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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, Campus Itabirito - Tópicos em Sistema Elétrico de Potência 2 -Professora Claudia

Mesquita

Proteção contra descargas atmosféricas


Tipos de Captores
Matheus Henrique da Silva Cornélio, Filipe Vieira Brison e André Franco

Resumo— O presente trabalho visa realizar um estudo sobre captor de para-raios em relação ao solo. Atualmente a norma
sistemas de proteção contra descargas atmosféricas, apresentando técnica permite considerar a ponta de um tubo metálico como
os tipos de captores existente, enfatizando suas diferenças físicas captor de para-raios, assim como uma torre metálica também
e seu princípio de captação, bem como, apresentar aplicações de
uso. pode ser considerada um captor de para-raios.
Basicamente [2] aborda que, toda e qualquer parte metálica
Palavras-Chave— Descargas atmosféricas, captores, proteção e que possa ser atingida por uma descarga atmosférica, deve
sistema elétrico
ser considerada no projeto do sistema de para-raios, assim
sendo será naturalmente um captor de para-raios, por exemplo:
I. I NTRODUÇÃO rufos, chaminés, tanques metálicos, guarda-corpo, heliporto,
O propósito da escolha do tema está relacionado a um escadas, estruturas metálicas de galpões, telhas de metal,
entendimento do sistema de proteção contra as descargas mastros de antenas etc, em alguns casos o projetista não
atmosféricas. Sabe-se que esse efeito pode atingir os sistemas instala o subsistema de captação, pois já existe naturalmente,
de distribuição de energia elétrica incidindo sobre os cabos apenas interliga ao subsistema de descidas ou subsistemas de
guardas (quando instalados), os condutores elétricos e as aterramentos.
estruturas. Por fim, [2] afirma que outra forma de se obter um bom
Quando não há cabos guarda na rede de distribuição, as meio de captação de para-raios é instalar cabos de cobre
descargas atmosféricas incidem preferencialmente sobre as nu com 35mm2 de seção, em torno de todo perímetro da
estruturas e, depois, sobre os condutores da rede. Para prover edificação, mais cabos transversais, formando uma grande
uma proteção em qualquer tipo de estrutura (edificações, gaiola de Faraday ou através de fitas de alumínio com no
subestações, linhas de transmissão, redes de distribuição etc.), mínimo 70mm2 de seção, tudo conforme determina a norma
podem ser utilizados três métodos de proteção, de acordo com técnica de para-raios NBR 5419:05. Conforme abordados na
a norma brasileira NBR 5419-3:2015 – Proteção contra Des- introdução, para prover uma proteção em qualquer tipo de
cargas Atmosféricas, Parte 3, sendo eles: Método do Ângulo estrutura podem ser utilizados três métodos de proteção que
de Proteção ou Método de Franklin, Método da Gaiola de serão apresentados abaixo.
Faraday e Método da Esfera Rolante. Segundo [1], o método da esfera fictícia rolante, é bastante
indicado para estruturas com formas arquitetônicas complexas,
ou com grandes alturas, sendo baseados em estudos realizados,
II. F UNDAMENTAÇÃO T EÓRICA a partir da medição dos parâmetros dos raios, de registros
Conforme abordado por [2], a instalação dos Sistemas fotográficos, em técnicas de simulação, ensaios de laboratórios
de proteção contra descargas atmosféricas – SPDA é uma e modelagem matemática. Inicialmente, este método surgiu
exigência do Corpo de Bombeiros, regulamentada pela ABNT com a necessidade de um modelo para se aplicar às linhas de
segundo a Norma NBR 5419/2005, e tem como objetivo transmissão, sendo depois adaptado para atender as estruturas
evitar e/ou minimizar o impacto dos efeitos das descargas at- (edificações).
mosféricas, que podem ocasionar incêndios, explosões, danos
materiais e, até mesmo, risco à vida de pessoas e animais. Os
sistema de para-raios se dividem em 03 (três) partes principais:
subsistema de captação, subsistema de descidas e subsistemas
de aterramentos.
Sabe-se que o captor é o elemento que tem o primeiro
contato com o raio. É o elemento metálico que tem como Fig. 1. Método da esfera fictícia rolante [1]
objetivo principal interceptar a descarga atmosférica. É senso
comum para muitos que o captor é o Para Raio em si, porém, Além disso, [1] aborda que o Método Gaiola de Faraday
ele é apenas uma parte do sistema, que possui, certamente, consiste em instalar um sistema de captores formado por con-
uma grande importância. dutores horizontais interligados em forma de malha, formando
Temos que [2] define que os subsistemas de captação de uma rede modular de condutores, envolvendo todos os lados
para-raios podem ser compostos por captor ou captores tipo do volume a proteger (cobertura e fachadas), criando assim
Franklin, o que determina o numero de captores de para-raios uma espécie de “gaiola”. Graças a essa disposição, temos
é o tamanho da edificação, a largura x comprimento x altura do um campo elétrico nulo no interior da malha captora, pois
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as cargas se distribuem de forma homogênea na parte mais


externa da superfície condutora. Esse método só tem aplicação
em estruturas que ocupam com grandes áreas a proteger.

Fig. 5. Captor de Franklin[1]

Os Captores do Tipo Franklin são os mais populares e


conhecidos. Eles são sustentados por uma haste metálica, e
Fig. 2. Método Gaiola de Faraday [1] tem 4 Pontas no topo. Eles são usados no método do Ângulo
de proteção, mas também podem ser usados no método eletro
Por fim temos a definição criada por [1] para o Método geométrico (método da esfera).
de Franklin, que consiste na utilização de um ou mais mas- Como exemplo, o raio de proteção, R, para uma altura
tros com captores, de modo que todo volume da estrutura do mastro, H = 4 m, pode variar de 8,2 m a 14,9 m,
(edificações, chaminés, estruturas de redes aéreas etc.) a ser respectivamente, para as classes do SPDA de I e IV. Os
protegido fique dentro de uma zona espacial de proteção valores dos raios de proteção foram calculados utilizando-se
do sistema, criada pelos cones de proteção dos para-raios, a expressão abaixo:
que são formados por captores e mastros. Os captores são a
peça fundamental de um sistema de proteção contra descargas R = H · tag(α) (1)
atmosféricas (SPDA). Sendo assim, como o foco do presente
trabalho irá abordar sobre a utilização dos captores, vamos R1 = 4 · tag(64) = 8, 2 (2)
explicar os tipos existentes e as suas aplicações junto ao
R2 = 4 · tag(75) = 14, 9m (3)
método de Franklin.
O método de Franklin utiliza os terminais aéreos forma-
dos por captores que recebem diretamente os impactos das
correntes de descargas atmosféricas, dentro de seu volume de
proteção normalizado, e que são conduzidas à terra, por um
sistema de descida em cabos de cobre nus, até a malha de
aterramento constituída de cabos e hastes de terra. O método
do ângulo de proteção é adequado para edificações de formato
Fig. 3. Método de Franklin[1]
simples, segundo a definição da própria norma brasileira.
Os captores Franklin de quatro pontas são, normalmente,
utilizados no mercado nacional na proteção de edificações,
III. E XPLICAÇÃO DA APLICAÇÃO torres e outras estruturas. Tem seu formato mostrado na acima.
São fixados nas extremidades de um mastro, normalmente
A. Captores de Franklin metálico.
O volume de proteção provido por um captor Franklin é
definido pela forma de um cone circular, cujo vértice está
B. Captores Ionizantes
posicionado na extremidade do eixo do mastro e o ângulo que,
dependendo da classe do SPDA e da altura H do captor, em São dispositivos de ionização, com alguma semelhança aos
relação à área a ser protegida, pode tomar diferentes valores captores Franklin, tendo, como principal diferença, o valor do
definidos na página 31 da NBR 5419-3:2015.A Figura abaixo raio de proteção.De acordo com os fabricantes, os para-raios
mostra o cone de proteção formado pela instalação, de um ionizantes possuem ângulos de cobertura muito superiores
para-raios do tipo Franklin, na extremidade de um mastro de aos para-raios Franklin, conforme podemos observar na figura
altura H. Isto é, toda estrutura contida no volume do cone está abaixo, comparativamente à Figura 4, que mostra o raio de
protegida contra descargas atmosféricas. proteção dos para-raios Franklin.

Fig. 6. Área de proteção de um para-raios ionizante.[1]

Fig. 4. Cone de proteção [1] Os para-raios ionizantes (PDI) que, nas mesmas condições,
geram um líder ascendente mais rápido que um para-raios
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simples, e de fato oferecem um área de proteção maior. Esses Por meio do módulo de controle, pode-se, opcionalmente,
para-raios são compostos por uma ponta central totalmente conhecer o número de descargas atmosféricas acumulado no
condutora, um dispositivo de ionização, um elemento de módulo de teste. A figura abaixo mostra o captor do para-raios
fixação e uma ligação aos condutores de descida. ionizante de fabricação Indelec.
Segundo os fabricantes, os para-raios ionizantes são isentos
de elementos eletrônicos, com avanço à ignição de 60 s,
e testados até 200 kA (na onda 10/350 s). O seu tempo
de avanço à ignição é concedido única e, exclusivamente,
pela sua geometria, apresentando desta forma uma elevada
confiabilidade e durabilidade. Também declaram que os para-
raios ionizantes estão de acordo com diferentes normas inter-
nacionais, notadamente a norma portuguesa NP 4426:2013 –
Proteção contra descargas atmosféricas. Fig. 8. Captor Ionizante[1]

C. Captores do tipo Melsen


Os captores de Melsen são usados no método das malhas.
São hastes de 50 cm instaladas com um espaçamento de 5
ou 8 metros. Eles não são essenciais no método da gaiola de
Faraday, porém a sua utilização é recomendada para evitar
o desgaste térmico dos cabos, devido a incidência direta de
descargas.

Fig. 7. Raios de proteção do para-raios ionizante[1]

A seguir, uma descrição da operação do para-raios ionizan-


tes. O raio começa quando a nuvem emite traçadores descen-
dentes, que se propagam em direção do solo. Qualquer objeto,
de preferência pontiagudo, pode receber o impacto. O objetivo
do sistema externo de proteção é que o ponto de impacto
da descarga seja um objeto controlado, que proporcione à
corrente do raio um caminho seguro até a terra sem danificar
a estrutura.
O para-raios ionizante se caracteriza com a emissão ante-
cipada, de um traçador ascendente antes que qualquer outro
objeto, dentro do seu raio de proteção, oferecendo, assim, Fig. 9. Captor Mensen [3]
uma zona de proteção, maior que uma ponta simples. Em
continuidade ao exemplo dado para os captores Franklin, para Apesar de ter a mesma finalidade dos para-raios de Franklin,
uma altura do mastro, H = 4 m, o captor ionizante propicia, esse tipo de para-raios funciona também como uma gaiola de
para a mesma altura, H = 4 m, o raio de proteção, variando Faraday, envolvendo as construções com uma malha de fios
entre 63 m a 86 m, respectivamente, para as classes do dotada de hastes metálicas, aterrada ao chão. Sendo assim,
SPDA de I e IV, conforme se pode observar na Tabela 1. podemos dizer que esse tipo de para-raios é composto de seis
Se desejarmos determinar o ângulo de proteção para os níveis partes principais: captor do tipo terminal aéreo, cabo de cobre,
de proteção I e IV, teremos, respectivamente: suporte isoladores, tubo de proteção, malha de aterramento
e conector de medição. Nesse sistema o prédio é envolvido
α = arctg(63/4) = 86, 3 (4) por uma armadura e uma malha de fios metálicos. Enquanto
as hastes tem a função de captar as descargas, a armadura
metálica é responsável pelo sistema de condução da energia.
α = arctg(86/4) = 87, 3 (5)

Os para-raios ionizantes são acompanhados de um módulo D. Captores Radioativos


de teste de funcionamento à distância, que fica localizado no Conforme abordado por [3], são captores que durante o
sistema de descida, mastro ou cabo. O acesso ao módulo do período da década de 70 e 80 eram utilizados como alter-
teste é feito por meio de um dispositivo de controle, que nativa ao de Franklin. São facilmente reconhecidos, visto que,
se comunica por meio de radiofrequência, HF 2,4 Ghz, com utilizam discos sobrepostos ao invés das características hastes
alcance de até 100 m. pontiagudas no topo.
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Fig. 10. Captor radioativo [3]

A premissa de utilização deles, era de que eles eram mais


eficientes, e protegiam uma região maior que o captor Franklin
convencional. Contudo, com estudos mais aprofundados no
assunto, esse fato foi desmistificado, e assim, deixou de haver
um motivo para escolher esse captor. Até que em 1989,
a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), através
da Resolução Nº 4/89, suspendeu a concessão de material
radioativo para fabricação dos captores.
O material presente nesses captores, quase sempre é o Radi-
oisótopo Amerício 241, que tem um baixo risco de irradiação,
porém tem um alto risco de contaminação com o contato com a
fonte. Tendo isso em vista, o Instituto de Pesquisas Energéticas
e Nucleares (IPEN), recebe esse material, e disponibiliza um
Manual de Instruções, tanto para remoção do captor, como
para o transporte

IV. A NÁLISES E CONCLUSÕES


Antes de instalar, portanto, cabos metálicos para proteger
prédios de descargas atmosféricas, estuda-se captores, mate-
riais elétricos, dimensões matemáticas e elétricas e um dos
métodos para SPDA. Dimensiona-se altura, comprimento e
largura com observação das tabelas da norma NBR 5419/2005
que informa dados dos valores feitos para buscar valores
mínimos de raio no cálculo. Além disso, um dos captores pode
ser melhor escolhido, porém depende dos custos dos materiais.
Os captores são desenvolvidos em estudos e análises dos
dimensionamentos a serem aplicados como partes de SPDA na
área de elétrica e de telecomunicação. Quanto maior estudo,
mais segurança e menos riscos à vida das pessoas em prédios.

R EFERÊNCIAS
[1] L. Lamport, ‘Proteção contra surtos de tensão por descargas atmosféricas
e por manobra," Condutores Elétricos de Média Tensão: Blindagem
Metálica,v. 5, pp. 52–55, Junho 2013
[2] João Mamede, ‘SPDA – Sistema de Proteção contra Descargas Atmos-
féricas," Revista Martins Instalações elétricas, v. 5, pp. 52–55, Maio
2005.
[3] Mateus Simães, Tipos de Para Raios: Conheça o melhor para sua
necessidade, , 2012.

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