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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN


Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas -
CCSA

Encontro Nacional de Turismo com Base Local (16. : 2022 : Natal, RN)

Anais do 16º C Encontro Nacional de Turismo com Base Local [recurso


eletrônico] : novos desafios e propostas para o turismo no Brasil e na América
Latina. - Natal, RN: UFRN, 2022.
391 p. : PDF.

Disponível em: https://entbl.ccsa.ufrn.br/assets/ng2/download/anais.pdf


Evento realizado em 17 a 20 de maio de 2022 no Campus da UFRN.

ISSN: 1808-9755.

1. Turismo - Encontro. 2. Base local - Encontro. 3. Desenvolvimento turístico -


Encontro. 4. Brasil - Encontro. 5. América Latina - Encontro. I. Lanzarini, Ricardo.
II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Departamento de Turismo.

RN/UF/CCSA CDU 338.48

Elaborado por Shirley de Carvalho Guedes - CRB-15/440.

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COMISSÃO ORGANIZADORA

Comissão Organizadora Local


Prof. Dr. Ricardo Lanzarini – DETUR/UFRN
Profa. Dra. Leilianne Barreto – PPGTUR/UFRN
Prof. Dr. Guilherme Bridi – DETUR/UFRN
Profa. Dra. Josemery Araújo Alves – DETUR/UFRN
Prof. Dr. Michel Jairo Vieira – DETUR/UFRN
Profa. Msc. Stella Sousa – DETUR/UFRN

Comissão Nacional
Profa. Dra. Adyr Balestreri Rodrigues - USP
Prof. Dr. Anderson Portuguez - UFU
Prof. Dr. Aguinaldo Cesar Fratucci - UFF
Profa. Dra. Carla Novaes – UNIFEBE / VISCAYA
Prof. Dr. Carlos Eduardo Pimentel - UFPE
Prof. Dr. Christian Dennys de Oliveira – UFC
Profa. Esp. Claudia Neu – GS Consultoria
Prof. Dr. Dario Paixão – UNICENP
Prof. Dr. Edwaldo Sérgio - UFJF
Profa. Dra. Elisabete Tamanini – IELUSC
Prof. Dr. Giovanni Seabra – UFPB
Profa. Dra. Glaubécia Teixeira da Silva – UEA
Prof. Dr. Hélio Barroco – UESC
Profa. Dra. Ivani de Faria - UFAM
Profa. Dra. Luzia Neide Coriolano – UECE
Prof. Dr. Marcello Tomé - UFF
Prof. Dr. Marcos Aurélio da Silveira - UFPR
Profa. Dra. Magda Lombardo – UNESP
Profa. Dra. Marlene Huebes Novaes – UNIVALI
Prof. Dr. Milton Mariani – UFMS
Prof. Dr. Ricardo Lanzarini – UFRN

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Profa. Dra. Susy Rodrigues Simenotti – UEA/AM
Profa. Dra. Odaléia Queiroz – USP/ESALQ
Profa. Dra. Vanice Selva - UFPE
Prof. Dr. Wanderlei Mendes – UFTO
Prof. Dr. Zysman Neiman - UNFESP

Comissão Científica
Profa. Dra. Andréa Virgínia Dantas – DETUR/UFRN
Profa. Dra. Erica Priscilla Machado – DETUR/UFRN
Profa. Dra. Erica Dayane Chaves Cavalcante – DETUR/UFRN
Prof. Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo – PPGTUR/UFRN
Profa. Dra. Kerlei Eniele Sonaglio – PPGTUR/UFRN e UnB
Prof. Dr. Guilherme Bridi – PPGTUR/UFRN
Profa. Dra. Josemery Araújo Alves – DETUR/UFRN
Profa. Dra. Leilianne Barreto – PPGTUR/UFRN
Profa. Dra. Lissa Valéria Ferreira – PPGTUR/UFRN
Prof. Dr. Luiz Augusto Mendes Filho – PPGTUR/UFRN
Prof. Dr. Marcos Antônio do Nascimento – PPGTUR/UFRN
Profa. Dra. Maria Aparecida Pontes da Fonseca – PPGTUR/UFRN
Profa. Dra. Maria Lúcia Bastos Alves – PPGTUR/UFRN
Profa. Dra. Maria Valéria Pereira de Araújo – PPGTUR/UFRN
Prof. Dr. Mauro Lemuel Alexandre – PPGTUR/UFRN
Prof. Dr. Michel Jairo Vieira – DETUR/UFRN
Prof. Dr. Mozart Fazito Rezende Filho – PPGTUR/UFRN
Prof. Dr. Ricardo Lanzarini – PPGTUR/UFRN
Prof. Dr. Sérgio Marques Júnior – PPGTUR/UFRN
Prof. Dr. Wilker Ricardo Nóbrega – PPGTUR/UFRN

Comissão de Recepção e Hospitalidade


Profa. Dra. Josemery Araújo Alves – DETUR/UFRN
Prof. Dr. Guilherme Bridi – PPGTUR/UFRN
Profa. Msc. Stella Sousa – DETUR/UFRN
Profa. Msc. Darlyne Fontes Virgínio – IFRN

4
Comissão de Programação Sociocultural
Prof. Dr. Michel Jairo Vieira – DETUR/UFRN

Secretaria Executiva
Profa. Dra. Josemery Araújo Alves – DETUR/UFRN
Carla Aparecida Gomes da Rocha Brito

Designer
Jeferson Rocha– CCSA/UFRN

5
PROGRAMAÇÃO GERAL
17/05 18/05 19/05 20/05
08h00 – 12h00 08h00 – 12h00 08h00 – 12h00
Minicursos NEPSA I Visita Técnica 01 Game Visita Técnica 02
e II –CCSA/UFRN Tour: NatalHistórico Gamboa do Jaguaribe

08h00 – 12h00 07h00 – 18h00


Minicursos NEPSA I Visita Técnica 03Aldeia
e II –CCSA/UFRN Katu dos Eleotérios

10h10 – 12h00 10h10 – 12h00


Mesas Redondas Mesas RedondasNEPSA
NEPSA II – CCSA/UFRN II – CCSA/UFRN

13h00
Credenciamento

14h00 14h00 – 18h00


Abertura Oficial GTs Setor V 14h30
Auditório da – Lançamento deLivros
Reitoria/UFRN CCSA/UFRN Atração Cultural
Auditório da
14h30 Reitoria/UFRN
Conferência de
Abertura 15h00
Conferência de
16h00 Encerramento
Atração Cultural
16h30
Plenária Final – Comissão
Nacional
18h10 – 20h00
Mesas RedondasNEPSA
II – CCSA/UFRN

18h10 – 20h00
Minicursos NEPSA I
e II –CCSA/UFRN

6
ÍNDICE
GT 1 – GESTÃO, EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO EM TURISMO ............................................................. 17
Resumo Expandidos ................................................................................................................................................ 18

Resumos de Artigos Completos ............................................................................................................................... 79

GT 2 – HOSPITALIDADE, LAZER E EXPERIÊNCIA TURÍSTICA .............................................................98

Resumo Expandidos ................................................................................................................................................ 99

Resumos de Artigos Completos ..............................................................................................................................138

GT 03 – TURISMO, GASTRONOMIA E TERRITÓRIO ........................................................................ 143

Resumo Expandidos ...............................................................................................................................................144

Resumos de Artigos Completos ..............................................................................................................................170

GT 04 – IMPACTOS DA PANDEMIA DE COVID-19 NO TURISMO ...................................................... 175

Resumo Expandidos ...............................................................................................................................................176

Resumos de Artigos Completos ..............................................................................................................................206

GT 05 – PLANEJAMENTO, POLÍTICA, GOVERNANÇA E TURISMO NO ESPAÇO URBANO .................... 213

Resumo Expandidos ...............................................................................................................................................214

Resumos de Artigos Completos ..............................................................................................................................235

GT 06 – CULTURA, RELIGIOSIDADE E TURISMO COM BASE LOCAL: ENTRE O MATERIAL E O IMATERIAL


NA BUSCA PELA DIVERSIDADE CULTURAL ..................................................................................... 239

Resumo Expandidos ...............................................................................................................................................240

Resumos de Artigos Completos ..............................................................................................................................265

GT 07 – TURISMO E DESENVOLVIMENTO RURAL .......................................................................... 273

Resumo Expandidos ...............................................................................................................................................274

7
Resumos de Artigos Completos ..............................................................................................................................292

GT 08 – TURISMO E MEMÓRIA ..................................................................................................... 296

Resumo Expandidos ...............................................................................................................................................297

Resumos de Artigos Completos ..............................................................................................................................314

GT 09 – TURISMO COM BASE LOCAL, ARQUEOLOGIA E PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL EM


COMUNIDADES TRADICIONAIS .................................................................................................... 319

Resumo Expandidos ...............................................................................................................................................320

Resumos de Artigos Completos ..............................................................................................................................333

GT 10 – PARCERIAS PARA O TURISMO EM ÁREAS PROTEGIDAS .................................................... 340

Resumo Expandidos ...............................................................................................................................................341

Resumos de Artigos Completos ..............................................................................................................................361

GT 11 – POLÍTICA PÚBLICA E DESENVOLVIMENTO NO TURISMO .................................................... 365

Resumo Expandidos ...............................................................................................................................................366

Resumos de Artigos Completos ..............................................................................................................................383

8
ÍNDICE DETALHADO
GT 1 – GESTÃO, EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO EM TURISMO ............................................................. 17
Resumo Expandidos ...................................................................................................................18

Aceitação do E-Learning no Turismo: Uma revisão da literatura entre os anos de 2014 a 2021 ......................... 18

Aplicativos de transporte e mobilidade intradestino: uma análise da percepção do turista sobre o Uber em
Natal/RN.............................................................................................................................................................. 25

Destino turístico inteligente: proposta de modelo para implementação e gestão no Polo Costa das Dunas (Rio
Grande do Norte) ................................................................................................................................................ 30

Economia Criativa em Turismo: Shopping Rural Sítio Tambaba, Conde-PB .......................................................... 34

Experiência de consumo em ambientes de serviços gastronômicos face à vulnerabilidade e resiliência do


consumidor com deficiência em bares da Região Metropolitana do Recife .......................................................... 42

Marketing Digital para o Turismo de Base Comunitária: Análise do uso das Mídias Sociais para a aquisição de
Capital Social em Icapuí/CE. ................................................................................................................................ 48

Panorama da sustentabilidade em operadoras de turismo brasileiras ............................................................... 55

Práticas sustentáveis aplicadas a hotéis: estudo de caso Cidade de Maputo ....................................................... 63

Turismo, Inovação e Sustentabilidade: Estratégias de empreender a partir de ações inovadoras que conciliam
interesses econômicos e socioambientais .......................................................................................................... 73

Resumos de Artigos Completos ..................................................................................................79

A percepção de justiça de preço de diárias de Meios de Hospedagem em Plataformas de Leilões Digitais ........ 79

Análise da presença online das agências de turismo receptivo de Natal-RN ...................................................... 80

As contribuições da gestão estratégica de pessoas para qualidade de vida no trabalho: Uma análise da
percepção dos trabalhadores de empresas de eventos e cerimoniais do Rio Grande do Norte .......................... 81

As relações entre práticas de recursos humanos, cultura organizacional e satisfação dos hóspedes na hotelaria
........................................................................................................................................................................... 82

Benchmarking, Storytelling e Inovação: olhares sobre as capacidades para a gestão do turismo no Seridó
Potiguar com base nos casos do Conde/PB ......................................................................................................... 83

Branding de bases comunitárias: O caso da Reserva Ponta do Tubarão - RN, Brasil .......................................... 84
Dialogando sobre a importância da resiliência para gestão estratégica de pessoas no turismo ....................... 85

9
Entraves e oportunidades para a inclusão de pessoas com deficiência física no Turismo de Aventura .............. 86

Eventos de Cultura Pop e sua relevância para o Turismo: Um estudo sobre a Comic Con Experience Tour Nordeste
........................................................................................................................................................................... 87

Gestão de Destinos, Tecnologia Social e Inovação: conexão e construção para o turismo .................................. 88

Mulheres do Turismo: empreendedorismo, seus desafios e conquistas .............................................................. 89

O profissional de turismo no cenário do marketing de influência........................................................................ 90

O uso da realidade aumentada e a experiência turística: uma revisão sistemática da literatura na Base de Dados
Scopus ................................................................................................................................................................ 91

Percepção dos guias de turismo da cidade de Natal/RN sobre as plataformas de turismo colaborativo ............. 92

Projeto minha casa, sua casa – a mobilização da Comunidade de Conceição do Formoso para a oferta de
hospedagem domiciliar com o uso do AIRBNB .................................................................................................... 93

Relações entre cultura organizacional e qualidade de vida no trabalho no setor hoteleiro ................................ 94

Tecnologia digital nos processos de planejamento e gestão do turismo: VGI em questão ................................... 95

Viajou, Postou: Reflexões sobre a influência das Mídias Sociais no surgimento de novos marcadores turísticos 96

Você me ama? Análise do destino turístico Natal-RN por meio da Teoria Lovemarks: Estudo em andamento .... 97

GT 2 – HOSPITALIDADE, LAZER E EXPERIÊNCIA TURÍSTICA .............................................................98

Resumo Expandidos ...................................................................................................................99

“Não sabem o que é parque aqui, pensam logo em roda gigante, em carrossel”: impressões sobre o lazer no
contexto do Parque Estadual da Costa do Sol (RJ, Brasil) pela perspectiva local ................................................. 99

“[...] O índio, ele não é isolado, ele é coletivo”: a hospitalidade sob o ponto de vista de representantes da etnia
Kaiowá- MS ......................................................................................................................................................107

Hostel: um espaço de manifestação do lazer e da hospitalidade ........................................................................114

Lazer sexual de turistas homens em aplicativos de encontros no destino “Natal - Cidade do Sol” ....................119

Lazer sexual de turistas mulheres em aplicativos de encontros no destino “Natal – Cidade do Sol” ................123

O que sabemos e precisamos saber?: Um estudo sobre a recepção do guia de turismo ao público LGBTQIA+ em
Natal .................................................................................................................................................................126

Perfil do praticante do Turismo de Base Comunitária (TBC) no Brasil .................................................................129

10
Vitrines virtuais em Natal/RN: a vivência feminina no mercado do sexo ...........................................................135

Resumos de Artigos Completos ................................................................................................ 138

A qualidade do lazer dos trabalhadores formais: um estudo em Natal/RN .......................................................138

A qualidade dos serviços prestados no mercado público da Redinha, Natal/RN..................................................139

O comportamento do consumidor turístico no segmento de turismo de bem-estar ...........................................140

Será que vai dar praia? Percepções e experiências de pessoas com deficiência com relação a acessibilidade no
turismo em destinos costeiros ..........................................................................................................................141

Visitação ao Campus do Guamá/UFPA: universidade e sociedade em contexto de práticas interdisciplinares ....142

GT 03 – TURISMO, GASTRONOMIA E TERRITÓRIO ........................................................................ 143

Resumo Expandidos ................................................................................................................. 144

Alimentação do Povo Pankararu: pratos utilizados nos rituais ..........................................................................144

Gastronomia e literatura: a análise da simbologia do alimento e a perspectiva de comensalidade no conto “a


repartição dos pães”, de Clarice Lispector ........................................................................................................149

Inovação na confeitaria tradicional pernambucana no segmento bolo de rolo para casamento ........................154

Locais gastronômicos e identidades culturais no desenvolvimento sustentável nas cidades turísticas .............161

O despertar do turismo gastronômico a partir de um restaurante de cozinha oriental em Flores-PE ................166

Resumos de Artigos Completos ................................................................................................ 170

A utilização do coco em preparações culinárias de restaurantes da cidade do Cabo de Santo Agostinho ..........170

Alimentação, caça e território “Mendonça” do Amarelão (João Câmara, Rio Grande do Norte): uma análise pela
visão da gastronomia........................................................................................................................................ 171

Comida, lugar de memória: olhares sobre o produto turístico gastronômico memorável do Arquipélago de
Fernando de Noronha ........................................................................................................................................172

Culinária típica da fronteira Brasil/Paraguai: o reconhecimento da “chipa” como patrimônio alimentar ...........173

Patrimônio imaterial em Congonhas, MG: o ofício das quitandeiras como bem sociocultural e seus benefícios
para a economia local ........................................................................................................................................174

GT 04 – IMPACTOS DA PANDEMIA DE COVID-19 NO TURISMO ...................................................... 175

11
Resumo Expandidos ................................................................................................................. 176

A pandemia do COVID-19 e seus efeitos no turismo regional-local do Delta do Parnaíba (PI-MA) ......................176

Contribuições da economia solidária para melhoria das atividades tradicionais do turismo afetadas pela
pandemia do COVID-19 em Barra do Cunhaú ....................................................................................................182

Impacto da pandemia de COVID-19 no sector hoteleiro no Município de Maputo: estudo de caso dos hotéis......189

Turismo de base comunitária em meio a pandemia COVID-19: enfrentamentos, redes e ações em transição ....197

Resumos de Artigos Completos ................................................................................................ 206

“Diversão sem sair de casa” - a plataforma Airbnb e as emoções provocadas por experiências turísticas online
no panorama da COVID-19 ...............................................................................................................................206

COVID-19 e as suas implicações aos guias de turismo e condutores de visitantes em atuação no Piauí ............207

Efeitos da pandemia da COVID-19 em Salinópolis, Amazônia, PA ......................................................................208

Estudo exploratório da pandemia do COVID-19 no município de Campo Mourão (PR): efeitos nos
empreendimentos do AIRBNB e dos pensionatos................................................................................................209

Impactos da Pandemia de COVID-19 no Agroturismo e Turismo Rural: A Scoping Review ..................................210

Impactos socioeconômicos ocasionados pela pandemia da COVID-19 nos trabalhadores do turismo no Brasil ..211

Mercado de Eventos e Redes Sociais: o Instagram como agente de análise dos impactos da pandemia de COVID-
19 na promoção de eventos em São Luís – MA .................................................................................................212

GT 05 – PLANEJAMENTO, POLÍTICA, GOVERNANÇA E TURISMO NO ESPAÇO URBANO .................... 213

Resumo Expandidos ................................................................................................................. 214

A Pipa é território da globalização .....................................................................................................................214

Planejamento turístico do Polo Seridó ...............................................................................................................221

Turismo de base comunitária e fortalecimento dos atores locais: o programa DEL Turismo em São Miguel do
Gostoso/RN .......................................................................................................................................................224

Turismo de Negócios em São Luís (MA): potencialidades para o pós pandemia .................................................231

Resumos de Artigos Completos ................................................................................................ 235

A institucionalização da participação no planejamento do turismo em Petrolândia-PE ......................................235

Competitividade no destino sol e praia no nordeste brasileiro: uma revisão de literatura ................................236

12
Governança turística participativa – um estudo baseado na teoria do comum .................................................237

Muros invisíveis?: Processos de integração/segregação entre sujeitos no entorno da Escadaria de Mãe Luiza, e
as Praias de Areia Preta e Miami em Natal/RN ..................................................................................................238

GT 06 – CULTURA, RELIGIOSIDADE E TURISMO COM BASE LOCAL: ENTRE O MATERIAL E O IMATERIAL


NA BUSCA PELA DIVERSIDADE CULTURAL ..................................................................................... 239

Resumo Expandidos ................................................................................................................. 240

Geografia, patrimônio e turismo na Amazônia Brasileira: o projeto roteiros geo-turísticos em Belém do Pará .240

Patrimônio cultural imaterial de Fortaleza/Ceará: uma análise da Religião Umbanda ......................................245

Percepção dos residentes sobre os impactos dos mercados públicos de abastecimento para o turismo em cidades
religiosas .........................................................................................................................................................249

Potencialidade local para o turismo de base comunitária em Ponta Negra: Vila das Rendeiras ..........................254

Produção de artesanato tradicional em Penedo-AL: motivações e valores simbólicos atribuídos .......................258

Resumos de Artigos Completos ................................................................................................ 265

“Quem bebe dessa água sempre volta” - a felicidade do receptivo de TBC na localidade rural Buenos Aires/MA-
Brasil .................................................................................................................................................................265

AJEUM BÓ: A importância patrimonial cultural decolonial das comidas votivas dos cultos de Candomblé para o
afroturismo como atrativo turístico ...................................................................................................................266

Celebração digital em cibermarianismo turístico: a conectividade do santuário de Fátima (Fortaleza-CE) na


pandemia ..........................................................................................................................................................267

Desenvolvimento do turismo de base local na comunidade quilombola “Negros do Riacho” (Currais Novos/RN,
Brasil) ................................................................................................................................................................268

Experiências comunitárias e o processo de desenvolvimento do turismo nas praias de Batoque e Canto Verde
sob o prisma do eu coletivo ..............................................................................................................................269

Levantamento das iniciativas de turismo em terras indígenas no Brasil ............................................................270

Relato do projeto de pesquisa Tibau do Sul em lendas: uma oportunidade para o desenvolvimento do turismo
cultural ..............................................................................................................................................................271

Turismo, patrimônio cultural e a arte do saber-fazer no Seridó Potiguar ..........................................................272

13
GT 07 – TURISMO E DESENVOLVIMENTO RURAL .......................................................................... 273

Resumo Expandidos ................................................................................................................. 274

Indicação geográfica da farinha de Bragança (PA) e a experiência turística ......................................................274

Turismo de base comunitária (TBC) e empreendedorismo feminino: a importância da mulher para o


desenvolvimento turístico da comunidade rural de Chã de Jardim, município de Areia (PB) .............................278

O potencial do Astroturismo na Serra da Mantiqueira ........................................................................................287

Resumos de Artigos Completos ................................................................................................ 292

Diagnóstico territorial dos recursos turísticos de São Luiz do Purunã, município de Balsa Nova/PR no espaço rural
..........................................................................................................................................................................292

O protagonismo feminino e o turismo de base comunitária: um estudo das empreendedoras de Travosa e


Betânia do município de Santo Amaro do Maranhão ..........................................................................................293

Turismo de base comunitária em Sergipe: lições do Projeto Tainha em Ponta dos Mangues, Pacatuba ..............294

Turismo de base comunitária nos assentamentos Em Cantos da Chapada: concepções, desafios e potencialidades
..........................................................................................................................................................................295

GT 08 – TURISMO E MEMÓRIA ..................................................................................................... 296

Resumo Expandidos ................................................................................................................. 297

As histórias por de trás das receitas: uma análise do cardápio de uma restaurante de um hotel do Rio de Janeiro
..........................................................................................................................................................................297

Educação para o turismo de base comunitária: construindo caminhos para o desenvolvimento local do Povoado
Alto, Tucano, Bahia ............................................................................................................................................300

Maragogi: da cana ao turismo sob o olhar de um residente ..............................................................................307

Resumos de Artigos Completos ................................................................................................ 314

“A festa que nunca acaba”: resgate das memórias do Festival Halleluya Natal ................................................314

Circuito turístico comunitário nos bairros de Santa Cecília, Barroso e Rosário em Teresópolis/RJ: um projeto
decolonial ..........................................................................................................................................................315

Educação para o turismo de base comunitária: construindo bases conceituais e metodológicas ........................316

Identidade, memória e patrimônio como ação indutora do turismo local no Seridó Potiguar (Brasil) ................317

14
Viagens compartilhadas: os cartões-postais de Bertha Lutz ..............................................................................318

GT 09 – TURISMO COM BASE LOCAL, ARQUEOLOGIA E PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL EM


COMUNIDADES TRADICIONAIS .................................................................................................... 319

Resumo Expandidos ................................................................................................................. 320

Potencial socioambiental das comunidades do entorno da Lagoa de Guaraíras/RN para implantação do turismo
de base comunitária ...........................................................................................................................................320

Reflexões sobre o desenvolvimento local e o turismo de base comunitária: fragilidades e possibilidades para a
sua efetivação ...................................................................................................................................................326

Relações de produção, turismo e (ex) inclusão no território de comunidades ribeirinhas na Amazônia


Roraimense. ......................................................................................................................................................330

Resumos de Artigos Completos ................................................................................................ 333

As percepções sobre o turismo de base comunitária da comunidade quilombola Pé do Morro, Tocantins .........333

Ecovilas e sua aproximação no turismo: um estudo em teses e dissertações .....................................................334

O turismo de base comunitária e suas potenciais contribuições para o desenvolvimento local sustentável .....335

Rede de relacionamento em turismo: uma análise na comunidade do entorno do Parque Estadual de Guajará
Mirim - Nova Mamoré-RO ..................................................................................................................................336

Turismo comunitário em Roraima e rede de articulação ....................................................................................337

Turismo de base comunitária quilombola na Bahia – (Brasil): uma práxis educativa decolonial e transmoderna
..........................................................................................................................................................................338

Um outro turismo pedagógico: o caso da salvaguarda do patrimônio a partir do Museu Histórico de São Vicente-
RN, Brasil ..........................................................................................................................................................339

GT 10 – PARCERIAS PARA O TURISMO EM ÁREAS PROTEGIDAS .................................................... 340

Resumo Expandidos ................................................................................................................. 341

A geografia social dos territórios turísticos: uma proposta para Ilha Grande-PI ................................................341

A parceria público - comunitária como caminho para o fortalecimento do turismo de base comunitária no
Quilombo do Feital ............................................................................................................................................345

15
Iniciativa extensionista em tempos pandemônicos à natureza: para além das concessões, por outras
modalidades de parcerias em áreas protegidas .................................................................................................351

Resumos de Artigos Completos ................................................................................................ 361

Análise sobre o processo formativo de condutores locais de visitantes e o plano de manejo do Parque Nacional
da Chapada das Mesas ......................................................................................................................................361

Notas sobre o desenvolvimento do turismo de natureza em unidades de conservação do Estado do Amapá ....362

O processo de concessão no Parque Estadual de Ibitipoca (MG): questões preliminares sobre controle social das
parcerias para o turismo ...................................................................................................................................363

Turismo em terras indígenas: a participação das comunidades no estado de Roraima, Brasil ............................364

GT 11 – POLÍTICA PÚBLICA E DESENVOLVIMENTO NO TURISMO .................................................... 365

Resumo Expandidos ................................................................................................................. 366

Contribuições do ecoturismo para alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável ...............................366

Da prática do turismo de base comunitária no estado do Rio de Janeiro: a instituição da política estadual de
turismo comunitário (lei 7.884/2018) ................................................................................................................372

Território como recurso e como abrigo: turismo e conflitos socioespaciais no Litoral Potiguar .........................379

Resumos de Artigos Completos ................................................................................................ 383

A insegurança gerando mal-estar em destinos turísticos: uma reflexão sobre a cidade do Rio de Janeiro .......383

Experimentações em turismo: mapeando a dinâmica das relações estabelecidas por meio da extensão
universitária, no litoral do Paraná ....................................................................................................................384

O impacto da categorização dos municípios turísticos no repasse de recursos para o Polo Costa Branca- RN ....385

Planejamento e desenvolvimento do Polo Turístico Potengi no Rio Grande do Norte: o relato da experiência ..386

Turismo e governança ambiental em áreas protegidas .....................................................................................387

Turismo sustentável: uma abordagem histórica sobre o processo de construção conceitual no contexto brasileiro
..........................................................................................................................................................................388

Uma análise sobre a formação da política estadual de turismo de Rondônia ....................................................389

Vulnerabilidade do turismo e os reflexos da pandemia de COVID-19 .................................................................390

16
GT 1 – GESTÃO, EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO EM TURISMO

DIA 18/05 – 14h as 18h

17
Resumos Expandidos
ACEITAÇÃO DO E-LEARNING NO TURISMO: UMA REVISÃO DA LITERATURA ENTRE OS
ANOS DE 2014 A 2021

Vitória Carolina Ferreira Barbosa (vitoria.dufour@gmail.com)


Jéssyca Rodrigues Henrique da Silva (jessyca.r.henrique@gmail.com)
Leilanne Michelle Trindade da Silva Barreto (leiliannebarreto@hotmail.com)

INTRODUÇÃO

O turismo como uma atividade do setor de serviços, possui características singulares como a intangibilidade
e a inseparabilidade, o que torna o elemento humano, importante para a qualidade dos serviços e competividade do
setor. Assim, as atividades de gestão de pessoas precisam ser geridas de forma estratégica, já que quando alinhadas
às necessidades dos funcionários, provocam a sua satisfação, e consequentemente a satisfação do cliente (Câmara,
2021).
Dentre as diferentes atividades que compõem a gestão de pessoas, o treinamento e desenvolvimento vêm
ganhando destaque, passando por mudanças operacionais, e se tornando estratégicas (Silva & Barreto, 2021). Gil et al.
(2020), colocam que cada contexto organizacional requer o desenvolvimento de competências profissionais diferentes.
Pela elevada dependência do elemento humano no turismo, o treinamento e desenvolvimento assume papel relevante,
e muito mais do que apenas treinar pessoas, é importante que as empresas elevem estas atividades a um patamar
estratégico, de modo a alinhar as ações de aprendizagem aos objetivos da empresa (Silva & Barreto, 2021)
No setor do turismo, as funções de treinamento e desenvolvimento vêm passando por uma reengenharia dos
seus processos, devido aos impactos que a tecnologia da informação vem assumindo na sociedade, nas empresas e
mais especificamente na aprendizagem. Isso porque a educação como um todo passa a ser impactada por modelos
inovadores de aprendizagem mediados pela tecnologia (Chan et al., 2020). Assim, o e-learning, emerge como conceito
moderno de educação à distância e pode ser traduzido por todo tipo de aprendizagem online (Silva, Lima, & Mendes
Filho, 2020; Silva & Barreto, 2021). “Refere-se à o uso de tecnologias digitais para adquirir, processar e armazenar
informações em ambientes de aprendizagem” (Abdou & Jasimuddin, 2020, p. 38).
No turismo o e-learning também é uma realidade, conforme defendido por Cantoni, Kalbaska e Inversine
(2009); Chan et al. (2020) e Silva & Barreto (2021). No contexto das organizações, passa a ser uma estratégia para treinar
e desenvolver pessoas, de forma rápida, econômica e em um curto espaço de tempo (Silva, Lima & Mendes Filho, 2021).
Além disso, devido ao isolamento social causado pela crise pandêmica decorrente do vírus Covid-19, toda a área da
educação foi impactada, saindo de modelos tradicionalmente presenciais, para adaptações ao ambiente online (Ahmed
et al., 2021). Logo acredita-se que esta seja uma modalidade de aprendizagem em ascensão e que deverá crescer nos
próximos anos.

18
Apesar do crescimento e inevitável ascensão do e-learning no Brasil e no mundo, é importante enfatizar que
este é um método de aprendizagem que ainda sofre resistência para sua aceitação. Diversas pesquisas buscam
investigar quais os fatores de aceitação de e-learning no contexto organizacional, tais como: Hsia, Chang e Tseng (2014),
Mehta et al. (2019) e Purnomo e Nastiti (2019). Apesar desses esforços, verifica-se que são incipientes os estudos que
investigaram o e-learning no turismo (Cantoni, Kalbaska & Inversine (2009)), especificamente, quando estes estudos
focam em fatores de aceitação dessas tecnologias no contexto de organizações turísticas.
Diante do exposto, este trabalho é um passo inicial que faz parte de um projeto de pesquisa mais amplo,
desenvolvido no âmbito de uma universidade presente no Nordeste brasileiro, e busca investigar quais os fatores que
influenciam a aceitação do e-learning em organizações turísticas. Como primeira etapa desta investigação, está sendo
desenvolvido uma revisão da literatura em base de dados internacionais, com o propósito de investigar a literatura
sobre aceitação do e-learning, e especificamente, quais os estudos se aplicam ao turismo. Assim, esta pesquisa parte
da seguinte questão problema: De que forma está caracterizada a literatura sobre aceitação de e-learning no turismo?
Como objetivo central pretende-se investigar a literatura sobre aceitação de e-learning no turismo dentro do
recorte temporal de 2014 a 2021. Ressalta-se que os dados apresentados fazem parte de uma pesquisa em andamento,
no qual os estudos ainda estão sendo analisados, e, portanto, serão apresentados resultados parciais.

METODOLOGIA

Esta pesquisa é exploratória, pois pretende obter uma visão geral acerca de um fato e possui viés
aproximativo, envolvendo levantamento bibliográfico (Gil, 1999). Também é descritiva pois segundo o mesmo autor,
descreve as características de determinada população ou amostra. Trata-se de um levantamento bibliográfico, no qual
fez uso de materiais já publicados na literatura para entender o estado do campo de conhecimento (Chang e Katrichis,
2016). Assim, foi feito um levantamento nas bases Scopus e Web of Science, que são bases de dados reconhecidas
internacionalmente.
Como critérios de busca utilizou-se as palavras-chave “aceitação de e-learning”, “adoção de e-learning”,
“aceitação de aprendizagem online”, “adoção da aprendizagem online”, “aceitação da educação a distância” e “adoção
da educação a distância”, todas traduzidas para o idioma inglês com o objetivo de alcançar publicações neste idioma.
Outros filtros utilizados, foi o recorte temporal dos últimos sete anos (2014 até 2021), a modalidade de publicação de
apenas artigos científicos, além da área de busca no qual selecionou a grande área de estudos sobre Gestão e Negócios.
A busca geral resultou em um total de 775 artigos nas duas bases de dados. A partir deste ponto todos os
trabalhos foram lidos a partir do título, resumo e palavras-chave, para verificar se se enquadrava na temática em
estudo. Apesar de haver um elevado número de pesquisa em torno do e-learning, muitos foram excluídos ou por focar
no contexto de instituições formais de ensino (universidades, escolas e etc.), e outros, por não abordarem o tema da
aceitação ou adoção do e-learning. 27 artigos foram selecionados, pois abordavam o tema no contexto de organizações
ou de instituições de ensino.

19
Todos os trabalhos foram analisados a partir de um roteiro de análise envolvendo tópicos como características
da publicação, autor, ano, periódico; objetivos da pesquisa, teorias utilizadas e aspectos metodológicos. A seguir os
dados preliminares obtidos nas publicações serão apresentados a partir de uma análise descritiva e de frequência com
a finalidade de descrever as características das publicações.

RESULTADOS

Ao analisar os resultados das análises, especialmente, no que concerne a quantidade de estudos publicados
por ano, verifica-se que durante o recorte temporal definido, o ano de 2017 foi o que obteve mais publicações – um
total de nove; Para Mashroofa, Jusoh e Chinna (2019), a pesquisa sobre a teoria da adoção de e-learning não tem um
padrão de crescimento definido. Sendo assim, a partir de 2017, verifica-se uma desaceleração na quantidade de
publicações sobre o tema, o que começa a mudar a partir de 2020.
Ao observar o gráfico 1, percebe-se que entre 2020 até 2021 o número de publicações sai de uma situação de
declínio, para novamente, de crescimento. Importante destacar que no mesmo período, foi declarada pela Organização
Mundial da Saúde uma situação de pandemia devido ao vírus SARS-Cov-2 (Covid-19), em todo o mundo, o que afetou
diretamente as atividades de educação (Mathivanan et al., 2021). Para Al Lily et al., (2020), apesar de outros países já
terem sidos expostos a desastres naturais ou causados pelo homem, nunca em outro momento da humanidade, a
educação através da tecnologia tem sido utilizada como foi aplicada na crise decorrente do vírus Covid-19. Portanto,
acredita-se que este cenário contribuiu para o interesse de pesquisas nesta área, elevando assim, o número de
publicações.
Durante a análise dos dados, pode-se observar também que alguns periódicos foram essenciais na publicação
de estudos sobre o tema. O Emerald Insight foi o periódico com maior número de publicações (sete trabalhos), seguido
pelo Journal of Knowledge Management (dois trabalhos).

Gráfico 01: Evolução das publicações

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Também pode-se observar que dentro dos estudos selecionados, apenas dois possuíam o mesmo autor (Tamer
Abbas); e que a Universidade de Helman (Egito), a Universidade Nacional de Ciência e Tecnologia de Taiwan e a

20
Universidade de Chung Hua (Taiwan) possuem a mesma quantidade de autores (dois), que publicaram artigos sobre o
tema. Foi visto ainda que dos 27 estudos, 12 são de abordagem metodológica qualitativa, 13 são quantitativos e 2 não
foram especificados. O tipo de técnica de análise dos dados mais utilizada foi a Análise Fatorial Confirmatória, assim
como as instituições de ensino foram a maior fonte de coleta de dados. Os dados foram coletados através de
questionários (16), entrevistas/inquéritos (7) – sendo: 13 respondidos por funcionários, 8 por estudantes e 6 não foram
especificados – e análise documental (6).
Os resultados mostram que ambas as abordagens qualitativas e quantitativas podem ser importantes para
entender sobre a aceitação de e-learning. Alguns fatores já descobertos que afetam essa aceitação são facilidade de
uso dos sistemas, autoeficácia, normas subjetivas, interação, dentre outros (Baki, Birgoren, & Aktepe, 2018).
Pode-se verificar que as literaturas relacionadas a aceitação do e-learning são, em sua maioria, literaturas
internacionais, vindas de autores asiáticos. Taiwan aparece como o país que publica (cinco publicações), seguido do
Reino Unido (4 publicações). Tais resultados são similares a uma outra pesquisa desenvolvida por Mashroofa, Jusoh e
Chinna (2019), entre os anos de 2000 a 2019, no qual foi constatado que Taiwan estava entre os países com maior
quantidade de publicações sobre o tema.
Logo constata-se que esses estudos, de forma majoritária, foram aplicados em países asiáticos. Percebe-se
também que no continente europeu, mais especificamente, no Reino Unido, o número de pesquisas aplicadas chega a se
igualar com Taiwan, o país asiático com maior número de publicações (ambos países com cinco pesquisas aplicadas em
seus respectivos contextos).
É sabido que em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, a aceitação da tecnologia é maior e mais fácil por
possuírem maiores condições de investimento na mesma, e esse mesmo fator é um grande contribuidor para a aceitação
do e-learning (Abbas, 2016). A partir dos dados, fica evidente por exemplo, que dentro dos estudos analisados não foi
identificado nenhum trabalho aplicado no contexto de aceitação de e-learning em empresas ou instituições de ensino
brasileiras.
Outros resultados da pesquisa também mostraram que a adoção do e-learning é um fator de importância para
o aumento da consciência do uso da tecnologia, tanto em locais de trabalho quanto em instituições de ensino. É possível
notar essa importância quando observa-se que dentro dos estudos, 13 deles foram voltados para as instituições de
ensino, e 12 foram voltados para empresas. Fleming, Becker e Newton (2017), afirmam que existe uma tendência de
crescimento do e-learning em organizações; por outro lado, Abdou e Jasimuddin (2020), alegam que existe pouca
atenção de pesquisadores sobre o estudo do e-learning no ambiente organizacional. Contudo, apesar de haver uma leve
diferença, as pesquisas entre empresas e instituições de ensino foram contempladas quase que de forma igualitária
dentro dos estudos investigados; no entanto, ressalta-se que este resultado pode sofrer alterações já que esta é uma
pesquisa em andamento e novos estudos ainda irão ser investigados – gráfico 2.

Gráfico 02: Objetos de estudo das publicações analisadas.

21
Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Importante enfatizar que dentre os 27 artigos analisados, apenas dois deles aplicaram suas análises a
contextos correlacionados ao setor do turismo, sendo eles, as pesquisas de Abbas (2016;2017). Apesar de ser estudos
distintos, ambos os trabalhos apresentam características semelhantes, por terem sido aplicados no mesmo contexto
(países) e grupos específicos. Trata-se de duas pesquisas que buscaram avaliar diferentes fatores de aceitação de e-
learning entre alunos dos cursos de turismo/hotelaria, comparando os resultados entre países desenvolvidos (Reino
Unido) e em desenvolvimento (Egito). Assim, os resultados dessas pesquisas mostraram que a aceitação de e-learning
em países desenvolvidos e em desenvolvimento ocorre de forma diferente. Portanto, um fator que influencia estudantes
de uma localidade, não necessariamente, influenciará de outra. Por fim, ressalta-se que apesar de ser aplicado no
contexto de cursos de turismo, tais pesquisas não se direcionaram ao ambiente organizacional, o que evidencia que, de
certa forma, há uma carência de pesquisas sobre aceitação/adoção do e-learning no turismo, e este fato se agrava ainda
mais quando abordado no contexto de organizações turísticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do acerado impacto da tecnologia da informação e comunicação no setor da educação, as empresas de


modo geral e no turismo, precisam estar atentas para se adaptar cada vez mais a estes contextos de mudanças. Assim,
o presente estudo teve como objetivo investigar a literatura sobre aceitação de e-learning, e especificamente, verificar
como estes estudos se aplicam ao turismo.
Os resultados mostraram que a pandemia do Covid-19 pode ser um fator de aumento no número de
publicações sobre o tema, já que foi a partir do ano de 2020 (ano em que foi decretada a pandemia) que estas pesquisas
retomaram o ritmo de crescimento. Os países Taiwan e Reino Unido foram os locais com maiores números de publicações
por autores, bem como, foram os principais locais de aplicação das pesquisas. O Brasil, em nenhum momento aparece
como um país que publica sobre a temática de aceitação de e-learning, pelo menos, dentro do recorte temporal e estudos
analisados.

22
Quanto às questões metodológicas, verifica-se que há mais pesquisas quantitativas, em detrimento da
qualitativa; a análise fatorial confirmatória foi a técnica de análise mais utilizada e que as pesquisas são desenvolvidas
mais em instituições de ensino formais, do que em empresas. Por fim, verifica-se uma carência de estudos no campo de
turismo, onde, dos 27 trabalhos analisados, apenas dois estavam neste contexto; além disso, não foram pesquisas
aplicadas em organizações do setor.
Um ponto de importância e que consiste uma limitação deste estudo, é que se trata de uma pesquisa em
andamento, portanto, os dados são preliminares e ainda podem existir alterações no documento ao longo do tempo.
Para os próximos passos, espera-se ampliar a pesquisa para outras bases de dados, bem como continuar analisando o
fluxo de pesquisa nos anos futuros.

PALAVRAS-CHAVE

E-learning; Aceitação; Turismo; Revisão da Literatura.

REFERÊNCIAS

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countries: A structural equation modeling approach. Journal of Hospitality and Tourism Technology, 8(3), 200-212.

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23
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characteristics and e-learning acceptance. Asian Academy of Management Journal. (24(1), 83-110.

24
APLICATIVOS DE TRANSPORTE E MOBILIDADE INTRADESTINO: UMA ANÁLISE DA
PERCEPÇÃO DO TURISTA SOBRE O UBER EM NATAL/RN
Fernanda Imaculada Barroso Veríssimo e Rodrigues (fehrodrigues.turismo@gmail.com)

INTRODUÇÃO

A adoção de novas tecnologias pela sociedade é uma realidade da era moderna. Atualmente, tem-se os
aplicativos que funcionam como ferramentas que auxiliam a comunicação, a troca de informações e possibilitam a
realização de negócios em suas diferentes esferas. Nesse sentido, busca-se no presente estudo analisar o uso de
aplicativos de transporte pelo turista na dinâmica da mobilidade intradestino em Natal/RN. Especificamente, o objeto de
estudo será o aplicativo Uber. Para isso, serão analisadas as avaliações compartilhadas pelos turistas na plataforma
TripAdvisor sobre o referido app. Essas avaliações são caracterizadas como Conteúdo Gerado pelo Usuário (CGU).
A essência da atividade turística pressupõe o deslocamento de pessoas de uma cidade para outra (entre
destinos) e dentro do destino (intradestino) (Lohmann, Fraga & Castro, 2013; Cooper, Fletcher, Wanhill, Gilbert &
Shepperd, 2007). Para Quevedo (2007), a cidade onde o turismo se insere experimenta mudanças em sua infraestrutura
pelo fato de que ele é uma atividade que depende de diferentes equipamentos para atender à necessidade do turista.
E dentre essas infraestruturas, tem-se os meios de transporte.
E no contexto da tecnologia da informação e comunicação (TIC), o uso de ferramentas tecnológicas possibilita
a troca de informações e aquisição de produtos e serviços pelo consumidor em todos as fases que envolve uma viagem.
Com as atuais plataformas de comunicação os usuários se conectam diretamente aos prestadores de serviços
possibilitando a interação e comercialização de produtos e serviços turísticos (Buhallis, 2000; Buhallis & Law, 2008;
Cacho, Anjos & Mendes Filho, 2014; Beni, 2017; Mendes Filho, Mills, Tan & Milne, 2018). Mendes Filho et al. (2018) colocam
que o turista tem se tornado cada vez mais um consumidor empoderado diante das inovações tecnológicas criadas.
Dessa maneira, torna-se relevante analisar o uso de aplicativos de transporte, visto que é uma inovação da tecnologia
que facilita o deslocamento de pessoas dentro dos espaços urbanos. E apesar de não ser uma infraestrutura criada em
razão do turismo seu uso é bastante difundido entre os turistas.
Sobre a mobilidade, Allis (2016) aponta que ela envolve um contexto de relações dentro do destino que diz
respeito não só ao deslocamento, mas uma ideia mais ampla de movimento de pessoas e possibilidades que o turista
tem a sua disposição. Diante do fato de que a tecnologia está influenciando os processos relacionados às viagens e ao
turismo torna-se relevante analisar a percepção do turista em relação às essas novas tecnologias que auxiliam o
deslocamento e afetam a mobilidade.
Sendo assim, o ponto fundamental desse estudo é compreender o uso de uma nova ferramenta tecnológica
intermediadora da circulação de pessoas dentro de um destino. De maneira prática, o objetivo do estudo é analisar a

25
percepção do turista sobre o uso do aplicativo de transporte Uber com base em reviews compartilhadas na plataforma
TripAdvisor.
Espera-se com esse estudo contribuir com as discussões acerca da temática dos transportes e mobilidade
atrelados às TICs. Tratar o deslocamento do turista dentro de um destino possui relevância teórica diante de todos os
fatores que envolve a dinâmica de deslocamento do turista em uma viagem e as relações estabelecidas por ele, visto a
importância do transporte para o setor turístico. Atrelado a isso, a opção de fazer uso dos dados disponíveis na
plataforma TripAdvisior sobre o transporte feito pelo Uber em Natal/RN poderá preencher uma lacuna de estudos e
gerar conhecimento científico a partir da descrição do turista sobre um equipamento essencial para o turismo.

METODOLOGIA

A presente pesquisa caracteriza-se como exploratória e descritiva, de natureza qualitativa. Para analisar o
objeto de pesquisa em questão o universo de pesquisa foram os comentários disponíveis sobre o Uber em Natal/RN
compartilhados pelos turistas na Plataforma TripAdivisor. Portanto, o público alvo “participante” da pesquisa foram os
turistas que visitaram Natal/RN, utilizaram o aplicativo Uber em algum momento da viagem e, posteriormente
descreveram sobre o App na referida plataforma. Esses comentários (CGU) têm se revelado como uma empiria relevante
para a construção do conhecimento.
A coleta de dados dessa pesquisa foi realizada de forma online. Ela ocorreu no ano de 2020 e foram
considerados os comentários descritos entre os anos de 2016 e 2019. Primeiro foi escolhido no site da plataforma a
cidade de Natal/RN para direcionar a pesquisa. Em seguida, buscou-se pelo termo “Uber” que gerou 105 fóruns que são
perguntas feitas por turistas sobre o funcionamento do App na cidade. Esses fóruns são compostos por comentários que
após o mapeamento dos dados coletados notou-se que eles eram feitos por moradores, empresas de transporte da
cidade e por turistas. Logo, foram considerados somente os dos turistas. Ao final foram validados 93 comentários.
O procedimento usado para a análise de dados foi baseado na técnica de Análise de Conteúdo. Primeiro foi
feita uma estruturação dos dados em uma planilha do Excel para identificar os comentários por ano de publicação, dados
sobre o perfil dos turistas (país, cidade e estado) e o comentário propriamente dito. Essa planilha serviu de base para
todo o processo de análise e descrição dos resultados. Optou-se ainda pela aplicação do software de análise qualitativa
NVIVO13 (2021) por ser uma ferramenta relevante para organização da análise de resultados de uma pesquisa. Com o
NVIVO13 foi possível elaborar a frequência de palavras das avaliações sobre o objeto de estudo na Nuvem de Palavras.
O processo de análise considerou categorias que surgiram na discussão teórica e na descrição do objeto pelo próprio
turista e foram basilares para compreender o objeto de pesquisa desse estudo.

RESULTADOS

26
Com o desenvolvimento das TICs a sociedade vivencia uma evolução disruptiva dos serviços e isso se deve
as inovações que são criadas e difundidas entre as pessoas. O acesso à internet se constitui uma ferramenta
fundamental nesse processo. Nesse contexto de inovação, destaca-se o segmento de aplicativos de transporte, como
forma de aplicação direta da TIC na vida da população. Telésforo (2016) coloca que esse novo modelo de negócios ligado
à tecnologia foi criado como uma inovação disruptiva que extingue a barreira de que somente os táxis eram
responsáveis pelo transporte individual de passageiros dentro das cidades.
E o serviço oferecido pela Uber se enquadra nesse novo modelo de negócios apresentado por Telésforo (2016)
onde o contato entre motorista e passageiro é feito através de um smartphone com acesso à internet. O aplicativo Uber
foi lançado em 2010 nos Estados Unidos como uma startup que possibilita o contato entre motorista e passageiro para
o deslocamento dentro dos centros urbanos (UBER, 2021). No Brasil, o app está presente em diversas regiões e oferece
diferentes categorias de serviços de mobilidade a depender da cidade. Segundo a Uber (2021), o sistema de transporte
oferecido à população pelo aplicativo lhe faz ser apontada como a startup de maior valor no mundo. Em Natal/RN, o
aplicativo da Uber foi instalado a primeira vez em agosto de 2016 (UBER, 2017). E desde então faz parte da rotina de
deslocamento tanto de moradores quanto de turistas devido a comodidade de uso do mesmo.
Para tratar a percepção dos turistas sobre o Uber como opção de mobilidade em Natal/RN algumas categorias
de análise foram extraídas da fundamentação teórica apontadas por autores como Allis, 2010; Beni, 2003; Cooper,
Fletcher, Wanhill, Gilbert & Shepperd, 2007; Lohmann, Fraga e Castro, 2013. Essas categorias são com relação a preço,
segurança no deslocamento, conforto, acessibilidade, eficiência, tempo de deslocamento, qualidade, utilidade,
disponibilidade e infraestrutura. Pelos comentários constata-se que os turistas apontam o preço, o tempo de
deslocamento e a acessibilidade como os aspectos mais relevantes considerados por eles na tomada de decisão de uso
do aplicativo no deslocamento feito em Natal-RN.
A nuvem de palavras geradas com o software NVIVO possibilitou visualizar a expressividade do uso do Uber
pelo turista. Sua formulação capta a relação do termo Uber com outros termos que aparecem em evidência nos
comentários dos turistas.

Frequência dos Termos baseada nas reviews dos turistas

27
Fonte: Dados do Estudo, 2021

Pela figura nota-se que os termos “Uber”, “Aeroporto” e “Natal” se destacam entre os demais pelo fato de
que os turistas utilizam o app no deslocamento do aeroporto para a cidade de Natal. E apesar de outros termos como o
“táxi” ou “taxi” e “van” também se destacarem, eles são um reflexo dos discursos que os apresentam também como
opção de deslocamento no destino turístico Natal-RN. Porém, no caso do termo táxi é possível inferir que sua frequência
está ligada aos comentários que o coloca como opção existente, mas não indicada em razão do preço praticado. Já em
relação às vans, as avaliações demonstram que elas fazem parte dos meios de transporte utilizados pelo turista da
cidade e que são escolhidas pelo turista de acordo com o perfil da viagem que envolve os aspectos econômicos, a
disposição para deslocamento em grupo e o número de pessoas viajando. Dessa maneira, compreende-se que a
percepção dos turistas indica o Uber como uma opção de uso para se deslocar em Natal/RN.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por todo o contexto apresentado sobre as reviews dos turistas, contata-se que, no período pesquisado, eles
consideram o aplicativo Uber uma ferramenta importante na dinâmica da mobilidade de Natal-RN, porém, em algumas
situações específicas, utilizam outros tipos de transporte que se adequam melhor às suas necessidades. Com base na
análise realizada é possível apontar que são vários fatores que interferem na escolha de um meio de transporte, mas
que no caso dos serviços da Uber em Natal/RN o preço foi a variável que mais se destacou.
Portanto, pode-se perceber que o avanço das TICs implica em melhorias na comunicação e nos processos de
troca relacionados à atividade turística e que as ferramentas tecnológicas auxiliam o acesso às informações em relação
a produtos e serviços turísticos para planejamento de uma viagem. E, por meio das avaliações que compõem a
plataforma TripAdvisor outros turistas têm acesso a dados sobre as infraestruturas que compõem o destino turístico,
pois elas refletem a experiência anterior de viajantes.
Conclui-se que o uso de aplicativo de transporte (Uber) tem um papel relevante dentre as alternativas de
transporte individual de turistas usuários em todo deslocamento intradestino. Com esse estudo discutiu-se a questão

28
do deslocamento apresentando elementos teóricos que se alinham aos dados empíricos quanto à relevância de
mudanças e aprimoramento das possibilidades de transporte e mobilidade dos turistas possíveis graças a tecnologia.
Com ele foi possível demonstrar o uso efetivo do aplicativo como indispensável e já disseminado no contexto das
viagens e dos viajantes.

PALAVRAS-CHAVE

Aplicativos de Transporte; Mobilidade Intradestino; Reviews; Percepções; Uber.

REFERÊNCIAS

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29
DESTINO TURÍSTICO INTELIGENTE: PROPOSTA DE MODELO PARA IMPLEMENTAÇÃO E
GESTÃO NO POLO COSTA DAS DUNAS (RIO GRANDE DO NORTE)
Daene Silva de Morais Lima (daenesmorais@hotmail.com)
Luiz Mendes Filho (luiz.mendesfilho@gmail.com)

INTRODUÇÃO

Diante de um mercado cada vez mais globalizado e competitivo, o turismo vem se evidenciando como uma
das principais características da sociedade contemporânea, sendo esse atual cenário, impulsionador no surgimento de
variáveis de competitividade e inovação. Com a finalidade de alcançar melhor posicionamento estratégico dos destinos
turísticos, são implementadas estratégias competitivas, por meio de novas abordagens de planejamento e
gerenciamento.
Destarte, manifestam-se novas ideias e novos modelos de negócios para a atividade turística, dos quais os
destinos turísticos criam estratégias sustentáveis e inovadoras, proporcionando a satisfação dos visitantes, como
também a melhoria da qualidade de vida dos residentes, transformando em espaços inteligentes, surgindo assim
conceitos como Smart Cities (Cidades Inteligentes) e Smart Tourism Destination (Destinos Turísticos Inteligentes - DTI).
(GARCÍA et al., 2016; LIMBERGER, 2015; MONTANARI; GIRALDI, 2013).
O conceito DTI é de origem espanhola, e tem como parâmetro de formulação e metodologia, as categorias e
os pilares construídos, desenvolvidos e implementados em cidades europeias. Nos últimos anos a Espanha tem
alcançado resultados significativos na atividade turística, e com intuito de manter o posicionamento no mercado, o país
desenvolveu conceito DTI como estratégia competitiva. (IVARS-BAIDAL et al., 2014; INVAT.TUR, 2015; SILVA E MENDES
FILHO, 2019; SEBRAE, 2017, MUÑOZ, 2016).
Atualmente o estado do Rio Grande do Norte vem passando por um processo de transformação de um Destino
Turístico Tradicional (DTT) para um Destino Turístico Inteligente (DTI), tendo como proposta o desenvolvimento de
estratégias de inovação para fortalecer a atividade turística local. De acordo com Ávila et al. (2013), o DTI tornar-se-á
um espaço inovador, se comprometendo com a sustentabilidade, com a implantação de um sistema de informação
avançado, promovendo as informações em tempo real, melhorando significantemente a experiência turística.
Com base no que foi apresentado, este estudo buscará esclarecer a seguinte questão problema: Quais
seriam os principais fatores e indicadores para implementação e gestão de um modelo de Destino
Turístico Inteligente no Polo Costa das Dunas (Rio Grande do Norte)? Portanto, a presente pesquisa tem
como finalidade desenvolver uma proposta de modelo para implementação e gestão de turismo, tendo como delimitação
os três maiores destinos turísticos do Polo Costa Dunas (Natal, São Miguel do Gostoso e Tibau do Sul), definidos pelos
atrativos turísticos dos destinos em estudo, com a proposição de um modelo para implementação e gestão de um Destino
Turístico Inteligente.

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Diante do exposto, justifica-se a proposta de uma modelagem de Destino Turístico Inteligente para o Polo
Costa das Dunas, de forma a propor um modelo direcionado para a realidade dos destinos turísticos, sendo essencial
avaliar as contribuições e limitações, bem como identificar a adequação e viabilidade em diferentes espaços turísticos
A referida pesquisa encontra-se em andamento, sendo apresentado nesse resumo expandindo, um recorte da
revisão da literatura. Espera-se que após concluído, o estudo contribua como embasamento para futuras pesquisas, por
meio da construção da literatura do turismo e dos resultados que serão alcançados, contribuindo assim com o
crescimento da produção acadêmica para o campo de estudo em Gestão e Tecnologia no Turismo.

METODOLOGIA

A referida pesquisa tem como proposta desenvolver para o Polo Costa das Dunas um modelo de implantação
e gestão de Destino Turístico Inteligente, tendo como delimitação os três maiores destinos turísticos do Polo: Natal, São
Miguel do Gostoso e Pipa.
O método de abordagem da pesquisa caracteriza-se como Qualitativa e Quantitativa, e para alcançar os dados
da pesquisa e futuros resultados, pretende-se realizar um estudo exploratório, por meio da utilização de algumas
técnicas ou procedimentos, baseando-se fundamentalmente na análise de fontes primárias (realização de entrevistas
semiestruturadas com representantes do setor público e observação direta) e fontes secundárias, por meio de estudo
bibliométrico, pesquisa documental e visita a web sites para identificação de modelos de DTI já validados ou em
desenvolvimento, entre outros procedimentos considerados estratégicos para atender ao objetivo do estudo.
A técnica de análise de conteúdo será realizada mediante softwares específicos para análise de dados, como
NVIVO, SPSS e EQS. A aplicação de métodos estatísticos multivariados possibilitará uma visão mais ampla do fenômeno
estudado.
Para alcançar os objetivos da pesquisa, torna-se necessário que todas as etapas da pesquisa sejam realizadas,
partindo da escolha dos documentos para a construção teórica da pesquisa, a formulação das hipóteses e dos objetivos
que o pesquisador pretende alcançar, bem como identificar os indicadores que irão fundamentar na interpretação final.
(BARDIN, 2011). Advoga Bardin (2011) que as missões da pré-análise não precisam seguir necessariamente a ordem
citada, podendo haver alteração na cronologia das etapas.
Após a construção teórica, a realização de entrevistas com agentes do setor público e privados e a aplicação
de questionários com os visitantes e residentes, será proposto um modelo de Implantação e Gestão de Destinos
Turísticos Inteligentes. As variáveis e indicadores do modelo em que serão definidos durante o estudo, contribuirá com
a implementação do modelo, do qual pretende-se validar por meio do Método Delphi. Com a proposta de sintetizar a
metodologia do estudo, será apresentado o quadro metodológico da pesquisa.

RESULTADOS ESPERADOS

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O referido estudo encontra-se em andamento, da qual considera-se importante o aprofundamento do tema,
em busca de futuras contribuições acadêmicas, visto que Destino Turístico Inteligente está em fase de expansão à nível
mundial, sendo no Brasil uma temática recente, e que ainda dispõe de poucos estudos nesse campo.
Diante dos objetivos propostos, espera-se que a construção da literatura e dos resultados que serão
alcançados no estudo, possam colaborar com o crescimento da produção excêntrica para o campo de estudo em Gestão
de Tecnologia no Turismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conceito de Destino Turístico Inteligente é norteado por pilares como Governança, Sustentabilidade,
Acessibilidade, Inovação, Sistemas de Informação, Marketing, e para cada pilar, serão desenvolvidos instrumentos e
procedimentos para implementação de melhorias, por meio da identificação de barreiras e oportunidades que poderão
ser aprimoradas, tornando um ambiente universal e acessível para todos os indivíduos, sejam residentes ou turistas.
Em face do exposto, a referida pesquisa encontra-se em fase embrionária, e vislumbra-se que após concluída
possa contribuir como referência para outras pesquisas, colaborando assim no posicionamento de Destinos Turísticos
Tradicionais em Destinos Turísticos Inteligentes.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo; Destinos Turísticos Inteligentes; Tecnologia.

REFERÊNCIAS

ÁVILA, A. L.; LANCIS, E.; GARCÍA, S.; ALCANTUD, A.; GARCÍA, B.; MUÑOZ, N. Informe destinos turísticos: construyendo
el futuro. Madrid, 2015.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Almedina, 2011.

GARCÍA, F. A.; MENDES FILHO, L. A. M.; SANTOS JÚNIOR, A. Turismo e inovação: uma proposição de modelo de sistema
de gestão para configuração de destinos turísticos inteligentes. CULTUR, 2016.

INSTITUTO VALENCIANO DE TECNOLOGIAS TURÍSTICAS. Destinos Turísticos Inteligentes. 2015. Disponível em:
<http://invattur.gva.es/proyecto-ic/destinos-turisticos-inteligentes-comunitat-valenciana/>.

IVARS-BAIDAL, J. A.; RODRÍGUEZ-SANCHEZ, I.; VERA-REBOLLO, J. F.; ACEBAL, A. Nuevos enfoques en gestión
turística: el programa de agrupaciones empresariales innovadoras en España. Boletín de La Asociación de Geógrafos
Españoles, 2014.

LIMBERGER, P. F. Gestão do Destino Turístico: Modelo de avaliação da experiência do turista com base nas online
travel review. Tese de Doutorado em Turismo e Hotelaria. Universidade do Vale do Itajaí. Balneário Camboriú, 2015.
MENDES FILHO, L.; SILVA, J. C.; SILVA, D. S. Percepções e perspectivas de destino turístico inteligente: um estudo de caso
com a secretaria municipal de turismo em Natal/RN. Revista Turismo: Estudos & Práticas (RTEP/UERN), v. 8, p.
98-124, 2019.

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MONTANARI, M. G.; GIRALDI, J. M. E. Competitividade no turismo: uma comparação entre Brasil e Suíça. Revista
Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 7, n. 1, p. 92-113, 2013.

MUÑOZ, A. L. Á. Creating a smart destination. 2016. Disponível em: <http://www.morocco-


forum.com/downloads/presentations/Antonio-lopez-de-Avila-Munoz-Creating-a-Smart-Destination.pdf>.

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. Destinos Turísticos Inteligentes: Tecnologias de
informação e desenvolvimento sustentável. 2016. Disponível em:
<https://m.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/BI_Tur_2016_06_Destinos%20Tur%C3%ADsticos%20
Inteligentes.pdf>.

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ECONOMIA CRIATIVA EM TURISMO: SHOPPING RURAL SÍTIO TAMBABA, CONDE-PB

Érica Dayane Chaves Cavalcante (ericaccx@gmail.com)


Joelma Abrantes Guedes Temoteo (joelma.abrantes@academico.ufpb.br)

INTRODUÇÃO

O termo indústria criativa suscitado em países industrializados a partir da década de 1990, para tratar
indústrias sustentadas por processos criativos, foi base para a criação do conceito de economia criativa (Montag, Maertz
& Bauer, 2012).
Especificamente, o termo emerge como uma forma de dar nome a modelos de negócio ou gestão que tinham
o conhecimento, capital intelectual ou criatividade de seus membros como principal ativo para o desenvolvimento dos
seus produtos, serviços ou atividades (SEBRAE, 2022). Howkins (2001) remonta o fato de que o jornalista Peter Coy foi o
primeiro a escrever sobre economia criativa, no ano de 2000, na revista Businessweek. Na ocasião, Coy tratou da
importância de se considerar o conhecimento no processo produtivo em grandes organizações, tratando da economia
baseada no conhecimento. Porém, Blythe (2001) registra que o conceito ganha forma na Austrália, no início dos anos de
1990, sendo impulsionado na Inglaterra nos anos seguintes.
A partir de então, a Organização das Nações Unidas concebeu a economia criativa como um novo modelo de
desenvolvimento pautado na cultura, criatividade, economia e tecnologia, que são componentes necessários ao
considerar uma configuração de mundo formado por elementos simbólicos, que incluem sons, imagens, textos, entre
outros. Sendo assim, por ter como principal componente a criatividade, tem sido considerado um setor extremamente
dinâmico no contexto da nova economia mundial (Unctad, 2010). Assim, economia criativa vai englobar organizações
(processos) que tem como principal ativo a criatividade como forma de “gerar localmente e distribuir globalmente bens
e serviços com valor simbólico e econômico” (Reis, 2008, p. 24).
A economia criativa é um tema considerado recente, tanto academicamente, quanto no campo do
desenvolvimento econômico, portanto, ainda é um campo de pesquisa em consolidação que possui inúmeras lacunas
conceituais e tem recebido críticas pelo fato de buscar transformar bens simbólicos em produtos/mercado (Bustamante,
2012). Grande parte dos empreendimentos relacionados à economia criativa pousam no ramo intelectual e cultural, o
que caracteriza a economia criativa enquanto potencializador do crescimento social, econômico e cultural de regiões por
meio de suas ações, as quais são baseadas na criatividade, no conhecimento e na inovação (Unctad, 2010; Medeiros,
Grand & Figueiredo, 2011).
Deste modo, a criatividade, conhecimento e inovação são consideradas pilares do conceito de economia
criativa, pois considera-se a importância destes como recursos primordiais do sistema de produção como forma de lidar
com as transformações permanentes na economia global. Além disso, a UNESCO (2013) tem feito relatórios otimistas
sobre a economia criativa, ressaltando sua capacidade de gerar desenvolvimento local por meio de empresas criativas.

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Define-se a economia criativa a partir das relações contínuas que se dão entre ideias e aplicações criativas
que gerem valor econômico e oportunizem a geração de renda e desenvolvimento local (Howkins, 2001; Unctad, 2010).
Assim, essas ideias e aplicações criativas são observadas a partir do surgimento de novos produtos e ou serviços
resultantes de um fluxo de ideias. Segundo Howkins (2001), este próprio fluxo de ideias e o processo criativo inerente
aos produtos ou serviços criados conferem aos mesmos também um forte componente simbólico e intangível.
A economia criativa foi considerada por Barbosa (2011) como uma possibilidade de aliar a liberdade inerente
à criatividade cultural com a dominação do mundo da economia. Compõe a economia criativa empreendimentos no
âmbito das artes, mídia, patrimônio cultural, tais como “design (interiores, gráficas, moda); novas mídias (arquitetura,
cultura e entretenimento, pesquisa e desenvolvimento); e serviços criativos e correlatos” (Costa & Souza-Santos, 2011,
p.4). Deste modo, o termo abrange um conjunto de empresas que atuam com base na criatividade, na cultura, na arte,
no conhecimento tácito e cotidiano. Por isso, segundo Pires e Albagli (2012), trata-se de uma economia que suscita a
partir da exploração imaterial, criando estratégias que englobam elementos da economia da informação, como
habilidades cognitivas, comunicação, aprendizado contínuo e o próprio conhecimento.
A economia criativa tem transformado estratégias e modelos de gestão, possibilitando novas formas de
organização, tanto em relação à produção, quanto ao consumo, o que é refletido em todos os níveis socioeconômicos
em âmbito mundial. Novas formas de relações de trabalho, de emprego, de estilos de vida têm reflexo também no setor
turístico, demandando adequações e adaptações na produção e no consumo dos produtos e dos serviços de interesse
do turismo” (Ashton, 2018, p. 19).
O turismo tem sido considerado um importante setor socioeconômico por sua capacidade de estimular o
crescimento econômico, gerar emprego, renda, dentre outras oportunidades. Por isso, é um setor que tem contribuído
significativamente para ajudar pessoas a escaparem da pobreza. Antes da pandemia da Covid-19 (Coronavírus), o setor
de turismo no Brasil havia apresentado um crescimento recorde em relação aos quatro anos anteriores ainda no
primeiro semestre de 2019, com rendimento de R$ 136,7 bilhões. Conforme pesquisa realizada pela Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), entre os principais números do setor, contam-se as 25 mil vagas
de empregos criadas entre julho de 2018 a julho de 2019 (Brasil, 2022). Especialmente neste período de pandemia de
Covid-19, o turismo tem sido considerado como um setor resiliente, desenvolvedor de oportunidades, principalmente
se refletido sobre modos de economia criativa.
Ruiz, Horodyski e Carniatto (2019) fazem a articulação entre a economia criativa e o turismo, destacando o
papel do turista, por meio de suas buscas por consumo de produtos culturais, sejam souvenirs, sejam experiências e
vivências culturais (turismo criativo), o que se torna base para a identificação de oportunidades, criação de negócios
que atendam às necessidades e desejos observados, o que poderá contribuir com o desenvolvimento regional. Assim,
conforme Ashton (2013), ter um empreendimento criativo significa mudar os valores que perpassam a produção e o
consumo turísticos.

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O empreendimento criativo escolhido para a pesquisa se tratou do Shopping Rural Sítio Tambaba, Conde – PB,
por reunir elementos que caracterizam a economia criativa, a exemplo do seu modo de produção baseado
principalmente em criatividade e ideias, consumidas no local - a partir da experiência de conhecer um sítio no qual são
comercializados produtos locais, como doce, cachaça, licores, artesanato, frutas, tapiocas entre outros. Além disso, o
empreendimento tem sido destaque no roteiro turístico do Conde, Paraíba (Turismo, Negócio & Cultura, 2022). Deste
modo, esta pesquisa parte do objetivo de apresentar a economia criativa em turismo desenvolvida no Shopping Rural
Sítio Tambaba, Conde - PB.
Esta pesquisa se justifica por ter sido observada a necessidade de compartilhar um caso considerado bem-
sucedido, que oportunizou geração de renda, inclusão, desenvolvimento para os envolvidos, bem como para a
comunidade local, por meio do incremento à atividade turística.

METODOLOGIA

A presente pesquisa se trata de uma pesquisa qualitativa básica ou genérica, a qual “inclui descrição,
interpretação e entendimento; identifica padrões recorrentes na forma de temas ou categorias e pode delinear um
processo” (Teixeira, 2003, p.187). Assim, esta pesquisa possui caráter descritivo.
A pesquisa foi realizada no início de março de 2022, no Shopping Rural Sítio Tambaba, na cidade do Conde,
Paraíba. O Shopping Rural Sítio Tambaba se trata de um empreendimento de economia criativa voltada à atividade
turística, idealizado pela matriarca da família Silva, Dona Luíza, e sua filha, Maria das Neves, as quais conduziram o
negócio incorporando outros membros da família, a exemplo do patriarca, Seu Nelson e suas demais filhas, assim como
sobrinhos e netos. O empreendimento é composto por um complexo de lojinhas com artesanato, alimentos e produtos
oriundos da agricultura familiar, localizadas ao ar livre, no sítio, a caminho da praia de Tambaba.
Realizou-se, portanto, três entrevistas com as idealizadoras do projeto de economia criativa desenvolvido no
Assentamento Tambaba, Dona Luíza (Proprietária da Loja Doces Tambaba), Maria das Neves (Nevinha – Idealizadora do
Shopping Rural e Proprietária da Loja Doces Tambaba) e Lucineide (Neide – proprietária da loja Tambaba Artes). As
entrevistas aconteceram de forma semiestruturada, sem uso de roteiro rígido, nas quais foram tratadas temáticas como
desenvolvimento do projeto de economia criativa, empreendedorismo, história do assentamento e a atividade turística.
As entrevistas, que foram gravadas em áudio via autorização das entrevistadas, foram conduzidas presencialmente
pelas pesquisadoras, após visita técnica realizada no empreendimento turístico em análise, que se enquadra como
economia criativa a partir do projeto desenvolvido pelo SEBRAE/PB.
As entrevistas tiveram duração média de 45 minutos e, para seguir com a análise, não foi necessária a
transcrição integral. Apenas trechos considerados chave, após repetidas escutas. Os dados acessados na pesquisa foram
analisados de forma interpretativa, com base no quadro teórico sobre economia criativa.

RESULTADOS

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Nesta seção são apresentados os principais resultados da pesquisa empreendida, seguindo dois tópicos
principais, sendo estes o Shopping Rural Sítio Tambaba – como tudo começou; e os aspectos da economia criativa.
No que se refere ao Shopping Rural Sítio Tambaba, esse se trata do único shopping rural do Brasil, um espaço
destinado à comercialização de variados produtos aos turistas e visitantes, com uma infraestrutura peculiar, que
remonta um sítio e ressalta aspectos bucólicos como o verde, o rústico e o simples. O espaço erguido em um lote do
Assentamento Rural Tambaba, Conde, Paraíba, foi construído pela família Silva. O empreendimento atualmente é
formado por 10 negócios: (1) Doces Tambaba; (2) Tambaba Artes; (3) Flor de Jambo Sorveteria Tambaba; (4) Casa das
Frutas, Sucos e Drinks Tambaba; (5) Casa da Castanha; (6) Taipa Moda praia; (7) Cachaçaria Tambaba Flor de Caju; (8) o
coco grátis do Seu Nelson, onde o cliente paga apenas o canudo; (9) Tapiocaria da Teteca; (10) Bijoux Taipa.
Com exceção dos itens 8 e 10 mencionados, os produtos são expostos em lojas estruturadas em casas de feitas
de taipa e piso de terra batida, que recebem a luz solar via garrafas de vidro recicladas cravadas no barro e são ornadas
por móveis de pallets coloridos ou de madeira rústica e as janelas possuem cortinas coloridas tecidas de crochê. Todas
as casinhas possuem no alto da sua entrada os letreiros de identificação da loja pintados na madeira. No ponto central,
à sombra de um grande cajueiro plantado por Seu Nelson quando tomou posse do lote no Assentamento Tambaba, foram
dispostos balanços para que os visitantes possam deleitar ou apenas tirar fotos, além das placas coloridas pintadas na
madeira com ditados populares e frases alegres. Ademais, a fachada de uma casa de taipa construída ao centro do
shopping rural, com a sinalização do local e a "hashtag" da loja Doces Tambaba, é um cenário utilizado para que turistas
possam registrar a passagem pelo local e compartilhar em suas redes sociais.
O local está situado em um ponto estratégico, na passagem para as praias Barra de Gramame, Praia do Amor,
Jacumã, Carapibus, Tabatinga, Coqueirinho e Tambaba, acessado pela BR-PB 008, por isso tem sido ponto de parada
para os condutores de buggies e quadrículos em atividade, assim como integra a rota turística do Conde/PB. Existem
parcerias com receptivos, como a Luck Turismo, que diariamente leva centenas de turistas para conhecer o local (cerca
de 300 turistas), avisando previamente a Nevinha para que possa preparar o local, que também conta com pontos de
apoio, como banheiros e bancos para descanso.
Foi em 2013 que Dona Luíza e Nevinha iniciaram na cozinha de casa a fabricação dos doces e vendiam embaixo
da sombra do cajueiro em frente de casa e também ofereciam os doces na margem da BR-PB 008 aos passantes, onde
cravaram em madeira uma placa de sinalização com informações sobre a venda dos doces. Ambas trabalhavam em
restaurantes turísticos no Conde e tiveram a ideia de vender doces como forma de complementar a renda. “Nevinha
dizia: não vai dar certo, mãe, e eu dizia: vai dar certo sim. Vamos tentar que o pouco que a gente ganhar é da gente [...]
a gente fazia dois tipos de doce, esperando quem passasse para vender” (Entrevista Dona Luíza, 2022)
O despertar para a ideia de comercializar os doces veio com a experiência no trabalho em empreendimentos
turísticos e as capacitações realizadas por Dona Luíza e Nevinha junto ao SEBRAE – elas eram vinculadas à Associação

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de Turismo Costa de Conde (ATCC). Além disso, os contatos que passaram a ter com importantes pessoas do trade
turístico foram base para que pudessem empreender utilizando o Assentamento como local estratégico.
Com o aprimoramento dos doces e da embalagem, que passou a portar a sua logomarca, um desenho formado
por seis cajus unidos pela base formando um trevo de quatro folhas, representando a união entre mães e filhas, em
2014 foi construída, em mutirão pela família, uma casa de taipa para abrigar a lojinha, inspirada em um projeto já
existente no Brejo paraibano (Casa do Doce de Areia/Paraíba) que foi conhecido por mãe e filha após visitas técnicas
realizadas pelo SEBRAE à empreendimentos turísticos.
Entretanto, estas visitas técnicas não capacitaram em relação aos pormenores de se empreender um negócio
(planejamento, estruturação, gestão), embora servissem como inspiração. Dona Luíza e Nevinha eram pessoas simples
e sem alfabetização, que conduziram a ideia de negócio de forma intuitiva. Os aprimoramentos mencionados, a exemplo
da embalagem e o alcance de algumas noções sobre gestão, vieram após uma ação da prefeitura do Conde, por meio
de sua Secretaria de Turismo, voltada à capacitação de pessoas que atuavam informalmente no turismo local, como uma
forma de incrementar o turismo que já acontecia nas regiões das praias. Isso era uma forma de permitir também que
as comunidades rurais pudessem ter uma opção de renda.

A gente pediu cinquenta reais emprestado e fizemos mais doce. Compramos açúcar, leite, usava
as frutas aqui do sítio. Foi quando o SEBRAE chegou perguntando se a gente queria fazer alguma
coisa e a gente disse sim, que queria. Porque você sabe que o SEBRAE não dá dinheiro é só
instrução. E a gente começou. Danilo entrou [da Secretaria de Turismo do Conde]. Danilo ensinou
muita coisa a gente aqui. As primeiras placas foram feitas com Danilo [sic]. E a gente ia para as
viagens, o SEBRAE levava a gente. A gente se via tão pequenininha lá dentro, mas cheias de
ideias, de vontade, de sonhos (Entrevista Dona Luíza, 2022).

Na sequência, um ano depois a procura pelo doce já atraía pessoas ao local, Seu Nelson começou a vender
seus cocos verdes na varanda de sua casa. Os cocos eram extraídos de sua própria plantação, assim como as frutas
utilizadas na fabricação dos doces, a exemplo do caju.
Com o fluxo de turistas aumentando progressivamente, Nevinha teve a ideia de convidar o restante dos
membros da família para construírem suas lojinhas e oferecer produtos diferenciados aos turistas: “aqui, cada um tem
o seu [negócio] para não ter problema, não ter competição. Cada um se ajuda” (Entrevista, 2022). Então, três anos
depois, a primeira a construir sua lojinha também em casinha de taipa foi a irmã Lucineide, para vender seus
artesanatos e suvenires aos turistas e atender uma demanda que já havia sido observada. Com o mesmo intuito e
estrutura, a sorveteria Flor de Jambo foi inaugurada, tendo à frente a irmã Luciene (que tece todo o crochê que decora
o shopping); e a Cachaçaria Tambaba Flor de Caju, cuidada pela irmã Josélia e a sobrinha Keila, que fabricam e temperam
a cachaça de forma artesanal. As cachaças têm no rótulo nomes criativos, como “amansa sogra” e “xereca refrescante”.
Nevinha criou a tapiocaria da Tetêca com o intuito de “oferecer trabalho” ao filho, nora e neta e incorporá-los
ao negócio da família. Além disso, a Casa das Frutas foi construída para que a irmã Luciana pudesse vender frutas e
polpas de suco aos turistas (também inspirado no projeto ora mencionado, desenvolvido em Areia/PB). Com o tempo,

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assim que observada a pouca procura pelas frutas, foram incorporados outros produtos, como salada de frutos, drinks
e petiscos.
Assim, como pontuado por Ashton (2018), o próprio movimento dos turistas naquele local, suas vontades,
desejos, necessidades, foi impulsionando novas ideias e um conhecimento capaz de fazer o negócio crescer.
Atualmente, o Shopping Rural Sítio Tambaba gera emprego e renda não apenas para os membros da família
(proprietárias, cônjuges, filhos e netos), por meio de trabalho como vendas, limpeza do local, etiquetagem das
embalagens, abastecimento, entre outros, como também gera oportunidade para a região, como exemplo das frutas da
produção do vizinho Silva, transformada em polpas, com isso tem estabelecido relações contínuas entre ideias e
aplicações criativas que geram valor econômico e oportunizam a geração de renda e desenvolvimento local (Howkins,
2001; Unctad, 2010).
Em relação aos aspectos da economia criativa, foi possível observar que o Shopping Rural nasce de um
processo criativo e ininterrupto, tendo o conhecimento como principal ativo, assim como propagado por Howkins (2001).
De acordo com a proprietária:

Quando eu vou dormir, fico inquieta na cama, fico pensando o tempo todo em ideias para aqui.
Quando eu tenho as ideias, no outro dia a primeira coisa que eu faço é passar para minhas
irmãs, para minha mãe: eu tava pensando nisso ontem à noite. O que é que vocês acham? Isso
aqui vai dar certo? Então na minha cabeça sempre fica fluindo as ideias... de primeira, era difícil
elas concordarem [com as ideias], hoje elas dizem: vamos fazer! Vai dar certo. Então hoje eu
tenho toda a minha família do meu lado. Hoje eu não tou só. Comecei só mais minha mãe, mas
hoje toda família está nos apoiando. (Entrevista Nevinha, 2022).

“Aqui mostra a força das mulheres da família. Somos maioria mulheres, até a maioria dos nossos filhos são
mulheres” (Entrevista Neide, 2022).
Enquanto organização formal e regularizada, o Shopping Rural possui processos de gestão e as licenças
necessárias para o funcionamento, além da segurança e higiene atestadas tanto pela vigilância sanitária e o corpo de
bombeiros. É possível observar a capacidade que o Shopping Rural tem de atrair e envolver os turistas, por meio de
suas histórias, produtos e serviços, sendo o valor simbólico o seu grande atrativo, como pontua Reis (2008) ser
necessário numa economia criativa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente resumo, foi apresentada a economia criativa em turismo desenvolvida no Shopping Rural Sítio
Tambaba, Conde - PB. Dentre tantas ações realizadas no empreendimento e acessadas na pesquisa, destacaram-se os
principais pontos que possuíam a capacidade de elucidar a economia criativa, como o pequeno investimento financeiro
realizado por mãe e filha para colocar a frente o desejo de comercializar um produto que tivesse apelo turístico
simbólico, por ser artesanal e ressaltasse elementos daquele lugar (como o caju e o coco). O produto protagonista do
Shopping Rural, o doce, ganhou ainda mais valor simbólico após a construção da sua loja de taipa (Doces Tambaba) e o

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aprimoramento da embalagem com logotipo que conta de modo subjacente a história do lugar e que ilustram a
criatividade e o conhecimento tácito como principais ativos da organização.
As relações criativas permitem que valores simbólicos sejam transformados em serviços/produtos, a história,
o lugar, os elementos estéticos regionais, assim como as mudanças dos valores que perpassam a produção e o consumo
turísticos observados por Ashton (2013), adentram sutilmente no que Ruiz, Horodyski e Carniatto (2019) trataram ao
apresentar o turismo criativo e os souvenirs como elementos criativos a serem economicamente explorados.
Como limitações deste trabalho, ressaltamos a questão da limitação de espaço, por se tratar de um resumo,
ainda que expandido, para que fosse possível aprofundar as reflexões sobre as relações, a importância da relação da
economia criativa com o turismo. Entretanto, acredita-se que o objetivo geral foi plenamente atendido, pois se conseguiu
apresentar a economia criativa em turismo desenvolvida no Shopping Rural Sítio Tambaba, Conde - PB.
Sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas no empreendimento apresentado, abordando a economia
criativa a partir de outras visões, como a estética organizacional e o turismo.

PALAVRAS-CHAVE

Economia criativa; Turismo; Criatividade; Empreendedorismo; Inovação.

REFERÊNCIAS

Ashton, M. S. G. (2018). Por que ser uma cidade criativa? Implicações com o Turismo. Turismo e Cidades Criativas.
Francisco Antonio dos Anjos, Newton Paulo Angeli, Thays Cristina Domareski Ruiz (orgs.). Itajaí: UNIVALI.

Ashton, M. S. G. (2013). Cidades Criativas: análise reflexiva das relações com o Turismo. In: Dusan Schreiber. (Org.).
Inovaç̧ão e Aprendizagem Organizacional. Novo Hamburgo: Feevale, v. 1, p. 230- 245.

Barbosa, F. (2011). Economia criativa: políticas públicas em construção. In: Plano Diretor da Secretaria de Economia
Criativa. Disponível em: <www2.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/.../livro_web2edicao.pdf>.

BLYTHE, M. (2001). The work of art in the age of digital reproduction: the significance of the creative industries.
JADE, v. 20, n. 2, p. 144-150.

BRASIL (2022). Turismo tem faturamento recorde de R$ 136,7 bilhões em 2019. Disponível em:
<https://www.gov.br/pt-br/noticias/viagens-e-turismo/2019/10/turismo-tem-faturamento-recorde-de-r-136-7-
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EXPERIÊNCIA DE CONSUMO EM AMBIENTES DE SERVIÇOS GASTRONÔMICOS FACE À
VULNERABILIDADE E RESILIÊNCIA DO CONSUMIDOR COM DEFICIÊNCIA EM BARES DA
REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE

Ana Karla de Melo Silva (karla.klgc24@gmail.com)


Anderson Gomes de Souza (anderson.gsouza@ufpe.br)

INTRODUÇÃO

As relações de consumo atuais refletem, em sua maioria, os padrões de comportamento cotidianos dos diversos
grupos sociais. Ou seja, consumo e fenômenos sociais estão diretamente relacionados e sabe-se que há certos grupos
que acabam sendo suprimidos e/ou excluídos do acesso a determinadas categorias de produtos, especialmente no setor
de serviços. Portanto, para compreender as experiências desses consumidores mais a fundo, faz-se necessária a análise
de como suas expectativas são formadas, bem como acessar os significados atribuídos ao ato de consumo em si (SOUSA,
2018; CORREA, 2016).
Pode-se dizer que as experiências do consumidor tendem a ser afetadas pelos elementos que compõem o
ambiente de serviço - o chamado servicescape (BITNER, 1992). Estudos indicam que elementos físicos e sensoriais são
capazes de estimular os receptores sensoriais do indivíduo, resultando em um conjunto de sensações que determinam
as percepções do consumidor em relação ao ambiente (DAMASCENA, 2017). Consequentemente, estas percepções
impactam diretamente no tipo de experiência que ele vivenciará com certo estabelecimento de serviço (SOUSA, 2018;
CORREA, 2016).
Ao propor um ambiente de serviços, o estabelecimento precisa levar em conta os elementos físicos que poderão
impactar na experiência do consumidor. Isto significa que há certas ‘pistas palpáveis’ que podem determinar a relação
de consumo neste tipo de oferta em específico. Portanto, são essas evidências físicas no ambiente de serviço que afetam
diretamente o consumidor e podem resultar em uma experiência positiva ou negativa ligada ao estabelecimento
(CARLOS, 2019; BITNER, 1992).
Estudar como evidências físicas de um ambiente de serviço gastronômico impactam na experiência do
consumidor, acarreta desafios. Aponta-se que por ser um serviço hedônico, acarreta experiências satisfatórias no qual
é parte fundamental do serviço e do consumo em geral. Já no setor gastronômico, o consumidor não somente espera o
que foi prometido, como também deseja vivenciar o ambiente. Portanto, ao entender a interação entre o ambiente físico
e o indivíduo, o gestor precisa planejar o serviço compreendendo quais as dimensões são percebidas e desejadas pelos
seus consumidores como as mais importantes (GIANESI & CORRÊA, 2018).
Quando se fala na prestação de serviço gastronômico, destaca-se os bares no setor. O Brasil abriga variados
estilos de bares, além de serem atraentes para os consumidores, possuem significância na economia local, com a
geração de empregos fixos e/ou temporários e incentivando a gastronomia da região. Estes estabelecimentos não são
apenas para comer e beber, mas também são locais de encontros de amizades, familiares e paqueras. Então, estudar

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os consumidores em potencial, identificar suas demandas, desejos e expectativas, ajuda no planejamento e na melhoria
desta oferta (COSTA, 2018).
Ao falar dos consumidores em potencial, as Pessoas com Deficiência (PcD) enfrentam diversas barreiras ao
utilizar os serviços dos bares. Existem barreiras nestes ambientes que impedem estes consumidores de usufruir os
serviços dos bares e assim causando entraves em suas relações sociais. Se faz necessário então, o reconhecimento
sobre a diversidade e as singularidades dos consumidores com deficiência no contexto social e o de consumo. Desta
forma, à inclusão de Pessoas com Deficiência (PcD) como consumidoras, ressalta-se a importância do entendimento de
forma ampla sobre o que é acessibilidade e suas dimensões, sendo elas: a programática - leis e decretos, a arquitetônica
- barreiras físicas, a atitudinal - termos pejorativos, a comunicacional - barreiras na comunicação, a instrumental -
instrumentos adaptados e a metodológica - técnicas e método de ensino que busca quebrar essas barreiras (MANO &
ABREU & SILVA, 2015; SASSAKI, 2009).
Ao aplicar essas dimensões no servicescape dos bares, o torna inclusivo a todos os consumidores. Ao falar de
acessibilidade e suas dimensões, se refere ao direito de ir e vir com autonomia e segurança das PcD. Além do contexto
social, os comensais com deficiência fazem parte de uma significativa fatia de possíveis consumidores, visto que de
acordo com os dados do Censo Demográfico Brasileiro (IBGE), no Brasil há cerca de 45,6 milhões de Pessoas com
Deficiência (PcD), ou seja, quase 24% da população brasileira é composta por pessoas com algum tipo de deficiência. No
nordeste brasileiro se centraliza a maior porcentagem de Pessoas com Deficiência. Sendo 21,2% da população declaram
ter deficiência visual, 5,8%, deficiência auditiva, 7,8%, deficiência motora e 1,6%, deficiência mental ou intelectual.
Logo, quando a acessibilidade é aplicada nos ambientes de serviços dos bares, isso resulta na diminuição da
insegurança, do constrangimento e da vulnerabilidade dos consumidores com deficiência (DAMASCENA, 2017; IBGE, 2010;
SASSAKI, 2009).
Essa vulnerabilidade da PcD está ligada ao olhar à deficiência como uma doença pela sociedade. Em sua grande
maioria os consumidores com deficiência são vistos como incapacitados e em lugares desfavoráveis na comunidade que
vivem, essa ideia se encontra relacionada diretamente ao pensamento de que essas pessoas são desprotegidas e por
isso intrinsecamente vulneráveis pela falta de inclusão nos serviços em bares. Desta forma, a inclusão social das
Pessoas com Deficiência se encontra em um período lento de concretização na sociedade, devido aos seus conceitos
históricos arraigados e juntamente com a falta de mais estudos para compreender a fundo a questão da vulnerabilidade
que os consumidores com deficiência enfrentam nos ambientes de serviços dos bares. Então ao utilizar este produto, o
consumidor com deficiência se sente vulnerável, incapaz ou tem suas ações reduzidas ou limitadas para atingir seus
objetivos devido às diversas lacunas existentes no contexto de consumo. Pois são poucos os ambientes de serviços dos
bares planejados para as pessoas com qualquer restrição física e/ou comunicacional e isso resulta em muitas demandas
e expectativas das PcD negligenciadas, e a partir dessas falhas é preciso resiliência para superar essas barreiras no
consumo (DAMASCENA, 2017; SASSAKI, 2009).

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Ao ser resiliente, a PcD precisa utilizar diversas formas de adaptações no meio que vive. Essas modificações
podem ser intelectuais, emocionais e comportamentais resultado de diferentes situações de vulnerabilidade. Ao se
deparar com a inacessibilidade em um local, a PcD tende a utilizar estratégias para evitar situações desagradáveis em
locais públicos, como sair do ambiente ou tornar-se leal a só um local, por achar que este seria o único estabelecimento
de alimentação acessível para ele ou ainda consumir exageradamente para tentar mascarar o constrangimento a ele
causado. Tudo isto, demonstra as lacunas no conhecimento acerca da acessibilidade nos ambientes de serviços dos bares
e como isto impacta diretamente os consumidores com deficiência, mostrando a importância do tema e permitindo a
partir daí, mudanças que promovam acesso a todos os consumidores (DAMASCENA, 2017; PAULINO, 2017).
Este processo de inclusão das PcD se encontra lento e a sociedade não dispõe de muitas informações sobre o
tema. Como vimos, trata-se de uma parcela significativa da população, uma parte com renda própria, seja proveniente
de programas sociais do governo, ou de seus responsáveis, além daqueles que exercem atividades remuneradas. Em
todos esses casos, os comensais com deficiência se constituem em consumidores em potencial. Portanto, é preciso
aprofundar o conhecimento acerca dos ambientes de serviço dos bares acessíveis com o intuito de diminuir a
vulnerabilidade e com isso a resiliência dos consumidores com deficiência (PAULINO, 2017).
Com base no exposto, o objetivo geral do estudo é verificar de que modo a vulnerabilidade e a resiliência do
consumidor com deficiência física e/ou comunicacional podem afetar a sua experiência de consumo em ambientes de
serviço de bares na Região Metropolitana do Recife. A pesquisa terá como objetivos específicos: a) mensurar a
vulnerabilidade do consumidor com deficiência física e/ou comunicacional em ambientes de serviços dos bares;
b) mensurar a resiliência do consumidor com deficiência física e/ou comunicacional em ambientes de serviços dos bares
e c) analisar a experiência de consumo das Pessoas com Deficiência física e/ou comunicacional em ambientes de serviços
dos bares.

METODOLOGIA

Para acessar o problema apresentado, a pesquisa terá uma abordagem quantitativa, de caráter descritivo e
corte temporal transversal único. De acordo com Richardson (2011), o método quantitativo contempla amostras de
maneira mais ampla, assim, fornece informações mais exatas sobre o problema de estudo. Então se refere ao estudo
que emprega a quantificação nas modalidades, de coleta das informações, como também na do tratamento de dados,
em que utiliza-se de técnicas estatísticas simples até as mais complexas (SILVA, 2019; RICHARDSON, 2011)
A pesquisa descritiva, segundo Perovano (2014), é elaborada a partir de uma análise que relaciona as variáveis.
O que possibilita especificar os impactos gerados em determinadas etapas por meio de análise e identificação dos dados
ou das características. O corte transversal, é um método observacional em que o investigador não terá interação com a
população alvo de forma direta, mas por meio de análise e avaliação mediante observação e os dados que serão obtidos
por questionários com questões estruturadas com os sujeitos delimitados para o estudo (SILVA, 2019; PEROVANO, 2014).

44
Nesta etapa da pesquisa, é necessário estabelecer a população-alvo para ser investigada. Como também
determinar a composição da amostra e a técnica da amostragem que será utilizada. Segundo Malhotra (2019), a
população alvo é a junção de todos os elementos que compartilham em comum as mesmas características. Portanto, é
importante limitar o tamanho da amostra para que assim não ocorra erros e enganos, o que tornará possível as demais
etapas (MALHOTRA, 2019).
De acordo com os critérios escolhidos, a população será constituída por Pessoas com Deficiências físicas ou
comunicacionais, residentes da RMR, sendo homens ou mulheres, de idade igual ou superior a 18 anos e o sujeito deverá
ou não possuir alguma experiência em consumo nos ambientes de serviço dos bares da RMR. Ao determinar os
tamanhos adequados da amostra de um estudo, será estabelecida uma proporção de 10 sujeitos para cada variável que
compõem a ferramenta de coleta de dados. Então, sendo levado em consideração que os três construtos do estudo serão
mensurados, possivelmente será aplicado um questionário composto por 24 variáveis (20 x 10 = 240), isto é, cada
pergunta será respondida por 10 entrevistados, terão outras cinco variáveis demográficas (5 x 10 = 50, assim a amostra
mínima de 240 sujeitos e um máximo de 290 sujeitos. A técnica de amostragem empregada será a snowball (bola-de-
neve), em que primeiramente será escolhido um grupo da população-alvo, que por outro lado, identificam outros
membros pertencentes a esta população do estudo (240 + 50 = 290) (MALHOTRA, 2019; NEUMAN, 2014).
O instrumento de pesquisa será elaborado com a capacidade de traduzir as experiências dos consumidores com
deficiência dos bares da RMR. Este é um processo significativo para o andamento da pesquisa e que não pode ser
ignorado. Desta maneira, o instrumento para a coleta de dados desta pesquisa será desenvolvido mediante a escolha
do tipo de dado que será utilizado (exemplo: m=nominal, ordinal, intervalar, de razão); logo após, a maneira de
abordagem de comunicação, que será por meio eletrônico (aplicativos de mensagens), e por último, a estrutura do
processo será um questionário estruturado virtual, feito por meio da plataforma digital do Google Forms (FALEIROS,
2016).
Para que isso ocorra, as questões serão fechadas, com oito questões para cada variável do estudo, questionando
a vulnerabilidade, a resiliência e a experiência do consumo, enfrentadas nos ambientes de serviço dos bares da RMR e
mais cinco questões com variáveis sociodemográficas. Já as escalas do estudo, ainda serão definidas com base no
referencial teórico e nos construtos definidos.
O coleta de dados se dará de forma virtual. Antes do compartilhamento do questionário com os consumidores
com deficiência, será realizado um pré-teste com 7 dias de duração para verificar e corrigir possíveis erros, como
também, testar a compreensão e clareza das perguntas do instrumento. Será solicitada a colaboração de pesquisadores
da área para analisarem a clareza da ferramenta de coleta de dados, como também a sua eficácia quanto às informações
relevantes à pesquisa (MALHOTRA, 2019).
No plano de análise dos dados desta pesquisa, serão realizadas técnicas estatísticas, o que se pretende
estabelecer a ligações e verificar hipóteses que se relacionam com o caráter quantitativo do estudo. Os dados obtidos
por meio da plataforma Google Forms, serão enviados para uma planilha para realizar uma distribuição dos dados

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amostrais essenciais para a elaboração de gráficos que irão explicar as perguntas. Como também, as variáveis
independentes vulnerabilidade e resiliência e a dependente experiência de consumo das PcD, o que facilita desta forma
as análises e interpretações ligadas ao referencial teórico utilizado para o estudo. Após as análises estatísticas
descritivas para detalhar todas as informações, os dados serão analisados em relação à confiabilidade e validação de
cada variável (SILVA, 2013).

RESULTADOS ESPERADOS

Espera-se com esta pesquisa analisar de que modo a vulnerabilidade e a resiliência do consumidor com
deficiência física ou comunicacional podem afetar a experiência de consumo em ambientes de serviço de bares da região
Metropolitana do Recife. Como também, contribuir para o conhecimento no campo acadêmico na gastronomia e no
Turismo, estudos sobre a experiência do consumidor com deficiência e a possível relação com a vulnerabilidade e
resiliência em ambientes de serviço de bares é escasso na literatura, então aprofundar sobre esse tema se esperar
desenvolver conhecimento que impacta positivamente na qualidade de vida dos consumidores com deficiência e na
gestão das empresas que ofertam este produto ao público. Ao promover a acessibilidade nos serviços de gastronomia
na RMR, ocorre a contribuição não somente para o desenvolvimento econômico, como também para o social.

PALAVRAS-CHAVE

Experiência; Consumidor; PcD; Vulnerabilidade; Resiliência.

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47
MARKETING DIGITAL PARA O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: ANÁLISE DO USO DAS
MÍDIAS SOCIAIS PARA A AQUISIÇÃO DE CAPITAL SOCIAL EM ICAPUÍ/CE.

Danielly Lima de Oliveira (daniellylimaoliv@gmail.com)


Antônio Cavalcante de Almeida (antonio.cavalcante@ifce.edu.br)

INTRODUÇÃO

A iminência da pandemia do Coronavírus, cujo início data de 2019, empurrou-nos a novos comportamentos
que impactam diretamente nos modos de viver e consumir. Inovou-se ao migrar os mais diversos tipos de negócios
para as mídias sociais de forma que, apesar do improviso. Acelerada a migração para o digital, permitiu-se reinventar
para prosseguir com a circulação mercantil. Este não foi o caso do Turismo, afinal, na necessidade de fechamento de
todo comércio visto como não-essencial para frear a contaminação, as pessoas viram-se impossibilitadas de viver as
viagens e, consequentemente, outras milhões de pessoas se viram sem a renda advinda do turismo. Recorreu-se a sites
e aplicativos, como o Instagram e Facebook, para manter a interação com o Turismo no campo da imaginação, na
impossibilidade de viver suas experiências, trabalhando-se a expectativa e intenção para o pós-pandemia. Através das
mídias sociais, permitiu-se o compartilhamento de diversos destinos e experiências, na expectativa de vivê-las quando
possível.
Dias (2005) define marketing digital como um “caso particular de esforço de marketing por meio de
ferramentas e meios digitais. Verificado quando uma instituição desenvolve canais de comunicação com seu mercado-
alvo pelos meios eletrônicos, em especial usando recursos da internet.”. (DIAS, 2005). O Marketing Digital, pode conferir
ao destino, atrativo ou negócio turístico algo denominado Capital Social. Este pode ser interpretado como a formação de
redes de relacionamentos duráveis, a conquista da confiança, tanto dos comunitários quanto do consumidor. Trazendo-
se o conceito de Bourdieu (1998) para o marketing digital no turismo, o Capital Social diz respeito à conquista da
confiança daquele que vive o serviço turístico primeiro online, adquire o serviço de viagem e, se impressionado
positivamente, mantém o vínculo pós-experiência.
No negócio turístico, aprofunda-se ainda mais esta necessidade de mostrar, pois é desta forma que se
desperta a imaginação e o interesse do consumidor, Mello (2019) esclarece que o turista primeiro se vê naquela mídia,
seja em foto ou vídeo, para sentir-se atraído pela sensação imaginada naquela realidade ainda virtual. Eis a necessidade
da visão semiótica dos símbolos mostrados nas imagens e vídeos compartilhados nas mídias sociais de negócios
turísticos, atrativos, cidades, etc., pois esta pode vir a contribuir para o desenvolvimento da imagem do local para o
mundo. Por símbolos, entende-se os mínimos detalhes nos objetos, paisagens, atitudes que despertam sentimentos no
eu turístico, como malas, coqueiros, paisagens, janelas de avião, ver o mar e tantos outros. Assim como também pode-
se associar pelas cores, como o azul para o céu, amarelo para o sol, verde para a natureza, etc. Pressupõe-se a
necessidade de uma estrutura real, pois, caso contrário, além de crime contra o consumidor, vender algo diferente do
real pode ter o total efeito reverso e afastar as pessoas.
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Falar em Turismo em territórios e junto a comunidades tradicionais não possui uma só denominação, tampouco
somente uma definição, mas é dotada de características que o norteiam, como enumerado em BRASIL, 2010:
“Embora cada conceito traga sua especificidade, podemos traçar como princípios comuns entre as diversas
definições:
• autogestão;
• associativismo e cooperativismo;
• democratização de oportunidades e benefícios;
• centralidade da colaboração, parceria e participação;
• valorização da cultura local e, principalmente;
• protagonismo das comunidades locais na gestão da atividade e/ou na oferta de bens e serviços turísticos,
visando à apropriação por parte destes dos benefícios advindos do desenvolvimento da atividade turística.”
(BRASIL, 2010).
Falando-se em turismo de base comunitária, portanto, tem-se modos de viver e fazer impressos nos serviços,
que o diferencia totalmente de qualquer outro empreendimento construído essencialmente para o turismo de massa. É
a cultura e identidade de um povo que se abre a receber outros, ensinar-lhes e aprender, daí a importância de manter
os constantes registros e, também, manter-se o respeito a quem oferta este modo de experienciar a atividade turística.
Compreende-se, em Krippendorf (2000), que a massificação de um local pode transformar desde a realidade da sua
paisagem até trazer grandes prejuízos ao povo, sua cultura e modo de vida, não obstante ficaria Icapuí neste debate.
As mídias sociais mostram-se como possíveis aliadas para registros e popularização dessas experiências de
forma segmentada, de forma a atrair cada vez mais indivíduos interessados em vivenciá-las. Vale ressaltar que o TBC
se opõe ao turismo de massa, responsável por episódios recorrentes de esgotamento de recursos naturais, processos
de aculturação e ocupação de espaços pertencentes a povos tradicionais.
Portanto, profissionalizar-se o trabalho de marketing digital para o turismo, combinado a diversos fatores
estruturais, pode ser crucial para atingir o público-alvo e determinar o sucesso econômico e social de um destino.
Aplicando-se a teoria aos empreendimentos de turismo comunitário, registrar e demonstrar uma experiência real e
inédita, derivada da cultura de um povo, pode despertar a curiosidade e atrair visitantes.
Destaca-se que as mídias de massa não são exatamente acessíveis aos pequenos negócios, mas tornaram-se
uma possibilidade neste contexto de exigente adaptação em decorrência da pandemia. Ter uma agência ou um
profissional para cuidar dessa divulgação não é uma tarefa fácil ou de baixo custo. Por isto, faz-se a proposta de
democratização dos modos de divulgação que já são comuns aos empreendimentos turísticos de massa.
Desenvolveu-se a presente pesquisa junto a empreendimentos de turismo localizados no município de Icapuí,
no Litoral Leste do Ceará, vinculados ou não à Rede Tucum. A Rede Tucum – Rede Cearense de Turismo Comunitário –
é uma rede colaborativa que desde 2008 trabalha o turismo de forma articulada, junto a grupos da zona costeira que
realizam o turismo comunitário, formato que oferta experiências respeitando o modo de vida e cultura locais.

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Fez-se necessário um levantamento, análise e diagnóstico da situação atual da presença nas mídias sociais e
utilizadas as teorias do Marketing 4.0 (Philip Kotler), a Semiótica do Turismo (Cynthia Mello), o Capital Social (Pierre
Bourdieu), dentre outros. Também, levantou-se a percepção dos proprietários e trabalhadores locais quanto à
importância de estar presente nestas mídias de massa. Tem-se como objetivo geral analisar a percepção da comunidade
acerca do turismo praticado em Icapuí, se o TBC se apresenta como formato principal de turismo praticado localmente,
se e como produz-se o marketing digital e as trocas que determinam o capital social.
Traz-se como objetivos específicos: analisar a percepção de turismo de base comunitária pelos atores sociais
que desenvolvem serviços turísticos em Icapuí/CE; Compreender as percepções acerca da utilização de marketing digital
e construção de capital social entre os indivíduos; e, ainda, compreender as dificuldades no acesso à internet e mídias
sociais para ofertar políticas públicas para inclusão digital e profissionalização do marketing digital.

METODOLOGIA

Para realizar a presente pesquisa, empregou-se o método de estudo de caso, definido por Chizzotti (2008)
apud Marcelino (2020) como uma metodologia de pesquisa que “envolve a coleta sistemática de informações sobre uma
pessoa particular, uma família, um evento, uma atividade ou, ainda, um conjunto de relações ou processo social para
melhor conhecer como são ou como operam em um contexto real e, tendencialmente, visa auxiliar tomadas de decisões,
ou justificar intervenções, ou esclarecer por que elas foram tomadas ou implementadas e quais foram os resultados.”.
(CHIZZOTTI, 2008).
Para atingir os objetivos da pesquisa, iniciou-se por uma fase exploratória. A pesquisa exploratória é definida
por Gil (1999) apud Marcelino (2020) como “aquela que objetiva tornar um problema explícito, aproximar-se mais dele,
visando conhecê-lo melhor e com mais profundidade, ou ainda, dar uma nova visão sobre esse problema.”. (MARCELINO,
2020). Desta forma, busca-se compreender as nuances que envolvem o turismo praticado em Icapuí a partir da visão de
quem o oferta, o que está dentro das características do TBC, do TBL e do turismo convencional. A compreensão da visão
dos munícipes trabalhadores do turismo dá também uma noção do capital social que gira em torno de si e de suas
atividades, o quanto estão enraizados e inseridos no contexto do município. Compreende-se, ainda, a sua visão da
importância do trabalho de marketing digital para o desenvolvimento das atividades turísticas e atração de visitantes.
Realizou-se as entrevistas por meio de conversas informais, de forma presencial, em visita ao município de
Icapuí/CE e também aplicação de formulário online. Na ocasião da realização de todas as entrevistas, houve o
consentimento oral para a gravação dos depoimentos, posteriormente transcritos, e captação de imagem, deixando
claro o uso para a construção e posterior publicação deste trabalho destinado à conclusão de curso.
Para somar à temática de marketing digital, fez-se uma pesquisa exploratória online, em busca de sites e
perfis em mídias sociais vinculados aos serviços prestados pelos entrevistados, a fim de atestar a percepção da
comunidade quanto às suas dificuldades no fortalecimento da divulgação no meio digital. Compreende-se, portanto, que
o fortalecimento das bases indicadas no estudo pode ser de relevância para o desenvolvimento do turismo de forma

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mais sustentável, mesmo que não necessariamente no modelo de TBC, salientando-se que não é possível a imposição
de um modelo, mas pelo menos a utilização de suas premissas que visam um desenvolvimento consciente de seus
direitos e deveres para com o futuro. A descrição da análise dos dados se dá de forma qualitativa.

RESULTADOS

Com base na análise feita a partir dos dados coletados junto à comunidade e nas mídias sociais acerca do
turismo comunitário em Icapuí, tem-se que o capital social que permeia a formação em Turismo de Base Comunitária,
suas principais instituições e atores sociais é muito frágil, pois a atividade na comunidade é distribuída entre núcleos
com interesses conflitantes. Enquanto, de um lado, a teoria do TBC espera protagonismo da comunidade, associativismo
e cooperativismo com consequente distribuição dos benefícios por igual; por outro, tem-se a inclinação para a
individualidade e concentração de poder em determinados atores sociais.
Encontrou-se opiniões que contrastam quanto ao formato de turismo ofertado em Icapuí, trazendo à tona as
fragilidades da formação realizada em TBC e do empoderamento da comunidade. Para o efetivo desenvolvimento do
turismo de base comunitária, faz-se necessária a formação acerca do que é e como se desenvolve o TBC, tanto para os
comunitários, quanto para quem ainda não conhece ou não considera este tipo de experiência quando busca um novo
destino para fazer turismo.
Mantém-se a preferência dos atores locais pela realização do trabalho entre a base local. Fato que infere a
tendência ao formato de Turismo de Base Local, de forma que as organizações comunitárias e associações existam e
conversem, mas que os processos decisórios acerca do negócio contem com o protagonismo individual do empresário.
É iminente a necessidade de um trabalho voltado ao empoderamento do povo quanto à sua cultura,
gastronomia, tradições, beleza cênica e demais atrativos, contrariando a percepção de necessidade de motivações
externas para atrair visitantes. Problemática que se estende às atividades que acabam por degradar o meio-ambiente,
comprometendo o viés da sustentabilidade ambiental. A centralidade do empoderamento os fortalecerá para que
compreendam que, no futuro, fortalecerão a defesa de seu território, perpetuando os saberes tradicionais e os
prevenindo de situações de degradação e processos de aculturação.
Viu-se que a prática de preceitos de sustentabilidade e outras características do TBC, mesmo que
isoladamente, pode ser um bom caminho para tornar o turismo local mais sustentável. Deve-se democratizar as
oportunidades e benefícios e, ainda, trazer a necessidade de conscientização para a reciclagem e não poluição do
mangue, praias e demais espaços turísticos ou não. Desta forma, a comunidade irá compreender e se apoderar das
benesses. Fortalecendo a comunidade e o turismo, tem-se também o fortalecimento na defesa da cultura, do território
e do capital social para uma rede de relações mútuas e fortes.
Do ponto de vista econômico, pensar os investimentos necessários ao desenvolvimento do turismo em Icapuí
faz iminente a necessidade de entrada de atores externos com recursos para ampliação e melhoria da oferta turística.

51
Pode-se visualizar na forma de parcerias, como a realizada junto à ONG Tremembé Onlus, de forma que exista respeito
aos processos, necessidades e ideais do povo icapuiense.
Concomitantemente, tem-se o desafio do êxodo de jovens em busca de oportunidades fora da comunidade,
sinalizando o fato de que não se vê o turismo como suficiente para despertar o interesse em ficar e assumir papéis de
liderança no futuro. Isto compromete, ainda, a renovação e inovação esperadas de um mercado cada vez mais
competitivo. No caso do TBC, viu-se nas entrevistas a expectativa em relação a uma lei de incentivo, que fortaleça o
turismo e dê aos jovens uma perspectiva para construir ali o seu futuro.
Percebe-se que Icapuí enquanto destino turístico já possui experiências encantadoras e um capital social em
consolidação, com uma procura existente e crescente. Ainda, compondo rotas consolidadas, como a Rota das Falésias
(que vai de Fortaleza/CE ao Porto do Mangue, no Rio Grande do Norte). Como parte desta rota, acontecem os passeios
de Buggy partindo de Canoa Quebrada até Ponta Grossa, em um contato rápido que permite o passeio de jangada nesta
última, também o consumo do popular espetinho de lagosta. Passeios rápidos que tem pontos positivos, como a
crescente movimentação de pessoas, mas também pontos negativos, tendendo a uma sobrecarga ambiental, veículos
nas dunas e praias, dentre outros.
É recorrente no discurso dos munícipes o sentimento de falta de auxílio e intervenções do poder público na
estruturação, divulgação e qualificação da mão de obra. Pode-se pensar a qualificação nas áreas de hospitalidade,
marketing, apoio a eventos, presença nas reuniões de associações e cooperativas, capacitações voltadas para o meio-
ambiente e a formatação de políticas públicas de apoio. Por outro lado, tem-se o fato de que houve baixa adesão quando
na ocasião da oferta de cursos, do qual depreende-se que o papel da busca por qualificação precisa ser cumprido por
todos os atores interessados.
Na pesquisa, verificou-se que o marketing digital é trabalhado individualmente pelos empreendedores e ainda
é muito acanhado, com sites desatualizados e pouco conhecimento sobre as mídias sociais. O uso dessas ferramentas
se faz necessário para alavancar o turismo como um todo no município, mas voltando-se para o TBC e TBL, percebe-se
a possibilidade de utilização das ferramentas para popularização dos modelos. As mídias sociais podem ser utilizadas
pela própria comunidade como ferramenta de empoderamento e conscientização quanto à prática do turismo consciente,
dando-lhes voz para que o turismo coexista com a sua cultura e meio-ambiente sem depreciá-los.
Faz-se possível a adoção dessas ferramentas para a documentação da cultura, tradições e cotidiano da
comunidade, traço importante à sustentabilidade cultural, pois documentar é um ato de tornar disponível para as
gerações futuras. Despertar o pertencimento através dos símbolos da comunidade demonstra ao outro também o seu
valor, podendo despertar no eu turístico a vontade de viver a imersão naquela experiência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se dizer, portanto, que os objetivos de pesquisa foram atingidos, tendo em vista que ouviu-se os
comunitários acerca das suas percepções do turismo ofertado localmente. Apesar das opiniões contrastantes, é quase

52
unânime a opção pela oferta turística composta pela base local. A despeito da presença de uma organização consolidada
como a Rede Tucum e a presença de associações que oferecem cursos e treinamentos, não foram suficientes para alinhar
a opinião pública em torno do capital social necessário à consolidação de mais experiências de TBC.
Compreendeu-se a visão dos comunitários acerca do formato de marketing para atrair turistas, tendo como
foco principal o marketing digital e observou-se que existe resistência em certo grau à utilização de mídias sociais por
alguns ofertantes de serviços turísticos, que não reconhecem a importância e sucesso de outras experiências que se
utilizam do formato para atrair turistas. Viu-se que esperam principalmente o retorno pelo marketing feito pelos órgãos
municipais, por rotas ou contam com uma rede de indicações entre os próprios ofertantes. Não há uma visão apurada
de como estas mídias podem servir ainda ao sucesso econômico, social, registros dos modos de fazer e da cultura local
e ao empoderamento da comunidade. Para tanto, seria interessante focar no marketing digital direcionado a perfis de
interesse em sustentabilidade, cultura e gastronomia que coincidem com a dinâmica da comunidade. Por via pública,
poderia-se desenvolver uma política de qualificação para mitigar as dificuldades de conexão, a necessidade de
ferramentas e o domínio sobre elas para a modernização dessa divulgação.
Para a Rede Tucum, poderia-se propor a construção coletiva de uma agência de viagens voltada para o turismo
comunitário, onde se propõe uma maior dinâmica da comunicação, sua promoção e venda do formato com a vantagem
de poder conversar com quem se propõe a viver a experiência e definir limites seguros e uma troca relevante entre
comunidade e turista. Kotler (2017) salienta a velocidade com a qual o novo consumidor se envolve com o objeto de
consumo, com forte tendência à mobilidade e alta velocidade na troca de informações, de modo que é iminente a
necessidade de adaptar-se para competir no campo das mídias sociais, mas também preparar-se para o encontro
offline.
O desafio do marketing digital e capital social não é só da parcela correspondente ao turismo de base
comunitária em Icapuí. Por isso, concluiu-se por meio deste estudo que o turismólogo com formação complementar em
marketing e mídias sociais, pode registrar e perpetuar para outrem o conhecimento de um grupo ou comunidade e
contribuir econômica e socialmente para o desenvolvimento de um destino turístico. Ainda, pode ser um agente na
horizontalização de conhecimentos e contribuir para a equidade na busca pelo desenvolvimento sustentável.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo de Base Comunitária; Icapuí; Capital Social; Marketing Digital.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério do Turismo. Dinâmica e Diversidade do Turismo de Base Comunitária: desafio para a formulação de
política pública. Brasília: Ministério do Turismo, 2010. Disponível em:
<http://www.each.usp.br/turismo/livros/dinamica_e_diversidade_do_turismo_de_base_comunitaria.pdf> Acesso
em: 26/09/2021..

53
Código de defesa do Consumidor - Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm>. Acesso em: 20/06/2021.

DIAS, Reinaldo. Fundamentos do Marketing Turístico. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
KOTLER, P., KARTAJAYA, H., SETIWAN, I. Marketing 4.0: do tradicional ao digital. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.

KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do turismo: para uma nova compreensão do lazer e das viagens. São Paulo: Aleph, 2000.

MARCELINO, Carla Andréia Alves da Silva. Metodologia de Pesquisa [recurso eletrônico]. Curitiba: Contentus, 2020.

MELLO, Cynthia M. Semiótica do Turismo Aplicada. 1ª edição - Curitiba, PR: APPRIS, 2019.

PIERRE BOURDIEU. Escritos de Educação / Maria Alice Nogueira e Afrânio Catani (organizadores). 9ª edição– Petrópolis,
RJ: Vozes, 2007.

54
PANORAMA DA SUSTENTABILIDADE EM OPERADORAS DE TURISMO BRASILEIRAS
Rayane Ruas (rayane.ruas@gmail.com)
Helena Araújo (Costa helenacosta@unb.br)
Monica Eliza Samia (diretoria@braztoa.com.br)

INTRODUÇÃO

Sustentabilidade é um tema cada vez mais recorrente no turismo, tendo em vista as necessidades de um
desenvolvimento mais equilibrado em seus aspectos socioambientais e econômicos. A sustentabilidade no turismo não
é compreendida como um nicho ou segmento, mas sim uma premissa a ser buscada pelos diversos atores e diferentes
configurações de turismo (Costa, 2013).
A preocupação com a sustentabilidade no setor de turismo está presentes em diversos estudos como de
Carvalho e Alberton (2007), Lee e Park (2010), Font e Lynes (2018), entre outros. O estudo de Costa et al. (2018) contribui
ao apontar que, no Brasil, as medidas ambientais são as mais frequentemente implementadas pelas empresas de
turismo, com destaque para aquelas voltadas para a economia de energia (82,7%) ou água (77,2%). No pilar social,
destacam-se ações para a preservação da cultura e do patrimônio local, bem como voltadas à promoção da igualdade
de gênero em suas atividades, indicadas por pouco mais de 50% das empresas entrevistadas. Os resultados denotam
maiores avanços na questão ambiental do que no aspecto social dos empreendimentos. Por fim, no pilar econômico, que
apareceu como aquele mais homogêneo nas respostas, as principais ações foram a contratação de moradores locais
(75,2%) e a compra de produtos locais (70,6%).
Além de mapear as ações ligadas à sustentabilidade, Garay e Font (2012) identificaram múltiplas motivações
para que as empresas tomem tais atitudes. No estudo realizado no Brasil foram identificados dois grupos distintos: um
com foco nos negócios (com razões inerentes ao negócio, tais como redução de custos e ampliação da competitividade)
e outro com foco nos indivíduos (motivos ligados ao modo de vida e aos valores do indivíduo), de acordo com Costa et
al. (2018). O primeiro grupo revelou-se maior e com mais implementações das medidas investigadas nos três pilares
da sustentabilidade no estudo brasileiro (Costa et al., 2018).
A pesquisa aqui apresentada teve como objetivo identificar as práticas de sustentabilidade
realizadas por operadoras de turismo no Brasil, bem como seus desafios e motivações para
implementar tais ações.
Do ponto de vista do consumo das viagens, novos insumos têm sido trazidos por entes de mercado como a
Booking.com, que realizou uma pesquisa global sobre o tema em 2021. De acordo com os resultados, 78% dos viajantes
ao redor do mundo declararam que a pandemia fez com que queiram viajar de forma mais sustentável no futuro,
percentual que se repete entre brasileiros. Ainda, 47% dos viajantes admitiram que a pandemia gerou mudanças
positivas em suas vidas cotidianas e sobretudo em suas viagens. As maiores preocupações reveladas com impactos

55
negativos das viagens foram: lixo em excesso (56% dos respondentes), incluindo os plásticos; ameaças a vida silvestre
(42%), aglomerações em destinos turísticos e emissões de CO2 (22% dos respondentes). Para os entrevistados, ainda
existem barreiras para colocar intenções em prática, entre elas a oferta por parte do setor, que pode chegar a dificultar
que eles mantenham seus compromissos com a sustentabilidade (Booking, 2021). Outros estudos revelam que os
turistas, especialmente aqueles mais experientes são mais exigentes quanto à sustentabilidade de suas viagens (Seeler
et al., 2021). Ainda, há indício de que os turistas, ainda que abertos a informações e estímulos para a sustentabilidade,
querem facilidades, informações disponíveis por parte dos fornecedores das viagens (Eichelberger et al, 2021).
Para Seidel et al (2021), a pandemia afetou negativamente os avanços em relação aos ODS, mas também
mostrou que precisamos de esforços coordenados para atacar os desafios globais. Sabe-se que o turismo pode ter
impacto em todos os ODS, mas alguns são mais destacados como o 12 (produção e consumo sustentáveis) e 13 (mudanças
climáticas). Para a magnitude da mudança necessária, as ações precisam ser desenhadas e planejadas para
transformação rumo ao futuro (Seidel et al, 2021), com atenção para a construção de um turismo que não repita os erros
do passado quando o assunto é a sustentabilidade (Hall et al., 2020).

METODOLOGIA

A pesquisa, de caráter quantitativo e descritivo, teve sua coleta de dados realizada por meio de enquete
online junto às operadoras de turismo brasileiras afiliadas à Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa).
A Braztoa foi fundada em 1989 e representa diversas empresas de operação turística e reúne também um grupo de
parceiros - institucionais e de negócios - entre seus associados, que totalizam 65 organizações. Trata-se de uma
associação privada, sem fins lucrativos, que desenvolve ações institucionais, de fomento ao desenvolvimento do setor
de turismo e de promoção e apoio à comercialização (BRAZTOA, 2022). Para este estudo, foi considerado o universo de
seus 49 associados operadores e obtidas 37 respostas, o que corresponde a uma taxa de resposta de 75,5%.
Os dados apresentados foram coletados entre 1 e 10 de dezembro de 2021, como parte de um esforço conjunto
entre as pesquisadoras e a Braztoa, no escopo de iniciativas de colaboração universidade-mercado em busca de
incrementar a inteligência competitiva do setor. Esses dados foram organizados e apresentados de modo público no
Boletim Mensal Braztoa de dezembro de 2021 e, posteriormente, aprofundados e atualizados em fevereiro de 2022 para
fins deste artigo.
O instrumento de coleta de dados foi um questionário estruturado, que contava com 5 questões fechadas
sobre os seguintes temas: pilares da sustentabilidade (Ambiental, Social, Econômico), desafios enfrentados pelas
empresas, motivos da busca pela sustentabilidade e, por fim, atendimento aos ODS por parte das operadoras. Para as
questões acerca dos pilares da sustentabilidade, foi empregada uma escala Likert de 5 pontos para aferir o nível de
implementação (1 para muito baixo e 5 para muito alto). Para os desafios enfrentados pelas empresas e motivos da
busca pela sustentabilidade foram utilizadas questões de múltipla escolha com a marcação de até 3 respostas. Na

56
questão dos ODS foi solicitado que o respondente indicasse para quais ODS a empresa contribui, em um número livre
de respostas. Os questionários foram veiculados, tratados e analisados com uso da plataforma Question Pro, utilizando
ferramenta de estatística descritiva (médias, desvio padrão e percentuais), bem como do excel, para elaboração de
gráficos e melhor visualização da informação.

RESULTADOS

No pilar ambiental foram avaliados 11 elementos, conforme a figura 1, que apresenta as médias e desvio
padrão obtidas a partir das respostas. As ações mais desenvolvidas foram economia de energia (47% dos respondentes
no patamar intermediário e 35% entre alto e muito alto), economia de água (48% com implementação em nível médio
e 33% entre alto e muito alto) e redução do consumo de plásticos de uso único (50% médio e 27% entre alto e muito
alto). Em contraponto, a redução da pegada de carbono aparece com a média mais baixa entre todas as respostas, que
pode ser ilustrado pela concentração de 40% dos respondentes no nível mais baixo da escala, representando ainda um
desafio a ser enfrentado.
Com relação ao pilar social, figura 2, foram avaliados 11 elementos. As categorias que obtiveram maior grau
de desenvolvimento foram: promoção da igualdade racial (76% dos respondentes indicaram níveis alto e muito alto de
implementação); promoção da igualdade de gênero (72% entre alto e muito alto), realização de ações de treinamentos
e qualificação da equipe (55% entre alto e muito alto) e implementação de medidas para equilibrar o trabalho e a vida
pessoal dos colaboradores (55% entre alto e muito alto). O quesito com menor indicação de implementação é o emprego
de pessoas com deficiência (50% entre baixo e muito baixo).

Figura 1: Pilar Ambiental Figura 2: Pilar Social

Fonte: Dados da Pesquisa, 2021

57
O pilar econômico, figura 3, foi o que obteve os maiores e mais homogêneos resultados entre os respondentes.
Aparece com destaque a escolha de fornecedores que demonstrem capacidade de entrega (86% entre alto e muito alto),
em seguida, aparece a utilização de modelos comerciais saudáveis (76% entre alto e muito alto), aplicação e estratégias
para manutenção no mercado nos próximos cinco anos (60% entre alto e muito alto). Esses dados deixam entrever um
aspecto relacionado à natureza dos negócios das operadoras, que demonstraram foco nos fornecedores, já que elas são
as “atacadistas” da cadeia produtiva do turismo, promovem a agregação entre os fornecedores primários e realizam a
distribuição (Acerenza, 2002). Em contraposição, o ponto menos indicado foi o foco na gestão para atração de
investimento (41% na média, e outros 41% entre alto e muito alto).
Figura 3: Pilar Econômico

Fonte: Dados da Pesquisa, 2021

A partir da análise das respostas aos três pilares da sustentabilidade representadas nas teias (figuras 1, 2 e
3), pode-se observar que as operadoras respondentes percebem o pilar econômico como o mais avançado em termos
de implementação de suas ações que visam a sustentabilidade, seguido pelo pilar social, e por fim, pelo ambiental.
De maneira complementar, a fim de situar estas ações na atualidade, foi perguntado às operadoras sobre a
relação entre as ações de sustentabilidade e o período de pandemia. 47% das operadoras afirmam que o
desenvolvimento das ações de sustentabilidade está similar em 2021, quando comparado com 2019, e 41% apontam
para incrementos. Estes são indicativos de que, apesar dos momentos desafiadores provocados pela pandemia nos
últimos dois anos, as ações ligadas à sustentabilidade se mantiveram presente para a maioria das operadoras
participantes da pesquisa.
Quando questionados sobre os maiores desafios para a implementação da sustentabilidade, figura 4, o
aspecto financeiro (possibilidade de investimento) foi citado por 68% dos respondentes, seguido pelo envolvimento do

58
pessoal (49%) e pelo operacional (46%). Por outro lado, os itens vistos como os menos desafiadores foram a
identificação de fornecedores e o conhecimento e informações para implementar novos procedimentos, mencionados
por 24% das operadoras, e a possibilidade de envolver os clientes, com 19% de respostas.

Figura 4: Desafios para implementação da sustentabilidade

Fonte: Dados da Pesquisa, 2022

No que se refere à motivação para implementar ações de sustentabilidade em suas empresas, figura 5, os
fatores que mais motivaram as operadoras participantes foram: a proteção do meio ambiente para 78% dos
respondentes, seguida da melhoria da sociedade, com 72%. Isso demonstra a centralidade dos destinos e seus atrativos
naturais, além das comunidades visitadas, que desempenham um papel crucial para que as experiências turísticas. Por
outro lado, as questões pessoais (14%), o acesso à informação (11%) e a prosperidade da empresa em razão da
degradação ambiental (8%) foram os elementos com menor impacto na motivação para empreender ações ligadas à
sustentabilidade.

Figura 5: Motivação para implementar ações de sustentabilidade

Fonte: Dados da Pesquisa, 2022

Quando comparadas as respostas com o estudo de Costa et al. (2018), nota-se como similaridades o pilar
econômico ser o mais destacado pelas empresas, com maiores escores e maior homogeneidade nas respostas. Nota-se
ainda uma similaridade entre as duas ações do pilar ambiental que são mais implementadas, as chamadas ecosavings

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de energia e água. Em contrapartida, no quesito social os resultados se mostram distintos, ao passo em que o estudo
anterior revelou maior realização de ações voltadas para questões culturais e patrimoniais, enquanto os dados deste
estudo revelam destaque para aquelas ligadas a equidade racial e de gênero. Quanto às motivações, aspectos mais
amplos da sociedade, ligados a valores de proteção ao meio ambiente e à sociedade se destacaram entre as razões
para a maioria das operadoras que implementam práticas de sustentabilidade, em detrimento de aspectos mais focados
no negócio, o que corrobora Costa et al (2018). Embora existam algumas similaridades entre os achados, para as
operadoras de turismo, as questões pessoais e de estilo de vida foram citadas de modo residual, obtendo menos
destaque do que atender a requisitos de custos, de imagem e dos clientes.
Por fim, quando questionado aos operadores com quais ODS estavam comprometidos, todos os 17 ODS foram
mencionados. Houve destaque para o ODS 5 (igualdade de gênero), apontado por 71% dos respondentes, ODS 3 (saúde
e bem-estar) foi citado em segundo lugar, indicado por 65% dos operadores e ODS 8 (trabalho decente e crescimento
econômico) ocupou o terceiro lugar ao ser citado por 56% dos operadores. Isso revela uma ampla cobertura de ODS na
atuação das operadoras. Nesta questão, identificam-se resultados diferentes dos obtidos por Seidel et al. (2021) com os
ODS os mais relacionados ao turismo (12 - produção e consumo sustentáveis, 13- mudanças climáticas), entretanto
demonstram a capilaridade do setor de turismo e a sua possibilidade de contribuir de forma ampla com os ODS.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo teve como objetivo identificar as práticas de sustentabilidade realizadas por operadoras de turismo
no Brasil, bem como seus desafios e motivações para implementar tais ações. Para isso, foi realizado um levantamento
junto às empresas associadas à Braztoa. Ele nasce de uma necessidade partilhada entre universidades e mercado de
realizar pesquisas que fomentem o conhecimento aplicado e colaborativo em turismo.
A pesquisa mapeou as ações mais desenvolvidas pelas operadoras entrevistadas nos pilares ambiental, social
e econômico da sustentabilidade. De modo geral, foi possível observar uma variedade de ações sendo implementadas,
com destaque para o pilar econômico como o aquele visto como o mais avançado em termos de implementação de suas
ações que visam a sustentabilidade, seguido pelo social, e por fim, pelo ambiental. Nos aspectos econômicos analisados,
vale enfatizar o enfoque dado aos fornecedores – quer seja na confiabilidade sobre suas entregas, quer seja na
qualidade das relações comerciais estabelecidas. Isso parece ser algo revelador da natureza de operadoras de turismo.
No pilar social, chama atenção nos resultados da pesquisa que os mais altos escores sejam de ações voltadas
para equidade de raça e gênero, questões amplas e bastante contemporâneas na sociedade como um todo. Em seguida,
aparecem aspectos ligados mais diretamente aos colaboradores das empresas, como treinamentos e equilíbrio da vida
pessoal/professional. Neste âmbito, a maior fragilidade revelada está no emprego de pessoas com deficiências.
No pilar ambiental, principalmente com a economia de água e energia, os resultados denotam certa
similaridade com estudos anteriores. O que aparece de novidade são questões mais contemporâneas como redução de

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plásticos descartáveis e redução da pegada de carbono, assuntos ambientais atuais que têm ganhado força no cenário
internacional, especialmente diante dos novos acordos Declaração de Glasgow pela Ação Climática no Turismo e a
Iniciativa Global para Circularidade do Plástico no Turismo, liderada pelo PNUMA. Isso sugere que a agenda de
sustentabilidade avança e se atualiza ao longo do tempo em suas demandas, e que temas de maior complexidade como
a pegada de carbono das empresas, ainda precisa ser mais absorvido por este segmento. Foi interessante, ainda, uma
apuração complementar acerca do período de pandemia e sua influência sobre as ações de sustentabilidades dessas
empresas. Os dados indicam que houve uma tendência de manutenção e incremento das ações, apesar do período de
crise para o setor. Este é um ponto sugerido pela presente pesquisa e que merece futuro aprofundamento.
A investigação foi enriquecida com um olhar sobre os principais desafios que as empresas enfrentam para
implementar essas ações, na qual se destaca o aspecto financeiro/investimento, seguido por outras questões internas
como o envolvimento do seu pessoal e a mudança de processos. Fica evidente que conhecimentos, fornecedores e
envolvimento dos clientes, que dão indícios de aspectos externos, aparecem como os aqueles menos desafiadores para
as ações de sustentabilidade. Ademais, ao se buscar entender as motivações para que se dediquem a tais ações,
proteger o meio ambiente e melhorar a nossa sociedade são alegadas como as principais para a maioria das operadoras,
em detrimento de questões do negócio. Isso foi notado pelo fato de que, apenas em terceiro lugar e para uma minoria,
aparece a redução de custos. O estilo de vida, por sua vez, figura de modo menos destacado do que era esperado em
relação à literatura, o que abre um caminho para mais investigação. Por fim, os achados da pesquisa mostram que as
ações de sustentabilidade das operadoras participantes tangenciam todos os ODS, com especial ênfase para o 5
(igualdade de gênero), o 3 (saúde e bem-estar) e o 8 (trabalho decente).
Quanto às limitações do estudo registra-se o universo das operadoras de turismo, que não podem ser
extrapoladas para toda a cadeia produtiva, e ainda o fato de as respostas serem baseadas em percepções dos gestores.
Propõe-se uma agenda futura de pesquisas que adense o entendimento sobre os pilares da sustentabilidade a serem
aferidos de modo longitudinal e a partir de uma variedade maior de indicadores. Ainda, aprofundar o entendimento do
comportamento do cliente sobre as ações de sustentabilidade aparece como um aspecto relevante para o diálogo com
o mercado. Por fim, seria interessante uma comparação com outros segmentos, como hotelaria, alimentação e
transportes, bem como a análise da influência da pandemia de COVID-19 sobre as ações voltadas para a sustentabilidade
no setor de turismo, assim como um painel mais detalhado acerca das ações em cada ODS.

PALAVRAS-CHAVE

Sustentabilidade, Operadoras de Turismo, Brasil

REFERÊNCIAS

Acerenza, M. (2002). Administração do turismo. Caxias do Sul: Edusc.

61
Booking (2021). Relatório de Viagens Sustentáveis 2021. Booking.com.

Hall, C. M., Scott, D. & Gössling, S. (2020) Pandemics, transformations and tourism: be careful what you wish for,
Tourism Geographies, 22:3, 577-598, DOI: 10.1080/14616688.2020.1759131.

Carvalho, A., & Alberton, A. (2007). Um estudo em estabelecimentos de hospedagem na Estrada Real/MG: as variáveis
social e ambiental. Revista Hospitalidade, 5(1), 31-57.

Costa, H. A. (2013). Destinos do Turismo: percursos para a sustentabilidade. Rio de Janeiro: FGV.

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práticas de responsabilidade empresarial no turismo brasileiro. Revista de Turismo - Visão E Ação. v.20, p.474 – 489.

Eichelberger, S., Heigl, M., Peters, M., & Pikkemaat, B. (2021). Exploring the Role of Tourists: Responsible Behavior
Triggered by the COVID-19 Pandemic. Sustainability, 13(11), 5774. doi:10.3390/su13115774.

Font, X; Lynes, J. (2018). Corporate social responsibility in tourism and hospitality, Journal of Sustainable
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Garay, L.; Font, X. (2013). Corporate social responsibility in tourism small and medium enterprises evidence from
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Hospitality & Tourism Research, 34(2), 185-203.

Seidel, S.; Vrenegoor, F. & Cavagnaro, E. (2021) Sustainable behaviour in tourism and hospitality, Scandinavian Journal
of Hospitality and Tourism, 21:5, 471-474, DOI: 10.1080/15022250.2021.1984986.

Seeler, S.; Zacher, D.; Pechlaner, H. & Thees, H. (2021). Tourists as reflexive agents of change: proposing a conceptual
framework towards sustainable consumption, Scandinavian Journal of Hospitality and Tourism, 21:5, 567-585.

62
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS APLICADAS A HOTÉIS: ESTUDO DE CASO CIDADE DE MAPUTO
Dario Manuel Isidoro Chundo (darioisidoro17@gmail.com)
Palmira Isaura de Castro Morgado (palmyramorgado@gmail.com)
Lusineide da Natividade Daniel (lusineidedaniel19@gmail.com)

INTRODUÇÃO

Há várias décadas que assistimos enormes preocupações, ligadas a sustentabilidade, com ênfase na adopção
de práticas sustentáveis, em vários sectores de actividades. Na indústria hoteleira, está preocupação é encontrar espaço
na medida em que há, um notório desenvolvimento por parte dos fazedores de turismo de uma consciência responsável
nos vários eixos de autuação (social, económico, ambiental). Estas grandes preocupações ligadas a sustentabilidade,
datam desde a conferência de Estocolmo na Suécia a quando da conferência das Nações unidas sobre o Meio ambiente
Humano, a mesma data entre os dias 05 e 16 de Junho de 1972.
O presente estudo tem como foco a cidade de Maputo (Capita Moçambicana). E uma cidade meramente turística,
a qual, comporta um número considerável de hotéis uma vez que se trata de palco de recepção de maior número de
turistas que a posterior rumam pelo Pais fora. Nesta senda, o trabalho procurou compreender até que ponto o sector
hoteleiro que opera na cidade de Maputo se compromete com a questão da sustentabilidade, na adopção de práticas
sustentáveis aplicáveis aos hotéis. A cidade de Maputo, é uma das áreas consideradas prioritárias para o
desenvolvimento do turismo, na qual encontramos diversa instâncias hoteleiras, que de uma forma tem um grande
impacto nas várias dimensões. Ė nessa perspectiva que viu se a necessidade de analisar a gestão hoteleira no que diz
respeito a adopção de práticas sustentáveis aplicadas aos mesmos, para perceber ate que ponto estas tem um
comprometimento com a qualidade ambiental.
Considerando que o sector hoteleiro traz consigo aquilo que são os efeitos no desenvolvimento das suas
acções, com grande incidência para as questões, ambientais, sócias e económicas, neste sentido há uma necessidade de
todos intervenientes neste processo, desenvolverem estratégias assim como praticas que possam reverter os
resultados negativos, advindo desta área.
O artigo, tem como objectivo geral, analisar a Gestão Hoteleira no que diz respeito a Práticas Sustentáveis
Aplicadas a Hotéis da Cidade de Maputo, seguido de específicos‫ ׃‬explicar a percepção dos gestores hoteleiros perante
as práticas sustentáveis aplicadas a hotéis; Identificar as tecnologias limpas e as práticas sustentáveis adoptadas pelas
instâncias hoteleiras na cidade de Maputo; Explicar os principais obstáculos e desafios na implementação de práticas
sustentáveis nas instâncias hoteleiras na cidade de Maputo; Explicara importância da adopção das práticas sustentáveis
na gestão hoteleira, dos hotéis da cidade de Maputo e Propor acções de intervenção para a massificacão das praticas
sustentáveis por parte dos hotéis.
Vários são os conceitos que podemos encontrar sobre os hotéis, neste sentido, (CASTELLI, 2007: 29), define
hotel como sendo empresas de hospedagem que estão inseridas no sistema turístico, este se manifestam como sendo
63
um produto turístico, em que os mesmos comportam a estadia dos turistas que desejam se hospedar, na mesma
linhagem o autor diz que o hotel é uma edificação que mediante o pagamento de diárias, oferece alojamento à clientela
indiscriminado.
Segundo (CÂNDIDO e VIEIRA, 2003), o hotel é considerado uma organização, pois está associado a um grupo
de pessoas que exerce diferentes funções para atingir um objectivo comum. Esse objectivo é oferecer ao hóspede o
melhor serviço, o melhor atendimento, o melhor preço e a melhor satisfação. Ou seja: o hotel, através da comunicação
e do trabalho de pessoas em diferentes áreas, deve proporcionar ao hóspede/cliente o melhor: serviço e atendimento.
Neste sentido podemos perceber que o conceito de hotel é muito discutido, todos salientam a questão do
mesmo ser de carácter comerciar, em que tem uma forte relação com o turismo tanto que funcionam como sendo um
sistema, na medida em que os turistas precisam dos serviços hoteleiras para se hospedarem e o turismo vê o hotel
como sendo um produto turístico que deve ser oferecidos da melhor forma aos turistas. Enquanto o hotel é uma
edificação física e localizável, a hotelaria é uma indústria que concentra um conjunto de serviços, em que pui
características próprias e que tem por finalidade oferecer hospedagem, alimentação e segurança aos clientes.
O livro de Drucker, este que é reconhecido como um dos textos modelo para a definição de gestão onde aborda
a questão da natureza da gestão, onde sustenta que a gestão tem sempre que pôr, em cada decisão e acção, a
performance económica em primeiro lugar, em contra partida encontramos Dexter e Barber, ao escreverem um livro
sobre gestão agrícola, numa perspectiva de consultores, e escrevendo principalmente para agricultores, sentiram
necessidade de uma definição clara este sentido a palavra gestão é de carácter polissémica, em conformidade, é
necessário adaptá-la ao ambiente onde está a ser utilizada de maneira a assumir em termos relativos o seu verdadeiro
significado. (AMARAL & NUNES, 2017).
Assim gestão pode ser entendida como o processo de coordenação e integração de recursos, tendente à
consecução dos objectivos estabelecidos, através do desempenho das actividades de panejamento, organização,
direcção e controle. Pode ser também assimilada a processo de trabalho com e através dos outros, a fim de se atingirem
eficazmente os objectivos organizacionais traçados, utilizando-se eficientemente os recursos escassos, num contexto
em constante mutação. (idem, 2017).
De acordo com BOOF, (2012) sustenta que a sustentabilidade sela o conjunto de acções destinadas a sustentar
a vida na terra, com o intuito de objectivar propostas ao mundo contemporâneo para as gerações futuras de uma forma
que sejam mantidas as formas de regeneração, reprodução e evolução dos nossos recursos naturais
Para CAMARGO, (2016), sustenta que a sustentabilidade tem-se consolidado como um novo paradigma para o
desenvolvimento humano, sendo elucidada como um senso profundamente ético, de igualdade e justiça social, de
preservação da diversidade cultural, de autodeterminação das comunidades e de integridade ecológica.
Perante estas definições percebemos que a sustentabilidade, é um termo amplo que não só se cinge ao
desenvolvimento humano mais sim, um conjunto de acções interligados que devem garantir o bem-estar da existência

64
humana. Sendo que para tal o homem deve racionalizar as suas acções tendo um olhar para a igualdade bem como a
integridade do meio em que o rodeia.
Sabe-se que a gestão hoteleira, abrange um conjunto de práticas assim como teorias de administração de
hotéis bem como outros tipos de hospedagem que estão directamente ligados ao turismo, tendo em conta que a área
de hotelaria, se materializa na actuação das áreas de hospedagem, alimentação, segurança, entretenimento e varias
áreas ligadas directamente com o bem-estar dos hóspedes.
Varais são as práticas que podem ser incorporadas nas instâncias hoteleiras para que possam garantir uma
maior sustentabilidade é nas instâncias hoteleiras, onde podemos encontrar novas formas de produção assim como
novas tendências de consumo, considerando que as escolhas dos consumidores em muito dos casos são responsáveis
por grandes desastres ambientais e não só, quando falamos basicamente do modo em que é feita a gestão das grandes
toneladas de lixo que são gerados pelos hotéis, grandes quantidades de óleos, águas negras que são drenados nos
oceanos. Na actualidade a questão das práticas sustentáveis vem ganhando mais visibilidade, isto podemos verificar
em grandes sistemas que os hotéis possuem para cumprirem com o processo de gestão ambiental, ganhando mais
consciência e compromisso com o meio ambiente.
Esta parte, apresenta, analisa e discute os resultados obtidos através da pesquisa de campo, feita em vários
hotéis localizadas na cidade de Maputo, que foram previamente seleccionados a respeito da gestão hoteleira: Práticas
sustentáveis aplicadas a hotéis: na cidade de Maputo. No mesmo encontro varias percepções a respeito das práticas
sustentáveis bem como no que concerne as tecnologias sustentáveis. Em primeiro lugar far-se-á uma descrição dos
hotéis inqueridos e a caracterização sócio-demográfica dos inqueridos, por fim tem resultados concernentes a práticas
sustentáveis aplicado a hotéis, na cidade de Maputo.

METODOLOGIA

Foi usada uma abordagem, a mista (quali-quantitativo), sendo que para proceder com a mesma se preconizou
a Observação directa, Método Comparativo, Método Bibliográfico, Método Estatístico, Método cartográfico e para colecta
e análise de dados foram escolhidas as seguintes técnicas‫ ׃‬Inquérito, Questionário e Entrevista.De acordo com (GIL,
2008), toda questão de pesquisa define um universo de objecto aos quais os resultados do estudo deverão ser aplicáveis.
O grupo alvo foi composto por elementos distintos possuindo um certo número de características comuns. Para o caso
da pesquisa tem uma população de 54 hotéis, 54 gestores, 832 trabalhadores e um número não especificado de
hóspedes. A amostra e de 10 hotéis escolhidas de forma aleatória tendo em vista a sua localização, 10 gestores dos
hotéis escolhidos, 57 funcionários escolhidos de probabilística de acordo com a suas disponibilidade e 28 estes foram
escolhidos de forma ocasional, tendo em conta a sua disponibilidade e aceitação.

RESULTADOS

65
Esta parte, apresenta, analisa e discute os resultados obtidos através da pesquisa de campo, feita em vários
hotéis localizadas na cidade de Maputo, que foram previamente seleccionados a respeito da gestão hoteleira: Práticas
sustentáveis aplicadas a hotéis: na cidade de Maputo. No mesmo encontro varias percepções a respeito das práticas
sustentáveis bem como no que concerne as tecnologias sustentáveis. Em primeiro lugar far-se-á uma descrição dos
hotéis inqueridos e a caracterização sócio-demográfica dos inqueridos, por fim tem resultados concernentes a práticas
sustentáveis aplicado a hotéis, na cidade de Maputo.

Tabela 1: Total dos inqueridos em sectores

Gestores Funcionários Hóspedes Total

Masculino 6 Masculino 31 Masculino 1


7
95
Feminino 4 Feminino 26 Feminino 1
1

Total 10 57 28

Fonte: Autores, 2021.

A tabela 1 ilustra a caracterização dos hotéis inqueridos. Estes, estão localizados na cidade de Maputo, e
operam no mercado hoteleiro no intervalo de 2 a mais de 15 anos. Em termos de classificação, os mesmos compreendem
2, 3, 4 e 5 estrelas de acordo com a classificação moçambicana.

Gráfico 1: Certificação Ambiental dos hotéis

O Hotel possui Certificado Ambiental?


Sim Não
80%

60%

40%

20%

0%
Sim Não

No sentido de perceber a respeito da certificação ambiental dos diferentes hotéis que operam na cidade
capital, um dado importante notado foi o nível de conhecimento que os gestores hoteleiros têm a respeito deste

66
procedimento, sustentado que é de extrema importância que as instâncias hoteleiras operem dentro dos parâmetros
legais, de modo a contribuírem para o desenvolvimento sustentável.
Estes pronunciamentos são justificados pelos dados ilustrados pelo gráfico 1, onde cerca de 60% dos hotéis
pesquisados possuem a certificação ambiental, porém cerca de 40% dos inquiridos responderam que não, mas alegam
estar no processo para a sua certificação.

Adopção das práticas sustentáveis nos hotéis da cidade de Maputo.


A adopção de práticas sustentáveis por partes dos hotéis implica ter um grande compromisso curto e a longo
prazo, tendo em conta que estas se consubstanciam em grandes alterações nos comportamentos e nas escolhas dos
clientes.
O desenvolvimento sustentável da actividade hoteleira, é visto como um caminho certeiro, pelos fazedores
da mesma, não obstante, acredita-se que seja de extrema importância a adopção de práticas sustentáveis, tendo em
conta que estas têm um grande impacto, na medida em que contribuem positivamente nas dimensões de actuação de
um hotel, reduzindo os custos de operacionalização e aumentando a rentabilidade da actividade, assim como para a
redução dos impactos negativos resultante da actividade hoteleira.
Feita a observação no campo, foi possível observar que a maior parte dos hotéis, apresentam uma estrutura
que vai ao encontro com os princípios preconizados para o licenciamento de uma instância hoteleira, realidade que é
justificada pelas formas arquitectónicas dos diferentes hotéis em que, na sua concepção toma-se em conta uma maior
eficiência para a redução do consumo da energia e outros recursos.
De facto esta realidade observada, permite afirmar que a mudança de atitude no sentido da sustentabilidade
poderá contribuir para uma maior eficiência por parte das instâncias hoteleiras, podendo representar para a redução
de custos, para além de efeitos indirectos como uma melhor gestão do risco e a melhoria da imagem da empresa no
mercado hoteleiro.

Avaliação do nível de conhecimento dos Gestores, Funcionários e hóspede a temática das


práticas sustentáveis aplicadas a hotéis na cidade de Maputo.
O gráfico 2 ilustra os resultados obtidos durante a pesquisa, onde procurou-se perceber no seio dos gestores,
colaboradores assim como nos hóspedes, até que ponto tem conhecimento da temática em estudo, nos 94 inqueridos,
maior parte dos hóspedes conhecem das matérias ligadas a sustentabilidade sendo que 60% dos mesmos responderam
que sim, os gestores seguem com 46%, situação preocupante tendo em conta que estes estão comandam todas
actividades no hotel, por fim os funcionários onde 50% dos mesmos dizem não ter conhecimento da temática em alusão
(vide o gráfico 2).
Os dados apontam que grosso número dos gestores possuem um nível de conhecimento satisfatória sobre a
temática em estudo, o que é de estrema importância para uma gestão sustentável e responsável tendo em conta que

67
estes tem um papel fundamental dentro da empresa, é importante frisar que mesmo tendo este nível satisfatório, os
gestores clamam pela divulgação cada vez mais deste assunto, salientando que tais acções devem ser incrementadas
nos sectores deformação.
Olhando para a percentagem dos funcionários são possível perceber que os mesmos têm pouco conhecimento
das práticas sustentáveis aplicadas aos hotéis, segundo os mesmos, pouco sabem da existência das práticas porque os
hotéis nada fazem para a divulgação de matérias ligadas ao assunto, assim como das poucas formações que tem tido
pouco se aborda sobre o assunto. Observando o gráfico 5, os hospedes superam todos actores, quanto ao nível de
conhecimento sobre as praticas sustentáveis aplicadas aos hotéis, o que é de maior valia, porque os hospedes exercem
um grande papel na tomada de decisões por parte dos gestores, tendo em conta que tudo que o hotel faz é
necessariamente procurar satisfazer da melhor forma os seus clientes.

Gráfico 2: Avaliação do índice de conhecimento das práticas sustentáveis.


Já ouviu falar de práticas sustentáveis aplicadas aos hotéis ?
70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Sim Não Talvez
GESTORES 46% 20% 34,00%
FUNCIONARIOS 35% 50% 15%
HOSPEDES 60% 20% 20%

Ainda sobre o nível de conhecimento sobre a temática, das práticas sustentáveis aplicáveis aos hotéis, pediu-
se que os inqueridos que respondessem que sim pudessem dar exemplo de práticas sustentáveis que podem ser
adoptados pelos hotéis que posam tornar os hotéis cada vez mais sustentáveis.

Tecnologia limpa adoptada pelos diferentes hotéis da cidade de Maputo.


Para PANTUFFI, (2017) a adopção de tecnologias limpas garante benefícios para o hotel, tanto na parte
financeira assim como ambiental, garantindo uma melhor organização, e aceitação no mercado. Neste sentido, no que
concerne as tecnologias limpas, procurou-se saber por parte dos hotéis inqueridos sobre as tecnologias limpas

68
adoptados, segundo os gestores a adopção das tecnologias limpas, permitem que haja uma gestão mais acertada aos
recursos, tais como agua, energia e gás.
Na mesma linhagem os funcionários assim como os hóspedes, sustentam que é de extrema importância que
haja esta adopção das tecnologias sustentáveis, tanto que dinamizam o trabalho e permitem melhor gestão, garantindo
a poupança e melhora o rendimento. No gráfico 3 estão expostos as diferentes tecnologias que são adoptados pelos
diferentes hotéis.
Em termos percentuais na adopção de tecnologias limpas, por parte dos hotéis, verificou-se que, 90% dos
hotéis possuem nas suas instalações lâmpadas de baixo consumo, 65,9% optam por ar condicionados de baixo consumo
e 34,1% não sabem dizer, alegando o desconhecimento da sua capacidade de consumo de energia, 20% possuem
sistemas para aquecimento da água usando sistemas de placas solares o que é evidente que poucos usam esta fonte
de energia, porque cerca de 80% não possuem este sistema.
Neste sentido constatou-se que cerca de 65,7% dos estabelecimentos hoteleiras possuem televisores de baixo
consumo e os restantes 34,3% na sabem dizer se os aparelhos são de baixo consumo ou não, no acto da pesquisa, foi
notório a existência de sensores de presenças nos diferentes hotéis, sendo que não se pode dizer o mesmo com a
existência sistemas para poupança de água, falando das descargas de duplo accionamento que soa dispositivos que
possibilitam a poupança de água e cerva de 60% dos hotéis não possuem um sistema de tratamento da aguas negras
antes de serem direccionadas aos canais de esgotos, um mecanismo que possibilita a redução do índice de poluição
(vide os gráficos 3).
Tomando em consideração que a actividade hoteleira, é de extrema importância para o desenvolvimento do
turismo na cidade de Maputo, importa referir que o desenvolvimento sustentável desta actividade na cidade de Maputo,
deve ser conjugado com adopção de práticas aceites e com menos impactos negativos. Melhorando a qualidade de vida
e aumentar a rentabilidade quando comparado com os investimentos feitos. é neste contexto que no acto da pesquisa
procurou-se saber por parte dos diferentes hotéis quais são as praticas sustentáveis que são adoptados pelos diferentes
hotéis da cidade de Maputo tendo em conta as diferentes dimensões.
É neste sentido que procurou-se perceber por partes dos hotéis, sobres as práticas sustentáveis adoptadas,
onde em termos percentuais, no que diz respeito a adopção das práticas sustentáveis, sendo que é importante salientar
que quase todos hotéis há uma tentativa na adopção de práticas que correspondem a dimensão ambiental, social e
económica é de salientar que estas práticas tem uma frequência de variação, diária, semanal e mensal, a seguir a
apresentação dos dados percentuais em cada dimensão, como se pode ver nos gráficos a baixo.

Gráficos 3: Tecnologias limpas adoptados pelos diferentes hotéis da cidade de Maputo

69
Quais são as tecnologias limpas adoptadas pelo Hotel?
120,00%
100,00% Sim
80,00%
60,00% Não /
Não Sei
40,00%
Dizer
20,00%
0,00%

Praticas sustentável dimensão Ambiental, social e económica


Olhando para dimensão ambiental, se percebe que, de uma forma não intencionada, alguns empreendimentos
hoteleiros, demonstram uma tendência na adopção de práticas sustentáveis, viste que a maior parte dos hotéis
privilegiam a luz do dia para poder melhorar a visibilidade de alguns compartimentos, assim como a decoração com
obras feitos de materiais reciclados, tal é o caso do ferro, madeira e palha.
Olhando para a dimensão social, verificou – se que dentre os empreendimentos hoteleiros, poucos tomam em
conta esta questão da sustentabilidade social, tanto que 80% dos mesmos não optam por acções de apoio a ONG’s se o
fazem é com extrema raridade que depende das condições financeira, em contrapartida todos possuem acções de
capacitação de colaboradores. Boa parte destes, busca traçar negócios com colaboradores locais. Um dado importante e
preocupante, constatou-se que os empreendimentos hoteleiros nada fazem para incentivar ideais sustentáveis bem
como nas questões ligadas a projectos ambientais.
No que diz respeito a dimensão económica, é de salientar que dentre os gestores dos empreendimentos
hoteleiros, que foram entrevistados, constatou-se que maior parte esta ciente da necessidade de garantir acções
sustentáveis para as questões económicas de um hotel.

Importância de adopção das praticas sustentáveis aplicadas aos hotéis


Olhando para as respostas dos entrevistados e inqueridos, mostram que 45% vê a importância de adoptar as
práticas sustentáveis na medida em que os mesmos aumentam as receitas, e 30% sustenta que melhora a imagem do

70
hotel tendo uma posição melhor no mercado, ten, 15% afirma que reduz os impactos negativos ao meios ambiente e
10% sustenta que esta prática reduz a sua pressão sobre os recursos.

Gráfico 4 : Importância de adopção das práticas sustentáveis.

Na sua opinião qual é a importância da adopção das práticas


sustentáveis pelas instancias hoteleiras?

Redução os impactos
negativos ao ambiente
Redução do consumo dos
recursos
Aumentar os lucros
Melhoria da imagem do
hotel
0% 10% 20% 30% 40% 50%

Obstáculos enfrentados na implementação das práticas sustentáveis adoptados aos hotéis. Os gestores
salientam não ser fácil implementar tais prática uma vez que por detrás delas há vários factores, mas acreditam ser de
grande importância adopta-las. (vide gráfico 5).

Gráfico 5: Obstáculos enfrentados na implementação das práticas sustentável

Quais são os obstáculos enfrentados na implementação das


praticas sustentáveis?
Elevados Investimentos
Falta de conhecimentos sobre o tema/medidas por parte dos hóspedes
Não se aplica ao conceito do hotel

Não se aplica ao conceito do hotel

Falta de conhecimentos sobre o


tema/medidas por parte dos…

Elevados Investimentos

0% 20% 40% 60% 80%

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como um factor para o alcance do desenvolvimento sustentável, a adopção das práticas sustentáveis tem um
enorme contributo através dos seus efeitos ou ganhos nas várias esferas de actuação de um hotel (social, ambiental e

71
económico). Quando um hotel opta por práticas sustentáveis gera um efeito multiplicador nos seus ganhos, tanto que
gasta menos, melhora a renda mensal e tem um melhor posicionamento no mercado, tanto que estas práticas devem
se consubstanciar no uso racional da água, luz, gás, privilegiando meios alternativos e sustentáveis. Dos dados
analisados, foi possível concluir que a cidade de Maputo, concentra um grosso número de instâncias hoteleiras de
grandes categorias, que adoptam as práticas sustentáveis. Estes, assumem que constitui um factor importante na
promoção do turismo no País.
Um dado importante observado, é a localização dos diferentes hotéis da cidade de Maputo em que muitos
deles são obrigados a direccionar as suas redes de esgoto ao mar, esta realidade é de extrema preocupação,
considerando que há hotéis que não possuem mecanismos de tratamentos das águas negras, este é considerado um
dado negativo na actuação dos empreendimentos hoteleiros.

PALAVRAS-CHAVE

Gestão Hoteleira, Praticas sustentáveis, Sustentabilidade

REFERÊNCIAS

AMARAL Ivan Luís M. F do & NUNES Everardo Duarte. (2017).Os conceitos de gestão e administração: Aplicação ao estudo
das gestões dos directores Da faculdade de ciências médicas da universidade estadual de campinas. Universidade
Estadual de Campinas, Campinas - SP - Brasil.

BOFF, Leonardo. (2012).Sustentabilidade: o que é, o que não é. Petrópoles-RJ: Vozes,

CÂNDIDO,I. e VIERA, E.V. Gestão de Hotéis: técnicas, operações e serviços.(2003) Caxias do Sul: EDUCS.

CAMARGO, T. F.; ZANIN, A.; WERNKE, R. Análise comparativa dos níveis de sustentabilidade de granjas produtoras de
suínos do oeste catarinense. (2017).Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis e Administração) – Programa de Pós-
Graduação em Ciências Contábeis e Administração, Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó,
Chapecó,

CATELLI, A. Controladoria: uma abordagem da gestão económica (2007).GECON.2. ed. São Paulo: Atlas.

GIL, António Carlos. Como elaborar projectos de pesquisa. (2008). 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

PANTUFFI, C. M. (2017).Desenvolvimento de competências para a sustentabilidade: um estudo dos significados e práticas


na hotelaria. Tese (Doutorado em Administração de Empresas)– Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.

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TURISMO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: ESTRATÉGIAS DE EMPREENDER A PARTIR
DE AÇÕES INOVADORAS QUE CONCILIAM INTERESSES ECONÔMICOS E
SOCIOAMBIENTAIS

Jhonnatan Oliveira dos Santos (Jhonnatan.oliveira@discente.ufma.br)


Roselis de Jesus Barbosa Câmara (Roselis.jbc@ufma.br)
Rozuila Neves Lima (Rozuila.lima@ufma.br)

INTRODUÇÃO

O Turismo é um campo do conhecimento de natureza múltipla, um fenômeno sociocultural complexo que


desperta o interesse de diversas áreas do saber. Nesse sentido, Moesh (2000) observa que a atividade representa uma
intrincada combinação de inter-relacionamentos, entre produção e serviços, a funcionar como uma prática social e, ao
mesmo tempo, por assim se caracterizar, como uma prática de viés econômico. Para Oliveira (2014), significa o conjunto
resultante do deslocamento e permanência de pessoas fora do seu local de residência, sem o exercício de ocupações
financeiras. Complementando, Neves (2012) aponta o turismo como uma atividade que estabelece inter-relações com
vários setores da sociedade e da economia, além de ele mesmo ser uma prática econômica. O Ministério do Turismo do
Brasil (MTUR) segue esta linha, abordando a atividade sob a perspectiva econômica representativa da demanda e da
oferta.
O turismo, por sua capacidade de influenciar diversas esferas e aspectos, em âmbito local e regional,
representa um fator notável de desenvolvimento socioeconômico. Entretanto, o setor precisa enfrentar um desafio que
se coloca hoje às inúmeras atividades econômicas, que consiste em compatibilizar suas atividades com a utilização
racional e duradoura dos recursos. Em função disso, desde os grandes complexos empresariais às pequenas e
microempresas (dos mais distintos segmentos do turismo), têm buscado novos modelos de empreender e recorrido cada
vez mais a formas inovadoras, sustentáveis e criativas, tanto para a oferta dos produtos e serviços, quanto para superar
as dificuldades e desafios que se apresentam, sejam eles sociais, econômicos e/ou ambientais.
Assim, do ponto de vista do empreendedorismo no turismo, há um dinâmico processo de visão, mudança e
criação, requerendo a aplicação de energia e paixão na busca de soluções criativas e inovadoras (Kuratko, 2016). Nessa
jornada, uma das necessidades atuais é a adequação dessa promoção estratégica diferencial para atender ao
pensamento do turista, que tem considerado contratar empresas com posturas e práticas sustentáveis e inovadoras.
Contudo, o desenvolvimento sustentável de uma empresa vai para além desse aspecto contemporâneo. Tidd
(2015, p.7) contribui apontando que “a inovação é a caraterística mais importante associada ao sucesso; empresas
inovadoras normalmente atingem um crescimento maior ou mais bem-sucedido que aquelas que não inovam”. Ou seja,
é considerado um fator diferencial e competitivo no mercado, algo que garante maior sustentabilidade financeira a um
empreendimento.

73
Desta maneira, o turismo com base na sustentabilidade se torna estratégico para os empreendimentos, visto
que, na sociedade atual, o turista vem deixando de ser apenas “um sujeito contemplativo” e passando a assumir
posturas e decisões sensíveis às questões socioambientais. Daí a importância, também, de os empreendimentos
buscarem formas inovadoras e criativas para realizar as mudanças necessárias no setor, o qual pretende ser cada vez
mais sustentável e diferenciado, com vistas a garantir sua sobrevivência e competitividade.
É oportuno observar que essas práticas sustentáveis podem ainda impactar diretamente na redução de custos,
na eficiência energética, além de apoiar a reutilização de recursos e de proporcionar uma melhor qualidade à oferta
turística, isto por favorecer a captação de demanda por nichos e representar uma forte estratégia de marketing.
A atenção ao ambiente torna-se necessária, considerando que se trata do espaço no qual a atividade do
turismo acontece e que, por isso, tem a capacidade de influenciá-lo diretamente. Isto porque a manutenção da atividade
do turismo está ligada de forma direta ao lugar e seus recursos, além dos aspectos sociais representados pela
comunidade local e o seu patrimônio cultural.
Neste viés, convém atentar para dimensões da sustentabilidade que, de acordo com o Ministério do Turismo
(2007), devem se efetuar sob as seguintes perspectivas: sustentabilidade ambiental, sociocultural, econômica e política.
A sustentabilidade ambiental visa à compatibilidade entre o desenvolvimento e os processos ecológicos fundamentais
à diversidade dos recursos. A sustentabilidade sociocultural tem como objetivo assegurar a preservação da cultura e
fortalecimento da identidade da comunidade. Já a sustentabilidade econômica propõe um desenvolvimento
economicamente eficaz, que seja capaz de garantir a distribuição igualitária dos benefícios oriundos desse
desenvolvimento. E a sustentabilidade política é aquela que tem por proposta garantir a prosperidade local e/ou
regional em todos os níveis. Esses princípios devem ser contemplados de forma equilibrada por todos os agentes.
Tais dimensões do turismo ensejaram esta investigação, que se baseia na adaptação criativa e inovadora
dessa atividade econômica, em busca de novas formas de promoção dos seus produtos e serviços. Tem, desta maneira,
os seguintes objetivos:
Objetivo Geral
• Investigar práticas inovadoras e criativas (a partir da perspectiva da sustentabilidade) que são adotadas
por empreendimentos turísticos de São Luís (MA), como estas práticas se aliam ao mercado e quais
valores são gerados aos empreendimentos que as adotam.
Objetivos Específicos
• Mapear os principais empreendimentos turísticos de São Luís, primeiramente, no segmento de
hospedagem;
• Verificar as estratégias adotadas pelos empreendimentos para ofertar seus produtos e serviços;
• Identificar quais dimensões de sustentabilidade são praticadas pelos empreendimentos investigados.

74
O presente trabalho está vinculado a uma perspectiva ampliada do Grupo de Pesquisa em Turismo e Meio
Ambiente, que tem como um dos eixos de reflexão a relação turismo e sociedade, a fim de, assim, poder colaborar com
estudos e investigações acadêmicas.

METODOLOGIA

Em busca de esclarecimento, visto as indagações da presente investigação, os procedimentos escolhidos para


a aplicação serão por meio de pesquisa de campo, que, de acordo com Prodanov e Freitas (2013), tem como objetivo a
captação de informações e/ou conhecimentos sobre um problema, em que se busca uma resposta a ser comprovada ou
mesmo o descobrimento de novos fenômenos relacionados. Esse tipo de procedimento será crucial para o
desenvolvimento da pesquisa, que objetiva tratar sobre a importância da sustentabilidade como mecanismo de geração
de valor para os empreendimentos do turismo que buscam inovação e criatividade, ferramentas estratégicas estas no
cotidiano das ofertas e atividades.
Assim, considerando os objetivos elencados, tem-se a pesquisa como exploratória que promove um
aprimoramento de ideias sobre a temática escolhida a ser destrinchada, conforme também é colocado por Gil (2002, p.
41), em que a pesquisa exploratória “tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas
a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses”. Corroborando com esse pensamento, Prodanov e Freitas (2013)
afirmam que esse tipo de estudo desenvolve também novos tipos de enfoques sobre o assunto. Nesse sentido, o espaço
delimitado para a investigação do estudo será o município de São Luís-MA, que, dentro do cenário turístico do Estado do
Maranhão, é considerado um dos destinos principais na recepção de turistas e, consequentemente, com a presença de
empreendimentos do setor.
Dessa maneira, a amostragem escolhida e o objeto de estudo são os empreendimentos turísticos; de início,
os meios de hospedagem. Como critério de escolha dessa fatia a ser analisada foi realizado um mapeamento no sistema
de ordenação, formalização e legalização de prestadores de serviços turísticos no Brasil, o Cadastro de Prestadores de
Serviços Turísticos (CADASTUR).
Em questão de abordagem, tem-se como classificação o estudo qualitativo e quantitativo, ou quali-quanti, que
segundo Minayo (2001) e Lakatos e Marconi (2003), possibilita respostas a indagações mais particulares e detalhadas
dos dados sobre as relações organizacionais e pessoais analisadas, apresentando dessa forma um tratamento
avaliativo e descritivo.
Nesse contexto, para obtenção de dados a serem analisados, foi realizado um levantamento bibliográfico e
documental em fontes acadêmicas, técnicas e científicas, como a busca por produções no Portal de Periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior do Brasil (CAPES), em revistas científicas, anais acadêmicos e a partir
da consulta a autores da área de turismo e correlatas, com vistas à compreensão do conteúdo, temática e realidade do
espaço investigado.

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Ademais, como mais um instrumento de coleta de informações, serão realizadas entrevistas com os gestores
dos empreendimentos e um questionário a ser aplicado com os funcionários das organizações, pois assim se visam
entendimentos dos espaços estratégicos e operacionais que demandam nortes de atuação e que, respectivamente, estão
na “ponta” da oferta e realização dos serviços com os turistas.
Posteriormente, após a coleta de dados, o objetivo é analisar, por meio de tabulações e agrupamentos, os
hotéis. Por consequência, será feita uma revisão das entrevistas e dos quadros dos respondentes estratégicos e
operacionais para a construção de um melhor entendimento, a fim de que se tenha uma visão ampla a ser comparada
sobre a inovação e sustentabilidade na prática dos empreendimentos do turismo na cidade de São Luís (MA).

RESULTADOS

Conforme exposto anteriormente, o presente estudo tem como propósito investigar empreendimentos de
hospedagem e suas práticas inovadoras e criativas, a partir de uma perspectiva sustentável, e quais são os valores
gerados a essas empresas. Para tanto, delimitou-se como objeto de investigação as empresas do segmento de
hospedagem, no município de São Luís (MA), e se elegeu a seguinte questão norteadora: como essas ações positivas, no
contexto socioambiental, aliam-se às práticas de mercado, e quais valores são gerados para esses empreendimentos?
A pesquisa teve início no final do segundo semestre de 2021 e se encontra em fase embrionária. Foi iniciada
a revisão de literatura com levantamento bibliográfico e documental em fontes acadêmicas, técnicas e científicas, com
vistas à compreensão do conteúdo relacionados à temática abordada. Assim, questionou-se inicialmente de onde e como
partiria o mapeamento dos empreendimentos hoteleiros de São Luís. Foi levantado os dados por meio do portal do
CADASTUR, que traz diversos dados dos empreendimentos (como nome comercial, número de cadastro, endereço,
website, telefone e redes sociais).
O referido site, que, durante a elaboração da presente produção, passava por melhorias, apresentou falhas
de carregamento e instabilidade, as quais afetaram momentaneamente a busca. Entretanto, com o sucesso na captação
das informações, obteve-se o quantitativo de 41 empreendimentos. O passo seguinte foi tabular e evidenciar, como
visto no gráfico abaixo:
Gráfico 01: Quantitativo de Meios de Hospedagem em São Luís – CADASTUR
Fonte: (Jhonnatan Oliveira, 2022)

76
Essa variável exprime relevância pelo entendimento de onde se concentram os meios de hospedagem dentro
da capital, sendo a maior parte na região central e litorânea, expressadas pelos bairros Centro (07) e Calhau (07),
seguidos de mais um bairro litorâneo, a Ponta D’areia (05) e um mais periférico, o Jardim São Cristóvão (05), ambos com
cinco empreendimentos do setor hoteleiro presentes. Também se verificou a presença estratégica nos bairros centrais
e litorâneos por estarem próximos de atrativos históricos, culturais e naturais, como o Centro Histórico de São Luís,
além de museus, igrejas e praias.
Desta maneira, levantou-se a questão no CADASTUR, que possibilitou a classificação da SBClass, que, segundo
o MTUR (2015), é uma ferramenta que liga o setor hoteleiro aos turistas, orientando-os e classificando-os em aspectos
mundiais com países líderes no turismo. Portanto, a busca pela classificação de cada meio de hospedagem será o
próximo passo da presente investigação, em que a amostra se dará somente com empreendimentos a partir de 3
estrelas. Este dado é consideravelmente relevante, visto que a SBClass define que, para que o meio de hospedagem
entre nesse processo, são avaliados três requisitos, descritos abaixo:
• Infraestrutura: Instalações e Equipamentos;
• Serviços;
• Sustentabilidade: relação com meio ambiente, sociedade e satisfação do hóspede.

O último requisito, tratado pelo MTUR, é de total importância, pois versa sobre a temática abordada, conteúdo
colocado por Ruschmann (2004), em que o desenvolvimento sustentável do turismo deve justamente considerar a gestão
desses ambientes, recursos e as comunidades do entorno, atendendo as necessidades econômicas e sociais, além de
manter os aspectos culturais através dos tempos. Isto promove um cuidado aos hotéis no que diz respeito a planejar o
turismo e gerir com responsabilidade o destino receptor no qual o turista e/ou hóspede está imerso.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo; Inovação; Sustentabilidade; Gestão Empresarial.


77
REFERÊNCIAS

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

KURATKO, Donald F. Empreendedorismo: teoria, processo, prática. 10. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
488 p. Tradução: Noveritis do Brasil.

LAKATOS, Eva Maria. MARCONI; Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2003.

MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à teoria geral da administração. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes,
2001.

MINISTÉRIO DO TURISMO. Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass). Portal Ministério
do Turismo. 2015. Disponível em: <http://antigo.turismo.gov.br/acesso-a-informacao/63-acoes-e-programas/5021-
sistema-brasileiro-de-classificacao-de-meios-de-hospedagem-sbclass>. Acesso em: 15 mar. 2022.

MOESH, Marutschka. Animal Kingdom: um estudo preliminar. IN CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos. Turismo Urbano.
São Pulo: Contexto, 2000.

NEVES, Janine do Rosário Oliveira. O Papel dos eventos no reforço da atractividade turística de Cabo Verde (o caso da
cidade da praia). 2012. 147 f. Dissertação (Mestrado em Turismo). Portal ESHTE – Escola Superior de Hotelaria e
Turismo do Estoril, Estoril, 2012. Disponível em: <https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/4454/1/2012.
04.017_.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2020.

BRASIL. Ministério do Turismo. Plano de Regionalização do Turismo. Brasília: MTur, 2007.

OLIVEIRA, Maria. A influência dos eventos na taxa de ocupação hoteleira: study case – montebelo viseu hotel & spa.
Portal ESHTE - Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril [S. l.: s. n.], 2014. 117 p. Disponível em:
<https://comum.rcaap.pt/bitstream/ 10400.26/8757/1/2014.04.005_.pdf>. Acesso em: 10 marc. 2021.

OLIVEIRA, Murilo de Alencar Souza; ROSSETTO, Adriana Marques. Modelo Integrado de Sustentabilidade e
Competitividade em Meios de Hospedagem [MISCMH]. Revista Rosa dos Ventos – Turismo e Hospitalidade, v.
6, n. 4, p. 546-563, out./dez, 2014. ISSN: 2178-906. Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php
/rosadosventos/article/view/2758/pdf_331>. Acesso em: 05. mar. 2021.

BRASIL. Ministério do Turismo. Plano de Regionalização do Turismo. Brasília: MTur, 2007.

PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas
da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Rio Grande do Sul: Universidade FEEVALE, 2013. 276 p. Disponível
em: <http://www.feeva le.br/Comum/midias/8807f05a-14d0-4d5b-b1ad-1538f3aef538/E-book%20Metodologia
%20do%20Trabalho%20Cientifico.pdf>. Acesso em22. nov. 2018.

RUSCHMANN, Doris Van Meene. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. 11. Ed.
Campinas: Papirus, 2004. 199p.

TIDD, Joe. Gestão da inovação. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. 633 p. Tradução: Felix Nonnenmacher.

78
Resumos de Artigos Completos
A PERCEPÇÃO DE JUSTIÇA DE PREÇO DE DIÁRIAS DE MEIOS DE HOSPEDAGEM EM
PLATAFORMAS DE LEILÕES DIGITAIS

Karen Daniele Lira de França (karenfranca@gmail.com)


Anderson Gomes de Souza (son_ander@hotmail.com)

RESUMO

Com a crescente competividade no setor de hospedagem, diversas estratégias têm sido utilizadas para conquistar o
consumidor e maximizar as vendas de diárias. As plataformas digitais são os meios mais utilizados para que as
empresas alcancem essa finalidade. Diante disso, este trabalho teve como objetivo analisar como a percepção de justiça
de preço de diárias de meios de hospedagem, em plataformas de leilões digitais, pode ser influenciada pelo valor da
marca do destino e o respectivo envolvimento do consumidor por ele. Este estudo descritivo, de natureza quantitativa,
adotou o corte transversal único. No total, 416 respondentes compuseram a amostra de pesquisa, cujos dados foram
analisados pela técnica de regressão linear múltipla. Os resultados indicaram que a consciência da existência do destino
não exerceu nenhuma influência sobre a percepção de justiça de preço. Assim como, a imagem, que o destino representa
para os respondentes, a qualidade dos equipamentos turísticos e a lealdade do viajante àquele destino específico,
apresentaram uma influência negativa na relação com a variável dependente. Do mesmo modo, o prazer em visitar o
destino, o valor simbólico, a importância e a probabilidade do risco em escolher um quarto de hotel indesejado, também,
exerceram influência negativa quando relacionados à percepção de justiça de preço. No entanto, apenas com a
relevância do destino constatou-se uma influência positiva em relação à percepção de justiça de preço em leilões. Diante
do exposto, foi possível observar que o preço, na realidade brasileira, é um elemento de grande importância na
negociação e não dependente da relação pessoal que o consumidor tenha com o destino e com os equipamentos que o
compõe, nem tão pouco, com a representatividade do mesmo. Portanto, o que prevalece para o consumidor é, na
negociação, conseguir a maior redução possível do preço e, após isto, efetuar a aquisição da diária do hotel.

Palavras-chave: Envolvimento; Valor da Marca; Justiça de preço; Leilão digital.

79
ANÁLISE DA PRESENÇA ONLINE DAS AGÊNCIAS DE TURISMO RECEPTIVO DE NATAL-RN

Mariene Cavalcante Borba de Albuquerque (paramarienealbuquerque@gmail.com)


Alice Emanuele de Almeida Barros (alice.barros.063@ufrn.edu.br)
Lissa Valéria Fernandes Ferreira (lissaferreira.iadb@yahoo.es)

RESUMO

Devido as facilidades advindas do uso da internet, consumidores tem optado por efetuar suas compras virtualmente.
Esse comportamento tem ocorrido em todos os setores da economia, inclusive no setor turístico. O presente estudo visa
identificar como as agências de turismo receptivo localizadas em Natal/RN têm utilizado a presença online para obter
vantagem competitiva na comercialização de serviços turísticos; para isso foi analisada as plataformas e possibilidades
adotadas por estes empreendimentos. As capacidades dinâmicas são consideradas ferramentas que permitem a
configuração de recursos em busca de melhor eficácia de acordo com o dinamismo do mercado. Sendo assim, agências
de turismo receptivo tem buscado visualizar entre seus recursos, possibilidades de se adaptar dentro dos novos
contextos, se destacando em competitividade por meio da presença online. A implementação das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TICs) têm sido utilizadas para melhorar as atividades operacionais das agências de viagem,
possibilitando uma maior qualidade nos serviços prestados, reduzindo custos, sendo uma ferramenta determinante
para o mercado turístico a fim de potencializar sua presença online. Este estudo, portanto, se fundamentou a partir de
teorias que abordam o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação, Agências de turismo Receptivo, Presença
online no setor de viagens e a abordagem da capacidade dinâmica como estratégia organizacional. Foi realizado um
estudo qualitativo em que por meio de uma análise de conteúdo verificou-se três categorias que abordaram dimensões
a respeito do site, das informações e sobre os aspectos de compra. Foram analisadas quatro agências de turismo
receptivo do município de Natal-RN a fim de alcançar os objetivos propostos. O estudo mostra que as empresas
analisadas têm utilizado as redes sociais e possuem sites próprios que atendem satisfatoriamente as categorias
elegidas demonstrando o entendimento sobre a importância do uso de recursos das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) para potencializar sua presença online e obter vantagem competitiva.

Palavras-chave: Presença online; Agências de turismo receptivo; Tecnologias de Informação e Comunicação;


Capacidades dinâmicas.

80
AS CONTRIBUIÇÕES DA GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS PARA QUALIDADE DE VIDA
NO TRABALHO: UMA ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS TRABALHADORES DE EMPRESAS DE
EVENTOS E CERIMONIAIS DO RIO GRANDE DO NORTE

José Mateus Silva de Araújo (mateus8_araujo@hotmail.com)


Mayanne Fabíola Silva Araújo (mayanneefabiola@hotmail.com)
Leilianne Michelle Trindade da S. Barreto (leiliannebarreto@hotmail.com)

RESUMO

A qualidade de vida no trabalho está intimamente relacionada ao sucesso de uma empresa, pois por meio dela os
colaboradores obtêm melhores condições de trabalho, uma maior integração entre as equipes pode ser alcançada e o
ambiente de trabalho fica mais agradável, contribuindo desta forma, para a melhoria do desempenho organizacional.
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, analisar as contribuições da gestão estratégica de pessoas para a
qualidade de vida dos trabalhadores de empresas de eventos e cerimoniais do Rio Grande do Norte. Por meio da
caracterização da importância da gestão estratégica de pessoas na qualidade de vida para empresas de eventos e
cerimoniais; da identificação dos fatores que influenciam a qualidade de vida em empresa de eventos e cerimoniais; e
da compreensão de quais as contribuições da gestão estratégica de pessoas que influenciam na qualidade de vida dos
trabalhadores de empresas de eventos e cerimoniais do Rio Grande do Norte. O estudo realizado caracterizou-se como
descritivo-exploratório de natureza mista incorporando o caráter qualitativo e quantitativo, a pesquisa apresenta ainda
a caracterização quanto ao objeto de estudo que será um estudo por amostragem, com amostra não probabilística por
conveniência. O universo da pesquisa compreende a participação de trabalhadores do setor de eventos do estado do
Rio Grande do Norte, sendo a pesquisa, realizada por meio de questionário online através da plataforma do google
forms, e o instrumento de coleta utilizado foi adaptado da dissertação de Diniz (2010), que contempla as oito dimensões
propostas pelo modelo de QVT de Walton (1973). O estudo alcançou os objetivos propostos e identificou que os
trabalhadores do setor de eventos do Rio Grande do Norte tendem, em sua maioria, a se submeter a condições
desfavoráveis de trabalho, com baixa remuneração, baixo reconhecimento, pouca evidência de programas de
treinamentos, dentre outros fatores, isso pode vir a gerar um alto turnover nessas empresas prejudicando suas
entregas aos clientes, gerando insatisfação pela baixa qualidade do serviço prestado, além disso, essas condições
podem desencadear problemas psicológicos, atingindo a saúde e a qualidade de vida deles, o que permite associar a
imagem do mercado de trabalho de eventos a um lugar ruim para se trabalhar.

Palavras-chaves: Qualidade de vida no trabalho; Gestão estratégica de pessoas; Empresas de eventos.

81
AS RELAÇÕES ENTRE PRÁTICAS DE RECURSOS HUMANOS, CULTURA ORGANIZACIONAL E
SATISFAÇÃO DOS HÓSPEDES NA HOTELARIA

Samara Maria Aires da Câmara (samaramaria_c@hotmail.com)


Leilianne Michelle Trindade da S. Barreto (leiliannebarreto@hotmail.com)

RESUMO

A relação indivíduo-organização tem tido sua importância cada vez mais reconhecida no campo da identidade
organizacional, sendo também uma estratégia para tornar as empresas mais competitivas. No ramo da hotelaria, a
reputação online é uma forma de avaliação do sucesso organizacional. O objetivo dessa pesquisa é avaliar a relação
entre as Práticas de Recursos Humanos, a Cultura Organizacional e a Satisfação dos Hóspedes na hotelaria brasileira e,
a partir dessa relação, auxiliar o gerenciamento da Gestão Estratégica de Pessoas nesse segmento. O estudo é
caracterizado como descritivo, com abordagem quantitativa, no qual foram aplicados questionários em 104 hotéis de
categorias 4 estrelas, 5 estrelas e Resorts brasileiros presentes na website TripAdvisor. A pesquisa foi realizada em
duas etapas: a primeira, com gestores ou responsáveis pelos Recursos Humanos dos hotéis, através do questionário de
Práticas de Recursos Humanos de Nadda et al. (2014) e do questionário de Cultura Organizacional de Bavik (2016); e a
segunda, com a análise das notas gerais que esses hotéis receberam no site de reputação online TripAdvisor. Os dados
foram avaliados através de técnicas estatísticas descritivas e de modelagem de equações estruturais. A pesquisa
revelou uma relação positiva entre as práticas de Recursos Humanos, a Cultura Organizacional e a Satisfação dos
Hóspedes na hotelaria brasileira. As Práticas de Recursos Humanos contribuem para moldar a Cultura Organizacional e
para, consequentemente, alcançar a Satisfação dos Hóspedes. Isolados, os construtos não se relacionam com a
Satisfação dos Hóspedes, sendo necessária a relação mútua para essa conquista, mostrando a interdependência entre
as Práticas de Recursos Humanos e a Cultura. Nessa pesquisa, a Cultura Organizacional contribuiu com a relação, mas
não fez o papel de mediador, criando assim um entendimento adequado para as conquistas organizacionais. Espera-se
também contribuir para o progresso acadêmico das temáticas estudadas. Os resultados permitiram aprofundar os
estudos acadêmicos da Gestão Estratégica de Pessoas, assim como compreender como funciona essa relação, de modo
a auxiliar a gestão das organizações hoteleiras em prol dos resultados organizacionais, especialmente voltados para a
Satisfação dos Hóspedes.

Palavras-chave: Práticas de Recursos Humanos; Cultura Organizacional; Satisfação dos Hóspedes; Hotelaria.

82
BENCHMARKING, STORYTELLING E INOVAÇÃO: OLHARES SOBRE AS CAPACIDADES
PARA A GESTÃO DO TURISMO NO SERIDÓ POTIGUAR COM BASE NOS CASOS DO
CONDE/PB
Mayara Ferreira de Farias (mayaraferreiradefarias@gmail.com)
Almir Félix Batista de Oliveira (almirfbo@yahoo.com.br)
Lissa Valéria Fernandes Ferreira (lissaferreira.iadb@yahoo.es)
Viviane Costa Fonseca de Almeida Medeiros (liramedeiros@yahoo.com.br)

RESUMO

Como possibilidade de desenvolvimento do turismo que valorize as pessoas, sua cultura e sua história, com o intuito de
promover melhorias na qualidade de vida dos autóctones, o Turismo de Base Comunitária tornou-se objeto de estudo
da pesquisa em tela. Neste contexto, optou-se por usar a storytelling que se refere à “arte de contar histórias
inesquecíveis”, possibilitando compreender sobre a história e sobre as vivências a partir da ótica dos quilombolas das
comunidades pesquisadas. A benchmarking foi escolhida, por sua vez, por ser uma ferramenta de busca por melhores
práticas de gestão de uma atividade que possa ser utilizada como modelo para implementação similar, adaptando para
a realidade de cada local. A pesquisa in loco foi realizada nos anos de 2018 e 2019, com realização de entrevistas
remotas (online) nos anos 2020 e 2021. Para tal, foram escolhidas 2 comunidades quilombolas da Região Seridó por
serem consideradas as mais representativas e conhecidas: Comunidade Quilombola Boa Vista dos Negros (Parelhas/RN)
e Comunidade Quilombola Negros do Riacho (Currais Novos/RN). Desta feita, o objetivo geral da tese que originou este
artigo foi: estudar sobre capacidades para a gestão da atividade turística nas comunidades quilombolas supracitadas.
A pesquisa possuiu abordagem qualitativa, com caráter exploratório e descritivo. Nesta perspectiva, foram
estabelecidas técnicas de coleta para cada objetivo: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, entrevista, observação
participante, Discurso do Sujeito Coletivo, Diagnóstico Rápido Participativo, storytelling e benchmarking. Como técnicas,
usaram-se a análise do discurso e a análise de conteúdo. Destacam-se como principais resultados do estudo em tela: as
vivências e o patrimônio material e imaterial das comunidades quilombolas as tornam espaços apropriados para uma
gestão compartilhada e para a implementação do Turismo de Base Comunitária no Seridó Potiguar, bem como foi
pertinente direcionar olhares para as peculiaridades socioculturais destas comunidades. Evidenciou-se, por conseguinte,
que é possível usar exemplos de implementação de atividades de Turismo de Base Comunitária com destaque para o
que foi realizado na cidade do Conde/PB, com ênfase no Sítio Tambaba Camping (Assentamento Tambaba no Povoado
Gurugi) e na Comunidade Quilombola Ipiranga, realidades que podem estimular a elaboração bem como direcionar
olhares para a elaboração de estratégias de gestão e desenvolvimento da atividade turística em outras comunidades
tradicionais da Região Seridó (Rio Grande do Norte). Por fim, concluiu-se que a storytelling e a benchmarking podem ser
consideradas alternativas de possível aplicação no contexto da gestão compartilhada da atividade turística por meio do
Turismo de Base Comunitária no Seridó Potiguar.

Palavras-chave: Benchmarking; Storytelling; TBC; Seridó; Rio Grande do Norte.

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BRANDING DE BASES COMUNITÁRIAS: O CASO DA RESERVA PONTA DO TUBARÃO - RN,
BRASIL

Maria de Fátima Braga (maria.braga.277@ufrn.edu.br)


Lissa Valéria Fernandes Ferreira (lissaferreira.iadb@yahoo.es)
José Willian de Queiroz Barbosa (william.queirozb@hotmail.com)

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo compreender a relação de apego ao lugar existente entre o residente comunitário
e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão-RN (RDSEPT), com o propósito da criação de uma
marca turística. A criação da RDSEPT em 2003 se deu pela força e pela insistência de seus residentes, muito mais do que
pela ação do poder público. Quanto à metodologia, a pesquisa foi caracterizada como descritivo-exploratória, com
abordagem qualitativa usando-se análise bibliográfica e documental. Os dados, analisados através da análise de
conteúdo, revelaram um alto índice de apego dos atores locais às comunidades onde residem, norteando futuros estudos
por parte do poder público para que a marca do destino possa ser criada, uma vez que para o sucesso do Place Branding
de um destino é necessário que os atores locais tenham identidade, fazendo do mesmo um local autêntico.

Palavras-chave: Turismo de Base Comunitária; Marketing Turístico; Place Branding; Place Attachment.

84
DIALOGANDO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA RESILIÊNCIA PARA GESTÃO ESTRATÉGICA DE
PESSOAS NO TURISMO

Janete Rodrigues de Vasconcelos Chaves (janetervc@ifma.edu.br)


Felipe Gomes do Nascimento (felipegomes.14@hotmail.com)
Leilianne Michelle Trindade da S. Barreto (leiliannebarreto@hotmail.com)

RESUMO

A resiliência é frequentemente citada como a capacidade humana para enfrentar, vencer, e se fortalecer em períodos
de adversidades. Os estudos da resiliência tornam-se viáveis diante de um cenário de mudanças rápidas, pois numa
sociedade em transformação as exigências de adaptação são constantes e necessárias. No que diz respeito ao turismo,
a resiliência torna-se um tema de suma importância, pois esse fenômeno possui uma diversidade de subsetores e
segmentos, necessitando de desenvolvimento de estratégias que contribuam para otimizar processos, procedimentos e
para promover inovações em todas as áreas, principalmente na configuração da gestão de pessoas, uma vez que o
capital humano é o fator mais importante para a execução do turismo. Destaca-se ainda que para lidar com todos os
questionamentos das crises nas organizações, o setor de gestão de pessoas tem papel primordial no enfrentamento
desses processos, buscando auxiliar no crescimento pessoal, a fim de que possa desenvolver e estimular seus
colaboradores. Dessa forma, este artigo teve como objetivo geral discutir os principais conceitos relacionados à
resiliência organizacional para a gestão estratégica de pessoas no turismo. Em relação aos procedimentos
metodológicos, a pesquisa é de natureza qualitativa de caráter exploratória, por meio de uma revisão de literatura em
que foram consultados artigos nos principais sites de busca como o Portal de Periódicos Capes, Google Acadêmico e
Scielo. Os resultados possibilitaram compreender que embora a literatura, seja escassa, demonstra que este é um tema
transversal que permite análise sob diversos panoramas mesmo dentro de uma corporação, pois as várias práticas e
maneiras de conectar a resiliência pessoal e profissional nos diversos ambientes da empresa são instrumentos capazes
de promover melhorias na organização. Para o turismo, a gestão estratégica de pessoas baseada no conceito de
resiliência pode oferecer ambientes mais propícios para crescimento e adaptabilidade dos profissionais dos diferentes
setores, possibilitando que as organizações tenham vantagem competitiva frente aos seus concorrentes.

Palavras-chave: resiliência organizacional; gestão estratégica; turismo.

85
ENTRAVES E OPORTUNIDADES PARA A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA
NO TURISMO DE AVENTURA

Adson de Lima Claudino (adsonlc@hotmail.com)


Felipe Gomes do Nascimento (felipegomes.14@hotmail.com)
Maria Valéria Pereira de Araújo (valeriaaraujoufrn@gmail.com)
Ricardo Lanzarini (ricardo.lanzarini@ufrn.br)

RESUMO

O turismo de aventura enquanto atividade que envolve riscos e proporciona adrenalina aos seus praticantes, pode ser
adaptado para atender novas demandas, como, por exemplo, as pessoas com deficiência (PcD), uma vez que para este
público, o segmento representa uma possibilidade de superação, autonomia e inserção social. Desta maneira, esta
pesquisa teve como objetivo compreender os entraves e as oportunidades para a inclusão de pessoas com deficiência
física no turismo de aventura, sob o olhar de representantes de entidades de apoio à pessoa com deficiência física de
Natal - RN. Trata-se de um estudo de caso qualitativo de caráter exploratório, tendo os dados coletados por meio de
entrevistas realizadas via Google Meet e de maneira presencial, utilizando como instrumento para a coleta de dados
um roteiro semiestruturado, com representantes de duas entidades da capital potiguar: Sociedade Amigos do Deficiente
Físico do RN (SADEF/RN) e Associação dos Deficientes Físicos do Rio Grande do Norte (ADEFERN), para a análise dos dados
empregou-se a técnica de análise de conteúdo. Os resultados demonstram que os principais entraves estão relacionados
à falta de incentivo para a promoção de políticas públicas que incluam tais indivíduos nos diversos setores da sociedade,
sendo o turismo um deles. Por sua vez, as oportunidades apontam o papel relevante que as entidades de apoio possuem
para este público, sendo consideradas ambientes que promovem socialização, valorização e fortalecimento pessoal. Os
achados deste estudo não devem ser generalizados, uma vez que trata-se de um estudo de caso realizado em Natal/RN,
logo, outros cenários de investigação podem apresentar resultados semelhantes ou divergentes destes. Para pesquisas
futuras sugere-se a investigação com ênfase nas experiências das pessoas com deficiência física que são praticantes do
turismo de aventura, e, até mesmo, sobre destinos que atuam neste segmento e que possuem serviços direcionados
para o público de PcD.

Palavras-chave: turismo de aventura; deficiência física; acessibilidade; Natal/RN.

86
EVENTOS DE CULTURA POP E SUA RELEVÂNCIA PARA O TURISMO: UM ESTUDO SOBRE A
COMIC CON EXPERIENCE TOUR NORDESTE

Jomara da Silva Regis (mimiirockloliofficial@gmail.com)


Lissa Valéria Fernandes Ferreira (lissaferreira.iadb@yahoo.es)
José William de Queiroz Barbosa (william.queirozb@hotmail.com)

RESUMO

O presente estudo objetiva demonstrar como o evento Comic Con Experience Tour Nordeste incrementou a dinâmica do
turismo na localidade onde se inseriu no cenário da cultura pop, através de sua estrutura, características e relevância.
Trata-se de um estudo descritivo exploratório de abordagem qualitativa, cujo instrumento utilizado foi o checklist em
escala Likert juntamente da metodologia de observação participante. Foi utilizada a análise de conteúdo para apurar os
dados. Apresenta de que modo à estrutura do evento foi organizada e mostra sua importância para a qualidade do
mesmo. Constata que através dos conteúdos apresentados o evento atendeu a seus diversos públicos. Atesta que o
evento incrementou a dinâmica do turismo local e regional no cenário da cultura pop. Conclui que o mesmo contribui
para a literatura escassa de eventos e para o mercado de eventos, sobretudo no ramo da cultura pop.

Palavras-chave: Turismo de eventos; Comic Con Tour; Qualidade de serviço; mercado geek e nerd.

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GESTÃO DE DESTINOS, TECNOLOGIA SOCIAL E INOVAÇÃO: CONEXÃO E CONSTRUÇÃO
PARA O TURISMO
Leylane Meneses Martins (leylane.martins.028@ufrn.edu.br)
Cristiane Alcântara de Jesus Santos (cristie09@uol.com.br)

RESUMO

Gestão de destinos, tecnologia social e inovação são temáticas que podem se relacionar para mostrar o desenvolvimento
da atividade turística, além de que, a explanação desses temas conectados pode gerar subsídios importantes para a
área. A tecnologia social junto a inovação são ferramentas condicionantes para que aconteça uma gestão participativa
em uma destinação turística, com o envolvimento de atores da iniciativa pública, privada, terceiro setor e comunidade
local, integrados em ações focadas para às demandas gerais da sociedade. A inovação se dá através de um produto ou
serviço, novo ou reformulado, que permite enaltecer a característica de competitividade de um destino perante outro,
mas ao unir tecnologia social a inovação na gestão de destinos, os aspectos que têm destaque são a inclusão e a atuação
de vários atores na gestão, com uma distribuição melhor da renda local e a união de esforços em prol do
desenvolvimento da atividade turística de determinada destinação. O turismo, por se tratar de um conjunto de
atividades relacionadas à interação social, dá-se a importância de analisar a inovação através da interação entre a
Academia e a Sociedade - estudo científico e conhecimento prático – denominando este diálogo em Tecnologia Social
(TS), cuja principal característica é a produção de conhecimento científico e o emprego de tecnologia em favor do
desenvolvimento social. A TS é um processo de construção social e político, através da articulação entre o poder público
e a iniciativa privada, pois estes darão suporte para efetivação da aplicação da tecnologia na sociedade. Com isso, o
presente artigo objetiva identificar se a gestão de destinos turísticos é discutida em conjunto com as temáticas inovação
e tecnologia social, além de analisar como suas abordagens podem apresentar alguma contribuição para os estudos do
turismo. Metodologicamente adotou-se a pesquisa exploratória e de revisão sistemática da literatura (RSL), na base de
dados Science Direct Elsevier e no portal de periódicos CAPES, a partir da produção somente em formato de artigo
científico, apresentando as etapas de busca empregadas, o processo de seleção dos artigos científicos, os critérios de
inclusão e exclusão dos artigos e o resultado da análise de cada artigo. Foram analisados qualitativamente 6 artigos
científicos, após leituras de títulos, palavras-chaves e resumos no processo de exclusão a partir do total de 80
encontrados que poderiam responder ao objetivo desse estudo. Como resultado, nenhum dos artigos especifica ou
explana o uso de tecnologias sociais como fonte de inovação na gestão dos destinos turísticos, mas apresentam a ideia
apenas de maneira subjetiva. Os autores que mais se aproximam das características de TS são os que defendem a
parceria entre ciência, inclusão popular e participativa no planejamento e gestão do turismo. Destarte, essa investigação
traz avanços ao possibilitar identificar lacunas produtivas a serem preenchidas por estudos futuros conectando as três
temáticas em uma única pesquisa para melhor construção acadêmica do Turismo e para auxiliar no processo de gestão
de destinos turísticos.

Palavras-chave: Turismo; tecnologia social; inovação; gestão de destinos turísticos.

88
MULHERES DO TURISMO: EMPREENDEDORISMO, SEUS DESAFIOS E CONQUISTAS

Marisa Motta Zimermman (mottazimermann@gmail.com)


Rúbia Elza Martins de Souza (rrubiaelza@gmail.com)
Cristina Horst Pereira (cristinahorst@gmail.com)

RESUMO

Empreender traz a possibilidade de satisfação, geração de renda e uma carreira profissional, no entanto, mulheres
empreendedoras ainda são responsáveis por cuidar dos afazeres domésticos e dos filhos, o que pode significar
sobrecarga e menos horas dedicadas ao empreendimento. Entretanto, mesmo diante destes desafios, nos últimos anos,
as pesquisas apontam que o número de empreendedoras aumentou no Brasil e, especificamente, no trade turístico é
possível encontrar pesquisas que apontam o perfil das mulheres que atuam no setor. Desta maneira, o presente
trabalho teve por objetivo analisar como o ato de empreender trouxe mudanças para a vida de mulheres que se
tornaram empreendedoras e atuam no trade turístico no município de Dourados-MS. Para responder ao objetivo geral
foram delineados os seguintes objetivos específicos: entender o que levou essas mulheres a empreender; elencar os
desafios enfrentados pelas empreendedoras no processo de gestão; identificar junto a estas mulheres as conquistas
adquiridas e identificar o que almejam alcançar no futuro. O trabalho se configura como de cunho qualitativo e foram
utilizados como procedimentos metodológicos a pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e questionário, com
perguntas fechadas e abertas. Para a realização da coleta de dados optou-se por fazer um recorte do trade turístico do
município de Dourados, de maneira que o questionário foi aplicado às empreendedoras dos principais segmentos do
turismo do município de Dourados: hotelaria, agência de viagens e empresas promotoras de eventos. Dessa maneira,
inicialmente, foram realizados contatos telefônicos com todas estas empresas listadas no inventário turístico municipal
e, das 60 empresas contatadas, 10 foram identificadas como sendo empreendimentos liderados por mulheres. Assim
sendo, estabeleceu-se contato direto com essas 10 empreendedoras e seis delas aceitaram participar da pesquisa (um
hostel; duas promotoras de eventos e três agências de turismo). Os dados coletados apontaram que os
empreendimentos das interlocutoras se configuram como a fonte principal de renda para a maior parte delas. Os dados
indicam ainda que o ato de empreender para estas mulheres está relacionado aos múltiplos aspectos de suas vidas,
aspectos estes que vão desde a realização profissional, ao complemento de renda, flexibilidade de horários e
continuidade do negócio para a família. Quanto aos desafios de empreender na cidade de Dourados, foram elencados
os seguintes aspectos: a falta de mão de obra qualificada e o pouco investimento na área de turismo. As perspectivas
para o futuro, mencionadas pelas participantes da pesquisa, se encaminham na direção de lutar pela sobrevivência no
mercado, aperfeiçoar as atividades desenvolvidas e capacitar pessoas para atuarem em suas empresas e no setor do
turismo como um todo.

Palavras-chave: Mulheres; empreendedorismo feminino; turismo.

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O PROFISSIONAL DE TURISMO NO CENÁRIO DO MARKETING DE INFLUÊNCIA
Paulo Bezerra Bragança (paulo@odevecomunicacao.com.br)
Leylane Meneses Martins (leylane.martins.028@ufrn.edu.br)
Marcia Maria Bezerra de Sousa (marciamariasouza34@gmail.com)
Cairo Cézar Braga de Sousa (cairo.cezar@ufma.br)

RESUMO
Com o avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), os contatos físicos dão espaço à internet, a qual
propicia conexões entre as pessoas em todo o mundo. Diante das transformações e influências resultantes do universo
digital, muitas pessoas passam a mudar sua forma de trabalho e consumo. O mercado digital deve acompanhar essa
atualização constante justamente para satisfazer as necessidades e expectativas da sociedade, a fim de aprimorar as
redes sociais para que mais pessoas possam compartilhar suas experiências e tornar essa atividade como sua fonte de
trabalho, ao tornar-se um profissional influente nessas mídias. É nítido perceber a contribuição de influenciadores
digitais na área do turismo, principalmente para impulsionar vendas para os destinos por meio de indicações de
passeios, fornecedores e atrativos turísticos nas suas redes sociais. Com isso, surge a pergunta norteadora da
investigação: quantos influenciadores digitais são profissionais que trabalham exclusivamente com o turismo? Esta é a
problematização desse estudo, saber como o mercado de influenciadores digitais absorve o profissional do turismo para
essa área, ao considerar a bagagem de conhecimento teórico sobre marketing, atrativos, gestão e planejamento
turístico no seu contexto de formação acadêmica ou experiência profissional. O objetivo geral deste estudo é apresentar
a contribuição dos profissionais que trabalham na área do turismo com atuação para o consumo digital, enquanto
desenvolvedores de conteúdo digital, capazes de influenciar o comportamento dos seus seguidores para o consumo ou
desejo de um determinado produto ou serviço turístico. E para auxiliar no seu desenvolvimento, o referencial teórico é
composto pelos conceitos, características e relevância do marketing de influência, marketing digital, redes sociais, bem
como a figura do influenciador digital e do profissional de turismo. Para subsidiar o estudo, a metodologia caracteriza-
se inicialmente por uma pesquisa bibliográfica e para responder o objetivo geral, como procedimento para coleta de
dados, uma pesquisa de campo com aplicação de survey on-line no google forms, durante o mês de outubro do ano de
2021, aplicado a 100 profissionais de turismo no Brasil, que aqui são identificados como conteudistas ou geradores de
conteúdo específico da área de turismo. A tabulação das respostas tem como finalidade analisar e apresentar o
resultado alcançado, ao registrar que existem muitos profissionais formados em turismo que atuam como
influenciadores digitais, que de fato visualizam as suas atuações possíveis e cabíveis dentro dessa realidade de
mercado virtual, digital, além de mostrar que quanto mais conhecimento, melhor será o desenvolvimento desse trabalho
de influenciar e atrair potenciais turistas, ainda mais agora, período de pós isolamento social devido a Pandemia COVID-
19, em que a atividade desses profissionais pode gerar bons resultados para retomada da movimentação turística de
destinos.

Palavras-chave: marketing de influência; marketing digital; influenciadores digitais; turismólogo.

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O USO DA REALIDADE AUMENTADA E A EXPERIÊNCIA TURÍSTICA: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA DA LITERATURA NA BASE DE DADOS SCOPUS

Marília Ferreira Paes Cesário (marilia.cesario@gmail.com)


Luiz Augusto Machado Mendes Filho (luiz.mendesfilho@gmail.com)

RESUMO

A tecnologia da realidade aumentada evoluiu através dos anos e seu uso passou a ser ampliado para outras áreas,
como é o caso da atividade turística que hoje vê nessa ferramenta uma possibilidade de aprimoramento da experiência
de visita a uma destinação. Sendo assim, este artigo trouxe os seguintes objetivos: expor as principais tendências na
literatura sobre realidade aumentada e turismo; detectar objetivos, contextos e abordagens da realidade aumentada
no turismo e identificar os principais estudos sobre realidade aumentada e a experiência turística através de uma
análise da Base de dados, Scopus. Como metodologia para alcance desses objetivos foram estabelecidos critérios para
a seleção dos artigos, através do uso de palavras-chave como realidade aumentada, turismo e experiência turística. Ao
término da pesquisa na referida base de dados, após alguns refinos, chegou-se a um quantitativo de vinte e um artigos
que a partir daí, foram lidos na íntegra e avaliados em termos de conceituação de realidade aumentada e temáticas
associadas abordadas em cada um deles, com a intenção de identificar elementos nos artigos que justifiquem o potencial
desse recurso para efetivamente alcançar a melhoria da experiência turística. Além disso, permitiu-se realizar uma
síntese do conhecimento sobre essa temática, o que possibilitou a percepção do que já se sabe sobre o tema e o que
ainda se precisa pesquisar, além de apontar direções para investigações futuras e algumas limitações de estudos nessa
área. Pôde-se concluir que a realidade aumentada influencia na experiência turística e se for pensada e planejada da
melhor maneira, pode contribuir para criar experiências memoráveis. Neste estudo, observou-se algumas áreas de
maior uso, como o turismo cultural, o uso dos aplicativos móveis de realidade aumentada e para divulgação do destino.
A principal limitação do estudo é o fato de ser uma revisão sistematizada da literatura através de apenas uma base de
dados e por isso, sugere-se como relevante para pesquisas futuras uma revisão sistemática atualizada, uma vez que
muitos outros trabalhos surgem diariamente.

Palavras-chave: Tecnologia; Realidade Aumentada; Turismo; Experiência turística.

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PERCEPÇÃO DOS GUIAS DE TURISMO DA CIDADE DE NATAL/RN SOBRE AS
PLATAFORMAS DE TURISMO COLABORATIVO

Ana Christina Roque dos Santos Lobato (ana.chris2@hotmail.com)


Andréa Virginia de Souza Dantas (dantas_andrea@hotmail.com)

RESUMO

Sabe-se que as plataformas de turismo colaborativo já são uma realidade; mas é importante ter um olhar mais atento
para o desenvolvimento dessas em áreas regidas por leis às quais empresas e profissionais do turismo são submetidos.
Diante disso, este artigo tem como objetivo analisar a percepção dos guias de turismo da cidade de Natal, capital do Rio
Grande do Norte, regulamentados pelo Cadastur e sindicalizados, em relação a essas plataformas. Trata-se de uma
pesquisa descritiva. Empregou-se, também, a netnografia, uma vez que se fez necessário, dentre outros, realizar um
levantamento pela internet das plataformas de turismo colaborativo existentes. No que se refere à abordagem,
caracteriza-se como uma pesquisa quantitativa, tendo sido aplicado um questionário estruturado com dezoito questões
objetivas a um grupo de 160 guias regulamentados e membros do Sindicato de Guias de Turismo do Rio Grande do Norte.
Os participantes responderam a questões sobre seu perfil sociodemográfico, o conhecimento em relação às plataformas
de turismo colaborativo e, por último, a percepção positiva e negativa a respeito delas, expressando seu nível de
concordância em uma escala de Likert variando de 1 a 5. Os resultados apontam para uma visão predominantemente
positiva das plataformas de turismo colaborativo, apesar de os participantes reconhecerem a concorrência desleal e
fazerem pouco uso em sua atuação profissional.

Palavras-chave: Guias de turismo; Natal; Economia compartilhada; Turismo colaborativo.

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PROJETO MINHA CASA, SUA CASA – A MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE DE CONCEIÇÃO
DO FORMOSO PARA A OFERTA DE HOSPEDAGEM DOMICILIAR COM O USO DO AIRBNB
Izabel Cristina Rodrigues (izabel.rodrigues@ifsudestemg.edu.br)
Karina Cássia Gonçalves de Oliveira (karinacassia05@gmail.com)
Gicele Aparecida da Silva Brittes (gicelebrittes77@gmail.com)
Vívian Calisto das Chagas (calistovivian@hotmail.com)

RESUMO

O desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária (TBC) tem como um dos pilares o envolvimento de toda, ou a maior
parte, das comunidades na atividade turística, seja direta ou indiretamente. No entanto, esse processo tem sido um
desafio, principalmente em locais onde há o potencial turístico, mas ainda não há um fluxo de visitantes. Segundo
Maldonado (2009) o incentivo às associações é um primeiro passo para o planejamento turísticos dessas regiões, porém,
mesmo após a criação de associações de turismo nessas comunidades observa-se uma tímida adesão às propostas de
treinamento e debates dos rumos da atividade no local. Este artigo tem por objetivo analisar, a partir do estudo de caso
do Projeto “Minha Casa, Sua Casa” realizado pelo Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Sudeste de
Minas Gerais – Campus Santos Dumont (IFSMG-SD), na comunidade de Conceição do Formoso, zona rural do município
de Santos Dumont/MG, como a ferramenta de reserva on line de hospedagem Airbnb pode contribuir para o
desenvolvimento turístico e o envolvimento da comunidade no Turismo de Base Comunitária. Para isso, será
apresentado no referencial teórico os conceitos de TBC, suas vantagens para a sustentabilidade social, ambiental e
econômica e como o sistema de reservas on-line – Airbnb tem conversado com as propostas dessa atividade. A
metodologia utilizada nesta pesquisa é uma análise qualitativa do estudo de caso, com ênfase na descrição dos passos
metodológicos usados para o desenvolvimento do projeto e a análise dos resultados diretos e indiretos da ação. Como
resultado desse trabalho foi apresentado duas reflexões acerca do uso do aplicativo Airbnb (Air Bed and Breakfast),
primeiramente como ferramenta de incentivo ao turismo de resultados imediatos e consequentemente foi observado
sua capacidade de mobilização da comunidade para a estruturação do TBC, uma vez que, como protagonistas dos
receptivos familiares os empreendedores locais se aproximam da realidade turística, com recursos próprios, dessa
forma, incentivam a participação dos demais membros da comunidade, além de, terem resultados imediatos de suas
ações. Foi observado que, após o desenvolvimento do projeto, a comunidade de Conceição do Formoso se mostrou mais
interessada nas ações promovidas pela associação de turismo local.

Palavras-chave: Turismo de base comunitária; Airbnb; Conceição do Formoso.

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RELAÇÕES ENTRE CULTURA ORGANIZACIONAL E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
NO SETOR HOTELEIRO

Joana D’arck Rita Kássia de Lara Barbosa Guedes (kassia.guedes.003@ufrn.edu.br)


Adriana Melo Santos (adrianamelo@ifba.edu.br)
Ana Luiza de Albuquerque Tito (analuiza.tito@hotmail.com)
Lissa Valéria Fernandes Ferreira (lissaferreira.iadb@yahoo.es)

RESUMO

O artigo apresenta conceitos e abordagens de cultura organizacional e qualidade de vida no trabalho em hotéis. A
QVT pode ser considerada uma dimensão da cultura organizacional, pois é a partir da filosofia, valores e política de
gestão de pessoas das empresas, que serão definidas as estratégias para criar um ambiente seguro, saudável e
que satisfaça às necessidades dos trabalhadores. As empresas de uma forma geral, vêm enfrentando inúmeras
mudanças em suas estruturas e processos, em consequência das mudanças tecnológicas, econômicas e sociais. No
âmbito do turismo e a hotelaria não é diferente. Estes setores representam uma grande força para a economia
mundial, gerando divisas e movimentando toda uma dinâmica sociocultural dos destinos turísticos. Dado o caráter
intangível dos serviços prestados pela hotelaria, seu dinamismo, a configuração do trabalho, a pressão e sobrecarga
da rotina, geram níveis altos de rotatividade. Os gestores precisam estar atentos e traçar estratégias que
contemplem programas de qualidade de vida no trabalho, a fim de proporcionar saúde mental dos trabalhadores.
Os recursos humanos são potencialmente valiosos para a organização e mantê-los satisfeitos é a mola propulsora
para o bom desempenho no ambiente de trabalho. Nesse sentido, o objetivo desse estudo é analisar as
características da cultura organizacional como uma ferramenta para práticas de qualidade de vida no trabalho do
setor hoteleiro. Foi utilizado roteiro semiestruturado e aplicada a técnica de análise de conteúdo nas entrevistas
com as coordenadoras de Recursos Humanos em dois hotéis da cidade de Goiânia - GO, sendo estes uma rede
nacional e uma rede internacional. Os resultados revelaram que o nível de gerenciamento e operações das redes
hoteleiras induzem às diretrizes de gestão de pessoas e suas aplicações na rotina dos funcionários. Conclui-se que
o perfil de cultura organizacional mais favorável às boas práticas de QVT é aquele em que os artefatos e valores
definem a sistematização do trabalho, influenciando na percepção positiva dos funcionários acerca da QVT.

Palavras-chave: Cultura organizacional; Qualidade de Vida no Trabalho; Hotelaria.

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TECNOLOGIA DIGITAL NOS PROCESSOS DE PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO:
VGI EM QUESTÃO
Cristiane Alcântara de Jesus Santos (cristie09@uol.com.br)
Pedro Henrique Jesus Santos (phhenrikue@gmail.com)
Antonio Carlos Campos (antonio68@gmail.com)

RESUMO
Este artigo parte-se da premissa que a gestão pública do turismo conserva técnicas e procedimentos tradicionais de
planejamento que por vezes impossibilitam a identificação de novas tendências e exigências relacionadas à atividade
turística no destino. Neste sentido, a presente pesquisa tem como objetivo analisar a importância das tecnologias
digitais, sobretudo das Informações Geográficas Voluntárias (VGI), enquanto ferramentas que podem auxiliar nos
processos de planejamento e gestão do turismo. Assim, busca-se apresentar e discutir as possibilidades disponíveis em
diversos aplicativos, redes sociais e empresariais gratuitas que são atualizadas instantaneamente pelo turista através
dos seus telefones móveis e que podem ser utilizados no processo de inventariação dos destinos turísticos.
Metodologicamente, optou-se por adotar a pesquisa de base qualitativa e do tipo exploratória que se baseou em amplo
levantamento e revisão bibliográfica em artigos publicados em revistas eletrônicas, assim como em livros, teses,
dissertações, a fim de identificar obras nacionais e internacionais que abordam as temáticas relacionadas ao turismo,
planejamento, inovação tecnológica, inventariação turística e Informação Geográfica Voluntária. Com isso, conclui-se
que a partir do levantamento dos comentários gerados pelos usuários nas mais diversas redes sociais como o
Instagram, TripAdvisor, Flickr, Facebook, entre outros, a busca e tratamento de dados em plataformas de localização e
visualização de mapas, como Google Maps, Bing Maps e OpenStreetMap, além do armazenamento em nuvem, através
de Geopackage (banco de dados georreferenciados), torna-se possível a elaboração e atualização de inventários
turísticos online, o que dinamizará os processos de planejamento e gestão de destinos tornando a tomada de decisão
mais ágil e eficaz. Desta forma, as análises das VGI podem contribuir na forma de produção e operação de empresas
públicas e privadas de acordo com seus interesses e o seu perfil social, econômico e cultural. O mesmo acontece na
atividade turística, considerando que a gama de informações compartilhadas em plataformas digitais e mídias sociais
podem auxiliar na elaboração de novos produtos turísticos pautados no perfil do visitante visando a diversificação da
oferta turística local.
Palavras-chave: Tecnologias digitais; VGI; planejamento, turismo, Inventário turístico.

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VIAJOU, POSTOU: REFLEXÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DAS MÍDIAS SOCIAIS NO
SURGIMENTO DE NOVOS MARCADORES TURÍSTICOS

Ralyson Soares (ralyson.soares.087@ufrn.edu.br)


Thyago Velozo de Albuquerque (thyago.velozo@gmail.com)
Wilker Ricardo de Mendonça Nóbrega (wilkernobrega@yahoo.com.br)

RESUMO

Com o desenvolvimento da Internet, as informações de viagens compartilhadas nas mídias sociais digitais manifestam-
se como um novo modelo de propagação das experiências de viagens dos turistas e, em consequência, de destinos
turísticos, como também um estímulo para que mais indivíduos desejem viajar e compartilhar suas experiências,
influenciados por outros indivíduos com o propósito de se afirmarem perante as mídias sociais digitais. Baseado na
Teoria dos Marcadores Turísticos de MacCannell (1979), o objetivo desta pesquisa é refletir como a Internet e as mídias
sociais digitais estão influenciando no surgimento de novos marcadores turísticos, que por sua vez podem interferir nos
fluxos turísticos dos locais visitados. O presente trabalho utilizou o método de pesquisa exploratório-descritivo, com
abordagem qualitativa, aspirando identificar aspectos contidos na teoria de MacCannell relacionado às mídias sociais,
sobretudo no que se refere aos atributos dos marcadores turísticos como envolvimento com o marcador, deslocamento
de vista e a obliteração. O envolvimento com o marcador e sua importância para o indivíduo defendido por MacCannell
pode ser claramente percebido quando os indivíduos passam a buscar novos lugares e marcadores a partir da visita e
registro fotográficos de outras pessoas, artistas ou influenciadores. Estimulados pelo desejo de reproduzir o registro
ou pela possibilidade de relação de estar no mesmo local que determinada personalidade ali esteve e não pelo valor
histórico ou simbólico do atrativo ou localidade. A capacidade dos indivíduos de reconhecer pontos turísticos,
transformando-os em um de seus marcadores é outro elemento da teoria de MacCannell, e como exemplo são os
letreiros colocados em pontos turísticos que ganharam evidência nos últimos anos. Conclui-se que com o passar do
tempo a popularização e difusão de tais marcadores nas mídias sociais, ocorreu a banalização do surgimento de novos
letreiros, principalmente em cidades que justificam a criação dos letreiros como iniciativa de atração turística.

Palavras-chave: Marcadores turísticos; Mídias sociais; Internet; Tecnologia da Informação e Comunicação.

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VOCÊ ME AMA? ANÁLISE DO DESTINO TURÍSTICO NATAL-RN POR MEIO DA TEORIA
LOVEMARKS: ESTUDO EM ANDAMENTO

José Willian de Queiroz Barbosa (william.queirozb@hotmail.com)


Lissa Valéria Fernandes Barbosa (lissaferreira.iadb@yahoo.es)

RESUMO

O presente estudo tem por objetivo analisar a marca do destino turístico Natal-RN com base na Teoria Lovemarks. A
mencionada teoria afirma que uma marca é considerada uma marca de afeto quando os clientes sentem alto nível de
amor (mistério, sensualidade e intimidade) e respeito (confiança, reputação e performance) por ela. Trata-se, portanto,
de uma investigação descritivo-exploratória de abordagem quantitativa, cuja coleta de dados se dará por meio de um
questionário elaborado para capturar a percepção dos turistas em relação ao amor e respeito perante a marca do
destino Natal-RN. A análise será feita com auxílio do software SPSS, utilizando a modelagem de equações estruturais, a
fim de testar o modelo proposto no estudo. Com a realização desta pesquisa, espera-se contribuir na perspectiva
acadêmica e gerencial. Os resultados obtidos poderão auxiliar na otimização dos recursos destinados aos planos de
marketing de destinos, sustentando a criação de estratégias para a consolidação de uma marca turística da localidade
que garanta presença no coração e mente dos visitantes, culminando em maior desempenho no mercado e melhor
posicionamento do destino.

Palavras-chave: Amor à Marca; Marca de Lugar; Lovemarks; Destino turístico.

97
GT 2 – HOSPITALIDADE, LAZER E EXPERIÊNCIA TURÍSTICA
DIA 18/05 – 14h às 18h

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Resumos Expandidos
“NÃO SABEM O QUE É PARQUE AQUI, PENSAM LOGO EM RODA GIGANTE, EM
CARROSSEL”: IMPRESSÕES SOBRE O LAZER NO CONTEXTO DO PARQUE ESTADUAL DA
COSTA DO SOL (RJ, BRASIL) PELA PERSPECTIVA LOCAL

Yasmin Xavier Guimarães Nasri (yasmin.nasri@hotmail.com)


Marta de Azevedo Irving (marta.irving@icloud.com)
Renata Amorim Almeida Fonseca (biol.renata@gmail.com)

INTRODUÇÃO

O paradigma ocidental de simplificação e fragmentação da realidade está no cerne da construção das


narrativas provenientes do pensamento moderno-colonial que compreende, de forma dicotômica, natureza e cultura
(Quijano, 2005). Esse modo de perceber o mundo está baseado na lógica da racionalidade cartesiana que dissocia sujeito
e objeto, corpo e mente, razão e afeto. Com essa perspectiva, a pretensão de dominação, controle e transformação dos
elementos da natureza se tornou parte de uma engrenagem que possibilita a acumulação econômica, no contexto de
um sistema capitalista de produção e consumo que considera como finalidade última da humanidade alcançar um
desenvolvimento e progresso lineares (Escobar, 2003; Scarano, 2019).
O modelo disjuntivo e homogêneo de se perceber o mundo parece não considerar a complexa constelação de
modos de vida e formas organizativas das comunidades do Sul Global, cujos saberes e práticas tradicionais vêm sendo
atravessados por um processo histórico de silenciamento (Krenak, 2019). A sociedade ocidental, principalmente urbana
e industrializada, parece negar, assim, a coexistência de diferentes cosmovisões e narrativas permeadas pelas
dimensões do sagrado, da alteridade, do misticismo, da ritualidade e das manifestações de grupos sociais, cuja cultura
está vinculada a outras construções epistemológicas. Mas, ainda que a pluralidade dos modos de vida na
contemporaneidade seja reiteradamente negada, essa permanece pulsante nos territórios nos quais a produção de
subjetividades resulta da afetividade com relação à natureza e às vivências socioculturais cotidianas, como parece ser
o caso de grande parte dos povos e comunidades tradicionais da América Latina (Costa; Mendes, 2014; Bispo dos Santos,
2015; Krenak, 2019).
É importante reconhecer que, dentre as práticas coletivas capazes de proporcionar espaços interacionais e
dialógicos entre os atores sociais, a vivência lúdica das manifestações culturais, através do lazer, representa uma real
potência no sentido de inspirar novos modos de criação coletiva, por meio das relações sociais e das conexões com a
natureza. Embora seja o lazer, em geral, compreendido por um viés simplista e mercadológico que o interpreta na
articulação com a indústria do entretenimento de massas, com o objetivo deliberado de um falso sentido de evasão da
crise civilizatória, na América Latina, esse pode traduzir importantes práticas simbólico-afetivas; redes de
sociabilidade; dimensões da proteção e do cuidado inter-humano; memórias coletivas; conjuntos de valoração,

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significados e percepções sobre o território invisibilizados pela imposição epistemológica (Gutierrez, 2000; Gomes et
al., 2009; Bahia, 2018; Raimundo, 2019).
Nesse contexto, parece possível afirmar que vem ocorrendo uma colonização teórica dos estudos sobre o
lazer, o que implica, conforme advertido por Gomes (2017), na necessidade de elaboração de uma epistemologia própria
do lazer para a América Latina, a partir da ressignificação de conceitos, com base em saberes e experiências que sejam
espaço-temporalmente localizadas. Isso porque, embora seja comum a leitura do lazer a partir de referenciais modernos
e urbano-industriais que o interpretam como a antítese ao trabalho, “essa compreensão precisa ser repensada porque
invisibiliza, silencia e marginaliza o lazer em determinados contextos, sobretudo, nos minoritários, como os indígenas,
ribeirinhos, quilombolas, ciganos e outros” (Gomes, 2014, p.18). Isso significa dizer que, os “povos do Sul” não partem,
necessariamente, de uma visão dualística e polarizada da realidade e, por essa razão, não separam em linhas rígidas,
o tempo de trabalho daquele de práticas não obrigatórias, conforme se defende, em geral, na literatura ocidental, que
busca forjar um sentido funcionalista para o lazer, baseado, principalmente nos sentidos de descanso e divertimento.
Assim, esse ensaio inspirado pelos argumentos de Gomes (2017) e em imersões no território, busca refletir,
preliminarmente, sobre o significado do lazer, pela perspectiva local, no contexto do Parque Estadual da Costa do Sol
(RJ). Que significados expressam tais lazeres para aqueles que os vivenciam? Seriam os jogos, os festejos, as
manifestações religiosas, as poesias, a contação de histórias, as artes, as expressões corporais, as danças, o teatro de
rua, os festivais, os eventos populares, a conversação, os debates públicos, os campeonatos, as atividades desportivas,
dentre muitas outras manifestações comunitárias, expressões do lazer no Sul Global? (Gomes; Elizalde, 2012; Vieira;
2014). Seriam essas vias de lazer ainda invisibilizadas por inspirarem reflexões críticas sobre as realidades vividas,
representando, assim, uma ameaça ao próprio sistema capitalista e à manutenção do status quo? Esses são alguns dos
questionamentos ainda sem respostas concretas, mas que motivam o percurso investigativo aqui proposto.
Sobre esse último aspecto, Gomes e Elizalde (2012) enfatizam que espetáculos promovidos pela indústria
cultural de massa, esvaziados de sentido crítico e analítico, e, sobretudo, do senso de pertencimento e conexão com o
território, objetivam, ainda, na atualidade, despolitizar a sociedade, mercantilizando a cultura. Complementando esse
argumento, Carvalho (2010) menciona a tendência de “espetacularização” da realidade, que ganha força no século XIX,
para atender às demandas de entretenimento das classes urbano-industriais, manipuladas simultaneamente pelo
Estado e pelo capital privado, este último, em grande parte, associado à indústria cultural. Para Batinga e Pinto (2019),
as produções audiovisuais comercializadas em ampla escala, por meio da rede televisiva e do cinema, seriam exemplos
nesse sentido, uma vez que tais produções tendem a gerar o distanciamento do espectador do conteúdo veiculado.
Assim, as informações veiculadas não alcançam a dimensão existencial do sujeito e, por conseguinte, não transformam
o sentido de suas práticas cotidianas, expressando significado apenas superficial e fugaz. Isso ocorre por meio da
simplificação, fragmentação e descontextualização dos conteúdos, visando gerar fácil assimilação. Nesse processo é
importante mencionar, ainda, a perda progressiva de autenticidade e autonomia, tanto estética quanto simbólica, das
produções culturais (Carvalho, 2010).

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Sobre a dimensão da alteridade no contexto das manifestações culturais, vale mencionar que muitas práticas
populares e tradicionais vêm sendo consideradas, de forma pejorativa, como folclore pelas sociedades ocidentais
(Vieira, 2014). Sobre esse tema, Krenak (2019) alerta para o esforço de enquadramento das crenças coletivas e
ancestrais em uma matriz dominante de significados que fundamenta uma única visão de mundo, o que tende a ser
intolerável diante da diversidade de cosmovisões existentes, uma vez que essa leitura simplista da realidade considera
como lenda aquilo que não consegue explicar ou formatar. Nesse sentido, a descontextualização dos rituais, assim como
de outras práticas culturais, com o objetivo de comercialização, vem se tornando ainda mais evidente com o avanço do
sistema capitalista, conforme observado por Mascarenhas (2005) que denomina como “mercolazer” o fenômeno de
captura do lazer pela racionalidade mercadológica, buscando controlar não apenas o tempo de trabalho, mas o tempo
livre, por meio da criação de desejos de consumo em massa.
Tendo essa conjuntura teórica e uma pesquisa de doutorado em curso como pontos de partida, esse ensaio
tem o objetivo de discutir, preliminarmente, o significado do lazer, no contexto do Parque Estadual da Costa do Sol
(PECS), pela perspectiva local. Esta Unidade de Conservação foi criada em 2011, envolvendo seis municípios do Rio de
Janeiro: Araruama, Saquarema, São Pedro da Aldeia, além de Cabo Frio, Armação dos Búzios e Arraial do Cabo, situados
na Região Turística da Costa do Sol, associada a uma elevada diversidade biológica e cultural e, uma das mais
importantes do Estado do Rio de Janeiro, em termos de fluxos turísticos.

METODOLOGIA

Para alcançar o objetivo proposto, a pesquisa qualitativa em curso se baseia em levantamento bibliográfico
e documental, observação participante nas reuniões do Conselho Consultivo, Câmaras Temáticas e Grupos de Trabalho
do PECS, entre junho de 2016 e março de 2021, com registro em caderno de campo, além da produção de narrativas
envolvendo moradores do entorno da UC, interlocutores de povos e populações tradicionais, gestores públicos da região,
e turistas entre 2017 e 2021, sendo a etapa analítica baseada na Análise de Conteúdo, inspirada em Bardin (2016).
A primeira etapa da pesquisa, a construção da abordagem teórica que orienta a reflexão proposta, vem se
efetivando por meio de consulta às bases de dados nacionais e internacionais disponibilizados em bibliotecas de
universidades (Base Minerva/UFRJ e SDC/UFF), Banco de Teses e Dissertações/Capes e Biblioteca Digital Brasileira/Ibict
e, portais eletrônicos de pesquisa (Portal de Periódicos/Capes, SciELO, Sci-Hub e Wiley Online Library), selecionados
pelos critérios de adequação e relevância do conteúdo aos temas abordados. A estratégia de busca da literatura foi
iniciada a partir da definição de um conjunto de palavras-chave relevantes para a questão de pesquisa, como “lazer em
áreas protegidas” e “lazer comunitário” usadas individualmente e, em alguns casos, em combinação, nos idiomas
português, espanhol e francês. Para a sistematização do arcabouço teórico, utilizou-se a ferramenta de análise de dados
qualitativos ATLAS.ti, um software de origem alemã que possibilita organizar e gerenciar o referencial bibliográfico em
unidades hermenêuticas, por eixos temáticos, reunindo os autores e suas citações, facilitando assim a criação e
interpretação de mapas conceituais.

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A segunda etapa metodológica envolveu a seleção de documentos relacionados à gestão do PECS relevantes
para a compreensão do contexto de inserção da pesquisa, dentre os quais, o Plano de Manejo e, as atas de reuniões do
Conselho Consultivo do parque, além daqueles dirigidos ao planejamento regional, como os Planos Municipais da Mata
Atlântica, os Planos do Comitê da Bacia Hidrográfica Lagos São João e os Planos Diretores dos municípios da região.
A observação participante (Brandão, 1984), por sua vez, caracterizou a terceira etapa da pesquisa e foi
desenvolvida por meio de imersões a campo. Dessa forma, foram acompanhadas, a cada dois meses, entre junho de
2016 e março de 2021, as reuniões do Conselho Consultivo da UC, e esporadicamente, das sete Câmaras Temáticas
(Comunicação e Sinalização, Gestão e Co-gestão, Manejo de Recursos Naturais e Pesquisa, Plano de Manejo, Proteção
Ambiental, Regularização Fundiária e Uso Público), além dos três Grupos de Trabalho (Redelimitação, Manifestações
Religiosas e Plano de Manejo) do PECS. O Caderno de Campo tem sido utilizado como instrumento complementar de
pesquisa, para registro das informações e para o detalhamento das percepções da pesquisadora (Beaud; Weber, 2003).
A quarta etapa investigativa envolveu a produção de narrativas de atores sociais selecionados por meio da
rede de indicações dos atores locais. Esse recurso de pesquisa, nas palavras de Costa e Mendes (2014, p.23), permite
que: “os atores identificados inicialmente se engajem na própria identificação da rede, de forma que façam a indicação
de novos atores a serem contatados”. Esse método permite seguir os rastros das redes de relações estabelecidas entre
os grupos sociais, no território estudado.
A quinta etapa metodológica consiste na sistematização das informações obtidas na pesquisa de campo e sua
análise. Para tal, os depoimentos obtidos foram gravados e estão sendo transcritos, na íntegra, em conjunto com as
informações do caderno de campo, para posterior análise e interpretação dos resultados da pesquisa, com base em uma
adaptação da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin (2016).

RESULTADOS

O Parque Estadual da Costa do Sol é considerado como a principal UC de Proteção Integral da Região Turística
da Costa do Sol, uma vez que este abriga os principais remanescentes do bioma Mata Atlântica, com brejos, lagunas,
lagoas, restingas, manguezais, mares e ilhas, além de envolver territórios tradicionais de elevada sociodiversidade em
seu entorno, representada por comunidades quilombolas, marisqueiras e pescadores artesanais. Vale reconhecer,
ainda, que nele ocorrem inúmeros atrativos naturais, os quais se constituem, também, como os principais pontos de
convívio social, de práticas culturais e de rituais sagrados da população local.
No entanto, a gestão do parque envolve inúmeros desafios, em função, dentre outras razões, das pressões
do turismo de massa sazonal, do aumento acentuado de fluxos populacionais no verão e da especulação imobiliária
crescente em áreas litorâneas do Estado. Essas tendências decorrem, em parte, de um sentido de lazer orientado por
uma perspectiva de fuga e evasão da rotina no tempo livre nas férias e feriados, e de uma postura negligente dos
turistas e visitantes em relação às necessidades das populações locais e à própria natureza. (Raimundo, 2019). Essa
afirmação está ilustrada no depoimento, a seguir, de um morador local, para quem: “ Aquele pessoal que não respeita

102
os nossos atrativos naturais. Isso é o que eu não gosto nesses turistas e eu falo mesmo. Eles estão visitando o nosso
local, então respeitem as regras. E tem alguns que são abusados no parque, eu falo para não jogar lixo, porque quem
traz o lixo não é o morador, é o turista. Não foi o cara que aproveita essa praia quando ela está vazia, quando ela está
um verdadeiro paraíso”.
Vale mencionar, ainda, que os elevados fluxos de visitantes têm relação direta com a diversidade de
paisagens naturais de relevante beleza cênica do PECS, valorizadas pela estratégia de espetacularização da natureza
regional, com forte viés mercadológico, conforme ilustrado em um dos depoimentos da gestão pública, obtidos na
pesquisa: “Os vendedores querem fazer dinheiro e querem receber gente. Aqui acontece muito isso, se é feita alguma
coisa as pessoas reclamam, porque estão deixando de ganhar dinheiro no verão ”.
Nesse sentido, alguns autores discutem que a indústria do entretenimento tende a homogeneizar aspirações,
desejos, sonhos, imaginários e comportamentos, a partir da distorção do sentido do lazer, uma necessidade humana
fundamental, traduzido de maneira simplista, como um aspecto compensatório à crise civilizatória e à fadiga de corpos
e mentes no contexto do cotidiano urbano. Isso ocorre, frequentemente, com o objetivo de alienação e despolitização
da sociedade, mas, também, para atender à manutenção do capitalismo, sistema econômico que mercantiliza o lazer
como atividade a ser consumida, a partir, por exemplo, do turismo de massa, fundamentando-se em tendências
neoliberais de cooptação de todas as dimensões da vida humana pelo mercado (Gomes; Elizalde, 2012).
Essa percepção está nítida na fala de um morador da região para quem: “Uma pessoa que tenha redes sociais,
como Instagram ou Facebook vê lá uma foto bonita, isso acontece muito em Arraial. Você vê que isso acontece com as
novelas, passou uma cena de Arraial na novela, no dia seguinte o local está lotado”. No entanto, o movimento de
homogeneização do tempo livre, a partir da padronização e serialização das experiências de lazer, grande parte das
vezes esvaziadas de sentido, tende a criar falsas expectativas que levam a frustrações, também aos turistas e visitantes
do PECS, como narrado por um deles: “Agora essa novela atual que está passando, está gravando muito na Ilha do
Japonês, em Cabo Frio. Só que a Ilha do Japonês, apesar de ela ser muito linda, quando a maré está seca, fica diferente.
Então, eu me decepcionei, não é como eu vejo nas fotos, tem que esperar a maré encher”.
Além disso, a gestão pública reconhece um problema no próprio sentido atribuído ao “parque”, em função,
por um lado, do desconhecimento dos seus limites e das normas de preservação da natureza a ele associadas e, por
outro lado, pelo lazer de simulacro praticado na região, dissociado da realidade do entorno, como mencionado por um
interlocutor da gestão pública: “As pessoas não sabem o que é parque aqui, pensam logo em roda gigante, em
carrossel”.
Na resistência ao movimento de espetacularização da natureza e mercantilização do lazer na região,
entretanto, o depoimento de um pescador artesanal durante a alta temporada, expressa a sua insatisfação com os
elevados fluxos turísticos na região, traduzindo as suas impressões sobre os visitantes: “ Eu não brigo com as pessoas,
eu só defendo o mar”, e complementa, “as pessoas vêm para cá e falam mal da maresia quando o mar está brabo, mas
o mar e o vento têm sentimentos”.

103
Assim, o lazer difundido a partir da lógica neoliberal, sob domínio da indústria do entretenimento de massas
tende a invisibilizar a pluralidade de cosmovisões e manifestações socioculturais vinculadas, principalmente, ao
cotidiano dos povos e populações tradicionais locais. Estes vêm sendo pressionados a se retirarem de seus territórios
tradicionais pela especulação imobiliária e, pelos investimentos turísticos de grande alcance (Côrrea; Fontenelle, 2010;
2012) e, como forma de resistência, vêm organizando circuitos de Turismo de Base Comunitária em algumas áreas
associadas ao PECS, que contam a história de colonização da região, a partir de uma perspectiva de lazer contra
hegemônica, baseada na afirmação da diversidade sociocultural da região que envolve, também, as rodas de capoeira,
a confecção de bonecos e bordados, as músicas afro-brasileiras escritas e cantadas por populações quilombolas, os
blocos carnavalescos tradicionais, as práticas de contação de histórias, as leituras dramatizadas, as danças e
improvisações teatrais, a confecção de barcos artesanais e renda de bilros, dentre outras práticas (Teixeira, 2017; Nasri,
2018; Rodrigues, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse ensaio, um recorte de uma pesquisa em curso, algumas nuances foram apreendidas, pela perspectiva
dos atores sociais envolvidos, sobre as tensões resultantes de uma tendência hegemônica de lazer, que desconsidera
as expectativas locais e, a importância da diversidade natural e sociocultural que caracteriza a região do Parque
Estadual da Costa do Sol. Essas pistas traduzem elementos interessantes de reflexão para se questionar o modelo
hegemônico de lazer e para que se possa avançar na direção de outras leituras sobre o tema em foco. Que outros
significados o lazer poderia expressar quando dissociado das narrativas dominantes da indústria do entretenimento de
massa? Que outros lazeres são praticados pelos povos e populações tradicionais no entorno do PECS? Seriam eles
inspirações para práticas outras, potentes no sentido da transformação das realidades vividas e da própria relação com
a natureza? Seria possível se discutir as bases de um Lazer de Base Comunitária para a região?
Considerando ainda a premissa de consolidação de um movimento de homogeneização do tempo livre e da
prática de lazer na região, parece ser ainda mais necessária a internalização do PECS pela própria população local e
pelos visitantes que ali chegam, como patrimônio natural e cultural regional e bem de uso comum, e não apenas como
lócus de evasão da rotina de uma população urbana ávida por entretenimento. Assim, uma nova perspectiva sobre o
lazer precisa emergir, no sentido de assegurar o sentimento de pertencimento à natureza, reafirmando as
territorialidades existentes e, potencializando novos comportamentos, sintonizados com os compromissos éticos de
conservação da biodiversidade e valorização da cultura local.

PALAVRAS-CHAVE

Lazer; Comunidades; Unidades de Conservação; Perspectivas do Sul; Parque Estadual da Costa do Sol.

REFERÊNCIAS

104
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106
“[...] O ÍNDIO, ELE NÃO É ISOLADO, ELE É COLETIVO”: A HOSPITALIDADE SOB O PONTO
DE VISTA DE REPRESENTANTES DA ETNIA KAIOWÁ- MS

Rúbia Elza Martins de Souza (rrubiaelza@gmail.com)


Adilson Crepalde (adilsoncrepa@gmail.com)
Dores Cristina Grechi (doresgrechi@gmail.com)

INTRODUÇÃO

A expressão “hospitalidade” tem suscitado inúmeras reflexões e debates em diferentes campos do


conhecimento, demonstrando a complexidade das relações que evoca. Essas reflexões dizem sobre aspectos sociais,
econômicos, psicológicos, ontológicos, éticos, estéticos, pedagógicos, religiosos, etc., implicados nas relações sociais
que podem ser pensados no esquema da hospitalidade, ou seja, relações que envolvem quem recebe e quem é recebido
em um determinado lugar.
Discutir o tema hospitalidade sob outros vieses é fundamental para construção de sentidos, visto que o ser
humano constrói sentidos o tempo inteiro. Como menciona Bueno (2016), para não perder de vista a complexidade das
relações que envolvem o ato do acolhimento, questiona-se qual o significado da hospitalidade para a cultura Kaiowá?
Qual a maneira Kaiowá de pensar, perceber e expressar a hospitalidade?
Deste modo, o objetivo do trabalho em tela é refletir sobre o que dizem representantes da cultura kaiowa do
Mato Grosso do Sul a respeito da hospitalidade. De maneira complementar, buscou-se entender como pensam e
expressam diferentes formas de acolhimento, a partir da identificação de termos que remetem ao conceito de
hospitalidade e as suas interfaces.
Kaiowá é a denominação de um grupo étnico que vive no sul de Mato Grosso do Sul, falantes de uma variação
da língua guarani, que denominam avañe’ẽ, expressão composta de ava (homem) e ñe’ẽ (língua), significando “a língua
do homem” (ASSIS, 2000, p. 12). Este estudo foi realizado com moradores da reserva Indígena Francisco Horta Barbosa,
localizada no município de Dourados – MS, a aproximadamente 230 quilômetros da capital, Campo Grande.
Essa pesquisa justifica-se dada a potencialidade do estado de Mato Grosso do Sul que, de acordo com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística– IBGE – (2010), é o segundo do país com maior população indígena e o
município de Dourados destaca-se neste cenário, pois, a aproximadamente cinco quilômetros da região central residem,
na Reserva Indígena Franscisco Horta Barbosa, aproximadamente 12 mil indígenas segundo (IBGE, 2010) e
aproximadamente 18 mil indígenas, das etnias Guarani, Kaiowá e Terena, segundo os próprios indígenas. A referida
reserva também é conhecida como Reserva de Dourados e demarcada pelo Serviço de Proteção aos Índios - SPI em 1917.
Muito embora a representatividade numérica seja expressiva, a representatividade política, econômica e social mostra-
se fragilizada em função do contexto histórico de dominação, que resultou no preconceito e na marginalização desses
grupos étnicos.

107
Outro aspecto que justifica pesquisas sobre o comportamento hospitaleiro de diferentes grupos culturais é
demonstrado por Blain e Lashley (2014), os quais argumentaram que faltam pesquisas a respeito da hospitalidade do
ponto de vista comportamental, de personalidade, demografia, gênero e etnias diferentes.
Para o desenvolvimento deste estudo utilizou-se como aporte teórico os seguintes autores: Camargo (2003, 2015), para
auxiliar na compreensão dos tempos e espaços da hospitalidade; Mauss (2013), auxiliou na reflexão sobre hospitalidade
e suas implicações sob o viés de comunidades tradicionais; Crepalde (2014), pesquisador que dedica-se a estudar a etnia
Kaiowá, esclareceu termos próprios da cultura deste grupo.

METODOLOGIA

Este trabalho contou com o suporte de moradores da Reserva Indígena Francisco Horta Barbosa e com
pesquisadores familiarizados com o objeto de estudo, dada a necessidade de inserção prévia na comunidade estudada,
possibilitando e facilitando o processo do contato com os indígenas e, por conseguinte, da coleta de dados. Uma vez que
o assunto é pouco conhecido, este estudo configura-se como pesquisa exploratória, descritiva e de cunho qualitativo.
Para facilitar a organização dos trabalhos propôs-se diferentes etapas, sendo elas: 1) realização de reuniões
periódicas (foram realizadas seis reuniões) entre os pesquisadores, com vistas a discutir textos que abordassem a
questão indígena, com enfoque para a etnia Kaiowá, em Mato Grosso do Sul; 2) revisão bibliográfica sobre estudos que
abordam a hospitalidade e 3) pesquisa etnográfica com representantes da etnia Kaiowá.
Na terceira etapa, utilizou-se a entrevista como procedimento para a coleta de dados, e para tal foi elaborado
um roteiro semiestruturado, instrumento norteador dos diálogos estabelecidos. O roteiro continha perguntas abertas
referentes aos tempos da hospitalidade (acolher, hospedar, entreter e alimentar) (CAMARGO, 2004).
Foram entrevistados quatro representantes da etnia Kaiowa, sendo duas mulheres e dois homens e a escolha
dos entrevistados deu-se por dois motivos: o primeiro está ligado ao fato de que os entrevistados são pessoas com
profundos conhecimentos tradicionais e exercem liderança no cenário local, de modo que puderam tecer relatos e
apresentar informações que representassem a coletividade (muito embora a intenção não seja a generalização); o
segundo motivo da escolha, está relacionado à disponibilidade dos participantes em se engajarem na pesquisa entendo
a importância de colocar o ponto de vista kaiowa no debate sobre o assunto.
As entrevistas foram gravadas e transcritas, contando com o auxílio dos próprios entrevistados na grafia dos
termos em guarani que, ao longo dos diálogos, se apresentaram como um marco cultural e um demarcador de fronteiras
entre o eu (indígena) e os outros (pesquisadores não-indígenas).
Por fim, na quarta etapa, fez-se a apresentação dos resultados, que foram analisados seguindo as premissas
de Bardin (1979): leituras iniciais para organizar as informações coletadas, em função das perguntas e do objetivo da
pesquisa (pré análise); agrupamento de elementos comuns encontrados nos falas dos entrevistados (exploração do
material); interpretação dos dados, a partir da tentativa de compreensão do contexto sociocultural ao qual os

108
entrevistados estão inseridos, bem como do corpus teórico consolidado no campo da hospitalidade (tratamento dos
resultados obtidos e interpretação).

RESULTADOS

Diante da complexidade que se desvelou nas falas dos entrevistados, mostrou-se premente estruturar a
discussão dos resultados de maneira didática, de modo a tornar compreensíveis as referências ligadas à hospitalidade
que, de maneira sutil, apareceram durante os diálogos estabelecidos junto aos entrevistados. Assim sendo, utilizou-se
como estratégia a seleção de termos que apareceram nas entrevistas e mostraram relação, ainda que indireta, com
questões que remetem ao acolhimento. Salienta-se que estes termos foram delimitados com base nas duas primeiras
entrevistas, momento em que se percebeu, na repetição de termos, o que Baptista (2002, p. 157), entende por
hospitalidade “[...] um modo privilegiado de encontro interpessoal marcado pela atitude do acolhimento em relação ao
outro [...]”.
No quadro 1 tais termos são apresentados de forma sintética e, posteriormente, explicados ao longo do texto,
no sentido de auxiliar no entendimento do espaço de convívio do indígena, de como vivem e de como se relacionam em
diferentes tempos e espaços da hospitalidade (CAMARGO, 2004).

Quadro 1 – termos relacionados a compreender o espaço de convívio do indígena e seu


comportamento em relação a este espaço

Termos Significados
Família extensa Núcleo familiar composto pelos avós, pais, filhos e agregados
Teko Cultura, modo de ser.
Tekoha Espaço, ligado à terra, lugar onde emana e se pratica o modo de ser
Tekoporã O tekoporã é o comportamento adequado, segundo a maneira kaiowa de ser no mundo.
Ñhandereko Ñande é o pronome “nosso”. Ñandereko é como vivemos, o jeito nosso, nosso jeito de ser, de viver.
Aty guasu Grande assembléia kaiowa
Ñandesy Líder religiosa (rezadeira)
Fonte: elaborado pelos autores, 2021.

O primeiro termo escolhido para desenvolver o diálogo e permitir as análises foi o de família extensa, termo
este que se mostra relevante no cenário pesquisado, uma vez que é onde se pode apreender sobre a hospitalidade
doméstica Kaiowá. De acordo com Crepalde (2014, p. 20), família extensa: são grupos macro-familiares (filhos, genros,
noras, netos) que se relacionam uns com os outros, formando redes de relações de parentesco por meio de casamentos
e alianças políticas.
Desta forma, a hospitalidade doméstica, que segundo Camargo (2004), diz respeito aos gestos do dia a dia
que são processados no ambiente doméstico, na constante atenção àqueles que chegam e partem, para os Kaiowás, se

109
imbrica com uma certa hospitalidade coletiva, uma vez que as relações se dão em contextos mais amplos do que os
tradicionais núcleos familiares dos não indígenas.
Para os Kaiowa, a prioridade é a família e a colaboração é muito importante para uma família extensa. Cada
família tem sua história e suas peculiaridades, mas todas se relacionam a partir do ñande reko, que encerra um conjunto
de crenças, valores e regras que determinam o ser Kaiowa.
As famílias extensas estão assentadas sobre o tekoha que, de acordo com um dos interlocutores da pesquisa,
diz respeito ao espaço ligado à terra, o lugar de vida dos Kaiowa. O tekoha abarca a relação do indígena com a terra e
com o sobrenatural, formando uma teia comunicativa de relações que ora se materializam e ora se apresentam no
campo das subjetividades. Esse termo tem sido comumente entendido como o lugar onde os indígenas Kaiowa vivem,
no entanto, a expressão evoca um conceito complexo (CREPALDE, 2014, p. 12).
Tecendo a teia para a compreensão dos termos advindos da língua guarani e de seus significados para os
Kaiowa, e tendo em vista a reflexão sobre hospitalidade, o tekoporã mostra-se como relevante nesta discussão. Este
termo apresenta relação com o significado de tekoha, visto que refere-se ao lugar de vida. Teko significa cultura, modo
de ser e viver” e porã significa “bem, bom, bonito”, ou seja, tekoporã é a “maneira de viver bem, viver feliz” (E1). O
tekoporã é a combinação do espaço físico com a harmonia de viver, é a conduta e o comportamento que se espera de
um Kaiowa, um comportamento que leve em consideração as premissas e os valores da cultura dessa etnia e que
possibilite resultados práticos que mantenham o convívio social e o fortalecimento do grupo. Durante as entrevistas
este termo foi evidenciado na fala dos entrevistados, relacionando-se diretamente à hospitalidade, como pode ser
observado no trecho a seguir:

A hospitalidade é o bem-viver (tekoporã, teko johayhu – teko do amor) Por que é assim, o Guarani-
Kaiowa...ele veio pra admirar a obra que Deus fez, ele veio pra ser feliz. [...] Quando Deus fez a terra, o
sol, a lua, as estrela, a mata...aí não tinha quem admirava a obra de Deus, aí Ele mandou o Guarani-
Kaiowa. Aí deram o nome pra nós de IVYPOTY: flores da terra. Pra admirar a obra de Deus...então nóis
somo admirador, viemo pra ser feliz...então quanto mais você doa, mais você recebe (E2).

Para o entrevistado 2, “A hospitalidade é o bem-viver”, o bem-viver que perpassa pelo contato e acolhimento
do outro, pelo estabelecimento de relações equilibradas e permeadas pelo respeito à cultura, aos costumes e ao
território. Isto é, para além do entrelaçamento e da troca, há uma questão transcendental, de religiosidade, que permite
compreender essa complexidade que são as relações. Não é simplesmente uma troca fria, mas uma teia de relações
delicadas em que o acolhimento do outro sustenta as relações sociais.
No trecho final da fala, o entrevistado 2 menciona “quanto mais você doa, mais você recebe ”, remetendo a
um princípio da hospitalidade, que é o ato de doar-se ao outro, seja ele conhecido ou desconhecido, em uma relação
marcada pela identidade (relação primária) ou pela etiqueta (relação secundária), como menciona Camargo (2015). Na
fala do entrevistado, o “dar” e o “receber”, discutidos por Mauss (2013), se apresentam claramente como elementos
estruturadores da hospitalidade.

110
Outro elemento relevante para pensar o acolhimento Kaiowa está ligado ao sagrado, pois, o ritual de
acolhimento envolve o mundo espiritual:

Você chega aí é outro grupo que recebe e põe pra dentro da casa. Aí você já tá abençoado e pode interagir.
Yvyira´ija é um assessor...uma assessoria que o rezador tem para ajudar a receber as pessoa
(normalmente crianças, mais novo que cuida) e o rezador comunica com Deus, né (Tupãguasu) (E2).

Neste contexto, a casa de reza se apresenta como um espaço importante no ato do acolhimento, pois neste
espaço, por meio dos rituais que ali são realizados, o sagrado é evidenciado, explicitando a complexa e intrincada
relação que constitui a hospitalidade Kaiowa.
O entrevistado 1 também menciona o mesmo ritual de recebimento:
Que nem, vocês chegaram, aí lá na entrada tinha que ter o yvyira´i, vai receber, aí lá que se encontra,
quando eles já estão a uns quinhentos metros ele já começa canta, já vem cantando, aí aqui também vai
receber, falo...é o ROAITY, vai se encontrar.

Ademais, os vínculos entre os membros da etnia também se fortalecem por meio da realização das aty guasu,
reuniões que se configuram como algo próprio da cultura Kaiowa. Esses eventos, se constituem como uma grande
assembleia e como o mais importante fórum de debate da etnia Kaiowa, que nesses momentos se unem aos Guarani,
grupo étnico com os quais os Kaiowa mantêm relações sociais e políticas. Nesses encontros reúnem-se lideranças e
membros de famílias extensas de várias localidades do estado, com o objetivo de discutir os problemas comuns a todas
as famílias extensas.
O tekoporã, ou seja, o comportamento acolhedor no modo Kaiowa, é gestado no contexto das aty guasu,
porque nessas reuniões é possível trocar informações sobre o cotidiano dos indivíduos e de suas famílias. A aty guasu
é considerada a maior instituição política dos Kaiowá, os laços culturais e identitários se reforçam, um exemplo é que
nestas reuniões o idioma usado é o guarani. Neste contexto, o entrevistado 2 fez o seguinte comentário:
Eu vejo que ela [aty guassú) tem um ponto assim de segurança de cultura. Porque é onde a turma reza
muito, canta muito....eu vejo que aty guasu ainda é uma grande escola pra nóis Guarani-Kaiowá. Mesmo
com as falas que tem, as atividade durante o dia, mas a noite é indígena, a noite é indígena...De dia é uma
mistureba né. Discussão de todo lado. Mas a noite, vira todo mundo índio (E2).

O trecho acima reforça a discussão de que a língua é “o canário da mina” (ELL e PAVELKA, 2020) das culturas
tradicionais, o elo com a cultura ancestral e aquilo que deve ser cuidado e preservado. Sendo assim, compreender a
hospitalidade em culturas indígenas é desafiador não só pelo contato com o diferente para o pesquisador não indígena,
como porque o próprio conceito de hospitalidade é repleto de subjetividade e segundo Ferran (2019) seria “inalcançável
e não programável”.
Os resultados, a partir do registro de termos específicos, permitiram identificar um conjunto de expressões
que remetem ao significado da hospitalidade como a conhecemos, mas também a uma visão de hospitalidade que nos
remete a estudos sobre a complexidade do tema (Derrida, 1997)). Importante salientar que no contato estabelecido com
os entrevistados, observou-se que os termos ligados diretamente à hospitalidade não apareceram espontaneamente
nas falas, de maneira que apenas quando indagados quanto a esta questão específica é que foram feitas as menções.

111
Ademais, identificou-se que não há uma única palavra que represente o conceito de hospitalidade, tal qual existe para
os não indígenas.
Desta forma, a pesquisa de campo possibilitou a construção do quadro 2, com termos relacionados ao conceito
de hospitalidade Kaiowá.
Quadro 2 – Glossário da hospitalidade Kaiowá
Termo em Guarani Significado
Torypa Hospitalidade/acolhimento
Kuñaãtory kuñatory Mulher hospitaleira, que recebe todo mundo com alegria
Caraítorí/caraíroryKaraitory Homem hospitaleiro
Eguerekoporã Eguerekoporã Atender bem
Guereko porã Ter bem a pessoa
ã emboguah~e porã Acolher bem as pessoas/ter hospitalidade
Mon-marré-porã Acolhimento espontâneo/singelo
Che aha mboguah~e ape Acolhida
jojaha teko joja Comportamento de partilha
Mbojaja Incentivar a partilha
Partilhar
Nde hae che peheguemi ha’e Você é um pedaço meu (remete a relação dialógica entre o eu e o outro)
Fonte: elaborado pelos autores, 2021.

A interpretação das falas e explicações dos termos, os quais foram sistematizados nos quadros 1 e 2,
contextualizados por meio das entrevistas, permitiram compreender a “filosofia” do acolhimento para os Kaiowa. A
hospitalidade, a partir do prisma deste grupo, foi apresentada sob outras perspectivas e, nesse contexto, a leitura de
Mauss (2013), aprofunda essa complexidade, pois traz elementos sobre relações de hospitalidade alicerçado em outras
concepções, o que, aliás, trouxe motivação para a averiguação feita neste trabalho.
Essas reflexões remetem a complexidade do conceito de hospitalidade, mas também das relações sociais, que
envolvem elementos econômicos, psicológicos, religiosos e políticos. Pois, há diferenças entre a hospitalidade como
dádiva, sem obrigações, espontânea, como meio de construir vínculos, vínculos construídos pela qualidade da recepção,
mas que podem ser quebrados pelo uso do conceito como produto, ostentação, humilhação, exercício do poder e
prestígio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreender como os Kaiowa pensam e expressam diferentes formas de acolhimento, implicou em


identificar termos que remetessem ao conceito de hospitalidade e suas interfaces, bem como, refletir sobre as relações
sociais e econômicas deste grupo étnico, sobre a linguagem, as regras que permeiam os encontros, as possibilidades
e limites de estabelecer laços, trocas e sobre os interesses que perpassam estas trocas.

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A filosofia da hospitalidade à moda Kaiowa, transpassa aspectos que compreendem o sagrado e a agregação
de pessoas, além do que, tem função social clara, ou seja, quem é hospitaleiro terá mais sucesso porque conseguirá
agregar pessoas. Outro aspecto peculiar quanto à compreensão sobre a hospitalidade Kaiowá refere-se à visão de
que a hospitalidade mira o coletivo e é algo estruturante das relações sociais, tendo relação com o amor e a alegria,
repercutindo no comportamento do “bom Kaiowa”.
O acolher para o grupo étnico pesquisado mostrou-se muito vinculado ao território e sua identidade (tekoha,
tekoporã, ñandereko); a importância do sagrado, que se manifesta nos ritos espirituais de acolhida e despedida; à
tradição e à cultura como elos na sustentação do comportamento acolhedor do “bom Kaiowa”.

PALAVRAS-CHAVE

Hospitalidade indígena; Kaiowá; acolhimento; território; tradição.

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Ferran, M. de N. S. (2019). O desafio da hospitalidade: arte e resistência em subúrbios de Paris e do Rio de Janeiro. Rio
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Mauss, Marcel (2013). Ensaio sobre a dádiva. São Paulo: Cosac Naify.

113
HOSTEL: UM ESPAÇO DE MANIFESTAÇÃO DO LAZER E DA HOSPITALIDADE
Joyce Kimarce do Carmo Pereira (joycekimarce@hotmail.com)
Christianne Luce Gomes (chrislucegomesufmg@gmail.com)

INTRODUÇÃO

O lazer assume incontáveis possibilidades e experiências, estando presente no cotidiano da vida humana nos
mais variados contextos e manifestando-se sob as mais diversas formas. Isto porque ele é aqui compreendido como
uma necessidade humana e dimensão da cultura. E, por sê-lo, tal necessidade centraliza-se na fruição das práticas
sociais, onde tais práticas são concebidas em um cenário cultural. Nesse ínterim, essa necessidade “pode ser satisfeita
de múltiplas formas, segundo os valores e interesses dos sujeitos, grupos e instituições em cada contexto histórico,
social e cultural. Por isso, o lazer precisa ser tratado como um fenômeno social, político, cultural e historicamente
situado” (GOMES, 2014, p.9).
O lazer, manifestando-se então, em contextos variados um emaranhado de sentidos e significados são
concebidos e reproduzidos nas relações estabelecidas entre os sujeitos e destes com o ambiente ao seu redor. Gomes
(2014) ressalta o dinamismo que compõe o fenômeno, especialmente quando se trata da dimensão cultural que lhe é
inerente. Sob este viés, o lazer é demarcado pela diversidade e pelas “identidades distintivas de cada grupo social”,
não estando, portanto, isento de situações de tensionamentos, conflitos e contradições.
Isso leva a refletir sobre o lazer enquanto um “fenômeno social”, complexo, que perpassa o processo
relacional e o dinamismo humano nos mais distintos contextos. São múltiplas as possibilidades de lazer, dada a
complexidade intrínseca a esse fenômeno. Nesse sentido, “[...] as festas e celebrações, as práticas corporais, os jogos,
as músicas, as conversações e outras experiências de sociabilidade podem assumir a feição de lazeres que têm
significados e sentidos singulares para os sujeitos que as vivenciam ludicamente” (GOMES, 2014, p. 9).
Assumindo então, feições variadas e manifestando-se em distintos espaços. O lazer pode ser constituído como
uma possibilidade para o encontro hospitaleiro. Neste processo, a hospitalidade carrega a tônica dos relacionamentos
humanos regidos por quatro eixos receber, hospedar, alimentar e entreter (CAMARGO, 2011). Na visão do autor, a
partilha da hospitalidade envolve o calor humano, os sentimentos das pessoas, a criação de laços simbólicos e a busca
dos indivíduos pelo “diferente”. Aprofundar na maneira como os sujeitos aceitam essa interação, como ocorre esse
“dividir-se com estranhos” e a relação com o ambiente é a direção para a qual o autor acredita que a hospitalidade
precisa ser pensada e refletida.
As colocações empreendidas até o momento, são consideradas necessárias e urgentes de serem analisadas
no objeto de estudo aqui estudado dada a incipiência de estudos nos campos do turismo, hospitalidade e lazer.
Especialmente em se tratando do meio de hospedagem conhecido como hostel, um espaço voltado para o acolhimento

114
de pessoas de forma compartilhada, tendo como características basilares o uso de ambientes coletivos, foco na interação
entre os sujeitos (BAHLS, 2015).
Para isso investigou-se dois hostels localizados na cidade de Belo Horizonte no Estado de Minas Gerais,
buscando compreender como ocorre o processo de receber e hospedar nestes espaços.

METODOLOGIA

Esta pesquisa de natureza qualitativa foi composta por três momentos: pesquisa bibliográfica, coleta de dados
através de entrevistas semiestruturadas e análise interpretativa de dados. A investigação contou com 04 entrevistados
(02 anfitriões e 02 hóspedes) de dois hostel de Belo Horizonte - MG. Ressalta-se que critérios foram previamente
estabelecidos para a escolha tanto dos sujeitos quanto dos espaços aqui investigados. Os dados foram analisados
levando em consideração as diversas interpretações de sentidos dos depoimentos dos sujeitos da pesquisa, conjugados
aos entendimentos das temáticas de hostel, lazer e hospitalidade.

RESULTADOS

Durante o processo analítico, verificou-se entre outros, três aspectos marcantes, no processo de receber e
hospedar nos hostels investigados. Ao se falar em receber e hospedar pensa-se, então, no local propício onde se inicia
tal processo: a recepção. A recepção de um hostel é palco para as mais variadas formas de sociabilidade entre os
sujeitos, figurando como a manifestação primária presencial do ato de recebimento do hóspede. Na recepção o lazer
ganha sentido manifestando-se por meio de conversações voltadas para se iniciar um diálogo entre os sujeitos.
É neste momento, de acordo com os depoentes que identificam o perfil daquele hóspede, se expansivo ou
reticente. Evidenciando perspectivas que retomam o lazer enquanto dimensão cultural constituído pelas distintas
identidades de cada sujeitos ou grupo social (GOMES, 2014).
Às vezes você chega toda expansiva né pra alguém: nossa seja bem bem-vindo e tal, e a pessoa é uma
pessoa mais contida. E aí você já tem que dar uma diminuída ali no seu entusiasmo. As vezes a pessoa
só está cansada porque acabou de chegar de viagem, mas as vezes é o jeito dela (Anfitriã 2).

Diálogos são iniciados, perguntas relativas à viagem, a origem, bem como comentários descontraídos e
corriqueiros, são percebidos durante o recebimento, sinalizando uma forma encontrada pelos anfitriões para “quebrar
o gelo”:
Eu me baseio na pessoa, igual por exemplo se eu percebo que a pessoa é fechada não tem como, você
tem que ser extremamente formal, quando é uma pessoa mais extrovertida a gente brinca, eu brinco com
a pessoa, a pessoa chega pra fazer o check in eu falo “tá” chegando de onde? As vezes a pessoa tem
sotaque eu falo: uai você nem parece que é de tal lugar, o sotaque nem engana “né”? nem entrega “né”?
Tem que ter uma postura diferente pra cada tipo de pessoa (Anfitrião 1).

O segundo aspecto se referia a “alma de receber e propensão em servir”, estas palavras ecoavam no discurso
dos anfitriões ao detalharem o processo de recebimento dos hóspedes. Palavras que no convívio diário materializavam-

115
se em ações, gestos e posturas que demonstravam um sacrifício de si mesmo na busca pelo “servir” ao outro
constantemente. Isso remete à tônica da inexistência da hospitalidade caso não haja sacrifício, defendido por Camargo
(2006) exemplificado nos relatos a seguir:

Se eu “tô” ali naquela recepção e eu posso “tá” mal humorado, de saco cheio, comendo, doido pra ir no
banheiro, se a pessoa vira e me pede vamos dizer assim um copo d’água eu tenho que largar tudo aquilo
que eu “tô” fazendo para resolver aquilo. Enquanto eu não resolvo aquilo eu não posso servir a mim
mesmo, eu tenho que servir aquela pessoa (Anfitrião 1).

Quando alguém me pergunta ou solicita qualquer coisa, eu paro na hora o que eu estiver fazendo pra
poder atender aquela pessoa da melhor forma possível. Então eu acho que quando você tem aquela alma
de receber pessoas tudo fica mais fácil aqui (Anfitriã 2).

Tal panorama acaba remetendo as distintas lógicas do lazer expressas por Gomes e Faria (2005) para as
autoras há contrapontos que permeiam o lazer, por um lado há uma reprodução da ordem social imposta e por outro é
produtor de novas experiências e possibilidades. Dito isso, por um lado os depoentes demonstram certa reprodução de
uma lógica sacrificando-se para atender o outro em seu momento de lazer. Ainda que isso signifique renunciar as
próprias necessidades até mesmo fisiológicas, como relatado pelo Anfitrião 1. Por outro uma nova possibilidade se
desenha quando a Anfitriã 2 acredita na característica pessoal como facilitador para a atuação naquele contexto. No
entanto, não se pode deixar de mencionar a denominada hospitalidade encenada, tônica que por vezes pode prevalecer
tanto em âmbito comercial nos diversos empreendimentos turísticos, assim como em todos os ambientes voltados para
o atendimento ao público, seja presencial ou virtual (GOTMAN, 2008, 2009; CAMARGO, 2021).
O último aspecto consiste no direcionamento do calor humano a outrem e garantir que as necessidades sejam
atendidas, fazendo com que o hóspede se “sinta em casa”. O sentir-se em casa associada a noção de hospitalidade é
marcante na fala da Anfitriã 2, demonstrando a preocupação em direcionar ao hóspede um tratamento tido como
hospitaleiro: “Após um ano eu acredito que o hostel né, se garante como um hostel hospitaleiro, quando ele consegue
fazer com que o hóspede dele se sinta em casa, (...) porque essa é a experiência que a gente proporciona” (Anfitriã 2).
O que sugere a oferta de uma hospedagem sob tais atributos calcados na icônica frase “faça de conta que está em casa”
(CAMARGO, 2007). E, no desenrolar entre chegadas e conviviabilidade, sinais do cumprimento dessa premissa podem
ser contrastada aos discursos dos seguintes hóspedes em relação aos anfitriões:

A gente ficou bem próximo [anfitriões] e isso fez eu me sentir muito à vontade, muito leve, como se eu
estivesse em casa (Hóspede 1).

São muito gente boa o pessoal da recepção, eles te ajudam com tudo, qualquer dúvida, qualquer
problema, isso faz aqui parecer uma casa, é uma casa na verdade né? (Hóspede 2).

E neste processo do sentir-se me casa notou-se que os sujeitos acabam manifestando as mais variadas
práticas de lazer no cotidiano do hostel. A cama, por exemplo, adquiria incontáveis representações. Era utilizada tanto
para suprir necessidades fisiológicas, quanto como um objeto de manutenção da privacidade e intimidade dos sujeitos.
Além disso, figura como o ambiente onde o lazer ganha sentidos variados tais como: interação com outros hóspedes,

116
ouvir música, acessas redes sociais, assistir seriados, leitura, planejamento das atividades do dia seguinte, entre outras
incontáveis possibilidades.
Por fim, salienta-se que nesta lógica de sentir-se em casa outros dois elementos um tanto quanto ambíguos
se sobressaíram, por um lado a socialização compõem a trama hosteleira onde os sujeitos (hóspedes e anfitriões)
estabelecem laços de amizades, criam vínculos, aprendem com as histórias de vida e etc. Tal socialização era
protagonizada pelas mais diversas práticas: cozinhar e comer junto, organização de festas dentro dos hostels, idas a
bares, restaurantes e atrativos turísticos entre outras possibilidades.
Por outros conflitos e tensionamentos durante a convivência diária entravam em cena, devido ao
compartilhamento de espaços (quartos, sala, cozinha) onde a privacidade e intimidade de igual maneira era
compartilhada. Respeito as regras de convivência e espirito de coletividade figuram como atributos necessários para o
dia-a-dia de um hostel, a ausência destas características podem trazer desconfortos, atritos e desafios cotidianos: “Os
grandes desafios são quando as pessoas não entendem o propósito de compartilhamento, o propósito de que um hostel
não é seu, é nosso né, é todo mundo junto utilizando o mesmo espaço, e tem que ser bom pra todo mundo” (Anfitriã 2).
No entanto, também trazem estratégias e formas de lidar, bem como a aceitação e tolerância frente às posturas e
hábitos de outrem. Assim, cada grupo social responde a seu modo com base em suas produções simbólicas, dando
sentidos e significados diferenciados (TOLEDO, 2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de receber e hospedar nos hostels investigados evidenciou que o contato primário na recepção
destes espaços se inicia por meio de práticas de lazer voltadas para conversações e diálogos. No desenrolar da trama
hospitaleira aspectos como servir colocou em evidência os sacrifícios por parte dos anfitriões com vistas a garantir o
acolhimento dos sujeitos durante seu momento de lazer nestes espaços. O que revelou o papel dos anfitriões em fazer
com os hóspedes se sintam em casa. Nesse sentido, a lógica do sentir-se em casa além de revelar a cama como sendo
um dos espaços onde os sujeitos manifestam tanto a intimidade quanto momentos de lazer. Descortinou ainda, dois
aspectos contraditórios, o aprofundamento de laços de amizade por um lado e os conflitos e tensionamentos inerentes
a convivência e compartilhamento de espaços com “estranhos”.

PALAVRAS-CHAVE

Lazer, Turismo, Hostel, Hospitalidade.


REFERÊNCIAS

BAHLS, A. A. D. S. M. Hostel: Proposta conceitual, análise socioespacial e panorama atual em Florianópolis (SC).
Dissertação (Mestrado em Turismo e Hotelaria). Universidade do Vale do Itajaí, 2015.

117
CAMARGO, L. O. L. Apresentação à Edição Brasileira: O estudo da hospitalidade. In: Montandon, Alain (org.) O Livro
da hospitalidade: acolhida do estrangeiro na história e nas culturas. São Paulo: Senac São Paulo, 2011.

CAMARGO, L. O. L. A pesquisa em hospitalidade. In: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares


da Comunicação - XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Santos, 2007.

Camargo, L.O.L. As leis da hospitalidade. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo,15(2), 2021.

GOMES, C. Lazer: Necessidade Humana e Dimensão da Cultura. Revista Brasileira de Estudos do Lazer. Belo
Horizonte, v. 1, n.1, p.3-20, 2014.

GOMES, A.M.R.; FARIA, E.L. Lazer e diversidade cultural. Brasília: SESI/DN, 2005.
GOTMAN, A. O turismo e a encenação da hospitalidade. In: Bueno e Camargo. Cultura e consumo: estilos de vida
na contemporaneidade. Senac, p. 115-134, 2008.

GOTMAN, A. O Comércio da Hospitalidade é Possível? Revista Hospitalidade, v. 6(2), p. 3-27, 2009.

TOLEDO, P. de M. e S. O design de interiores em hostels: manifestações da individualidade em quartos


compartilhados de hostel. Dissertação (Mestrado em Ambiente Construído). Universidade Federal de Juiz de Fora, 2017.

118
LAZER SEXUAL DE TURISTAS HOMENS EM APLICATIVOS DE ENCONTROS NO DESTINO
“NATAL - CIDADE DO SOL”

Rodolfo Bezerra de Oliveira (rodolfo.oliveira.110@ufrn.edu.br)


Ricardo Lanzarini (ricardo.lanzarini@ufrn.br)

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa corresponde à Iniciação Científica do curso de Bacharelado em Turismo da UFRN, que tem como
objetivo a caracterização do comportamento de turistas homens na busca por sociabilidade online com outros turistas e
residentes, identificando fatores como gênero, faixa etária, condição socioeconômica, orientação sexual e etnia. A trama
da pesquisa envolve questões como urbanidade e destinos turísticos, lazer sexual e relações de sociabilidade entre
visitantes e visitados.
De acordo com Milton Santos (2008), a cidade possui uma organização físico-moral que interpenetra a vida
social, onde objetos e ações tendem a uma produção artificial de práticas cotidianas, atualizadas por novas tecnologias,
dinâmicas sociais e interrelações pessoais. Como palco desta pesquisa, a cidade de Natal/RN congrega as principais
facilidades para a sociabilidade sexual, além de concentrar um dos mais importantes fluxos de turismo no Nordeste
brasileiro.
É justamente na cidade que se encontra a diversidade de encontros. Richter (1990) diz que o anonimato
proporcionado pela viagem, de estar longe de amigos, conhecidos de negócios e parentes, oferece a oportunidade para
discretas relações sexuais extraconjugais ou não, sem compromisso emocional nem amoroso. Isso combina um
sentimento de aventura com intimidade num local estranho, que aqui associamos ao contexto do lazer durante as
viagens.
(Dumazedier, 1973) entende que o lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de
livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desenvolver sua
informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora, após livrar-
se das obrigações profissionais, familiares ou sociais.
Para além do lazer, o sexo está presente nas viagens de homens como uma forma de evasão das pressões
cotidianas e realização dos desejos reprimidos. As viagens, ligadas à ideia de prazer e relaxamento pelo lazer
dissociado do cotidiano, oportunizam instigantes formas de sociabilidade sexual entre viajantes e residentes em
grandes centros urbanos e locais turísticos (Trigo e Lanzarini, 2014). Tal lazer sexual é diretamente favorecido por
aplicativos de relacionamento que possuem localizador para que os usuários possam visualizar e interagir com
desconhecidos que estejam próximos e que tenham os mesmos interesses de sociabilidade, seja sexual ou não.

METODOLOGIA

119
O universo da pesquisa envolve turistas homens na cidade de Natal que buscam sociabilidades virtuais com
outros turistas ou residentes por meio de aplicativos de encontro, tanto no universo homo quanto bi e heterossexual.
Tais sítios virtuais serão definidos a partir de uma análise prévia dos principais aplicativos utilizados pelos residentes
(aqueles que possuírem maior volume de participantes) e que sejam de uso gratuito. Considerando-se a metodologia
descrita no projeto, sua aplicabilidade neste plano de trabalho contempla: 1. Netnografia, com observação participante
(ciber-flânerie): após os aplicativos serem selecionados, o aluno deve manter um perfil de acesso para que possa
acompanhar a movimentação dos membros do grupo, especialmente dos turistas. 2. Coleta de dados primários
qualitativos: catalogar os perfis públicos de turistas por meio de prints de tela. Somado a isso, buscar entrevistá-los
para coletar maiores informações sobre suas motivações sexuais no lazer virtual. 3. Coleta de dados primários
quantitativos: quantificar participantes e descrições de perfil para os mapas mentais e árvores de associação de
conteúdo com base nas informações dos perfis públicos. 4. Processamento de dados: uso do software NVIVO para a
compilação de conteúdo.
Para a escolha dos aplicativos usados para redigir este projeto foi realizada uma sucinta análise de fluxo de
uma semana com os aplicativos Grindr, Scruff, Blued, Tinder e Happn. Os cinco aplicativos foram monitorados durante o
período de 13/09/2021 a 19/09/2021, cada aplicação sendo acessada duas vezes ao dia. Foi feita a contagem de perfis
e o registro em captura de tela, o quantitativo dessa primeira coleta está demonstrado na tabela a seguir:

APP: NÚMERO DE USUÁRIOS: NÚMERO DE TURISTAS


GRINDR 1386 HOMENS 205
1056 HOMENS 1132
TINDER MULHERES 408
SCRUFF 57 HOMENS 97
HAPPN 40 MULHERES 7 HOMENS 0
BLUED 4 HOMENS 0

Após essa primeira semana de pesquisa, notou-se um maior fluxo de usuários turistas nos aplicativos Grindr
e Tinder, sendo estes eleitos como aplicativos base para a realização desta pesquisa científica. Visto que ambos
aplicativos fazem uso do GPS para localização de perfis de possíveis pretendentes, foi determinado que a busca por tais
usuários se desse no bairro de Ponta Negra, num raio de 3km do cartão postal local.
Lançado em 2009 e disponível para Android e IOS, o Grindr é um aplicativo de encontros e namoro virtual para
homens homossexuais e bissexuais, pessoas trans e demais integrantes da denominada comunidade Queer. Funciona
permitindo que o usuário crie um perfil e adicione fotos e descrições pessoais, tais quais idade, altura, raça, peso e
preferência sexual (ativo, passivo ou versátil). Os perfis são exibidos aos usuários em ordem de distância crescente,
sendo possível assim saber quais são os perfis que estão mais distantes e quais são os que estão mais próximos. O
aplicativo também conta com opção de conversa, envio de fotos e vídeos, além de chamadas de vídeo.

120
Já o Tinder é uma aplicação multiplataforma de localização de pessoas que cruza dados do Facebook e Spotify,
localizando perfis de outros usuários geograficamente próximas. Similarmente ao Grindr, no Tinder também se cria um
perfil pessoal, onde o usuário insere suas descrições e adiciona imagens. Diferentemente do Grindr, no Tinder não é
possível enviar mensagens para quaisquer usuários que estejam ao seu redor. Nesse aplicativo existe um sistema de
“like” e “deslike” onde os perfis de pessoas que estão próximas são mostrados e o usuário escolhe se gosta ou não do
perfil, dando um “like” caso goste e um “deslike” caso desgoste do perfil que vira a aparecer.
Caso ocorra o “like mutuo”, onde ambos perfis se gostam, ocorre o que o aplicativo chama de “match”, sendo
assim possível conversar com a pessoa que gostou do seu perfil. No bate-papo do Tinder não é possível enviar fotos ou
vídeos, a conversação se resume a mensagens de texto.

RESULTADOS PRELIMINARES

Até o presente momento da pesquisa, foram coletados 817 perfis no aplicativo Grindr e 171 no Tinder. No
Grindr, aproximadamente 60 por cento dos usuários fazem uso indicadores de posição sexual com o intuito de atrair
parceiros para relações sexuais. Esses indicadores eram muitas vezes por escrito como “passivo”, “ativo”, “versátil”
ou até “versátil-ativo”, ou também eram utilizados os emojis. Notou-se que os homens denominados “passivos”
utilizavam o emoji de pêssego que simulavam vossas nádegas e os denominados “ativos” faziam uso do emoji de
beringela, simulando o pênis.
Também, no Grindr, é comum a identificação do perfil como turista, ou “de fora” - expressão comumente
usada-. Cerca de 35 por cento dos perfis diziam a cidade ou país de origem, no caso de turistas internacionais. As mais
comuns procedências de turistas nacionais foram os estados vizinhos de Paraíba e de Pernambuco.
Embora o sentimento de segurança de estar em um lugar novo, longe de compromissos e com maior
possiblidade de discrição, por volta de 50% dos perfis coletados não possuía uma foto clara de rosto do usuário. Os
homens optavam pela utilização de fotos de corpo, fotos de paisagem ou até mesmo faziam uso de perfis sem fotos.
Setenta por cento dos perfis trazia uma indicativa de idade do seu usuário, esta variava entre 20 e 50 anos,
em sua maioria, cerca de 80 por cento, até os 40 anos. Comumente também apareciam frases de exclusão direta de
perfis como “não curto afeminados” ou “não curto fumantes”. Por volta de 70 por cento dos usuários deste aplicativo
também tinham o peso descrito em seu perfil do Grindr.
No Tinder, entretanto, apesar da possibilidade de discrição, muitos turistas em busca de lazer sexual não
optavam por se esconder, sendo que 90 por cento dos usuários possuía fotos mostrando rosto. Cerca de 70 por cento
dos homens do aplicativo também incluía idade, na qual variou entre 18 e 55 anos.
Foi notório que no Tinder a dinâmica se deu de uma forma mais aberta, como se os buscantes por lazer não
houvessem muito a esconder, 70 por cento dos usuários também optaram por colocar profissão na descrição do perfil
ou a escola e/ou universidade na qual frequentaram. Nesse mesmo aplicativo, também era comum os usuários

121
compartilharem dados de redes sociais como Facebook e Instagram, além de descreverem hobbies e preferências
pessoais como “gosto de sair à noite”, “não fumo” ou até “curto música eletrônica”.
Também sobre os usuários deste mesmo aplicativo de encontros integrado, até a presente coleta de dados,
viajantes brancos formaram 70 por cento dos perfis encontrados, os outros 40 por cento sendo compostos por pardos
ou pretos, indígenas ou amarelos.

PALAVRAS-CHAVE

Homens, lazer, sexo, turismo, Natal

REFERÊNCIAS

ABOUT us: About zero feet away. About zero feet away. 2021. Disponível em: https://www.grindr.com/about/. Acesso
em: 20 set. 2021.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70 Brasil, 2011.

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169-193. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=53746594007 .

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RICHTER, Linda (200310 Explorando o papel político do gênero na pesquisa de turismo. São Paulo: Editora SENAC

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SOBRE o tinder. 2021. Disponível em: https://tinder.com/pt/about-tinder. Acesso em: 20 set. 2021.

122
LAZER SEXUAL DE TURISTAS MULHERES EM APLICATIVOS DE ENCONTROS NO DESTINO
“NATAL – CIDADE DO SOL”
Ana Cecília Nascimento de Araújo (anacecilia.7@outlook.com)
Ricardo Lanzarini (ricardo.lanzarini@ufrn.edu.br)

INTRODUÇÃO

O presente estudo objetiva buscar práticas de lazer virtual na cidade do Natal/RN, uma vez que, com o advento
da pandemia de Covid-19, a sociedade precisou se reinventar e adaptar suas formas de socialização.
Nesse sentido, a presente investigação procura demonstrar as motivações e interações sociais de turistas
mulheres que buscam, em aplicativos de relacionamento, prazer sexual e outras interações com residentes ou até outras
turistas em seus momentos de lazer durante a estada em Natal/RN. No cenário atual, a combinação entre a emergência
do lazer virtual, aliado às restrições das interações presenciais em virtude da Covid-19, permite colocar em pauta
discussões que envolvem o uso sexual do lazer virtual, como uma alternativa rápida e, principalmente, segura de prática
de sexo. Como exemplo, o governo argentino recomendou, em abril de 2020, a prática de sexo virtual como medida
para evitar propagação do coronavírus (Macarian, 2020). No Brasil, apenas durante o primeiro mês da pandemia, a busca
por sites pornográficos em camlgirls cresceu mais de 13% (Cruz, 2020). Em complemento, uma pesquisa realizada pelo
aplicativo Happn mostrou que 54% dos usuários estavam dispostos a ter encontros por videochamada. Enquanto isso,
seus concorrentes como Tinder e Bumble bateram recordes de acessos e interações (Ribeiro, 2021). Tais recursos digitais
têm sido amplamente discutidos como meio de sociabilização sexual, tal qual demonstram Monica e Costa (2020),
Saraiva, Santos e Pereira (2020), Lopes (2019), Couto (et al, 2016), Pelúcio (2016), Miskolci (2016) e Figueiredo (2016). No
contexto geral, o comportamento sexual de turistas é tema de discussões sobre políticas públicas e gestão territorial
do turismo, visto que engloba aspectos culturais e morais que afetam diretamente a imagem dos destinos. Para além
da discussão moral e do mercado do sexo, turistas buscam momentos de lazer sexual em seu tempo livre no destino,
interagindo diretamente com turistas e residentes, seja presencial ou virtualmente (Lanzarini, 2016), por meio de
aplicativos com sistema de GPS que localizam pessoas próximas com interesses comuns, como a orientação sexual,
fetiches, disponibilidade de horários, local, etc., sendo parte da experiência da viagem.

METODOLOGIA

O universo da pesquisa envolve turistas mulheres na cidade de Natal entre mês/ano e mês/ano, que buscam
sociabilidades virtuais com outros turistas ou residentes por meio de aplicativos de encontro, tanto no universo homo
quanto bi e heterossexual. Tais sítios virtuais serão definidos a partir de uma análise prévia dos aplicativos Tinder e
Zoe. A metodologia de coleta e análise de dados contempla: 1. Netnografia, com observação participante (ciber-flânerie):
após os aplicativos serem selecionados, o pesquisador deve manter um perfil de acesso para que possa acompanhar a

123
movimentação dos membros do grupo, especialmente das turistas. 2. Coleta de dados primários qualitativos: catalogar
os perfis públicos das turistas por meio de prints de tela. Somado a isso, buscar entrevistá-las para coletar maiores
informações sobre suas motivações sexuais no lazer virtual. 3. Coleta de dados primários quantitativos: quantificar
participantes e descrições de perfil para os mapas mentais e árvores de associação de conteúdo com base nas
informações dos perfis públicos. 4. Processamento de dados: uso do software NVIVO para a compilação de conteúdo.

RESULTADOS

Durante os três meses de observação aos finais de semana, foram encontrados 195 perfis femininos nas duas
plataformas objetos de pesquisa, dos quais, 145 foram coletados do Tinder e 50 na plataforma Zoe, dentre os quais 42
identificaram-se como lésbicas, 67 como bissexuais, 6 heterossexuais e 80 não identificaram sua sexualidade no perfil.
Lanzarini e Trigo (2014), afirmam que as relações sexuais, tanto masculinas quanto femininas, partem da
maneira como homens e mulheres tomam seu lugar na sociedade e isso delimitam seu ciclo social. Essa não identificação
de sexualidade nos perfis abre uma margem para pensar que se tratam de perfis de mulheres bissexuais ou
homossexuais, uma vez que ao configurar os aplicativos, escolhe-se para quem irá aparecer e os tipos de perfis que
quer visualizar em sua plataforma. Todavia, o receio de expor-se em uma rede social acaba por muitas vezes, haver
este tipo de censura.
As faixas etárias variam entre 18-55 anos e a maior procedência de turistas na Cidade de Natal em busca de
lazer advém de estados do nordeste, como mostra o gráfico a seguir:

Gráfico 1- Regiões de origem das turistas

(Araújo, 2022)

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Os perfis, que em sua maioria não são verificados – o que acaba por deixando subtendida uma dúvida na
veracidade dos fatos, justamente pela falta de informações contundentes, como links de outras redes sociais, mais
informações de perfil e muitas vezes fotos nítidas, giram em torno de mulheres negras, brancas e pardas em sua maioria
entre 25-35 anos. Elas procuram amizade, encontros, até mesmo trocar informações socioculturais, imergir na cultura
local, aprender o idioma nativo e um grupo seleto, composto em sua maioria de mulheres entre 36-55 anos, busca
relações mais sérias, como o relato a seguir:
(28 dez.21) “K.A”: “Deixa eu te perguntar logo para facilitar. É lésbica? É pq mesmo eu colocando que dispenso
casais, aparece muito por aqui [...] O que procura por aqui? [...], mas especificamente falando de Natal, quero conhecer
alguém e quem sabe rola algo. Não sei. Espero que sim”.

PALAVRAS-CHAVE

Lazer virtual; Turismo, Mulheres; Aplicativos.

REFERÊNCIAS
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masturbacao_n1221819 - Acesso em 10-05-2021.

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https://drhomeroribeiro.com.br/2021/02/04/sexo-virtual-aplicativos-de-relacionamento-crescem-durante-pandemia/-
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Acesso em: 18 fev. 2022.

125
O QUE SABEMOS E PRECISAMOS SABER?: UM ESTUDO SOBRE A RECEPÇÃO DO GUIA DE
TURISMO AO PÚBLICO LGBTQIA+ EM NATAL

Mellyssa Layla Barbosa Damasceno (mellyssa_layla@hotmail.com)


Michel Jairo Vieira (micheljvs@hotmail.com)

INTRODUÇÃO

O público LGBTQIA+, sigla que reúne orientações sexuais de pessoas e identidade de gêneros a qual: L:
lésbicas, G: gays, B: bissexuais, T: travestis, transexuais e transgêneros, Q: queer, I: intersex, A: assexuais e o “+” é
utilizado para incluir pessoas que não se sintam representadas por nenhuma dessas outras letras mencionadas (Alves
2019), vem buscando inclusão e mais aceitação nos espaços públicos e privados. Para atender essa demanda, várias
empresas e prestadores de serviço voltando-se para esse público começaram a surgir com mais frequência, passaram
a destinar seu atendimento (de modo exclusivo ou não) para esse público. Observa-se agências de viagem, hotéis, bares
e restaurantes, compondo um conjunto de estabelecimentos que servem a comunidade LGBTQIA+ e apoiam as suas
causas direta ou indiretamente.
Segundo pesquisas da WTTC - World Travel Tourism Council e dados coletados pela OMT, citadas em matérias
veiculadas através do Mtur (Novembro, 2016), notou-se que: “o potencial de consumo do público LGBT é 30% maior que
o do turista médio” [...]. Diante da quantidade de dados e fatos relacionados a temática LGBTQIA+ e ao potencial
turístico desse público inclusive para o destino Natal, surgiu a necessidade de investigar de que maneira ocorre a
recepção, hospitalidade e posicionamento dos Guias de Turismo de Natal frente à comunidade LGBTQIA+. Busca-se
questionar o grau de preparação e capacitação dos Guias para recebê-los, pois não basta apenas os estabelecimentos
de hospedagem e alimentação estarem devidamente preparados para lidar com esse público, se a popularmente
conhecida “comissão de frente” do deslocamento turístico (Guia de Turismo), não está devidamente alinhada para
atendê-los e incluí-los nos mais diversos espaços que a atividade turística oferece.
O setor de turismo LGBTQIA+ em 2017,apresentou um crescimento de 11% no país, enquanto o turismo
doméstico ficou apenas com 3,5% segundo pesquisa realizada pelo SEBRAE (Dezembro, 2018), além do alto potencial de
consumo desse público, onde no Brasil chega aos números de R$ 418,9 bilhões de acordo com um estudo feito pela
consultoria norte-americana Out Leandership divulgados pelo Ministério do Turismo (Julho, 2016), esses fatores levaram
ao MTur a realizar ações que divulguem e promovam destinos turísticos gay friendly, o objetivo de promoções nesse
setor vai de encontro com a crescente demanda. Desse modo se faz necessário sensibilizar e orientar os prestadores
de serviços turísticos no atendimento para esse público.
O termo gay friendly é de origem norte-americana e vem sendo muito utilizado na distinção da oferta turística
no Brasil. Friendly, segundo o Cambridge Dictionary Online (2022), significa gentil/amigável com alguém; gay friendly
seria basicamente um termo utilizado para se referir a estabelecimentos, instituições, eventos e serviços que buscam
apoiar a criação e/ou implantação de ambientes que sejam confortáveis para pessoas do público LGBT+. Os lugares
126
que aderem esse termo procuram oferecer espaços agradáveis e respeitosos para qualquer pessoa, com tratamento
igual ou até mesmo especializado nesse público.
De uma maneira geral esse público é conhecidamente mais exigente dentro da atividade turística no que tange
à busca por serviços e produtos, já que possuem o hábito de viajar frequentemente. Em pesquisa realizada pela IGLTA
(International LGBTQ+ Travel Association) e veiculada pela Panrotas (Junho, 2021), no cenário pós pandemia cerca de
60% do público LGBTQIA+ tinham a intenção de viajar no ano de 2021, esse dado potencializa a importância desse
segmento para o turismo. O perfil desse turista destaca suas preferências - 15% procuram por viagens de cruzeiro e
87% procuram agências especializadas.
O que têm-se observado em Natal-RN (uma das capitais com maior fluxo turístico do nordeste brasileiro) é a
crescente promoção de eventos voltados para esse público em específico, e eventos com duração de dois a três dias, o
que influencia na estadia e circulação desse público na capital potiguar, o que também favorece a circulação do chamado
“Pink Money”, termo que surgiu no final da última década, através de economistas que notaram o potencial de consumo
do público LGTBQIA+, passando a investir diretamente em produtos e ações publicitárias para esse nicho (Alves, 2019).
Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo compreender o modo de recepção e guiamento do público
LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e transexuais) pelo profissional de Guia de Turismo em Natal – RN
através dos depoimentos e experiências do guia, além de debater sobre novas formas de atendimento, inclusão e
acolhimento dessa comunidade, visto o grande potencial que o público LGBTQIA+ possui como consumidor da atividade
turística.

METODOLOGIA

O estudo tem uma abordagem qualitativa e quantitativa. A união desses dois métodos de abordagem se faz
necessária, pois se complementam, a precisão do método quantitativo somado à questões abertas qualitativas, tecem
uma visão mais ampla do estudo com uma análise mais processada sobre a temática.
O público alvo dessa pesquisa compreende Profissionais Guias de Turismo de Agências de Viagens da grande
Natal, com o objetivo de compreensão do fenômeno investigado através de entrevista individual e semiestruturada. A
escolha dessa amostra de julgamento se deu pelo fato de que esses profissionais se encontram na linha de frente da
produção e oferta de atrativos, como no consumo simultâneo dos roteiros e equipamentos turísticos.
A pesquisa é dividida em duas etapas, a primeira em um estudo bibliográfico acerca da temática de Turismo
LGBT, e a segunda com entrevistas utilizando questionários com os Guias de Turismo por meio de perguntas que exigem
respostas objetivas, mas também discursivas, buscando o ponto de vista desses profissionais. Os questionários são
aplicados via WhatsApp.
A análise de dados qualitativos será feita usando a técnica de análise de conteúdo, a qual busca analisar as
hipóteses que se desdobrarão dentro do estudo e descobrir o que está por trás do conteúdo abordado (Minayo, 2003).

127
Para análise quantitativa, pretende-se utilizar como técnica o IBM SPSS Statistics, contribuindo com a
importância e eficácia das informações que serão coletadas. Ao percorrer deste estudo, estima-se que todos os atores
elencados nessa pesquisa respondam e participem ativamente dos questionários que serão disponibilizados.

RESULTADOS ESPERADOS

Estima-se que, ao reunir grupos de profissionais Guias de Turismo ativos em Natal, aplicando entrevistas
estruturadas seja possível estabelecer tendências contextualizadas para o turismo, e que seja possível debater,
esclarecer e compartilhar conhecimentos sobre o respeito, inclusão e turismo ligado a população LGBTQIA+,
desmistificando perfis, agregando conhecimento e atuando na formação de profissionais aptos a receberem essas
pessoas.

Obs.: Em paralelo, estima-se criar uma espécie de cartilha informativa que trata de boas práticas associadas ao
guiamento e público LGBTQIA+.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo; LGBTQIA+; Guias de Turismo; Natal – RN.

REFERÊNCIAS

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<https://www.gov.br/turismo/pt-br/assuntos/ultimas-noticias/acordo-sela-parceria-para-promover-e-qualificar-
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Friendly. Disponível em: <https://dictionary.cambridge.org/dictionary/english-portuguese/friendly?q=-friendly>.
Acesso em: 18 mar. 2022.

JORGE, G. Consumo do público LGBT é até 4 vezes acima da média. Disponível em:
<https://atarde.com.br/economia/consumo-do-publico-lgbt-e-ate-4-vezes-acima-da-media-792958>. Acesso em: 13
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MONACO, J. Pink Money: como a diversidade movimenta a economia. Disponível em:


<https://www.panrotas.com.br/lgbtravel/mercado/2021/06/pink-money-como-a-diversidade-movimenta-a-
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MINAYO, M.C. de S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 22. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

Turismo apresenta cartilha para melhorar serviços para viajantes LGBT. Disponível em:
<https://www.gov.br/turismo/pt-br/assuntos/ultimas-noticias/turismo-apresenta-cartilha-para-melhorar-servicos-
para-viajantes-lgbt>. Acesso em: 13 mar. 2022.

Turismo LGBT no Brasil - Portal do Sebrae SC. Disponível em: <https://www.sebrae-


sc.com.br/observatorio/relatorio-de-inteligencia/turismo-lgbt-no-brasil>. Acesso em: 13 mar. 2022.

128
PERFIL DO PRATICANTE DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA (TBC) NO BRASIL

Talita Poliana Guedes da Silva (talitapoliana@gmail.com)


Luciana Araújo de Holanda (luciana.holanda@ufpe.br)

INTRODUÇÃO

O turismo de base comunitária (TBC) é considerado uma forma alternativa de desenvolvimento turístico que
tem como princípio o protagonismo dos atores da comunidade em todo o processo da gestão da atividade como o
planejamento, implantação, monitoramento, avaliação e compartilhamento dos benefícios. Além disso, o TBC busca
proporcionar aos visitantes a vivência dos modos de vida da comunidade local, sua cultura, artesanato, patrimônio e
ambiente (Giampiccoli & Mtapuri, 2015; Sampaio & Zamignan, 2012; Schott & Nhem, 2018).
Irving (2009) afirma que uma das principais características do TBC é o encontro promovido entre os visitantes
e anfitriões com intuito de compartilhamento, intercâmbio e aprendizagem mútua. Já Graciano e Holanda (2020)
defendem o TBC como uma proposta de desenvolvimento de lugares através do turismo, baseado nos conceitos da
sustentabilidade e autogestão de seus atrativos com intuito de alcançar melhoria na qualidade de vida dos habitantes
como também a conservação do seu patrimônio, seja ele ambiental, cultural e histórico.
Problemas relacionados à má governança e dificuldade de comercialização são constantes em muitas
iniciativas, ocasionado até a interrupção de muitos delas (Mielke, 2011; Mitchell & Muckosy, 2008). Em relação ao acesso
ao mercado, as comunidades, em sua maioria, por possuírem baixo índice educacional e de capacitação técnica,
enfrentam dificuldades para alcançar o consumidor final, seja diretamente ou através de parcerias comerciais com
agências e operadoras (Mielke, 2011; Ngo, Lohmann, & Hales, 2019). Diante desse cenário, a sustentabilidade econômica
e o foco no aspecto gerencial são fatores críticos para a consolidação de destinos de TBC (Spenceley & Meyer, 2012).
Percebe-se que, na literatura sobre o TBC, os estudos sobre perfil do visitante, apesar de serem considerados
importantes, são negligenciados no processo de planejamento e consequentemente, no sucesso de tais iniciativas.
Discute-se muito o conceito do TBC, sobre fomento, desenvolvimento sustentável das localidades através do turismo
comunitário, participação, benefícios, conflitos e questões associadas às estratégias internas de consolidação,
desconsiderando que sem os visitantes estas iniciativas não obterão os resultados esperados de transformação social
da comunidade (Graciano, 2019; Santos & Conti, 2019; Yilmaz & Tasci, 2013).
As escassas pesquisas científicas no Brasil apontam as características do turista responsável como demanda
desejada para as experiências de TBC (Bursztyn & Bartholo, 2012; Fabrino, 2013; Sampaio & Zamignan, 2012; Sancho &
Malta, 2015). O comportamento e perfil desse segmento de turistas são caracterizados pela busca de relações autênticas
e de vivenciar novas experiências, além de serem conscientes do seu impacto ambiental na localidade. Tais premissas
estão alinhadas com os princípios do desenvolvimento do TBC e são demonstradas nos estudos nacionais e

129
internacionais (Cabanilla, Lastra-Bravo, & Pazmiño, 2017; CBI, 2015; Gómez, Falcão, Cherem, & Silva, 2016; Lee, Jan, &
Yang, 2013; Lwoga, 2019).
Diante da lacuna teórica encontrada nos poucos estudos que abordam a tipologia e características dos
indivíduos que já vivenciaram experiências nas iniciativas de TBC na literatura, bem como a necessidade das
comunidades em acessar o mercado conhecendo melhor esses visitantes, faz-se necessário o conhecimento aprofundado
dos diferentes perfis do segmento de consumidores desse modelo de turismo em iniciativas brasileiras. Diante do
exposto, o objetivo deste estudo é traçar o perfil comportamental do visitante das iniciativas brasileiras de TBC.

METODOLOGIA

A pesquisa caracteriza-se como descritiva com abordagem qualitativa. Devido ao escasso cenário de estudos
com os praticantes do TBC, decidiu-se realizar um grupo focal online (Stewart & Williams, 2005) com 11 brasileiros
praticantes do TBC no país, maiores de 18 anos e selecionados mediante indicação de agentes de viagem especializadas
na venda de destinos de TBC. Esta técnica foi realizada de forma online e síncrona devido ao contexto pandêmico causado
pelo coronavírus que impôs regras de distanciamento social para evitar contágio e o agravamento da doença. O tempo
de duração foi de 65 minutos e 57 segundos, dentro da média apontada por Malhotra (2012), gravada na plataforma
Google Meet. Utilizou-se uma estrutura de questionamentos para alcançar todos os participantes sobre o contexto da
pesquisa. A pesquisadora atuou no papel de moderadora e contou com a participação de uma observadora. Os dados
da fase qualitativa foram analisados por meio da Análise de Conteúdo do tipo categorial (Bardin, 2011).

RESULTADOS

Nesta análise buscou-se identificar se os dados gerados espontaneamente pelos turistas de TBC estariam
alinhados com a revisão de literatura trazida sobre o perfil deste visitante. Ressalta-se que com as informações obtidas
nessa coleta primária pode-se perceber o surgimento de duas categorias: convivencialidade e traços do comportamento
do turista responsável.
Nas falas dos entrevistados, há o destaque para a busca de conexão com as pessoas como motivação para
visitar um destino de TBC, traço essencial que a convivencialidade promove para delinear o perfil desse turista:

(...) a questão da motivação eu acho que no geral, todo mundo que falou aqui, falou muito sobre pessoas.
É conexão com pessoas e eu acho que eu tenho muito isso e o turismo de base comunitária traz muito isso
também (E9).

Então eu senti uma conexão e como relato dela me motivou muito e acho que ao que eu estava buscando
mesmo, de vivenciar aquela simplicidade, aquele dia a dia ali do pessoal e fora diferente de tudo, de toda
minha realidade, de sair da minha bolha um pouco pra conhecer outras culturas, então isso tudo me
despertou a vontade de tá conhecendo e fui (E10).

(...) pra gente conhecer, um pouquinho mais a fundo, então eu acho que é uma curiosidade que faz com
que a gente tenha esse interesse. Uma curiosidade pelas pessoas, pela vivência dessas pessoas (E11).

130
Percebe-se que a valorização do encontro com o outro, essência da convivencialidade, é um aspecto que leva
esses turistas a fugirem dos destinos considerados “tradicionais” e irem buscar vivências com os anfitriões que
conhecem mais profundamente o destino visitado reafirmando o conceito de Coutinho et al (2014); Grimm e Sampaio
(2011); Sampaio (2007); Sampaio e Zamignan (2012).
Estudos apontam que o turista de TBC tenha comportamentos ligados ao turista responsável, considerado
aquele indivíduo que pensa no impacto de sua viagem em relação às dimensões econômicas, sociais, ambientais e
culturais (Goodwin, Font, & Aldrigui, 2012; SNV, 2009; Stanford, 2008). O comportamento em relação aos aspectos
econômicos é demonstrado no perfil de alguns entrevistados que preferem organizar sua própria viagem para contribuir
de forma equitativa com a comunidade local, a exemplo: “a gente sempre faz mochilão, contrata agência local, agência
pequena” (E4) e “Eu viajei aí de mochilão com meu namorado, então a gente foi pra o Candiau, que é uma comunidade
em Salvador, na Bahia. A gente foi pra Ilha de Deus” (E6).
O comportamento ambientalmente responsável se traduz nessa fala de uma entrevistada quando afirma não
participar de vivências que envolvem animais silvestres quando está viajando. Tal afirmação ratifica os fundamentos
do comportamento ambientalmente responsável apontados por Lee, Jan e Yang (2013) e Lee e Jan (2019): “Quando a
gente encontrou muito aquela coisa de interação com os animais, meio agressivo e aquelas coisas muito tradicionais, a
gente não gostou, não bateu, até que a gente encontrou outra agência e aí sim, era TBC de fato” (E5).
As práticas que ratificam o comportamento responsável no âmbito cultural podem ser trazidas nas falas
abaixo quando é explícito o respeito pela diversidade e patrimônio da cultura local, valorização pelos povos tradicionais
refletindo um comportamento ético e sensível, como aponta esta entrevistada:

Tenho muito costume de frequentar as comunidades quilombolas aqui próximo, temos aqui na
Serra do Cipó e frequento muito desde uns quinze anos que eu vou lá. E passei a viajar para
conhecer outros locais, comunidade quilombola de outros locais, tive a oportunidade de ir pra
comunidade indígena lá em Manaus. (E10).

Algumas vivências de TBC oferecem o trabalho voluntário como prática para conhecer a localidade e de alguma
forma ajudar a comunidade em algum aspecto necessário. Diante disso, uma participante comentou sobre trabalho
voluntário por causa da vivência que ela teve na Ilha de Deus (Recife-PE): “(...) e eu conheci o turismo de base comunitária
através da Volunteer Vacations” (E9), o qual pode ser enquadrado na dimensão social do comportamento responsável.
As abordagens dos entrevistados constatam que há alguns traços do comportamento do turista responsável
presente neste grupo de indivíduos em todas as suas dimensões conforme apontam os estudos de Grimm e Sampaio
(2011), Sampaio e Zamignan (2012), Coutinho, Sampaio e Rodrigues (2014), CBI (2015a) e Sancho e Malta (2015). Os
achados revelados nesta fase da pesquisa demonstram uma evolução no conhecimento do perfil do turista do TBC no
Brasil, atingindo assim o objetivo de auxiliar nas lacunas teóricas sobre o assunto como também para as iniciativas que
desenvolvem a atividade, conhecerem mais profundamente as características trazidas pelos seus visitantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
131
Mediante a literatura, buscou-se constatar se os atributos apontados pelas pesquisas apresentavam-se na
amostra analisada do visitante de iniciativas brasileiras. A literatura aponta o turista responsável como perfil desejado
para a prática do TBC. A partir deste estudo, conclui-se que o visitante brasileiro possui traços de responsabilidade nos
aspectos ambiental, social, cultural e econômico. A dimensão da convivencialidade, essencial para a vivência do TBC
presente nos achados do grupo focal online realizado, é um atributo intrínseco dos visitantes que buscam vivenciar o
TBC de forma mais intensa ou proposital por procurarem outras possibilidades para fugir das rotas do turismo
tradicional ou de massa.
Teoricamente, a contribuição desta pesquisa foi demonstrar que alguns atributos do comportamento dos
visitantes explorados pelos teóricos do TBC se confirmaram como importantes nesta amostra. Do ponto de vista prático,
os achados subsidiam as comunidades praticantes do TBC a direcionar seus esforços de comunicação e comercialização,
aspectos frágeis da gestão apontados pela literatura.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo de base comunitária (TBC); Demanda turística; Perfil do turista do TBC; Turista Responsável.

REFERÊNCIAS

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Yilmaz, S. S., & Tasci, A. D. A. (2013). Community based tourism for who? Profiling consumers. Conference on Tourism
and Hospitality: The Highway to Sustainable Development, 25–26. Yerevan, Armenia.

134
VITRINES VIRTUAIS EM NATAL/RN: A VIVÊNCIA FEMININA NO MERCADO DO SEXO

Gabriela Cristina Ribeiro David (ribeirosgabi@gmail.com)


Ricardo Lanzarini (ricardo.lanzarini@ufrn.br)

INTRODUÇÃO

O turismo é uma das principais atividades econômicas no Rio Grande do Norte, sendo a atividade que mais
emprega. Sua riqueza em atrações naturais, cultural e clima tropical fazem com que o destino seja um dos queridinhos
para os viajantes. O turismo é um dos maiores indicadores de desenvolvimento do estado, com o posto de segunda
fonte de renda estadual (Receita estimada de US$ 216.131.752 em 2002, segundo dados da SETUR-RN) e de maior
empregador da iniciativa própria.
Esta pesquisa de Iniciação Científica em andamento, demonstra o ponto de vista das mulheres que trabalham
diretamente com os turistas que envolvem a prática sexual em seus encontros, utilizando como principal recurso
comercial as “vitrines virtuais do sexo”, que compreendem sites especializados no serviço de acompanhantes. A
pesquisa aborda principalmente as mulheres transexuais e cisgênero. Relação a qualidade de vida e representatividade
que elas tinham em relação ao tema.
Embora o “turismo sexual” não seja compreendido como um segmento do setor, a Organização Mundial do
Turismo (OMT, 1995 como citado em Assunção & Babinski, 2010) entende como (...) viagens organizadas dentro do seio
do setor turístico ou fora dele, utilizando, no entanto, as suas estruturas e redes, com a intenção primária de estabelecer
contatos sexuais com os residentes do destino, onde o motivo principal de pelo menos uma parte da viagem é o de se
envolver em relações sexuais. Este envolvimento sexual é normalmente de natureza comercial.
Dutra (2008) argumenta que o “turismo sexual” consiste em “viagens organizadas que exploram a estrutura
do turismo, com o objetivo principal de facilitar o comércio sexual entre turistas e locais”. Leite (2007) destaca que essa
prática de viagem é baseada em relações desiguais entre países que reproduzem ideologias racistas e sexistas e
práticas que reafirmam diferenças sociais, econômicas, políticas e culturais. Apresenta homens e mulheres que se
deslocam para outros lugares (cidades, estados e países) especificamente em busca de aventuras eróticas.
Levando em consideração a questão acima, a relevância social do estudo está relacionada à vivência dessas
mulheres com turistas, demonstrando as motivações e interações sociais de turistas homens e mulheres na cidade do
Natal/RN em busca de lazer sexual, especialmente mediados por sites que funcionam como vitrines virtuais para que
profissionais do sexo possam disponibilizar seus serviços, incluindo interações virtuais por chat, videochamada e
referências de outros clientes. No contexto geral, o comportamento sexual de turistas é tema de discussões sobre
políticas públicas e gestão territorial do turismo, visto que engloba aspectos culturais e morais que afetam diretamente
a imagem dos destinos (Lanzarini, 2016). Desse modo, o mercado do sexo atende turistas (homens e mulheres) que
buscam momentos de prazer em seu tempo de lazer no destino, sendo parte da experiência da viagem. Tais sites fazem

135
uma mediação direta entre o cliente (turista) e o prestador de serviço sexual, de modo que ambos possam, de forma
segura e anônima (garantida pela virtualidade), se socializarem.

METODOLOGIA

O universo da pesquisa envolve turistas na cidade de Natal que buscam sociabilidades (que possuírem maior
quantidade de participantes) e que, preferencialmente, ofereçam salas privadas com videoconferência e chat.
Considerando-se a metodologia descrita no projeto, sua aplicabilidade neste plano de trabalho contempla: 1.
Netnografia, com observação participante (ciber-flânerie): o aluno deverá flanar pelos diferentes sites que divulgam
perfis de profissionais do sexo (homens, mulheres e travestis), bem como acompanhar e coletar os depoimentos
(avaliação de serviço) dos participantes, especialmente turistas, ao longo de toda a pesquisa. 2. Coleta de dados
primários qualitativos: catalogar os perfis públicos de profissionais do sexo por meio de prints de tela.
Somado a isso, buscar entrevista-los para coletar maiores informações sobre seu trabalho no universo virtual,
seja completo ou para o agendamento/captação do trabalho presencial, para atender turistas, de modo que sejam
identificadas as principais interações de lazer virtual no mercado do sexo. 3. Coleta de dados primários quantitativos:
quantificar os prestadores de serviço (homens, mulheres ou travestis), bem como as avaliações/depoimentos de turistas
para a confecção dos mapas mentais e árvores de associação de conteúdo. 4. Processamento de dados: uso do software
NVIVO para a compilação de conteúdo.

RESULTADOS

Até o momento foram avaliados 30 perfis no site travesticomlocal.com.br e garotacomlocal.com, que


compreende umas das principais plataformas utilizadas com uma espécie de cardápio, em que o turista pode escolher
o melhor contato pela descrição de perfil, fotos, vídeos....
A respeito dos 30 perfis, em sua maioria as fotos são os maiores recursos explorados. Algumas delas colocam
descrições exatas de seus corpos e outras apenas detalhes, descrição do serviço prestado além preferências ou
limitações, e a localização aproximada de seu local. Os valores geralmente são combinados em contato com elas por
fora do site, que é pelo número de whatsapp disponibilizado por elas.
O próximo passo de análise consiste na busca por entrevistas, a fim de se coletar relatos mais precisos a
respeito das dinâmicas de interação entre turistas e acompanhantes intermediadas por esta vitrine virtual do sexo.
Espero conseguir de 8 a 10 mulheres para conseguir uma análise mais relevante dos fatos. Apesar de ser uma
amostra pequena, será de grande relevância, pois entendemos que não é um assunto fácil e corriqueiro de ser
trabalhado, mas a sua relevância final por ter grande significado para a comunidade. E além disso, espero que o trabalho
traga visibilidade a causa, e que possa ser útil e dar uma voz e espaço, para um grupo tão silenciado.

PALAVRAS-CHAVE

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Turismo; sexualidade; Natal; lazer sexual.

REFERÊNCIAS

ASSUNÇÃO, L. W.; BABINSKI, L. R. Turismo sexual no Brasil: causas e efeitos ao turismo brasileiro. In: ENCONTRO
SEMINTUR JR., 1., 2010, Caxias do Sul. Universidade de Caxias do Sul, 2010. Disponível em:
https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/turismo_sexual.pdf. Acesso em: 18 jun. 2022.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. (Tradução Luís Anterro Reto, Augusto Pinheiro). São Paulo: Edições 70, 2011.

DUMAZEDIER, J. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva, 1973.

LANZARINI, Ricardo. Destino de Prazer: Turismo e prostituição na ótica de travestis em Natal/RN, Brasil. Revista de
Turismo Contemporâneo, [S. l.], p. 204-206, 2 dez. 2019. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/. Acesso em: 15
mar. 2022.

GURGEL, K. V.; SILVA, M. J. V. da; LANZARINI, R. Destino de Prazer: Turismo e prostituição na ótica de travestis em
Natal/RN, Brasil. Revista de Turismo Contemporâneo, [S. l.], v. 7, n. 2, p. 202–219, 2019. DOI: 10.21680/2357-
8211.2019v7n2ID16819. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/turismocontemporaneo/article/view/16819. Acesso
em: 2 jul. 2022.

137
Resumos de Artigos Completos
A QUALIDADE DO LAZER DOS TRABALHADORES FORMAIS: UM ESTUDO EM NATAL/RN

Emili Gabriely da Silva Mendonça (emili.gabriely.099@ufrn.edu.br)


Marya Maryanna de Carvalho Trindade (mmaryannac@hotmail.com)
Melissa Karen de Medeiros Silva (melissakaren8@gmail.com)
Emiliane Thalia de Lima (emilianethalia175@outlook.com)

RESUMO

O lazer tem como importante função contribuir para a qualidade de vida do ser humano, em razão de que ele afeta
diretamente no estado emocional e psicológico, na saúde, bem estar e desenvolvimento pessoal do indivíduo. Diante
disso, quando observamos a ligação entre o lazer e trabalho nos dias atuais, se torna gradativamente mais perceptível
que os trabalhadores formais têm direcionado um grande espaço da sua vida em atividades profissionais, e com isso,
a frequência e qualidade do lazer dos mesmos apresenta uma redução significativa. O presente trabalho tem como
objetivo verificar de maneira mais aprofundada o modelo de vida que trabalhadores formais têm levado após terem
ingressado no mercado de trabalho, sendo levantadas as interferências obrigatórias que vem afetando diretamente na
qualidade e bem-estar dos mesmos, tais quais, a carga horária de trabalho, renda mensal, insatisfação, entre outros
aspectos que têm comprometido e gerado a ausência da prática do lazer na vida destas pessoas, assim como, identificar
a frequência das diferentes atividades de lazer e analisar se esse grupo tem aproveitado de forma satisfatória desse
tempo por meio dos interesses e motivações. Foi utilizada uma metodologia de natureza qualiquantitativa, com
aplicação de formulário virtual com uma amostra de 60 trabalhadores formais que residem na cidade de Natal ou em
sua região metropolitana. Os resultados observados ainda são preliminares, porém, podemos perceber que a maioria
dos participantes da pesquisa compreendem o lazer como uma prática prazerosa, que traz consequências benéficas para
a rotina, como relaxamento e bem-estar. No entanto, os dados obtidos demonstram uma redução do tempo de descanso
e de convívio com familiares e amigos por parte dos respondentes, o que assinala para um cenário preocupante no que
tange às condições para melhoria na qualidade de vida por meio do lazer para esses trabalhadores. Além disso, mesmo
que alguns resultados indiquem que metade dos participantes da pesquisa estão satisfeitos com o trabalho atual,
podemos analisar a partir de alguns levantamentos observatórios que uma parte desses trabalhadores apresentam um
declínio de produtividade na sua vida particular, que, consequentemente gera um comportamento insatisfatório dentro
do ambiente de trabalho.

Palavras-chave: Lazer; Trabalho; Tempo livre; Interesses.

138
A QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS NO MERCADO PÚBLICO DA REDINHA,
NATAL/RN
Akaline de Araújo Bezerril Oliveira (akalinebezerril@hotmail.com)
Jucielio Domingos de Araújo Lima (jucieliodomingos@gmail.com)
Janaina Mikarla Dantas da Costa (janainamicarla@uern.br)

RESUMO
No mercado competitivo atual, para que as organizações consigam sobreviver e se destacarem se faz necessário que
sejam criadas novas estratégias de gestão para que assim, possam oferecer serviços de qualidade. E mensurar a
qualidade dos serviços prestados no turismo é algo desafiador, haja vista que, os turistas se relacionam com múltiplos
atores que trabalham no setor turístico. Nos serviços turísticos a qualidade é item primordial, já que o serviço é
consumido in loco e não pode ser estocado, exigindo assim, que os serviços oferecidos aos turistas tenham o mais alto
nível de qualidade. O presente trabalho foi elaborado através de revisões de literaturas sobre o tema em questão, e
neste âmbito, teve como objetivo geral analisar a qualidade dos serviços prestados no Mercado Público da Redinha.

Palavras-chave: Turismo; Qualidade; Serviços.

139
O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR TURÍSTICO NO SEGMENTO DE TURISMO DE
BEM-ESTAR

Islaine Cristiane O. G. S. Cavalcanti (islaine_cristiane@hotmail.com)


Lissa Valéria Fernandes Ferreira (lissaferreira.iadb@yahoo.es)

RESUMO

A experiência ao realizar uma viagem ocasiona o conhecimento de novas culturas e proporciona emoções/sensações
distintas. Isso porque pode haver um contexto emocional, uma razão mais forte para a realização de determinada
viagem. Entender as motivações que levam os turistas a optarem por determinado segmento se faz necessário. O estudo
em andamento tem como foco analisar o segmento do turismo de bem-estar, que faz parte do subproduto do turismo
de saúde, assim como o turismo médico (Silva, 2016; Viegas Fernandes & Viegas Fernandes, 2011; 2008), tendo como
objetivo avaliar o comportamento dos consumidores desse segmento no Brasil. Para fins metodológicos a pesquisa se
caracterizará como qualitativa e quantitativa, fazendo uso de pesquisas em livros e artigos, intencional, por
conveniência, não probabilístico. Será elencado como base metodológica: 1) As três dimensões citadas por Chi, Chi e
Ouyang (2020): bem-estar ambiental, bem-estar físico e bem-estar mental para construção do questionário de pesquisa;
2) as variáveis do campo de análise TEMA - Tempo, Espaço, Motivação e Atividades de Campodónico e Challar (2017) e
3) as variáveis mencionadas por Chebli e Said (2020): intenção, segurança pessoal, gasto econômico, convicção e atitude.
A técnica a ser utilizada será a de análise de conteúdo, conforme Bardin (1977), utilizando a teoria fenomenológica como
base (Panosso Netto & Nechar, 2014). Como programas para tratamento dos dados serão utilizados dois: o Iramuteq,
versão 0.7 alpha 2 para os dados qualitativos e o SPSS para os dados quantitativos. Como resultados espera-se
contribuir para o avanço da pesquisa na área de turismo de bem-estar trazendo informações sobre o perfil,
características e as motivações dos consumidores para esse segmento. Pretende-se assim avaliar o crescimento do
segmento no Brasil e como o impacto da pandemia pode estar motivando os turistas a optarem por experiências que
proporcionem momentos de relaxamento, influenciando assim a escolha por empreendimentos e/ou destinos que
tenham esse tipo de serviço.

Palavras-chave: Turismo de bem-estar; Comportamento do Consumidor; Saúde.

140
SERÁ QUE VAI DAR PRAIA? PERCEPÇÕES E EXPERIÊNCIAS DE PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA COM RELAÇÃO A ACESSIBILIDADE NO TURISMO EM DESTINOS COSTEIROS

Suellen Alice Lamas (suellen.lamas@cefet-rj.br)


Sérgio Marques (junior sergio@ct.ufrn.br)

RESUMO

No escopo do turismo nacional, o segmento de “Turismo de Sol e Praia” se destaca nas motivações das viagens a lazer
no Brasil. Similarmente, as praias compõem as motivações das viagens e influenciam a escolha dos destinos por parte
das pessoas com deficiência, constituindo-se, portanto, como tema das solicitações e sugestões de melhorias desses
turistas no que diz respeito a inacessibilidade desses espaços. Dada a relevância desse segmento turístico e a
predisposição desse público para a prática turística quando criadas as condições necessárias, o presente artigo reflete
se o direito ao lazer e ao turismo são assegurados às pessoas com deficiência ou são práticas excludentes que
privilegiam determinados grupos sociais. Para tanto, buscou-se investigar as percepções e experiências dessas pessoas
com relação à acessibilidade no turismo em destinos costeiros. O arcabouço metodológico envolveu pesquisas
bibliográficas, documental e de campo, com a aplicação de um questionário on-line como instrumento de levantamento
de dados. Os resultados gerados permitem delinear, a partir da amostra pesquisada, o perfil, os hábitos, as percepções
e as experiências desses visitantes; sinalizam as melhorias que se fazem necessárias para a fruição da prática turística
por esse público específico, que representa uma demanda turística real e com potencial de expansão; e parecem
demonstrar, ainda, que o desafio para se promover a inclusão social por meio do turismo, está relacionado à
incorporação de todas as dimensões do compromisso de acessibilidade à prática turística. Tais informações sobre o
conhecimento do perfil de turistas com deficiência e a verificação da situação do turismo no âmbito da acessibilidade,
podem contribuir com a sensibilização e conscientização de gestores públicos e privados do turismo. Nesse sentido, se
o “Turismo de Sol e Praia” não pode ser considerado totalmente excludente, por outro lado não é possível garantir
efetivamente que “vai dar praia”, é preciso avançar nos aspectos de autonomia e segurança.

Palavras-chave: Percepções; Experiências; Acessibilidade; Turismo; Destinos Costeiros.

141
VISITAÇÃO AO CAMPUS DO GUAMÁ/UFPA: UNIVERSIDADE E SOCIEDADE EM CONTEXTO
DE PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES
Glaucelio Serrão Abreu Junior (gluau.celio17@gmail.com)
João Marcos Nascimento Nobre (joaomarcosnobre33@gmail.com)
Luciana de Nazaré Lima Monteiro (lulucamonteiro16@gmail.com)
José Lúcio Bentes do Nascimento (lbentes@ufpa.br)

RESUMO
O projeto de extensão “Visitação ao campus universitário do Guamá Belém/PA: Universidade e sociedade em contexto
de práticas interdisciplinares - (VC)”, é uma continuação da primeira versão do projeto de extensão Visitação ao Campus
Universitário do Guamá, iniciado ainda no ano de 2007 e, em 2016, diante do reconhecimento de sua atuação
interdisciplinar/inclusiva, no âmbito da Universidade passa a ser um Programa de Extensão, desta feita, denominado
“Visita Campus: turismo e educação na Região Metropolitana de Belém (RMB). O presente artigo tem como objetivo
responder à pergunta: Qual a importância do projeto VC para os estudantes das escolas participantes? E apresenta um
breve histórico do VC e sua influência no contexto da socialização de conhecimento a respeito do papel da Universidade
e suas várias áreas de atuação em prol da formação acadêmica e profissional junto àqueles que a procuram. A
metodologia foi constituída por meio de levantamento bibliográfico e documental, além de aplicação de questionário
junto aos estudantes selecionados das escolas atendidas no período de agosto de 2018 a junho de 2019. O VC tem
ampliado as ações na perspectiva de proporcionar a troca de experiências educativas e turísticas entre os alunos do
ensino médio com os acadêmicos da UFPA, em um processo educativo cumulativo e de reconhecimento democrático e
inclusivo das diferenças entre esses diversos saberes. Além disso, inclui no atendimento outras instituições de ensino
e pesquisa, empresas e demais setores interessados em conhecer o Campus Universitário do Guamá/UFPA. O VC foi
bem apreciado pela maioria dos estudantes participantes, pois ampliou o entendimento acerca das opções de formação
profissional, além de proporcionar experiência acolhedora da comunidade estudantil, na maior Universidade Pública da
Amazônia.

Palavras-chave: Educação; Hospitalidade; Turismo; interdisciplinaridade.

142
GT 3 – TURISMO, GASTRONOMIA E TERRITÓRIO
DIA 18/05 – 14h as 18h

143
Resumos Expandidos
ALIMENTAÇÃO DO POVO PANKARARU: PRATOS UTILIZADOS NOS RITUAIS

Rafael Augusto Batista de Medeiros (rafael.medeiros@cabo.ifpe.edu.br)


Maria do Rozário de Sá (mrs22@discente.ifpe.edu.br)
Gabriel Machado da Silva (gms42@discente.ifpe.edu.br)
Rodrigo Rosseti Veloso (rodrigo.rossetti@cabo.ifpe.edu.br)
Thiago da Câmara Figueiredo (thiago.camara@cabo.ifpe.edu.br)

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios, os seres humanos alimentam-se de várias formas. Sempre procura saciar a fome com
uma alimentação variada e de qualidade. Ao longo dos anos, evoluiu a maneira de se alimentar, buscando uma
alimentação rica em nutrientes porque ela pode ajudar na prevenção de doenças como: hipertensão, obesidade,
diabetes, gastrite e alergias. Criaram-se também pratos mais elaborados e com algumas técnicas que facilitam o seu
preparo. Para o povo Pankararu, a alimentação vai muito além de uma necessidade básica, pois, na sua cultura,
determinados alimentos são oferecidos como forma de agradecimento em rituais religiosos. Existem poucos registros
sobre o hábito alimentar deste povo. Dessa maneira, o objetivo deste trabalho foi documentar a alimentação do povo
Pankararu e preparações utilizadas nos seus rituais.

METODOLOGIA

Realizou-se uma pesquisa na plataforma Google Scholar com o descritor “Povo pankararu” no período de
novembro a dezembro de 2021. Para obtenção de uma base de estudos mais aprofundada na alimentação, foi realizada
uma visita à aldeia Pankararu, no município de Tacaratu, localizada no sertão de Pernambuco, nas proximidades do rio
São Francisco. Nessa aldeia, a senhora Maria Rosa da Conceição foi uma das merendeiras entrevistadas responsável
pela alimentação. Foram realizadas perguntas sobre os pratos e o modo de fazer.

RESULTADOS

O povo Pankararu
Localizada no Sertão de Pernambuco entre as cidades de Petrolândia, Itaparica e Tacaratu, estão as terras do
grupo indígena Pankararu, que foram homologadas no ano de 1987 com a extensão de 8.377.281 ha. Atualmente sua
população é de 5217 índios distribuídos em duas classificações: os Troncos e as Aldeias, sendo a primeira relacionada
a organizações das famílias clássicas, em que se dividem em famílias antigas e famílias recentes; a segunda está ligada
a uma organização espacial das casas, que estão agrupadas de forma circular, que são grupos de casas da mesma
família ou agrupadas em uma linha reta por casas que estão uma do lado da outra nas extensões das vias internas que
dão acesso à área indígena.

144
Os Pankararu obtêm seu sustento por meio do trabalho na roça, onde cultivam pinha, manga, melancia,
macaxeira, mandioca, abóbora, banana, feijão verde, maxixe, quiabo, goiaba, mamão, caju, ouricuri, castanha, imbu,
cajá e milho. A alimentação do povo Pankararu é baseada na caça, na pesca e nos alimentos colhidos da roça, presentes
nos pratos feitos na aldeia.

Alguns pratos consumidos pelos Pankararu

BEIJU
Ingredientes: Mandioca ralada, coco ralado, ouricuri triturado e sal
Modo de preparo: Misture os ingredientes em uma tigela. Aqueça o forno de lenha. Forre folhas de bananeiras no forno.
Ponha a massa em cima. Deixe endurecer a massa, cubra com as folhas de bananeira e vire para assar o outro lado.

QUIXIBA
Ingredientes: Mandioca ralada, cebola, alho, pimenta do reino, sal, coentro verde e cebolinha.
Modo de Preparo: Esprema a água da mandioca em uma panela de barro. Coloque sal. Corte o alho, a cebola e o coentro
verde. Adicione a pimenta do reino e leve ao fogo para engrossar o caldo.

MUNGUNZÁ
Ingredientes: Milho seco, feijão carioca, água, bucho de boi, tripa de boi, tempero, alho, cebola, pimentão e cheiro verde.
Modo de Preparo: Coloque o milho seco na água, deixe passar um tempo de molho, coe a água e leve o milho para o
pilão até soltar a casca do milho. Coloque uma panela com bastante água, leve o milho junto com o feijão para cozinhar;
corte o bucho de boi, as tripas em pedaços pequenos e adicione na panela. Após o cozimento, adicione os temperos,
alho, cebola, pimentão e cheiro verde.

UMBUZADA
Ingredientes: Umbu, leite de vaca, açúcar
Modo de Preparo: Coloque bastante água em uma panela, e adicione os umbus já lavados, leve para o fogo até cozinhá-
los; escorra a água e adicione o leite, o açúcar e misture tudo.

CALDO DE MOCOTÓ
Ingredientes: Patas de boi, água, sal, alho, cebola, pimentão e cheiro verde.
Modo de Preparo: Corte os pedaços do mocotó, leve ao fogo para cozinhar em uma panela de barro com bastante água
e sal. após o cozimento, adicione os temperos, alho, cebola, pimentão e cheiro verde.

145
QUIBEBE
Ingredientes: Macaxeira, sal, cebola, alho, pimentão, cheiro verde e açafrão
Modo de preparo: Descasque as macaxeiras e corte em pedaços pequenos e coloque em uma panela com bastante água
e leve ao fogo para cozinhar com um pouco de sal e o açafrão, ao cozinhar, adicione cebola picada, alho, pimentão, e o
cheiro verde.

PIRÃO DE CABEÇA DE BOI


Ingredientes: Uma cabeça de boi, sal, pimenta do reino, cebola, alho, pimenta de cheiro e coentro verde.
Modo de preparo: Corte a cabeça de boi em pedaços pequenos, escalde com água e sal. Coloque bastante água na panela
de barro e leve ao fogo de lenha, adicione os pedaços da cabeça de boi e cozinhe até amolecer a carne. Após o cozimento
tempere com a pimenta do reino, cebola, alho, pimenta de cheiro e coentro verde. Separe a carne; com o caldo ainda na
panela, comece adicionar farinha de mandioca até engrossar e ficar no ponto de um mingau duro. Servir com arroz
branco e a carne da cabeça de boi. A figura 1 demonstra a preparação do pirão de cabeça de boi.

Figura 1 - Preparando o pirão de cabeça de boi


Fonte: Luana Barbosa, Índia Pankararu. 2021.

Preparações usadas nos rituais Pankararu


É tradição dos Pankararu servir pirão de cabeça de boi, peixe, carneiro, carne de boi, em seus rituais do
Menino do Rancho. Tradicionalmente, os rituais da aldeia indígena Pankararu trazem em seu misticismo vários símbolos
que representam suas crenças e origens. A maioria dos rituais são agregados a pratos típicos da culinária indígena em
forma de oferenda aos encantados ou mestres guias.
Esses encantos são escolhidos através de sementes conservadas e plantadas a cada índio designado a ficar
responsável por determinada árvore que representa um encantado. Segundo a tradição, os índios fazem promessas de
cura aos encantados. Para cada graça alcançada, fazem uma oferenda com comidas indígenas. São conhecidos os rituais
do Menino do Rancho, Dança das Três Rodas e a Corrida do Imbu.

MENINO DO RANCHO

146
Na Festa do Menino do Rancho são servidas comidas nos três períodos do dia. No café da manhã são servidos
pirão de buchada, arroz branco, tripas e buchos. No almoço, servem pirão de cabeça de boi ou de carne de boi, arroz
branco e verduras cortadas. As comidas são servidas em Pratos de Barros e não são usados talheres.
No jantar são levados os pratos para servir de oferenda aos mestres guias como forma de agradecimento. O
responsável pelo encantado incorpora a entidade e faz o procedimento de cura para as pessoas presentes no ritual.

CORRIDA DE UMBU
Nos rituais da Corrida de Umbu, as oferendas são frutas colocadas em grandes cestos, conforme é mostrada
na figura 2.

Figura 2 - Preparação das cestas de frutas


Fonte: Luana Barbosa, Índia Pankararu. 2021.

Nesse ritual é comemorado o primeiro umbu encontrado nos pés de umbuzeiros da Aldeia. Os índios que
participam desse ritual são denominados de dançadores, eles vestem a praiá feita a partir da palha de caroá e vão
dançar embaixo do pé de Umbu. Esse Ritual representa o tempo de Purificação, Renovação e Inspiração para o Novo
Ano. Durante todo o dia, os cestos das oferendas são distribuídos aos índios que participaram das danças dos Toré
(Figura 3).

147
Figura 3 - Celebração do ritual
Fonte: Luana Barbosa, Índia Pankararu. 2021.

Nas festividades dos rituais, é liberada a participação de visitantes e convidados para fazerem parte das
comemorações. Existem muitos relatos de curas através de promessas feitas aos mestres guias, a força encantada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando em considerações as suas tradições e crenças religiosas, os Pankararu mantêm os rituais, Danças do
Toré, rezas e curas até os dias de hoje. Nos hábitos alimentares foi conservada a produção de pratos tradicionais,
principalmente nos rituais, mas também se alimentam de produtos industrializados.
Foi observado que a alimentação foi usada nos rituais como forma de agradecimento aos mestres encantados,
a manutenção destes rituais é uma das características da preservação da identidade do povo Pankararu.

PALAVRAS-CHAVE

Indígena; alimento; ritual.

REFERÊNCIAS

Albuquerque, Marcos Alexandre. A intenção Pankararu: a “dança dos praiás" como tradução intercultural
na cidade de São Paulo. UFRGS. Disponível
em:https://seer.ufrgs.br/iluminuras/article/download/72881/41214+&cd=11&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br. Acesso em:
17, Jan. 2022.

ARRUTI, José. Pankararu. Povos indígenas no Brasil, 2005. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:
Pankararu. Acesso em: 29, Nov. 2021.

Caroá. Cerratinga – Produção Sustentável e Consumo Consciente. Disponível em:


https://www.cerratinga.org.br/especies/caroa/. Acesso em: 17, Jan. 2022.

O ritual Toré. O Comitê da Bacia do Rio São Francisco. Disponível


em:https://cbhsaofrancisco.org.br/noticias/cultura_blog/o-ritual-tore/. Acesso em: 17, Jan. 2022.

Pankararu. Universidade Federal de Pernambuco. Disponível em: https://www.ufpe.br/nepe/povos-


indigenas/pankararu. Acesso em: 29, Nov. 2021.

148
GASTRONOMIA E LITERATURA: A ANÁLISE DA SIMBOLOGIA DO ALIMENTO E A
PERSPECTIVA DE COMENSALIDADE NO CONTO “A REPARTIÇÃO DOS PÃES”, DE CLARICE
LISPECTOR

Danielly Souza Correia (dsc5@discente.ifpe.edu.br)


Rafael Augusto Batista de Medeiros (rafael.medeiros@cabo.ifpe.edu.br)
Rodrigo Rosseti Veloso (rodrigo.rossetti@cabo.ifpe.edu.br)
Thiago da Câmara Figueiredo (thiago.camara@cabo.ifpe.edu.br)

INTRODUÇÃO

Para Walter Benjamin (1994), a contemporaneidade – século XX – se encontra empobrecida de experiência.


Este diagnóstico da modernidade completamente tomada pela apatia e pelo egoísmo encontra respaldo nos convivas do
“almoço de obrigação” (LISPECTOR, 2016, p.280) do conto “A repartição dos pães”, de Clarice Lispector. É por isso que
este trabalho pretende investigar como o ato de compartilhar o alimento, da comunhão da ceia, pode ajudar a construir
experiências de sociabilidade.
Esta obra clariciana, assim como outras, foca na introspecção ou, utilizando o conceito defendido por Benedito
Nunes (1989), é caracterizada por uma “tensão conflitiva” (NUNES, 1989, p.79). Esta tensão quase sempre resulta da
interação dos personagens com seu entorno. Ou seja, está ligada a algum acontecimento envolvendo outros
personagens, objetos e coisas e, também, à realidade ali presente (NUNES, 1989). Sendo assim, pretende-se aqui
analisar como esta tensão ocorre neste conto, e quais transformações desdobram-se depois disso.
Para complementar, vale ressaltar que este trabalho propõe estudar a relação da comida como a metáfora
que provoca esta epifania no conto. Traz-se, assim, a questão da arte culinária como uma espécie de símbolo do prazer
capaz de produzir união entre as pessoas, isto é, agindo como um instrumento de reconciliação do indivíduo com a sua
humanidade. Segundo Leonardo Boff (2008), no passado, “... a comensalidade que supõe a solidariedade e cooperação
de uns para com os outros, permitiu o primeiro salto da animalidade em direção da humanidade” (BOFF, 2008, p.1).
Portanto, investigaremos aqui se essa comensalidade em volta da comida, que foi responsável por nos tornar humanos
um dia, poderá ser a chave para nos conectar de novo com a nossa humanidade.
Para isso, têm-se como referencial teórico base para esta investigação o estudo teológico da comensalidade,
a perspectiva simmeliana da sociabilidade e os apontamentos antropológicos e filosóficos acerca do individualismo na
modernidade, como enfoque principal deste trabalho.

METODOLOGIA

Para a elaboração desta presente pesquisa, foram realizadas diversas consultas bibliográficas em livros,
artigos e revistas com temas relacionados ao estudo da literatura, gastronomia, sociologia, antropologia e filosofia. Em

149
todas as referências buscamos construir uma relação entre a gastronomia, mais precisamente, a simbologia do alimento
e os conceitos de individualismo, comensalidade, sociabilidade e comunhão.
No que tange ao referencial teórico, cabe ressaltar que, o trabalho foi organizado de acordo com os
paradigmas e conceitos que orientam e fundamentam essa análise realizada. Cada ponto levantado na pesquisa seguiu
precisamente o que estava posto nas orientações teóricas. Mantendo, assim, as perspectivas fundamentais dos autores
citados.

RESULTADOS

A autossuficiência dos convivas


Logo nas primeiras linhas do conto, “A repartição dos pães” – título provocativo e que nos remete
imediatamente à simbologia particular do alimento nos textos bíblicos – percebemos a insatisfação dos convidados por
estarem obrigados a participar daquele encontro: “... cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com
quem não queríamos” (LISPECTOR, 2016, p. 280). Dito isso, é de extrema importância destacar a ironia do hipotexto
bíblico. Pois, contrariamente aos episódios relacionados à refeição descritos nos textos sagrados, em que o alimento
estabelece uma conexão espiritual entre as pessoas, na obra clariciana, fica evidente a incapacidade de compartilhar,
de estar, de experienciar dos convidados ali presente.
Em outras palavras, aquele sábado tornava-se um empecilho ao desejo de felicidade deles. E,
consequentemente, impedia que cada um deles aproveitasse o seu sábado como bem quisesse. Crescia, assim, um
sentimento de ressentimento e desprezo entre todos. Incapacitados de viver a realidade na sua totalidade ou, como
bem disse Dumont (1985), completamente alheios ao seu mundo, os indivíduos modernos personificados nos convidados
encontravam-se prisioneiros da objetividade e da racionalidade.
Walter Benjamin (1994), em seu ensaio sobre “Pobreza e experiência”, afirmou que vivemos na supremacia
da “época de vidro” (BENJAMIN, 1994, p 129.). O autor utilizou-se dessa metáfora para comparar a modernidade a um
material inexprimível e, deste modo, justificar a atual indiferença da humanidade empobrecida de experiência. Em
decorrência disso, para Benjamin, tornamo-nos indivíduos cada vez mais solitários e entediados. Assim como os
convidados no conto de Clarice Lispector.
Sendo assim, é relevante trazer para a discussão a noção de autossuficiência como marca do indivíduo
moderno, solitário, apático, entediado, porque reforça a nossa existência capturada pela lógica individualista. Para
Dumont (1985), o sujeito moderno é um tipo de renunciante, um sujeito que só se preocupa consigo mesmo. E, logo,
concluímos que não é possível conceber a noção de comunhão na época da supremacia individualista.
É exatamente por essa razão que a ideia de comensalidade e comunhão é completamente inexistente no início
do conto de Clarice. Como podemos perceber nas linhas seguintes: “Quanto a meu sábado [...] eu preferia, a gastá-lo
mal, fechá-lo na mão dura, onde eu o amarfanhava como a um lenço” (LISPECTOR, 2016, p. 280).

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A suposta alegria que poderia resultar de um encontro, um almoço para celebrar em comunidade, partilhando
o sábado em todos os seus instantes, transformava-se em revolta contida, insulto. Todos ali presentes, e ausentes ao
mesmo tempo, passavam, então, a celebrar, na falta de união e amor, o ódio e o ressentimento. Pois “a autossuficiência
não cria comunidade” (SCHAPER, 2011, p.272).

A mesa como lugar de comunhão


Leonardo Boff, em “Comensalidade: refazer a humanidade”, apresenta-nos a mesa como mais do que um
objeto, um símbolo de experiência existencial, uma espécie de rito. “Ela representa o lugar privilegiado da família, da
comunhão e da irmandade” (BOFF, 2008, p.1). É neste espaço, em volta deste objeto ritualístico que, segundo o autor,
acontece a partilha e, com isso, a comunicação da alegria em estar junto.
A importância deste objeto também se faz presente no conto de Clarice Lispector. A cozinheira, novo
personagem que surge na narrativa, preparou o banquete, a ceia, pôs à mesa e, por conseguinte, o mundo transformou-
se. Acontece então uma espécie de ruptura. A mesa representando uma suspensão dos sentimentos ordinários, ínfimos
e mesquinhos. Em termos literários, a tensão conflitiva – traço característico do estilo literário de Clarice Lispector –
cumpre-se.
A cozinheira, que falaremos mais a respeito posteriormente, opera uma transformação em todos os sentidos.
E tal qual foi a surpresa dos convidados com o que estava posto. “Era uma mesa para homens de boa vontade [...] e
constrangidos, olhávamos” (LISPECTOR, 2016, p.281). A vida diante dos seus olhos se renovando em texturas, cores e
gostos: “As mais roxas das uvas pretas e que mal podiam esperar pelo instante de serem esmagadas. E não lhes
importava esmagadas por quem. Os tomates eram redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar” (LISPECTOR,
2016, p.281).
É na mesa que, simbolicamente, acontece a ressurreição. Os personagens, que no texto, poderiam facilmente
ser identificados por seu egoísmo e recusa; indivíduos modernos que só se preocupavam consigo mesmos. Graças ao
prazer despertado pelo alimento, enfim, celebravam em comunhão o sábado, o pão. “Em nome de nada, era hora de
comer. Em nome de ninguém, era bom. Sem nenhum sonho. E nós pouco a pouco a par do dia, pouco a pouco
anonimizados [...] como fidalgos camponeses, aceitamos a mesa.” (LISPECTOR, 2016, p. 282).
Antes da mesa, as personagens não interagiam, não se relacionavam, “obrigados a pousar entre estranhos”
(LISPECTOR, 2016, p. 280), não desejavam a ninguém. No entanto, sabemos que a interação, o estar com o outro é fator
determinante para que aconteça a sociabilidade. Segundo Simmel (2004), em “Sociologia da refeição”, a sociedade não
pode ser exterior aos indivíduos, pelo contrário, ela surge da interação entre eles. E naquele momento, na narrativa,
os laços sociais se refaziam. O alimento servido na mesa aparece, então, como símbolo dessa força socializadora. Enfim,
come-se sem ressentimento, come-se com fome e prazer, come-se em comunhão com os outros, com as coisas, com a
vida.

151
O feitiço da cozinheira
Enquanto todos os personagens economizavam o sábado, recusavam-se em reparti-lo, adiavam para o futuro
a realização do desejo. A dona da casa, muito ao contrário, queria desfrutar do seu sábado intensamente, e mais do que
reparti-lo, a generosidade da cozinheira que “não se impacientava sequer com o grupo heterogêneo, sonhador e
resignado” (LISPECTOR, 2016, p. 280.) evocava o amor, a vida, a sociabilidade, enfim, a comunhão.
A cozinheira dava o seu melhor, não importava a quem. Através da arte culinária, despertava o prazer. A
cozinheira é, neste conto, uma fazedora de magia. E isto se confirma no encanto produzido pelos pratos, pela comida
servida e saboreada pelos seus convivas. O seu trabalho, a materialização de um rito antigo, sagrado, traz novamente
a presença do subtexto bíblico no conto: “e lavava contente os pés do primeiro estrangeiro” (LISPECTOR, 2016, p. 281).
Pois ela recebia sem fazer distinção alguma. O seu desejo era repartir o pão. E o seu feitiço: a transformação do desejo
do outro, antes impregnado de individualidade, completamente apático, sem possibilidade de redenção. Agora restituído
através daquele ato concreto, simbolicamente representado pelo banquete oferecido.
A atitude da cozinheira lembra o mito grego de Tântalo, que tentou reinstaurar uma comensalidade perdida,
trazendo para a humanidade os alimentos exclusivamente divinos, cuja simples ingestão tornava um mortal semelhante
aos deuses (CARNEIRO, 2003, p.90). Através desse mito, podemos perceber a evolução da concepção do alimento de
mera atribuição à sobrevivência, à elevação por meio da sacralização, do rito, ocasionando, assim, uma transformação
social, ou melhor, uma transmutação humana em divina (CARNEIRO, 2003). No mito grego existe o desejo de participar
da comensalidade com os deuses. No conto de Lispector, esse desejo torna-se real. O almoço de sábado aparece como
repetição da santa ceia, uma representação da aliança do humano com o divino a partir da comensalidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na ceia oferecida no conto de Lispector, podemos perceber o simbolismo de um rito de passagem, uma
representação da ressurreição. É que a oferenda, a ceia, suspende as coisas ordinárias e substitui o objeto do desejo
individualista, dando lugar a uma nova experiência de se sentir vivo, que não àquela mesquinha, que preferia
“amarfanhar como a um lenço” o seu sábado a reparti-lo.
E a repartição dos pães se anuncia então como metáfora dessa transformação dos desejos. Visto que, a ceia,
como epifania clariciana, transcende o simples ato de comer e configura-se em possibilidade de experiência.
Clarice Lispector utilizou como inspiração as cerimônias bíblicas relacionadas à comida para desenvolver a
sua narrativa. E não por acaso. O seu interesse é escancarar a dessacralização da ceia, quando expõe a obrigação social
da convivialidade. O individualismo, o narcisismo, a apatia dos convidados são completamente contrários à comunhão
que a ceia, no sentido religioso, evoca.
Mas a autora dessacraliza também a própria redenção. Pois o prazer surge como a materialização da
comunhão. E esse é o grande escândalo. Clarice Lispector nos mostra que é através do prazer que recuperaremos o

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outro perdido em nós. O prazer dos gostos, do paladar, da fome. O prazer humano e terreno. “Mas teu prazer entende
o meu. Nós somos fortes e nós comemos. Pão é amor entre estranhos.” (LISPECTOR, 2016, p.283).

PALAVRAS-CHAVE

Leitura; comensalidade; conto literário; comida.

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. Pobreza e experiência. In: Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da
cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BOFF, Leonardo. Comensalidade: refazer a humanidade. Disponível em: https://www.alainet.org/pt/articulo/127031,


2008.

CARNEIRO, Henrique S. Comida e Sociedade: uma história da alimentação. Rio de Janeiro: Campus, 2003, p. 89-95.

DUMONT, Louis. O Individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna. Rio de Janeiro, Rocco, 1985.

LISPECTOR, Clarice. A Repartição dos Pães. In: Todos os Contos: Clarice Lispector; Org.: Benjamin Moser. 1ª Ed. Rio de
Janeiro, Rocco, 2016, p. 280-283.

NUNES, Benedito. A forma do conto. In: O Drama da Linguagem: uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Ática, 1989,
p. 83-95.

SCHAPER, Valério Guilherme. Koinonia: a força profanadora da comunhão. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 51, n. 2,
p. 261 – 274, dez. 2011.

SIMMEL, G. Sociologia da refeição. Estudos Históricos, 33: Rio de Janeiro, 2004.

153
INOVAÇÃO NA CONFEITARIA TRADICIONAL PERNAMBUCANA NO SEGMENTO BOLO DE
ROLO PARA CASAMENTO

Betânia Aragão Rodrigues (bar@discente.ifpe.edu.br)


Jouberte Maria Leandro dos Santos (jouberte.santos@cabo.ifpe.edu.br)
Eron Ferreira Campos da Silva (eron.ferreira@cabo.ifpe.edu.br)
Adriana de Fátima Valente Bastos (adrivbastos@gmail.com)

INTRODUÇÃO

A confeitaria é uma especialidade da gastronomia baseada no preparo e decoração de bolo, tortas e doces
que está sempre em crescente, com aplicação de técnicas inovadoras e utilização de produtos regionais, valorizando a
cultura e a história de um povo.
Quando se estuda a confeitaria pernambucana, é possível observar a forte influência tanto dos colonizadores
portugueses como da economia que foi base para o Brasil durante muitos anos, a economia açucareira (NUNES e
ZEGARRA, 2014). Esta confeitaria é caracterizada por valorizar e resgatar tradições alimentares de gerações por meio
de receituário familiar com insumos da região, com destaque o açúcar. Como um símbolo de status, os bolos podem
receber nomes de personagens, lugares, famílias e até datas comemorativas.
Uma receita que ganhou bastante destaque dentro do mundo da gastronomia pernambucana, o bolo de Rolo,
é uma sobremesa típica do estado de Pernambuco, considerado Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de acordo com
a Lei N° 13.436, de 24 de Abril de 2008 (PE, 2008), presente nos mercados públicos, padarias delicatessen e shopping
center para venda, o bolo tornou-se um artigo de presente, encontra-se o bolo de rolo em ponto estratégico como
aeroportos, rodoviárias e locais turísticos, com aplicação de novas técnicas o bolo de rolo atinge mais um patamar,
sendo destaque em cerimônias requintadas e comemorações como festas de casamento, batismo e
aniversário.
O bolo de rolo tem a flexibilidade de inovar, preservando a característica original no sabor. Sua receita
original é com camadas finas de massa amanteigada, contendo nesta massa o trigo tipo 1, ovos, manteiga e açúcar
refinado, o recheio de goiabada. A inovação veio para agregar mais valor a essa iguaria.
Nesse contexto, entende-se que é inegável a importância da inovação na confeitaria Pernambucana e a
aceitação do público no seguimento bolo de rolo para casamento, inovando a técnica de influência Europeia e fazendo
uso da diversidade presente de frutos da região Nordeste Brasileiro, e dando um novo formato ao bolo de rolo, este
ícone da tradição do Estado.
Diante deste panorama, o presente trabalho tem o objetivo de identificar a inovação aplicada no processo de
produção do bolo de rolo, através de um estudo de caso com uma conceituada confeiteira pernambucana.

METODOLOGIA

154
O presente trata-se de uma pesquisa qualitativa, pois busca analisar uma determinada situação de maneira
mais aprofundada (YIN, 2016), neste caso explanar a inovação dentro da confeitaria tradicional, a fim de esclarecer os
objetivos buscados através da interpretação no meio que é inserido.
Esta pesquisa qualitativa se deu por meio de um estudo de caso, método de abordagem para realização de
pesquisa sobre uma temática específica, a fim de proporcionar uma maior compreensão acerca do objeto analisado. Tem
como base estudos teóricos com o objetivo de examinar fenômenos atuais dentro do contexto da vida real, assim como
oferecer base para novas pesquisas na área.
Na operacionalização do estudo, foi realizada uma entrevista online com uma confeiteira pernambucana, de
Recife/PE, através de uma plataforma digital do Google, o Google Meet, no dia 21 de julho de 2021, em uma quarta-feira
às 18:58 com duração de uma hora aproximadamente, o material foi gravado e transcrito. Durante a entrevista foram
coletadas informações sobre a sua atuação na inovação da confeitaria tradicional, mais especificamente no bolo de rolo.
Sendo esta escolhida para este trabalho de acordo com o critério de julgamento pela sua capacidade de aplicar a
inovação em um produto tradicional e ser destaque na produção do Naked Cake de Bolo de Rolo para casamento.
A entrevista foi baseada em um roteiro semiestruturado contendo algumas perguntas como: “O que você
entende por inovação? De que forma você aplica nos seus produtos?”, “Qual o público-alvo?” e “Qual a missão da
empresa?”, sendo estas necessárias para construção desse trabalho. Após a coleta das informações foi realizada a
análise de conteúdo da entrevista a partir da lente da inovação.

RESULTADOS

Inicialmente para melhor compreender o que é inovação, como ela atua, a inovação dentro da gastronomia
com foco na confeitaria e sua evolução, foi realizada inúmeras pesquisas tanto em artigos acadêmicos como em sites,
com objetivo de se obter referencial teórico, verificação das seções de metodologias, para assim assimilá-las e
posteriormente executar a construção deste trabalho
Foi possível identificar nas respostas adquiridas através da confeiteira, que o caminho percorrido por ela
iniciou de forma modesta e a partir de observações em relação a escassez do mercado e adaptação do seu produto para
este, pode criar algo revolucionário do ponto de vista da confeitaria tradicional como explica Simantob e Lippi sobre o
processo de inovação de um produto (JUNIOR, 2020).
Já para compreender em que tipo de inovação o Naked Cake de Bolo de Rolo se encaixa foi utilizado a teoria
de autor Luecke (BENEDETTI, ,2003), este autor defende em sua teoria dois tipos de inovação: a inovação radical e a
inovação incremental. Identificou-se neste negócio, a inovação incremental, onde há uma exploração de processos e
tecnologias, no produto ou serviço já existente e por meio deste a criação de algo inovador, algo explorado pela
confeiteira.

Apresentando o Estudo de Caso

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O estudo é baseado no negócio da confeiteira Dirce Cavalcante, mais conhecida por Dorinha Bolo de Rolo
(segundo ela, este se transformou no seu sobrenome), dona da empresa Dorinha Bolo de Rolo, que tem como principal
produto o Naked Cake de Bolo de Rolo para casamento.
Sendo a Dorinha Bolo de Rolo uma empresa familiar, contendo em seu quadro 7 funcionários, onde 5 são
diretos e 2 indiretos, dentre eles apenas 1 funcionário do gênero masculino. Localizado no Barro, bairro da cidade do
Recife, o pequeno negócio está no mercado há 10 anos, iniciou no ano 2011, com os Bem Juntinhos, assim batizado por
ela, as miniaturas do bolo de rolo, e há 8 anos com o Naked Cake de Bolo de Rolo.
A produção com o Naked Cake de Bolo de Rolo para casamento, foi a pedido de uma noiva que solicitou os
bem juntinhos e o Bolo de Rolo em formato de Naked Cake para ser o bolo do casamento, Dirce achou uma
responsabilidade muito grande, ela falou que foi uma noite de terror pensado, mas a noiva a encorajou dizendo que se
ela conseguia fazer um bolo de dois quilos, faz um de quinze e com três andares. Dirce aceitou o desafio, e assumiu um
compromisso com essa noiva, que enquanto o casamento e a empresa existirem, ela ganharia de presente uma réplica
do seu bolo de casamento todo ano. A partir desse marco Dirce passa a se chamar, Dorinha Bolo de Rolo, sendo destaque
no segmento de bolo para casamento.

Figura 1: Naked Cake de Bolo de Rolo para Casamento

Fonte: Instagram @dorinhaboloderolo

156
A técnica do Naked Cake de Bolo de Rolo, foi desenvolvida pela confeiteira após a realização de um curso de
tortas finas feita no SENAC, onde ela aprendeu a fazer tortas finas com a forma de pizza. Lá a massa era pesada para
ficarem todas com o mesmo peso e foi a partir dessa técnica aplicada no bolo de rolo, que Dorinha transformou a
estrutura das camadas de bolo de rolo, sendo agora em discos (círculo), que quando cortado o bolo, este fica com efeito
das camadas sobrepostas como o Naked Cake, divergindo do Bolo de Rolo tradicional que tem seu formato, como o
próprio nome diz de rolo.
Foram várias tentativas e estudos, até chegar na espessura fina ideal da massa, assim como a quantidade
certa de recheio e a altura desejada. Ela iniciou sua produção com formas de pizza de aro 30cm em seguida comprou o
de 20cm, para presentear as noivas. Mesmo hoje já existindo no mercado a forma redonda para o bolo de rolo, a Dorinha
permanece trabalhando com as formas de pizza, e assim ela ensina no seu curso para suas alunas. Hoje o Naked Cake
de Bolo de Rolo não está apenas em festas de casamento, o bolo se expandiu para outros eventos, como batizados e
aniversários.
Quando perguntado a Dorinha o que ela entende por inovação, e de que forma ela aplica nos produtos, ela
responde que seu Naked Cake de Bolo de Rolo para casamento é uma inovação.

“...bolo de noiva já é uma inovação…, meu pai falou, ‘Mas se você pensar direitinho o bolo de rolo
também foi uma moda, essa moda que você inventou.’... então pra mim o bolo de rolo já foi uma inovação,
o naked para casamento e festas em gerais é uma inovação. Aplico a inovação, por exemplo as rendas
aplicadas no bolo.” (DIRCE, 2021).

Também fala que no período da pandemia quando os eventos pararam, a empresa Dorinha que produzia de
60 a 80 quilos por semana para festas, passou a vender nesse período Bolo de Rolo apenas para lanches, havendo uma
queda brusca, dessa maneira foi necessário que ela lançasse no mercado um outro produto inovador, utilizando mais
uma vez o bolo de rolo, outra técnica consolidada foi aplicada surgindo assim o bolo de rolo xadrez.
A técnica é a mesma do bolo xadrez, usando a forma do bolo xadrez intercalando as massas, sendo uma de
chocolate, outra de massa branca, com recheio de goiabada, houve uma boa aceitação do público para o natal no ano
2020.
Dorinha entra para História de Pernambuco com a utilização da técnica de Naked Cake em Bolo de Rolo, e no
de 2017, entrou para o livro “Mulheres que mudaram a história de Pernambuco”, que está na sua décima terceira Edição,
de Silene Floro. Dois anos consecutivos foi premiada como a melhor empresa de Bolo de Rolo do Estado de Pernambuco
com o prêmio “TOP 25” no ano de 2019. E no ano de 2020 foi eleito como o melhor bolo de rolo de casamento do Estado
de Pernambuco. Dorinha entrou para revista Internacional como Nordestinos em destaque.

O Processo de Inovação do Bolo de Rolo

157
Na condução da pesquisa, foi possível observar que durante a jornada até o desencadeamento do atual
sucesso da Dorinha, foi necessário que ela iniciasse de maneira despretensiosa, modesta visto que por se tratar de um
produto novo era necessário que houvesse uma aceitação do público, quando se observa essa maneira modesta de se
iniciar um negócio é possível identificar a ideia de Simantob e Lippi (2003) acerca de como se dá o processo inicial de
um produto inovador, primeiro de forma modesta para depois alcançar maiores destaques. Mesmo iniciando sua vida
profissional como cerimonialista, é a partir da solicitação de uma cliente, para colocar Bolo de Rolo em sua festa, que a
confeiteira sentiu que havia uma necessidade de iniciar um novo negócio, junto com o fato de já observar que sempre
haviam muitas sobras do tradicional bolo de noiva Pernambucano nas mesas das festas de casamento.
Atendendo as necessidades do mercado, mas que posteriormente se tornou algo revolucionário, do ponto de
vista da inovação dentro da confeitaria, pois a princípio o bolo foi posto discretamente na mesa do digestivo, contudo,
aos poucos foi ganhando maior destaque, ocupando a mesa principal do bolo da noiva, dessa maneira ela eleva a cultura
do povo Pernambucano.

“Trabalhei há trinta anos como cerimonialista, e não entendia por que sobrava tanto bolo de
noiva, já que a trinta anos atrás nas festas simples de casamento só serviam o bolo e o
champagne. Quando a noiva pede o Naked e fica receosa, porque a mãe, a sogra, avós essas
pessoas esperam encontrar o bolo da noiva com ameixa, frutas cristalizadas e vinho, que
também é Pernambucano e faz parte da nossa cultura, então sugiro a ela colocar um andar
deste bolo, e fica tudo certo, a aceitação do Naked bolo de rolo é grande. (DIRCE, 2021)

Também foi possível identificar que para aplicar a inovação em seus produtos a confeiteira utilizou duas
técnicas bem conhecidas, a técnica para a produção de Naked Cakes, sendo está usando formas de pizza para fazer as
camadas da massa, técnica adquirida em um curso para tortas finas, mais as técnicas e ingredientes para a produção
do bolo de rolo, que tradicionalmente é respeitado.
Com isso é possível identificar a ideia de Luecke sobre inovação, mais especificamente a Inovação
Incremental, onde este o conceitual, essa forma de inovação como a criação de um produto novo a partir de outros já
existentes. Logo a utilização das técnicas de bolo de rolo e de Naked Cake, técnicas consolidadas, serviram de base para
a criação de um produto final inovador (BENEDETTI, 2006), dessa maneira o produto final será algo novo dentro do
mercado, logo a criação do Naked Cake de Bolo de Rolo da confeiteira pernambucana Dirce, se deu por meio de uma
inovação incremental.
Com isso há uma clara aceitação do público pela inovação do Bolo de Rolo e substituição do bolo tradicional
de noiva pernambucano em casamento pelo Naked Cake de Bolo de Rolo, além também das premiações recebidas pela
confeiteira.

“Mas era totalmente diferente daquilo que se é servido nos casamentos requintado, realmente
é aceitação, porque eu digo as minhas noivas, alunos, seguidores e te digo, agora 90% dos
convidados hoje nos casamentos e em festa geral, 90% preferem bolo de rolo e 10% gostam
dos dois.” (DIRCE, 2021).

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A grande reprodução desta técnica por outras confeiteiras em todo o país também é uma forma muito
importante de identificar o quão seu produto e sua maneira de empreender é ótimo modelo de negócio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível observar na prática quanto a confeiteira inovou com a criação do Naked Cake de Bolo de Rolo para
casamento, saindo do tradicional bolo de noiva Pernambucano, que contém ameixa, frutas cristalizadas e vinho, para
um produto novo, baseado em duas outras técnicas bem conhecidas dentro da confeitaria.
Quando a confeiteira produz o Naked Cake de Bolo de Rolo em formas de pizza, sendo cada forma pesada
para conter a mesma espessura e peso da massa, essa técnica foi adquirida através de um curso para tortas finas na
instituição Senac.
Para se chegar a um resultado desejado na estrutura do bolo, foram muitas tentativas e horas de estudos,
porque as camadas de massa do Naked Cake são fininhas, diferente da massa das tortas finas que são mais espessas.
Com isso, a partir da análise do caso da confeiteira Dorinha, é possível identificar como seu processo de
construção e desenvolvimento do seu negócio se deu de forma inovadora, desde seu início com um crescimento gradual
e um produto que não existia no mercado, por mais que utilizasse como referência algo que já era bem conhecido, o seu
produto final foi algo nunca visto, foi algo que inovou no ramo da confeitaria e pôr fim a maneira como está se coloca
dentro do mercado, sempre se atualizando, lançando novo produtos, agradando seus clientes.
A confeiteira não só conseguiu identificar dentro do mercado de doces uma escassez que era o bolo de rolo
enquanto bolo destaque do casamento, mas também tratou de ocupar esse espaço e se colocar como destaque neste
ramo, melhorando e eternizando, para aquelas noivas que escolheram o seu produto, uma iguaria tão rica na cultura e
história de um povo.

PALAVRAS-CHAVE

Inovação; Naked Cake; Bolo de Rolo; Confeitaria.

REFERÊNCIAS

ABF (Associação Brasileira de Franchising) [Internet], Micro e Pequenas Empresas Geram 27% do PIB do Brasil,
2014. Disponível em: https://www.abf.com.br/. [Acesso dia 29/05/2021 às 00h00].

BARROS, Waldemira Silva. Relatório de estágio supervisionado obrigatório realizado em uma escola de
gastronomia. 2019. 25 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Gastronomia) - Departamento de Tecnologia
Rural, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2019.

BESSA, Rita Maria Ribeiro. O sujeito discursivo pós-revolução francesa: Antonin Carême. Guavira Letras, v. 11,
n. 21, 2016.

159
BRANSKI, Regina Meyer; FRANCO, Raul Arellano Caldeira; LIMA JUNIOR, Orlando Fontes. Metodologia de estudo de
casos aplicada à logística. In: XXIV ANPET Congresso de Pesquisa e Ensino em Transporte. 2010. p. 2023-10.

BENEDETTI, Mauricio Henrique. A inovação como fator de crescimento de pequenos negócios. XXIV Simpósio de
Gestão da Inovação Tecnológica. Gramado/RS, v. 17, 2006.

CHIBÁS, Felipe Ortiz; PANTALEÓN, Efrain Matamoros; ROCHA, Tatiana Andrade. Gestão da inovação e da
criatividade hoje: apontes e reflexões. Holos, [s.l.], v. 3, p. 15, 2 ago. 2013.

DA SILVA, Maurício Jacques Barbosa. O rolo do bolo de rolo.In: VII Seminário da Associação Nacional Pesquisa Pesquisa
e Pós-Graduação em Turismo - SP. 2010

DE MENEZES BARROS, Cristianne Boulitreau et al. A gastronomia como propulsora da educação cultural: o bolo
de noiva através das boleiras pernambucanas. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 3, p. 14487-14499,
2020.

160
LOCAIS GASTRONÔMICOS E IDENTIDADES CULTURAIS NO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL NAS CIDADES TURÍSTICAS

Ana Cristina Linard Macedo (cristinalinard@hotmail.com)


Milo Andrade da Silva (miloandrade@yahoo.com.br)
Jakson Renner R. Soares (jakson.soares@udc.gal)
Xosé Manuel Santos Solla (xosemanuel.santos@usc.es)

INTRODUÇÃO

Este resumo define lugares gastronômicos e identidades culturais que promovem o desenvolvimento
sustentável das cidades Santiago de Compostela (Galiza-Espanha) e Juazeiro do Norte (Ceará-Brasil) como objeto de
pesquisa do curso de Doutorado em Turismo na Universidade de Santiago de Compostela. Por serem cidades turísticas
que recebem romarias, a identidade cultural surpreendente é a religiosidade, pois atraem peregrinos e turistas
religiosos. Neles, a gastronomia também se apresenta como atração. Em um sentido mais amplo, torna-se uma forma
de identificar pessoas, lugares, relatar o modo de vida de determinada sociedade e sua cultura. Os serviços
gastronômicos nas cidades turísticas contribuem decisivamente para a sustentabilidade do turismo e da própria cidade.
Envolvem atores no processo alimentar e geram sentimentos e sensações, emoções e experiências que fazem o turista
querer voltar.
A pesquisa tem caráter exploratório, descritivo e documental, com perspectiva qualitativa e quantitativa,
fundamentada em dinâmicas teóricas e empíricas de pesquisa. A base teórica será orientada principalmente por
periódicos internacionais, consultadas em bases de dados como Web of Science ou SCOPUS. Sobre o processo de
investigação, serão feitas visitas a locais gastronômicos destinados aos turistas nas duas cidades.
O objetivo é explorar capturar e descrever a gastronomia do local, além da aplicação de entrevistas
semiestruturadas aos visitantes e questionários fechados aos moradores. O tratamento dos dados qualitativos será
realizado através da Análise Sociológica dos Discursos, adaptada à pesquisa em turismo por Soares e Godoi (2017).
Análise de dados quantitativo será realizado com o software SPSS.
Nossas hipóteses de partida são as seguintes: 1. O turismo gera impactos econômicos positivos significativos
no destino, mas também tem impactos negativos, tanto economicamente, socialmente, culturalmente e ambientalmente;
2. Diferentes tipos de turismo geram diferentes tipos de impactos. Do ponto de vista da eficiência de um destino, o que
seria desejável seriam aqueles tipos de turismo com maiores impactos líquidos (ou seja, aqueles cujos impactos
positivos superam em maior medida os impactos negativos); 3. O consumo de produtos locais e gastronomia, produtos
locais e confeccionados com receitas próprias e bens tradicionais contribui para maiores impactos líquidos na economia
local; 4. Quanto maior a demanda por produtos locais e gastronomia, maior a percepção dos benefícios do turismo pelos
moradores locais; 5. Quanto maior a percepção de autenticidade dos produtos e gastronomia locais, maior a satisfação
e fidelização dos turistas.

161
O objetivo geral da pesquisa é, portanto, analisar a importância dos recursos gastronômicos no
comportamento de turistas de cidades patrimoniais em relação à fidelização de visitantes. Essa finalidade está
especificada nos seguintes objetivos específicos: Analisar a importância dos recursos gastronômicos nas motivações
dos turistas; Identificar os recursos gastronômicos que constituem a identidade dos destinos turísticos; Analisar a
satisfação do turista, os seus determinantes, bem como a sua influência no comportamento do turista; Analisar a relação
entre satisfação do turista e lealdade ao destino mediada pelos aspectos gastronômico; Elaboração de tabela
comparativa dos resultados entre os dois destinos em análise.

METODOLOGIA

Diferentes metodologias serão utilizadas para contrastar as hipóteses propostas e atingir os objetivos
planejados.
Em primeiro lugar, revisão da bibliografia mais relevante em relação aos impactos do turismo, tanto positivo
como negativo, procurando evidenciar a importância das motivações, e relacionado a isso, a existência de uma oferta
baseada em produtos locais, nos impactos líquidos do turismo em os destinos.
Em segundo lugar, tentará caracterizar a partir de dados secundários existentes (INE, IGE, CETUR, EMBRATUR
Empresa Brasileira de Turismo, IBGE-Instituto Brasileiro de Estatística, Observatório de Turismo Ceará-Brasil,
Visiteceará-Convention & Visitors Bureau) o mercado de turismo nas duas cidades em comparação, com o objetivo de
mostrar a importância relativa do turismo em cada uma delas. A seguir, caracterização da demanda turística em Santiago
de Compostela e Juazeiro do Norte, levando em consideração variáveis como o tipo de turismo, duração da estadia,
origem dos viajantes, imagem ou motivações dos turistas, entre outras.
Em geral, a satisfação do turista depende de elementos como imagem, qualidade percebida ou expectativas.
Por outro lado, a satisfação determina o gasto, tempo de permanência ou fidelização, entendido como a predisposição
para recomendar e/ou revisitar o destino. Por isso, e por último, neste projeto, realizaremos inquéritos aos visitantes
com o objetivo de analisar a satisfação do turista, os seus antecedentes e as suas consequências.
Neste caso, tentaremos relacionar, entre outros antecedentes, a importância da existência de uma
gastronomia variada e qualidade local com a satisfação do turista e tentaremos contrastar se a hospitalidade dos
residentes é consistente com a hospitalidade detectada pelos visitantes.
Os dados obtidos, tanto dos inquéritos dirigidos aos residentes como aos turistas, serão tratados com recurso
à Programa de computador SPSS. Além disso, e com o objetivo de relacionar diferentes construtos (imagem,
autenticidade, satisfação, lealdade) será realizada uma análise por meio de equações estruturais (SEM).

RESULTADOS

Diferentes estudos têm destacado o potencial do turismo como elemento dinâmico da economia das cidades.
Além disso, o turismo também desempenha um papel importante na conservação e recuperação do patrimônio natural

162
e cultural que atuam como recursos motivadores e conseguem atrair a demanda turística (Landorf, 2009; Robinson &
Picard, 2006). Nos últimos anos, a ênfase começou também a ser colocada nos efeitos negativos do turismo nas cidades,
derivado sobretudo da superlotação e congestionamento do espaço público, termos como "touristificação", mas também
pela baixa qualidade dos empregos gerados, ou pela deterioração dos recursos turísticos (Kozak, 2013; Urry, 1995).
Tendo em conta estas fragilidades e a dicotomia entre os efeitos positivos e negativos do turismo, o ideal seria buscar
um tipo de turismo sustentável no meio urbano.
Entre as novas motivações dos turistas estão a busca e fruição do patrimônio e dos recursos naturais
endógenos aos diversos territórios. Dentro desses recursos, a gastronomia tem se revelado como vitalmente
importante. Embora seja um fenômeno relativamente recente, o turismo gastronômico tem se revelado como fator
determinante na revitalização econômica de muitas regiões (Hall & Mitchel, 2005; Gheorghe, Tudorache & Nistoreanu,
2014). Atualmente, um importante e crescente grupo de turistas busca a autenticidade dos destinos. A gastronomia pode
contribuir decisivamente para esta autenticidade, consistindo na elaboração artística de comida. Serviços diferenciados,
preparos específicos de alimentos e uma busca do autêntico tornou-se reivindicação única no campo do turismo.
Atualmente, um importante e crescente grupo de turistas busca a autenticidade dos destinos. A gastronomia
pode contribuir decisivamente para esta autenticidade, consistindo na elaboração comida artística. Provar estes pratos
permite ao turista sentir-se parte da cultura e do património local, o que lhes proporciona uma experiência única e
autêntica. Estudos como os de Zhang, Chen e Hu (2019) revelaram que a autenticidade é um fator determinante do
comportamento turístico influenciando decisivamente a satisfação e fidelização dos turistas. Ao mesmo tempo,
satisfação e fidelização dos turistas (entendido como a intenção de revisitar o destino e/ou recomendá-lo a terceiros)
são excelentes indicadores do sucesso de um destino é amplamente mostrou que quanto mais satisfeitos os turistas
estão com um destino, mais o recomendarão (Hu, 2016; Wang et al., 2009; Chi & Qu, 2008; Chen & Tsai, 2007) e quanto
mais fiéis os turistas, menores são os custos de promoção e maior o impacto econômico para os destinos.
Dito tudo isto, a análise incidirá sobre duas cidades património: Santiago de Compostela, na Galiza (Espanha)
e Juazeiro do Norte, no Ceará (Brasil). Santiago de Compostela é um destino consolidado do ponto de vista do turismo,
enquanto Juazeiro do Norte ainda se encontra numa fase mais incipiente do seu desenvolvimento turístico.
Portanto, consideramos que os resultados obtidos em ambas as localidades podem ser complementares e
muito úteis em relação ao planejamento e desenvolvimento de políticas públicas, ambas nessas duas localidades como
em outros destinos turísticos com características semelhantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este projeto terá importantes repercussões, tanto do ponto de vista da pesquisa, bem como as medidas que
podem ser implementadas com o objetivo de promover o desenvolvimento do turismo sustentabilidade em cidades
patrimoniais. Do ponto de vista da pesquisa científica, o trabalho apresenta uma série de novidades, já que o objetivo

163
é comparar duas cidades diferentes em termos de seus níveis de desenvolvimento turismo, mas semelhantes em termos
de seus recursos motivadores.
Ao mesmo tempo, a importância de elementos como motivações, autenticidade, satisfação, lealdade e
impactos do turismo usando uma abordagem integrada e em duas áreas geográficas diferentes. Do ponto de vista da
gestão do turismo, os resultados do trabalho serão muito úteis no planejamento do desenvolvimento turístico de um
destino utilizando fórmulas compatíveis com o desenvolvimento sustentável.
Para isso, será analisada a importância dos recursos endógenos e mais especificamente os gastronômicos no
comportamento dos turistas no destino e como esses comportamentos podem, ao mesmo tempo, condicionar as
percepções da população local.
A pesquisa da tese está em fase inicial, colhendo e condensando a parte bibliográfica. Previsão de resultados
para final de 2023.

PALAVRAS-CHAVE

Palavra 01 – locais gastronômicos; palavra 02 – identidades culturais; palavra 03 – desenvolvimento sustentável;


palavra 04 – cidades religiosas.

REFERÊNCIAS

Chen, C-F., & Tsai, D. (2007). How destination image and evaluative factors affect behavioural intentions? Tourism
Management, 28, 1115-1122. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2006.07.007

Chi, C.G-Q., & Qu, H. (2008). Examining the structural relationships of destination image, tourist satisfaction and
destination loyalty: An integrated approach. Tourism Management, 29, 624-636.
https://doi.org/10.1016/j.tourman.2007.06.007.

Gheorghe, G., Tudorache, P., & Nistoreanu, P. (2014). Gastronomic tourism, a new trend for contemporary tourism? Cactus
Tourism Journal, 9(1), 12-21.

Hall, M., & Mitchell, R. (2005). Gastronomic tourism. Comparing food and wine tourism experiences. In Novelli, M. Niche
Tourism: contemporary issues, trends and cases. Oxford, UK: Elsevier.

Hu, C.W. (2016). Destination loyalty modeling of the global tourism. Journal of Business Research, 69, 2213-2219.
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2015.12.032

Kozak, M. (2013). Cultural Heritage and Tourism: Economic, Social and Political Perspectives. In: Kozak, N., & Kozak, M.
(Eds.) Tourism Research: an interdisciplinary Perspective. U.K: Cambridge Scholars Publishing.

Landorf, C. (2009). Managing for sustainable tourism: a review of six cultural World Heritage Sites. Journal of Sustainable
Tourism, 17(1), 53-70. http://dx.doi.org/10.1080/09669580802159719

Robinson, M., & Picard, D. (2006). Tourism, Culture and Sustainable Development. Paris: UNESCO.

164
Soares, J.R.R., & Godoi, C.K. (2017). A metodologia da análise sociológica do discurso em estudos turísticos: o processo
de transformação da imagem turística e sua relação com a lealdade. Pasos. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural,
15(1), 245-260.

Urry, J. (1995). Consuming Places. London; New York: Routledge.

Wang, X., Zhang, J., Gu, C., & Zhen, F. (2009). Examining Antecedents and Consequences of Tourist Satisfaction: A
Structural Modeling Approach. Tsinghua Science and Technology, 14(3), 397-406.

Zhang, T., Chen, J., & Hu, B. (2019). Authenticity, Quality, and Loyalty: Local Food and Sustainable Tourism Experience.
Sustainability 11(12), 3434.

165
O DESPERTAR DO TURISMO GASTRONÔMICO A PARTIR DE UM RESTAURANTE DE
COZINHA ORIENTAL EM FLORES-PE

Rodrigo Rossetti Veloso (rodrigo.rossetti@cabo.ifpe.edu.br)


Gisele Estevão de Lima (giselleestevao@gmail.com)
Neide Kazue Sakugawa Shinohara (neideshinohara@gmail.com)
Rafael Augusto Batista de Medeiros (rafael.medeiros@cabo.ifpe.edu.br)

INTRODUÇÃO

A alimentação é uma prática cultural complexa, que extrapola o aspecto meramente fisiológico e pode
apresentar múltiplos significados, incluindo ideologias, questões relacionadas à fé religiosa e à identidade cultural.
Quando um indivíduo compra um alimento ou o consome, seja em práticas alimentares corriqueiras ou de caráter
hedônico, ele está se comunicando com o mundo. Compartilhar uma refeição, ato denominado comensalidade, é um
elemento central da hospitalidade e da sociabilidade humana: com o alimento e a bebida acolhe-se o visitante, garante-
se seu bem-estar físico e seu prazer. No contexto turístico as práticas e serviços de alimentação podem agregar valor
a outros produtos e serviços turísticos, bem como serem oferecidos como atrativos turísticos propriamente ditos. Nessa
condição, os atrativos podem dar origem a um segmento turístico denominado Turismo Gastronômico (MINASSE, 2020)
Barbosa & Collaço (2018) afirmam que no Brasil estudos turísticos relacionados à gastronomia são recentes e
ainda subdesenvolvidos se comparados com aqueles realizados na Inglaterra, França, Itália, Espanha e Portugal; mas
estes estudos estão aumentando, o que, segundo os autores, indica o desenvolvimento deste subcampo de
conhecimento, promovendo uma valorização da gastronomia como ferramenta turística.
O turismo cultural tem crescido de forma significativa no mundo atual. E dado que a cultura é um sistema de
valores, tradições e modos de vida, hoje praticamente todas as viagens turísticas podem ser consideradas culturais
(SANTICH, 2004). Segundo Paixão (2018), o turismo cultural compreende dois aspetos essenciais: a cultura
contemporânea, entendida como modos de vida; e o desenvolvimento da cultura do indivíduo e do grupo, na divulgação
do património e da tradição. O turismo é parte integrante dos estilos de vida do nosso tempo, com a mobilidade
geográfica e o usufruto cultural a desempenharem um papel central. E ao mesmo tempo, em muitos países e regiões,
constitui um sector económico essencial, porque dele depende muitas vezes o crescimento. Foi, aliás, deste modo que
as políticas na área do turismo se tornaram veículos decisivos para políticas económicas sustentáveis (MARTINS; SILVA,
2021)
A cidade de Flores é a antiga comarca do Alto Sertão da ex-Província, hoje Estado de Pernambuco. O município
de Flores, outrora, compreendia uma vasta região que iniciava onde hoje se situa o município de São José do Egito, indo
até o atual município de Tacaratu. Em virtude de ser o ponto mais central da paróquia de Cabrobó, e de este município
ter sido assolado por uma estranha doença denominada de 'carneiradas', levou certo vigário a instalar em Flores sua
residência, trazendo o desenvolvimento e, após algum tempo, a consequente criação da freguesia pelo Alvará de 11 de

166
setembro de 1783. A denominação Flores, diz a tradição, é originária do fato de haver entre os primeiros moradores do
referido arraial, umas donzelas muitos distintas por seus sentimentos de piedade, as quais, talvez por semelhantes
atributos, eram designadas moças flores ou simplesmente 'flores'. O município está localizado na Mesorregião do Sertão
Pernambucano, na Microrregião do Pajeú com uma área territorial de 959,7 km2. Limitando-se ao norte com Estado da
Paraíba e Quixaba, ao sul com o município de Betânia, ao leste com os municípios de Carnaiba e Custódia e ao Oeste
com os municípios de Triunfo e Calumbí e tem sua posição geográfica determinada pelo paralelo de 7º 52' 45' E e 37º
58' 54' S (IBGE, 2017).

Figura 1: Localização do município de Flores

Fonte: Google Maps (2022)

A pesquisa se baseia em demonstrar o despertar Gastronômico da cidade a partir da abertura de um


restaurante de cozinha oriental, que incluiu a cidade na rota turística gastronômica da região.

METODOLOGIA

A presente pesquisa tem o caráter exploratório e foi realizada presencialmente no município de flores,
contando com dados da prefeitura, de depoimentos e entrevistas com comerciantes, agentes turísticos e com a população
da cidade.

RESULTADOS

O município de flores tem a sua maior fonte de renda na área rural, pela produção agrícola. É uma cidade
pequena, onde aproximadamente 60% da população viva na zona rural. O turismo nunca foi uma grande potência da
cidade, não tendo esta grandes atrativos turísticos, sejam naturais, como cachoeiras ou paisagens paradisíacas, ou por
produtos criados para a cidade, como um parque de diversão ou outro atrativo turísticos relevante. Além da situação
do município, existe um fator que é a proximidade com a cidade de Triunfo, que apresenta inúmeros equipamentos
turísticos, dentre eles um hotel do SESC-PE, e que atrai uma grande quantidade de pessoas todos os anos. Outro fator
que deve ser destacado é o fato de que, o caminho mais usado para quem vai da capital pernambucana para o município
de Triunfo passa por dentro da cidade de Flores.

167
Vislumbrando a possibilidade de incluir Flores na Rota turística de Triunfo, um empresário local resolveu abrir
um restaurante de cozinha oriental na cidade. O restaurante se encontra a 10 meses em funcionamento e apresenta
uma sustentabilidade econômica invejável. O ponto principal a ser destacado não é o sucesso do restaurante e sim o
que aconteceu após a abertura do restaurante na cidade.
Nos primeiros 3 meses de funcionamento do restaurante os meios de hospedagem locais, que são uma
pousada e uma hospedaria, viram crescer em 45% sua lotação, percebendo que moradores de cidades vizinhas no
estado de Pernambuco e na Paraíba vinham para o restaurante e aproveitavam para pernoitar na cidade. Outro ponto
a ser destacado é o aumento no fluxo de turistas que vão para Triunfo e que agora fazem uma parada na cidade para
comer, visto que em Triunfo não existe um restaurante especializado em cozinha oriental.
Com o aumento no fluxo de turistas pela cidade, pelo menos 2 lojas com souvenirs abriram, onde é possível
encontrar todo tipo de artesanato e utilidades, uma observação importante é que os artesanatos são assinados pela
cidade de Flores-PE e não de Triunfo-PE. Ainda relacionado a abertura de novos empreendimentos relacionado ao
turismo, ao longo desses 10 meses, o único restaurante que existia na cidade realizou uma grande reforma para atender
a demanda crescente de turistas e o único bar da cidade, também reformou o espaço físico e reformulou o cardápio e o
atendimento. Nesse período também se percebeu a abertura de 4 novos empreendimentos gastronômicos na cidade,
que passou a despontar como polo gastronômico local, com uma variedade de cozinhas e opções para todos os bolsos.
Um fator que contribui para que Flores se coloque nessa posição é a facilidade de acesso à cidade, coisa que não acontece
em Triunfo, onde é necessário subir a serra, com uma estrada muito perigosa e aumentando 25 minutos no trajeto para
Flores, que fica no início da subida de Triunfo.
Ao todo a prefeitura estima que foram criados mais de 30 postos de trabalho formais, fora os postos informais
e os benefícios para a arrecadação da prefeitura, que já pensa em realizar um Festival Gastronômico em 2022.
A partir das mudanças na cidade foi notório o interesse por parte da secretaria de cultura e turismo na
continuidade do processo de inclusão da cidade na rota turística de Triunfo-PE, por meio de sua Gastronomia, que antes
era notadamente regional e que agora já se encontra mais diversa, aumentando o trade turístico local e gerando
desenvolvimento e renda no município.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que o turismo gastronômico representa um enorme potencial para cidades que não tem outros
equipamentos turísticos de grande apelo, fazendo com que os municípios possam gerar emprego, renda e entrar em um
ciclo de conquistas advindas do turismo gastronômico.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo gastronômico; Gastronomia; Flores-PE.

168
REFERÊNCIAS

Filipe Augusto Couto Barbosa and Janine Helfst Leicht Collaço, « Eating identities and places », Anthropology of food
[Online], 13 | 2018, Online since 21 January 2019, connection on 07 January 2022. URL :
http://journals.openedition.org/aof/8468 ; DOI : https://doi.org/10.4000/aof.8468

IBGE. 2017. Acessado em 06/01/2022 https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pe/flores/historico.

Martins, M. L., & Silva, R. (2021). Turismo, culturas e comunicação intercultural: Uma breve introdução. In M. L. Martins
& R. Silva (Eds.), Culturas e turismo: Reflexões sobre o património, as artes e a comunicação intercultural (pp. 7-11).
UMinho Editora/Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. https://doi.org/10.21814/uminho.ed.48.1

Minasse, Maria Henriqueta Sperandio Garcia GimenesFood Tourism as research object: analysis of publications in
Brazilian journals (2005-2017). Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo [online]. 2020, v. 14, n. 01 pp. 92-111. Epub
23 Mar 2020. ISSN 1982-6125. https://doi.org/10.7784/rbtur.v14i1.1669.

Paixão, A. H. (2018). RAYMOND WILLIAMS E A EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA. Educ. Soc., Campinas, v. 39, nº. 145, p.1004-
1022, out.-dez., 2018 DOI: 10.1590/ES0101-73302018191487

Santich, B. (2004). The study of gastronomy and its relevance to hospitality education and training. International
Journal of Hospitality Management, 23, 15-24. https://doi.org/10.1016/S0278-4319(03)00069-0.

169
Resumos de Artigos Completos
A UTILIZAÇÃO DO COCO EM PREPARAÇÕES CULINÁRIAS DE RESTAURANTES DA CIDADE
DO CABO DE SANTO AGOSTINHO

Mayra Estavam da Silva (mes2@discente.ifpe.edu.br)


Eron Ferreira Campos da Silva (eron.ferreira@cabo.ifpe.edu.br)
Pedro Ângelo P. Freitas (pedro.freitas@cabo.ifpe.edu.br)

RESUMO

Pernambuco é um estado que apresenta uma gastronomia fortemente caracterizada pelos povos europeus, africanos e
indígenas. E em muitos dos pratos que foram produzidos por tais povos durante o processo histórico, o coco se fez
relevante em sua confecção, seja como ingrediente substituto, principal ou mesmo experimental. A cidade do Cabo de
Santo Agostinho, investigada neste estudo, está localizada na região nordeste, uma das que tem o privilégio de ter um
extenso litoral a seu favor, e o coco é bem presente e adaptado. Além disso, o fruto apresenta forte relevância
econômica e utilização na gastronomia local, com destaque para a ampliação da utilização do coco em festividades
típicas do estado pernambucano como o São João e a Páscoa. O fruto ainda é um ingrediente que está presente em boa
parte das preparações mais tradicionais do estado, e está ganhando forte espaço no mercado, algo que vem a contribuir
para a sua utilização em variadas receitas na gastronomia. Nessa perspectiva, o presente trabalho teve por objetivo
central compreender as variadas utilizações do coco nas preparações culinárias de restaurantes da cidade do Cabo de
Santo Agostinho, como forma de promover a reflexão sobre a potencialidade econômica e cultural que o fruto possui.
Para tal, foi realizado um estudo de caso com a abordagem mista de pesquisa, no qual buscou mapear os cardápios de
restaurantes da respectiva cidade. Como forma de coleta de dados, foram realizadas buscas por informações contidas,
no guia da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL), especificamente no estado de Pernambuco; no site
da prefeitura do Cabo de Santo Agostinho; e em sites de jornais que publicaram restaurantes participantes do festival
do coco, realizado na cidade do Cabo. Os resultados do estudo demonstraram que o coco, mesmo se revelando como um
ingrediente coringa nas preparações gastronômicas, podendo ser utilizado nas mais variadas categorias de pratos como,
pratos quentes, frios, sobremesas e bebidas, bem como, possuir fácil acesso no mercado apresentando formas
diversificadas nas prateleiras, apresenta ainda um grande potencial subutilizado na gastronomia local.

Palavras- chave: Coco; Gastronomia; Restaurante; Cabo de Santo Agostinho.

170
ALIMENTAÇÃO, CAÇA E TERRITÓRIO “MENDONÇA” DO AMARELÃO (JOÃO CÂMARA, RIO
GRANDE DO NORTE): UMA ANÁLISE PELA VISÃO DA GASTRONOMIA
Leandro Flávio Restrepo Frota (leandro.restrepo@ifce.edu.br)
Eveline de Alencar Costa (evelinedealencarcosta@gmail.com)

RESUMO

Carneiro (2003) diz que a alimentação é, após a respiração e a ingestão de água, a mais básica das necessidades
humanas, e além de necessidade biológica, é um complexo sistema simbólico de significados sociais, sexuais, culturais,
religiosos, étnicos, estéticos, políticos e etc. A pesquisa mostra a cultura do povo indígena ‘Mendonça’ do Amarelão
(João Câmara – Rio Grande do Norte) no âmbito da caça de animais silvestres em suas terras e detalha que alguns
animais de sua fauna fazem parte de sua dieta local. Foi usado a metodologia observacional e a metodologia histórica,
buscando transcrever as falas dos próprios caçadores e seu pensamento enquanto atividade comum de sua comunidade.
Essa pesquisa tem a concepção de pesquisa qualitativa que de acordo com Prodanov e Freitas (2013) considera-se uma
relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, ou seja, não se pode traduzir a sua subjetividade em números. Por
essa questão, temos que navegar nesse plano de histórias, documentos, estudos, entrevistas e relatos verbais, a fim
de que esse material seja melhor registrado. A pesquisa conta com um roteiro prévio onde perguntas de maneiras
flexíveis foram elaboradas para se dar ênfase as experiências dos próprios caçadores. Como resultado, vimos que há
uma significância forte entre ‘terra’ e ‘território’; há a questão legal da caça, que hoje é proibida no país; são retratados
vários tipos de armas, armadilhas e equipamentos utilizados para maior efetividade no abate dos animais e há a
questão culinária na hora da preparação dos pratos, entre receitas, ingredientes e acompanhamentos para as carnes
de caça. Com isso, leva-se a crer que a caça tem fundamental ligação com a gastronomia, pois é um rito, uma cultura
que identifica um povo que sabe o que como e de onde vem a sua comida. Assim são formadas as tradições alimentares,
porém, mesmo ainda sem se ter real noção dos impactos ambientais dessa prática, devemos sim considerar o que é
necessidade e o que é violação ambiental.

Palavras-chave: Gastronomia; Caça; Indígenas; Cultura; Território.

171
COMIDA, LUGAR DE MEMÓRIA: OLHARES SOBRE O PRODUTO TURÍSTICO
GASTRONÔMICO MEMORÁVEL DO ARQUIPÉLAGO DE FERNANDO DE NORONHA

Ana Karina de Oliveira Maia (akakaomaia@gmail.com)


Ricardo Lanzarini (ricardo.lanzarini@ufrn.br)
Josenildo Campos Brussio (josenildobrussio@gmail.com)
Maria Lúcia Bastos Alves (mluciabastos29@yahoo.com.br)

RESUMO

Observando a gastronomia típica em associação à atividade turística praticada no arquipélago de Fernando de Noronha-
PE, vista sob a ótica das memórias produzidas em seu constructo socioterritorial de representatividade pernambucana,
aqui observadas dentro desse fenômeno como memórias gustativas locais, neste artigo, tencionou-se compreender essa
relação de autoajuda promotora de fomento e desenvolvimento local, estabelecida neste binômio
turístico/gastronômico, tendo em vista como estão sendo apresentadas as memórias do lugar para os que ali visitam,
examinadas a partir da possível oferta dos produtos turísticos gastronômicos memoráveis pernambucanos: cartola, bolo
de rolo, tapioca, Bolo Souza Leão, carne de bode e carne de charque. Tratou-se, portanto, de uma pesquisa de abordagem
qualitativa, com caráter descritivo e exploratório, com uso da netnografia na perspectiva da avaliação do site
TripAdvisor, optando-se por avaliar os cardápios através da análise de conteúdo, observando se estes referidos
estabelecimentos de restauração preservavam a memória identitária da Ilha através da inclusão de pratos tipicamente
pernambucanos. Para tanto, foram postos em observação cinco cardápios de restaurantes do arquipélago, conceituados
como excelentes no referido site, analisando o conteúdo desses e verificando se dentro deles havia memória
pernambucana, tendo em vista as impressões que podem ser causadas por esta comida de identidade nas lembranças
desse viajante, que poderá tencionar voltar ou estimular outras pessoas à visitarem Fernando de Noronha, por meio de
uma rememoração positiva, provocada por lembranças afetivas e gustativas causadoras de saudade do lugar, que
tenham sido geradas por uma sensorialidade integrativa, onde comida de identidade local e turismo podem manter um
diálogo mais abrangente e proveitoso à vista de um produto turístico gastronômico memorável. Nesse sentido, se
encontrou uma memória pernambucana sem muita expressão e presença de um toque de nordestinidade nessa memória
de Fernando de Noronha. Apontado para um espaço de oportunidades que, se bem lembrado e relembrado, poderá
fortalecer o lugar, o povo e a sua cultura por meio dos seus produtos turísticos gastronômicos memoráveis.

Palavras-chave: Lugar de memória; Produto turístico gastronômico; Fernando de Noronha/PE.

172
CULINÁRIA TÍPICA DA FRONTEIRA BRASIL/PARAGUAI: O RECONHECIMENTO DA
“CHIPA” COMO PATRIMÔNIO ALIMENTAR

Beatriz Dutra dos Santos (biappms@gmail.com)


Dores Cristina Grechi (doresgrechi@gmail.com)
Luciana Ferreira da Silva (luciana@uems.br)

RESUMO

O objetivo do artigo é compreender aspectos teóricos e culturais relacionados à culinária típica da fronteira Brasil-
Paraguai a partir da análise da “chipa” como elemento alternativo à geração de renda e como potencial para indicação
geográfica. A metodologia avaliou uma amostra por adesão de 04 (quatro) Ñas tradicionais da região, vendedoras e
produtoras das chipas artesanais, mapeadas a partir das observações de campo e do conhecimento tácito das
pesquisadoras. Para a análise, foram consideradas as teorias econômicas, indicação geográfica e patrimônio alimentar.
Os resultados evidenciaram que o nível de diferenciação e os canais de comercialização utilizados são fatores que
interferem na criação e distribuição do valor agregado do produto no processo artesanal da produção da chipa. Foi
possível concluir que a tipicidade da culinária regional, quando preservada e valorizada pela população local é um
elemento importante para a geração de renda, a partir do que orientam as referências sobre indicação geográfica e
patrimônio cultural.

Palavras-chave: culinária; fronteira; turismo; renda; patrimônio alimentar.

173
PATRIMÔNIO IMATERIAL EM CONGONHAS, MG: O OFÍCIO DAS QUITANDEIRAS COMO
BEM SOCIOCULTURAL E SEUS BENEFÍCIOS PARA A ECONOMIA LOCAL

Rogério F. Werly Costa (rogerio.werly@aluno.ufop.edu.br)


Nayara Souza Fernandes (nayara.fernandes1@aluno.ufop.edu.br)
Sílvio R. de Almeida Magalhães (silvio.magalhaes@aluno.ufop.edu.br)
Ana C. A Campos Vieira (ana.cacv@aluno.ufop.edu.br)

RESUMO

O Festival da Quitanda é realizado anualmente na cidade de Congonhas, Minas Gerais, desde 2001, sempre no terceiro
domingo de maio. Ele é promovido na praça central da Romaria - centro cultural localizado junto ao conjunto paisagístico
e arquitetônico do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, que é patrimônio da humanidade declarado pela UNESCO e
abriga importantes obras de renomados artistas do período colonial, como Aleijadinho e Mestre Ataíde. O referido
evento reúne diversas quitandeiras locais e das redondezas pelo seu imenso valor sociocultural, promovendo o resgate
das tradicionais receitas de quitandas, que no Festival da Quitanda são recriadas na atmosfera das fazendas do interior,
com música de viola e causos regionais apresentados por artistas populares de Congonhas e de suas cidades vizinhas.
Contudo, apesar do valor do ofício das quitandeiras como bem sociocultural da cidade, e que é representado no Festival
da Quitanda, não há qualquer manifestação das quitandas na cidade, em nenhuma outra data do ano. Tal paradoxo
instiga o objetivo deste estudo, que é o de apresentar a “quitanda” como um importante patrimônio imaterial de
Congonhas e discutir a possibilidade deste patrimônio se tornar parte do cotidiano turístico da cidade, permitindo a
geração de renda para as quitandeiras locais e da região. Para tanto, adota metodologia de revisão de literatura e
pesquisa de campo por meio de vistoria walkthrough. Esse método possibilita, de forma qualitativa, a identificação
descritiva dos aspectos dos ambientes analisados para mapeamento de uso do entorno dos locais visitados pelos
turistas na cidade e de entrevistas semiestruturadas com mulheres que exercem o ofício de quitandeiras e de um
representante político da cidade de Congonhas/MG. Desta forma, o estudo espera contribuir não somente com o resgate,
mas com a patrimonialização do ofício das quitandeiras como bem sociocultural de Congonhas/MG, trazendo resultados
de ordem econômica para as quitandeiras e suas famílias.

Palavras-chave: patrimônio gastronômico; quitanda; sociocultural; socioeconômico; Congonhas/MG.

174
GT 4 – IMPACTOS DA PANDEMIA DE COVID-19 NO TURISMO
DIA 18/05 – 14h as 18h

175
Resumos Expandidos
A PANDEMIA DO COVID-19 E SEUS EFEITOS NO TURISMO REGIONAL-LOCAL DO DELTA
DO PARNAÍBA (PI-MA)

Ricardo Rayan Nascimento Rocha (ricardo.rocha.037@ufrn.edu.br)


Hugo Aureliano da Costa (aureliano.hugo@gmail.com)

INTRODUÇÃO

O turismo, “antes de ser um fenômeno, um sistema, uma prática, um produto, um serviço ou uma indústria, é
um uso do território” (STEINBERGER, 2009, p. 39), sendo o processo de apropriação de porções privilegiadas do espaço
geográfico como um contínuo objeto de estudo a ser interpretado a todo instante. Se os desafios na interpretação diária
do turismo surgem, pensando a maneira difusa que essa atividade se dinamiza no espaço geográfico, isso se acentua
quando crises de cunho político, econômico, ambiental e sanitário recaem nos territórios turísticos.
Os anos de 2020 e 2021 foram impactantes para a dinâmica mundial do turismo, uma vez que as restrições
sanitárias advindas da pandemia do COVID-19 foram mais incisivas; as fronteiras nacionais e internacionais estavam
fechadas e a vacinação ainda era uma possibilidade para a resolução de tal problema. Com a vacinação em curso, a
expectativa é que haja um retorno gradual da atividade no âmbito global. Se a crise sanitária provocada pela pandemia
do COVID-19 possui efeitos catastróficos para o turismo em sua perspectiva global, tais efeitos acabam por serem
potencializados quando atingem a escala regional-local em meio ao processo de turistificação de destinações turísticas
ainda incipiente, pensando o fluxo de demanda turística e a oferta turística. Por apresentarem uma dinâmica do turismo
que possui um número inexpressivo de turistas/visitantes, muitos destinos turísticos de cidades pequenas e médias
acabam por enfrentar a pandemia do covid-19 de forma mais intensa, pensando que o turismo, muitas vezes, é uma
das poucas atividades de acumulação capitalista nessas localidades.
Em busca de ensaiar algumas reflexões e discussões em torno do turismo e seus efeitos no contexto regional-
local, essa pesquisa tem por objetivo apresentar como turismo no Delta do Parnaíba é realizado, sobretudo, em meio à
pandemia do COVID-19, refletindo sobre desafios e oportunidades para o turismo no contexto local. Para isso, serão
realizados dois apontamentos para o melhor desenvolvimento da análise proposta, a saber: a) apresentar como o
turismo do Delta do Parnaíba se constitui nos últimos anos; e b) discutir como a pandemia do COVID-19 provoca
implicações no turismo que vem sendo realizado.

METODOLOGIA

O objeto de estudo da presente pesquisa é o processo de turistificação do Delta do Parnaíba durante a


pandemia da COVID-19. Para isso, realizou-se esse estudo com uma abordagem qualitativa. Para Minayo (2015, p. 2), a
pesquisa qualitativa, “nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado”, considerando o

176
turismo como um fenômeno que se territorializa de forma singular no espaço geográfico e, assim, a necessidade de
analisá-lo dessa forma.
Acerca dos instrumentos de coleta de dados, desenvolveu-se uma pesquisa bibliográfica com revisão de
literatura pertinente à discussão proposta; pesquisa documental acerca das normatizações dadas pelo Estado quanto às
restrições nas atividades turísticas no Delta do Parnaíba (PI-MA); e apresentação de dados secundários no contexto
local, trazendo uma análise descritiva.

RESULTADOS

Em nível de contextualização, o Delta do Parnaíba é caracterizado, inicialmente, por apresentar extensas


planícies fluviomarinhas cortadas por uma rede de canais, formadores das ilhas do delta. Resultado de processos de
acumulação fluviomarinha e sob influência das características destes ambientes, desenvolvem-se extensas áreas de
mangues, com uma vegetação altamente especializada, dominada por um clima quente e úmido (ZEE-Baixo Rio Parnaíba,
2002). Compreende-se por um desmembramento de 5 (cinco) braças do rio Parnaíba (Tutóia, Melancieira, Cajú, Canárias
e Igaruçu) e é o único Delta das Américas. Representa a principal centralidade turística do litoral piauiense e um dos
principais territórios turísticos do Maranhão e Ceará.
O Delta do Parnaíba faz parte de, pelo menos, 2 (duas) unidades de conservação – UC de uso sustentável a
nível federal: Área de Proteção Ambiental – APA Delta do Parnaíba e Reserva Extrativista – RESEX Marinha Delta do
Parnaíba (figura 1 e 2) (ROCHA, 2018).

Fonte: ROCHA (2018)

Assim, o turismo que vem sendo realizado no Delta do Parnaíba está associado ao segmento do ecoturismo,
turismo de aventura, turismo de sol e praia e outras variações que tem como atratividade turística o contato com a
natureza. O Delta do Parnaíba faz parte da Rota das Emoções (figura 3) (ROCHA, 2018), consórcio turístico criado pelo
SEBRAE que articula um roteiro turístico junto ao Ceará (com Jijoca de Jericoacoara) e Maranhão (com Lençóis
maranhenses), englobando uma diversidade de municípios turísticos de médio e grande porte no contexto regional-
local. É o primeiro consórcio turístico com uma perspectiva interestadual no Brasil (Silva, Hoffmann & Costa, 2020 apud

177
RIBEIRO; MOREIRA, 2021). É importante considerar que o turismo no Delta do Parnaíba ainda é incipiente quando
comparado à Jericoacoara e aos Lençóis Maranhenses, sendo uma destinação turística com grandes potencialidades,
mas ainda enfrenta dificuldades quanto à atuação do Estado em nível local; atuação de comunidades tradicionais; dentre
outros.

Fonte: ROCHA (2018)

Com um fluxo turístico assumidamente nacional (figura 4), o turismo da rota das emoções tem como principal
demanda turística, turistas/visitantes da região Sudeste brasileira e nos últimos anos, vem apresentando um
crescimento significativo no âmbito local. Assim, é importante considerar que o turismo praticado no Delta do Parnaíba
é protagonizado pela iniciativa privada local através do SEBRAE e das políticas setoriais do governo federal. A
participação das comunidades tradicionais vem acontecendo ainda forma incipiente, oferecendo um conjunto de
atrativos e serviços turísticos associados ao Turismo de Base Comunitária – TBC.
Como já apontando, o turismo piauiense, sobretudo, na área litorânea vem acontecendo de forma tímida e o
Delta do Parnaíba, que pertence ao Piauí e Maranhão, vem apresentando sinais de crescimento a cada ano. Entretanto,
é importante considerar os impactos negativos que a pandemia do covid-19 vem trazendo para a manutenção da
demanda já existente, assim como para a aquisição de uma nova demanda em potencial.
A priori, com a pandemia em curso nos anos de 2020 e 2021 de forma mais expressiva, o Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, autarquia responsável pela gestão das unidades de conservação
de cunho federal do Brasil, emitiu uma portaria que suspendia a visitação nas UC’s por tempo indeterminado (BRASIL,
2020) para a contenção do vírus pensando a sua transmissão comunitária. O acesso ao Delta do Parnaíba só era realizado
por motivos de pesca artesanal e transporte da comunidade local, exceto para práticas turísticas. Isso freou de forma
abrupta qualquer atividade turística que vinha sendo realizada no Delta do Parnaíba, pensando-o enquanto um dos
destinos turísticos centrais da Rota das Emoções. É importante considerar que tal normatização do ICMBio, a nível federal
e sustentada em nível regional-local, foi amplamente aceita pelas comunidades tradicionais do Delta do Parnaíba,
através de suas representações.

178
Considera-se que tal crise acabou criando cenários negativos de saúde pública em todo o mundo e
consequentemente o turismo se viu diante do isolamento social enquanto estratégia para a contenção de um vírus tão
mortífero. A situação chegou ao ponto de praticamente 100% dos destinos turísticos mundiais apresentarem medidas
de restrições às viagens (UNWTO, 2020a apud PAIXÃO; CORDEIRO; LEITE, 2021) e, com isso, uma nova realidade para a
dinâmica do turismo com o reordenamento do setor de serviços diretos e indiretos.
Conforme pesquisa realizada por Ribeiro e Moreira (2021) com parte do trade turística local, o impacto foi sem
precedentes para a Rota das emoções, uma vez que as restrições de cunho estadual foram duras, criando um isolamento
total dos passeios turísticos locais. Isso nos remete a própria essência basilar do turismo que é o consumo in loco e que,
conforme Cruz (2006), é uma atividade que coexiste a partir do “consumo” do espaço geográfico”. Nessa perspectiva, o
turismo é uma atividade singular em sua territorialidade, ou seja, é um setor que tem como ponto de partida o
turista/visitante como elemento definidor da prática turística, pensando-o na dinâmica existente entre os lugares
emissores; de passagem; e receptores que desenham os destinos turísticos. Com ele, enclausurado dentro de sua
residência, não há como falar em demanda turística real e, consequentemente, não há turismo.
No contexto local, pensando a rota das emoções, a expectativa pós-pandemia para o turismo ainda é incerta
(RIBEIRO; MOREIRA, 2021), considerando que no período pré-pandemia, o trade turística local estava em boa fase de
investimentos e com uma demanda turística real e potencial em busca de vivenciar os destinos turísticos locais.
Entretanto, a pandemia do COVID-19 acabou por influenciar numa retração de passeios a serem realizados e gerou uma
diminuição da arrecadação com a atividade turística. Apesar das dificuldades apresentadas quanto à prática do turismo
em meio à pandemia do COVID-19 ainda em curso, percebe-se um retorno gradual dos passeios turísticos realizados no
Delta do Parnaíba (BRASIL, 2020) tendo apoio das empresas locais e das comunidades tradicionais, já que há diversas
oportunidades para readequar a atividade turística local e assim, que o turismo continue sendo um setor cada vez mais
expressivo como atividade econômica no âmbito local.
Para Hajibaba, Gretzel, Leisch e Dolnicar (2015 apud NEVES et. al. 2021), os turistas/visitantes (sobretudo do
turismo de massa) apresentam comportamentos de consumo que são difíceis de mudar, mesmo diante da pandemia,
embora seja o momento propício para o surgimento de novos perfis de consumidores (Higgins- Desbiolles, 2020 apud
NEVES et. al. 2021) de outros segmentos turísticos. Com a pandemia ainda em andamento, apesar da vacinação em curso
e medidas de segurança, para Neves (et. al. 2021), o turismo de massa sofrerá uma estagnação ao passo que se surgirão
turistas/visitantes com consciência ambiental, responsabilidade com os destinos receptores; preocupados com o
desenvolvimento local, dentre outros (BROUDER et al. 2020 apud NEVES et. al. 2021). De acordo com o Ministério do
Turismo – MTUR (2021, p. 15), “no cenário pós-pandemia, nasce um turista mais criterioso com saúde e higiene, exigente
em relação ao consumo ético e sustentável em busca de novos destinos”, realinhando as relações existentes entre um
novo cenário do turismo voltado para o protagonismo de destinos “sustentáveis”.
Com a retração do turismo internacional e o aumento do turismo interno dos países (Zenker e Kock, 2020 apud
NEVES et. al. 2021), um outro fenômeno que pode ser fortalecido com essa reestruturação do mercado turístico nacional

179
diante da pandemia do COVID-19 é o protagonismo de destinos turísticos no contexto regional-local, ou seja, do interior
das macrorregiões brasileiras, pensando a interiorização turística. Tal tendência coaduna com a busca por destinações
que apresentem atrativos turísticos intrínsecos a um turismo responsável e que valorize questões como a cultura local,
o meio ambiente, etc.
Assim, a pandemia do COVID-19, possivelmente, possibilitará a reestruturação da dinâmica socioespacial da
atividade turística no destino Delta do Parnaíba – em âmbito regional e local. Com a retração de uma demanda turística
interessada em viajar para destinos turísticos massivos, pode ocorrer o processo inverso de protagonizar destinos
associados à natureza, à cultural local, dentre outros. Sendo assim, faz-se necessário refletir sobre como o turismo local
pode ser reestruturado mediante o contexto global de reorganização do mercado turístico internacional e nacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tradução do turismo enquanto fenômeno que possui uma socioespacialidade única na dinâmica do uso do
território é uma questão teórico-metodológica que precisa ser enfrentada a todo instante. Isso se reforça com o
surgimento de questões estruturais de ordem global que surgem e se defrontam, direta e indiretamente, com as
destinações turísticas em um contexto regional-local, independentemente do quão singular seja os seus atrativos e/ou
serviços turísticos. Assim, tal análise é sempre necessária não apenas pela dificuldade de apreensão de tal fenômeno
para fins analíticos, mas sobretudo pela situação presente que esse setor vem enfrentando desde 2020 com a crise
sanitária provocada pela pandemia do COVID-19, colocando em discussão questões básicas como a economia, saúde,
educação, lazer, dentre outros âmbitos.
Acerca da relação da pandemia do COVID-19 com o turismo no Delta do Parnaíba, é preciso fazer alguns
apontamentos acerca dos desafios e oportunidades existentes. Primeiro, é preciso uma reorganização no âmbito local
dos segmentos turísticos que o Delta do Parnaíba possui potencialidades para atuar. Ainda que haja práticas turísticas
associadas ao ecoturismo e ao turismo de aventura, percebe-se a pouca valorização da cultural e mão-de-obra local no
setor de serviços (ROCHA, 2018) em meio ao protagonismo de pequenas e médias empresas de turismo em nível local.
Assim sendo, é oportuno pensar outras práticas de turismo, como por exemplo, ligadas ao Turismo de Base Comunitária
– TBC. As comunidades tradicionais do Delta do Parnaíba, com apoio do ICMBio, vêm atuando com hospedarias familiares
e restaurantes com oferta de produtos locais, sendo um caminho de possibilidade para o enfrentamento da crise que o
turismo ainda enfrenta no contexto local. Além disso, apesar da pandemia ainda em curso, é necessária uma
reorganização da oferta turística do Delta do Parnaíba em relação à Rota das emoções que, como já falado, tem
participação de municípios turísticos expressivos do Ceará e Maranhão. Essa reorganização significa repensar a oferta
dos atrativos turísticos locais (que coaduna com o que foi apontado anteriormente acerca das possibilidades em torno
do TBC); criação de roteiros locais; readequação da oferta turística com atendimento às restrições ainda impostas; dentre
outros elementos que constituem os caminhos para um pós-turismo que possibilite ao Delta do Parnaíba uma atuação
mais expressiva no mercado turístico regional-local.

180
PALAVRAS-CHAVE

Pandemia do covid-19; Turismo; Delta do Parnaíba.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Guia de retomada econômica do turismo, 2021. Disponível em: <https://www.gov.br/turismo/pt-br/acesso-a-


informacao/acoes-e-programas/retomada-do-turismo/GuiaRetomadaEconmicadoTurismo.pdf>. Acesso em 17. mar.
2021.

BRASIL. Portaria Nº 227, de 22 de março de 2020. Suspende por tempo indeterminado a visitação pública nas unidades
de conservação federais. Diário oficial da união, 2020.

BRASIL. Portaria n° 890, de agosto de 2020. Permitir a reabertura da visitação pública nas Unidades de Conservação
Federais. Diário oficial da união. 2020.

CRUZ, R. A. Planejamento governamental do turismo: convergências e contradições na produção do espaço. En


publicación: América Latina: cidade, campo e turismo. Amalia Inés Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo, María Laura
Silveira. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, San Pablo. Diciembre 2006.

MINAYO, M. C. S. (Org.); DESLANDES, S.F.; CRUZ NETO, O. GOMES. R. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 34. Ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

MMA/SDS. Zoneamento Ecológico Econômico do Baixo Rio Parnaíba: Subsídios técnicos, Relatório Final. - Brasília, 2002.

NEVES, C. S. B.; CARVALHO, I. S.; SOUZA, W. F. L; FILIPPIM, M. L. Os impactos da Covid-19 nas viagens de turistas
brasileiros: conjuntura e perspectivas na eclosão e na expansão da pandemia no Brasil. Tur., Visão e Ação, v23, n1, p2-
25, Jan./Abr. Balneário Camboriú, Santa Catarina, Brasil, 2021.

PAIXÃO, W. B.; CORDEIRO, I. J. D.; LEITE, N. K. (2021). Efeitos da pandemia do COVID-19 sobre o turismo em Fernando de
Noronha ao longo do primeiro semestre de 2020. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 15 (1), 2128.
http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v15i1.2128.

RIBEIRO, H. C. M., MOREIRA, A. A. A. P. (2021, maio/ago.). COVID-19: efeitos e implicações ocorridos no turismo da rota
das emoções localizada no nordeste do Brasil. PODIUM Sport, Leisure and Tourism Review, São Paulo, 10(2), 106-
138.https://doi.org/10.5585/podium.v10i2.18419.

ROCHA, R. R. N. Contradições entre o uso do território e o fetiche do turismo na RESEX Marinha Delta do Parnaíba (PI-
MA). 2018. 141f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2018.

STEINBERGER, M. 2009. Turismo, território usado e cidade: uma discussão pré-teórica. In: STEINBERGER, M. (Org.).
Territórios turísticos no Brasil Central. Brasília: LGE. pp. 29-55.

181
CONTRIBUIÇÕES DA ECONOMIA SOLIDÁRIA PARA MELHORIA DAS ATIVIDADES
TRADICIONAIS DO TURISMO AFETADAS PELA PANDEMIA DO COVID-19 EM BARRA DO
CUNHAÚ

Maria Isabel Cristina da Silva (c.isabel@escolar.ifrn.edu.br)


Monik de Oliveira Lopes Neves (monik.lopes@ifrn.edu.br)
Viviane Costa Fonseca de Almeida Medeiros (medeiros.viviane@escolar.ifrn.edu.br)

INTRODUÇÃO

No Brasil uma das principais atividades econômicas afetadas foi o setor de serviços, principalmente a
atividade turística, o país que possui um grande fluxo de turistas teve que lidar com a falta de público nesse período,
devido ao agravamento da pandemia. O território nacional possui divergências de opiniões e posicionamentos, chefes
de Estado, de modo que nem todos seguiram as regras pré-estabelecidas pela OMS. Tiveram que ser tomadas medidas
mais severas, o que não agradou muito a população, pois tiveram que parar de trabalhar para ficar em casa, visto que
teria um maior impacto na sua renda, porque muitos perderam os seus empregos sem contar que alguns não possuíam
nenhuma outra forma de sobrevivência o uso do Lockdown em todo o país veio como uma nuvem de fumaça que asfixiou
a esperança de muitas pessoas.
Contradições próprias desse cenário, amplificadas nos últimos dois anos, período no qual estamos vivendo
uma pandemia sem precedentes, o COVID-19, nos impõe o desafio de observarmos como o mundo está se configurando
e quais contribuições as instituições de pesquisa, ensino e extensão (a ciência), pode trazer o atual cenário em suas
diversas áreas do conhecimento. No Brasil, os dados do dia 21/06/2021 informam que mais de 500 mil vidas foram
perdidas OMS (2021); O desemprego, tem como consequência mais de 18 milhões de vidas abaixo da linha da pobreza,
a FOME, passou a ser uma realidade na vida dessas pessoas. O que fazer? Como contribuir com a redução das
desigualdades? Quais caminhos poderão ser percorridos?
Na interface do Turismo com o movimento da Economia Solidária, voltada à Barra do Cunhaú, situada em
Canguaretama, Microrregião Sul do Estado do Rio Grande do Norte, o desafio é a compreensão de como atividades
tradicionais, tais como como pesca artesanal, transporte turístico feito por balseiros, artesanato e comércio de produtos
alimentares ofertados pelas barracas de praia, têm sido afetados por esse desafiador momento. Nesse sentido cabe
identificar e analisar as dificuldades e potencialidades desse grupo de trabalhadores envolvidos direta e indiretamente
na cadeia produtiva do turismo, bem como compreendermos aproximações e distanciamentos entre estes e as práticas
da economia solidária.
Diante do exposto, a referida pesquisa poderá contribuir com a identificação de caminhos possíveis para que
os sujeitos desse trabalho possam compreender as relações sociais, econômicas e institucionais que determinam os
limites do desenvolvimento local, assim como a compreensão de que a justiça social não pode estar distante das vidas
que as pessoas possam de fato viver. Assim sendo, é de fundamental importância que as experiências, os modos de

182
vida bem como as realizações humanas, não sejam substituídos por informações sobre instituições que as representam,
tampouco pelas regras sobre as quais operam. As instituições, de fato, vão além do esquema organizacional e incluem
as vidas que as pessoas conseguem ou não viver Sen (2011).
A liberdade de escolha entre os diferentes tipos de vidas pode contribuir significativamente para nosso bem-
estar, além de ser importante para a vida dos sujeitos. Pois, quando a liberdade de escolha não existe, o ser humano
passa da condição de sujeito para um ser que se sujeita às imposições, tanto dos agentes externos, como capital
financeiro, divisão do trabalho, organizações sociais e ou políticas; quanto a de agentes internos, tais como líder,
representações políticas e entre outros agentes de desenvolvimento, que tentam impor suas perspectivas e modo de
ver a vida Sen (2011).
Sendo necessário, portanto, o empoderamento desses sujeitos, que empoderados deixam de ser sujeitos às
imposições internas e externas e passam a fazer parte de um coletivo ativo e contrito do eu coletivo.

METODOLOGIA

Utilizar-se-á como instrumento de pesquisa formulários físicos que foram aplicados junto aos trabalhadores
do turismo tradicional da Barra do Cunhaú, nos dias 01/12/2021 e 28/12/2021, nesse sentido levantou-se dados sobre
aspectos relacionados à atividade turística e seu desenvolvimento pelas comunidades em questão. Não menos
importante, os respondentes foram interpelados sobre aspectos culturais, ambientais, sobre a existência de políticas
públicas voltadas às comunidades, assim como as formas de gestão dos grupos no qual estão inseridos, sejam eles
cooperativas, associações, grupos informais ou clubes de troca de saberes.
Entretanto, apenas essa forma de investigação não foi suficiente para compreender o cotidiano desses
lugares, seu modo de ser e de viver. Desta maneira, foram realizadas pesquisas com gestores do turismo local e
conselheiros integrantes do Polo Costa das Dunas, entidade de governança formada por secretários de turismo,
população local, sociedade civil organizada e empresários do turismo.
Nesse sentido, foi utilizada como estratégia de investigação e proposição as necessidades vivenciadas pelas
populações de Barra de Cunhaú o diagnóstico VIRTUAL, pois, compreende-se que este instrumento possibilita não apenas
o retrato da população investigada, mas o que está para além dos olhos por meio dos olhares atentos dessa população.
Foi realizado por meio de coleta de dados primários e secundários, através da aplicação de formulários e entrevistas
como os líderes e os membros das colônias de pescadores, grupos de artesãos e balseiros.
A pesquisa se deu por ordem exploratória de abordagem qualitativa. Foram feitos estudos bibliográficos e
pesquisas documentais relacionados a problemática do COVID-19 que afeta o mundo, o objetivo da pesquisa era
relacionar os impactos da pandemia no turismo da comunidade com a Economia Solidária e como esta poderia contribuir
nesse período de incertezas. Ao decorrer da pesquisa, foram sugeridos a necessidade de reuniões e pesquisas
detalhadas em relação de como funcionava o turismo dentro da cidade de Canguaretama, no passar do tempo surgiram
certas lacunas que só seriam preenchidas com visitas de campo na comunidade de Barra do Cunhaú.

183
Pessoas que trabalham com turismo na comunidade de Barra do Cunhaú, principalmente aqueles
trabalhadores informais que vivem diretamente de atividades turísticas, como pescadores, balseiros, barraqueiros e
artesãs, contamos também com o secretário de turismo, assistência social e pesca do município de Canguaretama.

RESULTADOS

Em resposta aos objetivos da pesquisa com destaque para compreensão dos impactos ao turismo local - Barra
de Cunhaú - foi afetado pela pandemia do COVID-19. Nesse sentido, precisa-se compreender o fluxo de turistas
existente ou não em Barra. Segundo informações coletadas em reunião com o secretário de turismo da cidade de
Canguaretama, município ao qual Barra faz parte, antes da pandemia o distrito de Barra do Cunhaú não tinha tanto fluxo
turístico, mas também não teria nenhuma ferramenta dentro do município que pudesse catalogar esse tipo de
informação, uma vez que a referida localidade se caracteriza como local de passagem dos turistas em busca de outros
locais próximos, como Sibaúma e Pipa. Porém no período de maior isolamento social em decorrência do COVID-19,
vinham a amargar 0% de fluxo de visitantes.
Esse cenário não é privilégio de Barra de Cunhaú, mas uma realidade vivenciada por todas as comunidades
turísticas do Rio Grande do Norte, do Nordeste e do Mundo. Porém nos leva a refletir sobre em quais condições essa
comunidade foi surpreendida, afirma-se com isso que, a comunidade padece de problemas estruturais relacionados ao
desenvolvimento do turismo, a mesma é vista como espaço para deslocamento dos turistas, como local de conexão com
outros lugares, além disso a fragilização das relações pessoais entre os sujeitos da pesquisa compromete a
compreensão e ações de uma gestão coletiva e compartilhada.
No tocante à fala do secretário de turismo, que também é membro do conselho do Polo Costa das Dunas, o
mesmo apresentou os planos da secretaria para o desenvolvimento do turismo em Barra, como estratégia de
transformação do referido espaço de passagem para fixação desse fluxo turístico do referido distrito. Os planos da
secretaria de turismo na figura do secretário é tornar a Barra do Cunhaú conhecida em outras regiões como a terra do
caranguejo, para tanto as redes sociais são o caminho, por essa razão criaram um perfil específico em uma rede social
para propagação do município, com destaque para o catálogo com as 10 Maravilhas turísticas da cidade de
Canguaretama, onde a comunidade possui alguns atrativos em destaque.
Nessa mesma entrevista o secretário de turismo de Barra destaca também as parcerias para a geração de
emprego e renda por meio de empresas turísticas que mostraram interesses em se instalar no município, em especial
em Barra, porém observa-se que as expectativas tanto da secretaria, quanto dos empresários diverge das propostas
da economia solidária, foco da pesquisa em destaque. Dessa maneira pode-se conjecturar que a linha de trabalho do
mesmo vai de encontro às necessidades de desenvolvimento da perspectiva de gestão compartilhada por meio da
autogestão. Face ao exposto o grupo de pesquisa sentiu a necessidade de dialogar com a comunidade e compreender
os impactos sanitários do COVID-19 em suas vidas, em especial as atividades laborais.

184
No que diz respeito à aproximação ou distanciamento com as práticas da economia solidária apresenta-se as
falas dos investigados, destacamos a das artesãs. Na primeira visita a comunidade nos deparamos com a artesã
Adriana, moradora de Barra de Cunhaú e profissional da área de estética, formada em serviço social. A mesma nos
recebeu na área externa de seu salão, localizado no Centro de Turismo da praia em questão e respondeu informalmente
algumas de nossas perguntas sobre o artesanato em Barra de Cunhaú. Foram aproximadamente 40 minutos de
conversa, que nos deram informações prévias abaixo destacadas.
Não há uma cooperativa ou associação de artesãos, mas há um considerável grupo de mulheres que produzem
artesanato no povoado. Esse grupo já esteve organizado e se reunia na sede da Associação Ítalo Brasileira - AIBA, de
forma mais participativa, mas atualmente não existe mais, o que provavelmente indica que estão produzindo e
comercializando apenas individualmente. Esse fato se dá pela saída da Organização Não Governamental (ONG) francesa
que atuava no distrito de Barra, a mesma era a articuladora dos projetos sociais na qual o grupo de artesãs fazia parte.
Dona Socorro, Maria, Rosa, Lucinha são algumas das artesãs que produzem continuamente o artesanato local,
assim como ela mesma. De acordo com a entrevistada, esse grupo estava voltando a ter um espaço de comercialização,
na Feira de Lampião, evento que acontece às sextas-feiras, promovido pela secretaria de turismo. Uma parte das
artesãs têm a carteirinha da Secretaria Estadual de Trabalho e Assistência Social (SETAS), o que lhes garante alguns
direitos, tais como descontos na compra de produtos para a produção, como linhas, agulhas, tecidos, entre outros. A
Associação Ítalo-Brasileira, tinha como objetivo o fortalecimento social da comunidade, uma vez que realizava cursos
de capacitação e suscitou a criação de grupos organizados, como os das artesãs, diferente da proposta da Associação
de Veranistas Empreendedores e empresários - (AVEC), que objetiva defender os interesses do empresário e veranista,
proposta distinta da AIBA que atuava para o fortalecimento da população vulnerável.
Nessa mesma conversa Adriana ratificou o relato do secretário de assistência social de Canguaretama sobre
a participação de duas artesãs que tiveram seus trabalhos expostos na São Paulo Fashion Week, por meio de parceria
com uma empresa de Natal/RN chamada DEPEDRO. As artesãs foram chamadas para customizar as roupas e suas peças
foram parar em um dos maiores eventos de moda do mundo. Porém observa-se que essa articulação se dá aos moldes
da prestação de serviços que não há uma coletividade das ações nem tão pouco contribuiu para o empoderamento das
envolvidas, foi algo pontual, e não reverberou em oportunidades contínuas e coletivas.
Posteriormente, na I Feira de Agricultura Familiar de Canguaretama, observamos haver um stand de artesãs
e buscamos conversar com as mesmas. Adriana havia nos informado que algumas artesãs de Barra de Cunhaú
participaram como expositora no referido evento.
Nesse contexto pode-se conjecturar que a economia solidária acontece de maneira incipiente junto ao grupo
de artesãs, o que se leva a afirmar que há uma aproximação entre os princípios e práticas da ECOSOL, tais como
cooperação e solidariedade e em menor escala a autogestão, porém presente. Observa-se também que a economia
solidária poderia contribuir efetivamente com o fortalecimento das práticas produtivas, colaborativas e econômicas,
minimizando dessa maneira os impactos do isolamento social e da pandemia do COVID-19. Já que existe uma

185
mobilização, cooperação e articulação produtiva das artesãs não apenas de Barra especificamente, mas de
Canguaretama como um todo.
O grupo de balseiros se encontra em uma associação recém-formada, são aproximadamente 4 balsas, e 20
associados, subdividindo-os em balseiros e jangadeiros. A atividade existe na comunidade de Barra do Cunhaú desde
1999, na data de 20/01/1999. Oferecem tanto para o mercado turístico quanto para os moradores da comunidade. O
grupo atua na atividade de balseiros da comunidade de Barra do Cunhaú, Canguaretama, se caracterizam na atividade
turística como prestadores de serviço. Tem como renda a atividade de transporte de veículos e de turistas esse tipo de
trabalho é predominantemente do sexo masculino. A faixa etária fica entre 30 a 70 anos, onde a maioria são casados,
em relação ao nível de escolaridade foi respondido que a maioria estudou pouco.
Na rotina de trabalho os balseiros trabalham cada um por si, mas algumas coisas são combinadas, pela
existência de regras em relação a prática da atividade, exemplo disso, é que determinado balseiro fique parado, o outro
que fizer a travessia já toma a vez do que ficou parado, isto foi combinado em uma reunião com a participação da
secretaria de ambiente e transporte náutico da cidade.
Não costumam se reunir, mas estão prestes a marcar uma reunião, tentaram fazer mensalmente. Em relação
a utilização de meios de divulgação relatou que não existe nenhuma estratégia relacionada à prática da atividade.
O grupo toma decisões coletivas na organização de viagens e nos preços dos serviços, mas deixa claro que
não conhece as práticas da Economia Solidária, priorizam a igualdade e a democracia entre os membros. Não soube
dizer quais seriam as suas forças, mas a fraqueza do grupo se encontra na falta de divulgação e que poderia ser
modificada com o passar das reuniões, atualmente encontra-se como uma necessidade do grupo.
Antes do período pandêmico era melhor, esta atividade ficou interrompida por 8 meses, pois não se tinha
público, afetando diretamente a renda destes trabalhadores, uma vez que antes era melhor porque tinha mais visitante,
mas que em comparação ao período de paralisação geral, em si melhorou muito, mas o entrevistado afirma que o verão
2021 foi ainda muito fraco. Lembrando que por se tratar de uma atividade que está ligada diretamente ao público do
turismo e que está associado a fatores sazonais, que estão divididas em alta ou baixa temporada, mas esse cenário faz
parte do cotidiano desse trabalhadores, o que eles não esperavam era que fosse surgir uma catástrofe de saúde pública
que afeta a sua renda, ressalto que em regiões onde não existia um fluxo contínuo de turistas, tais como em Pipa,
foram as mais impactadas neste período, segundo o mesmo precisam de muita cautela para retorno.
Face ao exposto identifica-se que o grupo em questão se aproxima das práticas e princípios da Economia
Solidária, com destaque para decisões coletivas primando pela autogestão, a democracia também se faz presente, assim
como a premissa para votar e ser votada. Percebe-se também que mesmo o grupo não conhece os princípios e práticas
literais da ECOSOL os mesmos se aproximam da mesma quando tem na coletividade um processo para gestão
compartilhada. Porém se faz necessário o fortalecimento dos princípios e práticas que não se reduzam a autogestão
nem tão pouco a democracia, sendo assim a solidariedade, o comércio justo e a sustentabilidade ambiental também
precisam ser trabalhadas, entre outras.

186
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio desse instrumento de pesquisa, pode- se responder os questionamentos iniciais, onde buscou-se
entender como a economia solidária, pode contribuir com as atividades tradicionais, ligadas ao turismo de Barra do
Cunhaú afetadas pela pandemia do COVID-19. Dessa maneira foram traçados os seguintes caminhos:
• Compreender em que medida o turismo local foi afetado pela pandemia do COVID-19.
• Identificar em que medida os grupos locais se aproximam ou se distanciam de práticas e princípios da
Economia Solidária.
• Analisar se a economia solidária poderá contribuir para a superação da vulnerabilidade intensificada pela
referida pandemia.
Nesse sentido, como pode dois setores econômicos tão distantes, tais como o turismo e a economia solidária,
dialogarem em prol da população local?
É fato que o turismo tradicional tem como premissa o enriquecimento dos empresários e a população local os
postos de trabalho, com destaque para os operacionais, por exemplo: camareira, garçons, atendentes, operadores de
modo geral, mas na maioria das vezes, não é observado nos cargos de gestão a ocupação dos autóctones, como repensar
esse cenário? Como a população local pode tornar-se protagonistas de suas histórias? Em que medida a economia
solidária pode contribuir com o empoderamento dos sujeitos, da população local?
Com a fragilização das relações de trabalho enfatizadas com a pandemia do COVID-19 observa-se que todas
as atividades econômicas e sociais foram comprometidas, com destaque para a sobrevivência da vida humana. Nesse
sentido pode se afirmar que a economia solidária contribui com o fortalecimento das relações trabalhistas, econômicas
e sociais como pode ser observado pela pesquisa em tela, que os grupos investigados foram impactados, assim como
todos os outros trabalhadores em todo o mundo, não seria diferente aos do turismo, porém destaca-se que ao
praticaram os princípios da ECOSOL, tais como cooperação, solidariedade, autogestão, equilíbrio ambiental e nas
relações econômicas através do comércio justo terão esses impactos minimizados.
Conjectura se que as atividades tradicionais desenvolvidas aos moldes da ECOSOL tais como produção,
comercialização e distribuição exercidas coletivamente minimizam as dificuldades e maximizam as potencialidades,
contribuindo assim para a redução da vulnerabilidade social, que foi intensificada pela pandemia, porém que já existiam
nas relações de trabalho e renda das atividades turísticas tradicionais de Barra de Cunhaú com destaque para o
artesanato, o transporte turístico - balsa - comercialização de alimentos e bebidas - barracas de praia e pesca. Porém
não são práticas recorrentes entre os membros desses grupos o que necessita ações tanto governamental, quanto de
instituições de ensino para a difusão de tais princípios e prática.

PALAVRAS-CHAVE

Economia; Saúde; Serviços; Local; Solidariedade.

187
REFERÊNCIAS

Medeiros, Viviane Costa Fonseca de Almeida. Turismo e Economia: Experiências comunitárias e Processo de
Desenvolvimento na Perspectiva do Eu Coletivo nas Praias de Batoque e Canto Verde - Ceará - Brasil. Tese (Doutorado
em Turismo) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019.

Sen, A. (2011) A ideia de justiça. Tradução de Denise. Bottmann e Ricardo Doninelli Mendes. São Paulo.

188
IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NO SECTOR HOTELEIRO NO MUNICÍPIO DE
MAPUTO: ESTUDO DE CASO DOS HOTÉIS

Dario Manuel Isidoro Chundo (darioisidoro17@gmail.com)


Palmira Isaura de Castro Morgado (palmyramorgado@gmail.com)
Lusineide da Natividade Daniel (lusineidedaniel19@gmail.com)

INTRODUÇÃO

Moçambique reportou o seu primeiro caso confirmado de COVID-19 a 22 de março. O impacto da doença se
reflecte de forma negativa na actividade económica nacional, bem como a nível global. Em todo mundo, o sector da
Hotelaria e Turismo figura como o sector mais afectado pela pandemia da COVID-19, sendo que com a limitação de
viagens e cancelamento de eventos, os operadores deste sector viram suas receitas baixarem significativamente,
induzindo este sector a um colapso económico de proporções desmedidas. (MINEDH, 2020). Este cenário obrigou um
número considerável de operadores destes subsectores a encerrar as suas actividades, devido à insustentabilidade de
se continuar a pagar os custos fixos num contexto de falta de receita, (Idem, 2020).
A cidade de Maputo, foi palco diversos encerramentos hoteleiros, o que culminou com suspensões de
actividades, fornecimento de serviços e diminuição do número de trabalhadores.
Acreditamos que este tema dará conhecimento aos estudiosos da área e profissionais hoteleiros, dando a
conhecer as alternativas viáveis para fazer face a este fenómeno.
O artigo tem como objectivo geral analisar o impacto Pandemia da COVID-19 no sector hoteleiro no Município
de Maputo, e tem como objectivos especificos os seguintes: Caracterizar os aspectos Físicos-geográficos e socio-
económicos da cidade de Maputo;Explicar os impactos gerados pela Pandemia da COVID - 19 nos hotéis; Explicar a
percepção dos colaboradores dos hotéis sobre as medidas de prevenção da Pandemia da COVID-19 e Propor medidas
de minimização dos impactos daPandemia da COVID -19 nos hotéis.
MOTA, (2001) afirma que a hotelaria pode ser compreendida como uma das principais actividades do turismo,
já que atende a uma necessidade básica, para a realização, pois viabiliza a permanência do turista no local visitado.
Segundo SERSON (1999, p. 41) Hotel é uma “edificação onde se alugam quartos ou apartamentos mobiliados,
podendo esse aluguel estar acompanhado de serviços de alimentação, arrumação ou outros”.
Hotel entende-se como uma unidade completa, reunindo em si os requisitos necessários para que o cliente
nela possa viver, tranquilo e despreocupado, tendo preenchida todas as suas necessidades sono e descanso,
alimentação, distração e entretenimento e contato rápido com o exterior quando necessário, (MARQUES, 2003, p. 28).
Portanto, a hotelaria é uma indústria de bens e serviços que tem como objectivo a venda de serviços de
alojamento, alimentação, segurança, em troca de um pagamento estipulado para que sejam feitas actividades turísticas
como o lazer.

189
Segundo o MINISTÉRIO DA SAÚDE (2020), O coronavírus são uma grande família de vírus que podem causar
doenças em animais ou seres humanos. Vários coronavírus são conhecidos por causarem infecções respiratórias em
seres humanos, que variam de constipação normal a doenças mais graves, como a Síndrome Respiratória do Oriente
Médio (MERS) e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS). O coronavírus descoberto muito recentemente causa uma
doença chamada de coronavírus COVID-19.
O covid-19 é uma doença respiratória aguda grave e infecciosa, que afecta maior parte da população que não
segue as medidas de higiene preconizadas pela OMS.
RUSCHMAN (2000, p. 34), os impactos “[...] são consequência de um processo complexo de interacção entre os
turistas, as comunidades e os meios receptores. Muitas vezes, tipos similares de Turismo provocam diferentes impactos,
de acordo com a natureza das sociedades nas quais ocorrem”. Esses podem ser positivos ou negativos, sendo
considerados como positivos os que trazem benefícios para a comunidade receptora e negativos os que causam estragos
para a localidade e sua população.
No turismo os impactos “[...] referem-se à gama de modificações ou sequência de eventos provocados pelo
processo de desenvolvimento turístico nas localidades receptoras” (RUSCHMANN, 2000, p. 34).
Impactos turisticos são as alterações ou modificações naturais ou artificiais que ocorrem no destino turístico,
resultantes da prática da actividade turística, bem como da interação entre os fatores do Turismo podendo ser positivos
ou negativos.

METODOLOGIA

Trata-se de uma Pesquisa básica, porque pretendia - se construir um conhecimento a cerca do Impactos
gerados pela Covid-19 no sector Hoteleiro, no Município de Maputo: estudo de caso nos Hotéis: Afrin Prestige, Maputo,
Onomo, Pestana Rovuma e Resotel.
O método descritivo foi usado para descrever e identificar o local de estudo, suas características,
funcionalidades antes e depois do Covid-19 o que permitiu obter dados precisos.
O método estatístico foi usado para a colecta de dados assim como para análise dos dados colhidos no terreno,
o que permitiu a obtenção de dados fidedignos sobre o impacto da COVID- 19 nos hotéis.
No caso do método comparativo, nós analisamos, detalhadamente, fenómenos ou fatos. Ao estabelecer a
comparação entre dois objectos, nós compreendemos melhor o funcionamento e os contornos do que está sendo
investigado. Para este trabalho o método comparativo ajudou na comparação das desigualdades das taxas de ocupação,
efectivo de funcionários e outros dados inerentes ao trabalho.
Portanto, tratando-se de uma pesquisa quantitativa para obtenção de dados tabulados foi usada uma
entrevista estruturada com perguntas de múltipla escolha. A entrevista foi direccionada aos gestores Hoteleiros e
colaboradores.

190
Na pesquisa foi usada a observação directa, que auxiliou a proponente na identificação e obtenção de provas
a respeito do impacto da COVID19 no sector hoteleiro, no município de Maputo, de modo a que foi possível verificar qual
tem sido o fluxo dos turistas, como tem funcionado o hotel e como os funcionários tem intercalado os turnos e como os
hotéis têm respondido as exigências do MISAU face a COVID – 19.
O universo da pesquisa é composto por hotéis localizados na cidade de Maputo, gestores, funcionários e
clientes. Dos 54 hotéis existentes na cidade de Maputo foram escolhidos 5 de forma aleatória, 218 funcionários foram
escolhidos 51 funcionários de foram aleatórios onde 40 do sexo masculino e 11 do sexo feminino, 5 gestores, 4 do sexo
masculino e 1 do sexo feminino, 17 hospede onde 12 são do sexo masculino e 5 do sexo feminino.

RESULTADOS

A determinação do Impacto da Pandemia de Covid-19 no sector Hoteleiro no Município de Maputo, teve como
base a restriҫão de viagens e o cancelamento de actividades eventos e atividades recreativas, fazendo com que este
sector visse as suas receitas baixarem de forma significativamente. E neste contesto, que apresentos nos graficos
abaixo os resultados das encontrados durante a pesquisa expresso em tabelas e gráfico.
A tabela 1 apresenta a Caracterização dos cinco (5) hotéis em estudo considerando os dois principais períodos (ocupação
antes da pandemia e ocupação pós pandemia).

Tabela-1: Caracterização dos hotéis em estudo

Hotéis Classificação Número Número Taxa de Taxa de Diferença


de camas de ocupação ocupação
quartos antes da pós
pandemia pandemia

Hotel 1 5* 100 300 80% 40% 40%


Hotel 2 4* 81 54 100% 20% 80%
Hotel 3 4* 250 119 85% 7% 78%
Hotel 4 3* 165 20% 4% 16%
Hotel 5 3* 102 68 35% 29% 6%
Fonte: Autores, 2021

Com base na tabela acima, e possível notar uma redução significativa das taxas de ocupação dos 5 hotéis,
comparativamente ao período antes da pandemia e pós pandemia. Uma especial atencao vai para o hotel 2, sendo que,
teve uma redução brusca de 20% na taxa de ocupação quando no período anterior detinha uma taxa de ocupação de
100%.

Tabela 2: Efectivo de Funcionários Antes e em tempos da covid-19


Antes da Covid-19 Em tempos da Covid-19
Hotel Número de Número de Total Número de Número de Total
funcionários funcionários do funcionários funcionários
sexo Feminino

191
do sexo do sexo do sexo
Masculino Masculino Feminino
Hotel 80 55 135 50 37 87
1
Hotel 18 17 35 18 17 35
2
Hotel 60 17 77 25 8 33
3
Hotel 23 19 42 15 17 32
4
Hotel 26 23 49 16 15 31
5
Fonte: Autores, 2021

Com base na tabela acima nota-se que, com a redução da taxa de ocupação1, os operadores foram obrigados
a diminur a sua massa laboral, devido a queda das receitas. Curiosamente, o hotel 2, não reduziu o seu efectivo laboral,
alegando que foi possível gerir essa drástica situaҫão com fundos próprios de modo a não retirar a sua massa laboral.
O sector hoteleiro da cidade de Maputo desde março de 2020, é assolado pela covid-19. Esta tem gerado grandes
implicações para o sector. Seja no âmbito económico, social e estrutural. Facto este que obrigou com que os mesmos
dispensassem os seus colaboradores, tomando em consideração critérios para a dispensa dos mesmos. Procurou-se
saber por parte dos gestores assim como dos funcionários que critérios foram usados para a dispensa dos mesmos, dos
quais citaram os seguintes:
✓ Indemnização aos colaboradores mais velhos, e alivio dos encargos da folha salarial;
✓ Necessidades dos sectores;
✓ Verificação das posições em que eles trabalhavam para que se visse se os colegas conseguiriam os substituir
nas funções que desempenhavam.
É de salientar que, a adopção destes critérios foi de forma a minimizar e encontrar um equilíbrio nos diferentes
sectores de actividades existentes no hotel, de forma a mitigar os impactos negativos gerados pela covid-19. Com
a adopção destes critérios, várias são as implicações que advêm como resposta da reestruturação no âmbito
económico e estrutural.

Gráfico-1: Implicações da reestruturação no âmbito económico e estrutural.

1Taxa de ocupação é a percentagem total do número de quartos ocupados num hotel, é o principal indicador da percentagem de ocupações vendidas em relação
ao disponível. Este varia de acordo com dia, semana, mês até mesmo a longo prazo como anualmente.

192
100% 60% Económico
20% 20%
0% Diminuição da
capacidade de
oferta
Redução da
despesa salarial.

Fonte: Autores, 2021

Nota-se que a reestruturação no âmbito económico e estrutural trouxe as seguintes implicações:


A nível económico:
✓ Diminuição da capacidade de oferta que representa de 60%;
✓ Redução da despesa salarial que representa 20%
A nível estrutural;
✓ Sobrecarga dos colaboradores que representa 20%, pois estes tiveram que assumir tarefas dos outros
colaboradores.
Com o objectivo de perceber os impactos gerados pela covid-19, procurou-se saber por dos gestores, os impactos
que a covid-19 trouxe aos hotéis, no que diz respeito ao fluxo de turistas e a aquisição de receitas. Como ilustra a tabela
3.
Tabela-3: Impactos que a covid-19 trouxe aos hotéis, no que diz respeito ao fluxo de turistas e a aquisição de receitas.
Impacto nos fluxos Impacto na aquisição das receitas
Diminuição de clientes estrangeiros Diminuição das receitas
Diminuição da taxa de ocupação de 85% para 7 Diminuição das receitas e aumento de custos
% operacionais fixos.
Redução drástica de clientes Não obtinham as receitas desejadas
Diminuição de clientes e visitantes Houve diminuição do pessoal e endividamento do
hotel.

Fonte: elaborado pelos autores, 2021.

Tabela-4: Variação do fluxo de turistas (2019/2020)


Hóspedes Dormidas

Ano Nacionais Estrangeiros Nacionais Estrangeiros Receitas

2019 103 129 172 196 159 896 252 475 2.567.033,53

2020 71 264 68 959 116 283 129 314 1.767.988,01


Diferença 31 865 103 240 55 913 132 161 799. 045,52
Fonte: INE, Inquérito mensal ao alojamento e restauração: dados provisórios, 2021.

193
Com base na tabela nº-4, percebe-se que há uma variação em termos de fluxos de turistas, dormidas assim
como as receitas, tanto que no ano de 2019 tivemos 103 129 e no ano 2020 tivemos 71 264 de hóspedes nacionais com
uma margem de diferença de 31 865, no que toca ao fluxo de hóspedes estrangeiros, a cidade de Maputo no ano de
2019 recebeu 172 196 e no ano de 2020 recebeu 68 959, notando-se uma diferença em termos de redução de 103 240.
No que concerne as dormidas nacionais, a cidade de Maputo contou com 159 896 em 2019 e com 116 283 em
2020, tendo uma redução de 55 913, quando as dormidas estrangeiras.
Tem-se que com a redução do fluxo de hóspedes, assim como das dormidas nacionais e estrangeiras, vai
influenciar na arrecadação das receitas, onde no ano de 2019 sector contou com 2.567.033,53 e com 1.767.988,01 em
2020. Assim, observa se uma diferença de 799. 045,52 em termos de arrecadação de receitas.
Deste modo, constata-se que a covid-19, impactou negativamente ao sector hoteleiro causando enormes
prejuízos dos quais destacam-se os seguintes:
Dimensão económica
✓ Diminuição de clientes;
✓ Diminuição das taxas de ocupação;
✓ Diminuição da realização de eventos;
✓ Aumento dos custos operacionais fixos;
✓ Fraca obtenção de receitas almejadas;
✓ Endividamento.
Dimensão social
✓ Diminuição da massa laboral.

Sectores afectados pela covid-19 nos hotéis


A covid-19, afectou de forma significante vários sectores de actividade que fazem parte dos hotéis, como
evidencia o gráfico 2.

194
Gráfico-2: Sectores hoteleiros afectados pela covid-19

100%

50% 20% 40%


20%
20%
0%

Lavandaria, alojamento
Todos sectores Recepção e alojamento Sector de eventos
e recepção
20% 40% 20% 20%

Analisando o gráfico nº-2, nota-se que grande parte dos hotéis, foram afectados nos diferentes sectores de
actividade, sendo que, 20% tiveram um impacto negativo na área da lavandaria, alojamento e recepção, 40% tiveram
impactos consideráveis em todos sectores, 20% na área da recepção e alojamento e 20% dos hotéis sustentam que
tiveram um impacto negativo no sector de eventos respectivamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento deste estudo, tinha como objetivo analisar o impacto da COVID-19 no sector hoteleiro no
Município de Maputo, nos Hotéis: Afrin Prestige, Maputo, Onomo, Pestana Rovuma e Resotel. a cidade de Maputo
concentra um grosso numero de instancias hoteleiras que, desde a eclosão da covid-19, conheceu uma nova dinâmica
no desenvolvimento pleno das suas actividades. Tem-se que o sector na sua história é a primeira vez que enfrenta um
inimigo invisível que proporcionou ao sector grandes retrocessos, bem como impactos negativos, na economia assim
como na vida social de muitos moçambicanos.
Portanto, desde a eclosão da covid-19 no país, houve uma diminuição no fluxo de hóspedes nacionais e
estrangeiros, o que culminou com a diminuição das taxas de ocupação, diminuição da massa laboral, diminuição da
realização de eventos, aumento dos custos operacionais, fraca obtenção de receitas almejadas e endividamento por
parte dos hotéis, que constitui um impacto económico (negativo), por outra a covid-19 teve um impacto de dimensão
social, pois vários funcionários foram desempregados, em que para a demissão dos mesmos foram adoptados critérios
por forma a minimizar e encontrar um equilíbrio nos diferentes sectores de actividades existentes no hotel, para a
mitigação dos impactos gerados pela covid-19.

PALAVRAS-CHAVE

Hotel, Hotelaria, COVID 19 e Impactos

195
REFERÊNCIAS

MARQUES, J.A. (2003). Introdução a hotelaria. Livraria civilização Editora.


MINEDH. (2020). Programa de Edução em emergência 2020-2021. Financiado pela Parceria Global da Educação. Abril,
esboço revisto
MOTA, Keila Cristina Nicolau (2001). Marketing Turístico: promovendo uma actividade Sazonal. São Paulo: Atlas,
RUSCHMANN, Doris (2000). Turismo e planejamento sustentáveis: a protecção do meio Ambiente. São Paulo: Pairus,
SERSON, Fernando. M. (1999). Hotelaria: A busca da excelência. São Paulo: Cobra,
https://riscocovid19.misau.gov.mz/

196
TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA EM MEIO A PANDEMIA COVID-19:
ENFRENTAMENTOS, REDES E AÇÕES EM TRANSIÇÃO
Edilaine Albertino de Moraes (edilaineturmoraes@hotmail.com)
Paulo Henrique Ribeiro Estevão (ph.ribeiroestevao@gmail.com)
Teresa Cristina de Miranda Mendonça (teresam@ufrrj.br)
Anderson Simões da Costa (ascosta1970@gmail.com)
Cristiane Barroncas Maciel Costa Novo (cbarroncas@uea.edu.br)

INTRODUÇÃO

No atual contexto de crise e de suspensão parcial da economia global provocada pela pandemia do COVID-19,
um dos setores mais afetados, amplamente, tem sido o turismo. Tendo em vista esse decrescimento forçado do turismo,
os efeitos da crise são alarmantes em diferentes regiões do mundo, sobretudo onde o turismo representa a principal
fonte de emprego e renda. Seja em centros urbanos ou em áreas rurais, milhões de pessoas e famílias, envolvendo,
principalmente, mulheres, jovens, comunidades e outros grupos vulneráveis e excluídos estão sofrendo riscos de
sobrevivência com a pausa imposta aos pequenos e médios empreendimentos e serviços associados ao turismo (UNWTO,
2020).
Neste cenário de incertezas para construir um mundo pós COVID-19, torna-se necessário, portanto, repensar
os próprios fundamentos da sociedade em relação ao turismo, considerado como uma estratégia elementar para o
alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, previstos pela Agenda 2030 (ONU, 2015). Assim, tendo como
pressupostos o Código Ético Mundial para o Turismo (1999) e as recomendações da OMT para a superação da crise (2020),
pode-se reafirmar que o turismo sustentável tende a constituir uma oportunidade singular para o fortalecimento da
governança local, baseada nos princípios da inclusão e responsabilidade socioambiental, além de contribuir para a
redução dos impactos sociais, econômicos e políticos da pandemia.
Considerando, então, a importância desta temática na pesquisa acadêmica, nos últimos anos, os debates
críticos sobre turismo sustentável, no Brasil e em outros países da América Latina, têm provocado reflexões sobre
alternativas denominadas turismo de base comunitária ou turismo comunitário (TBC). Enquanto uma via possível para a
redução das desigualdades sociais, essas iniciativas turísticas de base comunitária vêm, desde a década de 1980,
ganhando visibilidade, como formas de resistências delineadas a partir de estratégias culturais e políticas enraizadas
localmente, frente aos padrões hegemônicos do turismo massificado predatório. Nessa perspectiva, a prática de TBC
tem como premissa fundamental a base endógena em planejamento e desenvolvimento do turismo. Essa nova
perspectiva tem sido interpretada como uma oportunidade para a melhoria de condições de vida por inúmeros grupos
sociais em situação de vulnerabilidade social e ambiental e à margem de projetos turísticos convencionais na região,
como pescadores artesanais, etnias indígenas, agricultores familiares, ribeirinhos e quilombolas (BARTHOLO, SANSOLO
e BURSZTYN, 2009; CORIOLANO e SAMPAIO, 2013; MORAES, 2019).

197
Outro aspecto importante das iniciativas de TBC se refere a sua vinculação às estratégias políticas
desenvolvidas por grupos organizados e movimentos sociais para a garantia e para a preservação da cultura local e
dos territórios por eles ocupados tradicionalmente. Ações nesse sentido vêm sendo lideradas pelos movimentos
indígenas e do campo em vários países da América Latina (MALDONADO, 2009). Esses processos têm contribuído para
que o TBC venha sendo organizado por meio de ações coletivas, de federações e de redes locais, nacionais e latino-
americanas, permitindo apontar preocupações comuns e, também, construir alianças entre organizações não
governamentais, universidades, gestores públicos e movimentos sociais que atuam em frentes populares, influenciando
as agendas de políticas públicas e o delineamento de formas de comercialização nesse setor (CAÑADA, 2015; MORAES,
IRVING e MENDONÇA, 2018).
No território nacional, destaca-se a Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário (TURISOL), formada,
em 2003, pela união de organizações que atuavam em 07 projetos de TBC, promovendo trocas de experiências,
fortalecendo as iniciativas existentes e despertando o interesse de outras comunidades para a construção de formas
mais justas de turismo no país. Desde então, diversos projetos de TBC vêm sendo desenvolvidos em diferentes regiões
e biomas preservados, tornando-se foco de interesse de pesquisas acadêmicas e estudos de caso em todo o país,
influenciando a realização de diversos debates e seminários até os dias atuais, os quais resultaram em publicações e
anais (CORIOLANO e LIMA, 2003; SILVA et al., 2008; COSTA NOVO e CRUZ, 2013; MARUPIARA, 2014; BAGAGEM, 2015;
VERAS et al., 2017), que contribuíram também para que esse tema e ação se afirmassem politicamente em defesa dos
direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais.
Dessa forma, o TBC representa um tema em evidência, inspirador e também relevante, que exige a ampliação
da sua análise, simultaneamente, como um discurso e uma prática, considerando as múltiplas conexões entre os atores
envolvidos. Ou seja, a compreensão do TBC transcende a perspectiva de planejamento e estruturação de
empreendimentos comunitários ou a mera dinâmica de recepção de visitantes. Nesse sentido, o TBC se expressa como
um laboratório de experiências emergentes e alternativas frente às desigualdades sociais existentes e à condição
estratégica de sociobiodiversidade e riqueza cultural do país. Por outro lado, inúmeros são ainda os desafios a serem
enfrentados com esse enfoque, tendo em vista a agenda governamental e o processo de políticas públicas em curso,
conduzidos por uma visão centrada na dimensão econômica do turismo, negligenciando, desse modo, os lugares de TBC
(MORAES, 2019; MORAES, IRVING, PEDRO e OLIVEIRA, 2020).
Assim, diante do enfrentamento à COVID-19, as iniciativas de TBC também estão suspensas, mudando a
dinâmica de organização local e deixando várias associações, famílias e grupos comunitários mais vulneráveis. Nesta
perspectiva, foram delineados alguns problemas de pesquisa: quais serão as formas de TBC desejadas pelas
comunidades no período pós-crise? Os grupos de TBC querem um retorno acelerado, mais lento ou que volte a funcionar
como acontecia antes da crise? Como eles querem construir uma nova realidade de TBC?
Em meio a essa produção de problemas, realidades e conhecimentos atravessados por uma pandemia sem
precedentes, este artigo apresenta parte do resultado do projeto de iniciação científica intitulado “Turismo de base

198
comunitária no Brasil pós Covid-19: repensando resistências, ações e conexões para imaginar novas práticas
sustentáveis”, realizado no período de 2020 a 2021 (com apoio da Universidade Federal de Juiz de Fora – PROPP/UFJF).
Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo descrever e analisar os enfrentamentos, conexões e estratégias
adotadas pelas comunidades locais, visando o delineamento de novas práticas de TBC no contexto pandêmico.
Frente ao desafio de buscar construir vias analíticas diplomáticas para a produção de conhecimento sobre o
TBC, neste trabalho, argumenta-se a favor das bases da Teoria Ator-Rede (original em inglês de Actor-Network Theory
- ANT), formulada no campo dos Estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), que vem sendo, progressivamente,
defendida no âmbito das Ciências Humanas e Sociais. Essa abordagem é defendida, principalmente, pelo pensador
francês Bruno Latour (2012), como uma via investigativa que questiona a visão dicotômica entre natureza e sociedade,
propondo um caminho inovador para a abordagem do “social” e da “sociedade”, no reconhecimento de redes
constituídas de elementos humanos e não-humanos. Nesse sentido, a Teoria Ator-Rede contribui para a experimentação
de uma reflexão que explore o processo coletivo em meio às mudanças geradas nesses tempos incertos de pandemia.
Latour (2020), reivindica, ao mesmo tempo que Krenak (2020), que a pandemia está sendo uma chance para repensar o
modelo de desenvolvimento da sociedade e construir um presente e futuro mais justos, embora teme que isso possa
piorar as injustiças existentes. Sendo assim, esta é uma oportunidade de recolocar o turismo em questão, especialmente
o TBC.

METODOLOGIA

A abordagem teórico-metodológica adotada foi a Teoria Ator-Rede (LATOUR, 2012). Moraes (2019) ressalta
que, na literatura especializada, a problematização sobre o TBC no Brasil à luz da ANT é ainda embrionária. Partindo
dessa lacuna, em continuidade ao ofício investigativo (MORAES, 2019; MORAES, 2020), este trabalho tem como principal
diretriz metodológica: “seguir os próprios atores” e se alimentar de controvérsias (LATOUR, 2012:31).
Sendo assim, foram construídas, de modo conjugado, os seguintes procedimentos metodológicos. A pesquisa
bibliográfica e documental incidiu sobre os temas TBC e COVID-19. As bases de dados acessadas foram: Google
Acadêmico; Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Rede de Revistas Científicas da América Latina e do Caribe,
Espanha e Portugal (Redalyc). A partir do levantamento bibliográfico, publicado em 2020, foi criado um mapa literário,
indicando as palavras-chave mais abordadas nas referências consultadas, as quais foram: crises, políticas públicas,
economia, resistência e sustentabilidade.
A pesquisa documental envolveu consultas a organismos internacionais e nacionais especializados nessa
temática, dentre os quais a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial do Turismo (OMT), o Ministério
Nacional de Turismo e da Saúde. Também foram consultados conteúdos disponíveis nas páginas virtuais de organizações
não governamentais e de outras iniciativas da sociedade civil, assim como serão acessadas informações e discussões e
interações on-line em mídias sociais (Whatsapp, Facebook, Instagram e Youtube). Jamal e Budke (2020) consideram o

199
uso dessas fontes de mídias atuais emergentes como um procedimento privilegiado para a realização de pesquisas
acadêmicas à medida que a situação do COVID-19 está se desenvolvendo.
Além disso, foi realizado um mapeamento de 57 lives e eventos virtuais, ocorridas entre abril e dezembro de
2020, que trataram diretamente sobre TBC e COVID-19. Após a escuta, transcrição e sistematização dessas lives,
observou-se nove vozes e lideranças que mais participaram desses eventos e se destacaram no debate. A partir da
identificação dos atores sociais atuantes no TBC brasileiro, foi elaborado um roteiro de entrevista semi-estruturada. As
entrevistas foram feitas virtualmente via plataforma Google Meet. As nove lideranças entrevistadas são vinculadas aos
seguintes projetos: Associação Acolhida na Colônia (SC), Associação de Auxiliares e Guias de Ecoturismo de Mamirauá
(AM), Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri (CE), Quilombo de Ivaporunduva (SP), Quilombo Kalunga (GO),
Núcleo de Turismo Étnico Rota da Liberdade (BA), Rede Caiçara de Turismo Comunitário Paranaguá (PR), Rede Cearense
de Turismo Comunitário (CE) e Rede Nhandereko de Turismo de Base Comunitária (RJ).
As entrevistas foram gravadas e transcritas, segundo assinatura de termo de consentimento livre e
informado. A sistematização das entrevistas resultou em uma matriz-síntese qualitativa, com nome da iniciativa e ano
de criação; território de abrangência; atores sociais envolvidos; atividades produtivas locais; modo de organização
social do TBC; parcerias existentes; comunicação; serviços prestados aos visitantes; estratégias de comercialização;
situação local da Covid-19; cuidados de saúde adotados; protocolos de segurança; situação da visitação; perfil do turista
desejado; estratégias de construção de laços de solidariedade; recomendações para o TBC e políticas públicas; e
princípios norteadores pós-Covid-19.
Por fim, a análise de dados qualitativos abrangeu os principais discursos e questões (semelhantes e
divergentes) apresentadas nas entrevistas com rebatimento na pesquisa bibliográfica e documental, contribuindo,
assim, para a construção de conhecimento sobre as experiências do TBC, no período da pandemia COVID-19, em 2020-
2021, e sobre o que se espera para o futuro dessa prática.

RESULTADOS PARCIAIS

Com a chegada da pandemia COVID-19 no Brasil, em fevereiro de 2020, as iniciativas de TBC foram suspensas,
mudando a dinâmica de organização local e deixando várias associações, famílias e grupos comunitários mais
vulneráveis. Isso porque a condição de isolamento social inviabilizou a prestação de serviços de alimentação, de
hospedagem e de passeios, a produção e venda de artesanatos e de produtos agroecológicos, entre outras atividades,
que são fundamentais para a garantia dos benefícios econômicos e a integridade social e cultural local.
O enfrentamento da expansão da COVID-19, localmente, se tornou ainda mais complexo e desafiador em meio
a fragilidades econômicas e tensões políticas no país. Várias comunidades de TBC enfrentaram perda de empregos,
insegurança alimentar e nutricional, problemas de saúde e morte de familiares, isolamento em suas casas, restrição no
acesso ao território, turistas invasores, restrição da visitação, mudança de comportamento e conduta com o visitante,

200
lenta imunização dos moradores, falta de assistência médica do poder público municipal (muitas comunidades não
dispõem de posto de saúde), exploração doméstica e sexual, além de ameaças da especulação do território terrestre e
marinho por meio dos grandes empresários, madeireiros e de usinas de energia eólica, bem como, o próprio desmonte
das políticas públicas ambientais, que garantem os direitos constitucionais dos povos indígenas e comunidades
tradicionais. Esse quadro preocupante pode ser exemplificado pelos relatos, a seguir:
“É assim que eles chegam dentro da comunidade, eles não aguentam ver uma área preservada, porque
já destruiu tudo deles, aí não aguenta ver uma área preservada e por aqui é muito cobiçada essa nossa
região sabe, porque é uma região de manguezal, uma região de mar, tem muito manguezal e é uma
região que tem todo uma reserva extrativista. A gente preserva muito as comunidades quilombolas,
porque a gente não consegue sobreviver sem cuidar da preservação ambiental e aí por isso tem muitas
ruínas de engenho na beira do mar, e eles só vem pra querer colocar resort. Se eles vêm para querer
colocar pousada ou resort eles têm que entender que quem tem que colocar é a gente, é a comunidade,
não é vocês. Se o governo tá discutindo isso pra vocês colocar um resort aqui, o governo paga pra gente
fazer uma estrutura de resort e a gente administra, porque é da comunidade e não vamos vender nada
pra você, mas se a gente não tiver pé firme mesmo eles chegam atropelando tudo né (...)” (Interlocutor
da Rota da Liberdade, BA)

“Com a pandemia, algumas famílias desanimaram. Mas a gente sempre se comunica nos grupos. Com
relação aos visitantes todos estão com bastante medo. Tem muitas pousadas que não estão recebendo
ninguém. Por outro lado, o produto orgânico ganhou um grande valor. Tem muita gente vindo comprar
esse alimento que reforça a saúde das pessoas. Então, por um lado a gente perdeu porque estamos com
menos visitantes em cada pousada, mas por outro lado a gente ganhou na venda dos produtos. Agora, a
gente conversa de longe, não senta mais junto pra comer, ninguém se toca, todo mundo de máscara, com
placa, as pessoas permanecem muito menos tempo no refeitório do que antes, que era quase uma
confraternização. É muito estranho.” (Interlocutora Acolhida na Colônia, SC)

Apesar dessas dificuldades e ameaças, para atender às necessidades básicas e aos cuidados de isolamento
social e de prevenção do vírus desses grupos afetados, fóruns e redes em defesa de povos indígenas e comunidades
tradicionais em articulação com diferentes entidades, universidades e apoiadores resistiram e lutaram por meio da
promoção de campanhas solidárias em prol de arrecadação financeira, de alimentos e itens de higiene e remédios. Esse
foi o caso de articular e tecer redes, como aconteceu na Rede Nhandereko de Turismo de Base Comunitária (RJ), na Rede
Mineira de Turismo de Base Comunitária (MG), na Rede de Turismo Comunitário da Bahia (BA), no Fórum dos Povos e
Comunidades Tradicionais do Vale do Ribeira (SP), no Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e
Ubatuba (RJ), na Coordenação de Povos Indígenas de Manaus e entorno (AM), dentre outros.
O trabalho e a vivência coletiva são fatores primordiais no TBC. A criação de laços de solidariedade e a união
foram ainda mais fortalecidas com a chegada da pandemia, como uma maneira das comunidades locais se ajudarem e
protegerem os seus territórios. O apoio das redes foi essencial para que essa troca e cuidado acontecesse, conforme
comentário abaixo da interlocutora da Associação de Auxiliares e Guias de Ecoturismo de Mamirauá (AM):
“Hoje a gente está refletindo e vendo que a gente depende um do outro. Essa pandemia trouxe mais união
pras pessoas conseguirem entender que eles têm que ajudar quem não tem. Pra gente formar essa
corrente precisa se unir mais e foi uma coisa que aconteceu, a gente se uniu mais, teve mais união. Então,
Mamirauá se uniu com outras associações, buscou ONGs pra doar as cestas básicas. As comunidades já
eram unidas. Mas hoje a gente vê que um fica mais preocupado com o outro, vê o que tem pra comer e o
que não tem, quem tem vai lá e ajuda. Isso foi bem importante.”

201
Nessa dinâmica, várias estratégias foram adotadas pelos grupos investigados: assistência no cadastro do
Auxílio Emergencial COVID-19; reflexão entre as comunidades sobre como é trabalhar com turismo e trabalhar sem
turismo; construção de protocolos de segurança para comunitários e visitantes; dedicação às atividades de agricultura
familiar, agroecologia, pesca e economia solidária; investimento em formações, capacitações e planejamento de
atividades; terapias integrativas de cuidados com a saúde física, mental e psicológica; construção de barreiras sanitárias
para impedimento de entrada de pessoas de fora; foco no fortalecimento da base comunitária, familiar e amigos; apoio
de instituições públicas, organizações não governamentais e operadoras de viagens; oferta de roteiros virtuais para
escolas e público em geral; venda on-line de artesanato e organização de eventos virtuais, participação em lives. Esse
movimento de possibilidades construídas nesse período está explicitado nos seguintes depoimentos:

“Estamos discutindo o protocolo de segurança. Já foi vendido alguns pacotes anos passado. Mas ainda
vamos ver. Se a vacina dentro do Estado avançar, a gente vai começar receber dentro de um limite. Não
vai ser 100%, vai ser 35 a 40 % de pessoas por vez. Com álcool em gel, tudo certinho. Não ter muito
contato com essas pessoas. Estamos pensando na questão da segurança porque é muito importante. Mas
por enquanto está parado. Já tem escola que se manifestou. Falamos não. O que vai definir nosso turismo
é a questão da vacina. Aí vamos começar a pensar para se fazer que o turista venha para cá.”
(Interlocutor do Quilombo do Ivaporunduva, SP).

“A gente recebeu em algumas comunidades que a gente conseguiu né, com todos os cuidados, todos os
municípios aqui no Ceará adotaram algumas normas, alguns protocolos, e que tem sido definido por cada
município e nós da Rede Tucum definimos né um protocolo nas comunidades que iam receber seus
visitantes. Então, conseguimos cumprir todas as normas, todos os cuidados, garantir todos os cuidados,
todas as precauções de distanciamento, tudo de máscara, do álcool, todas as regras possíveis pra tentar
garantir toda segurança do visitante quanto das pessoas da comunidade.” (Interlocutora da Rede
Cearense de Turismo Comunitário, CE).

Diante dessas colocações, pela presente pesquisa, o TBC é uma atividade complementar, o que implica o
desenho de políticas públicas que assegurem condições de qualidade de vida para as comunidades locais. O investimento
em saneamento básico, condições de acesso à saúde pública e de acessibilidade e transporte são setores que também
devem ser associadas ao TBC. Considerando a ausência de ações de políticas públicas com esse viés, torna-se relevante
a inserção de gestores no poder público com ideias e propostas responsáveis para contrapor a imposição ainda
colonialista dominante no turismo, defendendo novas formas de fazer-saber turismo, que respeite, ouça e aceite as
escolhas das comunidades para a construção do TBC, conforme destaca a interlocutora do Quilombo Kalunga (GO), a
seguir:
“Que a gente coloca como pontos cruciais contar a nossa história para os visitantes, mostrar a nossa
realidade de conflitos, por exemplo, fazendeiros, mineradores, hidronegócio, agronegócios, mostrar isso
historicamente. Como é difícil mostrar os processos de opressões que somos submetidos, e que ainda
hoje acontece! Eu acho que essas questões devem estar sempre latentes, sempre firmadas e reafirmadas
ao turista, porque essa história muita gente não conhece. Ela foi negada e é negada ainda hoje.”

Embora alguns interlocutores pesquisados tenham mencionado que existe otimismo para a retomada do
turismo, e que todos os públicos são bem-vindos, a maior parte dos entrevistados revelou uma simpatia maior em
receber estudantes para que ocorra uma troca de conhecimento entre a comunidade e pessoas do meio estudantil. Para
tanto, exige organização para definir novas estratégias de vida e TBC.

202
No âmbito das lives, percebeu-se ainda que o TBC foi difundido como uma “atividade” que tende a ser
promissora no contexto pós vacina, porém, isso pode constituir um risco. Portanto, essa aposta no TBC deve ser debatida
sob o compromisso de sustentabilidade e o olhar das próprias comunidades, a fim de não cometer equívocos do mercado
convencional de agências de turismo de explorar seus territórios de qualquer jeito e a qualquer custo.
O presente estudo resultou também em novas lacunas de pesquisa, que se traduzem em algumas questões
desafiadoras para a reflexão entre esses grupos de TBC: Com o que a comunidade mais se importa? Do que a comunidade
depende para sua própria subsistência e para o TBC? Contra quem a comunidade deverá lutar pelo TBC? Com que
visitante/turista ela quer conviver? Com que tipo de agência de turismo ela quer fazer parceria? Como construir políticas
público-comunitárias?

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realidade imposta pela pandemia revelou uma chance para repensar o modelo de desenvolvimento injusto
do turismo, mediante aos aprendizados e oportunidades experimentados na prática do TBC.
Este estudo apresentou, brevemente, de forma reflexiva, as diversas realidades que envolveram o TBC na
pandemia Covid-19 (2020-2021) e seus contrapontos. Assim, foi possível afirmar que o TBC no Brasil é composto de
territórios em luta. Entendendo que cada um dos atores participantes do TBC tem sua própria maneira de identificar o
que é de interesse para o local e de definir o seu entrelaçamento com os atores envolvidos. Portanto, o TBC demanda
cuidado, atenção, tempo e agenciamentos múltiplos.
Isto posto, o que essas mudanças geradas pela pandemia significam para as pesquisas em TBC? Qual é o modo
de pesquisar mais apropriado para discutir o TBC em meio a uma crise tão impactante, como a pandemia? De fato, os
efeitos da pandemia não poderão mais ser ignorados nas pesquisas sobre esse tema. Sendo assim, pressupõe-se que
o futuro das pesquisas de TBC implicará mover-se por um campo investigativo de novas incertezas e processos coletivos
de resistências, lutas, intervenções e conexões, a fim de abrir caminhos possíveis para ampliar a reflexão sobre a
realidade dessa prática, que poderá ser retomada ou mesmo criada a partir do zero, no contexto pós vacina COVID-19.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo de base comunitária; Pandemia; Brasil; Redes; Políticas públicas.


REFERÊNCIAS

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Veras, A. (2017). Anais do Encontro de Turismo Comunitário da Amazônia. V. 01, N. 01. Boa Vista: EdUFRR.

205
Resumos de Artigos Completos
“DIVERSÃO SEM SAIR DE CASA” - A PLATAFORMA AIRBNB E AS EMOÇÕES
PROVOCADAS POR EXPERIÊNCIAS TURÍSTICAS ONLINE NO PANORAMA DA COVID-19

Josefa Laize Soares Oliveira (laizeoliveira@usp.br)


Rina Ricci Cagnacci (riricca@gmail.com)
Alexandre Panosso Neto (panosso@usp.br)
George Bedinelli Rossi (gbrossi@usp.br)

RESUMO

Embora muitos estudiosos centraram-se em pesquisar temáticas relacionadas a pandemia de COVID-19 e seus efeitos
no turismo, não foram identificados estudos que considerassem as emoções como expressões derivadas de estímulos
ambientais neste cenário. As adaptações ao atual panorama das viagens emergiram, principalmente, de medidas
tecnológicas. Na necessidade de novas ofertas por parte de negócios que possuíam o trânsito de indivíduos como
motopropulsores de mercado, a plataforma Airbnb criou categorias de experiências online, através do slogan “Diversão
sem sair de casa”. Por meio da abordagem fenomenológica, o objetivo deste estudo foi identificar emoções
experimentadas por usuários de tais experiências. A pesquisa analisou qualitativamente 358 comentários, de forma
multidisciplinar, identificando oito emoções consideradas básicas pela literatura: surpresa, expectativa, nojo, aceitação,
tristeza, alegria, raiva e medo. Embora não possam ser generalizados, os resultados mostraram que emoções como
alegria, expectativa e aceitação estariam relacionadas às barreiras da pandemia, frente aos novos modelos de contatos
sociais. A partir dos insights sobre estas influências no comportamento do consumidor, justificam-se as contribuições
teóricas do estudo, que concluiu que os usuários de experiências turísticas virtuais podem estar abertos à adaptação
dos cenários dinâmicos característicos da indústria.

Palavras-chave: Turismo e COVID-19; Experiências online; Airbnb; Comportamento do consumidor.

206
COVID-19 E AS SUAS IMPLICAÇÕES AOS GUIAS DE TURISMO E CONDUTORES DE
VISITANTES EM ATUAÇÃO NO PIAUÍ

Antônio Rafael Barbosa de Almeida (antoniorafael@ccsa.uespi.br)


Ana Angélica Fonseca Costa (anaangelica@ccsa.uespi.br)

RESUMO

A circulação global do vírus causador da COVID-19 promoveu um conjunto amplo de rupturas, transformações e
adaptações na vida em sociedade. Para além disso, a situação pandêmica ainda evidenciou e aprofundou os cenários de
vulnerabilidade e fragilidade nos âmbitos sanitários, sociais e econômicos, com destaque particular para o mundo do
trabalho e as situações vivenciadas pela classe trabalhadora mediante a condições laborais cada vez mais precárias e
instáveis. O turismo é aqui inserido por ter sido um dos principais afetados com a paralisação temporária das atividades
econômicas, a imposição de restrições nas mobilidades humanas, a necessária instauração de protocolos de
biossegurança e a interrupção da visitação em atrações turística em todo o mundo, bem como e, em especial, por se
revelar como uma “indústria” sustentada em grande parte por trabalhadores autônomos e informais, a exemplo dos
Guias de Turismo e dos Condutores de Visitantes. Nesse sentido, este trabalho objetiva desvendar as implicações e as
consequências da interrupção das atividades profissionais provocada pela pandemia da COVID-19 nas duas categorias
mencionadas e em atuação profissional no estado do Piauí. Metodologicamente, o estudo se enquadra dentre o escopo
da pesquisa descritiva-exploratória, de natureza quali-quantitativa, a partir da realização de levantamento bibliográfico
e documental, e da pesquisa de campo, por meio da aplicação de questionário. O instrumento de coleta foi aplicado de
modo on-line entre os meses de junho e julho de 2020 a uma amostra não probabilística de 123 respondentes, destes
41 Guias de Turismo e 82 Condutores de Visitantes, em atuação no estado e acessados pelo método “bola de neve”. Os
resultados mostram as profundas consequências da interrupção temporária do fluxo de visitantes para o trabalho e
renda desses profissionais, as alternativas adotadas pelos mesmos para a superação das limitações orçamentárias, a
identificação das dificuldades no acesso às instituições de proteção e fomento e aos seus meios e programas de apoio
e a incipiente atuação dos órgãos estaduais e federais no tocante ao acolhimento das demandas e das necessidades de
ambos.

Palavras-chave: COVID-19; Guia de Turismo; Condutor de Visitantes; COVID-19 e turismo.

207
EFEITOS DA PANDEMIA DA COVID-19 EM SALINÓPOLIS, AMAZÔNIA, PA

Natascha Penna dos Santos (nat_penna@yahoo.com.br)


Jorge Alex de Almeida Souza (jsouza.alex@hotmail.com)
Milene de Cássia Santos de Castro (castro.milene2010@gmail.com)

RESUMO

Contextualiza os impactos da pandemia da COVID-19 em Salinópolis que tem Belém como principal mercado emissor de
fluxo turístico e que consome o segmento de sol e praia. A pesquisa exploratória almeja responder a seguinte questão
norteadora: quais os efeitos da pandemia na dinâmica do turismo em Salinópolis e como esta cidade enfrentou as
consequências da COVID-19? Como procedimento metodológico se adotou pesquisas bibliográfica e documental,
principalmente os Boletins do Turismo do Estado do Pará dos anos de 2017 e 2018; informações do Ministério da
Economia segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados; entrevistas realizadas com secretário municipal
de Cultura, Esporte e Turismo de Salinópolis; com o gerente regional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas e com o Presidente da Rede de Desenvolvimento Sustentável e Turística da Amazônia Atlântica que consiste
em uma organização social sem fins lucrativos composta por empresários locais e as moradoras da Vila Derrubadinho.
Os resultados indicam que a pandemia ao impedir ou dificultar o fluxo de pessoas da capital do estado para Salinópolis
trouxe perdas de negócios, empregos, renda, mas ao mesmo tempo possibilitou aos moradores locais e poderes públicos
elaborar estratégias para ampliar o mercado consumidor, para além da influência de Belém, diversificar oferta turística
e a buscar novas maneiras de cooperação.

Palavras-chave: Turismo; Amazônia; Pandemia.

208
ESTUDO EXPLORATÓRIO DA PANDEMIA DO COVID-19 NO MUNICÍPIO DE CAMPO
MOURÃO (PR): EFEITOS NOS EMPREENDIMENTOS DO AIRBNB E DOS PENSIONATOS
Henrique Gomes Simões (simoesghenrique@gmail.com)
João Carlos Dorneles Barboza (joaocarlos_dornelles@hotmail.com)
Isabela Lima Pinheiro da Camara (isabela.camara@unespar.edu.br)

RESUMO
Os impactos da pandemia do COVID-19 foram sentidos no mundo nos diversos aspectos da sociedade, sendo, muitas
vezes, difíceis de serem mensurados pois ela surgiu no ano de 2019 na Ásia e ainda se espalha nos diversos países de
diferentes formas. No turismo internacional houve um grande impacto e suspenção das atividades devido orientações
da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de cada localidade. A retomada do turismo aconteceu de diferentes modos
nas destinações brasileiras, destacando a necessidade dos estudos para o entendimento sobre a crise gerada no país
inteiro. Dentro do turismo são diversos os setores impactados, observamos no presente estudo os efeitos da pandemia
nos empreendimentos de meios de hospedagem não tradicionais e informais, mas comumente utilizados no mundo
atual: os Airbnbs e os pensionatos. Realizamos o estudo no contexto do município de Campo Mourão no estado do
Paraná, um destino que não havia dados oficiais das consequências dessa crise sobre a oferta turística. Nesse sentido,
o objetivo geral deste artigo foi: analisar o envolvimento dos empreendimentos hoteleiros não tradicionais e informais,
como o Airbnb e os pensionatos, com os impactos da pandemia no turismo na cidade de Campo Mourão. Para alcançarmos
os resultados, realizamos um inventário da oferta turística e os diversos setores envolvidos no turismo, uma pesquisa
de campo empírica no segundo semestre de 2021 no formato remoto/online e análise de dados de todo a pesquisa, mas
com o foco nos empreendimentos citados. Do ponto de vista metodológico, este estudo se caracteriza como exploratório
com análise qualitativa e uso de instrumentos quantitativos como o formulário online. Em Campo Mourão identificamos
18 anfitriões do Airbnb e 11 pensionatos no inventário da oferta turística. Embora tivéssemos tido baixa aderência a
pesquisa, foram 72 respondentes, os empreendimentos hoteleiros representaram 33% dos respondentes e os
selecionados para estudo neste artigo, 15%. Constatamos uma falta de interesse e/ou cooperação dos gestores em
participar da pesquisa. Além disso, há em Campo Mourão pouco conhecimento sobre o turismo e a importância deste
setor, sendo assim o planejamento turístico do município fica comprometido e pouco integrado para uma retomada do
turismo pós pandemia. Os anfitriões do Airbnb e os donos dos pensionatos em Campo Mourão vêm recebendo cada vez
mais turistas do segmento de negócios, tanto é que houveram empreendimentos que abriram durante a pandemia e
não se sentiram afetados pela crise. No entanto, concluímos por fim a falta de reconhecimento do turismo em Campo
Mourão e o envolvimento desses estabelecimentos como uma oferta importante para o turismo de negócios.

Palavras-chave: Meios de Hospedagem; Airbnb; Pensionatos; COVID-19; Campo Morão.

209
IMPACTOS DA PANDEMIA DE COVID-19 NO AGROTURISMO E TURISMO RURAL: A
SCOPING REVIEW
Flávio Basta (flaviobasta@gmail.com)
Dimária Silva e Meirelles (dimaria.meirelles@mackenzie.br)
Marta Fabiano Sambiase (marta.sambiase@mackenzie.br)

RESUMO

Este artigo buscou analisar os impactos da pandemia de Covid-19 no Agroturismo e no Turismo Rural. A Covid-19 é
provocada pelo Sars-CoV-2, um vírus de alta transmissibilidade, propagado pelo ar. O lockdown imposto a partir da
declaração da pandemia, no início de 2020, acarretou o fechamento de comércios e serviços não essenciais e a imediata
estagnação do setor de turismo. Além de ser o setor econômico mais afetado, o turismo também contribui para
disseminação dessa doença em todo o mundo. Com isso, novas demandas surgiram na área, deslocando os turistas para
destinos mais próximos de suas residências, em zonas rurais, de pouca ocupação e com oferta de serviços desenvolvidos
para obtenção de qualidade de vida. Por meio desta pesquisa, realizou-se uma revisão sistemática da literatura
científica, uma Revisão de Escopo, sobre as evidências dos impactos da pandemia de Covid-19 no setor de turismo, nos
anos 2020 e 2021. Em termos metodológicos, recorreu-se ao método de revisão proposto pelo Instituto Jonna Briggs
(JBI) para a proposição da questão de revisão e definição de palavras-chave aplicadas nas bases Web of Science e
Scopus, para analisar as evidências disponíveis. Adicionalmente, apresenta-se, no referencial teórico, o histórico e a
contextualização dos segmentos investigados, assim como os principais conceitos relacionados ao tema. Como
resultados, o estudo evidencia categorias temáticas relacionadas ao redescobrimento, por parte da demanda local, de
produtos orgânicos e viagens a zonas rurais, formas de inovação relacionadas ao desenvolvimento de novos produtos
e serviços, disponibilidade de mão de obra e, por fim, a importância de políticas de desenvolvimento e de
regulamentação do setor. Os resultados deste estudo contribuem transversalmente, com esclarecimentos das principais
categorias que envolvem estudos de agroturismo e turismo rural em momento de incerteza, por meio da análise da
evolução do tema e possibilidade de desenvolvimento de novas pesquisas englobando outras áreas que compõem o
ambiente turístico. Esta revisão faz parte de tese de doutorado em curso.

Palavras-chave: Agroturismo; Turismo Rural; Covid-19; Revisão de Escopo; Scoping Review.

210
IMPACTOS SOCIOECONÔMICOS OCASIONADOS PELA PANDEMIA DA COVID-19 NOS
TRABALHADORES DO TURISMO NO BRASIL

Clébia Bezerra da Silva (clebia.silva@ufrn.br)


Suellen Alice Lamas (suellen.lamas@cefet-rj.br)
Edson Domingos Nascimento (edsondn@ifpi.edu.br)

RESUMO

A pandemia da Covid-19, além dos impactos negativos de ordem sanitária, impactou negativamente a economia, visto
que causou o fechamento de empresas, impactou os trabalhadores informais, uma ameaça a subsistência de milhares
de pessoas em todo o mundo, mas de forma desigual tanto entre os países, como entre homens e mulheres. Em um
momento em que toda a cadeia de valor do turismo é impactada direta e indiretamente pela pandemia da Covid-19,
considerada como sem precedentes na história global, faz-se pertinente avaliar as condições de trabalho e renda dos
trabalhadores do turismo no Brasil. Com base nessa realidade, faz-se o questionamento: como foram impactados os
trabalhadores do setor de turismo no Brasil em meio à pandemia da Covid-19? Deste modo, o presente artigo buscou
investigar os impactos socioeconômicos dessa pandemia nos trabalhadores do turismo no Brasil, a partir deles próprios.
Uma pesquisa exploratória e descritiva com abordagem qualitativa foi realizada. Valeu-se de um instrumento de
pesquisa on-line (foi realizado pré-teste) para a coleta de dados, totalizando 1006 questionários válidos. A coleta
aconteceu entre os dias 22 de abril a 8 de junho 2020. A análise dos dados foi feita utilizando-se estatística descritiva.
Os dados foram analisados com apoio do software Statistical Package for the Social Sciencs (SPSS), versão 22 para
Windows. Os resultados permitiram demonstrar que o cenário mundial de impactos negativos no setor de turismo
apontado na literatura também se repete no Brasil, com fechamento de empresas, desemprego, precarização das
condições de trabalho, diminuição da renda dos trabalhadores, dentre outros, ainda que em determinada faixa temporal,
o cenário da situação da força de trabalho no turismo nacional, que se diferencia, a partir das relações de trabalho –
formalidade ou informalidade, mas que, de modo geral, revela o fechamento de empresas, desemprego, diminuição da
renda dos trabalhadores, preocupação pelas incertezas impostas pela crise, entre outros impactos que são abordados
nessa investigação.

Palavras-chave: Turismo; Trabalhadores; Covid-19.

211
MERCADO DE EVENTOS E REDES SOCIAIS: O INSTAGRAM COMO AGENTE DE ANÁLISE
DOS IMPACTOS DA PANDEMIA DE COVID-19 NA PROMOÇÃO DE EVENTOS EM SÃO LUÍS
– MA

Jhonnatan Oliveira dos Santos (jhonnatan.oliveira@discente.ufma.br)


Roselis de Jesus Barbosa Câmara (roselis.jbc@ufma.br)
Rozuila Neves Lima (rozuila.lima@ufma.br)

RESUMO

O presente estudo realiza uma análise sobre a dinâmica comunicacional em relação aos avanços tecnológicos e
socioeconômicos, por meio da investigação dos relacionamentos entre empresas e clientes durante a pandemia causada
pelo vírus SARS-CoV-2, dentro do ambiente virtual. A pesquisa tem como delimitação de objeto de investigação as
empresas promotoras e organizadoras de eventos em São Luís - MA, assim como os impactos econômicos sofridos e as
ações adotadas no que tange ao conteúdo produzido pelos respectivos segmentos. Além disso a pesquisa visa investigar
as estratégias comunicacionais mobilizadas durante a pandemia do novo Coronavírus, especificamente em uma das
mídias que durante o período pandêmico obteve um dos maiores quantitativos de interação entre usuários, o Instagram.
Assim, a plataforma recebeu destaque devido à sua grande facilidade de uso e inovações constantes por meio da
aplicação de novas ferramentas no ambiente da plataforma, fatores que chamam a atenção dos empreendimentos, uma
vez que promove gratuitamente a possibilidade de conexão virtual com o seguidor/consumidor, um dos únicos espaços
de interação social durante o período pandêmico. Como procedimento metodológico, utilizou-se o método bibliográfico.
Posteriormente, essa investigação foi realizada em campo, tendo sido analisado o comportamento dos perfis on-line
desses empreendimentos, para que fosse possível o entendimento sobre o conteúdo e as estratégias aplicadas no
relacionamento entre essas empresas e os consumidores no Instagram. A partir da análise de dados coletados de
entrevistas e questionários aplicados com empreendedores e consumidores de eventos no município de São Luís - MA,
foram obtidas informações que nortearam a construção da pesquisa. Como resultado, foi possível observar que o setor
sofreu grandes impactos econômicos com a alta de cancelamentos de eventos, ao passo que foram criadas legislações
de amparo e movimentação de campanhas comunicacionais promovendo a conscientização do adiamento dos eventos
dentro do Instagram, o que reforça a potestade da plataforma no quesito relacionamento e conteúdo digital,
proporcionalmente relacionado à constância de conteúdo e ao aumento da visibilidade na plataforma.

Palavras-chave: Turismo; Gestão de eventos; Marketing Digital; Instagram; Covid-19.

212
GT 5 – PLANEJAMENTO, POLÍTICA, GOVERNANÇA E TURISMO NO ESPAÇO URBANO
DIA 18/05 – 14h as 18h

213
Resumos Expandidos
A PIPA É TERRITÓRIO DA GLOBALIZAÇÃO
Markelly Fonseca de Araújo (markellyfonseca@gmail.com)

INTRODUÇÃO

A definição de Aires (2012) de que Pipa é uma praia internacional pode ser complementada como sendo um
território da globalização. Essa compreensão se firma tanto do ponto de vista teórico a partir da concepção de
espaços da globalização de Santos (2008 [1994]) como segundo a observação do cotidiano local comprova um poder
externo se sobressaindo. Uma localidade usada em sua plenitude por estrangeiros que se estabeleceram e pelos
transeuntes muitos vindos de outros rincões nacionais e internacionais.
O cotidiano de Pipa em seu composto de praias é uma disputa entre o externo predominante e o interno
resistente. Os símbolos que passam a ocupar a paisagem de Pipa em suas ruas em estilos dos países representantes
dos donos de restaurantes ou das propostas de empresários oriundos de outras nacionalidades que já são empresários
locais fazem parte dos argumentos empíricos de Pipa como um território da globalização.
A história da concretização de Pipa como um território da globalização tem a ver com as características
geográficas que desenharam um pedaço do paraíso entre as falésias da formação barreiras do ponto de vista
geomorfológico e a configuração das praias que compõem Pipa com seus biomas e ecossistemas. Essa beleza
paisagística atraiu os investidores estrangeiros, que lotearam a antiga vila de pescadores. Sendo esta a hipótese central
para que a Pipa se tornasse território da globalização. Mas a vinda dos investimentos externos teve incentivo de
políticas governamentais, a década de 1990 é famosa neste sentido, o PRODETUR (Programa de Desenvolvimento do
Turismo no Nordeste) é um exemplo disso. Há uma relação direta entre a ação da política externa de governo e a forma
com a globalização da economia ocorreu no país.
Escolhida por estrangeiros que aos poucos vão conhecendo as praias isoladas e suas vilas de pescadores
devido à política tanto estatal como privada dos empresários, Pipa foi passando por transformações que alterou toda a
dinâmica local. A história de Pipa é bem particular, uma ideologia de turismo ecológico ou ecoturismo nasce junto com
a ocupação do distrito de Tibau do Sul por parte da iniciativa privada. A combinação de fatores vai fazendo de Pipa um
complexo do global-local, aliado a fama de turismo alternativo, uma praia favorável à prática de surf e trilhas ecológicas
no Santuário Ecológico são diferenciais criados neste sentido.
Toda essa história de apropriação paisagística vai tornando e preparando um uso do território de forma
exclusivamente global. A demanda é tão intensa que o cotidiano exige adequações locais para que a comunicação se dê
de forma instantânea e cômoda aos visitantes e usuários da praia. O que antes eram os símbolos de territórios da
globalização como aeroportos e shopping center a praia da Pipa também passa a representar.
O que é um território da globalização?

214
A noção de território traz a tradição de ser sinonimo de Estado-Nação com uma noção jurídico-política, mas é
do uso do território que se faz a análise social (SANTOS, 1994). Desse ponto de vista as delimitações de territórios a
partir do sentido dos seus usos também podem ser consideradas segundo a tradição do domínio político, pela projeção
da divisão do trabalho, revelando relações de poder (RAFFESTIN, 1993)2.
A interpretação geográfica pratica o território usado, “O território são formas, mas o território usado são
objetos e ações [...], (SANTOS, 1994, p. 16)”, sendo sempre um duplo entre ação e objeto o território tem seu sentido
pelo o valor de uso, definido ou delimitado pelas relações de poder. Com referência à base material do país, Brasil, é a
delimitação histórico-jurídica-política da sua formação socioespacial como Estado Nacional, o Usado é a sociedade em
movimento (as ações humanas), território usado uma categoria de análise geográfica, a expressão da indissociabilidade
dos objetos e ações.
A globalização como ápice da internacionalização do mundo capitalista (SANTOS, 2011 [2000]) transforma
localidades segundo seus interesses. É um poder orquestrado por uma mais valia universal. Mas não se deve confundir
como sinônimo do meio técnico-científico-informacional, esse é regido pela globalização, mas ele é a cara geográfica do
mundo do presente e sua história. O meio geográfico sempre representa as variáveis da história (SANTOS, 2009 [1996])
e nesse sentido traz-se aqui que meio geográfico é sinônimo de período histórico.
Esse casamemento entre a técnica, a ciência e a informação que circula pelo mundo por meio do controle do
sistema globalizado é o cerne das relações de poder que permite afirmar que Pipa é um território da globalização. Mas
para a implantação de todo o sistema que se faz cotidiano e flui pela localidade a sedução ocorreu pela paisagem
paradisíaca
Pipa segundo suas belezas paisagísticas aos poucos foi se tornando esse território da globalização. Algumas
localidades no país possuem essa marca de conexão ao global e seus ditames de forma direta, os aeroportos, já
comentados, as metrópoles como São Paulo, são territórios da globalização, espaços selecionados para a fluidez do
capital. E além do aspecto nacional que a integração ao sistema-mundo globalizado implica, a lógica cotidiana se altera.
A ação política no investimento em Pipa tanto do ponto de vista governamental com políticas que incentivaram
o aumento dos roteiros turísticos como da ação privada em políticas direcionadas pela força do complexo local
(configuração territorial) contribuíram para tornar Pipa o território da globalização no Rio Grande do Norte.
Há outras expressões de uso corporativo do território no Estado Potiguar, como a via costeira em Natal, por
exemplo, mas a definição de território da globalização de forma plena só acontece em Pipa. E este resumo se encarrega
de introduzir esta constatação. Um uso corporativo do território nem sempre é globalizado, mas todo território da
globalização tem por fundo o predomínio de usos corporativos.

2 Claude Raffestin traz o território se formando a partir do espaço. Porém a sua noção de espaço é o geométrico ou plano. O uso do
território constitui lugares
(ação) e o território praticado pode se tornar uma dimensão do poder exercido pelos grupos, como os territórios do crime, por exemplo, que são delimitados
pelo poder paralelo ao Estado-Nação. Mas o espaço geográfico é uma instância, e como tal abstrata, vindo a se materializar ou se manifestar por diversas
maneiras ou dimensões, como o lugar, o uso do território ou paisagens, por exemplo.

215
Nesta reflexão a ação política é uma racionalidade do período histórico técnico-científico-informacional no uso
das tecnologias da informação e no uso do território. A qualificação no uso do território dá o sentido da ação humana,
e neste caso o poder, o uso do território globalizado é um uso hegemônico. Conhecer com profundidade as características
dessa geografia nova é poder contribuir ao debate sobre novos planejamentos no uso do território brasileiro pela
atividade turística.

METODOLOGIA

A reflexão aqui brevemente iniciada tem com base a análise territorial fundamentada na teoria e método da
Geografia Nova de Milton Santos em diálogo com demais autores que comprovem argumentos. Faz, portanto, uso da
prática de um método totalizante que tem por princípio a dialética como exercício filosófico e de análise, crítica e síntese.
O exercício da Geografia Nova que defende a Geografia como uma ciência do espaço geográfico (o indissociável
sistema de objetos e ações) concebe cada objeto como ação, como movimento. A matéria é movimento segundo Hegel e
Kant citados por Engels (1979 [1935]) e Santos (2009 [1996]) certamente influenciado por eles define a indissociabilidade
entre objetos e ações. Sendo, também, por isso possível começar a se estudar o Humano-Natureza em geografia segundo
a máxima de Élisée Reclus (2015 [1905]) e Engels (1979 [1935]) qual seja o Humano é a Natureza adquirindo consciência
de si mesma, ou pode-se dizer que o Humano é a consciência da Natureza.
A paisagem como dimensão sensorial do espaço geográfico é um dos primeiros contatos das pessoas com o
real ou o mundo vivido. As fotografias, aqui ilustradas na próxima seção, são registros de instantes da paisagem
contemplada pela observação para demonstrar um pouco do cotidiano local e com vistas a começar a comprovar a
afirmação de que Pipa é um território da globalização.
O conceito e categoria lugar aqui é abordado de forma indireta como sinônimo de cotidiano, pois o lugar foi
defendido como uma ação humana, um verbo da geografia, um hábito (ARAÚJO, 2020), isto é um tempo geográfico, uma
prática. Lugar e cotidiano são também sinônimos. Logo os lugares vividos pelas pessoas que vivem em Pipa ou estão
de passagem são práticas distintas a depender dos vínculos ou intencionalidades dos usos que se faz do território. Em
todo caso, o cotidiano, os lugares vivenciados ou praticados em Pipa possuem uma diferença substantiva, por ser um
território da globalização.
A política, o planejamento e o poder podem começar a ser estudados segundo atributos ou qualificações dos
usos do território. Conforme visto na introdução, o território é conceito de Estado-Nação, e na geografia a sua dinâmica
pode ser considerada segundo seus usos, ou como território usado, que é um conceito e categoria que contempla na
análise a matéria e o movimento, ou o objeto e a ação.
A Geografia além de ser considerada uma filosofia das técnicas, porque cada local e sua paisagem é
resultado de uma combinação de técnicas qualitativamente diferentes e de tempos específicos que os diferenciam
(SANTOS, 1985) ela é também uma inteligência no uso do território. Proposição que se expressa a partir da

216
concepção de Milton Santos (1994) e de Max. Sorre (1984). O primeiro pela sua categoria de território usado e o segundo
quando traz de Marckinder e Baulig a ideia de a geografia ser uma atitude da inteligência diante das coisas, ou um
estado de espírito.
Essa inteligência no uso do território pode ser facilitada segundo as classes sociais e as relações de poder. É
também dessa inteligência no uso do território que muitos empresários locais e estrangeiros contribuíram em tornar
Pipa um território da globalização.

RESULTADOS

Uma atividade realizada no dia 15 de setembro de 2021 em Pipa motivou as reflexões iniciais deste texto. As
fotografias a seguir, 01 e 02 foram retiradas diante do cotidiano de visitantes em Pipa.
Fotografia 01: Caixa fechado em supermercado popular na rua principal de Pipa

Fonte: Foto tirada por Markelly Fonseca de Araújo em 15 de set. de 2021.

217
O supermercado como estabelecimento comercial representante banal do cotidiano possui elementos que
indicam a expressão do território da globalização. A placa de caixa fechado informando também em inglês a ausência
de atendente é um exemplo do cotidiano vivido em territórios da globalização.
Como o inglês é ainda a língua que representa a globalização e a linguagem computacional, língua essa que
substituiu o francês, por exemplo, ela está presente em locais de situações da vida diária quando muito integrado ao
sistema-mundo globalizado. No estabelecimento, a seguir, também logo na entrada a indicação de três línguas. Não se
trata só de internacionalização ou padronização que territórios da globalização se adéquam para atender as mais
variadas pessoas e suas nacionalidades, como os aeroportos já mencionados. O que faz de Pipa um território da
globalização por excelência é ser um destino e não um meio de transporte ou um estabelecimento de comércio ou serviço
em si. Como parte do município de Tibau do Sul, Pipa é uma localidade de solo nacionalizado, e não um sistema de
circulação, mas passa a se tornar um grande pedaço de chão onde circulam inúmeras pessoas estrangeiras, externas
da localidade, bem como a ser planejado e projetado como território internacional.

Fotografia 02: Entrada de estabelecimento comercial na rua principal de Pipa

Fonte: Foto tirada por Markelly Fonseca de Araújo em 15 de set. de 2021.

218
Transitar por Pipa, sendo Potiguar ou Nordestino, é circular por um chão estranho, um pedaço alheio. É uma
paisagem diversa não só do ponto de vista geomorfológico de falésias mortas ou de ecossistemas costeiros, é uma
paisagem diversa no urbanismo da vila de Pipa, na forma como se tornou um lócus global, e a diversidade de pessoas
de todos os tipos circulando, como numa metrópole. Transitar em Pipa, e isso foi um projeto de cada empresário, é
passar pela rua grega, pela rua árabe, pela rua do céu, pelo mundo todo reunido ali.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tratar de Pipa (esse complexo de praias: do amor, do centro, do madeiro... ou do distrito de Tibau do Sul) é
observar uma terra estrangeira diante dos olhos, e sendo por isso um território da globalização. Muito mais do que o
uso corporativo do território, que é um uso das empresas, das firmas, um uso hegemonizado, o território da
globalização demanda um uso externo, totalmente voltado e integrado à economia estrangeira, quer seja entre outros
níveis nacionais, quer seja internacional, mas sobremaneira internacional.
Pipa é quase absolutamente dominada por estrangeiros, havendo ainda moradores resistentes e nativos, mas
a mão de obra local mais qualificada é consumida de municípios próximos, como o de Goianinha. Os trabalhadores locais,
mais nativos ou descendentes deles disputam pelo uso do território desigualmente, e, se flexibilizam em atividades
terciárias e informais, como manobristas em estacionamentos, ou guias turísticos.
Por ser um território da globalização o meio técnico-científico-informacional se dispersa na sua forma mais
que perfeita. A integração ao sistema-mundo globalizado institui ou instaura estes territórios a depender de projetos
nacionais, regionais ou locais. Pipa é resultado de diversas políticas, quer sejam locais e particulares, quer sejam
nacionais ou regionais. Tratar da complexidade das desigualdades que surgem e se intensificam diante desta realidade
é questão complexa e que deve ser de interesse coletivo.
Assim Pipa parece uma ilha global que se distingue e se isola do entorno, quem entra em Tibau do Sul e seu
centro histórico bem típico de cidades pequenas do interior Potiguar ao ingressar em Pipa sente-se abruptamente
transportado para um “pedaço” estranho, um local global.
Em futuras reflexões pretende se aprofundar a influência de Pipa sobre outros distritos e praias do entorno,
como Baia Formosa e Barra do Cunhaú. Fonseca, Oliveira e Sonaglio (2018) discutem o lazer como indutor de urbanização,
é a partir dessa tese que se almeja abordar a influência de Pipa sobre seu entorno, sobre essas praias e seu processo
de urbanização e paisagismo.
O território usado como categoria de análise social destaca os usos, neste caso a globalização é um domínio
do poder da economia globalizada e capitalista. O poder, a política e seu planejamento estiveram inclusos no processo
de transformação de Pipa em território da globalização, essa ilha global. Mas há resistências, tanto Aires (2012) relata
esses processos de resistência à ação vertical do uso corporativo do território em transformar Pipa nesse território da
globalização, como in lócus foi possível verificar casas de populares, como estabelecimento de borracharia ou apenas
moradia resistindo ao império da globalização.

219
O que significa um território da globalização para o sentido de nacionalidade? Quais as fronteiras entre os
poderes num local dominado pelas hegemonias estrangeiras ou preparado para elas? Como fica a questão da soberania
diante de territórios da globalização. A Amazônia também estaria se tornando um território da globalização?

PALAVRAS-CHAVE

Globalização, Território usado, Paisagem e Política.

REFERÊNCIAS

AIRES, Jussara Danielle Martins. Histórias e relatos sobre Pipa: a praia internacional do Rio Grande do Norte. Natal,
2012. 114f. Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais. UFRN, 2012.

ARAÚJO, Markelly Fonseca de. A revolução do lugar: contextos da guerra da informação na megalópole. 2020. 477f. Tese
de doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.

ENGELS, Friedrich. A Dialética da Natureza. 6.ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1979. Primeira edição completa de Adoratski
de 1935.

FONSECA, Maria Aparecida Pontes da; OLIVEIRA, Elizângela Justino de; SONAGLIO, Kerlei Eniele. O lazer como indutor de
urbanização. Um ensaio metodológico. GEOGRAFIA EM QUESTÃO (ONLINE), v. 11, N. 2 p. 63-78, 2018.

RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França. São Paulo: Ártica, 1993. Título original:
Pour une géographie du pouvoir

RECLUS, Élisée. O homem e a terra [textos escolhidos]. Organização e tradução de Plínio Augusto Coêlho. São Paulo:
Intermezzo Editorial; Edusp, 2015. p. 280-314 Título original: L’Homme et La terre [1905]

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. 5. reimp. São Paulo: Edusp, 2009. 388 p.
(1. ed. 1996) Coleção Milton Santos

SANTOS, Milton. O retorno do território. In: SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia A. de; SILVEIRA, Maria Laura (Org.).
Território: Globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec, 1994. p.15-20

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 20. ed. Rio de Janeiro: Record,
2011. (1. ed. 2000).

SANTOS, Milton. Técnica, Espaço e Tempo: globalização e meio técnico-científico-informacional. 5. ed. São Paulo: Edusp,
2008. (1. ed. Hucitec 1994) Coleção Milton Santos

SORRE, Max. Geografia. Org. Januário Francisco Megale. Tradução de Januário Francisco Megale, Maria Cecília França e
Moacyr Marques. São Paulo: Ática, 1984. (Coleção Grandes Cientistas Sociais. Coord. Florestan Fernandes).

Site consultado: https://pipa.com.br/santuarioecologico/

220
PLANEJAMENTO TURÍSTICO DO POLO SERIDÓ

Matheus Alves da Costa (matheus.alves.706@ufrn.edu.br)


Maria José de Medeiros Paiva (novapaiva@yahoo.com.br)
Marcelo da Silva Taveira (marceloturismo@yahoo.com.br)

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do turismo regional se materializa no Rio Grande do Norte por meio da Política de
Regionalização do Turismo (PRT) idealizada pelo Ministério do Turismo, para intensificar o processo de gestão
descentralizada do turismo em nível nacional. A materialização concreta dessa política acontece por meio de Instâncias
de Governança Regionais (IGRs), sendo 5 (cinco) existentes atualmente no território potiguar (Polo Agreste-Trairi, Polo
Costa Branca, Polo Costa das Dunas, Polo Seridó e Polo Serrano). Integram esses polos turísticos, municípios que a partir
de critérios técnicos adotados pelo Ministério do Turismo são credenciados a fazerem parte de um IGR e do Mapa do
Turismo Brasileiro, cuja a atualização ocorre bienalmente. Os critérios atuais são: 1) Possuir órgão responsável pela
pasta de turismo (Secretaria, Fundação, Coordenadoria, Departamento, Diretoria, Setor, Gerência); 2) Destinar dotação
para o turismo na lei orçamentária anual (ano referência 2015); e 3) Município, prefeito ou dirigente municipal de
turismo, deve assinar um Termo de Compromisso, conforme modelo disponibilizado pelo MTur e UF, se comprometendo
em realizar as ações necessárias, aderindo, com isso, de forma espontânea e formal ao Programa de Regionalização do
Turismo e à região turística.
Nesse sentido, o recorte espacial desta pesquisa abrange os 12 (doze) municípios que compõem à IGR do Polo
Seridó e que integram o Mapa do Turismo Brasileiro (2019-2021), objeto de estudo desta investigação, que pretende
realizar um diagnóstico turístico regional a partir da aplicação da análise SWOT.
O diagnóstico turístico é uma das fases do processo de planejamento turístico com vista ao desenvolvimento
do turismo regional e da elaboração de políticas públicas setoriais sustentáveis de curto, médio e longo prazos. Portanto,
essa pesquisa é proposta para contribuir com desenvolvimento do turismo regional da região Seridó Potiguar,
garantindo assim, uma maior aproximação junto à sociedade. Espera-se que o diagnóstico turístico seja um ponto de
partida para a realizações de outros estudos e pesquisas voltados ao desenvolvimento regional, possibilitando assim
um maior acesso à informação científica, em busca da democratização do ensino e pesquisa, ansiando também pela
diminuição das desigualdades sociais, por proposições de ações concretas para dinamizar a economia e incentivar a
inclusão social.
Para o desenvolvimento da pesquisa de iniciação científica, faz-se necessária a apresentação dos objetivos
geral e específicos propostos, assim sendo: Geral: Contribuir com a elaboração do diagnóstico turístico dos municípios
que integram à Instância de Governança Regional Polo Seridó e o Mapa do Turismo Brasileiro (2019-2021). Específicos:
Selecionar literatura internacional especializada nas temáticas abordadas nesta pesquisa, que possibilite a produção de
novos estudos com ênfase no turismo e desenvolvimento regional; Participar de discussões técnicas e científicas em
221
torno do desenvolvimento do turismo regional no contexto do Seridó Potiguar; Atualizar os inventários turísticos dos
municípios que integram à IGR do Polo Seridó; Colaborar com o processo de planejamento turístico regional a partir da
elaboração de estudos técnicos; Organizar um banco de dados com informações e indicadores do turismo regional; entre
outros; Produzir documentos técnicos sob à orientação dos docentes para nortear as políticas públicas e o processo de
desenvolvimento do turismo regional na IGR do Polo Seridó; Participar de eventos científicos apresentando trabalhos a
partir dos resultados da pesquisa.
A pesquisa encontra-se em andamento. Dentre os 17 ODS propostos pela ONU, serão contemplados no estudo
em questão os objetivos 8 e 10 (empregos dignos e crescimento econômico, e redução das desigualdades,
respectivamente), fundamentais para a compreensão do binômio turismo – desenvolvimento e suas repercussões
socioeconômicas, ambientais, políticas e tecnológicas, contextualmente. O aporte teórico terá como base alguns estudos
realizados pelos pesquisadores do Grupo de Pesquisa “Turismo, Sociedade & Território” da UFRN/CNPq, que desde 2015
se dedica à discussão no campo da produção do saber turístico e ao desenvolvimento do turismo como fenômeno
sociocultural e atividade econômica, no âmbito do território do Seridó Potiguar e de seus diferentes usos e
funcionalidades.

METODOLOGIA

O diagnóstico turístico utilizará como ferramenta de planejamento a matriz SWOT para analisar a situação
real do turismo regional do Seridó Potiguar. A matriz SWOT é uma técnica de planejamento estratégico que identifica e
cruza os Pontos Fortes (Strength), Pontos Fracos (Weaknessess), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats) de
um determinado elemento. Aspectos próprios do elemento analisado fazem parte do Ambiente Interno (Pontos Fortes e
Fracos), enquanto na análise do Ambiente Externo, o foco é o ambiente no qual ele se encontra (Oportunidades e
Ameaças). Essa metodologia possibilita o cruzamento das quatro categorias de informação, resultando em estratégias
a serem seguidas a fim de conseguir êxito do elemento analisado. O cruzamento do quadrante dos elementos da matriz
SWOT irá originar outras variantes para a análise mais aprofundada da realidade estuda: Estratégias S-O
(Desenvolvimento): perseguem oportunidades que são boas para fortalecer os pontos fortes; Estratégias W-O
(Crescimento): ultrapassam as fraquezas para atingirem oportunidades; Estratégias S-T (Manutenção): usam os pontos
fortes para reduzir a vulnerabilidade às ameaças externas; Estratégias W-T (Sobrevivência): estabelecem um plano
defensivo para prevenir que os pontos fracos sejam susceptíveis às ameaças externas. O plano metodológico aborda
técnicas de pesquisa que se fundamentam no levantamento preliminar de referências bibliográficas sobre o objeto
estudado, porém, estas serão consubstanciadas pelo caráter empírico de observações que serão realizadas in loco ou
remotamente (com uso de plataformas e ferramentas digitais) e por meio de relatos que serão evidenciados a partir de
diálogos com as populações residentes, lideranças comunitárias, empresários do setor turístico, gestores públicos e,
demais atores sociais que serão consultados, em momento oportuno, para realização do diagnóstico turístico. Dessa
maneira, evidenciarão maior precisão e confiabilidade nos dados gerados pelas pesquisas in loco. Dessa maneira,

222
evidenciarão maior precisão e confiabilidade nos dados gerados pelas consultas junto aos atores sociais. Para tanto,
serão adotadas fases metodológicas para realização do diagnóstico turístico, iniciando pela revisão da literatura,
levantamento do potencial turístico e atualização dos inventários, finalizando com a construção do diagnóstico turístico
e produção científica.

RESULTADOS

Sabe-se que o turismo é um importante fator de renda para o nosso país, por isso que se busca desenvolver
esse fenômeno no interior do estado do Rio Grande do Norte, mais precisamente no Polo Seridó.
É visível o potencial turístico que os municípios da região do Polo Seridó possuem e que já atraem turistas em
diferentes épocas do ano. Porém, se faz necessário uma maior atenção para a atividade turística, de modo que ela
venha proporcionar pontos positivos para os municípios que são usufruídos pelo turismo e para a região onde a
atividade está instalada, tornando-se característica daquele lugar.
Com a realização desta pesquisa espera-se contribuir para o desenvolvimento do turismo na região Seridó
Potiguar, através do diagnóstico turístico regional, possibilitando novos estudos técnicos acerca da região, contribuindo
para a criação e o desenvolvimento de novas políticas públicas que visem o crescimento da atividade turística no Seridó
Potiguar.
Assim, inicialmente através do diagnóstico turístico da região, haverá a possibilidade de conhecer de forma
técnica/científica a verdadeira conjuntura de infraestrutura, políticas e planejamentos que buscam aprimorar o
desenvolvimento do turismo no Polo Turístico Seridó.
Espera-se que o diagnóstico turístico seja um ponto de partida para a realizações de outros estudos e
pesquisas voltados ao desenvolvimento regional, possibilitando assim um maior acesso à informação científica, em
busca da democratização do ensino e pesquisa, ansiando também pela diminuição das desigualdades sociais, por
proposições de ações concretas para dinamizar a economia e incentivar a inclusão social.

PALAVRAS-CHAVE

Desenvolvimento regional; Diagnóstico Turístico; Turismo.

REFERÊNCIAS
BARRETTO, Margarita. Planejamento responsável do turismo. 2 ed. Capinas, SP: Papirus, 2009;
BOULLÓN, R. C. Planificación del espacio turístico. México: Trilhas, 2001;
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade: a era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra,
1999. v.2;
CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Política de turismo e território. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2001;
FONSECA, Maria Aparecida Pontes. Espaço, políticas de turismo e competitividade. Natal: EDUFRN, 2005;
223
TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA E FORTALECIMENTO DOS ATORES LOCAIS: O
PROGRAMA DEL TURISMO EM SÃO MIGUEL DO GOSTOSO/RN

Cristiane Soares Cardoso Dantas Gomes (cristianed@rn.senac.com)


Marília Barbosa Gonçalves (mariliagoncalves_rn@hotmail.com)
Marcelo Chiarelli Milito (marceloc@rn.senac.br)

INTRODUÇÃO

O Turismo de Base Comunitária - TBC é um modelo de desenvolvimento turístico que tem como enfoque os
recursos endógenos de uma localidade. É uma prática que busca estabelecer um real sentido a comunidade, em que o
modo de vida daquela população é compartilhado com os visitantes (Tavares & Barreto, 2017), como também, passa a
ser um contraponto a dinâmica massiva do turismo convencional.
Acredita-se que o turismo de base comunitária pode ser entendido como aquele que envolve a população local
em todas as etapas dos projetos turísticos e a ela proporciona controle efetivo sobre sua gestão, podendo contribuir de
forma positiva para a geração de mais benefícios para a comunidade e para a sua autonomia nos processos de decisão
relativos ao turismo em seu território (Mitraud, 2003; Araújo, 2011).
O TBC surge em campo e na literatura como uma alternativa e processo de resistência e reafirmação da
comunidade ao modelo de turismo convencional em seu território (Irving, 2009). A atividade turística tem
costumeiramente seu aspecto econômico evidenciado, seja pelas quantidades de empregos e receitas geradas ou
mudanças (positivas e negativas) que causa no dia a dia de uma localidade, por exemplo. O fomento do turismo nas
localidades somente por seu viés econômico contribui para sua própria insustentabilidade econômica e social (Araújo,
2011). No turismo de base comunitária esse aspecto precisa ser trabalhado com muita atenção para que não ocorra
dentro desse processo a exclusão da principal motivação: a comunidade, assim como o mal aproveitamento dos recursos
endógenos do local. Isso se expressa mediante um planejamento fundamentado em um exercício consciente de
corresponsabilidade, de participação local e de governança compartilhada (Burgos e Mertens, 2016). A lógica da inclusão
da comunidade no planejamento do turismo de um destino e a inserção de seus recursos endógenos é uma das premissas
do turismo de base comunitária que converge com as do Programa de Desenvolvimento Econômico Local – DEL.
Este programa teve início com a Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (FACISC), que em
2012 lançou no município de Fraiburgo/SC o Programa DEL, atendendo à demanda de associações filiadas e diversas
prefeituras catarinenses de promover um programa específico para o desenvolvimento econômico local de pequenos e
médios municípios. Os bons resultados obtidos nos primeiros anos, chamaram a atenção de outras federações
empresariais, como a Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande - FEDERASUL e a Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte - FECOMÉRCIO/RN (Dhole, 2020). Atualmente, o DEL está presente em
mais de 30 municípios nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio Grande do Norte, envolvendo

224
mais de 800 conselheiros e 1.200 especialistas, que já resultaram na elaboração e/ou execução de mais de 1.500
estudos, propostas e projetos (Dhole, 2020).
O sistema Fecomércio-RN vem trabalhando o desenvolvimento econômico local em suas ações no RN,
especialmente na área do turismo, visto sua relevância nos últimos anos em decorrência da grande quantidade de
iniciativas locais relacionadas ao turismo e promovidas por prefeituras, entidades empresariais e o Governo Estadual.
Por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Norte – SENAC-RN e motivado pelo sucesso
encontrado no Sul do Brasil, a Fecomércio-RN aderiu como terceiro parceiro em 2017 ao Programa DEL e adaptou a
metodologia às necessidades de muitos municípios potiguares, lançando assim, em 2018, o Programa DEL Turismo no
Estado, uma solução para municípios que têm o turismo como principal fonte de renda ou pretendem fortalecer esse
setor de sua economia.
Alinhado às demandas e especificidades dos municípios, atualmente o Senac-RN trabalha com dois vieses do
programa DEL, um mais geral, que engloba as diversas atividades econômicas presentes nos municípios potiguares e
tem como objetivo aumentar sua competitividade e capacidade de transformação; e o outro direcionado ao
desenvolvimento estruturado do turismo nos municípios, o DEL Turismo. Atualmente, a instituição executa a metodologia
DEL nos municípios potiguares de Assú e São José de Mipibu e o DEL Turismo em Parnamirim, Tibau do Sul, São Miguel
do Gostoso, Galinhos e Tibau. A metodologia e a aplicação das ações do DEL vêm obtendo resultados no que se refere
ao fortalecimento das instâncias de governança e protagonismo dos atores locais nos respectivos municípios,
ressaltando a necessidade de participação popular no planejamento da comunidade, uma vez que nem sempre o
autóctone é inserido neste processo, embora detenha os costumes e disponha de conhecimentos sobre o território.
São Miguel do Gostoso, município com aproximadamente 10.441 habitantes, segundo as últimas estimativas
do IBGE (2021), atrai turistas de todo o mundo, devido suas praias paradisíacas, seus ventos favoráveis à prática de
esportes como Windsurf e Kitesurf, seu réveillon, entre outros atrativos, foi pioneiro ao aderir o DEL Turismo no RN. Ao
despertar os holofotes e despontar na mídia entre os principais destinos do país, surgem preocupações entre seus
gestores e atores locais, como a massificação do turismo e o impacto da atividade econômica para a vida dos nativos.
As ações desenvolvidas pelo DEL Turismo no destino partiram do fortalecimento da governança local e têm demonstrado
resultados que servirão de exemplo para outras localidades que, embora ocupadas por investidores, almejam e
descobrem as possibilidades de desenvolver o TBC. Nesse sentido, este trabalho se propõe a apresentar os resultados
do programa DEL Turismo em São Miguel do Gostoso/RN e o trabalho de iniciação ao pensamento do turismo de base
comunitária, com a criação de um curso de TBC pelo Senac-RN, fruto da gestão participativa no destino.

METODOLOGIA

A pesquisa, de caráter exploratória/descritiva, buscou investigar, adquirir e apresentar informações sobre as


ações do Programa DEL Turismo no município de São Miguel do Gostoso, mais precisamente, a iniciativa do curso de
turismo de base comunitária. Logo, este trabalho foi elaborado com base na análise qualitativa do material produzido

225
durante as intervenções do Programa no referido município e observação participante no processo de execução das
atividades. As intervenções realizadas pelo DEL Turismo em Gostoso estão disponíveis em página aberta na Internet,
a partir da ferramenta Trello, assegurando o princípio da transparência ressaltado pela metodologia evidenciada pelo
Programa. Desde a adesão do município, em 2019, estão adicionadas nesta página, numa espécie de linha cronológica,
as ações projetadas e realizadas pelo destino, a partir da sua instância de governança municipal.
Neste trabalho, estão apresentados, em formato de estudo de caso, os processos de execução de várias ações
que transformaram a atuação e o fortalecimento dos atores locais do município, a partir de um conselho municipal de
turismo ativo, e os resultados alcançados com o curso de turismo de base comunitária por meio do Senac-RN. Na
pesquisa em turismo, a estratégia metodológica baseada no estudo de caso pode ser entendida como uma pesquisa
empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando os
limites entre o fenómeno e o contexto não estão claramente definidos (Yin, 2005).

RESULTADOS

Aos poucos o RN vem trabalhando suas potencialidades territoriais atrativas para a dinamização turística,
alcançando o patamar de contribuição efetiva para o desenvolvimento local. A partir do DEL Turismo, ações referentes
ao turismo de base comunitária têm se expandido, oportunizando às populações locais espaços para participação de
seus saberes.
No ano de 2019, o município de São Miguel do Gostoso aderiu ao programa DEL Turismo, uma metodologia de
planejamento participativo que tem como objetivo desenvolver o turismo local a partir de uma estratégia sustentável
e de longo prazo que fortalece a economia local e melhora a qualidade de vida dos munícipes. Para atingir essa
finalidade, o programa segue as seguintes etapas: 1. Sensibilização: Momento em que se explica o programa, as etapas,
o objetivo do mesmo ao poder público, iniciativa privada e sociedade civil; 2. Análise e adequação documental: Firmado
o contrato entre Senac/RN e o município, a equipe de consultores do Senac, elabora ou adequa a lei referente ao Conselho
Municipal de Turismo - COMTUR, regimento interno e Fundo municipal de turismo; 3. Análise situacional: durante uma
semana acontece entrevistas com os principais atores-chaves do município (setor público, privado e sociedade) para que
os resultados sejam apresentados ao COMTUR e validado por eles; 4. Institucionalização e planejamento: treinamento
dos conselheiros, desenvolvimento do mapa estratégico (as ações que precisam ser realizada e o ano de execução) e
definição das câmaras técnicas (grupos de trabalhos); 5. Formulação da política de turismo: encontros quinzenais das
câmaras técnicas e mensais do COMTUR para formulação de projetos e ações; 6. Gestão da política de turismo:
Ferramenta on-line (Trello) para o acompanhamento das ações; 7. Pit stop: apresentação dos resultados alcançados
durante um ano do programa no município e reavaliação de continuidade.
Ainda em 2019, primeiro ciclo do programa no município de São Miguel do Gostoso, formou-se cinco câmaras
técnicas para auxiliar o COMTUR: Destino turístico, Educação, Sustentabilidade, Segurança e Infraestrutura e
planejamento. A câmara técnica “Destino turístico” se reuniu para buscar alternativas para harmonizar o denso e

226
crescente fluxo turístico, centralizado na sede do município, não se estendendo a suas comunidades rurais. Um dos
projetos oriundos dessa câmara técnica, foi a proposta de execução do curso de Turismo de Base Comunitária para a
comunidade da Baixinha da França, na tentativa de diversificar o turismo no município e proporcionar um produto
turístico que valorizasse a cultura local, além de capacitar esta comunidade desarticulada do turismo na cidade. A
proposta ganhou apoio do Senac-RN, que montou um curso exclusivo para a comunidade, contratou professor
especialista no assunto e na região para ministrá-lo, e o ofereceu gratuitamente com apoio da prefeitura.
O curso de Turismo de Base Comunitária, pioneiro no Nordeste dentro do Senac, possui carga horária de 80
horas e aborda temas como ética e cidadania, fundamentos do turismo, segmentação turística, introdução ao turismo,
atendimento ao cliente, mercado turístico, conceito do turismo de base comunitária, empreendedorismo, associativismo,
meio ambiente, sustentabilidade, cultura e patrimônio. Para explorar os possíveis recursos turísticos da localidade,
utiliza-se no curso, a técnica de fotografia participativa chamada Photovoice (Gehrke, Duarte Junior, Milito, 2015), em
que cada aluno é instruído a produzir fotografias de contextos, lugares, símbolos, objetos e recursos que gostariam de
compartilhar com um visitante. Como resultado, centenas de fotos foram produzidas com base em uma visão afetiva e
local da comunidade. Essas fotografias serviram para ilustrar a diversidade de recursos que poderiam ser incluídos no
turismo, e ajudaram a promover um aumento da autoestima dos participantes. Posteriormente, algumas fotografias
selecionadas foram impressas e utilizadas na montagem de uma exposição fotográfica. Tais recursos serviram para a
construção de rotas piloto na região, incluindo diversos distritos, com foco no TBC enviesado para o turismo cultural e
rural. Outro resultado do curso foi a criação de um logotipo, cuja arte foi desenvolvida pelos próprios alunos do curso e
traz símbolos representativos da região, escolhidos coletivamente em sala de aula. Ao final do curso, foi organizado
um evento convocando a população de São Miguel do Gostoso para apreciar a culinária, a produção agrícola, o
artesanato, a música e as danças da Baixinha da França e região.
A realização do curso de TBC na comunidade da Baixinha do França proporcionou a São Miguel do Gostoso uma
projeção a nível internacional, visto que os municípios que compõem o programa DEL Turismo, por fazerem parte de
uma rede (Rede DEL Turismo), anualmente se submetem à inscrição do concurso TOP 100 da Green Destinations. A Green
Destinations é uma organização internacional para o desenvolvimento e reconhecimento de destinos sustentáveis com
sede na Holanda, que apoia mais de 200 destinos em 60 países para oferecer turismo responsável, com base em
princípios globalmente reconhecidos e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS (Green Destinations, 2020). O
objetivo do concurso TOP 100 da Green Destinations é selecionar 100 destinos que estão preocupados em desenvolver
práticas mais sustentáveis e para isso, além de preencher uma plataforma on-line baseada em seis eixos norteadores:
gestão do destino, natureza e paisagem, meio ambiente e clima, cultura e tradição, bem-estar social, ambiente de
negócios, o qual avalia o destino como um todo, há a submissão de uma história/case de boas práticas. No caso do
município de São Miguel do Gostoso, a história submetida foi a criação e execução do curso de TBC, o que fez com que o
destino fosse selecionado e incluído na lista TOP 100 da instituição. A iniciativa do curso também foi selecionada a
participar da 5º edição do GGD- Green Destinatios Days 2020, uma conferência anual para conectar profissionais de
227
sustentabilidade, destinos e conselhos de turismo para apoiar o aprendizado entre pares e encontrar soluções
sustentáveis para destinos turísticos. São Miguel do Gostoso também obteve o selo prata do programa de certificação
do programa ao alcançar 70% da pontuação.
Com as repercussões dos resultados obtidos, o tema de turismo de base comunitária retornou às discussões
dentro do programa DEL Turismo e culminou na criação de uma câmara técnica de turismo de base comunitária. As
reuniões iniciaram em setembro do ano de 2020. Essa câmara técnica, composta por membros das diferentes
comunidades rurais existentes no município, passou a se reunir quinzenalmente, deliberando sobre encaminhamentos
de como operacionalizar o roteiro de turismo de base comunitária. Assim, desenvolveu-se uma proposta de roteiro, o
qual foi validado e apresentado aos membros para ser testado e avaliado na prática. Em junho de 2021, um grupo
composto pela equipe técnica do programa DEL Turismo, secretários de turismo e educação, receptivo local,
representantes da associação de taxistas e de associações empresariais de São Miguel do Gostoso foram a campo para
realizar a testagem e avaliação do roteiro. Como resultado, identificou-se a necessidade de aprimorá-lo: redirecionando
o percurso para outro acesso, qualificando a comunidade receptora, associando a história da comunidade à sua
gastronomia e aos seus produtos.
Os bons resultados, oriundos do curso de TBC, bem como o processo de planejamento participativo dentro do
programa DEL Turismo, chamaram a atenção do Governo do Estado do RN, e com isso ocorreu a replicação do curso,
executado pelo Senac/RN, no segundo semestre de 2021, em outros municípios, como: Parnamirim, Galinhos, Baraúna,
Serra de São Bento e Monte das Gameleiras, onde houve a elaboração de diagnósticos e mapas estratégicos, criação de
logotipos e roteiros, chegando a ser noticiado em programas de TV. Todos esses resultados foram apresentados em
evento de encerramento, em que cada turma trouxe suas produções desenvolvidas em sala de aula.
As iniciativas dos cursos de TBC executadas pelo Senac/RN puderam pôr em prática os elementos presentes
na teoria, como a valorização da cultura local e a busca da identidade, colaboração, parceria e avaliação de projetos
(Sansolo e Bursztyn 2009; Mtur, Brasil 2010). Contudo, para que isso acontecesse, foi essencial o protagonismo da
comunidade no processo de tomada de decisão. Ao associar a teoria do TBC e os recursos endógenos dos municípios,
por meio da simulação de processos de planejamento e tomada de decisão sobre o destino, os atores locais puderam
refletir e perceber que ao mesmo tempo que é complexo, por estar também lidando com resolução de conflitos, também
é possível desenvolver e operacionalizar projetos pautados na lógica do desenvolvimento local a partir do turismo de
base comunitária e, além disso, usar o espaço do COMTUR nesse processo de deliberação, fortalecendo sua instância de
governança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade de fortalecer as instâncias de governanças municipais de turismo no estado do RN é uma


realidade. Essa lacuna permitiu ao sistema Fecomércio a implantação da metodologia DEL Turismo e a promoção do
turismo nos municípios potiguares a partir de um processo de planejamento participativo, com foco no protagonismo

228
dos atores locais, possibilitando a continuidade da política pública de turismo e o desenvolvimento econômico e social
do turismo nas comunidades.
O município de São Miguel do Gostoso é um exemplo de como a metodologia do Programa DEL Turismo
contribuiu diretamente para a consolidação do seu COMTUR e o pensamento sobre o coletivo e o comunitário,
principalmente em um destino que já dispõe de projeção, fluxo turístico e investidores internacionais. A iniciativa do
curso de turismo de base comunitária, oriunda da intervenção do DEL, configura a possibilidade do turismo incluir a
sociedade local, e reverberou de um aspecto local a nível estadual, com a replicação em mais cinco municípios (com
perspectivas de no ano de 2022 ser replicado em mais 19 municípios do RN).
Iniciativas como essa evidenciam o poder do local direcionado ao consenso e coesão do grupo. O programa
DEL vem fazendo a diferença nas instâncias locais em que tem atuação, resultando em sua expansão no Estado. A
estratégia de desenvolvimento adotada, pautada principalmente no poder do coletivo nas deliberações, mostra que é
possível trilhar a continuidade de uma política pública permanente, fortalecendo a comunidade e o destino, e
consolidando seu desenvolvimento.

PALAVRAS-CHAVE

DEL Turismo; turismo de base comunitária; São Miguel do Gostoso; atores locais.

REFERÊNCIAS

Araújo, M. O Início do Pensamento em Torno do Turismo de Base Comunitária: estudo de caso na comunidade de Galiléia,
município de Caparaó, Minas Gerais, Brasil. Turismo em Análise, vol. 22, n. 2, ago/2011, 238-276.

Barreto, E. d. O.; Tavares, M. G. d. C. Estado e terceiro setor na produção do espaço para o turismo de base comunitária
na Amazônia paraense: o caso da comunidade ribeirinha Anã no município de Santarém-PA. Caderno Virtual de Turismo,
vol. 16, n. 2, abr/2016, 211-231.

Burgos, A.; Mertens, F. A perspectiva relacional na gestão do turismo de base comunitária: o caso da Prainha do Canto
Verde. Caderno Virtual de Turismo, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 81-98, abr. 2/15.

Gehrke, B.; Duarte J.; Milito, M. Photovoice e identificação de recursos turísticos endógenos no litoral do Rio Grande do
Norte -Brasil. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural 2015,13 (5).

Dhole, A. Manual DEL Turismo. Santa Catarina, Brasil: FACISC, 2020.

Irving, I. Reinventando a reflexão sobre turismo de base comunitária. In: BARTHOLO, R; BURSZTYN, I; SANSOLO, D.
Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Ed. Letra e Imagem, 2009, p. 108-121.

Green Destinations, 2020. Disponível em: https://greendestinations.org/events/ggdd/ggdd20-


home/#:~:text=edition%20of%20the%20Global%20Green,sustainable%20solutions%20for%20tourism%20destin
ations. Acesso em: 17 de março de 2022.

229
IBGE. População (2021) - São Miguel do Gostoso. Disponível em:< https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rn/sao-miguel-do-
gostoso>. Acesso em: 10 mar. 2022.

Mitraud, S. Manual de Ecoturismo de base comunitária: ferramentas para um planejamento sustentável. Brasília: WWF-
Brasil, 2003. 470p.

Brasil. Ministério do Turismo. Dinâmica e Diversidade do Turismo de Base Comunitária: desafio para a formulação de
política pública. Brasília: ministério do Turismo, 2010.

Sansolo, D.; Bursztyn, I. Turismo de base comunitária: potencialidade no espaço rural brasileiro. in: BARTHOLO, R.;
SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, i. (org.). Turismo de base comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio
de Janeiro: Letra e Imagem, 2009. p. 142-161.

YIN, Robert. Case Study Research: Design and Methods. 3.ª Ed, London: Sage Publications, 2005.

230
TURISMO DE NEGÓCIOS EM SÃO LUÍS (MA): POTENCIALIDADES PARA O PÓS PANDEMIA

Fabine Emanuela Coelho Berredo (fabineemanuela@hotmail.com)


Joana da Silva Castro Santos (joanascsantos@gmail.com)
Allan Charles Almeida (allancsa.prof@gmail.com)

INTRODUÇÃO

O setor de turismo é composto por diversos segmentos que se diferenciam de acordo com a motivação do
viajante. Com o processo de globalização e o avanço das tecnologias e dos transportes, estes segmentos conseguiram
ser aprimorados. Nesse sentido, o segmento do turismo de negócios, caracterizado pelo deslocamento de pessoas para
atividades de interesse profissional, com ou fins lucrativos definidos, vem crescendo a cada ano em diversos destinos
turísticos no país por se tratar de um segmento que possui uma gama de atividades, tal como: Congresso, Reuniões,
Workshop, Feiras entre outros. O turismo de negócios se destaca pela sua capacidade de inserir capital no destino
turístico em curto período de tempo. Chon e Sparrowe (2003) apontam a importância deste segmento para o trade
turístico do destino, uma vez que ocorrem continuamente e não dependem inteiramente da sazonalidade. De acordo
com os autores, o turismo de negócios atrai receita para o setor hoteleiro, aéreo e de locação de veículos, uma vez que
podem acontecer em todos os meses do ano.
De acordo com Ministério do Turismo (2006), o turismo de negócios está relacionado com os eventos, sendo
definido como o “conjunto de atividades turísticas decorrentes dos encontros de interesse profissional, associativo,
institucional, de caráter comercial, promocional, técnico, científico e social” (BRASIL, 2006, p.46). Segundo Wada (2009),
o turismo de negócios se desdobra em três tipos: viagens corporativas - deslocamentos individuais, que ocorrem com
certa rotina com diferentes motivações e diferenças no tempo de deslocamento; eventos comerciais – deslocamentos
em grupo ou individuais, sendo que, nesse caso, os turista viajam para um evento em comum; o terceiro tipo são as
viagens de incentivos – possui como foco o lazer, no entanto, dentro de um universo corporativo, sendo custeadas por
empresas por meio de campanhas para colaboradores, fornecedores, etc.
Neste sentido, os dados do Ministério do Turismo, afirmam que em 2019 houve um crescimento de 9,5% no
turismo de negócios em relação a 2018, além disso, a receita gerada por estrangeiros que vêm ao Brasil por motivos
de negócios foi 33,4% superior às viagens de lazer [1]3. Em contrapartida, os anos de 2020 e 2021 foram bastante
desafiadores em todos os setores por conta da pandemia do novo coronavírus, ocasionando uma queda significativa na
quantidade de deslocamentos, independente da motivação. Em janeiro de 2021, com o início da vacinação contra a Covid-
19[2]4 no Brasil, surgiu também a expectativa de retomada gradual de diversas atividades e setores, inclusive do

3 [1] Vide o website: https://www.gov.br/pt-br/noticias/viagens-e-turismo/2020/02/turismo-de-negocios-cresce-9-5-em-2019-aponta-setor

4 [2] Vide o website: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-01/vacinacao-contra-covid-19-come%C3%A7a-em-todo-o-pais

231
turismo. Apesar da pandemia ainda estar presente, a partir de 2021 houve uma melhora no cenário econômico mundial
por conta do avanço da vacinação e da reabertura dos países para receberem turistas, no entanto, o cenário global
ainda é de alerta e cuidado.
Dessa forma, o objetivo desta pesquisa é identificar a potencialidade do turismo de negócios na cidade de São
Luís (MA). Vale ressaltar o potencial do turismo de negócios como segmento, principalmente neste momento pandêmico
e pós-pandêmico, uma vez que o “universo” corporativo vem retomando sua força e, consequentemente, os
deslocamentos necessários.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a pesquisa, deu-se em dois momentos. No primeiro momento, foi utilizado a
pesquisa qualitativa por meio do uso de bibliografia, textos e informações relacionadas ao objeto da pesquisa. Ao
mesmo tempo, fez-se uso dos dados estáticos existentes, para compor o bojo de análise. Para o segundo momento,
necessitou de uma pesquisa exploratória, por meio da consulta in loco para compor informações de entrada de turistas
e seus segmentos do destino São Luís (MA). A coleta de dados se deu entre os meses de fevereiro, março, junho, julho,
agosto e outubro de 2021. No total, foram entrevistadas 1.230 pessoas no desembarque do Aeroporto Internacional
Marechal Cunha Machado, por meio de formulário estruturado e com perguntas de múltipla escolha. Com isso, houve
um cruzamento e análise desses dados, utilizando-se à luz da metodologia quanti-qualitativa.

RESULTADOS

A pesquisa constatou que o destino São Luís tem grande vocação para o turismo de negócios. Mesmo que
seu principal produto vendido seja o turismo cultural e histórico, seguido por turismo natural. Encontrou-se grande
potencial para o segmento de negócios crescer. Analisando a pesquisa e dividindo em dois momentos de escuta: I. Alta
Temporada e II. Baixa Temporada (SANTOS, et al., 2021), percebe-se que mesmo com os entraves oriundos da pandemia
do Covid-19 o destino São Luís obteve um bom fluxo de desembarque com a finalidade do turismo de negócios. No que
se refere ao período de baixa temporada, dos 712 entrevistados, 48% afirmaram que sua finalidade no destino foi para
atividades de negócios. Índices que se repetem no período de alta temporada. Dentro do universo de 518 entrevistados,
45,4% afirmaram que sua ida ao destino está diretamente ligada às atividades empresariais.
Neste âmbito, vale destacar alguns elementos que a pesquisa não extraiu, porém estão diretamente ligados
aos dados encontrados na mesma. Primeiro ponto é que, o estado do Maranhão possui uma dinâmica muito maior na
área de serviço, porém a atividade agropecuária mesmo sendo a segunda atividade econômica, se destaca. Como o
estado possui uma dimensão territorial, há problemas na questão logística, devido à malha rodoviária precária e em
muitos casos, sem nenhuma infraestrutura. Além do Aeroporto de São Luís, o estado possui dois aeroportos que
dinamizam a entrada e saída de passageiros: I. Aeroporto de Carolina e II. Aeroporto de Imperatriz. Ambos, possuem
características de pequeno porte. Assim, faz com que a principal entrada no estado seja por meio de sua capital, São

232
Luís. Um outro ponto observado é que, como a capital possui atividade de mineração em sua área metropolitana, faz
com que atraia dinâmicas de cunho primário e secundário de negócios. Em São Luís está instalada a mineradora Vale do
Rio Doce, onde a extração de minério é executada. Juntamente com a atividade portuária cria-se um cenário aquecido
em atividades de negócio.
No entanto, observou-se que não há uma conexão entre as atividades existentes comerciais e empresariais,
com as iniciativas públicas (Municipal e Estadual) de incentivo ao turismo de negócios, fortalecendo a necessidade de
implementação de ações de planejamento estratégico turístico. Constatou-se que o potencial do turismo de negócio é
fomentado via iniciativa privada (organizacionais), dentro de suas atividades organizacionais. Os passageiros que
foram entrevistados durante a pesquisa, apresentaram interesse de permanecer mais tempo no destino, porém não
sabia ou desconhecia a existência de roteiros, equipamentos ou atividades de lazer. Dessa forma, há um entrave na
captação deste potencial turístico e na consolidação do segmento. A pesquisa também identificou a disponibilidade deste
potencial turista, aumentar sua estadia no destino. Por mais que a maioria fique 24 horas no destino, há disponibilidade
de permanecer mais dias, fortalecendo a ideia que o destino São Luís pode captar e consolidar o segmento do turismo
de negócios em portfólio de atividade turística na cidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do contexto apresentado, pode-se concluir que a cidade de São Luís (MA) possui potencial turístico
para o segmento de turismo de negócios. Os dados adquiridos em alta e baixa temporadas mostram que quase 50%
dos turistas consultados viajaram para São Luís por motivos de negócios. Como contribuição para o desenvolvimento
deste segmento, destaca-se a necessidade de estratégias do setor público e privado, bem como estratégias de
marketing de divulgação da cidade como destino detentor desta possibilidade. Dentre estas estratégias, seria
importante investir em novas possibilidades de roteiros para que os viajantes possam passar mais tempo na cidade
fazendo outros tipos de turismo. O diálogo entre setor público e privado pode ser um ponto forte para a discussão do
potencial do turismo de negócios e, em seguida, de ações voltadas para o fortalecimento do mesmo.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo de Negócios; São Luís; Planejamento.

REFERÊNCIAS

Brasil, Ministério do Turismo. (2006). Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais. Brasília: Ministério do Turismo.

Wada, E. K. (2009). Turismo de negócios: viagens corporativas, eventos e incentivos. In: PANOSSO NETTO, Alexandre;
ANSARAH, Marília G.R (editores). Segmentação do Mercado Turístico: estudos, produtos e perspectivas. Barueri, SP:
Manole.

Chon, K.; Sparrowe, R. (2003). Hospitalidade: conceitos e aplicações. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.

233
SANTOS, S. R.; LEITE, A. R. L.; SANTOS, J. S. C.; LEITE, B. R. C.; SANTOS, S.; MORAES, A. F.; FÉLIX, L.; FERNANDES, B.; ARANHA,
C.; SANTOS, E.; SOUSA, C. 2021; Demanda turística - Baixa temporada. Observatório do Turismo da cidade de São Luís do
Maranhão, jul. 2021 (Infográfico). Disponível em https://drive.google.com/file/d/16sdJP0Yxe0AfD-
oZuDRqIUtgLQ_u8hwl/view. Acesso em 01 de março de 2022.

SANTOS, S. R.; LEITE, A. R. L.; SANTOS, J. S. C.; LEITE, B. R. C.; SANTOS, S.; MORAES, A. F.; FÉLIX, L.; FERNANDES, B.; ARANHA,
C.; SANTOS, E.; SOUSA, C. 2021; Demanda turística - Alta temporada. Observatório do Turismo da cidade de São Luís do
Maranhão, jul. 2021 (Infográfico). Disponível em https://drive.google.com/file/d/16sdJP0Yxe0AfD-
oZuDRqIUtgLQ_u8hwl/view. Acesso em 01 de março de 2022.

234
Resumos de Artigos Completos
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO NO PLANEJAMENTO DO TURISMO EM
PETROLÂNDIA-PE

Paulo Henrique Ferreira Lacerda (paulolacerda@usp.br)


Ana Valéria Endres (ave@academico.ufpb.br)
Andréa Leandra Porto Sales (portosalesufpb@gmail.com)

RESUMO

A complexidade da descentralização de políticas públicas e atuação do Estado na condução do turismo, tem colocado em
pauta diferentes concepções do planejamento turístico. Nesse contexto, a participação política da sociedade é colocada
de forma positiva nos processos de fazer políticas públicas em democracias modernas, pois é imprescindível para a
eficácia do planejamento. As políticas nacionais de turismo prescrevem a participação dos atores sociais por meio de
governanças pré-estabelecidas, sendo os Conselhos Municipais de Turismo a materialização dessa orientação que, por
vezes, por seu caráter centralizador, compromete a eficiência do planejamento turístico. Por isso, recorremos à teoria
institucional sociológica que nos dá possibilidades de entender esses processos de maior ou menor institucionalização
dessa participação. Assim, questiona-se: de que forma a participação no planejamento turístico tem sido
institucionalizada no âmbito municipal? Para responder a essa pergunta, a pesquisa objetivou investigar a
institucionalização da participação no planejamento do desenvolvimento do turismo em Petrolândia, Pernambuco.
Caracterizada como uma pesquisa qualitativa, aplicada e descritiva, por meio de métodos mistos trilhou-se um caminho
de investigação, com coleta de dados primários e secundários, entrevistas e observação de campo. Logo, como principais
achados, destaca-se que a participação é pré-institucionalizada, considerando a imposição da estrutura organizacional
pelo Estado e a baixa participação e engajamento dos representantes locais no planejamento turístico pensado e gerido
pelo COMTUR.

Palavras-chave: Planejamento Turístico; Participação; Teoria Institucional; Petrolândia.

235
COMPETITIVIDADE NO DESTINO SOL E PRAIA NO NORDESTE BRASILEIRO: UMA
REVISÃO DE LITERATURA
Laíse Santos Izaias (laiseizaias.li@gmail.com)
Kramer da Silva Rodrigues (kramer.rodrigues@gmail.com)
Alysson Rodrigues de Lima (alyssonrodrigues.arq@gmail.com)
Ana Cecilia Paes de Souza Espinola (anaceciliaesp@gmail.com)
Ilka Maria Escaliante Bianchini (ibianchini@yahoo.com.br)
José Wellington Carvalho Vilar (wvilar@yahoo.com.br)

RESUMO

O estudo da competitividade pode ser visto como uma medida de salvaguarda do destino, além de contribuir com as
avaliações dos fatores que contribuem com o posicionamento do destino em relação aos seus concorrentes. Ademais,
estudar a competitividade de um destino é proporcionar condições ou instigar ações que corroborem com medidas de
incentivo e inovação para o enfretamento de crises, tal qual da Pandemia da Covid-19. Partindo dessa premissa, o
objetivo dessa pesquisa foi revisitar a literatura, de forma a evidenciar nas publicações científicas, a competitividade
do destino de Sol e Praia no nordeste brasileiro. Para isso, o procedimento metodológico utilizado foi a revisão da
literatura, através de buscas em periódicos nacionais e internacionais, publicados no período de 2015 a 2020, utilizando-
se as palavras-chave: Competitividade; Destino Sol e Praia; Nordeste brasileiro. Como resultados, foram encontrados
34 periódicos e destes, após exclusões, totalizou-se em uma amostra final de 11 estudo para análise. Por outro lado, a
língua portuguesa foi o idioma que mais prevaleceu nas publicações; o ano de 2017 foi o que apresentou maior número
de publicações; e os termos “competitividade” e “turismo” foram os mais identificados nos estudos analisados. No
entanto, foi observada uma carência de estudo que abordem a temática destino de sol e mar no nordeste brasileiro e
que retratem a competitividade como uma linha de pesquisa, sendo importante alertar sobre a necessidade de estudos
mais específicos sobre a temática. Por essa razão, o tema em análise ainda necessita de um olhar científico mais apurado
para se atingir, uma melhor análise de competitividade no cenário regional e nacional, ampliar o campo científico,
identificar as fraquezas, gargalos e potencialidade, além de fomentar as publicações.

Palavras-chave: Competitividade; Destino Sol e Praia; Nordeste brasileiro.

236
GOVERNANÇA TURÍSTICA PARTICIPATIVA – UM ESTUDO BASEADO NA TEORIA DO
COMUM

Mariene Cavalcante Borba de Albuquerque (paramarienealbuquerque@gmail.com)

RESUMO

Este é um ensaio teórico que teve como objetivo refletir sobre os princípios da teoria do comum identificando
possibilidades de como uma gestão participativa, com base na articulação entre os atores que utilizam de forma comum
os recursos turísticos, possam desenvolver o turismo em uma localidade. O conceito de “common” ou teoria do comum
surge enquanto uma perspectiva alternativa - um modelo de gestão de bens comuns, acreditando que os indivíduos são
capazes de cooperar e construir instituições e sistemas de gestão que sejam duradouros preservando os bens comuns,
se baseando na capacidade adaptativa do homem com o objetivo de prosperar. Este é um conceito que vai além de
recursos, mas é uma prática social, algo que é compartilhado por uma comunidade sendo, portanto, um substantivo e
um verbo ao mesmo tempo, expressando relações sociais inseparáveis das relações com a natureza. As políticas
públicas utilizadas em cada situação são únicas, uma vez que não há modelos estáticos. Cada situação requer uma
resposta diferente e arranjos de cooperação adequados a cada realidade. O turismo possui características que o
impulsionam a contribuir para o crescimento econômico de uma localidade pois, quando gerenciada por seus atores por
meio de políticas e ações adequadas, é um segmento que atua complementando outras atividades e sua contribuição
impacta alicerces estruturais influenciando não só na economia, mas em fatores culturais, ambientais e de
infraestrutura, melhorando assim a vida da população residente. A Gestão de destinos turísticos compreendendo o
diálogo entre empreendimentos, órgãos públicos e comunidade residente, podem gerar uma vantagem competitiva ao
destino, principalmente porque compartilhar conhecimentos, informações e ações pode auxiliar melhor lidar com
turistas. O estudo é resultado de uma revisão não sistemática de literatura em que se consultaram livros, artigos e
trabalhos acadêmicos que tratam dos temas envolvidos. Concluiu-se que o uso dos fundamentos da teoria do comum
pode auxiliar na gestão de destinos turísticos a fim de alcançar resultados positivos para todos os atores envolvidos na
atividade.

Palavras-chave: Teoria do Comum; Governança participativa; Ostrom; Uso de recursos comuns.

237
MUROS INVISÍVEIS?: PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO/SEGREGAÇÃO ENTRE SUJEITOS NO
ENTORNO DA ESCADARIA DE MÃE LUIZA, E AS PRAIAS DE AREIA PRETA E MIAMI EM
NATAL/RN

Alysson Lucas de Oliveira Bezerril (alyssonbzerril@gmail.com)


Michel Jairo Vieira (micheljvs@hotmail.com)

RESUMO

A dinâmica das pequenas ou grandes cidades de algum modo é marcada por territorialidades que favorecem, permitem
o encontro e compartilhamento de espaços, ou o afastamento e isolamento entre sujeitos. Na realidade urbana e
turística de Natal – RN não é diferente. Buscando conhecer tal dinâmica em um dos territórios mais emblemáticos dessa
cidade, esse estudo tem como objetivos analisar de que maneira ocorrem os processos de integração/segregação
socioespacial no entorno das Praias de Miami, Areia Preta e Escadaria de Mãe Luiza - Natal/RN. Para tanto apresenta
como objetivos específicos: contextualizar historicamente o território da temática; apresentar o olhar de dois grupos de
atores que dialogam com esse território; Mostrar a opinião e sugestões desses dois grupos sobre a dinâmica turística
no local. O caminho metodológico tem uma abordagem qualitativa, exploratório-descritivo, utilizando pesquisa
documental e formação de dois grupos focais (moradores do Bairro de Areia Preta e moradores do Bairro de Mãe Luíza)
que foram questionados a partir de unidades temáticas. Para os resultados foi possível caracterizar e analisar as
relações e a dinâmica de integração/segregação no território e observou-se que a segregação é verbalizada como
comprovação de um traço marcante da relação de convívio na localidade.

Palavras-chave: Segregação-Socioespacial; Desenvolvimento; Turismo.

238
GT 6 – CULTURA, RELIGIOSIDADE E TURISMO COM BASE LOCAL: ENTRE O
MATERIAL E O IMATERIAL NA BUSCA PELA DIVERSIDADE CULTURAL
DIA 18/05 – 14h as 18h

239
Resumos Expandidos
GEOGRAFIA, PATRIMÔNIO E TURISMO NA AMAZÔNIA BRASILEIA:
O PROJETO ROTEIROS GEO-TURÍSTICOS EM BELÉM DO PARÁ

Maria Goretti da Costa Tavares (mariagg29@gmail.com)

INTRODUÇÃO

O projeto Roteiros Geo-turísticos - conhecendo o centro histórico de Belém na Amazônia - Projeto de Extensão
da Universidade Federal do Pará -UFPA, foi criado com o intuito de apresentar a comunidade científica, à sociedade local
e aos turistas o patrimônio material, imaterial e imaterial da cidade de Belém, buscando aliar conhecimentos históricos,
arquitetônicos, culturais e geográficos. Ele insere locais que não têm sido incluídos frequentemente nos passeios
comercializados, espaços nos quais é nítida a carência de ações do poder público, principalmente no que se refere à
limpeza e segurança, ao contrário do que ocorre em certos espaços restaurados e refuncionalizados.
A denominação roteiro geo-turístico, no caso do projeto de extensão em Belém, deve-se ao fato de relacionar
as análises geográficas sobre o espaço com as práticas turísticas, além de buscar evidenciar a diversidade de agentes
e de modos de vida que produzem a cidade, o que contribui para a perspectiva pedagógica do turismo, um real encontro
do turista com o lugar, com a vida do lugar. O que muitas vezes em alguns roteiros turísticos tradicionais é
impossibilitado pela rigidez no controle do pouco tempo e dos objetivos do “fast tour”, onde o turista tem que ver e
fotografar mais em menos tempo. Nesse sentido, observa-se a importância da participação da população local neste
processo, pois ações como estas podem ser um ponto de partida para a formulação de políticas públicas de turismo que
agreguem tanto os valores culturais quanto os de reprodução econômica.
Seguindo diretrizes de um tipo de turismo avesso à massificação das práticas consolidadas do turismo global
– uma espécie de turismo alternativo – os Roteiros se constituem como verdadeiras ferramentas de ensino sobre o
patrimônio e instrumento da ressignificação das práticas turísticas. O pano de fundo é a cidade de Belém, possuidora
de uma história e geografia própria que atravessa quatro séculos de formação espacial peculiar no Brasil.
Como Belém passou por diversas fases da expansão do sítio urbano, determinadas frações da cidade
resguardam momentos históricos importantes. Por sua vez, os roteiros retomam as explicações referentes à construção
dos monumentos, das tradições e dos acontecimentos histórico-culturais que marcaram a formação da cidade. As
questões tratadas tentam superar as informações típicas dos guias e manuais de turismo, nos quais o conhecimento
sobre o patrimônio e a valorização espacial que eles podem inferir sobre o lugar é pouco tratado.
Recentemente, o tema patrimônio cultural e turismo vem sendo debatido na Geografia, principalmente nas áreas da
Geografia do Turismo e Geografia Urbana, o que revela que a ciência geográfica passa a ter um papel relevante na
leitura destes temas.

240
É somente a partir dos anos 70 que tais temáticas passam a compor efetivamente o escopo analítico da
disciplina, com o movimento de Renovação da Geografia, trazendo novos elementos para o trato da produção social do
espaço. Os estudos geográficos que se atém à questão do patrimônio cultural acompanham essa tendência, ganhando
vulto. Sobretudo, na última década (Nigro, 2009, p. 59).
Segundo Nigro (2009) existem autores na Geografia como Graham, Ashworth e Tunbridge (2000) que propõem
a existência de uma Geografia do Patrimônio (Geography of Heritage), em que haveria três dimensões fundamentais. A
primeira delas refere-se ao patrimônio como um fenômeno espacial; a segunda afirma que o patrimônio é de interesse
direto da Geografia Cultural e Histórica contemporânea; e a terceira, de que o patrimônio não é apenas um bem cultural,
mas também econômico. Nesse sentido, afirma Nigro (idem, p. 69-70), “...o patrimônio constitui um elemento primordial
e um componente das estratégias de políticas relacionadas ao planejamento urbano, desenvolvimento regional e
turismo, temas tradicionalmente de interesse dos geógrafos”. Assim, revela-se a importância atual da Geografia na
leitura do patrimônio e sua espacialidade, tanto no que se refere ao patrimônio material, como ao patrimônio imaterial,
revelando a importância dos lugares em um mundo globalizado.
O centro histórico de Belém-PA possui espaços que receberam intervenções nos últimos anos, na lógica desse
processo de “revitalização” (TRINDADE JUNIOR e AMARAL, 2006). O que se observa são espaços que compõem os roteiros
turísticos que direcionam a visitação dos turistas ao centro histórico da cidade.
No entanto, essa área apresenta ampla diversidade de vidas que o produzem, para além das poucas
edificações reformadas. Estão presentes atividades comerciais (formais e informais), espaços em deterioração, lixo,
festas, atividades portuárias, etc. Essa diversidade diz muito mais sobre o passado e o presente da cidade de Belém.
Um roteiro geo-turístico (assim denominado por relacionar as análises geográficas sobre o espaço com as práticas
turísticas), que procura evidenciar esse mosaico de agentes e de modos de vida que produzem o centro histórico da
cidade, contribui para a perspectiva pedagógica do turismo e um real encontro do turista com a vida do lugar visitado.
A impossibilidade de tal perspectiva ocorre muitas vezes pela rigidez no controle do pouco tempo e dos objetivos do
fast tour, onde o turista tem que ver e fotografar mais em menos tempo.
Ressignificar o turismo, a partir da experiência do roteiro geo-turístico, representa a demonstração de que o
turismo pode ser essa arena onde para (e através de) a visita do outro, os agentes locais passam a (re) conhecer e (re)
valorizar sua história e seu espaço. Esse artigo encontra-se dividido nas seguintes partes: a concepção e metodologia e
os resultados do projeto.

METODOLOGIA

Há uma preocupação nos Roteiros Geo-Turísticos em não explicar o significado de patrimônio sem dissociar os
aspectos culturais e históricos de Belém, que formam sua geografia peculiar. Explicam-se as rugosidades espaciais, que
podem ser compreendidas como formas espaciais presentes, resultantes de um determinado processo de ocupação. O

241
conceito de rugosidade espacial tem por base a contribuição científica do nosso geógrafo Milton Santos (2013) e no
projeto tem contribuído para o processo de popularização da ciência. Conceitos da leitura geográfica, tais como,
produção do espaço, território, territorialidade, lugar e paisagem, também são tratados e explicados de forma a
contextualizar a realidade socioespacial e cultural da cidade.
O projeto surge a partir da seguinte justificativa:
a) dos resultados de pesquisa e debates realizados no grupo de pesquisa coordenado pela profa. Dra. Maria Goretti da
Costa Tavares no Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará e na Faculdade de
Geografia e Cartografia do IFCH – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, intitulado GRUPO DE GEOGRAFIA DO
TURISMO (GGEOTUR) - TURISMO E DESENVOLVIMENTO SOCIO-ESPACIAL NA AMAZÔNIA, cadastrado no CNPQ desde o ano
de 2002;
b) da inexistência de ações voltadas para o turismo em Belém que valorizem seu potencial histórico, cultural, patrimonial
e, por conseguinte, de memória sócio espacial;
c) da inspiração no Projeto de extensão Roteiros Geográficos, coordenado pelo Prof. Dr. João Batista Ferreira de Mello
do Departamento de Geografia – UERJ, existentes desde o ano de 2000 na cidade do Rio de Janeiro;
d) da possibilidade do projeto formar novos agentes sociais, reprodutores de um turismo alternativo, muito incomum
em uma cidade como Belém.
Em termos teórico-metodológicos de elaboração e execução dos roteiros geo-turísticos, a equipe do projeto é
pautada por princípios participativos e dialogais, tendo como referencial o turismo inclusivo e sustentável, com
características de turismo alternativo, com ações distribuídas no levantamento e sistematização de dados, preparação
e implementação das oficinas, palestras e os roteiros propriamente ditos. Especificamente, o seguinte percurso
metodológico, composto por onze fases básicas, é utilizado para cada roteiro implantado:
1. Definição do tema e itinerário e pontos de paradas do roteiro;
2. Levantamento bibliográfico, iconográfico e documental sobre a temática do roteiro e pontos selecionados;
3. Trabalho de campo para reconhecimento do trajeto do roteiro e contato com as associações presentes na área-objeto
do roteiro;
4. Elaboração de texto-guia do roteiro, com base na sistematização de todos os dados levantados pela equipe;
5. Levantamento fotográfico da área-objeto do roteiro;
6. Reuniões semanais de avaliação para aperfeiçoamento da forma e conteúdo do roteiro;
7. Articulação com órgãos governamentais para apoio de divulgação do roteiro (a saber, Secretaria de Estado do Turismo
do Pará – Setur, Coordenadoria Municipal de Turismo de Belém – Belemtur, Associação Cidade Velha - Cidade Viva –
Civiva, Secretaria de Estado de Cultura do Pará – Secult e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- Iphan);
8. Envolvimento das associações de moradores ou trabalhadores da área-objeto do roteiro;
9. Roteiros-teste com os monitores do projeto;
10. Divulgação nas redes sociais e implementação do roteiro;

242
11. A execução do projeto RESULTADOS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a multipotencialidade do direito à cultura, verifica-se que a ressignificação das práticas


turísticas se dá a partir da educação patrimonial nas nossas cidades, como ação estimuladora à valorização das
memórias social, histórica e geográfica, e à contribuição sobremaneira para a revalorização histórica patrimonial,
cultural e turística da cidade (associações locais, população em geral e turistas). As experiências de construção de
roteiros culturais e/ou turísticos (sejam eles gratuitos, colaborativos ou pagos), têm se mostrado bastante positivas,
contando com a participação de vários profissionais, estudantes e a sociedade. Tais tipos de experiências contribuem,
portanto, para a efetiva implementação da perspectiva do direito à cultura, demonstrando a importância e a necessidade
de se conhecer e de se valorizar o patrimônio cultural, afirmando-se como instrumento imprescindível para a
viabilização da participação social e atuação conjunta entre população e poder público na valorização das cidades.
Todos os 11 (onze) roteiros do projeto (implantados até o ano de 2019) e os outros 09 existentes em parceria,
constituem ações estimuladoras da valorização da memória social, histórica e geográfica da cidade de Belém, em
especial os bairros do centro histórico e seu entorno. Nesse sentido, o projeto vem contribuindo:
a) para repensar o planejamento das ações turísticas para a cidade de Belém;
b) para a revalorização histórica, patrimonial, cultural e turística da cidade (associações locais, população em geral e
turistas);
c) para pensar a cidade de forma interdisciplinar e transversal em seus vários setores de desenvolvimento e qualidade
de vida (preservação e valorização do patrimônio, circulação, educação ambiental, violência urbana, infraestrutura,
entre outros);
d) para pensar que a ideia de pertencimento ao lugar, que é de fundamental importância para a formação da cidadania
local, aquilo que Santos (1998) denominava de uma “geografização da cidadania”, lugar para o qual, dever-se-ia levar
em conta pelo menos dois tipos de direitos a todos os indivíduos: os direitos territoriais e os direitos culturais.
É importante ressaltar a contribuição desse projeto de extensão para a educação patrimonial e sua inserção
e reconhecimento pela sociedade civil e articulação com outros projetos da sociedade civil como o Projeto Circular
Campina-Cidade Velha e a AAPBEL- Associação dos Amigos do Patrimonio de Belém, o que revela o caráter político da
ação e sua importância para a formação da cidadania.
O Projeto Circular Campina-Cidade Velha, tem por objetivo melhorar a apropriação e a utilização das
estruturas e edificações do Centro Histórico de Belém, subutilizadas sobretudo nos finais de semana, ao estimular a
criação e o fortalecimento de empreendimentos culturais e associados, desenvolvendo uma economia criativa e
solidária, bem como o potencial turístico da região, garantindo o convívio e o bem-estar dos moradores, na busca pela
transformação do perfil dos bairros históricos em atual estado de violência e degradação. É um projeto que emerge da

243
necessidade de revalorizar o Centro Histórico da Cidade de Belém, atenta ao potencial da diversidade de espaços,
coletivos e empreendimento culturais sediados nos bairros da Campina, Cidade Velha e Reduto.
O Projeto Roteiros Geo-turísticos, por fim, tem reconhecimento dentro e fora da Universidade, revelado pelos
prêmios já recebidos, pelo IPHAN (em 2016); pela Assembleia Legislativa do Estado do Pará (2018) e pela própria Pro
Reitoria de Extensão da UFPA (em 2013 e 2019). Deve-se destacar a perspectiva interdisciplinar do projeto, desde dos
discentes de várias áreas (Geografia, Turismo, Arquitetura, História e Museologia), assim como de uma equipe de
consultores professores da UFPA de diversas áreas do conhecimento,
Relevante também é o resultado da inserção dos discentes do ensino médio desde o início do projeto no ano
de 2011, com alunos do Colégio de Aplicação da UFPA, e nos anos seguintes, com discentes de outras escolas públicas e
desde o ano de 2013 com discentes da Escola Bosque Eidorfe Moreira, que se localiza no Distrito de Outeiro, uma ilha
situada a 30km de Belém. Nessa escola, dois docentes coordenam o projeto, o prof. Agnaldo Aires da geografia e o prof.
Ricardo Torres da Filosofia, sendo que nesse período já implementaram dois roteiros importantes, no distrito de Icoaraci
e no distrito de Outeiro.
O impacto do projeto junto ao IPHAN-Pará deve também ser destacado, pelas inúmeras parcerias que vão de
oficinas ministradas sobre educação patrimonial, passando pela formatação em conjunto como o IPHAN de um roteiro,
o roteiro do Ver o Peso no ano de 2012 e o financiamento de material de folder que é distribuído ao longo dos roteiros.

PALAVRAS-CHAVE

Patrimônio, Belém, Roteiros

REFERÊNCIAS

NIGRO, C.. As dimensões culturais e simbólicas nos estudos geográficos: bases e especificidades da relação entre
Patrimônio Cultural e Geografia. In: PAES, Maria Tereza Duarte; OLIVEIRA, Melissa Ramos da Silva. (Org.). Geografia,
Turismo e Patrimônio Cultural. 1ed.São Paulo: Annablume, 2009, v., p. 55-80.

TRINDADE JUNIOR, Saint-Clair; AMARAL, Márcio Douglas. Reabilitação urbana na área central de Belém-Pará: concepções
e tendências de políticas urbanas emergentes. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n.111, p.73-103,
jul./dez. 2006.

244
PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DE FORTALEZA/CEARÁ: UMA ANÁLISE DA
RELIGIÃO UMBANDA

Maria Estefany Cesário Reis (estefanyreis1605.eq@gmail.com)


Aline Almeida Souza (alinealmeida1trabalhos@gmail.com)
Antônio Cavalcante de Almeida (antonio.cavalcante@ifce.edu.br)

INTRODUÇÃO

O presente artigo aborda a questão das ações implementadas com base na religião umbanda e suas culturas,
trazendo também alguns exemplos de como ocorre em alguns locais que são bem procurados e conhecidos pela cultura,
principalmente na cidade de Fortaleza - Ceará. Levando também em consideração que a religião umbanda ainda é algo
desconhecido para muitas pessoas, mesmo que já possua anos desde o seu aparecimento no Brasil, porém, não são
todas as cidades que possuem um local específico para sua realização.
O artigo tem como tema: “Patrimônio Cultural Imaterial em Fortaleza/Ceará - Uma análise da religião
Umbanda”, tendo como objetivo principal analisar a cultura fortalezense diante de uma religião riquíssima em
diversidades culturais e que vem sendo cada vez mais pautada e reconhecida na atualidade. E como procedimentos
metodológicos para obtenção de informações e depoimentos, utilizou-se de pesquisas bibliográficas, documentais e de
campo.
A umbanda é considerada uma religião pela qual possui origens africanas, europeias e indígenas através de
seu catolicismo e espiritualismo, mantendo sempre sua tradição e variedade de patrimônio desde o seu surgimento em
1908 até os dias atuais através de sua cultura. Além disso, faz parte dos patrimônios imateriais que são práticas e
representações com instrumentos e objetos em locais culturais, de acordo com o (EDUCA MAIS BRASIL, 2020). Umbanda
é muitas vezes confundida com outra religião de matriz africana denominada de candomblé, justo pela sua maneira de
como ocorre e é representada. Ambas são bem parecidas, entretanto, o que difere uma da outra é que a umbanda se
liga diretamente a religiões levando consigo expressões do catolicismo e espiritualismo, enquanto o candomblé busca
uma divindade através de orixás.
Com a Constituição Federal de 1988, ampliou-se o conceito de patrimônio cultural, sendo reconhecidas,
conforme o Artigo 216, as dimensões materiais e também imateriais dos bens culturais. Assim, sendo a umbanda
incluída neste grupo, conforme o Guia de Registro do Patrimônio Imaterial do Ceará, as formas de expressão; os modos
de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e
demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais assim como os conjuntos urbanos e sítios de valor
histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (ÂMBITO JURÍDICO, 2017).
Umbanda faz parte de uma atividade denominada de turismo religioso e também pode se enquadrar no
cultural diante de suas origens e representatividades. Quando se olha para o turismo cultural religioso como agente de

245
mudanças na área de progresso sociocultural, é necessário se desvencilhar das posições enraizadas as quais ditam que
esse modelo de desenvolvimento econômico é algo usufruível apenas para uma pequena parcela da sociedade.
Importante se faz dizer que, esse tipo de turismo, exige uma gestão participativa social, quando os moradores
de uma dada região desenvolvem o senso de orgulho de seus bens culturais, facilita-se a fiscalização constante e a
denúncia quando o caso é de descumprimento das diretrizes propostas adotadas pelo Plano Diretor. E nessa perspectiva
todos ganham, por exemplo, a economia local é estimulada, assim como os modelos sustentáveis, onde a comunidade
participa diretamente e tem sua cultura preservada e valorizada de maneira adequada.

METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho foi através de pesquisa bibliográfica, documental e de campo.


A pesquisa bibliográfica foi realizada através da leitura de livros e revistas para que fosse necessário um
maior entendimento do que iria ser discutido no trabalho.
A pesquisa documental foi realizada através de documentos disponibilizados em sites e páginas de notícias
para que houvesse um aprofundamento sobre o tema.
A pesquisa de campo foi realizada através da participação dos integrantes da equipe no evento da festa de
Iemanjá que ocorre na Praia de Iracema na cidade de Fortaleza. Esta parte do trabalho foi realizada para que tivéssemos
o máximo de informações e também foram realizadas conversas com alguns participantes da festa com o intuito de nos
levar a uma conclusão do que realmente era a festa de Iemanjá e a religião umbanda para uma cidade e sua população
quanto a sua grande importância para o patrimônio cultural imaterial.

RESULTADOS

Diante da pesquisa bibliográfica podemos observar que vários autores como Antônio Figueiredo e Maria
Macena que já relataram e falaram em suas postagens sobre patrimônios e a imensa relevância que o patrimônio
apresenta, este é o caso da religião umbanda que tem grande potencial e aos poucos vai crescendo cada vez mais.
Durante a pesquisa documental foram vistos vários documentos com relação aos patrimônios imateriais,
principalmente o decreto n° 14.262 de 30 de julho de 2018 realizado pela prefeitura de Fortaleza ao qual registra a
Festa de Iemanjá como Patrimônio Imaterial de Fortaleza.
Através da pesquisa de campo podemos observar que ainda há muita escassez nas informações que as
pessoas possuem com relação a religião umbanda. Mesmo que a cidade de Fortaleza tenha grande potencial ainda é
necessário que haja um maior aproveitamento e entendimento das pessoas com relação a sua importância. Diante das
conversas realizadas com alguns participantes da festa foram relatados que ela é uma festa que ocorre anualmente e
que tem uma imensa importância para todos da religião, mesmo que a religião e o festejo não sejam tão conhecidos
pela população.
Segue abaixo uma imagem para retratar a Festa de Iemanjá:

246
Festa de Iemanjá

Fonte: Jornal O Povo, 2018.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É bem verdade que o objetivo deste trabalho foi realizar um estudo abrangente sobre o patrimônio cultural
imaterial voltado para a religião umbanda a fim de explicar as dificuldades enfrentadas e os motivos para que sejam
preservadas para as futuras gerações. Assim, o primeiro passo do trabalho foi identificar, por meio de estudos o que a
umbanda representa em todo o contexto sociocultural para o turismo religioso.
Nesse entendimento, a pesquisa possibilitou o estudo de um espaço relevante para a cidade de Fortaleza e
para o turismo religioso cearense que deve explorar mais essa tipologia de turismo sociocultural. Diante da diversidade
religiosa da própria umbanda, é relevante considerar que uma religião precisa ser observada de acordo com a estrutura
social em que se insere. Pode-se perceber que em relação às práticas e rituais, na umbanda as consultas são feitas por
meio dos espíritos de Caboclos, Preto-Velhos, Baianos, Exus, etc. Já no candomblé as consultas são feitas por intermédio
do “jogo de búzios” ou “ifá”, não permitindo a comunicação de espíritos (eguns), sendo vetada sua incorporação.

PALAVRAS-CHAVE

Patrimônio; cultura; religiosidade; turismo; imaterial.

REFERÊNCIAS

VILLA-LOBOS, Heitor et al. Villa-Lobos. Analekta, 1994. Disponível em:


http://www.seer.unirio.br/revistadebates/article/view/10842. Acesso em: 10 de fev. de 2021.

247
GOVERNO FEDERAL DO BRASIL (Brasil). IPHAN. Educação Patrimonial: Histórico, conceitos e processos. [S. l.: s. n.],
2014. 65 p. v. único. Disponível em: https://docplayer.com.br/7786154-E-ducacao-p-atrimonial-historico-conceitos-e-
processos.html#show_full_text. Acesso em: 14 out. 2020.

FIGUEIREDO, Antônio Marcus L. A função turística do patrimônio: questionamentos sobre a idéia de


sustentabilidade do turismo cultural. Caderno Virtual de Turismo, v. 5, n. 4, 2006.
Disponível em: http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/103. Acesso em: 10 de fev. de
2021.

MEDEIROS, A.E.A. Imaterialidade criadora. In: TEIXEIRA, J.G.L.C. et al. (org.). Patrimônio imaterial, perfomance cultural e
(re)tradicionalização. Brasília: ICS-UnB, 2004. Disponível em:
https://scholar.google.com.br/citations?user=3jUBuN8AAAAJ&hl=pt-BR. Acesso em: 08 de fev. de 2021.

MACENA FILHA, Maria de Lourdes. Patrimônio Imaterial, identidade cultural e memória: O "ser cearense". 1. ed.
Fortaleza: Banco do Nordeste, 2003. 36 p. v. único. ISBN M113p.
Disponível
em:https://mapacultural.secult.ce.gov.br/files/agent/8741/curr%C3%ADculo_do_sistema_de_curr%C3%ADculos_la
ttes_(maria_de_lourdes_macena_de_souza).pdf. Acesso em: 5 de nov. de 2020.

Disponível em:https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/religiao/sincretismo-e-religioes-afro-brasileiras. Acesso


em: 10 de jun. de 2021.

Disponível em: https://www.opovo.com.br/noticias/fortaleza/2019/08/13/festa-de-iemanja-em-fortaleza-comeca-


nesta-quarta-feira--confira-programacao.html. Acesso em: 10 de jun. de 2021. Acesso em: 15 de jun. de 2021.

248
PERCEPÇÃO DOS RESIDENTES SOBRE OS IMPACTOS DOS MERCADOS PÚBLICOS DE
ABASTECIMENTO PARA O TURISMO EM CIDADES RELIGIOSAS

Milo Andrade da Silva (miloandrade@yahoo.com.br)


Ana Cristina Linard Macedo (cristinalinard@hotmail.com)
Jakson Renner Rodrigues Soares (jakson.soares@udc.gal)
Xosé Manuel Santos Solla (xosemanuel.santos@usc.es)

INTRODUÇÃO

O resumo avalia as percepções dos moradores sobre os impactos do turismo no consumo em mercados
públicos de abastecimento nas cidades religiosas de Santiago de Compostela, Galícia - Espanha e Juazeiro do Norte,
Ceará-Brasil, por serem consideradas metrópoles regionais. Objeto de pesquisa do curso de Doutorado em Turismo na
Universidade de Santiago de Compostela, Juazeiro do Norte é uma cidade emergente em termos de turismo, embora
seja o segundo maior destino de peregrinação do Brasil. Santiago de Compostela (Espanha) é uma antiga cidade
europeia, bem estruturada e com uma rica história turística em fase de desenvolvimento consolidado.
Ambos têm um histórico de crescimento econômico, demográfico e turístico, com a modernização de
equipamentos urbanos e turísticos para atender altas demandas. E em ambos os destinos, os mercados públicos de
abastecimento fazem parte da infraestrutura turística. Os mercados de abastecimento público não são mais apenas
locais de consumo, mas também representam manifestações culturais, poder simbólico e atratividade para o turismo,
causando impactos no desenvolvimento das cidades.
O crescimento do turismo cultural e religioso nas duas cidades transformou, ainda que inadvertidamente, os
mercados públicos de abastecimento em locais de consumo para mais do que os moradores. Além disso, tornou-se um
local de diversão, lazer e aprendizado para quem chega a esses destinos. O processo de modernização dos mercados
de abastecimento leva a uma maior complexidade da oferta de produtos e serviços, o que os transforma em locais que
carecem de pesquisas para melhor explicá-los. Por essas e outras razões, a tese tem como objetivo estudar os mercados
de abastecimento público das cidades de Santiago de Compostela (Galicia-Espanha) e Juazeiro do Norte (Ceará-Brasil). E
investigar os impactos (econômicos, socioculturais, ambientais) da atividade turística nesses elementos em destinos de
turismo religioso.
Uma perspectiva mista qualitativa-quantitativa será usada para analisar esses impactos. Os dados
qualitativos serão coletados por meio de entrevistas em profundidade com moradores das duas cidades e analisados
com a Análise Sociológica dos Discursos, e os dados quantitativos serão coletados por meio de questionários fechados
aplicados aos turistas em ambos os destinos. As análises serão realizadas com o software SPSS e as relações entre os
construtos avaliados com o SmartPLS.
Nossas hipóteses de partida são as seguintes: 1. Os impactos do turismo no destino estão relacionados aos
tipos de turismo neles presentes e aos momentos de desenvolvimento do turismo; 2. A participação dos diferentes

249
stakeholders é essencial para alcançar um modelo de desenvolvimento turístico sustentável; 3. A percepção dos
impactos do turismo pelos residentes locais condiciona o seu apoio ao desenvolvimento do turismo; 4. A percepção dos
impactos do turismo pelos moradores locais condiciona sua hospitalidade para com os visitantes; 5. A percepção da
hospitalidade dos moradores pelos turistas determina sua satisfação, sua fidelidade e seus gastos no destino.
Como objetivos: Geral - Analisar a percepção e consumo nos mercados públicos de abastecimento das cidades
religiosas de Juazeiro do Norte e Santiago de Compostela, de moradores e turistas à luz da sustentabilidade. Específicos:
Conhecer os produtos de consumo nos mercados de abastecimento público investigados; Identificar o percentual de
moradores e turistas no consumo nos mercados de abastecimento público das cidades religiosas; Apresentar as
especificidades dos mercados de abastecimento público das cidades estudadas; Analisar os impactos do turismo nos
mercados de abastecimento das cidades religiosas; Relacionar os impactos do turismo nos mercados públicos de
abastecimento com a satisfação dos moradores e visitantes à luz da sustentabilidade.

METODOLOGIA

Diferentes metodologias serão utilizadas para contrastar as hipóteses propostas e atingir os objetivos
planejados.
Em primeiro lugar, será realizada uma revisão da bibliografia científica mais relevante em relação à
participação dos diferentes intervenientes na gestão e planeamento de destinos turísticos. Da mesma forma, será
revisada a principal bibliografia em relação aos principais modelos de desenvolvimento do turismo sustentável e as
principais experiências de sucesso neste campo.
Em segundo lugar, e com base nas fontes estatísticas existentes (INE, IGE, CETUR, EMBRATUR, CEARATUR),
tentaremos caracterizar comparativamente o mercado turístico das duas cidades. O objetivo desta análise é conhecer
as características das duas cidades do ponto de vista de seus visitantes, levando em consideração variáveis como
motivações, tempo de permanência, origem dos visitantes ou seu comportamento no destino.
Em terceiro lugar, serão analisadas as percepções dos residentes locais e dos operadores turísticos com o
objetivo de conhecer, por um lado, o seu grau de envolvimento na governança do destino e, por outro, os impactos
derivados da atividade turística. Nos inquéritos dirigidos à população local tentaremos também estimar a sua
predisposição para favorecer o turismo. Outro dos objetivos será analisar as percepções a partir do envolvimento dos
moradores com a atividade turística.
Em quarto lugar, serão realizados inquéritos aos turistas para conhecer a sua satisfação e a sua relação com
o apoio ao turismo expresso pelos residentes. Neste caso, além da satisfação, serão analisadas variáveis como imagem,
motivação, gastos ou fidelização dos turistas.
Por fim, tentaremos relacionar, através de um modelo integrado, as percepções dos diferentes stakeholders,
o que sem dúvida será uma das principais novidades da pesquisa.

250
Os dados obtidos através dos diferentes questionários e entrevistas serão analisados estatisticamente
através do programa informático SPSS. Para a análise das relações entre variáveis e construtos, recorreremos a modelos
de equações estruturais com o programa computacional SmartPLS.

RESULTADOS

Durante décadas, um elemento fundamental no planejamento e gestão dos destinos e, portanto, em sua
governança, tem sido a participação dos vários atores presentes nos destinos (Gómez & Martín, 2015). Isso porque, para
que os destinos implementem modelos de turismo sustentável, eles devem levar em consideração as opiniões,
preocupações e necessidades de todos os grupos de interesse envolvidos no destino, tanto públicos quanto privados
(Gursoy & Rutherford, 2004; Muñoz & Fuentes, 2013).
Segundo Kim, Uysal e Sirgy (2013), no momento em que uma comunidade se torna um destino turístico, os
moradores (grupo de atores da sociedade civil) são impactados pelas ações decorrentes das atividades turísticas. E como
destacam Kim et al. (2013), esses impactos podem ser tanto positivos quanto negativos para o bem-estar das
comunidades que recebem turismo. Além disso, segundo Telfer e Sharpley (2008) e Sharpley (2014), o comportamento
do morador será diferente se ele perceber mais impactos positivos do que negativos. Ou como recordam Stylidis et al.
(2014), a imagem que os moradores têm do turismo afeta suas percepções sobre os impactos do turismo e seu apoio ao
desenvolvimento da atividade.
Mowforth e Munt (2003) destacaram por quase duas décadas a importância da participação da comunidade
local para o desenvolvimento do turismo sustentável. Estes stakeholders desempenham um papel importante na gestão
do turismo, uma vez que são um dos principais intervenientes no seu desenvolvimento. Além disso, também é
encontrado na literatura que os stakeholders envolvidos em trocas comerciais regulares com turistas (pessoas que
trabalham na área) têm percepções diferentes sobre a atividade (Griffiths & Sharpley, 2012). Os autores também
destacam que as opiniões podem ser transformadas positiva ou negativamente ao longo do tempo. Nesse sentido,
sabendo que muitos impactos econômicos são vistos como positivos pelo morador, Jurowski, Uysal e Williams (1997)
apontam que as comunidades anfitriãs veem oportunidades no desenvolvimento do turismo em sua região, haja vista
que a atividade turística é capaz de trazer melhorias, especificamente relacionadas a empregos, receitas fiscais e
diversidade econômica.
Mas os impactos no turismo não são apenas econômicos. Yoon, Gursoy e Chen (2001) observam quatro
dimensões dos impactos do turismo em seus estudos: impactos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Além disso,
apontam que há um efeito negativo da percepção do impacto ambiental no apoio ao desenvolvimento do turismo. Por
fim, segundo Jaafar, Rasoolimanesh e Lonik (2015), a percepção dos moradores sobre os impactos do turismo é um fator
capaz de influenciar seu comportamento para apoiar o desenvolvimento do turismo em uma localidade. Portanto, a
relação deve ser harmoniosa, buscando o apoio dos stakeholders.

251
Além disso, a participação e o apoio dos moradores são essenciais para a sustentabilidade da indústria do
turismo em um destino (Gursoy, Chi & Dyer, 2009). Assim, entender a perspectiva dos moradores pode facilitar o
desenho de políticas que reduzam os possíveis impactos negativos do turismo e aumentem os benefícios, alcançando o
desenvolvimento da comunidade e levando a um maior apoio ao turismo (Prayag, Hosany, Nunkoo & Alders, 2013). Da
mesma forma, estudos como os de Rasoolimanesh, Ringle, Jaafar e Ramayah (2017), Jaafar, Noor e Rasoolimanesh
(2015), Latkova e Vogt (2012) também concluíram que os moradores de destinos maduros não percebem o impacto do
turismo (benefícios ou custos) da mesma forma que os residentes de destinos em outras fases do ciclo de vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este projeto de tese terá repercussões importantes, tanto do ponto de vista científico como do ponto de vista
da gestão de destinos.
Do ponto de vista da investigação científica, o trabalho apresenta uma série de novidades, uma vez que se
pretende analisar as percepções dos diferentes intervenientes através de uma abordagem integrada e também
comparar os resultados em dois locais distintos.
Do ponto de vista da gestão do turismo, os resultados do trabalho serão muito úteis no planejamento do
desenvolvimento turístico de um destino utilizando fórmulas compatíveis com o desenvolvimento sustentável. Para
isso, será analisada a importância das percepções da população local e dos operadores turísticos na satisfação do turista
e nos impactos econômicos derivados do turismo
A pesquisa da tese está em fase inicial, colhendo e condensando a parte bibliográfica. Previsão de resultados
para final de 2023.

PALAVRAS-CHAVE

Palavra 01- Turismo; palavra 02- mercados públicos; palavra 03- impactos; palavra 04- percepção; palavra 05-
residentes.

REFERÊNCIAS

Gómez, D., & Martín, B. (2015). La participación de los stakeholders en los destinos turísticos españoles: análisis de la
situación actual. Aposta. Revista de Ciencias Sociales, 65.

Griffiths, I., & Sharpley, R. (2012). Influences of nationalism on tourist-host relationships. Annals of Tourism Research,
39(4), 2051-2072.

Gursoy, D., & Rutherford, D. G. (2004). Host attitudes toward tourism. An improved structural model. Annals of Tourism
Research, 31 (3), 495-516.

Gursoy, D.; Chi, C., & Dyer, P. (2009). Locals’ Attitudes toward Mass and Alternative Tourism: The Case of Sunshine Coast,
Australia. Annals of Tourism Research, 36(4), 715-734.

252
Jaafar, M.; Noor, S. & Rasoolimanesh, S. (2015). Perception of young local residents toward sustainable conservation
programmes: A case study of the Lenggong world cultural heritage site. Tourism Management, 48, 154-163.

Jaafar, M.; Rasoolimanesh, S., & Lonik, K. (2015). Tourism growth and entrepreneurship: Empirical analysis of
development of rural highlands. Tourism Management Perspectives, 14, 17-24.

Jurowski, C.; Uysal, M., & Williams, D. R. (1997). A theoretical analysis of host community resident reactions to tourism.
Journal of Tourism Research, 36, 3-11.

Kim, K.; Uysal, M., & Sirgy, M. J. (2013). How does tourism in a community impact the quality of life of community
residents? Tourism Management 36, 527-540.

Latkova, P., & Vogt, C. (2012). Residents' attitudes toward existing and future tourism development in rural communities.
Journal of Travel Research, 51(1), 50-67.

Mowforth, M., & Munt, I. (2003). Tourism and sustainability (2nd ed.). London, England: Routledge.

Muñoz, A., & Fuentes, L. (2013). La cooperación público privada en el ámbito de la promoción de los destinos. El análisis
de redes sociales como propuesta metodológica. Cuadernos de Turismo, 31, 199-223.

Prayag, G.; Hosany, S.; Nunkoo, R. & Alders, T. (2013). London residents' support for the 2012 Olympic games: the
mediating effect of overall attitude. Tourism Management, 36, 629-640.

Rasoolimanesh, S. M.; Ringle, C. M.; Jaafar, M., & Ramayah, T. (2017). Urban vs. rural destinations: Residents’ perceptions,
community participation and support for tourism development. Tourism Management, 60, 147-158.

Sharpley, R. (2014). Host perceptions of tourism: A review of the research. Tourism Management, 42, 37-49.
Stylidis, D.; Biran, A.; Sit, J., & Szivas, E. M. (2014). Residents' support for tourism development: the role of residents'
place image and perceived tourism impacts. Tourism Management, 45(0), 260-274.

Telfer, D., & Sharpley, R. (2008). Tourism and development in the developing world. London, England: Routledge.

Yoon, Y.; Gursoy, D., & Chen, J. S. (2001). Validating a tourism development theory with structural equation modeling.
Tourism Management, 22 (4), 363-372.

253
POTENCIALIDADE LOCAL PARA O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA EM PONTA NEGRA:
VILA DAS RENDEIRAS
Alice Carvalho de Castro (alice_castro23@hotmail.com)
Jucielio Domingos de Araujo Lima (jucielioestagios@gmail.com)
Monike Evelyn Lauriano de Siqueira (evelyn_lauriano@outlook.com)
Alexia Letícia Câmara Laurentino (alexialaurentino@alu.uern.br)
Antônio Jânio Fernandes (janiofernandes@uern.br)

RESUMO EXPANDIDO

A identificação das potencialidades de uma determinada área podem fazer de um destino turístico de sol e praia, por
exemplo, um potencial “recurso” para o desenvolvimento do turismo de base comunitária. Através da promoção da
cidadania e geração de renda, tornando-se uma oportunidade de valorizar a própria cultura e sendo uma forma de
integrar os jovens ao modo de vida local. A área a ser analisada está localizado na praia de Ponta Negra, que de acordo
com levantamento feito pelo DEES cujo aponta a vasta quantidade de atrativos que o RN possui, dos 5 mais buscados, a
Praia de Ponta Negra aparece como o segundo lugar e é a preferida dos turistas paranaenses. Estudos apontam que as
práticas de lazer e turismo podem promover a inclusão social, ao mesmo tempo em que contribuem para a conservação
do meio ambiente. Levando em consideração a importância da Cultura para o desenvolvimento humano e em
consequência, o Turismo, em especial o de base comunitária, este trabalho tem como o seu objetivo geral apresentar a
importância do turismo com sustentabilidade, tendo como proposta o estudo de viabilidade do projeto das rendeiras de
Ponta Negra. Uma vez que a atividade turística de base comunitária realizada de forma ordenada possibilita o
desenvolvimento dos recursos locais do destino.

INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos o setor de turismo tem estado cada vez mais presente em relação ao setor econômico de
alguns lugares. Em Natal, cidade turística do Rio Grande do Norte, o setor que mais vem se destacando na geração de
empregos é o setor de serviços. “O turismo enquadra-se no setor dos serviços modernos que representa forma de
reestruturação da crise industrial” (PORTUGUEZ; SEABRA; QUEIROZ, 2012, p. 61).
A capital potiguar tem se destacado mesmo em período pandêmico por ser um dos destinos mais em alta do
mundo, ficando em sétimo lugar nas pesquisas (Tripadvisor, 2022). Sendo a quarta cidade mais procurada do Brasil e a
primeira do nordeste (Portal do Turismo, 2022). Apesar de tudo isso, a cidade de Natal apresenta um potencial para ir
além do turismo de sol e praia e explorar outros segmentos, como o turismo de base local que “é aquele realizado para
atender as necessidades de trabalhadores de um lugar, sem visar apenas o lucro” (PORTUGUEZ; SEABRA; QUEIROZ, 2012,
p. 62). No caso das Rendeiras de Bilro, há a questão da cultura que será passada adiante.
O turismo de base local está atrelado ao desenvolvimento econômico de localidades, grupos ou associações,
além de atrair turistas para a localidade. Por essa razão, a pesquisa tem como objetivo a busca por analisar a área da
praia de Ponta Negra e a vila de Ponta Negra. A adoção do turismo de base comunitária, com foco na criação de emprego
e renda, valorização da cultura da renda de bilro e ações que envolvam a comunidade e a permanência da tradição a
partir dos jovens.

254
Porém, se tratando da Vila de Ponta Negra ainda é preciso pensar na construção dessa atividade de forma que
o desenvolvimento dela deva partir das próprias necessidades latentes da comunidade em questão (as rendeiras), em
buscar alternativas que propiciem benfeitorias em todos os âmbitos (econômico, social, político, cultural, etc), criando
condições para que a comunidade (grupo) participe efetivamente do processo de desenvolvimento (OLIVEIRA, 2006).

METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de uma revisão integrativa de literatura, tendo a coleta de dados iniciais sendo
realizada a partir de fontes secundárias, por meio de levantamento bibliográfico. Com o intuito de coletar informações
e estabelecer uma síntese do conhecimento referente ao tema Turismo de base local. Ainda sobre a pesquisa será feita
uma segunda coleta de dados a partir uma de visita técnica para a obtenção de dados e imagens in loco, a fim de retratar
da melhor forma o trabalho das rendeiras de bilro.

RESULTADOS

A pesquisa, que atualmente encontra-se em fase inicial, teve o seu levantamento bibliográfico fundamentado
em informações colhidas através da leitura de materiais encontrados em sites de busca como o Google, o próprio site
das Rendeiras da Vila e documentos provenientes do Poder Público como os do Ministério do Turismo. Visando
demonstrar a importância do ensino da renda de Bilro para a conservação, valorização cultural e identidade dessa
localidade ao qual está situada, buscando também demonstrar que a renda de Bilro pode ser uma aliado na
movimentação da economia local através das vendas das peças fabricadas. Esperando que dessa forma seja gerado o
desenvolvimento sustentável da comunidade. Após a análise dos dados encontrados no Google Acadêmico, foi possível
a identificação dos materiais relevantes ao estudo, com o intuito de estabelecer uma síntese do conhecimento referente
ao tema proposto.

Quadro 1: Princípios do Ecoturismo


Princípios do Ecoturismo

1. Conservação da Sociobiodiversidade Salvaguardar o patrimônio sociocultural local e devem


nortear as propostas da TBC.

2. Valorização da História e Cultura O TBC precisa desencadear um processo de reconhecimento,


divulgação e valorização da história e cultura dos povos.
3. Protagonismo Comunitário O TBC deve ser um modelo de desenvolvimento turístico com
protagonismo comunitário.

255
4. Equidade Social A partilha dos benefícios deverá ser de forma justa entre
os atores envolvidos.
5. Bem Comum A solidariedade e a cooperação devem se sobrepor aos
interesses pessoais.
6. Transparência As informações ambientais, sociais e financeiras devem
estar à disposição de todos os autores envolvidos.
7. Partilha Cultural O TBC deve proporcionar trocas de experiências, saberes e
conhecimentos.
8. Atividade Complementar O TBC deve buscar complementar as demais atividades
desenvolvidas pela comunidade e contribuir com a geração
de renda.
9. Educação O TBC deve ser concebido enquanto processo educativo
para todos os visitantes.
10. Dinamismo Cultural Os projetos devem buscar valorizar as culturas em sua
propria dinamica.
11. Continuidade O TBC deve ser entendido como um processo contínuo.
Diretrizes para Participação Social e Organização Comunitária

1. Considerar a manifestação de interesse da comunidade como fator procedente.

2. Avaliar o nível de organização social, formal ou informal, da comunidade.

3. Considerar como será a gestão comunitária do processo, a repartição dos benefícios, o tipo de intensidade de
interação que se deseja com os turistas.
4. Garantir espaços e condições adequadas para a participação do conselho gestor da área da Vila de Ponta Negra.

5. Os projetos de TBC nas áreas em sobreposição em territórios indígenas, quilombolas e de outros povos e
comunidades tradicionais deverão reconhecer os instrumentos de gestão territorial próprios dessas áreas
protegidas, garantindo a consulta prévia, livre e informada a esses povos.
6. Deve haver um compromisso com a conservação e proteção da área como um todo e não apenas nas partes
visitadas.
7. Comunidades envolvidas com TBC devem sempre colaborar com a gestão do
projeto.
Fonte: Adaptado Turismo de base comunitária, princípios e diretrizes, 2018

CONSIDERAÇÕES FINAIS

256
Trabalho em andamento.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo de base comunitária, sustentabilidade, Ponta Negra, Renda de Bilro, Natal.

REFERÊNCIAS

Boletim de inteligência #5. Setur RN. Disponível em: &lt;http://www.emprotur.setur.rn.gov.br/documentos/dados-


pesquisa/boletim-inteligencia-05.pdf&gt;. Acesso em: 07 de março de 2022.

Destinos em Alta – mundo. Tripadivisor. 2022. Disponível em:&lt; https://www.tripadvisor.com.br/TravelersChoice-


Destinations&gt;. Acesso em: 22 de fevereiro de 2022.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Turismo de base comunitária, princípios e


diretrizes, 2018. Disponível em:
&lt;https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/publicacoes/turismo_de_base_comunitaria_em_
uc_2017.pdf&gt;. Acesso em: 07 de março de 2022.

Natal é o destino turístico do Nordeste mais procurado para as férias de verão. 96fm. 2021. Disponível em: &lt;
https://www.96fm.com.br/noticia/natal-e-o-destino-turistico-do-nordeste-mais-procurado-para-as-ferias-de-
verao&gt;. Acesso em: 12 de fevereiro de 2022.

OLIVEIRA, Anelize Martins de. Ensaios teóricos: o significado da cultura para o turismo com base local. 2006.
Disponível em: &lt;http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/138/130&gt;. Acesso em: 12
de fevereiro de 2022.

PORTUGUEZ, A; SEABRA, G; QUEIROZ, O. (Orgs.). Turismo, Espaço e Estratégias do Desenvolvimento Local. João
Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2012.

257
PRODUÇÃO DE ARTESANATO TRADICIONAL EM PENEDO-AL: MOTIVAÇÕES E VALORES
SIMBÓLICOS ATRIBUÍDOS

Eduardo Dantas Ferreira Rodrigues (Eduardodantas549@gmail.com)


Fabiana de Oliveira Lima (Fabiana.lima@penedo.ufal.br)
Samara Ramos Ferreira (samarahramosferreira@gmail.com)
Amanda Cristina dos Santos (amanda-cristina18@outlook.com)

INTRODUÇÃO

Ao sul do estado de Alagoas está situado o município de Penedo, às margens do rio São Francisco, que lhe
confere importância econômica, cultural e histórica. Sua relevância para o cenário do período de colonização portuguesa
no Brasil é marcada pela reação à passagem dos holandeses, quando se constituiu o movimento revolucionário openeda
(SILVA, 2019). Além de sua riqueza arquitetônica e cultural, pelo que recebeu tombamento estadual em 1986, municipal
em 1989 e federal em 1995, sendo este último relativo a um espaço de 27ha, onde encontram-se por volta de 800
famílias (Idem). Os principais registros históricos trazem descrições sobre a cultura dos colonizadores, destacando seus
utensílios e feitos. No entanto, há uma importante herança das comunidades afrodescendentes que ali se instalaram
desde o início de sua colonização – estima-se que de 1501 até 1800, a capitania de Pernambuco tenha recebido 594.429
negros que foram escravizados (SLAVEVOYAGES, 2009).
De acordo com informação disponibilizada pelo IBGE (2019), sua população estimada é de 63.683. Possui
significativos atrativos turísticos para o estado de Alagoas por seu imponente patrimônio cultural, que é ofertado
enquanto produto para os apreciadores do turismo cultural – ainda de forma incipiente, sem grande fluxo de
turistas/visitantes. Está distante 150km (via litoral) da capital e a 122km de Aracaju - SE. Contudo, há um conjunto de
desafios para um satisfatório desenvolvimento do turismo na localidade, incluindo a inserção da comunidade local
(RAMOS, 2019). Por exemplo, a cidade oferta roteiros turísticos no seu centro histórico, contando das importantes
passagens do seu passado e suas construções arquitetônicas, trazendo nas narrativas os personagens
afrodescendentes, no entanto, a participação das comunidades continua a ser uma adversidade – por um conjunto de
fatores, cuja identificação também motiva esta pesquisa.
Por um lado, a produção artesanal no município tem sofrido importantes interferências advindas dos
consumidores e comerciantes. Por outro, tal produção tem se mostrado forma de resistência socioeconômica e cultural,
por exemplo, com a recente formação da Associação de Artesãos de Penedo - ArtPen, que possui espaço próprio para
produção e venda. Dessa forma, nosso objetivo geral é verificar interfaces entre tradição e mercado na produção e
consumo de artesanato de três comunidades tradicionais, localizadas no município de Penedo-AL. As comunidades
destacadas para este estudo são formadas por descentes quilombolas ou afrodescendentes, nas quais parte de seus
habitantes é engajada na transmissão de suas riquezas culturais e continuação de tradições, ou mesmo, reprodução de
tradições.

258
Considera-se artesanato o que é produzido pelas mãos do humano, sem reprodução em massa, imprimindo
características próprias de uma cultura (RAMOS, 2013), contudo a produção artesanal vem sofrendo interferências
relevantes a fim de se adaptar a exigências de mercado, muitas delas, impostas no contexto de prática turística ou de
visitação. Nesse sentido, a produção artesanal tradicional, que destaca os modos de saber e técnicas repassadas a cada
geração, acaba por se moldar à demanda.
O produto, para ser consumido no contexto do turismo de motivações culturais, precisa ter elementos que
permitam ao turista entregar-se a sedução, precisa dotar-se de um status que o diferencie e apresentar o potencial de
dignificar aquele que se permite, por ele, seduzir (RAMOS, 2013, p. 53)
Assim, o artesão deve colocar-se também enquanto produto, capaz de junto com o objeto produzido conquistar
seu consumidor, realizando vontades efêmeras e insaciáveis (BAUMAN, 2008). Nessa perspectiva, Douglas (2007) afirma
que do ponto de vista do antropólogo as coisas cuja posse significam riqueza não o são por elas mesmas, mas pelas
relações sociais que elas sustentam. Desta forma, os bens de consumo, dos quais fazem parte os bens culturais, ganham
valor de acordo com quem os consome. Logo podemos compreender que bens culturais e consumo cultural estão
interligados, pois ambos estão relacionados diretamente a essa troca entre objeto e grupos sociais, para que ocorra o
processo de identificação, valorização e de suas representações simbólicas. Aos bens são atribuídos valores que são
transmitidos numa relação dialógica entre produtores e consumidores, interferindo diretamente na sua produção.
Portanto, ao buscarmos verificar o processo de consumo de bens, nesse caso, culturais, produzidos por
comunidades tradicionais, estaremos a apreender sobre as representações simbólicas daqueles que produzem e como
esses bens, a partir de seu consumo, participam da geração de renda, são valorizados (valor material e simbólico),
ressignificados e transformados. Esse conjunto de informações deve colaborar para estimular o conhecimento sobre as
atividades desenvolvidas pelas comunidades tradicionais, enfatizando seu valor cultural e observando como estão
implicados nas atividades relacionadas ao turismo e lazer – como a execução de roteiros turísticos e eventos culturais
na cidade. Dessa forma, os discentes terão acesso a conhecimentos teóricos e empíricos sobre o consumo cultural,
comunidades tradicionais, artesanato tradicional e as inter-relações estabelecidas entre eles. Para os docentes
envolvidos, poderemos estar mais atentos às necessidades da localidade em que trabalhamos, destacadamente, a
produção cultural que abordamos constantemente em sala de aula. Por fim, o projeto produzirá relevantes informações
sistematizadas para o poder público, comunidade em geral e comunidade de artesãos, buscando valorizar os bens
culturais imateriais, ainda pouco exaltados diante de sua importância.

METODOLOGIA

Quanto ao método científico escolhido para a realização da pesquisa, optamos pelo método etnográfico como
ponto de partida. Embora não tenhamos tempo suficiente para a construção de uma etnografia, podemos utilizar alguns
caminhos orientados nesse sentido. Dessa forma, partimos de uma perspectiva etnográfica (PEIRANO, 2008) para

259
alcançarmos o objetivo geral: verificar interfaces entre tradição e mercado na produção e consumo de artesanato de
três comunidades tradicionais, localizadas no município de Penedo-AL. Portanto, serão utilizadas ferramentas de
pesquisa próprias do trabalho de campo, sendo este “(...) um método de investigação sociocultural, um conjunto de
procedimentos e regras para produzir e organizar conhecimento” e que tem se mostrado adequado para os estudos
referentes ao turismo e ao lazer (PEREIRO; FERNANDES, 2018, p. 140).
Considerando o caráter qualitativo do trabalho, não teremos o interesse em abranger na pesquisa todos os
artesãos que atuem nas localidades definidas. Mas será feito um levantamento, junto à órgãos oficiais e associações
afins dos artesãos atuantes. Posteriormente, faremos entrevistas semiestruturadas (com um roteiro pré-estabelecido
e direcionado a cada grupo de interlocutores) observação indireta (sem intervenção) dos seus modos de fazer e técnicas
utilizadas, além de fotografias de seus processos de produção e outros que se mostrem pertinentes enquanto unidades
de interpretação – cenários/elementos/objetos – considerando os objetivos da pesquisa.
Tendo em vista o intuito de identificarmos transformações/adequações dos artesanatos incentivadas pelo
processo de consumo, comerciantes (intermediários) e consumidores serão interlocutores da pesquisa. Para cada
artesão entrevistado, entrevistaremos a partir de questões estruturadas um de seus consumidores. Assim como, os que
comercializem peças dos artesãos em questão. No que se refere a autorização para reprodução de imagem e som, será
construído um documento padrão para que todos os interlocutores possam autorizar por escrito, mediante apresentação
da pesquisa, sua importância e modos de publicação.
Outra parte importante será o levantamento documental e bibliográfico, realizado durante a maior parte da
pesquisa, ou seja, sem estar restrito a preparação para entrevistas, por exemplo. Serão observados possíveis registros
das histórias e bens culturais das comunidades estudadas.
Quanto ao procedimento de análise das informações coletadas, as entrevistas realizadas serão transcritas e
analisadas junto às demais informações recolhidas nas fotografias, documentos e observações, considerando que o
trabalho de campo busca confrontar informações coletadas por distintas ferramentas de pesquisa, bem como, “saturar
a informação para garantir uma fiabilidade, credibilidade e legitimidade autorizada nas análises” (Idem, p. 148). Dessa
forma, para organizar e posteriormente, analisar o conjunto complexo de informações coletadas, serão observados os
objetivos para assim criarmos categorias de análise. Os resultados das entrevistas e demais atuações no campo serão
apresentados de modo descritivo e publicados em eventos e revistas acadêmicos, conforme haja oportunidades,
indicando as fontes de viabilização deste trabalho.
Por fim, destacamos a importância de permitirmos o diálogo com o campo em pesquisas qualitativas, pois a
rigidez pode acabar por limitar a compreensão dos fenômenos em questão. Quando a pesquisa dialoga com seu campo
ouve de modo mais atento o que ele tem a lhe falar, conforme pondera Peirano (2008) sobre a etnografia, enquanto
processo de construção em conjunto com seus interlocutores. Assim, buscamos refletir sobre alguns dos caminhos que
as comunidades tradicionais seguem na sua relação com o artesanato e como eles estão implicados nas transformações
da tradição dos bens culturais imateriais em estudo.

260
RESULTADOS

Por meio das leituras sobre bens culturais e consumo cultural, foi possível identificar e observar a relação
entre os termos, através de análises realizadas por grandes autores, como o caso de Daniel (2007), que traz, no texto
“Consumo Como Cultura Material”, alguns conceitos antigos e contemporâneos relacionados as diferentes formas de
consumo, e as suas relações com diferentes grupos sociais. "Tal é o poder do comércio de produzir mapas sociais
baseados nas distinções entre bens, que os consumidores de fato estão relegados ao papel passivo de meramente se
encaixarem em tais mapas através da compra dos símbolos apropriados ao seu “estilo de vida”. A humanidade se
transformou meramente nos manequins que ostentam as categorias criadas pelo capitalismo." (MILLER, 2007, p. 37). O
autor ainda ressalta o quanto o consumo poder ser usado para entender a nossa humanidade, salientando também a
importância do estudo do consumo dos bens, enquanto discorda de Karl Marx, uma vez que Karl Marx trazia o
capitalismo como motivador principal da produção dos bens. Assim, Daniel traz um novo conceito de consumo associado
a cultura material, afirmando a mudança ocasionada pela relação entre homem e objeto consumido. Como exemplo
disso, podemos observar que os turistas e visitantes de um determinado local acabam absorvendo e tomando para si
características, objetos, falas e até mesmo comportamentos dos nativos. Além disso, essa relação consegue impactar
de forma positiva, ou até mesmo negativa, a vida dos envolvidos: pessoas, ambientes e cultura. Os bens culturais estão
relacionados a forma de interação social de diferentes classes.
No geral, esse estudo demonstra como uma abordagem genuína de cultura material ao consumo começa e
termina com uma compreensão intensificada e não reduzida da humanidade, ao reconhecer também a sua materialidade
intrínseca. Demonstra também como consumir bens culturais locais é negação ao capitalismo e a produção capitalista,
e em como os "estudos de cultura material trabalham através da especificidade de objetos materiais para, em última
instância, criar uma compreensão mais profunda da especificidade de uma humanidade inseparável de sua
materialidade." (MILLER, 2007, p. 47).
Douglas (2007) afirma que o ponto de vista do antropólogo é de que as coisas, cuja posse significa riqueza,
não são necessárias por elas mesmas, mas pelas relações sociais que elas sustentam. Desta forma, os bens de consumo
ganhavam valor de acordo com quem os consumia. E eram comercializados através de uma nova forma de economia,
sendo a economia da dádiva, no ato de dar e receber algo valioso sem pagar pelo bem material ou imaterial que
recebeu. Assim aconteceu uma divisão implícita de trabalho, onde os economistas estudavam economias de mercado e
os antropólogos estudavam economias de dádiva – relacionadas aos símbolos sociais que representavam (DOUGLAS,
2007). Logo, podemos compreender que bens culturais e consumo cultural estão interligados, pois ambos estão
relacionados diretamente a essa troca entre objeto e grupos sociais, para que ocorra o processo de identificação,
valorização e simbolismo destes. Aos bens são atribuídos valor que é passado para quem os consome, tornando assim
um ato cultural passado de geração a geração.

261
Gambaro afirma que "[...] o consumo material é elemento diferenciador, ou, mais que isso, de exclusão."
(GAMBARO, 2012, p. 20). Dessa forma, "Os gostos, assim como as necessidades, variam conforme o nível econômico.”
(GAMBARO, 2012, p. 20). Assim, enquanto as classes mais baixas têm como estilo de vida a realização das necessidades
básicas do mundo, as classes mais abastadas, que possuem melhores condições de satisfazer essas prioridades,
buscando necessidades que, para os menos favorecidos, são luxos irrealizáveis. Esses luxos são objetos de conforto
que se tornam necessidade.
No geral, vários autores e obras foram estudadas, havendo discussões sobre tudo que era estudado, por meio
das reuniões virtuais, que aconteciam com frequência, contando com a presença da orientadora. Nessas reuniões nós
discutimos desde o conceito de consumo (e como ele é visto e tratado de maneira negativa), até os conceitos de cultura
material, tradição, mercado, diferença entre artesanato tradicional e manualidades, e satisfação de necessidades.
O campo de estudo é formado por diversas localidades da cidade de Penedo-AL, com foco nas comunidades
tradicionais remanescentes quilombolas, ou que conservam bens culturais afro-brasileiros. Penedo-AL, por sua vez, é
uma cidade ribeirinha banhada pelo rio são Francisco, sendo reconhecida por sua arquitetura e riqueza cultural, onde
podemos encontrar uma diversidade de bens culturais, principalmente em comunidades tradicionais quilombolas, onde
permanecem seus descendentes. Já foram entrevistadas algumas pessoas dessas comunidades.
Podemos citar o exemplo do “Barro Vermelho”, também conhecido como “bairro Santo Antônio”, que está
localizado as margens do Rio São Francisco. O bairro detém de vasta riqueza cultural, monumentos históricos, mirante,
marina, entre outros aspectos relevantes para este trabalho. A comunidade do “Barro Vermelho” é a primeira localidade
habitada na cidade de Penedo-AL (SANTOS, 2019), boa parte da sua comunidade sobrevive da pesca, e lá foi possível
encontrar diferentes artesãos, grupos culturais, crenças e modos de fazer. Seus ascendentes eram escravos, negros
mulçumanos.
De acordo com Santos (2019, p.38).
Ficamos sabendo através de Abelardo Duarte, em seu livro “Negros muçulmanos em Alagoas: Os Malés”
que Penedo foi umas das maiores concentrações negras do estado de Alagoas. Em sua maioria, os negros
eram africanos puros e recebiam intervenções da Bahia e não de Pernambuco - que era a capitania - e os
cultos muçulmanos só ocorriam em Penedo-AL.

Mestre Lú, que é morador do barro vermelho, foi um dos artesãos entrevistados. É um artesão de que
confecciona barcos, e seu nome de batismo é Aloísio dos Santos, sendo também autodidata, e trabalhando com esse
ofício desde 1966. Além disso, é o único artesão que confecciona barcos no bairro. Mestre Lú repassa seus conhecimentos
e saberes apenas para um de seus filhos, que também já confecciona barcos, trabalhando ao seu lado, em seu estaleiro.
Em relação a matéria-prima utilizada na confecção, atualmente o artesão utiliza a madeira ‘Louro Canela’, comprada
em Propriá/SE, uma vez que é mais acessível se obter esse tipo de madeira atualmente para compra. Segundo seus
relatos, antigamente se utilizava outros tipos de madeira, sendo estes a Braúna; a Arapiraca; a Cedro; e o Pau Darco,
que são difíceis de serem encontradas hoje, por conta do desmatamento ilegal. Seus principais consumidores são as
pessoas da localidade, segundo ele.

262
O artesão Mestre Lú é de extrema importância para o bairro e para toda cidade de Penedo-AL, pois a confecção
de barcos de forma artesanal está cada vez mais escassa, devendo isso ao avanço tecnológico, e, principalmente, a falta
de reconhecimento e valorização por parte da comunidade e do poder público, tornando esse ofício cada vez menos
reconhecido e prestigiado.
A objetificação da cultura e a interferência externa de agentes pertencentes a uma sociedade capitalista, pode
trazer inúmeros danos aos residentes de uma comunidade tradicional, acabar com sua individualidade, crenças, mitos,
memórias e tradições.
Identidade consiste na soma nunca concluída de um aglomerado de signos, referências e influências que
definem o entendimento relacional de determinada entidade, humana ou não humana, pela diferença ante
as outras, por si ou por outrem. A identidade assim se forma, dialeticamente, nos conflitos e nas relações
sociais que se somam aos sentimentos de pertença e a um complexo cultural específico. (CARVALHO e
VIANA, 2014, p. 694-695)

Desse modo, devemos nos atentar ao consumo consciente no turismo, de forma geral. O meio ambiente, os
animais e as pessoas que hoje são atrativos, podem deixar de ser um dia. Para que isso não ocorra, deve-se seguir as
normas e recomendações dos órgãos competentes como IPHAN, IBAMA e outros órgãos que protegem a preservação e
conservação de diferentes bens materiais que são consumidos pelos turistas/visitantes.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo; Tradição; Penedo-AL; Artesanato; Mercado.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Renata; VIANA, Moisés. Somos o que consumimos: aspectos identitários e turismo contemporâneo.
Turismo: Visão e Ação. V. 16, N. 3, pp. 690-709, 2014.

DE BARROS, Rodrigo José Fernandes; GUTEMBERG, Alisson. Sociedade de Consumo em Zygmunt Bauman e Gilles
Lipovetsky. Cadernos Zygmunt Bauman, v. 8, n. 17, 2018.

DOUGLAS, Mary. O mundo dos bens, vinte anos depois. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, V. 13, N. 28, pp.
17-32, 2007.

GAMBARO, Daniel. Bourdieu, Baudrillard e Bauman: O consumo como estratégia de distinção. Novos Olhares, p. 19-26,
2012.

IBGE: População estimada. Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Estimativas de
população residente com data de referência 1º de julho de 2019. Disponível em
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/al/penedo/panorama. Acessado em 07 de jan. 2022.

ITERAL. Comunidades Quilombolas de Alagoas. Disponível em http://www.iteral.al.gov.br/dtpaf/comunidades-


quilombolas-de-alagoas/comunidades-quilombolas-de-alagoas. Acessado em 10 de jan. 2022.

MATTEO, Kátia; et al. Zoneamento Turístico do Baixo São Francisco no estado de Alagoas. Brasília: Editora
IABS, 2013.

263
MILLER, Daniel. Consumo como cultura material. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, V. 13, N. 28, pp. 33-63,
2007.

PEIRANO, Marisa. Etnografia ou a teoria vivida. Ponto URBE – Revista do núcleo de antropologia urbana da USP
(Online). N. 2, pp. 01-11, 2008.

PEREIRO, Xerardo; FERNANDES, Filipa. Antropologia e Turismo: teorias, métodos e práxis. Tenerife: PASOS, 2018.

RAMOS, Silvana P. Desafios do planejamento e desenvolvimento do turismo cultural em centros históricos tombados: o
caso de Penedo-AL. URBE – Revista Brasileira de Gestão Urbana, N. 11, 2019.

RAMOS, Silvana P. Políticas e processos produtivos do artesanato brasileiro como atrativo de um Turismo Cultural. Rosa
dos Ventos, V. 5, N. 1, pp. 44-59, 2013.

SANTOS, Fábio Zacarias. Diagnóstico do potencial cultural para o turismo na comunidade ribeirinha Barro
Vermelho em Penedo-AL. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de graduação em Turismo. Universidade Federal
de Alagoas, 2019.

SILVA, Laise Maria. Às margens do esquecimento: análise dos discursos sobre os/as negros/as nos
itinerários turísticos em Penedo-AL. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Sociologia.
Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão/SE, 2019.

SLAVEVOYAGES. The Slave Trade Database: SPSS Codebook. Slavevoyages.org, 2019. Disponível em
https://slavevoyages.org/documents/download/SPSS_Codebook_2019.pdf Acessado em 18 de abril de 2020

264
Resumos de Artigos Completos
“QUEM BEBE DESSA ÁGUA SEMPRE VOLTA” - A FELICIDADE DO RECEPTIVO DE TBC NA
LOCALIDADE RURAL BUENOS AIRES/MA-BRASIL

Andréa Lima Barros (andrea.barros@ifma.edu.br)


Ana Vitória Monteiro Costa (vitoria.monteiro@acad.ifma.edu.br)
Ana Karoline de Oliveira Gonçalves (karolinea@acad.ifma.edu.br)
Michelle de Sousa Oliveira (sousamichelle@acad.ifma.edu.br)

RESUMO

O estudo de caso trata da experiência vivenciada no ambiente rural do leste maranhense chamada Buenos Aires/Coelho
Neto - MA, que ao ser realizada com os residentes retratou o seu engajamento e revelou a felicidade como bem-estar
subjetivo no ato de receber. O problema de pesquisa investiga acerca do caráter subjetivo dessa prática de turismo que
pelo viés da fenomenologia é possível desvelar o traço concreto da manifestação de felicidade. Como intencionalidade
de pesquisa buscou-se identificar pelo DSC o(s) componente (s) significativo (s) da felicidade como bem-estar subjetivo,
ao partilhar a experiência de desfrutar a comunidade. Bem como conhecer por meio da ancoragem do não-dito a
percepção do protagonismo comunitário no planejamento e na gestão da roteirização de TBC. Os dados foram coletados
pela observação participante, pelo diário de campo e por relatórios técnicos com apoio das oficinas temáticas e registros
fotográficos. O estudo apontou que os moradores da comunidade identificam a alegria e entusiasmo como componente
significativo da felicidade em receber e foi possível perceber pelo termo do DSC - novidade (inovação) a motivação
comunitária no desenvolvimento da comunidade para o turismo. Como lacunas de pesquisa destaca-se o tempo de
imersão que para a abordagem qualitativa seria mais eficiente uma exposição mais duradoura com a comunidade,
vivendo e revivendo experiências.

Palavras-chave: Felicidade; TBC; Bem-estar subjetivo; Fenomenologia e DSC.

265
AJEUM BÓ: A IMPORTÂNCIA PATRIMONIAL CULTURAL DECOLONIAL DAS COMIDAS
VOTIVAS DOS CULTOS DE CANDOMBLÉ PARA O AFROTURISMO COMO ATRATIVO
TURÍSTICO

Amadeu Correia Batista Neto (amadeubatista1509@gmail.com)


Antônio Cavalcante de Almeida (antonio.cavalcante@ifce.edu.br)
Cristiane Sousa da Silva (annaerika@ifce.edu.br)
Anna Érika Ferreira Lima (cristiane.silva@ifce.edu.br)

RESUMO

No intuito de compreender a alimentação que influencia relevantes místicas dentre os cultos religiosos africanos e afro-
brasileiros, no Candomblé, o comer transcende as aplicações fisiológicas da necessidade humana, se alimentar liga a
relação etérea entre o orí e orixá, tanto nos atos ritualísticos, quanto na vida cotidiana dos seus filhos de santo, fazendo
presença em quase todos os momentos, a comida serve para iniciação, obrigação, manutenção e preservação dos
terreiros de candomblé. Nesta ótica, o tema deste trabalho se baseia pela cultura alimentar, patrimônio cultural
afrodiaspórico e decolonialidade, no contexto do candomblé nas cidades de Fortaleza, Caucaia, Maracanaú. Os
resultados foram obtidos a partir de observação participante e coleta etnográfica em três terreiros (Ilê) em janeiro de
2021, e entrevista com membros constituintes da comunidade sendo eles o Babalorixá Virgilio Ty Omulu, Babalorixá
Linconly Ty Ayrá, e Sarapembé Joécio Ty Oxóssi, além de revisão bibliográfica sobre a temática. O enfoque da pesquisa
consiste em compreender a construção identitária, planejada a partir da tradição religiosa de culto aos Orixás e a
valorização da cultura negra para o afroturismo como constituição identitária de um atrativo turístico. Nesse sentido,
esse trabalho tem como propósito a ligação comida-religião, por meio dos saberes e fazeres da referida religião e a
potencialidade que apresenta ao afroturismo. como um atrativo cultural e ferramenta que conecta os turistas
interessados na cultura negra para além dos resquícios da escravidão pensando no patrimônio decolonial como algo
vívido que está se transformando e resistindo a hegemonia cultural, interagindo com as epistemologias do sul o caráter
de difusão da pluralidade cultural, da memória ancestral e das práticas dos ritos ketu iorubano que apresentam um
valor inestimável ao legado cultural, perfazendo as encruzilhadas que o turismo propõe dos caminhos, a troca de
saberes, a gira da economia, o deslocamento entre terras, ares e mares e por fim a conexão entre espírito, alimento e
turismo.

Palavras-chave: Comida; Patrimônio; Afroturismo; Terreiro; Ancestralidade

266
CELEBRAÇÃO DIGITAL EM CIBERMARIANISMO TURÍSTICO: A CONECTIVIDADE DO
SANTUÁRIO DE FÁTIMA (FORTALEZA-CE) NA PANDEMIA

Christian Dennys Monteiro de Oliveira (cdennys@gmail.com)


Camila Benatti (camila.benatti@uems.br)
Ivna Carolinne Bezerra Machado (ivna_machado@yahoo.com.br)
Antônio Jarbas Moraes (jarbasgeografia@gmail.com)
Eduardo Rodrigues Alves (eduardoalves8550@gmail.com)
Maria Aurislane Carneiro Silva (aurislanemcsilva@gmail.com)

RESUMO

Este artigo tem o objetivo de analisar as potencialidades e limitações da conectividade digital na devoção à Fátima, a
partir dos festejos em seu maior Santuário na cidade de Fortaleza (CE). Nos dias treze de cada mês, o Santuário costuma
reunir grande número de fiéis e visitantes, com extensa programação de missas e novenário, promovendo em 13 de
maio e 13 de outubro sua procissão solene, partindo da Igreja do Carmo, no centro da cidade. O estudo tem por objetivo
observar o contexto de mutações devocionais frente à Pandemia da Covid-19, e busca evidenciar as estratégias
adotadas pelo Santuário na manutenção período festivo, associadas aos protocolos sanitários, com maior rigor nas
festividades de 2020 e 2021. A proposição metodológica envolveu o acompanhamento das transmissões e publicações
em ambiente digital das celebrações selecionadas destes anos, até março de 2022, quando já vem se evidenciou o
arrefecimento destes protocolos. Observações de campo e digitais (via transmissão em canal do Youtube), aponta para
manutenção de uma ordem hibrida de conectividade espacial. Em que medida essa é uma tendência de hibridação da fé,
correlacionando experiencia presencial (santuário e bairros vizinhos) e remota (ciberespaço)? As mensagens e
comentários dos devotos nas principais redes de comunicação digital da Paróquia/Santuário de Fátima de Fortaleza
também são fontes indispensáveis de análise da pesquisa. Pretendeu-se explorar as dimensões mais pertinentes neste
novo contexto de conexões devocionais. O que abre perspectiva para tipologias comparativas deste com outros
santuários de forte apelo popular.

Palavras-chave: Santuário de Fátima; Devoção Digital; Festividades; Ciberespaço.

267
DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE BASE LOCAL NA COMUNIDADE QUILOMBOLA
“NEGROS DO RIACHO” (CURRAIS NOVOS/RN, BRASIL)

Mayara Ferreira de Farias (mayaraferreiradefarias@gmail.com)


Almir Félix Batista de Oliveira (almirfbo@yahoo.com.br)
Lissa Valéria Fernandes Ferreira (lissaferreira.iadb@yahoo.es)
Viviane Costa Fonseca de Almeida Medeiros (liramedeiros@yahoo.com.br)

RESUMO

O estudo em tela buscou compreender sobre o desenvolvimento do Turismo de Base Local no contexto da Comunidade
Quilombola “Negros do Riacho”, localizada em Currais Novos, no estado do Rio Grande do Norte (Brasil). Especificamente,
buscaram-se: realizar levantamento das potencialidades turísticas a serem desenvolvidas na Comunidade Quilombola
“Negros do Riacho”; verificar quais dessas potencialidades turísticas elencadas possuem viabilidade de
desenvolvimento e promoção da atividade turística dos “Negros do Riacho” sob a ótica dos autóctones. Desta feita,
realizou-se observação direta intensiva, com uso de formulário de entrevista previamente elaborado, optando-se por
ouvir, ver e averiguar os fatos estudados. Destarte, é perspicaz explicar que a observação realizada foi fundamentada
na pesquisa etnográfica, a qual possibilitou conhecer, descrever e valorizar o produto turístico comercializado quando
do momento da visitação à comunidade Negros do Riacho, a partir do contexto da produção das louças de barro. Tratou-
se, pois, de um estudo com abordagem qualitativa, caráter exploratório e descritivo, com realização de pesquisa in loco
de cunho etnográfico, com triangulação dos dados empíricos através da pesquisa bibliográfica e documental. Outrossim,
cabe destacar que buscou-se realizar e participar de oficinas de produção e ensino relacionados com a elaboração do
uso de louça de barro, viabilizado através do Projeto intitulado de “Mãos no Barro”, além de prestigiar os momentos
de exposição e explicação das fotografias do Projeto intitulado "Eles por Eles". De acordo com a experiência etnográfica
deste estudo, foi possível afirmar que os principais resultados evidenciaram que a produção da louça de barro precisa
constituir como item de relevância e valoração artística, cultural, social e histórica, sendo necessário procurar agregar
valor ao trabalho desenvolvido por estes artesãos e moradores da Comunidade Quilombola “Negros do Riacho”, bem
como foi possível compreender a necessidade de que seja iniciado um processo de inventariação para um possível
tombamento do patrimônio produzido na referida comunidade. Por fim, foi possível evidenciar que a produção da louça
de barro pode ser considerada a maior representatividade do patrimônio material e imaterial dos Negros do Riacho - o
primeiro diz respeito à cada peça produzida pelos artesãos da referida comunidade e, a segunda, refere-se ao
patrimônio imaterial, diretamente relacionado com a arte do saber-fazer das louças de barro, sendo elas consideradas
como o produto mais representativo da referida comunidade.

Palavras-chave: Comunidade Quilombola; Etnografia; Patrimônio Cultural; Turismo de Base Local.

268
EXPERIÊNCIAS COMUNITÁRIAS E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO
NAS PRAIAS DE BATOQUE E CANTO VERDE SOB O PRISMA DO EU COLETIVO

Viviane Costa Fonseca de Almeida Medeiros (medeiros.viviane@escolar.ifrn.edu.br)


Francisco Fransualdo de Azevedo (ffazevedo@gmail.com)
Mayara Ferreira de Farias (mayarafarias23@hotmail.com)

RESUMO

Na perspectiva humana, o desenvolvimento leva em consideração a rede de pertencimento na qual o indivíduo encontra-
se inserido. Essa rede é formada por diferentes instrumentos ou objetos, que dependem uns dos outros para alcançar
sua própria razão de ser e deve estar unida às melhorias sociais e às liberdades de que desfruta a totalidade da
sociedade, refletindo-se na qualidade de vida dos indivíduos e no seu bem-estar. Este estudo busca por novos
paradigmas centrados na concepção de desenvolvimento local que complementa a noção do Eu Coletivo. Para tanto,
alimenta-se da realidade local, da participação, cooperação dos sujeitos, instituições públicas e privadas, da efetivação
de políticas públicas, além dos fatores econômicos e ambientais. No Turismo Comunitário, o processo de
desenvolvimento das comunidades trabalha de forma cooperada e compartilhada para tal. O Diagnóstico Rápido
Participativo permite apontar as potencialidades e vulnerabilidades apresentadas pelas comunidades que realizam
atividades de turismo de base comunitária. Diante disso, o objetivo central deste artigo é apresentar um recorte dos
resultados de Tese de doutorado que visava analisar o Turismo Comunitário praticado na Rede Tucum com o uso do DRP.
Apesar dos conflitos e das dificuldades encontradas na comunidade, turistas e pesquisadores são atraídos à Prainha do
Canto Verde e Batoque pela história de luta e resistência à especulação imobiliária que vem ocorrendo há mais de trinta
anos no lugar. Este trabalho, portanto, defende a importância da solidariedade e da economia solidária no turismo e
não busca contrapor às práticas que já existem, mas se preocupa em revelar suas limitações e mostrar que existem
alternativas. Ao final, pode-se concluir que que não existe conexão entre o que é praticado pela comunidade de Canto
Verde com as demais comunidades não integrantes da Rede Tucum no Estado do Ceará, que desenvolvem o turismo
tradicional, onde seus maiores objetivos e a prestação do serviço pelo serviço não havendo envolvimento com o modo
de ser e viver desses lugares, fato que diferem das comunidades da Rede. Outrossim, o Turismo Comunitário em Canto
Verde mostrou-se uma realidade, e uma forma encontrada pela população local de resistir ao avanço do capital
financeiro e imobiliário, que tem usado de práticas ilegais para se apoderar das valiosas terras litorâneas da população
nativa, além de cooptar pequenos grupos internos, enfraquecendo a coletividade, a autogestão e participação social
dessas comunidades. Por fim, afirma-se que o Eu Coletivo ainda constitui uma forma concreta de desenvolvimento
dessas comunidades por meio do Turismo Comunitário, cuja concretude ficará a cargo de novas e futuras investigações.

Palavras-chave: Desenvolvimento; Diagnóstico Rápido Participativo; Eu Coletivo.

269
LEVANTAMENTO DAS INICIATIVAS DE TURISMO EM TERRAS INDÍGENAS NO BRASIL
Sandra Dalila Corbari (corbarisandra31@gmail.com)
Mayara Roberta Martins (mayara.martinsfurg@gmail.com)

RESUMO
Com o advento da pandemia de COVID-19, emergiu a preocupação em relação a seus impactos. No Brasil, tem sido
debatido o impacto para as populações indígenas, incluindo os efeitos na geração de renda, para a qual a atividade
turística contribui consideravelmente. Todavia, para compreender os impactos é preciso conhecer quantas e quais são
as iniciativas de turismo envolvendo povos indígenas no país. Desse modo, o presente trabalho teve por objetivo geral
realizar um levantamento das práticas de turismo em Terras Indígenas no Brasil. O levantamento foi realizado em
bancos de dados, utilizando princípios da pesquisa “bola de neve”; em sites oficiais (FUNAI e ISA) e complementado com
dados conhecidos pelas pesquisadoras. Assim, foi possível fazer um levantamento das práticas, representando um
importante esforço para o entendimento da dimensão do turismo em Terras Indígenas no Brasil.
Palavras-chave: Turismo Indígena; Turismo em Terras Indígenas; Brasil.

270
RELATO DO PROJETO DE PESQUISA TIBAU DO SUL EM LENDAS: UMA OPORTUNIDADE
PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO CULTURAL

Tacianny Santana Marinho (tacianny.marinho12@gmail.com)


Paula Wabner Binfaré (paula.binfare@ifrn.edu.br)
Júlia Daniely Soares Santana (jdaniely889@gmail.com)
Karla Gomes Dantas (karlagomesdantas16@gmail.com)

RESUMO

Tibau do Sul é uma cidade litorânea localizada no sul do estado do Rio Grande do Norte, em que está localizada a Praia
da Pipa, consolidada internacionalmente como destino de turismo de sol e praia e um dos principais polos indutores de
turismo do estado. A pandemia global de SARS-CoV-2 assolou os destinos turísticos ao redor do mundo, principalmente
aqueles que têm como base, um único tipo de turismo, como é o caso de Tibau do Sul. Essa problemática criou a
necessidade de se pensar alternativas de diversificar o produto turístico, para que a atividade se restabeleça tão logo
seja possível a circulação de pessoas. Assim surgiu este projeto de pesquisa, que foi contemplado via Edital 01/2021 e
teve como objetivo analisar o potencial do segmento turismo histórico-cultural em Tibau do Sul, a partir do levantamento
do seu patrimônio cultural imaterial, constituído de lendas, mitos e contos, contos e histórias locais, como alternativa
de diversificar o produto turístico local. Para tanto, a equipe composta por discentes do curso técnico em eventos foi
orientada por professoras do eixo de hospitalidade, lazer, turismo e eventos, por meio de pesquisa aplicada,
exploratória e documental, bem como entrevista semiestruturada de forma remota com moradores locais. Tais
metodologias permitiram aferir o papel das lendas, mitos, contos e histórias como produto turístico e, sobretudo, de
que modo ele pode ser utilizado na diversificação da oferta turística. Os resultados esperados do projeto incluem um
portfólio digital das lendas, mitos e contos da região, que servirá de base para confecção de materiais de exposição,
mapas ilustrados, e produção de histórias em quadrinhos, a partir da fala popular tibauense e de suas experiências de
vida, todos eles concluídos com êxito, os quais obtiveram resultados acima do esperado em todas as metas e atividades
do projeto, descritas e analisadas ao longo do artigo.

Palavras-chave: Tibau do Sul; Turismo Cultural; Patrimônio Cultural Imaterial.

271
TURISMO, PATRIMÔNIO CULTURAL E A ARTE DO SABER-FAZER NO SERIDÓ POTIGUAR

Mayara Ferreira de Farias (mayaraferreiradefarias@gmail.com)


Almir Félix Batista de Oliveira (almirfbo@yahoo.com.br)
Lissa Valéria Fernandes Ferreira (lissaferreira.iadb@yahoo.es)
Viviane Costa Fonseca de Almeida Medeiros (liramedeiros@yahoo.com.br)

RESUMO

O objetivo central deste estudo foi analisar a atividade turística, o patrimônio cultural e o saber-fazer através da
produção de louças de barro na Comunidade Quilombola Negros do Riacho, localizada em Currais Novos/RN, interior do
Estado do Rio Grande do Norte no contexto histórico e cultural. De maneira específica, elencaram-se os seguintes
objetivos: elencar elementos e recursos patrimoniais da referida comunidade através da construção social; interpretar
narrativas sobre a cultura, a história e sobre o patrimônio material e imaterial dos Negros do Riacho; pensar o turismo
através da perspectiva dos moradores da referida comunidade; relatar a história e as lutas dos moradores da
comunidade sob a perspectiva da storytelling. Optou-se por realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa, com
caráter descritivo ao que diz respeito aos dados históricos sobre a comunidade bem como sobre a percepção dos
comunes, e caráter exploratório ao que concerne ao trabalho in loco com visitação da Comunidade Quilombola Negros
do Riacho, com realização de rodas de conversa e momentos de conversas informais com os moradores da referida
comunidade, bem como foram realizados momentos de observação individual e participante em diversos momentos ao
longo dos anos de 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019 e início de 2020, com realização de entrevistas remotas (online)
ao longo dos anos de 2020 e 2021, ao considerar o período de isolamento social provocado pela pandemia do
coronavírus (COVID-19). Realizou-se, pois, uma pesquisa etnográfica entre os anos de 2014 e 2020, e uso de netnografia
nos anos de 2020 e 2021, o que possibilitou valorar, descrever e conhecer sobre os principais e potenciais produtos
turísticos que a Comunidade Quilombola Negros do Riacho tinha para oferecer com vistas a desenvolver ações de
desenvolvimento e gestão da atividade turística na localidade. Utilizou-se, também, pesquisa bibliográfica e
documental, com o intuito de fundamentar teoricamente o estudo e facilitar o debate com os resultados encontrados.
Sobre eles, é pertinente destacar que os principais resultados encontrados foram: realizam na referida comunidade
algumas oficinas demonstrativas e participativas para ensino e produção da louça de barro através das ações do projeto
intitulado “Mão no Barro”, o qual permite uma maior interação tanto das louceiras com as crianças da comunidade
Negros do Riacho, quanto destas louceiras e crianças com os turistas e visitantes que vão até a comunidade para
conhecer sua cultura, história e forma de viver; a produção das louças de barro necessita ser melhor valorada, bem
como há a necessidade de realização de um processo de inventariação na busca por promover um provável tombamento
deste produto elaborado e comercializado a complementar a renda das louceiras. Ao final, pode-se concluir que a
comunidade estudada possui potencialidade turística para além da realização do turismo pedagógico atualmente
realizado de maneira pontual, na medida em que se deve agregar maior valor cultural e histórico ao saber-fazer estes
utensílios de barro.

Palavras-chave: Comunidades tradicionais; Patrimônio Cultural; Turismo; Comunidade Quilombola.

272
GT 7 – TURISMO E DESENVOLVIMENTO RURAL
DIA 18/05 – 14h as 18h

273
Resumos Expandidos
INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DA FARINHA DE BRAGANÇA (PA) E A EXPERIÊNCIA TURÍSTICA

Natascha Penna dos Santos (nat_penna@yahoo.com.br)


Abel Pojo Oliveira (abelpojo@ifpa.edu.br)

INTRODUÇÃO

A Amazônia é conhecida por sua variedade de ambientes e espécies naturais, fauna e flora que guardam
informações de interesse internacional para fins de pesquisa. As pessoas que convivem nesse território trazem grandes
aprendizados com suas culturas, trazendo criatividade e heterogeneidade para o discurso globalizado de um espaço
geográfico que intriga pela beleza, riqueza, pobreza e mistério. Dentre os Estados da Amazônia Legal, o Estado do Pará
se destaca pela quantidade de paisagens e movimentos demográficos diferenciados, que dão aos seus cento e quarenta
e quatro municípios aspectos culturais de destaque. Cada atividade econômica, como a mineração, a pecuária, a
agricultura familiar e a pesca, imprimem vocações e formas de interação social diferenciadas. O município de Bragança,
que está localizado no nordeste do Estado e próximo ao Oceano Atlântico é uma referência na pesca, mas tem outras
práticas socioeconômicas que merecem atenção, como o cultivo da mandioca, que se caracteriza pela diversidade de
técnicas e conhecimento no que se refere aos cuidados com o preparo da farinha de mandioca.
Em 2013, houve a oportunidade de participar de grupo de trabalho interinstitucional (representantes da
Secretaria Municipal de Turismo, Secretaria Municipal de Agricultura, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Adepará,
Emater, Sebrae, Ifpa, dentre outras) para tratar da Indicação Geográfica da Farinha de Mandioca de Bragança. Dessa
forma houve a necessidade de adentrar em uma investigação sobre a Farinha de Bragança e algumas percepções foram
notadas logo nos primeiros encontros do grupo de trabalho: falta de estudos e análises sobre a produção da mandioca
no município, as avaliações encontradas dão conta de dados estatísticos sobre o quanto se produz, mas quando há a
necessidade de avaliar outros aspectos como por exemplo, qual a relação daquela produção com a comunidade? O ato
de fazer farinha é uma atividade coletiva ou solitária? Quem produz sabe o valor que tem? O que é valor? O valor para
quem? Quais as diferentes maneiras de fazer a farinha? As mulheres estão envolvidas na produção ou trata-se de uma
atividade masculina? Existe alguma relação de poder estabelecida? Quem produz vende? Tem um atravessador? O
mercado, atribui qualidade a farinha por quê?
O mais curioso foi perceber que existem inúmeras formas de fazer em cada quintal visitado uma sabedoria,
o saber local transmitido pelo pai ou parente próximo deixou conhecimentos que merecem descrição e reconhecimento
pois são aspectos da história e identidade do bragantino que consome a farinha diariamente, mas em sua grande
maioria a população sequer já visitou uma Casa do Forno, ou sabe como se dá o processo de produção. A qualidade é
atribuída a crocância dos grãos que são torrados em forno de cobre ou de ferro. Para além dessa observação não se

274
levanta a necessidade de adequações sanitárias de produção ou a mitigação dos impactos que a atividade venha a
causar ao meio ambiente, como a queima de lenha ou o a preparação da terra com o uso de agrotóxico.
Por que a farinha de Bragança é considerada a “melhor do planeta”? Quem disse que é? Quem produz? Como
vivem? Existe um destaque para uma comunidade ou outra? Em todas as visitas de campo foi notado que não há uma
política pública para atendimento do setor. Cada comunidade, dentro de suas representatividades, sejam associações,
cooperativas ou sindicatos, estabelecem suas redes com o mercado regional e nacional e vendem conforme seus
acordos. A venda de farinha da Feira da 25, em Belém (PA), por exemplo, não tem padronização nem garantia de origem.
De acordo com conversa com os feirantes, o produto vem de vários municípios para ser comercializado na Feira, local
de referência para o mercado da capital, lá o vendedor encontra melhor preço por atribuir a procedência a Bragança,
pois já há no imaginário popular a informação de que a farinha produzida em Bragança é de melhor qualidade.
Em maio de 2021, a Farinha de Bragança recebeu reconhecimento de Indicação Geográfica concedida pelo INPI
- Instituto Nacional de Propriedade Industrial. A IG tem delimitação geográfica de cinco municípios da região: Bragança,
Augusto Corrêa, Santa Luzia, Tracuateua e Viseu, onde a farinha se consolida há muito tempo como produto de referência
para a agricultura familiar. Estudos sugerem que a notoriedade do produto pode ter sido a partir dos tempos da Estrada
de Ferro de Bragança, 1897 e 1965, quando a região era grande produtora de farinha e tinha o escoamento até a capital.
Nesse período é importante salientar que Bragança tinha seu território maior e o que hoje são os municípios de Augusto
Corrêa e Tracuateua, eram do território de Bragança.
Diante da descrição da IG da Farinha de Bragança, o turismo se coloca como alternativa de renda para os
produtores e produtoras que podem apresentar suas experiências de conhecimento tradicional, o objetivo da pesquisa
e aprofundar o debate sobre turismo e IG , em todo o território, perceber como o desenvolvimento rural pode ser
potencializado com o turismo, e verificar o problema sugerido é pesquisar se o turismo exerce seu princípio de fato
social, ou seja, como fenômeno social quais os benefícios que a comunidade produtora de farinha pode perceber através
da prática do turismo no território.

METODOLOGIA

Este trabalho que está em andamento, ressalta a importância do campo como encontro com o outro, descreve
uma pesquisa como experiência onde toda vez que chegamos perto do objeto podemos perceber os elementos do
cotidiano que transmitem a realidade da vida vivida como fonte de sobrevivência em primeiro plano mas também como
função de guardiã da cultura e tradição que fazem do homem um expectador da natureza e um educador de tarefas,
apresentando aspectos de caráter social que caracterizam o território. A prática do campo está sendo desenhada com
foco no “olhar”, “ouvir” e “escrever” como propõe os estudos da teoria antropológica.
Apesar de não ser considerada uma etnografia, este trabalho utiliza técnicas da pesquisa etnográfica com
diário de campo, câmera filmadora e/ou fotográfica e muito exercício da escuta buscando sempre uma observação
participante e com possibilidade de interação e com o entrevistado. Clifford Geertz (1989) analisa, “na antropologia

275
social, o que os praticantes fazem é etnografia. Praticar etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes,
transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário, e assim por diante”. A contribuição do
autor está na avaliação da teoria e dos “métodos” de trabalho de campo, como reflexão sobre os ensaios entre um
levantamento etnográfico e sua relação com os estudos culturais.
Para a construção deste trabalho, foram usadas fontes documentais históricas acessadas via internet, bem
como livros e a contribuição para os estudos etnográficos foi pensada a partir da análise dessas fontes.

RESULTADOS

O que se pôde perceber até o momento é que são apontadas como as principais vantagens da IG da farinha
de Bragança (PA): 1) Gera satisfação ao produtor, que vê seus produtos comercializados no mercado com a IG,
valorizando o território e o conhecimento local; 2) Facilita a presença de produtos típicos no mercado, que sentirão
menos a concorrência com outros produtores de preço e qualidade inferiores; 3) Permite ao consumidor identificar
perfeitamente o produto, pois cria uma confiança do consumidor que, sob a etiqueta da IG, espera encontrar um produto
de qualidade e com características determinadas.
O foco da atenção está em elaborar políticas públicas mais agregadoras propondo oportunidades de geração
de renda para comunidades pouco assistidas que são provedoras de um saber fazer relevante para a construção
histórica da cidade. A partir dessa visão desperta a hipótese de que será que o turismo pode ser uma maneira de
incrementar a produção local sem alterar a forma tradicional de produzir farinha? A implantação de projetos turísticos
associados pode ser uma opção para reforçar a identidade bragantina? Em que medida a farinha se constitui não apenas
em um produto econômico mais um elemento de identidade da região passível de ser patrimonializado? Sabe-se que a
partir da patrimonialização outras atividades econômicas serão incentivadas, como é o caso do turismo. Ressalto que
esse trabalho tem uma importância política, pois deverá servir de base para os estudos preliminares que darão subsídio
para a conquista da Indicação Geográfica da Farinha de Bragança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

PALAVRAS-CHAVE

Turismo; Indicação Geográfica; Desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

BRAGANÇA detém a fama de ter a melhor farinha. Diário OnLine, Notícias. Belém, 30 jun. 2013. Disponível em:
<http://www.diarioonline.com.br/noticia-249288-.html>. Acesso em: 17 jan. 2016.

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agronegócio: módulo II – indicação geográfica. 4. ed. Florianópolis: MAPA; FUNJAB, 2014.

276
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Belém: Açaí, 2014.

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(Edições SESC SP).

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da; FERNANDES, José Guilherme dos Santos (Orgs.). Interculturalidade e saberes: os diversos na contemporaneidade
da Amazônia. Belém, PA: Paka-Tatu, 2015.

FUNDAÇÃO HILÁRIO FERREIRA. Inventário Cultural de Bragança. Bragança, [S.n.], 2010.

GEERTZ, Clifford. Descrição densa, por uma teoria interpretativa da cultura. In: ______. A interpretação das
culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guaracira Lopes
Louro. 10. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução de Bernardo Leitão. 5. ed. Campinas: UNICAMP, 1994, 2003.

LOUREIRO, Violeta Refkalefsky. Amazônia: estado, homem, natureza. 2 ed. – Belém: Cejup 2004. (Coleção
Amazoniana, 1)

MEIRELLES FILHO, João Carlos. Livro de Ouro da Amazônia. 5. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

NOGUEIRA, Maria Dina; WALDECK, Guacira. Mandioca: saberes e sabores da terra. Rio de Janeiro: IPHAN; CNFCP, 2006.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: ______. O trabalho do
antropólogo. São Paulo: Unesp, 2006.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: evolução e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

277
O POTENCIAL DO ASTROTURISMO NA SERRA DA MANTIQUEIRA
Giovanna dos Santos Ferreira (ferreira.giovanna1@aluno.ifsp.edu.br)
Thaís de Oliveira (thaisdeoliveira@ifsp.edu.br)

INTRODUÇÃO

A Serra da Mantiqueira é uma região que abrange três estados: Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo e
mais de 100 cidades. Com uma localização privilegiada, a região tem muitos atrativos turísticos atrelados à
gastronomia, ao turismo rural, cultural, religioso e de natureza, por exemplo (MTUR, 2019).
Devido ao seu potencial turístico e o interesse de grande parte dos turistas por atividades relacionadas à
natureza, “há na Serra da Mantiqueira um contínuo processo de unidades de conservação particulares, estaduais e
federais, assim como a expansão da atividade turística” (ANDRADE, 2011, p. 2).
Sobre a Serra da Mantiqueira, em 2013, houve a divulgação de um estudo realizado pela International Union
for Conservation of Nature (União Internacional para a Conservação da Natureza) – IUCN, cujo objetivo foi auxiliar “[...]
na preparação e análise de indicações de patrimônio mundial natural ou misto que teria, a partir de uma perspectiva
global, potencial para atender aos ‘critérios da biodiversidade [...]’”5 presentes na Convenção da Unesco sobre
Patrimônio Mundial de 1972 (IUCN, 2013, p. 1, tradução livre das autoras).
O estudo mapeou as 78 áreas protegidas mais insubstituíveis, no que se refere à preservação de espécies de
anfíbios, aves e mamíferos do mundo. Nesse ranking, a Serra da Mantiqueira ocupou o oitavo lugar, juntamente com o
Parque Nacional do Itatiaia, apresentando grande potencial para serem inscritos na lista do Patrimônio Mundial da
UNESCO (IUCN, 2013).
Com relação às iniciativas voltadas para a promoção do turismo na região, os governos dos três estados
lançaram, em 2019, com o apoio do Ministério do Turismo, o projeto “Destino Mantiqueira”, que objetivou promover e
consolidar seus roteiros turísticos (MTUR, 2019).
Individualmente, o Estado de São Paulo, por exemplo, lançou, em 2021, o Guia Virtual Turístico da Mantiqueira
Paulista. O guia contempla 111 atrativos que estão divididos em 5 rotas temáticas: “gastronomia rural; história, cultura
e arte; natureza e aventura; parques temáticos e religiosidade e bem-estar” (SÃO PAULO, 2021, p. 4).
Outra iniciativa para fomentar as rotas turísticas da Mantiqueira, mas dessa vez do lado mineiro, surgiu a
partir de uma parceria entre gestores dos municípios, agências receptivas e guias de turismo que, em 2019, iniciaram
o Curso de Elaboração de Roteiros. O resultado foi bastante positivo e dele originou um catálogo com roteiros da
Mantiqueira Mineira (CIRCUITO SERRAS VERDES DO SUL DE MINAS, 2020).

5“[...] in the preparation and evaluation of natural and mixed World Heritage nominations that have, from a global conservation perspective, a
high potential to meet the ‘biodiversity criteria’ […]”.

278
A partir das potencialidades da região e com o crescente propósito de promovê-la, como supra demonstrado,
além do interesse dos turistas em frequentá-la, principalmente devido a seus recursos naturais, o presente resumo
pretende, através de uma análise exploratória, propor mais uma alternativa para seus visitantes: o astroturismo.
O Astroturismo, ou Turismo Astronômico, é um novo segmento do turismo que, recentemente, tem ganhado
destaque em algumas regiões, como na Europa, América do Sul6 e África7. Herrero (2019) define como uma atividade de
lazer dentro do ramo do turismo de natureza e do turismo científico para viver novas e diferentes experiências
astronômicas, que não é possível realizar no local de residência.
De acordo com Iwanicki (URANIA, s/d)8, o astroturismo pode se relacionar com outras modalidades do turismo
a saber: (a) o cultural – relacionado a visitas a espaços vinculados à astronomia, como museus, planetários,
observatórios, por exemplo; (b) viagens a lugares onde se pode observar fenômenos astronômicos – como auroras
boreais, polares e austrais, eclipses, cometas e chuvas de meteoros; (c) áreas conhecidas por seus céus escuros e livres
de poluição luminosa9 e (d) viagens espaciais.
Entre os dias 19 e 20 de abril de 2007, ocorreu em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, a Conferência Internacional
em Defesa da Qualidade do Céu Noturno (International Conference in Defense of the Quality of Night Sky ), com a
presença de representantes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a
Organização Mundial do Turismo (OMT), a União Astronômica Internacional (IAU) e outras entidades internacionais para
defender que a luz das estrelas e o direito à contemplação do céu escuro deveriam ser uma preocupação coletiva tendo
em vista que que sua “[...] contemplação representa um elemento essencial no desenvolvimento de pensamentos
científicos de todas as civilizações”10 (STARLIGHT, on-line, tradução livre das autoras).
Como resultado desta Conferência foi criada a Declaração em defesa do céu noturno e do direito à
luz das estrelas (Declaration in defence of the night sky and the right to starlight) . Entre os itens declarados e medidas
necessárias que deveriam ser tomadas sobre o tema, a Declaração sinalizou que o “[...] Turismo, entre outros atores,

6Para mais detalhes ver: FUNDACIÓN STARLIGHT. List - Starlight Tourist Destinations. Disponível em:
https://en.fundacionstarlight.org/contenido/49-list-starlight-tourist-destinations.html.
7Ver: NAMIBIA ENDLESS HORIZONS. Exploring Namibia's Starry Skies. Disponível em: https://namibiatourism.com.na/blog/Exploring-

Namibia-s-Starry-Skies.
8O portal "Urania - Postępy Astronomii" é o primeiro portal astronômico da Polônia, fundado em 1997, vinculado à Sociedade Astronômica

Polonesa e recebe financiamento do programa “Responsabilidade Social da Ciência” do Ministério da Educação e Ciência polonês.
9“A poluição luminosa é o uso inadequado de iluminação artificial externa, que pode causar efeitos adversos ao meio ambiente. O desperdício

de luz proveniente de fontes artificiais emitidas para cima (em ângulos horizontais e superiores) é dispersa por aerossóis, tais como nuvens e
neblina ou pequenas partículas como poluentes na atmosfera. Esta dispersão forma um brilho difuso que pode ser visto de muito longe. Skyglow
(brilho do céu) é a forma mais comum de poluição luminosa conhecida. Uma fonte de luz autônoma cria um maior impacto sobre o brilho do céu
nas áreas rurais do que nas cidades por causa da dispersão secundária. De acordo com Martin Aube, dez por cento do brilho do céu nas cidades
e cinquenta por cento do brilho do céu nas áreas rurais resultam de uma reflexão secundária.
[“Light pollution is the improper use of artificial outdoor lighting, which can cause adverse effects on the environment. Wastef ul light from
artificial sources emitted upward (at horizontal angles and higher) is scattered by aerosols such as clouds and fog or small particulates like
pollutants in the atmosphere. This scattering forms a diffuse glow that can be seen from very far away. Skyglow is the most commonly known
form of light pollution. A standalone light source creates a greater impact on skyglow in rural areas than in cities because of secondary
scattering. According to Martin Aube, ten percent of skyglow in cities and fifty percent of skyglow in rural areas result from secondary
reflection”]. Mais informações ver: INTERNATIONAL ASTRONOMICAL UNION. Light pollution. 2018. Disponível em:
https://www.iau.org/static/archives/images/pdf/light-pollution-brochure.pdf.
10“[...] contemplation represents an essential element in the development of scientific thoughts in all civilizations”.

279
pode se tornar um principal instrumento para uma nova aliança em defesa da qualidade da paisagem
noturna”11 (STARLIGHT DECLARATION, on-line, tradução livre e grifo das autoras).
Além disso, destacou que o “[...] turismo responsável, em suas mais variadas formas, pode e deveria
reconhecer o céu noturno como recurso a se proteger e valorizar em todos os destinos”12 (STARLIGHT
DECLARATION, on-line, tradução livre e grifo das autoras).
A Declaração ainda sugere a criação de novos produtos turísticos relacionadas às práticas da observação
noturna e ressalta a importância de envolver outros atores, como interessados no turismo, comunidades locais e
instituições científicas, promovendo, dessa maneira, novas formas de cooperação (STARLIGHT DECLARATION, on-line).
Corroborando com as diretrizes da Declaração, alguns países como o Chile, Espanha e Havaí, que são
reconhecidos cientificamente por suas contribuições científicas astronômicas, usaram dessas características para
implementar também o astroturismo, seja em observatórios científicos ou turísticos e, igualmente, em áreas abertas
com a utilização de lunetas, telescópios ou até mesmo a apreciação dos astros a olho nu 13.
Herrero (2019) apresenta, ainda, o perfil desses turistas, os astroturistas que, dentre eles, destacam-se os
astrônomos acadêmicos e amadores, apaixonados pela natureza, cultura e por astronomia e os astrofotógrafos
(especialistas em fotografias noturnas com ênfase nos astros).
No ano de 2020, com o surgimento do SARS-CoV-2, que desencadeou a pandemia do COVID-19, houve a
necessidade de isolamento social, o que impactou muito o setor de serviços, em especial o Turismo 14. Com a retomada
gradativa das atividades turísticas, alguns estudos foram realizados para compreender se as preferências e motivações
dos turistas, no pós-pandemia, foram alteradas ou influenciadas em razão do longo período de isolamento que eles
permaneceram. Para esse resumo será apresentado resultado do relatório encabeçado pelo Centro Comum de
Investigação, que é o serviço científico interno da Comissão Europeia.
De acordo com o relatório, as preferências dos turistas mudaram exponencialmente. Por motivos de
insegurança e para preservar sua saúde, os consumidores passaram a escolher destinos turísticos menos cheios e
frequentados, em especial atividades em áreas rurais e turismo de natureza (SANTOS et al, 2020).
Ainda de acordo com o relatório, as novas preferências contribuirão para que haja um turismo mais
sustentável o que, de certa forma, colaborará para o controle de vários efeitos provocados pelo turismo massificado.
Além disso, lugares remotos ou não tão visitados poderão ser alternativas para que pessoas afetadas, economicamente,
pela pandemia tenham outras fontes de renda. Outro benefício na mudança das motivações dos turistas está na
possibilidade de realmente alinhar o turismo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em especial aos de

11“Tourism, among other players, can become a major instrument for a new alliance in defence of the quality of the nocturnal skyscape”.
12“[…] Responsible tourism, in its many forms, can and should take on board the night sky as a resource to protect and value in
all destinations”.
13Ver entrevista: SPOTIFY. Astroturismo, cómo crear experiencias inolvidables (ep. 191). Podcast. Convidado Pablo Álvarez.

Disponível em: https://open.spotify.com/episode/0zvjcNUOfzoVBguILTMYPU?si=48bf6e6bcf774ea0


14UNWTO. International Tourism and Covid-19. Disponível em: https://www.unwto.org/international-tourism-and-covid-19.

280
número 8 (trabalho decente e crescimento econômico), 12 (consumo e produção responsáveis) e 14 (vida na água) 15
(SANTOS et al, 2020).
Entretanto, antes mesmo de maior busca por essa categoria de destino turístico, alguns países já buscavam
ser referência no astroturismo, com estratégias de marketing para promoção do destino e se aproveitando dos
fenômenos naturais. Foi o caso da Região de Coquimbo no Chile, no ano de 2019, com o acontecimento do eclipse solar
total visível no Valle del Elqui, que atraiu turistas do mundo todo. Com relação a esse acontecimento, Araya-Pizzaro
(2020) destaca que houve um preparo e estudo de caso para receber os turistas, com uma mobilização de setores
públicos e privados.
Essas atividades não precisam estar diretamente vinculadas a observatórios astronômicos, pois podem ser
realizadas em museus e planetários, no caso de cidades em que há muita poluição luminosa, além de também a
observação da lua com lunetas ou telescópios. Igualmente, elas podem ocorrer em destinos com baixa interferência
luminosa, que é o caso de muitas áreas rurais, sendo possível implementar, então, o astroturismo e a astrofotografia
em locais já conhecidos. As observações nesses espaços podem ser a olho nu, identificando as constelações, por
exemplo, ou então com instrumentos mais precisos para a observação de planetas. O roteiro a ser seguido pode ser
bem amplo, desde algo científico, cultural ou apenas de apreciação.
Por fim, essa pesquisa busca compartilhar alguns destinos astroturísticos, com a finalidade de exemplificá-los
e, futuramente, por meio de uma pesquisa que será desenvolvida, mapear cidades e locais da Serra da Mantiqueira que
têm potencial para tal atividade.

METODOLOGIA

Essa pesquisa é de caráter bibliográfico e exploratório. Conforme leciona Gil (2017), a pesquisa exploratória
remete à investigação cujo objetivo é aprimorar as ideias e familiarizar-se com tema. Além das buscas realizadas em
sites oficiais do governo; de promoção turística de cada destino selecionado e especializados no tema de astroturismo,
houve leituras de artigos publicados sobre o assunto para melhor embasamento teórico com relação ao fenômeno.

RESULTADOS

Para que um destino tenha potencial para o astroturismo é necessário que seja um local com pouca poluição
atmosférica e luminosa, com a finalidade de tornar possível a observação dos astros. Tais destinos, geralmente, estão
localizados em zonas rurais e em lugares altos. Ressalta-se que além de encontrar um lugar apropriado é preciso
estabelecer diálogo com a comunidade local, uma vez que é necessário o uso de luzes adequadas para que a fonte
luminosa não atrapalhe as observações.

15Ver: BRASIL. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://odsbrasil.gov.br/.

281
Nessa perspectiva, para manter um padrão de qualidade nos locais de observação astronômica, há dois
certificados principais que avaliam se o espaço é propício para essa atividade e, tendo essa certificação, o destino passa
a fazer parte de uma rota reconhecida internacionalmente. O International Dark-Sky Association (Associação
Internacional Céu Escuro) – associação que tem sede nos Estados Unidos – e a Fundación Starlight (Fundação Luz das
Estrelas) – criada pelo Instituto de Astrofísica da Canarias – são instituições que visam incentivar a preservação de
áreas que possam ser afetadas por poluição luminosa, então, além das certificações, as instituições também trabalham
ensinando como poluir menos, luminosamente falando.
A seguir, serão apresentados alguns destinos que se destacam no Astroturismo, como consequência de sua
importância na Astronomia e que têm os principais Observatórios do planeta.
Las Palmas: é uma das ilhas pertencentes a Ilhas Canarias da Espanha, na página destinada à promoção
turística do local Visit La Palma16, na seção de “Astroturismo”, é possível conhecer as atrações ofertadas pela ilha, como
os meios de hospedagem em uma área com certificado Starlight; cardápio específico composto por pratos com nomes e
formas que remetem aos astros; indicação de mirantes e locais para observação do céu; rotas de natureza que integram
a produção agrícola local com passeios e atividades noturnas; trilhas com ênfase astronômica; visitas ao observatório;
divulgação da astrofotografia e a divulgação da calçada das estrelas científicas, uma homenagem aos cientistas.
Havaí: embora a ilha tenha grande importância para a Astronomia, sendo sede de um dos maiores
observatórios do planeta, não tem como foco principal as atividades astroturísticas. No site de promoção local, o Go
Hawaii17, existe uma página que fala um pouco sobre as atividades astronômicas na ilha, enfatizando a importância do
local para a Astronomia. Além disso, o site direciona para a página Stargazers of Hawaii18 (Astrônomos do Havaí), uma
página mais focada no Turismo Astronômico, em que oferecem o serviço de apresentação acerca dos astros, observações
com telescópio, visitas ao observatório e o serviço de astrofotografia. Outro ponto a se destacar, é que a ilha oferece,
em maior parte de suas atrações, o turismo cultural e isso está presente também nas ofertas astroturísticas, que trazem
em seus tours a relação da astronomia com a história e o folclore da ilha.
Chile: dos três destinos apresentados, é o mais próximo ao Brasil e o único que disponibiliza a versão em
português na página web, com uma página dedicada ao Astroturismo no site de promoção turística, Chile.travel 19 que
apresenta as principais atrações ofertadas pelo país como a observação noturna, visitas aos observatórios e
informações acerca das instalações astronômicas do país. Embora a maior concentração dessas atividades esteja na
região de Coquimbo, outras cidades também têm estrutura e oferecem esses serviços e no site é possível encontrar
todas as informações necessárias. Além disso, na versão em castelhano do site, na seção de Astroturismo da página

16 VISIT LA PALMA. Disponível em: https://visitlapalma.es/astroturismo/.


17 GO HAWAII. Disponível em: https://www.gohawaii.com/islands/hawaii-big-island/things-to-do/land-activities/Stargazing.
18 STARGAZERS OF HAWAII. Disponível em: https://www.stargazersofhawaii.com/.
19 CHILE.TRAVEL. Disponível em: https://www.chile.travel/pt-br/o-que-fazer/astroturismo/.

282
Chile es tuyo20 (Chile é seu) – página destinada à promoção turística dos destinos do Chile, para chilenos – existem
roteiros referentes a alguns destinos astronômicos.
Além dos destinos que focam na observação das estrelas, planetas e satélites, há também os destinos no
Hemisfério Norte, próximos ao Polo Norte, em que é possível observar o fenômeno da Aurora Boreal. Embora esse seja
um tipo de turismo consolidado, mas não associado diretamente ao Astroturismo, essa é uma das possibilidades para
esse segmento.
No Brasil, também há alguns destinos astroturísticos, embora ainda não tenha uma região específica, ou
algum lugar com maior destaque. Ao longo do país existem espaços destinados a essa atividade. Campinas pretende se
tornar um polo de astroturismo21 no Brasil, com atividades que acontecem no Museu Aberto de Astronomia (MAAS) e no
Observatório Municipal, localizados no Pico das Cabras. Além disso, em alguns destinos de natureza, com trilhas, é
possível realizar tours astronômicos, acampar de baixo das estrelas e ter registros das astrofotografias.
Ademais, ainda no Brasil, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 1975/21, que tem como finalidade
permitir aos órgãos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) a criação de programas que
certifiquem localidades “com grande potencial para observação do céu noturno”. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, on-line).
Outra cidade, agora na Serra da Mantiqueira, que apresenta potencial para as atividades de astroturismo é
Brazópolis, no Sul de Minas Gerais, que já tem um observatório de importante prestígio: o Observatório Nacional
Pico dos Dias (OPD)22 localizado entre as cidades de Brazópolis e Piranguçu, a 1864m de altitude. Ele abriga diversos
telescópios, dentre esses o maior telescópio em solo brasileiro, o Perkin-Elmer. É administrado pelo Laboratório
Nacional de Astrofísica (LNA) com sede na cidade de Itajubá- MG. O OPD recebe astrônomos de diferentes regiões do
Brasil e do exterior para fazer pesquisas acadêmicas. O LNA é parceiro de outros observatórios de diferentes partes do
mundo, podendo, assim, ser colaborador das pesquisas.
O Observatório é aberto para visitas guiadas mediante agendamento, em que é possível conhecer a estrutura,
os telescópios e um pouco da carreira dos astrônomos, sendo essa apenas uma visita diurna. Já para visitação noturna,
acontece apenas uma vez ao ano no evento aberto ao público chamado "de portas abertas", em que são feitas
observações a olho nu – com orientação dos profissionais – e, igualmente, observação com telescópios.
Além das atividades astronômicas que requerem estar em um espaço completamente aberto e sem poluição
luminosa, é provável também ter atividades astroturísticas com o auxílio de planetários, fazendo com que o turista
tenha uma experiência de ver os astros com mais detalhes através de imagens e vídeos e fazer observações com
telescópios, sendo possível, mesmo em um centro urbano, observar a lua e alguns planetas.

20 CHILE ES TUYO. Disponível em: https://chileestuyo.cl/que-hacer/astroturismo/.


21 CAMPINAS. Campinas pretende se tornar um polo de astroturismo. 2021. Disponível em:
https://campinas.com.br/turismo/2021/07/campinas-pretende-se-tornar-um-polo-de-astroturismo/.
22 BRASIL. Laboratório Nacional de Astrofísica – LNA. Observatório do Pico dos Dias. Disponível em: https://www.gov.br/lna/pt-

br/composicao-1/coast/obs/opd.

283
Uma alternativa é a elaboração de um roteiro Astronômico Cultural que Jafelice (2015) traz como sendo a
Astronomia aplicada por povos, como, exemplo, os indígenas ou afro-brasileiros, que não carregam consigo as
definições e conhecimentos científicos modernos. Com isso, pode-se conhecer uma realidade diferente, tradições,
entender o processo da plantação e colheita que foi passado de geração a geração.
Diante ao exposto, pode-se notar quão amplo pode ser esse nicho do turismo, que explora o turismo natural,
rural, científico e cultural. Contudo, é importante que quem for atuar na área tenha a capacitação adequada. Se for um
profissional de Turismo, um curso de Astronomia seria interessante. Já se for um astrônomo, é recomendável um curso
de Turismo, ou ainda que existam parcerias entre os profissionais das duas áreas.
Além disso, a partir das análises realizadas, e das cidades turísticas localizadas na Serra da Mantiqueira que
têm atrativos turísticos em áreas de natureza e/ou rurais, pode-se vislumbrar a possibilidade da implementação desse
tipo de atividade na região, tendo em vista a excelente qualidade do ar nessas localidades, o que poderá proporcionar
a contemplação de um céu que, muito provável, será diferente de centros grandes já ofuscados pela poluição luminosa.
Os benefícios do astroturismo são muitos como já mencionados e os principais beneficiários são,
indubitavelmente, as comunidades locais, especialmente aquelas que vivem em áreas rurais e que delas dependem
para sua subsistência. Além disso, nessas localidades o céu é melhor por conta da baixa densidade populacional e
poluição luminosa. Sem mencionar que o astroturismo poderá dialogar com outros campos como o cultural, o científico,
o ambiental, a biodiversidade e o patrimônio etnográfico.
Desse modo, cabe destacar que o presente resumo se trata de um ponto de partida para um projeto futuro de
mapeamento de cidades e atrativos da Serra da Mantiqueira com potencial para realizar esse tipo de atividade turística,
como, por exemplo, algumas Unidades de Conservação já existentes.

PALAVRAS-CHAVE

Astroturismo. Serra da Mantiqueira. Natureza. Desenvolvimento Sustentável.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Alexandre Carvalho de. A turistificação da Serra da Mantiqueira: a difícil conciliação entre o que é
propagado e o que é realizado. (Apresentação realizada na IX Semana de Publicidade e Propaganda da
Univás), 2011. Disponível em:
http://reuni.univas.edu.br/Edicoes/2011Julho/PDF/A_TURISTIFICACAO_DA_SERRA_DA_MANTIQUEIRA.pdf. Acesso em:
28 fev. 2022.

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https://www.gov.br/lna/pt-br/composicao-1/coast/obs/opd. Acesso em: 01 mar. 2022.

284
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mar. 2022.

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astroturismo. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/784462-projeto-preve-certificacao-de-localidades-
de-ceus-escuros-para-estimular-astroturismo/. Acesso em: 01 mar. 2022.

CAMPINAS. Campinas pretende se tornar um polo de astroturismo. 2021. Disponível em:


https://campinas.com.br/turismo/2021/07/campinas-pretende-se-tornar-um-polo-de-astroturismo/. Acesso em: 25 fev. 2022.

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Disponível em: https://serrasverdes.com.br/wp-content/uploads/2020/07/roteiro-das-serras-do-sul-de-minas-
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VISIT LA PALMA. Disponível em: https://visitlapalma.es/astroturismo/. Acesso em: 25 fev. 2022.

286
TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA (TBC) E EMPREENDEDORISMO FEMININO: A
IMPORTÂNCIA DA MULHER PARA O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DA COMUNIDADE
RURAL DE CHÃ DE JARDIM, MUNICÍPIO DE AREIA (PB)

Joelma Abrantes Guedes Temoteo (joelma.abrantes@academico.ufpb.br)


Lyvia Camila Fernandes Madruga Barros (lyviacamila@hotmail.com)
Raquel Alves dos Santos (itsraquelalves@hotmail.com)

INTRODUÇÃO

O Turismo de Base Comunitária (TBC) apresenta-se como uma alternativa de organização da atividade turística
para algumas localidades e regiões, onde os produtos e serviços ofertados são coordenados pela própria comunidade
receptora, tendo-a como protagonista (BRASIL, 2018). Essa forma de organização “tem como premissa a participação da
população local nos processos de planejamento, implementação e avaliação da atividade turística” (NASCIMENTO; LIMA,
2020, p. 33). O Plano Nacional do Turismo (PNT) 2018-2022, coloca o TBC e a Produção Associada ao Turismo (PAT) como
estratégias de valorização e qualificação de destinos que possuem grande impacto para o desenvolvimento local. Além
disso, como uma forma de contribuição para a diversificação da oferta turística, tendo em vista um mercado onde o
turismo criativo e a oferta de vivências são cada vez mais valorizados, promovendo o desenvolvimento local e de
melhorias na qualidade de vida das populações que empreendem no turismo (BRASIL, 2018).
O empreendedorismo tem se consolidado no Brasil e no mundo como fator de desenvolvimento social e
econômico, estando associado principalmente à geração de emprego e renda. Apesar da amplitude do conceito de
empreendedorismo, ele vem sendo relacionado à criação de novos negócios, geralmente nas micro e pequenas
empresas (DORNELAS, 2007). Especificando o empreendedorismo feminino, foco deste trabalho, sabe-se que a
desigualdade de gêneros persiste em muitas áreas do trabalho, onde ainda há maior predominância de homens em
relação às mulheres. No entanto, estão acontecendo mudanças nesse quadro. De acordo com o relatório do
Monitoramento Global do Empreendedorismo - GEM (2019), a inserção da mulher na atividade empreendedora, assim
como em outras posições no mercado de trabalho, vem apresentando crescimento ao longo dos anos. No Brasil, no ano
de 2019, praticamente não houve diferença entre o número de mulheres e homens no estágio inicial de
empreendedorismo. Entretanto, no estágio estabelecido, os homens foram mais ativos que as mulheres, assim
representando um maior nível de abandono por parte das mulheres. Acredita-se que tal fato esteja associado a aspectos
como a motivação, pois verificou-se uma maior participação de mulheres em relação aos homens que buscam o
empreendedorismo por necessidade e que parte das mulheres consideram como algo provisório para complementação
da renda e posteriormente abandonam. Ademais, tem-se os aspectos socioculturais, onde as mulheres possuem maior
envolvimento com as obrigações domésticas e, por esse motivo, precisam se empenhar e dividir entre em duas ou mais
obrigações.

287
Apesar desses obstáculos, também existem pontos positivos a se considerar. Supondo que a escolha pelo
empreendedorismo por algumas mulheres minimiza os conflitos em relação à conciliação do trabalho e às obrigações
domésticas, concedendo-as maior flexibilidade de horários e rotinas. Além disso, a atividade de empreender é uma
forma de ocupação remunerada em resposta a algumas dificuldades enfrentadas na inserção da mulher no mercado de
trabalho. Como também, a obtenção de satisfação no trabalho, contornando as situações de discriminações existentes
em algumas organizações que impedem muitas vezes o desenvolvimento da carreira das profissionais femininas
(MACHADO, 2012; TEIXEIRA, BOMFIM, 2016).
Considerando esse cenário do empreendedorismo feminino no Brasil, e os demais fatos apresentados, o
presente trabalho tem como objetivo principal: Compreender a importância de mulheres empreendedoras para o
desenvolvimento turístico de base comunitária na comunidade rural de Chã de Jardim, no município de Areia-PB. Já
como objetivos específicos temos: a) Descrever as práticas de empreendedorismo feminino na comunidade; b)
Apresentar através do uso do storytelling a importância da mulher para o desenvolvimento das atividades turísticas; e
c) Publicar/disseminar através de vídeos como a comunidade desenvolve suas atividades em torno do turismo.
Como já mencionado, este trabalho se propõe a utilizar o storytelling, especificamente, as bases
metodológicas deste. O termo storytelling, em inglês, se refere à arte dos chamados “contadores de história” ou
narradores, função que existe desde os tempos primitivos. Conforme Magalhães (2013), a contação de histórias é um
hábito ancestral humano que vem percorrendo o tempo e ressignificando a história. Na atualidade, o marketing, a
publicidade entre outras áreas da comunicação, como a comunicação organizacional, estão utilizando o storytelling com
grande ênfase. Pois a ciência vem comprovando que este é um método de comunicação eficaz (ARRUDA, 2019).
Acredita-se que compreender a importância do empreendedorismo feminino e sua relação com o processo de
desenvolvimento do TBC em comunidades rurais pode proporcionar um conhecimento relevante que, por sua vez, possa
contribuir com o processo de desenvolvimento de outras comunidades turísticas, proporcionando-as mais oportunidades
de empregos e renda, bem como melhoria da qualidade de vida dos indivíduos dessas comunidades. Contar e divulgar
a história das mulheres empreendedoras da comunidade rural Chã de Jardim pode contribuir para a fortalecer a
atividade turística local ao despertar o interesse dos que ouvirem tais histórias e queiram conhecer tais experiências
in loco. Além disso, as histórias dessas mulheres empreendedoras podem inspirar outras mulheres de outras
comunidades a empreenderem e assim também obterem renda e melhor qualidade de vida nessas comunidades.

METODOLOGIA

Com a finalidade de alcançar os objetivos propostos neste trabalho e se alcançar uma melhor compreensão
acerca da importância da mulher para o desenvolvimento turístico na comunidade rural de Chã de Jardim, pretende-se
realizar uma pesquisa descritiva para retratar as práticas de empreendedorismo feminino na comunidade. Segundo
Michel (2015, p. 54), “a pesquisa descritiva verifica, descreve e explica problemas, fatos ou fenômenos da vida real,
com a precisão possível, observando e fazendo relações, conexões, considerando a influência que o ambiente exerce

288
sobre eles”. A abordagem da pesquisa será qualitativa, tendo em vista que uma das suas principais características é a
predominância da descrição, estando muito relacionada com a pesquisa descritiva, pois levanta, interpreta e discute
fatos e situações (MARTINS, 2016; MICHEL, 2015).
Conjuntamente, objetiva-se apresentar através da publicação de vídeos as atividades turísticas desenvolvidas
na comunidade focando no protagonismo feminino, através do uso das bases metodológicas do storytelling.
Considerando que o storytelling é uma arte de contar histórias que descreve, de forma real ou fictícia, os mais diversos
eventos mediante o emprego de palavras, imagens e sons (MANOSSO et al., 2020). Compreende-se que este seja um
método de transmissão de conhecimentos relevante por ter o potencial de assegurar que haja uma comunicação
eficiente, pois através da contação de histórias há grande possibilidade dos receptores se entreterem ao que se é
narrado, obtendo assim melhor compreensão do que o emissor transmite.
A comunidade Chã de Jardim está localizada na zona rural, no distrito de Muquém do município de Areia, no
estado da Paraíba. Está estabelecida às margens da rodovia PB-079 que interliga as sedes dos municípios de Areia (a 7
quilômetros de distância) e Remígio (a 6 quilômetros de distância), nas imediações do Parque Estadual Mata do Pau Ferro
(OLIVEIRA, 2018). O município de Areia está situado na mesorregião do Agreste Paraibano e na microrregião do Brejo
Paraibano, a aproximadamente 130 quilômetros da cidade de João Pessoa, a capital paraibana, e a 50 quilômetros da
cidade de Campina Grande (TEMOTEO, 2019). Com cerca de 269,130 km² de extensão territorial, de acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2021 a população foi estimada em 22.493 habitantes (IBGE, 2022).
Na comunidade Chã de Jardim, a atividade turística se iniciou por volta de 1995, quando a Mata do Pau-Ferro
foi transformada em uma Unidade de Conservação Estadual pelos governos federal, estadual e municipal. Em razão
disso, o local começou a receber visitantes com intenção de ecoturismo. E alguns anos depois foi fundada por um grupo
de jovens da comunidade, a Associação para o Desenvolvimento Sustentável da Comunidade da Chã de Jardim (ADESCO),
que além de outros objetivos, foi formada para se dedicar ao desenvolvimento da atividade turística passando a
planejar atividades de ecoturismo na Mata do Pau-Ferro. Após isso, surgiram outros projetos voltados ao turismo na
comunidade, como a criação do Restaurante Rural Vó Maria por uma das líderes da associação, a Luciana Balbino, que
oferece pratos típicos da região utilizando insumos de produtores locais e também a Bodega Vó Maria, uma pequena
loja que se situa ao lado do restaurante e comercializa produtos artesanais locais. (NASCIMENTO; LIMA, 2020). Mais
recentemente foi inaugurado o Sítio Casa de Vó que possui 3 chalés e também barracas de camping que oferecem aos
turistas a possibilidade de se hospedarem com café da manhã.
Segundo Nascimento e Lima (2020), o projeto de TBC na comunidade começou timidamente e vem apresentando
crescimento ao longo dos anos. Essa iniciativa já recebeu algumas premiações, como o Prêmio BRAZTOA de
Sustentabilidade em 2014, entre outros, que reforçam seu reconhecimento regionalmente e nacionalmente. Atualmente,
há várias atividades voltadas para o turismo na localidade que são fonte de renda para moradores que as desenvolvem,
como exemplo, algumas mulheres da comunidade, foco deste estudo.

289
Em relação à coleta de dados, a pesquisa se encontra em andamento, entretanto, inicialmente foram
realizadas pesquisas bibliográficas para fundamentação do estudo. Projeta-se a utilização de um roteiro para
entrevistas semiestruturadas com mulheres empreendedoras envolvidas com o desenvolvimento das atividades
voltadas ao turismo na comunidade.

RESULTADOS

Os resultados esperados neste trabalho são as entrevistas aprofundadas, inicialmente, com a Luciana Balbino,
uma das líderes da ADESCO e fundadora de alguns empreendimentos na comunidade rural de Chã de Jardim, e
posteriormente com outras mulheres que seguiram seu exemplo e empreendem na produção associada ao turismo. A
partir disso, espera-se obter-se melhor compreensão sobre a relação entre o empreendedorismo feminino e o
desenvolvimento do turismo de base comunitária.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo de Base Comunitária (TBC); Empreendedorismo Feminino; Storytelling.

REFERÊNCIAS

ARRUDA, Rafael. (2019). Comunicação Inteligente Storytelling. Rio de Janeiro, RJ: Editora Alta Books.

DORNELAS, J. C. A. (2007). Empreendedorismo na prática: mitos e verdades do empreendedor de sucesso.


Rio de Janeiro: Elsevier.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades. Disponível em:


https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pb/areia/panorama. Acesso em: 14 de mar. de 2022.

MACHADO, F. B. (2012). “Dilemas de Mulheres Empreendedoras em Empresas Inovadoras Nascentes”. In:


Anais do Encontro da ANPAD. 36, Rio de Janeiro.

MAGALHÃES, Anita Cristina Cardoso. (2013). Storytelling como recurso estratégico comunicacional:
avaliando a natureza das narrativas no contexto das organizações. 94 f. Dissertação (Mestrado
Comunicação Social) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte.

MARTINS, Gilberto de A.; THEÓPHILO, Carlos R. (2016). Metodologia da Investigação Científica para Ciências
Sociais Aplicadas, 3ª edição. São Paulo, SP: Grupo GEN.

MICHEL, Maria H. (2015). Metodologia e Pesquisa Científica em Ciências Sociais, 3ª edição. São Paulo, SP:
Grupo GEN.

NASCIMENTO, F. G.; LIMA, G. F. C. (2020). TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA COMO ALTERNATIVA PARA O
DESENVOLVIMENTO RURAL: a experiência da comunidade de Chã de Jardim, Areia-PB. João Pessoa, PB:
Editora do CCTA.

290
OLIVEIRA, J.R. (2018). “Do sítio sim, besta não!”: reciprocidade, dons e lutas simbólicas em jogo no
turismo em Areia, Paraíba-Brasil. Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco, CFCH. Programa de
Pós-Graduação em Sociologia / Université Bourgogne Franche Comté, École Doctorale Sociétés, Espace, Pratiques,
Temps, Recife.

PLANO Nacional de Turismo. (2018). Disponível em: https://www.gov.br/turismo/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-


programas/plano-nacional-do-turismo. Acesso em: 16 mar. 2022.

RELATÓRIO nacional: Empreendedorismo no Brasil 2019. Disponível em: https://www.gemconsortium.org/report.


Acesso em: 16 mar. 2022.

TEMOTEO, J.A.G. (2019). ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA A PARTIR


DO USO DE INDICADORES: um estudo desenvolvido em comunidades do Nordeste brasileiro. (Tese)
doutorado. Universidade Federal da Paraíba UFPB. Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
- PRODEMA.

TEIXEIRA, R. M.; BOMFIM, L. C. S. (2016). Empreendedorismo feminino e os desafios enfrentados pelas


empreendedoras para conciliar os conflitos trabalho e família: estudo de casos múltiplos em agências
de viagens. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 10(1), pp. 44 -64.

291
Resumos de Artigos Completos
DIAGNÓSTICO TERRITORIAL DOS RECURSOS TURÍSTICOS DE SÃO LUIZ DO PURUNÃ,
MUNICÍPIO DE BALSA NOVA/PR NO ESPAÇO RURAL

Margarete Araújo Teles (margateles25@gmail.com)

RESUMO

São Luiz do Purunã, distrito do município de Balsa Nova/PR se encontra numa área de diversidade natural, cujo território
possui a APA da Escarpa Devoniana. Os recursos naturais e culturais disponíveis e sistemas produtivos agrícolas,
constituem uma alternativa viável para o desenvolvimento de atividades turísticas em bases sustentáveis, por meio de
produtos segmentados. Porém os recursos que constituem esses segmentos, precisam ser avaliados e definidos por
meio de diagnóstico territorial. Assim, o objetivo da pesquisa foi identificar a partir da realização de um diagnóstico
territorial um conjunto de dados e informações geográficas a serem utilizados para desenvolver, em bases sustentáveis,
iniciativas de turismo rural em São Luiz do Purunã, distrito do município de Balsa Nova, Paraná. Com base em autores
que que tratam da temática turismo em espaços rurais e seus segmentos (Ruschman, 1997; Graziano da Silva, 1998;
Almeida & Riedl, 2000; Rodrigues, 2003; Silveira, 2005; Barrado Timón & Castiñeira Ezquerra, 2006; Silveira, 2014; OMT,
2001) e institutos de pesquisas buscou-se o aporte teórico-metodológico. A discussão parte da ideia de que o espaço
rural multifuncional não é considerado como um espaço de produção, mas como um espaço no qual o valor agrícola não
é definido apenas pelos bens produzidos, mas também pelos benefícios sociais e ambientais que cria, como a
preservação da paisagem rural e tradições, proteção da biodiversidade, manutenção do solo, emprego no trabalho,
contribuições para o aumento da saúde e da segurança alimentar (Graziano da Silva, 1998; Rodrigues, 2003; Silveira,
2005). Trata-se de uma pesquisa aplicada, transversal, do tipo exploratória e descritiva, a partir de instrumentos, como
a coleta de dados estatísticos, o processamento e mapeamento de informações geográficas utilizando o SIG – Sistema
de Informações Geográficas, e a coleta de material documental e bibliográfico sobre a área de estudo. O estudo
evidenciou que o distrito pode se tornar um espaço turístico consolidado, todavia, há necessidade de se pôr em prática
o planejamento estratégico, a coordenação e a cooperação entre empresários e lideranças locais, as comunidades locais
e as instituições governamentais, para que o desenvolvimento do turismo possa ocorrer.

Palavras-chave: Espaço Rural; Turismo Rural; Recursos Turísticos; Diagnostico Territorial.

292
O PROTAGONISMO FEMININO E O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: UM ESTUDO DAS
EMPREENDEDORAS DE TRAVOSA E BETÂNIA DO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO
DO MARANHÃO

Kiara Cristine Diniz Vieira (kiaracrt@gmail.com)


Monica de Nazaré Ferreira de Araújo (monica.nazare@ufma.br)
Róselis de Jesus Câmara Barbosa (zeliz.camara@hotmail.com)
Ruan Tavares Ribeiro (ruantavaresufma@gmail.com)

RESUMO

Este artigo discorre sobre a construção da representatividade feminina na perspectiva do Turismo de Base Comunitária,
a ter como foco os equipamentos turísticos do segmento de restaurante e hospedagem nas comunidades de Travosa e
Betânia, dentro dos limites do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, no município de Santo Amaro do Maranhão.
Nesta direção, foram investigados os perfis de quatro mulheres protagonistas que vêm contribuindo para o
desenvolvimento das comunidades, tendo como escopo o turismo e suas repercussões locais. Nesta concepção, aponta-
se como objetivo principal investigar o protagonismo feminino das empreendedoras, tendo como referência o que é
realizado sob a ótica do turismo de base comunitária, em Betânia e Travosa. No mais, são propostos os objetivos
secundários, quais sejam: identificar o perfil das empreendedoras comunitárias e de como iniciaram seus negócios;
caracterizar os empreendimentos das mulheres; e verificar a contribuição dos empreendimentos turísticos na localidade.
A referida pesquisa tem caráter descritivo e exploratório, e constitui-se em uma investigação de cunho qualitativo, que
teve seus dados coletados por meio de entrevistas com roteiros pré-estruturados. Ademais, utilizou-se uma base
bibliográfica e documental, além de registros iconográficos. Como resultados principais averiguou-se que a participação
das mulheres em seus empreendimentos – desde a sua fase de concepção até a de consolidação – foi determinante
para se estabelecerem como referência de gastronomia regional e hospedagem, em suas comunidades, bem como para
a dinamização da cadeia produtiva do turismo local. E mais, a partir das empreendedoras, viu-se que estas também
possibilitaram a geração de trabalho e renda, incentivaram outras a abrirem outros empreendimentos, além de terem
expandido e melhorado os já existentes. Outro aspecto constatado foi a colaboração, mesmo que esporádica, entre
estas e a conexão com outros segmentos, como os barqueiros, transportes e guias/condutores com os quais mantêm
uma relação de interdependência. Observou-se, sobretudo, entre essas mulheres, uma forte resiliência para dar
continuidade aos seus empreendimentos e, assim, conseguirem resultados tangíveis para a melhoria de suas vidas e,
consequentemente, para suas comunidades.

Palavras-chave: protagonismo feminino; turismo de base comunitária; empreendedorismo.

293
TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA EM SERGIPE: LIÇÕES DO PROJETO TAINHA EM PONTA
DOS MANGUES, PACATUBA
Thatiana de Carvalho Santos (thati.carvalho@gmail.com)
Cristiane Santos Picanço (cristiane.picanco@ifs.edu.br)
Claudio Roberto Braghini (profbraghini@gmail.com)

RESUMO

O litoral norte de Sergipe é visto como destino turístico promissor e, embora discretamente, apresenta sinais de
mudanças motivadas pelo turismo. Como medida de antecipação ao desenvolvimento da atividade nos moldes
convencional e massificado, surgiu no Povoado Ponta dos Mangues, em Pacatuba, o Projeto Tainha, que visava
sensibilizar e capacitar a Comunidade para o Turismo de Base Comunitária (TBC). O objetivo do estudo é refletir
oportunidades e desafios para o desenvolvimento do turismo no perfil de base comunitária na comunidade. A reflexão
partiu de diagnóstico com levantamento de atrativos, infraestrutura, organização social e sobre turismo e TBC. Utilizou-
se observação direta e entrevista semiestruturada para dois grupos de moradores, participantes e não participantes do
Projeto. As oportunidades identificadas foram ações do referido Projeto, a existência de poucos empreendedores
externos na Comunidade e oferta de alguns serviços turísticos pelos residentes para atender a demanda existente. Os
principais desafios se relacionam à fragilidade na organização social, na infraestrutura, nos equipamentos e serviços
turísticos, na inconstância das visitações e desconhecimento sobre o TBC, bem como, carência de políticas públicas
específicas.

Palavras-chave: Turismo sustentável; Desenvolvimento local; Comunidade.

294
TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NOS ASSENTAMENTOS EM CANTOS DA CHAPADA:
CONCEPÇÕES, DESAFIOS E POTENCIALIDADES

Taísa Fonseca Novaes Hoisel (tfnhoisel@uesc.br)


Andréa da Silva Gomes (asgomes@uesc.br)
Mônica de Moura Pires (mpires@uesc.br)

RESUMO

O turismo é conhecido por ser um fenômeno social que se caracteriza pela prática que oportuniza a interação cultural,
a troca de experiências e emoções, a realização de desejos, além do aprendizado. O desenvolvimento dos transportes
após a segunda guerra mundial contribuiu para o aumento no volume de viagens, movimento de pessoas e de divisas
em todo o mundo. A atividade turística desenvolvida a partir daí apresentou uma visão essencialmente mercadológica,
que desrespeita a população local e o meio ambiente, visando apenas o aumento do número de turistas e a obtenção
rápida do lucro. Na segunda metade do século XX diante das muitas problemáticas ambientais e sociais, a humanidade
desenvolve uma consciência ecológica e, consequentemente os turistas começaram a demonstrar uma preocupação
maior com conservação ambiental e autenticidade das comunidades receptoras. Com isso, as experiências turísticas
iniciaram sua busca pela valorização natural e cultural, a preocupação com a biodiversidade e a integração com a
comunidade local. Para atender esta nova demanda, faz-se necessário o surgimento de novos modelos de turismo. O
Turismo de Base Comunitária (TBC) é um desses modelos e traz como pressuposto a conquista da equidade social e da
qualidade de vida para grupos sociais em estado de vulnerabilidade e expostos a projetos turísticos convencionais. Este
trabalho deverá analisar o alcance da proposta de TBC nos assentamentos Em Cantos da Chapada, localizados na cidade
de Itaetê /BA. Nesta caminhada será necessário, primeiramente, revisar os aspectos teóricos do Turismo de Base
Comunitária (TBC), seus princípios e diretrizes, em seguida, caracterizar as comunidades estudadas, compreendendo
seu percurso e seu contexto atual, analisar a prática das atividades turísticas nas comunidades através dos princípios
do TBC propostos pelo ICMBio. Por fim, através das informações obtidas, verificar as facilidades e os entraves
encontrados por estas comunidades para a condução deste modelo de turismo. Com a conclusão deste trabalho pretende-
se contribuir para a compreensão de como o Turismo de Base Comunitária é organizado e trabalhado na região da
Chapada Diamantina, assim como, fornecer às comunidades estudadas um diagnóstico apontando os principais
equívocos e acertos a serem considerados na condução deste recente modelo de atividade turística.

Palavras-chave: Turismo Comunitário; Governança; Sustentabilidade.

295
GT 8 – TURISMO E MEMÓRIA
DIA 18/05 – 14h as 18h

296
Resumos Expandidos
AS HISTÓRIAS POR DE TRÁS DAS RECEITAS: UMA ANÁLISE DO CARDÁPIO DE UMA
RESTAURANTE DE UM HOTEL DO RIO DE JANEIRO
Lorraine Pereira Cardoso (lorrainepereiracardoso@gmail.com)
Juliana Borges de Souza (juliana_borges_souza@hotmail.com)

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo analisar a importância do nome dado para receitas e busca entender suas
origens e identidade cultural. O método de pesquisa foi a utilização de uma revisão bibliográfica, leituras de artigos
oferecidos em sites acadêmicos, leitura de cardápio, e entrevistas com pessoas do ramo da alimentação em um meio
de hospedagem no Rio de Janeiro, no Brasil. A ideia da do trabalho veio de uma leitura / debate que foi utilizada em
sala de aula na disciplina Sociologia da Alimentação da Universidade Federal do Rio de Janeiro,no curso de hotelaria,
no período de outubro-dezembro de 2021, tendo como perguntas norteadoras: “Já se perguntou quais são as histórias
por trás das receitas? ”, “como o empreendimento de Alimentos e Bebidas percebem a origem dos nomes dos pratos?”.
A pesquisa visa proporcionar um entendimento histórico, sociológico, antropológico e cultural e assim dar conhecimento
das preparações culinárias que podem ser consumidas.
Os pratos pesquisados são de várias partes do mundo, a análise durou quatro meses, objetivando a coleta de
dados para verificação da eficácia da pesquisa e aplicação da entrevista, organizando o material e assim visando a
otimização e melhor entendimento tendo oferecido a disponibilidade do material estudado. Esse trabalho está baseado
no texto de Woortmann (2013), no artigo “A comida como linguagem”, o qual tem o objetivo de refletir sobre as
dimensões sociais da comida.

METODOLOGIA

A metodologia aplicada envolveu revisão bibliográfica, análise documental, produzidos pela comunidade em
questão a partir de um estudo de caso (YIN, 2015) de um menu de um meio de hospedagem do Rio de Janeiro, com o
perfil de 5 estrelas, com três restaurantes, sendo um de comida asiática e dois com comidas nacionais e internacionais.
Além do uso de entrevistas semi-estruturadas com os membros da equipe de Alimentos e Bebidas. A ideia é analisar
como alguns nomes de receitas oferecidos nestes restaurantes conectam à outras histórias que ora são acionadas como
um valor de mercado ora são negligenciados em suas origens ou ressignificadas no contexto apresentado.

RESULTADOS

297
O resultado preliminar desta pesquisa nos aponta que a comida é um bom lugar para se compreender as
relações e os imaginários sociais pensando na dinâmica histórica e cultural das sociedades, como também um bem de
mercado, como um valor comercial. Através do cardápio, como um documento analítico, são vistos aqui como umas
representações sociais, fruto de um momento histórico (MORAIS 2011). Desta forma, os pratos dos cardápios são uma
forma de interpretação de significados a qual revela um sistema para organizar e classificar o mundo a partir das
comidas, memórias ou (des)memorias, pessoas, modo de saber/fazer que circulam neste livro em questão. A ideia da
comida aparece também como uma “identidade portátil” (OLIVEIRA SANTOS, 2004; WOORTAAM, 2013). Essa identidade,
se mostra como uma construção social, que constituem raízes, constroem relações coletivas e formas de percepção de
mundo (Cf. MINTZ, 2001, WOORTAAM, 2013 e MORAIS,2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho está baseado no texto da Ellen F. Woortmann, no artigo” A comida como linguagem”, a qual tem
o objetivo de refletir sobre as dimensões sociais da comida. A partir da análise apresentada, temos o intuito de pensar
como a comida “fala” simbolicamente sobre (des) memórias, memórias construídas, de condições geográficas, de
religião, famílias, gêneros, afetos, pertencimentos, acusações entre outras. Temos a capacidade de alterar os
pensamentos de acordo com o entendimento sobre o objeto pesquisado, da origem e a história disponíveis através da
para apreciação; para que isso ocorra é de extrema necessidade o estudo de histórico, sociológico, antropológico e a
agência de sua sociedade, pois, o mundo é dinâmico, logo a comida também é. As histórias sobre as comidas podem
trazer oportunidades de analises conhecimentos, mas podem trazer “ameaças” para um mundo ilusório, que muitas das
vezes é fantasiado pela sociedade. Pensando no viés da experiência dos clientes de restaurantes, de turismo
gastronômicos, como algo importante a ser analisado e monitorado o que item tem como apresso no mercado, como
uma construção de memórias inventadas.
Uns dos tópicos mais importante é a fidelização do cliente para mercado gastronomico, a qual é considerado
um ponto crucial para que haja uma boa rotatividade, não apenas pelo excelente serviço prestado, chamada a
experiência do cliente, mas sim pelas vantagens financeiras. A/o cliente paga não só pela comida, pois o ato de se
alimentar implica em memórias gastronômicas, visual e também auditiva, ou seja, é comercializado uma experiência,
tal como aponta a Woortaman (2013). Fidelidade deverá ser abrangente e podendo alcançar diversos tipos de clientes.
O feedback do cliente é de suma importância para o empreendimento, pois o mesmo poderá dar sua visão do que
vivenciou e verificou no local.
Em uma perspectiva histórica o alimento tem em sua memória relatos de sua cultura alimentar: como sabor, cheiro,
aroma e textura, ocorrendo em cada sociedade e de maneiras distintas.
O texto busca representar a comida não só como o ato de comer, mas também toda uma história por trás de
cada prato ou cada nome. Por isso abordamos dois pratos/alimentos famosos na culinário pelo mundo, afim de

298
exemplificar o que foi exposto no texto da autora Ellen Woortaman, os famosos Madeleine e a pizza margarita. O doce
Madeleine é proveniente da culinária francesa. Sua história, de acordo com Woortamam (2013) conta que os Madeleine
eram produzidos em conventos pelas freiras francesas e durante a revolução elas venderam a receita e os compradores
em homenagem ao convento deram esse nome ao doce tão famoso atualmente. Ou seja, podemos perceber toda
construção cultural em volta desse alimento tão famosos em dias atuais. Já a pizza margarita é a pizza mais antiga já
conhecida, a história desse prato conta que a realeza decidiu provar quitutes na Itália em Nápoles, o Rei Umberto I e
Margherita. Não era de “bom tom” naquela época sair para provar novos pratos em uma pizzaria, por isso eles pediram
que fossem entregues no palácio, afim de bajular a rainha o pizzaiolo colocou ingredientes na cor da bandeira do país,
vermelho os tomates, verde o manjericão e mussarela de tonalidade clara para fazer alusão a cor branca. Através de
tais exemplos é possível observar que por trás de cada prato tem uma história sendo contada, algumas vezes boas
histórias como as apresentadas aqui, outras vezes histórias tristes que remetem a fome, falta de alimentos de qualidade
e que dão origens a pratos caros e requintados atualmente, como o caso da Paella e do Fondue.
Portanto a história por trás do alimento pode dizer muito sobre o local, pessoa, cultura, apreciação do público.
Vale ressaltar que muitos alimentos podem ter mais de uma história por trás dele, e muitas das vezes o público adere
o que mais agrada o ambiente.

PALAVRAS-CHAVE

Origem, Alimentação, Identidade, Cultura

REFERÊNCIAS

WOORTMANN, Ellen. (2013). A comida como linguagem. Goiás.

[23:44, 18/03/2022] Ju Borges: MINTZ, Sidney W .Comida e antropologia: uma breve revisão. Rev. bras. Ci. Soc. São
Paulo, v. 16, n. 47, p. 31-42, out. De 2001. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 69092001000300002&lng=en&nrm=iso>.
acesso em 14 de agosto de 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S010269092001000300002.

MONTANARI, M. Comida como Cultura. São Paulo: SENAC, 2008

MORAIS, L. P. Comida, identidade e patrimônio: articulações possíveis. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 54, p.
227-254, jan./jun. Editora UFPR,2011.

OLIVEIRA SANTOS, M. Bendito é o fruto: festa da uva e identidade entre os descendentes de imigrantes italianos. Tese
(Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional, UFRJ. Rio de Janeiro, 2004.

YIN, Robert K. Estudo de Caso-: Planejamento e métodos. Bookman editora, 2015.

299
EDUCAÇÃO PARA O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: CONSTRUINDO CAMINHOS PARA
O DESENVOLVIMENTO LOCAL DO POVOADO ALTO, TUCANO, BAHIA

Juliana Andrade do Carmo Martins (jule.ac@gmail.com)


Francisca de Paula Santos da Silva (fcapaula@gmail.com)
Alfredo Eurico Rodrigues Matta (alfredo@matta.pro.br)
Tereza Verena Melo da Paixão (verena_sonho@hotmail.com)

INTRODUÇÃO

O despertar para trabalhar com a temática Educação para o Turismo de Base Comunitária na perspectiva do
desenvolvimento local foi oriundo das vivências como habitante desde o nascimento do Povoado Alto, na zona rural do
município de Tucano Ba. Logo, testemunha ocular da real situação em que as pessoas vivem e sobrevivem no Povoado,
sem perspectivas de estudo, trabalho e renda. Pensando nisto, surgiram questões e anseios por buscar e promover
ações que possibilitem a comunidade desenvolver-se nas esferas políticas, sociais, econômicas, culturais, das
tecnologias sociais, cidadania e nas relações da comunidade onde vivem, com base em suas potencialidades.
Por meio deste trabalho, foi possível iniciar o processo de construção do conhecimento sobre a história e
cultura local do Povoado Alto, a partir da história oral contada pelos moradores, alguns falecidos, mas que deixaram
suas contribuições para a história da localidade.
Diante disso, o fato de conhecer e viver a realidade do Povoado contribuiu para a escolha da temática sobre
o Turismo de Base Comunitária (TBC), o qual é definido por Irving (2009, p. 113) como uma “[...] proposta de
desenvolvimento local, através da valorização da cultura e identidade, dos modos de vida, respeitando as dimensões
de uma sociedade em seus aspectos sociais, políticos, culturais e humanos”. Nesse sentido, articulando as demandas
oriundas da comunidade e suas potencialidades, acreditamos que o Turismo de Base Comunitária, por suas
características e princípios, pode contribuir com o processo de desenvolvimento local do Povoado Alto.
Nesse contexto, surgiram inquietações a respeito do que fazer e como fazer. Assim, considerando a
potencialidade cultural do Povoado Alto, indispensável para o TBC, eis então que surge o problema de pesquisa descrito
a seguir: Qual a proposta de educação adequada para o desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária no Povoado
Alto, em Tucano- Bahia?
Compreendendo a problemática da investigação, delimitamos o objetivo geral da pesquisa, que é construir
uma proposta de educação adequada para o desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária no contexto do Povoado
Alto em Tucano- Bahia.
Com a finalidade de responder a estas questões, definimos os objetivos específicos, descritos abaixo: a)
desenvolver ações de educação apropriadas para o contexto do Povoado Alto; b) mobilizar para o Turismo de Base
Comunitária no Povoado Alto; c) difundir o Turismo de Base Comunitária no Povoado Alto por meio do blog “Alto, o meu
lugar no Sertão”.

300
Vale ressaltarmos que esta pesquisa, de forma nenhuma, busca ações engessadas ou acabadas, mas sim
práticas construídas e desenvolvidas com e para a comunidade local, por meio de diálogos e discussões conjuntas. Sendo
assim, é preciso criar ações pautadas nos princípios da educação, respeitando as especificidades da comunidade,
valorizando a cultura da cooperação, solidariedade, o mapeamento de saberes locais, o respeito às diferenças culturais,
religiosas, de gênero e tantas outras, e contribuir para o processo de desenvolvimento local, sendo estes também os
princípios do Turismo de Base Comunitária adotados desde sua organização até sua efetivação. Dessa forma,
identificamos a relevância social deste trabalho, bem como seu compromisso com o bem-estar coletivo da comunidade.

METODOLOGIA

O contexto sócio-histórico do Povoado Alto, lócus da nossa pesquisa, nos direcionou para adoção da
abordagem metodológica da Pesquisa-Aplicação em Educação, considerando a necessidade de trabalharmos em diálogo
com os sujeitos da comunidade, valorizando seus saberes e suas vozes ativas durante todo o processo de
desenvolvimento do estudo. De acordo com Nonato e Matta (2018, p. 13) a pesquisa aplicação em educação:

[...] surge com a necessidade de preenchimento de lacunas no campo das abordagens metodológicas na
pesquisa em educação, na medida em que busca desenhar, desenvolver e aplicar intervenções nos
espaços educacionais – na educação básica (educação Infantil, Ensino fundamental, Ensino médio, Ensino
Médio Técnico e Ensino Médio Profissional), Educação Tecnológica, Educação Superior (cursos tecnológicos
e graduações, bacharelados e licenciaturas e pós-graduações lato e stritus sensu), bem como na educação
Corporativa e nos espaços não formais de educação – se desconsiderar o conhecimento das comunidades
de aprendentes envolvidas.

Os autores apresentam ainda que de forma breve os passos da pesquisa-aplicação em educação (desenhar,
desenvolver e aplicar) sendo esta possível de ser desenvolvida em espaços não formais, algo que nos interessa pelo
fato de ser nosso campo de atuação. Haja vista que nossa pesquisa está atrelada à proposta de construirmos uma
educação para o Turismo de Base Comunitária no Povoado Alto, e para tal, consideramos o diálogo e a participação dos
sujeitos com seus saberes, algo essencial.
Como afirma Matta, Silva e Boaventura (2014, p. 25):

[...] a recente metodologia de pesquisa, mais conhecida como Design-Based Research (DBR), é uma
inovadora abordagem de investigação que reúne as vantagens das metodologias qualitativas e das
quantitativas, focalizando no desenvolvimento de aplicações que possam ser realizadas e de fato
integradas às práticas sociais comunitárias, considerando sempre sua diversidade e propriedades
específicas, mas também aquilo que puder ser generalizado e assim facilitar a resolução de outros
problemas.

Conforme afirma o autor citado, essa abordagem metodológica pode reunir técnicas de pesquisa tanto
qualitativas quanto quantitativas, ou seja, ela inclui métodos ou técnicas diversas, articulando-se as necessidades e o
foco da pesquisa. Utilizaremos técnicas de pesquisa qualitativa, o que não nos impede de utilizar técnicas quantitativas,
caso seja necessário durante o processo de desenvolvimento da pesquisa.

301
A metodologia DBR possui como características principais sua flexibilidade e o enfoque participativo e
intervencionista, a qual permite o diálogo e colaboração entre pesquisador e participantes da pesquisa, considerados
como sujeitos ativos em todo o processo e não simplesmente como objetos da pesquisa. Além, de caracterizar-se por
respeitar as diversidades e aspectos sociais e culturais de cada comunidade.
A DBR é desenvolvida em ciclos ou fases. Contudo vale, ressaltamos que todos os passos ocorrem de maneira
colaborativa e coletiva, entre pesquisadora e sujeitos da comunidade local, assumindo assim uma perspectiva dialógica
e socioconstrutivista no processo de construção de conhecimento.
Na fase I - Inicialmente dialogamos com a comunidade, tomando como base algumas demandas locais
evidenciadas com o trabalho do blog. A partir de então, definimos o problema da pesquisa, seguido de uma análise
coletiva pelos sujeitos envolvidos, culminando em reflexões que influenciaram na construção da proposta.
Essa fase foi a mais lenta, complexa, valiosa e essencial, no sentido de definir o problema e construir o
contexto, para nos apropriarmos não somente dos aspectos históricos e culturais que marcaram o surgimento da
comunidade, para, além disso, de forma crítica analisar como isso influenciou e impacta o modo de vida contemporâneo
da comunidade. Para a contextualização, realizamos levantamentos históricos sobre a história local, regional e nacional,
e algumas entrevistas abertas com os habitantes mais velhos do Povoado, afinal, ninguém melhor que eles para falarem
da história do lugar onde nasceram e habitam.
Nesta fase, já com o envolvimento significativo dos jovens, após alguns diálogos, chegamos à conclusão de
que as Rodas de Conversas são o melhor caminho para a construção e efetivação da educação para o TBC na comunidade.
Percebemos então que o blog Ato: o meu lugar no Sertão, é um espaço importante para eles, sobretudo para pesquisas
escolares e estudos sobre a história local.
Na fase II – A partir das reflexões oriundas do contexto, realizamos a revisão bibliográfica sobre os princípios
que direcionam nossa pesquisa, tais como: a educação, dialógica, popular e não formal e Turismo de Base Comunitária.
A fim de fortalecer as bases de conhecimento sobre o que temos construído e desenvolvido junto à comunidade. Ainda
nesta fase, construímos a nossa proposta educacional de educação para o Turismo de Base Comunitária, apresentando
como pretendemos desenvolver nossas ações na e com a comunidade.
Na fase III, intitulada de ciclos interativos de aplicação e refinamento em práxis da solução, realizaremos a
aplicação da proposta educacional de Educação para o Turismo de Base Comunitária com o grupo parceiro da pesquisa
no Povoado Alto. Entretanto, ressaltamos que a aplicação da proposta com a realização de rodas de conversa será
processual, dinâmica e dialógica, podendo assim sofrer alterações ao longo do seu desenvolvimento. Desse modo, as
decisões no que tange a aplicação da proposta também são dialogadas e decididas em conjunto, principalmente à escolha
dos horários, dias e locais das rodas de conversas e desenvolvimento das ações práticas na comunidade.
Na fase IV - Reflexão para produzir “Princípios de design” e melhorar implementação da solução, realizaremos
a reaplicação das rodas de conversas com base nas observações da primeira aplicação na fase III, e, por fim, a análise
final dos resultados. Contudo, para validar a nossa proposta educacional como solução para a educação para o Turismo

302
de Base Comunitária no contexto do Povoado Alto, é necessário o acompanhamento das variáveis ou categorias que
norteiam a solução.
Com base na abordagem metodológica da pesquisa-aplicação defendida por Matta et al. (2014) e Plomp et al.
(2018), apontamos duas categorias em nosso trabalho a Categoria de Análise (variável dependente) e a Categoria de
Referência (variável independente). Definimos como categoria de Análise (CA) as rodas de conversas, enquanto proposta
educacional para o Turismo de Base Comunitária para as quais criamos um modelo, aplicamos e estudamos. Já a
Categoria de Referência (CR) corresponde aos princípios da Educação Popular e do Turismo de Base Comunitária aplicados
na solução, os quais posteriormente serão analisados.
Após o desenvolvimento das rodas de conversas na prática, realizaremos o cruzamento da categoria de
Análise (CA) e a Categoria de Referência (CR), com base nos critérios apontados adiante, após a definição do campo de
aplicação, a fim de identificarmos se a solução foi contemplada pelos pelas premissas definidas.
O campo de desenvolvimento da pesquisa é o Povoado Alto, em Tucano-BA. A aplicação da proposta
educacional será feita com a participação colaborativa de um grupo de jovens e adolescentes do referido povoado.
Por fim, reiteramos que a nossa proposta educacional não tem como objetivo resolver todos os problemas
que assolam o Povoado Alto, mas construir ações de educação para o Turismo de Base Comunitária. De maneira, que
possa assim contribuir com a formação dos sujeitos locais para a organização do TBC na comunidade, visando promover
a valorização da história e cultura local, e consequentemente melhorias e opções de trabalho e renda, principalmente
para os jovens da comunidade.

RESULTADOS

Definimos as rodas de conversas como nossa Categoria de Análise (CA), composta por suas subcategorias que
são os elementos que a compõe e os princípios do TBC e da educação popular como a Categoria de Referência (CR). O
objetivo desta avaliação é analisar como a categoria de análise contempla os princípios da categoria de referência para
compreendermos se as rodas de conversas podem ser validadas como uma proposta de educação para o Turismo de
Base Comunitária no contexto do Povoado Alto, considerando a definição dos critérios de verificação da solução.
Concluímos que o primeiro bloco de rodas de conversas sobre a história do Povoado Alto, conseguiu
contemplar todos os princípios do Turismo de Base Comunitária e da Educação popular, definidos previamente. De modo
que superou as nossas expectativas quanto ao envolvimento do grupo de participantes e da comunidade como um todo,
que apoiou todas as ações práticas, contribuindo e participando do processo de Educação para o TBC.
Ao analisarmos a roda de conversa sobre a cultura altense, a qual está diretamente imbricada com os temas
da história local. Concluímos que o segundo bloco de rodas de conversas sobre a cultura altense também conseguiu
contemplar os princípios do Turismo de Base Comunitária e da educação popular. As ações práticas sugeridas e
desenvolvidas pelo grupo de participantes e a comunidade local, representam a eficácia das rodas de conversas no
processo de Educação para o Turismo de Base Comunitária, um processo que tem se intensificado a cada encontro.

303
A avaliação do cruzamento entre as categorias de análise e de referência serviram para reafirmar a
potencialidade do desenvolvimento de rodas de conversas no que tange à educação para o Turismo de Base Comunitária,
vivenciada e validada pelo grupo Filhos do Sertão como uma solução no processo de formação para o TBC no contexto
do Povoado Alto.
Os resultados obtidos demonstram a potencialidade das rodas de conversas no que diz respeito à educação
para o Turismo de Base Comunitária, sobretudo, pela flexibilidade que a permite ser desenvolvida com e não para os
sujeitos. Nesse sentido, apresentamos aqui uma avaliação geral sobre os impactos e resultados das rodas de conversas
no processo de educação para o Turismo de Base Comunitária no Povoado Alto. Ao analisarmos o cruzamento das
categorias de análise (Rodas de conversa) e as categorias de referência (Princípios da educação popular e do Turismo
de Base Comunitária), percebemos que o modo como as rodas de conversas foram planejadas e desenvolvidas com a
colaboração dos sujeitos envolvidos, contribuiu não somente com o processo de educação para o Turismo de Base
Comunitária, mas também para despertar a população local para a importância de valorizar o lugar onde vivem.
O processo de planejamento e aplicação das rodas de conversas foi sem dúvida um processo educativo para
todos os envolvidos. O engajamento dos sujeitos e da comunidade proporcionou a formação de um grupo de militância
por melhorias na comunidade. Desse modo, ainda que não tenha sido objetivo deste estudo, a organização dos jovens
Filhos do Sertão pode ser considerada como um resultado muito significativo para a comunidade e, consequentemente,
para o processo de organização do TBC no povoado.
Portanto, as rodas de conversas no contexto do Povoado Alto, propiciaram um processo de educação para o
Turismo de Base Comunitária enraizado na história e cultura local, respondendo à questão desta pesquisa. E
despertando nos sujeitos locais uma consciência crítica e um profundo sentimento de pertencimento ao lugar onde
vivem, de valorização da história, da cultura e das pessoas que ali habitam.
Por fim, o processo de Educação para o Turismo de Base Comunitária é muito amplo, envolve a mobilização e
organização da comunidade, aspectos relacionados a oferta de roteiros, que pressupõe guiamentos, serviços de
hospedagem domiciliar, alimentação, a artigos de artesanato local, e posteriormente a criação de um receptivo.
Pensamos como nossos próximos passos a criação de um receptivo sertanejo. Contudo, ainda que em pequena escala,
em parceria com as famílias dos jovens Filhos do Sertão e outros moradores, já começamos o processo de organização
para receber visitantes e turistas na comunidade, oferecendo serviços de hospedagem domiciliar, alimentação, roteiros
e guiamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos afirmar que o objetivo geral pretendido de construir uma proposta de educação adequada para o
desenvolvimento do turismo de base comunitária no contexto do Povoado Alto em Tucano - BA foi alcançado com êxito.
Com isso, consideramos que a escolha pela metodologia DBR traduzida como Pesquisa - Aplicação foi muito assertiva,

304
pois sua flexibilidade e trabalho em colaboração, possibilitou o desenvolvimento de uma proposta com base numa
relação de diálogo com os sujeitos participantes.
Concluímos que esta pesquisa não tem como objetivo esgotar a temática trabalhada. Finalizamos um ciclo de
ações relacionadas ao estudo, mas a comunidade continua se organizando processualmente para o desenvolvimento do
Turismo de Base Comunitária na localidade, visto que os resultados alcançados neste estudo evidenciaram a
potencialidade e importância da educação para o Turismo de Base Comunitária, a qual trata dentre outras coisas deste
modelo de organização turística que possibilita o protagonismo dos sujeitos locais, assim como assegura benefícios de
ordem social, ambiental, cultural e econômica para a comunidade.
Também podemos afirmar que houve contribuição no âmbito social, dentro e fora da comunidade, pois ações
práticas que resultaram das rodas de conversas como: Criação da Biblioteca comunitária, nomeação das ruas, realização
do Pôr do Sol Cultural, criação do Ecomuseu da história e cultura altense, a realização de trilhas e roteiros no povoado,
o recebimento de visitantes, a atualização do blog, contribuíram com a valorização da história e cultura de um povo que
antes era considerado sem história, contribuíram com o incentivo à leitura, e, sobretudo, a valorização das pessoas
Por fim, concluímos que um dos maiores resultados deste estudo é o engajamento dos sujeitos da comunidade,
no tocante a jovens e adolescentes; após as rodas de conversas, sentiram-se mais pertencentes ao lugar onde vivem. E
esse sentimento tem sido expressado nas ações coletivas na localidade, nos roteiros realizados, nos poemas, cordéis e
poesias escritos. Enfim, finalizamos aqui um ciclo, no entanto este estudo oferece inúmeras possibilidades de
continuidade, pois o processo de educação para o Turismo de Base Comunitária no Povoado Alto foi iniciado, mas está
longe de ser concluído, e este pode inclusive servir de inspiração para a ampliação do Turismo de Base Comunitária
para outras localidades vizinhas. Por isso, continuaremos estudando, lutando com amor e esperança por um mundo
melhor, seguiremos removendo e/ou utilizando pedras e plantando flores no Alto, o nosso Lugar no Sertão.

PALAVRAS-CHAVE

Educação; Turismo de Base Comunitária; Desenvolvimento Local; Povoado Alto.

REFERÊNCIAS

IRVING, Marta A. Reinventando a reflexão sobre turismo de base comunitária: inovar é possível? In: BARTHOLO,
Roberto; SANSOLO, Davis Gruber; BURSZTYN, Ivan (Org.). Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e
experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra e imagem, 2009.

MATTA, Alfredo Eurico Rodrigues; SILVA, Francisca de Paula Santos da; BOAVENTURA, Edivaldo Machado. Design-based
research ou pesquisa de desenvolvimento: metodologia para pesquisa aplicada de inovação em educação do século
XXI. Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n.42, p. 3-36, jul. /dez. 2014.

NONATO, Emanuel do Rosário Santos; MATTA, Alfredo Eurico Rodrigues. Caminhos da Pesquisa-Aplicação na Pesquisa
em Educação. In: PLOMP, Tjeerd et al. (org.). Pesquisa- Aplicação em Educação: uma introdução. São Paulo:
Artesanato Educacional, 2018.

305
PLOMP, Tjeerd; NIEVEEN, Nienke; NONATO, Emanuel do Rosário Santos; MATTA, Alfredo Eurico Rodrigues. Pesquisa-
Aplicação em Educação: uma introdução. São Paulo: Artesanato Educacional, 2018.

306
MARAGOGI: DA CANA AO TURISMO SOB O OLHAR DE UM RESIDENTE

Artemísia dos Santos Soares (artemisia.soares@ifal.edu.br)

INTRODUÇÃO

Maragogi/AL, município em foco deste ensaio, trata-se de um município litorâneo, localizado no extremo Norte
do estado de Alagoas, equidistante 125 km de duas capitais nordestinas, Maceió e Recife. Apresenta uma área de
334,385 km² e está inserido na Mesorregião do Leste Alagoano e na Microrregião do Litoral Norte do estado, limitando-
se ao Norte com o município de São José da Coroa Grande, no estado de Pernambuco; ao Sul com o município alagoano
de Japaratinga e o Oceano Atlântico; a Oeste com os municípios de Porto Calvo e Jacuípe; e a Leste com o Oceano
Atlântico.
O município de Maragogi preteritamente foi território socioeconômico e político quase exclusivo da cana-de-
açúcar. As elites econômicas da cana-de-açúcar pouco utilizavam a região litorânea e, por isso, tornou-se lugar daqueles
que estavam à margem do sistema canavieiro. Esse contexto favoreceu a formação e a apropriação do território por
parte de populações tradicionais de pescadores até a década de 1980. Esta realidade iniciou sua mudança com o término
da construção da rodovia AL-101 Norte, em 1979 e, em seguida, com as ações resultantes do Programa Nacional de
Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR), a partir de 1996.

METODOLOGIA

É sobre este período de transição que modificou a paisagem do município de Maragogi, especificamente a
cidade – o centro – de Maragogi que trata este ensaio. Não sob a perspectiva de acadêmicos ou romancistas, mas sob
o olhar de um residente que chegou no município aos três anos de idade e conversou com esta pesquisadora em 2018
durante a investigação de doutoramento, que será chamado aqui por Zeca, pseudônimo que resguarda seu anonimato
conforme Termo de Consentimento Livre Esclarecido assinado durante investigação.

RESULTADOS

Seu Zeca nasceu em Barreiros/Pernambuco em 1943 e aos três anos sua família se mudou para Maragogi. Seu
pai era agricultor e saiu de PE à procura de uma fazenda que tivesse melhores condições de trabalho, porque trabalhava
arrendado ou foreiro, isto é, trabalhava-se o ano inteiro para si e no dia primeiro de janeiro pagava-se o foro ao
proprietário da terra. Na época, custava seiscentos mil reis. E assim se mudaram para a fazenda do Dr. Luiz Holanda.
Nas palavras do Sr. Zeca “na época a fazenda não tinha cana, era aquela caninha e um engenhozinho. Toda safra tinha
350 toneladas, era muito pouco”.
Em 1952, o fazendeiro vendeu a fazenda para um paraibano, o senhor João Paulo da Silva que mandou chamar
todos os foreiros e disse: “a partir de hoje não é mais foro, a partir de hoje é terço, se você plantar três pés de coentro,

307
dois é seu e um é meu. Meu pai plantava banana comprida, abacaxi, mandioca e tudo se plantasse dois mil, três mil pés
de abacaxi, mil pés eram da fazenda e dois mil pés eram dele. Assim tudo mudou”.
Esta narrativa evoca a origem e características predominantemente rurais da história alagoana,
especialmente do litoral Norte de Alagoas, berço da cultura canavieira. Também, palco de fatos marcantes da história
da colonização e período monárquico como a invasão holandesa e a guerra de Cabanos. Sobre isso seu Zeca relata: “A
fazenda tinha uma igrejinha, até hoje tem e a sacristia, o pé da sacristia estava rachado e chegou o pedreiro pra
reconstruir o pé da sacristia lá da igreja e quando ele bateu com a picareta abriu um buraco e achou uma forma de ouro,
que tava cheia de moedas de ouro [...] Maragogi teve uma história muito importante, porque Maragogi foi invadida
pelos holandeses [...] e naquela época não tinha banco e o dinheiro que eles traziam de lá era ouro, eles guardavam,
não tinham onde guardar, eles enterravam. E eles marcavam os lugares onde deixavam essas riquezas. [...] E aqui em
Barra Grande, esse povoado de Maragogi, porque os navios ficavam do lado de lá e as barcaças iam daqui com o açúcar,
com os produtos daqui e entregavam aos navios lá dentro. Na barra do outro lado. Então os holandeses, eles
transportavam o material daqui nas barcaças para os navios e recebiam o dinheiro e eles enterravam o dinheiro e
guardavam”.
Após o achado da botija de ouro holandês o senhor João Paulo da Silva arrendou a parte canavieira ao filho
dele, Felix Paulo da Silva, “jovem solteiro ainda, e ficou, tinha muita mata, ele vendia muita madeira, tinha também
uma área de muito coqueiro, cinquenta, oitenta milheiros de coco, então meu pai ficou administrando essa parte, essa
parte dos cocos e das matas”, disse seu Zeca.
Sobre as condições de vida daquela época, seu Zeca relata: “meu pai e minha mãe teve quinze filhos, mas
morreram sete num ano. Uns dois ou três anos que meu pai chegou aqui tinha muita epidemia, tinha febre amarela,
tinha malária demais, e dentro de um ano, ele perdeu cinco filhos, enterrou cinco filhos, adoecia, passava só dezesseis
dias”. Havia atendimento médico? Ele respondeu: “Nós tínhamos um posto de saúde. Há cada quinze dias vinha um
médico de Maceió e passava aqui uma semana consultando as pessoas e dando aquele remédio do governo”.
Seu Zeca relata em detalhes a dinâmica econômica e as grandes barreiras de mobilidade para cobrir as
distâncias geográficas necessárias ao provimento e subsistência. Os produtos resultantes da agricultura familiar
realizada na propriedade eram comercializados na feira distante quatro quilômetros da propriedade rural. Vendiam
farinha, a batata, a macaxeira, o inhame. Contudo, Maragogi ainda não possuía um centro, uma cidade de porte que
comportasse a necessidade de compra e venda de todos os produtores rurais e assim seguiam para Barreiros (PE),
distante trinta quilômetros: “Daqui de Cachoeira pra Barreiros, 30 km por dentro das matas, por dentro dos engenhos,
30 km”. Com o dinheiro obtido com a venda da produção adquiriam os demais produtos para subsistência na feira no
domingo, tais como charque, feijão, arroz, macarrão, sal e café.
Maragogi, portanto, “Era no campo. [...] Era coco, banana cumprida, que nós tínhamos a Ceasa no município,
toda semana saía em média do município daqui pra Recife, oito caminhões de banana dos agricultores aqui do município.
Porque a cultura era cana-de-açúcar, coco e pesca. [...] A cana era do fazendeiro e coco era de vários proprietariozinhos.

308
A banana era exatamente desses agricultores como meu pai e outros que plantavam”. Por isso, “nessa época, Maragogi
talvez tivesse três por cento da população que tem hoje”
Um dado no relato que surpreendeu à época da conversa é que em meados dos anos 1950, a produção de cana
era pequena demonstrando as graves oscilações que a economia baseada na cana já vivia que só viria a ter retomada
em meados dos anos setenta com incentivo do Proálcool (Programa Nacional do Álcool). Segundo o seu Zeca, “quando a
usina começou a funcionar em [19]78 por aqui, começou o plantio de cana a avançar. Surgiu a destilaria São Gonçalo,
que era Japaratinga, que ainda era [distrito] de Maragogi. Quando nós chegamos aqui aí surgiu a destilaria, aí então
cresce o plantio de cana”.
Então, confirmando a paisagem litorânea intocada da época em função da dinâmica predominantemente rural,
Seu Zeca a descreve: “nessa época, a orla era toda fechada de bugi. Um cipó, é uma rama. Tem a salsa que fica próxima
ao quebra-mar e em cima, na parte de cima tem a grama e tem o bugi que faz aquelas moitas grandes, é um tipo de um
cipó, entendeu? Então daí dessa área da prefeitura, até [o Hotel] Jangadeiros, tudo era mato e era despejo do povo,
tinha muita carrapateira, jogavam o lixo, não existia coleta de lixo, não existia nada, então o lixo era jogado ali, entre
a praia mar e as casas [...] Da prefeitura até o Carvão, tanto do lado direito como do lado esquerdo, talvez tivesse dez
ou quinze casas. Muito menos do lado esquerdo, e todas as casas eram de palha, de taipa, a palha do próprio coqueiro,
porque aqui em Maragogi era dentro do coqueiral. Maragogi era coberta de coqueiro, toda a cidade era coberta de
coqueiro. Maragogi tinha noventa por cento da terra ocupada [por] coqueiro”.
É possível entrever os motivos pelos quais Maragogi permanecia ainda tão pequena e “escondida” entre os
coqueirais: o difícil acesso. “Não exista asfalto, a estrada era toda pelo litoral [...] nós tínhamos uma empresa Confins,
que saía um ônibus que saia de quatro e quarenta e cinco da manhã do Recife e chegava sete horas da noite na cidade
[de Maragogi]. Toda estradinha pelo litoral, por dentro do coqueiral, tinha três balsas para atravessar. Saía quatro e
quarenta e cinco, cinco horas e chegava sete da noite em Maceió. Atravessa numa balsa em porto de Pedra, passava
outra em Barra de Santo Antônio, aliás, em Passo de Camaragibe e outra em Barra de Santo Antônio. E chegava em
Maceió sete horas da noite”.
E, consequentemente, a qualidade de vida também se fragilizava: “a maioria das crianças morriam. Morria
sim! [mulheres no parto]. Todo mundo tinha muitos filhos! Escola zero! [Água na torneira] não existia. Era cacimba, poço,
aqui vizinho à delegacia existia uma cacimba chamada cacimba Sicupira. Centenária, que abastecia a cidade, aí cada um,
vinha com o carrinho de mão, duas latas, daquelas de querosene, de querosene mesmo. O querosene vinha da Argentina
em latas, latas de 18 litros, e aí limpava aquelas latas [não tinha energia elétrica] O prefeito comprou um motor, com
um geradorzinho, ali onde é a Câmara Municipal, ali foi instalado um motor com um gerador e mandou tirar umas
madeiras das fazendas, botou uns postes na cidade, e de seis horas o eletricista ligava aquele motor, ligava o gerador
e acendia as luzes, só no centro da cidade; e as pessoas tinham um bico de luz em casa, dois bicos de luz em casa,
quando era nove e meia ele dava o sinal, apagava a luz e acendia, aí a pessoa sabia que a luz ia apagar, aí tinha que
queimar às vezes, o candeeiro [com querosene], porque de dez horas a luz ia apagar. Em 1965 veio a energia, a CEAL”.

309
“A água veio depois, bem depois, era na cacimba da Sucupira e cada morador tinha uma cacimbazinha no seu
quintal [...] cacimba, um buraco redondo, entendeu? De noventa centímetros de diâmetro ou um metro, por quatro ou
cinco metros de fundura, aí tirava lá com o balde pra abastecer as casas”. Já os “bem-nascidos” da cidade, apesar da
fragilidade urbanística evidente, eram os únicos que tinham carro, casa com energia, banheiro, geladeira a gás. “Nas
fazendas, o fazendeiro tinha um jipe, que era o melhor carro, tinha um jipe, né? E a rural, mas era mais jipe, por causa
da estrada de barro, então cada fazendeiro tinha um jipezinho e tinha um rádio, só o fazendeiro tinha um rádio. Os
moradores não tinham um rádio, porque não podiam comprar. Que era muito difícil”.
Seu Zeca conversava em sua casa no centro de Maragogi, portanto, não mais um homem do campo. Ele explica:
“Veja bem, essa segunda pessoa que arrendou a fazenda, ele era um mau filho, e por conta do meu pai ter ficado
administrando a parte do velho, do pai dele, ele, uma vez que ele era mau filho, ele também não considerava meu pai,
tratava meu pai com desprezo. E o pai dele morreu, então quando o pai dele morreu, ele mandou meu pai desocupar e
mandou a gente embora. Aí meu pai procurou outras fazendas, meu pai saiu pra fazenda Genipapo, pra tirar um certo
período, depois ele foi pra Marrecas, passou também pouco tempo, depois foi pra o engenho São Pedro, fazenda São
Pedro [...] os fazendeiros, eles, a maioria das fazendas foram vendidas pra usinas – a refinaria de são Gonçalo. Eles
pegaram as casas, tiraram as pessoas moradoras e derrubou as casas [no campo], aí [o povo] foi pra Porto Calvo,
Maragogi, Japaratinga. Aí gerou favelas nas cidades, a cidade se favelou, hoje nós temos duas favelas perigosas, aqui
em Maragogi, por conta dessas coisas. E nessas favelas, no início não era favela, era bairro de pobre, de pessoas pobres,
mas se infiltra os vagabundos que vêm de fora e hoje virou favela e nós temos favela aqui com a maioria de pessoas
de fora, de vagabundos que vêm de fora, que a gente não sabe nem quem é. Por isso tá com muito roubo na cidade,
muito assalto”.
Mas afinal, como o turismo chegou em Maragogi? O que mudou? Seu Zeca inicia falando dos precursores, os
chamados veranistas. “Nós tivemos uma invasão dos caruaruenses aqui em Maragogi. A primeira pessoa que trouxe o
turismo para Maragogi foi a prefeita Maria do Livramento, chamada Livrinha, dona Livrinha. Ela calçou a avenida [criação
da AL 101 Norte], daí a cidade foi sendo conhecida, começou a ser explorada, daí a turma de Caruaru comeu a comprar
as casas da orla. As pessoas, os moradores achavam que tavam vendendo muito bem, eles ofereciam um valor e eles
achavam que vendiam bem. Hoje essas pessoas que estão fora, vem pra Maragogi e diz ‘minha terra’, mas não podem
mais voltar. Eram aquelas poucas casinhas e eles venderam e os que compraram, fizeram mansões, entendeu? Houve
uma invasão. [...] É, privês, aquelas casas boas da orla, né? Foram tudo casinhas, casebres. [...] Nós tínhamos aqui uma
invasão [nos anos 1970, 1980], quando chegavam os feriados, que a cidade ficava abarrotada de muita gente. Era só os
carros deles, a cidade tinha poucos carros”.
Sobre o trabalho com turismo, Seu Zeca descreve a migração da força de trabalho rural para o turismo: “Uns
são mergulhadores, outros trabalham nos catamarãs, outro com as escunas. Aí veio o barco, esses barcos que têm aqui
são a maioria das pessoas daqui. Os catamarãs são de gente de fora, dizem que é os ricão que vieram de fora e

310
invadiram pra ganhar dinheiro. [...] Essa mão-de-obra [da hotelaria] era de Maragogi, Japaratinga, Barreiros, Porto
Calvo. E hoje nós temos muito maragogiense trabalhando nos hotéis, nas pousadas”.
Sobre os proprietários de empreendimentos turísticos, Seu Zeca conta: “Veio o seu Mário Saldanha, que é um
dos nativos daqui de Maragogi que foi o dono da destilaria São Gonçalo e que é o dono do Hotel Salinas, que é o dono
da Fazenda Triunfo, que é o dono da fazendo aqui do lado de Maragogi, que era maragogiense. [...] É o pai do Dr. Márcio,
[atual proprietário] do Hotel Salinas, aí ele veio aqui pra Maragogi, que é quando eles começaram a explorar” utilizando
a indenização pelas perdas da cana-de-açúcar e o fechamento da Usina São Gonçalo e os incentivos fiscais do PRODETUR.
Em 2021, o Salinas do Maragogi All Inclusive Resort foi considerado pelo portal Melhores Destinos, o melhor resort do
Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vale salientar que houve crescimento no número de implantação de meios de hospedagem em períodos que
coincidem com o lançamento do PRODETUR/NE I (1994), como também do Programa de Regionalização do Turismo (PRT)
(2004) os quais elegeram Maragogi como um dos 65 destinos indutores do turismo no Brasil, tornando-o modelo para o
desenvolvimento turístico regional, incluindo nisto a busca por um padrão mínimo de bem-estar social para sua
população, além de outras exigências (Soares, 2019; Soares & Azevedo, 2020).
Acerca do período de 2002 a 2011, também é possível perceber a evolução da participação das atividades
econômicas de alojamento e alimentação no valor adicionado de Alagoas, sendo esta, uma das poucas formas de
verificar a contribuição do turismo para a economia alagoana. Depois da região Metropolitana, a região turística Costa
dos Corais – na qual Maragogi está inserida – é a que possui maior número de meios de hospedagem e leitos. Dados
da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo (SEDETUR) apontam que 24,7% dos meios de
hospedagem disponíveis no estado de Alagoas localizam-se nos municípios litorâneos da região da Costa dos Corais,
contando com 18,3% dos leitos do estado. E, destes municípios, Maragogi, detém maior número de meios de
hospedagens e, consequentemente, de leitos (Soares, 2019; Soares & Azevedo, 2020).
Apesar do aparente desenvolvimento local, o município de Maragogi pertence a um dos estados mais pobres
do Brasil, Alagoas, estando em 27º lugar (última posição) no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
(IDHM) Unidades da Federação 2010 do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013). Quanto à posição do
município no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M), Maragogi apresentou um índice de 0,574 em 2010, indicando
fragilidade no IDHM-Educação, que obteve índice de 0,443 (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento –
PNUD Brasil, 2013).
Quanto à economia de Maragogi, segundo o censo IBGE de 2012, o município alcançou um Produto Interno
Bruto (PIB) de 149.928,47 mil reais e PIB per capita de 5.032,17 mil reais. Deste montante, 8,36% referem-se ao setor
agropecuário, 11,69%, à indústria e 79,95% ao setor de serviços (IBGE, 2012). Percebe-se, portanto, a importância do
turismo para a economia local, inclusive ao se levar em conta o PIB per capita. Todavia, em 2015, o salário médio mensal

311
era de 1,7 salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era de 13,1%. Na
comparação com os outros municípios do estado, ocupava as posições 51 de 102 e 15 de 102, respectivamente (IBGE,
2015). Já, considerando domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, havia 50,8% da
população nessas condições, o que o colocava na posição 67 de 102 dentre as cidades do estado e na posição 1246 de
5570 dentre as cidades do Brasil. Por isso, Carvalho (2012) já indicava que, na verdade, a renda do município provém
em sua maioria de transferências federais, como previdência e programas do governo federal como o Bolsa Família.
Carvalho (2012), afirma que Alagoas é um dos estados que mais se beneficiam desses programas centrados na
transferência direta de renda.
Vale salientar que os dados apontados consideram o censo realizado em 2010, tendo em vista a ausência da
realização do censo no ano de 2020 em função de cortes orçamentários e conjuntura pandêmica em vigor. Tal conjuntura
certamente trouxe impactos socioeconômicos significativos ao município de Maragogi e estado de Alagoas, tal como em
todo o Brasil, os quais ainda não se consegue mensurar com qualidade.
Diante destes dados, torna-se possível compreender a fala do Seu Zeca quando questionado se, para ele, há
alguma relação entre a chegada do turismo à Maragogi com a chegada de equipamentos urbanísticos: “Não, não foi com
o turismo essa mudança foi antes, energia, água, telefone, isso foi antes do turismo. [...] Essas coisas dependem muito
do tipo do governo, né? [...] Porque o turismo não depende de nada de Maragogi, por que é de pessoas que veem de
fora, né?”. Cita ainda famílias, nomes que dominam o cenário econômico, político e social do município, responsáveis
pelas principais transformações urbanísticas, como o Dorgival Luna, proprietário do maior supermercado da cidade e
de grande parte dos prédios alugados (ou fechados para evitar concorrência) do centro da cidade; Dr. Márcio que, além
do Hotel Salinas, é proprietário de outros resorts, pousadas e empreendimentos necessários à cadeia produtiva do
turismo, como a lavanderia; ainda, a família Vasconcelos e a família Lira, atual gestão política do município.
O olhar do residente, portanto, não conecta as ações das famílias no mando político e econômico do município
aos megaprojetos de estímulo ao turismo, pois, de fato, tais equipamentos urbanísticos chegaram antes do turismo,
pois deles dependiam para que os empreendedores locais se sentissem confiantes para investir no setor,
principalmente, a construção dos acessos ao município, como a AL 101 Norte em 1979. De mesmo modo, o olhar do
residente não consegue conectar o turismo à melhoria da qualidade de vida da população por meio da arrecadação de
ISS (imposto sobre serviços), pois esta não é priorizada nas políticas urbanísticas, a não ser que a falta destas afete a
atividade turística e, por conseguinte, os ganhos das famílias da elite local. Assim, é possível compreender a fala do
Seu Zeca ao citar de forma elogiosa o governo municipal dos anos 1996, 1999, anos de incremento orçamentário em
função do PRODETUR no município, fato que passa despercebido à visão do cidadão comum.
O olhar do residente, sobretudo, sente. Sente os dados sociais como o IDH-M baixo, apesar do PIB elevado,
seja com a cana ou com o turismo. Sente a desigualdade social, a marginalização, o descuido. E, para ele, tudo passa
pela vontade política de poucos sobre muitos, o que não deixa de ser um fato quando não há construção de uma cultura
de participação social e cidadania.

312
PALAVRAS-CHAVE

Maragogi; turismo; cana-de-açúcar; residente; memória.

REFERÊNCIAS

Carvalho, C. P. (2012). Economia popular: uma via de modernização para Alagoas. Maceió: Edufal.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Panorama do município de Maragogi (2010 – 2012 – 2014 – 2015
– 2016). Acesso em 11 de agosto de 2017, disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/al/maragogi/panorama

Lindoso, D. Formação de Alagoas Boreal. (2019). 2. Ed. Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos: Eduneal: Fapeal.

PNUD – Programa Nacional para as Nações Unidas. IDGHM municípios (2013). Acesso em 11 de agosto de 2017,
disponível em http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/idh0/rankings/idhm-municipios-2010.html

Soares, A. S. (2019). Turismo e desenvolvimento no município de Maragogi/AL: um olhar sobre os processos de


participação social, democracia e cidadania. Tese. Programa de Pós-Graduação em Turismo, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/28372 Acesso em: 13 set 2021.

Soares, A. S. & Azevedo, F. F. (2020). Turismo e território no município de Maragogi-AL, Brasil: processo de participação
social e o desenvolvimento local. Rosa dos Ventos, v. 12, p. 2-23. Disponível em:
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/7191 Acesso em: 13 set 2021.

313
Resumos de Artigos Completos
“A FESTA QUE NUNCA ACABA”: RESGATE DAS MEMÓRIAS DO FESTIVAL HALLELUYA
NATAL

Aline Gisele Azevedo Lima da Barros (alinegazevedolima@gmail.com)


Adson de Lima Claudino (adsonlc@hotmail.com)
Gildygleide Cruz de Brito Rêgo (gildygleide@gmail.com)
Ricardo Lanzarini (ricardo.lanzarini@ufrn.br)

RESUMO

Memórias fazem o ser humano reviver o passado, sendo um ato mental que faz o sujeito experienciá-las de forma
singular. O presente artigo teve como objetivo resgatar as memórias do Festival Halleluya Natal utilizando como fio
condutor as plataformas on-line do evento. Caracteriza-se como um estudo de caso descritivo e qualitativo, por abordar
um evento específico, empregou-se a análise de conteúdo como meio de interpretar os dados coletados. Para a coleta
de dados, o caminho escolhido foi através da mineração de dados on-line, utilizando-se, primeiramente, o motor de
busca Google.com, no período de 30 de janeiro a 04 de fevereiro de 2022, a fim de alcançar o maior número de
informações e domínios referentes à Comunidade Shalom e ao Festival Halleluya Natal. Superada esta etapa, passou-
se para a análise mais profunda das plataformas específicas do evento, durante o período de 05 a 20 de fevereiro de
2022. Como resultados, encontrou-se através dos domínios on-line da Comunidade Shalom (site, Facebook, Instagram,
Twitter e Youtube) e do Festival Halleluya Natal (Facebook, Instagram e Twitter), várias postagens como imagens, textos,
comentários e vídeos que fizeram uma retrospectiva do evento desde sua primeira edição em 2009 até o ano de 2018,
com o intuito de apresentar toda a trajetória do Festival para comemorar a sua décima edição que aconteceu em 2019,
como também, mostrar a realidade do evento no período pandêmico, principalmente nos anos de 2020 e 2021. Concluiu-
se que devido às peculiaridades da contemporaneidade, de presentismo e interatividade virtual, o ambiente on-line é
um elemento factual nas relações humanas, logo, as plataformas on-line (sites, comunidades virtuais etc.) tendem a ser
consideradas como lugares que registram os fatos e as memórias de um evento, ou seja, acontecimentos e memórias
expostas puderam e podem ser constantemente resgatadas a cada vez que se visita tais plataformas.

Palavras-chave: Memória; Eventos; Comunidade Shalom; Festival Halleluya Natal.

314
CIRCUITO TURÍSTICO COMUNITÁRIO NOS BAIRROS DE SANTA CECÍLIA, BARROSO E
ROSÁRIO EM TERESÓPOLIS/RJ: UM PROJETO DECOLONIAL

Bárbara Helenni Gebara Santin (barbarahelenni@gmail.com)

RESUMO
O presente trabalho diz respeito ao potencial de inserção de um turismo comunitário nos bairros de Santa Cecília,
Barroso e Rosário – região urbana que conta com áreas favelizadas – em Teresópolis, município localizado na região
serrana do estado do Rio de Janeiro. A partir da ideia de cartografia social e da consequente elaboração de um mapa
turístico participativo é possível identificar e indicar localidades e atividades que têm potencial de atrativo turístico e
que são consideradas de importância cultural, histórica, étnica, política ou até mesmo afetiva para a população local.
Este projeto se faz presente pela necessidade de uma atividade turística que contemple e valorize a cultura local e o
território de uma comunidade, que resgate sua história e seus valores, que favoreça a autonomia de gestão para essas
comunidades e que desperte a consciência de respeito e valorização de diferentes culturas e lugares nos visitantes; ao
mesmo tempo em que é um projeto que oferece um olhar divergente daquele contemplado no Programa de
desenvolvimento turístico atual (2021-2024) criado pela Secretaria de Turismo do município, o qual enaltece um turismo
de estilo britânico e colonial, por ter sido um município fundado a partir da construção de fazendas e casas de veraneio
que tiveram seu ponto de partida através de George March – um colonizador português de descendência inglesa –, o
que atraiu outras famílias inglesas para habitar a região. A construção dessas fazendas e sua manutenção foram
possíveis graças ao trabalho escravo, onde tanto negros quanto indígenas, que ali habitavam antes da chegada de
George March, sofreram processo de escravização e trabalho forçado. A intenção do circuito turístico comunitário é
trazer à luz caminhos e lugares por onde esses negros e indígenas escravizados passaram e se estabeleceram no
período anterior e durante a fundação de Teresópolis. O projeto de pesquisa se encontra em andamento e algumas
atividades na comunidade de Santa Cecília foram realizadas, atividades estas relacionadas aos projetos já existentes
na comunidade, sendo eles: a criação de um Parque Urbano, de uma horta comunitária, de uma feira de artesanato e
gastronomia e de um mirante com vista para a cadeia montanhosa mais famosa de Teresópolis, onde se encontra o
Dedo de Deus. As oficinas de mapeamento participativo estão previstas para o primeiro semestre de 2022.
Palavras-chave: Turismo comunitário; Mapeamento participativo; Cartografia social; Favela; Prática socioespacial.

315
EDUCAÇÃO PARA O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: CONSTRUINDO BASES
CONCEITUAIS E METODOLÓGICAS

Juliana Andrade do Carmo Martins (jule.ac@gmail.com)


Francisca de Paula Santos da Silva (fcapaula@gmail.com)
Alfredo Eurico Rodrigues Matta (alfredo@matta.pro.br)
Tereza Verena Melo da Paixão (verena_sonho@hotmail.com)

RESUMO

O artigo tem como objetivo construir conhecimento sobre a educação para o Turismo de Base Comunitária (TBC),
correlacionando com princípios e bases metodológicas que coadunam e potencializam esta maneira alternativa de se
pensar, organizar e fazer o turismo. Tal perspectiva tem como princípios basilares a valorização dos saberes populares,
tradições, a história e a cultura local, visando, sobretudo, o protagonismo dos sujeitos do lugar onde é desenvolvido. O
estudo utilizou-se da metodologia Design BasedResearch (DBR), traduzida como Pesquisa-Aplicação, a qual dialoga com
os princípios que regem o TBC e com a concepção de educação Freiriana, necessárias para o planejamento de processos
educativos para favorecer o protagonismo das comunidades e de seus sujeitos, visando o fortalecimento e valorização
da história e cultura local. Podendo ser utilizada no processo de mobilização da comunidade para o planejamento,
organização e auto gestão do TBC. Para buscar um melhor entendimento sobre o tema foi exposta uma breve discussão
em torno dos conceitos e pressupostos do Turismo de Base Comunitária a partir das contribuições de autores como
Bartholo, Sansolo e Bursztyn (2009), Cravidão (2011), Hallack; Burgos; Carneiro (2011), Irving (2009), Maldonado (2009),
Moraes, Irving e Mendonça (2018), Sampaio (2005), Silva et al. (2012 e 2016), Spínola (2000). Buscou-se apresentar os
principais conceitos e princípios do Turismo de Base Comunitária, enquanto modo de organização da prática turística,
que visa à valorização da história e cultura local dos sujeitos. Discutiu-se sobre a concepção de Educação para o Turismo
de Base Comunitária, baseada na perspectiva da educação popular, dialógica e emancipatória de Paulo Freire. Concluiu-
se com a importância de utilizar metodologias que coadunem dos mesmos princípios de valorização dos sujeitos e de
mobilização para trabalhos colaborativos, com destaque para Pesquisa-Aplicação, a qual apresenta uma infinidade de
possibilidades de uso em diversas áreas de estudo.

Palavras-chave: Turismo de Base Comunitária; Educação popular; Memória.

316
IDENTIDADE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO COMO AÇÃO INDUTORA DO TURISMO LOCAL
NO SERIDÓ POTIGUAR (BRASIL)

Ana Karina de Oliveira Maia (akakaomaia@gmail.com)


Almir Felix Batista de Oliveira (almirfbo@yahoo.com.br)

RESUMO

Sustentada no contexto sociocultural que revela o patrimônio gastronômico regional como tradutor da identidade e
símbolo de seu povo, a pesquisa em tela teve como objetivo principal apresentar resultados de uma dissertação de
mestrado que possuía como objetivo central: analisar, a partir de 3 preparações gastronômicas identitárias da Região
do Seridó, a identidade, a memória e a salvaguarda patrimonial do lugar como ação indutora do turismo local. Neste
contexto, foram visitadas e revisitadas as lembranças afetivas, históricas e gustativas da região, momento em que
buscou-se: identificar se existia forte pertença identitária relacionada à gastronomia da Região do Seridó; averiguar se
esse patrimônio gastronômico vinha induzindo o turismo local e, verificar se este bem imaterial gastronômico estava
sendo salvaguardado por algum instrumento ou ação protetiva. Para atingir tais objetivos mencionados, optou-se por
utilizar a abordagem qualitativa, tratando-se de estudo de caso na cidade de Caicó - por ser considerada geossímbolo
identitário da alimentação do Seridó do estado do Rio Grande do Norte. A pesquisa possuiu caráter exploratório e
descritivo, apoiada em pesquisa documental e bibliográfica. Utilizou-se, ainda, um roteiro de entrevista padronizado
como instrumento de coleta de dados – possuindo 9 perguntas abertas, com uso de 3 dimensões de análises: proteção
patrimonial, identidade e incentivo turístico gastronômico. Assim, elencou-se a questão problema que segue: Como
memória, identidade e proteção patrimonial seridoense vem dialogando na construção e fortalecimento do turismo
local? Ressalta-se que, embora tenha sido revelado um Seridó legitimado pelos seus sabores e saberes, existe - em
relação contraditória - uma tendência à fragmentação identitária, que vem ameaçando a região em seu cerne
personificante. Neste prisma, identificou-se do caso do doce seco - quase desaparecido da região - um indicativo da
problemática local. O estudo também foi observado como estava o diálogo entre a gastronomia seridoense e o turismo,
sinalizando que apesar de existir um potencial dentro da área sob observação - em que existem belezas culturais e
naturais diversificadas e uma gastronomia diferenciada e forte - o que existe, atualmente, é uma atividade ainda muito
incipiente e deficitário. Outrossim, foi encontrada neste espaço uma lacuna protetiva legal e institucional de seu
patrimônio, causadora desse estado de perigo de perda identitária e patrimonial. Por fim, pôde-se concluir que existe
uma carência de planejamento satisfatório no emprego das ações realizadas com base no desenvolvimento endógeno,
ensinando aos desconhecedores a relevância de sua comida como elemento identificador de sociedades e uma ausência
de uso de mecanismos para fomento e proteção essencial às atividades. Observando-se, portando, um espaço temporal
e de oportunidades para se obter desenvolvimento regional envolto em sustentabilidade da atividade turística em
simbiose com a gastronômica.

Palavras-chave: Patrimônio Gastronômico Regional; Ação Protetiva; Região Seridó; Turismo.

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VIAGENS COMPARTILHADAS: OS CARTÕES-POSTAIS DE BERTHA LUTZ

Denise de Morais Bastos (bastos.denise@uol.com.br)

RESUMO

Enviados durante viagens, adquiridos para colecionismo, recebidos com ou sem mensagens, remetidos pelos serviços
postais ou entregues pessoalmente como presentes, os cartões-postais propiciam uma aproximação das narrativas
pessoais de viagem. Elucidam igualmente a forma como indivíduos não participantes de determinado itinerário foram
nele inseridos a partir do recebimento desse tipo específico de souvenir. O objetivo do trabalho consiste em explorar
como os cartões-postais incluem em uma viagem o indivíduo que os recebe e guarda, tornando-o testemunha e
copartícipe da experiência de outrem. A metodologia consistiu em revisão de literatura em periódicos científicos
brasileiros da área de Turismo e de outros campos do conhecimento, em especial a História, seguida de leitura e exame
de cartões-postais integrantes do fundo Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), custodiado pelo Arquivo
Nacional. Foram identificados países retratados nos cartões-postais, remetentes e assuntos abordados, com ênfase para
aqueles que consistiam em um “convite” a participar da viagem, mesmo que à distância. A pesquisa permitiu uma
primeira aproximação da ideia desses artefatos como propiciadores de um compartilhamento de experiências de viagem
com indivíduos que delas não participam diretamente.

Palavras-chave: Cartões-postais; turismo; Bertha Lutz; Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF).

318
GT 9 – TURISMO COM BASE LOCAL, ARQUEOLOGIA E PRESERVAÇÃO
PATRIMONIAL EM COMUNIDADES TRADICIONAIS
DIA 18/05 – 14h as 18h

319
Resumos Expandidos
POTENCIAL SOCIOAMBIENTAL DAS COMUNIDADES DO ENTORNO DA LAGOA DE
GUARAÍRAS/RN PARA IMPLANTAÇÃO DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA
João Batista Barroso de Carvalho (joaocarvalhorn@hotmail.com)
Antônio Jânio Fernandes (janiofernandes@uern.br)

INTRODUÇÃO

O Turismo de Base Comunitária (TBC) tem mostrado-se como alternativa na tentativa de suavizar
desigualdades socioeconômicas, conservar o ambiente natural e preservar as culturas locais dos povos tradicionais.
O tema deste trabalho, que se trata de resumo de trabalho monográfico em andamento, aborda o TBC e traz
como enfoque o potencial socioambiental e cultural das comunidades situadas no entorno da Lagoa de Guaraíras/RN,
mais especificamente as pertencentes aos municípios de Arez e Senador Georgino Avelino, como possibilidade para a
criação de uma rede de TBC.
Neste contexto, aborda os recursos naturais e culturais que possam compor um produto turístico, a percepção
da população autóctone quanto a viabilidade da elaboração de práticas de TBC e as políticas públicas existentes que
possam favorecer esta atividade.
Os municípios supracitados carecem de alternativas econômicas que venham refletir em melhor qualidade de
vida e protagonismo local, podendo o TBC ser apresentado como uma destas alternativas.
Arez e Senador Georgino Avelino apresentam Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 0,606 e 0,570,
médio e baixo respectivamente. Também respectivamente, apresentam Taxa de Desocupação da População
Economicamente Ativa de 16,56% e 10,70% (AtlasBR, 2021).
Análises do Produto Interno Bruto (PIB) no período de 2006 a 2014, que corresponde a um período de
crescimento econômico da Região Metropolitana de Natal (RMN), na qual estes municípios estão inseridos, revelam a
crescente importância do setor de serviços, com manutenção da tendência geral que evidencia a relevância histórica do
setor do turismo (ARAÚJO; SILVA; PEREIRA, 2015), o que mostra a importância de pensar-se este setor como alternativa
econômica pra os municípios menos favorecidos economicamente.
Já referente ao mercado de trabalho, estes autores também identificam a importância do setor de serviço
para o crescimento econômico da RMN (ARAÚJO; SILVA; PEREIRA, 2015). Notadamente, apontam o segmento do turismo
como atividade dinamizadora da RMN e o recente imbricamento imobiliário-turístico, que é o processo caracterizado por
Ferreira e Silva (2010, p. 117) “pelo aumento na intensidade dos negócios imobiliários, pela produção de novas áreas
de expansão urbana e turística, e pela expressividade dos impactos socioambientais”, dinâmica esta que acaba por
afastar o autóctone para dar lugar ao grande capital.

320
Sequentemente, é apontado por Clementino (2019), durante esse período de crescimento da RMN, uma
retração do crescimento econômico na região pesquisada neste estudo evidenciando-se a necessidade de novas
estratégias econômicas direcionadas para a população local.
Assim, considerando tal contexto e pautado no interesse de evidenciar elementos que possam auxiliar no
processo de verificação de uma alternativa socioeconômica para aquela região, o trabalho tem como objetivo geral
analisar o potencial socioambiental e cultural das comunidades do entorno da Lagoa de Guaraíras/RN pelo interesse em
implementar o TBC como instrumento de desenvolvimento sustentável local. Para isso, elencou-se os seguintes objetivos
específicos: a) identificar os recursos socioambientais existentes que possam ser configurados como atrativos turísticos;
b) conhecer as percepções locais quanto ao interesse em implementar ações de TBC; c) verificar o interesse do poder
público local sobre a possibilidade de criação de uma rede de turismo de base comunitária.
Sobre esse contexto, Coriolano (2006) aponta uma transformação no desenvolvimento do turismo a partir das
crescentes exigências da sociedade com o combate às desigualdades regionais, com a conservação ambiental, com as
disparidades sociais e com o patrimônio histórico, tendo ele que se tornar protagonista no discurso sobre a
sustentabilidade social e a proteção ambiental. Assim, o TBC surge como fenômeno social contemporâneo que enxerga
o turismo além de seus aspectos mercadológicos (IRVING, 2009).
Sansolo e Bursztyn (2009) esclarecem que o TBC configura-se através de relações econômicas articuladas a
relações sociais e que nem sempre este representa a principal fonte de renda, não tratando-se portanto, da substituição
das formas de vida já existentes pela atividade turística, mas da integração desta ao cotidiano das comunidades locais,
como forma de complementação de renda e como símbolo de resistência contra as interferências do turismo tradicional,
bem como dando suporte às lutas sociais e favorecendo sua autoestima. Então, o TBC deve, sobretudo, promover uma
distribuição equitativa dos benefícios gerados (TUCUM, 2013).
Nesse contexto, as questões relacionadas à preservação ambiental passaram a chamar a atenção da
comunidade mundial, sobretudo a partir dos anos de 1990 (WHITE; HECKENBERG, 2014), com desdobramentos na prática
da atividade turística em áreas denominadas como de “uso sustentável”. Estas são áreas onde são permitidas a
realização de diferentes atividades econômicas e no Brasil há carência de compreensão dos atores econômicos no que
diz respeito às potencialidades existentes na relação entre turismo e meio ambiente e há falta de informações
sistematizadas sobre a relevância do turismo no desenvolvimento e valorização dos ecossistemas locais (MEDEIROS;
YOUNG, 2011).
Cruz (2006) enfatiza que o desenvolvimento do turismo deve ser pautado por um projeto coletivo que
considere as particularidades e limitações dos espaços, tornando possível, com isto, o desenvolvimento de ações que
tenham potencial de integrar governo e sociedade e promover transformações sociais
A Lagoa de Guaraíras integra a Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guaraíras (APABG), que foi instituída por
meio do Decreto Estadual n° 14.369, em 1999, e é muito procurada para fins de lazer e turismo, em virtude de sua
beleza paisagística e da atratividade de seus recursos naturais (IDEMA, 2020). Especificamente na Lagoa de Guaraíras,

321
o município que adquire maior representatividade na realização do turismo é Tibau do Sul, por dispor das principais
infraestrutura, equipamentos e serviços turísticos da região e maior demanda turística (SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO
AMBIENTE E DOS RECURSOS HÍDRICOS, 2014), evidenciando-se assim, a ausência destes nos municípios foco deste estudo,
Arês e Senador Georgino Avelino, compondo isto um dos entraves para a implementação de uma atividade turística.
No entanto, há o entendimento de que o trabalho com foco nas particularidades culturais e ambientais da
região, como exploração do ecoturismo, valorização dos recursos naturais como diferencial da região e valorização das
atividades e saberes locais pode apontar para oportunidades de planejamento do turismo na APABG (FONSECA;
NÓBREGA, 2019).

METODOLOGIA

Este trabalho trata-se de uma Pesquisa Aplicada com abordagem quali-quantitativa e de cunho exploratório-
descritivo. Quanto aos procedimentos, o trabalho escolheu a Pesquisa de Campo. Também a pesquisa bibliográfica e
documental. É elaborado a partir de três etapas distintas. A primeira etapa consiste em um levantamento bibliográfico
e documental, onde buscou-se contextualizar o local da pesquisa e depreender o conhecimento referente aos temas do
turismo tradicional, do turismo de base comunitária (TBC), dos recursos socioambientais e sua relação com a prática do
turismo.
A segunda etapa é constituída pela pesquisa de campo, que foi realizada no mês de março de 2022 nos
municípios de Arês e Senador Georgino Avelino, onde foi efetuada a coleta de dados, através de questionários, com dois
grupos principais que comporão a amostra da pesquisa. O primeiro grupo representa a esfera pública e é composto
pelos responsáveis pela gestão do turismo nos municípios supracitados. Para este grupo foi utilizado o formato de
questões abertas, que se caracteriza pela liberdade dada aos respondentes para suas respostas, o que possibilita ao
pesquisador a obtenção de informações e esclarecimentos adicionais (CHAGAS, 2000). O segundo grupo será composto
por parte da população das comunidades do entorno da Lagoa de Guaraíras. O recorte da amostra para este grupo
contemplará a população economicamente ativa (PEA) do local pesquisado.
Considerando que o município de Arês tem uma população estimada em 14.526 pessoas (IBGE, 2021a) e que o
município de Senador Georgino Avelino tem população estimada em 4.527 habitantes (IBGE, 2021b), a amostra tratada
será arbitrária, uma vez que não haverá tempo disponível para o pesquisador abordar um número tão grande de
entrevistados. Nesse caso foram respondidos 51 questionários. Já para este grupo foi aplicado questionário estruturado
com respostas fechadas para descobrir a percepção deste sobre o tema do TBC. Este questionário foi disponibilizado em
grupos do aplicativo de mensagens WhatsApp.
A terceira etapa consiste na análise dos dados e na produção dos resultados e discussões. Os dados
qualitativos foram tabulados e interpretados utilizando-se a estratégia do emparelhamento e serão apresentados de
maneira descritiva. Para Laville e Dionne (1999), a técnica do emparelhamento de dados consiste em compará-los
associando-os a um modelo teórico. Já os dados quantitativos serão enumerados e transformados em dados
322
estatísticos, com o intuito de servir como base para se chegar a uma conclusão (Duarte, 2013). A análise estatística será
feita utilizando-se de porcentagem para se fazer a comparação dos resultados encontrados.

RESULTADOS

Como resultados preliminares, a pesquisa apurou que 52,9% dos respondentes (n= 27) afirmaram não
conhecer o conceito de Turismo de Base Comunitária. Isso dificulta na percepção sobre a possibilidade do uso dessa
estratégia como alternativa econômica para estas comunidades. Este fato pode estar relacionado ao perfil
socioeconômico daquela população, que na sua maioria, 54,9% (n= 28), afirmou ter apenas o ensino médio incompleto
e 64,7% (n= 33) ter renda familiar de até dois salários-mínimos. Esse resultado reforça a necessidade da presença do
poder público, no sentido de trabalhar políticas públicas que tragam mais informação sobre esse tema e apoio às
comunidades.
Porém, apesar de assegurarem não ter conhecimento sobre o TBC, 74,5% (n= 38) dos respondentes
afirmaram ter interesse em complementarem sua renda através de uma atividade turística de forma cooperativista e
elencaram algumas habilidades, costumes e tradições que poderiam ser desenvolvidos como atrativos turísticos através
da modalidade do TBC. Foram enumerados o artesanato (94,1%. N= 48), a pesca e a captura de marisco e caranguejos
(90,2%. N= 46), a agricultura familiar (58,8%. N= 30), danças e manifestações folclóricas (45,1%. N= 23) e lendas e
histórias do lugar (37,3%. N= 19).
A partir das observações durante a pesquisa de campo observou-se que os principais artesanatos produzidos
na região são o crochê e a urupema, um tipo de peneira confeccionada com um cipó colhido na mata e muito utilizada
na produção da goma de mandioca. Notou-se também haver um desinteresse das novas gerações em aprender este
artesanato, muito por falta de compradores, o que poderia ser solucionado com a presença dos turistas típicos do TBC.
Estes são diferenciados e valorizam mais a simplicidade da experiência vivida do que, como vê-se em Coriolano (2006),
o turismo estandardizado.
Notadamente, também a agricultura, a pesca e a captura de mariscos e caranguejos representam uma fonte
de renda para aquela população. Estas atividades podem ser configuradas em um produto de turismo de experiência
em que o receptor levaria o turista para vivenciar este momento tão pitoresco.
A região também é rica em lendas e histórias, principalmente no contexto da ocupação holandesa no Nordeste
brasileiro. A lenda do túnel que teria existido lingando a Ilha do Flamengo, na Lagoa de Guaraíras, onde funcionou uma
fortificação holandesa e foi palco de três importantes batalhas contra os portugueses que tentavam retomar o território,
é a mais encantadora e contada pelo povo, podendo também incluir-se no bojo dos atrativos turísticos do destino. Assim,
depreende-se que, do ponto de vista da população autóctone, o TBC é viável e possível para aquelas comunidades.
Concomitante a isso, o município de Arez afirmou que o turismo tem sido trabalhado na perspectiva do
aumento do fluxo turístico. A principal estratégia tem sido a criação de eventos, projetos e celebração de parcerias com
instituições diversas que atuam no setor. Tais projetos e eventos focam o turismo ecológico, histórico, gastronômico e
323
de base comunitária, observando o uso sustentável das potencialidades do município. Já o município de Senador
Georgino Avelino não havia respondido ao questionário até o momento da finalização deste resumo.
Especificamente sobre o TBC, Arez assegurou estar atento ao tema e que tem promovido conversas e projetos
relacionados a sua valorização e incentivo, em especial nas imediações da Lagoa de Guaraíras e zona rural. Uma das
ações citadas foi a criação do Conselho Municipal do Turismo, que tem realizado reuniões com as comunidades, visando
o alinhamento de projetos e ações. Alegou ainda estar buscando informações sobre o tema e meios de auxiliar estas
com a implementação daquela modalidade de turismo.
Com isso, Arez aponta para a viabilidade da criação de uma rede de TBC na região, atenta aos pensamentos
de Beni (2000), quando observa que planejar o turismo é fator positivo para os destinos, pois este trata-se do processo
de determinar os objetivos gerais do desenvolvimento, as estratégias e as políticas que balizarão os investimentos, o
ordenamento e o uso dos recursos disponíveis, uma vez que há intensa interdependência e interação dos componentes
desta atividade (BENI, 2000).

PALAVRAS-CHAVE

Turismo de base comunitária; desenvolvimento local; Lagoa de Guaraíras.

REFERÊNCIAS

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na transição econômica: estrutura produtiva e mercado de trabalho. In: CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda;
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AgT3gAAFndLusjqcSJj6qcHch1wmDvzKAdVAeag4kaJP02aQ0hdVWAvg1dlMLOSgfyNCHyQbT~v29I2oTwlpzFhYUCM8CF97t
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CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda. Duas décadas da Região Metropolitana de Natal. 1 ed. Rio de
Janeiro: Letra Capital: Observatório das Metrópoles, 2019.

CORIOLANO, Luzia Neide Menezes Teixeira. O turismo nos discursos, nas políticas e no combate à pobreza.
São Paulo: Annablume, 2006.

CRUZ, Rita de Cássia Ariza de. Planejamento Governamental do Turismo: convergências e contradições na produção do
espaço. In: LEMOS, Amália Inês Geraiges de; ARROYO, Mónica; SILVEIRA, Maria Laura (Org). América Latina: cidade,
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324
DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. Pesquisa Quantitativa e Qualitativa. São Paulo, 2013.

FERREIRA, Angela Lúcia; SILVA, Alexsandro Ferreira Cardoso da. A estruturação do turismo e do imobiliário nas
metrópoles nordestinas: conceitos básicos e antecedentes. In: DANTAS, Eustógio Wanderley Correia; FERREIRA, Angela
Lúcia; CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda. Turismo e imobiliário nas metrópoles. Rio de Janeiro: Letra
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FONSECA, Itamara Lucia da; NÓBREGA, Wilker Ricardo de Mendonça. Desafios e Oportunidades do Turismo na Área de
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Senador Georgino Avelino. IBGE, 2021b. Disponível em
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LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas.
Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 1999.

MEDEIROS, Rodrigo; YOUNG, Carlos Eduardo Frickmann (Eds). Contribuição das unidades de conservação para a
economia nacional: Relatório Final. Brasília: UNEP-WCMC, 2011. 120 p. Disponível em:
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SANSOLO, Davis Gruber; BURSZTYN, Ivan. Turismo de base comunitária: potencialidade no espaço rural brasileiro. In:
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SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS HÍDRICOS - SEMARH. Elaboração da proposta de
zoneamento da Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guaraíras e definição de diretrizes para o Plano
de Manejo - Diagnóstico Ambiental e Socioeconômico.
TUCUM - REDE CEARENSE DE TURISMO COMUNITÁRIO. Caderno de normas e procedimentos internos. Fortaleza,
2013. Disponível em: <redetucum.org.br/publicacoes/caderno-de-normas-e-procedimentos-internos-turismo-
comunitario/> Acesso em 23 set. 2021.

WHITE, Rob; HECKENBERG, Diane. Green Criminology: an introduction to the study of environmental. New York:
Routledge, 2014.

325
REFLEXÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO LOCAL E O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA:
FRAGILIDADES E POSSIBILIDADES PARA A SUA EFETIVAÇÃO

Emanuele Ferreira de Lima (manuferreiralima18@gmail.com)


Rosana Silva de França (rosana.franca@ufrn.br)

INTRODUÇÃO

O Trabalho visa discutir sobre o desenvolvimento local e o turismo comunitário com enfoque nas fragilidades
e possibilidades existentes para a sua efetivação. Cabe destacar a participação e formação de territórios que constituem
experiências de diversos tipos, quer sejam no âmbito rural, religioso, gastronômico, cultural entre outros. Cabe destacar
que na maioria das vezes, envolvem práticas baseadas na inclusão, solidariedade e sustentabilidade. No entanto,
discutiremos as fragilidades e possibilidades que envolvem a sua efetiva implantação no território brasileiro
considerando as experiências e políticas públicas vigentes no Plano Nacional de Turismo.
Pensar o desenvolvimento local nos tempos atuais é importante e constitui um desafio e possibilidade para o
mundo pós-pandemia. No entanto, o que é desenvolvimento local? Partimos da premissa que o desenvolvimento local
constitui-se como um processo endógeno de mudança que pressupõem duas coisas: melhoria da qualidade de vida das
pessoas em pequenas unidades territoriais e dinamismo econômico (BUARQUE, 2008). O desenvolvimento local é uma
forma alternativa de desenvolvimento que mobiliza as potencialidades locais, oportuniza grupos sociais e viabiliza a
competitividade econômica local. Cabe salientar que o desenvolvimento local demanda mudanças institucionais no
contexto local, ou melhor, municipal que tange as esferas da governabilidade e governança (BUARQUE, 2008).
Nesse sentido o turismo de base comunitária (TBC) é uma forma de desenvolvimento local que envolve uma
determinada comunidade. Desse modo, há uma estreita relação entre esses dois conceitos, porém o TBC favorece o
desenvolvimento local. Nesse sentido, ao mesmo tempo esse modelo de desenvolvimento está atrelado ao viés da
sustentabilidade com práticas de conservação dos recursos e redução dos impactos ambientais. Com isso, temos um
desenvolvimento local pautado na sustentabilidade. Ainda Na concepção sobre desenvolvimento acreditamos, conforme
Sen (2010), que o desenvolvimento abarca a melhoria da qualidade de vida e das liberdades instrumentais.
O Turismo tem se mostrado uma atividade que tem se desenvolvido e envolvido diversas áreas da sociedade.
O Ministério do Turismo (2010) descreve que a atividade tem gerado renda e que vem se ampliando em diversos
aspectos, que dizem respeito a produção ao consumo de serviços que implicam positivamente no desenvolvimento social
e econômico dos destinos turísticos.
Nessa conjectura, o turismo de base local apresenta-se como um meio de dar visibilidade as forças das
comunidades, de modo a valorizá-las, fazendo com que a atividade turística se desenvolva de forma efetiva, na qual a
comunidade seja protagonista. De acordo com Coriolano (2006), o turismo de base comunitária é a resposta das
populações locais à influência do turismo de grande escala, globalizado, tradicional e de acumulação de capital que tem

326
sido o modelo dominante nas últimas décadas. Esta é uma atividade baseada na participação da população local no
processo de planejamento, implementação e avaliação das atividades turísticas.

METODOLOGIA

Na pesquisa, foi realizado um levantamento preliminar de referenciais bibliográficos, sobre o tema de estudo,
para a fundamentação teórica e elaboração escrita do referencial. Para nortear os resultados e a discussão, além dos
referenciais teóricos, foram realizadas a pesquisa documental no site do Ministério do Turismo sobre as políticas e
questões relativas ao tema. A pesquisa está em fase inicial e, ainda não apresenta resultados empíricos.

RESULTADOS

O turismo de base comunitária ou base local pode possibilitar a exposição do modo de vida, a tradição local,
o intercâmbio cultural e a troca de experiências de maneira a respeitar e trabalhar os aspectos sociais, culturais,
econômicos e ambientais. Souza e Santana (2015), destacam que como possibilidade para a inserção do Turismo de base
comunitária, a participação da comunidade, a motivação dos visitantes, a conservação e valorização do patrimônio local
existente, são propulsores dessa modalidade de turismo.
Neste sentido, quando se fala em participação da comunidade é preciso alinhar ao que de fato é a participação
social da comunidade, na qual existe um envolvimento da mesma para o desenvolvimento da atividade. Almeida e
Castro (2017), explicitam que tanto o planejamento quanto a participação de projetos de turismo de base local
configuram-se como recurso que favorece a compreensão do território, no qual é necessário a mobilização das
organizações locais.
Isto posto, pode-se refletir acerca de algumas fragilidades que influenciam na introdução do turismo de base
comunitária, seja no âmbito social, ambiental, econômico, os quais se entrelaçam numa extensão de história, espaço,
tempo, território. Conforme Souza e Santana (2015), a comunidade está exposta a transformações em seu habitat
natural. E isso pode afetar diretamente na aceitação da comunidade ao que se refere ao turismo de base local. O
planejamento da atividade é o fator decisivo para a participação social, uma vez que é através dessa participação que
se promove o conhecimento da localidade e a execução de ações na comunidade. Por isso, vale salientar a importância
de se implementar políticas públicas efetivas que viabilizem as iniciativas comunitárias.
Dessa forma, é importante rever algumas estratégias que foram dispostas através do Ministério do Turismo.
Entre os anos de 2008 e 2009, as ações eram voltadas ao fortalecimento da atividade através de projetos de inserção
no mercado, como por exemplo, a parceria firmada entre Ministério do Turismo e o Instituto Casa Brasil de Cultura
(ICBC), que trabalhavam em promoções de eventos, materiais informativos, exposições, projetos de turismo rural e de
ecoturismo, de produção associada, etc.
Ainda segundo informações do MTUR (2010), mesmo diante de tais iniciativas, algumas fragilidades foram
notadas, como é o caso de iniciativas que se encontram em regiões de turismo já consolidado, ficando dependente dos

327
destinos para se consolidar. Além disso, pode-se citar uma das maiores fragilidades referentes ao turismo de base
local, que está ligada a promoção e comercialização, sendo necessárias melhorias técnicas e operacionais, priorização
do fomento ao TBC e também a sua gestão e organização. Nesse contexto, compreende-se que as ações do TBC devem
priorizar a elegibilidade e melhoria de produtos e serviços turísticos, operação e gestão de negócios, integração na
cadeia da indústria do turismo local, diversificação e inovação em produto, promoção e marketing.
No que se refere às políticas públicas de turismo, analisamos os Planos Nacionais de Turismo e observamos
que apenas a partir do ano de 2013 houve, pela primeira vez, as discussões sobre o turismo comunitário no país no
âmbito das políticas públicas de turismo. Além disso, como condição básica para o desenvolvimento do turismo
comunitário, pensou-se no compromisso das lideranças locais, valorizando a cultura local e protegendo a natureza. Na
época, destinava-se a apoiar e promover projetos e ações do TBC visando direcionar a produção local, melhorando a
qualidade dos serviços prestados e incentivando o associativismo, o cooperativismo e o empreendedorismo nas
localidades turísticas.
Já no Plano Nacional de Turismo de 2018, o TBC parece focar nas práticas relacionadas aos arranjos produtivos
locais, tanto do ponto de vista operacional quanto econômico do planejamento do turismo. Reafirmado a importância do
turismo para o desenvolvimento local e a necessidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas nos destinos
turísticos, desta forma, reconhecendo a necessidade de promover a diversidade natural e cultural.
Assim sendo, compreende-se que mesmo sendo uma temática que tem se destacado na contemporaneidade,
ainda há muito a se fazer, pois as políticas atuais, ao mesmo tempo em que reconhece o protagonista local do
desenvolvimento do turismo, transforma a lógica da produção e dos mercados capitalistas, e continua sendo uma
contradição recorrente na narrativa entre política de turismo e política pública em outros setores, produzindo uma
mudança clara e drástica na tomada de decisão ao que se refere ao planejamento do turismo. Por isso, é de suma
importância pensar em políticas efetivas que de fato deem protagonismo as comunidades e sustentabilidade aos
projetos de forma duradoura e que proporcionem o desenvolvimento local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos que a discussão e viabilidade do turismo de base comunitária perpassam por uma série de
variáveis que tocam no âmbito das esferas de governança e das políticas públicas. Diversas experiências brasileiras
dessa modalidade de atividade receberam incrementos e incentivos públicos de alguma forma, quer seja, no acesso
para com a infraestrutura básica, cursos, treinamentos, parcerias com instituições públicas e de ensino entre outros.
Considera-se que é uma construção coletiva em que a atividade deve ser planejada de forma coletiva com a comunidade
envolvida.
Portanto a comunidade precisa participar ativamente de todo o processo. O TBC pode ser uma alternativa
socioeconômica viável que dinamiza territórios e tem ganhado espaço no mercado com as práticas sustentáveis e o
aproveitamento dos atributos naturais, porém ainda há muito a fazer e construir nessa direção.

328
PALAVRAS-CHAVE

Turismo de base comunitária; desenvolvimento local; sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

Almeida, F. A. B.; Castro, J. F. de (2017). Planejamento do turismo de base comunitária: perspectivas críticas. Caderno
Virtual de Turismo. Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 66-81, dez.

Buarque, Sergio José Cavalcanti (2008). Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia de planejamento.
4. ed. Rio de Janeiro: Garamond.

Coriolano, L. N. M. T (2006). O Turismo nos Discursos, nas Políticas e no Combate à Pobreza. São Paulo: Annablume.

Ministério do Turismo (2010). Dinâmica e diversidade do turismo de base comunitária: desafio para a formulação de
política pública. Brasília: Ministério do Turismo.

Souza, R. P; Santana, L. (2015) - Possibilidades a partir do Turismo de Base Comunitária na contra costa da Vera Cruz,
Distrito de Baiacu/BA. Revista de Iniciação Científica – RIC. Cairu: Vol. 02, n. 01, p. 0 1-13.

Sen, Amartya (2010). Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras.

329
RELAÇÕES DE PRODUÇÃO, TURISMO E (EX) INCLUSÃO NO TERRITÓRIO DE
COMUNIDADES RIBEIRINHAS NA AMAZÔNIA RORAIMENSE

Luciana de Souza Vitório (luciana.vitorio@ifrr.edu.br)


Rosijane Evangelista da Silva (rosijane.evangelista@uerr.edu.br)

INTRODUÇÃO

Este estudo resulta de um projeto de pesquisa a ser realizado e tem como lócus a Área de Proteção Ambiental
Xeriuini, que está localizada no município de Caracaraí, na região do Baixo Rio Branco, sul do estado de Roraima. Esta
APA abrange o território de três comunidades ribeirinhas, onde residem os sujeitos desta pesquisa. Tem a intenção de
investigar as relações de produção geradas pela atividade do turismo de pesca esportiva no território dessas
comunidades e se justifica pela importância de trazer a problemática para a pauta acadêmica, além de dar visibilidade
aos sujeitos. Por um lado, a geração de renda se mostra como um benefício socioeconômico; mas, por outro, as
interações socioambientais decorrentes da atividade se mostram prejudiciais aos recursos naturais disponíveis no
território e ao modo de vida local, gerando um processo de exclusão em relação ao bem-estar das populações, mesmo
sendo garantido por instrumentos legais.
O estudo de Vitório e Vianna (2016) mostrou que um dos principais problemas apontados pelos moradores da
comunidade investigada é a precariedade na infraestrutura da comunidade, ainda que a atividade do turismo propicie
a geração de postos de trabalhos informais/temporários como complemento de renda para a população local. A partir
dessa constatação, surge uma inquietação frente ao volume de capital (poder empresarial) movimentado pelas
empresas turísticas atuantes na região, também investigado pelos pesquisadores.
Na busca de um embasamento teórico-conceitual sobre a relação território e poder, apoia-se em Raffestin
(1993, p. 161) em que “a territorialidade se inscreve no quadro da produção, da troca e do consumo das coisas”; para o
autor, “conceber a territorialidade como uma simples ligação do espaço seria fazer renascer um determinismo sem
interesse”, e enfatiza que há sempre uma relação de troca, mesmo que diferenciada, entre os atores.
O turismo entendido como força produtiva interfere e modifica as relações no território, sendo o trabalho um
nó dessa trama. A alienação do trabalho como pressuposto teórico se mostra uma fértil abordagem conceitual para
compreender a dialética das relações de produção no território em análise. Para Marx, a alienação diz respeito à
situação social do mundo capitalista. Ela conserva a forma de autonomização da inversão, ou seja, privado da
propriedade dos meios de produção, o indivíduo não se reconhece mais plenamente no produto do seu trabalho e
somente terá acesso a ele por meio da mediação do mercado (GRESPAN, 2021, p. 25).
Tratando sobre o caráter informal/temporário desses postos de trabalho na atividade turística, Martoni (2019)
aponta que a informalidade acentua a possibilidade de extensão e intensificação dos períodos laborais, favorecendo
assim, a geração de mais valor, tanto na forma absoluta quanto na relativa. Conforme menciona Williams (2007), Marx
vê a alienação do trabalho e do modo de produção capitalista, no qual o trabalhador perde tanto o produto do seu
330
trabalho quanto o sentido de sua própria atividade produtiva, em consequência da própria expropriação de ambos pelo
capital.

METODOLOGIA

A metodologia tem abordagem qualitativa, adota-se o materialismo histórico como método de interpretação
das trocas, considerando que este se mostra mais adequado para analisar e refletir sobre as interações socioeconômicas
advindas das relações de produção. Faz-se necessário levantamentos bibliográfico e documental antes da realização da
técnica observação participante para aproximação com sujeitos. Esses sujeitos são moradores locais que são
contratados de modo temporário, para o trabalho durante a temporada de pesca. Nessa direção, as categorias de análise
pensadas para este estudo são a territorialidade, considerando o processo de exclusão evidente, mas velado por
instrumentos legais que demarcam o território em análise; e a alienação do trabalho na perspectiva da teoria marxista,
em que o produtor não reconhece a si mesmo no que produz, analisando as relações de produção constituídas a partir
da atividade turística.

RESULTADOS

Tendo em vista a abordagem metodológica adotada para interpretar os fatos, a pesquisa bibliográfica e
documental tem o objetivo de realizar um levantamento para apresentar os fundamentos históricos da ocupação
(turística) da região com vistas à compreensão dos processos territoriais já instalados e de entender os instrumentos
legais que constituem a demarcação do território tal qual se configura atualmente.
Ante o exposto, apresenta-se dados preliminares do levantamento feito até a elaboração deste resumo. A atividade de
turismo vem acontecendo no Baixo Rio Branco há duas décadas, aproximadamente e se vale da piscosidade dos rios da
região e atua no segmento turismo de pesca por meio de licenças para prática da atividade e de concessão do uso de
recursos hídricos conferidos pelo Poder Público estadual e municipal às empresas turísticas atuantes.
É interessante mencionar a existência de duas áreas de proteção ambiental instituídas pelo estado/município
na região do Baixo Rio Branco: APA Xeriuini - criada pelo Decreto nº 25, de 08 de dezembro de 1999 e a APA Baixo Rio
Branco - criada pela Lei n° 555 de 14 de julho de 2006. Os objetivos de ambos os instrumentos legais são a conservação
dos ecossistemas ali existentes e a promoção do desenvolvimento social e econômico dos povos tradicionais nela
encontrados, além de adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais, bem como realizar
pesquisas científicas e desenvolver atividades de educação ambiental (CARACARAÍ, 1999; RORAIMA, 2006).
Observa-se a delimitação de um determinado território, por parte do estado, como estratégia para
conservação e preservação dos ambientes naturais. Em que aparecem como atores as comunidades ribeirinhas que
estão estabelecidas na região e que ocupam o território, zelando pelos recursos naturais ali disponíveis, efetivamente.
Em concordância com o entendimento de Raffestin (1993, p. 41) de que, “há distinção entre território como
instrumento do poder político e território como espaço de identidade cultural”, e para compreender o território não

331
apenas como um “domínio ou controle politicamente estruturado, mas também de uma apropriação que incorpora uma
dimensão simbólica, identitária”, parte-se para o próximo passo da pesquisa, onde a observação participante dará
subsídios para examinar e caracterizar as atividades laborais (jornadas, condições e características do trabalho)
contempladas na relação de produção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que já foi levantado por esta pesquisa e do que se espera proceder, algumas observações/reflexões
já podem ser apontadas: mesmo que os sujeitos ribeirinhos, com seus saberes-fazeres e os recursos naturais
disponíveis em seu território, sejam as forças produtivas da atividade turística que movimentam abastadas cifras no
âmbito das empresas, eles não percebem melhorias nas áreas básicas (saúde, educação etc.) para o bem-estar
comunitário. Revela-se uma hegemonia discursiva, por parte do estado, nos documentos examinados que visam garantir
a reprodução do modo de produção capitalista pelo poder empresarial enquanto classe dominante e apropriadora dos
meios de produção de serviços, disfarçada pelo discurso de conservação ambiental. Destaca-se que a comunidade
“depende” da empresa turística para dispor a sua força de trabalho a um mercado turístico alheio às suas vivências,
além da disponibilização dos recursos naturais do seu território ao capital empresarial turístico.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo; Territorialidade; Comunidade Tradicional; Trabalho.

REFERÊNCIAS

GRESPAN, J. Marx, uma introdução. São Paulo: Boitempo, 2021.


MARTONI, R. M. Produtividade para a hospitalidade: as ocupações em atividades características do turismo como
laboratório da precariedade. In: Riqueza e miséria do trabalho no Brasil IV: trabalho digital, autogestão e expropriação
da vida : o mosaico da exploração / organização Ricardo Antunes. - ed. São Paulo : Boitempo, 2019.
MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. Tradução de Maria H. B. Alves e Carlos R. F. Nogueira. 3aed. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.
RAFFESTIN, C. O território e o poder. In: Raffestin, C. Por uma Geografia do Poder, Cap. I. São Paulo: Ed. Ática, 1993. p.
143-217.

332
Resumos de Artigos Completos
AS PERCEPÇÕES SOBRE O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA DA COMUNIDADE
QUILOMBOLA PÉ DO MORRO, TOCANTINS

Stephanni Gabriella Silva Sudré (stephanni@uft.edu.br)


Silvio José de Lima Figueiredo (silviolimafigueiredo@gmail.com)
Ivanise Borges Souza (ivanise.borges@uft.edu.br)

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo central analisar as potencialidades para o Turismo de Base Comunitária por meio
da percepção turística da Comunidade Quilombola Pé do Morro, em Aragominas, Tocantins. Foram estabelecidos como
objetivos específicos: a) perceber o interesse e conhecimentos da comunidade sobre o turismo, b) destacar os atrativos
turísticos da comunidade sob olhar de seus membros c) elencar os atores sociais do turismo envolvidos na visitação de
seus atrativos. Utilizou-se abordagem qualitativa para geração e análise de dados, empregando pesquisa bibliográfica,
observação participante e entrevistas. Observou-se que a comunidade percebe o turismo como uma ferramenta para
seu desenvolvimento, com foco nas práticas culturais e evidências do patrimônio cultural e natural presente em seu
território, assim como, geração de renda, preservação ambiental, valorização cultural e educação das relações étnico-
raciais.

Palavras-chave: quilombola; percepção; turismo de base comunitária.

333
ECOVILAS E SUA APROXIMAÇÃO NO TURISMO: UM ESTUDO EM TESES E DISSERTAÇÕES
Francisco Henrique Bezerril de Lima (henrique.bezerril@hotmail.com)

RESUMO

O campo teórico caracteriza-se pela elaboração das hipóteses e a construção dos conceitos a serem trabalhados. O
presente estudo tem como propósito compreender como se desenvolve o conhecimento em turismo em pesquisa sobre
ecovilas no campo teórico de tais estudos, a partir de teses e dissertações, no que tange as contribuições teóricas dos
trabalhos. Por meio de uma abordagem qualitativa e exploratória, elaborou-se um roteiro de avaliação com quatro
categorias de análise definidas e realizou-se análise documental em 24 trabalhos coletados na Base de dados Catálogo
de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os achados da
pesquisa sugerem que, existe uma relevante aproximação das abordagens teóricas entre ecovilas e turismo, embora o
número de trabalhos que contém essa aproximação sejam poucos. Entretanto, observou-se a necessidade que se
desenvolvam mais pesquisas sobre as duas teorias, que abordem implicações mais práticas e sociais, apontando que a
construção do conhecimento em turismo sobre ecovilas seja uma aproximação mais efetiva.

Palavras-chave: Campo teórico; Conhecimento; Aproximação; Turismo; Ecovilas.

334
O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA E SUAS POTENCIAIS CONTRIBUIÇÕES PARA O
DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

Thiago Chagas de Almeida (thiagoc-almeida@hotmail.com)


Magnus Luiz Emmendoerfer (magnus@ufv.br)

RESUMO

O Turismo de Base Comunitária (TBC) é um modelo de gestão da visitação pautado em peculiaridades locais e no
equilíbrio de elementos socioterritoriais. Desse modo, ao perceber uma certa similaridade entre os princípios do TBC e
as diretrizes do Desenvolvimento Local Sustentável (DLS), este trabalho analisou como esse modelo pode contribuir para
o DLS. Para alcançar esse objetivo, foi feita uma pesquisa exploratória qualitativa, através de uma revisão integrativa
da literatura. Já a análise dos dados se baseou na técnica análise de conteúdo do tipo temática. Os resultados da
pesquisa mostraram que o TBC pode contribuir para o DLS gerando benefícios, de caráter endógeno: econômicos;
ecológicos; sociais; culturais; e políticos. Assim, foi possível compreender melhor como o TBC se relaciona ao DLS, que é
um tema que precisa ser mais discutido. Além disso, este trabalho mostrou a importância do TBC e como o DLS pode ser
fomentado pelo turismo.

Palavras-chave: turismo de base comunitária; desenvolvimento local sustentável; desenvolvimento endógeno.

335
REDE DE RELACIONAMENTO EM TURISMO: UMA ANÁLISE NA COMUNIDADE DO
ENTORNO DO PARQUE ESTADUAL DE GUAJARÁ MIRIM -NOVA MAMORÉ-RO

Marina Castro Passos de Souza Barbosa (marinacastrob@gmail.com)


Dércio Bernardes de Souza (dercio@unir.br)
Haroldo de Sá Medeiros (haroldo.medeiros@unir.br)
Fabiana Rodrigues Riva (gleimiria@unir.br)

RESUMO

A cadeia colaborativa que se forma através de uma rede de relacionamentos constituída com diversos grupos
proporciona o aumento da produtividade dos pequenos proprietários rurais e comunidades de base, promovendo o
crescimento da economia regional. Baseando-se na teoria que trata das redes de relacionamentos territorialmente
incorporados e nas teorias que tratam do processo sistêmico de redes de relacionamentos, este artigo apresenta o
estudo de caso de uma estrutura conceitual e sua formação prática, assim como as realidades adversas que acontecem
na comunidade do entorno do Parque Estadual de Guajará Mirim - PEGM, localizado em Nova Mamoré - Rondônia. A rede
de relacionamentos identificada entre os moradores da região que possuem o objetivo comum de gerar melhoria
econômica e também preservar o ambiente ecológico existente naquela localidade. A pesquisa procura proporcionar a
compreensão das variáveis existentes com base na rede de relacionamentos dos moradores locais que fornecem
produtos ou serviços e tem como foco conhecer o potencial estratégico de cada morador, os laços constituídos com
objetivo comum e a identificação de atrativos turísticos em suas propriedades que favorecem a região. Os
conhecimentos e habilidades dos pequenos produtores, as diversas trajetórias de subsistência e o engajamento seletivo
da comunidade local, que promovem a clara definição das múltiplas partes interessadas que compõe uma teia de
relacionamentos local com variadas ramificações e promove a inserção de pequenos produtores e comunidade de base
na adaptação dos processos de aprendizagem que reúnem e integram conhecimentos diferenciados sejam culturais,
econômicos ou sociais, formando base conceitual para políticas públicas dentro do sistema de governança. Esta
abordagem exploratória descritiva propõe uma base de apoio a futuras pesquisas que retratem as relações sociais que
promovem o desenvolvimento sustentável da comunidade do entorno do PEGM. O artigo analisa a rede de
relacionamentos com o debate mais amplo sobre o desenvolvimento sustentável da região e suas características que
favorecem o turismo com potencial turístico existente na região e suas inter-relações de causa e efeito, aliadas aos
relacionamentos existentes entre as famílias e outros moradores que formam as comunidades de base daquela
localidade.

Palavras chave: Rede de relacionamento; Turismo; Amazônia; Rondônia.

336
TURISMO COMUNITÁRIO EM RORAIMA E REDE DE ARTICULAÇÃO

Sabrina Assunção Viana de Souza (sabrina_desouzal@hotmail.com)

RESUMO

O presente artigo apresenta reflexões teóricas sobre o turismo comunitário e as práticas realizadas pelo Sesc Roraima
em comunidades tradicionais. O material apresenta um breve histórico da instituição e sua atuação no campo do lazer,
com abordagens sobre os princípios norteadores do turismo social, por ela praticado. No artigo são descritas as etapas
de execução do projeto de elaboração dos roteiros de turismo comunitário do Sesc, os locais de atuação e intervenções
da comunidade nas fases de planejamento e execução. Nas discussões finais, o debate segue analisando as boas práticas
aplicadas pelo Sesc Roraima no trabalho desenvolvido com as comunidades em que atua, além de proposições sobre
como atuar em rede com agentes exógenos, a fim de consolidá-las como destinos turísticos sustentáveis.

Palavras-chave: Turismo Social; Turismo Comunitário; Redes de Articulação.

337
TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA QUILOMBOLA NA BAHIA – (BRASIL): UMA PRÁXIS
EDUCATIVA DECOLONIAL E TRANSMODERNA

Tássio Simões Cardoso (tassioeducacao@gmail.com)


Natanael Reis Bomfim (nreisbomfim@gmail.com)

RESUMO

Este artigo objetiva responder a seguinte questão: como as práticas socioeducativas do Quilombo Quingoma contribuem
para o desenvolvimento do TBC, enquanto práxis decolonial e transmoderna, capaz de promover uma maior
sustentabilidade e valorização das matrizes culturais locais? Assim, por meio de uma pesquisa qualitativa e etnográfica,
apresentamos reflexões que demonstram como o TBC protagonizado pela comunidade do Quingoma é uma práxis
decolonial e transmoderna. Neste sentido, vale destacar que os processos socioeducativos que o constituem, além de
serem distintos e antagônicos em relação à hegemonia da matriz colonial, posto que estão baseados numa cosmogonia
ancestral afro e indígena, ao possibilitarem a interação crítica e ética entre culturas diferentes (do turista e da
comunidade receptora), favorecem o diálogo intercultural crítico, fundamental para a construção de uma visão
transmoderna da contemporaneidade. Portanto, consideramos que esta cosmovisão é capaz de ofertar criativas
resoluções para os velhos e novos problemas de uma modernidade em crise.

Palavras-chave: Turismo de Base Comunitária; Educação; Decolonialidade.

338
UM OUTRO TURISMO PEDAGÓGICO: O CASO DA SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO A
PARTIR DO MUSEU HISTÓRICO DE SÃO VICENTE-RN, BRASIL

Rafaela Cláudia dos Santos (rafaelaclaudiasan@gmail.com)


Wagner Araújo Oliveira (wagner.araujo.098@ufrn.edu.br)

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo central apresentar as principais ações contributivas do Museu Histórico de São
Vicente (RN) para a salvaguarda do patrimônio arqueológico contribuindo para o fomento de um outro turismo
pedagógico. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva com abordagem qualitativa. Para o corpus do trabalho,
foi realizada uma pesquisa bibliográfica, por meio do levantamento de referências que abordassem as temáticas
pertinentes a este trabalho: turismo pedagógico, educação patrimonial, patrimônio arqueológico, museus e preservação.
O plano de coleta de dados constituiu-se em visita in loco e realização de entrevistas com gestores do museu. Para a
etapa de análise e interpretação dos dados, a técnica de análise utilizada foi a descritiva. O Museu Histórico de São
Vicente (MHSV), que tem como propósito contribuir com a salvaguarda da memória e história oral, a valorização da arte
e da cultura e a difusão do patrimônio cultural, material e imaterial do município, além disso, tem associado suas
atividades com a prática do turismo pedagógico promovendo ações educativas elucidando a importância do
fortalecimento da salvaguarda do patrimônio arqueológico. Sendo assim, o museu vem se tornando uma instituição de
referência na promoção de atividades educacionais na vertente da educação patrimonial, tornando-se gradativamente
uma instituição pioneira e com um elevado potencial para o turismo de base comunitária.

Palavras-chave: Turismo pedagógico; Museu; Patrimônio.

339
GT 10 – PARCERIAS PARA O TURISMO EM ÁREAS PROTEGIDAS
DIA 18/05 – 14h as 18h

340
Resumos Expandidos
A GEOGRAFIA SOCIAL DOS TERRITÓRIOS TURÍSTICOS: UMA PROPOSTA PARA ILHA
GRANDE-PI
Heidi Gracielle Kanitz (heidikanitz@ufpi.edu.br)
Edvania Gomes de Assis Silva (edvania@ufpi.edu.br)
Moisés Francisco Antão de Alencar (moises.tur@ufpi.edu.br)
Francisco Pereira da Silva Filho (pereira_ufpi@hotmail.com)

INTRODUÇÃO

A geografia, o meio ambiente e o Turismo estão conectados pois o turismo se utiliza dos espaços geográficos
para desenvolver e implantar suas atividades. Para a geografia, o estudo dos territórios turísticos parte da necessidade
de observação e identificação de transformação desses territórios em ambientes turísticos, gerando outras ações e
atividades sobre os objetos que estão neste espaço geográfico. Tal mobilidade dos diversos agentes sociais sempre se
concretiza em uma dimensão espacial específica, o que torna o espaço um dos pontos de partida para a compreensão
de todo o processo de produção do turismo. Entretanto, a dimensão espacial – o que implica reconhecer toda sua
complexidade – tem sido pouco ou quase nunca, levada em consideração nas políticas e ações direcionadas para o
desenvolvimento do setor turístico (Fratucci, 2014).
Segundo o geógrafo francês Knafou (1996), os processos de apropriação do espaço pelos agentes sociais do
turismo, mais conhecidos como turistificação, concretizam o fenômeno turístico e a atividade turística dele resultante
se coloca atualmente, como umas das mais importantes e dinâmicas da economia global. Na sua essência básica, o
turismo se compõe dos movimentos e das paradas dos turistas por determinadas porções do espaço privilegiadas por
alguns elementos como paisagens naturais preservadas, patrimônios históricos culturais, às quais é agregada toda a
uma sequência de equipamentos e serviços que torna possível o seu consumo pelos visitantes (Fratucci, 2014, p. 45).
Nos momentos de paradas ocorrem os processos de territorialização dos visitantes, quando eles se apropriam, mesmo
que fugidiamente, dos elementos do espaço visitado a partir de uma lógica reticular (HAESBAERT, 2011), e se fixam em
alguns pontos enquanto ignoram outros. A partir dessa ação primeira do visitante (turista), os demais agentes sociais
envolvidos por ele e com ele, vão também, se apropriando de porções do espaço e criando os seus territórios específicos,
também predominantemente a partir de lógicas de apropriação reticulares.
Assim, este estudo e as ações propostas são desenvolvidas no município de Ilha Grande, no litoral do estado
do Piauí. O município de Ilha Grande apresenta aproximadamente 9.211 habitantes, em uma área territorial de 132,318
km2, situado às margens do rio Parnaíba e os igarapés; Urubu, Baixão, Morros, Brejo e Piriquito. A localidade apresenta
abundância de recursos hídricos em sua superfície, com expressiva biodiversidade de fauna aquática, de valor
econômico e ecológico como: peixes, o caranguejo-uçá e outros crustáceos. A localidade está inserida na Área de
Proteção Ambiental – APA Delta do Parnaíba, com predominância de comunidades ribeirinhas, sendo esta uma das vias

341
de acesso para o Delta do Parnaíba, onde recebe diversos turistas nacionais e internacionais com intuito de conhecer os
mangues, igarapés e o próprio delta (IBGE, 2010).
Neste contexto todos os envolvidos com o turismo nos municípios são agentes sociais diretos e indiretos que
se utilizam do espaço geográficos para pôr em práticas as atividades turísticas gerando assim territórios turísticos.
(SILVA, 2019; 2020). Os outros agentes sociais envolvidos pelos processos de turistificação do espaço – população
residente dos destinos turísticos e trabalhadores diretos e indiretos do setor – apresentam lógicas mais zonais de
apropriação de espaços, pois o fazem a partir de suas lógicas de vida e de busca de trabalho e renda. A lógica de vida
liga-se à lógica do lugar e, portanto, compõem os territórios do cotidiano, quase sempre contínuos e bem definidos pelas
suas relações de sociais mais intensas. Essa lógica pode ser rompida parcialmente quando a necessidade de busca de
trabalho leva os agentes sociais a “escaparem” dos seus lugares de vida. Dessa forma, acabam também assumindo
uma lógica reticular de apropriação do seu espaço, por conta de terem de buscar emprego onde eles são oferecidos e
não, onde eles vivem. Entretanto, na busca por uma visão mais ampliada desses territórios do turismo, devemos cuidar
para não nos limitarmos a uma leitura pelos padrões da lógica reticular (HAESBAERT, 2011).
Diante do exposto, este estudo tem como objetivo geral caracterizar, através do estudo do espaço geográfico,
os objetos e ações do turismo dentro dos territórios turísticos de Ilha Grande/PI. São objetivos específicos: a) Identificar
os objetos e ações no espaço geográfico; b) Identificar os agentes diretos e indiretos do turismo local; c) Levantar e
categorizar as ações e objetos existentes para a população local, gestores públicos, empresários, associações e
cooperativas; d) Identificar os agentes diretos e indiretos que atuam na cadeia produtiva do turismo no município.
O município tem um papel importante na cadeia produtiva da geração de emprego e renda no estado, por
possuir grande representatividade no segmento do turismo, pois é a partir do Porto dos Tatus, situado no município,
que partem os passeios, visitações e outras atividades das práticas cotidianas da população local em conjunto com
empresas do trade turístico, com o intuito de visitar o Delta do Parnaíba.
Sendo assim, a partir desta proposta surge a oportunidade de se fazer um estudo das potencialidades dos
territórios turísticos no município, como também, envolver a comunidade local, gestores e empresários como parceiros
para identificar os territórios turísticos dentro do município. Esta identificação e o mapeamento das atividades pode
contribuir com a criação de empregos e geração de renda para a comunidade local ao mesmo tempo em que pode
propiciar o conhecimento de outras atividades que se desenvolvem no município e que podem dialogar cultural, social
e economicamente com o turismo. Importa ressaltar que grande parte da população local sobrevive de atividades
primárias como a pesca, a agricultura familiar e do artesanato. Alguns dos habitantes trabalham com a atividade
turística, embora o turismo em Ilha Grande esteja ainda em fase de desenvolvimento apresentando algumas
deficiências, seja pela falta de infraestrutura básica que atenda às necessidades do turista e da própria população como
saneamento e abastecimento de água potável, seja pela necessidade de qualificação da mão de obra local. Os problemas
descritos apresentam-se como um grave obstáculo enfrentado que se agrava com o decorrer do tempo, fazendo com
que os visitantes permaneçam num curto período de tempo no local.

342
METODOLOGIA

O estudo tem se desenvolvido em 3 (três) etapas para melhor adequação dos objetivos propostos. A 1ª etapa
contemplou um levantamento bibliográfico e documental, onde foram identificados todos os territórios turísticos no
município de Ilha Grande, tanto os já consolidados quanto aqueles que estão em processo de implantação. Esta etapa
encontra-se em andamento, com a realização de um inventário participativo com os participantes diretos e indiretos
contidos neste projeto.
A 2ª Etapa prevê a identificação, através de um formulário estruturado, dos agentes diretos e indiretos que
atuam na cadeia produtiva no turismo no município. Esta etapa tem acontecido de forma concomitante com a primeira,
descrita acima.
Como etapa final, são propostos à população local e gestão pública, cursos, eventos, palestras e oficinas para
construção do ambiente virtual dos espaços turísticos no município. Para tanto, será utilizada a cartografia social tendo
em vista que esta contempla as informações cedidas pela comunidade bem como as demais informações coletadas
anteriormente descritas.
Todas as atividades tem sido executadas de forma remota, através das mídias e plataformas digitais: para o
levantamento de dados é utilizada a plataforma do GOOGLE – Google Forms; os eventos, cursos, reuniões, rodas de
conversa e diálogos, tem sido feito através do Google Meet. Importa referir que tais caminhos metodológicos
justificaram-se em virtude do aumento dos casos de COVID-19 em 2021 no município de Ilha Grande, seguindo desta
forma até o presente momento.

RESULTADOS

O estudo em andamento busca apresentar diversos resultados, os quais são descritos a seguir. A partir dos
objetivos propostos, pretende-se catalogar os objetos do espaço geográfico na cadeia produtiva do turismo, fomentar
parcerias entre a Secretaria de Meio Ambiente, Turismo, Pesca e Agricultura do município.
Através das ações realizadas conjuntamente com a comunidade e gestores locais, pretende-se analisar a
vivência social que acontece entre os territórios considerados turísticos no município, descrevendo as atividades
comunitárias que envolvem o turismo, e os locais onde as atividades ocorrem ou mesmo equipamentos que são
utilizados para o turismo, tais como: monumentos, igrejas, praças, portos, marinas, lojas, restaurantes, bares, agências
de viagens, entre outros.
Ainda tem como resultado esperado a difusão dos dados obtidos com o estudo perante a população local,
gestores e agentes diretos e indiretos sobre os territórios turísticos, feita através das mídias digitais. Com esta ação,
buscar-se-á evidenciar a existência de territórios turísticos e microterritórios que são utilizados pelo e para o turismo,
incluindo aqui o patrimônio natural e cultural, tanto quanto aos bens materiais como imateriais. O principal produto

343
relacionado a esta etapa da pesquisa é a elaboração de um mapa onde esteja contemplada a cartografia social de Ilha
Grande, com a definição dos territórios turísticos, seus atores e espaços. Tal mapa será entregue à população e gestão
municipal a fim de compor os materiais promocionais do município, bem como também poderá ser utilizado com fins
educativos.
Algumas atividades já foram realizadas, propiciando o alcance de parte dos objetivos propostos e resultados
esperados. A partir de um encontro municipal realizado em novembro de 2021, foi possível discutir com a comunidade
de Ilha Grande e gestores públicos sobre as potencialidades do espaço geográfico, os seus objetos e ações no munícipio.
Também foi possível identificar as boas práticas sustentáveis do turismo no município.
Com base nos documentos e bibliografia pesquisados, em conjunto com dados primários levantados junto às
pastas da cultura e do turismo no município, foi possível identificar os atores diretos e indiretos que atuam no turismo,
bem como os que possuem potencial para se inserirem em atividades relacionadas aos segmentos do turismo que se
desenvolvem no local.

PALAVRAS-CHAVE

Geografia, Turismo, Territórios Turísticos, Cartografia Social, Ilha Grande/PI.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Governo Federal do. (2010). Instituto Brasileiro de geografia e estatística - IBGE. Anuário Estatístico.

Fratucci, A. C. (2014). A dimensão espacial das políticas públicas de turismo no Brasil. In: Pimentel, T. D.; Emmendoerfer,
M. L. & Tomazzoni, E. L. (Orgs.). Gestão pública do turismo no Brasil: teorias, metodologias e aplicações. Caxias do Sul,
RS: Educs.

Fratucci, A. C. (2009). Refletindo sobre a gestão dos espaços turísticos: perspectivas para as redes regionais de turismo.
Turismo em Análise, 20 (3), pp.391-408.

Fratucci, A. C. (2014). Turismo e território: relações e complexidades. Caderno Virtual de Turismo. Edição Especial:
Hospitalidade e políticas públicas em turismo. Rio de Janeiro, 14 (1), 87-96.

Haesbaert, R. (2011) Concepções de território para entender a desterritorialização. In. Santos, M. et al. (org.). Território,
territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro: Lamparina, 43-71.

Silva, E. G. A (Org.). (2016). Meio Ambiente, Comunidades e Turismo: experiências e diálogos de saberes. Parnaíba:
EDUFPI: SIEART, 112 p.

Silva, E. G. A. (Org.). (2019). Mosaicos Geográficos do Delta do Parnaíba. [recurso eletrônico]. Parnaíba: EDUFPI: SIEART.

Silva, E. G. A. (Org). (2020). Meio Ambiente, Patrimônio e Turismo no Estado do Piauí: EDUFPI:SIEART.

344
A PARCERIA PÚBLICO - COMUNITÁRIA COMO CAMINHO PARA O FORTALECIMENTO DO
TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO QUILOMBO DO FEITAL

Andressa dos Santos Dutra (andressadutra3.ad@gmail.com)


Eloise Silveira Botelho (eloise.botelho@unirio.br)
Camila Gonçalves De Oliveira Rodrigues (camirural@gmail.com)
Valdirene Couto Raimundo (quilombodofeitalacorqf@gmail.com)

INTRODUÇÃO

O turismo de base comunitária (TBC), associado a práticas de educação ambiental crítica e transformadora,
pode ser compreendido como uma estratégia de organização social para enfrentamento de desigualdade
socioambiental. Esse processo pode resultar na construção de parcerias entre as iniciativas de TBC e poder público
responsável pela gestão de unidades de conservação, o que pode trazer benefícios sociais, culturais e econômicos, bem
como contribuir para a conservação (Jones, 2005; Hiwasaky, 2006; Moraes & Irving, 2018).
As Unidades de Conservação (UC), são instituídas pela Lei no. 9.985, de 2000, que constitui o Sistema Nacional
de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), elas são áreas com um potencial ligado à proteção da biodiversidade,
adotando-se estratégias nesses espaços, possibilita-se outras funções, como espaços potenciais para recreação, lazer
e turismo em contato com a natureza (Brasil, 2000).
A Área de Proteção Ambiental (APA), é uma Unidade de Conservação (UC), pertencente ao grupo de uso
sustentável e tem por objetivo a proteção da biodiversidade, o planejamento direcionado do processo de ocupação e o
uso sustentável dos recursos naturais, se estendendo também à garantia do bem-estar das populações humanas que
vivem nesse território e de suas características culturais (Brasil, 2000; Moraes, 2011).
Contudo, mesmo sendo áreas de representatividade ecológica territorial no Brasil, ocupando cerca de 51%
das áreas cobertas por UC no país (Brasil, 2019), enfrenta ainda desafios quanto à sua gestão (Amador, 1997; Moraes,
2011). Buscar alternativas que unam o uso sustentável dos recursos naturais, a proteção da biodiversidade e a
valorização social das comunidades que compartilham desse espaço, se faz necessário.
No recôncavo da Baía de Guanabara encontram-se a APA de Guapi-Mirim que foi criada pelo Decreto 90.225,
de 25 de setembro de 1984, resultado de um movimento ambientalista da sociedade civil organizada e da comunidade
científica (FUNBIO, 2010). Seu principal objetivo é proteger os remanescentes de manguezais situados no recôncavo da
Baía de Guanabara e assegurar a permanência e sobrevivência de populações humanas que mantêm uma relação
estreita com o ambiente, vivendo dos seus recursos naturais e mantendo ainda características tradicionais no convívio
com a natureza (ICMBIO, 2021).
A gestão da APA de Guapi-Mirim é realizada de forma integrada a da ESEC da Guanabara e, dessa forma,
otimizam-se os recursos, resultando em uma gestão mais coesa e integrada. Ambas abrangem o núcleo mais preservado
de manguezal do Estado do Rio de Janeiro, com características ecológicas e biológicas compatíveis com os manguezais

345
isentos de intervenção humana agressiva (FUNBIO, 2010). Dentre as famílias que têm seu meio de subsistência a partir
da APA, está a comunidade Quilombola do Feital, localizada na área de abrangência da APA Guapi-Mirim.
O decreto 6040/2007 institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais, que conceitua as Comunidades Tradicionais como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem
como tais. Possuem formas próprias de organização social, ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição
para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas
geradas e transmitidas pela tradição. A garantia e proteção dos territórios tradicionais é fundamental para a
manutenção das funções ecológicas do bioma e toda sua biodiversidade e para a justiça ambiental (Carvalho, 2016).
As comunidades quilombolas foram por muito tempo invisibilizadas pela sociedade brasileira e pelas ciências
humanas e ainda carregam estigmas de múltiplos estereótipos de opressão, historicamente interseccionados, sejam de
raça, classe, religião e cultura. Essas comunidades ainda são alvos intensos dos “descarregos” da desigualdade,
marcadas pela marginalização das políticas públicas, a exclusão e opressão por buscarem seus direitos (Carvalho, 2016).
Iniciativas focadas na educação ambiental e no fortalecimento comunitário ocorreram na APA de Guapi-Mirim,
visando a proximidade entre órgão público e comunidade quilombola. Porém, em 2018, a partir de um projeto de
extensão universitária “Educação Ambiental e TBC na APA de Guapi-Mirim”, o processo de parceria entre o Quilombo, e
em outras comunidades do entorno, com universidade, ICMBIO e comunidade foi fortalecido.
Este trabalho analisa o processo de construção de parceria entre o Quilombo do Feital e a gestão da APA de
Guapi-Mirim (RJ), considerando o contexto de contradições relacionadas aos esforços de preservação de manguezais e
à desigualdade socioambiental, traduzida nos baixos índices de renda, saneamento básico e ameaças à biodiversidade
pela presença de empreendimentos industriais na Baía de Guanabara.

METODOLOGIA

A pesquisa baseia-se nas metodologias utilizadas no projeto de extensão citado, envolvendo realização de
diagnóstico e planejamento participativos, cursos, intercâmbios com iniciativas de TBC em território quilombola, e,
instrumentos de pesquisa, como observação direta e diário de campo.
Também, está baseada no projeto de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ecoturismo e Conservação
(PPGEC) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, que tem por objetivo fortalecer as iniciativas de TBC no
Quilombo do Feital, associadas às práticas de educação ambiental de base comunitária, como uma estratégia de anunciar
a vida e as potencialidades deste território e denunciar o racismo ambiental.
Além disso, foi essencial para a elaboração dessa pesquisa a participação no grupo de pesquisa OPAP
(Observatório de Parcerias em Áreas Protegidas), onde o entendimento da Parceria Púbico-Comunitária (PPC) está sendo
construído, mapeado e fortalecido. Neste grupo de pesquisa, entende-se que a PPC é uma forma de fazer frente à
tendência das parcerias do tipo concessão para o desenvolvimento do turismo em Unidades de Conservação.

346
RESULTADOS

Verifica-se que ao longo do levantamento realizado, há participação de lideranças do quilombo nos projetos
desenvolvidos na APA e isso contribuiu para o fortalecimento da associação do Quilombo do Feital, bem como para a
divulgação de suas iniciativas de turismo de base comunitária.
Segundo Zaoual (2008), o “turismo de massa”, que visa o lucro imediato e que nessa concepção de serviços
turísticos, as relações entre visitantes e visitados são permeadas por interesses econômicos e vazias de sentido
simbólico, encontra-se, atualmente, saturado, pois a demanda atual dos turistas está em estabelecer relações autênticas
e ter experiências diversas, estando disponíveis para trocas culturais com os sujeitos do sítio visitado.
O planejamento do turismo e, principalmente, em regiões mais carentes sob a ótica socioeconômica, não
ocorre, na maioria dos casos, a favor das populações locais, que ficam normalmente à margem do desenvolvimento
turístico. A exclusão dessas comunidades dos benefícios turísticos e o interesse na minimização dos efeitos nocivos da
atividade sobre as populações locais fizeram com que uma forma inovadora de organização do turismo fosse
desenvolvida, em que grupos sociais integram o processo de planejamento, desde uma perspectiva de
compartilhamento de benefícios justa e sustentável. Essa necessidade de um novo modelo de desenvolvimento turístico
abriu espaço para atividades turísticas de cunho social e ambiental, incentivando a necessidade de aproximação da
atividade turística dos anseios da comunidade (Hiwasaki, 2006; Bursztyn e Bartholo, 2012).
O TBC se diferencia do “turismo convencional” pois ele possibilita que exista uma conexão entre visitante-
visitado permeada pelo diálogo e pelo encontro com as diferenças (Bartholo, 2009). O foco principal nas populações
locais para o desenvolvimento do turismo, o fortalecimento da organização cultural, a distribuição igualitária dos
recursos socioeconômicos associados ao turismo são alguns dos pontos a serem alcançados pelo TBC (Mtapuri;
Giampiccoli, 2014).
O turismo em áreas protegidas constitui uma ferramenta importante para o uso sustentável do território,
além de um fenômeno complexo e importante para o desenvolvimento de atividades que visem a valorização do
patrimônio natural em associação aos diversos saberes e práticas de povos tradicionais e populações locais (Botelho,
2018). A educação ambiental é fundamental nesse processo de desenvolvimento turístico sustentável do território,
tendo um viés reformista, visando a mudança de conduta na vivência da comunidade local e sua relação com o meio
ambiente e os recursos naturais, com o objetivo de criar hábitos socioambientalmente responsáveis (Quintas, 2009).
As “parcerias” surgiram no início de 1990 como um mecanismo capaz de minimizar os danos causados por
formas anteriores de privatização, porém a ideia inicial não previa abandoná-las. Mais importante, as parcerias
permitiram enquadramentos múltiplos e a realização de diversos interesses e objetivos (Newman, 2001).
As parcerias entre as esferas pública e privada no âmbito da gestão pública e na prestação de serviços para
a sociedade ocorrem há várias décadas e por meio de diversos arranjos institucionais (Forrer et al., 2010 apud Rodrigues
& Abrucio, 2020). Porém, mais recentemente, um novo modelo de parceria começou a ser necessário. Como nos aponta

347
Rodrigues (2016, p. 47): “As “parcerias”, em suas variadas formas, sugerem um modelo de governança que tende a
fortalecer a construção compartilhada de conhecimento.”
O desafio então é delinear um modelo de parceria que permita uma comunicação entre comunidades locais e
poder público, a fim de estruturar melhores condições e gestão de recursos naturais.
O termo parcerias público-comunitárias, que está em construção, pode ser descrito como um conjunto de
propostas que têm como protagonistas as comunidades locais e organizações da sociedade civil, com o objetivo de
fortalecer o turismo, o lazer e a conservação em áreas protegidas, e para além disso, a importância se dá na garantia
de direitos, na consideração e fomento de identidades culturais e na diversificação de alternativas socioeconômicas
locais (Rodrigues, Botelho, 2021).
O decreto de criação e o plano de manejo da APA de Guapi-Mirim, descreve que um dos objetivos da criação
da APA é a conservação do modo de vida das populações tradicionais. Dito isso, podemos correlacionar a permanência
do Quilombo do Feital no território e a importância dessa comunidade para a preservação da UC.
Com o olhar apurado para a resolução desses conflitos, muitas alternativas foram pensadas, dentre elas, a
possibilidade de parceria público-comunitária. Em uma perspectiva legal não podemos dizer que existe uma parceria,
pois não há nenhum instrumento legal que comprove isso. Mas se partirmos de uma perspectiva sociológica, podemos
dizer que há uma parceria desde antes de 2018, pelo projeto de extensão que liga universidade pública, ICMBio e
Quilombo.
A partir de um olhar sociológico da parceria existente, foi possível perceber como as Lideranças quilombolas
passaram a oferecer oportunidades de vivência, como trilhas, observação de fauna, oficina de cestaria, e conversas
sobre ancestralidade, memória e cultura. O Quilombo do Feital passou a integrar a Rede Nós da Guanabara, formada
por associações de agricultores familiares, pescadores artesanais e iniciativas locais de TBC, apoiados pelo Instituto
Chico Mendes e universidades públicas, que contribuem para o fortalecimento das suas atividades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O TBC não é apenas uma atividade produtiva, procura ressaltar o papel fundamental da ética e da cooperação
nas relações sociais. Valoriza os recursos específicos de um território e procura estabelecer relações de
comunicação/informação com agentes externos, entre eles e os visitantes.
A partir do levantamento realizado até o momento, algumas reflexões preliminares indicam que verifica-se
há participação de lideranças do quilombo nos trabalhos desenvolvidos na APA e isso fomenta o fortalecimento da
associação do Quilombo do Feital, em relação à autonomia e representatividade nos processos decisórios sobre o
turismo na região, também houve um impacto positivo, bem como a divulgação de suas iniciativas de turismo de base
comunitária. Entende-se então que a parceria público-comunitária contribuiu para o fortalecimento do TBC no Quilombo
do Feital.

348
No entanto, ainda é necessário, para dar continuidade às ações de pesquisa e extensão, o monitoramento da
visitação para apoiar as estratégias de fortalecimento do TBC e a formalização de instrumento de parceria junto ao
ICMBio. Também, se faz importante a consolidação de um roteiro específico para o Quilombo do Feital, desde uma
perspectiva da educação ambiental crítica, de modo a levar o visitante a refletir sobre a questão socioambiental e a luta
antirracista.
Com a pandemia da COVID-19, as atividades de visitação ficaram paradas e, com isso, a dinâmica do turismo
e da rede de sociabilidade local também ficaram prejudicadas, o principal desafio é a retomada da visitação com
segurança sanitária.

PALAVRAS-CHAVE

Quilombo, Área de Proteção Ambiental; Parceria Público-Comunitária; Turismo de Base Comunitária; Educação
Ambiental.

REFERÊNCIAS

Amador, E. S. (1997). Baía de Guanabara e Ecossistemas Periféricos: Homem Natureza. Rio de Janeiro.

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Sansolo, D. G; Bursztyn, I. (Org.). Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. RJ:
Letra e Imagem, 2009.

Bartholo, R.; Bursztyn, I.; Cipolla, C. Practice of service design for tourism initiative: the quality of interpersonal
relationships as a design requirement. Touchpoint – The Journal of Service Design, v. 1, p. 94-98, 2009.

Botelho, Eloise Silveira. Visitação E Turismo Em Parques Nacionais: O Caso Do Parque Nacional Da Restinga De Jurubatiba
(Rj). 2018. 355 P. Tese De Doutorado (Pós-Graduação Em Engenharia De Produção) - Universidade Federal Do Rio De
Janeiro, [S. l.], 2018. Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/12175/1/EloiseSilveiraBotelho.pdf.
Acesso em: 1 out. 2020.

Bursztyn, I. e Bartholo, R. 2012 “O processo de comercialização do turismo de base comunitária no Brasil: desafios,
potencialidades e perspectivas”. Sustentabilidade em Debate, 3(1): 97 -116.

Brasil (2000). Lei 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art.225, § 1º, incisos I, II, III e VII da constituição Federal,
institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências, 2000.
https://www.mma.gov.br/areas-protegidas/unidades-de-conservacao/sistema-nacional-de-ucs-snuc.html

Brasil. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) (2019). Turismo de Base Comunitária em
Unidades de Conservação Federais: caderno de experiências. Guerra, M. F.; Alvite, C. M.C; Santos, B. V. S. (Orgs). Autores:
Fontoura, A. G. et al.. 1.ed. Brasília (DF).

Carvalho, Camila Abreu. Quilombo de Maria Conga em Magé: Memória, Identidade e Ensino de História. Orientador: Dra.
Keila Grinberg. 2016. 80 f. Monografia (Mestrado Profissional em História) - Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, [S. l.], 2016. Disponível em: http://www.labhoi.uff.br/repair/ppp/pdf/Dissertacao_Camila.pdf. Acesso em: 12
fev. 2022.

349
Forrer, J.; Kee, J. E.; Newcomer, K. & Boyer, E. (2010). Public-Private Partnerships and the Public Accountability Question.
Public Administration Review. May-June. 2010. P. 475-485

Hiwasaki, L. 2006 “Community -based tourism: A pathway to sustainability for Japan`s protected areas”. Society and
Natural Resources.

ICMBIO, 2021. Área de Proteção Ambiental de Guapi-Mirim. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/apaguapimirim/.


Acesso em: 15 de novembro 2021

Jones, S. 2005 “Community -based ecotourism the significance of social capital”. Annals of Tourism Research, 32: 303 -
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Moraes, M.B.R. (2011) Implementação das Áreas de Proteção Ambiental Federais no Brasil: o enfoque da gestão. Tese
de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Geografia Física do departamento de Geografia da faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8135/tde-
17072012-162604/pt-br.php

Moraes, Edilaine Albertino de; Irving, Marta de Azevedo (2018), “Turismo de base comunitária: entre utopias e caminhos
possíveis no contexto brasileiro”, in Marta de Azevedo Irving; Julia Azevedo; Marcelo Augusto Lima (orgs.), Turismo:
ressignificando sustentabilidade. Rio de Janeiro: Folio Digital/Letra e Imagem, 317-345.

Mtapuri, O.; Giampiccoli, A. Towards a comprehensive model of community based tourism development. South African
Geographical Journal. 2014.

Newman, J. Modernising governance, London: Sage, 2001.

Rodrigues, Camila Gonçalves de Oliveira. Políticas públicas e parcerias para a gestão do turismo e dos bens naturais e
culturais. In: TURISMO, NATUREZA E CULTURA: Interdisciplinaridade e políticas públicas. [S. l.: s. n.], 2016. cap. Parte1:
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http://www.each.usp.br/turismo/livros/turismo_natureza_e_cultura.pdf. Acesso em: 19 jan. 2022.

Rodrigues, C. G. O.; Botelho, Eloise S. Seminário Parcerias público-comunitárias para o turismo em áreas protegidas.
[S.I]: Observatório de Parcerias em Áreas Protegidas, [2021] 1 vídeo (1h 45min 57 seg) [Webinar]. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Oho-6cVHQfw. Acessado em 12 dez 2021.

Rodrigues, C. G. O.; Abrucio, F. L. Os valores públicos e os desafios da responsabilização nas parcerias para o turismo
em áreas protegidas: um ensaio teórico. Turismo. Visão e Ação, v. 22, p. 67, 2020.

Quintas, J. S. Educação no processo de gestão ambiental pública: a construção do ato pedagógico. LOUREIRO, C. F.;
LAYRARGUES, P. P.; CASTRO R. S. (Org.). Repensar a educação ambiental: um olhar crítico, Cortez: São Paulo. 2009.

Zaoual, H. Do turismo de massa ao turismo situado: quais as transições? Caderno Virtual de Turismo, v. 8, n. 2. 2008.

350
INICIATIVA EXTENSIONISTA EM TEMPOS PANDEMÔNICOS À NATUREZA: PARA ALÉM
DAS CONCESSÕES, POR OUTRAS MODALIDADES DE PARCERIAS EM ÁREAS PROTEGIDAS
Virginia Martins Fonseca (virginia.martins@ufvjm.edu.br)
Raquel Faria Scalco (raquel.scalco@ufvjm.edu.br)
Diego de Macedo Araujo (diego_macedo100@hotmail.com)

INTRODUÇÃO

As áreas protegidas (AP) como espaços destinados a conservação ambiental, tem como discurso manter a
integridade dos atributos cênicos, autênticos e endêmicos de determinado bioma, bem como claros interesses de
provocar sentimentos de pertencimento, orgulho e identidade nacional. A complexidade percebida nos processos de
patrimonialização da natureza transpassam tais pressupostos, pois envolvem, muitas vezes, atores sociais que
compreendem o território sob diferentes perspectivas.
Sob a perspectiva político institucional brasileira, a definição das áreas protegidas é regida pela Lei nº 9.985
(BRASIL, 2000), que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e classifica as Unidades de
Conservação (UC) em 12 categorias, divididas em dois grandes grupos: UCs de proteção integral e UCs de uso
sustentável. De forma geral, elas são criadas por meio de decretos lei, de âmbito municipal, estadual ou federal, que
definem a categoria, os objetivos, limites e suas especificidades.
Para que as áreas protegidas sejam geridas de forma a atingir os objetivos de conservação do patrimônio
ambiental e cultural, algumas diretrizes foram delineadas no contexto da legislação brasileira e devem compor o
planejamento e a implementação dos diferentes tipos de parcerias para a gestão destas áreas (BRASIL, 2000; BRASIL,
2006). O Observatório de Parcerias em Áreas Protegidas (OPAP, 2020) entende por parcerias os diferentes arranjos
institucionais adotados pelos órgãos gestores ambientais para viabilizar a participação pública e privada, com e sem
fins lucrativos, no apoio à criação, implementação e gestão de áreas protegidas e visam diferentes objetivos, tais como:
o apoio à conservação da área; à prestação de serviços para visitação em contato com a natureza, à realização de
atividades de educação ambiental e pesquisa, dentre outros.
Em dezembro de 2020, foi formalizado um contrato entre o Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG) e o BNDES,
com o objetivo de elaborar estudos para analisar a viabilidade de concessão, por tempo limitado, da área de uso público
de sete UCs de Minas Gerais, com vistas à concessão de serviços turísticos relacionados à visitação e melhoria das
condições de infraestrutura de visitação e recreação para o público em geral (IEF-MG, 2021a). Os Parques Estaduais
selecionados nessa primeira etapa foram: Parque Estadual do Rio Doce; do Itacolomi; da Serra do Rola Moça; do Ibitipoca;
do Rio Preto; do Biribiri; e do Pico do Itambé (IEF-MG, 2021a).
Frisamos que em um raio de 150 km de Diamantina existem sete parques, sendo um nacional (PARNA Sempre
Vivas), cinco estaduais (Parque Estadual de Biribiri; do Rio Preto; do Pico de Itambé; Serra do Intendente e; Serra Negra)

351
e um municipal (Parque Natural Municipal do Tabuleiro), e destes três foram priorizados como objetos de estudo pelo
IEF-MG/BNDES.
Neste contexto, é essencial o desenvolvimento de iniciativas extensionistas com o intuito tanto de
compreender a conjuntura atual como acompanhar como se darão tais processos na realidade de influência do curso de
Turismo da Universidade Federal dos Vales de Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), sediado em Diamantina/MG. Entendemos
que ações extensionistas que busquem difundir a importância da preservação ambiental nunca foram tão necessárias
como atualmente em nosso país, já que o desmatamento tem batido recordes no Brasil, enquanto o poder Executivo
avança na agenda de flexibilização das regras de proteção ambiental junto ao poder Legislativo, como o denominado
“Pacote da Destruição”23.
Ademais, para Martins Fonseca e Bustos Cara (2021), o cenário atual não é positivo, já que está em tela a
“necessidade emergencial” de conceder à iniciativa privada estes territórios protegidos. Portanto, para os autores, tais
narrativas da concessão de uso público ignoram a importância de um debate ampliado sobre aspectos positivos e
negativos, complexos e contraditórios, dentre as quais deveriam considerar ações efetivas, não só de envolvimento das
comunidades que estão no entorno de tais territórios, como pela prioridade em zelar pela qualidade de vida das
mesmas. Nesta seara, destacamos:
Desde 2019, com a publicação pelo governo federal do Programa Nacional de Desestatização (PND),
evidencia-se o desmonte nas áreas ambiental, cultural, educacional e de saúde. No que concerne às UCs,
o programa contempla a concessão daquelas UCs que já possuem demanda turística significativa, para
atender interesses do mercado neoliberal (MARTINS FONSECA; BUSTOS CARA, 2021, p.26).

O Programa de Concessão em Parques Estaduais, lançado pelo Governo de Minas em 2019, menciona a
necessidade de contribuir para a inovação na gestão das áreas protegidas do Estado, atraindo investimentos, gerando
empregos, ampliando os recursos humanos e financeiros, com o intuito de sensibilizar grande parcela da sociedade
quanto à real importância de manutenção das áreas verdes para a qualidade de vida das gerações atuais e futuras. (IEF-
MG, 2021b).
Cabe salientar que, dentre os instrumentos utilizados para firmar tais parcerias, a concessão de serviços e
áreas para viabilizar atividades de apoio à visitação tem sido implementada com prioridade em APs, sobretudo em
parques. No entanto, além da concessão, a permissão e a autorização são possibilidades para formalizar a parceria com
a iniciativa privada com fins lucrativos. Já o SNUC estabelece a possibilidade de parcerias com OSCIPs para promover a
co-gestão de tais territórios e, por fim, é possível estabelecer parcerias com entidades sem fins lucrativos, considerando
instrumentos regulados no contexto da participação das organizações da sociedade civil, tais como: termo de
colaboração, termo de fomento e acordo de cooperação (BRASIL, 2014). Inclusive, entendemos que estas modalidades
são mais adequadas à realidade das APs do entorno de Diamantina, frente às particularidades relacionadas a concessão.

23O “Pacote da Destruição” socioambiental refere-se aos projetos de lei que favorecem a grilagem de terras (PL 2.633/2020 e PL 510/2021); a liberação de
agrotóxicos (PL 6.299/2002); a anulação do licenciamento ambiental (PL 3.729/2004); a demarcação de terras indígenas (PL 490/2007); e a mineração em terras
indígenas (PL 191/2020). Consultar: https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2022-03-10/pacote-da-destruicao-pls-levaram-artistas-ao-congresso.html

352
Neste sentido, como esta discussão é recente no contexto nacional, nos parece oportuno promover um debate
relacionado ao tema com o intuito de entender como as parcerias podem contribuir como instrumentos de
implementação de políticas públicas, considerando suas especificidades para viabilizar a participação privada na gestão
da coisa pública.
Portanto, foi realizado, como ação extensionista inspirada na atuação do OPAP 24, um curso on-line nos moldes
de um grupo de estudos para tratar da temática. O curso denominado “Parcerias em Áreas Protegidas: pela efetiva
conciliação entre uso público e comunidades locais” teve como público-alvo servidores e terceirizados das áreas
protegidas mineiras, com foco naquelas inseridas na região de Diamantina, assim como docentes, estudantes de pós-
graduação e graduação interessados pela temática. A iniciativa teve o objetivo de promover um diálogo na busca pela
compreensão do que são as parcerias em áreas protegidas e suas possibilidades de implantação, com especial atenção
aos temas relacionados ao uso público e envolvimento das comunidades locais. Os encontros aconteceram entre agosto
e dezembro de 2021 e contou com a participação efetiva de 12 pessoas de diversas áreas do conhecimento, favorecendo
um debate interdisciplinar, com expressiva representatividade regional, e participação de servidores de nove áreas
protegidas de Minas Gerais. Como resultado, entendemos que o curso foi de suma importância para fomentar o debate
sobre o tema, e sensibilizar equipes gestoras de APs envolvidas nos processos de parcerias, instigando um olhar crítico,
reflexivo e sensível a respeito do tema.

METODOLOGIA

O curso on-line “Parcerias em áreas protegidas – pela efetiva conciliação entre uso público e comunidades
locais”, foi aprovado pelo edital 05/2021 da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura – PROEXC, da UFVJM. A equipe
coordenadora contou com duas docentes e um discente bolsista do curso de Turismo desta universidade, assim como
três membros do OPAP (discentes de pós-graduação e graduação). A divulgação do curso se deu pelas redes sociais e
por e-mail enviado aos gestores de parques naturais de Minas Gerais. Foi criado pelo discente bolsista um perfil no
Instagram nomeado “@pupap.mg”, em que a sigla se refere às Parcerias para Uso Público em Áreas Protegidas de
Minas Gerais (foco região de Diamantina), e teve como objetivo associar este perfil às APs da regional (e outros
interessados), a partir da publicação das referências do conteúdo programático do curso.
Houveram 72 inscritos interessados em participar do curso, sendo identificados quarenta inscritos que se
associavam ao perfil desejado e, destes, foram selecionados vinte inscritos para a primeira chamada. A partir da
confirmação da maioria, e início do curso, foi realizada uma segunda chamada para as vagas restantes. Neste sentido,
considerando que o objetivo do curso era engajar participantes que estivessem atuando nas APs mineiras, optamos pela
continuidade das atividades com quinze inscritos.

24O OPAP reúne docentes e pesquisadores de universidades brasileiras com a intenção de promover o conhecimento sobre o tema, a partir da pesquisa, do
ensino e da extensão. Para saber mais: www.opap.com.br

353
Nossa estratégia para potencializar a aprendizagem da turma foi a metodologia ativa que, segundo Sobral &
Campos (2012), é o método educativo que instiga o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo, uma vez que o
estudante deve ser participativo e compromissado com seu aprendizado, fazendo uso de situações de problemáticas
e/ou reflexão para gerar uma aproximação crítica do estudante com a realidade. Borges et al. (2014) compreende que
o ensino se torna eficaz quando os estudantes são envolvidos e se tornam ativos durante o processo; as aulas tornam-
se dinâmicas, vivas e interessantes com a participação e questionamentos realizados por todos. Para tanto, diferentes
estratégias metodológicas podem ser adotadas na metodologia ativa, dentre elas a aprendizagem baseada em
problemas (ABP), que foi utilizada para os encontros síncronos deste curso on-line. Para Silva (2016), o professor deve
incentivar o protagonismo do estudante na construção do conhecimento em um processo de interação entre sujeito
(aluno em atividade) e objetos dos conhecimentos (diferentes saberes), sob sua orientação, enquanto moderador da
atividade.
Foi utilizada a plataforma do Google Sala de Aula para disponibilizar as referências e como canal de
comunicação oficial. Os encontros síncronos ocorreram por meio da plataforma do Google Meet, quinzenalmente, entre
os dias 19 de agosto e 16 de dezembro de 2021. A metodologia ABP foi aplicada considerando às referências de leitura
e vídeos indicados. Nestes encontros, a equipe coordenadora apresentava questões-problemas que envolviam sempre
três dimensões: a dimensão reflexiva, a dimensão real; e a dimensão ideal. Os participantes eram divididos em
subgrupos, que migravam para outras salas do Google Meet e discutiam duas ou três destas dimensões (a depender do
número de participantes e da complexidade das questões).
Foram realizados dez encontros síncronos, intercalados com atividades assíncronas, considerando a indicação
de leitura de textos, artigos e documentos, bem como indicações de transmissões on-line relacionadas de canais
institucionais do Youtube, contabilizando uma carga horária total de 80 horas, dividida em cinco módulos. Ao final de
cada módulo, os participantes eram convidados a preencher um formulário on-line de auto avaliação daquela etapa,
bem como propor sugestões de melhorias para o curso e indicar outros temas de interesse que estivessem relacionados.
Destacamos que o último módulo foi dialógico, ou seja, com conteúdo indicado pelos participantes do curso.

RESULTADOS

Apresentamos, a seguir, os temas de cada módulo do curso on-line e os principais apontamentos dos participantes,
considerando os debates propostos na ABP adotada para o encontro síncrono.
O primeiro módulo teve como temática a “Crise Socioambiental e Dialogo de Saberes – Uma Introdução”.
Neste módulo, houve o entendimento do quão é perceptível a fragilidade das comunidades do entorno das APs diante
de várias questões, onde se destacou que o próprio poder público, órgão que teria o papel de gerir e diminuir as
desigualdades, na prática acaba subsidiando a mercantilização pelas grandes empresas privadas, dirimindo as
possibilidades de circulação de renda na localidade e, corroborando para um entendimento de que o Estado não tem

354
competência para promover o uso público nestes territórios. Tal atuação promove um distanciamento quanto às
possibilidades que possam ser protagonizadas pelas comunidades locais. Para os participantes, quando adotado o
modelo de concessão (como referência), a AP muitas vezes é tratada como mercadoria e o uso público passa a ser
percebido, essencialmente, sob o prisma econômico, já que impede que diversos públicos possam frequentar a AP,
diante dos processos de elitização do território frente os custos para usufruir a área. Neste sentido, o discurso de
“salvar” a AP e promover o “desenvolvimento” do turismo, em suma, exclui moradores do entorno e sabota a função
social da UC como bem comum. Para os participantes, dentre as soluções pensadas, foram enaltecidas as políticas
públicas com vistas a garantir que as comunidades do entorno sejam protegidas por lei, ainda que de âmbito municipal.
Para tanto, é necessário reconhecer tanto a comunidade como a natureza, considerando o conhecimento tradicional como
de fundamental importância para a efetiva inclusão das mesmas nos processos de gestão do território.
Já o módulo 2 teve como tema “O envolvimento das comunidades locais na gestão de uso público em áreas
protegidas”, e houve o entendimento que a percepção sobre o espaço e tempo entre as populações tradicionais, o
mercado financeiro e a gestão pública são percebidos de forma distinta, pois o sistema prioriza o mercado, encurta a
noção de espaço e acelera a noção de tempo, enquanto as populações tradicionais têm seus costumes e cultura
priorizando o seu bem-estar. Interessante destacarmos que, para os participantes, esse conflito entre o mercado e as
comunidades geram novos desafios, exponencializados quando a gestão decide priorizar o mercado externo, o que
prejudica o dialogo junto às comunidades e invisibiliza os direitos que deveriam ser garantidos, dificultando assim as
possibilidades de promover o turismo de base comunitária como alternativa socioeconômica. Foi destacado que, para
que o uso público seja solidário, é fundamental que haja diálogo com a população local, a fim de evitar que a mesma se
sinta excluída do processo, tal qual quando ocorre a criação da AP. Frisamos que, dentre as soluções debatidas, foi
pontuada a necessidade de compreender as demandas dos moradores e suas potencialidades, incentivando o seu
protagonismo e autonomia na escolha de que tipo de turismo eles almejam promover, já que este ocorrerá
inevitavelmente.
O terceiro módulo teve como tema “Os valores públicos e os desafios da responsabilização nas parcerias para
o turismo em áreas protegidas”, e por ser uma temática complexa, foi dividido em duas partes. No primeiro encontro
houve uma aula expositiva acerca do Marco Regulatório da Organização da Sociedade Civil (MROSC), os modelos de
parcerias para o turismo nas APs e esclarecimento de dúvidas. Na segunda parte desse módulo, sob o tema “Parcerias
e Concessões no Desenvolvimento do Turismo em Áreas Protegidas”, um dos principais desafios apontados foi o
sucateamento das UCs. Para os participantes, o sucateamento é visto como um projeto que potencializa a privatização
do território, visibilizando inclusive o programa do ICMBio denominado “Adote um Parque”. Foi evidenciado pelos
participantes que, considerando suas respectivas realidades, para alcançar um ideal favorável é importante
compreender a natureza enquanto direito público e um passo para isso é o fortalecimento do Conselho Gestor. Os
participantes sugeriram a criação de grupos de estudos que permitiriam um conhecimento mais aprofundado acerca das
parcerias e do uso público. Neste contexto, é necessário visualizar como as modelagens de parcerias poderiam ser

355
implementadas. Para os participantes, no caso das concessões, o discurso de geração de emprego e renda dificilmente
se cumpre e podem gerar ônus para a gestão da UC, tanto pela pressão da comunidade, como pela função de fiscalizar
o serviço prestado. Os participantes sinalizaram que talvez, efetivamente, o MROSC seja o modelo mais próximo do
almejado, exatamente por envolver os atores locais. Para corroborar, segundo Botelho & Rodrigues (2016), a
comunidade como protagonista do uso público proporciona vários benefícios, viáveis diante de alguns modelos de
parcerias já que a participação é diversa, a saber: individual (autorização); consórcio com outras iniciativas de base
comunitária; parceria com empresas, entre outras. Neste sentido, para os participantes, é necessário o incentivo da
gestão (e que esta seja articulada com a academia) para que a comunidade se organize em associações ou cooperativas,
e quiçá possam se configurar como OSC e potencializar tais parcerias, ainda que não se caracterize como uma prática
exequível a curto e médio prazo. Também foi constatado pelos participantes que além da concessão ser uma forma de
monopolização dos serviços relacionados ao uso público, pode potencializar a própria concessão ambiental, diante da
prerrogativa do lucro como prioridade, podendo prejudicar a preservação da fauna e flora em prol da promoção do uso
público. Por fim, quanto a este módulo, para os participantes parece incoerente tal estratégia diante do fato que a
manutenção de tal bem comum seja pela sociedade em geral, considerando o pagamento de impostos que deveriam
primar pela gestão, funcionamento e atendimento ao público. Assim, houve consenso entre os participantes quanto ao
papel dos conselhos e a gestão da UC para questionar e monitorar a implantação de parcerias, principalmente aquelas
impostas verticalmente. É necessário descolonizar a forma de pensar o mundo, que deveria pautar pela relação
harmônica do ser humano com a natureza, desmitificando a mesma enquanto recurso natural.
O quarto módulo, sob o tema “Reflexões acerca das concessões e parcerias dos serviços turísticos no Brasil
nas AP”, foi dividido em três partes, e se iniciou ressaltando a necessidade de incluir as comunidades locais nas
atividades da UC. Foi evidenciado que já existem diversas parcerias informais entre a gestão das UCs e as comunidades,
e é importante que a gestão se esforce para que elas aconteçam, pois fortalecem laços locais, e a partir da união de
interesses comuns pode mitigar projetos que, para além de não beneficiarem as comunidades locais, elitizam o acesso
ao lazer. Além disso, foi destacado que, mesmo que o processo de organização da comunidade para se alcançar a
parceria no formato do MROSC seja burocrático, é um bom caminho a seguir, já que coloca a comunidade no epicentro,
resguardando para que a UC e suas particularidades do entorno não se configurem como mercadorias para atender
interesses neoliberais. Neste sentido, alguns participantes compartilharam iniciativas de parcerias, tanto formais como
informais, que acontecem no âmbito das APs em que estão inseridos territorialmente. Assim, considerando a demanda
dos participantes, tanto o segundo como o terceiro encontro deste módulo foram exclusivamente de conteúdo
expositivo. Foram abordados os modelos de parcerias que podem ser aplicados a gestão de uso público da AP, quais
sejam: Concessão, Autorização; Permissão; Co-Gestão ou Termo de Parceria; Termo de Colaboração; Termo de Fomento;
e Acordo de Cooperação. Para tanto, foram abordadas as normas legais, as características gerais de cada modalidade,
os instrumentos e exigências para cada uma delas, os tipos de serviços, os atores parceiros e exemplos exitosos no
Brasil. Foi consenso entre os participantes que a realização de algumas parcerias ainda que percebidas como “mais

356
simples”, podem promover resultados importantes relacionados a aproximação entre a comunidade e a gestão, já que
podem despertar nos moradores tanto seu potencial como evidenciar o protagonismo de uma gestão público-
comunitário, diante da prática do gestor-morador e morador-gestor. Para Brumatti & Rozendo (2021), a comunidade
pode buscar investimento em programas de empoderamento social que tem bastante aderência às diversas realidades
do entorno de AP. Para os autores, tais iniciativas relacionadas a qualificação de serviços, produtores e produtos locais
e regionais podem evidenciar o conhecimento e reconhecimento de saberes e tecnologias locais de manejo dos bens
referentes aos serviços ambientais, a formação de redes de cooperação e aprendizagem, de capacitação individual e
coletiva. Neste contexto, para os participantes, ampliar a gestão compartilhada com OSCIPs, também é uma estratégia
potente para fortalecer os atores locais como beneficiados das parcerias.
Por fim, o quinto módulo foi pensado para ser dialógico, de modo que os participantes compartilhassem
seus temas de interesse e suas experiências, de forma didática e por meio de apresentação de slides com imagens de
tais práticas nos seus respectivos territórios. Um dos relatos referiu-se a modelagem de autorização para pessoas
físicas e jurídicas, para locação de bicicletas no interior de uma AP, por um período de dois anos, podendo ser
prorrogado. O limite de 200 bicicletas para locação, divididas em 10 prestadores de serviços foi percebida como uma
estratégia que agrega maior quantitativo de parceiros e impede a monopolização do serviço. Em contrapartida, esses
parceiros têm como obrigação realizar mutirões de manutenção das trilhas, instalação dos bicicletários e sinalização
nos percursos. Outro relato tratou dos serviços de locação de canoa, que deveriam viabilizar (inclusive) ações de
educação ambiental para estudantes das escolas locais. Esse tipo de parceria foi articulado entre três atores (prestador
de serviço, gestão da UC e Secretaria Municipal de Educação) e é bastante coerente com a função social da AP. Outro
relato compartilhado foi a formatação de uma rota de cachoeiras que integram diversas comunidades no entorno,
incentivando os moradores a empreenderem em sua própria residência, diante da previsão de aumento do fluxo de
visitantes. Tal iniciativa visa mitigar a falta de regularização fundiária, venda de imóveis e especulação imobiliária, por
exemplo. Outro relato mencionou que as parcerias com escolas são de fundamental importância, já que reconhece a
relevância da AP para a região por meio de contação de história associada a música e a importância das abelhas nativas.
Este módulo foi bastante propositivo, considerando a partilha de experiências, ora institucionalizadas, ora não, entre
comunidades locais e gestores. Foi consenso que tais experiências fortalecem vínculos de forma orgânica, e consolidam
o senso de pertencimento, pela empatia pelo território e seu cuidado solidário.
Para finalizar, no último encontro foi realizado um amigo coletivo poético, ação singular e de acolhimento
entre equipe coordenadora e participantes, assim como a entrega dos certificados, a avaliação do projeto e
agradecimentos pela partilha de aprendizados, mesmo num cenário de tanto esgotamento de atividades virtuais e de
distanciamento social impostos pela pandemia da COVID-19.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

357
As parcerias em áreas protegidas é um tema incipiente, sendo que o conhecimento sobre o assunto está em
construção. Neste sentido, iniciativas extensionistas com o objetivo de construir e difundir este conhecimento são de
suma importância para que os atores locais tenham conhecimento suficiente para opinarem, participarem e exporem
suas opiniões, desejos e demandas de forma assertiva.
Entendemos que o modelo de concessões pode se adequar à realidade de algumas UCs do Brasil, mas que a
grande maioria delas possui especificidades que favorecem outras modelagens de parcerias mais inclusivas, e
consequentemente mais benéficas para as comunidades locais. Tais especificidades referem-se ao quantitativo de
visitantes, à presença das comunidades locais, as possibilidades de oferta de serviços de turismo de base local pelos
moradores do entorno desses territórios, dentre outras.
Desta forma, a realização dessa ação extensionista, voltada para gestores e funcionários de APs em Minas
Gerais, contribuiu para popularizar o conhecimento sobre outros modelos de parcerias para o uso público em AP, para
além da estratégia adotada pelo Estado, centrada nas concessões. Entendemos que as parcerias por meio da
Autorização, Permissão, Co-Gestão ou Termo de Parceria; Termo de Colaboração; Termo de Fomento; e Acordo de
Cooperação têm maior aderência à realidade da maior parte das APs de Minas Gerais, já que potencializa o engajamento
e protagonismo das comunidades locais, contribui para a imagem da UC, favorece a articulação entre a gestão da AP e
comunidades do entorno, entre outros, contribuindo no alcance da função social para qual foram criadas estas áreas
protegidas.
Concluímos que os objetivos dessa ação extensionista foram alcançados e a metodologia utilizada, baseada
na ABP, amparada pelas referências adotadas, superou as expectativas de todos os envolvidos, contextualizando
aspectos teóricos, práticos e contemporâneos sobre o assunto. Por fim, entendemos que o curso foi importante para
fomentar o debate sobre o tema, sensibilizar os participantes que podem se envolver nos processos de parcerias,
instigando um olhar crítico, reflexivo e sensível. A partir das discussões e debates realizados nos encontros síncronos
e nas atividades assíncronas foi possível perceber as deficiências e problemas enfrentados pelas APs, e o
desconhecimento da maioria dos participantes sobre tais modelagens de parcerias. Igualmente, foram avistadas
parcerias potenciais que seriam benéficas para a UC e para as comunidades do entorno. Esperamos que estes
participantes tenham a possibilidade de replicar esse conhecimento para outros atores locais, bem como fomentar a
criação de Organizações da Sociedade Civil, para o efetivo fomento destas outras modalidades de parcerias.
Por fim, dado o sucesso desta iniciativa, e a importância de ampliar o debate, foi proposta uma segunda edição
da mesma, já aprovada no edital PROEXC 05/2022 – Cursos On-line, em desenvolvimento desde janeiro e com término
previsto para junho de 2022. Desta vez, a inciativa tem como público-alvo os membros de conselhos gestores de APs do
estado de Minas Gerais, posto que é essencial que os conselhos possam atuar como lócus de discussão, reflexão crítica
e proposição de outras modalidades de parcerias para o uso público em áreas protegidas, efetivamente mais inclusivas
e benéficas para as comunidades locais, considerando suas particularidades, tão locais como únicas.

358
PALAVRAS-CHAVE

Unidades de Conservação, Curso On-line, Parcerias, Uso Público, Comunidades Locais.

REFERÊNCIAS

Borges, M.C; Chachá, S.G.F; Quintana, S.M.; Freitas, L.C.C; Rodrigues, M.L.V. (2014). Aprendizado baseado em problemas.
Medicina, Ribeirão Preto, v.47, n. 3, 2014, Disponível em: http://revista.fmrp.usp.br/2014/vol47n3/8_Aprendizado-
baseado-emproblemas.pdf.

Brasil. (2000). Lei N° 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, parágrafo 1º, incisos I, II, III e VII, da
Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação e dá outras providências. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente / Secretaria de Biodiversidade e Florestas.

Brasil. (2014). Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014. Estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração
pública e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de
interesse público e recíproco, mediante a execução de atividades ou de projetos previamente estabelecidos em planos
de trabalho inseridos em termos de colaboração, em termos de fomento ou em acordos de cooperação; define diretrizes
para a política de fomento, de colaboração e de cooperação com organizações da sociedade civil; e altera as Leis nºs
8.429, de 2 de junho de 1992, e 9.790, de 23 de março de 1999. Brasília.

Brasil. (2006). Decreto 5.758, de 13 de abril de 2006. Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas. Brasília: Ministério
do Meio Ambiente / Secretaria de Biodiversidade e Florestas, 2006.

Botelho, e. S.; Rodrigues, c. G. O. (2016). Inserção das iniciativas de base comunitária no desenvolvimento do turismo
em parques nacionais. Caderno Virtual de Turismo. Rio de Janeiro, v. 16, n. 2. Disponível em:
http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/1202

Brumatti, P. N. M.; Rozendo, C. (2021). Parques Nacionais, turismo e governança: Reflexões acerca das concessões dos
serviços turísticos no Brasil. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo,15(3), e-2119, set./dez. Disponível
em: https://www.rbtur.org.br/rbtur/article/view/2119.

Minas Gerais. Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG). (2021a). PARC – Programa de Concessão de Parques Estaduais.
Última atualização (Sex, 09 de abril de 2021 15:43). Disponível em:
http://www.ief.mg.gov.br/component/content/article/3306-nova-categoria/2697-parc-programa-de-concessao-de-
parques-estaduais.

Minas Gerais. Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG). (2021b). Contrato de estruturação de projeto n 20.2.0483.1:
celebrado entre IEF e BNDES. Disponível em: http://www.ief.mg.gov.br/component/content/article/3306-nova-
categoria/3324-contrato-de-estruturacao-de-projeto-n-20204831-celebrado-entre-ief-e-bndes

Martins Fonseca, V; Bustos Cara, R.N. (2021) Os Parques Nacionais da Argentina e do Brasil: Aspectos Contemporâneos
do Uso Público. Revista Eletrônica Uso Público em Unidades de Conservação. Niterói, RJ. Vol. 9, nº 14. Disponível em:
https://periodicos.uff.br/uso_publico/article/view/51522

Observatório de Parcerias em Áreas Protegidas (OPAP). (2020). Projeto de Pesquisa e Extensão do Observatório de
Parcerias em Áreas Protegidas – OPAP.

359
Silva, E.F. (2026). Relação pedagógica no grupo tutorial: desafios e possibilidades das metodologias participativas
(ativas). Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 16, n. 50, out./dez. Disponível em: http://dx.doi.org/10.7213/1981-
416X.16.050.AO03

Sobral, F.R.; Campos, C.J.G. (2012). Utilização de metodologia ativa no ensino e assistência de enfermagem na produção
nacional: revisão integrativa. Rev Esc Enferm, USP; 46(1). Disponível em: www.ee.usp.br/reeusp

360
Resumos de Artigos Completos
ANÁLISE SOBRE O PROCESSO FORMATIVO DE CONDUTORES LOCAIS DE VISITANTES E O
PLANO DE MANEJO DO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DAS MESAS

Fernando Campelo Pãozinho (nando.camp@hotmail.com)


Silvio José de Lima Figueiredo (silviolimafigueiredo@gmail.com)

RESUMO

O Parque Nacional da Chapada das Mesas é um importante território que tem por objetivo resguardar a diversidade
biológica do cerrado maranhense. O seu uso público por meio da visitação turística acontece atualmente em apenas 02
atrativos: Cachoeira de São Romão e Cachoeira do Prata. Assim, o (a) condutor (a) de visitantes tem um importante papel
no processo da experiência interpretativa. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa é compreender como a condução de
visitantes acontece e contribui para o desenvolvimento sustentável do Parque Nacional da Chapada das Mesas a partir
de um olhar sobre a formação destes agentes e o conteúdo do seu plano de manejo. Para isso, a metodologia empregada
consistiu no desenvolvimento de uma pesquisa exploratória, bibliográfica e documental, com posterior aplicação de
pesquisa-ação e realização de web survey. Como resultado foi possível verificar que o plano de manejo foi elaborado e
instituído somente em 2019, ou seja, 14 anos após a criação da referida Unidade de Conservação. Isto refletiu nos dados
obtidos junto aos participantes do curso de Condução de Visitantes em Ambientes Naturas e Áreas Protegidas em que
apenas 72% relataram contato direto ou indireto com o instrumento e 28% desconheciam tal conteúdo. Concluiu-se que
é necessário viabilizar condições de formação profissional para estes condutores, aproximando os conteúdos
interpretativos de suas realidades cotidianas, contribuindo cada vez mais para uma ciência cidadã e profissionalização
da experiência de visitação.

Palavras-chave: Condução; Visitantes; Manejo; Parque Nacional; Chapada das Mesas.

361
NOTAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE NATUREZA EM UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO DO ESTADO DO AMAPÁ

Dioleno Pereira da Silva (dioleno.silva@gmail.com)


Mario Teixeira de Mendonça Neto (mariomacneto@gmail.com)
Marcos Antônio Leite do Nascimento (marcos.leite@ufrn.br)

RESUMO

Estimulado pelo debate que considera a relação entre ‘natureza–turismo–desenvolvimento’, o presente estudo
apresenta e discute algumas notas de reflexão sobre o desenvolvimento do turismo em unidades de conservação no
estado do Amapá. O estado fica localizado no extremo norte do país e faz parte da Amazônia Legal, tendo por principais
características o fato de ser o único que não se liga por via terrestre ao restante do país e por possuir cerca de 72% de
seu território composto por áreas naturais protegidas. Para o estudo foram utilizadas as técnicas de pesquisas
documental e bibliográfica. Como resultado, identificou-se que, mesmo sendo considerado o estado da federação mais
protegido em termos de tamanho de área, o estado está longe de ser efetivamente o que mais preserva/conserva suas
áreas naturais, além de promover de forma bastante incipiente o desenvolvimento de atividades turísticas nestas áreas,
apresentando problemas relacionados às suas unidades de conservação similares aos percebidos e enfrentados pelas
demais existentes no Brasil.

Palavras-chave: Unidades de Conservação; Turismo; Desenvolvimento.

362
O PROCESSO DE CONCESSÃO NO PARQUE ESTADUAL DE IBITIPOCA (MG): QUESTÕES
PRELIMINARES SOBRE CONTROLE SOCIAL DAS PARCERIAS PARA O TURISMO

Altair Sancho-Pivoto (altairsancho@hotmail.com)


Camila Gonçalves de Oliveira Rodrigues (camila.rodrigues.ufrrj@gmail.com)
Eloise Silveira Botelho (eloise.botelho@unirio.br)
Virginia Martins Fonseca (virginia.ufvjm@ufvjm.edu.br)

RESUMO

As parcerias para o turismo em unidades de conservação constituem uma estratégia para a implementação de políticas
públicas de conservação da natureza. Considerando o contexto no qual são implementadas, em um plano global,
implicadas pelos desdobramentos do neoliberalismo nas políticas públicas ambientais, pela apropriação dos processos
participativos para referendar interesses privados, e, em específico, pelos diversos interesses dos atores sociais em
jogo, é fundamental o acompanhamento das práticas de controle social e dos efeitos na gestão do patrimônio natural e
cultural e no desenvolvimento do território. O presente trabalho tem por objetivo analisar o processo de consulta
pública, em curso, de concessão dos serviços de apoio à visitação no Parque Estadual do Ibitipoca (PEIb - MG), à luz da
responsabilização pelo controle social. Para tanto, a pesquisa, de caráter qualitativo e exploratório, envolveu a
realização de levantamento bibliográfico e documental envolvendo o processo de concessão no PEIb, bem como a
observação não participante em audiência pública. A análise dos dados, guiada por valores públicos como a
responsabilização pelo controle social, demonstra que: a concessão dos serviços de apoio à visitação no PEIb é
apresentada à sociedade sem que esta tivesse a oportunidade de construção desde a concepção ou planejamento da
modalidade de parceria em questão; a modelagem da concessão apresenta aspectos limitados no que se refere à
inclusão social e à redução de desigualdades sociais; e foram acionados diferentes mecanismos de controle social no
sentido de interromper ou redirecionar o processo para uma construção colaborativa e democrática, visando a melhoria
da qualidade de vida, o desenvolvimento do território e a conservação do patrimônio natural e cultural. A participação
social e o acionamento de mecanismos de controle social sobre as concessões em unidades de conservação podem ser
uma medida para avaliar o exercício da democracia na implementação de políticas públicas e na apropriação das áreas
protegidas como um bem público.

Palavras-chave: Áreas Protegidas; Visitação, Parcerias; Participação.

363
TURISMO EM TERRAS INDÍGENAS: A PARTICIPAÇÃO DAS COMUNIDADES NO ESTADO DE
RORAIMA, BRASIL

Karla Cristina Damasceno de Oliveira (karla.oliveira@ifrr.edu.br)


Diana Priscila Sá Alberto (dianaalberto@ufpa.br)

RESUMO
O turismo em terras indígenas (TIs) tem sido foco de pesquisas desde o começo dos anos 2000. As produções estão em
diferentes regiões do país e na Amazônia essas investigações têm ganhado força quando muitas iniciativas, entre elas
privadas, públicas e de agências de fomento, têm se colocado nas comunidades indígenas como possibilidade de
desenvolvimento para essas populações. O estado de Roraima, localizado no extremo norte do país, possui um número
significativo de trinta e três Tis; algumas delas alvo dessas iniciativas de imersão da atividade turística. A questão
proposta para este artigo é como estão sendo levadas as informações sobre a prática do turismo e como essas
comunidades estão participando desse processo? A partir dessa questão problema o trabalho se propõe a compreender
como se desenvolve o processo de inserção da atividade turística nas comunidades. Metodologicamente, a análise foi
desenvolvida com abordagem teórica sobre turismo em terras indígenas e teve como instrumento entrevista
semiestruturada com um informante que trabalha diretamente com elas. A observação tem como base a coleta de dados
qualitativos a partir das respostas obtidas. Este trabalho justifica-se por propor uma discussão sobre a pressão que as
comunidades indígenas sofrem para a inserção de não-indígenas em seus territórios por meio do turismo, e vai abrir
possibilidades de investigações futuras para os alunos da área técnica, da graduação e de pós-graduação em turismo.
Ademais, o assunto abordado precisa ser tratado com toda a seriedade que a atividade turística e os povos indígenas
merecem. Resultados preliminares desta investigação demonstraram que algumas comunidades não são informadas de
maneira clara sobre os impactos reais que podem ser causados pela atividade turística, sobretudo os negativos, além
da criação de planos de visitação pré-construídos e pouca participação da coletividade nas decisões tomadas.
Palavras-chave: Turismo; Terras Indígenas; Roraima; Amazônia Setentrional; Participação.

364
GT 11 – POLÍTICA PÚBLICA E DESENVOLVIMENTO NO TURISMO
DIA 18/05 – 14h as 18h

365
Resumos de Expandidos
CONTRIBUIÇÕES DO ECOTURISMO PARA ALCANCE DOS OBJETIVOS DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Adriana Israel de Almeida Pereira (adrianaisraelap@gmail.com)


Flávio José de Lima Silva (flaviogolfinho@yahoo.com.br)
Francielen Letice de Souza Silva (fran_letice@hotmail.com)
Lume Garcia Monteiro de Souza (lumitaluz@gmail.com)

INTRODUÇÃO

O antigo conceito da preservação ambiental, baseado no distanciamento do homem da natureza e na


intocabilidade dos recursos naturais, tem sido superado e substituído por outro que considera o desenvolvimento da
civilização, com fundamentação no uso racional do meio ambiente (MMA; PNUD, 2000; DIEGUES, 2008). A este
desenvolvimento que (1) permite a conservação e realimentação das fontes de recursos naturais em oposição ao
esgotamento, que (2) prioriza a repartição justa dos benefícios alcançados em oposição a exclusão da sociedade, e que,
(3) ao invés de interesses imediatistas, se baseia no planejamento da sua trajetória, mantendo-se no espaço e no tempo,
damos o nome de desenvolvimento sustentável (MMA; PNUD, 2000).
O conceito de desenvolvimento sustentável (DS), que tem sido o foco de grandes discussões nas últimas
décadas, acrescentou a dimensão da sustentabilidade ambiental a já existente sustentabilidade social e questões
econômicas embutidas no conceito de Desenvolvimento. O documento que é considerado um dos principais marcos para
o seu surgimento, O Relatório Brundtland, define Desenvolvimento Sustentável como aquele que atende as necessidades
das gerações atuais sem comprometer a oportunidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias
necessidades (SACHS, 2008).
Neste contexto, foram construídos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) levando em conta o
legado deixado pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que foram estabelecidos no ano de 2000, procurando
avançar nas metas não alcançadas e beneficiando os mais vulneráveis (ONU, 2016). Composto por 169 metas globais,
os ODSs devem ser adaptados à realidade dos diferentes países, sendo considerados integrados e indivisíveis, de modo
a equilibrar os pilares do desenvolvimento sustentável: as dimensões social, ambiental e econômica (ONU, 2016; IPEA,
2018).
Na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Geral das Nações Unidas, da Organização das
Nações Unidas (ONU), de 2015, foi assinado o documento Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável, em que se estabeleceram Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os 17 ODS
são um conjunto de metas políticas que visam solucionar problemas mundiais em prol da sustentabilidade e
conservação, estando entre seus objetivos a erradicação da pobreza e da fome no mundo, ação contra a mudança global
do clima, proteção ambiental e sustentabilidade.

366
No geral, os objetivos e metas propostos pretendem estimular a ação em diferentes áreas de grande
importância para a humanidade e planetas nos próximos 15 anos, focando nas pessoas, no planeta, na prosperidade,
na paz e na parceria global (ONU, 2016). E para isso, eles precisam ser adaptados para os diferentes locais em que
sejam aplicados.
A Organização das Nações Unidas incentiva a alteração das metas considerando as realidades e prioridades
de cada país no momento da definição de quais estratégias serão adotadas em prol do alcance dos objetivos propostos
na Agenda, alertando, porém, que, nesse processo, não se reduza a magnitude e abrangência global deste documento
(IPEA, 2018).
Atividades como o Turismo podem ser grandes aliadas no alcance da sustentabilidade do desenvolvimento,
de modo que pode impactar positivamente todas as dimensões do DS, se realizado de acordo com tais preceitos. O
turismo compreende as atividades realizadas por pessoas durante viagens e permanências em locais distintos de seu
ambiente habitual, por período inferior a um ano, tendo como finalidade o lazer, negócios e outros fins (UN; WTO, 1994).
Diante dos segmentos do turismo, tem grande destaque como ferramenta de alcance da sustentabilidade o
ecoturismo, que utiliza sustentavelmente os patrimônios natural e cultural, incentivando a sua conservação,
promovendo o bem-estar das populações, e ao mesmo tempo buscando a formação de uma consciência ambientalista
por meio da interpretação ambiental (BRASIL, 1994).
Nas práticas e nas estratégias sociais desenvolvidas, o conceito incorpora a manutenção dos processos
ecológicos, como a preservação e a utilização sustentável do meio ambiente; promove igualdade de oportunidade para
as gerações futuras; além de alterar a dinâmica da exploração dos recursos, direcionando investimentos e orientando
mudanças institucionais (SARTORI et al, 2014; SILVA; CANDIDO, 2016).
Desta forma, é notório o poder de contribuição do turismo e, em especial do Ecoturismo, para o
desenvolvimento sustentável, podendo este contribuir com os 17 ODS. Assim, o presente estudo objetivou discutir as
contribuições do ecoturismo para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Para tal fim, foram
estabelecidos como objetivos específicos: a) descrever como tem sido mencionada a atividade turística dentro das metas
estabelecidas nos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável; e b) identificar como o ecoturismo pode contribuir com
os objetos, para além das menções feitas.
Este estudo se justifica pela relevância de buscar meios de análise da sustentabilidade, principalmente se
tratando de uma atividade como o ecoturismo, que emergiu como uma excelente oportunidade para a sustentabilidade
da atividade turística, possuindo um grande poder de impacto no desenvolvimento, sob todas as dimensões. Relacionar
o ecoturismo aos ODS, para além de reconhecer a importância do turismo, reforça a necessidade de buscar atividades
que contribuam com a sustentabilidade ao mesmo tempo em que promovam uma consciência ambientalista.

METODOLOGIA

367
Para alcance dos objetivos propostos, optou-se por fazer uma revisão bibliográfica, em que se fez o
levantamento de artigos e livros que tratassem acerca da relação do turismo e ecoturismo com os objetivos de
desenvolvimento sustentável. Além disso, trouxemos conceitos importantes relacionados a temática.

RESULTADOS

Para adaptar-se ao contexto brasileiro, 167 das 169 metas foram consideradas, tendo sido necessárias
alterações em 128 destas, a fim de (1) conferir mais clareza, (2) melhor quantificar ou (3) adequar as especificidades
nacionais. Além disso, 8 novas metas foram criadas, gerando um total de 175 metas nacionais (IPEA, 2018).
O setor do turismo está presente em três dos dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: (1) ODS
8 – ‘Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho
decente para todos e todas’; (2) ODS 12 – ‘Assegurar padrões de produção e de consumo; e (3) ODS 14 – ‘Conservação
e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento (IPEA, 2018; WTO, 2017).
As metas correspondentes a estas menções foram a (1) 8.9 – ‘Até 2030, conceber e implementar políticas para
promover o turismo sustentável, que gera empregos, promove a cultura e os produtos locais sustentáveis’; (2) 12.B –
‘Desenvolver e implementar ferramentas para monitorar os impactos do desenvolvimento sustentável para o turismo
sustentável que gera empregos, promove a cultura e os produtos locais’; e (3) 14.7 – ‘Até 2030, aumentar os benefícios
econômicos para os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS) e os países menos desenvolvidos, a partir
do uso sustentável dos recursos marinhos, inclusive por meio de uma gestão sustentável da pesca, aquicultura e
turismo’ (IPEA, 2018; ONU, 2016).
O turismo possui um grande potencial para auxiliar no desenvolvimento sustentável, mas, se não for bem
gerido, pode levar a destruição dos ativos culturais, prejudicar o ambiente e mexer com as estruturas sociais, de modo
que, para mitigar potenciais riscos e maximizar os seus impactos positivos é necessário um trabalho em conjunto em
prol do turismo responsável e sustentável em escala global (WTO, 2017).
O reconhecimento do papel do turismo no desenvolvimento global através das menções nos ODSs, de modo a
enfatizar o desenvolvimento de políticas públicas em prol de um turismo sustentável, é um importante marco que
permite refletir sobre a criação de políticas sólidas e favoráveis relacionadas a este setor (WTO, 2017). E inserir o
turismo em um documento mundialmente conhecido com objetivos em prol do desenvolvimento sustentável permite
inferir acerca do valor deste setor, direcionando esforços para o seu aperfeiçoamento.
Ademais, é preciso refletir sobre as principais lições relacionadas a sustentabilidade do turismo, pois se
tratando de um setor global tão grande e complexo, é perceptível que os esforços internacionais empreendido nas
últimas décadas foram insuficientes para encontrar um caminho de sustentabilidade, além da necessidade de as políticas
públicas, em nível nacional e internacional, fornecerem a base e criar incentivos para promoção da sustentabilidade
junto ao setor privado (WTO, 2017).

368
A fim de fazer um monitoramento global, os esforços dos países são relatados através de Avaliações Nacionais
Voluntárias (VNRs) apresentados pelos países membros durante a realização do evento anual Encontro do Alto Fórum
Político dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (High-Level Political Forum on Sustainable Development Goal –
HLPF) (IPEA, 2016; WTO, 2017).
Nos VNRs apresentados em 2016 e 2017 foi possível observar, através das referências feitas ao turismo, o
potencial que o setor possui para contribuir com todos os dezessete ODSs, reforçando a necessidade de que os
formuladores de políticas públicas tenham ciência do papel do turismo no alcance dos ODSs para além da influência
direta na economia, crescimento e emprego (WTO, 2017), além do interesse em promover o turismo sustentável
conforme mencionado no Documento ‘Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável’ da ONU (2016).
Segundo SPAOLONSE e MARTINS (2017), o segmento do Ecoturismo se diferencia dos demais segmentos do
turismo por se apoiar em princípios que reforçam o compromisso com os benefícios comunitários e a conservação
ambiental. Este segmento se baseia no tripé interpretação-conservação-sustentabilidade (BRASIL, 2010).
Embora todas as atividades turísticas devam se desenvolver de acordo com os preceitos de sustentabilidade,
o ecoturismo, assim como outros segmentos, possui um grande poder de impactar de forma positiva as localidades,
desde que realizado corretamente. O ecoturismo é uma atividade inerente a sustentabilidade, se relacionando
diretamente com o desenvolvimento sustentável. E os objetivos de desenvolvimento sustentável englobam as
dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, social e ambiental.
Os ODS correspondentes a dimensão ambiental são o (6) Água potável e saneamento; (13) Ação contra a
mudança global do clima; (14) Vida na água e (15) Vida terrestre. Já as principais contribuições do ecoturismo
relacionados a questão ambiental são a conservação, de modo que a atividade, para além da utilização de forma
sustentável dos patrimônios naturais e culturais, busca a criação de uma consciência ambientalista, incentivando a
conservação.
A econômica é representada pelos objetivos (8) Trabalho descente e crescimento econômico; (9) Indústria,
inovação e infraestrutura; (10) Redução das desigualdades; (12) Consumo e produção responsáveis. O ecoturismo
possibilita o crescimento econômico local, o desenvolvimento de infraestruturas que apoiem a atividade, bem como
pode auxiliar com a redução das desigualdades, quando da distribuição da renda gerada com a atividade. Como a
atividade está intimamente ligada aos preceitos de sustentabilidade, a proposição é que tudo isso ocorra de forma
responsável.
Já no que se refere a dimensão social, os objetivos (1) Erradicação da pobreza; (2) Fome zero e agricultura
sustentável; (3) Saúde e bem-estar; (4) Educação de qualidade; (5) Igualdade de gênero; (7) Energia Limpa e acessível;
(11) Cidades e comunidades sustentáveis; (16) Paz, justiça e instituições fortes. O ecoturismo gera sensação de bem-
estar para as quem busca as áreas naturais como “fuga” do cotidiano nos centros urbanos. Além disso, este segmento

369
é gerador de empregos e crescimento social para as populações receptoras, permitindo uma contribuição direta com os
objetivos 1 e 2, sendo os demais objetivos impactados de forma resultante.
Vale salientar que todos os objetivos de desenvolvimento sustentável estão interligados, podendo atender a
mais de uma dimensão, estando aqui apenas listadas as dimensões que mais consideramos que eles mais se ligam. E
neste sentindo, destacamos o objetivo 17 (parcerias e meios de implementação) como uma união de todos os objetivos
e pessoas para o alcance do desenvolvimento sustentável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As contribuições listadas neste trabalho são apenas algumas das possibilidades de contribuição do ecoturismo
para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Para além das citações feitas nas metas dos ODSs, o turismo possui um grande potencial de contribuição para
com todos os objetivos de desenvolvimento sustentável. E neste contexto, o ecoturismo, como um segmento que busca
a sustentabilidade através da conservação, conscientização e bem-estar das populações envolvidas, merece um grande
destaque.

PALAVRAS-CHAVE

Ecoturismo; Sustentabilidade; Conservação.

REFERÊNCIAS

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Brasil (2010). Ministério do Turismo. Ecoturismo: orientações básicas. / Ministério do Turismo, Secretaria Nacional de
Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de
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Desenvolvimento Sustentável.

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21 Nacional. Agenda 21 brasileira - Bases para Discussão. Brasília.

ONU (2016) – Organização das Nações Unidas. Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável.

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campo da literatura. Ambiente & Sociedade, São Paulo, v. XVII, n. 1, p. 1-22.

370
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Spaolonse, E.; Martins, S.S.O. Ecoturismo: uma ponte para o turismo sustentável. Revista Brasileira de Ecoturismo, São
Paulo, v.9, n.6, nov-2016/jan-2017, pp.684-698.

United Nations e World Tourism Organization (1994) – UM/WTO. Recomendaciones sobre Estadísticas de Turismo.
Madrid.

WTO (2017) - World Tourism Organization. Tourism and the SDGs. Retrieved January 5.

371
DA PRÁTICA DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: A
INSTITUIÇÃO DA POLÍTICA ESTADUAL DE TURISMO COMUNITÁRIO (LEI 7.884/2018)

Teresa Cristina de Miranda Mendonça (teresam@ufrrj.br)


Alline de Souza Nunes (allinenunes505@gmail.com)
Edilaine Albertino de Moraes (edilaineturmoraes@hotmail.com)
Sandro dos Reis Andrade (srsandro983@gmail.com)
Jaqueline Joaquim de Souza (jaquejdejesus@gmail.com)

INTRODUÇÃO

As iniciativas de Turismo de Base Comunitária ou Turismo Comunitário (TBC) no Brasil, bem como na América
Latina, sinalizam um novo paradigma de turismo na atualidade (MORAES, IRVING e MENDONÇA, 2018). No Brasil, os
projetos de turismo de base comunitária têm sido registrados desde a década de 1990, sendo, em sua origem,
concebidos e implantados em lugares de elevada riqueza ecossistêmica e de povos e comunidades tradicionais
(MENDONÇA e MORAES, 2012). Dessa forma, em território nacional, esta prática se inicia em regiões rurais, litorâneas
pesqueiras e ligadas a unidades de conservação da natureza. Mais recentemente, esta prática começa a ser
desenvolvida no meio urbano com a organização de projetos de TBC em algumas favelas na cidade do Rio de Janeiro
(RJ) e Salvador (BA), em contraponto aos projetos vigentes dos chamados "favela tours" (MENDONÇA, MORAES e
CATARCIONE, 2016; MORAES, 2019). Estas experiências, segundo Mendonça e Moraes (2012) se tornaram uma proposta
alternativa de desenvolvimento turístico, onde se destaca o protagonismo das comunidades locais, inserido na busca
por um turismo que funcione como instrumento de inclusão social e de conservação do patrimônio natural e cultural.
No estado do Rio de Janeiro, onde se encontram importantes destinos no cenário do turismo nacional e
internacional, o TBC se apresenta como uma nova e emergente prática socioeconômica. Este começou a tomar corpo com
o “Edital de Chamada Pública de Seleção de Projetos de Turismo de Base Comunitária” (MTur/No001/2008) (BRASIL,
2008), do Ministério do Turismo, que buscou dar visibilidade ao tema e avaliar a viabilidade de algumas iniciativas no
Brasil. Neste edital, o Rio de Janeiro foi o estado contemplado com o maior número de projetos aprovados e financiados,
oito projetos.
A inserção do debate sobre o TBC no Rio de Janeiro é exemplificada, também, por meio da realização de dois
eventos com esse enfoque. Na cidade do Rio de Janeiro, foi realizado o “I Congresso de Turismo Comunitário na Rocinha”
(14 e 15 de abril de 2015). Na Costa Verde, o “I Encontro de Turismo de Base Comunitária da Costa Verde” (23 a 25 de
julho de 2015), no distrito de Tarituba (Paraty), pelas Prefeituras Municipais de Paraty, Angra dos Reis e sociedade civil.
Ambos eventos tiveram como objetivo promover a discussão entre o poder público e a sociedade civil sobre o atual
modelo de turismo, avaliá-lo e a articulação de uma nova proposta de saber e fazer turismo. Como protagonista deste
processo, na Costa Verde (litoral sul), está o Fórum de Comunidades Tradicionais - FCT, criado em 2007 e formado por
grupos de povos e comunidades tradicionais dos municípios limítrofes Angra dos Reis e Paraty (RJ) e Ubatuba (SP)

372
(MENDONÇA, MORAES e CATARCIONE, 2016). Nesse processo, um dos resultados alcançados pelo FCT foi o lançamento do
mapa de TBC, no “II Encontro Nacional da Rede Turisol” (Brasília), em 2015. O mapa apresentou 15 destinos
representados por indígenas, caiçaras e quilombolas, revelando possibilidades de experiências não divulgadas pelos
órgãos oficiais de turismo locais e estadual. Este movimento de articulação resultou na criação, em 2018, da Rede
Nhandereko de Turismo de Base Comunitária (MENDONÇA, SANTOS e LEITE, 2020).
Pode-se considerar, também, que outro indicador da existência do TBC no estado fluminense foi a aprovação
de três projetos no âmbito do “Edital Chamada de propostas para fortalecimento de iniciativas de turismo de base
comunitária em Unidades de Conservação Federais” (MMA/ICMBIO, 2018), os quais são: Quilombo da Tapera na Área de
Proteção Ambiental Petrópolis; Rede Nós da Guanabara de Turismo de Base Comunitária da Área de Proteção Ambiental
de Guapimirim; e Rede Nhandereko na Área de Proteção Ambiental do Cairuçu (BRASIL, 2019).
Além disso, no plano nacional, o Rio de Janeiro foi pioneiro na instituição da “Política Estadual de Turismo
Comunitário - Lei nº 7884/2018” (ALERJ, 2018). A partir disso, constata-se o crescente interesse público em pautar o TBC
junto ao Poder Legislativo, nas diferentes regiões do país, como já acontece com a aprovação de políticas estaduais e
municipais e projetos de Lei, na Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Goiás.
Assim, este artigo apresenta parte do resultado do projeto de iniciação científica intitulado “O estado da arte
do Turismo de Base Comunitária no Estado do Rio de Janeiro: abordagem histórica, político-organizacional e
socioespacial” realizado no período de 2020 a 2021 (com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro – FAPERJ). O presente trabalho, destarte, tem como objetivo analisar os significados de TBC pela ótica local e
as percepções sobre o papel da Política Estadual (Lei nº 7.884/2018) nesse processo.
Nesse sentido, busca-se refletir sobre a política pública de TBC no estado do Rio de Janeiro entendendo que o
caminho de políticas de turismo, conforme Bursztyn (2005), deva ser capaz de contribuir para a concepção de uma política
integrada a processo de desenvolvimento mais amplo, cujo bojo deve estar na inclusão social, por meio do
fortalecimento da identidade cultural e da cidadania. Sendo assim, produzir uma política capaz de gerar oportunidades
às pessoas e comunidades que têm seus modos de vida circunstancialmente afetados pelo aumento dos fluxos turísticos
desordenados.

METODOLOGIA

A metodologia se baseou em pesquisa exploratória e descritiva, utilizando o método qualitativo para análise
dos dados, na busca de identificar e qualificar elementos importantes para o “mapeamento” do TBC no estado do Rio de
Janeiro. Dessa forma, utilizou-se pesquisa documental e bibliográfica para aprimoramento do entendimento teórico-
conceitual sobre TBC.
O mapeamento das iniciativas de TBC foi realizado, inicialmente, com pesquisa documental e bibliográfica,
principalmente tendo como fonte o relatório de pesquisa do projeto de iniciação científica intitulado “O estado da arte

373
do turismo de base comunitária no litoral do Estado do Rio de Janeiro: abordagem teórico-conceitual, político-
organizacional e iniciativas em curso” (UFRRJ, agosto/2012 a julho/2013). Complementarmente, utilizou-se as redes
sociais, informações nos sítios da web, nos eventos virtuais, e as ferramentas de comunicação da Rede Nacional de
Turismo Solidário Comunitário (TURISOL).
Após a identificação de cerca de 70 iniciativas, com objetivo de mapear/identificar o que se constitui como
turismo de base comunitária no estado, do ponto de vista dos significados locais e descobrir os impactos da Lei nº 7884
que institui a Política Estadual de Turismo Comunitário (2018) (ALERJ, 2018) sobre o turismo no estado do Rio de Janeiro,
foi elaborado um formulário na ferramenta google forms dividida em alguns campos temáticos: identificação, modo de
organização do TBC, experiências e prestação de serviços ofertadas, compreensão conceitual e política sobre o TBC e
percepção dos benefícios socioculturais e econômicos do TBC.
Como resultado do formulário, foram recebidas 24 respostas, entre iniciativas/empreendimentos localizadas
(os) em espaço urbano, rural, ligadas a unidades de conservação da natureza e com envolvimento de povos e
comunidades tradicionais; gestores de unidades de conservação da natureza; agente de viagem; prestador de serviço
de hospedagem; empresas de turismo de aventura.
Outra estratégia adotada foi a realização de entrevistas online com alguns representantes de iniciativas de
TBC e de alguns representantes de instituições públicas e do poder legislativo do estado. As entrevistas foram realizadas
por meio de chamadas de vídeos na plataforma Google Meet. Foram 10 entrevistados, dentre estes 4 representantes
de iniciativas de TBC: Favela da Rocinha - Rio de Janeiro (em 16/julho/2020), Quilombo do Campinho da Independência
– Paraty (05/04/2021), Quilombo do Feital e Cooperativa Manguezal Fluminense – Magé (24/março/2021 ) e 6
representantes de 5 instituições públicas envolvidas de forma direta ou indireta com o tema de investigação:
representantes da APA Cairuçu – Paraty (05/abril/2021), APA Guapirim – Magé (18/março/2021), Fundação de Pesca do
Rio de Janeiro – Fiperj (18/junho/2021), Secretaria de Turismo do estado do Rio de Janeiro – Setur/RJ (14/maio/20121)
e Instituto Estadual do Ambiente – INEA (28/julho/2021). Obteve-se, também, o questionário respondido por e-mail,
em 22/maio/2021, pela Deputada estadual Zeidan, autora da Lei nº 7884 que institui a Política Estadual de Turismo de
Base Comunitária. Para finalizar, foram realizadas a transcrição das entrevistas e as respectivas análises de conteúdo;
e compilação e análise dos resultados das respostas do formulário de pesquisa.

RESULTADOS

Durante a pesquisa, foram encontrados indícios de que algumas iniciativas respondentes estão alinhadas com
algumas perspectivas de TBC: em que os benefícios socioeconômicos impactam de forma mais direta à comunidade local;
em que sustentabilidade socioespacial e econômica seriam as práticas orientadoras; em que existe forte componente
de participação e protagonismo social dos agentes da comunidade; em que a gestão comunitária dos empreendimentos
e outras formas de organização comunitária são importantes; onde existe foco para o alcance do desenvolvimento local;
em que a noção de pertencimento e identidade fortalecem as atividades produtivas e o modo de vida; em que as

374
atividades estão baseadas e permeadas pelos valores culturais e respeito às tradições; onde o turismo surge como
complemento a outras atividades econômico-produtivas e não como substituição (MENDONÇA et al, 2014); além de
articular e tecer ações em rede (MORAES e IRVING, 2018).
No total, considerou-se que 16 iniciativas podem estar enquadradas como de TBC no Rio de Janeiro. Nesse
caso, é importante ressaltar que o número de iniciativas/experiências se eleva quando se tem em vista que a Rede
Nhandereko de Turismo Comunitário é formada por 10 destinos no estado do Rio de Janeiro, envolvendo caiçaras,
indígenas e quilombolas; e Altos da Serramar - Circuitos de Agroturismo por 39 e Circuito da Laranja, em que são
identificados diversos empreendimentos socioprodutivos de economia solidária e agricultura famili ar.
Dentre esses resultados, foi identificada uma categoria de “circuitos de turismo de base comunitária” em
que, conforme respostas da pesquisa, não puderam, até o momento, ser identificados os atores/empreendimentos
envolvidos no circuito. Esta categoria é exemplificada pelo Circuito EcoRural de Silva Jardim, que se apresenta como
um coletivo e experiências, e pelo Circuito da Laranja, com a presença de sítios de agricultura família, sob
responsabilidade e coordenação da Prefeitura Municipal de Tanguá, ou seja, uma indicação de uma iniciativa pública
municipal como de TBC.
Com relação a lei estadual de TBC, compreendeu-se que esse processo foi “fortemente inspirado no abandono
do executivo pelo setor do TBC no nosso Estado.” O projeto de lei foi construído “ouvindo moradores que atuavam no
turismo de quilombos, comunidades de pescadores, unidades de conservação e favelas que tinham visitação” (A criação
da lei foi, também, motivada pela exclusão das favelas da cidade do Rio de Janeiro do mapa turístico da cidade, conforme
declaração da deputada Zeidan (2020) (MENDONÇA et al, 2022). No entanto, a lei foi rejeitada pelo então governador do
estado no Rio de Janeiro, mas aprovada por unanimidade pela câmara dos deputados.
Nesse sentido, foi possível refletir que a invisibilidade da lei pelo poder executivo (Setur/RJ) é um fato. Os
atuais gestores públicos, assim como, antigos membros da Setur/RJ desconheciam a lei. No entanto, após 3 anos da
aprovação da lei de TBC do estado, a Secretaria de Turismo do Estado está iniciando um trabalho para pensar o TBC
como alternativa. Isto acontece motivados pelo que tem sido classificado de “turismo de proximidade”, um termo que
passou a ganhar força durante a pandemia da COVID-19, que incentiva as viagens de curta distância. Destaca-se a fala
da representante da Setur/RJ (MENDONÇA et al, 2022).

(...) Na verdade, eu até fiquei na dúvida de porquê fizeram uma política estadual de turismo de
base comunitária sem ter primeiro uma política estadual de turismo. Parece que eles pularam
uma etapa, como ter uma política de turismo de base comunitária, mas não ter do turismo em
si?

No artigo 3 da lei nº 7884/2018, está explicitado um dos papéis do Estado: “Art. 3º - A fiscalização da atividade
turística nas comunidades, bem como a aplicação das devidas sanções, são deveres da Companhia de Turismo do Estado
do Rio de Janeiro (Turisrio) (ALERJ, 2018). Por outro lado, este artigo, assim como a lei, é de conhecimento dos
interlocutores entrevistados do Instituto Estadual do Ambiente - INEA:

375
Olha, a lei, ela já tem algumas necessidades ali apontadas da fiscalização pelo setor, pelo órgão
responsável do estado do turismo da TurisRio. Tem a formação do comitê que acompanha. Então,
eu desconheço isso que tenha sido feito, né, e, se foi feito não foi feito com a participação da
secretaria do meio ambiente do INEA. Então, eu acho que ali mesmo na lei tem questão que
precisam serem colocadas em prática (Representante INEA 1) (MENDONÇA et al, 2022).

Perguntando aos respondentes do formulário de pesquisa sobre a existência da Lei nº 7884 que institui a
política estadual de TBC, chegou-se ao seguinte resultado: 54,2% disseram que conhecem a lei e 45,8% disseram que
não conhecem a lei. Observa-se que, o número de iniciativas que conhecem ou desconhecem a lei é bastante páreo,
colocando-se em questionamento a divulgação desta lei. Assim como, deve-se fazer um importante questionamento,
pois há uma diferença entre saber que existe uma lei e conhecer o seu conteúdo.
A referida lei, assim com as demais, deve ser construída em diálogo com a sociedade: O ato dessa da lei,
então eu acho que também é o diálogo né, e também a construção dos estados e municípios e com os agentes que atuam
nessas frentes né. (Representante do Quilombo do Campinho da Independência, 2021) (MENDONÇA et al, 2022). E que
ainda se encontra distante dos atores sociais a serem impactados pela proposta: “Eu na realidade nem, nem, nem sei
sabe porque eu acho, eu acho, quando fala assim faz essas leis, faz essas coisas, parece uma coisa tão distante mesmo
da gente ainda (...)” (Representante da Cooperativa Manguezal Fluminense, 2021) (MENDONÇA et al, 2022).
Consequentemente, infere-se que a Lei nº 7884/2018 não saiu do papel. Porém, mesmo diante de uma
invisibilidade socioespacial e política, as iniciativas de TBC no Rio de Janeiro vêm se multiplicando de um movimento
endógeno, sem apoio e incentivo de uma política pública de turismo do estado, revelando um novo mapa turístico
estadual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa revelou diversas perspectivas sobre o Turismo de Base Comunitária no estado do Rio de
Janeiro identificando uma diversidade nuances sobre os seus diversos significados, sendo assim uma prática
extremamente diversificada e complexa. As iniciativas de TBC oferecem experiências que mesclam o contato mais
próximo com modos de vidas e culturais (em área urbana ou rural), como as comunidades tradicionais e com a natureza
(em unidades de conservação). Ou seja, podem ser consideradas potenciais para investimentos e outras ações de apoio
ao desenvolvimento do estado.
Diante do contexto apresentado, o TBC é capaz de reverter as lógicas de se pensar modelos de
desenvolvimento por serem fontes de uma diversidade de soluções que fazem com que atores sociais sejam capazes
de conduzir seu próprio destino. Logo, as iniciativas de TBC revelam um novo mapa, que apesar de turístico, dá
visibilidade às comunidades tradicionais e demais grupos, que se encontram fora do atual mapa turístico. Este novo
mapa de TBC é considerado uma estratégia de resistência para que populações, muitas delas classificadas como
tradicionais, sejam protagonistas de seus modos de trabalho, de vida e de defesa pelo território. Diante de uma

376
crescente adesão dos atores locais às discussões políticas e nos projetos de desenvolvimento macroeconômicos e locais,
as iniciativas de TBC são construídas pela voz de diversos atores sociais que vêm ocupando espaços antes não
permitidos, e muitos ainda restritos, influenciando políticas públicas ainda que de forma incipiente.
Porém, a pergunta em aberto é: como tirar do papel a Lei nº 7884/2018? Isto perpassa pela construção de
uma política pública de turismo do estado do Rio de Janeiro, que revele como pensam o turismo, o que desejam e onde
querem chegar. Pela prática, histórica do investimento no segmento sol e praia e mega-eventos, entre outros, o TBC
ainda não foi reconhecido pelo poder público estadual do setor. Enquanto isso, a sua prática luta pela possibilidade de
entrar na agenda oficial da política pública do turismo do Rio de Janeiro.

PALAVRAS-CHAVE

Turismo de Base Comunitária, Políticas Públicas, Rio de Janeiro, Desenvolvimento.

REFERÊNCIAS
Alerj- Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. (2018). Lei nº 7884, institui a Política Estadual de Turismo
Comunitário no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, ALERJ, 02/03/2018.

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345.

Moraes, E. A.; Irving, M. A; Mendonça, T. C. M. (2018). Turismo de base comunitária na América Latina: uma estratégia
em rede. Turismo - Visão e Ação, v. 20, n. 2, p. 249- 265.

378
TERRITÓRIO COMO RECURSO E COMO ABRIGO: TURISMO E CONFLITOS SOCIOESPACIAIS
NO LITORAL POTIGUAR

Wagner Fernandes Costa (wagnerfcosta@hotmail.com)


Maria Aparecida Pontes da Fonseca (mpontesfonseca@gmail.com)

INTRODUÇÃO

A década de 1990 é um marco para o litoral do Nordeste brasileiro, enquanto espaço prioritário para a difusão
de atividades relacionadas ao turismo e ao lazer. A compreensão deste processo vincula-se a reestruturação produtiva
do espaço regional, incentivada pelas políticas públicas. Conforme discutido por Harvey (2008), no contexto do
neoliberalismo, tais políticas são implementadas tendo como finalidade a atração de investidores que estão à procura
de rentabilidade para seus excedentes.
No Manifesto divulgado no XII Encontro Nacional de Geógrafos, Santos et. al. (2000) aborda o território como
recurso e como abrigo. A presente proposta incorpora tais conceitos analíticos para discutir como tais políticas
proporcionaram a capitalização do território (capital fixo agregado) visando à atração de investimentos das empresas
e corporações, para os quais o espaço é compreendido como recurso que pode potencializar seus rendimentos.
Por outro lado, o espaço costeiro, valorizado por tais inversões, é disputado por vários agentes, incluindo
empresários de diversos segmentos econômicos, como também por populações tradicionais. Para este último grupo, o
território também é abrigo por meio do qual reproduz sua vida e seu cotidiano. Estas duas lógicas que permeiam a
ocupação e uso do espaço costeiro acarretam conflitos envolvendo distintos agentes, dentre os quais, destacam-se
alguns relacionados ao turismo e lazer.
A partir da problemática delineada acima, o objetivo deste trabalho é analisar a racionalidade que permeia a
ocupação do litoral potiguar, a partir dos investimentos públicos e privados, procurando identificar os conflitos
decorrentes do seu uso.

METODOLOGIA

Trata-se de um trabalho exploratório; configurado como um estudo de caso (DENKER, 1998). Alinhados à natureza
qualitativa (FLICK, 2004), a coleta de dados priorizou três grupos de fonte. Primeiro a análise documental, no que
concerne ao levantamento de dados de políticas públicas e a evolução dos meios de hospedagens e outros equipamentos
turísticos no Rio Grande do Norte (relatórios/balanços de ações do PAC 2, relatórios do Banco do Nordeste e da Secretaria
de Turismo do Governo do Estado do RN, Portal da Transparência e Cadastur/MTur). Segundo, por meio de pesquisa
bibliográfica, realizada em periódicos turismo e geografia (Qualis A e B) e programas de pós-graduação de diversas
áreas, entre 2000 e 2021. Por fim, recorre-se à trabalhos de campo, a respeito dos conflitos socioespaciais no litoral
potiguar, procurando caracterizá-los, além de identificar os agentes envolvidos.

379
O recorte espacial da pesquisa é composto pelos municípios defrontantes com o mar, no litoral potiguar. O
recorte temporal foi delimitado a partir de 2000, quando já estão estabelecidas as ações prioritárias do PRODETUR I,
chegando até os dias atuais.

RESULTADOS

Na pesquisa foram identificadas, entre os anos de 2000 e 2020, 185 ações de fomento ao turismo, desenvolvida
pelas três esferas administrativas (local, estadual e federal) nos municípios litorâneos do Polo Costa das Dunas (PCD) e
Polo Costa Branca (PCB). Sua análise possibilita identificar a racionalidade manifestada na natureza destas políticas que
são concebidas, idealizadas e implementadas pelos agentes de estado, identificando os componentes mais relevantes,
as áreas de incidência as e ações prioritárias.
As ações puderam ser agrupadas nos componentes de infraestrutura, gestão/ordenamento do território,
qualificação/capacitação e eventos, totalizando 185 ações distribuídas da seguinte forma: 116 em infraestrutura, 54 de
gestão/ordenamento, 12 em cursos de qualificação e capacitação profissional e 3 de eventos.
Uma análise com foco no PCD, principal alvo de tais investimentos, revela o destaque para o componente de
infraestrutura, pois, do total de 175 ações realizadas neste Polo, 112 foram para infraestrutura, 48 contemplaram
gestão/ordenamento, 12 qualificação e capacitação e 3 eventos. Na tipologia infraestrutura, merece destaque as ações
em saneamento (31), urbanização/revitalização urbana (23), estradas/entroncamento/acessibilidade (20),
praças/pórticos (14). Na tipologia gestão/ordenamento, as ações se concentraram nos Planos de Desenvolvimento
Turístico (21), Plano Diretor (5) e Plano de Saneamento (5). No Polo Costa Branca, ocorreram um número reduzido de
ações decorrentes de políticas públicas e foram implementadas no âmbito da esfera municipal/local, com destaque para
gestão e ordenamento (6 ações) e infraestrutura (4 ações).
A primazia da dimensão de infraestrutura, com a maior incidência de ações de saneamento,
urbanização/revitalização urbana, estradas/entroncamento/acessibilidade e construção de praças/pórticos ratifica a
relação entre turismo e modernização do território, através da urbanização turística (MULLINS, 1991;1999), que valoriza
a paisagem litorânea e atrai empreendimentos diversos como hotéis, resorts, flats, condomínios fechados, loteamentos
ou similares.
Um dos principais indicadores do turismo são os meios de hospedagens e os dados indicam grande concentração
nos três principais destinos turísticos do RN, que se encontram no PCD: Natal, Tibau do Sul e São Miguel do Gostoso.
Ao longo dos 23 municípios defrontantes com o mar localizados na costa potiguar, são encontrados 10.393
Unidades Habitacionais distribuídos em 287 meios de hospedagem cadastrados no MTur em setembro/2021: 136
pousadas, 91 hotéis, 24 flat/apart-hotel, 9 resorts e 27 com outras classificações. Deste total 90,6% localizam-se no
Polo Costa das Dunas e apenas 9,4% no Polo Costa Branca, sendo que os três municípios turísticos mais importantes
absorvem 71,32% dos meios de hospedagens e 79,2% das unidades habitacionais.

380
No entanto, o turismo convive e disputa território com outras atividades modernas e tradicionais, dentre as
quais é possível citar a carcinicultura, produção imobiliária, produção de energia eólica, atividade petrolífera, pesca e
agricultura familiar, conforme apontado por Duarte et. al (2021).
Em pesquisa bibliográfica recente, foram identificadas 35 publicações que analisam disputas territoriais em
localidades litorâneas brasileiras, sendo 28 associados à conflitos no Nordeste brasileiro, dos quais 7 referentes ao Rio
Grande do Norte. Para compreensão do uso do território como recurso turístico e dos conflitos daí decorrentes pode-se
apontar os casos dos três principais destinos turísticos potiguares.
Em Natal, os bairros integrantes da Zona Sul, particularmente, no entorno de Ponta Negra, refletem as
características da urbanização turística cuja paisagem para a ser objeto de desejo e concorrência de agentes imobiliários
ao avançar em direção ao Morro do Careca. Como resposta a comunidade criou o Movimento Popular SOS Ponta Negra
que têm suscitado conflitos com o setor imobiliário, obtendo significativas conquistas pela manutenção da paisagem de
dunas da praia.
Em Tibau do Sul, a ocupação turística de Pipa transborda para outras localidades do Município, a exemplo do
Distrito de Sibaúma, utilizando mecanismos de expulsão de populações tradicionais, verificados também em outros
lugares de valorização recente. Com a interferência de agentes imobiliários gerou-se um conflito interno na comunidade
entorno da venda de terras para implantação de empreendimentos turístico-imobiliários.
Em São Miguel do Gostoso a expansão da atividade segue o fluxo das facilidades urbanas e a direção das áreas
valorizadas pelas formas pós-modernas interação com o litoral, representada pelos esportes, pelos eventos e pela
estética do modo de vida à beira mar. A valorização da Praia do Santo Cristo levou a que o município vizinho, Touros,
passasse a requerer a posse dessa que a principal área de expansão turística, situada entre os dois municípios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar o escopo e as ações previstas por políticas de fomento ao turismo no Rio Grande do Norte é
possível identificar contradições quanto aos processos, aos atores beneficiados e aos resultados que se apresentam ao
final das ações efetivadas.
Constata-se um processo de expansão urbana com uma paisagem que reflete as características da urbanização
turística. A valorização do espaço litorâneo, principalmente no PCD, ocorre pela atração de equipamentos imobiliários
e turísticos, que reforçam o papel do mercado como ator hegemônico, agora, com a emergência do setor imobiliário.
Um dos resultados desse modelo de política tem sido e a proliferação de espoliações, expulsões, segregações
e a identificação de conflitos no interior dos destinos turísticos. Natal, Tibau do Sul e São Miguel do Gostoso apresentam
esta realidade, sempre associados à presença do capital imobiliário e turístico enquanto elemento recorrente nos
conflitos.

381
Resguardadas as singularidades de cada caso, em função dos arranjos que se estabelecem entre mercado,
Estado e populações locais, a similaridade fundamental reside no contraditório uso do território, para os primeiros um
recurso, para o último, um abrigo, de onde se buscam estratégias de sobrevivência nos lugares.

PALAVRAS-CHAVE

Políticas de Turismo; território; urbanização; conflitos.

REFERÊNCIAS

Denker, A. (1998). Pesquisa em Turismo. São Paulo: Atlas.

Duarte, M.C.S. et al. (Orgs). (2021). Conflitos socioambientais: compreensões, constatações e novos diálogos. 1ªed.,
Salvador, BA: Motres.

Flick, Uwe. (2004) Introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: ARTMED.

Harvey, D. (2008). O neoliberalismo: história e implicações. São Paulo: Edições Loyola.

Mullins, P. (1991). Tourism Urbanization. International Journal of Urban and Regional Research, v. 15, n. 3, set. 1991.

Mullins, P. (1999). International Tourism and the cities of Southern Asia. In: JUDD, D. R.; FAINSTEIN, S. S. (ed.). The tourist
city. New Haven, Londres: Yale University Press, pp.245-260.

Santos, M. et. al. (2000). O papel ativo da geografia: um manifesto. In: PEREIRA, Raquel Maria Fontes do Amaral; PROVESI,
José Roberto (org.). Milton Santos: globalização, território e política em debate. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí,
2007. P. 57-66 (Manifesto divulgado no XII Encontro Nacional de Geógrafos realizado em Florianópolis no ano de 2000).

382
Resumos de Artigos Completos
A INSEGURANÇA GERANDO MAL-ESTAR EM DESTINOS TURÍSTICOS: UMA REFLEXÃO
SOBRE A CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Marcello Tomé (marcellotome@id.uff.br)


Manoela Carrillo Valduga (manoelavalduga@id.uff.br)
Ericka Maria Costa de Amorim (erickaaa@msn.com)

RESUMO

A atividade turística, dentre outros aspectos, caracteriza-se sobretudo pelo deslocamento dos sujeitos entre diferentes
territórios, pelos mais variados motivos. As informações prévias que os viajantes têm sobre os inúmeros destinos que
podem escolher exercem grande influência na tomada de decisão. Os problemas de segurança pública caracterizam-se
como fatores restritivos para tal escolha, pois impõem riscos à vida e à integridade física dos indivíduos.
Algumas localidades apresentam condicionantes socioambientais que proporcionam o medo social territorializado,
caracterizado como um temor coletivo em determinada parcela do espaço, apresentando características ininterruptas
ou temporárias que podem propiciar riscos e mal-estar para as pessoas. Assim, questiona-se se as destinações turísticas
com problemas de segurança pública agregariam elementos temerários e negativos em sua imagem, gerando o medo
social e propiciando mal-estar aos turistas? Buscando responder tal questionamento, foi definido como objetivo deste
artigo destacar o medo social por meio da insegurança, como relevante fator restritivo para o turismo e provocador de
mal-estar para os visitantes. Primeiramente, foi realizado um levantamento bibliográfico sobre os temas fatores
restritivos ao turismo e o medo social. A pesquisa empírica contou, com uma primeira parte qualitativa, formada por
entrevista com 15 turistas, e a segunda parte foi quantitativa, contou com 384 formulários aplicados junto a turistas,
ambas etapas transcorridas na cidade do Rio de Janeiro. Os resultados preliminares indicam a insegurança como
destacado fator restritivo para o turismo no Rio de Janeiro, o que pode gerar mal-estar e contribuir para o medo social.

Palavras-chave: Turismo; Medo Social; Percepção; Fatores Restritivos; Rio de Janeiro.

383
EXPERIMENTAÇÕES EM TURISMO: MAPEANDO A DINÂMICA DAS RELAÇÕES
ESTABELECIDAS POR MEIO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, NO LITORAL DO PARANÁ

Beatriz Leite Ferreira Cabral (beatriz.cabral.ufpr@gmail.com)


Marta de Azevedo Irving (marta.irving@icloud.com)

RESUMO

A Extensão Universitária em turismo representa uma via favorável para a construção de diálogos e negociação entre os
diversos atores sociais. Partindo dessa premissa, o artigo tem por objetivo mapear a dinâmica de relações estabelecidas
por meio das ações extensionistas em turismo, desenvolvidas pela UFPR no período de 2015 e 2021, no litoral do Paraná.
Metodologicamente a pesquisa qualitativa, teve caráter exploratório-descritivo, a partir da Investigação Ação
Participante (IAP), sendo o recurso do Ecomapa utilizado para interpretar os resultados obtidos. A pesquisa reafirmou a
importância da extensão universitária no estabelecimento de relações colaborativas em apoio ao turismo e, na
consolidação de uma dinâmica dialógica para o intercâmbio de conhecimentos.

Palavras chave: Extensão Universitária; turismo, relações, UFPR Litoral.

384
O IMPACTO DA CATEGORIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS TURÍSTICOS NO REPASSE DE
RECURSOS PARA O POLO COSTA BRANCA- RN

Lírio Martins de Miranda Júnior (liriomartins@uern.br)


Ângelo Magalhães da Silva (angelomagalhaes@ufersa.edu.br)

RESUMO
O Programa de Regionalização do Turismo - PRT figura atualmente como um dos principais elementos da política nacional
de turismo, desde seu lançamento o Programa vem pautando o modelo institucional com qual a política de turismo é
trabalhada nas três esferas de governo. Tal iniciativa difunde a descentralização na gestão e planejamento do setor,
por meio de arranjos institucionais voltados a promoção da participação conjunta entre poder público, iniciativa privada
e sociedade civil organizada, de forma territorializada, para isso adota uma estratégia de regionalização que envolve
o agrupamento de municípios com propostas turísticas similares e contínuas para a concepção de regiões turísticas. O
presente artigo volta-se para a análise dos efeitos dessa política no direcionamento dos investimentos públicos
disponibilizados pelo governo federal através do Ministério do Turismo – Mtur. Tendo como objetivo investigar como
as mudanças trazidas pelo Programa de Regionalização do Turismo influenciam o repasse de recursos federais para os
municípios da Região Turística Costa Branca, situada no Estado do Rio Grande do Norte. Para tal, apoia-se em um percurso
metodológico composto de uma abordagem bibliográfica e documental, complementada por uma análise quantitativa
descritiva de dados referentes aos convênios realizados pelo Ministério do Turismo junto às gestões municipais, durante
o período de vigência do Programa. Utilizando para análise dos resultados técnicas de análise de conteúdo e estatística
básica. Os resultados encontrados apontam para formação de um cenário financeiro adverso, com o declínio do volume
de recursos conveniados nos últimos anos e dúvidas quanto a capacidade de participação dos municípios a partir da
exigência de critérios mais rígidos na distribuição dos recursos públicos conveniados pelo Ministério.

Palavras-chaves: Políticas Públicas; Programa de Regionalização do Turismo; Recursos Públicos; Costa Branca.

385
PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DO POLO TURÍSTICO POTENGI NO RIO GRANDE
DO NORTE: O RELATO DA EXPERIÊNCIA

Raquel Fernandes de Macedo (raquelfmacedo@gmail.com)


Maria Aparecida de Araújo (aparecida15araujo@yahoo.com.br)
Deise Cristina Gomes da Silva (deise.gomes@ifpb.edu.br)
Maria Valéria Pereira de Araújo (valeriaaraujoufrn@gmail.com)

RESUMO

A criação de um polo turístico tem como finalidade viabilizar ações cooperativas e de integração entre os municípios
turísticos participantes, constituindo-se em uma instância de governança regional. Nesse sentido, o presente estudo
teve como principal objetivo apresentar a experiência do planejamento e desenvolvimento do projeto de criação do polo
turístico Potengi no Rio Grande do Norte. A metodologia aplicada ao trabalho foi uma pesquisa exploratória-descritiva,
com abordagem qualitativa, a coleta de dados ocorreu por meio de roteiro de entrevista estruturado com perguntas
abertas direcionadas a Coordenadora de Turismo e ao Secretário de Turismo do município que está à frente da criação
do Polo Potengi e a análise de dados foi realizada através da análise de conteúdo. Os resultados apontaram que os
municípios que se uniram para a concepção do polo foram São Paulo do Potengi, Santa Maria, São Tomé, Riachuelo,
Barcelona e Lagoas de Velhos. Dessa forma, esses municípios têm em comum: atrativos naturais que configuram
atividades ecoturísticas, atrativos culturais com foco no turismo religioso e um calendário diversificado de eventos. Um
dos motivos que levou a ideia de criação desse polo turístico foi à proximidade entre os municípios selecionados, tendo
em vista que o Polo Agreste-Trairi que seria o possível para adesão dessas cidades contém vários municípios, porém
muito distantes um do outro. Assim, foi feito um primeiro contato com a Secretaria Estadual de Turismo do Rio Grande
do Norte pelo município de São Paulo do Potengi para saber o que seria necessário para criação do polo turístico e
depois foi feito um contato com os outros municípios para aderirem ao polo e a terceira etapa foi à reunião de
documentação obrigatória para criação do Polo Potengi e por último, o cadastro das informações dos municípios e
inserção de documentação comprobatória no site do Ministério do Turismo para aprovação. Conclui-se que apesar da
resistência de alguns municípios que ficaram fora da proposta da criação do polo, houve outros que aderiram à criação
do polo, vendo a importância de se está no mapa do turismo e tentar realmente conseguir alcançar o desenvolvimento
para a região Potengi.

Palavras-chaves: Planejamento e Desenvolvimento Turístico; Polo Turístico Potengi; Políticas Públicas; Instância de
Governança Regional.

386
TURISMO E GOVERNANÇA AMBIENTAL EM ÁREAS PROTEGIDAS

Mario Teixeira de Mendonça Neto (mariomacneto@gmail.com)


Marcos Antônio Leite do Nascimento (marcos.leite@ufrn.br)
Raphaela A. de Oliveira Araújo (rapharaujo16@gmail.com)

RESUMO

Com uma temática expressiva na atual conjuntura nacional, a problemática deste trabalho consiste em analisar e
compreender as políticas governamentais do turismo e suas reverberações nos impactos socioambientais em Áreas
Protegidas – além de identificar o turismo como fator para o Desenvolvimento Local. Nossa pesquisa de estudo se
balizará em verificar a relação direta e indireta do turismo com a lei 9.985/2000 do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza - SNUC, e nos Decretos que a regulamentam: Decreto nº 4.340/2002 e Decreto nº 5.746/2006.
Após isso, identificar quais as categorias de unidades de conservação que: podem, podem com restrição e não podem
receber práticas turísticas. A metodologia baseou-se na pesquisa bibliográfica de natureza descritiva e abordagem
qualitativa, utilizando como fontes artigos, monografias, dissertações, teses e levantamento documental de relatórios
do ICMBio, Ibama, Tribunal de Contas da União e Plano Nacional de Turismo. Nos principais resultados identificou-se as
possibilidades do uso público do turismo nas UCs, analisando as políticas públicas e o movimento ambientalista
brasileiro em relação a criação e gestão das Unidades de Conservação, a sistemática de governança ambiental no
contexto da gestão para proteger e conservar a natureza e o desenvolvimento da atividade turística nestas áreas.
Concluiu-se que a governança tem encontrado desafios para enfrentar os conflitos presentes nas áreas de conservação
no Brasil nas instâncias públicas e privadas. O turismo pode ser um vetor de desenvolvimento local para as comunidades
tradicionais e ser um instrumento de preservação/conservação ambiental. Esta tem sido referida nos estudos como a
melhor forma de garantir o uso público e a transparência das áreas protegidas.

Palavras chave: Turismo; Governança Ambiental; Áreas Protegidas.

387
TURISMO SUSTENTÁVEL: UMA ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE O PROCESSO DE
CONSTRUÇÃO CONCEITUAL NO CONTEXTO BRASILEIRO

Mário Teixeira de Mendonça Neto (mariomacneto@gmail.com)


Ivanise Borges Souza (ivanise.borges@uft.edu.br)
Wilker Ricardo de Mendonca Nobrega (wilkernobrega@yahoo.com.br)

RESUMO

O artigo apresenta estudos sobre o turismo sustentável, promovendo uma abordagem histórica sobre o processo de
construção conceitual no contexto brasileiro, identificando sua relação com o desenvolvimento sustentável e as
referências de sustentabilidade, considerando os postulados dos estudos epistemológicos da área de Turismo. A
finalidade/objetivo do presente trabalho consistiu em analisar estudos sobre o processo de construção e compreensão
do turismo sustentável e sua relação com o desenvolvimento da atividade turística. Como também, buscar o
entendimento de como foi o processo de evolução do conceito de sustentabilidade a partir de seus aspectos históricos
e socioeconômicos que orientaram a organização do conceito de turismo sustentável, analisando o turismo sustentável
como possível atividade estratégica de desenvolvimento no contexto brasileiro. Adotou-se o método sistemático de
revisão de literatura, sendo o estudo do tipo descritivo de abordagem qualitativa. Utilizou-se para coleta de dados o
método desk Research, pesquisa secundária sistemática de revisão bibliográfica em artigos, periódicos e livros, sendo
estudo de tipo descritivo, de abordagem qualitativa, visando garantir o entendimento e análise sobre o tema. Na
discussão e análise dos resultados, conseguiu-se abordar o conceito de sustentabilidade e seus aspectos históricos e
socioeconômicos que orientaram a organização do conceito de Turismo Sustentável. Também foi possível dimensionar
a amplitude teórica e epistemológica da ligação da sustentabilidade ao turismo em qualquer uma de suas modalidades
de turismo, enquanto busca da otimização dos benefícios para o turista e para o destino. Foi analisado os desafios para
o desenvolvimento das comunidades receptoras, no desejo de ter uma atividade econômica e turística valorizada pela
concepção de sustentabilidade. Chegou-se à conclusão de que o Turismo Sustentável pode propiciar e alavancar o
desenvolvimento regional das comunidades, com algum potencial turístico. Na prática, deve-se destacar o Turismo
Sustentável dentro de uma proposta que condensa e prioriza as questões: ambiental, econômica, social, cultural e
histórica da atividade turística como contribuição para as presentes e futuras gerações, propiciando o desenvolvimento
sustentável das atividades turísticas e consequentemente a melhoria na qualidade de vida das comunidades locais.

Palavras chave: Turismo sustentável; Sustentabilidade; Desenvolvimento.

388
UMA ANÁLISE SOBRE A FORMAÇÃO DA POLÍTICA ESTADUAL DE TURISMO DE
RONDÔNIA

Marina Castro Passos de Souza Barbosa (marinacastrob@gmail.com)


Haroldo de Sá Medeiros (haroldo.medeiros@unir.br)
Gleimiria Batista da Costa (gleimiria@unir.br)

RESUMO

O fomento ao turismo tem se estabelecido como parte das ações governamentais de políticas públicas no Brasil e, em
especial, em Rondônia. As políticas públicas propõem a valorização de práticas que expressam os conhecimentos e
habilidades dos pequenos agricultores e comunidade local na esfera econômica regional, com potencial para o
favorecimento turístico e capacidade para a promoção do desenvolvimento econômico e social. Este trabalho apresenta
uma análise sobre as propostas de políticas públicas implementadas com fomento ao turismo no Estado de Rondônia. O
estudo foi realizado a partir de pesquisa documental da legislação que ampara o turismo nacional, regional e estadual.
Ao analisar a variável de definição de agenda, foi possível constatar que a análise do problema e definição dos itens a
serem atendidos por parte do governo foram de grande importância para a busca das soluções a serem adotadas como
base para as ações que proporcionam grande importância social. As ações publicadas nos sites governamentais, de livre
acesso, expressam efetividade das etapas de políticas públicas que fomentam o turismo no Estado, entre elas a
reativação do Conselho do Turismo. Na sequência houve a identificação dos polos turísticos do Estado, tornando-os
expressivos por suas características próprias e norteando ações específicas para cada polo de acordo com sua
especificidade. A metodologia utilizada para atender o objetivo da pesquisa foi a pesquisa documental e coleta de
informações feita em sites governamentais federais e estaduais. Foram analisadas as ações que tratam da
descentralização e regionalização do turismo no Brasil e, em especial em Rondônia, o que fica evidente que as
estratégias a serem adotadas para o fomento do turismo serão de forma diferenciada, considerando as peculiaridades
do local. Os resultados indicam que o fomento ao turismo pode colaborar para o alcance das metas propostas pela
gestão pública que propõe, também, a valorização do patrimônio cultural e natural que o Estado de Rondônia detém.

Palavras-chave: Turismo; Amazônia; Rondônia; Formação de políticas públicas.

389
VULNERABILIDADE DO TURISMO E OS REFLEXOS DA PANDEMIA DE COVID-19
Josefa Laize S. Oliveira (laizeoliveira@usp.br)
Dayanna Fernandez Florez (dayanna.fernandez@usp.br)
Júlia Moreira de Deus (julia.m.deus@usp.br)
Thiago Allis (thiagoallis@usp.br)

RESUMO
As realidades disruptivas induzidas pela pandemia da COVID-19 são um reflexo das dinâmicas globais que contornam
os cenários do turismo contemporâneo. Assim, surgem reflexões sobre temas emergentes: por exemplo, o turismo de
massa e a insustentabilidade das destinações turísticas. As urgências no campo da saúde pública provocaram a quase
interrupção total das viagens, revelando a necessidade de se revisar antigos panoramas frente às possibilidades de
retomada do turismo no contexto pós-pandemia. Parte do maquinário de um sistema capitalista, a massificação dos
destinos é uma das facetas menos agradáveis do setor, projetando um mal estar nos residentes e, como consequência
de uma hostilidade caraterística, aos turistas. A cidade de Barcelona, na Espanha, tornou-se exemplo emblemático deste
problema evidente. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é discutir as percepções de saturação turística antes e
durante a pandemia na perspectiva dos diversos atores envolvidos com as atividades que o compõem. Foram revisadas
103 publicações, entre artigos, notícias e pronunciamentos oficiais sobre a capital catalã, a partir das quais foi feita uma
análise de similitude por meio do software IRAMUTEQ. Em linhas gerais, o estudo sobre este material aponta, mesmo
em meio a incertezas sobre o futuro pós-pandemia, para a necessidade de mudanças sobre conjunturas de planejamento
do turismo em sua face massificada.
Palavras-chave: Oferta turística; Planejamento turístico; Recuperação do Turismo; Saturação da atividade turística.

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