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A terra - em terra nós temos a imensurável relação com Espanha, isto é, é a única fronteira
terrestre, com a particularidade de Espanha ser maior. O centro da europa faz-se no nordeste da
europa, portanto para acedermos ao centro é necessário acedermos Espanha.
O mar - a dimensão e localização da Zee/ PC; o polígono (de língua portuguesa) do atlântico.
Uma das maiores da europa, contendo 200 milhas e apenas só nós podemos pescar, mantendo
assim uma exclusividade. Plataforma continental estendida - vem de uma convenção e desde
então deu-se o pedido de soberania sobre as plataformas pretendidas. Se os países provarem que
existe .. Para lá das suas plataformas podem reclamar sobre os mesmos.
Dimensão e localização:
- Estabilidade secular/instabilidade de fronteiras no século XX;
- Reduzida dimensão física, diversidade de paisagens, clima temperado;
- País arquipelágico - um triângulo no Atlântico;
- Um país marítimo, sem profundidade estratégica que permita o ‘amortecimento’ de ações
militares contra o nosso território.
Uma única fronteira terrestre com uma potência continental de grande dimensão,
geobloqueante. Uma relação estreita com a Europa continental por via da UE
Um espaço marítimo de grande dimensão (ZEE com dimensão 18 vezes superior à terrestre),
com configuração triangular, permite acesso direto e fácil a um mar aberto.
Uma relação histórica e estratégica relevante com o Reino Unido e EUA. Um espaço marítimo
prolongado histórica e culturalmente no Atlântico-Médio, com concretização político-estratégica
na CPLP. Posição central em relação ao Atlântico e aos corredores marítimos e aéreos, com enfâse
no controlo de rotas intercontinentais que ligam a Europa à África e à América do Sul, bem como
o Atlântico Norte ao Mediterrâneo. Elevado acesso a internet no litoral e grandes centros urbanos,
menor e serviço deficiente no interior e regiões mais isoladas, cria desigualdades no território.
Ligações aéreas estratégicas a cidades europeias, África, Brasil, EUA e Reino Unido
Responsabilidade de garantia de operações de busca e salvamento - todo o espaço aéreo sobre o
controle de tráfego de Portugal
- Há 3 espécies de Portugal:
1. Começa com a nacionalidade. Português típico, forma o fundo da nação, trabalha obscura e
modestamente em Portugal e em todo o mundo. Está desde 1578 divorciado dos governos e
abandonados por todos eles, existe porque existe, e por isso a nação também
2. O que não o é - aparece com a invasão mental europeia do século XVIII (Iluminismo), que se
agravou com o constitucionalismo e se tornou completa com a República. Governa o país. Por
sua vontade é parisiense e moderno
3. O que nasce com o início das Descobertas, fez-se Império e foi-se embora, deixando alguns
continuamente a sua espera
Esses três tipos têm uma mentalidade comum, embora a usem de formas distintas com 3
características: predomínio da imaginação sobre a inteligência, predomínio da emoção sobre a
paixão e adaptabilidade instintiva
Teixeira de Pascoais
O conceito de pátria na transição no século XIX para o século XX
Organizado a parti de dois conceitos subjacentes - carácter e raça
A “raça portuguesa” - elementos específicos que compõe a “alma lusitana!
- Sentimento lírico-poético de cariz religioso
- O ‘génio da língua’ expressa na saudade
- Independência religiosa do povo
- Lenda sebastianista
- As primitivas leis baseadas no costume regional
Uma resultante da paisagem do território e da fusão de povos que aqui se cruzaram: arianos e
semitas; paganismo e cristianismo - uma fusão que anima toda a história de Portugal e produz o
sentimento próprio da alma lusitana, a saudade (união emotiva e sentimental entre desejos dor,
convertidos em esperança e lembrança)
Este período ficaria marcado pelo Estado Novo e durará até 1974.
Em julho de 1926 António de Oliveira Salazar assume a pasta das finanças, mas não lhe são
satisfeitas as condições que ele achava indispensáveis para o seu exercício, demitindo-se passado
13 dias. Em 1928, apos a eleição do general Óscar Carmona, Salazar reassume a pasta das
finanças, exigindo o controlo sobre as despesas e receitas de todos os ministérios. Satisfeita a
exigência, impôs forte austeridade e um rigoroso controlo de contas, com aumentos enormes de
impostos e criação de novos, adiamento de obras de fomento e congelamento de salários,
conseguindo um superavit, um "milagre" nas finanças públicas logo no exercício económico de
1928 – 29.
Salazar cria a União Nacional em 1930, visando o estabelecimento de um regime de partido único.
Em 1932 era publicado o projeto de uma nova constituição que seria aprovada em 1933 através
de um plebiscito popular direto. Com esta constituição, Salazar cria o Estado Novo, uma ditadura
antiliberal, anticomunista e antidemocrática.
Quando Salazar chega ao governo, Portugal estava na bancarrota devido à 1ª República, 1ª GM,
Golpe de Estado e a divida aos ingleses, Portugal tinha passado por um período de grande
instabilidade, que deu cabo das contas do país. Com a chegada de Salazar a situação financeira
portuguesa estabiliza. A partir dos anos 50, com a economia já estabilizada, dá-se a 1ª tentativa
sistematizada de industrialização em Portugal (através de planos de fomento, o desenvolvimento
da indústria assentou em 2 mecanismos: planeamento e protecionismo).
Portugal adere a custo ao Plano Marshall (relacionado com a OECE e OCDE) e é membro
fundador, também a custo, da NATO (1949), isto porque a agenda do Estado Novo era
maioritariamente unilateral (os outros países não viam com bons olhos a adesão de Portugal à
NATO, pois era o único que não era uma democracia). Adere mais tarde à ONU (onde esteve
“contrariado” até 1974) pois Portugal era um Império Colonialista.
Portugal, agora sem colónias, é um país pequeno, pobre e de ignorantes. Um país no “cantinho”
da Europa, sem qualquer relevância na política internacional. Caso acontecesse qualquer risco
controlado ou se passasse para o bloco soviético, podia “estimular” os restantes países europeus
a ficar no bloco ocidental. Assim, após a crise da Cadeira Vazia, Portugal podia ser a solução para
“curar” o problema da construção europeia, da construção interna da CEE e fazer com que os
países ficassem no bloco ocidental.
Foi um momento de ruptura estratégica em que temos a oportunidade de decidir. Face a 74 era
necessários dar uma resposta estratégica. Do lado comunista, a resposta era obvia, do lado dos
democratas, não estava a correr muito bem, mas propusemos que havia algo mais que os
americanos não estavam a ver (Madeira e Açores) o que significava que a Europa ficaria
ameaçada dos dois lados (Teoria da Tenaz), sendo a Europa estrategicamente importante para os
americanos, não lhes convinha que esta ficasse sob ameaça. Os democratas portugueses
conseguiram reverter a opinião dos EUA neste caso.
Em 1960 é criada a EFTA (Associação Europeia de Comércio Livre) onde se encontram Portugal
e o Reino Unido (entre outros, sobretudo nórdicos). Portugal sempre teve boas relações com o
Reino Unido (sempre foi um dos principais parceiros comerciais dos portugueses).
Em 1973 o Reino Unido sai da EFTA e entra na CEE (não entrou mais cedo porque o Reino
Unido sempre viu com maus olhos perder a sua soberania para órgãos supranacionais (sempre
teve preferência por um modelo de cooperação invés de uma união). Portugal não adere logo à
CEE porque tinha na EFTA um dos seus principais parceiros (o Reino Unido) e porque não era
uma Democracia – com a saída do Reino Unido perde uma das 2 razões para não aderir à CEE
(só faltava ser uma democracia).
Em 1973 dá-se a 1ª grande crise petrolífera e, em 1975, o sistema económico internacional muda,
com a alteração do padrão-ouro para padrão-dólar. A economia internacional entra em crise e, em
1975 / 1976 dá-se a primeira ajuda económica da CEE a Portugal.
Em 25 Abril 1974 – Golpe de Estado que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, numa ação
liderada pelo movimento militar MFA (Movimento das Forças Armadas). Até 1976 Portugal foi
comandado pelo PREC (Processo Revolucionário em Curso). E a partir daí por inúmeros
governos provisórios.
A longo prazo este período ficou conhecido como o processo de democratização do país que
consistia em 3 coisas: Desenvolver, Descolonizar e Democratizar.
Descolonizar
Democratizar
1979/ 1980 – 2ª Crise Petrolífera (Que levou a uma nova crise económica em Portugal e a mais
endividamento).
NOTA: Não esquecer que o escudo (moeda nacional portuguesa na época) não era uma moeda
internacionalmente aceite, tanto as nossas empresas como o Estado para comprar bens e serviços
tinha de comprar outra moeda e só depois é que podia finalizar a transação (isto acarreta uma taxa
de cambio – que era administrada pelo Banco de Portugal). Isto também levava a que houvesse
limitações à circulação de capitais (quer para o exterior, quer para Portugal) e que as empresas
não podiam vender/ comprar o que quisessem, pois, podia não haver divisas suficientes.
Qualquer exportação ou importação tinha de passar pela aprovação do banco de Portugal, se já
tivesse passado o limite tinha de se esperar pela próxima oportunidade. Fazía-se isso para
controlar as taxas de cambio, porque a gestão da quantidade de moeda a circular era relevante
para o Banco de Portugal porque assim controlava-se a inflação. Por outro lado, se isso acontece,
conseguimos também controlar os eventuais défices que se gerem na balança de transação.
Quando a economia entra em queda, o banco de Portugal pode emitir mais moeda o que faz com
que cada unidade valha menos e aumenta a inflação. Ou seja, o Estado pode também pedir
empréstimos à banca internacional, a divida publica aumenta, mas o problema deste mecanismo
são os juros, o limite
1980/ 1981 – A Banca Internacional deixou de emprestar dinheiro a Portugal, pois a divida era
tão grande (endividámo-nos a tentar equilibrar a balança de pagamentos com o exterior) que
começaram a pedir como garantia o ouro português (algo impensável).
1981/ 83 – Grave crise cambial (acumulação de défices elevados na balança de transações
correntes com o exterior desde início da década 80; necessidade de divisas para fazer face aos
défices – endividamento galopante coloca o país em risco de rutura cambial).
9 Junho 1983 – A situação política e económica era tal, que tomou posse o chamado Bloco
Central, uma coligação entre PS e PSD (sendo Mário Soares 1º Ministro).
Estas mediadas resultaram em queda de produção, aumento de inflação e queda real dos salários
de 10% (ou seja, após impostos), o desemprego aumentou para níveis recorde e aquelas empresas
que não faliram, houve imensos casos de atrasos de pagamento. Foram dois anos e meios de
convulsão social e econômica em Portugal (era um governo de bloco central e só́ por isso
conseguiu aprovar este programa, apesar de muito do programa era standard de FMI), porque
senão haveria uma convulsão política também.
Medidas muito duras, mas efetivas: em 1985 – A situação económica portuguesa estabilizou
(balança reequilibrada e o governo já consegue recorrer à banca). Economia ajustada, divida c
controlada e moeda estabilizada. O programa funcionou naquele que era o seu objetivo. A nossa
balança de transações correntes foi ajustada, o governo já consegue recorrer a banca internacional
e é verdade que houve um empurrão porque a crise do petróleo também estabelizou o que tem
grande impacto em Portugal porque é totalmente dependente do exterior. Além disso é uma
economia muito aberta dependente do exterior, portanto rapidamente entra em divida. Portanto,
saindo deste ajustamento macroeconomia, havia dificuldades imensas para as famílias e para as
empresas.
Portugal assinou o Tratado de adesão em 12 de junho de 198. Mas entrou em vigor em 1 de janeiro
de 1986.
Havia uma grande esperança na adesão portuguesa (pois Portugal era um país “de 3º mundo”
muitas vezes sem os bens básicos para as pessoas comprarem, começava agora a haver a
esperança de que Portugal se desenvolva).
Agricultura
Através do FEOG – fundo europeu de orientação e garantia agrícola – o objetivo era financiar as
atividades agrícolas, através de programas específicos (PAC – Política Agrícola Comum). No
entanto, estes fundos apresentaram problemas, na medida em que não estavam desenhados para
os países da Europa de Sul, antes para os países do Benelux (França, Bélgica, Alemanha, Itália,
Holanda e Luxemburgo). Portugal era um país pequeno, com uma agricultura de subsistência e
deficientes técnicas agrícolas, logo não estava preparado para a aplicação daqueles fundos.
Indústria
A indústria em Portugal encontrava-se descapitalizada, com atrasos económicos e assente em
mão-de-obra barata. O Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa
(PEDIP) surgiu no plano nacional como um importante instrumento de modernização da indústria
Portuguesa, criando condições para revitalizar a base produtiva existente à data e promover o
aparecimento de novas indústrias com elevado potencial tecnológico, de modo a maximizar o
aproveitamento das vantagens comparativas e dos recursos nacionais humanos e naturais do país.
Contudo, este programa não foi tão revitalizador como se esperava, porque em vez de reinventar
a indústria e qualificar pessoas, Portugal simplesmente aumentou o sistema antiquado que já tinha
– aumentamos a produção, mas não a qualificamos. Em vez de melhorarmos a indústria e
qualificarmos as pessoas, continuamos com um modelo de mão-de-obra barata e produtos
indiferenciados.
Infraestruturas
FEDER (tem por objetivo contribuir para atenuar os desequilíbrios entre os níveis de
desenvolvimento das regiões europeias e reduzir o atraso em termos de desenvolvimento das
regiões menos favorecidas. Uma atenção especial é reservada às regiões que enfrentam
desvantagens naturais ou demográficas graves e permanentes, tais como as regiões mais
setentrionais, com uma densidade populacional muito baixa, e as regiões insulares,
transfronteiriças e de montanha). Portugal utilizou estes fundos para investir em infraestruturas –
Devido a isso foi dos fundos que mais se destacou, porque ao investir em infraestruturas, era
necessário mão-de-obra, criando desta forma emprego e posteriormente riqueza nas famílias, que
iriam gasta-la adquirindo bens.
Em conclusão, podemos afirmar que estes 4 / 5 anos após a adesão, levaram à estabilidade política
e a um período de crescimento económico exponencial, devido à entrada de grande capital, num
país que, durante décadas, não havia verificado qualquer tipo de investimento.
Antes de mais, é preciso ter em conta que a economia portuguesa no início da década de 80: o
país com moeda própria mas não aceite como meio de pagamento internacional; imposição de
limitações à circulação de capitais de e para o exterior; taxas de câmbio do escudo em relação às
outras moedas fixadas administrativamente pelo Banco de Portugal, isto é, qualquer importação
ou exportação tinha que passar pelo Banco - 1981-1983 - grave crise cambial (acumulação de
défice elevados na balança de transações correntes com o exterior, necessidades de divisas para
fazer face aos défices, endividamento galopante coloca o país em risco de ruptura cambial)
Começa, então, a surgiu uma nova forma de fazer comércio e, EUA e Reino Unido iniciam a
globalização financeira, isto é, a liberalização de movimentos de capitais entre eles e o resto do
globo, ao nível das grandes empresas e tecnologias financeiras.
Tal leva à eclosão do sistema internacional e à competitividade pela globalização. E a CEE decide
adotar estes movimentos, aplicando a política do Espaço Schengen e do Ato Único Europeu, isto
é, a liberdade de circulação de pessoas e de capitais, respetivamente, criando um mercado único.
O Acordo de Schengen é assinado em 1985 (apesar de muitos dos países apenas entrarem
depois), este permite a circulação de pessoas entre os países signatários. O que levantou um
problema: as diferenças entre as economias europeias. Levando que se apostasse numa nova linha
de investimento – os fundos de coesão (fundos apenas para os países que estão abaixo da linha
de desenvolvimento média europeia, de forma a que se criasse um maior equilíbrio). Isto fez com
que os fundos que Portugal recebe da CEE duplicassem em 1989 e duplicassem novamente em
1891.
Em 1986 foi assinado o Ato Único Europeu e estabeleceu entre os Estados-Membros as fases e
o calendário das medidas necessárias para a realização do Mercado Interno até 1992. O grande
objetivo era a liberdade de circulação de capitais e serviços (esta discussão já tinha sido iniciada
com o Tratado de Roma, mas foi neste período que se materializou).
Em 1986, é assinado o ATO ÚNICO EUROPEU, que só entrou em vigor em Julho de 1987.
Este é liderado pelas nações europeias, pela elite e pela condução do povo. Os cidadãos passam a
ganhar um novo espaço público, desde em ONG’S, instituições empresariais e, inclusive, a nível
individual.
Para além disto, de forma a adaptar-se às mudanças globais sentidas, assina-se o Tratado de
Maastricht (1992), implementado a moeda única (euro) e a institucionalização da CEE para
UNIÃO EUROPEIA, baseada nos 3 pilares fundamentais:
− Comunidades Europeias (pilar supranacional);
− Política Externa e de Segurança Comum;
− Cooperação política e judicial em matéria penal;
Com sua entrada em vigor, a 1 de novembro de 1993, foi criada a União Europeia, foram lançadas
as bases para a criação de uma moeda única europeia, o euro.
Esta institucionalização assenta na criação de uma nova instituição: CONCELHO EUROPEU –
formado pelos chefes de Estado da União, representa a cobertura política da Europa, conferindo
união e cooperação política à UE, que antes, na CEE, apenas era um processo de integração
económica.
Para além disto, a concelho de ministros, existente na CEE, é transformando no concelho da União
Europeia (mantém a mesma função, apenas muda a designação) e, passa a ter o mesmo poder de
decisão do parlamento europeu.
Conclui-se que a UE passa, agora, a representar uma união económica e política, na sequência do
Tratado de Maastricht – que lançou também a proposta sobre a moeda única.
Em termos de contextualização internacional, nesta altura, havia existido a queda do muro de
Berlim e a reunificação da Alemanha, no entanto, existiam 2 moedas diferentes e, através da
reunificação e fortalecimento da sua economia, a Alemanha podia ameaçar a França. Assim, era
necessário criar uma moeda única que “neutralizasse” a competitividade da Alemanha face à
França.
Não esquecer que: a criação da CEE foi exatamente para evitar conflitos de grande dimensão
entre estas 2 potências, logo a solução encontrada para manter esse equilíbrio no centro da Europa
foi a criação de uma moeda única (a Alemanha viu-se obrigada a aceitar para manter-se longe de
conflitos e também pelo sentimento de culpa que tinha desde a 2ª Guerra Mundial).
A verdade é que Portugal não está preparado para este contexto de globalização e competitividade
e, perante uma economia dependente a 100% da importação de energias e exportação de bens,
face à adesão de 10 países vindos de Leste e à sua concorrência, a economia portuguesa começa
a colapsar novamente.
Nós não estávamos preparados para este choque, esses países com a entrada na EU começam a
ter direito aos mesmo acordos que nós tivemos quando entrámos e os produtos deles começam a
chegar aos mercados da União em pé de igualdade com os nossos (mas com mão-de-obra muito
mais barata, porque nós mesmo assim já tínhamos evoluído um pouco) – Resultado: A economia
portuguesa voltaria a sofrer.
A economia portuguesa estava singularmente mal apetrechada para esta nova era, boa parte da
estrutura produtiva ainda especializada em mão-de-obra pouco qualificada, barata em relação aos
restantes países da CEE, mas já de um custo muito superior aos países como a China e outros que
agora emergiam no comércio mundial; com a implosão da URSS, a abertura da UE a Leste – o
surgimento de concorrência adicional na própria Europa.
A decisão política de Portugal pertencer à moeda única foi uma decisão partilhada por PSD e PS.
Houve grande esforço da política económica de fazer aproximar a nossa economia dos critérios
de Maastricht (a ‘política de convergência nominal’).
Esta crise fez com que a moeda única ganhasse mais força, pois era muito mais difícil para os
especuladores forcarem mudanças cambiais se apenas houvesse 1 moeda, ou seja a
implementação da moeda única reduziria especulações cambiais, aumentaria a coesão e o
equilíbrio europeu. O contra-argumento à moeda única era que as economias europeias não são
da mesma dimensão e estão sempre a funcionar em contraciclos, ou seja, crescem a velocidades
(muito) diferentes.
Contudo, o objetivo final da implementação da moeda única era mesmo esse, que a União
Europeia andasse à mesma velocidade (se tornasse uma zona económica ótima) – algo que ainda
hoje não foi alcançado.
Visão de quem não queria a adoção da moeda única em Portugal: A economia portuguesa
precisava de ter possibilidades de ajustamento através das taxas de câmbio e das taxas de juro.
Estes eram da opinião que as empresas portuguesas nunca seriam capazes de competir com outras
empresas.
Visão de quem queria: Vínhamos de um período de grande sucesso no mercado interno europeu
(mercado esse que era suposto estar concluído em 1992 e em 1990 já estava a funcionar, os anos
80 foram anos de grandes avanços em direção à integração/ federalização. Apesar da economia
portuguesa e das empresas portuguesas serem frágeis, deveríamos arriscar, trabalhar e tentar
aproximarmo-nos do nível europeu.
Este processo para a economia portuguesa foi muito duro, pois quando tivemos a possibilidade
de fazer uma mudança estrutural na nossa economia e na nossa produção não fizemos. Logo, para
alcançarmos estes objetivos e aderirmos ao euro tivemos de aumentar os valores dos nossos ativos
(visto que já não podíamos desvalorizar a moeda), o que levou a uma enorme inflação, e a uma
redução das exportações (devido ao preço alto dos nossos produtos), as empresas tiveram de se
virar para o mercado interno (aumentando os custos de produção).
Para agravar a situação Portugal viu-se obrigado a pedir empréstimos e aumentar o seu
endividamento – a economia portuguesa só não rebentou em 97/ 98 porque as pessoas começaram
a comprar casas e carros (aumentando os pedidos de créditos devido à baixa taxa de juro) o que
fez aumentar o emprego – mas levou ao endividamento das famílias e como sabemos a capacidade
de endividamento das famílias é limitada.
Para cumprirmos os critérios no que toca ao défice e à divida publica beneficiamos das condições
internacionais. O critério de estabilidade cambial foi um pouco esquecido.
Em suma, a muito custo e aderimos ao euro em 1999.
Em 2004 dá-se a adesão dos países de leste da Europa, á UE. Em termos internos, significou o
entretém da organização da União Europeia, enquanto o mundo mudava.
Em 2005 a China adere à OMC (Organização Mundial do Comercio). Antes fazendo parte dos
BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Aderindo aos mercados mundiais, com
preços muito mais competitivos do que os que eram praticados na Europa, aumentando assim a
competição para países como Portugal que apostavam na exportação de produtos baratos (com a
diferença que a mão de obra na China é muito mais barata que a nossa).
Visto que não podíamos desvalorizar a moeda, a solução encontrada foi estimular a exportação –
Contudo, tudo o que gerávamos com algum valor, os lucros eram utilizados para pagar as dividas
que tínhamos – as empresas também atoladas em empréstimos e sem possibilidade de os pagar,
começam a falir e o desemprego aumenta.
Para piorar a situação o padrão de negócios dos países do Leste era idêntico ao nosso, mas mais
barato. Nesta altura dá-se também um crescimento brutal da economia chinesa, devido à entrada
na OMC, que levou a que muitas empresas europeias fossem produzir para a China, onde o custo
de produção era muito mais baixo. A evolução da tecnologia e dos meios de transporte resolveu
muitos dos problemas do passado.
Para além disto, a partir de 2005, sentem-se os efeitos da China na OMC – Organização Mundial
do Comércio – e dos novos modelos de negócio, baseados na revolução tecnológica que, permitiu,
em tempo real, que qualquer empresa trabalhasse com a China.
Ou seja, observamos dois pontos numa década e meia de dinheiro para se reajustar o padrão da
economia, mas que não aconteceu:
− Em 2004/05 as empresas sentem esse impacto, não conseguem investir, existindo
falências.
− E em 2007, quando começa a crise financeira, não há margem para se ajustar.
Perante isto, alguns setores da economia (europeia) começaram, na década de 2000, a apostar e
inovar na formação profissional e na evolução dos produtos, ao contrário da China ou dos países
da Europa de leste. No entanto, isto deveria ter sido feito no início da década de 1990.
Chegamos a 2007 e 2008 e dá-se a crise económica (que começou nos EUA). Um ano depois, a
Europa é afetada.
Em resumo: Tivemos 2 décadas para mudar as coisas (forma de produção) – não mudámos – Em
2004 as empresas estão endividadas e começam a falir – Em 2007 não há margem para ajustar –
2011 rebenta a crise me Portugal.
Os países mais afetados foram os países do sul da Europa (os PIGS) e a Irlanda. Sendo todos
obrigados a programas de ajustamento – Todos tiveram de aplicar medidas de emergência para
recuperarem.
Os principais objetivos destes programas de ajustamento eram:
- Proteger a capacidade de financiamento dos governos (limitar a ação especulativa, pois andavam
a pedir empréstimos a taxas de juro altíssimas).
- Ajustamento ordenado dos mercados.
- Ganhar tempo para restabelecer a confiança dos mercados.
Anteriormente, no ano de 2010, entre março e setembro, foram aprovados três programas de
crescimento, todos muito semelhantes, no tipo de medidas: cortar as despesas, para o período de
2010-2013, de forma a conter a dívida.
Em setembro de 2010, são aprovados mais cortes e o orçamento é viabilizado com muitas reservas
do parlamento. O 18ºGoverno tenta um 4º programa de estabelecimento e são convocadas eleições
antecipadas: entra-se na fase de ajustamento.
O segundo PEC, que ficaria conhecido como PEC 2 nasceu da necessidade de reajustar as medidas
aprovadas pelo PEC I passados dois meses, em Maio de 2010. Previa mais cortes orçamentais e
o aumento do IVA.
Passados quatro meses, em Setembro de 2010, foi aprovado um novo PEC pouco tempo antes da
aprovação do Orçamento de Estado para 2011. Este previa cortes ainda maiores que os seus dois
antecessores.
Tentou-se ainda um 4º PEC, mas não foi aprovado pelo Parlamento. O chumbo deste projeto
levou o Primeiro-ministro José Sócrates a demitir-se e o Presidente da República de Portugal a
convocar eleições antecipadas: foram as eleições legislativas portuguesas de 2011, vencidas pelo
PSD.
Posto isto, em Abril de 2011 Portugal assina um programa de ajustamento com o FMI, a Comissão
Europeia e o BCE (este acordo já vinha a ser negociado pelo anterior governo, faz muito tempo,
sendo que o governo de Passos Coelho pouca coisa pode negociar) – Programa de Assistência
Económica e Financeira (PAEF)
O programa estava previsto para 3 anos (2011 – 2014) e consistia num ajustamento
macroeconómico. A grande diferença para 30 anos antes foi a interferência das organizações
europeias na discussão (que permitiu que algumas questões sociais fossem postas na balança –
algo que não acontecera nos anos 80).
Desta forma, partindo de um ponto inicial errado, dificilmente o programa chegaria ao fim com
sucesso. Mas também existiram virtudes, como:
− O financiamento do FMI – Fundo Monetário Internacional;
− O Estado tinha salários garantido, necessários à reorganização económica interna e, não
apenas, a um nível macroeconómico.
E a verdade é que, no fim do programa, Portugal estava melhor do que anteriormente, em termos
macroeconómicos. Porém, o impacto nas famílias e nas empresas foi devastador, para além de
que todo o processo de correção a União Económica Europeia exigiu um conjunto de alterações
que provocaram problemas graves, devido à descapitalização total das empresas, pois estas
financiavam-se na banca e o problema da crise era na banca.
Problemas: As estimativas dos valores reais da economia portuguesa em 2010 estavam claramente
inflacionadas (logo não podemos culpar apenas a comissão europeia ou o FMI – mas também o
governo português). Ou seja, com os dados que foram estabelecidos os objetivos não eram
alcançáveis (ponto de partida incorreto quanto aos valores reais). Para além disso fomos
demasiado otimistas em relação ao que seriam esses anos e as estimativas de impacto estavam
mal direcionadas (Não consideração das necessidades de financiamento do Estado provenientes
do sector público empresarial e das PPP (empresas financiadas pelo Estado)) – ou seja, pedimos
menos dinheiro do que realmente precisávamos. Má medição dos efeitos do ajustamento na
atividade económica, emprego e variáveis orçamentais.
Para além disto tudo, ignorou importantes propostas que foram feitas pela troika: ritmo e modo
da consolidação orçamental; perímetro contabilístico das contas públicas; modelo de
implementação da medida de competitividade de redução da TSU para as empresas; estímulos
fiscais e financeiros ao investimento produtivo; agenda de ações para o aumento do crescimento
potencial, competitividade e emprego, em todas as suas dimensões e não apenas no domínio das
reformas estruturais.
Estimulou uma nova política de alocação de recursos na economia orientada para os sectores dos
bens e serviços transacionáveis e o aumento da taxa de poupança nacional bruta. Pressionou a
execução de um novo ciclo de reformas estruturais, devidamente calendarizadas, sucessivamente
adiadas desde a segunda metade dos anos 1990.
NOTA: As empresas portuguesas financiam-se principalmente na banca, pois o nosso mercado
de capitais não funciona (como funciona nos EUA), o que levou a que as empresas ficassem
atoladas em dívidas que não tinham dinheiro para pagar (e os bancos não vissem esse dinheiro
pois as empresas faliam – Isto fez também que as empresas que conseguiam pagar (e não faliam)
não conseguissem investir – logo
Portugal estagnou durante 4 anos no que toca a desenvolvimento.
Resultados:
Negativos:
Impactos negativos de curto prazo na contração do PIB, no aumento da carga fiscal, na queda
do rendimento disponível das famílias, no consumo privado, na taxa de investimento empresarial,
na capacidade de produção e no emprego, na distribuição do rendimento, embora menos
significativos que em outros países do ‘arco periférico’ da zona euro.
Elevado aumento do desemprego, tal como na Grécia e em Espanha, dado o forte ajustamento
nos setores dos bens e serviços não transacionáveis, de mão-de-obra intensiva (construção,
imobiliário e obras públicas) e pela inevitável contração da procura nas atividades viradas para o
mercado interno.
Positivos:
Eliminação do défice externo, com evolução muito positiva do saldo da balança corrente e capital
(de -8% a -9% do PIB, na primeira década do século, para 2% do PIB em 2013), graças à dinâmica
das empresas exportadoras de bens e serviços e à queda inevitável das importações.
Redução do défice público estrutural de 11,2% do PIB em 2011 para 2,1% PIB em 2016.
Os fundamentos da adesão:
As alterações da inserção geoeconómica de Portugal na economia internacional
- Adesão do Reino Unido às comunidades em 1973, com efeitos nos fluxos comerciais
nacionais - Crise económica mundial
- A descolonização e democratização ma sociedade portuguesa em 1974 e 1975, transformação
profunda dos pressupostos da política externa portuguesa
- Efeitos do Acordo EFTA - Espanha
- Formação da tendência para o alargamento iniciado nos anos 60 e confirmada a partir de 1974
Para além disto, verificou-se um progresso substancial, visto que o Portugal de 85 é muito
diferente do de 2020: a economia, bens, serviços, padrão de vida, cultura e os valores sociais /
modelo de sociedade mudaram muito nos últimos anos, sendo influenciados pelo modelo europeu.
Em termos económicos, a globalização e o mercado único permitiram uma total transparência de
preços e a aproximação dos preços entre os países membros.
Houve um aumento do custo de vida de Portugal, relativamente à diminuição de poder de compra,
nomeadamente em Lisboa, Porto, Braga e Aveiro: ganha menos e paga mais. No entanto, apesar
do poder de compra não ser excelente, há um maior acesso aos bens disponíveis – que foram
acompanhando a evolução.
É verdade que, ao longo dos 30 anos, face à década de 70 / 80, houve uma evolução, mas face aos
restantes países europeus, o desempenho da economia portuguesa foi fraco:
− Não crescemos tanto;
− Divergimos da média europeia;
Portugal pode dizer que tem poucos polos estratégicos industriais (apesar de ser norma na europa,
Portugal estar mesmo muito mal neste aspeto), deficiências na educação e estamos a entrar/ já
entrámos numa fase de Inverno Demográfico.
Portugal tem uma economia a “meio caminho”, isto é, uma economia de transição, onde Portugal
ocupa uma posição (relativamente) desfavorável / + difícil que os restantes estados-membros,
especialmente num quadro de insuficiência de capitais, fatores de produção, investimento
empresarial, entraves no sistema de educação e formação e falta de quadros qualificados (mão-
de-obra para as empresas – importando, essencialmente, fazendo com que há já alguns anos o
crescimento populacional seja feito através da imigração (esta também cada vez menos, pois um
país em crise não é favorável / atrativo).
É necessário que existam incentivos para que as pessoas fiquem, tais como o aumento dos
salários; a diminuição dos impostos; algo que faça com que os portugueses (qualificados e com
oportunidade no estrangeiro) fiquem cá.
Pelo que importa: construir uma estratégia de recuperação; uma reestruturação e mudança e não
adaptação e modernização; complexidade e diferenciação, com determinação de focos de
investimento.
Vizinhanças desafiantes
A crise provocada pela resposta política à pandemia do COVID-19, ainda sem profundidade e
dimensão conhecidas e o novo ciclo de crise com a Guerra da Ucrânia
Mas é verdade que, face aos outros países europeus, o desempenho da economia portuguesa foi
fraco - não crescemos tanto e divergimos da média europeia, estando até abaixo desse médio nos
padrões de qualidade de vida
-Promoção da competitividade e da internacionalização - elementos distintivos face ao passado,
partidos de uma situação económica e social (de retrocessos em relação aos níveis de emprego,
crescimento, investimento alcançados, pela economia portuguesa, durante o período em que
efetivamente convergiu no espaço da UE; e onde dimensão do desemprego resulta de uma
combinação especialmente adversa de insuficiência da procura e de insuficiência da rentabilidade
dos projetos e da confiança dos investidores); pelo que importa (construir uma estratégia de
recuperação, reestruturação e mudança e não adaptação e modernização, complexidade e
diferenciação, com determinação de focos de investimento)
Em 2015 - pico da crise das migrações/refugiados: pior crise de refugiados desde a 2a Guerra
Mundial, mais de um milhão de pessoas que pediram asilo, aos instrumentos iniciais de resposta
a crises ad hoc seguiram-se os progressos em áreas como a recolha e partilha de informação,
coordenação, liderança e reforço, mas a UE continua incapaz de construir mecanismos
sustentáveis resilientes aumento a tensão entre os parceiros europeus sobre o acolhimento de
migrantes e a partilha de encargos.
Uma economia ‘a meio’ de uma transição longa para um novo paradigma competitivo, imposto
pela concorrência acrescida nascida da aceleração da globalização, pelo alargamento da UE e
pelo regime macroeconómico da UEM
Vulnerabilidades: insuficiente domínio dos fatores de competitividade, reduzido número de
polos empresariais com capacidade estratégica, deficiências no sistema de ensino/
qualificação recursos humanos
Na economia:
- a disrupção dos modelos económicos e de negócio
- o impacto no emprego
Na política:
- a revisão dos mecanismos democráticos no mundo digital, o escrutínio permanente VS
consulta periódica
- O desafio fundamental à democracia, do benéfico global da democracia ao benefício pessoal
(ou pelo menos o equilíbrio de benefícios, mesmo que em baixa)
- Os novos temas globais transversais, a sustentabilidade ambiental, a transição climática, o
envelhecimento e a equidade social
Na segurança:
- a necessidade de recuperar o sentimento de segurança, a noção de perda de controlo do seu
próprio destino, a impotência face à tecnologia e realidade globalizada, assegurar tranquilidade
às pessoas
- Novos conceitos de guerra, a disrupção da sociedade por via da tecnologia, a forma mais fácil
e mais barata de guerra
- A questão fundamental de como garantir segurança física, económica e identitária, pode a
democracia garantir essa segurança? Como? A exigência de adaptação das instituições sob pena
do seu desaparecimento
União Europeia é a designação oficial de uma organização internacional criada nos anos 50 do
século XX. Nem sempre se chamou assim. Inicialmente foi constituída por “Comunidades” e
designada como tal: a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) – criada pelo tratado
de paris, depois a Comunidade Económica Europeia (CEE) – criado pelo 25 Março 1957 (Tratado
de Roma e a Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA), todas criadas nos anos 50, eram
as Comunidades. Com o tempo, as Comunidades foram dotadas de um corpo institucional único,
uma presença internacional comum e, já́ nos anos 90, com o Tratado de Maastricht, um chapéu
comum, a UE.
Com a CECA passou a ser possível a livre circulação de ferro, aço e carvão e o desenvolvimento
de uma política para o desenvolvimento da indústria siderúrgica, entre os países intervenientes
(França, Alemanha, Itália e os Benelux).
Em 2002, a CECA deixou de existir, por se ter concluído o período de 50 anos previsto pelo
respetivo Tratado (era a única das três Comunidades com um tempo de vida previamente
estabelecido). As duas restantes Comunidades mantiveram-se até à entrada em vigor do Tratado
de Lisboa, em 1 de dezembro de 2009, e nessa data deram oficial e formalmente lugar à União
Europeia, tendo desaparecido dos tratados a designação "Comunidades".
A comunidade tinha objetivos: a CECA visava a gestão comum dos recursos do carvão e do aço,
a CEEA a dos relacionados com a energia atómica e a CEE a integração pelo comércio, através
da construção de um mercado comum. Com o passar dos anos – e as sucessivas revisões dos
tratados originais – o horizonte da unificação europeia alargou-se, abarcando sempre novos
domínios, estabelecendo novos objetivos e políticas.
A designação “construção europeia”, muito usada para identificar este processo, é bem o espelho
da sua permanente evolução, aquilo que muitos designam de “aprofundamento”.
Na prática, a União Europeia e em particular por força dos domínios em que opera e dos seus
princípios fundadores, é um lugar de confluência de muitos saberes e ciências, da economia ao
direito, passando pela filosofia, as relações internacionais ou a ciência política.
A União Europeia é uma realidade indiscutível, com mais de 30 anos. Sendo considerado uma
realidade indiscutível, esta não deixa de gerar discussão e posta em causa. Não há década que não
tenha havido oposição a este projeto de partilha de poder entre os estados soberanos.
A criação da UE deu-se num período de grande perturbação mundial com epicentro na europa:
fustigada por seis anos de uma guerra total e devastadora, despoletada apenas 21 anos depois da
que devia ter sido (e não fora) a Guerra para acabar com todas as guerras, instalou-se também no
continente uma nova divisão: o bloco comunista liderado pela URSS de um lado, os países
ocidentais do outro.
A ideia de uma união entre os países do velho continente, como solução para o estado de quase
permanente guerra civil em que a Europa vive, é muito antiga. Defenderam-na políticos, filósofos
e pensadores.
O artigo estruturante nesta matéria é o 6º do TUE que, remete a Carta dos Direitos Fundamentais
da UE, reconhece os direitos, liberdades e princípios por ela enunciados e afirma a sua
obrigatoriedade. A Convenção Europeia dos Direitos do Homem é igualmente uma fonte do
direito comunitário, sendo os direitos por ela garantidos, bem como os que resultam das tradições
constitucionais dos Estados- membros, parte do direito da União.
Democracia é um dos princípios principais para adesão a união Europeia, nenhum país pode ser
membro da União se não for uma democracia, formal e substancialmente, e respeitar os princípios
democráticos e os valores europeus (critério político de adesão, isto é, a União promove a
democracia e, em particular, o respeito pelos direitos fundamentais no mundo, desde logo no
âmbito das relações e acordos que estabelece com países e organizações de todo o planeta.
Depois da adesão, e é esta a segunda dimensão referida, deve manter-se o respeito pelos valores
estabelecidos no mencionado artigo 2º do TUE. A possibilidade de verificação de uma “violação
grave e persistente” desses valores, podendo levar à suspensão de alguns direitos do Estado
prevaricador, em particular o de voto.
Já que não há nenhuma provisão que claramente as estabeleça sanções – para além da referida
suspensão do direito de voto -, em particular no que respeita ao acesso aos fundos, que alguns
responsáveis e especialistas consideram poder ser igualmente suspensa.
Para proteger a utilização do orçamento da União, que as instituições aprovaram, no final de 2020,
um regulamento a prever a condicionalidade da atribuição dos fundos europeus caso um Estado-
membro viole as regras do Estado de Direito. Muito contestado por alguns países.
Em 2017 que, a Comissão europeia ativou o procedimento previsto nestas normas, contra a
Hungria, seguindo-se um outro, em 2018, contra a Polónia. Nos anos 2020 e 21, uma das questões
mais ponderosas da política europeia, por representar uma fratura sem dúvida relevante – relativa
aos valores essenciais da própria União Europeia
O Tratado de Lisboa veio finalmente, a partir de 2009, estabelecer exatamente quais os termos
dessa repartição. Se as decisões da União pudessem ser modificadas ou anuladas por um Estado-
membro seria impossível fazer avançar a construção europeia. Por essa razão tem tanta
importância, na tessitura dos princípios, o primado da lei comunitária, isto é, o princípio segundo
o qual as leis comunitárias primam sobre as nacionais, que não as podem pôr em causa: a não
existir esse princípio, todo o processo seria por definição um oximoro (isto é, uma impossibilidade
em si mesmo).
Uma das mais relevantes formas de manifestação desse poder é sem dúvida a emissão de regras
e normas universais; num mundo cuja interdependência é cada vez maior, essas regras tornam-se
indispensáveis, para além de requerem instituições que as administrem, julguem e punem
eventuais violações (ONU, Organização Mundial de Comércio (OMC) ou o Tribunal Penal
Internacional da Haia, por exemplo).
A UE não tem o hard power quem tem por exemplo os EUA (que consegue conciliar o soft power
tendo uma influência brutal em organizações internacionais e um exército capaz), sendo essa sem
dúvida uma das suas fraquezas - para alguns até uma deficiência estrutural, da construção
europeia: a sua política externa e de segurança é ainda essencialmente intergovernamental, sem
um efetivo "músculo militar"; assenta na soma das políticas (e dos orçamentos) de defesa dos seus
Estados-membros, cada um com a sua própria agenda nesse domínio.
Facto é que a União possui um poder efetivo. Ele expressa-se nomeadamente na forma como
influencia e afeta a política de outros países ou regiões por exemplo em matéria de direitos
humanos, entre outros. Poucas ou nenhumas entidades podem ignorar estas e outras regras,
atendendo à importância económica, dimensão e natureza do espaço europeu. Poucas ou
nenhumas, de facto, as ignoram.
Este "poder suave" ou softpower opõe-se ao poder coercivo ou hardpopower. Mas a União dispõe
de suficientes referenciais de atratividade e sedução para se poder reconhecer nela um poder real,
suave, mas eficaz. Retomando a definição de Joseph Nye, já citada - os recursos do soft power
são aqueles que produzem atração -, produzem atração os bens de um país, no sentido lato, a que
terceiros atribuem um valor, de tal forma que se sintam levados a alinhar com eles, imitando-os
ou tentando aceder-lhes; por exemplo, os seus princípios e valores; o estilo de vida; a cultura; as
normas jurídicas passíveis de impacto exógeno1; as expressões artísticas e as tradições; a presença
e influência nos mercados; o facto de ser um mercado apetecível, para investir ou fazer comércio;
a autoridade, que pode ser moral ou política, junto de outros países ou grupos.
Défice Democrático
Há uma questão que ciclicamente aparece e é posta em causa nas eleições europeias: a questão da
participação nas eleições, embora tenha havido um aumento de poderes do Parlamento, os países
têm vindo a diminuir a sua participação nas eleições.
O Défice democrático foi utilizado durante anos para se referir à perda de controlo sobre políticas
da esfera nacional para a esfera europeia – ainda para mais, quando o Parlamento europeu não
tinha os poderes que tem hoje (o que fazia com que muitas decisões não passassem (nem direta,
nem indiretamente) pelos parlamentos nacionais.
A ideia de que a transferência de soberania dos Estados nacionais para a esfera da integração
europeia alienou os cidadãos do processo democrático ganhou força e tornou-se o elemento
central da contestação em relação à UE. Pretende-se que as instituições europeias, pela sua
complexidade e distância dos cidadãos, carecem de legitimidade democrática.
É verdade que há uma enorme burocracia na União, que há muitos funcionários não eleitos (a
ganhar salários exorbitantes), há também uma grande complexidade no processo de decisão e
funcionamento das instituições (que nem sempre é percetível para a maioria dos cidadãos), os
comissários europeus são vistos como personalidades distantes da realidade nacional e também
não há um rosto da UE, a quem nos possamos dirigir sempre.
É verdade que é um processo em fase de aperfeiçoamento e demoroso, mas cada vez mais esse
“défice democrático” vai desaparecendo, sendo hoje em dia mais um “défice de conhecimento”
do que propriamente “democrático”.
O défice de informação entre os eleitores e os técnicos que contactam diretamente com a UE, por
um lado, e a base e estruturas partidárias por outro, aumenta o poder dos primeiros e cava um
fosse entre ambos. Mudança na estrutura do poder e do controlo da informação no seio dos
partidos políticos nacionais. Defrauda as expectativas dos militantes e dos eleitores
ideologicamente mais alinhados bem como daqueles que ainda apenas compreendem o exercício
da política à escala nacional
Principais problemas;
- Baixa participação eleitoral;
- Atitude ambígua dos partidos políticos nacionais e dos governos relativamente aos assuntos
europeus
- Distância entre eleitores e eleitos.
- Para a maioria dos cidadãos, as instituições europeias são distantes e difíceis de entender.
- A crise do euro reforçou a perceção de que decisões tecnocráticas podem sobrepor-se às -
escolhas democráticas dos Estados.
Direito europeu
O direito comunitário é uma realidade recente, com tantos anos, quanto leva a existência a UE.
Constituído pelo conjunto de normas e regras que criaram a União e pelas adotadas no seu âmbito,
aplicadas na ordem jurídica comum aos Estados-membros, dotada de personalidade jurídica
própria, inclui todas as fontes de direito pertinentes, originárias dessa mesma ordem ou por ela
assumidas como tal.
Os tratados fundadores, o direito originário ou primário, são a principal e primeira fonte desse
direito, nas suas versões sucessivamente revistas (sendo a mais recente a decorrente do Tratado
de Lisboa). Com base neles tomam-se anualmente centenas de decisões de direito derivado, sejam
elas diretivas, regulamentos, decisões ou outros atos de natureza jurídica que respeitam à vida dos
povos da União.
E o Tribunal de Justiça, na sua responsabilidade como instância que assegura uma correta
interpretação e aplicação desse direito, produz abundante jurisprudência (conjunto o das decisões
sobre interpretações das leis feitas pelos tribunais de uma determinada jurisdição (poder que
detém o Estado para aplicar o direito ao caso concreto, com o objetivo de solucionar os conflitos
de interesses e, com isso, resguardar a ordem jurídica e a autoridade da lei)), em si mesma fonte
de direito.
O direito da UE não é nada semelhante ao direito dos Estados-Nação, nem a outras organizações
dos tempos modernos.
Primado do direito europeu: Talvez o mais importante princípio fundador, formativo da União
e condição “sine qua non” da sua existência, seja o primado do direito europeu. Dele decorre,
simplesmente, que nenhuma norma nacional, qualquer que seja a respetiva natureza, seja ela
anterior ou superveniente, pode contrariar uma norma comunitária. Em caso de conflito entre elas,
a comunitária prevalece sempre sobre a nacional. A razão é simples: se não fosse assim, o direito
comunitário – e, como consequência, toda a construção europeia – não faria sentido, não seria
sustentável, não poderia sequer existir (ou persistir).
O primado é talvez o mais importante e indiscutível princípio do direito europeu, mas também de
enorme importância é o princípio da aplicabilidade/ do efeito direto. Significa que o direito
comunitário cria direitos e deveres diretamente na esfera jurídica das pessoas (a par das
instituições europeias e dos Estados-membros). Estes podem invocar diretamente normas
europeias perante jurisdições nacionais e europeias, não sendo necessário que o Estado-Membro
integre a norma europeia, em questão, na sua ordem jurídica interna.
Direito Originário
No caso da UE, o direito possui fontes que, em certos casos, replicam o que sucede nas ordens
jurídicas dos Estados; noutros casos, contudo, a origem e a especificidade desta organização
internacional determinam a existência de fontes específicas. É o que sucede com os tratados que
criam a União, que são tratados internacionais, na génese e nas regras que lhes respeitam
semelhantes à generalidade dos instrumentos desta natureza celebrados no âmbito do direito
internacional, embora específicos no escopo, nos princípios e no alcance.
Às normas que esses tratados estabelecem, e para as quais remetem e de que decorrem todas as
outras normas de direito comunitário, chama-se direito originário ou primário. Os tratados em
vigor são ainda os assinados nos anos 1950: o de Paris criou a CECA (extinta em 2002 por ter
expirado o respetivo prazo de duração de 50 anos), e os de Roma a CEE e a CEEA, em 1957. É
deles que se fala atualmente, ainda que profundamente alterados por todas as modificações
decorrentes das revisões constitucionais operadas em 1986 (Ato Único), 1992 (Tratado da União
Europeia ou de Maastricht), 1997 (Tratado de Amesterdão), 2001 (Tratado de Nice) e 2007
(Tratado de Lisboa).
O direito criado por estes tratados é, pois, o direito originário ou primário da UE, como tal
prevalecendo sobre as restantes fontes de direito europeu. Enuncia os princípios, estabelece os
objetivos e as políticas europeias, determina as bases jurídicas, os atos jurídicos a adotar pela
União, as instituições europeias (a sua natureza, composição, competências e funcionamento),
entre muitos outros aspetos.
NOTA: Nada pode ser proposto que não tenha base neste direito originário.
Um e outro constituem, no conjunto, o corpo legislativo que regula a vida da UE e das suas
instituições, bem como a relação com os Estados-membros e a respetiva jurisdição – são o direito
da União.
Ao instrumento jurídico que contém as normas do direito derivado europeu, permitindo à União
atuar, chama-se “ato jurídico da União”. São os atos jurídicos que contêm a tomada de decisões.
Até à entrada em vigor do Tratado de Lisboa, eram cerca de 15, com inúmeros “atos não típicos”
e 5 atos jurídicos de base: regulamentos, diretivas, decisões e recomendações/pareceres.
De aplicação generalizada, os atos jurídicos de base permitem “fixar” os elementos básicos das
normas que contêm, e desde logo o escopo, os efeitos jurídicos e os destinatários. Com a entrada
em vigor daquele Tratado em 1 de Dezembro de 2009 manteve-se a designação de regulamentos,
diretivas, decisões, recomendações e pareceres, e o número de atos jurídicos “atípicos” foi
drasticamente reduzido.
Aos referidos atos jurídicos nunca se chegou a chamar aquilo que, por analogia com a
generalidade dos direitos nacionais, parece lógico: leis ou decretos-lei. Isto morreu por terra, com
a não aprovação da constituição europeia. Apesar disso, o TL representa uma evolução clara nesta
matéria, desde logo com uma inédita separação entre atos legislativos e não legislativos.
Ficou para o fim uma das fontes mais importantes: as decisões tomadas pelo Tribunal de Justiça
da UE no âmbito da sua atividade interpretativa do direito comunitário ou europeu. É a célebre
jurisprudência comunitária, fonte de uma parte substancial desse direito.
No caso da UE trata-se de saber quem faz o quê e de que forma se reparte o poder na relação entre
a União e os seus membros; que competências em concreto continuam a ser nacionais e quais as
que transitaram para a esfera europeia. Atualmente, os tratados (antes deles a doutrina e a
jurisprudência), estabelecem três tipos de competências: as exclusivas da UE, as partilhadas entre
esta e os Estados-membros e as de apoio, coordenação ou completude das ações nacionais.
Ao exercer as competências que lhe são atribuídas pelos tratados, as instituições europeias devem
igualmente respeitar algumas regras, que visam evitar a utilização abusiva, desproporcionada ou
sem sentido dessas competências. Assim, ao exercício das competências atribuídas à União
aplicam-se princípios fundamentais do direito europeu, em particular a proporcionalidade e a
subsidiariedade, explicados mais abaixo nesta lição.
De reter que só se põe a questão (dos limites do exercício das competências da União) no caso
das competências partilhadas. Isto porque, nos restantes casos, ou não há limite ao exercício das
competências pela UE, sendo os domínios em causa da sua competência exclusiva ou, pelo
contrário, as competências em questão pertencem inteiramente aos Estados-membros, cabendo à
União complementá-las.
Cidadania Europeia
A cidadania que nos interessa é essencialmente a que respeita à pertença a uma entidade política
ou a uma comunidade alargada. Implica ela “que o Estado conceda a todos aqueles que estão sob
a sua jurisdição, uma equitativa igualdade de direitos políticos e civis, sem discriminação.
A cidadania é um estatuto aplicado a “todos os que estão sob a jurisdição do Estado”, isto é,
alargada para além do círculo da nacionalidade. Não é assim na generalidade das legislações: os
nacionais tendem a beneficiar de um número acrescido de direitos, sendo imposto aos restantes
habitantes do território (da jurisdição) um conjunto suplementar e específico de deveres e não
lhes são reconhecidos – pelo menos de forma genérica – os direitos atribuídos aos cidadãos
nacionais. Recorde-se, por outro lado, que a atribuição da nacionalidade varia em função de
critérios muito distintos de país para país, em função de considerações de natureza ideológica,
conforme se baseie nomeadamente no jus soli ou no jus sanguini.
Numa ótica de complementaridade, vai-se consolidando uma lógica simples: se aos nacionais dos
diferentes Estados-membros, enquanto tal, é atribuído um estatuto de cidadania (nacional) dotado
de direitos, deveres e garantias, então a pertença a um espaço alargado – o europeu –, que implica
por natureza novos direitos e garantias (e potenciais deveres, ainda não concretizados), deverá ter
implicações semelhantes; isto é, deverá assentar num estatuto da mesma natureza, embora
atendendo necessariamente às distintas realidades envolvidas.
O exemplo mais claro é a livre circulação: respeitando a todos os cidadãos dos Estados- membros,
é um direito ipso facto da integração europeia; da pertença à UE decorre, portanto, um estatuto
dotado de direitos (de circulação) que se acrescenta àqueles de que o cidadão pé titular por força
da respetiva nacionalidade. É justamente o reconhecimento deste novo estatuto que ocorre
aquando da adopção do Tratado de Maastricht, num novo artigo 8º. Os direitos de proteção
genérica incluem protecção consular e diplomática: um cidadão europeu tem o direito de se dirigir
e receber protecção por parte de embaixadas ou consulados de um país da UE que não o seu, em
qualquer país terceiro em que o Estado de que é nacional não disponha da sua própria
representação.
- Actualmente está vigente a diretiva 2004/38/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29
de abril de 2004, relativa ao direito de livre circulação e residência dos cidadãos da União e dos
membros das suas famílias no território dos Estados-Membros (alterado pela última vez em 2011)
O atual artigo 20º TFUE postula os dois princípios fundamentais da cidadania europeia: ela
complementa e não substitui as nacionais; e são seus titulares os nacionais dos Estados-membros
da UE, o que significa que não é possível obter a cidadania europeia por outra via (por exemplo,
requerendo-a); a sua obtenção decorre da mera nacionalidade de um país membro da União. Por
outro lado, um Estado-Membro não pode recusar a qualificação de um determinado sujeito como
nacional de um outro Estado-Membro recorrendo à sua legislação, já que nessa matéria apenas
conta o cumprimento das regras estabelecidas pela legislação da União.
Para além disto, a cidadania mais ativa permite a prática de petições europeias, ao nível europeu;
e recorrer ao Tribunal de Justiça, aquando de uma violação da lei, tendo o direito de obter resposta
na nossa língua.
Como se refere acima, um estatuto desta natureza inclui direitos, deveres e garantias. Os direitos,
como os deveres, são de ordem muito diversa: podem ser políticos, sociais, económicos ou de
participação cívica. As garantias consistem essencialmente na proteção que os sistemas nacionais
de justiça asseguram aos cidadãos, nomeadamente contra a arbitrariedade da própria
administração.
O estatuto de cidadania europeia prescreve direitos claros (como veremos adiante), não refere
deveres (com a excepção do dever genérico de respeitar a lei europeia), havendo igualmente (e
crescentemente, revisão de Tratado após revisão de Tratado) garantias claras e uma estrutura
jurisdicional (e não jurisdicional) à disposição dos cidadãos.
NOTA: A cidadania europeia permite-nos fazer petições ao parlamento europeu e o direito de nos
dirigirmos aos órgãos e instituições da EU na nossa língua e de nos responderem na nossa língua.
Podemos também “circular e permanecer” pelos países da União Europeia.
REPRESENTAÇÃO DE PORTUGAL
Os deputados não falam em nome de Portugal, mas dos portugueses e dos seus eleitores. Em 2019,
apenas 38% dos eleitores votaram. Mas, ainda assim, os deputados existem e, muitas vezes,
recebem indicações que não coincidem com o interesse nacional.
Para além disto, o propósito das instituições europeias é o compromisso. O Concelho tem 27
Estados-Membros representados, com a missão de proporcionar o direito nacional; e o Parlamento
tem 8 grupos de trabalho (7 GRUPOS PARLAMENTARES de índole política), com o objetivo
de assinar acordos, definir política externa, etc,
O conselho é ainda um órgão particular, pois não tem membros permanentes. É constituído por 1
presidente que muda e roda de 6 em 6 meses. É o presidente que marca o ritmo, as agendas e
garante o consenso entre os Estados-Membros. É o mediador (imparcial), planeando e presidindo
as reuniões.
É importante manter a capital informada (via MNE) e tomar parte no diálogo sobre as políticas
Agir de acordo com as instruções da capital (via MNE) Construir e manter redes
Missão:
- Representar o Estado português nas diversas instituições da UE e assegurar a defesa dos seus
interesses nos vários níveis e âmbitos de decisão
- Os funcionários da REPER participam ativamente nos múltiplos grupos de trabalho do
Conselho da UE, onde em estreita cooperação com a administração portuguesa, veiculam e
defendem as posições nacionais
- As matérias mais importantes são discutidas no Comité de Representantes Permanentes
(COREPER I, II e COPS) antes de serem inscritas na agenda do Conselho de Ministros e ou a do
Conselho Europeu que reúne os Chefes de Estado ou Primeiros-Ministros dos Estados- membros
REPER - estrutura:
- Representante Permanente (REPER)
- Representante Permanente Adjunto (RPA)
- Representante Permanente no Comité Político e de Segurança
- E em circunstâncias de funcionamento normal entre 40 e 50 conselheiros técnicos e de 3’ a 40
administrativos
Principais funções:
- Coordena e prepara os trabalhos das diversas formações do Conselho - Assegura a coerência
das políticas da UE
- Negoceia acordos e compromissos
Formação do COREPER:
COREPER I e COREPER II
As duas formações se reúnem todas as semanas
Distribuição de dossiers:
O COREPER I prepara os trabalhos de 6 formações do Conselho: Agricultura e Pesca;
Competitividade; Educação, Juventude, Cultura e Desporto; Emprego, Política Social, Saúde e
Consumidores; Ambiente e Clima e Transportes, Telecomunicações e Energia
Os trabalhos do COREPER I são preparados pelo Grupo Medem
Esse grupo informal ajuda a esboçar uma primeira ideia das posições que as delegações dos
vários Estados-membros irão assumir na reunião do COREPER
O que fazer?
- Clareza na articulação da informação de várias fontes
- Concisão na comunicação de mensagens centradas no essencial
- Rapidez na compreensão que o tempo é escasso e, portanto, deve-se agir em conformidade -
Ser construtivo e adoptar uma abordagem positiva
- Ser capaz de criar redes e construir pontes
- Ser consistente com as instruções nacionais
Instituições Europeias
- Comissão Europeia
- Conselho da União Europeia
- Parlamento Europeu
- Conselho de ministros
- Tribunal Justiça da União Europeia
- Conselho Europeu
- Tribunal de Contas
Importante: A Comissão não decide, a Comissão propõe (há uma diferença) e os seus membros
são eleitos pelos deputados ao Parlamento Europeu, perante quem respondem (à semelhança do
que acontece nos sistemas políticos da generalidade dos países democráticos).
Ao conjunto de três instituições em concreto – PE, Conselho e Comissão, e a que haverá cada vez
mais que juntar o Conselho Europeu - usa chamar-se “núcleo da decisão” (por ser no respetivo
concerto que é tomada a generalidade das decisões legislativas), ou ainda “instituições da
decisão”. O PE e o Conselho, em conjunto, constituem a “legislatura”, assistida pela Comissão,
que detém o poder da iniciativa legislativa (e crescentemente pelos parlamentos nacionais).
Parlamento europeu
É único órgão diretamente eleito pelos cidadãos europeu, sendo que os representa. Os deputados
são eleitos numa base nacional e, posteriormente, são agrupados por afinidades políticas em
grupos políticos transnacionais, os quais desempenham um papel fundamental no funcionamento
da instituição, participando das instâncias dirigentes e repartindo entre si as funções e relatórios
das comissões parlamentares.
O Conselho Europeu tem cada vez mais poderes concretos. É o conselho europeu que nomeia o
presidente do conselho, o alto representante dos negócios estrangeiros, o colégio de comissários,
etc. O Conselho Europeu tem grande importância acima de tudo a nível da nomeação.
Representam os países de forma vincada e assertiva. Esta instituição tendencialmente pensa a
médio prazo.
Funções do Conselho:
exerce poder legislativo – regra geral, conjuntamente com o Parlamento Europeu e no
seguimento de propostas apresentadas pela Comissão;
coordena as políticas económicas gerais dos Estados membros;
define e aplica a política externa e de segurança comum da UE, com base nas orientações
do Conselho Europeu;
Atos do Conselho
regulamentos, diretivas, decisões
ações comuns, posições comuns
recomendações, pareceres, conclusões, declarações, resoluções.
Votações no Conselho
Todos os debates e votações são públicos.
Para serem aprovadas, as decisões requerem habitualmente uma dupla maioria: 55% dos países
(o que com 28 países da EU significava 15 países) que representem pelo menos 65% da população
total da EU.
Para bloquear uma decisão, são precisos pelo menos, 4 países (que representem, pelo menos 35%
da população total da EU).
Exceção – Quando estão em causa temas sensíveis, como é o caso da segurança e assuntos
externos ou da fiscalidade, as decisões do Conselho têm de ser tomadas em unanimidade.
COREPER
O COREPER é a principal instância preparatória do conselho. Todos os pontos da ordem do dia
do Conselho (exceto algumas matérias agrícolas) têm primeiro de ser analisadas pelo COREPER,
salvo a decisão em contrário do Conselho.
A COREPER não é um órgão de decisão da EU e qualquer acordo por ele alcançado pode ser
posto em causa pelo Conselho, que é o único a poder tomar decisões. Cada Estado-membro dispõe
de uma representação permanente junto da União (Reper), com estatuto de embaixada, liderada
pelo "representante permanente" (embaixador ou chefe de missão).
O trabalho do Conselho assenta nos chamados órgãos preparatórios, desde logo os Comités
especializados que são entidades em geral permanentes criadas por um acto formal, seja do
próprio Conselho, seja dos Tratados, por vezes dotados de um Presidente e de um grupo de
funcionários; existem assim os Comités da Educação, orçamental ou Político e de Segurança,
entre cerca de 20 órgãos similares. Há além disso os grupos de trabalho, osorking groups, criados
pelo Coreper e em que técnicos do Conselho e funcionários nacionais reúnem, em reuniões
técnicas dos diferentes grupos de trabalho temáticos, alguns respeitando a um sector específico e
reunindo-se periodicamente, outros constituídos temporariamente para um tema concreto.
A todos estes órgãos preparatórios cumpre preparar o trabalho do Coreper propriamente dito, que
reune semanalmente os representantes permanentes de cada país para preparar os dossiês que o
Conselho de Ministros tem na respectiva agenda (em geral, propostas apresentadas pela
Comissão).
Comissão Europeia
Guardiã dos Tratados, instituição mais original de todas quantas foram criadas no âmbito da
União, a Comissão Europeia (a Comissão) é um pouco o coração do processo de integração e,
provavelmente, a instituição europeia mais supranacional.
Cabe-lhe assegurar o cumprimento cabal dos objetivos definidos pelo direito originário da UE, e
os comissários, no exercício do seu mandato, são totalmente independentes das orientações
nacionais.
A eleição do Presidente da Comissão é muito, muito complexa. E tem mudado nos últimos anos.
Resumidamente:
1. Após as eleições europeias (ou seja, para o Parlamento Europeu), o Presidente do Conselho
Europeu consulta o Parlamento Europeu em relação a um possível candidato para a presidência
da comissão (Spitzenkandidaten) – 1 por partido.
2. No seguimento da consulta, o Presidente do Conselho Europeu propõe um candidato ao
Conselho Europeu.
3. O conselho Europeu decide sobre a proposta de candidato (por maioria qualificada).
4. Eleição do Presidente da Comissão pelo Parlamento Europeu (por maioria).
A Comissão tem o exclusivo, quase absoluto, da iniciativa legislativa, que consiste em elaborar
as propostas de atos legislativos para apreciação e decisão do PE e do Conselho, uma
originalidade e uma competência de grande importância. Entre outras funções.
É a comissão que pode chamar os Estados e as empresas a juízo perante o Tribunal de Justiça da
UE.
Além disso, a Comissão representa a União externamente, com exceção da política externa e de
segurança (que cabe ao conselho europeu).
Propostas da Comissão são apresentadas, normalmente às quartas-ferias, porque é o dia em que
os Comissários se reúnem
As propostas têm de estar de acordo com as ideias/objetivos da UE
A Comissão está sempre presente nas reuniões do Conselho e do Parlamento pois é quando
apresenta as suas propostas
O percurso que uma iniciativa faz tem dois cariz (pelo Conselho e pelo Parlamento) Há, pelo
menos, 200 grupos de trabalho a formar propostas
Proposta da Comissão Europeia é publicada são agendadas reuniões dos grupos de trabalho do
Conselho
E as presidências definem a ordem de prioridades e definem a resolução das propostas
No Conselho, ritmo com que a proposta da Comissão é discutida é determinada pela presidência
No Parlamento, os grupos políticos tem quotas e são atribuídos relatores ou co-relatores
O percurso da proposta da Comissão passa por fases diferentes de acordo com as instituições
que estão a ser avaliadas.
Quem propõe é a Comissão, mas ela não adota nada, a não ser que a própria legislação obrigue
isso
Partidos Políticos
A verdade é que a UE introduziu uma nova forma de fazer política, através da europeização da
política, mais evidente nos partidos políticos e instituições europeias.
Antes, os partidos políticos assentavam e atuavam a nível nacional, mas agora operam a uma
escala supranacional, nomeadamente ao nível da UE.
Segundo Jorge Miranda, um partido político é uma “Associação de carácter permanente,
organizada para a intervenção no exercício do poder político, procurando com o apoio popular a
realização de um programa de fins gerais.”
Mas a verdade é que os partidos nacionais tiveram e apresentam dificuldades em acompanhar os
deputados da UE, devido a uma má coordenação da atividade da delegação nacional na UE (leva
a uma maior independência dos eurodeputados).
Por outro lado, na UE, verificou-se um défice de informação dos quadros partidários e de
militantes, traduzido na dificuldade da coesão dos partidos; na mudança na estrutura de poder;
um ambiente focado no consenso; e uma distância entre os eleitores e os eleitos.
No entanto, com a europeização, os partidos ganharam mais liberdade e responsabilidades. Assim,
não só os partidos interagem com a União e com as instituições europeias, como a maioria dos
decisores políticos na UE, provêm de partidos nacionais – estes contribuem para a ligação do
eleitorado e da união.
Nas eleições, os partidos deixam de ser partidos e passam a ser grupos. O primeiro critério para
agregação dos partidos é a sua afinidade.
Conclui-se que os partidos políticos, ao nível europeu, contribuem para uma consciência política
europeia. São, por um lado, os partidos nacionais e os partidos europeus.
Esta realidade tem uma pré-história, em 1979. Anos antes, os partidos começaram-se a agregar.
Há uma primeira vaga de federação destes partidos que vai continuando e começa a existir uma
consagração em alguns instrumentos. Mas, hoje em dia, é uma realidade existente.
A europeização da Europa, faz com que os governantes sintam necessidade de falar em conjunto,
antes das reuniões. O pessoal político é essencial. É uma realidade compósita, muito diferente das
dos partidos nacionais, pois não se pode procurar neles programas detalhados. Existe, apenas,
uma legitimidade derivada, compósita.
A DEMOCRATIZAÇÃO E A UE:
A europeização foi vista como uma exportação para os outros países, uma tentativa de moldar os
outros países do mundo – uma visão baseada nos fenómenos de colonização e na ideia de que a
Europa tinha uma missão civilizacional e nacional. Assim, a europeização significava trazer os
outros países ao nível europeu, que perdurou nos séculos XIX e XX.
Devido à abolição de fronteiras, por exemplo, verifica-se uma mudança das identidades e
mentalidades europeias: antes, tendencialmente, as pessoas sentiam-se mais nacionais que
europeias, no entanto, depois começa a existir uma difusão de hábitos do ponto de vista social e
hábitos de cidadania, uma padronização de páticas. Assim as diferenças têm-se vindo a estreitar.
Um dos elementos políticos desta visão de europeização foi a europeização como alargamento,
isto é, a europeização devia ser entendia no modo como, os países que entravam, se habituariam
ao estilo europeu.
Mas a verdade é que a europeização vai para lá do modo como os países se adaptam, é preciso ter
presente que a UE é um sistema próprio, tal como a europeização, que deve ter em conta a criação
de um sistema político próprio, observando a sua interação com os sistemas nacionais.
Para além disto, é preciso uma adaptação corrente desta nova realidade, uma vez que as leis
europeias se e correspondem aplicam a mais de 70% da legislação em vigor. Denota-se um a
adesão a objetivos comuns, a cedência de certos países individuais, em prol de um caminho
comum que pode ser benéfico. Os Estados-membros já não veem a política externa como um
elemento reservado, na qual não há apenas um país, mas sim um conjunto de países.
Sem essa dimensão transnacional, o partido político enquanto tal, não consegue perceber o que
faz e geram-se inseguranças, dúvidas e receios por parte dos eleitores, pois não veem os seus
desejos e pedidos representados na UE, o que não acontece a nível nacional.
Assim, é importante denotar que o fator europeização veio mudar as regras do jogo e que o partido
político é essencial neste novo modelo da ação partidária, mesmo apesar das mudanças sofridas
com a europeização.
Para além disto a soberania não pode ser entendida da mesma maneira, pois há, agora, uma
partilha de soberania, num jogo de custo-benefício, em que os estados que se vincularam a esta
jogo político, consideraram ter mais a ganhar que perder (Para alguns, essa partilha é benéfica a
resulta em benefício de todos).
A verdade é que a construção europeia se baseou na criação do mercado único, da zona monetária
(com imperfeições). Durante algum tempo, as coisas foram vistas como quem não fosse favorável
a uma maior integração, era um eurocético, alguém que não poderia participar no debate.
A ideia entra aqui na dispersão de autoridade, devido à fronteira no modo de público e privado,
com o envolvimento dos sindicatos em ambas as partes. Isto faz com que a autoridade e o
exercício político sejam mais complexo e mais identificável. Existe de facto uma negociação
multinível.
A nível nacional, ao princípio, não era relevante, para quem estava em Lisboa, ter representação
na UE. Mas a verdade é que as empresas perceberam que é importante manter essa ligação a
empresas de lobbing. Existem também várias empresas que “acordam” muito tarde.
No entanto, a europeização não se ficou pelos impactos nos estados-membros. Teve também um
impacto intergovernamental noutros governos:
- através dos apoios da UE, um governo exterior passou a adotar um determinado comportamento
(por via de incentivos externos, como acesso ao mercado, etc.
- Esta era também uma forma de socialização, em que a União e os seus estados-membros ensinam
coisas aos outros estados - aprendizagem intergovernamental, que beneficiava estados terceiros.
Mas para além do impacto direto, este impacto pode ser indireto: os estados-membros, podem
querer adotar a mesma política da EU, ou pelos benefícios ou para imitar a União Europeia e,
inclusive, a União Europeia ajuda ONG´s, dando-lhes recursos de modo a possam contrapor ações
contra os estados, podendo também ser feita pela socialização.
A nível nacional, este regime foi bem adotado pela União Europeia. Portugal não abdicou da
pretensa atlântica, não saindo da NATO. Essa pertença estratégica manteve-se. Havia que se
integrar numa área económica. Assim, a europeização para Portugal tem tido um consenso, na
medida em que a grande maioria dos eleitores defendem o processo de construção europeia.
Por fim, no entanto, é importante referir que valia a pena que a europeização se desse mais num
padrão mais cultural, isto é, traduzido numa comunidade cultural que nos distinguisse, pois,
assim, seriamos capazes de viver e aproveitar esta pertença de forma mais profunda e vantajosa,
partindo da ideia de que o nosso estado é muito antigo.
Seria importante que o estado português tirasse mais partido desta dinâmica, através de uma
participação mais ativa, num sistema político original.