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Trabalho de Graduação
2022
Orientador
Prof. Dr. Rene Francisco Boschi Gonçalves (ITA)
Coorientador
Prof. MSc. Engenheiro Paulo Cesar Miscow Ferreira (IAE)
ENGENHARIA AERONÁUTICA
2022
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Divisão de Informação e Documentação
Duarte, Daniel Abreu
Análise dos Parâmetros de Fragmentação de uma Bomba de Fins Gerais / Daniel Abreu Duarte.
São José dos Campos, 2022.
102f.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DUARTE, Daniel Abreu. Análise dos Parâmetros de Fragmentação de uma Bomba de
Fins Gerais. 2022. 102f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Instituto
Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos.
CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Daniel Abreu Duarte
TITULO DO TRABALHO: Análise dos Parâmetros de Fragmentação de uma Bomba de
Fins Gerais.
TIPO DO TRABALHO/ANO: Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) / 2022
Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e por me dar saúde e força nos
momentos em que mais precisei.
Agradeço a meus pais, principalmente minha mãe, Maristela, por todo suporte forne-
cido e por acreditar em mim e em meu potencial quando ninguém mais acreditou.
Agradeço às poucas, mas verdadeiras amizades que construı́ ao longo dos anos de
preparação para passar no ITA e na vivência de H8, as quais com certeza fizeram a
diferença e me ajudaram a chegar até aqui. Bem como, agradeço à minha namorada,
Heloı́sa, por seu apoio crucial na reta final da graduação.
Agradeço aos professores do ITA, em especial ao meu orientador e professor conselheiro
prof. Rene Gonçalves, e ao prof. José Fritz por terem apoiado diversas ideias mirabolantes
que tive ao longo dos 5 anos de ITA e contribuı́do com minha formação em engenharia.
Agradeço aos membros da ASD: Caio, Fernandez e Pradella, e em especial ao professor
Miscow, os quais estiveram intensamente envolvidos na minha formação e instrução sobre
armamentos aéreos e sem os quais a minha caminhada neste trabalho teria sido muito
mais dura.
Agradeço por fim à FAB e ao ITA, por permitirem minha formação em Engenharia
Aeronáutica como Aspirante-a-Oficial, um benefı́cio concedido a poucos.
“If you’re going through hell, keep going.”
— Winston Churchill
Resumo
This work proposes to project an armament named BAFG-350, which consists of a low-
drag general-purpose bomb, and to study the fragmentation parameters in its formation
as well as in its terminal effects. In this context, the work starts with a historic perspective
of airstrikes, goes through the development of the so-called general-purpose bombs and
their improvements in relation to precision, through guidance systems. There is also a
brief explanation as for the fuses, their functioning and purpose.
After the introduction, it is presented a bibliographic review, which consists of the
theoretical framework necessary for the armament design. In this context, the review goes
through the mechanical conformation of a seamless tube and its filling by the explosive
train. Dealing specifically with fragmentation, the present work discusses the natural
fragmentation inherent to the BAFGs, the fragment velocity and its angular dispersion
after fragmentation. Other topics covered are the fragments flight, and their terminal
effects on steel plates, which are used as reference targets with respect to real targets.
Still dealing with the terminal effects, a study of the damage function characterized by
the average area of fragmentation effectiveness, as well as the calculation of the chance
of neutralization of reference targets submitted to the fragments from BAFG-350 are
presented.
Finally, and as a way of confirming that the theory discussed is in accordance with the
practiced in industry and research, the results determined by the theory present in the
bibliographic review are confronted with the results obtained from an existing software at
IAE - DCTA, known as Split-X that is used in the industry for warhead projects.
Lista de Figuras
FIGURA 1.1 – Ilustração do bombardeio por balões realizado pelos austrı́acos. (WAR-
FARE, 2019) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
FIGURA 1.2 – Avião Etrich Taube, modelo utilizado por Giulio Gavotti em seu
bombardeio. (WIKIPEDIA, 2022) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
FIGURA 1.3 – Foto de um artilheiro segurando a granada desenvolvida pelos búl-
garos. (DEMERS, 2022) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
FIGURA 1.4 – Uma bomba de fins gerais old-series em corte. (ORDER, 1966) . . . 21
FIGURA 1.5 – Vista em corte uma bomba de fins gerais new-series. (ORDER, 1966) 22
FIGURA 1.6 – Bombas Mark da série 80. (WIKI, 2022) . . . . . . . . . . . . . . . . 23
FIGURA 1.7 – Vista em corte de uma bomba de fins gerais low-drag. (MISCOW,
2020b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
FIGURA 1.8 – Bombas BAFGs nacionais. (MISCOW, 2020b) . . . . . . . . . . . . . 24
FIGURA 1.9 – Ilustração de uma EOM-BFG com destaque para alguns elementos
constituintes. (MISCOW, 2020c) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
FIGURA 1.10 –Ilustração de uma ECM-BFG com destaque para alguns elementos
constituintes. (MISCOW, 2020c) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
FIGURA 1.11 –Ilustração de uma espoleta de ogiva M904 com destaque para alguns
elementos constituintes. (MISCOW, 2020c) . . . . . . . . . . . . . . . 26
FIGURA 1.12 –Conjunto acionador e espoleta de cauda M905. (MISCOW, 2020c) . . 26
FIGURA 1.13 –Espoleta eletrônica FMU-139 C/B. (MISCOW, 2020c) . . . . . . . . 27
FIGURA 1.14 –Espoleta eletrônica FMU-152 A/B. (MISCOW, 2020c) . . . . . . . . 27
FIGURA 1.15 –Exemplificação do funcionamento de uma bomba guiada por laser.
(POWER, 2022) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
FIGURA 1.16 –Descrição dos itens do kit de guiamento Paveway. (KOPP, 1981) . . 29
LISTA DE FIGURAS x
TABELA 1.1 – Massa de explosivo e metal das bombas da série MK-80. (MISCOW,
2020b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
TABELA 1.2 – Massa de explosivo e metal para BAFGs. (MISCOW, 2020b) . . . . 24
1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.1 Contextualização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.1.1 Conceitos preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.1.2 Visão histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.1.3 Bombas de aviação: tipos e aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.1.4 Bombas em emprego na FAB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.2 Espoletas para BFGs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.2.1 Espoletas mecânicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.2.2 Espoletas eletrônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.3 Sistemas de Guiamento para BFGs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2 Revisão Bibliográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1 Dimensionamento de uma BAFG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1.1 Geometria do artefato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1.2 Processos de fabricação do corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.2 Carga explosiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.3 Efeito de fragmentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.3.1 Ensaios de fragmentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.3.2 Previsões teóricas para a fragmentação . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.3.3 Modelo de Gurney . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.3.4 Método das seções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.3.5 Ângulo de Ejeção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.3.6 Dispersão de fragmentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
SUMÁRIO xv
3 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.1 Metodologia para concepção do armamento . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.1.1 Armamentos semelhantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.1.2 Materiais utilizados e geometria final . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.1.3 Determinação da massa total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.1.4 Determinação do centro de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.1.5 Determinação da posição das alças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.2 Aplicação do método das seções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.3 Determinação da massa e velocidade dos fragmentos . . . . . . . . . . . . 74
3.3.1 DFW e nı́vel de confiança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.4 Determinação da dispersão dos fragmentos . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
3.5 Metodologia para análise dos efeitos terminais . . . . . . . . . . . . . . . 76
3.6 Metodologia para o Split-X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.1 Geometria Final do Armamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.2 Efeitos terminais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.2.1 Massa, velocidade e quantidade de fragmentos . . . . . . . . . . . . . 79
4.2.2 Velocidade para perfuração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
SUMÁRIO xvi
5 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
1 Introdução
1.1 Contextualização
Segundo Kaushik e Hanmaiahgari (2017), bombas são armamentos que podem ser
constituı́dos de diversos materiais explosivos, os quais possuem a capacidade de detonação
e geração súbita de uma grande quantidade de gás e energia. As duas principais formas
que as bombas possuem para causar danos ao inimigo são por meio do efeito blast e
pelo efeito de fragmentação; o primeiro desses advém da súbita variação de pressão no
entorno da bomba, a qual se propaga de forma radial causando picos de pressão por onde
passa, assim levando à destruição as estruturas em geral, bem como à morte as pessoas
próximas da explosão. O segundo efeito, a fragmentação, desencadeia a penetração ou
perfuração das estruturas e dilaceração de pessoas no entorno da detonação, pela ejeção
de fragmentos do invólucro da cabeça-de-guerra, levando a uma série de danos. (MISCOW,
2015a)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 18
FIGURA 1.1 – Ilustração do bombardeio por balões realizado pelos austrı́acos. (WAR-
FARE, 2019)
Diante do cenário de uma nova forma de combate, o combate aéreo, que poderia vi-
timar não somente os combatentes inimigos, mas também não combatentes, é assinado
o tratado de Haia em 1899, proibindo os ataques aéreos por balão, dessa forma invali-
dando a estratégia utilizada pelos austrı́acos até então. Assim, buscando a assimetria de
poder favorável àquele que possui armamentos aéreos, o tenente italiano Giulio Gavotti,
na guerra ı́talo-turca que acontecia no ano de 1911 (apenas 8 anos após o primeiro voo
dos irmãos Wright), foi o precursor do que se utiliza até hoje como modus operandi para
bombardeios: a utilização de aeronaves mais pesadas que o ar para lançar armamentos em
solo inimigo, assim rendendo ao tenente o apelido de the Flying Artilleryman (STILWELL,
2019). Esses armamentos eram granadas preenchidas com ácido pı́crico (um alto explo-
sivo) e que possuı́am pequenos paraquedas, os quais objetivavam a extinção da velocidade
horizontal. (STEPHENSON, 2014)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 19
FIGURA 1.2 – Avião Etrich Taube, modelo utilizado por Giulio Gavotti em seu bombar-
deio. (WIKIPEDIA, 2022)
O império turco também foi vı́tima da Força Aérea Búlgara, que também se utilizou de
bombardeios aéreos na guerra dos Bálcãs, em 1912. Liderados pelo Capitão Simeon Petrov
que conduziu a pesquisa e desenvolvimento de bombas (denominadas como granadas pelos
búlgaros) com maior carga-paga e que possuı́ssem empenas e detonador por impacto
conforme é possı́vel observar na Figura 1.3 (WARFARE, 2015). Os búlgaros desenvolveram
um armamento de aproximadamente 6 kg capaz de causar crateras de 4 a 5 metros de
diâmetro e 1 metro de profundidade. Posteriormente, tal artefato foi então vendido para
a Alemanha com o nome de “Chataldzha” e largamente produzido e utilizado ao longo da
Primeira Guerra Mundial. (KAUSHIK; HANMAIAHGARI, 2017)
As bombas de penetração são concebidas para emprego contra alvos reforçados e con-
creto armado, dessa forma possuem casco e nariz espessos e maciços, sendo seu carrega-
mento de explosivo constituindo-se de aproximadamente 13% da massa total da bomba.
Essas bombas possuem como objetivo a penetração do alvo (justificando então a elevada
espessura do corpo) com posterior explosão do artefato, assim, uma vez que possuem
relativamente pouca quantidade de explosivo, faz-se necessário que atinjam com grande
precisão o alvo, penetrando-o e posteriormente explodindo em seu interior. De forma
semelhante tem-se as bombas semi-penetrantes, que possuem maior quantidade de explo-
sivo em sua composição (em torno de 30%) e podem ser utilizadas como bombas de fins
gerais contra alvos com menor capacidade de resistir ao impacto do artefato (DEFENSE,
1955). As bombas de fragmentação são semelhantes às anteriores, possuindo maior massa
de metal do que de explosivo, mas se diferenciam das anteriores por possuı́rem um arame
enrolado de forma espiral em seu corpo, o que leva a um aumento de tensão nesses pontos
e uma fragmentação do corpo, assim são utilizadas contra alvos suscetı́veis a penetração
de fragmento, contra seres humanos e contra estruturas mais frágeis. (ORDER, 1966)
As bombas de casco fino, bombas de profundidade e bombas incendiárias se diferen-
ciam das já descritas por seu dano advir principalmente da onda de choque ou calor
intenso. Assim o casco metálico tem como papel a separação dos componentes da bomba
com relação ao ambiente e não é esperado que sua fragmentação atue como principal fonte
de dano. As bombas de casco fino possuem 70% ou mais de sua composição constituı́da
de explosivo e são utilizadas para situações em que a onda de choque é a melhor forma
de causar danos à estrutura, como as construções civis. As bombas de profundidade são
análogas, mas utilizadas em contexto marı́timo, para causar dano a estruturas subaquá-
ticas (ORDER, 1966). Por fim, tem-se as bombas incendiárias, que carregam gasolina em
gel que é dispersada na região que contém o alvo e posteriormente ignitada para dar inı́cio
ao dano no alvo, o qual costuma ser tropas entrincheiradas, estruturas de suprimentos e
comboios. (DEFENSE, 1955)
Figurando como uma alternativa mais geral, tem-se as bombas de fins gerais, principal
objeto de estudo deste trabalho, e que possuem em torno de 50% de sua massa constituı́da
de explosivo. Tais bombas são usadas na maioria das operações aéreas de bombardeio e
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 21
podem ser classificadas como old-series, new-series ou low drag. As bombas de fins gerais
old-series, cujo aspecto é apresentado na Figura 1.4, eram bombas com massa de 100
lb a 2000 lb, constituı́das de um nariz ogival e cauda afilada; essas bombas costumavam
utilizar espoletas de nariz e cauda, objetivando uma redundância e seu preenchimento de
explosivo era constituı́do de: TNT, Tritonal, Composition B, ou Amatol 50-50, sendo esse
último uma mistura de TNT e nitrato de amônio. (ORDER, 1966)
FIGURA 1.4 – Uma bomba de fins gerais old-series em corte. (ORDER, 1966)
As bombas de fins gerais new-series são uma evolução das old-series e foram concebi-
das para amplificar o efeito de sopro. Seu corpo apresenta um formato mais aerodinâmico,
o que melhora o desempenho ao reduzir o arrasto sofrido pelo armamento. Seu espole-
tamento é tanto por espoletas mecânicas quanto por espoletas eletrônicas. Dessa forma,
possuem uma tubo condutor interno que permite a passagem da cablagem da espoleta
eletrônica, conforme pode ser visto na Figura 1.5 pelo item denominado como Conduit
Assembly. (ORDER, 1966)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 22
FIGURA 1.5 – Vista em corte uma bomba de fins gerais new-series. (ORDER, 1966)
Por fim, as bombas de fins gerais low drag, que, segundo Miscow (2020b), a idealização
se deu após o final da Segunda Guerra Mundial pelo engenheiro Edward Heinemann, da
Douglas Aircraft, e que possuem corpos mais esbeltos do que as bombas descritas an-
teriormente, sendo baseados no perfil tangente-ogiva ou no perfil Sears-Haack, os quais
apresentam uma proporção de aproximadamente 8 para 1 entre seu comprimento e maior
diâmetro, assim permitindo a redução do arrasto do armamento e otimização do desempe-
nho da aeronave que o carrega. Essas bombas possuem a capacidade de serem espoletadas
com espoletas de impacto, proximidade ou eletrônicas e podem ser carregadas com os ex-
plosivos Amatol 50-50, Tritonal ou Composite H6, mais recentemente, passou a se utilizar
uma composição de HMX por parte da marinha norte-americana, uma vez que esse com-
posto é menos sensı́vel a condições ambientais adversas e permite uma maior segurança
em seu manuseio. (ORDER, 1966)
TABELA 1.1 – Massa de explosivo e metal das bombas da série MK-80. (MISCOW, 2020b)
Massa Massa Massa
MK
de explosivo de metal Total
MK-81 112 lb 138 lb 250 lb
MK-82 192 lb 308 lb 500 lb
MK-83 385 lb 615 lb 1000 lb
MK-84 945 lb 1055 lb 2000 lb
FIGURA 1.7 – Vista em corte de uma bomba de fins gerais low-drag. (MISCOW, 2020b)
Pelo fato da maioria de suas aeronaves serem de origem norte-americana, paı́ses como
Paquistão, Chile, Israel, Índia, Portugal, Romania, Azerbaijão, Africa do Sul, Espanha,
Suécia e o Brasil fabricam bombas que são modelos muito semelhantes aos da série MK-
80. Especificamente no Brasil tem-se a série de bombas BAFG (Baixo Arrasto Fins
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 24
Gerais) apresentadas na Figura 1.8 e que são equivalentes às da série MK-80, conforme
é possı́vel observar na Tabela 1.2. O projeto das BAFG deu-se inicio com o modelo BA-
FG-120 na década de 70 e objetivavam serem utilizadas pelas aeronaves AT-26(Xavante),
A-1M(AMX), F-5EM, AT-29(Super Tucano) e o F-103E(Mirage). (MISCOW, 2020b)
que o trem explosivo da espoleta demorará para se alinhar e permitir a detonação do ar-
mamento. Ao selecionar o tempo de armar das espoletas, deve-se observar uma tolerância
de ±20%, a qual abarca todas as incertezas da construção da espoleta e deve ser consi-
derada para que a bomba exploda em um intervalo correto, ou seja, que o tempo de voo
seja superior ao tempo de armar. Em termos de funcionamento explosivo, essas espoletas
podem ser configuradas com elementos de retardo que podem ser selecionados de forma a
maximizar os efeitos terminais sobre um determinado alvo, por exemplo a detonação após
a perfuração de uma estrutura civil, o que permitiria a maximização do efeito de sopro
na estrutura. Os elementos de retardo disponı́veis são no delay, 0,01, 0,025, 0,05, 0,10 e
0,25 s e o delay no retardo de iniciação está situado entre 0,0003 s e 0,0005 s. (MISCOW,
2020c)
FIGURA 1.9 – Ilustração de uma EOM-BFG com destaque para alguns elementos cons-
tituintes. (MISCOW, 2020c)
FIGURA 1.10 – Ilustração de uma ECM-BFG com destaque para alguns elementos cons-
tituintes. (MISCOW, 2020c)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 26
FIGURA 1.11 – Ilustração de uma espoleta de ogiva M904 com destaque para alguns
elementos constituintes. (MISCOW, 2020c)
As espoletas elétricas/eletrônicas que podem ser empregadas nas BFGs são a FMU-139
C/B e a FMU-152 A/B. A FMU-139 C/B (Figura 1.13), é uma espoleta eletromecânica,
que permite a seleção no solo dos tempos de armar e dos retardos de detonação. A
alimentação elétrica da espoleta é provida pelo gerador (ou ignitor) FZU-48/B, que é
acionado pelo escoamento aerodinâmico após o lançamento da bomba. As opções dos
tempos de armar para bombas em queda livre (free fall ) e para bombas de alto arrasto
(high drag) são de 4, 6, 7, 10, 14 e 20 s. As opções para os tempos de detonação são
instantâneo, 10, 25 e 60 ms. (MISCOW, 2020c)
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 27
A FMU-152 A/B, Figura 1.14, é uma espoleta elétrica/eletrônica para utilização ape-
nas na cauda, podendo ser utilizadas em bombas na configuração de baixo arrasto (free
fall ) ou com freio aerodinâmico (alto arrasto - high drag). Na configuração para bombas
de baixo arrasto, permite tempos de armar de 4 a 10 s, em intervalos de 0,5 , 14, 21 e 25 s.
Na configuração para bombas de alto arrasto os tempos de armar podem ser selecionados
em 2, 3, 4, e 5 s. O grande diferencial desta espoleta está nos tempos de detonação que
podem ser selecionados em instantâneo, 5, 15, 25, 35, 45, 60, 90, 180 e 240 ms; 15, 30, 45,
60 min; e 4, 8, 12, 16, 20, 24 horas. Esta ampla gama de tempos de detonação permite que
essa espoleta seja utilizada quando se pretende uma maior penetração e/ou perfuração
do alvo. Não considerando a limitação estrutural do corpo da bomba, esta espoleta seria
aplicável em situações em que seja necessário penetrar ou perfurar uma ou mais camadas
do alvo, com a bomba detonando ao fim desse percurso. Já os tempos de retardo em horas
conferem ao artefato a capacidade de interdição de área ou de uma instalação. (MISCOW,
2020c)
A utilização das espoletas FMU-139 C/B e FMU-152 A/B exige que as bombas de fins
gerais possuam o alojamento do sistema de geração de energia elétrica (ignitor) denomi-
nado como charging well, situado entre as alças de suspensão (suspension lug), e os dois
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 28
tubos condutores forward conduit e rear conduit, conforme ilustra a Figura 1.7.
As BFGs não possuem propulsão, logo seguem trajetórias balı́sticas que estão sujeitas
às flutuações e instabilidades desse tipo de voo, bem como estão sujeitas às condições de
lançamento, como: ângulo de ataque, velocidade inicial, erros do sistema de pontaria e
experiência do piloto, assim, objetivando uma maior precisão dos bombardeios realizados,
deu-se inicio ao desenvolvimento de kits de guiamento para esses armamentos, tornando
as bombas que até então eram denominadas como dumb bombs (bombas burras), se tor-
nassem smart bombs (bombas inteligentes). Segundo News (2017), o caso mais marcante
da revolução causada pelas bombas inteligentes foi o caso da ponte Thanh Hoa, localizada
no Vietnã, que ao longo de 6 anos foi alvo de bombardeios na tentativa de destruı́-la, mas
sem sucesso. Assim, com a utilização de bombas inteligentes utilizando o kit de guiamento
a laser Paveway I, 4 aeronaves bombardearam e destruı́ram a ponte que até então havia
resistido ao ataque de 871 bombas. (MISCOW, 2020a)
Dentre os sistemas de guiamento existentes, é possı́vel citar os sistemas PAVEWAY e
JDAM estadunidenses e o sistema LIZARD israelense. Os sistemas PAVEWAY e LIZARD
se baseiam em guiamento a laser, no qual a própria aeronave ou uma aeronave de apoio
“ilumina” o alvo para que os receptores presentes no kit de guiamento reconheçam e guiem
o armamento para o alvo. O funcionamento do armamento está apresentado na Figura
1.15 e, tratando especificamente do sistema PAVEWAY, esse consiste de duas unidades
denominadas Computer Control Group (CCG) e Airfoil Group Assembly (AGA), as quais
podem ser vistas na Figura 1.16. (KOPP, 1981)
FIGURA 1.16 – Descrição dos itens do kit de guiamento Paveway. (KOPP, 1981)
FIGURA 1.18 – Ilustração do sistema JDAM existente para cada bomba da série MK-80
e sua respectiva designação como BLU (Bomb Live Unit). (LEAK, 2021)
O arcabouço teórico descrito nesta seção norteará todo o projeto para a bomba aérea
de fins gerais desenvolvida neste TG e denominada como BAFG-350. Esta seção consiste
em um grande apanhado de toda a teoria necessária para determinação dos parâmetros re-
levantes para uma bomba de fragmentação, como: a massa média dos fragmentos gerados
por uma fragmentação natural, a velocidade de ejeção, o ângulo de espalhamento dos frag-
mentos, o modelo para decaimento da velocidade do fragmento em voo e as formulações
descritivas para penetração de alvos constituı́dos de aço doce.
trabalho:
q
Ro2 − (Lo − x)2 − Ro − De
2
, x ≤ Lo .
y= De (2.1)
2
, Lo ≤ x ≤ Lo + Lc .
q
R2 − [x − (L + L )]2 − R −
De
, Lo + Lc ≤ x ≤ Lo + Lc + Lt .
c o c c 2
1/2
t = y − y 2 − (Re + Ri ) t0
(2.2)
Z L0 +Lc +Lt 2
Dint (y)
mexp = πρexp dx (2.3)
0 2
Z L0 +Lc +Lt 2 2 !
Dext (y) Dint (y)
mmetal = πρmetal − dx (2.4)
0 2 2
P
(⃗
ri m i )
⃗r = P (2.5)
mi
até 1000 lb (453,4 kg) o espaçamento entre as alças é de 14 pol. (355,6 mm) e até 2000
lb (907,2 kg) o espaçamento entre as alças é de 30 pol. (762 mm). Por fim, essa mesma
norma determina que o centro de gravidade deve estar entre as alças com uma tolerância
de até 76 mm de distância até uma dessas.
Para que uma bomba desempenhe seu papel de detonar e causar danos por meio do
fenômeno de sopro e fragmentação é crucial a presença de um material energético em sua
constituição, especificamente o material energético denominado como explosivo. O papel
do explosivo vai desde constituir o denominado trem explosivo, responsável por dar inicio
à detonação da bomba, até a fragmentação do casco e geração da onda de choque. Assim,
o trem explosivo pode ser conceituado como uma série de elementos explosivos montados
na ordem decrescente de sensibilidade à iniciação e na ordem crescente de potencial de
energia (energia liberada na detonação), conforme ilustrado na Figura 2.5. (MISCOW,
2020c)
Existe uma ampla diversidade de materiais explosivos, uma vez que as possibilidades
de combinações dentre explosivos são ilimitadas, contudo um dos principais explosivos
secundários é o RDX, o qual, segundo Maleh et al. (2009), é o explosivo mais utilizado
no mundo, seja em sua forma pura ou como matéria-prima de outros explosivos mais
complexos. A descoberta do RDX (Figura 2.6) remonta ao ano de 1899, época na qual
foi utilizado como medicamento vasodilatador, e sua denominação advém do padrão in-
glês para explosivos, pois RD estava ligado ao termo Research Department No, assim sua
denominação muda conforme o paı́s e é chamado de Cyclonite nos EUA, Hexogen na
Alemanha e T4 na Itália. Esse explosivo se destaca por sua insensibilidade e estabilidade
no armazenamento, tornando-o ideal para utilização como preenchimento de armamentos.
Por fim, é considerado como um dos mais poderosos e brisantes explosivos utilizados em
âmbitos militares, essas caracterı́sticas que podem ser vistas na Tabela 2.1, pois os explo-
sivos que possuem RDX em sua composição possuem os menores valores do parâmetro de
Mott. (KLAPÖTKE, 2022)
sistema descrito está presente na Figura 2.8, onde é possı́vel observar a disposição do ar-
mamento (destacado em vermelho) e as posições das placas (setas em laranja). (ZECEVIC
et al., 2006)
A partir dos dados coletados é possı́vel estabelecer uma relação para a densidade de
fragmentos para cada setor, assim determinando uma distância caracterı́stica para a qual
esse valor é de 1 perfuração por m2 . Essa distância caracterı́stica então se torna um
fator de comparação de armamentos, pois quanto maior esse número maior a área letal
do dispositivo utilizado. (ZECEVIC et al., 2006)
O método anteriormente descrito não satisfaz totalmente a caracterização do arma-
mento, uma vez que não permite a determinação da velocidade de ejeção dos fragmentos
e nem mesmo a velocidade de impacto dos fragmentos em cada placa de madeira. Assim,
uma evolução do ensaio de arena anteriormente descrito é a utilização de um aparato
experimental, denominado como FRAT (BARNARD; NEBOLSINE, 2001), que consiste no
posicionamento do armamento no centro de uma disposição de placas de papelão que
servem como sensores de impacto e adjacente a essas tem-se placas de um material que
resista ao impacto, e permita o alojamento do fragmento sem o desgaste desse, com o
objetivo de permitir uma posterior recuperação do fragmento de forma mais fidedigna
possı́vel ao que atingiu a placa de papelão, as quais são dispostas de forma que entre as
faces das placas há tiras metálicas, as quais permitem determinar os instantes de tempo
e pontos exatos do impacto do fragmento na placa de madeira.
Assim, de posse do ponto de impacto, é possı́vel determinar os ângulos relevantes
para o armamento e de posse do momento de impacto é possı́vel determinar a velocidade
média do fragmento, uma vez que é conhecida a distância entre o armamento e o ponto
de impacto, e o tempo necessário para que ocorra o choque. Por fim, para aferir a massa
do fragmento e sua geometria são utilizadas placas de celotex (costumeiramente utilizado
como isolante) de espessura aproximada de 2 metros, com o objetivo de reter os fragmentos
que atravessaram os sensores (BARNARD; NEBOLSINE, 2001). Dessa forma, em posse da
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 39
FIGURA 2.10 – Tábuas de fragmentação para 4 ensaios distintos. (XU et al., 2019)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 40
Testes de arena são os mais fidedignos às condições reais de operação de um arma-
mento, mas são custosos e demandam muito tempo para sua execução, uma vez que é
necessário confeccionar os sistemas de detecção e repô-los a cada teste realizado. Assim,
são necessários modelos teóricos e computacionais para estudos preliminares ao longo do
projeto de um armamento.
O inicio dos estudos sobre fragmentação de armamentos se deu com os trabalhos de
Gurney, em 1943, e Taylor, em 1963, nos quais os autores trataram especificamente sobre
as velocidades dos fragmentos de cascas metálicas gerados a partir de uma detonação
de um explosivo. Outros precursores do estudo da formação de fragmentos em cascas
metálicas, especificamente tratando sobre a fragmentação natural do metal, foram N. F.
Mott e E. H. Linfoot em seu relatório técnico A Theory of Fragmentation. (DEHN, 1984)
A motivação inicial para o estudo realizado por Mott e Linfoot se deu com o trabalho
de Lienau (1936), que se aprofundou no estudo da distribuição do tamanho de fragmentos
gerados por uma separação aleatória de partes de um corpo uni-dimensional, e cujos
resultados se encaixavam com os resultados disponı́veis na época referentes a fragmentos
provenientes de explosões de cascas metálicas. A partir dessa observação deu-se inicio à
busca por maiores detalhes sobre como se dá a formação de fragmentos em um armamento
de fragmentação natural. (GRADY, 2007)
Os trabalhos realizados por Lineau tinham como objetivo o estudo de um corpo uni-
dimensional submetido a forças que ocasionariam diversas fraturas em sua estrutura, de
forma que essas fraturas poderiam acontecer com a mesma probabilidade em qualquer
ponto do corpo e gerariam fragmentos dos mais diversos tamanhos, conforme a represen-
tação esquemática presente na Figura 2.11. A partir do momento que a fragmentação
natural ocorre de modo estatı́stico, faz-se necessária a definição dos termos de função
densidade de probabilidade e função distribuição acumulada:
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 41
Assim, considerando que a linha será fragmentada em muitos pedaços é possı́vel con-
siderar a linha com tamanho infinito, uma vez que o tamanho médio dos fragmentos
formados é muito inferior ao tamanho total da linha. Outra consideração é que a distân-
cia média entre quebras da linha é dada por λ, assim tem-se que a distribuição aleatória
desses pontos é descrita por uma distribuição de Poisson, conforme a Equação 2.6, na
qual l é o tamanho do fragmento e n é o numero de fraturas no comprimento l.
(l/λ)n e−l/λ
P (n, l) = (2.6)
n!
Em posse dessa equação, é possı́vel determinar o tamanho mais provável do fragmento,
quando não são encontradas fraturas no comprimento l, logo n = 0:
P (0, l) = e−l/λ
Utilizando as duas relações anteriores é possı́vel definir a função f (l), que indica a
probabilidade de ocorrer fragmentos de tamanho l com uma tolerância de dl:
−l
f (l)dl = P (0, l)P (1, dl) = (1/λ)e( λ ) dl
−l
F (l) = 1 − e λ
1
l = λln (2.7)
1 − F (l)
Contudo, Mott e Linfoot observaram que grande parte dos fragmentos gerados con-
servavam as caracterı́sticas das superfı́cies internas e externas das cascas metálicas do
armamento, dessa forma assumiram que para tais armamentos um fator de escala mais
adequado seria m1/2 , o que permitiu escrever a Equação 2.9 que determina a função dis-
tribuição acumulada para os fragmentos de massa m e a Equação 2.10 descreve a função
densidade para os fragmentos de massa m, de acordo com o modelo de Poisson sugerido
por Lineau. (GRADY, 2007)
m 1/2
F (m) = 1 − e−( µ ) (2.9)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 43
−1/2
1 m m 1/2
f (m) = e−( µ ) (2.10)
2µ µ
É possı́vel observar que, para a utilização das Equações 2.9 e 2.10, faz-se necessária a
determinação do parâmetro µ, ou seja, a metade do valor médio de massa dos fragmentos.
Para determinação da massa média dos fragmentos, Mott e Linfoot (1943) considera-
ram que a quebra inicial da casca metálica ocorre pela parte interna e que os fragmentos
são alongados, com sua maior dimensão sendo paralela ao eixo longitudinal da bomba.
Assim, considerando que no momento da quebra a casca apresenta raio R, espessura t
e a velocidade de expansão do casco é dada por V , tem-se que a ruptura do casco se
dá quando a rachadura formada necessita de menos energia para se propagar do que a
energia necessária para que a casca continuasse se expandindo plasticamente.
Z
1
Ec = dmv 2
2
Z α/2
1
Ec = (ρmetal Rtldθ) (V θ)2 (2.11)
2 −α/2
Ec ρmetal tV 2 a3
= (2.12)
l 24R2
Segundo Mott e Linfoot (1943), é possı́vel assumir que, se a energia presente na Equa-
ção 2.12 for superior a W t, sendo W a energia por unidade de área necessária para formar
uma rachadura, e t a espessura da casca metálica, o fragmento irá se quebrar formando
outros dois. Logo, não haverá fragmentos com largura maior do que a, a qual é deter-
minada ao substituir Etlc por W e obter a maior largura para um fragmento, conforme a
Equação 2.13.
s
3 24r2 W
a= (2.13)
ρmetal V 2
M V 2 (r) M V 2 (r0 )
+ CU (r) = + CU (r0 ) (2.14)
2 2
Para a Equação 2.14 tem-se que M é a massa da casca metálica, C é a massa de
explosivo, u(r) é a velocidade dos fragmentos para um raio r, e U (r) é a energia especı́fica
dos produtos gasosos que se expandem contra a casca. Tem-se que a velocidade dos
fragmentos para r = r0 é nula e a energia de compressão para esse instante é denominada
como uma constante E. (GRADY, 2007)
A partir dessas considerações é possı́vel reescrever a relação acima como:
2 2E U (r)
V (r) = 1−
M/C E
r
C
V (r) = V0 (r) (2.15)
M
d2ext − d2int
R=
d2int
É possı́vel explicitar a razão de massas entre o casco do cilindro e seu conteúdo explo-
sivo, conforme a Equação 2.16, o que permite concluir que R ∝ M C
ρmetal d2 2 − d1 2
M
= (2.16)
C ρexp d1 2
Uma vez que V0 e R são constantes é possı́vel afirmar que R2 V (r) = V0 (r) = constante.
Assim, definindo a massa média dos fragmentos como o produto de suas dimensões
representativas(representadas na Figura 2.12) tem-se a Equação 2.17.
µ = ρatl (2.17)
É possı́vel combinar as relações presentes nas Equações 2.13, 2.15 e 2.17, de tal forma
que o cálculo da massa média do fragmento advindo de uma fragmentação natural dependa
somente de parâmetros geométricos, conforme presente na Equação 2.18.
2
2/3 t
µ= K 2 t5/3 di 1+ (2.18)
di
M
NT = (2.19)
2µ
TABELA 2.1 – Conjunto de dados presentes no manual AASTP-1 para explosivos conhe-
cidos. (OTAN, 2006)
√
Explosivo Densidade (kg/m3 ) K (kg1/2 /m7/6 ) Constante de Gurney ( 2E)(m/s)
COMP. A-3 (RDX/WAX) 1600 2,688 2630
COMP. B (RDX/TNT/WAX) 1710 2,712 2774
COMP. C-3 1600 - 2682
COMP. C-4 1710 - 2530
CICLONITE (RDX) 1710 - 2835
CYCLOTOL (75/25) 1745 2,41 2713
CYCLOTOL (20/80) 1710 - 2554
CYCLOTOL (60/40) 1710 3,301 2402
H-6 1710 3,375 2621
HBX-1 1700 3,127 2469
HBX-3 1810 3,949 1984
HMX 1710 - 2972
HTA-3 1710 - 2591
MINOL II (AN/TNT/Al) 1680 - 2530
OCTOL (75/25) 1821 - 2896
PBX-9404 (HMX/HTPB) 1710 - 2895
PENTOLITE (50/50) 1670 3,032 2560
PETN 1710 3,033 2926
RDX 1710 2,594 2926
TETRIL 1710 3.329 2499
TNT 1710 3,815 2438
TORPEX-2 1710 3,811 2682
TRITONAL (80/20) 1710 - 2316
Uma vez determinado o parâmetro µ é possı́vel retornar à Equação 2.10, por meio da
qual é possı́vel determinar a probabilidade da quebra do casco gerar fragmentos com massa
superior a uma dada massa de projeto m almejada. A partir da integral da Equação 2.10
tem-se o resultado presente na Equação 2.20, a partir do qual é possı́vel multiplicar pelo
número total de fragmentos dada pela Equação 2.19 e determinar o número de fragmentos
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 47
Z ∞ √m
−
f (m)dm = e µ (2.20)
m
M −√ mµ
N (m) = e (2.21)
2µ
N = NT (1 − CL) (2.22)
A partir do perfil linear proposto por Gurney para a distribuição das velocidades é
possı́vel escrever o resultado presente na Equação 2.24.
y
v(y) = v0 (2.24)
R
Considerando uma distribuição linear de massa para o metal dada por M e para o ex-
plosivo dada por C, além da energia caracterı́stica do explosivo dada por E e denominada
como energia de Gurney, tem-se a conservação da energia quı́mica presente no explosivo,
a qual se converte em energia cinética para o metal e para os gases gerados, assim per-
mitindo a determinação da velocidade inicial dos fragmentos gerados na fragmentação
do casco cilı́ndrico, dada pela Equação 2.27. O equacionamento da conversão total de
energia especı́fica do explosivo em energia cinética do metal e dos gases está apresentado
na Equação 2.25.
R
M Lv0 2
Z
CLE = + ρexp (πrL)v 2 (r)dr (2.25)
2 0
R
M Lv0 2 CL
Z
CLE = + 4 v0 2 r3 dr (2.26)
2 R 0
Assim, após a resolução da Equação 2.26 tem-se o resultado presente na Equação 2.27.
−1/2
√
1 M
v0 = 2E + (2.27)
2 C
√
Na Equação 2.27 tem-se o parâmetro 2E que possui unidades de velocidade (m/s) e
é denominado como constante de Gurney, sendo esse parâmetro inerente a cada material
explosivo. Valores tabelados para a constante de Gurney estão presentes na Tabela 2.1.
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 49
FIGURA 2.14 – Aplicação do método das seções para um armamento. (ENGINEERS, 1990)
FIGURA 2.15 – Exemplo para o modelo de Shapiro, é possı́vel observar a divisão do casco
metálico em uma série de fragmentos. (COMMAND, 1964)
Vi h π i
tg (β) = cos + α2 − α1 (2.28)
2VD 2
π
ϕ= − (α1 − β) (2.29)
2
V0 sen(ϕs )
ϕd = arctg (2.30)
Vr + V0 cos(ϕs )
Uma primeira abordagem para a dispersão dos fragmentos é assumir que eles partem de
um ponto no espaço e se espalham segundo uma distribuição esférica, assim se distribuindo
sobre a superfı́cie dessa. Diante dessa consideração, os fragmentos se espalharão pela área
superficial da esfera, dada por A = 4πR2 , o que permite escrever a Equação 2.31.
Nf
Nf rag = Aalvo (2.31)
4πR2
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 52
Para refinar o modelo de expansão esférica em toda extensão da esfera é possı́vel excluir
ângulos que não apresentarão fragmentos, uma vez que conforme o modelo proposto na
Seção 2.3.5 o armamento irá emitir fragmentos em ângulos limitados pela dinâmica de
detonação, conforme sugerido pela Figura 2.17, na qual os ângulos ϕ1 e ϕ2 são os ângulos
definidos pelo modelo de Shapiro para o armamento estudado.
A partir da Figura 2.17 é possı́vel escrever que s = Rsen(ϕ), bem como a área de um
RR 2
setor esférico é dada por A = R sen(ϕ)dϕdθ, na qual θ é o ângulo em torno do eixo
de simetria do armamento. Dessa forma é possı́vel determinar a área delimitada pelos
fragmentos ejetados conforme a Equação 2.32 e a partir dessa determinar a Equação 2.19
que informa quantos fragmentos atingiriam o alvo.
Nf
Nf rag = Aalvo 2
(2.33)
2πR (cos(ϕ1 ) − cos(ϕ2 ))
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 53
Para um modelo ainda mais acurado para dispersão dos fragmentos é necessário levar
em consideração tanto a extensão do armamento quanto o formato desse ser simétrico
ao eixo longitudinal, o que leva à preferência de espalhamento dos fragmentos de forma
radial, mas com um desvio em relação a esse eixo dado pelos ângulos determinados na
Seção 2.3.5 e conforme ilustrado na Figura 2.18. Uma ilustração da expansão cilı́ndrica
está presente na Figura 2.19, a partir da qual é possı́vel escrever a área de dispersão de
fragmentos conforme a Equação 2.34, o que leva à Equação 2.35, sendo esse o modelo mais
fidedigno à dispersão de fragmentos que ocorre para os armamentos de fragmentação que
possuem o eixo de simetria longitudinal.
Nf
Nf rag = Aalvo (2.35)
2πR (LCG + R (tg(ϕ1 ) + tg(ϕ2 )))
Nf
Nf rag = Aalvo 2
(2.36)
2πR (tg(ϕ1 ) + tg(ϕ2 ))
O arrasto é dado pela Equação 2.37, na qual ρ é a densidade do ar, A é a área exposta
do fragmento, Cd é o coeficiente de arrasto do fragmento, o qual depende do Mach de voo
desse e por fim V é a velocidade relativa ao ar do fragmento.
2
⃗ = ρACd V
D (2.37)
2
Em um modelo simplificado, é possı́vel aplicar a segunda lei de Newton ao fragmento
no eixo da velocidade e desprezar o efeito da gravidade no voo, assim tem-se a Equação
2.38:
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 55
ρACd V 2
mV̇ = − (2.38)
2
A partir da Figura 2.21 é possı́vel supor que o coeficiente de arrasto é aproximadamente
constante para maior parte do voo do fragmento, o que permite simplificar a resolução da
Equação 2.38 e determinar um resultado analı́tico para a velocidade de voo do fragmento.
dV
V = αV 2 (2.39)
dx
Por meio de uma integração direta da Equação 2.39 tem-se a Equação 2.40, na qual
r é a distância percorrida pelo fragmento e V0 é a velocidade determinada a partir do
modelo de Gurney.
V = V0 eαr (2.40)
Uma vez determinada a forma como a velocidade decai com o deslocamento do frag-
mento é necessário determinar o valor de α para que seja possı́vel determinar a velocidade
do fragmento para cada ponto desejado. A densidade do ar ρ é possı́vel de ser obtida
por modelos atmosféricos, o coeficiente de arrasto, conforme presente na Figura 2.21, é
determinado para cada condição de Mach e a massa do fragmento advém do raciocı́-
nio apresentado por Mott e descrito na Seção 2.3.2.1, assim restando a necessidade de
determinação da área do fragmento.
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 56
2/3
m
A= (2.41)
kf
ρCd
α=− 2/3 1/3
(2.42)
2kf m
Uma vez que o fragmento seja ejetado e execute sua trajetória, esse irá finalmente
chegar ao alvo, no qual poderá causar uma série de fenômenos: desde um ricochete na
estrutura sem causar nenhum dano, passando pela possibilidade de rachadura da superfı́cie
externa do alvo, até a completa perfuração do alvo. Existem uma série de modelos para
avaliar a capacidade de penetração ou perfuração de um fragmento, dentre os quais é
possı́vel citar o modelo sugerido por Army (1986).
Diante da diversidade de geometrias possı́veis para fragmentos formados em uma frag-
mentação natural, conforme é possı́vel observar na Figura 2.22, faz-se necessário instituir
um fragmento de referência para o estudo da penetração de um alvo, assim Army (1986)
institui um fragmento padrão, em formato de projétil, o qual é mostrado na Figura 2.23.
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 57
Caso a espessura da chapa de aço seja inferior ao valor determinado pela Equação 2.43,
tem-se que haverá a perfuração do alvo e o fragmento possuirá uma velocidade residual
(Vr ) que pode ser calculada por meio da Equação 2.44, onde ts é a espessura da chapa
perfurada.
A partir da Equação 2.44 é possı́vel estimar a velocidade mı́nima para que um alvo
seja completamente perfurado, uma vez que essa condição se traduz em Vr ≥ 0:
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 58
!1,64
ts
Vsf2 − 12, 92 1/3
≥0
Wf
!0,82
ts
Vsf,min = 3, 594 1/3
(2.45)
Wf
Uma informação importante relativa às bombas de fins gerais é o envelope de frag-
mentação. Esse pode ser definido como a região do espaço varrida, em altura e alcance,
pelos fragmentos originados na detonação de uma bomba. O envelope é apresentado em
forma gráfica, como exemplificado na Figura 2.24, e tem como aplicações a determinação
da altura mı́nima de lançamento de uma bomba dados o ângulo de mergulho e a veloci-
dade de lançamento, determinar o intervalo de lançamento seguro entre aeronaves durante
bombardeios múltiplos e determinar a zona de segurança nos casos de apoio de fogo aéreo.
(MISCOW, 2020b)
Para determinação do envelope de fragmentação, supõe-se que a bomba irá emitir seus
fragmentos de forma simétrica e radialmente em um plano (X,Y), de forma que todos
os fragmentos possuem a massa média determinada pelo modelo de Mott e a velocidade
inicial determinada pelo modelo de Gurney.
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 59
p
Por definição, a velocidade do corpo é dada por V = ẋ2 + ẏ 2 e a partir da Figura
2.25 é possı́vel decompor as forças de arrasto e gravitacional nos eixos x e y e aplicar
a segunda lei de Newton, o que permite escrever o conjunto de acelerações atuantes no
fragmento de forma diferencial, conforme o par ordenado presente na Equação 2.46.
!
−Dẋ −Dẏ
(ẍ, ÿ) = p , p −g (2.46)
m ẋ + ẏ m ẋ2 + ẏ 2
2 2
A expressão para o arrasto é dada pela Equação 2.37, contudo, objetivando resultados
mais fidedignos à realidade para o modelo do envelope de fragmentação, é possı́vel utilizar
a variação do coeficiente de arrasto em função do Mach de voo sugerido por Command
(1964) e presente na Figura 2.26.
Nesse contexto, Aeronáutica (1980) define a área média de eficácia de uma bomba
como a área sobre a qual o armamento, em média, causaria, pelo menos, um dano espe-
cı́fico àqueles elementos. Elementos do alvo são unidades individuais separadas tais como
edifı́cios, maquinarias, pessoas, viaturas, pessoas ou unidades de área do teto e do piso.
Tratando especificamente sobre a AMEF , o método ideal para sua determinação se-
ria realizar uma análise de vulnerabilidade detalhada do alvo, verificando os efeitos da
fragmentação contra cada componente vital do alvo em termos de critérios especı́ficos de
danos, isso seria feito para cada situação especı́fica de encontro armamento x alvo, pois
para cada situação o alvo apresentará uma área vulnerável. Contudo, tais informações
demandam uma diversidade de ensaios experimentais e cujas informações são, por motivos
óbvios, mantidas em segredo de estado. Para o estudo da AMEF é necessário a definição de
alguns termos, como o conceito de PK , denominado como a probabilidade do armamento
de causar um dano especı́fico a cada alvo; outros dois termos a serem definidos são alcance
(range), associado ao vetor velocidade do armamento, e deflexão (deflection), associado à
direção perpendicular ao vetor velocidade. Esses dois termos são distâncias associadas ao
desvios do armamento em relação ao alvo, conforme exemplificado na Figura 2.27.
x2 2
− + y 2
W R2 WR
PK (x, y) = e r d (2.47)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 64
Assumindo que a probabilidade de dano de fato pode ser modelada pela função de
Carleton, é possı́vel então determinar a área letal do armamento, a qual para armamentos
de fragmentação também é denominada como área média de eficácia do armamento, a qual
é calculada por meio da expressão 2.48, a qual advém do produto de cada PK presente na
matriz de dano ilustrada na Figura 2.28 pela área contemplada pela célula.
n
X
AME F = PK (i) × Acelula (2.48)
i=1
Assim, ao substituir a função de Carleton na Equação 2.48 o problema pode ser descrito
de forma contı́nua e o somatório se torna uma integral, conforme a Equação 2.49 e que
leva ao resultado presente na Equação 2.50 e a partir da qual é possı́vel escrever que a
área letal é dada por uma elipse de eixos WRd e WRr e para a qual tem-se que PK é
unitária para sua parte interna e nula para os demais pontos. Uma ilustração da elipse
descrita está presente na Figura 2.31.
∞ ∞ x2 2
+ y 2
Z Z
−
W R2 WR
AME F = e r d dxdy (2.49)
−∞ −∞
Para determinação dos raios letais, Driels (2020) afirma que a razão entre eles é dada
pela Equação 2.51, em que o parâmetro a advém de uma grande quantidade de ensaios
experimentais, a partir dos quais foram geradas matrizes de dano e levaram à relação
empı́rica presente na Equação 2.52, na qual α é o ângulo de impacto medido com relação
à horizontal.
WRr
a= (2.51)
WRd
Utilizando as Equações 2.50, 2.51 e 2.52 é possı́vel escrever então as Equações 2.53 e
2.54, as quais determinam os raios letais para um dado armamento estudado.
r
a
WRr = AMEF (2.53)
π
WRr
WRd = (2.54)
a
Uma abordagem auxiliar para a área letal segundo Driels (2020) é descrever essa em
′
função do comprimento efetivo do alvo (effective target length) LET = 2WRr e largura
′
efetiva do alvo (effective target width) WET = 2WRd , o que leva aos resultados presentes
nas Equações 2.55 e 2.56. Ao substituir essas relações na função de Carleton, essa é
reescrita conforme a Equação 2.57.
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 66
r
′ a
LET = 2 AMEF (2.55)
π
′
′ LET
WET = (2.56)
a
!
4x2 4y 2
− ′ 2+ ′ 2
L W
PK (x, y) = e ET ET (2.57)
Ainda de acordo com Driels (2020), em algumas aplicações a função de dano de Carle-
ton ou a função de dano expressa pela área elı́ptica, não são suficientemente simples para
permitir uma solução matematicamente tratável. Neste caso, faz-se uma aproximação re-
tangular para a área elı́ptica que resulta nos resultados de comprimento e largura efetivas
do alvo respectivamente nas Equações 2.58 e 2.59 e ilustrada na Figura 2.32.
p
LET = 2 a × AMEF (2.58)
LET
WET = (2.59)
a
O ponto SSPD1 indica a probabilidade de danificar o alvo com uma única passagem
e expressa o valor da função de dano no alvo. Assumindo-se, que para uma grande
quantidade de lançamentos u obedece a uma distribuição normal, e ponderando-se SSPD
para cada lançamento, tende-se ao valor esperado para SSPD. Assim, computando-se
todos os pontos de impacto na direção do alcance, tem-se a Equação 2.60, na qual c(x)
e g(x) são dadas pelas Equações 2.61 e 2.62. Outro ponto de destaque é o valor de σx ,
o qual é, segundo Anderson (2004), tomado como o valor no qual REP = 0, 6745σx e
DEP = 0, 6745σy , em que REP (Range Probable Error ) é o erro provável no alcance e
DEP (Deflection Probable Error ) é o erro provável na deflexão.
Z ∞
SSP Dx = c(x)g(x)dx (2.60)
−∞
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 68
4x2
′
L
c(x) = e ET (2.61)
1 x2
−
h(x) = √ e 2σx2
(2.62)
σx 2π
Logo, por meio da resolução da integral 2.60 a partir das Equações 2.61 e 2.62 tem-se o
resultado de SSPD para o alcance na Equação 2.63 e por um raciocı́nio análogo é possı́vel
definir SSPD para a deflexão, conforme a Equação 2.64. Por fim, é possı́vel determinar o
SSPD total, por meio da multiplicação das duas últimas equações deduzidas e levando ao
resultado presente na Equação 2.65.
′
LET
SSPDx = q (2.63)
17, 6REP 2 + L′ 2ET
′
WET
SSPDy = q (2.64)
17, 6DEP 2 + W ′ 2ET
′ ′
LET WET
SSPD = q (2.65)
(17, 6REP 2 + L′ 2ET )(17, 6DEP 2 + W ′ 2ET )
Para determinação dos valores de REP e DEP, Siouris (2004) afirma que é possı́vel
utilizar a Equação 2.66, de forma que os valores de CEP podem ser escolhidos de forma
a avaliar o incremento ou redução no valor de SSPD para o armamento estudado. Diante
do impasse da existência de duas variáveis: REP e DEP, é possı́vel utilizar o fato de que
costumeiramente REP é maior que DEP, assim sendo possı́vel sugerir um desses valores
e obter como consequência o outro.
Para utilização da abordagem sugerida por Driels (2020), se faz necessária a deter-
minação da AMEF , a qual, atualmente, se faz por meio da análise de vulnerabilidade
realizada por meio de programas de computador, como aqueles exemplificados na Figura
2.34. Entretanto, face à dificuldade de realizar tais análises para uma multitude de alvos e,
muito provavelmente, à indisponibilidade de ferramentas computacionais para realizá-las,
foi criado um método alternativo que simplifica em muito a determinação da AMEF .
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 69
Uma alternativa aos ensaios de arena para a avaliação dos efeitos terminais de penetra-
ção, perfuração e sopro, é a simulação por meio de softwares especı́ficos para armamentos.
Esses programas podem ser tão simples quanto tão somente estimar a velocidade inicial
dos fragmentos, a massa média e algumas outras variáveis de desempenho, ou tão com-
plexos como, além desses dados, simular o efeito do armamento em alvos tão complexos
quanto se desejar. Existem diversos softwares que realizam essas simulações, com me-
nor ou maior grau de detalhamento e complexidade, alguns deles elencados na Figura
2.34, apresentando, porém, uma caracterı́stica comum: acesso restrito. Para alguns, uma
declaração de usuário final é suficiente para a aquisição, mas para outros o acesso é defi-
nitivamente negado por razões de estado. (MISCOW, 2015b)
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 70
2.7.1 ConWep
Um dos softwares utilizados para simulação dos efeitos terminais do armamento proje-
tado foi o ConWep, o qual, segundo Hyde et al. (1988), consiste em um conjunto de rotinas
capazes de realizar diversos cálculos dos efeitos de armamentos convencionais, como a onda
de choque, penetração e perfuração devido aos fragmentos gerados, crateramento e cho-
que contra o solo. Os resultados gerados pelo programa se baseiam nas equações e curvas
da TM 5-855-1: Design and Analysis of Hardened Structures to Conventional Weapons
Effects e permitem a aplicação tanto a uma gama de armamentos pré-estabelecidos –
como as bombas de fins gerais, granadas de artilharia e munição para morteiros – quanto
a novos armamentos, para os quais o usuário deve possuir informações pré-estabelecidas
para gerar o armamento a ser estudado. O programa é de responsabilidade do Protective
Design Center, do U.S. Army Corp of Engineers e seu acesso é permitido apenas para
cidadãos e empresas norte-americanas (MISCOW, 2015b). (ARMY, 1986)
2.7.2 Split-X
2.7.3 AVAL
Para a aplicação do método das seções (Seção 2.3.4), o armamento foi dividido em
uma grande quantidade de cilindros equivalentes, especialmente para a parte ogival, já
que nessa havia uma grande variação na espessura e nos diâmetros internos e externos do
armamento.
Com o intuito de comparar os resultados obtidos pelo código feito em MatLab e os
resultados provenientes do software Split-X, a quantidade de divisões para cada seções
foram iguais.
A partir do método das seções (Seção 2.3.4) foi possı́vel a determinação da espessura
e do diâmetro interno para cada seção cilı́ndrica equivalente para o armamento. Dessa
forma, de posse do parâmetro de Mott presente na Tabela 2.1 para o explosivo RDX
foi possı́vel a determinação da massa média de fragmento de cada seção, por meio da
Equação 2.17, bem como o números de fragmentos gerados utilizando a Equação 2.19.
Para cada seção também foi possı́vel a determinação da razão entre a massa de metal e
de explosivo ali presente, logo por meio da constante de Gurney para o RDX foi possı́vel
também determinar a velocidade de ejeção de cada fragmento ao utilizar a Equação 2.27.
P
(Nsec × DFWsec )
DFWprojeto = P (3.1)
Nsec
P
(Nsec × Velsec )
Velprojeto = P (3.2)
Nsec
" #" #
h i cosθ −senθ xi+1 − xi
vperp = (3.3)
senθ cosθ yi+1 − yi
Uma vez determinado o vetor perpendicular, é possı́vel realizar o produto escalar entre
esse vetor e o vetor (1,0), o qual representa a direção e sentido do eixo de simetria do
armamento. Tal produto implica na Equação 3.4, logo permitindo a determinação do
ângulo α1 .
− (yi+1 − yi )
α1 = arccos q (3.4)
2 2
(yi+1 − yi ) + (xi+1 − xi )
A determinação do ângulo α2 é feita de forma mais simples, uma vez que a tangente do
ângulo é definida pela razão entre as diferenças de coordenadas no eixo das ordenadas pelo
CAPÍTULO 3. METODOLOGIA 76
eixo das abscissas, conforme ilustrado na Figura 3.3. Assim, o ângulo α2 é determinado
pela Equação 3.5.
yi
α2 = arctg (3.5)
xi − xdet
Para os efeitos terminais, o autor deste TG definiu que o objetivo é determinar a AMEF
tal que pelo menos um fragmento consiga perfurar chapas de aço doce de espessuras 10%
superiores aos alvos de referência listados por Aeronáutica (1980), assim os alvos que
possuem espessuras de 1/8, 1/4, 1/2 e 1 pol. de espessura se tornariam alvos de 0,1375,
0,275, 0,55 e 1,1 pol. de espessura.
Para as espessuras definidas e utilizando a expressão dada pela Equação 2.45 é possı́vel
determinar o conjunto de velocidades mı́nimas necessárias para a perfuração de tais alvos
e, para os alvos reais, determinar a velocidade residual do fragmento após a perfuração
do aço. Uma vez determinadas as velocidades necessárias para perfuração, é possı́vel
realizar o raciocı́nio inverso, e por meio do modelo de decaimento de velocidade explicado
na Seção 2.4.1 é possı́vel definir a distância que o fragmento se desloca até atingir o alvo,
logo determinando o raio e consequentemente a área média de fragmentação.
Para determinar a área média de eficácia para alvos suficientemente grandes, é possı́vel
utilizar somente a consideração de que a velocidade ao chegar no alvo deve possuir um valor
mı́nimo definido pela Equação 2.45, contudo, para alvos reais e pré-definidos, sua área de
apresentação deve ser considerada, ou seja, além do fragmento chegar com uma velocidade
mı́nima esse deve atingir o alvo, o que leva à necessidade da utilização da Equação 2.35
de tal forma que Nf rag ≥ 1. Ao utilizar os dois critérios, a distância de efetividade do
armamento será a menor distância definida entre os dois métodos e implicará diretamente
CAPÍTULO 3. METODOLOGIA 77
q
A Nf
−LCG + LCG 2 + 4 Alvo
2π
(tg(ϕ1 ) + tg(ϕ2 ))
Rmax = (3.6)
2 (tg(ϕ1 ) + tg(ϕ2 ))
A Equação 3.6 pode ser simplificada a partir da consideração que R ≫ LCG e reescrita
conforme a Equação 3.7.
s
Aalvo Nf
Rmax = (3.7)
2π (tg(ϕ1 ) + tg(ϕ2 ))
Uma vez determinado o raio máximo, é possı́vel determinar a área média de eficácia e
aplicar a teoria descrita na Seção 2.6 a fim de determinar os valores dos raios máximos de
alcance e deflexão para os alvos de referência. A área média de eficácia é considerada como
a área do circulo com centro no ponto de detonação do alvo, assim, é possı́vel escrever a
Equação 3.8 já que a efetividade do armamento se dá para a perfuração por pelo menos
um fragmento, logo é delimitada pelo raio máximo.
Para a utilização do Split-X, se fornece qual explosivo será utilizado para preencher o
armamento e a geometria das seções relevantes do armamento, que seriam a seção ogival,
a seção cilı́ndrica e a cauda do armamento. Uma vez definidas as geometrias se estabelece
o ponto de detonação do armamento e dá-se inicio à simulação, a qual fornecerá a massa
de metal e explosivo no armamento, a velocidade de ejeção para cada divisão gerada pelo
software e seu respectivo ângulo de dispersão, assim permitindo a comparação com os
resultados obtidos por meio da teoria desenvolvida na Revisão Bibliográfica.
4 Resultados
200
Largura (mm)
-200
-400
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
Comprimento (mm)
Perfil Interno
Perfil Externo
Centro de Massa
Alça dianteira
Alça traseira
Detonação
Após a aplicação do método das seções, a BAFG-350 foi dividida em uma série de
cilindros adjacentes, os quais estão apresentados na Figura 4.2. A partir do momento que
o armamento se tornou constituı́do apenas de cilindros, foi possı́vel a determinação do
DFW e da velocidade de ejeção dos fragmentos para o armamento. Após a realização
das médias ponderadas descritas na Seção 3.3.1 tem-se que a massa de projeto para os
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 80
Para perfurar os alvos de espessura definidos na Seção 3.5 foram determinadas as ve-
locidades presentes na Tabela 4.4, as quais foram retiradas da Figura 4.3 bem como foram
determinadas as velocidades residuais após a perfuração dos alvos reais. As velocidades
mı́nimas para perfuração de alvos 10% mais espessos e as velocidades residuais após a
perfuração do alvo com sua espessura real são apresentadas, respectivamente, nas Figuras
4.3 e 4.3.
1200
900
773
600
438
300
248
200
5
5
25
35
45
75
1
2
5
12
62
87
0.
0.
0.
0.
0.
0.
0.
0.
0.
Espessura de projeto (pol.)
175
Velocidade residual (m/s)
158
150
125
117
100
78
5
25
75
25
35
45
75
1
2
5
12
0.
0.
8
0.
0.
0.
0.
0.
0.
0.
Uma vez determinadas as velocidades mı́nimas necessárias para perfuração dos alvos
mais espessos e de posse da velocidade de projeto para os fragmentos gerados é possı́vel
utilizar o modelo de decaimento da velocidade e determinar as distâncias máximas entre
a explosão e o alvo desejado. É importante observar que o coeficiente de arrasto muda em
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 82
função da velocidade do fragmento, assim, para que seja possı́vel a utilização do modelo
analı́tico e para maximizar as chances de efetividade do armamento, o coeficiente de
arrasto considerado para o voo do fragmento será o maior apresentado entre a velocidade
inicial e a velocidade necessária determinada na Tabela 4.4.
Os valores utilizados para o modelo de decaimento são: densidade do ar de 1,225
kg/m3 , fator de densidade balı́stica de 2,61 g/cm3 e, conforme já explicado, foi tomado o
maior valor de CD para todo o voo do fragmento, logo foi considerado um valor de 1,4.
Dessa forma, é possı́vel determinar, utilizando o modelo apresentado pela Equação 2.36,
as distâncias máximas, conforme as Figuras 4.5 e 4.6, que os alvos devem estar para que
haja perfuração de uma espessura 10% superior a que possuem.
140
133
120
101
80
69
60
45
37
30
20
5
5
25
35
45
75
1
5
2
12
62
87
0.
1.
0.
0.
0.
0.
0.
0.
0.
FIGURA 4.5 – Distância máxima para perfuração de um alvo consistindo de uma espes-
sura, em polegadas, 10% superior a sua.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 83
120
101
80
69
60
45
37
30
20
19
12.4
.7
.9
.2
.4
.5
2
9
3.
6.
8.
11
15
22
25
30
Espessura do alvo (mm)
FIGURA 4.6 – Distância máxima para perfuração de um alvo consistindo de uma espes-
sura, em milı́metros, 10% superior a sua.
61575
55726
Área média de eficácia (m2 )
45239
32024
20106
14845
11310
4190
5
5
25
35
45
75
1
5
2
12
62
87
0.
1.
0.
0.
0.
0.
0.
0.
0.
61575
55726
32024
20106
14845
11310
4190
19
12.4
.7
.9
.2
.4
.5
2
9
3.
6.
8.
11
15
22
25
30
Espessura do alvo (mm)
É importante notar que a utilização dessas curvas são mediante a confirmação de que
os alvos são suficientemente grandes para que pelo menos um fragmento atinja o alvo,
logo perfurando-o e cumprindo o objetivo previsto: perfurar um alvo com uma espessura
10% superior à espessura real.
Para a dispersão dos fragmentos, foi possı́vel aplicar o modelo de Shapiro descrito na
Seção 2.3.5 e determinar a direção de voo dos fragmentos gerados. É importante notar
que a velocidade utilizada para determinação desses ângulos é a obtida na Seção 4.2.1.
A ilustração do sentido e direção das velocidades dos fragmentos está na Figura 4.9 que
apresenta em colorido os vetores de velocidades dos extremos, os quais delimitarão a
dispersão angular dos fragmentos e cujos vetores velocidades apresentam os ângulos em
relação à vertical de ϕ = −10, 55◦ para o fragmento gerado na extremidade do nariz do
armamento e de ϕ = 12, 21◦ para o fragmento gerado no extremo de sua cauda.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 85
400
300
200
Largura (mm)
100
-100
-200
-300
-400
Uma vez que Aeronáutica (1980) define as áreas de apresentação dos alvos relevantes, é
necessário utilizar a metodologia descrita na Seção 3.5 para avaliar qual a maior distância
na qual há fragmentos perfurando os alvos presentes no manual.
Por meio da Equação 3.6 e utilizando os resultados obtidos em seções anteriores é
possı́vel determinar a Tabela 4.5, na qual a coluna relacionada à dispersão está associada
à quantidade de fragmentos que atingem o alvo e a coluna relacionada à velocidade está
associada ao modelo de perfuração e critério de dano estabelecido para este trabalho.
Dessa forma, a partir da Tabela 4.5, é possı́vel concluir que o fator crı́tico para a utilização
da BAFG-350 contra os alvos pré-estabelecidos é a quantidade de fragmentos gerados na
detonação.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 86
101
1/4 pol.
85
69
1/2 pol.
50
37
1 pol.
20
0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
Área de apresentação do alvo (m2 )
Uma vez determinados os dois fatores crı́ticos: dispersão e velocidade dos fragmentos
para cada espessura, é possı́vel obter a Figura 4.10 que consiste de um gráfico que relaciona
a área de apresentação do alvo (AAA) com a distância máxima que a detonação pode
ocorrer e que garante sua perfuração. Por exemplo, para alvos constituı́dos de chapas de
1 pol., é necessário que esses possuam 2 m2 de área de apresentação para que um alvo
que esteja a 37 m seja perfurado pelo critério estabelecido neste trabalho. As distâncias
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 87
máximas que garantem que um fragmento atinja o alvo e que o penetre estão apresentadas
na Tabela 4.6.
TABELA 4.6 – Tabela relacionando espessura do alvo, distância entre armamento e alvo
e a área de apresentação necessária para que o alvo seja atingido.
Espessura (pol.) Área de apresentação do alvo (m2 ) Distância (m)
1/8 25,3 133
1/4 14,6 101
1/2 6,8 69
1 2 37
Uma vez determinadas as distâncias máximas para cada espessura de alvo, é possı́vel
determinar a AMEF e como consequência os valores de alcance e deflexão para cada ângulo
de impacto, o qual é definido pelas retas da velocidade do armamento e a vertical ao solo.
Os resultados obtidos estão presentes nas Figuras 4.11 e 4.12.
Nesse contexto, os pontos destacados com asteriscos são as fronteiras que garantem
que as respectivas espessuras ainda sofrerão o critério definido, por exemplo para um alvo
de área de apresentação de 2 m2 o armamento deve ter no máximo um desvio no alcance
em torno de 20 m caso o ângulo de impacto com relação à vertical do solo seja de 20◦ .
Uma vez que o alcance seja superior ao demarcado pelo asterisco, somente alvos mais
delgados serão afetados, para os quais tem-se uma possibilidade maior para desvios no
alcance, mas que se torna necessário maiores áreas apresentadas, essa última consequência
do espalhamento dos fragmentos conforme explicado pelo modelo de Shapiro.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 88
110
100
80
70
60 1/8 pol
50
40 1/4 pol
30
1/2 pol
20 = 20°
= 40°
10 1 pol = 60°
0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
Área de apresentação do alvo (m2 )
270
255
Raio efetivo em deflexão (WRd) (m)
240
225
210
195
180
165
150
135 1/8 pol
120
105 1/4 pol
90
75
60 1/2 pol
= 20°
45
= 40°
30 1 pol
15 = 60°
0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
Área de apresentação do alvo (m2 )
calizam após 1, 2 e 3 s, bem como seguindo a instrução presente no manual OTAN (2006),
foi possı́vel determinar os pontos a partir dos quais o fragmento não é mais letal ao ser
humano, uma vez que, a partir desses pontos, os fragmentos possuem energia inferior a
79 J, valor esse especificado pelo manual citado. Uma vez que a massa de projeto é de
16,9 g, a velocidade letal do fragmento pode ser determinada como 96,7 m/s.
Envelope de Fragmentação
400
300
Altitude(m)
200
100
0
-500 -400 -300 -200 -100 0 100 200 300 400 500
Alcance(m)
Fragmentos após 1 s
Fragmentos após 2 s
Fragmentos após 3 s
Fronteira letalidade humana
Dessa forma, por exemplo, caso ocorra a detonação do armamento, as pessoas loca-
lizadas no solo e a uma distância um pouco superior a 250 m, caso fossem atingidas,
estariam submetidos a um fragmento letal. Outro ponto a se observar é que para o ensaio
desse armamento, para garantir que não haverão fragmentos atingindo a casamata, essa
deve estar localizada a uma distância superior a 450 m, uma vez que o maior alcance do
fragmento está próximo a essa distância.
Um método mais direto para observação das curvas após os tempos de voo de 1 s, 2 s
e 3 s é a aproximação dessas para uma circunferência de raios respectivamente dados por
271 m, 331 m e 364 m, facilitando então o planejamento da missão de ataque, uma vez
que o piloto agora possui um valor de referência que deve estar em relação ao ponto de
detonação, assim garantindo que não sofra danos advindos dos fragmentos da bomba que
ele mesmo lançou.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 90
Por meio da teoria descrita na Seção 2.6.1 foi possı́vel a determinação dos valores de
SSPD para diversos ângulos de impacto e diversos CEP, os quais estão descritos nos tı́tulos
e legendas das Figuras 4.14, 4.15 e 4.16. A partir dos resultados é possı́vel confirmar o
que já era esperado: quanto menor o erro em relação ao alvo, ou seja, o CEP, maior a
probabilidade de neutralização do alvo. Outro fato já esperado e confirmado mediante os
gráficos é que quanto maior a área de apresentação do alvo mais distante esse pode estar
e ainda será neutralizado, contudo a maior distância reduz a capacidade de perfuração do
fragmento, sendo necessário notar as fronteiras para cada espessura de alvo.
0.7
1 pol.
0.6
SSPD
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
2
Área de apresentação do alvo (m )
0.6
SSPD (%)
0.4
1 pol.
0.3
0.2
0.1
0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
Área de apresentação do alvo (m2 )
0.8 = 40°
= 60°
0.7 1/8 pol.
0.6
1/4 pol.
SSPD (%)
0.5
1/2 pol.
0.4
0.3
0.2
1 pol.
0.1
0
2 4 6.8 10 14.6 20 25.3 30
2
Área de apresentação do alvo (m )
ejeção dos fragmentos e o ângulo de dispersão dos fragmentos também foram determinados
pelo software.
TABELA 4.7 – Tabela-resumo dos principais resultados levantados por meio das imple-
mentações computacionais.
Parâmetro Simulação MatLab Simulação Split-X Diferença percentual (%)
Massa de metal (kg) 140 156 11
Massa de explosivo (kg) 171 172 0,58
Número de fragmentos 37226 26233 -29,53
Massa média dos fragmentos (g) 3,78 5,67 50
Velocidade média dos fragmentos (m/s) 2600 2249 -13,5
Ângulo de ejeção no nariz / cauda (◦ ) 79,4 / 77,8 84,4 / 76,3 6,3 / -1,93
As geometrias finais obtidas tanto pelo Split-X quanto pelo código em MatLab estão
presentes nas Figuras 4.17 e 4.18.
200
Largura (mm)
-200
-400
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
Comprimento (mm)
Perfil Interno
Perfil Externo
Centro de Massa
Alça dianteira
Alça traseira
Detonação
massa de metal à essa região, assim quanto menor a massa de metal sendo acelerada por
uma mesma porção de explosivo, maior a velocidade de ejeção, conforme o modelo de
Gurney.
2500
Velocidade de Ejeção (m/s)
2000
1500
1000
500
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Posição relativa (x/L)
FIGURA 4.19 – Distribuição de velocidades para ambos modelos.
De posse dos resultados obtidos pela simulação do Split-X foi possı́vel a determinação
da Figura 4.20. É possı́vel observar que há uma concordância na tendência dos ângulos, em
especial no pico de dispersão ser em uma abscissa muito próxima à do ponto de detonação.
A partir do trecho cilı́ndrico é onde há uma maior concordância no ângulo de dispersão dos
fragmentos entre os métodos. Por fim, há uma leve dispersão entre os resultados teóricos
e os advindos do Split-X para a seção da cauda do armamento, inclusive a mudança de
tendência no ângulo de ejeção se dá assim que começa a curva da seção de cauda.
CAPÍTULO 4. RESULTADOS 95
105
95
90
85
80
75
0 0.07 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Posição relativa (x/L)
81
80
Ângulo de ejeção (°)
79
78
77
76
0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
Posição relativa (x/L)
velocidades de 248 m/s, 438 m/s, 773 m/s e 1365 m/s, as quais se relacionaram, por meio
de um modelo aerodinâmico de arrasto, às distâncias de, respectivamente, de 133 m, 101
m, 69 m e 37 m entre a detonação do armamento e o alvo a ser neutralizado.
Ao incrementar o modelo, considerando a dispersão dos fragmentos, as distâncias de-
terminadas são reduzidas e se faz necessário considerar a área de apresentação do alvo,
assim foi possı́vel determinar os gráficos que determinam, para cada espessura de refe-
rência, qual a área apresentada necessária e qual seria a distância até essa área para que
o alvo seja neutralizado. De posse das distâncias máximas, e considerando as áreas de
apresentação dos alvos, foi possı́vel determinar a área média de eficácia para cada caso, e
a partir dessa foi possı́vel a determinação dos raios efetivos de alcance e de deflexão para
a BAFG-350. Uma vez determinados esses raios, foi possı́vel a determinação da SSPD
para cada espessura de referência e para alguns casos de CEP e REP. Por fim, a partir de
um modelo aerodinâmico mais complexo, por considerar a variação de arrasto ponto-a-
ponto no voo do fragmento, foi possı́vel a determinação do envelope de fragmentação do
armamento, bem como a determinação da envoltória de letalidade para alvos humanos.
A fim de confirmar os resultados obtidos pela teoria desenvolvida e implementada no
MatLab, foi utilizado o software Split-X para modelar a BAFG-350 e obter os parâme-
tros relevantes dessa. Assim, conforme é possı́vel observar nos resultados, os resultados
dependentes da geometria e massa de metal destoaram de forma significativa entre os
métodos, uma vez que o Split-X utiliza um método diferente para confecção da envoltória
metálica, mas os resultados dependentes de propriedades intrı́nsecas dos materiais, como
a velocidade e ângulo de ejeção, foram próximos entre si, inclusive sendo possı́vel ver essa
proximidade a partir dos gráficos apresentados.
Diante do exposto neste trabalho, é possı́vel concluir que a metodologia apresentada
foi suficiente para se dar inicio a um projeto de uma bomba de fins gerais, mas que há a
necessidade de um refino do modelo, refino esse que é dependente de ensaios experimentais
custosos e que atualmente não possuem perspectivas de ocorrer. Outros ensaios, como
de carregamento externo em aeronaves e de alijamento são necessários para determinar
o CEP e o REP do armamento e tornar o modelo de letalidade mais fidedigno ao arma-
mento. Sendo assim, faz-se a necessidade, em trabalhos futuros, de ensaios de arena para
refinar o modelo de fragmentação do armamento, e de ensaios em voo para determinar o
comportamento do armamento em voo cativo e voo balı́stico.
Referências
GRADY, D. Fragmentation of Rings and Shells: The Legacy of N.F. Mott. Springer
Berlin Heidelberg, 2007. (Shock Wave and High Pressure Phenomena). ISBN
9783540271451. Disponı́vel em:
<https://books.google.com.br/books?id=RoEyk4Dwd\ kC>.
NEWS, A. Technological innovations in the history of the U.S. Air Force. 2017.
Disponı́vel em: <https://www.aerotechnews.com/nellisafb/2017/09/15/technological-
innovations-in-the-history-of-the-u-s-air-force/>. Acesso em: 14 Ago. 2022.
ORDER, D. of the air force technical. Bombs and Bomb Components. 1. ed. EUA, 4
1966. Manual TM 9-1325-200.
REFERÊNCIAS 101
SIOURIS, G. Missile Guidance and Control Systems. Springer, 2004. ([ProQuest Ebook
Central]). ISBN 9780387007267. Disponı́vel em:
<https://books.google.com.br/books?id=NVEtqShrgvkC>.
STILWELL, B. The First Aerial Bombing Run Was Made by the Italian Army. 2019.
Disponı́vel em: <https://explorethearchive.com/first-aerial-bombing-run-was-made-by-
the-italian-army>. Acesso em: 02 Ago. 2022.
WARFARE, W. . 1849: Austria Drops Balloon Bombs on Venice. 2019. Disponı́vel em:
<https://weaponsandwarfare.com/2019/06/17/1845-austria-drops-balloon-bombs-on-
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XU, H.; LI, W.; LI, W.; WANG, Y. Experimental studies of explosion energy output
with different igniter mass. Defence Technology, v. 15, n. 5, p. 808–814, 2019. ISSN
2214-9147. SI: 2019 International Symp. Ballistics. Disponı́vel em:
<https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2214914719302041>.
1. 2. 3. 4.
CLASSIFICAÇÃO/TIPO DATA DOCUMENTO Nº Nº DE PÁGINAS
TC 16 de novembro de 2022 DCTA/ITA/TC 102
046/2022
5.
TÍTULO E SUBTÍTULO:
Análise dos Parâmetros de Fragmentação de uma Bomba de Fins Gerais
6.
AUTOR(ES):
Daniel Abreu Duarte
7.
INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES):
Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA
8.
PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:
Armamento; Explosivo; Fragmentação; Bombas; Mott; Gurney
9.
PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:
Bombas (explosivos); Fragmentação; Armamentos; Guiamento (movimento); Cabeça-de-guerra; Tecnologia mi-
litar; Engenharia militar.
10.
APRESENTAÇÃO: (X) Nacional ( ) Internacional
ITA, São José dos Campos. Curso de Graduação em Engenharia Aeronáutica. Orientador: Rene Franscisco
Boschi Gonçalves; co-orientador: Paulo Cesar Miscow Ferreira. Publicado em 2022.
11.
RESUMO:
O presente trabalho se propõe a projetar um armamento denominado como bomba BAFG-350 e que consiste
de uma bomba de fins gerais de baixo arrasto e a estudar os parâmetros de fragmentação tanto em sua forma-
ção quanto em seus efeitos terminais. Nesse contexto, o trabalho se inicia com uma perspectiva histórica dos
bombardeios aéreos, passando pelo desenvolvimento das atualmente denominadas bombas de fins gerais e suas
melhorias em relação à precisão, por meio de sistemas de guiamento. Também há uma breve explicação quanto
às espoletas, seu funcionamento e finalidade.
Após a introdução ao tema, o trabalho parte para a revisão bibliográfica, a qual consiste no arcabouço teórico
necessário para o projeto do armamento. Nesse contexto, a revisão perpassa pela conformação mecânica de um
tubo sem costura e de seu preenchimento pelo trem explosivo. Tratando especificamente sobre a fragmentação,
o presente trabalho discorre sobre a fragmentação natural inerente às BAFGs, da velocidade dos fragmentos e de
sua dispersão angular após a fragmentação. Outros tópicos abordados são o voo dos fragmentos, e seus efeitos
terminais em placas de aço, as quais são utilizadas como alvos de referência com relação a alvos reais. Ainda
tratando dos efeitos terminais, tem-se um estudo da função de dano caracterizada pela área média de eficácia de
fragmentação, bem como o cálculo da chance de neutralização de alvos de referência submetidos aos fragmentos
advindos da BAFG-350.
Por fim, e como forma de confirmar que a teoria abordada está de acordo com o praticado na indústria e
na pesquisa, os resultados determinados pela teoria presente na revisão bibliográfica são confrontados com os
resultados advindos de um software existente no IAE - DCTA, denominado como Split-X e de uso industrial
para o projeto de cabeças-de-guerra.
12.
GRAU DE SIGILO:
(X) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) SECRETO