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Estudo ministrado na IGREJA BATISTA VALE DO JABOQUE, em 14 de novembro 2021

Estudo no livro do profeta Habacuque, sob o tema “Da angústia a fé inabalável”.

Texto Base: Habacuque 3.2-19

INTRODUÇÃO:

O livro de Habacuque é um daqueles livros que se tornam muito conhecidos por uma ou duas passagens em
particular, no caso de Habacuque, a oração – ou salmo, cantada no capítulo 3 tornou o livro – seu nome, e
NÂO seu conteúdo, muito popular entre os cristãos, canções e citações de algumas frases deste “Salmo” são
bem populares no meio da cristandade, versos estes que estão presentes também no NT (Rm, Gl e Hb)

A MENSAGEM: “Apesar do seu desconcertante silêncio, existe um Deus que


intervém no momento apropriado e estabelece a sua vontade.”
O livro de Habacuque tem algumas peculiaridades, a começar pelo fato de que, fugindo do padrão da ação
dos profetas, ele não se dirige a alguém específico, nem ao povo de maneira geral – neste aspecto se
assemelha ao livro do profeta Jonas, trata-se de um momento de introspecção, de questionamento íntimo,
onde o profeta fica chocado com a decadência moral e espiritual de Judá – o reino do sul. Mas inquietante
ainda é para ela a aparente apatia de Deus diante deste quadro. Noutro aspecto, o livro se assemelha ao livro
das Lamentações do profeta Jeremias, neste também o profeta “acusa o golpe” da impiedade do seu povo e
chora diante da realidade da nação e da certeza do julgamento divino. Ainda tem uma certa similaridade com
o tema central do livro de Jó - a questão do sofrimento do justo, no entanto, enquanto Jó está focado no
sofrimento individual, Habacuque trata questões comunitárias

Há no profeta um misto de indignação e temor. É de conhecimento de todo povo o que sucedera a Israel – o
reino do norte, cerca de 120 anos antes, quando sob o juízo do Senhor contra toda impiedade, foram levados
cativos pelos assírios e exterminados como nação. Então, ao mesmo tempo que não se conforma com a
constante e deliberada violação dos termos da aliança e com uma aparente indiferença de Deus, ele também
teme um possível juízo.

É de espantar o profeta – como por exemplo o apóstolo Paulo se espanta com os gálatas, que Judá tão
rapidamente tenha se afastado da vida piedosa a que fora conduzida através da reforma religiosa liderada
pelo justo e piedoso rei Josias que fora substituído por um curto e terrível período de 3 meses por seu filho
Jeocaz, que só fez o que era mau aos olhos do Senhor, sendo deposto pelo faraó Neco, ainda assim teve
tempo suficiente para deixar pavimentando o caminho para um longo reinado de impiedade a ser trilhado por
seu intercessor, agora, sob o governo de Jeoiaquim – antes chamado Eliaquim, voltando a violar a aliança.

Algo muito importante a ser notado neste profeta é a sua legítima – e necessária, indignação com o
comportamento do povo da aliança, o povo de Deus. O servo de Deus não pode aceitar passivamente – com
isso não digo que deve sair brigando, ofendendo e provocando dissenções, a corrupção do povo de Deus, não
pode ver com naturalidade o “justo se desviar do seu caminho de justiça”, antes deve adverti-lo e, acima de
tudo, colocar diante do Senhor a situação.

Uma leitura mais minuciosa do livro, do autor e de tudo contexto envolvido, logo descarta a ideia racionalista
de uma “certa polêmica entre o profeta e seu Deus”. Considerando que a escrita dos livros inspirados é
posterior ao encontro com o Deus que o inspira, é fato que quando Habacuque registra sua experiência, está
plenamente seguro que, até a sua santa indignação contra o pecado do povo, é movida por Deus.
Logo, não é uma crise com Deus, mas Deus faz com que o profeta veja e sinta a Sua própria indignação e, a
partir de então o faz ver como Deus retribuirá tal comportamento do seu povo.

“Os profetas não eram apenas pregadores inspirados de mensagens divinas para
o povo de Deus, como também compartilhavam a preocupação do Senhor com o
seu mundo caído e seu profundo interesse por seu povo desobediente.” (BEFR)
UM BREVE PANORAMA DO LIVRO:

Habacuque lida com o controle do Deus soberano sobre os afazeres humanos, não quando Ele
intervém em julgamento, mas nos tempos em que não deixa seu controle evidente. O profeta se
inquieta especificamente com (1) esta Aparente inatividade; (2) Ausência de vida e obediência
pactual; (3) Um Deus santo que usa ímpio como a “vara” para corrigir o povo da aliança.

Por fim, reconhece o quão são inescrutáveis – Paulo afirma que somente o Espírito do próprio Deus
pode conhecer o que lhe é próprio, mas seus propósitos são consistentes. E a revelação da soberania
do Senhor no governo da história transforma a queixa em um hino de alegria.

Após a introdução do livro (1.1), consideraremos a seguinte divisão:

I. A 1ª QUEIXA (1.2-4): OS ÍMPIOS PREVALECEM SOBRE OS JUSTOS e seria Deus insensível a esta
realidade e indiferente ao clamor de um fiel?

II. A 1ª RESPOSTA (5-11): A CORREÇÃO DO SENHOR VIRÁ, e para tal, ele usará uma nação ímpia,
os babilônios. Definitivamente NÃO! Deus não é indiferente a maldade e seu juízo virá de
maneira assombrosa.

III. A 2ª QUEIXA (1.12-17): POR QUE PARA A CORREÇÃO DOS PECADOS DE JUDÁ, usar uma nação
ainda pior? O uso de instrumento injustos faz o profeta, humilde e corajosamente questionar a
coerência divina em Seu trato com a humanidade

IV. A 2ª RESPOSTA (cap.2): Uma grande diferença: VIDA PARA OS FIÉIS, MAS DESTRUIÇÃO PARA
OS ÍMPIOS. Deus não somente garante que cumprirá sua palavra, como também revela que,
apesar da aparente incoerência, no fim das contas, ele faz distinção entre os justos –
justificados, e injustos.

a. A DISTINÇÃO É REVELADA (2.1-5)


b. DAS IMPRECAÇÕES À ADORAÇÃO (2.6-20): O comportamento impiedoso dos babilônio é
destacado por Deus detalhadamente e por este será devidamente punido, no tempo certo.

V. A ORAÇÃO DO PROFETA (Cap. 3): O louvor esperançoso de quem agora trás a memórias as
grandes intervenções divinas do passado, traz segurança quanto ao futuro, quanto à justiça
soberana de Deus (1-19)

a. O fiel consciente dos grandes feitos do SENHOR, anseia que Ele novamente aja (1,2)
b. O fiel se maravilha ao relembrar os feitos do SENHOR (3-15)
c. O fiel se alegra com Deus, certo de que Ele procederá de forma natural a seu ser, trará
justiça.
O GRANDE DESFECHO

O capítulo 3 do livro - especialmente do verso 16-19, apresenta uma grande virada, uma
mudança de postura do profeta. Mas essa mudança não se dá pelo acaso, mas pela revelação
de Deus, pela Palavra de Deus. O profeta ouviu a palavra de Deus e ouvi-la produz segurança.

“A palavra de Deus, quando ouvida com sinceridade, produz em nós uma


visão muito mais clara de quem é Deus e de como ele age, além de nos
proporcionar confiança.” (Gomes, Isaltino. Habacuque nosso contemporâneo. p.69)

Vamos refletir a partir de agora no texto proposto para nossa reflexão Hb 3.17,18, destoando,
no entanto, do tema, pois chamarei esse desfecho final de “A Grande Mudança: da angústia
a alegria da fé inabalável.

Depois que o inquiridor se põe em oração, ele declara que tem ouvido dos grandes feitos do
SENHOR e clamar para que tudo se repita (3.1, 2), Nos versos seguintes (3-7), ele destaca o
poder de Deus. Seguindo (8-15), respondendo as perguntas retóricas do verso 8, o profeta
registra como se dará a ação de Deus, mostrando um Deus guerreiro, mas não um guerreiro
que se detém naquilo que o profeta “apresentou” nas suas queixas, mas sim um soberano
sobre toda terra, um guerreiro cósmico (Luiz Sayão).

O verso 16 registra o resultado impressionante do poder do conhecimento de Deus e de sua


palavra para quele que ouvi e acolhe a palavra do SENHOR:

“Eu ouvi e meu íntimo estremeceu, com o ruído, os meus lábios


tremeram; Os meus ossos desfaleceram; minhas pernas vacilaram.
Tranquilo esperarei o dia da desgraça que acometerá o povo que nos
ataca.” (Hc 3.16)
Ao receber pela fé a revelação ESPECIAL de Deus através de sua Palavra, o milagre acontece,
perde-se de vista as circunstâncias desfavoráveis, e mesmo em meio ao maior desespero e
sensação de desamparo, em meio as lágrimas, podemos nos alegrar no Deus da nossa
salvação. E é isso que acontece com o profeta, ele vai da Angústia desesperadora à alegria da
segurança, e o profeta irrompe em adoração, em louvor.

“É próprio das mentes inquiridoras, quando honestas, uma expressão


de confiança por vezes não encontrada naqueles que nunca
manifestam dúvida.” Isaltino Gomes
Também vemos a grandeza de Deus diante de uma mente honestamente inquiridora. Ele não
o deixa sem resposta.
O TRIÚNFO DA FÉ (3.17-19)

“Mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo
falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras,
nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos,
ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação.
O Senhor Soberano é a minha força; ele faz os meus pés como os do cervo; ele
me habilita a andar em lugares altos.”
1. AS CIRCUNSTÂNCIAS ADVERSAS RESULTANTES DA INTERVENÇÃO DIVINA SÃO COMPENSADAS
PELA ALEGRIA CONFIANTE (17,18)

2. A GARANTIA DE VIDA SEGURA SE ACHA NA PESSOA E NO CARÁTER DE DEUS (19)

CONCLUSÃO:

1. A fé cristã suporta análises e questionamentos, pelo que nunca devemos teme-los

2. UMA LIÇÃO ESTARRECEDORA: Deus julga seu próprio povo

3. UMA LIÇÃO GLORIOSA: A história tem um rumo. É Deus quem determina seu curso: “Ele
muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis.” (Dn 2.21)

4. UMA LIÇÃO MORAL: Os violentos serão punidos

5. UMA LIÇÃO ESPIRITUAL: Ele fortalece os desanimados

6. UMA LIÇÃO TEOLÓGICA: O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ. “O meu justo viverá pela fé. E, se
retroceder, não me agradarei dele.” (Hb 10.38)

7. UMA LIÇÃO ENCORAJADORA: A fé segura traz alegria e conforto. “Não se turbe o vosso
coração; credes em Deus, crede também em mim.” (Jo 14.1)

É um fato incontestável o poder transformador da palavra de Deus e, isso fica mais


evidente a cada dia de nossa caminhada de fé, como somos mais vacilantes ou constantes
a medida que somos mais ou menos nutridos e fortalecidos pela palavra de Deus. Quando
temos a segurança da palavra de Deus, como disse certa vez o “Pai da Igreja” Cipriano:

“Então floresce em nós a força da esperança e a firmeza da fé. Entre


ruínas de um mundo decaído nossa alma é levantada, nossa coragem não
é abalada: nossa paciência não é nada mais que alegria, e a mente está
segura do seu Deus.” (Bíblia da Reforma)

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