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NOTA DE AULA

DAVID, Harvey. O enigma do capital: e as crises do capitalismo. São Paulo:


Boitempo, 2011.
CAPÍTULO I – A CRISE
A partir de 2008 a crise imobiliária explodiu sobre o mundo, entretanto, desde
finais da década de 1990, ela vinha dando sinais, mas como afetava principalmente
pessoas pretas e pobres, não lhe foi dada a devida atenção.
As pessoas se endividaram tanto com os valores pagos nos seus financiamentos,
que o custo foi o despejo de mais de 2 milhões de pessoas nos EUA no ano de 2007,
deixando ainda outros 4 milhões sobre aviso.
“As perdas dos que estão na base da pirâmide social quase se igualaram aos
extraordinários ganhos dos financistas na parte superior”. (p. 9).
O endividamento da população impossibilitou a abertura de crédito pelos
bancos, o que colocou o mercado imobiliário e o bancário a barras seus empréstimos,
alargando a crise: “Todo mundo tinha agido como se os preços dos imóveis pudessem
subir para sempre”. (p. 9).
“Os mercados de ações se desintegraram na medida em que especialmente as
ações de bancos tornaram-se quase inúteis; fundos de pensão racharam sob a tensão;
orçamentos municipais encolheram; e espalhou-se o pânico em todo o sistema
financeiro”. (p. 11)
Em 2009 a crise alcançou o nível global, prejudicando todos os setores dos
mercados nacionais e internacional. Estabelecendo o aumento relâmpago da taxa de
desemprego, nunca antes vista.
A saída ou permanência da crise depende muito da posição das classes sociais.
Nos EUA, desde a década de 1970 que os trabalhadores sofrem com a repressão salarial,
sem qualquer parte nos lucros da produção crescentes.
A década de 1960 foi propícia para a acumulação, entretanto, havia escassez de
trabalho nos grandes centros capitalistas mundiais, o que levou a duas saídas: a
imigração de mão de obra e o avanço tecnológico (como a robotização) que permitiam
se desvincular um pouco da dependência total da mão de obra humana.
“Nos EUA, o desemprego subiu, em nome do controle da inflação, para mais de
10% em 1982. Resultado: os salários estagnaram. Isso foi acompanhado nos EUA por
uma política de criminalização e encarceramento dos pobres, que colocou mais de 2
milhões atrás das grades até 2000”. (p. 20).
A demanda pelo trabalho excedente captou as mulheres em escala global,
feminizando a mão de obra do proletariado, e feminizando a pobreza também.
A globalização, tanto da mão de obra quanto do comércio, se tornou irrefreável a
partir da década de 1990.
“A disponibilidade do trabalho não é mais um problema para o capital [...]. Mas
o trabalho desempoderado significa baixos salários, e os trabalhadores pobres não
constituem um mercado vibrante”. (p. 21).
A partir da década de 1980, o capital passou a lucrar muito mais com ações e
rendas “invisíveis” do que com a produção de coisas, consequentemente, este último
diminuiu, reduzindo com ele, a necessidade de mão de obra.
Dívida é o valor futuro de bens e serviços.
Caminhamos para uma acumulação tão absurda de capital que logo não haverá
onde ser dispendido.
Os EUA estão a meio caminho de perder a sua hegemonia econômica diante do
mundo: “O mundo será multipolar e menos centralizado, e a importância de atores não
estatais (de organizações terroristas a ONGs) aumentará”. (p. 36)
Embora os EUA ainda detenham uma parcela significativamente grande de
capital excedente, e por isso, possua forte influência sobre economias menores, eles se
encontram em uma posição muito diferente da que estiveram em 1970.
“Pequenas aldeias chinesas como Shenzhen e Dongguan, perto de Hong Kong,
tornaram-se cidades multimilionárias e potências de produção do dia para a noite”. (p.
37).
CAPÍTULO II – O CAPITAL REUNIDO
O capital não é uma coisa, ele é um processo em que permanece em constante
movimento de enviar dinheiro em busca de mais dinheiro (D’ – D).
Os capitalistas possuem naturezas muito diferentes, dependendo da forma como
obtém sua acumulação, até mesmo o Estado pode atuar como um capitalista, quando
utiliza de receitas fiscais para investir em superestruturas que gerem mais crescimento, e
consequentemente, mais receitas fiscais.
O processo de acumulação é feito a partir da combinação dos meios de produção
com a força de trabalho, que juntos produzem mercadorias, vendida no mercado e
resultando em lucro. Os ganhos são convertidos em capital novo e o processo recomeça
em escala ampliada. Infinitamente.
“Ao longo da história do capitalismo tem havido uma tendência para a redução
geral das barreiras espaciais e a aceleração. As configurações do espaço e do tempo da
vida social são periodicamente revolucionadas. [...] O movimento torna-se ainda mais
rápido e as relações no espaço cada vez mais estreitas”. (p. 42)
Os capitalistas precisam estar com constante movimento de investimento e
reinvestimento para continuarem atuando no mercado, e logo, continuarem sendo
capitalistas. Por outro lado, o dinheiro é uma forma não quantificável de poder social.
“Será que George W. Bush abraçou princípios de tributação que favoreceram
imensa- mente os ricos só porque gostava deles ou porque necessitava de seu apoio à
reeleição? ” (p. 44).
Existem limites para os locais onde podem ser reinvestidos?
Existem seis barreiras potenciais ao processo de acumulação:
1. Dinheiro (capital inicial) insuficiente;
2. Escassez de mão de obra, ou dificuldades políticas com ela;
3. Meios de produção inadequados, “limites naturais”;
4. Tecnologias e formas organizacionais inadequadas;
5. Resistências ou ineficiências no processo de trabalho;
6. Falta de demanda no mercado.
“Um bloqueio em qualquer um desses pontos interrompe a continuidade do
fluxo de capital e, se prolongado, acaba produzindo uma crise de desvalorização”. (p.
46).
Os capitalistas precisaram descobrir meios de fazer a economia girar para gerar a
acumulação, pois só manter entre si os valores (o ouro), não rendia o retorno necessário
para o reinvestimento, daí a insuficiência do dinheiro.
“Em geral “especulação” se refere a uma situação em que um excesso de capital
é apli- cado em atividades nas quais os retornos são potencialmente negativos, mas que
a euforia do mercado permite disfarçar”. (p. 50).
“O crédito é muito protestante, observou Marx – repousa puramente sobre fé”.
(p. 50).

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