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475/2011-0
RELATÓRIO
Trata-se de representação autuada pela então 5ª Secretaria de Controle Externo (5ª Secex),
atualmente sob a responsabilidade da Secretaria de Controle Externo da Previdê ncia, do Trabalho e da
Assistência Social (SecexPrevi), como apartado da Prestação de Contas de 2007 do Departamento
Regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Estado do Piauí – Senai/PI
(TC 017.342/2008-8), de acordo com a determinação constante do item 9.4 do Acórdão 7.306/2011-
TCU-2ª Câmara, prolatado nos seguintes termos (Peça nº 4):
“9.4. determinar à 5ª Secex que autue apartado, com fulcro nos arts. 36, 37 e 38 da
Resolução TCU nº 191, 21 de junho de 2006, como processo de representação, em razão das
discussões tratadas nos itens 28 a 31 da Proposta de Deliberação, juntando ao novo processo cópia
dos documentos que julgar necessários para apreciação da proposta de determinação apresentada
pelo MPTCU neste processo, de modo a promover a devida instrução desses novos autos, não se
2. Adoto como Relatório a instrução da auditora federal da então 5ª Secex que foi lançada à
Peça nº 19, nos seguintes termos:
“(...) 2. De acordo com a determinação, cabe a esta unidade técnica, em razão das
discussões tratadas nos itens 28 a 31 da proposta de deliberação que fundamentou o Acórdão
7.306/2011 – 2ª Câmara, promover a devida instrução destes autos, analisando a documentação
acostada nas fls. 226-321, vol. 1, do TC 017.342/2008-8 (peça 5, p. 19-47, peça 6 e peça 7),
encaminhada pelo Senai/DN, a qual contém esclarecimentos adicionais e pareceres jurídicos sobre a
matéria.
3. As análises deverão subsidiar proposta de determinação a ser expedida às unidades do
Sesi e o Senai em todo o país, orientando-as quanto aos repasses de recursos ao Instituto Euvaldo
Lodi (IEL).
DA ADMISSIBILIDADE
4. A representação pode ser conhecida, com fulcro no art. 237, inciso VI, do Regimento
Interno do TCU.
HISTÓRICO
5. Na instrução inicial foi proposta diligência ao IEL Núcleo Central, a fim de que
apresentasse documentos e esclarecimentos relativos aos recursos recebidos do Sesi/DN e do
Senai/DN, para custeio de suas atividades.
6. A diligência foi autorizada por meio do pronunciamento da peça 11 e, em resposta, o
IEL encaminhou ao Tribunal o Ofício 50 – SUP (peça 18, p. 1), acompanhado de anexo (peça 18,
p. 2-11) e dos documentos na peça 18, p. 12-165.
7. Registre-se que o IEL participou de duas reuniões no Tribunal, juntamente com
representantes do Sesi e do Senai, com o objetivo de melhor esclarecer a forma de atuação da
instituição, bem assim a sistemática de transferência de recursos.
EXAME TÉCNICO
8. Considerando a complexidade da matéria tratada nesta representação, o exame técnico
será dividido em grandes tópicos, com o objetivo de contextualizar o tema, explicitar a jurisprudência
do Tribunal sobre o assunto, analisar as informações apresentadas em resposta à diligência e
formular o encaminhamento determinado por meio do Acórdão 7.306/2011 – 2ª Câmara.
9. A análise também utilizará os elementos encaminhados a esta Secretaria pelo IEL, após
reunião realizada no mês de junho (peças 8 e 9).
Análise dos documentos mencionados no item 9.4 do Acórdão 7.306/2011 – 2ª Câmara
(fls. 226-321, v. 1 do TC 017.342/2008-8)
10. As fls. 226/236 (peça 5, p. 19-29) constituem cópia do Acórdão 2.027/2010 –
2ª Câmara, com relatório e voto condutor (TC 016.594/2007-2 PC Senai/PI 2006).
11. No referido processo, foi mencionada a questão do repasse de ‘contribuições
regulamentares’ à Federação das Indústrias do Estado do Piauí (Fiepi) sem o cumprimento dos
requisitos constantes do art. 34, letra ‘q’, do Regimento do Senai (prévia e formal autorização do
conselho regional e limite máximo de 1% da receita regional); sem as adequadas contabilizações;
bem como sem a comprovação da efetiva entrada dos recursos nos cofres da Fiepi e consequente
aplicação em despesas vinculadas às finalidades institucionais do Senai/PI.
12. As ocorrências relatadas no relatório se referiam a outros processos de contas,
inexistindo caso concreto em 2006.
13. As fls. 237/254 (peça 5, p. 30-47) se referem a parecer do Sr. José dos Santos
Carvalho Filho abordando repasses regimentais a entidades representativas, poder regulamentar do
Sesi e do Senai, regimentos das entidades e as decisões de natureza cautelar do TCU.
14. Na peça, o autor tratou do parecer do Ministério Público junto ao TCU (MPTCU) no
TC 029.469/2006-3 (Prestação de Contas do Senai/PI, exercício de 2005), especificamente quanto aos
repasses à Fiepi, com base no art. 34, alínea ‘q’, do Regimento do Senai, considerados ilegais pelo
Parquet.
15. Faz considerações acerca da natureza jurídica das entidades, bem como das normas
que as regem e do poder regulamentar (possibilidade de as entidades regulamentarem aspectos não
previstos nas leis que as criaram).
16. Entende que, se a lei autoriza a criação de determinada pessoa jurídica, autoriza,
implicitamente, a gestão dos recursos pela entidade destinatária e, portanto, o repasse de parcela
desses recursos à pessoa organizadora e diretiva, no caso a federação.
17. Trata dos repasses a entidades representativas (confederações e federações), ante as
considerações do MPTCU de que violariam os princípios da legalidade, da impessoalidade e da
moralidade.
18. No último tópico, trata da impossibilidade de se adotar a cautelar suscitada pelo
MPTCU, ante a inexistência dos pressupostos necessários.
19. Nas fls. 255-276 (peça 6, p. 1-30) o Senai/DN se manifesta sobre os regulamentos do
Sesi e Senai disciplinando as transferências ao IEL.
20. Defende que os repasses encontram suporte legal no fato de o Sesi e o Senai,
juntamente com a Federação das Indústrias, serem associados instituidores da pessoa jurídica
denominada IEL, de forma que não há problema em manter instituição que tem missão complementar
à das entidades.
21. Registra que o Sesi e o Senai podem realizar suas atividades direta ou indiretamente,
exemplificando com o processo de estágio agenciado pelo IEL, que constitui ação complementar à
educação formal.
22. Em relação aos regulamentos, informa que até 1,5% das dotações podem ser
repassadas ao IEL, ficando o repasse condicionado à aprov ação do orçamento do IEL pela
assembleia de cada núcleo.
23. Afirma ser necessário um plano de ação que reflita programas, processos e projetos de
interesse complementar, direto ou indireto, às finalidades dos mantenedores.
24. Caso a atividade a ser desenvolvida pelo IEL seja de interesse exclusivo do Sesi/Senai,
deverá ser objeto de contrato de prestação de serviços, observadas as disposições do Regulamento de
Licitação e Contrato (RLC) das entidades.
25. Quando se tratar de projeto de interesse recíproco do Sesi/Senai e do IEL deverá ser
celebrado convênio com fim específico, plano de trabalho, valor da cooperação econômica de cada
partícipe, prazo de vigência e a forma de prestação de contas.
26. As fls. 277-318 (peça 6, p. 31-69) constituem parecer do Sr. Carlos Mário da Silva
Velloso, elaborado em razão de consulta do Sesi/Senai sobre a possibilidade e a legalidade de, como
entidades vinculadas ao sistema sindical, transferirem recursos para outra entidade, da qual são
instituidores e mantenedores.
27. O jurista inicia tratando dos termos da consulta e da natureza jurídica das entidades
envolvidas, abordando suas atribuições.
28. Em seguida, apresenta tópico tratando do Sesi/Senai enquanto entes autônomos de
cooperação, e traz doutrina acerca das paraestatais.
29. Aborda a natureza das contribuições que custeiam o Sesi/Senai e seu caráter
parafiscal, para concluir que não constituem receitas federais.
30. Sobre a aplicação dos recursos pelo Sesi/Senai, defende a liberdade das entidades
para atuarem e gerirem seus recursos, desde que destinados a ações compatíveis com os objetivos
legalmente estabelecidos. Nessa linha, não haveria óbice às transferências ao IEL.
31. No que tange ao controle pelo TCU, entende que as entidades estão obrigadas a
prestar contas, mas que o controle exercido pelo Tribunal é meramente finalístico, limitado ao exame
96. Desse modo, cada IEL Regional negocia, aprova e concebe o seu próprio plano de
ação, que necessariamente deve observar as Resoluções 2/2009 e 375/2009, dos conselhos nacionais
do Sesi e do Senai, respectivamente (peça 18, p. 9).
97. Não obstante a autonomia conferida a cada regional, o IEL/NC envida permanentes
esforços para que haja compartilhamento de informações, de modo a permitir a consolidação das
ações e dos resultados de forma nacionalmente centralizada (peça 18, p. 10).
98. A metodologia para prestação de contas nos estados (item ‘n’ da diligência) também
está prevista nas referidas resoluções, devendo ser feita anualmente, mas com a possibilidade de ser
parcial, a depender do representante do Sesi e do Senai que tiver assento na Assembleia do IEL
Regional (peça 18, p. 10).
99. O Instituto informa que os aspectos operacionais relacionados à prestação de contas
são estabelecidos de acordo com as resoluções acima citadas e com a autonomia que cada Núcleo
Regional do IEL possui, sempre sob a direção, supervisão e aprovação dos mantenedores estaduais
(peça 18, p. 10).
100. Sobre possíveis distorções nos procedimentos e quanto à viabilidade de
uniformização (item ‘o’ da diligência), o IEL reafirma que as Resoluções Sesi 2/2009 e Senai
375/2009 são de aplicação nacional, mas que não se pode descartar dificuldades de acertos no
processo recente de padronização comportamental, em que as novas normas estabelecem deveres de
agir, tampouco afastar por completo a necessidade de eventuais ajustes e aprimoramento nas
resoluções (peça 18, p. 10).
101. Registra que os departamentos regionais do Sesi e do Senai, além das Federações das
Indústrias, podem decidir não repassar os seus recursos orçamentários para o IEL local, pois o
controle cabe aos gestores locais (peça 18, p. 10).
102. De qualquer forma, o IEL/NC mantém permanente agenda nacional de capacitação e
alinhamento estratégico junto às entidades regionais, orientando sobre as melhores práticas e
ferramentas para que haja uniformização dos procedimentos. Como reflexo disso, alguns regionais já
utilizam o SIG, promovendo o alinhamento e disseminação das práticas nacionais (peça 18, p. 10).
103. Explicitada a realidade dos núcleos regionais, percebe-se que, embora as normas
expedidas pelos departamentos nacionais do Sesi e do Senai sejam de observância obrigatória pelos
departamentos regionais, a autonomia que eles detêm acaba por interferir na aplicação das
resoluções.
104. A questão da autonomia também se reflete nos núcleos regionais do IEL, que
vivenciam situações diferenciadas quanto à execução dos planos de ação.
105. Dessa forma, considerando o estágio de maturidade mais avançada em que se
encontra o Núcleo Central do IEL, tanto em termos de elaboração e implementação do plano de ação,
quanto do acompanhamento e fiscalização viabilizados com a utilização do SIG, os termos da
determinação fruto da presente análise deverão contemplar, obrigatoriamente, a imposição aos
departamentos regionais do Sesi/Senai do cumprimento das Resoluções Sesi 2/2009 e Senai 375/2009.
106. No que se refere à proposta de encaminhamento para este processo, cabe retomar a
análise quanto à adequação da metodologia atualmente utilizada pelo Sesi/Senai para transferir
recursos ao IEL, em face da jurisprudência do Tribunal no sentido de que é necessária a formalização
de convênio.
107. Pode-se considerar que a primeira preocupação desta Corte de Contas em exigir a
formalização de convênio para repasse de recursos ao IEL está ligada à natureza pública dos valores
recebidos pelo Sesi e pelo Senai, que impõe a necessidade de atestar o correto emprego das verbas
transferidas.
108. Sob esse aspecto, verifica-se que a elaboração do plano de ação a cada exercício,
associada à necessidade de prestação de contas pelo IEL, assim como à existência de sistema
informatizado que permite o acompanhamento e a fiscalização físico-financeira, conferem maior
legitimidade à metodologia implementada pelas entidades de caráter nacional.
109. Tomando por base as orientações mais comuns expedidas pelo Tribunal em suas
decisões sobre os repasses ao IEL, elaborou-se a tabela abaixo, com a correspondência entre o que
normalmente se tem exigido e o que vem sendo feito pelo Sesi/Senai/IEL, a partir de 2009:
Orientações do Tribunal ao Sesi/Senai sobre as Disposições das Resoluções Sesi 2/2009 e Senai
disposições dos instrumentos de convênio a serem 375/2009 e outros mecanismos que atendam às
celebrados orientações do Tribunal
Objeto específico, com seus elementos Instituição do plano de ação a ser elaborado a cada
característicos e descrição detalhada, objetiva, exercício, o qual deverá refletir programas, processos
clara e precisa do que se pretende realizar ou obter, e projetos de interesse complementar, direto ou
que, comprovadamente, seja de interesse recíproco indireto, às finalidades dos mantenedores.
das partes convenentes. A proposta de plano de ação do núcleo do IEL deverá
conter, no mínimo, a breve descrição do objetivo de
cada programa, processo ou projeto, a sua meta e o
seu orçamento.
Os planos de ação apresentados ao Tribunal contêm
a descrição dos objetivos estratégicos do Núcleo
Central do IEL, por iniciativa, bem como dos
programas, ações e metas previstas.
Plano de trabalho que, além da especificação Os planos de ação apresentam a previsão das
completa do bem a ser produzido ou adquirido, despesas por conta contábil, por unidade
deverá explicitar o valor a ser despendido na sua organizacional e por linha de atuação.
obtenção e conter cronograma de desembolso, este O item 3.1 do anexo à resolução prevê a elaboração
último condizente com as fases ou etapas de de cronograma de repasse dos valores, discutido e
execução do objeto do convênio. deliberado em assembleia.
Compromisso do convenente de movimentar os Todas as receitas do IEL são creditadas em uma só
recursos do convênio em conta bancária específica. conta corrente, o que inviabiliza o atendimento a esse
requisito.
Obrigatoriedade de que a movimentação dos Não há informações sobre esse item.
recursos somente ocorra por meio de cheque
nominativo ao efetivo credor, comprovando-se o
pagamento com documentação idônea.
Vigência do instrumento, que deverá ser fixada de A vigência do plano de ação é anual.
acordo com o prazo previsto para a consecução do
objeto e em função das metas estabelecidas.
Obrigatoriedade de o convenente apresentar O sistema SIG gera relatórios de execução físico-
relatórios de execução físico-financeira. financeira, permitindo a cada gestor acompanhar a
execução das metas.
Obrigatoriedade de o convenente apresentar As resoluções contêm dispositivo prevendo a
prestação de contas dos recursos recebidos. necessidade de prestação de contas à assembleia dos
mantenedores.
Previsão de que, quando a liberação de recursos Há possibilidade de exigir prestação de contas
ocorrer em três ou mais parcelas, a terceira delas parcial, a depender do representante do Sesi e do
fique condicionada à apresentação de prestação de Senai com assento na assembleia do IEL Regional.
contas parcial referente à primeira parcela liberada,
sem prejuízo da apresentação da prestação de
contas total.
110. Conforme se depreende do quadro acima, o Sesi e o Senai reúnem condições de
atender quase integralmente aos requisitos relativos aos convênios comuns, indicando a viabilidade
de se manter a sistemática atual, expandindo-a para os departamentos regionais, onde ocorreram os
problemas mais graves.
111. Como dito anteriormente, embora os recursos não sejam movimentados em conta
bancária específica, é possível que o Sesi e o Senai verifiquem a correta aplicação dos recursos
transferidos, com base no que for estabelecido no plano de ação e mediante a utilização de dados
extraídos do SIG.
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11
É o Relatório.
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PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO
11. Assim, o controle externo financeiro exercido pelo TCU, ao realizar fiscalizações ou julgar
as prestações de contas apresentadas anualmente pelos gestores dos serviços sociais autônomos, deve
atentar tanto para a verificação do cumprimento de metas e objetivos quanto para a análise da
compatibilidade entre os fins legais dessas instituições e as ações discricionárias por elas
desenvolvidas.
12. Tal procedimento não poderia mesmo ser diferente, já que não se pode afastar do
delineamento da gestão dos recursos arrecadados da sociedade para cumprir objetivos de interesse
público e social, sob qualquer pretexto, a observância aos princípios constitucionais e legais aplicáveis
à administração de recursos públicos, em especial, aos descritos no caput do art. 37 da CF88:
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
13. E, por esses motivos, não há que se falar, também, que o controle externo financeiro sobre
o Sistema S não poderia alcançar todas as dimensões previstas no art. 70 da CF88, quais sejam, as da
fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, sob os aspectos da
legalidade, legitimidade e economicidade, entre outros.
I
14. No que concerne aos repasses do Sesi e do Senai para o IEL, registro que, tendo em vista
as reiteradas determinações deste Tribunal, os respectivos conselhos nacionais editaram, em
31/3/2009, as Resoluções Sesi/CN nº 2 e Senai/CN nº 375, de teor similar, as quais estabelecem, em
suma, que a realização de objeto de interesse recíproco do Sesi/Senai e do IEL deve ocorrer por meio
de convênio com fim específico, definindo plano de trabalho, valor da cooperação econômica de cada
partícipe, prazo de vigência e forma de prestação de contas pelo executor (v. art. 5º dessas resoluções).
15. Tais normativos autorizam os departamentos regionais do Sesi e do Senai a repassar até
1,5% de suas dotações orçamentárias para consecução de objetivos do plano de ação anual do
respectivo núcleo regional do IEL (art. 1º), o qual deve refletir programas, processos e projetos de
interesse complementar, direto ou indireto, às finalidades dos repassadores (art. 2º, letra “d”),
destacando-se que cada núcleo do IEL deverá submeter a prestação de contas à respectiva Assembleia
Geral, na qual têm assento os representantes do Sesi e do Senai (art. 3º).
16. Sobre esse mecanismo de repasse, a unidade instrutiva apurou, após diligências e reuniões
com representantes dos departamentos nacionais dos serviços sociais autônomos e do Núcleo Central
do IEL, que o Instituto desempenha ações de atendimento a estudantes, mediante intermediação de
estágio, e ao empresariado, oferecendo capacitação a dirigentes para aperfeiçoamento em gestão, além
de ações voltadas à cadeia produtiva, à inovação e ao empreendedorismo.
17. Enquanto Sesi e Senai se ocupam da qualificação dos trabalhadores propriamente dita, o
IEL desempenharia atividades adicionais e complementares voltadas à capacitação de estagiários,
executivos, gestores e empresários, no intuito de preencher lacuna entre a indústria e os centros de
ensino.
18. Dessa forma, o plano de ação e o orçamento do IEL, elaborados a cada exercício
financeiro, especificariam projetos e programas de interesse dos departamentos nacionais do Sesi e do
Senai, como também da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que juntamente com os entes do
Sistema S se constituem em sócios mantenedores do IEL.
19. A atuação complementar do IEL em relação ao Sesi encontra ressonância na norma de
criação do serviço social, isto é, no Decreto-Lei nº 9.043, de 25 de junho de 1946, que aduz:
“Art. 1º Fica atribuído à Confederação Nacional da Indústria encargo de criar o Serviço
Social da Indústria (SESI), com a finalidade de estudar planejar e executar direta ou indiretamente,
medidas que contribuam para o bem estar social dos trabalhadores na indústria e nas atividades
assemelhadas, concorrendo para a melhoria do padrão geral de vida no país, e, bem assim, para o
aperfeiçoamento moral e cívico e o desenvolvimento do espírito de solidariedade entre as classes”
(grifou-se).
29. Da mesma forma, tais recursos custeiam as despesas com aquisições de bens e com
contratações de serviços para a realização das ações do IEL, de sorte que essas despesas obedecem a
uma política de unidade compartilhada, da qual participam a CNI, o Sesi e o Senai, com o propósito,
segundo as instituições ouvidas, de buscar harmonização, regularidade e eficiência nesses
procedimentos operacionais.
30. Demais disso, atendendo à exigência regulamentar, as demonstrações contábeis do IEL são
submetidas trimestralmente à auditoria independente, ao conselho fiscal e à assembleia geral de
mantenedores, além do que a execução financeira e orçamentária tem por base o Plano de Contas e o
Manual de Padronização Contábil aprovados pelos representantes do Sesi e do Senai.
31. A propósito de toda essa sistemática de governança corporativa, a então 5ª Secex indica
que o Sesi e o Senai têm condições de fiscalizar a aplicação dos recursos transferidos ao IEL, tanto do
ponto de vista financeiro quanto do alcance dos objetivos estabelecidos no plano de ação, o que pode
ser feito na forma de acompanhamento, por meio dos sistemas de informação acima mencionados, e
por intermédio da prestação de contas apresentada pelo IEL à assembleia de mantenedores, da qual
participam essas entidades do Sistema S.
32. Contudo, compulsando os planos de ação e as prestações de contas apresentadas pelo
Núcleo Central do IEL (Peças nos 8 e 9), nota-se que não há indicação explícita de quais programas e
projetos são patrocinados pelo Sesi e/ou pelo Senai, de sorte que apenas o Plano de Ação Retificado de
2010 trazia o detalhamento das contribuições aportadas a cada programa (fls. 91/129 da Peça nº 8).
33. Aliás, a ausência dessa informação também é notada nos demons trativos contábeis, os
quais não incluem nenhum relatório detalhando as contribuições vertidas pelos entes do Sistema S e as
despesas custeadas com as respectivas contribuições.
34. Além disso, são apropriados recursos provenientes das contribuições do Ses i e do Senai
para custeio de despesas correntes e de capital do IEL, de modo que a execução de ações de interesse
de outras instituições convenentes também podem ser custeadas com essas contribuições.
35. Assim, não me parece que a atual sistemática de pla nejamento e prestação de contas das
ações do Núcleo Central do IEL atenda plenamente aos requisitos apontados pela jurisprudência deste
Tribunal, uma vez que tais peças de gestão não estabelecem o nexo inequívoco entre as receitas
oriundas das contribuições de cada um dos entes do Sistema S e as despesas pagas com esses valores,
de tal modo que não é possível atestar para quais objetos específicos os recursos do Sesi e do Senai
foram repassados, tampouco se o destino dado a esses recursos é compatível com a missão
institucional dessas entidades repassadoras.
36. E o fato de o Sesi e o Senai serem mantenedores do IEL não torna suficiente o mecanismo
atual de gestão das contribuições, haja vista que há outro sócio mantenedor, a CNI, igualmente
interessada em ações a serem desenvolvidas pelo IEL que atendam aos seus interesses institucionais,
os quais podem não ser coincidentes com os interesses sociais do Sesi e do Senai.
37. Apesar dessas deficiências verificadas na sistemática detalhada acima, vê-se que a
estrutura de planejamento e gestão do Núcleo Central do IEL é mais evoluída do que a dos núcleos
regionais, considerando principalmente as falhas verificadas no extenso rol de deliberações
colacionado pelo MPTCU no processo que deu origem a esta representação (reproduzido no Relatório
constante do Acórdão 7.306/2011- TCU-2ª Câmara), tornando-se recomendável a adoção dessa
sistemática pelas entidades regionais do Sesi e do Senai.
38. Ademais, a inclusão da fonte de receitas na contabilização das respectivas despesas poderá
oferecer as informações faltantes, essenciais à prestação de contas individualizada das contribuições
feitas pelos serviços sociais autônomos, tornando mais transparente a aplicação dos recursos
repassados.
39. Por isso, entendo oportuno encaminhar a determinação proposta pela unidade técnica aos
departamentos regionais do Sesi e do Senai, a fim de que observem as resoluções dos respectivos
conselhos nacionais em relação aos repasses a serem feitos aos núcleos regionais do IEL.
II
42. No tocante às contribuições regulares feitas pelo Sesi e pelo Senai às federações sindicais e
à CNI, noto, contudo, que a unidade instrutiva não enfrentou a maté ria, se limitando a citar o Acórdão
2.306/2010-Plenário, em que este Tribunal considerou regulares tais repasses, no caso concreto, em
razão da previsão contida no art. 34, alínea “q”, do Regimento Interno do Senai, aprovado pelo
Decreto nº 494, de 10 de janeiro de 1962, com redação dada pelo Decreto nº 6.635, de 5 de novembro
de 2008, que aduz:
“Art. 34. Compete a cada Conselho Regional:
(...) q) autorizar a concessão de contribuições à federação de industriais de sua base
territorial até o limite de um por cento da receita regional”.
43. Com base nessa única decisão, a instrução da então 5ª Secex concluiu no sentido de que,
“desde que não existam problemas relativos à demonstração da efetiva entrada dos recursos nos
cofres das entidades beneficiadas, nem à comprovação documental da boa e regular aplicação dos
valores recebidos em despesas estritamente vinculadas às finalidades institucionais do ente
transferidor, não haveria óbice aos repasses às federações”.
44. Ocorre que tal previsão regulamentar diz respeito apenas a contribuições periódicas do
Senai regional para custeio de despesas da respectiva federação sindical da indústria na sua base
territorial, em razão de o serviço social autônomo se vincular ao sistema sindical liderado pela
federação sindical da indústria da respectiva unidade da federação.
45. A despeito disso, nota-se que outras decisões constantes da jurisprudência desta Casa têm
dado às transferências feitas às federações sindicais tratamento similar aos repasses feitos ao IEL,
consoante os arestos já mencionados no item 6 destas razões de decidir.
46. Ademais, a regra estipulada no Regimento Interno do Senai não se encontra reproduzida no
Regulamento do Sesi, aprovado pelo Decreto nº 57.375, de 2 de dezembro de 1965, e alterado pelo
Decreto nº 6.637, de 5 de novembro de 2008, o qual parece prever, ao contrário, que a consecução de
objetivos de interesse recíproco do Sesi com a federação sindical da indústria dependeria da celebração
de convênio ou acordo específico para essa finalidade, quando prescreve:
“Art. 24. Compete ao Conselho Nacional:
(...) o) autorizar convênios e acordos com a Confederação Nacional da Indústria, visando
às finalidades institucionais, ou aos interesses recíprocos das duas entidades;
(...) Art. 39. Compete a cada conselho regional:
(...) o) autorizar convênios e acordos com a respectiva federação, visando aos objetivos
institucionais, ou aos interesses recíprocos das entidades, na área territorial comum;
(...) Art.45. Compete ao diretor de cada departamento:
(...) q) propor convênios e acordos com a federação de indústria local, visando aos
objetivos institucionais e aos interesses recíprocos das entidades, na área territorial comum”.
47. Assim, mostra-se necessário aprofundar a análise especificamente sobre os repasses feitos
às federações sindicais da indústria, tanto pelo Sesi quanto pelo Senai, oportunizando-se a
manifestação dos interessados, em especial, dos conselhos nacionais do Sesi e do Senai e da CNI, os
quais não foram ouvidos nestes autos especificamente sobre tais repasses.
48. Para tanto, entendo que essa análise pode ser mais bem feita em processo apartado, a fim
de que sejam confrontados os fundamentos colacionados nas diversas deliberações do Tribunal, no
sentido, por exemplo, de se exigir a prévia formalização por meio de convênio com os argumentos de
fato e de direito atinentes a esses repasses e que foram carreados à representação feita pelo MPTCU e
aos pareceres jurídicos acostados aos autos.
III
49. De mais a mais, considerando a abrangência das determinações propostas em relação aos
repasses das entidades do Sistema S para o IEL, entendo pertinente determinar à Secretaria-Geral de
Controle Externo do TCU (Segecex) que oriente a Secretaria de Controle Externo da Previdência, do
Trabalho e da Assistência Social (SecexPrevi) e as Secex regionais para verificarem o cumprimento
das determinações encaminhadas no presente Acórdão quando da realização de fiscalizações e/ou
análises dos processos de contas anuais das entidades do Sesi e do Sena i da respectiva clientela.
50. Enfim, entendo necessário dar conhecimento da presente deliberação aos conselhos e
departamentos nacionais e regionais do Sesi e do Senai, bem como à Controladoria-Geral da União
(CGU) e ao Núcleo Central do IEL, bem como ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS) e ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), como órgãos encarregados da supervisão
ministerial do Sesi e do Senai, respectivamente.
Ante o exposto, manifesto- me por que seja adotado o Acórdão que ora submeto a este
Colegiado.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em tagDataSessao.
1. Processo nº TC 032.475/2011-0.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII – Representação.
3. Interessado: Tribunal de Contas da União.
4. Entidades: Departamento Nacional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai/DN e
Departamento Nacional do Serviço Social da Indústria – Sesi/DN.
5. Relator: Ministro-Substituto André Luís de Carvalho.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: SecexPrevi.
8. Advogado constituído nos autos: Francisco de Paula Filho (OAB/DF 7.530).
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação autuada pela então
5ª Secretaria de Controle Externo (5ª Secex), atualmente sob a responsabilidade da Secretaria de
Controle Externo da Previdência, do Trabalho e da Assistência Social (SecexPrevi), como apartado da
Prestação de Contas de 2007 do Departamento Regional do Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial no Estado do Piauí – Senai/PI (TC 017.342/2008-8), de acordo com a determinação
constante do item 9.4 do Acórdão 7.306/2011-TCU-2ª Câmara;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do
Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da presente representação, uma vez preenchidos os requisitos de
admissibilidade previstos no art. 237, inciso VI, do Regimento Interno do TCU, para, no mérito,
considerá- la parcialmente procedente;
9.2. determinar aos conselhos nacionais do Sesi e do Senai que fiscalizem o cumprimento
das resoluções que disciplinam os repasses ao Instituto Euvaldo Lodi – IEL (Resolução Sesi/CN nº 2 e
Resolução Senai/CN nº 375, ambas de 31 de março de 2009) e orientem todas as entidades do Sistema
S no âmbito da indústria a adotar procedimentos operacionais padronizados de planejamento,
acompanhamento e avaliação desses repasses, tomando como referência a sistemática de governança
corporativa implementada pelos departamentos nacionais;
9.3. determinar aos departamentos nacionais do Sesi e do Senai que promovam a evolução
da sistemática atualmente adotada para os repasses ao Núcleo Central do IEL, no sentido de que sejam
contabilizadas, em cada programa ou projeto de interesse de ente do Sistema S, as fontes de receita
apropriadas às respectivas despesas, de modo a fazer constar das prestações de contas, parciais e
anuais, demonstrativos correlacionando tais contribuições aos programas e projetos previstos no plano
de ação do IEL, de acordo com o que foi previamente aprovado pelos mantenedores;
9.4. determinar aos departamentos regionais do Sesi e do Senai que observem as
disposições contidas nas resoluções que disciplinam os repasses ao IEL (Resolução Sesi/CN nº 2 e
Resolução Senai/CN nº 375, ambas de 31 de março de 2009), em especial, quanto à elaboração do
plano de ação, com a discriminação dos objetivos, metas e fontes de recursos, bem como da
correspondente prestação de contas relativa à aplicação dos valores repassados, de modo a garantir
que os repasses ocorram exclusivamente para atender a objetivos de interesse complementar aos da
entidade do Sistema S, sendo vedado o uso desses recursos para o pagamento de despesas que não
guardem correlação com a missão institucional do repassador;
9.5. determinar à Segecex que oriente a SecexPrevi e as Secex regionais a verificarem o
cumprimento das determinações encaminhadas no presente Acórdão quando da realização de
fiscalizações e/ou análises dos processos de contas anuais das entidades do Sesi e do Senai da
respectiva clientela;
9.6. determinar à SecexPrevi que autue processo apartado por cópia dos presentes autos,
como representação da unidade, a fim de aprofundar a análise sobre os repasses feitos às federações
sindicais da indústria pelo Sesi e pelo Senai, oportuniza ndo a manifestação dos interessados, em
especial, dos conselhos nacionais do Sesi e do Senai e da CNI, e confrontando os fundamentos
colacionados nas diversas deliberações do Tribunal, no sentido, por exemplo, de se exigir a prévia
formalização por meio de convênio, com os argumentos de fato e de direito atinentes a esses repasses e
que foram carreados à representação feita pelo MPTCU e aos pareceres jurídicos acostados aos autos;
9.7. encaminhar cópia deste Acórdão, acompanhado do Relatório e da Proposta de
Deliberação que o fundamenta, aos conselhos e departamentos nacionais e regionais do Sesi e do
Senai, à Controladoria-Geral da União (CGU) e ao Núcleo Central do IEL, bem como ao Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome e ao Ministério do Trabalho e Emprego; e
9.8. arquivar os presentes autos.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
LUCAS ROCHA FURTADO
Procurador-Geral