Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
089/2012-2
RELATÓRIO
5. Os presentes autos tratam dos trabalhos conduzidos pelo subgrupo responsável pela
proposição de parâmetros técnicos mínimos para nortear a elaboração de projetos básicos de
obras públicas a serem licitadas sob a égide da Lei nº 8.666/1993, doravante denominado GT-PB.
6. A metodologia de atuação desse subgrupo, acordada com a Secretaria-Adjunta de
Planejamento e Procedimentos (Adplan), previu duas fases de discussões. A primeira fase, em que
foram realizadas três reuniões, contou com a participação de representantes de órgãos e entidades
da Rede de Controle (TCU, Ministério Público da União, Controladoria-Geral da União,
Departamento de Polícia Federal e Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas – Ibraop).
Como resultado dessa primeira etapa, elaborou-se a proposta de escopo dos trabalhos a ser
desenvolvidos pelo GT-PB, proposta que foi apresentada a representantes do Ministério do
Planejamento, da Associação Brasileira de Consultores de Engenharia e Sindicato Nacional de
Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva.
7. As atas das reuniões realizadas constam da peça 3. Os servidores que assinam o
presente relatório foram designados por meio da Portaria-Segecex 37/2011 (peça 4).
8. Convém registrar que, por ocasião das discussões com os representantes do MPOG,
pôde-se perceber que não há planos, por parte do Poder Executivo, de expedir regulamento acerca
do conteúdo técnico mínimo de projetos básicos para nortear as contratações de obras pela
Administração Pública, tomando por base o trabalho do GT-PB. A proposta por eles apresentada
foi no sentido de que o resultado dos trabalhos desenvolvidos pelo grupo seja consubstanciado em
relatório, e que cada instituição partícipe do GT-PB utilize os conceitos assim uniformizados
segundo suas necessidades.
9. Neste ínterim, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) iniciou processo
para edição de norma sobre a elaboração de orçamentos de obras1. O anteprojeto da norma (peça
5), elaborado pelo Instituto de Engenharia de São Paulo, apresenta o conteúdo mínimo de projetos
básicos de diferentes tipos de obras. Ante a relevância do futuro normativo para a Administração
Pública, uma vez que a Lei Federal nº 4.150/1962 (peça 6) estabelece que as normas da ABNT
devem ser observadas em seus contratos administrativos de obras e compras, foram designados
técnicos das Secretarias de Fiscalização de Obras do Tribunal para participar dessas reuniões.
10. Diante desse cenário, as atividades do GT-PB foram suspensas por determinação do
Presidente do TCU, Ministro Benjamin Zymler, com a anuência do Min. Augusto Sherman, em
comunicado feito ao Plenário em 23/11/2011 (peça 7).
CONSIDERAÇÕES
11. Como enfatizou o Min. Augusto Sherman em seu comunicado, há tempo o TCU vem se
deparando, em suas auditorias, com problemas advindos da falta de planejamento adequado das
obras. As obras são contratadas com projetos não definitivos, deficientes e precários para a
adequada estimativa do seu custo, dificultando o cumprimento de prazos e a manutenção do custo
inicial licitado para esses empreendimentos, dadas as sucessivas modificações durante a fase
construtiva. A recorrência dos problemas evidencia a necessidade de que sejam estabelecidos
parâmetros técnicos mais precisos acerca dos elementos mínimos que devem compor esses
projetos, em adição aos caracteres mais gerais previstos na Lei de Licitações.
12. Assim, forçoso concluir que, enquanto a ABNT não normatizar o tema – ou outra
entidade editar normativo similar, com efeito cogente sobre as contratações de obras pela
Administração Pública –, a tendência é que persistam os problemas relacionados à execução de
obras públicas com projetos inadequados, que não atendem ao disposto no art. 6º da Lei
1
Comissão de Estudo Especial de Elaboração de Orçamentos e Formação de Preços de Empreendimentos de Infraestrutura (ABNT/CEE-162).
2
nº 8.666/1993, seja por deficiência de concepção, seja por insuficiência dos dados e informações
necessárias para a elaboração desses projetos e seus orçamentos.
13. Por outro lado, há que se ponderar que as entidades responsáveis pelo controle da
Administração Pública, se não detêm competência para emitir regulamentos sobre matéria alheia a
suas atribuições (como é o caso do tema em discussão), podem sinalizar a seus jurisdicionados as
melhores práticas a serem seguidas na condução da coisa pública.
14. Nesse contexto, considera-se pertinente destacar a existência de orientação técnica
editada pelo Ibraop – OT IBR 01/2006, que uniformiza o conceito de projeto básico da Lei
nº 8.666/1993, de acordo com o entendimento de engenheiros e arquitetos de Tribunais de Contas
do Brasil (peça 8).
15. A referida Orientação Técnica apresenta o conceito de projeto básico de engenharia e
detalha cada um de seus componentes (desenhos; memorial descritivo; especificações técnicas;
orçamento, composto de planilha de custos e serviços e composições de custos unitários de
serviços; cronograma físico-financeiro), tal como se transcreve a seguir.
„4. DEFINIÇÃO DE PROJETO BÁSICO
Projeto Básico é o conjunto de desenhos, memoriais descritivos, especificações técnicas,
orçamento, cronograma e demais elementos técnicos necessários e suficientes à precisa
caracterização da obra a ser executada, atendendo às Normas Técnicas e à legislação vigente,
elaborado com base em estudos anteriores que assegurem a viabilidade e o adequado tratamento
ambiental do empreendimento.
Deve estabelecer com precisão, através de seus elementos constitutivos, todas as
características, dimensões, especificações, e as quantidades de serviços e de materiais, custos e
tempo necessários para execução da obra, de forma a evitar alterações e adequações durante a
elaboração do projeto executivo e realização das obras.
Todos os elementos que compõem o Projeto Básico devem ser elaborados por profissional
legalmente habilitado, sendo indispensável o registro da respectiva Anotação de Responsabilidade
Técnica, identificação do autor e sua assinatura em cada uma das peças gráficas e documentos
produzidos.
5. CONTEÚDO TÉCNICO
Todo Projeto Básico deve apresentar conteúdos suficientes e precisos, tais como os descritos
nos itens 5.1 a 5.5, representados em elementos técnicos de acordo com a natureza, porte e
complexidade da obra de engenharia.
As pranchas de desenho e demais peças deverão possuir identificação contendo:
- Denominação e local da obra;
- Nome da entidade executora;
- Tipo de projeto;
- Data;
- Nome do responsável técnico, número de registro no CREA e sua assinatura.
5.1 Desenho
Representação gráfica do objeto a ser executado, elaborada de modo a permitir sua
visualização em escala adequada, demonstrando formas, dimensões, funcionamento e
especificações, perfeitamente definida em plantas, cortes, elevações, esquemas e detalhes,
obedecendo às normas técnicas pertinentes.
3
2
Acórdãos do Plenário: 1.517/2010 (levantamento de auditoria sobre os riscos a que a Copa do Mundo de Futebol 2014 está sujeito nas áreas de
construção ou reforma de estádios, infraestrutura aeroportuária e mobilidade urbana), 2.965/2010 (auditoria nas obras de complementação e ampliação
do Sistema de Esgotamento Sanitário do município de Cariacica/ES), 2.160/2011, 2.266/2011 e 2.538/2011 (auditorias em obras de edificações em
universidades federais), e acórdãos relativos à Fiscalização de Orientação Centralizada nas obras de construção de Unidades de Atendimento do INSS
(1.819, 1.823, 1.824, 2.145, 2.146, 2.147, 2.148, 2.227, 2.228, 2.229, 2.230, 2.318, 2.319, 2.398, 2.400, 2.401, 2.402, 2.403, 2.405, 2.492, 2.493, 2.596,
2.600, 2.676 e 2.677, todos de 2010).
5
Tribunal deve considerar o que dispõem os normativos próprios, aplicando os conceitos da OT IBR
01/2006 apenas subsidiariamente.
CONCLUSÕES
24. A recorrência dos problemas advindos da licitação e contratação de obras com
projetos não definitivos, deficientes e precários para sua execução integral, evidencia a
necessidade de que sejam estabelecidos parâmetros técnicos mais precisos acerca dos elementos
mínimos que devem compor esses projetos, em adição aos requisitos já previstos na Lei de
Licitações.
25. Por essa razão, foi instituído grupo de trabalho, integrado por representantes deste
Tribunal, do Ministério Público da União, do Departamento de Polícia Federal, da Controladoria-
Geral da União, do Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas e do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, com a atribuição de propor parâmetros técnicos mínimos para
nortear a elaboração de projetos básicos de obras públicas a serem licitadas sob a égide da Lei
nº 8.666/1993.
26. Ocorre que, tendo sido iniciadas discussões com vistas a produzir norma que
possivelmente abrangerá o tema em questão, no âmbito da Associação Brasileira de Normas
Técnicas, as atividades do grupo de trabalho foram suspensas.
27. Nesse sentido, considera-se pertinente destacar que já existe Orientação Técnica,
elaborada pelo Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas, que uniformiza o entendimento
acerca do conceito de projeto básico da Lei nº 8.666/1993 – OT IBR 01/2006. Essa Orientação já é
adotada oficialmente pelo meio técnico e científico, foi encampada, em boa parte, no Roteiro de
Auditoria de Obras Públicas seguido pelo TCU, e tem embasado, desde 2010, diversos acórdãos
desta Corte de Contas.
28. Assim, até que o assunto seja normatizado por entidade competente, considera-se
oportuno que esta Corte de Contas dê ciência a seus jurisdicionados – especialmente àqueles que
não possuem normativos próprios para orientar a elaboração de estudos e projetos básicos de
obras –, de que adota as orientações da OT IBR 01/2006 em suas auditorias de obras públicas, sem
prejuízo de se exigirem elementos técnicos adicionais, em virtude das especificidades de cada obra
auditada.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
29. Ante todo o exposto, submete-se o presente relatório das atividades do Grupo de
Trabalho instituído para estabelecer parâmetros técnicos mínimos de projetos básicos de obras
públicas de engenharia, com a seguinte proposta de encaminhamento:
- determinar à Segecex que dê conhecimento às unidades jurisdicionadas ao Tribunal que as
orientações constantes da OT IBR 01/2006, editada pelo Instituto Brasileiro de Obras Públicas
(Ibraop), passarão a ser observadas por esta Corte, quando da fiscalização de obras públicas, sem
prejuízo de se exigirem elementos técnicos adicionais, em virtude das especificidades de cada obra
auditada”.
É o Relatório.
VOTO
JOSÉ JORGE
Relator
1. Processo nº TC-002.089/2012-2
2. Grupo I; Classe de Assunto: VII - Administrativo
3. Interessado: Tribunal de Contas da União
4. Entidade: não há
5. Relator: Ministro José Jorge
6. Representante do Ministério Público: não atuou
7. Unidade Técnicas: 1ª Secretaria de Fiscalização de Obras/Secob-1
8. Advogado constituído nos autos: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos dos trabalhos conduzidos pelos servidores
designados para participar do Grupo de Trabalho criado para propor parâmetros técnicos mínimos de
projetos básicos de obras públicas, à luz da Lei nº 8.666/1993.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. determinar à Segecex que dê conhecimento às unidades jurisdicionadas ao Tribunal
que as orientações constantes da OT IBR 01/2006, editada pelo Instituto Brasileiro de Auditoria de
Obras Públicas (Ibraop), passarão a ser observadas por esta Corte, quando da fiscalização de obras
públicas;
9.1.1. para os órgãos/entidades que dispõem de normativos próprios para regular a
elaboração de projetos básicos das obras por eles licitadas e contratadas, os conceitos da referida
norma serão aplicados subsidiariamente;
9.1.2. a adoção da OT IBR 01/2006 não dispensa os gestores de providenciar os elementos
técnicos adicionais, decorrentes das especificidades de cada obra auditada;
9.2. determinar à Segecex que, nas fiscalizações de futuras licitações de obras públicas,
passe a avaliar a compatibilidade, do projeto básico com a OT IBR 01/2006 e, na hipótese de
inconformidades relevantes, represente ao relator com proposta de providências;
9.3. arquivar o presente processo.
(Assinado Eletronicamente)
LUCAS ROCHA FURTADO
Procurador-Geral
1