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Claves.

Revista de Historia, Nº 1
Montevideo, diciembre 2015
(pp. 91-120) ISSN 2393-6584

Po rtu gal, o Bra s il e o s Br a s is :


a d ive rs id a d e d o s te rritó rio s e a s d is p u ta s p e la s o be ran ia n a
co n s tru çã o d e u m n o vo Im pé rio m o n á rqu ico n a Am é rica

An d ré a Sle m ian
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Brasil

Recibido: 20 / 11/ 20 15
Aceptado: 10 / 12/ 20 15

Re s u m o . O artigo pretende analisar os conflitos presentes no que toca ao estatuto


dos territórios do Im pério português, com ênfase na sua relação com a Am érica,
desde finais do século XVIII até o m om ento da Independência do Brasil. Partim os
da idéia de o tem a é fundam ental para se entender a questão da soberania, cuja
tensão entre um a concepção m ais m oderna e um a outra m ais tradicional deve ser
levada em conta. Defendem os que, m esm o com todos seus em bates, foi possível
desde finais dos Setecentos projetar-se sobre os diversos territórios portugueses
um vislum bre de unidade fornecido pela m onarquia, a qual seria, ao m esm o tem po,
tensionada e recriada no Brasil, sobretudo, após os acontecim entos de 180 7-8 e o
m om ento constitucional na década de 1820 .
Pa la vras -ch ave s : território – soberania - Im pério português - Independência

Abs tra ct. The article aim s to analyze the existing conflicts regarding the status of
the Portuguese Em pire territories, with em phasis on m atters relating to South
Am erica, from the late 18 th century until the independence of Brazil. We start from
the idea that the issue is critical to understand the issue of sovereignty, that
presents a tension between a m ore m odern approach and a m ore traditional one
that m ust be taken into account. It is argued that, even with all the confrontations,
since the end of the 170 0s it was possible to project on the various Portuguese
territories a vision of unity provided by the m onarchy – which would at the sam e

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tim e, be stressed and recreated in Brazil, especially after the events of 1807-180 8
and the constitutional m om ent in the 1820 s.
Ke yw o rd s : territory – sovereignty - Portuguese Em pire - indepen dence

Nos últim os anos do século XVIII, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, secretário


de Estado da Marinha e Dom ínios Ultram arinos portugueses desde 1796, escreveu
um a Mem ória sobre os “m elhoram entos dos dom ínios de sua m ajestade na
Am érica” que se tornaria célebre 1. Isso não apenas pela recorrente referência que a
historiografia faria posteriorm ente do citado texto, m as sobretudo por estarem aí
alguns dos m aiores im passes vividos entre dois m undos, Portugal e seus dom ínios
am ericanos, os quais eram entendidos com o parte de um a única unidade. Esta
últim a era, sem dúvida, sua intenção. Preocupado nessa M em ória em propor
soluções para m elhoria e reform a da adm inistração da Fazenda Real no tocante ao
Novo Mundo, m ais especialm ente para a Capitania das Minas, o douto estadista
perm itia-se, de início, “tocar ligeiram ente” na discussão sobre o “sistem a político”
português. Nesse sentido, afirm ava que “os dom ínios de Sua Majestade na Europa
não form a[ria]m senão a capital e o centro das suas v astas possessões”, e que
seria a “feliz posição de Portugal na Europa”, com o “m elhor entreposto para o
com ércio” com as “outras três partes do m undo”, que fazia com que este “enlace
dos dom ínios portugueses com a sua m etrópole seja[fosse] tão natural”2 . Concluía
que se deveria “conservar com o m aior ciúm e” “este inviolável e sacrossanto
princípio de unidade”3 .
Múltiplas leituras podem ser feitas dessa passagem . A m ais pobre delas, a de
que se tratava de um m ero discurso de valorização do papel dos am ericanos em
nom e da continuidade e intensificação da exploração colonial, com o a
historiografia tradicional e nacionalista brasileira escreveu, vinculando

1 “Mem ória sobre o m elhoram ento dos dom ínios de Sua Majestade na Am érica” (1797 ou 1798), D.
Rodrigo de Souza Coutinho. Textos políticos, econôm icos e financeiros, 1783-1811, Lisboa, Banco de
Portugal, 1993, tom o II, pp. 47-66.
2 Idem , p.48 .

3 Idem , p.49.

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m ecanicam ente o m om ento das reform as ilustradas e seus conflitos com o


prenúncio da Independência, já foi superada há décadas atrás. Hoje continua a ser
notória a com plexidade e, m esm o, dr am aticidade de seu discurso diante do difícil
m om ento vivido por Portugal na Europa desde finais dos setecentos, e que se
agravaria no início do XIX quando se apostou na opção de vinda da Fam ília Real
para o Brasil. Projeto, aliás, veem entem ente apoiado pelo próprio D. Rodrigo,
ainda que em um novo contexto. Nesse sentido, sen do sua Mem ória um a projeção
de soluções e alternativas para m elh or desenvolvim ento da Fazenda – e assim do
próprio Im pério-, ela era igualm ente um a proposta de com preensão da unidade
portuguesa que, por m ais que enquadrasse todas suas partes sob a “sacrossanta”
égide da m onarquia portuguesa, m arcava igualm ente um a distinção entre suas
partes.
Distinção esta, entre as partes e o todo do Im pério português,que nos
interessa especialm ente analisar aqui desde finais do século XVIII até o m om ento
da Independência do Brasil.Não por qualquer m otivo: m as por ela nos evidenciar
tensões e conflitos no que toca ao estatuto dos territórios,sem a qual é impossível
discutir os sentidos de soberania, e igualm ente de nação,ao longo de todo este
processo. Partim os da idéia deque sendo possível vislumbrar um a concepção
m oderna de soberania -concebida com o um a projeção abstrata de unidade política,
de caráter regalista nos Setecentos, e logo vinculada à nação pelos pr ocessos
revolucionários- e um a outra m ais tradicional -que firm ava a im portância das
partes na construção do todo, num a concepção pluralista da sociedade-, am bas
eram indissociáveis e estariam em perm anente em bate nos discursos dos m ais
variados protagonistas. 4 Nesse sentido, defenderem os que, m esm o com todos seus
em bates, foi possível desde finais dos Setecentos projetar-se sobre os diversos
territórios portugueses um vislumbre de unidade fornecido pela m onarquia, a qual
seria, ao m esm o tem po, tensionada e recriada no Brasil, sobretudo, após os
acontecim entos de 180 7-180 8 e o m om ento constitucional na década de 1820 .

4 Neste ponto seguim os em sua análise para o mundo hispano-am ericano a ANNINO, Antonio,
“Soberanías en lucha”, A. ANNINO, Silencios y disputas en la Historia de Hispan oam érica, Bogotá,
Universidad Externado de Colom bia/ Taurus, 20 14, pp. 215-252.

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Nessa tensão projetar-se-ia um território para o novo Im pério e se im plem entariam


ações e agentes para sua efetivação.

A “u n id a d e ” n o re fo rm is m o ilu s tra d o p o rtu gu ê s


No conjunto das políticas reform istas im plem entado na Am érica, não há
dúvida que seus agentes alm ejariam um a m aior integração entre am bos os
hem isférios, com o objetivo de m aior engrandecim ento econôm ico e político
português; m as a form a de integração ilum inava as fissuras que as graves tensões
advindas viriam a escancarar. Seu marco inicial foi o governo de D. J osé I (1750 -
1777) por m eio dos feitos de seu em blem ático m inistro Sebastião J osé de Carvalho
e Melo, o Marquês de Pom bal que, desde sua época, suscitaria im ensas
controvérsias quanto a suas ações e seus significados 5. Mas um a questão é
consenso: que suas ações seriam expressão de um a tentativa de reforçara base
política de sustentação do regim e português, onde se projetaria um poder m ais
central ao soberano dentro de um a lógica em que o governo teria que assum ir, cada
vez m ais, características de um a atividade regida por razões específicas (as “razões
de Estado”), com o objetivo de organizar a sociedade 6 . No entanto, é notório com o
um a série de políticas com intervenção em várias esferas da vida colonial foi
im plem entada visando sobretudo um a m aior eficácia de ação, sem se alterar
propriam ente o paradigm a vigente de adm inistração. 7Assim se observa no que cabe
às ações im plem entadas n o com ércio, num m aior controle sobre a tributação, na
defesa das fronteiras e efetiva ocupação do Norte e Sul do Brasil, na m elhoria de
técnicas produtivas e introdução de novas culturas, na integração das populações
5 A historiografia sobre o período pom balino é im ensa, destacam os aqui as obras que se
preocuparam com interpretações globais e que têm gerado m aiores controvérsias: FALCON,
Francisco, A época pom balina A época pom balina: política econôm ica e m on arquia ilustrada, São
Paulo, Ática, 1982; NOVAIS, Fernando, Portugal e Brasil na crise do An tigo Sistem a Colon ial
(1777-180 8), São Paulo, Hucitec, 4º ed., 1986; MAXWEL, Kenneth, O Marquês de Pom bal.
Paradoxo do Ilum inism o, Rio de J aneiro, Paz e Terra, 1996; PAQUETTE, G. (ed.), Enlightened
Reform in Southern Europe and its Atlantic Colonies, c. 1750 -1830 , Farnham -Burlington, Ashgate,
20 0 9.
6 SUBTIL, J osé, “Os poderes do centro”, J osé MATTOSO (dir.), História de Portugal. O An tigo

Regim e, Rio de Mouro, Lexi Cultural, 20 0 2.


7 GARRIGA, Carlos, “Gobierno y justicia: el gobierno de la justicia”, Cuadernos de Derecho Judicial,

Consejo General del Poder J udicial, 20 0 8, Nº VII, pp. 45-113 e GARRIGA, Carlos e SLEMIAN,
Andréa, “«Em trajes brasileiros»: justiça e constituição n a Am érica ibérica (c. 1750 -1850 )”, Revista
de História, USP, 20 13, Nº 169, pp. 18 1-221.

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autóctones, no m elhor conhecim ento do território e de suas potencialidades, entre


outras. Tais ações teriam continuidade após a queda de Pom bal, e início do governo
de D. Maria I, em 1777, m esm o que com ênfases distintas. Não há dúvida que elas
produziriam resultados no que toca às reações em am bos os hem isférios e a
percepção da diferença/ especificidade entre esses espaços, a qual revelar-se-ia,
igualm ente de form a contundente, nos discursos sobre a nação, a m onarquia, a
colônia.
Em Portugal, tal fenôm eno pode ser inicialm ente observado na literatura
alinhada ao projeto político pom balino, em especial àquela vinculada à reform a das
instituições e dos estatutos jurídicos portugueses levada a cabo, especialm ente, a
partir dos anos 1770 . 8 Subjacente à ela, observa-se a presença de um a concepção
de sociedade e poder que, até então interpretadas preponderantem ente à luz de
um a ordem providencialista e tradicional, com eçava a se aproxim ar cada vez m ais
do direito natural (ou “das gentes”) de vertente racionalista, doutrina que
apregoava que a sociedade seria form ada a partir de um pacto entre governantes e
governados, em que os indivíduos, de livre vontade, aceitavam obedecer a um
soberano, bem com o a desautoriza-lo quando julgassem extrapolados seus
poderes. 9 Mas em Portugal, ao m esm o tem po que as m edidas jurídicas reform istas
falavam em valorizar um a racionalização das fontes e da ação do direito (em
negação à herdada tradição jurídica m edieval), afirm avam igualm ente sua
dim ensão pluralista do direto e corporativa da sociedade, por m eio da idéia de
centralidade do papel político e jurídico do rei para o conjunto dos seus povos e
territórios.
Assim , o reform ism o português tinha duas faces no que tocava aos
territórios e sua soberania, vale dizer, faces de um a m esm a m oeda: a da unidade
m onárquica. Em um a prim eira, alguns estadistas na m etrópole, no “olho do

8 ARAUJ O, Ana Cristina, “O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, 1815/ 1822”, Revista de
História das Idéias, Universidade de Coim bra, 1992, Nº 14, pp. 233-261; SLEMIAN, Andréa, “A
prim eira das virtudes: justiça e reform ism o ilustrado na Am érica portuguesa face à espanhola”,
Revista Com plutense de Historia da Am érica, 20 14, Vol. 40 , pp. 69-92.
9 HESPANHA, António Manuele XAVIER, Ângela Barreto, “A representação da sociedade e do

Poder”, J osé MATTOSO (dir.), História de Portugal. O Antigo Regim e, Rio de Mouro, Lexi Cultural,
20 0 2, p.145-172; HESPANHA, António Manuel, Panoram a histórico da cultura jurídica europeia,
Mem Martins, Publicações Europa-Am érica, 1998.

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furacão” do projeto ilustrado, sobrevalorizaram a Am érica com o fundam ental para


sua eficácia e tendiam a projetar sobre o Im pério um a indistinção entre seus
espaços, cujo m elhor exem plo segue sendo a própria ação de D. Rodrigo. Quanto à
intelligensia portuguesa tratava da construção da base jurídica legal da m onarquia
portuguesa, tendia-se a valorizar o status distintos dos espaços que a com punham ,
num a evidente relação com o sentido tradicional de soberania - em que ela era
associada à expansão da jurisdição real por m eio de seus agentes. 10 Esta últim a fica
evidente na teorização sobre o “direito pátrio português”, cam po que nascia com o
disciplina fundam ental para os novos cursos de Direito, e que congregou na
Universidade de Coim bra seus principais teóricos e lentes.
Nesse sentido, o principal de seus teóricos, Pascoal J osé de Mello Freire dos
Reis, foi um divulgador incansável do ilum inism o português e um dos responsáveis
pela consolidação da teoria acerca do pacto original da m onarquia que remontaria
às len dárias “Cortes de Lam ego”, no século XII. Segundo ele, nesse m om ento D.
Afonso Henriques teria recebido o título de rei após vencer a Batalha de Ourique, e
herdado a soberania de seus pais (o Conde D. Henriques de Borgonha e D. Teresa)
sobre o dote do Con dado Portucalense, constituindo um a “m on arquia pura”, on de
todos os “direitos de soberania estariam na m ão do rei”11. Entre os anos de 1143 e
1144, o m esm o D. Afonso Henriques teria convocado as Cortes de Lam ego, “onde
foi coroado, e tom ou m ais solenem ente o título de rei de que já usava, e com o
consentim ento das três ordens do Estado, isto é, do clero, nobreza e povo, se
estabeleceram as Leis Fundam entais do nosso R eino”. 12
Central ao discurso de Mello Freire estava a defesa de um a m onarquia
unitária portuguesa, a qual haveria sido fundada pelo próprio soberano ao
prom over as “leis fundam entais” que deveriam reger seu Reino independente.
Dessa form a, um pacto inicial, m esm o prevendo um a relação de subm issão da
sociedade, teria sido realizado. Sua concepção seria am plam ente divulgada nas

10 GARRIGA, Carlos, “Gobierno y justicia...”, ob. cit.; MANNORI, Luca e SORDI, Bernardo, “J usticia
y adm inistración”, Maurizio FIORAVANTI (ed.), El Estado m oderno en Europa, Madrid, Trotta,
20 0 4, pp. 65-10 2.
11 Biblioteca Nacional de Lisboa (BNL), Seção de Reservados, Códice 8527, p. 6.

12 Idem , Direito Público de Portugal, Parte Prim eira, p. 51. Vale dizer que a existência das m esm as

Cortes nunca foi com provada pela historiografia.

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décadas seguintes. Mas críticas a ela seriam feitas, anos depois, por António
Ribeiro dos Santos, um dos m ais im portantes intelectuais e políticos da virada do
século que questionaria, em parte, o próprio paradigm a jurídico tradicional. Sem
pôr em causa a estrutura do regim e absoluto, Ribeiro dos Santos procurava
apresentar um conceito de “Leis Fundam entais” em que a nação, entendida com o
dotada de “vontade” própria, teria tido participação ativa no pacto estabelecido
desde o m om ento das Cortes de Lam ego, e m esm o que o exercício do poder do
m onarca deveria ter alguns freios contra a usurpação de poder (afirm ava ele que
Portugal seria um a m onarquia tem perada). Não há dúvida que sua reflexão
expressava o tom de m udança operado no universo político português de fins do
século XVIII, fortem ente m arcado pelos acontecim entos revolucionários
ocidentais.
Mesm o assim , a legitim idade da m onarquia portuguesa subjacente a tais
concepções fundava-se na sua m atriz européia, já que a Am érica não teria papel
ativo nessa História. Expressão idêntica, senão ainda m ais contundente, ocorreria
na Espanha, em que o cam po do direito pátrio igualm ente afirm aria o caráter
peninsular da m onarquia, evidenciando os distintos papéis políticos entre am bos
hem isférios, ainda que os discursos políticos – igualm ente pautados pela Ilustração
e suas reform as – enfatizassem um reconhecim ento da igualdade entre
peninsulares e am ericanos. Estudos recentes discutem com o foi possível, na época,
distinguir entre a “nação espanhola” – com o um construto europeu, identificado
com valores cristãos e civilizacionais, e que congregava as várias nacões provinciais
existentes na península- e a “m onarquia” (Coroa), essa sim com um caráter
pluricontinental que englobava seus dom ínios d´ além -m ar 13 . A im plosão dessa
concepção seria especialm ente dram ática a partir da crise de 180 8, quando
intentar-se-ia igualar todos os territórios sob a égide de um a m esm a nação

13PORTILLO VALDÉS, J osé María, Crisis atlántica. Autonom ía e independencias en la crisis de la


m onarquía hispana, Madrid, Fundación Carolina/ Centro de Estudios Hispánicos e
Iberoam ericanos/ Marcial Pons, 20 0 6, pp. 32-seg.; WASSERMAN, Fabio, “El concepto de nación y
las transform aciones del orden político en Iberoam érica, 1750 -18 50 ”, J avier FERNÁNDEZ
SEBASTIÁN (dir.), Diccionario político y social del m undo iberoam erican o, Madrid, Fundación
Carolina / Sociedad Estatal de Conm em oraciones Culturales / Centro de Estudios Políticos y
Constitucionales, 20 0 9, pp. 851-869.

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soberana, ao m esm o tem po em que ganhava força o discurso das autonom ias locais
previstas na concepção tradicional da m onarquia espanhola.
Vê-se que am bigüidades sem elhantes perm eariam os discursos dos
ilustrados no lado português, em que a projeção da unidade tensionava níveis de
distinção entre os territórios da m onarquia, colocando em disputa as concepções de
soberania sobre os m esm os. No entanto, elas puderam ser m elhor am algam adas na
construção da idéia de m onarquia unitária se a com pararm os com as defesas da
autonom ia dos antigos reinos existentes no m undo espanhol e hispano-am ericano.
O que não significa inexistências de fissuras, nem m esm o seu reforço, quando
falam os, em especial, dos dom ínios am ericanos e dos discursos sobre sua
diferenciação em relação ao espaço da m etrópole.
Tais questões aparecem , de form a veem ente, na literatura produzida na
Am érica portuguesa no século XVIII, em especial na sua segunda m etade, quando a
cunhada expressão “viv er em colônias” sintetizava m ultifacetados significados
desse processo. Ou seja, um abalo entre o “ser português”, pertencente ao universo
dos valores m onárquicos e católicos vinculados à dinastia, e igualm ente diferente
dos m etropolitanos pela sua condição, sua especificidade no além -m ar. Alteridade
esta que, com o bem dem onstraram István J ancsó e J oão Paulo Pim enta, conviveu
desde o século XVI com as suas diversas form as de pertencim ento local am ericano
-com o baianos, pernam bucanos, paulistas, etc., e m esm o com “m azom bo”, term o
que, embora m uito m enos utilizado, m ais se aproxim a do criollo hispano-
am ericano-, por vezes de form a nem tão pacífica. 14 A diferença em relação ao
m om ento aqui citado, exatam ente quando o projeto de unidade im perial ilustrado
se colocou em prática, é que, pela prim eira vez, essas m últiplas form as de
identidades locais puderam até ser vistas com o antagônicas em relação ao
português, m esm o sem a construção de um a unidade alternativa a ela. Tem pos
m ovediços do ponto de vista da percepção das novidades políticas e intelectuais.

14J ANCSÓ, István e PIMENTA, J oão Paulo, “Peças de um m osaico (ou apontam entos para o estudo
da em ergência da identidade nacional brasileira)”, Carlos G. MOTA (org.), Viagem in com pleta. A
experiência brasileira 150 0 -20 0 0 , São Paulo, SENAC, 20 0 0 , pp. 127-175; sobre a não ocorrência de
term o sim ilar à criollo na Am érica portuguesa, ver MONTEIRO, Nuno, “A circulação das elites no
im pério dos Bragança (1640 – 180 8): algum as notas”, Tem po, Universidade Federal Flum inense,
20 0 9, Vol. 14, Nº 27, pp. 65-81.

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Um dos exem plos das contradições engendradas pela em presa colonial n os


Setecentos está na obra de Cláudio Manuel da Costa, poeta das Minas – região que
se desenvolvera em um ritm o aceler adíssim o desde a descoberta dos prim eiros
veios de ouro nas últim as décadas do XVII. Nas suas linhas, escritas na segunda
m etade do XVIII, aparecem , de form a contundente, o problem a da recepção dos
m odelos intelectuais concebidos no Novo Mundo, do paradigm a da poesia
neoclássica dos prados bucólicos da Europa, ao cenário am ericano, às m ontanhas
ásperas e duras m ineiras, incapazes de serem am biente próprio aos pastores que as
cantavam no Velho continente. 15 Um m om ento eloqüente da questão aparece nos
versos:

“Destes penhascos fez a natureza


O berço, em que nasci: oh! quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Um a alm a terna, um peito sem dureza!”. 16

Assim , a antagonização com o espaço é fruto de um verdadeiro desconforto do


poeta, m anifestação individual que expressava um a experiência coletiva dos
letrados am ericanos em sua condição colonial. 17
A interpretação da obra de Manuel da Costa padeceu de grandes distorções
na historiografia brasileira devido, sobretudo, ao seu envolvim ento na
Inconfidência Mineira – tentativa de sedição ocorrida nas Minas entre os anos de
178 8 e 1789, em função da cobrança de im postos na região e duram ente reprim ida
pelas autoridades-, a qual seria por m uito tem po evocada com o um a precipitação
da Independência do Brasil. Nessa leitura enviesada, ao poeta seria atribuído o
prenúncio de um sentim ento brasileiro, especialm ente em função de Vila Rica
(escrito por volta de 1773, m as publicado apenas em 1839), poem a que escreveu
sob o título e em hom enagem à sua cidade natal. Nele, a terra não era m ais referida
com o “grosseira” em sua natureza m as sim com o lugar de projeção, de expectativa
15 ALCIDES, Sérgio, Estes penhascos: Cláudio Manuel da Costa e a paisagem das Minas, 1753-
1773, São Paulo, Hucitec, 20 03, pp.127-175.
16 Idem , pp. 14-15.

17 PIMENTA, J oão Paulo, “Literatura e condição colonial na Am érica portuguesa (século XVIII)”,

J oão FRAGOSO e Maria de Fátim a Silva GOUVÊA (orgs.), História do Brasil Colon ial 1720 -1821,
Rio de J aneiro, Civilização Brasileira, 20 14, pp. 595-634.

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quanto a um ideal civilizatório ilustrado na “áspera paisagem ”, cantada em


louvores patrióticos. No entanto, sua fala era m arcada por profundas
am bigüidades, da m esm a form a que os discursos dos supostos envolvidos na citada
sedição da Inconfidência. O poeta louvava seu torrão natal, e seus colegas
inconfidentes falavam em nom e de sua autonom ia, do “país” ou “república” das
Minas”18 , sem alusão à ruptura do Brasil com Portugal, por m ais que o “ser
português” aqui im plicasse existir um a tensão com as form as de identidade
regionais. Mas, no lim ite, o “ser português” tam bém significava ser branco,
católico, proprietário, em um a terra onde ter escravos era regra e n ão exceção.
O estabelecim ento da percepção de que o Brasil, m esm o na sua diversidade,
era dotado de “significado e de H istória próprios no âm bito da m onarquia
portuguesa”19 , estava na base da em ergência de sentim entos locais e patrióticos a
ele coexistentes durante o século XVIII. Em 1724, fundou-se, em solo am ericano, a
Academ ia Brasílica dos Esquecidos, articulada à atividade de sua congênere
peninsular, e que tinha entre seus objetivos escrever a história do Brasil com o parte
da história portuguesa 20 . Não à toa o term o utilizado era brasílico, referindo-se,
talvez com “certa ironia”, aos por tugueses d´ além -m ar e ao seu desejo de
incorporação aos referencias m etropolitanos. 21 A iniciativa duraria apenas um ano,
m as viria a ser substituída, anos depois e já no contexto da Ilustração, pela
Academ ia Brasílica dos Acadêm icos Renascidos em 1759, com o propósito de
prosseguim ento dos trabalhos da anterior. A análise das várias produções que
tiveram lugar nesse espaço, n o tem po igualm ente curto e efêm ero de seu
funcionam ento, perm ite perceber que a citada percepção do Brasil com o um a
unidade, passava pelo conhecim ento e apropriação do seu próprio território, o que
se constituiria um a cara tarefa aos reform istas ilustrados. Assim , se por um lado,
buscava-se falar a m esm a língua na confecção do passado – e, conseqüentem ente,
do presente em função das políticas em que a criação da Academ ia estava inserida-,

18 STUMPF, Roberta G., Filhos das Minas, Am ericanos e Portugueses: iden tidades coletivas na
capitania das Minas Gerais (1763-1792), São Paulo, Hucitec, 20 10 .
19 Prefácio de István J ancsó, KANTORIris, Esquecidos e renascidos. Historiografia acadêm ica luso-

am erican a (1724-1759), São Paulo/ Salvador, Hucitec/ Centro de Estudos Baianos, 20 0 4, p. 9.


20 KANTOR, Iris, ob. cit.

21 Idem , p.95.

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por outro, reforçava-se um desconforto diante do “viver em colônias” num a história


com referenciais europeus.
Além disso, não seria apenas na experiência da Inconfidência Mineira que a
tensão entre as form as de identidades locais e a portuguesa puderam ser vividas
com o antagônicas, ainda que não totalm ente excludentes, em finais do século
XVIII 22 . Na Bahia, em 1798, o episódio de pasquins espalhados pela cidade com
idéias sediciosas que conclam avam o “povo bahiense” (da Bahia) à causa da
“liberdade”, sofreu im ediata repressão com prisões e instauração de um processo.
Foi quando a encenação, um tanto quanto burlesca, de um m ulato que saíra às ruas
com roupas à m oda francesa, dizendo-se adepto de seus ideais, forneceria a
alcunha de “con juração dos alfaiates” ao evento que, no entanto, revelou ter m uito
ter penetração em vários níveis sociais. No Rio de J aneiro, quatro anos antes,
boatos afirm avam que um a sociedade literária poderia estar tram ando m udanças
profundas no regim e por m eio da difusão de slogans revolucionários. No entanto,
por detrás da aparente jocosidade e falta de provas de m uitos dos delitos, estavam a
em ergência de novas form as de sociabilidades políticas e de espaços de crítica
política, e m esm o um a negação ao absolutism o e suas reform as. Isso porque, na
m edida em que estas, com políticas voltadas exclusivam ente à Am érica, conform e
já m encionam os acim a, tam bém reforçaram a distinção entre os dois hem isférios.
O fato da expressão “colônia” passar a ser utilizada em m eados do século XVIII, é
significativo dessa distinção. Estam os longe de, voltam os a dizer, falar em um
sentim ento “brasileiro”, e m esm o da com pleta negação do ser “português”. Mas
estam os m uito perto dos discursos que inform aram em fins do século XVIII a
tensão entre m etrópoles e colônias, para os quais a Coroa usaria brutais form as de
repressão com intenção pedagógica.

Re açõ e s co n tro ve rs a s à ch e gad a d o m o n arca n a Am é rica


Recom pondo o quadro: o projeto ilustrado de fortalecim ento da unidade
im perial e o reconhecim ento das diferenças entre suas partes, traz à tona

22Seguim os aqui J ANCSÓ, István, “A sedução da liberdade: cotidiano e contestação política no final
do século XVIII”, Fernando NOVAIS, (org.), História da vida privada no Brasil, São Paulo, Cia. das
Letras, 1997, pp. 387-437.

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am bigüidades e im passes. Nesse sentido, os desdobram entos dos acontecim entos


de 18 0 7-180 8 na Península Ibérica introduziriam um a sensível mudança na relação
estabelecida entre os territórios portugueses no Atlântico. Com o um fato inédito na
história da colonização m oderna, a dinastia bragantina decidiu cruzar o oceano em
direção ao Rio de J aneiro, com o form a de preservar a legitim idade de seus
m em bros e m anter a integridade dos m esm os dom ínios am ericanos 23 . Solução esta
que, por m ais estranha que possa parecer, já havia sido aventada em outros
m om entos em Portugal; só que agora tanto ela estava inscrita no projeto ilustrado
de valorização política da Am érica, com o a am eaça à m onarquia era ainda m ais
real, sobretudo após a ofensiva de Napoleão ao vizinho espanhol. Além disso,
apostava-se que a estada da Corte nos trópicos poderia realm ente ser provisória. A
partir de então, os destinos das m onarquias ibéricas tom ariam ritm os distintos
ainda que as soluções dadas, de um ou outro lado, passassem a ser vistas e
acom panhadas com atenção - sobretudo do lado português após a efervescência
vivida nos dom ínios espanhóis. 24
Ainda que sob o clim a de instabilidade, a im ediata transform ação do Rio de
J aneiro à condição de sede real do Im pério foi acom panhada por um progressivo
desenrolar de m edidas e ações voltadas à valorização de toda região em que a
cidade estava inserida. Era assim que, já em 180 8, Hipólito J osé da Costa, o redator
do Correio Braziliense e um dos m ais argutos observadores da política luso-
am ericana desde então 25, utilizava no prim eiro núm ero do seu jornal a expressão
um “novo Im pério do Brasil”. O que, novam ente, não continha nenhum a proposta
de Independência, m as, ao contrário um reforço da própria unidade portuguesa.
Reforço a partir da alteração da relação entre suas partes, já que Hipólito, que
nascera na Colônia do Sacram ento (então no Sul da Am érica portuguesa, atual
Uruguai), era sobretudo um defensor de m elhorias à sua pátria, o Brasil, a qual

23 Para um a síntese do acontecim ento tendo em vista o processo político geral nos dois hemisférios,
ver SLEMIAN, Andréa e PIMENTA, J oão Paulo, A Corte e o m undo. Um a história do an o em que a
Fam ília Real portuguesa chegou ao Brasil, São Paulo, Alam eda, 20 0 8.
24 PIMENTA, Brasil y las independencias de Hispanoam érica, Castelló de la Plana, Publicacions de

la Universitat J aum e I, 20 0 7.
25 Periódico publicado desde junho de 180 8, em Londres, local onde o seu redator se exilara após ter

desem penhado im portantes funções no governo português em Lisboa, e ter sido perseguido sob a
acusação de m açonaria.

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ganhava contornos distintos e cada vez m ais im portantes para o futuro da


m onarquia 26 ; visíveis eram os ecos do projeto proposto pelo m esm o D. Rodrigo,
agora num outro contexto. Daí ter se tornado, desde então, um defensor incansável
de reform as na sua adm inistração, um crítico ao papel “secundário” que lhe haveria
sido sem pre dado:

“Um a das causas principais do m au Governo do Brasil era o desleixam ento, quase
irrem ediável, da Corte de Lisboa, a respeito daquela im portante Colônia, o que era
ocasionado pela atenção, que era necessário prestar às relações estrangeiras, com o que
esquecia naturalm ente a adm inistração de um território, que por m ais interessante que
fosse, sem pre se reputava secundário, em conseqüência da m agnitude dos outros
objetos, que concorriam com ele”. 27

As palavras de Hipólito da Costa não constituam um a posição de exceção


nos círculos políticos do Centro-Sul da porção am ericana do Im pério. Com a
instalação dos órgãos vitais da m onarquia portuguesa, o confluir de rotas políticas,
econôm icas, institucionais e m esmo sim bólicas para seu espaço - afinal a
centralidade das m onarquias tradicionais estava no rei e na sua tarefa de
distribuição de privilégios, graças e m ercês -, o desenvolvim ento econôm ico
proporcionado por novas dem andas, entre outros, fez com que o Rio de J aneiro se
transform asse em um a nova Corte. As alianças reforçadas com as elites locais, bem
com o o enraizam ento de interesses reinóis na região, explicam igualm ente porque,
quando Napoleão foi derrotado na Europa em 1814, o príncipe regente D. J oão
decidiu perm anecer no Brasil. E m ais: decidiu elevá-lo à condição de Reino em
18 15, com o eram apenas Portugal e o Algarves, num visível reconhecim ento da
im portância política do Brasil no conjunto português. 28

26 J ANCSÓ, István e SLEMIAN, Andréa, Um caso de patriotism o im perial,Correio Brazilien se, ou


Arm azém Literário, vol. X X X / Hy pólito José da Costa, São Paulo/ Brasília, Im prensa Oficial do
Estado/ Correio Braziliense, 20 0 2, tom o 1, pp. 60 5-667.
27 Correio Braziliense ou Arm azém Literário, São Paulo/ Brasília, Im prensa Oficial do
Estado/ Correio Braziliense, 20 0 2 (edição fac-sim ilar), v.1, junho de 180 8, p. 64. Ver análise m ais
detida desse processo em SLEMIAN, Andréa e PIMENTA, J oão Paulo, O n ascim en to político do
Brasil: origens do Estado e da nação (180 8-1831), Rio de J aneiro, DP&A, 20 0 3.
28 DIAS, María O. Leite da Silva, ob. cit.; SLEMIAN, Andréa, Vida política em tem po de crise: Rio

de Janeiro (180 8-1824), São Paulo, Hucitec, 20 0 6; LENHARO, Alcir, As tropas da m oderação. O
abastecim ento da Corte na form ação política do Brasil: 180 8-1842, Rio de J aneiro, Secretaria
Municipal de Cultura / Departam ento Geral de Docum entação e Inform ação Cultural, 2ª ed., 1992.

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Mas o que tam bém estava no discurso de Hipólito da Costa era uma
diferenciação, de certa form a conflitiva, entre portugueses peninsulares e
am ericanos na m edida em que estes últim os teriam sido tradicionalm ente
desvalorizados n o conjunto do Im pério. O que ganharia contornos ainda m ais
incisivos em Portugal, onde a crítica à política de D. J oão acusava-o de adotar um a
política am ericanista, ou seja, de estar m uito m ais sensível às questões do Novo
continente do que as do Antigo, cerne de legitim idade da m esm a m onarquia
conform e fora concebido n o Direito português. 29 No entanto, se as vantagens com o
traslado da Corte e o reforço dos vínculos m onárquicos eram evidentes em partes
do Brasil, o m esm o não valia para todo o resto. Respostas e posicion am entos
contundentes a essa política tam bém reforçaram que a Am érica portuguesa, o
Brasil era com posto de partes diversas. A m ais radical delas viria, sem dúvida, de
Pernam buco.
Em 1817, a província pernam bucana foi palco de um m ovim ento
revolucionário: a criação de um governo independente em nom e da “soberania da
nação”, cujo projeto previa a im plem entação de um a república na região por m eio
da convocação de um a Assem bléia Constituinte, república esta que m al teve tem po
para se instalar devido à dura repressão e vitória sobre o m ovim ento três meses de
seu início. A negação ao governo joanino instalado no Rio de J aneiro foi violenta.
Pernam buco era então um a das m ais ricas províncias da Am érica, a qual crescera
significativam ente em seu volum e de negócios, sobretudo pelo aum ento na
exportação do algodão desde fins do século anterior, e já dava m ostras de sentir-se
lesada diante do favorecim ento dado político dado ao Centro-Sul a partir de 180 8 .
O m ais significativo é que a radicalidade dos acontecim entos aí vividos contou com
a m obilização de am plos setores sociais. Dessa form a, slogans com o o de “p atriota”
-codinom e que os pernam bucanos adotaram vis-a-vis à experiência revolucionária
francesa de uso do term o em sua conotação política e não associada apenas ao
lugar de nascim ento- e da “perfeita igualdade” entre os hom ens, difundiram -se
com extrem a rapidez. O que talvez explique as próprias am bigüidades vividas

29ARAÚJ O, Ana Cristina, ob. cit.; ALEXANDRE, Valentim , Os sentidos do Im pério – questão
nacional e questão colonial na crise do Antigo Regim e português, Porto, Afrontam ento, 1993.

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dentro do m ovim ento, diante do tem or que se rom pesse o status quo da sociedade
que, vale lem brar, era profundam ente hierarquizada e escravista. 30
Dessa form a, tendo em vista os termos que aqui nos interessam , o projeto
pernam bucano reconhecia um a enor m e distinção entre as partes que form avam o
Brasil, ao m esm o tem po em que negava a herança m onárquica na criação de um a
nova ordem . Um a visível proposta de ruptura em relação ao program a que já havia
sido valorizado pelos reform istas, desde o século XVIII, e ressignificado a partir de
18 0 8 com a Corte no Brasil. Não à toa, o term o nação quase não aparece nas
proclam as pernam bucanas de 1817, já que o m esm o era carregado de significado
em relação ao passado (presente) português. Mas a ruptura total com a “nação
portuguesa” se m ostraria, no m ínim o, problem ática por parte dos envolvidos que
tinham bens a perder, pois que a m anutenção dos vínculos que ligavam os
proprietários e com erciantes à ela era, sem dúvida, um a form a de diferenciá-los
dos dem ais.
O descontentam ento com o direcionam ento político em preendido pela Corte
de D. J oão causaria respostas igualmente contundentes em Portugal. Lá, desde o
m esm o ano de 1817, já se projetava um a resposta radical a esse processo; m as foi
apenas em agosto de 1820 , pouco depois do segundo m ovim ento liberal sair
vitorioso na Espanha, que um projeto constitucional tom aria corpo na cidade do
Porto, reunindo vários e distintos grupos sociais. O m ovim ento ali projetado
possuía um caráter distinto do de Pernam buco: fez-se em nom e da “regeneração”
da nação portuguesa m esm o tendo com o base a reconfiguração da m onarquia em
um regim e constitucional, o que poderia trazer, ao m enos poten cialm ente, rupturas
e/ ou posicionam entos m ais radicais. O fato é que ele rapidam ente ganharia
adeptos em todo Portugal, onde seriam convocadas Cortes Gerais para nação com o
objetivo de form ar um novo pacto político ao qual deveria ser subm etido o monarca
que deveria im ediatam ente retornar ao Velho Continente. As m esm as Cortes
contariam com adesões de províncias am ericanas que, logo no início do ano de
18 21, juravam a elas obediência, deslegitim ando a autoridade do governo do Rio de
J aneiro. A prim eira delas foi Belém do Grão-Pará, capital que m ais perdera com a

30 J ANCSÓ, István e PIMENTA, J oão Paulo, “Peças de um m osaico...”, ob. cit.

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m udança da Corte e a crise em Portugal desde 180 7, devido ao seu estreito vínculo
com ercial com Lisboa. A ela se seguiu o juram ento produzido em Salvador, na
Bahia, forçando o m onarca, que se encontrava na nova Corte sem expectativa
im ediata de voltar à Europa, a aceitar o m ovim ento constitucional por m eio de um
ato público. Desta feita, era já im possível conte-lo.

D o m o vim e n to co n s titu cio n al p o rtu gu ê s à In d e p e n d ê n cia d o


Bras il
A proposição de reform ulação da unidade portuguesa sob novos m oldes
constitucionais tal qual concebido pelas Cortes foi, sem dúvida, um dos pontos
m ais im portantes para vitória inicial do m ovim ento. Era assim que, à luz da
experiência espanhola, os liberais portugueses tam bém convocaram eleições para
que os representantes do ultram ar viessem a com por o espaço legislativo da nação
sem distinção entre suas partes. Desde a abertura dos seus trabalhos legislativos,
observa-se inclusive com o eram recorrentes, na boca de deputados das m ais
distintas posições, citações que fossem contra o “odioso sistem a colonial”. Pela
prim eira vez, de acordo com Ana Cristina Nogueira da Silva, afirm ava-se ser a
representação um “instrum ento de recriação, em term os igualitários, desse
conjunto, territorialm ente disperso (pela Am érica, pela África e pela Ásia), m as
politicam ente (e até organicam ente, de acordo com o im aginário que os vintistas
herdaram do período anterior) unido, que era o Im pério português”. 31
O que tam bém deve ser visto novam ente à luz da experiência do vizinho
espanhol: no início da década de 1820 , se conhecia m uito bem com o na experiência
das Cortes de Cádis (instaladas em 1810 ) se havia vivenciado conflitos no tocante as
discussões sobre a form a de representação dos seus vastos territórios; além disso,
alguns destes já haviam declarado Independência em relação à antiga m etrópole. A
questão era, portanto, candente entre os deputados peninsulares. Em Portugal, ela
definiu o projeto de “nação bi-hem isférica”, no qual as antigas colônias seriam
transform adas em províncias ultram arinas de um a única unidade com direitos

31SILVA, Ana Cristina Nogueira da, “Nação federal ou Nação bi-hem isférica? O Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves e o ‘m odelo’ colonial português do século XIX”, Alm anack braziliense,
Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, m aio 20 0 9, Nº 0 9, p. 71.

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iguais para todos. Tal concepção era predom inante nas Cortes no m om ento em que
os am ericanos com eçaram , paulatinam ente, a tom ar assento, e tinha claram ente o
propósito de evitar que soluções sem elhantes a projetos federais tom assem corpo.
Foi sob essa égide, que as Cortes portuguesas conceberam um projeto para
organização provisória do governo das províncias do ultram ar, o qual foi
estabelecido no decreto das J untas de Governo, aprovado em setem bro de 182132 . A
m edida tinha com o objetivo criar um estatuto constitucional para as antigas
capitanias do Brasil, e, sobretudo, controlar o poder de ação do príncipe D. Pedro
que se encontrava no Rio de J aneiro com o regente de seu pai D.J oão, que fora
obrigado a voltar a Portugal em abril. Além disso, ela deve ser considerada um a
verdadeira ruptura com a prática vigente: em substituição aos governadores ou
capitães generais existentes nas partes do Brasil, escolhidos pela Coroa, criava-se
um governo com posto de cinco ou sete m em bros, todos elegíveis na própria
localidade, sujeito à autoridade central em Portugal.
O decreto das J untas de governo atribuía, no artigo 6º , à com petência local

“toda a autoridade e jurisdição na parte civil, econôm ica, adm inistrativa, e de polícia,
em conform idade das leis existentes, as quais serão religiosam ente observadas, e de
nenhum m odo poderão ser revogadas, alteradas, suspensas, ou dispensadas pelas
J untas de Governo”.

Por m ais que alguns pontos do citado decreto fossem m otivos de tensão – em
especial, o que dizia respeito à instituição dos governadores de arm as que, com o
nova autoridade m ilitar, estariam sujeitos diretam ente ao governo de Lisboa (art.
14 o )– o form ato das J untas provisórias atendia a m uitas das expectativas das
províncias na Am érica n o regim e de seus interesses, sobretudo as do Norte, com a
valorização política de sua auton om ia perante o governo do Rio de J aneiro. Nesse
sentido, os deputados do Brasil que já se encontravam na Casa legislativa lisboeta
tanto não fizeram nenhum a objeção ao decreto, com o igualm ente aprovaram um
outro, no m esm o dia, que exigia agora a volta de D. Pedro à Lisboa. 33

32 Diário das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa [doravante DCG]. Sessão de 29
de setem bro de 1821. Decreto sobre as J untas Provisórias do Governo.
33 Aqui seguim os BERBEL, Márcia Regina, A n ação com o artefato. Deputados do Brasil n as Cortes

portuguesas 1821-1822, São Paulo, Hucitec/ Fapesp, 1999.

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Portugal, o Brasil e os Brasis Andréa Slem ian

Mas à m edida que m ais deputados ultram arinos chegavam à nova Casa
Legislativa, em função dos processos eleitorais terem sido realizados
separadam ente em cada um a das províncias, várias discussões que envolveram a
Am érica, em especial as com erciais, foram tornando-se especialm ente tensas.
Dessa form a, a defesa da unidade da nação – no sentido revolucionário adquirido
pelo vocábulo para defender um a totalidade abstrata em detrim ento da concepção
corporativa de reinos ou partes– , feita sobretudo pelos portugueses peninsulares, e
que ficaria conhecida com o integracionista, seria alvo de críticas por parte
daqueles que argum entavam / defendiam as especificidades das partes para
resolução de im portantes m edidas. Assim criticava-se igualm ente a aprovação do
decreto de governo para as províncias do Brasil antes m esm o que os deputados de
todas elas, ou de um núm ero expr essivo, estivessem presentes nas Cortes. A
posição justificava-se pela diversidade da Am érica, cujos interesses não poderiam
ser representados sem a presença dos eleitos por cada um a das partes. Dessa
form a, colocava-se em xeque a idéia de um a nação portuguesa unitária, sobretudo
após a chegada e apresentação do projeto que os deputados de São Paulo – um a
província do Centro-Sul do Brasil- apresentariam nas Cortes, em 1822.
Antes de tratarm os desse projeto, vale dizer que, do outro lado do Ocean o,
os ânim os com eçariam a se acirrar, sobretudo nas partes do Centro-Sul do Brasil. A
am eaça que as Cortes passaram a representar de perda da hegem onia do Rio de
J aneiro, tanto por m eio da proposta de igualdade entre as províncias como pela
exigência da volta do Príncipe para a Europa, m obilizaria vários setores que se
haviam fortalecido na últim a década para m anutenção de sua posição. Os
representantes paulistas seriam seus principais porta-vozes na Casa legislativa por
m eio da defesa da condição de Reino alcançada pela Am érica desde 1815; o que se
ancorava na perm anência do Príncipe Regente D. Pedro no Brasil e na m anutenção
de um centro de poder executivo no Rio de J aneiro (em desobediência aos decretos
ali aprovados em 1821). Dessa form a, paulistas aqui foram os que defenderam um
projeto cuja abrangência era a do Brasil dentro da unidade portuguesa.
Na discussão do projeto de São Paulo, enquanto parte dos representantes de
Portugal evocava o nom e da nação com o elo entre am bos os hem isférios, os que o
apoiaram defendiam que, após os acontecim entos de 1820 -18 21, a m esma nação

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estaria ainda para se form ar já que a anterior identidade portuguesa não gar antiria
os term os do novo pacto entre as partes. Entre eles, o padre Diogo Antônio Feijó,
eleito deputado por São Paulo, seria explícito:

“Nós ainda não som os Deputados da Nação, a qual cessou de existir desde o m om ento
que rom peu o antigo pacto social. Não som os Deputados do Brasil, de quem em outro
tem po fazíam os parte im ediata; porque cada província se governa hoje independente.
Cada um é som ente Deputado da província que o elegeu, e que o enviou”. 34

Em term os sem elhantes, o paulista Antônio Carlos de Andrada e Silva, um


dos m ais eloqüentes defensores do projeto de São Paulo – que seria citado com o
projeto do “Reino do Brasil”-, negava as acusações feitas pelos europeus de que ao
expor os “direitos” do Brasil ele apoiar ia a separação dos hem isférios. Afirm ava que
não se podia dizer tal coisa “quando as diversas partes de um a Nação est[avam ]
com o independentes, e trata[va]m de form ar o pacto, que as un[isse] com
conhecim ento de causa”. 35 No dia anterior, ele já havia aventado a hipótese de o
Brasil ser um a “nação separada” no tocante ao Legislativo, m antendo um a união
com Portugal apenas no poder Executivo, ou seja, pela dinastia. 36

Tais posicionam entos escancaravam a inviabilidade que a form ação de um a


unidade portuguesa sob m oldes constitucionais então apresentava. Até porque,
ficava evidente que a solução particularm ente igualitária defendida pelos
peninsulares revelar-se-ia um argum ento am bíguo, tam bém válido para impedir o
aprofundam ento form al da participação política de colonos e elites crioulas no
cerne das decisões políticas. 37 Ora, a indistinção entre as partes em nom e de um a
soberania abstrata era particularm ente difícil de ser colocada em prática no m odelo
de unidade herdado do reform ism o ilustrado, o qual, a sua m aneira, tam bém criara
clivagens entre o Novo e o Velho m undo.
O que nos parece notório é que, quando o clim a de um verdadeiro em bate
tom ou conta das Cortes em 1822, prom ovido pelas disputas entre os representantes

34 DCG, 25 de abril de 1822.


35 Idem , 30 de agosto de 1822.
36 Idem , 29 de agosto de 1822.

37 SILVA, Ana Cristina Nogueira da, ob. cit.

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de distintos hem isférios, um a certa coesão entre deputados do Brasil m ostrar-se-ia


possível. Nesse m om ento, e apen as nesse m om ento, surgiu a bandeira pela
Independência especialm ente na boca de protagonistas no Rio de J aneir o. Estes
passariam a utilizar, com o um poderoso discurso a seu favor, o term o
“recolonização” para acusar as Cortes de interesses despóticos e do retorno da
relação colonial para a Am érica. A convocação que D. Pedro faria em junho de
18 22, de “Cortes para o Brasil” fez parte desse projeto, e tam bém serviria com o
instrum ento para dirigir os interesses dos “portugueses da Am érica” a seu favor.
Meses depois, a alternativa da Independência pode encam par, sob o com ando do
príncipe e m anutenção da dinastia no Brasil, um projeto de consolidação de um a
nova unidade constitucional que pretendia abarcar todos os territórios am ericanos
até então portugueses, ganhando adeptos em m uitas das províncias. Mesm o que
não se possa im putar às Cortes interesses recolonizadores 38 – discurso que a
historiografia brasileira incorporou durante décadas, sem crítica a devida crítica- é
fato que os grupos hegem ônicos locais tam bém levaram em conta, a partir dos
conflitos na Casa, que um alinham ento com a Corte do Rio de J aneiro poderia
significar m aior autonom ia no controle de seus negócios internos. Projetava-se nos
lim ites do Brasil um a expectativa de m udança que teria sido frustrada em Lisboa.
Mas a Independência e coroação de D. Pedro com o Im perador em 18 22
tam bém esteve longe de ser unanim idade entre as partes que com punham a
Am érica portuguesa, e m esm o fruto de um nacionalism o pré-existente. Conflitos
foram vivenciados ao m enos em quatro províncias de todas que se pretendia ao
novo Im pério: Bahia, Maranhão, Pará e na Cisplatina, o atual território do Uruguai
e que havia sido anexada ao Im pério português em 1821. Ao contrário do que se
im agina em geral, todos foram m arcados por guerras violentas. No entanto,
com parando com a Am érica espanhola é verdadeiro afirm ar que, para além da a
escala da m obilização m ilitar ter sido m uito m enor, a alternativa de adesão ao
Im pério do Brasil im pôs-se de form a contundente, representando um a proposta
real de estabilidade diante das disputas que tam bém se polarizaram entre grupos

38ROCHA, Antonio Penalves, “A economia política na desagregação do Im pério português”, J osé


Luis CARDOSO (coord.), A econom ia política e os dilem as do Im pério luso-brasileiro, Lisboa,
Com issão Nacional para as Com em orações dos Descobrim entos portugueses, 20 0 1, pp. 149-197;
BERBEL, Márcia Regina, ob. cit.

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Portugal, o Brasil e os Brasis Andréa Slem ian

que defendiam perm anecer unidos a Portugal ou não. Não há com o negar que a
própria presença do príncipe contribuíra para seu sucesso, m im etizando a
possibilidade de form ação de um a unidade soberana. Além do quê, ele agira rápido,
convocando im ediatam ente para o ano a instalação de um a Constituinte que
deveria atender aos anseios e interesses dos até então portugueses do Brasil.
A Assem bléia Legislativa e Constituinte do Im pério do Brasil iniciou seus
trabalhos em 3 de m aio de 1823, em cum prim ento à palavra de D. Pedro de que
m anteria a sua convocação após a Independência. É fato que ela foi aberta com
pouco m ais da m etade do núm ero dos deputados esperados, já que m uitos
representantes chegariam nos m eses seguintes, enquanto alguns nem tiveram
tem po para tom ar parte dela em funções dos conflitos ocorridos em algum as
províncias. Logo no início da abertura dos seus trabalhos, duas questões,
aparentem ente de m era form alidade, m obilizaram os deputados: n a sala legislativa,
a cadeira do presidente dos trabalhos ficaria no m esm o nível que a do Im perador?
E deveria o representante da m onar quia, todas as vezes que lá adentrasse, estar
coberto com a coroa, m anto e cetro im perial? 39 A análise das disputas na resolução
da dessa aparente banalidade, indicam que a elas estava subjacente um a expressa
necessidade da resolução do lugar dos poderes em construção, m onar quia e
Assem bléia, ou, para serm os m ais pr ecisos, executivo e legislativo, na criação de
um governo constitucional. E m esm o um a disputa entre distintas concepções de
soberania para o Im pério do Brasil diante da árdua tarefa de construção de um
novo Estado independente.
Deputados que apoiavam o projeto de Im pério, entre eles o m esm o Antônio
Carlos de Andrada que nas Cortes de Lisboa havia defendido que a nação
portuguesa ainda não se havia constituído constitucionalm ente - argum entariam
que um novo pacto já estava form ado, devido ao fato de D. Pedr o estar
“reconhecido Im perador pela m esm a nação que nos fez deputados; e antes que
fôssem os deputados já estava aclam ado Im perador por esta m esm a nação”. 40
Mereceria assim o Im perador sua distinção n a sala da Assem bléia, bem com o teria

39 Diárioda Assem bleia Geral, Constituinte e Legislativa do Im pério do Brasil- 1823 [DAG] v.1,
sessão de 30 de abril.
40 DAG, v.1, 11 de junho, p. 20 2.

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a m onarquia um elo fundam ental na construção da nação. Críticos a essa posição,


defendiam a não obrigatoriedade de aceitação do pacto antes que a Constituição
fosse aprovada; até lá D. Pedro seria um hom em com o qualquer outro. Duas
posições distintas saltavam aos olhos: de que a nação já possuía sua soberania em
virtude da m onarquia; e a de que as províncias eram soberanas e ainda
transfeririam seu poder ao m onarca. No fundo, tratava-se igualm ente do problem a
da relação entre a unidade e suas partes, da nação e de sua(s) soberania(s).
Quando se discutiu o problem a da criação de um novo governo para as
províncias do Brasil, que substituiriam as J untas criadas e subordinadas às Cortes
de Lisboa, agora em um m esm o Estado, a polêm ica seria ainda m ais expressiva
acerca da form ação da nova unidade. O projeto apresentado na Casa previa a
extinção das m esm as J untas, eletivas, e a nom eação de um presidente pelo
Im perador, o qual centralizaria algum as funções im portantes de governo. O tema
rapidam ente instaurou um a polêm ica pois foi lido, sobretudo por representantes
de províncias do Norte (atual Nordeste do Brasil), com o um atentado a sua
autonom ia e soberania. Nestes term os, o deputado pela Paraíba, Augusto Xavier de
Carvalho, sintetizaria essa posição:

“Não sou nem serei nunca de parecer que desde já se declarem abolidas as J untas de
Governo: é um a instituição que os Povos esperaram , que receberam com gosto, e que
tanto tem respeitado que ainda quando na desordem têm insurgido contra algum as
J untas, é para as substituírem por outras ainda tem porárias, m as nunca por um só
indivíduo.”41

Esse discurso seria encam pado pelos críticos da idéia de um a m onarquia


unitária e, em certos aspectos, centralizadora. Mas a posição do deputado não
sairia vencedora, não em term os gerais. Seria aprovado: a extinção das J untas, a
nom eação dos presidentes, e m esm o a retirada de qualquer expressão no projeto de
Constituição que lem brasse um a federação, conform e a defesa abaixo:

“O que nos cumpre averiguar é, se, rebus sic stantibus, podem os adm itir na
Constituição do Im pério essa federação? De certo qu e não; porque quando os Povos do

41 DAG, v.1, 16 de junho, p. 218.

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Brasil se deram as m ãos, e proclam aram a sua Independência, foi com a pronunciação
de u m Governo Monárquico, que se estendesse à todas as partes do Im pério.” 42

Monarquia e federação seriam o prenúncio de um a desunião interna,


posição que dem onstrou ser m ajoritária a despeito de todos os posicion am entos
críticos existentes na Assem bléia. Im possível não se recordar da defesa da nação
unitária tal qual feita pelos reform istas, depois pelos cham ados integracionistas
nas Cortes de Lisboa. Vale lem brar que algum as províncias sequer possuíam ainda
representantes, ou m esm o bancadas com pletas, na Casa legislativa no Rio de
J aneiro.
Deve-se ter em m ente que D. Pedro fecharia a Assem bléia Constituinte no
m esm o ano de 1823, em novem bro. Afirm ava o decreto de dissolução que ele, com o
“Im perador e Defensor Perpétuo do Brasil”, tanto tivera “o direito” de convocá-la
com o agora de “dissolver e convocar já um a outra na form a das instruções feitas”.
J ustificava sua atitude pela “conhecida facção que dom inava aquele Congresso” e
necessidade de fazer a “justa distinção entre os benem éritos que sem pre tiveram
em vista o bem do Brasil, e os facciosos que anelavam vinganças ainda à custa
dos horrores da anarquia”. 43 Apesar dessa justificativa, é hoje sabido que para
além das disputas dentro da Casa legislativa em torno de questões constitucionais,
foi o acirram ento de conflitos políticos na própria Corte que levariam o Im perador
a tom ar tal decisão, citando inclusive o fato de não querer ver ocorrer o m esm o que
a Augustín de Iturbide no México. 44
O que é digno de nota é que o poder do Im perador de dissolver a Câm ara
pôde ser considerado com o legítim o. Afora m ovim entos m ais pontuais con tra sua
ação, houve um que propôs um a verdadeira ruptura com o governo da Corte,
novam ente em Pernam buco em 1824, por m eio da proposição de “Confederação do
Equador” no Norte do Brasil. Foi igualm ente m assacrado pela força m obilizada
pelo governo im perial, m as ele tam bém não encontraria a abrangência na província

42 Discurso de Manuel J osé de Sousa França. DAG, v.3, 17 setem bro, p. 35.
43 Respectivam ente, decretos de 12 e 13 de novem bro de 1823.Coleção das Leis do Im pério do Brasil
de 1823, Rio de J aneiro, Im prensa Nacional, 1887.
44 PIMENTA, J oão Paulo e FARAH, Cam illa, “Brasil encuentra a México: un episodio paradigm ático

de las independencias (1821-1822)”, 20 / 10 Mem oria de las Revoluciones en México, México, RGM
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nos m oldes ocorridos em 1817, nem m esm o entre as elites. Dessa form a, não se
pode negar o papel da força m ilitar m obilizada pelo Rio de J aneiro para a
pacificação de algum as províncias, desde 1822, com o fator im portante par a que o
ato de D. Pedro pudesse ser referendado, m as crem os que ela não explica todas as
peças em disputa no tabuleiro, um xadrez m ais com plicado. Para tanto, vale m arcar
algum as especificidades no tocante à construção de alternativas constitucionais, e
de o sentido de soberania vinculando unidade política e m onarquia sem aparentes
distinções entre seus territórios, colocava o Im pério do Brasil em um processo
particular em relação aos vizinhos de tradição espanhola desde 180 7.
Isso porque, diferentem ente dos processos ocorridos após o vazio de poder
vivido pelos dom ínios espanh óis na Am érica, em que proposições m uito m ais
radicais e de defesa dos “direitos dos povos” foram m uito com uns na inviabilização
de novos pactos e governos, a Am érica portuguesa viveria um ritm o diverso. 45
Prim eiram ente, pela periodização. O m ovim ento revolucionário no m undo luso
ocorreu ao m enos dez anos depois do espanhol, quando o m undo já vivia um a onda
conservadora que, de algum a form a, “dom esticara” as proposições radicais
francesas que assustaram o m undo em fins do século XVIII. Desta form a, a idéia da
nação soberana adequava-se a um a perspectiva m onárquica constitucional m ais
m oderada. Mais que isso, o Im pério português não vivera a acefalia da legitim idade
dinástica central, pois que a Corte decidira atravessar os m ares em 180 7,
consciente que o contrário poderia implicar a perda do Brasil. Dessa form a, a base
de soberania do m onarca e do Im pério, tal qual form ulada pelos ilustrados
portugueses desde o século XVIII, teria sua longevidade ainda que em um a
roupagem distinta e para form ação de algo n ovo, em 1822, para a Am érica.
Mas daí tam bém vinham os lim ites e fraquezas do regim e, e a unidade do
Brasil seria ainda construída, a duras penas, e com visíveis distinções internas
entre a Corte e as províncias, ao longo do Im pério. Vale m encionar que o novo
Im perador, herdeiro da dinastia portuguesa, seria obrigado a abdicar em 18 31,
quando um a crise evidenciava que as fissuras no arranjo im perial não eram

45 CHIARAMONTE, J osé Carlos, “Fundam entos iusnaturalistas de los m ovim ientos de


independencia”, Boletín del Instituto de Historia Argentina y Am erican a “Dr. E. Ravignan i”, 2º
sem . 20 0 0 , Tercera serie, Nº 22, pp. 33-71.

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pequenas. Foi esse o m om ento em que bandeiras radicais de reform a institucional,


e m esm o de m udança de regim e, foram colocadas em pauta em m eio a m ovim entos
de desordem vividos em todo Im pério. D. Pedro voltava para Portugal, m as a
m onarquia continuaria no Brasil onde ficara seu filho legítim o ainda criança (D.
Pedro II, elevado ao tron o em 1840 ). A partir de então, reform as dariam m aiores
poderes às elites províncias, ao m esm o tem po, que o regim e garantia a
consolidação de um ideal de sociedade excludente e escravista, sob valores de
civilização e progresso. Nesse arcabouço, o brasileiro, com o identidade que
congregasse diferenças sociais tão distintas, ainda deveria ser inventado; m as as
bases para sua consolidação de um a nação soberana já haviam sido lançadas desde
m uito antes.

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