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ESTUDO 4 – VIDA SIMPLES

Tudo o que é belo tende a ser simples. Afirmação generalizada? Não sei. O
que sei é que a beleza anda de braços dados com a simplicidade. Basta
observar a lógica silenciosa que prevalece nos jardins. Vida que se ocupa de
ser só o que é.

Não há conflito nas bromélias, não há angústia nas rosas, nem ansiedades
nos jasmins. Cumprem o destino de florirem ao seu tempo e de se despedirem
da vida quando é chegada a hora. São simples.

Não querem outra coisa, senão a necessidade de cada instante. Não há


desperdício de forças, não há dispersão de energias. Tudo concorre para a
realização do instante. Acolhem a chuva que chega e dela extraem o
essencial. Recebem o sol e o vento, e morrem ao seu tempo.

Simplicidade é um conceito que nos remete ao estado mais puro da realidade.


A semente é simples porque não se perde na tentativa de ser outra coisa. É o
que é. Não desperdiça seu tempo querendo ser flor antes da hora. Cumpre o
ritual de existir, compreendendo-se em cada etapa.

Já dizia o poeta: “Simplicidade é querer uma coisa só”. Eu concordo com ele.
O muito querer nos deixa complexos demais. Queremos muito ao mesmo
tempo, e então nos perdemos no emaranhado dos desejos. Há o risco de que
não fiquemos com nada, de que percamos tudo.

Aquele que muito quer corre o risco de nada ter, porque o empenho e o
cuidado é que faz a realidade permanecer. O simples anda leve. Carrega
menos bagagem quando viaja, e por isso reserva suas energias para apreciar
a paisagem. O que viaja pesado corre o risco de gastar suas energias no
transporte das malas. Fica preso, não pode andar pelo aeroporto, fica privado
de atravessar a rua e se transforma num constante vigilante do que trouxe.

A simplicidade é uma forma de leveza. Nas relações humanas ela faz a


diferença. O que cultiva a simplicidade tem a facilidade de tornar leve o
ambiente em que vive. Não cria confusão por pouca coisa; não coloca sua
atenção no que é acidental, mas prende os olhos naquilo que verdadeiramente
vale a pena.

Pessoas simples são aquelas que se encantam com as coisas menores.


Sabem sorrir diante de presentes simbólicos e sem muito valor material. A
simplicidade lhes capacita para perceber que nem tudo precisa ter utilidade. E
por isso é fácil presentear o simples.

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Dar presentes aos complicados é um desafio. Não sabemos o que eles
gostam, porque só na simplicidade é possível conhecer alguém. Só depois
que as máscaras caem pelo chão e que os papéis são abandonados a gente
tem a possibilidade de descobrir o outro na sua verdade.

Eu gostaria de me livrar de meus pesos. Queria ser mais leve, mais simples.
Querer uma coisa só de cada vez. Abandonar os inúmeros projetos futuros
que me cegam para a necessidade do momento. Projetos futuros valem a
pena, desde que sejam simples, concretos e aplicáveis. Não gostaria que a
morte me surpreendesse sem que eu tivesse alcançado a simplicidade. Até
para morrer os simples têm mais facilidade. Sentem que chegou a hora, se
entregam ao último suspiro e se vão.

Tenho uma intuição de que quando eu simplificar a minha vida, a felicidade


chegará em minha casa, quando eu menos esperar.

1. APRENDENDO COM JESUS

Viver a simplicidade cristã nos chama para grandes desafios. Cultivar as


coisas mais simples da vida já não é mais prioridade dos evangélicos. O
espírito consumista, a valorização do “ter” em detrimento do “ser” está em alta.
Algumas relações são construídas centradas no que o outro possui e não pelo
que ele é. Não há mais tempo para a busca da reflexão, do estudo das
escrituras, da oração, o contentar-se com o que temos tornou-se para nós um
pesadelo inacabado.

Sempre estamos à procura de algo novo que satisfaça nosso desejo de


consumo, tanto na dimensão religiosa como nas questões seculares do dia a
dia. Nossa maneira de nos relacionarmos com o Eterno gradativamente
configura-se em uma relação de barganha, onde na maioria dos casos
estamos na expectativa de receber algo para alimentar nossas ansiedades.

Vivemos em uma época em que a estabilidade financeira é sinônimo de


felicidade. Uma vida confortável livres de problemas equivale a ser “bem
sucedido espiritualmente.” O simples é substituído pelo espetacular e a busca
da humildade tornou-se uma tarefa difícil e dolorosa. A velha natureza por
muitas das vezes predomina vencendo a guerra na luta entre o Espirito e
carne, e isto sobre tensão para a inclinação do eu, que pode resultar em morte
espiritual.

Nossa oração revela nossa maneira individualista na relação com Deus, onde
percebemos a carência de uma vida mais comunitária, de relações sinceras

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para com o próximo. Há escassez de intercessão pelo próximo, pede-se para
si mesmo, não há espaço para inclusão do outro.

É na simplicidade que encontramos o caminho da excelência. Viver de


maneira simples é imitar a Cristo em seu estilo de vida. Ele viveu sem
ostentação como descreve o profeta Isaias (Isa. 53:2), esvaziou-se de si e
tomou forma de servo (Fil. 2:7), sua vida foi intensamente marcada pela
simplicidade, desprovido de estabilidade financeira (Mat. 8:20), em sua
profissão, optou por dignidade e simplicidade (Mat.13:55; Mar. 6:3).

Busquemos a simplicidade cristã. No exemplo de Jesus, devemos optar por


uma vida mais simples longe da ansiedade, ele cuida de nós. A inquietação
pelo dia seguinte não é recomendável, pois Deus prove o necessário para
seus filhos (Mat. 6:25-34). O acúmulo de bens e a busca do consumismo são
vencidos quando priorizamos o Reino de Deus e sua justiça.

Encarnar os valores do Reino ensinados por Jesus no sermão do monte nos


remete a prática de uma vida simples sem priorizar conforto e estabilidade. É
importante frisar que estamos aos cuidados do pai celestial e isto até certo
ponto nos traz algum conforto. Entretanto isto não é uma confirmação de que
estamos vivendo em conformidade com a simplicidade ensinada por Jesus.
Como já dissemos, estas coisas não devem ser o leme que nos guia na busca
de uma vida mais simples.

A justiça do Reino tem como alvo desafiar o discípulo a viver de maneira


simples. Humildade, mansidão, espírito pacificador e abster-se do acúmulo de
bens, são algumas das marcas que devem seguir os do caminho. Em nossa
forma de vida cristã é preciso adotar a prática do desprendimento, “pois onde
estiver nosso tesouro, estará também nosso coração”. (Luc. 12:34).

John Piper comenta: “Ora, o que este versículo aparentemente simples nos
diz? Entendo que a palavra tesouro significa “o objeto amado”. E a palavra
“coração” entendo que significa “o órgão que ama”. Por isso, leio assim este
versículo: “Onde estiver o objeto que você ama, ali estará o órgão que ama”.
Se o objeto de seu amor é Deus, que está no céu, o seu coração estará com
ele no céu. Você estará com Deus. Todavia, se o objeto de seu amor é o
dinheiro e as coisas da terra, o seu coração estará na terra. Você estará na
terra, separado de Deus.”

Em nossa relação com pai eterno não somos privados de planejar e viver de
forma digna e até viver de forma estável financeiramente. No entanto, a
prioridade é que faz o diferencial. Nosso coração deve estar enraizado nos
valores do Reino, na prática da justiça, simplicidade e verdade.

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Por fim, devemos optar por uma vida mais simples. Viver como Jesus viveu,
andar como ele andou. Que possamos aborrecer a soberba da vida, o
ajuntamento de bens, o individualismo, valorizar a vida comunitária, na
partilha, na busca e cultivo das coisas mais simples da vida. Que o
contentamento seja nosso árbitro. “Porque nada trouxemos para este mundo,
e manifesto é que nada podemos levar dele” (1 Tm.6.7).

2. UM CONVITE A VIDA SIMPLES

“Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para
vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo. Mas receio
que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também
seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas
a Cristo” (2 Coríntios 11:1-3).

Estamos diante de um texto que mostra um cauteloso pastor no cuidado das


ovelhas do rebanho do seu Senhor. Ele não simplesmente cuida do rebanho,
mas o faz com o zelo de Deus. Isso mostra que o apóstolo possuía uma
consciência muito profunda do encargo que recebera e da grandeza da missão
que lhe fora confiada. Ele sentia o peso da responsabilidade de edificar as
vidas sob seu cuidado e, por isso, espelha o seu cuidado no zelo de Deus.
Paulo tinha os seus receios e aqui expressa um deles: o de que os discípulos,
pela corrupção de suas mentes, se apartassem da simplicidade e pureza
devidas a Cristo. Ele recorda como a serpente enganou Eva, corrompendo sua
mente e levando-a a deixar a vida simples e pura que possuía com Deus.

No texto que lemos, destaca-se a expressão: “simplicidade e pureza devidas


a Cristo”. Em outra versão, essa frase é apresentada duma outra forma –
“pureza e simplicidade que há em Cristo”. Não sei qual é a tradução mais
correta com o original, mas isso não importa, pois as duas são verdadeiras:
nós devemos a Cristo uma vida de sobriedade e integridade e, ao mesmo
tempo, Jesus teve uma vida de simplicidade e pureza. Jesus foi o mais simples
dos homens e nos deixou preciosos ensinos e exemplos de simplicidade. Sua
pessoa foi de uma extrema simplicidade, como o é, também, o evangelho que
ensinou.

Para Jesus deixar o céu e vir habitar entre os homens, ele se tornou simples,
esvaziando-se de toda a glória que possuía junto ao Pai. Declinou de aparecer
entre os homens como Deus, embora ele fosse igual a Deus. Renunciou a
posição que ocupava na glória do Pai, para se tornar na terra um simples
servo, que se dispôs a lavar os pés de homens que ambicionavam ser os mais
importantes em seu grupo. Deixou de apresentar-se como um que é
semelhante a Deus, para tornar-se “em semelhança de homens”. Não se
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apresentou como Filho de Deus, mas, sim, como filho do homem. Quando
poderia governar e ser o mais forte, tornou-se o obediente Filho, mesmo que
isso viesse a lhe levar à morte, e morte de cruz.

Ao enviar seus discípulos de cidade em cidade, para porem em prática o que


lhes ministrara, Jesus os instruiu a serem “simples como as pombas” (Mat.
10:16). E, logo após, deu-lhes uma orientação bem clara, definindo os seus
ministérios: “basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o
seu senhor” (v 25). Um discípulo de Cristo, um discipulador, um líder de célula,
um supervisor, um pastor, todos precisam ter a simplicidade que vemos em
Jesus, pois “basta ao discípulo ser como o seu mestre”.

Desde o seu nascimento até a morte, Jesus foi um homem simples. Ao nascer,
teve por berço uma manjedoura em um humilde estábulo emprestado aos
seus pais. Viveu em um lar humilde. Não ambicionou as coisas materiais, nem
mesmo todos os reinos da terra, na oferta que Satanás lhe fez. Ao homem que
queria segui-lo, falou: “As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos;
mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Luc. 9:58).

Os ensinos de Jesus foram apresentados de forma simples e compreensíveis.


Exemplo: “São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons,
todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o
teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas,
que grandes trevas serão!” (Mateus 6.22,23). Aqui, há uma grande verdade,
perfeitamente enunciada, com uma aplicação precisa e um apelo direto. Tudo
expressado com aquela humildade que, nem sempre, é encontrada nos
grandes mestres.

Em certa ocasião, Jesus chamou o povo para ver o que eles não viam ao seu
redor: “Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem
fiam. Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que
beberemos? Ou: Com que nos vestiremos?” (Mateus 6. 28, 31). Com essas
palavras, ele trouxe o maior ensino sobre a fé em Deus. Após, enuncia, em
uma simples frase, a lei áurea do viver em simplicidade: “buscai, pois, em
primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão
acrescentadas” (v 33). Nós não precisamos nos esforçar para buscar o reino,
ele nos é oferecido. Não precisamos construir esquemas, fórmulas, sistemas
ou planejamentos para alcançá-lo. É só recebê-lo. Em outras palavras, Jesus
diz: “Sejam simples, não compliquem as coisas, apenas ponham o reino em
primeiro lugar nas suas vidas e as demais realidades necessárias virão com
ele”. Assim, a primeira atitude para alcançar uma vida abundante é buscar o
reino de Deus em primeiro lugar, ou seja, colocar-se sob o governo de Deus.
Esse é o segredo que Jesus nos revela em poucas e simples palavras.

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O salmista mostra simplicidade diante de Deus, dizendo: “Senhor, não é
soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de
grandes cousas, nem de cousas maravilhosas demais para mim” (Salmo
131.1). A vida cristã é simples, o evangelho cristão é simples, a fé cristã é
simples, nós é que os complicamos. Muitas vezes, andamos atrás de grandes
espetáculos e queremos ver grandes maravilhas. Deus não está interessado
em apresentar shows e encenações ao público. Ele age de acordo com suas
determinações, que, em geral, são bem simples.

Se quisermos sentir fortemente a presença de Deus, não precisamos ir a outro


país ou a uma grande conferência. Façamos o que Jesus ensinou: “entra no
teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai,
que vê em secreto, te recompensará” (Mat. 6:6). Esse é um precioso
expediente. Se, queres ver a glória de Deus, é simples: entra no teu quarto e
aí a encontrarás, pois a glória de Deus é o brilho da sua presença. Ou, então,
segue a indicação do salmista: sai para o pátio da tua casa, ou a uma praça,
e olha para cima, pois, “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento
anuncia as obras das suas mãos” (Sal. 19:1). Fácil, não é? É na simplicidade
que melhor se ouve a voz de Deus.

Jesus ensinou com toda a sobriedade. Nunca ele fez para seus ouvintes
reflexões teológicas ou filosóficas do mais alto teor. Um dia, na companhia dos
discípulos, ele passou por uma figueira que secara desde a raiz. “Então,
Pedro, lembrando-se, falou: Mestre, eis que a figueira que amaldiçoaste
secou. Ao que Jesus lhes disse: Tenha fé em Deus” (Mar. 11:20-22). E, assim,
pelo ato feito e pela palavra simples, Jesus deixou a grande lição sobre a fé e
de onde ela se origina. Exemplo de simplicidade pedagógica!

A Igreja primitiva, tal como encontramos em Atos dos Apóstolos, era bem
simples, não possuía templos para instruir o grande número de novos
convertidos sobre como viver, em cada dia, a nova vida em Cristo. Ela
dispunha, apenas, das casas dos discípulos, e ali, num pequeno grupo, era
repartido o ensino recebido. Eles “partiam o pão de casa em casa” (Atos 2:46).
Não buscavam grandes sermões. Simplesmente “perseveravam na doutrina
dos apóstolos” (v 42). Perseveravam, também, “na comunhão, no partir do pão
e nas orações”. Então, ocorria que “muitos prodígios e sinais eram feitos por
intermédio dos apóstolos” (v 43). A vida dos discípulos era extremamente
despojada: “Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto
entre todos, à medida que alguém tinha necessidade” (v 45). E o grande
testemunho sobre a maneira deles viverem está em Atos 4.32: “Da multidão
dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava
exclusivamente sua nem uma das cousas que possuía; tudo, porém, lhes era
comum”.

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Impressiona-nos a revelação que Paulo possuía das verdades eternas.
Entretanto, ele as transmitia com humildade. Ele mesmo testemunha a forma
como a expunha: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o
testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria.
Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.
E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha
palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé
não se apoiasse em sabedoria humana e sim no poder de Deus” (1 Cor. 2:1-
5).

A Bíblia aponta algumas das realidades que, comumente, impedem de


sermos simples. O salmo 62.10 apresenta uma delas: “se as vossas riquezas
prosperam, não ponhais nelas o coração”. Quando nosso coração se coloca
naquilo que acumulamos para nós, corremos o forte perigo de perder a
simplicidade que “devemos a Cristo”. A riqueza, habilmente, sabe nos levar à
complexidade de vida, e essa leva ao aparato, ao exagero, ao luxo, à
sofisticação - realidades que são tão presentes na sociedade humana, mas
que estão em desacordo com a vida de um discípulo, que deve ser simples
como uma pomba o é. O livro de Provérbios 11:28 sentencia: “Quem confia
nas suas riquezas cairá, mas os justos reverdecerão como a folhagem”.

Deus não nos quer pobres ou miseráveis, remediados ou ricos, Deus quer que
vivamos em simplicidade de vida sob qualquer situação, miseráveis, pobres
ou ricos. Por quê? Porque é na simplicidade de vida que estaremos livres de
inúmeros problemas. Exemplo: a ansiedade. Ela vem ao coração do pobre e
do remediado, como vem ao coração do rico. A atitude que revela que vivemos
em simplicidade é a de receber tudo como um dom de Deus e ser a ele
agradecidos e nele confiar, e nele nos regozijar. Precisamos viver pela graça,
mesmo quando se trata do “pão nosso de cada dia”. Se Deus tem elementos
simples para nos dar, como a água, o ar, a luz solar, como não nos dará com
eles tudo o mais de que necessitarmos? Precisamos confiar sempre no
gracioso cuidado de Deus para conosco. O profeta ensina: “Bendito o homem
que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor” (Jer. 17:7).

Saibamos que a simplicidade é uma realidade que o Espírito Santo plantou


em nosso coração quando nascemos de novo. Precisamos deixar essa
semente crescer e se exteriorizar no nosso viver de cada dia. Especialmente,
devemos expressá-la nestes dias em que estamos e onde tudo o que é
contrário à simplicidade se promove aleatoriamente na sociedade dos homens
sem Deus. A cada momento, há uma nefasta propaganda que vem a nós e
quer infectar nosso coração. Alerta a isso! O texto básico deste estudo mostra
o que não deve acontecer conosco: “seja corrompida a vossa mente e se
aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2 Cor. 11:3). O texto nos
leva até Eva, enganada pela astúcia da serpente. Paulo sabia, muito bem,
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como o mal se insinuava no jardim de Deus, e como ele o faz hoje em toda
parte. Em especial quer se intrometer no jardim da igreja, buscando persuadir
a todos. Ele usa as formas mais diversas possíveis para, paulatinamente, se
insinuar nas mentes e ali instalar seu peçonhento veneno com ofertas
graciosas.

Perder a simplicidade é muito fácil, basta começarmos a alimentar desejos e


sentimento de posse, vaidade, avareza, luxo, exibicionismo e todos os seus
correlatos. Expressar simplicidade não é tão fácil, é preciso ter disciplina e
domínio próprio. Se há uma palavra de ordem, hoje, a nós individualmente e
coletivamente como igreja, é: simplifique, simplifique e simplifique, pois o
Senhor está voltando.

Deus tem valores para enriquecer nossas vidas e eles são simples. Por
exemplo: o amor. O amor, vindo de Deus, é simples. Mas, quando agregamos
a ele outras coisas, como desejos carnais, paixão, egoísmo etc., ele perde seu
valor positivo de simplicidade e cai na lista dos pecados que não podemos
esconder dos olhos de Deus. Paulo, escrevendo aos romanos, adverte-os: “O
amor seja sem hipocrisia” (Rom. 12:9). Hipocrisia é um adendo que, se
colocado junto ao amor, fere a sua maior expressão.

A igreja, hoje mais do que nunca, precisa ser simples. Ela, que nasceu
simples, precisa voltar à simplicidade inicial. Há muitas coisas que atestam
como a igreja complicou-se no decorrer dos anos. Trago apenas um exemplo:
o preparo dos seus obreiros. As denominações constroem grandes
Seminários, Faculdades de Teologia e, até mesmo, agrega-os às
Universidades. Para isso necessitam construir grandes prédios, arregimentar
teólogos com doutorado para formar o corpo docente etc. etc. e assim fogem
da simplicidade do ensino de Jesus, que encontramos em Mateus 9.38:
“Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara”.
Rogar ao Senhor da seara é uma atitude de simplicidade, mas a única capaz
de arregimentar os que serão exímios servos na seara do nosso Senhor.

Irmãos, poderíamos continuar vendo muitas coisas mais que precisam ser
mudadas para sermos simples como Jesus o foi em sua vida e em seu
ministério terreno. É preciso se, pessoalmente e coletivamente como Igreja,
como ele foi. Encerro, dizendo que a maior e a mais extraordinária verdade
anunciada no mundo, a verdade das verdades, maior do que ela não existe
em todo o universo, foi enunciada em uma forma extremamente simples:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,
para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).

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3. VIDA SIMPLES NOS DIAS DE HOJE

Nesta sociedade chamada de pós-moderna o homem busca intensamente


uma vida sofisticada que lhe proporcione imenso prazer. Ele quer estar no
topo. Busca intensamente o prazer pelo prazer. Pagar qualquer preço para ser
ovacionado e ‘curtir’ a vida. O homem faz de tudo para sofisticar
relacionamentos. Cria etiquetas para viver em sociedade. Gasta ‘horrores’
para celebrações vazias e extravagantes. Estragam comidas das mais
sofisticadas. Gastam rios de dinheiro para adquirir casas e carrões
cinematográficos. Casam hoje e se divorciam amanhã, banalizando o
casamento, instituição criada por Deus para durar até que a morte os separe.
Vivemos num tempo de muitos contrastes na sociedade. Tenho a impressão
de que muitas igrejas estão buscando o conforto nos templos, enclausuradas
como um grupo de monges, alienadas da dura realidade da pobreza, dos
vícios, da pedofilia, da prostituição infantil, das doenças, da imoralidade etc.
Caímos no grande erro de estabelecer igrejas segmentadas como se igreja
fosse de classe pobre, média ou rica. Pastores almofadinhas, mauricinhos da
religião, que não entram em favela, não atende pessoas pobres e estão aí na
TV pregando o que pensam e voando nos seus jatinhos particulares ou
alugados. Homens que impressionam os incautos, os fracos e os
emocionalmente manipulados. Um bando de bajuladores investindo nesses
homens que estão totalmente fora da realidade de miséria e pobreza em
muitos lugares deste imenso Brasil.

Quando olho para Jesus, o vejo sensível aos miseráveis, pobres, cegos e nus.
Jesus sempre se importou com os párias da sociedade. Ele curou aleijados,
cegos, leprosos, perdoou a adultera arrependida, ressuscitou mortos, pregou
o evangelho do Reino, ensinou que o amor supera tudo, inclusive o
preconceito que existe em tantas igrejas chamadas evangélicas onde
maltrapilhos não entram. Jesus não tolerava os ‘almofadinhas’ da religião: os
escribas, saduceus e fariseus. Ele os condenava veementemente e os
chamava de sepulcros caiados e hipócritas. Eram bem trajados, bonitos por
fora, mas por dentro eram podres, malcheirosos. Como precisamos aprender
com o Mestre a ser humildes e mansos de coração; a chorar com os que
choram; a levar as cargas e não os cargos uns dos outros; a abençoar os que
nos amaldiçoam; a amar os que nos odeiam; a repartir o pão, o espaço, a fé,
a alegria com os mais necessitados; a verdade com os que vivem no erro; a
convicção com quem vive de opinião; a mostrar o caminho com quem está
perdido. Sim, Jesus era simples. A Sua vida era uma vida de autenticidade.
Vida de integridade.

Num tempo de tanta falsidade e falsa religiosidade, precisamos reafirmar o


genuíno evangelho da graça, o evangelho da cruz. Pregarmos a suficiência de
Cristo para todo o que crê. Vivermos a simplicidade de Jesus em nossos
relacionamentos, amando os que nos odeiam e perdoando os que nos
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ofendem. Fazermos isto de todo o nosso coração. Dia a dia precisamos olhar
para Jesus, o Autor e o Consumador de nossa fé (Heb. 12:1-2). Ensinar que o
justo por sua fé viverá (Rom. 1:17). A Igreja precisa vivenciar a simplicidade
de Jesus. Igreja que pratica as atitudes e os atos de Jesus e não uma teologia
da prosperidade que quer fazer barganha com o Senhor. Uma Igreja
comprometida com todo o evangelho. Que seja corajosa neste mundo que jaz
no maligno. Uma igreja que prega contra toda e qualquer forma de erro,
comprometida com os ensinos de Jesus nos evangelhos. Uma igreja
constituída de homens e mulheres cheios do Espírito Santo, vivendo um amor
extravagante. Que aja neste mundo como sal e luz. Comunidade de discípulos
de Jesus, vivendo diariamente a Sua simplicidade. Que o Senhor nos livre do
preconceito, da mesmice, da acomodação, do anonimato, da alienação e da
conivência com os homens maus e muitos deles estão na liderança do país.
Que sejamos simples como Jesus, que estejamos na contramão de tudo o que
está aí – a corrupção, o tráfico de influência, a violência, a imoralidade, o
mundanismo e tudo aquilo que destoa dos princípios do Seu evangelho. Que
sejamos uma igreja comprometida com a ética, com o evangelismo inteligente
e com a expansão missionária a partir de um ensino centrado nas Escrituras.

Jesus nos ensinou que devíamos ser simples como as pombas e prudentes
como as serpentes, isto é, sermos como Ele. Como nos ensina João, “a
andarmos como Ele andou” (1 João 2.6). O Pai se agrada muitíssimo quando
buscamos a semelhança com o Seu Filho Jesus, quando vivemos a Sua
simplicidade neste mundo ‘sofisticado’ e ‘alienado’. Sim, vivermos a
simplicidade que ama, perdoa, abençoa, encoraja, edifica, fortalece, reparte,
inspira, motiva, alimenta, ora, enfim, faz tudo o que Ele ensinou. Sigamos e
sirvamos a Cristo com a Sua simplicidade. Busquemos uma vida simples, uma
vida cheia de atitudes e ações que realmente valem a pena. As pessoas no
mundo precisam ver Cristo, a Sua simplicidade e o Seu amor em nós. Sejamos
como Ele. O Pai pelo Espírito tem todo o poder para nos fazer assim. Que
realmente assim seja para a Sua Glória!

“A vida é mais simples do que a gente pensa; basta aceitar o impossível,


dispensar o indispensável e suportar o insuportável”

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