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"Perspetivas sobre a Felicidade. Contributos para Portugal no World Happiness Report (ONU)" View project
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(Matthew Stewart)
Introdução
1
Em 1947, Julián Marías refere a expressão “consejero político”, como uma atividade profissional de
sucesso que Tales de Mileto teve no séc. VI (a. C.), acrescentando que o filósofo também foi um “homem
de negócios”. (Marías, 1954)
2
Tese de doutoramento disponível no Repositório: https://run.unl.pt/handle/10362/9088
1
Hoje todos somos conscientes das mudanças que surgiram nos anos 70. Nas
Universidades, começaram a surgir os primeiros investigadores a escrever sobre flosofia
aplicada, numa perspetiva mais profissional e alargada a toda a vida em sociedade. O
trabalho de Stenvenson, em Inglaterra, é um excelente exemplo.
Gabriel Arnaiz foi um dos primeiros autores a tentar escrever uma história da
consultoria filosófica nas empresas. O trabalho de Tom Morris (1998) é já um clássico:
“E se Aristóteles fosse Administrador da General Motors?” Os trabalhos mais recentes
ganharam algum destaque, especialmente a obra de Luc de Brabandere, que é consultor
do Boston Consulting Group e ministrou, já neste século, um curso sobre “corporate
philosopher”. David Brendel também escreveu sobre liderança e consultoria filosófica na
Harvard Business Review. David Carl Wilson escreveu sobre filosofia aplicada à gestão
para a London School of Economis Review. Finalmente, destacaria ainda o livro What
Philosophy can teach you about being a better leader? (2019), de quatro autores:
Reynolds, Houlder, Goddard e Lewis.
3
Há pouco tempo foi criado um website não-oficial, com o objetivo de divulgar o movimento e os atores
destas conferências internacionais: https://icpp.site/
2
O artigo que publicámos no segundo volume do projeto de investigação
“Perspetivas sobre a Felicidade. Contributos para Portugal no World Happiness Report
(ONU)”, o qual esteve sedeado na Universidade Católica Portuguesa entre 2017 e 2020,
contém uma exploração da origem da “revolução felicitária”, do aumento do número de
empresas a contratar Happiness Managers e da versão da felicidade 5.04.
Toda a disciplina intelectual requer um processo longo e penoso de constituição interna. Desde
que começa a cultivar-se informalmente, até que atinge uma figura suficiente e aproxima-se da
sua pretensão rigorosa, podem passar muitos anos, às vezes séculos. Nalgumas ocasiões, podem
abreviar-se trâmites; isto acontece quando dedicam as suas vidas a uma disciplina, alguns
homens de génio.
(Marías, 1956)
4
O artigo está disponível no website do projeto de investigação:
https://flosofiaaplicada.wixsite.com/psobrefelicidade
5
Neste artigo, o leitor pode encontrar também uma explicação sobre o nome do método. (Cfr. Bibliografia)
3
século XX ter sido uma das épocas de maior esplendor filosófico” (Duarte, 2010), onde
se produziram, segundo Marías, “os instrumentos de pensamento mais agudos e
certeiros”.
Por outro lado, no livro A Mais Bela História da Felicidade, Germain, depois de
afirmar a filosofia como uma disciplina que tem uma dimensão teórica e uma dimensão
prática, baseando-se no conceito de “ajuda”, refere, ainda, que a experiência da felicidade
é pessoal e insubstutível, podendo os conteúdos variar. Por essa razão, “A felicidade é um
ideal, que não se prescreve como um remédio. Quando muito, podemos dar conselhos.”
(Comte-Sponville, 2009)
4
sentido psicótico do termo) é aquele que perdeu «a capacidade de amar», ou seja, de se alegrar.
Enquanto aquele que é infeliz sem estar deprimido não perdeu, por isso, a capacidade de amar.
(Comte-Sponville, 2009)
5
filósofos que têm sido bastante referidos em obras de filosofia aplicada, a saber, Séneca
e Descartes. O primeiro, porque os seus livros pretendiam, segundo Marías, “gerar
segurança e conformidade na alma do leitor, confortá-lo para o caminho da vida.”
Quanto ao segundo, porque, nos seus livros, o autor “conta a sua vida para mostrar o seu
naufrágio intelectual.” Com estas duas referências, podemos compreender a opção
paradigmática de Julián Márias, ou seja, coloca-se a questão de saber qual deverá ser o
género literário de uma obra de consultoria filosófica. Sabemos que Séneca utiliza a
meditação e Descartes a autobiografia. Na época contemporânea, encontramos algumas
obras com a narração de casos-de-consulta e a posterior análise metodológica e filosófica.
(Cfr. Raabe, 2001 e Marinoff, 2002). Mais à frente, e depois de elogiar a profundidade da
filosofia de Ortega y Gasset, Marías (1966) afirma, de modo contundente: “nunca
estivemos tão próximos dos pré-socráticos.” Isto significa que para Marías (1996), a
atualidade, com a sua maturidade histórica (conceptual, metodológica e paradigmática),
vem abrir um leque vastíssimo de filosofias, sobretudo devido ao facto da sua renovada
problematicidade, que exige do filósofo contemporâneo a inovação de um género literário
adequado à sua situação específica. Neste âmbito, não podemos esquecer a origem do
próprio filosofar, a saber, a necessidade de orientar a vida.
Para que a comunicação da filosofia de Julián Marías (1966) atinja o seu objetivo,
é necessário termos em atenção aquilo que o próprio autor refere: a solução para nomear
algo que é inovador está na “metáfora”, embora Marías também refira o “neologismo” e
o “silêncio”. Neste âmbito, são referidos dois filósofos: Heidegger e Ortega. Além deste
recurso, é também preciso verificar que na época contemporânea têm (re)surgido novos
temas filosóficos: “descontentamento, sacríficio, autoconhecimento, fidelidade, projeto
6
de vida, validade, escolha, nada, autenticidade, interpretações, morte, tarefa, situação,
intencionalidade, vocação, circunstância, cuidado.” Marías pergunta assim pela estrutura
adequada que deverão ter os livros de flosofia que vão abordar estes temas. Será que
deveremos voltar aos diálogos platónicos? Ou será mais adequada a meditação estóica?
Ou a autobiografia cartesiana? Ou quem sabe o ensaio anglo-saxónico? A resposta está
“nas coisas mesmas”. Para Marías, o livro deverá ser a expressão de uma “filosofia
pessoal” elaborada no acontecer histórico. Daí a sua autenticidade, fidelidade e coerência
vitais.
Deste modo, para Marías (1996), o livro de filosofia deve ser elaborado a partir
da instalação vital do filósofo, pois é ela que permite a sua coerência sistemática. “ O
livro filosófico é uma empresa”, um drama e deverá ter uma “dimensão de novela”
(Marías, 1966), dada a “aventura pessoal do seu autor.” Para o compreendermos, é
necessário “ler-se na sua integridade, pela sua estrutura argumentativa e dramática, e
isto impõe uma concisão que tem de conciliar-se com a claridade, e esta é a dificuldade
maior da Flosofia.”
Além disso, a redução da profissão de filósofo à função docente foi, para Julián
Marías (1966), uma limitação que trouxe consequências para a área, para a sua evolução
como disciplina e, também, para o seu género literário. “A docência é sempre uma
realidade secundária e derivada, que supõe a prévia existência da filosofia que se vai
ensinar” – afirmou. Assim, com esta limitação, a produção filosófica deixou de ser
autêntica, para passar a ser uma mera transmissão de conceitos e teorias.
De facto, olhar para a filosofia como profissão, vem levantar-nos uma imensidade
de questões, que não podemos aqui abordar na sua integralidade. No entanto, e na esteira
7
da reflexão iniciada por Julián Marías (1966), consideramos que esse debate é premente
e necessário junto da comunidade científica. Marías refere a necessidade do filósofo
conhecer as questões de política editorial e de marketing, assim como saber “justificar a
sua figura pública.”
Neste âmbito, há a noção de que existe uma relação entre o trabalho do filósofo e
o seu impacto/reconhecimento perante o público em geral. Na atualidade analisada por
Marías (1957), a maior fama parece estar mais associada à imoralidade de uma pessoa e,
inclusive, ao seu espírito conflituoso. Marías distingue, assim, fama e “estima saudável”,
tendo esta última o dever de justificar a sua qualidade e as suas mudanças. Por outro lado,
a pessoa que tem fama é aquela que faz um trabalho de menos qualidade, mas com maior
expressividade e ligado a uma “escola” em particular. Segundo Marías, essa fama termina
quando o tempo passa ou quando a pessoa introduz uma mudança significativa no seu
trabalho.
Outra questão que Marías (1966) coloca tem que ver com a divisão da filosofia
em disciplinas. Na atualidade, e sobretudo no trabalho de análise da vida humana, Marías
considera que essa divisão não tem sentido, nem é adequada para dar resposta a uma
realidade tão complexa e que exige o contributo da filosofia como um todo. Assim, o
principal desafio da filosofia contemporânea é a sua justificação, ou seja, a resposta à
pergunta: “porque se há-de fazer filosofia?” Em questão está a utilidade imediata da
prática filosófica e, naturalmente, da sua fundamentação teórica.
8
filosófica. Daí a natural afirmação de Marías: “essa análise revelará (…) o aparecimento
na vida humana de um horizonte de problematicidade.” É o facto de existir, na vida
humana, uma dimensão de problemas filosóficos, que vai exigir, na pessoa, o apoio do
consultor filosófico.
Esta reflexão de Marías vem trazer algumas questões para a consultoria filosófica
e que Barrientos6 já havia levantado nos seus artigos: será a consultoria filosófica uma
não-filosofia, uma espécie de mistura entre consultoria e filosofia? Ou será que a
poderemos considerar como um ramo da filosofia aplicada contemporânea?
“Problema não é algo que se ignora, mas algo que é necessário saber.” Para
Marías, a única dimensão que não é alterada é a da sua necessidade para a vida humana,
enquanto que os “(pre-s)supostos” e o método estão em constante revisão. Para explicitar
este importante aspeto da sua filosofia, Marías utiliza dois exemplos: o da necessidade da
6
José Barrientos (Universidad de Sevilla | Espanha) é um dos investigadores que mais tem contribuído para
o conhecimento da consultoria filosófica no mundo.
9
própria metafísica, dado que a vida humana é “interpretação de si mesma”; e o da
felicidade, como necessidade e impossibilidade – ao mesmo tempo. (Marías, 1986)
Bergsma (2008), no seu artigo Advice of the Wise para o Journal of Happiness
Studies, afirma que a consultoria filosófica felicitária pode ser uma boa prevenção para a
saúde vital. O estudo da autora dirigiu-se a três formas diferentes de counseling
happiness: Epicuro, Schoppenhauer e a psicologia humanista. E verificou, por exemplo,
7
Taylor (2004) refere-se a “philosophy as conversation”.
10
que a filosofia de Epicuro acertou em muitos dados científicos modernos, como a questão
da satisfação das necessidades humanas, o valor das relações e a moderação.
Vejamos então quais devem ser algumas das competências do consultor filosófico.
11
Como veremos mais à frente, a conjugação de algumas competências pessoais, no
sentido de potenciar o grau de felicidade, conduzir-nos-á à questão metodológica
específica, com o objetivo de enquadrar o trabalho filosófico na vida da pessoa, pois,
como recorda Marías (1987), “Insisti largamente nos conteúdos parciais, na pluralidade
de dimensões e estratos, porque essa é a estrutura real da vida.”
(Hoogendijk, 1995)
8
Dias, J. & Barrientos, J. (2010), Felicidad o Conocimiento? La Filosofía Aplicada como Busqueda de la
Felicidad y del Conocimiento, Doss Ediciones, Colección Universidad, Sevilla.
12
O futuro caminhará no sentido em que os italianos, de Turim, caminharam: a
criação de uma Escola Superior de Consultoria filosófica.9 Este projeto é, para nós,
atualmente, o mais completo, pois consegue dar resposta às principais dificuldades da
formação do consultor filosófico: - após a formação não-superior, o candidato ingressa
imediatamente num curso especializado de formação superior, com um caráter prático e
profissional, devido à necessidade de um estágio profissionalizante. (Katzner, 1982;
Taylor, 2004)
9
Poderá consultar-se o website: http://www.sscf.it.
13
Receção: receber o cliente de Formalidade: as afirmações do Demonstração de
modo cordial, demonstrando cliente são apenas instrumentos compreensão: fazer um resumo,
uma atitude simpática e liberal. de trabalho para o consultor, não utilizando as palavras do cliente,
devendo estas ser motivo de com o objetivo de demonstrar ao
análise psicológica ou cliente que a questão/problema
julgamento moral e pessoal. está a ser compreendida pelo
consultor filosófico.
Atenção: ouvir e valorizar todo Indicação do relevante: Síntese: para facilitar o trabalho
o discurso do cliente e apontar o começar por referir, logo no racional, sobretudo em situações
essencial, perguntando sempre início da sua intervenção, as de longo discurso, o consultor
que não compreender uma questões mais relevantes que o filosófico deverá fazer uma
determinada afirmação. cliente afirmou. síntese das questões essenciais
para o cliente.
14
Quanto às competências filosóficas, há que dizer que o principal objetivo deste
tipo de competências é a promoção da reflexão filosófica no pensamento do cliente.
15
A análise destas pressuposições é extremamente útil nas situações em que o cliente vive
um determinado conflito na relação com algo.
16
- Pensamento criativo: Lebon reconhece que esta competência tem sido
trabalhada na formação de gestores, através dos métodos de De Bono, mas só muito
recentemente começou a entrar na filosofia através da ética prática. Luc de Brabandere
(2000) dá um destaque muito grande à criatividade, quando se refere ao seu trabalho de
consultor filosófico nas empresas.
Posto isto, e tendo em conta a análise que fizemos à obra de Julián Marías, resta-
nos referir que o ponto das competências deverá ser ainda mais desenvolvido pelos
consultores filosóficos, no sentido de definirmos o trabalho prático essencial que deve ser
feito na consulta, com o objetivo de ajudar a pensar e a potenciar a felicidade do cliente.
Portanto, mais do que competências gerais, precisamos de desenvolver competências
específicas, como por exemplo:
O método PROJECT@
O importante perceber, neste ponto, é a função que cada método deve ter na
promoção da reflexão filosófica no cliente. Deveria existir uma ligação coerente entre
uma determinada necessidade filosófica e um método específico para a sua satisfação e
que servisse de orientação, quer para o consultor, quer para o cliente.
10
Sobre a questão dos métodos em consultoria filosófica sugerimos a leitura da obra de Raabe (2001),
capítulo 2: Deconstructing Methodologies – é uma análise crítica do autor a alguns dos principais métodos
utilizados na consultoria filosófica até ao ano de 2001. O capítulo 4 refere-se ao próprio método do autor.
18
que uma pessoa sem formação filosófica não possa ter uma atitude filosoficamente
razoável, mesmo que a um nível muito elementar e/ou com um grau de consciência
bastante frágil. A atitude comum é não pensar nem dedicar muito tempo à prevenção ou
à “higiene mental”. Pensar racionalmente sobre determinadas questões evitaria alguns
problemas (Bergsma, 2008), que se tornam mais graves com o tempo e com o apoio da
confusão emocional que a ausência de racionalidade objetiva prática provocou. Tal como
é útil o desenho arquitetónico e racional de um edifício, também a vida beneficiaria em
muito se dedicássemos mais tempo à sua organização, compreensão e definição. Que
benefícios as pessoas poderiam ter se investissem mais do seu tempo no cuidar de si
mesmas?
Se analisarmos com mais rigor a questão, é evidente que estamos perante uma
situação extremamente relativa, pois depende de diversos fatores. No entanto, parece
fazer sentido considerar que um determinado serviço de consulta pode ser útil caso a
pessoa queira poupar tempo e risco – que gastaria na investigação – ou faça questão de
ter um parecer de um profissional especializado numa determinada área de trabalho. É
essa a perspetiva, por exemplo, de Mill em 1871: “A proposição de que a felicidade é o
19
fim e a meta da moralidade não significa que não tenha de ser estabelecida uma rota
para esse objetivo ou que as pessoas que o procuram não devam ser aconselhadas.”
(Mill, 2005) O filósofo inglês refere-se, precisamente, ao serviço que atualmente o
consultor filosófico fornece: o aconselhamento para questões relacionadas com a filosofia
de vida de cada um, desde a felicidade ao amor, passando por muitos outros tópicos de
consulta – mais positivos ou negativos. Mas será que em 1871 Stuart Mill já conheceria
a consultoria filosófica?
20
produz a necessidade de utilizar e aplicar um método. (Marías, 1996) Ao ponto de
chegada chamamos «objetivo» e/ou «realização/satisfação», que dá sentido a todo o
esforço exercido na aplicação do método. Digamos que é a recompensa da pessoa.
Fernández-Ochoa (2009) recorda a definição de problema dada por Marías em
Introducción a la Filosofía, como um obstáculo que aparece na vida da pessoa e que
dificulta a construção do seu futuro. Portanto, para ambos, um problema filosófico tem
sempre uma dimensão pessoal e pode assumir a forma de ignorância, de
incompatibilidade de ideias, incompreensão, sendo que o essencial é a necessidade vital
de ter esse problema resolvido.
22
Quanto à definição de uma metodologia para a consultoria filosófica, com base na
obra de Marías (1987), vejamos o seguinte:
A realidade humana é primariamente pretensão, projeto, e nisto consiste o seu caráter estranho
de ser umas vezes real e outras irreal. O elemento de irrealidade, de imaginação, de projeto ou
pretensão faz parte da realidade humana.
11
Nesta base de dados sobre o tema da felicidade, poderá encontrar uma vasta bibliografia. Website:
https://worlddatabaseofhappiness.eur.nl
23
realizada em Roma, em abril de 2007, com o objetivo de analisar a possibilidade científica
de medir a felicidade e de, com esses dados, poder determinar procedimentos políticos
para a melhoria do mundo em geral. Eram, quiçá, os primeiros passos para aquilo que
mais tarde veio a chamar-se de World Happiness Report (ONU, 2012).
Ao longo dos anos, nós, consultores holandeses (em especial o grupo fundador em Amesterdão),
tentámos formular um método comum de Consultoria filosófica. Foram despendidas horas a
examinarmo-nos a nós próprios através de vídeos. (...) Sem um método definido, os limites desta
nova profissão aparecerão como vagos.
(Jongsma, 1995)
24
considerações práticas sobre o melhor caminho (método) para uma vida feliz. “Pratica e
cultiva os ensinamentos filosóficos, pois eles são os elementos fundamentais para uma
vida feliz.” Mais à frente, Epicuro acrescenta um dado muito curioso, mas natural para a
época, a saber, a prática da filosofia com os amigos. Se pensares em todos estes conselhos,
juntamente com os teus amigos, não te vais sentir perturbado e viverás como um deus
entre os homens, ou seja, feliz.”
Figura 1
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desenvolvimento sistematizado das técnicas/estratégias e dos recursos necessários para o
alcance dos objetivos definidos.
Posto isto, temos de afirmar que a consulta filosófica não fará sentido se não
contribuir para a melhoria da vida/pensamento do cliente. E essa melhoria poderá ser
avaliada pelo estado de satisfação do cliente. Não esqueçamos que todo o trabalho
filosófico realizado na consulta baseia-se na exploração racional do pensamento
consciente, sobre a perspetiva e/ou sobre a vida do cliente.
26
Figura 2
Figura 3
27
Figura 4
Figura 5
Deste modo, podemos ainda referir que o trabalho filosófico, assim como a
definição de felicidade que o cliente tem num determinado momento da sua vida,
permitem alcançar diversos resultados. Vejamos alguns:
Figura 6
Como já aqui referimos, o projeto é também uma atitude que o ser humano sempre
utilizou ao longo da sua história racional e prática. Não sendo um conceito exclusivo da
filosofia – se é que ainda existem conceitos exclusivos de uma determinada área do saber
– o início da época contemporânea demonstrou uma clara valorização deste conceito para
o trabalho prático com e das pessoas nas mais diversas instituições. Hoje, encontramos
um aumento significativo das equipas multidisciplinares como uma forma mais eficaz de
29
trabalhar os problemas individuais. Voltamos a recordar que o consultor filosófico pode
ter um lugar importante nessas equipas, trabalhando dimensões filosóficas muito
presentes nas pessoas e nas organizações.
Figura 7
Tal como nos projetos de construção de edifícios, que normalmente têm um alto
índice de sucesso, desde que respeitem as regras científicas definidas pelo manual,
também nos projetos de vida podemos encontrar a necessidade de sucesso, pois dele
depende a felicidade pessoal. Assim, se estes também respeitarem a estrutura e a reflexão
efetuada anteriormente sobre a vida de uma determinada pessoa, o grau de sucesso vai
ser elevado. Por outro lado, com uma vida caótica, sem qualquer organização ou
preocupação, jamais poderemos garantir seja o que for.
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enquadramento do pensamento do cliente na sua própria filosofia de vida, estabelecendo
uma relação com os seus projetos e ajudando-o a resolver o seu problema/questão.
Duas razões justificam os seis níveis: 1) O facto do cliente ser considerado como
um «projeto fundamental» (Marías, 1993), ou seja, possuir uma essência livre que tem a
possibilidade de definir os seus objetivos de modo consciente e racional. (Marías, 1996)
É por essa razão que se atribui ao cliente a responsabilidade das suas decisões e das suas
ações, assim como da sua felicidade ou infelicidade; 2) O facto dos projetos do cliente
serem o conteúdo do sentido na vida e ingrediente essencial da sua felicidade.
“Projetar” pode ser visto como uma necessidade humana constituída por várias
dimensões filosóficas: ontológica, antropológica, metafísica, estética, ética, social,
política, etc. Assim, o indivíduo tem necessidade de projetar a sua vida, ou seja, de
concretizar na existência a essência do seu viver. (Marías, 1996) Ao mesmo tempo, tem
também necessidade de, como humano, projetar a sua liberdade na consciência racional
e crítica, no sentido de efetivar a sua humanidade social. Outra necessidade tem a ver com
o facto de o indivíduo projetar no mundo a realidade pessoal da sua essência metafísica,
que muitas vezes arrisca o limite da cognoscibilidade. Necessidades estéticas levam o
indivíduo a projetar imagens de si e/ou do mundo em objetos representados idealmente,
como formas autênticas da expressão humana. Por outro lado, a singularidade que
constitui cada indivíduo humano leva-o a ter um carácter único e a necessitar de condições
específicas para a realização das suas ações, decisões e projetos. As necessidades sociais
decorrem da vida humana organizada em comunidade e são constituídas pelas relações
que as pessoas têm de estabelecer, para que os objetivos mútuos se concretizem, quer seja
no âmbito afetivo, quer seja no âmbito profissional, etc. É nessas relações sociais que vão
surgir as necessidades políticas, como formas de ver solucionados alguns problemas
como o da justiça, do apoio solidário em situação de doença, etc.
Além das necessidades com dimensões filosóficas, também sabemos que existem
outros tipos de necessidades com outro tipo de dimensão. Por exemplo, as necessidades
físicas relacionadas com a saúde permitem ao médico ter uma profissão e uma função
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social importantíssima. As necessidades de garantir a paz e a justiça social também
permitem ao advogado e ao juiz ter uma profissão. O mesmo diríamos das necessidades
religiosas, que permitem ao padre exercer a sua missão espiritual, assim como a sua
função social. As necessidades alimentares permitem ao comerciante ter uma profissão.
As necessidades financeiras permitem ao bancário ter uma profissão.
Figura 8
32
Com as primeiras informações obtidas acerca do cliente, do contexto e do seu
problema/questão, o consultor filosófico inicia a aplicação de outra técnica – o
questionamento aberto – com o objetivo de testar o carácter filosófico do
problema/questão.
Neste ponto, chamamos a atenção para o facto de poder estar em causa a própria
vida do cliente como projeto fundamental. A esse respeito, recordemos o pensamento de
Epicteto: “Se alguma vez acontecer que te empenhes nas coisas exteriores, com intenção
de agradar a alguém, fica sabendo que perdeste o rumo da tua vida. O significado de
«coisas exteriores» permite-nos compreender a importância que tem o conhecimento das
«coisas interiores», ou seja, o seu pensamento, os seus valores, projetos, emoções,
crenças, etc. No contexto da reflexão de Epicteto, consideramos que a expressão «rumo»
tem aqui o significado de «projeto».
Por questões de exigência técnica, o consultor filosófico pode ter de “isolar” uma
ação particular do cliente, no sentido de a analisar e compreender as suas características
essenciais. No entanto, não pode esquecer-se de que essa ação particular aparece sempre
enquadrada num contexto, num projeto de vida, num sentido pessoal e relacionada com
uma diversidade de outras ações, pessoas, sentimentos, projetos, etc.
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importância/lugar na vida humana. Portanto, cabe ao consultor o enquadramento do
problema/questão no horizonte mais largo dos seus projetos.
- Dimensão temporal – parte constituinte da vida e dos projetos em si. Por esta
razão, não faz sentido considerar o tempo como um obstáculo, mas como uma realidade
essencial de qualquer ação humana e com a qual é necessário trabalhar sempre que se
decide projetar algo.
- Valores, conceitos, emoções e crenças do cliente (se ele tiver alguma teoria sobre
a vida e os seus elementos).
- Questões possíveis: O que fez pelo seu projeto? Qual o próximo passo? O que é
possível fazer neste momento?
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Um projeto de vida, em geral, deverá conter o seguinte:
Se esse não for o projeto mais relevante para o cliente, deverá ser feita uma nova
análise para identificar o projeto mais relevante. Poderá perguntar-se: Qual é o projeto
mais importante na sua vida? Porquê?
Procurar uma ligação entre uma teoria filosófica sobre uma determinada questão
prática e a filosofia de vida do cliente. Aqui, o consultor filosófico deverá verificar
(técnica do ponto). Poderá perguntar-se: Porque pensa que o ser humano é um ser
violento? Conhece a teoria do filósofo Thomas Hobbes?
Este sexto nível tem algumas semelhanças com o 3º nível, mas é realizado num
maior grau de profundidade da reflexão filosófica, em que o consultor filosófico deve
trabalhar numa direção bastante objetiva. Já não se trata de um procedimento tão geral,
36
como o do 3º nível, mas agora o consultor filosófico tem o conhecimento da filosofia de
vida do cliente. É a aplicação da técnica do ponto, onde o consultor filosófico entra numa
investigação crítica sobre um assunto em específico.
É por essa razão que é necessário retornar ao 1º nível com a identificação de outro
projeto…
Se, no início, os consultores filosóficos têm tendência para utilizar os métodos que
aprenderam com as leituras que fizeram e a formação inicial que realizaram, por outro
lado, à medida que o número de clientes for aumentando, os problemas/questões
filosóficos vão sendo mais diversificados, o que exigirá, necessariamente, ao consultor
filosófico mais formação e a iniciativa de estruturar os seus próprios métodos e
ferramentas de trabalho. Foi nesse âmbito, como já vimos, que foi criado o método
PROJECT@. No entanto, no decorrer das várias consultas, fomos percebendo que
existiam algumas limitações, como por exemplo, quando o cliente afirmava que o seu
problema/questão ainda não estava resolvido/esclarecido, mesmo depois de ter aplicado
o método.
37
Mais do que ter uma noção dos limites, pois este método assenta numa estrutura
formal geral e antropologicamente enquadrada, faz mais sentido falar das suas virtudes,
isto é, os casos em que o método tem mais sucesso.
A Consulta Filosófica
Se necessita de solucionar uma grande questão na sua vida, este livro ajudará a tirar partido de
grandes ideias dos principais filósofos (…) Não só em teoria, mas na prática. Cada um dos
capítulos contém casos que ilustram a forma como os consultores filosóficos ajudam os seus
clientes a conviver com as suas grandes questões.
(Marinoff, 2002)
12
Para um maior aprofundamento desta questão é importante consultar o capítulo sobre o método IPSE,
em Dias (2011).
38
o trabalho técnico, científico e filosófico do consultor. Não podemos esquecer que o
professor Raabe foi um dos primeiros, na história ainda recente da consultoria filosófica,
a apresentar uma tese doutoral na área.
Deste modo, a consulta filosófica poderá ser vista como Achenbach (2004) a vê: um
momento em que o consultor ajuda o cliente a desenvolver o seu próprio caminho e de
modo livre.
“Um caso de estudo não pode servir somente como ilustração vivida de um
método particular ou abordagem, mas funcionar como uma afirmação experimental de
posições teóricas.” (Raabe, 2001) Assim, o tema da consulta filosófica tem de ser
trabalhado teoricamente. Um dos investigadores que mais tem trabalhado o tema é
Barrientos. Em 2005, no seu manual para a disciplina, apresenta-nos a sua visão. A
consulta filosófica é definida como o espaço e o tempo em que um cliente solicita o
serviço de um especialista em consultoria filosófica. Em 2011, Barrientos desvaloriza a
necessidade de um método estruturado para a consulta filosófica, mas em 2005 acreditava
ainda que as metodologias filosóficas e racionais poderiam ser úteis. Aliás, Barrientos via
o trabalho na Consulta como uma arte motivacional e vital para os clientes. “Estou
totalmente de acordo que a consultoria filosófica é uma alternativa à terapia, mais do
que uma terapia alternativa.” (Barrientos, 2005)
39
da consulta filosófica, eis que descobrimos, numa releitura do seu manual, a seguinte
afirmação: “A felicidade é aquilo que todo o homem persegue desde que nasce, é o que
deseja o cliente que vai entrar na consulta.” (Barrientos, 2005) Daí que a consulta
filosófica seja um pedido de ajuda para que a felicidade do cliente seja reposta. Neste
ponto, Barrientos opta por não definir felicidade, encaminhando a questão para a prática
da consulta.
Pedro disse que não lhe apetecia ir trabalhar, nem às aulas e que apenas tinha
vontade para estar em casa. Gostava de ler e de desporto. Considerava-se uma pessoa
nervosa. O seu percurso curricular sempre foi atribulado, com dificuldades na motivação.
Mudava muitas vezes de ideias, de emprego, de colegas, de temas nos trabalhos, etc.
13
Cfr. Dias, J. (2011), “Do Método da Razão Vital Felicitária em Julián Marías, na Aplicação Filosófica
da sua Teoria à Compreensão da Vida Humana. Análise de um Caso-de-Consulta e referências para a
Educação Social”. pp. 27-61. in José Barrientos (Ed.) (2011), Metodologias Aplicadas desde a Filosofia:
Estabelecimentos Prisionais, Empresas, Ética, Consultoria e Educação, Visión Libros, Madrid.
40
Quando chegou à universidade, esteve confuso em relação ao curso que mais gostaria.
Criticou a escola por não ter recursos de qualidade para dar resposta à necessidade de
explorar a vocação dos jovens adolescentes, e acrescentou que um simples teste
psicotécnico não era suficiente. Entretanto, Pedro referiu que optou por ir trabalhar para
uma empresa multinacional, ao mesmo tempo que estudava, pois era-lhe útil o dinheiro.
Estava a tirar a carta de condução, mas já tinha reprovado algumas vezes no exame de
código. As suas relações afetivas nem sempre eram estáveis – frisou Pedro.
Assim terminou a primeira consulta. Na consulta seguinte veio a sua mãe. Dia 4
de fevereiro. Solicitámos uma avaliação do caso. A mãe de Pedro admitiu ser «mãe-
galinha», mas disse ter uma explicação, pois o seu filho sempre foi um jovem com
diversos problemas, quer de saúde, quer de socialização. Considerou que o filho estava
demasiado dependente da mãe.
14
Como já vimos, para Julián Marías (1995), a vida humana é projeto. Noutro texto, já tínhamos referido a
importância dessa verdade analítica “radical” para o trabalho metodológico do consultor filosófico. (Dias
41
forma – referiu. A primeira condição necessária para conseguir realizar o seu sonho, era
ter um emprego e, depois, conseguir juntar algum dinheiro. De seguida, perguntámos
quais os recursos necessários. Pedro considerou que seria mais fácil ter um bom emprego,
caso conseguisse terminar a licenciatura em que se encontrava. Referiu ter vontade, mas
que nem sempre se sentia motivado. Por isso, considerou, que talvez necessitasse de ajuda
e orientação, quer para pensar a sério na sua vida, quer para projetar, com consciência e
responsabilidade cada passo em direção à realização dos seus objetivos.
No dia 18 de fevereiro, veio de novo a mãe à consulta. Começou por referir que
estava também preocupada com uma possível relação entre o seu insucesso profissional
e o insucesso escolar e pessoal do seu filho. A mãe de Pedro não tinha emprego e também
se encontrava a estudar na mesma Universidade de Pedro, mas noutra licenciatura.
Referiu que já tinha tido uma depressão e que neste momento se sentia cansada por ainda
ter de ajudar o filho, e não lhe restar muito tempo para cuidar de si e do seu futuro. Em
casa, o seu marido tentava ajudar através da leitura de livros, que falassem sobre temas
semelhantes. No entanto, este não se manifestava muito preocupado com o filho, pois
entendia ser preguiça a causa de tudo. Além disso, o pai já tinha percebido que o filho
não deixava que retirassem do seu quarto a televisão, o computador com a internet e a
playstation…
Pedro A Pedro B
Sabe o que quer da vida Às vezes, não quer saber muito da vida
O curso é importante para o seu futuro Às vezes, prefere ficar em casa a ver televisão, a
jogar playstation e a navegar na internet (sobretudo
Sonha ter uma casa nas redes sociais).
& Barrientos, 2009), mas aqui importa acrescentar algo. Ao estudar a psicanálise de Freud, o filósofo
espanhol critica a metodologia baseada na análise do passado do paciente, em vez de analisar os seus
projetos (presente e futuro). Cfr. Marías (1986), Biografía de la Filosofía.
42
Por vezes, prefere a solidão, pois é uma forma de
Gostaria que a sua vivenda fosse no Porto ou em
controlar a sua vida, o seu espaço e algumas regras
Vila Nova de Gaia
Posto isto, Pedro considerou que o seu principal problema estava no controlo da
mãe. Referiu que a sua irmã já tinha saído de casa há uns anos, pela mesma razão.
Sabe o que quer da vida Às vezes, não quer saber muito A mãe sabe o que é melhor para
da vida a sua vida
O curso é importante para o seu Às vezes, prefere ficar em casa a Está dependente do controlo da
futuro ver televisão, a jogar mãe
playstation e a navegar na
Sonha ter uma casa internet (sobretudo nas redes
sociais) É impossível a libertação da mãe
Gosta de ir ao viveiro do pai
ajudar a gerir Por vezes, prefere a solidão,
pois é uma forma de controlar a
Gostaria que a sua vivenda fosse sua vida, o seu espaço e
no Porto ou em Vila Nova de algumas regras
Gaia
Após este relato, o consultor filosófico perguntou se o Pedro alguma vez tinha
vivido uma experiência de autonomia. Pedro disse que sim e narrou um episódio vivido
em Évora, num passeio que deu, sozinho, pelo centro histórico.
43
negativas em cada dia. O esquema deste diário foi realizado pelo consultor e entregue ao
cliente.
No dia 1 de abril referiu que tinha um novo grupo de estudo e com o qual estava
a gostar de estar e trabalhar. Sentia-se agora mais motivado. Referiu também que tinha
passado no exame de código e que se sentia muito feliz. No dia seguinte, voltou a ler um
livro de Harry Potter, pois era uma literatura que gostava bastante e que acompanhava.
No final da consulta, referiu que o diário e a sua análise conjunta estavam a ser muito
importantes para o foco em algumas dimensões vitais. Tornava-se mais fácil mudar e
evoluir.
No dia 20 de maio realizámos uma avaliação sobre o percurso efetuado até ali,
desde o seu desempenho até à utilidade das consultas e o efeito das mesmas na sua vida.
Verificámos que tinha conseguido algum sucesso no trabalho e na universidade, que tinha
uma namorada nova e que estava a praticar atividade física duas vezes por semana:
futebol e jogging.
A última consulta foi no dia 25 de julho. Pedro referiu que o pai estava a pensar
premiar o esforço do filho com o aluguer de uma casa no Porto, mais próximo da
universidade e do local de trabalho, mas também para lhe dar mais autonomia. Inclusive,
estavam a pensar em comprar uma casa nos leilões das Finanças, como forma de
investimento para o futuro. Pedro sublinhou a importância que o desporto estava a ter na
sua vida, pois com o futebol tinha melhorado bastante as suas relações de amizade e com
o jogging estava a sentir-se muito melhor consigo próprio e menos nervoso. A família
sentia-se agora mais próxima e unida na construção de objetivos comuns.
Investigação futura
44
Vivemos uma época de valorização profissional da filosofia aplicada.
Recentemente, o Banco Santander utilizou a filosofia numa publicidade aos seus serviços
tecnológicos.15 Ricardo Araújo Pereira, famoso humorista português, é um consumidor
frequente de referências filosóficas nos seus programas. Mas nem sempre isso aconteceu.
Aliás, na outra margem, assistimos a uma certa desvalorização da investigação filosófica
mais teórica.
Em 2018, vimos o famoso historiador Yuval Harari escrever que filósofo será
profissão de futuro.
15
Notícia: https://flosofiaaplicada.wixsite.com/gabineteproject/post/santander-utiliza-a-flosofia-em-
publicidade-digilosofia
16
Notícia: https://flosofiaaplicada.wixsite.com/gabineteproject/post/liliana-acosta-cria-empresa-
inovadora-de-flosofia
45
2. O filósofo é especialista em argumentação e diálogo, dois tópicos muito úteis à
competitividade de uma empresa.17
3. O filósofo aprende a pensar com método, para compreender e resolver
problemas.
4. A abordagem sistemática permite tomar melhores decisões, assim como
alcançar a inovação. Empreendedores de sucesso têm formação em filosofia: Reid
Hoffman (LinkedIn), Stewart Butterfield (Flickr), Mike Krieger (fundador do Instagram)
e Peter Thiel (fundador do Paypal).
5. A filosofia pode ajudar a empresa a conectar-se com a sociedade, a refletir sobre
a sua ética e os seus valores. Os Filósofos sabem que toda a ação humana tem dimensões
filosóficas que impactam nos resultados de uma empresa.
Posto isto, Scelles retira as seguintes lições de sabedoria:
- Os filósofos têm um papel essencial na formação e na liderança dos negócios,
apesar de muitos recusarem este desafio. Jack Weinstein construiu o argumento comercial
da filosofia.
- A formação em filosofia é uma vantagem competitiva.
- A General Electric tem contratado filósofos e depois integra-os em programas
de formação intensiva para funções mais específicas. Ter uma segunda licenciatura pode
ser uma vantagem simbólica para o filósofo, pois vai destacar-se dos seus colegas e envia
uma mensagem aos CEOs.
- Se a questão dos talentos é tão valorizada, significa que o recrutamento está com
problemas na definição de critérios. Daí a questão pertinente: se todas as empresas
fizerem o mesmo, como é que se poderão destacar?
- Referindo um artigo de Anders Pulsen, publicado na revista Grasp, Scelles
considera que o novo modelo de negócio deve incluir perfis que se adaptem facilmente,
devido à complexidade e incerteza cada vez maiores. Isto significa que pode ser bastante
útil contratar filósofos, pois é um curso que não prepara propriamente para uma profissão.
Além disso, as empresas queixam-se das universidades não acompanharem o ritmo
elevado da economia.
17
Cfr. Stewart, M. (2010), The Management Myth: Debunking Modern Business Philosophy, W. W. Norton
& Company, New York.
46
Desta forma, gostaríamos de terminar dizendo que, em breve, o método
PROJECT@ será explorado e estudado em contexto mais empresarial. Daremos
novidades nessa altura.
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