffaroni).
É pertinente observar que a criminologia crítica nega o livre-arbítrio do indivíduo na prática
criminosa, por se encontrar sujeito a um sistema de produção excludente, patrocinado pela classe
dominante. Reputa a criminalidade como um problema insolúvel na sociedade capitalista, sustentando
uma mudança de paradigma da criminalização, com uma intervenção mínima em relação às infrações
das classes sociais menos favorecidas e ampliação da responsabilização das classes dominantes.
Afora isso, busca analisar a própria definição do objeto e do papel da investigação criminológica, sendo
considerada, em razão disso, uma criminologia da criminologia, que deu azo ao surgimento de três
tendências: o abolicionismo criminal, o minimalismo penal e o neorrealismo (que estudaremos mais à
frente).

(DP/ES-delegado-2019-Instituto Acesso) A Criminologia Crítica contempla uma concepção


conflitual da sociedade e do Direito. Logo, para a criminologia crítica, o conflito social é um conflito de
classe sendo que o sistema legal é um mero instrumento da classe dominante para oprimir a classe
trabalhadora.

4. TEORIAS DE CONTROLE

As teorias de controle sustentam que o crime é decorrente de um desequilíbrio entre os


impulsos do indivíduo em direção à criminalidade e os controles sociais ou físicos que a detêm.

4.1. Teoria do enraizamento social

Desenvolvida pelo criminólogo americano Travis Hirschi, nos idos de 1935, defende que todo
indivíduo é um infrator potencial, e somente o medo de sofrer danos irreparáveis em suas
relações interpessoais funciona como freio a esse impulso. Alguns apontam que a teoria do
enraizamento social seria uma variação da teoria do controle social, atribuída ao mesmo estudioso,
segundo a qual os crimes vêm à baila em razão do rompimento ou afrouxamento de laços sociais.
(DPE-DF-CESPE) Acerca dos modelos teóricos da criminologia, julgue o item que se segue. Segundo
a teoria do enraizamento social de Hirschi, o delito, como um comportamento natural do ser
humano, é inibido pelo processo de assunção de normas sociais, pelo apego e afeto às pessoas
e pelo medo de dano irreparável a essas relações interpessoais. (CERTO)

4.2. Teoria da conformidade diferencial


Quanto maior o grau de conformidade do indivíduo com os valores sociais, menor a
probabilidade do cometimento de crimes. É, em síntese, o que sustentam Briar e Piliavin com a
teoria da conformidade diferencial.

4.3. Teoria da contenção

Reckless, por meio da sua teoria da contenção, assevera que a sociedade provoca uma série
de estímulos que impelem o indivíduo para a conduta desviada (mecanismos de pressão
criminógena), os quais são refreados por mecanismos de contenção, internos (ex.: personalidade
forte) ou externos (ex.: coação estatal).

4.4. Teoria do controle interior

A teoria do controle interior, que revela conexões com a psicanálise, foi propugnada por Reiss,
para quem o delito é o resultado de uma relativa falta de normas e regras internalizadas, ou seja, é
consequência funcional de controles pessoais e sociais débeis.

4.5. Teoria da antecipação diferencial

Glaser sustenta, com a sua teoria da antecipação diferencial, que a decisão de cometer ou não
um delito decorre das consequências que o autor antecipa de sua execução ou não execução.
Se essa antecipação ditar que o cometimento do crime trará mais vantagens do que desvantagens, o
indivíduo se encaminhará para a sua prática.

TEORIAS MACROSSOCIOLÓGICAS DA CRIMINOLOGIA


TEORIAS DO CONSENSO TEORIAS DO CONFLITO
De índole funcionalista, para esta teoria deve De índole marxista, para esta teoria a sociedade é
haver uma cooperação entre cada órgão, fruto de uma luta de classes. Crime, para esta
empresa, pessoa que possuem uma função teoria, é apenas o resultado desse conflito entre
dentro da sociedade. Crime, para esta teoria, é classes.
uma desarmonia, uma ruptura entre os membros
da sociedade. Também conhecida por Teoria Partem seus estudos da Sociedade.
Funcionalista ou da Integração.

Partem seus estudos do Criminoso.


 Labelling Approach, Interacionismo
 Escola de Chicago ou Teoria Ecológica; Simbólico, Etiquetamento, Rotulação ou
 Teoria da Associação Diferencial; Reação Social;
 Teoria da Anomia;
 Teoria da Subcultura Delinquente.  Teoria Crítica, Radical, Nova Criminologia,
Criminologia da Criminologia.
TEORIAS DO CONSENSO
Também conhecida como Teoria Ecológica do Crime, a Escola de
Chicago surgiu no século XX dentro da Universidade de Chicago, onde fica
o primeiro departamento de sociologia do mundo. Esta teoria faz um
paralelo entre as plantas da natureza e a organização da sociedade,
ESCOLA criando as zonas de delinquência ou concentração geográfica de
DE CHICAGO criminalidade, ou seja, a compreensão do crime relacionava-se diretamente
com o conglomerado urbano estruturado de forma desorganizada, o que
favorecia a criminalidade. Como forma de prevenção defende a
necessidade de ações de intervenção nas cidades, como planejamento dos
bairros, investimento com recursos compatíveis com a realidade e o
interesse dos habitantes.

Desenvolvida por Edwin Sutherland, com base no pensamento de Gabriel


Tarde, a teoria teve influência da Escola de Chicago, e sustenta que o delito
não reside apenas no cometimento por classes menos favorecidas, pois
não é praticado somente pelas pessoas que pertencem a estes grupos, mas
também por pessoas de classes sociais elevadas, ou seja, o crime não está
TEORIA DA relacionado com a pobreza.
ASSOCIAÇÃO Foi através desta concepção que Sutherland criou os chamados crime de
DIFERENCIAL colarinho branco ou White Collar Crimes, para diferenciar criminosos
específicos, assim entendidos aqueles de classes altas, dos criminosos
comuns, passando ser esta a base da teoria. Para a teoria, também é
importante se notar que o comportamento criminoso é aprendido, mas
nunca herdado, assim o indivíduo é convertido em delinquente quando os
valores de seu grupo lhe ensinam o crime por um processo de interação
com outros grupos.

Anomia pela etimologia significa ausência de lei. Para Durkhein, que é o


expoente de tal teoria, a anomia significava a ausência ou desintegração
das normas sociais. O renomado expoente sustenta a existência de dois
tipos de sociedade:
Sociedade Primitiva: é aquela onde a sociedade não possui diferenciação
TEORIA entre os seus membros, pois possuem os mesmos valores, sentimentos e
DA ANOMIA crenças religiosas. É uma sociedade onde a solidariedade é mecânica;
Sociedade Contemporânea: é aquela onde os membros da sociedade, em
decorrência do trabalho, valores, não compartilham das mesmas metas,
enfraquecendo a consciência coletiva. É uma sociedade onde a
solidariedade é orgânica.
Assim, a teoria da anomia tem como característica o determinismo
sociológico, onde a perda das consciências coletivas da vida em sociedade
leva ao enfraquecimento da solidariedade social, e consequentemente ao
crime.
A teoria da Subcultura Delinquente surge com a obra de Albert Cohen
chamada Delinquent Boys (1955), e Ricard Cloward e Lloyd Ohlin. Parte
de uma estrutura social defeituosa onde a exclusão das metas sociais leva
TEORIA DA a criação de subculturas, ou seja, as diferenças sociais levam a existência
SUBCULTURA de várias culturas dentro de uma mesma cultura, levando
DELINQUENTE consequentemente ao fenômeno criminal. Para a Teoria, a sociedade é
constituída de uma cultura principal e diversas outras culturas e cada uma
possui suas próprias normas e valores. O crime seria uma reação social dos
integrantes dessas culturas contra as normas e valores das classes mais
altas.
TEORIAS DO CONFLITO
Também conhecido como Interacionismo Simbólico, Etiquetamento,
Rotulação ou Reação Social, a Labelling Approach surgiu nos EUA, na
década de 60, e teve como principais expoentes Erving Goffman e
LABELLING Howard Becker. É marca pela ideia que as noções de crime e criminoso
APPROACH são construídas socialmente a partir de definições legais e das ações de
instâncias oficiais de controle social a respeito do comportamento de
determinados indivíduos. A criminalidade, para esta teoria, não é uma
propriedade inerente ao sujeito, mas uma etiqueta atribuída a certos
indivíduos que a sociedade entende como delinquentes, ou seja, o
comportamento desviante é aquele rotulado como tal.
Também conhecida como Teoria Radical, Nova Criminologia ou
Criminologia da Criminologia, tem suas bases no Marxismo, de onde o
TEORIA delito é fruto de um sistema capitalista. Firmou-se em 1970. Teve como
CRÍTICA principais precursores Berkeley, Schwendinger e T. Plant. Para a teoria as
condutas criminosas dos menos favorecidos são as perseguidas, ao
contrário do que ocorre com a criminalidade dos poderes mais elevados. O
crime está associado à estrutura política e econômica de determinada
sociedade. Parte da ideia que a divisão de classes no sistema capitalista
gera desigualdades e violência, ou seja, o crime é fruto da luta de classes.
Segundo a teoria devem ser reduzidas as desigualdades sociais
penalizando a criminalidade das altas classes sociais como colarinho
branco (crime organizado, crimes contra a ordem tributária e sistema
financeiro, etc). A teoria crítica propõe um direito penal mínimo e a extinção
do sistema de exploração econômica.

Movimentos Atuais de Política Criminal

1. Abolicionismo Penal

Defende que o mau ocasionado à sociedade pelo sistema penal é pior do que o dano
causado pelo fato que gera sua intervenção.
Alinhado com a teoria do etiquetamento ou labelling approach, sublinha o caráter excludente e
estigmatizante do Direito Penal, que, ao punir, além de afastar o desviante do convívio social, aplica-
lhe um rótulo e o impulsiona, desse modo, a uma vida criminosa. Diz que o crime é uma produção da
sociedade, sendo o criminoso “criado” pelo legislador; por isso prefere-se o termo evento criminalizável
em vez de crime, e, ao mesmo tempo, propõe a própria substituição dessa ideia simplesmente por
situação-problema, prestigiando os meios alternativos de solução de conflitos (conciliação,
mediação, compensação, medidas terapêuticas e pedagógicas etc.). Aliás, nessa linha, aponta o
elevado índice de cifra negra (zona obscura, dark number ou ciffre noir), a significar que apenas
pequena parcela da criminalidade “de rua” (ex.: crimes contra a pessoa, patrimônio, dignidade social) é
comunicada às autoridades policiais, acabando os demais conflitos sendo solucionados na
informalidade.

(PC/SE-Delegado-2018-CEBRASPE) De acordo com estudos


vitimológicos, a diferença entre os crimes sexuais praticados e os
comunicados às agências de controle social é de aproximadamente 90%, o
que estaria em consonância com os dados do Panorama da Violência
contra as Mulheres no Brasil (texto 1A9-II), que indica a ocorrência de
subnotificação nos casos de estupros praticados em Sergipe. Esse
fenômeno, de apenas uma parcela dos crimes reais ser registrada
oficialmente pelo Estado, é o que a criminologia chama de cifra negra da
criminalidade. Gabarito: certo.

Ainda em tom de crítica ao Direito Penal, enfatiza-se o fato de o rigor penal recair
preferencialmente sobre as condutas imputadas às classes sociais mais baixas, sem que o mesmo rigor
seja aplicável às classes privilegiadas (ex.: crimes do colarinho branco). De fora parte esse caráter
seletivo e estigmatizante do sistema penal, também ocorre a marginalização da própria vítima,
relegando-a a uma posição secundária.
Em sua linha mais radical, considerando a deslegitimação do Direito Penal, propõe a sua
abolição, bem como o fim das prisões, que seriam irracionais e produziriam dor inutilmente.
A doutrina indica quatro vertentes do abolicionismo penal: Louk Hulsman, Thomas Mathiesen,
Nils Christie e Michel Foucault.

Louk Hulsman

Catedrático de Rotterdam e autor de Penas Perdidas — O sistema penal em questão (1982),


Louk Hulsman (1923-2009) propõe o abolicionismo a partir de uma perspectiva fenomenológica
(realidade do sistema).
Diz que o crime é uma realidade “inventada”, devendo ser substituído pelo conceito de
“situação-problema” e o Direito Penal completamente abolido, por se revelar materialmente desigual
e causador de sofrimento aos envolvidos, inclusive às vítimas. Propõe a sua substituição por um
mecanismo informal e flexível, em que a resolução do conflito não caiba ao Estado, mas às
partes envolvidas (infratores e vítimas), abrindo espaço para o diálogo face a face e para a solução
consensual, que seria mais efetiva. Fala-se em um abolicionismo institucional, que visa basicamente à
extinção da Justiça Criminal, e em um abolicionismo acadêmico, em uma abordagem acadêmica do
sistema penal, sob uma perspectiva crítica, com a mudança de linguagem (conceitos) e de percepção
do fenômeno criminal.

(DP/AM-defensor-2018-FCC) O abolicionismo penal de Louk Hulsman


defende o fim da pena de prisão e um direito penal baseado em penas
restritivas de direito e multa. Gabarito: errado (a proposta de Hulsman é
pela completa eliminação do Direito Penal).

Thomas Mathiesen

Sociólogo norueguês autor da obra The Politics of Abolition (1974), Thomas Mathiesen (1933-)
adota uma visão marxista do abolicionismo e defende que o sistema penal, atrelado ao sistema de
produção capitalista, é mais um instrumento de dominação de classe, por isso deve ser extinto. Sua
política abolicionista inspirou a Organização Norueguesa Anticarcerária (KROM), visando abolir as
prisões e negando até mesmo a possibilidade de penas alternativas.
Tido como o “estrategista do abolicionismo”, defende uma revolução permanente, gradual e
ilimitada, com reformas profundas no sistema penal, a curto prazo, enfatizando a adoção de políticas
sociais para redução de desemprego e da pobreza e a descriminalização das drogas, medidas que
reduziriam drasticamente a necessidade do sistema penal. Para um maior apoio às vítimas, fala em
compensação financeira pelo Estado (sistema de seguro simplificado), abrigos protetivos, centros de
apoio etc.
Nils Christie

Também norueguês, o sociólogo e criminologista Nils Christie (1928-2015) parte de uma


perspectiva fenomenológica-historicista para criticar o sistema penal em razão de produzir dor e
sofrimento e uma classificação dicotômica entre culpado e inocente, que derrui os vínculos sociais
horizontais. Também sublinha a revitimização do sujeito passivo, alijado do processo com a estatização
do conflito, e questiona conceitos clínicos como a “periculosidade”. Propõe, nesse sentido, uma justiça
participativa e comunitária para promover a pacificação social, em um ambiente informal e mediante
adoção de formas alternativas de solução para a situação-problema.

Michel Foucault

Zaffaroni entende que, conquanto Foucault (1926-1984) não seja um abolicionista no mesmo
sentido dos demais autores acima, defendeu, sob uma perspectiva estruturalista, ideias que estão à
base do abolicionismo, em seu clássico Vigiar e Punir (1975), no qual problematizou o saber difundido
pelo discurso científico da criminologia tradicional e destacou a expropriação dos conflitos pelo poder
quando da formação dos Estados nacionais, negando o modelo de uma instância decisória superior ao
litigante.

2. Minimalismo Penal

Situando-se em posição intermediária entre o abolicionismo e o Direito Penal máximo, o


minimalismo (ou Direito Penal mínimo) reconhece a necessidade do Direito Penal, mas apregoa que
deve ser mínimo (ultima ratio), ou seja, limitado, restringindo-se à tutela de bens jurídicos
relevantes (fragmentariedade), quando os demais ramos do direito não forem suficientes para isso
(subsidiariedade). Teve grande impulso depois da 2ª Guerra Mundial, com o fortalecimento do Estado
Democrático de Direito e a difusão de ideias liberalistas e humanistas.
De se notar que o minimalismo penal se manifesta tanto na criação e revogação das leis penais
quanto em sua aplicação, tendo relação direta com os clássicos princípios jurídico-penais que
estudamos no Direito Penal (legalidade, intervenção mínima, fragmentariedade, subsidiariedade,
lesividade, culpabilidade etc.).

3. Neorrealismo Penal

Sob um enfoque realista, tem como pano de fundo o socialismo e reconhece o reflexo da
pobreza na criminalidade, defendendo uma ampla política social para o controle das zonas de
delinquência. Por outro lado, assevera que os crimes mais graves devem receber uma punição
exemplar, com ampliação das medidas cautelares detentivas e o impedimento da flexibilização do
cumprimento da pena privativa de liberdade na fase da execução penal (redução do poder discricionário
do juiz).

4. Garantismo Penal

Luigi Ferrajoli, em seu clássico Direito e Razão (1989), defende, alinhado com as ideias
iluministas (que impuseram limitações ao antigo regime absolutista monárquico), um sistema penal
garantista, como limitação do poder punitivo estatal. Não propõe, portanto, a eliminação do Direito Penal
(abolicionismo), mas sua utilização como instrumento para a garantia do respeito aos direitos do
acusado. Fala em convencionalismo penal, por caber ao legislador, em respeito ao princípio da
legalidade estrita, definir, de modo taxativo, os tipos penais, livre de valorações subjetivas próprias a um
Direito Penal do autor.

(MP/SC-promotor-2019) O garantismo penal de Ferrajoli é contrário à proposta de eliminação do


Direito Penal, que é denominada como abolicionismo. O motivo dessa posição é a consideração de que
a aplicação do Direito Penal pelo Estado pode ser um instrumento para a garantia do respeito aos
direitos do acusado. Gabarito: certo.

O garantismo penal assenta-se em dez axiomas:


a) princípio da retributividade ou da consequencialidade da pena em relação ao crime (nulla
poena sine crimine);
b) princípio da legalidade (nullum crimen sine lege);
c) princípio da necessidade ou da economia do direito penal (nulla lex poenais sine
necessitate);
d) princípio da lesividade ou da ofensividade do evento (nulla necessitas sine injuria);
e) princípio da materialidade ou da exterioridade da ação (nulla injuria sine actione);
f) princípio da culpabilidade ou da responsabilidade pessoal (nulla actio sine culpa);
g) princípio da jurisdicionariedade (nulla culpa sine judicio);
h) princípio acusatório ou da separação entre juiz e acusação (nullum judiciaum sine
accusatione);
i) princípio do ônus da prova ou da verificação (nulla accusatio sine probatione);
j) princípio do contraditório, da defesa ou da falseabilidade (nulla probatio sine defensione).

(DP/AP-defensor-2018-FCC-adaptado) O desenvolvimento teórico do


Garantismo é atribuído especialmente a Luigi Ferrajoli. Embora tenha
origem e matiz iluminista, atualmente encontra-se em direção oposta,
como se pode extrair de seu decálogo teórico axiomático. Gabarito: errado
(o decálogo teórico axiomático não se encontra em direção oposta às
ideias iluministas, bem pelo contrário).
Como sabemos, todos esses postulados foram incorporados às Constituições e codificações
modernas, convertendo-se em princípios típicos ao Estado Democrático de Direito. Ferrajoli sustenta
que a supressão de tais princípios configura sistemas punitivos irracionais, classificados assim:
a) sistema de mera prevenção: viola o princípio da retributividade, funcionando a pena somente
para prevenir perigos futuros;
b) sistema do Estado policial: menoscaba o princípio da legalidade, adotando tipos penais
abertos, que ensejam o arbítrio estatal;
c) sistema da justiça patriarcal: livre de limites preestabelecidos, baseando-se na vontade do
monarca; por conseguinte dá margem a decisões arbitrárias.
Impende notar, outrossim, que Ferrajoli atribui três sentidos à palavra “garantismo”:

a) modelo normativo de direito: sistema penal de estrita legalidade próprio do Estado de Direito,
manifestando-se em três planos: (i) plano epistemológico, caracterizado como um sistema cognitivo ou
de poder mínimo; (ii) plano político, caracterizado como um sistema que minimiza a violência e
maximiza a liberdade; (iii) plano jurídico, caracterizado como um sistema de vínculos (limites) impostos
à função punitiva estatal em garantia dos direitos individuais;
b) teoria jurídica da “validade” e da “efetividade” como categorias distintas não só entre si, mas
também pela “existência” ou “vigor” das normas: “Designa uma teoria jurídica que coloca validade e
efetividade como classes distintas entre si, bem como diversas da existência (vigência) das normas.
Neste enquadramento, a palavra ‘garantismo’ exprime uma elucubração teoria que mantém separados
o ‘ser’ e o ‘dever ser’ no direito, diferenciando o modelo normativo (materialmente garantista) da prática
operativa (virtualmente antigarantista) e atuando como fator legitimador/deslegitimador que limita e
vincula o poder” (SALIM, Alexandre; DE AZEVEDO; Marcelo André. Direito Penal, 10ª edição, p. 44);
c) filosofia política: “requer do direito e do Estado o ônus da justificação externa como base nos
bens e nos interesses dos quais a tutela ou a garantia constituem a finalidade. Em outras palavras:
trata-se de uma filosofia política laica que pressupõe a separação entre direito e moral, ou seja, uma
justificação entre validade e justiça” (op. cit., p. 45).

5. Tendências Securitária, Justicialista e Belicista

A tendência securitária foca no aumento dos poderes investigatórios da polícia, ao argumento de


que a atuação imediata do Estado é necessária diante do estado de risco ou perigo no meio social,
relegando-se o controle jurisdicional para momento posterior. A tendência justicialista, por sua vez,
propugna o aumento dos poderes do juiz, enquanto a teoria belicista é caracterizada pela supressão de
direitos e garantias fundamentais, em um movimento de despersonalização (“coisificação” ou
“reificação”) do indivíduo.
Todas essas correntes se associam ao chamado Movimento Lei e Ordem (que defende um
Direito Penal máximo) e suas manifestações, como a política da Tolerância Zero (severa repressão à
pequena criminalidade), ambos por nós já estudados.
6. Direito Penal do Inimigo

Proposto em 1985 pelo jurista alemão Günther Jakobs (1937-), parte da premissa de que a
função essencial do Direito Penal é a tutela da norma e do ordenamento jurídico e, apenas em um plano
secundário, a tutela dos bens jurídicos.
Nesse pensamento, os criminosos que se afastam permanentemente das normas de direito
representam grande perigo à sociedade, por isso devem ser considerados inimigos do Estado, devendo
receber um tratamento diferenciado, mais rigoroso (logicamente) do que aquele direcionado ao cidadão
de bem (Direito Penal do cidadão), com relativização ou supressão de direitos e garantias penais e
processuais.
A transição da qualidade de cidadão para inimigo opera-se com a reincidência, a habitualidade,
a delinquência profissional ou a integração a organizações criminosas, caracterizando um modo de vida
típico ao “abandono do direito”.
Características do Direito Penal do Inimigo:
a) o inimigo perde o status de cidadão (sujeito de direito), passando a objeto de coação;
b) a relativização ou supressão de direitos e garantias penais e processuais;
c) o princípio da legalidade é flexibilizado, com tipos penais vagos e imprecisos;
d) os princípios da ofensividade e da exteriorização são relevados, autorizando-se, também, a
punição de atos preparatórios (sem redução quantitativa da punição);
e) penas proporcionalmente elevadas;
f) o processo mais célere;
g) medidas cautelares com alcance maior e ampliação de técnicas investigativas (infiltração em
organizações criminosas, colaboração premiada etc.);
h) na fixação da pena, privilegia-se o juízo de periculosidade, em vez do juízo da culpabilidade;
i) penas assumem caráter de medida de segurança, com duração indeterminada (enquanto
persistir a situação de perigo; perspectiva prospectiva, e, não, retrospectiva);
j) endurecimento da execução penal.
Aponta-se como fundamentos filosóficos para a teoria de Jakobs:
a) Jean Jacques Rousseau: o indivíduo que viola o contrato social está em guerra contra o
Estado, deixando de ser seu membro;
b) Johann Gottlieb Fichte: o inimigo, ao abandonar a teoria do contrato cidadão, perde todos os
seus direitos;
c) Hobbes: a alta traição deve resultar em castigo como inimigo, e, não, como súdito;
d) Immanuel Kant: deve ser tratado como inimigo quem ameaça constantemente a sociedade e
o Estado, por não aceitar o “estado comunitário-legal”.

Logicamente, o Direito Penal do Inimigo sofre fortes críticas doutrinárias, por prestigiar o direito
penal do autor (e, não, o direito penal do fato) e se mostrar incompatível com os direitos e garantias
fundamentais.
7. Teoria do cenário da bomba relógio (the ticking time bomb scenario)

Surgida nos Estados Unidos, a teoria do cenário da bomba relógio aproxima-se do Direito Penal
do Inimigo e é marcada pela flexibilização das garantias penais e processuais penais a ponto de permitir
o emprego excepcional da tortura, como forma de reprimir condutas terroristas (ex.: justifica a adoção
da tortura de um terrorista para revelar a localização de uma bomba prestes a explodir, daí o nome da
teoria).

8. Direito Penal Paralelo e Direito Penal Subterrâneo

Zaffaroni define sistema penal como o conjunto de agências que operam a criminalização
primária e a criminalização secundária. A criminalização primária é a elaboração de leis penais, que
serão aplicadas pelas agências de criminalização secundária (polícia, Ministério Público, Judiciário e
agentes penitenciários).
Como o sistema penal formal do Estado não exerce todo o poder punitivo, outras agências
acabam apropriando-se desse espaço e exercem um poder punitivo paralelo ao Estado, formando
sistemas penais paralelos (ex.: trato de viciados em crack por instituições privadas). Por atuarem
paralelamente ao poder punitivo estatal, acabam, muitas vezes, desaguando em atuações ilícitas,
dando origem a sistemas penais subterrâneos (ex.: milícias).
Alguns apontam que o Direito Penal subterrâneo difere do Direito Penal paralelo pelo fato de a
conduta punitiva ser empregada por agências ou instituições que fazem parte do sistema punitivo
criminal formal e oficial.

9. Bullying, Assédio Moral e Stalking

A Lei nº 13.185/2015 instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying). Para


esse efeito, considera-se intimidação sistemática (bullying) todo ato de violência física ou psicológica,
intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra
uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em
uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. Pode-se configurar, inclusive, por
meio da internet (cyberbullying).
De seu turno, o assédio moral (também conhecido como manipulação perversa ou terrorismo
psicológico), segundo Sumariva, é o comportamento abusivo, reiterado e sistemático, externalizado por
palavras, gestões, ações comissivas ou omissivas, que pode acarretar debilidade física ou psíquica da
vítima. Pode-se dar em diversos tipos de ambientes, mais comumente no escolar, laboral e familiar. Nas
relações trabalhistas, o assédio moral se pode configurar pelo chamado mobbing, que é o
comportamento de perseguição, normalmente por superiores hierárquicos (empregadores, gerentes,
administradores etc.), que pode violentar a integridade física, psíquica e moral da vítima.
Gize-se, no entanto, que, no Brasil, ainda não há o crime de assédio moral, conquanto possa
configurar a contravenção penal de perturbação da tranquilidade (art. 65 do Decreto-Lei nº 3.688/1941).
Existem, no entanto, projetos de lei que tramitam para criminalizá-lo (ex.: Projeto de Lei nº 4.742/2001,
que tramita no Congresso Nacional desde 2001 e visa tipificar o crime de assédio moral no trabalho,
mais precisamente pela inclusão do art. 146-A no Código Penal); o assédio sexual, vale lembrar, já é
tipificado criminalmente (CP, art. 216-A).
Por fim, refira-se o termo stalking, de origem norte-americana, utilizado para casos de
perseguição persistente nos quais se divisa uma invasão reiterada da esfera de privacidade da vítima,
por meio físico ou virtual (cyberstalking), podendo ocasionar, em determinados casos, abalo psíquico à
vítima. É considerado uma forma de assédio moral, também podendo ser enquadrado como
contravenção penal de perturbação da tranquilidade (art. 65 do Decreto-Lei nº 3.688/1941) ou, a
depender do caso, como crime contra a honra (injúria, difamação ou calúnia, consoante o tipo de
exposição provocada). No mais, é de se mencionar o inciso II do art. 7º da Lei Maria da Penha (Lei nº
11.340/2006), que classifica, de forma expressa, a “perseguição contumaz” como uma espécie de
violência psicológica.

CRIMINOLOGIA AMBIENTAL

Tópico exigido no edital de DPC/MA. A Criminologia Ambiental se preocupa com um fim


especial: prevenção do delito. O criminólogo ambientalista faz uso de uma técnica fundamental para
tal prevenção: mapeamento do crime. Quatro teorias merecem destaque aqui para o nosso estudo:

I) Teoria das Atividades Rotineiras (da Atividade de Rotina): para que um CRIME ocorra
deve haver CONVERGÊNCIA de TEMPO E ESPAÇO em, pelo menos, três elementos: um provável
AGRESSOR, um ALVO adequado, na AUSÊNCIA DE UM GUARDIÃO capaz de impedir o crime”
(Clarke e Felson, 1998, p. 4; Farrell, Grahan e Pease, 2005, p. 3). Desta forma, um crime poderá ser
prevenido se o local e o alvo não oferecerem OPORTUNIDADES para que um delito específico ocorra.
Torna-se necessário controlar o infrator e criar um ambiento seguro (presença de guardião).

II) Teoria da Escolha Racional: foco no processo de tomada de decisão do criminoso.


Os criminosos podem cometer ou não um crime com base na percepção dos riscos e
recompensas. A tomada de decisão do criminoso é realizada nas consequências imediata,
negligenciando análises de custo/benefício mais complexas.

III) Teoria do Padrão Criminal: estabelecimento de padrões criminais: natureza da infração


(furto, roubo, tráfico), modus operandi, localização, pessoas, tempo, eventos específicos (carnaval,
férias).
Regra 80-20 = Princípio de Pareto. 20% dos criminosos são responsáveis por 80% dos crimes. 20%
das vítimas sofrem 80% das vitimizações. 20% dos lugares respondem por 80% dos crimes. Assim, os
esforços e recursos da polícia para prevenção devem ser voltados a tais estatísticas.
IV) Teoria da Oportunidade: Clarke e Felson (1998) ressaltam que o comportamento individual
é resultado da interação entre o indivíduo e o ambiente. Por isso, asseguram que a OPORTUNIDADE
pode ser considerada uma das principais causas do crime.

Você também pode gostar