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PTUE – Frequência

PORTUGAL – Quanto ao espaço!!

É importante o multilateralismo porque somos pequenos. Portugal é um pais ocidental e euro-


atlântico, cujo a história o coloca como sendo multilateralismo. Portugal defende uma união forte
dos estados.

As condições geográficas como elemento/fato na origem, na evolução, no desenvolvimento, na


afirmação e no futuro de Portugal. Dimensão, localização e escolha entre centralidade e periferia.
O espaço e tempo, as nossas condições geográficas têm desde a fundação da nacionalidade, a
questão da nossa existência.

Os fatores estruturais do poder (mar/terra/ar)

A terra - em terra nós temos a imensurável relação com Espanha, isto é, é a única fronteira
terrestre, com a particularidade de Espanha ser maior. O centro da europa faz-se no nordeste da
europa, portanto para acedermos ao centro é necessário acedermos Espanha.

O mar - a dimensão e localização da Zee/ PC; o polígono (de língua portuguesa) do atlântico.
Uma das maiores da europa, contendo 200 milhas e apenas só nós podemos pescar, mantendo
assim uma exclusividade. Plataforma continental estendida - vem de uma convenção e desde
então deu-se o pedido de soberania sobre as plataformas pretendidas. Se os países provarem que
existe .. Para lá das suas plataformas podem reclamar sobre os mesmos.

O ar/espaço - ciberpresença - tecnologia, fluxos de informação e conhecimento.

Dimensão e localização:
- Estabilidade secular/instabilidade de fronteiras no século XX;
- Reduzida dimensão física, diversidade de paisagens, clima temperado;
- País arquipelágico - um triângulo no Atlântico;
- Um país marítimo, sem profundidade estratégica que permita o ‘amortecimento’ de ações
militares contra o nosso território.

Uma única fronteira terrestre com uma potência continental de grande dimensão,
geobloqueante. Uma relação estreita com a Europa continental por via da UE
Um espaço marítimo de grande dimensão (ZEE com dimensão 18 vezes superior à terrestre),
com configuração triangular, permite acesso direto e fácil a um mar aberto.

Uma relação histórica e estratégica relevante com o Reino Unido e EUA. Um espaço marítimo
prolongado histórica e culturalmente no Atlântico-Médio, com concretização político-estratégica
na CPLP. Posição central em relação ao Atlântico e aos corredores marítimos e aéreos, com enfâse
no controlo de rotas intercontinentais que ligam a Europa à África e à América do Sul, bem como
o Atlântico Norte ao Mediterrâneo. Elevado acesso a internet no litoral e grandes centros urbanos,
menor e serviço deficiente no interior e regiões mais isoladas, cria desigualdades no território.
Ligações aéreas estratégicas a cidades europeias, África, Brasil, EUA e Reino Unido
Responsabilidade de garantia de operações de busca e salvamento - todo o espaço aéreo sobre o
controle de tráfego de Portugal

Em síntese: Portugal é um país marítimo, com vulnerabilidades decorrentes da dimensão e


localização do território, mas também tem potencialidades a explorar. A necessidade de conjugar
os fatores físicos com os restantes vetores da geopolítica (demográfico e social, cultural e
histórico, político e ideológico, etc.
Portugal, a Europa e a UE
O que é ‘Portugal’ ou ‘ser português’? Partilha de cultura, língua, história, etnia
Ser e representação: Fernando Pessoa

- Há 3 espécies de Portugal:
1. Começa com a nacionalidade. Português típico, forma o fundo da nação, trabalha obscura e
modestamente em Portugal e em todo o mundo. Está desde 1578 divorciado dos governos e
abandonados por todos eles, existe porque existe, e por isso a nação também
2. O que não o é - aparece com a invasão mental europeia do século XVIII (Iluminismo), que se
agravou com o constitucionalismo e se tornou completa com a República. Governa o país. Por
sua vontade é parisiense e moderno
3. O que nasce com o início das Descobertas, fez-se Império e foi-se embora, deixando alguns
continuamente a sua espera

Esses três tipos têm uma mentalidade comum, embora a usem de formas distintas com 3
características: predomínio da imaginação sobre a inteligência, predomínio da emoção sobre a
paixão e adaptabilidade instintiva

Centros históricos - mitos fundadores de Portugal (núcleo de múltiplos hábitos, comportamentos


e pensamentos que se agregam mutuamente formando uma unidade mental comum ou um registro
social próprio, uma ideia de si que permite a singularização de um povo no contexto das nações)

4. Espírito de cruzada e Descobrimentos. Predestinação, o anúncio de que a humanidade é uma


só, espiritual e fisicamente. Portugal como povo com forte personalidade espiritual com uma
missão que o ultrapassa, um destino providencial

5 Sebastianismo, a decadência pelas (más) influências europeias. Europa em modernização,


separa Estado de Igreja, impõe o direito romano faz renascer a cultura greco-romana e liberta os
espíritos para a revolução científica - um movimento e modernização de conhecimento e costumes
que bloqueia a ‘missão divina’ de Portugal de unificação espiritual da humanidade. É esse
movimento que trava a expansão portuguesa, e cerceia (com a Inquisição, que também
importamos da Europa) a liberdade de criticar e expressar livremente, uma característica profunda
do ser português. O sebastianismo emerge como expressão mental do desejo de restabelecer a
singularidade nacional no seu modo de vida e pensamento

Teixeira de Pascoais
O conceito de pátria na transição no século XIX para o século XX
Organizado a parti de dois conceitos subjacentes - carácter e raça
A “raça portuguesa” - elementos específicos que compõe a “alma lusitana!
- Sentimento lírico-poético de cariz religioso
- O ‘génio da língua’ expressa na saudade
- Independência religiosa do povo
- Lenda sebastianista
- As primitivas leis baseadas no costume regional

Uma resultante da paisagem do território e da fusão de povos que aqui se cruzaram: arianos e
semitas; paganismo e cristianismo - uma fusão que anima toda a história de Portugal e produz o
sentimento próprio da alma lusitana, a saudade (união emotiva e sentimental entre desejos dor,
convertidos em esperança e lembrança)

Portugal: Do pós-guerra à adesão

A 1ª República portuguesa é instaurada a 5 de outubro de 1910. Após vários anos de instabilidade


política, com lutas de trabalhadores, tumultos, levantamentos, homicídios políticos e crises
financeiras (problemas que a participação na 1ª Guerra Mundial contribuiu para aprofundar), o
Exército tomou o poder, em 1926.

Este período ficaria marcado pelo Estado Novo e durará até 1974.

Em julho de 1926 António de Oliveira Salazar assume a pasta das finanças, mas não lhe são
satisfeitas as condições que ele achava indispensáveis para o seu exercício, demitindo-se passado
13 dias. Em 1928, apos a eleição do general Óscar Carmona, Salazar reassume a pasta das
finanças, exigindo o controlo sobre as despesas e receitas de todos os ministérios. Satisfeita a
exigência, impôs forte austeridade e um rigoroso controlo de contas, com aumentos enormes de
impostos e criação de novos, adiamento de obras de fomento e congelamento de salários,
conseguindo um superavit, um "milagre" nas finanças públicas logo no exercício económico de
1928 – 29.

Salazar cria a União Nacional em 1930, visando o estabelecimento de um regime de partido único.
Em 1932 era publicado o projeto de uma nova constituição que seria aprovada em 1933 através
de um plebiscito popular direto. Com esta constituição, Salazar cria o Estado Novo, uma ditadura
antiliberal, anticomunista e antidemocrática.

Quando Salazar chega ao governo, Portugal estava na bancarrota devido à 1ª República, 1ª GM,
Golpe de Estado e a divida aos ingleses, Portugal tinha passado por um período de grande
instabilidade, que deu cabo das contas do país. Com a chegada de Salazar a situação financeira
portuguesa estabiliza. A partir dos anos 50, com a economia já estabilizada, dá-se a 1ª tentativa
sistematizada de industrialização em Portugal (através de planos de fomento, o desenvolvimento
da indústria assentou em 2 mecanismos: planeamento e protecionismo).

Após a segunda guerra mundial em 1945, o movimento da descolonização começa. As colónias


dos impérios lutam ao lado dos grandes impérios, mas com a promessa de que ganharão a sua
própria autonomia. Assim, todas estas colónias após se tornarem independentes entram também
na ONU. Há uma corrente dentro da ONU em que a partir do momento em que Portugal entra na
organização há uma pressão para largar as colónias e no fim da guerra fria, por pressão das duas
superpotências Portugal deveria largar as suas (por questões democráticas, expansão dos novos
impérios, alargamento das esferas de influência da América e da URSS). A pressão internacional
para a descolonização começa a intensificar-se nessa altura.

Portugal adere a custo ao Plano Marshall (relacionado com a OECE e OCDE) e é membro
fundador, também a custo, da NATO (1949), isto porque a agenda do Estado Novo era
maioritariamente unilateral (os outros países não viam com bons olhos a adesão de Portugal à
NATO, pois era o único que não era uma democracia). Adere mais tarde à ONU (onde esteve
“contrariado” até 1974) pois Portugal era um Império Colonialista.

Em Novembro de 1975, as forças democráticas fazem um contragolpe, impedindo o governo de


se alinhar com o bloco soviético, integrando o pacto de Varsóvia (juntamente com a URSS). E,
consequentemente, tenta-se convencer os EUA da importância de Portugal em se manter no bloco
ocidental, mas estes não estavam convencidos, devido à sua TEORIA DA VACINA. Do mesmo
modo que as vacinas ajudam a prevenir doenças, Portugal iria fazer o mesmo.

Portugal, agora sem colónias, é um país pequeno, pobre e de ignorantes. Um país no “cantinho”
da Europa, sem qualquer relevância na política internacional. Caso acontecesse qualquer risco
controlado ou se passasse para o bloco soviético, podia “estimular” os restantes países europeus
a ficar no bloco ocidental. Assim, após a crise da Cadeira Vazia, Portugal podia ser a solução para
“curar” o problema da construção europeia, da construção interna da CEE e fazer com que os
países ficassem no bloco ocidental.

Foi um momento de ruptura estratégica em que temos a oportunidade de decidir. Face a 74 era
necessários dar uma resposta estratégica. Do lado comunista, a resposta era obvia, do lado dos
democratas, não estava a correr muito bem, mas propusemos que havia algo mais que os
americanos não estavam a ver (Madeira e Açores) o que significava que a Europa ficaria
ameaçada dos dois lados (Teoria da Tenaz), sendo a Europa estrategicamente importante para os
americanos, não lhes convinha que esta ficasse sob ameaça. Os democratas portugueses
conseguiram reverter a opinião dos EUA neste caso.

Em 1960 é criada a EFTA (Associação Europeia de Comércio Livre) onde se encontram Portugal
e o Reino Unido (entre outros, sobretudo nórdicos). Portugal sempre teve boas relações com o
Reino Unido (sempre foi um dos principais parceiros comerciais dos portugueses).

O 1º pedido de adesão em 1962.

Em 1961, dá-se a eclosão da Guerra do Ultramar – Guerra Colonial: o período de confrontos


entre as Forças Armadas Portuguesas e as forças organizadas pelos movimentos de libertação das
antigas colónias — Angola, Guiné-Bissau e Moçambique – que dura até 1974, aquando do golpe
de Estado do 25 de Abril que colocou fim ao Estado Novo. A partir daqui (pós 2GM) surge todo
um movimento de independência das colónias europeias, que, inclusive, se tornam membros da
ONU, após a sua independência e “libertação” do domínio europeu.

Atos conducentes à adesão de Portugal à CEE:

Saldo positivo na balança de pagamentos, não deve dinheiro ao exterior. Sistema de


condicionamento industrial, mas ausente das grandes conferências internacionais que definem o
sistema internacional, mais tarde levam à evolução e descolonização.

Em 1973 o Reino Unido sai da EFTA e entra na CEE (não entrou mais cedo porque o Reino
Unido sempre viu com maus olhos perder a sua soberania para órgãos supranacionais (sempre
teve preferência por um modelo de cooperação invés de uma união). Portugal não adere logo à
CEE porque tinha na EFTA um dos seus principais parceiros (o Reino Unido) e porque não era
uma Democracia – com a saída do Reino Unido perde uma das 2 razões para não aderir à CEE
(só faltava ser uma democracia).

Em 1973 dá-se a 1ª grande crise petrolífera e, em 1975, o sistema económico internacional muda,
com a alteração do padrão-ouro para padrão-dólar. A economia internacional entra em crise e, em
1975 / 1976 dá-se a primeira ajuda económica da CEE a Portugal.

No território continental, os chamados retornados retornaram À metrópole, o seu peso rondou os


7%, o que em termos sociais e económicos representa uma brutalidade. Especialmente porque
quase todos regressam em idade activa, mas também crianças e idosos sem rendimento, ainda por
cima porque nas colónias a vida era muito melhor, mais avançada e livre do que no continente.
Para estas pessoas, tipicamente, vão-vos dizer que foi um choque total. Portugal teve de encontrar
vários recursos para acolher todos os retornados de um dia para o outro. Isto gerou uma
turbulência social, que veio acrescer à crise econômica nacional e internacional e à crise
estratégica. Portugal opta pelo bloco ocidental, opta pela democracia e por um modelo de
desenvolvimento económico capitalista. Era o quadro multilateral, onde cada estado era um
estado e respeitado como tal pelos seus pares.

Em 25 Abril 1974 – Golpe de Estado que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, numa ação
liderada pelo movimento militar MFA (Movimento das Forças Armadas). Até 1976 Portugal foi
comandado pelo PREC (Processo Revolucionário em Curso). E a partir daí por inúmeros
governos provisórios.

A longo prazo este período ficou conhecido como o processo de democratização do país que
consistia em 3 coisas: Desenvolver, Descolonizar e Democratizar.

Descolonizar

A pressão internacional para a descolonização começou a aumentar a com a 2ª Guerra Mundial,


onde o Reino Unido prometeu às colonias Britânicas que se lutassem ao lado da Inglaterra lhes
seria dada maior autonomia e eventualmente concedida a independência, levando a que muitas
outras colonias quisessem o mesmo. Mais tarde com a ONU, muitas colonias conseguem a sua
independência (começando a ser vistos com maus olhos todos os Estados que ainda possuem
colonias), Portugal começa assim a sofrer uma pressão constante por parte da ONU. Por fim, no
contexto da Guerra Fria, Portugal sofre interferência dos 2 blocos (das 2 superpotências) que
queriam aumentar as suas esferas de influência. Desta forma, EUA e URSS, queriam que Portugal
se “retirasse” desses territórios em África, pois ele pertencia à NATO e, não podia atacar
“territórios NATO”.

Democratizar

Entre 1974 e 1976 deu-se um período de (re)ponderação do alinhamento internacional de


Portugal. Após 1974 as forças militares lideraram o processo e o país, mas a partir de certa altura
começou a desmilitarização e começou-se a democratizar (num sentindo comunista – devido ao
PCP, Portugal queria na época um alinhamento com o partido comunista). Contudo a 25
Novembro de 1975 dá-se um contragolpe e as forças democráticas (PS, PSD e CDS que faziam
parte do Movimento Democrático Pluralista) conseguiram evitar o alinhamento com a URSS e o
pacto de Varsóvia, permitindo que se instaurasse em Portugal uma democracia pluralista e
constitucionalmente baseada num regime semipresidencialista e, economicamente, baseada numa
economia de mercado.

1979/ 1980 – 2ª Crise Petrolífera (Que levou a uma nova crise económica em Portugal e a mais
endividamento).

NOTA: Não esquecer que o escudo (moeda nacional portuguesa na época) não era uma moeda
internacionalmente aceite, tanto as nossas empresas como o Estado para comprar bens e serviços
tinha de comprar outra moeda e só depois é que podia finalizar a transação (isto acarreta uma taxa
de cambio – que era administrada pelo Banco de Portugal). Isto também levava a que houvesse
limitações à circulação de capitais (quer para o exterior, quer para Portugal) e que as empresas
não podiam vender/ comprar o que quisessem, pois, podia não haver divisas suficientes.

Qualquer exportação ou importação tinha de passar pela aprovação do banco de Portugal, se já
tivesse passado o limite tinha de se esperar pela próxima oportunidade. Fazía-se isso para
controlar as taxas de cambio, porque a gestão da quantidade de moeda a circular era relevante
para o Banco de Portugal porque assim controlava-se a inflação. Por outro lado, se isso acontece,
conseguimos também controlar os eventuais défices que se gerem na balança de transação.
Quando a economia entra em queda, o banco de Portugal pode emitir mais moeda o que faz com
que cada unidade valha menos e aumenta a inflação. Ou seja, o Estado pode também pedir
empréstimos à banca internacional, a divida publica aumenta, mas o problema deste mecanismo
são os juros, o limite

1980/ 1981 – A Banca Internacional deixou de emprestar dinheiro a Portugal, pois a divida era
tão grande (endividámo-nos a tentar equilibrar a balança de pagamentos com o exterior) que
começaram a pedir como garantia o ouro português (algo impensável).
1981/ 83 – Grave crise cambial (acumulação de défices elevados na balança de transações
correntes com o exterior desde início da década 80; necessidade de divisas para fazer face aos
défices – endividamento galopante coloca o país em risco de rutura cambial).

Portugal entra em Bancarrota em 1983.

9 Junho 1983 – A situação política e económica era tal, que tomou posse o chamado Bloco
Central, uma coligação entre PS e PSD (sendo Mário Soares 1º Ministro).

Recorreu-se, portanto, ao fundo monetário internacional (FMI). O governo português acordou


com o FMI uma agenda, uma política de curto prazo para resolver o problema da balança de
pagamentos portuguesa. Estre acordo implicou medidas duríssimas para Portugal, como por
exemplo:

- A desvalorização do escudo (para incentiva as exportações);


- Aumento da taxa de juro (como incentivo a que as pessoas/ empresas não gastem dinheiro –
incentivando as pessoas a poupar).
- Banco de Portugal limitou a autorização ao crédito bancário (desincentivando as pessoas a gastar
– diminuído desta forma as importações).
- Tenta-se aumentar as exportações (Reduzindo na única coisa que se pode reduzir diretamente
no processo produtivo – Salários (pessoas foram despedidas, foi colocado um teto salarial)).
Assim baixava-se o consumo (logo as pessoas consumiam menos e davam-se menos importações
e aumentava-se as exportações, pois os produtos eram mais baratos.

Estas mediadas resultaram em queda de produção, aumento de inflação e queda real dos salários
de 10% (ou seja, após impostos), o desemprego aumentou para níveis recorde e aquelas empresas
que não faliram, houve imensos casos de atrasos de pagamento. Foram dois anos e meios de
convulsão social e econômica em Portugal (era um governo de bloco central e só́ por isso
conseguiu aprovar este programa, apesar de muito do programa era standard de FMI), porque
senão haveria uma convulsão política também.

Medidas muito duras, mas efetivas: em 1985 – A situação económica portuguesa estabilizou
(balança reequilibrada e o governo já consegue recorrer à banca). Economia ajustada, divida c
controlada e moeda estabilizada. O programa funcionou naquele que era o seu objetivo. A nossa
balança de transações correntes foi ajustada, o governo já consegue recorrer a banca internacional
e é verdade que houve um empurrão porque a crise do petróleo também estabelizou o que tem
grande impacto em Portugal porque é totalmente dependente do exterior. Além disso é uma
economia muito aberta dependente do exterior, portanto rapidamente entra em divida. Portanto,
saindo deste ajustamento macroeconomia, havia dificuldades imensas para as famílias e para as
empresas.

Duas lições importantes/úteis para interpretar a situação atual da economia portuguesa:


- A estrutura produtiva e dependência energética da economia nacional gera facilmente défices
muito grandes nas contas com o exterior - o desenvolvimento de produção por fontes alternativas
tem vindo a mitigar esta situação (em 2020, representaram 33% do consumo energético nacional),
a pandemia ajudou também. Mas Portugal continua muito dependente do exterior para a satisfação
das suas necessidades energéticas (em 2020 o saldo importador descer 22% o que determinou a
redução da dependência energética em 8,4pp de 74,2% em 2019 para 65,8% em 2020)

- A utilização do valor da taxa de câmbio do escudo cimo instrumento de política revelou-se no


passado muito eficaz para reequilibrar a balança de transações correntes com o exterior, ou seja,
a economia portuguesa era muito relativa a taxa de cambio pelo que era expectável que a adesão
ao euro tivesse um impacto relevante na capacidade de gestão e desequilíbrios da economia
12 Junho de 85: Assinatura do Tratado que permitiu adesão para a Comunidade Europeia por
Mário Soares (PM), Rui Machete (VPM), Jaime Gama (MNE) e Ernâni Rodrigues Lopes (MF).
As alterações geoeconomicas que levaram a esta opção a percepção de que o nosso
enquadramento tinha mudado, já não era um império, já não era uma ditadura e tinha outras
intenções, alem disso, a opção de aderir à comunidade significava o acesso a um enquadramento
estratégico além de económico, onde Portugal é aceite pelos pares, como um igual, o que não
acontecia anteriormente, sobretudo desde o movimento de libertação das colónias tinha colocado
Portugal num local de afastamento, por isso esta integração era uma afirmação. Em termos de
Política externa portuguesa, apesar de até 74, o discurso político ser de que Portugal era um pais
atlântico, a linha europeia temos de ter presente na política externa, não era uma ruptura com a
nossa política, mas sim um ajuste. Em termos estratégicos, esta opção pareceu ser uma opção
conveniente naquela data.

Portugal assinou o Tratado de adesão em 12 de junho de 198. Mas entrou em vigor em 1 de janeiro
de 1986.

Havia uma grande esperança na adesão portuguesa (pois Portugal era um país “de 3º mundo”
muitas vezes sem os bens básicos para as pessoas comprarem, começava agora a haver a
esperança de que Portugal se desenvolva).

Mas quais os objetivos da adesão para PORTUGAL:


− Desenvolvimento económico, através dos fundos económicos europeus;
− Consolidação da democracia;
− Garantir um quadro multilateral estável, onde a independência de Portugal fosse
inquestionável e o país fosse visto como um igual entre os outros;

A Evolução de Portugal ao longo das 3 Décadas de Adesão

Os primeiros anos de adesão à CEE foram positivos:

Conseguimos cumprir os objetivos a que nos propusemos?


- Por um lado, ganhou-se a Credibilidade externa, pois a adesão à CEE concedeu a Portugal um
fator de reconhecimento central e internacional;
- Também se verificou a Consolidação da Democracia, com a consolidação da democracia, a
partir de 1987, temos o primeiro governo monopartidário estável (desde o 25/Abril/1974), com
maioria absoluta;
- E um Desenvolvimento Economico, devido a um maior investimento externo e estrangeiro
(fazendo parte da CEE e do bloco ocidental, Portugal era agora reconhecido internacionalmente);
aos fundos estruturais vindos da CEE; ao crescimento exponencial das transações comerciais
externas (comércio externo) – Portugal e Espanha aderiram no mesmo ano e as taxas alfandegárias
caíram, fazendo com que o comércio entre estes 2 países fossem fomentado e crescesse
exponencialmente; aumento do poder de compra das pessoas. (o que fez uma grande diferença
nas exportações portuguesas, visto que antes de 1986 não tínhamos praticamente relações
comerciais com Espanha).
Estas 3 mudanças fizeram com que Portugal se desenvolvesse economicamente.
O facto de estarmos politicamente estáveis e de fazermos parte de um mercado comum (com
países bem reputados) levou a que passássemos a ser um país interessante para investir (ou seja
+ investimento).
NOTA: Durante grande parte do séc. XX, Portugal não teve muito investimento externo, pois era
algo que não era bem visto por Salazar – Que era da opinião que Portugal deveria arranjar os seus
próprios anticorpos.
Não ser reconhecido internacionalmente e da crise política e económica da década de 70, pois não
era estável investir num país com incerteza na economia. (Só quando, em termos político e
económicos, estabilizamos, o investimento começa a crescer).
- Ao entrarmos na CEE passamos a ser obrigados a ser um Estado de direito democrático, a ter
tribunais e a ter de respeitar a propriedade privada. Tudo isto a adicionar aos fundos estruturais
(fundos que existiam para cobrir falhas de mercado e incentivar a inovação, mas que não fazem
uma economia – uma economia não sobrevive a longo prazo com subsídios), levaram a um maior
investimento externo.

Fundos Estruturais (vindos da CEE)

Agricultura
Através do FEOG – fundo europeu de orientação e garantia agrícola – o objetivo era financiar as
atividades agrícolas, através de programas específicos (PAC – Política Agrícola Comum). No
entanto, estes fundos apresentaram problemas, na medida em que não estavam desenhados para
os países da Europa de Sul, antes para os países do Benelux (França, Bélgica, Alemanha, Itália,
Holanda e Luxemburgo). Portugal era um país pequeno, com uma agricultura de subsistência e
deficientes técnicas agrícolas, logo não estava preparado para a aplicação daqueles fundos.

Educação (Ensino Profissional)


O fundo social europeu para investimento nesta área tinha como objetivo incentivar as
universidades a receber o maior número possível de jovens estudantes. A verdade é que pós
25/Abril existia um grande défice no ensino, devido a uma política de democratização que havia
fechado as escolas profissionais. Tal provocara uma grande falta de mão-de-obra qualificada, em
termos técnicos, nas empresas; o FUNDO SOCIAL EUROPEU, para comaltar as formações
sociais, apresentou problemas, uma vez que, em Portugal, as profissões técnicas eram
desvalorizadas, em relação à universidade e, por isso, o país não sabia realizar a formação
profissional (que não chegava a ser realizada ou de todo ou que se verificava que os fundos eram
“desviados”).

Indústria
A indústria em Portugal encontrava-se descapitalizada, com atrasos económicos e assente em
mão-de-obra barata. O Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa
(PEDIP) surgiu no plano nacional como um importante instrumento de modernização da indústria
Portuguesa, criando condições para revitalizar a base produtiva existente à data e promover o
aparecimento de novas indústrias com elevado potencial tecnológico, de modo a maximizar o
aproveitamento das vantagens comparativas e dos recursos nacionais humanos e naturais do país.
Contudo, este programa não foi tão revitalizador como se esperava, porque em vez de reinventar
a indústria e qualificar pessoas, Portugal simplesmente aumentou o sistema antiquado que já tinha
– aumentamos a produção, mas não a qualificamos. Em vez de melhorarmos a indústria e
qualificarmos as pessoas, continuamos com um modelo de mão-de-obra barata e produtos
indiferenciados.

Infraestruturas
FEDER (tem por objetivo contribuir para atenuar os desequilíbrios entre os níveis de
desenvolvimento das regiões europeias e reduzir o atraso em termos de desenvolvimento das
regiões menos favorecidas. Uma atenção especial é reservada às regiões que enfrentam
desvantagens naturais ou demográficas graves e permanentes, tais como as regiões mais
setentrionais, com uma densidade populacional muito baixa, e as regiões insulares,
transfronteiriças e de montanha). Portugal utilizou estes fundos para investir em infraestruturas –
Devido a isso foi dos fundos que mais se destacou, porque ao investir em infraestruturas, era
necessário mão-de-obra, criando desta forma emprego e posteriormente riqueza nas famílias, que
iriam gasta-la adquirindo bens.
Em conclusão, podemos afirmar que estes 4 / 5 anos após a adesão, levaram à estabilidade política
e a um período de crescimento económico exponencial, devido à entrada de grande capital, num
país que, durante décadas, não havia verificado qualquer tipo de investimento.

Final da década de 80 e início da década 90 (1986 – 1990)

Antes de mais, é preciso ter em conta que a economia portuguesa no início da década de 80: o
país com moeda própria mas não aceite como meio de pagamento internacional; imposição de
limitações à circulação de capitais de e para o exterior; taxas de câmbio do escudo em relação às
outras moedas fixadas administrativamente pelo Banco de Portugal, isto é, qualquer importação
ou exportação tinha que passar pelo Banco - 1981-1983 - grave crise cambial (acumulação de
défice elevados na balança de transações correntes com o exterior, necessidades de divisas para
fazer face aos défices, endividamento galopante coloca o país em risco de ruptura cambial)

A nível internacional, após a IIGM, o “Mundo” começa a desmoronar-se, desde a dissolução da


URSS à queda do muro de Berlim. Por outro lado, começa a existir um grande desenvolvimento
tecnológico com o aparecimento de computadores, internet, etc. A Microsoft decide democratizar
o acesso aos computadores e lançá-los no mercado, a um preço acessível. Surge a internet, que
permite a comunicação em tempo real.

Começa, então, a surgiu uma nova forma de fazer comércio e, EUA e Reino Unido iniciam a
globalização financeira, isto é, a liberalização de movimentos de capitais entre eles e o resto do
globo, ao nível das grandes empresas e tecnologias financeiras.

Tal leva à eclosão do sistema internacional e à competitividade pela globalização. E a CEE decide
adotar estes movimentos, aplicando a política do Espaço Schengen e do Ato Único Europeu, isto
é, a liberdade de circulação de pessoas e de capitais, respetivamente, criando um mercado único.

O Acordo de Schengen é assinado em 1985 (apesar de muitos dos países apenas entrarem
depois), este permite a circulação de pessoas entre os países signatários. O que levantou um
problema: as diferenças entre as economias europeias. Levando que se apostasse numa nova linha
de investimento – os fundos de coesão (fundos apenas para os países que estão abaixo da linha
de desenvolvimento média europeia, de forma a que se criasse um maior equilíbrio). Isto fez com
que os fundos que Portugal recebe da CEE duplicassem em 1989 e duplicassem novamente em
1891.

Em 1986 foi assinado o Ato Único Europeu e estabeleceu entre os Estados-Membros as fases e
o calendário das medidas necessárias para a realização do Mercado Interno até 1992. O grande
objetivo era a liberdade de circulação de capitais e serviços (esta discussão já tinha sido iniciada
com o Tratado de Roma, mas foi neste período que se materializou).

Em 1986, é assinado o ATO ÚNICO EUROPEU, que só entrou em vigor em Julho de 1987.
Este é liderado pelas nações europeias, pela elite e pela condução do povo. Os cidadãos passam a
ganhar um novo espaço público, desde em ONG’S, instituições empresariais e, inclusive, a nível
individual.

Para além disto, de forma a adaptar-se às mudanças globais sentidas, assina-se o Tratado de
Maastricht (1992), implementado a moeda única (euro) e a institucionalização da CEE para
UNIÃO EUROPEIA, baseada nos 3 pilares fundamentais:
− Comunidades Europeias (pilar supranacional);
− Política Externa e de Segurança Comum;
− Cooperação política e judicial em matéria penal;
Com sua entrada em vigor, a 1 de novembro de 1993, foi criada a União Europeia, foram lançadas
as bases para a criação de uma moeda única europeia, o euro.
Esta institucionalização assenta na criação de uma nova instituição: CONCELHO EUROPEU –
formado pelos chefes de Estado da União, representa a cobertura política da Europa, conferindo
união e cooperação política à UE, que antes, na CEE, apenas era um processo de integração
económica.
Para além disto, a concelho de ministros, existente na CEE, é transformando no concelho da União
Europeia (mantém a mesma função, apenas muda a designação) e, passa a ter o mesmo poder de
decisão do parlamento europeu.

Conclui-se que a UE passa, agora, a representar uma união económica e política, na sequência do
Tratado de Maastricht – que lançou também a proposta sobre a moeda única.
Em termos de contextualização internacional, nesta altura, havia existido a queda do muro de
Berlim e a reunificação da Alemanha, no entanto, existiam 2 moedas diferentes e, através da
reunificação e fortalecimento da sua economia, a Alemanha podia ameaçar a França. Assim, era
necessário criar uma moeda única que “neutralizasse” a competitividade da Alemanha face à
França.

Não esquecer que: a criação da CEE foi exatamente para evitar conflitos de grande dimensão
entre estas 2 potências, logo a solução encontrada para manter esse equilíbrio no centro da Europa
foi a criação de uma moeda única (a Alemanha viu-se obrigada a aceitar para manter-se longe de
conflitos e também pelo sentimento de culpa que tinha desde a 2ª Guerra Mundial).

Em termos de contextualização nacional, existia uma má gestão da economia e indústria


portuguesa, face ao crescimento do comércio interno e externo, dos investimentos e da
globalização competitiva. A economia portuguesa apenas havia crescido com os fundos, mas não
tinha sido qualificada, diferenciada e, por isso, a sua competitividade continuava a ser baseada
em mão-de-obra barata.

A verdade é que Portugal não está preparado para este contexto de globalização e competitividade
e, perante uma economia dependente a 100% da importação de energias e exportação de bens,
face à adesão de 10 países vindos de Leste e à sua concorrência, a economia portuguesa começa
a colapsar novamente.

Nós não estávamos preparados para este choque, esses países com a entrada na EU começam a
ter direito aos mesmo acordos que nós tivemos quando entrámos e os produtos deles começam a
chegar aos mercados da União em pé de igualdade com os nossos (mas com mão-de-obra muito
mais barata, porque nós mesmo assim já tínhamos evoluído um pouco) – Resultado: A economia
portuguesa voltaria a sofrer.

A economia portuguesa estava singularmente mal apetrechada para esta nova era, boa parte da
estrutura produtiva ainda especializada em mão-de-obra pouco qualificada, barata em relação aos
restantes países da CEE, mas já de um custo muito superior aos países como a China e outros que
agora emergiam no comércio mundial; com a implosão da URSS, a abertura da UE a Leste – o
surgimento de concorrência adicional na própria Europa.

A decisão política de Portugal pertencer à moeda única foi uma decisão partilhada por PSD e PS.
Houve grande esforço da política económica de fazer aproximar a nossa economia dos critérios
de Maastricht (a ‘política de convergência nominal’).

Esta crise fez com que a moeda única ganhasse mais força, pois era muito mais difícil para os
especuladores forcarem mudanças cambiais se apenas houvesse 1 moeda, ou seja a
implementação da moeda única reduziria especulações cambiais, aumentaria a coesão e o
equilíbrio europeu. O contra-argumento à moeda única era que as economias europeias não são
da mesma dimensão e estão sempre a funcionar em contraciclos, ou seja, crescem a velocidades
(muito) diferentes.
Contudo, o objetivo final da implementação da moeda única era mesmo esse, que a União
Europeia andasse à mesma velocidade (se tornasse uma zona económica ótima) – algo que ainda
hoje não foi alcançado.

Visão de quem não queria a adoção da moeda única em Portugal: A economia portuguesa
precisava de ter possibilidades de ajustamento através das taxas de câmbio e das taxas de juro.
Estes eram da opinião que as empresas portuguesas nunca seriam capazes de competir com outras
empresas.

Visão de quem queria: Vínhamos de um período de grande sucesso no mercado interno europeu
(mercado esse que era suposto estar concluído em 1992 e em 1990 já estava a funcionar, os anos
80 foram anos de grandes avanços em direção à integração/ federalização. Apesar da economia
portuguesa e das empresas portuguesas serem frágeis, deveríamos arriscar, trabalhar e tentar
aproximarmo-nos do nível europeu.

Critérios de convergência de Maastricht


Com a finalidade de assegurar a convergência duradoura, que constitui um elemento
indispensável para a realização da União Económica e Monetária (UEM), o Tratado de Maastricht
estabeleceu cinco critérios de convergência que cada Estado-Membro deve respeitar para poder
aderir à moeda única:

- A relação entre o défice orçamental e o PIB não deve exceder 3%;


- A relação entre a dívida pública e o PIB não deve exceder 60%;
- Um elevado grau de estabilidade dos preços, e uma taxa média de inflação (ao longo do ano que
antecede a análise) que não pode exceder em mais de 1,5% a verificada nos três Estados-Membros
com melhores resultados em termos de estabilidade dos preços;
- A taxa de juro nominal média a longo prazo não deve exceder em mais de 2% a verificada nos
três Estados-Membros com melhores resultados em termos de estabilidade dos preços;
- As margens de flutuação normais previstas no mecanismo de taxas de câmbio devem ser
respeitadas, sem tensões graves, durante, pelo menos, os últimos dois anos anteriores à análise
(Estabilidade cambial).
Relativamente à política orçamental cada estado definirá a sua política, no entanto esta deverá
estar de acordo com os limites impostos pelos critérios de convergência nominal tendo em atenção
que o grande objetivo é a convergência real. Portugal simplesmente seguiu estas regras de forma
nominal, não chegando a apresentar resultados reais.

Este processo para a economia portuguesa foi muito duro, pois quando tivemos a possibilidade
de fazer uma mudança estrutural na nossa economia e na nossa produção não fizemos. Logo, para
alcançarmos estes objetivos e aderirmos ao euro tivemos de aumentar os valores dos nossos ativos
(visto que já não podíamos desvalorizar a moeda), o que levou a uma enorme inflação, e a uma
redução das exportações (devido ao preço alto dos nossos produtos), as empresas tiveram de se
virar para o mercado interno (aumentando os custos de produção).

Para agravar a situação Portugal viu-se obrigado a pedir empréstimos e aumentar o seu
endividamento – a economia portuguesa só não rebentou em 97/ 98 porque as pessoas começaram
a comprar casas e carros (aumentando os pedidos de créditos devido à baixa taxa de juro) o que
fez aumentar o emprego – mas levou ao endividamento das famílias e como sabemos a capacidade
de endividamento das famílias é limitada.

Para cumprirmos os critérios no que toca ao défice e à divida publica beneficiamos das condições
internacionais. O critério de estabilidade cambial foi um pouco esquecido.
Em suma, a muito custo e aderimos ao euro em 1999.

Séc. XXI (1999 - …)


Chegamos, então, ao século XXI, sendo o início do século marcado pelo 11 de setembro de 2001.
Este é um momento de redefinição estratégica do sistema/panorama global, em termos
geoestratégicos.

Em 2004 dá-se a adesão dos países de leste da Europa, á UE. Em termos internos, significou o
entretém da organização da União Europeia, enquanto o mundo mudava.

Em 2005 a China adere à OMC (Organização Mundial do Comercio). Antes fazendo parte dos
BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Aderindo aos mercados mundiais, com
preços muito mais competitivos do que os que eram praticados na Europa, aumentando assim a
competição para países como Portugal que apostavam na exportação de produtos baratos (com a
diferença que a mão de obra na China é muito mais barata que a nossa).

2007 – Tratado de Lisboa (que apenas entraria em vigor em 2009)

Em 2007/ 2008 rebenta a crise mundial


E aí todos os erros que cometemos vêm à tona, a divida publica portuguesa (que segundo os
critérios de Maastricht não poderia ultrapassar os 60%) ia em 120%.
E sempre que Estado português ia ao mercado os juros aumentavam (andávamos a pagar juros a
7%). Tínhamos um sistema económico arcaico, com baixa produtividade e umas finanças públicas
insustentáveis.

Visto que não podíamos desvalorizar a moeda, a solução encontrada foi estimular a exportação –
Contudo, tudo o que gerávamos com algum valor, os lucros eram utilizados para pagar as dividas
que tínhamos – as empresas também atoladas em empréstimos e sem possibilidade de os pagar,
começam a falir e o desemprego aumenta.

Para piorar a situação o padrão de negócios dos países do Leste era idêntico ao nosso, mas mais
barato. Nesta altura dá-se também um crescimento brutal da economia chinesa, devido à entrada
na OMC, que levou a que muitas empresas europeias fossem produzir para a China, onde o custo
de produção era muito mais baixo. A evolução da tecnologia e dos meios de transporte resolveu
muitos dos problemas do passado.

Para além disto, a partir de 2005, sentem-se os efeitos da China na OMC – Organização Mundial
do Comércio – e dos novos modelos de negócio, baseados na revolução tecnológica que, permitiu,
em tempo real, que qualquer empresa trabalhasse com a China.
Ou seja, observamos dois pontos numa década e meia de dinheiro para se reajustar o padrão da
economia, mas que não aconteceu:
− Em 2004/05 as empresas sentem esse impacto, não conseguem investir, existindo
falências.
− E em 2007, quando começa a crise financeira, não há margem para se ajustar.

Perante isto, alguns setores da economia (europeia) começaram, na década de 2000, a apostar e
inovar na formação profissional e na evolução dos produtos, ao contrário da China ou dos países
da Europa de leste. No entanto, isto deveria ter sido feito no início da década de 1990.
Chegamos a 2007 e 2008 e dá-se a crise económica (que começou nos EUA). Um ano depois, a
Europa é afetada.

Em resumo: Tivemos 2 décadas para mudar as coisas (forma de produção) – não mudámos – Em
2004 as empresas estão endividadas e começam a falir – Em 2007 não há margem para ajustar –
2011 rebenta a crise me Portugal.
Os países mais afetados foram os países do sul da Europa (os PIGS) e a Irlanda. Sendo todos
obrigados a programas de ajustamento – Todos tiveram de aplicar medidas de emergência para
recuperarem.
Os principais objetivos destes programas de ajustamento eram:
- Proteger a capacidade de financiamento dos governos (limitar a ação especulativa, pois andavam
a pedir empréstimos a taxas de juro altíssimas).
- Ajustamento ordenado dos mercados.
- Ganhar tempo para restabelecer a confiança dos mercados.

E, em 2011, começam a surgir medidas de reajustamento económico, nomeadamente em Portugal,


Grécia, Irlanda e Espanha:
No sistema económico e financeiro, adotaram-se medidas de emergência:
 Proteger e limitar a capacidade de financiamento do governo, uma vez que os
especuladores financeiros estavam a alimentar as necessidades desses países.
 Um ajustamento ordenado, de forma a ganhar tempo para restabelecer a credibilidade dos
mercados internacionais.

Anteriormente, no ano de 2010, entre março e setembro, foram aprovados três programas de
crescimento, todos muito semelhantes, no tipo de medidas: cortar as despesas, para o período de
2010-2013, de forma a conter a dívida.

Em setembro de 2010, são aprovados mais cortes e o orçamento é viabilizado com muitas reservas
do parlamento. O 18ºGoverno tenta um 4º programa de estabelecimento e são convocadas eleições
antecipadas: entra-se na fase de ajustamento.

Em Portugal foram implementados pelo governo português 3 Programas de Estabilidade e


Crescimento.
O primeiro PEC, que ficaria conhecido como PEC 1, foi apresentado em Março de 2010. Este
contava com medidas de corte na despesa pública consideradas necessárias para o período 2010-
2013.

O segundo PEC, que ficaria conhecido como PEC 2 nasceu da necessidade de reajustar as medidas
aprovadas pelo PEC I passados dois meses, em Maio de 2010. Previa mais cortes orçamentais e
o aumento do IVA.

Passados quatro meses, em Setembro de 2010, foi aprovado um novo PEC pouco tempo antes da
aprovação do Orçamento de Estado para 2011. Este previa cortes ainda maiores que os seus dois
antecessores.

Tentou-se ainda um 4º PEC, mas não foi aprovado pelo Parlamento. O chumbo deste projeto
levou o Primeiro-ministro José Sócrates a demitir-se e o Presidente da República de Portugal a
convocar eleições antecipadas: foram as eleições legislativas portuguesas de 2011, vencidas pelo
PSD.

Posto isto, em Abril de 2011 Portugal assina um programa de ajustamento com o FMI, a Comissão
Europeia e o BCE (este acordo já vinha a ser negociado pelo anterior governo, faz muito tempo,
sendo que o governo de Passos Coelho pouca coisa pode negociar) – Programa de Assistência
Económica e Financeira (PAEF)

Em abril de 2011, assina-se um programa de ajustamento com o Fundo Monetário Internacional,


a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (PAEF), apesar de, até março, este cenário não
estar em cima da mesa. O programa entra em vigor, previsto para durar 3 anos, tendo como
objetivo o ajustamento macroeconómico:
− Redução da dívida que estava em níveis insustentáveis;
− Enquadrar a credibilidade e estabilidade económica do país, face às necessidades e taxas
especulativas do mercado.
Ou seja, o objetivo da PAEF era reconstruir a credibilidade do país, de modo a estabilizar a
economia, sem estar sujeito à especulação dos outros mercados e, de modo, a diminuir a dívida.
A diferença face a 1985, é que, agora, este não é um acordo bilateral, tendo as instituições
europeias permitido obter mais preocupações sociais que o anterior.
Este, entra em vigor, mas é muito contestado desde o início até ao fim. De facto, os críticos tinham
razão em várias coisas: Os valores do ano anterior estavam inflacionados.

O programa estava previsto para 3 anos (2011 – 2014) e consistia num ajustamento
macroeconómico. A grande diferença para 30 anos antes foi a interferência das organizações
europeias na discussão (que permitiu que algumas questões sociais fossem postas na balança –
algo que não acontecera nos anos 80).

Desta forma, partindo de um ponto inicial errado, dificilmente o programa chegaria ao fim com
sucesso. Mas também existiram virtudes, como:
− O financiamento do FMI – Fundo Monetário Internacional;
− O Estado tinha salários garantido, necessários à reorganização económica interna e, não
apenas, a um nível macroeconómico.

E a verdade é que, no fim do programa, Portugal estava melhor do que anteriormente, em termos
macroeconómicos. Porém, o impacto nas famílias e nas empresas foi devastador, para além de
que todo o processo de correção a União Económica Europeia exigiu um conjunto de alterações
que provocaram problemas graves, devido à descapitalização total das empresas, pois estas
financiavam-se na banca e o problema da crise era na banca.

Problemas: As estimativas dos valores reais da economia portuguesa em 2010 estavam claramente
inflacionadas (logo não podemos culpar apenas a comissão europeia ou o FMI – mas também o
governo português). Ou seja, com os dados que foram estabelecidos os objetivos não eram
alcançáveis (ponto de partida incorreto quanto aos valores reais). Para além disso fomos
demasiado otimistas em relação ao que seriam esses anos e as estimativas de impacto estavam
mal direcionadas (Não consideração das necessidades de financiamento do Estado provenientes
do sector público empresarial e das PPP (empresas financiadas pelo Estado)) – ou seja, pedimos
menos dinheiro do que realmente precisávamos. Má medição dos efeitos do ajustamento na
atividade económica, emprego e variáveis orçamentais.

Para além disto tudo, ignorou importantes propostas que foram feitas pela troika: ritmo e modo
da consolidação orçamental; perímetro contabilístico das contas públicas; modelo de
implementação da medida de competitividade de redução da TSU para as empresas; estímulos
fiscais e financeiros ao investimento produtivo; agenda de ações para o aumento do crescimento
potencial, competitividade e emprego, em todas as suas dimensões e não apenas no domínio das
reformas estruturais.

Virtudes: Precisávamos de dinheiro e o FMI disponibilizou-nos esse dinheiro (o que na prática


deu para continuar a pagar salários) - garantiu o acesso ao financiamento externo, em condições
favoráveis, sem o qual teria ocorrido um verdadeiro desastre económico e social. O programa
(apesar de todas as complicações e dos anos difíceis) acabou por funcionar (em termos
macroeconómicos ficamos melhor do que estávamos) - desencadeou o processo de correção dos
graves desequilíbrios económicos e financeiros acumulados nos últimos quinze anos. Apesar de
a nível real (no que toca às empresas e às famílias) o efeito foi devastador – houve uma
descapitalização enorme.

Estimulou uma nova política de alocação de recursos na economia orientada para os sectores dos
bens e serviços transacionáveis e o aumento da taxa de poupança nacional bruta. Pressionou a
execução de um novo ciclo de reformas estruturais, devidamente calendarizadas, sucessivamente
adiadas desde a segunda metade dos anos 1990.
NOTA: As empresas portuguesas financiam-se principalmente na banca, pois o nosso mercado
de capitais não funciona (como funciona nos EUA), o que levou a que as empresas ficassem
atoladas em dívidas que não tinham dinheiro para pagar (e os bancos não vissem esse dinheiro
pois as empresas faliam – Isto fez também que as empresas que conseguiam pagar (e não faliam)
não conseguissem investir – logo
Portugal estagnou durante 4 anos no que toca a desenvolvimento.

Resultados:
Negativos:
Impactos negativos de curto prazo na contração do PIB, no aumento da carga fiscal, na queda
do rendimento disponível das famílias, no consumo privado, na taxa de investimento empresarial,
na capacidade de produção e no emprego, na distribuição do rendimento, embora menos
significativos que em outros países do ‘arco periférico’ da zona euro.

Elevado aumento do desemprego, tal como na Grécia e em Espanha, dado o forte ajustamento
nos setores dos bens e serviços não transacionáveis, de mão-de-obra intensiva (construção,
imobiliário e obras públicas) e pela inevitável contração da procura nas atividades viradas para o
mercado interno.

Positivos:
Eliminação do défice externo, com evolução muito positiva do saldo da balança corrente e capital
(de -8% a -9% do PIB, na primeira década do século, para 2% do PIB em 2013), graças à dinâmica
das empresas exportadoras de bens e serviços e à queda inevitável das importações.

Redução do défice público estrutural de 11,2% do PIB em 2011 para 2,1% PIB em 2016.

Portugal, os últimos anos:


Apesar de os fundos comunitários recebidos continuarem expressivos na última década:
- um desempenho relativo medíocre, seja em termos de criação de riqueza (medida pelo PIB) ou
de qualidade de vida (Índice de Desenvolvimento Humano)
- uma dívida bruta em percentagem do PIB em crescimento
- uma economia sem crescimento
- sem capacidade de investimento
- mantendo dificuldades estruturais que continua a não ser capaz de resolver ou mitigar
- Aumento da corrupção (da 29ª posição em 2016 para a 33a posição em 2020 do Corruption
Perceptions Index)
- ‘Captura’ significativa do Estado pelas elites (Elite Quality Index)
- Um sistema de justiça percepcionado como cada vez mais ineficaz

Os fundamentos da adesão:
As alterações da inserção geoeconómica de Portugal na economia internacional
- Adesão do Reino Unido às comunidades em 1973, com efeitos nos fluxos comerciais
nacionais - Crise económica mundial
- A descolonização e democratização ma sociedade portuguesa em 1974 e 1975, transformação
profunda dos pressupostos da política externa portuguesa
- Efeitos do Acordo EFTA - Espanha
- Formação da tendência para o alargamento iniciado nos anos 60 e confirmada a partir de 1974

OS 37 ANOS DE PORTUGAL NA UE:


A nível estratégico, permitiu desenvolver a economia, embora pudesse ter sido melhor, e a
consolidação da democracia.

Para além disto, verificou-se um progresso substancial, visto que o Portugal de 85 é muito
diferente do de 2020: a economia, bens, serviços, padrão de vida, cultura e os valores sociais /
modelo de sociedade mudaram muito nos últimos anos, sendo influenciados pelo modelo europeu.
Em termos económicos, a globalização e o mercado único permitiram uma total transparência de
preços e a aproximação dos preços entre os países membros.
Houve um aumento do custo de vida de Portugal, relativamente à diminuição de poder de compra,
nomeadamente em Lisboa, Porto, Braga e Aveiro: ganha menos e paga mais. No entanto, apesar
do poder de compra não ser excelente, há um maior acesso aos bens disponíveis – que foram
acompanhando a evolução.

É verdade que, ao longo dos 30 anos, face à década de 70 / 80, houve uma evolução, mas face aos
restantes países europeus, o desempenho da economia portuguesa foi fraco:
− Não crescemos tanto;
− Divergimos da média europeia;

Na verdade, Portugal encontra-se abaixo da média europeia, relativamente aos padrões da


qualidade de vida, acabando por estagnar (um crescimento apenas de 0,3% ou 0,5%), enquanto
os outros países europeus crescem, afastando-se de nós. Nos últimos anos, apenas a Região
Autónoma dos Açores e da Madeira conseguiram crescer, convergindo.

O processo de convergência de Portugal assentou:


- No aumento do nº horas de trabalho, com o mesmo salário (antes era de 10h, agora é de 22h,
mas com a Europa nas 40h. Entretanto, os países de Leste estão a fazer isto a um ritmo mais
acelerado);
- Aumento de poder de compra das famílias, com o alargamento do Estado Social (acesso ao
crédito, baixa inflação e apoio social do financiamento do Estado – hoje gastamos o dobro do que
um português médio gastava antes de Portugal entrar na CEE);
- No processo de terciarização da economia, através do desenvolvimento dos serviços, mas que
levou a um desinvestimento da indústria e à desindustrialização do Mundo Ocidental para a Ásia
(China, com a sua entrada na OMC), derivado da globalização que permitiu que os produtos se
deslocassem para outros pontos do Globo: China produz e o Ocidente monta e vende.

Portugal pode dizer que tem poucos polos estratégicos industriais (apesar de ser norma na europa,
Portugal estar mesmo muito mal neste aspeto), deficiências na educação e estamos a entrar/ já
entrámos numa fase de Inverno Demográfico.

Portugal tem uma economia a “meio caminho”, isto é, uma economia de transição, onde Portugal
ocupa uma posição (relativamente) desfavorável / + difícil que os restantes estados-membros,
especialmente num quadro de insuficiência de capitais, fatores de produção, investimento
empresarial, entraves no sistema de educação e formação e falta de quadros qualificados (mão-
de-obra para as empresas – importando, essencialmente, fazendo com que há já alguns anos o
crescimento populacional seja feito através da imigração (esta também cada vez menos, pois um
país em crise não é favorável / atrativo).

É necessário que existam incentivos para que as pessoas fiquem, tais como o aumento dos
salários; a diminuição dos impostos; algo que faça com que os portugueses (qualificados e com
oportunidade no estrangeiro) fiquem cá.
Pelo que importa: construir uma estratégia de recuperação; uma reestruturação e mudança e não
adaptação e modernização; complexidade e diferenciação, com determinação de focos de
investimento.

Vizinhanças desafiantes

Num período de 20 anos, a situação geopolítica nas fronteiras externas da UE mudou


completamente. O conflito israelo-palestiniano permanece, Invasão no Iraque, Primavera Árabe
(um mundo árabe instável, dando origem, nomeadamente, a uma guerra civil na Síria, o Norte da
África em transformação - Tunísia, Líbia, Egito, Argélia), a anexação da Crimeia em 2014 e a
invasão russa a Ucrânia (uma relação tensa entre a UE, NATO e Federação Rússia enquanto a
União enfrenta uma Ucrânia enfraquecida nas suas fronteiras externas orientais), Guerra civil na
Síria e expansão e controlo do ISIS, um fluxo maciço de migrantes e refugiados, ataques
terroristas e desestabilização interna de países da UE, COVID-19 (um novo wildcard de dimensão
ainda não totalmente despercebida.

A crise provocada pela resposta política à pandemia do COVID-19, ainda sem profundidade e
dimensão conhecidas e o novo ciclo de crise com a Guerra da Ucrânia

Um período difícil de ajustamento político e económico em curso e em prolongamento

Necessidades estratégicas na economia: aumento cumulativo da produtividade-valor;


desenvolvimento de novos fatores competitivos no terreno da competitividade não-custo; garantir
uma muito mais ativa participação na globalização, reequilibrando o balanço de ameaças e
oportunidades com reorientação da economia portuguesa para fora, mas a partir de dentro

Verificou-se, ao longo do tempo, um progresso substancial no sentido de que Portugal de 1985 é


muito diferente de Portugal de 2022 - a economia, bens, serviços, padrões de vida, cultura e
valores sociais foram influenciados pelo modelo europeu

Mas é verdade que, face aos outros países europeus, o desempenho da economia portuguesa foi
fraco - não crescemos tanto e divergimos da média europeia, estando até abaixo desse médio nos
padrões de qualidade de vida
-Promoção da competitividade e da internacionalização - elementos distintivos face ao passado,
partidos de uma situação económica e social (de retrocessos em relação aos níveis de emprego,
crescimento, investimento alcançados, pela economia portuguesa, durante o período em que
efetivamente convergiu no espaço da UE; e onde dimensão do desemprego resulta de uma
combinação especialmente adversa de insuficiência da procura e de insuficiência da rentabilidade
dos projetos e da confiança dos investidores); pelo que importa (construir uma estratégia de
recuperação, reestruturação e mudança e não adaptação e modernização, complexidade e
diferenciação, com determinação de focos de investimento)

Em suma: o esgotamento do modelo Economico pré-crise, os domínios com potencial dinâmico,


a aversão à mudança face à realidade da sua ocorrência, a exigência da assunção da mutação das
condições geopolíticas e geo-económicas e a exigência de respostas estratégicas sucessivas (uma
nova estratégia de muito longo prazo para a afirmação de Portugal no SI), a questão estratégica
fundamental (Portugal, o mar e a articulação Portugal, Europa, Atlântico)

Nos dias de hoje – Europa

Em 2015 - pico da crise das migrações/refugiados: pior crise de refugiados desde a 2a Guerra
Mundial, mais de um milhão de pessoas que pediram asilo, aos instrumentos iniciais de resposta
a crises ad hoc seguiram-se os progressos em áreas como a recolha e partilha de informação,
coordenação, liderança e reforço, mas a UE continua incapaz de construir mecanismos
sustentáveis resilientes aumento a tensão entre os parceiros europeus sobre o acolhimento de
migrantes e a partilha de encargos.

2016-2020 - BREXIT: um marco no processo europeu, impactos económicos de ambos os lados,


orçamento da UE como uma nova fonte de tensões internas, impactos geopolíticos no equilíbrio
de poder na UE como centro geopolítico da UE move-se mais para leste.

Uma economia ‘a meio’ de uma transição longa para um novo paradigma competitivo, imposto
pela concorrência acrescida nascida da aceleração da globalização, pelo alargamento da UE e
pelo regime macroeconómico da UEM
Vulnerabilidades: insuficiente domínio dos fatores de competitividade, reduzido número de
polos empresariais com capacidade estratégica, deficiências no sistema de ensino/
qualificação recursos humanos

Potencialidades: localização, presença externa, enquadramento regional, qualificação de


Recursos.

Portugal, os próximos 30 anos:


As tendências globais a 10 anos - os impactos da disfunção pela digitalização
Na sociedade:
- a exigência de adaptação rápida e permanente VS a lenta formação de quadros mentais
- a relação entre tecnologia/economia e moralidade/ética social - a tecnologia não, mostrou
efetivamente poder levar à uma melhor sociedade, o uso da tecnologia será determinado por
quem a usa e como a usa

Na economia:
- a disrupção dos modelos económicos e de negócio
- o impacto no emprego

Na política:
- a revisão dos mecanismos democráticos no mundo digital, o escrutínio permanente VS
consulta periódica
- O desafio fundamental à democracia, do benéfico global da democracia ao benefício pessoal
(ou pelo menos o equilíbrio de benefícios, mesmo que em baixa)
- Os novos temas globais transversais, a sustentabilidade ambiental, a transição climática, o
envelhecimento e a equidade social

Na segurança:
- a necessidade de recuperar o sentimento de segurança, a noção de perda de controlo do seu
próprio destino, a impotência face à tecnologia e realidade globalizada, assegurar tranquilidade
às pessoas
- Novos conceitos de guerra, a disrupção da sociedade por via da tecnologia, a forma mais fácil
e mais barata de guerra
- A questão fundamental de como garantir segurança física, económica e identitária, pode a
democracia garantir essa segurança? Como? A exigência de adaptação das instituições sob pena
do seu desaparecimento

O que é a União europeia?

União Europeia é a designação oficial de uma organização internacional criada nos anos 50 do
século XX. Nem sempre se chamou assim. Inicialmente foi constituída por “Comunidades” e
designada como tal: a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) – criada pelo tratado
de paris, depois a Comunidade Económica Europeia (CEE) – criado pelo 25 Março 1957 (Tratado
de Roma e a Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA), todas criadas nos anos 50, eram
as Comunidades. Com o tempo, as Comunidades foram dotadas de um corpo institucional único,
uma presença internacional comum e, já́ nos anos 90, com o Tratado de Maastricht, um chapéu
comum, a UE.

Com a CECA passou a ser possível a livre circulação de ferro, aço e carvão e o desenvolvimento
de uma política para o desenvolvimento da indústria siderúrgica, entre os países intervenientes
(França, Alemanha, Itália e os Benelux).

Em 2002, a CECA deixou de existir, por se ter concluído o período de 50 anos previsto pelo
respetivo Tratado (era a única das três Comunidades com um tempo de vida previamente
estabelecido). As duas restantes Comunidades mantiveram-se até à entrada em vigor do Tratado
de Lisboa, em 1 de dezembro de 2009, e nessa data deram oficial e formalmente lugar à União
Europeia, tendo desaparecido dos tratados a designação "Comunidades".

A comunidade tinha objetivos: a CECA visava a gestão comum dos recursos do carvão e do aço,
a CEEA a dos relacionados com a energia atómica e a CEE a integração pelo comércio, através
da construção de um mercado comum. Com o passar dos anos – e as sucessivas revisões dos
tratados originais – o horizonte da unificação europeia alargou-se, abarcando sempre novos
domínios, estabelecendo novos objetivos e políticas.
A designação “construção europeia”, muito usada para identificar este processo, é bem o espelho
da sua permanente evolução, aquilo que muitos designam de “aprofundamento”.

Tecnicamente, a UE constitui uma organização internacional supranacional, caracterizada por


objetivos de integração ambiciosos. Juridicamente, é o resultado de convenções (ou tratados)
internacionais – de base intergovernamental – que criam uma nova entidade jurídica.

Na prática, a União Europeia e em particular por força dos domínios em que opera e dos seus
princípios fundadores, é um lugar de confluência de muitos saberes e ciências, da economia ao
direito, passando pela filosofia, as relações internacionais ou a ciência política.

A UE baseia-se em ideais e princípios próprios, objetivos concretos e políticas que os visam


concretizar. Tem um corpo (ou quadro) institucional único, dispõe de recursos próprios e de um
direito específico e autónomo - o direito comunitário, ou europeu.
A união trata-se de um mercado único: os vários mercados nacionais transformados num só
mercado interno através da liberalização das trocas de produtos, serviços e capitais e da livre
circulação dos trabalhadores. Todas as outras políticas – inclusivamente a própria união
aduaneira, ainda que originária -, são subsidiárias e tributárias desse mercado, que inicialmente
foi comum (o “mercado comum”) e mais tarde, com as reformas dos tratados, se passou a designar
de mercado interno (ou único).

A União Europeia é uma realidade indiscutível, com mais de 30 anos. Sendo considerado uma
realidade indiscutível, esta não deixa de gerar discussão e posta em causa. Não há década que não
tenha havido oposição a este projeto de partilha de poder entre os estados soberanos.

Países fundadores: Alemanha, a Bélgica, a França, a Itália, o Luxemburgo e os Países Baixos;


chegando a 28, reduzidos a 27 após a saída do Reino Unido, em 31 de janeiro 2020, a primeira
desde a criação das Comunidades europeias e não deixa de haver candidatos em fases distintas de
negociação. Todos esses países decidiram, por razões distintas, voluntariamente, em distintos
momentos e prolongando-se no tempo, colocar em comum, sob a égide de uma organização
dotada de instituições próprias, um conjunto de poderes nacionais, assim abdicando deles, seja
provisória, seja definitivamente, consoante a interpretação doutrinal adotada.

A criação da UE deu-se num período de grande perturbação mundial com epicentro na europa:
fustigada por seis anos de uma guerra total e devastadora, despoletada apenas 21 anos depois da
que devia ter sido (e não fora) a Guerra para acabar com todas as guerras, instalou-se também no
continente uma nova divisão: o bloco comunista liderado pela URSS de um lado, os países
ocidentais do outro.
A ideia de uma união entre os países do velho continente, como solução para o estado de quase
permanente guerra civil em que a Europa vive, é muito antiga. Defenderam-na políticos, filósofos
e pensadores.

Valores e Princípios da União Europeia

Os valores da construção europeia, que se tornaram condição da respetiva existência, constituindo


determinante no plano externo e interno, em que se assumem como critérios aplicáveis em
circunstâncias como a adesão à UE ou a cooperação para o desenvolvimento, entre outras.
A UE assenta sobre 3 valores/princípios:
- Democracia;
- Estado de Direito;
- Direitos Humanos (respeito pelos direitos Fundamentais).

A União assente em objetivos e valores orientadores e enraizados na tradição europeia,


nomeadamente:
− A promoção da paz e bem-estar dos cidadãos;
− Garantia da liberdade, segurança e justiça (decorrente da necessidade de uma organização
que possa abolir as fronteiras internacionais);
− Desenvolvimento sustentável e económico, relacionado com o reforço da coesão (interna)
dos Estados, a nível económico, social e territorial;
− Promoção do progresso científico;
− Multilinguismo – recorrer às instituições europeias na sua língua e receber uma resposta
na mesma – e respeito pela diversidade linguística – de forma a assegurar a diversidade
entre os cidadãos.
− Estabelecimento de uma unidade monetária, o euro, mas sem “obrigatoriedade”.

O artigo estruturante nesta matéria é o 6º do TUE que, remete a Carta dos Direitos Fundamentais
da UE, reconhece os direitos, liberdades e princípios por ela enunciados e afirma a sua
obrigatoriedade. A Convenção Europeia dos Direitos do Homem é igualmente uma fonte do
direito comunitário, sendo os direitos por ela garantidos, bem como os que resultam das tradições
constitucionais dos Estados- membros, parte do direito da União.

Democracia é um dos princípios principais para adesão a união Europeia, nenhum país pode ser
membro da União se não for uma democracia, formal e substancialmente, e respeitar os princípios
democráticos e os valores europeus (critério político de adesão, isto é, a União promove a
democracia e, em particular, o respeito pelos direitos fundamentais no mundo, desde logo no
âmbito das relações e acordos que estabelece com países e organizações de todo o planeta.

Depois da adesão, e é esta a segunda dimensão referida, deve manter-se o respeito pelos valores
estabelecidos no mencionado artigo 2º do TUE. A possibilidade de verificação de uma “violação
grave e persistente” desses valores, podendo levar à suspensão de alguns direitos do Estado
prevaricador, em particular o de voto.

Já que não há nenhuma provisão que claramente as estabeleça sanções – para além da referida
suspensão do direito de voto -, em particular no que respeita ao acesso aos fundos, que alguns
responsáveis e especialistas consideram poder ser igualmente suspensa.
Para proteger a utilização do orçamento da União, que as instituições aprovaram, no final de 2020,
um regulamento a prever a condicionalidade da atribuição dos fundos europeus caso um Estado-
membro viole as regras do Estado de Direito. Muito contestado por alguns países.

O regulamento de condicionalidade do Estado de Direito, contra o qual votaram a Hungria e a


Polónia, entrou em vigor em 1 de janeiro de 2021, tendo de imediato aqueles países anunciado
que o contestariam perante o Tribunal de Justiça da UE. Mais tarde, em junho de 2021, o
Parlamento Europeu votou uma resolução na qual, para além de observar que o novo instrumento
de condicionalidade para proteger o orçamento da União estava em vigor desde o princípio do
ano, assinalava a inação da Comissão Europeia, que não respeitou o prazo estabelecido pelo
próprio Parlamento para finalizar as orientações relativas à aplicação daquele normativo (1 de
junho).

Em 2017 que, a Comissão europeia ativou o procedimento previsto nestas normas, contra a
Hungria, seguindo-se um outro, em 2018, contra a Polónia. Nos anos 2020 e 21, uma das questões
mais ponderosas da política europeia, por representar uma fratura sem dúvida relevante – relativa
aos valores essenciais da própria União Europeia

Finalmente, a União promove a democracia em todo o mundo. O projeto europeu, a um tempo


visionário e de destino incerto, afirma nos tratados o respeito inalienável pelos direitos
fundamentais.

Quem faz o quê na União?

O Tratado de Lisboa veio finalmente, a partir de 2009, estabelecer exatamente quais os termos
dessa repartição. Se as decisões da União pudessem ser modificadas ou anuladas por um Estado-
membro seria impossível fazer avançar a construção europeia. Por essa razão tem tanta
importância, na tessitura dos princípios, o primado da lei comunitária, isto é, o princípio segundo
o qual as leis comunitárias primam sobre as nacionais, que não as podem pôr em causa: a não
existir esse princípio, todo o processo seria por definição um oximoro (isto é, uma impossibilidade
em si mesmo).

Soft Power/ Hard Power – o poder da EU no mundo


A construção europeia como uma organização (de poder) é essencialmente baseada numa
capacidade de atração ou de persuasão que aumenta a sua influência global. Graças a esse soft
power a UE leva outros - Estados, organizações e empresas -, a agir conforme a sua (da União)
conveniência, persuadindo-os a querer o resultado que lhe interessa.

Uma das mais relevantes formas de manifestação desse poder é sem dúvida a emissão de regras
e normas universais; num mundo cuja interdependência é cada vez maior, essas regras tornam-se
indispensáveis, para além de requerem instituições que as administrem, julguem e punem
eventuais violações (ONU, Organização Mundial de Comércio (OMC) ou o Tribunal Penal
Internacional da Haia, por exemplo).

A UE não tem o hard power quem tem por exemplo os EUA (que consegue conciliar o soft power
tendo uma influência brutal em organizações internacionais e um exército capaz), sendo essa sem
dúvida uma das suas fraquezas - para alguns até uma deficiência estrutural, da construção
europeia: a sua política externa e de segurança é ainda essencialmente intergovernamental, sem
um efetivo "músculo militar"; assenta na soma das políticas (e dos orçamentos) de defesa dos seus
Estados-membros, cada um com a sua própria agenda nesse domínio.

Facto é que a União possui um poder efetivo. Ele expressa-se nomeadamente na forma como
influencia e afeta a política de outros países ou regiões por exemplo em matéria de direitos
humanos, entre outros. Poucas ou nenhumas entidades podem ignorar estas e outras regras,
atendendo à importância económica, dimensão e natureza do espaço europeu. Poucas ou
nenhumas, de facto, as ignoram.

Este "poder suave" ou softpower opõe-se ao poder coercivo ou hardpopower. Mas a União dispõe
de suficientes referenciais de atratividade e sedução para se poder reconhecer nela um poder real,
suave, mas eficaz. Retomando a definição de Joseph Nye, já citada - os recursos do soft power
são aqueles que produzem atração -, produzem atração os bens de um país, no sentido lato, a que
terceiros atribuem um valor, de tal forma que se sintam levados a alinhar com eles, imitando-os
ou tentando aceder-lhes; por exemplo, os seus princípios e valores; o estilo de vida; a cultura; as
normas jurídicas passíveis de impacto exógeno1; as expressões artísticas e as tradições; a presença
e influência nos mercados; o facto de ser um mercado apetecível, para investir ou fazer comércio;
a autoridade, que pode ser moral ou política, junto de outros países ou grupos.
Défice Democrático

Há uma questão que ciclicamente aparece e é posta em causa nas eleições europeias: a questão da
participação nas eleições, embora tenha havido um aumento de poderes do Parlamento, os países
têm vindo a diminuir a sua participação nas eleições.

O Défice democrático foi utilizado durante anos para se referir à perda de controlo sobre políticas
da esfera nacional para a esfera europeia – ainda para mais, quando o Parlamento europeu não
tinha os poderes que tem hoje (o que fazia com que muitas decisões não passassem (nem direta,
nem indiretamente) pelos parlamentos nacionais.

A ideia de que a transferência de soberania dos Estados nacionais para a esfera da integração
europeia alienou os cidadãos do processo democrático ganhou força e tornou-se o elemento
central da contestação em relação à UE. Pretende-se que as instituições europeias, pela sua
complexidade e distância dos cidadãos, carecem de legitimidade democrática.

É verdade que há uma enorme burocracia na União, que há muitos funcionários não eleitos (a
ganhar salários exorbitantes), há também uma grande complexidade no processo de decisão e
funcionamento das instituições (que nem sempre é percetível para a maioria dos cidadãos), os
comissários europeus são vistos como personalidades distantes da realidade nacional e também
não há um rosto da UE, a quem nos possamos dirigir sempre.

É verdade que é um processo em fase de aperfeiçoamento e demoroso, mas cada vez mais esse
“défice democrático” vai desaparecendo, sendo hoje em dia mais um “défice de conhecimento”
do que propriamente “democrático”.

O défice de informação entre os eleitores e os técnicos que contactam diretamente com a UE, por
um lado, e a base e estruturas partidárias por outro, aumenta o poder dos primeiros e cava um
fosse entre ambos. Mudança na estrutura do poder e do controlo da informação no seio dos
partidos políticos nacionais. Defrauda as expectativas dos militantes e dos eleitores
ideologicamente mais alinhados bem como daqueles que ainda apenas compreendem o exercício
da política à escala nacional

Principais problemas;
- Baixa participação eleitoral;
- Atitude ambígua dos partidos políticos nacionais e dos governos relativamente aos assuntos
europeus
- Distância entre eleitores e eleitos.
- Para a maioria dos cidadãos, as instituições europeias são distantes e difíceis de entender.
- A crise do euro reforçou a perceção de que decisões tecnocráticas podem sobrepor-se às -
escolhas democráticas dos Estados.

Apesar dos diversos mecanismos de controlo, a complexidade da UE torna o seu funcionamento


obscuro para a maioria dos cidadãos.

Direito europeu

A UE é, na essência, um produto do direito, na sua origem como na sua estrutura, no seu


funcionamento como em todas as ações quotidianas. A UE consiste, não num Estado de direito,
mas numa “União de Direito” - isto é, num sistema jurídico, político e institucional tributário do
direito.

O direito comunitário é uma realidade recente, com tantos anos, quanto leva a existência a UE.
Constituído pelo conjunto de normas e regras que criaram a União e pelas adotadas no seu âmbito,
aplicadas na ordem jurídica comum aos Estados-membros, dotada de personalidade jurídica
própria, inclui todas as fontes de direito pertinentes, originárias dessa mesma ordem ou por ela
assumidas como tal.

Os tratados fundadores, o direito originário ou primário, são a principal e primeira fonte desse
direito, nas suas versões sucessivamente revistas (sendo a mais recente a decorrente do Tratado
de Lisboa). Com base neles tomam-se anualmente centenas de decisões de direito derivado, sejam
elas diretivas, regulamentos, decisões ou outros atos de natureza jurídica que respeitam à vida dos
povos da União.

E o Tribunal de Justiça, na sua responsabilidade como instância que assegura uma correta
interpretação e aplicação desse direito, produz abundante jurisprudência (conjunto o das decisões
sobre interpretações das leis feitas pelos tribunais de uma determinada jurisdição (poder que
detém o Estado para aplicar o direito ao caso concreto, com o objetivo de solucionar os conflitos
de interesses e, com isso, resguardar a ordem jurídica e a autoridade da lei)), em si mesma fonte
de direito.

O direito da UE não é nada semelhante ao direito dos Estados-Nação, nem a outras organizações
dos tempos modernos.

Primado do direito europeu: Talvez o mais importante princípio fundador, formativo da União
e condição “sine qua non” da sua existência, seja o primado do direito europeu. Dele decorre,
simplesmente, que nenhuma norma nacional, qualquer que seja a respetiva natureza, seja ela
anterior ou superveniente, pode contrariar uma norma comunitária. Em caso de conflito entre elas,
a comunitária prevalece sempre sobre a nacional. A razão é simples: se não fosse assim, o direito
comunitário – e, como consequência, toda a construção europeia – não faria sentido, não seria
sustentável, não poderia sequer existir (ou persistir).

O primado é talvez o mais importante e indiscutível princípio do direito europeu, mas também de
enorme importância é o princípio da aplicabilidade/ do efeito direto. Significa que o direito
comunitário cria direitos e deveres diretamente na esfera jurídica das pessoas (a par das
instituições europeias e dos Estados-membros). Estes podem invocar diretamente normas
europeias perante jurisdições nacionais e europeias, não sendo necessário que o Estado-Membro
integre a norma europeia, em questão, na sua ordem jurídica interna.

Direito Originário

No caso da UE, o direito possui fontes que, em certos casos, replicam o que sucede nas ordens
jurídicas dos Estados; noutros casos, contudo, a origem e a especificidade desta organização
internacional determinam a existência de fontes específicas. É o que sucede com os tratados que
criam a União, que são tratados internacionais, na génese e nas regras que lhes respeitam
semelhantes à generalidade dos instrumentos desta natureza celebrados no âmbito do direito
internacional, embora específicos no escopo, nos princípios e no alcance.

Às normas que esses tratados estabelecem, e para as quais remetem e de que decorrem todas as
outras normas de direito comunitário, chama-se direito originário ou primário. Os tratados em
vigor são ainda os assinados nos anos 1950: o de Paris criou a CECA (extinta em 2002 por ter
expirado o respetivo prazo de duração de 50 anos), e os de Roma a CEE e a CEEA, em 1957. É
deles que se fala atualmente, ainda que profundamente alterados por todas as modificações
decorrentes das revisões constitucionais operadas em 1986 (Ato Único), 1992 (Tratado da União
Europeia ou de Maastricht), 1997 (Tratado de Amesterdão), 2001 (Tratado de Nice) e 2007
(Tratado de Lisboa).

O direito criado por estes tratados é, pois, o direito originário ou primário da UE, como tal
prevalecendo sobre as restantes fontes de direito europeu. Enuncia os princípios, estabelece os
objetivos e as políticas europeias, determina as bases jurídicas, os atos jurídicos a adotar pela
União, as instituições europeias (a sua natureza, composição, competências e funcionamento),
entre muitos outros aspetos.

NOTA: Nada pode ser proposto que não tenha base neste direito originário.

Direito Secundário/ Derivado


A dicotomia entre o direito primário e o derivado (ou secundário), estabelece desde logo uma
hierarquia entre as normas em questão que pode ser definida do seguinte modo: o direito primário,
estipulado nos tratados e com frequência também designado direito constitucional, determina os
princípios e os objetivos da construção europeia, as políticas que visam o cumprimento desses
objetivos e as bases jurídicas que as sustentam, as competências das instituições, sua composição
e regras de funcionamento, entre outros elementos fundamentais; o direito derivado consiste na
adoção das normas que concretizam as políticas previstas nos Tratados.

Um e outro constituem, no conjunto, o corpo legislativo que regula a vida da UE e das suas
instituições, bem como a relação com os Estados-membros e a respetiva jurisdição – são o direito
da União.

Ao instrumento jurídico que contém as normas do direito derivado europeu, permitindo à União
atuar, chama-se “ato jurídico da União”. São os atos jurídicos que contêm a tomada de decisões.
Até à entrada em vigor do Tratado de Lisboa, eram cerca de 15, com inúmeros “atos não típicos”
e 5 atos jurídicos de base: regulamentos, diretivas, decisões e recomendações/pareceres.

De aplicação generalizada, os atos jurídicos de base permitem “fixar” os elementos básicos das
normas que contêm, e desde logo o escopo, os efeitos jurídicos e os destinatários. Com a entrada
em vigor daquele Tratado em 1 de Dezembro de 2009 manteve-se a designação de regulamentos,
diretivas, decisões, recomendações e pareceres, e o número de atos jurídicos “atípicos” foi
drasticamente reduzido.

Aos referidos atos jurídicos nunca se chegou a chamar aquilo que, por analogia com a
generalidade dos direitos nacionais, parece lógico: leis ou decretos-lei. Isto morreu por terra, com
a não aprovação da constituição europeia. Apesar disso, o TL representa uma evolução clara nesta
matéria, desde logo com uma inédita separação entre atos legislativos e não legislativos.

Atos Jurídicos da União: Regulamento; Diretiva; Decisão e Recomendações ou pareceres.

Atos Jurídicos da União:


Regulamento – de carácter geral, diretamente aplicável e obrigatório em todos os seus elementos.
Os regulamentos não carecem de transposição para o direito interno dos Estados-membros, sendo
diretamente invocáveis no direito nacional na data da respetiva entrada em vigor; não obstante,
devem ser publicados no Jornal Oficial das Comunidades Europeias. Os regulamentos são usados
com profusão como instrumento privilegiado de execução de algumas políticas específicas, como
a política agrícola comum.

Diretiva – estabelece objetivos de política europeia para um determinado sector, tendo as


legislações dos Estados-membros de proceder à respetiva transposição nos prazos determinados
na própria diretiva; os resultados a alcançar determinados por ela são obrigatórios, podendo cada
legislador nacional decidir a melhor forma e meio para os cumprir. As diretivas carecem de
introdução na legislação de cada país, mas os Estados são responsáveis, perante a União e muito
particularmente perante os respetivos nacionais, pela sua transposição atempada e correta (em
função dos objetivos). Jurisprudência abundante adotada nos anos 90 reconheceu à legislação
comunitária essa dimensão, e em particular o efeito direto das diretivas, nos termos mencionados.
As diretivas não são o mais abundante dos atos jurídicos comunitários, mas têm uma grande
importância na economia dos atos jurídicos utilizados pelas instituições europeias.
Decisão – é obrigatória em todos os seus elementos, mas apenas para os destinatários em concreto,
quando designados. É usada com alguma frequência em mercados concretos, áreas bem
determinadas em que a União visa certo tipo de sectores ou cidadãos. Uma mudança substancial
decorrente do Tratado de Lisboa é o fato da decisão poder agora dirigir-se a sectores ou grupos
de cidadãos, enquanto no anterior dispositivo ela designava necessariamente destinatários (para
quem se tornava obrigatória).

Ficou para o fim uma das fontes mais importantes: as decisões tomadas pelo Tribunal de Justiça
da UE no âmbito da sua atividade interpretativa do direito comunitário ou europeu. É a célebre
jurisprudência comunitária, fonte de uma parte substancial desse direito.

Repartição de Competências (União e membros)

No caso da UE trata-se de saber quem faz o quê e de que forma se reparte o poder na relação entre
a União e os seus membros; que competências em concreto continuam a ser nacionais e quais as
que transitaram para a esfera europeia. Atualmente, os tratados (antes deles a doutrina e a
jurisprudência), estabelecem três tipos de competências: as exclusivas da UE, as partilhadas entre
esta e os Estados-membros e as de apoio, coordenação ou completude das ações nacionais.

Ao exercer as competências que lhe são atribuídas pelos tratados, as instituições europeias devem
igualmente respeitar algumas regras, que visam evitar a utilização abusiva, desproporcionada ou
sem sentido dessas competências. Assim, ao exercício das competências atribuídas à União
aplicam-se princípios fundamentais do direito europeu, em particular a proporcionalidade e a
subsidiariedade, explicados mais abaixo nesta lição.

De reter que só se põe a questão (dos limites do exercício das competências da União) no caso
das competências partilhadas. Isto porque, nos restantes casos, ou não há limite ao exercício das
competências pela UE, sendo os domínios em causa da sua competência exclusiva ou, pelo
contrário, as competências em questão pertencem inteiramente aos Estados-membros, cabendo à
União complementá-las.

Principio da Atribuição - O Tratado de Lisboa, no artigo 5º nº 2 TUE define-o assim: “ (...) a


União atua unicamente dentro dos limites das competências que os Estados-membros lhe tenham
atribuído nos Tratados para alcançar os objetivos fixados por estes últimos. As competências que
não sejam atribuídas à União nos Tratados pertencem aos Estados-membros".

O princípio da subsidiariedade assegura o exercício do poder da forma que mais eficazmente


satisfaça as necessidades e os interesses dos cidadãos. Duas outras definições possíveis são:
- (negativa) nenhuma decisão deve ser tomada a um nível superior se puder ser tomada tão ou
mais eficazmente a um nível inferior;
- (positiva) as decisões devem ser tomadas o mais próximo possível das pessoas.
Por sua vez, e a respeito do princípio da proporcionalidade, diz o artigo 5º do TUE: “ (...) o
conteúdo e a forma de ação da União não devem exceder o necessário para atingir os objetivos
do presente Tratado”.

Os princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade visam essencialmente limitar a extensão


das decisões tomadas pelas instituições europeias no âmbito da União ao estritamente necessário.

As competências exclusivas da UE - aquelas em que os Estados-membros não dispõem de


nenhuma competência. Cumpre às instituições europeias e apenas a elas tomar decisões nestas
áreas. São 5 as matérias da competência exclusiva da União: união aduaneira; regras de
concorrência no mercado interno; política monetária para os países do euro; conservação dos
recursos biológicos do mar no âmbito da política comum de pescas; política comercial comum.
As competências partilhadas, em 11 domínios, são provavelmente as mais complexas, pois que
não apenas representam o grosso das decisões europeias como envolvem alguma subtileza, com
um elevado potencial de conflito. Assim, a União e os Estados-membros podem tomar decisões
nos sectores em questão sempre que o entendam, embora assim que a UE legisle sobre a matéria
os Estados nacionais deixem de poder dispor legislativamente nessa matéria. Os principais
domínios em que se aplicam: mercado interno; política social quanto aos aspetos definidos no
Tratado; coesão económica, social e territorial; agricultura e pescas (com a exceção da
preservação dos recursos biológicos, que é exclusiva); ambiente; defesa dos consumidores;
transportes; redes transeuropeias; energia; espaço de liberdade, segurança e justiça; problemas
comuns de segurança em matéria de saúde pública.

Finalmente, registe-se as competências complementares, em 7 domínios, de apoio, coordenação


ou para completar a ação dos Estados-membros, por parte da União.

Cidadania Europeia
A cidadania que nos interessa é essencialmente a que respeita à pertença a uma entidade política
ou a uma comunidade alargada. Implica ela “que o Estado conceda a todos aqueles que estão sob
a sua jurisdição, uma equitativa igualdade de direitos políticos e civis, sem discriminação.

A cidadania é um estatuto aplicado a “todos os que estão sob a jurisdição do Estado”, isto é,
alargada para além do círculo da nacionalidade. Não é assim na generalidade das legislações: os
nacionais tendem a beneficiar de um número acrescido de direitos, sendo imposto aos restantes
habitantes do território (da jurisdição) um conjunto suplementar e específico de deveres e não
lhes são reconhecidos – pelo menos de forma genérica – os direitos atribuídos aos cidadãos
nacionais. Recorde-se, por outro lado, que a atribuição da nacionalidade varia em função de
critérios muito distintos de país para país, em função de considerações de natureza ideológica,
conforme se baseie nomeadamente no jus soli ou no jus sanguini.

A cidadania europeia rompe a preponderância da caracterização estatal da nacionalidade como


consideração prioritária e quase única, ao introduzir na conceptualização do conceito uma
dimensão supranacional: os direitos e as garantias aplicam-se a todos os nacionais dos Estados-
membros da União, não cabendo às jurisdições nacionais determinar quem é ou não beneficiário
dos direitos respetivos.

O conceito da cidadania europeia surge no devir da União, paradoxalmente, após as primeiras


formulações de um ideal identitário baseado numa identidade europeia “a criar”, cuja origem
remonta aos anos 70. Essa ideia – e a formulação que a estrutura e concretiza – ganha corpo
apenas no debate em torno do futuro Tratado de Maastricht, já na fase final da conferência
intergovernamental que levou à sua adopção. A emergência do conceito, aliás, integra-se no
“espírito do tempo”: após o período de imobilismo do início dos anos 80 a integração europeia
acelera a partir de 1985, dotada de novos objetivos (mercado único, ambiente, discussões sobre a
hipótese de uma “constituição europeia”, planos Delors), e sobretudo com a queda do Muro de
Berlim e a transformação do paradigma político internacional.

Numa ótica de complementaridade, vai-se consolidando uma lógica simples: se aos nacionais dos
diferentes Estados-membros, enquanto tal, é atribuído um estatuto de cidadania (nacional) dotado
de direitos, deveres e garantias, então a pertença a um espaço alargado – o europeu –, que implica
por natureza novos direitos e garantias (e potenciais deveres, ainda não concretizados), deverá ter
implicações semelhantes; isto é, deverá assentar num estatuto da mesma natureza, embora
atendendo necessariamente às distintas realidades envolvidas.

O exemplo mais claro é a livre circulação: respeitando a todos os cidadãos dos Estados- membros,
é um direito ipso facto da integração europeia; da pertença à UE decorre, portanto, um estatuto
dotado de direitos (de circulação) que se acrescenta àqueles de que o cidadão pé titular por força
da respetiva nacionalidade. É justamente o reconhecimento deste novo estatuto que ocorre
aquando da adopção do Tratado de Maastricht, num novo artigo 8º. Os direitos de proteção
genérica incluem protecção consular e diplomática: um cidadão europeu tem o direito de se dirigir
e receber protecção por parte de embaixadas ou consulados de um país da UE que não o seu, em
qualquer país terceiro em que o Estado de que é nacional não disponha da sua própria
representação.
- Actualmente está vigente a diretiva 2004/38/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29
de abril de 2004, relativa ao direito de livre circulação e residência dos cidadãos da União e dos
membros das suas famílias no território dos Estados-Membros (alterado pela última vez em 2011)

O atual artigo 20º TFUE postula os dois princípios fundamentais da cidadania europeia: ela
complementa e não substitui as nacionais; e são seus titulares os nacionais dos Estados-membros
da UE, o que significa que não é possível obter a cidadania europeia por outra via (por exemplo,
requerendo-a); a sua obtenção decorre da mera nacionalidade de um país membro da União. Por
outro lado, um Estado-Membro não pode recusar a qualificação de um determinado sujeito como
nacional de um outro Estado-Membro recorrendo à sua legislação, já que nessa matéria apenas
conta o cumprimento das regras estabelecidas pela legislação da União.

Para além disto, a cidadania mais ativa permite a prática de petições europeias, ao nível europeu;
e recorrer ao Tribunal de Justiça, aquando de uma violação da lei, tendo o direito de obter resposta
na nossa língua.

Como se refere acima, um estatuto desta natureza inclui direitos, deveres e garantias. Os direitos,
como os deveres, são de ordem muito diversa: podem ser políticos, sociais, económicos ou de
participação cívica. As garantias consistem essencialmente na proteção que os sistemas nacionais
de justiça asseguram aos cidadãos, nomeadamente contra a arbitrariedade da própria
administração.

O estatuto de cidadania europeia prescreve direitos claros (como veremos adiante), não refere
deveres (com a excepção do dever genérico de respeitar a lei europeia), havendo igualmente (e
crescentemente, revisão de Tratado após revisão de Tratado) garantias claras e uma estrutura
jurisdicional (e não jurisdicional) à disposição dos cidadãos.

Relativamente a Portugal, há uma menor ligação ao fenómeno da UE e às eleições europeias. Tal


é uma fraqueza estrutural que coloca em causa a cidadania europeia. É necessário mudar a
mentalidade dos portugueses de que “vão para a Europa”, pois NÓS FAZEMOS PARTE DA
EUROPA, somos cidadãos plenos. E, por isso, é necessário vincular um maior conhecimento
acerca da agenda europeia e o que se passa a nível europeu.
A nossa relação com a cidadania europeia é um pouco ambígua. A ideia é que durante muito
tempo se viu a União Europeia como um “porquinho mealheiro”, onde se ia buscar dinheiro.

NOTA: A cidadania europeia permite-nos fazer petições ao parlamento europeu e o direito de nos
dirigirmos aos órgãos e instituições da EU na nossa língua e de nos responderem na nossa língua.
Podemos também “circular e permanecer” pelos países da União Europeia.

REPER – Representação permanente de Estados-membrosl junto da UE, defendendo o interesse


nacional.

REPRESENTAÇÃO DE PORTUGAL

A nível político – é relativo à representação do Estado Português, nomeadamente os ministros


que integram as diferentes comissões e o primeiro-ministro que tem um lugar na comissão
europeia, ou seja, voz em nome de Portugal.
Há um nível intermédio relativo à representação diplomática: embaixador representante;
embaixador representante adjunto; embaixador na comissão de segurança – estes 3 procuram os
últimos consensos antes de chegar à comissão. No entanto, os embaixadores não conseguem
acompanhar todos os assuntos e têm a ajuda de conselheiros – especializados em diferentes áreas
e comissões, estes fazem um trabalho mais lento e prolongado que, primeiro é submetido ao
REPER e, depois, chega à comissão.

A representação de Portugal, junto da Bélgica, é elevada: em Bruxelas, há 5 embaixadas


portuguesas; Estão representados no Parlamento Europeu, através do voto e das eleições. Portugal
elege 21 eurodeputados, divididos em grupos parlamentares:
− 9 socialistas (PS),
− 7 PPE (PSD e CDS);
− 4 comunista e verde (BE e PCP);
− 1 grupo dos veres (PAN);

Os deputados não falam em nome de Portugal, mas dos portugueses e dos seus eleitores. Em 2019,
apenas 38% dos eleitores votaram. Mas, ainda assim, os deputados existem e, muitas vezes,
recebem indicações que não coincidem com o interesse nacional.

Para além disto, o propósito das instituições europeias é o compromisso. O Concelho tem 27
Estados-Membros representados, com a missão de proporcionar o direito nacional; e o Parlamento
tem 8 grupos de trabalho (7 GRUPOS PARLAMENTARES de índole política), com o objetivo
de assinar acordos, definir política externa, etc,

O conselho é ainda um órgão particular, pois não tem membros permanentes. É constituído por 1
presidente que muda e roda de 6 em 6 meses. É o presidente que marca o ritmo, as agendas e
garante o consenso entre os Estados-Membros. É o mediador (imparcial), planeando e presidindo
as reuniões.

No entanto, é importante denotar que a segmentação semestral, coloca em causa a continuidade


do trabalho, devido à rotação do período de presidência. Foi, então, instituído um “trio”, segundo
o qual 3 Estados-Membros, definem os objetivos a largo-prazo;
Estrutura da REPER
A REPER é constituída por 3 embaixadores:
- Representante Permanente (REPER) – Nuno Brito
- Representante Permanente-Adjunto (RPA) – Pedro Lourtie
- Representante Permanente no comité política e de Segurança (COPS) – José costa Pereira
NOTA: Em circunstâncias de funcionamento normal temos entre 40 a 50 conselheiros técnicos e
entre 30 a 40 Administradores.

Promover os interesses de Portugal junto das instituições europeias:


- Conselho: negociar em nome de Portugal em grupos de trabalho e comités, COREPER e
Conselho de Ministros
- Comissão: influenciar a estratégia, as propostas, e comunicar sobre transposição ou infrações,
dialogar em casos concretos
- Parlamento Europeu: acompanhar o processo de decisão, em particular o legislativo, dar
informação aos deputados portugueses, dialogar em casos concretos

É importante manter a capital informada (via MNE) e tomar parte no diálogo sobre as políticas
Agir de acordo com as instruções da capital (via MNE) Construir e manter redes
Missão:
- Representar o Estado português nas diversas instituições da UE e assegurar a defesa dos seus
interesses nos vários níveis e âmbitos de decisão
- Os funcionários da REPER participam ativamente nos múltiplos grupos de trabalho do
Conselho da UE, onde em estreita cooperação com a administração portuguesa, veiculam e
defendem as posições nacionais
- As matérias mais importantes são discutidas no Comité de Representantes Permanentes
(COREPER I, II e COPS) antes de serem inscritas na agenda do Conselho de Ministros e ou a do
Conselho Europeu que reúne os Chefes de Estado ou Primeiros-Ministros dos Estados- membros

REPER - estrutura:
- Representante Permanente (REPER)
- Representante Permanente Adjunto (RPA)
- Representante Permanente no Comité Político e de Segurança
- E em circunstâncias de funcionamento normal entre 40 e 50 conselheiros técnicos e de 3’ a 40
administrativos

Afinal o que é o COREPER?


É a principal instância preparatória do Conselho
Desta forma, todos os pontos da ordem do dia do Conselho têm de ser analisados primeiro pelo
COREPER, salvo decisão contrária do Conselho
Esse não é um orgão e decisão da UE e, portanto, qualquer acordo por ele alcançado pode ser
posto em causa pelo Conselho, pois este é o único a poder tomar decisões

Principais funções:
- Coordena e prepara os trabalhos das diversas formações do Conselho - Assegura a coerência
das políticas da UE
- Negoceia acordos e compromissos

Composição do COREPER - é composto pelos representantes permanentes de cada Estado-


membro, que são, na realidade os embaixadores de cada um desses países junto da UE,
exprimindo a posição do seu governo

Formação do COREPER:
COREPER I e COREPER II
As duas formações se reúnem todas as semanas

Distribuição de dossiers:
O COREPER I prepara os trabalhos de 6 formações do Conselho: Agricultura e Pesca;
Competitividade; Educação, Juventude, Cultura e Desporto; Emprego, Política Social, Saúde e
Consumidores; Ambiente e Clima e Transportes, Telecomunicações e Energia
Os trabalhos do COREPER I são preparados pelo Grupo Medem
Esse grupo informal ajuda a esboçar uma primeira ideia das posições que as delegações dos
vários Estados-membros irão assumir na reunião do COREPER

O COREPER II prepara os trabalhos de 4 formações do Conselho: Assuntos Económicos e


Financeiros; Negócios Estrangeiros; Assuntos Gerais e Justiça e Assuntos Internos
Os trabalhos do COREPER II são preparados pelo Grupo Antici

O que fazer?
- Clareza na articulação da informação de várias fontes
- Concisão na comunicação de mensagens centradas no essencial
- Rapidez na compreensão que o tempo é escasso e, portanto, deve-se agir em conformidade -
Ser construtivo e adoptar uma abordagem positiva
- Ser capaz de criar redes e construir pontes
- Ser consistente com as instruções nacionais

Instituições Europeias
- Comissão Europeia
- Conselho da União Europeia
- Parlamento Europeu
- Conselho de ministros
- Tribunal Justiça da União Europeia
- Conselho Europeu
- Tribunal de Contas

Definidas no Art.º.13 do Tratado da união Europeia, assim como um conjunto significativo de


outras entidades com competências próprias no seio da união, geralmente, designadas por órgãos
que podem ou não estar previstos nos tratados (Eurogrupo). As instituições atuam dentro dos
limites das atribuições que lhe são conferidas pelos tratados, de acordo com os procedimentos,
condições e finalidades que estes estabelecem sob o princípio de cooperação leal. Ou seja, os
tratados preveem como as instituições podem funcionar. As instituições devem funcionar com o
princípio de cooperação entre as mesmas.

A União dispõe, portanto, de um quadro institucional único, isto é, de um conjunto de instituições


habilitadas de modo exclusivo e de forma geral a desempenhar o conjunto de funções que os
tratados determinam tendo em vista o seu bom funcionamento. Assenta esse desempenho em dois
elementos centrais: o cumprimento dos objetivos estipulados nos tratados e a respetiva dimensão
democrática.

Importante: A Comissão não decide, a Comissão propõe (há uma diferença) e os seus membros
são eleitos pelos deputados ao Parlamento Europeu, perante quem respondem (à semelhança do
que acontece nos sistemas políticos da generalidade dos países democráticos).

Ao conjunto de três instituições em concreto – PE, Conselho e Comissão, e a que haverá cada vez
mais que juntar o Conselho Europeu - usa chamar-se “núcleo da decisão” (por ser no respetivo
concerto que é tomada a generalidade das decisões legislativas), ou ainda “instituições da
decisão”. O PE e o Conselho, em conjunto, constituem a “legislatura”, assistida pela Comissão,
que detém o poder da iniciativa legislativa (e crescentemente pelos parlamentos nacionais).

Parlamento europeu

É único órgão diretamente eleito pelos cidadãos europeu, sendo que os representa. Os deputados
são eleitos numa base nacional e, posteriormente, são agrupados por afinidades políticas em
grupos políticos transnacionais, os quais desempenham um papel fundamental no funcionamento
da instituição, participando das instâncias dirigentes e repartindo entre si as funções e relatórios
das comissões parlamentares.

Integram o PE deputados eleitos nos Estados-membros da União, em eleições diretas e livres,


realizadas de cinco em cinco anos, sensivelmente na mesma altura do ano por força do
estabelecido no ato jurídico originário.
O número de deputados não é rigorosamente proporcional à população, o objetivo dessa regra é
evitar um predomínio esmagador dos países mais populosos, condenando os mais pequenos à
irrelevância política, quiçá à ausência. Em parte, pelas mesmas razões, o Tratado de Lisboa
estabelece que nenhum país pode ter menos de seis deputados (casos de Malta, os mais pequenos
dos países europeus, do Chipre e do Luxemburgo), nem mais de 96 (Alemanha).
Os deputados europeus agrupam-se por filiação política e não por nacionalidade.
Os 751 eurodeputados fixados pelo Tratado de Lisboa foram reduzidos para 705 com a saída do
Reino Unido.
Na 9ª legislatura (2019-2024), Portugal tem 21 eurodeputados. Para constituir um grupo político
é necessário um número mínimo de 25 deputados e uma representação de pelo menos um quarto
dos Estados-Membros. Cada deputado só pode aderir a um grupo político. Existem atualmente 7
grupos políticos no Parlamento Europeu. (S&D, renew, ecr)
O Parlamento debate e aprova (ou não) relatórios legislativos no âmbito dos processos legislativos
adequados (co-decisão, parecer conforme ou consulta), relatórios não legislativos, no âmbito do
seu direito de iniciativa ou relativamente ao processo orçamental, de que o Parlamento é
autoridade, em conjunto com o Conselho.
Varia consoante os actos em causa, podendo ser por maioria absoluta dos membros da casa, por
maioria dos deputados presentes na sala (no plenário), ou por diferentes tipos de maioria
qualificada.
O Parlamento é sem dúvida a instituição europeia que maior transformação sofreu nos últimos
anos. De uma assembleia pouco respeitada e ouvida, com escassos poderes, foi crescendo em
influência até à situação atual, em que mantém a generalidade das competências que já antes
possuía acrescentando-lhe agora uma efetiva capacidade de decidir em conjunto com o Conselho
de Ministros na esmagadora maioria das matérias em que a União é competente. O processo de
decisão - a co-decisão- constitui um bom exemplo do equilíbrio de poderes, freios e contrapesos
que a UE tem vindo a desenvolver.
Trata-se sem dúvida da principal competência do PE – competência legislativa –, exercida em
conjunto com o Conselho da União Europeia, após o início do procedimento por parte da
Comissão europeia, que mantém o exclusivo da iniciativa.
O Parlamento detém além disso competências consultivas nas (poucas) bases jurídicas e políticas
em que o processo de co-decisão não é o procedimento padrão, sendo nomeadamente o caso no
domínio da política externa e de segurança.
Outra das competências relevantes do PE, elemento chave do referido equilíbrio de poderes, é o
exercício do controlo político sobre outras instituições, e muito em particular sobre a Comissão
Europeia (o “executivo” da UE), cujo Presidente e respetiva equipa são eleitos pelo PE, na
sequência de audições individuais com os membros propostos.
O PE tem ainda competência orçamental (em parceria com o Conselho), quer na adopção do
orçamento anual, quer na quitação ou não, isto é, na aprovação da respetiva execução.
O dia-a-dia do parlamento ocorre em Bruxelas, onde se reúnem as comissões, os políticos, etc. O
parlamento de Estrasburgo tem apenas um peso simbólico. O calendário do Parlamento é marcado
por:
1. Sessões de reunião dos grupos parlamentares (rosa) e das delegações de deputados que
vão a outros países (turquesa);
2. É importante referir que as reuniões de grupo existem 25 deputados e é onde se discutem
as votações prioritárias, as nomeações e os trabalhos das comissões, a ordem do dia e o
tempo que cada um fala e quem falam; e onde participam os relatores de certos dossiês
(escrevem a base do que vai ser discutido no parlamento); são os “avisos” de pré-
plenário.
3. Todos os grupos parlamentares têm um coordenador para a comissão – que tem um papel
elevadíssimo na atribuição de relatórios aos deputados, são estes coordenadores e
secretariados que elaboram notas sintéticas antes das votações.
4. Plenário (encarnado); - No que respeita à organização, a instituição toma as suas decisões
em plenário dos deputados, depois de um longo trabalho de preparação nas 20 comissões
parlamentares. Estas estão organizadas por políticas: uma comissão dos orçamentos,
outra do ambiente, um dos assuntos constitucionais, etc.
5. Reuniões das comissões (Azul);
- Aqui dá-se o seguimento do que é preciso para dar resposta às propostas legislativas; discutem-
se assuntos externos (liberdades cívicas, pesca, agricultura, direitos das mulheres, segurança e
defesa); aprovam-se relatórios e propõe-se alterações;
- Tem um papel essencial no trabalho parlamentar, na medida em que é nas comissões que os
deputados fazem a diferença (25 a 70 deputados são titulares numa comissão e suplentes noutra),
devido ao seu trabalho jurídico
- Recebem ministros, comissários, etc;
- Têm 1 presidente e vice-presidentes;
- Constituídas por sub-comissões. Por exemplo, a comissão da segurança e defesa e dos direitos
das mulheres fazem parte da comissão dos assuntos externos.
Todas as terças-feiras é dia de inauguração das exposições (causas, produtos regionais, etc); e os
deputados têm uma cota de visitas, pagas pelo serviço de visitas do parlamento.
Assume-se, cada vez mais, como legislador e fiscalizador político dos atos das restantes
instituições, em particular da Comissão europeia.
Há ainda variadas delegações parlamentares, para os contactos com parlamentos nacionais de
países terceiros e comissões parlamentares mistas, com parlamentos de países candidatos à adesão
ou com parlamentos de Estados associados. Os deputados europeus integram cinco assembleias
multilaterais, que reúnem deputados europeus e de Estados de África, Caraíbas e Pacífico (ACP-
EU), Mediterrâneo (EMPA), América Latina (EUROLAT), vizinhos de Leste (EURONEST),
Fórum das Caraíbas (CARIFORUM) e os membros da NATO.
A formação das decisões pelo PE, no que respeita às maiorias necessárias, varia consoante os atos
em causa, podendo ser por maioria absoluta dos membros da casa, por maioria dos deputados
presentes na sala (no plenário), ou por diferentes tipos de maioria qualificada. Mas é sempre por
“maioria”.
O plenário reúne de modo ordinário 12 vezes por ano em Estrasburgo.
Conselho Europeu
Só após a entrada em vigor do TL é qualificada como tal pelos tratados; a primeira menção a um
“Conselho Europeu” no direito primário data do Tratado de Maastricht ou da UE, assinado em
fevereiro de 1992.
Constituído pelos chefes de Estado e de governo dos Estados-membros da UE, o CEU é por
definição uma instituição eminentemente intergovernamental. Dispor de um presidente, eleito por
maioria qualificada pelos seus membros (os Estados-membros), para um mandato renovável (por
uma vez) de dois anos e meio.
O papel do Presidente é de condução dos trabalhos e gestão da agenda, para além de representar
a instituição externamente. Não é assim um verdadeiro “Presidente da União”, como é perceção
corrente, mas antes “apenas” o Presidente do CEU. Ainda assim, cumpre-lhe assegurar a
representação externa da UE no âmbito da política externa e de segurança comum, sem pôr em
causa as atribuições do Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de
Segurança. E tem a tarefa de apresentar um relatório ao PE após cada Cimeira.
A Presidência, assegurada alternadamente por cada Estado-Membro de acordo com uma ordem
rotativa, definida por uma Decisão do Conselho, com duração de seis meses.
Fazem ainda parte do Conselho Europeu o Presidente da Comissão Europeia, sem direito a voto,
enquanto o Presidente do Parlamento Europeu se dirige ao CEU no início das suas reuniões. O
Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança participa
igualmente nos trabalhos.
Compete-lhe ainda convocar a Convenção para analisar os projetos de revisão dos tratados. O
Conselho da UE é, assim, por natureza, intergovernamental, mas quando a regra é a da maioria,
torna-se uma instituição com um cariz mais próximo do comunitário, buscando soluções comuns
a problemas que devem ser tratados em comum.

O Conselho Europeu tem cada vez mais poderes concretos. É o conselho europeu que nomeia o
presidente do conselho, o alto representante dos negócios estrangeiros, o colégio de comissários,
etc. O Conselho Europeu tem grande importância acima de tudo a nível da nomeação.
Representam os países de forma vincada e assertiva. Esta instituição tendencialmente pensa a
médio prazo.
Funções do Conselho:
 exerce poder legislativo – regra geral, conjuntamente com o Parlamento Europeu e no
seguimento de propostas apresentadas pela Comissão;
 coordena as políticas económicas gerais dos Estados membros;
 define e aplica a política externa e de segurança comum da UE, com base nas orientações
do Conselho Europeu;

Atos do Conselho
 regulamentos, diretivas, decisões
 ações comuns, posições comuns
 recomendações, pareceres, conclusões, declarações, resoluções.

Votações no Conselho
Todos os debates e votações são públicos.
Para serem aprovadas, as decisões requerem habitualmente uma dupla maioria: 55% dos países
(o que com 28 países da EU significava 15 países) que representem pelo menos 65% da população
total da EU.

Para bloquear uma decisão, são precisos pelo menos, 4 países (que representem, pelo menos 35%
da população total da EU).
Exceção – Quando estão em causa temas sensíveis, como é o caso da segurança e assuntos
externos ou da fiscalidade, as decisões do Conselho têm de ser tomadas em unanimidade.

Como se procura assegurar a continuidade das políticas?


Os Estados-membros que exercem a presidência trabalham em grupos de 3, chamados “trios”
Esse sistema foi instituído pelo Tratado de Lisboa em 2009
O trio fixa os objetivos a longo prazo e prepara uma agenda comum que estabelece os temas e
as principais questões que o Conselho irá tratar ao longo de um período de 18 meses
Com base nesse programa, cada um dos três países prepara o seu próprio programa semestral
mais detalhado

Julho a Dezembro de 2022: República Checa Janeiro a Junho de 2023: Suécia


Julho a Dezembro de 2023: Espanha
2024: Bélgica e Hungria

Quem prepara o trabalho?


O Conselho é apoiado pelo Comité de Representantes Permanentes do Governo dos Estados-
membros da União Europeia (COREPER) e por mais de 150 grupos de trabalho e comités
altamente especializados, conhecidos como “instâncias preparatórias”
As instâncias preparatórias podem dividir-se em duas categorias principais:
- Comités criados pelos trabalhadores, por decisões intergovernamentais ou por ato do
Conselho que são na sua maior parte permanentes e têm muitas vezes um presidente
nomeado ou eleito
- Comités e grupos de trabalho criados pelo COREPER que tratam de matérias mais específicas
e são presididas pelo delegado do país que exerce a presidência rotativa semestral do
Conselho
Além disso podem ser criados comités ad hoc

COREPER
O COREPER é a principal instância preparatória do conselho. Todos os pontos da ordem do dia
do Conselho (exceto algumas matérias agrícolas) têm primeiro de ser analisadas pelo COREPER,
salvo a decisão em contrário do Conselho.
A COREPER não é um órgão de decisão da EU e qualquer acordo por ele alcançado pode ser
posto em causa pelo Conselho, que é o único a poder tomar decisões. Cada Estado-membro dispõe
de uma representação permanente junto da União (Reper), com estatuto de embaixada, liderada
pelo "representante permanente" (embaixador ou chefe de missão).

O trabalho do Conselho assenta nos chamados órgãos preparatórios, desde logo os Comités
especializados que são entidades em geral permanentes criadas por um acto formal, seja do
próprio Conselho, seja dos Tratados, por vezes dotados de um Presidente e de um grupo de
funcionários; existem assim os Comités da Educação, orçamental ou Político e de Segurança,
entre cerca de 20 órgãos similares. Há além disso os grupos de trabalho, osorking groups, criados
pelo Coreper e em que técnicos do Conselho e funcionários nacionais reúnem, em reuniões
técnicas dos diferentes grupos de trabalho temáticos, alguns respeitando a um sector específico e
reunindo-se periodicamente, outros constituídos temporariamente para um tema concreto.

A todos estes órgãos preparatórios cumpre preparar o trabalho do Coreper propriamente dito, que
reune semanalmente os representantes permanentes de cada país para preparar os dossiês que o
Conselho de Ministros tem na respectiva agenda (em geral, propostas apresentadas pela
Comissão).

O Coreper tem um papel fundamental no processo de decisão, pois é a um tempo um órgão de


diálogo entre os representantes permanentes entre si e com as respectivas capitais e de orientação
e supervisão política do trabalho dos diferentes grupos especializados e de peritos. São dois os
grupos em que se divide: o chamado Coreper I, composto pelos representantes permanentes
adjuntos, que se ocupa das matérias relativas às formações do Conselho da Agricultura e Pescas
(questões financeiras ou medidas técnicas sobre legislação veterinária, fitossanitária ou
alimentar), Competitividade, Educação, Juventude, Cultura e Desporto, Emprego, Política Social,
Saúde e Consumidores, Ambiente e Transportes, Telecomunicações e Energia. Já o Coreper II,
integrado pelos embaixadores, trata os assuntos de natureza intergovernamental e política,
incluindo o ECOFIN, os assuntos de segurança interna e justiça, de defesa e em geral as matérias
dos antigos segundo e terceiro pilar.

Comissão Europeia

Guardiã dos Tratados, instituição mais original de todas quantas foram criadas no âmbito da
União, a Comissão Europeia (a Comissão) é um pouco o coração do processo de integração e,
provavelmente, a instituição europeia mais supranacional.
Cabe-lhe assegurar o cumprimento cabal dos objetivos definidos pelo direito originário da UE, e
os comissários, no exercício do seu mandato, são totalmente independentes das orientações
nacionais.

A comissão Europeia é proposta pelo conselho europeu e nomeada pelo Parlamento.


Dotada de um conjunto de competências em si mesmo original, é a um tempo executiva e
iniciadora da quase totalidade dos procedimentos legislativos, gestora de programas, reguladora
da concorrência no mercado interno e representante da União no exterior.

A Comissão Europeia é responsável por indicar e aplicar as decisões ao/ do Parlamento


Europeu (PE) e o Conselho da União Europeia (CUE).Mas a Comissão está limitada na sua
capacidade política pela própria natureza da União, e pelos poderes próprios dos Estados-
membros; em situações de crise tem aliás vindo a revelar uma crescente sujeição à iniciativa
política dos governos nacionais, em particular dos mais influentes.

A eleição do Presidente da Comissão é muito, muito complexa. E tem mudado nos últimos anos.
Resumidamente:
1. Após as eleições europeias (ou seja, para o Parlamento Europeu), o Presidente do Conselho
Europeu consulta o Parlamento Europeu em relação a um possível candidato para a presidência
da comissão (Spitzenkandidaten) – 1 por partido.
2. No seguimento da consulta, o Presidente do Conselho Europeu propõe um candidato ao
Conselho Europeu.
3. O conselho Europeu decide sobre a proposta de candidato (por maioria qualificada).
4. Eleição do Presidente da Comissão pelo Parlamento Europeu (por maioria).

A Comissão é constituída por tantos Comissários quantos os Estados-membros.

A Comissão tem o exclusivo, quase absoluto, da iniciativa legislativa, que consiste em elaborar
as propostas de atos legislativos para apreciação e decisão do PE e do Conselho, uma
originalidade e uma competência de grande importância. Entre outras funções.

É a comissão que pode chamar os Estados e as empresas a juízo perante o Tribunal de Justiça da
UE.

Além disso, a Comissão representa a União externamente, com exceção da política externa e de
segurança (que cabe ao conselho europeu).

Propostas da Comissão são apresentadas, normalmente às quartas-ferias, porque é o dia em que
os Comissários se reúnem
As propostas têm de estar de acordo com as ideias/objetivos da UE
A Comissão está sempre presente nas reuniões do Conselho e do Parlamento pois é quando
apresenta as suas propostas
O percurso que uma iniciativa faz tem dois cariz (pelo Conselho e pelo Parlamento) Há, pelo
menos, 200 grupos de trabalho a formar propostas

Proposta da Comissão Europeia é publicada são agendadas reuniões dos grupos de trabalho do
Conselho
E as presidências definem a ordem de prioridades e definem a resolução das propostas
No Conselho, ritmo com que a proposta da Comissão é discutida é determinada pela presidência
No Parlamento, os grupos políticos tem quotas e são atribuídos relatores ou co-relatores
O percurso da proposta da Comissão passa por fases diferentes de acordo com as instituições
que estão a ser avaliadas.
Quem propõe é a Comissão, mas ela não adota nada, a não ser que a própria legislação obrigue
isso

Partidos Políticos

A verdade é que a UE introduziu uma nova forma de fazer política, através da europeização da
política, mais evidente nos partidos políticos e instituições europeias.

Antes, os partidos políticos assentavam e atuavam a nível nacional, mas agora operam a uma
escala supranacional, nomeadamente ao nível da UE.
Segundo Jorge Miranda, um partido político é uma “Associação de carácter permanente,
organizada para a intervenção no exercício do poder político, procurando com o apoio popular a
realização de um programa de fins gerais.”
Mas a verdade é que os partidos nacionais tiveram e apresentam dificuldades em acompanhar os
deputados da UE, devido a uma má coordenação da atividade da delegação nacional na UE (leva
a uma maior independência dos eurodeputados).

Por outro lado, na UE, verificou-se um défice de informação dos quadros partidários e de
militantes, traduzido na dificuldade da coesão dos partidos; na mudança na estrutura de poder;
um ambiente focado no consenso; e uma distância entre os eleitores e os eleitos.
No entanto, com a europeização, os partidos ganharam mais liberdade e responsabilidades. Assim,
não só os partidos interagem com a União e com as instituições europeias, como a maioria dos
decisores políticos na UE, provêm de partidos nacionais – estes contribuem para a ligação do
eleitorado e da união.

Para além disto, existe:


− uma baixa participação eleitoral nas campanhas, onde os partidos não apostam muito na
sua divulgação;
− E um índice democrático.

Nas eleições, os partidos deixam de ser partidos e passam a ser grupos. O primeiro critério para
agregação dos partidos é a sua afinidade.

Conclui-se que os partidos políticos, ao nível europeu, contribuem para uma consciência política
europeia. São, por um lado, os partidos nacionais e os partidos europeus.

Esta realidade tem uma pré-história, em 1979. Anos antes, os partidos começaram-se a agregar.
Há uma primeira vaga de federação destes partidos que vai continuando e começa a existir uma
consagração em alguns instrumentos. Mas, hoje em dia, é uma realidade existente.

A europeização da Europa, faz com que os governantes sintam necessidade de falar em conjunto,
antes das reuniões. O pessoal político é essencial. É uma realidade compósita, muito diferente das
dos partidos nacionais, pois não se pode procurar neles programas detalhados. Existe, apenas,
uma legitimidade derivada, compósita.

“Associação de carácter permanente, organizada para a intervenção no exercício do poder


político, procurando com o apoio popular a realização de um programa de fins gerais.”

Limites da ação e legitimação do sistema:


Partidos políticos:
- A integração europeia está a mudar os limites da ação político-partidária
- Os partidos políticos não são apenas “principais guardiões dentro do âmbito eleitoral europeu”,
mas a maioria dos políticos que participam nos assuntos da UE são também políticos partidários
- A partir desta perspectiva, e em analogia com a política nacional, os partidos estão envolvidos
na legitimação do sistema de governação da UE, uma vez que representam a ligação primordial
entre as instituições de governo - o Conselho Europeu, o Conselho de Ministros e do Parlamento
Europeu - e o eleitorado
Partidos Políticos a nível Europeu
Têm ethos muito diferentes dos partidos nacionais
- Fundados em mínimos denominadores comuns doutrinários e não em programas claros e
detalhados
- A concentração de poderes em quartéis-generais em Bruxelas pode afastar ainda mais os
efeitos do controlo democrático das populações
- Organizações capazes de acomodar quase todos os que não repudiarem expressamente valores
e princípios difusos
- Têm uma legitimidade derivada, uma estrutura compósita e um menor grau de relevância
política quando comparadas com os partidos nacionais
- As suas lideranças são escolhidas tendo em conta o peso específico dos partidos nacionais no
seu seio e muito menos devido a méritos individuais
- Não têm demonstrada capacidade para ser decisivos nas eleições europeias - estas são
eleições nacionais com um resultado europeu
- Apesar da teorização de um sistema de partidos genuíno e concorrencial na esfera europeia,
este pode conduzir ao estreitamento da diversidade de propostas políticas
Tratados:
Artigo 10º nº 4 TUE
Os partidos políticos a nível europeu contribuem para a criação de uma consciência política
europeia e para a expressão da vontade dos cidadãos da União
Artigo 224º TUE
O Parlamento Europeu e o Conselho definem o estatuto dos partidos políticos à nível europeu a
que se refere o artigo citado anteriormente, nomeadamente as regras relativas ao seu
financiamento

Programas e Manifestos - Partidos Políticos ao Nível Europeu:


- O facto de os programas ou manifestos dos partidos europeus estarem permeados de jargão,
vocabulário inócuo e não comprometedor, pensamentos abstratos e poucas propostas discerníveis
denota a dificuldade de construção de programas políticos de âmbito europeu verdadeira e
concretamente abrangentes
- Estes tendem raramente a ser usados pelos partidos nacionais no contexto eleitoral
- O mínimo denominador comum parece assim ser a abordagem escolhida não apenas quanto
aos programas políticos, mas também no tocante às escolhas pessoais a nível partidário europeu

Nível Europeu e Nacional:


- Os cínicos poderão dizer que acontece o mesmo nacionalmente e que essas estruturas
partidárias também não são tão meritocráticas quanto deveriam ser e terão razão
- Mas esta tendência é maximizada nos partidos europeus devido à inexistência de relação
direta com o eleitorado
- Enquanto os líderes dos partidos nacionais sabem que serão julgados nas urnas pelos
eleitores se as suas escolhas não forem suficientemente boas quem exerce o direito de voto nos
partidos europeus são os representantes dos partidos nacionais que não se sentem condicionados
a escolher líderes fortes, nem impelidos a responsabilizá-los por derrotas eleitorais ou erros de
estratégia partidária
- Seria injusto não reconhecer a importância e os méritos da coordenação inter-partidária na
política europeia e os benefícios que decorrem da pertença a um dos principais “clubes” deste
“campeonato"
- A esse título deve destacar-se a capacidade que os partidos políticos europeus demonstram em
atrair partidos de novos Estados-membros e de países terceiros para práticas e padrões
democráticos julgados aceitáveis e de influenciar a governação dos respectivos Estados por seu
intermédio
- Aqueles exercem um tipo particular de soft-power que opera positivamente, em especial nos
países vizinhos da UE

Relação entre partidos nacionais e europeus:


- Os partidos nacionais usam as pertenças europeias como forma de demonstrar poder, recursos,
contactos, credibilidade e influência internacionais
- Os partidos europeus consideram essas mesmas pertenças prova do seu próprio poder, da sua
implantação geográfica e da sua capacidade de criar redes
Que papel para esses partidos?
- Podiam assumir o papel de facilitares do trabalho conjunto e o de serem plataformas
equipadas para auxiliar os partidos políticos nacionais nos seus processos de tomada de
decisão assumindo uma tarefa mais operacional de ligar e dar coerência ao trabalho político - Isso
significaria o abandono da sua ambição de se tornarem agentes imediatamente
reconhecíveis, intérpretes relevantes e representantes diretos da vontade dos povos europeus e do
sonho de construção das máquinas políticas concebidas para vencer eleições à imagem dos
partidos Republicano e Democrata nos EUA
- O seu papel seria mais modesto, mas não menos importante

A DEMOCRATIZAÇÃO E A UE:
A europeização foi vista como uma exportação para os outros países, uma tentativa de moldar os
outros países do mundo – uma visão baseada nos fenómenos de colonização e na ideia de que a
Europa tinha uma missão civilizacional e nacional. Assim, a europeização significava trazer os
outros países ao nível europeu, que perdurou nos séculos XIX e XX.

Devido à abolição de fronteiras, por exemplo, verifica-se uma mudança das identidades e
mentalidades europeias: antes, tendencialmente, as pessoas sentiam-se mais nacionais que
europeias, no entanto, depois começa a existir uma difusão de hábitos do ponto de vista social e
hábitos de cidadania, uma padronização de páticas. Assim as diferenças têm-se vindo a estreitar.

Um dos elementos políticos desta visão de europeização foi a europeização como alargamento,
isto é, a europeização devia ser entendia no modo como, os países que entravam, se habituariam
ao estilo europeu.

Mas a verdade é que a europeização vai para lá do modo como os países se adaptam, é preciso ter
presente que a UE é um sistema próprio, tal como a europeização, que deve ter em conta a criação
de um sistema político próprio, observando a sua interação com os sistemas nacionais.

Para além disto, é preciso uma adaptação corrente desta nova realidade, uma vez que as leis
europeias se e correspondem aplicam a mais de 70% da legislação em vigor. Denota-se um a
adesão a objetivos comuns, a cedência de certos países individuais, em prol de um caminho
comum que pode ser benéfico. Os Estados-membros já não veem a política externa como um
elemento reservado, na qual não há apenas um país, mas sim um conjunto de países.

Sem essa dimensão transnacional, o partido político enquanto tal, não consegue perceber o que
faz e geram-se inseguranças, dúvidas e receios por parte dos eleitores, pois não veem os seus
desejos e pedidos representados na UE, o que não acontece a nível nacional.

Assim, é importante denotar que o fator europeização veio mudar as regras do jogo e que o partido
político é essencial neste novo modelo da ação partidária, mesmo apesar das mudanças sofridas
com a europeização.

Para além disto a soberania não pode ser entendida da mesma maneira, pois há, agora, uma
partilha de soberania, num jogo de custo-benefício, em que os estados que se vincularam a esta
jogo político, consideraram ter mais a ganhar que perder (Para alguns, essa partilha é benéfica a
resulta em benefício de todos).

A verdade é que a construção europeia se baseou na criação do mercado único, da zona monetária
(com imperfeições). Durante algum tempo, as coisas foram vistas como quem não fosse favorável
a uma maior integração, era um eurocético, alguém que não poderia participar no debate.

A ideia entra aqui na dispersão de autoridade, devido à fronteira no modo de público e privado,
com o envolvimento dos sindicatos em ambas as partes. Isto faz com que a autoridade e o
exercício político sejam mais complexo e mais identificável. Existe de facto uma negociação
multinível.

Isto diluiu as fronteiras entre nacional, regional e europeu:


No lado da transferência de responsabilidades, os estados-membros sempre que as coisas não
correm bem, culpam a União Europeia. Tal nota-se na:
- Dialética;
- Campanhas eleitorais;
- Reações dos conselhos de ministros.
Este sistema político faz com que exista uma nova estrutura de oportunidades, justificando a
existência das representações dos países na UE.

A nível nacional, ao princípio, não era relevante, para quem estava em Lisboa, ter representação
na UE. Mas a verdade é que as empresas perceberam que é importante manter essa ligação a
empresas de lobbing. Existem também várias empresas que “acordam” muito tarde.

No entanto, a europeização não se ficou pelos impactos nos estados-membros. Teve também um
impacto intergovernamental noutros governos:
- através dos apoios da UE, um governo exterior passou a adotar um determinado comportamento
(por via de incentivos externos, como acesso ao mercado, etc.
- Esta era também uma forma de socialização, em que a União e os seus estados-membros ensinam
coisas aos outros estados - aprendizagem intergovernamental, que beneficiava estados terceiros.

Mas para além do impacto direto, este impacto pode ser indireto: os estados-membros, podem
querer adotar a mesma política da EU, ou pelos benefícios ou para imitar a União Europeia e,
inclusive, a União Europeia ajuda ONG´s, dando-lhes recursos de modo a possam contrapor ações
contra os estados, podendo também ser feita pela socialização.

Há também um impacto transnacional, através da competição no mercado europeu, onde as


sociedades têm a ganhar se adotarem prática comuns com o modelo europeu.
Em conclusão, existe um papel exercido pela europeização no papel político, com a adoção de
políticas semelhantes por outras organizações (ex: MERCOSUL, etc.…).

A nível nacional, este regime foi bem adotado pela União Europeia. Portugal não abdicou da
pretensa atlântica, não saindo da NATO. Essa pertença estratégica manteve-se. Havia que se
integrar numa área económica. Assim, a europeização para Portugal tem tido um consenso, na
medida em que a grande maioria dos eleitores defendem o processo de construção europeia.

Por fim, no entanto, é importante referir que valia a pena que a europeização se desse mais num
padrão mais cultural, isto é, traduzido numa comunidade cultural que nos distinguisse, pois,
assim, seriamos capazes de viver e aproveitar esta pertença de forma mais profunda e vantajosa,
partindo da ideia de que o nosso estado é muito antigo.

Seria importante que o estado português tirasse mais partido desta dinâmica, através de uma
participação mais ativa, num sistema político original.

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