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As Relações Internacionais
da União Europeia
Entretanto, essa visão positiva esconde ainda diversas limitações da ação externa
da União Europeia, sejam relacionadas à crise econômica, como à interação com
os Estados Unidos e a OTAN no continente. Isso não significa afirmar que a União
Europeia não avançou em termos de política externa e de segurança, ou que seu papel
1. Tradução da autora.
2. Announcement. Nobel Peace Prize, 2102. Disponível em http://nobelpeaceprize.org/en_GB/laureates/
laureates-2012/announce-2012/. Acesso em 23 de agosto de 2013. Segundo informações da União Europeia,
o valor do prêmio foi destinado a projetos educacionais de crianças atingidas por conflitos. Disponível em
http://europa.eu/about-eu/basic-information/eu-nobel/. Acesso em 16 de junho de 2013.
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3. Com o auxílio de Marcela Franzoni, graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal
de São Paulo (UNIFESP). Mais especificamente, para a visão norte-americana do relacionamento ver “Os
Estados Unidos e o Século XXI” (PECEQUILO, 2013), especificamente o Capítulo 3 “O Eixo Europa-Ásia:
As Parcerias Tradicionais”. Nesse capítulo, a trajetória do relacionamento Europa-Estados Unidos é dividida
em três fases: parceria (1989/2000), divergências (2001/2004), acomodação (2005/2012).
4. Correspondentes, como analisado no Capítulo 2, às teses de Samuel Huntington de Choque das Civili-
zações e de Francis Fukuyama de fim da história.
Capítulo | 4 As Relações Internacionais da União Europeia 113
da integração, dividida entre uma vocação europeia e uma atlântica, que complementa
as demais oposições existentes sobre o alargamento e aprofundamento, o intergover-
namentalismo e a supranacionalidade.
Em resumo, a relação Estados Unidos-União Europeia permanece dual, oscilando
entre a parceria, a autonomia e a dependência, sintetizada na expressão de Todd (2002),
associação e dissociação entre os dois modelos ocidentais. Assim como Todd (2002),
Wallerstein (2006) e La Gorce (2006) expressam essa mesma dinâmica, relativizando a
possibilidade de um descolamento pleno entre os dois sistemas. Para Todd, isso resulta
da incapacidade europeia de escolher entre as alternativas, o que impede o bloco de
explorar outras vias.
Desta forma, o objetivo deste item é retomar algumas destas discussões a partir da
criação da União Europeia em 1992, assim como apontar algumas novas tendências
do intercâmbio nas arenas políticas, estratégicas, culturais e econômicas. Ainda que
se procure evitar o excesso de repetições de temas já vistos em capítulos anteriores,
é inevitável voltar a certos debates, principalmente no que se refere aos Balcãs, às
Guerras do Afeganistão e do Iraque, e a relação entre a OTAN e os esforços europeus
para a construção de uma política externa, de segurança e defesa comum.
Examinando esta evolução de temas, no que se refere à dimensão estratégica, o foco
das discussões permaneceu sobre a OTAN, englobando temas como sua permanência
no cenário pós-soviético e sua revisão de missão e alargamento. O tópico envolve
atuações de projeção de poder em operações de paz, intervenções bélicas regionais e
globais, assim como associações com os mecanismos de segurança e defesa comum
europeias em processo de construção.
Na década de 1990, a preservação da aliança atlântica, mesmo na ausência do
inimigo soviético no pós-1989, e a incorporação das nações do Leste na organização
foi consolidada. Para os Estados Unidos, isso permitiu a manutenção de sua presença
regional europeia, preservando a sua projeção de poder neste espaço geopolítico e
geoeconômico. Para a Europa Ocidental, significou tanto a parceria como a depen-
dência dos norte-americanos, como comprovado pelas crises dos Balcãs.5
Os anos 1990 foram de descongelamento da política balcânica, com a desmontagem
da antiga Iugoslávia por meio de dois conflitos sangrentos, a Guerra da Iugoslávia
(1992/1995) e a Guerra de Kosovo (1999), como visto nos capítulos anteriores. A des-
peito da entrada da Croácia na União Europeia em 2013, e da candidatura das demais
ex-nações da Iugoslávia à expansão, não se pode perder de vista o olhar crítico sobre
a região, que viveu há pouco mais de 20 anos tragédias humanitárias comparáveis às da
Segunda Guerra Mundial. A ocupação dos Balcãs pelo Ocidente representou o controle
de importante rota de passagem europeia, assim como de pressão sobre a Rússia (e de
sua aliança com a Sérvia).
Em retrospecto, a atuação da União Europeia nos Balcãs não pode ser descolada das
ações norte-americanas, em particular as militares e operações de paz e de estabilização
posteriores. Especificamente, deve-se mencionar no âmbito das Nações Unidas as
seguintes missões:6 a UNPROFOR (United Nations Protection Force, 1992/1995), a
5. Em escala global, como visto no Capítulo 2, a Europa Ocidental apoiou a Guerra do Iraque (1990/1991).
6. Optou-se por deixar os nomes das missões em inglês para preservar o seu sentido original.
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7. Para a listagem das missões de paz, civis e militares da União Europeia ver http://eeas.europa.eu/csdp/
missions-and-operations/index_en.htm. Acesso em 30 de julho de 2013.
Capítulo | 4 As Relações Internacionais da União Europeia 115
das commodities significam que ambos os lados estão preparados para discutir
a agricultura e a negociar a abertura de mercados. Um acordo de comércio e
investimento entre as duas maiores economias do mundo representa a opor-
tunidade para aumentar o crescimento e os empregos em ambos os lados do
Atlântico (...) Embora as tarifas entre a UE e os EUA já sejam baixas (uma
média de 4%), o tamanho combinado das economias (...) e o comércio entre
elas significa que o desaparecimento das tarifas será positivo para os empregos
e o crescimento. A área nas quais estas negociações podem significar ganhos
concretos para os negócios, criar empregos e trazer preços melhores aos con-
sumidores e pela eliminação de regras e regulamentações desnecessárias – as
chamadas barreiras não tarifárias. (…)11
nas arenas de direitos humanos e meio ambiente, nas quais a União Europeia sempre
procurou diferenciar-se dos Estados Unidos como um bloco de vanguarda. Como citado,
esse “vanguardismo” é parte essencial da imagem da União como poder civil global, que
procura colocar maior relevância nestes temas do que nos estratégicos, defendendo a
necessidade de uma reavaliação de posturas da parte norte-americana (voltando, portanto,
à oposição entre um mundo kantiano e idealista e a realidade hobbesiana realista).
Na arena estratégica tendem a se repetir as tensões tradicionais entre a autonomia
e a dependência do bloco diante dos Estados Unidos, tanto da parte europeia quanto
norte-americana. Nesse campo, os europeus encontram-se, como visto ao longo deste e dos
demais capítulos, divididos: enquanto os defensores da linha “atlântica” mantêm-se como
defensores da presença continental dos Estados Unidos (principalmente o Reino Unido e os
novos membros da OTAN), os europeístas defendem a diminuição dessa dependência es-
tratégica e expressam críticas ao unilateralismo norte-americano. Mas, mesmo nesta arena,
existe uma outra divisão: os que defendem o desenvolvimento de mecanismos próprios de
defesa que permitam este descolamento Estados Unidos/OTAN – União Europeia, e os que
advogam uma ação de cunho estritamente pacifista europeia nas relações internacionais.
Por sua vez, do lado norte-americano, continuam sendo expressas insatisfações com
relação à ausência de projeção de poder europeia regional e global. Para analistas como
Brzezinski (2012), essa inércia estratégica tende a tornar a União Europeia um ator
irrelevante nas relações internacionais e como parceiro dos Estados Unidos. Regional-
mente, para o autor, isso implica custos político-econômicos para os norte-americanos
com a OTAN e, globalmente, ônus também estratégicos à medida que enfraquece a
capacidade ocidental de conter a ascensão das nações asiáticas. Segundo Brzezinski
(2012), no cenário contemporâneo, o ocidente deve ser compreendido por uma pers-
pectiva expandida, que inclua, além dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, a
Turquia e a Rússia. A não inclusão de ambos, em sua visão, nas estruturas europeias
(principalmente a da Turquia, membro da OTAN desde a década de 1950), somente
fragiliza estas perspectivas e demonstra a falta de visão de longo prazo europeia.
A tendência, em meio a estas críticas e reticências de ambos os lados, entretanto, é
a da continuidade da acomodação, alternada com alguns momentos de “divórcio” que
não devem ser exacerbados como em 2002/2003. Em síntese, o intercâmbio entre a
União Europeia e os Estados Unidos mantém-se como um dos mais sólidos das relações
internacionais contemporâneas, sustentado não só na dependência estratégica europeia
dos norte-americanos, mas também em um sistema de valores e interesses comuns na
política e na economia, representativas do “Ocidente”. E de um “Ocidente” que se sente
ameaçado pela ascensão do “resto”, seja em seu entorno próximo, como na arena global.
13. Com o auxílio de Clarissa Forner, graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal
de São Paulo (UNIFESP).
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14. Por opção política, como já discutido, Noruega, Suíça, Andorra, Mônaco, San Marino e Lichenstein são
outras nações “fora” da União Europeia. O Vaticano também não é parte da União.
122 A União Europeia_Cristina Soreanu Pecequilo
Árabe e o processo de paz do Oriente Médio. Mas quais as respostas europeias a esses
eventos? E, somados aos parceiros do Mediterrâneo, como a União Europeia tem lidado
com questões de nações não enquadradas nestes projetos de cooperação como o Irã?19
A.1) O Oriente Médio e o Processo de Paz Israel-Palestina20
Apesar de não restrita ao Oriente Médio, estendendo-se aos Balcãs e ao Norte
da África, além de territórios europeus, a EUROMED possui uma inserção bastante
intensa na região devido à inclusão de Israel e Palestina entre seus membros. No caso
do processo de paz Israel-Palestina, a União Europeia apoia a constituição dos dois
Estados em coexistência, reconhecendo o direito dos dois povos, judeu e palestino,
à soberania de seu território. Para isso, o bloco tem atuado por meio de duas vias:
uma multilateral, com a União Europeia agindo em associação com outras nações e
organismos envolvidos nas negociações, e uma bilateral, da União Europeia com Israel
e Palestina, por meio de parcerias econômicas e missões civis.
Em termos de atuação multilateral, desde 2002 a União Europeia faz parte do
Quarteto de Madri, composto, além dela, pelos Estados Unidos, a Rússia e as Nações
Unidas. Criado como uma tentativa de retomar os processos de paz no contexto da
GWT de George W. Bush filho, o Quarteto inicialmente defendeu a implementação
do “Mapa da Estrada” (Road Map). Proposta do governo norte-americano, o mapa
visava reestabelecer a legitimidade e credibilidade das negociações, a despeito do
alinhamento entre os governos conservadores de Israel (Ariel Sharon) e dos Estados
Unidos, reafirmando o objetivo de construção dos dois Estados, Israel e Palestina.
O mapa também tentava restabelecer propósitos e objetivos já implementados
como nos Acordos de Oslo I e II dos anos 1990, envolvendo os Estados Unidos do
Presidente Bill Clinton (as negociações e processo inicial de implementação estiveram
sob a responsabilidade do Presidente Bush pai), a Palestina de Yasser Arafat e Israel
de Ytzak Rabin. Baseados na fórmula “Terra pela Paz”, com a devolução de territórios
aos palestinos em troca do reconhecimento do Estado de Israel, os Acordos de Oslo
levaram à criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP) como embrião do novo
Estado Palestino, mas foram interrompidos devido ao assassinato de Ytzak Rabin em
1995. Na oportunidade, os Acordos de Oslo I e II foram considerados revolucionários,
pois deram início à real formação do Estado Palestino, sofrendo uma rápida des-
montagem após 2001 com o governo conservador de Ariel Sharon em Israel, a qual a
comunidade internacional, incluindo a União Europeia assistiu.21
Na última década, as conquistas do Quarteto de Madri, seja na forma do “Mapa
da Estrada”, ou iniciativas posteriores como a de desenvolvimento do Oriente Médio
e Norte da África, foram pouco significativas. As negociações continuam travadas,
destacando-se problemas recorrentes de violência nos entornos israelense e palestino,
de construção de assentamentos judaicos em territórios em disputa, dentre outros pro-
blemas conhecidos. Apesar da condenação da comunidade internacional destes atos
19. A atuação no Iraque e nos Balcãs foi analisada nos Capítulos 2 e 3, e na Seção 4.1 deste capítulo.
20. Para as questões do Oriente Médio recomenda-se a leitura de Visentini (2014).
21. Em Pecequilo (2013), as negociações são examinadas do ponto de vista dos Estados Unidos.
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22. Ver EUROPEAN UNION. ENP Country Progress Report 2012: Israel. In: “Memo”. Bruxelas, 20 mar
2013. Disponível em <http://ec.europa.eu/world/enp/docs/2013_enp_pack/2013_memo_israel_en.pdf>.
Acesso em 22 jun 2013
23. Tradução de Clarissa Forner de EUROPEAN UNION. ENP Country Progress Report 2012: Israel.
In: “Memo”. Bruxelas, 20 mar 2013. Disponível em <http://ec.europa.eu/world/enp/docs/2013_enp_
pack/2013_memo_israel_en.pdf>.Acesso em: 22 jun 2013
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Dentre estas, a EUBAM Rafah pode ser indicada como uma das mais relevantes
no cenário Israel-Palestina no trato das populações civis palestinas: localizada no
ponto de passagem de Rafah, na Faixa de Gaza, a missão foi instituída para auxiliar
e facilitar o acesso e o movimento dos cidadãos nessa zona. Nesse sentido, a União
Europeia exerce, segundo a missão oficial da EUBAM,24 um papel de “terceira parte”
nas negociações entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina para a rota de pas-
sagem entre ambos, visando a construção de confiança entre as partes. A missão foi
recentemente estendida em 2013, assim como a da EUPOL COPPS. Adicionalmente,
a União Europeia também detém programas de ajuda em áreas como educação e temas
sociais para a ANP, associado a fundos para estabilização e reconstrução do futuro
Estado Palestino.
Dessa forma, a União Europeia exerce um papel positivo em escala micro na região,
ainda que em escala macro, sobre o processo de paz em geral, sua atuação seja menor e
mais alinhada aos Estados Unidos. Apesar da validade desses processos micro, não se
pode esquecer que sem um acordo permanente e sólido para a questão Israel-Palestina,
essas iniciativas tendem a ser tópicas, muitas vezes reativas a crises, o que prolonga a
instabilidade do sistema regional.
No que se refere a uma realidade de país não incluído na EUROMED, deve-se
mencionar o Irã. Nesse campo, a União Europeia tem se alinhado aos Estados Unidos
nas questões relativas às negociações e pressões sobre o Irã no campo nuclear. Em
2010, assim como os norte-americanos, não apoiou o Acordo Tripartite Brasil-Tur-
quia-Irã, e tem optado pela manutenção via Nações Unidas e unilaterais sobre o país.
As negociações neste setor são conduzidas no âmbito de E3 + 3 que envolve a China,
a França, a Alemanha, a Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos.25 Encontram-se
na lista de sanções a proibição de comércio bilateral, incluindo a compra e venda de
petróleo. Segundo a União Europeia,
O objetivo da União Europeia permanece na obtenção de um acordo abrangen-
te, consensual e de longo termo, que poderá restituir a confiança internacional
na natureza exclusivamente pacífica do programa nuclear iraniano, respeitando
o direito legítimo do Irã no uso pacífico da energia nuclear em conformidade
com o Tratado de Não Proliferação e respeitando todas as resoluções do Conse-
lho de Segurança das Nações Unidas e do Conselho da Agência Internacional
de Energia Atômica. (EUROPEAN UNION and IRAN, 2013)26
A reação ocidental a essa transformação regional tem sido, desde 2010, carac-
terizada por oscilações e indecisões no que se refere à avaliação das transições em
andamento. Embora existam manifestações dos Estados Unidos e da União Europeia
a favor da consolidação de regimes democráticos nos países imersos na Primavera,
a percepção de ameaça referente à possível consolidação de governos de caráter
fundamentalista em nações-chave como o Egito é real.
Em linhas gerais, não existem diferenças significativas entre as posições dos Es-
tados Unidos e da União Europeia no tema “Primavera Árabe”, com o bloco seguindo
as orientações norte-americanas e apoiando, inclusive, operações militares. Para a
União Europeia, porém, trata-se de um desafio direto a estruturas de parcerias já
estabelecidas, como a Parceria do Mediterrâneo em termos geopolíticos e geoeco-
nômicos. Inclusive, muitas das nações envolvidas nas crises mais significativas da
Primavera como Egito, Líbia e Síria representam importantes parceiros europeus no
setor político-energético. Essa situação é ilustrada pela avaliação realizada em 2013
pela União Europeia do processo em andamento:
Mais de dois anos se passaram desde a emergência da “Primavera Árabe”
começando com os levantes populares da Tunísia e do Egito. A situação em
praticamente todo o mundo árabe permanece altamente fluída, e importantes
diferenças emergiram entre os países e regiões envolvidos. Enquanto progressos
significativos foram realizados na promoção de reformas democráticas (por
exemplo, a convocação de eleições em consonância com padrões democráticos,
fortalecendo o papel da sociedade civil, com aumento da liberdade de expres-
são e organização), muitos obstáculos precisam ser superados para que estas
transições possam ser consolidadas com sucesso. (EUROPEAN UNION RES-
PONSE TO THE ARAB SPRING, 2013)27
No que se refere às respostas dadas a estes eventos, podem ser definidos os se-
guintes caminhos tomados pelo Ocidente em suas respostas à Primavera Árabe: a
intervenção militar, que tem como exemplo o caso líbio, a acomodação (principal-
mente com relação às petromonarquias como Iemen, Bahrein, Emirados Árabes,
Arábia Saudita), a intervenção política (Egito) e a pressão pela intervenção (Síria).
Igualmente, tanto a União Europeia quanto os Estados Unidos buscaram apresentar
planos de desenvolvimento e ajuda à região. Em 2011, os Estados Unidos lançaram
uma iniciativa para o Norte da África e o Oriente Médio, que teve resposta similar
da União Europeia no âmbito da parceria mediterrânea.
Esses planos têm objetivos duplos: ajudar a consolidação das sociedades em tran-
sição e, por outro lado, prevenir a emergência de novas tensões em países ainda não
fortemente atingidos pela Primavera, mas que tradicionalmente apresentam situações
de vulnerabilidade política. No primeiro bloco pode-se inserir a renovação da Parceria
do Mediterrâneo em 2011 no que se refere à defesa da democracia e da prosperidade
compartilhada, com a manutenção dos pacotes de ajuda em andamento.
27. Tradução da autora. EUROPEAN UNION. EU's response to the Arab Spring: the state-of-play after
two year. Bruxelas, 8 fev 2013. Disponível em <http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_Data/docs/
pressdata/EN/foraff/135292.pdf>.Acesso em 22 jun 2013.
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nova agenda. Na sequência, em julho de 2013, Mursi foi removido do poder, com base
em alegações de desrespeito à Constituição e volta do autoritarismo. Até setembro
de 2013, o Presidente Mursi continua em prisão domiciliar e se mantêm os choques
entre seus aliados e as forças contrárias a seu retorno ao poder, com elevado grau de
violência e incerteza.
De certa forma, os desafios e caminhos dos três casos aqui escolhidos para análise,
Líbia, Egito e Síria, demonstram as dificuldades políticas, sociais e econômicas as-
sociadas à transformação dessas sociedades e a consolidação de seus futuros regimes.
Se esses regimes serão democráticos, seguindo o modelo ocidental, ou se cada um
deles procurará seu caminho, é uma questão sem resposta. A forma pela qual estas
tensões sociais, que envolvem componentes religiosos e sociais, nas disputas políticas
serão (ou não resolvida) no médio ou longo prazo inserem-se nesse mesmo dilema,
colocando inúmeros desafios ao mundo e, particularmente, à União Europeia, frente
a uma vizinhança próxima geograficamente, mas nem sempre compreendida em suas
especificidades, assim,
os eventos que estão correndo no Oriente Médio e no Norte da África desde o
início da Primavera Árabe, tomaram proporções verdadeiramente históricas,
que não somente vão moldar o futuro de toda a região, mas também vão ter
repercussões muito além dos países envolvidos. A União Europeia compro-
meteu-se com apoio a longo prazo de todos os países árabes engajados em
transições democráticas e irá auxiliá-los em seus esforços para superar quais-
quer obstáculos de curto prazo que estejam enfrentando. As parcerias como
os governos que emergiram após a Primavera Árabe serão desenvolvidas com
base em suas performances. Neste contexto, a União Europeia vai continuar
engajando construtivamente novos atores políticos que emergiram com e a
partir da Primavera Árabe. A fim de ajudar a construir culturas democráticas vi-
brantes no mundo árabe, a União Europeia, vai continuar a apoiar a sociedade
civil e o trabalho de organizações não governamentais relevantes. (EUROPE
UNION RESPONSE TO THE ARAB SPRING, 2013).29
29. Tradução da autora. EUROPEAN UNION. EU's response to the Arab Spring: the state-of-play after
two year. Bruxelas, 8 fev.2013. Disponível em <http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_Data/docs/
pressdata/EN/foraff/135292.pdf>. Acesso em 22 jun 2013
30. Para o documento completo do lançamento da iniciativa ver http://ec.europa.eu/world/enp/pdf/
com07_160_en.pdf. Acesso em 20 de agosto de 2013.
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