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Jogos do Destino

Unnavenly Angel
Annette Broadrick

De repente, um estranho testamento atira um homem e uma mulher numa situação


insustentável, num conflito de emoções onde um dos dois terá que ceder, inexoravelmente.
Blake e Ângela sabem que o mesmo destino que os lançou nessa batalha de amor e ódio irá
arrancar-lhes risos ou lágrimas, prazer ou sofrimento.
Para Blake, Ângela é atrevida, provocante... bela, desejável! Para Ângela, Blake é
frio, calculista... atraente, irresistível!

Digitalização e Revisão: Alice Maria


Sabrina 451 – Jogos do Destino – Annette Broadrick

UNHEAVENLY ANGEL
© 1986 Annette Broadrick

Originalmente publicado pela Silhouette Books,


Divisão da Harlequin Enterprises Limited
Enterprises Limited
JOGOS DO DESTINO
© 1987 para a língua portuguesa

EDITORA NOVA CULTURAL


Todos os direitos reservados, inclusive o direito de
reprodução total ou parcial, sob qualquer forma.
Esta edição é publicada através de contrato com a
Harlequin Enterprises Limited, Toronto, Canadá.
Silhouette, Silhouette Desire e colofão são marcas
registradas da Harlequin Enterprises B. V.

Tradução: J. Braun
EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.
Av. Brigadeiro Faria Lima n.° 2.000 — 3° andar
Cep 01452 — São Paulo — SP — Brasil Caixa Postal 2372
Esta obra foi composta na Fesan Editora Ltda.
e impressa na Divisão Gráfica da Editora Abril S.A.

Foto da capa: Keystone

2 Projeto Revisoras
CAPÍTULO I

Harrison Tyler enxugou a testa, mal-humorado. Pela primeira vez em


cinqüenta e cinco anos sentia-se velho.
Olhando para os dois jovens sentados a sua frente, lembrara-se da idade
que tinha. O tempo simplesmente escorregara-lhe pelo vão dos dedos...
Conservava ainda na memória o dia em que Blake Carlyle nascera. Como
poderia esquecê-lo? Ele, Scott Bennington e Todd Carlyle haviam comemorado
até tarde da noite a chegada do primeiro filho de Todd, num bar da cidade.
Isto fazia mais de trinta anos. O que acontecera naqueles anos todos?
Haviam se comportado a vida inteira como se ela não tivesse fim, como se nada
nem ninguém os abalasse.
Agora ele sabia que tinham errado.
Tempos antes, quando Scott e Todd entraram no ramo de componentes
eletrônicos, pouco se falava de microcomputadores e suas funções. Harry já era
advogado deles na época. Participara de todo o desenvolvimento da firma, até
ela se tornar a potência que era, tudo graças exclusivamente ao trabalho dos
dois. Desde o início, os sócios insistiram para que se associasse a eles, porém
nunca aceitara. Às vezes, imaginava que as coisas seriam muito diferentes, caso
tivesse aceitado. Mas agora não adiantava mais pensar nisso.
Scott costumava sentar-se na cadeira onde ele agora estava, em meio
àquela biblioteca imensa, orgulhoso de seu acervo. Pesaroso, Harry lembrou-se
de que nunca mais veria seu amigo ocupá-la.
O destino incumbira-o de comunicar aos filhos de Scott e Todd os planos
que seus pais haviam traçado para eles. E isso não lhe agradava nem um pouco.
Perdido em pensamentos, seu olhar caiu sobre Ângela Bennington. Aquela
beleza pura que a distinguia desde o nascimento é que levara Scott a lhe dar o
nome de Ângela, num de seus raros momentos de sentimentalismo.
Ela sempre fora baixinha, o que só lhe aumentava a graça. Harry
imaginava-a como uma pequena deusa, reinando entre os Bennington, gente de
porte alto e compleição forte.
Talvez ela se sentisse deslocada, como acontecera com a mãe. Tinha apenas
cinco anos quando Yvette dissera a Scott, naquele voz meio afetada que lhe era
característica, que jamais viveria em San Francisco, apesar de todas as
promessas de conforto que ele lhe fazia. Por isso, decidira partir com Ângela
para um mundo mais civilizado: a França.
Anos mais tarde, Scott havia convencido Yvette a permitir que a filha
passasse as férias com ele em San Francisco. Além disso ia várias vezes por ano à
França, para vê-la.
Agora, já adulta, Ângela ainda parecia uma deusa, sentada à frente de
Harry. Porém, Uma deusa muito triste. Perdera o pai, a quem adorava, e isso lhe
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era muito doloroso.


No entanto, quanto a Blake, ninguém sabia o que sentia. Aliás, seus
sentimentos sempre haviam sido um completo mistério para todos.
Blake trabalhava na empresa desde que se formara em Harvard,
preparando-se para assumir a direção dos negócios, quando Scott e Todd se
retirassem. Todavia, o que ninguém esperava é que Todd Carlyle e Scott
Bennington morressem naquele desastre de avião, junto com os demais
passageiros.
Por precaução, os dois haviam tomado todas as providências quanto ao
futuro dos filhos, caso lhes acontecesse algum imprevisto. Porém o fizeram, sem
a devida seriedade.
A idéia de fazer um testamento nascera tarde da noite, num jogo de
pôquer, regado a bebida. A princípio parecia uma brincadeira, mas depois
pensaram no assunto e decidiram lavrar o documento. Fora Harry quem redigira
o testamento dos dois, embora fosse absolutamente contrário aos termos deles.
Nessa época, a mãe de Blake já era falecida, por isso não dera palpites.
Lydia Carlyle havia sido uma mulher fria e distante. Harry jamais entendera
como uma pessoa simpática e calorosa como Todd Carlyle apaixonara-se por
alguém aparentemente tão sem sentimentos.
Agora, examinando Blake, Harry mais de uma vez notava como o filho
único de Todd se parecia com a mãe. Ele não era exatamente frio. Mais
precisamente, podia-se defini-lo como reservado. Tinha a altura e a constituição
do pai e a pele morena da mãe. O sorriso malicioso, percebido até por aqueles
que não conviviam com ele, era exatamente igual ao do pai.
Naqueles últimos dias, entretanto, ele não tivera muitos motivos para estar
alegre. Incumbira-se de entrar em contato com Ângela, na França, para informá-
la da data e hora do enterro, ainda de dar continuidade ao que Scott e Todd
tinham deixado pendente, na firma.
O maior problema de Harry, agora, era comunicar-lhe o teor do
testamento. Os olhos negros de Blake pareciam mais profundos do que
habitualmente, enquanto que os azuis de Ângela provocavam-lhe um nó na
garganta. Seus cabelos, loiros como os de uma boneca, caíam-lhe em mechas
cacheadas ao redor do rosto. No entanto, ela parecia um anjo em agonia, com
aquele semblante triste.
— Estou certo de que sabem como é difícil tudo isto para mim também.
Minha amizade com seus pais tinha quase cinqüenta anos. Uma vez que não me
casei, vocês foram as duas únicas crianças da minha vida. Eu os vi tornarem-se
adultos...
Harry percebeu no rosto de Ângela uma lágrima escorrer. Se continuasse
naquele tom, dali a pouco os três chorariam.
— Não creio que Scott ou Todd algum dia imaginaram que estes
documentos seriam lidos para vocês. Sinto dizer que eles traduzem uma
brincadeira de mau gosto. Se um de vocês tivesse se casado antes da morte

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deles, o conteúdo destes papéis seria modificado completamente.


Blake Carlyle remexeu-se na cadeira ante a menção de casamento. Não
entendia o que tinha a ver o fato de estarem ou não casados, com os
documentos. Estava tudo bem claro: Ângela e ele eram os únicos beneficiados
com a herança.
Um ano após a morte de sua mãe, aos onze anos, Blake assistira à partida
de Yvette Bennington e sua filha para a França. Lembrava-se ainda da mãe de
Ângela. Era uma mulher alegre e extrovertida, bastante atraente até, com seus
cabelos loiros, a pele branca como marfim e os grandes olhos verdes.
Lydia Carlyle sempre afirmara que o casamento de Scott e Yvette não
duraria muito. E estava certa. Tanto quanto Blake se lembrava, sua mãe sempre
estava certa. Fora capaz até de prever a própria morte, para todos inesperada.
Ninguém mais morria de pneumonia, desde a descoberta da penicilina. Exceto
Lydia Carlyle. Às vezes ele pensava que ela morrera exclusivamente para provar
que mais uma vez estava certa.
Sem demonstrar qualquer emoção, Blake olhou para Ângela. As opiniões
de Lydia sobre Yvette influenciaram seu julgamento a respeito da moça. Até
mesmo o nome dela lhe era desagradável. Mais parecia o de uma dessas
francesinhas fúteis, que passam o dia no cabeleireiro.
Ele se voltou novamente para o sr. Harrison Tyler. Nunca o vira tão
agitado, até meio desalinhado, o que não era de todo surpreendente. Afinal, ele
acabara de perder seus dois melhores amigos.
Blake também não se acostumara ainda com a idéia da morte do pai.
Acreditava que, de uma hora para outra, ele e Scott apareceriam à porta, rindo a
mais não poder, dizendo que tudo não passara de uma piada macabra.
Ângela, por sua vez, fazia o possível para não chorar. Não que se
importasse em fazê-lo na frente de Harry, que já a carregara no colo, quando
criança. Tanto ele quanto Todd costumavam acompanhar seu pai nas viagens à
França, e isto a levara a considerá-los parte de sua família. Sabia que Harry
entendia perfeitamente o que ela sentia naquele momento.
Para Ângela, seu pai fora sempre um ídolo. Dedicara-lhe um amor
profundo, impossível de ser abalado. A mãe referia-se a esses sentimentos como
"coisa de criança". Nunca perdia a oportunidade de dizer, a quem estivesse
disposto a ouvi-la, o quanto era feliz por ter apenas uma filha.
Mas ela também já se fora...
Furtivamente, Ângela enxugou uma lágrima que lhe escapava dos olhos.
Não queria que Blake Carlyle percebesse. Ela mal o conhecia. Tinham se visto
muito pouco naqueles anos todos. Apesar de ser apenas seis anos mais velho do
que ela, ele sempre lhe parecera muito adulto, talvez por ser tão sério e
reservado. Ela nunca sabia ao certo o que lhe dizer, e por isso evitava-o o mais
que podia.
Blake, na sua opinião, não se parecia em nada com o pai. Todd fora um
homem alegre, amoroso, bem-humorado, dono de um invejável espírito

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aventureiro. Ela não via nada disso no filho. Blake só parecia à vontade no
mundo dos negócios, tão desconhecido para ela quanto um outro planeta.
Scott sempre se referia a ele com grande admiração. Dizia que possuía um
tino natural para os negócios, era capaz de identificar com rara habilidade os
principais problemas da firma e, com igual rapidez, apresentar-lhe soluções.
Ângela respeitava muito a opinião do pai, mas sabia que ela e Blake não tinham
absolutamente nada em comum.
Seus sonhos e emoções voltavam-se totalmente para as artes. Desde
criança sentia uma forte atração por aquele mundo solitário, onde agora podia
expressar-se livre, e em cujas cores encontrava refúgio. Adorava libertar todas as
suas paixões num quadro, mesmo que para isso passasse os melhores anos de
sua juventude trancafiada em salas de aula, estudando tudo sobre telas, tintas e
estilos de pintura.
Ângela tinha apenas dezesseis anos quando vendera seu primeiro quadro.
Aos dezenove, sua mãe morrera num desastre de automóvel, no Sul da França. E
aos vinte e um, ela já morava num prédio totalmente ocupado por pintores,
escultores e estudantes de arte.
Ângela não se preocupava com dinheiro, uma vez que a aplicação que seu
pai fizera em seu nome, quando criança, rendia-lhe juros suficientes para se
manter. Além do mais, seu estilo e técnica começavam a ser reconhecidos e, em
conseqüência, seus quadros haviam se tornado bastante procurados.
Com exceção de seu pai, ninguém mais sabia que Ângela se tornara uma
grande pintora. Isso porque, em vez de assinar os quadros, ela desenhava um
pequeno círculo no canto de cada um deles. Scott costumava brincar com ela,
dizendo que aquilo significava uma aliança, ou qualquer coisa do tipo. Àqueles
que insistiam em conhecer-lhe o nome, seu agente dizia chamar-se AB, que
todos tomavam como Abraão.
Sentada ali em frente a Harry, mal contendo as lágrimas, Ângela não dava a
menor importância ao testamento do pai. Não mais contaria com os sábios
conselhos dele, dos quais sempre dependera. O pai significara tudo para ela, e,
agora que ele se fora, nada mais lhe parecia interessante. Muito menos aquele
testamento. Enquanto procurava um lenço na bolsa, Ângela rezava para que
tudo aquilo acabasse logo.
— Providenciei para que cada um de vocês tivesse sua própria cópia dos
documentos. Mas, como o texto é longo e utiliza-se de um palavreado técnico-
jurídico, tentarei resumir os pontos principais de cada um dos tópicos.
Ângela concordou, com um gesto de cabeça.
— Estou certo de que nos poupará muito tempo, Harry — disse Blake.
— Sim, é claro. Fiz algumas anotações. — Enfiou a mão no bolso
direito do paletó, em seguida no esquerdo, em que encontrou os óculos e uma
folha de papel. — O contrato da sociedade estabelece que, caso aconteça algo a
Todd ou a Scott, aquele que permanecer vivo comprará a parte do outro.
Blake interrompeu-o e, olhando de soslaio para o lado, disse:

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— Isto é bastante justo. Comprarei as ações de Ângela.


Inquieto, Harry remexeu-se na cadeira, desejando pela centésima vez que o
legítimo dono dela estivesse sentado ali. Ele mesmo devia explicar para Blake os
termos daquele testamento que, na sua opinião, não levavam em conta os
sentimentos dos jovens, os únicos inocentes naquela história toda.
— Receio que não seja assim tão simples, Blake. Veja bem, esta cláusula foi
escrita para o caso de apenas um deles se re-tirar da sociedade. Como você vê,
não é este o caso. A cláusula que dispõe sobre a morte simultânea dos dois é
mais complexa. Blake e Ângela esperaram que Harry enxugasse o suor que lhe
escorria pela testa.
— Para o caso de ambos morrerem ao mesmo tempo, deixaram as ações
em família, por assim dizer.
— Que família, Harry? — Blake perguntou, desconfiado.
— Oh, a de vocês, Blake. Sua e de Ângela.
— Poderia ser mais claro?
— Na verdade, é muito simples. Todd e Scott decidiram que, caso algo fatal
lhes acontecesse, teriam a garantia de que as ações da companhia seriam usadas
em benefício dos filhos. Assim, deixaram-nas em herança à criança que nascesse
do casamento entre Blake Carlyle e Ângela Bennington.
— O quê?! — exclamaram Blake e Ângela, de uma só vez.
— Você não está falando sério — disse Blake.
— Mas isto é ridículo! — foi a vez de Ângela desabafar.
Extremamente agitada, olhava para Blake, como que lhe pedindo apoio.
Este, estarrecido, não tirava os olhos de Harry.
De repente, Ângela se lembrou de uma conversa que tivera com o pai,
cerca de um ano antes.
Sem qualquer aviso, Scott aparecera em seu apartamento, em Paris. Além
de suas duas companheiras, que dividiam o apartamento com ela, lá estavam
muitas outras pessoas, todas rindo e falando ao mesmo tempo. Por esse motivo,
Ângela levou-o a um café na esquina, onde ficaram à vontade para conversar e
pôr as novidades em dia.
Depois que o garçom os serviu, Scott comentou:
— Não entendo como alguém pode gostar deste tipo de vida.
— Oh, papai, mas eu adoro. Nunca estou sozinha. Tenho uma família
formada por artistas, como você viu. Temos muito em comum. Por exemplo, a
agitação toda de hoje é porque Jean-Pierre vendeu uma de suas esculturas. É
maravilhoso ter amigos que entendam o que isso significa.
— E o que me diz de uma família realmente sua? Não pretende ter
filhos?—
— Mas é claro! Adoraria ter um filho, desde que não tenha que aturar um
marido.
— O que há de errado em se ter um marido?
— Tudo. Não quero ninguém dirigindo minha vida. Gosto demais da

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minha liberdade. Além do mais, como dona-de-casa, tenho poucas qualidades,


você sabe disso. Quando estou entretida com um quadro, esqueço do resto do
mundo.
— Fala como se não pretendesse se casar nunca.
— Mas, papai, por que deveria? Com o dinheiro da aplicação e da
venda dos quadros, ganho mais do que preciso para viver.
— Minha querida, apesar de tudo o que sua mãe possa ter enfiado em
sua cabecinha nesses anos todos, existem outras razões para se casar, além de
dinheiro.
Ângela olhou de modo cético para ele.
— Diga-me uma.
Scott sorriu e apertou-lhe a mão.
— Não tente me convencer de seu cinismo. Conheço você muito bem.
Na verdade, você não passa de uma romântica.
— Se diz isso porque choro quando vejo determinados filmes, gosto de
jantares à luz de velas, rosas vermelhas e passeios ao luar, então é óbvio que está
certo. Mas isso tudo não tem absolutamente nada a ver com casamento, papai.
Na verdade, eu diria até que são coisas diametralmente opostas. Por que alguém
haveria de querer se casar?
— E a solidão?
— Tenho muitos amigos, sem que haja qualquer envolvimento emocional
com qualquer um deles. Suzanne e Michelle são como irmãs para mim, inclusive
Jean-Pierre.
— E se você se apaixonar por alguém?
— Eu fujo. Não tenho a menor intenção de me apaixonar. Prefiro
minhas amizades. Não quero um amante possessivo do meu lado.
— Oh, Ângela, eu me preocupo tanto com você, querida. Por favor,
entenda que nem todos os casamentos acabam da mesma forma que o meu e de
sua mãe.
— Você sempre a amou, não?
— Sim. Ninguém será capaz de tomar o lugar dela no meu coração.
— Então por que a deixou partir?
— Porque ela era infeliz comigo. Eu a amava o bastante para não retê-la
assim.
— Mas para você não foi bom?
— Não, não foi. Eu não apenas a perdi, como perdi você também.
— Ora, papai, você nunca me perdeu. Sempre estive pronta para
recebê-lo.
— Sei disso, meu bem. Mas nem sempre eu estive ao seu lado e queria
ter certeza de que você era amada e bem cuidada.
— Ninguém poderia lhe dar esse tipo de garantia, papai. Estou ótima,
ótima mesmo. Por favor, não se preocupe comigo.
Agora ficava evidente que seu pai havia ignorado seu pedido. "Oh, papai,

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como pôde fazer isso? Você sabia qual era a minha opinião sobre o casamento."
Ângela olhou para Harry.
— Está falando sério? Todd e papai assinaram mesmo esses documentos,
com essa cláusula absurda que diz que Blake e eu devemos nos casar?
— Receio que sim.
— Mas eu não aceito isso! Não quero me casar. A idéia toda é absurda.
— Também acho — concordou Harry, demonstrando-lhe simpatia.
Ângela voltou-se para Blake.
— Você tem algo a ver com isso? — perguntou em tom acusador.
— Claro que não! — ele respondeu. — Se algum dia me Mar, eu
mesmo quero escolher minha esposa. — "E ela não se parecerá com você",
pensou.
Blake pensava na bela e esguia Márcia, que obscurecia a todos com sua
elegância, seus cabelos negros e o rosto delicado. Encontravam-se fazia mais de
dois anos. Márcia era calma, serena, e, por isso, daria amor, conforto e
segurança aos seus filhos, se algum dia resolvesse constituir família.
Na verdade, se Blake quisesse descrever o tipo de pessoa que preferia não
ter ao seu lado, Ângela serviria como um excelente exemplo. Apesar de
reconhecer que era uma mulher bonita, ela não era o seu tipo. Parecia
exuberante demais com aqueles olhos de um raro tom de azul e os cabelos tão
claros, soltos ao redor do rosto.
O que mais o incomodava, porém, era que ela não fazia o menor esforço
para ser discreta. Como se não bastasse, deixava transparecer uma falsa
inocência. Educada na França pela mãe, tendo sido estudante de arte em Paris,
quando ainda adolescente, e agora vivendo com um bando de hippies metidos a
artistas, estava claro que ela era experiente, talvez até promíscua. Blake sentia
uma necessidade enorme de dizer-lhe que acabasse de uma vez por todas com
aquela encenação, porque ele, ao menos, não estava- gostando dela. Não fazia a
menor idéia do que passara pela cabeça dos pais dos dois, mas com certeza não
tomaria uma artista boêmia como esposa.
Encarando Harry, Blake perguntou, impassível:
— O que acontecerá com as ações se não nos casarmos?
— A empresa se tornará pública.
— O quê? — disse Blake, sem querer acreditar no que ouvira.
— Todas as ações serão postas à venda.
— Você não fará isso.
— Eu não poderia fazer. Mas seus pais, sim. E foi exatamente nesse
sentido que eles instruíram seu advogado, que por acaso sou eu.
— Não acredito numa coisa dessas! — Agitado, Blake passava uma das
mãos nos cabelos. — Por que não me contou o que eles planejavam fazer,
Harry?
— Em primeiro lugar, não seria ético. Em segundo lugar, nunca pensei
que esta cláusula do contrato seria utilizada. E em terceiro lugar, esperava

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sinceramente que, depois de ter feito essa brincadeira, eles percebessem o erro e
mudassem o testamento. Blake quase não tivera tempo de absorver a idéia da
morte de seu pai e de Scott, pois estivera muito ocupado com os negócios,
tomando decisões importantes. Mas agora sentia-se como se um peso enorme
lhe caísse às costas, esmagando-o violentamente.
Desde que entrara para a companhia, Scott e Todd insistiam em que ele
aproveitasse mais a vida, para se tornar mais flexível. Ao que lhe parecia, tinham
encontrado uma forma de moldá-lo como queriam.
"Por que fizeram isso comigo? O que fiz para merecer esse tratamento?"
— Pode me explicar o que há de errado em vendermos as ações? —
perguntou Ângela. — Não nos renderiam uma boa soma em dinheiro?
Devagar, Blake voltou-se para ela, olhando-a como se sua visão lhe
provocasse raiva.
— Sim, é claro que renderiam! Porém há outros pontos em questão.
Quando uma empresa se torna pública, perde-se seu controle. Os acionistas
elegem seus próprios diretores e gerentes. Esta companhia foi fundada por
nossos pais, que sempre mantiveram controle absoluto do negócio. Fui treinado
para assumir a direção, numa eventualidade qualquer. Agora, se não me casar
com você e não for o pai de seus filhos, perderei tudo pelo que trabalhei esses
anos todos. Mas isso não significa absolutamente nada para você, não é? —
perguntou ele, com amargura.
A revolta que Ângela sentia ante a cláusula ridícula do testamento de seu
pai aumentou quando ela se deu conta da violenta reação de Blake. Ele, que
nunca erguia a voz, que era calmo e controlado, parecia fora de si, tão irritado
estava. Os olhos negros pareciam incendiados pela intensidade de suas emo-
ções, e ela desconhecia aquele lado agressivo da personalidade dele.
Ângela balançou a cabeça. Aquilo tudo era demais para ela.
— Não me importo nem um pouco com esta empresa. Não quero um
marido. Se quisesse, escolheria um francês, alguém que entenda sobre amor e
alegria, não um americano prepotente, sempre às voltas com negócios, incapaz
de sentir qualquer emoção, exceto quando calcula seus lucros! — Sentindo-se
totalmente desamparada, começou a chorar. Não podia mais ficar ali. Virou-se e
se precipitou para a porta, batendo-a atrás de si.
Blake olhou para a porta por alguns instantes, e então voltou-se para Harry,
recostando-se na cadeira e cruzando os braços.
— Você acaba de lançar uma bomba. Tem alguma sugestão para que
escapemos dela?

CAPÍTULO II

Pela janela da biblioteca, Ângela olhava para a enorme baía de San


Francisco, semi-encoberta por uma espessa névoa, lembrando-se de que nunca

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estivera naquela cidade sem seu pai.


A lareira estava acesa, afugentando, pelo menos dali de dentro, a fria
umidade daquele dia.
De repente, os amigos lhe faziam tanta falta! O que estariam fazendo
Suzanne e Michelle em Paris? E Jean-Pierre? Estaria ocupado com um novo
trabalho?
Ângela conhecia tão poucas pessoas ali, em San Francisco... Harry visitava-
a regularmente. Às vezes, convidava-a para um almoço, ocasião em que se
confortavam mutuamente, contando histórias sobre Scott e Todd. Mesmo
assim, ela se sentia vazia e infeliz, como se estivesse presa àquele lugar contra a
vontade.
Não tivera mais notícias de Blake.
Harry lhe dissera que Blake andava ocupado com a reorganização da
companhia, uma tarefa de grande responsabilidade. A personalidade daquele
homem a intrigava. Procurou lembrar-se do que diziam a respeito dele, porém
tudo o que lhe veio à mente foram uns poucos fragmentos de conversa. Scott
considerava-o um gênio em matéria de negócios. Todd porém irritava-se com o
filho, por não pensar em outra coisa que não em trabalho.
Por que Scott e Todd haviam achado que um casamento entre ela e Blake
daria certo? Será que fora para ensiná-la a abrir mão de sua independência
quando necessário, ou para ensinar a ele que havia outras coisas na vida além da
empresa? Ângela remoia esses pensamentos fazia semanas.
"Oh, papai, se ao menos você me explicasse o que pretendia com isso!"
Seus devaneios foram interrompidos pelo toque do telefone.
— Alô — atendeu Ângela.
— Ângela? — disse uma voz grave, um pouco rouca, mas muito sedutora.
— Sim?
— Aqui quem fala é Blake Carlyle.
Seus dedos apertaram o fone, enquanto um arrepio percorria-lhe a espinha.
Finalmente ele entrava em contato com ela, e tudo o que sentia era uma
inexplicável sensação de pânico.
— Sim?
Por um instante, fez-se silêncio. Depois ele falou:
— Desculpe-me por não ligar antes. Como vai?
— Tão bem quanto se pode estar numa hora destas, eu acho.
— Tem algum programa para hoje à noite?
— Não.
— Gostaria de jantar comigo?
A simples idéia de vê-lo novamente a fez estremecer. Estaria com medo
dele? Claro que não! Ângela Bennington não tinha medo de homem algum,
embora reconhecesse que temia o que ele representava em sua vida: mudanças.
— Aceito, Blake. A que horas?

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— Passarei por aí em torno das sete, se não houver imprevistos.


— Está ótimo. Até lá, então.
Ângela esperou que Blake desligasse para depois fazer o mesmo. Ele lhe
parecera decidido e seguro de si. Estaria também habituado a dar ordens e a ser
obedecido? Era mais do que provável.
Sentia curiosidade em conhecer melhor o enigmático Blake Carlyle.

Ângela adorava cores fortes e, por isso, escolheu um vestido bem alegre
para o jantar. No tom verde-limão, o modelo era de mangas retas, com decote
profundo e uma grande saia rodada, que se enroscava em suas pernas. Embora
fosse mais comprido do que ela gostaria, dava-lhe uma aparência bastante jovial.
Contudo, talvez Blake não notasse isso.
Quando Ângela desceu, ele já a esperava na sala. Ao vê-la, achou-a
provocante e bela, mas não disse nada.
Por sua vez, Ângela achou-o muito sério em seu terno preto, que lhe
realçava ainda mais a pele morena e os olhos e cabelos negros. Além disso, a
julgar pela expressão grave que trazia no rosto, não parecia contente em passar a
noite com ela.
Num gesto gracioso e espontâneo, Ângela levou as mãos à cintura e sorriu,
tentando de alguma forma relaxar. Sua atitude pegou Blake de surpresa. Ele
suspeitava que havia uma leve timidez por trás daquele ar sofisticado, e essa
contradição o confundia. E o primeiro comentário que ela fez aumentou suas
dúvidas.
— Admiro que queira me ver, depois daquela cena terrível que fiz. Pensei
em desculpar-me por intermédio de uma carta ou mesmo de um telefonema,
mas... — Parando a alguns passos dele, continuou: — Espero que me desculpe
por aquela grosseria. Eu disse coisas realmente imperdoáveis e estou enver-
gonhada.
Blake sorriu, completamente desarmado ante a demonstração de
sinceridade de Ângela. Tomou a mão que ela lhe oferecia e apertou-a
gentilmente.
— Você não me deve desculpa alguma. Estávamos sob grande tensão, pois
não esperávamos ouvir tudo aquilo.
O sorriso de Ângela alargou-se.
— Sim, eu realmente nunca pensei que seria obrigada a me casar,
principalmente com uma pessoa que pouco conheço.
Ele parecia fascinado com o rosto expressivo de Ângela.
— Acha que devo levar um agasalho?
Os olhos negros de Blake voltaram-se para o vestido que ela usava. Os
ombros delicados estavam à mostra, assim como uma pequena parte dos belos
seios. Esforçou-se para desviar o olhar e disse:
— Sim, está frio lá fora.
Ângela estendeu o agasalho para Blake e deu-lhe as costas, presenteando-o

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com outra bela visão de seu corpo.


Ele segurou o casaco para que ela o vestisse e ajeitasse os cabelos. Nesse
instante, lembrou-se de Yvette, com seu jeito provocante, muitas vezes
inconveniente. Ângela era exatamente como a mãe. Agora que estava prestes a
herdar o império financeiro de Scott, talvez continuasse a aproveitar a vida,
brincando de artista, freqüentando os lugares mais badalados de Paris.
"Mas não antes que eu consiga o que quero", pensou ele.
— Podemos ir? — perguntou, polidamente.
— Claro.
Logo depois estavam no cais do porto, entrando num restaurante à beira-
mar. Sentaram-se a uma mesa junto à janela, para que avistassem a baía. Os
faróis dos carros que passavam ali iluminavam pequeninas ondas que se
formavam quando um barco se movia.
A comida estava deliciosa, mas Blake parecia distante, provavelmente com
o pensamento ainda voltado para os documentos da empresa. Ângela decidiu
descobrir o que lhe prendia a atenção.
Apoiando-se nos cotovelos, mãos sob o queixo, sorriu para ele. A fraca luz
das velas criava-lhe sombras no rosto, deixando-o mais misterioso ainda.
— Está namorando alguém, Blake?
Surpreso diante daquela pergunta repentina sobre um assunto que
considerava estritamente pessoal, ele a olhou desconfiado, por detrás de seu
copo de vinho.
— Por que pergunta?
— Ah, mera curiosidade. Acho estranho que não tenha se casado, o que
aliás nos pouparia esta situação embaraçosa.
— O mesmo penso de você. Por que não se casou?
Ela sorriu.
— Não gosto de amarras.
"Aposto que não", pensou ele, e informou:
— Eu namoro uma moça chamada Márcia Sinclair.
— Ah, sim? E como ela é?
— Alta, magra, bonita. — E olhou pensativo, bebendo mais um gole de
vinho.
"Ele é o oposto de mim", pensou Ângela.
— Por que vocês ainda não se casaram?
— Não há pressa. Temos bastante tempo pela frente. Porém, mais cedo ou
mais tarde, nós nos casaremos.
— Se depender de mim, vocês podem se casar logo.
Ângela sorriu da maneira mais inocente que podia, porém Blake retribuiu-
lhe o gesto com um franzir de sobrancelhas.
— Contratei advogados para examinarem os papéis que Harry nos deu.

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Talvez encontrem outra solução.


— Qual?
— Poderíamos mover uma ação, pedindo ao juiz que nos isentasse de
cumprir o que dispõe o testamento, porém, além de ser demorado, não teríamos
a menor garantia de sucesso. Fora isso, não há mais nada a fazer.
— Entendo.
— Será? Você é capaz de se importar com mais alguém, além de si mesma?
— É claro que sim!
— Não entendo por que seu pai quis obrigar-me a casar com você. Ângela,
acho que foi a maneira que encontrou para fazer você se casar.
Ângela sentiu o sangue subir-lhe às faces. Mas sorriu, um sorriso discreto,
porém misterioso.
— Isso vale para nós dois, você sabe. Talvez fosse eu a pessoa obrigada a se
casar com você. Talvez nossos pais pensassem que ninguém o quisesse.
Os olhos de Blake brilharam de raiva. "Ah, então existe algum sentimento
sob essa aparência fria!", pensou Ângela, com um prazer sádico.
— É isso que você pensa?
— Você quer mesmo saber? Ora, isso é muito estranho. Estava certa
de que você não dava a mínima para o que eu pensava.
— Por acaso está insinuando que eu já sabia desse plano louco?
— Não tenho razões para supor que você soubesse de qualquer coisa a
esse respeito. Mesmo assim, o fato de não saber não o impediu de chegar às
mais ridículas conclusões.
— Ridículas?
— E não? Por que diabos viajaria meio mundo para eu me casar com um
estranho? Para enchê-lo de crianças? — Um sorriso estampou-se em seu rosto.
— A não ser, é claro, que eu esteja perdendo algo de muito especial, e não saiba.
— E instigou-o mais: — Você é muito bom de cama?
Atônito, Blake olhou para ela. Aquela mulher elegante parecia incapaz de
dizer o que ele ouvia. A tênue luz dos candelabros formava-lhe reflexos
coloridos nos cabelos, realçava o tom rosado de suas faces, o ar inocente de seus
olhos.
Falando baixo e pausadamente, Blake resmungou:
— Meu desempenho na cama não tem nada a ver com o assunto de
que estamos tratando.
— Bem, eu não descartaria a pergunta tão depressa. Acho que você
deve deixar evidentes as suas qualidades. Não consigo imaginar uma mulher
apaixonada por seu charme ou seu encanto. É claro que deve existir alguém que
se sinta atraída por tipos como você. — E, como se relutasse, sem saber se sua
sinceridade iria ofendê-lo ou não, acrescentou: — Eu prefiro homens loiros.
— O assunto que estamos discutindo não tem nada a ver com meus
atributos pessoais.

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— Sorte sua, não?


— Ângela... — A voz dele tremia um pouco.
— Sim?
Blake respirou fundo, procurando se acalmar. Com que direito ela fazia
comentários tão ofensivos? Talvez não fosse de propósito. Como responsabilizá-
la pela educação que recebera?
Pensando assim, deixou a raiva de lado, debruçou-se sobre a mesa e pegou-
lhe a mão.
— Ângela, desculpe-me. Não estou me expressando bem. A verdade é que
essa situação toda me choca profundamente.
— Eu entendo.
— Obrigado. Sei que você tem tanto a ver com tudo isso quanto eu.
— É verdade.
— E que você tem tanto interesse em casar-se comigo quanto eu tenho em
me casar com você.
— Concordo.
— Ótimo. — Acariciou-lhe a mão, recostou-se na cadeira e sorriu.
Porém, para Ângela, o súbito alívio dele era desconcertante. Quando não
franzia a testa e quando não estava sério, Blake Carlyle era muitíssimo atraente
e tinha um sorriso fascinante.
Ângela sentiu-se confusa ante as implicações do que descobrira.
— Blake?
— Sim?
— Você é ou não bom de cama?
— Ângela!
— Eu só estava pensando...
— Você entendeu o que eu disse antes?
— Sim. — E ela sorriu.
Por que aquele sorriso o perturbava tanto? Blake tinha a impressão de que
Ângela brincava com ele, do mesmo jeito que um gato brinca com um rato.
— De qualquer forma, não quero que a companhia se torne empresa
pública — ele declarou, mudando o rumo da conversa.
— Mas, Blake, você disse...
— Eu disse que não tinha o menor interesse em me casar com você. O que
não significa que não pretenda fazê-lo.
Ele se sentia o dono da situação, enquanto Ângela estava cada vez mais
confusa.
— Você não fala sério, fala?
— Mas é claro que sim!
— Você nem me conhece bem!
— Sei disso. Mas você deve entender que não tenho a menor intenção de
perder a companhia e me disponho a fazer o que estiver ao meu alcance para
mantê-la sob controle.

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— Até mesmo casar comigo.


— Sim.
— Mas, e Márcia?
— O que tem ela?
— Você não a ama?
Ele foi implacável.
— Esteja certa de que meus sentimentos são totalmente irrelevantes. Não
me baseio neles para tomar decisões.
— E o que me diz dos meus sentimentos?
— Se for possível, prefiro ignorá-los.
— Grande, essa! — resmungou ela.
— Por isso, proponho que você adie seu regresso à França e nos dê
uma oportunidade de nos conhecermos melhor antes do casamento.
— Antes do casamento! Blake, não haverá nenhum casamento!
— Harry disse que o testamento não estabelece limite de tempo entre
o casamento e o nascimento do primeiro filho.
— Como é que eles se esqueceram desse detalhe, não? — perguntou
ela, irônica.
— Você disse que não tem a menor intenção de se casar com quem
quer que seja. Assim, quaisquer que forem os planos que fizermos, eles não
interferirão no seu futuro.
— Não que eu esteja de acordo com o que você está dizendo, mas caso
aceite sua sugestão, eu poderia viver na França depois de casada?
Nesse instante, o garçom surgiu para encher os copos, e Blake, notou,
divertido, que mal ele terminara sua tarefa, Ângela já tomava um gole. Afinal,
ela não era tão inabalável quanto gostava de parecer.
— Não de imediato. Se você se lembra dos termos do testamento, não
basta que nos casemos. Precisamos ter ao menos um filho. Portanto, teremos
que viver juntos algum tempo.
— Eu não acredito no que estou ouvindo. Você não se importa com o
fato de eu não querer me casar com você.
— É claro que me importo! Apenas isso não muda nada. Mas não
quero apressá-la. Temos bastante tempo; tempo para você se acostumar com a
vida em San Francisco e comigo, tempo para que você conheça meus amigos e
colegas de trabalho, e também para que faça suas próprias amizades. — Os
lábios dela alargaram-se num sorriso irônico. — Talvez até venha a gostar de
mim, o que seria um progresso considerável no nosso atual relacionamento.
— Aí é que você se engana, Blake, querido. Está claro que não sou
exatamente o que você espera como esposa, e vice-versa.
— É verdade.
— Assim, também existe a possibilidade de que você é que venha a

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gostar de mim.
— É algo para se pensar. — Olhou para o relógio e perguntou: —
Podemos ir?
Só então Ângela se deu conta de que seu copo estava vazio. Bebera o vinho
muito depressa e experimentava uma sensação confortável de embriaguez.
Tinha muito em que pensar e, para isso, precisava de tempo... e de afastar-se de
Blake a fim de ordenar seus pensamentos.
Enquanto voltavam para casa, em silêncio, Ângela observava as ruas por
onde passavam, como se procurasse o seu próprio lugar em San Francisco. Tinha
que achá-lo o mais depressa possível. O nevoeiro já havia se dissipado e as
estrelas estavam à vista no céu escuro. Ela desejava que a névoa que se instalara
em sua mente também se dissipasse logo. Nunca se sentira tão confusa, em toda
a vida.
Ao seu lado, Blake imaginava no que ela pensaria, mas tinha medo de
perguntar. Não queria ouvir mais uma daquelas respostas desconcertantes, que
o deixavam sem ação.
Ao chegarem à casa de Ângela, ele a acompanhou até o hall, onde ajudou-a
a tirar o casaco. Ela demonstrava no olhar a insegurança que sentia.
— Aceita um café?
— Não, obrigado. Tenho que ir. Eu ligo amanhã para você. Haverá uma
festa no final da semana, e será uma boa oportunidade para que você se torne
conhecida. Não gostaria de acompanhar-me?
— Mas, e Márcia?
— Por que você se preocupa tanto com Márcia? Fique tranqüila, cuidarei
muito bem dela.
Ângela sorriu. Sem ter muita consciência do que fazia, Blake pôs suas mãos
sobre os ombros da loira e puxou-a para beijar-lhe os lábios. Queria apenas dar-
lhe um beijo de despedida. Porém, sem saber como nem por quê, a carícia
transformou-se em algo inesperado. Foi mais do que uma simples despedida.
Aproximando-se lentamente, ela rodeou-lhe o pescoço e uniu os lábios aos dele
de maneira apaixonada, como se tivessem sido feitos um para o outro.
Quando sentiu a pressão do corpo feminino contra o seu, Blake esqueceu-
se de quem era ela e do motivo que os unira. Estava cada vez mais atraído por
aquele delicado corpo preso em seus braços e apertava-o mais e mais contra si.
Ângela não entendia o que se passava com ela. Nunca se permitira emoções
tão fortes, tanta proximidade com alguém. Por outro lado, a excitação dele
causava-lhe arrepios de prazer. Sabia tão pouco sobre as reações dos homens, e
agora aprendia tudo de uma vez.
Com mãos ávidas, Blake procurou pelos seios de Ângela, cujo calor era
convidativo ao toque. Ao ouvi-la gemer, porém, percebeu o que faziam e
pensou: "Meu Deus, será que estou louco? Estou acariciando Ângela
Bennington!" Lentamente, retirou as mãos atrevidas, embora não conseguisse
afastar-se.

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Foi Ângela quem afinal interrompeu o beijo. Soltou-se dos braços de Blake,
acariciando-lhe de leve o peito. Depois, recuando até a porta, murmurou:
— Boa-noite, Blake.
Parado no mesmo lugar, ele ainda hesitou, como se um terremoto acabasse
de abalar San Francisco. Por que seus joelhos tremiam tanto, e por que aquela
necessidade louca de tomá-la nos braços mais uma vez e de levá-la escada acima
até a cama mais próxima?
— Boa-noite, Ângela — respondeu afinal, movendo-se na direção da porta.
Blake entrou no carro e ligou-o, pensando no que acontecera. Conhecia
muitas mulheres, mas nenhuma lhe provocara tamanha reação. Será que estava
louco? Tentou lembrar-se de Márcia, mas não conseguiu. Pelo contrário, tudo o
que via eram dois enormes olhos azuis e um belo rosto emoldurado por cabelos
loiros.

CAPÍTULO III

Blake Carlyle andava de um lado para o outro, em frente à mesa de Harry,


abarrotada de papéis. Raramente deixava transparecer tanta agitação, já que
uma de suas qualidades mais notáveis era a capacidade de disfarçar o que sentia.
Porém, agora não conseguia pô-la em prática.
Já arrancara a gravata, sempre tão bem arrumada ao redor de seu pescoço,
e havia muito atirara o casaco por sobre uma cadeira.
— Harry, você tem que me ajudar a sair dessa enrascada!
Dissera a mesma frase fazia vinte minutos. Por isso, Harry não se sentiu na
obrigação de dar uma resposta. De qualquer forma, não tinha nada a dizer para
amenizar o problema.
— Um casamento entre mim e Ângela seria um completo desastre.
Pensei que pudesse aceitá-lo, mas é impossível. Você viu o que aconteceu aquela
noite na casa dos Montgomery.
— Ângela foi muito bem recebida na festa dos Montgomery, Blake.
Todos gostaram dela. — Harry respondeu, surpreso.
— É claro que gostaram dela! Havia muito para se apreciar naquele
vestido! Aliás, ela quase provocou uma briga com aquela roupa.
— Não havia nada de errado com aquele vestido, Blake. A cor dele só
realçou-lhe a beleza, e tenho certeza de que é moda em Paris.
— Mas aí é que está o problema. Não estamos em Paris e nenhuma outra
mulher se vestia daquela forma.
— Márcia serve de exemplo, não?
— Exato. Márcia é um bom exemplo. Ela sempre se veste com dignidade e
decoro...
Harry sorriu.

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— Enquanto Ângela se arruma de modo provocante e atrai os olhares de


todos os homens presentes. Scott se orgulharia dela e adoraria vê-la rodeada de
amigos,
— Você ouviu o que ela disse para o juiz Lewis?
— Não.
— Ela aconselhou-o a parar de beber, senão o próximo enterro seria o dele!
Harry caiu na gargalhada.
— Queria ver a cara do velho! E o que ele disse?
— Ele adorou. Disse que ela falava exatamente como o pai dela, só que era
infinitamente mais bonita. Contou que sua esposa também o repreendia por
causa da bebida, embora nunca fosse tão convincente.
— Então ele não se ofendeu.
— Graças a Deus. Mas você imagina Márcia dizendo algo tão embaraçoso
assim para alguém que ela acabou de conhecer? Ou até mesmo para alguém a
quem ela conheça há anos?
— Não, não posso.
— Nem eu e acho isso muito bom. Ângela, por sua vez, é muito
atrevida.
— Tente compreendê-la, Blake. Os padrões de comportamento dela
são diferentes dos nossos, porque ela passou por experiências diferentes das
nossas. Ela não fez parte do grupo social com o qual você se familiarizou. E Scott
sempre incentivou duas coisas: sinceridade e espontaneidade.
— Isso tudo é muito bonito. Então por que ele quis que eu, logo eu,
me casasse com sua filha?
— Talvez porque achasse que vocês aprenderiam muito um com o
outro.
Sentando-se, afinal, Blake acrescentou:
— Só que, até agora, a única coisa que ela me deu foi uma tremenda dor de
cabeça. Deve existir uma outra forma de resolver tudo isso.
Harry observou-o por alguns instantes.
— Para ser sincero, Blake, você me surpreende. Quando conversamos na
semana passada, você parecia decidido a se casar com ela. Disse isso como se
tratasse de um assunto puramente comercial. Nunca o vi tão abalado como
agora.
Blake ergueu a cabeça e olhou para Harry, espantado. As palavras dele o
fizeram refletir.
O que teria provocado tal mudança em seu íntimo? Tudo havia começado
com aqueles beijos na casa dela. Emoções até então desconhecidas o atingiram.
Isso o desagradava, mas não completamente. Fora honesto com Ângela ao dizer
que nunca permitia que os sentimentos interferissem quando tomava uma
decisão. Então, por que agora deixava que eles assumissem o controle?
Afinal de contas, de que tinha medo? Qual era o problema, se ela era

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diferente de todas as garotas que conhecia? O fato é que tinham que se casar,
para conseguirem seus objetivos.
Ângela deixara bem claro que queria decidir a data e as condições do
casamento, se ele viesse a se realizar. Dissera também que não seria uma dessas
esposas de executivos, que gastam todo o tempo em chás beneficentes, sem ter
nada de realmente importante para fazer. E mais: queria total liberdade para
viajar quando bem entendesse. E ainda desejava pintar, sem a menor
interferência da parte dele.
De qualquer forma, ela lembrara, Blake não teria uma esposa. Apenas uma
procriadora. Nunca pensara em ser esposa, nem dele nem de ninguém, mas,
uma vez que seus pais haviam determinado as coisas daquela maneira, ela teria
um filho apenas para satisfazer-lhes o último desejo.
Entretanto, o que mais incomodava Blake era o fato de não se sentir mais
no controle de sua própria vida. Só que ninguém se importava com isso, muito
menos Ângela Bennington, tão caprichosa e prepotente.
Percebendo que Harry olhava discretamente as horas, Blake levantou-se.
— Desculpe-me por fazê-lo perder tanto tempo ouvindo meus problemas,
Harry. Já vou embora.
Harry deu a volta à mesa e apertou-lhe a mão.
— Dará tudo certo, Blake, tenho certeza. Seus pais eram grandes
amigos, você e Ângela também se relacionarão muito bem. Por que você não dá
tempo ao tempo, heim?
— Não é esse o problema. Estou de mãos amarradas. Ângela ainda não
decidiu casar-se comigo. Sinto-me um perfeito idiota. Dependente de uma
mulher com quem, em condições normais, jamais manteria qualquer tipo de
relacionamento. Provavelmente, ela está gostando de toda essa confusão.
— Acha mesmo?
— A verdade é que eu não sei. Não consigo entendê-la. Ela não parece
se importar com dinheiro ou posição social, coisas que a maioria das mulheres
procuram. Dedica-se seriamente à arte mas, na minha opinião, não tem muito
futuro.
— Scott dizia que ela era ótima. Você viu algum trabalho dela?
— Não. Mas, se a pintura a mantém ocupada e feliz, que diferença faz
que seus quadros sejam vendidos ou não? Como única herdeira de Scott
Bennington, jamais precisará trabalhar.
Harry acompanhou-o até a porta.
— Mantenha-me informado dos acontecimentos. Você sabe que quero vê-
los casados logo.
— Primeiro, temos que saber se haverá uma noiva.
Ao sair da sala de Harry, Blake cumprimentou Glenda, a secretária do
advogado, uma mulher esperta e eficiente que, fazia anos, parecia admirá-lo.
Sempre que o via no escritório, ela tentava chamar-lhe a atenção. Porém, ela
tinha a impressão de que sempre receberia dele o mesmo cumprimento frio.

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Glenda suspirou. Aquele corpo viril, aqueles olhos... Mas com um cérebro de
computador. Droga!
Blake deu uma rápida olhada no relógio e decidiu passar na casa de Ângela
antes de ir para seu escritório. Não haviam conversado desde a festa, na noite
anterior. Dessa vez, não repetiria o mesmo erro; não a cumprimentaria com um
beijo.
"Tudo bem, eu sinto atração física por ela", admitiu. "E daí?" Sedutora e
atraente, Ângela era tido como pura e inocente. Talvez os pais pensassem que
ela necessitava de proteção, e por isso o incumbiram desse trabalho. Era tudo
muito engraçado. E quem o protegeria dela?
Após parar o carro na frente da casa de Ângela, Blake abriu a porta e saiu
pensando no que ela pretendia fazer com a propriedade dos Bennington.
Ganharia um bom dinheiro com ela, caso decidisse vendê-la. Lembrou-se,
porém, de que ganhar mais dinheiro não era o objetivo dela.
Então, qual era? Com seu temperamento aberto e alegre, Ângela atraía as
pessoas com facilidade. Blake notara que até mesmo as mulheres presentes à
festa haviam gostado de conhecê-la. Talvez porque ela demonstrasse interesse
igual por todas.
Blake não entendia as emoções que Ângela lhe provocava. Quando a via
encarando-o com olhar lânguido, sentia uma súbita irritação crescer-lhe por
dentro.
A governanta atendeu à porta ao segundo toque da campainha.
— Boa-noite, Gladys. Ângela está em casa?
— Sim, Blake. Está lá em cima, pintando. Suba.
Blake subiu as escadas de dois em dois degraus, sem perceber como estava
ansioso para encontrá-la. Abriu a porta do cômodo e parou ali.
Ângela não desviou a atenção da tela que pintava. Deu uma pincelada na
tela, acrescentando-lhe nova cor, e afastou-se para examinar o efeito.
Ela vestia um velho avental todo respingado de tinta e um jeans bastante
surrado. Prendera os cabelos para trás, no alto da cabeça, porém alguns cachos
tinham se soltado e caíam-lhe pela fronte. Um risco de tinta azul sobre uma
sobrancelha realçava-lhe a cor dos olhos e indicava que o cabelo começava a
incomodá-la.
Perturbada pela sensação de não estar sozinha, Ângela virou-se e olhou na
direção da porta.
— Desculpe-me, Blake, não o ouvi entrar.
— Eu não queria atrapalhá-la.
— Ah, não! Agora eu vou parar. Estou aqui desde cedo, para aproveitar a
luz da manhã.
— Você já almoçou?
Enquanto limpava os pincéis, ela fez que não com a cabeça.
— Isso é tolice, Ângela. Você precisa se alimentar. Já emagreceu
depois que chegou aqui.

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— Eu sei. Mas é que eu não me sinto muito bem comendo tarde.


Blake adiantou-se e colocou as mãos sobre os ombros de Ângela,
massageando-lhe os músculos doloridos.
— Por que não vamos almoçar juntos?
— Não, está tudo bem. Gladys preparou-me alguns sanduíches. E você está
convidado a ajudar-me — acrescentou, olhando-o por sobre o ombro.
Embora a massagem fosse feita para relaxar, a tensão de Ângela aumentava
ao lado dele.
Ela não queria se casar, e, ainda que quisesse, preferia escolher seu marido.
Sabia que, em todo o mundo, eram normais os casamentos por conveniência,
principal-mente quando estavam em jogo interesses financeiros, como no caso
dos Bennington e dos Carlyle.
Todavia... casar-se com Blake Carlyle? Oh, não! Unir-se a alguém tão sério,
reservado, frio e sem sentimentos como Blake?
"Ele não foi, frio na noite em que me beijou", pensou Ângela sentindo-se
abrasada pelo ardor e pela excitação dele.
Quantos sentimentos contraditórios Blake causava nela!
Após guardar cuidadosamente os pincéis, Ângela voltou-se para Blake. Ele
estava tão próximo, que quase a espremia contra o cavalete.
— Quando vai se casar comigo, Ângela?
Difícil dizer quem ficou mais embaraçado com a pergunta: se Ângela, ou se
ele próprio. A verdade é que Blake não tencionava dizer nada, porém não
resistiu ante o perfume de flores que se desprendia dela.
Ângela quis olhar para ele, mas não conseguiu. Aqueles olhos negros a
estudavam intensamente, deixando-a quase sem fôlego. Precisava de mais
espaço para respirar. Afastou-se e, procurando parecer o mais natural possível,
caminhou até a escada, pensando na resposta que lhe daria. Não pensara o
suficiente no assunto. Ele dissera que não tinha pressa. Por que a pressionar
agora, então?
Blake desceu com ela e esperou-a na sala de jantar, onde e certamente ela
iria comer.
Não esperou muito. Ângela logo entrou, carregando um prato de
sanduíches para a mesa em que Blake se sentara. Acomodou-se também e disse:
— Não posso me casar com você ainda, Blake. Acho muito cedo para
pensar nisso. Ainda sinto muita falta de papai.
— Não quero apressá-la, Ângela. Apenas gostaria de marcar a data.
"Eu não acredito no que ouço!", pensou ela. "Esse homem pretende marcar
seu casamento na agenda, como se marca uma consulta no dentista."
— Poderíamos anunciar o noivado agora e esperar mais um pouco pelo
casamento, até que nós nos acostumássemos com a idéia. O que acha?
— Parece razoável.
Ângela quase deu uma gargalhada, mas se controlou, quando Blake tirou a

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caneta e o caderno de notas do bolso interno de seu casaco. Tratava daquele


assunto como se planejasse um encontro de negócios.
— Pretendo ir à França, antes de nos casarmos. Vim com tanta pressa, que
deixei muita coisa por resolver — ela avisou.
Esperava uma reação qualquer, porém ele pareceu satisfeito com a idéia?
— Nós não ficaremos o tempo todo juntos. Depois do casamento, se você
quiser, estará livre para viajar à França.
Ela estremeceu ao notar que aqueles palavras apertavam-lhe o peito. Na
verdade, já sabia por quê. Estava certa de que unir-se a Blake Carlyle seria uma
experiência dolorosa.
— O casamento não é o bastante, Blake. Temos que ter pelo menos um
filho. — Ela sentiu um repentino calor incendiar-lhe o rosto e desejou que Blake
não o notasse.
— Eu já pensei nisso. Basta um filho para que cumpramos o estipulado.
Blake passara as últimas noites em claro, pensando na idéia de ter um filho
com Ângela. Para isso, a teria em sua cama e a veria todas as manhas ao acordar.
— E o que pretende fazer com... a criança, se eu voltar para Paris? Você a
deixará partir comigo?
— Mas é claro! Apesar da distância, você e seu pai tiveram um
relacionamento bastante bom. Por que eu não faria o mesmo?
Então ele já havia pensado em tudo mesmo! Moraria com ela, fariam amor
e, assim que a criança nascesse, se separariam. Talvez fosse até um alívio deixá-
lo, depois de suportá-lo por tanto tempo.
Ângela ainda não tinha considerado todas as implicações daquilo em que
iria se envolver. Nunca pensara em ser mãe, estava interessada apenas em sua
carreira. Mas agora já não tinha tanta certeza disso, especialmente se seu filho
viesse a ter os mesmos olhos negros do pai. Por um instante, imaginou um
menininho de olhar sério, com jeito de quem espera amor e proteção. Talvez
tivesse sido amor o que faltara a Blake quando criança...
— Podemos marcar a data?
Depois de pensar um minuto, Ângela respondeu:
— Bem, estamos em janeiro. Que tal em abril ou maio?
— Perfeito! Como prefere o casamento? Bem pomposo, talvez?
— Oh, não, por favor. Quero uma cerimônia simples, em casa mesmo.
Blake assentiu e continuou a fazer suas anotações. Ângela estava prestes a
explodir de raiva. Como fora se envolver em tal situação?
— Não se incomoda de avisar seus amigos de que vai se casar? Quero ter
certeza de que a criança será minha.
Para Ângela, essas palavras foram como punhaladas no peito. Então era
isso que ele pensava a seu respeito?
Blake percebeu o sangue fugir das faces dela e reconheceu que deveria ter
sido mais delicado.

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— Desculpe, eu não queria dizer isso.


— Mas é claro que queria, Blake e esteja certo de que compreendo muito
bem sua posição. Prometo interromper minhas atividades sexuais por alguns
meses, assim não haverá dúvidas sobre a paternidade do meu próximo filho.
Tentava parecer o mais cínica possível, sem perder o controle.
— Você tem outros filhos? — perguntou Blake, incrédulo.
— Claro! Uma verdadeira ninhada. Estou sempre em contato com eles,
além de mandar-lhes dinheiro mensalmente. — Inclinando-se para Blake, como
se fosse confidenciar-lhe um segredo, continuou: — Não quero que pense que
sou irresponsável. Por Deus, não! Asseguro-lhe que nosso filho receberá minha
total atenção e apoio. Afinal de contas, ele ou ela, um dia tomará conta dos
negócios. Estamos nos sacrificando para que isso aconteça.
Sem acreditar no que ouvia, Blake olhava para Ângela. Será que ela falava
sério? Não parecia estar brincando.
— Quantos filhos tem, Ângela?
— Perdi a conta.
— Ângela!
— Sim?
— Por que está dizendo uma coisa tão ridícula? Eu sei que não tem filho
algum. Do contrário, seu pai me contaria.
— Mas ele não sabia de tudo a meu respeito.
— Além do mais, você é muito nova para ter uma "ninhadinha" de filhos.
— Ora, comecei cedo!
— Ângela... — A expressão dele dispensava comentários. Mais uma vez ela
conseguira desconcertá-lo, com afirmações intempestivas. — Peço-lhe desculpas
pelo meu comentário grosseiro de agora há pouco. Não é da minha conta saber
com quem você dorme. Estou certo de que saberá se comportar como convém.
— Deu uma nova examinada na lista e perguntou: — Gostaria de se casar na
igreja?
— Bem, pode ser, mas desde que seja uma cerimônia simples.
Blake não esperava por essa resposta. Achava que ela preferiria casar-se em
casa. E ainda não estava certo do que sentia a respeito de Ângela.
— Existe alguém em especial que gostaria de incluir entre seus
convidados?
— Acho que você não gostará de que compareça alguns de meus
amantes, Blake. A não ser que, após a cerimônia, você queira conversar com eles
sobre as minhas... bem, digamos, preferências íntimas.
O sorriso dela irritou-o de tal forma que teve vontade de espancá-la. Se
tudo o que Ângela falava fosse verdade, jamais conseguiria sorrir daquela forma.
— Não está sendo nada agradável, Ângela. Além do mais duvido que tenha
tantos amantes assim.
Blake consultou suas anotações mais uma vez.

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"O que mais há para discutirmos?", pensou Ângela.


— Quanto à festa de noivado... — lembrou Blake, como se lesse seus
pensamen-tos.
— Que festa de noivado?
— Não foi você quem sugeriu? Temos que tornar público nosso
compromisso, de forma que todos pensem que nos encontramos depois de
muitos anos, nos apaixonamos e decidimos nos casar.
— Acha mesmo que alguém acreditará nessa história?
— É claro!
— Mesmo Márcia?
— Sim, mesmo Márcia. — Ele guardou a caneta e o caderno de notas e
levantou-se. — Por enquanto creio que é só. Quando pretende voltar para a
França?
— Ficarei aqui pelo menos mais duas ou três semanas.
Blake examinou um pequeno calendário que tirou do bolso e disse:
— Daremos a festa dentro de quinze dias. Está bem? Você terá tempo para
encomendar um vestido para a ocasião.
— Tenho certeza de que sim.
Ele não contou a Ângela que havia terminado o namoro com Márcia.
Pediu-lhe para que o acompanhasse até a porta. Antes de se despedir, voltou-se
para ela e disse:
— Estou muito contente por você ter concordado em levar adiante
essa história toda.
— Não faço isso por você, Blake, mas sim por meu pai, apesar de não
entender por que ele concluiu que esse casamento daria certo. Ele jamais faria
qualquer coisa para me prejudicar. Era um homem astuto e nos conhecia muito
bem.
Blake olhou-a como se a visse pela primeira vez; sentia sinceridade no que
ela lhe dizia. Como pudera se esquecer de que ela era filha de um homem tão
honesto como Scott Bennington? Envergonhou-se por tê-la julgado mal.
— Vai dar tudo certo, Ângela.
Ela nunca o vira tão gentil. Quase acreditava nele. E quando Blake curvou-
se para beijá-la, Ângela não se achou tão sozinha no mundo, pela primeira vez
desde que seu pai morrera.

CAPÍTULO IV

Blake era um homem organizado e, de imediato, ajustou um hotel no


centro da cidade para realizar a festa de noivado. A seguir, pediu à sua secretária
para elaborar uma lista de convidados. Depois voltou sua atenção para o item
seguinte de sua agenda: Márcia.
Desde que assumira os negócios, Blake pouco se avistara com Márcia, mas
tinha certeza de que ela não se surpreendia com isso, pois era filha de um

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executivo de uma poderosa firma e conhecia o tipo de vida que ele levava.
Márcia gostava de bancar a anfitriã para os amigos e sócios do pai e, nas
horas vagas, dedicava-se a trabalhos voluntários. Esses atributos fariam dela a
esposa ideal para Blake, que agora iria representar a empresa em todos os
momentos, precisando de uma mulher que soubesse receber bem.
Naquela noite, quando voltavam do teatro, Márcia perguntou a Blake por
que nunca lhe propusera casamento. Inteligente e compreensiva, ela tinha tudo
o que Blake sempre desejara numa esposa. E um casamento entre os dois daria
certo, sem nenhuma dúvida. Porém, não soube explicar por que se casaria com
outra pessoa.
Embora mudassem de assunto rapidamente, Blake não conseguiu desviar o
pensamento daquela pergunta, enquanto seguiam para o apartamento dele.
Ainda no elevador, Márcia lhe contava que ouvira uma fofoca envolvendo
gente da alta sociedade. Ele fazia o possível para concentrar-se no que ela dizia,
mas parecia alheio. Então, Márcia chamou-lhe a atenção:
— Algum problema, Blake? Parece tão distraído...
— Desculpe-me. Mas eu estava ouvindo, sim.
Mal abriu a porta do apartamento, Blake dirigiu-se ao bar, voltando, a
seguir, com dois copos de vinho.
— Acho que alguma coisa o incomoda, Blake. Você está assim a noite toda.
— Márcia acariciou-o, enquanto falava. — Ultimamente, você tem andado
muito pálido. Quando conseguirá relaxar e gozar um pouco a vida?
Relaxar e gozar a vida. Quantas vezes seu pai e Scott lhe haviam dito a
mesma coisa? Porém, como conseguir um merecido descanso em meio a tantos
problemas? Além do mais, foram eles mesmos que arquitetaram aquele plano
diabólico.
— Mais uma vez, desculpe-me, Márcia. Esta noite fui uma péssima
companhia.
Colocando o copo de vinho sobre uma mesinha ao lado do sofá, ele
envolveu-a nos braços.
— Você sabe que eu não dou a menor importância para isso, Blake — disse
ela, beijando-o.
Ele nunca havia percebido como Márcia era alta, tendo apenas uns poucos
centímetros a menos que ele. Ângela, no entanto, tinha que ficar na ponta dos
pés para beijá-lo, e ele ainda se curvava.
Mas por que diabos estava pensando em Ângela, afinal? Tinha uma mulher
linda nos braços, beijando-o apaixonadamente, e tudo o que pensava era em
Ângela! Estava perdendo o juízo!
Preocupada, Márcia afastou-se um pouco.
— Querido, qual é o problema?
Blake pegou o copo novamente e dirigiu-se até a janela, seguido por ela.
— Tenho que lhe contar algo, Márcia.

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— Parece tão sério... Aconteceu alguma coisa?


— Sim. E não sei como lhe contar.
— Seu pai não deixou nada além de dívidas, e você quer se casar comigo
por causa do meu dinheiro, é isso? — Havia uma leve ironia em sua voz. Parecia
engraçado, mas justo nessa noite ela levantava a questão do casamento pela
segunda vez.
— Lembra-se de quando eu lhe falei sobre Ângela Bennington?
— Sim, claro. Seus pais eram sócios.
— Isso mesmo.
— Ela é sua sócia agora?
— Não. A empresa foi deixada para mim. — "Sob certas condições",
pensou. — Mas ela teve sua compensação...
Márcia sentou-se no sofá e tomou mais um gole de seu vinho.
— Entendo.
— Não, você não entende, porque ainda não expliquei nada. — Suas mãos
alisavam os cabelos, agitados. — Ângela e eu passamos bastante tempo juntos,
nas últimas semanas.
Blake dava voltas em torno do assunto. Sempre fazia isso quando estava
nervoso. Sentou-se ao lado de Márcia. Tomou um longo gole de vinho, e depois
deixou o copo de lado.
— A verdade é que pedi Ângela em casamento.
— Casamento! — Ela o olhou espantada, não acreditando no que escutava.
— Sim.
— Mas eu não entendo. Você não tinha a menor intenção de se casar.
Todos diziam isso. Por que acha que eu aceito este nosso relacionamento?
Jamais outra mulher teve o que eu tenho. Levei quase três anos para chamar-lhe
a atenção, três longos anos fazendo o possível e o impossível para estar no lugar
certo, na hora certa, para que você ao menos notasse que eu existia.
Márcia se pusera de pé e fora até a janela. Porém já não enxergava a cidade
aos seus pés.
— Nunca soube disso, Márcia. Eu não tinha a intenção de magoar
você. Não conhecia seus sentimentos.
— É claro que não! Tentei ser tudo o que você queria, Blake. "Ele não
gosta de mulheres possessivas... e não fui possessiva; "Não gosta de mulheres
ciumentas..., e reprimi todo o ciúme que sentia de você. O que espera que eu
diga, Blake? "Que novidade maravilhosa! Meus parabéns"? — Márcia voltou-se e
fitou-o, com os olhos brilhantes de raiva. — Diga-me uma coisa... Alguma vez
pensou em me pedir em casamento?
Havia dor estampada naqueles olhos e Blake recriminou-se por sua
cegueira. Aceitara Márcia em sua vida com egoísmo. Sempre que precisava de
companhia, ela estava por perto. "E agora você a trata desse jeito, seu estúpido",
pensou ele.

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Não adiantaria nada dizer-lhe a verdade. De que adiantaria a ela saber que
seu casamento seria apenas um contrato comercial?
— Márcia, sinto muito se a feri. Não pretendia fazê-lo. Nunca imaginei que
você sentisse por mim mais do que uma simples amizade.
Tenso, Blake suspirou. Márcia não tinha culpa do que se passava; ao
contrário, ela era a maior vítima das circunstâncias. Quando ela conseguiu falar
novamente, perguntou:
— Quando vocês se casam?
— Em maio.
Sem comentar nada, a moça depositou o copo sobre a mesa e pegou o
casaco. Depois, falou:
— Não temos mais o que conversar, não é mesmo? Pensei que seria a
esposa escolhida, caso você decidisse se casar. Enganei-me. — Deu-lhe as costas,
abriu a porta e acrescentou antes de sair: — Espero que ela o faça feliz, Blake.
Blake passou a noite em claro. Não entendia como não decifrara os
verdadeiros sentimentos de Márcia. Aliás, não entendia mais nada em sua vida.

Harry insistiu em pagar as despesas da festa de noivado em homenagem


aos filhos de seus dois melhores amigos, por isso Blake deixou todos os detalhes
em suas mãos. Dessa forma, pôde se dedicar aos negócios.
De outro lado, para Ângela, chegara a hora de encarar o sucesso
profissional. Michelle lhe remetera de Paris toda a sua correspondência e uma
das cartas provinha de uma galeria de San Francisco, que se propunha a fazer
uma exposição apenas com seus quadros, ou melhor, com os quadros do
misterioso AB. Todos os detalhes estavam ali explicados. Em apoio, Michelle
acrescentara à carta um bilhete dizendo que ela devia aproveitar a
oportunidade, uma vez que se encontrava na cidade.
No entanto, a não ser que passasse os próximos meses totalmente voltada
para o trabalho, Ângela não teria quadros suficientes para uma exposição
individual. De repente, ela percebeu que estava relegando sua carreira a
segundo plano, preocupada que estava com o casamento. Decidiu então expor,
apesar de todo o trabalho que a aguardava.
Releu a carta e descobriu que a exposição seria em junho, o que lhe dava
quase cinco meses para se preparar. Tinha algumas pinturas prontas ali e outras
em Paris. Se trabalhasse oito horas por dia, por algum tempo, talvez
conseguisse. De qualquer forma, pediria emprestadas algumas das telas que
vendera.
De repente lembrou-se de que naquele dia pretendia comprar um vestido
para o sábado à noite. "Que desperdício de tempo!", reclamou, enquanto subia
as escadas para mudar de roupa. Detestava fazer compras por obrigação. Mas
não tinha outro jeito.
Horas depois, Ângela estava prestes a desesperar-se. Nenhum dos vestidos
que experimentara eram de seu agrado. Gostava de usar cores fortes, vibrantes,

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e parecia impossível encontrar um que lhe agradasse.


Finalmente, ela viu um modelo branco, cintilante. Não era exatamente da
cor que procurava, mas as lantejoulas e o corte clássico compensavam. Ao
experimentá-lo, seu rosto abriu-se num sorriso triunfante. O vestido parecia ter
sido feito sob encomenda, delineando busto e quadris, realçando-lhe as belas
formas. Sentiu-se tão bem dentro dele, que resolveu não usar nada por baixo,
além da calcinha. Blake seria o único que poderia se opor, mas tinha certeza de
que ele não se importaria, uma vez que se preocupava com assuntos mais
importantes, como a empresa, por exemplo.
Ângela tinha razão. Blake não reparou em seu vestido, mas só até chegarem
ao salão de festas do hotel. Somente quando ajudou-a a retirar a capa de cetim é
que examinou-lhe o decote, boquiaberto, e abafou uma exclamação.
— Ângela, querida, você está estonteante! — disse Harry, surgindo de
repente por trás deles, com um largo sorriso no rosto.
— Estonteante é pouco — murmurou Blake, ainda sem fôlego. — Você
trouxe esse vestido de Paris?
Ela olhou-o, surpresa. Os cabelos caíam-lhe por sobre os ombros, e seus
olhos brilhavam, excitados.
— Não, por quê? Você me disse para comprar alguma coisa aqui
mesmo, em San Francisco.
— Nunca esperei tanto por uma festa como esperei por esta, Harry. É
que, de certa forma, ela parece que traz papai de volta, por intermédio dos
amigos, que ele tinha muitos.
— Sim, tinha mesmo, Todos gostavam muito dele, e estou certo de
que gostarão de saber que vocês pretendem viver aqui, de forma a ficarem
sempre em contato.
Pelo canto dos olhos, Ângela examinou Blake, cuja fisionomia se mostrava
carrancuda. Será que ele estava aborrecido? A festa nem começara ainda!
Harry examinou o salão, satisfeito.
— Estou contente com a decoração. Scott e Todd se sentiriam orgulhosos
de estarem conosco esta noite. — Pegando a mão de Ângela, continuou: — Por
que não vamos até a porta, para receber os convidados?
Ante a aquiescência dela, ofereceu-lhe o braço e atravessaram o salão, com
Blake atrás deles.
Cerca de uma hora mais tarde, o salão estava repleto de sorridentes
convidados, todos dizendo a Blake que fizera uma ótima escolha.
Ângela já ia retirar-se do hall, quando chegou o melhor amigo de Blake.
— Jeremy! — exclamou ele. — Pensei que não nos desse o prazer de
sua companhia esta noite.
— Eu jamais deixaria de vir — replicou o homem loiro, com um
sorriso. E olhou para Ângela, esperando que fossem apresentados.
Blake passou o braço por sobre o ombro de Ângela.
— Queria... quero que conheça o rapaz que estou sempre mantendo longe

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de enrascadas. Este é Jeremy Jordan, IV.


Ângela cumprimentou-o, sorrindo:
— O quarto?
— Sim — O loiro respondeu. — Não é uma coisa horrível de se fazer
com alguém? Mas prometi a mim mesmo que os números acabariam em mim.
— Que pena! Você daria um excelente marido e pai — declarou Blake,
caçoando.
— Ah, mas eu pretendo me casar e ter filhos. Só que nenhum deles se
chamará Jeremy. Não é mesmo um grande nome.
— Eu não diria isso. Gosto dele.
Jeremy olhou para o amigo.
— Tem certeza de que quer se casar com esse homem, Ângela? Não prefere
uma companhia mais agradável, menos austera? Caso mude de idéia, me avise,
pois eu me candidatarei.
Ângela riu, deliciada. Jeremy era exatamente a pessoa de que precisava,
depois daquelas semanas difíceis que passara. Ela notou, no entanto, que aquele
diálogo com o loiro não fora aceito com muito bom humor por Blake, por isso
disse, fingindo-se infeliz:
— Sinto muito, Jeremy, mas estou prometida para Blake desde o berço.
Blake parecia prestes a fuzilá-la com o olhar. Ângela tinha ido longe demais
com aquela história. Talvez até pretendesse contar a verdade sobre o casamento
deles para Jeremy.
Nesse instante, Jeremy curvou-se em frente a ela.
— Já que não vai me conceder a sua mão, que tal uma dança, milady!
— Eu adoraria, Jeremy. Muito obrigada pelo convite. — E sorrindo de
modo inocente para Blake, disse: — Se nos der licença...
Irritado, Blake olhou para a noiva e seu melhor amigo, que se afastavam.
Para descontrair-se, foi até o bar.
Harry assistira a toda a cena, a uma certa distância, satisfeito em ver que
Blake se comportava acertadamente. Ele estava mais flexível, era evidente, e
Ângela devia ser responsável por isso. Ângela, que fazia o maior sucesso entre os
amigos de Blake, e todos entendiam por quê ela lhe roubara o coração.
Naquela noite, Ângela parecia uma deusa. Seu riso alegre, espontâneo,
fazia com que as pessoas ao seu redor se voltassem para admirá-la, encantadas.
Todos na festa estavam enfeitiçados por sua personalidade marcante.
Todos, com exceção de Blake. Jeremy foi ao encontro dele no bar, de onde
podia ver Ângela, cercada de fãs, sem saber com quem dançaria a próxima
música. Notou o leve franzir na testa do amigo e sorriu. Sabia que Blake não
estava acostumado às emoções que ela lhe provocava.
— Sua noiva faz o maior sucesso entre os homens.
— Parece que sim — concordou, tomando mais um gole da bebida.
— Já dançou com ela?
— Não quero disputá-la com todo esse pessoal.

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Jeremy riu.
— Não me diga que está com ciúme dela, por chamar tanta atenção sobre
si!
— Não. Apenas gostaria que ela não parecesse tão vulgar.
— Vulgar, Ângela? Está sendo injusto, meu caro.
Os dois notaram que Ângela agora dançava uma música ligeira com um
outro grande amigo de Blake. Em conseqüência, ele sentiu uma vontade enorme
de tirá-la da pista de forma agressiva e tomá-la nos braços. Tomou mais um gole
de seu drinque para disfarçar.
— Ainda não tive chance de perguntar-lhe, mas acho que Márcia deve
ter recebido mal a notícia do seu noivado.
— De fato. Márcia pensou que eu me casaria com ela, pois era a minha
namorada — disse Blake, que se sentia mal todas as vezes que se lembrava de
Márcia.
— Era o que todos pensávamos. Mas, agora que conheci Ângela,
entendo por que você tratou de segurá-la rapidinho, antes que qualquer outro
tivesse chance de conquistá-la. Eu não tinha percebido seu gosto refinado até
nesse assunto.
Blake não respondeu. Em vez disso, continuou a olhar para Ângela, agora
dançando um número lento.
— Blake? — Jeremy sacudiu a mão na frente do rosto do amigo.
Blake piscou duas vezes.
— Hum... O quê?
— Nada... Estou apenas querendo conversar. Você não está gostando nada
disso, não é?
— Não faço a menor idéia do que você está falando.
Jeremy sorriu.
— Tudo bem, eu entendo. — Pegou a taça de champanha que o
garçom lhe oferecia e continuou: — Tome, você precisa é de mais um drinque.
— Não, obrigado, Jeremy. Vejo você mais tarde — Blake resmungou,
dirigindo-se para a pista de dança com tanta determinação, que fez o outro cair
na risada.
Quando a música terminou, Ângela viu Blake parado bem à sua frente.
— Acho que é a minha vez, não? — ele perguntou, num tom de voz
intimidante.
A orquestra tocava uma seleção de músicas românticas. Ela se aconchegou
nos braços do noivo e olhou para o alto, para lhe falar:
— Não pensei que gostasse de dançar.
— Por que não? O que a fez achar que eu não gosto?
— Faz duas horas que o baile começou e é a primeira vez que o vejo
dançando.
— Você reparou nisso?

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— É claro!
— Preferi ser paciente e esperar a minha vez. Agora é a vez dos outros
esperarem. — Puxou-a mais para perto, colando o corpo no dela.
Ângela apoiou-se nele, relaxando e deixando que a música os envolvesse
suavemente num clima de magia. Passaram o resto da noite juntos e ninguém
mais os separou. Eram duas horas quando Blake levou-a para casa. Ela o
conduziu à biblioteca, onde a lareira acesa deixava o ambiente aconchegante e
convidativo.
— Gostaria de tomar um café antes de ir embora? — perguntou, sentando-
se na cadeira em frente ao fogo, a fim de tirar os sapatos.
— Não, obrigado. Não tomo café à noite.
Blake ajoelhou-se à sua frente, pegou-lhe os pés e pôs-se a massageá-los.
— Oh, isso é tão bom! Nunca dancei tanto na vida.
— Pensei que saísse muito em Paris.
— Não, não muito. A maior parte do tempo eu estudava obras de arte. Não
sobrava muito tempo para ir a bailes.
Nesse instante, as mãos de Blake iniciaram uma exploração hesitante nas
pernas dela, que aos poucos o deixou excitado.
— Você leva sua profissão a sério, não?
— Sim, levo.
Aos poucos, Ângela ia relaxando, como se os dedos de Blake tivessem o
poder de fazê-la flutuar.
— Não quero que sua vinda para os Estados Unidos sirva de pretexto
para abandonar a pintura, Ângela.
— Eu nunca faria isso! A pintura faz parte de mim. É como respirar ou
comer, algo necessário à minha sobrevivência.
Devagar, ele foi se aproximando mais de Ângela, interrompendo a
massagem para tocar-lhe os braços e falar-lhe ao ouvido:
— Qualquer dia desses você me mostra algum de seus trabalhos?
A respiração dele provocava-lhe arrepios na espinha. Tentando disfarçar a
perturbação, ela respondeu, ajoelhando-se também para ficar mais perto:
— Quando você quiser.
Os lábios de Blake agora se moviam sobre suas faces levemente
ruborizadas, em direção à boca.
— Quero sim. Muito...
O calor do corpo de Ângela o embriagava tanto que logo seus lábios se
encontraram e seus corações vibraram em uníssono, como que estimulados por
pequenas faíscas elétricas.
Blake não resistiu à tentação de puxar o zíper do vestido de Ângela, que
não lhe ofereceu resistência. Foi então que confirmou o que suspeitara a noite
toda: ela não usava sutiã. Tomando-lhe o belo seio entre as mãos, sentiu o

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contato suave e cálido.


Ângela gemeu baixinho, o que lhe deu vontade de beijá-la mais
profundamente enquanto acariciava aquele corpo macio, provocando-lhe um
leve e irresistível tremor. Nunca quisera tanto uma pessoa quanto a queria
naquele momento.
"Mas não esta noite. Não esta noite", pensou. Afinal, o casamento seria por
conveniência... Só que ele não conseguia manter-se longe dela!
Blake afrouxou o abraço e os dois sentaram-se no sofá. O que estaria
acontecendo com ele? Aquele "anjo" o enfeitiçara! Era o anjo mais diabólico que
ele já encontrara!
Blake perdeu a noção de tempo. Ângela se recompôs e repousou a cabeça
em seu peito, meiga e dócil.
— Vai viajar mesmo na terça? — ele perguntou, afinal.
— Sim.
— Quer que eu a acompanhe até o aeroporto?
— Não é preciso.
— O que você acha de jantarmos juntos na segunda-feira à noite?
Ela concordou com um sinal de cabeça, ainda perturbada com o que
acontecera. Nunca tivera um contato tão íntimo com um homem. Jean-Pierre
fora o único com quem convivera, além de seu pai, e ele a tratava como uma
irmã mais nova. Por outro lado, Blake a tratava como se fosse uma mulher
experiente. Tinha que haver um meio-termo!
— Venho buscá-la na segunda, às sete, está bem?
— Está.
Blake reclinou-se e gentilmente beijou-lhe nos lábios. Ângela parecia uma
garotinha, com os cabelos em desalinho, as pálpebras semicerradas.
— Boa-noite, Ângela.
— Boa-noite. — Ela tocou-lhe o rosto, num gesto de carinho que nem
mesmo ela esperava, e ele sorriu.
— Até segunda.

CAPÍTULO V

Blake se avistou com Ângela na segunda-feira, porém não da forma como


planejara.
Jeremy o convidara para almoçar num restaurante muito conhecido em San
Francisco. Lá chegando, Blake quis contar-lhe os últimos acontecimentos
relacionados à noiva. Todavia, quando percebeu que o amigo não ouvia nada do
que dizia, parecendo surpreendentemente inquieto, perguntou:
— O que há, Jeremy?
— Oh, nada. Pensei ter reconhecido alguém, mas foi só impressão minha.
Apesar de Jeremy disfarçar, Blake viu quando o garçom conduziu Ângela e

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seu acompanhante até uma mesa, sob a janela.


Ela estava muito diferente, com um vestido discreto, na cor azul. Os
cabelos, elegantemente presos no alto da cabeça, davam-lhe um ar sofisticado,
difícil de se associar àquela mulher sedutora que estivera em seus braços, poucas
noites antes.
Blake olhou para o homem que se sentara defronte a ela. Tentou não
demonstrar a Jeremy o que sentia, porém seu punho cerrado e os nós dos dedos
brancos de tanto serem apertados denunciavam seus sentimentos.
— Quem é ele? — perguntou Jeremy.
— Não faço a menor idéia.
— Provavelmente ela conhece mais alguém em San Francisco, além de seus
amigos comuns.
— Não sei...
— Estou certo de que há uma explicação perfeitamente plausível para isso,
Blake. Não precisa ficar assim, querendo expulsá-lo do restaurante com o olhar.
Blake voltou-se para Jeremy.
— Não estou preocupado com ele. Por que deveria estar? Nem o conheço.
Estou chateado por levar a sério a inocência aparente de Ângela. — De um só
gole, esvaziou a xícara de café. — Vamos embora?
Jeremy tornou a olhar para os dois.
— Será que não podemos ao menos cumprimentá-los? Acho que ela
não nos viu.
— Não tenho a menor intenção de ir até lá. O que Ângela faz é
problema dela. Não me deve nenhuma explicação.
Jeremy acompanhou-o até a saída, balançando a cabeça. Blake estava pior
do que havia imaginado. Sempre fora tão objetivo e racional, e agora agia como
um tolo apaixonado e ciumento.
"Bem-vindo ao mundo dos mortais, meu amigo", pensou Jeremy.
Ângela mostrava-se atenta ao que o sr. Huntington, o proprietário da
galeria, dizia, mas viu Blake e Jeremy saírem do restaurante.
"Droga, por que tive que encontrá-lo aqui?", pensou ela, aflita.
— Não sei como expressar o imenso prazer que sinto em conhecê-la
pessoal-mente, srta. Bennington. Nunca imaginei que AB fosse uma mulher. Seu
trabalho tem características geralmente associadas a artistas masculinos.
— Exatamente por isso me mantenho no anonimato. Minha arte é
julgada por ela mesma, sem que a minha pessoa tenha a menor influência. Aliás,
eu pretendo manter essa situação.
— Aceito sua posição e quero acrescentar que me sinto muitíssimo
honrado em merecer sua confiança. Esteja certa de que saberei guardar o
segredo.
— Meu agente me disse que podia contar com o senhor. Confio nele,
mas achei mais fácil tratar da exposição diretamente com o senhor, ainda mais
agora que vou morar definitivamente em San Francisco.

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O sr. Huntington deu um ligeiro sorriso de satisfação.


— Isso será certamente lucrativo para nos, srta. Bennington. Estou certo de
que gostará de nossa maravilhosa cidade. Ela tem muito para oferecer.
Conversaram durante todo o almoço, porém Ângela só pensava em Blake.
Ele a teria visto? Por que não fora até sua mesa? Deveria contar-lhe que estivera
lá?
O problema é que não queria que ele soubesse de sua exposição, pois ainda
não decidira sequer lhe informar qual era seu nome artístico.
Eram mais de três horas quando se despediu do sr. Huntington. Ele parecia
ansioso com a exposição e ela não pretendia decepcioná-lo.
Ao chegar em casa, já estava tarde para trabalhar, por isso Ângela decidiu
descansar um pouco e refletir no que diria a Blake quando o visse.
Por fim, decidiu não lhe contar nada. Blake não devia tê-la visto pois, ao
sair, conversava de modo natural com Jeremy. Além do mais, ela não conseguia
atinar com nenhum pretexto que justificasse seu encontro com o sr.
Huntington, a não ser que dissesse a verdade.

Naquela noite, Blake levou-a para jantar. Tentando conhecê-lo um pouco


mais, Ângela fez-lhe algumas perguntas sobre a empresa e sobre os planos dele.
Dessa forma, ao final da refeição, ela tinha uma visão mais clara da
responsabilidade que Blake assumira.
Os músicos preparavam-se para tocar, quando Ângela notou um senhor de
aparência muito distinta indo em direção à sua mesa. Ele estava acompanhado
de uma jovem alta, morena e atraente que, aparentemente, relutava em
acompanhá-lo. Olhando para Blake, ela viu que o sorriso dele desaparecera,
dando lugar a uma expressão fria.
— Olá, Blake! — disse o homem. Olhou para Ângela, intrigado, e
continuou: — Outro dia mesmo perguntei a Márcia por que não o víamos mais
em casa.
Então aquela era Márcia! A moça tinha um ar sereno, que lhe assentava
muito bem, cabelos negros que brilhavam à luz e uma pele que parecia de seda.
Após olhar rapidamente para Ângela, evitou encarar Blake.
Ele se levantou e estendeu a mão.
— É um prazer vê-lo de novo, sr. Richard. Ângela, quero que conheça
Márcia e Richard Sinclair. Esta é minha noiva, Ângela Bennington.
— Sua noiva! — repetiu o sr. Richard, chocado. Porém rapidamente se
recuperou e tentou sorrir para Ângela, embora um leve rubor nas faces o traísse.
— Tenho um imenso prazer em conhecê-la, srta. Bennington. Será por acaso a
filha de Scott Bennington?
— Sim, sou eu.
— Não querem juntar-se a nós? — perguntou Blake, polidamente.
Márcia fez que não com a cabeça, porém o sr. Richard adiantou-se a ela e
respondeu:

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— Se não se importa, Blake, aceito. Gostaria de discutir com você alguns


boatos que ouvi na bolsa de valores.
— À vontade.
Blake pediu ao garçom que levasse mais duas cadeiras. A mesa era pequena
e, por isso, Ângela aproximou-se ainda mais dele. Mal se ajeitou e ele lhe passou
o braço ao redor dos ombros.
O sr. Richard não parecia tão à vontade quanto a princípio. Mas por que se
sentara ali?
Ângela olhou para Márcia e sorriu.
— Estou contente em conhecê-la, Márcia. Blake fala muito em você.
— É mesmo? — Márcia olhou afinal para Blake. — Nas atuais
circunstâncias, isso é um tanto surpreendente para mim.
— Blake quer que eu conheça todos os seus amigos. Você também faz
parte do mundo dos negócios?
O sr. Richard riu.
— A única parte do mundo dos negócios em que minha filha está envolvida
é nos gastos.
— Papai!
Ângela sorriu, compreensiva.
— O sr. Richard fala como qualquer pai. Eles simplesmente não nos
compreen-dem, não é, Márcia. De que adianta ganharmos muito dinheiro, se
não usufruímos dele? Sempre digo isso.
— Engraçado, nunca a ouvi falar assim — Blake sussurrou-lhe ao
ouvido, sem que mais ninguém ouvisse.
Márcia assistiu desolada àquela troca de intimidades. Blake nunca fora uma
pessoa muito carinhosa e gostava de comportar-se com discrição em público.
Agora parecia tão bem, tão próximo da noiva... Como Ângela conseguira
quebrar daquela forma suas barreiras?
— Me disseram que você é pintora, é verdade? — perguntou Márcia, para
que a conversa não morresse.
— Sim.
— É um hobby maravilhoso, não é? Tão relaxante! Seu pai devia se orgulhar
de seu talento.
— Sim, ele se orgulhava, sim.
— Agora Blake vai continuar encorajando-a enquanto toma conta de você,
como seu pai queria.
Ao sentir a agressividade nas palavras de Márcia, rapidamente Blake tentou
desviar o assunto, perguntando a primeira coisa que lhe veio à mente:
— Quer mais um drinque, Ângela?
— Não, obrigada — respondeu Ângela, com raiva, percebendo o
motivo da pergunta, pois seu copo estava quase cheio.
— Já marcaram a data do casamento? — O sr. Richard quis saber.
— Marcamos para maio. Ângela ainda precisa resolver uns

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compromissos pendentes na França.


Richard sorriu.
— Entendo. Nunca conseguimos nos livrar de nossos compromissos de
uma hora para a outra, não é? — Sorriu, com ironia, olhando para Blake e para
sua filha.
A reunião improvisada ali não poderia ser pior para todos os participantes.
Àquela altura, o certo era arranjar uma desculpa estratégica, e, por isso, Ângela
tocou carinhosamente a mão de Blake, apertando-a levemente.
— Estou um pouco cansada, Blake. Não se incomoda de me levar para
casa?
Ele percebeu que sua noiva mentia, pois ela desejava muito ficar e dançar,
mas o melhor era que aquela cena toda chegasse ao fim, o mais depressa
possível. Assim, rapidamente acatou o pedido. Num instante pôs-se de pé,
afastando a cadeira para ela e despedindo-se dos Sinclair.
Durante todo o caminho para casa, Blake manteve-se quieto. Ângela queria
lhe perguntar o que sentira ao rever Márcia, mas preferiu não o fazer, pois ele
deixara claro que seu relacionamento com a outra não era da conta dela.
— Sinto muito pelo que aconteceu esta noite — disse Blake, baixinho.
— Você não me deve desculpas.
— Provavelmente Márcia não contou ao pai sobre nosso noivado.
— Então ela já sabia?
— É claro que sim. Eu não iria deixar que ela soubesse por outra
pessoa. — Havia mágoa na voz de Blake. — Tive medo de que essa conversa
terminasse mal. Não sei por que todos pensam que você precisa de proteção.
Você sabe cuidar muito bem de si mesma.
— Nem sempre — murmurou ela e lembrou-se da noite do noivado e
de como se derretera nos braços de Blake.
— Não se importa se eu lhe telefonar enquanto estiver na França?
Ela olhou-o, surpresa.
— Gostaria muito que fizesse isso.
— Ótimo!
Afinal chegaram à casa de Ângela. Blake ajudou-a a descer do carro, acom-
panhou-a até a porta, mas não entrou.
— Não quero mais incomodá-la esta noite. Você precisa descansar, pois
viaja amanhã cedo. Vejo-a dentro de quatro meses, então. Certo?
Ela concordou, com certa tristeza por deixá-lo por tanto tempo.
— Não vai mudar de idéia?
— Não. Você tem minha palavra, Blake. Eu honro meus compromissos.
Aquela frase irritou Blake, que, como se quisesse castigá-la, empurrou-a
para dentro da casa e entrou, fechando a porta atrás de si. Encostou-a na parede
e abraçou-a fortemente.
— Não quero que se esqueça de mim, Ângela... — murmurou, antes que
seus lábios se encontrassem.

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A primeira reação de Ângela foi tentar desvencilhar-se dos braços que a


apertavam, porém, ao experimentar a doçura daqueles lábios contra os seus, não
resistiu mais. Abraçou-o com força, sentindo o corpo incendiar-se de prazer.
Pena que ele saiu depressa dali, deixando-a de braços vazios.

Paris havia perdido o encanto para Ângela. Se não estivesse tão ocupada
com o trabalho, teria mesmo se aborrecido.
Mal chegara, surpresa, descobriu que sentia falta de Blake. E não menos
surpresas ficaram suas colegas de apartamento, ao saberem que ela ia se casar
com um americano.
— Você? Casada? Não acredito! — exclamou Suzanne.
— Mas é verdade! Michelle balançou a cabeça.
— E tudo porque perdeu o pai. Só que ninguém substitui o amor de
pai, Ângela.
— Creia-me, Michelle, Blake Carlyle não se parece em nada com meu
pai.
— Mas, chérie, você tem certeza de que pensou bem no assunto? Você
acabou de conhecer o rapaz!
— Ele é filho do homem que foi sócio de meu pai.
As duas amigas entreolharam-se.
— Isso é tudo o que tem a dizer? — Michelle perguntou finalmente.
— Eu acho que estou apaixonada.
— Você acha! Pelo amor de Deus, não se case com esse homem se
não tem certeza! — ponderou Michelle.
— De qualquer forma, estou contente por você ter vindo para pensar
um pouco — acrescentou Suzanne.
— Não foi por isso que voltei, pois a data do casamento já está
marcada. Voltei porque quero preparar uma grande quantidade de quadros
enquanto estiver aqui. Há uma importante galeria em San Francisco disposta a
expô-los.
— Não há nada que podemos fazer para dissuadi-la da idéia de se
casar?
Ela sorriu.
— Não. Mas fico muito grata por se preocuparem tanto comigo. Vocês me
entenderiam, se conhecessem Blake.
Na verdade, Ângela não tinha certeza do que dizia. Mas achava que Blake
era completamente diferente dos outros homens que conhecera até então.
Suzanne e Michelle jamais entenderiam seu fascínio por ele. E como poderiam?
Nem ela mesma entendia.
CAPÍTULO VI

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Blake chegou cedo demais ao aeroporto de San Francisco. De qualquer


forma, estava tão ansioso que não poderia mesmo ficar esperando no escritório.
Nas últimas semanas falara muitas vezes com Ângela. Habituara-se a relatar-lhe
tudo o que lhe acontecia e insistia em que ela fizesse o mesmo. Ela então falava
de seus quadros, de suas amigas, e depois lhe fazia perguntas sobre o
andamento dos negócios.
Pouco depois da partida de Ângela, Blake fora até a casa de seus pais e
tentara imaginá-la vivendo ali. Impossível! Cortinas-escuras e austeras cobriam
as janelas, os quartos estavam atravancados de móveis pesados, de mogno. Tudo
aquilo lhe parecia muito ultrapassado. Teria que fazer uma reforma grande e
dispendiosa para dar à casa um aspecto mais moderno.
E foi o que ele fez. Trocou as cores escuras por tons dourados, instalou
cortinas mais leves e móveis mais modernos. Esperava a aprovação de Ângela,
embora receasse que ela quisesse opinar na reforma, participando da decoração.
Mas, se ela não gostasse, ele trocaria tudo de novo.
A chegada do avião em que Ângela viajava foi anunciada no alto-falante.
Blake nem havia percebido que estava ali fazia mais de uma hora. Mas agora seu
coração batia mais forte no peito. Dentro de poucos minutos a veria, e em
menos de duas semanas estariam casados. Até já se esquecera do verdadeiro
motivo de seu casamento.
Pareceu-lhe que uma enorme multidão saía do avião. Então ele a viu, os
cabelos brilhando, a figura sobressaindo em meio a todos aqueles rostos
desconhecidos. Pôs-se a andar na direção dela, seu coração acelerando-se a cada
passo. Estava a poucos metros quando notou o homem que lhe segurava o
braço, falando rápido e gesticu-lando muito. Ela apenas o olhava, rindo do que
ele dizia.
Finalmente, Ângela o viu e saudou-o com alegria.
— Blake! Não sabia que viria me esperar. Que bom! — Dizendo isso,
atirou-se em seus braços e deu-lhe um longo beijo. Só então voltou-se para o
companheiro de viagem, que os olhava, sorridente. — Jean-Pierre, este é Blake
Carlyle. Blake, quero que conheça Jean-Pierre Armand. Ele insistiu em vir
comigo. Queria conhecer o homem que me convenceu a me casar.
Blake abraçou Ângela sem dizer nada. Jean-Pierre cumprimentou-o, num
inglês carregado de sotaque:
— É um prazer imenso conhecê-lo, sr. Carlyle. Ângela fala muito no senhor
com os amigos.
Ela riu.
— Acho que Suzanne e Michelle teriam preferido que eu ficasse por lá. Só
que já estavam me aborrecendo com aquela mania de dar palpites.
O francês olhou-a com ar de censura.
— Não diga uma coisa dessas, chérie.
— Eu sabia que você ia defendê-las, Jean-Pierre. Afinal, é também amigo
delas. Mas não se preocupe, meu amigo, eu as adoro. — Voltando-se para Blake,

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Ângela mudou de assunto. — Jean-Pierre gastou todo o seu dinheiro na


passagem de avião, por isso eu o convidei para se hospedar em minha casa. Ele
ficou tão preocupado com meu casamento, que eu sugeri que ele viesse
conhecê-lo. Além disso, vou apresentá-lo a algumas pessoas que conheci aqui e
que poderão ajudá-lo em sua carreira.
— Ele vai ficar com você?
Ângela sorriu para Blake, divertida.
— E por que não? Acho que há bastante espaço numa casa com cinco
quartos e uma porção de banheiros.
Atônito, Blake sentiu a cabeça girar. Não esperava por aquilo. Ângela deu o
braço a cada um e foram buscar as bagagens.
— Quer dizer que você pretende morar com Jean-Pierre até que nos
casemos? — Blake perguntou intrigado.
Estaria ele com ciúme? Esse pensamento a entusiasmou bastante.
Procurara não pensar nas noites em que ele e Márcia dormiram juntos.
Certamente não faria mal nenhum a ele sentir-se momentaneamente inseguro a
respeito de alguém.
— E por que não? — perguntou ela.
Jean-Pierre riu.
— Ah, Ângela, você não compreende? Seu noivo pensa que vamos
dormir juntos. Não é isso mesmo?
— Realmente, essa idéia passou-me pela cabeça — admitiu Blake.
— Oh, não se preocupe. Expliquei a Jean-Pierre que você tem medo de
que eu tenha um filho que não seja seu, e ele então, muito amavelmente,
concordou em refrear seus impulsos sexuais. — Ângela dirigiu-lhe um olhar
cativante. — Jean-Pierre foi bastante compreensivo e concordou em não me
tocar.
— Ângela, sua bruxinha! Que bobagem é essa que está dizendo?
— Exatamente o que ele espera ouvir.
— Não é verdade — disse Blake, afastando-se para que ela passasse
primeiro pela porta.
— Conheço Ângela desde criança, o que ela ainda não deixou de ser —
explicou Jean-Pierre, pacientemente, e acrescentou: — Ela me escolheu como
seu guarda-costas, desde o primeiro dia de aula. Agora estou disposto a passar-
lhe esse privilégio, sr. Carlyle. Sinto uma grande simpatia pelo senhor. É preciso
ter coragem para cuidar de Ângela.
— Bobagem. Não preciso de ninguém que cuide de mim.
Apesar de não gostar da idéia da estada de Jean-Pierre na casa de Ângela,
Blake achou melhor calar-se. A independência de sua noiva era um dos traços
que mais a marcava e, coincidentemente, um dos que ele mais admirava.
Entretanto, em certos momentos, esse espírito independente poderia causar-lhe
sofrimento.

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O casamento de Blake Carlyle e Ângela Bennington aconteceu numa


manhã típica de San Francisco. Um forte nevoeiro não se dissipou até o meio-
dia. À tarde, porém, o sol iria iluminar toda a baía, para levar muita esperança
para Ângela.
Harry tinha se incumbido de buscar a noiva, e agora a levava para a
pequena igreja onde se encontrariam com Blake e Jeremy. Jean-Pierre não
compareceu, alegando que haveria poucas pessoas no casamento, a
comemoração seria íntima e, por isso, ele se sentiria deslocado. Dessa forma,
poderia terminar a escultura em que trabalhava.
Olhando pela janela do carro, Ângela mal via a paisagem. Sentia-se
despreparada. O que sabia ela sobre casamento? A união desastrosa de seus pais
certamente não era um bom exemplo.
Jamais se casaria com Blake se não sentisse nada por ele e, no entanto, o
amor a deixava muito assustada.
— Vai dar tudo certo, Ângela, espere e verá — comentou Harry, enquanto
dirigia.
— Espero que sim — murmurou ela.
— Blake será um ótimo marido para você. Ele tem bom caráter e saberá
honrar o compromisso que está assumindo hoje.
Por um momento Ângela observou Harry. Não queria que ele se
preocupasse com ela. Harry envelhecera consideravelmente após a morte dos
amigos e, pela primeira vez, demonstrava a idade que tinha.
— Não é esse o problema. Apenas não sei se serei uma boa esposa.
— O que você quer dizer com isso?
— Sempre fui muito independente e dediquei toda a minha vida à
pintura. Não sei como administrar uma casa, nem como ser uma boa esposa,
enfim, não sei como fazer alguém feliz.
— Só terá que ser você mesma, Ângela. Isso é tudo o que precisa fazer.
— Seria diferente se Blake me amasse, Harry. Ele seria mais tolerante
comigo.
— O que a faz pensar que ele não a ama?
Ela se espantou com a pergunta.
— É claro que ele não me ama! Você sabe perfeitamente por que nós vamos
nos casar.
Harry sorriu.
— Não, eu sei apenas por que ele vai se casar. Mas não creio que ele mesmo
saiba ao certo o que sente por você. Veja bem: desde criança, Blake nunca
demonstrou seus sentimentos, pois aprendeu a disfarçá-los. Mesmo depois que
Lydia morreu, ele ignorou ou desconfiou de suas emoções, assim como faz
agora. Blake nunca conheceu alguém como você. Está fascinado, Ângela. Tente
compreendê-lo, talvez assim ele consiga entender-se.
Pararam em frente à igreja, onde Blake os esperava na escadaria,

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conversando com Jeremy. Ao ver o carro, imediatamente interrompeu o que


dizia e foi encontrá-los. Abriu a porta e ajudou Ângela a descer.
Como julgasse que se casaria apenas uma única vez na vida, ela decidira,
nessa oportunidade, usar um traje branco. Afinal, tinha esse direito. O vestido
era de seda e tinha um grande laço na cintura. Na cabeça, Ângela trazia um
pequeno chapéu, graciosamente colocado sobre os cabelos soltos.
Blake também estava elegante e charmoso. Percebendo que ele segurava
alguma coisa, ela o olhou, curiosa.
— Queria ter certeza de que você teria um buquê nas mãos — disse ele,
estendendo-lhe um pequeno arranjo de rosas brancas.
Ângela pegou o buquê e aspirou o perfume. Estava sensibilizada com a
lembrança e ao mesmo tempo confusa com o que Harry lhe dissera no caminho.
Blake levou-a até onde estava Jeremy.
— Você está linda como um anjo — comentou Jeremy, galantemente. —
Blake é um homem de muita sorte.
Ângela enrubesceu de prazer.
— Obrigada, Jeremy.
— O pastor está nos esperando, querida.
— Sim, vamos entrar, Blake.
Vendo-lhe o rosto afogueado, Blake pensou, espantado, que faria qualquer
coisa por ela. E, no entanto, ela se tornava sua esposa apenas para que ele tivesse
controle da companhia. Não por amor. Seria uma tolice encarar tudo aquilo de
forma diferente. A encenação em frente aos amigos estava prestes a chegar ao
seu ponto máximo. Estaria perdendo o juízo apaixonando-se por ela?
É claro que não! Sentia-se atraído por Ângela, mas não apaixonado. E
esforçou-se para que suas emoções voltassem ao normal, pois, no seu esquema
de vida, elas não contavam.
Depois de trocarem os juramentos sagrados naquela pequena capela, tendo
apenas Jeremy e Harry como testemunhas, Blake e Ângela foram declarados
marido e mulher. O pastor convidou Blake a beijar a esposa.
Um raio de luz entrava pelo vitral, desmanchando-se em cores sobre ela,
banhando-a de luzes. Ângela voltou-se para ele, tímida, enquanto Blake
lentamente a tomava nos braços, juntando os lábios aos dela. Estava selada
aquela união, do modo mais romântico possível.
O coração de Ângela batia com força no peito. Agora ela era a sra. Blake
Carlyle — na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza ou na
pobreza. O beijo a emocionara mais do que qualquer outro que ele lhe dera,
porque ela jamais esque-ceria aquele momento.
Após soltá-la, ele se voltou para o pastor, estendendo-lhe a mão.
— Muito obrigado.
— Parabéns aos dois. Oficiar casamentos é a parte mais gratificante dos
meus serviços. — Tomando a mão de Ângela, continuou: — Sra. Carlyle, desejo-
lhes felicidades e que Deus os abençoe.

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Harry interrompeu-os:
— Bem, se isso é tudo, tenho que voltar para o escritório.
O comentário dele diminuiu a tensão de todos, fazendo-os rir.
— Não quero de forma alguma afastá-lo de seus negócios, Harry —
brincou Ângela.
— Eu não disse isso. É uma pena que não me tenham deixado preparar
uma recepção para vocês.
— Bem, vamos deixar os recém-casados partirem para a lua-de-mel.
Quando voltarem, daremos uma festa magnífica — disse Jeremy, batendo nas
costas de Blake. E acrescentou: — Por hora acho que vocês querem mesmo é
ficar a sós. Distantes de nossa agradável companhia.
Feitas as despedidas, Ângela e Blake dirigiram-se para o carro e partiram.
— Está com fome? — perguntou Blake.
Ângela fez que não com a cabeça.
— Nem eu. Nunca imaginei que casamento fosse tão desgastante para os
nervos.
Essas palavras fizeram com que Ângela se tranqüilizasse. Ele parecia calmo
e bem mais descontraído que na hora da celebração.
— Pensei em percorrer o litoral. Você já conhece as nossas praias?
— Não. Isto é, papai me levava à praia quando eu era criança e passava
férias com ele, mas isso faz tanto tempo!
— Há um ótimo lugar para nos hospedarmos, ao Sul. Poderíamos
passar esta noite lá.
— Gostei da sugestão.
— Já arrumou suas malas?
— Já.
— Então vamos pegá-las. Assim você aproveita para trocar de roupa.
— E você?
— Eu também.
Mudando de assunto, Ângela disse:
— Acho que tudo saiu muito bem, Blake.
— É mesmo. Jeremy tinha razão: você parece um anjo, de tão linda.
Ângela enrubesceu. Era o primeiro elogio que recebia de Blake.
— Obrigada, Blake.
— Bem, vamos nos apressar. Quero chegar ao hotel antes de escurecer.
Durante a viagem, Ângela começou a pensar. Blake faria amor com ela? Ele
era seu marido, e o motivo daquele casamento era terem um filho. Não havia
razão para protelarem aquele ato íntimo, mas ela não sabia o que Blake pensava
a respeito, e nem tinha coragem de perguntar.

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Suzanne e Michelle tinham-na presenteado com uma camisola cara e


exuberante para a sua primeira noite de amor. Ela já a experimentara e sentira-
se envergonhada. Exceto por um laço de cada lado do peito, a camisola era
aberta do lado, desde os ombros até a cintura.
Tentando concentrar-se na bonita paisagem, Ângela recusou-se a antecipar
os acontecimentos das próximas horas.
Algum tempo depois, chegaram ao hotel. Nenhum dos dois comera muito
durante o jantar, durante o qual ela tomou um licor para relaxar. Em pouco,
Blake descobriria que ela tinha menos experiência do que uma estudante de
ginásio... Será que se aborreceria por causa disso?
Logo depois do jantar, Blake tomou-lhe a mão e a conduziu para o
elevador. Uma vez no quarto, foi acender a lareira.
Enquanto isso, Ângela procurava ignorar a enorme cama de casal atrás
dela. Vendo-a sem jeito, ele disse:
— Não quer usar o banheiro, enquanto termino isto aqui?
Ângela concordou, pegou o roupão e a camisola, e foi ao banheiro. Talvez
um bom banho a ajudasse a relaxar.
E ajudou mesmo. A água quente e mais a bebida que tomara depois do
jantar quase a fizeram dormir. Sonolenta, ela vestiu a camisola. Ao sair do
banheiro, viu Blake sentado na frente da lareira.
— Sente-se melhor?
— Sim. Mal posso manter os olhos abertos.
Ele levantou-se, pegou-a pela mão e conduziu-a até o pequeno sofá de dois
lugares onde estivera. Curvando-se sobre ela deu-lhe um beijo no rosto.
— Fique aqui perto do fogo, enquanto tomo banho. Voltarei logo. Ângela
sentiu-se enfeitiçada pelo brilho do fogo e divagou, como se estivesse sonhando.
Assim que ouviu a porta do banheiro abrir-se, Ângela olhou para lá e
conteve uma exclamação. Blake ia saindo, enxugando os cabelos e usando
apenas a roupa de baixo. Tinha a pele bastante bronzeada e músculos fortes.
Ele sentou-se ao lado de Ângela, como se não percebesse sua excitação.
— Está quente aqui?
— Muito.
Ele sorriu.
— Ainda bem. Tive medo de que você dormisse enquanto esperava.
— Oh, não.
Blake levantou-se, erguendo-a também.
— Você precisa mesmo desse roupão? — perguntou, desatando-lhe o cinto.
Ângela não conseguiu dizer nada.
Blake puxou o roupão, fazendo-o deslizar aos pés dela. Sua respiração
alterava-se à medida que a despia. Banhada pelo reflexo suave do fogo, Ângela
parecia fazer parte das chamas, com seus cabelos louros e pele clara. A camisola
que usava era tão transparente que mal lhe fazia sombra sobre o corpo.

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Sem dizer uma palavra, Blake tomou-a nos braços, levou-a até a cama,
deitando-a sobre os lençóis. Os olhos de Ângela pareciam maiores que de
costume e, se ele não a conhecesse bem, diria que havia uma certa apreensão
neles, Deitando-se ao seu lado, delicadamente a fez voltar-se para ele. A
camisola abriu-se com esse movimento, expondo-lhe a leve curva do ventre.
Blake apreciou o corpo sedutor e achou delicioso tocá-la. Suas mãos
percorreram aquele ventre em direção aos seios, seus lábios roçaram aquela pele
macia.
Lentamente, Blake foi beijando-lhe o nariz, as faces, os lábios, sentindo que
ela relaxava. Isso lhe agradava.
— Quero vê-la toda nua, Ângela, — ele disse, tirando-lhe a camisola.
A luz da lareira realçava as curvas e os mistérios de Ângela. Com seu toque
suave, Blake provocava-lhe as mais deliciosas e desconhecidas sensações.
— Está com frio? — ele cochichou aos seus ouvidos.
— Não, pelo contrário. Sinto-me como se estivesse pegando fogo.
Blake deitou-se então sobre ela, fazendo-a sentir a força de seu desejo. Ela
o desejava também. Timidamente, tocou-o e foi ajudando-o a se despir. Enfim o
viu nu e pôde acariciá-lo completamente. Abraçou-lhe o pescoço, entregando-se
totalmente. Blake Carlyle era o homem por quem esperara toda a vida, e sentia-
se segura porque estava certa de que ele lhe ensinaria todos os intrincados
segredos do amor.
Ele esperava fazia meses por aquele momento e já não se continha.
Desejava-a tanto que se sentia trêmulo. Penetrou-a, afinal, e, espantado, ergueu
a cabeça.
— Ângela? — murmurou, desconcertado. Acabara de descobrir que sua
esposa era virgem!

CAPÍTULO VII

Uma enorme ternura inundou Blake ao perceber as implicações de sua


descoberta. Tudo o que pensara de Ângela estava errado. Ela não havia
pertencido a nenhum outro homem antes.
Ângela estava muito emocionada. Dali a pouco, Blake a possuiria de novo.
Alegre, ela só pensava nisso. Sentia-se tão protegida, presa aos braços dele!
— Oh, Blake — murmurou.
Mais uma vez seus lábios se uniram aos dele, e de novo fizeram amor.
Ângela finalmente se encontrara, nos braços de Blake...

Horas mais tarde, Ângela acordou, sentindo muito frio. Sem abrir os olhos,
procurou por Blake, porém tocou apenas o travesseiro vazio. Sentou-se depressa
e então viu-o junto à janela, olhando para fora. O fogo se apagara e estava frio
ali dentro.

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— Sente frio, Blake? — ela perguntou.


Surpreso, ele se voltou, foi até a cama e sentou-se ao seu lado. Acariciando-
lhe o rosto, respondeu:
— Não muito, e você?
— Eu sim.
Blake sorriu e voltou a se enfiar sob as cobertas.
— Gostaria que eu a esquentasse de novo?
Ângela respondeu com uma pergunta.
— Por que já estava acordado?
— Não conseguia dormir.
— Por que não?
— Nada de muito importante. — Aproximou-se dela, acariciando-lhe
os cabelos. Procurou-lhe os lábios e, aos poucos, mais uma vez buscou o prazer
mútuo.
Logo Ângela adormeceu e ele ficou ali, abraçado a ela, pensativo. Fizera
amor com muitas mulheres, mas nunca experimentara com outra o que sentira
com Ângela.
Gostaria de entendê-la melhor. Pela primeira vez desejava aproximar-se
mais de alguém, porém não sabia como fazê-lo. E se ela não o quisesse? Afinal,
fora ele quem propusera uma união de um ou dois anos, para terem um filho;
depois, cada um seguiria seu próprio caminho. Que tolo fora ao fazer essa
proposta! Envolvera-se totalmente com Ângela.

Naquela manhã, os dois prosseguiram viagem pelo litoral Sul da Califórnia.


Tudo agora parecia envolto num encantamento mágico. O tempo estava ótimo,
o mundo parecia feliz, talvez porque eles se sentissem muito bem.
Passaram os dias seguintes à beira mar, aproveitando o sol, ou comprando
pequenas lembranças nas lojas das cidades.
Certo dia, enquanto Blake descansava, Ângela pintou o vilarejo onde
haviam passado a noite de núpcias, realçando toda a tranqüilidade e a paz que
lhe povoava a memória. Mais tarde,? no hotel, Blake comentou o que sentira
diante do quadro.
— Você é muito boa pintora, querida. Seu trabalho tem uma vibração
incrível. Não fazia a menor idéia de que fosse tão talentosa.
Ângela escovava os cabelos em frente ao espelho. Ao ouvir esses
comentários, parou e voltou-se. Blake estava sentado num grande sofá em frente
à janela que dava para o mar.
— Você acha isso mesmo?
— Sim, acho. Estou admirado com sua habilidade em captar a beleza
dessas praias, com as ondas brincando suaves com a areia da praia. Você nunca
vendeu nenhum de seus quadros?
— Alguns — admitiu ela, cautelosamente.
— Estou certo de que venderá muito bem em San Francisco.

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— Assim espero.
Ângela não sabia se lhe contava sobre sua exposição, marcada para o mês
seguinte. Talvez devesse aproveitar a oportunidade, agora que conversavam
sobre o assunto. Provavelmente ele nunca ouvira falar de AB, mas poderia
reconhecer alguma de suas pinturas na galeria, e isso seria muito constrangedor.
Mesmo assim, ela decidiu esperar mais um pouco.
Nesse instante, Blake puxou-a para seu colo, no sofá, e pôs-se a beijá-la.
Aquele lado afetuoso era ainda surpreendente para ela. Ele sempre lhe parecera
frio e controlado, mas nas últimas semanas estivera muito carinhoso e
apaixonado. Parecia descansado, feliz, e adquirira até o hábito de sorrir. Tinha
certeza de que pouquíssimas pessoas conheciam sua alegria.
— Vamos comer? — ela perguntou de repente, afastando-se um pouco
dele.
— Vamos — ele disse, e beijou-a na face, próximo à orelha.
— Eu quis dizer agora.
— Agora? Mas veja em que estado você me deixou!
— Mas você está sempre assim!
— Parece que sim, sempre que estou perto de você. Mas se você está
com fome, eu espero mais um pouco.
— Não estou com tanta fome assim. Além do mais, ainda é cedo para
descermos. Talvez o restaurante nem esteja arrumado.
Naquela noite eles foram os últimos a jantar.

Era tarde da noite quando Ângela e Blake chegaram a San Francisco, no


domingo. Para ela, aquela semana fora um sonho e, por isso, já estava com
saudade de tudo.
Quando entraram na casa que fora dos pais de Blake, Ângela parou no hall,
encantada. Havia anos não a freqüentava, mas se lembrava de que ela era muito
escura e sombria. Agora estava brilhante de cores e luzes.
— Blake, a casa está linda! Quando você fez a reforma?
— Acabaram de aprontá-la. Achei que você preferiria assim.
— Quer dizer que você a reformou só por minha causa?
— Sim... — Pegou-a pela mão e subiram as escadas. — Gostaria de
mostrar-lhe tudo.
Atravessaram um corredor cheio de portas, parando em frente a uma delas.
Blake abriu-a, subiu outro lance de escadas e chegou ao sótão. Entrou primeiro,
acendeu a luz e se afastou para ver melhor a expressão do rosto dela.
O teto fora modificado, as telhas retiradas e substituídas por outras de
vidro.
— Oh, Blake! — exclamou, não sabendo mais o que dizer.
Ele remodelara a sala para ela, mesmo não levando muito a sério seu
trabalho.

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— Eu poderia continuar no meu estúdio.


— Pensei que você acharia este mais conveniente.
Ela se atirou no pescoço dele, ficou na ponta dos pés e beijou-o.
— Oh, eu acho sim. Muito obrigada, Blake.
— Na verdade, fiz isto com segundas intenções. Não gosto de ver você e
Jean-Pierre trabalhando tão perto.
Ângela riu.
— Não seja tolo. Você está com ciúme, ou eu estou enganada?
— Acho que estou mesmo — concordou Blake, com um sorriso. Enquanto
desciam, ele lhe disse: — A outra surpresa pode esperar até amanhã.
— O que é?
— Se eu disser, não será mais surpresa.
— Não faz mal. O que é?
— Achei que devia ter um carro, por isso comprei um para você rodar por
aí.
— Que carro? Um Renault? Um Volkswagen?
— Um Mercedes conversível.
— Blake!
— Eu queria um automóvel azul safira; já que não conseguiria um da cor
dos seus cabelos, tentei encontrar um que fosse ao menos da cor dos seus olhos.
— Essa foi a coisa mais romântica que já me disseram.
— Mas não é romantismo. Você precisa de um carro. Estou apenas sendo
prático.
— É claro. Obrigada!
— Vamos deitar, agora?
— Sim, estou completamente exausta — disse ela, com um leve sorriso
brincan-do-lhe nos lábios, enquanto ele abria a porta do quarto.
Ele tentou esconder o desapontamento, mas Ângela percebeu e riu.
— Mas não tão exausta assim...

No dia seguinte, Ângela estava no estúdio quando Foster, um antigo criado


da família de Blake, bateu à porta.
— Telefonema para a senhora, sra. Carlyle. É a srta. Márcia Sinclair.
Ângela ouviu aquele nome espantada.
— Ela quer falar comigo?
Foster continuou impassível.
— Sim, senhora.
Rapidamente, ela limpou as mãos e foi atender.
— Alô?
— Ângela? Espero não estar interrompendo nada — disse Márcia,
hesitante.

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— Está tudo bem.


— Liguei para saber se você e Blake estarão em casa esta noite.
— Creio que sim.
Havia uma leve excitação na voz de Márcia.
— Gostaria muito de levar-lhes meu presente de casamento. Mal posso
esperar para mostrar-lhes o que comprei.
Como seria possível a alguém odiar Márcia? Blake tinha razão em gostar
dela. Era uma pessoa sincera, amável.
— Mas é claro, Márcia. Poderia ser por volta das oito? A essa hora, Blake já
estará em casa.
— Ótimo! Então, até mais tarde.
Blake olhou para Ângela, espantado. Estavam na biblioteca conversando
sobre os acontecimentos do dia.
— O que você disse? Márcia virá hoje aqui?
— Esqueci-me por completo do telefonema dela, e só me lembrei ao vê-lo
chegando em casa.
— Não compreendo por que você a convidou para vir aqui.
— Ela quer entregar nosso presente de casamento. Não há motivo para ser
rude com ela.
Blake levantou-se e foi até o bar, resmungando. "Era só o que me faltava."
— Márcia o aborrece? — perguntou Ângela.
— Não.
Não, ela não o aborrecia. Todavia, lembrava-lhe uma situação embaraçosa
e incômoda.
A campainha tocou e Ângela foi atender a poria. Blake mal lhe respondera,
mas a expressão de seu rosto demonstrava que lhe era extremamente doloroso
encontrar-se com Márcia outra vez.
Ângela abriu a porta com um sorriso, mas quase recuou, refreando-se a
tempo. Márcia estava estonteante num vestido vermelho brilhante, que lhe
realçava os cabelos negros e a pele morena e corada. Seus olhos brilhavam.
— Entre, Márcia. Acabei de dizer a Blake que você passaria por aqui. — E
levou-a até a biblioteca.
Márcia carregava um grande pacote. Cuidadosamente o colocou no chão,
encostado a uma cadeira e, em seguida, voltou-se para encarar Blake.
— Olá, Blake — disse ela, com um sorriso.
— É um prazer revê-la, Márcia. Tudo bem com você? Como vai
Richard?
— Papai está sempre do mesmo jeito. Você sabe como ele é —
respondeu ela, com um ligeiro movimento de ombros.
— Sim.
Apesar de terem trocado umas poucas palavras até então, Ângela notou
que Márcia sentia amor por Blake. Ele seria cego para não perceber.

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— Ainda não acredito na minha sorte — disse Márcia, pegando o pacote.


— Achei isto escondido numa pequena lojinha. O proprietário não fazia a
menor idéia de seu valor. Caso contrário, eu jamais conseguiria comprá-lo. —
Em seguida, entregou o presente a Ângela e cruzou as mãos atrás de si, como se
sentisse insegura. — Espero que gostem.
Ângela tentou descobrir o que Blake pensava. Mas ele disfarçava mesmo as
emoções com grande habilidade. Naquele instante, ele lhe parecia mais um
estranho do que o homem com quem passara a última semana.
Rasgando o papel, começou a desembrulhar um quadro.
— Acho que você gostará, Blake. Ficará perfeito sobre a lareira — sugeriu
Márcia. — Achei que fecharia com chave de ouro a reforma que você fez na casa.
Quando terminou de abrir o pacote, Ângela gelou. Márcia, no entanto,
continuou seu monólogo, nervosa.
— Sim, é realmente um AB legítimo. Não é maravilhoso? Creio que seja um
de seus primeiros quadros, mas dá para se notar sua genialidade, não acha? —
Sorriu para Ângela. — Sabendo o quanto você se interessa por arte, pensei em
algo que ambos apreciassem.
Ângela não sabia o que dizer. "O que se diz para uma pessoa que, como
presente de casamento, lhe dá um quadro que você mesma pintou?"
Márcia foi até Blake e, tocando-lhe o braço ligeiramente, continuou:
— Deixei a melhor notícia para o final. AB vai expor seus quadros aqui em
San Francisco no próximo mês, e eu já consegui alguns ingressos para o
vernissage. — Enfiou a mão dentro da bolsa e de lá retirou dois bilhetes. —
Achei que era o mínimo que podia fazer para desejar a Ângela as boas-vindas a
San Francisco.
Ângela sentiu necessidade de sair da sala por alguns minutos, para pensar.
Rapidamente apanhou o papel de embrulho que caíra no chão, e então olhou
para Márcia e depois para Blake.
— Não sei o que dizer. Estou confusa. — Dirigindo-se para a porta,
murmurou: — Volto já.
Assim que a porta se fechou atrás de Ângela, Márcia voltou-se para Blake:
— Espantou-se por eu ter vindo?
— Nem um pouco. Agradeço-lhe a lembrança. O quadro é muito bonito.
— Oh, Blake, não queira me enganar. Não suporto isso. — E aproximou-se
mais dele. — Não precisa mais mentir para mim. Eu sei de tudo.
— De tudo o quê?
— Sei por que você se casou com Ângela.
— E eu não sei do que está falando.
— Ora, vamos, Blake. Eu não entendia por que você havia decidido se casar
assim de repente, tão próximo da morte de seu pai. — Blake empertigou-se e ela
tomou-lhe a mão, apertando-a. — Papai descobriu que Scott e Todd fizeram um
trato. Por isso você se casou com Ângela. Eu vou esperar por você, Blake, por
mais que demore. Seria capaz de esperar para sempre, se fosse para estar de

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novo com você.


Alarmado, Blake olhou-a.
— Mas Márcia, você não compreende...
— Sim, eu compreendo. Você não a ama e provavelmente ela também não
o ama. Já pensei bastante em tudo isso. Não consigo imaginá-la por muito
tempo aqui em San Francisco, você consegue?
Márcia falara no que se havia tornado seu maior medo nas últimas
semanas.
— Não sei — ele admitiu, finalmente.
— Lembre-se apenas de que eu o esperarei.
Entrando na biblioteca, Ângela ouviu as últimas palavras de Márcia. Blake
parecia não se sentir bem. O que teria acontecido? Tinha medo de saber.
— Pedi a Foster que nos trouxesse mais café. Logo estará pronto.
Ângela decidira contar-lhes seu segredo; não havia razão para mantê-lo por
mais tempo. Porém, Márcia não lhe deu a oportunidade.
— Desculpe-me, mas eu tenho que voltar para casa, pois meu pai vai
receber alguns amigos. — Olhou para Blake, e, em seguida, para Ângela. — Só
queria mesmo trazer-lhes o quadro.
— Obrigado — disse Blake, gentilmente, desejando dizer-lhe que não havia
mais nenhuma possibilidade de retomarem o antigo relacionamento, mesmo
que Ângela o deixasse.
Ângela percebeu a gentileza em sua voz, e teve vontade chorar. Que
situação mais abominável era aquela. Tanto ela quanto Márcia amavam Blake, e
os sentimentos dele parecia dividido entre as duas.
Blake acompanhou Márcia até a porta, despedindo-se dela com um rápido
beijo no rosto.
— Não espere por mim, Márcia. Não valho esse sacrifício. Você será uma
esposa maravilhosa para o homem que a merecer.
Com os olhos cheios de lágrimas, ela ainda assim sorriu.
— Boa-noite, Blake.
Ele voltou para a biblioteca.
— Meu segredo já não está mais a salvo, Blake, por isso preciso contar a
você.
— De que você está falando?
— Eu sou a pintora conhecida como AB. Usei minhas iniciais e um círculo
para identificar meus quadros.
Blake examinou o quadro que ganhara, chocado.
— Inacreditável!
— Mas é verdade.
— Então você vai fazer uma exposição aqui em San Francisco?
— Sim. Todo o tempo que estive em Paris pintei feito uma louca,
preparando uma exposição. Antes de viajar para a França, encontrei-me com o

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proprietário da galeria para tratarmos dos acertos finais.


— Fala de um homem alto, distinto?
— Você nos viu no restaurante, não foi?
— Sim.
— Por que não disse nada?
— Achei que não devia.
Ângela mal acreditava no que ouvia. Todavia, lembrou-se do Blake que
conhecera assim que chegara aos Estados Unidos. Não importava quão amoroso
e carinhoso ele tivesse sido para com ela, provavelmente nunca permitiria que
suas emoções influenciassem seu comportamento. Esse pensamento a fez
estremecer Blake ainda era aquele homem sério, um empresário frio. Não podia
se esquecer disso e nem do motivo real de terem se casado. Sem dúvida alguma,
assim que tivessem um filho, ele a deixaria, dando por cumprido o trato.
Não, não podia se esquecer disso!

CAPÍTULO VIII

A revelação do segredo de Ângela fez com que ela e Blake se distanciassem.


Em pouco tempo, ele voltava quase diariamente tarde para casa e se mantinha
quieto e alheio. Por sua vez, ela não lhe contava sobre o desenvolvimento de
seus trabalhos. Na verdade, um não sabia como agir em relação ao outro.
Blake sentia-se pouco à vontade, por isso voltara ao seu comportamento
antigo, pondo de lado os sentimentos e preocupando-se somente com a
empresa. Porém, naquelas últimas semanas, sua capacidade de concentração
diminuíra considerável-mente. Às vezes, no meio de uma reunião, ele imaginava
Ângela deitada na cama, esperando-o, ou então lembrava-se de sua risada, de
seu sorriso provocante.
Por sua vez, Ângela chegara à conclusão de que Blake estava aborrecido
com ela. À noite, quando ele a procurava na cama, sentia que talvez não tivesse
se arrependido totalmente de se casar. Entretanto, às vezes, parecia-lhe que ele
queria apenas engravidá-la o mais depressa possível, para livrar-se logo daquela
responsabilidade.
Ângela não sabia o que faria se Jean-Pierre não estivesse ali para apoiá-la.
Ele a ajudava, procurando lojas de artigos para pintura, e encorajava-a,
acompanhando-a também nas visitas a galerias de arte, inclusive quando ela ia
se encontrar com o sr. Huntington.
Jeremy foi o primeiro a comentar com Blake a mudança da situação.
Estavam almoçando juntos, nesse dia.
— O que aconteceu? Há dias que você não fala em Ângela.
— Não há muito a dizer. Estamos muito ocupados. Não nos vemos muito,
também.
— Você é um tolo.

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— De que está falando?


— Está tratando seu casamento como um compromisso qualquer. Se eu
não o conhecesse, daria ouvidos aos rumores que circulam por aí.
— Que rumores?
— De que você se casou com Ângela apenas para ficar com a firma.
Blake olhou para o amigo sem demonstrar qualquer emoção.
— Eu já esperava por isso. Todos sabem que nós nos conhecíamos
pouco, antes de nos casarmos.
— Sim, mas nenhum de vocês faz coisa alguma para dispersar esses
boatos. Você passa o dia todo enfiado no escritório, enquanto Ângela é vista por
toda a cidade com aquele amigo francês.
Blake empertigou-se.
— Do que está falando?
— Não me diga que não sabe! Eles são vistos por toda parte juntos,
entrando e saindo de galerias e museus de arte, almoçando, passeando pelo cais
em animados bate-papos, em francês, é claro. Só nessa semana, três pessoas já
me disseram que os viram juntos. Ângela não faz nada para esconder que está
saindo com outro homem.
— É Jean-Pierre!
— Quer dizer que você o conhece?
— É um amigo dela, da França, que veio fazer-lhe uma visita.
— E você não se importa? Realmente, você tem mesmo muito sangue
frio, não é, Blake? Talvez os boatos sejam verdadeiros. Você conseguiu o que
queria, e agora não se incomoda com o que ela faz. — Jeremy jogou longe o
guardanapo, demonstrando seu desgosto. — Sempre achei que sua aparência
fria e distante era só fachada. Mas estava errado. Você tem uma calculadora no
lugar do coração, e um computador no cérebro. Não precisa de amigos nem de
uma esposa, nem de qualquer outra pessoa. — Levantou-se. — Desculpe-me por
tomar seu precioso tempo.
Blake levantou-se também.
— Ei, calma! Posso não ser tão emotivo quanto você, mas também não
precisa explodir desse jeito. Sente-se por mais um minuto e vamos conversar,
está bem?
Jeremy fitou o amigo por um momento e sentou-se. Blake fez sinal para
que lhes trouxessem mais café.
— Não pense que eu não me importo com o que Ângela faz. Eu me
importo. Muito, mesmo. Só que, quando nos casamos, concordei em não lhe
impor quaisquer restrições. Ela precisa sentir-se livre. Sabe que pode voltar para
a França se não se sentir feliz aqui. Mas eu quero que ela fique, e que seja feliz.
Por isso, não bancarei o marido durão, fazendo-lhe exigências que ela não
suporta.
— Mesmo que ela continue com o amante.

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— Jean-Pierre não é seu amante.


— Como tem certeza disso?
— Porque Ângela é muito leal e não quebraria sua promessa.
— Eu não acredito nessa história toda.
— Só porque aceito esse relacionamento de Ângela e Jean-Pierre, não
quer dizer que tenha completo domínio de meus sentimentos. Eu sou ciumento,
porém me controlo, evitando pensar no assunto.
— Eu não acredito, Blake. Você diz isso mas toma o seu café com toda
calma! Será que tem medo de admitir que é humano, com toda a fragilidade
emocional que isso implica?
— Muito pelo contrário. Às vezes eu me sinto perdido. Phyllis disse
que estou perdendo o juízo.
— Ora, mas o que fez sua secretária perceber que você não é perfeito?
— Ela leu uma carta que lhe ditei, dizendo a um cliente que falaria
com ele assim que ouvisse a opinião de Jean-Pierre, Queria dizer Paul Schofield,
mas não foi o que ditei.
Jeremy sorriu:
— Então você pensa mesmo em Ângela e em seu amigo.
— Nem por um minuto deixo de pensar nela; no que estará fazendo, em
quem a acompanha. Sei que Jean-Pierre ainda está nos Estados Unidos. Mas ela
nunca fala nele.
— Já lhe contou como se sente?
— É claro que não!
— Excesso de orgulho?
— Não. Excesso de medo. Receio contar-lhe como me sinto e o que
isso representa para mim. Se lhe fizer algum tipo de ultimato, estou certo de que
ela não ficará comigo.
— Mas isso não faz sentido, Blake. Se ela o amava o suficiente para se
casar com você, por que ficaria com Jean-Pierre?
— Eu também faria uso dessa lógica se não fosse por um detalhe.
Ângela não se casou comigo porque me amava.
— Então por que diabos ela se casou?
— Creio que foi para agradar ao pai.
— Mas como assim, se ele está morto?
— Nossos pais queriam que nos casássemos.
— E o meu querido amigo Blake quis satisfazer-lhes o desejo. Não me
venha com essa história. Eu o conheço muito bem.
— Eu também pensava que me conhecia, mas minha cabeça está
atordoada desde que papai e Scott morreram.
— Na verdade, acho que entendo seu sacrifício de se casar por
obrigação. Muitos homens iriam querer se unir à atraente Ângela, só para
cumprirem o desejo de alguém da família. Não é uma tarefa tão ingrata, a sua.
— Você acha tudo isso muito engraçado, mas acontece que me

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apaixonei por Ângela.


— E você pensa que eu não sei? Mas você não demonstra, e tenho a
leve impressão de que nunca se preocupou em dizer isso para ela.
— Nós não temos esse tipo de intimidade.
— Eu acredito. Da forma como você se comporta, tenho certeza de que
vocês ainda não passaram da fase de pegar na mão.
Blake corou levemente.
— No verdade, já fomos mais longe.
— Graças a Deus. Eu já começava a duvidar também da sua sanidade
mental. Você aceita uni conselho de um velho amigo? Vá para casa, diga para
sua esposa que a ama e que sente ciúme de vê-la tanto tempo com aquele
francês. Diga-lhe o que você sente, homem. É a única saída.
— Talvez você esteja certo, Jeremy.
— Eu sei que estou certo, Blake.

— Não sei mais o que fazer, Jean-Pierre — disse Ângela, finalmente,
numa tarde em que passeavam pelo jardim chinês. — Blake não demonstra o
menor interesse pelo que faço. Raramente chega antes das nove da noite.
Quando eu lhe pergunto como vão os negócios, ele me desconcerta com
respostas vagas e imprecisas.
— Ângela, você não está fazendo uma tempestade num copo de água?
Provavelmente depois do trabalho ele chega cansado, por isso não se sente
disposto a conversar.
— Se ao menos eu soubesse o que ele pensa. . Mas Blake nunca me dá
uma chance para me aproximar, um pouco que fosse. Às vezes tenho vontade de
gritar só para ver se ele reage.
— Mas você sabia que tipo de homem ele era quando se casou —
lembrou Jean-Pierre.
Ângela concordou, desanimada.
— Sim, eu sei. Mas ele parecia tão diferente na nossa lua-de-mel.
— Nenhum homem é julgado por seu comportamento durante a lua-
de-mel. É muito difícil avaliá-lo corretamente.
— Oh, Jean-Pierre! Eu quis dizer que ele foi mais aberto e mais amigo.
Parecia que tínhamos tanto a conversar, tanto a compartilhar um com o outro...
Ele estava descontraído, feliz. Ultimamente anda tão distante que, mesmo
quando está em casa, parece longe.
Nesse instante, soou uma voz feminina atrás deles.
— Olá, Ângela!
Ângela virou-se, surpresa, e viu Márcia, muito elegante, vestindo uma calça
e um suéter bege.
— Olá, Márcia. Eu não a tinha visto.
A moça sorriu.
— Bem, vocês conversavam tão entretidos... — E seu olhar caiu sobre Jean-

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Pierre.
Por alguma razão, Ângela relutou em apresentá-los, mas percebeu que isso
seria ridículo.
— Márcia, gostaria que conhecesse Jean-Pierre Armand, um amigo que
veio da França me visitar. Jean-Pierre, esta é Márcia Sinclair. Estou mostrando
San Francisco para ele — explicou.
— É um prazer conhecê-lo. Ouvi muito a seu respeito. Jean-Pierre
estendeu-lhe a mão.
— Como vai? O que ouviu a meu respeito?
Márcia riu.
— Bem, todos os amigos de Blake falam de vocês dois. Eles não entendem
o que está acontecendo.
— Não entendi — disse Ângela.
De repente, sentia-se alarmada. Estaria sendo inconveniente saindo tanto
com Jean-Pierre? Blake nunca lhe dissera nada, nunca perguntara nada de Jean-
Pierre, e ela também não mencionava o amigo.
— Ora, eu me refiro ao motivo do casamento de vocês. Já sei de tudo sobre
o testamento. Vocês fizeram o que tinham que fazer, o que é compreensível.
Mas nem você nem Blake deixarão essa situação lhes arruinar a vida. — Márcia
olhou para Jean-Pierre. — Você ficará aqui até que Ângela possa voltar para a
França?
Jean-Pierre fitou-a como se tivesse perdido o domínio da língua inglesa e
não entendesse uma palavra do que ela lhe dissera. Mas Ângela entendera
bastante bem. Blake não só contara a Márcia toda a verdade sobre o casamento,
como também tinha certeza de que ela voltaria para a França... Agora estava
claro que nunca tivera a intenção de ficar com ela.
Fragmentos de conversas anteriores, de súbito, lhe voltaram à mente.
Ouvira apenas o que quisera ouvir, já que estava apaixonada por ele.
Interpretara suas atitudes apaixonadas na cama como se fossem sinais de um
grande amor, quando ele se certificava de que ela partiria o mais rápido possível.
— Desculpe-nos, Márcia, tenho um encontro ao qual não posso faltar
— ela disse, tentando recuperar-se.
— Não se prendam por mim. Foi um prazer conhecê-lo, Jean-Pierre.
Espero que nos encontremos mais vezes.
Depois que Márcia se foi, Jean-Pierre perguntou:
— Ângela, você está bem?
Aquela voz vinha de muito longe. Ela nunca mais estaria bem...
Ângela tremia como se estivesse com febre, quando chegaram em casa.
Jean-Pierre sugeriu-lhe que tomasse um chá quente, e pediu para Foster servi-
los na biblioteca.
— Sente-se, minha pequena, enquanto eu acendo o fogo.
— Não! Está quente demais aqui.
— Mas você está tão fria!

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— Logo ficarei boa. Dê-me apenas alguns minutos.


— Por que deixou aquela mulher tola abalar você? Blake jamais iria
preferi-la a você.
— Mas ele prefere sim, Jean-Pierre. Sempre preferiu. E pensar que
senti pena dele por trabalhar tanto! Deve estar exausto, mesmo. Provavelmente
passa os finais de tarde e o início das noites com Márcia, e depois volta para a
esposa, a quem é obrigado a engravidar!
— Ângela, pare com isso! Você não tem certeza do que diz!
— Sei, sim. Essa era a única forma de ele ficar com a companhia. Tenho
que lhe dar um filho. E o pior é que ele contou tudo para Márcia, depois de
combinarmos que guardaríamos segredo.
— Lembre-se de que você o ama, Ângela.
— É verdade. Apaixonei-me por Blake antes mesmo de voltar da França.
Cheguei até a pensar que ele também estivesse começando a me amar. Mas o
amor nunca fez parte do nosso acordo. Tenho certeza de que ele não imaginava
que eu seria tão tola a ponto de me apaixonar.
As lágrimas rolaram-lhe pelo rosto. Toda a sua vitalidade lhe fora roubada.
Sentia-se tremendamente infeliz.
— Oh, Ângela, minha pobre pequena, entristece-me vê-la sofrer tanto —
disse Jean-Pierre, pondo a mão sobre a cabeça da amiga.
Entretanto, soluçando muito, Ângela não o ouvia, tão angustiada estava
com o que descobrira a respeito de Blake. Sentia-se muito apreensiva com
respeito ao futuro.
Jean-Pierre colocou uma boa dose de conhaque num copo e ofereceu-o a
ela.
— Vamos, Ângela, beba isto — disse. E a fez beber tudo. — Por que não se
deita um pouco?
Sem esperar resposta, Jean-Pierre ergueu-a nos braços e já ia atravessando
o hall quando encontrou Foster, que trazia o chá.
— A sra. Carlyle não se sente bem. Gostaria de colocá-la na cama, se
possível. Leve-me até o quarto.
Foster mostrou-lhe o caminho. Jean-Pierre entrou no quarto e a pôs sobre a
cama delicadamente. Foster colocou a bandeja com o chá no criado-mudo e
fechou as cortinas.
— Onde ela guarda os sedativos?
— Não sei. Mas o sr. Blake ainda tem alguns comprimidos que lhe foram
receitados por ocasião da morte de seu pai.
— Tudo bem, podem ser esses mesmos.
Imediatamente Foster foi buscá-los no banheiro.
— Obrigado — disse Jean-Pierre, pegando o frasco de remédio.
— Devo avisar o sr. Blake?
— Nas atuais circunstâncias, provavelmente Blake é a última pessoa que
Ângela deseja ver.

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Discretamente, Foster fez um movimento de compreensão com a cabeça e


retirou-se, pensando no que teria transtornado a sra. Ângela.
A tensão das últimas semanas finalmente desabara sobre ela. Jean-Pierre a
fez tomar o chá. Não sabia como entrar em contato com Blake, e isso até o
aliviou, porque, naquele momento, não pensava noutra coisa senão em dar um
bom soco em Black Carlyle.
Jean-Pierre ficou ao lado de Ângela até que ela adormecesse. O tempo
todo, segurava-lhe a mão para que ela sentisse sua presença. Lembrou-se de que
se conheciam fazia longo tempo. Vira-a amadurecer, sujeitando-se a embaraços
que uma mulher mais fraca não teria estrutura emocional para agüentar. Ele
sentia que ela amava os amigos e lhes dedicava grande afeição. Por causa da sua
generosidade, ele morara em sua casa sem pagar aluguel e fora apresentado às
pessoas influentes do mundo das artes. Agora, voltaria à França para se casar
com Michelle, como fazia tempo planejavam. Seria sempre grato a Ângela, que
fora generosa com todos, menos com seu próprio coração e, é claro, com seu
corpo. Dera os dois para o marido, e ele a desprezava.
Jean-Pierre balançou a cabeça com tristeza. Não poderia fazer nada por
Ângela, pois não havia como recuperar aquele coração partido.

Depois do demorado almoço com Jeremy, Blake não sentia a menor


disposição para trabalhar. Mesmo assim, voltou para o escritório e, em pouco
tempo, despachou todo o serviço pendente daquele dia.
Pela primeira vez em muitos anos dava-se conta de que a vida profissional
não o satisfazia. Desde que Ângela estava a seu lado, não havia o que fizesse
esquecê-la.
No entanto, ainda tinha a esperança de melhorar o relacionamento deles e
ser feliz.
Olhando para o relógio, decidiu ir para casa a fim de conversar com Ângela
e de lhe pedir que passasse mais tempo com ele. Talvez pudesse mesmo dividir
os problemas advindos da exposição que já se aproximava.
— Até amanhã, Phyllis — disse ele, parando ao lado da mesa de sua
secretária.
Phyllis olhou para ele e a seguir olhou para o relógio.
— Não se sente bem, Blake?
— Estou ótimo.
— Nunca o vi sair às quatro horas da tarde.
— Decidi recuperar algumas das muitas horas que já perdi aqui dentro.
— Acho bom. Tenha uma boa noite.
"É o que pretendo", ele pensou, sorrindo. "Com Ângela..." Foster carregava
uma bandeja de chá quando Blake entrou em casa.
— Sr. Blake, voltou cedo para casa! Não está se sentindo bem?
— Preciso ficar doente para chegar cedo em casa, Foster? —
perguntou ele, meio irritado.

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— Não, senhor. Desculpe — disse Foster, olhando para a escada.


Então, saiu na direção da cozinha.
Blake tirou a gravata e abriu dois botões da camisa, pensando que devia ter
perguntado a Foster se Ângela estava em casa. Tirando o casaco, foi até a
biblioteca, para ver se a encontrava ali. Não a encontrou. Talvez estivesse
pintando no sótão, ele imaginou.
Black subiu as escadas de dois em dois degraus. De repente, ouviu uma
porta fechar-se atrás de si e virou-se, pensando que fosse Ângela. Porém, o que
viu, boquiaberto, foi Jean-Pierre saindo de seu quarto.
Desde o casamento, vira-o apenas uma ou duas vezes, mas nunca vestido
tão à vontade. Ele usava calças jeans desbotadas e uma camisa, igualmente
desbotada, que deixava à mostra o peito forte. Além disso, as mangas estavam
enroladas, revelando-lhe os músculos. Blake pensou que um escultor devia ser
mesmo muito musculoso, devido ao tipo de trabalho que executava. Só então se
deu conta de que Jean-Pierre estivera no seu quarto, com Ângela!
— O que você faz aqui? — perguntou Blake, sem cumprimentá-lo, tão
chocado estava.
Jean-Pierre, já calmo após o susto que levara ante o desespero de Ângela,
achou que não lhe competia dizer àquele homem que ele era um grande tolo.
Quanto menos falasse, naquele momento, melhor seria.
— Tomei conta de sua esposa, já que você tem outras prioridades —
respondeu Jean-Pierre, sem olhar para trás, enquanto descia a escada. Alcançou
a porta da rua e saiu, batendo-a atrás de si.
Blake nunca havia sentido tristeza maior. Os franceses seriam tão
irreverentes que nem se intimidavam quando o pobre marido traído os
surpreendia com a esposa? Jean-Pierre não se abalara nem um pouco em ser
visto saindo do quarto. E até fora irônico ao falar que tomara conta de Ângela.
Deus, ele fora muito petulante! E Ângela, então!
Sem fazer barulho, Blake abriu a porta do quarto. As cortinas fechadas
deixavam o cômodo escuro. Em silêncio, dirigiu-se até a cama, e Ângela dormia,
os cabelos claros e encaracolados espalhando-se displicentemente sobre o
travesseiro. Sua fisionomia parecia cansada.
Blake retirou-se logo do quarto, com uma dor sufocante no peito.
Provavelmente os dois tinham passado a tarde toda na cama. Como fora tolo
pensando que Ângela era diferente da mãe! O fato de ela se casar não a impedira
de correr para os braços de Jean-Pierre, passando-se por uma pobre esposa re-
jeitada.
Como Ângela representava bem o papel de mulher ardente quando faziam
amor! Ele até pensou que ela gostasse.
Quando deu por si, estava na biblioteca, os pensamentos em tumulto. Oh,
por que ela dormira com Jean-Pierre?
"Estou perdendo o juízo, não há dúvida", ele pensou, dando um profundo

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suspiro. Afundou-se no sofá e enterrou o rosto nas mãos. O que faria agora?
Diria a ela que não a queria mais, já que ela não tinha o menor senso de moral?
Blake levantou-se e foi até o bar, em que pegou uma garrafa de uísque e um
copo. Voltou para o sofá, e pôs-se a beber. Raramente bebia e mesmo assim só
vinho. Mas a súbita descoberta de que sua vida estava sendo uma grande farsa, e
de que sua esposa se comportava mal, era um fardo muito pesado para encarar.
Tudo o que mais receara tornara-se realidade. Perdera Ângela. Ou melhor,
ele nunca a tivera para que lamentasse perdê-la. Tudo não passará de fruto de
sua imaginação. Queria que ela fosse leal, por isso a julgara assim.
Durante todas aquelas noites passadas juntos, nos braços um do outro, ele
tentara expressar-lhe o amor que sentia. Só que nunca achara as palavras certas.
Jean-Pierre sim, as achara.

Foster encontrou Blake adormecido sobre o tapete da biblioteca, a camisa


fora da calça, os pés descalços. Balançou a cabeça ao ver a garrafa de uísque
vazia o seu lado. Alguma coisa de muito terrível devia ter acontecido na casa dos
Carlyle.

CAPÍTULO IX

A luz da manhã entrava na biblioteca pelos vãos da cortina, e a cabeça de


Blake latejava fortemente quando ele acordou.
— Mas que diabo estou fazendo aqui? — resmungou ele, sentando-se.
Aos poucos, lembrou-se do que acontecera na noite anterior, e então
desejou esquecer-se de tudo.
Levantou-se cambaleando, pegou os sapatos e subiu as escadas. Logo
entrou no quarto, onde sua linda e sedutora esposa dormia. Deixou cair os
sapatos perto do guarda-roupa, irritando-se com o som surdo que fizera ao cair
sobre o tapete. Determinado a se livrar da dor de cabeça que sentia, dirigiu-se
ao banheiro para tomar um banho. Entrou embaixo do chuveiro, esforçando-se
para se manter em pé sob o forte jato de água.
O barulho do chuveiro acordou Ângela, que se sentia igualmente
desorientada e deprimida, porém sem saber por quê. A cabeça doía-lhe e a boca
estava tão seca que ela mal podia engolir. Ao virar-se, percebeu que o lado da
cama de Blake não fora desarrumado. Ele não voltara para casa naquela noite!
De repente, os acontecimentos do dia anterior voltaram-lhe à memória.
Imediatamente Ângela deu um leve gemido. Depois de Márcia contar a Blake a
esclarecedora conversa entre as duas, com certeza Blake não sentira necessidade
de voltar para casa!
Mas... e aquela água escorrendo? Cuidadosamente, ela sentou-se na cama,
segurando a cabeça. Parecia estar de ressaca. Jean-Pierre lhe dera uma bebida, e
depois, um comprimido... Devia ter misturado alguma coisa para ela sentir-se

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tão fraca.
A água parou de correr, e só então Ângela percebeu que o que ouvira era o
barulho do chuveiro. Blake voltara para casa apenas para se arrumar.
Sem saber se o esperava sair do banheiro ou se levantava e tomava um gole
de água, notou que dormira apenas com as roupas de baixo. Pegou o roupão e
vestiu-o rapidamente, entrando decidida no banheiro.
Blake estava se enxugando, e vê-lo de costas causou-lhe uma emoção
profunda. Amava-o muito. De qualquer forma, aquela era a última coisa que ele
gostaria de ouvir.
Quando Ângela abriu a torneira de água fria, Blake virou-se, e só então a
viu. Fitaram-se, um esperando que o outro falasse primeiro.
Ângela observou-o. A julgar por sua fisionomia abatida, ele devia ter
passado a noite toda acordado. O que estaria pensando agora?
Por sua vez, Blake também a observou, perguntando-se como ela conseguia
aparentar a mesma inocência depois de enganá-lo com outro homem. No
entanto, estava estranhamente pálida.
— Você está bem, Ângela?
— Não sei por quê, mas ainda me sinto um pouco cansada.
— Posso imaginar — resmungou ele, jogando a toalha sobre um cesto de
roupas e saindo do banheiro completamente nu.
Alguns minutos depois, ela o seguiu até o quarto. Encontrou-o já vestido.
— A que horas chegou em casa, Blake? — perguntou com
naturalidade, disfarçando a revolta que sentia.
— Por volta das quatro e meia da tarde. Você estava dormindo. — E
para evitar qualquer comentário sobre aquele horário pouco usual, acrescentou:
— Antes que pergunte qualquer coisa, não voltei cedo para casa porque
estivesse doente!
— Estou certa de que não.
— Mas não se preocupe, não virei mais nesse horário.
O que Blake queria que ela dissesse? Que agradecesse por ele não passar
todos os finais de tarde com sua amante? Que agradecesse por ele voltar para
casa mais cedo pelo menos uma vez? Ângela achou melhor não dizer nada. Sem
dúvida seria melhor assim.
— Não é um pouco cedo para você estar vestido? — perguntou ela,
procurando um assunto neutro. Ainda não se sentia preparada para discutir o
que descobrira. Nem tinha certeza se algum dia poderia fazê-lo.
Blake olhou para o relógio. Ainda não eram seis horas. Nunca se levantara
tão cedo! Mas também não tinha a menor vontade de ficar em casa, mantendo
aquela conversa que não levava a lugar nenhum. Mais cedo ou mais tarde lhe
diria que estava a par do caso dela com Jean-Pierre, mas não naquele dia. Pri-
meiro queria reordenar as idéias. Então, conversariam.
— Tenho algumas coisas para resolver — murmurou, dando a

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primeira desculpa que lhe passou pela cabeça.


— Tenho certeza de que sim — disse ela. Gostaria de saber quantas
tardes ele realmente passava no escritório e quantas ao lado de Márcia. Com
certeza havia uma pilha de papéis esperando por ele!
— Por que não volta para a cama se ainda está cansada?
— É uma boa idéia. Não sei por que não pensei nisso. — Ângela enfiou-se
sob as cobertas, puxando-as até o queixo. — Tenha um bom dia — disse,
fechando os olhos.

Nos dias seguintes, aparentemente, a paz voltou a reinar naquela casa.


Blake ia deitar-se muito depois de Ângela, levantando-se também antes dela. A
cada dia que passava, ela se convencia mais e mais da necessidade de
conversarem. Mas afinal, o que diriam um ao outro? Estava desconfiada de que
havia engravidado. Se fosse verdade, ele certamente gostaria de saber que
cumprira suas obrigações de marido.
O médico confirmou-lhe a suspeita no dia do vernissage de sua exposição.
Como sempre, Blake atrasou-se para o jantar. Ângela já estava pronta para
sair e esperava-o na sala. Quando ele chegou, ela examinou-lhe o rosto cansado
com mais atenção e levou um susto. A aparência dele estava horrível. Seu rosto
estava pálido, mais magro e com olheiras profundas.
Por um momento, Ângela sentiu-se apreensiva; mas foi só por um
momento, pois logo lembrou-se de que ele levava uma vida agitada com a
amante, coisa que o desgastava muito.
Não querendo estragar a noite de Blake, ela preferiu dar-lhe a notícia da
gravidez quando voltassem para casa.

Blake finalmente aprontou-se e desceu, dirigindo-se para a sala onde


Ângela o esperava, usando um vestido de algodão preto, preso ao ombro apenas
por uma alça, como uma grega. Os cabelos, cuidadosamente penteados, davam-
lhe uma aparência bastante sofisticada. Ela lhe pareceu tão sedutora, que sua
mágoa aumentou ainda mais. Ângela era um anjo diabólico.
Desde o dia em que encontrara Jean-Pierre à porta de seu quarto Blake
abstivera-se de fazer amor com Ângela. Todas as vezes que a desejara,
imaginara-a nos braços de Jean-Pierre, e isso fora insuportável. Na verdade,
porém, ele não perdera Ângela, mas sim a pessoa que pensara que ela fosse...
— Você está muito bonita, Ângela. Farei inveja a todos os homens que
estiverem presentes ao vernissage esta noite, quando entrar de braços dados
com você.
Ângela corou ante o elogio, desejando que as coisas fossem diferentes entre
eles.
— Obrigada, Blake, você é muito amável. — E olhando para o relógio de
parede, perguntou: — Você já comeu?
— Não, mas não quero atrasá-la ainda mais.

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— O jantar está pronto, é só servir.


— Você não se importa em esperar mais um pouco?
— Não, não me importo. Na realidade, esta noite eu sequer preciso
estar presente.
— Mas você não vai dizer aos convidados que é o misterioso AB?
— Ainda não sei. Por que pergunta?
— Por nada. É que eu não vejo necessidade de você manter esse segredo
por mais tempo.
— Sei que não há. A princípio achei que minha idade e sexo
diminuiriam o valor de meus quadros. Agora vejo que isso não importa. — Após
uma pequena pausa, ela continuou: — Receio que Márcia se sinta um tanto
embaraçada caso eu me apresente como a autora dos quadros.
— Tentarei contar-lhe antes. Estou certo de que ela entenderá. Ela
valoriza bastante seu trabalho. Bem, já que não se importa de atrasar, pedirei
que sirvam o jantar. Dentro de quinze minutos estarei de volta.
Enquanto o aguardava, Ângela pensou naquele diálogo. Ele não parecera
preocupado com o que Márcia pudesse sentir ao saber que ela era AB. De
qualquer forma, talvez ele também não se importasse com os sentimentos de
Márcia.
Talvez Ângela tivesse interpretado mal o que Márcia lhe havia dito naquela
tarde. Márcia ficara dois anos com Blake, enquanto ela, apenas dois meses. Mas
talvez as coisas mudassem quando ele soubesse que em breve seria pai. Blake
queria muito ter filhos.
Uma estranha paz invadiu-a, quando teve a certeza de que tomara a
decisão acertada. Ela o amava, e faria o possível para que seu casamento desse
certo. Não se consideraria derrotada até que Blake lhe dissesse isso
pessoalmente.
Quando Blake voltou para a sala, ela se levantou e foi ao encontro dele.
— Você fica simplesmente magnífico com essa roupa social, sabia disso,
querido?
Blake franziu a fronte ante a repentina mudança de humor. Nem se
lembrava mais da última vez em que a vira daquele jeito.
— Fico contente de que goste. — E tomou-lhe o braço, acompanhando-a
até o carro.
Ângela sentia-se tão bem que desatou a falar. Contou-lhe tudo o que havia
feito nos últimos dias, aprontando a exposição de arte e cuidando de uma
infinidade de detalhes que deixariam qualquer um completamente louco.
Enquanto falava, ela notou que Blake se descontraía. Por seu lado, Blake
achou que estivessem de novo em lua-de-mel.
Em dado momento, ele deu uma gargalhada ao ouvir uma das piadas dela,
e Ângela ficou feliz porque era isso exatamente o que ela queria: que ele risse.
Quando fora a última vez que o vira assim, de olhos tão brilhantes?
Ao chegarem à galeria, encontraram uma verdadeira multidão.

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O sr. Huntington esperava-os; estava tão nervosa que parecia à beira da


histeria.
— Pensei que você não viesse mais, Ângela!
— Você não precisa mais de mim, Henry. Minha parte está terminada. —
Passou o braço pelo de Blake. — A propósito, Henry, este é meu marido. Henry
Huntington é o proprietário da galeria, Blake.
Blake sorriu.
— É um imenso prazer conhecê-lo, sr. Carlyle. Não quero ser
grosseiro, mas necessito apresentar Ângela a algumas pessoas... se não se
importa.
— De maneira nenhuma. — Ele ergueu a mão de Ângela e deu-lhe um
leve beijo. — Aproveite bastante esta noite, querida. Você merece.
Blake tinha uma cálida ternura no olhar. Alguma coisa mágica acontecera
naquela noite. Tinham voltado no tempo, até a primeira semana do casamento,
quando eram amorosos um com o outro e gostavam de estar juntos, em perfeita
sintonia, E desta vez Ângela estava determinada a não deixar a magia ir-se
embora. Um sorriso espontâneo aflorou-lhe nos lábios.
— Obrigada, querido. Estou pronta para conhecer seus convidados, Henry.
Mal eles se afastaram, Márcia apareceu ao lado de Blake, com um vestido
dourado que combinava muito bem com seu tom de pele. Blake percebeu que já
não mais necessitava culpar-se pelo que lhes acontecera. Amava sua esposa e,
sincera- mente, desejava que Márcia também encontrasse alguém para fazê-la
feliz.
— Olá, Blake, não tinha certeza de que você viria esta noite. Está sozinho?
— Ela passeou o olhar pelo salão, como se procurasse por Ângela.
— Não, Ângela também veio. Fico feliz em vê-la novamente. Há algo que
eu queria lhe dizer.
O rosto de Márcia iluminou-se, esperando por boas notícias.
— Não quero magoá-la, Márcia, e sinto muito se isso acontecer. Todavia,
você tem que saber a verdade sobre os meus sentimentos com relação a Ângela.
Quando você nos visitou, não tive oportunidade de lhe dizer, mas a verdade é
que me casei com Ângela porque a amava.
Márcia o olhava, espantada.
— Oh, Blake, então o romance dela com Jean-Pierre deve ser
extremamente doloroso para você.
Blake controlou a raiva súbita ao ouvir o nome daquele francês.
— Sejam quais forem os meus sentimentos, são íntimos, e não irei
discuti-los com quem quer que seja.
— Desculpe-me, não queria ofendê-lo. Tinha tanta esperança de que,
em breve, vocês se separariam... Foi bobagem da minha parte.
— Há uma coisa que Ângela queria lhe contar desde aquela noite em
que você nos deu o quadro: ela é o famoso AB. Ela me pediu para lhe dizer, com
medo de que você se aborrecesse, sabendo por outras pessoas.

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— E eu dei a vocês uma de suas pinturas? Que gafe! Ela achou muito
engraçado, não?
— Não, Márcia. Ângela não é como você pensa. Ela apenas se
preocupou com seus sentimentos.
— Obrigada por me contar. Se não se importa, eu não ficarei aqui por
mais tempo.
Depois que Márcia foi embora, a atenção de Blake voltou-se para o centro
da sala, onde Henry Huntington se postara, segurando um microfone.
— Senhoras e senhores! Peço-lhes um minuto de sua atenção, por favor —
disse ele. Quando o burburinho diminuiu, ele continuou: — Quero desejar-lhes
as boas-vindas a esta galeria, nesta que é uma noite especial. Sentimo-nos
privilegiados não apenas por exibir essa maravilhosa coleção de quadros, mas
também por termos aqui presente o próprio autor, em sua primeira aparição em
público. — Relanceou o olhar por toda a sala, com uma expressão de prazer. —
O artista conhecido como AB é, na verdade, Ângela Bennington Carlyle, e o
nome AB representa as iniciais de seus dois primeiros nomes. Tivemos a sorte
de que Ângela se apaixonasse por um de nossos mais ilustres cidadãos, fixando
residência entre nós. Senhoras e senhores, vamos dar as boas-vindas a Ângela
Bennington Carlyle!
— Não acredito! — murmurou Jeremy, aproximando-se de Blake.
— Mas é verdade.
— Você sabia?
— Sim.
— E por que não disse para ninguém? Para mim, por exemplo.
— Mas eu não podia. Não era um segredo meu.
— Era por isso que ela ficava tanto tempo com aquele francês?
— Pode ser.
Blake preferia que Jeremy não tocasse naquele assunto.
— Estou impressionado. Sabia que Ângela era uma artista. Mas ela é uma
verdadeira profissional. Você deve se orgulhar muito dela.
— Muito mesmo.
— Puxa Blake, como você está falante!
— Ora, cale-se, Jeremy.
— Está vendo? A frase certa na ocasião certa. Já tomou champanha?
— Ainda não.
— Bem, então vamos comemorar o enorme sucesso de sua esposa. Prometo
não falar mais.
Os dois amigos dirigiram-se ao bar e pediram dois drinques. Em seguida,
deram uma volta pela galeria, admirando o gênio artístico de Ângela.
Enquanto isso, pela milésima vez na vida, Ângela desejou ser mais alta. Ela
perdera Blake na multidão, apesar de saber que ele a encontraria, assim que
quisesse, uma vez que havia o tempo todo um grupo de pessoas ao seu redor.

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Mas não o culpava por não a procurar. Ela mesma sentia-se sufocada.
— Você me arranja um copo de água, Henry? — perguntou ela.
— Oh, mas é claro, Ângela! Que tal uma taça de champanha?
— Prefiro água mesmo. Está muito abafado aqui.
— Com toda essa gente ao seu redor, realmente você deve estar com
sede. — Dizendo isso, elevou um pouco o tom de voz e dirigiu-se às pessoas que
estavam por perto.
— Se nos dão licença, Ângela precisa movimentar-se um pouco. —
Tomou-lhe o braço, levando-a ao bar, onde pediu um grande copo com água e
gelo.
— Você viu? Não havia motivo para ficar nervosa. Todos abordaram
você.
Ângela sorriu ao ver Blake ao lado deles.
— Blake, estou tão contente em vê-lo!
Ele notou que ela estava pálida.
— O que você tem, Ângela? Não está se sentindo bem? — perguntou
preocupado.
— Não é nada. Apenas não gosto de multidões.
— Nesse caso, fique perto de mim, querida. Não deixarei que se
aproximem muito de você.
— Será ótimo. Um pouco de fama é maravilhoso, mas muita fama é
algo que me...
— Ângela — Blake interrompeu-a com um tom de censura na voz.
Ela não se importou. Olhou ao redor e disse:
— Será que foi uma miragem, ou eu vi mesmo Jeremy?
— Eu preferia que fosse miragem, mas não. É ele mesmo, em carne e osso.
— Por que preferiu que fosse uma miragem?
— Porque elas não falam. — Ângela não entendeu, mas Blake logo
acrescentou: — Não se preocupe. Vamos até lá. Ele quer cumprimentá-la.
O resto da noite foi cansativo para Ângela, que não saberia o que fazer se
não fosse Blake. Não estava preparada para assumir a posição de celebridade
que a revelação de seu segredo lhe dera. Passou o tempo todo ao lado do marido
e se sentiu até bem, principalmente quando ele a abraçou, puxando-a para perto
de si.
Finalmente, ela declarou a Blake que seu único desejo era voltar para casa.
Imediatamente ele a levou para fora e, sem que ninguém os notasse, correram
para o carro como duas crianças.
Já a caminho de casa, caíram na gargalhada, com toda a alegria da
juventude.

Mais tarde, Ângela ficou sob o chuveiro, sentindo os músculos do pescoço


e dos ombros relaxarem-se da tensão que ela passara nos últimos dias. Quando
foi se enxugar, viu Blake estendendo-lhe a toalha.

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— Achei que precisaria de alguém para enxugar-lhe as costas. — Dizendo


isso, ele passou a toalha por suas costas, massageando-as gentilmente, fazendo-a
vibrar de prazer.
Ao terminar, ele disse:
— Agora vou tomar banho e depois você me enxuga. — Estendeu-lhe a
toalha.
Pouco depois, Ângela esfregou-lhe o peito, sem olhá-lo nos olhos. Mas era
óbvio que ele não lhe dera a toalha apenas para que o enxugasse. Havia tempos,
Blake não sentia o toque dela em seu corpo, e aquela massagem propiciou-lhe
um enorme prazer.
De repente, ele a tomou nos braços, dirigiu-se ao quarto e a colocou sobre
a cama. Seus lábios procuraram os dela, roubando-lhe a respiração.
— Você é tão bonita... — disse ele, com suavidade.
— Você também é. — Ângela suspirou, acariciando o peito e os
ombros de Blake. — Você é o homem mais bonito que já conheci.
— O que significa que você não conhece muitos homens, mas eu
prefiro assim.
Como não faziam amor havia algum tempo, Ângela o desejava
ardentemente. Queria que ele soubesse disso e começou a beijá-lo de leve, no
pescoço e no peito. Pela primeira vez, ela o amou com ousadia, com toques e
carícias que jamais fizera antes, ansiosa para mostrar-lhe que aprendera muito
bem o que ele lhe ensinara.
Quando ele a possuiu, Ângela quase desfaleceu de paixão, correspondendo-
lhe com cada célula do seu corpo. E naquela noite, amaram-se muitas e muitas
vezes. Ângela sabia agora que jamais haveria outro homem para ela.

CAPÍTULO X

Na manhã seguinte, Ângela acordou sentindo-se de bem com a vida. Era


bem-sucedida na sua profissão e reconquistara o marido.
Blake ainda não havia acordado. Encostada nele, Ângela apoiava o rosto
nos braços fortes e pensava nos momentos felizes da noite anterior, sorrindo
descontraída.
Talvez antes faltasse uma maior participação sua na hora do amor. Sempre
havia deixado que Blake tomasse a iniciativa, porém, naquela noite, agira de
modo diferente. Talvez por estar determinada a salvar o casamento.
Ao tentar levantar-se, Ângela percebeu que Blake havia acordado, pois ele
tocou-lhe suavemente os seios.
— Aonde você pensa que vai?
— A lugar algum, meu bem.
Deitou-se então sobre Blake, de forma a pousar o rosto sobre o peito dele.
— Bom-dia.
Blake sorriu.

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— Bom-dia. Aliás, vai ser mesmo um ótimo dia.


— Você não está atrasado para o trabalho?
— Provavelmente.
— E isso não lhe causará problemas?
— Duvido.
— Ótimo.
Ele passou o braço por sua cintura, enlaçando-a com doçura.
— Dormiu bem, Ângela?
— Não sei. Alguém passou a noite inteira me acordando.
— Não faz idéia de quem foi?
— Eu estava com muito sono e não vi direito. Mas seria capaz de
reconhecer seu corpo mesmo no escuro.
Blake beijou-a apaixonadamente. Ângela correspondeu, e daí a pouco
faziam amor de novo.
Algum tempo mais tarde, enquanto descansavam, ela decidiu dar-lhe a boa
notícia.
— Blake?
— Sim?
— Tenho uma novidade para lhe contar.
Ele suspirou. Sentia-se tão relaxado como na lua-de-mel. Desde a noite
anterior, não pensava em mais nada. Abriu preguiçosamente os olhos e virou-se
para ela, fitando aqueles enormes olhos azuis.
— Pode falar.
— Eu estou grávida.
Blake ficou tenso. Sentou-se de repente, como se movido por uma mola.
— Você está o quê?
Ela sorriu, um pouco insegura.
— Não precisa ficar tão chocado, Blake. Desde que nos casamos você fez o
possível para que eu engravidasse. Pensei que gostaria de saber que seus
esforços não foram em vão.
Ante aquelas palavras, Blake sentiu-se ferido. Agora havia uma nova
realidade. Ângela engravidara! De Jean-Pierre! Ela nunca admitira o caso com o
francês e agora, sem dúvida, pretendia que ele acreditasse que o filho era seu.
Quando ela cismara de ter um filho tão rapidamente a ponto de recorrer ao
amante? Estaria tão ansiosa assim para voltar à França?
— Pensei que você ficaria contente com a notícia.
Ângela falava como uma adolescente, toda meiga e pura.
Pura! Aquilo era o bastante para fazê-lo rir. Se ainda tivesse alguma dúvida
a respeito da esposa e de Jean-Pierre, a noite anterior serviria para dissipá-la. O
comportamento dela na cama deixará claro que aprendera rapidamente como
fazer um homem perder a cabeça de desejo.
Fora tão ardente, quase agressiva, e ele se envolvera tanto com as sensações
que ela lhe provocava, que sequer pensara modo como teria aprendido tudo

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aquilo, em tão pouco tempo


Na verdade, Blake sabia. Mas por umas poucas horas ele se recusara a
encarar o fato.
Mesmo assim, ele não era tão tolo a ponto de ignorar o que ela fizera. Fatos
eram fatos. O que sentia a respeito deles não tinha a menor importância.
— E por que eu ficaria contente? — respondeu finalmente Sem esperar
comentá-rios, levantou-se da cama e entrou no banheiro, abrindo o chuveiro.
Ângela ficou atônita, sentada na cama, ante a súbita mudança de humor de
Blake. Mas, afinal, o que estava errado? Aquilo não fazia o menor sentido. Até
parecia que ele nunca quisera ter um filho, quando o propósito do casamento
entre eles fora exatamente esse.
Por que então aquela notícia o aborrecera?
Depois de algum tempo, Ângela levantou-se e foi ao encontro dele. Blake
saía do banho, sério e até mesmo triste, evitando olhá-la.
— Não estou entendendo, Blake. Afinal, não nos casamos com o propósito
de termos um filho o mais rápido possível?
— Sim, foi. E você não perdeu tempo,
— Não faço a menor idéia do que você está falando.
— Então eu explicarei em poucas palavras. Para engravidar logo você
recorreu a dois homens, e não a apenas um. É realmente uma pena — continuou
ele, enquanto se penteava que nem eu nem Jean-Pierre jamais tenhamos certeza
de que é o orgulhoso pai. Só que, como a criança levará meu nome tenho o
direito de chamá-lo de filho, embora o pai possa ser Jean-Pierre!
Nauseada, Ângela achou que fosse desmaiar. Blake jogou o pente no chão e
saiu, enquanto ela mal se mantinha de pé em razão da agonia.
Vagamente, ouviu uma batida na porta. Era Blake. Havia leve tom de
preocupa-ção em sua voz.
— Ângela, você está bem?
Sentada no chão frio, Ângela chorou até não ter mais lágrimas. Quando
finalmente abriu a porta, Blake achou-a pálida, com os cabelos molhados de
pranto, o olhar vazio, encostada na parede fria.
— Ângela?
Ela não respondeu e parecia desmaiada. Blake não sabia se ela dormia ou se
estava inconsciente. Ela não se movia, e isso o apavorava.
De repente, um pensamento o assaltou. Fazia apenas seis semanas que
estavam casados. E se Ângela tivesse engravidado durante a lua-de-mel? Ela era
virgem antes de se casar.
Mesmo assim, talvez ela tivesse preferido aproveitar a vida depois, da
melhor forma possível. À essa altura, sua parte do trato fora cumprida e ele
herdaria normalmente a parte que seu pai deixara na empresa.
Ele olhou para Ângela, agora deitada em seus braços. Parecia tão fraca...
Colocou-a na cama, cobriu-a até o pescoço e saiu à procura de Foster.
— Ângela está doente — disse, secamente. O pobre velho ficou todo

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preocupado.
— Devo chamar o médico, senhor?
— Eu não sei quem é o médico dela. Talvez seja apenas um mal-estar
passageiro. Ela vai ter um bebê em breve.
— Congratulações, senhor.
— Obrigado. Bem, ela precisa se alimentar. Talvez um chá com torradas.
Poderia providenciar?
— Certamente, senhor.
Blake foi à mesa da biblioteca procurar o nome ou o telefone de algum
médico, mas não encontrou. Necessitaria acordá-la para lhe perguntar.
Blake voltou apressado para o quarto, só que encontrou Ângela acordada,
com profundas olheiras, o olhar distante e triste.
— Como se sente?
— Estou bem.
— Mesmo assim, acho melhor chamarmos seu médico, Como é o nome
dele?
— Dr. Friedrichs.
— Vou chamá-lo.
— Não. Por favor, não. Eu já estou bem. Ele me disse que eu teria alguns
mal-estares, mesmo.
— Foster vai lhe trazer chá com torradas. Talvez ajude.
Ela concordou, com um gesto de cabeça.
— Quer que eu fique com você?
Ela balançou negativamente a cabeça e fechou os olhos, deixando que duas
pequenas lágrimas escorressem pelo rosto.
— Não chore, Ângela, por favor.
Ela manteve os olhos fechados até que ele se retirasse do quarto. Então
abriu-os, recordando-se de tudo o que acontecera. Será que Blake realmente
acreditava que ela dormia com Jean-Pierre, ou aquilo era apenas uma desculpa,
para justificar o comportamento dele com Márcia? Provavelmente nunca
saberia.
Ouviu então baterem na porta.
— Entre.
Era Foster, trazendo o chá.
— Gostaria de dar-lhe parabéns, sra. Carlyle. Não sabe como estou
contente. Esta casa precisa mesmo da presença de algumas crianças. — Colocou
a bandeja do lado da cama, e continuou: — A senhora trouxe luz e cor às nossas
vidas, sra. Carlyle. O sr. Blake é uma outra pessoa desde que a conheceu.
"Será mesmo?", pensou ela. Que tipo de pessoa era ele, então, que ao saber
que sua esposa estava grávida achou que o filho não era dele? Nem sequer lhe
perguntou se suas suspeitas tinham algum fundamento.
Ângela sentou-se na cama, e tomou lentamente o chá. Tinha muito o que

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fazer, para um período de tempo relativamente curto. Horas mais tarde, Ângela
estava a caminho da França, confortavelmente instalada na primeira classe de
um avião.
Telefonara para Jean-Pierre a fim de comunicar-lhe que retornaria para sua
verdadeira casa, sem, no entanto, explicar os motivos reais de sua volta. Ele não
precisaria saber das acusações ridículas de Blake porque, talvez, se soubesse,
aquelas acusações afetassem a amizade deles. Jean-Pierre poderia pensar que ela
o havia usado para provocar ciúme em Blake.
Era engraçado imaginar Blake enciumado. Primeiro, seria preciso que ele
tivesse sentimentos, o que ele positivamente não tinha.
Ângela ligara para a companhia aérea, disposta a tomar o primeiro avião
para qualquer lugar que fosse. Felizmente, havia vaga no vôo para a Europa.
Levava apenas uma pequena bolsa, que sempre carregava consigo nas
viagens. Naquele momento, as roupas eram o que menos importava. Precisaria
mesmo de um novo guarda-roupa para os próximos meses. De acordo com o dr.
Friedrichs, ela engravidara na noite de seu casamento! O nascimento do bebê
era previsto para fins de janeiro.
Antes de sair, ela deixara um bilhete para Blake. Não seria capaz de vê-lo
novamente sem experimentar aquela dor terrível que sentira quando ele a
acusara, sem ao menos ter certeza do que dizia.
Blake passou o dia todo recluso no escritório. Pediu a Phyllis que não lhe
passasse nenhum telefonema, e que cancelasse todas as entrevistas. Sempre que
tinha um problema, analisava-o sob todos os ângulos possíveis, examinava todas
as opções, e então tomava sua decisão, baseado nos fatos.
O fato mais óbvio a se levar em consideração era a gravidez de Ângela. Ele
cumprira a missão e, assim, a companhia era sua.
O segundo fato a ser considerado era o de que ele amava Ângela e queria
manter com ela um relacionamento forte e saudável, que fosse significativo para
ambos. Para isso, tinha que descobrir se estava certo em suas suspeitas com
relação a Jean-Pierre.
Mesmo assim, à noite, quando chegasse em casa, pediria para que ela lhe
falasse sobre seus sentimentos com relação a ele e a Jean-Pierre. E se ele dissesse
primeiro o que sentia por ela? Talvez a ajudasse. Não! E se isso a impedisse de
totalmente sincera? Se Ângela não o amasse, não seria ele quem manteria o
casamento. Recusava-se a encarar o que sentiria caso ela não o amasse.
Embora os pensamentos o atormentassem, Blake relaxou um pouco e
pensou no fato de se tornar pai. Trataria a criança como se fosse sua, disso tinha
certeza. A pobre inocente jamais saberia da verdade. Tentou imaginar um bebê,
menino ou menina. Seria loiro, talvez? Ou quem sabe moreno, como ele? Só
esperava que não tivesse os cabelos castanhos, como os de Jean-Pierre.
Gostaria que fosse uma menina e se parecesse com a mãe. Nunca quisera
tanto algo na vida. Queria que seu sonho se realizasse, assim teria mais um anjo
para amar.

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Ele ficou um bom tempo recostado na sua cadeira, devaneando, com um


leve sorriso de satisfação no rosto. Imaginava um futuro que incluía esposa
amorosa e muitas crianças, sem nenhum francês por perto.

Blake chegou em casa às cinco, ansioso para ver Ângela. Ele lhe telefonara
na hora do almoço, e Foster lhe comunicara que ela descansava.
Deu uma olhada na biblioteca, mas não havia ninguém, Quando subia as
escadas, Foster apareceu no hall.
— Ângela ainda está lá em cima?
— Não, senhor. Ela não está em casa.
— E onde ela está?
— Eu não sei, senhor. Ela me pediu para lhe dizer que deixou um bilhete
para o senhor na mesa da biblioteca.
Blake sentiu um arrepio passar-lhe pela espinha. Não gostava disso. Desceu
e se dirigiu apressadamente à biblioteca. Pegou o envelope, puxou a carta que
havia dentro, sentindo um súbito medo.
"Querido Blake",
Quando você ler este bilhete, terei chegado à França. Creio que nosso acordo
foi cumprido. Segundo o médico, o bebê é para o final de janeiro. Eu o informarei
tão logo ele nasça, a fim de que sejam providenciados os papéis. Mas, para todos
os efeitos, a partir de agora você tem o controle da empresa.
Espero que você e Márcia continuem a se ver, sem que você seja obrigado a
voltar para casa todas as noites. Quando chegar a época, assinarei todos os papéis
necessários para darmos fim ao nosso casamento. Estou certa de que Harry o
ajudará nisso.
Desejando-lhe o melhor no futuro,
Ângela."
Atônito, Blake olhou para aquela folha de papel. Se o bebê nasceria em
janeiro, então só poderia ser seu. Mas do que é que ela falava, afinal? Márcia já
não fazia parte de sua vida. Ângela sabia disso melhor do que ninguém. Ele mal
tinha tempo para estar com ela, muito menos de ver quem quer que fosse.
Ângela não mencionara uma palavra sequer sobre Jean-Pierre. Mas isso não
importava. Ela queria a liberdade de volta. Talvez fosse melhor assim. Blake
reconhecia que não sabia demonstrar seus sentimentos.
É claro, tudo seria diferente se ela tivesse se casado por amor, em vez de se
casar por obrigação. Ângela precisava de muito mais do que ele lhe daria.
Precisava de alguém como Jean-Pierre, despreocupado, alegre. Tudo o que Blake
sabia era só o que se tratava da firma. Agora, seria melhor dedicar-se mesmo
somente a ela.
Essa decisão não aliviou em nada a sua dor. Não entendia por que as
pessoas se entusiasmavam tanto com suas emoções. Elas lhe haviam trazido
muito mais dor do que ele poderia imaginar.
Foi até o bar e pegou uma garrafa de uísque e um copo.

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Blake sentou-se na sofá, suspirando, e fez um brinde a si mesmo:


"Parabéns, Blake, meu velho. Você será papai". As palavras ecoaram pela
biblioteca e depois reinou o silêncio.

CAPÍTULO XI

O verão passou e chegou o outono. Ângela novamente encontrava-se no


seu círculo de amigos. As vezes pensava que aqueles poucos meses em San
Francisco tinham sido apenas fruto de sua imaginação. Só o nenê na barriga
lembrava-a de que ela e Blake seriam os pais.
Nunca mais tivera notícias dele, mas não esperava mesmo uma resposta à
carta que deixara. O que teria Blake para lhe dizer? Ela lhe dera tudo que ele
almejava, inclusive a liberdade. Ele não a procurara sequer para tratar do
divorcio. Talvez esperasse até que o bebê nascesse. De qualquer forma, não
havia pressa. Agora ele e Márcia podiam se ver a qualquer hora.
Jean-Pierre havia voltado para a França com o dinheiro que ganhara da
venda de algumas de suas esculturas. Ele e Henry Huntington marcaram uma
exposição para dali a um ano ou dois. Com tal encorajamento, Jean-Pierre e
Michelle decidiram-se casar, o que na verdade queria dizer que ela ficaria com
ele o tempo todo.
Significava também que Ângela e Suzanne precisariam de outra colega de
apartamento. No entanto, quando conversaram sobre isso, Ângela disse que
talvez não permanecesse ali depois de o bebê nascer.
— Pretendo ficar com vocês até meu filho nascer. Depois procurarei uma
pequena casa no campo para que o bebê respire ar puro, e tenha sol e muito
espaço para correr e brincar.
Jean-Pierre, Michelle e Suzanne estavam ao redor dela, ouvindo seus
planos, com graus variados de desaprovação. Ângela parecia tão serena, como se
fosse perfeita-mente normal criar um filho sozinha, quando o marido
certamente se prontificaria em ajudá-la.
Por sua vez, Jean-Pierre estava mais preocupado com ela do que admitia.
Ângela não se alimentava o suficiente e, à medida que sua barriga aumentava,
parecia emagrecer nas outras partes do corpo.
O que ela dizia agora o deixava ainda mais alarmado. Ângela se destruía
por causa de um homem que não se importava com ela.
Jean-Pierre esperou até o Natal. Como Blake não deu notícias, decidiu
procurá-lo para lhe dizer cara a cara tudo o que pensava dele, como homem e
como ser humano.
Blake tinha tido um dia mais agitado que o normal na terça-feira que
precedia o feriado. Com várias máquinas quebradas, a produção caíra
sensivelmente.
De qualquer forma, ele odiava feriados, especialmente o Natal, que não

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fora feito para que se passasse sozinho. Blake então se deu conta de que seu
filho estava para nascer em breve.
Naqueles últimos meses, pensava muito em Ângela. Até se mudara para um
quarto menor, para não se lembrar dela toda vez que fosse dormir.
O telefone tocou, tirando-o dos devaneios.
— Sim, Phyllis?
— Uma chamada internacional para o senhor. É um tal de Jean-Pierre
Armand. O senhor atenderá a ligação?
— Claro!
E por que não? Já não se importava com o que lhe pudesse acontecer. Por
que estariam tão ansiosos para falarem com ele, antes mesmo do nascimento da
criança?
— Pode completar, Phyllis... Sim, Jean-Pierre?
— Pensei que você não fosse me atender.
Jean-Pierre desistira da idéia de viajar aos Estados Unidos apenas para falar
com ele. Pareceria que ele lhe implorava uma ajuda para Ângela.
— Bem, eu já atendi. O que você quer mais?
— Eu não tinha o que fazer e liguei. Será que você realmente é o idiota sem
coração que eu sempre achei, ou será que quer saber da saúde de Ângela às
vésperas do parto?
— Ela está bem?
— Finalmente você fez a pergunta correta. Agora, antes de responder,
eu quero que você me diga se se importa com isso.
— É claro que sim! Mas chega de conversa fiada e me diga logo por
que ligou!
— Eu liguei para informá-lo de que Ângela corre um sério risco de não
resistir ao nascimento da criança.
Blake sentiu-se mal.
— Do que você está falando?
— Ângela não se cuida adequadamente e, por isso, não está ganhando
peso suficiente. Quando o médico discute o assunto, ela abrevia a consulta e
responde que não tem importância o que lhe aconteça, desde que o bebê viva.
Certa ocasião, ela me confidenciou que a única coisa que você queria dela era o
filho. Portanto, ela lhe daria esse filho, mesmo que isso lhe custasse a vida.
— Oh, meu Deus! — Blake estava desesperado. Não queria acreditar
no que ouvia. — Será que ela me receberia se eu fosse até aí?
— Depende. Se você trouxer também sua amante, eu creio que não.
— De que está falando?
— De sua preciosa Márcia. Acho mesmo que vocês se merecem.
Nenhum dos dois se importa se fere ou não outra pessoa.

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— Do que você está falando, Jean-Pierre? Não tive mais nada com
Márcia desde que Ângela e eu anunciamos nosso casamento.
— Então por que a srta. Sinclair insinuou que vocês estavam apenas dando
tempo ao tempo, esperando Ângela voltar para a França?
— Mas quando foi que ela disse isso?
— No dia em que eu levei Ângela, atordoada, para casa porque ela
descobriu que você passava as tardes com Márcia, deixando-a pensar que estava
trabalhando. Afinal, o que você pensou que eu fazia no quarto com ela? Eu
apenas tentava acalmá-la.
— Eu pensei que vocês tivessem um caso — disse Blake, suspirando.
— Você o quê? Ora, seu estúpido! Se algum dia eu a quisesse, o que
nunca aconteceu, ela não me daria a menor atenção. Ela só via você. A última
vez que veio aqui, antes de se casarem, estava tão apaixonada por você que mal
esperava o dia de voltar para San Francisco e se casar.
Blake ficou preso às últimas palavras.
— Ângela me ama?
— É claro que ela o ama! Por que você acha que ela arriscaria a própria vida
para lhe dar um bebê? Ela sabe que você só se casou para cumprir uma
imposição ridícula que seus pais fizeram no testamento. Bem, agora estão todos
felizes. Você a engravidou imediatamente depois do casamento, e tudo que
Ângela tem que fazer agora é dar à luz essa criança multimilionária.
— Eu não acredito no que você está me dizendo!
— Acredite. Não há absolutamente nada entre mim e Ângela.
— Também não há nada entre mim e Márcia. Aliás, para dizer a verdade,
não imaginava sequer que Ângela se importasse com isso.
— Devo acreditar nisso?
— É claro que sim, Jean-Pierre! Tenho me consumido de ciúme,
achando que Ângela preferiu você.
— Mas que confusão! Diga-me uma coisa, Blake, vocês nunca
conversaram? Eu nunca ouvi uma história tão cheia de mal-entendidos como
essa!
— Naquele dia em que eu o vi saindo do quarto, voltei cedo para casa a fim
de conversarmos sobre nossas vidas. Mas me senti ridículo, achando que era o
idiota do marido traído, que volta mais cedo e encontra a esposa com outro
homem. E o seu comentário não ajudou em nada.
— Que comentário?
— Que você cuidava de minha mulher, uma vez que eu tinha outras
prioridades. Pensei que você estivesse rindo-se da minha situação, que fosse
irônico comigo.
— Mas que diabos, é claro que não era isso! Eu me referia ao fato de
confortá-la, não sendo o marido. Ela se sentia muito deprimida por você ter
contado a Márcia tudo a respeito do casamento.

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— Mas eu não disse nada a Márcia sobre nós!


— Você devia falar isto a Ângela, não a mim.
— Deus, eu sei. Olhe, deixe-me ver o que eu vou fazer. Você pode me
dar o número do telefone onde encontrá-lo? Tão logo consiga reservar um lugar
no vôo para Paris eu lhe telefono. — Incerto, ele fez uma pausa. — Não se
importa em me esperar no aeroporto?
— De modo algum. Enquanto isso,
eu não contarei a Ângela que você virá para Paris.
— Você acha que ela não se aborrecerá em me ver? Talvez seja melhor
avisá-la — insistiu Blake.
— Ela vai querer saber por que você vem para cá, de uma hora para
outra. Como não compete a mim explicar-lhe nada prefiro manter sua chegada
em segredo.
— Como queira. Estarei aí o mais rápido possível.

Naquela manhã, Ângela desistiu de uma vez por todas de pintar. Suas
costas doíam muito desde que se levantara. O médico lhe comunicara que ainda
faltavam quatro semanas para o bebê nascer, mas ela achava que ele errara.
Não encontrava uma posição confortável. Já tentara sentar-se, deitar-se, ou
mesmo andar, mas nada de encontrar a posição adequada. Não sabia se
chamava o médico e pedia que lhe receitasse um analgésico.
Nesse momento, bateram na porta. Ângela voltou-se, contente por receber
visita. Suzanne saíra fazia horas, e não sabia quando ela voltaria.
— Entre.
A porta se abriu e Jean-Pierre entrou.
— Bom dia, Ângela. Como se sente esta manhã?
— Grávida. Por que você me pergunta isso todas as vezes que me vê? —
resmungou ela.
Ele riu.
— Trouxe alguém para vê-la — disse, abrindo a porta de novo.
Ângela estava a poucos passos dali, quando Blake entrou.
— Blake!'
Seus joelhos começaram a tremer. Ela puxou uma cadeira e sentou-se. Ele
parecia cansado, como se estivesse sem dormir por muitos dias. Mesmo assim,
pareceu-lhe lindo.
— Olá, Ângela.
Ele se aproximou da cadeira e ajoelhou-se a sua frente, afastou-lhe alguns
fios de cabelo da testa e examinou-a, cuidadosamente. Ângela estava pálida,
com o rosto magro. Gentil, puxou-a para seus braços. Ambos estavam tão
emocionados que nem notaram quando Jean-Pierre saiu. — Oh, Ângela, perdoe-
me por deixá-la aqui.
— Pelo que eu me lembro, você não teve escolha.
— Mas, depois de ler sua carta, eu poderia ter vindo para cá no primeiro

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avião.
Ela o afastou um pouco e olhou-o, tentando descobrir seus sentimentos.
— Por que você faria isso?
— Porque eu a amo muito. Para mim, sua partida representou o início de
uma grande agonia.
— Você me ama? — repetiu ela.
— Muito.
— Mas e...
— Querida, há muito para explicarmos. Primeiro, vamos nos sentar num
lugar mais confortável para conversar.
Ângela e ele sentaram-se no grande sofá da sala. Blake puxou-a para bem
junto de si.
— Devo-lhe tantas desculpas que nem sei por onde começar. De início,
quando nos casamos, eu confundi muito as coisas, tanto que reconheci que a
amava. Jeremy foi quem me mostrou isso.
— É difícil acreditar, Blake.
— Eu sei. Descobri que Márcia fez algumas observações que a abalaram
muito. Agora compreendo que nada a afetaria se eu lhe confessasse o que eu
sentia por você, mas eu não conseguia falar.
— Está indo muito bem até agora. Vá em frente.
— Sinto muito se pensei que havia alguma coisa entre você e Jean-
Pierre, mas, naquele dia, quando o vi sair do quarto, cheguei às piores
conclusões, e todas erradas.
— Você viu Jean-Pierre sair do nosso quarto? Mas é impossível!
— Não. Foi no dia em que você se encontrou com Márcia e voltou para
casa muito abalada. Só recentemente ele me contou que ficou com você até que
você dormisse.
Ângela procurou se lembrar.
— Mas naquela noite você não voltou para casa.
— Ângela, eu nunca fiquei longe de você, nunca. Estive em casa todas
as noites em que estivemos casados.
— Mas você não se deitou. Disse que chegou em casa às quatro e meia,
por isso tive a impressão de que você queria me manter fora da sua vida.
— Oh, querida, mas que confusão! Esta noite eu dormi no tapete da
biblioteca, depois de beber uma garrafa inteira de uísque.
— Mas, Blake, você não bebe!
— Agora você pode realmente dizer isso. Joguei fora todo o estoque de
bebidas.
Ficaram sentados ali, confortavelmente, repassando tudo o que lhes
acontecera. Pela primeira vez, reconheciam que, desde o casamento, eram
apaixonados um pelo outro,
— Ângela, você era tão bonita, e eu me sentia um homem de sorte em me
casar com você.

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— E eu me convenci de que você apenas ansiava assumir o controle da


firma.
— Eu a queria na minha vida, mas tinha a responsabilidade de manter a
empresa em funcionamento, no ritmo de sempre. E era o que fazia, quando
chegava tarde em casa.
— Achei que você passava esse tempo com Márcia.
— Se eu soubesse disso...
— E se eu também soubesse que você imaginava haver um caso entre mim
e Jean-Pierre... Fiquei muito chocada quando você achou que eu não saberia
informar quem seria o pai.
— Como fui estúpido, meu amor!
— Gosto de como você pronuncia esse "meu amor". Esperei tanto que
você me dissesse isto, e que me amasse de verdade.
— Nunca deixei de amá-la. — Ele beijou-a, pousando a mão sobre sua
barriga. De repente, sentiu o nenê se mexer. — O que houve, querida?
— Não tenho certeza, mas acho que nosso filho está para nascer a
qualquer hora.
— Mas não pode. Ainda falta um mês, pelo menos.
— Ótimo. Por que você não explica isso para ele enquanto eu chamo o
médico? — disse ela, dirigindo-se ao telefone.
— Mas, Ângela, Jean-Pierre falou que você está fraca demais para ter
filhos e que será perigoso.
Sem parar de discar, ela respondeu:
— Jean-Pierre fala demais.
Quando desligou, pouco depois, ela disse:
— Querem que eu me encontre com meu médico no hospital. Ele me
examinará.
— Onde fica o hospital? Como chegamos lá?
— Calma, não fique tão nervoso. Vou ver se Jean-Pierre e Michelle estão
em casa. Ele lhe contou que eles se casaram em julho passado?
— Não.
— Provavelmente ele achou que você não se interessaria em saber.
Os amigos chegaram em poucos minutos e levaram-na para o hospital. O
médico concordou que o bebê estava a caminho, apesar de suas previsões serem
para o mês seguinte.
Blake entrou em pânico. Ele chamou o médico de lado e disse-lhe que era o
marido de Ângela e que ele teria que salvá-la de qualquer forma. Quando Blake
acalmou-se um pouco, o médico disse:
— Minha intenção é salvar a ambos, monsieur. Como o bebê é prematuro,
o parto será menos doloroso para Ângela, porque a criança é menor do que eu
calculei. Agora acalme-se, senhor.
O médico sorriu e afastou-se.
As horas seguintes pareceram dias para Blake. Mesmo assim, Michelle e

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Jean-Pierre, e depois Suzanne, tentaram distraí-lo com histórias engraçadas


acontecidas com Ângela naqueles últimos meses.
Eram quase três horas da madrugada quando o médico reapareceu.
— Tem uma linda filha, sr. Carlyle. É bem pequena, mas tem muita saúde e
um belo par de pulmões. Se prestar atenção, poderá ouvi-la daqui!
Blake, que se levantara assim que vira o doutor, empalideceu ao receber a
notícia. Suas pernas enfraqueceram-se e ele sentou-se novamente.
— Uma menina!
— Sim — concordou o médico. — É uma linda menina, loura como a mãe,
e tenho certeza de que está bem.
Blake levantou-se novamente.
— Posso ver Ângela?
— Dentro de alguns minutos. Mais precisamente assim que retornar ao
quarto.
— Foi muito difícil para ela?
— Menos do que eu previra. Ela estava muito mais descontraída e feliz
do que nos últimos meses. Estou certo de que sua presença ajudou-a muito.
— Assim espero. Já lhe causei muita dor.
Jean-Pierre aproximou-se e estendeu a mão para Blake.
— Meus parabéns, Blake. Estou muito feliz por vocês.
— Obrigado. Quero que saiba o quanto aprecio tudo o que fez por
nós, Jean-Pierre.
— Eu o fiz por Ângela, Blake. Fico feliz por tudo ter dado certo. Nunca
pensei que ainda fosse gostar de você.
— O mesmo digo eu.
Os dois sorriram um para o outro. Uma enfermeira apareceu à porta.
— A sra. Carlyle já pode receber visitas.
Alegre, Blake seguiu-a até o quarto, onde encontrou Ângela de olhos
fechados. Foi até a cama e tomou-lhe a mão. Lágrimas repentinas apareceram
em seus olhos. Amava-a muito. O que faria se a tivesse perdido?
Ângela abriu os olhos lentamente.
— Você já a viu?
— Ainda não.
— Ela se parece com você quando está bravo — sussurrou, com um leve
sorriso nos lábios.
— Mas tem os seus cabelos.
— Sim. Meus cabelos e seu temperamento. Que combinação! —
Ângela percebeu as lágrimas no rosto de Blake. — Algum problema, meu amor?
— Nenhum. Está tudo em ordem. Assim que você puder, vou levá-la
para casa comigo.
— Gostaria muito.
— Agora é melhor descansar. Venho vê-la mais tarde. — Curvou-se e
beijou-a suavemente.

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— Blake?
— Sim, amor?
— Uma vez que nossa filha obviamente será a diretora da empresa, não
acha melhor fazermos o presidente o mais rápido possível?
Ele sorriu.
— Podemos pensar no assunto.
— É claro... — ela murmurou com a voz sonolenta. — Precisaremos de
mais alguns diretores e gerentes e...
— Eu amo você, Ângela.
Ela sorriu.
— Você realmente sabe como dizer as coisas, Blake.

Edição 452
O Passageiro da Chuva
Emilie Richards

Ele entrou na loja vazia, os cabelos molhados de chuva, o olhar


carregado de promessas. "Vá embora, Shane. Sete anos é tempo demais
para se esperar por um homem", disse Wendy, o coração batendo forte no
peito, diante daquele que fora o único namorado a partilhar sua cama e
seus sonhos de adolescente. No íntimo, porém, ela sabia que, dissesse o
que dissesse, havia esperado por esse momento durante todos aqueles
anos...

Edição 453
Casa e Carinho
Joan Hohl

"Lugar de mulher é na cozinha!" Stacy sentiu o sangue ferver quando


ouviu Royke dizer essas palavras. Para uma jornalista arrojada e liberada,
isso era mais do que uma indelicadeza; era um insulto à sua sensibilidade.
Arrojada e liberada? Não era bem assim... Convivendo com uma
afetuosa dona-de-casa a quem fora entrevistar, Stacy comparou seus estilos
de vida e logo percebeu o quanto sentia-se insatisfeita. Mas o que levaria
uma mulher tão independente a buscar sua realização nos braços de um
fazendeiro arrogante como Royke Larson?

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