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INTRODUÇÃO
O presente artigo é um recorte da dissertação de mestrado desenvolvida em 2018
e atualmente, uma busca de atualização de alguns elementos desenvolvidos na pesquisa.O
foco de estudo é o grupo Folclórico e Religioso Moçambique São Benedito de Lorena,
situado na cidade de Lorena-SP, região Metropolitana do Litoral Norte. O critério para a
escolha desse grupo estruturou-se no fato de ele ser agente fundamental no processo de
manifestação histórica, cultural e religiosa na cidade e região, devido às participações em
eventos de cunho religioso e cultural.
O estudo sobre o grupo de Moçambique faz-se fundamental, pois, enquanto
sujeito social que significa a cultura popular tradicional, apresenta aspectos de relevância
para o desenvolvimento humano e para a compreensão sócio-histórica, cultural e
1
Centro Universitário Salesiano de São Paulo – Unidade de Lorena-SP, douglasrssilva85@gmail.com
2
Univap – Universidade do Vale do Paraíba, psi.ericafernanda@gmail.com
3
Universidade Federal da Bahia, viviancampos.arte@gmail.com
4
Unitau – Universidade de Taubaté, interiworld@gmail.com
territorial dos afrodescendentes, aspectos estes, importantes na construção da sua
identidade cultural. O grupo é expressão cultural de um povo que forja suas origens a cada
manifestação social. Sujeitos que trazem a multiplicidade e pluralidade de sua
ancestralidade, encontrando na manifestação folclórica popular, especificamente na
dança, um instrumento de expressão da condição de oprimido num contexto histórico de
dominação, onde a arte torna-se resistência.
Nesse viés, o trabalho aqui desenvolvido, busca analisar um dos elementos do
Moçambique, a dança. Para tanto, verte-se a necessidade de olhar o passado, compreender
sua tradição e tradução manifesta no cenário contemporâneo, com novas roupagens e
novas sintaxes, á luz da compreensão de que a expressão artística, seja popular ou erudita,
responde a questionamentos de seu tempo atual do contexto social, evidenciando sintomas
ao relembrar a história e apontando caminhos projetando o futuro.
A perspectiva do trabalho aqui desenvolvido, passa por uma concepção da dança
enquanto configuração social, para encerrar-se analisando a dança enquanto elementos
performáticos no grupo, dotada de sentido e tradição.
É uma dança que sempre realizamos, mas ela é uma dança mais festiva,
o sentido mais de alegria, descontração, então, quando tem festa de
folclore, ela, sempre fazemos (MESTRE UBIRAJARA,
entrevista,16/02/2018).
Ooo la irá Olá irê, (bis)essa dança é de negro entra na roda que eu
quero ver. (MESTRE UBIRAJARA, entrevista, 16/02/2018).
Segundo Lopes (1995, p. 13), o “Moçambique era dança de negros até pouco
tempo, na zona rural, que vai se tornando cada vez mais branca, hoje, na cidade”. A
música é colocada como ponto de expressão da cultura, afirmação da identidade e hoje
tem ocupado outros espaços sociais. A dança de roda possibilitou ao negro um momento
único, ele é o centro, além de ser um local de comunicação entre eles. A dança comunica
uma cultura, uma forma de expressar a resistência e a significação da origem.
Figura 3: Bastões compõem a Dança de Roda
Fonte: Arquivo do Pesquisador, São Luiz do Paraitinga-SP (2017)
A dança conhecida como “Pular Estrela” (Figura 05). Com bastões cruzados no
chão representando estrelas, duas linhas são confeccionadas. Os primeiros a dançarem
são o Mestre de linha e o contramestre. É uma dança que desafia os integrantes do
próprio grupo. Segundo Mestre Ubirajara,
Segundo explicações de dona Guiomar, a dança de Pular Estrela deve ter a seguinte
ordem:
Quando os dançantes estão sincronizados, a dança tem uma ginga elegante, pois
exige elasticidade e, além do mais, rapidez, pois é uma dança de desafio. Caso o dançante
venha a errar, pode até cair, pois corre o risco de pisar em um dos bastões e escorregar.
Para a dança da estrela também há uma canção específica:
Esse é um manejo que eu quero aprender; (bis) - Mestre
Passar na estrela que eu quero ver; - Contramestre e demais
(GUIOMAR, entrevista, 16/02/2018).
CONCLUSÃO
O artigo procurou apresentar e analisar a dança de Moçambique, um dos
elementos que constituem o grupo Folclórico e Religioso Moçambique de São Benedito,
residente em Lorena – SP.
Buscou-se estabelecer uma apresentação e uma análise sobre a importância da
dança, para o grupo de Moçambique, importância esta não encerada ao grupo, mas que
se estende a cultura popular tradicional.
O presente artigo é um recorte de uma discussão realizada em 2017/2018 na
dissertação de mestrado sobre o grupo de Moçambique e atualmente uma busca de
atualização em 2022 do elemento da dança. A pesquisa continua a ser realizada no ano
corrente nas demais apresentações que o grupo realizar, sendo possível, estabelecer novos
elementos para a pesquisa.
O que se pode concluir momentaneamente é que a dança é elemento fundamental
para o grupo, pois o coloca em movimento permanente com o passado e presente. Os
corpos que estabelecem seus gingados no presente, são eternizados na tradição, são
templos de uma manifestação cultural, capaz de escapar da dimensão temporal e se
significar a cada novo momento no presente.
O corpo é a couraça que dita o tom entre o que se sente e o que se vive, a linha
entre o mundo externo e interno do indivíduo, é a barreira que detém e expressa, o diálogo
entre vivências individuais e coletivas. O corpo tem a condição de concretizar aquilo que
é sentimento e colocar a serviço do outro, de um contexto. Cultura, memória e emoções
são elementos orgânicos, mutáveis e abstratos, o corpo, por sua vez, pode eternizá-las,
realizá-las, pois o corpo nada mais é que uma caixa registradora das experienciações
humanas, geracionais e coletivas.
Portanto, a proposta do artigo repousa, na verdade, como um modo de reflexão e
investigação que pretende a ampliação da perspectiva de análise e observação das práticas
rituais, especialmente aquelas ligadas às dimensões do corpo. Novas perspectivas e
procedimentos poderão surgir dessa reflexão e serem expandidas para outras práticas
rituais brasileiras (principalmente as de formação afro-brasileiras), considerando os seus
contextos e as cosmovisões e admitindo a complexidade de suas práticas rituais.
REFERÊNCIAS: