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*****
Miles adormeceu no carro, então não
tinha certeza de quanto tempo a viagem para a
Mansão Rutledge durou. Quando abriu os
olhos, o carro já havia parado e o motorista o
sacudia com cuidado. Já estava escuro lá fora.
— Chegamos, Sr. Hardaway. — Disse o
motorista, se endireitando.
Miles fez uma careta.
— Por favor, me chame de Miles. — Era
estranho ser chamado de Sr. Hardaway por um
homem que parecia velho o suficiente para ser
seu avô.
Balançando a cabeça, Tom apenas sorriu
como se ele fosse uma criança adorável, mas
muito irracional.
Suprimindo um suspiro, Miles sorriu de
volta e saiu do carro.
Ele piscou, olhando para a casa enorme.
Miles não era exatamente um estranho
para grandes mansões e estilo de vida luxuoso.
O namorado de seu irmão, Ryan, era um lorde
de verdade, cuja família possuía vários castelos
na Inglaterra e na Escócia. Mas Miles nunca
ficou lá nem por uma noite; e ele deveria ficar
aqui por tempo indeterminado.
Era um pouco intimidador, para ser
sincero.
E era normal que a casa estivesse tão
iluminada? As luzes estavam acesas em
praticamente todos os cômodos.
Ele perguntou a Tom sobre isso.
— Na verdade, não. — Respondeu Tom,
pegando sua mala. — Há um evento da
empresa hoje à noite para celebrar a parceria
da Companhia Rutledge com o Grupo Caldwell.
Ótimo. Não apenas ele tinha sido
despejado nos Rutledges sem nenhum aviso,
mas também estava atrapalhando um evento.
— Tom, talvez não devêssemos...
Mas ou Tom não o ouvira, o que era
inteiramente possível considerando sua idade
ou ele optou por ignorar as dúvidas de Miles.
Miles o seguiu até a casa, tentando
lembrar o que sabia sobre os Rutledges. Não
muito. Alexander os mencionara algumas
vezes, e se Miles se lembrava corretamente,
eles eram um casal gay. Isso era tudo o que
Miles sabia.
— Eu vou encontrar o Sr. Rutledge. —
Disse Tom, entregando a mala de Miles a uma
empregada.
Miles assentiu, enfiando as mãos nos
bolsos enquanto olhava em volta com
interesse. Não demorou muito para começar a
se sentir um pouco constrangido em sua
camiseta e calça jeans. Ele parecia
completamente deslocado naquele salão
elegante que gritava dinheiro e privilégios,
destacando-se como uma ferida entre os
convidados bem vestidos. Estava atraindo
muitos olhares, e Miles não se enganava
pensando que era porque parecia incrível após
seu voo transatlântico. Ele provavelmente
parecia uma bagunça.
Talvez devesse dar um passeio.
Quanto mais pessoas o encaravam, mais
atraente a ideia parecia até que Miles
finalmente cedeu, imaginando que levaria um
tempo até que Tom pudesse chamar a atenção
de seu empregador. Além disso, Tom poderia
ligar para ele quando encontrasse o Sr.
Rutledge.
Como os sons de pessoas e risadas
vinham de algum lugar à sua esquerda, Miles
vagou na direção oposta, em direção à ala
direita da mansão.
Era mais silencioso aqui, embora ainda
encontrasse um convidado ocasional. Eles o
olhavam com um pouco de confusão, mas
ninguém falou com ele, o que estava bem para
Miles.
Em pouco tempo, se viu em um belo
terraço que dava para o jardim.
Miles se sentou na cadeira no canto mais
escuro do terraço e girou a cabeça de um lado
para o outro, tentando desfazer os nós no
pescoço depois de um longo voo. Deus, estava
exausto. Ele se perguntou se seria muito rude
se tirasse uma soneca aqui. Estava quieto e
pacífico o suficiente.
Mas assim que pensou sobre isso, houve
o som de passos e vozes masculinas.
Fazendo uma careta, Miles moveu sua
cadeira mais fundo nas sombras. Se tivesse
sorte, essas pessoas não o notariam sentado
atrás daquela enorme planta e partiriam logo.
Ele realmente não estava disposto a mais
olhares curiosos.
Os passos e as vozes se aproximaram.
Elas pertenciam a dois homens.
O homem mais alto falou com uma voz
irritada.
— Tudo bem. Meia hora. Vou ficar mais
meia hora e depois vou embora.
— Sr. Caldwell, você não pode sair tão
cedo. — Disse o outro homem, com a voz
suplicante. — A imprensa terá um prato cheio!
O primeiro homem - Caldwell - encolheu
os ombros.
— Não será a primeira ou a última vez.
— Com todo o respeito, senhor, mas uma
coisa é quando seu nome está associado a uma
atriz de Hollywood e outra quando você se
recusa a permanecer em um evento em
homenagem à parceria entre o Grupo Caldwell
e a Companhia Rutledge. Você não pode
seriamente...
— Basta.
Miles estremeceu. Havia algo na voz
daquele homem, no seu comportamento, que
gritava que era um homem acostumado a ter
sua palavra aceita como lei.
— Mas... — O outro homem disse
humildemente. — Sr. Caldwell, o que devo
dizer quando as pessoas começam a perguntar
onde você está?
Caldwell deu outro encolher de ombros
desinteressado.
— Diga qualquer coisa. É para isso que te
pago, Ernie.
Quando Ernie fez um barulho de protesto,
seu chefe lhe deu um olhar afiado.
— Eu disse o suficiente. Assinei este
acordo de parceria porque é financeiramente
benéfico para minha empresa; isso não
significa que de repente sou amigo de
Rutledge. Não vou ficar aqui e vê-lo brincar de
casinha com um garoto com metade da sua
idade... — Caldwell se interrompeu, um
músculo trabalhando em sua mandíbula. Seus
olhos azuis captaram a luz, brilhando com uma
raiva fria.
Ernie pigarreou, olhando além de
desconfortável.
— Não acho que Derek Rutledge tenha o
dobro da idade do seu marido.
Caldwell zombou. Era uma expressão
cruel, que distorcia suas belas características
em algo quase monstruoso. Miles olhou para o
homem fascinado. Ele tinha visto muitos
homens bonitos, mas raramente tinha visto
homens com rostos verdadeiramente
interessantes.
Este homem tinha um.
Caldwell tinha um queixo forte e um
olhar intenso, seu cabelo castanho escuro era a
única coisa remotamente macia nele. Ele tinha
alguns cabelos grisalhos ao redor das
têmporas, mas o homem não podia ter muito
mais que trinta anos, sua pele bronzeada lisa e
saudável, seu corpo claramente se encaixava
sob aquele terno sob medida.
— Não importa. — Disse Caldwell. —
Ainda é patético ver um homem de meia-idade
ofegar por um interesseiro uma década mais
novo.
Miles franziu o cenho. Ele não conhecia o
casal Rutledge, mas pelo que ouvira falar de
Alexander, era um casamento muito amoroso.
— Bem... — Disse Ernie, fazendo uma
careta. — Eu concordo que parece antinatural.
Joseph Rutledge deve estar rolando em seu
túmulo. Ele nunca teria permitido que seu
único filho se casasse com um homem.
Miles olhou com raiva para Ernie, seu
aborrecimento aumentando. Ele estava
sentindo pena do sujeito por ter que lidar com
um chefe tão difícil, mas as opiniões
homofóbicas do sujeito estavam destruindo
rapidamente qualquer simpatia que pudesse
sentir pelo cara.
Ele olhou para Caldwell, esperando que o
homem fosse repreender seu empregado por
uma atitude tão errada, mas o homem parecia
não estar incomodado, enquanto continuava a
olhar para o seu celular.
— Quero que você verifique os
documentos que a Rutledge nos forneceu. —
Disse Caldwell, colocando o celular no bolso da
calça cinza. Ele tinha ótimas mãos, com dedos
fortes e belos.
Miles inclinou a cabeça para o lado,
intrigado por ter notado uma coisa dessas.
Em momentos como esse, ele se
questionava se realmente era assexuado. Para
ser justo, não era algo que sabia com certeza.
Suas tentativas de fazer sexo e ter um
relacionamento acabaram sendo um desastre.
Ele fez sexo com um total de duas
garotas - ou tentou - e nas duas vezes não
conseguiu se excitar o suficiente para ter uma
ereção, recorrendo aos dedos.
Depois desses fracassos com as meninas,
Miles até começou a pensar que poderia ser
gay, principalmente porque alguns de seus
irmãos mais velhos não eram completamente
heterossexuais - talvez as pessoas estivessem
certas de que a homossexualidade era
genética. Mas sua única tentativa de sexo gay
foi ainda mais desastrosa do que suas
tentativas de sexo hétero: Miles sentiu que
estava fazendo uma tarefa desagradável e
estressante.
No final, acabou desajeitadamente
chupando o cara e mentindo para ele, dizendo
que já havia gozado quando o cara viu que
Miles não estava duro.
Desde então, Miles meio que desistiu do
sexo. Às vezes, achava que sentia uma atração
muito fraca por um garoto ou uma garota, mas
nunca mais agiu sobre isso, se contentando em
usar sua mão direita. O fato de se masturbar
regularmente confirmava que, fisicamente seu
equipamento funcionava, o que apenas o
confundia ainda mais. Se realmente fosse
assexuado, ele não deveria ter nenhum desejo
sexual, não é? Miles queria sexo - em teoria -
mas assim que estava em um quarto com uma
pessoa real, a última coisa que queria era ficar
nu e tocar seus órgãos genitais. Tudo o que
sentia era desconforto.
Ele não tinha ideia do que isso
significava. Segundo o onisciente Google,
algumas pessoas assexuadas não se
masturbavam; alguns faziam. Alguns não
conseguiam sentir atração alguma; alguns
sentiam, nas circunstâncias certas. Em suma,
sua sexualidade ainda era um mistério e o
Google não estava oferecendo respostas.
Foi por isso que Miles decidiu viajar neste
verão. Se ia descobrir, era melhor fazê-lo longe
dos olhos curiosos de sua família intrometida.
Não que ser assexuado seria o fim do
mundo. Não seria. Ele tinha uma ótima família,
por mais arrogantes que fossem. Não estava
preocupado que alguém em sua família acharia
estranho se lhes dissesse que era assexuado e
que possivelmente não tinha desejo de um
relacionamento romântico.
Dito isto, apesar de sua possível
assexualidade não o estressar, Miles não podia
negar que às vezes queria se sentir... mais
como outras pessoas, sentir coisas que os
outros caras da sua idade sentiam quando
viam uma mulher bonita ou um homem em
forma.
Então agora, o fato dele se pegar
encarando as mãos de Caldwell e seu queixo
afiado era mais do que um pouco intrigante.
Ele não conseguia se lembrar da última vez
que olhou com interesse para alguém.
— Sim, Sr. Caldwell. — Ernie estava
murmurando, fazendo anotações em seu tablet
enquanto seu chefe disparava ordem após
ordem. O cara parecia mais estressado a cada
momento, um olhar de miséria em seus olhos
enquanto tentava digitar tudo. Miles sentiu
uma pontada de pena novamente antes de
dizer a si mesmo para não ser mole. O cara era
um idiota homofóbico. Ter um chefe tão difícil
deveria ser karma ou algo assim.
Finalmente, os homens foram embora e
Miles estava sozinho no terraço novamente.
Bocejando, ele fechou os olhos, suas pálpebras
ficando mais pesadas a cada minuto. Embora
tivesse tirado uma soneca no carro, ainda
estava exausto após o voo e seu corpo tinha
certeza de que a hora era muito mais tarde do
que era.
Ele deve ter cochilado. Se lembrava
apenas vagamente de uma empregada acordá-
lo e lhe mostrar o caminho para seu quarto.
Depois de se despir, Miles se esticou nos
lençóis frios e caiu em um sono profundo e
exausto.
Ele sonhou com olhos azuis brilhando
com um fogo gelado.
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
*****
Levou um tempo para Liam finalmente
cair num sono exausto contra o seu
peito. Quando o colocaram na cama e
deixaram seu quarto, Miles imediatamente se
virou para Caldwell.
— Que porra foi essa? Você está louco?
Capítulo 6
*****
Depois que Liam finalmente adormeceu
no final da tarde, Miles deixou uma criada ao
lado do garoto e seguiu para a ala direita da
mansão.
Ele não tinha certeza do que esperar
quando finalmente encontrou - algo como um
estúdio - de Caldwell.
É apenas um hobby, certo. Pensou Miles,
enquanto olhava ao redor do estúdio bem
iluminado e bem equipado com o qual muitos
artistas sérios se divertiam.
Mas, novamente, com o dinheiro e os
recursos de Caldwell, ele podia se dar ao luxo
de satisfazer todos os seus caprichos, mesmo
que não fosse sério.
Miles olhou em volta com curiosidade
antes de cair no sofá confortável, preparado
para esperar. Embora Caldwell tenha dito que
voltaria à tarde, Miles não estava surpreso por
ainda não estar em lugar nenhum - ele sabia
em primeira mão quanto trabalho Caldwell
tinha. Francamente, Miles ficou um pouco
surpreso que o cara gastou tanto de sua
agenda muito ocupada com seu filho. Parecia
estranho para um homem tão importante e
frio, mas, novamente, o que sabia sobre ser
pai?
Bocejando, Miles se esticou no sofá e
pegou seu telefone. Poderia muito bem
responder as mensagens de seus irmãos
enquanto esperava.
Ele nem percebeu adormecer.
Capítulo 7
1
Pessoa cuja atração sexual surge somente quando existe envolvimento e/ou laço emocional, afetivo, e/ou intelectual
com a outra pessoa, não sendo a estética o único fator determinante para o surgimento da atração sexual.
Miles chateado. Aquele olhar de cachorro
chutado no rosto de Miles era extremamente
agravante.
— Venha aqui. — Disse Ian.
Miles piscou para ele, perplexo, mas pela
primeira vez, ele não o contradisse e fez o que
lhe disseram.
— O quê? — Ele disse, parando em frente
à poltrona de Ian.
— Sente-se. — Disse Ian.
A boca de Miles trabalhou
silenciosamente por um momento enquanto ele
olhava entre o rosto de Ian e seu colo.
— Como, no seu colo?
Ian assentiu.
— Por quê?
— Existem maneiras de descobrir se o
que você sente é atração sem chupar meu pau.
— Disse Ian secamente. — Sente.
Umedecendo os lábios com a língua, Miles
subiu em seu colo.
No começo, foi extremamente
constrangedor, com Miles se mexendo e se
contorcendo até Ian finalmente se cansar de
observar e organizar o garoto para sua
satisfação. Miles ficou quieto por um momento
antes de se encostar no peito de Ian e colocar
a cabeça no ombro.
Ian olhou por cima do ombro para a
parede oposta, se perguntando quando isso
havia se tornado sua vida. Ele tinha outro
homem no colo. Enquanto Miles não pesava
muito, ele era um pouco mais pesado do que
qualquer mulher que já sentou em seu
colo. Mas não parecia desconfortável. A
maneira como ele se encaixava... Havia algo
inexplicavelmente agradável nisso.
— Quer fugir? — Ian disse, colocando a
mão na parte inferior das costas de Miles.
Miles estava muito quieto. Então ele se
moveu, até que seu nariz estava pressionado
contra o lado do pescoço de Ian.
— Não. Parece bom. — Ele inalou
trêmulo. — Amo como você cheira.
Ele tinha outro cara acariciando seu
pescoço. Não parecia tão desanimador quanto
Ian esperava.
Ian passou os dedos pelos cabelos de
Miles e sentiu o corpo de Miles ficar
completamente flexível, macio e
relaxado. Miles estava respirando
desigualmente, esfregando o rosto na garganta
de Ian como um grande gatinho afetuoso. Se
ele fosse um gatinho, provavelmente estaria
ronronando, pensou Ian, divertido.
— Eu quero mais. — Miles sussurrou,
parecendo surpreso. — Quero lamber o pomo
de adão. Posso?
Mais uma vez, Ian se perguntou como
isso havia se tornado sua vida. Ele era
hétero. Tão hétero quanto poderia. Qualquer
outro homem teria levado um soco por essa
merda, mas esse garoto ridículo o deixava
incrivelmente indulgente. Miles estava certo:
ele realmente estava ficando mole.
— Vá em frente. — Ian disse com um
suspiro.
Algo úmido e macio pressionou contra
seu pescoço. A língua de Miles. E então havia
lábios e dentes.
— Miles. — Ian ralhou.
— Desculpe. — Miles murmurou,
lambendo o local que ele tinha acabado de
chupar e se contorcendo mais perto dele. —
Não sei o que aconteceu comigo. Eu só
queria...
Ian disse ironicamente:
— Acho que podemos concluir com
segurança que você não é realmente assexual.
— Mas ainda não estou duro. — Disse
Miles.
Porra, inferno.
Ian rangeu os dentes.
— Você não é mais adolescente. — Por
pouco. — Não precisa ter uma ereção com algo
tão inocente quanto isso.
— Eu acho. — Disse Miles. Ele não
parecia convencido.
Ian deu um suspiro.
— Bem. Vamos tentar outra coisa. — Ele
enfiou a mão sob a camiseta de Miles e
deslizou sobre a extensão suave das costas.
Miles fez um pequeno som.
— Você tem mãos incríveis. — Ele
murmurou contra o pescoço de Ian. — Elas me
fazem sentir tão bem.
— Ainda não está duro? — Ian disse,
incapaz de acreditar que eles realmente
estavam tendo essa conversa. Era uma
sensação que sentia com muita frequência
perto de Miles.
— Não. Você terá que se esforçar mais.
— Miles riu de seu próprio trocadilho.
Os lábios de Ian se contraíram.
— Você é uma criança. — Mas ele passou
a mão pela caixa torácica de Miles até que seu
polegar roçou um mamilo. — Nada ainda?
Miles respirou fundo.
— Faça isso novamente.
O polegar de Ian tocou o mamilo
novamente, acariciando-o levemente. Ele
sentiu isso endurecer.
— Oh! — Disse Miles, sem fôlego, antes
de tirar a camisa. — Mais.
Ian olhou para o peito nu por um
momento - era tonificado, suave e muito
masculino - antes de levantar a outra mão
também. Ele brincou com os mamilos duros e
observou como, gradualmente, Miles se
desfez.
A visão era fascinante: os olhos verdes
de Miles lentamente vidraram, um rubor se
espalhando por seu rosto e seus lábios se
separando enquanto ele respirava instável.
O olhar de Miles parecia estar dividido
entre o rosto de Ian e os dedos em seus
mamilos.
— Você pode fazer algo por mim, Ian?
Ian. Ele nunca pensou que seu nome
pudesse soar assim.
Ele assentiu.
Mordendo o lábio inferior, Miles olhou
para ele com uma mistura de
timidez, confiança e devassidão.
— Você pode chupá-los um pouco? Só um
pouco?
Como se estivesse sonhando, Ian se viu
assentindo. O que você quiser.
Ian puxou o garoto, fazendo-o montar
em seu colo para que o peito dele estivesse
mais perto da sua boca. Ele inclinou a cabeça e
tomou um pequeno mamilo na boca.
Miles choramingou, seus dedos
enterrando nos cabelos de Ian.
— Foda-se, mais.
Ian se esforçou. Ele chupou e lambeu os
mamilos de Miles, alternando entre eles, e
sentiu Miles tremer em seus braços,
os gemidos silenciosos eram o único som no
estúdio.
Logo, Miles começou a se contorcer
contra sua boca. Havia uma protuberância
inconfundível contra o estômago de
Ian. Quando Ian olhou para baixo, ele
realmente podia ver a cabeça do pênis de Miles
espreitando de dentro do short. A visão era
bizarra e obscena, mas estranhamente difícil
de desviar o olhar.
Ian supôs que o experimento foi bem-
sucedido - não havia absolutamente nenhuma
dúvida agora que Miles não era assexual. Ele
deveria parar e empurrá-lo para longe. Mas
seria cruel parar quando Miles estava
claramente se divertindo, sussurrando Ian, Ian,
Ian, por favor, entre gemidos ofegantes e
agarrando os cabelos de Ian na mão.
Também afagou seu ego; Ian não podia
negar. Então ele continuou lambendo e
beliscando os mamilos rosados de Miles,
permitindo que o jovem moesse contra seu
estômago, os gemidos de Miles o estimulando.
Oh, Deus, oh, Deus, por favor, Ian...
Não foi totalmente uma surpresa quando
Miles de repente ficou tenso contra ele, sua
mão segurando o cabelo de Ian, e gozou com
um gemido.
Ian fez uma careta com a sensação de
umidade. Ele pensou, não sem humor, que
realmente deveria ter mudado antes de vir
aqui.
— Obrigado. — Disse Miles, finalmente,
ainda parecendo um pouco sem fôlego, mas
mais parecido com ele, e beijou a bochecha de
Ian. — Você é o melhor chefe que já tive.
Ian bufou, empurrando-o gentilmente do
colo.
— E quantos chefes você já teve?
Miles sorriu maliciosamente.
— Um. — Ele estremeceu, olhando para
si mesmo. — Bruto. Eu preciso de um banho. E
Liam provavelmente já acordou. — Ele olhou
para o caderno de desenho. — Nós
terminamos?
— Por hoje. — Ian disse, surpreendido
pela forma como não estranho se sentia.
Miles deu a ele um sorriso tímido na
porta.
— Você deveria mudar. Sinto muito pela
camisa. Ficava bem em você. — E então ele se
foi.
Ian desabotoou rapidamente a camisa e a
removeu, perguntando-se por que não se
sentia esquisito.
Afastando o pensamento, ele foi para o
banheiro adjacente. Se não estava se sentindo
desconfortável, ele não apresentaria razões
pelas quais deveria estar.
Além disso, tinha sido um favor pontual
para um garoto confuso, então não fazia
sentido insistir nisso.
Apenas uma única vez.
Capítulo 8
*****
Ian olhou para Miles, o sangue correndo
para seu pênis, o tornando mais duro na mão
dele.
Jesus Cristo.
Sem dúvida, esse garoto estava
pressionando todos os botões certos nele. Ou
melhor, todos os errados.
Isso é doente, Ian. Você é um doente. A
lembrança da voz da ex-mulher passou por sua
mente e Ian fez uma careta, afastando-se. A
opinião de Regina não importava. Não
importava na época e com certeza não importa
agora. Ian sabia que suas preferências sexuais
não eram as mais normais ou politicamente
corretas, mas dormiu com mulheres o
suficiente para saber que não era a única
pessoa com esse tipo de fetiche. Algumas de
suas aventuras de uma noite apreciaram muito
o controle que ele tinha na cama, sua
tendência a deixar machucados, sua tendência
a ser muito duro durante o sexo, sua
agressividade e desejo de dominar
completamente sua parceira sexual.
Elas não sabiam a metade.
Elas não sabiam o quanto ele pioraria se
estivesse realmente interessado em mais do
que apenas uma noite.
Sua primeira namorada, Alice, não tinha
se divertido.
— Olha, não leve a mal. Você é…
emocionante na cama, mas eu não sou assim,
ok? Você é muito intenso para mim. Eu quero
alguém mais normal.
Intenso. Essa era a palavra que a maioria
das mulheres usaram ao longo dos anos,
quando seus relacionamentos quebraram e
queimaram.
Uma delas, Barbara, não tinha sido tão
diplomática quanto Alice.
— Você me assusta, Ian. — Ela disse
quando terminou o noivado. — Tipo, traços
diferentes para pessoas diferentes e tudo mais,
mas não é normal querer possuir sua
namorada. Você quer que sua mulher seja sua
posse, corpo, coração e alma. Pode te excitar,
mas me assusta. Este é o século XXI. Não sou
um objeto, e não estou disposta a fazer minha
vida girar em torno dos desejos de um homem,
não importa o quanto o ame. Não sou posse de
ninguém. Sinto que estou sufocando quando
estou com você.
Ian tinha gostado muito de Barbara, e a
separação deles - e suas palavras - deixou uma
impressão duradoura.
Então, quando conheceu Regina, alguns
anos depois, ele tentou se controlar, fingir ser
um homem moderno e normal, com desejos
normais, discretos e politicamente corretos.
Por um tempo, as coisas estavam… ok. Ela
engravidou e eles se casaram. Enquanto Ian
sentia que estava vivendo uma mentira, ele
também não queria perder a esposa, então
cerrou os dentes e continuou fingindo. Até que
ela o traiu, e então o castelo de cartas
desabou.
Acontece que Ian não era o único que
fingia ser alguém que não era. Regina estava
fingindo também - ser uma esposa amorosa e
dedicada. A verdadeira Regina não estava
interessada em ser dona de casa e mãe. A
verdadeira Regina queria se divertir. E para
ela, “diversão” significava festas, homens e
drogas.
— Diga-me o que fazer. — Disse Miles
novamente, trazendo-o de volta ao presente.
Ian apertou a mandíbula, respirando
profundamente para limpar a névoa de
excitação que essas palavras causaram.
— Isso não é sobre mim. — Disse ele em
uma voz cortada. — Faça o que você quiser.
Miles franziu a testa, mas não discutiu.
Ele voltou a dar ao pau de Ian lambidelas
desajeitadas que eram mais curiosas do que
sexuais. Era dolorosamente óbvio o quão
inexperiente ele era. Foi direto ao pênis de Ian,
tornando-o mais duro do que tinha o direito de
ser.
Jesus Cristo.
Em retrospectiva, provavelmente deveria
esperar que a inexperiência de Miles apertasse
seus botões. É claro que ele adoraria que Miles
fosse tão inexperiente. É claro que adoraria
que seu pau fosse o primeiro que Miles
realmente gostou de chupar. É claro que tudo
isso alimentaria o animal primitivo e fodido que
usava a pele de um homem moderno. É claro
que isso o excitaria, independentemente da
distinta falta de seios e vagina de Miles.
E isso era outra coisa: ele não se sentia
nem um pouco repugnado com a ideia de sexo
com um homem como teria ficado se fosse
alguém que não esse ridículo garoto britânico
que dizia coisas ridículas, o desrespeitando a
todo momento e que pareceu um filhote de
cachorro chutado quando Ian indicou que não o
queria.
Isso ainda não explicava como ele acabou
nessa situação: sentado em sua sala de
cinema, sua virilha à mostra e seu pênis para
esse garoto chupar. Para a babá do filho dele
chupar, Jesus Cristo.
Não era como se Ian tivesse pensado em
si mesmo como alguém bom e saudável, mas o
que ele sentiu ao ver a babá de seu filho levar
seu pênis à boca foi…
Maldição.
O calor úmido ao redor de seu pênis
parecia bom, é claro, mas Ian não podia negar
que a estimulação visual e mental ofuscou
muito os esforços amadores de Miles. Ele
gostou de quão ansioso por ele o menino
estava, ansioso e desleixado, com saliva por
toda parte, enquanto movia sua boca para
cima e para baixo no comprimento de Ian,
lábios rosados esticados.
Ian assistiu fascinado a isso, mal se
segurando. Queria enfiar o pau na garganta de
Miles. Queria ver aqueles olhos verdes largos e
maliciosos se encherem de lágrimas, sentir a
garganta de Miles se contrair ao redor de seu
pênis. Queria dar um tapa no rosto de Miles
antes de espalhar o pré-sêmen por todo o
corpo e enfiar o pênis naquela boca. Queria
agarrar o cabelo de Miles e foder o seu rosto
até que o pau de Ian fosse a única coisa que
existia para ele.
Mas ele não podia.
Não iria.
Ele não era tão idiota. Nunca machucou
ninguém sem o consentimento totalmente
verbalizado.
Além disso, isso não era realmente sexo.
O garoto estava apenas curioso. Isso não iria a
lugar nenhum. Ian era hétero - voltaria a ser
hétero assim que isso terminasse. Ele ficou
excitado porque Miles estava apertando seus
botões, não porque passou a gostar de homens
de repente.
Miles soltou seu pau.
— Devo ser realmente terrível nisso. —
Disse ele, apertando os olhos. — Você nem
está sem fôlego.
Ele estava fazendo beicinho? Não tinha o
direito de ser tão malditamente fofo.
Ian bateu no nariz dele com o polegar.
— Você não é completamente terrível.
Sou apenas um homem crescido, não seu
companheiro de idade. É preciso mais para me
excitar do que um boquete muito medíocre.
Miles fez uma careta.
— Retiro minhas palavras. Você ainda é
um idiota, e eu te odeio.
Ian sorriu divertido apesar de si mesmo.
Gostava desse garoto. Um pouco demais, na
verdade, ou não estariam nessa situação. Ele
tinha pouca paciência com pessoas de quem
não gostava.
— Então, o que te excita? — Miles disse,
acariciando o pênis de Ian distraidamente, seu
olhar concentrado em Ian.
— O quê? — Ian disse, pigarreando um
pouco.
— O que te excita? — Miles repetiu,
lambendo seus lábios inchados e bonitos. —
Você acha que pode dizer coisas assim e vou
deixar para lá? Eu sou um Hardaway.
— O que isso quer dizer? — Ian disse,
sua boca se contorcendo enquanto olhava para
a expressão obstinada e determinada no rosto
de Miles.
— Tenho cinco irmãos. — Disse Miles. —
Somos um grupo competitivo. Então me diga.
O que posso fazer para tornar esse boquete
melhor do que medíocre?
Ian o estudou.
Ele sabia que nem deveria considerar.
Uma coisa era agradar o garoto porque ele o
divertia, e outra completamente diferente era
contar a Miles o que realmente o excitava.
— Eu gosto disso. — Disse ele,
observando a expressão de Miles através dos
olhos semicerrados. — Gosto de ser o
agressor. Gosto de fazer doer.
Miles nem piscou.
Ele apenas olhou para Ian por um longo
momento, seu rosto ligeiramente rosado.
O pomo de Adão dele balançou.
— Quanto?
— O quê? — Ian disse.
— Quanto você gosta de machucar?
Ian passou os dedos pelos cabelos de
Miles enquanto contemplava sua resposta.
— Não muito. — Disse finalmente. — Não
sou tão sádico. Dor por causa da dor não é o
ponto. Gosto da dinâmica, da viagem pelo
poder. — E o sentimento de confiança absoluta
e total da minha parceira.
Ian não disse isso, pois era irrelevante
neste caso.
— Ok. — Disse Miles suavemente. —
Vamos fazer isso. Como você me quer?
O pênis de Ian, que havia suavizado
consideravelmente desde que Miles parou de
chupá-lo, foi para o mastro completo
novamente.
Ian pigarreou.
— Apenas relaxe e deixe-me fazer todo o
trabalho.
Miles assentiu e fez o que lhe foi dito,
olhando-o ansioso.
Ian olhou para ele por um momento
antes de se endireitar. Foi-se o seu descanso
relaxado no sofá. Ele se sentou na beira do
sofá, embalou o rosto de Miles com as mãos,
observando um adorável rubor se espalhar pelo
rosto dele antes de levar a boca de Miles ao
seu pênis ereto e alimentá-lo. Ele gemeu
baixinho enquanto o calor cobria seu pênis
dolorido. Ian angulou o rosto do garoto do jeito
que queria, em um ângulo que lhe permitiu
empurrar mais fundo dentro daquele calor
úmido. Ele sentiu Miles sufocar um pouco, sua
garganta tentando se ajustar ao seu
comprimento considerável. Ian sibilou com a
sensação de um aperto incrível em torno de
seu pau, avidamente contemplando a
expressão de olhos arregalados e oprimidos de
Miles. Porra, ele estava lindo com a boca cheia
de seu pau.
Ele se afastou e empurrou de volta. O
puxou para mais perto, exigindo mais. Miles
choramingou, lágrimas brotando em seus olhos
verdes. Mas ele apenas abriu mais a boca, seus
olhos se fecharam quando o pênis de Ian
começou a foder sua boca molhada e
acolhedora.
— Toque no meu joelho se você quiser
que eu pare. — Ian grunhiu, enterrando as
mãos no cabelo de Miles novamente e
puxando-o para o seu pau para encontrar seus
impulsos duros.
Miles não tocou. Permitiu que Ian usasse
sua boca como quisesse, lindamente flexível e
ansioso para agradá-lo. Ian ficou
absolutamente louco. Ele se viu empurrando na
boca de Miles em um ritmo vertiginoso, meio
dobrado em seu esforço para se aprofundar,
foder com mais força. Ele se curvou tanto que
seu peito arqueou sobre a cabeça de Miles,
gemidos baixos saindo de sua boca enquanto a
garganta de Miles continuava apertando em
torno dele.
Porra, isso era tão bom, e os sons
sufocados e gemidos que o garoto estava
fazendo em torno de seu pau apenas o
excitavam ainda mais.
— Bom garoto. — Ian o elogiou,
acariciando as orelhas e as bochechas de Miles
antes de colocar as mãos na garganta de Miles.
Ele apertou um pouco e um gemido saiu da
boca de Miles. Não foi um gemido de angústia.
Intrigado, Ian apertou sua garganta com
mais força, batendo tão fundo por dentro que
ele podia sentir seu próprio pau do lado de fora
- merda, inferno. Os quadris de Ian se moviam
cada vez mais rápido, suas mãos apertando o
pescoço do garoto. Porra…
Ele gozou com um gemido, moendo a
virilha no rosto de Miles e derramando
profundamente na sua garganta. Seu orgasmo
parecia se estender para sempre, seu corpo e
voz fora de controle. Não ajudou que Miles
continuasse chupando, como se esperasse que
ele gozasse pela segunda vez.
Quando Ian conseguiu abrir os olhos,
encontrou Miles entre as pernas, sua bochecha
pressionada contra o pênis sensível demais de
Ian. Miles ainda parecia sobrecarregado, com
os olhos fechados e a respiração instável.
— Fui muito duro? — Ian disse com uma
careta, roçando o polegar contra a sua
bochecha.
Miles abriu os olhos - e Cristo. Pareciam
completamente drogados, vidrados e cheios de
luxúria. Miles realmente adorou o que Ian fez
com ele.
Com seu estômago apertando, Ian
passou os dedos pelos cabelos de Miles,
observando os olhos de Miles clarearem, pouco
a pouco.
— Tudo bem? — Ian disse.
Miles franziu as sobrancelhas, pensativo,
como se estivesse avaliando seu próprio estado
mental, antes que um pequeno sorriso torto
aparecesse em seu rosto. Ele assentiu, seu
olhar baixando antes de voltar para o de Ian.
— Então, isso foi melhor do que
medíocre? — Ele disse. Pelo menos Ian
imaginou que foi o que disse. Sua voz estava
rouca e quase irreconhecível.
Os olhos de Miles se arregalaram. Ele
olhou para Ian e pigarreou algumas vezes.
Ian riu.
— Desculpe. — Disse ele, recostando-se e
fechando o zíper. — Vou dizer a Winifred para
fazer algo para a sua dor de garganta.
— Não se atreva! — Miles sibilou,
corando.
— Não se preocupe, não direi a ela que
você ficou com a garganta machucada
chupando meu pau. Não sou suicida. Ela terá
minhas bolas por isso. Ela tem um verdadeiro
carinho por você.
Miles ficou de pé, se ajustando.
— Vou cuidar disso. — Disse ele, quase
desafiadoramente.
— Você não precisa ir. — Disse Ian,
voltando o olhar para a TV. Ele deu um tapinha
no lugar ao lado dele. — Sente-se e termine.
Isso não parece remotamente confortável.
Ian meio que esperava que Miles saísse
de qualquer maneira, mas ele parecia
realmente determinado a agir como se o que
eles tinham feito fosse perfeitamente normal e
não houvesse nada para se envergonhar. Ian
escondeu seu sorriso quando Miles caiu ao lado
dele e baixou o zíper.
Ian manteve o olhar na TV enquanto
Miles se masturbava ao lado dele.
Ou tentou.
Depois de um tempo, Ian deu um suspiro
e disse:
— Relaxe, Miles.
— Eu não posso. — Disse Miles, sua
frustração clara em sua voz. — Eu quero gozar,
mas também estou… alguma coisa.
— Você está muito excitado. — Disse Ian.
— Você atingiu o platô e não consegue relaxar
o suficiente para gozar.
Miles resmungou afirmativamente.
Ian se perguntou por um momento se ele
realmente deveria fazer isso antes de colocar
um braço na parte de trás do sofá atrás da
cabeça de Miles e olhar para ele.
— Venha aqui.
Miles desviou os olhos antes de lançar a
Ian um olhar que de alguma forma conseguiu
ser tímido e ansioso.
Isso fez coisas estranhas no interior de
Ian.
Ele puxou Miles em sua direção e
organizou-os para que o jovem se
aconchegasse contra ele confortavelmente,
com a cabeça no peito de Ian.
— Vá em frente. — Disse Ian quando
sentiu Miles relaxar nele. — Toque-se. —
Murmurou no ouvido de Miles.
Ele o sentiu tremer. Então Miles deslizou
a mão para baixo e a envolveu em sua ereção.
Ian não olhou. Ele o segurou
frouxamente contra ele quando Miles se tocou.
Estranhamente, não parecia nada
estranho. Distante, Ian estava ciente de quão
inapropriado o que eles estavam fazendo era.
Eles estavam em uma sala de cinema semi-
pública. Apesar da hora tardia, pelo menos
algumas empregadas ainda estavam
trabalhando. Qualquer uma delas pode entrar
na sala e vê-lo segurando a babá masculina de
seu filho nos braços enquanto este se
masturba.
Ian achou difícil se importar. Isso parecia
estranhamente natural: a maneira como esse
garoto ridículo se encaixava em seus braços, a
maneira como ele cheirava, a maneira como
sua respiração ficava presa enquanto se
acariciava.
Quanto mais perto da borda Miles
chegava, mais perto de Ian ele se contorcia até
que sua perna fosse jogada sobre a de Ian e
ele estava ofegando no pescoço dele.
— Mais apertado. — Miles exigiu sem
fôlego, e Ian obedeceu, apertando o braço em
volta dele mais e mais. Ele tinha certeza de
que devia ter doído, mas Miles gemeu e gozou,
estremecendo contra ele.
— Esta é a segunda camisa que você
arruína. — Comentou Ian suavemente quando
a respiração de Miles se igualou.
— Tenho certeza de que você tem mais.
— Miles murmurou, parecendo completamente
irritado. Ele não mostrou nenhuma inclinação
para se afastar, ainda aconchegado a Ian, todo
doce e suave.
Depois de um tempo, ele bocejou, piscou
para Ian antes de se erguer e plantar um beijo
casto e afetuoso na bochecha dele.
— Obrigado.
O interior de Ian parecia decididamente
estranho.
Ele pigarreou um pouco e gentilmente o
tirou do colo.
Miles olhou para ele de uma maneira que só
poderia ser descrita como ansiosa.
Ian queria se sentir desconcertado ou
irritado com isso, mas não conseguiu convocar
nenhum sentimento. Talvez ele ficasse, mais
tarde. Mas naquele momento, tudo o que podia
sentir era contentamento.
— De nada. — Disse ele, não sem
diversão e se levantou. — Estou derrotado.
Coloque o filme em pausa e durma também.
Amanhã terminaremos de assistir.
— Talvez eu queira assistir agora. —
Disse Miles, erguendo o queixo, os olhos cheios
de alegria e desafio. — Talvez eu não esteja
cansado.
— Você está bocejando. Apenas gosta de
me contrariar.
Miles sorriu para ele, segurando seu
olhar.
— Talvez. Mas você ainda é
insuportavelmente autoritário.
Ian levantou uma sobrancelha.
— Já não estabelecemos que seu irmão
fez uma lavagem cerebral em você, para
pensar que é uma boa característica?
Miles riu.
— Lavagem cerebral é a palavra-chave.
Olhando para aquele sorriso caloroso e
aberto, Ian percebeu que não queria realmente
dizer boa noite. Ele franziu a testa.
— Boa noite.
O sorriso de Miles desapareceu, seu rosto
caindo.
Jesus, o garoto nem se deu ao trabalho
de esconder sua decepção. Ele era de verdade?
Ian desviou o olhar e saiu da sala.
O suave “boa noite” de Miles ainda soava
em seus ouvidos quando entrou no quarto,
tentando ignorar a sensação de insatisfação
sob a pele.
Que porra é essa, sério? Sua fixação em
Miles estava começando a mudar para um
território bizarro, até para ele. Já era ruim o
suficiente ele ter passado muito do seu
limitado tempo livre com Miles. Sua falta de
vontade de ficar longe dele, mesmo durante a
noite era… Nem sabia o que diabos era.
Nesse ritmo, em pouco tempo acabaria
colocando Miles em sua cama,
independentemente da paixão óbvia e juvenil
que o garoto tinha por ele, uma paixão que
deveria ter cortado pela raiz quando percebeu
pela primeira vez.
Jesus Cristo.
Talvez ele realmente fosse um idiota.
Capítulo 9
*****
‘Mais tarde’ acabou por ser três horas
depois, após Liam ter sido colocado na cama.
— Você queria falar comigo? — Miles
disse, fechando a porta do escritório de Ian.
Ian assentiu sem levantar os olhos do
laptop.
— Se Liam fala com você, poderia
perguntar por que ele está com medo de eu
machucá-lo?
Franzindo a testa, Miles se aproximou e
apoiou o quadril contra a mesa perto da
cadeira de Ian.
— Pensei que tinha dito que ele estava
com medo de você porque você e a mãe dele
brigavam o tempo todo?
Ian levantou o olhar do laptop e o
encarou com um olhar sombrio.
— Sim, brigamos muito...
Verbalmente. Nunca a machuquei
fisicamente. Mas hoje tive a impressão de que
ele estava com medo de que eu te machucasse
fisicamente. E quero saber o porquê.
Miles mordeu o lábio.
— Você acha que ele viu alguém
machucar a mãe?
Um sulco profundo apareceu entre as
sobrancelhas de Ian.
— Talvez. Ela o teve por meses antes que
eu recebesse a custódia. É possível que ele
tenha visto alguém que parecia comigo bater
nela. O tipo de companhia que ela mantinha
não era exatamente respeitável.
Miles cantarolou pensativo. Isso fazia
sentido. Isso explicaria por que Liam
desconfiava tanto do pai.
— Tudo bem. — Ele disse suavemente,
estendendo a mão para suavizar as rugas entre
as sobrancelhas de Ian com o polegar.
— Não franza a testa, você terá rugas
permanentes.
Ian levantou as sobrancelhas, sua
expressão sombria substituída por uma de
diversão. Afrouxou a gravata, observando Miles
preguiçosamente, como um gato grande e
perigoso pensando se estava com vontade de
comer um lanche ou não.
— Você deveria ser menos óbvio. — Ian
disse, pegando os dedos de Miles e estudando-
os. — Minha governanta me falou que eu não
deveria “encorajar cruelmente a paixão do
pobre menino”. Foi muito intimidador.
Miles riu, tentando agir como se seu rosto
não estivesse queimando.
— O que posso dizer? Sou muito
adorável.
Ian bufou, acariciando os nós dos dedos.
— Você é, ou teria sido demitido semanas
atrás.
Miles sorriu para ele, com o olhar
fixo. Cristo, havia algo em olhar nos olhos
azuis de Ian que tornavam suas interações
intoxicantes, seu coração batendo forte, seus
dedos tremendo e seu corpo tenso. Nunca se
sentiu tão bem com outra pessoa, confortável
com ela a tal ponto que tudo que queria era
estar mais perto. Queria fundir seus espaços
pessoais até que tivesse apenas um para os
dois. Queria que seu espaço pessoal fosse
de Ian.
Foda-se, seus próprios pensamentos e
desejos surpreendiam Miles. Parecia que
estava bêbado, suas inibições inexistentes, não
importava o que seu cérebro tentasse
dizer. Parecia que ele poderia dizer qualquer
coisa para Ian, poderia perguntar qualquer
coisa.
Foi assim que Miles se viu dizendo:
— Quero sentar no seu colo.
Ian apenas o encarou por um momento
antes de bater levemente em seu próprio
joelho.
Miles nunca se moveu tão rápido. Ele se
arrastou para o colo de Ian, enterrou o rosto
na garganta e se agarrou a ele como um
macaco.
— Eu me sinto tão estranho, Ian. — Ele
murmurou, suas mãos percorrendo os ombros
largos de Ian e os braços fortes sob a camisa
azul clara. — Não tenho certeza do que diabos
há de errado comigo. Nunca me senti assim.
Ian riu, não de maneira cruel.
— Isso se chama atração. — Ele disse,
passando os dedos pelos cabelos de Miles.
— Não sou idiota, sei disso. — Miles
disse, fechando os olhos enquanto acariciava a
garganta de Ian. Como esse homem cheirava
tão bem? — Mas eu sinto, me sinto tão fora de
controle, como se eu faria o que você quiser,
contanto que continue me tocando.
Ian fez um som estranho, algo entre um
gemido e uma risada.
Miles mordiscou seu pescoço, tentando ir
mais perto dele, dolorosamente consciente de
seu pênis meio duro cutucando Ian no
estômago.
— Isso é estranho para você?
— Menos do que provavelmente deveria.
— Ian disse, passando a mão pelas costas de
Miles através da camiseta fina que ele estava
vestindo. Seus dedos fortes pareciam mágicos
contra a espinha de Miles.
Tremendo, Miles se contorceu
novamente, dividido entre querer estar mais
perto daquela mão e querer estar mais perto
do peito de Ian. “Ian”, ele sussurrou,
frustrado.
E porque Ian era aparentemente um
leitor de mentes, tirou a camiseta de Miles e
depois desabotoou sua própria camisa,
deixando-a abrir, revelando seu peito largo e
musculoso que afunilava até uma cintura
estreita e abdominais duros. Ele era
lindamente construído, todo homem.
Miles imediatamente se aproximou, quase
gemendo com o contato de seus peitos nus,
pela sensação dos pelos esparsos de Ian contra
sua pele. Porra, isso era tão bom, mas não era
o suficiente. Ele se sentia sensível demais, sua
pele pegando fogo onde quer que estivessem
tocando, mas de alguma forma ainda não era
suficiente.
Miles só estava ciente de que estava
emitindo sons desavergonhados e carentes,
enquanto se contorcia nos braços de Ian,
buscando fricção e pele, querendo mais. Ian
era tão quente e firme, e ele cheirava incrível...
Deus... Miles se sentiu tão excitado que não
conseguia mais diferenciar a direita da
esquerda, sua mente estava enevoada de
desejo cru. Ele queria... queria...
— Shhh. — Ian disse, acariciando suas
costas para cima e para baixo. — O que você
quer?
— Você. — Miles murmurou contra a
garganta de Ian, inalando seu cheiro como um
viciado e incapaz de obter o suficiente. —
Qualquer coisa que você quiser.
Ele sentiu os músculos de Ian
enrijecerem. Ele embalou o rosto de Miles e o
levantou, forçando-o a olhá-lo nos olhos.
— Escute. — Ian disse, seus olhos azuis
atentos e sérios. — “Qualquer coisa que você
quiser” é uma resposta ruim. Confie em mim
nisso.
— Por quê? — Miles disse, esfregando a
bochecha na mão de Ian.
O olhar que Ian lhe deu era uma mistura
de irritado, exasperado e algo mais.
— Porque eu não sou um homem muito
bom. Posso me deixar levar. Realmente me
empolgo.
— Não importa. — Miles murmurou,
beijando os dedos de Ian com os lábios
trêmulos. Era difícil manter os olhos abertos. —
Eu me sinto tão bem com você. Confio em
você. Sei que vai me fazer sentir bem, não
importa o que faça.
As narinas de Ian se alargaram.
— Oh, porra. É como se você fosse criado
para apertar todos os botões errados em mim.
— Sua mão agarrou o queixo de Miles com
força, seu olhar pesado e emocionantemente
intenso. — Isso não é seguro, Miles. Você
precisará de uma palavra segura. Escolha
uma.
Miles disse a primeira palavra que lhe
veio à cabeça:
— Livro.
Ian deu um aceno cortante.
— Bom o bastante. Se você quiser que eu
pare, é só falar. Se quer que eu pare, mas não
pode falar por algum motivo, é só tocar seu
nariz.
Miles lambeu os lábios.
— Mas e se não puder fazer isso? — E se
eu estiver amarrado e amordaçado?
Um músculo flexionou na mandíbula de
Ian.
— Vamos discutir isso de antemão se
uma situação dessas ocorrer.
Miles torceu o nariz.
— Acho que discutir as coisas primeiro
tira toda a diversão delas. Confio em você para
não me machucar. Não deveria ser suficiente?
A expressão de Ian estava quase
dolorida.
— Não. — Ele disse firmemente. — Não
estou brincando quando digo que você aperta
todos os meus botões. — Esses olhos pareciam
queimar Miles. — Pense assim: quero te foder
tanto que nem me importo mais com o seu
sexo. Portanto, não sou exatamente o mais
racional em torno de você.
Miles acariciou a nuca de Ian, os
músculos tensos de seus ombros e braços.
— Eu não quero que você seja racional.
— Ele disse. Ian estava tão tenso contra ele,
seus músculos rígidos. Essa imensa tensão
antinatural não poderia ser saudável. Miles
disse suavemente: — Deixe ir. Prometo que
usarei a palavra segura se for demais. Faça o
que você quiser. Eu quero você.
Ian estremeceu, seu corpo se tornando
ainda mais tenso contra ele, seu olhar
escurecendo.
Miles molhou os lábios, sentindo como se
estivesse pressionado contra um animal
selvagem retido apenas pelas rédeas de seu
autocontrole.
Os olhos de Ian seguiram o movimento
de sua língua.
— Beije-me? — Miles sussurrou trêmulo.
Ian se inclinou e fez exatamente isso.
Não havia fogos de artifício atrás das
pálpebras de Miles; os fogos de artifício
pareciam iluminar seu corpo inteiro. Miles
estremeceu, choramingando ao sentir a boca
de Ian contra a dele. Podia sentir o corpo de
Ian endurecer por sua reação por um
momento, e então Ian estalou.
Gemendo, agarrou o rosto de Miles e
explorou sua boca, os dentes e língua, seu
grande corpo subindo contra Miles e
aglomerando-o contra a mesa enquanto Ian lhe
dava um beijo faminto e imundo que tomou,
tomou e tomou. Era esmagador. Aterrorizante
e terrivelmente bom. Miles se perdeu, seu
mundo se estreitando na boca quente e
exigente e aquelas mãos grandes segurando
seu rosto em um aperto punitivo. Ele nem
tinha certeza de que estava beijando de
volta; tudo o que podia fazer era sentir e
gostar de ser o foco do desejo de Ian. Gemidos
fracos e trêmulos deixaram sua boca enquanto
o beijo continuava e continuava.
Deus.
Ian o empurrou sobre a mesa e para
baixo com seu corpo, os pênis presos entre
eles. Algo caiu no chão, mas nenhum deles
prestou atenção. Estremecendo, Miles abriu os
zíperes e passou as pernas em volta da cintura
de Ian enquanto Ian batia seu pênis contra o
de Miles. Porra, a maneira como o corpo de Ian
sentia em cima dele... Era incrivelmente bom:
o peso dele, a pressão. Deveria fazê-lo se
sentir preso, mas tudo que Miles podia pensar
era ‘tão bom’ e ‘mais’.
Encontraram um ritmo sujo e irregular,
ainda beijando bagunçado, saliva por toda
parte. O sexo seco não tinha o direito de se tão
gostoso, tão satisfatório e terrivelmente bom,
mas era. Ao contrário dos boquetes, não era
unilateral, ambos queriam isso, ambos
precisavam disso, suas necessidades pareciam
uma, ambos buscando o
orgasmo. Juntos. Queria Ian mais perto,
precisava dele. Deus, por favor... Oh, oh, oh.
Quando as mãos de Ian envolveram sua
garganta, Miles mal conseguia pensar, sua
mente era uma névoa de prazer e desejo, seu
corpo era sensível e carente. Quando as mãos
de Ian apertaram seu pescoço, Miles gemeu ao
redor da língua de Ian, chupando-a
avidamente. A pressão ao redor de sua
garganta ficou mais forte, deixando a cabeça
de Miles alegremente vazia. Ele só podia gemer
fracamente, moendo seu pau contra o
estômago duro de Ian. Não havia ar nos
pulmões, ele não conseguia respirar, mas era
tão bom, Deus, só um pouco mais...
Ele gozou, soluçando e se agarrando ao
homem em cima dele com toda sua força, sua
mente vazia e seu corpo finalmente
encontrando alívio. Ian empurrou-se contra
ele, estremeceu e ficou imóvel.
Miles percebeu que ainda estava
ofegando quando Ian levantou a cabeça e o
olhou.
— Você está bem? — Ele disse,
acariciando a garganta dolorida de Miles, antes
de encará-lo nos olhos.
Miles apenas assentiu fracamente,
sentindo como se estivesse se afogando
naqueles olhos. Verdade seja dita, ele se sentiu
estranho. Se sentiu incrivelmente bem, mas,
ao mesmo tempo, sentiu que estava prestes a
chorar por nenhuma razão.
Foi por isso que, quando Ian começou a
se endireitar, Miles se viu passando os braços
em volta do seu pescoço e se agarrando.
— Não vá. — Ele murmurou, sentindo-se
mortificado por sua própria necessidade, mas
incapaz de fazer qualquer coisa sobre isso. Ele
não queria ficar longe de Ian. Mesmo alguns
centímetros pareciam muito longe.
Ian ficou parado por um momento antes
de puxá-lo em seus braços e se endireitar com
Miles ainda agarrado a ele.
— Eu não vou a lugar nenhum. — Ele
prometeu, sua voz baixa e suave. Uma pitada
de humor apareceu em seu tom. — Mas não
podemos ficar na minha mesa a noite
toda. Não tenho vinte anos. Minhas costas me
matariam amanhã.
Miles assentiu, e ele sentiu Ian carregá-lo
para... algum lugar. Miles realmente não se
importava. Enterrando o rosto na dobra do
ombro e pescoço de Ian, Miles fechou os olhos
e se viu se adormecendo. Ele estava com
Ian. Estava seguro.
Ian cuidaria de tudo.
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
3
Termo geralmente usado para descrever à condição de transe experimentado por pessoas em posição submissa
durante sua interação com a pessoa na posição de Dominador quando estão envolvidos em uma cena.
E, diabos, Miles não foi o único que se
empolgou durante uma bonita cena baunilha. O
orgasmo de Ian foi muito mais satisfatório do
que deveria ter. Normalmente precisava de
muito mais para atingir um orgasmo em
qualquer lugar remotamente próximo da
intensidade deste. Era… desconcertante.
Franzindo a testa, Ian beijou o topo da
cabeça de Miles distraidamente, colocando a
cabeça do jovem sob o queixo. Miles fez um
som satisfeito, seus tremores diminuindo e sua
respiração voltando ao normal. Ele ainda
estava agarrado a Ian como um coala bebê,
mas fora isso, parecia ter se acalmado.
— Miles? — Ian disse calmamente,
passando os dedos pelos cabelos de Miles. —
Você está bem?
Ele sentiu mais do que ouviu Miles
assentir antes que o garoto levantasse a
cabeça e sorrisse para ele deslumbrantemente.
— Sim. — Disse ele, embora seus olhos
ainda estivessem suspeitosamente brilhantes.
— Perfeito.
Ian olhou para aquele sorriso - para
aquele rosto adorável e corado - e pensou:
sim, você está. Seus dedos formigavam de
desejo pelo caderno de desenho. Queria
capturar aquele sorriso de gratificação e o
olhar satisfeito no rosto de Miles.
Miles riu.
— Pare de me olhar assim.
— Assim como? — Ian disse, apertando o
braço em volta dele.
— Como se você não tivesse acabado de
foder meu cérebro. — Disse Miles antes de se
inclinar para beijá-lo suavemente. — Amei isso.
— Sussurrou contra a boca de Ian. — Estou tão
feliz que foi você.
Ian o beijou com força, seu sangue
fervendo com um sentimento estranho e
primitivo que não tinha nada a ver com luxúria.
Era desejo, mas não era o tipo de desejo que
tornava seu pênis duro. Era o tipo de desejo
que parecia mais profundo, mais necessário.
Ele queria esse garoto, esse jovem que se
arrastara sob sua pele como um delicioso vício
no curto espaço de tempo em que se
conheceram. Queria tê-lo, possuí-lo em todos
os níveis, para possuir outra pessoa sem se
perder também. Ou talvez esse fosse o
problema - ele queria se perder nesse ser
humano doce e incrível que de alguma forma
conseguia saciar a fome insaciável e profunda
da alma que Ian sempre carregava dentro dele.
Quando ele finalmente permitiu que Miles
quebrasse o beijo, as pupilas de Miles estavam
dilatadas novamente. Ele estava piscando
atordoado, como se tivesse acordado de um
sonho, antes de suspirar e colocar a cabeça no
peito de Ian.
— Não deu certo. — Afirmou.
— O quê? — Ian disse, sua mão voltando
ao cabelo de Miles. Ele não conseguia explicar
nem para si mesmo por que não conseguia
parar de tocá-lo.
— O sexo. Não deu certo. Você tem
certeza de que toda essa coisa de 'foder
alguém fora do seu sistema' funciona? — Miles
olhou para ele, franzindo o nariz engraçado. —
Para ser honesto, sempre pensei que era um
exagero, apenas uma desculpa para as pessoas
foderem.
Ian deu uma risada curta.
— Talvez às vezes seja. — Disse ele. —
Mas isso ajuda. Costumo perder o interesse em
uma mulher depois de tê-la.
O olhar de Miles ficou sério.
— Isso é… um pouco confuso.
Ian deu um suspiro.
— Não me olhe dessa maneira. Eu
realmente não sou o tipo de foder e
abandonar. Sempre tentei o máximo possível
para fazer meus relacionamentos funcionarem,
mas... — Há algo errado comigo. — Eu não
consigo. As poucas paixões que tive nunca
duraram. — Ele deu de ombros, olhando para
longe. — Talvez eu não tenha sido criado para
relacionamentos.
Miles murmurou pensativo.
— Mas você quer um?
Sim.
A resposta que quase saiu da boca de Ian
o surpreendeu. Ele pensou que tinha desistido
de relacionamentos depois de Regina,
aceitando que nunca seria capaz de encontrar
uma pessoa que finalmente preenchesse o
espaço sem fundo em sua alma. Parecia que
não tinha. Ou era apenas mais difícil lembrar
como era a sensação de insatisfação quando
ele tinha Miles nos braços.
Ou talvez você esteja apenas sendo um
idiota egoísta e ganancioso novamente. Você
vai pegar, pegar e pegar até que ele não tenha
mais nada para lhe dar.
Ian apertou a mandíbula.
Miles passou os dedos pela sua
mandíbula levemente.
— Tudo bem se não quiser responder. —
Disse ele. — Não queria te deixar com raiva.
— Não estou com raiva. — Não de você.
Olhos verdes o estudaram
cuidadosamente.
— Bem, você está com raiva de alguém.
Ian fechou os olhos por um momento e
respirou fundo.
— Se sabe o que é bom para você,
amanhã embarcará no primeiro voo para
Londres e nunca mais voltará.
— Por quê?
Ian olhou para ele.
— Preciso soletrar?
As sobrancelhas de Miles estavam
franzidas em algo que não era muito confuso.
— Sim, na verdade, eu gostaria.
— Eu não quero foder com você. — Ian
disse laconicamente. — Você acha que sou um
homem melhor do que sou. Eu não sou. Confie
em mim, sou um idiota.
— Se você realmente fosse um idiota,
não se preocuparia em me foder. — Disse
Miles, deslizando a mão pelo ombro de Ian e
traçando a curva do bíceps. — Eu me sinto
bem com você. — Ele disse com dolorosa
honestidade, encontrando o olhar de Ian. —
Seguro. Como se nada pudesse me machucar
quando estou com você.
Jesus Cristo.
Ian olhou para ele, dividido entre rir e
beijar esse ser humano ridículo e precioso.
— Estou tentando ser um bom homem
aqui, Miles.
Miles deu um sorriso torto.
— E aprecio o pensamento, realmente
aprecio, mas não sou burro, Ian. Não se
preocupe: não tenho intenção de me apaixonar
por você e partir meu coração. Sei que seria
um desastre. Nós somos de mundos diferentes.
Ian não sabia como dizer a ele que
estava longe de ser o principal problema. Muito
longe.
— De qualquer forma... — Disse Miles
levemente — ...estou perfeitamente ciente de
que essa... aventura tem uma data de
validade. Não vou chorar em seu peito e me
agarrar a você quando nos despedirmos. Sou
um garoto grande.
Quando Ian apenas o encarou em
silêncio, Miles pigarreou, parecendo um pouco
perdido.
— Quero dizer… não que eu esteja
pressionando você a fazer mais sexo ou algo
assim. Realmente, não precisa ficar
constrangido se não quiser mais fazer isso.
Está tudo bem. — Ele riu sem jeito, sentando-
se. — Você já encontrou outra babá para Liam,
então acho que realmente não tenho… nenhum
motivo para ficar aqui. Ainda não vou para
casa - meu passaporte ainda não está pronto -,
mas vou me mudar. Tenho dinheiro mais do
que suficiente para um hotel, graças ao salário
ridículo que você me pagou. — Ele saiu da
cama, estremecendo um pouco enquanto se
movia.
Ian viu Miles se vestir e teve que morder
a língua para não dizer algo que não deveria.
Você é meu. Você disse que era meu. Não vou
permitir que saia.
Se dissesse isso, Miles pensaria que ele
era louco. Um idiota controlador e confuso. As
pessoas diziam merdas estúpidas durante o
sexo, incluindo Ian, e isso não significava nada.
Ian sabia que por seu silêncio ele estava
permitindo que Miles chegasse à conclusão
errada: que ele conseguira tirar Miles do seu
sistema e realmente não o queria mais. Ian
sabia que isso machucava Miles, não importa o
que Miles dissesse. Mas era melhor que
descobrir o quão fodido Ian era. Ele poderia ser
altruísta pela primeira vez, caramba.
Você destrói tudo o que toca. A voz de
Regina soou em sua cabeça, tão doce quanto
venenosa. Sabe que foi você quem me levou
de volta às drogas. No fundo, você sabe disso.
Sua frieza, seus modos sufocantes e
controladores, seu desejo de vingança, seus
problemas de raiva, seus desejos perversos,
seu egoísmo - você é um maldito veneno, Ian.
Ian assistiu Miles puxar sua mala do
armário. Já estava quase lotada. Miles não
levaria muito tempo para enfiar o resto de seus
pertences nela.
Rangendo os dentes, Ian saiu da cama e
começou a se vestir. Não queria ficar aqui
quando Miles saísse. Não poderia estar aqui.
Ele não confiava em si mesmo.
A voz de Miles o parou na porta.
— Obrigado. — Ele disse suavemente. —
Por tudo que você fez para me ajudar a me
descobrir.
Ian mordeu o interior de sua bochecha
com tanta força que provou sangue. Ser um
bom homem nunca foi tão difícil.
— Diga ao meu motorista para lhe dar
uma carona. — Disse ele em uma voz cortada
e se afastou.
Ignorou o quão vazio sentia seu peito.
Estava acostumado.
Capítulo 14
Estarei aí em breve.
Miles escreveu e suspirou
novamente. Voltando-se para o motorista,
falou o endereço dos Rutledges. Agora estava
feliz por não aceitar a sugestão de Ian e pegar
emprestado seu motorista.
Ian.
Miles recostou-se no banco e olhou pela
janela novamente. Ele... Não sabia o que
estava sentindo no momento. Uma sensação
estranha e atormentadora parecia ter se
enroscado em seu estômago, uma emoção que
não conseguia identificar. Não sabia o que
era. Sentia-se... triste? Definitivamente, havia
tristeza, principalmente porque se arrependeu
de não ter dado um beijo de despedida em
Liam e de explicar por que estava indo embora,
mas não era só isso. Havia outro sentimento
que não conseguia identificar, um que fez seu
interior apertar.
— Não seja idiota. — Murmurou
baixinho. Ian deixou claro que já o havia
superado, que essa... coisa deveria terminar
agora. Miles concordou. Ele concordou. Disse a
Ian que estava desistindo por esse mesmo
motivo. Precisava ir antes que pudesse
esquecer que realmente não pertencia àquela
casa, antes que pudesse investir demais em
Liam e vice-versa. Antes que pudesse esquecer
como era viver sem os olhos de Ian nele.
Miles fez uma careta e se mexeu em seu
assento, arrependendo-se imediatamente
quando um leve desconforto percorreu sua
bunda. Sentia-se um pouco dolorido e
nojento. Saiu tão rápido que nem sequer
tomou banho depois do sexo. Só podia esperar
que não cheirasse a isso.
Só podia esperar que Shawn não notasse
nada. Já era ruim o suficiente que ele se
sentisse o pior tipo de traidor depois de ser
pego beijando o homem que eles pediram para
ficar de olho, mas para acrescentar insulto à
injuria, sentia como se tivesse enganado Ian,
não os Rutledges. A coisa toda de espionagem
nunca parecera boa para ele, e era algo que
tinha cuidadosamente evitado de pensar nas
últimas semanas. Era uma coisa boa que o
flerte dele e de Ian tivesse terminado antes
que o homem pudesse descobrir sobre isso. Só
podia imaginar o quão bravo Ian ficaria se
descobrisse. Agora ele nunca faria. Porque eles
terminaram, o que era uma coisa boa. Sim.
Miles ainda estava pensando nisso
quando o carro entrou na entrada dos
Rutledges.
Depois de pagar o motorista, Miles pegou
sua mala e olhou para a casa grande. Parecia
quase ameaçadora na escuridão, pairando
sobre ele. Apenas algumas das janelas
estavam iluminadas.
Preparando-se, Miles caminhou com
determinação em direção à casa. Não havia por
que adiar o inevitável.
*****
Derek Rutledge observou o marido
passear na sala de estar.
— Ele disse que chegaria logo. — Disse
Shawn, franzindo a testa.
Derek deixou de lado os papéis que
estava avaliando.
— E eu tenho certeza que ele
chegará. Sente-se.
Shawn apertou os lábios, lançando lhe
um olhar de frustração. Continuou andando e
passando a mão pelo cabelo.
— Nunca deveríamos ter pedido a Miles
que espiasse Caldwell. Sabia que era a coisa
errada a fazer. Agora o garoto vai se
machucar.
Os lábios de Derek se torceram em um
sorriso irônico.
— Aquele garoto é cinco anos mais novo
que você? Velho o suficiente para dizer não. E
ele não parecia exatamente machucado
quando o vi com a língua de Caldwell na
garganta.
Shawn não parecia tranquilo.
— Precisamente, Derek. — Disse. Ian —
Caldwell é... você sabe como ele é. Ele nem
está mais se preocupando em esconder sua
animosidade em relação a nós. Ele está apenas
brincando conosco neste momento! Ele é um
idiota que gosta de mexer com a cabeça das
pessoas. E ele é hétero. Tenho certeza que é
homofóbico, pelo menos um pouco. Por que ele
se incomodaria em mexer na cabeça de Miles
sem segundas intenções? Deve ter descoberto
o que pedimos a Miles para fazer, e é algum
tipo de jogo doentio para ele.
Particularmente, Derek estava inclinado a
concordar, mas ele decidiu bancar o advogado
do diabo.
— Eu me lembro de você ser 'hétero'
também, até que me conheceu.
A carranca finalmente saiu do rosto de
Shawn. Ele sorriu, seus olhos se iluminando
com diversão.
— Você quer dizer até eu chupar seu pau
por uma nota melhor, professor?
Derek deu a ele um olhar de pálpebras
semicerradas, seu pau estremecendo na calça.
— Eu tenho boas lembranças disso.
Sorrindo, Shawn montou em seu
colo. Passando os braços em volta do pescoço
de Derek, lhe deu um beijo suave que
rapidamente se transformou em um beijo
ganancioso. Puxando-o para mais perto, Derek
assumiu o beijo. Shawn fez um som satisfeito,
chupando sua língua de uma maneira que foi
direto para o pau de Derek. Porra, fazia cinco
anos; ele ainda deveria se sentir assim?
— Eu também tenho boas lembranças
disso. — Disse Shawn quando eles quebraram
o beijo por um ar muito necessário. Os olhos
dele estavam alegres. — E foi a melhor decisão
da minha vida.
Os braços de Derek se apertaram ao
redor dele. Ele olhou nos olhos azuis de
Shawn, cheios de carinho e amor, e de repente
se perguntou como seria sua vida agora, se há
cinco anos não tivesse aceitado a ultrajante
oferta do seu aluno de chupar seu pau para
obter uma nota melhor. Normalmente, ele teria
relatado isso ao conselho. Mas com Shawn,
permitiu que seu pênis pensasse. Agora não
podia estar mais agradecido por isso.
— Eu amo você. — Disse Derek, sua voz
um pouco áspera.
Shawn sorriu para ele suavemente.
Um movimento na porta o fez olhar por
cima do ombro de Shawn.
— Desculpe. — Disse Miles, afastando-se
da porta. Seu rosto estava um pouco
rosado. — Eu não quis... Seu mordomo me
deixou entrar.
Shawn beijou Derek na bochecha antes
de sair do seu colo.
— Não, entre. Estávamos esperando por
você.
— Sim. — Disse Derek, seus olhos
passando rapidamente para a mala aos pés de
Miles. Ele fez uma careta. — Você saiu da casa
de Caldwell?
Miles assentiu, desviando o olhar.
— O filho dele precisa de uma babá de
verdade neste momento. Eu me senti meio
inútil, para ser honesto. — Ele esfregou a nuca
com a mão, um sorriso triste curvando seus
lábios. — Sei do que você provavelmente quer
falar, mas como vê, eu não teria sido de muita
ajuda para você. Não vou mais trabalhar para
Ian. Eu não poderia espioná-lo, mesmo que...
— Ele parou, encolhendo os ombros com um
olhar impotente e culpado em seu rosto.
Ian.
Depois do que viu algumas horas atrás,
provavelmente não deveria ter surpreendido
Derek que Miles tivesse se aproximado o
suficiente de Caldwell para se referir a ele pelo
seu nome, mas de alguma forma, aconteceu.
Derek observou o garoto,
pensativo. Miles era um jovem atraente. Ele
não era tão bonito quanto Shawn, embora
Derek pudesse ser tendencioso sobre isso, mas
ele era adorável. Muito adorável, sem ser
feminino. Seus olhos verdes eram bonitos e...
levemente vermelhos, como se tivesse chorado
recentemente.
Os olhos de Derek viajaram para o
pescoço de Miles e se estreitaram quando viu
hematomas em forma de dedos nele.
Ele ficou rígido, lembrando dos rumores
sobre a propensão de Caldwell à violência e
crueldade.
— Ele machucou você?
Miles pareceu congelar antes que sua
mão voasse até a garganta. O rubor desbotado
em suas bochechas se aprofundou novamente.
— Não, foi... foi consensual.
Shawn parecia atordoado.
— Você quer dizer que realmente fez
sexo com ele?
Miles fez uma careta.
— Olha, sem ofensas, mas não vejo como
é da sua conta. Sinto muito por quebrar minha
promessa, de verdade, mas não preciso falar
sobre minha vida sexual. — Sua expressão se
tornou um pouco tensa. — Acabou, de
qualquer maneira. Ian terminou.
Derek trocou um olhar com Shawn.
Ele balançou a cabeça levemente e sorriu
para Miles.
— Claro que você não precisa explicar
nada para nós. Sinto muito se lhe demos essa
impressão. Você é nosso amigo, Miles. Nos
preocupamos com você. Nos... sentimos
realmente culpados por tê-lo arrastado para
isso.
Miles deu a ele um olhar confuso.
— Culpado? Do quê?
Shawn estremeceu um pouco.
— Acho que Caldwell pode ter descoberto
sobre sua... conexão conosco, e é por isso que
ele... te seduziu...
Uma risada dura, mas cheia de diversão,
saiu da boca de Miles.
— Confie em mim, definitivamente não
foi isso. — Disse ele. — Eu o conheço. O que
aconteceu entre nós foi apenas entre ele e
eu. Não tinha nada a ver com o relacionamento
estranhamente tenso entre vocês. — Ele deu a
Derek um olhar firme. — Você vai me dizer do
que realmente se trata?
Derek o olhou, franzindo a testa.
— Você conhece o homem há um
mês. Não se iluda pensando que conhece o
verdadeiro, Miles.
Miles zombou e cruzou os braços sobre o
peito.
— Certo. Por que você não me esclarece
quem é o verdadeiro?
Derek estava perturbado. Ele podia sentir
o protecionismo do garoto aumentando, sobre
Caldwell, de todas as pessoas.
— Acho que deveríamos contar a ele,
Derek. — Disse Shawn em voz baixa.
Derek suspirou, sabendo que ele estava
certo. Realmente não queria falar sobre isso
com Miles. Ele parecia um bom garoto, mas o
assunto era... profundamente pessoal, afinal.
— Você provavelmente ouviu que meu
pai, Joseph Rutledge, era um tirano. — Quando
Miles assentiu, Derek continuou com
relutância. — Meu pai nunca aceitou minha
sexualidade e constantemente empurrava
mulheres para mim. Na época de sua morte,
ele não estava exatamente em sã consciência e
decidiu que era uma boa ideia anunciar na
frente de toda a sociedade e mídia que eu
havia ficado noivo da filha de seu velho
amigo. Filha de Nathan Brooks. O político?
Não havia sinal de reconhecimento ou
entendimento no rosto de Miles. Derek quase
bufou. Parecia inacreditável que alguém que
ele conhecesse pudesse estar completamente
no escuro sobre esse escândalo. Mas,
novamente, o garoto era britânico. Claro que
não ouviu falar sobre isso.
— Obviamente, não aceitei bem quando
descobri os planos do velho. — Disse Derek. —
Meu pai e eu discutimos sobre isso, ele teve
um ataque cardíaco e morreu. Após sua morte,
anunciei que o noivado não era real e voltei
para Shawn. — Ele fez uma careta. — Não
considerei a terceira parte em tudo isso: a
garota com quem eu supostamente estava
noivo.
Uma sugestão de entendimento
finalmente apareceu nos olhos de Miles.
— Oh. Ela deve ter ficado humilhada.
Os lábios de Derek se estreitaram.
— Ela ficou. Aparentemente, se tornou
motivo de piada. —Ele fez uma careta. — As
pessoas nesses círculos são um pouco
melhores que abutres, e ela era apenas uma
garota, nem dezenove. Acabou tendo um
colapso mental e cortando os pulsos. Ela
sobreviveu. — Disse Derek rapidamente
quando viu a expressão de Miles. — Mas
causou um escândalo ainda
maior. Eventualmente, a família da garota teve
que levá-la embora. Ela vive em outro estado
agora, tanto quanto sei.
— O que isso tem a ver com Ian? — Disse
Miles.
Derek encontrou seu olhar.
— Ian Caldwell é o irmão mais velho dela.
Miles piscou.
— O quê? Ele tem irmã?
— Meia-irmã. — Disse Shawn. — Eles
compartilham uma mãe. A mãe de Caldwell
casou-se com Nathan Brooks após a morte de
seu pai e deu à luz uma filha, Amanda.
Miles estava franzindo a testa
profundamente.
— Então você pensa... Você acha que Ian
está em busca de vingança?
Derek sorriu sem humor.
— Oh, temos certeza disso. Caldwell não
é conhecido por deixar de lado velhos
rancores.
Havia um sulco entre as sobrancelhas de
Miles.
— Por que você concordou com o acordo
de parceria, então? Por que fez dele o CEO da
sua empresa?
A mandíbula de Derek se apertou.
— Foi um erro. Um erro descuidado. Eu
não sabia que ele era parente de Amanda
Brooks. Eles não compartilham um
sobrenome. Ocorreu-me que sua mãe se casou
com um Brooks. — Derek beliscou a ponta do
nariz. — Deixei minha família e esses círculos
sociais décadas atrás, Miles. Eu era a ovelha
negra da minha família. Até recentemente, não
tinha motivos para me associar a eles. Não
tenho mais amigos nesses círculos. Descobri a
relação de Caldwell com Amanda Brooks tarde
demais.
Derek sentiu a mão de Shawn em meu
ombro.
— Não é sua culpa, Derek. — Ele disse
suavemente. — Você não sabia.
Derek fez uma careta. Sua ignorância não
o desculpava. Ele fora irresponsável demais,
feliz por se livrar da responsabilidade pela
companhia de seu pai, pelo orgulho e pela
alegria de Joseph. Derek já ouvira falar
bastante de Ian Caldwell para saber que ele
era um excelente CEO, altamente bem-
sucedido, por isso não se preocupou em fazer
verificações pessoais de antecedentes. Foi
estúpido da parte dele. Descuidado.
Derek olhou para Miles.
— Agora você sabe por que não
confiamos em Caldwell.
Miles parecia pensativo.
— Você deveria ter me contado isso
desde o começo.
— O que isso teria mudado?
Miles olhou para ele como se ele fosse
louco.
— Eu teria perguntado a ele sobre isso.
Shawn riu.
— Só assim? E você acha que ele teria
falado?
Miles deu de ombros.
— Talvez. Ian não é irracional. E até onde
sei, sempre foi honesto comigo.
Derek trocou um olhar com Shawn. Pobre
garoto. Ele estava iludido. O que Caldwell fez
para fazer uma lavagem cerebral nele para
pensar que ele era um homem decente?
— Ian Caldwell é um tubarão. — Disse
Derek categoricamente. — O escolhi porque ele
é um tubarão. Ele tem uma reputação de
crueldade obstinada nos círculos
empresariais. Depois que descobri o
relacionamento dele com Amanda, olhei para o
passado dele e parece que é o mesmo em sua
vida pessoal. Sua primeira noiva o deixou,
alegando que era cruel e confuso. Muitos de
seus relacionamentos anteriores aludiam à
mesma coisa. E nem estou tocando na bagunça
que era o relacionamento dele com a
esposa. Tudo o que ele toca, queima.
Derek encontrou o olhar de Miles
novamente e se forçou a suavizar sua voz.
— Esqueça-o, Miles. Agora me arrependo
de ter arrastado você para essa bagunça. Em
minha defesa, não esperava que ele se
interessasse por um homem. — E é por isso
que não acreditamos que ele não tenha
segundas intenções com você. Derek não disse
isso, mas a julgar pelo aperto na mandíbula de
Miles, o garoto conseguiu entender o que ele
não estava dizendo.
— Tudo bem. — Disse Miles
laconicamente. — Obrigado por me dizer. Não
que isso importe agora. Estou me mudando
para um hotel. Eu estava a caminho quando
Shawn me mandou uma mensagem.
— Hotel? Você absolutamente deveria
ficar aqui. — Disse Shawn em um tom que não
admitia discussão. Depois foi até Miles e
agarrou a mala aos seus pés. — Vamos lá.
Miles pareceu perdido por um momento,
apenas olhando para as costas de Shawn.
Um leve sorriso curvou os lábios de
Derek. Ao longo de seu relacionamento, ele
conheceu vários lados de Shawn.
— É melhor você fazer o que ele diz. —
Disse, pegando a pilha de papéis
novamente. — Às vezes é apenas mais
fácil. Confie em mim.
Depois de um momento, Miles seguiu
Shawn para fora da sala.
Derek olhou para os ombros curvados do
garoto e sentiu uma pontada de culpa
novamente.
Realmente não deveria tê-lo arrastado
para essa bagunça.
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
*****
Miles sempre foi uma pessoa da
manhã. Ele nunca havia entendido pessoas que
podiam descansar na cama a manhã toda. Mas
nas últimas semanas havia desenvolvido um
novo apreço pelas manhãs tardias e
preguiçosas. Ele percebeu que, se houvesse
alguém com quem queria passar o tempo todo
na cama, isso mudava tudo. As manhãs de
sábado e domingo, quando Ian não precisava ir
trabalhar, eram absolutamente suas
favoritas.
Infelizmente, esta não era uma delas.
Miles resmungou em protesto quando Ian
tentou sair do emaranhado de pernas que
estavam.
— Não.
Uma risada.
— Tenho uma reunião importante esta
manhã para a qual não posso me atrasar.
Fazendo um beicinho sonolento, Miles
apertou os braços em volta de Ian e repetiu:
— Não. — Não vá.
Houve silêncio por um tempo, sociável e
acolhedor. Miles nunca pensou que o silêncio
pudesse ser quente, mas era, e se deleitou
nele. Ao contrário de suas palavras, Ian não
parecia com muita pressa de sair da cama, a
mão passando pelos cabelos de Miles.
Mas depois de um tempo, Ian finalmente
quebrou o silêncio confortável.
— Você poderia ir comigo para o
escritório.
Miles abriu os olhos.
— Por qual motivo? Não sou mais seu
assistente nem seu estagiário.
— Eu poderia inventar uma razão. — Ian
disse rigidamente. — Se Rutledge conseguiu
colocá-lo em meu escritório, eu também posso.
Miles fez uma careta. Embora tivesse
passado semanas desde o desastroso jantar na
casa dos Rutledges, a lembrança ainda o
deixava desconfortável. O assunto todo o
deixou desconfortável. Embora tivesse
conseguido convencer Alexander a não contar
nada a Zach, odiava o quão tenso seu
relacionamento com ele e com os Rutledges se
tornara. Eles provavelmente o viam como um
traidor na pior das hipóteses, ou um idiota
iludido na melhor. Ele não sabia como
convencê-los de que Ian não era algum tipo de
personificação do mal. Mandar mensagens de
texto sobre algo assim era muito estranho, e
ele também não podia vê-los pessoalmente,
porque sabia que Ian ainda estava preocupado
com a coisa toda. Não ferir os sentimentos de
Ian era mais importante para ele do que não
ferir os de Derek e Shawn. Ele poderia tê-los
considerado amigos, mas Ian era... Ian era
algo completamente diferente.
Foda-se, Miles estava perfeitamente
ciente de como ele era. Quando Ian estava na
sala, todo o resto parecia desaparecer. Às
vezes, Miles sentia como se estivesse se
afogando em Ian - ou que se afogaria sem
ele. Deveria deixá-lo assustado. Isso não
aconteceu. Não havia nenhum sinal de alarme
tocando em sua cabeça, como se fosse
totalmente natural sentir que você não podia
respirar sem outra pessoa. Deus, esses
sentimentos carentes estavam tão confusos,
mas também era um sentimento incrível, como
uma elevação natural.
— Não acho que seja uma boa ideia. —
Murmurou Miles, aninhando-se contra a
garganta de Ian. — Todo mundo fofocaria
sobre nós. Sejamos honestos: somos péssimos
em ser sutis.
Para não dizer pior. Ele ainda não
conseguia olhar nos olhos do motorista de
Ian. Nas últimas semanas desde que voltou
para casa, todo o pessoal, começando pelo
jardineiro e terminando com o cozinheiro,
parecia ter descoberto sobre eles, e nem
mesmo foi o motorista que lhes
contou. Obviamente, a culpa foi deles. Se
apenas se abstivessem de se tocar fora do
quarto, ninguém saberia.
— Sei que não é uma boa ideia. — Ian
disse laconicamente. — Mas...
Ele parou, mas Miles podia sentir a
frustração dele como se fosse sua.
Mas eu quero levá-lo comigo de qualquer
maneira. Era isso que Ian não estava
dizendo? Ou Miles estava se iludindo? Ele
estava projetando seus próprios sentimentos e
pensamentos cada vez mais carentes em Ian,
interpretando-o
completamente? Provavelmente. Não ajudou
que, ultimamente, Miles estivesse ciente do
fato de que o verão estava terminando e que
deveria partir em breve. Ele tinha um novo
passaporte agora, e sua família estava
perguntando quando voltaria. Seus irmãos não
entendiam por que ainda estava em Boston,
em vez de viajar pela América, como pretendia
fazer.
Miles escondeu o rosto na curva do
pescoço de Ian, o estômago se apertando
ansioso. Mesmo pensar em sair trouxe um
sentimento de pânico apertado ao peito.
Mas ele precisaria, e logo. Sua vida
estava em Londres. O semestre começaria no
próximo mês. Ele tinha sua família e amigos
para voltar. Era o período mais longo que
passou longe deles. Sentia muita falta da
família. Ele queria ir para casa.
Mas...
Um toque interrompeu seus pensamentos
conflitantes. Relutantemente, Miles permitiu
que Ian saísse da cama para atender o
telefone.
Ele não conseguiu ouvir uma palavra que
Ian disse ao interlocutor. Em vez disso, olhou
para Ian, com o toque cinza em suas
têmporas, seu belo perfil, sua boca firme e seu
corpo forte e poderoso. Olhou para ele e já
sentia sua falta, mesmo que ele ainda
estivesse ali.
Por quanto tempo? Uma voz sussurrou no
fundo de sua mente. Eram dias contados, algo
que terminaria em breve.
Uma parte dele, uma parte pequena e
estúpida, esperava que Ian lhe pedisse para
ficar. Miles não tinha certeza do que diria se
Ian realmente fizesse isso, mas desde que
sabia que não estava acontecendo, se permitiu
entrar nessa fantasia por um momento. Nessa
fantasia, ele e Ian se casariam e criariam Liam
juntos. Nessa fantasia, toda a sua família
também vivia magicamente na América.
Nessa fantasia, Ian estava apaixonado
por ele.
Miles quase se encolheu com o
pensamento. Estava tentando não pensar
nessa palavra, mas a cada dia que passava,
era mais difícil. Como se chamava um
sentimento que era uma mistura de
necessidade, afeto avassalador, desejo
angustiante e uma sensação de retidão,
segurança e pertencimento? Só poderia ser
uma coisa; Miles estava ciente disso.
Ele ainda tentou não pensar nessa
palavra. Ian nunca indicou que isso significava
mais para ele do que uma coisa de amigos com
benefícios. Ian nunca usou a palavra com
“a”. Inferno, nunca usou termos carinhosos
com ele. Ian nunca havia falado sobre a
possibilidade de Miles ficar, como se isso nunca
tivesse ocorrido a ele. Nunca tinha surgido uma
vez.
Ele realmente deve ser um idiota, lendo
demais nos olhares intensos e quentes de
Ian. Provavelmente estava apenas vendo
coisas que queria ver. O pensamento fez seu
estômago apertar. O amor era um sentimento
terrível, mas maravilhoso. O amor não
correspondido era simplesmente aterrorizante.
— O que há de errado? — Ian disse.
Vacilando, Miles voltou os olhos para ele.
Ian estava franzindo a testa. Parecia que
ele havia terminado sua ligação e Miles nem
tinha notado, perdido em seus pensamentos.
Miles deu de ombros, sem saber o que
dizer. O que poderia dizer? Estou meio louco,
profundamente apaixonado por você e quero
que sinta o mesmo por mim.
Ele sentou e arrastou os lençóis, sentindo
frio de repente. Olhou para os dedos dos pés
espreitando pelos lençóis.
Ele sentiu mais do que ouviu Ian se
aproximar dele.
— Miles. — Ele disse, sua voz mais suave.
Miles estremeceu. Ian tinha um jeito de
dizer seu nome que soava melhor do que
qualquer carinho.
Ele ergueu o olhar lentamente e
encontrou os olhos de Ian.
— O quê?
A expressão de Ian era tensa.
— Não faça isso.
— Fazer o quê? — Miles disse, piscando
em genuína confusão. Ele não estava fazendo
nada.
Ian olhou para ele.
— Tenho uma reunião importante em
menos de uma hora. Não só vou me atrasar,
mas também não poderei me concentrar nisso,
se continuar pensando no motivo de você estar
chateado.
Miles piscou novamente antes de um
sorriso lento esticar seus lábios. Avançando,
pressionou o rosto contra o peito nu de Ian e
abraçou-o com força. Eu preciso de você,
pensou quando Ian o abraçou de volta,
hesitante no começo, depois com mais força.
Amo você, pensou Miles, fechando os
olhos e murmurando as palavras contra a pele
quente de Ian. Ele não se atreveu a dizê-los
em voz alta. Não tinha certeza de quão bem
elas seriam recebidas.
Ficou claro que Ian pelo menos se
importava com ele. Se importava
muito. Provavelmente era assim que alguém se
importava com um amigo, mas naquele
momento não importava. Iria apreciar este
momento, não importa o quão fugaz fosse.
Talvez as pessoas estivessem certas
quando diziam que até o amor unilateral era
melhor do que estar com alguém que te
amasse, mas você não o amasse de
volta. Miles sentiu como se estivesse sufocando
com esse amor, a emoção fazendo seu peito
apertar de desejo. Doeu, mas também era a
melhor sensação do mundo, a proximidade de
Ian o deixando quase tonto de prazer. Nada
parecia melhor do que ser segurado pelo
homem que amava.
— Não estou chateado. — Disse Miles,
com sinceridade. Nunca poderia estar chateado
com os braços de Ian ao seu redor.
Até você, eu não conhecia nem paixão
nem amor. Depois de você, provavelmente
nunca mais os conhecerei. E talvez esteja tudo
bem.
— Acabei de perceber uma coisa. —
Continuou, respirando o perfume de Ian. Seus
olhos ardiam um pouco quando ele se afastou,
mas estava sorrindo. — Acho que vou sentir
sua falta quando voltar para casa.
O rosto de Ian ficou imóvel.
Ele apenas olhou para Miles por um longo
momento antes de algo mudar em seus olhos.
Ele acenou com a cabeça.
— Provavelmente sentirei sua falta
também. — Ele se virou e desapareceu no
banheiro. Houve o som do chuveiro sendo
ligado.
Miles fechou os olhos, a garganta
apertada.
Parte dele esperava estupidamente por
uma reação diferente. Palavras diferentes.
Ele quase riu de si mesmo. Por que Ian
pediria um garoto britânico que conhecia há
apenas alguns meses para ficar com ele na
América? Era apenas uma aventura de verão,
nada mais. Eles eram de mundos
diferentes. Claramente, ele era o único que se
sentia infeliz ao pensar num oceano entre
eles.
Deus. Basta.
Chega.
Este não era ele. Essa pessoa triste e
miserável não era ele.
Porra, estava se tornando cada vez mais
óbvio que precisava sair antes que essas
emoções tóxicas pudessem destruir tudo de
bom que havia entre eles. Poderiam se separar
como amigos. E parecia que quanto mais cedo
ele saísse, melhor seria para seu próprio
estado mental. Arrancar o band-aid de uma
vez seria melhor do que prolongar essa lenta
tortura.
Um dia.
Não, eu não posso. Não tão cedo.
Miles rangeu os dentes, odiando sua
fraqueza.
Tudo bem. Uma semana.
Daria a si próprio uma semana e depois
partiria.
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 22
Fim