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Apenas Um Pouco Sujo

(Straight Guys 10)

De: Alessandra Hazard

Um implacável CEO de uma grande


empresa.
Um estudante britânico confuso sobre sua
sexualidade.
Eles não têm nada em comum.
A atração escaldante entre eles não faz
absolutamente nenhum sentido.
Quando Miles Hardaway decidiu passar o
verão na América para se afastar de sua
família dominadora, a última coisa que
esperava era acabar se apaixonando por um
homem que ele deveria não gostar.
Ian Caldwell é o homem mais arrogante e
mandão que Miles já conheceu. Ele deixa Miles
absolutamente louco. Embora Miles tenha sido
avisado de que Ian está jogando algum jogo
sujo e secreto, ele se vê preso entre seus
amigos e um homem que não deveria querer.
Quem ele escolherá quando seu coração
e mente estiverem lhe dizendo duas coisas
diferentes?
Capítulo 1

Miles Hardaway não estava tendo um


bom dia.
Seu voo para Boston estava atrasado,
então alguém roubou sua carteira - com seu
cartão de crédito, passaporte e todo o seu
dinheiro - e agora o cara que deveria buscá-lo
também estava atrasado.
Miles olhou para o celular pela centésima
vez e franziu o cenho, depois examinou ao
redor do aeroporto movimentado de Boston.
Seu irmão havia garantido que seu amigo
americano o buscaria, mas já fazia uma hora
desde sua chegada e o sujeito ainda não
estava em lugar algum.
Simplesmente brilhante.
Estritamente falando, não era como se
precisasse de uma carona - ele tinha vinte
anos, não era mais uma criança - mas lutar
com seu irmão mais velho e arrogante por
causa disso era mais problema do que valia a
pena.
Como o filho mais novo de uma grande
família, Miles aprendera há muito tempo
quando escolher suas batalhas e quando
poupar seu fôlego.
Zach sempre foi superprotetor com ele.
Pensava em Miles mais como um filho do que
um irmão. Provavelmente era inevitável,
considerando a grande diferença de idade e o
fato de que Zach praticamente o criara desde
que Miles era criança. Desnecessário dizer que
Zach não aprovou sua decisão de passar o
verão sozinho no exterior e insistiu que Miles
ficasse na casa de um amigo dele. Pelo menos
não o proibiu de ir. Ele poderia ter feito isso, já
que Miles era um estudante falido e
financeiramente dependente de seu irmão mais
velho.
Miles ficava um pouco envergonhado por
ainda ser um bebê, mas ele tinha feito as
pazes com isso. Tentou ser independente antes
- quando se mudara da casa de Zach aos
dezessete anos - mas não esperava o quão
difícil seria viver por si só. Londres era um
lugar caro, e ele acabou dividindo um quarto
minúsculo com dois outros caras de sua classe.
Certamente fora uma experiência de
aprendizado: aprendera que às vezes o orgulho
era estúpido e sem sentido.
Ele ficou envergonhado, mas aliviado, por
retornar à casa de Zach com o rabo entre as
pernas. Desde então, não se rebelou
novamente, aceitando o apoio financeiro de
Zach até o momento em que seria capaz de ser
independente e não teria que pular as refeições
para pagar o aluguel.
Ainda assim, ter que depender do apoio
financeiro de Zach para suas viagens enquanto
tentava se descobrir, deixava Miles mais do
que um pouco desconfortável.
Foi por isso que concordou em ficar na
casa de um amigo de Zach: não queria que
Zach também pagasse pelos hotéis.
O telefone tocou em sua mão.
Alexander Sheldon, dizia o identificador
de chamadas.
Aliviado, Miles respondeu.
— Ei. — Disse, um pouco sem jeito. Ele e
Alexander não se conheciam tão bem.
Alexander havia sido convidado para jantar em
sua casa quando esteve em Londres no verão
passado, mas com o tamanho da família de
Miles, eles mal conversaram um com o outro.
— Obrigado por vir me buscar. Estou no
terminal...
— Na verdade... — Alexander o
interrompeu. — Sinto muito, mas não posso
buscá-lo. Você não tem ideia do quanto sinto
muito, mas também não poderá ficar em nossa
casa.
Miles piscou, perdido.
— Oh! Está... — Tudo bem, queria dizer,
mas não estava tão bem assim. Ele estava em
uma cidade desconhecida, em um país
diferente, sem dinheiro, cartão de crédito e
passaporte.
— Os pais do meu noivo sofreram um
grave acidente no Brasil ontem. — Disse
Alexander, sua voz se desculpando, mas
distraída. — Já estamos no Rio. Deveríamos ter
deixado uma chave para você, mas saímos
com tanta pressa que sua chegada escapou da
minha cabeça.
— Oh! — Disse Miles, franzindo a testa.
— Eles estão bem?
— Na verdade não. — Respondeu
Alexander, sua voz sombria e cansada. — Meu
noivo está uma bagunça agora, e tem sido... —
Ele suspirou. — De qualquer forma, olha, sinto
muito por isso. Eu já pedi para uns amigos te
buscarem e hospedarem até nosso retorno...
— Você não precisava. — Disse Miles,
estremecendo um pouco. Uma coisa era ficar
na casa de um parente de um amigo da família
- o primo de Alexander, Jared, era um velho
amigo da família - mas era completamente
diferente ter que depender de estranhos. — Eu
não quero ser um incômodo.
— Não será. — Disse Alexander. — Você
ficará na Mansão Rutledge. Tem trinta quartos.
Sua presença lá não fará diferença, garoto.
— Eu não sou um garoto. — Disse Miles
sem muito calor.
— Os Rutledges enviarão alguém para
buscá-lo em breve. É só esperar um pouco. —
Alexander parecia distraído novamente. —
Tudo bem, eu tenho que ir. Ligue-me se
precisar de alguma coisa. E quero dizer
qualquer coisa, certo? Prometi a Jared que
ficaria de olho em você, e ele cortará minhas
bolas se algo lhe acontecer.
Miles balançou a cabeça com um sorriso
torto. Ele sabia que Jared também o protegia -
a maioria dos velhos amigos de Zach faziam
isso, mas não esperava que Jared
pessoalmente pedisse a seu primo para manter
um olho nele.
— Obrigado. — Disse Miles, mas
Alexander já havia encerrado a ligação.
Fazendo uma careta - ele realmente
odiava ser um inconveniente para alguém que
mal conhecia - Miles olhou para o telefone e
digitou uma mensagem para Zach, dizendo-lhe
que estava tudo bem. Não havia nenhuma
maneira de que dissesse ao seu irmão
superprotetor que já havia perdido a carteira e
o passaporte. Zach nunca o deixaria em paz.
Mas antes que pudesse enviar a
mensagem, seu telefone tocou novamente. Era
um número desconhecido.
Miles atendeu.
— Miles Hardaway? — Alguém disse. —
Meu nome é Tom. Sou o motorista do Sr.
Rutledge. Fui enviado para pegá-lo.
Miles ficou aliviado e sorriu.

*****
Miles adormeceu no carro, então não
tinha certeza de quanto tempo a viagem para a
Mansão Rutledge durou. Quando abriu os
olhos, o carro já havia parado e o motorista o
sacudia com cuidado. Já estava escuro lá fora.
— Chegamos, Sr. Hardaway. — Disse o
motorista, se endireitando.
Miles fez uma careta.
— Por favor, me chame de Miles. — Era
estranho ser chamado de Sr. Hardaway por um
homem que parecia velho o suficiente para ser
seu avô.
Balançando a cabeça, Tom apenas sorriu
como se ele fosse uma criança adorável, mas
muito irracional.
Suprimindo um suspiro, Miles sorriu de
volta e saiu do carro.
Ele piscou, olhando para a casa enorme.
Miles não era exatamente um estranho
para grandes mansões e estilo de vida luxuoso.
O namorado de seu irmão, Ryan, era um lorde
de verdade, cuja família possuía vários castelos
na Inglaterra e na Escócia. Mas Miles nunca
ficou lá nem por uma noite; e ele deveria ficar
aqui por tempo indeterminado.
Era um pouco intimidador, para ser
sincero.
E era normal que a casa estivesse tão
iluminada? As luzes estavam acesas em
praticamente todos os cômodos.
Ele perguntou a Tom sobre isso.
— Na verdade, não. — Respondeu Tom,
pegando sua mala. — Há um evento da
empresa hoje à noite para celebrar a parceria
da Companhia Rutledge com o Grupo Caldwell.
Ótimo. Não apenas ele tinha sido
despejado nos Rutledges sem nenhum aviso,
mas também estava atrapalhando um evento.
— Tom, talvez não devêssemos...
Mas ou Tom não o ouvira, o que era
inteiramente possível considerando sua idade
ou ele optou por ignorar as dúvidas de Miles.
Miles o seguiu até a casa, tentando
lembrar o que sabia sobre os Rutledges. Não
muito. Alexander os mencionara algumas
vezes, e se Miles se lembrava corretamente,
eles eram um casal gay. Isso era tudo o que
Miles sabia.
— Eu vou encontrar o Sr. Rutledge. —
Disse Tom, entregando a mala de Miles a uma
empregada.
Miles assentiu, enfiando as mãos nos
bolsos enquanto olhava em volta com
interesse. Não demorou muito para começar a
se sentir um pouco constrangido em sua
camiseta e calça jeans. Ele parecia
completamente deslocado naquele salão
elegante que gritava dinheiro e privilégios,
destacando-se como uma ferida entre os
convidados bem vestidos. Estava atraindo
muitos olhares, e Miles não se enganava
pensando que era porque parecia incrível após
seu voo transatlântico. Ele provavelmente
parecia uma bagunça.
Talvez devesse dar um passeio.
Quanto mais pessoas o encaravam, mais
atraente a ideia parecia até que Miles
finalmente cedeu, imaginando que levaria um
tempo até que Tom pudesse chamar a atenção
de seu empregador. Além disso, Tom poderia
ligar para ele quando encontrasse o Sr.
Rutledge.
Como os sons de pessoas e risadas
vinham de algum lugar à sua esquerda, Miles
vagou na direção oposta, em direção à ala
direita da mansão.
Era mais silencioso aqui, embora ainda
encontrasse um convidado ocasional. Eles o
olhavam com um pouco de confusão, mas
ninguém falou com ele, o que estava bem para
Miles.
Em pouco tempo, se viu em um belo
terraço que dava para o jardim.
Miles se sentou na cadeira no canto mais
escuro do terraço e girou a cabeça de um lado
para o outro, tentando desfazer os nós no
pescoço depois de um longo voo. Deus, estava
exausto. Ele se perguntou se seria muito rude
se tirasse uma soneca aqui. Estava quieto e
pacífico o suficiente.
Mas assim que pensou sobre isso, houve
o som de passos e vozes masculinas.
Fazendo uma careta, Miles moveu sua
cadeira mais fundo nas sombras. Se tivesse
sorte, essas pessoas não o notariam sentado
atrás daquela enorme planta e partiriam logo.
Ele realmente não estava disposto a mais
olhares curiosos.
Os passos e as vozes se aproximaram.
Elas pertenciam a dois homens.
O homem mais alto falou com uma voz
irritada.
— Tudo bem. Meia hora. Vou ficar mais
meia hora e depois vou embora.
— Sr. Caldwell, você não pode sair tão
cedo. — Disse o outro homem, com a voz
suplicante. — A imprensa terá um prato cheio!
O primeiro homem - Caldwell - encolheu
os ombros.
— Não será a primeira ou a última vez.
— Com todo o respeito, senhor, mas uma
coisa é quando seu nome está associado a uma
atriz de Hollywood e outra quando você se
recusa a permanecer em um evento em
homenagem à parceria entre o Grupo Caldwell
e a Companhia Rutledge. Você não pode
seriamente...
— Basta.
Miles estremeceu. Havia algo na voz
daquele homem, no seu comportamento, que
gritava que era um homem acostumado a ter
sua palavra aceita como lei.
— Mas... — O outro homem disse
humildemente. — Sr. Caldwell, o que devo
dizer quando as pessoas começam a perguntar
onde você está?
Caldwell deu outro encolher de ombros
desinteressado.
— Diga qualquer coisa. É para isso que te
pago, Ernie.
Quando Ernie fez um barulho de protesto,
seu chefe lhe deu um olhar afiado.
— Eu disse o suficiente. Assinei este
acordo de parceria porque é financeiramente
benéfico para minha empresa; isso não
significa que de repente sou amigo de
Rutledge. Não vou ficar aqui e vê-lo brincar de
casinha com um garoto com metade da sua
idade... — Caldwell se interrompeu, um
músculo trabalhando em sua mandíbula. Seus
olhos azuis captaram a luz, brilhando com uma
raiva fria.
Ernie pigarreou, olhando além de
desconfortável.
— Não acho que Derek Rutledge tenha o
dobro da idade do seu marido.
Caldwell zombou. Era uma expressão
cruel, que distorcia suas belas características
em algo quase monstruoso. Miles olhou para o
homem fascinado. Ele tinha visto muitos
homens bonitos, mas raramente tinha visto
homens com rostos verdadeiramente
interessantes.
Este homem tinha um.
Caldwell tinha um queixo forte e um
olhar intenso, seu cabelo castanho escuro era a
única coisa remotamente macia nele. Ele tinha
alguns cabelos grisalhos ao redor das
têmporas, mas o homem não podia ter muito
mais que trinta anos, sua pele bronzeada lisa e
saudável, seu corpo claramente se encaixava
sob aquele terno sob medida.
— Não importa. — Disse Caldwell. —
Ainda é patético ver um homem de meia-idade
ofegar por um interesseiro uma década mais
novo.
Miles franziu o cenho. Ele não conhecia o
casal Rutledge, mas pelo que ouvira falar de
Alexander, era um casamento muito amoroso.
— Bem... — Disse Ernie, fazendo uma
careta. — Eu concordo que parece antinatural.
Joseph Rutledge deve estar rolando em seu
túmulo. Ele nunca teria permitido que seu
único filho se casasse com um homem.
Miles olhou com raiva para Ernie, seu
aborrecimento aumentando. Ele estava
sentindo pena do sujeito por ter que lidar com
um chefe tão difícil, mas as opiniões
homofóbicas do sujeito estavam destruindo
rapidamente qualquer simpatia que pudesse
sentir pelo cara.
Ele olhou para Caldwell, esperando que o
homem fosse repreender seu empregado por
uma atitude tão errada, mas o homem parecia
não estar incomodado, enquanto continuava a
olhar para o seu celular.
— Quero que você verifique os
documentos que a Rutledge nos forneceu. —
Disse Caldwell, colocando o celular no bolso da
calça cinza. Ele tinha ótimas mãos, com dedos
fortes e belos.
Miles inclinou a cabeça para o lado,
intrigado por ter notado uma coisa dessas.
Em momentos como esse, ele se
questionava se realmente era assexuado. Para
ser justo, não era algo que sabia com certeza.
Suas tentativas de fazer sexo e ter um
relacionamento acabaram sendo um desastre.
Ele fez sexo com um total de duas
garotas - ou tentou - e nas duas vezes não
conseguiu se excitar o suficiente para ter uma
ereção, recorrendo aos dedos.
Depois desses fracassos com as meninas,
Miles até começou a pensar que poderia ser
gay, principalmente porque alguns de seus
irmãos mais velhos não eram completamente
heterossexuais - talvez as pessoas estivessem
certas de que a homossexualidade era
genética. Mas sua única tentativa de sexo gay
foi ainda mais desastrosa do que suas
tentativas de sexo hétero: Miles sentiu que
estava fazendo uma tarefa desagradável e
estressante.
No final, acabou desajeitadamente
chupando o cara e mentindo para ele, dizendo
que já havia gozado quando o cara viu que
Miles não estava duro.
Desde então, Miles meio que desistiu do
sexo. Às vezes, achava que sentia uma atração
muito fraca por um garoto ou uma garota, mas
nunca mais agiu sobre isso, se contentando em
usar sua mão direita. O fato de se masturbar
regularmente confirmava que, fisicamente seu
equipamento funcionava, o que apenas o
confundia ainda mais. Se realmente fosse
assexuado, ele não deveria ter nenhum desejo
sexual, não é? Miles queria sexo - em teoria -
mas assim que estava em um quarto com uma
pessoa real, a última coisa que queria era ficar
nu e tocar seus órgãos genitais. Tudo o que
sentia era desconforto.
Ele não tinha ideia do que isso
significava. Segundo o onisciente Google,
algumas pessoas assexuadas não se
masturbavam; alguns faziam. Alguns não
conseguiam sentir atração alguma; alguns
sentiam, nas circunstâncias certas. Em suma,
sua sexualidade ainda era um mistério e o
Google não estava oferecendo respostas.
Foi por isso que Miles decidiu viajar neste
verão. Se ia descobrir, era melhor fazê-lo longe
dos olhos curiosos de sua família intrometida.
Não que ser assexuado seria o fim do
mundo. Não seria. Ele tinha uma ótima família,
por mais arrogantes que fossem. Não estava
preocupado que alguém em sua família acharia
estranho se lhes dissesse que era assexuado e
que possivelmente não tinha desejo de um
relacionamento romântico.
Dito isto, apesar de sua possível
assexualidade não o estressar, Miles não podia
negar que às vezes queria se sentir... mais
como outras pessoas, sentir coisas que os
outros caras da sua idade sentiam quando
viam uma mulher bonita ou um homem em
forma.
Então agora, o fato dele se pegar
encarando as mãos de Caldwell e seu queixo
afiado era mais do que um pouco intrigante.
Ele não conseguia se lembrar da última vez
que olhou com interesse para alguém.
— Sim, Sr. Caldwell. — Ernie estava
murmurando, fazendo anotações em seu tablet
enquanto seu chefe disparava ordem após
ordem. O cara parecia mais estressado a cada
momento, um olhar de miséria em seus olhos
enquanto tentava digitar tudo. Miles sentiu
uma pontada de pena novamente antes de
dizer a si mesmo para não ser mole. O cara era
um idiota homofóbico. Ter um chefe tão difícil
deveria ser karma ou algo assim.
Finalmente, os homens foram embora e
Miles estava sozinho no terraço novamente.
Bocejando, ele fechou os olhos, suas pálpebras
ficando mais pesadas a cada minuto. Embora
tivesse tirado uma soneca no carro, ainda
estava exausto após o voo e seu corpo tinha
certeza de que a hora era muito mais tarde do
que era.
Ele deve ter cochilado. Se lembrava
apenas vagamente de uma empregada acordá-
lo e lhe mostrar o caminho para seu quarto.
Depois de se despir, Miles se esticou nos
lençóis frios e caiu em um sono profundo e
exausto.
Ele sonhou com olhos azuis brilhando
com um fogo gelado.

Capítulo 2

Na manhã seguinte, uma empregada


muito alegre levou Miles até a “pequena sala
de café da manhã”, onde a família Rutledge
estava aparentemente tomando café.
Miles parou na porta, observando a cena
doméstica.
Um homem de cabelos escuros e de
aparência severa estava sentado à cabeceira
da mesa, com um loiro muito bonito à sua
esquerda. O casal Rutledge, presumivelmente.
O loiro não parecia um interesseiro. Havia algo
muito suave e afetuoso em seus olhos
enquanto conversava com o marido.
À sua frente, duas garotas muito fofas,
com cerca de dez anos, discutiam alto entre si.
As garotas devem estar relacionadas ao loiro:
por que parecem um pouco com ele, embora
acima de tudo parecessem muito uma com a
outra. Elas claramente eram gêmeas, mas não
eram absolutamente idênticas: uma delas tinha
um rosto mais redondo e era mais gordinha.
Havia também um grande cachorro preto
aos pés das meninas. As meninas continuavam
dando comida escondido para ele quando os
adultos não estavam olhando.
O loiro foi o primeiro a notar Miles.
— Bom dia. — Disse ele com um sorriso.
— Entre, não fique aí parado! Eu sou Shawn.
Este é meu marido, Derek. Você dormiu bem?
— Sim, obrigado. — Disse Miles,
sentando-se ao lado de uma das gêmeas. Ele
se sentiu um pouco estranho. Embora não
fosse socialmente desajeitado, não conhecia
essas pessoas.
A garota ao lado dele se virou, olhando-o
com curiosidade.
— Quem é você? Por que vai ficar em
nossa casa?
— Melissa! — Shawn retrucou, um leve
rubor coloriu suas bochechas. — Isso é muito
rude.
— Foi apenas uma pergunta! — A garota
protestou, fazendo beicinho. — Derek, diga a
Shawn que foi apenas uma pergunta!
Derek Rutledge ergueu os olhos da xícara
de café e concentrou seus olhos negros de
falcão na garota. Eles suavizaram
consideravelmente.
— Tenho certeza que Bee não quis ser
rude.
— Derek, não fique do lado dela! —
Shawn disse exasperado. — Você a está
estragando. — Shawn virou-se para Miles e
deu-lhe um sorriso fraco. — Me desculpe por
isso. Mas provavelmente é minha culpa por não
contar as garotas sobre você. Estas são minhas
irmãs, Melissa e Emily. Meninas, este é Miles
Hardaway, um amigo de Alexander da
Inglaterra. Ele deveria ficar com Alexander e
Chris, mas vocês sabem que eles tiveram que
viajar, então Miles ficará conosco por um
tempo. Por favor, sejam legais. E não façam
nenhuma brincadeira com ele.
Miles sorriu para as meninas.
— Eu não fico incomodado com
brincadeiras. Tenho cinco irmãos. Já vi de
tudo.
Os olhos das gêmeas se iluminaram. Elas
trocaram um olhar que teria assustado Miles,
se ele não tivesse sido alvo das brincadeiras de
Ryan e Nick por anos quando eram crianças.
— Além disso. — Disse Miles. — É natural
que suas irmãs estejam confusas. Eu também
estaria se encontrasse algum estranho em
minha casa. — Ele olhou de Shawn para Derek.
— Realmente, obrigado por sua hospitalidade.
Aprecio isso, mas parece que estou invadindo
sua casa...
— Você não está se intrometendo. —
Disse Shawn. — Realmente não é problema. —
Ele riu. — Na verdade, é bom termos outra
pessoa neste mausoléu que chamamos de
casa.
Mesmo que ele realmente apreciasse o
sentimento, Miles balançou a cabeça.
— Eu me sentiria melhor se houvesse
algo que pudesse fazer para ajudar... — Ele
parou, sem saber o que realmente poderia
fazer para ser útil. Não era como se os
Rutledges precisassem de ajuda em casa,
considerando quantos funcionários tinham.
Qualquer ajuda desse tipo seria inútil para eles,
e apenas estariam cedendo a vontade de Miles
de não se sentir inútil.
Shawn parecia compartilhar seus
pensamentos. Seu belo rosto parecia
vagamente desconfortável, como se ele não
tivesse certeza do que dizer sem ofendê-lo.
Seu marido pigarreou.
— Na verdade... — Disse ele. — Pode
haver algo que você possa nos ajudar.
Aliviado, Miles olhou para Derek.
Aqueles olhos negros pareciam avaliá-lo
antes de Derek falar novamente.
— Você provavelmente ouviu ontem à
noite que nossa empresa recentemente entrou
em um acordo de parceria com o Grupo
Caldwell.
Miles assentiu, as sobrancelhas franzindo
em confusão. Mas ele não fez nenhuma
pergunta, esperando Derek elaborar.
Derek tomou um gole de café.
— Embora o acordo seja mutuamente
benéfico, estou preocupado que Ian Caldwell,
proprietário do Grupo Caldwell, possa ter
segundas intenções. Nós não somos
exatamente amigos.
Miles inclinou a cabeça um pouco para o
lado, sua confusão crescendo.
— Você pode estar se perguntando por
que concordei com este acordo, se tinha
preocupações. — Disse Derek. — Eu não sou
um homem de negócios, Miles. Não tenho
paciência nem amor pelos negócios. Nem
tenho tempo. Sou professor titular em Harvard.
A Companhia Rutledge era o orgulho e a
alegria de meu pai, e até sua morte, eu não
tinha nada a ver com ela. — Derek fez uma
careta. — Desde a morte do meu pai, meu
cunhado fazia todo o trabalho de
gerenciamento, mas ele e minha irmã
morreram em um acidente de avião há um ano
e meio.
Oh!
Antes que Miles pudesse expressar suas
condolências, Derek continuou:
— Portanto, nem Shawn, nem eu,
estamos interessados nisso, ou somos capazes
de administrar uma empresa tão grande, não
tínhamos escolha a não ser envolver pessoas
de fora.
Derek beliscou a ponta do nariz.
— No começo, tentamos promover alguns
gerentes mais antigos para o cargo de CEO,
mas não foi uma boa solução. — Seus lábios se
torceram num sorriso irônico. — Meu pai era
um filho da puta controlador que não entendia
o que a palavra “delegar” significava. Meu
cunhado era a única outra pessoa na empresa
que entendia como administrá-la com
eficiência.
Derek balançou a cabeça.
— Após sua morte, a empresa começou a
sofrer pesadas perdas por causa de uma
administração incompetente. Então, quando o
Grupo Caldwell se aproximou de nós,
oferecendo uma parceria mutuamente
benéfica, com o CEO concordando em
gerenciar as duas empresas e nós apenas
colhendo os benefícios, parecia uma boa
solução.
— Mas agora você não acha mais isso? —
Miles disse, ainda sem saber o que tudo isso
tinha a ver com ele. Não era como se tivesse
alguma pista sobre como administrar uma
empresa. Ele poderia ter um diploma de
administração, mas essa situação estava muito
além de sua experiência.
— Eu tenho... dúvidas. — Disse Derek,
seus lábios afinando. — O acordo é quase bom
demais para nós, considerando quanto vale um
gerente do calibre de Ian Caldwell e o fato de
que nossas empresas são rivais há décadas.
Miles olhou para ele com curiosidade.
Havia algo que Derek não estava dizendo. Se
ele conhecesse Derek melhor, teria
pressionado, mas, como não conhecia,
resolveu fazer a outra pergunta em sua mente:
— Como posso ajudar?
Derek olhou para ele com firmeza.
— Preciso de alguém em quem confie
para me informar se Caldwell está tramando
algo.
Miles piscou. Derek queria que ele
espionasse o cara?
— Por que eu? — Ele disse, além de
confuso. — Não seria melhor e mais
conveniente se você perguntasse a um dos
funcionários da sua empresa?
Derek balançou a cabeça.
— Eu já tentei isso, mas ou não há nada
ou Caldwell é muito cuidadoso com meus
funcionários. Sem mencionar que agora que
ele é o chefe deles oficialmente, e isso os
colocará em uma posição muito difícil, eles
estariam divididos entre a lealdade ao
proprietário e ao CEO.
Miles assentiu, franzindo a testa.
— Mas como eu devo me aproximar dele
para saber se algo está errado?
— Você não tem um diploma em
negócios? — Derek disse antes de beber seu
café.
Miles assentiu novamente, um pouco
perturbado por Derek saber sobre isso.
— Você será um estudante britânico em
um programa de estágio de verão. Será
legitimo, porque a Companhia Rutledge
realmente tem um programa de estágio
internacional. Vou separar seus documentos e
providenciar para que você seja colocado nos
escritórios do CEO. Você pode começar
amanhã.
Miles só podia olhar para o homem,
sentindo-se um pouco atordoado.
— Derek. — Disse Shawn com um olhar
exasperado. — Vá com calma. Você está
intimidando o pobre rapaz. — Voltando-se para
Miles, ele sorriu se desculpando. — Desculpe,
ele nem percebe o quão intenso pode ser. —
Ele olhou para o marido. — Não o pressione.
Miles está aqui de férias, não para trabalhar.
— Ele sempre pode dizer não, Shawn. —
Disse Derek, sem parecer arrependido.
Miles pensou, não sem humor, que ele
não estava exatamente em posição de recusar,
não importa o que Derek dissesse. Se ele se
recusasse a ajudá-los, ficar em sua casa e
desfrutar de sua hospitalidade seria muito
estranho.
— Obviamente, será um estágio
remunerado. — Disse Derek como uma
reflexão tardia.
Shawn lançou um olhar penetrante ao
marido.
— Nem comece. — Disse ele com algo
que parecia censura e diversão ao mesmo
tempo. — Dinheiro não é a solução para tudo.
O casal trocou um olhar que Miles não
entendeu.
A boca de Derek se contraiu.
— Ainda acho que foi a melhor coisa em
que já gastei meu dinheiro. — Disse ele,
olhando atentamente para Shawn.
Shawn corou e lambeu os lábios.
— Derek. — Ele sussurrou, olhando de
Miles para as gêmeas.
As meninas olharam uma para a outra e
reviraram os olhos.
— Ignore-os. — Melissa disse a Miles com
um olhar astuto em seu rostinho fofo. —
Fazemos isso quando estão fazendo coisas
adultlas e nojentas.
— Adultlas não é uma palavra. — Disse
Emily, fazendo uma careta para a irmã gêmea.
Olhando para o relógio, Derek disse:
— Meninas, vocês não estão atrasadas
para a aula de autodefesa?
— Caramba! — Melissa disse, levantando-
se.
Quando Shawn lhe lançou um olhar
severo, a garota sorriu timidamente.
— Desculpe, Shawn! Mas temos que
correr! Vamos Em! Star, vamos lá!
E elas fugiram, com o cachorro trotando
atrás delas.
Miles achou um pouco divertido que
Shawn fosse o pai severo nesse
relacionamento.
— Então. — Disse Derek, olhando para
Miles. — Qual é sua resposta?
— Sem pressão, lembre-se. —
Acrescentou Shawn com um olhar mordaz para
o marido.
— Tudo bem, eu posso fazer isso. —
Disse Miles com um encolher de ombros. —
Não é grande coisa. Você está realmente me
ajudando, e quero retribuir o favor. Mas... eu
não vou perseguir o cara e procurar em seus
bolsos ou algo assim.
Shawn soltou uma risada.
— Não estamos pedindo para você fazer
isso. Apenas fique de olho nele, ok? Derek não
confia facilmente, e seu desconforto me deixa
ansioso por tabela.
Aliviado por eles não quererem que Miles
fosse algum tipo de pseudo-espião, ele sorriu
de volta.
— A propósito, eu não tenho meu
passaporte. Isso não será um problema?
Franzindo a testa, Derek balançou a
cabeça.
— Um CEO não vai pedir seu passaporte.
O crachá emitido pela empresa será suficiente.
— Ele se levantou, olhando novamente o
relógio. — Está decidido então. Vou passar pelo
escritório para arrumar tudo. — Inclinando-se,
ele deu a Shawn um beijo curto, mas faminto,
que fez Miles desviar o olhar.
Noventa por cento do tempo, Miles
estava perfeitamente bem com sua falta de
vida pessoal.
Mas em momentos como esse, tinha que
admitir que se sentia um pouco ciumento.
Só um pouco.

Capítulo 3

Os primeiros três dias de Miles como


estagiário e espião amador foram
interessantes, mas sem intercorrências. Derek
tinha razão de que ninguém o olhou duas
vezes. Era apenas outro estagiário, embora o
único designado para o andar administrativo do
edifício, onde ficava o escritório do CEO.
Não que Miles já tivesse visto o homem.
Aparentemente, Caldwell estava concluindo um
acordo muito importante em Nova York e não
voltaria por mais alguns dias. Apesar de sua
ausência, Miles já havia aprendido bastante
sobre o cara.
Nem precisou perguntar: todo mundo
parecia muito ansioso para fofocar sobre o
novo CEO. Não doeu que o homem fosse
bonito e obscenamente rico, então,
naturalmente, era o principal tópico de
discussão durante os intervalos de Miles para o
café.
Ian Caldwell tinha 31
anos. Recentemente divorciado e tinha a
guarda do seu único filho. As pessoas
pensavam de duas maneiras: algumas
achavam que era cruel da parte de Caldwell
tirar o filho da mãe, e outros achavam
admirável que estivesse disposto a criar o filho
sozinho. Miles meio que duvidava que o cara
estivesse criando o garoto sozinho:
provavelmente tinha uma legião de babás
cuidando do filho, para não mencionar que
provavelmente havia centenas de mulheres
mais do que ansiosas para se tornar a próxima
Sra. Caldwell e animar o homem depois do
divórcio.
Para ser honesto, Miles teve dificuldade
em conectar o homem de olhos frios e
impecavelmente vestido que vira na festa de
Rutledges com a imagem de pai solteiro de
uma criança pequena, mas decidiu não julgar o
livro pela capa. Quem sabe, talvez Caldwell
tivesse um coração mole sob seu exterior
gelado?
É verdade que tudo indicava que não.
— O homem é incrivelmente exigente. —
Disse Sofia, a secretária, tomando uma xícara
de chá. Era uma mulher de cinquenta e poucos
anos, de aparência normal, quebrando todos os
estereótipos que Miles tinha anteriormente
sobre secretárias de bilionários.
— Mas ele também é bastante justo. —
Acrescentou. — Para ser honesta, o Rutledge
Sênior era muito pior. — Ela encolheu os
ombros. — Mas, novamente, não tenho que
trabalhar em estreita colaboração com o Sr.
Caldwell, porque ele tem um assistente
pessoal, e o pobre rapaz é quem suporta a
maior parte da raiva do chefe se as coisas
derem errado, não eu. — Sofia o olhou com
interesse. — Chega de trabalho. Conte-me
mais sobre você. Certamente um jovem tão
bonito tem alguém?
Miles só podia sorrir torto e balançar a
cabeça. Não sabia o que tinha nele que fazia as
mulheres quererem ser mãe e brincar de
casamenteiras.
— Sério? — A mulher disse, as
sobrancelhas levantadas. — Mas é tão
bonito! O que usa para pintar o cabelo, a
propósito?
Sorrindo, Miles balançou a cabeça
novamente.
— Não, é a minha cor natural. Meu irmão
mais velho tem o mesmo cabelo. — Concedido,
seu cabelo era bastante incomum: castanho
com reflexos dourados ou vermelhos,
dependendo da iluminação. Pelo menos eram
espessos e manejáveis o suficiente e a cor
combinava bem com seus olhos verdes, então
Miles estava longe de reclamar. Não sofria de
falsa modéstia. Todos em sua família foram
abençoados com genes excelentes, e Miles não
era exceção. Sabia que era atraente, mas não
era nem de longe tão atraente quanto seu
irmão Ryan, cuja aparência envergonhava as
estrelas de Hollywood. As pessoas
literalmente tropeçavam e encaravam quando
o viam. Era além de hilário. Comparado a
Ryan, Miles era bonito, mas provavelmente era
injusto julgar as pessoas por padrões tão
altos.
Sofia abriu a boca, mas o que ia dizer foi
interrompido pelo grito de Jayne.
— Sofia, o chefe está de volta e está
procurando por você!
— Hmm, voltou cedo. — Sofia murmurou,
franzindo a testa e se levantando. — Me
pergunto se algo deu errado... Vamos lá, Miles.
Miles se levantou e correu atrás dela,
sentindo-se curioso e um pouco ansioso. Nos
últimos dias, ouvira tantas coisas diferentes
sobre Caldwell que lhe era difícil reunir as
várias informações em uma imagem
coerente. Sem mencionar que sua promessa a
Derek e Shawn o deixava tremendo e confuso,
como se Caldwell daria uma olhada nele e
adivinharia que foi enviado para espioná-lo.
Espioná-lo.
Porra, no que se meteu? Não era James
Bond. De fato, seu rosto de poker era
inexistente. Miles sempre preferiu ser honesto
e direto e gostava quando as pessoas agiam da
mesma maneira.
— Espere aqui. — Disse Sofia, deixando-o
em sua mesa antes de entrar com confiança no
escritório do CEO e fechar a porta.
Para ganhar tempo, Miles pegou o
telefone e começou a mandar mensagens para
seus irmãos.
Hmm, Ryan queria propor ao namorado...
Não era cedo demais?
Miles rapidamente fez as contas em sua
cabeça e percebeu com alguma surpresa que
Ryan e James estavam juntos há dois anos e
meio. E considerando que Ryan e James
estavam presos no quadril desde que eram
crianças, provavelmente já era hora, na
verdade.
Vozes elevadas fizeram Miles se encolher
e olhar para a porta. Podia ouvir trechos da
conversa agora.
— Não ligo, Sofia. Encontre-me um
agora.
Miles mordeu o interior de sua bochecha,
reconhecendo aquela voz dura.
Sofia murmurou algo que Miles não
conseguiu ouvir.
Caldwell disse:
— Ele servirá.
Houve o som de sapatos de salto altos no
chão polido antes da porta se abrir e Sofia sair
do escritório, com uma expressão de
desconforto no rosto.
— Algo errado? — Miles disse, olhando
para a porta fechada.
Sofia estremeceu.
— Ainda não tenho certeza. Basicamente,
o assistente do chefe finalmente estalou e teve
um colapso nervoso. Não está em condições de
voltar ao trabalho por um tempo, e o Sr.
Caldwell precisa de um assistente pessoal o
mais rápido possível. — Sofia o olhou com uma
expressão tímida.
— Por favor, diga que não me ofereceu.
— Disse Miles fracamente. Quando Sofia não
negou, Miles balançou a cabeça. — Não tenho
experiência em ser assistente pessoal,
Sofia. Vou ser expulso dentro de algumas
horas.
— Bem, pelo lado positivo, ganhará mais
como assistente pessoal em poucas horas do
que como estagiário em um mês.
Percebendo que ela não estava
brincando, Miles só podia encará-la.
— Sério?
Sofia sorriu.
— É um ótimo lado positivo, não é? Foi
por isso que te sugeri.
Miles estava tocado. Sofia sabia da
carteira roubada e do fato de que estava com
pouco dinheiro no momento, já que realmente
não se preocupou em contar à família sobre
seus problemas.
— Tudo bem, vá. Ele está esperando.
— Agora? — Miles disse, olhando para a
porta.
Sofia riu.
— Não, semana que vem! Vá, ele não é
um homem paciente.
— Isso é realmente encorajador. — Disse
Miles secamente antes de endireitar os ombros
e caminhar em direção à porta.
Não vai dá em nada, mas vamos lá.
Ele entrou no escritório e fechou a porta
cuidadosamente antes de olhar para o homem
sentado atrás da enorme mesa de carvalho.
Terno escuro. Olhos azuis penetrantes
emoldurados por cílios escuros. Ian Caldwell.
Miles engoliu.
— Olá, sou Miles Hardaway. —
Apresentou-se, olhando para a gravata cinza
de Caldwell.
Uma azul seria mais adequada,
destacaria mais seus olhos. Não que uma
gravata cinza tornasse seus olhos
imperceptíveis, longe disso.
Os olhos de Caldwell eram
estranhamente intensos, apesar de serem
completamente ilegíveis. Era difícil desviar o
olhar deles, e Miles encontrou seu olhar sendo
arrastado de volta neles, contra sua vontade.
Nunca viu olhos tão intensos. O olhar
negro de Derek Rutledge chegou perto, mas
não exatamente.
O silêncio se estendeu.
E quanto mais durava, mais inquieto, e
curioso, Miles se sentia. O olhar de Caldwell
definitivamente poderia ser chamado de
olhar fixo agora, o que não fazia nenhum
sentido.
Se não soubesse melhor, poderia pensar
que Caldwell estava interessado nele, mas,
segundo todos os relatos, o homem era
completamente hétero.
Por que você está olhando para mim?
Miles pigarreou um pouco.
— Há algo no meu rosto, Sr. Caldwell?
Ainda o olhando, Caldwell disse:
— Você é britânico, correto?
— O que me denunciou? — Miles brincou
antes que pudesse se conter.
As sobrancelhas escuras de Caldwell
subiram um pouco, como se não pudesse
acreditar que algum estagiário humilde ousou
brincar com ele.
Miles encontrou seu olhar sem vacilar. Se
Caldwell tinha um problema, era bem-vindo a
demiti-lo. Miles na verdade não se importaria
de ser demitido, porque então não teria que
espionar ninguém e poderia contar aos
Rutledges com a consciência limpa que havia
tentado, mas, infelizmente, o cara era muito
idiota.
— Tem algum parente na América? —
Disse Caldwell, sem morder a isca. Seu olhar
enervante permaneceu fixo em Miles.
Isso estava fazendo ele se sentir
estranho. Autoconsciente. No limite.
— Até onde sei, não. — Respondeu Miles,
enfiando as mãos nos bolsos e tentando não se
mexer.
Caldwell emitiu um som pensativo e
finalmente desviou o olhar.
Miles expirou. Olhou ao redor da sala
antes de voltar os olhos para o rosto de
Caldwell.
Era uma cara boa, tinha que
admitir. Forte e bonito, o toque grisalho nos
cabelos escuros de Caldwell acrescentava algo
distinto à sua aparência.
— O lembro de alguém? — Miles disse
finalmente, quebrando o silêncio novamente.
O olhar de Caldwell voltou para ele. As
sobrancelhas dele se juntaram.
— Você faz, na verdade.
Miles se perguntou se seria rude
perguntar ao chefe de quem o
lembrava. Chegou à conclusão de que seria
definitivamente rude. Fez a pergunta de
qualquer maneira.
— Quem?
O rosto de Caldwell estava em branco.
— Minha ex-esposa. Poderia ter sido sua
irmã gêmea.
Bem estranho.
Como Miles não tinha ideia de como o
homem se sentia sobre sua ex-esposa, não
podia ter certeza se era uma coisa boa ou
não. Mas, considerando o fato de que era
uma ex-esposa, era improvável que Caldwell
tivesse sentimentos calorosos e confusos
quando o olhou.
Uma careta cruzou o rosto de Caldwell.
— Tem certeza de que não é
parente? Regina Travers?
— Muita certeza. Nascido e criado em
Londres, toda a minha família também. Na
verdade, é a primeira vez que viajo para o
exterior na minha vida.
Caldwell o olhou de maneira avaliadora,
como se suspeitasse que Miles estivesse
mentindo.
Miles quase riu. Você está suspeitando de
mim na coisa errada.
Ficando sério, encontrou os olhos do
outro homem e disse:
— Juro que não estou de forma alguma
relacionado à sua ex-esposa, Sr. Caldwell. Mas
se minha presença o incomoda, deve
absolutamente me transferir. Sou apenas um
estagiário.
Uma emoção estranha brilhou nos olhos
de Caldwell.
— Isso não me incomoda. — Disse, sua
voz tão fria que deixou Miles um pouco
desconfortável. — Não poderia me importar
menos com minha ex-esposa.
Certo. É por isso que está me encarando
desde que cheguei aqui.
Mas Miles não pressionou. Havia coisas
sobre as quais ninguém gostava de falar e
separações feias era uma delas.
— Então você ainda me quer como seu
assistente?
— Ainda preciso de um assistente, e
minha secretária me garantiu que pode fazer o
trabalho adequadamente até que o meu possa
retornar.
Miles assentiu.
— Posso perguntar sobre minhas
responsabilidades no trabalho?
— Organizará reuniões e
compromissos. Vai me lembrar deles...
— Existem aplicativos que posso baixar
no seu telefone para isso.
O olhar que recebeu de Caldwell por
interrompê-lo, e ousar sugerir uma solução
moderna e inteiramente razoável, faria
qualquer um se contorcer. Mas depois de
décadas recebendo os olhares severos de Zach,
Miles ficou meio acostumado com
personalidades mandonas. Talvez devesse
apresentá-los um ao outro, pensou, divertido.
— Desculpe. — Disse, dando a Caldwell
seu melhor olhar inocente. — Continue!
— Seu trabalho é bem fácil no que diz
respeito a empregos. — Disse Caldwell.
Certo. É por isso que seu assistente teve
um colapso nervoso.
— Vai reservar e organizar viagens,
transporte e acomodação. Gerenciará bancos
de dados e sistemas de arquivamento. Será de
sua responsabilidade garantir que os ternos
que guardo em meu escritório... — Baldwell
apontou para a porta que presumivelmente
levava ao armário. — Estão limpos e sem
rugas. Vai me acompanhar às reuniões e tomar
notas. — Caldwell fez uma pausa, o olhando,
como se estivesse desafiando Miles a dizer que
havia aplicativos que também podiam fazer
isso.
Miles manteve a boca fechada, os lábios
apertados para impedi-lo de sorrir.
— Existem centenas de outras pequenas
tarefas que terá que executar. Não tenho
tempo nem vontade de recitá-las. Seu trabalho
é facilitar minha vida, é tudo o que precisa se
lembrar. Seu trabalho é seguir minhas ordens,
o mais rápido possível. Fará tudo o que digo,
exatamente como digo.
Miles assentiu, esperando que parecesse
apropriadamente composto e sério.
A julgar pelo olhar estreito de Caldwell,
não conseguiu esconder inteiramente sua
diversão.
— Estou lhe divertindo? — Disse Caldwell.
— Nem um pouco. — Disse Miles
honestamente. — Mas a situação meio que
está.
Caldwell levantou uma sobrancelha.
Miles ficou impressionado. Nunca
conseguia levantar uma única sobrancelha sem
parecer constipado e ridículo: sabia disso
porque havia praticado a expressão em frente
ao espelho, mas acabava rindo de si mesmo
todas às vezes. As pessoas que poderiam fazê-
lo e ainda fazer parecer fácil devem ser algum
tipo de aberração.
— A situação? — Caldwell repetiu.
Passando a mão pelo cabelo, Miles
assentiu com um sorriso tímido.
— Meio que vim para a América para dar
um tempo do meu irmão mais velho mandão,
mas agora tenho um chefe que pode competir
e fazê-lo suar a camisa. É muito irônico, não é?
Caldwell o olhou estranhamente, como se
não tivesse certeza do que fazer com ele.
— Você é muito estranho.
Miles riu.
— Obrigado. Eu acho. — Pelo menos
estranho era melhor do que chato.
Caldwell ainda o estava olhando.
— Hum. — Disse Miles com um pequeno
sorriso. — Então, estou contratado?
— Sim. — O olhar de Caldwell finalmente
se afastou dele. Olhou para o computador, mas
Miles teve a impressão mais estranha de que
não estava realmente o olhando.
Miles pigarreou.
— Então, quer que faça algo agora, Sr.
Caldwell?
Caldwell balançou a cabeça para si
mesmo antes de voltar o olhar para Miles, o
encarando novamente.
Estava começando a ficar muito estranho.
Miles umedeceu os lábios secos com a
língua, sem saber o que diabos estava
acontecendo.
Caldwell desviou o olhar novamente, algo
irritado sobre ele.
— Faça-me café. — Disse irritado,
acenando com a cabeça na direção da porta
discreta à direita. — Preto, sem açúcar. Sabe
fazer café, certo?
— Claro que não. — Disse Miles com uma
cara séria. — É ilegal beber qualquer coisa que
não seja chá na Inglaterra.
Caldwell lhe lançou um olhar nada
impressionado.
— Então, espero que seja um aprendiz
rápido. Quero meu café em dez minutos.
— Claro. — Caminhando em direção à
porta, Miles revirou os olhos. O cara precisava
relaxar.
— Revirar os olhos para o seu
empregador é uma ofensa digna de
penalização, Miles.
Miles congelou, confuso, antes de
perceber que havia um espelho na parede e
Caldwell devia estar observando-o através
dele.
— Trapaceiro. — Miles murmurou
baixinho.
— Chamar seu empregador de nomes
quando ele não pode ouvir também é uma
ofensa passível de penalização. — Disse
Caldwell, sua voz muito seca.
Miles olhou por cima do ombro e sorriu.
— Deveria me despedir, então.
O olhar estreito de Caldwell foi à última
coisa que Miles viu antes de fechar a porta
atrás de si.
Olhou ao redor da pequena sala. Tinha
um sofá vermelho, uma mesa, uma geladeira e
uma cafeteira. Uma cafeteira muito chique.
Miles olhou cautelosamente.
Respirando fundo, pegou o telefone e
abriu o Google. Seria condenado se provasse
que Caldwell estava certo.
Estava indo fazer o melhor café que o
idiota já provou.

Capítulo 4

Uma semana depois, Miles estava no


limite.
— O odeio! — Reclamou para Sofia,
sentando-se na cadeira ao lado da mesa dela
com um gemido frustrado.
Sofia lançou um olhar simpático, embora
um pouco divertido.
— O que ele fez agora? — Sofia disse
calmamente, lançando um olhar cauteloso para
a porta fechada no Covil do Monstro.
Miles fez uma careta. Agora entendia por
que o assistente de Caldwell havia sofrido um
colapso nervoso. Nesse ritmo, também teria
um.
— Me deixa louco, Sofia. Não há como
agradá-lo, sempre entendo algo errado, mas
ainda se recusa a me demitir e conseguir um
assistente pessoal de verdade! Nesse
momento, ficarei em êxtase ao ser demitido. —
Nunca se considerou uma pessoa facilmente
frustrada, mas Ian Caldwell estava provando
que estava errado.
— Se é tão insuportável, sempre pode
sair, Miles. — Disse Sofia, clicando em sua
língua.
— Não posso. — Disse Miles.
Por um lado, havia a promessa aos
Rutledges de ficar de olho em Caldwell.
Por outro lado, tinha certeza de que
Caldwell não o deixaria sair.
O pensamento o fez morder o interior de
sua bochecha.
A questão era... Ian Caldwell poderia ser
um enorme idiota para ele, mas era
inegavelmente inescrutável sobre ele. Miles
não tinha certeza de qual era o problema do
cara, mas Caldwell continuava olhando-o o
tempo todo.
Não importa o que Miles estivesse
fazendo, Caldwell o encarava. Miles estava
passando uma camisa e Caldwell o encarava.
Digitava um documento, e Caldwell o
encarava. Serviu um almoço (entregue de um
dos melhores restaurantes da cidade, é claro),
e Caldwell o encarava. Porra, a essa altura,
Miles estava acostumado a ser encarado o
tempo todo.
Como Miles não tinha uma segunda
cabeça e não era ridiculamente bonito como
seu irmão Ryan, só pôde concluir que os
olhares estranhos de Caldwell tinham a ver
com sua semelhança com sua ex-esposa.
Mas ainda não explicava nada.
Havia feito sua pesquisa, mas as
informações postadas sobre Ian Caldwell e sua
ex-esposa não deram a Miles as respostas que
esperava.
Regina Travers era uma atriz da lista C
que havia desempenhado alguns papéis
menores em alguns filmes pequenos. Miles se
parecia muito, admitiu de má vontade,
mas não pareciam gêmeos, não importa o que
Caldwell dissesse. Nunca seriam confundidos
um com o outro, a menos que estivesse meio
cego. A mulher era muito alta para uma
mulher, quase um metro e setenta e sete, mais
ou menos da altura de Miles. Era aí que as
semelhanças terminaram.
Todas as outras características físicas
pareciam mais ou menos com as de Miles, mas
como se fossem um pouco distorcidas. O
cabelo dela não era tão ricamente colorido
quanto o dele, mas era castanho dourado e o
formato dos olhos verdes deles não era o
mesmo, mas era parecido o suficiente. Sendo
mulher, seus traços eram um pouco mais
suaves que os dele, mas não muito, já que o
rosto de Miles era bastante refinado. Fazia
sentido por que Caldwell primeiro pensou que
deviam estar relacionados. Regina Travers
lembrava Miles mais do que seus próprios
irmãos.
Era um pouco esquisito, mas não era
tanto assim, havia muitas celebridades que se
pareciam muito, então Miles não achou que
isso explicasse completamente o olhar
estranho de Caldwell.
Não, Caldwell queria algo dele.
Mas o quê?
No começo, Miles pensara que o homem
simplesmente não havia superado sua ex-
esposa. Isso explicaria o olhar se Caldwell
ainda estivesse apaixonado pela aparência de
Miles. Exceto, que, Ian Caldwell foi quem pediu
o divórcio. Portanto, a teoria do ex-marido
apaixonado estava fora de questão.
Mas que outra teoria havia?
— Por que não me disse que meio que
pareço a ex-esposa dele? — Miles disse de mau
humor.
Sofia fez uma careta.
— Você parece?
Miles a olhou, completamente confuso,
antes de lembrar que, enquanto Sofia
trabalhava na Companhia Rutledge há décadas,
Caldwell havia se tornado o CEO, e seu chefe,
apenas algumas semanas atrás. Como não
parecia do tipo que lê blogs de fofocas, era
improvável que tivesse visto a ex-mulher de
Caldwell.
Silenciosamente, Miles pegou a foto de
Regina em seu telefone e a mostrou.
— Huh. — Disse Sofia, o olhando. — Vejo
a semelhança, especialmente à primeira vista,
mas quanto mais a olho, menos parecido
é. Está tudo nos detalhes. É como se ela fosse
um rascunho seu.
Miles bufou.
— Não deveria ser o contrário? O rosto
dela é mais delicado e feminino.
Franzindo o nariz, Sofia balançou a
cabeça.
— O seu é mais impressionante.
Rindo, Miles apenas deu de ombros,
embora discordasse.
— Acha que ele é um idiota para mim
porque meio que pareço a sua ex?
Sofia levantou as sobrancelhas.
— Querido, não leve a mal, mas o Sr.
Caldwell não está te tratando pior do que trata
todos os outros. Sim, é exigente e seus
padrões podem ser bastante altos, mas não é
um chefe abusivo. Nunca é desagradável ou
rude por causa disso. É desagradável para
você?
Miles ficou quieto, pensando nisso.
— Na verdade não. É apenas... Demais.
Pode ser uma maneira estranha de
descrever alguém, mas era isso que Caldwell
era: demais. Quando estava na sala, era
impossível ignorá-lo. Era como um buraco
negro arrastando a atenção de Miles.
Juntamente com o fato de Caldwell o encarar o
tempo todo, o efeito foi mais do que um pouco
desconcertante. Miles se considerava um cara
descontraído e de natureza leve, mas não se
sentia nada como ele na semana passada
desde que conheceu Ian Caldwell. Se sentiu
tão tenso que chegou perto de confrontar
Caldwell e perguntar qual era o problema dele.
Talvez devesse fazer isso.
Miles sentou-se mais reto, considerando a
ideia. Por que não? Não tinha nada a
perder. Ser demitido seria um alívio, na
verdade.
— Tenho uma ideia. — Disse Miles,
levantando-se. Ele já se sentia melhor, seu
humor melhorou bastante agora que a decisão
foi tomada. Ou Caldwell finalmente o demitiria,
ou finalmente obteria suas respostas.
— Boa sorte! — Sofia disse às suas costas
quando entrou no escritório de Caldwell.
Caldwell ergueu o olhar do computador e
arqueou as sobrancelhas.
— Não te enviei para me trazer esses
documentos da sede do Grupo Caldwell?
— Disse ao correio para fazer isso. —
Disse Miles. — Sabe, o cara cujo trabalho é
realmente esse.
Caldwell lançou lhe um olhar que
transmitia exatamente o que pensava dele.
Miles deu um olhar inocente.
— Existe um problema? — Vamos lá, me
demita.
Caldwell não o demitiu. Inclinou a cabeça
para o lado um pouco, ainda o encarando com
aquele olhar intenso e
ilegível. Encarando. Novamente.
Miles respirou fundo.
— Olha, o que quer de mim? O que há
com todos os olhares estranhos? Quer que
chupe seu pau ou algo assim?
Caldwell piscou antes de lhe dar um olhar
de exasperação.
— Não, obrigado. Não quero que chupe
meu pau. Sou hétero.
Bem, isso foi... Um alívio.
— Agora estou ainda mais confuso. —
Disse Miles, cruzando os braços sobre o
peito. — O que há com todos esses olhares,
então?
Caldwell recostou-se no banco, sua
expressão ilegível.
— Estou te observado, só isso. Tenho
uma ideia e ainda não tenho certeza se é boa
ou não.
— Que ideia? — Disse Miles,
aproximando-se da mesa antes de se sentar na
cadeira em frente à Caldwell sem ser
convidado. Fingiu não ver o olhar contrariado
de seu chefe. — Bem?
Caldwell desviou o olhar antes de olhar
para ele.
— Está ciente de que tenho um filho?
Miles apenas assentiu, esperando uma
explicação.
— Há um ano, ele passou por uma...
Experiência traumática. — Disse Caldwell em
uma voz afetada. — Desde então, ficou muito
nervoso, evitando todas as interações
sociais. Ele é... Difícil. Acho que tem medo de
pessoas.
Miles franziu o cenho.
— Acha? Não tem certeza? Não pode
perguntar ao seu filho? — Até onde se
lembrava, o filho de Caldwell tinha três anos.
Miles estava longe de ser um especialista
em crianças, mas tinha certeza de que crianças
de três anos conversavam razoavelmente
bem.
Pelo menos seus sobrinhos tinham nessa
idade.
Caldwell olhou para ele.
— Ele ainda não fala.
— Oh! Sinto muito.
O olhar de Caldwell se intensificou, como
se não quisesse nada além de desintegrá-lo ali
mesmo.
— Ele é uma criança saudável, todos os
médicos dizem isso. Acham que é uma barreira
psicológica, nada sério.
Miles assentiu e finalmente perguntou
sobre o elefante na sala.
— Por que está me dizendo isso? — Tinha
uma ideia e realmente esperava que estivesse
errado.
— Você se parece com a minha ex-
esposa. — Disse Caldwell laconicamente. —
Talvez te ver o ajude a superar qualquer
bloqueio mental que tenha.
Tanta coisa para essa esperança.
— Por que não pede à mãe dele? — Miles
disse com um olhar apertado. — A pessoa que
o garoto provavelmente sente falta?
O rosto de Caldwell ficou em branco.
— Isso é impossível.
— Por quê? Ela está morta?
— Não.
— Então porque não? Não acha que a
saúde de seu filho é mais importante do que
quaisquer problemas que tenha com sua ex-
esposa?
O olhar que Caldwell lhe lançou foi
positivamente fulminante.
— Está se esquecendo de algo. Não é da
sua conta.
Miles encontrou seu olhar calmamente.
— Você está fazendo que seja de minha
conta. — Disse-lhe. — Se quer que o ajude,
deve responder minhas perguntas em vez de
ser um idiota de boca fechada.
— Está em um centro de reabilitação
agora. Dependência de heroína.
Oh.
— Isso... É uma merda. — Disse Miles
desconfortável. — Quanto tempo vai ficar na
reabilitação?
Caldwell deu de ombros.
— O vício dela é sério, e me disseram que
precisará de cuidados de longo prazo. Não sei o
prazo exato. Não é mais meu problema.
Agradável.
Mas Miles disse a si mesmo para não
julgar o cara demais. O vício era muito difícil
para a família.
— É por isso que tem a custódia do seu
filho? — Disse Miles. — Não é... cruel também
levar o filho embora enquanto luta contra o
vício em drogas?
Algo feio e amargo cintilou no rosto de
Caldwell, seus olhos frios como gelo.
— Considerando que ela tentou usar seu
próprio filho para tirar mais dinheiro para suas
drogas, e o abandonou em um lugar
desconhecido por dias enquanto estava
chapada, não, não sinto muito por ela.
Miles se contorceu um pouco em seu
assento. Embora a raiva de Caldwell não
estivesse dirigida a ele, ainda parecia uma
força, algo frio e cruel.
De repente, sentiu pena da ex-mulher do
sujeito. Ser o foco de raiva e ódio tão intensos
deve ter sido um pouco assustador.
— Então, quer que eu faça o que,
exatamente? — Miles disse, mudando o
assunto desconfortável para um que era
apenas um pouco menos desconfortável. —
Encontrar seu filho? Como sabe que isso
funcionária?
— Não sei. — Disse Caldwell. Não disse
mais nada, um músculo batendo na mandíbula.
Miles mordeu o lábio inferior, percebendo
o que o outro homem não estava dizendo: que
não tinham nada a perder e Caldwell estava
desesperado o suficiente para tentar qualquer
coisa neste momento. Talvez o cara tivesse um
coração, afinal.
— Disse que seu filho era difícil. — Disse
Miles. — De que maneira?
Caldwell desviou o olhar.
— Não fala. Fica histérico sempre que é
retirado de casa. Não é muito de contato
físico. Chora muito e não dorme bem. Tem
medo de barulhos altos e da maioria das
pessoas, inclusive eu. Os médicos dizem que
Liam tem algumas características de autismo,
mas não são graves o suficiente para afetar
seu comportamento tão drasticamente. Acham
que sofreu algum tipo de trauma psicológico
enquanto sua mãe o teve depois que nos
separamos. Recuperei meu filho assim que
pude provar que ela era incapaz de cuidar dele,
mas já era tarde demais.
Porra, inferno.
— Quantos anos ele tinha? — Perguntou
Miles.
— Tinha um ano e dez meses de idade. —
Disse Caldwell, sem tom sem emoção. — Era
uma criança normal o suficiente até
então. Começava a falar quando aconteceu.
— E você acha que ver alguém que se
parece com sua mãe o ajudará? Realmente?
Caldwell deu de ombros.
— Falei com o pediatra dele. Acha que
vale a pena tentar. Não pode doer, em
qualquer caso. Estamos esperando melhorias
há mais de um ano, mas não está melhorando,
não importa o que façamos. Os médicos
temem que Liam fique muito atrasado no
desenvolvimento em relação aos colegas se
não começar a mostrar sinais de melhora em
breve.
Miles franziu o cenho.
— Mas ele se lembra da mãe? — Será
que crianças jovens se lembram dessas
coisas?
— Ela era sua mãe. — Disse Caldwell em
uma voz cortada. — Disseram-me que crianças
pequenas se lembram de suas mães melhor
que tudo. Mesmo que não se lembre bem dela,
te ver pode destruir qualquer bloqueio
psicológico que tenha depois que o
abandonou.
— Ou pode piorar. — Disse Miles, não de
maneira cruel.
Caldwell deu um breve aceno de cabeça.
— Sempre existe um risco.
Miles suspirou.
— Bem, quando vai me levar para vê-lo,
então?
Olhos azuis seguraram os dele.
— Você irá fazer isto?
Miles assentiu.
— Não sei muito sobre crianças, mas não
sou insensível. Se me ver puder ajudar, é claro
que farei. Vale a pena tentar, mesmo que não
tenha certeza de que isso vai ajudar. — Ele deu
de ombros levemente. — Não pareço sua ex-
esposa tanto quanto pensa.
— Você tem razão. — Concordou
Caldwell, para sua surpresa. — Mas à primeira
vista, surpreendentemente se parece o
suficiente para enganar a lembrança nebulosa
de uma criança pequena. É isso que queremos:
uma forte reação de Liam, algo para tirá-lo de
sua concha. Ele mostrou alguma reação às
fotos de Regina, então, ver você em carne e
osso pode ter o efeito desejado.
— Tudo bem. — Disse Miles, apesar de
suas dúvidas, e ficou de pé. — Quando
vamos?
Quando entraram na traseira do carro de
Caldwell e Caldwell ordenou que o motorista os
levasse para casa, Miles olhou pela janela,
fingindo não perceber os olhos atentos de
Caldwell em seu rosto.
Miles colocou as mãos no colo.
Por que ainda está me encarando?
Capítulo 5

Provavelmente não deveria ter se


surpreendido por Caldwell viver em uma
mansão que fazia Rutledge Manor parecer uma
casa modesta.
Esperava não estar com os olhos
arregalados, mas provavelmente estava.
— Você mora sozinho nesta... Casa? —
Ele disse enquanto caminhavam em direção à
porta da frente.
— Eu e meu filho. — Disse Caldwell.
— É uma casa grande para apenas um
homem e uma criança. — Disse Miles.
Caldwell deu de ombros
descuidadamente, afrouxando a gravata
enquanto empurrava a porta.
— Esta casa está na minha família há
séculos.
Miles conseguiu deduzir isso antes que o
contasse. Tudo nesse homem gritava dinheiro
antigo e educação privilegiada. Se portava com
o tipo de confiança e poder que vinha
naturalmente de alguém descendente de
muitas gerações de riqueza e status. Caldwell
pode ser um brilhante empresário e CEO, mas
não foi de forma alguma algo que escolheu.
— Você não tem mais nenhuma família?
— Miles disse, seguindo seu chefe mais fundo
na enorme casa.
O chefe dele. Ainda era difícil ver esse
homem como seu chefe. Continuava
esquecendo completamente de se dirigir a ele
como Sr. Caldwell.
Ironicamente, o fato de Caldwell ser tão
mandão e severo o fez se sentir muito
confortável ao seu redor. Em casa, pensou,
divertido, pensando em seu irmão mais velho.
Exceto que a companhia do homem não
se sentia absolutamente fraternal. Miles não
tinha certeza de como era, mas ‘irmão’ era a
última coisa que associava ao homem.
— Sr. Caldwell!
A cabeça de Miles se levantou. Uma
mulher idosa descia correndo as grandes
escadas, um olhar ansioso em seu rosto
gentil.
— Não esperávamos que estivesse em
casa tão cedo. — Disse ela, franzindo a
testa. — Algo errado? — Ela finalmente olhou-o
e depois deu uma olhada dupla, seus olhos
castanhos se arregalando.
— Não, Winifred. — Disse Caldwell,
tirando o paletó e entregando à mulher. —
Liam está acordado?
Winifred assentiu.
— Ele está em seu quarto. — Disse ela
calmamente, lançando um olhar curioso para
Miles.
— Este é meu novo assistente, Miles
Hardaway. — Disse Caldwell, colocando a mão
no ombro de Miles. — Esta é minha
governanta, Winifred Danvers. — Sua mão se
moveu para o meio das costas de Miles e
empurrou um pouco. — Vamos.
Miles se permitiu ser conduzido em
direção ao quarto no terceiro andar.
Quando pararam na frente da porta, ele
se virou para Caldwell.
— Apenas um pequeno aviso. — Disse
com um sorriso triste. — Não sou muito bom
com crianças. O filho da minha irmã me chama
de tio menos favorito por uma razão.
Caldwell não parecia perturbado.
— Você não é obrigado a fazer amizade
com ele. Não estará aqui o tempo suficiente
para isso de qualquer maneira. Você é apenas
uma terapia de choque.
Miles bufou.
— Sim, espero que funcione, porque
minhas habilidades com crianças são
inexistentes.
Caldwell levou-o para o quarto.
Era grande, bonito e muito
brilhante. Havia brinquedos por toda parte,
todos os tipos que alguém poderia imaginar,
tantos que o quarto parecia uma loja de
brinquedos. Uma loja de brinquedos muito
cara.
Por um momento, pensou que a
empregada devia estar enganada e o garoto
não estava realmente no quarto.
Mas então o viu.
Um garotinho estava espreitando por trás
de uma enorme pilha de brinquedos, seus
olhos azuis arregalados e cautelosos, uma
mecha de cabelos escuros emoldurando seu
rosto pálido. Era adorável. A coisa mais fofa
que já viu. E o ar de vulnerabilidade e
incerteza sobre ele apertou seu coração de
uma maneira que nenhuma outra criança
jamais fez.
Se viu andando para a frente e caindo de
joelhos na frente do garoto.
— Olá. — Disse suavemente.
O garoto, Liam, o olhou.
Tinha os olhos do pai, pensou
vagamente, enquanto sorria para o garoto.
— Meu nome é Miles. Qual é o seu
nome?
O garoto não disse nada. Apenas olhou
para Miles. Outra coisa que tinha em comum
com o pai.
Quando o silêncio se prolongou e ficou
claro que Liam não reagiria a ele de nenhuma
maneira, Miles se sentiu mais decepcionado do
que provavelmente deveria.
— Disse que não iria funcionar. — Disse a
Caldwell por cima do ombro, então se
levantou.
Ou tentou.
Uma pequena mão agarrou seu braço.
Caldwell inalou bruscamente, seu corpo
tenso. Não estrague tudo, disse sua expressão.
Miles desviou os olhos do homem para a
criança agarrada ao braço.
— Ma-ma? — O garoto sussurrou incerto,
suas palavras pouco compreensíveis.
Isso partiu o coração de Miles.
Engolindo, abriu a boca para dizer que
não era a mãe do garoto, mas uma mão dura
agarrou seu ombro em aviso.
— Sim. — Disse Caldwell. — Sua mãe
está de volta, Liam.
Miles congelou.
Encarou o homem por cima do ombro,
mas o olhar frio deixou claro que se atrevesse
a contradizê-lo, pagaria caro.
Antes que pudesse dizer ou fazer
qualquer coisa, Miles tinha o colo cheio de um
menino chorando contra seu peito.
Ótimo. Fantástico.

*****
Levou um tempo para Liam finalmente
cair num sono exausto contra o seu
peito. Quando o colocaram na cama e
deixaram seu quarto, Miles imediatamente se
virou para Caldwell.
— Que porra foi essa? Você está louco?

Caldwell agarrou seu pulso e o puxou


para a sala mais próxima. Fechando a porta,
ele se virou, com o queixo cerrado.
— Foi a primeira vez em meses que meu
filho iniciou o contato físico. A primeira vez que
disse alguma coisa em mais de um ano. Você
está maluco se acha que estou deixando essa
chance passar.
Miles olhou para ele, sem saber o que
dizer.
— Entendo. — Finalmente conseguiu
dizer. — Mas não sou a mãe do menino. Ele
ficará traumatizado novamente quando eu não
voltar!
Caldwell suspirou, passando a mão pelos
cabelos.
— Atravessaremos essa ponte quando
chegarmos a ela. O importante é superar seja
qual for o bloqueio mental que tenha agora,
torná-lo mais aberto, mais sociável. Até que
ele o faça, mesmo os melhores psicólogos não
poderão ajudá-lo. No momento, ele tem medo
de pessoas, até eu. As coisas podem ser
diferentes quando você sair daqui a alguns
meses.
— Em alguns meses? — Miles repetiu,
intrigado. — Sou seu assistente pessoal apenas
por algumas semanas até que ele volte ao
trabalho.
— Obviamente, você não será mais meu
assistente. — Disse Caldwell com desdém. —
Você não terá tempo para isso. Meu filho lhe
dará trabalho.
Miles começou a sentir que estavam
tendo duas conversas separadas.
— Espere, você quer que eu seja a babá
do seu filho? — Ele riu um pouco. — Você está
louco? Não tenho ideia do que fazer com as
crianças!
— Você fez o suficiente com Liam agora.
— Disse Caldwell, parecendo
despreocupado. Ele olhou para o seu Rolex. —
Estou lhe dando o resto do dia de folga para
que possa pegar suas coisas e voltar.
Não sabia se ria ou chorava. Esse homem
era a personificação de todas as horríveis
características dominantes que Zach possuía,
multiplicada pela arrogância natural dele e pela
suposição de que as pessoas sempre faziam o
que dizia.
— Não me lembro de concordar com nada
disso. — Disse ele. — Estou nos Estados Unidos
de férias, não para trabalhar como babá!
Caldwell olhou para ele como se Miles
fosse uma criatura estranha e alienígena
falando um idioma que não entendia.
— Pagarei dez mil dólares por semana.
Uma risada saiu da garganta de
Miles. Provavelmente parecia um pouco
histérico, mas diabos, nunca conheceu um
homem que o exasperasse tanto quanto Ian
Caldwell.
— Deve ser bom ser tão rico que está
disposto a pagar a um cara que mal conhece
dez mil dólares por semana pelo privilégio de
morar em sua casa, comer sua comida e
brincar com seu filho.
Os lábios de Caldwell se torceram num
sorriso irônico.
— Não me diga que você não está
tentado.
Miles riu.
— Claro que estou tentado. Estou
duro. Mas escute, não vou mentir para aquele
pobre garoto e deixá-lo pensar que sou sua
mãe. Isso só o confundirá ainda mais. Todo o
dinheiro do mundo não vai me convencer a
fazer isso.
— Você não terá que mentir sobre isso.
— Disse Caldwell, dando de ombros
novamente. — Meu filho não é estúpido. Ele
perceberá que você não é a mãe dele por conta
própria. É meio difícil não notar que você não
tem um par de peitos. Mesmo uma criança de
três anos acabará percebendo isso. Tudo o que
precisa fazer é fornecer um rosto familiar para
ele. Será o dinheiro mais fácil que já ganhou.
Não podia argumentar contra. Mas a
situação era ridícula: ele deixou de ser turista,
passou a ser espião, depois assistente pessoal
e a uma babá, tudo em dez dias.
— Tudo bem. — Disse Miles.
Caldwell assentiu, parecendo
sombriamente satisfeito, mas não surpreso.
De repente, se perguntou quantas vezes
esse homem ouvira ‘Não’ em sua vida. Estava
disposto a apostar que o número era
deprimentemente baixo.
— Vou dizer a Winifred para preparar um
quarto para você ao lado de Liam. — Disse
Caldwell, saindo da sala.
Miles o seguiu.
— Ok.
— Meu motorista o levará ao seu hotel e
esperará enquanto arruma suas coisas.
Miles mordeu os lábios, hesitando. Não
fazia sentido mentir sobre isso. O motorista de
Caldwell diria a ele de qualquer maneira.
— Eu não estou ficando em um
hotel. Estou na Rutledge Manor.
As costas de Caldwell ficaram tensas. Ele
se virou, seus olhos frios e afiados.
— Rutledge Manor?
Miles encontrou seu olhar firmemente.
— Sim, há algum problema? Pensei que
Derek era seu parceiro.
— Como você conhece os Rutledges? —
Disse Caldwell, ignorando a pergunta de Miles.
Miles o olhou com curiosidade. Pela
primeira vez, ele se perguntou se as suspeitas
de Derek Rutledge não eram infundadas. Havia
algo duro nos olhos de Caldwell quando falou
sobre os Rutledges.
— Não conheço. — Disse Miles. — Eu
deveria ficar na casa de amigos deles, mas eles
tiveram que deixar o país e pediram aos
Rutledges que me deixassem ficar na casa
deles por um tempo. — Ele fez uma careta. —
Meu passaporte e carteira foram roubados no
aeroporto, então eu meio que não tive escolha
a não ser aceitar a hospitalidade deles.
O leve ar de suspeita ao redor de
Caldwell desapareceu, substituído por uma
carranca.
— Você não tem família? Eles não podem
ajudá-lo?
Miles sorriu tristemente.
— Eles obviamente podem, mas prefiro
que meus irmãos não saibam que já tive
problemas. Sou o bebê da família e todos eles
podem ser ridiculamente super protetores.
O homem assentiu, como se isso fizesse
sentido. Ele pegou o telefone e levou-o ao
ouvido.
— Zane, leve meu assistente para a casa
de Rutledge. Espere enquanto ele faz as
malas. Não, não voltarei ao escritório hoje. —
Terminando a ligação, olhou para Miles, como
se estivesse dizendo: Por que você ainda está
aqui e não está fazendo o que digo?
Revirando os olhos com um sorriso, Miles
foi para a porta da frente.
Mas seu sorriso caiu quando percebeu
que teria que dizer aos Rutledges que não
podia fazer o que eles queriam. Mal conseguia
ficar de olho no que Caldwell estava fazendo no
escritório quando trabalhava no referido
escritório.
Para ser sincero, foi um alívio. Todo o
negócio de espionagem não combinava com
ele. Só esperava que não o considerassem um
traidor por concordar em trabalhar para
Caldwell.
O pensamento o fez franzir a testa
quando entrou no carro.
Não era que devia lealdade a eles - não
os conhecia tão bem. - Mas estava na casa
deles há várias semanas e gostava
deles. Gostava muito. O ajudaram quando
realmente precisava, apesar de não terem
obrigação de fazê-lo. Então se sentiu... Um
pouco mal. Mas também ficou aliviado por não
ter que espionar. Parecia tão ruim. Sujo.
Porra, não sabia o que fazer. Juntamente
com o plano absolutamente insano e aterrador
de Caldwell de usá-lo como uma espécie de
pseudo-mãe para seu filho, teve vontade de
enterrar o rosto nas mãos e gritar. Em que se
meteu?
Miles ainda estava pensando quando o
carro parou em frente à casa dos Rutledges.
— Obrigado, não vou demorar. — Disse
Miles ao motorista, saindo.
Zane deu de ombros, puxando um
cigarro.
— Não há pressa. O Sr. Caldwell me disse
para espera-lo. Vou esperar o quanto precisar.
Sorrindo fracamente, caminhou em
direção à casa.
Quando perguntou a uma empregada
onde Shawn estava, foi informado de que
estava no escritório de Derek com o marido.
Miles fez uma careta. Ele realmente não
queria ver Derek, - Shawn era muito menos
intimidador que o marido - mas parecia que
não era o seu dia. Para ser totalmente sincero,
apesar de Miles gostar dos Rutledges como
casal, Derek Rutledge meio que o enervou. Era
um pouco estranho, na verdade: se sentia
bastante à vontade com Caldwell, que era tão
arrogante quanto Derek Rutledge, senão mais,
mas algo sobre o tipo de destreza de Caldwell
parecia familiar e até divertido, enquanto
Derek apenas o fazia se sentir pequeno e tolo.
Miles bateu na porta. Sabia que não devia
entrar sem bater depois que pegara Derek e
Shawn dando uns amassos lá dentro.
Depois de um tempo, Shawn gritou:
— Entre!
Miles quase sorriu quando viu que Shawn
estava corado, com os cabelos desgrenhados,
enquanto a camisa de Derek estava abotoada
incorretamente.
— Desculpe por interromper. — Disse,
divertido. — Mas meio que não podia
esperar. Queria lhe dizer que estou me
mudando.
Derek franziu a testa.
— Alexander e Christian não voltarão por
mais algumas semanas.
— Eu sei. — Miles passou a mão pelo
cabelo. — Estou meio que me mudando para a
casa de Caldwell. Trabalhar como babá para o
filho dele.
Shawn e Derek o encararam.
Para sua surpresa, Derek disse:
— Ah! Ele quer usar sua semelhança com
a ex-esposa.
— Você sabia disso? Conhece o filho dele?
Derek assentiu.
— Houve uns rumores há algum tempo
que seu filho era deficiente mental.
— Ele não é. — Miles disparou antes que
pudesse se conter.
Derek deu-lhe um olhar estranho.
— Estou apenas repetindo o boato. —
Disse ele calmamente. — Não posso atestar
sua precisão.
Miles sentiu-se corar. Não sabia por que
se sentia tão protetor com uma criança que
acabara de conhecer, mas lembrar os olhos
arregalados e incertos de Liam e o rostinho de
querubim fez algo em seu coração apertar
protetoramente.
— As pessoas dizem que o garoto ficou
traumatizado pela atmosfera familiar. — Disse
Shawn em voz baixa.
— Que atmosfera?
Shawn parecia desconfortável.
— Eles dizem que a esposa de Caldwell
tinha um problema com drogas. — Disse ele. —
E ela gostava... De se divertir.
Derek zombou.
— Você pode chamar uma pá de pá,
Shawn: ela era uma puta. Mas pelo que ouvi,
Caldwell também não ganhou nenhum prêmio
de Marido do Ano. Não é de admirar que o
garoto tenha ficado traumatizado com uma
mãe dessas.
Miles franziu o cenho. Caldwell havia dito
que Liam provavelmente ficara traumatizado
por sua mãe o abandonar em um lugar
desconhecido, mas talvez morar em um
ambiente tão difícil também tivesse
contribuído. De qualquer maneira, pobre
garoto.
— Então você não trabalhará mais no
escritório? — Shawn disse.
Miles balançou a cabeça, esfregando a
parte de trás do pescoço.
— Aparentemente não. — Ele sorriu
tristemente. — Desculpe. Sei que prometi ficar
de olho nele, mas...
— Você ainda pode ficar de olho nele. —
Disse Derek, olhando-o.
— Derek. — Disse Shawn bruscamente
antes de dar a Miles um olhar
envergonhado. — Ignore-o. Você não precisa
fazer nada. Agora que Caldwell é seu
empregador, não podemos pedir exatamente
para você espioná-lo. Isso o colocaria em uma
posição embaraçosa.
— Ficar de olho em alguém não é o
mesmo que espionagem. — Disse Derek. —
Nós apreciaríamos se nos dissesse se ele está
tramando algo. Isso é tudo.
— Ok. — Disse Miles, estremecendo por
dentro. Tanto por estar aliviado. — Vou
arrumar minhas coisas. Muito obrigado pela
sua hospitalidade.
Shawn assentiu, encolhendo os ombros.
— Não foi nada. E você está
absolutamente convidado a vir aqui quando
quiser, Miles.
— Obrigado. — Disse Miles com um
sorriso. Eles realmente eram um casal
adorável. — Vou fazer as malas agora.
No caminho de volta à casa de Caldwell,
refletiu sobre o pedido de Derek
Rutledge, tentando entender por que se sentia
tão desconfortável com a coisa toda.
Não devia sua lealdade a Ian Caldwell. O
homem não tinha sido remotamente gentil com
ele. Os Rutledges eram pessoas boas que lhe
haviam feito um grande favor.
Então, por que ainda se sentia como se
tivesse cometido um erro ao concordar
em ficar de olho em Caldwell?

Capítulo 6

No final de sua segunda semana como


babá de Liam, Miles sentiu que estava ficando
louco lentamente.
Liam não era o problema. Ao contrário
das palavras de seu pai, ele era um menino
adorável e quieto - pelo menos era adorável e
quieto quando não estava agarrado à perna de
Miles e dando um ataque sempre que Miles
tentava sair da sala. Era mais do que um pouco
desconfortável, mas era algo que estava
melhorando lentamente quando a segunda
semana chegou ao fim: Liam agora parecia
levar a partida de Miles apenas com um lábio
inferior trêmulo e olhos arregalados e
tristes. Embora esse olhar tenha feito o peito
de Miles apertar com culpa ilógica, ainda era
uma melhoria em relação aos soluços
histéricos, então Miles o considerou um
progresso encorajador.
Não, Liam não era o problema. O pai dele
era.
Caldwell ainda o encarava. Não tão
obviamente como costumava ser, mas muito
mais atentamente do que o normal. E como ele
agora não o avaliava como babá em potencial
para seu filho, Miles não sabia qual diabos era
o problema dele. Só conseguia alivio do olhar
estranho quando Caldwell estava no
trabalho.
— Olha, qual é o seu problema comigo?
— Miles finalmente perguntou um dia.
Eles estavam na sala de jogos de Liam, e
Caldwell estava observando seu filho brincar
com Miles, exceto que seu olhar enervante
estava fixado principalmente em Miles. Isso fez
Miles... estranhamente constrangido. Ele não
conseguia se concentrar em Liam, ciente da
atenção de Caldwell nele.
Caldwell levantou uma sobrancelha.
— Eu não tenho ideia do que você quer
dizer.
— Oh, sim? — Miles disse, mantendo a
voz baixa por causa de Liam. O garoto não
gostava de vozes elevadas. — Em que mundo
é normal encarar o babá do seu filho como um
monstro?
— No mundo que estou pagando ao babá
dez mil dólares por semana. — Disse Caldwell,
sua voz muito seca.
— Eu concordei em ser o babá de Liam,
não um objeto de admiração.
Olhos azuis olhavam para ele
preguiçosamente.
— Por dez mil dólares por semana, você
será o que eu quiser que seja.
Miles olhou para ele por um momento
antes de rir.
— Quando começo a pensar que você não
podia ser mais insuportavelmente mandão,
você prova que estou errado de novo.
Liam fez um som exigente e Miles
desviou o olhar do pai para o filho. Liam
destruiu a torre de blocos que eles
construíram, e parecia que queria construí-la
novamente - ou melhor, ele queria que Miles a
construísse.
— Você também pode construir,
companheiro. — Disse Miles, passando os
dedos pelos cabelos macios do garoto e
sorrindo para ele.
Liam balançou a cabeça, algo teimoso em
sua expressão, mas permaneceu em silêncio.
Miles tentou não franzir a testa. Apesar
de todo o progresso encorajador no
comportamento de Liam na semana passada,
ele ainda não tinha falado uma palavra depois
de dizer a palavra ma-ma. Miles tinha certeza
de que o garoto entendia bem a fala; falar era
outra questão inteiramente diferente.
— Você tem um rosto interessante. É por
isso que olho para você.
Piscando em confusão, Miles olhou para
Caldwell. Previsivelmente, encontrou Caldwell
já olhando para ele.
— Um rosto interessante? Estamos
falando da minha semelhança com sua ex-
esposa novamente?
Caldwell balançou a cabeça.
— A semelhança é realmente superficial.
— Disse ele, examinando o rosto de Miles. — O
rosto dela é lindo, mas os traços são perfeitos -
chatos. O seu não é. Em certos ângulos, seu
rosto parece muito nítido, quase feio, mas você
vira a cabeça um pouco e parece ridiculamente
bonito. É realmente fascinante. Isso me faz
querer...
— O quê? — Miles disse quando Caldwell
parou.
— Desenhar você. — Disse Caldwell, seu
olhar ainda fixo no rosto de Miles.
Miles olhou para ele com espanto.
— Você é um artista?
Caldwell bufou uma risada.
— Dificilmente. Mas às vezes eu
desenho. Por que você está tão surpreso? Não
posso ter um hobby?
— Claro que pode. — Disse Miles,
construindo a torre novamente. — Mas
bilionários costumam ter hobbies como dormir
ou beber.
Havia diversão naqueles olhos azuis
agora.
— E quantos bilionários você conheceu?
Miles riu.
— Ok, ponto. Só você e Derek Rutledge,
na verdade, mas ele também não se encaixa
no estereótipo.
Ele não pôde deixar de notar que os olhos
de Caldwell ficaram significativamente mais
frios com a menção de Rutledge.
Miles estava se perguntando se ele
realmente teria a coragem de perguntar ao
empregador quando Caldwell disse:
— Quero desenhar você.
Miles torceu o nariz.
— Vou ter que ficar parado por
horas? Nesse caso, é um passe difícil para
mim.
— Você não terá que ficar parado. Apenas
deixe-me olhar para você.
Miles riu. Você já faz isso de qualquer
maneira. Ele encolheu os ombros.
— Ok. Contanto que você não queira me
desenhar nu ou algo assim.
Os lábios de Caldwell torceram.
— Eu não estou interessado em vê-lo nu,
Miles.
Miles sorriu, batendo os cílios
exageradamente.
— Pensei que era “ridiculamente bonito?”
— Uma parte dele, uma parte muito distante
que não estava ocupada flertando com seu
chefe, imaginou o que diabos ele estava
fazendo. — Você tem certeza que não quer me
ver nu?
— Muito. — Disse Caldwell
ironicamente. — Eu sou hétero.
— Bom para você. — Disse Miles. — Mas
o que ser heterossexual tem a ver com
arte? Você não pode se interessar em desenhar
pessoas nuas como artista?
Caldwell bufou.
— Pessoalmente, acho que artistas que
gostam de desenhar pessoas nuas usam isso
como uma desculpa para observar as
modelos. Você desenha algo que é interessante
para você e o inspira. A arte não pode ser
impessoal e objetiva.
— Você acabou de acusar centenas de
grandes artistas de serem pervertidos lascivos.
Caldwell deu de ombros.
— Não necessariamente pervertidos
lascivos, mas você entende o que quero
dizer. Por que Ticiano continuava pintando
mulheres com cabelos castanho-
alaranjados? Não porque ele objetivamente as
achou interessantes.
Miles riu.
— Ok, o que você disser. Não vou discutir
com você apenas para argumentar quando não
entendo nada sobre arte.
Naquele momento, Liam fez um grito de
guerra e destruiu a torre quase pronta
novamente, para exasperação de Miles.
— Liam! — Ele disse.
O garoto sorriu, olhos azuis arregalados e
cheios de alegria.
Miles não pôde deixar de sorrir de
volta. O garoto era tão adorável; era
impossível ficar irritado com ele.
Caldwell pigarreou. Ele se levantou,
olhando para o relógio.
— Tenho que ir ao escritório, mas voltarei
à tarde. Espere por mim na ala direita no
terceiro andar. Tenho um estúdio lá.
— Tudo bem. — Disse Miles e observou
Caldwell se aproximar timidamente de seu
filho.
— Tchau, Liam. — Disse ele, sua voz
significativamente mais suave do que seu tom
intransigente usual.
Liam lançou a seu pai um olhar tímido e
apreensivo antes de voltar rapidamente para
seus brinquedos e agir como se seu pai não
estivesse lá.
Um sulco profundo apareceu entre as
sobrancelhas de Caldwell. Fazendo uma careta,
ele se virou e saiu da sala. Miles se sentiu um
pouco mal por ele.
Quando olhou para Liam, o garoto estava
observando o local em que seu pai estava com
uma expressão estranha no rosto querubim.
— Você deveria ser mais gentil com seu
pai, sabe. — Disse Miles. — Ele está tentando.
Liam olhou para ele e depois olhou para
seus brinquedos.
Miles deu-lhe um olhar impressionado.
— Sei que você me entende, garoto.
Ainda sem reação.
Miles suspirou. Às vezes, ele se sentia tão
desconfortável com Liam que não tinha certeza
pelo que Caldwell estava lhe pagando.

*****
Depois que Liam finalmente adormeceu
no final da tarde, Miles deixou uma criada ao
lado do garoto e seguiu para a ala direita da
mansão.
Ele não tinha certeza do que esperar
quando finalmente encontrou - algo como um
estúdio - de Caldwell.
É apenas um hobby, certo. Pensou Miles,
enquanto olhava ao redor do estúdio bem
iluminado e bem equipado com o qual muitos
artistas sérios se divertiam.
Mas, novamente, com o dinheiro e os
recursos de Caldwell, ele podia se dar ao luxo
de satisfazer todos os seus caprichos, mesmo
que não fosse sério.
Miles olhou em volta com curiosidade
antes de cair no sofá confortável, preparado
para esperar. Embora Caldwell tenha dito que
voltaria à tarde, Miles não estava surpreso por
ainda não estar em lugar nenhum - ele sabia
em primeira mão quanto trabalho Caldwell
tinha. Francamente, Miles ficou um pouco
surpreso que o cara gastou tanto de sua
agenda muito ocupada com seu filho. Parecia
estranho para um homem tão importante e
frio, mas, novamente, o que sabia sobre ser
pai?
Bocejando, Miles se esticou no sofá e
pegou seu telefone. Poderia muito bem
responder as mensagens de seus irmãos
enquanto esperava.
Ele nem percebeu adormecer.

Capítulo 7

Ian Caldwell não ficava tão irritado há


muito tempo.
Frustrado, ele passou a mão pelo cabelo
e depois pelo pescoço, trabalhando a tensão,
enquanto caminhava em direção à sala que
servia de estúdio sempre que a coceira de
desenhar se tornava impossível de ignorar.
Ele era um homem ocupado. Sempre
parecia que nunca tinha horas suficientes
durante o dia. Arte era um desperdício inútil e
improdutivo de seu tempo. Às vezes, porém, a
coceira de desenhar ficava muito perturbadora
e começava a prejudicar sua produtividade, por
isso ele tinha que ceder. Quanto mais cedo se
entregasse à sua última fixação, mais cedo
poderia voltar ao trabalho.
Ian entrou no estúdio e parou
abruptamente.
Miles estava dormindo no sofá.
Ian se aproximou, afrouxando e depois
tirando a gravata. Ele também tirou o paletó e
os largou na cadeira descuidadamente, com os
olhos no menino - um garoto, na verdade -
roncando suavemente no sofá de couro.
Miles estava deitado de bruços, com o
rosto voltado para Ian. Seu telefone estava no
chão ao lado da mão.
Ian desabotoou os dois primeiros botões
da camisa e arregaçou as mangas. Sabia que
deveria ter mudado, mas se sentia impaciente
demais para isso. Ele pegou um caderno e um
lápis, se jogou na poltrona ao lado de Miles e
rapidamente começou a desenhar, olhando de
vez em quando para o garoto.
Alguns minutos depois, rasgou a página e
amassou em uma bola.
O segundo esboço foi ainda pior que o
primeiro e rapidamente o seguiu para a lixeira.
Ian começou um terceiro, mas o
problema permaneceu: embora tecnicamente a
semelhança com Miles fosse inconfundível, o
esboço não conseguiu capturar a qualidade
indescritível sobre ele que fez Ian querer
desenhá-lo em primeiro lugar.
Suspirando por entre os dentes, Ian
jogou o desenho na lata de lixo também.
Ele olhou para o jovem adormecido, sua
irritação aumentando. Seu olhar percorreu o
rosto pacífico de Miles, contemplando todos os
detalhes. Às vezes, ele não podia acreditar que
tinha pensado que Miles parecia Regina. A
semelhança com Regina ainda estava lá, é
claro, mas Ian havia parado de perceber há um
tempo. Ele não conseguia se lembrar da última
vez que olhou para Miles e viu sua ex-
esposa. Parecia que quanto mais tempo
passava com o garoto, menos com Regina ele
parecia.
Objetivamente, Regina era mais
bonita, mas seu rosto não possuía a
personalidade de Miles. A comparação mais
próxima que Ian pôde pensar foi a diferença
entre uma obra de arte de um grande artista
e uma cópia pobre feita por um amador que
não conseguiu capturar a essência da obra de
arte original.
Se Miles parecesse exatamente com
Regina, ele não gostaria de desenhá-lo. Ian
nunca esteve interessado em desenhar sua
esposa. A desenhou algumas vezes, é claro,
quando ela o convenceu, mas ele nunca se
fixou em desenhá-la como estava em desenhar
esse garoto britânico. Essa tinha sido a única
coisa boa sobre ela.
Miles murmurou algo sonolento e virou-se
para o outro lado, deixando Ian olhando para
os cabelos exuberantes e de cores ricas. Seus
dedos estavam ansiosos para pintar e tentar
acertar a cor, o que era estranho para ele.
Raramente pintava, geralmente satisfeito
com desenhos em preto e branco.
Tudo sobre sua fixação nesse garoto era
estranho, ponto final.
— Miles. — Ele chamou.
Miles acordou e quase caiu no chão na
pressa de se sentar. Olhos verdes piscaram
para Ian sonolentos antes de olhar em volta,
como se só agora percebesse onde ele estava.
— Oh! Adormeci. — Ele disse antes que
seus olhos voltassem a Ian, mais alertas agora.
Ele tinha um rosto tão estranho, Ian
pensou, encarando-o com extrema irritação,
mas incapaz de desviar o olhar. Aquele rosto
era um estudo de contradições: as
sobrancelhas grossas e marrons de Miles
contrastavam com seus adoráveis olhos
verdes, cabelos lindos e feições quase
delicadas. Sua leve barba castanha clara
contrastava com seus lábios macios e
rosados. Aquele rosto podia parecer estranho e
de um pássaro por um momento, e
incrivelmente adorável quando se olhava um
pouco mais.
Ian olhou para o caderno e começou a
desenhar novamente. Talvez ele devesse
tentar... Sim, assim...
— Olá para você também. — Disse Miles,
bocejando. — Meu dia foi bom, obrigado por
perguntar.
Ian não sabia por que deixava o garoto
ser tão atrevido com ele. Qualquer outro
funcionário nem sonharia em agir assim ao seu
redor. Miles se sentia muito confortável ao seu
lado, o que era... desconcertante. Ian nunca
deu a Miles um motivo para pensar que seria
aceitável se comportar dessa maneira.
Ele olhou de volta para o modelo e
encontrou Miles observando as mãos com uma
expressão estranha.
— O quê? — Ian disse, voltando sua
atenção para o desenho. Enquanto o rosto de
Miles ainda não estava certo, era melhor do
que suas tentativas anteriores.
— Acho que estou atraído por você.
O lápis de Ian congelou.
Ele levantou o olhar.
Miles estava mordendo o lábio. Ele
parecia... perplexo.
— Eu não sou gay. — Disse Ian.
Miles deu de ombros.
— Nem eu. — Ele fez uma cara
engraçada. — Quero dizer, pensei que não era
gay. Pensei que era assexual, na verdade. Mas
querer lamber seus antebraços provavelmente
significa que não. — Ele sorriu, parecendo
confuso e intrigado, como se não tivesse
acabado de dizer ao chefe que queria lamber
seus antebraços. Que merda, sério.
— Você é sempre tão esquisito ou estou
apenas recebendo tratamento especial? — Ian
disse, esmagando o desejo inadequado de rir.
Miles torceu o nariz. Parecia nojento e
adorável. Um jovem de vinte anos não deveria
parecer adorável, que merda.
— Não acho que sou tão estranho. —
Disse Miles. — Apenas digo o que penso. O que
há de errado com isso?
— Pode ser um pouco errado quando
você diz ao seu empregador que deseja lamber
os antebraços dele.
Miles riu.
— Desculpe, só estou confuso, acho. A
atração é um sentimento tão estranho para
mim.
Ian olhou para ele.
— Você nunca fez sexo?
— Eu fiz. — Disse Miles, fazendo uma
careta. — Bem, mais ou menos. Sim e
não. Mas eu nunca fui... tipo, eles eram
objetivamente bonitos. Mas eu nunca
realmente olhei para uma pessoa e queria
colocar minha boca nela, sabe? É como... eu
queria sexo teoricamente, mas assim que
fiquei nu com alguém, eu realmente não queria
tocá-los. E me senti mais desconfortável do
que qualquer coisa. — Um olhar de frustração
passou pelo rosto de Miles. — Estou fazendo
sentido? Enfim, nunca entendi o alarido sobre
sexo, para ser honesto. Parecia uma tarefa
estressante toda vez que tentei transar com
alguém. — Ele sorriu ironicamente. — Mas
talvez eu não seja gay. Talvez eu tenha apenas
um fetiche estranho por antebraços. Isso pode
ser uma coisa, certo?
— Você é ridículo. — Disse Ian,
esboçando a boca de Miles. A forma dela
estava um pouco diferente...
Ele estudou o original atentamente. Uma
língua rosada surgiu para lamber o canto da
boca.
— Você tem que olhar os meus
lábios? Você não está ajudando, sabe.
— Pensei que tinha um fetiche por
antebraços. — Disse Ian, sorrindo levemente.
— Bem, digamos que está parecendo
cada vez mais improvável. — Disse Miles com
risada em sua voz. — Posso chupar seu pau?
Ian ergueu o olhar.
Miles o encontrou de frente.
— Apenas como um experimento, para
ver se eu realmente vou gostar? — Ele riu. —
O quê? Muito estranho?
Ian voltou os olhos para o esboço meio
acabado.
— Vou fingir que não tivemos essa
conversa.
— Oh, vamos lá! Que cara recusa um
boquete?
Ian beliscou a ponta do nariz. A conversa
inteira seria divertida se não fosse tão
irritante.
— Eu sou hétero e não estou nem um
pouco atraído por você.
— O que isso tem a ver com alguma
coisa? — Miles disse. — Boca é boca, não é?
— Na verdade não. Sou muito seletivo
sobre onde coloco meu pau, e a boca de um
homem não é uma delas.
— Então você é homofóbico. — Disse
Miles com um suspiro. — Meio que pensei que
você poderia ser, mas estava esperando que
não fosse. Agora me sinto uma merda por
ainda querer chupar seu pau.
Porra, isso era ridículo.
— Primeiro de tudo, não sou homofóbico.
— Disse Ian. — E não sei de onde você tirou
essa ideia. Não querer fazer sexo com um
homem não me torna homofóbico.
— Você não gosta dos Rutledges.
Ian olhou de volta para o desenho.
— Não é por isso que não gosto deles. —
Disse ele calmamente.
Podia sentir o olhar curioso de Miles
nele.
— Por que você não gosta deles, então?
— Isso não é da sua conta.
Miles deu um suspiro.
— Qual é o segundo?
— Perdão?
— Você disse: “Primeiro de tudo”. Isso
significa que há um segundo ponto.
— Segundo, você nunca deve dizer ao
seu chefe que quer chupar o pau dele. Isso o
faria ser demitido se você tivesse outro
empregador. Nem todo mundo é tão brando
quanto eu.
Miles bufou.
— Leniente não é a palavra que eu usaria
para descrevê-lo. E não sou burro. Nunca diria
algo assim se tivesse outro chefe. Eu te disse
isso porque sabia que você não me demitiria
por algo assim.
Ian olhou para ele.
— O que isto quer dizer?
Miles inclinou a cabeça para o lado.
— Eu acho que te conheço muito bem
neste momento. Você é muito parecido com
meu irmão mais velho: mandão como o
inferno, mas na verdade é bem suave por
dentro. — Miles franziu o nariz, engraçado. —
Bem, ele não é tão arrogante quanto você,
mas meu argumento é válido.
Ian quase riu. O garoto não tinha ideia.
— Eu não sou 'suave'. A única razão pela
qual ainda tem seu emprego é porque meu
filho precisa de você.
Os lábios de Miles se contraíram, seus
olhos brilhando de diversão.
— Isso prova apenas o meu ponto, não
é?
Ian deu a ele um olhar apertado.
— Cuidar do meu filho dificilmente me
deixa mole.
Para sua surpresa, Miles assentiu.
— Eu sei. É só... — Ele sorriu
timidamente. — É difícil explicar por que me
sinto tão confortável com você, na verdade. Eu
só faço. Se isso faz você se sentir melhor, a
maioria das pessoas no escritório parecia
pensar que você era muito intimidante... Por
que está me olhando assim?
— Continue sorrindo assim. — Passando
para uma nova página em seu caderno, Ian
rapidamente começou a desenhar. Sim, os
lábios de Miles pareciam um pouco mais finos
quando ele sorria, e havia uma covinha quase
imperceptível no canto direito...
Miles riu.
— O quê? Não posso continuar sorrindo
só porque você diz.
— Por que não?
Miles revirou os olhos.
— Acho que você nasceu no século
errado, companheiro. Conheço lordes de
verdade que são menos arrogantes que
você. Deve haver algo errado comigo que te
acho atraente.
Ian bufou uma risada.
— Pare de me paquerar. Não estou
interessado.
Miles deu um suspiro exagerado.
— Parece que a única pessoa pela qual fui
atraído não está interessado de voltar. Sorte
minha.
Embora ele estivesse sorrindo, Ian podia
ver algo como desânimo real na linguagem
corporal de Miles. Ele estava... chateado. Muito
chateado, não importa o quanto sorrisse.
Ian apertou a mandíbula, sem saber por
que de repente sentiu como se tivesse chutado
um filhote.
— Você está realmente de mau humor
porque não vou te deixar chupar meu pau?
Miles acariciou os nós dos dedos contra
os lábios, inclinando a cabeça para o lado.
— Acho que estou de mau humor. —
Disse ele com um sorriso triste. — Mas não
sobre não poder chupar seu pau. Com toda a
seriedade, não esperava que me deixasse fazer
isso, entendi que você é hétero e detestaria ser
aquele cara - o cara insistente - que não pode
aceitar não como resposta. É só que... — Suas
sobrancelhas franziram, seu sorriso
desapareceu. — Minha sexualidade sempre foi
confusa para mim. Ainda não tenho certeza do
que sou e gostaria de descobrir se estou
realmente atraído por você ou apenas
imaginando isso.
— Como você pode imaginar isso? Você é
atraído por alguém ou não é.
— Não eu. — Disse Miles, torcendo os
lábios. — Pensei que estava atraído pelas
pessoas com quem tentei fazer sexo, mas bem,
eu estava errado. Assim que as roupas saíram,
tudo o que senti foi desconforto e vontade de
fugir. — Duas manchas rosadas apareceram
em suas bochechas. — Eu não consegui nem
ter uma ereção.
Ian colocou seu caderno de lado,
observando-o com curiosidade.
— Você viu um médico?
Miles olhou para ele.
— Não sou impotente. — Disse ele
rigidamente. — Eu posso me masturbar.
— Você viu um médico? — Ian repetiu.
— Sim. — Disse Miles, desviando o
olhar. — Sou saudável. Não há nada errado
comigo fisicamente. O médico afirmou que
provavelmente tudo está na minha cabeça: que
eu estava muito nervoso durante a minha
primeira vez e, em seguida, esse fracasso me
deixou estressado toda vez que tentei fazer
sexo novamente. Isso ou sou realmente
assexuado, talvez demissexual1.
— Você falou sobre isso com alguém?
Miles balançou a cabeça.
— Ninguém sabe. Nem minha
família. Estou pensando em contar aos meus
irmãos que provavelmente sou assexuado,
mas... Agora me sinto tão estranho ao seu
redor. E não tenho mais certeza do que pensar.
— Seus ombros caíram, seus lábios se
contraíram, cada linha de seu corpo irradiando
derrota. Ele parecia pequeno, confuso e
perdido.
Os lábios de Ian se afinaram. Ele disse a
si mesmo que não era problema dele. Disse a
si mesmo que não tinha motivos para ser
protetor desse garoto britânico ridículo e
estranho, sem filtro cérebro-boca.
Não adiantou. Ele não gostava de ver

1
Pessoa cuja atração sexual surge somente quando existe envolvimento e/ou laço emocional, afetivo, e/ou intelectual
com a outra pessoa, não sendo a estética o único fator determinante para o surgimento da atração sexual.
Miles chateado. Aquele olhar de cachorro
chutado no rosto de Miles era extremamente
agravante.
— Venha aqui. — Disse Ian.
Miles piscou para ele, perplexo, mas pela
primeira vez, ele não o contradisse e fez o que
lhe disseram.
— O quê? — Ele disse, parando em frente
à poltrona de Ian.
— Sente-se. — Disse Ian.
A boca de Miles trabalhou
silenciosamente por um momento enquanto ele
olhava entre o rosto de Ian e seu colo.
— Como, no seu colo?
Ian assentiu.
— Por quê?
— Existem maneiras de descobrir se o
que você sente é atração sem chupar meu pau.
— Disse Ian secamente. — Sente.
Umedecendo os lábios com a língua, Miles
subiu em seu colo.
No começo, foi extremamente
constrangedor, com Miles se mexendo e se
contorcendo até Ian finalmente se cansar de
observar e organizar o garoto para sua
satisfação. Miles ficou quieto por um momento
antes de se encostar no peito de Ian e colocar
a cabeça no ombro.
Ian olhou por cima do ombro para a
parede oposta, se perguntando quando isso
havia se tornado sua vida. Ele tinha outro
homem no colo. Enquanto Miles não pesava
muito, ele era um pouco mais pesado do que
qualquer mulher que já sentou em seu
colo. Mas não parecia desconfortável. A
maneira como ele se encaixava... Havia algo
inexplicavelmente agradável nisso.
— Quer fugir? — Ian disse, colocando a
mão na parte inferior das costas de Miles.
Miles estava muito quieto. Então ele se
moveu, até que seu nariz estava pressionado
contra o lado do pescoço de Ian.
— Não. Parece bom. — Ele inalou
trêmulo. — Amo como você cheira.
Ele tinha outro cara acariciando seu
pescoço. Não parecia tão desanimador quanto
Ian esperava.
Ian passou os dedos pelos cabelos de
Miles e sentiu o corpo de Miles ficar
completamente flexível, macio e
relaxado. Miles estava respirando
desigualmente, esfregando o rosto na garganta
de Ian como um grande gatinho afetuoso. Se
ele fosse um gatinho, provavelmente estaria
ronronando, pensou Ian, divertido.
— Eu quero mais. — Miles sussurrou,
parecendo surpreso. — Quero lamber o pomo
de adão. Posso?
Mais uma vez, Ian se perguntou como
isso havia se tornado sua vida. Ele era
hétero. Tão hétero quanto poderia. Qualquer
outro homem teria levado um soco por essa
merda, mas esse garoto ridículo o deixava
incrivelmente indulgente. Miles estava certo:
ele realmente estava ficando mole.
— Vá em frente. — Ian disse com um
suspiro.
Algo úmido e macio pressionou contra
seu pescoço. A língua de Miles. E então havia
lábios e dentes.
— Miles. — Ian ralhou.
— Desculpe. — Miles murmurou,
lambendo o local que ele tinha acabado de
chupar e se contorcendo mais perto dele. —
Não sei o que aconteceu comigo. Eu só
queria...
Ian disse ironicamente:
— Acho que podemos concluir com
segurança que você não é realmente assexual.
— Mas ainda não estou duro. — Disse
Miles.
Porra, inferno.
Ian rangeu os dentes.
— Você não é mais adolescente. — Por
pouco. — Não precisa ter uma ereção com algo
tão inocente quanto isso.
— Eu acho. — Disse Miles. Ele não
parecia convencido.
Ian deu um suspiro.
— Bem. Vamos tentar outra coisa. — Ele
enfiou a mão sob a camiseta de Miles e
deslizou sobre a extensão suave das costas.
Miles fez um pequeno som.
— Você tem mãos incríveis. — Ele
murmurou contra o pescoço de Ian. — Elas me
fazem sentir tão bem.
— Ainda não está duro? — Ian disse,
incapaz de acreditar que eles realmente
estavam tendo essa conversa. Era uma
sensação que sentia com muita frequência
perto de Miles.
— Não. Você terá que se esforçar mais.
— Miles riu de seu próprio trocadilho.
Os lábios de Ian se contraíram.
— Você é uma criança. — Mas ele passou
a mão pela caixa torácica de Miles até que seu
polegar roçou um mamilo. — Nada ainda?
Miles respirou fundo.
— Faça isso novamente.
O polegar de Ian tocou o mamilo
novamente, acariciando-o levemente. Ele
sentiu isso endurecer.
— Oh! — Disse Miles, sem fôlego, antes
de tirar a camisa. — Mais.
Ian olhou para o peito nu por um
momento - era tonificado, suave e muito
masculino - antes de levantar a outra mão
também. Ele brincou com os mamilos duros e
observou como, gradualmente, Miles se
desfez.
A visão era fascinante: os olhos verdes
de Miles lentamente vidraram, um rubor se
espalhando por seu rosto e seus lábios se
separando enquanto ele respirava instável.
O olhar de Miles parecia estar dividido
entre o rosto de Ian e os dedos em seus
mamilos.
— Você pode fazer algo por mim, Ian?
Ian. Ele nunca pensou que seu nome
pudesse soar assim.
Ele assentiu.
Mordendo o lábio inferior, Miles olhou
para ele com uma mistura de
timidez, confiança e devassidão.
— Você pode chupá-los um pouco? Só um
pouco?
Como se estivesse sonhando, Ian se viu
assentindo. O que você quiser.
Ian puxou o garoto, fazendo-o montar
em seu colo para que o peito dele estivesse
mais perto da sua boca. Ele inclinou a cabeça e
tomou um pequeno mamilo na boca.
Miles choramingou, seus dedos
enterrando nos cabelos de Ian.
— Foda-se, mais.
Ian se esforçou. Ele chupou e lambeu os
mamilos de Miles, alternando entre eles, e
sentiu Miles tremer em seus braços,
os gemidos silenciosos eram o único som no
estúdio.
Logo, Miles começou a se contorcer
contra sua boca. Havia uma protuberância
inconfundível contra o estômago de
Ian. Quando Ian olhou para baixo, ele
realmente podia ver a cabeça do pênis de Miles
espreitando de dentro do short. A visão era
bizarra e obscena, mas estranhamente difícil
de desviar o olhar.
Ian supôs que o experimento foi bem-
sucedido - não havia absolutamente nenhuma
dúvida agora que Miles não era assexual. Ele
deveria parar e empurrá-lo para longe. Mas
seria cruel parar quando Miles estava
claramente se divertindo, sussurrando Ian, Ian,
Ian, por favor, entre gemidos ofegantes e
agarrando os cabelos de Ian na mão.
Também afagou seu ego; Ian não podia
negar. Então ele continuou lambendo e
beliscando os mamilos rosados de Miles,
permitindo que o jovem moesse contra seu
estômago, os gemidos de Miles o estimulando.
Oh, Deus, oh, Deus, por favor, Ian...
Não foi totalmente uma surpresa quando
Miles de repente ficou tenso contra ele, sua
mão segurando o cabelo de Ian, e gozou com
um gemido.
Ian fez uma careta com a sensação de
umidade. Ele pensou, não sem humor, que
realmente deveria ter mudado antes de vir
aqui.
— Obrigado. — Disse Miles, finalmente,
ainda parecendo um pouco sem fôlego, mas
mais parecido com ele, e beijou a bochecha de
Ian. — Você é o melhor chefe que já tive.
Ian bufou, empurrando-o gentilmente do
colo.
— E quantos chefes você já teve?
Miles sorriu maliciosamente.
— Um. — Ele estremeceu, olhando para
si mesmo. — Bruto. Eu preciso de um banho. E
Liam provavelmente já acordou. — Ele olhou
para o caderno de desenho. — Nós
terminamos?
— Por hoje. — Ian disse, surpreendido
pela forma como não estranho se sentia.
Miles deu a ele um sorriso tímido na
porta.
— Você deveria mudar. Sinto muito pela
camisa. Ficava bem em você. — E então ele se
foi.
Ian desabotoou rapidamente a camisa e a
removeu, perguntando-se por que não se
sentia esquisito.
Afastando o pensamento, ele foi para o
banheiro adjacente. Se não estava se sentindo
desconfortável, ele não apresentaria razões
pelas quais deveria estar.
Além disso, tinha sido um favor pontual
para um garoto confuso, então não fazia
sentido insistir nisso.
Apenas uma única vez.

Capítulo 8

Miles nunca pensou que era possível cair


de repente na amizade, mas isso era
exatamente o que parecia estar acontecendo
com eles.
“Eles” sendo Ian e ele.
Caldwell não era mais Caldwell. Ele era
Ian. Era difícil pensar nele como Caldwell
depois que o homem lhe deu o primeiro
orgasmo na vida - o primeiro orgasmo de Miles
com outra pessoa.
Não que a coisa toda tornasse sua
sexualidade menos confusa, mas uma coisa era
clara: ele não era assexual. Ele queria Ian,
queria suas mãos e boca em seu corpo.
Ainda queria.
Esperava que Ian não soubesse; odiaria
arruinar a camaradagem confusamente fácil
entre eles com sua luxúria inadequada. Miles
sabia que Ian era hétero. Ian o havia tocado
como um favor, nada mais. Querer mais era
apenas ganância.
O problema era… O problema era que
Miles estava começando a perceber por que as
pessoas se importavam tanto com sexo. Desde
que experimentou o quão bom poderia ser um
orgasmo com outra pessoa, ele meio que
queria isso de novo. E de novo, e de novo, e de
novo. Parecia que não tinha nada além de
pensamentos sujos sempre que seu olhar caía
na boca firme de Ian, seus mamilos
endurecendo e doendo para serem tocados -
sugados - novamente.
Miles nunca havia se masturbado tanto
em sua vida.
Felizmente, ninguém conhecia seus
pensamentos sujos. Pelo menos esperava que
Ian não soubesse.
— Liam sorriu para mim hoje. — Ian
disse de repente, tirando-o de seus
pensamentos.
Miles virou a cabeça e olhou para o
homem mais velho a seu lado. Ian estava
vestindo uma camiseta preta que abraçava seu
torso musculoso e um jeans escuro. O visual
era casual, mas de alguma forma, Ian ainda
não parecia casual. Ele parecia bom demais
para ficar em casa em frente à TV. Mas,
novamente, Miles estava começando a
perceber que Ian Caldwell não parecia nada
além de dar água na boca a todas as horas do
dia. Era o homem, não as roupas. Mesmo os
pelos faciais de Ian, que haviam ultrapassado o
estágio de restolho por fazer e estavam a
caminho do território da barba, não o faziam
parecer desgrenhado; apenas acentuava seu
queixo forte e o azul de seus olhos. Miles
sempre invejou homens assim: aqueles que
podiam parecer bem e elegantes sem esforço,
sem tentar.
— Ele sorriu? — Ele disse tardiamente,
um pouco envergonhado por estar tão distraído
com algo tão superficial quanto boa aparência.
Ian assentiu, com os olhos na TV. Os
lábios dele torceram.
— Mas fugiu quando tentei brincar com
ele, então acho que não significou muito.
Miles sentiu uma pontada de simpatia.
Cutucou Ian em seu estômago duro.
— Ei, nada disso. — Disse ele. — Se ele
sorriu para você, é realmente algo para
comemorar. É progresso.
Ian virou a cabeça, um olhar irônico no
rosto.
— Você não precisa me confortar, Miles.
Sou um homem crescido e estou perfeitamente
ciente de que a culpa é minha.
— De que maneira?
— Não sou inocente pela maneira como
ele age agora. — Disse Ian. — Regina e eu…
costumávamos gritar e brigar muito na frente
dele, e às vezes essas brigas se tornaram
realmente feias. — Ele sorriu tristemente. Não
alcançou os olhos. — Não sou bom em
controlar minha raiva. Eu me deixo levar. Não
me olhe dessa maneira, nunca a agredi
fisicamente, mas…
Ian fez uma careta e continuou:
— Disseram-me que posso ser realmente
cruel com as palavras quando estou com raiva,
e provavelmente é verdade. Eu a reduzi às
lágrimas inúmeras vezes. Liam era jovem
demais para entender o que estava sendo dito,
definitivamente jovem demais para entender
que sua mãe não era uma vítima inocente, mas
provavelmente parecia assim para uma criança
pequena. Não é à toa que ele está com medo
de mim.
— Oh. — Disse Miles, baixando o olhar.
Ele piscou confuso, percebendo que estava
traçando o formato do abdômen
impressionante de Ian através de sua
camiseta.
Sem saber o que dizer sobre as palavras
de Ian, Miles disse o que estava em sua mente.
— Como você consegue ter um pacote de
seis como este quando passa tanto tempo
atrás de sua mesa? É bizarro e realmente
injusto.
— Bons genes. — Ian disse com um olhar
altivo que não tinha o direito de ser tão
malditamente atraente.
— Você é tão cheio de merda. — Disse
Miles, traçando os músculos duros com o dedo.
— É besteira que você tenha esse pacote de
seis apenas por ter nascido um Caldwell.
— Isso não é maneira de falar com seu
chefe. — Disse Ian, mas seus olhos azuis
estavam risonhos. — E apalpar seu chefe
também não é legal.
Miles arregalou os olhos e colocou o rosto
mais inocente.
— Mas nem coloquei minha mão debaixo
da sua camisa!
Ian riu.
— Você não tem vergonha.
— Só porque você me deixou fugir com
isso. — Disse Miles com um sorriso, olhando
Ian nos olhos. Ele se sentia tão confortável
com Ian, do jeito que se sentia confortável
apenas com seus irmãos, embora a
comparação fosse… nojenta, considerando
todas as coisas.
Porra, talvez ele precisasse de um
terapeuta. Deve haver algo errado em ser
atraído por um homem que tinha maneirismos
semelhantes ao seu irmão mais velho. Freud
provavelmente teria um dia de campo com ele.
— O quê? — Ian disse, sempre tão
perspicaz.
Miles fez uma careta.
— Acabei de perceber que estou muito
confuso por me sentir atraído por um homem
que compartilha tantas características comuns
com meu irmão mais velho.
Ian não riu disso. Ele parecia realmente
considerar seriamente antes de falar.
— Acho que li em algum lugar que as
mulheres geralmente acabam se casando com
homens que se parecem com seus pais, e os
homens acabam se casando com mulheres que
lembram suas mães. Isso não significa nada
nojento. Se você ama alguém, normalmente
pensa que seus traços são bons e atraentes.
Você não disse que Zach praticamente te
criou?
Miles assentiu, mais do que um pouco
aliviado. Isso fazia sentido. Era bom saber que
ele não estava secretamente envolvido em
incesto ou algo do gênero. Aparentemente,
Zach fez uma lavagem cerebral nele, se estava
pensando que uma atitude arrogante era uma
boa característica em um homem.
— Eu acho… acho que o fato de você
compartilhar alguns traços de personalidade
com Zach é que me faz ficar tão à vontade com
você. Mas é separado da atração sexual. Talvez
o fato de eu me sentir tão confortável com
você me faça relaxar e realmente sentir a
atração sem querer fugir? — Miles riu, um
pouco constrangido. — Não estou fazendo
muito sentido, estou?
Ian sorriu levemente.
— Você raramente faz.
— Ei! — Miles disse com um beicinho
exagerado.
Ian sorriu mais, batendo no nariz de Miles
com o dedo.
— Você tem sorte de ser tão fofo, ou eu o
teria demitido há muito tempo por assédio
sexual.
Miles sorriu para ele.
— Você está dizendo que não vai me
demitir se eu realmente colocar minha mão sob
a sua camisa? Realmente quero colocar minha
mão sob sua camisa.
Ian olhou para o teto.
— Não sei por que aguento isso.
— Você gosta de mim. — Disse Miles, seu
sorriso se ampliando quando Ian não negou.
— Você é divertido. — Disse Ian.
— Você gosta de mim; não negue. —
Disse Miles, empurrando a camisa de Ian para
olhar seus abdominais. Ele assobiou um pouco.
— Agradável.
— Nunca fui tão tratado como um objeto
em minha vida. — Disse Ian ironicamente. —
Você quer me acariciar? Não seja tímido.
Miles riu e fez exatamente isso. Ele
acariciou o estômago liso e musculoso de Ian,
fascinado pelo calor, firmeza e textura. Seus
dedos traçaram os músculos duros antes de
passar para a trilha de pelos escuros que
desapareciam na virilha de Ian. Ele umedeceu
os lábios secos.
— Seria muito estranho se eu colocasse
minha boca aqui? — Ele disse, acariciando a
trilha feliz de Ian. Ele sentiu os músculos de
Ian tremerem sob seu toque.
— Você é inacreditável.
Miles ergueu o olhar e deu um sorriso
tímido.
— Sou? — Ele disse, olhando nos olhos
de Ian. Porra, mesmo depois de um mês de
exposição, o olhar de Ian Caldwell permaneceu
incrivelmente difícil de não ser atraído. Estar
perto dele sempre parecia uma atração
gravitacional. — Desculpe. Isso é tão novo
para mim: na verdade, querer tocar alguém.
Eu provavelmente estou sendo muito estranho
sobre isso.
A expressão de Ian ficou um pouco tensa.
— Pelo amor de Deus, pare de fazer essa
cara.
— Que cara? — Miles disse, inclinando a
cabeça.
A mandíbula de Ian apertou.
— Essa que você estava fazendo. Bem.
Continue. Serei seu rato de laboratório.
Miles sorriu para ele e deu um rápido
beijo na bochecha.
— Você é o melhor chefe de todos os
tempos! Retiro todos os pensamentos ruins
que tive sobre você quando eu era seu
assistente pessoal.
Ian apenas bufou.
Ele se recostou no sofá e viu Miles cair de
joelhos na frente dele.
— Cristo, isso é estranho. — Disse ele,
fixando o olhar no teto novamente.
Miles riu, mas quando pressionou a boca
contra o estômago de Ian, sua diversão
desapareceu.
A pele contra seus lábios era tão quente e
suave que Miles teve de beijá-la. Ele arrastou
os lábios abertos por todo o abdômen de Ian,
com os olhos fechados. Esfregou o rosto na
trilha feliz de Ian, quase gemendo com o
ataque de sensações, sua língua disparando
para provar a pele. Embora sentisse os
músculos pularem e enrijecerem sob seu
toque, Miles não estava preparado para o som
sibilado que saiu da boca de Ian.
Abrindo os olhos e olhando para baixo,
ele encontrou uma protuberância esticando o
jeans de Ian.
Lentamente, Miles ergueu o olhar.
Ian estava olhando para ele com uma
expressão que estava no meio do caminho
entre dolorosa e divertida. Ele encolheu os
ombros.
— Qualquer homem de sangue vermelho
vai ficar um pouco duro ao ser tocado assim.
Miles olhou para a protuberância nos
jeans de Ian.
— Você chama isso de um pouco duro?
Maneira de fazer um cara autoconsciente.
Falando em duro… Ele estava meio duro,
só de beijar e tocar o estômago de Ian. Isso
nunca tinha acontecido com ele.
— O experimento terminou? — Ian disse,
olhando para o teto, com um meio sorriso nos
lábios.
Miles deveria dizer que sim. Ele sabia
disso. Já havia empurrado Ian para fora de sua
zona de conforto. Querer mais seria apenas
ganancioso.
Ele deveria dizer que sim.
Mas não disse.
Em vez disso, Miles pressionou a boca
contra a protuberância esticando o jeans de
Ian e murmurou:
— O experimento acabou. Mas e essa
pequena missão secundária?
Uma risada.
— Só você chamaria chupar pau de uma
missão secundária, criança.
— Você está ofendido por eu ter chamado
isso de pequeno. — Disse Miles, sorrindo para
Ian. — E não me chame de criança quando
estou tocando seu pau. Isso é assustador.
— Bem, você é uma, comparado a mim.
— Ian disse secamente. — Você tinha nove
anos quando eu tinha a sua idade.
Miles torceu o nariz.
— Maneira de fazer isso estranho.
Ian deu uma bufada.
— Nossa diferença de idade é a razão
menos importante pela qual isso é estranho.
Miles descompactou a virilha de Ian.
— Quem se importa? Quero saber como é
chupar pau quando realmente quero fazê-lo.
Seu pênis parece estar de acordo com essa
ideia.
Ian deu um suspiro.
— Eu não sou gay. — Disse ele, mas não
o estava afastando.
Miles puxou seu pênis meio duro e
acariciou-o, fazendo Ian assobiar e olhar para
ele.
Miles lançou um olhar inocente.
— Você não precisa ser gay para me
deixar chupar seu pau. Também não tenho
certeza de que sou gay. Mas isso importa? Não
precisa significar nada. — Ele franziu o cenho,
percebendo subitamente que estava sendo
agressivo. — Ou você realmente não quer? Se
estiver desconfortável, eu obviamente pararei.
Ian apenas olhou para ele com uma
expressão comprimida e vagamente irritada.
Apesar de sua irritação óbvia, seu pênis não
parecia estar amolecendo, firme e quente nas
garras de Miles.
— Não sei o que é sobre você que torna
impossível dizer não.
Tomando isso como um sim, Miles sorriu
e levou o pênis de Ian em sua boca. Ele
cantarolou apreciativo: embora o pênis de Ian
fosse longo, não era muito grosso, então
chupar era confortável o suficiente para sua
mandíbula. Se encaixava perfeitamente em sua
boca, mesmo que tivesse que passar a mão
pela base. Ele balançou a cabeça para cima e
para baixo, tentando entender se gostava de
chupar.
Miles decidiu, depois de um momento.
Havia algo excitante sobre esse ato, estar de
joelhos na frente de Ian e chupar seu pau com
barulhos molhados e obscenos. Isso o excitou.
Sentir o pau de Ian endurecer ainda mais em
sua boca também foi incrivelmente gratificante.
Gostou dessa sensação, como se estivesse
fazendo algo certo, acertando.
— Estou indo bem? — Miles disse,
puxando para respirar. Ele continuou
acariciando o pau de Ian, observando-o
fascinado.
— Você está me pedindo para avaliar
suas habilidades de chupar pau? — Ian disse,
uma risada em sua voz, mas havia algo mais lá
também.
Miles ergueu o olhar e sentiu o calor
puxar sua virilha quando viu o olhar atento em
seu rosto. Olhando Ian nos olhos, ele deu à
cabeça do pênis uma lambida como um
gatinho. Os olhos azuis de Ian ficaram um
pouco vítreos, mas continuaram presos nele.
— Não. — Disse Miles, sentindo-se corar
sem nenhuma razão. Ele sempre achou o olhar
pesado e intenso de Ian um pouco avassalador,
e agora era duplamente. Acariciou o pau de
Ian, apenas para fazer algo com as mãos.
Pressionou a língua contra a parte inferior da
cabeça, observando avidamente qualquer sinal
de Ian perdendo a compostura. Foi
recompensado com o olhar de Ian escurecendo
e sua respiração ofegante, mas fora isso, ele
ainda parecia muito composto para o seu
gosto.
— Não me avalie. — Miles murmurou
enquanto esfregava a bochecha no pênis de
Ian. — Eu provavelmente sou péssimo nisso.
Não faço ideia do que estou fazendo. Este é
apenas o segundo pau que já chupei e o
primeiro que eu realmente gostei. Da última
vez, praticamente fechei os olhos e pensei na
Inglaterra.
Ele esperava que Ian se divertisse -
queria que ele se divertisse. Miles não sabia ao
certo por que se sentia assim - por que queria
que Ian pensasse que era engraçado - mas,
para sua decepção, não havia nenhum sinal de
diversão nos olhos de Ian. De qualquer forma,
o olhar de Ian se tornou mais nítido, mais
duro.
Então Miles sentiu uma mão grande
pousar em cima de sua cabeça, os dedos de
Ian roçando contra sua orelha.
Miles se inclinou para o toque, tremendo.
De alguma forma, parecia ainda mais íntimo do
que ter o pênis de Ian na boca. Deus, ele
sentiu… Queria que este homem o quisesse.
Sentiu que faria qualquer coisa por isso.
Qualquer coisa.
— Diga-me o que fazer. — Murmurou
Miles.

*****
Ian olhou para Miles, o sangue correndo
para seu pênis, o tornando mais duro na mão
dele.
Jesus Cristo.
Sem dúvida, esse garoto estava
pressionando todos os botões certos nele. Ou
melhor, todos os errados.
Isso é doente, Ian. Você é um doente. A
lembrança da voz da ex-mulher passou por sua
mente e Ian fez uma careta, afastando-se. A
opinião de Regina não importava. Não
importava na época e com certeza não importa
agora. Ian sabia que suas preferências sexuais
não eram as mais normais ou politicamente
corretas, mas dormiu com mulheres o
suficiente para saber que não era a única
pessoa com esse tipo de fetiche. Algumas de
suas aventuras de uma noite apreciaram muito
o controle que ele tinha na cama, sua
tendência a deixar machucados, sua tendência
a ser muito duro durante o sexo, sua
agressividade e desejo de dominar
completamente sua parceira sexual.
Elas não sabiam a metade.
Elas não sabiam o quanto ele pioraria se
estivesse realmente interessado em mais do
que apenas uma noite.
Sua primeira namorada, Alice, não tinha
se divertido.
— Olha, não leve a mal. Você é…
emocionante na cama, mas eu não sou assim,
ok? Você é muito intenso para mim. Eu quero
alguém mais normal.
Intenso. Essa era a palavra que a maioria
das mulheres usaram ao longo dos anos,
quando seus relacionamentos quebraram e
queimaram.
Uma delas, Barbara, não tinha sido tão
diplomática quanto Alice.
— Você me assusta, Ian. — Ela disse
quando terminou o noivado. — Tipo, traços
diferentes para pessoas diferentes e tudo mais,
mas não é normal querer possuir sua
namorada. Você quer que sua mulher seja sua
posse, corpo, coração e alma. Pode te excitar,
mas me assusta. Este é o século XXI. Não sou
um objeto, e não estou disposta a fazer minha
vida girar em torno dos desejos de um homem,
não importa o quanto o ame. Não sou posse de
ninguém. Sinto que estou sufocando quando
estou com você.
Ian tinha gostado muito de Barbara, e a
separação deles - e suas palavras - deixou uma
impressão duradoura.
Então, quando conheceu Regina, alguns
anos depois, ele tentou se controlar, fingir ser
um homem moderno e normal, com desejos
normais, discretos e politicamente corretos.
Por um tempo, as coisas estavam… ok. Ela
engravidou e eles se casaram. Enquanto Ian
sentia que estava vivendo uma mentira, ele
também não queria perder a esposa, então
cerrou os dentes e continuou fingindo. Até que
ela o traiu, e então o castelo de cartas
desabou.
Acontece que Ian não era o único que
fingia ser alguém que não era. Regina estava
fingindo também - ser uma esposa amorosa e
dedicada. A verdadeira Regina não estava
interessada em ser dona de casa e mãe. A
verdadeira Regina queria se divertir. E para
ela, “diversão” significava festas, homens e
drogas.
— Diga-me o que fazer. — Disse Miles
novamente, trazendo-o de volta ao presente.
Ian apertou a mandíbula, respirando
profundamente para limpar a névoa de
excitação que essas palavras causaram.
— Isso não é sobre mim. — Disse ele em
uma voz cortada. — Faça o que você quiser.
Miles franziu a testa, mas não discutiu.
Ele voltou a dar ao pau de Ian lambidelas
desajeitadas que eram mais curiosas do que
sexuais. Era dolorosamente óbvio o quão
inexperiente ele era. Foi direto ao pênis de Ian,
tornando-o mais duro do que tinha o direito de
ser.
Jesus Cristo.
Em retrospectiva, provavelmente deveria
esperar que a inexperiência de Miles apertasse
seus botões. É claro que ele adoraria que Miles
fosse tão inexperiente. É claro que adoraria
que seu pau fosse o primeiro que Miles
realmente gostou de chupar. É claro que tudo
isso alimentaria o animal primitivo e fodido que
usava a pele de um homem moderno. É claro
que isso o excitaria, independentemente da
distinta falta de seios e vagina de Miles.
E isso era outra coisa: ele não se sentia
nem um pouco repugnado com a ideia de sexo
com um homem como teria ficado se fosse
alguém que não esse ridículo garoto britânico
que dizia coisas ridículas, o desrespeitando a
todo momento e que pareceu um filhote de
cachorro chutado quando Ian indicou que não o
queria.
Isso ainda não explicava como ele acabou
nessa situação: sentado em sua sala de
cinema, sua virilha à mostra e seu pênis para
esse garoto chupar. Para a babá do filho dele
chupar, Jesus Cristo.
Não era como se Ian tivesse pensado em
si mesmo como alguém bom e saudável, mas o
que ele sentiu ao ver a babá de seu filho levar
seu pênis à boca foi…
Maldição.
O calor úmido ao redor de seu pênis
parecia bom, é claro, mas Ian não podia negar
que a estimulação visual e mental ofuscou
muito os esforços amadores de Miles. Ele
gostou de quão ansioso por ele o menino
estava, ansioso e desleixado, com saliva por
toda parte, enquanto movia sua boca para
cima e para baixo no comprimento de Ian,
lábios rosados esticados.
Ian assistiu fascinado a isso, mal se
segurando. Queria enfiar o pau na garganta de
Miles. Queria ver aqueles olhos verdes largos e
maliciosos se encherem de lágrimas, sentir a
garganta de Miles se contrair ao redor de seu
pênis. Queria dar um tapa no rosto de Miles
antes de espalhar o pré-sêmen por todo o
corpo e enfiar o pênis naquela boca. Queria
agarrar o cabelo de Miles e foder o seu rosto
até que o pau de Ian fosse a única coisa que
existia para ele.
Mas ele não podia.
Não iria.
Ele não era tão idiota. Nunca machucou
ninguém sem o consentimento totalmente
verbalizado.
Além disso, isso não era realmente sexo.
O garoto estava apenas curioso. Isso não iria a
lugar nenhum. Ian era hétero - voltaria a ser
hétero assim que isso terminasse. Ele ficou
excitado porque Miles estava apertando seus
botões, não porque passou a gostar de homens
de repente.
Miles soltou seu pau.
— Devo ser realmente terrível nisso. —
Disse ele, apertando os olhos. — Você nem
está sem fôlego.
Ele estava fazendo beicinho? Não tinha o
direito de ser tão malditamente fofo.
Ian bateu no nariz dele com o polegar.
— Você não é completamente terrível.
Sou apenas um homem crescido, não seu
companheiro de idade. É preciso mais para me
excitar do que um boquete muito medíocre.
Miles fez uma careta.
— Retiro minhas palavras. Você ainda é
um idiota, e eu te odeio.
Ian sorriu divertido apesar de si mesmo.
Gostava desse garoto. Um pouco demais, na
verdade, ou não estariam nessa situação. Ele
tinha pouca paciência com pessoas de quem
não gostava.
— Então, o que te excita? — Miles disse,
acariciando o pênis de Ian distraidamente, seu
olhar concentrado em Ian.
— O quê? — Ian disse, pigarreando um
pouco.
— O que te excita? — Miles repetiu,
lambendo seus lábios inchados e bonitos. —
Você acha que pode dizer coisas assim e vou
deixar para lá? Eu sou um Hardaway.
— O que isso quer dizer? — Ian disse,
sua boca se contorcendo enquanto olhava para
a expressão obstinada e determinada no rosto
de Miles.
— Tenho cinco irmãos. — Disse Miles. —
Somos um grupo competitivo. Então me diga.
O que posso fazer para tornar esse boquete
melhor do que medíocre?
Ian o estudou.
Ele sabia que nem deveria considerar.
Uma coisa era agradar o garoto porque ele o
divertia, e outra completamente diferente era
contar a Miles o que realmente o excitava.
— Eu gosto disso. — Disse ele,
observando a expressão de Miles através dos
olhos semicerrados. — Gosto de ser o
agressor. Gosto de fazer doer.
Miles nem piscou.
Ele apenas olhou para Ian por um longo
momento, seu rosto ligeiramente rosado.
O pomo de Adão dele balançou.
— Quanto?
— O quê? — Ian disse.
— Quanto você gosta de machucar?
Ian passou os dedos pelos cabelos de
Miles enquanto contemplava sua resposta.
— Não muito. — Disse finalmente. — Não
sou tão sádico. Dor por causa da dor não é o
ponto. Gosto da dinâmica, da viagem pelo
poder. — E o sentimento de confiança absoluta
e total da minha parceira.
Ian não disse isso, pois era irrelevante
neste caso.
— Ok. — Disse Miles suavemente. —
Vamos fazer isso. Como você me quer?
O pênis de Ian, que havia suavizado
consideravelmente desde que Miles parou de
chupá-lo, foi para o mastro completo
novamente.
Ian pigarreou.
— Apenas relaxe e deixe-me fazer todo o
trabalho.
Miles assentiu e fez o que lhe foi dito,
olhando-o ansioso.
Ian olhou para ele por um momento
antes de se endireitar. Foi-se o seu descanso
relaxado no sofá. Ele se sentou na beira do
sofá, embalou o rosto de Miles com as mãos,
observando um adorável rubor se espalhar pelo
rosto dele antes de levar a boca de Miles ao
seu pênis ereto e alimentá-lo. Ele gemeu
baixinho enquanto o calor cobria seu pênis
dolorido. Ian angulou o rosto do garoto do jeito
que queria, em um ângulo que lhe permitiu
empurrar mais fundo dentro daquele calor
úmido. Ele sentiu Miles sufocar um pouco, sua
garganta tentando se ajustar ao seu
comprimento considerável. Ian sibilou com a
sensação de um aperto incrível em torno de
seu pau, avidamente contemplando a
expressão de olhos arregalados e oprimidos de
Miles. Porra, ele estava lindo com a boca cheia
de seu pau.
Ele se afastou e empurrou de volta. O
puxou para mais perto, exigindo mais. Miles
choramingou, lágrimas brotando em seus olhos
verdes. Mas ele apenas abriu mais a boca, seus
olhos se fecharam quando o pênis de Ian
começou a foder sua boca molhada e
acolhedora.
— Toque no meu joelho se você quiser
que eu pare. — Ian grunhiu, enterrando as
mãos no cabelo de Miles novamente e
puxando-o para o seu pau para encontrar seus
impulsos duros.
Miles não tocou. Permitiu que Ian usasse
sua boca como quisesse, lindamente flexível e
ansioso para agradá-lo. Ian ficou
absolutamente louco. Ele se viu empurrando na
boca de Miles em um ritmo vertiginoso, meio
dobrado em seu esforço para se aprofundar,
foder com mais força. Ele se curvou tanto que
seu peito arqueou sobre a cabeça de Miles,
gemidos baixos saindo de sua boca enquanto a
garganta de Miles continuava apertando em
torno dele.
Porra, isso era tão bom, e os sons
sufocados e gemidos que o garoto estava
fazendo em torno de seu pau apenas o
excitavam ainda mais.
— Bom garoto. — Ian o elogiou,
acariciando as orelhas e as bochechas de Miles
antes de colocar as mãos na garganta de Miles.
Ele apertou um pouco e um gemido saiu da
boca de Miles. Não foi um gemido de angústia.
Intrigado, Ian apertou sua garganta com
mais força, batendo tão fundo por dentro que
ele podia sentir seu próprio pau do lado de fora
- merda, inferno. Os quadris de Ian se moviam
cada vez mais rápido, suas mãos apertando o
pescoço do garoto. Porra…
Ele gozou com um gemido, moendo a
virilha no rosto de Miles e derramando
profundamente na sua garganta. Seu orgasmo
parecia se estender para sempre, seu corpo e
voz fora de controle. Não ajudou que Miles
continuasse chupando, como se esperasse que
ele gozasse pela segunda vez.
Quando Ian conseguiu abrir os olhos,
encontrou Miles entre as pernas, sua bochecha
pressionada contra o pênis sensível demais de
Ian. Miles ainda parecia sobrecarregado, com
os olhos fechados e a respiração instável.
— Fui muito duro? — Ian disse com uma
careta, roçando o polegar contra a sua
bochecha.
Miles abriu os olhos - e Cristo. Pareciam
completamente drogados, vidrados e cheios de
luxúria. Miles realmente adorou o que Ian fez
com ele.
Com seu estômago apertando, Ian
passou os dedos pelos cabelos de Miles,
observando os olhos de Miles clarearem, pouco
a pouco.
— Tudo bem? — Ian disse.
Miles franziu as sobrancelhas, pensativo,
como se estivesse avaliando seu próprio estado
mental, antes que um pequeno sorriso torto
aparecesse em seu rosto. Ele assentiu, seu
olhar baixando antes de voltar para o de Ian.
— Então, isso foi melhor do que
medíocre? — Ele disse. Pelo menos Ian
imaginou que foi o que disse. Sua voz estava
rouca e quase irreconhecível.
Os olhos de Miles se arregalaram. Ele
olhou para Ian e pigarreou algumas vezes.
Ian riu.
— Desculpe. — Disse ele, recostando-se e
fechando o zíper. — Vou dizer a Winifred para
fazer algo para a sua dor de garganta.
— Não se atreva! — Miles sibilou,
corando.
— Não se preocupe, não direi a ela que
você ficou com a garganta machucada
chupando meu pau. Não sou suicida. Ela terá
minhas bolas por isso. Ela tem um verdadeiro
carinho por você.
Miles ficou de pé, se ajustando.
— Vou cuidar disso. — Disse ele, quase
desafiadoramente.
— Você não precisa ir. — Disse Ian,
voltando o olhar para a TV. Ele deu um tapinha
no lugar ao lado dele. — Sente-se e termine.
Isso não parece remotamente confortável.
Ian meio que esperava que Miles saísse
de qualquer maneira, mas ele parecia
realmente determinado a agir como se o que
eles tinham feito fosse perfeitamente normal e
não houvesse nada para se envergonhar. Ian
escondeu seu sorriso quando Miles caiu ao lado
dele e baixou o zíper.
Ian manteve o olhar na TV enquanto
Miles se masturbava ao lado dele.
Ou tentou.
Depois de um tempo, Ian deu um suspiro
e disse:
— Relaxe, Miles.
— Eu não posso. — Disse Miles, sua
frustração clara em sua voz. — Eu quero gozar,
mas também estou… alguma coisa.
— Você está muito excitado. — Disse Ian.
— Você atingiu o platô e não consegue relaxar
o suficiente para gozar.
Miles resmungou afirmativamente.
Ian se perguntou por um momento se ele
realmente deveria fazer isso antes de colocar
um braço na parte de trás do sofá atrás da
cabeça de Miles e olhar para ele.
— Venha aqui.
Miles desviou os olhos antes de lançar a
Ian um olhar que de alguma forma conseguiu
ser tímido e ansioso.
Isso fez coisas estranhas no interior de
Ian.
Ele puxou Miles em sua direção e
organizou-os para que o jovem se
aconchegasse contra ele confortavelmente,
com a cabeça no peito de Ian.
— Vá em frente. — Disse Ian quando
sentiu Miles relaxar nele. — Toque-se. —
Murmurou no ouvido de Miles.
Ele o sentiu tremer. Então Miles deslizou
a mão para baixo e a envolveu em sua ereção.
Ian não olhou. Ele o segurou
frouxamente contra ele quando Miles se tocou.
Estranhamente, não parecia nada
estranho. Distante, Ian estava ciente de quão
inapropriado o que eles estavam fazendo era.
Eles estavam em uma sala de cinema semi-
pública. Apesar da hora tardia, pelo menos
algumas empregadas ainda estavam
trabalhando. Qualquer uma delas pode entrar
na sala e vê-lo segurando a babá masculina de
seu filho nos braços enquanto este se
masturba.
Ian achou difícil se importar. Isso parecia
estranhamente natural: a maneira como esse
garoto ridículo se encaixava em seus braços, a
maneira como ele cheirava, a maneira como
sua respiração ficava presa enquanto se
acariciava.
Quanto mais perto da borda Miles
chegava, mais perto de Ian ele se contorcia até
que sua perna fosse jogada sobre a de Ian e
ele estava ofegando no pescoço dele.
— Mais apertado. — Miles exigiu sem
fôlego, e Ian obedeceu, apertando o braço em
volta dele mais e mais. Ele tinha certeza de
que devia ter doído, mas Miles gemeu e gozou,
estremecendo contra ele.
— Esta é a segunda camisa que você
arruína. — Comentou Ian suavemente quando
a respiração de Miles se igualou.
— Tenho certeza de que você tem mais.
— Miles murmurou, parecendo completamente
irritado. Ele não mostrou nenhuma inclinação
para se afastar, ainda aconchegado a Ian, todo
doce e suave.
Depois de um tempo, ele bocejou, piscou
para Ian antes de se erguer e plantar um beijo
casto e afetuoso na bochecha dele.
— Obrigado.
O interior de Ian parecia decididamente
estranho.
Ele pigarreou um pouco e gentilmente o
tirou do colo.
Miles olhou para ele de uma maneira que só
poderia ser descrita como ansiosa.
Ian queria se sentir desconcertado ou
irritado com isso, mas não conseguiu convocar
nenhum sentimento. Talvez ele ficasse, mais
tarde. Mas naquele momento, tudo o que podia
sentir era contentamento.
— De nada. — Disse ele, não sem
diversão e se levantou. — Estou derrotado.
Coloque o filme em pausa e durma também.
Amanhã terminaremos de assistir.
— Talvez eu queira assistir agora. —
Disse Miles, erguendo o queixo, os olhos cheios
de alegria e desafio. — Talvez eu não esteja
cansado.
— Você está bocejando. Apenas gosta de
me contrariar.
Miles sorriu para ele, segurando seu
olhar.
— Talvez. Mas você ainda é
insuportavelmente autoritário.
Ian levantou uma sobrancelha.
— Já não estabelecemos que seu irmão
fez uma lavagem cerebral em você, para
pensar que é uma boa característica?
Miles riu.
— Lavagem cerebral é a palavra-chave.
Olhando para aquele sorriso caloroso e
aberto, Ian percebeu que não queria realmente
dizer boa noite. Ele franziu a testa.
— Boa noite.
O sorriso de Miles desapareceu, seu rosto
caindo.
Jesus, o garoto nem se deu ao trabalho
de esconder sua decepção. Ele era de verdade?
Ian desviou o olhar e saiu da sala.
O suave “boa noite” de Miles ainda soava
em seus ouvidos quando entrou no quarto,
tentando ignorar a sensação de insatisfação
sob a pele.
Que porra é essa, sério? Sua fixação em
Miles estava começando a mudar para um
território bizarro, até para ele. Já era ruim o
suficiente ele ter passado muito do seu
limitado tempo livre com Miles. Sua falta de
vontade de ficar longe dele, mesmo durante a
noite era… Nem sabia o que diabos era.
Nesse ritmo, em pouco tempo acabaria
colocando Miles em sua cama,
independentemente da paixão óbvia e juvenil
que o garoto tinha por ele, uma paixão que
deveria ter cortado pela raiz quando percebeu
pela primeira vez.
Jesus Cristo.
Talvez ele realmente fosse um idiota.
Capítulo 9

Miles sempre zombou de seus irmãos e


de seus parceiros pela maneira estúpida e
ridícula como se comportavam em torno de
seus interesses amorosos. A zombaria era
bem-humorada e amorosa, é claro, mas não
podia negar que se sentira um pouco superior
ao ver seus irmãos e futuros cunhados se
fazerem de tolos. Isso nunca aconteceria com
ele, Miles pensou com confiança. Mesmo se
não fosse assexual, nunca se comportaria
como um total idiota. Ou assim pensara.
Mas, na manhã seguinte dele ter sugado
Ian, quando Ian entrou na sala de jogos de
Liam para se despedir de seu filho antes do
trabalho, Miles teve o prazer duvidoso de
experimentar o que zombava de seus
irmãos. Se sentiu corar, por nenhuma razão
sangrenta. Não sabia para onde olhar, seu
olhar movia-se irregularmente das mãos de Ian
para sua camisa azul que fazia a cor de seus
olhos destacar.
Afastando o olhar, Miles fixou-os no corte
impecável do terno cinza escuro de Ian,
estudando a maneira como abraçava os
ombros largos e...
Ugh.
Sentindo-se mortificado e totalmente
confuso; que diabos, ele não se comportou
como um idiota na noite passada quando
realmente aconteceu, Miles moveu o olhar para
a coisa mais segura na sala: Liam.
O garoto estava evitando o olhar do pai,
mas pelo menos não estava chorando ou
tentando se contorcer. Isso tinha que ser
encorajador, certo?
Miles franziu o cenho, sentindo-se
totalmente pouco qualificado para este
trabalho mais uma vez. Ele ainda achava que
seria melhor Ian encontrar uma babá que
realmente soubesse alguma coisa sobre
psicologia infantil e cuidados com as crianças
em geral.
Ian roçou os lábios na testa de Liam e
encontrou o olhar de Miles sobre a cabeça do
garoto.
— Bom dia.
Miles apenas assentiu, sua língua estava
grossa e desconfortável em sua boca. Deus, o
que havia de errado com ele? Chupou o pau do
cara. Grande coisa. Por que estava sendo tão
ridículo agora?
— Bom dia. — Ele conseguiu finalmente,
sua voz soando rouca e estranha até para seus
próprios ouvidos.
Cristo, o azul daqueles olhos nem
parecia real.
Percebendo que estavam apenas se
encarando por muito tempo (ou era apenas
ele?), Miles baixou o olhar
apressadamente. Para as mãos fortes e
elegantes de Ian. Mãos que haviam acariciado
seus cabelos e segurado seu pescoço enquanto
o pênis de Ian fodia sua garganta...
Com o rosto muito quente e o jeans
repentinamente apertado, Miles pigarreou e
disse:
— Você provavelmente deveria ir antes
que se atrase, Sr. Caldwell. — Ele quase
escondeu o rosto com as mãos assim que disse
isso. Seu cérebro havia derretido?
As sobrancelhas de Ian se ergueram.
— Sr. Caldwell? Pensei que estávamos
além disso.
Miles fez uma careta, rindo.
— Por favor, ignore o que eu
digo. Aparentemente, você literalmente fodeu
meu cérebro ontem à noite. — Ele fechou a
boca assim que disse isso, mas era tarde
demais. O estrago já estava feito.
Ian olhou para ele. Então colocou Liam no
chão e caminhou na direção onde Miles estava
sentado.
O coração de Miles martelou em algum
lugar em sua garganta quando ele o olhou.
Ian o estudou atentamente.
— Eu fiz? — Ele murmurou, passando os
dedos pelos cabelos de Miles.
Miles estava muito orgulhoso do fato de
ter conseguido não emitir nenhum som
embaraçoso. Nunca pensou que tocar seu
cabelo pudesse fazê-lo se sentir tão bem.
— Você não precisa parecer tão
convencido disso. — Miles disse, incapaz de se
impedir de dar um sorriso a Ian.
Ian não devolveu.
— Ainda tenho vinte minutos até ter que
sair. — Ele disse, os dedos acariciando a nuca
de Miles.
Os olhos de Miles se fecharam quando
percebeu o que Ian quis dizer. Depois abriram.
— Você não pode estar falando sério... —
Ele olhou para Liam e de volta para Ian. —
Sério? Seu filho está logo ali.
Ian não pareceu perturbado. Ele deu de
ombros descuidadamente, olhando para o
relógio.
— Meu filho tem três anos, não um
bebê. Ele pode ficar sozinho por alguns
minutos e estaremos ao alcance da
voz. Vamos. — Pegando o pulso de Miles, o
puxou para fora da sala.
Embora ‘puxar’ provavelmente estivesse
incorreto. Havia alguma pressão em seu pulso,
mas Ian não o estava puxando para fora da
sala, por si só. Miles sabia que poderia se
libertar a qualquer momento, se quisesse.
Se quisesse.
Com o estômago contorcido, Miles olhou
para Liam pela última vez. O garoto já estava
absorvido pelo trem de brinquedo,
enquanto Miles seguia o pai até o banheiro
adjacente, com o coração batendo forte.
— Você está me fazendo sentir uma babá
terrível. — Miles disse enquanto Ian fechava a
porta do banheiro. — Mais terrível do que eu já
pensava.
Com um olhar frio, Ian soltou o cinto e
começou a trabalhar no pênis.
A boca de Miles se encheu de
saliva. Deus, por que isso era tão
quente? Observar um homem bonito e
arrogante, de terno caro, descompactar seu
pênis, não deve ser tão quente.
— Eu serei o juiz disso. — Ian disse. —
Não sou eu quem paga seu salário?
Uma risada borbulhou no peito de Miles.
— Você me paga para ser babá do seu
filho, não para chupar seu pau!
Ian levantou as sobrancelhas, os lábios
tremendo.
— Espero que não. Uma prostituta seria
significativamente mais barata. Fique de
joelhos.
Miles tentou encará-lo, mas
provavelmente não foi muito convincente,
considerando o fato de que seus joelhos já
haviam cedido e sua mão já estava acariciando
o pênis de Ian. Foram necessários apenas
alguns golpes dessa vez antes que Ian
estivesse completamente duro em sua mão.
Miles olhou para a ereção orgulhosa que
se projetava de Ian que ainda estava
completamente vestido, exceto por seu zíper
desfeito e lambeu os lábios.
Porra, ele queria chupar.
— Isso é tão errado. — Ele ainda
tentou. — Liam está apenas a uma parede de
distância. Isso é estranho, Ian.
— Não seja puritano. — Ian disse,
pegando o rosto de Miles e cutucando seu pau
contra a boca. — Ele não pode nos ver. — Ele
olhou para o relógio. — Dezessete minutos
agora.
Miles o olhou, mas levou o pênis em sua
boca. Não podia negar que havia algo excitante
sobre chupar o pau de Ian em plena luz do
dia. Havia muitos funcionários por ali a essa
hora. Alguém deveria chegar com o café da
manhã de Liam em breve. Eles poderiam se
deparar com ele chupando o pau de seu chefe
a qualquer momento.
O pensamento o fez gemer ao redor do
comprimento em sua boca. O chão estava
duro, mas a dor apenas aumentava a
sensação, tornando tudo mais nítido e
íntimo. Quando Ian finalmente agarrou seu
cabelo e começou a foder sua boca com golpes
curtos e rápidos, Miles sentiu a emoção agora
familiar percorrer seu corpo. Ele gostou
disso. Porra, amava tanto isso. Adorava desistir
de todo o controle e sentir que Ian tinha prazer
nele.
No momento em que sentiu Ian gozando
no fundo de sua garganta, sua mandíbula e
garganta doíam e cabeça estava dolorida pelos
puxões nos cabelos, mas ele mal conseguia
pensar devido a excitação.
— Treze minutos. — Ian disse, olhando o
relógio. — Bom garoto.
Tremendo, Miles escondeu o rosto no
abdômen de Ian e rapidamente libertou seu
pênis enquanto os dedos de Ian brincavam
com seus cabelos. Ele gozou com um gemido
agudo, o barulho abafado pela pele quente de
Ian.
Os dedos em seu cabelo ainda o
acariciaram por um tempo antes de Ian se
afastar para arrumar suas roupas.
Miles abriu os olhos e o observou
atordoado, ainda se sentindo fora depois do
orgasmo. Ele queria... Queria as mãos de Ian
de volta nele.
Terminado com suas roupas, Ian o
olhou. Uma expressão estranha cintilou em seu
rosto.
— Vamos lá. — Ele disse bruscamente,
pegando o braço de Miles e puxando-o para
cima. Ele fechou o zíper de Miles.
Miles apenas piscou. Sua mente parecia...
Vazia, mas não de um jeito ruim. Ele se sentiu
suave, solto. Queria enterrar o rosto na curva
do pescoço de Ian. Queria ser abraçado.
Não queria que Ian saísse.
Ele balançou a cabeça, tentando clareá-
la, sem saber por que de repente se sentia tão
carente.
Ian o estudou com uma leve carranca, os
olhos atentos.
Mais tarde, Miles culparia seu cérebro
ainda não funcionando adequadamente após o
orgasmo. Mais tarde, apresentaria dezenas de
razões pelas quais ele fez isso.
Mas naquele momento, realmente não
tinha um motivo. Pareceu natural.
Ele queria isso.
Miles deu meio passo mais perto, puxou a
cabeça de Ian para baixo e o beijou
suavemente nos lábios.
Ian inalou bruscamente, mas não o
afastou com nojo, como Miles meio esperava
que ele fizesse.
Incentivado, Miles deu-lhe outro beijo
suave, apreciando a sensação da barba por
fazer de Ian contra seu queixo
barbeado. Porra, como um beijo tão inocente
pode ser tão bom?
— Mi!
De olhos arregalados, Miles se afastou de
Ian e se virou.
Liam estava espiando dentro do banheiro,
seus olhos azuis arregalados e cautelosos
quando piscaram entre Miles e Ian.
— Mi, mili. — O menino murmurou, com
o polegar na boca.
Miles sentiu um sorriso dividir seu
rosto. Foi a primeira vez que ouviu Liam
falar desde o primeiro encontro. Ele nem tinha
certeza de que Liam sabia como falar. Ouvir o
garoto formar palavras, por mais
gramaticalmente incorretas, era além de
encorajador. Também era muito encorajador
que Liam não parecesse mais confundi-lo com
sua mãe e soubesse seu nome. Pelo menos
Miles supôs que ‘Mi’ significava ‘Miles’.
Ele olhou para Ian, querendo ver a
reação dele, mas a expressão de Ian era
absolutamente inescrutável. Ele nem estava
olhando para o filho. Estava olhando para
Miles.
Miles sentiu seu rosto esquentar.
Hum. Certo. O beijo.
Finalmente, Ian olhou para o relógio e
disse:
— Eu tenho que ir. Já estou atrasado. —
Ele passou por Miles, passando a mão pelos
cabelos escuros de Liam quando passou por
ele.
— Adeus, filho. Você pode ter Miles até
eu voltar.
O menino olhou para as costas de seu pai
antes de correr para o lado de Miles e agarrar
sua mão de uma maneira distintamente
possessiva. Seria ridiculamente adorável se
não fosse um pouco perturbador.
— Seu pai não estava me machucando.
— Miles disse gentilmente, ajoelhando-se para
olhar o garoto nos olhos.
— Somos amigos, e amigos se
tocam. Ok?
Liam o olhou cético e não disse nada.
— Agora sei que você pode falar, então
você vai falar, amiguinho. — Miles disse,
inclinando-se para beijar o nariz do garoto
antes de pensar melhor. Ele acabou de chupar
um pau, o pau do pai do garoto e realmente
deveria lavar a boca primeiro. — No futuro,
quando os adultos estiverem... Conversando
em outra sala, quero que você bata, ok?
Liam puxou a mão dele.
— Bata!
Suspirando e imaginando que era demais
esperar que o garoto entendesse o que estava
dizendo, Miles deixou Liam puxá-lo para fora
do banheiro.
Pelo menos Liam estava falando
novamente.
Essa era a parte mais importante, não o
que havia acontecido antes.
Capítulo 10

Miles passou o dia aturdido, com o


estômago em nós. Ian ficaria
bravo? Irritado? Afinal, era uma coisa deixar
um cara chupar seu pau, e outra quando esse
cara começou a lhe dar beijos não solicitados.
Miles ainda não tinha certeza do que
o tinha possuído para beijar Ian. Ele só
conseguia se lembrar vagamente de como
estava se sentindo naquele momento. Agora,
longe de Ian e seus olhos azuis, parecia
surreal. Ele não podia acreditar que tinha feito
isso.
Então, estava meio que temendo o
retorno de Ian para casa. Seu estômago estava
engraçado, suas mãos estavam úmidas e ele
se encolhia a cada som. Era tão estressante
quanto ridículo. Há pouco tempo, pensara que
poderia ser assexual. Agora estava
completamente destruído por um
homem. Seria hilário se não o estivesse
estressando tanto.
Obviamente, Miles tinha se esforçado
tanto que, quando Ian realmente voltou para
casa, foi quase anticlimático.
Ian tinha os olhos apenas no filho quando
entrou na sala de jogos de Liam. E nem
pareceu notar Miles quando pegou Liam e
perguntou sobre seu dia. Como sempre, Liam
apenas balançou a cabeça com as perguntas de
seu pai, seu olhar abatido. Ele não fez
barulho.
Se o beijo não tivesse acontecido, Miles
definitivamente tentaria fazer o garoto falar
com seu pai, ele tinha falado bastante com
Miles o dia todo, mas, como as coisas estavam,
se sentiu muito constrangido para tentar isso.
Então pegou silenciosamente os
brinquedos de Liam, colocando-os de volta na
enorme caixa no canto da sala.
Ele sentiu mais do que ouviu Ian se
aproximar.
— Como ele estava depois que fui
embora? — Ian disse. — Falou mais?
— Sim, falou. — Miles disse, largando o
carro favorito de Liam no chão e rapidamente o
pegando. Ele colocou na caixa, ciente do
homem atrás dele. Porra, suas mãos estavam
tremendo? — Suas sentenças obviamente não
estão corretas, mas pude entendê-lo, na maior
parte.
Uma mão em seu braço fez Miles ficar
parado.
— Você está evitando olhar para mim. —
Ian disse.
Umedecendo os lábios com a língua, Miles
se virou e encontrou seu olhar com firmeza.
— De modo nenhum.
Ian o olhou, com o canto da boca
tremendo.
— Você está nervoso.
Miles cruzou os braços sobre o peito e o
olhou.
— Porque eu estaria?
Ian sorriu, um sorriso divertido e
arrogante que não tinha o direito de ser tão
atraente.
— Porque você tem uma paixonite por
mim e agora está sendo ridículo por causa
disso.
Miles queria limpar aquele sorriso dos
lábios de Ian com a própria boca.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Estou feliz que você tenha descoberto
e não será estranho se eu não puder me conter
e acidentalmente beijá-lo novamente.
Ian riu, seus olhos brilhando de alegria
e...
Ugh, Miles meio que queria olhar para
eles para sempre.
Porra, Ian estava errado sobre ter uma
paixonite por ele. Isso não parecia uma maldita
paixão. Isso era muito pior.
— Tente se conter. — Ian disse, seus
olhos semicerrados do riso. — Você sabe que
sou hétero.
— Sim, exceto quando coloca seu pau na
minha boca.
A diversão de Ian
desapareceu. Inclinando a cabeça levemente,
estudou Miles com uma expressão que só
poderia ser descrita como intensa. Isso fez a
pele de Miles formigar.
Ele colocou a mão no pescoço de Miles, o
polegar acariciando o pomo de adão.
Miles engoliu, seu pulso disparou. Se
sentiu preso nos olhos de Ian, incapaz de
desviar o olhar.
Uma pequena mão agarrando seu jeans
quebrou o momento. Miles desviou o olhar de
Ian e olhou para o menino franzindo a testa
para eles, parecendo confuso e um pouco
assustado.
Miles rapidamente colocou um sorriso.
— Liam, está tudo bem. Nós
conversamos sobre isso, não foi? Seu pai e eu
somos amigos. Ele não está me machucando.
Os olhos de Liam brilharam entre seu pai
e Miles.
— Miles está certo. — Ian disse, retirando
a mão do pescoço dele. Havia algo perturbado
em seu olhar, mas ele claramente estava
tentando não parecer intimidador.
— Nós somos amigos. Está vendo? — Ele
pegou os dedos de Miles na mão e mostrou as
mãos entrelaçadas para Liam.
Teria sido adorável se o toque não
estivesse fazendo o interior de Miles virar
geleia. Ele olhou para os dedos longos e fortes
de Ian entrelaçados com os mais finos e teve
que sufocar um sorriso estúpido.
Uma paixonite. Certo.
Exasperado consigo mesmo, Miles tentou
sorrir encorajadoramente para Liam, mas
suspeitava que não parecesse convincente,
porque tudo o que queria no momento era
beijar o pai do garoto.
— Certo. — Ele disse, pegando a mão de
Liam com a mão livre. — Por que todos nós
não vamos jantar?
Liam olhou entre eles antes de abaixar a
cabeça e assentir timidamente.
Contando isso como uma vitória, Miles
lançou um olhar para o pai do garoto.
Ian tinha um olhar sombrio no rosto.
— Sim, vamos lá. — Ele disse antes de se
inclinar e murmurar no ouvido de Miles.
— Preciso falar com você mais tarde.
Miles apenas apertou sua mão antes de
permitir que Liam o puxasse para fora da sala.
E se seu ouvido ainda estava formigando
com a respiração de Ian, bem, ninguém tinha
que saber sobre isso.

*****
‘Mais tarde’ acabou por ser três horas
depois, após Liam ter sido colocado na cama.
— Você queria falar comigo? — Miles
disse, fechando a porta do escritório de Ian.
Ian assentiu sem levantar os olhos do
laptop.
— Se Liam fala com você, poderia
perguntar por que ele está com medo de eu
machucá-lo?
Franzindo a testa, Miles se aproximou e
apoiou o quadril contra a mesa perto da
cadeira de Ian.
— Pensei que tinha dito que ele estava
com medo de você porque você e a mãe dele
brigavam o tempo todo?
Ian levantou o olhar do laptop e o
encarou com um olhar sombrio.
— Sim, brigamos muito...
Verbalmente. Nunca a machuquei
fisicamente. Mas hoje tive a impressão de que
ele estava com medo de que eu te machucasse
fisicamente. E quero saber o porquê.
Miles mordeu o lábio.
— Você acha que ele viu alguém
machucar a mãe?
Um sulco profundo apareceu entre as
sobrancelhas de Ian.
— Talvez. Ela o teve por meses antes que
eu recebesse a custódia. É possível que ele
tenha visto alguém que parecia comigo bater
nela. O tipo de companhia que ela mantinha
não era exatamente respeitável.
Miles cantarolou pensativo. Isso fazia
sentido. Isso explicaria por que Liam
desconfiava tanto do pai.
— Tudo bem. — Ele disse suavemente,
estendendo a mão para suavizar as rugas entre
as sobrancelhas de Ian com o polegar.
— Não franza a testa, você terá rugas
permanentes.
Ian levantou as sobrancelhas, sua
expressão sombria substituída por uma de
diversão. Afrouxou a gravata, observando Miles
preguiçosamente, como um gato grande e
perigoso pensando se estava com vontade de
comer um lanche ou não.
— Você deveria ser menos óbvio. — Ian
disse, pegando os dedos de Miles e estudando-
os. — Minha governanta me falou que eu não
deveria “encorajar cruelmente a paixão do
pobre menino”. Foi muito intimidador.
Miles riu, tentando agir como se seu rosto
não estivesse queimando.
— O que posso dizer? Sou muito
adorável.
Ian bufou, acariciando os nós dos dedos.
— Você é, ou teria sido demitido semanas
atrás.
Miles sorriu para ele, com o olhar
fixo. Cristo, havia algo em olhar nos olhos
azuis de Ian que tornavam suas interações
intoxicantes, seu coração batendo forte, seus
dedos tremendo e seu corpo tenso. Nunca se
sentiu tão bem com outra pessoa, confortável
com ela a tal ponto que tudo que queria era
estar mais perto. Queria fundir seus espaços
pessoais até que tivesse apenas um para os
dois. Queria que seu espaço pessoal fosse
de Ian.
Foda-se, seus próprios pensamentos e
desejos surpreendiam Miles. Parecia que
estava bêbado, suas inibições inexistentes, não
importava o que seu cérebro tentasse
dizer. Parecia que ele poderia dizer qualquer
coisa para Ian, poderia perguntar qualquer
coisa.
Foi assim que Miles se viu dizendo:
— Quero sentar no seu colo.
Ian apenas o encarou por um momento
antes de bater levemente em seu próprio
joelho.
Miles nunca se moveu tão rápido. Ele se
arrastou para o colo de Ian, enterrou o rosto
na garganta e se agarrou a ele como um
macaco.
— Eu me sinto tão estranho, Ian. — Ele
murmurou, suas mãos percorrendo os ombros
largos de Ian e os braços fortes sob a camisa
azul clara. — Não tenho certeza do que diabos
há de errado comigo. Nunca me senti assim.
Ian riu, não de maneira cruel.
— Isso se chama atração. — Ele disse,
passando os dedos pelos cabelos de Miles.
— Não sou idiota, sei disso. — Miles
disse, fechando os olhos enquanto acariciava a
garganta de Ian. Como esse homem cheirava
tão bem? — Mas eu sinto, me sinto tão fora de
controle, como se eu faria o que você quiser,
contanto que continue me tocando.
Ian fez um som estranho, algo entre um
gemido e uma risada.
Miles mordiscou seu pescoço, tentando ir
mais perto dele, dolorosamente consciente de
seu pênis meio duro cutucando Ian no
estômago.
— Isso é estranho para você?
— Menos do que provavelmente deveria.
— Ian disse, passando a mão pelas costas de
Miles através da camiseta fina que ele estava
vestindo. Seus dedos fortes pareciam mágicos
contra a espinha de Miles.
Tremendo, Miles se contorceu
novamente, dividido entre querer estar mais
perto daquela mão e querer estar mais perto
do peito de Ian. “Ian”, ele sussurrou,
frustrado.
E porque Ian era aparentemente um
leitor de mentes, tirou a camiseta de Miles e
depois desabotoou sua própria camisa,
deixando-a abrir, revelando seu peito largo e
musculoso que afunilava até uma cintura
estreita e abdominais duros. Ele era
lindamente construído, todo homem.
Miles imediatamente se aproximou, quase
gemendo com o contato de seus peitos nus,
pela sensação dos pelos esparsos de Ian contra
sua pele. Porra, isso era tão bom, mas não era
o suficiente. Ele se sentia sensível demais, sua
pele pegando fogo onde quer que estivessem
tocando, mas de alguma forma ainda não era
suficiente.
Miles só estava ciente de que estava
emitindo sons desavergonhados e carentes,
enquanto se contorcia nos braços de Ian,
buscando fricção e pele, querendo mais. Ian
era tão quente e firme, e ele cheirava incrível...
Deus... Miles se sentiu tão excitado que não
conseguia mais diferenciar a direita da
esquerda, sua mente estava enevoada de
desejo cru. Ele queria... queria...
— Shhh. — Ian disse, acariciando suas
costas para cima e para baixo. — O que você
quer?
— Você. — Miles murmurou contra a
garganta de Ian, inalando seu cheiro como um
viciado e incapaz de obter o suficiente. —
Qualquer coisa que você quiser.
Ele sentiu os músculos de Ian
enrijecerem. Ele embalou o rosto de Miles e o
levantou, forçando-o a olhá-lo nos olhos.
— Escute. — Ian disse, seus olhos azuis
atentos e sérios. — “Qualquer coisa que você
quiser” é uma resposta ruim. Confie em mim
nisso.
— Por quê? — Miles disse, esfregando a
bochecha na mão de Ian.
O olhar que Ian lhe deu era uma mistura
de irritado, exasperado e algo mais.
— Porque eu não sou um homem muito
bom. Posso me deixar levar. Realmente me
empolgo.
— Não importa. — Miles murmurou,
beijando os dedos de Ian com os lábios
trêmulos. Era difícil manter os olhos abertos. —
Eu me sinto tão bem com você. Confio em
você. Sei que vai me fazer sentir bem, não
importa o que faça.
As narinas de Ian se alargaram.
— Oh, porra. É como se você fosse criado
para apertar todos os botões errados em mim.
— Sua mão agarrou o queixo de Miles com
força, seu olhar pesado e emocionantemente
intenso. — Isso não é seguro, Miles. Você
precisará de uma palavra segura. Escolha
uma.
Miles disse a primeira palavra que lhe
veio à cabeça:
— Livro.
Ian deu um aceno cortante.
— Bom o bastante. Se você quiser que eu
pare, é só falar. Se quer que eu pare, mas não
pode falar por algum motivo, é só tocar seu
nariz.
Miles lambeu os lábios.
— Mas e se não puder fazer isso? — E se
eu estiver amarrado e amordaçado?
Um músculo flexionou na mandíbula de
Ian.
— Vamos discutir isso de antemão se
uma situação dessas ocorrer.
Miles torceu o nariz.
— Acho que discutir as coisas primeiro
tira toda a diversão delas. Confio em você para
não me machucar. Não deveria ser suficiente?
A expressão de Ian estava quase
dolorida.
— Não. — Ele disse firmemente. — Não
estou brincando quando digo que você aperta
todos os meus botões. — Esses olhos pareciam
queimar Miles. — Pense assim: quero te foder
tanto que nem me importo mais com o seu
sexo. Portanto, não sou exatamente o mais
racional em torno de você.
Miles acariciou a nuca de Ian, os
músculos tensos de seus ombros e braços.
— Eu não quero que você seja racional.
— Ele disse. Ian estava tão tenso contra ele,
seus músculos rígidos. Essa imensa tensão
antinatural não poderia ser saudável. Miles
disse suavemente: — Deixe ir. Prometo que
usarei a palavra segura se for demais. Faça o
que você quiser. Eu quero você.
Ian estremeceu, seu corpo se tornando
ainda mais tenso contra ele, seu olhar
escurecendo.
Miles molhou os lábios, sentindo como se
estivesse pressionado contra um animal
selvagem retido apenas pelas rédeas de seu
autocontrole.
Os olhos de Ian seguiram o movimento
de sua língua.
— Beije-me? — Miles sussurrou trêmulo.
Ian se inclinou e fez exatamente isso.
Não havia fogos de artifício atrás das
pálpebras de Miles; os fogos de artifício
pareciam iluminar seu corpo inteiro. Miles
estremeceu, choramingando ao sentir a boca
de Ian contra a dele. Podia sentir o corpo de
Ian endurecer por sua reação por um
momento, e então Ian estalou.
Gemendo, agarrou o rosto de Miles e
explorou sua boca, os dentes e língua, seu
grande corpo subindo contra Miles e
aglomerando-o contra a mesa enquanto Ian lhe
dava um beijo faminto e imundo que tomou,
tomou e tomou. Era esmagador. Aterrorizante
e terrivelmente bom. Miles se perdeu, seu
mundo se estreitando na boca quente e
exigente e aquelas mãos grandes segurando
seu rosto em um aperto punitivo. Ele nem
tinha certeza de que estava beijando de
volta; tudo o que podia fazer era sentir e
gostar de ser o foco do desejo de Ian. Gemidos
fracos e trêmulos deixaram sua boca enquanto
o beijo continuava e continuava.
Deus.
Ian o empurrou sobre a mesa e para
baixo com seu corpo, os pênis presos entre
eles. Algo caiu no chão, mas nenhum deles
prestou atenção. Estremecendo, Miles abriu os
zíperes e passou as pernas em volta da cintura
de Ian enquanto Ian batia seu pênis contra o
de Miles. Porra, a maneira como o corpo de Ian
sentia em cima dele... Era incrivelmente bom:
o peso dele, a pressão. Deveria fazê-lo se
sentir preso, mas tudo que Miles podia pensar
era ‘tão bom’ e ‘mais’.
Encontraram um ritmo sujo e irregular,
ainda beijando bagunçado, saliva por toda
parte. O sexo seco não tinha o direito de se tão
gostoso, tão satisfatório e terrivelmente bom,
mas era. Ao contrário dos boquetes, não era
unilateral, ambos queriam isso, ambos
precisavam disso, suas necessidades pareciam
uma, ambos buscando o
orgasmo. Juntos. Queria Ian mais perto,
precisava dele. Deus, por favor... Oh, oh, oh.
Quando as mãos de Ian envolveram sua
garganta, Miles mal conseguia pensar, sua
mente era uma névoa de prazer e desejo, seu
corpo era sensível e carente. Quando as mãos
de Ian apertaram seu pescoço, Miles gemeu ao
redor da língua de Ian, chupando-a
avidamente. A pressão ao redor de sua
garganta ficou mais forte, deixando a cabeça
de Miles alegremente vazia. Ele só podia gemer
fracamente, moendo seu pau contra o
estômago duro de Ian. Não havia ar nos
pulmões, ele não conseguia respirar, mas era
tão bom, Deus, só um pouco mais...
Ele gozou, soluçando e se agarrando ao
homem em cima dele com toda sua força, sua
mente vazia e seu corpo finalmente
encontrando alívio. Ian empurrou-se contra
ele, estremeceu e ficou imóvel.
Miles percebeu que ainda estava
ofegando quando Ian levantou a cabeça e o
olhou.
— Você está bem? — Ele disse,
acariciando a garganta dolorida de Miles, antes
de encará-lo nos olhos.
Miles apenas assentiu fracamente,
sentindo como se estivesse se afogando
naqueles olhos. Verdade seja dita, ele se sentiu
estranho. Se sentiu incrivelmente bem, mas,
ao mesmo tempo, sentiu que estava prestes a
chorar por nenhuma razão.
Foi por isso que, quando Ian começou a
se endireitar, Miles se viu passando os braços
em volta do seu pescoço e se agarrando.
— Não vá. — Ele murmurou, sentindo-se
mortificado por sua própria necessidade, mas
incapaz de fazer qualquer coisa sobre isso. Ele
não queria ficar longe de Ian. Mesmo alguns
centímetros pareciam muito longe.
Ian ficou parado por um momento antes
de puxá-lo em seus braços e se endireitar com
Miles ainda agarrado a ele.
— Eu não vou a lugar nenhum. — Ele
prometeu, sua voz baixa e suave. Uma pitada
de humor apareceu em seu tom. — Mas não
podemos ficar na minha mesa a noite
toda. Não tenho vinte anos. Minhas costas me
matariam amanhã.
Miles assentiu, e ele sentiu Ian carregá-lo
para... algum lugar. Miles realmente não se
importava. Enterrando o rosto na dobra do
ombro e pescoço de Ian, Miles fechou os olhos
e se viu se adormecendo. Ele estava com
Ian. Estava seguro.
Ian cuidaria de tudo.

Capítulo 11

O sol da manhã filtrando pelas


venezianas cortou um caminho listrado pela
cama e destacou o vermelho nos cabelos de
Miles, fazendo o contraste com sua pele pálida
impressionante - e as contusões na forma dos
dedos de Ian em seu pescoço ainda mais
escuras.
Ian não conseguia desviar o olhar delas,
enquanto Miles dormia pacificamente
aconchegado contra ele.
Embora “aconchegado” provavelmente
fosse uma palavra muito suave. Seus membros
estavam tão entrelaçados que Ian estava
começando a se perguntar se seria capaz de se
levantar sem acordar Miles. Era incrível como
conseguiram terminar assim quando deitou
Miles no lado oposto de sua cama muito grande
na noite passada - mas também não
surpreendente.
No passado, Ian havia sido acusado
inúmeras vezes de ser “sufocante” durante o
sono. Regina odiava esse hábito, alegando que
era desconfortável para ela e que não
conseguia respirar com ele metade em cima
dela. Essa foi uma das muitas razões pelas
quais começaram a dormir em camas
separadas apenas algumas semanas após o
começo da vida de casados.
Mas Miles definitivamente não parecia
desconfortável. Ele tinha se agarrado a Ian
durante o sono, irradiando satisfação e paz,
como se não houvesse um lugar que ele
preferisse estar do que nos braços de Ian.
Talvez fosse por isso que dividir a cama
com outro homem não fosse tão estranho
quanto se poderia esperar. Provavelmente
também ajudou o fato de Ian não pensar em
Miles como outro homem. Obviamente,
também não pensava nele como mulher. Miles
era apenas... Miles, toda uma categoria
separada de ser humano, que por acaso tinha
um pau.
Ian nunca realmente acreditou na noção
de que alguém poderia ser atraído por uma
pessoa sem se importar com o sexo, mas Miles
realmente era primeiro uma pessoa para ele
antes de ser seu gênero. Um ridiculamente
agradável e iluminado garoto que o atraiu e
olhou para Ian como se ele pendurasse a lua e
as estrelas.
Ian fez uma careta. A paixão crescente
de Miles deveria tê-lo incomodado. Em vez
disso, ele... Porra, gostou. Provavelmente era
fodido o quanto gostava. Se fosse um homem
melhor, a paixão óbvia de Miles e a crescente
confiança o teriam preocupado, em vez de
alimentar sua fixação pelo cara.
Porque Barbara estava absolutamente
correta: Ian era um bastardo ganancioso.
Sempre quis que sua parceira fosse dele,
corpo, coração e alma - mesmo que ele próprio
nunca retribuísse o tipo de compromisso que
desejava de suas mulheres. Era egoísta,
ganancioso e antiquado, como havia sido
informado várias vezes por suas namoradas.
Tentou mudar por Regina, mas depois que
terminou, não tentaria de novo. Ele era do jeito
que era, falho e problemático, mas para o
inferno com isso. Não iria fingir mais ser algo
que não era. Ele era um idiota e se conformou
com isso.
Porque estava ferrado. Havia mulheres
mais do que dispostas a dar a ele o que queria,
mulheres completamente dedicadas a ele e a
seu relacionamento, mas todas as vezes isso
ainda não era suficiente. Ian ainda se sentia
insatisfeito, a fome sem fim no fundo de sua
alma ainda estava lá, inquieta e gananciosa.
Nunca poderia ser saciada. Nada era suficiente,
todas as suas tentativas de um relacionamento
não o satisfaziam.
Quase fez Ian se perguntar se tinha
alguma verdade naquele velho conto de
família.
A maldição dos Caldwell, como as
pessoas chamavam em sussurros.
Ian costumava rir dessa história,
chamando-a de conto de fadas para crianças,
mas com todo relacionamento fracassado e o
sempre presente e crescente sentimento de
insatisfação dentro dele, não podia deixar de
pensar nisso e se perguntar.
Foi sua tia que lhe contou essa velha
história.
— Seu tataravô, Jonathan Caldwell, foi um
dos juízes durante a caça às bruxas de 1692.
— Disse tia Mary. — Julgamentos de bruxas de
Salem. — Esclareceu quando encontrou seu
olhar confuso. — Ele pessoalmente condenou
mais de uma dúzia de bruxas à execução.
Ian zombou.
— Bruxas não são reais, tia.
Tia Mary cantarolou.
— Talvez sejam, talvez não. Quem sabe?
Pessoalmente, acho que não existem bruxas de
verdade hoje em dia, mas naquela época as
pessoas estavam muito melhor conectadas à
terra e à antiga religião.
Ian olhou para ela com ceticismo, mas
optou por não discutir.
— E o que aconteceu?
Tia Mary franziu a testa.
— Entre as pessoas que Jonathan
condenou à morte, havia um jovem bonito.
Quando ele foi executado, sua esposa entrou
em histeria e amaldiçoou publicamente
Jonathan e sua linhagem. Ela foi presa, mas
depois foi encontrada morta em sua cela antes
de sua própria audiência. Não havia motivo
aparente para a morte dela. Sua colega de cela
disse que a bruxa estava murmurando algo
sobre uma maldição antes de sua morte.
Como a maioria dos meninos, Ian era
fascinado por um mistério.
— Realmente? Então, com o que
exatamente ela amaldiçoou Jonathan?
Tia Mary apertou os lábios.
— Acredito que tenha sido algo assim:
“Pela maldade que fez, amaldiçoo você e sua
linhagem ao inferno eterno e à miséria. Que
você nunca encontre a paz até que seus entes
queridos sofram a perda como eu sofri agora”.
— Sua tia estremeceu, como se estivesse com
frio, e se abraçou. — É apenas uma história,
Ian. — Disse ela com um sorriso fraco, mas
mesmo na época, quando garoto de seis anos,
Ian havia notado que ela não parecia tão certa
disso.
A família Caldwell não era exatamente
conhecida por sua alegria ou casamento feliz.
O divórcio era comum para os Caldwell, mesmo
quando não eram tão populares. Os pais de Ian
mal conversavam um com o outro.
Seus avós tinham sido perfeitamente
educados um com o outro - e isso era a melhor
coisa que se podia dizer sobre o casamento
deles. Tia Mary nunca se casou. E depois havia,
naturalmente, seu próprio casamento com
Regina.
Os lábios de Ian se afinaram com o
pensamento. Ele afastou-o, não querendo
estragar o raro momento de paz e satisfação.
Cristo, nem sabia que era possível sentir-se
assim. O animal inquieto sob sua pele estava
curiosamente calmo por enquanto, satisfeito
pelo que parecia a primeira vez em... nunca.
Ian passou os dedos pelos cabelos de
Miles, a sensação de satisfação se acentuando
quando Miles se inclinou para o toque com
confiança, pressionando mais perto dele
enquanto dormia.
Um pensamento surgiu na vanguarda da
mente de Ian, que o fez ficar imóvel.
Ele não se importava se Miles era um
homem, uma mulher ou alguém sem sexo. Ian
o queria para si mesmo. Queria mantê-lo.
Queria tê-lo por perto, sempre.
Franzindo a testa, Ian examinou
cuidadosamente esse pensamento - esse
sentimento.
Geralmente não era de negar a si mesmo
o que queria, mas isso era... Muito egoísta,
mesmo para ele. Mesmo se pudesse ficar com
Miles, o que Miles seria? Babá de Liam? Não
poderia ser uma solução a longo prazo.
Não era um trabalho que satisfizesse um
administrador a longo prazo. Sem mencionar
que havia algo de desagradável em arrastar a
babá de seu filho para a cama. Seus
funcionários acabariam percebendo. Seu filho
notaria.
Ian olhou para o jovem seminu dormindo
em seus braços.
Poderia mantê-lo como amante. Não
seria mais honesto? Não é isso que realmente
quer? Quer que o garoto espere por você em
sua cama todas as noites, nu, quente e apenas
seu.
O estômago de Ian apertou com o
pensamento, seu pênis se contorcendo em sua
cueca.
Droga.
Ian soltou um suspiro entre os dentes,
pensando com carinho em um momento em
que achou a mera ideia de sexo com outro
homem revoltante. Para ser justo, ainda não
conseguia se imaginar fazendo sexo com
qualquer homem, exceto o que ele atualmente
segurava em seus braços. Miles era Miles. Ele
não contava. Ian queria possuí-lo, colocar-se
dentro dele, não importa qual buraco tivesse
que usar para isso; uma boca, uma vagina ou
um ânus - não importava. Queria transar com
ele. Tomá-lo. Revestir seu interior com o seu
gozo e torná-lo tão cheio disso que vazasse
pelas coxas. Queria deixar marcas por toda a
pele lisa, hematomas brilhantes e vermelhos
no formato dos dedos e da boca. Queria
amarrá-lo. Queria pressionar o antebraço
contra o pescoço de Miles enquanto o fodia no
colchão. Sabia que Miles o olharia confiante
com seus adoráveis olhos verdes, enquanto Ian
o sufocava.
Ian inalou trêmulo, tentando afastar sua
excitação. Por isso, também não podia manter
Miles por perto como amante. Miles já confiava
demais nele. Miles já estava meio apaixonado.
Ian não podia permitir que essa paixão se
tornasse algo mais sério. Não queria destruir o
espírito do garoto.
Porque acabaria fazendo isso. Ele sempre
o fazia. Seus relacionamentos sempre caíam e
queimavam por um motivo.
— Você é uma mistura doentia de
emocionalmente indisponível e sufocante. —
Regina havia dito uma vez. — Quer me
controlar e me possuir, mas ao mesmo tempo
seu desejo é muito superficial e egoísta.
Realmente não se importa com ninguém além
de si mesmo.
Por todos os defeitos de Regina, Ian sabia
que ela não estava completamente errada
sobre isso. Ele queria demais, mas ao mesmo
tempo não podia se comprometer. Não foi por
falta de tentativa. Na verdade, fez um grande
esforço com a esposa, - ambos fizeram, no
começo - mas tudo terminou da mesma
maneira. Ian sabia que não era inocente por
ela o trair. Sua distância emocional e seu jeito
de controlar definitivamente tiveram um papel
importante no casamento deles. Não que isso a
desculpasse completamente. Ela era tão puta
quanto ele era um idiota. Nesse sentido, eram
bem harmonizados.
Era por isso que tinha que acabar com
isso antes que a coisa entre ele e Miles se
transformasse em algo venenoso. Miles
merecia mais. Ele estava voltando para casa
em um mês, de qualquer maneira.
O que quer que fosse, não tinha futuro.
Miles era muito inexperiente em
relacionamentos. Era muito gentil e bom para
alguém como Ian. Eles juntos era uma péssima
ideia, por muitas razões.
Então, por que a sensação dele em seus
braços era tão bom?
— Você realmente terá rugas se continuar
franzindo a testa assim. — Disse uma voz
sonolenta.
O olhar de Ian se voltou para o rosto de
Miles.
Olhos verdes olhavam suavemente para
ele quando o dono se aconchegou ainda mais
perto, sua perna apertando os quadris de Ian,
que sibilou, seu pau pressionando contra o
estômago nu de Miles através do tecido fino de
sua boxer.
— Bom dia. — Disse Miles, se
contorcendo. — Olá! — Ele murmurou com um
sorriso largo.
Ian deveria ter dito: Não podemos mais
fazer isso.
— Você dormiu bem? — Ele perguntou.
Miles assentiu, piscando sonolento.
— Sim. Obrigado por me deixar dormir
com você. — Ele fez uma cara engraçada,
corando um pouco. — Eu me senti tão
pegajoso ontem, que provavelmente teria
chorado se acordasse sozinho esta manhã.
Cristo, sua absoluta falta de timidez não
deveria ter sido tão cativante.
Quando você terminar com ele, essa
franqueza desaparecerá, substituída por
alguém amargo, cínico e com o coração
partido.
— O que há com esse rosto? — Miles
disse, seu sorriso desaparecendo.
Ian olhou para ele atentamente.
Todos os traços de diversão
desapareceram do rosto de Miles agora. Miles
molhou os lábios, observando-o quando Ian se
apoiou em um cotovelo e se inclinou para ele.
Ian podia provar o desejo de Miles de ser
beijado.
Ian não o beijou. Beijá-lo só pioraria
tudo.
Mas ainda não resistiu em colocar a mão
sobre o pescoço pálido de Miles, sobre uma das
contusões na base da garganta.
— Não deveríamos ter feito isso
— Por quê? — Miles murmurou, seus
dedos enterrados nos cabelos de Ian enquanto
encarava descaradamente a boca de Ian. —
Você está tendo um surto gay?
Pare de me olhar assim, Cristo.
Ian lambeu os próprios lábios, olhando
entre as pupilas dilatadas de Miles e os lábios
rosados separados. O ar entre eles estava
denso, com tensão e desejo terríveis, como se
não tivessem compartilhado vários beijos e
orgasmos. Era tão desconcertante quanto
enlouquecedor. Quanto mais tempo passava
com esse garoto britânico, mais queria
consumi-lo e marcá-lo, em vez de perder o
interesse nele.
— Não. — Ian disse bruscamente e rolou
da cama antes que pudesse fazer algo que se
arrependeria. Ele não olhou para Miles
enquanto passava pela rotina matinal e
começava a se vestir. Ele podia sentir o olhar
de Miles nele, mas não o olhou. Finalmente,
Miles se levantou e entrou no banheiro.
Ian expirou.
Ele podia ouvir a água correndo. Podia
ouvir Miles escovando os dentes.
Então silêncio.
Ian nunca tinha estado tão ciente de
outra pessoa quando ela nem estava na
mesma sala.
Estava amarrando a gravata quando Miles
voltou para o quarto. Ele marchou com
determinação em direção a Ian.
— Olha, não há necessidade de que isso
seja tão estranho. — Disse Miles, parando na
frente dele. Ele estava sorrindo torto. —
Desculpe, não quis ser agressivo. Se não
quiser fazer isso de novo, está tudo bem.
Realmente. Você não precisa se explicar.
Olhando para aquele sorriso forçado, mas
corajoso, Ian cerrou os dentes.
Afaste-se, Caldwell. A porta está a três
passos de distância.
A três passos de distância, mas podia
estar do outro lado do planeta.
— Maldito seja. — Ian puxou o garoto
para perto e bateu suas bocas juntas. Foi
aterrorizante e emocionante a rapidez com que
Miles respondeu, quase escalando-o e
beijando-o, sua boca flexível e carente.
Ian arrancou-se daquela boca ansiosa
com muito mais esforço do que gostaria.
— Eu tenho que ir. — Ele mal reconheceu
sua própria voz, tão baixa e rouca estava.
Miles assentiu atordoado, ainda olhando
para ele com tanto desejo e necessidade, que
Ian teve que beijá-lo novamente. E de novo, e
de novo, e de novo.
Quando se afastou, estava tão duro que
doía andar.
Mas andou.
Parou na porta e colocou a mão na
maçaneta.
Ele olhou para trás.
Miles estava onde Ian o havia deixado,
lábios levemente inchados e vermelhos,
bochechas coradas e olhos vidrados de desejo.
Ian queria engoli-lo inteiro.
Já estava dando um passo atrás em
direção a Miles quando o toque do telefone o
trouxe de volta aos seus sentidos.
Ian se afastou, amaldiçoando entre os
dentes.

Capítulo 12

Miles nunca se sentiu assim.


Ele não tinha mais ideia do que estava
acontecendo entre ele e Ian, mas se sentiu...
se sentiu rodopiante, sorrindo para o espaço,
deixando cair as coisas e apenas sendo
geralmente estúpido. Racionalmente, ele sabia
que não tinha nada para se sentir assim. O que
quer que fosse, era muito frágil e incerto.
Absolutamente louco. Ian deixou claro que
achava que havia sido um erro e,
racionalmente, Miles sabia que havia inúmeras
razões pelas quais essa era uma ideia terrível.
Mas ele ainda não conseguia banir a
sensação vertiginosa e quente sempre que
pensava nos braços de Ian ao redor dele, seus
olhos azuis, sua boca, seu perfume. Foda-se, o
cheiro dele. Miles nunca tinha notado como as
pessoas cheiravam, mas o perfume masculino
e terroso de Ian o fez querer enterrar o nariz
na garganta, axila, virilha e respirar.
Parte dele não podia acreditar em seus
próprios pensamentos. Ele sempre zombava de
seus irmãos e cunhados pela maneira
apaixonada de se comportarem em relação aos
outros, e agora estava agindo muito pior do
que eles, sobre um homem que não era dele e
nunca seria. Sobre um homem que era de um
mundo diferente.
Ian era um empresário de sucesso,
bilionário, CEO de várias empresas, um adulto
onze anos mais velho. Ian era um homem
hétero, herdeiro de uma família antiga e
poderosa e um dos solteiros mais cobiçado do
país. Sem dúvida ele tinha centenas de
mulheres fazendo fila para ser a próxima Sra.
Caldwell.
Miles era apenas um estudante britânico
confuso que nem sabia ao certo qual era sua
sexualidade. Nesse ponto, ele esperava que
fosse gay ou bi, e não demissexual 2, porque
isso significaria que ele já estava muito
2
Demissexual é uma pessoa cuja atração sexual surge somente quando existe envolvimento e/ou laço emocional,
afetivo, e/ou intelectual com a outra pessoa, não sendo a estética o único fator determinante para o surgimento da
atração sexual.
envolvido se apenas pensar em Ian o
despertasse agora. Não era encorajador que
houvesse um elemento de total confiança e
segurança que o atraísse para Ian.
Porra, ele precisava se controlar. Isso era
inútil. Sem sentido. Isso não era algum tipo de
história gay da Cinderela. Isso não estava indo
a lugar algum. Ian Caldwell era seu chefe. Ele
contratou Miles para cuidar de seu filho
pequeno, não para ficar com ele durante o
horário de trabalho.
Cuidar dessa criança não foi fácil naquela
manhã. Liam estava incomumente mal-
humorado, jogando birras sem motivo e sem
ouvir uma palavra que Miles dizia. Ele ainda
falava, mas era muito menos falador do que no
dia anterior, principalmente usando respostas
monossilábicas sempre que Miles tentava
envolver o garoto na conversa.
Felizmente, Liam estava de muito melhor
humor depois da soneca da tarde. O
monstrinho da manhã se foi, substituído pelo
garoto quieto e afetuoso que Miles passara a
adorar. Ele nunca entenderia crianças, concluiu
Miles, balançando a cabeça em confusão, mas
imensamente aliviado.
Encorajado pelo bom humor de Liam, ele
finalmente decidiu abordar o assunto sobre o
qual Ian havia conversado com ele na noite
anterior... antes que eles se distraíssem.
Miles pigarreou e focou o olhar em Liam.
— Seu pai te ama muito. — Ele começou
em sua voz mais calma. — Você ama seu pai
também, certo?
Os lábios do menino apertaram, seus
olhos azuis ainda nas peças de LEGO em suas
mãos. Ele não disse nada e continuou
construindo uma casa, mas Miles teve a
impressão de que estava ouvindo.
— Seu pai é um bom homem.
— Ruim. — Murmurou Liam, balançando
a cabeça pequena.
Miles franziu o cenho.
— Você está errado, Liam. Seu pai não é
ruim.
— Mau. — Disse Liam teimosamente.
— Por que você acha que ele é ruim? Não
é verdade, garoto. Ele te ama muito.
As sobrancelhas de Liam franziram. Ele
balançou a cabeça novamente, seus olhos
azuis se enchendo de lágrimas.
— Pai mal! Machuca mamãe. Mamãe
chora!
O estômago de Miles caiu. Então Ian
estava certo, afinal: as memórias do garoto
estavam todas confusas e ele realmente
confundiu seu pai com alguém que machucou
sua mãe.
Ou talvez Ian tenha mentido, disse uma
voz no fundo de sua mente. Com suas
inclinações sexuais, não seria crível que ele
atingisse uma mulher que o traiu?
Miles descartou o pensamento assim que
apareceu. Ian não era do tipo que abusava
fisicamente de uma mulher.
Sim, e você não é tendencioso. Você está
tão mal que vai acreditar no que ele diz.
Miles sentiu-se corar. Seu julgamento
provavelmente foi comprometido; não havia
como negar. Mas ele ainda estava
absolutamente certo de que Ian não era capaz
de abuso físico. Gostar de sexo violento e
excêntrico era uma coisa; abusar de um
parceiro era completamente diferente.
— Não era seu pai. — Disse Miles,
pegando a mão de Liam e olhando-o nos olhos.
— Seu pai nunca machucou sua mãe.
Liam balançou a cabeça teimosamente e
se virou, de volta para sua casa de LEGO.
Miles olhou para a nuca escura, sentindo-
se mais inútil do que nunca. Porra, ele era
especialista em negócios, não assistente social.
Não sabia nada sobre psicologia infantil. Nesse
ponto, Miles tinha certeza de que ele não ser
qualificado para esse trabalho era realmente
prejudicial para o correto desenvolvimento e
saúde mental de Liam. Ele precisava de alguém
que o ajudasse a superar isso, um profissional
qualificado que saberia o que dizer, saberia
como resolver o problema, não alguém que
não tivesse ideia do que estava fazendo.
Ele teria que sair.
Seu estômago apertou com o
pensamento, mas sabia que era a coisa certa a
fazer. Ele se importava tanto com esse
garotinho, mas se importar não era suficiente.
Liam não era uma criança normal. Era uma
criança que passou por várias experiências
traumáticas, uma criança sem mãe, que estava
irracionalmente com medo de seu próprio pai.
A verdade era que Miles não tinha ideia de
como ajudá-lo. Esses eram os anos de
formação de Liam. Ele não podia se arriscar a
prejudicar o desenvolvimento do garoto só
porque não queria ir embora, apenas porque
ficou muito apegado.
A quem? Uma voz disse maliciosamente
no fundo de sua mente. Ao garoto ou ao pai
dele?
Miles afastou o pensamento. No final, isso
não importava, não é? Ainda não podia ficar.
Ele deve sair por vários motivos. Deveria sair
antes que pudesse machucar Liam com sua
incompetência. Deveria sair antes que Liam se
apegasse demais - em um mês, seria muito
mais difícil para o garoto quando Miles
desaparecesse de repente de sua vida.
Ele deveria sair.
Quando ouviu o som do carro entrando
na garagem, Miles estava convencido de que
era a atitude correta. Ele ia dizer a Ian que
estava desistindo no momento em que o visse.
Não querendo ter essa conversa na frente
de Liam, Miles saiu da sala e foi em direção à
porta da frente.
Mas Ian já estava subindo as escadas.
Miles estava no topo da grande escada,
assistindo Ian subir sem pressa, seus olhos
penetrantes fixados em Miles quando Ian
afrouxou a gravata.
O coração de Miles bateu em seu peito
tão rápido que ele se sentiu quase tonto.
Estava com calor por toda parte, como se
estivesse com febre baixa.
— Boa noite. — Ian disse calmamente,
sua voz profunda provocando um arrepio na
espinha de Miles.
Miles tentou se lembrar do que queria
conversar com Ian.
Certo. Ele queria sair.
— Eu... — Disse, olhando para Ian com
os olhos arregalados. Ele umedeceu os lábios.
A expressão de Ian ficou um pouco tensa.
Ele puxou o colarinho da camisa.
— Pare de me olhar assim, pelo amor de
Deus.
— Assim como?
— Como se você quisesse sentar no meu
pau. — Ian disse laconicamente, enfiando as
mãos nos bolsos da calça escura. Isso esticou o
tecido, atraindo o olhar de Miles para a
protuberância lá.
Uma risada saiu da boca de Miles.
— Arrogância deve ser o seu nome do
meio.
A mandíbula de Ian apertou.
— Não é arrogância. É autopreservação.
Minha governanta está ao virar da esquina, sua
pequena ameaça.
Miles desceu um degrau, para ficar cara a
cara.
— Você está dizendo que me deixaria
fazer isso se Winifred não estivesse lá? — Ele
pretendia que soasse como uma piada, mas
saiu sem fôlego, sua voz rouca e cheia de
saudade.
O que você está fazendo, seu idiota? O
que aconteceu com a sua decisão de sair?
— Pare de flertar comigo. — Disse Ian,
seu olhar pesado enquanto se movia entre os
olhos e a boca de Miles.
Miles mordeu o lábio por um momento.
— Ou o quê?
Ian olhou para ele.
— Ou você receberá o que está pedindo.
Miles engoliu, todo o sangue em seu
corpo correndo para o sul.
Deus, apenas imaginar isso o tornava tão
duro. Ele nunca teve nada dentro dele além de
seus próprios dedos, e isso foi há séculos. Ele
gostou, mesmo que antes não pudesse
imaginar deixar alguém enfiar o pau lá, mas
agora, imaginava Ian o enchendo e se
movendo dentro dele, levando-o, machucando-
o por dentro... Porra.
Parecia que tudo o que estava pensando
estava escrito em seu rosto, porque a
expressão de Ian ficou mais tensa.
— Pare com isso.
— Eu não estou fazendo nada.
— Você está pensando em sexo.
— E você não está?
Ian olhou para ele antes de olhar em
volta. As pontas de suas orelhas estavam
vermelhas, sua mandíbula apertada.
— Sim. — Disse ele, olhando Miles nos
olhos. Seu olhar era abrasador em sua
intensidade, mas seu tom era quase de
conversação. — É por isso que você deve parar
de me olhar como se estivesse engasgando por
isso. Sou apenas um homem, e não um bom.
Miles molhou os lábios, o coração
batendo forte no peito. Quando Ian estava
perto, tinha problemas para lembrar por que
não era uma boa ideia. Ele respirou fundo,
tentando encontrar alguma aparência de
autocontrole. Se não o fizesse, poderia cair de
joelhos e chupar o pau de Ian ali mesmo, nas
grandes escadas da mansão da família
Caldwell.
— Estou indo embora, Ian. — Ele
conseguiu falar.
O rosto de Ian ficou imóvel, os olhos fixos
nele.
— O quê?
— Estou saindo. — Repetiu Miles. —
Conversei com Liam, e parece que você estava
certo sobre alguém abusando da mãe na frente
dele e suas memórias estarem todas
misturadas. Mas não consegui fazê-lo mudar
de ideia. Eu não podia, não posso fazer nada
para ajudá-lo. — Ele olhou para Ian,
suplicante. — Está me comendo vivo que não
posso ajudá-lo. Eu odeio isso, odeio me sentir
inútil e ignorante. Ele precisa de um psicólogo
infantil, não de um sujeito que não sabe o que
está fazendo.
— O que ele precisa é se sentir amado e
cuidado. — Disse Ian, uma expressão estranha
no rosto enquanto olhava para Miles. — E sei
que você se importa com ele, ou não teríamos
essa conversa.
Miles balançou a cabeça.
— Esse não é o problema. Eu adoro o
garoto, mas não basta, Ian. Só porque me
importo com Liam, isso não me torna capaz de
dar o que ele precisa. Não funciona assim!
Agora que ele está realmente falando, um
psicólogo pode ajudá-lo.
Ian ainda tinha uma expressão muito
estranha no rosto.
— Bem. Se você está tão preocupado,
vou encontrar uma babá profissional
especializada em psicologia infantil. Mas você
não vai a lugar nenhum.
Miles piscou para ele em confusão.
— O quê?
Os dedos de Ian envolveram seu pulso.
— Você não vai a lugar nenhum. — Ele
repetiu, apertando ainda mais, com o olhar
sombrio.
A boca de Miles estava seca.
— Você disse esta manhã que foi um erro
e não devemos fazê-lo novamente.
— Eu sei o que disse. — Ian se inclinou e
mordeu o lóbulo da orelha de Miles.
Um gemido saiu da sua boca, seus olhos
se fecharam quando a língua de Ian roçou a
concha sensível de sua orelha, enviando ondas
de choque pela espinha.
Deus. Qualquer um poderia se deparar
com eles. Miles deveria detê-lo.
Ele não conseguiu se mexer.
— Então o que você quer dizer? — Ele
conseguiu falar, com todo o corpo tremendo.
As mãos de Ian apertaram seus quadris e
os puxaram contra os seus, ereção contra
ereção.
— Porque eu não conseguia me
concentrar em nada hoje. — Ele grunhiu,
chupando seu lóbulo da orelha. — Tudo o que
queria era chegar em casa, te encontrar nu na
minha cama e te foder no colchão.
Um gemido saiu da boca de Miles.
— É obviamente inaceitável. — Disse Ian,
sua voz tensa e irritada, enquanto ele
praticamente fazia amor com o ouvido de
Miles. — Preciso te foder. Tirar isso do meu
sistema.
As palavras fizeram algo no peito de Miles
apertar em decepção, mas seu corpo estava
completamente a bordo. O cérebro dele
também. Ian estava certo: eles não seriam
capazes de se afastar até que finalmente
cortassem essa atração insana entre eles.
— Ok. — Disse Miles, forçando-se a
recuar. — Mas agora não. Eu preciso voltar
para Liam. E você o conseguirá uma boa babá.
— Ele lambeu os lábios, encontrando o olhar
pesado e faminto de Ian. — Quanto tempo isso
vai levar?
Ian deu de ombros preguiçosamente,
sem desviar o olhar dele.
— Eu já tenho algumas candidatas, mas
terei que entrevistá-las. Então, provavelmente
uma hora ou duas.
Miles franziu o cenho.
— Uma hora ou duas? Já é noite.
Nenhum profissional que se preze concordaria
em se mudar dentro de uma hora.
Os lábios de Ian se curvaram. Ele apenas
levantou as sobrancelhas, dando-lhe um olhar
arrogante e seguro de si que não tinha o
direito de ser tão malditamente atraente.
Miles revirou os olhos com um sorriso.
— Certo. Como eu poderia esquecer?
Obviamente, regras normais não se aplicam a
você.
Ian não sorriu. Ele olhou atentamente a
boca sorridente de Miles antes de repente
puxá-lo para perto e beijá-lo com força.
Miles gemeu, seu mundo se estreitando
imediatamente ao sentir a boca quente e
faminta de Ian contra a sua, a língua de Ian
profundamente dentro dele, o raspar da barba
de Ian, seu perfume, deus... Miles estava
tremendo por todo o corpo quando beijou de
volta, seus braços girando ao redor do pescoço
de Ian, os dedos enterrados em seus cabelos
grossos. Cristo, ele o queria. O queria, queria,
queria.
— O que…
Miles não pôde conter um gemido de
protesto quando Ian quebrou o beijo. Demorou
um pouco para a mente de Miles lembrar que
ouviu a voz de alguém. Alguém deve tê-los
visto.
Bem, isso era potencialmente um pouco
embaraçoso, mas Miles realmente não se
importava com um estranho os vendo. Ele
queria a boca de Ian de volta. Ele procurou a
boca de Ian cegamente, sua mão segurando
sua camisa.
Mas Ian se virou.
Desapontado, Miles forçou os olhos a
abrir.
Ele congelou, encontrando os olhos
negros de Derek Rutledge por cima do ombro
de Ian.
O silêncio foi ensurdecedor.
— Rutledge. — Ian disse friamente,
finalmente quebrando o silêncio. — A que devo
o prazer? — Ele parecia absolutamente calmo,
como se seu parceiro de negócios não o tivesse
flagrado beijando o babá de seu filho.
Miles não conseguia ver o rosto de Ian,
mas ele podia ver o de Derek, e estava
absolutamente vazio, seus olhos escuros
piscando entre Ian e Miles atrás dele.
Miles sentiu suas bochechas
esquentarem.
— Oi. — Cumprimentou, sua voz um
pouco estrangulada.
Derek acenou para Ian antes de olhar
para Miles.
— Shawn disse que você não estava
atendendo o telefone. Desde que eu estava na
área, ele me pediu para passar e dizer que
você está convidado para jantar na próxima
sexta-feira. Alexander e seu noivo estão
finalmente voltando do Brasil, e eles quero te
conhecer. Eles estarão lá também.
— Hum, obrigado. — Miles conseguiu,
pela primeira vez em sua vida, entender a
expressão 'querendo que o chão se abrisse sob
ele'. Nunca se sentiu tão culpado, desajeitado e
envergonhado em sua vida.
Derek olhou para Ian.
— Obviamente você também está
convidado, Ian. — Disse ele, e sua voz não
poderia parecer menos convidativa. — Mas é
um encontro casual e pequeno com alguns de
nossos amigos, por isso tenho certeza de que
não será interessante para você.
— Pelo contrário. — Disse Ian. —
Obrigado pelo convite. Acho que estou livre na
próxima sexta-feira.
Derek olhou para ele por um momento
antes de assentir.
— É bom ouvir isso. Estaremos
esperando vocês dois para o jantar, então.
Sete horas.
Miles forçou um sorriso constrangido e
assentiu.
Com um último olhar agudo para eles,
Derek Rutledge saiu.
— Eu não sabia que você era tão amigo
dos Rutledges. — Disse Ian, sem se virar.
O gelo em sua voz fez Miles olhar para
ele.
— Por que aceitou o convite se não gosta
dele?
— Bem, ele é meu parceiro de negócios.
— Disse Ian.
Miles franziu o cenho. Isso não foi uma
resposta. Era óbvio que Derek havia convidado
Ian por polidez e realmente não esperava que
Ian aceitasse o convite. Ian dificilmente
poderia ter perdido isso.
Ian finalmente se virou e o estudou.
— Por que, você não quer que eu vá? —
Seu rosto não revelou nada.
Miles balançou a cabeça, mordendo o
lábio.
— Não é isso. Para ser sincero, vou me
sentir melhor com você lá.
Eu sempre me sinto melhor com você do
que sem você. Embora não tenha dito em voz
alta, devia estar escrito em todo o seu rosto,
porque o gelo nos olhos de Ian derreteu,
substituído por algo primitivo e faminto, algo
que deixou os joelhos de Miles um pouco
fracos.
Ian deu um passo mais perto, suas
intenções claras.
Lambendo os lábios, Miles deu um passo
para trás, colocando a mão no peito de Ian.
— Tenho que voltar para Liam, e você
tem que encontrar uma boa babá para ele,
lembra?
Ian parou, mas seus músculos estavam
rígidos contra a mão de Miles.
— Irei ao seu quarto hoje à noite. —
Disse ele, olhando-o nos olhos.
Miles teve que desacelerar
conscientemente sua respiração. Enfiou os
dedos trêmulos nos bolsos e deu um aceno
brusco antes de se afastar o mais rápido que
seus joelhos fracos permitiam.
Ele fechou a porta do quarto de Liam e se
inclinou contra ela, observando sem ver Liam
brincar com suas figuras de ação.
Tudo ficaria bem.
Tudo ficaria bem.
Eles fariam sexo e finalmente tirariam
essa obsessão mútua de seus sistemas. E
então Miles seria capaz de sair. Ir para casa. E
esquecer esse verão louco.
Apenas uma noite e depois terminaria.

Capítulo 13

Miles olhou para si mesmo no espelho,


observando seu rosto corado, pupilas dilatadas,
lábios levemente vermelhos e inchados de todo
o seu mastigar de ansiedade.
Olhou para a camiseta e a calça de
moletom, imaginando se deveria tirá-las.
Geralmente dormia nu, mas e se Ian pensasse
que era…
Deus, ele estava sendo ridículo. Miles se
perguntou se era assim que uma noiva se
sentia em sua noite de núpcias séculos atrás,
esperando o marido chegar ao quarto e
consumar o relacionamento deles.
O pensamento assustou uma risada dele,
o que de alguma forma ajudou a quebrar a
tensão sob sua pele.
Era só sexo, pelo amor de Deus. Não que
houvesse algo ‘imparcial’ e sem esforço sobre
sexo para Miles, mas com Ian, o sexo parecia
tão natural quanto respirar. Parecia algo de
que ele precisava, em vez de algo que tinha
que fazer. Além disso, Ian sabia o quão
inexperiente ele era. Não havia necessidade de
impressioná-lo.
Se o sexo fosse terrível, tanto melhor: ele
finalmente seria curado de sua ligação com
Ian. Na última vez em que se sentiu tão
carente depois de compartilharem orgasmos,
ficou meio assustado que seria muito pior se
tivessem sexo real e ele realmente gostasse.
Oh, foda-se. É o suficiente.
Miles tirou a camisa, a calça e a cueca.
Nu, passou a mão pelos cabelos e deu a si
mesmo um olhar avaliador. Ele era um cara
bonito, objetivamente. Era um Hardaway. Pode
não ser bonito como Ryan, mas sua mãe não
produziu um único filho sem graça.
Além disso, Ian o queria.
O pensamento enviou uma emoção
através de seu corpo, seu pênis se contraindo.
Miles acariciou preguiçosamente até a dureza
total, observando-se no espelho.
Sua respiração parou quando imaginou os
olhos de Ian nele, observando-o se masturbar.
Sua mão livre viajou para o mamilo,
beliscando-o. Um pequeno gemido saiu de sua
boca, seus olhos se fechando enquanto se
lembrava de como era a língua de Ian em seus
mamilos, molhada e divina.
Porra, nesse ritmo, ele não duraria um
minuto quando Ian o tocasse. Talvez devesse
adiantar as coisas.
Miles subiu em sua cama e se esticou de
costas, suspirando de prazer quando lençóis
frios tocaram sua pele superaquecida.
Estendendo a mão para a mesa de cabeceira,
pegou a garrafa de lubrificante e rapidamente
lambuzou os dedos.
Abrindo as pernas, circulou os dedos
escorregadios sobre o ânus, massageando-o,
deixando as pontas dos dedos pegarem na
borda. Parecia admitidamente estranho,
vagamente bom e presumidamente errado,
mas o simples pensamento de que ele estava
se preparando para o pênis de Ian o excitou
mais do que o próprio ato.
Miles obviamente sabia o que esperar.
Como alguns de seus irmãos mantinham
relações sexuais entre pessoas do mesmo
sexo, ele ouviu falar tanto sobre sexo gay que
se sentia bem informado sobre o assunto,
apesar de sua inexperiência.
Ele sabia que seus irmãos mais velhos
eram os melhores; era difícil perder isso com
todas as insinuações que trocavam com seus
parceiros. Mas, pessoalmente, mesmo quando
Miles se perguntava se poderia ser gay, o
pensamento de ser o ativo não o excitou. Ele
sempre ficara mais intrigado com a ideia de
estar recebendo um pau. Havia algo na ideia
de ser tomado, interpretando o papel
submisso, um papel que era considerado
antinatural e tabu para um homem… algo
sobre isso sempre atraiu Miles - teoricamente.
No entanto, seu desastre na vida sexual
rapidamente esmagou essa curiosidade.
Até agora.
Até Ian.
Miles ofegou, empurrando os dedos e
afastando ainda mais as pernas enquanto
imaginava um corpo pesado em cima dele,
esmagando-o no colchão, olhos azuis
queimando-o enquanto um pênis longo e duro
o perfurava…
Oh, Deus.
Ele acrescentou um terceiro dedo e
empurrou-os com força dentro dele,
deleitando-se com o alargamento e a
queimadura enquanto fazia movimentos de
tesoura. Doeu um pouco, mas não se
importou. Ian gostava quando doía. Talvez Ian
o machucasse no começo.
O pensamento o fez estremecer.
Miles não tinha certeza de que gostaria
do BDSM hardcore, mas a ideia de ser
machucado, empurrado e tratado como se
fosse apenas um objeto para Ian… isso fez
suas bolas doerem, seu ânus apertando seus
dedos.
Miles se ouviu gemer e parou, ofegando,
três dedos enterrados profundamente dentro
dele.
Ele pretendia se preparar para que não
perdessem tempo quando Ian chegasse.
Provavelmente deveria parar. Seria humilhante
se Ian o visse se fodendo com os dedos como
se ele fosse algum tipo de vadia que mal podia
esperar para ser fodida - o que não parecia
muito longe da verdade no momento. Ele amou
isso. Só podia imaginar o quão melhor iria
sentir com o pau de Ian.
Porra, Miles não podia acreditar que este
era ele. Foi de quase não ter nenhum desejo
sexual para ser algum tipo ninfomaníaco.
O pensamento o fez sorrir divertido
enquanto continuava se fodendo com os dedos.
Miles olhou para suas coxas esparsas, sua mão
movendo-se entre as pernas, seu pênis duro
quase tocando sua barriga achatada e trêmula.
Parecia uma vadia.
Nesse momento, a porta se abriu e Ian
entrou no quarto.
Ele ficou na porta, apenas olhando.
Miles sentiu seu rosto esquentar, mas
não removeu os dedos, seu olhar travou com o
de Ian quando este lentamente fechou a porta
e se inclinou contra ela. Olhos azuis
emoldurados por cílios escuros o encaravam
com fome, pupilas dilatadas e expressão
sombria. Esse olhar parecia um toque físico,
fazendo os mamilos de Miles doerem e seu
ânus apertar seus dedos. Deus, por que Ian já
não estava nu e em cima dele?
Parecia que o tempo se arrastava quando
Ian começou a desabotoar sua camisa,
revelando seu peito largo e musculoso e
abdominais fortes, seu olhar pesado ainda em
Miles.
Miles o observou, paralisado, sua
excitação aumentando quando Ian abriu o zíper
e deixou a calça cair. Sua cueca boxer preta
seguiu o exemplo, deixando-o gloriosamente
nu.
Lambendo os lábios secos, Miles puxou os
dedos e levantou o olhar da ereção de Ian para
o rosto. Havia algo sombrio e predatório
naqueles olhos. Miles parecia um sacrifício
virgem feito para um animal selvagem.
Isso provavelmente não deveria excitá-lo
tanto.
— Foda-me. — Ele sussurrou.
*****
Foda-me.
Ian nunca pensou que as palavras
pudessem ter tanto poder.
Mas assim que Miles as disse, olhando-o
com aquele olhar irritantemente carente que
apertou todos os botões, parecia que seu corpo
não era mais seu. Sangue bombeava em seu
pênis e bolas, exigindo o orgasmo.
Seus dedos estavam repugnantemente
trêmulos de impaciência quando pegou uma
camisinha e deslizou em seu pau dolorido. O
tempo todo ele não conseguia desviar o olhar
do garoto: de sua pele dourada levemente
bronzeada, membros compridos e tonificados,
olhos verdes vidrados e boca ofegante. Nunca
pensou que outros homens eram bonitos, mas
essa palavra se encaixava melhor em Miles.
Lindo. Ele era bonito, desde o topo de seus
cabelos bagunçados castanho-dourados até os
dedos dos pés perfeitos. Até seu pênis ereto
não estragou a imagem. Para a surpresa de
Ian, ver o pau de outro homem não era um
problema. Era realmente excitante ver a
evidência de quanto Miles o queria.
Como se estivesse lendo seus
pensamentos, Miles abriu mais as pernas, seu
ânus escorregadio brilhando.
Porra.
Ian costumava pensar que sexo gay não
fazia sentido. Embora não se considerasse um
homofóbico furioso, foi criado tradicionalmente.
Sua educação de lado, ele simplesmente não
podia imaginar querer foder a bunda de outro
homem. As mulheres eram mais macias, mais
bonitas. Querer foder um homem sempre lhe
parecera estranho.
Mas naquele momento, enquanto olhava
para o ânus brilhante de Miles, esticado e liso
apenas para ele… sentiu como se tivesse
tomado um poderoso afrodisíaco, seu pau tão
duro que estava começando a ser doloroso. A
excitação abafava todo pensamento complexo,
deixando apenas o desejo básico de foder,
tomar, ter.
— Foda-me. — Miles repetiu instável,
seus belos lábios tremendo. Encontrou o olhar
de Ian. — Por favor. Não quero preliminares.
Ian rolou em cima dele e envolveu as
pernas de Miles em volta da cintura. Ele
também não queria preliminares. Tiveram
semanas de preliminares. Tudo o que queria
era finalmente foder esse ser humano ridículo
e confuso, tirá-lo de seu sistema de uma vez
por todas.
Apoiando-se em um cotovelo, Ian se
enfileirou e empurrou dentro de Miles com um
impulso duro, apertando sua mandíbula
enquanto as paredes apertadas envolviam seu
pênis. Miles fez um pequeno som, seus olhos
rolando para a parte de trás da cabeça.
Ian se afundou e ficou imóvel, a mão
direita segurando o quadril de Miles, os dentes
cerrados enquanto lutava pelo controle. Mas o
controle permaneceu ilusório, o desejo insano
de tomar impossível resistir. Ele deu um
pequeno impulso superficial.
Um gemido saiu da boca de Miles, um
som alto e sem vergonha. Miles estava olhando
para ele atordoado, o rosto corado e os olhos
completamente vidrados de excitação.
Jesus Cristo.
Ian estalou, batendo com força nele.
Miles gritou, seus dedos cavando a bunda
de Ian, como se tentasse puxá-lo mais fundo
dentro dele.
Ian não conseguiu mais se conter. Ele
não foi gentil. Seu pênis entrou e saiu de Miles
em um ritmo duro que traiu o quão longe ele
estava. Parte dele, uma parte distante e
civilizada, não acreditava no seu próprio
comportamento. Estava sendo um pouco
melhor que um animal, fodendo Miles como se
ele fosse apenas uma bunda disposta para
foder. Ou melhor, a bunda que Ian queria
transar há séculos. Estava fodendo Miles de
uma maneira que apenas um homem dirigido
por sua frustração sexual transaria.
Mas Miles, bendito seja, parecia
perfeitamente feliz com isso. Estava gemendo,
pequenos gemidos ofegantes e ‘ah, ah’
enchiam o quarto enquanto Miles se agarrava a
ele, se fodendo no pênis de Ian tão áspero e
desesperadamente quanto Ian se sentia. Ian
quase podia provar a sensação de finalmente
no ar, no ritmo primitivo e faminto que seus
corpos haviam encontrado, no puro prazer e
necessidade escritos em todo o rosto de Miles.
Em questão de minutos, Miles estava em
ruínas, se contorcendo e arranhando seus
ombros como um demônio faminto por sexo,
seus gemidos e grunhidos crescendo em
volume.
— Mais, mais, ah, por favor, ah! Aí! Isso
é tão bom.
Ian concordou, atingindo o mesmo local
novamente, e novamente, e novamente. Sua
mão subiu no peito de Miles e apertou seu
mamilo com força.
Miles arqueou, gritando. Ian beliscou
novamente, e depois o outro, com mais força.
Miles choramingou, empurrando no pênis
de Ian.
— Oh, Deus, tão bom. Amo isso, não
pare. Preciso de você, preciso tanto de você.
Droga. Era como se esse garoto tivesse
sido criado para ser a personificação de tudo
que o deixava louco. Ele era perfeito. Era
incrivelmente irritante.
— Beije-me. — Ian ordenou, dirigindo seu
pênis em Miles uma e outra vez.
Os olhos vidrados de Miles não pareciam
capazes de se concentrar. Pegou Ian
cegamente, inclinando-se desajeitadamente
para beijá-lo. Embora o beijo não tenha sido
muito hábil, foi incrivelmente ansioso. Ian
nunca pensou que a inexperiência pudesse ser
tão excitante, mas era. O simples pensamento
de que ele foi o primeiro de Miles o deixou
louco. Foi o primeiro homem de Miles, o
primeiro pau que ele tomou.
E o último, uma voz sussurrou
violentamente no fundo de sua mente, uma
voz que Ian estava tentando ignorar, mas que
estava se tornando cada vez mais alta a cada
minuto. Sua mão encontrou o caminho para a
garganta de Miles. Olhando Miles nos olhos,
apertou e bateu com força dentro dele.
Miles fez um som sufocado, seu olhar se
tornando fora de foco novamente.
Observando-o atentamente, Ian
aumentou a pressão em sua garganta
enquanto seus quadris bombeavam para frente
em um ritmo implacável, batendo Miles no
colchão. Miles estava choramingando agora,
com o rosto vermelho e os olhos molhados, sua
ereção vazando contra o estômago de Ian, que
não conseguia desviar o olhar. Deus, ele era
tão malditamente bonito. Parecia bem debaixo
dele, como se tivesse nascido para tomar o pau
de Ian.
— Diga que você é meu. — Ian se ouviu
dizer.
Miles gemeu e assentiu fracamente, seus
olhos vidrados de prazer.
Ian apertou os dedos ao redor da
garganta dele.
— Diga.
— Eu sou... — Resmungou Miles,
parecendo completamente perdido. — ...seu.
Ian rosnou e empurrou com mais força,
dando estocadas curtas e duras contra a
próstata de Miles, suor escorrendo por sua
testa enquanto tentava impedir seu orgasmo.
Droga…
Ele gozou com um gemido, mordendo a
orelha de Miles e apertando sua garganta.
— Goze para mim. — Disse ele,
envolvendo a outra mão em torno da ereção de
Miles. — Goze para mim, querido.
Miles estremeceu embaixo dele, suas
paredes apertando ao redor do pênis amolecido
de Ian, e então ele estava gozando também,
molhado e pegajoso no estômago de Ian, um
gemido agudo saindo de sua boca.
— Ian. — Ele sussurrou.
Cristo.
Ian tentou pensar, mas ele não era capaz
de fazer muita coisa além de ofegar, sua
mente ainda enevoada de prazer.
Sob ele, Miles estava fazendo o mesmo,
respirando gananciosamente agora que Ian
havia afrouxado o aperto na garganta.
Finalmente, Ian levantou a cabeça para
olhar para ele.
Porra, inferno.
Miles parecia absolutamente fodido, seus
olhos vidrados, cabelos úmidos de suor, lábios
vermelhos. Embora ainda irradiasse
contentamento, agora estava mostrando sinais
de angústia, seus olhos se enchendo de
lágrimas e mãos segurando os ombros de Ian.
Franzindo a testa, Ian rolou para o lado e
rapidamente o abraçou.
— Shh. — Murmurou, acariciando as
costas de Miles suavemente. — Estou aqui. Vou
cuidar de você.
Miles se agarrou a ele. Ainda parecia
parcialmente fora, mas estava caindo rápido.
Ian acariciou seus cabelos, suas costas,
murmurando palavras doces. Fez isso sem
pensar; veio naturalmente, um instinto de
proteger e cuidar.
Ele nunca teve ninguém entrando no
subespaço3 por tão pouco. Alguns subs não
entravam no subespaço. Mas ele
provavelmente não deveria ter se surpreendido
com o fato de Miles conseguir: ele era
maravilhosamente confiante e receptivo.

3
Termo geralmente usado para descrever à condição de transe experimentado por pessoas em posição submissa
durante sua interação com a pessoa na posição de Dominador quando estão envolvidos em uma cena.
E, diabos, Miles não foi o único que se
empolgou durante uma bonita cena baunilha. O
orgasmo de Ian foi muito mais satisfatório do
que deveria ter. Normalmente precisava de
muito mais para atingir um orgasmo em
qualquer lugar remotamente próximo da
intensidade deste. Era… desconcertante.
Franzindo a testa, Ian beijou o topo da
cabeça de Miles distraidamente, colocando a
cabeça do jovem sob o queixo. Miles fez um
som satisfeito, seus tremores diminuindo e sua
respiração voltando ao normal. Ele ainda
estava agarrado a Ian como um coala bebê,
mas fora isso, parecia ter se acalmado.
— Miles? — Ian disse calmamente,
passando os dedos pelos cabelos de Miles. —
Você está bem?
Ele sentiu mais do que ouviu Miles
assentir antes que o garoto levantasse a
cabeça e sorrisse para ele deslumbrantemente.
— Sim. — Disse ele, embora seus olhos
ainda estivessem suspeitosamente brilhantes.
— Perfeito.
Ian olhou para aquele sorriso - para
aquele rosto adorável e corado - e pensou:
sim, você está. Seus dedos formigavam de
desejo pelo caderno de desenho. Queria
capturar aquele sorriso de gratificação e o
olhar satisfeito no rosto de Miles.
Miles riu.
— Pare de me olhar assim.
— Assim como? — Ian disse, apertando o
braço em volta dele.
— Como se você não tivesse acabado de
foder meu cérebro. — Disse Miles antes de se
inclinar para beijá-lo suavemente. — Amei isso.
— Sussurrou contra a boca de Ian. — Estou tão
feliz que foi você.
Ian o beijou com força, seu sangue
fervendo com um sentimento estranho e
primitivo que não tinha nada a ver com luxúria.
Era desejo, mas não era o tipo de desejo que
tornava seu pênis duro. Era o tipo de desejo
que parecia mais profundo, mais necessário.
Ele queria esse garoto, esse jovem que se
arrastara sob sua pele como um delicioso vício
no curto espaço de tempo em que se
conheceram. Queria tê-lo, possuí-lo em todos
os níveis, para possuir outra pessoa sem se
perder também. Ou talvez esse fosse o
problema - ele queria se perder nesse ser
humano doce e incrível que de alguma forma
conseguia saciar a fome insaciável e profunda
da alma que Ian sempre carregava dentro dele.
Quando ele finalmente permitiu que Miles
quebrasse o beijo, as pupilas de Miles estavam
dilatadas novamente. Ele estava piscando
atordoado, como se tivesse acordado de um
sonho, antes de suspirar e colocar a cabeça no
peito de Ian.
— Não deu certo. — Afirmou.
— O quê? — Ian disse, sua mão voltando
ao cabelo de Miles. Ele não conseguia explicar
nem para si mesmo por que não conseguia
parar de tocá-lo.
— O sexo. Não deu certo. Você tem
certeza de que toda essa coisa de 'foder
alguém fora do seu sistema' funciona? — Miles
olhou para ele, franzindo o nariz engraçado. —
Para ser honesto, sempre pensei que era um
exagero, apenas uma desculpa para as pessoas
foderem.
Ian deu uma risada curta.
— Talvez às vezes seja. — Disse ele. —
Mas isso ajuda. Costumo perder o interesse em
uma mulher depois de tê-la.
O olhar de Miles ficou sério.
— Isso é… um pouco confuso.
Ian deu um suspiro.
— Não me olhe dessa maneira. Eu
realmente não sou o tipo de foder e
abandonar. Sempre tentei o máximo possível
para fazer meus relacionamentos funcionarem,
mas... — Há algo errado comigo. — Eu não
consigo. As poucas paixões que tive nunca
duraram. — Ele deu de ombros, olhando para
longe. — Talvez eu não tenha sido criado para
relacionamentos.
Miles murmurou pensativo.
— Mas você quer um?
Sim.
A resposta que quase saiu da boca de Ian
o surpreendeu. Ele pensou que tinha desistido
de relacionamentos depois de Regina,
aceitando que nunca seria capaz de encontrar
uma pessoa que finalmente preenchesse o
espaço sem fundo em sua alma. Parecia que
não tinha. Ou era apenas mais difícil lembrar
como era a sensação de insatisfação quando
ele tinha Miles nos braços.
Ou talvez você esteja apenas sendo um
idiota egoísta e ganancioso novamente. Você
vai pegar, pegar e pegar até que ele não tenha
mais nada para lhe dar.
Ian apertou a mandíbula.
Miles passou os dedos pela sua
mandíbula levemente.
— Tudo bem se não quiser responder. —
Disse ele. — Não queria te deixar com raiva.
— Não estou com raiva. — Não de você.
Olhos verdes o estudaram
cuidadosamente.
— Bem, você está com raiva de alguém.
Ian fechou os olhos por um momento e
respirou fundo.
— Se sabe o que é bom para você,
amanhã embarcará no primeiro voo para
Londres e nunca mais voltará.
— Por quê?
Ian olhou para ele.
— Preciso soletrar?
As sobrancelhas de Miles estavam
franzidas em algo que não era muito confuso.
— Sim, na verdade, eu gostaria.
— Eu não quero foder com você. — Ian
disse laconicamente. — Você acha que sou um
homem melhor do que sou. Eu não sou. Confie
em mim, sou um idiota.
— Se você realmente fosse um idiota,
não se preocuparia em me foder. — Disse
Miles, deslizando a mão pelo ombro de Ian e
traçando a curva do bíceps. — Eu me sinto
bem com você. — Ele disse com dolorosa
honestidade, encontrando o olhar de Ian. —
Seguro. Como se nada pudesse me machucar
quando estou com você.
Jesus Cristo.
Ian olhou para ele, dividido entre rir e
beijar esse ser humano ridículo e precioso.
— Estou tentando ser um bom homem
aqui, Miles.
Miles deu um sorriso torto.
— E aprecio o pensamento, realmente
aprecio, mas não sou burro, Ian. Não se
preocupe: não tenho intenção de me apaixonar
por você e partir meu coração. Sei que seria
um desastre. Nós somos de mundos diferentes.
Ian não sabia como dizer a ele que
estava longe de ser o principal problema. Muito
longe.
— De qualquer forma... — Disse Miles
levemente — ...estou perfeitamente ciente de
que essa... aventura tem uma data de
validade. Não vou chorar em seu peito e me
agarrar a você quando nos despedirmos. Sou
um garoto grande.
Quando Ian apenas o encarou em
silêncio, Miles pigarreou, parecendo um pouco
perdido.
— Quero dizer… não que eu esteja
pressionando você a fazer mais sexo ou algo
assim. Realmente, não precisa ficar
constrangido se não quiser mais fazer isso.
Está tudo bem. — Ele riu sem jeito, sentando-
se. — Você já encontrou outra babá para Liam,
então acho que realmente não tenho… nenhum
motivo para ficar aqui. Ainda não vou para
casa - meu passaporte ainda não está pronto -,
mas vou me mudar. Tenho dinheiro mais do
que suficiente para um hotel, graças ao salário
ridículo que você me pagou. — Ele saiu da
cama, estremecendo um pouco enquanto se
movia.
Ian viu Miles se vestir e teve que morder
a língua para não dizer algo que não deveria.
Você é meu. Você disse que era meu. Não vou
permitir que saia.
Se dissesse isso, Miles pensaria que ele
era louco. Um idiota controlador e confuso. As
pessoas diziam merdas estúpidas durante o
sexo, incluindo Ian, e isso não significava nada.
Ian sabia que por seu silêncio ele estava
permitindo que Miles chegasse à conclusão
errada: que ele conseguira tirar Miles do seu
sistema e realmente não o queria mais. Ian
sabia que isso machucava Miles, não importa o
que Miles dissesse. Mas era melhor que
descobrir o quão fodido Ian era. Ele poderia ser
altruísta pela primeira vez, caramba.
Você destrói tudo o que toca. A voz de
Regina soou em sua cabeça, tão doce quanto
venenosa. Sabe que foi você quem me levou
de volta às drogas. No fundo, você sabe disso.
Sua frieza, seus modos sufocantes e
controladores, seu desejo de vingança, seus
problemas de raiva, seus desejos perversos,
seu egoísmo - você é um maldito veneno, Ian.
Ian assistiu Miles puxar sua mala do
armário. Já estava quase lotada. Miles não
levaria muito tempo para enfiar o resto de seus
pertences nela.
Rangendo os dentes, Ian saiu da cama e
começou a se vestir. Não queria ficar aqui
quando Miles saísse. Não poderia estar aqui.
Ele não confiava em si mesmo.
A voz de Miles o parou na porta.
— Obrigado. — Ele disse suavemente. —
Por tudo que você fez para me ajudar a me
descobrir.
Ian mordeu o interior de sua bochecha
com tanta força que provou sangue. Ser um
bom homem nunca foi tão difícil.
— Diga ao meu motorista para lhe dar
uma carona. — Disse ele em uma voz cortada
e se afastou.
Ignorou o quão vazio sentia seu peito.
Estava acostumado.

Capítulo 14

Miles estava entrando em um táxi quando


seu telefone vibrou na mão. Ele olhou sem
realmente vê-lo antes que seu olhar finalmente
focasse.
Estremeceu quando viu de quem era a
mensagem: Shawn.
Maldição Derek provavelmente havia
contado o que viu algumas horas atrás.
Preparando-se, Miles bateu na
mensagem, abrindo-a.

Oi. Você ainda está acordado? Posso te


ligar?

Miles suspirou, olhando pela janela


escura quando o carro começou a se
mover. Tentar se explicar para Shawn era a
coisa menos atraente que conseguia pensar no
momento, mas provavelmente devia uma
explicação aos Rutledges.
Digitou:

Sim. Posso passar na sua casa? Queria


falar com você.

A resposta veio quase imediatamente.

Claro. Estarei esperando.

Estarei aí em breve.
Miles escreveu e suspirou
novamente. Voltando-se para o motorista,
falou o endereço dos Rutledges. Agora estava
feliz por não aceitar a sugestão de Ian e pegar
emprestado seu motorista.
Ian.
Miles recostou-se no banco e olhou pela
janela novamente. Ele... Não sabia o que
estava sentindo no momento. Uma sensação
estranha e atormentadora parecia ter se
enroscado em seu estômago, uma emoção que
não conseguia identificar. Não sabia o que
era. Sentia-se... triste? Definitivamente, havia
tristeza, principalmente porque se arrependeu
de não ter dado um beijo de despedida em
Liam e de explicar por que estava indo embora,
mas não era só isso. Havia outro sentimento
que não conseguia identificar, um que fez seu
interior apertar.
— Não seja idiota. — Murmurou
baixinho. Ian deixou claro que já o havia
superado, que essa... coisa deveria terminar
agora. Miles concordou. Ele concordou. Disse a
Ian que estava desistindo por esse mesmo
motivo. Precisava ir antes que pudesse
esquecer que realmente não pertencia àquela
casa, antes que pudesse investir demais em
Liam e vice-versa. Antes que pudesse esquecer
como era viver sem os olhos de Ian nele.
Miles fez uma careta e se mexeu em seu
assento, arrependendo-se imediatamente
quando um leve desconforto percorreu sua
bunda. Sentia-se um pouco dolorido e
nojento. Saiu tão rápido que nem sequer
tomou banho depois do sexo. Só podia esperar
que não cheirasse a isso.
Só podia esperar que Shawn não notasse
nada. Já era ruim o suficiente que ele se
sentisse o pior tipo de traidor depois de ser
pego beijando o homem que eles pediram para
ficar de olho, mas para acrescentar insulto à
injuria, sentia como se tivesse enganado Ian,
não os Rutledges. A coisa toda de espionagem
nunca parecera boa para ele, e era algo que
tinha cuidadosamente evitado de pensar nas
últimas semanas. Era uma coisa boa que o
flerte dele e de Ian tivesse terminado antes
que o homem pudesse descobrir sobre isso. Só
podia imaginar o quão bravo Ian ficaria se
descobrisse. Agora ele nunca faria. Porque eles
terminaram, o que era uma coisa boa. Sim.
Miles ainda estava pensando nisso
quando o carro entrou na entrada dos
Rutledges.
Depois de pagar o motorista, Miles pegou
sua mala e olhou para a casa grande. Parecia
quase ameaçadora na escuridão, pairando
sobre ele. Apenas algumas das janelas
estavam iluminadas.
Preparando-se, Miles caminhou com
determinação em direção à casa. Não havia por
que adiar o inevitável.

*****
Derek Rutledge observou o marido
passear na sala de estar.
— Ele disse que chegaria logo. — Disse
Shawn, franzindo a testa.
Derek deixou de lado os papéis que
estava avaliando.
— E eu tenho certeza que ele
chegará. Sente-se.
Shawn apertou os lábios, lançando lhe
um olhar de frustração. Continuou andando e
passando a mão pelo cabelo.
— Nunca deveríamos ter pedido a Miles
que espiasse Caldwell. Sabia que era a coisa
errada a fazer. Agora o garoto vai se
machucar.
Os lábios de Derek se torceram em um
sorriso irônico.
— Aquele garoto é cinco anos mais novo
que você? Velho o suficiente para dizer não. E
ele não parecia exatamente machucado
quando o vi com a língua de Caldwell na
garganta.
Shawn não parecia tranquilo.
— Precisamente, Derek. — Disse. Ian —
Caldwell é... você sabe como ele é. Ele nem
está mais se preocupando em esconder sua
animosidade em relação a nós. Ele está apenas
brincando conosco neste momento! Ele é um
idiota que gosta de mexer com a cabeça das
pessoas. E ele é hétero. Tenho certeza que é
homofóbico, pelo menos um pouco. Por que ele
se incomodaria em mexer na cabeça de Miles
sem segundas intenções? Deve ter descoberto
o que pedimos a Miles para fazer, e é algum
tipo de jogo doentio para ele.
Particularmente, Derek estava inclinado a
concordar, mas ele decidiu bancar o advogado
do diabo.
— Eu me lembro de você ser 'hétero'
também, até que me conheceu.
A carranca finalmente saiu do rosto de
Shawn. Ele sorriu, seus olhos se iluminando
com diversão.
— Você quer dizer até eu chupar seu pau
por uma nota melhor, professor?
Derek deu a ele um olhar de pálpebras
semicerradas, seu pau estremecendo na calça.
— Eu tenho boas lembranças disso.
Sorrindo, Shawn montou em seu
colo. Passando os braços em volta do pescoço
de Derek, lhe deu um beijo suave que
rapidamente se transformou em um beijo
ganancioso. Puxando-o para mais perto, Derek
assumiu o beijo. Shawn fez um som satisfeito,
chupando sua língua de uma maneira que foi
direto para o pau de Derek. Porra, fazia cinco
anos; ele ainda deveria se sentir assim?
— Eu também tenho boas lembranças
disso. — Disse Shawn quando eles quebraram
o beijo por um ar muito necessário. Os olhos
dele estavam alegres. — E foi a melhor decisão
da minha vida.
Os braços de Derek se apertaram ao
redor dele. Ele olhou nos olhos azuis de
Shawn, cheios de carinho e amor, e de repente
se perguntou como seria sua vida agora, se há
cinco anos não tivesse aceitado a ultrajante
oferta do seu aluno de chupar seu pau para
obter uma nota melhor. Normalmente, ele teria
relatado isso ao conselho. Mas com Shawn,
permitiu que seu pênis pensasse. Agora não
podia estar mais agradecido por isso.
— Eu amo você. — Disse Derek, sua voz
um pouco áspera.
Shawn sorriu para ele suavemente.
Um movimento na porta o fez olhar por
cima do ombro de Shawn.
— Desculpe. — Disse Miles, afastando-se
da porta. Seu rosto estava um pouco
rosado. — Eu não quis... Seu mordomo me
deixou entrar.
Shawn beijou Derek na bochecha antes
de sair do seu colo.
— Não, entre. Estávamos esperando por
você.
— Sim. — Disse Derek, seus olhos
passando rapidamente para a mala aos pés de
Miles. Ele fez uma careta. — Você saiu da casa
de Caldwell?
Miles assentiu, desviando o olhar.
— O filho dele precisa de uma babá de
verdade neste momento. Eu me senti meio
inútil, para ser honesto. — Ele esfregou a nuca
com a mão, um sorriso triste curvando seus
lábios. — Sei do que você provavelmente quer
falar, mas como vê, eu não teria sido de muita
ajuda para você. Não vou mais trabalhar para
Ian. Eu não poderia espioná-lo, mesmo que...
— Ele parou, encolhendo os ombros com um
olhar impotente e culpado em seu rosto.
Ian.
Depois do que viu algumas horas atrás,
provavelmente não deveria ter surpreendido
Derek que Miles tivesse se aproximado o
suficiente de Caldwell para se referir a ele pelo
seu nome, mas de alguma forma, aconteceu.
Derek observou o garoto,
pensativo. Miles era um jovem atraente. Ele
não era tão bonito quanto Shawn, embora
Derek pudesse ser tendencioso sobre isso, mas
ele era adorável. Muito adorável, sem ser
feminino. Seus olhos verdes eram bonitos e...
levemente vermelhos, como se tivesse chorado
recentemente.
Os olhos de Derek viajaram para o
pescoço de Miles e se estreitaram quando viu
hematomas em forma de dedos nele.
Ele ficou rígido, lembrando dos rumores
sobre a propensão de Caldwell à violência e
crueldade.
— Ele machucou você?
Miles pareceu congelar antes que sua
mão voasse até a garganta. O rubor desbotado
em suas bochechas se aprofundou novamente.
— Não, foi... foi consensual.
Shawn parecia atordoado.
— Você quer dizer que realmente fez
sexo com ele?
Miles fez uma careta.
— Olha, sem ofensas, mas não vejo como
é da sua conta. Sinto muito por quebrar minha
promessa, de verdade, mas não preciso falar
sobre minha vida sexual. — Sua expressão se
tornou um pouco tensa. — Acabou, de
qualquer maneira. Ian terminou.
Derek trocou um olhar com Shawn.
Ele balançou a cabeça levemente e sorriu
para Miles.
— Claro que você não precisa explicar
nada para nós. Sinto muito se lhe demos essa
impressão. Você é nosso amigo, Miles. Nos
preocupamos com você. Nos... sentimos
realmente culpados por tê-lo arrastado para
isso.
Miles deu a ele um olhar confuso.
— Culpado? Do quê?
Shawn estremeceu um pouco.
— Acho que Caldwell pode ter descoberto
sobre sua... conexão conosco, e é por isso que
ele... te seduziu...
Uma risada dura, mas cheia de diversão,
saiu da boca de Miles.
— Confie em mim, definitivamente não
foi isso. — Disse ele. — Eu o conheço. O que
aconteceu entre nós foi apenas entre ele e
eu. Não tinha nada a ver com o relacionamento
estranhamente tenso entre vocês. — Ele deu a
Derek um olhar firme. — Você vai me dizer do
que realmente se trata?
Derek o olhou, franzindo a testa.
— Você conhece o homem há um
mês. Não se iluda pensando que conhece o
verdadeiro, Miles.
Miles zombou e cruzou os braços sobre o
peito.
— Certo. Por que você não me esclarece
quem é o verdadeiro?
Derek estava perturbado. Ele podia sentir
o protecionismo do garoto aumentando, sobre
Caldwell, de todas as pessoas.
— Acho que deveríamos contar a ele,
Derek. — Disse Shawn em voz baixa.
Derek suspirou, sabendo que ele estava
certo. Realmente não queria falar sobre isso
com Miles. Ele parecia um bom garoto, mas o
assunto era... profundamente pessoal, afinal.
— Você provavelmente ouviu que meu
pai, Joseph Rutledge, era um tirano. — Quando
Miles assentiu, Derek continuou com
relutância. — Meu pai nunca aceitou minha
sexualidade e constantemente empurrava
mulheres para mim. Na época de sua morte,
ele não estava exatamente em sã consciência e
decidiu que era uma boa ideia anunciar na
frente de toda a sociedade e mídia que eu
havia ficado noivo da filha de seu velho
amigo. Filha de Nathan Brooks. O político?
Não havia sinal de reconhecimento ou
entendimento no rosto de Miles. Derek quase
bufou. Parecia inacreditável que alguém que
ele conhecesse pudesse estar completamente
no escuro sobre esse escândalo. Mas,
novamente, o garoto era britânico. Claro que
não ouviu falar sobre isso.
— Obviamente, não aceitei bem quando
descobri os planos do velho. — Disse Derek. —
Meu pai e eu discutimos sobre isso, ele teve
um ataque cardíaco e morreu. Após sua morte,
anunciei que o noivado não era real e voltei
para Shawn. — Ele fez uma careta. — Não
considerei a terceira parte em tudo isso: a
garota com quem eu supostamente estava
noivo.
Uma sugestão de entendimento
finalmente apareceu nos olhos de Miles.
— Oh. Ela deve ter ficado humilhada.
Os lábios de Derek se estreitaram.
— Ela ficou. Aparentemente, se tornou
motivo de piada. —Ele fez uma careta. — As
pessoas nesses círculos são um pouco
melhores que abutres, e ela era apenas uma
garota, nem dezenove. Acabou tendo um
colapso mental e cortando os pulsos. Ela
sobreviveu. — Disse Derek rapidamente
quando viu a expressão de Miles. — Mas
causou um escândalo ainda
maior. Eventualmente, a família da garota teve
que levá-la embora. Ela vive em outro estado
agora, tanto quanto sei.
— O que isso tem a ver com Ian? — Disse
Miles.
Derek encontrou seu olhar.
— Ian Caldwell é o irmão mais velho dela.

Miles piscou.
— O quê? Ele tem irmã?
— Meia-irmã. — Disse Shawn. — Eles
compartilham uma mãe. A mãe de Caldwell
casou-se com Nathan Brooks após a morte de
seu pai e deu à luz uma filha, Amanda.
Miles estava franzindo a testa
profundamente.
— Então você pensa... Você acha que Ian
está em busca de vingança?
Derek sorriu sem humor.
— Oh, temos certeza disso. Caldwell não
é conhecido por deixar de lado velhos
rancores.
Havia um sulco entre as sobrancelhas de
Miles.
— Por que você concordou com o acordo
de parceria, então? Por que fez dele o CEO da
sua empresa?
A mandíbula de Derek se apertou.
— Foi um erro. Um erro descuidado. Eu
não sabia que ele era parente de Amanda
Brooks. Eles não compartilham um
sobrenome. Ocorreu-me que sua mãe se casou
com um Brooks. — Derek beliscou a ponta do
nariz. — Deixei minha família e esses círculos
sociais décadas atrás, Miles. Eu era a ovelha
negra da minha família. Até recentemente, não
tinha motivos para me associar a eles. Não
tenho mais amigos nesses círculos. Descobri a
relação de Caldwell com Amanda Brooks tarde
demais.
Derek sentiu a mão de Shawn em meu
ombro.
— Não é sua culpa, Derek. — Ele disse
suavemente. — Você não sabia.
Derek fez uma careta. Sua ignorância não
o desculpava. Ele fora irresponsável demais,
feliz por se livrar da responsabilidade pela
companhia de seu pai, pelo orgulho e pela
alegria de Joseph. Derek já ouvira falar
bastante de Ian Caldwell para saber que ele
era um excelente CEO, altamente bem-
sucedido, por isso não se preocupou em fazer
verificações pessoais de antecedentes. Foi
estúpido da parte dele. Descuidado.
Derek olhou para Miles.
— Agora você sabe por que não
confiamos em Caldwell.
Miles parecia pensativo.
— Você deveria ter me contado isso
desde o começo.
— O que isso teria mudado?
Miles olhou para ele como se ele fosse
louco.
— Eu teria perguntado a ele sobre isso.
Shawn riu.
— Só assim? E você acha que ele teria
falado?
Miles deu de ombros.
— Talvez. Ian não é irracional. E até onde
sei, sempre foi honesto comigo.
Derek trocou um olhar com Shawn. Pobre
garoto. Ele estava iludido. O que Caldwell fez
para fazer uma lavagem cerebral nele para
pensar que ele era um homem decente?
— Ian Caldwell é um tubarão. — Disse
Derek categoricamente. — O escolhi porque ele
é um tubarão. Ele tem uma reputação de
crueldade obstinada nos círculos
empresariais. Depois que descobri o
relacionamento dele com Amanda, olhei para o
passado dele e parece que é o mesmo em sua
vida pessoal. Sua primeira noiva o deixou,
alegando que era cruel e confuso. Muitos de
seus relacionamentos anteriores aludiam à
mesma coisa. E nem estou tocando na bagunça
que era o relacionamento dele com a
esposa. Tudo o que ele toca, queima.
Derek encontrou o olhar de Miles
novamente e se forçou a suavizar sua voz.
— Esqueça-o, Miles. Agora me arrependo
de ter arrastado você para essa bagunça. Em
minha defesa, não esperava que ele se
interessasse por um homem. — E é por isso
que não acreditamos que ele não tenha
segundas intenções com você. Derek não disse
isso, mas a julgar pelo aperto na mandíbula de
Miles, o garoto conseguiu entender o que ele
não estava dizendo.
— Tudo bem. — Disse Miles
laconicamente. — Obrigado por me dizer. Não
que isso importe agora. Estou me mudando
para um hotel. Eu estava a caminho quando
Shawn me mandou uma mensagem.
— Hotel? Você absolutamente deveria
ficar aqui. — Disse Shawn em um tom que não
admitia discussão. Depois foi até Miles e
agarrou a mala aos seus pés. — Vamos lá.
Miles pareceu perdido por um momento,
apenas olhando para as costas de Shawn.
Um leve sorriso curvou os lábios de
Derek. Ao longo de seu relacionamento, ele
conheceu vários lados de Shawn.
— É melhor você fazer o que ele diz. —
Disse, pegando a pilha de papéis
novamente. — Às vezes é apenas mais
fácil. Confie em mim.
Depois de um momento, Miles seguiu
Shawn para fora da sala.
Derek olhou para os ombros curvados do
garoto e sentiu uma pontada de culpa
novamente.
Realmente não deveria tê-lo arrastado
para essa bagunça.

Capítulo 15

Na noite anterior ao jantar, Miles não


dormiu bem. As palavras de Derek
atormentaram sua mente a noite toda,
fazendo-o se virar na cama enquanto tentava
conciliar a imagem que Derek tinha falado com
o homem que conhecia. Um tubarão cruel.
Racionalmente, sabia que Derek poderia
estar certo. Miles não se iludiu pensando que
ele era alguém especial, que era o único que
podia ver o Ian real - ou que Ian era mais
gentil apenas com ele, o que era uma
possibilidade que não estava se permitindo
entreter. Caramba.
Mas Miles ainda tinha dificuldade em
acreditar nos rumores e nas opiniões de outras
pessoas sobre suas próprias observações. Por
seus próprios instintos. Ele nunca se sentiu
mais seguro em sua vida do que quando
estava com Ian. Ele poderia realmente ser tão
delirante?
Isso não importava. Ele e Ian, o que quer
que os dois tiveram, acabou. Ele nem deveria
mais pensar em Ian. Precisava tenta parar de
gostar dele e esquecê-lo.
Só que não era tão fácil quando ainda
tinha hematomas de dedos em seus quadris e
pescoço.
Todas as manhãs, Miles os olhava no
espelho, observando-os mudarem de cor e
ficarem menos brilhantes. Era doentio que não
queria que desaparecessem? Que não queria
cobri-los?
Mas neste dia, ele tinha que fazê-lo.
Alexander e seu namorado estavam vindo
jantar, e se Alexander visse os hematomas, ele
definitivamente contaria a Zach, e o simples
pensamento fazia Miles se encolher. Seu irmão
superprotetor provavelmente estaria no
próximo voo para Boston se soubesse disso.
Então, optou por uma camisa de
colarinho que cobria a maioria das contusões.
Os que não, Miles mascarou com uma espessa
camada de corretivo que emprestou de uma
das gêmeas. Não era uma camuflagem
perfeita, mas o suficiente se Alexander não
olhasse seu pescoço com muita atenção.
À noite, os nervos de Miles estavam
absolutamente crus, as mãos suadas e os
dedos tremendo. Sabia que não deveria estar
ansioso para ver Ian, mas, verdade seja dita,
uma parte dele o desejava. Ele se sentia um
viciado que sabia que não deveria nem olhar
para sua droga de escolha e, no entanto, não
podia deixar de desejar.
Era patético. Não tinha garantia de que
Ian viria. Derek não foi exatamente muito
acolhedor quando convidou Ian, e mesmo que
Ian pretendesse vir, ele poderia ter mudado de
ideia depois que Miles saiu.
Miles quase riu de si mesmo. Por que Ian
mudaria seus planos por causa dele? Se Derek
estivesse certo e Ian realmente estivesse
jogando algum tipo de jogo, a presença de
Miles no jantar não mudaria nada. Se tinha
algo em que Miles concordava totalmente com
Derek, era a obstinação de Ian. Se Ian queria
algo, ele conseguiria, por qualquer meio
necessário.
— Você parece tenso. — Disse Shawn
suavemente, chegando ao lado dele. Ele estava
olhando para Miles com curiosidade e algo mais
em seu olhar. — Você pode ir para o seu
quarto, se quiser. Diremos a Alexander e Chris
que você não está se sentindo bem.
Era meio hilário o quão cuidadosamente
Shawn evitava dizer o nome de Ian, como se
não falasse do diabo, ele não apareceria.
Mas Shawn estava dando uma saída.
Miles quase queria usar a desculpa. Se
ele ficasse em seu quarto, não seria pego entre
Ian e os Rutledges. Não teria constrangimento.
Mas, por mais tentadora que fosse a opção,
Miles não aguentaria, não era forte o suficiente
para aguentar. Se ele não visse Ian hoje à
noite, era improvável que o visse novamente, e
isso era... O mero pensamento fazia seu
estômago doer.
Miles balançou a cabeça, incapaz de olhar
Shawn nos olhos.
Felizmente, naquele momento, veio o
som de vozes, e Alexander Sheldon entrou,
seguido de perto por um moreno atraente, que
provavelmente era seu noivo, Christian.
Feito as apresentações. Miles sorriu,
assentiu e murmurou algo afirmativo em
momentos adequados, mas seu coração não
estava concentrado neles. Ele sentiu como se
alguém tivesse tomado conta de seu corpo
enquanto seu coração batia forte e seus
ouvidos esticaram, concentrados no som de um
carro parando na entrada.
Ele tinha chegado.
Demorou quarenta e três segundos antes
que o mordomo dos Rutledges mostrasse Ian
na sala.
Imediatamente, a sala enorme pareceu
se tornar menor, como se o homem que
acabou de entrar, enviesasse seu centro de
gravidade em sua direção. Ou talvez fosse
apenas ele. Mas Miles não achava isso. A
conversa entre os Rutledges e seus amigos
silenciou.
Quando olhou para Ian, deu água na
boca, como sempre. Terno preto, camisa preta
e o ar de confiança e superioridade que parecia
colocar todo homem na sala no limite. Ian era
um daqueles homens que chamavam a atenção
simplesmente entrando em uma sala.
Sentindo o olhar de Shawn nele, Miles
desviou o olhar rapidamente.
Ele determinadamente não gostava do
jeito de Ian, pois ele trocou gentilezas frias
com os Rutledges. A voz de Ian realmente
soou fria e aguda quando falou com eles. A voz
de Derek não era exatamente amigável nem
quando ele apresentou Ian a seus amigos.
— E você já conhece Miles. — Terminou
Derek, seus olhos negros observando Ian
cuidadosamente.
Olhos azuis frios encontraram os de
Derek, firmes e calmos.
— Sim. — Disse Ian, seu rosto
inescrutável.
Finalmente, ele olhou diretamente para
Miles, e aqueles olhos pareciam sugar Miles
diretamente para eles.
Miles balançou em pé e teve que agarrar
o peitoril da janela atrás dele para se impedir
de se mover em direção a Ian. Ele queria. Deus
o ajude, ele queria. Os Rutledges, por toda a
sua simpatia, não pareciam nem de longe tão
próximos dele quanto Ian. Parecia que ele
estava do lado errado da clara divisão na sala.
Miles engoliu em seco e deu a Ian um
leve aceno de cabeça que, esperançosamente,
parecia neutro em vez de deixar óbvio que ele
não podia falar, com a boca seca.
Ian apenas o encarou por um momento
antes de desviar o olhar.
— O jantar está pronto. — Disse Shawn,
quebrando o silêncio tenso. — Por que todos
não nos mudamos para a sala de jantar?
Soaram murmúrios de concordância, mas
Miles mal podia ouvi-los. Ele nunca teve tanta
consciência de outra pessoa em sua vida.
Todos os outros, exceto Ian, estavam
embaçados, o corpo alto de Ian era a única
coisa em foco. Era como se toda a sala
estivesse inclinada na direção de Ian. Era
insuportável.
O jantar passou em uma névoa. Ian
estava sentado o mais longe possível dele, o
que poderia ser uma coincidência, é claro, mas
Miles tinha uma suspeita furtiva de que estava
sendo feito por Shawn.
Shawn não deveria ter se incomodado,
Miles pensou mal-humorado. Não era como se
Ian estivesse o olhando. Ele não olhou para
Miles desde que o jantar começou. Não que ele
sentisse falta do olhar assustador de Ian ou
algo assim. Ele não fazia. Obviamente.
Parecia... errado. Estar na mesma sala
com Ian e nem sequer merecer um olhar.
Ian estava mantendo uma conversa sobre
política, de todas as coisas, com Derek, Shawn
e Alexander, embora ele não se desse ao
trabalho de fingir ser amigável ou legal.
Embora Miles nunca tivesse pensado em Ian
como bom, isso o impressionou como era
diferente - quanto mais fria - essa versão de
Ian era. Ele parecia considerar Shawn com um
leve desprezo e escárnio, o que não
surpreende se ele fosse um irmão mais velho
da garota que foi publicamente rejeitada por
Derek em favor de Shawn. Para seu crédito,
Shawn apenas sorriu mais com os insultos
velados de Ian, enquanto a mandíbula de
Derek se tornava cada vez mais apertada
enquanto a noite se arrastava. Nesse ritmo,
Ian ia levar um soco antes do jantar terminar.
Pare de ficar olhando para ele, caramba.
Miles disse a si mesmo, olhando sua salada.
Ele nem está olhando para você. Isso é
patético.
Irritado consigo mesmo, Miles começou
uma conversa com Christian, que estava
sentado ao lado dele.
—... eles estão fora de perigo, mas meu
pai precisará de uma extensa reabilitação para
a coluna machuca. Minha mãe teve um
ferimento na cabeça e agora ela tem alguns
problemas de memória, mas os médicos acham
que ela deve melhorar com o tempo...
Miles mal podia prestar mais atenção. Ele
finalmente sentiu o olhar de Ian nele - e não
confundiria esse sentimento com mais nada - e
era uma luta não virar a cabeça.
Depois de alguns momentos, ele perdeu a
batalha consigo mesmo e dei um rápido olhar.
Mas Ian não estava olhando para ele.
Estava recostado na cadeira, bebendo seu
vinho enquanto conversava com Alexander.
Ele tinha imaginado isso?
Por que Ian não estava olhando para ele?
Eles se separaram em termos amigáveis,
tecnicamente. Não tinha motivo para não
conversarem. Como amigos. Exceto que Miles
não podia ver Ian como um amigo. Talvez
nunca pudesse, na verdade. Ele via um homem
primeiro, sempre. Não sabia o que era sobre
Ian que o tornava tão consciente do corpo, das
mãos, dos olhos e dos lábios. Objetivamente,
Ian não era o homem mais bonito da sala;
Alexander era. Alexander também era um
moreno de olhos azuis, com uma aparência
verdadeiramente hollywoodiana. Os traços de
Ian, embora bonitos, eram muito nítidos, muito
comuns. Objetivamente, ele não deveria ser o
homem mais atraente da sala.
Mas foda-se, ele era totalmente o mais
quente. Miles queria lamber o queixo e chupar
seu pescoço. Queria enterrar os dedos nos
cabelos de Ian, puxar o rosto de Ian para o
próprio pescoço e implorar por mais chupões.
Engolindo, Miles desviou os olhos, apenas
para encontrar o olhar atento de Shawn nele.
Droga. Essa era outra razão pela qual ele
não podia ser apenas amigo de Ian: Miles era o
convidado dos Rutledges, seu amigo. Derek e
Shawn definitivamente não entenderiam seu
desejo pelo homem que supostamente estava
disposto a arruiná-los.
Mas ele estava?
Franzindo a testa, Miles voltou a olhar
para a salada.
Ian era realmente tão cruel quanto Derek
estava falando?
O garfo de Miles parou no caminho para a
boca.
Talvez ele devesse descobrir. Talvez
devesse levar Ian sozinho, apenas para
perguntar sobre suas intenções. Afinal, ele não
devia a Derek e Shawn? O mínimo que poderia
fazer para retribuir a gentileza deles era
descobrir com certeza se Ian realmente estava
jogando algum jogo desonesto ou não.
Quanto mais Miles pensava, mais gostava
da ideia. Ele queria ajudar Derek e Shawn, e
gostava de pensar em perguntar abertamente,
em vez de algumas táticas ridículas e discretas,
como espionagem.
Decisão tomada, Miles voltou os olhos
para Ian.
Ele encontrou o olhar de Ian em seu
prato, sua mandíbula firme quando ele cortou a
carne assada na frente dele. Seus
pensamentos pareciam longe, seus olhos frios
e distantes.
Miles pigarreou um pouco.
— Ian?
A atenção de todos pareceu se voltar
para ele, as conversas pararam abruptamente,
mas Miles manteve o olhar apenas em Ian, que
finalmente olhou para ele, dando toda a
atenção.
Miles se perguntou o quão fodido estava
por querer atenção nele, que pela primeira vez
desde que ele saiu da casa de Ian, não se
sentia desequilibrado. Ian estava olhando para
ele, e tudo finalmente estava certo com o
mundo. Os olhos de Ian não estavam mais
distantes ou frios. Eles eram atentos e afiados.
E estavam olhando para Miles.
Onde eles pertenciam, sempre.
Ignorando o pensamento francamente
perturbador, Miles disse:
— Posso falar com você? Sozinho.
— Agora? — Shawn interrompeu. — Você
pode conversar depois do jantar, Miles.
A coisa educada a fazer seria olhar para
Shawn. Mas ele não conseguia desviar o olhar
de Ian.
Pareceu uma eternidade antes de Ian
responder.
— Claro. — Ele se levantou e foi em
direção à porta.
Consciente do olhar pesado de Derek
sobre eles, Miles o seguiu para fora da sala.
Assim que estavam no corredor, Miles
cruzou os braços sobre o peito e disse, olhando
para a parede oposta:
— É verdade que você quer arruinar os
Rutledges?
— Os Rutledges falaram isso? — Ian
disse, parecendo friamente divertido.
Mordendo o lábio inferior, Miles assentiu.
Inferno sangrento, ele se sentia tão
desequilibrado, sem saber onde eles estavam.
— Não sabia que você era tão próximo
deles.
Miles deu de ombros.
— Nem tão perto. — Ele murmurou,
olhando para os sapatos. Podia ver os sapatos
pretos de Ian em sua visão periférica.
— Mas você ainda voltou para eles. — A
voz de Ian tinha um tom estranho.
Miles deu de ombros novamente.
— Você não respondeu minha pergunta.
Os sapatos pretos se aproximaram e
pararam na frente dele.
Uma mão quente e grande pousou em
seu pescoço.
Miles estremeceu, com a respiração
presa.
Um polegar roçou o local sob sua
mandíbula.
— Você perdeu um aqui. — Disse Ian. Ele
pressionou contra aquele local, causando dor
maçante.
Miles tremia tanto que sentiu que poderia
se separar a qualquer momento. Eles
terminaram, deveriam estar falando sobre algo
importante, mas agora não conseguia se
lembrar do que era, sua mente nebulosa e
lenta. Ele estava respirando instável, inalando
o perfume familiar da loção pós-barba de Ian.
Porra, ele não podia.
Seus olhos olharam para cima, verde
travando com azul.
Miles deu um passo para frente, beijou a
boca dele, choramingando quando Ian agarrou
sua nuca e assumiu o beijo. Deus, parecia que
fazia anos desde que se tocaram pela última
vez, não uma semana. Eles nunca deveriam se
separar, nem por um segundo, uma semana
inteira era longa, por que Ian está tão longe,
por que tinha tantas roupas entre as peles?
— Eu te odeio. — Miles conseguiu entre
os beijos, sua voz tremendo enquanto tentava
se livrar de seus pensamentos necessitados. —
O que você fez comigo? Isso não é normal.
— Poderia te fazer a mesma pergunta. —
Ian mordeu antes de empurrar Miles contra a
parede e enfiar a língua na sua boca.
Miles gemeu e tentou esfregar seu corpo
no de Ian, passando os braços em volta dele
enquanto Ian devorava sua boca com beijos
profundos e famintos, suas mãos grandes
agarrando a bunda de Miles e puxando seus
quadris para perto.
Deus. Miles o queria.
Muito.
Alguém tossiu e pigarreou
intencionalmente.

Capítulo 16

Miles teria rido se não sentisse vontade


de gritar de frustração. Sério? De novo?
Ian quebrou o beijo e se afastou.
Relutantemente, como se estivesse
acordando de um sonho, Miles forçou seus
olhos abrirem. Ele esperava ver Shawn ou
Derek. Ele não esperava ver os dois como,
também, Alexander e Christian.
Por um momento, houve apenas silêncio,
atordoado e tenso.
Miles lançou um olhar de soslaio para Ian
e o encontrou ajeitando a gravata que de
alguma forma se soltou. Ele fez isso? Miles não
conseguia se lembrar. Fora isso, a expressão
de Ian era completamente inescrutável, como
se ele não tivesse sido pego batendo
Miles contra a parede.
Com o rosto quente, Miles apertou os
dedos trêmulos em punhos. O que dizia sobre
ele, que mesmo sendo interrompido por quatro
pessoas, não fez nada para suprir a
necessidade dentro dele? Ele queria estar
pressionado contra Ian. Os poucos centímetros
entre eles o estavam deixando louco, fazendo-
o sentir desequilibrado e insatisfeito.
Porra, controle-se. Existem problemas
maiores aqui do que suas bolas azuis. Como o
fato de Shawn parecer perturbado e, a julgar
pelo rosto de Alexander, isso está claramente
sendo repassado a Zach.
Miles pigarreou, dolorosamente
consciente do quão estranho parecia, mas
incapaz de chegar a alguma palavra. Na
verdade, o que alguém diz em uma situação
como essa? Sinto muito, pessoal, eu realmente
ia perguntar sobre seus planos malignos; a
língua dele acabou na minha boca por
acidente?
Certo.
— Olha, eu... — Miles tentou novamente,
mas a mão de Ian em seu ombro o deteve.
— Você não lhes deve nenhuma
explicação, Miles. — Disse Ian, com os olhos
frios enquanto olhava para os Rutledges. —
Somos todos adultos aqui. Provavelmente não
deveríamos ter feito isso na casa de alguém,
mas as pessoas aqui dificilmente podem atirar
pedras em alguém quando se trata de
escândalos públicos.
Um músculo se contraiu na mandíbula de
Derek.
— Tudo bem, chega. — Ele disse, dando
um passo à frente. — Já tive o suficiente de
seus insultos velados contra mim e minha
família. Por que você simplesmente não diz o
que quer e deixa a criança em paz?
Ian olhou para ele.
— Perdão?
Os lábios de Derek se torceram.
— Pare de mexer com a cabeça dele. Não
sei como você descobriu que pedimos a Miles
para ficar de olho em você, mas enganá-lo é
um golpe baixo, até para você.
Miles sentiu que o tempo parou.
Ou talvez fosse o coração dele.
Lentamente, Ian virou a cabeça para
olhá-lo, seu olhar procurando.
Foi comovente, porque Miles podia ver
que Ian não queria acreditar nas palavras de
Derek.
Miles só podia olhar para ele, sentindo-se
culpado, desesperado e ridiculamente
chateado. Ele disse a si mesmo que isso não
importava. Disse a si mesmo que eles não
tinham futuro juntos de qualquer
maneira. Disse a si mesmo muitas coisas.
Não mudou nada. Ele ainda sentia como
se tivesse acabado de perder algo essencial
quando viu a expressão de Ian se fechar, seus
olhos azuis ficando gelados. Sua mão caiu do
ombro de Miles.
O coração de Miles caiu com ela.
Ele ficou lá, sentindo os olhos de todos
nele. Todo mundo exceto Ian. Ele quase podia
sentir fisicamente Ian se distanciando dele e o
excluindo.
Miles sabia que era um momento em que
ele olharia para trás e se arrependeria daqui a
alguns anos. Sabia, em seu coração, que ele e
Ian poderiam ter tido algo ótimo. A conexão, a
intimidade, a fácil confiança e companheirismo
entre eles era algo especial, mais especial do
que a química sexual deles - o que era alguma
coisa, porque Miles não tinha certeza de que
algum dia seria atraído por outra pessoa, muito
menos que quisesse tanto e se encaixasse tão
bem com ela.
Mas esse era o problema, não é? Ele
queria muito Ian. Precisava muito
dele. Inferno, foi apenas uma semana, mas ele
era um desastre carente, praticamente pulando
em Ian em público. Se isso continuasse, Ian
tinha o potencial de partir seu coração tão
completamente que nunca se recuperaria.
Então talvez tenha sido o melhor. Se Ian
o odiasse por traí-lo, nunca mais o
tocaria. Nunca iria beijá-lo ou olhá-lo como se
Miles fosse a única coisa no mundo. Eles
seguiriam em frente com suas vidas e,
eventualmente, Ian esqueceria completamente
o garoto britânico com quem ele teve um verão
estranho.
Mas seu coração estúpido se apertou com
o pensamento, e Miles não pôde. Não
suportava o pensamento.
Ele sabia que tinha duas opções.
Não podia dizer nada e permitir que Ian
acreditasse que o traíra, que o que eles tinham
não era real. Ele manteria a boa opinião dos
Rutledges, Alexander não contaria nada a Zach
e Miles acabaria esquecendo Ian. Talvez.
Ele também poderia lutar por isso - por
eles - e arriscar tudo. Não havia absolutamente
nenhuma garantia de que ele e Ian iriam dar
certo. Havia muita coisa para separá-los. Na
semana passada, Ian havia dito a ele que era
um erro, e nada havia realmente mudado
desde então.
Miles quase riu de seus próprios
pensamentos. Quem estava tentando enganar
aqui? As duas opções provavelmente o
deixariam infeliz no final, mas apenas uma
delas tinha o potencial de felicidade, não
importando a duração.
Sim, era muito mais arriscado também,
mas ele era um Hardaway, caramba. Se
o exemplo de seus irmãos lhe ensinou alguma
coisa, foi ser dono de seu próprio destino. Ian
Caldwell nunca seria a opção segura. Mas Zach
não tinha escolhido a opção segura quando
deixou a noiva por causa de um sujeito que se
recusava a admitir que tinha sentimentos por
ele.
Miles e Ian talvez nunca se tornassem
algo ou o relacionamento deles poderia dar
errado e acabar dentro de algumas semanas,
mas Miles iria se arrepender pelo resto da vida
se ele nem tentasse - se deixasse terminar
com um mal-entendido.
Miles pegou o braço de Ian, forçando-o a
olhá-lo.
Ian zombou, algo frio e cruel em seus
olhos. Antes que Ian pudesse dizer algo
cortante, Miles se adiantou e o beijou
suavemente.
Alguém na sala ofegou.
Miles não deu a mínima para eles. Isso
era muito importante. Ele não podia estragar
tudo.
Ian estava rigidamente imóvel, como
uma corda tensa pronta para quebrar.
Respirando superficialmente, Miles
apertou as bochechas e disse no ouvido de
Ian:
— Nunca te espionei ou contei alguma
coisa a eles. Eu poderia, mas nunca fiz. E você
sabe o porquê.
Ele se afastou para olhar Ian nos
olhos. Se sentiu corar, sabendo que agora
todos na sala podiam ouvi-lo, não importava o
quão baixo ele falasse.
— Eu não dou a mínima se você é
realmente tão mau quanto Derek me disse. Eu
não ligo. Talvez isso me torne uma pessoa
terrível, mas...
— Miles. — Derek o interrompeu, sua voz
dura. — Por favor, vá para o seu quarto. Eu
preciso falar com Caldwell. Sozinho.
Ian nem olhou para ele, seu olhar afiado
em Miles, atento e perscrutador.
Miles tentou transmitir com os olhos o
que ele não podia dizer em uma sala cheia de
pessoas.
Sou seu. Estou tão apaixonado por você
que mal percebo qualquer outra coisa quando
está por perto. Eu nem me importo com o
idiota que você é. Você sempre foi tão bom
comigo. Eu te adoro, apesar de todos os seus
modos arrogantes e controladores.
Ele não sabia se seu rosto transmitia
metade do que estava sentindo, mas deve ter
transmitido algo porque o gelo nos olhos de
Ian derreteu um pouco.
Ele apenas olhou para Miles por um longo
momento antes de finalmente desviar o olhar.
Mas os olhos de Ian endureceram
novamente quando ele olhou para Derek.
— Sim, Miles, vá para o seu
quarto. Pegue sua mala.
Perdido, Miles olhou entre Ian e Derek, a
antipatia mútua entre eles como algo tangível.
— Tudo bem, o que está acontecendo
aqui? — Alexander interrompeu, sua
expressão dura.
— O que está acontecendo aqui é que
Caldwell levou seus jogos longe demais. —
Disse Derek, encarando Ian. — Não sei do que
você está brincando, mas deixe o garoto de
fora. Ele não fez nada para você. Eu sou o
único com quem tem problemas.
— Essa é boa. — Disse Ian, rindo. No
entanto, não havia nenhum traço de diversão
em seu rosto. — Você nunca se importou em
machucar pessoas inocentes antes.
Derek fez uma careta.
— Olha, nunca encontrei sua irmã...
— Eu não estou interessado em suas
desculpas. — Ian interrompeu-o, sua voz
fria. — Elas não consertam a saúde mental de
Amanda ou a tornam menos motivo de piada.
— Então o que você quer? — Derek
estalou, seus olhos negros perfurando um
buraco em Ian.
Um homem menor teria se contorcido sob
aquele olhar pesado, mas isso não parecia
afetar Ian.
— Ainda não decidi. Eu tenho coisas mais
importantes para fazer com o meu tempo.
Shawn fez um som de descrença.
O olhar de Ian piscou para ele. Seus
lábios se curvaram.
— Pensou que eu estava planejando
vingança contra você por anos como um vilão
brega? Desculpe te desapontar, mas você não
é tão importante. Agarrei a oportunidade
quando vi sua empresa lutando. Isso é tudo. —
Ele deu de ombros. — Não é minha culpa que
você não se deu ao trabalho de ler as letras
miúdas.
— Você gosta de nos deixar ansiosos —
Derek disse.
Ian não negou.
— Isso também. — Disse ele antes de
olhar para Miles. Sua mandíbula apertada. —
Vou esperar cinco minutos por você. Vá buscar
sua mala. Ou não.
Com o rosto fechado, ele saiu da casa.
Quando a porta se fechou atrás dele, um
silêncio tenso caiu na sala.
Miles tentou não se contorcer sob quatro
pares de olhos julgadores.
— Miles, não vá com ele. — Disse Shawn,
franzindo a testa. — Sinto muito, mas acho
que ele está apenas usando você.
— Olha... — Disse Alexander, uma ruga
entre as sobrancelhas. — Não sei o suficiente
sobre a situação para dar conselhos, mas ouvi
algumas coisas sobre Caldwell, e nada disso foi
bom. Relacionamentos confusos e
rompimentos feios são os mais
agradáveis desses rumores. Sei que você é um
adulto, mas Zach me pediu para cuidar de
você.
— Ele é gostoso, de um jeito idiota, eu
vou te dar isso. — Disse Christian com um
sorriso malicioso que ficou envergonhado e
provocador quando seu noivo se virou para
ele. — O quê? Eu tenho uma fraqueza bem
documentada por morenos de olhos azuis. —
Ele murmurou com um sorriso, inclinando-se
para Alexander. — Não se preocupe, ele não é
nada como você.
Alexander bufou, dando-lhe um beijo na
testa.
Miles olhou para Derek.
Seus olhos escuros estavam sombrios
quando ele simplesmente disse:
— Nossa casa estará sempre aberta para
você.
Miles sentiu uma onda de gratidão por
ele.
— Obrigado. — Ele conseguiu dizer antes
de subir as escadas para pegar sua
mala. Ainda não a tinha desfeito toda, então
não demorou muito para enfiar de volta as
poucas coisas que tinha tirado.
Ele estava agradecido por não haver
ninguém no corredor quando voltou. Saindo da
casa, foi em direção ao carro de Ian. O motor
já estava funcionando. Com o estômago
retorcido, Miles colocou a mala no porta-malas
e entrou no banco de trás.
Ian estava olhando pela janela, mas virou
a cabeça quando Miles fechou a porta. Sua
mandíbula ainda estava firme, seus olhos
cheios de fogo frio.
— Dirija. — Ian disse secamente antes de
fechar a divisória que separava o banco
traseiro luxuoso do motorista.
Quando o carro começou a se mover, ele
se virou para Miles, sua expressão difícil de ler.
Miles engoliu em seco, sentindo-se como
um coelho preso na armadilha de um caçador.
— Você sabe que não sou bom em
perdoar com facilidade. — Disse Ian.
Miles assentiu.
— Na verdade, não me lembro da última
vez que perdoei alguém. Não sou exatamente
um homem que perdoa.
Miles assentiu novamente.
A expressão de Ian ficou apertada.
— Eu definitivamente nunca perdoei
ninguém, só porque eles piscaram os cílios
para mim e me olharam com fascinação.
Havia uma grande quantidade de
aborrecimento e repulsa no olhar de Ian, assim
como descrença. De repente, ele avançou,
apertando Miles contra o assento de couro,
olhos azuis duros o prendendo contra o
assento tão eficazmente quanto seu corpo.
Miles respirou fundo. Porra. Ele tremia
levemente, sem nenhuma razão. O cheiro de
Ian, sua proximidade... tudo estava fazendo
sua cabeça girar. Mal conseguia focar seu olhar
no de Ian.
Queria enterrar o nariz na mandíbula dele
e inspirá-lo. Queria colocar as mãos sob a
camisa e sentir sua pele quente. Queria
arrancar todas as roupas para que nada os
separasse, peito nu contra peito nu, cabelo no
peito de Ian contra seus mamilos sensíveis...
Porra, até pensar nisso o deixava tão excitado
que quase choramingou.
Os dedos de Ian acariciaram sua
bochecha, seu olhar penetrante.
— Diga-me qual parte disso era mentira.
Miles balançou a cabeça atordoado.
— Nunca menti para você. — Ele enterrou
os dedos trêmulos nos cabelos de Ian e,
aproximando o rosto, encostou suas
testas. Então inalou trêmulo, olhando os lábios
de Ian. — Isso é real. Você não consegue
sentir?
Ian deu uma risada dura, virando a
cabeça de Miles para lhe dar um chupão
desagradável abaixo da orelha esquerda.
Miles gemeu. Mortificado, ele olhou para
a divisória fechada. O motorista podia ouvi-
los? Ele não conseguia se lembrar se era à
prova de som.
Ian disse, sugando outro chupão na
mandíbula de Miles:
— Não tenho certeza se posso confiar no
que sinto quando estou perto de você.
Com os olhos fechados, Miles mordeu o
lábio para não gemer novamente quando os
dentes de Ian se fecharam na pele sensível da
curva do pescoço.
— O que você sente?
Ian riu de novo, lambendo o lugar que
acabara de morder.
— Agora mesmo? Sinto vontade de
marcar você por todo o lado. Despi-lo e te
foder aqui, no banco de trás do meu carro
enquanto meu motorista está a alguns metros
de distância.
A respiração de Miles ficou presa na
garganta. A mera ideia... Cristo. A mera ideia
de ser fodido, de ter o pênis de Ian dentro dele
enquanto o motorista não sabia de nada, era
deliciosamente atrevido.
— Sua putinha. — Disse Ian, quase
carinhosamente, mordendo o lóbulo da sua
orelha. — Você realmente quer isso.
Miles só podia gemer, sua mão lutando
entre eles para tatear o pênis de Ian através
do tecido de sua calça. Naquele momento, ele
não se importava com o motorista - não tinha
certeza de que seria capaz de parar, mesmo
que não houvesse uma partição que os
separasse do motorista. O pênis de Ian já
estava meio duro e rapidamente endurecendo
sob sua mão. Oh, Deus.
— Vamos lá. — Disse Miles sem fôlego. —
Qual é o sentido de ter um carro tão sofisticado
com um banco traseiro enorme, se você não o
usa?
— Você não pode estar falando sério. —
Ian disse, a boca em seu ouvido. — Sexo no
banco de trás? Eu não sou adolescente.
Ignorando suas palavras, Miles abriu a
braguilha de Ian e puxou sua ereção. Estava
quente, dura e perfeita na mão dele.
Ian respirou fundo.
— Nós não temos lubrificante.
— Não há vaselina naquele
compartimento? Acho que vi uma.
— Eu não tenho a menor ideia. Não
importa. Não estamos fodendo no carro, Miles.
Miles apertou o pênis de Ian.
— Por que não?
Ian sibilou. Olhou para ele e respondeu:
— Não tenho camisinha comigo.
Deveria ter sido isso. Durante toda a sua
vida, Miles revirou os olhos para as pessoas
que alegavam estar “muito envolvidas no
momento” para usar proteção. Mas agora seu
único pensamento era: eu não ligo. Preciso de
você.
— Você está limpo, certo? Estou
limpo. Você sabe que é o meu primeiro. —
Miles sabia que estava jogando sujo, sabia o
quanto isso excitava Ian, mas ele não estava
acima de usar a possessividade de Ian para
conseguir o que queria. E no momento, tudo o
que queria era Ian.
Ele não ficou desapontado.
Com um barulho gutural, Ian finalmente
o beijou, os dedos segurando seu queixo em
um aperto punitivo enquanto devorava sua
boca, apertando-o contra o assento.
Deus.
Miles perdeu toda a noção do tempo,
perdendo-se nos beijos famintos e possessivos
de Ian, o pênis duro pulsando em sua mão. Os
sons do motor e dos carros buzinando
pareciam incrivelmente distantes e irreais; Ian
era a única coisa que importava.
Ele acariciou o pênis de Ian enquanto
este devorava sua boca, sua mente enevoada
de excitação e necessidade. Ele queria engolir
Ian, levá-lo para dentro de si e finalmente
torná-los completos.
Demorou muito, mas eles finalmente
conseguiram tirar o jeans e a cueca de
Miles, encontrar a vaselina e deslizar no pênis
de Ian. Demorou ainda mais para preparar
apressadamente Miles. Foi superficial, na
melhor das hipóteses, mas Miles não se
importou.
— Isso é loucura. — Ian grunhiu,
recostando-se no banco e assistindo Miles
alinhar o seu pênis com o ânus. Seus lábios se
curvaram em um sorriso torto. — Você é
insano.
Miles sorriu para ele, rindo, mas suas
risadas se transformaram em um longo gemido
quando afundou lentamente no pênis
escorregadio de Ian. Fooooda. Era uma coisa
boa que o pênis de Ian não fosse
assustadoramente grosso ou teria sido, sem
dúvida, doloroso, com essa preparação
inadequada. Como era, parecia perfeito.
Quando finalmente estava
completamente sentado no comprimento duro
dentro dele, Miles ergueu seu olhar desfocado
para Ian, e foda-se, a visão dele,
completamente vestido, em seu caro terno
escuro, com apenas seu pênis para o prazer de
Miles, seu rosto tenso de desejo e seus olhos
vidrados... Era uma excitação incrível.
Inclinando-se para se dar mais espaço
para se mover, Miles pressionou o rosto contra
a almofada, seu corpo tremendo, o mundo
girando fora de controle. Ele começou a montar
Ian, tentando engolir seus gemidos.
Teve apenas meio sucesso: os sons
pequenos e abafados ainda saíam de sua boca
enquanto girava seus quadris no pênis de Ian,
tentando atingir aquele ponto dentro dele. Os
dedos de Ian cavaram com força em suas
nádegas, ajudando-o a montá-lo, a respiração
de Ian dura e instável em seu ouvido.
Miles virou o rosto para olhar para Ian e
se viu paralisado, preso no olhar faminto. Miles
esperava que seu olhar não fosse tão
apaixonado quanto se sentia. Ele se
sentia bonito, querido e especial. Ian sempre o
fazia se sentir assim. Ian o fez se sentir sexy,
poderoso e impotente ao mesmo tempo. Era
um sentimento tão viciante.
Com os olhos fixos nos de Ian, Miles
começou a cavalgá-lo mais rápido.
Nunca se sentiu tão fora de controle, tão
ligado. Porra, amava isso, amava se foder no
pênis de Ian, adorava se sentir tão conectado a
ele, vendo os olhos de Ian tornarem-se
vidrados de luxúria, sentindo quanto prazer Ian
estava tendo nele, o pênis de Ian duro e
quente dentro dele.
Logo, Miles não conseguia mais abafar
seus gemidos, pequenos “Ah, Ah, Ah.” saindo
de sua boca a cada movimento descendente.
Ele sabia que era barulhento demais,
sabia que o motorista provavelmente podia
ouvir seus gemidos e os sons obscenos e
escorregadios enquanto seus quadris se
moviam, buscando libertação. Ele não se
importava. Oh, Deus, Oh, Deus, Oh, Deus.
Os dedos de Ian pressionaram com força
contra seu períneo, e Miles viu estrelas,
gozando com um gemido alto. Ele caiu contra
Ian como uma boneca de pano, deixando Ian
empurrar por um tempo até que o sentiu se
aprofundar dentro dele e ficar imóvel.
Miles levou um tempo para recuperar sua
capacidade de pensar. Quando o fez, percebeu
que o carro não estava mais em movimento - o
que significava que eles haviam chegado e o
motorista definitivamente ouvira o que
estavam fazendo no banco de trás.
Como uma sugestão, a porta do
motorista se abriu e fechou, e então houve o
som de passos em retirada.
Uma risada, um pouco histérica, mas
cheia de diversão, saiu dos lábios de Miles.
— Oh, meu Deus, nunca mais poderei
olhar Zane nos olhos. Por que você não me
disse que era uma má ideia?
Ian bufou, as mãos ainda descansando de
uma maneira bastante possessiva em sua
bunda.
— Eu fiz. Você quase me intimidou.
Sorrindo, Miles beijou sua bochecha.
— Certo. E você é totalmente
inocente. Seu pênis acabou no meu traseiro
totalmente por acidente.
Ian beliscou sua nádega.
— Não por acidente, mas não fui eu que
estava com muito tesão para esperar até
chegarmos em casa.
Casa.
Algo no estômago de Miles apertou com a
palavra, seu sorriso se tornando melancólico.
Recuando para olhar Ian nos olhos, Miles
disse honestamente:
— Eu só senti sua falta, acho.
A diversão desapareceu dos olhos de Ian,
sua expressão se tornando quase terna.
— Sim. — Ele disse em uma voz tensa. —
Liam também sentiu sua falta.
Miles olhou para ele.
Ian sorriu largamente e depois riu, uma
gargalhada completa que Miles raramente
ouvira dele.
Miles olhou para ele, seu peito cheio e
quente. Tão quente.
Bem, porra.

Capítulo 17

— Não, Ian, de jeito nenhum!


Miles estava rindo, tentando puxar os
lençóis para cobrir seu corpo nu, sem
conseguir direito, já que Ian estava sentado
neles.
— Fique quieto. — Ian o repreendeu, seu
lápis voando sobre o caderno de desenho.
Miles gemeu, fazendo uma careta.
— Vamos lá, eu devo estar ridículo.
Eles tinham acabado de fazer sexo, e ele
tinha fluidos corporais, mordidas de amor e
hematomas em forma de dedo por todo o
corpo.
— Pareço uma prostituta. — Ele
reclamou.
Ian o ignorou, como costumava fazer
quando estava de humor criativo, seu olhar
completamente focado em seu desenho.
Miles não pôde deixar de sorrir para ele
com carinho. Em momentos como esse, Ian o
lembrava do filho. Liam também ficava
insanamente focado quando estava construindo
algo com seu LEGO.
Seu sorriso suavizou com o pensamento
de Liam. Na semana em que ele se fora, o
garoto progredira muito bem. A psicóloga
infantil que Ian escolheu como babá de Liam
realmente era uma boa escolha. De alguma
forma, conseguiu tornar Liam mais amigável
com o pai. Miles ficou com um pouco de
ciúmes, para ser sincero, que ela conseguiu
onde ele falhou. Gostaria de ser o único a
preencher a lacuna entre pai e filho, mas
principalmente se sentia aliviado e feliz - feliz
por ver Ian tão contente e satisfeito com o
mundo.
Você tem isso tão ruim, que nem é
engraçado. Você é feliz porque ele
é feliz? Sério?
Miles tentou afastar o pensamento
desconfortável.
— Não franza a testa. — Ian disse, seu
olhar piscando entre Miles e seu caderno de
desenho.
Sorrindo, Miles revirou os olhos.
— Sim, senhor. Como quiser.
A mão de Ian parou.
Ele levantou os olhos de volta para Miles
e o encarou.
Miles engoliu.
Ian colocou seu caderno de lado e rolou
em cima dele.
Passando os braços em volta do pescoço
de Ian, Miles o puxou para baixo até que suas
bocas se uniram e todo o resto
desapareceu. Deus, esse homem. Nunca se
cansaria dele.

*****
Miles sempre foi uma pessoa da
manhã. Ele nunca havia entendido pessoas que
podiam descansar na cama a manhã toda. Mas
nas últimas semanas havia desenvolvido um
novo apreço pelas manhãs tardias e
preguiçosas. Ele percebeu que, se houvesse
alguém com quem queria passar o tempo todo
na cama, isso mudava tudo. As manhãs de
sábado e domingo, quando Ian não precisava ir
trabalhar, eram absolutamente suas
favoritas.
Infelizmente, esta não era uma delas.
Miles resmungou em protesto quando Ian
tentou sair do emaranhado de pernas que
estavam.
— Não.
Uma risada.
— Tenho uma reunião importante esta
manhã para a qual não posso me atrasar.
Fazendo um beicinho sonolento, Miles
apertou os braços em volta de Ian e repetiu:
— Não. — Não vá.
Houve silêncio por um tempo, sociável e
acolhedor. Miles nunca pensou que o silêncio
pudesse ser quente, mas era, e se deleitou
nele. Ao contrário de suas palavras, Ian não
parecia com muita pressa de sair da cama, a
mão passando pelos cabelos de Miles.
Mas depois de um tempo, Ian finalmente
quebrou o silêncio confortável.
— Você poderia ir comigo para o
escritório.
Miles abriu os olhos.
— Por qual motivo? Não sou mais seu
assistente nem seu estagiário.
— Eu poderia inventar uma razão. — Ian
disse rigidamente. — Se Rutledge conseguiu
colocá-lo em meu escritório, eu também posso.
Miles fez uma careta. Embora tivesse
passado semanas desde o desastroso jantar na
casa dos Rutledges, a lembrança ainda o
deixava desconfortável. O assunto todo o
deixou desconfortável. Embora tivesse
conseguido convencer Alexander a não contar
nada a Zach, odiava o quão tenso seu
relacionamento com ele e com os Rutledges se
tornara. Eles provavelmente o viam como um
traidor na pior das hipóteses, ou um idiota
iludido na melhor. Ele não sabia como
convencê-los de que Ian não era algum tipo de
personificação do mal. Mandar mensagens de
texto sobre algo assim era muito estranho, e
ele também não podia vê-los pessoalmente,
porque sabia que Ian ainda estava preocupado
com a coisa toda. Não ferir os sentimentos de
Ian era mais importante para ele do que não
ferir os de Derek e Shawn. Ele poderia tê-los
considerado amigos, mas Ian era... Ian era
algo completamente diferente.
Foda-se, Miles estava perfeitamente
ciente de como ele era. Quando Ian estava na
sala, todo o resto parecia desaparecer. Às
vezes, Miles sentia como se estivesse se
afogando em Ian - ou que se afogaria sem
ele. Deveria deixá-lo assustado. Isso não
aconteceu. Não havia nenhum sinal de alarme
tocando em sua cabeça, como se fosse
totalmente natural sentir que você não podia
respirar sem outra pessoa. Deus, esses
sentimentos carentes estavam tão confusos,
mas também era um sentimento incrível, como
uma elevação natural.
— Não acho que seja uma boa ideia. —
Murmurou Miles, aninhando-se contra a
garganta de Ian. — Todo mundo fofocaria
sobre nós. Sejamos honestos: somos péssimos
em ser sutis.
Para não dizer pior. Ele ainda não
conseguia olhar nos olhos do motorista de
Ian. Nas últimas semanas desde que voltou
para casa, todo o pessoal, começando pelo
jardineiro e terminando com o cozinheiro,
parecia ter descoberto sobre eles, e nem
mesmo foi o motorista que lhes
contou. Obviamente, a culpa foi deles. Se
apenas se abstivessem de se tocar fora do
quarto, ninguém saberia.
— Sei que não é uma boa ideia. — Ian
disse laconicamente. — Mas...
Ele parou, mas Miles podia sentir a
frustração dele como se fosse sua.
Mas eu quero levá-lo comigo de qualquer
maneira. Era isso que Ian não estava
dizendo? Ou Miles estava se iludindo? Ele
estava projetando seus próprios sentimentos e
pensamentos cada vez mais carentes em Ian,
interpretando-o
completamente? Provavelmente. Não ajudou
que, ultimamente, Miles estivesse ciente do
fato de que o verão estava terminando e que
deveria partir em breve. Ele tinha um novo
passaporte agora, e sua família estava
perguntando quando voltaria. Seus irmãos não
entendiam por que ainda estava em Boston,
em vez de viajar pela América, como pretendia
fazer.
Miles escondeu o rosto na curva do
pescoço de Ian, o estômago se apertando
ansioso. Mesmo pensar em sair trouxe um
sentimento de pânico apertado ao peito.
Mas ele precisaria, e logo. Sua vida
estava em Londres. O semestre começaria no
próximo mês. Ele tinha sua família e amigos
para voltar. Era o período mais longo que
passou longe deles. Sentia muita falta da
família. Ele queria ir para casa.
Mas...
Um toque interrompeu seus pensamentos
conflitantes. Relutantemente, Miles permitiu
que Ian saísse da cama para atender o
telefone.
Ele não conseguiu ouvir uma palavra que
Ian disse ao interlocutor. Em vez disso, olhou
para Ian, com o toque cinza em suas
têmporas, seu belo perfil, sua boca firme e seu
corpo forte e poderoso. Olhou para ele e já
sentia sua falta, mesmo que ele ainda
estivesse ali.
Por quanto tempo? Uma voz sussurrou no
fundo de sua mente. Eram dias contados, algo
que terminaria em breve.
Uma parte dele, uma parte pequena e
estúpida, esperava que Ian lhe pedisse para
ficar. Miles não tinha certeza do que diria se
Ian realmente fizesse isso, mas desde que
sabia que não estava acontecendo, se permitiu
entrar nessa fantasia por um momento. Nessa
fantasia, ele e Ian se casariam e criariam Liam
juntos. Nessa fantasia, toda a sua família
também vivia magicamente na América.
Nessa fantasia, Ian estava apaixonado
por ele.
Miles quase se encolheu com o
pensamento. Estava tentando não pensar
nessa palavra, mas a cada dia que passava,
era mais difícil. Como se chamava um
sentimento que era uma mistura de
necessidade, afeto avassalador, desejo
angustiante e uma sensação de retidão,
segurança e pertencimento? Só poderia ser
uma coisa; Miles estava ciente disso.
Ele ainda tentou não pensar nessa
palavra. Ian nunca indicou que isso significava
mais para ele do que uma coisa de amigos com
benefícios. Ian nunca usou a palavra com
“a”. Inferno, nunca usou termos carinhosos
com ele. Ian nunca havia falado sobre a
possibilidade de Miles ficar, como se isso nunca
tivesse ocorrido a ele. Nunca tinha surgido uma
vez.
Ele realmente deve ser um idiota, lendo
demais nos olhares intensos e quentes de
Ian. Provavelmente estava apenas vendo
coisas que queria ver. O pensamento fez seu
estômago apertar. O amor era um sentimento
terrível, mas maravilhoso. O amor não
correspondido era simplesmente aterrorizante.
— O que há de errado? — Ian disse.
Vacilando, Miles voltou os olhos para ele.
Ian estava franzindo a testa. Parecia que
ele havia terminado sua ligação e Miles nem
tinha notado, perdido em seus pensamentos.
Miles deu de ombros, sem saber o que
dizer. O que poderia dizer? Estou meio louco,
profundamente apaixonado por você e quero
que sinta o mesmo por mim.
Ele sentou e arrastou os lençóis, sentindo
frio de repente. Olhou para os dedos dos pés
espreitando pelos lençóis.
Ele sentiu mais do que ouviu Ian se
aproximar dele.
— Miles. — Ele disse, sua voz mais suave.
Miles estremeceu. Ian tinha um jeito de
dizer seu nome que soava melhor do que
qualquer carinho.
Ele ergueu o olhar lentamente e
encontrou os olhos de Ian.
— O quê?
A expressão de Ian era tensa.
— Não faça isso.
— Fazer o quê? — Miles disse, piscando
em genuína confusão. Ele não estava fazendo
nada.
Ian olhou para ele.
— Tenho uma reunião importante em
menos de uma hora. Não só vou me atrasar,
mas também não poderei me concentrar nisso,
se continuar pensando no motivo de você estar
chateado.
Miles piscou novamente antes de um
sorriso lento esticar seus lábios. Avançando,
pressionou o rosto contra o peito nu de Ian e
abraçou-o com força. Eu preciso de você,
pensou quando Ian o abraçou de volta,
hesitante no começo, depois com mais força.
Amo você, pensou Miles, fechando os
olhos e murmurando as palavras contra a pele
quente de Ian. Ele não se atreveu a dizê-los
em voz alta. Não tinha certeza de quão bem
elas seriam recebidas.
Ficou claro que Ian pelo menos se
importava com ele. Se importava
muito. Provavelmente era assim que alguém se
importava com um amigo, mas naquele
momento não importava. Iria apreciar este
momento, não importa o quão fugaz fosse.
Talvez as pessoas estivessem certas
quando diziam que até o amor unilateral era
melhor do que estar com alguém que te
amasse, mas você não o amasse de
volta. Miles sentiu como se estivesse sufocando
com esse amor, a emoção fazendo seu peito
apertar de desejo. Doeu, mas também era a
melhor sensação do mundo, a proximidade de
Ian o deixando quase tonto de prazer. Nada
parecia melhor do que ser segurado pelo
homem que amava.
— Não estou chateado. — Disse Miles,
com sinceridade. Nunca poderia estar chateado
com os braços de Ian ao seu redor.
Até você, eu não conhecia nem paixão
nem amor. Depois de você, provavelmente
nunca mais os conhecerei. E talvez esteja tudo
bem.
— Acabei de perceber uma coisa. —
Continuou, respirando o perfume de Ian. Seus
olhos ardiam um pouco quando ele se afastou,
mas estava sorrindo. — Acho que vou sentir
sua falta quando voltar para casa.
O rosto de Ian ficou imóvel.
Ele apenas olhou para Miles por um longo
momento antes de algo mudar em seus olhos.
Ele acenou com a cabeça.
— Provavelmente sentirei sua falta
também. — Ele se virou e desapareceu no
banheiro. Houve o som do chuveiro sendo
ligado.
Miles fechou os olhos, a garganta
apertada.
Parte dele esperava estupidamente por
uma reação diferente. Palavras diferentes.
Ele quase riu de si mesmo. Por que Ian
pediria um garoto britânico que conhecia há
apenas alguns meses para ficar com ele na
América? Era apenas uma aventura de verão,
nada mais. Eles eram de mundos
diferentes. Claramente, ele era o único que se
sentia infeliz ao pensar num oceano entre
eles.
Deus. Basta.
Chega.
Este não era ele. Essa pessoa triste e
miserável não era ele.
Porra, estava se tornando cada vez mais
óbvio que precisava sair antes que essas
emoções tóxicas pudessem destruir tudo de
bom que havia entre eles. Poderiam se separar
como amigos. E parecia que quanto mais cedo
ele saísse, melhor seria para seu próprio
estado mental. Arrancar o band-aid de uma
vez seria melhor do que prolongar essa lenta
tortura.
Um dia.
Não, eu não posso. Não tão cedo.
Miles rangeu os dentes, odiando sua
fraqueza.
Tudo bem. Uma semana.
Daria a si próprio uma semana e depois
partiria.

Capítulo 18

Miles estava se comportando


estranhamente.
Nos últimos dias, ele parecia passar de
quieto e triste a ansioso e afetuoso num
espaço de minutos, alternando entre estar
distante e extremamente pegajoso.
Ian observou com uma leve confusão,
tentando entender por que Miles estava se
comportando assim. Tudo bem, ele podia estar
um pouco obcecado com isso. Ou
muito. Costumava fazer isso quando se tratava
de Miles.
Cristo. Em trinta e um anos de sua
vida, Ian nunca se sentiu assim. Tão
apaixonado. Tão apaixonado por alguém. Ele
havia sido acusado de ser “demais” e “muito
intenso” inúmeras vezes, mas esses tempos
não eram nada comparados à maneira como
estava com Miles.
Não podia beijá-lo forte o suficiente. Não
podia tocá-lo o suficiente. Deixou inúmeras
marcas por toda a pele macia com os dentes e
os dedos, mas de alguma forma não foi
suficiente. Inferno, não conseguia olhar
o suficiente. Apenas olhar, como se fosse um
adolescente que não conseguia parar de
encarar o objeto de sua paixão.
Mas, porra, tudo o que Miles fazia era
fascinante: o jeito que sorria sonolento, o jeito
que se aconchegava contra seu ombro, o jeito
que aqueles olhos verdes se iluminavam assim
que Ian entrava na sala. Era intoxicante.
Parte dele estava chateado com sua falta
de controle. Mas havia pouco que pudesse
fazer sobre isso. Queria Miles o tempo todo: de
costas, nas mãos e nos joelhos, no colo, de
joelhos à sua frente, com seus belos lábios em
volta do pênis de Ian. De alguma forma, Miles
parecia igualmente bem sob ele quando tinham
sexo baunilha, lento e cara a cara, e quando
estava amarrado, com os olhos vendados e
coberto de hematomas.
Se faziam o último, a parte favorita de
Ian nem era o sexo. Era o que acontecia
depois: quando Miles era uma bagunça
carente, que precisava de conforto e
cuidado. O cuidado dele. Cuidar de Miles fazia
coisas com ele que Ian não conseguia colocar
em palavras. Não havia palavras para esse
sentimento: ele se sentia com dois metros de
altura e incrivelmente humilhado pela
confiança de Miles.
Não era como se nunca tivesse prestado
cuidados após cenas com as mulheres. Claro
que tinha. Mas, com Miles, parecia muito mais
íntimo. Nunca sentiu vontade de beijar as
pontas dos dedos de suas parceiras e dar a
elas o mundo se pedissem. Felizmente, Miles
nunca usou essa fraqueza contra ele.
Até o dia em que usou.
A noite começou normal o
suficiente. Depois do jantar, brincaram com
Liam até a hora de dormir e depois foram para
a sala de cinema assistir algo juntos. Só que
Miles não parecia interessado em assistir ao
filme. Ele passou a maior parte do filme no colo
de Ian, quase agarrado a ele. Em algum
momento, começou a beijar o pescoço de Ian,
e isso previsivelmente terminou com eles
fazendo sexo no sofá.
Mais tarde, Ian olhou para o teto e se
divertiu quando se tornou um exibicionista, que
fazer sexo fora do quarto era a norma para ele
agora. Pelo menos nas últimas semanas, a
equipe aprendeu a ficar fora do caminho.
— Você pode me prometer uma coisa? —
Miles murmurou contra seu peito, sua voz
ainda um pouco sem fôlego.
Ian cantarolou, acariciando suas costas
nuas. A forma dele era fascinante, a maneira
como a coluna de Miles se curvava suavemente
para os globos suaves de sua bunda. Havia um
pequeno sinal na parte inferior das costas de
Miles, logo acima das duas covinhas, acima de
suas nádegas. Ian beijou o sinal inúmeras
vezes antes de arrastar a boca e lamber as
nádegas de Miles, até que o garoto estivesse
chorando e implorando para que transasse com
ele.
— Abandone seus planos de vingança
contra os Rutledges.
A mão de Ian ficou parada nas costas de
Miles.
— Isso não é algo que posso prometer.
Miles suspirou.
— Temia que dissesse isso. — A decepção
em seu tom era palpável, e Ian apertou a
mandíbula.
Ele não ia desistir, caramba.
Não ia.
— Derek nunca conheceu sua irmã. —
Disse Miles. — Ele realmente não achava que
alguém se machucaria...
— Está certo. Ele não pensou. Olha, não
quero falar sobre isso.
— Por que não? — Miles disse
suavemente, seus lábios roçando a pele de Ian
enquanto falava.
Porque quero satisfazer todos os seus
caprichos, e isso não é o ideal, considerando o
assunto.
Ian disse categoricamente:
— Porque Derek Rutledge é um idiota
egoísta, que prejudicou a saúde mental de
Amanda e quase conseguiu matá-la.
Miles ficou quieto por um momento.
— Mas não foi ele quem fez isto. — Disse
ele. — Suas ações aconteceram
inadvertidamente.
— Há uma diferença?
— Acho que sim. — Disse Miles, sua voz
lenta e pensativa. — Ele não poderia ter sabido
que ela aceitaria tanto. A maioria das pessoas
ficaria humilhada depois de ter sido
abandonada publicamente.
Ian olhou para o teto. Era verdade,
supôs. Amanda era uma criança muito
sensível, e só piorou quando entrou na
adolescência. Não ajudou que o pai dela fosse
um político proeminente: o escrutínio público
da família sempre fora imenso. Ser
abandonada publicamente foi apenas o último
empurrão.
— Ela sempre foi muito sensível. — Ele
admitiu.
— Veja, Derek não poderia saber se não a
conhecia. — Disse Miles.
— Isso não muda nada. — Ian disse
laconicamente. — Ele a humilhou
publicamente. Ela tem depressão crônica
graças a ele.
Ian respirou fundo, tentando controlar
seu temperamento.
Racionalmente, sabia que não deveria
ficar bravo com Miles - ele considerava os
Rutledges seus amigos -, mas havia uma parte
dele que não gostava que Miles não estivesse
do seu lado. Ele sempre deveria ficar do meu
lado, insistia seu cérebro posterior, cruelmente
possessivo. Ele é meu.
Ian fez uma careta e esmagou esses
pensamentos. Ele vinha fazendo isso mais e
mais vezes ultimamente, só que não podia
apagá-los completamente, por mais que
tentasse.
Miles suspirou.
— Olha, odeio parecer que sou um santo,
mas dois erros não tornam algo certo. Arruinar
a vida dos Rutledge não vai consertar o que
aconteceu com sua irmã.
— Não, mas isso me fará sentir melhor.
Miles riu, o que depois se transformou em
gargalhadas.
Ian olhou para ele.
— Gostaria de compartilhar a piada
comigo?
Erguendo a cabeça, Miles deu um sorriso
triste.
— É realmente uma bagunça que meu
primeiro pensamento foi 'se isso vai fazer você
se sentir melhor, então acho que está bem
fazê-lo’. Na verdade, pensei nisso por um
momento. Acho que você quebrou meu
cérebro.
Ian não sabia o que dizer sobre isso.
Ele apenas olhou para Miles, e Miles
olhou para ele, seu sorriso suavizando.
Havia algo tangível no ar, uma emoção
que Ian podia praticamente provar.
Antes que pudesse dizer alguma coisa,
Miles pigarreou e desviou o olhar.
— Comprei uma passagem para casa. —
Disse ele, sentando-se e pegando a boxer
descartada para colocá-la.
Ian estava tão distraído com a visão que
demorou alguns segundos para recuperar o
atraso. Quando o fez, seus olhos se voltaram
para a nuca de Miles.
— Você fez o quê? — Ele disse, apesar de
ter ouvido perfeitamente da primeira vez. Sua
voz parecia distante, como se não lhe
pertencesse. Não sabia por que se sentia como
se tivesse levado um soco no estômago. Sabia
que isso aconteceria desde que Miles dissera a
ele acho que vou sentir sua falta quando voltar
para casa.
Sabia que Miles iria embora.
Ainda estava completamente
despreparado para a realidade, com o coração
batendo forte e as mãos tremendo de
adrenalina.
Ian sentou e fechou a braguilha, seu
olhar nas costas de Miles enquanto o jovem
continuava se vestindo.
— Comprei uma passagem para Londres.
— Disse Miles uniformemente. — Meu voo é
depois de amanhã.
Ian olhou para ele.
Então se levantou e colocou a camisa.
— E quando me contaria isso?
Miles se virou e deu-lhe um olhar firme.
— Estou lhe dizendo agora.
Ian teve que morder a língua para não
dizer o que não deveria. Havia várias coisas
que queria dizer. Coisas que sem dúvida o
faziam parecer confuso, controlador ou
perturbado. Ou todas acima.
Fazendo uma careta interior, Ian disse:
— Vou dar uma volta.
Saiu da sala antes que pudesse dizer
qualquer coisa que se arrependeria. No
controle. Ele estava no controle. Não era um
Neanderthal.
Depois que saiu de casa, Ian respirou
fundo o ar fresco. Não fez nada para clarear
sua cabeça.
Estava escuro lá fora, mas o terreno
estava bem iluminado. Rondava o terreno
como um animal enjaulado, tentando esmagar
o desejo de voltar para casa, amarrar Miles na
cama e nunca o deixar ir.
Droga.
Claramente precisava sair de casa ou
acabaria sendo exatamente o que sua ex-
esposa o acusara: um pedaço de merda
sufocante e controlador. Não queria que Miles
olhasse para ele como se fosse algum tipo de
aberração louca e perturbadora.
Não dava a mínima para o que as outras
pessoas pensavam dele, mas a mera ideia
de Miles olhando para ele com nojo e medo...
Isso revirou seu estômago. Miles nunca
pareceu se importar com sua atitude
arrogante, mas havia arrogância e depois havia
o que Ian realmente era.
— Sr. Caldwell? Quer ir a algum
lugar? Vou ligar para Zane.
Vacilando, Ian olhou em volta,
percebendo que seus pés o haviam levado para
a garagem.
Um guarda de segurança estava olhando
para ele confuso e com cautela.
— Não há necessidade. — Ian disse a ele,
indo para o armário com as chaves. — Vou
dirigir. — Talvez um passeio clareasse sua
cabeça.
Pegando a chave do carro mais próximo -
a Ferrari - entrou no carro e saiu da
garagem. Os pneus guincharam e xingou
quando quase bateu no poste.
Porra, talvez não tenha sido sua melhor
ideia. Nunca foi um grande motorista e ficou
fora de prática depois de anos de outras
pessoas o levando para onde queria. Seu
estado agitado também não ajudou.
Ian se forçou a respirar profundamente, o
ar entrando e saindo, e se concentrando
inteiramente na estrada até poder pensar de
maneira racional.
A verdade era... A verdade era que Miles
obviamente poderia sair se quisesse. Ele não
tinha motivos para ficar. Por que ficaria aqui
quando sua vida inteira estava no Reino
Unido?
Ian sabia que Miles tinha... Algum tipo de
sentimento por ele, mas não importava tanto
quando se tinha vinte anos. Miles tinha toda a
sua vida pela frente. Nessa idade Miles ficaria
apaixonado por alguém novo a cada poucos
meses. Ele não abandonaria sua vida por um
caso de verão.
Quando Ian sentiu um gosto amargo na
boca, percebeu que havia mordido o lábio com
força suficiente para tirar sangue.
Porra, inferno. Ele precisava se acalmar.
O chiado dos freios foi seu único aviso
antes que a dor explodisse em seu corpo, sua
cabeça batendo contra a janela.
Tudo ficou escuro.

Capítulo 19

Miles jogou e girou em sua cama por


séculos, incapaz de adormecer. A estranha
reação de Ian - ou falta de reação - o
incomodou mais do que deveria. De todas as
reações possíveis, não esperava que Ian fosse
dar um passeio.
Deus, era tão patético. Realmente
esperava que Ian o proibisse de sair? Sério?
Miles suspirou em seu travesseiro,
abraçando-o. Foi realmente patético. Não
conseguia mais adormecer sem o corpo de Ian
em volta dele.
Um som fez seus olhos se abrirem.
Ele virou a cabeça em direção à
porta. Tinha certeza de que podia ouvir vozes -
vozes distantes, mas frenéticas. Quem poderia
ser? Era no meio da noite. Ian ainda não havia
retornado, tanto quanto sabia.
Franzindo a testa, saiu da cama e abriu a
porta.
Teve que piscar algumas vezes quando
seus olhos se ajustaram ao corredor bem
iluminado. Ele estava certo: duas figuras
conversavam entre si em voz baixa. Levou um
momento para reconhecer Winifred e Zane, o
motorista de Ian. Os dois estavam com o
cenho franzido. Winifred estava chorando?
O estômago de Miles endureceu em um
nó apertado de ansiedade e pavor. Ian ainda
não havia retornado. Tinha... Tinha acontecido
alguma coisa?
— O que está acontecendo? — Ele disse.
As cabeças de Winifred e Zane se
voltaram para ele.
Por um momento, apenas olharam para
ele, algo profundamente desconfortável em
suas expressões.
O estômago de Miles
doía. Algo estava errado.
— Winifred? — Ele disse com voz rouca,
olhando em seus olhos suspeitosamente
brilhantes.
Os lábios da governanta apertaram com
força por um momento.
— Caldwell. Ele... Houve um acidente.
Miles sentiu como se o chão fosse puxado
sob seus pés. Ele teve que se apoiar na porta,
sentindo-se tonto.
— Um acidente? — Resmungou. — Ele...?
— Ele tinha que estar bem, tinha que estar,
por favor, por favor.
A expressão tensa de Winifred
desmoronou.
— Não sabemos, querido. Sabemos
apenas que ele estava em estado crítico há
uma hora, mas não sabemos... Não sabemos
mais nada. Seremos os últimos a saber se algo
acontece.
Miles assentiu atordoado. Claro. Eles
eram apenas
funcionários. Empregados. Ninguém lhes diria
nada.
— Como você descobriu? — Perguntou.
Zane foi quem respondeu.
— O hospital entrou em contato com a
família do Sr. Caldwell e informaram o seu
assistente. Foi quem me contatou. Me disse
para vir aqui e esperar, caso precisem de algo
para o Sr. Caldwell. Ele prometeu nos avisar
se... Se algo acontecer, mas não houve nada
até agora.
Miles tentou se confortar. Ele disse a si
mesmo que nenhuma notícia era bom. Mas
parecia que o mundo estava girando em torno
dele e não conseguia respirar, o medo
agarrando seu peito e apertando sua garganta.
— Em que hospital ele está? — Ele disse,
olhando para Zane. Seu constrangimento com
o sexo no carro parecia tão bobo agora. Tão
irrelevante. Ele precisava ir até Ian,
precisava...
— Você não poderá vê-lo, Miles. — Disse
Winifred, não de maneira cruel. — Nenhum de
nós poderá. Apenas família.
Miles caiu contra a porta, segurando os
restos de sua compostura ao seu redor como
uma capa esfarrapada.
Ele não iria chorar na frente deles. Não
iria.
— Vá dormir, querido. — Disse Winifred,
olhando-o com tanta pena que era óbvio que
não estava enganando ninguém. — Vou deixar
você saber se... Se algo mudar.
Assentindo entorpecido, Miles cambaleou
de volta para o quarto e fechou a porta.
Ele nunca se sentiu tão desamparado em
sua vida.
E tão aterrorizado.

Capítulo 20

A semana seguinte passou num borrão de


angústia, pânico e medo desamparado. Miles
sentiu como a morte requentada, a cabeça
latejando e os olhos doendo por falta de
sono. Ele comeu alguma coisa quando Winifred
quase o forçou e tentou ignorar os olhares de
pena da equipe. Tentou sorrir quando estava
com Liam, mas o garoto ainda parecia sentir
que havia algo errado e alternava entre ficar
quieto demais e fazer birras.
— Eu quero Dadá! — Ele gritou em algum
momento, seus olhos azuis encarando Miles.
Mais tarde, Miles teria vergonha de
desabar na frente de uma criança pequena,
mas foi exatamente o que aconteceu. Ele caiu
em prantos, e não do tipo bonito, seus joelhos
desabaram quando se enrolou numa bola
apertada e chorou.
Ele queria Ian de volta. Queria vê-lo,
queria sentir seus braços em volta dele, queria
dizer o quanto o amava, contar todos os
pensamentos idiotas que já teve.
Mas a cada dia que passava, a esperança
se torna cada vez menor. O que o assistente
de Ian lhes disse não parecia promissor. Ian
havia sido operado três vezes até agora e,
embora os médicos tivessem conseguido parar
o sangramento interno e consertar os ossos
quebrados, a cirurgia no cérebro não trouxe os
resultados que todos
esperavam. Aparentemente, Ian não conseguia
nem respirar direito sem ajuda. Embora não
estivesse com morte cerebral, ainda estava em
coma, e as chances de acordar pioravam a
cada dia que passava.
Uma mão pequena tocou o braço de
Miles.
— Miles? — Liam disse em voz baixa. Ele
parecia confuso. Assustado.
Miles limpou o rosto com as mãos e
levantou a cabeça para olhar para o
garoto. Deus, olhar Liam machucava. Ele
parecia muito com seu pai. Miles podia ver Ian
em todas as suas feições.
— Sinto muito, querido. — Resmungou
Miles, tentando sorrir pelo bem do garoto.
Antes que pudesse dizer mais alguma
coisa, a porta se abriu.
Miles se viu encarando uma mulher
desconhecida. Ela era alta e elegantemente
vestida. Miles levou um momento para
reconhecê-la. Era a irmã de Ian, Amanda. Ela
parecia diferente das fotos que tinha visto
dela. Mais velha. Exausta.
— Quem é você? — Ela disse.
Miles abriu a boca e a fechou, sem saber
o que dizer.
Ela franziu o cenho, olhando para ele com
algo como suspeita. É claro que ela
suspeitaria: acabara de encontrar um estranho
no quarto do sobrinho, um estranho que
provavelmente parecia uma bagunça certa.
— Eu sou Miles. — Miles finalmente
conseguiu falar, ficando de pé. — Estava
apenas fazendo companhia a Liam enquanto a
babá estava fora.
Amanda mudou o olhar para Liam. Algo
dolorido cintilou em seu rosto.
— Obrigado por cuidar de Liam. Mas não
será mais necessário. Ele viverá comigo e
minha mãe a partir de agora.
O coração de Miles pulou uma batida.
— Por quê? — Ele disse. — O que você
quer dizer?
— Meu irmão está em coma, Miles. —
Disse ela, sua voz tão baixa que era
antinatural. — Não podemos deixar meu único
sobrinho nesta casa enorme. Ele precisa de
família. É... — Sua voz finalmente vacilou. — É
uma solução temporária, obviamente. Até meu
irmão acordar. — Apesar de suas palavras, seu
queixo trêmulo a traiu. Ela realmente não
acreditava no que estava dizendo.
Miles teve que se virar para esconder
suas próprias emoções. Ele olhou pela janela o
céu sem nuvens lá fora. Foi um dia tão
ensolarado.
— É ruim assim?
Amanda ficou calada.
— É. — Ela disse finalmente, seu tom
exausto. Derrotado. — Os médicos dizem que,
a essa altura, será um milagre se Ian
acordar. Nós o manteremos com suporte vital
enquanto houver atividade cerebral, mas...
Miles teve que morder o lábio inferior
com força para impedir que barulho saísse de
sua garganta.
— Posso vê-lo? Por favor.
Ele não precisou se virar para saber que
ela estava atordoada com o pedido dele.
— Por quê? — Ela disse, parecendo
totalmente confusa. — Ele está em terapia
intensiva. Por que devo permitir que algum
estranho veja o meu irmão...
— Eu o amo.
Ele nunca pensou que diria essas
palavras para a irmã de Ian e não para ele.
— O quê? — Ela disse fracamente.
— Nós estávamos... Estamos... Juntos.
Silêncio.
— Você está mentindo! — Amanda
disparou finalmente. — Meu irmão não é... Ele
não é viado!
Miles se encolheu com a
palavra. Provavelmente, era de se esperar que,
depois de ser largada publicamente por um
homem gay, Amanda tivesse menos do que a
mente aberta sobre os gays em geral. Embora
fosse irracional, a mágoa raramente era
racional.
— Eu não estou mentindo. — Disse ele,
virando-se para olhá-la. — Você pode
perguntar a qualquer um.
Ela olhou para ele.
— Saia desta casa. Não sei quem você é,
mas não vou deixar você manchar o caráter de
meu irmão quando ele não pode se defender...
— Ser gay não é...
— Saia! — Ela cuspiu.
Liam começou a chorar.
Miles olhou entre o garoto e sua tia,
dividido. Ele queria pegar Liam em seus braços
e confortá-lo, mas podia ver que Amanda não
estava brincando.
— Você o está assustando. — Disse ele,
dando um passo em direção a Liam. — Deixe-
me acalmá-lo, pelo menos.
— Se não sair de casa nos próximos cinco
minutos, vou ligar para a segurança. Ou a
polícia.
Soltando um beijo rápido em cima da
cabeça de Liam, Miles o abraçou com força.
— Adeus, querido. Eu gostaria...
— Largue meu sobrinho e saia. Agora.
Miles saiu, seu peito ficando apertado
quando a porta se fechou atrás dele, abafando
o choro de Liam. Naquele momento, tudo o
que queria era pegar Liam e levá-lo com
ele. Mas não tinha o direito. Assim como não
tinha o direito de ver Ian. Ele não era ninguém
para eles, não importava o que seu coração
dissesse.
Parecia que estava em algum tipo de
sonho quando juntou as coisas na mala e saiu
da casa. Ele pensou ter se despedido de
Winifred, mas não tinha certeza. Mal conseguia
se lembrar do trajeto do Uber até o aeroporto
ou quanto tempo esperou pelo próximo voo
para Londres. Podem ter sido minutos, mas
também pode ter sido horas; não sabia. Miles
estava vagamente consciente de que estava
em algum tipo de choque. Tudo parecia
desconexo, surreal. O mundo não fazia
sentido. O mundo sem Ian não fazia
sentido. Mas esse era o mundo em que estaria
vivendo agora.
Miles adormeceu exausto assim que o
avião decolou.
Quando abriu os olhos horas depois, viu-
se incrivelmente desorientado. Olhou para o
encosto do banco na frente dele, tentando
processar como havia acabado no avião. Sua
mente ficou em branco. Ele se sentiu estranho
por dentro. Entorpecido. Talvez fosse
melhor. Um colapso por dia era mais que
suficiente.
Pode ter apagado novamente, porque a
próxima coisa que sabia era que o avião estava
pousando e era uma das últimas pessoas a sair
dele.
Miles pegou sua bagagem e passou pelo
controle de passaporte em algum tipo de
atordoamento. Tudo ainda parecia surreal,
como um sonho. A cabeça dele estava
latejando. O jet lag também não ajudou. Seu
estômago doía por estar vazio, mas ele não
sentia fome. O simples pensamento de comida
o deixava enjoado.
Miles entrou cambaleando em um táxi,
informou o endereço de Zach ao motorista e
olhou pela janela a paisagem familiar de
Londres. Tentou reunir alguma emoção e
felicidade por finalmente estar em casa. Não
havia nenhuma. Apenas a sensação de
erro. Pelo menos não sentia mais vontade de
chorar. Dormência era bom. Dormência era
bem-vinda.
Quando saiu do táxi, Miles ficou olhando
a casa familiar por um momento. Costumava
pensar nisso como lar, mas parece que o
sujeito que havia deixado a casa alguns meses
atrás era uma pessoa completamente diferente
de quem ele era agora.
Lentamente, sentindo-se um homem
velho, Miles caminhou em direção à casa,
arrastando a mala atrás dele.
Ele bateu na porta.
Quando ninguém abriu, percebeu
tardiamente que não havia contado a ninguém
sobre seu retorno. Era possível que não
houvesse ninguém em casa. Era bem tarde da
manhã. Zach e Tristan provavelmente foram
para as corridas matinais.
Miles olhou para a mala, tentando se
lembrar se havia empacotado as chaves, mas
desempacotá-la parecia esforço demais no
momento. Ele não queria fazer isso. Não queria
fazer nada.
— Miles?
Vacilando, Miles virou a cabeça. Ele
forçou um sorriso fraco quando viu o
cunhado. Afinal, ele estava certo: Tristan
estava em suas roupas de corrida e parecia
suado e sem fôlego. Ao longe, Miles podia ver
Zach correndo em um ritmo mais calmo.
— Oi, Tris! — Disse Miles, tentando se
livrar da dormência e agir normalmente. —
Surpresa?
Tristan riu e apertou seu ombro.
— Estou feliz que está de volta. Aquele lá
estava prestes a ir para a América e arrastá-lo
de volta para casa. — Ele disse com uma
risada, apontando para o marido que se
aproximava.
— Ah, você sentiu minha falta? — Miles
disse, sorrindo para o irmão mais velho. Doeu
suas bochechas.
Zach bufou.
— Como de uma dor de cabeça. — Disse
ele. — É bom ter você de volta, garoto. — Ele
disse rispidamente, puxando-o para um
abraço.
Miles fechou os olhos, respirando o cheiro
familiar de seu irmão que sempre o lembrava
de casa e segurança. Ainda assim... Não
aconteceu.
Um som saiu de sua garganta, um som
horrível e sufocado.
Zach ficou rígido.
— Miles? — Ele disse, sua voz perdendo
todos os traços de humor.
Miles tentou respirar através dele. Ele
não ia chorar, não era um bebê, não ia
chorar. Só que seus olhos estavam ardendo, e
tudo o que podia fazer era esconder o rosto no
peito largo de seu irmão enquanto seu corpo
estremecia em soluços silenciosos.
Parte dele, a parte adulta, estava
mortificada. Ele não era mais a criança que
corria para o irmão mais velho toda vez que
ralava o joelho. Era adulto. Deveria saber
melhor que isso. Mas a parte infantil dele era
irracional o suficiente para sentir que Zach iria
consertar tudo; ele sempre consertava afinal.
— Diga-me o que há de errado. — Disse
Zach severamente.
O tom atingiu Miles como um soco no
estômago. Por um momento, Zach soou quase
como... Quase, mas não exatamente. Nada
estava certo.
— Não importa. — Resmungou Miles,
afastando-se e limpando o rosto com a
manga. Ele não pôde encontrar nem os olhos
de seu irmão, nem os de Tristan. — Acho que
senti falta de todos vocês. — Ele sorriu
brilhantemente. — Onde estão os outros?
— Miles... — Zach começou, franzindo a
testa, mas Tristan, Deus o abençoe, o
interrompeu.
— Ryan e Jimbo deveriam vir jantar. —
Disse ele, guiando Miles para dentro de
casa. — Por que não se deita no seu quarto até
a chegada deles? Deve estar atrasado como o
inferno.
Miles assentiu agradecido, sentindo uma
onda de carinho por ele. Apesar de todo o
horror de Tristan, ele era realmente muito
gentil sob toda a piada. Tristan era muito bom
em ler pessoas. Ele provavelmente podia sentir
o quão perto de um ponto de ruptura Miles
estava agora.
Miles fechou a porta do quarto e caiu
contra ela.
Ele olhou ao redor, como se estivesse
vendo pela primeira vez. Tudo parecia tão
surreal. Não se sentia o cara descontraído e
positivo que havia deixado aquele quarto há
vários meses. Não achava que se encaixava
mais naquele quarto.
Lentamente, foi até a cama, deslizou entre os
lençóis e fechou os olhos.
Os lençóis cheiravam limpos e
estéreis. Vazios.
apítulo 21

— Eu vou matar Alexander.


Tristan DuVal levantou o olhar do
telefone e viu o marido passear pelo quarto
como um leão enjaulado.
Tristan disse suavemente:
— Não é culpa de Alexander que Miles
tenha se apaixonado por algum monstro rico e
teve seu coração partido no espaço de alguns
meses.
Zach olhou para ele, passando a mão
pelos cabelos.
— Ele deveria ter me avisado
imediatamente quando descobriu.
Tristan levantou as sobrancelhas.
— E você teria arrastado seu irmão para
casa? Sei que acha que ele é um bebê, mas ele
é um adulto, Zach.
Zach fez uma careta para ele e não disse
nada.
— Além disso... — Disse Tristan. —
Alexander não poderia ter sabido que o cara
acabaria morto.
— Ele ainda não está morto. — Disse
Zach num tom que sugeria que não estava
inteiramente feliz com isso. — Embora ele
possa muito bem estar.
Tristan não perguntou. Sabendo quão
completo era Zach, ele provavelmente havia
descoberto tudo o que havia para saber sobre
a condição de Ian Caldwell.
Tristan suspirou.
— E aqui estava me perguntando que tipo
de pai você seria... — Disse ele. — Eu deveria
ter imaginado. Você vai ser a definição de um
pai superprotetor.
O olhar de Zach se voltou para ele.
— O quê?
Tristan deu de ombros.
— Pare de me olhar assim. — Disse ele
em sua voz mais casual. — Acha que não sei
que você quer filhos?
Zach o olhou por um momento antes de
se aproximar e ajoelhar na frente dele. Então
pegou as mãos de Tristan nas suas.
— Não é apenas o que eu quero, pirralho.

Tristan revirou os olhos. Sério, era como


se Zach às vezes esquecesse que ele era um
homem crescido.
— Eu dificilmente vou fazer algo só
porque você quer. Você me conhece melhor
que isso.
Zach olhou para ele com perspicácia.
— Você realmente quer isso?
Tristan olhou ao redor do quarto antes de
voltar o olhar para os olhos cinzentos de
Zach. Ele deu de ombros novamente.
— Eu não me importaria de ter uma
garotinha, acho. Mas ela tem que ser muito
bonita. Não podemos ter uma filha feia ou ela
crescerá com um monte de problemas de
autoestima.
Zach lhe lançou um olhar exasperado,
mas estava sorrindo, pela primeira vez desde
que Miles voltou para casa.
Tristan sorriu de volta para ele,
impotente.
Zach se inclinou para frente e deu-lhe um
beijo curto e suave - só que de alguma forma
acabaram se beijando no chão, com Tristan
montando no colo de Zach.
Quando o beijo se transformou em
beijinhos suaves, Tristan colocou a cabeça no
ombro de Zach e fechou os olhos, apenas
aproveitando o momento de felicidade. Eles se
tornaram raros desde que Miles voltou para
casa quebrado e frágil, a luz em seus olhos se
fora.
— Ele vai melhorar. — Disse ele
calmamente.
Os braços de Zach se apertaram ao redor
dele. Ele suspirou.
— Já faz um mês. Você já o viu sorrir
uma vez?
— Ele sorri o tempo todo.
— Você sabe o que quero dizer.
Tristan fez uma careta. Como alguém que
costumava usar sorrisos falsos todos os dias,
podia reconhecer as máscaras de outras
pessoas a um quilometro de distância, e a de
Miles nem sequer era boa.
— Ele vai melhorar. Ninguém morreu de
coração partido ainda.
— Isso não é verdade. — Disse Zach. —
Chama-se cardiomiopatia induzida pelo
estresse. Isso pode acontecer até com pessoas
saudáveis...
— Oh, pelo amor de Deus! — Disse
Tristan, levantando a cabeça e olhando para
ele com o que esperava que fosse
exasperação, mas provavelmente era
carinho. — Você simplesmente não pode viver
sem me dizer o quão errado eu estou, pode?
Zach sorriu e o beijou novamente.
Enterrando os dedos nos cabelos do
marido, Tristan o beijou de volta, todos os
pensamentos sobre Miles esquecidos.

Capítulo 22

Miles abriu os olhos, com o coração


batendo forte, um grito congelado na garganta.
O chiado dos pneus, o estrondo - tudo parecia
tão real que levou muito tempo para se
acalmar.
Quando finalmente o fez, saiu da cama e
caminhou em direção ao banheiro mais
próximo. Eram apenas seis da manhã, mas
sabia por experiência própria que não havia
como voltar a dormir. Além disso, quatro horas
de sono ainda eram melhores do que na
maioria das noites. Pelo menos ele não tinha
aulas naquele dia.
Terminado o banho, Miles escovou os
dentes, evitando o reflexo no espelho. Sabia
que parecia uma bagunça. As olheiras
pareciam ter se tornado uma característica
permanente em seu rosto pálido, e seus olhos
provavelmente estavam vermelhos e inchados.
Zach ia franzir o cenho e olhá-lo com tristeza,
e Miles teria que fingir que não notou nada e
sorrir, sorrir e sorrir.
Só pensar nisso o esgotou. Considerando
que era o aniversário de Zach e que todo o clã
Hardaway chegaria mais tarde naquele dia, a
perspectiva encheu Miles de pavor e exaustão
mental. Haveria perguntas, olhares de pena e
preocupados trocados pelas suas costas.
Todos eles sabiam.
Ele nunca disse nada, mas de alguma
forma, eles sabiam. Zach provavelmente
descobrira tudo de Alexander. Teria sido
humilhante se Miles tivesse a capacidade de
sentir muita coisa além de entorpecido.
Ele deu um suspiro, pensando nas
inúmeras tentativas de seus irmãos de
convencê-lo a ter uma conversa de coração-
pra-coração. Zach era o mais insistente, é
claro, mas os outros não eram muito melhores.
Ryan era quase tão ruim quanto Zach. Nick foi
o único que parou de insistir no assunto depois
que Miles disse que não queria falar sobre isso.
John continuou dando a ele olhares tão
piedosos que Miles ficou aliviado por John ter
sua própria família e não morar em Londres
desde que se casou.
Sandra era a pior, no entanto. Ela deu-
lhe abraços em todas as oportunidades, mas
não era a pior parte. A pior parte era quando
ela trouxe seus filhos com ela. Toda vez que
Miles olhava para eles, não conseguia deixar de
pensar em outro garotinho que provavelmente
estava sozinho e assustado em um lugar
desconhecido. Miles só podia esperar que
perder o pai e ele não tivesse apagado todo o
progresso que Liam fez no verão.
Afastando o pensamento, Miles se vestiu
e desceu as escadas. A casa estava em
silêncio. Zach e Tristan provavelmente ainda
estavam dormindo. Os outros ainda não
haviam chegado.
Miles não se incomodou com o café da
manhã. Ele não estava com fome.
Vestindo a jaqueta, saiu da casa.
O vento frio de novembro o fez
estremecer. Ele enfiou as mãos nos bolsos,
tentando se aquecer, mas sem sucesso. Estava
sempre com frio nos dias de hoje.
Miles caminhou sem rumo até que entrou
no parque local. Ele andou um pouco antes de
se sentar no banco perto de um pequeno lago
pitoresco. Olhou para a superfície imóvel.
Deus, ele queria parar de se sentir assim.
Fazia meses. Por que não podia seguir em
frente? Por que ainda parecia que estava se
afogando e não sabia o caminho?
Miles fechou os olhos.
A pior parte foi não saber.
Ian estava bem? Ele ainda estava em
coma? Ou estava...?
Miles mordeu o lábio com força. Pegou o
telefone e olhou para ele. Sabia que, se
pesquisasse no Google, descobriria. Ian era
importante o suficiente para estar na mídia se
ele... se ele...
Não, ele não queria saber, afinal. Não
saber era melhor.
— Ei, você está bem?
Miles levantou o olhar.
Havia um cara na frente dele, uma
carranca no rosto. Ele provavelmente tinha a
idade de Miles. Cabelo castanho, olhos gentis.
— Sim, estou bem. — Disse Miles. — Por
quê?
O cara inclinou a cabeça para o lado.
— Você parece muito chateado. —
Respondeu ele, sentando-se.
Miles olhou para ele. Embora o cara não
parecesse assustador, era de manhã cedo e
ainda não havia tantas pessoas no parque.
O cara estendeu a mão.
— Eu sou Harry.
Miles olhou cautelosamente antes de
sacudi-la. Parecia rude não, mesmo que o cara
parecesse um pouco estranho.
— Miles.
— Prazer em conhecê-lo. — Disse Harry,
olhando-o seriamente. — Porque você está tão
chateado? Pude ver como estava triste do
outro lado da lagoa.
Miles deveria ter dito a ele para cuidar de
seus próprios assuntos.
Mas algo sobre esse cara parecia tão
confiável e amigável que Miles acabou abrindo
a boca e dizendo tudo. Tudo. Ele não podia
negar que era bom finalmente falar sobre isso
- falar sobre Ian sem medo de ser julgado e
lamentado.
Harry o ouviu silenciosamente e nem
sequer interrompeu quando a voz de Miles
vacilou quando contou sobre o acidente de Ian.
— Sei que é estúpido. — Miles sussurrou
com voz rouca, olhando para a lagoa. — Eu
estava indo embora de qualquer maneira. Nós
não estaríamos juntos de qualquer maneira.
Isso nunca daria certo, mesmo que ele me
amasse. Mas...
— Não é estúpido. — Disse Harry, sua
voz calma. — Eu não sou da Inglaterra. No ano
passado, tive que deixar meu namorado para ir
para casa por causa de alguns problemas
familiares. Pensei que nunca mais o veria.
Foi... quase me matou, mas eu queria que ele
fosse feliz sem mim. Queria que vivesse uma
vida longa e feliz, mesmo que nunca mais nos
víssemos. É o que você quer para a pessoa que
ama.
Miles mordeu o lábio. Ele nem tinha dito
a palavra amor. Era tão óbvio?
— Sim. — Disse Harry. — Você é muito
óbvio. Deveria ver seu rosto quando falar sobre
ele.
Miles fez uma careta. Se mesmo um
completo estranho podia lê-lo, ele não tinha
esperança.
— Gostaria de nunca ter ido para a
América. — Ele murmurou, olhando para a
superfície da lagoa.
— Sério? — Harry disse. — Você gostaria
de esquecer tudo o que aconteceu lá?
Sim, foi a resposta instintiva de Miles. Ele
desejava poder voltar a ser a pessoa que
deixou a Inglaterra há meio ano. A pessoa que
sabia sorrir e dizer a verdade. Alguém que foi
positivo sobre a vida em geral. Alguém que
não sentia vontade de chorar com a menor
provocação. Alguém que não acordou no meio
da noite, o peito apertado e os olhos molhados.
Alguém que não tinha problemas para se
conectar à sua própria família. Que não se
sentia tão desapegado. Frio. Oco por dentro.
Mas...
Mas essa pessoa não sabia como era ter
seu coração cantando na presença de outra
pessoa. Como era estar nos braços de um
homem por quem estava apaixonado. Como foi
acordar na segurança daqueles braços
enquanto trocavam beijos e sorrisos
preguiçosos de manhã. Como era ser o único
foco daqueles olhos azuis.
— Não. — Disse Miles, sua garganta tão
apertada que mal conseguia falar. — Não quero
esquecer nada. Não quero esquecê-lo.
Harry apenas assentiu. Felizmente, ele
teve o tato de desviar o olhar enquanto Miles
lutava para controlar suas emoções.
— Você falou que ele está em coma. —
Harry disse finalmente. — Isso é por causa de
uma lesão cerebral?
Miles só pôde acenar.
Harry cantarolou pensativo e não disse
nada.
Eles ficaram em silêncio por um tempo.
Foi surpreendentemente confortável.
— Eu tenho que ir. Meu namorado está
ficando impaciente. — Harry disse finalmente,
olhando para o homem alto que estava ao lado
da lagoa a alguma distância.
— Você o deixou para falar comigo?
Harry se levantou e deu um sorriso torto.
— Você parecia muito triste. Eu não podia
simplesmente ignorar.
Miles balançou a cabeça com um leve
sorriso.
— Você é tão estranho, companheiro.
Harry riu.
— Sim, todo mundo diz isso. — Ele se
virou para sair, mas depois parou e olhou para
Miles. — Sei que é difícil falar sobre coisas
assim, mas você não deve afastar sua família.
Desde que escolhi morar com meu namorado,
vejo a minha muito raramente, mas saber que
tenho o apoio deles faz um mundo de
diferença. Fico feliz por poder ficar longe deles
sem me sentir alienado.
— Você não se arrepende?
Harry balançou a cabeça, olhando na
direção do namorado com um sorriso suave.
— Deixei tudo o que conhecia por ele,
mas... não me arrependo. As pessoas estão
certas quando dizem que o lar é onde o
coração está. Eu posso viver vendo minha
família apenas algumas vezes por ano. Não
quero me separar dele nem por alguns dias.
Miles mordeu o interior de sua bochecha
com força.
— Você sabe o que, me dê seu número.
— Harry disse, entregando-lhe o telefone. O
rosto dele se iluminou. — Podemos enviar
mensagens de texto e outras coisas!
Tipo de cativado pelo entusiasmo de
Harry, Miles salvou seu número no telefone
dele.
— Haz, você terminou de incomodar o
cara? — Disse uma voz seca.
Miles levantou a cabeça e viu o namorado
de Harry se aproximar deles.
Harry fez beicinho.
— Eu estava apenas fazendo amigos. —
Disse ele, pegando o telefone de Miles e
deslizando a mão na do namorado. — Tchau,
Miles. Te mandarei uma mensagem!
Miles assentiu com um sorriso fraco e os
observou sair. O namorado de Harry passou
um braço em volta dele e lhe deu um beijo na
têmpora. Eles estavam rindo de algo juntos.
Felizes. Claramente apaixonados.
Fazia dele uma pessoa má que seu
estômago queimou com ciúmes? Ele nunca
pensou que era uma pessoa invejosa e
amarga, mas naquele momento tudo o que
conseguia pensar era que não era justo.
Não era justo.
— Chega. — Ele sussurrou em voz alta.
Não era essa pessoa amarga e triste que sentia
pena de si mesmo e invejava a felicidade de
outras pessoas. Ele era melhor que isso,
caramba.
O que as pessoas diziam? Não chore
porque acabou; sorria porque aconteceu.
Miles se levantou e voltou lentamente
para a casa, sentindo-se um pouco melhor. Um
pouco mais como ele. Não, de repente ele não
se sentiu menos de coração partido. Mas um
dia, estaria... tudo bem. Um dia, os pedaços
despedaçados de seu coração não pareceriam
tão assustadores de se tocar. Um dia ele seria
capaz de conversar sobre Ian com sua família
sem soluçar como um grande bebê. Um dia,
seria capaz de digitar o nome de Ian no Google
e pressionar pesquisar.
Ainda não era esse dia.
Provavelmente não seria esse dia por
muito tempo.
Mas sabia que esse dia chegaria.
Ele só precisava tentar melhorar.
— Nós pensamos que você ainda estava
dormindo. — Disse Sandra quando Miles entrou
na casa. Ela tinha o filho mais novo, Ben, nos
braços.
— Só precisava de um pouco de ar
fresco. — Disse Miles, tirando Ben dela e
fingindo não perceber a surpresa de sua irmã.
Ele vinha evitando os filhos dela como a praga
ultimamente. — Ei, amigo. Olhe para você,
ficou tão grande. — Falou, beijando Benny no
nariz.
A criança riu e o coração de Miles se
apertou.
Tudo ia ficar bem.
Eventualmente.
Capítulo 23

De acordo com a tradição da família, os


irmãos Hardaway se reuniam na casa de Zach
em toda véspera de Natal. Inicialmente, eram
apenas eles, mas à medida que envelheciam e
parceiros e crianças entraram em cena, tornou-
se uma reunião grande e barulhenta.
Parecia que a casa estava absolutamente
cheia de pessoas.
Miles principalmente tentou ficar fora do
caminho. Embora hoje em dia estivesse se
esforçado para ser sociável, não se forçaria
mais a socializar e fingir felicidade se isso
parecer demais. Não era como se sua família já
tivesse comprado sua peça. Seus irmãos
pareciam felizes o suficiente que ele não
estivesse mais os excluindo completamente e
estava realmente fazendo um esforço para se
levantar e seguir em frente.
É verdade que ainda o estavam tratando
como uma bomba. Com cuidado demais. Muito
suavemente. Muito cauteloso.
— Miles, venha aqui, por que você está
sozinho na cozinha?
Caso em questão.
Miles reprimiu um suspiro.
— Estarei aí em um minuto. — Disse ele.
— Não espere por mim.
Sandra estava franzindo a testa, mas o
deixou em paz.
Miles sabia que não duraria muito.
Alguém mais chegaria em alguns minutos para
checá-lo, como se estivessem com medo de
que ele fizesse algo estúpido se ficasse sem
supervisão. Era tão ridículo. Eles achavam que
ele era suicida ou algo assim? Ele não estava
tão deprimido. Estava apenas... apenas ...
Mordendo o lábio, Miles voltou para a sala
de estar.
Ele parou na porta por um momento,
apenas vendo sua família.
Sandra, rindo com o marido. Tristan,
murmurando algo no ouvido de Zach, o braço
de Zach ao redor dele. Ryan e James eram
repugnantemente melosos como apenas noivos
recentes eram. John e sua esposa Vanessa se
aconchegaram no sofá. Nick e Tyler brincando
de pega com as crianças.
Todos pareciam tão felizes e contentes
com suas vidas.
Miles não sabia quando parou de se sentir
como se fosse um deles. Ah, ele ainda amava
seus irmãos, mas sentia... Ele se sentia tão
desconectado deles, uma lacuna que parecia
incapaz de romper. Não importa o quanto
tentasse, se sentia um estranho entre eles.
Uma fraude.
Por um momento, ele considerou apenas
subir e se esconder em seu quarto, mas essa
seria a escolha covarde. Se não passasse um
tempo com sua família nem no Natal, isso
definitivamente diria a seus irmãos que ele não
estava bem, e o número de olhares de pena
que receberia seria insuportável.
Fazendo uma careta, Miles entrou na sala
e se esticou no sofá ao lado da árvore de Natal.
Ele pegou o telefone apenas para manter a
pretensão de estar ocupado, para que nenhum
de seus irmãos tentasse arrastá-lo para uma
conversa.
Abriu o Google e ficou olhando por um
longo momento antes de fechá-lo. Não, hoje
não.
Ele abriu o WhatsApp. Havia uma nova
mensagem de Harry. No mês passado, eles se
tornaram bons amigos. Harry era um pouco
estranho, para ser sincero, mas Miles descobriu
que não se importava. Era muito mais fácil
sustentar sua amizade fácil e descomplicada
com Harry do que com qualquer outro. Eles se
encontraram para tomar café algumas vezes,
mas principalmente ele e Harry trocavam
mensagem. Harry constantemente enviava a
ele vídeos engraçados de gatinhos na crença
equivocada de que eles o animariam. Miles não
o desapontou da ideia, mesmo que nunca
tenha gostado de gatos. Era o pensamento que
contava. Além disso, filhotes de gatos eram
muito mais bonitos que gatos adultos.
Mas a nova mensagem de Harry não era
um vídeo de gatinho.

Por favor, não fique com raiva. Eu meio


que fiz algo que você me disse para não fazer.
Franzindo o cenho, confuso, Miles digitou
alguns pontos de interrogação.
A campainha tocou e Zach foi abrir.
Miles não se importou, vendo Harry
digitar sua resposta. Harry era um digitador
muito lento, então esperava que demorasse
um pouco.
— Boa noite. Miles está aqui?
Aquela voz.
Miles congelou, seu telefone batendo no
chão.
Ele levantou o olhar. Pareceu acontecer
em câmera lenta, ou talvez o mundo tenha
desacelerado.
Lá, na porta, estava Ian.
Um barulho saiu da garganta de Miles,
seus olhos arregalados e sem piscar quando
ele olhou para o rosto de Ian. Isso era um
sonho? Ele estava sonhando?
Mas não, era realmente Ian. Seu rosto
estava mais magro, as maçãs do rosto mais
proeminentes e parecia ter mais cinza nas
têmporas do que antes, mas aqueles olhos -
Cristo, aqueles olhos azuis estavam agora fixos
em Miles por cima do ombro de Zach, e Miles
de repente se sentiu tonto. Tonto, sem fôlego e
feliz. Ian estava vivo. Ian estava vivo, bem e
aqui.
Um sorriso largo e trêmulo dividiu o rosto
de Miles. Ele ficou de pé, e a próxima coisa que
soube foi que estava nos braços de Ian,
agarrando-se a ele com toda sua força, sua
visão embaçada pelas lágrimas.
Ian, Ian, Ian.
Deus, Miles sentia como se estivesse se
afogando nele, em seu cheiro, na sensação do
corpo firme contra o seu, em sua voz baixa e
familiar sussurrando palavras doces em seu
ouvido enquanto Ian o abraçava de volta. Miles
estava se afogando nele, mas ao mesmo
tempo, sentia como se estivesse respirando
pela primeira vez em meses.
— Você não tem permissão para morrer.
— Miles sussurrou asperamente contra o
pescoço de Ian antes de afundar os dentes e
chupar. Pronto. Propriedade de Miles
Hardaway.
Ian soltou um som meio sufocado que
estava entre um gemido e uma risada.
— Tudo bem, isso é o suficiente. — Disse
a voz de Zach.
A voz de Zach. Zach.
Certo. Estava chupando o pescoço de Ian
e se agarrando a ele na frente de toda a sua
família.
A realização não o fez afrouxar o aperto
em Ian. Ele não o deixou ir. Nunca o deixaria
ir.
— Miles... — Ian disse gentilmente, mas
com uma firmeza sublinhada.
Miles estremeceu, seu corpo reagindo a
esse tom de uma maneira muito previsível.
Relutantemente, ele se afastou um
pouco, mas não se virou para olhar para sua
família. Podia sentir o olhar deles neles, mas
no momento, não podia se importar menos.
Tudo o que podia ver era o rosto de Ian, os
olhos azuis vagando sobre ele com a mesma
fome que Miles podia sentir dentro de seu peito
- dentro de sua própria alma. Deus, Ian estava
vivo. Ele estava vivo e bem. Ainda não parecia
real. Estava irracionalmente com medo de que
iria acordar a qualquer momento agora e Ian
teria ido embora.
Miles estendeu a mão trêmula e a colocou
na bochecha magra de Ian.
— Você está realmente aqui. —
Sussurrou, seus olhos se enchendo de lágrimas
novamente quando seus dedos trêmulos
mapearam o rosto de Ian.
Os olhos de Ian se suavizaram. Ele se
inclinou para o toque, beijando as pontas dos
dedos de Miles.
Miles estremeceu, olhando-o avidamente.
— Miles. — Disse Zach, parecendo uma
mistura de exasperado, irritado e divertido. —
Deixe o homem entrar na casa.
Tristan riu.
— Sim, Miles, pare de tatear o cara antes
que seu irmão tenha um ataque. Ah, isso
quase rimou!
Zach e Tristan continuaram brigando e
dizendo algo em segundo plano, mas Miles mal
registrou. Ele se perdeu completamente nos
olhos de Ian, seu peito quente e cheio. Eu senti
tanto sua falta.
— Miles Hardaway! — Sandra disse
exasperada. — Você está deixando o frio
entrar. Feche a porta, pelo amor de Deus.
Lentamente, com relutância, Miles se
afastou, deixando Ian entrar na casa e fechar a
porta.
— Mais tarde. — Ian disse com voz rouca,
olhando-o nos olhos.
Miles assentiu, sentindo-se atordoado,
bêbado e ridiculamente, estupidamente feliz.
Deslizando a mão na de Ian, Miles
finalmente se virou para encarar sua família.
Todos estavam olhando como se ele
tivesse crescido uma segunda cabeça no
espaço de alguns minutos.
— Eh... — Disse Miles de forma
inteligente, com o rosto quente. — Este é Ian.
Como vocês podem ver, ele está vivo.
— Nós percebemos. — Disse Zach, seu
tom muito seco e seu olhar afiado e avaliador
enquanto olhava para Ian.
Ian olhou para ele com firmeza. Se o
olhar de Zach o incomodou, não demonstrou.
Miles apertou a mão de Ian, seus olhos
voltando ao rosto de Ian, por mais que
tentasse manter o olhar em sua família. Ian
estava vivo. Ele não iria desaparecer se
desviasse o olhar dele. Mas o coração de Miles
não ouviu. Seu coração queria apenas arrastar
Ian para cima e tocá-lo em todos os lugares,
para se certificar de que ele era real.
— Nem pense nisso, garoto. — Disse
Zach quando Miles olhou para as escadas.
Miles fez beicinho.
— Você deveria tirar o casaco e entrar. —
Disse Zach, olhando para Ian. Enquanto seu
olhar não era muito amigável, estava longe de
ser hostil. Na verdade, havia algo como alívio
nos olhos dele.
Miles teve que soltar a mão de Ian para
permitir que ele tirasse o casaco, mas a
agarrou de volta o mais rápido que pôde. Ele
sabia que estava sendo incrivelmente pegajoso
na frente de toda a família, mas não conseguia
se importar.
Ian sorriu com os olhos para ele, e não se
opôs quando Miles o arrastou pela sala,
apresentando-o a seus irmãos e parceiros. Foi
relativamente bem. Miles podia ver a
curiosidade nos olhos de sua família, mas
todos se comportaram bem o suficiente. É
claro que ajudou o fato de Ian atenuar sua
arrogância natural, fazendo um esforço para
parecer amigável. Isso fez uma sensação
vertiginosa e quente se espalhar pelo peito de
Miles e ele estava tão perto de apenas beijar
Ian ali.
Da conversa de Ian com seus irmãos,
Miles descobriu que Ian havia acordado de seu
coma há um mês, mas depois de meses de
inatividade, ele precisou de uma extensa
reabilitação.
Zach estava conversando com Ian sobre
isso quando Tony, o mais velho de John, puxou
a manga de Miles.
— Você deixou o telefone cair, tio Miles!
— Obrigado. — Miles murmurou e
destravou o telefone com a mão livre, só agora
lembrando a mensagem estranha que recebera
de Harry.

Sei que você me pediu para não procurar


no Google, mas sou muito ruim em tentar não
ficar curioso. Desculpe? Enfim, o importante é
que ele está vivo. Está vivo e acordado!
Aparentemente, sua família estava pensando
em tirá-lo do suporte de vida quando ele
acordou. É um milagre, não é? Acho que coisas
assim acontecem por uma razão. O procure.
Ligue para ele e diga que o ama! Pare de ser
uma galinha, Miles!!

Miles bufou baixinho.


“Pare de ser uma galinha.” Era a nova
frase favorita de Harry. Ele agora a usava em
todas as oportunidades.
Mas Harry não estava errado, estava?
A vida era uma coisa frágil que poderia
ser tirada de você a qualquer momento.
Colocando o telefone no bolso, Miles
voltou a olhar para o rosto de Ian. Seu coração
apertou quando pensou em quão perto esteve
de perdê-lo.
De repente, indiferente ao fato de Ian
estar no meio de uma conversa com Zach,
Miles passou o braço em volta da sua cintura e
se inclinou para ele.
Ian virou a cabeça um pouco. Ele ainda
estava conversando com Zach, mas agora sua
atenção estava principalmente em Miles. Como
deveria ser, sempre.
— Senti sua falta. — Disse Miles
suavemente. As palavras pareciam tão
inadequadas para descrever o sentimento
doloroso e vazio em seu peito com o qual vivia
há meses.
Parecia que os olhos de Ian estavam
olhando diretamente para sua alma antes dele
apertar sua mão, inclinar-se e beijar sua
têmpora.
— Também senti sua falta. — Disse ele.
Miles entrelaçou os dedos e sorriu,
impotente.
— Oh, pelo amor de Deus. — Disse Zach.
Miles corou, percebendo que Zach estava
parado a poucos metros de distância e tinha
assistido a troca inteira.
— Vamos dar uma volta. — Disse Ian,
parecendo imperturbável com o escrutínio de
Zach.
Miles assentiu.
— Voltaremos em breve. — Disse ele a
Zach antes de puxar Ian em direção à porta.
Vestir seus casacos levou muito mais
tempo do que deveria, principalmente porque
Miles realmente não queria se afastar de Ian
nem por um momento.
Quando finalmente saíram de casa, a
mão de Miles estava de volta na de Ian.
— Sinto muito. — Foi a primeira coisa
que Ian disse, parando na varanda e virando-
se para ele.
Miles percebeu que estava nevando
quando um floco de neve pegou nos cílios
escuros de Ian.
— Pelo quê? — ele disse.
— Pelo jeito que minha irmã te tratou. —
Disse Ian, um sulco profundo entre as
sobrancelhas. — Winifred me disse que
Amanda praticamente te jogou para fora de
casa. Ela não tinha o direito.
Miles deu de ombros, brincando com os
dedos de Ian.
— Ela só levou mal minhas palavras.
Dada a história dela, é provavelmente
compreensível.
— Que palavras? — Ian disse.
— Eu queria te ver. — Disse Miles. — Mas
não sou ninguém para você, então precisava
da permissão da sua família para entrar no
hospital chique em que estava.
A carranca de Ian se aprofundou, seus
olhos endurecendo.
— E ela não deixou? Por quê?
Miles engoliu, com o coração batendo
forte na garganta.
— Eu disse a ela que te amava.
Ian ficou muito quieto.
Ele apenas olhou para Miles por um
momento que parecia durar terrivelmente.
— Amava? — Ele finalmente disse, sua
expressão ilegível.
— Amo. — Murmurou Miles, com o rosto
quente apesar do tempo frio.
Ele não sabia que reação estava
esperando, mas não foi o suspiro de alívio que
saiu dos lábios de Ian.
— Tudo bem. — Disse Ian, assentindo. —
Isso simplifica as coisas.
Miles olhou para ele antes de lhe dar um
tapa no peito.
— Sério? Acabei de lhe dizer que te amo
e você diz que está bem?
Um sorriso largo dividiu o rosto de Ian,
fazendo-o parecer incrivelmente bonito e
jovem.
— Você é adorável quando fica todo
indignado. — Disse ele, puxando Miles para
mais perto e pressionando suas testas juntas.
— O que você quer que eu diga? Que também
te amo?
Miles estremeceu, seus pensamentos
nublando com a proximidade de Ian.
— Seria bom ouvir isso.
Ian arrastou os lábios sobre a bochecha
de Miles, o abraçando apertado.
— Você é minha pessoa favorita no
mundo. Claro que eu te amo. E estou te
levando de volta comigo. Este mês sem você
foi tortura.
— Este mês? Tente quatro. — Disse
Miles, enterrando os dedos nos cabelos de Ian,
enquanto seu coração tentava escapar do peito
de pura felicidade. Ian o amava. — Por que
você não disse nada antes, seu idiota? Poderia
ter me dito isso quando lhe disse que estava
vindo para casa.
Ian mordiscou sua mandíbula.
— Bem, você também não me disse que
me amava. Se soubesse, não teria tanto medo
de te assustar.
— Me assustar?
Ian deu um suspiro, aninhando em seu
queixo.
— Eu não queria te deixar ir. Queria fazer
você ficar, por todos os meios necessários. Mas
pensei que isso te assustaria. Minhas
namoradas anteriores sempre odiavam quando
eu era controlador. Não queria que você
também me odiasse.
— Bem, você é um idiota controlador. —
Disse Miles ironicamente. — Mas eu já sabia
disso. Não me importo. Confio em você.
Os braços de Ian o apertaram com tanta
força que por um momento Miles não
conseguiu respirar.
— Eu te adoro, porra. — Disse Ian, sua
voz rouca. — Tanto que me assusta. Acordar
com você longe me deu uma nova perspectiva.
Eu não conseguia nem andar, mas tudo que
queria era vir aqui e te levar de volta.
Ele mordeu o lóbulo da orelha de Miles,
fazendo-o tremer incontrolavelmente.
— É claramente inútil fingir que posso te
deixar em paz. — Ele se afastou um pouco
para olhar Miles nos olhos, sua expressão
quase sombria. — Eu não estou exagerando,
Miles. Se me aceitar, é isso: você é meu, para
sempre. Nunca vou te deixar ir. Sei que não é
muito saudável, e vou tentar mudar se quiser,
mas quero ser honesto com você: não tenho
certeza se vou ser capaz de fazê-lo, mesmo
para você, talvez especialmente para você.
Esse é quem eu sou.
Não havia nada romântico nas palavras
de Ian. No que diz respeito às confissões de
amor, era meio terrível.
Mas isso não importava.
Miles podia sentir como os sentimentos
de Ian eram genuínos, pela maneira reverente
e intensa de Ian olhar para ele. Necessidade e
desejo pareciam algo físico e tangível, unindo-
os.
— Também não estou exagerando. —
Disse Miles, segurando a bochecha de Ian. —
Conheço você. Não vou tentar te mudar.
Conhecia todas as suas falhas quando me
apaixonei por você. Não me entenda mal: vou
absolutamente lhe dizer se está cruzando a
linha e posso entender suas antigas
namoradas, mas não sou elas. Eu te amo do
jeito que você é. Não me importo com a sua
arrogância ou atitude de controle. — Ele sorriu.
— Você pode agradecer a Zach por me
condicionar a isso.
O olhar de Ian estava procurando
enquanto percorria o rosto de Miles.
Ele deve ter encontrado o que precisava,
porque no momento seguinte, Ian estava
finalmente o beijando.
Miles gemeu, seus lábios trêmulos
agarrados aos de Ian com tanta força quanto
seu corpo. O mundo se rearranjou e clicou, a
sensação de deslocamento e injustiça que ele
sentira todos esses meses finalmente
desaparecendo. Isso estava certo, isso era
perfeito; ele foi feito para esse homem e mais
ninguém. Cristo, parecia que estava bebendo
água fresca depois de uma seca prolongada.
— Você é meu. — Ian disse quando eles
relutantemente se separaram para tomar ar. —
Bem, e acho que do Liam também. Ele tem
perguntado sobre o 'Mi' todos os dias. Então
não vou sair da Inglaterra sem você.
Miles só podia rir.
— Você é impossível. — Disse ele,
olhando nos olhos azuis de Ian. — Quando
vamos embora?
Ian sorriu. Um sorriso tão arrogante não
tinha o direito de ser tão atraente e carinhoso.
— Amanhã? — Ian disse.
Miles revirou os olhos.
— Pelo menos você formulou isso como
uma pergunta. — Disse ele rindo, pegando a
mão de Ian. — Não, não posso simplesmente
cancelar minha vida aqui e me mudar para a
América em meio dia! Você está sendo
ridículo...
Ian o beijou novamente.
Quando finalmente o deixou respirar,
Miles piscou para ele sem graça, formigando e
aquecido até os dedos dos pés.
— Para o que foi aquilo?
— Eu te amo. — Disse Ian, sua expressão
completamente séria desta vez.
O peito de Miles apertou. Ele pressionou
o rosto no pescoço de Ian, respirou seu
perfume e disse:
— Vou te matar, se você voltar a pegar
no volante.
Ian riu.
— Vou garantir que você tenha o direito
legal de acessar meu leito de morte, se eu o
fizer.
Miles fez uma careta.
— Não se atreva a brincar com isso... —
Ele se interrompeu quando percebeu o que Ian
estava implicando. — Não brinque com isso. —
Repetiu, mais suave. Certamente Ian não quis
dizer o que pensava que ele queria dizer.
— Eu não estou brincando. — Disse Ian,
sua voz firme. — Talvez não agora, mas isso
acontecerá em algum momento. Quero que
você seja legalmente meu, para que ninguém
da minha família possa expulsá-lo da minha
casa assim que eu não estiver lá.
Com os olhos ardendo e a garganta cheia
de emoção, Miles levantou a cabeça e sorriu
para ele.
— Tudo o que eu quero é que você
sempre esteja lá, ok?
— Eu vou. — Disse Ian, beijando sua
testa, o nariz e os lábios.
Quando Miles choramingou e tentou
prolongar o beijo, Ian riu e se afastou um
pouco.
— Vamos para dentro antes que
acabemos fazendo sexo aqui na varanda. Não
acho que seu irmão seria meu maior fã.
Miles sorriu e levantou as sobrancelhas.
— Qual? Eu tenho quatro.
Bufando, Ian pegou sua mão e o puxou
em direção à porta da frente.
Miles deixou, ainda sorrindo, com o peito
cheio e quente. Então era assim que a
felicidade era. Ele quase esqueceu.
Claro, sabia que não seria tudo sol e
rosas.
Havia a família de Ian em que pensar.
Não era provável que ficassem felizes com
Miles se a reação de Amanda fosse qualquer
indicação. Havia também o problema dos
Rutledges - era improvável que Ian tivesse
abandonado completamente seus planos de
vingança.
Havia também o fato de que ele teria que
deixar suas aulas, sua família e seus amigos
quando se mudasse para a América. A
perspectiva parecia um pouco assustadora.
Mas suas apreensões desapareceram no
momento em que olhou para Ian. Ele amava
esse homem, o amava muito, apesar de todos
os seus defeitos e maneiras obstinadas e
arrogantes.
Harry estava certo: o lar é onde o
coração está, e enquanto trabalhassem juntos
para superar esses obstáculos, tudo ficaria
bem.
Afinal, ele sempre podia se transferir para
uma escola melhor - havia ótimas
universidades na área de Boston. A família dele
estaria a apenas um voo de distância. A família
de Ian provavelmente se mostraria um desafio,
mas Miles nunca havia conhecido pessoas que
realmente não tinham gostado dele. Ele
poderia conquistá-los.
Quanto aos Rutledges... Essa seria
provavelmente a parte mais desafiadora, mas,
pensando bem, Ian não tinha sido exatamente
firme em sua recusa quando Miles abordou o
assunto antes.
Ian ainda pode mudar de ideia se Miles
for persistente e muito persuasivo.
Miles lambeu os lábios, olhando o belo
perfil de Ian.
Sim, ele definitivamente poderia ser
persuasivo. Estava muito ansioso por isso.
Miles estava sorrindo quando entraram
na casa, de mãos dadas.
— Aww, olhe este sorriso! — Tyler o
provocou com uma piscadela. — Alguém
parece bem-beijado.
Sandra, James, Vanessa e Tristan riram,
enquanto os irmãos mais velhos de Miles
pareciam uma combinação de desconforto e
diversão.
Miles revirou os olhos, recusando-se a ter
vergonha.
— Você não tem espaço para falar, Ty. —
Disse ele, tirando o casaco e deslizando a mão
de volta para a de Ian. Ele olhou para todos os
seus irmãos intencionalmente. — Nenhum de
vocês, na verdade, então calem a boca, seus
hipócritas.
— Ok, ele tem razão. — Ryan disse, rindo
e dando um beijo profundo e sujo no noivo,
causando gritos e gargalhadas.
— Sua família é... interessante. — Ian
murmurou em seu ouvido.
Miles deu uma risada.
— Você vai se acostumar com isso. —
Disse ele. — Minha família é muito menos
assustadora que a sua.
Os olhos de Ian estavam muito sérios
quando apertou a mão de Miles.
— Minha família vai tratá-lo bem. — Disse
ele calmamente. — Eu prometo.
Miles deveria ter rido - Ian não podia
prometer uma coisa dessas - exceto que podia
sentir que Ian estava falando sério. Se sua
família não tratasse Miles bem, Ian iria fazê-
los.
Miles estremeceu, seu estômago se
contorcendo e o calor puxando sua virilha.
Certo. Isso não deveria estar realmente
excitando-o, que merda.
Pensando nos pensamentos mais
repugnantes e desagradáveis - seus irmãos
nunca o deixariam em paz se tivesse uma
ereção na frente deles - Miles deu um beijo na
bochecha de Ian e o levou em direção ao sofá.
Ele fez Ian se sentar e sentou-se ao lado dele.
Ignorando todos na sala, colocou a cabeça no
ombro de Ian e aconchegou-se a ele.
Levou algumas horas para que Miles
parasse de se sentir tão embaraçosamente
pegajoso - antes que pudesse se convencer de
que Ian não desapareceria se o deixasse por
um momento.
Ele estava correndo de volta para o lado
de Ian depois de deixar o banheiro, quando
literalmente encontrou Zach.
— Quero falar com você. — Disse Zach,
pegando seu braço e puxando-o para o lado.
Miles lançou um olhar para Ian, que
estava conversando com Sandra e James do
outro lado da sala.
Zach bufou.
— Você pode sobreviver alguns minutos
sem ele, garoto.
Miles corou. Ele era tão óbvio?
Algo como diversão passou pelo rosto de
Zach antes que se tornasse sério.
— Olha, eu não estou julgando. Mas tem
certeza de que é uma boa ideia, Miles? Ele é
onze anos mais velho que você.
— Você é quase nove anos mais velho
que Tristan. — Disse Miles defensivamente.
Zach deu-lhe um olhar apertado.
— Você não é Tristan. Ele praticamente
se levantou desde muito jovem. Você é o bebê
da família.
— Eu o amo, Zach. Confio nele. Ele me
faz feliz.
A expressão de seu irmão suavizou.
— Ok. Isso é o mais importante. — Ele
deu a Miles um sorriso triste. — Desculpe, não
era para ser um interrogatório. Eu só me
preocupo com você. Sempre vou me preocupar
com você, garoto.
Miles sorriu para ele, seus olhos ardendo.
— Eu sei. — Com um passo à frente, ele
deu um abraço apertado no irmão. Ele o amava
muito. — Você estará a apenas um voo de
distância. Mas não precisa se preocupar. Eu me
sinto seguro com ele. Ainda mais seguro do
que com você.
Zach riu.
— Ok, isso é um pouco ofensivo.
Rindo, Miles olhou para Ian do outro lado
da sala e seus olhos se encontraram, azul
travando com verde. Eu te amo. Eu te amo
muito.
Miles sorriu para Ian e disse suavemente:
— Esse é o maior elogio. Para ambos.

Fim

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