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1. ABRANGÊNCIA E TEMÁTICA
1.1. A seqüência atual dos temas
Na redação final da Bíblia encontramos a seguinte ordem seqüencial dos livros: Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juizes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis... Os temas ali apresentados
receberam a seguinte seqüência:
Criação (Gn 1-11);
Patriarcas e matriarcas: Abraão, Agar e Sara( Gn 12-23); Isaac e Rebeca (Gn 24-25); Esaú, Jacó,
Lia e Raquel (Gn 25,19-36,46);
Descida ao Egito: José e seus irmãos e Jacó (Gn 37-50)
Servidão e libertação do Egito: Moisés (Ex 1-15)
Deserto:
- Do Egito ao Sinai (Ex 16-18);
- Aliança e Lei no monte Sinai (Ex 19-40; Lv 1-27; Nm 1-10,10);
- Do Sinai a Moab (Nm 10ss; Dt)
Conquista da terra: Josué
Consolidação da conquista: Juizes
Transição da organização tribal para o reino unido, sob Davi: 1 e 2 Samuel;
História da sucessão de Davi: 1 e 2 Reis.
1.2. Alguns Eixos Temáticos
Dinâmica introdutória:
Ler Neemias capítulo 9 e procurar perceber esta seqüência temática: Criação, Patriarcas/Matriarcas,
Êxodo, Aliança/Lei, Deserto, conquista (Js) e consolidação (Jz) da Terra, Profetas (anteriores).
Cada grupo busca:
1) Explicar o significado da Palavra
2) Buscar textos na Bíblia (antigo e novo testamentos), que falem de seu respectivo assunto.
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Consulte, por exemplo, num dicionário ou chave bíblica, escolha um dos temas, veja como está presente em toda Escritura.
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Sl 104; Jo 1,1; 3,3 (nascer do alto); Cl 1,16-17 (Em Cristo foram criadas todas as coisas); Rm 8,21 (a
natureza geme em dores de parto); Ap 21,1-4 (um novo céu e nova terra onde todos vivam como irmãos).
Patriarcas / Matriarcas (Gn 12-50):
Encontramos a história dos patriarcas e matriarcas (pais e mães) em Gênesis 12 a 50, e os que mais se
destacam são Abraão, Isaac e Jacó. Mas, se lemos o texto com atenção, veremos que há também várias
matriarcas como a escrava Agar, mãe de Ismael, Sara, Raquel, Lia... Eles e elas são pais e mães de muitos
povos.
Da mesma forma, aos filhos de Noé são atribuídos à origem de diferentes povos: os filhos de Sem
( Semitas) um povo nômade; aos filhos de Cam (camitas) tornaram-se um povo sedentário (agrícola); os
filhos de Jafet (jafetitas) deram origem aos povos da bacia mediterrânea.
Gênesis 12-50 responde à seguinte pergunta: “Quem sou eu?” E a resposta: “Sou filho de Israel/Jacó”.
O ancestral representa todo o povo. Assim também Ismael, filho de Agar e Abraão, é pai dos Ismaelitas
(árabes) - Gn 16 e 18,8-20; Esaú, irmão de Jacó, deu origem aos edomitas, moabitas, amalecitas, amonitas...
– Gn 25,29-34; 27,1-45; e o sobrinho de Abraão deu origem aos arameus (sírios) – Gn 22,21; Dt 26,5... Isso,
só para citar alguns exemplos2.
A história das promessas inicia com Abraão (Gn 12,1-2) e é retomada com Ismael (Gn 15-17) e Isaac
(Gn 18; 21 e 22). Destaca-se aí circuncisão de Ismael e Abraão que significa inserção na comunidade de fé
(Gn 17,11-14), e o sacrifício de Isaac, que marca o início da superação do sacrifício dos primogênitos,
prática dos povos vizinhos. Estes são resgatados por sacrifícios substitutivos (Gn 22; Ex 13,11-13).
Nas histórias dos patriarcas e matriarcas encontramos, também, várias explicações da origem de certos
lugares sagrados (etiologias), como o santuário de Betel (Gn 28,10,19), e o motivo de não comer certo nervo
da coxa (Gn 32,29-33). Ha também a tradição do poço de Jacó, o Carvalho de Mambrê.
Êxodo (Ex 1-15)
A palavra Êxodo significa saída. Sair de um lugar em busca de um lugar melhor, ou de uma situação e
estado de vida para uma situação e estado de vida superior. Todos os povos tiveram seu êxodo, ou seus
êxodos, a começar por nós que conhecemos o êxodo rural. Os povos Guaranis foram em busca da terra sem
males. E nós, estamos em busca de quê?
Cada povo da Bíblia conheceu o seu êxodo também: Abraão que saiu da mesopotâmia, migrou de
lugar em lugar até se fixar na região semidesértica, no sul da Palestina. Da mesma forma Ismael, Esaú, Jacó,
os hebreus que fugiam da dominação dos reis cananeus... Mas teve uma experiência de êxodo que falou mais
forte e foi assumida por todos os grupos que formaram o povo de Israel: A experiência do êxodo do grupo de
Moisés, libertado pela mão do Senhor Deus (Javé) para a terra prometida.
Esta história se encontra no livro do Êxodo capítulos 1 a 15, que contam a situação do povo hebreu
que vivia no Egito e de como foram ajudados pela mão do Senhor para atravessarem o Mar Vermelho,
alcançando a liberdade e a possibilidade de começarem uma vida nova. A situação do povo no Egito, sua
organização social, política e econômica, também se encontra no final do livro do Gênesis (Gn 47,13-26).
A experiência da libertação é o fundamento para receberem os 10 mandamentos e para reorganizarem
a sua vida com o novo jeito de ser e viver: com autonomia, liberdade e a participação de todos. É o tema
mais importante do Primeiro Testamento, referência para os profetas criticarem ou apoiarem os governantes,
e tema central na liturgia, como poderemos ver nos Salmos.
Mais tarde, quando novamente o povo de Israel e de Judá perdeu a liberdade e a terra que haviam
recebido de Deus, a fidelidade ao Deus libertador do Êxodo será novamente a referência básica para
reanimar o povo e alimentar a esperança.
Jesus também realizou o seu êxodo. Conforme Mateus teve que se exilar no Egito para fugir da
perseguição de Herodes (Mt 2,13-18), podendo regressar à terra de Israel quando Herodes morreu (Mt 2, 19-
23). Na sua vida pública, depois de ter percorrido toda a Galiléia Jesus realizou o seu grande êxodo,
peregrinando do norte da Galiléia até Jerusalém (Mc 8,11ss; Lc 9,51ss; Mt 13,53ss). Com sua morte e
ressurreição Ele realiza o Êxodo definitivo. Jesus volta ao Pai e envia o seu Espírito, dando-nos a paz.
Deserto: (Ex 16-18; Nm 10,11-36,13; Dt).
Deserto é o lugar da provação, de preparação, de vida ou morte. Refere-se tanto a um lugar geográfico
de pouca água e comida, como a uns lugares retirados, silenciosos, de confronto pessoal.
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No capítulo 2 do livro de J. KONINGS, A Bíblia nas suas origens e hoje – encontramos mais informações sobre este assunto.
JIW – Pentateuco e OHD - 3
hebreus, vindos do Egito, contavam suas histórias em volta das fogueiras. As histórias geralmente eram
repetidas quando se ia a um lugar sagrado, como Betel (Gn 28,19), ou a montanha sagrada, o monte Horeb.
Os pastores sacrificavam animais sobre um altar de pedras rústicas e os agricultores ofereciam os frutos da
terra (Gn 4,1-16).
Aos poucos foram surgindo também tradições e documentos do tempo do êxodo e da conquista da
terra. A memória era feita em torno da figura de Moisés (1250 aC): o Decálogo ético (Ex 20; Dt 5) e o
decálogo ritual (Ex 34); as canções antigas como a de Miriam, irmã de Moisés, cantando a vitória que Javé
concedeu aos Hebreus (Ex 15,21), o cântico de Débora (Jz 5) e de Josué (Js 10,13); a história de Balaão (Nm
22-24).
Fala-se de alguns livros que não se conservaram, como “o livro das guerras de Javé” (Nm 21,14); o
“livro do justo” ou o “livro do canto” (Js 10,13; 2 Sm 1,18) e o “livro dos atos de Salomão, mencionado no
primeiro livro dos Reis (1 Rs 11,41)”.
Surge também uma coleção ampliada de Leis (Ex 21, 21-23,33) e lendas em torno dos Juízes.
Quando Israel fez a opção pela monarquia com Saul, Davi e Salomão, começou-se a crônica escrita,
mencionada, por exemplo, em 1 Rs 14,29; 15, 7.32.31; 16,5.... Aos poucos surgem também coleções de
cânticos religiosos e tradições diferentes no norte e no sul.
Em 931 aC as 10 tribos do Norte se tornam independentes, criando o Reino de Israel. Lá se
desenvolveu a tradição Eloísta (E). Originalmente conheceram a Deus com o nome de EL, donde vem o
nome Israel. Quando perderam a sua independência, sendo dominados e exilados pelos Assírios em 722 aC,
sua tradição foi incorporada à tradição Javista (J), do reino de Judá, ao sul.
A destruição do Reino de Israel serviu como um alerta ao reino de Judá. O rei Ezequías iniciou uma
série de reformas, levada até o fim pelo rei Josías, em 620 aC. Esta reforma teve como base o “livro da lei”
encontrado no templo de Jerusalém. Este fato é mencionado em 2 Reis 22,8. Os estudiosos da Bíblia acham
que este livro seria o núcleo primitivo do livro do Deuteronômio, os atuais capítulos 12-26. Com isto se deu
impulso à tradição deuteronomista (D).
Quando o Reino de Judá também foi destruído em 587 aC, pelos Babilônios, deu-se impulso a uma
nova tradição, a tradição sacerdotal (P – do alemão Priester), redigindo os “livros de Moisés”: Gênesis,
Êxodo, Levítico e Números. Um dos grandes profetas responsáveis para alimentar a esperança deste povo
exilado foi o Profeta Ezequiel e os discípulos do profeta Isaías que escreveram a segunda parte do livro de
Isaías, os capítulos 40 a 55.
Os pobres que não foram exilados, ajudados pelo profeta Jeremías, com a chave de leitura do núcleo
primitivo do livro de Deuternonômio (Dt 12-26), fizeram uma releitura da história e escreveram os livros de
Josué, Juizes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis, chamados pela Bíblia Hebraica de Profetas Anteriores e, pelos
biblistas cristãos, de “Historiografia Deuteronomista” (HD) ou “Obra Historiográfica Deuteronomista”
(OHD).
A redação final veio a acontecer somente pelo ano 400 aC, com o retoque final da tradição sacerdotal.
Nem todos os estudiosos da Bíblia concordam com isto, mas com uma coisa todos concordam: O livro
do Deuteronômio é a conclusão do Pentateuco e a introdução aos livros da historiografia deuteronomista.
2.2. Algumas teorias sobre a elaboração destes livros
Vejamos duas teorias de composição destes livros: De Gottwald e de Konings 3.
Gottwald explica o seguinte:
1. Houve primeiramente um núcleo original que relata o tempo da servidão e a libertação do povo hebreu
do Egito, sob a liderança de Moisés, e a conquista da terra, com Josué (1200 aC);
2. Depois, pelo ano 1100 aC, acrescentou-se um primeiro prefácio, que narra as tradições das tribos do
Norte, em torno do patriarca Jacó, e das tradições dos patriarcas Abraão e Isaac, do sul, de maneira
separada. Uma segunda redação do prefácio organiza a narrativa das tradições em torno de uma
mesma árvore genealógica: Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacó, Jacó gerou José, dos descendentes
de José nasceu Moisés, substituído por Josué para conduzir o povo à terra prometida.
3. Pelo ano 1025 aC realizou-se uma ampliação interna: a liderança de Moisés no deserto e o relato da
aliança e das instruções recebidas no monte Sinai / Horeb.
4. Finalmente houve um acréscimo posterior sobre os relatos da criação, pelo ano 950-900 aC, e os
reveses e a consolidação da conquista da terra, pelos anos 609 a 550 aC.
3
No livro de Gottwald, páginas 146-147; no livro de Konings, p. 80-82.
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BIBLIOGRAFIA:
KONINGS, Johan. A Bíblia nas suas origens e hoje. Vozes, 1998.
GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulinas,
1988.
CEBI, Formação do Povo de Israel, Cebi /Paulus.