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CAPÍTULO III

Segurança e Saúde no Trabalho da Construção na União Européia

Luis Alves Dias

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Abreviaturas Utilizadas neste Documento

AISS-C – Associação Internacional da Segurança Social – Seção da Construção


CP – Comunicação Prévia, como definido na Diretriz Canteiros
CSS-C – Coordenação de Segurança e Saúde no Trabalho na Fase de Construção
CSS-P – Coordenação de Segurança e Saúde no Trabalho para a Fase de Projeto
DC – Diretriz Canteiros n.º 92/57/CEE, de 24 de junho de 1992
DQ – Diretriz Quadro da SST n.º 89/391/CEE, de 12 de junho de 1989
OIT – Organização Internacional do Trabalho
PGP – Princípios Gerais de Prevenção, como definido na DQ
PIP – Plano de Intervenções Posteriores, designação que pretende significar o dossiê previsto na DC, que deverá
conter os elementos úteis em matéria de segurança e saúde a ter em conta trabalhos posteriores,
designadamente de manutenção
PSS – Plano de Segurança e Saúde, como definido na DC
SST – Segurança e Saúde no Trabalho
UE – União Européia (abrangendo apenas os 15 países no início de 2004)

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1. Introdução O elevado número de encontros, seminários, con-
Os 15 países da União Européia (UE)1 ocupam uma gressos e simpósios, desde então organizados nos
área de cerca de 3,2 milhões de quilômetros quadra- países da União Européia, tem contribuído significa-
dos, com uma população total de cerca de 375 milhões tivamente para esse conhecimento. Apesar disso, há
de habitantes. O setor da construção tem uma produ- ainda, em alguns países alguns intervenientes (nome-
ção total de cerca de 910 bilhões de euros (2003) e adamente, donos de obra e autores de projeto) que
emprega cerca de 8% da força total de trabalho (re- continuam a ignorar suas responsabilidades relativa-
presentando cerca de 11 milhões de trabalhadores da mente a segurança e saúde na construção, sobretudo
construção). Do número total de acidentes de traba- donos de obra e autores de projetos que, por tradi-
lho em todas as atividades econômicas, o setor da ção, consideravam segurança e saúde como exclusiva
construção representa aproximadamente 18% (cerca questões da responsabilidade de empreiteiros. Ór-
de 850 mil acidentes de trabalho com mais de três dias gãos oficiais (governos, particularmente, as inspeções
de trabalho perdidos por ano) e, no que respeita a do trabalho) deveriam promover ou reforçar o conhe-
acidentes de trabalho fatais, representa cerca de 24% cimento desses intervenientes sobre essas matérias
(1,3 mil acidentes de trabalho fatais por ano). Tendo com intensificação de seminários relacionados com as
em conta a estimativa da Organização Internacional do responsabilidades específicas de cada um desses gru-
Trabalho (OIT), de 60 mil acidentes de trabalho fatais pos de intervenientes.
por ano em canteiros em todo o mundo [López-
Valcárcel], e a distribuição desses acidentes por regiões Desde sua publicação, em 1992, todo país da UE
(64% para a Ásia e região do Pacífico, 17% para as incorporou, em seu direito interno, as disposições
Américas, 10% para a África e 9% para a Europa), os dessa Diretriz. Ora, enquanto alguns países “traba-
países da União Européia são responsáveis por menos lharam” essa Diretriz para criar mecanismos e meios
de 2% de todos os acidentes de trabalho fatais. para sua efetiva implementação, outros limitaram-se
a fazer “simples” transposição, com poucas adapta-
Esses números são de fato inaceitáveis do ponto de ções à realidade, criando confusão, em alguns casos,
vista social e humano. Diante desse cenário e o re- para os responsáveis por sua implementação ou pelo
conhecimento de que a construção é uma indústria de acompanhamento diário de sua aplicação. Outros
elevado risco, a União Européia publicou, em 1992, países mudaram ou estão em processo de revisão das
uma diretriz especial mudando a forma de como a suas primeiras transposições, revendo a legislação
segurança e saúde na construção vinham sendo con- para clarificação ou pormenorização (IRL, B, P).
sideradas. Essa diretriz (92/57/CEE) é agora Apesar da base comum introduzida pela Diretriz, o
conhecida mundialmente como a Diretriz Canteiros fato é que cada país da UE tem sua própria aborda-
(DC). Desde então, a indústria da construção mudou gem (por vezes com diferenças significativas), o que
em todos os países da União Européia e a segurança não favorece a circulação das empresas de constru-
e saúde no trabalho da construção são agora uma ção entre os diferentes Estados-membros.
questão de que a maioria dos intervenientes na cons- Observa-se que alguns indicadores de sinistralidade
trução têm conhecimento e levam em consideração laboral (em particular o número de acidentes de tra-
na atividade corrente. balho fatais na construção por 100 mil trabalhadores
1
Como é sabido, em maio de 2004, a UE foi ampliada de 15 (vide Quadro 1) para 25 países, sendo os dez novos os seguintes países: Chipre,
República Tcheca, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, Eslováquia e Eslovênia. A UE25 compreende então uma área de cerca
de 4 milhões de quilômetros quadrados, com uma população de cerca de 450 milhões de habitantes. O presente documento abrange, porém,
apenas a UE dos 15 (UE15).

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- cerca de 12 na EU, nos EUA e Japão) diferem entre significar qualquer documento legal, independente-
os 15 países, por vezes significativamente. Os aciden- mente do nome utilizado em cada país (lei, decreto-lei,
tes de trabalho fatais mais freqüentes na construção “ordem executiva”, código de prática, portaria, etc.).
na UE são os relacionados com quedas de altura, Outros documentos de referência são também cita-
esmagamentos, soterramentos e eletrocussão. dos, com prioridade para o já estabelecido nas leis
conhecidas em cada país cuja língua o autor podia ler
No presente texto, pretende-se essencialmente apre- e compreender. Para outros casos, tomou-se por
sentar e discutir a nova abordagem dessa Diretriz base a informação contida nas duas publicações re-
Canteiros relativa a segurança e saúde na construção, feridas no mesmo Quadro (AISS-C, 2001 e
levando em conta diferentes abordagens em países da CIB-W99, 1999). Convém, todavia, observar que
UE. É também discutido o papel dos principais alguns países da UE podem ter alterado as suas leis
intervenientes no processo de construção, apresen- por diferentes razões (seja para melhor cumprir a
tando-se, por último, algumas considerações finais Diretriz, seja por razões de maior clareza). A discus-
sobre os temas aqui abordados. são, neste texto, baseia-se também na experiência e
conhecimento do autor em sua atual atividade profis-
Fonte de Informação sional e participação em diversos encontros
A fonte de informação utilizada neste texto é apresen- internacionais em que esse tema tem sido extensiva-
tada no Quadro 1. A referência a uma “lei” pretende mente discutido.

Quadro 1: Fonte de informação (Países da UE)

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2. Nova abordagem da Diretriz Canteiros sobre - dois novos intervenientes no processo de
SST construção (os coordenadores de segurança
Tradicionalmente e antes da publicação da DC na e saúde para a fase de projeto e para a fase
União Européia, a responsabilidade pela imple- de construção) e
mentação de todas as medidas de prevenção nos - três novos documentos de prevenção de ris-
canteiros estava a cargo principalmente (e em alguns cos profissionais (a comunicação prévia, o
países apenas) dos empreiteiros, com base na legis- plano de segurança e saúde e o plano de in-
lação e/ou nos contratos firmados entre eles e os tervenções posteriores).
donos de obras. Depois da publicação dessa Diretriz
na UE, todos os intervenientes no processo de Em 2.1, as tarefas sobre SST de todos os
construção passaram a ter ou continuam a ter intervenientes no processo de construção são
responsabilidades e obrigações em matéria de apresentadas de forma sumária e, em 2.2, o novo
segurança e saúde no trabalho (donos de obras, conceito de coordenação de segurança e saúde é
projetistas, gestores e supervisores de obras, apresentado e discutido, quer para a fase de projeto
empreiteiros e subempreiteiros, trabalhadores). quer para a fase de construção.

De fato, a DC introduziu uma nova abordagem para Os novos documentos de prevenção de riscos profis-
a melhoria da segurança e saúde na construção, com sionais são também sumariamente descritos em 2.3.
o objetivo de relevar a importância da aplicação de
medidas de prevenção (de gestão e materiais) que 2.1 - Tarefas, no âmbito da SST, dos
possam contribuir para a redução dos acidentes intervenientes no processo de construção
relacionados com o trabalho na construção. Teve em Num sistema tradicional de gestão de
conta, de alguma forma, as disposições da empreendimentos podem ser considerados os
Convenção da OIT n.º 167, de 1988, sobre seguintes e principais intervenientes: o dono da obra,
Segurança e Saúde na Construção, ratificada por o “proprietário” do empreendimento ou da obra; o
cinco países da UE (DK, FIN, D, I, S). supervisor (por vezes designado como gestor do
empreendimento ou gestor da construção), que
Sumariamente, essa nova abordagem da DC baseia-se: supervisiona o empreendimento ou obra por conta do
(i) no princípio, segundo o qual, todos os dono da obra ou no lugar dele; os autores do projeto
intervenientes envolvidos no processo de que projetam o empreendimento e os empreiteiros
construção têm tarefas (responsabilidades) (incluindo seus subempreiteiros e trabalhadores) que
específicas relativamente à SST, inclusive o executam o projetado. Todas as funções ou, parte
dono da obra2 e autores dos projetos; delas, podem ser também exercidas pelo próprio
dono da obra, dependendo dos recursos e de
(ii) na introdução de novo conceito de coordena- capacidade (meios humanos e materiais) de que dis-
ção de segurança e saúde (para a fase do põe em sua estrutura para cumprir as tarefas. Muitas
projeto/concepção e para a fase de construção/ outras estruturas organizacionais (diferentes e/ou mais
execução física dos trabalhos), criando: complexas) poderão ser consideradas, mas essa dis-
cussão escapa ao âmbito do presente estudo.
2
Entidade que manda executar a construção e/ou para quem a construção se destina (entidade pública ou particular/incorporador/proprietário).

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Cada um desses intervenientes tem tarefas específi- tocador”. Ele está na primeira linha de responsabili-
cas relativas à SST, e suas responsabilidades são dades no que respeita à SST, dado que possui poder
gradativas, de acordo com a função, experiência e e autoridade sobre todos os outros intervenientes e
conhecimento em matéria de construção de cada um deverá encorajá-los a ter em conta a segurança e a
e com seu desempenho no processo de construção. saúde durante todas as fases do processo de cons-
trução, dando-lhes todos os meios necessários e
2.1.1 - Dono da obra e a SST suportando os respectivos custos.
O dono da obra não possui em geral conhecimentos
na área da construção, sendo-lhe, por isso, atribuídas 2.1.2 - Coordenadores de segurança e saúde e a SST
obrigações simples e não técnicas relativamente à Os coordenadores de segurança e saúde podem ser
SST. Suas tarefas em matéria de SST incluem, de pessoas individuais ou coletivas designadas pelo dono
acordo com a DC, nomeadamente: da obra ou pelo supervisor do empreendimento ou
(i) designação de um ou mais coordenadores de obra para executar as disposições da coordenação
segurança e saúde (para a fase de projeto e de segurança e saúde a seguir referidas, durante as
para a fase de construção); fases de projeto e de construção. Essas duas funções
podem ser preenchidas por uma ou mais pessoas no
(ii) formalização da comunicação prévia às auto- mesmo empreendimento ou obra. São designadas
ridades competentes em matéria de SST pelo dono da obra para coordenar o empreendimento
(inspeção do trabalho) antes de começarem os ou obra em todas as questões relativas a segurança e
trabalhos; saúde, e não há impedimento para designar algum ou
(iii) assegurar a existência de um plano de segu- alguns dos intervenientes existentes (especialmente o
rança e saúde, antes da abertura do canteiro e gestor do empreendimento ou obra ou o próprio
do início dos trabalhos, que deve especificar as supervisor) que podem acumular a função, desde que
regras aplicáveis ao canteiro em causa. assegurada sua independência e não haja conflitos
com as tarefas que já possuem no empreendimento
Importa observar que o dono da obra poderá tam- ou obra em causa, isto é, quem faz não supervisiona.
bém desempenhar a função dos coordenadores de Seja quem for designado como coordenador de
segurança e saúde ou poderá contratar outra pessoa segurança e saúde, o importante é assegurar a
(individual ou coletiva) para fazê-lo em seu nome, implementação da coordenação de segurança e
como é mais usual. Esses coordenadores (vide 2.1.2) saúde, acreditando-se que cada caso deve ser
constituem-se assim especialistas do dono da obra analisado e decidido, tendo em vista sua natureza,
sobre todas as questões relativas à segurança e saúde dimensão e complexidade.
no processo de construção (durante as fases de
projeto e de construção). São “agentes” e Embora a Diretriz estabeleça que esses coordenadores
conselheiros do dono da obra e, portanto, podem ser pessoas físicas ou jurídicas, alguns países
responsáveis também pelo estabelecimento das prin- da EU impõem que sejam pessoas físicas (p.ex. E, I),
cipais políticas relativas à SST em cada enquanto outros, pessoas jurídicas (p.ex. S, UK). Al-
empreendimento ou obra. O dono da obra atua de guns países consideram que, no caso de pessoa jurídica,
alguma forma como um “mestre de orquestra”. Ele essa deve incluir na sua equipe pessoas físicas qualifi-
sabe o que quer, decide o que fazer, mas não pode cadas como coordenadores de segurança e saúde (p.
“tocar cada instrumento com a qualidade de cada ex. A, F, D, P).

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De acordo com a DC, a designação desses coorde- 2.1.4 - Empreiteiros e a SST
nadores está relacionada apenas com o número de Os empreiteiros devem cumprir todas as regras so-
empresas que se prevê estejam simultaneamente pre- bre SST estabelecidas na legislação e no contrato
sentes no canteiro. Na maioria dos países, na com o dono da obra. Os subcontratados
determinação desse número de empresas, com essa (subempreiteiros, fornecedores de mão-de-obra e de
finalidade, é claramente estabelecido que os equipamento com os manobreiros/operadores) e bem
subempreiteiros e/ou qualquer empregador ou traba- assim as respectivas e sucessivas cadeias de
lhador autônomo devem ser considerados. subcontratação devem também seguir as mesmas
Permitem-se derrogações dessas designações de regras sobre SST e nos contratos estabelecidos com
coordenadores, a menos que os trabalhos envolvam os respectivos contratantes. Nesses casos, devem ser
riscos especiais (vide definição e discussão em 2.2) seguidas as regras estabelecidas no plano de segu-
ou quando é exigida a comunicação prévia (vide 2.3). rança e saúde e no plano de intervenções posteriores
elaborados para o empreendimento ou obra em cau-
2.1.3 - Autor do projeto e a SST sa, incluindo esses mesmos documentos, de forma
O autor do projeto deverá ter em conta os princípios clara, em cada um desses contratos quanto à parte
gerais de prevenção (PGP) referidos na Diretriz que lhes diz respeito. Os empreiteiros têm a obriga-
Quadro da SST (vide 2.2) quando aspectos ção de coordenar todos os seus subcontratados e
arquitetônicos, técnicos e/ou organizacionais são esses também têm o dever de cooperar com o em-
decididos e quando se estima o prazo de execução preiteiro que os contratou. O empreiteiro deve ainda
para o empreendimento ou obra ou para as suas implementar, e fazer implementar pelos seus
fases. Importa observar que na DC esta obrigação é subcontratados, os princípios gerais de prevenção (os
atribuída ao dono da obra ou ao supervisor por ele mesmos acima referidos, mas agora aplicados durante
designado, mas, na maioria dos países da EU, essa a execução dos trabalhos). Uma questão importante
obrigação foi atribuída por lei a autores dos projetos. que vale sublinhar refere-se às responsabilidades dos
O conhecimento e a interpretação desses PGP por empreiteiros, como empregadores, que não foram re-
autores de projetos é uma questão muito importante, duzidas com essa nova abordagem sobre SST
tendo em vista influírem significativamente na introduzida pela DC.
segurança e na saúde não apenas de trabalhadores
da construção, durante a fase de execução física dos 2.1.5 - Trabalhadores e a SST
trabalhos, mas também de trabalhadores que Os trabalhadores da construção têm direitos e deve-
intervirão durante a fase de exploração/manutenção. res em matéria de SST. A DQ releva os direitos dos
Em 2.2 apresentam-se algumas considerações sobre trabalhadores, atribuindo aos empregadores a res-
esses princípios bem como sua interpretação. ponsabilidade de lhes garantir segurança e saúde em
todos os aspectos relacionados com o trabalho. Para
A questão está em saber como é que os autores dos tal, os empregadores devem, designadamente, tomar
projetos estão desempenhando essas tarefas. Será todas as medidas necessárias para implementar as
que conhecem e têm preparação/qualificação para atividades de prevenção de riscos profissionais, de
aplicação desses princípios? A resposta pode variar informação e formação, bem como a criação de um
de país para país, mas acredita-se que, na maioria dos sistema de gestão devidamente organizado e com os
casos, há ainda muito a fazer e melhorar nessa área. meios necessários. A aplicação dessas medidas deve

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ter por base os nove princípios gerais de prevenção - Coordenação de segurança e saúde durante a
adiante referidos. fase de projeto (adiante designada por CSS-P);
- Coordenação de segurança e saúde durante a
Por outro lado, os trabalhadores têm também deve- fase de construção (adiante designada por
res em matéria de SST, consubstanciados, sobretudo, CSS-C).
pela obrigatoriedade de cumprirem as disposições da
legislação e do plano de segurança e saúde na parte A primeira (CSS-P) é desempenhada pelo
que lhes compete. Objetivamente, têm a obrigação coordenador de segurança e saúde para a fase de
de utilizar o equipamento de proteção individual (EPI) projeto, que deverá ser designado pelo dono da obra,
de acordo com as instruções do empregador e mantê- preferencialmente antes do processo de seleção do
lo em boas condições. Devem ainda informar seu autor do projeto. A CSS-C é desempenhada pelo
superior hierárquico ou o representante dos trabalha- coordenador de segurança e saúde para a fase de
dores sobre qualquer situação de não segurança na construção, que deverá também ser designado antes
realização do trabalho que lhes foi atribuído e podem do processo de licitação dos empreiteiros.
sugerir a implementação de novas medidas de segu- Considera-se que esses momentos de designação de
rança ou em alternativa às preconizadas no plano de ambos os coordenadores são os desejáveis, mas tal
segurança e saúde. A formação e sensibilização dos não consta da DC, diferindo na prática para cada
trabalhadores sobre SST são da maior importância caso e para cada país.
para esse objetivo, por serem eles os principais
beneficiários de todas essas medidas. Em ambos os casos, o cumprimento dos chamados
“Princípios Gerais de Prevenção” (PGP) é da maior
2.1.6 - Nota final importância para uma completa e eficiente
coordenação de segurança e saúde durante as fases
Independentemente das tarefas de cada interveniente, de projeto e de construção. Esses PGP devem ser
é importante garantir e esclarecer que a SST é uma aplicados pelos autores dos projetos, durante o
questão que diz respeito a todos os intervenientes no processo de elaboração dos projetos, e pelos
processo de construção. Cada pessoa é responsável empreiteiros, durante a execução física dos trabalhos,
por sua própria segurança e pela segurança de outros com o acompanhamento, em ambos os casos, dos
que possam ser afetados por suas ações. Convém respectivos coordenadores de segurança e saúde.
assim exigir o comprometimento e o esforço de todos Esses intervenientes deverão conhecer, compreender
e evitar a idéia de que a SST é uma questão que diz e interpretar esses princípios tendo em conta, para cada
respeito apenas aos especialistas em segurança e empreendimento ou obra, o respectivo projeto de cons-
saúde, que têm formação e qualificação específica em trução em causa (relativamente à CSS-P) e o processo
matéria de segurança e saúde, situação que, por ve- de construção (no que respeita à CSS-C).
zes, se verifica em diversos casos.
Os nove PGP são apresentados no Quadro 2 mais
2.2 - Coordenação de segurança e saúde adiante juntamente com alguns comentários, conside-
A Diretriz Canteiros considera as seguintes duas fa- rações e exemplos para cada um deles. Como acima
ses para a coordenação de segurança e saúde durante referido (vide 2.1), durante a fase de projeto, a mai-
o processo de construção: oria dos países cometeram a aplicação dos PGP aos
autores dos projetos, e a tarefa dos coordenadores

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é principalmente de coordenação ou supervisão de Como será feito o acesso à cobertura do edifício (le-
sua aplicação. vando em conta também sua inclinação)? Para futuras
manutenções, seria o caso de deixar pontos de an-
Em termos gerais, a coordenação de segurança e coragem na cumeeira da cobertura para fixação de
saúde (durante as fases de projeto e de construção) “linhas de vida” (permitindo a utilização de arneses)
baseia-se na seguinte questão para cada empreendi- ou para a fixação de plataformas de trabalho? Pode-
mento ou obra e para cada elemento de construção3, rá o parapeito na cobertura ter altura de 1,00 - 1,20
considerando quaisquer soluções possíveis ou alter- metro (variável para cada país) para evitar a necessi-
nativas no que se refere aos aspectos arquitetônico, dade de guarda-corpos complementares e de modo
técnico ou organizacional: que os trabalhadores, durante as fases de construção
e de manutenção, possam executar, de forma segura
Como será construído e mantido? suas tarefas na cobertura?
Para cada empreendimento ou obra (edifício, ponte,
Essas são apenas algumas das questões que pode-
estrada, etc), essa questão pode ser estendida de
rão sempre ser postas, especialmente pelos autores
diferentes formas como se apresenta a seguir.
dos projetos durante a elaboração dos projetos e
pelos empreiteiros durante a execução dos trabalhos,
Como será construído cada elemento de construção
e ainda pelos coordenadores de segurança e saúde
sem pôr os trabalhadores em situação de risco que
(fases de projeto e construção).
possa comprometer sua segurança e saúde? Haveria
outra solução menos perigosa sem comprometer os Com base no acima referido, importa sublinhar que,
requisitos arquitetônicos ou técnicos ou, comprome- embora a coordenação de segurança e saúde deva
tendo esses requisitos, seja viável? ser implementada desde a fase inicial de elaboração
dos projetos até à conclusão de todos os trabalhos,
Como será mantido esse elemento de construção ela diz respeito também à segurança e saúde de to-
durante o ciclo de vida do empreendimento ou obra dos os trabalhadores que serão envolvidos nas
sem pôr em risco os trabalhadores da manutenção? intervenções posteriores (designadamente de manu-
Como será feita a limpeza da fachada (por exemplo, tenção) durante todo o período de vida útil do
os vidros podem ser limpos do interior, se as janelas empreendimento. Para isso, o plano de intervenções
forem pequenas ou puderem ser abertas para o inte- posteriores deverá ser utilizado e atualizado durante
rior, caso contrário poderá ser necessário instalar uma todo esse período de vida útil.
plataforma no exterior)?
Além disso, considera-se que a coordenação de
Como será feito o acesso ao equipamento instalado segurança e saúde (em ambas as fases) deverá ser
pelos trabalhadores da manutenção, caso esse este- implementada em todos os empreendimentos ou
ja colocado em posição de difícil acesso (por obras, graduando as exigências tendo em vista sua
exemplo, equipamento de ar condicionado colocado dimensão (por ex., custo) e/ou complexidade e,
em posição muito alta num armazém)? independentemente da dimensão para todos os

3
Um elemento de construção é uma parte do empreendimento ou obra, como pilares, fachada, cobertura, etc.

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empreendimentos ou obras que envolvam riscos 2.2.1 - Coordenação de segurança e saúde na
especiais como definido na DC, ou para os quais se fase de projeto
exigir prévia comunicação. A coordenação de segurança e saúde na fase de
projeto (CSS-P) pretende assegurar a identificação
Os trabalhos envolvendo riscos especiais, como de- e avaliação de potenciais riscos a ser evitados durante
finido pela DC, são: (1) trabalhos que exponham as fases iniciais de elaboração dos projetos por meio
os trabalhadores a riscos de soterramento, de da adopção, sempre que possível, de soluções
afundamento ou de queda de altura, particularmente alternativas como base de prevenção. Isso deverá ser
agravados pela natureza da atividade ou dos métodos feito assegurando a observância dos princípios gerais
utilizados ou pelo enquadramento em que se situa o de prevenção a ser aplicados pelos autores dos
posto de trabalho ou a obra; (2) trabalhos que projetos como acima referido.
exponham os trabalhadores a substâncias químicas ou
biológicas que representem riscos específicos para a De acordo com a Diretriz Canteiros, essa
segurança e a saúde dos trabalhadores ou com coordenação implica basicamente o cumprimento dos
relação às quais haja obrigação legal de vigilância três seguintes itens:
sanitária; (3) trabalhos com radiações ionizantes, com
relação aos quais seja obrigatória a designação de - coordenar a implementação dos princípios
zonas controladas ou vigiadas; (4) trabalhos na gerais de prevenção (PGP) quando se decidem
proximidade de cabos elétricos de alta tensão; (5) aspectos arquitetônicos, técnicos ou
trabalhos que impliquem risco de afogamento; (6) organizacionais e quando se estimam os prazos
trabalhos em poços, túneis ou galerias; (7) trabalhos de execução globais ou parciais (por fases de
de mergulho com aparelhagem; (8) trabalhos em trabalho);
caixotões de ar comprimido; (9) trabalhos que - elaborar, ou mandar elaborar, um plano de
impliquem a utilização de explosivos e (10) trabalhos segurança e saúde (PSS) que estabeleça as
de montagem ou desmontagem de elementos pesados regras aplicáveis ao canteiro em consideração;
pré-fabricados. - preparar um dossiê adaptado às características
do empreendimento ou obra, contendo
A DC prevê ainda que cada país pode fixar valores informação relevante sobre segurança e saúde
numéricos para os riscos referidos no item (1), para que a ser levada em conta em eventuais trabalhos
esses riscos possam ser considerados como especiais, posteriores (documento aqui designado por
isto é, efetivamente não parece razoável considerar, por plano de intervenções posteriores).
exemplo, como envolvendo riscos especiais todas as
quedas de altura, independentemente da altura da Baseado nesses principais elementos, alguns países
queda, e todas as escavações, independentemente de adaptaram alguns deles tendo em vista sua própria
sua profundidade4. realidade e/ou para efeitos de esclarecimento. É o
caso, por exemplo, das diferentes designações para
o PSS como plano geral de coordenação de
segurança e saúde (F, I), plano preliminar de

4
Por exemplo, para trabalhos de escavações envolvendo o risco de soterramento, alguns países consideraram profundidades superiores a 1,20
metro (B), enquanto outros consideraram 1,50 metro (I). Para o risco de queda de altura, são considerados, em alguns casos, alturas superiores
a 2 metros (I, S), 3 metros (F) ou 5 metros (B).

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Quadro 2: Os Nove Princípios Gerais de Prevenção

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segurança e saúde (IRL), plano de segurança e saúde 2.2.2 - Coordenação de segurança e saúde na
pré-licitação (UK) ou estudo de segurança e saúde fase de construção
(E). Outros países acrescentaram outros itens com a A coordenação de segurança e saúde na fase de
mesma finalidade, por exemplo, assegurar a construção (CSS-C) pretende assegurar a
aplicação dos PGP ou a cooperação entre os autores identificação e avaliação de potenciais riscos durante
dos projetos. a fase de construção, para efeitos de prevenção. Isso
deverá ser feito pelos empreiteiros (e seus
Tendo em vista o acima referido, considera-se que a subcontratados), com o acompanhamento do
coordenação de segurança e saúde para a fase de coordenador de segurança e saúde nesse fase, e
projeto deveria incluir, nomeadamente, o seguinte: pelos supervisores.
- assessoria ao dono da obra em todos os assuntos
relacionados com a segurança e saúde no De acordo com a Diretriz Canteiros, essa
trabalho, incluindo a preparação da política de coordenação compreende basicamente seis itens:
SST para o empreendimento ou obra em causa; - coordenar a aplicação dos princípios gerais de
- coordenação da implementação dos PGP que prevenção e de segurança: (i) nas opções
os autores de projetos devem aplicar durante o técnicas e/ou organizacionais para planejar os
processo de sua elaboração; diferentes trabalhos ou fases de trabalho que
- elaboração do PSS, que deverá incluir todas as irão desenrolar-se simultânea ou
regras relativas à SST para serem implementadas sucessivamente; (ii) na previsão do tempo
durante a execução dos trabalhos; destinado à realização desses diferentes
trabalhos ou fases do trabalho;
- elaboração do PIP, que deverá incluir toda
informação relevante assim como as medidas - coordenar a aplicação das disposições
de prevenção e proteção a serem tomadas pertinentes, a fim de garantir que as entidades
durante qualquer trabalho posterior, patronais e, se necessário para a proteção dos
designadamente de manutenção do produto final; trabalhadores, os trabalhadores autônomos: (i)
apliquem de forma coerente os princípios
- preparação, sempre que aplicável, das exigên- indicados na DC que adiante se referem; (ii)
cias sobre SST que devem ser incluídas no pro- apliquem, sempre que a situação o exigir, o
cesso de licitação, e participação na avaliação e plano de segurança e de saúde;
seleção de outros intervenientes no processo de
construção (principalmente, empreiteiros) e na - proceder, ou mandar proceder, a eventuais
formulação dos respectivos contratos; adaptações do plano de segurança e de saúde
e do plano de intervenções posteriores, em
- transmissão ao coordenador de segurança e função da evolução dos trabalhos e das
saúde, na fase de construção, de toda infor- modificações eventualmente efetuadas;
mação relevante sobre SST, nomeadamente o
PSS e o PIP, sempre que ocorrer mudança da - organizar em nível das entidades patronais, in-
pessoa responsável pela coordenação de se- clusive as que se sucedem no canteiro, a coo-
gurança e saúde. peração e coordenação das atividades com
vista à proteção dos trabalhadores e à
prevenção de acidentes e de riscos profissio-

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nais prejudiciais à saúde, bem como a respec- própria realidade e/ou por razões de melhor
tiva informação mútua, integrando, se existi- entendimento.
rem, trabalhadores autônomos;
- coordenar a fiscalização da correta aplicação Tendo em vista o acima referido, considera-se que a
dos métodos de trabalho; coordenação de segurança e saúde para a fase de
construção deveria incluir, nomeadamente, o seguinte:
- tomar as medidas necessárias para que o acesso
ao canteiro seja reservado apenas a pessoas - assessoria ao dono da obra em todos os
autorizadas. assuntos relacionados com a SST, incluindo a
revisão da política de segurança e saúde para
o projeto em causa, que deveria ser claramente
Os princípios previstos na DC, já aludidos, são os
afixada no canteiro;
seguintes: (1) manter o canteiro em ordem e em
estado de salubridade satisfatório; (2) escolha da - coordenação da implementação dos PGP que
localização dos postos de trabalho levando em conta os intervenientes no processo de construção
(nomeadamente, supervisores, empreiteiros,
as condições de acesso a esses postos e a
subempreiteiros) deveriam aplicar durante a
determinação das vias ou zonas de deslocamento ou
execução dos trabalhos;
de circulação; (3) condições de manutenção dos
diferentes materiais; (4) conservação, controle antes - preparação e atualização da comunicação pré-
da entrada em funcionamento e controle periódico das via para ser feita pelo dono da obra às autori-
instalações e dispositivos, a fim de eliminar dades competentes em matéria de SST, quan-
deficiências susceptíveis de afetar a segurança e a do aplicável;
saúde dos trabalhadores; (5) delimitação e - coordenação das adaptações e complemen-
organização das zonas de armazenagem e de tos do PSS e PIP, que deveriam ser exigidos
depósito dos diferentes materiais, especialmente dos empreiteiros, tendo em vista os processos
quando se trata de matérias ou substâncias perigosas; construtivos e métodos de trabalho que esses
(6) condições de coleta de materiais perigosos empregarão (relativamente ao PSS) e os tra-
utilizados; (7) armazenagem e eliminação ou retirada balhos efetivamente realizados (no que respei-
de resíduos e escombros; (8) adaptação, em função ta ao PIP), assim como o respeito às regras de
da evolução do canteiro, do tempo efetivo a prevenção e proteção estabelecidas nesses
consagrar aos diferentes tipos de trabalho ou fases do documentos (um planejamento para o desen-
trabalho; (9) cooperação entre entidades patronais e volvimento da documentação deveria ser exi-
trabalhadores autônomos; (10) interações com gido dos empreiteiros, incluindo datas de en-
atividades de exploração no local em cujo interior ou trega ao supervisor ou dono da obra);
proximidade está implantado o canteiro.
- implementação e coordenação de uma comis-
Tal como para CSS-P acima referida, alguns países são de SST, que deveria incluir todas as pesso-
limitaram-se a transpor (traduzir) a Diretriz Canteiros as responsáveis envolvidas no Projeto em cau-
para o direito interno com poucas adaptações, sa, assim como representantes dos trabalhado-
enquanto outros estenderam, modificaram e res;
esclareceram as disposições da DC de forma - coordenação da supervisão da obrigação dos
detalhada (B, F, IRL, UK), levando em conta sua empreiteiros, subempreiteiros e trabalhadores

61
autônomos, em matéria do SST, presentes no Esses planos devem ser adaptados e comple-
canteiro simultânea ou sucessivamente; mentados depois da adjudicação (antes de iniciado
- participação na análise e investigação de quais- qualquer trabalho) e durante toda a fase de
quer acidentes de trabalho a ser conduzida construção, de acordo com as regras estabelecidas
pelos empreiteiros, incluindo os dos nesses documentos.
subcontratados;
Ambos os documentos são dinâmicos e devem ser
- realização de auditorias de SST, em nome do seguidos durante a execução dos trabalhos. Se o PSS
dono da obra, no canteiro em causa; deve ser atualizado, adaptado e aplicado durante a
- coordenação da entrega pelo empreiteiro, na fase de execução dos trabalhos, o PIP deve ser
conclusão do projeto, de toda documentação atualizado durante e após a conclusão dos trabalhos
relevante relacionada com a SST, inclusive re- e ser aplicado durante a fase de manutenção, para
gistros gerados, principalmente o PSS e PIP. prevenção de perigos em quaisquer intervenções
subseqüentes durante essa fase. Contudo, importa
sublinhar que, durante a fase de manutenção, para
2.3 - Novos documentos de prevenção de riscos
qualquer reabilitação ou alteração significativa do
profissionais
construído, deve ser exigida a coordenação de
Como acima referido, a DC introduziu três novos segurança e saúde, quer na fase de projeto quer na
documentos de prevenção de riscos profissionais, que de “construção” dessa reabilitação ou alteração,
são descritos sumariamente (uma descrição mais como se de “nova” obra se tratasse.
detalhada de seu conteúdo escapa ao âmbito do
presente documento), a saber: 2.3.1 - Comunicação Prévia
- Comunicação Prévia (CP); A Comunicação Prévia (CP) pretende informar as
- Plano de Segurança e Saúde (PSS); autoridades competentes (inspeção do trabalho) o
início de um canteiro de obra e, por isso, deve ser
- Plano de Intervenções Posteriores (PIP). preparado antes de começar qualquer trabalho. Deve
ser afixada em local bem visível do canteiro e
De forma sumária, a CP tem por objetivo comunicar periodicamente atualizada, se necessário. De acordo
a abertura de um novo canteiro, enquanto o PSS e o com a DC, o conteúdo mínimo da CP é o indicado
PIP pretendem identificar e prevenir riscos, o no Quadro 3.
primeiro, durante a fase de construção e, o segundo,
nas intervenções posteriores durante a fase de Esse documento é obrigatório sempre que os traba-
exploração/manutenção. lhos tenham duração superior a 30 dias e neles
estejam envolvidos simultaneamente mais de 20 tra-
A preparação do PSS e do PIP deve ser iniciada balhadores (em qualquer momento), ou no qual o
durante o processo de elaboração do projeto e, se volume de trabalho exceda 500 pessoas/dia. Isso sig-
for o caso, ambos os planos devem ser incluídos no nifica, por exemplo, que num projeto que emprega
processo de licitação para que todos os potenciais todos os dias dez trabalhadores durante seis meses
concorrentes (isto é, empreiteiros) possam conhecer (construção, por exemplo, de uma pequena habita-
as exigências neles feitas para a preparação de suas ção), seria necessária a CP, já que envolve um volume
propostas e consideração dos respectivos custos. de 1,2 mil pessoas/dia (na suposição de 20 dias de

62
Quadro 3: Conteúdo mínimo da CP (de acordo com a DC)

trabalho por mês e , teoricamente, do mesmo núme- 2.3.2 - Plano de Segurança e Saúde
ro de trabalhadores todos os dias), embora a primeira
O Plano de Segurança e Saúde (PSS) é o principal
condição não se verifique.
documento de prevenção de riscos profissionais para
a fase de execução, tendo por objetivo identificar e
Considera-se que se deveria anexar a essa CP uma
avaliar os riscos de SST e respectivas medidas pre-
declaração escrita de aceitação dos intervenientes
ventivas a serem tomadas durante essa fase no
nela incluídos, em especial os alheios à estrutura do
canteiro em causa. Deve estar disponível antes de ini-
dono da obra, isto é, os coordenadores de seguran-
ciado qualquer trabalho no canteiro (deve, aliás, ser
ça e saúde e, quando aplicável, essa declaração
incluído no processo de licitação, quando houver) e
deveria referir-se também à praticabilidade do prazo
deve incluir as regras a seguir por todos os
de execução estabelecido para o empreendimento ou
intervenientes no processo de construção. Deve ser
obra. É importante que essa referência ao prazo de
disponibilizado em tempo para todos esses
execução seja considerado principalmente pelos
intervenientes, nomeadamente, o coordenador de
supervisores, autores dos projetos e coordenadores
segurança e saúde para a fase de construção,
de segurança e saúde, dada a influência (ou relação)
supervisores, empreiteiros, subempreiteiros,
que tem o prazo na segurança e saúde (um curto
trabalhadores autônomos e representantes dos
prazo de execução significa concentração de
trabalhadores.
trabalhadores e, eventualmente, a execução
simultânea de trabalhos incompatíveis, favorecendo
Essas regras devem ser estabelecidas de forma que
a ocorrência de acidentes de trabalho).
o PSS seja dinâmico, para ser complementado
durante todo o processo de construção, requerendo-

63
Quadro 4: Exemplo de estrutura e conteúdo de um PSS

64
se do empreiteiro sua adaptação e desenvolvimento, PSS é obrigatório sempre que exigível a Comunica-
tendo em vista os processos construtivos e métodos ção Prévia (vide condições acima) ou que envolvam
de trabalho que empregará para ser eficientemente riscos especiais (vide definição em 2.2). Nesses últi-
utilizado. Esse plano deve conter também exigências mos casos, exige-se uma versão simplificada do PSS,
ao empreiteiro quanto à organização de registros sendo utilizadas diferentes designações para essa
demonstrativos das ações e medidas implementadas. versão simplificada como referido em 2.2 acima.
A exigência de um PSS para a fase de projeto e ou- Outros países excluíram a exigência do PSS (com ou
tro para a fase de construção leva, em geral, a sem simplificação) para pequenas obras executadas
documentos estáticos de cuja eficiência se duvida. no interior de uma habitação particular.

O PSS é exigido para todos os empreendimentos ou Em alguns dos países da UE, o conteúdo mínimo do
obras em alguns países da EU, independentemente da PSS é também considerado na legislação. O Qua-
sua dimensão e complexidade. Noutros países, o dro 4 apresenta um exemplo de conteúdo de um

65
PSS, organizado de forma estruturada que o autor países da UE, esse documento é exigido em geral
vem utilizando em muitos casos práticos. Essa para todos os empreendimentos ou obras, mas há
estrutura e conteúdo devem ser adaptados exceções. Em alguns países da EU, a legislação in-
(reduzidos ou ampliados) de acordo com as clui ainda o conteúdo mínimo desse PIP.
características de cada caso.
O Quadro 5 dá um exemplo do conteúdo desse pla-
2.3.3 - Plano de Intervenções Posteriores no organizado de forma estruturada para o caso de
um edifício, com uma estrutura similar à do PSS, mas
O Plano de Intervenções Posteriores (PIP) é impor- com conteúdo diferente. Essa estrutura e conteúdo
tante documento de prevenção de riscos profissionais devem ser adaptados (reduzidos ou ampliados) de
durante as intervenções após a conclusão dos traba- acordo com as características de cada caso, sendo
lhos, isto é, durante a fase de exploração/manutenção. certo que haverá significativas diferenças para dife-
Deverá conter toda informação relevante a ter em rentes tipos de empreendimentos ou obras (edifícios,
conta durante qualquer trabalho subseqüente. Nos estradas, pontes, etc.).

Quadro 5: Exemplo de estrutura e conteúdo de um PIP para um edifício

66
3. Implementação da Diretriz Canteiros e
Estratégias para a melhoria da SST da
membros da UE15 em momentos diferentes. Alguns
Construção
desses países têm introduzido alterações e/ou adendos
Conforme atrás referido, a Diretriz Canteiros foi trans- ao longo do tempo, com base na experiência adquiri-
posta para o direito interno dos diversos países da com a implementação prática dessa Diretriz.

67
O impacto da implementação da nova abordagem da trabalho. Abordam-se, a seguir, os principais aspec-
Diretriz Canteiros não é facilmente mensurável com tos de cada uma dessas ações.
o rigor e a abrangência que seria desejável, no en-
tendimento de que a medição do desempenho em 3.1 - Campanha Européia da Construção 2003
matéria de segurança e saúde no trabalho, deve A necessidade de reduzir os elevados indicadores de
basear-se em critérios e métodos adequados que sinistralidade laboral no setor da construção, nos
incluam a monitorização reativa mas também e, países da União Européia, determinou a decisão do
sobretudo, a monitorização ativa. Apesar disso e para Comitê dos Altos Responsáveis pelas Inspeções do
se ter uma idéia dos benefícios alcançados desde a Trabalho (SLIC) de lançar, de forma concertada, uma
publicação da referida Diretriz, em 1992, importa campanha européia envolvendo todos os países. Essa
referir que o número de acidentes de trabalho fatais campanha ocorreu entre junho e setembro de 2003,
na construção por cada 100 mil trabalhadores ou por baseada num questionário previamente preparado e
cada bilhão de euros registrou um decréscimo de aceito por todos e implementado em 36.090 canteiros
cerca de, respectivamente, 35%, no primeiro caso, e de obras no conjunto dos 15 países da UE.
de 24%, no segundo caso, entre 1992 e 2001.
Considerando o número de acidentes de trabalho na Diversos aspectos foram abordados nesse
construção dos quais resultaram mais de três dias de questionário no que respeita ao cumprimento de
ausência, os decréscimos verificados para esses algumas disposições da Diretriz Canteiros,
mesmos indicadores foram de, respectivamente, 33% designadamente a nomeação dos coordenadores de
e 24%. Independentemente de outras razões que se segurança e saúde, elaboração das comunicações
poderão considerar, pode-se afirmar que, no mínimo, prévias, planos de segurança e saúde e planos de
a nova abordagem da Diretriz Canteiros poderá intervenções posteriores. O questionário incluiu
explicar uma parte mais ou menos significativa desses também outros aspectos de avaliação de riscos, como
decréscimos. a identificação de atividades e medidas envolvendo
o risco de queda de altura, seleção, utilização e
Por outro lado, várias ações têm decorrido em todos manutenção de equipamento e a seleção e controle
os países, seja por iniciativa de cada país, seja de de empreiteiros.
forma concertada pelo conjunto dos países da UE15.
Em qualquer dos casos, essas ações têm por objetivo Das irregularidades detectadas nas ações de
sensibilizar e/ou verificar o nível de implementação inspeção identificadas nessa campanha, a maioria
efetiva das disposições da Diretriz no setor da resultou em advertências escritas ou verbais (69%)
construção, bem como estabelecer prioridades e com a aplicação de multas pecuniárias em cerca de
linhas de ação para a melhoria da segurança e saúde 26% dos casos. Verificou-se ainda a suspensão de
no trabalho da construção em todos os países da UE. trabalhos em 4% dos casos e a instauração de
processo legal em 1% dos casos. A maioria das
Dentre essas ações destacam-se: a campanha irregularidades foram registradas especialmente nos
européia promovida pelo Comitê dos Altos canteiros de menor dimensão (empregando menos de
Responsáveis pelas Inspeções do Trabalho (SLIC); 20 trabalhadores). Importa, porém, referir que entre
a cúpula organizada pela Agência Européia para a os diversos países da UE15, houve diferenças de
Segurança e Saúde no Trabalho e as estratégias atuação quanto à ação a tomar face às irregularidades
globais definidas pela UE sobre segurança e saúde no detectadas. Enquanto alguns países privilegiaram a

68
aplicação de multas, outros privilegiaram as advertên- construção. Cerca de 10 mil eventos foram organi-
cias verbais e/ou escritas. zados em todos os países da União Européia, onde
se discutiram formas de melhorar a segurança e saú-
A campanha serviu também para troca de experiênci- de na construção. No final, a Agência Européia
as entre os países em matéria de ações de inspeção organizou uma cúpula com a participação das princi-
com vista à uniformização de critérios, tendo sido tira- pais organizações da construção, que assinaram uma
das diversas conclusões das quais se destacam as Declaração de compromisso sobre a segurança e
seguintes: saúde no trabalho da construção, que integra um con-
- passar de uma estratégia de prevenção de aci- junto de ações para a melhoria dos níveis de
dentes, baseada na tecnologia, para uma segurança e saúde na indústria da construção.
política mais focalizada na gestão
organizacional do risco e em fatores humanos; Além do representante do Ministro para os Assun-
tos Sociais e Emprego (Presidência Holandesa da
- a segurança e a saúde devem ser planejadas na União Européia à data do evento), foram signatárias
construção, antes, durante e após a fase de da Declaração as seguintes organizações: a Federa-
execução; ção Européia da Indústria da Construção, a
- as medidas de segurança e saúde contribuem Federação Européia dos Trabalhadores da Constru-
para a melhoria das condições de trabalho, ção e Madeiras, a Confederação Européia de
reforçando a produtividade, a empregabilidade Construtores, a Federação Européia de Associações
e a competitividade; de Consultores em Engenharia, o Conselho Europeu
dos Arquitetos e o Conselho Europeu dos
- a necessidade de desenvolver um método de
Engenheiros Civis.
medição no âmbito europeu para comparar o
nível de segurança nos vários países e estimar
Essa Declaração ficou conhecida como a Declaração
a eficácia da publicidade ou diferentes ações
de Bilbao, por ter sido assinada nessa cidade da
de cumprimento.
Espanha que sedia a AE-SST e inclui cinco pontos-
chave que se resumem a seguir:
3.2 - Semana Européia sobre Segurança e Saúde
no Trabalho da Construção 2004
- integrar as “normas” de segurança e saúde nas
A Agência Européia para a Segurança e Saúde no licitações, apoiadas por guias de referência
Trabalho (AE-SST) vem lançando todo ano (desde para a aquisição de bens e serviços;
há seis anos) uma semana européia de segurança e
- garantir que a segurança e saúde sejam tidas
saúde no trabalho, variando anualmente o tema
em conta nas fases de concepção e planeja-
específico. Em geral, os temas dizem respeito a um
mento dos projetos de construção;
risco especial, como é o caso do ano de 2005, em
que se pretende realçar o controle do barulho nos - utilizar inspeções dos canteiros e outras técni-
locais de trabalho. cas para incentivar as empresas a cumprirem a
legislação sobre segurança e saúde;
No ano de 2004, porém, o tema escolhido para a - desenvolver guias para ajudar as empresas a
semana européia, que ocorreu em outubro deste ano, cumprirem a legislação, especialmente as
foi, pela primeira vez, um setor de atividade: a pequenas e médias empresas;

69
- fomentar a aplicação de “normas” de SST mais SST e outros instrumentos para assegurar melhor apli-
exigentes, por meio do diálogo social e acor- cação das normas de SST; (iii) dado que a qualidade da
dos sobre a formação, estabelecimento de implementação tem importância vital, serão envidados
metas de redução de acidentes e outras ques- todos os esforços para monitorizar a transposição e
tões. implementação da legislação.

Importa realçar que, nessa Declaração, foi prevista a 4. Conclusões


organização de uma nova cúpula em junho de 2006, A Diretriz Canteiros, publicada em 1992, constituiu
para acompanhamento e verificação do que foi feito a principal linha de força para a maioria dos países
pelas organizações signatárias para pôr em prática os da União Européia desenvolverem sua própria
pontos-chave acima referidos. legislação para a melhoria das condições de trabalho
nos canteiros de obra. Hoje, a maioria dos
3.3 - Estratégia global da União Européia sobre SST profissionais da construção têm melhor conhecimento
Em março de 2000, a Comissão Européia da importância dessa matéria, que agora faz parte de
estabeleceu como objetivo “criar mais e melhores sua atividade corrente, embora muitas melhorias
empregos”, considerando a segurança e saúde como sejam ainda necessárias, seja para melhor
elemento fundamental da qualidade do trabalho que entendimento da legislação em alguns países, seja
importa melhorar continuamente. para o desenvolvimento de soluções técnicas
relacionadas com a segurança e saúde no trabalho,
No âmbito dessa estratégia, foram definidas as principais nomeadamente, em matéria de equipamento de
linhas de força da política da União Européia sobre proteção e prevenção.
segurança e saúde no trabalho para o período de 2002-
2006, cujos pontos-chave são resumidamente os Para isso, as federações ou associações de empresas,
seguintes: (i) abordagem global do bem-estar no européias e nacionais, relacionadas com a área da
trabalho; (ii) reforçar a cultura de prevenção; (iii) construção (associações de construtores, de
combinar os instrumentos, criar parcerias; (iv) projetistas, de consultores, etc.) e federações e
desenvolver a cooperação internacional. sindicatos de trabalhadores têm contribuído
significativamente para o conhecimento,
Em fevereiro de 2005, entretanto, a Comissão Européia desenvolvimento e aplicação das disposições da DC,
distribuiu um comunicado sobre a agenda social, onde seja por meio de ações organizadas por cada uma
se estabelecem duas áreas prioritárias para o futuro dessas organizações, seja baseadas em ações
próximo, com o objetivo de emprego para todos e uma conjuntas com instituições governamentais em
sociedade mais coesa. Integrada na primeira dessas ambiente tripartite.
prioridades, a Comissão estabeleceu uma nova estratégia
sobre segurança e saúde para o período 2007-2012, Essas ações realizam-se com vista a dar seguimento às
baseada nos seguintes três pontos-chave: (i) enfoque nos estratégias globais definidas pela Comissão Européia
riscos novos e emergentes e salvaguarda dos níveis para a área da segurança e saúde no trabalho, área
mínimos de proteção nas situações de trabalho e para considerada prioritária no âmbito da política européia,
trabalhadores não cobertos adequadamente; (ii) reforço tendo em vista o reconhecimento de que a prevenção
da qualidade dos serviços de prevenção, formação em compensa, isto é, que a redução de acidentes e

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doenças relacionadas com o trabalho faz aumentar a Essa nova abordagem da DC, juntamente com a pu-
produtividade, reduz os custos, reforça a qualidade no blicação, no âmbito da DQ, de diversas outras
trabalho e valoriza assim o capital humano. diretrizes sobre segurança e saúde no trabalho
(equipamentos de trabalho, máquinas, etc.),
Por outro lado, o reconhecimento das especificidades representa um desafio a todas as empresas e, em
do setor da construção (com produtos únicos) particular, às de construção. Para esse desafio, a
comparativamente com outros setores de atividade implementação de sistemas de gestão da segurança
econômica (como fabricação de produtos em série) e saúde no trabalho contribuirá certamente para ajudar
justificou a publicação de uma Diretriz que levasse em as empresas a cumprir, de forma organizada e
conta essas especificidades e os elevados riscos a que planejada, as disposições de todas essas diretrizes e,
os trabalhadores estão expostos. conseqüentemente, melhorar as condições de
trabalho dos trabalhadores da construção, que
Assim, a DC surge com uma nova abordagem constituem o recurso mais valioso de qualquer
consubstanciada na atribuição de responsabilidades empresa. Esse sistema, baseado no guia da OIT
a todos os intervenientes no processo de construção, (ILO-OSH 2001) e no conceito de coordenação de
no âmbito das respectivas competências (incluindo o segurança e saúde da Diretriz Canteiros, se
dono da obra e projetistas), criando novos adequadamente concebido e implementado, terá
documentos de prevenção de riscos profissionais (CP, significativo impacto positivo na redução do número
PSS e PIP) e abrangendo todo o ciclo de vida do de acidentes de trabalho e de doenças profissionais
empreendimento (desde a fase de projeto, passando na indústria da construção.
pela de execução e incluindo os riscos nas
intervenções posteriores à conclusão do empreendi-
mento ou obra, até o fim da sua vida útil).

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Referências

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Union”. CIB – W99. Roterdã, Holanda.
Alves Dias, L. M. e Fonseca, M. (1996): “Plano de Segurança e Saúde na Construção”. Editado por IST-
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Alves Dias, L. M. (2003): “Coordination of Safety and Health Measures in Construction Work from
Designing stage to maintenance stage in European Countries”. Japan Construction Safety and Health
Association (JCSHA). Tóquio, Japão.
European Commission (1993): “Safety and Health in Construction”. Luxemburgo.
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rança e da saúde dos trabalhadores no trabalho.
Diretriz 92/57/CEE (1992), relativa às prescrições mínimas de segurança e de saúde a aplicar em cantei-
ros temporários ou móveis.
ISSA – Construction Section (2001a): “International Survey on Coordination of Safety and Health at
Temporary or Mobile Construction Sites”. Paris, França.
ISSA – Construction Section (2001b): “Occupational Safety and Health Management Systems in
Construction (OSHMSinCONS) – International Survey”. Paris, França.
López-Valcárcel, Alberto (2003); “Occupational safety and health management systems in the construction
industry: The ILO approach (ILO-OSH 2001)”. CIB-W99. São Paulo, Brasil.

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