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A velhice de Davi

A promessa de Deus em sua palavra é que aqueles que andam segundo sua
palavra, nunca serão desamparados, inclusive serão frutíferos mesmo em sua velhice: “Os que
estão plantados, na casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda
darão frutos; serão viçosos e vigorosos”. Salmos 92:13,14. Podemos entender frutificar em
dois aspectos: a saber, Deus fazendo milagres gerando filhos através de pessoas idosas. Um
exemplo disso, podemos citar Abraão e Sarah, agraciados pelo senhor, contrariando todas as
possibilidades estabelecidas pelas leis biológicas do corpo humano, caso em que a bíblia
afirma que “Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações,
segundo lhe havia sido dito: “Assim será a sua descendência. ” E, sem enfraquecer na fé, levou
em conta o seu próprio corpo já amortecido, tendo ele quase cem anos, e a esterilidade do
ventre de Sara. Rm 4.18,19, podemos inferir que houve uma intervenção divina nos corpos do
casal, Abrão certamente não tinha mais ereções, digo isto baseado na palavra amortecido,
vem do grego Nekroo, segundo dicionário de grego do Novo Testamento Strong. B o o k s F o r
T h e A g e s AGES Software • Albany, OR USA Version 1.0 © 1997, pg. 319, pode ser traduzida
por impotência, corrobora com a ideia, o versículo 12 de hebreus 11, que diz que o patriarca já
estava sem virilidade, assim, Deus fortaleceu o seu corpo de modo que mais tarde ainda
concebeu outros filhos quando se casa com Quetura e gera filhos com ela, Gn 25. Em Sarah
também acontece um milagre extraordinário, ela além de idade avançada, 90 anos, também
fira estéril por toda sua vida, Ge 11.30, com 90 anos de idade Deus concede que ela possa ser
mãe dando a eles o fruto da promessa, o herdeiro Isaque. Outro exemplo de fruto na velhice
no sentido descrito aconteceu com os pais de João Batista, Zacarias e Isabel foram descritos
pelo evangelista Lucas Capitulo 1 versículo7, como avançados em idade, no versículo 36
descreve Isabel como a que era estéril. Como pode ser observado, Deus, não só diante do
improvável, mas, diante do impossível, concedeu o que podemos chamar frutos da velhice.

Mas um segundo aspecto a ser considerado sobre produzir frutos, no que em


dias modernos, chamamos melhor idade, aliás, diga se de passagem, que esse termo apareceu
na tentativa de atenuar a menção à velhice e até torná-la politicamente correta. A ideia é
mostrar privilégios aos idosos se aposentaram e estão aproveitando esta aposentadoria.
Infelizmente, nem tudo que envolve a velhice pode ser considerado como um período de
melhor idade, pois, é um período da vida muitas vezes acompanhado de problemas de saúde
física e mental, vulnerabilidade e isolamento social. Enfim, quando a bíblia diz que mesmo
despeito de tantos problemas que a idade avançada concede, o sevo do Senhor pode realizar
grandes feitos. Isaías 40:28-31 “Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador
dos fins da terra, nem se cansa nem se fatiga? É inescrutável o seu entendimento. Dá força ao
cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se
fatigarão, e os moços certamente cairão; mas os que esperam no Senhor renovarão as forças,
subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão.
Inúmeros exemplos bíblicos de pessoas que ainda na velhice tiveram um papel de relevância
tanto na obra de Deus como na sociedade podem ser citados, mas, é imprescindível tomar Dt
37.7 para ilustrar esse tema: “Tinha Moisés cento e vinte anos quando morreu; não se lhe
escurecera a vista, nem se lhe fugira o vigor. ” É relevante entendermos que nos 120 anos da
vida de Moisés é que ele viveu três ciclos completos de 40 anos. Os primeiros 40 viveu no Egito
adquirindo conhecimentos, até que após matar um egípcio, teve que fugir; conseguinte casou-
se, teve filhos e apascentou os rebanhos de seu sogro em Midiã por 40 anos; quando tina 80
anos, ouviu o chamado de Deus e regressou para liderar os israelitas por 40 anos no deserto e
conduzir à Terra Prometida, a qual contemplou à distância, sem dúvida alguma, o terceiro ciclo
de sua vida foi o mais frutífero, com feitos que o tornaram o grande em relação a religião,
legislação, cultura para a nacionalidade judaica e para o mundo. Há muitos outros
personagens que poderiam ser citados, parafraseando o escritor aos hebreus 11.32 faltaria
tempo para relatar testemunhos bíblicos, de homens e mulheres que superaram os limites que
o tempo impõe, mas acho importante fazer alusão a um personagem não bíblico, só para
confirmar que ainda hoje se cumpre o que foi estabelecido por Deus diante daquilo que
estamos expondo: se trata do Pastor metodista britânico do século XVIII chamado John
Wesley, em seu livro os Heróis da Fé, (CPAD – Casa Publicadora das Assembleias de Deus Rio
de Janeiro, RJ 15ª Edição – 1999 Pg 15) “Esse homem de físico franzino, ao completar 88 anos,
escreveu: "Durante mais de 86 anos não experimentei qualquer debilidade de velhice; os olhos
nunca escureceram, nem perdi o meu vigor". Com a idade de 70 anos, pregou a um auditório
de 30 mil pessoas, ao ar livre, e foi ouvido por todos. Aos 86 anos fez uma viagem à Irlanda, na
qual, além de pregar seis vezes ao ar livre, pregou cem vezes em sessenta cidades. ” Para
muitos, este homem foi escolhido por Deus para o despertamento espiritual e o Grande
avivamento dos anos 1739 – 91 que também ficou conhecido como de avivamento Wesleyano.

Ao analisarmos sobre o que a bíblia diz em 1 Re 1.1, veremos que Davi não
teve uma boa velhice, diferentemente de tudo que descrevemos até então. O texto diz: Sendo,
pois, o rei Davi já velho, e entrado em dias, cobriam-no de roupas, porém não se aquecia.
Claramente pode ser observado que a velhice de Davi não é bem como o esperado para a vida
de um servo de Deus, descritos nos parágrafos acima. A bíblia começa a descrever a
decadência do herói israelita em 2 Sm 21 quando em uma peleja contra os filisteus Davi se
cansa e quase é morto por um guerreiro inimigo, salvo por um de seus sobrinhos, os seus
soldados disseram que a partir de então, Davi não iria mais as guerras de Israel, sem mais
detalhes descritos, a partir de então os relatos bíblicos passam a falar sobre o fim da vida do
corajoso valente hebreu.

Pode-se inferir que em uma atualização do que a bíblia diz a respeito dos
últimos dias de Davi, considerando as palavras: “não se aquecia”, certamente esta é uma
expressão que o autor encontrou para descrever algum tipo de tremor apresentado pelo rei,
hoje podemos dizer que existem vários fatores que podem levar uma pessoa a essa condição.
Doenças neurológicas, males fisiológicos e desarranjos psicológicos podem ser causa de tais
sintomas, os quais muitas pessoas associam ao Parkinson.

Analisando um outro texto de modo a entender através da psicobiografia, o


que não tem nada a ver com psicografia ou questões de mediunidade, mas, com a tentativa de
analisar um personagem por meio do que se tem escrito sobre sua vida, podemos chegar a um
fato surpreendente. Quando chegado o momento deste protagonista passar o reinado a seu
filho, 1 Re 2 antes de morrer, Davi fala com Salomão a respeito de algumas coisas, entre as
quais, para que seu filho resolvesse coisas que ele próprio não foi capaz de resolver, mas
ficaram guardadas em seu coração. Magoas não digeridas, até mesmo pensamentos a respeito
de vingança. Uma frase atribuída a tantos personagens, mas de significado propicio é “que
Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra. ” A palavra
faz alusão ao ato sentir de novo de um modo cíclico algo que não foi perdoado. Pode ser
considerado como uma espécie de transferência de valores, pode ser dito como o ato de
atribuir ao outro um motivo pelo qual sofremos, como Uma questão narcísica, ou seja, culpar
o outro um motivo de fracasso, como um meio de tentar se eximir de uma culpa. Para a Maria
Rita Kehl em seu livro “ressentimento”, o ressentido não é alguém incapaz de esquecer ou
perdoar; é alguém que não quer esquecer, não quer superar o mal que o vítima. ” Procurando
satisfazer-se vingando do que perdoar para se curar. KEHL, M.R. Ressentimento. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2004.

Através das palavras descritas em no primeiro livro dos Reis capitulo 2, a


partir do versículo primeiro, pode ser observado que próximo à sua morte, Davi, em seus
últimos acertos para entronizar seu filho Salomão, expressa o desejo de vingança que nunca
concluiu, curioso o fato de ele dar instruções específicas sobre o seu grande companheiro de
guerra, o que fora homem de confiança, também sobrinho e chefe de seu exército, o
comandante Joabe. Diz que Joabe havia matado dois chefes do exército de Israel, o Abner,
general do rei Saul, e Amassa, outro guerreiro israelita. Pensar que Davi carregou essa mágoa
por tanto tempo nos leva a questionar o porquê o próprio Davi não executou esse julgamento,
já que para ele, tal ato, seria um meio de fazer justiça. Pode se inferir que tal resposta está nos
privilégios que Joabe gozava, não só pelo cargo que ocupava, mas, pelo fato de que este era o
homem que fazia o serviço sujo de Davi? Tal questionamento é valido, afinal, Joabe foi o que
executou a ordem de assassinato para o marido da amante do rei, no caso Urias, marido de
Betseba. Davi se aborreceu com Joabe, segundo ele, por causa da morte de dois homens
mortos injustamente, mas nunca demonstrou arrependimento por mandar matar pelas mãos
de seu general aquele que era marido daquela que viria a ser sua esposa, o fato analisado de
um modo mais meticuloso mostra que na ocasião não foi só Urias quem pagou com a vida
inocentemente, 2 Sm 11.17 revela que alguns foram mortos para encobrir o pecado do rei,
senso de justiça é o que menos parece provável para que Salomão execute a ordem de seu pai.

Diante de tal afirmação, uma questão é plausível de ser analisada: poderia


haver algum outro motivo para que Davi carregasse magoa de seu General? A resposta é que o
maior golpe sofrido pelo grande rei de Israel, pode ter uma relação estrita com o sentimento
de rancor que o grande monarca hebreu carregara por tantos anos de sua vida. Os relatos
bíblicos nos mostram que o filho de Jessé, foi um grande estrategista na arte da guerra, um
influenciador de dar inveja a blogueiros modernos, um diplomata exímio, mas no tocante a
relações familiares, carecia de muita aprendizagem, provavelmente seriam necessárias
algumas formações acadêmicas para que ele pudesse chegar a ter um status de chefe de uma
família normal, pois, nesse aspecto sua vida foi pautada por escândalos e episódios dignos os
dos melhores roteiros hollywoodianos, não por ironia, foi mesmo transformado em filmes. Um
desses eventos, descritos em 2 Sm 15, conta a história de Absalão, o terceiro filho de Davi, já
havia matado um de seus irmãos, Amnon, porque este estuprou sua meia irmã por nome de
Tamar, tal assunto pode perfeitamente ter sido por movido por outros interesses a serem
tratados posteriormente, no entanto, Absalão, orquestrou e tramou despor o pai e assumir
seu lugar, a ponto de propor a captura e morte do rei, que teve que fugir para escapar com
vida. No desenrolar da história houve um embate entre os soldados de Davi e os seguidores de
eu filho, tal evento culminou com a morte do usurpador.

A morte do jovem príncipe trouxe uma amargura muito grande ao rei, pois, o
mesmo havia dado ordens específicas para que tratassem bem o filho rebelde 2 sm 18.5. No
desfecho da batalha, os soldados de Davi venceram, obrigando os de Absalão fugirem, o que
fez que o príncipe tomasse a mesa atitude, durante a fuga ficou preso pelos cabelos e foi
morto por Joabe, que o atravessou com uma lança.
Uma questão muito colocada em consultório, em assuntos de
relacionamentos familiares, é “porque os filhos que mais dão trabalho são os que os pais mais
amam”, certamente este é um assunto para tese de doutorado, necessitaria um grande
número de páginas para que de maneira teórica pudéssemos expor sobre a temática, e com
certeza as respostas não seriam satisfatórias a todos, esse comportamento dos pais em
relação a filhos rebeldes não é uma questão de quantidade disponibilizada de amor, mas nas
relações de construção que foi exercida nos relacionamentos.

Em nenhuma esfera das relações humanas existem igualdade, é mais fácil


entender isso ao se referir ao círculo de amizades, ambiente de trabalho e outros aspectos da
sociedade, assumir isso dentro das relações familiares, se torna mais complicado, eleva
geralmente a algumas questões sensíveis, ao julgamento da sociedade, da própria família
autojulgamento. O que alguns filhos chamam de preferência, pode ser encarado como
afinidade, identificação até mesmo a facilidade de interação e manejo, e também a há a
questão de empatia por determinadas características. As psicólogas Fátima Almeida e Laura
Alho, no livro O Filho Preferido, tratam a questão do filho preferencial como: simultaneamente
uma realidade e um mito. Afirmam que "Ainda que os pais possam dizer que não têm um filho
preferido, a verdade é que, muitas vezes, os filhos, outros familiares, ou até pessoas que não
pertencem à família nuclear conseguem perceber essa preferência, que pode ser inconsciente.
(https://www.maxima.pt/atual/detalhe/o-problema-nao-e-os-pais-terem-um-filho-preferido-
mas-sim-nao-o-admitirem) 17/04/22.

Se por um lado a relação de preferência ´disputada entre os filhos, tem sido


um problema que se não observado com carinho podem trazer serias consequências por
outro, não é raro a reclamação dos em relação a essa queixa sobre os filhos e afirmarem que o
amor dispensados pelos pais aos filhos é o mesmo, no entanto devemos levar em conta a
história de cada família, no contexto bíblico por exemplo vamos ver claramente a preferência
de Jacó por seu filho José em relação aos demais, até mesmo no relato bíblico encontramos a
expressão: Israel amava mais a José do que a todos os seus outros filhos, porque ele era o filho
da sua velhice, e mandou fazer-lhe uma túnica adornada. Gn 37:3, aqui o texto mostra não só
a preferência, mas também o motivo. Cada família tem uma estrutura, ou modo de criação,
movido pelas crenças, conhecimentos, contexto social, religioso e até mesmo baseado na
capacidade que os pais têm de a transmitir os valores que identificamos como amor.

Não que possa se justificar, mas, a resposta mais comum em consultório


quando o assunto é preferência à “filhos rebeldes”, por que os pais se apegam em especial aos
filhos que mais dão trabalho pode ser encarada como uma espécie de compensar para atenuar
a culpa de saber que como pais em algum lugar cometeu algum erro e de certo modo as
atitudes erradas dos filhos são culpa dos pais, daí o próprio sistema social, faz com que os pais
se culpem e se punam por causa do desempenho de maus pais, o conluio passa a ser uma
tentativa de atenuar essa culpabilidade.

A morte de Absalão foi danosa para o rei, que havia dado ordens expressas a
seus sodados que não ferissem seu filho, porém, Joabe o matou, Davi lamentou sua morte e
desejou até mesmo que tivesse morrido em vez do seu filho. Quando terminou toda a
confusão que a sedição de Absalão gerou, um dos atos do reintegrado Rei Davi foi nomear
Amassa, primo de Joabe, o capitão do exército de Israel, a partir de então ele tomaria o lugar
de Joabe, Amassa, era filho de Abigail, irmã de Davi, ele foi escolhido por Absalão para ser o
chefe de seu exército, em perseguição a Davi, como a rebelião de Absalão não vingou, seria
questão de momentos até ser morto, no entanto recebe o perdão real e o lugar de honra com
chefe do exercito de Israel no lugar do primo. Com esta nomeação o rei mostra todo seu
descontentamento e desaprovação com Joabe, o qual na primeira oportunidade mata seu
substituto.

Fadiman, mestre e doutor em psicologia, afirma que a emoção é uma força


que fornece energia a toda ação. FADIMAN, J. e FRAGER, R. Teorias da personalidade. São
Paulo: Harbra,2002. Podem ser positivas e negativas, com intensidades variadas, mais ou
menos intensas vai depender de outros fatores que permeiam o histórico de cada indivíduo.
Kurt Goldstein, medico neurologista e psiquiatra, considerado o considerado como pioneiro da
neuropsicologia moderna afirma que corpo e mente não são entidades separadas, o que ele
chama de “o organismo” é de fato uma só unidade, portanto o que ocorre em um afeta a
todos. HALL, C. e LINDZEY, G. Teorias da personalidade. São Paulo: E.P.U. Portanto podemos
dizer que amaneira de lidar com as emoções também são de cunho fundamental para o bom
andamento da saúde corporal.

Não poucos estudiosos desta área concordam com Nascimento e Quinta,


quando dizem que uma emoção positiva, dominando nossa mente, faz com que o corpo
funciona em total harmonia; douto modo, se dominada por emoção negativa, pode causar
adoecimento gerando vários sintomas físicos. NASCIMENTO, E. e QUINTA, E. M. Terapia do
riso. São Paulo: Harbra, 1998. Não podemos dizer se é realmente culpa de suas emoções, o
fato de ter uma velhice complicada por problemas de saúde. No entanto, deveremos manter
alerta a respeito de observarmos sobre as nossas emoções. Existem várias literaturas e
estudos comprovando a relação direta de fatos emocionais a patologias que se desenvolvem
como processo de modo cutâneo como processo alérgico, doenças respiratórias, dores
crônicas e até câncer, observar este texto nos faz refletir que aquele conhecido como o
homem segundo o coração de Deus também tinha fraquezas emocionais.

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