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Análise do poema “Não conte pra ninguém”

Matheus Zanin de Moraes – Nº26 – 2ºB

A interpretação do texto explicitará aspectos locais e histórico-sociais.


No poema “Não conte pra ninguém”, do livro “Meu livro de cordel”, Cora Coralina
apresenta uma perspectiva da vida em Goiás, mais especificamente de Vila Boa, onde
viveu durante parte de sua vida, retomando origens. Na primeira estrofe, a autora refere-
se como a idosa mais bonita da região, citando o Rio Vermelho, próximo à sua antiga
casa, que possibilitou a região tornar-se área de mineração no passado. Em seguida, é
feita uma alusão à geografia do local: “Tenho segredos/com os morros”, portanto, trata-
se de uma região próxima de serras, como, por exemplo, a Serra Dourada.
Na segunda estrofe, cita-se o Beco do Mingu, um estreitamento localizado em Goiás,
ambiente discriminado e humilde, e a Rua Rintintim, sem-saída, que posteriormente
mudou de nome, como sendo locais conhecidos pela poetiza. Desse modo, a imagem da
cidade é construída com citações de aspectos espaciais: uma das ruas seria a sua predileta
desde o tempo do bioco e batuque. Estes se referem à mantilha utilizada por mulheres
para cobrir a cabeça, comum em Portugal, e à música realizada pelos escravos
afrodescendentes durante comemorações, simbolizando a duração do tempo que Cora
está familiarizada com a região (a autora nasceu após a abolição da escravidão no Brasil,
em 1889). São mencionados ainda Zé Mole, Chupa Osso e Canta Galo, locais por onde
procuraria “itens preciosos”. O último, o Morro do Cantagalo, é famoso por lendas sobre
esconderijos de ouro deixados pelos escravos, relacionando-se com os versos: “Procuro
enterro de ouro/Vou subir o Canta Galo/com dez roteiros na mão”.
Deduzindo-se a partir do título do poema, tais informações seriam segredos não
revelados: Cora Coralina cita que possuía amores nas respectivas diferentes partes da
cidade, condição malvista pela sociedade da época, em relação a um modelo feminino
pré-estabelecido a ser seguido pelas mulheres, privadas de maiores liberdades e direitos.
Um convite ainda é feito a um desses namorados: que eles fugissem, em busca de ouro
— outra referência ao fato de ter sido descoberto ouro pela primeira vez no Rio Vermelho,
citado anteriormente, e à lenda dos escravos. Viveriam, portanto, verdadeiras aventuras
na região, “loucos”, “fazendo água no poço”, como ela opta para descrevê-las. Ainda
assim, o trecho “dar que falar/às bocas de Goiás” indica o possível espalhamento de
rumores pela cidade caso esta ação ocorresse. É possível reconhecer, portanto, uma
cidade pequena no interior. Novamente a questão de como a figura feminina da época era
representada aparece, sendo acompanhada pela citação do “Poço da Carioca”, primeira
fonte pública de abastecimento de água em Vila Boa, construído em 1782 dentro do
contexto da mineração.
Na última estrofe do poema, a poetiza, constante observadora, autodenomina-se “uma
velha namoradeira” que, no texto em questão, relata experiências e memórias, sua visão
de mundo, por isso seus versos teriam a sua idade. Relata atividades de infância,
influenciadas pelo meio de Vila Boa de Goiás, como “beber água do rio na palma da
mão”.
Ao dizer que havia sido velha quando era jovem, busca retratar seu modo de vida na
juventude, como pensava: submetida à vontade familiar, não confessava tais segredos,
que apenas seriam revelados quando adulta, através da escrita. Assim como em outros
poemas do mesmo livro, reaparece a imagem das estrelas e da Lua, admiradas por ela.

Fontes (acesso em 26 de outubro de 2017):


http://portal.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_hist.gif&Cod=1218
https://pt.wikipedia.org/wiki/Batuque_(música)
https://www.flickr.com/photos/aragao/9271968670/in/photostream/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cora_Coralina
http://www.blogtimberland.com.br/lifestyle-outdoor/explore-sua-cidade/goias-velho-
guarda-muita-historia-e-paisagens-inesqueciveis/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Vermelho_(rio_de_Goiás)
http://periodicos.ufpb.br/index.php/artemis/article/download/2096/1854

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