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Irmandade dos Semirombas e Sakáangás

Esses dois termos foram perdidos completamente nas areias do tempo, dentro do movimento umbandista
contemporâneo. Algumas vezes a palavra Semiromba ainda aparece em destaque, muito por movimento de
antigos praticantes da Umbanda ou novos praticantes da antiga Umbanda, mas infelizmente ainda aparecem
também na boca de pessoas que se utilizam das práticas de Umbanda para bens financeiros. Algo que é
totalmente antagônico com a palavra Semiromba.

A princípio Semiromba é um adjetivo usado para designar um homem-puro, mas se tornou substantivo
ao se referir a São Francisco de Assis, este considerado o mais puro dos homens que algum dia encarnaram
na terra, tendo apenas Jesus Cristo como alguém mais puro.

São Francisco rege e lidera a sexta falange da linha de Oxalá, que leva seu nome: Falange de São
Francisco de Assis.

São Francisco dispensa apresentações. Tido como aquele que mais se aproximou da humildade e
abnegação do Cristo e considerado um santo em vida é o que podemos representar como o epítome da
caridade e do amor. Dentro da Umbanda tradicional é conhecido como Linha de Semiromba.

Os falangeiros dessa ordem atuam conjuntamente com a falange de Santo Antônio e a falange de São
Benedito, promovendo a congregação pela fé, a paz e acima de tudo o conforto do espírito. Promovem
verdadeiras mudanças internas, sempre alimentando nossas esperanças de um mundo melhor.

Nessa linha encontramos freis e freiras, irmãos e irmãs que se apresentarão humildemente e também
podem (não é obrigatório) usar o cordão de São Francisco como uma ferramenta e até mesmo podem
manifestar nos médiuns as chagas de São Francisco (que são as chagas de Jesus). Não que serão criadas
feridas nas mãos dos médiuns, mas poderão aparecer manchas ou certo rubor em determinadas partes (nos
locais das chagas) que sumirão após a desincorporação. Essa é uma falange muito poderosa e também muito
mal compreendida. Atuam através de rituais de oração para curar, transformar, elevar, espiritualizar, diluir
energias negativas ou nocivas, feitiçarias, macumbas, magias negras, amarrações, mal-olhado e também
atuam confortando os espíritos obsessores, negativos e negativados, para que possam encontrar paz para suas
almas.

Padrinho Juruá, escritor e dirigente do centro Estrela Azul, na cidade de São Caetano, considerava que os
Semirombas e os Sakáangás formam no astral uma Irmandade para trabalhos Espirituais. Ele destaca em seu
livro sobre o Ritual do Rosário das Santas Almas Benditas o seguinte:

No Catimbó Ancestral, existe uma Aldeia Espiritual denominada “Aldeia de Josafá”. Esta aldeia é
habitada por Mestres Espirituais, que quando encarnados em sua maioria eram católicos praticantes.
Muitos foram padres e freiras. Os catimbozeiros quando invocam essa Aldeia Espiritual, o fazem em torno
de uma mesa denominada – “Mesa de Josafá” – através da reza do Terço católico (o Rosário católico (15
mistérios) praticamente é usado no pescoço do praticante ou de quem esta sendo beneficiado, como
proteção; Rosário católico somente é usado na reza em momentos de grande aflição), principal instrumento
de Magia. Na Mesa de Josafá são invocados uma trindade divina própria: Pai Jurme (Pai da floresta) –
Mãe Jurema (Mãe da floresta) e Juramidã (Cristo da floresta), além de São Miguel Arcanjo e Semiromba
(Santos e Santas, juntamente com frades freiras e monges).

Ainda segundo esse dirigente (e eu concordo com ele totalmente) essas linhas que era muito ativa no
começo da Umbanda, realizando rezas e cultos cristãos, perdeu sua popularidade com a inclusão massiva de
práticas do Candomblé e de outras magias adquiridas da Macumba Carioca, do Catimbó e até outras práticas
mágicas, na tentativa de resolver todos os problemas de forma mais rápida. Exatamente esse movimento é
que trouxe também para a Umbanda a inclusão de diversos rituais, liturgias, magias, dogmas, quizilas e outras
coisas, que não faziam parte da Umbanda na sua origem e nem mesmo das Umbandas populares de outrora.

Isso em minha opinião – fugindo do escopo, mas não completamente – é devido a ânsia do ser humano
em resolver seu problema rapidamente, ou em outras palavras, de forma mágica, ao invés de ir pela via que
a Umbanda ensina, por meio da reforma íntima, da oração, da compreensão do evangelho, etc.

Podemos considerar então como Semiromba São Francisco de Assis, apesar que alguns cultuam também
outros franciscanos ou de irmandades semelhantes como tais, como: São Benedito, Santo Antônio, etc. Já os
Sakáangas seriam as almas que trabalham pela reza e pela benzedura, tirando as coisas ruins das
pessoas. Mas esses espíritos não incorporam – ao contrário de outros da linha de São Francisco de Assis.
Sua ativação é sempre de ordem mental, através de rezas, evocações e benzeduras.

Uma outra característica dessa irmandade é que eles não gostam – ou não podem – trabalhar com médiuns
de forma individual. Eles precisam de uma corrente de oração, uma egrégora formada para esse fim. Não
adianta um “pai-de-santo” dizer que vai trabalhar com essa linha sozinho, como ouvimos dizer por aí. Ele
precisa de um grupo de pessoas, com o pensamento em harmonia para que sejam feitas as rezas e as
contemplações.
Segundo o dirigente do centro Estrela Azul:

As Irmandades de Trabalhos Espirituais dos Semirombas e dos Sakáangás não atuam na fase de
“incorporação” mediúnica. Só nos dão sustentação vibratória e se fazem presentes quando se realiza
evangelização, rezas, orações, benzimentos e principalmente o Ritual do Rosário das Santas Almas Benditas.

Então acredito que nesse texto conseguimos explanar sobre essa linha de trabalho, assim como o
entendimento de como se dá o trabalho dos Sakáangas. Esses que são exímios benzedores, raizeiros ou até
mesmo parteiras, que atuam tanto encaminhando as almas aflitas que já desencarnaram, quanto agindo na
destruição de magias negativas, sejam elas de ordem cerimonial ou mental.

Dentre os Sakáangas que podemos destacar estão o grande Pai João de Carmargo, o Pai João Maria de
Agostinho, o Mestre Irineu (Fundador do Santo Daime), Nhá Chica, entre outros tantos.

No livro do Ritual do Rosário das Santas Almas Benditas, é exposta a etimologia da palavra Sakáangá,
reproduzida abaixo:

Sakáangá: Segundo o “Dicionário de Umbanda e Outros Assuntos” – Erlon Dutra – 1957: “Espíritos
que tem como missão a destruição de trabalhos de Magia negra, além de efetuarem outros trabalhos astrais
em benefício dos encarnados, dos Espíritos atrasados e dos obsessores. Trabalham na linha das almas. Vêm
para desfazer o mal e destruir malefícios enterrados. Praticam também, operações invisíveis”. Encontramos
a mesma explicação no “Dicionário da Umbanda – Altair Pinto – Editora Eco – 1975”.

Do “kimbundo” – Saka: Quem administra um sacramento; quem abençoa, quem cura; Do “quicongo”:
sacudir, agitar (para expulsar, exorcizar). Do kimbundo – Angá: Alma; Espírito; Uangá: feitiço

Portanto, temos uma tradução aproximada: Sakáangá: Almas (Espíritos) que nos abençoam, nos benzem
nos curam e expulsam os malefícios/feitiços.

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