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04/07/22, 11:55 Um reencontro atribulado.

Portugal e Espanha entre a queda das ditaduras e a adesão à CEE, 1976-1986

Ler História 1:02:06


78 | 2021

Mobility and Displacement in and around the Mediterranean


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Um reencontro atribulado.
Portugal e Espanha entre a
queda das ditaduras e a
adesão à CEE, 1976-1986
A Troubled Rapprochement. Portugal and Spain between the End of Dictatorships and EEC
Membership, 1976-1986

Un rapprochement troublé. Le Portugal et l’Espagne entre la fin des dictatures et l’adhésion à la


CEE, 1976-1986

David Castaño
p. 199-222
https://doi.org/10.4000/lerhistoria.7795

Resumos
Português English Français
A queda dos dois regimes autoritários peninsulares processou-se de modo muito
distinto, mas rapidamente os dois países começaram a trilhar caminhos paralelos
que os conduziriam a um destino comum: à integração europeia e à plena inserção
no bloco ocidental. Esta confluência era, contudo, receada por Portugal, que
historicamente tinha procurado diferenciar-se do seu maior e único vizinho
terrestre. Com base em documentação diplomática recentemente desclassificada,
este artigo traça a evolução das relações dos dois países nos primeiros anos dos

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novos regimes democráticos, tendo como pano de fundo o alargamento ibérico.


Apesar dos discursos e dos passos dados no sentido de uma maior aproximação,
estes foram anos de tensão. Não foi a democracia que implementou uma nova fase
no relacionamento bilateral. Apenas a inclusão num espaço maior acabaria por diluir
antigas desconfianças.

The fall of the two peninsular authoritarian regimes took place in a very different
way, but quickly the two countries began parallel paths that would lead them to a
common destination: the European integration and full insertion in the Western
bloc. This confluence was, however, feared by Portugal which historically had sought
1:02:06
to differentiate himself from its only and largest neighbor. Based on diplomatic
documentation recently declassified, this article traces the evolution of the relations
between the two countries in the early years of the new democratic regimes, with
Iberian enlargement as a backdrop. Despite the speeches and steps taken towards
closer ties, these were years of tension. It was not democracy that implemented a
new phase in the bilateral relationship. Only the inclusion in a larger space would
dilute old suspicions.

La fin des deux régimes autoritaires péninsulaires s’est déroulée de manière très
différente, mais les deux pays se sont rapidement lancés sur des chemins parallèles
qui les conduiraient à un destin commun: l’intégration européenne et l’insertion
totale dans le bloc occidental.  Cette confluence était cependant redoutée par le
Portugal, qui, au long de son histoire, avait tenté de se différencier de son plus grand
et seul voisin terrestre. En s’appuyant sur des documents diplomatiques récemment
déclassifiés, cet article retrace l’évolution des relations entre les deux pays durant les
premières années des nouveaux régimes démocratiques, avec l’élargissement
ibérique en toile de fond. Malgré les discours et les mesures prises pour établir une
plus grande coopération entre eux, cette époque est marquée par des années de
tension. La démocratie se révélait incapable de lancer une nouvelle phase dans les
relations bilatérales. Seule l’inclusion dans un espace plus grand a fini par dissiper
les vieilles méfiances.

Entradas no índice
Mots-clés : Relations Portugal-Espagne, histoire de l’Union européenne,
intégration européenne, élargissement ibérique, Communauté économique
européenne, OTAN.
Keywords: Portugal-Spain relations, European Union history, European
integration, Iberian enlargement, European Economic Community, NATO.
Palavras-chave: relações Portugal-Espanha, história da União Europeia,
integração europeia, alargamento ibérico, Comunidade Económica Europeia, OTAN.

Texto integral
1 Os estudos dedicados às relações luso-espanholas no último quartel do
século XX têm-se centrado em torno de dois grandes temas: a quase
simultânea transição para a democracia e a opção europeia seguida por
ambos os países. Na senda dos trabalhos sobre a evolução das relações
bilaterais (Aldecoa 1987; Ferreira 1987; Torre 1995), estas duas vertentes
são tradicionalmente apresentadas como uma sequência: transição para a
democracia; novo relacionamento bilateral; adesão à Comunidade
Económica Europeia (CEE). Apesar dos distintos processos de aproximação

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à Europa e dos diferentes modos como a Europa olhava para os países


ibéricos e para o alargamento (Royo e Manuel 2005), a opção europeia tem
assim vindo a ser descrita como fruto da abertura democrática e da nova
fase do relacionamento bilateral, que culminaria na adesão simultânea dos
dois países à CEE. Com base em documentação diplomática recentemente
desclassificada, este artigo sustenta que esta sequência deve ser
reformulada, uma vez que apenas depois da adesão à CEE se registou uma 1:02:06
efetiva mudança no relacionamento bilateral.   
2 As mudanças políticas registadas nos dois países ibéricos em meados dos
anos 70 do século XX são comummente referidas como o início de uma nova
fase no relacionamento bilateral entre Portugal e Espanha (por exemplo,
Torre 2015, I, 673). Uma vez clarificada a situação político-militar
portuguesa, ao tradicional distanciamento ou alheamento

ter-se-ia sucedido uma fase de aproximação, de cooperação e de


estreitamento dos laços diplomáticos, políticos, económicos e culturais. Este
novo ciclo seria balizado por dois atos simbólicos: o encontro na Guar-

da, em fevereiro de 1976, entre os dois ministros dos Negócios Estrangeiros,


Ernesto Melo Antunes e José María de Areilza, que marcaria o fim da
desconfiança espanhola relativamente à situação político-militar em
Portugal, depois de uma fase em que os acontecimentos em Portugal foram
acompanhados com muita preocupação pelo regime franquista, que temia
um efeito de contágio (Cervelló 1993, 348-357; Oliveira 1995, 201; Queirós
2009, 145-146); e a assinatura, em Lisboa e em Madrid, em junho de 1985,
dos tratados de adesão dos dois países à CEE.
3 De facto, este período é rico em acontecimentos que perspetivavam uma
nova dinâmica no relacionamento bilateral entre dois povos que, salvo as
comunidades raianas de ambos os lados da fronteira, tinham
tradicionalmente vivido de costas voltadas. Os baixos níveis de coordenação
territorial, económica e social registados entre os dois países ao longo de
décadas faziam desta uma fronteira impermeável e desarticulada (Caramelo
2002, 343; Fernández 2000, 249) e os novos atores políticos procuraram
alterar essa realidade na segunda metade da década de 70

do século XX. A visita oficial do chefe do governo espanhol, Adolfo Suárez, a


Lisboa em novembro de 1976; as visitas do presidente Ramalho Eanes em
maio de 1977 e de Mário Soares em novembro desse ano

a Madrid; a celebração em Madrid, em novembro de 1977, do Tratado de


Amizade e Cooperação que substitui o antigo Pacto Ibérico; e a visita de
estado do rei Juan Carlos a Portugal em maio de 1978 seriam alguns marcos
de uma nova fase do relacionamento bilateral que teria conhecido nesses e
nos anos seguintes um forte aprofundamento (García 2011, 163-165).
4 Além desta intensa troca de visitas ao mais alto nível político, registadas
em escassos 18 meses, entre 1976 e 1986 foram celebrados vários convénios
e acordos e realizaram-se inúmeras reuniões e encontros, que culminariam
com a instituição, em novembro de 1983, das Cimeiras Luso-Espanholas. O
acordo sobre as relações mútuas de pesca, o acordo para dispensa de
passaportes, as negociações que conduziram à criação do anexo P ao acordo

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Espanha-EFTA,1 o acordo sobre segurança das instalações nucleares de


fronteira, o acordo de segurança nuclear, o acordo de cooperação no
turismo, o acordo de meteorologia e geofísica, o acordo de saúde, o novo
acordo consular e de estabelecimento ou a revogação do acordo sobre
naturalização são alguns exemplos da nova dinâmica que se pretendia
implementar no relacionamento bilateral. No entanto, apesar dos esforços
de sucessivos governos de ambos os lados da fronteira, não foi fácil dissipar 1:02:06
antigas desconfianças e desconhecimentos mútuos. A década aqui estudada
é marcada por tensões e desentendimentos particularmente sentidos em
quatro grandes domínios: o das negociações para a adesão à CEE; a
integração da Espanha na NATO; o conflito em torno das pescas; o
desequilíbrio da balança comercial. Estes fatores condicionaram o
desenvolvimento das relações bilaterais que apenas conheceria
verdadeiramente uma nova fase após a integração dos dois países nas
comunidades europeias.
5 O artigo começa, assim, por descrever o que parecia ser o arranque
promissor de um renovado relacionamento bilateral (secção 1), fenómeno
que tem vindo a ser descrito por vários autores como o “espírito da Guarda”
(Cervelló 1993, 357; Oliveira 1995, 211; d’Abreu e Calvo 2007, 409-445;
Sardica 2013, 256; Caramelo 2014, 185), para de seguida revelar como os
atritos registados em torno do alargamento ibérico e da adesão da Espanha
à Aliança Atlântica (secção 2 e 3) acabariam por condicionar o esperado
desenvolvimento das relações bilaterais nas suas múltiplas dimensões
(secção 4), razão pela qual se sustenta que o designado “espírito da Guarda”
ficou aquém das expectativas e que apenas a adesão dos dois países à CEE
abriria verdadeiramente um novo ciclo nas relações entre os dois países.

1. Um arranque promissor
6 Três meses depois da morte de Franco e da derrota das forças
revolucionárias em Portugal, realizou-se um primeiro encontro dos
ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois estados. Melo Antunes e
Areilza reuniram-se em fevereiro de 1976 na cidade da Guarda e
concertaram um conjunto de medidas que passavam pela definição de um
calendário para o pagamento das indemnizações relacionadas com os
assaltos à embaixada e ao consulado da Espanha em Lisboa; pela assinatura
de dois convénios, um sobre os limites da plataforma marítima e outro para
a construção de uma ponte internacional sobre o rio Guadiana; pelo
restabelecimento da cotação do escudo em Espanha; e pela suspensão em
território espanhol das atividades dos grupos de extrema-direita
portugueses e em território português das atividades das organizações de
extrema-esquerda. Este primeiro esforço de aproximação ficaria conhecido
como o “espírito da Guarda” e seria prosseguido com a visita oficial do
presidente do governo Adolfo Suárez a Portugal, em novembro de 1976,
escassos seis dias depois de as Cortes espanholas terem aprovado a lei para

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a Reforma Política que viria a ser referendada a 15 de dezembro e que abriu


as portas da transição espanhola. Em Portugal tinha já sido fechado o ciclo
da transição revolucionária, com a aprovação da Constituição e a realização
das primeiras eleições legislativas em abril de 1976, e a eleição, por sufrágio
direto, do presidente da República e a tomada de posse, em julho, do I
Governo Constitucional, chefiado pelo líder socialista, Mário Soares.
7 Foi sob a égide de Soares e de Suárez e no lastro do encontro da Guarda 1:02:06
que se iniciaram as negociações para a celebração de um novo Tratado de
Amizade e Cooperação que viria a substituir o Pacto Ibérico de 1939.
Simbolicamente ratificado pelos dois chefes de estado, o rei Juan Carlos e o
presidente Ramalho Eanes, em Guimarães em maio de 1978, o Tratado fazia
referência à identidade europeia dos dois países e à “causa da unidade
europeia”, e visava desenvolver novas áreas de cooperação, incrementar o
intercâmbio comercial entre os dois países, intensificar os laços culturais,
científicos e tecnológicos, promover os recursos naturais comuns, facilitar o
trânsito nas fronteiras, e instituía a criação do Conselho para a Cooperação
luso-espanhola, presidido pelos ministros dos Negócios Estrangeiros de
ambos os estados, que deveria reunir-se pelo menos uma vez por ano e que
coordenaria os trabalhos das várias comissões mistas criadas pelas
convenções em vigor entre os dois países.2 Apesar de bilateral, o tratado
articulava-se, como ficava patente no seu preâmbulo, com o desejo de os
dois países virem a integrar a CEE. Portugal apresentara o pedido de adesão
em março de 1977 e em junho de 1978 chegara finalmente a resposta
positiva para o início das negociações que arrancariam em outubro desse
ano. Espanha entregou o pedido de adesão em julho de 1977 e as
negociações tiveram início em fevereiro de 1979. A adesão à CEE passou a
ser o principal objetivo das máquinas diplomáticas dos dois países que
refletiam as ambições das respetivas elites, apostadas em consolidar e
fortalecer os novos regimes democráticos (Royo e Manuel 2005, 41).
8 Foi neste contexto de dupla abertura, a nível ibérico e europeu que, um
mês depois do novo Tratado de Amizade ter sido ratificado, avançaram as
negociações para a celebração de um acordo para o livre comércio de bens
industriais entre Portugal e Espanha. A Espanha estava nesse momento a
negociar um acordo bilateral com a EFTA, da qual Portugal fazia parte, e foi
neste âmbito que os dois países ibéricos se preparam para celebrar um
acordo que previa o gradual desaparecimento dos direitos aduaneiros
industriais e de alguns produtos agrícolas entre si. O acordo, que se pensava
poder entrar em vigor no final de 1978, independentemente do sucesso das
negociações entre Espanha e a EFTA, estabelecia duas fases de
desagravamento alfandegário, com um ritmo mais lento para Portugal, e
previa o seu desaparecimento completo entre 1982 e 1985. Estipulava ainda
a realização de uma feira ibérica anual, que deveria englobar os sectores
industriais, comerciais e turísticos, a realizar alternadamente nos dois
países. Paralelamente foi assinado um acordo de cooperação no sector do
turismo que abrangia troca de conhecimentos e experiências no domínio da

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legislação, formação profissional, ordenamento do território, planeamento e


promoção conjunta.3
9 O projeto de acordo de livre comércio foi descrito pela imprensa como um
acordo histórico e como prova do excecional clima de colaboração e
entendimento entre os dois países,4 mas rapidamente se perceberia que as
boas intenções teriam muita dificuldade em passar do papel. É verdade que
a queda do II Governo Constitucional, no verão de 1978, abriu um período 1:02:06
de instabilidade governativa em Portugal que teve reflexos na condução da
política externa, mas alguns fatores específicos afetaram o relacionamento
bilateral. A primeira reunião do Conselho para a Cooperação luso-
espanhola, agendada para 1978, não chegou a realizar-se, o projeto de
acordo de livre comércio transformar-se-ia num simples anexo do acordo
Espanha-EFTA formalizado em junho de 1979, e a feira ibérica também não
chegou a ver a luz do dia.5 Apesar das expectativas criadas em torno do novo
tratado, o ano de 1978 representa assim não um ponto de partida para voos
mais altos mas um ponto de chegada. Nos anos seguintes, um conjunto de
questões iria condicionar e desgastar esse relacionamento e assistir-se-ia a
uma progressiva deterioração das relações luso-espanholas, que atingiria o
ponto mais baixo nas vésperas da entrada dos dois países para a CEE.

2. A corrida para a Europa


10 Um dos motivos que está na origem da apresentação do pedido de adesão
de Portugal à CEE em março de 1977 é o desejo de antecipação em relação a
Espanha. A suposição de que esse passo iria ser dado pelo governo espanhol
“funcionou como detonador da decisão diplomática portuguesa” (Gama
1994, 11). Com esta antecipação, Portugal esperava garantir negociações
separadas e assim conseguir aderir à CEE antes da Espanha. Por isso,
governos, diplomatas e negociadores portugueses procuraram desde a
primeira hora evitar a globalização das negociações e defenderam
negociações bilaterais e individuais, pois temiam que os problemas
relacionados com a adesão da Espanha condicionassem e atrasassem uma
negociação que se antevia menos problemática (Cunha 2018, 122-124).
Portugal apostou na sua pequena dimensão e na vertente política do
alargamento para conseguir uma adesão mais rápida que a espanhola
(Cavallaro e Sánchez 2017, 398-399), mas acabaria por vingar a tese da
globalização das negociações defendida, entre outros, pela República
Federal da Alemanha que, se por um lado, foi fundamental para
desbloquear o processo de ampliação aos dois países ibéricos, por outro
lado, opôs-se à hipótese de se registarem adesões separadas (Díaz 2020).
Esta via não foi, contudo, liminarmente afastada e em Portugal manteve-se,
por muitos anos, viva a esperança de uma adesão antes da Espanha, o que
afetou e condicionou o relacionamento bilateral.
11 A ideia de adesões separadas não era descabida. Em fevereiro de 1978, o
comissário responsável pela pasta do alargamento, o italiano Lorenzo

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Natali, afirmou, durante uma visita a Madrid, que Portugal ingressaria no


Mercado Comum – expressão então bastante utilizada – depois da Grécia
mas antes da Espanha. Três meses depois, o presidente em exercício do
Conselho das Comunidades, o dinamarquês Knud Andersen, manifestou-se
contra o princípio da globalização das negociações, e no mesmo sentido
foram as declarações do presidente francês, Giscard d’Estaing, que no
decurso de uma visita oficial a Espanha no verão de 1978 defendeu que 1:02:06
considerava que a ordem de apresentação das candidaturas da Grécia,
Portugal e Espanha era a ordem natural para o seu ingresso na CEE.6 No
ano seguinte, em outubro de 1979, durante a visita oficial do presidente
Ramalho Eanes a França, Giscard voltou a afirmar que a ordem de entrada
dos países candidatos nas Comunidades deveria fazer-se pela ordem de
apresentação das candidaturas, pelo que Portugal deveria aderir antes da
Espanha.7
12 Foi com base nesta expectativa que Portugal procurou sempre assegurar a
separação dos processos negociais e recusou as propostas espanholas no
sentido de os dois países conjugarem esforços e ensaiarem modelos de
cooperação tendo em vista a adesão à CEE. Em abril de 1979, o diretor-geral
para a Europa do Ministério dos Assuntos Exteriores da Espanha sugeriu ao
embaixador português a institucionalização de um sistema de consultas
políticas para acompanhar o processo de integração dos dois países na CEE.
A reação portuguesa não podia ser mais clara: a embaixada em Madrid
deveria recusar quaisquer sugestões no sentido de se estabelecerem
contactos tendo em vista uma ação concertada face às comunidades. Para
Lisboa, uma ação desse tipo apenas beneficiaria Espanha e retiraria a
Portugal as vantagens que lhe eram conferidas na qualidade de país
“economicamente mais fraco”.8 Esta postura afetou o desenvolvimento das
relações com o país vizinho, mas Portugal sofreu um duro revés quando, em
junho de 1980, o presidente francês declarou que as negociações para a
ampliação do Mercado Comum deveriam ser interrompidas até que os seus
problemas internos fossem resolvidos.
13 Em Portugal houve quem pensasse que a proposta de Giscard d’Estaing
apenas se aplicava a Espanha,9 mas a pausa nas negociações acabou por
afetar as duas candidaturas ibéricas. No final de 1981, em Madrid, o
presidente da Comissão Europeia defendeu que embora as negociações se
devessem desenvolver tendo em conta a situação particular de cada um dos
países candidatos e não fosse necessário que as negociações terminassem ao
mesmo tempo, por razões institucionais e técnicas, a data da adesão dos
dois países deveria ser idêntica.10 Quatro semanas depois, em entrevista ao
diário madrileno ABC, o primeiro-ministro português, Pinto Balsemão,
afirmaria que não era justo que os obstáculos que Espanha enfrentava no
seu caminho para a adesão afetassem Portugal.11 O governo espanhol adotou
uma postura dúbia a este respeito. Quando os seus interlocutores eram
portugueses, os responsáveis do país vizinho afirmavam não se opor a uma
eventual adesão isolada de Portugal. No entanto, nas diferentes capitais
europeias defendiam a globalização das negociações.12 Apesar de todos os

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sinais dados no sentido de que uma adesão prévia de Portugal seria cada vez
menos provável essa hipótese ainda perdurou. Em julho de 1982, perante
um provável acordo entre Portugal e a CEE no importante domínio dos
têxteis, e dado o impasse negocial que nesse mesmo campo se verificava
com Espanha, o El País avançava que as negociações de Portugal e Espanha
poderiam ficar definitivamente desligadas e que Portugal poderia tornar-se
o 11º estado-membro da CEE em 1984.13 1:02:06
14 Essa hipótese não era apenas veiculada pela imprensa. Em fevereiro de
1983, o embaixador de Portugal em Madrid continuava a referir-se a essa
possibilidade, relatando comentários de altos responsáveis políticos
espanhóis no mesmo sentido.14 Procurando capitalizar os laços de amizade
que mantinha com o presidente francês, no final desse ano o primeiro-
ministro português, Mário Soares, insistiu junto de François Mitterrand que
a adesão de Portugal fosse tratada separadamente da espanhola.15 Reagindo
a estas démarches, o membro do governo espanhol responsável pelas
negociações com a CEE afirmou que nada tinha contra essas tentativas
portuguesas e que até poderia haver vantagem numa adesão prévia de
Portugal, uma vez que depois de aprovada a entrada de Portugal seria
inadmissível manter a Espanha de fora durante muito tempo. No entanto,
off the record, manifestou o seu ceticismo quanto ao apoio francês
relativamente às pretensões de Portugal.16 Estava certo. As pressões
portuguesas não tiveram o efeito desejado. Na mesma altura o presidente da
Comissão, Gaston Thorn, voltava a defender a adesão simultânea de
Portugal e Espanha e apontava o dia 1 de janeiro de 1986 como a data para
esse duplo ingresso.17 As tentativas de descolagem e de antecipação da
adesão à CEE não tiveram sucesso, mas contribuíram para desgastar um
relacionamento que era afetado por outras questões.

3. A adesão da Espanha à NATO


15 O processo de adesão dos dois países ibéricos à CEE foi parcialmente
acompanhado pelo da integração da Espanha na NATO. Estes movimentos
paralelos eram duas faces da mesma moeda – a da plena integração, a nível
económico, político e militar dos dois países no bloco ocidental – e visavam
garantir a consolidação dos incipientes regimes democráticos peninsulares.
No entanto, estes dois processos introduziam uma profunda alteração numa
realidade que até então tinha sido construída e mantida através de uma
diversificação de alianças que ajudava a garantir a dualidade peninsular. A
entrada da Espanha na NATO começou a ser discutida em março de 1978 e
Portugal foi acompanhando esse debate embora uma eventual adesão
parecesse distante.18 Foi, no entanto, desde cedo adotado um
posicionamento que seria seguido pelos sucessivos governos de Lisboa: a
decisão cabia apenas à Espanha. Responsáveis civis e militares partilhavam
a ideia de que Portugal não deveria opor-se à adesão da Espanha à NATO,

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mas que deveriam ficar salvaguardadas algumas garantias, nomeadamente


em relação aos comandos NATO.19
16 Ao longo de 1980, os contornos da adesão da Espanha à Aliança
começaram a ficar mais nítidos. A visita de Adolfo Suárez a Washington em
janeiro desse ano, as declarações do secretário-geral da NATO, Joseph Luns,
a favor da adesão, as palavras de forte apoio à entrada da Espanha
proferidas pelo presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, durante a 1:02:06
visita a Madrid, e o anúncio, feito pelo secretário de estado dos Assuntos
Exteriores, Robles Piquer, em agosto de 1980, de que o governo espanhol
pretendia encetar o processo de adesão à NATO no ano seguinte,20
indicavam que 1981 iria ser um ano decisivo. Foi neste contexto que, em
outubro de 1980, em entrevista ao El País, o primeiro-ministro português,
Sá Carneiro, afirmou que recusava fixar-se unicamente nos interesses do seu
país ou das suas forças armadas pelo que defendia a entrada da Espanha na
NATO.21 Sá Carneiro morreu pouco depois e seria o seu sucessor, Pinto
Balsemão, a acompanhar a reta final deste processo.
17 Em maio de 1981, os dois chefes de governo reuniram-se em Lisboa e a
adesão da Espanha à Aliança foi um dos temas tratados. Calvo Sotelo
manifestou o grande interesse do seu governo na entrada na NATO e o
primeiro-ministro português reafirmou o apoio de Portugal à entrada da
Espanha na Aliança, mas chamou a atenção para a conveniência de se
delimitarem e definirem as áreas, responsabilidades e comandos militares
dos dois países, tendo defendido que era necessário evitar que unidades
militares portuguesas viessem a ser colocadas sob o comando de oficiais
espanhóis. Nesse sentido, sugeriu que Portugal continuasse integrado no
comando Atlântico, o SACLANT, e que Espanha assegurasse a cobertura da
área mediterrânica e passasse a integrar o comando europeu, o SACEUR,
solução que mereceu a compreensão e aprovação de Calvo Sotelo.22 Ou seja,
Portugal apoiava a adesão desde que fossem cumpridos dois princípios
fundamentais: não existiria qualquer comando unificado e as forças
armadas dos dois países deveriam integrar-se em comandos diferentes.
18 Além de ter transmitido esta posição ao país candidato, o governo
português iniciou um conjunto de démarches junto dos países-membros da
Aliança para sublinhar a importância que atribuía à questão dos comandos e
obter garantias de que não haveria alterações nesse domínio. Em meados de
junho, os Estados Unidos, o Reino Unido e a RFA tinham já manifestado o
seu apoio às pretensões portuguesas.23 Foi com base neste pressuposto que
a diplomacia portuguesa foi acompanhando a evolução do processo de
candidatura da Espanha à NATO e que no início de julho tomou
conhecimento do relatório elaborado pela comissão militar nomeada pelo
governo espanhol para preparar a entrada na Aliança Atlântica. Nesse
relatório previa-se que a adesão espanhola não alteraria a posição e os
interesses de Portugal, mas apontava-se para a criação de um estado-maior
peninsular conjunto, no quadro da NATO, com presidências alternadas de
ambos os países.24

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19 Dois meses mais tarde, numa conferência de imprensa em Madrid, o


deputado, secretário da UCD para as relações internacionais e embaixador
da Espanha junto da CSCE, Javier Rupérez, referiu-se à criação de um
comando peninsular espanhol que abrangeria o território espanhol, o mar
Cantábrico, o estreito de Gibraltar, o Mediterrâneo e as ilhas Canárias, mas
mencionou também, a título pessoal, a hipótese de uma posterior
reorganização de comandos e da criação de um comando unificado que seria 1:02:06
chefiado alternativamente por oficiais portugueses e espanhóis. Estas
declarações provocaram fortes reações em Portugal. O governo de Lisboa
revelou que tanto o governo espanhol como os restantes membros da
Aliança sabiam que um comando unificado era “uma solução inaceitável”
para Portugal. No mesmo sentido manifestou-se o presidente da República
português.25
20 Mais do que um mal-entendido, como se apressaram a justificar as
autoridades espanholas,26 as declarações de Rupérez terão servido de balão
de ensaio e de teste às reações de Lisboa à ideia de criação de um comando
peninsular unificado, que aliás constava no relatório da comissão militar
encarregada pelo governo de estudar a entrada na NATO. A clara oposição
portuguesa levou Madrid a corrigir o tiro. Além dos esclarecimentos
efetuados pelos canais diplomáticos, o ministro dos Assuntos Exteriores
emitiu um comunicado no qual, depois de referir que os dois governos
vinham discutindo o ingresso da Espanha na Aliança Atlântica e que a
inserção concreta no dispositivo defensivo só seria discutida
posteriormente, reiterava que Espanha não reivindicaria a existência de um
comando peninsular e que não existia qualquer divergência entre os dois
países.27
21 Ultrapassado o incidente, voltou a verificar-se alguma tensão quando,
uma vez apresentado o pedido formal para a integração da Espanha e depois
de o mesmo ter sido aprovado pelos Aliados na reunião do Conselho do
Atlântico realizada no dia 11 de dezembro de 1981, Portugal tardou a
ratificar o protocolo que consagrava a adesão da Espanha à NATO. O
Conselho da Revolução, que tinha de dar o seu aval à entrada da Espanha
por se tratar de uma alteração de um tratado internacional sobre assuntos
militares, demorou três meses a pronunciar-se favoravelmente28 e a
Assembleia da República mais de quatro meses.29 A aprovação pelo
parlamento português foi assim recebida com alívio pelo governo espanhol
que chegou a temer pelo seu sucesso,30 mas estes dois impasses causaram
incómodo nas relações bilaterais. É que todo este processo foi uma
verdadeira corrida contra o tempo. A situação política em Espanha
deteriorava-se de dia para dia e temia-se que o recurso a eleições
antecipadas se traduzisse numa vitória eleitoral do PSOE que pudesse travar
a adesão caso esta não tivesse ficado devidamente formalizada. Por isso
registaram-se pressões, tanto do governo espanhol como dos Estados
Unidos,31 para que Portugal ratificasse, sem demoras, a adesão da Espanha.
Mas Portugal tardou em dar esse passo. É que apesar das garantias obtidas

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sobre a questão dos comandos continuavam a existir algumas dúvidas neste


domínio.
22 No final de março de 1982, numa reunião da NATO, o secretário-geral da
organização afirmou que não havia distinção entre o processo de adesão ao
tratado e a entrada na sua estrutura militar e que, uma vez concluído o
processo de adesão, a Espanha integraria automaticamente a estrutura
militar. Esta declaração alarmou as autoridades portuguesas, que 1:02:06
entendiam que os dois processos eram autónomos. No início do mês
seguinte, em resposta ao pedido de esclarecimentos apresentado por
Portugal, Joseph Luns corrigiu a sua declaração anterior e afirmou que a
integração na estrutura militar teria de ser discutida e aprovada por
unanimidade.32 Só depois deste esclarecimento é que o processo de
ratificação avançou em Portugal.
23 Este impasse acentuou o mal-estar nas relações com Espanha e levou o
governo de Lisboa a reagir com alguma dureza. Confrontado pelo
embaixador da Espanha com os atrasos, o ministro dos Negócios
Estrangeiros português referiu que o problema não estava nas mãos do
governo, mas deu a entender que o atraso estava relacionado quer com a
definição das zonas de comando militares, quer com as negociações com a
CEE, onde, em seu entender, a Espanha tudo estava a fazer para forçar a
globalização das duas candidaturas.33 Meses mais tarde, quando se verificou
que Portugal fora o penúltimo país a ratificar a adesão, situação que não
deixou de ser sublinhada pelo ministro Pérez Llorca,34 o ministro português
voltou a reagir com severidade. Além de instruir o embaixador em Madrid a
“levantar o tom”, a “salientar nossa benevolência” e a “não aceitar quaisquer
observações”, Gonçalves Pereira revelou que estava a considerar adiar a
próxima visita de Pérez Llorca a Portugal. Posicionamento semelhante foi
expresso ao embaixador espanhol em Lisboa. O ministro português
manifestou desagrado pelas observações do seu homólogo espanhol,
afirmou que apenas esperava agradecimentos, que se o governo português
não pretendesse ratificar a adesão da Espanha não o faria e que estava um
pouco farto das insistências do governo de Madrid.35
24 Três meses depois da adesão à NATO, as Cortes espanholas foram
dissolvidas. As eleições antecipadas de outubro de 1982 deram a vitória ao
PSOE, que não foi a tempo de impedir a adesão à NATO, mas que congelou
imediatamente as negociações para a integração da Espanha na estrutura
militar da Aliança. O principal ponto de atrito nas relações entre os dois
países neste domínio foi assim removido. Acresce que a mudança de
governos em Madrid (dezembro de 1982) e em Lisboa (junho 83) fazia
antecipar uma nova fase no relacionamento bilateral. No entanto, nem
mesmo a existência de dois governos liderados por socialistas alteraria o
rumo que se vinha registando desde 1978.

4. A miragem de uma nova fase

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25 Além dos atritos provocados pela globalização das negociações para a


adesão à CEE e pela entrada da Espanha na NATO, as relações luso-
espanholas ficaram marcadas nos primeiros anos da década de 80 por um
conflito em torno das pescas e pelo tradicional desequilíbrio das relações
comerciais a favor da Espanha. Em 1969, Portugal e Espanha tinham
assinado um convénio que permitia que as embarcações dos dois países
pescassem nas duas zonas marítimas entre as seis e as doze milhas. Apesar 1:02:06
de aparentemente equilibrado, o acordo beneficiava a importante frota
pesqueira espanhola, à época uma das maiores e mais bem equipadas do
mundo. Este acordo, que muitos consideravam lesivo para os interesses
portugueses, terá tido como contrapartida o apoio do governo de Madrid à
política colonial portuguesa (Pereira 1986, 79). Em 1977, a criação a nível
europeu das Zonas Económicas Exclusivas obrigou a uma renegociação do
acordo anterior, uma vez que a pesca até às doze milhas passou a ficar
interdita a outros países, obrigando à criação de um esquema de atribuição
de licenças.
26 Foi então estabelecido, em setembro de 1978, um novo acordo que
determinava a imposição de quotas, a rever anualmente, e que obrigou
Espanha a diminuir a atividade pesqueira nas águas portuguesas. No
entanto, em 1981 os dois governos assinaram um protocolo que foi
considerado lesivo pelos pescadores portugueses e que levou o governo de
Lisboa a propor a Madrid negociações para a celebração de um novo
protocolo menos gravoso para os seus interesses. Perante a falta de resposta
das autoridades espanholas, Portugal deixou de aplicar o protocolo de 1981
e anunciou que os pescadores espanhóis deixariam de ter acesso às águas
portuguesas a partir de 1 de janeiro de 1981, mas a Espanha continuou a
reafirmar a validade do convénio de 1969 e do acordo de 1978 (Monteiro
2017, 318-320; Cavallaro e Sánchez 2017, 403-405). Em causa estava a
possibilidade da Espanha invocar direitos históricos na ZEE portuguesa nas
negociações para a adesão à CEE.
27 Esta polémica acabaria por minar um relacionamento que os dirigentes
socialistas de ambos os lados da fronteira procuravam intensificar. Em
janeiro de 1983, o El País publicou dois artigos que pretendiam relançar as
relações luso-espanholas. Do lado português, Jaime Gama, deputado
socialista, que seis meses depois assumiria a chefia do Ministério dos
Negócios Estrangeiros, escrevia, com razão, que as transformações
democráticas ocorridas nos dois países não tinham produzido qualquer
efeito profundo nas relações bilaterais e que apesar das declarações públicas
sobre cooperação e amizade se mantinha uma desconfiança recíproca.
Fazendo um balanço do relacionamento bilateral e dos principais pontos de
atrito, Gama defendia que Portugal e Espanha não poderiam continuar e
viver de costas voltadas e antecipava uma nova fase no relacionamento
bilateral com a chegada ao poder dos socialistas espanhóis. Do lado
espanhol, Fernando Schwartz, um diplomata próximo do PSOE, então
diretor-geral da Oficina de Información Diplomática do Ministério dos
Assuntos Exteriores, sublinhava a manutenção dos receios portugueses em

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relação a Espanha, reconhecia que o país vizinho permanecia um


desconhecido mas afirmava que o novo governo liderado por Felipe
González estava empenhado em implementar mudanças, não deixando de
referir os problemas existentes no domínio das pescas, os desequilíbrios na
balança comercial, ou os problemas em torno das negociações para a adesão
ao mercado comum.36 Apesar das boas intenções, nos meses seguintes não
se verificou qualquer melhoria nas relações entre os dois países. Pelo 1:02:06
contrário, elas continuaram a degradar-se.
28 Nos primeiros dois meses de 1983 Portugal voltou a insistir numa
renegociação global das relações de pesca com Espanha. No ano anterior
Portugal tinha concedido 477 licenças de pesca a favor de Espanha mas
apenas tinha obtido 201. Acresce que as autoridades portuguesas estavam
preocupadas com a progressiva diminuição do total de capturas de peixe em
águas portuguesas. Em 1972 tinham sido capturadas 365.000 toneladas mas
em 1982 esse valor baixara para 187.000 toneladas. Este decréscimo levou
Portugal a procurar implementar uma redução do esforço de pesca nas suas
águas tendo em vista a preservação das espécies,37 mas Espanha manteve-se
indiferente aos argumentos apresentados por Portugal e recusou a proposta
de realização de uma reunião do Conselho de Cooperação sem que
previamente se chegasse a uma base de entendimento neste campo.38
Durante este impasse sucederam-se vários incidentes com embarcações
espanholas em águas territoriais portuguesas, amplamente noticiados pelos
órgãos de comunicação social de ambos os países, que contribuíram para
agravar o clima de tensão que nem mesmo a mudança política registada em
Portugal foi capaz de contrariar.
29 Em junho de 1983, depois de os socialistas terem vencido as eleições de
abril sem maioria absoluta, Mário Soares voltou a liderar um governo. Desta
vez contava com o apoio do segundo maior partido, o PSD. O novo
executivo, que ficaria conhecido como “Bloco Central”, tinha como
prioridade concluir as negociações para a adesão à CEE e pretendia também
promover uma melhoria substancial nas relações com Espanha. Para tal
contava com o apoio do chefe da diplomacia do país vizinho, Fernando
Móran, que tinha estado colocado em Lisboa, cidade onde mantinha vários
contactos e amizades, e que não escondia a sua admiração por Portugal, e
também do presidente do governo, Felipe González. Em diversas ocasiões
ambos se mostraram empenhados em melhorar as relações com Portugal,
manifestando nomeadamente abertura para implementar políticas que
contribuíssem para diminuir o desequilíbrio da balança comercial entre os
dois países.39 No entanto, também neste domínio não se registou uma
evolução positiva.

Quadro 1. Balança comercial Portugal-Espanha, 1976-1990 (em milhões de


euros)

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30 Apesar da atenção particular que foi dada a Portugal no âmbito do acordo


Espanha-EFTA, traduzida na incorporação de um anexo específico que
tinha em consideração as fragilidades da economia portuguesa e que
procurava minimizar o impacto da abertura do mercado português ao país
vizinho, os efeitos desse acordo foram bastante negativos para Portugal.
Espanha continuou a aplicar medidas protecionistas não tarifárias e a
atribuir subsídios às exportações. No primeiro ano após a sua entrada em
vigor, as importações espanholas cresceram 53% mas as exportações de
produtos portugueses para Espanha caíram 12% (Pereira 1986, 72). Perante
estes dados, Portugal procurou renegociar o anexo P do acordo Espanha-
EFTA e garantir maiores reduções nas pautas negociadas com Espanha e
um tratamento preferencial em determinados produtos, nomeadamente nos
têxteis. Espanha aceitou rever as pautas mas recusou conceder os
tratamentos preferenciais solicitados por Lisboa. Mais uma vez verificou-se
um impasse e Portugal aplicou as medidas de emergências prevista no
acordo, congelando as importações espanholas. O anexo P nunca chegou a
ser denunciado mas as medidas de congelamento às importações
espanholas também não foram levantadas (Cavallaro e Sánchez 2017, 402-
403). Os problemas em torno das pescas e dos crónicos deficits a favor da
Espanha acabariam, assim, por invalidar os esforços dos responsáveis
políticos dos dois países para alterar um rumo que vinha sendo seguido
desde o final da década anterior.
31 Em novembro de 1983 realizou-se em Lisboa a primeira cimeira bilateral
de chefes de governo. Semanas antes, num debate no Senado, Fernando
Móran reconheceu que os problemas existentes entre os dois países tinham
um carácter estrutural, afirmou que a aproximação com Portugal, que
descreveu como “uma obra de arte política em relação a Castela”, era da

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máxima importância para a política externa espanhola e manifestou-se


esperançoso quanto aos resultados práticos da cimeira.40 No entanto, apesar
das afinidades políticas partilhadas pelos líderes dos dois países, a cimeira
ficaria mais marcada pelas diferenças, a começar pela designação do
encontro. Os espanhóis preferiam designá-la de cimeira ibérica mas os
portugueses opuseram-se e a cimeira acabou por ficar denominada cimeira
luso-espanhola em Portugal e hispano-portuguesa em Espanha. O primeiro- 1:02:06
ministro português esclareceu a posição portuguesa em entrevista a um dos
maiores diários espanhóis: “Ibérico é um todo que não implica nações, mas
nesta península há dois países que a integram desde sempre: um chama-se
Espanha, o outro Portugal”.41
32 Não se tratava apenas de divergências semânticas. No discurso que
proferiu no parlamento português, Felipe González propôs a criação de uma
zona de comércio livre que a prazo se deveria transformar numa associação
económica semelhante ao Benelux. Empenhado em constituir uma frente
comum que tinha em vista não apenas as negociações para a adesão à CEE
mas a atuação futura dos dois países no âmbito comunitário, o presidente
do governo espanhol defendeu a criação de uma zona industrial e económica
peninsular dentro da área económica europeia. Traumatizados com as
repercussões do acordo Espanha-EFTA, os responsáveis portugueses
afastaram qualquer hipótese nesse sentido, argumentando que tal modelo
não seria do interesse nem da economia portuguesa nem da economia
espanhola. Os governantes portugueses continuavam a apostar numa prévia
adesão de Portugal à CEE, pelo que não estavam interessados em promover
qualquer tipo de integração das duas economias ibéricas. Por esse motivo,
além desta recusa portuguesa, foi também declinada a proposta apresentada
por Felipe González de elaboração de uma carta conjunta dirigida aos
países-membros da CEE a insistir na urgência de uma decisão relativa à
adesão dos dois países. Também no domínio das pescas não se chegou a
qualquer entendimento.
33 Os resultados limitaram-se assim, além da celebração de um acordo
sanitário relativo ao trânsito de gado, de outro sobre a construção de duas
pontes internacionais, uma no rio Minho e outra no Guadiana e à abertura
permanente de duas fronteiras terrestres, e de um acordo para a
intensificação dos intercâmbios culturais, à elaboração de uma declaração
conjunta que fazia alusão aos dois novos regimes democráticos, às relações
Este/Oeste, ao desarmamento e à necessidade de se desbloquearem as
negociações para o alargamento da CEE, e à assinatura de um protocolo
adicional ao Tratado de Amizade e Cooperação luso-espanhol, que instituía
um sistema de consultas regulares a vários níveis e a realização de encontros
anuais entre os dois chefes de governo. Perante a escassez de resultados,
tanto a imprensa portuguesa como a imprensa espanhola encheram-se de
títulos sobre o pessimismo, o desencanto e a frustração em torno deste
encontro.42
34 As negociações sobre a questão das pescas ficaram assim adiadas para
1984, mas a recusa de Madrid em aceitar a reserva exclusiva das águas

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situadas entre as seis e as doze milhas exigida por Lisboa conduziu a um


novo impasse negocial que levou o governo português a suspender, em
fevereiro, as negociações. No final de setembro Portugal entregou a nota de
denúncia do acordo luso-espanhol sobre relações mútuas de pesca celebrado
em 1978. Esta decisão foi muito mal recebida pelo governo espanhol. Morán
revelou ao embaixador português a deceção do seu governo e referiu que o
presidente do executivo, Felipe González, tinha ficado “especialmente 1:02:06
desagradado” com a atitude portuguesa, dando a entender que a reunião do
Conselho de Cooperação luso-espanhol prevista para o final do ano poderia
ser cancelada. Também o rei Juan Carlos se mostrou muito preocupado com
o futuro do relacionamento bilateral. Depois de lamentar a denúncia, o rei
revelou que González pretendia adotar medidas retaliatórias no quadro das
negociações para a adesão à CEE. Sublinhando a sua especial amizade por
Portugal, Juan Carlos afirmou que tinha procurado refrear os impulsos do
presidente do governo, aconselhando-lhe paciência e prudência, e
manifestou a sua disponibilidade para contribuir para uma melhoria no
relacionamento entre os dois países.43 Apesar do envolvimento do rei, as
reações do governo espanhol foram duras.
35 Embora Portugal tivesse denunciado o acordo de 1978, Espanha reagiu
afirmando que o convénio de 1969 continuava em vigor. Nesse sentido
anunciou que as embarcações espanholas continuariam a exercer os seus
direitos de pesca entre as 6 e as 12 milhas, reiterou a necessidade de
consultas bilaterais e a elaboração de planos de pesca, sustentando que a
não atribuição de licenças era ilegal.44 Paralelamente, o governo espanhol
anunciou o cancelamento da reunião do Conselho de Cooperação e da
Cimeira de chefes de governos previstas para dezembro de 1984. Esta
decisão caiu mal nas Necessidades. Portugal reagiu manifestando
incompreensão pela atitude espanhola, considerando que as dificuldades
num determinado sector não poderiam justificar a suspensão de um
instrumento de cooperação formalmente institucionalizado como era o
Conselho de Cooperação, órgão privilegiado para examinar as questões de
interesse comum e analisar os aspetos mais relevantes do relacionamento
bilateral.45
36 Apesar da insistência de Lisboa, em 1984 não se realizou a reunião do
Conselho de Cooperação nem a cimeira de chefes de governo. Apenas um
ano depois de ter sido instituída, a realização de cimeiras anuais era posta
em causa. A denúncia do acordo de pescas agravou a tensão entre as
comunidades piscatórias nos dois países. Nos primeiros meses de 1985
sucederam-se os relatos de incidentes entre pescadores espanhóis e as
autoridades portuguesas. Entre estes teve particular destaque o caso de um
pescador espanhol que foi morto a tiro por um elemento da Guarda Fiscal
em Vila Real de Santo António. Embora os governos dos dois países tenham
procurado evitar uma escalada com consequências imprevisíveis, registou-
se uma onda de indignação na Andaluzia e realizaram-se várias
manifestações de repúdio, tendo uma delas reunido cerca de 6.000
pessoas.46

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37 Apesar de não terem conseguido alcançar melhorias no relacionamento


bilateral, os dois líderes socialistas foram bem-sucedidos nos seus esforços
para que as negociações com a CEE conhecessem um último e decisivo
impulso. Depois de sucessivamente desbloqueados os entraves colocados
por diversos países-membros ao novo alargamento, no final de março de
1985 Portugal e Espanha concluíram finalmente as negociações para a
adesão à CEE. Faltava no entanto que os dois países chegassem a um 1:02:06
entendimento sobre o relacionamento bilateral no período de transição pós-
adesão. Numa corrida contra o tempo, nos primeiros meses de 1985,
portugueses e espanhóis foram impelidos a chegar a um acordo que não
colocasse em causa a data prevista para a efetivação do alargamento ibérico,
o dia 1 de janeiro de 1986. É que a Comunidade exigia que o tratado de
adesão dos dois futuros estados-membros incorporasse, além do que fora
acordado em separado com a CEE, as medidas transitórias que os dois
países iriam aplicar entre si. Caso não chegassem a um entendimento, a
CEE poderia exigir que ambos os países aplicassem o ‘acquis’ comunitário,
ou seja, o imediato estabelecimento de um regime de livre-câmbio, ou então
impor que os novos membros viessem a aplicar mutuamente o regime geral
que tinham negociado com as Comunidades. Além de lesiva para os
interesses de Portugal e Espanha, que deixariam de ter qualquer palavra no
seu relacionamento bilateral durante o período transitório, a aplicação de
qualquer uma destas alternativas revelaria um importante fracasso
diplomático e demonstraria a fragilidade de um relacionamento que os
responsáveis políticos dos dois países continuavam a louvar e a exaltar
publicamente.
38 Com as respetivas negociações para a adesão à CEE a entrarem na reta
final, Portugal e Espanha iniciaram assim com uma acrescida pressão estas
negociações que, apesar de bilaterais, eram acompanhadas de perto pelos
negociadores comunitários. Em meados de março de 1985, os dois países
tinham já chegado a acordo sobre grande parte dos capítulos, optando por
aplicar mutuamente o tratamento que tinham negociado com a CEE. Ao
contrário do que temia a diplomacia portuguesa, Espanha aceitou a
proposta apresentada por Portugal de eliminação dos direitos aduaneiros
para os produtos portugueses a partir da adesão, mantendo-se apenas como
exceção o caso dos têxteis e das manufaturas de cortiça. Por fechar, ficou
apenas o melindroso capítulo das pescas.47 O forte empenho do ministro dos
Assuntos Exteriores, do presidente do governo e do próprio rei Juan Carlos,
e o facto de a máquina diplomática espanhola estar focada nos interesses
globais em torno da conclusão das negociações com a CEE e menos
preocupada no estabelecimento de regimes específicos com Portugal,
contribuíram para a remoção do último obstáculo que impedia um
entendimento, quando a Espanha, levando à prática as suas declarações de
que estava disposta a dar dois passos por cada passo dado por Portugal,
deixou cair a invocação dos direitos históricos no domínio das pescas.48
39 Na madrugada de 30 de abril de 1985, Portugal e Espanha chegaram
finalmente a um acordo que regularia o seu relacionamento bilateral

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durante o período transitório. No domínio das pescas, as águas territoriais


portuguesas na zona das 12 milhas ficavam interditas a barcos espanhóis
mas, em contrapartida, Portugal aumentava ligeiramente o número de
licenças concedidas aos pesqueiros oriundos do país vizinho na zona entre
as 12 e as 200 milhas. No campo da união aduaneira os produtos
portugueses passariam, a partir do dia 1 de janeiro de 1986, a entrar no
mercado espanhol livres de direitos alfandegários, à exceção dos têxteis, da 1:02:06
cortiça e de alguns produtos químicos. Já os produtos espanhóis sofreriam à
entrada em Portugal o mesmo tratamento que seria concedido aos produtos
oriundos dos restantes estados-membros durante o período transitório.
Nesse mesmo dia foi anunciado que o tratado de adesão de Portugal e
Espanha seria assinado no dia 12 de junho.49
40 O acordo foi mal recebido do outro lado da fronteira, especialmente entre
os pescadores do país vizinho, que acusaram o seu governo de não ter
defendido os seus interesses.50 Apesar da imprensa de ambos os países ter
afirmado que Portugal tinha obtido uma vitória, a verdade é que, ao
contrário do importante impacto mediático, a repercussão económica da
pesca por embarcações espanholas na zona das 12 milhas era muito
diminuta. Em troca, Portugal deixou cair a intenção de aplicar a vários
produtos oriundos de Espanha um tratamento pior do que aquele que tinha
negociado com a Comunidade. Concluído o acordo, teve finalmente lugar a
II Cimeira luso-espanhola de chefes de governo prevista para o ano anterior.
No dia 25 de maio, Mário Soares e Felipe González reuniram-se em Cáceres.
Além de terem procedido à ratificação do acordo alcançado no último dia de
abril, acertaram os pormenores para a cerimónia de assinatura do tratado
de adesão, que se realizaria em Lisboa e em Madrid no dia 12 de junho.
Agora sim, estavam reunidas as condições para o início de uma nova fase do
relacionamento bilateral, devidamente enquadrada no quadro
supranacional que ambos os países passariam a integrar.

5. Conclusão
41 A reaproximação entre os dois países ensaiada em 1976 e formalmente
estabelecida com a assinatura do Tratado de Amizade e Cooperação de 1977
foi bloqueada por um conjunto de fatores. Apesar dos discursos e das
declarações proferidas por sucessivos responsáveis políticos e diplomáticos
de ambos os países, as diferentes estratégias para a integração dos dois
países na CEE, as dúvidas quanto à hipótese de adesões separadas, a adesão
da Espanha à NATO, o diferendo em torno das pescas e o desequilíbrio da
balança comercial impediram que os dois novos regimes democráticos
iniciassem verdadeiramente um novo tipo de relacionamento. As afinidades
ideológicas entre os dois governos, primeiro entre a AD e a UCD, depois
entre o PS e o PSOE, não foram capazes de impedir estas tensões, embora
tenham contribuído para evitar uma maior escalada conflitual.

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42 A entrada na última fase das negociações para a adesão dos países à CEE
constituiu um forte incentivo para que fossem superados os últimos
obstáculos. Com praticamente todos os capítulos negociais fechados e com a
data da adesão agendada, restava apenas chegar-se a um entendimento
sobre o modus vivendi das relações luso-espanholas durante o período
transitório pós-adesão. Numa corrida contra-relógio foi finalmente possível
estabelecer-se uma nova base para o relacionamento bilateral que era um 1:02:06
elemento determinante para Portugal. Escrevendo à época, José Medeiros
Ferreira (1987, 73) sublinhou que “a verdadeira pedra de toque da nossa
integração reside no futuro das relações com a Espanha”. Esta preocupação,
que esteve sempre presente durante as negociações para a adesão,
contribuiu para o arrastamento desse processo negocial e condicionou a
evolução do relacionamento luso-espanhol entre 1976 e 1986. O
alargamento ibérico, nos moldes em que se registou, deteriorou as relações
bilaterais nos anos que o antecederam mas forçou e antecipou mudanças
que se iriam revelar decisivas e duradouras. Apenas a inclusão num novo e
maior espaço supranacional permitiria superar antigas desconfianças.

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Notas
1 Na sequência do primeiro alargamento da CEE foi celebrado um acordo com a
EFTA para o estabelecimento progressivo de uma zona de comércio livre entre os
países que integravam as duas organizações. Uma vez que Portugal fazia parte da
EFTA e beneficiava de um conjunto de vantagens foi necessário garantir que essas
vantagens não seriam afetadas com o novo acordo Espanha-EFTA. Estas
salvaguardas ficaram asseguradas no anexo P desse acordo que estabelecia um
desmantelamento favorável a Portugal.
2 Tratado de Amizade e Cooperação entre Portugal e Espanha, Diário da República,
nº 98, I série, 1º suplemento, 28.05.1978.
3 Telegrama nº 180 da embaixada de Portugal em Madrid, 14.6.1978, Arquivo
Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros (doravante AHD-
MNE).
4 Telegrama nº 179 da embaixada de Portugal em Madrid, 14.6.1978, AHD-MNE.
5 A reunião do Conselho prevista para 1979 também seria adiada. Telegrama nº 348
da embaixada de Portugal em Madrid, 5.12.1978 e telegrama nº 206 para embaixada
em Madrid, 5.10.1979, AHD-MNE. Sobre o anexo P, que acabaria por ser menos
ambicioso do que o acordo bilateral previsto, ver: Casanova 1979, 1067-1068. Em

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maio de 1980, o embaixador português informava que a feira ibérica não constava do
calendário oficial. Telegrama nº 168 da embaixada de Portugal em Madrid,
19.5.1980, AHD-MNE.
6 Telegrama nº 51 da embaixada de Portugal em Madrid, 16.2.1978; telegrama nº 10
para a embaixada de Portugal em Madrid, 17.5.1978; telegrama nº 199 da embaixada
de Portugal em Madrid, 4.7.1978, AHD-MNE.
7 Telegrama nº 218 para a embaixada de Portugal em Madrid, 15.10.1979, AHD-
MNE. 1:02:06
8 Telegrama nº 97 da embaixada de Portugal em Madrid, 4.4.1979, e Telegrama nº
72 para a embaixada de Portugal em Madrid, 17.4.1979, AHD-MNE. No ano
seguinte, o MNE solicitou à embaixada em Madrid o envio de informações sobre as
negociações da adesão da Espanha mas sublinhava que se deveria ter o cuidado de
evitar a renovação da proposta de contactos luso-espanhóis para se analisarem os
problemas da adesão dos países. Telegrama nº 140 para a embaixada de Portugal em
Madrid, 3.6.1980, AHD-MNE.
9 Reagindo as declarações do presidente francês, Ramalho Eanes lembrou as
anteriores posições de Giscard a favor de adesões separadas, sugerindo que as
afirmações proferidas para uma plateia de agricultores da Comunidade se aplicavam
apenas a Espanha. Diário de Lisboa, 6.6.1980.
10 Telegrama nº 499 da embaixada de Portugal em Madrid, 30.12.1981, Arquivo
Histórico-Diplomático, MNE. Esta posição não era partilhada pelo comissário
Natali, que no mês anterior afirmou que Portugal entraria na CEE antes da Espanha.
El País, 12.11.1981.
11 Telegrama nº 51 da embaixada de Portugal em Madrid, 4.2.1982, AHD-MNE.
12 Expresso, 9.1.1982 e 22.1.1982; Telegramas nº 12 e 15 da embaixada de Portugal
em Madrid, 11.1.1982 e 15.1.1982, AHD-MNE.
13 El País, 21.7.1982.
14 Telegrama nº 54 da embaixada de Portugal em Madrid, 1.2.1983, AHD-MNE.
Dias depois, o secretário de estado espanhol que tinha a pasta das relações com as
comunidades, Manuel Marín, afirmou que o seu governo não colocava qualquer
objeção a que Portugal entrasse primeiro nas comunidades. Telegrama nº 74 da
embaixada de Portugal em Madrid, 10.2.1983, AHD-MNE.
15 El País, 27.11.1983.
16 Telegrama nº 521 da embaixada de Portugal em Madrid, 30.11.1983, AHD-MNE.
17 El País, 28.11.1983.
18 Num discurso nas Cortes, o ministro dos Assuntos Exteriores, Marcelino Oreja,
criticou as ideias neutralistas que se afirmavam no PSOE, defendeu que a
neutralidade da Espanha modificaria o equilíbrio europeu e referiu-se a uma
eventual adesão à NATO. El País, 9.3.1978. O embaixador português sublinhava que
essa opção requereria um amplo consenso que não existia. Telegrama nº 79 da
embaixada de Portugal em Madrid, 10.3.1978, AHD-MNE.
19 Telegrama nº 109 da embaixada de Portugal em Madrid, 23.4.1979, AHD-MNE.
Um estudo elaborado pelo ex-ministro da defesa Firmino Miguel – do qual apenas
uma parte foi publicada, ficando outras reservadas (Miguel 1979) – elencava muitas
das questões que serviram de base para o posicionamento dos sucessivos governos,
nomeadamente a ideia de que Portugal não poderia aceitar alterações na estrutura
militar da NATO, especialmente no comando Iberlant.
20 El País, 14.6.1980; El País, 25.6.1980; Telegrama nº 294 da embaixada de
Portugal em Madrid, 9.8.1980, AHD-MNE.
21 El País, 7.10.1980.
22 Telegrama nº 137 para a embaixada de Portugal em Madrid, 5.5.1981, AHD-MNE.

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23 Telegrama nº 569 para a DELNATO, 19.6.1981, AHD-MNE.


24 Telegrama nº 311 da embaixada de Portugal em Madrid, 10.7.1981, AHD-MNE.
25 Diário de Lisboa, 5.9.1981 e 7.9.1981.
26 O ministro Pérez Llorca telefonou ao ministro português afirmando que se
tratava de um equívoco que iria ser esclarecido. Pouco depois chamou o embaixador
e afirmou que as declarações sobre o comando unificado constituíam um “erro
inexplicável”. Rupérez também se justificou afirmando que as transcrições não
correspondiam ao que tinha afirmado. Telegrama nº 218 para a embaixada de
1:02:06
Portugal em Madrid, 8.9.1981, e telegramas nº 392 e 393 da embaixada de Portugal
em Madrid, 7.9.1981, AHD-MNE.
27 Telegrama nº 397 da embaixada de Portugal em Madrid, 10.9.1981, AHD-MNE.
28 Arquivo do Conselho da Revolução, actas, vol. 10, cx. 11, acta da reunião
10.3.1982, ANTT. Um importante sector do CR era adepto dos ideais neutralistas e
nada garantia que este órgão de soberania não pudesse vetar a entrada da Espanha.
Assim que se começou a falar na hipótese da Espanha aderir à NATO, três membros
do CR e o antigo presidente da República Costa Gomes manifestaram-se contra,
considerando-a como negativa para a paz. Telegrama nº 181 da embaixada de
Portugal em Madrid, 15.6.1978, AHD-MNE.
29 A adesão da Espanha foi aprovada com os votos a favor dos partidos de centro-
direita, a abstenção dos socialistas e os votos contra do PCP e outros partidos de
esquerda. Diário da Assembleia da República, 23.4.1982, 3237-3277.
30 Depois de conhecidos os resultados da votação, o ministro Pérez Llorca revelou
ter receado que a Assembleia não ratificasse a adesão, sobretudo por causa das
críticas oriundas do CDS, uma vez que alguns dirigentes desse partido tinham
criticado o modo como o ministro dos Negócios Estrangeiros conduzira as
negociações, acusando-o de não ter defendido plenamente os interesses do país.
Telegrama nº 159 da embaixada de Portugal em Madrid, 23.4.1982, AHD-MNE. El
País, 20.4.1982.
31 Segundo a imprensa portuguesa, os EUA avisaram Lisboa que vários empréstimos
concedidos a Portugal só seriam libertados depois de Portugal ter concluído o
processo de ratificação da adesão da Espanha à NATO. Expresso, 17.4.1982.
32 Telegrama nº 536 para a DELNATO, 31.3.1982, e telegramas nº 530 e nº 540 da
DELNATO, 5-4-82 e 20-4-82, AHD-MNE.
33 Telegrama nº 2 para a embaixada de Portugal em Madrid, 2.1.1982, AHD-MNE.
34 Telegrama nº 210 da embaixada de Portugal em Madrid, 27.5.1982, AHD-MNE.
A Grécia, que procurou garantias no seu diferendo com a Turquia, foi o último país a
ratificar a adesão da Espanha.
35 Telegrama nº 175 para a embaixada de Portugal em Madrid, 28.5.1982, AHD-
MNE. Portugal ratificou a adesão da Espanha no dia 27 de maio. Três dias depois,
Espanha tornou-se membro da Aliança Atlântica.
36 El País, 23.1.1983.
37 Telegramas nº 15 e 53 para a embaixada de Portugal em Madrid, 20-1-1983 e 17-
2-1983, e Telegrama nº 33 da embaixada de Portugal em Madrid, 21.1.1983. AHD-
MNE.
38 Telegramas nº 15 e 53 para a embaixada de Portugal em Madrid, 20-1-1983 e 17-
2-1983, e Telegramas nº 33 e 47 da embaixada de Portugal em Madrid, 21.1.1983 e
28.1.1983. AHD-MNE.
39 Telegramas nº 50, 61 e 315 da embaixada de Portugal em Madrid, 28.1.1983,
4.2.1983, 19.7.1983. AHD-MNE.
40 Telegrama nº 457 da embaixada de Portugal em Madrid, 26.10.1983. AHD-MNE.
41 El País, 9.11.1983.

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42 Diário de Lisboa, 11.11.1983, 12.11.1983 e 14.11.1983; El País 11.11.1983 e


12.11.1983; Telegramas nº 484, 485 e 486 da embaixada de Portugal em Madrid,
12.11.1983, 13.11.1983 e 14.11.1983. AHD-MNE.
43 Telegrama nº 461 da embaixada de Portugal em Madrid, 15.10.1984. AHD-MNE.
44 Telegrama nº 367 para a embaixada de Portugal em Madrid, 21.12.1984. AHD-
MNE.
45 Telegramas nº 373 e 374 para a embaixada de Portugal em Madrid, ambos de
28.12.1984. AHD-MNE.
1:02:06
46 Telegramas nº 11 e 15 da embaixada de Portugal em Madrid, 7.1.1985 e 8.1.1985.
AHD- MNE.
47 Telegramas nº 145, 150 e 169 da embaixada de Portugal em Madrid, 6.3.1985,
8.3.1985 e 15.3.1985. AHD-MNE.
48 Telegramas nº 248, 261 e 270 da embaixada de Portugal em Madrid, 19.4.1985,
23.4.1985 e 28.4.1985. AHD-MNE.
49 Diário de Lisboa, 30.4.1985; Telegramas nº 278 e 280 da embaixada de Portugal
em Madrid, 1.5.1980, 2.5.1985. A realização de duas cerimónias, no mesmo dia,
primeiro em Lisboa e depois Madrid, e não apenas de uma cerimónia comum em
Bruxelas, foi sugerida ao embaixador português pelo secretário de estado das
Relações com as Comunidades, Manuel Marín, que assim procurava garantir maior
solenidade e maior impacto ao ato. Telegrama nº 171, da embaixada de Portugal em
Madrid, 16.3.1985. AHD-MNE.
50 Telegramas nº 281 e 284 da embaixada de Portugal em Madrid, 3.5.1985,
6.5.1985. AHD-MNE.

Índice das ilustrações


Quadro 1. Balança comercial Portugal-Espanha, 1976-1990 (em
Título
milhões de euros)

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Para citar este artigo


Referência do documento impresso
David Castaño, «Um reencontro atribulado. Portugal e Espanha entre a queda das
ditaduras e a adesão à CEE, 1976-1986», Ler História, 78 | 2021, 199-222.

Referência eletrónica
David Castaño, «Um reencontro atribulado. Portugal e Espanha entre a queda das
ditaduras e a adesão à CEE, 1976-1986», Ler História [Online], 78 | 2021, posto
online no dia 23 junho 2021, consultado no dia 04 julho 2022. URL:
http://journals.openedition.org/lerhistoria/7795; DOI:
https://doi.org/10.4000/lerhistoria.7795

Autor
David Castaño
FCSH, IPRI-NOVA, Portugal

https://journals.openedition.org/lerhistoria/7795 23/24
04/07/22, 11:55 Um reencontro atribulado. Portugal e Espanha entre a queda das ditaduras e a adesão à CEE, 1976-1986

davidcastano@fcsh.unl.pt

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