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POLÍTICA COMUM DE SEGURANÇA E DEFESA

A Política Comum de Segurança e Defesa (PCSD) proporciona um quadro da UE no


domínio da defesa e da gestão de crises, incluindo a cooperação e a coordenação
entre os Estados-Membros. Enquanto parte integrante da Política Externa e de
Segurança Comum (PESC) da União[1], a PCSD deu origem a estruturas políticas e
militares internas da UE, permitindo a realização de missões e operações militares
e civis no estrangeiro.

BASE JURÍDICA
O Tratado de Lisboa (também designado por Tratado da União Europeia (TUE)), que
entrou em vigor em 2009, estabelece o quadro geral para a atual PCSD, clarifica os
seus aspetos institucionais e reforça o papel desempenhado pelo Parlamento Europeu
no que diz respeito a esta política.
O artigo 41.º estabelece disposições gerais sobre o financiamento da PESC e da
PCSD. A política é também descrita nos artigos 42.º a 46.º, do capítulo 2, secção 2
do título V («Disposições relativas à política comum de segurança e defesa»), nos
Protocolos n.ºs 1, 10 e 11 e nas Declarações n.ºs 13 e 14. O papel específico do
Parlamento Europeu na PESC e na PCSD é estabelecido no artigo 36.º do TUE.
As inovações introduzidas pelo Tratado de Lisboa constituíram uma oportunidade
para melhorar a coerência política da PCSD. O Alto Representante da União para os
Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, que exerce também as funções de
Vice-Presidente da Comissão Europeia (VP/AR), desempenha um papel institucional
determinante, dirigindo o Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE), presidindo ao
Conselho dos Negócios Estrangeiros na sua «formação de Ministros da Defesa» (o
órgão decisório da PCSD da UE) e dirigindo a Agência Europeia de Defesa (AED).
O VP/AR – cargo atualmente exercido por Josep Borrell – apresenta geralmente
propostas de decisões sobre a PCSD aos Estados-Membros.

DISPOSIÇÕES DO TRATADO RELATIVAS À PCSD


O Conselho Europeu e o Conselho da União Europeia (artigo 42.º do TUE) tomam as
decisões relacionadas com a PCSD. Estas decisões são tomadas por unanimidade,
sendo de notar algumas exceções no caso das decisões relacionadas com a AED

[1]Ver título V («Disposições gerais relativas à ação externa da União e disposições específicas relativas à política externa e
de segurança comum (PESC)») do Tratado da União Europeia (TUE); ver também a ficha 5.1.1 sobre a política externa da
UE.

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(artigo 45.º do TUE) e com a cooperação estruturada permanente (CEP, artigo 46.º do
TUE), que são tomadas por votação por maioria.
O Tratado de Lisboa introduziu a noção de política europeia de capacidades e de
armamento (Artigo 42.º, n.º 3, do TUE) e estabeleceu uma ligação entre a PCSD
e outras políticas da União, dispondo que a AED e a Comissão devem trabalhar
em estreita cooperação, sempre que necessário (artigo 45.º, n.º 2, do TUE). Tal diz
nomeadamente respeito às políticas industrial, espacial e de investigação da União,
relativamente às quais o Parlamento se viu atribuído um papel mais significativo no
que diz respeito à PCSD.
Além disso, o artigo 21.º do TUE recorda que o multilateralismo está no cerne da
ação externa da UE. Tal inclui a participação dos parceiros nas missões e operações
da PCSD, bem como a colaboração numa série de assuntos relacionados com a
segurança e defesa. A UE está associada a vários quadros para uma coordenação e
cooperação mais estreita, em especial às Nações Unidas e à Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN), bem como, nomeadamente, à União Africana, ao G5 Sael, à
Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa e à Associação das Nações
do Sudeste Asiático.

PCSD: UMA POLÍTICA EM RÁPIDA EVOLUÇÃO


A PCSD evoluiu consideravelmente desde a entrada em vigor do Tratado de Lisboa,
tanto a nível político como a nível institucional.
Em 19 de junho de 2016, a VP/AR, Federica Mogherini, apresentou ao Conselho
Europeu a «estratégia global da UE» (EGUE), que estabelece a estratégia para a
PCSD. A estratégia global da UE identifica cinco prioridades para a política externa
da UE: a segurança da União, a resiliência estatal e da sociedade a leste e a sul da
UE, o desenvolvimento de uma abordagem integrada em relação aos conflitos, ordens
regionais de cooperação e a governação mundial para o século XXI. A execução da
estratégia global da UE deveria ser objeto de uma revisão anual, em consulta com o
Conselho, a Comissão e o Parlamento.
Em novembro de 2016, a VP/AR apresentou igualmente ao Conselho um «Plano de
Execução sobre Segurança e Defesa», que tinha por objetivo tornar operacional a
visão definida na estratégia global da UE no que diz respeito às questões de segurança
e de defesa. O plano estabelece 13 propostas, nomeadamente uma análise anual
coordenada em matéria de defesa (AACD), uma resposta rápida da UE mais eficaz e
uma nova cooperação estruturada permanente (CEP) única para os Estados-Membros
dispostos a assumir maiores compromissos em matéria de defesa e de segurança.
Paralelamente, Federica Mogherini apresentou igualmente aos Estados-Membros da
UE um Plano de Ação Europeu de Defesa (EDAP) que incluiu propostas importantes
relativas à criação de um Fundo Europeu de Defesa (FED) centrado na investigação no
domínio da defesa e no desenvolvimento das capacidades. Este plano constituiu um
passo importante rumo à implementação das estruturas políticas e militares internas
da UE estabelecidas no âmbito da PCSD.

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Desde que iniciou o seu mandato, em dezembro de 2019, o VP/AR Josep Borrell
colocou o reforço da PCSD no cerne do trabalho da UE, prosseguindo e reforçando
as iniciativas lançadas por Federica Mogherini.
Para dar um novo ímpeto à sua agenda em matéria de segurança e defesa, a UE está
agora a trabalhar na elaboração de orientações estratégicas com vista a reforçar o
norte político-estratégico para a segurança e defesa da UE e estabelecer o nível de
ambição neste domínio. O primeiro passo, concluído em novembro de 2020, consistiu
numa análise exaustiva das ameaças e dos desafios. O segundo passo, atualmente
em curso, consiste na realização de discussões informais entre os Estados-Membros
sobre a análise das ameaças e as suas principais implicações, a análise do défice
de capacidades e as prioridades dos Estados-Membros. Esta fase de diálogo deverá
permitir que os Estados-Membros reforcem o seu entendimento comum no que diz
respeito às ameaças à segurança que enfrentam coletivamente e contribuir para
reforçar a cultura europeia em matéria de segurança e defesa. Este processo destina-
se a responder à necessidade crescente de permitir que a UE atue como garante de
segurança.
As missões e operações de gestão de crises são a expressão mais visível e tangível
da PCSD. Nas palavras do VP/AR Josep Borrell, é fundamental aumentar o empenho
através de missões e operações da PCSD, com mandatos que, embora flexíveis,
sejam mais sólidos. As Orientações Estratégicas visam colmatar as lacunas da
estratégia global da UE no que diz respeito aos instrumentos e instituições da
UE no domínio da gestão de crises, bem como fornecer diretrizes coerentes para
outras iniciativas e processos relevantes (nomeadamente a CEP, o FED e a AACD),
estabelecendo metas e objetivos claros.
Embora o Parlamento Europeu não desempenhe um papel direto na elaboração
das Orientações Estratégicas, espera-se que seja regularmente informado e tenha
oportunidade de emitir pareceres sobre o processo, em especial durante as sessões
de informação da Subcomissão da Segurança e da Defesa (SEDE). Durante a reunião
da Subcomissão SEDE realizada em abril de 2021, os deputados ao Parlamento
Europeu e os peritos debateram o processo de avaliação das ameaças, a proteção
do património comum mundial e o estabelecimento de uma via clara em termos de
objetivos, meios e capacidades.

EVOLUÇÃO DO CONJUNTO DE INSTRUMENTOS DA PCSD


Desde 2016, a PCSD tem registado vários êxitos no que diz respeito ao
desenvolvimento e à harmonização da cooperação em matéria de defesa entre os
Estados-Membros. Estes incluem o lançamento da CEP, uma estrutura permanente
de comando e controlo para o planeamento e a condução de missões militares
não executivas, um mecanismo para inventariar as capacidades de defesa, um
Fundo Europeu de Defesa e os seus programas precursores, uma mobilidade militar
reforçada, uma revisão estratégica da dimensão civil da PCSD, que assumiu a forma
de um pacto sobre a Vertente Civil da PCSD, um Mecanismo Europeu de Apoio à
Paz extraorçamental, uma política cibernética mais sólida e uma cooperação reforçada
com a OTAN.

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Entre 2019 e 2020, foi concluído o primeiro ciclo completo da AACD, tendo a AED
assumido um papel de liderança. O relatório final da AACD foi apresentado aos
ministros da Defesa em novembro de 2020. Este relatório identifica 55 oportunidades
de colaboração em toda a gama de capacidades.
Em dezembro de 2020, o Conselho chegou a um acordo político provisório com
representantes do Parlamento sobre um regulamento para instituir o Fundo Europeu
de Defesa (FED) no âmbito do quadro financeiro plurianual (QFP) para 2021-2027.
Com a atribuição de um orçamento de 8 mil milhões de euros para 7 anos ao FED,
a UE tornar-se-á um dos três maiores investidores em investigação no domínio da
defesa na Europa.
O Mecanismo Europeu de Apoio à Paz é um dos mais recentes instrumentos da PCSD.
Através deste instrumento, a UE financiará os custos comuns das missões e operações
militares da PCSD, reforçando assim a solidariedade e a repartição de encargos entre
os Estados-Membros. Ao reforçar as capacidades para as operações de apoio à paz,
bem como para os países terceiros e organizações parceiras em questões militares e
de defesa, este instrumento contribuirá para o aumento da eficácia da ação externa
da UE.

MISSÕES E OPERAÇÕES DA PCSD DE 2003 A 2021


Desde 2003, na altura das primeiras intervenções nos Balcãs Ocidentais, a UE lançou
e realizou 36 operações e missões em três continentes. Desde maio de 2021, estão
em curso 17 missões e operações da PCSD, das quais 11 são missões civis e seis
militares, com a participação de cerca de 5 000 militares e civis da UE destacados
no estrangeiro. As missões e operações mais recentes apoiaram a segurança na
República Centro-Africana (EUAM RCA) e fizeram cumprir o embargo ao armamento
imposto pelas Nações Unidas à Líbia (EUNAVFOR MED IRINI). As decisões da UE no
sentido de realizar missões ou operações são normalmente tomadas a pedido do país
parceiro ao qual é prestada assistência e/ou com base numa resolução do Conselho
de Segurança das Nações Unidas.

O PAPEL DO PARLAMENTO EUROPEU


O Parlamento Europeu tem, tradicionalmente, apoiado a integração e a cooperação da
UE no domínio da defesa. O Parlamento acompanha a PCSD e pode tomar a iniciativa
de se dirigir ao/à VP/AR e ao Conselho sobre assuntos com ela relacionados (artigo
36.º do TUE). Além disso, fiscaliza o orçamento desta política (artigo 41.º do TUE).
Duas vezes por ano, o Parlamento debate os progressos realizados na implementação
da PESC e da PCSD e adota relatórios: um sobre a PESC, elaborado pela Comissão
dos Assuntos Externos (AFET), e outro sobre a PCSD, elaborado pela Subcomissão
da Segurança e da Defesa (SEDE).
Em dezembro de 2020, o Parlamento Europeu adotou o seu relatório anual sobre
a execução da PCSD. O Parlamento reiterou o seu apoio à CEP, à AACD e ao
FED, tendo em conta que podem contribuir para uma maior coerência, coordenação
e interoperabilidade na execução da PCSD e consolidar a solidariedade, a coesão,
a resiliência e autonomia estratégica da União. Congratulou-se com o compromisso

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assumido pela UE no sentido de aumentar «a sua presença e capacidade [de ação]
a nível mundial», instando simultaneamente o VP/AR e o Conselho a «estabelecerem
uma definição formal comum de autonomia estratégica». Apelou a uma maior eficácia
das missões da PCSD, nomeadamente através do aumento do contributo em termos
de forças por parte dos Estados-Membros, bem como, nomeadamente, da integração
da perspetiva de género. Acolheu ainda com agrado as iniciativas de desenvolvimento
de capacidades, salientando a necessidade de assegurar a sua coerência. O relatório
abordou igualmente questões relacionadas com as novas tecnologias, as ameaças
híbridas, o controlo de armas, a arquitetura de desarmamento e de não proliferação,
bem como a cooperação com parceiros estratégicos como a OTAN, as Nações Unidas
e o Reino Unido. Desde 2012, o Parlamento Europeu e os parlamentos nacionais
dos Estados-Membros organizam duas conferências interparlamentares por ano para
debater assuntos relacionados com a PESC. A cooperação interparlamentar nestes
domínios está prevista no Protocolo 1 do Tratado de Lisboa, que descreve o papel
desempenhado pelos parlamentos nacionais na UE. O Tratado de Lisboa permite ao
Parlamento desempenhar um papel de pleno direito no desenvolvimento da PCSD,
tornando-a assim um parceiro quando se trata de definir as relações externas da União
e a resposta a desafios como os descritos no relatório de 2008 sobre a execução da
estratégia europeia de segurança
Para desempenhar este papel, o Parlamento realiza regularmente debates, audições
e seminários sobre diversas temáticas, tais como as missões civis e militares da
PCSD, as crises internacionais com implicações para a segurança e a defesa, os
quadros multilaterais para a segurança, as questões relacionadas com o controlo de
armamento e a não proliferação de armas, a luta contra o terrorismo e a criminalidade
organizada, as boas práticas para melhorar a eficácia da segurança e da defesa e os
desenvolvimentos jurídicos e institucionais na UE que se verificam nestes domínios.
Na sequência da declaração da VP/AR sobre a responsabilidade política, de 2010,
o Parlamento participa nas reuniões conjuntas de consulta (RCC) que se realizam
regularmente com vista a proceder a uma troca de informações com o Conselho, o
Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE) e a Comissão.
O Parlamento Europeu também coloca perguntas e apresenta oralmente propostas
ao SEAE sobre a PCSD, nomeadamente durante as reuniões da Subcomissão SEDE.
Por exemplo, em janeiro de 2021, alguns membros da Subcomissão SEDE sugeriram
que a Comissão criasse uma equipa ad hoc para compensar a falta de disponibilização
de pessoal pelos Estados-Membros.

Jérôme Legrand
09/2021

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