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Plantação de horizontes: a poesia vinda de terras secas

O primeiro contato que tive com a obra de Luiza Cantanhêde foi através deste
Plantação de horizontes (Editora Penalux, 2023), livro que chegou até minhas mãos
sem eu conhecer coisa alguma a respeito de seu conteúdo, ou de sua autora. E, como de
costume, deixei a leitura do prefácio para o final, para descobrir os versos sem a
influência de uma leitura prévia, para então descobrir que tenho outro livro de sua
autoria aqui na minha lista de futuras compras, o Pequeno ensaio amoroso, de 2021.
Coincidência cósmica ou não, Luiza entrou em minha vida, com sua bagagem de
mulher vinda de terras secas.

Plantação de horizontes, com suas temáticas que remetem as origens da autora,


se desenrola em quatro partes: O piso milenar da terra, Não aprendi a arar amanhãs,
Sementes ainda furam desertos e As mães plantam fé nas tristezas. Duas destas partes
estão aqui destacadas. O poema que abre o livro, Na enseada dos meus olhos, traz no
eu-lírico o cotidiano sofrido de um povo que mesmo diante das adversidades, não foge à
luta: “Na enseada dos meus olhos,/a fome dói/tal a miséria do meu povo//E o vazio no
peito é/subitamente/invadido pela/desesperança”.

A terra milenar do homem que planta o sertão, com suas “Unhas encravadas no
contorno/Do tempo”, que pinta o sertão, a “Terra batida,/Barro vermelho,/Água
salobra” é o homem que é uma das raízes desta nação chamada Brasil. Raiz essa, tantas
vezes, mal regada, mal tratada, abandonada, mas que se recusa a se dar por vencida, se
nega a ter sua voz calada. Retrato de um país que muitas vezes “esquece suas origens”,
renega seu passado.

Em sua segunda parte, Não aprendi a arar manhãs, encontra-se a melancolia do


tempo, exposta em versos de perturbadora crueza. Os versos de Para quem não passa
fome, tudo é normal trazem o horror da desesperança em sua prece para ouvidos surdos:
“A mulher agoniza/No asfalto/A criança agoniza/No asfalto/Tudo é tão normal/Para
quem não passa/Fome.” Não é só a mulher e a criança que agonizam no asfalto, nas
avenidas, nas favelas e nos sertões, mas sim 33 milhões de brasileiros que voltaram a
passar fome, vítimas impotentes de um desgoverno fascista que assolou um país que
estava no rumo certo e que saiu dos trilhos desde o golpe contra a então presidente
Dilma Rousseff.
Outro destaque da obra é sua história pregressa a publicação pela Editora
Penalux. Plantação de horizontes foi 2° Lugar no 1° Concurso Literário da Academia
Ludovicense de Letras e recebeu Menção especial no Prêmio “Marcus Vinicius
Quiroga”, do Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira de escritores/ RJ.
Outros prêmios e menções certamente virão no decorrer de 2023, e além.

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