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D a Terra Nua

ao Prato Cheio
Produção para consumo familiar nos
assentamentos rurais do Estado de São Paulo

Organizadoras
Isabel Péres dos Santos
Vera Lúcia Silveira Botta Ferrante

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D a Terra N u a
ao Prato Cheio
Produção para consumo familiar nos
assentamentos rurais do Estado de São Paulo

Organizadoras
Isabel Péres dos Santos
Vera Lúcia Silveira Botta Ferrante
FUNDAÇÃO INSTITUTO DE TERRAS DO ESTADO DE
SÁO PAULO "JOSÉ GOMES DA SILVA'?

Diretor Executivo
Jonas V i a s Bóas
Diretor Adjunto de Poiíticas de Desenvolvimento
Afonso Curitiba Amara1
Diretor Adjunto de Formação, Pesquisa e Promoção Institucional
José Aupsto de Carvalho Meilo

0 2003, Punda~àoInsrirurn de Terras do Estado de São Paulo 'yosé Gomes da Silvan


Av. Hrig Luiz rlnronio, 534 - Sâo Paulo - SP - CEP 01318-000
Tel: (11) ,3293-3300 - E-mail: infoitesp@insritutodererras.sppRovVb~
\~v.insrinitodetcrrns.sp.go\,.br

CENTRO UNIVERSITARIODE ARARAQUARA - UNIARA

Reitor
Prof. Dr. Luiz Felipe Cabra1 Mauro
Pró-Reitoria Acadêmica
~ r o f Flávio
. Módolo
Pró-Reitoria Administrativa
Fernando Soares Mauro
Coordenadora da Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e
Meio Ambiente
Profa. Dra. Vera Lúcia Silveira Botta Ferrante

02003, Crnrr<>Universitário de Araraquara - UNIARA


Rua Volunririos da Pbrria, 1309 - Ccntrti - Araraquara - SP - CEP 14801-302
Tel: (16) 201-7100 - E-miiil: uniarii(@uniara.com.br
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ipe de Coordenaçáo da Pestpisa
Ana Lúcia Carneiro da Costa
.ndréia Regiane Nicolau Ferreira
Edson Martins
'ábio Luis Nogueira de Almeida
vanete Maria Durães de Oliveira
I,; Pagiiuso Regatieri

--
Márcia Regina de Oliveira Andrade

Colaboração ,
Daniell Oliveira

rolos
-. .
Pagliuso Regatieri

. e Capa
r i u r s r u P-Lfl-..
uiaiis,u
Edson Luiz Pereirai Marques

R1-.<&,. --ral
-.."-"
c-
Prof. I.uis Henriqiie Rosim

Da rcrra nua ao prato cheio: prodi iliai nos assentamentos


-7vo;e d o Estado dc Sio Paulo, .... ... PCres dos Santos e Vera
Silveira Borra Fcrranre. r\raraqrinrn: Fu'undnpicTtrsp/Uninra, 2003.

I io p.: il.
Bibliografis

1. Autoconsumo. f. ..-,-.-..,.. -. .&riria. 4. Assentamrnro.


5 . Agn iar. 6. Drsen ncão Iresp. I1I. UNIARA.

<:D
O Centro Unimsitário de Araraquara, pelos frutos de sua trajetória, é
referência local e regional de ensino, pesquisa e de prestação de serviços à
comunidade.

Com a recomendação pela Capes de seu primeiro Mestrado StrictoSensu


em Desenvolvimento Regiond e Meio Ambiente a Uniara deu um significativo
passo para sua consolidaçãocomo centro produtor e irradiador de conhecimento.

A parceria com o Itesp na edição do livro Da Terra Nua ao Prato Cheio


(pesquisa sobre auto - consumo nos assentamentos do Estado de São Paulo)
vem se somar aos investimentos acumulados pelos pesquisadores da Uniara na
análise dos assentamentos rurais no circuito das políticas públicas e das estratégias
de desenvolvimento.

A Uniara sentese honrada com esta parceria e com a possibiidade de


estar contribuindo para a socialização do conhecimento de situações pouco
publicizadas destas experiências. Com esta publicação, firma mais uma vez o seu
compromisso de enfrentar os desafiosdos tempos presentes com pesquisas sérias,
do ponto de vista ético e das exigências da sociedade contemporânea.

Luiz Felipe Cabral Mauro


Reitor do Centro U~versitáriode Araraquara
Nos Últiimos no7re anos, o le São Paulo realizou um enorme
esforço para garantir que os trabalhadores rurais tenham condições de vencer as
adversidades relacionadas à lida diária na terra. Boa parte desse empenho foi
direcionada aos diversos assentamentos espalhados pelo Estado, num trabalho
coordenado pela Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo 'yosé
Gomes da Silva" (Itesp), órgão vinculado à Secretaria CIa Justiça t: da Defesa da
Cidadania.

Não é uma luta fácil, mas o Itesp, responsável pelo planejamento e


execucão das politicas agrária e fundiária em São Paulo. vem trabalhando
inces :e para prc,mover o r esgate da cidadania ino campo, disserninzindo
o US< vel dos reiCUKSOS naturais e desenvolvendo a agricultura faniiliar
., ----. _"I r, .-.I-- - -.--A-- 4"

2003, o governo do Estado destinou cerca de 107 mil hectares pa o de


95 assentamentos, fmando mais de 4.600 famíiias no campo.

Para garantir o sucesso desses empreendimentc rno do Estado


de São Paulo, por meio do Itesp, vem prestando assist~~.~~..
LLLAicaàs famílias,
fornecendo completa infra-estrutura para todos os assentamentos de São Paulo,
tenham sido eles implementados pelos governos Estadual ou Federal. Com isso,
80% das famílias assentadas contam com abastecimento de água e 84% das
residências estão ligadas à rede elémca.
Com o lançamento do livro Da Terra Nm ao Prato Cheio - Pmd:~~ãopara
consumo familiar nos assentamentos rurais do estado de São Paulo, o Itesp dá mais um
passo para a consolidação de suas poiíticas. A obra foi baseada numa extensa
pesquisa entre as famíiias assentadas, que analisou o impacto económico e social
da agricultura familiar e apontou caminhos a serem trilhados como forma de
assegurar a continuidade de projetos de sucesso, além de subsidiar futuras
iniciativas nessa área.

Um dos dados relevantes do estudo aponta que em quase 100% dos


lotes localizados nos assentamentos pesquisados existe a produção de alimentos
para consumo dos próprios trabalhadores rurais. O u seja, a produção para
autoconsumo não C apenas uma atividade secundária Dara as famílias assentadas,
m )dalidade6 Ilpara a so'brevivênci&ao lado cIa comercialização
dos produtos agrícola

itos depoimentos re >ara a publicação do livro mostram a


1
imporrancia a o auroconsumo na moa aos assentados. Mais do que uma forma de
subsistência, a produção para consumo familiar traz independência, fortalecendo
a auto-estima dos produtores.

idadania ni3 campo st:constrói (:om o trabalho duro de mãos calejadas,


9' i a enxada e o esforçc> d enabdiiadores numa batalh:1 constante contra

01 i humores do tempo,os obstác:ulos econi?mitos e c:ulturais. Mas passa também

P' :lo compr ometimen to da com(unidade acadêmica e do poder público, esferas


-2 .- ira
fuiiuaiiiciirais
----L- -- Kainiiua
-- --...L- UF
2-
UIII LULULU
- -
. L.-...- I I I-1,.C ~ I--
~Op
--.
I u a milhões de brasileiros que

vivem no ca,mpo. O E.stado de Lião Paulo, por meio da Secretaria da Justiça e do


It'esp, está f:azendo a sua parte.

Alexandre de Moraes
Secretário da Justiqa e da Defesa da Cidadania do Estado de Sáo Paulo
A fome nüo é umfenômeno nnturai,
mar unlfenômeno rotial,
pmduto de esm<turus econ6micas dofeifuoras.
Josué de Castro

Terra do Pobre

Quando a terra é verdadeira,


Ela brilha como o sol
E clareia nossa mente
Pra nós enxergar melhor,
Iniciando a nossa luta,
Vai até nos cafundó.

Só me alegro quando vejo todo povo ao redor,


Somos um povo unido
Num caminho só.

Não dou as injustiças


Que favorece o maior
E explora o pequeno
E por isso eu tenho dó.
A terra já é de todos,
O mundo será melhor.

(Trecho de poesia de Franclrça de Souza -Arrentamento


Reunidrr,Te--Asremamemo Primaveo,Dalva Edor Sanmr.
Emi Pereira Penarial.RoraTeixeira -.Assentamento Rio P a n n i
Apresentado no 3'. Encontro de Mulheres Assentadas do
Estado de São Paulo. Promissão. maio de 2OM))
Agradecimentos

Quando pensamos que, além de se dedicarem aos seus afazeres cotidianos,


as famílias assentadas que participaram desta pesquisa anotaram diariamente o
que consumiram, sentimo-nos gratos. É inequívoco afirmar que, se os assentados
não estivessem empenhados nesta tarefa, a pesquisa não poderia ter sido feita.
Uma característica importante deste trabalho é que sua realização foi
condicionada à estrutura capilarizada da Fundação ITESP, composta por Grupos
Técnicos atuando nas diferentes regiões do Estado onde existem assentamentos
rurais. Somente esta característica, porém, não foi suficiente. Também foi decisivo
podermos contar com uma equipe de técnicos de campo, secretárias e auxiliares
com disposição e boa vontade para enfrentarem um desafio novo que demandava
conhecimentos e práticas diferentes daquelas com que cotidianamente estão
envolvidos.
Como esta pesquisa detém-se em diversas áreas do conhecimento e trabalha
diferentes tipos de informações, a ansiedade da equipe técnica responsável por
sua elaboração, embora multidisciplinar e contando com a experiência de outras
pesquisas de campo em assentamentos, bem como na área de consumo de
alimentos, não foi menor do que a responsabilidade que ela tinha em mãos. As
inquietações e inseguranças foram paulatinamente sanadas nas discussões com
os grupos de campo e pelas considerações feitas pelos professores Dra. Marina
Vieira da Silva e Dr. Rodolfo Hoffmann, principalmente quanto à abrangência e
relevância dos dados coletados. A eles agradecemos
- e, obviamente, os eximimos
de qualquer responsabilidade em relação a este trabalho.

Equipe de Coordenação da Pesquisa


Indice

Índice ....................................................................................................................... 13

Prefácio ......................................................................................................................15

Introdução .................................................................................................................. 21

A Pesquisa: UNverso. Categorias Analíticas e Metodologia ...................................... 25


As Famílias Pesquisadas ..................................................................................... 25
Metodologia .............................................................................................................27
... s
Palavras I ~ u a i ........................................................................................... 27
Desenvolvimento da Pesquisa ..................................... L

Produção de Alimentos para Consumo Familiar ..................................................... 37


....................
Espaço daProdução
..
Divisão do Trabalho e Coadiano ..........................................................................42
O Que Se Produz para Comer ............................................................................ 43
. . -
Autoconsumo e Comerciahzaçao.........................................................................45
O Que é Comprado. o Que é Trocado ...............................................................46
Os Sentidos da Produção para Autoconsumo .................................................... 48

Perfii SocioeconÒmico e o Autoconsumo das Famuias .............................................. 51


Região do Ponta1 do Paranapanema ..................................................................... 53
As Famílias do Ponta1 do Paranapanema .................................................. 53
Autoconsumo Alimentar .............................................................................55
.
Regao de Itapeva ................................................................................................60
As F a d a s da Região de Itapeva ...............................................................60
Autoconsumo Alimentar ............................ . . ............................................
62

.
Regiao de Sorocaba ................................................................................................. 65
As Fandias da Região de Sorocaba ............................................................65
Autoconsumo Alimentar ............................................................................. 66
.-
Regiao Noroeste ...................................................................................................... 68
As F a d a s da Região Noroeste .................................................................68
Autoconsumo Alimentar .............................................................................71
Média Geral ............................................................................................................
76
Autoconsumo Alimentar- Média dos Assentamentos ..........................76
Autoconsumo Alimentar - Média por Estrato de Capitalização ..........79

O Que é Necessário Comprar Fora do Lote ............................................................... 81


..
Composiçao da Compra .......................................................................................82
Pontos de Compra. Periodicidade e Programas Alimentares ........................84
Valor da Compra ....................................................................................................
85

O Que os Técnicos de Campo Pensam Sobre o Autoconsumo ................................ 87


A Importância da Produção para Autoconsumo ........................................... 88

Considerações Finais ..................................................................................................... 99

Bibliografia ............................................................................ ..........................................101


:

Anexos .............................................................................................................................
103
Prefaciar um livro sobre auto-consumo nos Assentamentos Rurais d o
Estado de São Paulo significa pata nós a oportunidade de mais uma vez,
empreender uma defesa político-ética da Reforma Agrária. Por inúmeras vezes
nos deparamos com avaliações dos assentamentos pautadas por indicadores de
sucesso/fracasso como se estas experiências estivessem continuadamente em
um fio de navalha na angustiante expectativas de um futuro incerto. A leitura
desta pesquisa realizada pela equipe do ITESP nos faz valorizar o auto-consumo,
rejeitando seu olhar por uma lógica pautada por dinâmicas de produtividade e de
valorização capitalista. Trata-se de um retrato vivo das necessidades de homens e
de mulheres que não querem terra como ponto de partida da produção de valores
de troca. Querem e precisam da terra para não passar fome, para ter o que dar de
comer a seus filhos, para sobreviver, pata não ficar ao sabor das selvagens regras
capitalistas de descarte da mão-de-obra. Neste circuito, o auto-consumo ganha
uma importância vital, não aprendida em análises que presas a uma abordagem
mecanicista consideram os assentamentos como unidades de produção a ser
compreendidas unicamente pelo movimento de subordinação à lógica da
acumulação capitalista. Insiste-se em diagnósticos de tais processos pautados,
com freqüência, por indicadores estruturados por categorias contábeis
naturalizadas sem uma atenção às múltiplas dimensões que se fazem presentes
neste novo modo de vida, entendido como espaço de articulação de práticas,
valores e tradições e construção de laços de códigos de (re) conhecimento social.
É no interior destes códigos que o auto-consumo, como parte das estratégias
dos assentados para permanecer na terra ganha significado.
Quem depende do trabalho no campo tem uma noção bem clara do valor
energético dos alimentos. Além da dimensão energética, a comida tem um
significado simbólico e, no caso dos assentados, aparece associada à luta por
manter, no cerco árido da monocultura, praticas agrícolas que lhes permitam
tirar da terra o seu sustento. A produção/auto-consumo da sua comida tem
importancia indiscutível em um espaço social em que dificuldades, sucessos ou
insucessos devem ser compreendidos para além do seu significadonaniral. Apesar
das sofisticadas elaborações teóricas utilizadas para desequilibrar a relação entre
produção e auto-consumo - possivelmente ex~ressãoardilosa das armadilhas
através das < I-se desqualificar os assentame:ntos rurais -temos clareza
de que a pe: re auto-consumo, DIa terra niua ao prato cheio permite
L. .-L...
uma outra lrirura, uiierente, mas necessária soorr as condições de vida dos
as
aqueles q im que n<> estágio iesenvolvimento
ca lá uma in#evitávelc *O+",
, ...-
-0
rcantilizai ade da
P' :ria absoluitamente dc o e fora de propósitc imento
de yrJquiJn vuirauu .-----""-
l...d- A .ntiircii.nu - Lutidiana dos assentados por comer, por
te r tranquili,dade, saúd e, por ter o resgate i4e um prosjeto famiiiiar. Desta ótica, o
fato dos assi:ntados tirarem da teIrra os cart>oidratosc:proteínas necessárii3s a um
..........
c l,.+;r., ~-:"i"
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,.L., ......
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. n t m A-r..* ",."+O , -.=c+- IA
L.rim .,gica da
in evitabiiida, :andizaçâc1 da produ erido e cornprado
segundo as 1 nercado. fissumindc iógica na anáüse e
~ ~

acompanhamento dos assentados, temos clareza de que, na análise de como os


assentados vivem, iml e ser apreendida por uma lógica externa, quer
seja do capital, da i n t ~ , . ~ , ~J.-- mercado, da reprodução da força de trabalho,
eaiste uma <:livagem a travessada pela histá#na,pela niemória, p#elasubjetividade,
P' :lo querer, por um xojeto farniiiar. Nes;ta rede de: relações, O auto-cotnsumo
ganha relev3niia.
Com1> afirmamtos, a pio<iução acalJémica tem tratado O auto-CC~nsumo
ccImo parte idas controvérsias existentes na análise e avaliação dl>S assentarnentos.
3 .
Em um Dalanço nao ~retenciosoaesta ~rodução,parece-nos importante citar
inipactos e iiscordânc :ados pela publicação dos dados da pesquisa da
. - .
FAU sobre indicadores de renda dos assentamentos (Romeiro et al. Reforma
Agrária, produção en'prego e renda. Rio de Janeiro: Vozes/IBASE/FA0,1994).
Não se pode ne,gar que ao construir um complicado indicador, decorrente
da combinacão das diversas rontes ae renda e ao concluir que onde se implantaram
OS assentam,entos fora m geradas rendas m: ~ u eas obtidas em atividades
Da Terra Nua ao Prato Cheio

equivalentes, a pesquisa da FAO significou um investimento ousado.


Nos termos desta pesquisa, a renda não foi hmitada apenas ao retorno
monetário resultante da comercialização dos produtos agropecuários dos
assentamentos. Acrescentou-se a este o auto-consumo, o assalariamento e a
valorização patrimonial. A tese defendida por Guanziroli (1996) de que o auto-
consumo encerra-se em uma lógica econômica racional, sendo o elo impulsionador
da reforma agrária, por permitir alternativas de superação da marginalização
social continua sendo extremamente controvemda. Argumentos de que a adoção
do indicador auto-consumo é expressão de que o assentamento não se integra
com êxito na economia capitalista regional (Castro, 1997) se contrapõem a outros
que consideram a inclusão das práticas de auto-consumo como uma necessidade
para a compreensão d o comportamento de exploraçóes agrícolas familiares
(Romeiro et a]., 1994).
Para alguns pesquisadores, incluir, dentre os indicadores, o auto-consumo
implica em uma superesamação do conteúdo do lucro agrícola. O u ainda, que a
adoção do indicador auto-consumo pode vir ao encontro da tese, por outros
defendida, de que o assentamento não se integra com êxito na economia capitalista
vigente. Em contrapartida, em outra perspectiva, a inclusão das práticas de auto-
consumo se faz necessária na avaliação dos assentamentos, até para não ser
deturpada a compreensão do comportamento dos assentados e do seu viver
cotidiano.
Na observação de Afrânio Garcia Jr., o tratamento dado ao auto-consumo
agrícola e animal é apenas uma das questões que a observação do comportamento
de explorações agrícolas familiares apresenta ao se estudar seu modo de
funcionamento e sua dinamita. Faz um alerta, "o esforço teórico e empírico
necessário é o de tentar explicar como as práticas de auto-consumo se articulam,
se imbricam com os usos de todos os outros tipos de resultados monetários", o
que exige que não mais sejam o s assentamentos analisados a partir da
universalização das categorias contábeis de uma lógica capitalista.
E m nossa avaliação, o esforço teórico e empírico necessário é de não
atribuir a resultados da economia monetária a discussão dos rumos dos
assentamentos rurais, pois os mesmos, além de se prestarem, com freqüência a
diagnósticos apressados, utilizados politicamente para afirmações de fracasso
das experièncias de Reforma Agrária deturpam a compreensão de estratégias
diferenciadas de produção/ reprodução utilizadas pelos assentados.
Ganha importância o auto-consumo no bojo destas estratégias e o esforço
da equipe de pesquisadores do ITESP em investigar a produção para consumo
familiar nos assentamentos mrais do Estado de São Paulo resgata uma dimensão
pouco visível, mas existencialmente necessária deste viver. A pesquisa teve a
preocupação de ser "representativa da heterogeneidadede produtores encontradas
nos assentamentos, não se trabalhou com amostragens aleatórias, mas uma
amosnagem estratificada em níveis de capitalização". Nada mais louvável e correto
do que levar em consideração a heterogeneidade de produtores assentados e
ainda mais, admitir que não se pode estabelecer uma tipologia válida para todas
as situações com limites rígidos entre cada tipo de produtor. A tipologia se molda
à realidade, aos diferentes contextos econômicos, sociais e culturais. Além disso,
mudanças no sistema de produção podem acarretar maior ou menor acumulação
de renda e a tipologia tem a função de revelar essa dinâmica". Também louvável
e correto que tenham sido os técnicos de campo, que trabaibam diretamente com
as famíiias assentadas, aqueles que identificaram, a partir do seu conhecimento
empirico, os produtores assentados em: "capitalizados (ou em nível de
desenvolvimento sócio-econômico avançado), em capitalização (ou em estágios
intermediários com tendência de crescimento), em descapitalização (ou em estágio
intermediário com tendência à queda) e em descapitalização ( com nível de
desenvolvimento sócio-econômico bakxo)".
Entretanto, tal como na utilização de indicadores para dimensionar o modo
de vida dos assentamentos, a classificação adotada como parámeno na pesquisa
levanta dúvidas, suscitar controvérsias, o que é frutifero para alimentar o debate.
Tais classificações não seriam arbitrarias ou expressão de uma idealizada divisão
que não se sustenta se confrontada à realidade vivida nos assentamentos? Talvez,
se tomada como um apriori levaria ao risco de se ahistoricizar a complexa situação
dos assentados e, nesta inversão, haveria o risco de se considerar os produtores
como um dado, deixando de apreender o movimento de diferenciação de suas
origens e histórias de vida.
Trajetórias que não pressupòem necessariamente uma hierarquização
econômica calcada em níveis de capitalização. Trajetórias que possivelmente
encontram elos no campo das necessidades de reprodução social. Buscar
explicações de melhor capacitação à produção para o auto-consumo nas
Da Terra Nua ao Prato Cheio

experiências anteriores dos assentados pode gerar constrangimentos, suscitar


controvérsias ou criar armadilhas. Afinal, habilidade e experiência não são
caractensticas inatas. Não há como traçar demarcações quantitativas na explicação
das diferenciadas formas utilizadas pelos assentados na gestão de suas vidas,
mesmo porque elas não dependem unicamente do ser/querer destes sujeitos.
Têm igualmente como vetor explicativo as ações/omissões dos outros agentes
que se fazem presentes no campo de forças sociais dos assentamentos Temos,
sem dúvidas, razões para nós convencer de que tipologia e classificações ainda
que representem o produto de um esforço analítico são instrumentos
problemáticos quando se trata de apreender o conteúdo de relações sociais que
se (re) fazem na difícil construção de um novo modo de vida nos assentamentos.
Assalariados, parceiros, arrendacános, ex-proprietários, todos carregam para o
acampamento e deste para o assentamento uma carga variável de um passado.
Passado caracterizado por um âmbito limitado de inter-relações de valores, de
códigos que se fazem presentes, reforçando toda uma série de compommentos,
hábitos,atitudes e valores que podem dificultar a maturação de um aprendizado
capaz de enfrentar situações "desconhecidas", as quais não se explicam
simplesmente por diferenciações individuais. Identidades são construídas e
reconstruídas, definidas e redefinidas, criadas e recriadas no confronto com a
realidade sempre muito difícil da vida num assentamento rural. Espaço de
dificuldades, mas carregado de esperanças.
Espaço de experiências, práticas e habitus que tèm nas diferenciações e
especificidades, elementos instituintes. As trajetórias dos assentados ora os
individualizam, ora os aproximam. Igualmente, nas práticas de auto-consumo há
singuiaridades a expressar diferenças dos assentados na gestão de suas vidas.
Diferenças que não podem nos levar a aceitar a produção de avaliações dos
produtores, mesmo porque estas passam a ser aprisionadas pela busca da
comprovação do seu sucesso ou de seu fracasso econômico. A análise da
importância vital do auto-consumo nas estratégias dos assentados não deve ser
pautadas por vieses economicistas. Com a liberdade de se registrar nossa
divergência com as tendèncias detectadas nas conclusões da pesquisa de
dimensionar desempenho por resultados da produção comercial, reiteramos a
indiscutívelimportância e originalidade desta pesquisa que representa uma preciosa
contribuição à análise do modo de vida dos assentamentos.
n.-qtre outras qualidade, o livro D a terra nua ao prato cheio tem a
( ie enfrentar um problema considerado preconceituosamente sem
.
,.
i .,.,ia. Esta é uma das inúmeras razões para recomendarmos ao leitor o
Inergulho ;o Da ter: 'a nua ao prato chieio, com :t convicção de que
Iiela encor ns argume:ntos para firmar compromissos com a luta pela
. -
Ketotma E

Vera L. S. Botta Ferrante


Oriowaldo Queda
íiraquara, dezembro de 2003
Introdução

Quem tem uma casa no assentamento


Moror<pnmeini nÒ a~nmpnmento
Hye tem borto pm seu sustento
Porqu~pmdu~ o seu o/z?lrm~nto.

Rosane de Souza, 14 anos,


Assentamento Conquista da Fronteira
Hulha Negra/RS.

Nas duas últimas décadas, a monotonia da paisagem rural de algumas


regiões do Estado de São Paulo, como é o caso do Ponta1 do Paranapanema, foi
quebrada drasticamente pela expansão dos assentamentos rurais. N o lugar de
pastagens extensivas, onde antes se avistavam apenas algumas cabeças de gado,
agora florescem pequenas propriedades rurais, sítios, nos quais a presença do
homem é marcante, onde começam a fazer sentido estas duas palavras: agricultura
famiLiar.
D e acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(FAO/INCRA, 2000), a agricultura familiar é praticada em 85% dos
estabelecimentos agropecuários do Brasil por 4.14 milhões de famílias. Ela dá
ocupação para 13.8 milhões de trabalhadores, o que representa 77% de todo o
trabalho do rr xasileiro.
Por cau ;celente pe :,a agriculitura famili:ar é considerada
2.. - .
por muitos unt XLUL csrratégico para a iiiaiiurciiyau 2. . -
c gciayau u --- --- para
u ciiipicgu,
a redismbuição da renda, para a segurança alimentar do pais e para a construção
do desenvolvimento sustentável (Contag, 1997; FAO/INCRA, 2000).
Este estudo tem como propósito subsidiar a construção da segurança
alimentar nos assentamentos rurais, que pode ser traduzida pela produção
destinada ao autoconsumo, ou seja, os produtos que a f a d a assentada obtém
no seu próprio lote e utiliza na sua dica alimentar.
Segundo Weid (1991), o autoconsumo tem papel essencial no sistema de
produção, pois é ele que -
. mrante a estabilidade do produtor frente aos resultados
Ixcilantes das culturas comerc um papel de reserva de segurança para
1nomentos; difíceis, além de p ventuais excedent~zs, às vezes bastante
significativos para o mercado local.
Obter esta estabilidade é um dos grandes desafios no processo de
implantação dos assentamentos, uma vez que muitas das famílias atendidas são
I ns do assu!stador quadro dos excluídos. C,om o aces!;o à terra, a garantia
C iça alimerLtar torna- se possívt:I, pois o assentado pode produzir os
L...a.LL.LVo
Ao
"C
"e .-0.c;rn
-i.*
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LI.CCI~II~,
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i..LIiVi ,. ,...
4plec P m <jeu próprio lote. A

!segurança : idida no sentido de "assegurar que todas as pessoas


Irenham, ein todo o I acesso físico e econômico aos alimentos básicos
~ ..
de que necessitam" (FAV, 1988, citado em DESER, 1996)'.
Por reconhecer a importância das atividades de autoconsumo na estratégia
de reprodução e acumulação do produtor, é que surgiu a necessidade de estudar
Inais detailhadamei ira autoconsumo no contexto dos
issentamentos pauli:
-A- -Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo - ITESP, por
Ineio da A:isistência '1'écnica e sizus propamas2,já ve o :tiv vida de,
~ n d essa
I3uscando aumentar a renda das familia!I, com O ?to de j o rns
~ e de
.. .
,. . .
muineres no trabalho Drodutivo, bem como contribuindo para a meihorla
. ..
nuuicional das famíiias
O objetivo central deste estudo é, com base numa pesquisa desenvolvida
I j do Ponta1 do Paran apanema, Noroeste, Itapeva e Sorocaba, verificar

' O Departamento Sindical de Erwdos Ruair fez uma dircussão sob


8 lo da regunnga alimentar
para diferentes ormnirmor.
. institutos e entidades (DESER. 1996).
' O programa Apoio à Produgão Familiar (Subpmgrama ~ e g u n n v amirmener) inclui a distribuiçzo de
--.e

sementes (ho rta). matrizes (aves e ruim>s)e mudar (pomar careiro) is familiar assentadas que. uma ver
beneficiadas. clevem redirtr.ibuir o beneficio i r outras famílias elo"I comunidade por meio do repasse de
produtos i mierenda ercola r ou de matrizes a outros I,rodutorer inicianter. Busca-se com este programa.
100 .
:.*
.:
iniciada em I 5ro.ariiigii ..
r u>u.~-..
r01 *
.. ,
iorvr.ertimulando a. uir.n~iirasao
>
.
:
o
.
=
da pmdugão p a n sutoconrumo.tão
importante ao desenvolvimento dar famfliar.
Da Terra Nua ao Prato Cheio

o impacto da produção de alimentos para o autoconsumo, atribuindo-lhe valor


econômico para depreender sua importância, com vistas a orientar as poiíticas
públicas e programas de ação que permitam garantir a segurança alimentar das
famílias, aspecto fundamental da cidadania no campo.
Para compor este livro, na metodologia, são apresentados os dados
levantados e como ocorreu o levantamento, indicando os par2metros adotados e
os métodos utilizados. Em Produção de Ahentospara Consumo Familiar, é feita
uma caracterização e discutida a importáncia da produção de autoconsumo para
a propriedade familiar. A seguir são apresentados e discutidos os resultados por
região: Ponta], Itapeva, Sorocaba, Andradina, Promissão e geral. Na parte final,
buscando enriquecer a discussão, analisam-se outros aspectos da produção de
autoconsumo e da alimentação por meio de um levantamento de alimentos
comprados. Abordam-se ainda aspectos qualitativos das entrevistas realizadas
com os técnicos.
A Pesquisa: Universo, Categorias
Analíticas e Metodologia

As Famílias Pesquisadas

A Fundação ITESP, na execução da política agrária e fundiária no âmbito


estadual, tinha como universo de trabalho de Assistência Técnica, à época da
realização desta pesquisa, desenvolvida entre os anos de 1999 e 2000, 8.828
f a d a s distribuídas espacialmente em 137 assentamentosno Estado de São Paulo.
No Pontal do Paranapanema, onde se concentra a maior parte dos assentamen-
tos paulistas, havia 4.747 famílias assentadas em 83 assentamentos, fruto da ação
do Estado na arrecadação das terras devolutas concentradas nesta região e da
luta pela terra.
A atuação do ITESP no campo, junto às comunidades, se dá por meio de
um corpo técnico de profissionais lotados no interior do Estado de São Paulo,
em 12 Grupos Técnicos de Campo (GTCs) divididos em 7 regionais3.
Desse universo, 70 famílias participaram desta pesquisa, distribuídas entre
oito das doze localidades abrangidas pelos Grupos Técnicos de Campo pabela 1).
Procurando tornar a pesquisa representativa da heterogeneidade de
produtores encc~ntradano s assentamentos, não se trabaIhou com amostragens
aleatórias, mas com uma amostragem estratificada em niiveis de capitalização.

- -
' Sobre diversidade dor seus profissionais. ver: Cadernos ITESP "Cultivando
Sonhos':caminrirx pnra an,wrrviiciaTécnica na Reforma Agrtia: São Paulo.2' ediçh.2000.
Garcia Filho define três tipos diferentes de produtores familiares: os
que "acumularam algum capital (maquinário e terra) e que dispõem
capifa/i~acfos,
de mais recursos para produção; Eles percebem uma renda agrícola satisfatória,
que os mantêm relativamente afastados do risco de descapitalização e de serem
excluídos do processo produtivo" (Garcia Filho, 1999); os em capitaiixa~ãosão
aqueles "cujo nível de renda pode, em situações favoráveis, permitir alguma
acumulaç ital, mas n :ainda um lade a longo prazo"
e os em B zção, '"ujc renda é te para assegurar a
reprodução da unidade de produçZo e a subsisttncia da família".

Tabela I -Número de assentamentos e de bmiiiar por Gwpor Técnicos de


Caripo do ITESP dar.

Pmiris3a

m q w

TOTAL

Vale esclarect:r desde já que não r;e pode e stabelecer Lima tipologia válida
para todas as situações com limites rígidos entre cada tipo de produtor. A tipologia
se molda à realidad e, aos diff :rentes cointextos econôrnicos,, sociais e culturais.
.,.,
Além d i s sn, m,i,innr nn
OC
., .,.,.., .,
me An n
C;C+L. a, -I..ri
. ,
.
,~ IP-
n ,,-~,tar maior ou menor
I,YULIII

acumulação de renda, e a tipologia tem le revelar essa dinâmica.


N o caso desta pesquisa, os técnicc >o,que trabalham diretamente
com as famílias assentadas, identiticaram, a partir do seu conhecimento empírico,
Da Terra Nua ao Prato Chcio

produtores capita(isados (ou em nível de desenvolvimento socioeconômico


avançado), em capitaiixa~ão(em estágio intermediário com tendência de
crescimento), em descapitaiiza~ão(ou em estágio intermediário com tendência à
queda) e descapia~ados(com nível de desenvolvimento socioeconômico baixo).
Assim, deveria haver um exemplo destes quatro grupos de produtores por
assentamento ou grupo de assentamentos.
Para que a pesquisa estudasse familias em diferentes contextos, respeitando
a diversidade regional dos assentamentos, foram agrupadas em quatro regiões:
Pontal d o Paranapanema (Porto Primavera, Teodoro Sampaio, Presidente
Bernardes e Presidente Venceslau), Nomeste (Andradina e Promissão), Itapeva e
a região de Sorocaba.
Vale ressaltar que a estratificação planejada inicialmente não foi utilizada
para todas as 70 famüias. Alguns técnicos, como os de Sorocaba e Andradina,
afirmaram não ser possível visualizar uma divisão entre os niveis tal qual foi
proposta e, portanto, proceder a ela. Assim,destas 70 f a d a s , 55 estão classificadas
em grupos de capitalização.

Metodologia

Palavras Iniciais

Como a produção para o autoconsumo está intrinsecamente ligada às


estratégias de reprodução e acumulação do sistema de produção familiar, é
necessário compreender as interfaces desses processos e desvendar sua dinâmica
para conhecer, enfim, as bases sobre as quais essa produção se desenvolve, sua
importância econômica, social, cultural, suas limitações etc. Para obter resultados
consistentes e que dessem sustentação ao conjunto das informações necessárias
à construção desse quadro, optou-se por utilizar-se como base desta pesquisa o
método de abordagem sistêmica conhecido como Diagnóstico dos Sistemas
Agrários4.
Garcia Filho justifica, no "Guia Metodológico", a relevância da utilização
deste método quando afirma que "o modo de utilização do espaço (...) representa

' É impomnre frisar que. apesar de se utilizar desta metodologia. este náo C um trabalho de Sistemas
Agrários.
um esforço de adaptação ao ecossistema, buscando explorar da melhor maneira
possível o seu potencial e minimizar os obstáculos" (op. cit.:9). Deste modo, o
uso da terra evolui ao longo do tempo e depende de fatores ecológicos, técnicos
e econõmicos, tomando imprescindível, em seu esmdo, um enfoque sistémico.
Apresentamos a seguir alguns dos seus princípios basilares.
O esmdo dos Sistemas Agrários "( ...) não é um fim em si mesmo, mas
uma ferramenta. Seu principal objetivo é contribuir para a elaboração de linhas
estratégicas do desenvolvimento rural, isto é, a elaboração de políticas públicas,
de programas de ação e de projetos (...)" (op. cit.:8), característica fundamental
para que o ITESP tenha esta pesquisa como base para os desdobramentos na
aplicação de seus programas existentes ou na criação de outros.
Partir das condições gerais que envolvem a produção (mundo, pais, região
etc), prosseguir em níveis mais específicos (município, assentamento e unidade
de produção), para em seguida explorar seus aspectos particulares (cultivos,
criações, etc) é outra particularidade deste método. Para abarcar esse universo de
informações, ele compreende métodos quantitativos e qualitativos, além do
tratamento de dados socineconórnicos de que o Itesp já dispunha.
O método dos Sistemas Agrários se distingue também por utilizar amostras
dirigidas. O fato de a sociedade ser composta de categorias, camadas e classes
sociais diferenciadas resulta na existéncia de distintos tipos de produtores que se
"( ...) diferenciam tanto pelas suas condições socioeconômicas e por seus critérios
de decisão, quanto pelos seus sistemas de produção e pelas suas práticas agrícolas
(...)" (op. cit.:9). Por essa razão, o estudo dos Sistemas Agrários não utiliza amostras
aleatórias "pois elas não asseguram, por seu caráter inm'nseco, a representação e
a análise aprofundada de toda a diversidade" (op. cit.:ll).
Outra característica bastante importante deste método para esse esmdo é
que ele pressupõe o envolvimento dos agricultores no desenvolvimento do
diagnóstico, levando em conta seus interesses durante a execução da pesquisa. E
mesmo quando o diagnóstico está sendo realizado exdusivamente por uma equipe
técnica, Garcia Filho ressalta que "é importante que, no final do processo, (...) os
agricultores discutam as condusões do trabalho e participem da formulação das
políticas e dos projetos delas decorrentes" (op. ~it.:13)~.
Vale destacar que apesar deste esmdo restringir-se especificamente à

'Ar discuss6es com os assentador sobre os resultados desta perquira foram realizadas no periodo de
novembro de 2000 s janeiro de 2001.
DaTerra Nua ao Prato Cheio

produção para o autoconsumo, tomou-se o cuidado de não perder de vista a


abrangência que o conjunto da produção rural representa e que na metodologia
de Diagnóstico de Sistemas Agrários procura-se preservar.

Desenvolvimento da pesquisa

Este estudo compõe-se de:

I - Pesquisas Quantitativas (dados primário!

a) Levantamentode dados referentes à alimentação diária constim'da


de produtos do próprio lote;
b) Levantamento de preços de mercado nas diversas regiões
pesquisadas;
c) Levantamento de produtos comprados ou obtidos fora do lote;
d) Levantamento do perfil socioeconômico das f a d a s .

I1 -Pesquisas Quaiitativas:

a) Entrevistas com produtores assentados;


b) Grupos focais com técnicos de campo.

I - Pesquisas Quantitativas (dados pnmhrios e secundários)

u) Leuanturnento & alimentução diúnuproveniente do lote

Num primeiro momento, foi realizado um levantamento das quantidades


consumidas de alimentos produzidos pela f a d a no próprio lote. Cada família
anotou esses dados num caderno com orientações e exemplos (anexo I),durante
uma semana em cada mês (segunda a domingo), pelo período de doze meses
consecutivos (maio de 1999 a abril de 2000).
Para que essas anotações fossem realizadas dentro do rigor pretendido,
alguns cuidados nortearam a seleção das f a d a s : a capacidade e disponibilidade
de preenchimento dos dados nos cadernos e o interesse em paflcipar da pesquisa.
O conhecimento empírico dos técnicos de campo foi decisivo para
identificar as famílias com essas características.
Neim todas as famíiias anotaram a1s dados durante os doze meses, ficando
. . .. -.
portanto estabelecido que as tamilias consideradas na pesquisa seriam aquelas
?

que levantaram dai:jos duranite seis ou mais semanas, período considerado


satisfatório para se c>bterdadots representativos.
A Tabela 2 apresena o número de f a d a s levantadas por GTC e o número
de seman:is em que as inform ações da f amilia for:im anotad as.
O c:aderno de anotaçõe!3 era recolllido ao fin1 de cada semana pel.o técnico
2- caLlllJU,rlur --if..
-
..a .
..a"l:.."T."
riirnu icariLava ..uiiia ^^L1 :"a rriurlr
.-i^ -.L*:"" A^^ unuva
uuJ e-- -
A"J^" cuiii -L . .
~oletlvode
detectar falhas nas anotações e erros de medidas. O técnico de campo levantava
os preços regionais praticados para cada produto e passava os dados de quantidades
e preços para uma planilha (ariexo 11).
Como os dados apreseritavam variações quainto às uni dades em que eram
.,,.,
quanaficados os produtos, foi ..,%,--eco.,
. ..r --rir\ nynUIY.Yla-lVa,
...,,, ,"A-..;..&-l -c-,,-..-.
CY..ICctendo-os
para uma idade de r a unidade adronizar
as medida
Estabeleceram-se valores-limite de consumo, construidos a partir dos
seguintes documentos: "Pesq1lisa de Ori~amentosFamiliares (POI;) - 1994/95"
(JlIEESE ,1996) do Departanlento Inte rsindical d e Estatístiica e Estudos Sócio-
.
.. . ..- ----
..
Econômicos, "cstudo Nacional da Uesoesa Familiar,, flUbi3.1978) e "Pesquisa
de Orçamentos Faniiiares - l rtituto B~rasileirode
- .
Geograha e Estaóstica.

-
L Neste monmnto. foi de grsnde utiiid:ade. além do os técnicos de campo, o
e-hslh,, A- I 1004
Da Terra Nua no Prato Cheio

-
Tabela 2 Número de timilias. segundo o número de remmas que prnicipinm
da perquira.por GrupoTCcnico de Campo.

lina
rão
rrcsiucnrç "criccailu 2

Porto F 16 16

Teodor 4 I 1 6

Presidente Hemardcs
'... ....
.,, ,,,'..
.,
1 2
.... .
':
...,.,,
3
,'

6) Levantamento depreçor de mercado

Buscando-se ~stimarquanto os assentados economizam com a produção


para autoconsumo alimentar, foram utilizados preços de mercado para se obter o
valor monetário dessa produção.
Os preços foram obtidos, pelos técnicos de campo, por meio de
levantamento no varejo da região. Foram utilizados preços de estabelecimentos
comerciais na cidade onde os assentados realizam suas compras de mantimentos
e comprariam esses gêneros, caso não os produzissem. A coleta de preços realizada
respeitou a qualidade e a aparência comercial dos produtos. Assim, produtos
aptos para o corisumo humano, mesin o quand< menores ou apresentando alguns
defeitos, foram avaliados com base no seu valor comerc:ial.
- . -
u valor monetário do consumo alimentar toi obtido por meio da
multiplicação das quantidades médias consumidas de cada produto pelo seu
respectivo preço médio. Este preço foi ponderado em função das quantidades
consumidas de cada produto, ou seja, seu peso dentro da pesquisa.
Para balizar os resultados do presente estudo, também foi obtido o preço
médio de cada produto no varejo da cidade de São Paulo. Utilizaram-se para isso
preços médios para o período fornecidos nas publicações "Informaçóes
Econômicas", do Instimto de Economia Agrícola (IEA), e "Boletim de Preços",
do Departamento de Entrepostos da. Ceagesp (DEPEN). Preços de outros
produtos, principalmente os industrializados, foram obtidos junto à Fundação
Instimto de Pesquisas Econômicas (FIPE), utilizando uma cotação média para o
mês de janeiro de 2000.
O conjunto de preços do varejo da cidade de São Paulo resultou num
preço médio 37% maior do que aquele fornecido pelos GTCs. Essa diferença
nos valores pode ser explicada por diversos fatores. O primeiro é que os produtos
com finalidade para autoconsumo nem sempre alcançam o melhor padrão de
mercado, não atingindo os mesmos
preços de produtos comerciais, embora seja fácil supor que suas qualidades
numcionais e organolépticas não estejam significativamente alteradas.
Outro aspecto a se considerar é que o varejo da cidade de São Paulo é
abastecido praticamente o ano todo com produtos provenientes de diferentes
lugares, diminuindo o efeito safra-entressafra, enquanto que no caso dos
produtores assentados, grande parte de seu consumo é constimída de produtos
da época, cujos preços são menores.
Finalmente, deve-se levar em conta também que, devido aos custos de
transporte, os preços da capital são maiores do que os do interior.

c) Levantamento depmdutos rqbrados ou obtidosfora do lote

Para poder mensurar a participação da produção para autoconsumo no


consumo alimentar global das famílias, foram levantados (junto a 39 f a d a s ) os
dados de consumo dos gêneros alimentícios comprados.
Este levantamento foi realizado por meio de questionário7constituído de
duas partes: a) uma lista na qual são especificados os produtos alimentícios
adquiridos numa compra mensal padrão (anexo V)' e b) perguntas relativas ao
valor desta despesa, à importància proporcional do gasto com alimentação na

'Entre essas 39 familiar. 29 quertiodrios fonm aplicados após ar entrevistar.0 s demais falam aplicadas
em outras ocasiões pelos thcnicor de campo.
Este modelo de formulirio foi gentilmente cedido pelo Núcleo de Estudos e Pesqoisa em Alimentaqão
(NEPNUNICAMP).
Da Tern Nua ao Prato Chcio

despesa mensal total e à participação ou não em programas públicos de


alimentação, tais como distribuição de cesta básica, leite e merenda escolar (anexo
vn.
d) LevBntamento do perf/sotioeconômico dasfamí/ia~

A análise do perfil socioeconômico baseada na Caderneta de Campo


complementou o estudo das 70 famílias que compõem o universo da pesquisa,
fornecendo dados que puderam apontar características sociais e econômicas
determinantes das formas da produção familiar.
A Caderneta de Campo é um levantamento realizado anualmente pelos
técnicos de campo com todas as famílias que se encontram sob responsabilidade
de sua assistência técnica. Este levantamento é composto de dados sobre
composição familiar, escolaridade, existência de outras fontes de renda familiar,
além da produção no lote, condições de moradia, posse de bens e infra-estrutura
de produção, e, principalmente, dados da produção agropecuária: área cultivada,
produção e valor gerado9.
As principais informações utilizadas nesta pesquisa foram: tempo em que
a família está assentada, composição familiar (número de pessoas), grau de
envolvimento da família no trabalho do lote, benfeitorias e bens de produção e a
produção agropecuária.
O tempo em que a família está assentada pode estar relacionado com o
grau de estabilidade econômica conquistado, aquisição de bens, melhoria das
condições de moradia e desempenho na produção. Composição familiar, grau de
envolvimento da família no trabalho do lote e experiência anterior podem
influenciar na escolha de culturas e criações a serem trabalhadas. Por meio do
cruzamento destas informações, buscou-se compreender melhor o contexto das
atividades de autoconsumo das famílias, nos projetos e nas regiões.

I1 -Pesquisas qualitativas

a) Entrevistar com produtores assentados

'As lnformaçkfornecidas pelar Cadernetas de Campo.resultanm em duas publicaqõer da rbrie Cadernos


ITESP: "Rctnto da T e r n 96/97' e "Retrato da T e r n 97/98". onde são apresentados indicadores do
desenvolvimento rocioeconòmico e da produção agropecuária das famfliar assentadas em São Paulo.
Com o objetivo de aprofundar e complementar as informações obtidas
na pesquisa quantitativa, foram entrevistados 29 produtores assentados, entre os
70 que participaram da pesquisa. Os entrevistados foram escolhidos visando
contemplar os diferentes estratos de capitalização dentro de cada assentamento
ou grupo de assentamentos abrangidos pelos oito Grupos Técnicos de Campo
onde foi realizada a pesquisa. Quatro famílias foram entrevistadas em Andradina,
cinco em Promissão, três em Presidente Venceslau, duas em Presidente Bernardes,
quatro em Teodoro Sampaio, quaao em Porto Primavera, três em Sorocaba e
quatro em Itapeva.
N o mundo rural, as plantações e criações que servem ao consumo famil-
iar cumprem um papel cuja compreensão escapa à pura mensuração da produção.
Por isso, as dimensões sociais e culturais - o s sentidos que a produção possui -
devem estar aliadas a abordagem microeconômica de quantificação. Tendo por
base as planilhas com os dados quantitativos, procedeu-se então à ida a campo
para as entrevistas.
As entrevistas seguiram um roteiro com perguntas abertas, na forma de
tópicos (anexo III). Esse procedimento foi adotado por abrir espaço para o
imprevisto: algo que não foi perguntado e é mencionado pelo entrevistado numa
entrevista aberta deste tipo pode ser de grande valia. O roteiro foi inicialmente
construido com temas que se considerou importantes.
Após as primeiras entrevistas, acrescentaram-se a ele outros tópicos e
simplificou-se sua forma. A conversa que o roteiro embasava pòde, assim, se
tornar mais flexível, pois que adaptada a cada situação de entrevista.
As entrevistas tiveram como temas principais a origem e as experiências anteriores
de trabalho dos assentados (as histórias de vida sendo encaradas como
profundamente entrelaçadas com as experiências de trabalho1(');o que é produzido
e os motivos da produção; a relação da produção para autoconsumo e para
comercialização; produtos mais comuns e mais importantes; o aspecto espacial
da produção; a divisão f a d a r do trabalho e a rotina da fatníía no sítio; a realização
de trocas; e o consumo de recursos do ambiente (frutas, ervas, pesca etc).
As entrevistas foram realizadas nos lotes dos produtores rurais. Uma das
formas de se apropriar da realidade do agricultor é conhecer diretamente sua

' O Como aponta Moraer Silva:"(...) o trabalho é um momento da vida e da experiência humana. N%oexiste

em separado. É um elemento da história" (Silva, 1991:12).


Da Terra Nua ao Prato Cheio

produção. Assim, foi feita uma caminhada com o produtor pelo seu lote,
procurando identificara produção comercial e a produção para autoconsumo, os
locais onde se desenvolvem e sua estruturação. Nesta caminhada, o produtor
explanava e mostrava seu sítio e, em alguns casos, foram efetuados registros
fotográficos.
Os entrevistados foram os responsáveis pela família (homem, mulher ou
ambos). Algumas entrevistas foram gravadas e outras foram anotadas em forma
de relatório.

h) Gniposfocais com técnicos de catnpo

O método Grupo Focal constitui-se de uma entrevista coletiva realizada


com um grupo selecionado de participantes. O roteiro da entrevista (semi-
estruturada) consiste em questões levantadas previamente e das quais se espera
obter, de cada participante do grupo, as diferentes impressões sobre o tema ou
ainda questões sobre as quais se espera contemplar aspectos importantes para o
trabalho, que ainda geram dúvidas mesmo após a realização de entrevistas
individuais. Selecionado com base no tema que se pretende abordar, o grupo
pode ser formado por especialistas sobre um determinado assunto ou pode ser
um grupo de interesse (Gil, 1995).
Nesta pesquisa, os grupos foram constituídos pelos técnicos que trabalham
com assistência técnica junto aos assentados. Durante as visitas técnicas aos
assentamentos para a realização das entrevistas com os produtores, foram feitas
reuniões, em cada GTC, com grupos de técnicos que participaram da pesquisa.
As primeiras reuniões, realizadas em PromissZo e Porto Primavera, serviram
para subsidiar a elaboração d o roteiro definitivo (Anexo IV), que foi
subseqüentemente utilizado nos Grupos Focais com os técnicos dos demais
assentamentos. O conteúdo dessas reuniões foi anotado e posteriormente
registrado em relatórios, e quando o roteiro do Grupo Focal passou a ser aplicado
também utilizou-se gravação em fita cassete.
Produção de Alimentos
para o Consumo Familiar

'Era o sonho dr(p te um pedaco de tpwapra tê tudo pra não prpasá c o q ~ ánada':

prabaihadora assentada entrevistada falando sobre o sonho do


mando quando foi pnra o assentamento)

Espaço da Produção

Os espaços da produção variam em função do planejamento territonal de


cada assentamento. Em alguns assentamentos, como é o caso da Fazenda Pirituba
em Itapeva, cada f a d a reside em um pequeno lote numa agrovila, onde se de-
senvolve parte da produção para autoconsumo, possuindo também uma área,
chamada lote de produção, onde se desenvolve a produção comercial. E m outros
assentamentos em que não há esta divisão, tanto a produção comercial como
para autoconsumo se desenvolvem numa área contígua.
A paisagem d o sitio é normalmente bastante diversificada próxjmo à
moradia (fotos 1 a 6), com plantas frutíferas e ornamentais, ervas medicinais,
animais domésticos e aves. E m geral, ao redor da casa estão a horta, o pomar e os
animais criados soltos ou abrigados em pequenas construções de madeira, o que
facilita o trabalho de cuidar das plantas e animais (fotos 7 e 8), tarefa diária que
ocupa boa parte do dia. Da mesma forma, o acesso rápido aos produtos facilita o
preparo dos alimentos.
O pomar fornece abrigo e comida aos animais que vivem soltos no sítio,
alimentando-se das frutas caídas das árvores, bem como dos insetos atraídos por
estas.
Na criação dos porcos, é mais comum mantê-los confinados em baias ou
em piquetes. A alimentação dos suínos é feita com milho, mandioca, ramas de
batata-doce ou outros produtos do sítio e/ou comprados fora.
A hor)ta é geralnlente prot egida do iicesso dos animais, 1fechada com tela
de arame ou bambu, e <conttm, a1ém de ver duras e legFmes, plaintas medicinais e
orriniiiLiirrir.
rnm-ntnir

É conlum tamtiém encoritrar o cultivo de plantas de pequeno porte


(abóbora, qu iabo) entrt: as fileira!r das culturas de café ou de outras espécies de
-
maior porte. E um plantio consorciado, onde normalmente há uma espécie de
maior interesse comercial e outra cuja produção é destinada ao consumo f a d a r .
Abóbora, maxixe, abobrinha e outros, além da consorciação, podem também ser
encontrados ao redor cIa casa.
Os produtos da Iinruun - arroz, feijão, mandioca, milho verde e outros -
normalmente estão localizados em áreas mais distantes da moradia. O mesmo se
observa com os pastos onde se desenvolve a produção leiteira.

Foto I - Em primeiro plano pode-se ver a mandioca de mera. ao fundo bananeiras e outras
espécies arb6rear do sitio da Sr JoseAfonso e Dona Rorevane A. Camlcante.
Arrentamenro Primavera. PresidenteVencerlau (SP)
Da Terra Nua ao Príito Cheio

Foto 2 - Dona Rorevane iunto i horta que esrá cercada por tela para evitar a entrada de animais.
Ao lado. algumar frutiferar (manga e limão) e, ao fundo. pode-se avisar o plantio comercial de mamona.
Assentamento Primavera. Presidente Vencerlau (SP)

Foto 3 - Lote de 3 anos de Sr. Celso e Dona Cicera 0. Forcinetti.A cara da família ainda náo acabou de
ser construida. mar a braquiaria ja vem dando lugar para bananeiras. mamoeiros. goiabeiras. etc. ..
Assentamento Valeverde - Teodoro Sampaio (SP)
-
Foro 4 Amda no lote do Sr Celso e Dona Cicera B Forcineni. pode-se ver uma horta
com beterraba, alface, tomate. etc...
Assentamento Vale Verde - Teodoro Sampaio (SP)

Foto 5 - No lot :&lia, a produ i1 e para auro io hdo a Qdo


Atrás da h o r t . ...rer o milho e - ...,- mais ao fundi.- ...-..-.-.. I e o pomar.
.All.nnm.n to Pirituba. I .neva ,.. ,
t,.- ICPI
Dn Terra Nua ao Pratci Cheio

Foto 6 - A paisagem difura ao lado da cara do Sr. Antonio Barbosa abriga errènciar florestair,
ornamentais e frutiferas como o mamoeiro. acerola. etc.. .
Arrentamenro Reunidas - Promissão (SP)

- Na hora de alimentar ar aves. é um alvoroto só na quintal de Dona Branca.


Foto 7
- .. har e patos a montoam-se na frente da pocilga...
Arrentament o Reunidas. Promissão (S;P)
Foto 8 - ...e são obrenador atentamente pelo pomo. que talvez espere que algo sobre para ele.
Assentamento Reunidas. Promissão (SP)

Divisão do Trabalho e Cotidiano

Pode-se caracterizar uma certa di~isãodo trabalho na familia, que tem a


ver com a divisão sexual do trabalho. De acordo com Kergoat", "a divisão do
trabalho entre os homens e as mulheres faz parte integrante da divisão social do
trabalho" (Kergoat, 1989:96). A divisão do trabalho, na agricultura familiar
desenvolvida nos assentamentos, porém, não é estanque e as funçGes não são
exclusivas dos indivíduos que normalmente as desempenham, podendo ser
realizadas por outros membros da famíiia.
Os agricultores assentados acordam cedo, entre 5 e 7 horas da manhã.
Quando a família possui vacas leiteiras, geralmente é a esposa que se incumbe de
preparar o café da manhã. É comum levarem para o curral uma garrafa com café
para tomar com o leite ordenhado. O café da manhã propriamente dito, com
pães ou algum bolo, é tomado depois da ordenha.

" Ainda que reja referido ao universo da moderna indústria. o artigo derta autora francesa temadza s
validade e a imponãncia de se falar numa divisão sexual do trabalho inrerida na divisão social do trabalho.
que tem por base o conceito de classe social. Discutem-se a distribuicão de tarefas (a quem cabem tais
e quair trabalhos) e seu respectivo contexto cultural.
Da Terra Nua ao Prato Cheio

Depois do café, o marido e os filhos mais velhos do sexo masculino saem


para trabalhar na lavoura, na roça, enquanto a mulher e as fdhas se ocupam do
trabalho doméstico: fazem o serviço da casa, o preparo da comida, a limpeza e
realizam aquelas atividades desenvolvidas perto da casa, como a horta e as criaçóes
(cuidam das galinhas, dos porcos). Apesar de ser possível delinear essa divisão
do trabalho com base no sexo, é também muito comum as esposas e filhas mais
velhas se envolverem direta e intensamente na lida da roça e na ordenha de leiteI2.
Geralmente são as mulheres que assumem um papel de maior dimensão
nas atividades de autoconsumo, uma vez que são elas que diariamente se ocupam
do preparo das refeições. Como a produção de autoconsumo tem relação direta
com a comida preparada, o cálculo da produção para a alimentação alocada nos
arredores da casa- criação de pequenos animais, horta-vincula-se com a atividade
imediatamente posterior, que é a que tem lugar na cozinha.

O Que se Produz para Comer

A produção para autoconsumo se faz presente na quase totalidade dos


lotes Há desde famílias que dispõem de apenas alguns produtos até aquelas que,
com elevada e diversificada produção de autoconsumo, só compram o que não
podem produzir no sítio.
Mandioca, milho, arroz e feijão são os produtos mais constantes, entre
aqueles da lavoura, e formam a base da alimentação nos assentamentos. Essas
culturas correspondem, mesmo com as mudanças aceleradas de hoje no padrão
alimentar, às preferências alimentares dos brasileiros".
A mandioca está presente na maioria dos casos e é possível dizer que é um
culcivo bastante importante: é um produto rústico que não exige grandes cuidados,
resiste bem à seca e tem uma longa duração quando ainda não retirada da terra.
Beatriz Heredia frisa a flexibilidade envolvida no cultivo da mandioca, já que
esta pode ser conservada na terra "durante um período de tempo maior do que
os demais cultivos" (Heredia, 1979), podendo ser retirada e consumida de acordo

Em duas das familiar entrevistadas, por motivo de doensa ou por morte do marid0.e- ar mulheres.
mães e lilhar.que realizavam derde a ordenha até o tabalha na mta
"Ant6nio Cândidqem Os Parceiros do Rio Bonito,aotatar daformasáo dor hàbiios alimentares brasileiros.
e particularmente dos de São Paulo. frisou a impo&ncia hirttirica destes produtor na dieta (Mello e
Souza. 1977: 47 a 56).
com as necessidades. A mandioca é também destinada para a alimentação ani-
mal.
O milho, além de poder servir à alimentação da farnilia como milho verde
ou para produção de ds : utilizado para alimentar os animais
Quanto ao arroz plantam, enquanto outros preferem comprá-lo.
O arroz exige beneficiamento, e muitos afirmam que não compensa produzi-lo,
d aiido às dif iculdades que se apresentain: acesso aos locais onde se beneficia,
cus;tos que is:so implica,, quantidaiie final do produto, que diminui muito quando
,, ?
este e descascado. o rato de que o produtor muitas vezes não tem total controle
sol qualidade que pode 3 boa. Um assentado que o

produzia e deixou de plantar o produto, o~ 1 compra, diz o seguinte:

'Torque eu acho... é o nimulo. Pra nór aqui, o nosso arms muita v g não dá de boa
qualiinBne, e aí cé leva na nrBquina, c2 chega lá na máquina, a não ser que agente tivesse uma
organiração que tivesse uma máquina aqui, né, mar cé /em lá na máquina, leva 60 quilo,
h-as 36. E aí uocé cuba não h-arendo o a- seu, cé cuba h.arendo um ouha armq Eler
mistura na bica, cé num vaipodêficá ali ollando o cara, ficB prestando atenção, entãoficn
muito caro. E... oinósparamo deprantá o arm? Se céprantá o urro5 tem queprantá mesmo
Pro c..). c..).
7 inteiropra vende" Pra consumo... Cê tem quepegá um carro daqui,
ir t TI esse saco de arro3ficá o dia fápra esperá linpá, aí talver o arroi: não dá de

boa qualidade, dá quebradinho, céfica comendo um arrol: que é de má qualidade, então é


melhor conprá h do Sul ou de Goiás, um a r q de boa qualidade, e cêpranta outra coisa."
O feijâo é plantado ou como cultura principal para comercialização, ou
consorciado com outr principal (comumente o feijão é consorciado
com o café), ou para o umo num espaço somente para seu plantio.
A A L'---ta
,",< é tambét,. c..L,..uada em grande parte dos lotes. Durante o inverno
é rnais ampla.,com mai lade e dive :produtos,notadamente as
folhosas, ma!3 permanei i, com algu os, principalmente legumes,
que são menos afetados pelo calor e pelas chuvas, durante o verão. Na horta, ou
em outro local ao redc)r da casa, encontram-se constantemente ervas utilizadas
para chás @ara resfria,,,,a-* e outras enfermidades ou simplesmente para
serem degustados) e para tempero.
O pomar fornece aos assentados frutas para seu consumo. Uma das
primeiras providências que vários assentados tomaram ao mudarem para o lote
foi o plantio de frutiferas. Em gerai, nas compras qiie fazem, não se compram
~ salvo uma ou o utra mais "diferente " (como rnaçã, por exemplo), pois o
f ritas,
Da Terra Nua ao Pram Cheio

consumo destas costuma ser suprido pelo pomar que têm. Os pomares variam
desde os mais diversificados até os que contam com alguns poucos tipos de
frutas. As fmtas que mais frequentemente fazem parte do pomar são banana,
laranja, limão, tangerina e mamão.
Em muitas regiões, a pecuária leiteira é a atividade comercial mais
importante dos assentamentos, como será discutido no capítulo referente ao Perfil
SocioeconÔmico e o Autoconsumo das Famílias Assentadas. Nesses casos, além
da venda, esta atividade também provê a família com leite. Em outros casos, as
familias possuem algumas vacas e o leite produzido é apenas para o consumo. O
consumo de carne bovina do próprio lote se dá quando ê abatida alguma cabeça.
Todos os assentados entrevistados possuem galinhas que, fornecendo carne
e ovos, representam uma importante fonte protéica. Geralmente são galinhas
caipiras, criadas soltas, mas alguns criam galinhas de granja confinadas. Além
das galinhas, também são criados, porém menos frequentemente, patos, galinhas
d'angola e perus.
Ainda no universo das pequenas criações, destacam-se os suínos, que
provêem as famílias de carne e, no caso dos que a utilizam, de gordura para
elaboração da comida. Dos suínos consome-se também toucinho e iingüiças feitas
com a carne e com miúdos.
Quando há rios, represas ou açudes na área do assentamento ou no seu
entorno, os assentados que gostam de carne de peixe pescam. A atividade da
pesca pode contribuir significativamente na alimentação.
A agricultura é cíclica, sazonal, nem todos os produtos são cultivados, em
condições normais, o ano inteiro. Na horta, há significativa redução do cultivo de
folhosas durante o verão por causa da temperatura elevada e das chuvas. No
pomar também há alternância temporal na produção das diferentes espécies,
assegurando que em diferentes épocas se tenham diferentes produtos com os
quais é possível contar, como se vê na fala deste trabalhador assentado:>'Eutenho
uma diversidade de fruta... Então, quer dizer, quando acaba uma fruta sempre
tem uma outra".

Autoconsumo e Comercialização

A relaçâio entre o produzidc para autoconsumo e aquilo que é vendido é


um aspecto imiportante ia pesquis:a sobre consumo familiar.
Os produtos destinados ao consumo próprio têm o caráter de valores de
uso: produção de meios de vida que servem aos próprios produtores, sem a
mediação do mercado. Por outro lado, um produto levado ao mercado para a
venda torna-se valor de troca: vende-se determinado produto para, com o dinheiro
recebido, comprar outros dos quais não se dispõe. Tal procedimento atribui a
este produto levado ao mercado a qualidade de mercadoria.
É importante frisar que não há uma mútua exclusão entre estas duas faces
dos produtos Aiguns produtos são primordialmente destinados à venda, mas
são também consumidos por quem os produz, possuindo uma dupla utilidade,
como valor de troca e como valor de uso. Os produtos que têm valor de uso
podem vir a ser comercializados quando há excedentes de produção.

O Que é Comprado, o Que éTrocado

"Pragcnte aqui os doiJ é importmte,


é qne agente ten/ queprodu~irproronrumo, né,
e tem que ter r/mpoum pra comer&lI~ar, né?
Agente uaiprecisrlr do AInheimpro or<troscoisas, né,
é rotrpa, é saúd~,a p t e tem que ter, além, do consumo,
tem que ter umaprod~~fão utnpouqr/inho, né,
pragente qt<enr,né, pra o~itrasmirar c..)':

vrabalhador assentado referindo-se à relação


da produçáo para autoconsumo com a comercial)

Com efeito, nem tudo o que é necessário à manutenção da família pode


ser obtido diretamente da produção no lote. Certos alimentos não são produzidos
pelas famílias assentadas e, portanto, necessitam ser comprados; e o são fazendo-
se uso do dinheiro proveniente davenda da produção comercial ou do excedente
da produção para autoconsumo.
Sal, açúcar refinado, farinha de trigo e óleo vegetal (quando não se usa
gordura animal obtida no próprio lote), por exemplo, gêneros básicos que servem
ao preparo da comida, são obtidos pela compra: açúcar refinado, sal e óleo vegetal
DaTcrra Nua ao Pnto Cheio

não podem ser produzidos no lote, pois seus processos de produção apresentam
obstáculos
O modo de vida urbano hoje está presente n o meio rural. Coisas
comumente associadas ao consumo na zona urbana fazem pane da alimentação
das famílias assentadas. Os meios de comunicação alcançam as populações rurais
e contribuem na moldagem de hábitos de consumo.
Como coloca Martins: "O intenso processo de urbanização e a rápida
industrialização que presenciamos nas últimas décadas trouxeram mudanças
significativasno cotidiano dos brasileiros. As transformações sociais e tecnológicas
associadas a esses processos possibilitaram que o estilo de vida urbano, baseado
na satisfação das necessidades pessoais pela compra de bens e serviços, se
estabelecesse definitivamente em todo o país. (...). A dieta básica dos brasileiros,
resultado da mistura de hábitos indígenas, africanos e europeus e restrita pela
capacidade natural que as diversas regiões tinham em produzir diferentes
alimentos,passa a sofra interferência do padrão urbano de consumo, com destaque
para os produtos industrializados divulgados amplamente pelos meios de
comunicação'' (Martins, 1998:109).

comprados. .
Produtos tais como biscoitos, bolachas, iogurte, doces e refrigerantes são

Também o são os industrializados não-alimentícios, como os produtos de


higiene, limpeza e os remédios.
A troca de produtos entre as familias pode operar no sentido de fornecer
alimentos com os quais não se conta, mas não dispensa por completo a compra
de gêneros alimentícios. A troca é uma estratégia comum entre os pequenos
produtores. Ela ocorre, muitas vezes, nos termos de uma reciprocidade entre
conhecidos, e muito mais do que uma prática destinada apenas a suprir os outros
de coisas que não possuem e de receber o que não se tem, as trocas se revestem
de um sentido simbólico. Reforçam laços sociais de amizade e vizinhança/
proximidade.
Essa reciprocidade pode ser percebida na fala de uma entreistada:
'Tem um viqinho que tem a estufB, né, aiele vende tomate. Então elephnta o tomate,
aí elefas a colheita lá e aí elepega aquele que não vende, né, que são maispequeno, que não
tem muita qualidade, aí ele... distn'buipros amigo, né. Aíse agente tem uma coisa aqui que
e& não tem, por exemplo a banana, aíagente mandapra elc. E éarsim, agente nunca vai um
na casa do ou& sem Ieuar nada. E eles também, quando vêm sempre tras a&wma coisa.
Então é assim que agente47 as troca. c..)À s uezes eles vêm dar um recado, porque eles têm
telefone, né, às vexes a/Rt/m liga Lpra dar um recado e eles vêm, mas nunca vêm com a mio
vaxia, sempre h q a@ma cotsa. Então a&uma coisa que eles sabe que agente não tem aqui,
eles trazem pra gente. E quando a gente vai lá a gente leva tambem, não só eles mas todo os
uixinho que tem aqui a gente fax isso."

Os Sentidos da Produção paraAutoconsumo

nde parte c10s produt ores assentados tem uma origem rural, sua história
de vida está ligada à terra.
Trat>alhandona "terra dos outros", a propriedade da terra aparece nas
fal:as dos assentados como algo que fazia parte de seu próprio passado ou integrava
.. ,.
as mstotias de seus pais e avós. As formas variadas de processos de expropriação
que tiveram lugar no campo brasileiro atingiram pequenos proprietários que se
tornaram arrendatários, parceiros, assalariados permanentes, assalariados
temporários ("bóias-frias", diaristas) ou posseiros.
A lida anterior com a produção agropecuária, como ex-proprietário ou
trabalhador em terras alheias, exerce influência sobre as atuais formas de produção,
o que se produz e as atividades praticadas: aquilo que é produzido parece derivar
das experiências anteriores de trabalho dos assentados.
Ir para o assentamento tem o significado de uma efetiva melhoria nas
condições de vida. P:ara os que tiveram experiências anteriores ligadas ao mundo
rural, mas na precariiodade, na instabilidade, "ter uma terra" assume o sentido da
realização uc2- "-"
uiii au~iho:

então,porqi ve normnlmente, que agente hzbalhava sempre de empregado, então a


.! ;uva,prum ,dia conseguir... assim umpeda~ode terra, né,pra viver mais sossegndo,
sabe, porque é mais sossegado a gente tendo, sabendo que aqui, vamos suppw, tem minha casa,
tô franquilo e eu vou trabalhar independente, se eu tium.. vamos supor, hoje eu tenho que ir
prá cidade eu vou, tô livre, né, não tenho ninguém, contrato com ninguém, né,fahr ó: Você
I , hoje cê tem que cuidar disso: né? Então a gente sempre tinha esse sonho, né... "
terra própria, lugar d:avidae da produção, podem ser plantadas culturas
e criados animais destinados ac. ,,L.,,... 3 da familia.
Na situação de assentamento, muitos vêem realizado o sonho da fartura,
que não era possível anteriormente. Um entrevistado afirmou que era de fam'lia
Da Terra Nua ao Prato Cheio

pobre, de origem rural, e só veio a comer "mamão até lambuzar" quando foi
morar no assentamento. Agora, tendo sua terra, produz uma grande variedade de
frutas, que antes não faziam parte de sua alimentação. O consumo de frutas foi
destacado por várias famías como algo que começou a fazer pane da alimentação
na vida no assentamento, pois antes as frutas ou não integravam a dieta, ou não
a integravam de modo tão constante.
Outro entrevistado disse que a produção para autoconsumo era importante
.porque temfartura, né, o gente num c o q m... bastante coisa num compra, porque caso num
tem tem que comprá, ni.. e tendo num coqra, sobra".
Quando algo é produzido e consumido pelo próprio produtor, este deixa
de desembolsar o dinheiro que seria necessário para comprar o produto em
questão. O produto de autoconsumo, então, se é valor de uso e não se torna
mercadoria, permite entretanto a economia de dinheiro que seria gasto para a
compra de mercadorias. Esse economizar por se ter à mão certos produtos foi
ressaltado por diversos entrevistados. Um deles, que anteriormente trabalhou em
sistema de parceria, ressaltou:
'Porque ofasendeiro nomalmente taua orupudo mmgado, oplantio dele, né7 Agente
só tinha aquela área do caJ, entüo a gente trabalhava ali, né7 Entüo a gente não tinha como
plantar o milhopra tê umporco, umagn/inha, né, umpastinhopra tr"umgodo, pra tê o leite,
então agente normalmente não tinha. Aqui não, e tudo isso qudu no ovamento, né? Agente
nüo coqra, né?"
A produção de autoconsumo representa uma segurança para os produtores.
Depender de uma só cultura agrícola para comercialização já rendeu a alguns
más experiências, insucessos económicos. Um produtor que teve prejuízo ao
dedicar-se apenas à produção de milho disse: "(...) aíeupercebi que eu taua andundo
p r i hás iguol caranguqo". Ele passou então a ter uma produção diversificada e a
garantir a produção para autoconsumo.
Ainda neste sentido, vários produtores consideram positiva a produção
voltada ao consumo da família:
'Forque nüo era obrigado a pessoa uendê barato pra ninguém, né, porque se não
vendesse pelo que uale apessoagustuvo dentro de rasa, né, não passaua nemporpre&ão".
"(...)garantido é o que tem denho de casa... depender de m q r a r nüo dá'!
"(..;I c..)
sef0r uma coisa só, se deu deu, se não deu...!! tem quepiuntá maispro
consumo du casa porque aí tágarantido, quarqné coisajá vai se uimndo".
A afirmação da segurança alimentar trazida por uma produção para
autoconsumo foi notada em todas as entrevistas: garantidos vários tipos de
alimento, permite-se à farnilia enfrentar eventuais situa~õesadversas.
Perfil Socioeconômico
e o Autoconsumo das
Famílias Assentadas

Quepossa ter em todar as meras dc ruak fumilia,


mmidu com muita fartura, u alimentqüo necessária.
Que tenha boapmduçüo e que stjuplun~udu
pura atender todas a~fr?mÍ/ios.
En+, que todaar as mesa sgum ni~letaar.

Nilo da Silva, Assentamento Margarida Nves,


Mirassol D'OesteIMT."

Neste capítulo apresentam-seos resultados da pesquisa quantitativa relativa


ao consumo alimentar dos produtos produzidos nos lotes dos assentamentos
rurais do Estado de São Paulo, considerando o contexto regional e o perfd
socioeconômico das farnilias.
O consumo alimentar domiciliar per capita dos produtos produzidos no
lote e seu correspondente valor monetário são ponderados pelo número de
semanas em que os assentados participaram da pesquisa.
São apresentados os resultados médios dos oito Grupos Técnicos de Campo
(Anexos W e VIII) agrupados em regiões - Região do Ponta1 do Paranapanema
(Presidente Venceslau, Porto Primavera,Teodoro Sampaio e Presidente Bernardes),
Região de Itapeva,Região de Sorocaba, Região Noroeste (Andradina e Promissão).

"MST. Desenhando o Baril. 1999.


Primeiramente, para cada região estudada, traçamos um panorama com as
principais características dos assentamentos em termos da produção agropecuária,
tamanho dos lotes, número médio de membros da família, origem e ocupação
anterior, tipo de moradia, fonte de renda e nível socioeconômico das famílias de
acordo com as categorias anaüticas propostas. Na seqüência, apresentamos os
dados do autoconsumoper capita e o valor monetário que representam.
Aprer também uma médiai geral do Estado de São Paulo, que
subdivide-se ia dos GTCs e méctia por est:rato de capitalização. Este
I:-.. 2-.. c-
segundo iteni aprrbciita os resultados méuiui uas ~ m l i a distribuídas
s entre os
quatro estratos de capitalização propostos na pesquisa ("capitalizados", "em
capitalização", "em descapitalização" e "descapitalizados"). Por ter um número
mais representativo de famílias (42), a região do Pontal do Paranapanema foi
escolhida para esse tipo de abordagem (Anexos 1X e v.
Também obteve-se uma
média geral dos GTCs que inclui 55 famílias classificadas nos estratos (Anexos
5
X
planilhas apresentadas nos referidos anexos contêm dados do consumo
ali ..,..,. ,.
..,,.V h a r capita anual (em kg) e valor monetário desse
domiciliar tmkrlin
consumo (em R$). Todas estão subdivididas em seis itens: lavoura, pequenas
criações, pecuátia, derivados/processados, horta e pomar. Vale ressaltar que estes
valores representam somente o consumo de alimentos produzidos no lote. Para
se obter o valor do consumo total de alimentos é necessário acrescentar o valor
dos produtos comprados.
Chamamos a atenção para o fato de que certos produtos estão registrados
de duas formas diferentes, como é o caso do toucinho de porco, ora anotado
separadamente, ora junto com a carne suína. O mesmo pode se observar com a
tapioca e o biscoito de polvilho, os quais também estão registrados como polvilho,
que é o produto a partir do qual se produzem esses alimentos. Tal procedimento
foi adotado com o objetivo de presewar a diversidade de produtos da alimentação
dos assentados e, obviamente, tomando-se o cuidado de não serem registrados
duas vezes.

"Utilizaram-se os dados de 55 famfliasdas 70 pesguisadas,pois alguns GruposTécnicos não fizeram esta


clasrifia$ão.
DaTerra Nua ao Praio Cheio

Região do Pontal do Paranapanema

As Famíiias do Pontal do Paranapanema

Na região do Pontal do Paranapanema foram pesquisadas 42 famílias nos


assentamentos, sendo 16 de Porto Primavera, 17 de Presidente Venceslau, 6 de
Teodoro Sampaio e 3 de Presidente Bernardes. Mais da metade dessas famílias
está assentada em projetos criados a partir de 1996, ou seja, assentamentos com
4 ou 5 anos.
O tamanho médio16 dos lotes no Pontal é de 18,37 hectares. Entre as
famías capitalizadas encontra-se o maior tamanho médio de lotes, 26,45 ha.
Neste estrato encontramos duas familias assentadas na Gleba XV que possuem
lotes de 40 ha e uma família no assentamento Areia Branca com 39,58 ha, o que
elevou a média desse grupo.
As famílias pertencentes ao estrato dos "em capitalização" e "em
descapitalização" possuem área média de 16.07 ha e 16,72 ha, respectivamente,
enquanto as famílias "descapitalizadas" possuem menor área média de lote, 14,23
ha. Este valor se deve à presença, neste grupo, de 2 f a d a s em áreas provisórias,
no assentamento Santa Maria, que possuem apenas 6,05 ha cada.
A aptidão para a atividade pecuária é reconhecida nos assentamentos da
região e praticamente todos os lotes no Pontal possuem gado leiteiro mestiço.
Esta vocação é determinada por fatores como a baixa fertilidade dos solos para
culturas agrícolas, a existência de pastagens já formadas na implantação dos
projetos, a distância de mercados consumidores mais dinâmicos, além de ser
uma atividade remunerada mensalmente e com poucos riscos de perdas da
produção.
O tamanho médio do rebanho leiteiro é de 42,76 animais por família entre
os "capitalizados". Esse valor decresce conforme diminui o grau de capitalização
das famílias. Assim, as famílias "em capitalização" têm a média de 26,67 animais
por família e as que estão "em descapitaliza~ão"têm 18,76 bovinos. Por fim, os
"descapitalizados" são o grupo que possui menor rebanho: 14,4 cabeças por
família.

"Este valor representa a media de 35 lamili~8"capital~adar",9"em


capializ&o",8"em dercapirali@o"
e IO"dercqitalizadar".As 6 familiar deTeodoro Sampaio náo foram incluidar.
A área destinada às pastagens, salvo raras exceções, é bem superior à área
agrícola. Em geral, as f d i a s assentadas no Pontal, além da pecuária, cultivam
comercialmente d o , mandioca para indústria, feijão e algodão. São também
comuns lavouras de amendoim, sorgo vassoura, abacaxi e batata-doce.
A mandioca, plantada por 1.356 familias do Pontal, ocupa cerca de 4.000
ha, e é a cultura que gera a maior renda para os produtores da região. A mandioca
é bastantevalorizada pelos assentados porque, além de fazer parte de seus hábitos
alimentares, é uma das culmras que melhor se adapta às condições de solo e
clima da região, apresentando flexibilidadequanto à comercialização.
A diversificação de produtos nos assentamentos da região é limitada
também pela baixa disponibilidade de recursos hídricos, dificultando a produção
comercial de culnuas mais exigentes nesse recurso, como as frutas e olerícolas.
As famílias pesquisadas são compostas, em média, de 4,71 pessoas, entre
crianças, adultos e idosos. Não se nota uma diferença significativa quanto ao
número médio de pessoas por família nos diferentes estratos de capitalização.
Casas de madeirite e telha de cimento amianto, fornecidas pelo ITESP,
somente são encontradas em projetos de assentamento novos e, nesse caso,
representam menos da metade das moradias. As demais casas nesses
assentamentos são de madeira ou alvenaria, materiais predominantes nas moradias
dos projetos mais antigos
Cerca de 46% das famílias pesquisadas viviam de trabalhos temporários
na agricultura antes de serem assentadas. Trabalhavam como diaristas nas colheitas
de algodão, amendoim, cana de açúcar ou sementes de pastagens. No estrato dos
"capitaiizados" e dos "em capitalização", os diaristas representam menos de um
quarto das famílias, enquanto nos "em descapitalização" e "descapitaiizados"
representam cerca de 67% das familias.
Das 16 famílias dos assentamentos de Presidente Venceslau, 7 são ex-
arrendatários, sendo que 5 deles estão entre os grupos dos "capitalizados" e "em
capitalização". Entre as famílias pesquisadas também há ex-posseiros, ex-
proprietários rurais e apenas 1 caso dc ex-trabalhador urbano.
A renda de 70% das f a d a s pesquisadas é composta exclusivamente do
que é gerado pela exploração do lote de assentamento, e nos demais casos é
complementada por trabalhos externos e aposentadorias. O maior número de
famílias cuja renda é oriunda exclusivamente do lote concentra-se entre os estratos
"capitalizados" e "em capitalização". Nas famílias "em descapitalização", verifica-
Da Terra Nua ao Prato Cheio

se o maior número de casos onde a renda é complementada com trabalhos externos


ao lote.
São raros os casos em que a exploração do lote não é a principal fonte de
renda. Essa situação se observa em uma família com menos de 5 anos de
assentamento e em outr anos de assentamento, cuja principal fonte de
renda são as aposentadorias.
As famílias capitalizadas ou "em capitalização" possuem mais bens de
produçào e benfeitorias no lote que as famílias "descapitalizadas". O triturador
de forragem e implemerntos de t r a!são animai1 são os ec ntos mais comuns
entre os produtores. Tr;ator, grade , arado e clemais im] 3s são observados
P ". << . ..
em 29% das famílias. Somente as ramicias -aescaDitauzaaas- não possuem esses
equipamentos. ção à s b enfeitorias, o curral é o mai s comum por ser
indispensável p: idade leioeira, segui<Ia do galpão. Praoicamente todos os
produtores pos>ur;ii~a i i i i i i a a uc rrauaiiiu quc ---,:--
2- &--L-,L- - - -....
r c i i l i l o i i i acrviços na lavoura ou

apenas servem para traiisporte.


Quanto às atividades de prr a o consurn o familiar, a mais comum
é a criação de aves, que ,.,.. ,... i praticame:nte todos os lotes. O pomar caseiro

também é bastante comum, assim como o cultivo da l-iorta e a criação de suínos.

Autoconsumo Alim

Em relação à média per c@ta ae consumo aas 42 famílias pesquisadas no


Pontal, nota-se que os principais produtos provenientes do lote que compõem a
alimentação das famílias são: feijão, mandioca, carne de frango, ovos e leite (Anexo
Ix>.
A baixa fertilidade dos solos inviabiliza a produção de muitas culmras
comerciais e , como conseqüência, o valor dos produtos da lavoura n o
autoconsumo epresenta apenas 14,95%, em média, do total consumido (Tabela
3). Entre os produtos classificados como lavoura, o feijão, com 21,98 kg/ano, é o
produto que mais se destaca. A mandioca e o milho verde também têm grande
importância nesse item, com 20.95 e 14,12 kg/ano, respectivamente.
A mandioca, além de ser uma das atividades mais representativas da
produção dos assentamentos na região, chegando a representar 20% do valor de
produção comercia! local, está estrategicamente inserida em seu sistema de
produção, pois além de ser utiiizada para consumo, cada f a d a destina em média
190,43 kg/ano do produto para a alimentaçãr --'---'

Foro 9 - O S r Reginaldo de Sou


. . . . .
arnerro Palu, escava construindo
uma tarinhetra ao lado de rua cara trn segundo plano na toro. rua planm$ao de rnandloca.

Da mandioca, muitos assentados produzem a farinha e a tapioca, sendo


que c:m alguns lotes poditm-se enctontrar pec[penas farinheiras para a produção
come:r&!. Um: i parte da produção é retirada para o autoconsumo.
u m ... o é consumiao
.. como muno .,. verae e tamném é utilizado na forma
de de rocessadoii como fulbá e pamonha. O miilho tambi:m é destiriado
para, 3 animal (178.96 kg) ,assim coimo a cana de açucar (266.98 1 E$
2- 2 - -
- --- ---,-
il pccuaiia uc cuirc iivu rciii griiiiuc i ~ ~ i c ~ c i i ~ ~ v
--"L
no -a--d-.e.-- geral
i dcviiauriiu .
dos assentados. Esta é substim'da pela produção de animais de pequeno porte,
que exigem menor área para criação, advindo dessa fonte a proteína animal.
Destacam-se aqui a carne de frango (37,46 kg/ano), ovos (12,33 kglano), carne
DaTerra Nua ao Prato Cheio

de porco (11,87 kg/ano) e o leite (128,39 kg/ano). O consumo de carne de peixe,


apesar de pequeno (1,54 kg/ano), é importante para compor a dieta dos assentados.
Assim como a mandioca, a pecuária leiteira é outro pilar da economia
regional e por isso o consumo médio per capita de leite é elevado, 128,39 kg/
ano. Este valor representa cerca de 30% do consumo total de alimentos (419,52
kg/ano) entre as famílias do Pontal. Além da grande disponibilidade do produto,
a sua utilização na alimentação exige apenas que seja fervido, resultando nesse
elevado consumo.
Com um consumo médio de 61,18 kg/ano, as hortaliças têm papel funda-
mental na produção de subsistência pois são alimentos responsáveis pelo
fornecimento de vitaminas e sais minerais. Destacam-se neste item as culturas de
cultivo menos exigente quanto aos insumos e/ou de mais fácil conservação.
Figuram entre elas: abobrinha (10,22 kg/ano), abóbora (4,04 kg/ano), batata
doce (7,49 kg/ano), alface (8,59 kg/ano), maxixe (3,87 kg/ano) e quiabo (3,35
kg/ano). É relevante lembrar que muitas dessas CdturaS fazem parte do Programa
de Segurança Alimentar do ITESP", fomentado nos assentamentos, com
distribuição gratuita de sementes.
Durante as entrevistas com os produtores, nas quais se conheceu a área de
seus sítios e sua produção, pôde-se observar na horta ou em volta da casa ervas
medicinais, como erva cidreira, hortelá, boldo, guiné, capim santo, canela, cravo-
da-índia, manjericão, guaco e poejo. Segundo os agricultores, essas plantas têm
uso medicinal ou servem simplesmente para degustação. Verificou-se também
que a existência de áreas com vegetação nativa nos assentamentos da região
possibilita o acesso a outros tipos de produtos, os quais podem compor,
evenmalmente, a alimentação destas famílias, como frutas e mel silvestre, que
foram notados no consumo de algumas famílias.
Entre as frutas destacam-se a banana (20,30 kg/ano), a laranja (15,83 kg/
ano) e o mamão (10.99 kg/ano), que juntas perfazem 52,89% do consumo médio
de frutas das famílias do Pontal. Outras frutas importantes são a tangerinalu
(Fotos 10 e 11), com 8,39 &/ano, e a manga (7,14 kg/ano). Com o aumento das
áreas de cuimras permanentes e com a entrada de muitas culturas em produção

-
"Ver Cadernos ITES do o Futurn: Politica de Investimentos emArsentam8 seus
Curtos e Resultados . , v
"Murcote, ponkan e mexerica estio incluidar no itemUtangerina".
comercial, há a tendência de aumento de consumo principalmente de coco e
abacaxi.
Em rela~ãoaos derivados/processados, nota-se novamente a importincia
da produçã< sendo que o consumo médio anual de coalhada, doce de
leite, leite cc ,manteiga, mussarela, nata, requeijão e queijo frescal soma
6,09 kg, o ~ L .L~ ~ . ~ . ~58,70%
n t a do total desse item. Os derivados/processados
de mandioca (beiju, polvilho, bolo, farinha, biscoito e tapioca) compõem outro
importante grupo de alimentos, representando 12,05% do valor total desse item
(1,25 kg/ano).
O valor monet nentação per cqbifa anual varia bastante entre os
quatro municípios dr. .-...,. ,Anexo VIII). Por um lado, os produtos mais
; tendem a apresentar valores maiores, como é o caso do leite, cujo

lua1 representa R$ 74,07 per capita (Anexo X).


Entretanto, valores elevados da carne de frango, ovos e carne de porco
refletem não apenas as quantidades consumidas mas também os altos preços
desses produtos.
Em contrapartida, o valor monetário do consumo de mandioca é
relativamente baixo, R$9,43, apesar da grande quantidade consumida, refletindo
o baixo preço de mercado desse produto.
O valor monetário anual per capita do consumo alimentar de produtos
produzidos no lote, nos assentamentos do Pontal, é em média de R$ 408,06.
Desse montante, 10,84% (RS44,22) referem-se aos ~rodutosclassificados como
lavoura, 34,52% (R$ 140,85) para produtos provenientes de pequenas criações,
21,22% (R$ 86,58) para pecuária, 6,12% (R$ 24,97) referem-se aos derivados/
processados, 14,58% (R$ 59,Sl) às hortícolas e 12,73% (R$ 51.94) às frutas
(Tabela 3).
Na análise gerri1 dos dife ratos de capitaiização, nota-se que os
C'
capitalizados" possu~.,,U... isunio de 1~ o d u t o cs~btidosno lote maior do que
as famílias de outros níveis Ma!;destaca-s;e o fato de que os "descapitalizados"
2
. -... - . ..
consomem mais produtos de lavuurz uo qur ua agricultores classificados nas
demais categorias (Tabela 4).
Outro ponto importante é que os "capitalizados" e "em capitalização"
destinam grande parte de sua produção para o item criação animal, chegando
este valor a ser 7,7 vezes maior nos "capitalizados" do que nos "descapitalizados",
enquanto nos outros itens a diferença entre os níveis é muito menor, chegando a
ser, no máximo, o dobro do valor.
Da Terra Nus ao Pnto Cheio

Foro I0 - A o fundo da caia do Sr Inoc6ncio e Dona Frnncirca. hn um pomar que conra,


entre outras coisas. com poncã.
Arrentamento xv de Novembro (SP)

,.i
.. . ..
.'. "i.
?..
.
..L

Foto I I - O pomar do Sr. Manoel dor Sanror rem uma grande variedade de frurar.
Na foto. o Sr Manoel a frente de um de seus pé$ de mexerica.
-
Arrenemento Agua Sumida Teodoro Sampaio (SP)
Tabela 3 -Valor médio anua, rnplrr do consumo alimenrar domiciliar da produção para
auto< mduto

Pmc
Ilon

Pom
419,s~ IUV.

Tabela 4 -Valor médio anual per capim do consumo alimentar domiciliar da produgão para
-
autoconsumo em quilograma (kg) segundo a origem do produto Ponta1 do Paranapanema.
por ertnto de capitaliragào (99100).

Dr"
Prnc
H""

Região de Itapeva

As famílias da regiãc leva

Na região de Itaipeva foraim pesqui sadas sete: famílias do Projeto de


Assentamento Pirituba, sendo três assentada!1 há 15 an<~ sduas
, entre 1991 e 1992
2-. r no/.
e outras duas assentadas U F ~ V uc
I ~ I 77".
Da ' R r n Nua ao Prato Cheio

Destas familias, a maioria trabalhava como arrendatários ou parceiros an-


tes de serem assentadas. Somente duas famílias eram integradas por ex-
trabalhadores rurais, sendo que um deles era diarista.
Das famílias pesquisadas, 3 moram em casas de alvenaria e as demais em
casas de madeira. O número de pessoas varia de 4 a 8 por família, com uma
média de 5,29 membros
Em relação à renda familiar, a maioria das familias vive exclusivamente da
renda das atividades do lote. Há duas famílias que complementam a renda com
trabalhos externos e uma com prestação de serviços dentro d o próprio
assentamento realizando trabalhos com trator própria
No assentamento Pirituba, as famílias possuem o lote agrícola separado
do lote de moradia. Este, com cerca de 1 hectare, foi planejado inicialmente para
que as famílias desenvolvessem parte da produção de autoconsumo. Este espaço,
porém, também é aproveitado para atividades comerciais, como pequenas criações
e fmticultura. A área média dos lotes agrícolas é de aproximadamente 16 hect-
ares. Normalmente é realizada mais de uma safra por ano na mesma área.
Os produtores do assentamento desenvolvem suas atividades de duas
diferentes formas: ligados a cooperativas de produção ou individualmente. Das
familias pesquisadas, duas participam de cooperativas que produzem
coletivamente.
O assentamento Puituba apresenta uma forte vocação agrícola e todos os
produtores pesquisados produzem feijão e milho, individualmente ou por
intermédio da cooperativa. As lavouras de arroz e soja também são cultivadas e,
no caso da soja, as cooperativas possuem mais condições de desenvolver uma
produção satisfatória por disporem de uma área maior e equipamentos adequados.
A região de Itapeva é tradicional produtora de feijão: o clima favorece o
plantio desta cultura nas safras da seca e de inverno e o solo apresenta fertilidade
razoável. A diversificação, característica da agricultura familiar, se manifesta de
forma menos intensa do que em outros assentamentos, uma vez que no
assentamento de Itapevapredomina a produção comercial de grãos A fruticuinua
e a olericultura vêm crescendo nos últimos anos, mas entre os produtores
pesquisados somente um deles pertence a uma cooperativa que produz limão e
nectarina.
Historicamente, a produtividade das culturas anuais no assentamento é
alta quando comparada à média regional. Além de outros aspectos, a experiência
destes produtores e a disponibilidade de equipamentos determinam este resultado.
Entre os produtores pesquisados, um deles possui vários equipamentos (trator,
arado, grade, plantadora, subsolador, batedora, carreta, colhedora) e os produtores
cooperados também contam com uma boa estrutura para desenvolver sua
produção. Os demais possuem poucos equipamentos e benfeitorias, sendo o
galpão e o paiol as benfeitorias mais comuns.
O curral é uma benfeitoria sempre necessária aos produtores de leite e,
entre as famílias pesquisadas, há dois produtores individuais de gado leiteiro.
Um deles possui 15 cabeças de gado e o outro 9. A pecuária leiteira também é
desenvolvida pelas cooperaávas, sendo que em uma delas também há criação de
suínos e apicultura, atividade que conta inclusive com local de extração e
envasamento de mel.

Autoconsumo Alimentar

Com um consumoperc<rpitamédiode 302,09 kg/ano de alimentos (Anexo


VII), os assentados da região de Itapwa têm o menor valor monetário de produção
para o autoconsumo do Estado: R$283,67 (Anexo VIII).
Arroz, feijão, carne de frango, leite e laranja são os produtos mais
consumidos, e representam 71,09% da quantidade total de alimentos consumidos
Estes alimentos também são a base econômica da produção, representando 64,91%
do valor monetário desse consumo.
A Tabela 5 mostra o comportamento geral do consumo de acordo com os
itens da produção. A lavoura é o grande destaque do consumo nessa região, o
segundo item em valor econômico e o primeiro em termos de quantidades
consumidas, resultado diferente do observado nas outras regiões. Isso está,
certamente, relacionado com a produçâo comercial local, da qual se destaca a
produção de feijão (fotos 12 e 13).
O item pequenas criações é de maior valor econõmico e o segundo em
termos de quantidades consumidas. Tem como destaque o consumo de carne de
frango, porco e ovos, importantes pelo fornecimento de proteína.
Dos produtos oriundos da pecuária, o leite participa com 98,50% das
quantidades consumidas, fazendo com que seja o segundo item em importância
e o terceiro em termos de valor econômico. Vale ressaltar, porém, que o consumo
de leite nesses assentamentos é quase a metade do consumo médio observado
.a Nua ao Pr

nas outras regiões, evidenciand,,a v rvLLLicialde aumento de produção desse


a .
.a
*-
"

ali
ramos apc :onsumo de queijo
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"37,-

item só seja maior do 1 : ~ a d em« Teodoro :Sampaio e Sorocaba. Como


pode-se ver .,
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LBJ,IIII I"","" 302,~~

O consumo de hortaliças em Itapeva (23,17 kg/ano) é o menor de todo o


Estado, representando menos de 50"/0 do consumo médio desse item (58,73 kR)
Abóbora, abobrinha. alface e couve são os quatro produtos mais consumidos,
juntc>s repre i quantida imidas e i > valor
monetário dt
Banan,a, laranja i I são os a1imentos niais consuimidos do pomar.
RepresentamI 87,32% c lades consurnidas e '76,81% do valor monetário 8

A,, 8
desse item. ruem aesras rruras mais comuns. tamr>em , , se cuitiva abacate, figo,
goiaba, mam ão, maraci~ j á manga
, i, limão.

Durarite as visita s aos lotes do assenr;rmento Piriniba, veri ficou-se o cultivo


de algumas f ~ u m u i i i a .,.--.
2" -1
ur .--A-
rsiiipciauu - a- iic~raiiiiii,
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- --....ç.pc>>cgo,
---L-"....- cujo

consumo não havia sido anotado nas planilhas.


-
Foto I 2 Lote de Sr.Ant6nio e Dona Maria M. Pinro.
-
Asrenramento Fazenda Pirituba Itapeva (SP)

Foto 13 - Dons Maria com a parte do feijão destinada ao consumo secando ao rol:
reiaçáo intrínseca do autoconsumo com a produçáo comercial.
Assentamento Fazenda Piritubs - itapeva (SP)
Da Terra Nua ao Prato Cheia

Região de Sorocaba

As Famílias da Região de Sorocaba

Na região de Sorocaba, foram pesquisadas 5 familias, sendo 4 do


Assentamento Fazenda Ipanema, em Iperó, e uma de Porto Feliz, no município
de mesmo nome.
Quanto à origem, duas famílias trabalhavam em lavouras agrícolas como
arrendatários ou parceiros e outras duas viviam de trabalhos temporários na
agriculmra (diaristas). Há somente um caso de ex-trabalhador urbano, embora
com vivência na zona rural.
A maior parte das famíiias reside em casas de alvenaria e apenas uma vive
em casa de madeira. Três famílias são compostas por 5 pessoas, uma tem 6
membros e outra 9, resultando numa média de 6 pessoas por família.
O tamanho dos lotes das famílias pesquisadas é menor do que em outras
áreas d o Estado, variando de 8 a 14 hectares. A área média dos lotes destes
assentamentos, 9,88 ha, é pequena pois sua localização, próxima a centros
consumidores, viabiliza a produção de hortifrutigranjeiros. Estas atividades
demandam intensiva utilização de trabalho, insumo e tecnologia e proporcionam
alta rentabilidade por área, justificando a ocupação de áreas reduzidas.
Assim, a olericultura e a fruticultura crescem em importância nos
assentamentos desta região, representando um potencial aumento da geração de
renda destes produtores As familias pesquisadas cultivam comercialmente
olerícolas como a mandioca de mesa, abóbora, milho verde, abobrinha, quiabo,
pimentão e beterraba. As frutas produzidas são: banana, manga, limão, ponkan,
murcote e maracujá. O café é cultivado por très familias e apresenta tendência de
crescimento.
Diferentemente dos demais, os assentamentos da região de Sorocaba
possuem uma localização privilegiada em relação aos centros urbanos, o que
aumenta também o acesso aos produtos e aos serviços oferecidos nas cidades
Notou-se durante as visitas ao assentamento que esta facilidade, em alguns casos,
desestimula a produção para o consumo familiar, que nem sempre é compensadora
quando a oferta do alimento é alta.
A localização do assentamento também faz com que a frequència de pessoas
da família que trabalham fora do assentamento seja maior e passe a representar
um peso mais significativo na composição da renda familiar. Das cinco familias
pesquisadas, duas vivem exclusivamente das atividades desenvolvidas n o
assentamento. Duas delas complementam a renda familiar com aposentadoria e
trabalhos externos (20 a 30% da renda provêm destas fontes) e a outra tem cerca
de 80% de sua renda advinda do trabalho externo.
Além da olericultura e da fruticultura, os produtores cultivam milho, feijão
e arroz, destinados quase exclusivamente para o consumo familiar. Um dos
produtores, tal como outro citado anteriormente, mencionou durante as entrevistas
que o polimento do arroz, devido à grande distância das beneficiadoras, encarece
muito o produto, tornando a aquisição no mercado local mais vantajosa.
A pecuária leiteira é desenvolvida por dois produtores, que criam 2 a 3
matrizes e produzem leite principalmente para o autoconsumo. A área destinada
às pastagens é pequena, não havendo área suficiente para sustentar um grande
rebanho. Além do gado, uma das famílias no assentamento Ipanema está iniciando
a criação de carneiros e outra família do assentamento Porto Feliz cria suínos
para o autoconsumo.
Quanto aos equipamentos agrícolas, 2 dos produtores pesquisados possuem
trator em grupo, sendo os implementos de tração animal mais comuns entre
estes produtores Para otimizar sua comercializaçào, um dos produtores adquiriu
um caminhão para transportar sua produção a centros de abastecimento como o
CEASA/São Paulo e :3 CRAISf \ (Companhia Regional de Abastecimento
Integrado de Santo And ré).
Em r ~ l ~ ç àã produção
o para o consumo familiar, todas as famílias possuem
criac s e um pomar casei1ro. A horta é cultivada pelas famílias, embora
nerr haja um local delimiitado par:a o cultivo de hortaliças e plantas
mediunas, que podem estar plantadas em volta da casa.

Autoconsumo Alimentar

O consumo médioper capita, d e alimentos dos assentamentos de Sorocaba


é de 372,81 kg/ano e corresmnde a R$ 345.05. Estes valores são menores do
que a média geral d o Estado (.Anexo VI1 e VIII) em 11,21% e 14,20%,
respectivamente.
O maior valor para o item lavoura ocorre em Sorocaba, 157.52 kg/ano,
quase o dobro do valor médio para esse item (Anexo VII). Dentre os produtos
da lavoura, somente o café apresenta uma quantidade relativamente pequena de
consumo, embora seu valor monetario seja bastante significativo, R% 10,60.
Da'l'erra Nua a o I'rato Cheio

O consumo de mandioca é o maior de todo o Estado e, certamente, está


relacionado com o fato de existir uma expressiva produção comercial de mandioca
de mesa nos assentamentos de Sorocaba.
A Tabela 6 mostra a importância da lavoura na produção para o
autoconsumo em Sorocaba. Nesta região o consumo de produtos da lavoura é
maior do que os demais itens (horta, pomar, etc...) e é o segundo em termos de
valor econòmico. Este comportamento é bastante diferente do observado nos
outros assentamentos pesquisados.
As pequenas criaçòes conferem o maior valor econòmico à produção para
autoconsumo em Sorocaba. E, como observado nas outras regiões, a carne de
frango, de porco e ovos são os alimentos mais importantes dessa atividade. O
frango, sozinho, representa 63% das quantidades consumidas e 59,60% do valor
monetário desse item.
O leite é o único produto com origem na pecuária consumido pelos
assentados de Sorocaba. Seu consumo médio, 32,55 kg/ano, é o menor de todos
os assentamentos e representa menos de um terço da média geral dos assentados,
118,87 kg/ano.

Tabela 6 -Valor médio anual per capita do consumo alimentar domiciliar da pmdugáo para
autoconrumo em reais (R$). em quilograma (kg) e em polrentagem (%).segundo a
origem do produto. Somcaba (99100).

Hona
hma.

Total

Em Sorocaba se observa um dos menores consumos de derivados/


processados. O requeijão é o único produto consumido e seu valor representa
menos de 3% da média geral do Estado.
Com um consumo médioper capita de 64,80 kg/ano as hortaliças ocupam,
em Sorocaba, o segundo lugar em termos quantitativos, revelando a importincia
relativa desse item. Vale lembrar que, na média geral dos assentamentos, esse
item ocupa o quinto lugar. Abóbora, abobrinha, alface, batata doce, couve e
quiabo são os produtos mais consumidos e representam, juntos, 73,74% da
quantidade total desse item e 63,27% do valor monetário.
Banana, laranja, limão, mamão e maracujá são os produtos mais consumidos
d o pomar, juntos representam 94,46%>das quantidades totais e 95,65% do valor
monetário desse item.

Região Noroeste

As Famílias da Regiáo Noroeste

Das 16 famílias pesquisa da:^ na região Noroeste, 6 pertencem ao


assentamento Reunidas d o município de Promissão, 3 famílias são d o
assentamento Primavera de Andradina, 2 do assentamento Esmeralda de Pereira
Barreto, uma do assentamento São José I de Birigui, 2 do assentamento São José
11, uma do assentamento Aroeira, de Guaraçaí, e, por fim, uma família d o
assentamento Timboré, de Andradina.
Todas as famílias pesquisadas foram assentadas há mais de 6 anos, sendo
que metade delas já está há mais de 10 anos no assentamento.
Embora em Promissão tenha sido realizada a classificaçio das famílias por estratos
de capitalização, em Andradina isso não ocorreu. Portanto o s resultados são
apresentados apenas de forma agregada.
A origem destas famílias é predominantemente rural. Das 16 famílias, 9
têm experiência de trabalho anterior ao assentamento como arrendatário, parceiro
ou proprietário. TrSs delas têm experiência anterior como assalariado temporário
e outras 3 como assalariado permanente. Somente uma família é de ex-
trabalhadores urbanos. Isto demonstra a familiaridade com a produção agrícola e
o modo de viver do agricultor familiar.
Mais da metade das famílias pesquisadas vive em casas de alvenaria, sendo
que somente 6 famílias moram em caijas de madeira ou mistas (alvenaria/madeira).
A média da região Noroeste é de 5,48 pessoas por família. Com exceção
de 3 famílias, que são compostas por 9 membros, as demais possuem de 4 a 5
pessoas.
Quanto à composição da renda familiar, há 11 famílias cuja renda é
Dn Terra Nua ao Prato Cheio

totalmente proveniente do lote. As demais famílias complementam a renda com


trabalhos externos e aposentadoria, sendo que esta complementação representa
de 15% a 50% da renda familiar.
A área dos lotes em Promissão varia muito pouco, sua média é de 19.16
ha. Porém, em Andradina, onde a média é de 17,48 ha, observam-se grandes
variações. No assentamento Primavera, por exemplo, o tamanho do lote varia de
7.3 a 32 ha.
A pecuária leiteira é a principal atividade comercial para vários dos
produtores pesquisados, principalmente nos assentamentos de Andradina. Essa
atividade, predominante na região, reflete-se na produção dos assentamentos. O
tamanho médio do rebanho é de 27,s cabeças.
No assentamento Esmeralda existe uma forma de associação para a
produção leiteira, o chamado "grupo de leite". Os "grupos de leite" deste
assentamento caracterizam-se pelo seguinte funcionamento: cada família possui
suas próprias vacas, das q u i s elas mesmas fazem a ordenha, e o grupo de famílias
possui, em comum, um tanque resfriador para armazenar o leite.
Noutro arranjo menos comum na organização do "grupo de leite", as
famílias participantes administram a atividade de forma coletiva, formando um
rebanho único. A rotação de pasto é feita em todos os lotes dos participantes.
Já em Promissão, há famílias que apresentam maior diversificação na
produção, onde a pecuária leiteira tem um papel complementar ou equivalente às
outras atividades no lote. O tamanho médio do rebanho é de 22,05 cabeças. Há
apenas dois produtores no assentamento Reunidas que não possuem gado leiteiro,
sendo que um deles é criador de bicho-da-seda.
A existência de capineiras é frequente entre os produtores de leite da região
Noroeste e a área total ocupada com a produção de forragem (pasto e capineira),
geralmente, supera a área agrícola na maioria dos casos
As lavouras anuais estão presentes em praticamente todos os lotes, sendo
que os maiores cultivos são o milho, o feijão, a mandioca e o arroz. O feijão, o
arroz e a mandioca são utilizados na alimentação humana, enquanto o miiho
normalmente é utilizado na alimentação dos animais, sejam aves, suínos ou gado
leiteiro.
Além das lavouras de culturas anuais, muitas famílias cultivam espécies
perenes O café é uma cultura que tem sido plantada nos assentamentos devido
aos bons preços que o produto atingiu nos últimos anos Em todo Estado de São
Paulo, a área de café aumentou e os projetos de assentamento em geral seguem a
tendência da agricultura paulista. Aproximadamente metade das familias
pesquisadas cultiva café e várias declararam que gostariam de aumentar a área
desta cultura.
A fruticultura comercial também apresenta tendência de crescimento nos
assentamentos, em especial na regiXo Noroeste. As espécies cultivadas pelas
familias pesquisadas são: abacaxi, laranja, limão, ponkan, manga, banana, coco e
pinha.
O eucalipto é uma cultura perene presente na maioria dos lotes. O plantio
de espécies florestais é incentivado pela assistência técnica do ITESP, tendo em
vista principalmente a função de suprir a necessidade de madeira do lote @ara
ser utilizada como lenha e na construção de cerca. mourão etc).
A áre a destina1ia às culturas pere nes é pecpena, em torno de 1 ha
normalment,e. Emborai apresente:m uma re ntabilidade maior por área cultivada,
as culturas ~ -*---.....
C L L ~ ~ ~ ocupan,
.
L ~ L L L ~ ~
--. --
l....:a"" LI<> lote porque os custos da
LLUULIUd3

formação e c:ondução Isão altos e a demanda de mão-de-obra é bastante intensa,


exigindo um nível elevado de desenvolvimento socioeconômico das famílias.
Como a fruticultura. a olericultura também é uma atividade intensiva que
vem crescendo n o s assentamentos mais antigos, mas que depende
Fundamentalmente da existência de mercados consumidores prósimos e de uma
estrutura adequada de escoamento da produção, tendo em vista a alta perecibilidade
dos produtos. Entre as famílias pesquisadas, 4 cultivam olericolas, como quiabo,
pepino, abobrinha, batata-doce e tomate, sendo que dois produtores cultivam em
estufa.
Quanto às benfeitorias, o curral é a mais frequente, seguido pelo galpão,
tulha/depósito e paiol. Em relação aos equipamentos, as famílias mais capitalizadas
apresentam mais frequentemente um número maior de equipamentos como trator,
arado, grade, cultivador, semeadora, triturador. Esta tendência pode se alterar
9" ando a familia adqii r e um e quipamento em coi?junto com um grupo de
Pn,dutores, e:desta forrna passa a Iter acesso :to bem de produção mesmo dispondo
de poucos recursos financeiros.
A utilização de tração animal pode substituir em parte serviços realizados
pelas máquinas, o que é bastante comum na agricultura familiar. Todas as famílias,
nas diferentes regiões pesquisadas, possuem animais de serviço que podem ser
utilizados tanto no trabalho agrícola como para o transporte.
Quanto àprodução de autoconsumo, todas as famílias pesquisadas possuem
sua criação de aves, pomar caseiro e criação de suínos. A horta também é comum,
Da Terra Nua ao Prato Cheio

embora haja casos em que as hortaliças são plantadas em volta da casa ou nas
enaelinhas da lavoura e não em local delimitado e cercado.

Autoconsumo Alimentar

Na região de Andradina e Promissão, há grande variedade de alimentos


produzidos para o autoconsumo nos lotes dos assentamentos (Anexo XIII e
XIV), destacando-se os 17 produtos apresentados na Tabela 7.
Observa-se que em ambos os municípios, a pecuária leiteira (fotos 14 e 15) é
uma das principais fontes de alimentação nos assentamentos, representada não
só pelo leite in natura (148.69 Kg/ano per capita), que chega a 29,82% de todos
os produtos, mas também por seus derivados/processados (queijo - metade de
todos os derivados/processados consumidos -, nata e manteiga).

Tabela 7- Consumo alimentar médio per capim (em kg) dor 17 principais pmdutos da região
Noroeste (Andradina e Promirrão), 99/00.

Produto Média ladina Promissão

:<tio, i1.5<)5 1,856 15.356


lcijio 20.4XH 7.65') 10.<>91

Media 386.792 444.034 310.978

71
Andradina assemell.ia-se basta nte ao Ponta1 do Paomapanem9, assim, pode-
se notar que a cultura dii mandioca também é import ante nos i~ssentamentos
> - m, 9.
dessa região, com consumo- ot: ~ 0 , 2 2kg/anopercapiia.
1 ikxacam-se nas lavouras
~

a producão de 86 kg/anc I) e feijão (27,66 kg/ano). Em Promissão, a


participação d e as é bem menor, como por exemplo a mandioca, que
chega só a 8,89 kg/ano, bem abaixo das médias de consumo do Pontal.
Na região Noroeste nota-se uma grande diversificação em relação aos
produtos de horta e pomar. São importantes a alface (10,73 kg/ano), a abobrinha
(9-51 : a abóboira (6,89 k{ relevante também c> consumc) de
;/ano). qui abo (5,71
*n-o"+nQ , .,f,LVLLwYV
,,rnA. -
pimentão í2,48 kg/ ano), uma
A- .yIIIICIIIaY
.;ma ..r;-
C
r,.-
nate te
(prodlução em estufa), e o quiabo, ienta-se ci das
olerícolas de m:únr impor.tância cor níiias.

Foro I io Alexandre Carvalho (i iesquerda) cuidando da ranidade do seu rebanho leiteiro.


.,..,...,...,
*e
"
.
. ---e- -
t2rmeralda Andradina (SP,
Da Terra NURao Prato Cheio

Foto 15 - Dona Maria de Lurder. espora do S r Eujicio. mantbm horta junto ao curral de onde
obtem o esterco que utiliza para adubar suar hortalicar.
-
Assentamento Esmeralda Andradina (SP)

Outro ponto a ser destacado é o consumo de frutas, principalmente ba-


nana (25.19 kg/ano) e laranja (33,Ol kg/ano). Os assentamentos da região Noroeste
são mais antigos do que os do Ponta1 do Paranapanema e apresentam 24 espécies
fruticolas para o autoconsumo, ou seja, há mais espécies em produção do que
nos assentamentos do Pot .ndradina, O consumi3 de melaricia (1?,O0 k.4
ano) e mamáo (18,63 kg/ ,. ,..
jém mostrb, ., ~ J P ranTte.
nl..CP
.,
I ção aos d 10s (fotos 10 e l i )
A ,
nais
importí queijo fr,escal (méc 2 kg/ano per capia): 10 a
. . ..
importância da produção de leite para as famílias assentadas. Destaca-se também
O constimo de 13icles e m .Andradina

I)estacat: n-se ainda os derivad arinha


.
. .. ,. . .
de mandioca, Deiju, ~iscoitoue Doviino, pao-ue-quetjo e cnina (um bolinho,
parecido com o pão-de-q ueijo, que é tradicional entre o 3ssenses)".
A média de consumo dos 17 produtos representa 76,44U/o do consumo
total dte alimet tos de A.ndradina e 79,879ó de Prornissão, evidenciando a
importiincia d esses alimentos na d:ieta dessesi assentad,0s. E interessante notar

le O consumo desse produto não foi registrado nas planiihar. mar durante ar entrevistas verificou-se o

consumo desse alimento. Como mencionado anteriormente (pg 44). erre produto. provavelmente. teve
seu valor anotado na forma de mandioca ou polvilho.
que a diferença e dois lugari:s reside apenas nas variacòes das quantidades
consximidas de luto. O le ite é o produto mais consumido na região
Noroeste e. em rromissao. a iarania e a banana são, respectivamente, o segundo
e o tei:ceiro proclutos mais os. Em Andradina, e:;ses postos são ocupados
por airroz e frar1go.
x,-7. L ,-- - - - -..-
Y B J C UCbLHC111 quç, C I I L i 1 1 l u ~ a u ~ ~ r
L: ----:L;
i ian, a riihsiuilidade de pesca para o

autoc' levido à almndincia para tal pirática. N o assentamento


Rio P exemplo, o potencia da área €oi explorado na forma de
piscicultura par:2 a cornen
Em algur1s lotes, foi tradas ervas medicin:ais das se8 pécies
duran,, "" .".. "
-..".*,
vi,iinJ -e--,
a Lniiiyu. iiiiirrid, I-LI"".
.
poejo, boldo, a r ~ c a ualaaL.,c,,
, ,
. Ur Santa

Maria, alfavaca, capim-limío, estrepeiro Folhas s alho também


são utilizados p ara chás niedicinais.
A Tabela R onrr.en .,
l,...,-...l *o n rnmn
...,.,.I-...-..L
nrtllms-"r" h ..- -.,..->-...\, J e acordo com
os itens da produção. P i está em primeiro lugar em quantidades

consumidas e em segunc mos de v:ilor mone tário. O item pequenas


criações se destaca pelo grande valor econ<inuco que representa e o pomar pelo
volunie elevado de seu consumo.

carne do po iõtido. a hmii Caremiro c IYarra Mandri


prepara lingi 3 com a mão mulheres.
A.
Da Terra Nua ao Praro Cheio

-
Foto 17 O fogo armado no lado de t d r da cara serve para preparar torresmo
Familia de Antònio Caremiro e Marta Mandrali.
-
Assentamento Reunidas Promirráo (SP)

Tabela 8 -Valor médio anual per capb do consumo alimentar domiciliar da pmduqáo para
autoconsumo em reais (R$). em quilograma (kg) e em porcentagem (%).segundo a origem da produto
Região Noroeste (99100).

lavou
Peque
Cna~i
Pccuá

De".:
Procc:

Iloila
Pomar ú8,lO 14.63

Total 46533 100


ITLS P / LNIARA

Média Geral do Estado de São Paulo

Autoconsumo Alim Yéclia dc,s Assentamentos

No Estado de São yvuc-rc


-
A- eaT7.,Al..-..*-..-v consumo medto , .
per capita
de alimentos provenientes do próprio lote iI de 419,86 kgiano e representa um
valor monetário de R$ 402,17. Ci~nsideranc lo 5,00 o número médio de pessoas
por f a d a , pode-se obter um consunio médio de 2.099,30 kg de alimentos por
f a d a / a n o com um vd !.010,86 !( Lnexos VI i e VIII). Andradina, onde
o número médio de pess,,, ,, L
",.a o r i n n m O maior valor, R$2.623,81,
é a região ,9
sendo o menor valor, R $ 1.499,4CI, observac
O valor económico dos i tins~ de aut acão ao seu valor
total médio apresenta-se de acordo com a seguinte ordem de importância: pequenas
criações, pecuária, hort a, lavoura, pomar e derivado:jjprocessados (Tabela 9).
Porém, quando analisa ,,.,,
-=+-c :+
-
.
e
L,L,,, ..,,., ,.
Pn* , h o c e nor
,,
,, ., quantidades consumidas,
temos um panorama diferente. O consumo médio de pequenas criações (61,16
kg) só é maior do que o consumo de derivados/processados e de produtos da
horta. A pecuária ocupa posição de niaior destaque com 121,77 kg, seguida do
item pomar com 90,68 kg, e lavoura com 78,88 kg.

Tabela 9 -Valor médio anual per capita do consumo alimentar domiciliar da pradudo para
autoconsumo em reais (R$). em quilograma (kg) e em porcentagem (56). segundo a origem do produto.
Média geral dor assentamentos (199912000).

Peq
Cri2
DaTerrn Nua ao Prato Cheio

Arroz, feijão, mandioca e milho verde são os principais produtos obtidos


na lavoura e, juntos, somam 76,02 kg de alimentos, representando 96,37% do
total deste item e 83,68% do seu valor monetário. Os produtos provenientes da
lavoura apresentam valor mais expressivo nas regiões de Sorocaba e Itapeva. A
produção comercial de mandioca nos assentamentos de Sorocaba e de feijão em
Itapeva certamente determina o maior consumo desses produtos (Anexo Vil).
Em Andradina, Promissão, Primavera e Teodoro Sampaio, temos uma
maior diversificação de produtos oriundos da lavoura, e as leyminosas formam
o maior grupo, com destaque para o feijão comum, o feijão de corda, guandu e
amendoim. A cana e o milho pipoca são os produtos de menor importância,
sendo consumidos pelas famílias apenas em Promissão e Primavera,
respectivamente.
Banha e lingüiça de porco, mel, ovos, toucinho e as carnes de carneiro,
frango, pato, peixe, porco e galinha de angola estão incluídos no item pequenas
criações, que é onde se encontram importantes fontes de proteínas para o consumo
dos assentados. Ovos e carne de frango são os produtos mais consumidos entre
as famílias, com um valor médio de 34,69 kg e 11,97 kg. Estes produtos somados
representam 68,66% do valor monetário médio deste item. Em todos os
assentamentosestudados o consumo desses alimentos é significativo,evidenciando
a importância dessas criaçóes na estratégia alimentar dos assentados.
Com um consumo médio de 10,78 kg e um valor monetário de R$32,63,
a suinocultura também expressa a sua grande importância. Seu maior consumo,
19,21 kg, ocorre em Presidente Bernardes. Desta criação, obtém-se como
subproduto a banha de porco, que é a principal fonte de lipídios dentre os produtos
listados, destacando-se seu consumo nos assentamentos de Sorocaba, Andradina,
Promissão e Presidente Venceslau.
Os dados evidenciam a criação de gado leiteiro como a principal atividade
pecuária entre os assentamentos pesquisados. Ela proporciona um consumo de
118,87 kg de leite, sendo o alimento de maior consumo médio anual das famílias.
É o segundo produto em termos de importância econômica perdendo apenas
para a carne de frango. Os maiores valores são encontrados nos assentamentos
do Pontal do Paranapanema e Noroeste.
O consumo médio de carne bovina é de apenas 2,74 kg e se equipara ao
consumo de peixe, 2,60 kg. Este resultado mostra a menor importância da pecuária
de corte em relação à pecuária leiteira, uma vez que a carne bovina é pouco
consumida.
Agreganau roaos os derivados/processados do leite (coalhada/iogurte,
doce-de-leirt ndensado, manteig a, mussar,ela, nata, queijo fresca1 e
requeijão), ol n valor miidio de 5,5O kg, que 1'epresenta 63,62% do valor
total em quiiug.niiinr r 7~ ?no/.
, J,2u,u .,"I-. monetári,r. ,Innrn ..em, i+ realçando a
importância desse produto na aii dos assentados. Com 0,76 kg e 0,70
kg, os derivados/processados da i (beiju, biscoito de polvilho, bolo de

mandioca, farinha de mandioca, polvilho e tapioca) e do milho (bolo de milho,


fubá e pam~ onha) cor ;e, tambéi upos importantes para o
autoconsumc3.
O item "horta", com 38 produtos, concentra a maior diversidade de
produtos destinados ao autoconsumo. A abobrinha é o produto que se destaca,
com um consumo médio anual de 9.27 k~ seguido da alface e da batata-doce. Os
~ ~7 ~V~

as:ientament os que aF maior co édio são os da região de


Aridradina e Presidente u, com 85, ,64 kg e o menor consumo
. 3 . .
é regrstraao em ltapeva, L ~ , 1I KI
O grupo das folhosas (acell ilface, alho japonês, alrneirão, chicória,
couve, espinafre, repolho, Ncuia e taioba) representa 28,26% dos produtos
oriundos da horta, as raízes (batata-docc:, beterrat)a, cará, cenoura, inhame,
mandioca salsa e rabariete) repre sentam 161,69%,os Ilegumes e frutos (abóbora,
, 8.
abobrinha, beriniela. brocoiis, caxi. chuchu, couve-flor, iiló, maxixe, pepino,
pirnenta doc e, pimentlto, quiabo, vagem) 5í),38% e os; temperosi (alho,
aç:ifrão, cebr>Ia,cheiro--verde e pi 57%. Em itermos do valor moi.ietário
mtuiu,
:A:- "" L- ,,.-"""
i~>liiusa -"e
~
irt>irJriiraiii -
34,52% du .-*-l ucaac 2". -
.*--
irciii r giUtiii dos le-
y m e s e frutos 39,969'a. Sendo i :rde, abobrinha e almeirão
são os produtos com nnaior vaioi
As friitas, assim ,., ,,hortaliças, são responsáveis pelo fornecimento
de vitamina s e sais rninerais que regul am as fui~ ç õ e sdo organismo. O s
." 2-
a s s c l , ~ d i l l cUc A~
-2.
~ ~z.LIUiadina,
v~ Promissão e I>-i ---.--A.tegistram o maior consumo
iiiiinvrin

médio de frutas com 139,04 kg, 114,66 kg e 114,03 Ikg, respectivamente.


Banana, laranja, mamão e tangerina :são as frutas mais consumidas. Juntas
representam, em média, 56,39% do valor mr\net;ni .A. ,
..
,.,,. 3 e 64,89O/o da quantidade

consumida em quilogramas. O maior consumo médio anualper c+a de banana


Da Terra Nua ao Prato Cheio

ocorre em Presidente Venceslau (28,22 kg), enquanto em Promissão temos o


maior consumo de laranja (40,52 kg). Em Andradina ocorre o maior consumo de
mamão (18,63 kg) e em Primavera ocorre o maior consumo de tangerina (15,58
k@.

Autoconsumo Alimentar - Média por Estrato de Capitalização

Os dados sobre o consumo alimentar domiciliar per capta anual e seu


valor monetárii3, segund<) OS estrai:os de capitalização, referem-se apenas a 55
famílias, enquanto a mé<iia geral e:ngloba dados de 70 famíiias (Anexos Xi e
XII).
O consumo médio anual de alimentos é de 401,34 kgpercapita, que resulta
num valor monetário de Râ385.42, valores próximos da média geral do Estado.
Nota-se uma ordem decrescente de consumo entre os estratos de
capitalização. Os "capitalizados" apresentam o maior consumo com 480,529
kg/ano de alimentos, perfazendo um valor monetário de R$495,78per capita. O
grupo dos "descapitalizados" apresenta o menor consumopercapita/ano, 329.73
kg, que corresponde a R$ 310,80.
Tomando como base o valor monetário, tem-se como ordem de importância
os seguintes itens: pequenas criações, pecuária, horta, lavoura, pomar e derivados/
processados. Quando se tomam as quantidades consumidas como base, há
alteração na seqüência: pecuária, pomar, lavoura, pequenas criações, horta, e
derivados/processados Pabela 9). Estes resultados são determinados por dois
fatores distintos: quantidades consumidas e valor do produto. Assim, o valor da
pecuária é alto devido à grande quantidade de leite consumida.
Por outro lado, produtos provenientes de pequenas criações (consumidos
em quantidades menores) tendem a ter maior importância em termos de valor
monetário, por ter produtos com preços maiores. Ressalte-se que este
comportamento de consumo é igual àquele observado nos resultados médios
gerais.
Tabela I O -Valor médio anual per capita do consumo alimentar domiciliar da produção para
autoconsumo em reais (R$). em quilograma (kg) e em porcentagem. segundo a origem do produto.
Média geral dos estratos de capitalizagão (99100).

Pequenas 128.92 33,45 60.09 14.97


Cnagões
Pecuána 79.84 20.72 123.32 30.73

Apesar de algumas alterações, o comportamento de consumo alimentar entre


os estratos de capitalização é bastante semelhante ao obtido no resultado geral.
Em quase todos os estratos, os ítens pequenas criações e pecuária ocupam o
primeiro e o segundo lugares em importância, tanto em termos de quantidades
consumidas como em termos do valor monetário, enquanto que os produtos
derivados/processados ocupam a duma posição em todos os estratos (Anexos
VI1 e VIII).
Entre os "capitalizados", observa-se uma maior diversidade de alimentos
consumidos, totalizandio 93 pro<iutos. Os estratos "em capitalização" e "em
descapitalização" to talizam '77 e 79 produtos, respectivamente. O s
'C ..
descapitalizados", con. 77,..-A, ay.~,entam a menor diversidade.
,+,.c c-..."
r.YuuLv,,
O Que é Necessário
Comprar Fora do Lote

c..) i nererdnofniar que o hóbito dr conrumirpmrlritor


rado t ' q mais ind~~stnuIi~ados
i umu m a m da modernidade.
É uma tendtncir? mun~iiol.Faspurfe doJènômeno d a ~ l o b ~ h ~ a ~ ò a

Susana Inez Bleil""

Apesar de muitos assentados afirmarem que gostariam de poder produzir


tudo o que consomem no próprio lote, isso nem sempre é possível. A compra de
alimentos nos centros urbanos para completar a cesta alimentar é uma prática
bastante difundida e necessária. Para dimensionar essa participação, foram
entrevistadas 39 famílias @.bela 1I), representando 56% do total do universo da
pesquisa, com o objetivo de relacionar os produtos que as famílias necessitam
comprar.
Neste levantamento, procurou-se identificar os produtos comprados, o
gasto mensal das famílias com alimentação comprada e os locais de compra.
Além desses dados, foram identificadas outras estratégias de obtenção de produtos,
tais como a troca de mercadorias e a participação em programas públicos de
assistência alimenta?'.
Conforme já mencionado, os preços utilizados para dar valores aos produtos
comprados foram obtidos a partir do valor médio dos preços fornecidos pelos
técnicos de campo.

"BLEIL. 1998. p. 24
"O questionirio e a planilha urilizador encontnrn-se nos (AnexorV eVI).
Tabela I I - Parricipagáo dar Familiar na Perquira de Produtor Comprador.

Composição da Compra
A partir deste levantamento obteve-se a quantidade total de alimentos que
as famílias a!isentadas consomenn por mê:i, o que t<xnou pos sível estuilar os
pni~cipaisprc~dutos,avaliando se f;oram prod,uzidosno próprio 10 teouseaf %maia
-.- -..niriip~a-iua.
prerisuu - - li-
oria dos produtos cisam de beneficiamento ou são
ind os é objet~
3 de comp iaias assentadas, como, por exemplo,
óleo de cozinha, sal e açúcar. Mas, em algur1s assentarnentos, as familias suprem
parte da necessidade de produtos beneficiados e prqocessados como café (em
Promissão produzem cerca de 96% do que cuiiburiicm) ou de derivados como
manteiga (en na 80,31V8, Promis! /o e Presiclente Berriardes

100%) e quc ssentame ntos de F


Presidente Venceslau, 100% do 4--.,-
-.
.o.
,- -na- -
, Presidenite Bernar:des e
produzid~--Ia* ,,.óprias ...
famíiias).
Na griinde maio 10% as famílias suprem de
70% a 90% do consumo de feijão com a produção do lote, chegando a 100% em
Itapeva. No Pontal, especialmente em Presidente Bernardes e Porto Primavera,
as familias compram cerca de 50 O/'o do feijão consumido.
Da Tern Nua ao Prato Cheio

O arroz, em parte das famílias pesquisadas, é produzido no lote. No Pontal


do Paranapanema (Presidente Venceslau, Presidente Bernardes e Teodoro
Sampaio), devido à dificuldade de cultivo, a maior parte do arroz consumido é
comprada, sendo que entre as famílias pesquisadas em Primavera, só se produzem
12% do arroz consumido. Em Sorocaba, 32% deste produto são comprados
devido à proximidade de centros urbanos. Já em Itapeva, as famílias pesquisadas
suprem em 80% sua necessidade de arroz. Um dos empecilhos para a produção
do arroz é a dificuldade para o beneficiamento.
De uma maneira geral, observou-se que as hortícolas consumidas, em sua
grande maioria, são produzidas no lote, chegando normalmente a 100% do que
é consumido. Culturas mais exigentes quanto ao cultivo, e provavelmente mais
caras para o produtor, como tomate, alho, cebola e batata, são em parte compradas
Em Promissão, onde há uma significativa produção comercial de tomate, as
famílias produzem 100% do tomate consumido.
Em relação ao consumo de frutas, as famílias também produzem
praticamente 100% do que é consumido (com exceçáo da maçã), sendo que os
assentamentos de Promissão e Andradina são os que apresentam maior diversidade
de espécies cultivadas.
Observou-se, ainda, que entre as familias pesquisadas consegue-se também
suprir a necessidade de ovos, frango e carne suína com a produção do lote. A
carne bovina, devido às dificuldades de produção, normalmente é comprada.
A produção de leite para autoconsumo segue a lógica da produção
comercial: em Sorocaba, próxima a centros urbanos e com lotes menores, a
produção de leite é pequena e 70% do leite consumido é comprado. Todas as
famílias d o Pontal, Andradina, Promissão e Itapeva conseguem suprir a
necessidade de consumo de leite, sem que haja necessidade de comprar o produto.
Quanto ao consumo de mandioca, quase a totalidade das famílias produz
tudo o que necessita, com exceçáo de Primavera que compra 6% e Promissão
30% da mandioca que consome.
Ao comparar as faixas de valores gastos pelas famílias com a estratificação
realizada entre elas, observou-se uma tendência das famílias capitalizadas estarem
nas faixas de maior valor gasto. Porém, vários outros fatores influem no valor da
cesta, como hábitos de consumo, ponto de compra e principalmente a participação
dos alimentos produzidos no lote, conforme demonstra este estudo.
No geral, pode-se observar que a produção do lote tem grande importância
no consumo das famílias, representando uma economia na despesa familiar.
Certamente, em alguns assentamentos, é necessário que os produtores avancem
no sentido de diversificar sua produção para autoconsumo, buscando melhorar a
qualidade da alimentação de suas famílias.

Pontos de Compra, Periodicidade


e Programas Alimentares

A compra de géneros alimentícios pela população assentada não é realizada


necessariamente a cada mês como no caso de familias que vivem de salário ou
outros rendimentos mensais. Muitos realizam suas compras após a comercialização
das colheitas, e estocam os produtos não perecíveis, evitando assim a necessidade
de realizar compras quando não há receita da atividade agrícola. A distância dos
centros urbanos também dificulta o deslocamento da família, fazendo com que
ela amplie o período entre uma compra e outra.
Em relação aos pontos de compra, o levantamento apontou que os
supermercados do centro urbano mais próximo ao assentamento são o principal
local de compra, sendo que todas as famílias entrevistadas frequentam
supermercados. O açougue é um p o n t o d e compra frequente para
aproximadamente 30% das famílias e outros pontos como padaria, feira, sacolão
e armazém são frequentados por menos de 1% das famílias.
A entrevista procurou também levantar se a família recebe gêneros
alimentícios por meio de algum programa de alimentação como entrega de cesta
básica, leite, ou atendimento às crianças com a merenda escolar. Somente em
Itapeva foi identificado que algumas famíiias do assentamento recebem cestas
básicas financiadas pela Prefeitura d o município, sendo que, das famílias
entrevistadas, 3 recebem cesta básica todo mês e se encontram no grupo que
gasta menos de R$ 100,00 nas compras mensais. Quanto à merenda escolar,
cerca de 20 % das familias entrevistadas declararam que as crianças recebem
merenda, complementando a alimentação das pessoas mais novas da família.
Da Terra Nua ao Prato Cheia

Valor da Compra

As despesas com alimentação giram em torno de 60 a 70% dos gastos


mensais da família, que incluem além dos gêneros alimenticios, produtos de
limpeza e de higiene pessoal. O valor médio mensal per capita das despesas com
alimentação foi de R$ 23,31, variando de R$ 9,82 a R$ 45,62.
Somando-se ao valor médio mensalpercapita das despesas com alimentação
o valor dos alimentos produzidos no lote, que é de R$33,04, temos um total de
R$ 56,36. Esse valor, comparado com outros estudos, é bastante próximo ao
valor da despesa média mensalper +ta com alimentação (R$55,57) encontrado
para os indivíduos das famílias da faixa de renda de 6 a 8 salários mínimos
mensais da região metropolitana de São Paulo (IBGE, 1998).
A Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo DIEESE (1996) no
município de São Paulo, também registra resultados semelhantes. Indivíduos de
familias com renda de cerca de 9 salários mínimos gastam mensalmente R$59,77
com alimentação, o que é apenas 6% superior ao valor médio obtido nos
assentamentos.
É importante frisar que para uma comparação mais precisa dos resultados
desta pesquisa com os das pesquisas do IBGE e do DIEESE, seriam necessários
estudos mais aprofundados, levando em conta a composição destas cestas de
alimento, relacionando as diferenças entre os hábitos alimentares urbanos e rurais,
ponderando a variação dos preços dos alimentos nesse período etc.
O Que os Técnicos de Campo
Pensam Sobre o Autoconsumo

O seu nirbaLho de agente i útil oopot~oporqueé mnjunturalmente desigral,


arsda qne no jeu hori~oniceexirfa,na brumn do manhü,
o ourorir de um mundo onde o ATtren~oqueefax a iibcrdddc
nüo se estabeleya sobn o des&uoLíade quegera tpresena o opressõa
A qrtestãojii.ndament./ e' a de sobrr rolocor o deiipo&iade o im,ifa

Carlos Rodtigues BrandãoZ2

Os técnicos de campo que prestam assistência técnica para os assentamentos


do Estado e participaram dos levantamentos desta pesquisa são Engenheiros
Agrònomos, Técnicos Agrícolas, Técnicos Agropecuários, Zootecnistas e
Veterinários, e, naturalmente, sua formação se expressa em seu trabalho cotidiano.
Foram realizados grupos focais com o objetivo de conhecer as concepções dos
técnicos de campo sobre a produção para autoconsumo, sua importância, suas
implicações na produção comercial, no desenvolvimentoeconòmico do assentado
etc.
Esta metodologia permitiu, para além da percepção dos técnicos sobre a
produção para autoconsumo nos assentamentos, fazer com que esses profissionais
refletissem sobre a importância dessa prática, seja em termos de economia no
còmputo da despesa mensal, seja em termos da melhoria da qualidade da
alimentação das famílias.
Essa reflexão, a partir da realidade dos trabalhadores assentados, esteve
relacionada à maneira como a assistência técnica é realizada, à forma como se
orienta o planejamento da produção agropecuária, ao envolvimento da mão-de-
obra familiar dentro de uma visão sistêmica, para o desenvolvimento social e
econômico da comunidade assentada.

A Importância da Produção para Autoconsumo

A produção para autoconsumo é considerada, entre os técnicos de campo,


uma atividade de significativa importância para os assentados.
Para citar alguns aspectos:

Utilização dos recursos disponíveis

Uma das características importantes da produção vegetal para o


autoconsumo é que ela, em geral, utiliza-se dos resíduos da produção agticola
como as palhadas, do esterco de animais, dos resíduos da adubação das culturas
comerciais, e dos recursos oferecidos pelo próprio ambiente, como a fertilidade
natural do solo, a água e o clima, otimizando assim os recursos disponíveis no
lote (fotos 18 a 21).
A mesma situação se observa na produção animal para o autoconsumo.
Os suínos, aves e mesmo a produção leiteira de pequena escala são alimentados
com resíduos das culturas comerciais e volumosos produzidos no lote.
Muitas vezes a produção para autoconsumo está inserida no sistema de
produção de tal forma que a viabilidade econômica da produção comercial depende
dos resíduos da produção para o autoconsumo e vice-versa (fotos 22 e 23).

Melhor qualidade alimentar

Os produtos alimentícios obtidos no comércio são, geralmente,


provenientes de uma produção comercial de larga escala que é amplamente
dependente de adubos químicos e agrotóxicos, e a produção para autoconsumo,
ao contrário, tem um potencial de gerar produtos sem essas substâncias
inconvenientes, proporcionando uma melhor qualidade de vida.

Economia

A produção para autoconsumo permite que o assentado diminua suas


despesas com alimentação, reinvestindo esse valor no lote.
Da 'Terra N i i a a o Prat<><:hei"

O fat sntado ser capa?: de suprir a sua ahmentaçáo, por meio da


produção de gêneros alimentíciios básiccis, lhe dá seguranç:a econômiica e,
consequentenlente, emr~cional,pa ra que pos sa assumir;com mai,or tranquiidade,
os riscos inercnres . - comercial.
. a proauçao
7

o s pimtos aciria apresenitam uma certa interdependência. ou seja, obter


~ COITi boa qualidade aiimentar é o resultado da utiüzação adequada dos
p r o dItOS
recursva
.-e a-
- * . .U . I ."
- :u .. -
..a
aL..vIcLILc,
,
yUL pVL
--e
vez proporciona uma redução nas despesas
com alimenta nente,
emocional, p ~ c i aa
necessidade de uma abordagem sistêmica pa intervençãio nos
assentamentos rurais.
A habilidade em administrar eficientemente o lote, distribuindo
adequadamente os recursos disponíveis para a produção comercial e para o
autoconsumo não é uma tarefa fácil. São muitas as variáveis que influenciam a
produção agrícola: informações a respeito do clima, solo, bem como as culturas
(sementes e variedades) e os animais adaptados à região e às características da
produção familiar devem ser conhecidos e manejados adequadamente para se
obter um resultado econômico pr

-
Foto 18 Curral com chão c01 ilha, onde o Sr Reginaldo e Dona Jorefa F. de Souza mantém
o gado para posteriormente irerco e a palhada para fazer adubo orgânico (comporto).
Ar- -
.'=lu Presidente Bernarder (SP)
roto i 7 - ur porcos que a familin do S r Reginnldo criam r20 alimentados com restos dar
culturas. como ar ramas de bsura-doce. mzndioca e barranre capim. O material excedente.
juntamente com o esterco dor anirais. é utilizadopara fazer adubo or@nico.
Arrenramento Palu - Preridenre Bemardes (SP)

+ta a palhada do arroz par'a armazenar o restante da produção


de milho qi,e nio coube no paiol.
,,.,"r,car.>"".o
%,.,L

-
v.,.
.ver.,.. >. >.-,c.uoro
..-c ..... (SP)
aampaio
Da Terra Nua ao Prato Chc~r>

Foto maraculá

.'-. JL*y .*j,


-. -F. r
-
i ---.

Foto 22 - Plantagão de banana feita pela familia do Sr Reginaldo em rolo adubado com adubo
orgânico produzido a partir de esterco de p d o e ruino
-
Arrentamenro Pai" Presidente Bernarder (SP)
-
Foto 23 Sr. Celso e Dona Cicer: overam a paIhada da arrc>rpara fazer cobertura mona
(mulching) do cak,.,. y,,L,,,,,u, , .,., ,. ,,,,.,,..,.,..
erosão. Nas a..."..,;"L.. A.
,o cafb pode-se ver o feijão.
-
Arrenramenco Vale Verde Twdoro Sampaio (SP)

Baseado nessas idéias, alguns técnicos mencionaram que o aspecto geral


do lotm do. Lotes que possuem
pomai :ssivos, geralmente são
administrados pi3r assenta1 im melhor desempenho econômico.
Os resultaidos da pei nbém apontaram quiE quanto mais
:""A- - ",
..2"..1**.. . ..- Te*- ,

capaci, nistrativa é:variável e :nte para c: íduo.


iiferenças identificad ição para a umo,
algumas hipóteses são apontadas pelos técnicos, a saber:

Expenênicia anter

A experiência anterior do assentado foi mencionada como um dos fatores


importantes que o capacita a produzir melhor para o autoconsumo. O s
beneficiários que são filhos de produtores rurais são apontados como os mais
habilitados, seguidos dos assalariados que administravam ou "tocavam"
Da Terra Nua ao Prato Cheio

propriedades rurais. Porém, os assalariados rurais temporários já apresentam


menos habilidades, pois sua experiência se resume, muitas vezes, a algumas fases
do processo de produção agrícola e, por isso, desenvolvem menos as noqões
gerais de gerenciamento de uma propriedade rural.

Região d e origem

A cultura alimentar existente na região de origem do assentado é apontada


como um fator importante na produção para autoconsumo. As principais
diferenças apontadas estão entre as regiões norte e sul do país. Assim, beneficiários
originários de regiões muito diferentes das dos assentamentos tendem a diversificar
menos a sua produção. A fala abaixo exemplifica essa questão.

'!.. agnr no assentamento tem um caso interessante,


ele acha guc devepbnfarpn/maprúiratar da vaca de leite dele,
porque ele é do norte e d! opai delepbntoupalma,
o auò tratou de uuca compalmo..."

Motivação pessoal

Como há assentados que não possuem uma forte produção para


autoconsumo,mesmo tendo um histórico de produtor rural ou sendo provenientes
de uma região típica de agricultura familiar, vê-se que outros fatores ligados a
qualidades intrínsecas dos indivíduos atuam nesse processo, como, por exemplo,
a motivação pessoal.

Recursos naturais limitantes

A baixa fertilidade do solo é um dos principais fatores limitantes da


produção para autoconsumo. Muitos assentamentos estão situados em regiões
de baixa fertilidade natural ou em solos depauperados pelas explorações agrícolas
anteriores, resultando em produtividade muito baixa para culturas como o arroz
e o feijão, que por isso são preteridas. Nesses casos, as culturas menos exigentes
em fertilidade têm sido preferidas, como a mandioca.
O clima desfavorável também é apontado como fator Limitante. Safras
frustradas por falta de chuvas têm desesumulado o culnvo de culturas mais
exigentes em água (arroz e feijão) e, nesses casos, mais uma vez a cultura da
mandioca desponta como alternativa.
Como normalmente os assentamentos estão localizados em regiões que
possuem poucos rios, a captação de água está condicionada à constnição de
poçosZ3e por isso o cultivo de espécies olerícolas pode-se restringir aos períodos
mais favoráveis do ano.

Padrão d e vida

A possibilidade que as empresas rurais têm de produzir não somente


para atender as demandas do mercado, mas também para o autoconsumo da
familia, não é observado nas empresas urbanas. Estas têm a função de gerar
ren,da para os trabalhadores poderem adquirir os bens de consumo necessários à
sua manutens aspecto, o estiio de vida rural se contrapõe ao estilo de
vid~i
,.,,..,
iirh.inn r, ., ~onsigoo apelo de ser moderno e ser mais valorizado
socialmente.
O padrão urbano de relações econômicas também está presente no meio
rural, o que, obviamente, é muito importante pois são nessas relações que estão
contidas as possibilidades de superar as diferenças entre o campo e a cidade.
Porém, o que se destaca neste item é que a total incorporação do padrão urbano
tem ido insufic:iente em i os para gerar o desenvolvimento no
mei )mo afirmam os técr :vistados.

Autovalorizaçáo por meio d o padrão d e consumo

Dentro da ótica da "cultura urbana", adquirir gêneros alimentícios no


comércio é uma forma de se sentir valorizado e prestigiado no meio social em
que se vive.

Ião valor no que possuem, mas também têm aquele ego de comprar
alguma coisinha. Isso é importante, também precisa ter uma variedade, a televi-

" Segundo o Retrato daTerra 97/98.59,32% dor arrenrador do Errado porruem poço cacimba, 3 1.06%
porruem poço tubulsr profundo e apenas 9.71% usam água de mina ou ribeirão.
Da Terra Nua ao Prato Cheio

são influi, sei lá... vêem uma bolacha... a criança da cidade e do sitio são iguais.
Ela vai na escola, tem uma criança lá que vem com uma bolachinha, com um
negócio diferente, chega em casa e pede. Ai a mãe vai e compra, não vai fazer só
a bolachinha, não é só porque mora no sitio que vai fazer o biscoitinho de leite
com nata..."
O acúmulo de experiências é um fator relevante para o desempenho de
qualquer atividade produtiva e, como mostram as entrevistas, no meio rutal não
é diferente. Uma produção expressiva de autoconsumo tem suas raizes na baga-
gem cultural que o assentado traz, mas também depende da superação das limi-
tações técnicas e ambientais que os assentamentos apresentam. No entanto, esse
contexto também exige maior amplitude na sua abordagem, pois os valores da
sociedade moderna, ressaltados na fala do técnico, e a relação dos indivíduos
com ela colocam essas questões para além da discussão meramente técnica da
produção.
No desenrolar do grupo focal, quando foi apresentada a questão 'Te o qxe
expdca ar diferenfas entre uma grande e uma pequena produgo para automnsumo são ar
questões mkurais, então elaspodem ser elaboradas/@rendidas/ freinadas? Como?", a equi-
pe de entrevistadores se esforçou para diferenciar o trabalho que os técnicos
realizam regularmente com os assentados, trabalho que possui inerentes limita-
ções de recursos físicos, financeiros e humanos, de uma situação ideal onde não
houvesse limitações, isto é, trabalhou-se com a dicotomia reaLx ideal.
É fácil perceber que a singular abrangência das questões elencadas até
agora resulta numa inmncada trama de idéias, que remete as propostas de ações
e intervenções para dentro de uma abordagem integrada. Dentro dessa ótica, o
"chefe da família'' perde o status de principal interlocutor com as forças sociais.
Nesse contexto, a mulher, os filhos e a própria comunidade também ganham
destaque, como foi observado pelos técnicos

Trabalho com as muiheres

' Em muitas situações durante as entrevistas, o papel das mulheres na


valorização da produção para autoconsumo foi destacado. A divisão sexual do
trabalho normalmente coloca as mulheres no centro da importante função de
prover a alimentação da família. E, quando se discute a valorização d o
autoconsumo, não somente a transformação dos produtos agrícolas em alimentos
é relevante, mas também as atividades de produção desses produtos. Em vários
assentamentos já existem grupos de mulheres organizadas onde essas questóes
estão sendo trabalhadasz4, sendo que a sistematização desse trabalho e o
fortalecimento dessas atividades remetem para os desdobramentos futuros desta
pesquisa.

Trabalho c o m os jovens

Da mesma forma que as mulheres, os jovens são mencionados como um


grupo que merece uma ação direcionada. Neste caso, a formação escolar que
priorize uma alimentação correta e valorize a produção rural é ressaltada.

Envolvimento com a comunidade

Grupos religiosos e entidades assistenciais são apontados como agentes


que podem gerar ações ou potencializar as já existentes, visando otimizar o
autoconsumo. A Pastoral do Menor, que faz o programa da multimismra, é citada
como exemplo.

Ném de atender às demandas da produção comercial que os assentados


possuem, estimular a produção para o autoconsumo faz parte do dia-a-dia da
atuação técnica. O Programa de Segurança Alimentar é destacado nas entrevistas
como instrumento de vital importância nesse processo, promovendo a distribuição
de sementes de hortaliças e pequenos animais (galinhas e porcos). O Programa
de Fomento à Fruticulmra também tem amado nesse processo distribuindo mudas
de espécies frutíferas aos assentadoszi.
A importância aesses programas é consenso entre os técnicos, porque o
acesso facilitado às sementes e mudas: a) estimula o plantio da cultura e, através
do seu uso continuado, o assentado pode incorporá-la no seu sistema de produção;
b) permite que o assentado conheça o manejo da cultura em pequena escala, o
que pode estimular um plantio em escala comercial e, nesse caso, o assentado já

"Nesse sentidauma dar experiènciat interessantesé realizada pelo GmpoTécnico de Campo de Somcaba
- . de milheres onde r%o~romovidorcursos e tmcar de exveri&nciar.
n a reunióes mensais com o muvo
'Ver Cadernos ITESP"Conrtruindo o Futiim: Politica de investimentos em Assentamentos ~ u d sseus
,
Curtos e Rerulador".
1)nTerra Nua a o Prato Cheio

terá acumulado alguma experiência com a cultura aumentando as possibilidades


de sucesso econômico. Porém, como foi ressaltado por alguns técnicos,
dependendo do contexto em que se inserem, essas ações podem ser limitadas se
não tiverem como objetivo a autonomia do assentado, perpetuando a necessidade
da intervenção do técnico ou se tornando meramente assisten~ialistas~~.
E necessário, neste tema, lembrar que as caractensticas dos assentamentos
do Estado de São Paulo, no que diz respeito a sua idade, localização geográfica,
solo, clima, são muito variáveis e o mesmo se observa com os assentados que
possuem diferentes graus de capitalização, capacidade técnica, disponibilidade
de mão-de-obra etc, resultando num enorme matiz de demandas individuais e,
portanto, atender a contento essas necessidades é o desafio dos programas.
Tornar mais efetiva a participação das equipes de campo na formulação
das pesquisas foi apontado como uma das formas de melhorar os insttumentos
de diagnóstico e avaliação do desempenho dos programas, superando as
dificuldades existentes. Também foi ressaltada a necessidade de aprofundar as
discussòes dos resultados com as equipes de campo para propor o s
desdobramentos e as ações futuras dos programas. Para esta pesquisa, as sugestões
apresentadas foram:

Apresentar, e m reuniões c o m o s assentados, o s resultados d o


trabalho2'. destacando

a relação entre a produção para autoconsumo e produção comercial;


a economia obtida com a produção de autoconsumo;
apresentar estudos de caso dos assentados que apresentem os resultados
mais interessantes.

" Vale ressaltar que o obletivo destas entrevistas não é de k e r uma avaliagão conclusiva dor programas.
mas apenas detectar aspectos da rua interface com o autoconsumo.
''Nesse sentido. como mencionado anteriormente. foram feitas reuniões com ar familiar assentadas e
técnicos participantes. nas quair foram apresentador e discutidos os resultados da .peíquira.Foi
. criad~em
cada reunião, um clima de debatesemque ar familias intervinham e narravam suar experiénciar.
Considerações Finais

De uma maneira geral, observa-se uma grande inter-relação entre a


produção comercial, a produção para autoconsumo e o desempenho econômico
dos assentados. Parte significativa da alimentação é retirada, ou depende
diretamente da produção comercial do lote e esse consumo é tanto maior quanto
melhor o desempenho econômico do assentado.
Nota-se que fatores como o clima, solo, tamanho do lote, mercado consumidor,
determinantes em certo grau do tipo de exploração agropecuária nas diferentes
regiões do Estado e, conseqüentemente, nos assentamentos, também vão refletir
na diversidade e na quantidade de produtos consumidos pelas famílias.
Assim, o maior consumo de leite e mandioca encontrado na região do
Ponta1 do Paranapanema é explicado, em parte, pela expressiva exploração
comercial dessas atividades nessa região. Da mesma forma, em Itapwa, onde há
grande consumo de feijão, essa cultura tem sido insistentemente explorada
comercialmente não somente pelos assentados mas por grande parte dos
agricultores da região.
Por estarem próximos a grandes centros consumidores e possuírem lotes
menores, há pouca exploração de pecuária leiteira em Sorocaba. Na produção
comercial é dada ênfase ao cultivo de hortaliças, pomar e lavoura. A mandioca de
mesa, bastante consumida pelos assentados, desempenha papel importante na
sua pauta comercial.
A partir destes resultados, pode-se concluir que a família que s? dedica à
produção de alimentos para o seu próprio consumo, está, ao mesmo tempo, se
capacitando para melhor gerenciar a sua exploração comercial. E, para esse caso,
a recíproca também é verdadeira, ou seja, o fortalecimentoda produção comercial
se converte no crescimento do autoconsumo.
O desempenho econômico está relacionado com a produção comercial
dos assentados na medida que, quanto melhor for a produção comercial, maiores
são as chances de se ter um bom resultado econômico. Porém, o que aqui se
destaca é a interface com o autoconsumo: produtores "capitalizados" apresentam
um consumo mais elevado de produtos oriundos do próprio lote do que os
produtores "descapitalizados".
No Pontal do Paranapanema, evidencia-sede forma mais clara a correlação
entre a produção comercial e o desempenho econômico dos agricultores Nota-
se uma estreita relação entre o grau de capitalização e o tamanho do rebanho
bovino, importante exploração comercial dos assentamentos dessa região. Os
assentados "capitalizados" possuem c, maior tamanho médio de rebanho bovinos.
Esse valor diminui, conforme decresce o nível de capitalização do assentado,
atingindo o menor valor entre os "descapitalizados".
A produção de autoconsumo ajuda a construir a segumça econômica
que o agricultor necessita para se lançar em novos projetos e aumentar sua
produção comercial, podendo funcionar como uma verdadeir 'a para a
família, seja vendendo animais (bovinos ou pequenos anim ,ottante
valor econômico), seja por produzir seu próprio alimento, em V C L uc ~omprá-10.
Assim, o produtor aumenta sua capacidade de resistir a adversidades tais como
preços baixos, comercialização e frustração de safra. Foi observado que o que é
produzido no lote chega a representar, em termos médios, 58% do valor gasto
mensalmente com alimentação pelas familias.
Essa segurança é fundamental para a fixação do agricultor no campo, pois
garante a alimentação da sua famka. Além disso, a criação de pequenos animais,
a pecuária leiteira e a produção de olerícoIas e frutiferas são exigentes em mão-
de-obra, o que permite o envolvitnento de mulheres e jovens no trabalho do lote.
Como as mulheres desempenham papel relevante no autoconsumo, seja
pelo fato de se ocuparem diariamente com o preparo das refeições ou por estarem
diretamente envolvidas com o gerenciamento e a lida da horta, pomar e pequenas
criações, sua importância estratégica deve ser considerada na elaboração de
programas que visem estimular essa produção no contexto da agticulrura familiar.
Da Terra Nua ao Prato Cheio

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Anexos
ITESPIUNIARA

ANEXO I

Orientações
Apresentamos abaixo as orientações para ajudá-lo a entender como
Funcionará a participação de sua família nesta pesquisa.

Você e o técnico escolherão uma semana em cada mês e farão as anotações


começando na segunda-feira e indo até o domingo. Isto ocorrerá durante
um ano, ou seja, de maio de 1999 a abril de 2000. No total você terá
anotado 12 semanas

Todos da família devem ser consultados sobre o que consumiram, no


entanto a responsabilidade de anotar pode ficar para quem tem mais
facilidade em escrever.

Os registros devem ser feitos a lápis, pois evitará rasuras.

Também devem ser feitos sempre no mesmo horário para criar uma
rotina. O ideal é fazer os registros três vezes ao dia: no final da manhã,
final da tarde, e à noite.

No registro deve constar: data, alimento e quantidade.

A quantidade pode ser em peso (gramas/quilos) ou volume (lata, bacia


etc) desde que o volume seja conhecido pelo técnico.

Quando matar um animal para consumo, anotar a quantidade abatida


mesmo que não seja a semana de coleta dos dados Neste caso, avisar o
técnico e registrar o consumo da carne.

O alimento deve ser descrito por espécie (exemplo: alface, almeirão,


cenoura, abobrinha, carne de porco) e não por grupo de alimentos (exemplo:
verdura, carne, legumes).

Se um produto para o consumo foi vendido ou trocado, deve-se anotar


também, o preço recebido ou o produto recebido em troca, além da
quantidade.
DaTerra Nua ao Prato Cheia

Se a família fizer bolo, pão e para isso usar o leite e ovos do sitio, anotar
estes alimentos da mesma forma.

Se a famíiia fizer queijo, requeijão, doce-de-leite não deve anotar os litros


de leite e sim, somente, a quantidade do produto final.

Quando a família fizer refeições fora do sitio, anotar "REFEIÇOES


FORA" para que se possa entender o que aconteceu. E quando receber
visitas para as refeições considerar o consumo de todos.

Quando consumir peixes pescados no assentamento ou fora dó mesmo,


anotar da mesma forma.

Considerar também os alimentos que são colhidos no sitio e que serviram


para alimentar os animais (porcos, galinhas, vacas, cavalos etc.), indicando
o produto e a criação.

Quando fizer doce de frutas, colocar o doce e a quantidade de frutas


usadas.

Enfim, se você tiver qualquer dúvida, não esquecer de anotar e depois


consultar o técnico. Observe a seguir uma lista de alimentos para ajudá-lo
a lembrar. Também há exemplos de como anotar.

Lista de Alimentos (exemplos)


No P Yi Horta tra Nas Cvia~ões

Aha Alfacc Ince

Alho Fc,,io ovoi

Abobnnhl bb"dlrn Fcijo

Pimentão

Por Mclsnua
Exemplos de Anotações

Comece marcando a data na semana combinada junto com o técnico. EX:


DIA 3 DE MAIO-SEGUNDA FEIRA
Anote o consumo de alimentos produzidos no sítio com quantidades
adeqi !fé da manh: 2 LITIIOS DE I LEIO QUILO
DE ( ERES D1E SOPA I>E p ó D
No prep-L, , ,, .... .,, . ...
," i,,A l ..i,rr,.u-...
.,.Anm sr,,..s,;An
-a.,u-L..,. ,. .~..~eros.Exemplo
de um almoço: 2 CEBO: ENTE D E ALHO , 2 LIMÓES ROSA.
Quando a família ~ > Y V G L yc,LLLnL ---- lendo frutas, medir o consumo em
.. - .
volume (iata, balde). Exemplo de volume conhecido (balde de 2 limos): 1BALDE
DE JABUTICABA.
Em caso de abate de animal c:uja quantidade de carne será consumida em
um certo período, lançar a quantidade total de carne a ser consumida, sem esquecer
os subprodutos Exemplo de um abate de suíno: 30 QUILOS DE CARNE DE
PORCO E 5 QUILOS D E BANHA.
Se houve:r venda dt:parte do I?reduto, anotar a quantidade para consumo e

-,. --... . ..
para venda coni o preço. Exemplo: 20 QUILOS DE CARNE DE PORCO, 5
Q U.-l ~ u UP,
s ..*. .*
BANHA fi LU QUILOS D E CARNE D E PORCO
VENDIDOS A R$20,00.
Quando fizer pães e bolos utilizando produtos do sítio, anotar no dia em
que estes alimentos forann feitos E: xemplo de um bolo: 2 COPOS DE LEITE
E 3 OVOS. Neste caso c> copo tairibém deve ter um volume conhecido.
O impottante nesta oesauisa é aue a famíiia e o técnico discutam as dúvidas
A L

que surgirem, 1pois é um trabalho em conjur


8 lualidade das informações
depende desse entendimt:nto.
.-,L-,
Bom traliuiiu:
ITESP/UNIARA

ANEXO III

Roteiro de Entrevista

i. Origem (dt:onde veio)


2. Atividades anterio:res dos ti1dares do lote; experiência anterior
' ..
3. O que é produzia(3 e o por(~ u da
ê pridução
4. Relação da produs50 para autoconsumo e para venda 1

5. Produtos nuns e m tantes


I ,
6. Aspecto r ; ~ t > d ~U& .I
,
,
i aI ~ ~ ~ ~ ~ k ã ~
7. Divisão f ); mão-de.obra externa
- . .
8. Kotma da tamilia r
9. Consumc nbiente (f 'mtas, ervas, pesca em rios)
10. Realização ae aeroc;
Da Terra Nua ao Prato Cheio

ANEXO IV

Roteiro do G r u ~ oFocal

-Que "visão" os técnicos têm sobre o autoconsumo?O que pensam sobre


isso?(Qual a importância do autoconsumo para o assentado?É importante? Por
quê? Explicar a importância).
- O autocor te importauite para t' s?
- Se o autoconsumo é importante, por que alguns assentados se dedicam
mais do que outros à produqão de autoconsumo?
- Existem explicações para esse fato? (Origem das famíiias, experiência
anterior ao asse questões culturais, regionais, 1
- Se a exF +a esse fato se deve, dentre outros ratores, a questões
~~lniraiS/peSSoaiS
então e!Ias podeni ser elaboradas/aprendidas/ treinadas?
- Quais atividades promovidIas pelo ITESP estão voltadas ao estímulo
dessa atividade de autoconsumo?
-Que car s têm esseE programas que estimulam a > para
o autoconsumo? (avaliaçãA\
- .O que seria nece .a enriquecer ainda mais a produção para
autoconsumo?
-Qual o retorno qul-se espera dessa pesquisa? Com
para os assentados?
MO FAF
LEGUMES
Da Terra Nua ao Prato Cheio

ANEXO VI

roduçi Autoc

'esquisa dei Consiimo Alir ias

DOS AI
Onde ais famílias realizam c eqüentemente?
( )SUPERMER(m mLÃ0 ( ) :PADARIA
PRODUTOR

i tipode Programa ( tação? Indicar a


ição dos alimentos:
RENDA ESCOLAR
OGRAMA DO LEI1
STA BÁSI
mos
ãmru i i i e ~ d com a compra de alimentos? Quanito pesa o custo
..
da aiimentaçao no orçamento familiar (moradia, vesniáno, transporte, educação,
saúde, lazer)? Quanto n I produçãc3 de autoconsumo oLa economia fa-
miliar (responder com e em reais):>

Há outros produtos do lote ou da região que a família consome que não


tenham sido considerados na pesquisa (ervas medicinais, temperos, pesca, caça)?
ANEXO VI I
Conrumoalimemr domicilmr p r capim anurl,por GmpoTknico de Campo.
regindo or pmdutor obtidos no lote. 1999-2000

-
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C,,
-.
c

<g,
-
Da Terra Nua ao Prato Cheio

Cnisumo dimniar domiciliar p r capim anud.pr GrupTécnico de Cmp4


segundo 0%praduros obtidos no lote. 1999-2000
ANEXO VI I I
Valor m e r i r i o & consumo rlirn-r p r capka rnml.por GmpoTknica de
Grnpo.sepndo os pmduurr obtidos na late. 1999-2000
Da Terra Nua ao Prato Cheio

Vdor mandria da coniumo alimentar per a p i t a anual.pw G-Tknica de


Csmpo.regundo or produtor obtidos no lote. 1999-2W0

+:i+-
"'i..,
Consumo ai liar per crpita rnurl,?e@iodo l
I pmlumr obridm no lote. 19

E
i?:!?
Mí8COTO
SUB TUTM

saa
ROU
iaD0
Da Terra Nua ao Prato Cheio

Valor mondtio do consumo alimener per s p l e rnual.por GnipoTknico de


Gmpaseyndo apmdutor obtidos no lote.1999-2WO
ANEXO X
Consumo alimcnmr domicilmr per capim anual. r a i o do Ponral do Pmspanema.
segundo os produtos obtidor no lote. 1999-2MXI

"

t
Mfl H ' i PIPOCA
MILHOMUDE
SLtt? TOTAL

- i
IOIM
Da Terra Nua ao Prato Cheio

Con<iumaalimentar domiciliar per capim anual.mgiio do Ponal do Parrnsprnema,


regindo ar pmdumr obtidos no iore. 1999.2000

Fonte Fundi~daITESP. Piiquira de Maeansuma. rnsioE3 -r b K 0


ElaboiqSo: FundaqSo E S P . Grupo de SPcio Economia.
ANEXO XI
Consumo alimentar domklliir per apim anuaI.de 55 fimiliir doi a r n m de a p b h g l o
squndo or pmduror obtidos no lote. 1999-20M)
Da Terra Nua ao Prato Cheio

Consumo alimemudamlciliar per spna anualde 55 familiar dm eruator de capitalirsc50


segundo os pmdutar &<ido3 no lore. 1999.1000

a,LL. ",,a>, Y -1 ",.,L, " S / ,

INHAM
!AN@ SALSA
0.097
0~52
0.32
0.m
OIX2
0,m
-
-
0,Omi
0.207
0 ,m
0.033
KAXIIE 3225 1.433 5631 3 ,F& 2205
PEPINO 1 ,m 2.375 0,719 0.8331 0468
PIMENTA OjO7 0.m 0,5?3 0,lXI 0.W
PIMENTADOCE
I .
w?5l
ria
O OX 1,W 0,3761 0.W
ANEXO XII

SBORA
ENOOIN
usa

N4,A "W ".L4 "LU


PLMühiH4 0.10 0 m O 31
PGCdLHO O 23 0.m 0.m 0.2
GUCLIO F R E S U V 10lF 9.02 0.M 1 I ,L9
REUIJEUAO I,48 2 Lri 0.12 i i?
TIPIOCA 0.0'2 0.101 O UJ 0.m 0.e
sii; T C ~ T A ~ no: 33.~1 23 ! ~ 3 20.18 16.45
D a Terra Nua ao Prato Cheio

Consumo slimemar domiciliar per capim anual.de 55 familiar dor estratos de capiralizagão
segindo os produtos obtidos no lote. 1999-2000

L,,., Y,,~,~,/
ALHO J4PONES O.ol O iri
iivt~~~o 5.21 6 ;ri
A< AFHAO 0.W 0.K
Ot.LZT1 DOCE 2.- 3 2
fiFeJEU 0 3 0.59
L.,
RiTtRP48A O,?,
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ti, i I 0,071 O.D(ll OIBI
CEOL4 I 0.351 O,i4 0,531
C~EICOMRDE 1 731 9,571 10,321
I 1 r-,

F n m e FundqLo IIESP. Pssguisa U? Auloran%umo.m i o i 9 9 - a b n r n .


Elaboirqio Fundaqlo mSP. Gwpo de Sbcio Economia
ITESP/UNIARA

ANEXO XIII
.- ...-,.--.....,...
imiriimrepnda or produtor obtidos no lote
----
de Andradiiu

!.TI,
ARSOZ 31 5% 3.876
CiVE 2,s: 0775
com
FEIL4O m 4x4 7 ,E9
FEUAO DE CORDA 1 03; 1,811
MANDIOCA IPR3
MILHÜ M R D E 5.851
51!@ T Q T X 81.5%

31
3.;
o,:
1601
Da Tara Nua ao Prato Cheio

ConrumerlimenQr dwniclhr per capim rnual.mgiío deAndndina


e Pmmirdaregundo os produtos obridor no lote 1999-2000

8
EPDE

LOR
?E
ITESP/UNIARA

ANEXO XIV
Valor Monerjno do consumo rllmentar per csplra anual. reg60 deAndndim
e Pmmlido.se~undoos prodmos obtidos no lote. 1999.2000

-
PEOUEWCWWOES. .....- '.. ..LU.. . .'"
,E
:"" - " "
. .. '." '2

---
i I p N E @E FWbN:Ci
CARNE DE P L I X L
( -
- Fh -
1864
'8,301
ll !O
5%.
1 ,61
CARkE CsE P Ú W O 31.21 -,:1p1 1704
GLFDURir S < )YA -107
,. - d ,o? 1 ,a:
LlliGlilrli. DE PORCO 071 0.18 1 ,C
-
M F L 1 .a0 O 00 4,41
OVOS X1 ,E 21 55 1915
-
TCRPE5
i L i B TO . 132.70 178 IK 7260

10
FRESCAL
ao
rL
Da Terra Nua ao Prato Cheio

Valor Mone6rlo do consumo alimentar per capim snual.regiío dtAndradinr


e PromiriZa segundo os produror obridor no lote. i999-zwo

Fonte Fundaqlo m Ç P . Pesquisa de Autoconiumo. ma;&-sbnMU


Etahoiatao Fundaqao m S P . Gmpo ds Sdcio Economia
-
Técnico: onsáveis pelos Levantamentos da
Pesc e Autoconsumo nos Grupos
récnicos de Campo

GTC de Andradina GTC de Promissão


Ailton Sadao Moryama Antônio Rolvai
Ângelo Pifari M d m * Argeu Moreira da Silva
Cláudio da Silva José Carlos Teixeira
Ilson Donizete Malheiros José Luís Avanço
José Roberto Marques Lourenço Pereira
Marco Antônio Baracat Nelson Luís Moreira de Barros Silvestre
Marco Aurélio P i a Donizete da Cunha
Sival Siaueira Wilson Silva

GTi GTC de Sorocaba


JÚnia Domingar b r i a r g o aiaraiiiiu i v ~ Antônio da Silva P i t o
S i a Tsumose VIsneque Cícero Santos Branco
Paulo Gomes Rodrigues Mana Izabel Dorizzotto
Ricardo Carlili Mauro Roberto Castellani
Sidnej Silva
Sllvio P o
Wilson CaliC .-..-.i0 Amador de Mendonça
Walter dos Santos
'
GTC de Presidente Irenceslau limir Adaltierto Carnpi
Antônio Garcia M artins
Apara$do de Anih d e GTC: de Presidente Bernardes
Carlos Augusto Silvério Adalberto Lanziani
Edson C)liveira Goncdves Hélio José da Silva
-
Gilberto Perr;
- ,
- iiz Vicentini Vaidsevicius
João Barreto Nc
Júlio Gabrie X C de P r
Orlando G a r Maneiu rlriovaldo Jose voss
Osmar Berberti Clóvis Marinheiro da Silva
Paulo César Ventura Daniel Silva Brites
Paulo Sérgio Bartol Dias Dilson Ivan FeKcio
Roberto Mikio Arabori Jefferson Alexandre da Silva
Sebanião Ribeiro Brito João de Oliveira Costa
W'ion G u i d o W Joel Martinez de Oliveira
Terra
Justiça
Cidadania

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