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Desde quando governos começaram a banir

e regulamentar diferentes áreas da economia, o


mercado negro permite que as pessoas ainda
tenham acesso aos produtos que elas precisam.
Governos desestabilizados sempre viram-se
contra seus próprios cidadãos usando controle de
preços, impostos altos e até mesmo a ameaça de
prisão para sustentar seus sistemas falidos.
Quando as condições inevitavelmente se
deterioram, como foram na Venezuela e Grécia, a
economia underground torna-se indispensável
para aqueles que vivem a crise.
O mercado negro refere-se a mais do que
apenas uma troca de produtos ilegais.
Um mercado cinza, por exemplo, fornece
produtos legais que acabaram ficando difíceis de
achar. Desde coisas básicas, como papel
higiênico, medicamentos, e até comida
desapareceram das prateleiras das lojas na
Venezuela, a rede peer-to-peer (P2P, de ponto a
ponto ou de pessoa para pessoa) tem se tornado o
único meio confiável para suprir as necessidades
básicas da vida. Em situações desesperadas como
esta, a existência de comerciantes independentes
podem significar uma boa diferença entre a vida e
a morte.
Até mesmo o valor da moeda venezuelana
começou a sair do controle do governo. Em um
ponto, a cotação oficial foi fraudulentamente
estabelecida em 10 bolívares por dólar, enquanto
no mercado negro estava sendo comercializado a
1000 bolívares por dólar. Esta ação atingiu
milhões suprimindo salários sobre o país e
acabando com qualquer confiança que restava. A
inflação se tornou rapidamente a maior ameaça
iminente para o povo venezuelano, roubando o
valor de seus trabalhos e poupanças. Por anos, o
Bolívar esteve em hiperinflação, aumentando o
custo de vida quase exponencialmente.
A resposta desesperada do estado foi
instituir um controle de preços, o que só levou a
uma escassez completa. Com sorte, os mercados
informais não regulados foram capazes de
determinar o verdadeiro valor dos produtos e
fornecer o apoio vital para as comunidades em
dificuldade. Muitas pessoas acham que um
aumento de preços espontâneo é antiético, mas
não é melhor comprar algo que você precisa pelo
dobro do preço do que não ser possível comprá-
lo de forma alguma?
A Grécia está passando por uma
transformação dela mesma — mas em resposta a
um conjunto muito diferente de circunstâncias.
O povo grego tem tolerado uma série de aumento
de impostos e cortes de pensões trabalhistas ao
longo dos últimos anos para financiar as dívidas à
União Européia. Estas medidas severas criaram
uma situação drástica para aqueles que tentam
garantir sua independência financeira. O
resultado foi uma evasão fiscal, o qual ajudou a
crescer a economia informal grega para cerca
de 25% do PIB do país.

Surpreendentemente, não é só o pobre que


utiliza o “mercado negro” na Grécia, mas também
a classe profissional. Os que ganham grandes
quantidades de dinheiro estão sujeito a impostos
extremamente altos, assim, levando muitos
donos de negócios e empresários a procurar
melhores oportunidades no exterior ou tomar
medidas para ocultar suas rendas.
Perseguindo os membros mais bem
sucedidos da sociedade e não permitindo que ele
fiquem com o que eles ganham, autoridades estão
apenas encorajando o desrespeito da lei. Sem o
mercado cinza na Grécia, muito mais
trabalhadores profissionais já teriam deixado o
país.
A escassez é mais do que apenas uma
suposição; é uma dura realidade em que pessoas
nascem nas nações em desenvolvimento
raramente vêem em primeira mão. Mas sempre
que um governo falido toma o controle de seus
cidadãos e da economia, o fim sempre resulta em
despotismo. A consolidação do poder na mãos de
poucos é racionalizada durante tempos caóticos
mas, no fim das contas, colocam os direitos de
todos os cidadãos em risco.
Só ano passado, a polícia venezuelana
realizou ataques que mataram 245 pessoas. Não
houveram prestação de contas se os tiros foram
justificados, mas relatórios afirmam que muitas
das vítimas não representavam nenhum tipo de
ameaça e algumas até foram mortas mesmo
depois de terem sido detidas. Tais repressões
violentas são o resultado inevitável de governos
tentando manter o controle em meio ao caos de
sistemas econômicos quebrados.
Em 2011, Robert Neuwirth escreveu um
relatório para a Foreign Policy que destacava a
importância desse mercado global sem impostos,
sem licença e sem regulação. Ele o chamou de
“Sistema D”.
“Eles falam que os comerciantes criadores,
empreendedores e de iniciativa própria que estão
fazendo negócios por conta própria, sem registrar
ou serem regulados pela burocracia e sem pagar
impostos, fazem parte da ‘l’economie de la
débrouillardise’ ou, para o uso informal, ‘sistema
D’. Isto se traduz essencialmente como a
economia da engenhosidade, a economia da
improvisação e da auto-suficiência, a economia do
‘faça-você-mesmo’.”
O estado-babá tem feito um excelente
trabalho atacando qualquer coisa fora da
jurisdição do governo, mas a falta de
regulação é o que permite maiores
crescimentos e produtividades mais rápidas.
Legisladores superestimam notoriamente
suas influências em milhões de pessoas que
eles tentam governar, porém, ultimamente,
decisões feitas por indivíduos possuem o
maior impacto. Pessoas que dependem de
suas próprias habilidades e reputação, em
vez de um selo burocrático de aprovação, são
rotulados de criminosos, mas eles são os
que fornecem o valor real para a sociedade
em muitos casos.
Os comerciantes destes
mercados alternativos são frequentemente
associados com perigo e violência, mas na
realidade, eles fornecem a mais pura forma
de troca voluntária. Aspectos negativos,
como crime organizado, são apenas possíveis
por causa dos lucros criados devido
à proibição. Sem o estado coagir o povo
a mãos armadas, não existiriam incentivos
para pessoas procurarem serviços dessas
organizações criminosas.
Esses mercados livres são, todavia,
fortalecidos com a circulação de ativos, como
dinheiro, Bitcoin, e metais preciosos. O
anonimato combinado com a tecnologia está
empoderando as pessoas de um jeito nunca
imaginável. A adoção de criptomoedas está
trazendo o “mercado negro” para a era digital e
expandindo seu alcance no mundo todo. Esse
novo sistema econômico representa uma ameaça
muito real às atuais estruturas políticas e
financeiras.
Contudo, inovadores neste ambiente
precisam tomar cuidado. Depois da Silk Road ter
sido derrubada, implicações legais tornaram-se
mais visíveis. O mais famoso, co-fundador da Silk
Road, Ross Ulbritch, foi sentenciado à prisão
perpétua e condenado especificamente por
desafiar o sistema existente.
O crescente progresso em direção à
descentralização que ele tentou incentivar está
em um curso de colisão direta com os bancos
centrais e suas guerras pelo controle do dinheiro.
Como a fé do povo no dinheiro estatal continua a
diminuir, existirão muitas outras oportunidades
para mostrar os benefícios que surgem das redes
P2P sobre o planejamento central. Aqueles que
reconhecem a extorsão inerente do sistema
estatal tem de liderar pelo exemplo e educar os
outros, independentemente de quais táticas de
intimidação são implantadas contra eles.

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