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Sistemas de proteção contra descargas atmosféricas - SPDA – Estudo

da ABNT NBR 5419 e exemplo de aplicação

Lightning protection systems - SPDA - Study of ABNT NBR 5419 and


application example
Henrique Pires de Sene Caetano1, Daniela Freitas Borges2, Aurea Messias de Jesus3,
Emerson Carlos Guimarães4, Fabiana da Silva Santos Franco5

RESUMO
Neste trabalho, apresenta-se um estudo de um sistema de proteção contra descargas atmosféricas,
propondo-se uma aplicação prática no bloco C do Campus Universitário da UEMG, com base na Norma
Brasileira ABNT NBR 5419, de onde foram obtidos os dados necessários para estudo e desenvolvimento do
projeto em questão. Foram realizados levantamentos para reprodução da planta arquitetônica do prédio,
com o intuito de representar de forma real, em escala reduzida, às dimensões da edificação.
PALAVRAS-CHAVE: Descargas atmosféricas; Malha de aterramento; Proteção de sistemas elétricos;
SPDA.

ABSTRACT
In this work, a study of a lightning protection system is presented, proposing a practical application in block C
of the UEMG University Campus, based on the Brazilian Standard ABNT NBR 5419, from which the
necessary data for the study were obtained. and development of the project in question. Surveys were
carried out to reproduce the architectural plan of the building, in order to represent in a real way, on a
reduced scale, the dimensions of the building.
KEYWORDS: Atmospheric discharges; Grounding grid; Protection of electrical systems; LPS.

INTRODUÇÃO

A incidência direta ou indireta de descargas atmosféricas pode ser extremamente


danosa a sistemas elétricos e de telecomunicações. Um raio ao atingir uma rede de
distribuição poderá causar um curto-circuito desequilibrado e deixar um quarteirão inteiro
sem energia, além de danificar equipamentos elétricos, queimando seus componentes
devido à alta corrente ou ao intenso campo eletromagnético gerado. As consequências
são maiores quando um raio atinge uma linha de transmissão ou em uma subestação, por
exemplo, pois podem acarretar em perdas inestimáveis e grandes prejuízos às
concessionárias de energia elétrica (SIMOMURA, 2022).

1
Discente do curso de Engenharia Elétrica. Universidade do Estado de Minas Gerais, Ituiutaba, Minas
Gerais, Brasil. E-mail: henriquepsene@gmail.com.
2
Docente no Curso de Engenharia Elétrica. Universidade do Estado de Minas Gerais, Ituiutaba, Minas
Gerais, Brasil. E-mail: daniela.borges@uemg.br.
3
Docente no Curso de Engenharia Elétrica. Universidade do Estado de Minas Gerais, Ituiutaba, Minas
Gerais, Brasil. E-mail: aurea.jesus2021@gmail.com.
4
Docente no Curso de Engenharia Elétrica. Universidade do Estado de Minas Gerais, Ituiutaba, Minas
Gerais, Brasil. E-mail: emerson.guimaraes@uemg.br.
5
Docente no Curso de Engenharia Elétrica. Universidade do Estado de Minas Gerais, Ituiutaba, Minas
Gerais, Brasil. E-mail: fabiana.franco@uemg.br.
Este é um documento de acesso aberto sob os termos da Licença Creative Commons Atribuição, Não Comercial, Não
para Obras Derivadas (CC BY NC ND), que permite o uso e distribuição em qualquer meio, desde que o trabalho
original seja devidamente citado, o uso não seja comercial e nenhuma modificação ou adaptação seja feita.
Os sistemas de proteção contra descargas atmosféricas ou, simplesmente SPDA,
são conjuntos de instalações e equipamentos utilizados com a finalidade de reduzir as
possibilidades de danos ocasionados por descargas atmosféricas às instalações elétricas,
equipamentos eletroeletrônicos e resguardar a vida humana da incidência direta ou
indireta de raios. Seu princípio de funcionamento é basicamente atrair e conduzir a
corrente elétrica proveniente de uma descarga atmosférica para a terra. Um SPDA é
composto por sistemas interligados entre si, chamados subsistemas, que garantem
individualmente a eficiência no desempenho da função de proteção geral (CREDER,
2007).
A elaboração, instalação e manutenção de um projeto de SPDA devem ser
executadas seguindo a norma brasileira ABNT NBR 5419 “Proteção de estruturas contra
descargas atmosféricas”, 2ª edição, 2005.
Este trabalho tem por objetivo realizar um estudo sobre os sistemas de proteção
contra descargas atmosféricas, embasados na norma brasileira ABNT NBR 5419 –
Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas, abordando seus principais tópicos,
e aprofundando nos itens descritivos dos métodos de proteção.
Outro propósito deste trabalho é apresentar um projeto prático, no qual foi utilizado
o bloco C do Campus Universitário da UEMG como exemplo de aplicação, justificando
tecnicamente a necessidade de instalação de um SPDA, dimensionando os subsistemas
de acordo com a ABNT NBR 5419 e apresentando uma lista de materiais, caso seja
decidida a implantação do projeto.

MATERIAL E MÉTODOS

A ABNT NBR 5419 (2001) é aplicável às edificações agrícolas, administrativas,


comerciais, industriais, institucionais e residenciais, estruturas com quatro ou mais
pavimentos ou área maior ou igual a 750,00 m² e chaminés cuja altura seja superior a 20
m e/ou sua seção transversal seja maior que 0,30 m². A aplicação da NBR 5419 não
implica na dispensa das observações referentes à regulamentação de órgãos e entidades
pertinentes, cujas exigências devem ser atendidas pela instalação do sistema.
Um sistema de proteção contra descargas atmosféricas pode aplicar três métodos
de proteção, que são: Captores de Franklin; Gaiola de Faraday e Eletrogeométrico. No
presente trabalho o método escolhido foi o da Gaiola de Faraday.

MÉTODO DA GAIOLA DE FARADAY

O método da proteção gaiola de Faraday é baseado no experimento realizado pelo


físico-químico inglês Michael Faraday, em que provou que um condutor eletrizado possui
campo elétrico zero em seu interior, pois os elétrons circulam pela superfície externa
(CREDER, 2007).
Nesse método, os terminais aéreos de captação são dispostos uniformemente
pelas superfícies superiores do edifício e seguem para o subsistema de descidas e, em
seguida, para o subsistema de aterramento, formando uma malha, análoga ao teorema
de Faraday (SIT ENGENHARIA, 2021).
O método de proteção por gaiola de Faraday protege apenas o que está no interior
da estrutura, pois esta se torna um condutor conduzindo corrente elétrica, quando
atingida por uma descarga atmosférica (CREDER, 2007).

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A distância de separação entre dois terminais retilíneos deverá ser a mesma para
todos e a quantidade de captores deverá ser satisfatória no que diz respeito à extensão
em que os mesmos serão instalados (CREDER, 2007).
Todos os terminais aéreos deverão estar interligados, formando um anel fechado,
que é a malha de captação, abrangendo alturas diferentes, se for o caso (CREDER,
2007).

NÍVEIS DE PROTEÇÃO

Na elaboração de um projeto de SPDA, o nível de proteção a ser adotado é função


do tipo de edificação e é mostrado abaixo: (FERGÜTZ, 2019)
Nível I: Depósitos de materiais nucleares, explosivos, inflamáveis, químicos,
bioquímicos, fábricas de materiais bélicos, pirotécnicos, estações de telecomunicações,
usinas elétricas, refinarias de petróleo e demais prédios com risco de incêndio iminente;
Nível II: Edifícios comerciais, bancários, sítios arqueológicos, museus, teatros,
presídios, hospitais, escolas, templos religiosos, locais de práticas esportivas, etc.;
Nível III: Edifícios residenciais, industriais com baixo risco de incêndio,
estabelecimentos agropecuários, áreas rurais de médio porte com estruturas em madeira,
etc.;
Nível IV: Depósitos de sucatas, áreas rurais de pequeno porte com estruturas em
madeira, etc.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A instalação de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas é obrigatória


em edifícios comerciais e residenciais acima de quatro pavimentos ou com área
construída igual ou superior a 750 m².
O bloco C do Campus Universitário da FEIT/UEMG não possui nenhum tipo de
proteção contra descargas atmosféricas. A edificação possui uma área construída em
planta de 1.193,05 m² e é destinada a fins educacionais, fato que exige a instalação de
um SPDA, pois nela há concentração de público, o que torna elevada a possibilidade de
um aluno ou funcionário da instituição estar sujeito direta ou indiretamente às
consequências de uma descarga elétrica atmosférica.
A densidade de descargas atmosféricas para a região de Ituiutaba – MG, no
Triângulo Mineiro, dado o respectivo índice ceráunico, que é de aproximadamente 30 dias
de trovoada por ano.
Desta forma, e arredondando o resultado para facilitar nos cálculos, a densidade
de descargas atmosféricas é de três raios por quilômetro quadrado por ano, isto significa
que, em um ano, podem ocorrer até três descargas atmosféricas entre nuvem e solo em
uma área de 1 km².
Depois de realizado o levantamento do bloco C, juntamente com a cantina de
funcionários, o software AutoCAD® foi utilizado para representar a planta baixa e elaborar
o projeto de SPDA. A estrutura tem a altura máxima de 12 metros, entre o plano do solo e
a caixa d’água. A cantina, no nível do piso da passarela do pavimento imediatamente
superior, tem uma altura de 3 metros. A partir dessas alturas medidas, o valor da área de
atração de descargas atmosféricas calculado foi de 3.816,20 m².

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A condição para que seja irrefutavelmente necessário instalar um SPDA é que a
avaliação de risco Nd seja igual ou maior que 10-3 (SANTOS, 2021). No caso do bloco C,
o valor calculado foi de quase o quádruplo da condição obrigatória, portanto, deve-se
instalar um sistema de proteção contra descargas atmosféricas.

O SUBSISTEMA DE CAPTAÇÃO

A determinação do subsistema de captores foi realizada considerando a extensa


área de cobertura do bloco, que tem 73,05 por 15,15 metros. O telhado é em telhas de
fibrocimento do modelo Canaleta 90. O compartimento onde está localizada a caixa
d’água encontra-se exatamente no centro da estrutura, tem dimensões de 4,25 por 5,60
por 2,00 metros de altura e não possui telhado, apenas uma laje plana impermeabilizada.
Na torre da caixa d’água, serão instalados oito terminais aéreos, sendo localizados
nos centros e nos vértices do referido plano, parafusados de baixo para cima na barra de
cobre, com parafusos inoxidáveis e apertados com porcas também em aço inox. A barra
de cobre, por sua vez, será fixada à laje da torre por meio de parafusos inoxidáveis e
buchas de nylon cravadas na laje.
No telhado principal, serão instalados 37 terminais aéreos em cada lado de 73,05
m, com uma distância média de 2 metros entre eles. Nos lados de 15,15 m, serão
colocados sete terminais de captação, já descontando um em cada extremidade,
contabilizado anteriormente na face perpendicular, com 2,17 metros de espaçamento
médio. Na cumeeira do telhado, foram projetados 16 terminais, subtraindo um em cada
extremidade, contabilizado anteriormente no lado de 15,15 metros, também com 2 metros
de espaçamento. A fixação dos terminais aéreos na barra de cobre deverá ser realizada
da forma citada anteriormente, e a barra deverá ser parafusada na telha de fibrocimento
utilizando parafusos e porcas de aço inox.

O SUBSISTEMA DE DESCIDAS

A resistência de aterramento medida foi de 9,8 Ω, através do método da queda de


potencial, fato que não exige nenhum tratamento de correção de resistividade do solo
local.
A malha de aterramento, com uma área de 1.350,00 m², envolve o prédio principal,
e possui uma distância entre hastes de exatamente 3 metros, para que não haja
gradientes de tensão que possam vir a provocar tensões de passo perigosas para quem
se encontra no interior da malha. A Figura 1 ilustra a planta baixa da malha de
aterramento, onde a região não hachurada representa a área compreendida entre o final
do guarda corpo da passarela e o início do passeio, a região em vermelho representa
toda a construção e a região em verde representa a abrangência da malha, e todas as
medidas estão em metros.

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Figura 1 – Planta baixa da malha de aterramento (sem escala)

Fonte: Os autores (2021).

EQUALIZAÇÃO DE POTENCIAIS

A necessidade de ter um barramento de equalização de potenciais instalado no


bloco C é determinada pela vulnerabilidade dos equipamentos localizados em seu interior
em serem afetados por diferenças de potenciais originárias das descargas atmosféricas.
Os equipamentos eletroeletrônicos contemplados pela proteção através da equalização
de potencial são centrais de voz e dados, data-shows, DVD players, impressoras,
microcomputadores, servidores, entre outros.
Uma caixa de equalização de potencial deverá ser instalada em cada ala, dos três
andares, totalizando seis caixas na edificação. O barramento de cobre das caixas do
segundo pavimento conectar-se-á ao barramento do primeiro pavimento, que, por sua
vez, conectar-se-á ao barramento do pavimento térreo e este, ao subsistema de
aterramento, e a esses barramentos deverão ser conectados: carcaça de quadros de
distribuição e derivação; eletrodutos e encanamentos metálicos; ferragens
sobressalentes, acima do nível da laje; terra de todos os equipamentos elétricos.
O uso de dispositivo de proteção contra surtos no bloco C é dispensável, pois na
rede de distribuição da Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG há para-raios de
baixa tensão, que tornam o sistema elétrico em edificações seguro contra surtos de
tensão provocados por incidência de descargas atmosféricas.
Para a edificação ser dispensada da instalação de um SPDA, a avaliação de risco
deverá ter um índice menor que 10 -5. Se a avaliação de risco fornecer um número entre
10-5 e 10-3, a instalação de um sistema de proteção é facultativa. Se o índice da avaliação
de risco resultar em um valor acima de 10 -3, a edificação deverá ter um SPDA instalado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No desenvolvimento deste trabalho, verifica-se que a necessidade de instalação de


um SPDA em qualquer edificação está diretamente relacionada com o índice ceráunico,
com a densidade de descargas atmosféricas, com a altura da edificação, com sua área
em planta e, calculando a área de atração de descargas atmosféricas, é possível
determinar esse índice, assim como a avaliação de risco, que é função do tipo de
ocupação e construção da estrutura, do conteúdo armazenado por ela e sua localização e
topografia local.
Após a determinação de todos os dados necessários para a elaboração do projeto,
o método de proteção escolhido para ser implantado foi a gaiola de Faraday, que é o mais
confiável dentre os três aqui mencionados.
Embora o método da gaiola de Faraday seja o mais eficiente entre os três
utilizados para proteção contra descargas atmosféricas, há também a opção de projetar

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um SPDA utilizando a combinação com o método dos captores Franklin. Essa
combinação aumenta o custo da implantação do sistema e não aumenta sua eficiência,
pois o captor Franklin atrairá descargas atmosféricas para a estrutura, que poderá ser
captada por ele ou pelos terminais aéreos e a gaiola de Faraday por si só já é suficiente
para proteger a estrutura contra os efeitos danosos da incidência de raios.
O projeto utilizado como exemplo de aplicação neste trabalho teve um índice de
necessidade de instalação que já obriga a instalação de um sistema de proteção contra
descargas atmosféricas, e a edificação é destinada a fins educacionais, fato que agrava o
previsto na ABNT NBR 5419 de 2005.
Por se tratar de uma edificação existente, não foi utilizado o SPDA estrutural, e
todo o projeto foi elaborado em conformidade com a norma brasileira ABNT NBR 5419.

Agradecimentos

Agradecemos a todos que contribuíram para a realização do trabalho.

Conflito de interesse

Não há conflito de interesse.

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5419 - Proteção de


estruturas contra descargas atmosféricas. 2001.

CREDER, H. Instalações Elétricas; 15ª edição; Rio de Janeiro; LTC Editora; 2007.

FERGÜTZ, M. Sistemas de Proteção Contra Descargas Atmosféricas SPDA. NBR 5419-


3:2015 Danos Físicos a Estrutura e Perigos à Vida. 2019.

SANTOS, K. C. B. M. Como determinar o Nível de proteção em um projeto para a


NBR5419/2015? AltoQi SPDA. 2021. Disponível em: <https://suporte.altoqi.com.br/hc/pt-
br/articles/115002339494-Como-determinar-o-N%C3%ADvel-de-
prote%C3%A7%C3%A3o-em-um-projeto-para-a-NBR5419-2015->. Acesso em: 1 jul.
2022.

SIMOMURA, C. ELAT - Grupo de Eletricidade Atmosférica. Disponível em:


<http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu/infor/relampagos.e.efeitos/sistema.eletrico.p
hp>. Acesso em: 1 jul. 2021.

SIT ENGENHARIA. Sistemas de Proteção Contra Descargas Atmosféricas. Disponível


em: <www.sitengenharia.com.br>. Acesso em: 1 jul. 2021.

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