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Ana Georgia Amaro Alencar Bezerra Matos

Rio de Janeiro
2021
Ventosaterapia sistêmica com ênfase na medicina
tradicional chinesa
Copyright © 2021, Ana Gerorgia Amaro Alencar Bezera

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sob as penas da Lei, ser de sua pressa autorização da autora.
única e exclusiva autoria.
Agradecimentos

Gratidão ao bom Deus, energia suprema do universo, e


Nossa Senhora de Fátima pelo dom da vida, pelas bênçãos rece-
bidas, por me proporcionar momentos de aprendizagem, e de
grande crescimento pessoal e profissional e por poder realizar e
concretizar mais esse sonho.
Manifesto aqui meus eternos agradecimentos a todos\as que
direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste tra-
balho, em especial aos meus pais, Nicia[AS1] Amaro Alencar Bezerra
e Eronildes Bezerra de Souza, por me incentivarem em todos os
momentos e não medirem esforços para tornarem meus sonhos
realidade. Obrigada por me apoiarem e incentivarem e darem
sempre o melhor de vocês por mim. Agradeço pelos pais mara-
vilhosos que vocês sempre foram. Amo vocês!
Ao meu amor, esposo e amigo, Luis Adauto Ferreira Matos,
companheiro de todas as horas, que compartilhou e viveu co-
migo mais esse sonho, pelas horas que comigo dividiu aflições,
angústias e compreendeu o porquê de minhas ausências.
Aos meus filhos, razão do meu viver: Davi Antonio, Gio-
vana Maria e a minha rapinha do tacho Bernardo José, obrigada
pelo amor, peço o meu perdão pelas ausências, mas sempre foi
por vocês: Meu Dedé, minha Gigi e meu Bê. Meu amor por
vocês é incondicional!
Aos meus irmãos Neyla, Neison, Danielle, e Geordano
Bruno, que sempre estão ao meu lado, me apoiando e incenti-
vando.
Aos Meus sobrinhos, Pedro, Ana Luisa, Ana Lívia, Clari-
nha, Julio[AS2] César o meu muito obrigada, pelo amor e pela alegria
de sempre.
Aos meus amigos da docência, professores que dividem co-
migo essa missão de partilhar o conhecimento, o meu muito
obrigada. Em especial à minha amiga Professora Gardênia Mar-
tins e toda sua família, gratidão pela companhia nessa cami-
nhada na oferta do aprendizado, pelo incentivo, disponibilidade
e estímulo nos momentos em que mais necessitava de apoio.
Aos meus alunos da faculdade, dos cursos de Ventosaterapia
e Auriculoterapia, obrigada por confiarem em mim, que todo o
conhecimento partilhado seja direcionado para fazer o bem aos
seus pacientes. Esse livro foi feito com muito carinho para vocês.
Aos meus pacientes, o meu muito obrigada. Cada palavra
de gratidão recebida ao longo da minha trajetória profissional
foi motivo para permanecer nessa missão de devolver não só a
função, mas também um pouco de esperança na vida de cada
um.
Prefácio

É com muita alegria que recebi o convite para fazer o prefá-


cio do Livro “Ventosaterapia sistêmica, com ênfase na medicina
tradicional chinesa” da Msc. Ana Geórgia Amaro. Escrever o
prefácio do primeiro livro de minha irmã caçula me traz um
sentimento de muito orgulho e de encantamento ainda maior
por ela, como se isso fosse possível. Geos, como a chamamos de
forma íntima e carinhosa é a irmã caçula de uma prole de cinco
irmãos. Meu olhar para ela será sempre olhos de contemplação,
amor e cuidado. Nossa relação é de muito apego e cuidado. Vê-
la ingressar na Faculdade que ela decidiu exercer – ela também
passou no curso de Enfermagem - e ver sua evolução como pro-
fissional e ser humano é algo recompensador. Ela, de forma in-
tuitiva, pois estava escrito, escolhe por exercer uma profissão que
a reflete. Cuidar, reabilitar, ver a esperança voltar na vida de pes-
soas que por alguma desventura trazer de volta aquele paciente
um movimento, uma função perdida por alguma desventura da
vida.
Geórgia ingressa na graduação em 1998 na Universidade
Federal da Paraíba – UFPB , na cidade de João Pessoa - PB. No
decorrer da graduação ela entra em contato com as terapias com-
plementares, medicina tradicional chinesa. A homeopatia, foi
inicialmente, seu primeiro contato com essas terapias e já des-
perta nela esse sentimento de aprofundar-se ainda mais nas prá-
ticas alternativas. Nessa época, ainda eram muito divulgadas
para a população essas práticas. Perto de concluir o curso ela
ganha uma bolsa para uma pós-graduação em Shiatsu. Foi exa-
tamente durante essa especialização , que houve esse arrebata-
mento e essa paixão pelas terapias complementares. Durante
esse percurso houve um grade aprimoramento, fruto de muito
estudo, dedicação, esforço, investimento, disciplina que fazem
hoje a profissional brilhante e dedicada que se tornou. A paixão
por práticas complementares sempre foi presente no seu uni-
verso na graduação e no contexto profissional.
As perspectivas trazidas por essa obra são amplas e comple-
tas tendo em vista a trajetória acadêmica e profissional da autora
tem o condão de enriquecer sobremaneira o livro. Geórgia ofe-
rece nas páginas que seguem , um dimensão lidima sobre a ven-
tosaterapia e, especialmente com aporte pragmático de quem
transita com segurança no âmbito das práticas integrativas com-
plementares.
Por estas razões , entre outras que se desvelam do conteúdo
didático e instigante desse livro, é com orgulho e grata satisfação
que os apresento essa excelente obra.

Danielle Amaro Alencar Bezerra


Enfermeira Especialista em Educação e Saúde pelo IEP Sírio Libanês,
Auriculoterapeuta, Ventosaterapeuta
Atua na Atenção Básica no município de Petrolina
Preceptora de Estágio Curricular em atenção básica pela UPE
Apresentação

A ideia e o sonho de fazer um livro que tentasse refletir um


pouco da minha prática, o manuseio e o cuidado com cada pa-
ciente tratado, além de poder compartilhar minhas experiências
e vivências com a utilização da ventosaterapia, sempre estiveram
presentes nos meus pensamentos. Sou Fisioterapeuta desde
2003 e professora universitária desde 2014 e as práticas integra-
tivas sempre ocuparam um lugar especial na minha trajetória
profissional.
Em 2016, a ventosaterapia ganhou maior visibilidade nas
Olimpíadas no Brasil, sendo utilizada pelo nadador americano
Michael Phelps, que, entre vitórias e recordes mundiais, chamou
a atenção pelas marcas das ventosas utilizadas nos treinos para
alívio de dores e tensões musculares. Tal fato atraiu o interesse
de muitos a conhecer e também a curiosidade de sentir na pele
os benefícios dessa terapia.
O resgate da utilização da ventosaterapia e aumento na pro-
cura na minha prática clínica, e também a busca pelos alunos
para conhecer mais sobre essa prática milenar, veio de encontro
com a visão holística do novo paradigma de pensamento em sa-
úde, onde coloca o indivíduo como ator principal no processo e
permite que ele tome atitudes de autocuidado para manter a
própria saúde. Pensar dessa forma não significa negar as outras
possibilidades de intervenções terapêuticas, apenas visualiza a sa-
úde além da doença e facilita o processo, convidando o paciente
a cuidar de si, pois a saúde é também uma responsabilidade in-
dividual. Dessa forma, as práticas integrativas possibilitam a
mudança do eixo do pensamento da intervenção, de modo a tra-
tar a doença em direção à promoção da saúde e da prevenção.
Existem numerosas técnicas usadas há milhares de anos e
em muitos sistemas terapêuticos tradicionais, que utilizam a es-
timulação de pontos específicos, com o intuito de obtenção de
efeitos de influenciar positivamente a capacidade do organismo
regular suas funções internas. A ventosaterapia é usada na Me-
dicina clássica chinesa há milhares de anos para tratar uma am-
pla gama de desordens orgânicas, que pode ser combinada com
sucesso a muitos outros tipos de trabalhos corporais, tais como:
massoterapia, a inserção de agulhas (acupuntura), moxabustão
(ervas), óleos essenciais, entre outros métodos tradicionais co-
mumente empregados nos sistemas terapêuticos orientais, com
o propósito de melhorar a capacidade funcional do corpo para
corrigir as disfunções energéticas.
A partir desse olhar da Medicina tradicional Chinesa, esta
obra descreve a fundamentação teórica e prática em seções e sub-
seções que serão guias para o melhor aprofundamento da téc-
nica, para que você leitor possa utilizá-las e aplicá-las em seus
pacientes, lhes proporcionando o alivio de sintomas do corpo e
da alma, bem como tem o objetivo de compartilhar a minha
prática clínica, meu conhecimento e toda experiência ao longo
de mais de quinze anos com a utilização das práticas Integrativas
e complementares, com o intuito de agregar no incentivo de es-
tudos que buscam resgatar a utilização e compreender os efeitos
dessa prática milenar.
Sumário

Agradecimentos ............................................................................... 5
Prefácio ............................................................................................ 7
Apresentação ................................................................................... 9
Sumário ............. ............................................................................ 11
Capítulo 1 Medicina tradicional chinesa ................................ 15
Teorias da Medicina Tradicional Chinesa ................................... 16
Cinco Elementos ou Cinco Movimentos..................................... 17
Capítulo 2 Introdução ao estudo da ventosaterapia ............. 19
Capítulo 3 Breve histórico da ventosaterapia: da antiguidade
aos dias atuais....................................................... 21
Uso das ventosas nos dias de hoje ............................................. 23
Capítulo 4 Tipos de ventosas ................................................. 25
Ventosa de chifre ....................................................................... 25
Ventosa de bambu ..................................................................... 26
Ventosa de borracha .................................................................. 27
Ventosa de acrílico com válvula ................................................. 28
Ventosa de vidro ........................................................................ 29
Ventosa magnética ..................................................................... 30
Capítulo 5 Importância da anamnese .................................... 32
Capítulo 6 Diagnose pela ventosa .......................................... 36
Capítulo 7 Efeitos das ventosas na pele................................... 40
Liberação da energia estagnada (Qi) .......................................... 40

11
Ativação do fluxo circulação sanguínea tecidual (Xue) .............. 41
Liberação as fáscias musculares ................................................. 41
Promove vasodilatação .............................................................. 42
Melhora a troca gasosa .............................................................. 43
Capítulo 8 Mecanismos neurofisiológicos da ventosaterapia
no controle da dor ................................................ 44
Capítulo 9 Teorias de redução da dor .................................... 48
Teoria do portal da dor............................................................... 48
Mecanismo proposto por Melzack e Wall (1965) ...................... 48
Teoria do Controle Inibitórios Nocivos Difusos (DNICs) ou
Neuromodulação ........................................................................ 50
Teoria da Zona Reflexa ............................................................... 50
Capítulo 10 Teoria de ativação da circulação sanguínea tecidual
............................................................................. 52
Teoria da Liberação do Óxido Nítrico ......................................... 52
Capítulo 11 Teoria da neuroimunomodulação ........................ 54
Ativação da Teoria do Sistema Imune ........................................ 54
Teoria da Desintoxicação de Sangue Catiônica .......................... 55
Capítulo 12 Reações pós utilização das ventosas .................... 57
Capítulo 13 Indicações do uso da ventosaterapia ................... 59
Capítulo 14 Contraindicações na aplicação da ventosaterapia 61
Capítulo 15 Orientações e precauções na utilização da
ventosaterapia ...................................................... 63
Alerta e cuidado para utilização da ventosa por fogo ................ 63
Alerta e cuidado para os demais tipos de ventosas ................... 64

12
Capítulo 16 Dosagem de sucção na ventosaterapia ................ 65
Intensidade Fraca – Tonificação ................................................. 65
Intensidade Média - Tonificação ................................................ 65
Intensidade Forte – Sedação-Dispersão ..................................... 66
Capítulo 17 Tonificação e sedação-dispersão na ventosaterapia
............................................................................. 67
Tonificação ................................................................................. 67
Sedação-Dispersão ..................................................................... 67
Capítulo 18 Modalidades para a utilização de ventosas .......... 68
Homeostase Paraganglionar ...................................................... 68
Método Deslizante ..................................................................... 69
Possíveis Direcionamentos da Ventosa Deslizante .................... 70
Método Flash.............................................................................. 72
Ventosa com Repuxamento ....................................................... 72
Ventosa com Vibração................................................................ 72
Ventosa e Sangria ....................................................................... 72
Ventosa com Água...................................................................... 73
Ventosa com Agulha................................................................... 73
Ventosa por Combustão ............................................................. 74
Capítulo 19 Aplicação das ventosas ......................................... 76
Retirada das Ventosas ................................................................ 76
Frequência permitida para a aplicação de ventosas .................. 77
Cuidados durante e após a sessão de ventosaterapia ............... 77
Capítulo 20 A ventosaterapia e a medicina esportiva ............. 79

13
Capítulo 21 Ventosaterapia como tratamento de pontos-
gatilho (PG) ........................................................... 80
Capítulo 22 Aplicação de ventosas em crianças ...................... 82
Capítulo 23 A ventosaterapia na estética ................................ 83
Aplicações ................................................................................... 83
Contraindicação da Ventosaterapia na Estética ......................... 83
Capítulo 24 Biossegurança em ventosaterapia ........................ 85
Capítulo 25 Protocolos especiais para alívio de dores e
correlação com os pontos Shu da acupuntura ..... 87
Possibilidades de protocolos específicos ................................... 92
Considerações finais ....................................................................... 97
Referências ....... ............................................................................. 99
Contatos da autora ................................................................... 101

14
Capítulo 1 Medicina tradicional
chinesa

A Medicina tradicional chinesa (MTC) é caracterizada por


um sistema terapêutico integral e é uma das formas mais antigas
da medicina oriental. Fundamenta-se na observação dos fenô-
menos da natureza, na interação entre eles e na compreensão dos
princípios que regem a harmonia nela existente. O universo e o
ser humano, nessa concepção, estão intimamente conectados e,
por isso, submetidos às mesmas influências (LUCA, 2008; YA-
MAMURA, 2010).
Essa forma de Medicina Milenar tem o foco centrado no
indivíduo, e, não, apenas na doença ou nos sintomas; para ela o
adoecimento é um processo multicausal, fruto da combinação
de vários fatores, acompanhado muitas vezes por uma fragili-
dade no mecanismo de defesa do indivíduo. Dessa forma, as dis-
funções orgânicas surgem quando ocorre uma falha na homeos-
tase energética funcional, por fatores que geram a desordem da
energia vital (Qi) ou em situações de invasão pelas energias per-
versas.
Como nos assegura Maciocia (2017), a simplicidade é con-
siderada um dos pontos mais impactantes da MTC, apesar da
complexidade de conceitos e aplicações baseados nas concepções
teóricas e filosóficas tradicionais do oriente. Considerando,
desta forma, as causas das patologias, como o clima, as emoções
e a alimentação fatores essenciais que devem ser observados na
sociedade e a qualquer tempo. Observa-se na atualidade um res-
gate desta arte milenar que ainda pode diagnosticar e tratar os
15
problemas de saúde gerados pelo estilo de vida das pessoas.
Na milenar filosofia chinesa, as teorias do Yin e do Yang,
Qi e meridianos, bem como os 5 movimentos (fogo, terra, me-
tal, água e madeira) fundamentam todo o conhecimento para a
compreensão do padrão de desarmonia do corpo e a partir de
um diagnóstico energético seja possível restaurar o equilíbrio da
energia vital (Qi). Tais teorias serão descritas de forma sucinta a
seguir.

Teorias da Medicina Tradicional Chinesa

Yin e Yang
Segundo Yamamura et al. (2011), o Yin e o Yang são duas
energias opostas e complementares que regulam, atuando origi-
nalmente, todas as estruturas. Dessa forma, se elas estiverem em
perfeita harmonia, o organismo será saudável, caso contrário um
desequilíbrio causará as disfunções.
A ventosaterapia como parte integrante da MTC visa esti-
mular os pontos reflexos que tenham a propriedade de restabe-
lecer o equilíbrio entre o Yin e o Yang, alcançando-se, assim,
resultados terapêuticos (WEN, 2011).

Qi e Meridianos
Na Medicina Tradicional Chinesa, de acordo com Rerksu-
ppahol (2012), o Qi é a base de tudo o que existe; assim como
é o substrato material do universo, também é o substrato mate-
rial e espiritual da vida humana, bem como é o fluxo de energia
ou da circulação sanguínea em todas as criaturas vivas.
Todas as outras substâncias vitais (Xue ou Sangue; Jing ou
Essência e Jin Ye ou Fluidos Corpóreos) são manifestações do
16
Qi em vários graus de materialidade, variando do completa-
mente material, como os fluidos corpóreos, para o totalmente
imaterial, como a mente (Shen) (MACIOCIA, 2017).
Nesse sentido, como afirma Li et al. (2015), ao estimular
um acuponto, além de ação local, ele também desempenha ação
sistêmica e de reestabelecimento do equilíbrio energético do
corpo, por meio do desbloqueio dos meridianos, podendo ajus-
tar a função dos órgãos, mantendo a homeostase e tratando os
possíveis desequilíbrios energéticos.

Cinco Elementos ou Cinco Movimentos

Como afirma Yamamura (2010), a teoria dos cinco elemen-


tos (ou dos cinco movimentos) considera que o universo é for-
mado pelo movimento e transformação dos cinco princípios re-
presentados por Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água e simboli-
zam cinco direções diferentes de movimentos dos fenômenos
naturais.
A interação dinâmica entre esses dois princípios promove a
harmonia do sistema, o que, consequentemente, mantém o
equilíbrio da natureza e a saúde do ser humano. Em contrapar-
tida, em condições patológicas, as interações se manifestam de
modo peculiar, aparecendo condições de excesso e de deficiência
(LUCA, 2008).

Zang Fu
Para Ross (1994), a teoria dos órgãos Zang Fu se refere às
relações entre os diversos sistemas orgânicos, sendo que o termo
chinês pode ser traduzido como Teoria dos Órgãos (Zang) e
Vísceras (Fu).
17
De acordo com Yamamura (2010), os órgãos internos do
corpo humano, possuem três aspectos distintos: o funcional, o
orgânico e o energético. Os dois primeiros correspondem à visão
ocidental da anatomia, da histologia e da fisiologia. No entanto,
o enfoque energético é peculiar, e recebe influências das carac-
terísticas Yin e Yang, e das funções que as energias de cada um
deles exercem no organismo.

18
Capítulo 2 Introdução ao estudo da
ventosaterapia

A ventosaterapia é um método com raízes na Medicina tra-


dicional chinesa que remonta há pelo menos 2.000 anos. De
acordo com os relatos de Cunha (2011), seu uso no Oriente foi
desenvolvido com base na acupuntura, fundamentando-se no
fato de que a resistência contra doenças pode ser alcançada pela
aplicação de ventosas em pontos que correspondem aos meridi-
anos de acupuntura ou em nódulos de reação positiva.
O autor Amaro et al. (2015) define a ventosaterapia como
uma técnica que existe desde milênios e seu poder terapêutico
conquistou várias civilizações, além de ter sido aperfeiçoada pela
Medicina Tradicional Chinesa, sendo disseminada em todo o
mundo, podendo promover relaxamento corporal e mental dos
indivíduos que a utilizam. Esse mesmo autor afirma que a ven-
tosa drena as áreas de congestão e liberta o corpo do excesso de
energia negativa, possuindo diversos métodos de aplicação e
pode ser combinada a muitas outras técnicas, podendo ser indi-
cado no tratamento de diversas doenças relacionadas a distúr-
bios reumatológicos, neurológicos, vasculares e dermatológicos
e também em pós-operatórios diversos e tratamentos estéticos.
Tal recurso é uma técnica utilizada para reduzir a dor e uma
série de outros sintomas (TAGIL et al., 2014) e é reconhecida pela
OMS como método terapêutico desde 2007 (WHO, 2007). É
uma intervenção muito difundida, principalmente na China, na
Coréia, no Japão, na Arábia Saudita, na Índia, na Europa Central
e em partes da África (CHIRALI, 2014; CHEN et al., 2015).
19
Neste método terapêutico, o vácuo provocado no interior
da cúpula, nas áreas ou pontos específicos do corpo, estimula a
função do sistema nervoso, melhora circulação sanguínea e me-
tabólica além de atuar no ajuste nutricional local. O aumento
da permeabilidade capilar sanguínea, provocados pela ventosa
induzindo a auto-hematose, promovendo estímulos nos capila-
res e vasos sanguíneos através dos nervos de sensibilidade e cór-
tex assim desintoxicam o organismo, deixando o sangue mais
limpo através da separação do sangue dos seus produtos meta-
bólicos e toxinas residuais (CARMO, MOTTA e SOUZA,
2004).

20
Capítulo 3 Breve histórico da
ventosaterapia: da
antiguidade aos dias
atuais

As ventosas são utilizadas a milhares de anos pelos egípcios,


gregos, romanos e chineses, sendo que os chineses aperfeiçoaram
sua utilização através da medicina tradicional. Originaram-se de
abordagens terapêuticas e antigamente se utilizavam ventosas de
objetos naturais como chifres, bambus e outros recipientes cons-
truídos de madeira e metal (VIEIRA, CAVERNI, 2014).
Pelos orientais, a técnica consistia como até os dias atuais:
colocava-se a ventosa sobre um ou mais pontos de acupuntura,
com o objetivo de tratar diferentes tipos de doenças. De acordo
com Cao et al. (2014), sua aplicação pode ser feita por copos de
vidro ou acrílico na superfície da pele, quando são provocadas
as sucções, gerando uma pressão negativa, com variadas formas
de aplicação, sendo elas dinâmica, estática, flash e com sangria.
Segundo Huang (2013), o desequilíbrio energético do (Qi),
que resulta do acúmulo (excesso) ou da falta dele (deficiência),
são potenciais causadores de doenças, que, de acordo com a
MTC, são considerados desequilíbrios energéticos, onde é pos-
sível, com a utilização da ventosa, promover ou corrigir esse de-
sequilíbrio, harmonizando, tonificando ou sedando, conforme
as alterações energéticas identificadas em uma diagnose energé-
tica, ou seja, restaurando a saúde do indivíduo.
De acordo com os relatos de Carmo et al. (2011), a terapia
21
por pressão negativa é também mencionada nos escritos de Hi-
pócrates e praticada pelo povo Grego no século IV a.C. Pelos
índios americanos, era utilizada a parte superior do chifre dos
búfalos para provocar o vácuo por sucção oral na ponta do chi-
fre, sendo em seguida tamponado. Sendo considerada também
uma técnica complementar de tratamento, na qual tem o mé-
todo de congestão local através do vácuo parcial dos pontos de
acupuntura, que irá ter melhor função do sistema nervoso, me-
lhorando a resistência contra as doenças e promovendo a circu-
lação, metabolismo, e ajustes nutricionais no local.
O autor Cunha (2011) chama a atenção para o fato de que
desde a antiguidade no Oriente é conhecida a propriedade da
ventosa de limpar o sangue das toxinas acumuladas causadas
pela sujeira da água e dos alimentos, pois a estagnação do sangue
coagulado, escuro, sujo, nos músculos das costas ou nas articu-
lações é considerada pela medicina oriental como um dos ele-
mentos causadores de doenças, sendo necessário retirá-lo para
que o paciente possa se restabelecer. Tal constatação feita pelos
orientais durante milênios de diferentes cores entre as marcas
elucidou a importância da qualidade do sangue.
Na pesquisa acerca da história da ventosaterapia, Da Silva
(2015) relata que, até o início do século XX, as ventosas eram
aplicadas em toda a Europa. No século XVII, havia os aplicado-
res de ventosa nos Hospitais Universitários de Londres e para
atendimento da família real inglesa, sendo o sueco o primeiro
médico, Benedictus Olai, que, no século XVl, escreveu instru-
ções a respeito. Afirmou, ainda, que nos livros de medicina da
Finlândia até 1907 ainda havia descrição da técnica. As ventosas
foram caindo em desuso pelo advento da indústria farmacêutica
22
e hospitalar. Essa criação feita pelos chineses trouxe benefícios
para a humanidade, mas a técnica se expandiu pelos egípcios.
Sendo, então, em 2007 a ventosaterapia reconhecida pela Orga-
nização Mundial de Saúde (OMS) como método terapêutico
(WHO, 2007).

Uso das ventosas nos dias de hoje

De acordo com Pagani (2010), tal método é regulado por


meio de um potenciômetro, em que os copos das ventosas têm
variadas formas e tamanhos, o que faz com que as pressões sejam
variadas. Os copos realizam uma pressão negativa através das di-
ferenças de pressões do meio interno para o meio externo, pro-
vocando um vácuo, levando à sucção da pele e de outras estru-
turas. Esse vácuo faz com que o sangue seja recrutado onde se
encontra a ventosa, aumentando a circulação sanguínea local e,
consequentemente, pelas trocas gasosas, aumentando a pressão
osmótica, promovendo o aumento da permeabilidade dos capi-
lares, levando ao edema local (GUIRRO, 2010). Essa hipervas-
cularização proporciona também a eliminação das toxinas estag-
nadas, contribuindo no aumento de aporte de substâncias, me-
lhorando a nutrição dos tecidos (NUNES, 2010).
Para Cunha (2011) e Kim (2002), com o passar dos anos,
as ventosas foram se modernizando. Do chifre de búfalo para o
bambu, devido ao fato de que o chifre era mais complicado de
se ter por ser perigoso para o paciente, podendo machucar. Já o
bambu passou a ser mais utilizado, devido à facilidade do cultivo
da matéria e pelo baixo custo. Mas por não conseguir dosar a
sucção, a ventosa de bambu foi substituída pela ventosa de bor-

23
racha, sendo essa sem risco no seu manuseio, podendo ser apli-
cada em regiões mais sensíveis, como estômago e outras partes
moles do corpo. Depois veio a ventosa de vidro, que passou a
ser mais utilizada juntamente à ventosa de acrílico. Diferenci-
ando-se uma da outra pela forma de utilização, na de vidro uti-
liza-se o fogo para realizar sua sucção, e a de acrílico uma bomba
manual para criar seu vácuo (pressão negativa). E pelo seu ma-
terial ser completamente transparente, pode se ver o que está
acontecendo em seu interior, como a coloração da pele e por ser
de fácil higienização fez com que elas incidissem em ser as mais
utilizadas atualmente. Para uma melhor compreensão, serão
apresentadas a seguir dos modelos mais remotos até os atuais, os
variados tipos de ventosa e sua principal forma de aplicação.

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