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Aula – 26/04/12

DAVID HARVEY

A acumulaçã o flexível se consolidou no mundo inteiro, entã o atualmente nã o se


fala mais em transiçã o. Ele apresenta as características do “capitalismo
desorganizado”, que nã o existe hoje em dia, mas as características sã o as
mesmas. Reduçã o considerá vel do numero de trabalhadores industriais, mas há
aumento dos trabalhadores assalariados de colarinho branco.

Há autores que afirmam que quanto maior a globalizaçã o cultural, há uma


tendência em reforçar a identidade nacional (solapamento das identidades
nacionais é uma figura muito forte, as tradiçõ es sã o mantidas, de uma forma
geral). A integraçã o vertical é muito mais uma integraçã o horizontal. Equipes
multifuncionais, aonde todos os trabalhadores podem realizar diferentes tarefas,
com diferentes graus de dificuldade; reduçã o dos níveis hierá rquicos (integraçã o
horizontal); trabalhadores essenciais (essenciais pelo diferencial que possuem).

Parece haver uma polarizaçã o dos diferenciais  há um grupo fechado de


diferenciados e todo o resto continua encontrando emprego sem diferenciais ou
qualificaçã o, porque existem serviços para os quais nã o se exige essa
qualificaçã o.

Trabalhadores flexíveis, adaptá veis e geograficamente mó veis (grupo central) 


(adaptá veis) os trabalhadores devem se adaptar rapidamente as novas condiçõ es
que mudam continuadamente (nã o apenas tecnoló gicas e organizacionais, mas
sim mundiais, culturais, políticas, econô micas); flexíveis (inclusive ser
geograficamente mó vel  inclui a capacidade de comunicaçã o) culturalmente
(estou diante de outras condiçõ es e preciso me adaptar a essas condiçõ es). Há
uma terceirizaçã o de muitas “ex” atividades gerenciais.

Aula 10/05/12

Mã o de obra global: requer reflexã o, pois temos populaçõ es que migram muito,
há uma grande mobilidade geográ fica dos povos que vivem em regiõ es mais
pobres ou subdesenvolvidos ou, ainda, que tem conflitos políticos internos. Nã o
existe mã o de obra global; a forca de trabalho global corresponde a um numero
bastante pequeno, se considerarmos o numero de pessoas que emigram; os mais
qualificados, flexível, adaptá vel e geograficamente mó vel (sã o os que constituem
trabalhadores essenciais para as empresas  técnicos de níveis superiores,
essenciais para as empresas e que circulam pelo mundo e que fazem parte
daquilo que se chama de forca de trabalho global. No BR nã o há essa força de
trabalho, porque as pessoas falam apenas o português, a grande maioria nã o fala
inglês e os países que pode migrar nã o apresentam ascensã o social. A maioria
dos brasileiros sã o analfabetos funcionais; um numero muito pequeno de
brasileiros, que se formaram nas melhores escolas e faculdades, que vã o se
tornar os trabalhadores para assumir os cargos mais importantes globais. Nã o
existe força de trabalho internacional.
Há uma elite profissional no Brasil e é ela que viaja pelo mundo. O CAPITAL é
global, a FORÇA DE TRABALHO nã o; ela é LOCAL. Toda vez que há terceirizaçã o
do trabalho internacional, desmonta essa força de trabalho local. O capitalismo
desfaz uma série de cargos e profissõ es e, em grande parte, recria outros; no
entanto, a globalizaçã o gerou diversos empregos de baixa qualificaçã o e permitiu
o nível de renda de milhõ es de pessoas; ao mesmo tempo, ela gerou muito
sofrimento porque DESTRUTURA OS MERCADOS LOCAIS DE TRABALHO. Ela
melhora o mercado de vá rias partes do mundo, mas cada vez que uma empresa
terceiriza internacionalmente sua produçã o, ela desestrutura a empresa local.
Vale ressaltar que alguns dos cargos destruídos pela globalizaçã o NÃ O se refaz.

Sustentar os imigrantes que sã o desqualificados é muito caro: sua produçã o é


muito pequena (sã o pouco produtivos), nã o gera impostos relevantes e
“estufam” o sistema de serviços sociais, como saú de, educaçã o e assistência
judiciá ria (que é gratuita). Por serem desqualificados, também há um grande
desperdício. Há um incentivo para que haja tratados de cooperaçã o, reforçar
blocos econô micos, fechar acordos bilaterais e o Estado investindo na educaçã o
para que esses imigrantes tenham um pouco mais de instruçã o.

Questã o crucial: a valorizaçã o do real dificulta a introduçã o dos manufaturados


no mercado internacional. As décadas perdidas, na América Latina e sobretudo
no Brasil, foram resultado da crise de 1968, que se agravou em 1973, somado ao
governo militar (que emprestava dinheiro de muitos países do mundo e tinham
mau investimento desse dinheiro). As décadas perdidas sã o 1980 e 1990, que
gerou inflaçã o, desemprego e alta dívida externa. A invençã o do “financeiro”
levou à crise de 2008, a crise dos “derivativos”. As industrias que produzem bens
nã o desapareceram, mas grande parte das pessoas que trabalhavam nessas
empresas perderam seus empregos (as vagas cessaram) e deslocaram essa
populaçã o para novos tipos de atividades, sobretudo ligados à internet e
serviços.

p. 197  Como se forma esse juízo? Eu invisto o dinheiro em bois, por exemplo.
Eu vou investir meu dinheiro especulando que a arroba do boi vai custar 110
reais (custava 100 originalmente); por acaso, tem o problema da vaca louca, por
exemplo. Ninguém mais comprará a carne e, dessa forma, eu vou perder meu
dinheiro das açõ es que foram investidos primeiramente. Tem que ter um
conhecimento fantá stico do mercado, do governo dos países, uma forte intuiçã o e
a capacidade de arriscar seu dinheiro.

Taxa CELIC: a taxa alta atrai capitais (e muitos capitais sã o produtivos, que vem
para ficar; a maioria é especulativo, em busca de altas taxas) e controle da
inflaçã o (aumenta a taxa para impedir a alta da inflaçã o, se a taxa diminui, quem
vive na situaçã o de demanda reprimida, as pessoas procuram consumir mais;
diminuir a taxa de juros e aumento de crédito estimula o consumo desenfreado,
que causa inflaçã o). No Plano Real, tinha uma flutuaçã o da moeda dentre valores
estabelecidos (atualmente, o cambio é livre); se a minha moeda é muito
valorizada, tenho um superá vit primá rio, minha moeda tem lastro  com a
minha tecnologia rudimentar e atrasada, nã o vendo no exterior, apenas na China.
Se a China diminuir seus investimentos drasticamente, ela comprará menos
commodities do Brasil  Entã o, a Dilma (em um país que tem dificuldade para
vender para a Europa, EUA, os juros continuam alto e entram mais dó lares,
valorizando a moeda e dificultando ainda mais a exportaçã o) diminui a taxa
CELIC (significa que o Banco Central nã o é independente, o governo “comanda”
essa taxa); diminui os juros bancá rios; está apostando no crescimento do
consumo interno e do crescimento econô mico com base no consumo interno
(mas que pode elevar a inflaçã o e, assim, todos os ganhos acabam se perdendo).
De qualquer forma, no Brasil há um crescimento do mercado interno (nenhum
país do mundo desenvolvido cresceu dessa forma sem antes priorizar o seu
mercado interno; para isso, tem que ter uma indú stria que seja capaz de suprir o
mercado interno e conseguir impedir que a importaçã o da China domine o
mercado, já que seus produtos sã o bem mais baratos).

Turismo nã o é fator de desenvolvimento, é atividade secundá ria. Os países mais


visitados do mundo sã o também os mais pobres (Portugal, Espanha, Grécia,
Egito). Existem países que deixaram de ser essencialmente industriais para se
tornaram países de serviços (EUA, Reino Unido e Canadá ); Reino Unido 
prestadores de serviços financeiros; EUA  informacionais e serviços
financeiros; Canadá  serviços financeiros. Dentro do G7, apenas a Alemanha e o
Japã o tem ainda a indú stria como base forte. O PIB brasileiro é composto de 60%
de serviços e 40% de indú stria e agronegó cio. Na Inglaterra, por exemplo, nã o
quer dizer que as indú strias desaparecem, mas sim que a situaçã o favoreceu a
criaçã o dos serviços como base maior da economia; as industrias ainda existem.
Ou o Brasil deixa de ser dependente da exportaçã o de commodities para
produzir conhecimento e tecnologia ou bens industriais fortes para a exportaçã o,
senã o haverá crise novamente. Ninguém vive de turismo; ou se vende
conhecimento ou se vende indú stria.

Por que as açõ es tem o preço que tem? Elas nã o sã o valorizadas como
mercadorias; ele é determinado fundamentalmente pela especulaçã o. Claro que
há um estudo sobre o que a empresa produz, sua lucratividade e seu ramo
econô mico, mas é fundamentalmente especulaçã o. A questã o nã o é só saber a
saú de da empresa, há uma especulaçã o sobre a procura ou nã o do produto por
ela fabricado. É volá til, nunca se sabe o real valor; só pessoas muito profissionais
conseguem ganhar o dinheiro na bolsa.

Sociedade informacional-global (sociedade global); sociedade em rede;


sociedade pó s-moderna; sociedade pó s-industrial. Sã o vá rias denominaçõ es, mas
Castels nã o aceita o termo “sociedade pó s-industrial” porque ainda se precisa da
produçã o de coisas, nã o é um mundo pó s-industrial, as coisas continuam sendo
produzidas pela indú stria (sem contar o campo, no qual também produzimos).
Pode haver uma ênfase na prestaçã o de serviços de algumas sociedades (EUA,
Reino Unido, Canadá ), mas há , sem dú vida, a indú stria (existem sociedades que
ainda priorizam o processo industrial de trabalho)  todas as sociedades
continuam precisando do processo industrial de trabalho. O que muda é a forma
de organizar esse processo industrial  agora é (atividade produtiva)
informacional.

Aula 24/05/12
No BR há uma industrializaçã o considerá vel no campo (um país que desenvolveu
muito a tecnologia no campo)  faz com que diminua a populaçã o rural. O
emprego industrial tende a diminuir consideravelmente (os postos que
desaparecem nessa modernizaçã o, nã o serã o repostos no futuro, pelo menos nã o
a grande maioria  na destruiçã o criativa, os postos de trabalhos nã o sã o
gerados na mesma quantidade em que sã o destruídos). Novos serviços sã o
gerados sempre (exemplo bem ilustrativo: o serviço de seguro; aqui, geralmente
sã o carros, vida e casa, porque no BR nã o há capacidade de fazer seguro de
navios, por exemplo)  seguradoras, bancos, concessioná rias, hotéis,
restaurantes, oficinas mecâ nicas, etc. É uma cadeia considerá vel de prestaçã o de
serviços e essa preocupaçã o é facilmente entendida: as industrias que passam
por reestruturaçã o produtiva acabam demitindo seus empregados e essas
pessoas vã o ser absorvidas pelo setor de serviços, que geralmente está em
crescimento  toda vez que um carro sai da concessionaria, ele necessita de
serviços, que vai movimentar esse mercado e gerar empregos. Nó s (BR) nã o
somos uma economia de serviços (como EUA, Inglaterra e Canadá  neles é mais
difícil a geraçã o de empregos). O modelo de produz industrial continua sendo
Japã o e Alemanha; o BR continua sendo o agronegó cio, commodities e o setor
industrial (em algumas regiõ es de SP e RJ, há predominâ ncia de serviços).
Acompanhar dos anos 2000 até agora o que aconteceu no emprego: até
2009/2010 as taxas de desemprego eram enormes; elas diminuíram, mas a
tendências é de haver nova taxa alta de desemprego (vendo as taxas do governo,
há uma tendência a um menor crescimento da economia e, portanto, menor
geraçã o de empregos); mas também houve uma reduçã o do emprego informal,
porque houve aumento da fiscalizaçã o e, com isso, a maioria das pessoas se
legalizou  há formalizaçã o do trabalho. É preciso saber quantos trabalhavam
no ano 2000 no emprego informal, quantos trabalham agora (grande numero de
empresas que saíram da informalidade), quais os setores que mais crescem no
BR, a reduçã o do numero de trabalhadores no campo, a reduçã o de
trabalhadores na empresa. A crise fecha mais postos de trabalho que a
modernizaçã o das empresas. A populaçã o que tinha emprego no campo perdeu
isso, mas vá rias cidades do interior de SP, por exemplo, se tornaram polos
tecnoló gicos, que absorveram essas pessoas  há uma industrializaçã o dessas
cidades.

O Modelo de Competência

Qualificaçã o profissional é um conceito que cai em desuso pois sempre significou


o conjunto de habilidades manuais e conhecimentos (habilidades mentais)
ditados pelo posto de trabalho e exigidos pelo trabalhador. Quem ditava a
qualificaçã o profissional era o posto de trabalho; em alguns setores isso ainda
existe mas a tendência, a partir do momento em que a ênfase da reestruturaçã o
produtiva nã o recai mais sobre o posto de trabalho, mas sim sobre o processo de
trabalho; a partir de quando a reestruturaçã o divide o processo de trabalho em
etapas, realizadas por equipes de trabalhadores multi, abandona-se esse termo
para usar o conceito de competência.
Trabalhadores competentes nã o necessariamente sã o trabalhadores
profissionais no sentido antigos (ter um oficio, conhecer o processo de trabalho,
etc)  hoje o trabalhador pode ser altamente competente sem ter uma profissã o
que possa definir com clareza (exemplo: altamente competente na indú stria de
calcados sem ser sapateiro, mas ele detém as competências necessá rias para a
indú stria de calçados).
Estã o sendo negadas as teses que se desenvolveram a partir dos anos
1950 sobre a desqualificaçã o da maioria dos trabalhadores, pró prias de quem
estava voltado para a analise do taylorismo e fordismo. Aumento da polarizaçã o
entre trabalhadores qualificados e desqualificados. Vá rios autores, a partir de
1980, demonstraram que essa tese caia por terra, sobretudo nas industrias de
automaçã o rígida, em que o trabalhador deveria ter uma capacidade para
interpretas sinais emitidos pela maquina, deveria ter capacidade para reagir de
maneira correta a esses sinais (o que Benjamin entendia como a plasticidade
mental  reagir rapidamente aos diferentes sinais da má quina). Variedade
enorme de possibilidades e por isso, precisa-se rapidamente ter a capacidade de
tomar a decisã o correta (segundo Davis: flexibilidade, responsabilidade, nã o
podem depender da hierarquia dos superiores, devem ser autorizados a efetuar
as tarefas necessá rias sob sua pró pria iniciativa). Já nos anos 1980, percebia que
essa tese a tendência de desqualificaçã o continuada da pessoa caia por terra (a
autonomia rígida e flexível exigiam trabalhadores muito qualificados, que
passaram a ser competentes).

Qualificaçõ es tá citas (demonstrar que qualquer tarefa, mesmo nos empregos


considerados nã o qualificados, se realiza a partir de um saber). Totalmente
desqualificado nenhum trabalho é, nem da lavadeira, do trabalho doméstico,
porque algum saber é necessá rio para se realizar tarefas, mesmo manuais e mais
simples. Surge outra tese de que as empresas estã o certas em exigir dos
trabalhadores que tenham, pelo menos, ensino fundamental completo ou médio,
mesmo para fazer tarefas repetitivas ou manuais porque, de qualquer maneira, a
escola por pior que seja, ela transmite algum conhecimento, reflexã o e
desenvolve a inteligência, iniciativa, criatividade, etc  algum crescimento
pessoal, de desenvolvimento das potencialidades humanas, a escola traz e isso é
necessá rio para fazer as tarefas mais simples. Em principio, nenhum trabalhador
pode ser tabula rasa, alguma qualificaçã o ele tem  qualificaçõ es tá citas (sã o,
sobretudo, desenvolvidas no processo de socializaçã o dos trabalhadores: família,
escola, meios de comunicaçã o) – nenhum trabalho é totalmente desqualificado
porque alguma qualificaçã o tá cita elas tem que ter (senã o nã o passa nos exames
técnicos da empresa), mas é preciso cada vez mais ter qualificaçõ es reais
(qualificaçõ es operacionais, que sã o adquiridas na escola, em cursos de
treinamento, em cursos técnicos).
As dimensõ es da qualificaçã o tá cita principais: a prá tica das tarefas
rotineiras que implica no processo de aprendizagens (experiência); os diferentes
graus de consciência; a necessidade dos trabalhadores desenvolver qualificaçõ es
de operaçã o. Essa expressã o está cada vez mais sendo substituída por
competência.

Vania Paiva  consenso entre autores: primeiro refere-se as exigências bá sicas:


capacidade de manipular modelos, pensamento conceitual com raciocínio
abstrato, apreciaçã o de tendências, compreensã o da situaçã o na qual o trabalho
se realiza, limites e significados dos dados estatísticos, capacidade e precisã o de
comunicaçã o verbal, oral e visual, responsabilidade, capacidade de preencher
mú ltiplos papeis na produçã o e na rá pida adaptaçã o de ferramentas e
maquinarias; raciocínio crítico, presteza na intervençã o (para por fim na situaçã o
problema), plasticidade mental  antes disso, capacidade para ler, interpretar e
decidir com base nos dados fornecidos pelas má quinas, além de qualidades
socioculturais, que permitam o bom relacionamento na equipe de trabalho.
O diploma é cada vez mais necessá rio para se contratar alguém; é preciso
nã o apenas mostrar o diploma, mas também efetivar o conhecimento que o
diploma diz que se tem, porque o que cada vez mais se constata é aquilo que os
pedagogos denominam como analfabetismo funcional (nã o tenho capacidade de
realizar aquilo que meu diploma atesta). Aqui surge outro conceito: de
empregabilidade  capacidade para se candidatar/se manter em um emprego
(trata-se de se considerar os atributos pessoais do candidato (sobretudo de
competência)). Esse conceito culpa sempre o individuo pelo desemprego (você
está desempregado porque nã o tem capacidade para o emprego); nã o se
culpabiliza a qualidade do ensino, a estrutura social, a conjuntura econô mica
mundial e nacional, a esfera política, etc; empregos existem, você que nã o é capaz
 nã o é só isso, realmente pode ser incapacidade, mas outros muitos fatores vã o
determinar isso.

Ser competente significa: ter iniciativa (para resolver problemas, sobretudo);


autonomia (ser autô nomo nã o é apenas definir suas pró prias regras de açã o, mas
agir por si mesmo e resolver por si mesmo, com responsabilidade, porque o
efeito da açã o atinge os outros); ter/exercer controle sobre os resultados; ter
responsabilidade (é uma postura prévia à açã o, inclusive tendo capacidade para
prever as possíveis consequências de sua pró pria açã o  nã o consegue prever a
totalidade, como diz Weber, mas algo ele pode prever e com algum acerto);
compreensã o das situaçõ es (na qual os conhecimentos, no sentido rigorosos do
termo, sã o mobilizados)  enfim, é a mobilizaçã o de saberes (saber ser, saber
agir, saber fazer); capacidade de invençã o permanente, frente à s incertezas.

Competências de RI: iniciativa, conhecimento, autonomia, aná lise política e


econô mica, conhecimento de idiomas,

Aula – 31/05/12

Qual a estrutura dos sindicatos brasileiros? O que sã o sindicatos?

Eles nascerem na Inglaterra, no final do século XVIII, as trade unions. Um


sindicato é uma organizaçã o política criadas soberanamente, deliberadamente,
espontaneamente por interesses dos trabalhadores com a finalidade exclusiva de
defender seus interesses econô micos. Surgiram do movimento social para a
defesa dos interesses econô micos da classe trabalhadoras; há os sindicatos dos
trabalhadores e dos patrõ es. É uma organizaçã o política que visa defender os
interesses econô micos de um setor, seja dos trabalhadores ou dos patrõ es; as
características sã o: espontâ neas, deliberadas, soberanas (livres, nã o dependem
do conhecimento ou autorizaçã o de autoridades do Estado para existir). Eles
surgiram e sobreviveram clandestinamente no inicio da industrializaçã o
europeia e só garantiram sua existência institucionalizada como instituiçõ es
livres e soberanas reivindicando interesses nas democracias políticas da Europa,
na segunda metade do século XX. Eles sã o frutos da consolidaçã o do modo de
produçã o capitalista, do qual emerge conflito de classes e do Estado Moderno
(ele se fundamente na igualdade jurídica de seus cidadã os e na liberdade de
expressã o e associaçã o para a representaçã o de grupos de interesses). Sem
Estado Moderno, nã o há sindicalismo (e nem o sindicato como organizaçã o
reconhecida institucionalmente). Os sindicatos do século XVIII e durante todo o
século XIX, eles surgiram nã o só para exigi melhores condiçõ es de vida e
trabalho, mas sobretudo e fundamentalmente a finalidade é por fim a
propriedade privada dos bens de produçã o (ou seja, lutar contra o regime
capitalista e libertar os trabalhadores dos grilhõ es da economia de mercado).

Na segunda metade do século XIX, tem-se a legislaçã o trabalhista (a Igreja


Cató lica teve um papel muito importante com a publicaçã o da Encíclica de Leã o
XIII que, ao publicar isso, ajudou a universalizaçã o da legislaçã o trabalhista nos
países europeus), que era uma coisa que os sindicatos exigiam pois antes as
relaçõ es trabalhistas eram ditadas pelo laisse faire. Sindicalismo (movimento
social para a formaçã o dos sindicatos). Todos os autores se referem à legislaçã o
trabalhista como o fim do liberalismo econô mico, porque ha um inicio da
intervençã o do Estado na vida econô mica. A partir do século XX, os sindicatos se
uniram ou fundaram partidos políticos, em uma nítida demonstraçã o de que
aceitavam participar do jogo politico nas regras burguesas (Adam Sirvoski –
Capitalismo e Social-Democracia  mostra como a partir dos anos 1920, os
trabalhadores europeus, sobretudo franceses, ingleses, alemã es aceitaram as
regras dos jogo das democracias burguesas e candidataram-se a cargos políticos;
ganharam muitas eleiçõ es a partir dos anos 1920, lutaram e conseguiram mais
diretos; conseguiram melhorar muitíssimo as condiçõ es de vida dos
trabalhadores. Esse fato fundamental como a causa da mudança de orientaçã o do
movimento sindical  era revolucioná rio e passou a ser reivindicató rio). Mais
tarde, o fordismo também é colocado como uma das causas da mudança do
movimento, mas a principal e fundamental causa foi justamente o citado acima.
Participando da vida politica em todas as instancias do poder, eles conseguiram
muitos mais direitos pelas vias da negociaçã o do que aqueles que estavam
previstos primeiramente na legislaçã o.

Hoje, os sindicatos se tornaram bastante combativos, mas nunca realizando


movimentos de confronto; devido à crise europeia, ele estã o sendo mais ainda
combativos. Sã o as conjunturas econô micas que determinam a açã o dos
sindicatos e o teor do que é exigido (eles estã o exigindo menos austeridade e
mais crescimento econô mico). Diante da reduçã o constane dos posos de trabalho
e portanto do aumento dos índices de desemprengo, da competiçã o
internacional, os sindicatos nã o ficam fomentando greves a todo momento, se
tornaram cautelosos porque eles sabem que o capital, ao encontrar qualquer
dificuldade, vai embora (terceirizaçã o do trabalho, etc). Eles estã o reivindicando,
sobretudo uma mudança na política para que privilegie todos, porque estã o
prejudicando até os donos dos meios do trabalho. Leô ncio afirma que enquanto
organizaçõ es soberanas dos países europeus e dos EUA, os sindicatos decidiram
sua estrutura: os primeiros sindicatos foram montados por artesã os assalariados
e eram de trabalhadores altamente qualificados, que nã o eram mais
independentes (se tornaram empregados) e nã o aceitavam mulheres e os
trabalhadores nã o qualificados nã o participavam dessas primeiras associaçõ es;
houve os sindicalismos de ofícios; depois o sindicalismo de indú stria que
agrupou trabalhos nã o mais segundo oficio, mas segundo o ramo industrial (e
aqui entravam os nã o qualificados também)  na Europa, os sindicatos
industriais sã o NACIONAIS. Depois houve um grande surgimento de partidos
industriais e que tinha uma política de massas. Atualmente, existem sindicatos de
ofícios (dos professores, por exemplo) e industrial, sendo que todos estã o ligados
à uma central sindical (faz as exigências de todos que esta ligados à ela).

No Brasil. Antes dos anos 1930, houve a greve de 1917 em SP (paralisou SP) 
ela é importante; ela era anarquista e era uma greve organizada por
trabalhadores espanhó is, portugueses e italianos, da regiã o da Mooca/Brá s;
durou meses e foi uma dos mais importantes movimentos grevistas de SP (os
sindicatos nã o existiam, mas existia uma organizaçã o política operá ria vivendo
na clandestinidade). A partir de GV que o movimento sindical é
institucionalizado (um ano depois da criaçã o do trabalho (hoje, do trabalho e
emprego), criado por GV em 1930, que foi instituído o modelo sindical do Brasil)
 Lindolfo Collor, pelo Decreto-Lei 19770/31, foi instituído o modelo sindical
no Brasil (já começa errado esse movimento, porque ele começa por decreto-lei;
em nenhuma parte do mundo ele existe ou foi criado assim, pois é uma org. livre
e espontâ nea; a estrutura sindical instituída por Lindolfo é a mesma que existe
até hoje, sofreu algumas pequenas alteraçõ es – sobretudo a partir de 1988 – mas
o modelo sindical é o mesmo, com as mesmas características do modelo de
1931). Nó s qualificamos e essa é a sua característica principal o sindicalismo
brasileiro corporativista (Felipe Schmiter  corporativismo é um sistema de
representaçã o de interesses no qual as unidades constituintes sã o organizadas
num nú mero limitado de categorias singulares compulsó rias, nã o competitivas e
hierarquicamente arrumadas [... -> texto Noêmia]). Segundo essa conceituaçã o o
sindicalismo brasileiro é corporativista; as características que a transformam
nisso: 1. Foram criados pelo Estado por decreto-lei; 2. A sua estrutura
corresponde exatamente como corporativismo porque existe um sindicato por
cada categoria profissional com base territorial – o trabalhador nã o pode
escolher a qual sindicato quer se afiliar (no BR, há mais de 17mil sindicatos) 
GV quis esta estrutura para FRAGMENTAR a classe trabalhadora, impedindo a
uniã o de interesses comuns de milhõ es de pessoas (por isso no BR nã o há uma
greve que surta efeito, de fato  todos estã o preocupados com os interesses
pró prios; além disso, o Brasil é enorme e com diferenças regionais profundas,
sendo que cada categoria profissional faz reinvindicaçõ es bem especificas; 3. o
corporativismo também vem da obrigatoriedade do reconhecimento do sindicato
pelo ministério do trabalho e emprego (somente o sindicato reconhecido pelo
Estado tem o direito de representar os interesses de uma determinada categoria
de trabalho social); 4. filiaçã o voluntaria e indicativa dos voluntá rios (reduzir a
influencia dos sindicatos ao deixar de fora milhõ es de trabalhadores  reduz
espontaneamente o poder dos sindicatos porque uma pessoas sendo ou nã o
sindicalizada, a vitó ria das reinvindicaçõ es também serã o extensivas a quem nã o
participa  os trabalhadores sã o free-riders, caronistas). A intençã o é deixar pra
fora milhares de trabalhadores que nã o se sindicalizam e nã o pagam
contribuiçã o espontâ nea (porque se paga o imposto sindical; ele é recolhido pelo
governo federal e que é distribuído pelos sindicatos de acordo com o numero de
trabalhadores daquele setor; algumas categorias, como os trabalhadores
metalú rgicos do ABC nã o recolhem impostos porque quase a totalidade dos
trabalhadores estã o no sindicato – em vez de imposto sindical, atualmente se diz
recolhimento compulsó rio sindical; logo, mesmo quem nã o está afiliado sustenta
o sindicato porque o governo federal exige 1 dia do salá rio); 5. todos os conflitos
entre trabalhadores e patrõ es sã o resolvidos pela justiça do trabalho (Brasil é o
ú nico país que tem justiça do trabalho [além disso também tem as confederaçõ es
– representa no plano nacional, sem menor expressã o (os sindicatos nã o podem
sofrer intervençã o do governo federal – antes ele podia derrubar a diretoria,
nomear um interventor e mandar prender os sindicalistas; nomear o presidente
de uma lista tríplice; nenhum dos líderes sindicais fez lobby para mudar a
estrutura sindical brasileira pois uma vez líder sindical, pro resto da vida líder
sindical – há mortes nos sindicatos e aonde tem mais é no sindicato de
motoristas e cobradores de ô nibus – enquanto líder sindical, tem estabilidade de
4 anos de emprego; é um trampolim para a vida política, sobretudo quando o
setor é forte, como o dos metalú rgicos do ABC; mudar a estrutura sindical e a
justiça do trabalho é quase impossível atualmente porque ela emprega milhares
de juízes do trabalho – só existe no BR; milhares de funcioná rios das juntas de
conciliaçã o – existem em todos os municípios com mais de 50mil habitantes;
grande quantidade de escritó rios de advogados trabalhistas; como se acaba com
a justiça do trabalho nessas condiçõ es? Nã o é possível, seria uma
desestruturaçã o no mercado de trabalho, com milhares de desempregos) e as
federaçõ es – estadual]; nenhum país tem o absurdo de leis trabalhistas que
existem no Brasil – mais de 1000; sã o tantos encargos nas empresas que se
pagam os salá rios mais baixos do mundo; a legislaçã o brasileira, em vez de
proteger, desprotege; a empresa tudo faz para nã o registrar, violar a legislaçã o,
tudo se revolve via acordo, além de dificultar a admissã o e a demissã o; a média
de trabalhadores que entram na justiça é de dois milhõ es e meio por ano). Os
conflitos sã o resolvidos entre os sindicatos dos patrõ es, trabalhadores e patrõ es
no resto do mundo; o governo interfere na greve como Ú LTIMO recurso; a
central que tem todo o poder de negociaçã o (o sindicato representa como porta-
voz da central) e se ela nã o resolve, a pró pria justiça comum resolve o problema.

Recentemente a questã o trabalhista deixou de ser tratada como questã o de


polícia, depois de 1983; além disso, trabalhador de empresa privada nã o faz
greve (tendem a negociar). A constituiçã o de 1988 permitiu a sindicalizaçã o dos
funcioná rios pú blicos. A tendência é que o negociado se sobreponha ao legislado
(sindicalismo de resultado). Antes da fase de tratamento policial à questã o social,
os sindicatos deixaram de ser representaçã o de interesses econô micos dos
trabalhadores para se transformar em organismos de assistência social (há picos
de sindicalizaçã o: 1. o sindicato oferece serviço jurídico trabalhista (num pais de
forte instabilidade econô mica e portanto, sem garantia de emprego, ter esse
serviço facilita a vida); 2. os grandes sindicatos tornaram-se donos de colô nias de
férias (me sindicalizo para viajar, ir para a colô nia de férias); 3. o sindicato
tornou-se o lugar aonde eu posso fazer o cabelo, a barba, podó logo, manicure,
dentista, além de ter ambulató rio médico e convenio com hospitais bons nos
grandes sindicatos (em vez de ficar no INSS, eu vou para o ambulató rio médico
do sindicato). Ninguém vai a assembleia, porque o trabalhador inteligente sabe
que o sindicato nesse formato é uma safadeza e nã o corresponde aos reais
interesses dos trabalhadores (depende do sindicato, o do metalú rgico, o
metroviá rio, o bancá rio se unem e conseguem muito do que querem, de fato). O
poder de barganha de um sindicato advém da importâ ncia do setor. Isso nã o
acontece só no Brasil, mas em todas as partes do mundo e ele nã o vai atrá s de
liderança sindical a nã o ser em setores que sã o muito fortes e essenciais.

Nos anos 1970 tem um enfrentamento com o governo militar dos metalú rgicos
do ABC; em 1970 houve greves em 15 diferentes locais do Brasil e em todas elas
queria a reposiçã o salarial de acordo com os altos índices de inflaçã o; lutava-se
pela representaçã o dos trabalhadores dentro das empresas, pela participaçã o
nas politicas publicas para a melhoria das condiçõ es. Em 1979 foram mais de
400 greves, envolvendo mais de 3 milhõ es de trabalhadores que inauguraram o
“novo sindicalismo”  porque o sindicato passou a ter voz (mesmo sem voto),
em todas as esferas do governo (municipal, estadual e federal) e em 1983 foram
criadas as centrais sindicais (elas nã o servem para nada até hoje; só foram
reconhecidas no ú ltimo ano do governo Lula que deu a elas 10% do total
arrecadado do imposto sindical, sem a prestaçã o de contas; elas nã o tem poder
pois, embora tramite desde 1983 no senado a reforma completa da vida sindical,
pela legislaçã o, quem negocia salario só sã o os sindicatos; elas nã o podem
negociar salario, como as comissõ es de fabrica também nã o podem negociar
salario (nã o haveria mais sindicato em nenhum dos casos, a nã o ser para reunir
os trabalhadores daquele setor); a comissã o de fabrica resolve alguns problemas,
mas a empresa esta submetida ao poder do sindicato; como as centrais nã o
podem negociar isso, elas nã o tem poder  elas nã o fazem nada, ainda mais no
governo do PT.

Tendência do sindicato como negociador articulado - Estado, trabalhador e


empresa. Isso aconteceu na época das câ maras coordenadas (nã o existe mais),
até o final do FHC. A tendência que as centrais sindicais nã o estã o mais ali para
organizar trabalhador e greve, mas sim seriam como um quarto poder a
participar da elaboraçã o, da politica econô mica do governo federal, estadual e
municipal, participar das políticas econô micas da globalizaçã o da economia, das
políticas industriais. Nã o se trata mais, no resto do mundo, em trabalhador sendo
organizado politicamente se houver um sindicato na porta da fabrica. Mas para
isso precisa ter lideres sindicais completamente competentes, tal qual no Japã o,
em que os presidentes das federaçõ es se reú nem para analisar a economia
mundial e participar da elaboraçã o de politicas. No Brasil, deve haver um
recrudescimento das greves no setor pú blico.

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