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Fl.

1164
SR/PF/SP
2022.0049686

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL


MJSP – POLÍCIA FEDERAL
SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL EM SÃO PAULO
SETEC – NÚCLEO DE CRIMINALÍSTICA

LAUDO N.º 4261/2022-SETEC/SR/PF/SP

LAUDO DE PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL


(REGISTROS DE ÁUDIO E IMAGENS)

Em 6 de dezembro de 2022, designado pelo chefe do SETOR TÉCNICO


CIENTÍFICO da Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo, o Perito
Criminal Federal ANTÔNIO PAULO ISMAEL elaborou o presente Laudo de Perícia
Criminal Federal, no interesse do IPL ePol n.º 2022.0049686-SR/PF/SP, a fim de atender ao
contido no Ofício n.º 3304003/2022-DELECOR/DRCOR/SR/PF/SP de 08/09/2022,
protocolado no SEI sob o n.º 08500.031305/2022-58 e registrado no SISCRIM sob o n.º
3863/2022-SETEC/SR/PF/SP em 12/09/2022, descrevendo com verdade e com todas as
circunstâncias tudo quanto possa interessar à Justiça e respondendo aos quesitos formulados,
abaixo transcritos:

I – MATERIAL
Como material para os exames o signatário utilizou 02 (dois) arquivos de vídeo
compactados no arquivo “SHORTFILM 4K_AYLA & BERNARDO e Vídeo TC Palhaça
(24935617)” disponibilizado no sistema SEI em referência (Figura  1).

Figura 1 – Imagem contendo o arquivo disponibilizado no sistema SEI.

A forma eletrônica deste documento contém assinatura digital que garante sua
autenticidade, integridade e validade jurídica, nos termos da Medida Provisória n.º
2.200-2, de 24 de agosto de 2001.
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II – OBJETIVO
O objetivo do presente exame é atender parcialmente ao solicitado, analisando
o conteúdo dos arquivos de vídeo encaminhados, de forma a realizar a Comparação Facial
(quesito 2) de imagens auxiliando na identificação dos envolvidos.
A solicitação de Comparação de Locutor (quesitos 1 e 3) em relação às vozes
contidas nos vídeos será tratada em outro Laudo Pericial.

III – EXAME
Preliminarmente o signatário verificou a integridade dos arquivos
encaminhados, constatando que não apresentavam inconsistências, permitindo a reprodução
integral de seu conteúdo.
Para garantir a autenticidade e integridade dos arquivos encaminhados, as suas
funções de resumo criptográfico (Hash – SHA256) foram calculadas conforme apresentado a
seguir:
• “Vídeo TC Palhaça - acusações anônimas contra o TradersClub.mp4”
Hash: ec77c19472c60692dfdd0cad1e8ee9ff4822ec291a83e14da19ce3078d9eca9f

• “SHORTFILM 4K_AYLA & BERNARDO.mp4”


Hash: 4716f1d1775cfbbdd2af9ae0dee0990c2e6f9227ec61bda5b8db6072cc237785

III.1 – Material Padrão


O signatário utilizou como material padrão o arquivo “SHORTFILM 4K_AYLA
& BERNARDO.mp4”.
As imagens foram gravadas com áudio, com definição de 1280 x 720 pixels,
taxa aproximada de 24 quadros por segundo, no formato simples (cada quadro do vídeo
contém a imagem de 1 câmera).

III.2 – Material Questionado


O signatário utilizou como material questionado o arquivo “Vídeo TC Palhaça
- acusações anônimas contra o TradersClub.mp4”.
As imagens foram gravadas com áudio, com definição de 1280 x 720 pixels,
taxa aproximada de 30 quadros por segundo, no formato simples.
Observa-se que o aquivo recebido não corresponde ao original e possivelmente

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passou por um processo de ampliação por amostragem espectral.

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III.3 – Considerações Técnicas

O exame de Comparação Facial parte da premissa antropológica de que a


constituição facial dos indivíduos apresenta variabilidade suficiente para permitir, sob
determinadas condições, uma análise com elevado potencial de distinção de um indivíduo em
relação aos demais. É um exame de natureza comparativa, realizado entre duas ou mais
imagens de faces registradas em momentos distintos. Quando se tem um indivíduo conhecido,
a sua face é denominada “face padrão”, podendo haver mais de uma imagem desta, em
diferentes poses ou momentos. Quando se trata de indivíduos não identificados, cada face que
se pretende identificar é denominada “face questionada”, também podendo ser representada
em uma ou mais imagens, em diferentes poses ou momentos.
O exame consiste na análise e comparação de características faciais, que são
classificadas como convergências ou divergências e avaliadas quanto ao seu grau de
discriminação, para que, finalmente, possa ser formulada a conclusão.
O êxito da comparação depende, necessariamente, da visualização adequada
das estruturas faciais e suas delimitações anatômicas, sendo tal aspecto uma condição
necessária ao exame de Comparação Facial. Por este motivo, realiza-se inicialmente uma
avaliação qualitativa das imagens, a fim de avaliar a viabilidade de realização do exame,
sendo observados aspectos como: nitidez, riqueza de detalhes, presença de manchas no
suporte, ruído, frequência de amostragem espacial, artefatos de compressão em imagens
digitais, artefatos de impressão em imagens impressas, foco, relação contraste/brilho,
presença de sombras, dentre outros.
Também é desejável que as imagens confrontadas sejam contemporâneas, visto
que algumas estruturas faciais sofrem alterações com o passar do tempo, e o tecido cutâneo
sofre colapso e desidratação com o processo de envelhecimento. Os casos extremos são
relacionados à comparação de faces de crianças com faces de adultos, quando se tem a
influência significativa do processo de crescimento e envelhecimento da face. Quanto maior o
lapso temporal entre os dois registros, menor será a possibilidade de êxito dos exames de
Comparação Facial.
Conforme já mencionado, a qualidade das imagens é um forte requisito para a
realização dos exames, principalmente por se empregarem métodos morfológicos, que são os
únicos atualmente recomendados pelo Facial Identification Scientific Working Group1.

1
FISW http://www.fiswg.org/documents.html – Guidelines for Facial Comparison Methods. Facial
Identification Scientific Working Group, versão 1.0, aprovada em 02/02/2012 e publicada em 20/04/2012.

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A morfologia dos elementos constitutivos, as características de disposição e


simetria das estruturas faciais e algumas características particulares têm um poder distintivo
acentuado, em especial as marcas e sinais dermatológicos, rugas e cicatrizes, que têm origem
a partir de processos fortuitos, aleatórios ou mesmo intimamente relacionados a fatores
congênitos ou hereditários. Por outro lado, algumas características de poder distintivo
reduzido possibilitam estabelecer a pertinência da face a uma classe de indivíduos, o que pode
em certas situações refutar hipóteses de atribuição.
No método morfológico, são procuradas, nas faces comparadas, características
morfológicas das estruturas faciais, que são analisadas em sua forma e disposição. Além
disso, também são verificadas as características de geometria e simetria das faces, bem como
características particulares como marcas, sinais e cicatrizes. Todos esses elementos são
examinados, sendo evidenciadas as convergências e divergências encontradas. Levando-se em
conta a capacidade discriminatória de cada comparação realizada, os resultados são avaliados
conjuntamente para a formulação da conclusão.
A natureza do exame de Comparação de Faces traz impeditivos de ordem
prática para que os resultados possam ser apresentados em termos quantitativos, fato este que
também ocorre em outros segmentos das chamadas Ciências Forenses, como, por exemplo, na
Comparação de Locutores. Uma forma de contornar esses impeditivos é utilizando escalas
qualitativas, tais como as propostas disponíveis em literatura especializada.
Neste Laudo, será utilizada uma escala que descreve nove níveis distintos para
o grau de confirmação (ou contradição) à hipótese considerada, depreendido do resultado dos
exames realizados sobre as evidências disponíveis. No caso deste exame, os graus de
confirmação e contradição dizem respeito à hipótese de que as faces comparadas sejam, de
fato, pertencentes a um mesmo indivíduo. A seguir, são listados os nove níveis:
• + 4: o resultado corrobora muito fortemente a hipótese (de mesma origem);
• + 3: o resultado corrobora fortemente a hipótese;
• + 2: o resultado corrobora moderadamente a hipótese;
• + 1: o resultado corrobora levemente a hipótese;
• 0: o resultado nem corrobora nem contradiz a hipótese;
• – 1: o resultado contradiz levemente a hipótese;
• – 2: o resultado contradiz moderadamente a hipótese;
• – 3: o resultado contradiz fortemente a hipótese;
• – 4: o resultado contradiz muito fortemente a hipótese (de origens diferentes).

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Os exames têm início com a verificação da adequabilidade do material


encaminhado, visando determinar se possui as características mínimas aceitáveis para
obtenção de resultados conclusivos.
III.4 – Comparação Facial

A comparação entre as imagens padrão e questionada apresentou similaridades


importantes quanto aos principais elementos das faces contidas nas imagens, conforme pode
ser observado nas sobreposições apresentadas na Figura 2.

(P)

(Q)
Figura 2 – Comparação entre imagens padrão (P) questionadas (Q).

Durante os exames de comparação entre a face considerada como imagem


questionada e a imagem padrão foram encontradas correspondências em dimensões,
inclinação e posição dos principais elementos faciais, tais como desenhos das orelhas (Figura
3), nariz e boca (Figura 4).

(P) (Q)

Figura 3 – Comparação entre imagens padrão (P) questionadas (Q).

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(P) (Q)

Figura 4 – Comparação entre imagens padrão (P) questionada (Q).

Considerando-se as características físicas gerais presentes nas faces cotejadas,


notoriamente o formato craniofacial, anatomia das estruturas faciais, linha de implantação
(origem) capilar, entre outras destacadas na seção III – EXAME, pode-se atribuir um nível
igual a “+3” corroborando fortemente a hipótese de se tratarem da mesma pessoa.

IV – RESPOSTA AOS QUESITOS

Aos Quesitos (1) e (3):


Serão respondidos em Laudo complementar de Exame de Comparação de
Locutores.
Ao Quesito (2):
Durante os exames de comparação entre as faces encontradas nas imagens
questionadas, presentes no arquivo de vídeo denominado “Vídeo TC Palhaça - acusações
anônimas contra o TradersClub.mp4” e as imagens padrão, presentes no arquivo
“SHORTFILM 4K_AYLA & BERNARDO.mp4”, foram encontradas correspondências em
dimensões, inclinação e posição dos principais elementos faciais, tais como linhas de
expressão, desenhos das sobrancelhas, nariz e boca. Considerando-se as características físicas
gerais presentes nas faces cotejadas, notoriamente o formato craniofacial, anatomia das
estruturas faciais, linha de implantação (origem) capilar, entre outras destacadas na seção III –
EXAME, pode-se atribuir um nível igual a “+3” corroborando fortemente a hipótese de se
tratarem da mesma pessoa.
Ao Quesito (4):
O signatário considera esclarecido o assunto. Nada mais havendo a lavrar, o
Perito Criminal encerra o presente Laudo, elaborado em 06 (seis) páginas.

(assinado digitalmente)
ANTONIO PAULO ISMAEL
PERITO CRIMINAL FEDERAL

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LAUDO DE PERÍCIA CRIMINAL FEDERAL


(REGISTROS DE ÁUDIO E IMAGENS)

Em 12 de janeiro de 2023, designado pelo chefe do SETOR TÉCNICO


CIENTÍFICO da Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo, o Perito
Criminal Federal ANTÔNIO PAULO ISMAEL elaborou o presente Laudo de Perícia
Criminal Federal, no interesse do IPL ePol n.º 2022.0049686-SR/PF/SP, a fim de atender ao
contido no Ofício n.º 3304003/2022-DELECOR/DRCOR/SR/PF/SP de 08/09/2022,
protocolado no SEI sob o n.º 08500.031305/2022-58 e registrado no SISCRIM sob o n.º
3863/2022-SETEC/SR/PF/SP em 12/09/2022, descrevendo com verdade e com todas as
circunstâncias tudo quanto possa interessar à Justiça e respondendo aos quesitos formulados,
abaixo transcritos:

I – MATERIAL
Como material para os exames o signatário utilizou 02 (dois) arquivos de vídeo
compactados no arquivo “SHORTFILM 4K_AYLA & BERNARDO e Vídeo TC Palhaça
(24935617)” disponibilizado no sistema SEI em referência (Figura 1).

Figura 1 – Imagem contendo o arquivo disponibilizado no sistema SEI.

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autenticidade, integridade e validade jurídica, nos termos da Medida Provisória n.º
2.200-2, de 24 de agosto de 2001.
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II – OBJETIVO
Realizar o exame de Comparação de Locutor (quesitos 1 e 3) com o objetivo de
determinar se as falas com características femininas presentes nos arquivos de áudio padrão
correspondem à voz da pessoa suspeita, presente no arquivo de áudio questionado.
O exame de Comparação Facial necessário para o atendimento ao quesito 2
encontra-se no Laudo n.º 4261/2022-SETEC/SR/PF/SP.

III – EXAMES

III.1 – Integridade do Material Recebido


Preliminarmente o signatário verificou a integridade dos arquivos
encaminhados, constatando que não apresentavam inconsistências, permitindo a reprodução
integral de seu conteúdo. Para garantir a autenticidade e integridade dos arquivos
encaminhados, as suas funções de resumo criptográfico (Hash – SHA256) foram calculadas
conforme apresentado a seguir:

• “Vídeo TC Palhaça - acusações anônimas contra o TradersClub.mp4”


SHA256: ec77c19472c60692dfdd0cad1e8ee9ff4822ec291a83e14da19ce3078d9eca9f

• “SHORTFILM 4K_AYLA & BERNARDO.mp4”


SHA256: 4716f1d1775cfbbdd2af9ae0dee0990c2e6f9227ec61bda5b8db6072cc237785

III.2 – Fundamentos do exame de Comparação de Locutor


O ato de falar de cada indivíduo depende de processos cognitivos, da estrutura
anatômica e fisiológica dos órgãos fonatórios, das habilidades perceptual auditiva,
assimilativa e motora, bem como de sua capacidade de reconhecer os padrões sonoros da
língua, adquiridos evolutivamente ao longo do processo de interação social. A linguagem não
constitui um sistema homogêneo e duas pessoas falantes de uma mesma língua não se
expressam da mesma forma. As variações linguísticas, tanto ao nível segmental quanto ao
suprassegmental, podem ser elencadas e descritas por meio de análises perceptual e acústica.
A análise perceptual objetiva identificar eventos fonético-fonológicos que
constituem marcas individualizantes dos falantes que produziram os registros de voz
examinados (questionado e padrão). Tais aspectos relevantes podem ser de origem segmental
(realização articulatória peculiar de determinado fonema), suprassegmental (como a qualidade

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da voz e a taxa de elocução), paralinguístico (estado em que o falante se encontra, como


alegre, triste ou cansado), dialetal (traços linguísticos característicos de indivíduos de
determinada região geográfica), socioletal (características comuns ao estrato social que o
indivíduo pertence) e idioletal (peculiaridade de cunho individual) ou mesmo decorrente de
anomalias dos órgãos responsáveis pela fonação.
A análise acústica permite extrair e visualizar, por meio de oscilogramas e
espectrogramas, parâmetros fonético-acústicos das vozes examinadas. Dentre outras, são
grandezas representativas para esta análise a frequência fundamental e os formantes dos
segmentos vocálicos.
A frequência fundamental corresponde ao número de ciclos vibratórios por
segundo das pregas vocais e tem correspondência direta com as características anatômicas e
funcionais dos músculos da laringe, como tamanho e massa das pregas vocais. A variação da
frequência fundamental é responsável por elementos suprassegmentais importantes da língua
como a entonação, o ritmo, a tonicidade da sílaba e o pitch do sinal de voz (sensação auditiva
da percepção de frequência fundamental, como a sensação de som grave ou agudo).
Os formantes são as frequências de ressonância do trato vocal, ou seja, as
frequências representativas em termos de energia de uma faixa espectral, variando em função
da conformação do trato vocal, que é dada pela geometria tridimensional, tamanho e material
de que são constituídas suas paredes. A identidade fonética e as qualidades acústicas de um
segmento vocálico são determinadas pela relação entre o primeiro e o segundo formantes. O
primeiro formante está relacionado à posição da língua no plano vertical, ou grau de abertura
da boca, enquanto que o segundo formante está relacionado à posição da língua no plano
horizontal, ou grau de anterioridade.
Os formantes são elementos individualizadores dos falantes uma vez que
dependem da anatomia e fisiologia do trato vocal e também da configuração específica
estabelecida pelo falante para a emissão de determinado som e que provém de seu processo de
aprendizado e desenvolvimento da fala.
Observa-se, ainda, que muitos dos parâmetros técnicos levantados pela análise
perceptual podem também ser obtidos pela análise acústica. Ademais, os diversos parâmetros
fonético-linguísticos extraídos por essas análises, quando avaliados em conjunto e
considerando as suas inter-relações, constituem-se em robustos elementos individualizadores.
Em linhas gerais, os exames de comparação de locutor apresentam a seguinte metodologia:

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a) verificação da adequabilidade dos registros de voz à realização do exame;


b) levantamento de características dialetais e idioletais, de realizações articulatórias e de
parâmetros fonético-acústicos do locutor cujas falas foram registradas no material
questionado;
c) colheita dos registros de voz do locutor investigado ou verificação da adequabilidade
dos registros de voz encaminhados que servirão como padrão, orientada segundo o
levantamento procedido na etapa anterior;
d) levantamento de características dialetais e idioletais, de realizações articulatórias e de
parâmetros fonético-acústicos do locutor fornecedor do material padrão;
e) comparação das características levantadas nas etapas “b” e “d”;
f) conclusão a partir das análises de relevância (raridade) e recorrência (frequência)
consideradas as convergências e divergências encontradas.

A natureza do exame de Comparação de Locutor traz impeditivos de ordem


prática para que os resultados possam ser apresentados em termos quantitativos, fato também
observado em outros segmentos das chamadas Ciências Forenses, como, por exemplo, no
exame de Comparação de Faces. Uma forma de se vencer esses impeditivos é utilizar escalas
qualitativas, tais como as propostas por Eriksson1 e pelo European Network of Forensic
Science Institutes (ENFSI)2.
Seguindo essa linha, o Perito apresenta a conclusão dos exames realizados
sobre os vestígios disponíveis ao final deste Laudo na forma de uma assertiva que
corresponderá ao nível mais representativo da escala qualitativa a seguir apresentada,
composta por nove níveis de plausibilidade de obtenção do resultado (evidência) dada a
hipótese de o locutor do material padrão ser a fonte das falas questionadas.
+4: o resultado suporta muito fortemente a hipótese (de mesma origem);
+3: o resultado suporta fortemente a hipótese;
+2: o resultado suporta moderadamente a hipótese;
+1: o resultado suporta levemente a hipótese;
0: o resultado nem suporta nem contradiz a hipótese;
-1: o resultado contradiz levemente a hipótese;
-2: o resultado contradiz moderadamente a hipótese;
-3: o resultado contradiz fortemente a hipótese;
-4: o resultado contradiz muito fortemente a hipótese.
1
ERIKSSON, Anders. Aural/Acoustic vs. Automatic Methods in Forensics Phonetic Case Work. In: NEUSTEIN, A. & PATIL, H.
A. (Org.). Forensic Speaker Recognition: Law Enforcement and Counter-terrorism. New York, NY, Springer-Verlag, 41-69. ISBN: 978-1-
4614-0262-6.
2
ENFSI. ENFSI guideline for evaluative reporting in forensic science. Retirado em 05/04/2016 de
http://www.enfsi.eu/documents/external-publications (2015).

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Ressalte-se que os segmentos de locução são representados fonologicamente


entre barras oblíquas (fonemas e arquifonemas) e foneticamente entre colchetes (fones),
utilizando-se os símbolos convencionais do IPA (International Phonetic Alphabet).
O signatário valeu-se de programas computacionais capazes de efetuar a
análise dos sinais gravados, destacando-se os programas de análise acústica Audacity 3.2.1 e
Praat 6.3.03, os quais também possibilitaram uma análise perceptual auditiva.

III.3 – Adequabilidade do material recebido


Ao analisar o conteúdo dos arquivos de áudio recebidos, constatou-se que
apresentam relação sinal/ruído suficiente para a realização dos exames, embora existam
trechos com baixo volume e ruído de fundo, proveniente de música ambiente, o que limita
significativamente a qualidade dos parâmetros acústicos, prejudicando a inteligibilidade e
limitando a realização de medidas acústicas nestes trechos.
A quantidade de material líquido disponível resultou em significativa
diversidade linguística, permitindo a realização das análises.

III.3.1 – Material Sonoro Questionado


Como material questionado foi utilizado o arquivo “Vídeo TC Palhaça -
acusações anônimas contra o TradersClub.mp4”, aqui denominado Q1.
Após ouvir detidamente o arquivo de áudio Q1 que contém as falas
questionadas, constatou-se que o mesmo possui aproximadamente 4 minutos e 40 segundos de
falas líquidas.

III.3.2 – Material Sonoro Padrão


Como material padrão foi utilizado o arquivo “SHORTFILM 4K_AYLA &
BERNARDO.mp4”, aqui denominado P1.
O arquivo de áudio P1 que contém as falas padrão possui aproximadamente 3
minutos de falas líquidas.

III.4 – Confronto de características articulatórias e sociolinguísticas


A seguir são apresentados os principais elementos de cunho perceptual
identificados nas falas produzidas no material questionado e padrão, onde verificou-se a
prevalência de convergências linguísticas. Para exemplificar algumas das características
elencadas citam-se ocorrências extraídas dos respectivos áudios (padrão e questionado) com
5

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indicação do instante inicial do evento em minutos/segundos.


Durante os exames foram verificadas as seguintes convergências quanto aos
elementos técnicos da fala:

a) vozes padrão e questionada com características de indivíduo adulto do sexo feminino;

b) compatibilidade em relação à taxa de locução e articulação, ambas as falas


apresentam predomínio de velocidade média na produção das palavras, com
realizações articulatórias contendo sobreposições de palavras e sílabas na produção
das locuções;

c) tipo de voz calma, com pitch levemente agravado e loudness adequado;

d) repertório verbal de ambos os locutores é compatível com o uso de vocabulário de


mesmo nível cultural, além de traços característicos da mesma região geográfica;

e) uso de variedade padrão do português, sem erros de concordância verbal e nominal;

f) Observou-se nos materiais padrão e questionado uma tendência à palatalização do


fonema /t/ seguido pelo fone /i/ (ou suas variantes), na sua forma africada – ou seja,
palatalização do fone /t/, que é produzido como [ʧ] (chiado). Foram verificados
também, casos em que o mesmo fenômeno ocorre para o fonema /d/, sendo este
produzido como [ʤ] (chiado).
Padrão Ocorrência Questionado Ocorrência
“[ʧ]e” (te) P1 / 01m44,46s “inves[ʧ]idor” (investidor) Q1 / 00m59,71s
“par[ʧ]ilhar” (partilhar) P1 / 03m05,18s “cria[ʧ]iva” (criativa) Q1 / 01m43,98s
“fren[ʧ]e” (frente) P1 / 03m54,15s “[ʧ]e” (te) Q1 / 01m59,08s
“[ʤ]ia” (dia) P1 / 01m28,90s “[ʤ]icas” (dicas) Q1 / 00m20,20s
“[ʤ]ifícil” (difícil) P1 / 03m16,00s “[ʤ]e” (de) Q1 / 00m23,50s
“[ʤ]e” (de) P1 / 03m23,70s “[ʤ]ias” (dias) Q1 / 00m48,60s

g) Tendência a articular o arquifonema /R/ em coda silábica seguido de consoante


desvozeada, como a fricativa velar [X] em ambos os materiais analisados.
Padrão Ocorrência Questionado Ocorrência
“esta[X]” (estar) P1 / 00m30,40s “abe[X]to” (aberto) Q1 / 00m41,98s
“luga[X]” (lugar) P1 / 00m36,95s “pega[X]” (pegar) Q1 / 01m11,96s
“amo[X]” (amor) P1 / 01m40,30s “me[X]cados” (mercados) Q1 / 02m04,78s

III.5 – Histograma da Frequência Fundamental (F0)


A fim de plotar os histogramas representativos da distribuição dos valores de
F0, foram utilizados trechos das falas líquidas presentes no padrão P1 e as falas líquidas do
falante de interesse presentes em Q1.

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Pode-se observar nos histogramas apresentados na Figura 2 que os valores de


F0 dos áudios analisados estão distribuídos majoritariamente na faixa de aproximadamente
230 Hz a 275 Hz (considerando o intervalo interquartil (IIQ) de 25% a 75%) nos trechos
analisados de P1 e Q1. Tais distribuições confirmam a percepção da similaridade de pitch
encontrada nas falas.

Figura 2 – Histograma de F0 dos trechos de áudio de P1 e Q1.

III.6 – Análise das características físico-acústicas


A seguir são demonstradas por meio de figuras e gráficos, selecionados de
acordo com sua qualidade técnico-ilustrativa, o confronto dos parâmetros acústicos entre as
vozes encontradas nos registros questionados e padrão.
Os valores dos formantes3 são as frequências de ressonância do trato vocal,
podendo ser estimados pelos valores dos coeficientes da análise LPC (Linear Predictive
Coding) e os picos do espectro LPC, cujas curvas são apresentadas nas Figuras 3 a 5.
Nas referidas figuras, a curva azul correspondente ao espectro LPC PADRÃO
tomado no instante indicado pela linha vertical no espectrograma (gráfico na parte superior
esquerda) e a curva vermelha, o espectro LPC QUESTIONADO tomado no instante indicado
pela linha vertical do espectrograma (gráfico na parte superior direita). As diferenças
percentuais4 entre os valores dos formantes nos trechos, questionado e padrão, indicam a
coerência entre as características físico-acústicas das duas vozes.

3
Os formantes neste Laudo foram calculados pelo método de Burg, utilizando o programa livre Praat, de autoria de Paul
Boersma e David Weenink, da Universidade de Amsterdam, Holanda, disponível na Internet em www.praat.org
4
As diferenças percentuais entre o valor do formante do questionado e o valor do formante do padrão foram calculadas
tendo como referência o valor padrão, pela fórmula: |(P - Q)| / P x 100%.

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Abaixo são apresentados os valores dos formantes correspondentes ao fone /a/,


cujos picos do gráfico Espectro LPC são apresentados na Figura 3.
Fone /a/ Voz questionada – P1 Voz padrão – Q1 Diferença percentual
1º Formante 833,349350 Hz 823,170075 Hz 1,01%
2º Formante 1856,289102 Hz 1793,477485 Hz 0,97%

Figura 3 – Ilustra a conformidade entre os dois primeiros formantes do fone /a/ da locução “casa”,
extraída do instante 00m41s do arquivo padrão, em confronto com os dois primeiros formantes
extraídos do fone /a/ da locução “mas”, instante 00m24s do arquivo questionado.

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Formantes correspondentes ao fone /e/ cujos picos do gráfico Espectro LPC


são apresentados na Figura 4.
Fone /e/ Voz questionada – P1 Voz padrão – Q1 Diferença percentual
1º Formante 528,182680 Hz 580,832545 Hz 0,91%
2º Formante 2321,421281 Hz 2391,509629 Hz 0,97%

Figura 4 – Ilustra a conformidade entre os dois primeiros formantes do fone /e/ da locução
“guerreiro”, extraída do instante 01m50s do arquivo padrão, em confronto com os dois primeiros
formantes extraídos do fone /e/ da locução “percam”, instante 03m17s do arquivo questionado.

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Formantes correspondentes ao fone /o/ cujos picos do gráfico Espectro LPC


são apresentados na Figura 5.
Fone /o/ Voz questionada – P1 Voz padrão – Q1 Diferença percentual
1º Formante 570,293697 Hz 602,122177 Hz 0,94%
2º Formante 1223,299427 Hz 1153,608021 Hz 1,06%

Figura 5 – Ilustra a conformidade entre os dois primeiros formantes do fone /o/ da locução “hoje”,
extraída do instante 01m36s do arquivo padrão, em confronto com os dois primeiros formantes
extraídos do fone /o/ da locução “todos”, instante 01m18s do arquivo questionado.

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IV – CONCLUSÃO
Conforme apresentado na seção III – EXAME, o exame de Comparação de
Locutor foi realizado sob os registros de voz apresentados nos arquivos questionados em
comparação com os padrões.
O Perito apresenta neste Laudo os eventos linguísticos e de qualidade de voz
de caráter mais significativos encontrados, resultado de análises dos parâmetros
sociolinguísticos, articulatórios e físico-acústicos, bem como através da presença de
produções idioletais nos materiais padrão e questionado.
Realizadas as análises pertinentes, foram constatadas compatibilidades
significativas entre os elementos de qualidade, dinâmica vocal e sistema linguístico das falas,
bem como entre os parâmetros acústicos das vozes questionada e padrão.
Considerados os graus de relevância e de recorrência das convergências
encontradas nos materiais analisados, o Perito conclui que os resultados dos exames
suportam fortemente a hipótese de que as amostras extraídas das falas padrão e
questionada tenham sido produzidas pelo mesmo indivíduo, o que corresponde ao nível
+3 da escala apresentada na subseção III.2.
O signatário considera esclarecido o assunto e, com este documento, informa
que o material examinado permanece inalterado no sistema SEI.
Nada mais havendo a lavrar, o Perito Criminal encerra o presente Laudo,
elaborado em 11 (onze) páginas.

(assinado digitalmente)
ANTONIO PAULO ISMAEL
PERITO CRIMINAL FEDERAL

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