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INSTITUTO TECNOLÓGICO DE AERONÁUTICA

Daniel Abreu Duarte

ANÁLISE DOS PARÂMETROS DE FRAGMENTAÇÃO


DE UMA BOMBA DE FINS GERAIS

Trabalho de Graduação
2022

Curso de Engenharia Aeronáutica


CDU 623.451

Daniel Abreu Duarte

ANÁLISE DOS PARÂMETROS DE FRAGMENTAÇÃO


DE UMA BOMBA DE FINS GERAIS

Orientador
Prof. Dr. Rene Francisco Boschi Gonçalves (ITA)

Coorientador
Prof. MSc. Engenheiro Paulo Cesar Miscow Ferreira (IAE)

ENGENHARIA AERONÁUTICA

São José dos Campos


instituto tecnológico de aeronáutica

2022
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Divisão de Informação e Documentação
Duarte, Daniel Abreu
Análise dos Parâmetros de Fragmentação de uma Bomba de Fins Gerais / Daniel Abreu Duarte.
São José dos Campos, 2022.
102f.

Trabalho de Graduação – Curso de Engenharia Aeronáutica– Instituto Tecnológico de


Aeronáutica, 2022. Orientador: Prof. Dr. Rene Francisco Boschi Gonçalves. Coorientador: Prof.
MSc. Engenheiro Paulo Cesar Miscow Ferreira.

I. Instituto Tecnológico de Aeronáutica. II. Tı́tulo.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DUARTE, Daniel Abreu. Análise dos Parâmetros de Fragmentação de uma Bomba de
Fins Gerais. 2022. 102f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Instituto
Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos.

CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Daniel Abreu Duarte
TITULO DO TRABALHO: Análise dos Parâmetros de Fragmentação de uma Bomba de
Fins Gerais.
TIPO DO TRABALHO/ANO: Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) / 2022

É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias


deste trabalho de graduação e para emprestar ou vender cópias somente para propósitos
acadêmicos e cientı́ficos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte
deste trabalho de graduação pode ser reproduzida sem a autorização do autor.

Daniel Abreu Duarte


Rua H8B, 220
12.228-461 – São José dos Campos–SP
Aos meus pais: Maristela e Antônio.
Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e por me dar saúde e força nos
momentos em que mais precisei.
Agradeço a meus pais, principalmente minha mãe, Maristela, por todo suporte forne-
cido e por acreditar em mim e em meu potencial quando ninguém mais acreditou.
Agradeço às poucas, mas verdadeiras amizades que construı́ ao longo dos anos de
preparação para passar no ITA e na vivência de H8, as quais com certeza fizeram a
diferença e me ajudaram a chegar até aqui. Bem como, agradeço à minha namorada,
Heloı́sa, por seu apoio crucial na reta final da graduação.
Agradeço aos professores do ITA, em especial ao meu orientador e professor conselheiro
prof. Rene Gonçalves, e ao prof. José Fritz por terem apoiado diversas ideias mirabolantes
que tive ao longo dos 5 anos de ITA e contribuı́do com minha formação em engenharia.
Agradeço aos membros da ASD: Caio, Fernandez e Pradella, e em especial ao professor
Miscow, os quais estiveram intensamente envolvidos na minha formação e instrução sobre
armamentos aéreos e sem os quais a minha caminhada neste trabalho teria sido muito
mais dura.
Agradeço por fim à FAB e ao ITA, por permitirem minha formação em Engenharia
Aeronáutica como Aspirante-a-Oficial, um benefı́cio concedido a poucos.
“If you’re going through hell, keep going.”
— Winston Churchill
Resumo

O presente trabalho se propõe a projetar um armamento denominado como bomba BAFG-


350 e que consiste de uma bomba de fins gerais de baixo arrasto e a estudar os parâmetros
de fragmentação tanto em sua formação quanto em seus efeitos terminais. Nesse contexto,
o trabalho se inicia com uma perspectiva histórica dos bombardeios aéreos, passando pelo
desenvolvimento das atualmente denominadas bombas de fins gerais e suas melhorias em
relação à precisão, por meio de sistemas de guiamento. Também há uma breve explicação
quanto às espoletas, seu funcionamento e finalidade.
Após a introdução ao tema, o trabalho parte para a revisão bibliográfica, a qual consiste
no arcabouço teórico necessário para o projeto do armamento. Nesse contexto, a revisão
perpassa pela conformação mecânica de um tubo sem costura e de seu preenchimento
pelo trem explosivo. Tratando especificamente sobre a fragmentação, o presente trabalho
discorre sobre a fragmentação natural inerente às BAFGs, da velocidade dos fragmentos
e de sua dispersão angular após a fragmentação. Outros tópicos abordados são o voo
dos fragmentos, e seus efeitos terminais em placas de aço, as quais são utilizadas como
alvos de referência com relação a alvos reais. Ainda tratando dos efeitos terminais, tem-se
um estudo da função de dano caracterizada pela área média de eficácia de fragmentação,
bem como o cálculo da chance de neutralização de alvos de referência submetidos aos
fragmentos advindos da BAFG-350.
Por fim, e como forma de confirmar que a teoria abordada está de acordo com o
praticado na indústria e na pesquisa, os resultados determinados pela teoria presente na
revisão bibliográfica são confrontados com os resultados advindos de um software existente
no IAE - DCTA, denominado como Split-X e de uso industrial para o projeto de cabeças-
de-guerra.
Abstract

This work proposes to project an armament named BAFG-350, which consists of a low-
drag general-purpose bomb, and to study the fragmentation parameters in its formation
as well as in its terminal effects. In this context, the work starts with a historic perspective
of airstrikes, goes through the development of the so-called general-purpose bombs and
their improvements in relation to precision, through guidance systems. There is also a
brief explanation as for the fuses, their functioning and purpose.
After the introduction, it is presented a bibliographic review, which consists of the
theoretical framework necessary for the armament design. In this context, the review goes
through the mechanical conformation of a seamless tube and its filling by the explosive
train. Dealing specifically with fragmentation, the present work discusses the natural
fragmentation inherent to the BAFGs, the fragment velocity and its angular dispersion
after fragmentation. Other topics covered are the fragments flight, and their terminal
effects on steel plates, which are used as reference targets with respect to real targets.
Still dealing with the terminal effects, a study of the damage function characterized by
the average area of fragmentation effectiveness, as well as the calculation of the chance
of neutralization of reference targets submitted to the fragments from BAFG-350 are
presented.
Finally, and as a way of confirming that the theory discussed is in accordance with the
practiced in industry and research, the results determined by the theory present in the
bibliographic review are confronted with the results obtained from an existing software at
IAE - DCTA, known as Split-X that is used in the industry for warhead projects.
Lista de Figuras

FIGURA 1.1 – Ilustração do bombardeio por balões realizado pelos austrı́acos. (WAR-
FARE, 2019) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

FIGURA 1.2 – Avião Etrich Taube, modelo utilizado por Giulio Gavotti em seu
bombardeio. (WIKIPEDIA, 2022) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
FIGURA 1.3 – Foto de um artilheiro segurando a granada desenvolvida pelos búl-
garos. (DEMERS, 2022) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
FIGURA 1.4 – Uma bomba de fins gerais old-series em corte. (ORDER, 1966) . . . 21
FIGURA 1.5 – Vista em corte uma bomba de fins gerais new-series. (ORDER, 1966) 22
FIGURA 1.6 – Bombas Mark da série 80. (WIKI, 2022) . . . . . . . . . . . . . . . . 23
FIGURA 1.7 – Vista em corte de uma bomba de fins gerais low-drag. (MISCOW,
2020b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
FIGURA 1.8 – Bombas BAFGs nacionais. (MISCOW, 2020b) . . . . . . . . . . . . . 24
FIGURA 1.9 – Ilustração de uma EOM-BFG com destaque para alguns elementos
constituintes. (MISCOW, 2020c) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
FIGURA 1.10 –Ilustração de uma ECM-BFG com destaque para alguns elementos
constituintes. (MISCOW, 2020c) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
FIGURA 1.11 –Ilustração de uma espoleta de ogiva M904 com destaque para alguns
elementos constituintes. (MISCOW, 2020c) . . . . . . . . . . . . . . . 26
FIGURA 1.12 –Conjunto acionador e espoleta de cauda M905. (MISCOW, 2020c) . . 26
FIGURA 1.13 –Espoleta eletrônica FMU-139 C/B. (MISCOW, 2020c) . . . . . . . . 27
FIGURA 1.14 –Espoleta eletrônica FMU-152 A/B. (MISCOW, 2020c) . . . . . . . . 27
FIGURA 1.15 –Exemplificação do funcionamento de uma bomba guiada por laser.
(POWER, 2022) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
FIGURA 1.16 –Descrição dos itens do kit de guiamento Paveway. (KOPP, 1981) . . 29
LISTA DE FIGURAS x

FIGURA 1.17 –Ilustração dos componentes do sistema JDAM. (SCOTT, 2005) . . . 29


FIGURA 1.18 –Ilustração do sistema JDAM existente para cada bomba da série
MK-80 e sua respectiva designação como BLU (Bomb Live Unit).
(LEAK, 2021) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
FIGURA 1.19 –Utilização conjunta do sistema JDAM e seeker. (GICHD, 2018) . . . 30

FIGURA 2.1 – Variáveis relevantes para dimensionamento do artefato. (MISCOW,


2020b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
FIGURA 2.2 – Técnicas de fabricação de metais. (CALLISTER; SOARES, 2008) . . . 33
FIGURA 2.3 – Método de forja ou extrusão para conformação do armamento. (MIS-
COW, 2020b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

FIGURA 2.4 – Processo de fundição para confecção do armamento. (MISCOW, 2020b) 34


FIGURA 2.5 – Descrição dos itens de um trem explosivo. (MISCOW, 2020c) . . . . 35
FIGURA 2.6 – Molécula do explosivo RDX. (KLAPÖTKE, 2022) . . . . . . . . . . . 36
FIGURA 2.7 – Exemplo de um teste de fosso. (ZECEVIC et al., 2006) . . . . . . . . 37
FIGURA 2.8 – Exemplo de teste em arena de um armamento. Adaptado de: Zece-
vic et al. (2006) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
FIGURA 2.9 – Placa de celotex. (SUPERSTORE, 2022) . . . . . . . . . . . . . . . . 39
FIGURA 2.10 –Tábuas de fragmentação para 4 ensaios distintos. (XU et al., 2019) . 39
FIGURA 2.11 –Uma linha de tamanho L fragmentada em n pedaços. . . . . . . . . 41
FIGURA 2.12 –Ilustração do fragmento no momento da quebra. . . . . . . . . . . . 43
FIGURA 2.13 –Distribuição de velocidades para um arranjo cilı́ndrico. . . . . . . . 48
FIGURA 2.14 –Aplicação do método das seções para um armamento. (ENGINEERS,
1990) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
FIGURA 2.15 –Exemplo para o modelo de Shapiro, é possı́vel observar a divisão do
casco metálico em uma série de fragmentos. (COMMAND, 1964) . . . 50
FIGURA 2.16 –Visualização em detalhe para um fragmento. Adaptado de Lindsey
e Redmon (1986) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
FIGURA 2.17 –Ilustração do modelo de ângulo esférico para um mı́ssil x aeronave.
(MISCOW, 2015b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
FIGURA 2.18 –Ilustração da visão em perspectiva de uma expansão cilı́ndrica. (BALL,
2003) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
LISTA DE FIGURAS xi

FIGURA 2.19 –Ilustração da visão lateral de uma expansão cilı́ndrica. . . . . . . . . 53


FIGURA 2.20 –Fragmento de massa m submetido ao arrasto e à gravidade. . . . . . 54
FIGURA 2.21 –Coeficiente de arrasto de um fragmento irregular para diversas faixas
de Mach e de velocidades. (OTAN, 2006) . . . . . . . . . . . . . . . 55
FIGURA 2.22 –Exemplos de fragmentos e suas caracterı́sticas. Adaptado de Zecevic
et al. (2011) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
FIGURA 2.23 –Geometria do fragmento estudado pela norma TM-5-855-1. (ARMY,
1986). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
FIGURA 2.24 –Exemplo de um envelope de fragmentação para uma bomba. Adap-
tado de Miscow (2020b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
FIGURA 2.25 –Representação das forças atuantes em fragmento. (MISCOW, 2020b) 59
FIGURA 2.26 –Variação do coeficiente de atrito em função do Mach de voo. O valor
apresentado no eixo das ordenadas é a metade do valor utilizado na
Equação 2.37.(MISCOW, 2020b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
FIGURA 2.27 –Ilustração dos conceitos de alcance e deflexão. (ANDERSON, 2004) . 61
FIGURA 2.28 –Exemplo de matriz de dano para um armamento. (ANDERSON, 2004) 62
FIGURA 2.29 –Curvas de mesma probabilidade de dano. (ANDERSON, 2004) . . . . 63
FIGURA 2.30 –Ilustração para a função de dano de Carleton. Adaptado de Ander-
son (2004) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
FIGURA 2.31 –Ilustração da área letal advinda da função de Carleton. . . . . . . . 65
FIGURA 2.32 –Definição de largura e comprimento efetivos de um alvo. . . . . . . . 66
FIGURA 2.33 –Ilustração das curvas de precisão e da função de dano. (ANDERSON,
2004) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
FIGURA 2.34 –Alguns softwares de simulação computacional, com destaque para
os softwares Split-X e AVAL. (MISCOW, 2015b) . . . . . . . . . . . . 70
FIGURA 2.35 –Alvos genéricos presentes no AVAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

FIGURA 3.1 – Especificações do tubo sugerido para o projeto da BAFG-350. (ABNT,


2018) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
FIGURA 3.2 – Vetor genérico entre pontos adjacentes de um armamento. . . . . . . 75
FIGURA 3.3 – Determinação do ângulo α2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

FIGURA 4.1 – Geometria proposta para a BAFG-350. . . . . . . . . . . . . . . . . 79


LISTA DE FIGURAS xii

FIGURA 4.2 – Geometria após a aplicação do método das seções. . . . . . . . . . . 80


FIGURA 4.3 – Velocidades para perfuração de chapas 10% mais espessas. . . . . . 81
FIGURA 4.4 – Velocidades residuais após perfuração de chapas de referência. . . . 81
FIGURA 4.5 – Distância máxima para perfuração de um alvo consistindo de uma
espessura, em polegadas, 10% superior a sua. . . . . . . . . . . . . . 82
FIGURA 4.6 – Distância máxima para perfuração de um alvo consistindo de uma
espessura, em milı́metros, 10% superior a sua. . . . . . . . . . . . . 83
FIGURA 4.7 – Área média de eficácia em função da espessura do alvo. . . . . . . . 83
FIGURA 4.8 – Área média de eficácia em função da espessura do alvo. . . . . . . . 84
FIGURA 4.9 – Velocidades determinadas a partir do modelo de Shapiro. Em colo-
rido estão as velocidades dos extremos. . . . . . . . . . . . . . . . . 85
FIGURA 4.10 –Distância ao alvo em função da área de apresentação necessária para
atingi-lo e perfurá-lo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
FIGURA 4.11 –Alcance para 3 ângulos de impacto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
FIGURA 4.12 –Deflexão para 3 ângulos de impacto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
FIGURA 4.13 –Envelope de fragmentação para a massa e velocidade iniciais de pro-
jeto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
FIGURA 4.14 –SSPD para um CEP de 10 m, REP de 6 m e DEP de 5,43 m. . . . . 90
FIGURA 4.15 –SSPD para um CEP de 25 m, REP de 15 m e DEP de 13,57 m. . . 91
FIGURA 4.16 –SSPD para um CEP de 40 m, REP de 24 m e DEP de 21,71 m. . . 91
FIGURA 4.17 –Geometria da BAFG-350 gerada pelo Split-X. . . . . . . . . . . . . 92
FIGURA 4.18 –Geometria proposta para a BAFG-350. . . . . . . . . . . . . . . . . 92
FIGURA 4.19 –Distribuição de velocidades para ambos modelos. . . . . . . . . . . . 94
FIGURA 4.20 –Dispersão angular em relação ao eixo x. . . . . . . . . . . . . . . . . 95
FIGURA 4.21 –Detalhe do final da curva da Figura 4.20. . . . . . . . . . . . . . . . 95
Lista de Tabelas

TABELA 1.1 – Massa de explosivo e metal das bombas da série MK-80. (MISCOW,
2020b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
TABELA 1.2 – Massa de explosivo e metal para BAFGs. (MISCOW, 2020b) . . . . 24

TABELA 2.1 – Conjunto de dados presentes no manual AASTP-1 para explosivos


conhecidos. (OTAN, 2006) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
TABELA 2.2 – Fator de densidade balı́stica para fragmentos . . . . . . . . . . . . . 56
TABELA 2.3 – Coeficientes para o coeficiente de arrasto em função do Mach. (MIS-
COW, 2020b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

TABELA 2.4 – Alvos comuns em um ambiente de combate e sua resistência equiva-


lente a chapas de aço doce. (AERONÁUTICA, 1980) . . . . . . . . . . 69

TABELA 4.1 – Comprimentos para cada seção do armamento. . . . . . . . . . . . . 78


TABELA 4.2 – Coordenadas relevantes para a BAFG-350. . . . . . . . . . . . . . . 78
TABELA 4.3 – Inserção do projeto da BAFG-350 dentre as BAFGs existentes. Adap-
tado de Miscow (2020b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
TABELA 4.4 – Espessuras, velocidades de perfuração para alvos de projeto e velo-
cidades residuais após perfuração de alvos reais. . . . . . . . . . . . 80
TABELA 4.5 – Distâncias máximas de detonação da BAFG-350 para neutralização
dos alvos definidos no Manual MMA-136. . . . . . . . . . . . . . . . 86
TABELA 4.6 – Tabela relacionando espessura do alvo, distância entre armamento e
alvo e a área de apresentação necessária para que o alvo seja atingido. 87
TABELA 4.7 – Tabela-resumo dos principais resultados levantados por meio das
implementações computacionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Sumário

1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.1 Contextualização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.1.1 Conceitos preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.1.2 Visão histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.1.3 Bombas de aviação: tipos e aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.1.4 Bombas em emprego na FAB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.2 Espoletas para BFGs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.2.1 Espoletas mecânicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.2.2 Espoletas eletrônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.3 Sistemas de Guiamento para BFGs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2 Revisão Bibliográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1 Dimensionamento de uma BAFG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1.1 Geometria do artefato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1.2 Processos de fabricação do corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.2 Carga explosiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.3 Efeito de fragmentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.3.1 Ensaios de fragmentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.3.2 Previsões teóricas para a fragmentação . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.3.3 Modelo de Gurney . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.3.4 Método das seções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.3.5 Ângulo de Ejeção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.3.6 Dispersão de fragmentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
SUMÁRIO xv

2.4 Efeitos terminais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54


2.4.1 Decaimento da velocidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.4.2 Equações para penetração e perfuração . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.5 Envelope de fragmentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.6 Função de dano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.6.1 Probabilidade de Tiro Único . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
2.6.2 Equivalência para chapas de aço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
2.7 Softwares de simulação computacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
2.7.1 ConWep . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
2.7.2 Split-X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
2.7.3 AVAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

3 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.1 Metodologia para concepção do armamento . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.1.1 Armamentos semelhantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.1.2 Materiais utilizados e geometria final . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.1.3 Determinação da massa total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.1.4 Determinação do centro de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.1.5 Determinação da posição das alças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.2 Aplicação do método das seções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.3 Determinação da massa e velocidade dos fragmentos . . . . . . . . . . . . 74
3.3.1 DFW e nı́vel de confiança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.4 Determinação da dispersão dos fragmentos . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
3.5 Metodologia para análise dos efeitos terminais . . . . . . . . . . . . . . . 76
3.6 Metodologia para o Split-X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

4 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.1 Geometria Final do Armamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.2 Efeitos terminais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.2.1 Massa, velocidade e quantidade de fragmentos . . . . . . . . . . . . . 79
4.2.2 Velocidade para perfuração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
SUMÁRIO xvi

4.2.3 Determinação da AMEF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81


4.2.4 Dispersão dos fragmentos da BAFG-350 . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.2.5 AMEF para alvos do Manual MMA-136 . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.2.6 Determinação do raio efetivo em alcance e deflexão para a BAFG-350 87
4.2.7 Envelope de fragmentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
4.3 Determinação da SSPD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
4.4 Simulação do Split-X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
4.4.1 Comparação entre as geometrias obtidas . . . . . . . . . . . . . . . . 92
4.4.2 Comparação entre as massas e velocidades obtidas . . . . . . . . . . . 93
4.4.3 Comparação entre as dispersões obtidas . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

5 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
1 Introdução

1.1 Contextualização

Armamento, segundo Michaelis (2022), é a designação dada a qualquer instrumento


de guerra e pode ser estendida para definir mecanismos que permitem infringir danos
ao inimigo de forma a parar sua ofensiva. Dessa forma, existem diversos artefatos que
cumprem o papel de armamento, dentre os quais podem ser citados: armas de fogo,
projéteis, minas terrestres, minas navais, bombas, foguetes, misseis e munições cluster,
além, evidentemente, das milenares armas brancas. No contexto aeronáutico, destacam-
se os armamentos ar-ar e ar-superficie, os quais podem ser as bombas, foguetes e mı́sseis,
e que possuem de comum dentre si o subsistema chamado de “cabeça-de-guerra”, sendo
esse o objeto central de estudo deste trabalho e, segundo Miscow (2015a), o elemento fim
desses artefatos. (KAUSHIK; HANMAIAHGARI, 2017)

1.1.1 Conceitos preliminares

Segundo Kaushik e Hanmaiahgari (2017), bombas são armamentos que podem ser
constituı́dos de diversos materiais explosivos, os quais possuem a capacidade de detonação
e geração súbita de uma grande quantidade de gás e energia. As duas principais formas
que as bombas possuem para causar danos ao inimigo são por meio do efeito blast e
pelo efeito de fragmentação; o primeiro desses advém da súbita variação de pressão no
entorno da bomba, a qual se propaga de forma radial causando picos de pressão por onde
passa, assim levando à destruição as estruturas em geral, bem como à morte as pessoas
próximas da explosão. O segundo efeito, a fragmentação, desencadeia a penetração ou
perfuração das estruturas e dilaceração de pessoas no entorno da detonação, pela ejeção
de fragmentos do invólucro da cabeça-de-guerra, levando a uma série de danos. (MISCOW,
2015a)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 18

1.1.2 Visão histórica

O inı́cio da utilização de bombas remonta ao século XIX, especificamente ao ano de


1849, oportunidade em que os austrı́acos, por meio de balões não-tripulados, lançaram
bombas de 30 libras (aproximadamente 13,6 kg) contra a cidade de Veneza, conforme ilus-
trado na Figura 1.1, o que se tornaria, ainda que não muito efetivo, o primeiro bombardeio
aéreo da história da humanidade. (WARFARE, 2019)

FIGURA 1.1 – Ilustração do bombardeio por balões realizado pelos austrı́acos. (WAR-
FARE, 2019)

Diante do cenário de uma nova forma de combate, o combate aéreo, que poderia vi-
timar não somente os combatentes inimigos, mas também não combatentes, é assinado
o tratado de Haia em 1899, proibindo os ataques aéreos por balão, dessa forma invali-
dando a estratégia utilizada pelos austrı́acos até então. Assim, buscando a assimetria de
poder favorável àquele que possui armamentos aéreos, o tenente italiano Giulio Gavotti,
na guerra ı́talo-turca que acontecia no ano de 1911 (apenas 8 anos após o primeiro voo
dos irmãos Wright), foi o precursor do que se utiliza até hoje como modus operandi para
bombardeios: a utilização de aeronaves mais pesadas que o ar para lançar armamentos em
solo inimigo, assim rendendo ao tenente o apelido de the Flying Artilleryman (STILWELL,
2019). Esses armamentos eram granadas preenchidas com ácido pı́crico (um alto explo-
sivo) e que possuı́am pequenos paraquedas, os quais objetivavam a extinção da velocidade
horizontal. (STEPHENSON, 2014)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 19

FIGURA 1.2 – Avião Etrich Taube, modelo utilizado por Giulio Gavotti em seu bombar-
deio. (WIKIPEDIA, 2022)

O império turco também foi vı́tima da Força Aérea Búlgara, que também se utilizou de
bombardeios aéreos na guerra dos Bálcãs, em 1912. Liderados pelo Capitão Simeon Petrov
que conduziu a pesquisa e desenvolvimento de bombas (denominadas como granadas pelos
búlgaros) com maior carga-paga e que possuı́ssem empenas e detonador por impacto
conforme é possı́vel observar na Figura 1.3 (WARFARE, 2015). Os búlgaros desenvolveram
um armamento de aproximadamente 6 kg capaz de causar crateras de 4 a 5 metros de
diâmetro e 1 metro de profundidade. Posteriormente, tal artefato foi então vendido para
a Alemanha com o nome de “Chataldzha” e largamente produzido e utilizado ao longo da
Primeira Guerra Mundial. (KAUSHIK; HANMAIAHGARI, 2017)

FIGURA 1.3 – Foto de um artilheiro segurando a granada desenvolvida pelos búlgaros.


(DEMERS, 2022)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 20

Com o avanço do desenvolvimento das aeronaves militares e o surgimento de aeronaves


com maiores capacidades de carga, surgiram bombas mais pesadas e com especificidades
para cada fim, como as bombas de penetração e de semi-penetração de blindagens, as
bombas de fins gerais (BFGs), as bombas de fragmentação, bombas de casco fino, bombas
de profundidade e as bombas incendiárias. (DEFENSE, 1955)

1.1.3 Bombas de aviação: tipos e aplicações

As bombas de penetração são concebidas para emprego contra alvos reforçados e con-
creto armado, dessa forma possuem casco e nariz espessos e maciços, sendo seu carrega-
mento de explosivo constituindo-se de aproximadamente 13% da massa total da bomba.
Essas bombas possuem como objetivo a penetração do alvo (justificando então a elevada
espessura do corpo) com posterior explosão do artefato, assim, uma vez que possuem
relativamente pouca quantidade de explosivo, faz-se necessário que atinjam com grande
precisão o alvo, penetrando-o e posteriormente explodindo em seu interior. De forma
semelhante tem-se as bombas semi-penetrantes, que possuem maior quantidade de explo-
sivo em sua composição (em torno de 30%) e podem ser utilizadas como bombas de fins
gerais contra alvos com menor capacidade de resistir ao impacto do artefato (DEFENSE,
1955). As bombas de fragmentação são semelhantes às anteriores, possuindo maior massa
de metal do que de explosivo, mas se diferenciam das anteriores por possuı́rem um arame
enrolado de forma espiral em seu corpo, o que leva a um aumento de tensão nesses pontos
e uma fragmentação do corpo, assim são utilizadas contra alvos suscetı́veis a penetração
de fragmento, contra seres humanos e contra estruturas mais frágeis. (ORDER, 1966)
As bombas de casco fino, bombas de profundidade e bombas incendiárias se diferen-
ciam das já descritas por seu dano advir principalmente da onda de choque ou calor
intenso. Assim o casco metálico tem como papel a separação dos componentes da bomba
com relação ao ambiente e não é esperado que sua fragmentação atue como principal fonte
de dano. As bombas de casco fino possuem 70% ou mais de sua composição constituı́da
de explosivo e são utilizadas para situações em que a onda de choque é a melhor forma
de causar danos à estrutura, como as construções civis. As bombas de profundidade são
análogas, mas utilizadas em contexto marı́timo, para causar dano a estruturas subaquá-
ticas (ORDER, 1966). Por fim, tem-se as bombas incendiárias, que carregam gasolina em
gel que é dispersada na região que contém o alvo e posteriormente ignitada para dar inı́cio
ao dano no alvo, o qual costuma ser tropas entrincheiradas, estruturas de suprimentos e
comboios. (DEFENSE, 1955)
Figurando como uma alternativa mais geral, tem-se as bombas de fins gerais, principal
objeto de estudo deste trabalho, e que possuem em torno de 50% de sua massa constituı́da
de explosivo. Tais bombas são usadas na maioria das operações aéreas de bombardeio e
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 21

podem ser classificadas como old-series, new-series ou low drag. As bombas de fins gerais
old-series, cujo aspecto é apresentado na Figura 1.4, eram bombas com massa de 100
lb a 2000 lb, constituı́das de um nariz ogival e cauda afilada; essas bombas costumavam
utilizar espoletas de nariz e cauda, objetivando uma redundância e seu preenchimento de
explosivo era constituı́do de: TNT, Tritonal, Composition B, ou Amatol 50-50, sendo esse
último uma mistura de TNT e nitrato de amônio. (ORDER, 1966)

FIGURA 1.4 – Uma bomba de fins gerais old-series em corte. (ORDER, 1966)

As bombas de fins gerais new-series são uma evolução das old-series e foram concebi-
das para amplificar o efeito de sopro. Seu corpo apresenta um formato mais aerodinâmico,
o que melhora o desempenho ao reduzir o arrasto sofrido pelo armamento. Seu espole-
tamento é tanto por espoletas mecânicas quanto por espoletas eletrônicas. Dessa forma,
possuem uma tubo condutor interno que permite a passagem da cablagem da espoleta
eletrônica, conforme pode ser visto na Figura 1.5 pelo item denominado como Conduit
Assembly. (ORDER, 1966)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 22

FIGURA 1.5 – Vista em corte uma bomba de fins gerais new-series. (ORDER, 1966)

Por fim, as bombas de fins gerais low drag, que, segundo Miscow (2020b), a idealização
se deu após o final da Segunda Guerra Mundial pelo engenheiro Edward Heinemann, da
Douglas Aircraft, e que possuem corpos mais esbeltos do que as bombas descritas an-
teriormente, sendo baseados no perfil tangente-ogiva ou no perfil Sears-Haack, os quais
apresentam uma proporção de aproximadamente 8 para 1 entre seu comprimento e maior
diâmetro, assim permitindo a redução do arrasto do armamento e otimização do desempe-
nho da aeronave que o carrega. Essas bombas possuem a capacidade de serem espoletadas
com espoletas de impacto, proximidade ou eletrônicas e podem ser carregadas com os ex-
plosivos Amatol 50-50, Tritonal ou Composite H6, mais recentemente, passou a se utilizar
uma composição de HMX por parte da marinha norte-americana, uma vez que esse com-
posto é menos sensı́vel a condições ambientais adversas e permite uma maior segurança
em seu manuseio. (ORDER, 1966)

1.1.4 Bombas em emprego na FAB

As principais, e mais utilizadas, bombas fins de gerais atualmente são as bombas da


série MK-80, que compreendem : MK-81, MK-82, MK-83 e MK-84 apresentadas na Figura
1.6 e cujas caracterı́sticas de massa estão na Tabela 1.1. Essas bombas são constituı́das de
um tubo de aço sem costura, apresentam duas alças de suspensão e a espessura do corpo
é variável na seção ogival (antes da primeira alça) e na seção da cauda (após a segunda
alça), conforme é possı́vel observar na Figura 1.7. (MISCOW, 2020b)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 23

FIGURA 1.6 – Bombas Mark da série 80. (WIKI, 2022)

TABELA 1.1 – Massa de explosivo e metal das bombas da série MK-80. (MISCOW, 2020b)
Massa Massa Massa
MK
de explosivo de metal Total
MK-81 112 lb 138 lb 250 lb
MK-82 192 lb 308 lb 500 lb
MK-83 385 lb 615 lb 1000 lb
MK-84 945 lb 1055 lb 2000 lb

FIGURA 1.7 – Vista em corte de uma bomba de fins gerais low-drag. (MISCOW, 2020b)

Pelo fato da maioria de suas aeronaves serem de origem norte-americana, paı́ses como
Paquistão, Chile, Israel, Índia, Portugal, Romania, Azerbaijão, Africa do Sul, Espanha,
Suécia e o Brasil fabricam bombas que são modelos muito semelhantes aos da série MK-
80. Especificamente no Brasil tem-se a série de bombas BAFG (Baixo Arrasto Fins
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 24

Gerais) apresentadas na Figura 1.8 e que são equivalentes às da série MK-80, conforme
é possı́vel observar na Tabela 1.2. O projeto das BAFG deu-se inicio com o modelo BA-
FG-120 na década de 70 e objetivavam serem utilizadas pelas aeronaves AT-26(Xavante),
A-1M(AMX), F-5EM, AT-29(Super Tucano) e o F-103E(Mirage). (MISCOW, 2020b)

FIGURA 1.8 – Bombas BAFGs nacionais. (MISCOW, 2020b)

TABELA 1.2 – Massa de explosivo e metal para BAFGs. (MISCOW, 2020b)


Bomba da Equivalente Massa Massa Massa
FAB MK de explosivo (kg) de metal (kg) Total (kg)
BA-FG-120 MK-81 45 67 128
BA-FG-230 MK-82 96 133 248
BA-FG-460 MK-83 202 235 452
BA-FG-920 MK-84 467 440 930

1.2 Espoletas para BFGs

1.2.1 Espoletas mecânicas

As BFGs podem ser configuradas com espoletas mecânicas ou elétricas/eletrônicas.


No caso das espoletas mecânicas, existem as espoletas nacionais EOM-BFG (Espoleta
Ogiva Mecânica) (Figura 1.9) e ECM-BFG (Espoleta Cauda Mecânica) (Figura 1.10) e
existem as versões norte-americanas, denominadas como M904 (Figura 1.11) e M905 (Fi-
gura 1.12) que são respectivamente de ogiva e de cauda. Ambas espoletas nacionais e
norte-americanas permitem a seleção de tempos de armar, no solo, de 2 a 18 s, variando
de 2 em 2 s e esse tempo consiste no intervalo de tempo, após o lançamento da bomba,
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 25

que o trem explosivo da espoleta demorará para se alinhar e permitir a detonação do ar-
mamento. Ao selecionar o tempo de armar das espoletas, deve-se observar uma tolerância
de ±20%, a qual abarca todas as incertezas da construção da espoleta e deve ser consi-
derada para que a bomba exploda em um intervalo correto, ou seja, que o tempo de voo
seja superior ao tempo de armar. Em termos de funcionamento explosivo, essas espoletas
podem ser configuradas com elementos de retardo que podem ser selecionados de forma a
maximizar os efeitos terminais sobre um determinado alvo, por exemplo a detonação após
a perfuração de uma estrutura civil, o que permitiria a maximização do efeito de sopro
na estrutura. Os elementos de retardo disponı́veis são no delay, 0,01, 0,025, 0,05, 0,10 e
0,25 s e o delay no retardo de iniciação está situado entre 0,0003 s e 0,0005 s. (MISCOW,
2020c)

FIGURA 1.9 – Ilustração de uma EOM-BFG com destaque para alguns elementos cons-
tituintes. (MISCOW, 2020c)

FIGURA 1.10 – Ilustração de uma ECM-BFG com destaque para alguns elementos cons-
tituintes. (MISCOW, 2020c)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 26

FIGURA 1.11 – Ilustração de uma espoleta de ogiva M904 com destaque para alguns
elementos constituintes. (MISCOW, 2020c)

FIGURA 1.12 – Conjunto acionador e espoleta de cauda M905. (MISCOW, 2020c)

1.2.2 Espoletas eletrônicas

As espoletas elétricas/eletrônicas que podem ser empregadas nas BFGs são a FMU-139
C/B e a FMU-152 A/B. A FMU-139 C/B (Figura 1.13), é uma espoleta eletromecânica,
que permite a seleção no solo dos tempos de armar e dos retardos de detonação. A
alimentação elétrica da espoleta é provida pelo gerador (ou ignitor) FZU-48/B, que é
acionado pelo escoamento aerodinâmico após o lançamento da bomba. As opções dos
tempos de armar para bombas em queda livre (free fall ) e para bombas de alto arrasto
(high drag) são de 4, 6, 7, 10, 14 e 20 s. As opções para os tempos de detonação são
instantâneo, 10, 25 e 60 ms. (MISCOW, 2020c)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 27

FIGURA 1.13 – Espoleta eletrônica FMU-139 C/B. (MISCOW, 2020c)

A FMU-152 A/B, Figura 1.14, é uma espoleta elétrica/eletrônica para utilização ape-
nas na cauda, podendo ser utilizadas em bombas na configuração de baixo arrasto (free
fall ) ou com freio aerodinâmico (alto arrasto - high drag). Na configuração para bombas
de baixo arrasto, permite tempos de armar de 4 a 10 s, em intervalos de 0,5 , 14, 21 e 25 s.
Na configuração para bombas de alto arrasto os tempos de armar podem ser selecionados
em 2, 3, 4, e 5 s. O grande diferencial desta espoleta está nos tempos de detonação que
podem ser selecionados em instantâneo, 5, 15, 25, 35, 45, 60, 90, 180 e 240 ms; 15, 30, 45,
60 min; e 4, 8, 12, 16, 20, 24 horas. Esta ampla gama de tempos de detonação permite que
essa espoleta seja utilizada quando se pretende uma maior penetração e/ou perfuração
do alvo. Não considerando a limitação estrutural do corpo da bomba, esta espoleta seria
aplicável em situações em que seja necessário penetrar ou perfurar uma ou mais camadas
do alvo, com a bomba detonando ao fim desse percurso. Já os tempos de retardo em horas
conferem ao artefato a capacidade de interdição de área ou de uma instalação. (MISCOW,
2020c)

FIGURA 1.14 – Espoleta eletrônica FMU-152 A/B. (MISCOW, 2020c)

A utilização das espoletas FMU-139 C/B e FMU-152 A/B exige que as bombas de fins
gerais possuam o alojamento do sistema de geração de energia elétrica (ignitor) denomi-
nado como charging well, situado entre as alças de suspensão (suspension lug), e os dois
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 28

tubos condutores forward conduit e rear conduit, conforme ilustra a Figura 1.7.

1.3 Sistemas de Guiamento para BFGs

As BFGs não possuem propulsão, logo seguem trajetórias balı́sticas que estão sujeitas
às flutuações e instabilidades desse tipo de voo, bem como estão sujeitas às condições de
lançamento, como: ângulo de ataque, velocidade inicial, erros do sistema de pontaria e
experiência do piloto, assim, objetivando uma maior precisão dos bombardeios realizados,
deu-se inicio ao desenvolvimento de kits de guiamento para esses armamentos, tornando
as bombas que até então eram denominadas como dumb bombs (bombas burras), se tor-
nassem smart bombs (bombas inteligentes). Segundo News (2017), o caso mais marcante
da revolução causada pelas bombas inteligentes foi o caso da ponte Thanh Hoa, localizada
no Vietnã, que ao longo de 6 anos foi alvo de bombardeios na tentativa de destruı́-la, mas
sem sucesso. Assim, com a utilização de bombas inteligentes utilizando o kit de guiamento
a laser Paveway I, 4 aeronaves bombardearam e destruı́ram a ponte que até então havia
resistido ao ataque de 871 bombas. (MISCOW, 2020a)
Dentre os sistemas de guiamento existentes, é possı́vel citar os sistemas PAVEWAY e
JDAM estadunidenses e o sistema LIZARD israelense. Os sistemas PAVEWAY e LIZARD
se baseiam em guiamento a laser, no qual a própria aeronave ou uma aeronave de apoio
“ilumina” o alvo para que os receptores presentes no kit de guiamento reconheçam e guiem
o armamento para o alvo. O funcionamento do armamento está apresentado na Figura
1.15 e, tratando especificamente do sistema PAVEWAY, esse consiste de duas unidades
denominadas Computer Control Group (CCG) e Airfoil Group Assembly (AGA), as quais
podem ser vistas na Figura 1.16. (KOPP, 1981)

FIGURA 1.15 – Exemplificação do funcionamento de uma bomba guiada por laser.


(POWER, 2022)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 29

FIGURA 1.16 – Descrição dos itens do kit de guiamento Paveway. (KOPP, 1981)

O sistema de guiamento JDAM(Joint Direct Attack Munition) utiliza um guiamento


inercial cujo desempenho é otimizado por um sistema de GPS, assim aumentando conside-
ravelmente a precisão da bomba e, uma vez que não depende da iluminação do alvo, pode
ser utilizado em quaisquer condições de tempo. Com a utilização puramente do sistema
inercial é esperado um erro máximo de 30 m em torno do alvo, já com a combinação do
sistema inercial com o GPS o erro esperado é de 5 m em torno do alvo. (GICHD, 2018)
O sistema JDAM pode ser utilizado nas bombas MK-82, MK-83 e MK-84, e consiste
em um sistema instalado no corpo e na cauda do armamento, conforme exemplificam as
Figuras 1.17 e 1.18, nas quais são apresentadas a cinta (body strake) que envolve a bomba,
a espoleta (fuze) e o sistema de guiamento propriamente dito. O controle do voo da bomba
é feito por meio das empenas da cauda, a qual abarca o sistema de controle e guiamento
do armamento denominado como GCU (Guidance and Control Unit). (GICHD, 2018)

FIGURA 1.17 – Ilustração dos componentes do sistema JDAM. (SCOTT, 2005)


CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 30

FIGURA 1.18 – Ilustração do sistema JDAM existente para cada bomba da série MK-80
e sua respectiva designação como BLU (Bomb Live Unit). (LEAK, 2021)

É possı́vel incrementar o sistema JDAM por meio da utilização de seekers, os quais


são denominados como Precision Terminal Homing Seekers (PTHS) e podem utilizar as
tecnologias de mmWave, infra-vermelho e eletro-ótico para reconhecer o alvo. Assim, o
seeker utiliza um desses princı́pios para comparar a imagem que ele está observando com
imagens pré-programadas, conforme exemplificado na Figura 1.19, levando à redução do
erro máximo em torno do alvo para no máximo 3 m. (GICHD, 2018)

FIGURA 1.19 – Utilização conjunta do sistema JDAM e seeker. (GICHD, 2018)


2 Revisão Bibliográfica

O arcabouço teórico descrito nesta seção norteará todo o projeto para a bomba aérea
de fins gerais desenvolvida neste TG e denominada como BAFG-350. Esta seção consiste
em um grande apanhado de toda a teoria necessária para determinação dos parâmetros re-
levantes para uma bomba de fragmentação, como: a massa média dos fragmentos gerados
por uma fragmentação natural, a velocidade de ejeção, o ângulo de espalhamento dos frag-
mentos, o modelo para decaimento da velocidade do fragmento em voo e as formulações
descritivas para penetração de alvos constituı́dos de aço doce.

2.1 Dimensionamento de uma BAFG

2.1.1 Geometria do artefato

A definição da geometria do artefato é feita a partir da definição do perfil aerodinâmico


do mesmo, o qual é dependente dos seguintes fatores, indicados na Figura 2.1: R0 (raio
da ogiva), Rc (raio da cauda), L0 (comprimento da ogiva), Lt (comprimento da cauda),
Lc (comprimento da seção cilı́ndrica), Dp (diâmetro na ponta), Dt (diâmetro na cauda),
De (diâmetro da seção cilı́ndrica) e t0 (espessura inicial do tubo).

FIGURA 2.1 – Variáveis relevantes para dimensionamento do artefato. (MISCOW, 2020b)

Assim, uma vez definidos os parâmetros L0 , Lc , Lt , De e t0 é possı́vel a utilização das


Equações 2.1 e 2.2 referentes a um perfil tangente-ogiva que será utilizado no presente
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 32

trabalho:

q
Ro2 − (Lo − x)2 − Ro − De



 2
, x ≤ Lo .

y= De (2.1)
2
, Lo ≤ x ≤ Lo + Lc .

q
 R2 − [x − (L + L )]2 − R −
 De

, Lo + Lc ≤ x ≤ Lo + Lc + Lt .
c o c c 2

Outro parâmetro relevante é a determinação da espessura final após o processo de


extrusão para cada ponto do casco metálico, uma vez que a produção do armamento
será feita de forma semelhante às bombas da série MK-80, ou seja, pelo processo de
extrusão em matriz fechada (que será discutido na Seção 2.1.2), tem-se que a espessura
irá variar de ponto a ponto, uma vez que a conservação da massa deve ser respeitada.
Assim, a espessura para cada ordenada y é dada pela Equação 2.2, na qual Re e Ri são
respectivamente o raio externo e raio interno do tubo.

1/2
t = y − y 2 − (Re + Ri ) t0
(2.2)

A partir do conjunto de dados obtidos é possı́vel determinar: o desenho do corpo, as


massas de explosivo e de metal necessárias para confecção do armamento (dadas respecti-
vamente pelas Equações 2.3 e 2.4), a determinação do centro de massa e o posicionamento
das alças de suspensão, sendo esse último definido pela norma MIL-STD-8591.

Z L0 +Lc +Lt  2
Dint (y)
mexp = πρexp dx (2.3)
0 2

Z L0 +Lc +Lt  2  2 !
Dext (y) Dint (y)
mmetal = πρmetal − dx (2.4)
0 2 2

A partir do traçado do armamento também é possı́vel dividi-lo em uma série de peque-


nos segmentos de comprimento dL e, a partir de uma média ponderada pelas distâncias
entre o centro desses segmentos e o nariz do armamento, é possı́vel determinar o centro
de massa do armamento por meio da Equação 2.5.

P
(⃗
ri m i )
⃗r = P (2.5)
mi

Outro ponto relevante na geometria no armamento é a determinação da posição das


alças que permitem que esse seja carregado pela aeronave. Assim, segundo Defense (1990),
o posicionamento das alças é determinado pela massa total do armamento, caso esse possua
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 33

até 1000 lb (453,4 kg) o espaçamento entre as alças é de 14 pol. (355,6 mm) e até 2000
lb (907,2 kg) o espaçamento entre as alças é de 30 pol. (762 mm). Por fim, essa mesma
norma determina que o centro de gravidade deve estar entre as alças com uma tolerância
de até 76 mm de distância até uma dessas.

2.1.2 Processos de fabricação do corpo

Uma vez definida a geometria do corpo do armamento, é necessário fabricá-lo, assim


a fabricação de metais perpassa por processos de refino, formação de ligas e tratamento
térmico, os quais tem como objetivo a obtenção de propriedades e geometrias especı́ficas
para o metal. Esses processos podem ser agrupados, conforme é possı́vel observar na
Figura 2.2, em operações de conformação, de fundição e em técnicas auxiliares, como
metalurgia do pó e soldagem. (CALLISTER; SOARES, 2008)

FIGURA 2.2 – Técnicas de fabricação de metais. (CALLISTER; SOARES, 2008)

Tratando especificamente da produção do corpo do armamento, os métodos utilizados


são extrusão, forjamento ou fundição. Para os processos de extrusão e forjamento tem-
se um tubo metálico sem costura de diâmetros e espessuras pré-definidas, o qual sofre
deformações sucessivas para chegar à geometria final do armamento. O tubo pode ser
trabalho em matriz aberta ou fechada, mas a indústria utiliza o processo a partir de
uma matriz fechada para moldar o material, assim o processo de conformação é feito
por meio de uma prensa que submete o tubo contra uma matriz com a geometria pré-
estabelecida, conforme é possı́vel observar na Figura 2.3. Os métodos de extrusão ou
forjamento trabalham com a deformação plástica do material, assim exigindo prensas de
grande capacidade, o que torna o ferramental custoso o qual necessita ser usinado e tratado
termicamente antes de ser utilizado. No contexto brasileiro, existe ainda o problema
da disponibilidade dos tubos sem costura no mercado interno, levando à necessidade de
importação. (MISCOW, 2020b)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 34

FIGURA 2.3 – Método de forja ou extrusão para conformação do armamento. (MISCOW,


2020b)

O processo de fundição, ilustrado na Figura 2.4, consiste na utilização de metal fundido


que alimenta o espaço vazio entre dois moldes de resina cuja geometria é a pretendida tanto
internamente quanto externamente para o armamento, assim o material é alimentado e,
após resfriado, toma o formato geométrico pretendido (CALLISTER; SOARES, 2008). O
processo de fundição é mais barato, uma vez que o ferramental são moldes de madeira e
não depende da importação do tubo sem costura para confecção do armamento, contudo
para produção em grande escala seriam necessários diversos moldes, bem como a remoção
de sobremetal que é necessário no processo de fundição, o que encareceria o processo.
(MISCOW, 2020b)

FIGURA 2.4 – Processo de fundição para confecção do armamento. (MISCOW, 2020b)


CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 35

2.2 Carga explosiva

Para que uma bomba desempenhe seu papel de detonar e causar danos por meio do
fenômeno de sopro e fragmentação é crucial a presença de um material energético em sua
constituição, especificamente o material energético denominado como explosivo. O papel
do explosivo vai desde constituir o denominado trem explosivo, responsável por dar inicio
à detonação da bomba, até a fragmentação do casco e geração da onda de choque. Assim,
o trem explosivo pode ser conceituado como uma série de elementos explosivos montados
na ordem decrescente de sensibilidade à iniciação e na ordem crescente de potencial de
energia (energia liberada na detonação), conforme ilustrado na Figura 2.5. (MISCOW,
2020c)

FIGURA 2.5 – Descrição dos itens de um trem explosivo. (MISCOW, 2020c)

Dentre os componentes do trem explosivo destacam-se os explosivos primários e secun-


dários, os quais possuem caracterı́sticas especificas que levam a escolha de cada qual em
sua devida posição nesse artefato. A começar pelos explosivos primários, os quais apre-
sentam uma rápida transição de um processo de combustão para o processo de detonação
e são muito sensı́veis a estı́mulos externos, como calor e impacto. O principal papel do
explosivo primário no trem explosivo é a liberação de uma onda de choque precursora da
detonação do explosivo secundário adjacente a esse, dessa forma atuam como iniciadores
e detonadores no trem explosivo da espoleta do armamento. (KLAPÖTKE, 2022)
Constituindo a maior parte do conteúdo explosivo do armamento, tem-se os explosivos
secundários, os quais, diferentemente dos explosivos primários, não iniciam seu processo
de detonação ao serem submetidos a calor ou choques, tornando-os dependentes então da
detonação de um explosivo primário. Apesar de uma menor sensibilidade, os explosivos
secundários possuem melhores caracterı́sticas de desempenho, as quais são: calor e tem-
peratura de explosão, velocidade de detonação e pressão de detonação, e volume de gases
gerados por massa de explosivo. Outros pontos relevantes no estudo de um explosivo
secundário são sua sensibilidade e a toxicidade dos produtos gerados, as quais se busca
minimizar. (KLAPÖTKE, 2022)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 36

Existe uma ampla diversidade de materiais explosivos, uma vez que as possibilidades
de combinações dentre explosivos são ilimitadas, contudo um dos principais explosivos
secundários é o RDX, o qual, segundo Maleh et al. (2009), é o explosivo mais utilizado
no mundo, seja em sua forma pura ou como matéria-prima de outros explosivos mais
complexos. A descoberta do RDX (Figura 2.6) remonta ao ano de 1899, época na qual
foi utilizado como medicamento vasodilatador, e sua denominação advém do padrão in-
glês para explosivos, pois RD estava ligado ao termo Research Department No, assim sua
denominação muda conforme o paı́s e é chamado de Cyclonite nos EUA, Hexogen na
Alemanha e T4 na Itália. Esse explosivo se destaca por sua insensibilidade e estabilidade
no armazenamento, tornando-o ideal para utilização como preenchimento de armamentos.
Por fim, é considerado como um dos mais poderosos e brisantes explosivos utilizados em
âmbitos militares, essas caracterı́sticas que podem ser vistas na Tabela 2.1, pois os explo-
sivos que possuem RDX em sua composição possuem os menores valores do parâmetro de
Mott. (KLAPÖTKE, 2022)

FIGURA 2.6 – Molécula do explosivo RDX. (KLAPÖTKE, 2022)

2.3 Efeito de fragmentação

O fenômeno de fragmentação está ligado à ruptura do casco metálico circundante ao


explosivo presente na cabeça de guerra (CG) após a detonação desse, pois a detonação leva
à formação de uma grande quantidade de gases e intensa liberação de energia no interior
do casco, levando a sua expansão e posteriormente à sua ruptura. A fragmentação deve
ser abordada de forma probabilı́stica, uma vez que no processo de fragmentação do metal
está imbuı́da a aleatoriedade dos pontos de quebra do casco adjacente ao explosivo e
da geometria que esse irá fragmentar, o que pode gerar fragmentos das mais diversas
geometrias e massas, os quais afetarão a balı́stica do fragmento e consequentemente sua
distância de impacto e sua velocidade. (ZAKER, 1975)
Os fragmentos advindos da detonação de uma CG são caracterizados com base na
distribuição de suas massas e em suas velocidades iniciais (V0 ) e como esses parâmetros se
distribuem entre os diversos fragmentos gerados. É importante notar que esses parâmetros
estão relacionados aos ângulos medidos com relação ao nariz da munição ou armamento
estudado. (ZAKER, 1975)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 37

2.3.1 Ensaios de fragmentação

Para determinação da quantidade de fragmentos, suas massas e geometrias após a


explosão do armamento, é possı́vel realizar um teste de fosso, ilustrado na Figura 2.7,
no qual há a detonação e fragmentação do armamento dentro um fosso cheio de areia, o
qual permite que seus fragmentos sejam posteriormente peneirados e recuperados (ABU-
UZNIEN; ABDALLA, 2014). Após a recuperação, a massa e a geometria dos fragmentos
são determinadas e os fragmentos são agrupados por intervalos de massa. (ZECEVIC et al.,
2006)

FIGURA 2.7 – Exemplo de um teste de fosso. (ZECEVIC et al., 2006)

Uma vez determinadas as caracterı́sticas geométricas e fı́sicas dos fragmentos, se faz


necessária a determinação da dispersão espacial dos fragmentos, determinada por meio de
um teste estático de arena. No teste de arena o armamento é posto no centro da arena de
testes, a qual é cercada por placas de madeira responsáveis pelos registros dos impactos
dos fragmentos, assim permitindo observar a distribuição desses no espaço.
Além da distribuição espacial dos fragmentos é possı́vel calcular a densidade por esfe-
rorradiano para um armamento posicionado a uma dada altura em relação ao solo. Esse
cálculo é realizado com base na quantidade de impactos e de furos contabilizados nas pla-
cas coletoras. Assim, de posse da área atingida pelos fragmentos, é possı́vel determinar a
densidade estática de fragmentos para cada setor atingido. Um exemplo de disposição do
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 38

sistema descrito está presente na Figura 2.8, onde é possı́vel observar a disposição do ar-
mamento (destacado em vermelho) e as posições das placas (setas em laranja). (ZECEVIC
et al., 2006)

FIGURA 2.8 – Exemplo de teste em arena de um armamento. Adaptado de: Zecevic et


al. (2006)

A partir dos dados coletados é possı́vel estabelecer uma relação para a densidade de
fragmentos para cada setor, assim determinando uma distância caracterı́stica para a qual
esse valor é de 1 perfuração por m2 . Essa distância caracterı́stica então se torna um
fator de comparação de armamentos, pois quanto maior esse número maior a área letal
do dispositivo utilizado. (ZECEVIC et al., 2006)
O método anteriormente descrito não satisfaz totalmente a caracterização do arma-
mento, uma vez que não permite a determinação da velocidade de ejeção dos fragmentos
e nem mesmo a velocidade de impacto dos fragmentos em cada placa de madeira. Assim,
uma evolução do ensaio de arena anteriormente descrito é a utilização de um aparato
experimental, denominado como FRAT (BARNARD; NEBOLSINE, 2001), que consiste no
posicionamento do armamento no centro de uma disposição de placas de papelão que
servem como sensores de impacto e adjacente a essas tem-se placas de um material que
resista ao impacto, e permita o alojamento do fragmento sem o desgaste desse, com o
objetivo de permitir uma posterior recuperação do fragmento de forma mais fidedigna
possı́vel ao que atingiu a placa de papelão, as quais são dispostas de forma que entre as
faces das placas há tiras metálicas, as quais permitem determinar os instantes de tempo
e pontos exatos do impacto do fragmento na placa de madeira.
Assim, de posse do ponto de impacto, é possı́vel determinar os ângulos relevantes
para o armamento e de posse do momento de impacto é possı́vel determinar a velocidade
média do fragmento, uma vez que é conhecida a distância entre o armamento e o ponto
de impacto, e o tempo necessário para que ocorra o choque. Por fim, para aferir a massa
do fragmento e sua geometria são utilizadas placas de celotex (costumeiramente utilizado
como isolante) de espessura aproximada de 2 metros, com o objetivo de reter os fragmentos
que atravessaram os sensores (BARNARD; NEBOLSINE, 2001). Dessa forma, em posse da
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 39

massa do fragmento, de sua geometria, de sua velocidade e da sua distribuição angular é


possı́vel uma melhor caracterização da fragmentação do armamento estudado e bem como
determinar sua letalidade (ZECEVIC et al., 2006).

FIGURA 2.9 – Placa de celotex. (SUPERSTORE, 2022)

2.3.1.1 Pranchas de fragmentação

Após a realização dos ensaios de fragmentação, os fragmentos são coletados e agrupados


em função de intervalos de massa pré-definidos, o que possibilita então a determinação
da massa média dos fragmentos gerados na fragmentação natural do armamento. Outro
parâmetro que é possı́vel de ser determinado a partir da prancha de fragmentação é a
esbeltez dos fragmentos gerados, parâmetro esse que influencia em toda a dinâmica de
voo (uma vez que afeta o arrasto do fragmento) e de perfuração do alvo. A Figura 2.10
apresenta um exemplo de pranchas de fragmentação geradas para 4 ensaios de detonação
com diferentes quantidades de pólvora negra. (XU et al., 2019)

FIGURA 2.10 – Tábuas de fragmentação para 4 ensaios distintos. (XU et al., 2019)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 40

2.3.2 Previsões teóricas para a fragmentação

Testes de arena são os mais fidedignos às condições reais de operação de um arma-
mento, mas são custosos e demandam muito tempo para sua execução, uma vez que é
necessário confeccionar os sistemas de detecção e repô-los a cada teste realizado. Assim,
são necessários modelos teóricos e computacionais para estudos preliminares ao longo do
projeto de um armamento.
O inicio dos estudos sobre fragmentação de armamentos se deu com os trabalhos de
Gurney, em 1943, e Taylor, em 1963, nos quais os autores trataram especificamente sobre
as velocidades dos fragmentos de cascas metálicas gerados a partir de uma detonação
de um explosivo. Outros precursores do estudo da formação de fragmentos em cascas
metálicas, especificamente tratando sobre a fragmentação natural do metal, foram N. F.
Mott e E. H. Linfoot em seu relatório técnico A Theory of Fragmentation. (DEHN, 1984)

2.3.2.1 Fragmentação natural

A fragmentação natural de um armamento se dá quando a casca metálica não possui


direções preferencias de fratura do material. Nesse contexto, a teoria aqui desenvolvida se
aplica aos materiais que apresentam regime plástico antes de sua ruptura, logo não é apli-
cável aos materiais frágeis, conforme dito por Mott e Linfoot (2006), pois esses últimos
sofrem uma deformação plástica reduzida, ou mesmo nem se deformam plasticamente,
indo direto da fase elástica para a fratura, assim podem ser classificados como materi-
ais que possuem pequena tenacidade quando comparados com sua rigidez. (CALLISTER;
SOARES, 2008)

A motivação inicial para o estudo realizado por Mott e Linfoot se deu com o trabalho
de Lienau (1936), que se aprofundou no estudo da distribuição do tamanho de fragmentos
gerados por uma separação aleatória de partes de um corpo uni-dimensional, e cujos
resultados se encaixavam com os resultados disponı́veis na época referentes a fragmentos
provenientes de explosões de cascas metálicas. A partir dessa observação deu-se inicio à
busca por maiores detalhes sobre como se dá a formação de fragmentos em um armamento
de fragmentação natural. (GRADY, 2007)
Os trabalhos realizados por Lineau tinham como objetivo o estudo de um corpo uni-
dimensional submetido a forças que ocasionariam diversas fraturas em sua estrutura, de
forma que essas fraturas poderiam acontecer com a mesma probabilidade em qualquer
ponto do corpo e gerariam fragmentos dos mais diversos tamanhos, conforme a represen-
tação esquemática presente na Figura 2.11. A partir do momento que a fragmentação
natural ocorre de modo estatı́stico, faz-se necessária a definição dos termos de função
densidade de probabilidade e função distribuição acumulada:
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 41

• Função de densidade de probabilidade: A função de densidade de probabilidade


Rb
é uma função f(x) tal que o cálculo P (a ≤ X ≤ b) = a f (x)dx representa a
probabilidade de X estar entre os valores a e b;

• Função de distribuição acumulada: A função de distribuição acumulada é dada por


Rx
F (x) = P (X ≤ x) = −∞ f (y)dy e representa a probabilidade, que para um dado
valor de x, tenha-se um valor inferior a x. (DEVORE, 2010)

Dessa forma, aplicada ao presente contexto de fragmentação natural do armamento,


tem-se que f(m) é utilizada para determinar qual a probabilidade dos fragmentos pos-
suı́rem massa entre os valores a e b e a função distribuição acumulada determina qual a
probabilidade dos fragmentos possuı́rem a massa inferior ao valor de m utilizado.

FIGURA 2.11 – Uma linha de tamanho L fragmentada em n pedaços.

Assim, considerando que a linha será fragmentada em muitos pedaços é possı́vel con-
siderar a linha com tamanho infinito, uma vez que o tamanho médio dos fragmentos
formados é muito inferior ao tamanho total da linha. Outra consideração é que a distân-
cia média entre quebras da linha é dada por λ, assim tem-se que a distribuição aleatória
desses pontos é descrita por uma distribuição de Poisson, conforme a Equação 2.6, na
qual l é o tamanho do fragmento e n é o numero de fraturas no comprimento l.

(l/λ)n e−l/λ
P (n, l) = (2.6)
n!
Em posse dessa equação, é possı́vel determinar o tamanho mais provável do fragmento,
quando não são encontradas fraturas no comprimento l, logo n = 0:

P (0, l) = e−l/λ

Outro resultado relevante é a probabilidade de encontrar uma fratura para um com-


primento dl ao redor do segmento estudado:

P (1, dl) = (1/λ)dl


CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 42

Utilizando as duas relações anteriores é possı́vel definir a função f (l), que indica a
probabilidade de ocorrer fragmentos de tamanho l com uma tolerância de dl:

−l
f (l)dl = P (0, l)P (1, dl) = (1/λ)e( λ ) dl

E sua integral, que expressa a distribuição cumulativa de fragmentos, é do seguinte


formato:

−l
F (l) = 1 − e λ

Que poderia ser reescrita como:

 
1
l = λln (2.7)
1 − F (l)

Assim, Mott e Linfoot observaram que os dados experimentais para fragmentação


natural apresentavam um fit linear quando se considerava um plot da quantidade de frag-
mentos em função da raiz cúbica da massa, o que corrobora para aceitação do modelo de
fragmentação do tipo Poisson para os armamentos estudados (GRADY, 2007). Essa consi-
deração é possı́vel de ser realizada a partir da consideração que a massa de um fragmento
pode ser escrita como m = ka ρl3 , onde ka seria uma constante de proporcionalidade que
iguala o valor da área do fragmento ao valor obtido por l2 . Assim ao substituir essa relação
no resultado presente em 2.7 tem-se o resultado 2.8, no qual αm é uma constante dada

por αl = −λ 3 ρka . Assim é possı́vel ver claramente a relação linear entre a raiz cúbica da
massa e a distribuição de fragmentos, sendo possı́vel utilizar o modelo de fragmentação
linear para um modelo de fragmentação em três dimensões.

m1/3 = αm ln (1 − F (l)) (2.8)

Contudo, Mott e Linfoot observaram que grande parte dos fragmentos gerados con-
servavam as caracterı́sticas das superfı́cies internas e externas das cascas metálicas do
armamento, dessa forma assumiram que para tais armamentos um fator de escala mais
adequado seria m1/2 , o que permitiu escrever a Equação 2.9 que determina a função dis-
tribuição acumulada para os fragmentos de massa m e a Equação 2.10 descreve a função
densidade para os fragmentos de massa m, de acordo com o modelo de Poisson sugerido
por Lineau. (GRADY, 2007)

m 1/2
F (m) = 1 − e−( µ ) (2.9)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 43

 −1/2
1 m m 1/2
f (m) = e−( µ ) (2.10)
2µ µ

É possı́vel observar que, para a utilização das Equações 2.9 e 2.10, faz-se necessária a
determinação do parâmetro µ, ou seja, a metade do valor médio de massa dos fragmentos.
Para determinação da massa média dos fragmentos, Mott e Linfoot (1943) considera-
ram que a quebra inicial da casca metálica ocorre pela parte interna e que os fragmentos
são alongados, com sua maior dimensão sendo paralela ao eixo longitudinal da bomba.
Assim, considerando que no momento da quebra a casca apresenta raio R, espessura t
e a velocidade de expansão do casco é dada por V , tem-se que a ruptura do casco se
dá quando a rachadura formada necessita de menos energia para se propagar do que a
energia necessária para que a casca continuasse se expandindo plasticamente.

FIGURA 2.12 – Ilustração do fragmento no momento da quebra.

A Figura 2.12 ilustra um fragmento delimitado pelos trechos AB e A’B’, os parâme-


tros geométricos considerados para o estudo da formação do fragmento, e as velocidades
existentes no fragmento (destacadas em vermelho). É possı́vel observar que no referencial
do fragmento suas extremidades AB e A’B’ possuem velocidades dadas por V sen(α)2
, apro-

ximada para 2 . Dessa forma, a energia cinética para o referencial do fragmento é dada
por:

Z
1
Ec = dmv 2
2

Considerando um pequeno trecho determinado por um ângulo central θ tem-se que a


energia cinética total para o fragmento presente na Figura 2.12 é dada pela Equação 2.11,
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 44

na qual ρmetal é a densidade do material da casca e l é o comprimento ao longo do eixo


longitudinal do fragmento.

Z α/2
1
Ec = (ρmetal Rtldθ) (V θ)2 (2.11)
2 −α/2

Ao considerar que a = αR, a energia cinética por comprimento é dada por:

Ec ρmetal tV 2 a3
= (2.12)
l 24R2
Segundo Mott e Linfoot (1943), é possı́vel assumir que, se a energia presente na Equa-
ção 2.12 for superior a W t, sendo W a energia por unidade de área necessária para formar
uma rachadura, e t a espessura da casca metálica, o fragmento irá se quebrar formando
outros dois. Logo, não haverá fragmentos com largura maior do que a, a qual é deter-
minada ao substituir Etlc por W e obter a maior largura para um fragmento, conforme a
Equação 2.13.

s
3 24r2 W
a= (2.13)
ρmetal V 2

O cálculo da largura do fragmento é dependente de sua velocidade de saı́da, parâmetro


esse que depende do material energético e do metal que está se fragmentando, conforme
demonstrado por Gurney et al. (1943). Objetivando substituir esse parâmetro por uma
relação que dependa somente da geometria do cilindro, utiliza-se a conservação de energia
para relacionar a velocidade de saı́da do fragmento à energia disponibilizada pelo material
energético, conforme a Equação 2.14.

M V 2 (r) M V 2 (r0 )
+ CU (r) = + CU (r0 ) (2.14)
2 2
Para a Equação 2.14 tem-se que M é a massa da casca metálica, C é a massa de
explosivo, u(r) é a velocidade dos fragmentos para um raio r, e U (r) é a energia especı́fica
dos produtos gasosos que se expandem contra a casca. Tem-se que a velocidade dos
fragmentos para r = r0 é nula e a energia de compressão para esse instante é denominada
como uma constante E. (GRADY, 2007)
A partir dessas considerações é possı́vel reescrever a relação acima como:

 
2 2E U (r)
V (r) = 1−
M/C E

Assim, definindo Rmassas como a razão entre as massas de metal e de explosivo e


CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 45
q
definindo a velocidade no momento da ruptura como V0 tal que V0 (r) = 1 − UE(r) e essa
sendo uma caracterı́stica do par explosivo-metal, é possı́vel escrever a Equação 2.15

r
C
V (r) = V0 (r) (2.15)
M

Grady (2007) então sugeriu a definição da constante R para um cilindro de diâmetro


interno dint e diâmetro externo dext de forma que:

d2ext − d2int
R=
d2int

É possı́vel explicitar a razão de massas entre o casco do cilindro e seu conteúdo explo-
sivo, conforme a Equação 2.16, o que permite concluir que R ∝ M C

ρmetal d2 2 − d1 2

M
= (2.16)
C ρexp d1 2

Uma vez que V0 e R são constantes é possı́vel afirmar que R2 V (r) = V0 (r) = constante.
Assim, definindo a massa média dos fragmentos como o produto de suas dimensões
representativas(representadas na Figura 2.12) tem-se a Equação 2.17.

µ = ρatl (2.17)

É possı́vel combinar as relações presentes nas Equações 2.13, 2.15 e 2.17, de tal forma
que o cálculo da massa média do fragmento advindo de uma fragmentação natural dependa
somente de parâmetros geométricos, conforme presente na Equação 2.18.

 2
2/3 t
µ= K 2 t5/3 di 1+ (2.18)
di

É importante notar que as deduções levaram à Equação 2.18, a qual depende da


espessura e do diâmetro interno do armamento no momento da fragmentação, contudo
tais valores não são de fácil determinação devido a toda dinâmica do experimento ser
realizada em curtı́ssimos perı́odos de tempo e com grande liberação de energia, assim
impedindo a medição desses parâmetros.
Por meio da realização dos ensaios de fragmentação já citados e de posse do diâmetro
e espessura inicial do tubo utilizado no armamento, é possı́vel a realização de um fit dos
resultados para a massa média em função da geometria inicial do cilindro, assim levando
à obtenção do parâmetro K adequado para aplicação em um projeto preliminar de um
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 46

armamento, sem a necessidade de realização de novos ensaios experimentais.


Para a Equação 2.18 tem-se o parâmetro K denominado como parâmetro de Mott, o
qual é dependente do par metal-explosivo conforme explicitado na dedução acima. Assim
OTAN (2006) descreve os valores determinados para o parâmetro de Mott para alguns
explosivos em conjunto com um casco feito de aço doce, conforme a Tabela 2.1.
Uma vez definida a massa média (2µ) é possı́vel então definir a quantidade de frag-
mentos gerados na fragmentação por meio do resultado presente na Equação 2.19.

M
NT = (2.19)

TABELA 2.1 – Conjunto de dados presentes no manual AASTP-1 para explosivos conhe-
cidos. (OTAN, 2006)

Explosivo Densidade (kg/m3 ) K (kg1/2 /m7/6 ) Constante de Gurney ( 2E)(m/s)
COMP. A-3 (RDX/WAX) 1600 2,688 2630
COMP. B (RDX/TNT/WAX) 1710 2,712 2774
COMP. C-3 1600 - 2682
COMP. C-4 1710 - 2530
CICLONITE (RDX) 1710 - 2835
CYCLOTOL (75/25) 1745 2,41 2713
CYCLOTOL (20/80) 1710 - 2554
CYCLOTOL (60/40) 1710 3,301 2402
H-6 1710 3,375 2621
HBX-1 1700 3,127 2469
HBX-3 1810 3,949 1984
HMX 1710 - 2972
HTA-3 1710 - 2591
MINOL II (AN/TNT/Al) 1680 - 2530
OCTOL (75/25) 1821 - 2896
PBX-9404 (HMX/HTPB) 1710 - 2895
PENTOLITE (50/50) 1670 3,032 2560
PETN 1710 3,033 2926
RDX 1710 2,594 2926
TETRIL 1710 3.329 2499
TNT 1710 3,815 2438
TORPEX-2 1710 3,811 2682
TRITONAL (80/20) 1710 - 2316

Uma vez determinado o parâmetro µ é possı́vel retornar à Equação 2.10, por meio da
qual é possı́vel determinar a probabilidade da quebra do casco gerar fragmentos com massa
superior a uma dada massa de projeto m almejada. A partir da integral da Equação 2.10
tem-se o resultado presente na Equação 2.20, a partir do qual é possı́vel multiplicar pelo
número total de fragmentos dada pela Equação 2.19 e determinar o número de fragmentos
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 47

com uma massa superior à desejada, conforme a Equação 2.21.

Z ∞ √m

f (m)dm = e µ (2.20)
m

M −√ mµ
N (m) = e (2.21)

Dois parâmetros fundamentais e interrelacionados no projeto de fragmentação de uma


bomba são o confidence level (CL) e o design fragment weight (DFW). O CL é definido
como a probabilidade do DFW ser o maior fragmento gerado na fragmentação do invólucro
e via de regra quando trata-se de segurança de pessoas e instalações o nı́vel de confiança
é de 95% ou maior. O número de fragmentos com massa maior do que o DFW é dado
pela Equação 2.22. A partir das Equações 2.21 e 2.22 é possı́vel então chegar à Equação
2.23, a qual determina, para um dado nı́vel de confiança, qual seria a massa de projeto
para os fragmentos gerados por um certo armamento.

N = NT (1 − CL) (2.22)

DF W = µ (ln(1 − CL))2 (2.23)

2.3.3 Modelo de Gurney

Uma vez determinada a massa do fragmento após a detonação do armamento, se


faz necessária a determinação da velocidade inicial desse, pois o poder de destruição dos
fragmentos está ligado a sua energia cinética e essa à velocidade do fragmento no momento
do choque com o alvo. Para a determinação da velocidade inicial dos fragmentos em um
momento inicial do projeto é possı́vel utilizar o modelo proposto por Gurney et al. (1943),
o qual consiste em um modelo teórico acurado para cabeças-de-guerra que possuem L/D
≥ 2 e razões de massa de explosivo e metal entre 0,1 e 5, sendo ambos casos atendidos pelo
armamento proposto neste trabalho, logo permitindo a aplicação da teoria desenvolvida
por Gurney. (CHARRON, 1979)
O modelo de Gurney é um modelo simplificado da dinâmica que ocorre entre o explo-
sivo e a casca metálica do armamento após a detonação, pois nesse é considerado que toda
a energia fornecida pelo explosivo é convertida em energia cinética e que as ondas de ra-
refação que ocorrem na detonação de um material energético podem ser desconsideradas.
Outras hipóteses do modelo de Gurney são: a densidade dos gases gerados pelo explosivo
é uniforme em toda sua extensão e o perfil de velocidades de expansão dos gases é linear,
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 48

conforme esquematizado na Figura 2.13. (KENNEDY, 1972)

FIGURA 2.13 – Distribuição de velocidades para um arranjo cilı́ndrico.

A partir do perfil linear proposto por Gurney para a distribuição das velocidades é
possı́vel escrever o resultado presente na Equação 2.24.

y
v(y) = v0 (2.24)
R
Considerando uma distribuição linear de massa para o metal dada por M e para o ex-
plosivo dada por C, além da energia caracterı́stica do explosivo dada por E e denominada
como energia de Gurney, tem-se a conservação da energia quı́mica presente no explosivo,
a qual se converte em energia cinética para o metal e para os gases gerados, assim per-
mitindo a determinação da velocidade inicial dos fragmentos gerados na fragmentação
do casco cilı́ndrico, dada pela Equação 2.27. O equacionamento da conversão total de
energia especı́fica do explosivo em energia cinética do metal e dos gases está apresentado
na Equação 2.25.

R
M Lv0 2
Z
CLE = + ρexp (πrL)v 2 (r)dr (2.25)
2 0

Após a substituição dos parâmetros relevantes, como a aproximação presente na Equa-


ção 2.24, a Equação 2.25 implica na expressão presente na Equação 2.26.

R
M Lv0 2 CL
Z
CLE = + 4 v0 2 r3 dr (2.26)
2 R 0

Assim, após a resolução da Equação 2.26 tem-se o resultado presente na Equação 2.27.

−1/2


1 M
v0 = 2E + (2.27)
2 C

Na Equação 2.27 tem-se o parâmetro 2E que possui unidades de velocidade (m/s) e
é denominado como constante de Gurney, sendo esse parâmetro inerente a cada material
explosivo. Valores tabelados para a constante de Gurney estão presentes na Tabela 2.1.
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 49

2.3.4 Método das seções

As formulações desenvolvidas para massa média e a velocidade inicial dos fragmentos


assumem a utilização de seções cilı́ndricas de espessura e diâmetros constantes, contudo
muitos armamentos não possuem tal disposição, pois, como é possı́vel ver na Figura 1.6,
as seções da ogiva e da cauda possuem diâmetro variável ao longo do seu comprimento. A
variação de espessura e diâmetro em um primeiro momento invalidariam as formulações
até então propostas, contudo para contornar esse fato, Engineers (1990) sugere que para o
estudo de seções com espessura ou diâmetro variáveis sejam utilizados valores médios para
esses parâmetros, e, caso ocorram várias seções com variação de espessura e diâmetro, o
armamento deve ser modelado como uma série de cilindros de diâmetros e espessuras
médios das seções estudadas. Uma aplicação do método das seções é representado na
Figura 2.14.

FIGURA 2.14 – Aplicação do método das seções para um armamento. (ENGINEERS, 1990)

2.3.5 Ângulo de Ejeção

Além da determinação da massa e velocidade de impacto, outro fator relevante no


projeto de uma BFG é o ângulo de espalhamento dos fragmentos gerados, o qual depende
da geometria do armamento, do ponto de iniciação da detonação do explosivo confinado
e da condição de detonação, a qual pode ser estática (caso o armamento esteja parado)
ou dinâmica (caso haja movimento relativo entre a bomba e o alvo).
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 50

2.3.5.1 Espalhamento estático

A determinação para o espalhamento estático é dado pelo método de Shapiro, o qual


considera o armamento composto de uma série de anéis justapostos e centrados no eixo
de simetria do armamento, conforme exemplificado na Figura 2.15.

FIGURA 2.15 – Exemplo para o modelo de Shapiro, é possı́vel observar a divisão do casco
metálico em uma série de fragmentos. (COMMAND, 1964)

Visualizando em detalhe um dos anéis que compõem o modelo de casco metálico, é


possı́vel construir a Figura 2.16 e determinar o ângulo β que determina a direção, em
relação ao eixo normal do fragmento, que o fragmento será emitido pelo armamento. A
partir da Figura 2.16 o modelo de Shapiro afirma que o ângulo β é dado pela Equação
2.28, na qual Vi é a velocidade de Gurney, VD é a velocidade de detonação do explosivo,
α1 é o ângulo que a normal ao fragmento faz com o eixo de simetria do armamento e o
ângulo α2 é o ângulo entre o eixo de simetria do armamento e a reta que liga o ponto de
iniciação do explosivo ao fragmento. Para determinação do ângulo de espalhamento em
relação à vertical utiliza-se, então, a Equação 2.29.

FIGURA 2.16 – Visualização em detalhe para um fragmento. Adaptado de Lindsey e


Redmon (1986)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 51

Vi h π i
tg (β) = cos + α2 − α1 (2.28)
2VD 2

π
ϕ= − (α1 − β) (2.29)
2

2.3.5.2 Espalhamento dinâmico

Uma vez determinado o espalhamento estático, é possı́vel acrescentar o efeito de um


movimento relativo entre o armamento e o alvo, dessa forma é possı́vel escrever o ângulo
de espalhamento dinâmico(ϕd ) em função do espalhamento estático (ϕs ), da velocidade
de ejeção do fragmento (V0 ) e da velocidade relativa entre o armamento e o alvo (Vr ),
tomada como paralela ao eixo de simetria do armamento, conforme a Equação 2.30.

 
V0 sen(ϕs )
ϕd = arctg (2.30)
Vr + V0 cos(ϕs )

2.3.6 Dispersão de fragmentos

Para estimar os danos causados a um alvo, é necessária a determinação de quantos


fragmentos o atingem caso ele esteja a uma distância R da detonação do armamento,
assim é necessário a determinação da área de apresentação do alvo, denominada como
Aalvo , a qual depende da posição relativa entre o alvo e o armamento, bem como das
considerações de quais partes são relevantes de serem atingidas do alvo. Por fim, tem-se
que o número de fragmentos gerados pela fragmentação da bomba é dada pela Equação
2.19.

2.3.6.1 Expansão esférica

Uma primeira abordagem para a dispersão dos fragmentos é assumir que eles partem de
um ponto no espaço e se espalham segundo uma distribuição esférica, assim se distribuindo
sobre a superfı́cie dessa. Diante dessa consideração, os fragmentos se espalharão pela área
superficial da esfera, dada por A = 4πR2 , o que permite escrever a Equação 2.31.

 
Nf
Nf rag = Aalvo (2.31)
4πR2
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 52

2.3.6.2 Expansão em ângulo esférico

Para refinar o modelo de expansão esférica em toda extensão da esfera é possı́vel excluir
ângulos que não apresentarão fragmentos, uma vez que conforme o modelo proposto na
Seção 2.3.5 o armamento irá emitir fragmentos em ângulos limitados pela dinâmica de
detonação, conforme sugerido pela Figura 2.17, na qual os ângulos ϕ1 e ϕ2 são os ângulos
definidos pelo modelo de Shapiro para o armamento estudado.

FIGURA 2.17 – Ilustração do modelo de ângulo esférico para um mı́ssil x aeronave.


(MISCOW, 2015b)

A partir da Figura 2.17 é possı́vel escrever que s = Rsen(ϕ), bem como a área de um
RR 2
setor esférico é dada por A = R sen(ϕ)dϕdθ, na qual θ é o ângulo em torno do eixo
de simetria do armamento. Dessa forma é possı́vel determinar a área delimitada pelos
fragmentos ejetados conforme a Equação 2.32 e a partir dessa determinar a Equação 2.19
que informa quantos fragmentos atingiriam o alvo.

A = 2πR2 [cos(ϕ1 ) − cos(ϕ2 )] (2.32)

 
Nf
Nf rag = Aalvo 2
(2.33)
2πR (cos(ϕ1 ) − cos(ϕ2 ))
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 53

2.3.6.3 Expansão cilı́ndrica

Para um modelo ainda mais acurado para dispersão dos fragmentos é necessário levar
em consideração tanto a extensão do armamento quanto o formato desse ser simétrico
ao eixo longitudinal, o que leva à preferência de espalhamento dos fragmentos de forma
radial, mas com um desvio em relação a esse eixo dado pelos ângulos determinados na
Seção 2.3.5 e conforme ilustrado na Figura 2.18. Uma ilustração da expansão cilı́ndrica
está presente na Figura 2.19, a partir da qual é possı́vel escrever a área de dispersão de
fragmentos conforme a Equação 2.34, o que leva à Equação 2.35, sendo esse o modelo mais
fidedigno à dispersão de fragmentos que ocorre para os armamentos de fragmentação que
possuem o eixo de simetria longitudinal.

FIGURA 2.18 – Ilustração da visão em perspectiva de uma expansão cilı́ndrica. (BALL,


2003)

FIGURA 2.19 – Ilustração da visão lateral de uma expansão cilı́ndrica.


CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 54

A = 2πR [LCG + R (tg(ϕ1 ) + tg(ϕ2 ))] (2.34)

 
Nf
Nf rag = Aalvo (2.35)
2πR (LCG + R (tg(ϕ1 ) + tg(ϕ2 )))

Uma hipótese é considerar que a distância do alvo é muito superior ao comprimento


do armamento considerado, o que permite escrever que R ≫ LCG e a Equação 2.35 é
simplificada para o resultado presente na Equação 2.36.

 
Nf
Nf rag = Aalvo 2
(2.36)
2πR (tg(ϕ1 ) + tg(ϕ2 ))

2.4 Efeitos terminais

2.4.1 Decaimento da velocidade

Uma vez determinada a massa média do conjunto de fragmentos gerados na detonação


por meio do modelo de Mott descrito na Seção 2.3.2.1 e a velocidade de ejeção de Gurney
descrita na Seção 2.3.3 para esse conjunto de fragmentos, é possı́vel utilizar um modelo que
expresse a dinâmica do movimento. Uma representação esquemática das forças atuantes
está na Figura 2.20.

FIGURA 2.20 – Fragmento de massa m submetido ao arrasto e à gravidade.

O arrasto é dado pela Equação 2.37, na qual ρ é a densidade do ar, A é a área exposta
do fragmento, Cd é o coeficiente de arrasto do fragmento, o qual depende do Mach de voo
desse e por fim V é a velocidade relativa ao ar do fragmento.

2
⃗ = ρACd V
D (2.37)
2
Em um modelo simplificado, é possı́vel aplicar a segunda lei de Newton ao fragmento
no eixo da velocidade e desprezar o efeito da gravidade no voo, assim tem-se a Equação
2.38:
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 55

ρACd V 2
mV̇ = − (2.38)
2
A partir da Figura 2.21 é possı́vel supor que o coeficiente de arrasto é aproximadamente
constante para maior parte do voo do fragmento, o que permite simplificar a resolução da
Equação 2.38 e determinar um resultado analı́tico para a velocidade de voo do fragmento.

FIGURA 2.21 – Coeficiente de arrasto de um fragmento irregular para diversas faixas de


Mach e de velocidades. (OTAN, 2006)

Ao agruparmos os fatores constantes em um único fator denominado como α = − ρAC


2m
d

é possı́vel reescrever a Equação 2.38 conforme apresentado na Equação 2.39.

dV
V = αV 2 (2.39)
dx
Por meio de uma integração direta da Equação 2.39 tem-se a Equação 2.40, na qual
r é a distância percorrida pelo fragmento e V0 é a velocidade determinada a partir do
modelo de Gurney.

V = V0 eαr (2.40)

Uma vez determinada a forma como a velocidade decai com o deslocamento do frag-
mento é necessário determinar o valor de α para que seja possı́vel determinar a velocidade
do fragmento para cada ponto desejado. A densidade do ar ρ é possı́vel de ser obtida
por modelos atmosféricos, o coeficiente de arrasto, conforme presente na Figura 2.21, é
determinado para cada condição de Mach e a massa do fragmento advém do raciocı́-
nio apresentado por Mott e descrito na Seção 2.3.2.1, assim restando a necessidade de
determinação da área do fragmento.
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 56

O manual OTAN (2006) recomenda a utilização da Equação 2.41 para determinação


da área do fragmento, para a qual kf é denominado como fator de densidade balı́stica e
advém de uma série de experimentos realizados e cujos valores estão na Tabela 2.2.

 2/3
m
A= (2.41)
kf

TABELA 2.2 – Fator de densidade balı́stica para fragmentos


kf (g/cm3 ) Tipo de Munição
Projéteis de aço forjado
2,61
Bombas de Fragmentação
2,33 Bombas de Demolição
4,27 Cubos de Aço
5,89 Esferas de Aço

Dessa forma, a partir da Equação 2.41, é possı́vel reescrever o coeficiente α como


apresentado na Equação 2.42, na qual todos os fatores estão determinados pela teoria
já apresentada até então, logo sendo possı́vel descrever de forma simplificada todo o
comportamento da velocidade desde a origem do movimento até o impacto do fragmento
com o alvo.

ρCd
α=− 2/3 1/3
(2.42)
2kf m

2.4.2 Equações para penetração e perfuração

Uma vez que o fragmento seja ejetado e execute sua trajetória, esse irá finalmente
chegar ao alvo, no qual poderá causar uma série de fenômenos: desde um ricochete na
estrutura sem causar nenhum dano, passando pela possibilidade de rachadura da superfı́cie
externa do alvo, até a completa perfuração do alvo. Existem uma série de modelos para
avaliar a capacidade de penetração ou perfuração de um fragmento, dentre os quais é
possı́vel citar o modelo sugerido por Army (1986).
Diante da diversidade de geometrias possı́veis para fragmentos formados em uma frag-
mentação natural, conforme é possı́vel observar na Figura 2.22, faz-se necessário instituir
um fragmento de referência para o estudo da penetração de um alvo, assim Army (1986)
institui um fragmento padrão, em formato de projétil, o qual é mostrado na Figura 2.23.
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 57

FIGURA 2.22 – Exemplos de fragmentos e suas caracterı́sticas. Adaptado de Zecevic et


al. (2011)

FIGURA 2.23 – Geometria do fragmento estudado pela norma TM-5-855-1. (ARMY,


1986).

Para o fragmento mostrado na Figura 2.23, tem-se que a profundidade de penetração


(X), em polegadas, para um alvo constituı́do de aço doce é dada pela Equação 2.43, na
qual Wf é a massa do fragmento em onças e Vsf é a velocidade do fragmento em 103 pés
por segundo. (ARMY, 1986)

X = 0, 21Wf0,33 Vsf1,22 (2.43)

Caso a espessura da chapa de aço seja inferior ao valor determinado pela Equação 2.43,
tem-se que haverá a perfuração do alvo e o fragmento possuirá uma velocidade residual
(Vr ) que pode ser calculada por meio da Equação 2.44, onde ts é a espessura da chapa
perfurada.

"  1,64 #1/2


ts
Vsf2 − 12, 92 1/3
Wf
Vr =   (2.44)
ts
1 + 1, 44 1/3
Wf

A partir da Equação 2.44 é possı́vel estimar a velocidade mı́nima para que um alvo
seja completamente perfurado, uma vez que essa condição se traduz em Vr ≥ 0:
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 58

!1,64
ts
Vsf2 − 12, 92 1/3
≥0
Wf

Assim, é possı́vel determinar a Equação 2.45, que determina a velocidade mı́nima de


impacto necessária para perfuração de um alvo constituı́do de aço doce e que possui uma
espessura dada por ts :

!0,82
ts
Vsf,min = 3, 594 1/3
(2.45)
Wf

2.5 Envelope de fragmentação

Uma informação importante relativa às bombas de fins gerais é o envelope de frag-
mentação. Esse pode ser definido como a região do espaço varrida, em altura e alcance,
pelos fragmentos originados na detonação de uma bomba. O envelope é apresentado em
forma gráfica, como exemplificado na Figura 2.24, e tem como aplicações a determinação
da altura mı́nima de lançamento de uma bomba dados o ângulo de mergulho e a veloci-
dade de lançamento, determinar o intervalo de lançamento seguro entre aeronaves durante
bombardeios múltiplos e determinar a zona de segurança nos casos de apoio de fogo aéreo.
(MISCOW, 2020b)

FIGURA 2.24 – Exemplo de um envelope de fragmentação para uma bomba. Adaptado


de Miscow (2020b)

Para determinação do envelope de fragmentação, supõe-se que a bomba irá emitir seus
fragmentos de forma simétrica e radialmente em um plano (X,Y), de forma que todos
os fragmentos possuem a massa média determinada pelo modelo de Mott e a velocidade
inicial determinada pelo modelo de Gurney.
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 59

FIGURA 2.25 – Representação das forças atuantes em fragmento. (MISCOW, 2020b)

p
Por definição, a velocidade do corpo é dada por V = ẋ2 + ẏ 2 e a partir da Figura
2.25 é possı́vel decompor as forças de arrasto e gravitacional nos eixos x e y e aplicar
a segunda lei de Newton, o que permite escrever o conjunto de acelerações atuantes no
fragmento de forma diferencial, conforme o par ordenado presente na Equação 2.46.

!
−Dẋ −Dẏ
(ẍ, ÿ) = p , p −g (2.46)
m ẋ + ẏ m ẋ2 + ẏ 2
2 2

A expressão para o arrasto é dada pela Equação 2.37, contudo, objetivando resultados
mais fidedignos à realidade para o modelo do envelope de fragmentação, é possı́vel utilizar
a variação do coeficiente de arrasto em função do Mach de voo sugerido por Command
(1964) e presente na Figura 2.26.

FIGURA 2.26 – Variação do coeficiente de atrito em função do Mach de voo. O valor


apresentado no eixo das ordenadas é a metade do valor utilizado na Equação 2.37.(MIS-
COW, 2020b)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 60

Por meio de uma interpolação polinomial, é possı́vel determinar uma expressão do


formato Cd (M ) = a0 +a1 M 1 +a2 M 2 +a3 M 3 +a4 M 4 +a5 M 5 +a6 M 6 +a7 M 7 +a8 M 8 +a9 M 9
e cujos coeficientes do polinômio para cada tipo de fragmento estão na Tabela 2.3.

TABELA 2.3 – Coeficientes para o coeficiente de arrasto em função do Mach. (MISCOW,


2020b)
Fragmento
Coeficiente Cúbico/Cilı́ndrico Esférico Irregular
a0 3,9755 2,7412 0,08746
a1 -15,9153 -12,2901 1,59361
a2 28,9919 24,4292 -6,34143
a3 -27,0854 -24,1448 12,25030
a4 14,4017 13,5720 -12,23190
a5 -4,4302 -4,5596 7,00206
a6 0,7370 0,9085 -2,40258
a7 -0,0514 -0,0992 0,48954
a8 0 0,046 -0,05468
a9 0 0 0,00258

De posse da Equação 2.46 e uma vez determinado o comportamento do arrasto ponto-


a-ponto no movimento por meio da interpolação polinomial é possı́vel resolver a dinâmica
do movimento por meio de métodos de integração numérica, como por exemplo Runge-
Kutta de 4a ordem, determinando assim alcances máximos e posições relevantes para
instantes especı́ficos, como a determinação da altura mı́nima de lançamento para uma
dada condição de velocidade e ângulo de mergulho.

2.6 Função de dano

A vulnerabilidade de um alvo a determinado armamento é de grande valia no plane-


jamento de uma missão, uma vez que utilizar o armamento certo para o alvo pretendido
poupa recursos e maximiza as chances do cumprimento do objetivo. Uma forma de medir
o quão efetivo é o armamento é a utilização do ı́ndice de eficácia, o qual também pode ser
denominado como área letal ou função de dano. A função de dano é então definida para
um determinado grau de dano desejado por um determinado armamento para um deter-
minado alvo, sendo então particular de cada caso estudado e para o objetivo da missão.
Exemplos de função de dano estão na lista a seguir. (DRIELS, 2020)

• Área média de efetividade devido aos fragmentos (AMEF )


CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 61

• Área média de efetividade devido ao sopro (AMES )

• Área vulnerável (Av )

• Bridge Effectiveness Index (BEI)

• Área média de efetividade para uma construção (AMEC )

Nesse contexto, Aeronáutica (1980) define a área média de eficácia de uma bomba
como a área sobre a qual o armamento, em média, causaria, pelo menos, um dano espe-
cı́fico àqueles elementos. Elementos do alvo são unidades individuais separadas tais como
edifı́cios, maquinarias, pessoas, viaturas, pessoas ou unidades de área do teto e do piso.
Tratando especificamente sobre a AMEF , o método ideal para sua determinação se-
ria realizar uma análise de vulnerabilidade detalhada do alvo, verificando os efeitos da
fragmentação contra cada componente vital do alvo em termos de critérios especı́ficos de
danos, isso seria feito para cada situação especı́fica de encontro armamento x alvo, pois
para cada situação o alvo apresentará uma área vulnerável. Contudo, tais informações
demandam uma diversidade de ensaios experimentais e cujas informações são, por motivos
óbvios, mantidas em segredo de estado. Para o estudo da AMEF é necessário a definição de
alguns termos, como o conceito de PK , denominado como a probabilidade do armamento
de causar um dano especı́fico a cada alvo; outros dois termos a serem definidos são alcance
(range), associado ao vetor velocidade do armamento, e deflexão (deflection), associado à
direção perpendicular ao vetor velocidade. Esses dois termos são distâncias associadas ao
desvios do armamento em relação ao alvo, conforme exemplificado na Figura 2.27.

FIGURA 2.27 – Ilustração dos conceitos de alcance e deflexão. (ANDERSON, 2004)

Dessa forma, devido a dificuldade de obtenção dos dados de vulnerabilidade para os


mais diversos alvos, Driels (2020) sugere duas abordagens distintas para determinação do
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 62

valor de Pk . A primeira abordagem é um método avançado e dependente de duas ferramen-


tas computacionais: COVART e GFSM. A primemira delas é o COVART (Computation
of Vulnerable Areas and Repair Time) e consiste de um programa usado para gerar valo-
res básicos da área vulnerável de um alvo. Neste programa, o usuário define como cada
um dos grupos, sistemas, subsistemas e componentes que constituem um alvo, além de
inserir um modelo geométrico em que são especificados o tamanho e a posição espacial
de cada componente no alvo, sendo geralmente um modelo construı́do com ferramentas
computacionais de desenho, como o AUTOCAD. Uma vez que o modelo geométrico do
alvo é construı́do, a próxima etapa é construir um modelo funcional que define a interação
dos vários componentes no alvo como um todo, se são crı́ticos ou não, se redundantes ou
não. (DRIELS, 2020)
O GFSM (General Full Spray Material MAE ) é um programa que, a partir do modelo
gerado pelo COVART, analisa a interação de um armamento especı́fico com um alvo
para uma dada situação de encontro, assim produzindo, entre outros parâmetros, áreas
letais ou a área média de eficácia para os efeitos de sopro e fragmentação. A combinação
COVART/GFSM permite uma avaliação de vulnerabilidade/letalidade muito próximo do
real, sendo mais realista quanto mais detalhado for o modelo do alvo. O resultado da
aplicação COVART/GFSM é uma matriz de dano, exemplificada na Figura 2.28, onde se
tem para cada célula previamente definida do alvo e para cada ponto de detonação do
armamento (em alcance e deflexão) um valor de probabilidade de dano Pk . Porém, esses
dois modelos são de uso restrito, sendo o COVART citado posteriormente neste trabalho.

FIGURA 2.28 – Exemplo de matriz de dano para um armamento. (ANDERSON, 2004)


CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 63

O segundo método recomendado por Driels (2020) permite a simplificação do processo


descrito anteriormente e consiste na utilização da matriz exemplificada na 2.28 e a partir
dela o traçado de curvas que possuam o mesmo valor de PK , conforme ilustrado na Figura
2.29, e as quais possuem uma distribuição aproximadamente gaussiana e estão ilustradas
à esquerda e abaixo do gráfico na Figura 2.29. (DRIELS, 2020)

FIGURA 2.29 – Curvas de mesma probabilidade de dano. (ANDERSON, 2004)

Dessa forma, a abordagem por meio de aproximações gaussianas para a distribuição


do valor de PK leva a determinação de uma expressão que relaciona o ponto (x,y) de
detonação do armamento sua probabilidade de dano PK . Essa relação é denominada
Função de dano de Carleton e é apresentada na Equação 2.47, para a qual WRr é o raio
letal do armamento em alcance e W Rd é o raio letal do armamento em deflexão. Uma
ilustração da função de Carleton é apresentada na Figura 2.30, na qual é possı́vel observar
que as curvas de PK se tornaram elipses centradas no ponto de detonação do armamento.

 
x2 2
− + y 2
W R2 WR
PK (x, y) = e r d (2.47)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 64

FIGURA 2.30 – Ilustração para a função de dano de Carleton. Adaptado de Anderson


(2004)

Assumindo que a probabilidade de dano de fato pode ser modelada pela função de
Carleton, é possı́vel então determinar a área letal do armamento, a qual para armamentos
de fragmentação também é denominada como área média de eficácia do armamento, a qual
é calculada por meio da expressão 2.48, a qual advém do produto de cada PK presente na
matriz de dano ilustrada na Figura 2.28 pela área contemplada pela célula.

n
X
AME F = PK (i) × Acelula (2.48)
i=1

Assim, ao substituir a função de Carleton na Equação 2.48 o problema pode ser descrito
de forma contı́nua e o somatório se torna uma integral, conforme a Equação 2.49 e que
leva ao resultado presente na Equação 2.50 e a partir da qual é possı́vel escrever que a
área letal é dada por uma elipse de eixos WRd e WRr e para a qual tem-se que PK é
unitária para sua parte interna e nula para os demais pontos. Uma ilustração da elipse
descrita está presente na Figura 2.31.

 
∞ ∞ x2 2
+ y 2
Z Z

W R2 WR
AME F = e r d dxdy (2.49)
−∞ −∞

AME F = πWRr WRd (2.50)


CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 65

FIGURA 2.31 – Ilustração da área letal advinda da função de Carleton.

Para determinação dos raios letais, Driels (2020) afirma que a razão entre eles é dada
pela Equação 2.51, em que o parâmetro a advém de uma grande quantidade de ensaios
experimentais, a partir dos quais foram geradas matrizes de dano e levaram à relação
empı́rica presente na Equação 2.52, na qual α é o ângulo de impacto medido com relação
à horizontal.

WRr
a= (2.51)
WRd

a = max[1 − 0, 8cos(α), 0, 3] (2.52)

Utilizando as Equações 2.50, 2.51 e 2.52 é possı́vel escrever então as Equações 2.53 e
2.54, as quais determinam os raios letais para um dado armamento estudado.

r
a
WRr = AMEF (2.53)
π

WRr
WRd = (2.54)
a
Uma abordagem auxiliar para a área letal segundo Driels (2020) é descrever essa em

função do comprimento efetivo do alvo (effective target length) LET = 2WRr e largura

efetiva do alvo (effective target width) WET = 2WRd , o que leva aos resultados presentes
nas Equações 2.55 e 2.56. Ao substituir essas relações na função de Carleton, essa é
reescrita conforme a Equação 2.57.
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 66

r
′ a
LET = 2 AMEF (2.55)
π


′ LET
WET = (2.56)
a

!
4x2 4y 2
− ′ 2+ ′ 2
L W
PK (x, y) = e ET ET (2.57)

Ainda de acordo com Driels (2020), em algumas aplicações a função de dano de Carle-
ton ou a função de dano expressa pela área elı́ptica, não são suficientemente simples para
permitir uma solução matematicamente tratável. Neste caso, faz-se uma aproximação re-
tangular para a área elı́ptica que resulta nos resultados de comprimento e largura efetivas
do alvo respectivamente nas Equações 2.58 e 2.59 e ilustrada na Figura 2.32.

p
LET = 2 a × AMEF (2.58)

LET
WET = (2.59)
a

FIGURA 2.32 – Definição de largura e comprimento efetivos de um alvo.

2.6.1 Probabilidade de Tiro Único

As funções de dano apresentadas até aqui expressam apenas a probabilidade de destruir


ou danificar um alvo, dado que o armamento acerta o alvo. Para determinar a probabi-
lidade total de destruir, deve-se considerar também a probabilidade de acertar. Assim,
conhecendo-se a função de dano do armamento e a probabilidade de acerto determina-se
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 67

a Single Sortie Probability of Damage (SSPD), ou como denominada por Aeronáutica


(1980), Probabilidade de Tiro Único (PTU).
A SSPD expressa a probabilidade de que um único armamento causará no alvo um
dano de extensão representada pela função de dano. Sortie significa uma única passagem
da aeronave sobre o alvo onde um ou mais armamentos serão lançados. Entretanto,
como uma simplificação, será considerado o lançamento de um único armamento contra
um alvo unitário. Por alvo unitário, deve-se entender por um alvo pontual em que as
suas dimensões não são consideradas nos cálculos da eficácia do armamento. Segundo
Aeronáutica (1980), um alvo unitário é denominado de alvo individualizado no ponto de
visada.
Para o cálculo da SSPD, será considerada uma situação em que apenas a direção do
alcance é de interesse, sendo a distribuição dos erros em relação ao alvo uma distribuição
normal Gaussiana g(x) e a função de dano h(x), representada pela função de dano de
Carleton. Supõe-se alvo unitário e o lançamento de apenas um armamento, que cai a uma
distância x = u do alvo, como ilustrado na Figura 2.33 na qual é possı́vel observar o ponto
para qual a função de dano possui abscissa no alvo, sendo esse ponto denominado como
SSPD1 . (ANDERSON, 2004)

FIGURA 2.33 – Ilustração das curvas de precisão e da função de dano. (ANDERSON,


2004)

O ponto SSPD1 indica a probabilidade de danificar o alvo com uma única passagem
e expressa o valor da função de dano no alvo. Assumindo-se, que para uma grande
quantidade de lançamentos u obedece a uma distribuição normal, e ponderando-se SSPD
para cada lançamento, tende-se ao valor esperado para SSPD. Assim, computando-se
todos os pontos de impacto na direção do alcance, tem-se a Equação 2.60, na qual c(x)
e g(x) são dadas pelas Equações 2.61 e 2.62. Outro ponto de destaque é o valor de σx ,
o qual é, segundo Anderson (2004), tomado como o valor no qual REP = 0, 6745σx e
DEP = 0, 6745σy , em que REP (Range Probable Error ) é o erro provável no alcance e
DEP (Deflection Probable Error ) é o erro provável na deflexão.

Z ∞
SSP Dx = c(x)g(x)dx (2.60)
−∞
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 68

4x2

L
c(x) = e ET (2.61)

1 x2

h(x) = √ e 2σx2
(2.62)
σx 2π

Logo, por meio da resolução da integral 2.60 a partir das Equações 2.61 e 2.62 tem-se o
resultado de SSPD para o alcance na Equação 2.63 e por um raciocı́nio análogo é possı́vel
definir SSPD para a deflexão, conforme a Equação 2.64. Por fim, é possı́vel determinar o
SSPD total, por meio da multiplicação das duas últimas equações deduzidas e levando ao
resultado presente na Equação 2.65.


LET
SSPDx = q (2.63)
17, 6REP 2 + L′ 2ET


WET
SSPDy = q (2.64)
17, 6DEP 2 + W ′ 2ET

′ ′
LET WET
SSPD = q (2.65)
(17, 6REP 2 + L′ 2ET )(17, 6DEP 2 + W ′ 2ET )

Para determinação dos valores de REP e DEP, Siouris (2004) afirma que é possı́vel
utilizar a Equação 2.66, de forma que os valores de CEP podem ser escolhidos de forma
a avaliar o incremento ou redução no valor de SSPD para o armamento estudado. Diante
do impasse da existência de duas variáveis: REP e DEP, é possı́vel utilizar o fato de que
costumeiramente REP é maior que DEP, assim sendo possı́vel sugerir um desses valores
e obter como consequência o outro.

CEP = 0, 875(REP + DEP ) (2.66)

2.6.2 Equivalência para chapas de aço

Para utilização da abordagem sugerida por Driels (2020), se faz necessária a deter-
minação da AMEF , a qual, atualmente, se faz por meio da análise de vulnerabilidade
realizada por meio de programas de computador, como aqueles exemplificados na Figura
2.34. Entretanto, face à dificuldade de realizar tais análises para uma multitude de alvos e,
muito provavelmente, à indisponibilidade de ferramentas computacionais para realizá-las,
foi criado um método alternativo que simplifica em muito a determinação da AMEF .
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 69

Aeronáutica (1980) sugere a utilização do método que consiste em estabelecer uma


equivalência de resistência entre os componentes vitais do alvo e chapas de aço doce (mild
steel ), sendo essa resistência medida em perfuração de chapas de aço, com as espessuras
das chapas iguais a 1/8, 1/4, 1/2 e 1 polegada. Naturalmente, quanto mais resistente um
componente, maior será a espessura da chapa de aço de resistência equivalente. Dessa
forma, Aeronáutica (1980) apresenta a Tabela 2.4, a qual estabelece para um alvo com-
plexo uma área efetiva e qual seria sua resistência à perfuração.

TABELA 2.4 – Alvos comuns em um ambiente de combate e sua resistência equivalente


a chapas de aço doce. (AERONÁUTICA, 1980)
Alvo AAA (ft2 ) Espessura de chapa de aço doce equivalente (pol.)
Aeronaves estacionadas 6 1/8
Foguetes desabrigados 2 1/4
Foguetes abrigados 2 1/2
Veı́culos s/rodas, capô de 0,04 pol. 2,5 1/8
Veı́culos s/rodas, capô de 0,04 pol. 4,5 1/8
Veı́culos s/rodas, capô de 0,08 pol. 1,5 1/2
Veı́culos s/rodas, capô de 0,08 pol. 3,5 1/8
Veı́culos de meia-lagarta 1,5 1
Veı́culos de meia-lagarta 2,5 1/4
Suprimentos ao ar livre 4 1/8
Equipamentos eletrônicos ao ar livre 2 1/8
Equipamentos eletrônicos em pequenos prédios leves 3 1/4
Transformadores 1 1/4
Equipamento de fabricação em prédios leves 2 1/8

2.7 Softwares de simulação computacional

Uma alternativa aos ensaios de arena para a avaliação dos efeitos terminais de penetra-
ção, perfuração e sopro, é a simulação por meio de softwares especı́ficos para armamentos.
Esses programas podem ser tão simples quanto tão somente estimar a velocidade inicial
dos fragmentos, a massa média e algumas outras variáveis de desempenho, ou tão com-
plexos como, além desses dados, simular o efeito do armamento em alvos tão complexos
quanto se desejar. Existem diversos softwares que realizam essas simulações, com me-
nor ou maior grau de detalhamento e complexidade, alguns deles elencados na Figura
2.34, apresentando, porém, uma caracterı́stica comum: acesso restrito. Para alguns, uma
declaração de usuário final é suficiente para a aquisição, mas para outros o acesso é defi-
nitivamente negado por razões de estado. (MISCOW, 2015b)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 70

FIGURA 2.34 – Alguns softwares de simulação computacional, com destaque para os


softwares Split-X e AVAL. (MISCOW, 2015b)

2.7.1 ConWep

Um dos softwares utilizados para simulação dos efeitos terminais do armamento proje-
tado foi o ConWep, o qual, segundo Hyde et al. (1988), consiste em um conjunto de rotinas
capazes de realizar diversos cálculos dos efeitos de armamentos convencionais, como a onda
de choque, penetração e perfuração devido aos fragmentos gerados, crateramento e cho-
que contra o solo. Os resultados gerados pelo programa se baseiam nas equações e curvas
da TM 5-855-1: Design and Analysis of Hardened Structures to Conventional Weapons
Effects e permitem a aplicação tanto a uma gama de armamentos pré-estabelecidos –
como as bombas de fins gerais, granadas de artilharia e munição para morteiros – quanto
a novos armamentos, para os quais o usuário deve possuir informações pré-estabelecidas
para gerar o armamento a ser estudado. O programa é de responsabilidade do Protective
Design Center, do U.S. Army Corp of Engineers e seu acesso é permitido apenas para
cidadãos e empresas norte-americanas (MISCOW, 2015b). (ARMY, 1986)

2.7.2 Split-X

Outro software utilizado e disponı́vel no IAE é o software Split-X, desenvolvido pela


empresa NUMERICS GmbH e que permite diversas simulações a um custo computacional
baixo, uma vez que os resultados gerados pelo software se baseiam em modelos teóricos
pré-estabelecidos, os quais são ajustados a partir de resultados experimentais disponı́veis.
Dessa forma, esse software é uma ferramenta útil ao desenvolvimento e otimização de
projetos de cabeças-de-guerra bem como para a simulação do efeito de fragmentação. O
software permite a modelagem da cabeça-de-guerra com as caracterı́sticas fı́sicas, geomé-
tricas e funcionais muito próximas do projeto real. Outra funcionalidade é que o software
permite a simulação de ensaios de arena em que o setor de coleta pode ser modelado
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 71

conforme a necessidade e interesse do usuário. (NUMERICS, 2007)


O software Split-X possui uma série de outputs para a cabeça-de-guerra simulada,
como: a massa de cada componente e a massa total da CG, a quantidade de fragmentos
gerados com seus respectivos ângulos de ejeção e velocidades, a trajetória dos fragmentos
considerando a resistência do ar, pontos de impacto nos alvos estabelecidos, e a penetração
e perfuração do alvo. (NUMERICS, 2007)

2.7.3 AVAL

Por fim, um terceiro programa para simulação de cabeça-de-guerra é o AVAL (Asses-


sment of Vulnerability and Lethality). Este programa, de procedência sueca, pertence às
Forças Armadas Suecas e é gerenciado pelo FMV (Swedish Defence Research Agency),
tendo sido desenvolvido pelos seguintes órgãos governamentais/empresas suecas: FOI,
BAE Systems Bofors AB e Dynamec Research AB. O programa realiza análises de vul-
nerabilidade de alvos e letalidade de armamentos, além de apresentar em sua biblioteca
alguns alvos genéricos (um veı́culo blindado, um mı́ssil, uma fragata, uma aeronave de
transporte e uma aeronave de caça), ilustrados na Figura 2.35, e permitir a simulação de
efeitos de uma cabeça-de-guerra, outros alvos podem ser modelados. (ADMINISTRATION,
2007)

FIGURA 2.35 – Alvos genéricos presentes no AVAL.


3 Metodologia

3.1 Metodologia para concepção do armamento

3.1.1 Armamentos semelhantes

O ponto de partida para concepção do armamento foi a utilização de “dados históricos”


existentes para o projeto, os quais se caracterizam por observar a geometria das bombas
da série MK-80 e da série BAFG. Utilizar dados históricos como ponto de partida possui
como objetivo a redução de incertezas quanto ao comportamento do armamento em suas
diversas fases do voo, como o voo cativo (no qual o sistema aeronave-armamento poderia
estar submetido a fenômenos aeroelásticos como o flutter), na separação e na balı́stica.
Outro ponto de preocupação foi a compatibilidade fı́sica entre o armamento e a aeronave
que o carrega e os efeitos terminais, assim projetos semelhantes podem servir de subsı́dio
para avaliação do novo armamento proposto e ajudar a prever eventuais problemas que
aconteceriam em fases mais avançadas do projeto.
Outro ponto de destaque para o uso de um armamento totalmente novo para o estudo
dos parâmetros de fragmentação reside no fato de muitos dados de projetos existentes
serem de caráter reservado, o que imporia dificuldades ao desenvolvimento deste Trabalho
de Graduação (TG), além de extinguir a preocupação na eventual utilização de dados
sigilosos.

3.1.2 Materiais utilizados e geometria final

O material utilizado para o projeto da BAFG, denominada como BAFG-350, foi um


tubo sem costura fabricado pela empresa Vallourec, o qual possui diâmetro externo de
323,8 mm e espessura de 10,3 mm e é produzido no Brasil. A partir do tubo escolhido
e por meio do processo de extrusão já mencionado na Seção 2.1.2 foi possı́vel utilizar
um molde com o perfil tangente-ogiva para a geometria do armamento e utilizando o
equacionamento da Seção 2.1.1 foi possı́vel a conformação de sua geometria de forma a
otimizar o desempenho aerodinâmico do armamento.
CAPÍTULO 3. METODOLOGIA 73

FIGURA 3.1 – Especificações do tubo sugerido para o projeto da BAFG-350. (ABNT,


2018)

3.1.3 Determinação da massa total

A determinação da massa do armamento é uma consequência direta da aplicação


das Equações 2.3 e 2.4, utilizando o valor de ρmetal equivalente ao de aço doce, ou seja,
7, 87 × 103 kg/m3 e utilizando o valor para ρexp presente na Tabela 2.1 de 1, 71 × 103
kg/m3 para o explosivo RDX.
A determinação computacional da massa total da BAFG-350 é feita dividindo o corpo
em uma grande quantidade de seções, o que permite uma aproximação cilı́ndrica para
cada seção, assim permitindo a aplicação direta das Equações 2.3 e 2.4 sem a necessidade
de determinar uma expressão para os diâmetros em função da coordenada longitudinal
do armamento. Uma vez determinadas as massas de cada seção, é possı́vel determinar a
massa total a partir da soma das massas de cada seção.

3.1.4 Determinação do centro de massa

Para implementar computacionalmente o cálculo do CM é possı́vel escrever que ri =


ri−1 + dL, em que ri é a distância entre o nariz e o i-ésimo segmento de massa e que os
centros dos segmentos de massa consecutivos estão distantes de dL, distância essa que pode
ser obtida ao dividir o comprimento total da BAFG-350 por um número arbitrariamente
alto. Assim, ao utilizar um número suficientemente pequeno para dL é possı́vel aproximar
as diversas seções para cilindros e a partir da forma diferencial das Equações 2.3 e 2.4 é
possı́vel aplicar a Equação 2.5 e determinar a posição do centro de massa do armamento.
CAPÍTULO 3. METODOLOGIA 74

3.1.5 Determinação da posição das alças

A partir da determinação do centro de massa, foram seguidas as instruções fornecidas


por Defense (1990) e estabelecidas as posições para as alças, de tal forma que essas perma-
necessem na região cilı́ndrica do armamento projetado. Foi determinado arbitrariamente
que a primeira alça estaria a 70 mm do centro de massa.

3.2 Aplicação do método das seções

Para a aplicação do método das seções (Seção 2.3.4), o armamento foi dividido em
uma grande quantidade de cilindros equivalentes, especialmente para a parte ogival, já
que nessa havia uma grande variação na espessura e nos diâmetros internos e externos do
armamento.
Com o intuito de comparar os resultados obtidos pelo código feito em MatLab e os
resultados provenientes do software Split-X, a quantidade de divisões para cada seções
foram iguais.

3.3 Determinação da massa e velocidade dos fragmentos

A partir do método das seções (Seção 2.3.4) foi possı́vel a determinação da espessura
e do diâmetro interno para cada seção cilı́ndrica equivalente para o armamento. Dessa
forma, de posse do parâmetro de Mott presente na Tabela 2.1 para o explosivo RDX
foi possı́vel a determinação da massa média de fragmento de cada seção, por meio da
Equação 2.17, bem como o números de fragmentos gerados utilizando a Equação 2.19.
Para cada seção também foi possı́vel a determinação da razão entre a massa de metal e
de explosivo ali presente, logo por meio da constante de Gurney para o RDX foi possı́vel
também determinar a velocidade de ejeção de cada fragmento ao utilizar a Equação 2.27.

3.3.1 DFW e nı́vel de confiança

Para determinação do DFW do armamento como um todo determinou-se o DFW para


cada cilindro resultante do método das seções e por meio de uma média ponderada do
número de fragmentos resultante de cada seção (Nsec ) pelo DFW de cada seção (DF Wsec )
foi definido o DFW do armamento como um todo. De forma análoga, a velocidade dos
fragmentos foi feito também por uma média ponderada das velocidades de cada cilindro.
As representações matemáticas do procedimento descrito estão presentes nas Equações
3.1 e 3.2.
CAPÍTULO 3. METODOLOGIA 75

P
(Nsec × DFWsec )
DFWprojeto = P (3.1)
Nsec

P
(Nsec × Velsec )
Velprojeto = P (3.2)
Nsec

3.4 Determinação da dispersão dos fragmentos

A determinação computacional da dispersão dos fragmentos descrita na Seção 2.3.5 é


realizada da seguinte forma: tratando inicialmente do ângulo α1 , esse pode ser determi-
nado por métodos de álgebra linear. Primeiramente determinam-se todos os vetores entre
pontos adjacentes da superfı́cie externa do armamento, conforme exemplificado na Figura
3.2. Assim, utilizando a matriz para rotação em duas dimensões, é possı́vel substituir
θ = π/2 e multiplicar os vetores obtidos anteriormente, determinando assim os vetores
perpendiculares, conforme a Equação 3.3.

FIGURA 3.2 – Vetor genérico entre pontos adjacentes de um armamento.

" #" #
h i cosθ −senθ xi+1 − xi
vperp = (3.3)
senθ cosθ yi+1 − yi

Uma vez determinado o vetor perpendicular, é possı́vel realizar o produto escalar entre
esse vetor e o vetor (1,0), o qual representa a direção e sentido do eixo de simetria do
armamento. Tal produto implica na Equação 3.4, logo permitindo a determinação do
ângulo α1 .

 
− (yi+1 − yi )
α1 = arccos  q  (3.4)
2 2
(yi+1 − yi ) + (xi+1 − xi )

A determinação do ângulo α2 é feita de forma mais simples, uma vez que a tangente do
ângulo é definida pela razão entre as diferenças de coordenadas no eixo das ordenadas pelo
CAPÍTULO 3. METODOLOGIA 76

eixo das abscissas, conforme ilustrado na Figura 3.3. Assim, o ângulo α2 é determinado
pela Equação 3.5.

FIGURA 3.3 – Determinação do ângulo α2 .

 
yi
α2 = arctg (3.5)
xi − xdet

3.5 Metodologia para análise dos efeitos terminais

Para os efeitos terminais, o autor deste TG definiu que o objetivo é determinar a AMEF
tal que pelo menos um fragmento consiga perfurar chapas de aço doce de espessuras 10%
superiores aos alvos de referência listados por Aeronáutica (1980), assim os alvos que
possuem espessuras de 1/8, 1/4, 1/2 e 1 pol. de espessura se tornariam alvos de 0,1375,
0,275, 0,55 e 1,1 pol. de espessura.
Para as espessuras definidas e utilizando a expressão dada pela Equação 2.45 é possı́vel
determinar o conjunto de velocidades mı́nimas necessárias para a perfuração de tais alvos
e, para os alvos reais, determinar a velocidade residual do fragmento após a perfuração
do aço. Uma vez determinadas as velocidades necessárias para perfuração, é possı́vel
realizar o raciocı́nio inverso, e por meio do modelo de decaimento de velocidade explicado
na Seção 2.4.1 é possı́vel definir a distância que o fragmento se desloca até atingir o alvo,
logo determinando o raio e consequentemente a área média de fragmentação.
Para determinar a área média de eficácia para alvos suficientemente grandes, é possı́vel
utilizar somente a consideração de que a velocidade ao chegar no alvo deve possuir um valor
mı́nimo definido pela Equação 2.45, contudo, para alvos reais e pré-definidos, sua área de
apresentação deve ser considerada, ou seja, além do fragmento chegar com uma velocidade
mı́nima esse deve atingir o alvo, o que leva à necessidade da utilização da Equação 2.35
de tal forma que Nf rag ≥ 1. Ao utilizar os dois critérios, a distância de efetividade do
armamento será a menor distância definida entre os dois métodos e implicará diretamente
CAPÍTULO 3. METODOLOGIA 77

na área média efetiva do armamento para cada tipo de alvo estudado.


Por meio da reorganização da Equação 2.35 é possı́vel escrever que a distância para
que pelo menos um fragmento atinja o alvo é dada pela Equação 3.6, a qual é válida para
uma bomba posicionada na vertical, situação na qual se assume que o espalhamento dos
fragmentos é igual em todas as direções.

q
A Nf
−LCG + LCG 2 + 4 Alvo

(tg(ϕ1 ) + tg(ϕ2 ))
Rmax = (3.6)
2 (tg(ϕ1 ) + tg(ϕ2 ))

A Equação 3.6 pode ser simplificada a partir da consideração que R ≫ LCG e reescrita
conforme a Equação 3.7.

s
Aalvo Nf
Rmax = (3.7)
2π (tg(ϕ1 ) + tg(ϕ2 ))

Uma vez determinado o raio máximo, é possı́vel determinar a área média de eficácia e
aplicar a teoria descrita na Seção 2.6 a fim de determinar os valores dos raios máximos de
alcance e deflexão para os alvos de referência. A área média de eficácia é considerada como
a área do circulo com centro no ponto de detonação do alvo, assim, é possı́vel escrever a
Equação 3.8 já que a efetividade do armamento se dá para a perfuração por pelo menos
um fragmento, logo é delimitada pelo raio máximo.

AME F = πRmax 2 (3.8)

3.6 Metodologia para o Split-X

Para a utilização do Split-X, se fornece qual explosivo será utilizado para preencher o
armamento e a geometria das seções relevantes do armamento, que seriam a seção ogival,
a seção cilı́ndrica e a cauda do armamento. Uma vez definidas as geometrias se estabelece
o ponto de detonação do armamento e dá-se inicio à simulação, a qual fornecerá a massa
de metal e explosivo no armamento, a velocidade de ejeção para cada divisão gerada pelo
software e seu respectivo ângulo de dispersão, assim permitindo a comparação com os
resultados obtidos por meio da teoria desenvolvida na Revisão Bibliográfica.
4 Resultados

4.1 Geometria Final do Armamento

O comprimento das 3 principais seções do armamento foram definidos para permitir a


instalação das alças de suspensão, o que levou aos comprimentos presentes na Tabela 4.1.
É importante notar que um trecho da seção ogival foi destinado à instalação do reforçador
da espoleta, levando então à detonação do armamento no ponto de ordenada 120 mm,
conforme é possı́vel observar na Figura 4.1.
Por meio do processo descrito para determinação do centro de massa do armamento,
foi calculado que esse está distante de aproximadamente 903 mm do nariz do armamento,
e o posicionamento das alças foi realizado de forma que a primeira alça está a 833 mm
do nariz do armamento e a segunda está a 1188 mm. Tais posições estão apresentadas na
Tabela 4.2.
Outro parâmetro relevante é a massa do armamento, assim, por meio da metodologia
descrita na Seção 3.1.3 é possı́vel determinar as massas presentes na Tabela 4.3, bem como
compará-la a armamentos já existentes.

TABELA 4.1 – Comprimentos para cada seção do armamento.


Seção Comprimento (mm)
Ogiva 700
Cilindro 500
Cauda 500

TABELA 4.2 – Coordenadas relevantes para a BAFG-350.


Seção Localização (mm)
Centro de Gravidade 902
Ponto de detonação 120
Primeira alça 832
Segunda alça 1188
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 79

TABELA 4.3 – Inserção do projeto da BAFG-350 dentre as BAFGs existentes. Adaptado


de Miscow (2020b)
Bomba da Equivalente Massa Massa Massa
FAB MK de explosivo (kg) de metal (kg) Total (kg)
BA-FG-120 MK-81 45 67 128
BA-FG-230 MK-82 96 133 248
BAFG-350 – 171 140 311
BA-FG-460 MK-83 202 235 452
BA-FG-920 MK-84 467 440 930

Geometria para a BAFG-350


400

200
Largura (mm)

-200

-400
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
Comprimento (mm)

Perfil Interno
Perfil Externo
Centro de Massa
Alça dianteira
Alça traseira
Detonação

FIGURA 4.1 – Geometria proposta para a BAFG-350.

4.2 Efeitos terminais

4.2.1 Massa, velocidade e quantidade de fragmentos

Após a aplicação do método das seções, a BAFG-350 foi dividida em uma série de
cilindros adjacentes, os quais estão apresentados na Figura 4.2. A partir do momento que
o armamento se tornou constituı́do apenas de cilindros, foi possı́vel a determinação do
DFW e da velocidade de ejeção dos fragmentos para o armamento. Após a realização
das médias ponderadas descritas na Seção 3.3.1 tem-se que a massa de projeto para os
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 80

fragmentos no projeto da BAFG e a velocidade de ejeção desses são de, respectivamente,


16,9 g e 2599,3 m/s. Utilizando o conceito de confidence level tem-se que 1766 fragmentos
possuem massa igual ou superior a 16,9 g.
Método das seções para a BAFG-350

300 Perfil Interno


Perfil Externo
200
Largura (mm)
100
0
-100
-200
-300

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600


Comprimento (mm)

FIGURA 4.2 – Geometria após a aplicação do método das seções.

4.2.2 Velocidade para perfuração

Para perfurar os alvos de espessura definidos na Seção 3.5 foram determinadas as ve-
locidades presentes na Tabela 4.4, as quais foram retiradas da Figura 4.3 bem como foram
determinadas as velocidades residuais após a perfuração dos alvos reais. As velocidades
mı́nimas para perfuração de alvos 10% mais espessos e as velocidades residuais após a
perfuração do alvo com sua espessura real são apresentadas, respectivamente, nas Figuras
4.3 e 4.3.

TABELA 4.4 – Espessuras, velocidades de perfuração para alvos de projeto e velocidades


residuais após perfuração de alvos reais.
Velocidade necessária para Velocidade residual
Espessura do alvo (pol.) Espessura considerada (pol.) perfuração da após perfuração da
espessura considerada (m/s) espessura real (m/s)
1/8 0,1375 248 77,7
1/4 0,275 438 116,6
1/2 0,55 773 158,4
1 1,1 1365 191,33
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 81

Velocidade para perfuração de uma chapa 10% mais espessa


1365

1200

Velocidade para perfuração (m/s)


1100

900

773

600

438

300
248
200
5

5
25

35

45

75

1
2

5
12

62

87
0.

0.
0.

0.

0.

0.
0.

0.

0.
Espessura de projeto (pol.)

FIGURA 4.3 – Velocidades para perfuração de chapas 10% mais espessas.

Velocidade residual após perfuração


200
191

175
Velocidade residual (m/s)

158
150

125
117

100

78
5

25

75
25

35

45

75

1
2

5
12

0.

0.

8
0.

0.

0.

0.
0.

0.

0.

Espessura real do alvo (pol.)

FIGURA 4.4 – Velocidades residuais após perfuração de chapas de referência.

4.2.3 Determinação da AMEF

Uma vez determinadas as velocidades mı́nimas necessárias para perfuração dos alvos
mais espessos e de posse da velocidade de projeto para os fragmentos gerados é possı́vel
utilizar o modelo de decaimento da velocidade e determinar as distâncias máximas entre
a explosão e o alvo desejado. É importante observar que o coeficiente de arrasto muda em
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 82

função da velocidade do fragmento, assim, para que seja possı́vel a utilização do modelo
analı́tico e para maximizar as chances de efetividade do armamento, o coeficiente de
arrasto considerado para o voo do fragmento será o maior apresentado entre a velocidade
inicial e a velocidade necessária determinada na Tabela 4.4.
Os valores utilizados para o modelo de decaimento são: densidade do ar de 1,225
kg/m3 , fator de densidade balı́stica de 2,61 g/cm3 e, conforme já explicado, foi tomado o
maior valor de CD para todo o voo do fragmento, logo foi considerado um valor de 1,4.
Dessa forma, é possı́vel determinar, utilizando o modelo apresentado pela Equação 2.36,
as distâncias máximas, conforme as Figuras 4.5 e 4.6, que os alvos devem estar para que
haja perfuração de uma espessura 10% superior a que possuem.

Distância do alvo em função da espessura real do alvo.


160
Distância máxima para perfuração (m)

140
133

120

101

80
69
60

45
37
30
20
5

5
25

35

45

75

1
5

2
12

62

87
0.

1.
0.

0.

0.

0.
0.

0.

0.

Espessura do alvo (pol.)

FIGURA 4.5 – Distância máxima para perfuração de um alvo consistindo de uma espes-
sura, em polegadas, 10% superior a sua.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 83

Distância do alvo em função da espessura real do alvo.


160

Distância máxima para perfuração (m)


140
133

120

101

80
69
60

45
37
30
20

19
12.4
.7

.9

.2

.4

.5
2

9
3.

6.

8.
11

15

22

25

30
Espessura do alvo (mm)

FIGURA 4.6 – Distância máxima para perfuração de um alvo consistindo de uma espes-
sura, em milı́metros, 10% superior a sua.

Assim, considerando que a AMEF é um circulo centrado no ponto de detonação da


bomba, é possı́vel gerar as Figuras 4.7 e 4.8, as quais apresentam as áreas médias de
eficácia em função da espessura do alvo em polegadas e em milı́metros, respectivamente.

AMEF em função da espessura real do alvo.

61575

55726
Área média de eficácia (m2 )

45239

32024

20106
14845
11310

4190
5

5
25

35

45

75

1
5

2
12

62

87
0.

1.
0.

0.

0.

0.
0.

0.

0.

Espessura do alvo (pol.)

FIGURA 4.7 – Área média de eficácia em função da espessura do alvo.


CAPÍTULO 4. RESULTADOS 84

AMEF em função da espessura real do alvo.

61575

55726

Área média de eficácia (m2 ) 45239

32024

20106
14845
11310

4190

19
12.4
.7

.9

.2

.4

.5
2

9
3.

6.

8.
11

15

22

25

30
Espessura do alvo (mm)

FIGURA 4.8 – Área média de eficácia em função da espessura do alvo.

É importante notar que a utilização dessas curvas são mediante a confirmação de que
os alvos são suficientemente grandes para que pelo menos um fragmento atinja o alvo,
logo perfurando-o e cumprindo o objetivo previsto: perfurar um alvo com uma espessura
10% superior à espessura real.

4.2.4 Dispersão dos fragmentos da BAFG-350

Para a dispersão dos fragmentos, foi possı́vel aplicar o modelo de Shapiro descrito na
Seção 2.3.5 e determinar a direção de voo dos fragmentos gerados. É importante notar
que a velocidade utilizada para determinação desses ângulos é a obtida na Seção 4.2.1.
A ilustração do sentido e direção das velocidades dos fragmentos está na Figura 4.9 que
apresenta em colorido os vetores de velocidades dos extremos, os quais delimitarão a
dispersão angular dos fragmentos e cujos vetores velocidades apresentam os ângulos em
relação à vertical de ϕ = −10, 55◦ para o fragmento gerado na extremidade do nariz do
armamento e de ϕ = 12, 21◦ para o fragmento gerado no extremo de sua cauda.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 85

Distribuição de velocidades para a BAFG-350

400

300

200
Largura (mm)
100

-100

-200

-300

-400

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800


Comprimento (mm)

FIGURA 4.9 – Velocidades determinadas a partir do modelo de Shapiro. Em colorido


estão as velocidades dos extremos.

4.2.5 AMEF para alvos do Manual MMA-136

Uma vez que Aeronáutica (1980) define as áreas de apresentação dos alvos relevantes, é
necessário utilizar a metodologia descrita na Seção 3.5 para avaliar qual a maior distância
na qual há fragmentos perfurando os alvos presentes no manual.
Por meio da Equação 3.6 e utilizando os resultados obtidos em seções anteriores é
possı́vel determinar a Tabela 4.5, na qual a coluna relacionada à dispersão está associada
à quantidade de fragmentos que atingem o alvo e a coluna relacionada à velocidade está
associada ao modelo de perfuração e critério de dano estabelecido para este trabalho.
Dessa forma, a partir da Tabela 4.5, é possı́vel concluir que o fator crı́tico para a utilização
da BAFG-350 contra os alvos pré-estabelecidos é a quantidade de fragmentos gerados na
detonação.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 86

Distancia máxima em função da área de apresentação do alvo

Distância máxima entre detonação e alvo (m)


133
1/8 pol.
115

101
1/4 pol.
85

69
1/2 pol.
50

37
1 pol.
20

0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
Área de apresentação do alvo (m2 )

FIGURA 4.10 – Distância ao alvo em função da área de apresentação necessária para


atingi-lo e perfurá-lo.

TABELA 4.5 – Distâncias máximas de detonação da BAFG-350 para neutralização dos


alvos definidos no Manual MMA-136.
Distância máxima Distância máxima
Alvo AAA (ft2 )
devido à dispersão (m) devido à velocidade (m)
Aeronaves estacionadas 6 17,8 133
Foguetes desabrigados 2 9,5 101
Foguetes abrigados 2 9,5 101
Veı́culos s/rodas, capô de 0,04 pol. 2,5 10,8 133
Veı́culos s/rodas, capô de 0,04 pol. 4,5 15,1 133
Veı́culos s/rodas, capô de 0,08 pol. 1,5 8 69
Veı́culos s/rodas, capô de 0,08 pol. 3,5 13,1 133
Veı́culos de meia-lagarta 1,5 8 37
Veı́culos de meia-lagarta 2,5 10,8 101
Suprimentos ao ar livre 4 14,2 133
Equipamentos eletrônicos ao ar livre 2 9,5 133
Equipamentos eletrônicos em pequenos prédios leves 3 12 101
Transformadores 1 6,2 101
Equipamento de fabricação em prédios leves 2 9,5 133

Uma vez determinados os dois fatores crı́ticos: dispersão e velocidade dos fragmentos
para cada espessura, é possı́vel obter a Figura 4.10 que consiste de um gráfico que relaciona
a área de apresentação do alvo (AAA) com a distância máxima que a detonação pode
ocorrer e que garante sua perfuração. Por exemplo, para alvos constituı́dos de chapas de
1 pol., é necessário que esses possuam 2 m2 de área de apresentação para que um alvo
que esteja a 37 m seja perfurado pelo critério estabelecido neste trabalho. As distâncias
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 87

máximas que garantem que um fragmento atinja o alvo e que o penetre estão apresentadas
na Tabela 4.6.

TABELA 4.6 – Tabela relacionando espessura do alvo, distância entre armamento e alvo
e a área de apresentação necessária para que o alvo seja atingido.
Espessura (pol.) Área de apresentação do alvo (m2 ) Distância (m)
1/8 25,3 133
1/4 14,6 101
1/2 6,8 69
1 2 37

4.2.6 Determinação do raio efetivo em alcance e deflexão para a BAFG-


350

Uma vez determinadas as distâncias máximas para cada espessura de alvo, é possı́vel
determinar a AMEF e como consequência os valores de alcance e deflexão para cada ângulo
de impacto, o qual é definido pelas retas da velocidade do armamento e a vertical ao solo.
Os resultados obtidos estão presentes nas Figuras 4.11 e 4.12.
Nesse contexto, os pontos destacados com asteriscos são as fronteiras que garantem
que as respectivas espessuras ainda sofrerão o critério definido, por exemplo para um alvo
de área de apresentação de 2 m2 o armamento deve ter no máximo um desvio no alcance
em torno de 20 m caso o ângulo de impacto com relação à vertical do solo seja de 20◦ .
Uma vez que o alcance seja superior ao demarcado pelo asterisco, somente alvos mais
delgados serão afetados, para os quais tem-se uma possibilidade maior para desvios no
alcance, mas que se torna necessário maiores áreas apresentadas, essa última consequência
do espalhamento dos fragmentos conforme explicado pelo modelo de Shapiro.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 88

Alcance em função da área de apresentação do alvo


120

110

100

Raio efetivo em alcance (WRr) (m)


90

80

70

60 1/8 pol

50

40 1/4 pol

30
1/2 pol
20 = 20°
= 40°
10 1 pol = 60°
0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
Área de apresentação do alvo (m2 )

FIGURA 4.11 – Alcance para 3 ângulos de impacto.

Deflexão em função da área de apresentação do alvo

270
255
Raio efetivo em deflexão (WRd) (m)

240
225
210
195
180
165
150
135 1/8 pol
120
105 1/4 pol
90
75
60 1/2 pol
= 20°
45
= 40°
30 1 pol
15 = 60°
0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
Área de apresentação do alvo (m2 )

FIGURA 4.12 – Deflexão para 3 ângulos de impacto.

4.2.7 Envelope de fragmentação

Com a utilização da Equação 2.46 e possı́vel a determinação do envelope de fragmen-


tação para o projeto da BAFG-350, o qual se encontra na Figura 4.13. Como forma de
ilustrar a dinâmica do fragmento, foram traçados os pontos nos quais os fragmentos se lo-
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 89

calizam após 1, 2 e 3 s, bem como seguindo a instrução presente no manual OTAN (2006),
foi possı́vel determinar os pontos a partir dos quais o fragmento não é mais letal ao ser
humano, uma vez que, a partir desses pontos, os fragmentos possuem energia inferior a
79 J, valor esse especificado pelo manual citado. Uma vez que a massa de projeto é de
16,9 g, a velocidade letal do fragmento pode ser determinada como 96,7 m/s.

Envelope de Fragmentação
400

300
Altitude(m)

200

100

0
-500 -400 -300 -200 -100 0 100 200 300 400 500
Alcance(m)

Fragmentos após 1 s
Fragmentos após 2 s
Fragmentos após 3 s
Fronteira letalidade humana

FIGURA 4.13 – Envelope de fragmentação para a massa e velocidade iniciais de projeto.

Dessa forma, por exemplo, caso ocorra a detonação do armamento, as pessoas loca-
lizadas no solo e a uma distância um pouco superior a 250 m, caso fossem atingidas,
estariam submetidos a um fragmento letal. Outro ponto a se observar é que para o ensaio
desse armamento, para garantir que não haverão fragmentos atingindo a casamata, essa
deve estar localizada a uma distância superior a 450 m, uma vez que o maior alcance do
fragmento está próximo a essa distância.
Um método mais direto para observação das curvas após os tempos de voo de 1 s, 2 s
e 3 s é a aproximação dessas para uma circunferência de raios respectivamente dados por
271 m, 331 m e 364 m, facilitando então o planejamento da missão de ataque, uma vez
que o piloto agora possui um valor de referência que deve estar em relação ao ponto de
detonação, assim garantindo que não sofra danos advindos dos fragmentos da bomba que
ele mesmo lançou.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 90

4.3 Determinação da SSPD

Por meio da teoria descrita na Seção 2.6.1 foi possı́vel a determinação dos valores de
SSPD para diversos ângulos de impacto e diversos CEP, os quais estão descritos nos tı́tulos
e legendas das Figuras 4.14, 4.15 e 4.16. A partir dos resultados é possı́vel confirmar o
que já era esperado: quanto menor o erro em relação ao alvo, ou seja, o CEP, maior a
probabilidade de neutralização do alvo. Outro fato já esperado e confirmado mediante os
gráficos é que quanto maior a área de apresentação do alvo mais distante esse pode estar
e ainda será neutralizado, contudo a maior distância reduz a capacidade de perfuração do
fragmento, sendo necessário notar as fronteiras para cada espessura de alvo.

SSPD para (CEP, REP) = (10 m, 6 m)


1
= 20°
0.9 = 40°
= 60°
1/4 pol. 1/8 pol.
0.8
1/2 pol.

0.7
1 pol.

0.6
SSPD

0.5

0.4

0.3

0.2

0.1

0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
2
Área de apresentação do alvo (m )

FIGURA 4.14 – SSPD para um CEP de 10 m, REP de 6 m e DEP de 5,43 m.


CAPÍTULO 4. RESULTADOS 91

SSPD para (CEP, REP) = (25 m, 15 m)


1
= 20°
0.9 = 40°
= 60°
0.8

0.7 1/4 pol. 1/8 pol.

0.6
SSPD (%)

0.5 1/2 pol.

0.4
1 pol.
0.3

0.2

0.1

0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
Área de apresentação do alvo (m2 )

FIGURA 4.15 – SSPD para um CEP de 25 m, REP de 15 m e DEP de 13,57 m.

SSPD para (CEP, REP) = (40 m, 24 m)


0.9
= 20°

0.8 = 40°
= 60°
0.7 1/8 pol.

0.6
1/4 pol.
SSPD (%)

0.5
1/2 pol.
0.4

0.3

0.2
1 pol.

0.1

0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
2
Área de apresentação do alvo (m )

FIGURA 4.16 – SSPD para um CEP de 40 m, REP de 24 m e DEP de 21,71 m.

4.4 Simulação do Split-X

A simulação realizada por meio do Split-X permitiu modelar a geometria da bomba


BAFG-350, bem como os parâmetros de massa total tanto de metal quanto de explosivo.
Outros parâmetros como a quantidade total de fragmentos gerados, velocidade média de
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 92

ejeção dos fragmentos e o ângulo de dispersão dos fragmentos também foram determinados
pelo software.

TABELA 4.7 – Tabela-resumo dos principais resultados levantados por meio das imple-
mentações computacionais.
Parâmetro Simulação MatLab Simulação Split-X Diferença percentual (%)
Massa de metal (kg) 140 156 11
Massa de explosivo (kg) 171 172 0,58
Número de fragmentos 37226 26233 -29,53
Massa média dos fragmentos (g) 3,78 5,67 50
Velocidade média dos fragmentos (m/s) 2600 2249 -13,5
Ângulo de ejeção no nariz / cauda (◦ ) 79,4 / 77,8 84,4 / 76,3 6,3 / -1,93

4.4.1 Comparação entre as geometrias obtidas

As geometrias finais obtidas tanto pelo Split-X quanto pelo código em MatLab estão
presentes nas Figuras 4.17 e 4.18.

FIGURA 4.17 – Geometria da BAFG-350 gerada pelo Split-X.

Geometria para a BAFG-350


400

200
Largura (mm)

-200

-400
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
Comprimento (mm)

Perfil Interno
Perfil Externo
Centro de Massa
Alça dianteira
Alça traseira
Detonação

FIGURA 4.18 – Geometria proposta para a BAFG-350.


CAPÍTULO 4. RESULTADOS 93

4.4.2 Comparação entre as massas e velocidades obtidas

Os resultados concernentes à massa de metal e de explosivo, bem como à massa média


e quantidade e velocidade média dos fragmentos estão apresentadas na Tabela 4.7. Um
primeiro ponto a se notar é a diferença de massas determinadas tanto para a quantidade
de metal e de explosivo. Tal diferença é consequência da forma como o Split-X traça o
armamento: é necessário dar um input de espessura inicial e de espessura final para cada
seção, assim para a espessura inicial foi utilizada a espessura de um armamento conhecido
e a espessura final é a do tubo utilizado na simulação. De posse das espessuras iniciais
e finais de cada seção, o software define o perfil interno e externo das seções por meio
de circunferências, o que acaba desencadeando uma massa maior do que se a espessura
do armamento fosse uma consequência do processo de conformação mecânica à volume
constante de um perfil tangente-ogiva, esse último implementado no código em MatLab.
É possı́vel observar que a quantidade de fragmentos estimada foi bem distinta entre
os dois procedimentos, tal diferença pode ser associada à segmentação do corpo do ar-
mamento, uma vez que o Split-X utiliza um passo não-constante, logo as seções em cada
método não possuem as mesmas dimensões de espessura e diâmetro interno, sendo que
esses parâmetros são os principais valores para determinação do parâmetro µ de Mott
e logo na massa média de fragmentos. Em especial, destaca-se a diferença de espessura
advinda da diferença de conformação do armamento entre os métodos, tal diferença im-
plica em uma maior massa média para cada fragmento no Split-X, e consequentemente em
uma menor quantidade de fragmentos gerados na detonação do armamento. Um segundo
fator que pode ter influenciado na quantidade de fragmentos gerados é o fator de Mott
utilizado em cada simulação, uma vez que o valor determinado por meio do MatLab é
consequência do fator de Mott presente no Manual OTAN (2006), o qual não define, de
forma precisa, qual é o metal utilizado na fragmentação natural, logo sendo uma fonte de
diferenças entre os valores determinados por ambos métodos.
Por fim, a velocidade também pode ter sido afetada pela forma que houve a segmen-
tação do corpo, uma vez que para cada segmento há uma razão M C
e, pelo modelo de
Gurney, uma velocidade de ejeção dos fragmentos. Outro ponto que implicou em uma
menor velocidade pelo modelo do Split-X é que esse software utiliza outras considerações
para o cálculo da velocidade, como transferência de momentum entre os gases da explosão
e os fragmentos gerados, e vazamento dos gases da explosão entre os espaços formados
na fragmentação do armamento, tais efeitos implicam em uma redução da velocidade do
fragmento, uma vez que os gases saem do sistema antes de transferir totalmente sua ener-
gia interna. A distribuição de velocidades para ambas simulações está presente na Figura
4.19. Na porção final da curva, após o inicio da seção de cauda, há um aumento da velo-
cidade de ejeção dos fragmentos, isso se dá pois o modelo do Split-X associa uma menor
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 94

massa de metal à essa região, assim quanto menor a massa de metal sendo acelerada por
uma mesma porção de explosivo, maior a velocidade de ejeção, conforme o modelo de
Gurney.

Perfil de velocidades para a BAFG-350


3000
Split-X
MatLab

2500
Velocidade de Ejeção (m/s)

2000

1500

1000

500
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Posição relativa (x/L)
FIGURA 4.19 – Distribuição de velocidades para ambos modelos.

4.4.3 Comparação entre as dispersões obtidas

De posse dos resultados obtidos pela simulação do Split-X foi possı́vel a determinação
da Figura 4.20. É possı́vel observar que há uma concordância na tendência dos ângulos, em
especial no pico de dispersão ser em uma abscissa muito próxima à do ponto de detonação.
A partir do trecho cilı́ndrico é onde há uma maior concordância no ângulo de dispersão dos
fragmentos entre os métodos. Por fim, há uma leve dispersão entre os resultados teóricos
e os advindos do Split-X para a seção da cauda do armamento, inclusive a mudança de
tendência no ângulo de ejeção se dá assim que começa a curva da seção de cauda.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 95

Perfil de ângulos em relação ao eixo x para a BAFG-350


115
Split-X
MatLab
110

105

Ângulo de ejeção (°)


100

95

90

85

80

75
0 0.07 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Posição relativa (x/L)

FIGURA 4.20 – Dispersão angular em relação ao eixo x.

Perfil de ângulos em relação ao eixo x para a BAFG-350


82
Split-X
MatLab

81

80
Ângulo de ejeção (°)

79

78

77

76
0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
Posição relativa (x/L)

FIGURA 4.21 – Detalhe do final da curva da Figura 4.20.


5 Conclusão

Neste trabalho foi apresentada uma perspectiva histórica do desenvolvimento do bom-


bardeio aéreo e das bombas de fins gerais, bem como foi feito uma breve explicação sobre
espoletas e dos sistemas de guiamento existentes para esses armamentos.
Uma vez determinada a perspectiva histórica e utilizando-a como um ponto de inicio,
foi possı́vel sintetizar referencias bibliográficas relevantes para o desenvolvimento de um
projeto inicial de uma bomba de fins gerais, a qual foi denominada, pelo autor, como
BAFG-350. Neste projeto inicial foi escolhido um tubo sem costura confeccionado e
fornecido pela subsidiária brasileira da empresa Vallourec e que possuı́a 1700 mm de
comprimento, dos quais 700 mm estavam destinados à seção ogival, 500 mm à seção
cilı́ndrica e 500 mm à seção de cauda do armamento desenvolvido.
A partir desse tubo foi possı́vel submetê-lo ao processo de extrusão e determinar seu
perfil geométrico tanto interno quanto externo e, a partir desse perfil, determinar as
massas de explosivo (171 kg) e metal (140 kg) do projeto final e bem como sua distribuição
espacial, permitindo então a determinação do centro de massa (902 mm) e a posição das
alças de carregamento externo da aeronave, as quais estão localizadas a 832 mm e 1188
mm do nariz do armamento.
De posse da geometria do armamento, foi possı́vel utilizar o método das seções, o
conceito de design fragment weight e de confidence level de 95%, o que levou à formação
de 1771 fragmentos que possuı́am uma massa média de 16,9 g ou superior e que eram
ejetados a uma velocidade de aproximadamente 2600 m/s. Por fim, para completar a
caracterização do armamento, foi utilizada a teoria de Shapiro que forneceu a dispersão
angular dos fragmentos levando a um ângulo no ponto inicial do nariz de −10, 55◦ e no
ponto final da cauda de −12, 21◦ .
Para o estudo do desempenho do armamento, foi definido um critério de letalidade
que pelo menos um fragmento deveria perfurar chapas de aço com espessura 10% superior
às espessuras de referência de 1/8 pol. , 1/4 pol., 1/2 pol. e 1 pol., o que permitiu então
determinar quais as distâncias máximas que o armamento deveria estar em relação ao
alvo para que seus fragmentos fossem efetivos. Para o critério estabelecido, e a partir
das equações relevantes para a perfuração de alvos de aço doce, foram determinadas as
CAPÍTULO 5. CONCLUSÃO 97

velocidades de 248 m/s, 438 m/s, 773 m/s e 1365 m/s, as quais se relacionaram, por meio
de um modelo aerodinâmico de arrasto, às distâncias de, respectivamente, de 133 m, 101
m, 69 m e 37 m entre a detonação do armamento e o alvo a ser neutralizado.
Ao incrementar o modelo, considerando a dispersão dos fragmentos, as distâncias de-
terminadas são reduzidas e se faz necessário considerar a área de apresentação do alvo,
assim foi possı́vel determinar os gráficos que determinam, para cada espessura de refe-
rência, qual a área apresentada necessária e qual seria a distância até essa área para que
o alvo seja neutralizado. De posse das distâncias máximas, e considerando as áreas de
apresentação dos alvos, foi possı́vel determinar a área média de eficácia para cada caso, e
a partir dessa foi possı́vel a determinação dos raios efetivos de alcance e de deflexão para
a BAFG-350. Uma vez determinados esses raios, foi possı́vel a determinação da SSPD
para cada espessura de referência e para alguns casos de CEP e REP. Por fim, a partir de
um modelo aerodinâmico mais complexo, por considerar a variação de arrasto ponto-a-
ponto no voo do fragmento, foi possı́vel a determinação do envelope de fragmentação do
armamento, bem como a determinação da envoltória de letalidade para alvos humanos.
A fim de confirmar os resultados obtidos pela teoria desenvolvida e implementada no
MatLab, foi utilizado o software Split-X para modelar a BAFG-350 e obter os parâme-
tros relevantes dessa. Assim, conforme é possı́vel observar nos resultados, os resultados
dependentes da geometria e massa de metal destoaram de forma significativa entre os
métodos, uma vez que o Split-X utiliza um método diferente para confecção da envoltória
metálica, mas os resultados dependentes de propriedades intrı́nsecas dos materiais, como
a velocidade e ângulo de ejeção, foram próximos entre si, inclusive sendo possı́vel ver essa
proximidade a partir dos gráficos apresentados.
Diante do exposto neste trabalho, é possı́vel concluir que a metodologia apresentada
foi suficiente para se dar inicio a um projeto de uma bomba de fins gerais, mas que há a
necessidade de um refino do modelo, refino esse que é dependente de ensaios experimentais
custosos e que atualmente não possuem perspectivas de ocorrer. Outros ensaios, como
de carregamento externo em aeronaves e de alijamento são necessários para determinar
o CEP e o REP do armamento e tornar o modelo de letalidade mais fidedigno ao arma-
mento. Sendo assim, faz-se a necessidade, em trabalhos futuros, de ensaios de arena para
refinar o modelo de fragmentação do armamento, e de ensaios em voo para determinar o
comportamento do armamento em voo cativo e voo balı́stico.
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FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO

1. 2. 3. 4.
CLASSIFICAÇÃO/TIPO DATA DOCUMENTO Nº Nº DE PÁGINAS
TC 16 de novembro de 2022 DCTA/ITA/TC 102
046/2022
5.
TÍTULO E SUBTÍTULO:
Análise dos Parâmetros de Fragmentação de uma Bomba de Fins Gerais
6.
AUTOR(ES):
Daniel Abreu Duarte
7.
INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES):
Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA
8.
PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:
Armamento; Explosivo; Fragmentação; Bombas; Mott; Gurney
9.
PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:
Bombas (explosivos); Fragmentação; Armamentos; Guiamento (movimento); Cabeça-de-guerra; Tecnologia mi-
litar; Engenharia militar.
10.
APRESENTAÇÃO: (X) Nacional ( ) Internacional
ITA, São José dos Campos. Curso de Graduação em Engenharia Aeronáutica. Orientador: Rene Franscisco
Boschi Gonçalves; co-orientador: Paulo Cesar Miscow Ferreira. Publicado em 2022.
11.
RESUMO:
O presente trabalho se propõe a projetar um armamento denominado como bomba BAFG-350 e que consiste
de uma bomba de fins gerais de baixo arrasto e a estudar os parâmetros de fragmentação tanto em sua forma-
ção quanto em seus efeitos terminais. Nesse contexto, o trabalho se inicia com uma perspectiva histórica dos
bombardeios aéreos, passando pelo desenvolvimento das atualmente denominadas bombas de fins gerais e suas
melhorias em relação à precisão, por meio de sistemas de guiamento. Também há uma breve explicação quanto
às espoletas, seu funcionamento e finalidade.
Após a introdução ao tema, o trabalho parte para a revisão bibliográfica, a qual consiste no arcabouço teórico
necessário para o projeto do armamento. Nesse contexto, a revisão perpassa pela conformação mecânica de um
tubo sem costura e de seu preenchimento pelo trem explosivo. Tratando especificamente sobre a fragmentação,
o presente trabalho discorre sobre a fragmentação natural inerente às BAFGs, da velocidade dos fragmentos e de
sua dispersão angular após a fragmentação. Outros tópicos abordados são o voo dos fragmentos, e seus efeitos
terminais em placas de aço, as quais são utilizadas como alvos de referência com relação a alvos reais. Ainda
tratando dos efeitos terminais, tem-se um estudo da função de dano caracterizada pela área média de eficácia de
fragmentação, bem como o cálculo da chance de neutralização de alvos de referência submetidos aos fragmentos
advindos da BAFG-350.
Por fim, e como forma de confirmar que a teoria abordada está de acordo com o praticado na indústria e
na pesquisa, os resultados determinados pela teoria presente na revisão bibliográfica são confrontados com os
resultados advindos de um software existente no IAE - DCTA, denominado como Split-X e de uso industrial
para o projeto de cabeças-de-guerra.

12.
GRAU DE SIGILO:
(X) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) SECRETO

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