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Unidade Curricular: Lusofonia e CPLP
Docente: Pedro Borges Graça
Alunos: Luís Lança, Isabela Real, Vítor Banho, Laura Cavalcante, João
Garcia Castro
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Introdução
1. O surgimento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Diante do cenário sociocultural internacional, no século XX, entre os países uma vez
colonizados por Portugal, surge o sentimento e a ambição de oficializar a criação de
uma comunidade de países e povos que possuem além de uma herança histórica comum
– a língua portuguesa – uma visão compartilhada de desenvolvimento e
democracia entre si. Um discurso muitas vezes esquecido ao longo dos anos, uma vez
que Portugal e outros países da agora CPLP estavam a passar por períodos conturbados
de conflitos, mas que foi relembrado e finalmente posto em prática na década de 90,
mais especificamente em novembro de 1989, no Maranhão, onde sucedeu a primeira
reunião dos Chefes de Estado dos países de Língua Portuguesa ,ou seja, Angola, Brasil,
Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São-Tomé e Príncipe, sendo este o primeiro
passo concreto para o processo da criação da CPLP. Nesse âmbito, foi estabelecido o
Instituto Nacional da Língua Portuguesa, o qual tem a função de promover e difundir o
idioma.
No entanto, foi somente no dia 17 de julho de 1996, após o Encontro realizado no ano
anterior - no qual os sete Ministros voltaram a reunir-se, tendo reafirmado a importância
da constituição da CPLP para os seus países - que foi realizada uma Cimeira de Chefes
de Estado que formalizou a criação da CPLP. Passado seis anos, no dia 20 de maio do
ano de 2002, após a independência de Timor-Leste, o mesmo tornou-se o oitavo estado-
membro da comunidade, e, depois de alguns anos, em 2014, a Guiné-Equatorial também
se tornou membro da comunidade passando a ser nove os membros da comunidade.
Nesse sentido, com a execução da CPLP foi traçado uma intenção comum de projetar e
consolidar, no plano exterior, os particulares laços de amizade entre os países de língua
portuguesa, e assim permitindo que essas nações melhorem a sua aptidão no que diz
respeito a defender os seus valores e interesses, debruçando-se principalmente na
defesa da democracia, na promoção do desenvolvimento e na criação de um ambiente
internacional mais pacífico e estável.
Por conseguinte, de acordo com os seus estatutos, a CPLP tem como objetivos gerais: a
concertação político-diplomática entre os países-membros; a colaboração em todas as
vertentes, inclusive a da educação, saúde, ciência, defesa, agricultura, administração
pública, justiça e projetos de promoção e difusão da língua portuguesa.
2. A criação do Protocolo de Cooperação da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa no Domínio da Defesa
Dois anos após a criação da CPLP, nos dias 20 e 21 de julho de 1998, houve a primeira
reunião entre os Ministros de Defesa dos Estados, e é a partir dessa data que se
inaugura uma nova fase de cooperação em Defesa. Nessa reunião, foram tratados
diferentes temas que teriam como objetivo aumentar a cooperação no âmbito da defesa
e segurança entre os estados, a transformar, assim, seu relacionamento multilateral essa
cooperação seria feita através de ciclos de conferências anuais de segurança e defesa, na
preparação e no treino de militares adequados para a participação em operações
humanitárias e de manutenção da paz nomeadamente capacetes azuis, criação e a
sustentação de estabelecimentos de ensino militar para o emprego comum e a criação do
CAE/CPLP (Centro de Análise Estratégica), sediado em Maputo e com núcleos em cada
um dos países.
Dessa forma, um dos protocolos desenvolvidos nesse processo de execução da CPLP foi
o Protocolo de Cooperação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa no
Domínio da Defesa, realizado na Cidade de Praia, em 2006, onde se reconheceu a
necessidade de aproximar as relações na cooperação nos assuntos de defesa entre os
Estados Membros e ficaram determinados a garantir a paz, a segurança e a defesa e,
ainda, aumentar os laços de solidariedade entre os membros, de modo a lembrar que
todos esses fatores são principais para uma cooperação proveitosa.
De acordo com o protocolo, os seus objetivos específicos envolvem: criar uma partilha
comum de conhecimentos nos assuntos da defesa Militar; promover uma política
comum de cooperação nas áreas da defesa e na área militar; contribuir para o progresso
das competências internas através do fortalecimento das Forças Armadas dos países-
membros da CPLP. Além disso, o documento conta ainda (Artigo 4°) com princípios
fundamentais que se constituem para a formação da componente de defesa da
CPLP como aparelho de manutenção da paz e segurança.
um passado comum.
seguidas.
Deste modo, a CPLP, foi criada com uma agregação de pressupostos, de natureza
diversa. Entre eles, verificamos que os laços histórico-culturais comuns, nos quais os
valores comuns às comunidades, e essencialmente a língua portuguesa, assumem um
papel de extrema relevância. Do ponto de vista biofísico, a geografia marítima e
ribeirinha, que é um elemento permanente da geopolítica de todos os estados-membros,
nomeadamente de Portugal, quando os navegadores portugueses nos séculos XV e XVI,
procuraram acessos aos territórios africanos, americanos e asiáticos, de forma a
preconizarem e desenvolverem as trocas comerciais e cientifico-culturais. Contudo, nos
dias de hoje, manifesta-se uma grande importância, na vertente da defesa,
essencialmente como elo central, devido às parecenças existentes, nas próprias
estruturas militares, quanto à organização, hierarquias e disciplina, empenho no
cumprimento da missão, valores éticos e espírito solidário.
Na realização deste tema será dado ênfase aos exercícios de cariz militar FELINO, que
se trata de um grande exemplo a ser usado pela sua grande importância no cenário da
CPLP com relação à cooperação.
No contexto da vertente de defesa e cooperação da comunidade dos Países de língua
portuguesa (CPLP), a organização FELINO 16 que aconteceu em Cabo Verde, na
Cidade da Praia.
Este é realizado anualmente, mudando a versão de Exercício na Carta (EC) com a de
Forças no Terreno (FT). No ano de 2016, o exercício decorreu na modalidade EC, em
Cabo Verde, utilizando o cenário a aplicar no formato FT em 2017, no Brasil.
O projeto FELINO têm como o objetivo principal compor uma Força de Tarefa
Conjunta e Combinada (FTCC), no âmbito da CPLP, para garantir a aptidão de
intervenção às missões de Apoio à Paz e Ajuda Humanitária.
O FELINO acontece desde os anos 2000, em constante rotatividade pelos diferentes
países da CPLP. Nos dois primeiros anos ocorreram em Portugal, no ano de 2002 se
realizou no Brasil, Moçambique concedeu as operações no ano de 2003, Angola em
2004, Cabo Verde no ano de 2005, Brasil organizou em 2006, São Tomé e Príncipe a de
2007, depois os exercícios foram regressado a Portugal em 2008. Em 2009, se realizou
em Moçambique e no ano de 2010 pela segunda vez a Angola acolheu aos exercícios. O
FELINO em 2014 realizou-se em Timor-Leste e, em 2015, em Portugal.
No XVI reunião de Chefes de Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA)
da CPLP, em 2014, houve a definição do próximo ciclo 2016-2017 se realizaria
respectivamente em Cabo Verde e Brasil.
Disto resultaram relações muito mais próximas e abertas, onde se criaram novos
atores, interesses e ideias, mas também se criaram novas ameaças, ameaças essas
que se tornaram transnacionais e assimétricas. As ameaças são transnacionais pois
ultrapassam os limites das fronteiras geográficas, e por isso necessitam de ser
combatidas internacionalmente. Sendo importante a cooperação internacional entre
os atores para a resolução dessas ameaças e por isso as organizações internacionais e
outros organismos similares como a CPLP são tão importantes para manter o mundo
mais seguro e estável.
Ameaças Transnacionais
1. Terrorismo
O terrorismo tem diferentes classificações atribuídas, sendo que uma delas é dada pelo a
instituição do FBI que classifica o terrorismo da seguinte forma:
1
Lara, António de Sousa, (2021). “O estudo da Ordem e da Subversão” (10ºEdição).Lisboa: ISCSP.
2
Convenção das Nações Unidas contra a criminalidade organizada, art.º 2º
3
Noticia sobre o reforço das medidas contra o crime organizado por parte da CPLP. Disponível online em:
https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/detalhes.php?id=278057
Angola que em setembro de 2021, a polícia conseguiu desmantelar uma rede tráfico de
seres humanos em Luanda.4
Sendo que ainda existe um longo caminho a percorrer para acabar definitivamente com
este tipo de ameaça, adquirido a priori que é possível erradicá-la definitivamente.
4. Conflitos Armados
5. Ataques ao ambiente
Estamos a caminhar a passos largos para um mundo onde se vai competir por recursos
vitais e onde a distribuição dos recursos naturais vai ser desigual, criando razões e
motivos para conflitos e tensões. No contexto da CPLP, um dos assuntos ligados ao
ambiente mais debatidos pelos estados-membros são assuntos relacionados com o mar e
a sua poluição, visto que a maior parte dos países membros da CPLP possui costa
marítima7.
Desafios Futuros
Ao proceder à análise dos futuros desafios da CPLP é necessário que se tenha em conta
a contextualização destes desafios no fenômeno que é a globalização, existindo,
portanto, desafios transversais às várias organizações internacionais nomeadamente:
5
Amnistia Internacional (n.e). “Conflito Armado”. Disponível online em:
https://www.amnistia.pt/tematica/conflito-armado/
6
https://www.amnistia.pt/mocambique-necessaria-investigacao-sobre-tiroteio-contra-residentes-
locais/
7
Noticia do Jornal de Notícias sobre o Mar e Ameaças na CPLP. Disponível online em: https://www.dn.pt/lusa/mar-
e-ameacas-sao-comuns-na-cplp-em-materia-de-defesa---cemgfa-portugues--10779002.html
recorrentes crises económicas, políticas e sociais que por sua vez resultam numa
acentuação das desigualdades e numa maior instabilidade nas relações internacionais.
No que toca a desafios específicos à CPLP vemos à partida a sua dispersão geográfica,
estando os seus estados-membros localizados através de quatro continentes e ligados
por três oceanos. Apesar deste ser um desafio bastante peculiar à CPLP e facilmente
identificável, do outro lado da moeda, a superação destes entraves pode significar uma
vantagem estratégica para a comunidade, especialmente tendo em conta a grande linha
costeira destes Estados em comparação com o seu território podendo-se até afirmar que
o mar pode funcionar como recurso e vetor estratégico para a organização. Neste
contexto é de elevada importância mencionar Portugal através da Estratégia Nacional
para o Mar 2021-2030 (ENM 2030) que tem como objetivo “(...)dar resposta aos
grandes desafios da década e reforçar a posição e a visibilidade de Portugal no mundo
enquanto nação eminentemente marítima.”8.
Outra potencialidade disfarçada de desafio, ou vice-versa, vêm pela inserção dos vários
EM em outras OI o que naturalmente condiciona cada EM na sua capacidade de
negociação e cooperação. O desafio aqui referido é o de fomentar uma maior
cooperação entre a CPLP e outras OI, de forma mutuamente benéfica. No entanto as
dificuldades apresentadas são melhor expressas pelas palavras de Adriano Moreira “É
um desafio elaborar políticas coerentes sem experiências passadas, em vista de um
futuro sujeito a condicionantes de terceiros, futuros abertos a uma complexidade que
torna frágeis todas as perspetivas" (Moreira, Adriano). Por outro lado, e fazendo alusão
ao que considero o maior desafio enfrentado pela CPLP, a inserção dos EM nas várias
8
https://dre.pt/dre/detalhe/resolucao-conselho-ministros/68-2021-164590045
OI garante uma maior projeção internacional de cada EM e por consequência da própria
CPLP. Algumas OI cuja cooperação com a CPLP merece ser mencionada são a
Comissão do Golfo da Guiné e a ZOPACAS, organizações de foro regional sendo a
primeira bastante benéfica à CPLP na medida de utilização do mar como recurso
estratégico e segunda de grande importância no que toca a cooperação nos domínios de
defesa.
Conclusão
“Aqueles que não conseguem lembrar do passado estão fadados a repeti-lo.”. Essa
citação, escrita pelo poeta espanhol Agustín Nicolás Ruiz, em conjunto com esta outra
sentença “Um povo que não reconhece a sua história está fadado a repeti-la.”, de
Edmund Burke, filósofo e orador irlandês, representam a importância do estudo das
relações de cooperação entre os países ao longo da história, não somente da CPLP,
mas ao redor do globo, de forma a manter uma estabilidade na conjuntura
internacional independente da época vigente. Dessa forma, compreende-se que a
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, embora localizada de forma abrangente
e naturalmente estratégica em quatro dos seis continentes do planeta, continua, no
decorrer do tempo, a enfrentar desafios no quesito defesa e segurança internacionais,
mais ainda no reconhecimento pelas grandes potências dos mesmos. Nesse sentido,
nota-se que a Comunidade possui as condições e meios necessários para ser um ator
influente nesse âmbito, principalmente no quesito geoestratégico. No entanto, é
necessário que haja uma vontade política dos governantes dos Estados Membros e
uma capacidade financeira para sustentar as operações que buscam ser alcançadas por
meio dessa Cooperação, fatores que são, inclusive, os maiores problemas da CPLP,
tendo em vista o nível de precarização de política interna de boa parte dos membros e
a falta de recursos – principalmente navais – para uma ação eficaz no plano de
segurança entre os Estados. Além disso, a CPLP passa uma imagem de ser uma
organização muito mais simbólica do que uma organização internacional estruturada e
coesa capaz de lidar com as ameaças e futuros desafios recorrentes no mundo atual,
fator que também diminui sua credibilização no palco internacional. Desse modo, a
CPLP negligencia as políticas de defesa e segurança, passando-as para segundo plano
ao passo que as falhas nesses domínios, nomeadamente na cooperação técnico-
militar, consistam numa falha estrutural.
Referências
Amnistia Internacional (n.e). “Conflito Armado”. Disponível online em:
https://www.amnistia.pt/tematica/conflito-armado/
Centro de Analise Estratégica (setembro, 2021). “A cooperação de Defesa na
CPLP, Desafios e Oportunidades para o futuro” [Youtube]. Maputo. Disponível
online em: https://www.youtube.com/watch?v=Ec3BH85IGrg
Centro de Análises Estratégicas (2015). “Identidade da CPLP no domínio da
defesa”. Disponível online em: https://eurodefense.pt/cooperacao-portugal-
cplp-nos-dominios-da-seguranca-e-defesa/
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (setembro,2016). “Exercícios
“Felino 2016” em Cabo Verde”. Disponível online em:
https://www.cplp.org/Default.aspx?ID=4447&NewsId=4533&PID=10872
CPLP (2004). “Protocolo de Cooperação da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa no domínio da Defesa”.
Eurocid. “Estratégia Nacional Para o Mar.”. Disponível online em:
https://eurocid.mne.gov.pt/mares-e-oceanos/estrategia-nacional-para-o-mar